89261 Historia Da Administracao Publica Brasileira

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    Palhoa

    UnisulVirtual

    2008

    Histria da AdministraoPblica Brasileira

    Disciplina na modalidade a distncia

    4 edio revista e atualizada

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    Crditos

    Unisul - Universidade do Sul de Santa CatarinaUnisulVirtual - Educao Superior a Distncia

    Campus UnisulVirtual

    Avenida dos Lagos, 41Cidade Universitria Pedra BrancaPalhoa SC - 88137-100Fone/fax: (48) 3279-1242 e3279-1271E-mail: [email protected]: www.virtual.unisul.br

    Reitor UnisulGerson Luiz Joner da Silveira

    Vice-Reitor e Pr-ReitorAcadmicoSebastio Salsio Heerdt

    Chefe de Gabinete da ReitoriaFabian Martins de Castro

    Pr-Reitor AdministrativoMarcus Vincius Antoles da SilvaFerreira

    Campus SulDiretor: Valter Alves Schmitz NetoDiretora adjunta: AlexandraOrsoni

    Campus NorteDiretor: Ailton Nazareno SoaresDiretora adjunta: Cibele Schuelter

    Campus UnisulVirtualDiretor: Joo VianneyDiretora adjunta: JucimaraRoesler

    Equipe UnisulVirtual

    Avaliao InstitucionalDnia Falco de Bittencourt

    BibliotecaSoraya Arruda Waltrick

    Capacitao e Assessoria aoDocenteAngelita Maral Flores(Coordenadora)Caroline BatistaElaine SurianEnzo de Oliveira MoreiraPatrcia MeneghelSimone Andra de Castilho

    Coordenao dos Cursos

    Adriano Srgio da CunhaAlosio Jos RodriguesAna Luisa MlbertAna Paula Reusing PachecoBernardino Jos da SilvaCharles CesconettoDiva Marlia FlemmingEduardo Aquino HblerFabiano CerettaItamar Pedro BevilaquaJanete Elza FelisbinoJucimara RoeslerLauro Jos BallockLvia da Cruz (auxiliar)Luiz Guilherme BuchmannFigueiredoLuiz Otvio Botelho LentoMarcelo CavalcantiMaria da Graa PoyerMaria de Ftima Martins (auxiliar)Mauro Faccioni FilhoMichelle Denise Durieux Lopes DestriMoacir FogaaMoacir HeerdtNlio HerzmannOnei Tadeu DutraPatrcia AlbertonRose Clr Estivalete BecheRaulino Jac Brning

    Rodrigo Nunes Lunardelli

    Criao e Reconhecimento deCursosDiane Dal MagoVanderlei Brasil

    Desenho EducacionalDaniela Erani Monteiro Will(Coordenadora)

    Design InstrucionalAna Cludia TaCarmen Maria Cipriani PandiniCarolina Hoeller da Silva BoeingFlvia Lumi MatuzawaKarla Leonora Dahse NunesLeandro Kingeski PachecoLuiz Henrique QueriquelliLvia da CruzLucsia PereiraMrcia LochViviane BastosViviani Poyer

    AcessibilidadeVanessa de Andrade Manoel

    Avaliao da AprendizagemMrcia Loch (Coordenadora)Cristina Klipp de OliveiraSilvana Denise Guimares

    Design Visual

    Cristiano Neri Gonalves Ribeiro(Coordenador)Adriana Ferreira dos SantosAlex Sandro XavierEvandro Guedes MachadoFernando Roberto DiasZimmermannHigor Ghisi LucianoPedro Paulo Alves TeixeiraRafael PessiVilson Martins Filho

    Disciplinas a DistnciaEnzo de Oliveira Moreira

    (Coordenador)

    Gerncia AcadmicaMrcia Luz de Oliveira Bubalo

    Gerncia AdministrativaRenato Andr Luz (Gerente)Valmir Vencio Incio

    Gerncia de Ensino, Pesquisae ExtensoAna Paula Reusing Pacheco

    Gerncia de Produo eLogsticaArthur Emmanuel F. Silveira(Gerente)Francisco Asp

    Logstica de EncontrosPresenciaisGraciele Marins Lindenmayr(Coordenadora)

    Aracelli AraldiCcero Alencar BrancoDaiana Cristina Bortolotti

    Douglas Fabiani da CruzFernando SteimbachLetcia Cristina BarbosaPriscila Santos Alves

    Formatura e EventosJackson Schuelter Wiggers

    Logstica de MateriaisJeferson Cassiano Almeida daCosta (Coordenador)

    Jos Carlos TeixeiraEduardo Kraus

    Monitoria e Suporte

    Rafael da Cunha Lara(Coordenador)Adriana SilveiraAndria DrewesCaroline MendonaCludia Noemi NascimentoCristiano DalazenDyego Helbert RachadelEdison Rodrigo ValimFrancielle ArrudaGabriela Malinverni BarbieriJonatas Collao de SouzaJosiane Conceio LealMaria Eugnia Ferreira CeleghinMaria Isabel AragonPriscilla Geovana PaganiRachel Lopes C. PintoTatiane SilvaVincius Maykot Seram

    Relacionamento com oMercadoWalter Flix Cardoso Jnior

    Secretaria de Ensino aDistnciaKarine Augusta ZanoniAlbuquerque (Secretria de

    ensino)Ana Paula PereiraAndra Luci MandiraAndrei RodriguesCarla Cristina SbardellaDeise Marcelo AntunesDjeime Sammer BortolottiFranciele da Silva BruchadoJames Marcel Silva RibeiroJanaina Stuart da CostaJenniffer CamargoLamuni SouzaLiana PamplonaLuana Tarsila Hellmann

    Marcelo Jos SoaresMarcos Alcides Medeiros JuniorMaria Isabel AragonOlavo LajsPriscilla Geovana PaganiRosngela Mara SiegelSilvana Henrique SilvaVanilda Liordina HeerdtVilmar Isaurino Vidal

    Secretria ExecutivaViviane Schalata Martins

    Tecnologia

    Osmar de Oliveira Braz Jnior(Coordenador)Jefferson Amorin OliveiraMarcelo Neri da SilvaPascoal Pinto Vernieri

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    Apresentao

    Este livro didtico corresponde disciplina Histria daAdministrao Pblica Brasileira.

    O material foi elaborado visando a uma aprendizagem autno-ma, abordando contedos especialmente selecionados e adotandouma linguagem que facilite seu estudo a distncia.

    Por falar em distncia, isto no significa que voc estar sozinho.No esquea que sua caminhada nesta disciplina tambm seracompanhada constantemente pelo Sistema Tutorial da Unisul-Virtual. Entre em contato sempre que sentir necessidade, sejapor correio postal, fax, telefone, e-mail ou Ambiente Virtual deAprendizagem - AVA. Nossa equipe ter o maior prazer ematend-lo, pois sua aprendizagem nosso principal objetivo.

    Bom estudo e sucesso!

    Equipe UnisulVirtual.

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    4 edio revista e atualizada

    Palhoa

    UnisulVirtual2008

    Ruth Terezinha Kehrig

    Design instrucional

    Mrcia Loch

    Flvia Lumi Matuzawa

    Histria da AdministraoPblica Brasileira

    Disciplina na modalidade a distncia

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    351.0981K35 Kehrig, Ruth Terezinha

    Histria da administrao pblica brasileira : livro didtico / RuthTerezinha Kehring ; design instrucional Mrcia Loch, Flavia Lumi Matuzawa,[Luiz Henrique Queriquelli]. 4. ed. rev. e atual. Palhoa : UnisulVirtual,2008.

    210 p. : il. ; 28 cm.

    Inclui bibliografia.ISBN 978-85-7817-056-1

    1. Administrao pblica Brasil. 2. Poltica urbana Brasil. 3. Estado Brasil. I. Loch, Mrcia. II. Matuzawa, Flavia Lumi. III. Queriquelli, LuizHenrique. IV. Ttulo.

    Ficha catalogrca elaborada pela Biblioteca Universitria da Unisul

    Edio Livro Didtico

    Professora ConteudistaRuth Terezinha Kehring

    Design InstrucionalMrcia Loch

    Flvia Lumi MatuzawaLuiz Henrique Queriquelli (4 edio revista e atualizada)

    ISBN978-85-7817-056-1

    Projeto Grco e CapaEquipe UnisulVirtual

    DiagramaoAlex Sandro Xavier

    RevisoRevisare

    Copyright UnisulVirtual 2008

    Nenhuma parte desta publicao pode ser reproduzida por qualquer meio sem a prvia autorizao desta instituio.

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    Sumrio

    Palavras da professora . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

    Plano de estudo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

    Unidade 1 - Antecedentes histrico-conceituaisda administrao pblica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Unidade 2 - Origens da administrao pblica brasileira:

    at o incio do Sculo XX. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39

    Unidade 3 - Repblica Federativa do Brasil:

    Estado, governo e os trs poderes. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .73

    Unidade 4 - Administrao Pblica Brasileira no sculo XX

    (aps 1930) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97

    Unidade 5 - Introduo aos princpios e funes pblicas

    e a competncia e atribuies da Unio,

    estados e municpios. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .127

    Unidade 6 - Fatores culturais e administrao pblica. . . . . . . . . . . . . . . . .151

    Unidade 7 - A modernizao do Estado: entre concentrao,descentralizao e exibilizao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1167

    Para concluir o estudo da disciplina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .195

    Referncias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .197

    Sobre a professora conteudista . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .203

    Comentrios e respostas das atividades de auto-avaliao . . . . . . . . . . . .204

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    Palavras da professora

    Prezado aluno, prezada aluna

    Voc est iniciando agora seus estudos de uma nova disciplina,fundamental para a formao que voc se props. Conhecer ahistria da administrao pblica brasileira pr-requisito paravoc, enquanto administrador pblico, saber onde voc est inse-rido no seu mundo do trabalho e social.

    Quem no conhece a histria est fadado a repetir erros histori-camente superados ou a permanecer no passado. E assim, colo-car-se em um presente irreal e superficial, porque a-histrico.

    A administrao pblica brasileira existe e no caiu do cu. Mes-mo que em suas origens aqui tenha sido aportada quando no

    deportada. Pois trouxe sua bagagem histrico-social, que aqui foiprocessada e continua sendo reelaborada, superada e recriada.

    A atualidade dos conceitos-chave, mecanismos e instrumentos daadministrao pblica so o produto da sua histria, processadasno contexto da realidade brasileira.

    Inserida a administrao pblica nas prticas de governo e sendoa relao entre governo e Estado mediada pela poltica, huma-namente impossvel dissociar a administrao pblica das polti-

    cas pblicas que lhe cabe realizar. Apenas por motivos pedaggi-cos, aqui voc vai estudar a constituio da administrao pblicano Brasil e na nossa prxima disciplina como operar a gesto daspolticas.

    Como voc j deve ter se dado conta, esta disciplina a sua ini-ciao no mundo da administrao pblica brasileira. Juntos va-mos decifr-lo.

    Bons estudos!

    Com o abrao da Professora Ruth

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    Plano de estudo

    Ementa

    Origens do governo e da administrao pblica no Brasil. Aorganizao dos poderes. Estado e Governo. Fundamentos,princpios e funes do setor pblico. Estrutura e funciona-mento. Fatores culturais e administrao pblica. A moderniza-o do Estado. Concentrao e desconcentrao federal, estadu-al e municipal.

    Objetivos da disciplina

    Resgatar o conhecimento da Histria da AdministraoPbica Brasileira.

    Entender a origem da Administrao Pblica.Entender a organizao dos poderes.Compreender os fundamentos, princpios e funes do

    setor pblico.Estudar a estrutura e funcionamento, fatores culturais.Identificar a modernizao do Estado.

    Entender a concentrao e desconcentrao federal,estadual e municipal.

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    Unidades de estudo

    A disciplina Histria da Administrao Pblica Brasileirafoidividida em seis unidades. Veja a seguir o que voc vai estudar em

    cada uma delas:

    Unidade 1: Antecedentes histrico-conceituais da administrao pblica

    Nesta primeira unidade voc vai entender a origem da Admi-nistrao Pblica, sua insero nos primrdios da histria da ad-ministrao e relao com os conceitos de Estado e governo. Vaipoder reconhecer os antecedentes da administrao pblica naAntiguidade e Idade Mdia e suas bases patrimoniais em relaocom as noes de Estado feudal e estamental. E ainda as expres-ses da administrao pblica no absolutismo e ao nascer doEstado moderno, podendo assim compreender as bases histrico-conceituais da administrao pblica.

    Unidade 2: Origens da administrao pblica brasileira: at o incio do Sculo XX

    Na nossa segunda unidade voc vai estudar como foi se consti-tuindo a administrao pblica no Brasil, desde o momento dodescobrimento das terras tupiniquins pelos colonizadores por-

    tugueses (1500) at o perodo em que se formou a nossa VelhaRepblica (1989-1930). Quer dizer, vai conhecer as caracters-ticas da administrao pblica brasileira como desdobramentodos seus antecedentes histricos. Nessa perspectiva voc serconvidado a refletir sobre as formas de organizao social queantecederam a chegada do homem branco ao Brasil, a reconhecero carter patrimonialista de administrao pblica trazido peloscolonizadores portugueses, a identificar as origens coloniais queserviram de base para a administrao pblica brasileira, e, a ca-

    racterizar as formas de administrao pblica assumidas no scu-lo 19, do Brasil imperial Primeira Repblica.

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    Unidade 3: Repblica Federativa do Brasil: Estado, governo e os trs poderes

    Nesta unidade voc vai compreender o que o Estado Federal;entender as diferentes formas de governo, reconhecendo a im-portncia do sistema democrtico e o significado do princpio

    republicano em suas implicaes na administrao pblica; e,reconhecer os trs poderes de governo Executivo, Legislativo eJudicirio como parte da administrao pblica.

    Unidade 4: Administrao Pblica Brasileira no sculo 20 (aps 1930)

    Na quarta unidade da nossa disciplina voc vai perceber a inser-o dos antecedentes da Revoluo de 1930 para a histria daadministrao pblica brasileira, podendo compreender melhoralguns acontecimentos ocorridos no Brasil aps a dcada de 30

    do sculo passado at os dias atuais. Sero identificadas as princi-pais caractersticas da administrao pblica brasileira durante osprimeiros quinze anos de governo Vargas (1930-1945), no per-odo do ps-guerra ao governo populista de Vargas (1946-1954),no desenvolvimentismo e frente aos esforos de uma democracianascente (1954-1963), atropelada pela administrao pblica daditadura militar brasileira (1964-1984), e, ainda nas ltimas dca-das desde a Nova Repblica at o final do sculo 20.

    Unidade 5: Introduo aos princpios e funes pblicas e a competncia e

    atribuies da Unio, estados e municpios

    Nesta unidade voc vai compreender o que regime jurdico ad-ministrativo; no que consubstancia a correta gesto dos negciospblicos e o manejo dos recursos pblicos; a repartio de com-petncia e as atribuies dos Poderes da Unio, do Distrito Fede-ral, dos estados e dos municpios.

    Unidade 6: Fatores culturais e administrao pblicaNa nossa penltima unidade voc vai estudar os fatores culturaisque contribuem para a Administrao Pblica brasileira, compre-endendo a relao do desenvolvimento do Pas com a necessidadede crescimento dos servios pblicos; a Administrao Pblica apartir da reestruturao do sistema de administrao financeira, damodificao do contexto poltico e da evidncia de uma cultura decorrupo; apontando para um contraponto na perspectiva de me-lhorias na competncia, capacitao e cultura no servio pblico.

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    Unidade 7: A modernizao do Estado: entre concentrao, descentralizao eexibilizao

    Na ltima unidade dessa nossa disciplina voc vai aprender aconceituar reforma administrativa dentro da histria da organiza-

    o pblica brasileira, compreendendo o conceito de controle so-cial nesse movimento. E vai conhecer as principais diretrizes in-troduzidas na modernizao do Estado, entendendo aspectos dadesconcentrao e descentralizao administrativa, e, das formasde administrao direta e indireta, como as autarquias, fundaes,sociedade de economia mista, empresas pblicas e organizaessociais.

    Cronograma da disciplina

    Atividades

    Avaliao a Distncia

    Avaliao Presencial

    Avaliao Final

    Demais atividades (registro pessoal)

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    UNIDADE 1

    Antecedenteshistrico-conceituais daAdministrao Pblica

    Objetivos de aprendizagem

    Ao nal desta unidade voc ser capaz de:

    Situar a administrao pblica nos primrdios dahistria da administrao.

    Diferenciar os conceitos de Estado, Governo eAdministrao Pblica.

    Conhecer os antecedentes da Administrao Pblicana Antigidade e Idade Mdia.

    Reconhecer quais so as bases patrimoniais daAdministrao Pblica e as noes de Estado feudal eEstamental.

    Identificar expresses da Administrao Pblica noabsolutismo e ao nascer do Estado moderno.

    Compreender as bases histrico-conceituais daAdministrao Pblica.

    Plano de estudoNesta unidade voc vai estudar as seguintes sees:

    Seo 1 Dos primrdios da histria da administrao Administrao Pblica.

    Seo 2 Estado e governo como fundamentos daadministrao pblica.

    Seo 3 Antecedentes da Administrao Pblica naAntigidade e Idade Mdia.

    Seo 4 Bases patrimoniais da Administrao Pblicae o Estado estamental.

    Seo 5 A organizao pblica no absolutismo e aonascer do Estado moderno.

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    Para incio de conversa

    J que conceitos tm histria e autores, voc vai comear o apren-dizado sobre a histria da administrao pblica brasileira bus-candoseus antecedentes longnquos.

    Partindo das expresses da administrao pblica nos primrdiosda prpria administrao e das concepes de Estado e Governona Antigidade e Idade Mdia, voc vai poder compreender osprimeiros fragmentos que vo compor a tessitura da administra-o pblica europia, que vem aportar em nosso continente.

    A caracterstica histrica mais marcante da administrao pblicabrasileira e que est difcil de romper o patrimonialismo, quevoc vai compreender como uma marca consolidada pelo Estadoestamentalportugus. E ainda vai entender a concepo de Es-tado absolutistado incio da idade moderna, que tambm man-teve algumas reminiscncias na administrao pblica brasileira.

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    Dos primrdios da histria da administrao a

    administrao pblicaA histria da administrao pblica acompanha a formao dopensamento administrativo. Os antecedentes histricos da admi-nistrao a configuram como resultado de contribuies cumula-tivas das obras e teorias de muitos precursores, destacando-se osfilsofos, fsicos, economistas, estadistas e empresrios.

    As estruturas orgnicaspiramidais, que so amplamente incor-

    poradas na estruturao do conhecimento em administrao, hmuito tempo j vinham pautando a realizao de empreendimen-

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    Unidade 1

    tos militares, sociais, polticos, econmicos e religiosos de todotempo, concentrando-se no topo da pirmide as funes de auto-ridade e poder de decidir, cabendo base as funes de execuo.

    Um exemplo clssico do uso da estrutura piramidal, como for-ma de organizao utilizada h muitos sculos e alguns milnios(h mais de dois mil anos), pode ser encontrada no Antigo Tes-tamento (xodo, cap.18, v.13-27). Naquela ocasio o sogro deMoiss lhe aconselhava a delegar suas funes para chefias in-termedirias como forma de organizao para conseguir atendertoda a multido que lhe procurava cotidianamente.

    Segundo Chiavenato (1983), os antecedentes da administraona Antigidade podem ser encontrados nas obras monumentaisque revelam a existncia, por muitos sculos, de dirigentes capa-zes de planejar e guiar pessoas para conseguir efetivar realizaesdaquela magnitude.

    Como exemplos que demonstram a importncia daadministrao das coisas pblicas naqueles diversoscontextos histricos destacam-se (CHIAVENATO, ):

    EGITO os papiros: importncia da organizao po-ltica.BABILNIA controle escrito e salrio mnimo.CHINA Parbolas de Confcio: prticas para a boa ad-ministrao pblica.PRSIA Ciro: estudo de movimentos fsicos, relaes

    humanas e manuseio de materiais.ROMA descrio de funes (Cato).

    A influncia da organizao da Igreja Catlicatraz a marca daimportncia de existir uma unidade de propsitos eobjetivos,princpio fundamentalda organizao eclesistica, como orien-tao das normas administrativas, da hierarquia de autoridade (oseu Estado Maior) e da coordenao funcional. Sempre prxima

    do Estado, quando no fazendo parte diretamente dele, ou seconstituindo como tal o Estado do Vaticano, o modelo de orga-

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    Universidade do Sul de Santa Catarina

    nizao da Igreja Catlica tem sido referncia tanto da adminis-trao pblica como da privada.

    Dainfluncia da organizao militar para a administrao emgeral destacam-se: organizao linear, o princpio da unidade de

    comando, escala hierrquica (por nveis de comando), autoridadee responsabilidade, ampliao da escala de comando frente ao vo-lume de operaes, novos princpios de organizao, planejamen-to e controle centralizados e a instituio de operaes descentra-lizadas (CHIAVENATO, 1983).

    A influncia dos filsofos nos antecedentes da formao do pen-samento administrativo pode ser demonstrada a partir das se-guintes contribuies (CHIAVENATO, 1983):

    Scrates:habilidade pessoal, conhecimento tcnico eexperincia.Plato: ARepblica: administrao dos negciospblicos.

    Aristteles:Poltica: organizao do Estado.Bacon (sc. XVI):mtodo experimental e indutivo.Descartes (sc. XVII):o poder da RAZO.Hobbes (sc. XVII):o homem o lobo do homem.

    Rousseau (sc. XVIII):o Contrato Social.Marx (sc. XIX):dominao econmica do homem pelohomem.

    As teorias de administrao tm aplicao gentricanos mais diversos tipos de organizao, cabendo a cadasetor de produo absorver referenciais e modelos degesto, segundo sua disponibilidade de acesso e opor-tunidades.

    Somente no sculo XIX, e anteriormente ao nascimento da cha-mada administrao cientfica, houve produes especficas dediferentes problemticas sociais. Um movimento de diferenciaoentre a administrao pblica e empresarial que possa ter existidoem alguns momentos tem dado espao para o reconhecimentodas posies originais da teoria da administrao, a exemplo deFayol e Weber, autores clssicos da formao do pensamento ad-ministrativo no incio do sculo XX, que claramente indicavam aaplicao da teoria das organizaes para qualquer esfera.

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    Desde as abordagens acima citadas, pesquisas realizadas por di-versos autores da teoria organizacional, com destaque para os deformao mais estruturalista, e aps estes os de abordagens con-tingenciais, como tambm autores mais atuais (PETTIGREW,1992), todos tm reafirmado que a teoria da administrao ge-nrica, ou seja, aplicvel aos mais diversos setores de produo debens e servios para a sociedade.

    Apenas adaptaes do seu corpo terico organizacional sodemandadas nas suas aplicaes setoriais. Pois, as peculia-ridades do processo produtivo nos diferentes setores e reasde produo so equacionadas por administradores do pr-prio setor, referenciados nas produes pertinentes a cadacontexto especfico.

    A complexidade, mudanas e incertezas contidas na socie-dade implicam o aumento de demandas da administraocomo sendo atividade humana. A tarefa bsica da admi-nistrao fazer as coisas por meio das pessoas. Portanto,basicamente gerir pessoas em cooperao, visando a alcanarobjetivos com eficincia dos recursos. Para tanto, so desenvolvi-dos modelos e estratgias adequadas soluo dos problemas en-contrados no mundo organizacional.

    Como cincia, a administrao tem um objeto prprio e seusprincpios so formulados pela experincia cientfica. A adminis-trao estuda e investiga para conhecer e compreender, essencial-mente, a estrutura e funcionamento das organizaes. Elaborateorias e leis baseadas em hipteses, modelos e postulados. Pode-se lhe atribuir a existncia por dois campos:

    o explicativo:que aporta o conhecimento e indica

    tcnicas para operar e transformar organizaes;o avaliativo:da aplicao de suas explicaes, com o

    que realimenta e guia a explicao cientfica.

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    Estado e Governo como fundamentos daAdministrao Pblica

    Houve uma radical transformao do significado da administra-o desde sua origem etimolgica.Adsignifica direo ou ten-dncia para, enquanto que ministertraz a idia de subordinaoe obedincia. A tarefa central da administrao interpretar osobjetivos organizacionais e transform-los em ao coordenadaentre esforos de todas as reas e nveis da organizao, realizan-do suas funes.

    Ao assumir o adjetivo pblica, a administrao volta-se para as

    organizaes pblicas. Quer dizer, pertencentes estrutura deEstado, ou seja, as instituies governamentais.

    AAdministrao Pblicacompreende a estrutura e as atividadesessenciais que possibilitam ao Estado o cumprimento de seusfins. E como o Estado opera por meio do governo, por inter-mdio desta ltima instituio que a administrao pblica seprocessa.

    Voc sabe o que Estado?

    Um conceito bem sinttico e recorrente entre vriosautores para o Estado define-o como uma nao po-liticamente organizada.

    Tambm bastante conhecida, inclusive nos curr-culos de segundo grau, a chamada teoria tradicio-nal dos trs elementos do Estado:

    . coletividade (povo);. territrio;

    . poder poltico (soberania).

    Existem diferentes variaes e definies para cada um desteselementos, mantendo-se a mesma estrutura conceitual.

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    comum encontrar para o Estado uma denio comoa seguinte: um conjunto humano, um territrio e umpoder poltico juridicamente orientado para objetivosde interesse pblico (VERBO, 1968).

    Como se pode depreender a respeito do conceito acima, o Esta-do inclui o governo e os governados, abrangendo todas as pessoasdentro de um territrio definido, como membros de um governosoberano, (os) cidados [...], cujas aes so controladas por ele.(LAKATOS e MARCONI, 1988, p.188). E assim tem sido his-toricamente.

    Conforme explicitam as autoras acima, o conceito de Estadoimplica a incluso do elemento governo, que mantm a ordem e

    estabelece as normas relativas s relaes entre os cidados (ibid).Pois, o governo representa oficialmente o poder poltico do Esta-do e simboliza a sua soberania.

    Ento, o que Governo?

    Governo o aparelho de Estado. a estrutura de funcionamentopor meio da qual o Estado se organiza.

    Quer dizer: O governo formado pelos rgose instituies que constituem os seus poderes -Executivo, Legislativo e Judicirio.

    E, sendo um pas federado como ocorre no Brasil, o governo seorganiza em cada nvel da federao: seja isso em nvel federal,

    estadual ou municipal.

    Um exemplo atual que permite perceber melhor adiferena entre Estado e Governo a Inglaterra, comsua monarquia constitucional. Em funo do seu regimeparlamentarista, naquele pas existe, por um lado, oEstado da Inglaterra, que tem por chefe um monarca, aRainha; e, por outro lado, o seu governo que lideradopelo primeiro ministro. Ou seja, existe um chefe deEstado e um chefe de Governo. No caso do Brasil, comonos Estados Unidos da Amrica, o chefe de Estado

    assume tambm a funo de chefe de governo.

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    Agora que voc j estudou uma definio de Estado por refern-cia e sabe diferenciar Estado de Governo, vamos entender ondeentra a administrao pblica.

    O que Administrao Pblica?

    Pode-se entender a administrao pblica como umconjunto depessoas que compem os rgos e servios do aparelho de Estado, ou,que desenvolvem a atividade ou funo da administrao dos rgosde governo.

    Assim como a concepo de Estado muda atravs dos tempose dos continentes, tambm o conceito de administrao pblicatem histria e seu significado ser construdo durante toda estadisciplina.

    SEO 3

    Antecedentes da Administrao Pblica na

    Antigidade e Idade Mdia

    oc sabe qual a concepo de dministrao blica nantigidade rego-omana?

    Voc lembra dos filsofos clssicos estudados na disciplinade Filosofia e tica?Os gregos Scrates, Plato e Arist-teles nos deixaram os primeiros registros histricos de uma

    filosofia poltica sobre o Estado.Na Grcia Antiga, bero das sociedades europias atuais,

    nasce a filosofia, os jogos olmpicos (educao fsica) e a demo-cracia (cincia poltica), entre muitas outras disciplinas, aqui en-tendidas como reas do conhecimento. Por exemplo, a medicina.

    Existiram dois importantes perodos na antiguidade grega, nosquais se pode antever algumas caractersticas das organizaespolticas:

    Fonte: http://www.correntedapaz.com/

    platao.html 03/08/04

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    1) Genos, o perodo pr-homrico e a poca de Homero, emtorno de 2000 anos a.C., onde se destacavam:

    os agrupamentos familiares extensos;

    o poder centralizado em apenas um chefe, com toda

    autonomia poltica;divises da sociedade em ncleos menores, as

    chamadas fratias e tribos.

    2) Polis, o perodo arcaico (800 a 600 anos a.C.):

    havia a cidade-estado, j com uma certaregulamentao;

    expanso e colonizao dirigidas para toda a PennsulaItlica;

    o poder poltico na cidade de Esparta compreendiauma diarquia, com Conselho e Assemblia;

    o poder poltico na cidade de Atenas compreendiaa uma monarquia, onde, enquanto diminua aaristocracia, aumentava a democracia.

    Um espao privilegiado da organizao poltica emAtenas era a gora, a grande praa pblica no centroda cidade, bero da democracia, onde se reuniam oscidados exercendo seu papel poltico.

    Na Roma Antiga tambm existiram dois grandes momentos deorganizao poltica:

    a clssica Monarquia Romana(at anos a.C.),

    assim constituda: Rei, Conselho de Ancios, Senado(chefes de famlia e sacerdotes) e Assemblia dospatrcios;

    a clssica Repblica Romana, resultado de um golpedo Conselho de Ancios na Monarquia Romana,criando-se uma aristocracia que conservava tantoelementos monrquicos (com suas Magistraturas),como elementos aristocrticos (atravs do Senado), eelementos democrticos (com suas Assemblias).

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    A Roma Antiga a grande referncia histrica clssicado nascer e desenvolver-se da cidadania e do direito.

    Para um cidado romano, culturalmente, o Estado estava acima detudo, o que se refletia na coragem e lealdade dos romanos a servi-o da res pblica (coisa pblica), concepo original de Estado.

    A vida do cidado era regida por leis, que representam a origemdo direito em suas duas formas clssicas:

    Direito Pblico, tratando dos costumes (Direito Civil) edas conquistas (Direito Estrangeiro);

    Direito Privado, trazendo os ordenamentos legais para avida nas famlias.

    A Administrao Pblica no perodo Feudal

    Na disciplina de Sociologia das Organizaes, voc estu-dou que o feudalismo foi um sistema social, econmico epoltico tpico da Idade Mdia.

    Este grande perodo negroda histria compreende nada menosque 10 sculos, ou seja, aproximadamente 1.000 anos que vodesde o sculo V at o sculo XV: da queda do Imprio Romanodo Ocidente at a tomada de Constantinopla pelos turcos.

    Voc sabe por que a Idade Mdia conhecida como a

    Idade das Trevas?

    Porque o domnio dos senhores feudais e do clero dapoca fez perder-se todo o desenvolvimento artstico,intelectual, losco e institucional construdo naAntigidade. Passaram a reinar os dogmas da IgrejaCatlica e se destacavam as invases germnicas, apartir das quais os valores militares passam a orientaras concepes do chear para os senhores feudais.

    Tambm na Idade Mdia se destacam dois grandes perodos his-tricos:

    aAlta Idade Mdia(sculos V a IX), em que nasce osistema feudal na Europa e cresce o Imprio Bizantino

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    (Romano do Oriente) e se instaura a forma de EstadoTeocrtico na Pennsula Arbica (o Islo);

    a Idade Mdia(dos sculos X a XV), em que osmodelos acima se consolidam.

    No sistema feudal, o modo de organizao econmica, poltica,social e cultural baseado na posse da terra. Nesse contexto nascea obrigao servil em relao aos seus prprios proprietrios. Se-gundo Faoro (2001, p.34):

    O feudalismo, fase necessria no ocidente europeu, seriaum momento da diviso do trabalho, que se projeta emformas diversas de propriedade. Sucedeu ao primeiroestgio, o tribal, o perodo estatal e comunal, alcanando

    o sistema feudal, preldio da era capitalista. Cidade ecampo, polarizados com a propriedade territorial e cor-porativa, respectivamente, se identificam numa ordempatriarcal e hierrquica. Feudalismo e economia naturalseriam termos correlatos.

    A importncia de estudar e compreender um pouco deste tema porque o feudalismo deixou um lastro que perpassa os tempos,persistentemente, dentro dos rumos diversos que seguiu a socie-dade e sua administrao pblica.

    No sistema feudal conservam-se, tanto elementos do mundoromano, como a vila, os colonos precrios ou clientes e o poderpoltico; e tambm, valores culturais dos povos germnicos, comoa economia natural, a imobilidade social, um sistema poltico semEstado e o comitatus, seus guerreiros defensores dos feudos. Des-tacam-se as seguintes bases do sistema feudal:

    o regime de propriedade da terra, havendo a rea dedomnio ou senhorio, a posse considerada coletiva dosbosques e pastos e as reservas privadas ou na forma deco-propriedade;

    as relaes sociais, onde quem nasce servo ou senhor,assim se manter por toda a vida (a imobilidade socialantes referida), pertencendo exclusivamente ao senhoro poder militar e poltico, havendo ainda, outrasclasses sociais intermedirias - os viles, escravos eministeriais, sendo que estes ltimos podiam ascender

    excepcionalmente at condio de cavaleiros;

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    o regime de trabalho tpico da poca, denominadocorvia, que significava trabalho forado, pagamentosdo trabalho por redevances, consentimento de uso dealojamentos e similares e as respectivas prestaes deservios como contrapartida.

    Como era o Estado Feudal?

    Havia uma soberania piramidal e fragmentria naestrutura da sociedade feudal. Esse modelo deorganizao pode ser caracterizado em trs tipos:

    . poder poltico local, descentralizado em relao ao rei;

    . proteo dos senhores feudais, obtida pelo juramentode fidelidade a outros senhores, tornando-se estesltimos suseranos (superiores) dos protegidosque passam a ser seus vassalos (outros senhoressubordinados aos senhores feudais seus protetores);

    . estrutura hierrquica piramidal, com o rei no topo,num status que se relaciona exclusivamente com seusvassalos diretamente ligados a ele, como duques,

    marqueses e condes, sucessivamente, ficando no espaocentral da estrutura os bares como suseranos doscavaleiros que formam a base da pirmide hierrquica.

    nas estruturas dessa natureza que tm origem os reinados e aconhecida nobreza na organizao da sociedade ocidental.

    A idia mais prxima de Estado feudal, sintetiza um exerccioacumulativo das suas funes diretivas pelos senhores feudais por

    um lado, e, a fragmentao do poder central entre os diversosfeudos, por outro.

    Segundo Faoro (2001, p.36), no se pode considerar a organiza-o poltica da sociedade feudal como um Estado propriamente,como entendemos este conceito hoje. Nas suas palavras:

    [...] O feudalismo, fenmeno no somente europeu, sig-nifica, portanto, um acidente, um desvio na formao danao politicamente organizada (o nosso conceito de Es-tado at aqui assimilado). [...] O incremento do comrcio,de outro lado, acelera o aparecimento do sistema patri-monial, contrrio ordem feudal (ibid).

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    Assim pode-se armar que: O feudalismo no cria, nosentido moderno, um Estado. [...] apenas concilia, narealizao da homogeneidade nacional, os privilgios,contratualmente reconhecidos, de uma camadaautnoma de senhores territoriais. (p.36).

    SEO 4

    Bases patrimoniais da Administrao Pblica e oEstado Estamental

    Estado Estamental e Monarquias Absolutistas

    Com o final da Idade Mdia, passam a existir algumas formasintermedirias que vm anteceder a futura organizao do EstadoModerno o Estado Estamental a primeira dessas formas quese configura naquele momento da histria.

    A seguir vir um outro desenho de Estado que voc vai estudarna prxima seo - as Monarquias Absolutistas. Essas so apenas

    formas transitrias e bem menos conhecidas que as trs grandesdivises histricas: o Estado na Antigidade, sua fragmentaona Idade Mdia e o Estado na Modernidade.

    Porm, do ponto de vista da administrao pblica brasileira, porsuas marcas profundas na organizao das coisas pblicas emnosso pas, muitas delas presentes at hoje, o estamento, assimcomo o Estado absolutista, so da maior importncia na compre-enso da nossa histria.

    O que foi o Estado Estamental?

    Como decorrncia das caractersticas do sistema feudal, em quese destacava a produo auto-suficiente em cada feudo, e o po-der poltico local independente, os movimentos que levaram formao do Estado, foram criando uma espcie de comunidade

    privilegiada para os senhores feudais, que passavam a constituirestamentos, como se fossem castas superiores, que foram se ins-talando na organizao do Estado.

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    O Estado Estamentalcompreende uma tipologiaintermediria entre o Estado feudal e o EstadoAbsoluto.

    Segundo Bobbio (2001), significa um Estado de estamentos emtorno do Prncipe, formado por instituies que representam osinteresses da prpria categoria.

    Etimologicamente stndesignifica rgos colegiados, pelosquais se organiza o Estado Estamental. Sua instituio repre-senta os interesses da prpria categoria, protegendo os gruposdaquela mesma posio social. Seus direitos e privilgios seconsolidavam por meio das assemblias deliberativas, a exemploda Cmara dos Lords (nobres e clero) e da Cmara dos Co-muns (estamento burgus).

    O exemplo histrico de Portugal, segundo Faoro (2001, p.37), um caso tpico da, por um lado, no existncia do feudalismopropriamente dito e, por outro lado, de configurao tpica de umEstado Estamental que ultrapassou sculos:

    O elemento militar do regime feudal caracteriza a situa-o de uma camada (o estamento) vinculada ao sobera-no por um contrato um contrato de status, calcado nalealdade, sem subordinao incondicional. Sob o aspectoeconmico-social, aos senhores est reservada uma renda,resultante da explorao da terra. Politicamente, a ca-mada dominante, associada ao rei por convvio fraternale de irmandade, dispe de poderes administrativos e decomando, os quais, para se atrelarem ao rei, dependemde negociaes e entendimentos. Dos trs elementos, quesomente reunidos constituem o feudalismo, resulta, comrespeito ao soberano, a imunidade armada capaz de seextremar na resistncia, elevada categoria de um direito

    Situado terica e historicamente o contedo do sistemafeudal, ressalta do enunciado a sua incompatibilidadecom o mundo portugus, desde os primeiros atos dodrama da independncia e da reconquista. [...] Portugalno conheceu o feudalismo. No se vislumbra, por maisesforos que se faam para desfigurar a histria, umacamada, entre o rei e o vassalo, de senhores, dotados deautonomia poltica.

    Agora, o estamento, esse sim pode ser considerado um fenmeno

    da organizao do Estado, governo e administrao pblica, queganha maior expresso no modelo assumido por Portugal no pe-

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    rodo das grandes navegaes e que vai atravessar mares at suascolnias.

    Segundo Faoro (2001, p.39-40):

    [...] Entre o comrcio medieval, de trocas costeiras, e o co-mrcio moderno, com as navegaes longas, h o apareci-mento da burguesia desvinculada da terra, capaz de finan-ciar a mercancia. H, sobretudo, o aparecimento de umrgo centralizador, dirigente, que conduz as operaescomerciais, como empresa sua: o prncipe. [...] O Estadotorna-se uma empresa do prncipe, que intervm em tudo,empresrio audacioso, exposto a muitos riscos por amor riqueza e glria: empresa de paz e empresa de guerra.

    Para a gesto desse empreendimento o Estado portugus precisa

    de governo e de administrao pblica. O estamento a formautilizada. Como rgos de Estado, o estamento do final da IdadeMdia e incio da Idade Moderna, pode ser considerado um an-tecessor do conceito de governo hoje adotado na sociedade.

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    A organizao pblica no absolutismo e ao nascer do

    Estado Moderno

    O que foi o Absolutismo?

    Voc vai estudar nesta seo a passagem do Estado feudal paraa forma de monarquias absolutas e a formao gradativa deaparatos administrativos importante para acompanhar umprocesso tambm histrico de formao do Estado moderno econtemporneo.

    Durante o sculo XVI, se estabelecem estados absolutistasnaFrana, Inglaterra e Espanha. Esta era uma forma de Estado semquaisquer intermedirios, pois o soberano reinava absoluto sobretodos os demais integrantes do reino. Os absolutistas criticam adoutrina do governo misto, pois tudo que lhes interessa o poderabsoluto do soberano sobre o povo, sem nenhuma intermediao.

    No estamento esto reunidos osfuncionrios administrativo-econmicos

    que comandam os interesses do rei.

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    mentale absoluto, j estudados, e o Estado representativo, formapredominante do Estado Moderno.

    O Estado representativo(como representante do povo de umanao) pode se constituir por revoluo, guerra civil ou caminhos

    democrticos. Nessa concepo, cabe ao Estado representar osinteresses em nome dos direitos polticos e direitos individuais.Essa fase de transformao do Estado dura at agora.

    Segundo Bobbio (2001, p.116), o Estado representativo surge ini-cialmente [...] sob a forma de monarquia, primeiro constitucionale depois (monarquia) parlamentar. Na Inglaterra, aps a granderebelio, no resto da Europa aps a revoluo francesa, e sob a for-ma de repblica presidencial nos Estados Unidos da Amrica.

    A diviso histrica dos tipos de Estado j estudados somenteuma das tipologias possveis entre outras que podem serestabelecidas para classificar as formas de Estado. Bobbio(, p.-) nos explica que, para elaborar uma tipologiaconseqente sobre as formas de Estado precisam ser consideradosos seguintes elementos:

    as relaes entre a organizao poltica do Estado e asociedade;

    as diferentes finalidades do poder poltico organizadoconforme as respectivas pocas histricas e asdiferentes sociedades.

    Em sntese, existem dois critrios principais para denirformas de Estado:

    1) o critrio histrico e a expanso da relao entreEstado e sociedade;

    2) a ideologia que sustenta essa relao entre Estado esociedade.

    Na forma de monarquia parlamentartem-se um Estado ondeexiste um compromisso entre o poder do prncipe, legitimadopela tradio e o poder dos representantes do povo, compostopela burguesia e legitimado por consenso.

    Nas relaes entre governantes e governados, h que se respei-

    tar as declaraes de direitos segundo as quais (BOBBIO, 2001,p.118): [...] o indivduo vem antes do Estado; e, o indivduo no

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    pelo Estado, mas o Estado pelo indivduo. Portanto, a pessoahumana o mais importante, a proteo da vida do indivduocomo razo de ser do Estado.

    O que fundamenta a concepo acima so as idias de Aristteles

    e reconhecidas por Hegel, segundo as quais as partes so ante-riores ao todo e no o todo anterior s partes. Trata-se da refe-rncia ao [...] pressuposto tico da representao dos indivduosconsiderados singularmente e no por grupos de interesse (ibid),sendo pressuposta a igualdade entre os homens.

    O estudo do Estado pode ser feito em diferentesplanos: na cincia jurdica, na cincia poltica, ondese enfatiza a viso losca e ideolgica do Estado, e,

    tambm nas cincias sociais, na sociologia poltica.Para os objetivos da nossa disciplina, vamos procurarentender melhor o Estado na sua abordagem maissociolgica.

    As principais modificaes introduzidas na reestruturao da vidapoltica na forma estatal na Era Moderna deram-se a partir dasconseqncias sociais e polticas da Revoluo Industrial,pormeio da criao das instituies democrticas, e da ascenso so-cial e poltica das massas de trabalhadores.

    Temos a continuidade do nosso estudo sobre o EstadoModerno nas sees seguintes, lembrando que mesmosem especicar o adjetivo moderno, essa a formahistrica de Estado at hoje existente.

    O que foi o Estado de Direito?

    Qualquer tipo de Estado, desde que esteja constitudo

    por Lei, pode ser considerado como um Estado deDireito. Tem como fundamentos bsicos (VERBO,1968):

    estar moldado sobre os direitos individuais naturais(liberdade, segurana e propriedade);

    estar subordinado a normas jurdicas.

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    O Estado de Direito existe basicamente para delimitare tutelar as esferas pessoais de ao e organizaodos seus dirigentes, evitando-se assim o arbtrio e odespotismo da autoridade(VERBO, 1968).

    Como algumas terminologias para ilustrar as diferentes formaspossveis de um Estado de direito temos:

    Estado material de direitoEstado liberal de direitoEstado burgus de direitoEstado nacional socialistaEstado fascista de direito

    Estado de legalidade.

    Por mais imprescindvel que seja a condio de Estado de Direi-to, cuja manuteno deve ser defendida, ela no define o carterideolgico ou moral e nem sequer a efetiva legitimidade desseEstado, apenas sua legalidade.

    Uma vez estabelecida a Constituio de um pas, sem discutir asua legitimidade poltica ou democrtica, pode-se chegar mesmo

    a ter modelos de Estado totalitriosou autoritriosque se au-todenominam como Estados de Direito. So Estados que assimse constituram por instrumentos da legislao do pas, mesmoquando tenha sido modificada em condies excepcionais e pordesrespeito legislao anterior, mas mesmo assim so reconhe-cidos inclusive por outros pases.

    Como exemplo tivemos um Chile democrtico, com umgoverno socialista at , que por um golpe militar

    foi derrubado. Os militares derrubaram assim tambma constituio vigente e logo aps foi decretada umanova constituio pelo governo militar do generalAugusto Pinochet. Este Chile ps , depois de umprimeiro momento do perodo de exceo, at a ela-borao de uma outra constituio, mesmo sendo umaditadura, tornava-se assim um Estado de direito (le-galmente amparado), como o anterior Estado socialistademocraticamente institudo tambm o fora.

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    A qualificao de Estado de Direitotrata de uma graduaoreferida a uma condio poltica-administrativa, como ocorreutambm nos totalitarismos ou autoritarismos do sculo 20, aps aSegunda Guerra Mundial, o mesmo contexto em que, por outrolado, tambm surgem ou se fortalecem os Estados Sociais(VER-BO, 1968), que vamos estudar na seo subseqente.

    Como exemplo pode-se citar no primeiro caso, o Estadototalitrio na Espanha de Franco, e, no segundo caso, aFrana social democrata.

    O princpio democrtico exige uma preocupao constante emreafirmar e garantiros direitos fundamentaisda populao. Issose efetiva pela via da melhor submisso dos rgos do Estado s

    normas jurdicas, com reforo de sistemas de fiscalizao e dasregras constitucionais (VERBO, 1968). por isso que se consta-ta, conforme foi previsto por Weber no incio do sculo 20, que ademocracia implica aumento da burocracia estatal.

    Por outro lado, para o desenvolvimento do princpio democrtico preciso que a legislao seja efetivamente a expresso da vonta-de soberana do povo, o que historicamente se representa atravsdo Parlamento (VERBO, 1968). Sabe-se que nas sociedades

    atuais no tem sido assim a histria da representao poltica dedireito.

    A rigor, para um uso legtimo da qualificao de Estado de Di-reito, implicaria reconhecer e assegurar: os direitos fundamentaisdo Homem, a independncia dos tribunais, a legalidade da admi-nistrao (VERBO, 1968). Contudo, na realidade este princpionem sempre tem sido respeitado.

    Entre as tantas expresses possveis de um Estado de Direito, nosinteressa estudar uma configurao especfica, por ser a existenteem nosso pas um Estado Federal. Este tema voc estudar naunidade 3.

    Antes, porm, voc ir recuperar historicamente em quais baseshistricas social, poltica, econmica e cultural , vai se consti-tuir o Estado brasileiro, o que voc comear a estudar na prxi-ma unidade.

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    Atividades de auto-avaliao

    Leia com ateno os enunciados e responda:

    1) O Estado Moderno

    Vamos primeiro lembrar o que antecedeu chegada do EstadoModerno: com a perda das formas de Estado desenvolvidas naAntigidade Clssica, o que foi decorrncia sobretudo da substituiodos vnculos polticos por vnculos pessoais e pela privatizaoda autoridade conforme ocorreu durante a Idade Mdia, foi odesenvolvimento de uma economia de carter mercantil e de basemonetria, que destruiu as razes econmicas dos vnculos feudais.Assim se libertaram as sociedades polticas de serem to dominadaspela Igreja ou clero, alm do seu atrelamento aos senhores feudais.

    Passou, ento, a existir uma acentuada concentrao da autoridadenas mos do prncipe, o que ocorre mais nitidamente nas monarquiasabsolutas. Lentamente, foi o despertar da conscincia nacional, quepermitiu encontrar um fundamento e um m mais despersonalizadopara o poder, comeando a ser gestado, j na poca do incio darevoluo industrial, um modelo de Estado apoiado no liberalismoeconmico. Tudo isso conduziu, pela Europa, nos princpios da idadeModerna, reestruturao da vida poltica na forma estatal, dandoorigem gura do chamado Estado Moderno.

    Agora assinale todas as alternativas corretas como sendo a

    caracterizao do Estado Moderno:a) ( ) Inicia com a Idade Moderna surgida, a partir dos descobrimentos

    no sculo 16.

    b) ( ) A partir do sc. 18, este modelo se irradiou da Europa para todoo Mundo e existe at hoje.

    c) ( ) Representa profundas modicaes introduzidas pela revoluoindustrial, pela generalizao das instituies democrticas epela ascenso social e poltica das massas, que modicaram aconcepo predominante do Estado no mundo moderno.

    d) ( ) Assume como sua caracterstica bsica a forma jurdica deEstado de direito.

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    2) Nas monarquias absolutas tem-se uma forma de Estado tpica daexpresso da sociabilidade alienada do povo, pois o monarca tudodomina, como se o povo no existisse. Logo, nesse tipo de Estado,existe uma absoluta subordinao da sociedade razo do Estado.

    J zemos algumas referncias democracia at este momento. Cite

    duas caractersticas do Estado moderno que negam a permanncia deEstados absolutos na atualidade.

    3) O que Administrao Pblica?

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    Sntese

    Nesta unidade voc estudou sobre a histria da administrao

    pblica brasileira buscando seus antecedentes longnquos. Par-tindo das suas expresses nos primrdios da prpria administra-o, as concepes de Estado e governo na Antigidade e IdadeMdia nos trouxeram os primeiros fragmentos que vo compora administrao pblica europia, que vem aportar no nossocontinente.

    A caracterstica histrica mais marcante da administrao pblicabrasileira e que est difcil de romper o patrimonialismo, deri-

    vado do Estado Estamental portugus. E ainda, a concepo deEstado absolutista, que tambm manteve algumas reminiscnciasna administrao pblica brasileira foi aqui apresentada.

    Para finalizar esta unidade de estudo aprendemos o significadoda expresso Estado moderno, o tipo de Estado at hoje vigenteem nossa sociedade, caracterizado sobretudo por seu carter re-presentativo e de Estado de direito.

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    Saiba mais

    Existe no Brasil uma extensa obra (FAORO, 2001), que pode ser

    extremamente til para quem quiser conhecer profundamentea histria da administrao pblica brasileira, desde odescobrimento at o incio do sculo 20 (temtica especfica danossa prxima unidade).

    Ou seja, Faoro (2001) demonstra amplamente como na esteira doEstado Estamental portugus que fez inclume sua transio daIdade Mdia para a Idade Moderna, situam-se os antecedenteshistrico-conceituais que nos permitem entender por que aadministrao pblica brasileira herdada dos colonizadores temtido um carter to patrimonialista.

    Assim que, como voc vai poder entender melhor na prximaunidade, o carter estamental patrimonial de origem do Estadobrasileiro antecede e se superpe a qualquer concepo maisburocrtica da administrao pblica no Brasil.

    Dada a importncia para esta disciplina da obra de Faoro (op cit),e a impossibilidade operacional de sintetizar tantas contribuies,

    optamos por recomendar que voc busque numa biblioteca asua obra e experimente um contato com a mesma, cuja primeiraedio de 1957:

    FAORO, Edmundo. Os donos do poder: formaodo patronato poltico brasileiro. 3a ed. rev. So Paulo:Globo, 2001. 913p.

    Durante o desenvolvimento da nossa disciplina no ambientevirtual de aprendizagem vamos disponibilizar algumas amostras

    da a contribuio de Faoro (2001) na forma de um fichamento,uma forma muito til para estudar um texto mais extenso e oucomplexo. A seleo das citaes restringiu-se s concepes doEstado portugus, do seu governo e sua administrao pblica,que acompanharam a formao feudal, estamental e absolutistade Estado, cada uma a seu modo contribuindo com a construohistrica de uma administrao pblica de carter patrimonial emnossa sociedade.

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    Objetivos de aprendizagem

    Ao nal desta unidade voc ser capaz de:

    Compreender as caractersticas da administraopblica brasileira como desdobramento dos seusantecedentes histricos.

    Refletir sobre as formas de organizao social queantecederam a chegada do homem branco ao Brasil.

    Reconhecer o carter patrimonialista de administraopblica, trazido pelos colonizadores portugueses.

    Identificar as origens coloniais que servem de basepara a administrao pblica brasileira.

    Caracterizar as formas de administrao pblica,assumidas no sculo XIX, do Brasil imperial Repblica Velha.

    Plano de estudo

    Nesta unidade voc vai estudar as seguintes sees:

    Seo 1 Primrdios de uma administrao pblica noBrasil.

    Seo 2 Administrao do Brasil Colnia.

    Seo 3 Administrao Pblica no Perodo Imperial(1822-1889).

    Seo 4 Administrao da Primeira Repblica (1889-

    1930).

    UNIDADE 2

    Origens da AdministraoPblica Brasileira: at oIncio do Sculo XX 2

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    Para incio de conversa

    Com o objetivo de conhecer os antecedentes histrico-conceitu-ais da Administrao Pblica brasileira, nesta segunda unidadevoc vai estudar suas origens at o sculo XIX, o que inclui o nas-

    cimento da Repblica em 1889 at o ano de 1930, quando termi-na a Primeira Repblica, tambm chamada Repblica Velha.

    Voc vai comear esta unidade compreendendo a AdministraoPblica brasileira por meio de uma retrospectiva sobre a organi-zao das coisas pblicas durante os quatro primeiros sculos quese seguem chegada do homem branco ao nosso continente.

    Ortega y Gasset (apud MATUS, 1993) afirmavam que a histriaest viva na situao presente, inclusive reconhecendo que se atuaapenas no presente. A referncia aos antecedentes aqui recupera-dos importante por suas expresses nas prticas atuais.

    SEO 1

    Primrdios de uma Administrao Pblica no Brasil

    Antes do seu descobrimento pelos colonizadores, no Brasil, ospovos nativos viviam organizados na forma de comunidade pri-mitiva, o que segundo Alencar et al(1985, p.5) significa que:

    A terra pertence a todos e cada casal faz uma roa, deonde extrai alimentos para si e seus filhos. Quando aque-le pedao de terra abandonado, outros podem utiliz-lo.Arcos, flechas, machados de pedra e outros instrumentosde trabalho [...] so de propriedade individual. A divisodas tarefas de sobrevivncia natural [...]. Uma socieda-

    de organizada dessa maneira no tem classes sociais. Otrabalho para a sobrevivncia tambm cabe aos chefes dealdeias, unidades polticas independentes que compem

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    tapetes e perfumes, dos produtos medicinais, pois tambm bus-cavam novas terras, rotas e portos.

    Desde o retorno de Vasco da Gama da ndia, em [...] seu Diriode Viagem ele contava ter percebido sinais seguros da existn-

    cia de terras a oeste de sua rota. A Espanha j tinha descobertonovos mundos na sua tentativa de chegar ao oriente navegandopara ocidente. E Portugal j tinha assegurado para si uma partedesse bolo, com a Capitulao da Partio do Mar Oceano, maisconhecida como Tratado de Tordesilhas, assinado entre as duaspotncias de ento, em 1494 (ibid).

    Essas consideraes contrariam a tese de que o descobrimento doBrasil foi casual. Pois, aqueles fatos acima permitem [...] supor que

    Cabral recebera orientao no sentido de afastar-se ao mximo dacosta africana, podendo confirmar a existncia dessas terras e delastomar posse. Essa pode ter sido uma outra tarefa da sua expedio,apesar de no explicitada nos registros histricos que conhecemos.

    Comandando uma frota original de 13 naus, Pedro lvaresCabral avana mar adentro a servio do Estado, da nobreza eda nascente burguesia do comrcio para [...] impor o domniocomercial e martimo lusitano no litoral malabar, (e) [...] con-

    trolar Calicute, centro de trocas das valiosas especiarias orientais(ALENCAR et al., 1985, p.9).

    Assim, em 22 de abril de 1500, aps 44 dias de viagem, uma fro-ta de Pedro lvares Cabral vislumbrava a terra - mais com alvioe prazer do que com surpresa ou espanto. Pode-se considerar odescobrimento do Brasil apenas como mais um episdio da ex-

    panso martima europia.

    A chegada ao Brasil, desembarque, e a carta de Caminha

    Dois mundos diferentes se encontravam: o dos nativos ind-genas e o dos navegadores portugueses.

    Depois de ancorada a armada, Cabral ordenou a NicolauCoelho que, em um batel (barco de pequeno porte), fossereconhecer a embocadura do rio e estabelecer contato com

    os indgenas avistados.

    Nos nove dias seguintes, nas enseadas generosas do sul da Bahia,

    Braso de armas de Pro Vaz de

    Caminha. Histria da Colonizao

    Portuguesa do Brasil, vol. II, Porto, 1922.

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    os 13 navios da maior armada j enviada s ndias pela rota des-coberta por Vasco da Gama permanecem reconhecendo a novaterra e seus habitantes.

    Em sua longa carta, Pro Vaz de Caminha relata a grande novi-

    dade que os portugueses ancorados no litoral sul da Bahia pre-senciaram naquele final de abril de 1500 nas terrasencontradas: ali viviam amerndios (os ndios daAmrica).

    De acordo com Arroyo (apud ALENCAR etal, 1985, p.10), assim os ndios brasileiros foramdescritos por Caminha: gente bestial e de poucosaber, cuja feio serem pardos, um tanto averme-

    lhados, de bons rostos e bons narizes, bem feitos(de corpo).

    Tendo por costume tingir seus corpos nus, e vi-vendo com naturalidade, seus hbitos eram muitoestranhos para os aportados. Alencar et al (1985,p.10) afirmam que, para os enroupados portugue-ses, eram curiosos os habitantes da (ento denominada) Ilha deVera Cruz, e logo aps, Terra da Santa Cruz. A cruz foi o pri-

    meiro smbolo que prenunciava a colonizao portuguesa.As mulheres, tambm inteiramente nuas, foram consideradas be-las. Tingiam-se de igual maneira que os homens, tinham os cabe-los compridos e arrancavam os plos.

    Os homens portavam arcos e flechas. Chegando em terra, Nico-lau Coelho fez-lhes sinal para que pousassem as armas, o que foiprontamente obedecido.

    Como eram dois mundos, dois povos e duas linguagens entre sidesconhecidas, no pde haver entendimento por fala, mas foramefetuados os primeiros contactos por via gestual. Houve trocade presentes, recebendo os amerndios barretes vermelhos, umacarapua de linho e um sombreiro preto; em troca deram aos por-tugueses um sombreiro de penas de aves e um cocar de penas ver-melhas e pardas, bem como um colar de contas midas, que foramlevados para bordo e posteriormente enviados a Dom Manuel.

    Pro Vaz de Caminha, Carta a el-rei dom

    Manuel sobre o achamento do Brasil.

    (Porto Seguro, 1 de Maio de 1500).

    Lisboa, Torre do Tombo.

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    Nas trs primeiras dcadas aps o descobrimento, sem avistarpossibilidades mercantis na nova terra, existe um relativo desin-teresse da Coroa Portuguesa pela mesma, em um perodo que seconsidera como pr-colonizador. Neste espao de tempo Portugalcontinua voltado para o comrcio oriental.

    Quando prossegue sua viagem para as ndias, a esquadra de Ca-bral entrava em guerra nos mares contra quem se opusesse ex-clusividade de Portugal nas transaes mercantis com a ndia, fi-cando a frota original reduzida a seis embarcaes. Mas navegarimportava mais que viver (ALENCAR et al., 1985, p.9).

    Por ocasio do descobrimento, aquelas terras pareciam apenasoferecer alguns portos seguros para os navios portugueses na cor-

    rida para as ndias. E havia a preocupao em garantir a posse doterritrio recm conquistado frente s continuadas investidas deoutros pases europeus.

    Ento, comearam a se organizar oficialmente novas expediespara saber o que havia nessa terra. Quando Amrico Vespcioconstata aqui a existncia de grande quantidade de pau-brasil nasmatas atlnticas, a sua explorao passa a ser monoplio estatal.Era o estancoestabelecido por Portugal.

    Inicia-se a atividade econmica europia na nova terra. E nas-cem os brasileiros, denominao dada aos comerciantes do pau-brasil. [...] e a paz dos (originais) donos da terra estava ameaada... (ALENCAR et al, 1985, p.12).

    A explorao extrativa daquela matria-prima usa o trabalho donativo indgena. Por meio do escambo(troca) os indgenas re-alizavam o corte e o transporte da madeira e recebiam por issoobjetos vistosos, mas de pouco valor, como espelhos e miangas

    (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.181). Os conflitos come-aram com os ndios quando os portugueses tentaram utiliz-loscomo escravos.

    Para se proteger dos contrabandistas estrangeiros, Portugal en-viou expedies militares ao litoral brasileiro, em 1516 e 1526.Na seqncia, a primeira expedio colonizadora chegou aqui em1531, comandada por Martim Afonso de Souza, que havia sidonomeado capito-mor da esquadra e das terras coloniais pelo rei

    de Portugal (ibid). Assim, deu-se incio a uma secular dependn-cia da colnia aos senhores europeus.

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    O projeto colonial serviu a que interesses?

    Segundo Vicentino e Dorigo (2001, p.180):A montagem da colnia portuguesa na regio que hoje o Brasil foi parte de um projeto que se integrava di-nmica poltica, social e econmica do desenvolvimentoeuropeu da poca. Os protagonistas do processo tinhaminteresses articulados com o desenvolvimento capitalista,orientando prioridades polticas e econmicas e definin-do valores e comportamentos individuais e sociais. Asvantagens da estruturao colonial ficaram evidentes:muito poder e riqueza para uma minoria; clientelismo evantagem limitada para alguns; suor e sofrimento para a

    maioria.

    Quando se inicia a administrao patrimonial noBrasil? Com o descobrimento do Brasil, o que,de administrao pblica, nos trouxeram oscolonizadores?

    A descoberta do Brasil fruto da expanso martima de Portugal,que se dava atendendo a interesses feudais e da nascente

    burguesia comercial do final da Idade Mdia e incio da IdadeModerna.

    Como ainda ressoam no sculo XX aspectos dessas origens, va-mos entender um pouco como comeou a se desenhar o carterda administrao pblica brasileira.

    final, quando comea a administrao pblica brasileira?

    Para responder esta questo preciso recuperar o fio de umaadministrao patrimonial, marca das origens histricas da admi-nistrao pblica brasileira.

    O Brasil herdeiro de fundamentos sociais e espirituais advindosda cultura portuguesa, e que deram origem naquele pas a um Es-tado patrimonial. Quer dizer, um Estado baseado no patrimnio,derivado este da posse das terras conquistadas por invases. Des-de as navegaes comerciais da Idade Mdia essa caractersticavai se moldando e se expressa mais amplamente quando passa aexistir uma realidade econmica pautada no advento da economia

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    monetria e na ascendncia do mercado nas relaes de troca. nesse contexto que surge o Estado Moderno, que antecede for-mao do capitalismo industrial projetado sobre o ocidente.

    A idia de um Estado patrimonial est atrelada a uma idia [...]

    que parte da guerra e amadurece no comrcio, com o prncipe se-nhor da espada e das trocas (FAORO, 2001, p.33).

    Assim o Estado portugus se caracteriza como patrimonial e nofeudal, como o foi o

    [...] mundo portugus, cujos ecos soam no mundo bra-sileiro atual, as relaes entre o homem e o poder sode outra feio, bem como de outra ndole a natureza daordem econmica, ainda hoje persistente, obstinadamente

    persistente. (FAORO, , p.).Considerando que o feudalismo no cria um Estado como o en-tendemos em seu sentido moderno, o que ocorre a corporifica-o de

    [...] um conjunto de poderes polticos, divididos entre acabea e os membros, separados de acordo com o objetodo domnio, sem atentar para as funes diversas e pri-vativas, fixadas em competncias estanques. (FAORO,, p.).

    No feudalismo se

    [...] desconhece a unidade de comando grmen da so-berania -, que atrai os fatores dispersos, integrando-os;apenas concilia, na realizao da homogeneidade nacio-nal, os privilgios, contratualmente reconhecidos, de umacamada autnoma de senhores territoriais. (ibid).

    muito importante compreender por que uma administrao

    de tipo patrimonial que se instaura no Brasil, haja vista que, la-mentavelmente, at os dias de hoje lutamos contra suas conseq-ncias negativas na organizao poltica e administrao pblicaexistentes na sociedade brasileira. Para isso preciso entender ocarter da organizao do Estado portugus que torna o Brasilsua colnia.

    As seguintes palavras de Faoro (2001, p.38) so bastante elucida-tivas para caracterizar o patrimonialismo do Estado de Portugalque veio aportar no Brasil:

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    Estado patrimonial, portanto, e no feudal, o de Portugalmedievo. [...] A velha lio de Maquiavel, que reconhecedois tipos de principado, o feudal e o patrimonial, visto,o ltimo, nas usas relaes com o quadro administrati-vo, no perdeu o relevo e a significao. Na monarquiapatrimonial, o rei se eleva sobre todos os sditos, senhor

    da riqueza territorial, dono do comrcio o reino temum dominus, um titular da riqueza eminente e perptua,capaz de gerir as maiores propriedades do pas, dirigir ocomrcio, conduzir a economia como se fosse empresasua. O sistema patrimonial, ao contrrio dos direitos,privilgios e obrigaes fixamente determinados do feu-dalismo, prende os servidores numa rede patriarcal, naqual eles representam a extenso da casa do soberano.Mais um passo, e a categoria dos auxiliares do prncipecompor uma nobreza prpria, ao lado e, muitas vezes,superior nobreza territorial.

    Enquanto domina o patrimonialismo, a essa caracterstica daadministrao pblica se agrega um estamento e uma ordemburocrtica, segundo a qual o soberano se sobrepe ao cidado,assumindo a qualidade de chefe dos funcionrios, aos quais seestende essa condio.

    preciso ter claro o que signica uma administraopatrimonialista...

    Segundo Pereira (1998, p. 241) na administrao patrimonialistaa norma significava empreguismo, nepotismo, uso privatizadodos bens e recursos pblicos e corrupo. Nesse contexto, os pa-trimnios pblico e privado se confundem, e assim o Estado eraentendido como propriedade do rei. No patrimonialismo existeincapacidade ou relutncia do prncipe em distinguir o patrim-nio pblico e os seus bens privados.

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    Administrao do Brasil Colnia

    O longo perodo colonial atravessa mais de trs sculos no Brasilaps o seu descobrimento, o que tem srias implicaes na con-

    formao histrica do carter assumido pela administrao pbli-ca brasileira.

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    Foi a partir de 1530 que se iniciou a colonizao do Brasil, pro-priamente dita: Foram organizadas expedies colonizadoras,sendo a primeira delas a comandada por Martin Afonso deSouza, que aqui chegou em 1531 (VICENTINO e DORIGO,2001, p. 181).

    O Rei de Portugal de posse da nova terra, dando nfase ao pro-cesso de colonizao, resolveu em 1532 enviar uma carta a Mar-tin Afonso que se encontrava em So Vicente, anunciando opovoamento do Brasil pela criao das capitanias hereditrias.Esse sistema j havia sido utilizado com xito nas possesses Por-tuguesas das ilhas do Atlntico (Madeira, Cabo Verde, So Tome Aores).

    Para organizar melhor a colonizao, as terras brasileiras foramento divididas [...] em lotes, que passaram a ser chamados decapitanias. Elas foram distribudas entre alguns membros dapequena nobreza portuguesa, chamados de capites-donatrios(MAIA, 1999, p.247).

    Em apenas dois anos, entre 1534 e 1536, o Brasil foi dividido em15 capitanias hereditrias, e posteriormente mais duas insulares,nas ilhas de Trindade e de Itaparica. Eram faixas lineares de terra

    que, ignorando os acidentes geogrficos, se prolongavam do lito-ral at a linha do Tratado de Tordesilhas. Seus donatrios teriamos seguintes direitos e deveres:

    jurisdio civil e criminal sobre os ndios, escravos, ecolonos;

    autorizao para fundar vilas e doar sesmarias (lotes deterra);

    cobrar impostos, dzimos;

    cobrar direitos sobre as passagens dos rios;ter o monoplio das salinas e moendas de guas;escolher, nomear e cobrar penso de tabelies,

    escrives, ouvidores e juzes;prestar contas aos representantes enviados pelo rei para

    arrecadar as rendas reservadas coroa;escravizar nativos e enviar para Portugal at

    escravos indgenas por ano, livre de impostos;exigir servios militares dos colonos, quanto

    necessrio;reservar para seu uso prprio lguas de terra;

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    exportar para o reino qualquer produto da terra semimposto, exceto o pau-brasil, de cuja exportaoo donatrio recebia apenas a redizima(retorno dadcima parte do valor do pau brasil que retornava aodonatrio como pagamento sobre seus direitos);

    ouro, prata, pedrarias, prolas, chumbo e estanhotambm pertenciam coroa, mas o donatrio receberiaum vigsimo do quinto destinado ao rei;

    o dzimo sobre todo o pescado era reservado Ordem de Cristo, uma organizao militar-religiosaportuguesa;

    o soberano assegurava que seus corregedores e juzesjamais entrariam nascapitanias;

    o donatrio nunca seriasuspenso de seus direitosnem sentenciado sem ter sidoantes ouvido pelo prpriorei, a no ser em caso decomprovada traio coroaou heresia.

    Assim sendo, tanto a propriedade comoa conformao de Estado na poca, se-guiam relativamente os mesmos moldesdos domnios feudais europeus, poisgrandes extenses de terras eram entre-gues a senhores que assumiam poderesabsolutos sobre as pessoas e coisas.

    A este respeito afirmam Alencar et al(1985, p.21): baseado em donatrias

    cujos capites tinham poderes judici-rios, polticos e administrativos, esseprocesso de colonizao tido poralguns como de caractersticas medievais. Apenas se diferencia-vam em sua base econmica aqui estruturada sobre a produoescravista e exportadora.

    Estando praticamente falida a coroa portuguesa, a principal con-dio para receber um lote era possuir recursos financeiros para

    coloniz-lo s prprias custas, com suas prprias riquezas. Comono se tinha notcia de riquezas nestas terras, j que o pau-brasil

    Fonte: http://www.josevalter.com.

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    Duarte da Costa (1553-1558) apoiou a catequizaopelos jesutas no interior;

    Men de S (1558-1572) criou as misses, expulsou osfranceses e organizou o comrcio.

    Ento, aps 1549, havia um governador geral para as capitaniasoutrora independentes, e as capitanias abandonadas passaram aser governadas por capites-mor nomeados, em mandato. Dessaforma, no incio da colonizao brasileira, a Coroa Portuguesadominava quase todas as aes de Estado, que eram amplamentedeterminadas pela monarquia.

    A administrao colonial portuguesa e os poderes locaisO governador-geral tinha muitos poderes e outras tantas obriga-es, cabendo-lhe (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.189):

    [...] neutralizar a ameaa constante dos indgenas comba-tendo-os ou fazendo alianas com eles, reprimir os cors-rios, fundar povoaes, construir navios e fortes, garantiro monoplio real sobre o pau-brasil, incentivar o plantiode cana-de-acar, buscar metais preciosos e defender oscolonos. Seus auxiliares, encarregados das finanas, da

    defesa do local e da justia, eram, respectivamente, o pro-vedor-mor, o capito-mor e o ouvidor-mor.

    No desenho grfico, a seguir, pode-se ter uma esquematizao ge-ral da estrutura organizacional da administrao pblica da poca.

    Somente em 1559 foi extinto o monoplio estatal do pau-brasil,quando ocorre o denominado estanco:

    Durante todo o perodo colonial, o extrativismo foi reali-zado mediante concesses da Coroa portuguesa a gruposparticulares, que muitas vezes se comprometiam a pagar

    uma quantia determinada ao Errio Rgio. Para codificartoda a legislao vigente sobre a explorao da madeira

    FONTE: Adaptado de ALENCAR etalli

    (1985, p.23).

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    e tentar evitar o desaparecimento das matas, que a ativi-dade intensa no litoral estava determinando, decretou-se,em , o Regimento do Pau-Brasil. (ALENCAR et alli,, p.).

    Iniciando-se o cultivo da cana-de-acar com os seussenhores de engenhoinaugura-se a base econmicada colonizao portuguesa no Brasil. Inclusive os fa-zendeiros da cana haviam recebido as terras da Coroa

    como recompensa por servios prestados, o que lhesassegurava prestgio social e influncia poltica. Assim,

    foi se constituindo e expandindo pelas vilas um poder dessaaristocracia, [...] dominando as cmaras municipaise quase

    toda a vida colonial (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.184).

    As cmaraseram privativas dos donos de terra, milcias guer-reiras e clero, formadas por aqueles que eram designados comohomens bons. Assim se configurava, segundo Alencar et alli(1985, p.13): o mundo da cruz, que impunha com a espada suacivilizao.

    Eram aquelas cmarasque

    [...] decidiam sobre a administrao dos municpios, so-bre as misses de guerra ou de paz com os ndios, sobreo abastecimento, a fixao de salrios, os impostos. Nascmaras municipaisestava o verdadeiro poder poltico co-lonial, disperso, local, mas sempre de acordo com a foramais determinante da nossa vida social, a metrpole (ibid).

    Aquela era uma sociedade tipicamente patriarcal, o que se refletena estruturao, onde os escravos africanos, sem opo e conside-rados como simples mercadorias, davam sustentao econmicaquela organizao social.

    As capitanias hereditrias e os governos-gerais continuaram con-vivendo at o sculo 18. Depois de 1640, tornou-se cada vez maiscomum usar o ttulo de vice-rei em lugar de governador-geral.Isso porque gradativamente foram criadas as [...] capitanias daCoroa, como a da Bahia de Todos os Santos e So Sebastio doRio de Janeiro. Administradas por um governador nomeado pelorei, foram substituindo as capitanias hereditrias particulares[...]. (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.191).

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    O que foi o pacto colonial?

    A relao mercantilista entre a metrpole portuguesa e a colnia,cuja economia tinha um carter exportador (do que fosse possvelextrair daquelas terras), foi regulamentada pelo chamado pactocolonial, que garantia a ampla importao de mercadoriaseuropias (roupas, alimentos e objetos de decorao) para ossenhores de posses que aqui viviam.

    Segundo Alencar et alli(1985, p.24), o pacto colonial [...] esta-belecia uma rea econmica complementar, cuja classe propriet-ria se ligava s classes que mais vantagem tiravam da poltica mo-

    nopolista-mercantilista, executada pelo Estado metropolitano.

    Por outra parte, internamente, em muitas partes da colnia, nofinal do sculo XVII comearam a se formar os quilombos,querepresentavam uma ameaa ordem colonial escravagista. OQuilombo dos Palmares (Alagoas) era, sem dvida, o mais co-nhecido. Representavam um constante chamamento fuga, re-belio, luta pela liberdade (ALENCAR et alli, 1985, p.24).

    O Bandeirantismo

    Com o fracasso na instalao de uma economia exportadora,Portugal vai perdendo gradativamente seu interesse na colnia. Ea rea abandonada vai empobrecendo devido falta de recursos.A essa pobreza correspondia o isolamento poltico(ALENCAR et alli, 1985, p. 49).

    Os paulistas da Capitania de So Vicente deixam suaregio procura de outras atividades mais compensado-ras.

    Assim surgem os bandeirantes, responsveis pela atu-al configurao territorial do Brasil, em suas incursesmata adentro, sobrepondo-se ao Tratado de Tordesilhas.Esses desbravadores se colocavam em uma posio de au-tonomia em relao aos governantes.

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    algumas regies da Amrica nasciam idias contrrias ao colonia-lismo mercantilista (VICENTINO e DORIGO, 2001, p.237).

    As revoltas coloniais

    Entre as vrias rebelies separatistas, contra as normas impostaspor Portugal para controlar a colnia, nessa condio, de Norte aSul, destacaram-se:

    Revolta de Beckman, .Guerra dos Mascates, .Conjurao Baiana, .Revolta de Vila Rica, .

    Inconfidncia Mineira, .Guerra dos Emboabas, .

    No caso de Tiradentes, desde moo ele fazia crticas abertas aogoverno, apresentando o contraste entre a terra rica e sua popula-o oprimida, alm de sonhar com a liberdade do Brasil (MAIA,1999, p.257).

    Mesmo derrotadas, as rebelies separatistas demonstravam o graude insatisfao existente com a explorao e a opresso metropo-

    litana, o que acabou inviabilizando o sistema colonial no Brasil.O mundo vivia naquela poca uma era de revolues. E a burgue-sia industrial em formao derrubava as barreiras feudais ao seudesenvolvimento.

    A chegada da famlia real no Brasil e seus reexos

    Chegada da famlia real portuguesa

    Bahia. Fonte: http://www.

    casadeportinari.com.br/cronologia/

    chegada.htm

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    No incio do sculo XIX, com o grande imprio que NapoleoBonaparte formou na Europa, fecharam-se [...] todas as entra-das dos pases do continente europeu para os ingleses (MAIA,1999, p.258).

    A Corte de Portugal estava dividida entre suas boas relaes coma Inglaterra e as presses de Napoleo para aderir ao bloqueio, umdia antes da chegada das tropas francesas Lisboa, a Famlia Realdeixa Portugal em direo ao Brasil. A Corte se muda para a col-nia, em fuga, depois de vrios incidentes com a invaso de Napo-leo, deixando Portugal s pressas no dia 29 de novembro de 1807.

    Vrios nobres morrem afogados ao tentar alcanar a nado os naviossuperlotados. Nas 36 embarcaes, o prncipe-regente dom Joo, a

    famlia real e seu sqito(comitiva), estimado em 15 mil pessoas,trazem jias, peas de ouro e prata e a quantia de 80 milhes decruzados, o equivalente metade do dinheiro circulante no reino.

    A esquadra real parte de Lisboa escoltada por navios de guerraingleses. Como condio da sua ajuda, a Inglaterra faz Portugalassinar o Tratado do Comrcio e Navegao, dando-lhe poderesde controle absoluto sobre todo o comrcio colonial.

    Em janeiro de 1808, a frota lusa chega Bahia para o desembar-que da Famlia Real. Assim, o Brasil passa a ser sede da monar-quia portuguesa.

    A corte no Rio de Janeiro

    Em 7 de maro de 1808, a corte se transfere para o Rio de Janei-ro. No primeiro momento, a mudana provoca grandes conflitoscom a populao local. A pequena cidade, com apenas 46 ruas, 19

    largos, seis becos e quatro travessas, no tem como acomodar deuma hora para outra os 15 mil novos habitantes. Para resolver oproblema, os funcionrios reais recorrem violncia, obrigandoos moradores das melhores casas a abandon-las a toque de cai-xa. A senha P.R. (prncipe-regente), inscrita nas portas das casasescolhidas, passa a ter para o povo o sentido pejorativo de po-nha-se na rua. Apesar dos contratempos iniciais, a instalao darealeza ajuda a tirar a capital da letargia econmica e cultural emque estava mergulhada.

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    Centros culturais

    Ainda no ano de 1808 so criados importantes centros culturaisno Rio de Janeiro: a primeira escola superior, a Mdico-Cirrgi-ca, em Salvador, a Academia da Marinha e a Academia Militar.

    A primeira Biblioteca Pblica (atual Biblioteca Nacional), tam-bm no Rio de Janeiro, criada em 1811. A cultura e as cinciasso ainda estimuladas com a criao do Jardim Botnico e da Es-cola Real de Cincias, Artes e Ofcios (depois Academia de BelasArtes), em 1810.

    Imprensa

    O prncipe Dom Joo instala a primeira tipografia do Brasil einaugura a Imprensa Rgia, em maio de 1808. Em setembro

    do mesmo ano comea a circularA Gazeta do Rio de Ja-neiro. Publicada trs vezes por semana, a Gazetanochega a ser um jornal, mas um peridico que publica

    anncios e atos oficiais da Coroa.

    A imprensa brasileira nasce efetivamente em Londres, coma criao do Correio Braziliense, pelo jornalista Hiplito

    Jos da Costa. Apesar de favorvel monarquia, o jornal temcunho liberal, defende a abolio gradual da escravido e propeem seu lugar a adoo do trabalho assalariado e o incentivo imigrao. O Correio Braziliensecircula entre 1808 e 1822, seminterrupes.

    O Estado brasileiro patrimonialista desde sua origem, onde,os seus representantes legais esto representando sobretudo osseus prprios interesses. E o rei dirige o capital comercial do pas,

    como se fosse uma empresa privada de sua propriedade.

    E mesmo com tantas mudanas, pouco se pode falar daexistncia de uma Administrao Pblica efetivamentebrasileira at 1822.

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    Administrao Pblica no Perodo Imperial (-)

    Voc sabia?

    Dia do Fico: atento aos movimentos no Brasil, DomJoo VI ordena que Dom Pedro volte a Portugal. Em29 de dezembro de 1821 o prncipe-regente recebeum abaixo-assinado pedindo sua permanncia noBrasil. Ele anuncia sua deciso de car dia 9 de janeirode 1822, episdio que passa a ser conhecido como Diado Fico.

    A Independncia do Brasil e o Imprio

    Portugal continua a tomar medidas para manter o Brasil sobseu domnio: anula a convocao da Constituinte, ameaaenviar tropas e exige o retorno imediato do prncipe-regente.Dom Pedro est nos arredores de So Paulo, perto do riacho

    do Ipiranga, quando recebe, em 7 de setembro de 1822, osdespachos com as exigncias da Corte. Tambm recebe car-tas de dona Leopoldina e de Jos Bonifcio incentivando-o aproclamar a independncia. Foi a presso dos brasileiros queforou Dom Pedro I a proclamar a independncia da colnia,o que se colocava como forma de assegurar o favorecimentodas elites brasileiras. Pois, para a maioria da populao e dosescravos a situao no mudou.

    Independncia do Brasil (quadro a

    leo sobre tela, pintado em 1888)

    Rene Moreaux. Fonte: http://www.

    novomilenio.inf.br/festas/1822e.htm

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    O dilema que estava colocado era: submisso ou separao?

    De Portugal no temos o que esperar seno escravido e horrores, dizJos Bonifcio. Dom Pedro I proclama, ento, a independncia. aclamado imperador em 12 de outubro e coroado em 1 de de-

    zembro do mesmo ano.

    Trs anos aps a Proclamao da Independncia, D. Pedro IInasceu no Palcio de So Cristvo (Quinta da Boa Vista), Riode Janeiro/RJ, a 2 de dezembro de 1825 e faleceu em Paris, a 5 dedezembro de 1891. Filho de D. Pedro I e sua mulher, a Impera-triz Leopoldina, recebeu na pia batismal o nome de Pedro de Al-cntara Joo Carlos Salvador Bebiano Xavier de Paula LeocdioMiguel Gabriel Gonzaga.

    Dom Pedro I e na seqncia seu filho Dom Pedro II, considera-dos heris da denominada Independncia do Brasil, reproduzemnest