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2010 EPÍSTOLAS GERAIS E HEBREUS Prof. Arcângelo Deretti

Epístolas Gerais e Hebreus

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Page 1: Epístolas Gerais e Hebreus

2010

Epístolas GErais E HEbrEus

Prof. Arcângelo Deretti

Page 2: Epístolas Gerais e Hebreus

Copyright © UNIASSELVI 2010

Elaboração:

Prof. Arcângelo Deretti

Revisão, Diagramação e Produção:

Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI

Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri

UNIASSELVI – Indaial.

227D4318e Deretti, Arcângelo. Epístolas Gerais e Hebreus/ Arcângelo Deretti. Centro Universitário Leonardo da Vinci – Indaial: Grupo UNIASSELVI, 2010.x ; 105 p.: il.

Inclui bibliografia. ISBN 978-85-7830-251-1

1. Epístolas - Bíblia 2. Hebreus - Bíblia I. Centro Universitário Leonardo da Vinci II. Núcleo de Ensino a Distância III. Título

Page 3: Epístolas Gerais e Hebreus

III

aprEsEntação

Estimado(a) acadêmico(a)!

Estamos iniciando os estudos de Epístolas Gerais e Hebreus. Estas epístolas, também conhecidas como “católicas”, universais, têm quatro autores distintos: Pedro, Tiago, Judas e João. Tiago e Judas, servos do Senhor e Pedro e João discípulos, apóstolos de Jesus. Estas epístolas têm como destinatária a Igreja de modo geral, característica peculiar destas cartas em relação às epístolas paulinas, que tinham, por vezes, uma comunidade específica ou uma pessoa para receber a mensagem.

Nestas cartas veremos admoestações de problemas externos das comunidades e também exortações para questões internas, causadas pela displicência dos cristãos na vivência autêntica do projeto de Jesus.

Na primeira unidade vamos estudar a importância das Epístolas de Tiago, Pedro e Judas dentro do contexto do Novo Testamento, porque não podemos imaginar que, por serem de poucos capítulos, estas cartas sejam menos importantes dentro do conjunto das Sagradas Escrituras. Também veremos as principais características de cada Carta e identificaremos a mensagem que cada Carta apresenta.

Na segunda unidade compreenderemos melhor a autoria das cartas joaninas e sua mensagem que se faz tão atual quanto às anteriores quando vislumbramos a necessidade de seguir a Cristo nos dias atuais. Vamos estudar, nesta unidade, a importância da mensagem joanina que se mostrou já no Evangelho de João e que também se mostra agora nas Cartas de João. Podemos compreender isso como reforço da mensagem trazida pelos Evangelhos. Vamos visualizar na cristologia joanina que devemos nos decidir em aderir ao projeto de Jesus Cristo.

Na terceira unidade, em um primeiro momento, tomaremos conhecimento dos estudos sobre a autoria da Carta aos Hebreus e também a quem é destinada. Vamos, nesta unidade compreender melhor o contexto histórico e cultural e, por fim, entender a doutrina, a cristologia e a contribuição da Carta aos Hebreus para o conjunto dos livros sagrados.

Este é o projeto que queremos alcançar com este trabalho. Devemos levar em conta que os estudos dos escritos bíblicos nunca param. Sempre surgem novidades que vêm confirmar o que já foi apresentado. Não temos a pretensão de apresentar todos os estudos que são realizados hoje, pelo pouco tempo e limitações próprias do curso e da disciplina, mas suficiente para termos noção das principais características das Epístolas Gerais e da

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IV

Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material.

Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura.

O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.

Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão.

Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade.

Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos!

Carta aos Hebreus. Por isso, caro(a) acadêmico(a), sugerimos que você se aprofunde nos estudos dessa disciplina, tomando como base a bibliografia apresentada no final deste Caderno de Estudos.

Vamos então aos nossos estudos. Não se esqueça de que a Bíblia deve fazer parte sempre, em todos os momentos destes estudos, mais precisamente do Novo Testamento para aprofundamento, consulta, conferência, dúvidas que com certeza vão surgir. Enfim, não só nestes momentos de estudo, mas para toda a vida.

Bons estudos!

Prof. Arcângelo Deretti

NOTA

Page 5: Epístolas Gerais e Hebreus

V

Page 6: Epístolas Gerais e Hebreus

VI

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VII

UNIDADE 1 – AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS ........................................................... 1

TÓPICO 1 – A CARTA DE TIAGO ...................................................................................................... 31 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 32 AUTORIA E DESTINATÁRIOS ........................................................................................................ 63 DOUTRINA – MENSAGEM .............................................................................................................. 10LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 13RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 15AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 16

TÓPICO 2 – AS CARTAS DE PEDRO ................................................................................................. 171 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 172 AUTORIA E DESTINATÁRIOS ........................................................................................................ 183 MENSAGEM DOUTRINAL ............................................................................................................... 23LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 25RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 27AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 28

TÓPICO 3 – A CARTA DE JUDAS ....................................................................................................... 291 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 292 AUTORIA E DESTINATÁRIOS ........................................................................................................ 303 CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL ........................................................................................... 31LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 33RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 35AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 36

UNIDADE 2 – AS CARTAS DE JOÃO ................................................................................................ 37

TÓPICO 1 – AUTORIA E DESTINATÁRIOS .................................................................................... 391 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 392 AUTOR .................................................................................................................................................... 403 DESTINATÁRIOS ................................................................................................................................ 434 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL........................................................................................... 45LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 47RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 49AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 50

TÓPICO 2 – A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ ......................................................................... 511 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 512 A CRISTOLOGIA ................................................................................................................................. 513 A VIDA CRISTÃ ................................................................................................................................... 53LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 56RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 58AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 59

sumário

Page 8: Epístolas Gerais e Hebreus

VIII

TÓPICO 3 – A DOUTRINA ................................................................................................................... 611 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 612 DOUTRINA DA PRIMEIRA CARTA ............................................................................................... 623 DOUTRINA DAS DUAS CARTAS MENORES DE JOÃO .......................................................... 63LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 65RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 67AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 68

UNIDADE 3 – CARTA AOS HEBREUS .............................................................................................. 69

TÓPICO 1 – AUTORIA E DESTINATÁRIOS .................................................................................... 711 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 712 AUTOR .................................................................................................................................................... 713 DESTINATÁRIOS ................................................................................................................................ 76LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 78RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 83AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 84

TÓPICO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL ...................................................................... 851 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 852 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL ....................................................................................... 853 CONTEÚDO .......................................................................................................................................... 87RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 90AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 91

TÓPICO 3 – DOUTRINA ....................................................................................................................... 931 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 932 DOUTRINA E TEOLOGIA ................................................................................................................. 933 CRISTOLOGIA E VIDA CRISTÃ ..................................................................................................... 954 CONTRIBUIÇÃO NO ESTUDO DAS ESCRITURAS .................................................................. 96

4.1 JESUS E OS ANJOS .......................................................................................................................... 964.2 JESUS COMO O NOVO MOISÉS .................................................................................................. 984.3 JESUS O SUMO SACERDOTE E MELQUISEDEC ..................................................................... 98

LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 101RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 102AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 103REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 105

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UNIDADE 1

AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender a importância das Epístolas Gerais no Novo Testamento;

• entender as características principais de cada Carta;

• identificar a mensagem que cada Carta apresenta.

A Unidade 1 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas.

TÓPICO 1 – A CARTA DE TIAGO

TÓPICO 2 – AS CARTAS DE PEDRO

TÓPICO 3 – A CARTA DE JUDAS

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TÓPICO 1UNIDADE 1

A CARTA DE TIAGO

1 INTRODUÇÃO

Vamos iniciar os estudos de Epístolas Gerais. Antes, faremos uma pequena introdução. O ponto de partida deve levar em conta que as Epístolas Gerais não são um subgrupo, uma sobra, um grupo de livros do Novo Testamento que está em segundo plano. As Epístolas Gerais, conhecidas por Cartas Gerais, também por Cartas Católicas, pelo seu senso universal, levam esse nome, justamente pelo seu viés geral.

Vamos caracterizá-las melhor:

[...] “cartas católicas”, escritos neotestamentários que chegaram até nós com os nomes de: Carta de Tiago, Primeira e Segunda Carta de Pedro, e Carta de Judas. A denominação de cartas católicas foi atribuída pelo antigo historiador Eusébio em sua História Eclesiástica (II 23,25) às sete cartas que não fazem parte tradicionalmente do corpus paulino, quer dizer, àquelas “anteriormente citadas” e mais as três atribuídas a João. No ano de 360 já eram chamadas dessa forma pelo Concílio de Laodiceia em seu cânon 59. A razão desse nome é que não são dirigidas a nenhum destinatário particular, mas a toda a Igreja. Neste sentido, o adjetivo se aplica corretamente a estes escritos, menos à 2ª e 3ª de João, cujos destinatários são expressamente nomeados.” (TUÑI; ALEGRE, 2007, p. 261).

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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Visto isso, teremos a sabedoria de perceber a importância das Epístolas Gerais no contexto do Novo Testamento, e não só do Novo Testamento como das Sagradas Escrituras, como reforço da fé alimentada na presença do Espírito Santo.

Outra característica que aproxima as Cartas Gerais é o seu conteúdo, sua temática que pode ser dividida em quatro grandes temas:

1. Cuidados a ter com os falsos mestres: 2 Pe 2:1-3.10-22; 3:3-4.16-17; 1 Jo 2:18-23.26; 4:1-6; 2 Jo 7-11; Jd 4-19.

2. Necessidade de guardar a integridade da fé: Tg 2:14-26; 3:13; 4:3-12; 5:7-11; 1 Pe 2:11-12.13-17; 4:1-4; 2 Pe 3:1-7.14-18; 1 Jo 2:18-29; 4:1-6; 2 Jo 7-11.

3. Exortação à fidelidade na perseguição: Tg 1:2-4.12; 4:7; 1 Pe 1:6-7; 2:11-17; 3:13-17; 4:12-19; 5:6-10; 1 Jo 2:24-28.

4. Proximidade do fim dos tempos: Tg 5:3.7-9; 1 Pe 1:5; 4:7; 2 Pe 3:3-4.8-10; 1 Jo 2:18-19; Jd 18.

Tal temática denuncia uma época relativamente tardia, em que esses problemas eram os mais prementes, devido ao aparecimento das primeiras heresias cristológicas e a algumas perseguições. Mas estas podem ter surgido do exterior ou do interior da própria comunidade − ou seja, dos falsos mestres.

Disponível em: <http://www.capuchinhos.org/biblia/index.php?title=CartasCat%C3%B 3licas>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FONTE: Disponível em: <http://www.mas.ufba.br/pecas/148.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 1 – SÃO TIAGO

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TÓPICO 1 | A CARTA DE TIAGO

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FONTE: Disponível em: <http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/SaoTiago.html>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 2 – TIAGO: FILHO DE ZEBEDEU – TIAGO MAIOR

Depois desta pequena introdução do título deste nosso caderno, vamos ao nosso primeiro tópico desta unidade.

DICAS

Tiago fazia parte do grupo dos primeiros discípulos de Jesus e também dos mais íntimos dele, era irmão de João, o Evangelista, e teria sido executado em 43 em Jerusalém.

Aqui veremos a Carta de Tiago, que já foi até considerada por Martinho Lutero como “uma carta inútil”, mas que por se apresentar de modo simples, traz muitos e ricos ensinamentos. Lutero vai ter essa consideração para com essa carta, porque realmente ela não traz muitos ensinamentos doutrinais, mas contém ensinamentos morais preciosos e que muito bem são aplicáveis nos dias atuais principalmente no âmbito da justiça. Ainda segundo Lutero, a carta não apresenta Jesus Cristo como o tema central do escrito.

A carta de Tiago, pelas suas peculiaridades, e até por essa simplicidade,

na exposição de sua teologia, também já foi indicada como um escrito enigmático:

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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[...] são três as causas principais que costumam dificultar a compreensão de Tiago: a sua forma literária então quase em desuso, sua teologia que provoca certo escândalo, sobretudo às igrejas protestantes, e o mais importante, a dificuldade maior do que qualquer outro escrito do Novo Testamento, para situá-la no marco histórico na qual foi originada a carta. (TUÑI; ALEGRE, 2007, p. 264).

Vemos então que Lutero não estava sozinho na sua dificuldade de compreensão da importância da Carta de Tiago.

FONTE: Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Luther-vor-Cajetan.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 3 – MARTINHO LUTERO E O CARDEAL CAETANO EM 1557

2 AUTORIA E DESTINATÁRIOS

A carta de Tiago tem em seu início a indicação do remetente – Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, − e também do destinatário – doze tribos na dispersão.

Vamos começar pelo autor.

Temos no Novo Testamento três “Tiagos”: Vamos elencar algumas características dos apóstolos chamados de “Tiago” que temos referendados nas Sagradas Escrituras, para então definirmos qual deles é o escritor desta Carta que leva seu nome. Já na página anterior, apresentamos o Tiago, conhecido como Tiago Maior. A seguir, veremos Tiago Menor e Tiago, filho de Alfeu.

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TÓPICO 1 | A CARTA DE TIAGO

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FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ep%C3%ADstola_de_Tiago>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 4 – TIAGO – FILHO DE ALFEU – TIAGO MENOR – ZEBEU

DICAS

Tiago evangelizou na Síria e Jerusalém. Defendia a observância das normas judaicas no próprio Cristianismo. Teria sido apedrejado por não denunciar os cristãos.

Tiago “irmão do Senhor”: morreu também martirizado no ano de 62. Podíamos concordar nas indicações que apontam como sendo o Tiago, filho de Alfeu como sendo o autor desta carta.

FONTE: Disponível em:<http://www.evangeliodeldia.org/zoom_img.php?frame=49034&lang uage=PT&img=&sz=full>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 5 – TIAGO, “IRMÃO DO SENHOR”

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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Três “Tiagos”: Tiago, filho de Alfeu – o Tiago Menor, Tiago, filho de Zebedeu – o Tiago Maior e Tiago, irmão do Senhor, indicado como o autor da Carta de Tiago.

Embora as Escrituras não sejam precisas sobre esta questão, a maioria dos eruditos concorda em identificar o autor desta epístola com Tiago, irmão de Jesus. Tiago filho de Zebedeu foi morto por Herodes, (At 12:2). Tiago filho de Alfeu só vem mencionado na lista dos apóstolos e talvez Mc 15:40 se refere a ele. Resta o Tiago irmão do Senhor, homem que ocupava uma posição de grande autoridade na igreja de Jerusalém, presidindo as assembleias e pronunciando palavras de autoridade. O tom de autoridade desta epístola condiz bem com a posição de primazia atribuída a ele.

FONTE: Disponível em: <http://www.fatecc.com.br/biblioteca/LIVROS%20BIBLI OTECA/EpistolasGerais.doc>. Acesso em: 24 nov. 2009.

As Epístolas paulinas foram muito questionadas sobre a veracidade da autoria de Paulo. Os exegetas indicam que se não foi Paulo, foi alguém muito próximo que certamente anotava as instruções que o próprio apóstolo ia narrando. Desta forma, não se tira o mérito da autoria da carta quando acreditamos na força do Espírito Santo a iluminar tanto Paulo quanto seus companheiros de missão, seja em suas atividades de pastoreio, seja de divulgação de sua mensagem através dos seus escritos. Então, se o autor desta carta não é Tiago Maior, nem Tiago Menor, quem é o autor? A tradição atribui a autoria para Tiago, o irmão do Senhor que tinha sob sua responsabilidade, a comunidade de Jerusalém.

“Tradicionalmente seria este o Tiago a quem a carta foi atribuída. Naquele tempo era costume atribuir um escrito a uma personagem conhecida e respeitada. Foi o que aconteceu com os Salmos, atribuídos a Davi, com os Provérbios, atribuídos a Salomão, com o Quarto Evangelho e o Apocalipse, atribuídos ao apóstolo João, com as Cartas Pastorais, atribuídas a Paulo. O autor real deve ter sido um judeu-cristão, profundo conhecedor da língua grega pelo esmero com que escreve. Contudo a atribuição a Tiago, “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” pode conter um indício sobre a comunidade que está por trás da carta. (...) se o autor fosse Tiago, o chefe da igreja de Jerusalém, a data desse escrito seria anterior ao ano de 62, mas a opinião que predomina é que se trata de um escrito do final do século I, pelo tom das exortações e pela realidade que reflete. O local de onde teria sido enviado às comunidades judaico-cristãs da Ásia Menor seria a Síria.” (CEBI, 2001, p. 52-53).

Enfim, temos aqui um autor chamado Tiago, uma carta escrita no final do primeiro século, que provavelmente apresenta as seguintes características:

• Teria conhecido a doutrina de Paulo.

• Apresenta-se como judeu-cristão.

• Bebe na literatura sapiencial e do Evangelho.

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TÓPICO 1 | A CARTA DE TIAGO

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• Escreve uma carta endereçada a “todas as comunidades cristãs” com instruções, conselhos aos “dispersos”, à comunidade que se expande pelo mundo: são as comunidades cristãs além da Palestina.

Podemos indicar algumas passagens do Novo Testamento que nos apresentam o Tiago, autor desta carta, em situações distintas. Vamos iniciar com At 1:13-14. Nesta passagem, encontramos referência do provável autor desta carta entre os apóstolos e parentes de Jesus: “quando chegaram, subiram ao piso superior onde se alojavam: Pedro e João, Tiago e André, Filipe e Tomé, Bartolomeu e Mateus, Tiago de Alfeu, Simão, o zelota e Judas de Tiago. Todos eles, com algumas mulheres, a mãe de Jesus e seus parentes, persistiam unânimes na oração.”

Quando damos um passo adiante, queremos saber o que fazia Tiago, que além de escrever esta carta, se revela como responsável por uma igreja que recebe o apóstolo Paulo e Barnabé. Em At 15:13-14 lemos: “Quando se calaram, Tiago respondeu:

“escutai-me irmãos. Simeão explicou como desde o começo Deus quis escolher entre os pagãos um povo que levasse seu nome.”

Em Gal 1:19, temos a indicação do parentesco de Tiago: “Dos outros apóstolos não vi senão Tiago, o parente do Senhor.”

Tendo realizado este estudo sobre a autoria desta Carta, vamos identificar os destinatários.

Vamos ordenar os destinatários da Carta de Tiago:

• “doze tribos da Diáspora”;

• cristãos de origem judaica;

• cristãos dispersos pelo mundo Greco-romano;

• dispersos nas regiões que são circundantes da Palestina;

• convertidos do judaísmo.

Quanto à data da redação, temos também algumas indicações apresentadas por grupos de estudiosos que, sabemos, por divergirem em alguns pontos, vão também divergir na data de composição da Carta de Tiago.

A maioria dos estudiosos adota uma das posições seguintes: trata-se do primeiro escrito cristão, dos fins da década de 40, pois tem um aspecto muito primitivo, como se vê ao chamar à comunidade cristã “sinagoga” (aqui traduzido por “assembleia”: 2:2) e parece ignorar a crise judaizante e

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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a conversão dos pagãos. Outros pensam que foi escrita por volta do ano 60, pouco antes da morte de Tiago, irmão do Senhor, que se deu pelo ano 62, pois pensam que Tg 2:14-26 pressupõe as Cartas de Paulo aos Romanos e Gálatas, que alguns deturpavam para justificarem uma vida fácil.

Não parece ter base suficientemente sólida classificá-la como um escrito tardio: a ausência de elementos do primeiro anúncio (kerigma) não serve para estabelecer a data, mas a natureza do documento; e as semelhanças com Mateus não exigem uma redação posterior.

FONTE: Disponível em: <http://www.paroquias.org/biblia/?m=12&n=1>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Resumindo, temos Tiago, aquele responsável pela comunidade de Jerusalém após o Pentecostes e mais adiante, como responsável pelas comunidades cristãs na Palestina, Síria, Cicília, formadas na sua maioria por judeus, que escreveu esta carta provavelmente entre os anos 50 e 60 da era cristã.

3 DOUTRINA – MENSAGEM

A Carta de Tiago é um apelo a uma vida piedosa na forma de aproximadamente 50 mandamentos que reportam à autoridade de Jesus. Autoridade que se manifesta no serviço. Serviço que se traduz no discipulado. Discipulado que é compromisso de todo cristão.

A mensagem doutrinal da carta de Tiago vai surgir dentro do contexto das reuniões comunitárias realizadas pelos cristãos. O tema sobre o conceito de fé é muito forte na Carta de Tiago. É a fé praticada, vivida, vivenciada a partir das seguintes formas:

1. Prática do amor ao próximo, principalmente aos órfãos e viúvas.2. Compromisso com as pessoas que vai além da aceitação das doutrinas

e rituais.3. Esperar contra toda a esperança, como fez Abraão.4. Buscar força na fonte, ou seja, nas origens da cristandade, na igreja das

origens.5. A paciência é uma virtude que com a oração nos fortalece e não nos

deixa apáticos.

Exortar e advertir são objetivos de Tiago nesta carta:

(1) exortar os concrentes a demonstrar fé e perseverança durante suas provações;(2) adverti-los dos pecados que resultam na desaprovação divina. Alguns haviam caído no laço de dar atenção aos mais destacados e ricos, e de mostrar favoritismo. (Tg 2:1-9) Não discerniram o que realmente eram aos olhos de Deus, e eram ouvintes da palavra, mas não cumpridores. (1:22-27) Tinham passado a usar a língua de modo errado, e seus desejos ardentes de

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TÓPICO 1 | A CARTA DE TIAGO

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3 DOUTRINA – MENSAGEM

prazer sensual provocavam brigas entre eles. (3:2-12; 4:1-3) O desejo de possuir coisas materiais havia levado alguns a ser amigos do mundo e, portanto, a não ser virgens castas, mas “adúlteras” em sentido espiritual, em inimizade com Deus (4:4-6).

Tiago corrigiu-os para que fossem tanto cumpridores como ouvintes, mostrando-lhes à base de exemplos bíblicos que o homem que tem genuína fé manifesta-a por obras condizentes com sua fé.

FONTE: Disponível em: <http://br.geocities.com/aguazul2001br/Biblia/Inttiag.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Tiago quer apresentar com suas exortações morais, catequéticas, e com

suas advertências, a importância do exemplo de Jesus que dirige sua atenção aos humildes, aos pobres, àqueles e àquelas menos favorecidos, que além de sofrerem pela própria circunstância que os rodeia, sofrem pelos abusos daqueles que têm o privilégio dos bens materiais, intelectuais e do poder.

“Podemos considerar a Carta de Tiago testemunho de um grupo muito significativo na igreja das origens, afinado com os ensinamentos do próprio Jesus e com a Igreja-Mãe de Jerusalém. Esse testemunho está ambientado numa situação nova em que a comunidade inclui judeus-cristãos ricos – comerciantes e proprietários da diáspora – cujo comportamento egoísta destoa da fé em Jesus Cristo. Há também outros abusos na comunidade como a tentação de querer ser mestre e abusar da palavra.” (CEBI, 2001, p. 56).

Fé, vida, projeto de Jesus. São palavras fortes que ecoam na Carta de Tiago. Tiago quer nos levar a um questionamento fundamental para quem é cristão: a nossa prática revela aquilo em que acreditamos? O que cremos é o que praticamos? São questionamentos atuais, para agora, não para amanhã, que devemos fazer em nossas vidas e Tiago, com sua Carta vem nos chamar atenção. É por isso que a leitura da Carta de Tiago hoje se faz urgente.

Tiago adquiriu na atualidade um grande interesse, pois propõe uma questão muito atual num mundo no qual nós cristãos tomamos maior consciência da distância entre o projeto de Jesus e o que vivemos em nível pessoal e comunitário: a questão da relação entre a fé, a vida na sociedade e no mundo (TUÑI; ALEGRE, 2007, p. 280).

É evidente a firmeza de fé do autor desta carta. Tiago tem força e convicção no que nos fala em seus ensinamentos. Acreditando em Deus, pedindo com fé, diz Tiago, teremos força para superar os obstáculos e não fugir deles: Tg 1:6: “porém, peça com fé, sem vacilar, pois o homem que vacila se parece às ondas do mar que se levantam e agitam segundo o vento”.

Vamos indicar algumas citações que ilustram a fé autêntica que devemos adotar em nossa vida:

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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Tg 2:14: Meus irmãos, de que serve para alguém alegar que tem fé, se não tem obras?

Tg 2:18: Alguém dirá: tu tens fé, eu tenho obras. Mostra-me tua fé sem obras e eu te mostrarei pelas obras a minha fé.

Tg 2:22: Vês que a fé agia com as obras e pelas obras a fé chegou à sua perfeição.

Tg 2:24: Vedes que o homem é justificado com as obras e não só com a fé.

Tg 2:21: Não foi nosso pai Abraão justificado pelas obras, oferecendo seu filho Isaac sobre o altar? Tiago não quer fazer uma queda de braço entre fé e obras. Quer, sim, destacar a verdadeira fé, a fé autêntica, a fé que é vida.

Esta confiança na fé em Tiago não é de mão única. A fé autêntica para Tiago é aquela que está em perfeita sintonia com as obras de amor, de misericórdia e de obediência ao projeto de vida e salvação de Deus.

Page 21: Epístolas Gerais e Hebreus

TÓPICO 1 | A CARTA DE TIAGO

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TIAGO E PAULO SOBRE A JUSTIFICAÇÃO

David N. Steele & Curtis C. Thomas

Através da história da Igreja houve dois pontos de vista opostos quanto ao modo em que os pecadores são justificados, isto é, como são feitos justos diante de Deus e, portanto, declarados aceitos por Ele.

Um dos pontos de vista ensina que a justificação é pela fé somente, sem as obras da lei. Os pecadores são declarados justos e, portanto, justificados, somente em relação com a justiça de Cristo, a qual lhes é imputada no momento em que creem nele. A salvação é pela graça, mediante a fé, e em nenhum sentido pode ser o resultado ou depender das boas obras do pecador. Os atos de obediência pessoais não garantem, nem acrescentam nada à justificação, pois esta se baseia unicamente na justiça que Deus outorga livremente a todo aquele que crê.

O outro ponto de vista ensina que os pecadores, para serem justificados, devem fazer algo mais do que crer em Cristo, devem prestar obediência pessoal à lei de Deus. Assim, é declarado que a justificação é pela fé mais as obras. O pecador se faz aceito por Deus sobre a base de que o que ele crê equivale ao que ele faz, e não sobre a única base do que Cristo fez em seu favor. Unicamente pode beneficiar-se da obra salvadora de Cristo crendo no Evangelho e obedecendo à lei de Cristo. Um sem o outro não vale para fazer o pecador aceito por Deus. Deus requer ambas as coisas, fé e obra, daquele a quem justifica.

Os advogados destas duas escolas de pensamento apelam para as Escrituras para sustentar os seus pontos de vista. Os primeiros fazem suas as palavras de Paulo, em Rm 3:28, como exposição de sua opinião: “concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.” Os segundos citam as palavras de Tiago como prova de sua doutrina da justificação pela fé mais as obras: “verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (Tg 2:24). À primeira vista estas duas declarações parecem ser contraditórias. Devemos dar razão a Tiago e rejeitar Paulo, ou o inverso? Ou podem ser reconciliadas ambas as declarações?

O propósito deste apêndice é mostrar que este conflito é apenas aparente e não real. Quando os dois versículos (Rm 3:28 e Tg 2:24) são lidos em seu próprio significado, de fato, apresentam-se como complemento um do outro, em lugar de contradizer-se. Ambas as declarações são corretas quando compreendidas no sentido em que os seus autores desejaram que fossem entendidas. O pecador é justificado pela fé, sem as obras da lei, como Paulo afirma e, todavia, o pecador salvo é justificado pelas obras, e não pela fé somente, como disse Tiago. Para compreendermos como isto pode ser possível, devemos examinar os dois versículos em seu contexto.

LEITURA COMPLEMENTAR

Page 22: Epístolas Gerais e Hebreus

UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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O propósito de Paulo em Rm 3:9-5:21 é mostrar que o pecador culpado, que não possui justiça própria, todavia, pode obtê-la por meio da fé em Jesus Cristo. No momento em que o pecador crê, lhe é outorgado a justiça de Cristo, e consequentemente, é declarado justo (é justificado) por Deus. A base da justificação do pecador diante de Deus é a justiça de Cristo que lhe é imputada, e o meio pelo qual esta justiça é recebida, é a fé somente. O ponto que Paulo deseja estabelecer é que os pecadores são aceitos por Deus, pela fé em Cristo, aparte de todo mérito pessoal. As obras do homem não têm nada a ver com a sua justificação diante de Deus. É neste contexto que o apóstolo declara: “concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei” (Rm 3:28).

O objetivo de Tiago é completamente diferente. O propósito de sua carta é mostrar como deve viver o cristão diante dos homens. Deve ser praticante da Palavra, e não apenas ouvinte, para que não engane a si mesmo (1:22-25). Este é o tema que é enfatizado no decorrer de toda a epístola. Em 2:14-26, Tiago demonstra que a fé que não produz obras é morta e não pode salvar. Ninguém pode pretender que tem fé se ela não pode ser provada com evidências. Em 2:14 pergunta: “de que aproveitará se alguém disser que tem fé, e não tem obras? Poderá semelhante fé salvá-lo?” A resposta, naturalmente, é não! Observe a afirmação que Tiago faz em 2:18: “mostra-me a tua fé sem obras, e eu te mostrarei a minha fé por meio das minhas obras”. Ele deseja que os seus leitores vejam que uma fé não pode ser justificada (provar a sua genuinidade por seus frutos) ante os homens, é falsa, não podendo ser real; é uma mera profissão sem valor algum. É neste contexto que a declaração de Tiago se refere à necessidade das obras em relação à justificação. “Verificais que uma pessoa é justificada por obras e não por fé somente” (2:24). Está falando de um Cristianismo justificado diante dos homens por meio de suas obras, enquanto Paulo em Rm 3:28 se refere ao pecador que é justificado diante de Deus aparte de suas obras. Calvino expressou ambas as ideias quando escreveu: “é a fé somente que justifica, mas a fé que justifica nunca pode vir só.” Paulo se ocupa com a primeira destas duas ideias em Rm 3:28, enquanto Tiago da segunda, em 2:24, mas uma não contradiz a outra.

J.I. Packer, acerca dos vários usos bíblicos da palavra “justificar”, disse que “em Tiago 2:21, 24-25 faz referência à prova da aceitação do homem por parte de Deus, a qual é outorgada quando as suas ações mostram que leva a classe de vida que resulta da fé que opera, a qual Deus imputa justiça.”

“A declaração de Tiago de que o cristão, que semelhante a Abraão, que foi justificado pelas obras (vs. 24), não é contrária à insistência de Paulo de que o cristão, e que semelhante a Abraão, é justificado pela fé (Rm 3:28; 4:1-5), mas que se complementa. O mesmo Tiago cita Gênesis 15:6 exatamente com o mesmo propósito que o faz Paulo: mostrar que foi a fé que fez Abraão justo (vs. 23; cf. Rm 4:3ss., e Gl 3:6ss.). A justificação que concerne a Tiago não é a aceitação original ou primária do crente por parte de Deus, mas a subsequente reivindicação de sua profissão de fé por seu modo de viver. Assim pois, não é em conceito, mas na conclusão que Tiago difere de Paulo.”

FONTE: Disponível em: <http://www.iglesiareformada.com/Tiago_Paulojustifica__o. doc>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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Neste tópico você estudou que:

• O objetivo de Tiago foi mostrar como deve viver o cristão diante dos homens e da comunidade.

• A Carta de Tiago se mostrou como um apelo a uma vida piedosa a partir de aproximadamente 50 mandamentos que reportam à autoridade de Jesus.

• Tiago apresentou suas exortações morais, catequéticas, suas advertências e a importância do exemplo de Jesus, que dirige sua atenção aos humildes, aos pobres, àqueles e àquelas menos favorecidos.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Quais as formas em que se pratica, se vive e se testemunha a fé?

2 Indique algumas citações de Tiago que ilustram a fé autêntica que devemos adotar em nossa vida.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

AS CARTAS DE PEDRO

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

O cristianismo é abrangente quando o vemos numericamente e também quando o vemos como condição de vida e testemunho no mundo de hoje. As cartas de Pedro, diferente da Carta de Tiago que pouco cita Jesus, vai apresentar a figura marcante de Jesus a partir de alguns critérios:

• Senhor da História.

• Senhor, salvador, redentor do mundo e das pessoas.

• Portador da força que impulsiona a todos para a salvação plena.

A primeira Carta de Pedro, vai se apresentar de forma muito simples com respostas a vários questionamentos surgidos entre os cristãos. Entre direitos, deveres, avisos, admoestações, o escritor chama a todos para uma atitude positiva diante da vida e das circunstâncias: ser cristão é ser otimista, alegre, sincero, esperançoso, cheio de paixão em viver conforme os preceitos evangélicos.

Já na segunda Carta de Pedro, o autor vai chamar atenção por causa das heresias e da parusia, para que se busque na conduta cristã, viver na esperança e na paciência.

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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FONTE: Disponível em: <http://www.claretiano.edu.br/publicacoes-tematicas/festa-junina/imagens/saopedro.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 6 – PEDRO ESCRITOR E APÓSTOLO

2 AUTORIA E DESTINATÁRIOS

Sobre a autoria das duas cartas, precisamos levantar algumas características em separado, porque, se para a primeira carta não se discute muito a autenticidade para Pedro, para a segunda, existem argumentos questionando a autoria de Pedro.

Mesmo aceitando a autenticidade de 1Pd, as diferenças de língua, estilo e conteúdo entre 1Pd e 2Pd são grandes demais para que 2Pd possa ser considerada do mesmo autor que 1Pd. O conteúdo e o motivo da carta apontam uma época de origem que, sem dúvida alguma, ultrapassa o horizonte da vida do Pedro histórico. As primeiras gerações cristãs, os “pais”, pertencem para o escritor e seus leitores ao passado (3,4) dúvidas em relação à parusia, como 2Pd as pressupõe, não nos são conhecidas pelo resto do NT, mas pela 1ª e 2ª epístolas de Clemente, que datam, respectivamente, do fim do séc. I e da primeira metade do séc. II. O autor refere-se ao colégio dos apóstolos como sendo uma grandeza do passado à qual ele mesmo não parece pertencer (3,2). As cartas de Paulo já formam parcialmente uma coleção e gozam da mesma autoridade dos outros escritos. Além disso, são objeto de interpretações diversas (3,15). Isso só é possível muito tempo após a morte de Paulo. (THEVISSEN; KAHMANN; DEHANDSCHUTTER, 1999, p. 95-96).

Vamos então, de uma forma mais ilustrativa e resumida, elencar num paralelo as características de Pedro e do suposto autor que no caso, não seria Pedro. Vamos lá:

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TÓPICO 2 | AS CARTAS DE PEDRO

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São Pedro Autor das CartasPedra da Igreja Servo, apóstolo de CristoCompanheiro íntimo de Cristo Testemunha ocular da paixão de CristoFalava o aramaico Escreve em grego refinadoTeve contato com Paulo Teve conhecimento das Epistolas PaulinasTeria escrito nos anos 60 Teria escrito em 95Sofreu martírio em 67 Sofreu perseguição de Domiciano (95-96)

FONTE: O autor

QUADRO 1 - CARACTERÍSTICAS DE PEDRO E DO POSSÍVEL AUTOR

Este paralelismo nos apresenta questionamentos da autoria das Cartas serem de Pedro, − em especial a segunda Carta, − o apóstolo de Cristo. Lembramos que Silvano era secretário de Paulo e também de Pedro. Por apresentar nas cartas nuances da teologia paulina, podemos levar em consideração a possibilidade de que Silvano, seguindo as indicações, as diretrizes, as orientações de Pedro e é claro, reconhecendo toda sua autoridade, teria compilado as Cartas.

São situações levantadas pelos exegetas, mas que também não negam que outros indicativos vão conduzir à autoria de Pedro. Vale aqui lembrar que, naquele tempo e em vários períodos da história, autores menos expressivos faziam uso do nome de pessoas mais conhecidas, com referências em determinado campo para tornar conhecidas suas obras ou que faziam, às vezes, dos autores o ato de tornar registradas suas ideias, seus desejos, enfim, seus ensinamentos nas mais variadas formas.

Quando consideramos que não se tem registro da atividade do apóstolo Pedro do Concílio de Jerusalém, que aconteceu no ano de 49 até a data que determina a escrita da primeira carta pelo ano de 64, sabemos que Pedro era o responsável por toda a Igreja e por causa disso teria ido a Roma por causa, certamente do cargo que ocupava.

• “Lancemos os olhos sobre os excelentes apóstolos: Pedro foi para a glória

que lhe era devida; e foi em razão da inveja e da discórdia que Paulo mostrou o preço da paciência: depois de ter ensinado a justiça ao mundo inteiro e ter atingido os confins do Ocidente, deu testemunho perante aqueles que governavam e, desta forma, deixou o mundo e foi para o lugar santo. A esses homens [...] juntou-se grande multidão de eleitos que, em consequência da inveja, padeceram muitos ultrajes e torturas, deixando entre nós magnífico exemplo.” (Clemente de Roma, ano 96, Carta aos Coríntios, 5:3-7; 6:1).

• “Não é como Pedro e Paulo que eu vos dou ordens; eles foram apóstolos, eu não sou senão um condenado” (Inácio de Antioquia, ano 107, Carta aos Romanos 4:3).

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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• “Tendo vindo ambos a Corinto, os dois apóstolos Pedro e Paulo nos formaram na doutrina evangélica. A seguir, indo para a Itália, eles vos transmitiram os mesmos ensinamentos e, por fim, sofreram o martírio simultaneamente” (Dionísio de Corinto, ano 170, extrato de uma de suas cartas aos Romanos conforme fragmento conservado na “História Eclesiástica” de Eusébio, II,25,8).

• “Nós aqui em Roma temos algo melhor do que o túmulo de São Filipe. Possuímos os troféus dos apóstolos fundadores desta Igreja local. Vai à via Óstia e lá encontrareis o troféu de Paulo; vai ao Vaticano e lá vereis o troféu de Pedro” (Gaio, ano 199).

• “Pedro, finalmente tendo ido para Roma, lá foi crucificado de cabeça para baixo” (Orígenes, +253, conforme fragmento conservado na “História Eclesiástica” de Eusébio, III,1).

• Grafitos anônimos dos séculos II e III escritos sobre o túmulo de São Pedro localizado durante as escavações arqueológicas promovidas sob a Basílica do Vaticano nas décadas de 50 e 60 (do séc. XX):

FONTE: NABETO, Carlos Martins. Apostolado Veritatis Splendor: Permanência e morte de São Pedro em Roma. Disponível em http://www.veritatis.com.br/article /1215. Desde 05/09/1999.

Mesmo, por vezes discordando em questões de doutrina, de condução

da igreja de Cristo, havia entre Pedro e Paulo muito respeito e muita vontade de caminharem e lutarem juntos pelo mesmo projeto dado por Jesus e alimentado pelo Espírito Santo. A morte de martírio pela última vez os aproxima nessa passagem tão significativa pela terra, partícipes da construção do Reino de Deus já e aqui.

FONTE: Disponível em:<http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Caravaggio-crucifixion_of _Peter.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 7 – CRUCIFIXÃO DE PEDRO

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TÓPICO 2 | AS CARTAS DE PEDRO

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A segunda carta de Pedro é apontada como dos últimos escritos bíblicos, tendo sido escrita por volta do ano 100.

Quanto ao local em que foram escritas as Cartas, o próprio autor nos indica que estava em Roma, assim também como os destinatários, aqueles pagãos convertidos como indicam as passagens a seguir:

1Pd 1:14: como filhos obedientes, não vos deixeis modelar pelos desejos de antes, quando vivíeis na ignorância;

1Pd 1:18: sabei que vos resgataram de vossa vã conduta recebida em herança, não com prata e ouro corruptíveis;

1Pd 4:3: por longo tempo no passado cumpristes os desígnios dos pagãos, praticando libertinagem, vícios, bebedeiras, orgias, comilanças e idolatrias intoleráveis.

Quando queremos identificar para quem Pedro está escrevendo suas Cartas, a primeira está claro quem são. Em 1Pd 1:1-2, o escritor nomeia os destinatários da carta: residentes da dispersão do Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia, Bitínia. Que povo é esse? Observemos:

Ponto, Galácia, Capadócia, Ásia e Bitínia (1:1) são regiões da Anatólia que caíram no domínio romano em 133/31 a.C. A área tinha uma população de 8.500.000 habitantes. É uma região de diversidade de terras, povos e culturas.

A romanização e a helenização quase só atingiram as cidades. No interior vivia-se de forma tribal. Havia poucas cidades e colônias militares.

Diante de um mundo tribal, a urbanização é sinônimo de domínio romano. A urbanização traz também a língua grega e o latim, porém, as línguas nativas e suas tradições persistiram muito tempo, ainda no século IV há vestígios. As tribos ignoravam a língua e os costumes de seus dominadores, bem como sua dominação.

O processo de romanização deve ter usado de cautela, não impondo pura e simplesmente sua religião (culto ao imperador). Parece que os problemas de 1Pd não são os mesmos do Apocalipse (culto ao imperador). 1Pd 5:9 fala de um conflito social por todo o mundo. Fruto das condições sociais, mas parece não ser confronto com Roma. Este conflito (1Pd 5:9 reflete situação rural, já que nas cidades a romanização apagava o conflito.

Pode-se, então supor que 1Pd se destina a cristãos da roça que estão num tribalismo decadente. Os paroikoi poderiam ser fazendeiros tribais vivendo em vilas, cujas terras iam se anexando a centros maiores (cidades). Neste caso eles viravam estranhos residentes em suas próprias terras.

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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Certamente havia cristãos entre todos os grupos, mas parece que predominavam entre os agricultores.

(http://www.estef.edu.br/pessoais/arquivos/ESTEF_PESSOAL_23_08_2005_15_49_53_1Pd.htm)

Já a segunda carta, que mais que uma Carta, se apresenta como exortação, não tem destinatários determinados como lemos em 2 Pd 1:1: “Simão Pedro, servo e apóstolo de Jesus Cristo, aos que partilham conosco o privilégio da fé, pela justiça de nosso Deus e Salvador”.

Pela exortação que Pedro faz no enfrentamento da questão do atraso da parusia e de heresias, faz-nos apontar para aqueles cristãos convertidos do paganismo que ainda mostram fragilidade na sua fé e doutrina e precisam ser alertados.

Vemos aqui uma realidade que distingue a missionariedade de Pedro para Paulo. Se Paulo se lança em direção dos centros urbanos, Pedro vai em direção do meio rural. E é claro que se hoje, o meio rural e urbano, em algumas circunstâncias são muito próximos, naquele tempo, eram muito distintos.

FONTE: Disponível em: <http://www.pime.org.br/catequese/cateqmjbicarapostpedro.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 8 – MEIO RURAL E URBANO

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TÓPICO 2 | AS CARTAS DE PEDRO

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DICAS

Você sabia que: a diferença da primeira Carta de Pedro, que foi aceita sem dificuldade, a segunda demorou a se impor? O Cânon dito de Muratori – um documento do fim do século II, que traz a lista dos livros da Escritura aceitos em Roma – não fala das cartas de Pedro, mas menciona a carta de Judas. Os primeiros testemunhos provêm do Egito com Clemente de Alexandria e Orígenes. Em sua grande pesquisa sobre os livros aceitos, Eusébio de Cesareia coloca a 2 Pd entre os escritos discutidos: “De Pedro uma só epístola, a chamada primeira, é reconhecida, e os anciãos presbíteros se serviram dela em seus escritos como de um texto indiscutido. Quanto à chamada segunda, aprendemos que ela não é testamentária; não obstante, uma vez que ela pareceu útil a muitos, foi tomada em consideração com as outras escrituras” (História Eclesiástica III, 3,1). No Ocidente, são Jerônimo, mesmo relatando semelhantes dúvidas, contribuiu para a aceitação da 2 Pd. Outras vozes já se tinham pronunciado em favor dela desde o século III, com Firmiliano, bispo de Cesareia na Capadócia, e Metódio de Olimpo. A partir dos séculos V e VI, segundo as províncias, a canonicidade de 2 Pd não foi mais discutida.Entre os testemunhos mais interessantes sobre a utilização da 2 Pd devemos citar o papiro Bodmer VIII, do século III, que coloca juntas as duas cartas de Pedro. Numa bela escrita, o papiro, apesar das falhas evidentes, confirma em seu todo o teor do texto “alexandrino” (atestado pelos unciais Vaticano, Sinaítico e Alexandrino) (COTHENET, Edouard. As Epístolas de Pedro. São Paulo: Paulinas, 1986. p. 60).

Podemos verificar que há diferenças na documentação que confere autenticidade para os documentos, por causa do rigor a que está submetida a autenticidade dos escritos bíblicos. Por isso se faz necessário buscar por todos os recursos históricos, geográficos, arqueológicos para dar veracidade a tudo que venha acrescentar mais confiabilidade quando estamos falando dos escritos bíblicos.

3 MENSAGEM DOUTRINAL

Se na primeira Carta, a finalidade do escritor é dar um forte sustento à fé em meio a tantas provações, na segunda Carta mais curta, João vai chamar de maneira forte a atenção contra os falsos profetas e mestres e também sobre o atraso da parusia refletido na paciência de Deus que aguarda a conversão de todos. Todos devem saber que não basta apenas aceitar o chamado de Deus, é preciso ter uma vida santa que nos faça merecedores do céu.

A primeira Carta de Pedro traz forte contribuição para a reflexão teológica, principalmente o que diz respeito ao comportamento do cristão, passando pelo mistério da Trindade, da Igreja, dos sacramentos. Esta contribuição vem de forma mais prática do que doutrinal, ainda mais quando fala da comunidade. “A comunidade é exortada a aproximar-se de Cristo, pedra viva (2:4), quer dizer, a Cristo ressuscitado. Nele os membros da comunidade, eleitos como Cristo, são constituídos num edifício de pedras vivas, templo do Espírito, para formar uma

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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comunidade sacerdotal que ofereça vítimas espirituais agradáveis a Deus”. (2:5). (TUÑI, Josép-Oriol, ALEGRE, Xavier. Escritos Joaninos e Cartas Católicas. Ave-Maria, 2. Ed, São Paulo, 2007, p. 309).

Quando vemos a abrangência dessa Carta, a ligação entre os temas aí abordados, como por exemplo, a teologia que faz uma ponte com a fé cristã, fé esta vivida e vivenciada pela comunidade cristã, que por isso deve dar testemunho do Cristo ressuscitado na glória de Deus, entendemos melhor a presença do Espírito Santo na vida de Pedro.

Jesus Cristo encontra-se na glória e está sentado à direita de Deus (3:18). Glória quer dizer aqui vitória. O fato de que Deus tenha ressuscitado Jesus Cristo e lhe tenha conferido a glória (1:21) quer dizer que podemos ter acesso a ele (2:4) e portanto, e da nova vida (1:23: podemos entrar na esfera da luz maravilhosa (2:9), da verdade (1:22) e da nova vida (1:23: “renascer”). Mas a glória de Cristo ainda há de se manifestar com a plenitude (4:13: 5:1; cf 2:5.7.13). E ainda mais, uma herança nos espera no céu (1:4) e uma herança que nada pode destruir ou manchar (1:4). Esta manifestação plena nos conduzirá a uma felicidade sem fim (1:6; cf 4:13) (TUÑI; ALEGRE, 2007, p. 306).

Como não podia ser diferente dos outros livros do Novo Testamento, também nas cartas de Pedro, a centralidade e o fundamento de Cristo é visível, atemporal e o reflexo da ação de Jesus, vida, morte e ressurreição não sofrem as limitações do tempo e do espaço. Deus não está limitado pelo tempo e pelo espaço como nós. Porém, se o tempo para nós parece duradouro, não podemos nos lançar numa vida cômoda e prescindir da misericórdia de Deus para buscarmos nossa conversão e servirmos também para a conversão de outros que buscam em nós o exemplo de cristandade.

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TÓPICO 2 | AS CARTAS DE PEDRO

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LEITURA COMPLEMENTAR

DIMENSÃO TEOLÓGICA DA PRIMEIRA CARTA DE PEDRO

A mensagem da Carta é no sentido de que o cristão deve ter uma atitude responsável nas instituições da sociedade. Escatologia não é alienação, de fato é resistência e trabalho para influenciar positivamente a sociedade. Tal se pode ver em 2:11s. O cristão, em meio ao povo, e de maneira nenhuma longe dele, vivendo diferencialmente, motivado pelo amor de Deus se integra na comissão missionária imbuído de forte senso de responsabilidade ética.

O princípio que orienta essa ética é o “fazer o bem a toda criatura, por amor do Senhor” (GOPPELT, 404). De fato, amar não é uma dimensão meramente sentimental, mas de ação.

Ao listar regras de comportamento da própria sociedade, ele usa o verbo sujeitar, que na concepção moderna destaca o “sub”, ao passo que no grego o radical taxis, ordenar, é que se impõe. Ou seja, não se trata de submeter, forçar, ou de se deixar ser forçado, mas de cumprir cada um o seu papel na ordem social. Em Rm 13:1s vemos o mesmo uso. Essa ética se baseia no direito natural, direito oriundo da natureza ou cosmo.

Ora essas regras do lar, ou as regras com respeito à relação senhor-escravo, não são invenção cristã, mas a recepção de regras conhecidas e veiculadas no mundo grego. Para os estoicos tratava-se do que se pode chamar de uma ética de relacionamento, é o que ensina Goppelt.

No entanto há uma diferença de conteúdo, no estoicismo o sábio se autorrealiza nas relações sociais, ao passo que para o cristão as boas relações sociais se configuram em mandamento e por isso podem vir como regras, cuja aceitação não é meramente voluntária, mas obrigatória para quem abraçou a fé cristã.

Mas não se trata de mera aceitação, mas de atitude crítica diante das regras do bom relacionamento. O cristão tem o dever do bom discernimento, e os critérios são: a) consciência, 1Pd 2:19, consciência para com Deus, e para com os semelhantes, nas palavras de Schlatter Korinther “um juízo que se forma na consciência do homem, prescrevendo-lhe o comportamento” (in GOPPELT, 408); b) quanto ao conteúdo, pois ao se ter Deus como critério, se aponta não para uma ideia aberta de Deus, mas para o conteúdo tradicional da fé do que seja a vontade revelada de Deus.

Para viver essa ética é necessário ter disposição para sofrer, contudo sofrer aqui é visto como graça.

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

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A cristologia de 1Pd aponta para o sofrimento na vida de Jesus, pois sua morte fundamentou o seu “êxodo” (GOPPELT, 413).

É verificável que em nosso século, por vezes, se tem voltado demais para a morte e a ressurreição de Jesus Cristo em si mesmas, mas não como coroação da vida de Jesus, e 1Pd aponta para o sofrimento-morte-ressurreição como fundamento da vida no “êxodo”, a vida de Jesus é toda ela salvífica, a imitação de Jesus leva necessariamente à vida de confronto com a sociedade, mas não contra ela, mas contra as estruturas que desvalorizam o conceito cristão de ser político, ser social, ser anthropos, ser humano.

O sentido de ser humano é a vida voltada para a formação do novo homem aos moldes de Jesus Cristo, que viveu para fazer a vontade do Pai, e a vontade do Pai era o serviço de continuar a criação do homem aos moldes do novo Adão.

Jesus não tem limites em 1Pd, ele desce até as regiões dos mortos e até lá evangeliza. Com todo o respeito para a concepção cosmológica da época, mas a verdade do discurso da carta é que não há limites para a penetração da fé cristã nas estruturas mais profundas da sociedade atingindo-a de forma salvadora.

Conclusão

Aceitemos a exortação petrina, que não importa se vem de Pedro, mas que de fato a Igreja primitiva aceitou como de autoridade apostólica, e em última instância é de autoridade divina, para nos orientar no sentido de uma vida participante, não alienada, responsável, mas que cobra seu preço, que pode ser tão alto quanto o que Jesus e a nuvem de testemunhas (mártires) pagaram.

A fé cristã pressupõe uma vontade de Deus conhecida pela doutrina, e um ser humano concreto, inteligente, capaz de julgar caso a caso, sem se apegar a letra fria, seguindo o exemplo da hermenêutica de Cristo ao tratar de questões como o sábado, por exemplo. Sua chave hermenêutica era a finalidade última da Lei, a felicidade (salvação) do ser humano.

FONTE: Disponível em: <http://www.artigonal.com/religiao-artigos/1%c2%aa-epistola-de-pedro-dimensoes-literarias-socio-historicas-e-teologicas-627897.html>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

• Pedro deu indicações do que é ser cristão: ser otimista, alegre, sincero, esperançoso, cheio de paixão em viver conforme os preceitos evangélicos.

• Pedro apresentou Jesus a partir de três dimensões: Senhor da História, Senhor e salvador e redentor do mundo, das pessoas, portador da força que impulsiona a todos para a salvação plena.

• As Cartas de Pedro se guiam pela centralidade e o fundamento de Cristo visível, atemporal que tem reflexo da ação de Jesus na história da salvação.

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1 Qual o local em que foram escritas as Cartas de Pedro e quem eram seus destinatários?

2 Como podemos distinguir a missionariedade entre Pedro e Paulo?

3 Apresente um paralelo das características de Pedro e de um possível autor das Cartas de Pedro.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 3

A CARTA DE JUDAS

UNIDADE 1

1 INTRODUÇÃO

A Carta de Judas é bem curtinha, contendo apenas um capítulo com 25 versículos. Mas nem por isso ela tem diminuída sua importância dentro do contexto bíblico teológico. Encontramos, por exemplo, na Carta de Judas, algumas particularidades que só encontramos nela. No versículo 9 acontece o embate entre o anjo Gabriel e o diabo: “Ora, quando o arcanjo Miguel discutia com o demônio e lhe disputava o corpo de Moisés, não ousou fulminar contra ele uma sentença de execração, mas disse somente: Que o próprio Senhor te repreenda!” (Jd 1:9).

Vamos então estudar a autoria, os destinatários e a mensagem deixada a nós por esta Carta.

FONTE: Disponível em: <http://blog.cancaonova.com/ananeri/files/2008/10/sjtlirioemachado.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 9 – JUDAS

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

2 AUTORIA E DESTINATÁRIOS

Quem é o autor dessa Carta? No primeiro versículo da carta temos a informação da autoria e também dos destinatários: “de Judas, servo de Jesus Cristo, irmão de Tiago, aos eleitos que Deus Pai ama e Jesus Cristo protege”. Se recorrermos ao Evangelho de Mateus, 13:55, temos referência a Judas e seu parentesco: “Não é ele o filho do artesão? Não se chama sua mãe Maria e seus irmãos Tiago, José, Simão e Judas?”

Judas não se diz irmão do Senhor, e sim servo de Cristo, mostrando sua humildade, colocando-se a serviço do projeto de salvação de Jesus, especialmente neste caso, escrevendo sua carta.

Vamos elencar as características de Judas para entendermos um pouco mais o escritor dessa Carta:

• versado na cultura helenística;

• irmão de Tiago;

• servo de Cristo;

• conhecimento evidente do grego;

• conhecimento da LXX.

Para resumir esta questão de autoria, destinatários e conteúdo, vamos recorrer ao comentário da Bíblia do Peregrino:

[...] “sendo os nomes de Judas e Tiago tão correntes na época, não é fácil identificar o autor real ou suposto. A frase (do primeiro versículo no primeiro capítulo) faz supor que Tiago fosse um personagem conhecido, talvez o personagem proeminente na Igreja de Jerusalém segundo At 15 par. o título “servo de Jesus Cristo”, imitação do tradicional servo de Deus ou de Yhwh, é freqüente nas cartas de Paulo e nas católicas: é um título tradicional. Seu conteúdo é claro: alguém que está plenamente a serviço de Jesus Cristo. Os destinatários são “eleitos” ou chamados; custodiados (Jo 17:11-12). (BÍBLIA do Peregrino. São Paulo: Paulus, 2000, p. 704).

Page 39: Epístolas Gerais e Hebreus

TÓPICO 3 | A CARTA DE JUDAS

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DICAS

Você sabia que: como lugar de origem pode-se evocar um território muito amplo. Ao lado da Palestina (para aqueles que mantêm a autenticidade ou acentuam a influência judeu-cristã sofrida pelo autor) é citada principalmente a Síria ou até a Ásia Menor. Eu me associo àqueles que se julgam incapazes de fornecer alguma indicação a respeito. Quanto ao tempo de origem, tudo depende da hipótese referente ao autor. Considera-se autor o “irmão do Senhor” ou alguém das relações próximas do Senhor, então se pensa no ano 70 ou um pouco mais tarde. Caso se aceite a pseudonímia (explicar esta palavra) e se situe Judas após Tg e antes de 2Pd, as datações apontam mais para o fim do séc. (80-100). Datações posteriores poucas vezes são apresentadas. (THEVISSEN; KAHMANN; DEHANDSCHUTTER, 1999. p. 295).

3 CONTEXTO HISTÓRICO CULTURAL

As exortações escritas por Judas na sua Carta dão indicativos fortes sobre o contexto histórico e cultural em que se vivia naquela época: imoralidade, condutas disformes da vontade de Deus, iniquidades etc. É um belo panorama do comportamento humano prevalente naquele tempo.

“Na época em que Judas escreveu esta Carta, desenvolvera-se uma situação ameaçadora. Homens imorais, animalescos, tinham-se introduzido sorrateiramente entre os cristãos e ‘transformavam a benignidade imerecida de nosso Deus numa desculpa para conduta desenfreada’. Por este motivo, Judas não escreveu, como originalmente pretendera, a respeito da salvação que todos os cristãos chamados para o Reino celestial de Deus têm em comum. Em vez disso, dirigido pelo Espírito de Deus, ele forneceu exortações para ajudar concrentes a enfrentar com bom êxito as influências corrompedoras dentro da congregação. Judas admoestou-os a ‘travarem uma luta árdua pela fé’, por resistirem a pessoas imorais, por manterem a adoração pura e a conduta excelente, “orando com Espírito Santo”. (Ju 3, 4, 19-23) Usando exemplos tais como os anjos que pecaram, os habitantes de Sodoma e Gomorra, Caim, Balaão e Corá, Judas provou vigorosamente que o julgamento de Deus será executado em pessoas ímpias com a mesma certeza que foi sobre os anjos infiéis e os homens iníquos de tempos anteriores. Ele expôs também a baixeza daqueles que tentavam aviltar os cristãos. Ju 5-16, 19.

FONTE: Disponível em: <http://www.pibblumenau.com.br/modules.php?name=biblia&page= intrjuda.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Judas vai evidenciar a existência de falsos mestres que têm a clara intenção

de confundir o povo, desvirtuá-lo de sua fé. Neste tempo, se o cristianismo ia se solidificando, da mesma forma, outras forças buscavam contestá-lo e oferecer novas crenças ao povo com práticas e ideias contrarias à mensagem do cristianismo.

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

4 DOUTRINA – MENSAGEM

Podemos dividir esta pequena Carta de apenas um capítulo e 25 versículos em quatro partes, conforme a maioria dos textos bíblicos apresenta:

1 Saudação e motivo da carta.

2 Os falsos mestres.

3 Exortações aos cristãos.

4 Doxologia final.

A centralidade da Carta de Judas está no próprio objetivo do escritor de deixar marcados e evidentes os falsos doutores que querem desvirtuar a fé cristã. Judas vai advertir sobre as ameaças que querem tornar imorais a conduta e o caráter dos cristãos. Judas também vai recomendar que o crente deve lembrar do amor misericordioso de Jesus que quer salvar a todos.

Em contraste com a atitude mundana e destruidora dos falsos mestres, o crente deve demonstrar amor espiritual e construtivo. Lembrando a misericórdia de Cristo para com eles, devem também demonstrar misericórdia para com os que estão afundados nestes males. Talvez sejam desse modo salvos (ver. 12-23). (http://www.bibliapage.com/judas.html)

Advertências, condutas imorais, doutrinas errôneas, exortações, falsos

mestres, justificação, enfim, nesta carta de Judas, além da dureza, da forte chamada de atenção, ele também salienta que a salvação é para todos aqueles que se mostram fortes para construir no amor, um novo projeto de vida.

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TÓPICO 3 | A CARTA DE JUDAS

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LEITURA COMPLEMENTAR

A CARTA DE JUDAS

Prof. Diácono Miguel A. Teodoro em 27/11/2007

Judas é o apóstolo que nos adverte em relação aos cinco juízos de Deus contra os pecados praticados por cada um de nós.

A epístola de Judas foi escrita como advertência contra certos cristãos nominais que ameaçavam solapar e destruir a comunhão dos cristãos, mediante seu caráter e conduta imorais. Os que seguiam seus passos receberiam o justo castigo de Deus. Em realidade, o Antigo Testamento dá testemunho de cinco juízos de Deus contra tais pecados praticados por estas pessoas (vers. 5-11).

Como se quisesse acentuar o fato de que tais pessoas estavam prestes a sofrer a ira de Deus, Judas acrescenta uma descrição de doze pontos acerca de sua culpa (ver. 12-16).

Em contraste com a atitude mundana e destruidora dos falsos mestres, o crente deve demonstrar amor espiritual e construtivo. Lembrando a misericórdia de Cristo para com eles, devem também demonstrar misericórdia para com os que estão afundados nestes males. Talvez sejam desse modo salvos (ver. 12-23).

A formosa doxologia (ver. 24, 25) é especialmente apropriada para os que estão passando por grandes tentações.

Além do uso que faz do Antigo Testamento, Judas demonstra conhecer a atual tradição judaica. (Referências em Judas 9, 14, embora não se encontrem no Antigo Testamento, acham-se em outros escritos judeus da época).

A epístola guarda relação particularmente íntima com a segunda epístola de Pedro, e é provável que ambas as cartas fossem dirigidas ao mesmo grupo de seguidores.

Muito embora alguns exegetas creiam que a segunda epístola de Pedro tenha empregado material de Judas, é mais provável que a segunda epistola de Pedro fosse a mais antiga das duas.

Os males que II Pedro (2:1; 3:3) prediz são descritos em Judas (vers. 4, 8, 19) como se houvessem ocorrido de acordo com a profecia apostólica a esse respeito.

Segundo a tradição, Judas é muito próximo de Jesus (Mateus 13:55) que se creu só depois da ressurreição (João 7:5; Atos 1:14), e cujo irmão, Tiago, foi o primeiro personagem dirigente da Igreja primitiva (Atos 15:13; Gálatas 1:19).

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UNIDADE 1 | AS CARTAS DE TIAGO, PEDRO E JUDAS

Isto concorda com a referência que Judas faz de Tiago (ver.1) como se este fosse amplamente conhecido. Em face de tudo isto, poder-se-ia sugerir uma data que oscilaria entre os anos 70 e 80 d.C., para a escritura desta carta.

FONTE: Disponível em: <http://www.teologiafeevida.com.br/modules/news/article.php ?storyid=28>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Page 43: Epístolas Gerais e Hebreus

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você estudou que:

• Judas nos deu indicações da centralidade de sua Carta: de deixar marcados e evidentes os falsos doutores porque querem desvirtuar a fé cristã.

• Judas deixou evidente que se o cristianismo ia se solidificando, da mesma forma, outras forças buscavam contestá-lo e oferecer novas crenças ao povo com práticas e ideias contrarias à mensagem do cristianismo.

• As exortações escritas por Judas nos dão a noção de como se vivia naquela época: imoralidade, condutas disformes da vontade de Deus, iniquidades.

Page 44: Epístolas Gerais e Hebreus

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1 Apresente o perfil que caracteriza Judas.

2 Complete a frase e indique a alternativa CORRETA:

As __________________escritas por __________________ na sua carta dão indicativos fortes sobre o contexto histórico e cultural em que se vivia naquela época.

( ) admoestações - João( ) exortações - Judas( ) ilustrações - Pedro

3 Apresente a divisão que estrutura a Carta de Judas.

AUTOATIVIDADE

Page 45: Epístolas Gerais e Hebreus

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UNIDADE 2

AS CARTAS DE JOÃO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• compreender melhor a autoria das Cartas Joaninas e sua mensagem tão atual quanto a necessidade de seguir a Cristo nos dias de hoje;

• reconhecer a importância de João como escritor de verdades que reforçam a mensagem trazida pelos Evangelhos;

• entender que a opção pela crença em Jesus Cristo é a decisão mais impor-tante da vida do cristão.

Esta unidade está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos, realizando as atividades propostas.

TÓPICO 1 – AUTORIA E DESTINATÁRIOS

TÓPICO 2 – A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ

TÓPICO 3 – A DOUTRINA

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Page 47: Epístolas Gerais e Hebreus

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TÓPICO 1

AUTORIA E DESTINATÁRIOS

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Neste tópico trataremos da autoria das três Cartas de João de forma distinta, porque veremos que a primeira tem identificação diferente da segunda e terceira Cartas; a quem o autor destina seus escritos também difere de uma Carta para outra e, ainda, compreenderemos o contexto histórico e cultural no qual o escritor apresentará sua “leitura” sobre a realidade circundante e também indicará caminhos que conduzem para prática do bem e da justiça e para a única verdade – Jesus Cristo.

Uma questão interessante da defesa da única verdade – Jesus Cristo – é que para afirmar isso, o escritor vai fazer uso da palavra anticristo, nas duas primeiras cartas, únicos livros da Sagrada Escritura a fazer uso desse termo para designar aqueles que disseminavam ideias erradas, equivocadas sobre Jesus.

FONTE: Disponível em: <http://triplov.com/cyber_art/atelier_saint_raphael/>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 10 – IMAGEM ICONOGRÁFICA DE SÃO JOÃO, MUITO USADA PELA IGREJA ORTODOXA E MAIS RECENTEMENTE PELA IGREJA CATÓLICA

Page 48: Epístolas Gerais e Hebreus

UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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2 AUTOR

João, apóstolo e autor do quarto Evangelho, teve o privilégio de estar presente em grandes acontecimentos da história da salvação. Vamos citar alguns que você, caro(a) acadêmico(a), pode fazer o exercício de identificar as citações desses acontecimentos confirmados no Novo Testamento:

1 - Ressurreição da filha de Jairo.

2 - Transfiguração.

3 - Agonia no Getsêmani.

4 - Estava ao pé da cruz com a mãe de Jesus.

FONTE: Disponível em:<http://imagensbiblicas.files.wordpress.com/2009/05/ jesus_crucifixion_john_mary.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 11 – JOÃO AO PÉ DA CRUZ COM A MÃE DE JESUS

Podemos também incluir o evento da última ceia, que foi tão especialmente preparado por João e Pedro. Não podemos esquecer de que temos no Novo Testamento cinco livros com o mesmo autor: Evangelho de João, 1ª, 2ª e 3ª cartas de João e Apocalipse. É sobre a autoria dessas cartas, que levam o seu nome, que estudaremos agora.

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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A importância das evidências externas corroboram a autoria dos textos do apóstolo João, haja vista haver possíveis alusões à primeira epístola de João nos textos de autoria de Clemente de Roma, Inácio e o falso Clemente no texto “II Coríntios”.

Há, ainda, outras possíveis alusões, as quais podem ser observadas no Didaquê, Barnabé, Hermas, Justino Mártir, a Epístola de Diogneto, Policarpo e Papias. Outras referências, estas, porém, mais obscuras a I João, são vistas em Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes, Dionísio e o Cânon Muratoriano.

Além disso, há que se mencionar as evidências internas, que também apoiam a tese tradicional. Em geral, são apresentados três tipos que são 1) a familiaridade do autor com a pessoa de Cristo. Ele afirma que é testemunha ocular do ministério de Cristo. 2) Sua reconhecida autoridade entre os primeiros leitores. 3) A grande semelhança entre o Evangelho de João e a Primeira Epístola de João.

Para compreendermos com mais propriedade os estudos a que nos propomos, precisamos recorrer às informações que mais se aproximam dos acontecimentos bíblicos. Vejamos que, para identificar a autoria das Cartas joaninas, temos a indicação de Clemente de Roma, Inácio, na Didaquê, no Cânon Muratoriano etc.

Vamos agora, do texto bíblico, elencar algumas características que brotam nesses escritos joaninos, adicionando alguns termos que nos dão um retrato de João:

1. Deixa transparecer que esteve presente nos acontecimentos relativos a Jesus.

2. Teria algum cargo, liderança; uso do termo ancião.

3. Utiliza expressões de intimidade e estima: queridos, filhinhos.

4. Fala do amor como princípio que governa nossas vidas, mas também da necessidade da ortodoxia, do ensino: reconhecimento do Espírito de Deus.

5. Na primeira carta percebemos que não segue o que é costumeiro para as principais características de uma carta. São elas:

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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7. Se a terceira Carta é dirigida a uma pessoa determinada – Gaio, a Segunda Carta é dirigida a “senhora escolhida e seus filhos”: uma comunidade-igreja.

Quando lemos a primeira Carta, percebemos que João utiliza os pronomes “eu” e “nós”. Em 1Jo 2:1 temos esta descrição: “meus filhos, eu vos escrevo isso para que não pequeis.” Já na segunda e terceira Cartas, João se autointitula “ancião”. Podemos, aqui, elencar alguns significados à palavra ancião como, por exemplo:

• alguém que tem autoridade;

• alguém de idade avançada;

• alguém que tem uma função e responsabilidades.

João teve sob sua responsabilidade, comunidades cristãs. Ele chama os integrantes dessas comunidades carinhosamente de “filhos”, “filhinhos”. Por ser apóstolo de Jesus, ser líder de comunidade, tem autoridade e isso lhe traz respeito.

Muitos estudos apontam que João teve vida longa, e essa longevidade pode também caracterizar “ancião”, citado por ele.

São realidades quanto à autoria das Cartas que constatamos no próprio texto bíblico. Cabe-nos o aprofundamento nos estudos, para buscar toda e qualquer pesquisa que contribua para o entendimento dos livros sagrados, em especial das Cartas que estamos estudando.

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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DICAS

A Igreja Ortodoxa comemora, no dia 26 de setembro, a Dormição de São João, o Apóstolo Virgem, um dos maiores santos da Igreja que mereceu o título de “o Discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do Redentor como Mãe, a Santíssima Virgem Maria, e com Ela – como Fonte da Sabedoria – a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de “o Teólogo” por excelência. A águia, símbolo da sublimidade de sua teologia, é o símbolo iconográfico de São João, o Teólogo.Disponível em: <http://www.ecclesia.com.br/news/?p=2569os>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FONTE: Disponível em: <http://www.ecclesia.com.br/news/?tag=dormicao-de-sao-joao>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 12 - DORMIÇÃO DE JOÃO

3 DESTINATÁRIOS

Quem são os destinatários das Cartas de João? Vejamos:

• Senhora escolhida e seus filhos. Destinatários indicados no início da segunda Carta de João.

• Querido Gaio. Destinatário da terceira Carta.

E a primeira Carta? Já em seu início, as duas pequenas Cartas de João (II e III) são mais explícitas na indicação dos destinatários. Já a primeira Carta, à medida que prossegue apresentando seu conteúdo, revela implicitamente os possíveis destinatários. Vamos, então, procurar identificá-los com a ajuda do texto bíblico, que também apresenta estes destinatários na sua realidade bíblica.

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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Na primeira Carta, o texto não deixa claro quem seriam os filhos, filhinhos a quem se dirige o autor. Podemos perceber a partir do uso de palavras e vocabulários em algumas citações a indicação mais forte de que seriam judeu-cristãos como, por exemplo, quando o autor cita Caim, falando do ódio advindo dos outros. Já quando percebemos o tratamento carinhoso e afetuoso, transparece a abertura aos pagãos, povo rejeitado e menosprezado.

Para a segunda Carta quando direciona o texto à “Senhora escolhida e seus filhos” também traz interpretações diversas. Alguns estudos apontam para a igreja universal, esposa de Cristo que ampara os filhos como membros integrantes desta comunidade. Outros estudos indicam que a “Senhora” é um nome de alguém propriamente dito.

Você sabia que: “À senhora Eleita”. v.1. Kuria que significa “senhora” é usado como um nome verdadeiro como, por exemplo, qualquer outro nome de alguém. Esta palavra no gênero masculino (Kurio) aparece muitas vezes no Testamento, e significa “senhor”. O único lugar no Novo Testamento que a palavra kuria – senhora – é usada, fica em II João 1. Esta palavra (kuria) nunca é usada para apresentar uma igreja. Por quê? Porque a igreja de Jesus Cristo é agora identificada como sendo uma virgem – não é casada ainda – está desposada para casar depois com Cristo. II Coríntios 11:2. Então, parece que João escreveu esta carta para uma senhora e seus filhos que conheceu.”

FONTE: Disponível em: <http://www.palavraprudente.com.br/estudos/david_z/epistolasgerais /cap01.html>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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4 CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

Jesus é histórico, faz parte fundamental e determinante da história. Isso é fato. Jesus inseriu-Se num meio histórico, geográfico, com todas as realidades humanas aí presentes: a política, a economia, a religião etc.

Vejamos algumas situações a que João dará uma resposta com suas Cartas sobre a realidade da comunidade:

• A existência de falsos mestres que pregam falsas doutrinas.

• Disputas internas por cargos entre os integrantes das comunidades cristãs.

• Divergências nas interpretações sobre: - a natureza de Jesus;- a salvação;- a fé;- a obediência aos preceitos da lei.

• Gnosticismo, ideologias.

João faz uma leitura do que está acontecendo a sua volta. Ele sabe que a comunidade está sujeita às influências que vem de todos os lados, principalmente de culturas e forças externas. Mas ele sabe também que algumas ameaças se desenvolvem no interior das próprias comunidades, como, por exemplo, algumas heresias as quais o escritor vai exortar a todos para que retornem à comunhão com Deus e com seus irmãos. Este é o contexto histórico no qual João procura dar respostas à fé do povo na sua primeira Carta.

Quando partimos para a compreensão da segunda Carta, podemos identificar duas situações, diríamos dramáticas que também refletem a realidade encontrada na primeira Carta: situação externa e situação interna: Situação externa acontece por forte assédio de heresias que desvirtuaram a fé e na situação interna João quer reafirmar sua “convicção soteriologica”.

João não pensa, não reflete suas Cartas com vistas somente no presente. Ele manifesta preocupação com o futuro, porque entende o passado e está vivendo o presente ligado nas necessidades, nos pecados, nas descobertas que as comunidades cristãs realizam entre acertos, erros, dúvidas e discordâncias doutrinais. Enfim, ele sabe da importância e urgência de suas exortações para levar as comunidades à verdade única – Jesus Cristo – e preveni-las de tantas heresias que as desvirtuam do verdadeiro caminho.

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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“Entendemos que o autor estava bastante preocupado com a igreja, em seu estado presente e futuro. Os demais apóstolos já haviam morrido e falsos mestres apareciam por toda parte. Alertando os irmãos, o apóstolo ficaria mais tranquilo e sua alegria seria completa (1.4). Seu alerta é contra o pecado (2.1) e contra as heresias (2.26). São duas portas para o diabo entrar nas vidas e nas igrejas. Embora as duas coisas estejam intrinsecamente ligadas, as heresias apresentam um elemento muito perigoso. Todo tipo de pecado deve ser evitado, mas se, eventualmente, cometermos algum, confessaremos e seremos perdoados (1.7:9; 2.1). A heresia, entretanto, constitui-se num caminho de afastamento de Deus. A heresia, do tipo mencionado por João, leva à apostasia. Então, tem-se uma situação muito perniciosa em que a pessoa está errada, mas pensa que está certa. Trata-se de um estado de pecado sem reconhecimento, sem confissão, sem arrependimento e, consequentemente, sem perdão. Aquele que passa a crer numa doutrina contrária à cruz, como pode ser perdoado? Não é que Deus se recuse a perdoá-lo, mas a própria pessoa não acredita na única solução divina, que é o sacrifício de Cristo. A reversão desse quadro é possível, mas muito difícil. O melhor é a prevenção contra as heresias e isso se faz através do conhecimento e apego à Palavra de Deus.

FONTE: Disponível em: <http://miriamz.sites.uol.com.br/NovoTestamento/Epistolas Joao.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Vamos elencar algumas citações para perceber como João entendia o que

se passava ao seu redor e buscava, com sua palavra e a força do Espírito Santo, dar respostas claras ao povo cristão, para realidades muito próximas do que hoje vivenciamos:

1 Jo 2:1 - meus filhos vos escrevo para que não pequem. Porém, se alguém pecar, temos um advogado diante do Pai; é Jesus Cristo, o Justo.

1 Jo 2:26 - vos escrevo pensando naqueles que tratam de desviá-los.

João, o discípulo que Jesus amava, ama seu ministério, ama seu povo, sua comunidade e quer preveni-los de tudo que possa desvirtuá-los do caminho de Deus.

ESTUDOS FUTUROS

No próximo tópico trataremos sobre a cristologia e a vida cristã nas Cartas Joaninas. Até lá!

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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LEITURA COMPLEMENTAR

AO LADO DO MESTRE

O Discípulo Amado gozou do convívio com Jesus durante toda a Sua vida pública, viu o alvorecer da História da Salvação desenrolar-se diante de seus olhos e abeberou-se dos ensinamentos do Mestre na mais excelente das fontes: a Sua Pessoa sagrada. Ó feliz apóstolo, que teve a alma modelada pela presença redentora de Cristo! Eis o exemplo mais puro das santas veredas do discipulado!

Na sequência das portentosas manifestações de Jesus, vemos São João constantemente a Seu lado, servindo-O muito de perto. Ele maravilhou-se com o primeiro milagre em Caná, sentiu seus braços arquearem-se sob o peso dos cestos repletos de pães que o Mestre havia multiplicado por compaixão da multidão faminta; viu os aleijados e leprosos lançarem longe suas amarras em meio a cânticos de ação de graças e esquecerem-se num só momento anos inteiros de atrozes sofrimentos. Seus olhos encontravam-se com os de Jesus após tudo isso e sua alma grata reconhecia interiormente estar diante do Messias, o Esperado das Nações.

Nos momentos de oração, quando o Salvador se retirava para o alto das montanhas, ele O admirava nos divinos colóquios com o Pai, e adentrava a indizível atmosfera de bênçãos que envolvia aquelas supremas conversações. Era-lhe impossível não amar um tão grande Deus feito homem e, sobretudo, recusar as manifestações do amor inesgotável que Jesus lhe devotava.

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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Lembremo-nos aqui de seu caráter veemente que lhe mereceu, com seu irmão Tiago, o cognome de Boanerghes, que significa “os filhos do trovão” (Mc 3: 17). Sem deixar de se manifestar ardoroso, ia-se acrescentando à sua personalidade aquela doçura que é propriamente o sinal indelével de um seguidor de Cristo. Como veremos, essa suavidade de espírito marcou-o profundamente, porque Jesus havia-lhe reservado, ademais, a mais benfazeja das companhias.

FONTE: Disponível em: <http://www.arautos.org.br/view/show/4244-sao-joao-evangelista-o-discipulo-amado>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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RESUMO DO TÓPICO 1

Neste tópico você estudou que:

• João teve o privilégio de estar presente em grandes acontecimentos da história cristã e isso o qualifica a ser um escritor muito importante para as Sagradas Escrituras.

• Existem interpretações diferentes para destinatários das Cartas de João.

• O autor deixa transparecer grande preocupação com a comunidade, não só no presente, mas também no futuro.

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AUTOATIVIDADE

1 Quais os significados para a palavra ancião?

2 Complete as lacunas corretamente e assinale a alternativa CORRETA:

1 Jo 2:1- meus filhos vos escrevo para que não _______________. Porém, se alguém pecar, temos um advogado diante do ___________; é Jesus Cristo, o Justo.

( ) Pequem Pai( ) Julquem Filho( ) Temam Espírito Santo

3 Indique quais são os possíveis destinatários da primeira Carta de João.

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TÓPICO 2

A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

Quando identificamos as Cartas com o Evangelho de João, não queremos fazer isso pelo viés da homogeneidade, mas sim, porque as Cartas trazem uma contribuição no esclarecimento e no aprofundamento de aspectos que têm uma continuidade entre o Evangelho e as Cartas.

Queremos identificar neste tópico a cristologia de João nas suas Cartas, como complemento e reforço do quarto Evangelho, também de autoria de João. Procuremos entender como a cristologia contribui para a vida dos cristãos, aqueles e aquelas que querem viver em concordância com os preceitos evangélicos, não por obrigação, mas por estarem imbuídos da responsabilidade de serem testemunhas da verdade, na alegria e na prática do amor.

2 A CRISTOLOGIA

Podemos elencar em três grandes partes os temas cristológicos tratados por João para, em seguida, desenvolvê-los com mais acuidade:

• Encarnação do Filho revelado do Pai.

• Cristo exaltado.

• Espírito como manifestação da glória do Pai.

Com atenção, podemos observar e constatar que a Cristologia joanina reúne ao redor de Cristo, o Espírito e o Pai que formam a Santíssima Trindade. Para termos uma visão mais detalhada dos temas cristológicos vistos anteriormente, vamos dividi-los em cinco tópicos. São eles:

a) A cristologia da encarnação: contra o perigo do gnosticismo e do docetismo do final do século I e do início do século II, João insiste em dizer que a realidade carnal de Jesus terreno não é mera “aparência”. Ele apareceu realmente na carne (cf Jo 1). “E o verbo se fez carne” (1:14). Com a formulação joanina, apareceu, em cristologia, outro ponto nuclear, ao lado do tema dominante da cruz e da ressurreição: a encarnação. João põe a exaltação na própria cruz, relacionada imediatamente com a sua glorificação. A cruz para João já não é mais o ponto mais baixo do rebaixamento, mas o começo da própria

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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glorificação: a “hora de Jesus” abrange ambos os momentos. “A diferença cronológica e a sequência da morte-ressurreição tornam-se secundárias nessa linha de consideração e se anulam na ‘hora de Jesus’ qualificada histórico-salvificamente”. Com a colocação desse ponto nuclear da encarnação, a mesma vida terrena de Jesus aparece como um tempo decisivo para a salvação do homem.

b) O Filho como revelação do Pai. O envio do Filho ao mundo procede do amor de Deus para com os homens. O Jesus de João é o revelador desse amor do Pai. E a relação do filho, como enviado, com o Pai é pessoal e estreita, de tal forma que abre caminho para os enunciados trinitários posteriores. Mas ainda não se deu o passo para a consideração das relações intratrinitárias diretamente em João. Ele está ainda na linha de uma cristologia “funcional”, pensa Jesus enquanto se relaciona com Deus como nosso libertador; e não na linha de uma cristologia essencialista, que supõe um trato mais aprofundado com a cultura grega. De qualquer forma, a perspectiva já está sendo lançada.

c) O Filho do Homem. Em obediência ao Pai, o Filho é rebaixado e exaltado como Filho do Homem.

d) Ele nos manda o Paráclito. Por ele a figura do “Christus incarnatus” torna-se o “Christus praesens” nos fiéis. O Espírito é aquele poder de Deus que torna presente o Cristo em nós. O Espírito assiste os fiéis e dá testemunho de Jesus. Ele é, dessa forma, o advogado de Deus. Mas o papel mais importante atribuído ao Espírito é o de tornar presente a nós a salvação de Jesus Cristo: a revelação da obra salvífica de Jesus é um evento histórico e historicamente concluído, mas continua sendo “atual”, quer dizer, atuante no presente, se abrindo e se comunicando.

e) O glorificador do Pai. Esse é o último enfoque importante da cristologia de João. Jesus glorioso na cruz glorifica o Pai e continua glorificando-o pela ação do Espírito atuante nos fiéis.

FONTE: Adaptado de: <http://ccaliman1939.spaces.live.com/blog/cns!6803D5A4650FE7 64!282.entry>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Quando Deus revela Seu filho Jesus Cristo, Ele mesmo Se revela e Se torna

presente na história, na humanidade pela encarnação de Seu filho. Cristo torna possível a construção do Reino eterno desde já. Essa é a nossa herança.

“Os direitos do homem salvo pelo amor de Deus em Cristo. Cristo é o Filho de Deus; o crente, desde já, é filho de Deus. ‘Desde já’ não significa que já está tudo feito e que, estando a salvação adquirida e ávida eterna já presente, o homem não teria mais nada a fazer na obra da salvação; ao contrário, ele é cooperador (syn-ergos, 3Jo 8). A vida eterna já presente, recebida como herança, deve ser gerada.” (MORGEN, 1991, p. 103).

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TÓPICO 2 | A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ

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Como viver dentro dos princípios cristológicos indicados por João? Pela fé vamos aderir de forma vital, ou seja, com nossa vida, unindo-nos alegremente a Jesus Cristo, sem pesar, sem transparecer essa vivência como um fardo, um peso. Isto é viver cristãmente. É o que veremos a seguir, no item “Vida Cristã”.

NOTA

Você sabia que: muitos dos termos cristológicos característicos do evangelho de João se encontram também na primeira carta de João: logos (aplicado a Jesus: 1:1), aletheia (verdade, dito do Espírito: 5:6), monogenes (aplicado a Jesus: 4,9), soter (salvador, predicado de Jesus: 4,14) fala-se da sarx (condição humana: 4:2; 2Jo 7) de Jesus, que deu a vida pelos homens (tithenai tem psychen: 3:16). Aparecem vocábulos muito específicos do evangelho de João: conhecer (ginoskein), testemunho (martyria), dar testemunho (martyrein) pai (dito de Deus: pater), mundo (kosmos), guardar (terein), permanecer (menein), manifestar-se (phanerothenai), e ainda mais algumas expressões muito típicas e semitizantes aparecem somente, dentro do Novo Testamento, no evangelho de João e na primeira carta de João: ter um pecado (echein hamartian), procurar o melhor (poiein ta aresta), ser da verdade, ser de Deus, ser do mundo etc. (TUÑI; ALEGRE, 2007, p. 157).

3 A VIDA CRISTÃ

Vamos começar assim: 1Jo 3:9 - “todo aquele que nasceu de Deus não comete mais pecado porque sua semente permanece nele: ele não pode pecar, porque nasceu de Deus.” Difícil essa condição a que estamos submetidos por sermos filhos de Deus. E como ficam nossas limitações humanas? Nossas recaídas? Nossos afastamentos de Deus? Nossas opções pelo mal, diria até pela resistência a Deus e abertura ao mal?

No versículo 11 do capítulo 4, na primeira Carta de João, temos o indicativo do que é ter uma vida cristã autêntica: “queridos, se Deus nos amou tanto, também nós devemos amar-nos uns aos outros”. Esta é uma condição sem a qual não podemos dizer que somos filhos de Deus. Se amamos Deus e não amamos nossos irmãos, não estamos cumprindo a vontade de Deus. Se amamos os irmãos e não amamos Deus, estamos negando a nossa filiação e desprezando todo o sacrifício de Cristo para nos salvar por amor. Deus nos dá o caminho a seguir, nos dá um reino a construir, nos dá irmãos para amar e perdoar. Essa é a realidade cristã nas Cartas de João e que devemos transpor para nossas vidas: “o amor de Deus não pode se separar do amor fraterno. “Se alguém diz: ‘amo a Deus’, mas odeia seu irmão, é mentiroso” (1Jo 4:20). Os escritos de São João e a Epístola aos Hebreus. (COTHENET et al., 1988, p.188).

Somos chamados a ser filhos de Deus. Sempre haverá hostilidades para aqueles e aquelas que se propõem a viver na dinâmica do amor e da

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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promessa de salvação. Não podemos esperar simplesmente na inércia. Esperar, evangelicamente, é fazer, é antecipar-se ao mal para gerir o bem. Assim se vence o mal.

A segurança da presença da vitória não suprime o dever do agir crente, mas o institui. Os filhos de Deus se apoiam numa certeza, “nós somos” e, ao mesmo tempo, voltam seu olhar para o futuro, “o que nós seremos ainda não se manifestou”. O futuro do cristão é polarizado pelo rosto de Cristo, o Filho único de Deus: “seremos semelhantes a ele porque o veremos tal como ele é” (1Jo 3:2). Uma contemplação que condiciona a ação. A conformidade com a santidade do Filho caracteriza a esperança, fundamento do agir cristão. (MORGEN, 1991, p.44).

João, de modo todo especial, salienta que é na comunidade cristã que o amor frutifica e se fortalece. É por isso que, na sua primeira Carta, João é enfático em alertar aqueles que não dão valor à vida de comunidade e a abandonam e também para aqueles que não dão importância ao mandamento do amor. Vamos apresentar essas afirmações em seis realidades, que se embasam no texto bíblico:

• Aqueles que saíram afirmam que têm comunhão com Deus (1:6), mas na realidade andam nas trevas. Caminhar nas trevas é uma descrição clara de não amar os irmãos: “o que odeia o seu irmão, está nas trevas e caminha nas trevas” (2:11).

• Os separatistas afirmam que não têm pecado (que não pecam: 1:8.10). Na realidade pecam, quer dizer, odeiam (não amam) o irmão: “aquele que odeia seu irmão é um homicida; e sabeis que nenhum homicida tem a vida eterna permanecendo nele” (3:15).

• Aqueles que abandonam a comunidade dizem que conhecem a Deus (2:4). A realidade é que não o conhecem, porque não praticam o mandamento do amor. “aquele que não ama não conhece a Deus” (4:18).

• Aqueles que saíram dizem que estão nele (Deus: 2:5), mas na realidade não estão nele, porque não guardam o mandamento: “aquele que guarda os seus mandamentos permanece Nele (Deus) e Deus nele” (3:24).

• Aqueles que abandonaram a comunidade afirmam que estão na luz (2:9), não obstante estão nas trevas, porque não amam os seus irmãos: “o que ama o seu irmão está na luz [...] o que odeia o seu irmão está nas trevas e caminha nas trevas, e não sabe aonde vai porque as trevas cegaram os seus olhos” (2:10-11).

• O último dos textos é o mais eloquente: “se alguém disser que ‘ama a Deus’ mas odeia o seu irmão, é um mentiroso: pois quem não ama seu irmão, a quem vê, não poderá amar a Deus, a quem não vê”. (TUÑI; ALEGRE, 2007, p.166-167).

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TÓPICO 2 | A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ

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João quer apresentar à comunidade cristã, a nós, aquilo que é verdadeiramente essencial. Parece rigoroso em suas palavras, por vezes repetitivo, talvez superficial, mas não se pode dizer que dá para viver cristãmente, em comunidade, viver sob o projeto de Deus, que se realiza na comunidade, sem observar estes temas por Ele apresentados.

De modo muito simples, podemos ilustrar essa nossa condição de filhos abnegados de Deus, como a argila que vai se moldando conforme as mãos do oleiro ágil. Nós devemos nos colocar inteiramente nãos mãos de Deus e deixar que Ele vá imprimindo em nós, a capacidade de cooperação na sua criação.

FONTE: Disponível em: <http://thumbs.dreamstime.com/thumb_218/11977240 13UM67Gi.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA13 – OLEIRO EM ATIVIDADE

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

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LEITURA COMPLEMENTAR

RESUMINDO JOÃO Miguel A. Teodoro

João, ao escrever suas três Cartas, tem o objetivo de nos admoestar contra as heresias do mundo. Hoje, somos solapados pela ideologia que nos oprime e nos induz a “ter” mais do que “ser” mais. Se temos mais, é porque nos tornamos surdos para Deus quando, ao contrário, deveríamos nos preocupar, para nos tornarmos mais próximos da divindade, mais ouvidos aos seus ensinamentos. Só assim é que poderemos “ser mais” do que, aparentemente, parecemos ser.

A primeira epístola de João foi escrita a uma coletividade cristã que tinha que enfrentar a heresia gnóstica do primeiro século. João procurava animar seus membros a viver uma vida consequente com a comunhão com Deus e com Cristo. Ventila assuntos tão vitais como a justiça, o amor, a verdade e o conhecimento.

O autor não considera estes assuntos simplesmente como requisitos éticos, mas como realidades religiosas fundamentadas na revelação cristã de Deus e de Seu Filho, o Senhor Jesus Cristo.

Portanto, a doutrina cristã é parte integrante do livro e sentimos, às vezes, a tentação de pensar nele como uma exposição doutrinal da realidade da encarnação de Deus em Cristo. Contudo, se quisermos seguir o pensamento do escrito, devemos evitar esta tentação, visto que o apóstolo João está interessado principalmente na qualidade da vida cristã de seus leitores.

A segunda epístola foi escrita para advertir uma mulher cristã contra a comunhão indiscriminada com os incrédulos. As ideias principais da epístola são o amor, a verdade e a obediência, que em parte se complementam entre si. A obediência sem amor é servil; o amor sem obediência é irreal; nenhum dos dois elementos pode florescer fora do ambiente da verdade.

A carta é dirigida “À Senhora Eleita”, e este é, provavelmente, seu significado, embora muitos interpretem como expressão figurativa que designa a uma igreja. Ao que parece, a epístola é uma carta pessoal a uma mulher cristã que João conhece talvez uma viúva, e o motivo foi o encontro com alguns de seus filhos aos quais ele achou fiéis na fé em Cristo.

O propósito da terceira carta é elogiar a Gaio, leigo leal e ativo que tinha consideráveis bens, por sua hospitalidade cristã, dando acolhida a pregadores que viajavam de uma cidade para outra, e ajudando-os no caminho, participando assim em sua obra missionária. A carta refere-se também à determinada circunstância interna da igreja, que envolve Gaio e Diótrefes.

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TÓPICO 2 | A CRISTOLOGIA E A VIDA CRISTÃ

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As provas disponíveis indicam que João, o apóstolo, foi o autor não somente do evangelho do mesmo nome, mas também dessas três epístolas.

Essas cartas foram escritas, segundo se supõe, entre os anos 85 e 100 d.C.

FONTE: Disponível em: <http://www.teologiafeevida.com.br/modules/news/article.php?storyid =29>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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RESUMO DO TÓPICO 2

Neste tópico você estudou que:

• Deus revela seu filho Jesus Cristo, revelando-Se, e Se torna presente na história, na humanidade pela encarnação de Seu filho que, por sua vez, torna possível a construção do Reino eterno desde já.

• Nós, cristãos, somos herdeiros de um novo tempo instaurado por Jesus e amplificado pela presença do Espírito em nosso meio.

• João quer reforçar que é na comunidade cristã que o amor deve ser cultivado para frutificar e se fortalecer.

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AUTOATIVIDADE

1 Quais são os temas cristológicos tratados por João?

2 Como é viver dentro dos princípios cristológicos indicados por João?

3 Apresente as diferentes interpretações referentes “À Senhora Eleita”.

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TÓPICO 3

A DOUTRINA

UNIDADE 2

1 INTRODUÇÃO

A primeira Carta de João é mais extensa, fato que já nos garante extrair daí o caráter doutrinal joanino que, por sua vez, também é reflexo do Evangelho de João. Na primeira Carta, veremos que o apóstolo do amor não deixa de ser exigente em suas exortações e afirma com toda convicção e certeza de que o exemplo de Cristo deve nos levar à plena confiança, agindo segundo a vontade de Deus, na oração firme. Essa condição que confirma nossa procedência e filiação divina deve nos conduzir para longe do pecado, porque nada podemos ter com o maligno, pois estamos unidos a Deus Pai e Deus Filho que nos querem a todos junto Deles, no céu. Podemos também extrair das duas cartas menores aspectos doutrinais levando-se em conta a extensão reduzida dessas duas cartas.

FONTE: Disponível em: <http://ecclesia.com.br/images/icones/santos/s_joao_teologo9.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 14 – IMAGEM ICONOGRÁFICA DE JOÃO APÓSTOLO E ESCRITOR COM SÍMBOLO DA ÁGUIA AO FUNDO

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

2 DOUTRINA DA PRIMEIRA CARTA

A primeira e a segunda Carta de João vão apresentar problemas doutrinais e cristológicos comuns. E também não podemos dispensar o conhecimento do Evangelho para termos uma maior visibilidade doutrinal da primeira Carta de João.

A primeira carta de João:

“é um torso que só recebe um rosto pelo conhecimento profundo do Evangelho de João. Isso transparece não só no vocabulário (num total de 238 vocábulos, 193, ou seja, 81%, são comuns a 1Jo e Jô), mas também no fato de que o autor de 1Jo sempre conforma seu estilo ao exemplo do Evangelho (estilo, referências a passagens de Jo, imitação do prólogo e da conclusão etc.). A linguagem aparentemente abstrata da carta recebe conteúdo concreto e profundidade da referência ao Evangelho. Supõe-se conhecida, a partir do Evangelho, a figura centrar, Jesus Cristo”. (THEVISSEN; KAHMANN; DEHANDSCHUTTER, 1999, p.179).

Já a terceira Carta vai tratar sobre a questão organizacional da comunidade, diríamos autoritarismo da parte de Diótrefes, que entre outras coisas usava de seu cargo para mandar, para não respeitar uma das qualidades cristãs que é a acolhida.

Voltemos à doutrina da primeira Carta que se confunde com a segunda Carta. Podemos dividir em três temas a primeira Carta de João a partir do que a maioria dos textos bíblicos nos apresenta:

FONTE: O autor

FIGURA 15 – TEMAS DA PRIMEIRA CARTA DE JOÃO

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TÓPICO 3 | A DOUTRINA

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Essa centralidade da primeira Carta é Jesus Cristo. Ele é a personagem principal dessa primeira Carta, porque se torna o intermediário entre nós e Deus – tudo passa por Ele para chegar a Deus –, Jesus é o protagonista. Esse protagonismo Lhe custou a vida, vida esta que venceu a morte. Vida que é dada a nós e que nos liberta dos nossos pecados e nos coloca em comunhão com Deus.

Na figura que segue temos uma ilustração da doutrina de Jesus que nos compele a uma relação entre nossa condição humana e o mandamento maior de Cristo, que é o amor.

FONTE: Disponível em: <http://miriamz.sites.uol.com.br/NovoTestamento/EpistolasJoao.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 16 – ILUSTRAÇÃO DA DOUTRINA DE JESUS

3 DOUTRINA DAS DUAS CARTAS MENORES DE JOÃO

Quando constatamos que João quer se dirigir aos seus para dar-lhes força na fé, tranquilizá-los, para que se comportem como verdadeiros filhos de Deus, amando-se uns aos outros, entendemos quão importante é compreender a doutrina de Cristo, para podermos receber o verdadeiro conhecimento, andar no caminho da obediência ao plano de Deus, permanecer fiéis a esse projeto e esperar confiantes a recompensa. Se for assim, estaremos vivendo a essência do amor.

Já comentamos que a primeira e a segunda Carta se aproximam mais que a segunda e a terceira nas questões aí tratadas: questão doutrinal e cristológica. A terceira Carta vai se conduzir pelo comportamento pouco apreciado e muito reprovado de Diótrefes na condução de uma determinada comunidade. O texto bíblico é claro: ele não faz e não deixa fazer. Isso possibilita que se questione sua autoridade. Existe, por trás desse problema, implicações doutrinais que vão além de um simples problema de autoridade. A questão organizacional, estrutural das comunidades, das igrejas, parece ser mais amplo e abrangente, que vai além da terceira Carta.

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

Não vamos repetir a doutrina da segunda Carta que se espelha na primeira Carta já tratada anteriormente.

ATENCAO

UNI

Estamos findando os estudos das Cartas joaninas. Podemos constatar que existem relações “temáticas e teológicas” entre João e a Epístola aos Hebreus, que é o nosso próximo tema de estudo. Para tomar conhecimento dessa realidade, consulte o livro As Epístolas de João, de autoria de Michele Morgen, da editora Paulinas, na p.50 e constate este paralelismo.Até a próxima Unidade!

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TÓPICO 3 | A DOUTRINA

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LEITURA COMPLEMENTAR

HERESIAS: UM PROBLEMA INTERNO

Nas Cartas de João podemos reconhecer o antidocetismo. Naquele tempo, reinava uma visão de mundo que considerava a verdade como sendo um conhecimento superior. Segundo os gnósticos, a verdade era revelada por “revelador” do Espírito Supremo; uma Inteligência Suprema. Nessa forma de pensar o corpo é tido como uma espécie de prisão da alma. Nesse modo de pensar dos gnósticos há uma compreensão dualista, isto é, a alma, a mente o espírito são os elementos superiores, luminosos e eternos; já o corpo, a matéria são considerados pesados, opacos, destinados à corrupção. É preciso libertar-se deles. O gnosticismo era a ideologia universalmente consumida naquele tempo, desde o Oriente persa até o Ocidente mais extremo do império romano. O docetismo é, na verdade, uma heresia no seio do cristianismo. Com base numa atitude gnóstica, ele despreza o valor do corpo, inclusive de Jesus de Nazaré.

O docetismo nega que Jesus nos tenha salvo e liberto por sua “carne”, sua existência humana mortal (ainda que resgatada na ressurreição). Concebe Jesus como um espírito puro que se disfarçou num corpo humano (docetismo vem de dokein = parecer, aparentar) para levar até nós sua “revelação” e depois voltar à órbita celeste. Chega a dizer que quem morreu na cruz foi, de fato, Simão de Cirene.

A luta contra o docetismo explica porque João identifica, nas cartas como no Evangelho, a glória com a cruz (no conceito de “exaltação” ou “elevação”: Jo 12:32-33). A glória não se dá fora da ‘carne’ (= humanidade frágil e mortal), mas na carne. É na carne que Cristo nos salvou 1Jo 4:1-2).

É possível que essa gente que o autor chama de “anticristos” (1Jo 2:18.22; 4:3), “profetas da mentira” (1Jo 4:1), “mentirosos” (1Jo 2:22) estivesse dentro das próprias comunidades, mas contaminada pelo espírito do erro (1Jo 4:6). Até há pouco tempo pertencia à comunidade cristã (1Jo 2:19); mas agora sai e procura desencaminhar os crentes que permaneceram fiéis (1Jo 2:26; 3:7).

Qual é, pois, o erro deles?

Pretendiam “conhecer Deus” (1Jo 2:4), “ver Deus” (1Jo 3:6), viver em comunhão com Deus (1 Jo 2:3) mas, por outro lado, veiculam pensamentos contrários do pensamento cristão. Não reconheciam Jesus como o Messias (1Jo 2:22) e o Filho de Deus (1Jo 4:15), recusavam a encarnação (1Jo 4:2). Para eles, o Cristo celeste tinha-se apropriado do homem Jesus de Nazaré na altura do batismo (cf. Jo 1:32-33), tinha-o utilizado para levar a cabo a revelação e tinha-o abandonado antes da Paixão, porque o Cristo celeste não podia padecer. O comportamento moral desses hereges não era menos repreensível: pretendiam não ter pecados (1Jo 1:8.10) e não guardavam os mandamentos (1Jo 2:4), em particular o mandamento do amor fraterno (1Jo 2:9).

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UNIDADE 2 | AS CARTAS DE JOÃO

Quem é quem?

A Carta se dirige a comunidades divididas (2:18.19.26; 3:7). Grupos que têm maneiras diferentes de ver e compreender as coisas de Deus: pensam ter o amor e o conhecimento de Deus (2:4; 4:8.20), a quem pretendiam ver (3:6; 3Jo 11). Consideram-se sem pecados (1:8.10; 2:6); sem praticar o mandamento do amor fraterno pretendem estar em comunhão com a comunidade (2:4.9). Negavam Jesus como o Filho de Deus encarnado (1:1-3; 2:22-23; 4:2-3.15; 5:5.10-11; 2Jo 7).

FONTE: Adaptado de: <http://nossaversao.pro.br/partilhas_detalhes.php?numero=13>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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RESUMO DO TÓPICO 3

Neste tópico você estudou que:

• João, assim como no seu Evangelho, afirma em suas Cartas a figura de Jesus como manifestação plena do amor de Deus por nós.

• Jesus é colocado como o intermediário entre a humanidade e Deus, que vem para salvar a todos.

• Existiam várias heresias e problemas doutrinais que dificultavam a convivência e a vivência de um cristianismo fiel ao projeto de Jesus.

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Para uma melhor compreensão do termo docetismo, faça uma pesquisa que contemple o conceito e características sobre essa heresia, presente já no início do cristianismo.

AUTOATIVIDADE

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UNIDADE 3

CARTA AOS HEBREUS

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM

PLANO DE ESTUDOS

A partir desta unidade, você será capaz de:

• conhecer os estudos que tratam sobre a autoria e também a quem é desti-nada a Carta aos Hebreus;

• compreender o contexto histórico-cultural da Carta aos Hebreus;

• identificar a doutrina, a Cristologia e a contribuição da Carta aos Hebreus para o conjunto dos livros sagrados.

A Unidade 3 está dividida em três tópicos. Ao final de cada um deles, você terá a oportunidade de fixar seus conhecimentos realizando as atividades propostas.

TÓPICO 1 – AUTORIA E DESTINATÁRIOS

TÓPICO 2 – CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

TÓPICO 3 – DOUTRINA

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TÓPICO 1

AUTORIA E DESTINATÁRIOS

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Estamos começando uma nova unidade. Aqui vamos estudar a Carta aos Hebreus. Localizada no Novo Testamento, logo após a Carta a Filêmon, uma das Cartas Pastorais atribuída a Paulo, a Carta aos Hebreus tem duas características que tiram de Paulo a possibilidade de ser o autor:

Se não bastassem questionamentos sobre a autoria, praticamente unânimes em não indicar Paulo, alguns estudiosos questionam se podemos identificar a Carta aos Hebreus como carta, já que mostra uma forte identificação como um longo sermão. Outros a identificam como um discurso ou tratado e por fim, os destinatários “aos Hebreus”, que seriam os judeus convertidos ao cristianismo, teriam os pagãos convertidos como “concorrentes” no destino da Carta.

Estes serão os temas de estudo para este tópico. Vamos lá!

2 AUTOR

Quando estudamos as Epístolas, quando se tratava de indicar a autoria, se fez necessário levar em conta vários fatores: o gênero literário, o lugar em que foi escrita a Carta, a época e suas circunstâncias, para quem é escrita e, é claro, o autor quando temos a indicação de quem é. Quando não sabemos, os fatores anteriores são muito importantes para esta identificação. Em relação à Carta aos Hebreus, mesmo sabendo que muitos estudos ainda são feitos, o que os estudiosos indicam é que São Paulo não é o autor desta carta. E esta afirmação não é de hoje.

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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As Igrejas do Oriente consideraram-na sempre como uma Carta paulina, apesar de muitos reconhecerem as suas diferenças em relação às outras Cartas de Paulo, sobretudo no que se refere à forma literária, à linguagem e estilo, à maneira de citar o AT e mesmo quanto à doutrina. A Igreja do Ocidente negou-lhe a autoria paulina até o séc. IV e pôs, por vezes, em questão a sua condição de escrito inspirado e canônico.A questão continuou controversa ao longo da história da exegese católica e protestante, mas atualmente é quase unânime a negação da autenticidade paulina. No entanto, admite-se que a CARTA AOS HEBREUS tenha tido origem num companheiro ou discípulo de Paulo, pois há vários pontos de convergência entre ela e a doutrina do Apóstolo: a paixão de Cristo como obediência voluntária, a ineficácia da Lei antiga, a dimensão sacrificial e sacerdotal da redenção e alguns aspectos da cristologia. Trata-se, sem dúvida, de um sermão cristão, cuja origem remonta à Igreja Apostólica, e constitui, por isso, parte integrante da Palavra de Deus. (CARTA AOS HEBREUS, 2009).

Vimos que uma Carta, seja ela paulina ou Carta geral, contém algumas características que a identificam como tal. A Carta aos Hebreus não apresenta em seu início nome de autor, de destinatário, não apresenta uma saudação inicial.

A Carta aos Hebreus não tem saudação conhecida, embora deva ter tido, no caso em que se trate de uma carta, pois até isso é questão aberta, Hb 13:23s poderia ser um dado sobre o autor ou uma maneira de aludir a um autor: conta que Timóteo foi libertado e lhes promete: “se ele voltar a tempo irei com ele ver-vos”. Não diz sequer: “suponho que queira acompanhar-me”, ou seja, que não duvida de sua própria autoridade sobre Timóteo: logicamente, pode-se pensar que é, ou se apresenta como Paulo. As saudações dos “da Itália” do versículo seguinte também podem sugerir que ambos estão em Roma, onde o apóstolo esteve certamente prisioneiro. O apelativo “irmãos” (3:1.12; 10:19; 13:22) poderia ir na mesma direção: de qualquer modo não é próprio de Paulo, visto que a Carta de Tiago o emprega frequentemente. em qualquer caso, estas indicações levariam a um autor “aludido”, não ao autor real. (BOSCH, 2008, p. 425-426).

Podemos dizer em linguagem de hoje que estas realidades apontadas por Jordi são uma “pegadinha” para aludir a um autor, no caso Paulo, mesmo sendo outro autor.

Já havíamos dado dois motivos que apontam em outra direção que não para Paulo a autoria da Carta:

• o conteúdo diferenciado em relação às outras cartas de Paulo;

• o estilo diferente.

A nota acima acrescenta outras características sobre esta questão:

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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• forma literária;

• linguagem;

• a maneira de citar o A;

• a doutrina.

Se não foi Paulo que escreveu esta Carta, quem foi o seu autor? “Os estudiosos são unânimes em afirmar que o seu autor não é Paulo, mas talvez um discípulo da segunda geração. De Paulo, ele tem a insistência na fé e na graça, na superação da antiga aliança e de suas instituições. (CEBI, 2001, p. 43).

Já nos primórdios do Cristianismo são apresentadas versões diferentes na indicação da autoria da Carta aos Hebreus, começando com Clemente de Alexandria, passando por Orígenes, Tertuliano. Vejamos.

Clemente Alexandrino disse que o original hebraico tinha sido traduzido para o grego por Lucas; Orígenes disse que as ideias eram de Paulo, a redação de um secretário versado na língua e retórica gregas; Tertuliano diz que o autor era Barnabé (por ser levita) em resumo, a carta demorou a impor-se como paulina, e as dúvidas ressurgiram no Renascimento e terminaram em negação pela maioria dos críticos modernos. Os argumentos são internos. Faltam as referências pessoais. A notícia sobre Timóteo, depois da doxologia (13:23), é um pós-escrito ambíguo; por sua vez, 2:3 indica que o autor recebeu o Evangelho por mediadores, contra o que afirma Paulo (Gl 1:1-11). (BÍBLIA DO PEREGRINO, 2000, p. 634).

FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:ClemensVonAlexandrien.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 17 – CLEMENTE DE ALEXANDRIA

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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Quando observamos a Carta pelo vocabulário, percebemos algumas características que não são de Paulo:

• Afinidade e refinamento com a língua grega.

• Serenidade no estilo.

• Poucos personagens nos relatos etc.

Temos alguns indicativos no texto da Carta que podem indicar Paulo como autor de alguns trechos, por exemplo, At 13: 23: Sabei que vosso irmão Timóteo foi libertado. Se chegar logo, me acompanhará quando eu vos visitar. O versículo 24 do mesmo capítulo 13 quer indicar o local dos autores: “saudai todos os vossos chefes e todos os consagrados. Os da Itália vos saúdam.” Sabemos que Paulo esteve em Roma.

NOTA

Você sabia que: “O vocabulário da Carta aos Hebreus compõe-se de 1038 palavras; com exceção dos nomes próprios, contém 166 hápax (palavras que aparecem uma única vez) do Novo Testamento e 424 palavras que não aparecem nas sete cartas consideradas autenticamente paulinas. Com esse vocabulário, o autor compõe uma obra de 4942 palavras, o que dá uma proporção média de vocabulário de 4,76 (4942 : 1038), inferior à Segunda carta aos Coríntios, que tem 5,62 (4448 : 792) mesmo sendo menos extensa; é, pois, um tanto mais repetitiva do que aquela carta, talvez porque desenvolve mais os temas e renuncia à acumulação de sinônimos.(BOSCH, 2008, p. 429).

Vamos elencar aqui os seguintes autores indicados pelos estudiosos da Carta aos Hebreus:

• Paulo;

• um discípulo da segunda geração;

• Barnabé;

• Lucas;

• e também Apolo, fundamentado em At, 18:24-28, pelo seu conhecimento do Antigo Testamento e pela sua defesa de Jesus como o Messias.

Page 83: Epístolas Gerais e Hebreus

TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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NOTA

Você sabia que: Apolo era um Judeu de religião, um Alexandrino de sangue e um Coríntio e Éfeso de vocação. Vivia a maior parte da sua vida em Alexandria. Ora, a Alexandria era uma cidade de famosa biblioteca e de rica literatura. Segundo o testemunho, as literaturas e a grande biblioteca que lá existem são grandes patrimônios importantes de Alexandria. Coloquemos a questão: o que tem a ver com a figura de Apolo? Segundo o texto “Ocidental” e na sua biografia, Apolo era conhecido como alguém que se apaixonou muito pela literatura. A Sagrada Escritura era uma das leituras de comum e ocupava as estantes da Biblioteca. Testemunhou-se que o “Caminho” de Apolo foi aberto pelo conteúdo da Sagrada Escritura e, o seu sentido da vida foi iluminada pela Palavra de Deus, mas como ele ainda não tinha sabido acerca do batismo no Espírito Santo, fazia portanto, com que o seu conhecimento de Jesus não fosse completo. É desta sua relação com a biblioteca de Alexandria que se pode dizer que a fé e o conhecimento de Apolo acerca de Jesus e a sua vocação de ser profeta em Éfeso e Corinto não era por causa de ter recebido a revelação especial de Deus como Pedro e Paulo, mas sim, pelo seu interesse pessoal de conhecer Jesus através da literatura comum e, especialmente pela Sagrada Escritura, para além da pregação dos Apóstolos itinerantes. (http://cristianismodasorigens.blogspot.com/2007/03/apolo-biblioteca-profeta.html)

FONTE: Disponível em: <http://farm4.static.flickr.com/3039/2567272253_6c2445 25ed.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 18 – POVO HEBREU NO DESERTO

Para concluir esta questão sobre a autoria da Carta aos Hebreus, caro(a) acadêmico(a), você pode e deve buscar mais informações e estudos, não só por este tema, mas sobre todos os temas aqui tratados.

Page 84: Epístolas Gerais e Hebreus

UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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Vamos elencar algumas características do autor da Carta, para aproximarmos um perfil que podemos extrair da própria carta:

1 O autor é judeu principalmente pela maneira de falar.

2 É um teólogo.

3 Conhece muito bem as Escrituras.

4 Domina o grego.

5 Tem uma habilidade literária acrescida de senso estético.

3 DESTINATÁRIOS

Hebreus, nome dado ao povo judeu que caminhou pelo deserto em busca da terra prometida. Na Palestina se organizou uma das primeiras comunidades cristãs formada por judeus convertidos, e por isso, por tornarem-se cristãos, sofreram perseguições, confisco de bens e outros sofrimentos advindos de sua conversão.

FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/_53g-RQbEQ4c/SXDzFMvGvYI/AAAA AAAAAUs/FGibBK_I_ig/s400/muro+palestina.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 19 – PALESTINA NOS DIAS ATUAIS

Os destinatários indicados no título da Carta – Hebreus – já recebem este nome desde o segundo século da era cristã. Pelo conteúdo da Carta, podemos indicar os judeus-cristãos, os “recebedores” da mensagem epistolar, hebreus – judeus convertidos. Convertidos a que? Ao Cristianismo.

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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“Não existem dúvidas de que a Carta se apresenta como dirigida a judeus-cristãos. Para a Carta, mais do que para nenhum outro escrito do Novo Testamento, só existe um povo de Israel: contém treze vezes o termo Laos (“povo”), exclusivamente no singular, e nenhuma vez o termo ethnos (“nação”), que, no plural, designaria os gentios.” (BOSCH, 2008).

Como podemos definir os destinatários dessa Carta como sendo judeus? Temos alguns indícios na própria Carta como, por exemplo:

1 Citações do Antigo Testamento: “nossos pais por meio dos profetas” (2 Cr 36:15; Zc 1:4-5).

2 Expiação dos pecados.3 A centralidade do sacerdócio de Jesus.

Estes fatores são indicativos de que os Hebreus tinham conhecimento do Antigo Testamento, mas precisavam reconhecer em Jesus Cristo o Sumo Sacerdote, o verdadeiro Sacerdote, não só para eles, mas para toda a humanidade.

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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LEITURA COMPLEMENTAR

CARTA AOS HEBREUS

Carta inspirada das Escrituras Gregas Cristãs. A evidência indica que foi escrita pelo apóstolo Paulo aos cristãos hebreus na Judeia, por volta de 61 d.C. Para aqueles cristãos hebreus, esta carta era muito oportuna. Já se haviam passado uns 28 anos desde a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Na primeira parte daquele período, os líderes religiosos judeus lançaram uma severa perseguição contra os cristãos judeus em Jerusalém e na Judeia, que resultou na morte de alguns cristãos e espalhou a maioria dos outros de Jerusalém. (At 8:1) Os espalhados continuaram ativos na divulgação das boas novas aonde quer que fossem. (At 8:4) Os apóstolos haviam permanecido em Jerusalém e haviam mantido unida a congregação que ficara ali, e esta havia aumentado, mesmo sob forte oposição. (At 8:14) Daí, por algum tempo, a congregação entrou num período de paz. (At 9:31) Mais tarde, Herodes Agripa I causou a morte do apóstolo Tiago, irmão de João, e maltratou outros da congregação. (At 12:1-5) Algum tempo depois disso, passaram a existir necessidades materiais entre os cristãos na Judeia, dando àqueles da Acaia e da Macedônia a oportunidade (por volta de 55 d.C.) de demonstrar seu amor e sua união por enviar ajuda. (1Co 16:1-3; 2Co 9:1-5) De modo que a congregação de Jerusalém sofreu muitas dificuldades.

Objetivo da Carta. A congregação em Jerusalém compunha-se quase que inteiramente de judeus e daqueles que haviam sido prosélitos da religião dos judeus. Muitos destes obtiveram conhecimento da verdade depois da época da mais amarga perseguição. Na ocasião em que se escreveu a carta aos hebreus, a congregação usufruía comparativa paz, porque Paulo lhes disse: “Ainda nunca resististes até o sangue.” (He 12:4) Todavia, o abrandamento da perseguição física, direta, até a morte, não significava que cessara a forte oposição dos líderes religiosos judeus. Os membros mais novos da congregação tinham de enfrentar a oposição do mesmo modo que os demais. E alguns outros eram imaturos, não tendo feito progresso em direção à madureza, o qual, em vista do tempo, já deveriam ter feito. (5:12) A oposição da parte dos judeus, com que se confrontavam diariamente, punha sua fé à prova. Eles tinham de desenvolver a qualidade da perseverança. 12:1, 2. O tempo estava se esgotando para Jerusalém. Nem o apóstolo Paulo, nem os da congregação de Jerusalém, sabiam quando ocorreria a predita desolação, mas Deus sabia. (Lu 21:20-24; Da 9:24, 27) A situação exigia que os cristãos ali ficassem atentos e exercessem fé, para fugir da cidade quando vissem Jerusalém cercada por exércitos acampados. Todos na congregação precisavam fortalecer-se para estes eventos momentosos. Segundo a tradição, foi apenas uns cinco anos depois da escrita desta carta que as tropas de Céstio Galo atacaram a cidade e depois se retiraram. Quatro anos mais tarde, Jerusalém e seu templo foram arrasados pelos romanos sob o General Tito. Mas, antes de estes eventos ocorrerem, Deus havia providenciado o conselho inspirado de que seus servos precisavam.

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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Oposição judaica. Os líderes religiosos judeus, por meio de propaganda mentirosa, haviam feito tudo para suscitar ódio contra os seguidores de Cristo. Sua determinação de combater o Cristianismo com todas as armas possíveis é demonstrado pelas suas ações, conforme registradas em Atos 22:22; 23:12-15, 23, 24; 24:1-4; 25:1-3. Eles e seus apoiadores hostilizavam constantemente os cristãos, pelo visto usando argumentos no empenho de quebrantar a lealdade deles a Cristo. Atacavam o Cristianismo com o que para o judeu pareciam ser fortes argumentos, difíceis de refutar.

Naquele tempo, o judaísmo tinha muito para oferecer em sentido de coisas materiais, tangíveis, e de aparência externa. Os judeus talvez dissessem que estas coisas provavam que o judaísmo era superior e que o cristianismo era tolo. Ora, haviam dito a Jesus que a nação tinha por pai a Abraão, a quem se deram as promessas. (Jo 8:33, 39) Moisés, com quem Deus falara “boca a boca”, era o grande servo e profeta de Deus. (Núm 12:7, 8) Os judeus tinham desde o começo a Lei e as palavras dos profetas. ‘Não confirmaria a própria antiguidade que o judaísmo era a verdadeira religião?’ poderiam perguntar. Por ocasião da inauguração do pacto da Lei, Deus falara por meio de anjos; de fato, a Lei fora transmitida por meio de anjos, pela mão do mediador Moisés. (At 7:53; Gál 3:19) Nesta ocasião, Deus dera uma atemorizante demonstração de poder, por abalar o monte Sinai; o som alto de buzina, fumaça, trovões e relâmpagos acompanharam a demonstração gloriosa. Êx 19:16-19; 20:18; He 12:18-21.

Além de todas estas coisas antigas, lá estava o magnífico templo, com seu sacerdócio instituído por Deus. Sacerdotes oficiavam no templo, manejando diariamente muitos sacrifícios. Junto com estas coisas, havia dispendiosas vestes sacerdotais e o esplendor dos ofícios realizados no templo. ‘Não ordenara Deus que os sacrifícios pelo pecado fossem trazidos ao santuário, e não entrava o Sumo Sacerdote, descendente do próprio irmão de Moisés, Arão, no Santíssimo, no Dia da Expiação, com um sacrifício pelos pecados da nação inteira? Nesta ocasião, não se chegava ele representativamente à própria presença de Deus?’, talvez argumentassem os judeus. (Le 16) ‘Além disso, não estavam os judeus de posse dum reino, com alguém (o Messias, que viria mais tarde, como diziam) para se sentar no trono em Jerusalém, a fim de governar?’

Se a Carta aos Hebreus estava sendo escrita para equipar os cristãos a responder a objeções realmente feitas pelos judeus, então os inimigos do Cristianismo haviam argumentado do seguinte modo: ‘O que podia esta nova “heresia” apresentar como evidência da sua genuinidade e de ter o favor de Deus? Onde estava o seu templo, e seu sacerdócio? Ora, onde estava seu líder? Fora ele alguém de importância entre os líderes da nação durante a sua vida este Jesus, um galileu, filho de carpinteiro, sem instrução rabínica? E não teve ele uma morte ignominiosa? Onde estava o reino dele? E quem eram seus apóstolos e seguidores? Meros pescadores e cobradores de impostos. Além disso, na maior parte, quem era atraído pelo Cristianismo? Os pobres e humildes da terra, e, ainda pior, aceitavam-se gentios incircuncisos, que não eram da descendência de Abraão. Por que confiaria alguém neste Jesus, que fora morto como blasfemador e sedicioso? Por que escutar os discípulos dele, homens indoutos e comuns?’ At 4:13.

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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A superioridade do sistema cristão. Alguns cristãos imaturos talvez se tornassem negligentes para com a sua salvação por meio de Cristo. (He 2:1-4) Ou talvez fossem influenciados pelos judeus descrentes que os cercavam. O apóstolo, vindo em auxílio deles com argumentos magistrais e usando as Escrituras Hebraicas, nas quais os judeus afirmavam basear-se, mostra irrefutavelmente a superioridade do sistema de coisas cristão, e do sacerdócio e da realeza de Jesus Cristo. Demonstra biblicamente que Jesus Cristo é o Filho de Deus, maior do que os anjos (1:4-6), do que Abraão (7:1-7), do que Moisés (3:1-6) e do que os profetas (1:1, 2). De fato, Cristo é o designado herdeiro de todas as coisas, coroado de glória e honra, e designado sobre as obras das mãos de Deus. 1:2; 2:7-9.

Quanto ao sacerdócio, o de Cristo é muito superior ao sacerdócio arônico da tribo de Levi. Não se baseia numa herança de carne pecaminosa, mas num juramento de Deus. (He 6:13-20; 7:5-17, 20-28) Então, por que suportou ele tantas dificuldades e teve uma morte de sofrimento? Isto foi predito como essencial para a salvação da humanidade, e para habilitá-lo como Sumo Sacerdote e como aquele a quem Deus sujeitaria todas as coisas. (2:8-10; 9:27, 28; compare isso com Is 53:12.) Ele tinha de se tornar carne e sangue, e tinha de morrer, a fim de emancipar todos aqueles que, pelo temor da morte, estavam em escravidão. Por meio da sua morte, ele pode reduzir a nada o Diabo, algo que nenhum sacerdote humano podia fazer. (He 2:14-16) Tendo sofrido assim, ele é um Sumo Sacerdote que pode compadecer-se das nossas fraquezas e pode vir em nosso auxílio, tendo sido posto à prova em todos os sentidos. 2:17, 18; 4:15.

Além disso, argumenta o apóstolo, este Sumo Sacerdote “passou pelos céus” e apareceu na própria presença de Deus, não numa mera tenda ou construção terrestre, que apenas era representativa de coisas celestiais. (He 4:14; 8:1; 9:9, 10, 24) Ele precisava comparecer só uma vez com seu sacrifício perfeito, sem pecado, não vez após vez. (7:26-28; 9:25-28) Não tem sucessores, assim como tiveram os sacerdotes arônicos, mas vive para sempre, para salvar completamente aqueles a quem ministra. (7:15-17, 23-25) Cristo é o Mediador do pacto melhor, predito por meio de Jeremias, sob os quais os pecados podem realmente ser perdoados e a consciência purificada, coisas que a Lei nunca podia realizar. As Dez Palavras, as leis básicas do pacto da Lei, foram escritas em pedra; a lei do novo pacto, em corações. Esta palavra profética de Deus, por meio de Jeremias, tornava o pacto da Lei obsoleto, fazendo-o desaparecer com o tempo. 8:6-13; Je 31:31-34; De 4:13; 10:4.

É verdade, continua o escritor de Hebreus, que em Sinai se manifestou uma exibição atemorizante de poder, demonstrando a aprovação do pacto da Lei por Deus. De forma muito mais vigorosa, porém, Deus deu testemunho na inauguração do novo pacto, com sinais, portentos e obras poderosas, junto com distribuições de Espírito Santo a todos os membros reunidos da congregação. (He 2:2-4; compare isso com At 2:1-4.) E, quanto ao Reinado de Cristo, seu trono está no próprio céu, muito acima daquele dos reis da linhagem de Davi, que se sentavam no trono na Jerusalém terrestre. (He 1:9) Deus é a base do trono de Cristo, e o seu Reino não pode ser abalado, assim como foi o reino em Jerusalém,

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TÓPICO 1 | AUTORIA E DESTINATÁRIOS

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em 607 a.C. (1:8; 12:28) Além disso, Deus tem ajuntado seu povo perante algo muito mais espantoso do que a exibição milagrosa no monte Sinai. Ele tem feito os cristãos ungidos chegar-se ao Monte Sião celestial, e ainda abalará não só a terra, mas também o céu. 12:18-27.

A Carta aos Hebreus é de inestimável valor para os cristãos. Sem ela, muitas das realidades referentes a Cristo, conforme prefiguradas pela Lei, não estariam claras. Por exemplo, os judeus sempre souberam das Escrituras Hebraicas que, quando seu Sumo Sacerdote entrava no compartimento Santíssimo do santuário a favor deles, ele os representava perante Deus. Mas eles nunca souberam avaliar a seguinte realidade: Algum dia, o verdadeiro Sumo Sacerdote havia de aparecer nos céus na própria presença de Deus! E, ao lermos as Escrituras Hebraicas, como poderíamos dar-nos conta do enorme significado do relato do encontro de Abraão com Melquisedeque, ou entender tão claramente o que este rei-sacerdote tipificava? Isto, naturalmente, são apenas dois exemplos dentre as muitas realidades que chegamos a visualizar ao ler a carta.

A fé edificada pela carta ajuda os cristãos a se apegarem à sua esperança por meio da “demonstração evidente de realidades, embora não observadas”. (He 11:1) Numa época em que muitos se estribam na antiguidade, na riqueza material e no poder de organizações, no esplendor de ritos e cerimônias, e recorrem à sabedoria deste mundo, em vez de a Deus, a divinamente inspirada Carta aos Hebreus ajuda admiravelmente a tornar o homem de Deus “plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra”. 2Ti 3:16, 17.

Escritor, Tempo e Lugar da Escrita. A escrita da Carta aos Hebreus tem sido amplamente atribuída ao apóstolo Paulo. Era aceita por primitivos escritores como epístola de Paulo. O Papiro Chester Beatty N.° 2 (P46) (de aproximadamente 200 d.C.) contém Hebreus entre nove das cartas de Paulo, e Hebreus é alistado entre “quatorze cartas de Paulo, o apóstolo”, em “O Cânon de Atanásio”, do quarto século d.C.

O escritor de Hebreus não se identifica por nome. Embora todas as suas outras cartas levem seu nome, esta falta de identificação do escritor obviamente não exclui Paulo. A evidência interna da carta aponta fortemente para Paulo como seu escritor, e para a Itália, provavelmente Roma, como lugar da escrita. (He 13:24) Foi em Roma, evidentemente durante os anos 59 a 61 d.C., que Paulo foi encarcerado pela primeira vez. Timóteo estava com Paulo em Roma, sendo mencionado nas cartas do apóstolo aos filipenses, aos colossenses e a Filêmon, escritas em Roma durante este encarceramento. (Fil 1:1; 2:19; Col 1:1, 2; Flm 1:1) Esta circunstância se ajusta à observação feita em Hebreus 13:23 sobre a soltura de Timóteo da prisão e sobre o desejo do escritor de visitar em breve Jerusalém.

A época da escrita foi antes da destruição de Jerusalém em 70 d.C., porque o templo em Jerusalém ainda estava de pé, realizando-se ali ofícios, conforme é evidente no argumento na carta. E a observação de Paulo, de que Timóteo tinha

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

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sido livrado, estabelece razoavelmente o tempo da escrita como cerca de nove anos antes, a saber, em 61 d.C., quando se pensa que o próprio Paulo foi solto do seu primeiro encarceramento. Hb 13:23.

FONTE: Disponível em: <http://www.spiner.com.br/modules.php?name=biblia&page=Intrhebr .htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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Neste tópico você estudou que:

• Não existe um consenso quanto ao autor da Carta, quanto aos destinatários e também questionamentos até se realmente, a Carta é realmente uma carta.

• Se não é possível indicar o verdadeiro nome do autor, é possível fazer um perfil dele, assim caracterizado entre outros: é judeu principalmente pela maneira de falar; teólogo; conhece muito bem as Escrituras, domina o grego.

• Os Hebreus tinham conhecimento do Antigo Testamento, mas precisavam reconhecer em Jesus Cristo o Sumo Sacerdote, o verdadeiro Sacerdote.

RESUMO DO TÓPICO 1

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1 Indique os possíveis autores da Carta aos Hebreus apresentados pelos estudiosos da Bíblia.

2 Apresente as características que compõem o perfil do autor da Carta aos Hebreus.

3 Aponte algumas características que apontam para outra autoria que não a de Paulo para a Carta aos Hebreus.

AUTOATIVIDADE

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TÓPICO 2

CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

2 CONTEXTO HISTÓRICO E CULTURAL

A vida dos cristãos não estava fácil quando foi localizada a Carta aos Hebreus no final do século I e começo do século II. Os cristãos eram perseguidos, incompreendidos, confusos até na vivência de sua fé.

Assim, nesse tópico, vamos entender as circunstâncias histórico-culturais da Carta aos Hebreus e ter uma visão muito rápida do conteúdo da Carta.

Para identificarmos o contexto histórico e cultural desta época, teremos algumas dificuldades, como na identificação do autor e da própria comunidade recebedora da Carta. Entretanto, apresentamos a você, caro(a) acadêmico(a), o que temos de mais indicado para essa questão.

São várias as opções que indicam o local dos destinatários da Carta aos Hebreus e, desse modo, há uma concordância do local com o possível autor da Carta.

• Alexandria.• Cesareia.• Antioquia.• Jerusalém.• Roma.• Palestina.

Contudo, os estudiosos resumem somente em duas as possíveis cidades contempladas com a Carta aos Hebreus: Jerusalém e Roma.

A data da redação deve ter sido anterior ao ano 70, que foi o ano da destruição do templo, um acontecimento impossível de ser ignorado em qualquer relato da época. No ano de 95, Clemente já citava a Carta aos Hebreus, então, podemos localizar pelo ano de 60-70 a redação da carta.

Page 94: Epístolas Gerais e Hebreus

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

UNI

Como podemos então caracterizar histórica e culturalmente essa comunidade?

O texto bíblico nos faz entender que essa é uma comunidade com integrantes já convertidos há algum tempo, porém, é uma comunidade que possui muitos sofrimentos, desde perseguições, limitações em sua liberdade, diminuição, até roubo de seus bens, ou seja, descontentes com sua situação.

Eles esperam algo que os tirasse dessa realidade constrangedora. Chegavam a questionar se realmente Jesus Cristo era importante na vida deles e da comunidade.

A seguir, apresentamos alguns problemas concretos vividos na comunidade:

• Alguns questionavam as assembleias púbicas.

• Outros se mostravam apóstatas.

• Questionamentos sobre a importância do cristianismo para suas vidas.

• O paganismo é muito forte na comunidade.

• Saudosismo das práticas judaicas.

Sabemos que esses problemas não eram exclusividade dessa comunidade naquele tempo em que receberam a Carta. Nos tempos de Abraão até naquele momento, muitas vezes, o povo se mostrou contraditório em sua relação com Deus.

Vejamos, no quadro a seguir, uma comparação dos eventos históricos do povo de Israel, que era escravo no Egito, e do povo destinatário da Carta, que sintetiza muito bem a realidade histórico-cultural e religiosa presente naquele tempo.

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TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

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ISRAEL LEITORES DA EPÍSTOLAEscravidão no Egito. Escravidão no judaísmo.Saíram do Egito com esperanças. Aceitaram o cristianismo com entusiasmo.Em função das dificuldades, Israel vacilou na fé.

Os cristãos-judeus estavam vacilantes na fé em função das perseguições.

Israel intencionou voltar ao Egito. Alguns cristãos estavam desejando voltar ao judaísmo.

A geração de Israel pereceu no deserto devido à incredulidade.

Os cristãos-judeus pereceriam se persistissem na incredulidade.

FONTE: Disponível em: <http://www.cpad.com.br/3trim06/sub_licao_009.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

QUADRO 2 – COMPARATIVO DOS EVENTOS HISTÓRICOS DE ISRAEL E DO POVO DESTINATÁRIO DA CARTA

3 CONTEÚDO

Quando queremos entender o conteúdo de um texto precisamos entrar no âmago do texto. Nesse entendimento está incluso a cultura, a literalidade e até as intenções do autor ao redigir tão profundas palavras.

Transcrevemos, a seguir, a estrutura de Hebreus para então destacarmos alguns pontos do conteúdo desta Carta.

Prólogo (1,1-4).

I O Filho de Deus é superior aos anjos (1,5-2,18): prova escriturística (1,5-14); exortação (2,1-4); Cristo, irmão dos homens (2,5-18).

II. Jesus Sumo Sacerdote fiel e misericordioso (3,1-5,10): fidelidade de Moisés e fidelidade de Jesus (3,1-6); entrada no repouso de Deus, pela fé (3,7-4,13); Jesus, Sumo Sacerdote misericordioso (4,14-5,10).

III. Sacerdócio de Jesus Cristo (5,11-10,18): normas de vida cristã (5,11-6,12); promessa e juramento de Deus (6,13-20).

1. Cristo é superior aos sacerdotes levitas (7,1-28): Melquisedec (7,1-10); sacerdote segundo a ordem de Melquisedec (7,11-28).

2. Sumo Sacerdote de uma nova aliança (8,1-9,28): o novo santuário e a nova aliança (8,1-13); insuficiência do culto antigo (9,1-10); o sacrifício de Cristo é definitivo (9,11-14); Cristo, o mediador da nova aliança pelo seu sangue (9,15-22); o perdão dos pecados pelo sacrifício de Cristo (9,23-28).

3. Recapitulação: sacrifício de Cristo superior ao de Moisés (10,1-18): ineficácia dos sacrifícios antigos (10,1-10); eficácia do sacrifício de Cristo (10,11-18).

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UNIDADE 3 | CARTA AOS HEBREUS

IV. A fé perseverante (10,19-12, 29): apelo a evitar a apostasia (10,19-39); a fé exemplar dos antepassados (11,1-40); o exemplo de Jesus (12,1-13); fidelidade à vocação cristã (12,14-29).

Apêndice (13,1-25): últimas recomendações (13,1-19); bênção e saudação final (13,20-25).

FONTE: Disponível em: <http://www.paroquias.org/biblia/?m=11>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Essa estrutura da Carta aos Hebreus nos dá uma noção do conteúdo que encontramos na mesma: uma contribuição muito importante para que tenhamos olhos mais atentos e mais abertura, familiaridade na leitura do Antigo Testamento. Podemos imaginar como os destinatários da carta estavam sedentos dessas palavras em busca de motivação, para continuarem dando testemunho de Cristo no entendimento das Escrituras.

Podemos verificar essa realidade no capítulo 11, que cita alguns personagens significativos do Antigo Testamento:

• Abel.• Henoc.• Noé.• Abraão.• Isaac.• Jacó.• José.• Moisés.• Sara.

Há outros personagens que não foram citados, mas esses aqui elencados são suficientes para nos mostrar a força, o poder da fé em suas vidas, através de bênçãos, de graças alcançadas e de superação do sofrimento.

Mesmo relatando essas pessoas e fatos do Antigo Testamento, a centralidade do conteúdo de Hebreus se dirige ao sacerdócio de Cristo, não como negação de tudo que veio antes Dele, mas como perfeição extremada do Pai, que dispõe seu único Filho como sacrifício perfeito por todos.

Um ponto importante dessa Carta é a apresentação do ministério sumo sacerdotal do Senhor. Cristo é o Sumo Sacerdote, não segundo a ordem de Aarão, mas sim de Melquisedec, que não tinha antecessores nem sucessores no sacerdócio. Sendo assim, Melquisedec era um tipo perfeito para Cristo, que recebeu o cargo do sumo sacerdote por invocação direta de Deus, e não por herança (5.5-6). Enquanto o sacerdote arônico tinha que oferecer sacrifícios continuamente por seus próprios pecados, bem como pelos pecados de outras

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TÓPICO 2 | CONTEXTO HISTÓRICO-CULTURAL

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pessoas, Cristo ofereceu de uma vez por todas sua própria pessoa sem pecados como o sacrifício perfeito. Ele experimentou na carne a provação que todos os crentes conhecem e por isso ele é capaz de interceder compassivamente em nome deles.

FONTE: Disponível em: <http://www.vivos.com.br/116.htm>. Acesso em: 24 nov. 2009.

A centralidade de Cristo para a Carta aos Hebreus é uma convocação ao

crente de manter sua fé viva, constante no amor a Deus e na prática desse amor, resistindo firmemente ao pecado.

UNI

Encerramos esse tópico que, de certa forma, conecta-se estreitamente com o terceiro, que tratará da doutrina e suas variantes – teologia cristologia – presentes na Carta. Até lá!

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Neste tópico vocês estudou que:

• Existem sérias dificuldades e problemas na comunidade que vai receber a Carta, inclusive questionamentos quanto à importância de Jesus para eles.

• O sacerdócio de Cristo deve ser visto não como negação de tudo que veio antes Dele, mas como perfeição extremada do Pai, que dispõe seu único Filho como sacrifício perfeito por todos.

• O cristianismo exige requisitos em sua prática: manter viva a fé, constância no amor a Deus e na prática desse amor, resistir firmemente ao pecado e até ao sacrifício como foi o sacrifício de Cristo por todos.

RESUMO DO TÓPICO 2

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AUTOATIVIDADE

1 Faça uma comparação dos eventos históricos do povo de Israel, que era escravo no Egito, e do povo destinatário da Carta, apresentada nessa unidade. Além disso, escreva um comentário sobre essa comparação.

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TÓPICO 3

DOUTRINA

UNIDADE 3

1 INTRODUÇÃO

Vimos anteriormente que essa Carta vai de encontro às pessoas que têm conhecimento do Antigo Testamento, pois, provavelmente, viviam momentos de crise em relação à doutrina, à compreensão teológica da missão e ao modo de viver segundo os preceitos cristãos.

Queremos então, nesse tópico, compreender melhor a doutrina, a cristologia e a vida cristã presentes na Carta aos Hebreus. Temos noção de que doutrina, cristologia e teologia caminham juntas na Carta, mas para podermos desenvolver esses temas, as dividimos, mesmo sabendo que falando de uma, estaremos nos reportando a outra. Por isso, é importante que não tenhamos receio de buscar no próprio caderno informações no momento que surgirem dúvidas e questionamento.

2 DOUTRINA E TEOLOGIA

Quando estudamos o contexto histórico-cultural no tópico anterior, constatamos os problemas enfrentados pela comunidade, inclusive problemas doutrinários e teológicos. Por isso, a doutrina teológica de Hebreus vai se fundamentar na cristologia.

A doutrina teológica da Carta aos Hebreus é fundamentalmente cristológica. A consideração da figura de Cristo, Deus, Homem e Grande Sacerdote da Nova Lei, é como a coluna vertebral de todo o documento, aglutinando as suas diversas seções e imprimindo ao conjunto uma extraordinária unidade.

O autor da Carta quer demonstrar a superioridade do cristianismo sobre o judaísmo: Jesus é superior a Moisés. E exorta seus leitores a permanecerem firmes na fé. A originalidade do autor reside em conferir a Jesus o título de Sumo Sacerdote, que não encontramos em nenhum outro texto do Novo Testamento.

FONTE: Disponível em: < http://www.loreto.org.br/mai2008_biblia.asp>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Temos a impressão que a comunidade tem dificuldade em compreender qual é o verdadeiro “papel” de Jesus em suas vidas, que Jesus é superior a Moisés, aos profetas, aos sumo sacerdotes, enfim, Jesus supera tudo o que já

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existiu, porque traz consigo a essência do sacerdócio régio, a filiação divina e isso ninguém pode Lhe tirar.

A teologia de Hebreus pode ser resumida em uma declaração tríplice da atuação de Cristo, que corresponde às três divisões principais do sermão:

Primeiro: Cristo é visto como a nova palavra de Deus, a comunicação de Deus à humanidade em um novo estilo pessoal. É palavra expressa na vida e morte de um ser humano, que também é Filho de Deus.

Segundo: Cristo atua como sumo sacerdote único e eterno, cujo sacrifício na morte expia o pecado para sempre, estabelece uma nova aliança e proporciona um novo acesso a Deus.

Terceiro: o discernimento que Cristo tem do mundo celeste de Deus é o modelo de fé que os cristãos precisam para perseverar na esperança. É um notável perfil da fé cristã, que se concentra na pessoa e no papel do próprio Cristo.

FONTE: Disponível em: <http://www.loreto.org.br/mai2008_biblia.asp>. Acesso em: 24 nov. 2009.

A comunidade receptora da Carta vivia numa situação de desvio do que

ouviam e do que deviam viver, tinham forte tendência a ser influenciados por ensinos teológicos estranhos, viam até inferioridade do cristianismo em relação ao judaísmo como, por exemplo, o local de oração, adoração e oferta que eram feitos no templo.

“Este tempo é qualificado pela fé e pelo agir cristãos: “tendo entrado em vigor” através da pregação do Senhor, será encerrado pela “sua segunda aparição”, por ocasião do “Dia”, o da ressurreição geral e o julgamento (2,3; 6,2; 9,27-28; 10,25.37; 12,25-29).Na realidade, a vida de cada homem insere-se num período histórico, parte de toda a História: assim sendo, esta vida integra-se, de certo modo, na totalidade da história da salvação. (COTHENET et al., 1988, p. 327).

Agora no cristianismo eles se reúnem nas casas, pois para os judeus, torna-se simplório o culto que antes se fazia no templo. Falta-lhes uma leitura atenta da realidade histórica em que estão inseridos, de compreender os primórdios desde antes do dilúvio, passando pela saída do Egito, pela passagem no deserto, pelo encontro e permanência na terra prometida, pelo envio do Filho de Deus ao mundo, seu sacrifício, morte e a inauguração de um novo tempo, uma “nova aliança”.

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3 CRISTOLOGIA E VIDA CRISTÃ

Essa Carta apresenta o Jesus que oferece a salvação para nós, hoje, e para os seus discípulos e aos Hebreus naquele tempo.

No âmbito da curiosidade de vocabulário, podemos identificar que, em Hebreus, temos a denominação de Jesus como “apóstolo”, no versículo 1 do capítulo 3. Sobre Jesus, a Carta dá ênfase nos capítulos 2, 3 e 4.

A seguir, elencamos as “caracterizações” de Jesus, já feitas em outras passagens bíblicas, comparando-as com o que é apresentado em Hebreus.

DICAS

Faça essa leitura com as Sagradas Escrituras nas mãos!

1. Herdeiro de tudo – “E, se nós somos filhos, somos logo herdeiros também, herdeiros de Deus, e coerdeiros de Cristo: se é certo que com ele padecemos, para que também com ele sejamos glorificados” (Rm 8:17) – Jesus, como Filho de Deus é herdeiro de todas as coisas.

2. Fez o mundo – “Porque nele foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades. Tudo foi criado por ele e para ele” (Cl 1:16) – Tudo foi criado por Jesus, o Filho amado.

3. Resplendor da glória de Deus – “Aguardando a bem-aventurada esperança e o aparecimento da glória do grande Deus e nosso Salvador Jesus Cristo” (Tt 2:13) – Jesus é o resplendor da glória de Deus.

4. Expressa imagem de Deus – “O qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1:15); “...para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, que é a imagem de Deus” (2Co 4:4) – Jesus, o verbo de Deus.

5. Sustenta todas as coisas – “E ele é antes de todas as coisas, e todas as coisas subsistem por ele” (Cl 1:17) - Todas as coisas subsistem por Cristo.

6. Purificou os cristãos dos seus pecados – “Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados” (Cl 1:14) – Livrou aqueles que creram de todos os pecados.

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7. Assentou-se a destra de Deus – “O qual está à destra de Deus, tendo subido ao céu, havendo-se-lhe sujeitado os anjos, e as autoridades, e as potências” (1Pe 3:22) – Demonstra o poder de Cristo após a ressurreição.

8. É mais excelente que os anjos – “Acima de todo o principado, e poder, e potestade, e domínio, e de todo o nome que se nomeia, não só neste século, mas também no vindouro” (Ef 1:21) – Em todos os tempos o nome de Cristo é sobresselente.

9. Herdou um nome excelente – “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, e o principado está sobre os seus ombros, e se chamará o seu nome: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9:6) – Jesus é o nome sobre todos os nomes.

FONTE: Adaptado de: <http://www.estudobiblico.org/carta-aos-hebreus/capitulo-1-carta-aos-hebreus>. Acesso em: 24 nov. 2009.

UNI

Fato interessante nessa Carta é que não encontramos em outra passagem bíblica o emprego do termo “apóstolo” atribuído a Jesus, porque é enviado por Deus aos homens, porque já está junto de Deus, superior a todos os outros, inclusive Moisés que fazia parte da comunidade, sem ser superior a ela.

4 CONTRIBUIÇÃO NO ESTUDO DAS ESCRITURAS

4.1 JESUS E OS ANJOS

Jesus Cristo. Esta é a grande contribuição que temos no texto desta Carta. O que não foge das outras Cartas que vimos anteriormente, mas a Carta aos Hebreus tem suas características próprias que a tornam peculiar.

Se alguém tiver somente em mãos esse como o único texto bíblico, vai encontrar várias referências que remetem sempre a Jesus. A teologia e a cristologia aqui têm um ponto de referência muito evidente – Jesus Cristo. Podemos constatar nos vários paralelos que o autor vai fazendo com a pessoa de Jesus.

O autor coloca Jesus como superior aos anjos, que são as criaturas entre Deus e os seres humanos. Os anjos eram entendidos como forças celestiais.

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FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Raffaelearcangelo.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 20 – ARCANJO GABRIEL

UNI

Anjo (do latim angelus e do grego ággelos (ἄγγελος), mensageiro), segundo a tradição judaico-cristã, a mais divulgada no ocidente, é uma criatura celestial, acreditada como sendo superior aos homens, que serve como ajudante ou mensageiro de Deus. Na iconografia comum, os anjos geralmente têm asas de pássaro e uma auréola. São donos de uma beleza delicada e de um forte brilho, por serem constituídos de energia e, por vezes, são representados como uma criança, por terem inocência e virtude. Os relatos bíblicos e a hagiografia cristã contam que os anjos, muitas vezes, foram autores de fenômenos miraculosos, e a crença corrente nessa tradição é que uma de suas missões é ajudar a humanidade em seu processo de evolução.Os anjos são, ainda, figuras importantes em muitas outras tradições religiosas do passado e do presente, e o nome de “anjo” é dado amiúde indistintamente a todas as classes de seres celestes. Os muçulmanos, zoroastrianos, espíritas, hindus e budistas, todos aceitam como fato sua existência, dando-lhes variados nomes, mas, às vezes, são descritos como tendo características e funções bem diferentes daquelas apontadas pela tradição judaico-cristã. FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Anjo>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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4.2 JESUS COMO O NOVO MOISÉS

4.3 JESUS O SUMO SACERDOTE E MELQUISEDEC

Moisés se apresenta como fiel servidor do projeto de Deus, conduzindo o povo por 40 anos no deserto e sendo a grande referência no Antigo Testamento. Jesus, por sua vez, é o filho de Deus que conduzirá a todos para junto do Pai.

FONTE: Disponível em: <http://www.advir.com/historiasbiblicas/desenhoslicao/10%20 mandamentos%20e%20moises.gif>. Acesso em: 24 nov. 2009.

Melquisedec foi rei de Salén e foi celebrado como rei da justiça e da paz. Por não ter registro histórico de filiação, de local ou data de nascimento ou morte, é designado como sacerdote para sempre. Jesus vai além dos sacerdotes humanos e seu sacerdócio jamais acabará.

FIGURA 21 – MOISÉS

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FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Meeting_of_abraham_and_melchizadek.jpg>. Acesso em: 24 nov. 2009.

FIGURA 22 – ENCONTRO DE ABRAÃO E MELQUISEDEC

Podemos perceber, na Carta aos Hebreus, a dinamicidade na compreensão da doutrina e na sua prática, que vai além do maundo cristão. Os discursos homiléticos, muito bem elaborados pelo autor, espelham o cumprimento das promessas realizadas em Jesus.

Essa estratégia retórica atenderia bem às comunidades de cristãos-judeus seguidoras de Jesus de Nazaré e, portanto, crentes nos acontecimentos que se lhe sucederam, identificando-o com a realização da função exercida pela leitura dos Profetas na homilia. Desde que esses acontecimentos cumpriram as profecias e uma vez que essas conduziram a Torá à sua plena realização, foi um processo natural ler a Torá a partir desses acontecimentos e apontar em Jesus nazareno a realização da futura esperança messiânica. Desse modo, todo um conjunto de tradições messiânicas, resultante de variadas exegeses escriturísticas e experiências históricas, confluiu para uma típica homilia cristã-judaica, que proclamou Jesus como o Messias-Realizador das expectativas judaicas, sendo ele próprio sua realização plena e final.

FONTE: Disponível em: <http://www3.est.edu.br/publicacoes/estudos_teologicos/vol4901 _2009/et2009-1h_ssanches.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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Hebreus, seja ou não uma Carta, independente de quem seja o autor, é uma bela obra, não só para o cristianismo, mas para toda a humanidade. Percebe-se a força inspiradora do Espírito Santo a mostrar, nos textos, a figura de Jesus superior a qualquer coisa, quando queremos buscar a Deus. O Seu sacrifício na cruz nos mostra Sua grandiosidade, ao nos conduzir em Seus braços na presença do Pai.

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LEITURA COMPLEMENTAR

A DOUTRINA

A doutrina relativa a Jesus Cristo, que predomina na carta, apresenta uma grande riqueza e, ao mesmo tempo, uma marca de simplicidade. O autor sagrado expõe a doutrina sobre a Redenção universal operada por Jesus Cristo Mediador, mediante o Sacrifício da Cruz e o derramamento do Seu sangue. Cristo é, ao mesmo tempo, a vítima perfeita que expia todos os pecados dos homens e verdadeiro Sumo Sacerdote que oferece a Deus Pai o culto agradável, verdadeiro e eterno. Nos versículos iniciais a carta enuncia a preexistência do Verbo, Sua atividade criadora e a Sua igualdade com o Pai (1,1-3). Como pressuposto imprescindível da Sua atividade redentora, temos a consideração de que Cristo é verdadeiro Deus e verdadeiro homem. O divino e o humano nunca aparecem justapostos, mas como realidades inseparáveis do ser divino e humano do Senhor. Só aparece a única Pessoa do Verbo encarnado, do Filho de Deus, que em todas as ocasiões e em todas as ações cumpridas na terra manifesta a Sua única condição de Deus feito carne.

Sendo o Sacerdócio de Cristo superior aos Anjos, ao legislador da Antiga Lei e ao sacerdócio levítico, isto Lhe permite redimir com superabundância o gênero humano. A redenção operada por Cristo é um remédio universal para uma necessidade universal.

Só Cristo é o verdadeiro e Sumo Sacerdote e só o Seu é verdadeiro sacerdócio, ou seja, um sacerdócio cuja mediação tem a capacidade de apagar os pecados. A partir de então, todo o verdadeiro sacerdote o será apenas se tem o chamamento e a unção sacerdotal, que vem de Jesus. Não se chega ao sacerdócio pela herança ou pelo nascimento dentro de uma tribo, mas por vocação e chamamento livre do Senhor, único Sacerdote do Novo Testamento.

O Sacrifício de Cristo é irrepetível e produziu os seus efeitos salvadores de uma vez para sempre. Não pode já se repetir, dada a sua eficácia infinita. Na Santa Missa atualiza-se incruentamente o mesmo Sacrifício da Cruz: Jesus Cristo “renova” o oferecimento ao Pai que fez “de uma vez para sempre”.

Além de apresentar a figura e obra de Jesus Cristo sob o ponto de vista do Seu Sacerdócio eterno e de desenvolver, portanto, as consequências dos títulos de Sacerdote e Mediador, a carta aplica a Cristo quatro títulos principais: Filho, Messias, Jesus e Senhor. Têm um sentido ontológico, ou seja, manifestam algum aspecto do ser de Cristo. A Carta refere-se igualmente ao Senhor noutros lugares com as denominações de Santificador, Herdeiro, Mediador, Pastor e Apóstolo, esta última única em todo o Novo Testamento.

FONTE: Disponível em: <http://www.loreto.org.br/mai2008_biblia.asp>. Acesso em: 24 nov. 2009.

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Neste tópico você estudou que:

• A centralidade de Jesus permeia não só a cristologia, mas também a teologia e a doutrina da Carta aos Hebreus.

• A superioridade de Jesus suplanta qualquer personagem bíblico em qualquer momento da história humana.

• Jesus instaura um novo tempo, uma “nova aliança”, na qual todos são convidados a participar.

RESUMO DO TÓPICO 3

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AUTOATIVIDADE

1 Escreva um texto sobre a vida cristã nos dias atuais sob a luz da contribuição da Carta aos Hebreus.

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REFERÊNCIAS

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