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__________________________________________________________________________________________________________ Todos os Direitos Reservados – AJURIS Escola Superior da Magistratura Professor: Rafael Maffini Disciplina: Admistrativo 1 Título: Estrutura da Administração Pública 10/9/2009 - 1 ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA 1. Introdução O termo “administração pública” é utilizado no Direito Administrativo com dois significados. O primeiro significado, quando grafado com letras minúsculas (“administração pública”) se refere a uma espécie de atividade estatal, isto é, à função executiva, ao lado da função legislativa e da função jurisdicional. O outro significado do termo, grafado com letras maiúsculas (“Administração Pública”) se refere à estrutura de órgãos públicos e entidades administrativas que compõem o Poder Público. O presente capítulo se refere ao segundo significado. Devido à autonomia de cada ente federativo (art. 18, da Constituição Federal), cada ente federal pode organizar sua própria estrutura administrativa conforme sua conveniência. Não há necessidade de Estados, Distrito Federal e Municípios eventualmente seguirem o modelo da União. De outra parte, não é possível fazer uma análise caso a caso de cada um dos entendes federados para estudar a sua estrutura. Em razão disso, procura-se formar uma “teoria geral da estrutura administrativa”, ou seja, o conjunto de princípios e regras que devem ser observados por cada ente federado para compor a sua própria estrutura. A análise desta “teoria geral” passa, necessariamente pela compreensão da diferença entre Administração Pública Direta e Indireta. 2. Administração Pública Direita Administração Pública Direta consiste na pessoa jurídica que se confunde com o próprio ente federado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Por serem pessoas jurídicas que têm atribuições e competências políticas, especialmente legislativas, são denominadas “pessoas

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ESTRUTURA DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA

1. Introdução

O termo “administração pública” é utilizado no Direito Administrativo com dois significados. O

primeiro significado, quando grafado com letras minúsculas (“administração pública”) se refere a

uma espécie de atividade estatal, isto é, à função executiva, ao lado da função legislativa e da

função jurisdicional.

O outro significado do termo, grafado com letras maiúsculas (“Administração Pública”) se refere à

estrutura de órgãos públicos e entidades administrativas que compõem o Poder Público. O presente

capítulo se refere ao segundo significado.

Devido à autonomia de cada ente federativo (art. 18, da Constituição Federal), cada ente federal

pode organizar sua própria estrutura administrativa conforme sua conveniência. Não há

necessidade de Estados, Distrito Federal e Municípios eventualmente seguirem o modelo da União.

De outra parte, não é possível fazer uma análise caso a caso de cada um dos entendes federados

para estudar a sua estrutura. Em razão disso, procura-se formar uma “teoria geral da estrutura

administrativa”, ou seja, o conjunto de princípios e regras que devem ser observados por cada ente

federado para compor a sua própria estrutura.

A análise desta “teoria geral” passa, necessariamente pela compreensão da diferença entre

Administração Pública Direta e Indireta.

2. Administração Pública Direita

Administração Pública Direta consiste na pessoa jurídica que se confunde com o próprio ente

federado (União, Estados, Distrito Federal e Municípios). Por serem pessoas jurídicas que têm

atribuições e competências políticas, especialmente legislativas, são denominadas “pessoas

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políticas”1. É composta pelo órgão de chefia do Poder Executivo e pelos demais órgãos ligados ao

Chefe do Poder Executivo através do vínculo hierárquico.

Logo, existe uma, e apenas uma, “Administração Pública Direta” para cada ente federado, nos

termos do art. 41, do Código Civil.

A organização específica de cada uma das Administrações Públicas Diretas estará prevista na lei

específica de cada uma delas, observando sempre os ditames constitucionais. No plano federal, tal

matéria é regulada pela Lei 10.683/03.

Não há necessidade de uniformidade na regulação da estrutura da Administração Pública Direta.

Todavia, costumam ser muito parecidas.

Observa Rafael Maffini2 que “os Poderes Judiciário e Legislativo, além do Ministério Público e dos

Tribunais ou Cortes de Contas, obviamente, não podem ser considerados órgãos do Poder

Executivo. Todavia, analisados no que tange à personalidade jurídica, ou seja, no que diz com a

titularização de direitos subjetivos e deveres jurídicos, tais Poderes ou Órgãos Essenciais podem

ser considerados integrantes da noção de Administração Pública Direta”.

Não se pode olvidar que cada ente federado tem autonomia para dispor acerca da sua estrutura

administrativa.

3. Administração Pública Indireta

A maior parte dos entes federados brasileiros, em especial os Municípios, contenta-se com a

existência apenas da estrutura da Administração Pública Direta. Todavia, por diversas razões, em

especial a complexidade das questões afetadas ao ente, pela sua dimensão e pela sua população,

apenas a estrutura da Administração Pública Direta pode não ser suficiente para realizar todas as

tarefas de interesse público. Em razão disso, surge a necessidade de se ampliar a estrutura da

Administração Pública.

1 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 224. 2 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 224.

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Nesses casos, mediante lei editada pelo Poder Legislativo e de iniciativa do chefe do Poder

Executivo, podem ser criadas outras pessoas jurídicas, dotadas de certa autonomia gerencial e

administrativa, porém controladas e fiscalizadas pela Administração Pública Direta. Esse conjunto

de pessoas jurídicas é que se chama de “Administração Pública Indireta”. Ou seja, é o conjunto de

pessoas jurídicas geral e administrativamente autônomas, vinculadas a um ente federativo (Adm.

Pub. Direta) e controladas por este.

As pessoas jurídicas que compõem a Administração Pública Indireta também são chamadas

de “pessoas administrativas”, e recebem destaque, entre elas, as autarquias, as fundações

públicas, as sociedades de economia mista e as empresas públicas.

3.1 Semelhanças entre as pessoas jurídicas que integram a Administração Pública Indireta

3.1.1 Necessidade de lei específica para sua criação

Para que passem a existir, todas as pessoas jurídicas que compõem a Administração Pública

Indireta necessitam de lei específica.

Até a Emenda Constitucional 19/98, eram efetivamente “criadas” por lei específica, o que

gerava discussões face à incompatibilidade com o disposto na lei civil, em especial quanto às

entidades empresariais (empresa pública e sociedade de economia mista). A celeuma residia em

definir se sua existência se dava com a lei ou com o arquivamento (ou registro) dos atos

constitutivos na Junta Comercial. A questão foi solucionada com a edição da Emenda

Constitucional 19/98, a qual deu nova redação ao art. 37, XIX, da Constituição Federal.

Assim, as autarquias são criadas por lei, a partir da qual já passam a existir juridicamente. Sua

organização interna e distribuição das competências podem ser relegadas ao um decreto ou

regulamento.

As fundações públicas, as sociedades de economia mista e as empresas públicas têm sua criação

autorizada por lei específica, mas não é só. Após a promulgação da lei autorizadora, sua

constituição se dará conforme o direito empresarial dispuser, à vista da espécie societária.

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Face ao princípio do paralelismo das formas, a forma de extinção das pessoas jurídicas integrantes

da Administração Pública Indireta é correlata à forma de criação. Já que se exige lei específica para

sua criação, também é necessária lei específica para sua extinção.

3.1.2 Personalidade jurídica própria

Os entes que integram a Administração Pública Indireta são pessoas jurídicas (e não órgãos

públicos) e, por essa razão, detêm personalidade jurídica própria.

Assim, cada uma dessas pessoas jurídicas é titular de seus próprios direitos subjetivos e deveres

jurídicos, que não se confundem (podendo, às vezes, até ser contrapostos) com os direitos e

deveres da Administração Pública Direta.

Há sempre uma responsabilidade subsidiária entre a pessoa administrativa e o ente federativo que

a criou. Porém, tal responsabilidade não descaracteriza a personalidade jurídica própria da entidade

da Administração Pública Indireta.

3.1.3 Autonomia e controle

Uma característica importante que é semelhante a todas as pessoas jurídicas da Administração

Pública Indireta consiste no fato de que todas têm autonomia administrativa e gerencial. Todavia,

como já se disse, encontram-se submetidas a mecanismos de controle por parte da Administração

Pública Direta. Quanto maior o controle, menor a autonomia, e vice-versa.

Não há, a priori, uma regra que determine a profundidade, do controle exercido sobre as pessoas

jurídicas que compõem a Administração Pública Indireta. Tal regra será dada caso a caso pela lei

que criar a respectiva autarquia, ou que autorizar a criação das respectivas fundações públicas,

empresas públicas e sociedades de economia mista.

Apesar desse poder de controle da Administração Pública Direta sobre as entidades da

Administração Pública Indireta, este vínculo não é hierárquico, pois compõem estruturas diferentes.

O vínculo entre elas é chamado de “vínculo de tutela, controle ou supervisão”. O controle é feito

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pelo chamado recurso hierárquico impróprio (recurso de decisão do chefe da entidade para o

Ministro da pasta a que está vinculada).

3.1.4 Submissão ao dever de licitar

Como regra, todas as entidades que compõem a Administração Pública Indireta estão obrigadas a

licitar, conforme dispõe o art. 37, XXI, da Constituição Federal.

Todavia, há exceções a essa regra, como os casos de dispensa e inexigibilidade e o caso das

entidades empresariais do Estado (empresas públicas e sociedades de economia mista), quando

realizam os seus contratos-fim, justamente para não desnaturar a sua própria atividade empresarial

(ex: abertura de conta-corrente, empréstimo, etc).

De outra parte, é importante ressaltar que o regime jurídico licitatório aplicável pode variar, nos

casos de exploração direta de atividade econômica pelo Estado (art. 173, §1º, III, CF). Porém,

enquanto não for criada a referida lei, aplica-se a Lei Geral de Licitações (Lei 8.666/93).

3.1.5 Submissão ao controle dos Tribunais de Contas

Todas as entidades da API estão submetidas ao controle promovido pelos Tribunais de Contas,

conforme estabelecido nos arts. 70 a 75, da Constituição Federal.

Até pouco tempo se discutia se as entidades empresariais da Administração Pública Indireta (as

sociedades de economia mista e as empresas públicas) estariam submetidas a tal controle. O STF

enfrentou o tema e decidiu pela submissão daquelas entidades ao controle pela Corte de Contas

(MS 25.092 e MS 25.181).

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3.1.6 Regras comuns em relação aos profissionais das entidades da Administração Pública

Indireta

Os agentes públicos vinculados às entidades da Administração Pública Indireta, qualquer

que seja a natureza do seu vínculo (celetista ou estatutário), devem obedecer a um conjunto de

regras constitucionais comuns:

I) Obrigatoriedade de concurso público (art. 37, II,CF), exceto os cargos em comissão;

II) Limitação remuneratória (art. 37, XI, CF). Não se pode olvidar a exceção das empresas

públicas e das sociedades de economia mista que não receberem subvenção pública para sua

folha de pagamento ou para seu custeio em geral, como dispõe o art. 37, §9º, da CF;

III) Proibição de acumulação remunerada de cargos, empregos ou funções públicas (art. 37,

XVI e XVII, da CF);

IV) Submissão às regras de responsabilidade civil, administrativa, penal (art. 327, CP) e

decorrente de atos de improbidade (art. 2º, da Lei 8.429/92).

3.2 Diferenças entre as entidades que compõem a Administração Pública Indireta

Em que pese exista uma série de semelhanças entre as entidades que compõem a Administração

Pública Indireta, há várias e importantes diferenças entre essas pessoas jurídicas. As diferenças

serão estudadas, a seguir, da seguinte maneira: primeiro, abordar-se-á as diferenças entre

autarquias e fundações públicas; após, as diferenças entre empresas públicas e sociedades de

economia mista; por fim, a diferença entre esses dois grandes grupos (autarquias e fundações

públicas de um lado e empresas públicas e sociedades de economia mista de outro).

3.2.1 Diferenças entre as Autarquias e Fundações Públicas

Embora existam várias semelhanças entre essas duas entidades, ao ponto de o STF já ter dito que

as fundações públicas seriam espécies de autarquias ou entidades de natureza autárquica (RE

215.741), existem importantes diferenças que merecem ser analisadas:

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a) Diferença quanto ao modo de criação: conforme abordado acima, as autarquias são

criadas por lei específica e as fundações públicas têm sua criação autorizada por lei, sendo

efetivamente criadas nos termos do que dispuser a norma infraconstitucional.

b) Diferença quanto à atividade: As autarquias devem desempenhar “atividade típica de

Administração Pública” (art. 5º, I, do DL 200/67). Porém, não há conceito do que seja atividade

típica de Administração Pública, ficando a cargo do legislador decidir no caso concreto. As

fundações públicas devem desempenhar as funções estabelecidas na lei complementar de que

trata o art. 37, XIX, da CF. Todavia, ainda não foi editada referida lei complementar. Usualmente,

porém, às fundações públicas são atribuídas funções assistenciais, culturas, educacionais,

artísticas, estatísticas, etc. Exemplifica-se: IPEA – Instituto de Pesquisa e Estatística; FUFPI –

Fundação Universidade Federal do Piauí; CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico.

c) Diferenças quanto à natureza jurídica: As autarquias são sempre pessoas jurídicas de

direito público (art. 5º, I, DL 200/67, e art. 41, IV, CC). Quanto às fundações públicas, a doutrina e a

jurisprudência são bastante divergentes. Parte entende que são de direito público, parte entende

serem entidades de direito privado. A doutrina majoritária entende que a sua natureza jurídica

dependerá da lei que autorizar a sua criação, podendo ser de direito público ou de direito privado.

Esse argumento é reforçado pelo art. 41, V, do CC, que afirma serem pessoas jurídicas de direito

público “as demais entidades de caráter público criadas por lei”.

3.2.2 Diferenças entre as Sociedades de Economia Mista e as Empresas Públicas

Estas entidades também são chamadas de “entidades empresariais do Estado” ou “empresas do

Estado”. As sociedades de economia mista e as empresas públicas possuem uma série de

características comuns, em que pese haver certas diferenças fundamentais.

As semelhanças comuns são as seguintes:

1) são pessoas jurídicas de direito privado;

2) devem prestar atividade econômica lato sensu (prestação de serviços públicos ou atividades

econômicas strito sensu);

3) seus bens estão submetidos ao regime jurídico dos particulares (art. 98, CC);

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4) o regime jurídico dos seus agentes é o celetista;

5) a elas não se aplicam as regras de prescrição do Decreto 20.910/32 (Súmula 39, STJ);

6) a elas não se aplicam as regras da nova lei de falências, estado sujeitas à liquidação judicial ou

extrajudicial (art. 2º, I, da Lei 11.101/05).

As diferenças entre as sociedades de economia mista e as empresas públicas são as seguintes:

a) Diferenças quanto à composição patrimonial ou societária: é lícito às sociedades de economia

mista a admissão de ingresso de capital privado em sua composição patrimonial. Todavia, a maior

parte do capital deve sempre estar nas mãos do Poder Público. As empresas públicas não admitem

o ingresso de capital privado, ou seja, embora seja possível a figura da sociedade unipessoal (todo

o patrimônio nas mãos do ente instituidor), também pode existir mais de um sócio na empresa

pública, se nenhum deles for particular.

b) Diferenças quanto à forma societária: as sociedades de economia mista serão sempre criadas na

forma de sociedades anônimas (art. 235, da Lei 6.404/76). As empresas públicas, por sua vez,

podem assumir qualquer modelo societário, desde que compatível com a sua natureza, qual seja a

impossibilidade de capital privado em sua composição patrimonial.

3.2.3 Diferenças entre os dois grandes grupos (Autarquias e Fundações Públicas x Sociedades de

Economia Mista e Empresas Públicas)

a) Diferença quanto ao regime jurídico aplicável: não é possível referir todas as diferenças dos

regimes jurídicos aplicáveis a cada um dos grupos. Porém, em termos gerais, pode-se dizer que às

autarquias e fundações públicas é aplicado um regime jurídico mais aproximado daquele que incide

sobre a Administração Pública Direta. Em contrapartida, às sociedades de economia mista e às

empresas públicas é aplicável, na medida do possível, um regime jurídico de direito privado (art.

173, §1º, II, CF). Diz-se “na medida do possível”, pois, como já se viu, estas entidades estão

submetidas a uma série de regras e princípios de Direito Público (concurso público, licitações,

controle pelo Tribunal de Contas, etc.). Cabe ressaltar a Súmula 333 do STJ, que permite a

impetração de mandado de segurança contra atos exarados em procedimento licitatório no âmbito

das empresas públicas e sociedades de economia mista3.

3 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 232.

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b) Diferença quanto ao regime tributário: às autarquias e fundações públicas aplicam-se as regras

dos arts. 150, §2º e 150, VI, a, da CF (imunidade recíproca). As sociedades de economia mista e às

empresas públicas, por sua vez, estão submetidas ao mesmo regime tributário das empresas do

setor privado (art. 173, §2º, CF). Essa regra aplicável ao segundo grupo visa a garantir a isonomia

entre os agentes econômicos, ou seja, visa a manter a igualdade entre empresas estatais e

empresas eminentemente particulares. A exceção fica por conta do que vem decidindo o STF: as

empresas públicas que operem de forma monopolizada ou obrigatória numa determinada atividade

econômica, como é o caso da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos – ECT (art. 21, X, CF),

também terão direito à imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, a, da CF (RE 354.897, RE

364.202, RE 398.630, RE 407.099, RE 424.227, AO 803, AO 959, AO 1.095). Observe-se que a

imunidade aqui mencionada se refere tão-somente aos impostos. Por fim, deve-se atentar que,

recentemente, o Supremo Tribunal Federal, através da Ação de Descumprimento de Preceito

Fundamental nº 46, considerou constitucional o monopólio, pela EBCT, da prestação dos serviços

públicos previstos no art. 21, X, da Constituição Federal.

.

c) Diferenças quanto a questões processuais: apenas as autarquias e fundações públicas

compõem, ao lado da Administração Pública Direta, a noção de “fazenda pública”. Em razão disso,

aplicam-se a elas prerrogativas processuais relativas a prazos (art. 188, CPC), reexames

necessários (art. 475, CPC) e relativa à execução que estão submetidas (art. 730, CPC). De outra

parte, as sociedades de economia mista e as empresas públicas não são, para fins processuais,

“fazenda pública”; logo não detêm as referidas prerrogativas, sendo tratadas como particulares.

d) Diferenças quanto ao regime funcional dos seus profissionais: os profissionais das autarquias e

fundações públicas (assim como os da Administração Pública Direta) são submetidos ao regime

jurídico único, que pode ser celetista ou estatutário, a fim de que haja identidade de regimes

aplicáveis aos agentes públicos que exercem as mesmas funções4. Os profissionais das empresas

públicas e das sociedades de economia mista submetem-se sempre ao regime celetista.

4 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 234.

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4. Teoria do órgão público

Órgão público é uma unidade administrativa sem personalidade jurídica, em contraponto à noção

de entidade administrativa, justamente porque esta última detém personalidade jurídica. No plano

federal, tais conceitos estão no art. 1º, §2º, I e II, da Lei 9.784/99. Um órgão público é sempre uma

parte integrante de um todo.

Características dos órgãos públicos:

a) Patrimônio: os órgãos públicos não têm patrimônio próprio, uma vez que a noção de patrimônio

se relaciona com a noção de personalidade jurídica. Quem detém o patrimônio é a pessoa jurídica.

Todavia, parte desse patrimônio pode ser utilizada (estar afetada) por um órgão.

b) Competências: quem detém competência originária é sempre a pessoa jurídica (entidade

administrativa). Assim, os órgãos não teriam competências propriamente ditas. Porém, as

competências de uma entidade administrativa são distribuídas entre seus órgãos. Somente nesta

perspectiva é que se pode dizer que um órgão administrativo tem competência.

c) Capacidade Judiciária: tendo em vista que os órgãos não têm personalidade jurídica, também

não têm capacidade judiciária, nos termos do art. 6º, do CPC. Ocorre que, em situações

excepcionais, quando os órgãos estiverem na defesa de suas próprias instituições, a jurisprudência

lhes atribui capacidade judiciária. Este fenômeno é denominado “personificação do órgão público”.

Ex: Poder Legislativo, Poder Judiciário ou Ministério Público têm capacidade judiciária para pleitear

o duodécimo a que têm direito na rubrica orçamentária, pois está efetuando uma defesa da própria

instituição (art. 168, CF).

d) Vínculo com a Pessoa Jurídica: os órgãos administrativos não agem por si só. Estão inseridos

dentro da estrutura de uma entidade administrativa. Em razão disso, não há que se falar que eles

representem ou presentam a pessoa jurídica a que estão vinculados. O seu vínculo é, na verdade,

de imputação, ou seja, quando os órgãos agem, quem age, na verdade, é a própria pessoa jurídica.

Logo, o que um órgão faz é diretamente imputado à pessoa jurídica e não ao órgão.

Classificação dos Órgãos Públicos, segundo Hely Lopes Meirelles5:

a) Quanto à posição estatal:

I – Independentes: são os órgãos previstos originariamente na Constituição Federal e que

representam os Poderes do Estado (Legislativo, Executivo e Judiciário, além do Ministério Público e

5 Meirelles, Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro, 31ª. ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 70/74.

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dos Tribunais de Contas). Não têm entre si qualquer hierarquia ou subordinação, funcional ou de

qualquer ordem;

II – Autônomos: são os órgãos que estão colocados imediatamente abaixo dos órgãos

independentes e diretamente a estes subordinados (ex: Ministérios, Secretarias de Estado, etc.);

III – Superiores: são os órgãos que detêm poder de direção, controle, decisão e comando dos

assuntos de sua competência, embora sejam sujeitos a mecanismos de subordinação a uma chefia

mais elevada, normalmente presente nos órgãos independentes ou autônomos. Ex: setor de

recursos humanos, departamentos, etc.;

IV – Subalternos: são aqueles órgãos subordinados a chefias mais elevadas, normalmente sem

qualquer poder decisório, com atribuições de mera execução. Ex: setor de limpeza.

b) Quanto à estrutura:

I – Simples: são aqueles que têm apenas um centro de competência, independentemente do

número de cargos neles lotados, ou de agentes que ocupem tais cargos, não têm outros órgãos

internos à sua estrutura;

II – Compostos: são aqueles que têm, internamente a sua estrutura, outros órgãos para o

desempenho de atividades principais ou auxiliares.

c) Quanto à atuação funcional:

I – Singulares ou Unipessoais: quando atuam e decidem através de um único agente. Ex:

Presidência da República;

II – Colegiados ou Pluripessoais: os quais atuam e decidem pela manifestação conjunta e

majoritária de seus membros. Ex: órgão de decisão (turma de julgamento) do Tribunal de Contas.

5. Desconcentração e Descentralização Administrativa

Tanto a desconcentração quanto a descentralização são instrumentos que visam ampliar a

estrutura da Administração pública. A necessidade de ampliação da Administração Pública, como já

se disse, decorre da necessidade de cumprir todas as suas obrigações constitucionais, e será maior

ou menor conforme as necessidades do povo e do local em que estiver vinculada. Apesar de ter a

mesma finalidade, são instrumentos diversos.

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A desconcentração administrativa é o instrumento de ampliação da Administração Pública que se

dá através da criação de órgãos públicos, ou seja, de unidades administrativas sem personalidade

jurídica6. Logo, há desconcentração quando se cria um ministério, uma secretaria, uma delegacia,

etc.

A descentralização administrativa é o instrumento de ampliação da Administração Pública que se

dá através da criação de entidades administrativas, ou seja, de unidades administrativas dotadas de

personalidade jurídica. Logo, há descentralização quando se cria uma autarquia, uma fundação

pública, um sociedade de economia mista ou uma empresa pública7. Por esta razão é que parte da

doutrina chama estas entidades da Administração Pública de “entidades da Administração Pública

Descentralizada”.

É importante ressaltar que os dois fenômenos podem ocorrer tanto na Administração Pública Direta

quanto na Administração Pública Indireta. A desconcentração se dará mediante a criação de órgãos

e a descentralização se dará, na Administração Pública Direta mediante a criação de entidades que

compõem a Administração Pública Indireta, e na Administração Pública Indireta, mediante a criação

de subsidiárias destas entidades, ou seja, entidades da Administração Pública Indireta de segundo

grau.

6. Outras Figuras da Administração Pública

6.1 Agências Reguladoras

As agências reguladoras são autarquias dotadas de maior autonomia, razão pela qual são

chamadas de entidades autárquicas em regime especial. São incumbidas do desempenho de

atividade típica de administração pública consistente na regulação e fiscalização de serviços

públicos ou de outras atividades relevantes ao Estado.

6.2 Agências Executivas

6 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 237. 7 Maffini, Rafael. Direito Administrativo, 2ª. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008, p. 237.

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Dá-se a denominação de agência executiva a uma espécie de qualificação formal que se

atribui a uma autarquia ou fundação pública federal que celebrou um contrato de gestão com o

Ministério (pasta) a que está relacionada. O contrato de gestão deve prever planos de metas e de

eficiência que, alcançados, determinam a outorga da referida qualificação (agência executiva), o

que, por sua vez, acarretará na ampliação da autonomia que tal pessoa jurídica antes possuía. Ex:

duplicação do valor de dispensabilidade de licitação (art. 24, §ú, da Lei 8.666/93).

O fundamento constitucional do contrato de gestão, que resulta na qualificação “agência

executiva”, é o art. 37, §8º, da CF. Por sua vez, os arts. 51 e 52, da Lei 9.649/98 regulamentam o

dispositivo constitucional.

6.3 Conselhos Profissionais

Os conselhos profissionais são autarquias em regime especial, conforme estabeleceu o STF.

Assim, submetem-se ao controle do Tribunal de Contas da União.

Observe-se que a OAB não se submete ao controle do TCU, consoante restou decidido no RMS

797 do extinto Tribunal Federal de Recursos. O STF recentemente decidiu que a OAB não é

integrante da Administração Pública Indireta da União, mas sim um “serviço público independente,

categoria ímpar no elenco das personalidades jurídicas existentes no direito brasileiro” (ADI 3.026),

não se submetendo ao controle da Administração e à necessidade de contratação por concurso

público.

6.4 Entes de Cooperação ou Serviços Sociais Autônomos

Trata-se de pessoas jurídicas de direito privado, sem fins lucrativos, que visa a prestar serviços

assistenciais a certos grupos profissionais ou de natureza médica, de ensino ou de assistência

social. Não integram a estrutura da Administração Pública, embora recebam recursos de

contribuições patronais.