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Revista FAE-Ciência 1 ed. 2012-2 - 2013-1Revista científica da Faculdade das Águas Emendadas - FAE.

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FAE-Ciência Revista da Faculdade das Águas Emendadas

Brasília-DF, março de 2013

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FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X

CONSELHO CIENTÍFICO Dr. Luiz Alberto Rocha de Lira Dr. Luiz Batista Alves Dr. Manoel Araujo de Medeiros Dr. Marcelo Rodrigues dos Reis Dr. Onofre Rodrigues de Miranda Dr. Rubem José Boff Dr. Sergio Luis dos Santos Lima CONSELHO EDITORIAL Ms. Adriano Salles Amadeu Ms. Emerson Ferreira de Melo Ms. Ismael Rangel Ferreira Lins Ms. Luiz Henrique de Azevedo Borges Ms. Nelson Luiz dos Santos Tomassini Ms. Patrícia Peregrino Montenegro Ms. Soraia Cristina de Morais EDITOR Aline da Silva Boff EDITORAÇÃO Aline da Silva Boff ATENDIMENTO Secretária da Direção Fone: (61) 3388-0809 - E-Mail: [email protected] PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS Todo o material a ser publicado, deve ser enviado aos cuidados de Prof. Dr. Rubem José Boff, no endereço eletrônico [email protected]

Faculdade das Águas Emendadas Av. Independência – SCC Quadra 01 – Bloco C Fone: (61) 3388-0809 Planaltina-DF CEP 73310-303

Revista: FAE-Ciência / Faculdade das Águas Emendadas. n.1, jan./jun. 2013. Brasília: FAE, 2013.

Semestral, n.1, jan./jun. 2013. ISSN 2317-062X

1. Administração. 2. Letras. 3. Matemática. 4. Educação. 5. Gestão.

CDU 658:37:51

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FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X

A REVISTA

A revista FAE-Ciência é uma publicação periódica do Núcleo de

Pesquisa, Extensão e Pós-Graduação (NuPEP) da Faculdade das Águas

Emendadas (FAE), gratuita e semestral, destinada à divulgação de

produção científica dos seus cursos e de parceiros da

instituição, contribuindo, desta forma, para o crescimento e

desenvolvimento da produção científica.

MISSÃO

Propiciar a publicação de artigos científicos que contribuam

para a disseminação do conhecimento das áreas envolvidas

nos cursos da Faculdade das Águas Emendadas (FAE),

baseados em princípios éticos e na percepção do contexto

social em que a instituição está inserida.

OBJETIVO

Disponibilizar meios para a socialização do conhecimento,

visando o fomento à investigação científica e ao debate

acadêmico.

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FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X

EDITORIAL

Esta publicação é um novo veículo de divulgação da

produção de docentes, discentes e parceiros da Faculdade das

Águas Emendadas (FAE). O objetivo principal da instituição, ao

lançar esta revista, é o da publicação de artigos inéditos sobre

temas pertinentes às áreas trabalhadas e desenvolvidas, tanto

na graduação quanto na pós-graduação da instituição.

A criação de publicação como a que se apresenta exige

a adoção de uma periodicidade, linha editorial clara e com

consistência, diversidade de temas, corpo editorial que busque

a excelência, além da existência de uma comunidade

acadêmica que participe do processo editorial, seja por meio

do envio de materiais, ou mesmo pela consulta das matérias

publicadas.

Acreditamos que a criação da FAE-Ciência representará

a inclusão de mais um veículo de divulgação de trabalhos

científicos, além de constituir um importante canal de

comunicação entre a comunidade acadêmica da FAE e

sociedade.

O momento da publicação do primeiro número não

poderia ser mais oportuno, visto que os cursos da FAE foram

iniciados em 2006 e reconhecidos entre 2010 e 2012; iniciou

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FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X

recentemente as pós-graduações lato-sensu; e se nota haver

grande quantidade de produções presentes na instituição,

muitas com destaque, seja pelo seu conjunto, pelo emprego

dos métodos, ou pelas características dos temas

desenvolvidos.

Embora a FAE conte com a divulgação de trabalhos

científicos por meios diversos – entre eles a página da

instituição na internet, a apresentação de trabalhos em

eventos, a publicação em nossa biblioteca – estes não

ofereciam o devido destaque a obras de grande destaque e

relevância dentro do contexto acadêmico e de nossa

instituição.

Na perspectiva da democratização da informação,

optou-se por disponibilizar a FAE-Ciência em meio impresso e

também em meio digital (disponível em www.faedf.edu.br).

Cabe mencionar que a instituição ficou bastante

envaidecida ao conseguir a colaboração de amigos e parceiros

no conselho editorial da revista. O currículo resumido dos

colaboradores segue nas próximas páginas e nos cabe prestar

sincero agradecimento a todos, bem como aos autores que

participam deste primeiro número da revista FAE-Ciência.

Rubem José Boff Faculdade das Águas Emendadas - FAE

Diretor Geral

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FAE-Ciência ▪ ISSN 2317-062X

SUMÁRIO

ÁGUAS EMENDADAS: uma viagem entre a ecologia e o ensino superior ...................................................................................... Rubem José Boff; Luiz Henrique de Azevedo Borges A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO SUPERIOR.................................................................................... Alesandra Batista de Oliveira; Carlos Antonio Lopes; Marilei Francisca da Silva PESQUISA ACADÊMICA: a matemática e a produção científica...................................................................................... Soraia Cristina de Morais UM ESTUDO SOBRE LOGÍSTICA REVERSA NA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PNEUS NO DF ....................................................... David Vieira de Souza O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL FRENTE AO COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EUROPEIA NO PERÍODO DE 2000 A 2010 ............... Carlos Alberto Francisco de Sousa; Danilo da Costa e Silva; Tiago Trindade; Luiz Batista Alves A LOGÍSTICA REVERSA DE LIXO ELETRÔNICO DE COMPONENTES DE COMPUTADORES .................................................................... Thiago dos Anjos Vigilato Sousa A NAVEGABILIDADE E O TIPO DE JULGAMENTO ........................... Sergio Luis dos Santos Lima; Leila Amaral Gontijo COMUNICAÇÃO E CONSUMO: o jornal goiano no Século XXI ........... Adriano Salles Amadeu; Ludimila Stival Cardoso NORMAS PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS NA REVISTA FAE-Ciência Rubem José Boff

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25

54

77

115

137

167

183

205

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ÁGUAS EMENDADAS: uma viagem entre a ecologia e o ensino superior

Rubem José Boff1 Luis Henrique de Azevedo Borges2

Resumo: Este artigo tem a intenção de discorrer sobre o surgimento do nome da Faculdade das Águas Emendadas (FAE), além do papel social desta instituição de ensino superior. Para compreender o significado da escolha do nome Águas Emendadas, discorreu-se primeiramente sobre a origem do nome, através de parte da história do Brasil, mais especificamente, da história da área compreendida pelo que se conhece hoje como Estação Ecológica de Águas Emendadas, área essa localizada na região administrativa de Planaltina, cidade situada na parte nordeste do Distrito Federal do Brasil. Além da origem do nome, o artigo discorre também sobre a importância que a referida Estação Ecológica representa para o meio ambiente. E, por último, discorre sobre a missão da Faculdade das Águas Emendadas e de sua visão de futuro. Palavras-chave: Águas Emendadas. Estação Ecológica de Águas Emendadas. Faculdade das Águas Emendadas. Ensino superior.

1 Doutor em Administração (Wisconsin University, USA). Mestre em Engenharia de Produção (UFSC). Especialista em: Administração e Planejamento para Docentes (ULBRA) Informação, Gestão e Tecnologia (UnEB); Administração de Serviços de Saúde Pública (FIOCRUZ). Bacharel em Administração (ULBRA). Professor e Diretor-Geral (FAE). 2 Mestre em História Cultural (UnB). Especialista em História da América (UnB). Bacharel em Economia (UnB) e em História (UnB). Professor (FAE).

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1 INTRODUÇÃO

No início deste milênio pretendia-se criar um centro de

ensino na cidade de Planaltina. O sonho foi concretizado no ano de

2006, com a criação da primeira faculdade da cidade, objetivando

atender a crescente demanda regional por ensino superior.

O nome da Faculdade das Águas Emendadas (FAE) foi

escolhido em homenagem ao nome da Estação Ecológica de Águas

Emendadas, estação essa localizada na cidade mais antiga e ao

mesmo tempo com a população mais pobre, dentre as três dezenas de

cidades que compõem o Distrito Federal do Brasil.

A Estação Ecológica de Águas Emendadas faz parte do

grupo das Reservas de Biosfera, criadas pela Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No

Brasil existem atualmente apenas três Reservas da Biosfera. A

estação em referência foi a primeira reserva legalmente constituída

em Brasil.

Após a autorização de funcionamento da FAE, centenas de

pessoas da cidade e adjacências tiveram tanto entusiasmo e

acorreram para a primeira instituição de ensino universitário

instalada em Planaltina, pois esperavam concretizar o sonho da

formação e obtenção do diploma de um curso superior.

Todavia, no ano de 2009 foi registrado um grande índice de

evasão escolar, tendo-se constatado diversos motivos, dentre os

quais, a precária qualidade de gestão praticada.

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No início de 2010 a FAE passou pela transição de mantença,

e, desde então, vem conduzindo, tendo como foco, o processo

ensino-aprendizagem. Através de uma gestão participativa, vem

interagindo com a sociedade, de modo que o resgate da confiança

vem aumentando a cada ano. Como resultado positivo, em apenas

três anos já triplicou o número de discentes matriculados.

Hoje a FAE conta com três cursos de graduação

reconhecidos pelo Ministério da Educação (MEC) além de outros

tantos cursos de pós-graduação e de extensão.

O objetivo deste artigo é mostrar o surgimento do nome da

Faculdade das Águas Emendadas (FAE), sua missão e visão de

futuro, destacando, ao mesmo tempo, a criação e importância da

Estação Ecológica de Águas Emendadas.

2 ÁGUAS EMENDADAS: de Reserva a Estação Ecológica

Dois dos maiores e mais importantes rios do Brasil, Rio

Paraná e Rio Tocantins recebem em seus leitos as águas de um local

muito especial e singular que existe no Distrito Federal: Águas

Emendadas. Neste local, há uma vereda, área típica do cerrado,

abundante em água, de onde nascem dois cursos de água, um deles

correndo para o Norte, o córrego Vereda Grande, que se encontra

com o Rio Maranhão, que deságua no Rio Tocantins; e o outro para o

Sul do país, o córrego Brejinho que deságua no córrego Fumal, que,

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por sua vez, encontra-se com o Rio São Bartolomeu, que se dirige

para o Corumbá, que se funde com o Parnaíba, que depois de longa

viagem, encontra-se com o Paraná.

São poucos os locais do mundo no qual nascem e correm

dois córregos diferentes, em direções opostas e que deságuam em

bacias hidrográficas tão significativas. Mas a beleza e o caráter

singular das Águas Emendadas não terminam aqui. Ela é uma região

que reúne algumas das espécies mais representativas da flora e da

fauna do Cerrado brasileiro.

Ela ocupa uma área de 10.547 hectares, situada no nordeste

do Distrito Federal, a cerca de 50 quilômetros do Plano Piloto e

próxima a histórica cidade de Planaltina, antiga Mestre D’Armas.

Como todas as Estações Ecológicas do país, Águas Emendadas é

uma Unidade de Conservação proibida à ocupação humana, a fim de

proteger completamente sua fauna e flora. Sua Estação Ecológica é

uma das mais importantes Unidades de Conservação do Distrito

Federal e nela se realizam várias pesquisas e projetos relacionados à

ecologia e a educação ambiental.

Essa área já era conhecida por sua beleza muito antes da

construção e transferência da capital para Brasília. Em 1808, o

jornalista Hipólito José da Costa, fundador do jornal Correio

Braziliense, argumentou a favor do estabelecimento da capital no

interior central do país em virtude da proximidade da cabeceira dos

grandes rios.

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Por sinal, a transferência da capital para o interior do país era

uma ideia alentada há pelo menos dois séculos e meio. Nessas

discussões, um argumento era recorrente, a presença, no centro do

Brasil, das três principais bacias hidrográficas nacionais. Essa região

já constava do Mapa da Capitania de Goyaz e regiões circunvizinhas

que mostra as comunicações entre as bacias do Prata e Amazonas,

assinado pelo cartógrafo italiano Francesco Tosi Colombina na Villa

Boa de Goyaz, em abril de 1751.

O engenheiro e diplomata Francisco Adolfo Varnhagen,

Visconde de Porto Seguro, em viagem pela região, citou em seus

relatórios a existência de uma área triangular formada pelas Lagoas

Formosa, Feia e Mestre D’Armas (atualmente chamada de Lagoa

Bonita) que corresponde a parte atual da Estação Ecológica aqui

destacada. Ele chegou a publicar em Viena, em 1877, a obra

intitulada A questão da capital: marítima ou no interior. Na citada

obra, Varnhagen reuniu suas preocupações e sugestões sobre a

transferência da capital e indicou a região que julgava mais

adequada:

(…) Na vasta extensão que acabo de percorrer, há porém outra região não menos apropriada a oferecer localidades favoráveis ao primeiro estabelecimento de colonos europeus, e a respeito da qual julgo que deveríamos desde já dar algumas providências, a fim de a ir preparando para a missão que a Providência parece ter=lhe reservado, fazendo a um temo dela partir águas para os três rios maiores do Brasil e da América do Sul, Amazonas, Prata e São Francisco (...). Refiro-me à bela região situada no triângulo formado pelas três lagoas Formosa, Feia e

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Mestre d`Armas, com chapadões elevados mais de mil e cem metros, sobre o mar, como nela requer para melhoria do clima a menor latitude, com algumas terras mais altas do lado do norte, que não só a protegem dos ventos menos frescos desse lado, como lhe oferecerão os indispensáveis mananciais (VARNHAGEN, 1978, p. 28).

Em 1892 foi a vez da Missão Cruls visitar e descrever o

local. Ela, que tinha como objetivo desbravar o interior do Brasil e

demarcar o futuro Distrito Federal, afinal a primeira Constituição

Republicana, de 18911, já previa a transferência da capital para o

interior do país, descreveu o local no Relatório da Comissão

Exploradora do Planalto Central. Tal missão foi designada pelo então

Presidente Floriano Peixoto e duas missões de exploração, ambas

chefiadas pelo astrônomo Luiz Cruls, em 1892 e 1894, percorreram a

região e seus resultados foram consolidados e publicados em 1894,

com o nome de Relatório Cruls.

Por mais uma vez, foi ressaltado a importância dada pelos

cientistas da Comissão à questão das águas e foi dispensada grande

atenção ao local de “encontro” das nascentes e dentre os pontos

favoráveis cita as possibilidades de abastecimento de água potável.

Porém foi necessário mais meio século para que o assunto

voltasse a ganhar importância. Em 1946, já sob a presidência de

Eurico Gaspar Dutra, foi criada uma nova comissão com o objetivo

de estudar uma localização apropriada para a nova capital do Brasil.

1 Consta no terceiro artigo da referida Constituição: Fica pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de 14.400 Km2, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura capital federal.

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Ela foi presidida pelo General Djalma Polli Coelho e ficou conhecida

como Comissão Polli Coelho. Nele confirmou-se a indicação do

Quadrilátero Cruls, agora ampliado, ocupando uma área de

aproximadamente 77 mil km2. No relatório aqui destacado também

foi ressaltado o papel estratégico da região onde se encontra Águas

Emendadas.

Ainda que de forma lenta, ia em marcha o processo de

decisão política sobre a transferência da capital. Em agosto de 1953

foi a vez do Presidente Getúlio Vargas criar a Comissão de

Localização da Nova Capital Federal. A Comissão trabalhou durante

dois anos e da consolidação de seus estudos definiu-se onde deveria

ser construída a nova capital, já em 1955. No ano seguinte, no

governo de Juscelino Kubitschek iniciaram-se as obras de construção

da capital, Brasília.

Mas foi somente em 1966, seis anos após a transferência da

capital, durante o XVI Congresso da Sociedade Botânica do Brasil,

sediado na Universidade de Brasília, é que foi dado o nome ao lugar

e a seus córregos, numa iniciativa de um funcionário do Ministério

da Agricultura e apaixonado pelo Cerrado, o cientista Ezechias

Heringer.

Foi ele que provou o caráter singular de, em uma mesma

vereda, brotarem dois cursos de água que contribuem para a

formação de duas, das maiores bacias hidrográficas brasileiras.

Quando do referido Congresso, Heringer convidou vários

congressistas a visitarem o local onde se pretendia propor a criação

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de uma área de preservação, os quais, unanimemente, apoiaram tal

iniciativa.

A partir do esforço de Ezechias Heringer foi criada, em 12 de

agosto de 1968, inicialmente com 5 mil hectares, a Reserva

Ecológica das Águas Emendadas, por meio do Decreto no 771,

promulgado pelo então Prefeito Wadjô da Costa Gomide. Águas

Emendadas foi a primeira Reserva Biológica legalmente constituída

no Brasil e foi também a primeira Unidade de Conservação cujo

decreto de criação baseou-se no novo Código Florestal.

Águas Emendadas viu sua área mais que duplicada em 1988,

passando a ter os atuais 10.527,21 hectares. Isso se deu em 16 de

junho de 1988 pelo Decreto no 11.137, que também alterou a

denominação de Reserva Biológica para Estação Ecológica.

A ampliação da área foi uma resposta ao acelerado

crescimento de Brasília e as pressões da ocupação humana.

Juntamente com a ampliação da área, a região passou a ter o status

de Estação Ecológica, num reconhecimento de sua importância para

a preservação do ambiente natural do Cerrado.

Em 1992, as Águas Emendadas passou a fazer parte do

seleto grupo das Reservas de Biosfera, criadas pela Organização das

Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). No

Brasil existem atualmente apenas três Reservas da Biosfera, a da

Mata Atlântica, a do Cinturão Verde de São Paulo e a do Cerrado,

que é Águas Emendadas.

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Nas Águas Emendadas encontram-se representados e

preservados, diferentes ecossistemas do Cerrado, que é considerado

um dos mais importantes biomas1 do mundo. É importante ressaltar

que o Cerrado abriga diversos tipos de vegetação, que equivalem a

diversos tipos de ecossistemas.

O Bioma Cerrado é formado por diferentes tipos de

vegetação e todas elas podem ser encontradas em Águas Emendadas,

tais como o Cerrado propriamente dito, o campo, o campo limpo,

campo sujo, mata de galeria e vereda. Logo, por apresentar todos

esses diferentes tipos de vegetação, Águas Emendadas acaba sendo

uma importante e representativa área do bioma Cerrado. Assim

sendo, ela possui um inestimável valor natural, assim como

científico.

O citado bioma desempenha papel de grande importância na

distribuição dos recursos hídricos não só no território brasileiro, mas

até mesmo no continente sul americano. Grandes bacias

hidrográficas, nacionais e transfronteiriças, possuem suas partes mais

altas localizadas no Planalto Central Brasileiro, região inserida no

bioma Cerrado, onde diversos rios nascem e, na medida em que

seguem em direção ao litoral, ganham em volume, abastecendo

grande parte do Brasil e de outros países sulamericanos. Logo,

eventuais impactos causados aos recursos hídricos do Cerrado

poderão se refletir em grande parte do país e até do continente.

1 Bioma é um grande conjunto de ecossistemas, caracterizado, em vários casos, por um tipo principal de vegetação.

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Dentre os múltiplos elementos formativos de sua flora, pode-

se destacar o buriti, o pequi, o ipê amarelo, a lobeira (que ganhou

esse nome por alimentar o lobo-guará), a quaresmeira e o coração-

de-negro.

Além de sua rica e imponente vegetação, também se

encontram em Águas Emendadas importantes espécies da fauna do

Cerrado, muitas delas, sob o perigo da extinção, como o lobo-guará,

que é um símbolo do Cerrado brasileiro.

Ainda em relação à fauna, já foram catalogadas a existência

na área das Águas Emendadas de 287 tipos de aves, tais como a

arara-canindé, o canário da terra, o beija-flor, o joão de barro, o

mutum, a ema, a codorna e o perdiz; de 66 mamíferos, entre os quais

pode-se destacar o lobo-guará, a anta, o veado, a raposa, o sagui-

estrela, a paca, o macaco prego e o veado-catingueiro; de 48 répteis,

tais como o jabuti, a cascavel, a jaracuçu, a coral, o jacaré, o teiú e a

jararaca; e de 27 anfíbios, como o sapo-cururu e a rã-pimenta (GDF,

2004, p. 20).

3 A ESTAÇÃO ECOLÓGICA DE ÁGUAS EMENDADAS

Desde sua implantação, a Estação Ecológica de Águas

Emendadas tornou-se um importante local para a produção científica,

afinal representa uma das áreas protegidas de maior biodiversidade

do Brasil Central. Muitos trabalhos científicos desenvolvidos na

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citada Estação ganharam grande importância na comunidade

científica. Esses trabalhos ajudaram a chamar a atenção da

comunidade científica e leiga para a importância do Cerrado no que

se refere à preservação da biodiversidade.

Atualmente são desenvolvidos vários trabalhos de Educação

Ambiental na Estação Ecológica de Águas Emendadas. O contato

direto com os ecossistemas e sua beleza trazem para os participantes

de tais trabalhos um novo olhar para o meio ambiente. As unidades

de conservação são espaços privilegiados para o desenvolvimento da

educação ambiental.

As experiências de educação ambiental desenvolvidas no

interior e na área de influência da Estação Ecológica de Águas

Emendadas podem servir como modelo e ser replicadas em outras

unidades de conservação de natureza.

Planaltina, como já foi ressaltado, é o núcleo urbano mais

próximo de Águas Emendadas e é deste centro habitacional que

surgem as mais fortes e perigosas pressões humanas sobre a Estação.

Sendo assim, a preservação da Estação Ecológica de Águas

Emendadas não pode ser pensada e desenvolvida a partir de

estratégias ou ações isoladas e sem levar em conta os processos

sociais, econômicos e políticos da apropriação territorial que

ocorrem em todo o Distrito Federal.

Nas áreas próximas à Estação, loteamentos irregulares ou

não, estão em pleno desenvolvimento, logo a ocupação urbana é um

dos maiores obstáculos e riscos à proteção de uma unidade de

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conservação e Águas Emendadas não foge à regra, sofrendo com os

impactos da ocupação e uso do solo do seu entorno. A ocupação e o

uso do solo do entorno precisam ser gerenciados com muita atenção

e cuidado para que não se agrave os impactos sobre a referida

estação.

Além da ocupação do solo, outros problemas atingem a

Estação, são eles: a presença de caçadores e pescadores que são

retirados frequentemente da área do parque, as queimadas, que de

uma forma geral iniciam fora da própria reserva, porém que a atinge,

e por ser cercada por rodovias, é comum os atropelamentos dos

animais.

Logo, a proteção da Estação Ecológica de Águas Emendadas

exigirá do poder público muito mais que a simples delimitação e

vigilância da área. O grande desafio será transformar a população do

entorno em uma aliada da causa ambiental, com ações educacionais e

de conscientização que valorizem a existência de tão importante

Estação Ecológica.

4 A FACULDADE DAS ÁGUAS EMENDADAS

Como homenagem, reconhecimento da importância da

Estação Ecológica e por ela ser um elemento de identidade da

própria região, foi fundada, na cidade de Planaltina, em 2 de maio de

2006, a Faculdade das Águas Emendadas (FAE), estabelecida na

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Avenida Independência, Setor Comercial Central, Quadra 01, Bloco

C, Edifício Plaza. Conta atualmente com três cursos de graduação:

Administração (bacharelado), Letras (licenciatura) e Matemática

(licenciatura).

A FAE foi autorizada a funcionar através da Portaria do

MEC nº 963, de 28 de abril de 2006 e publicada no Diário Oficial da

União de 2 de maio de 2006. Os cursos de bacharelado em

Administração (bacharelado) e de Letras (licenciatura) e de

Matemática (licenciatura), foram autorizados a funcionar através da

Portaria do MEC nº 967, de 28 de abril de 2006 e publicada no diário

Oficial da União de 2 de maio de 2006.

No início, centenas de pessoas da cidade e adjacências foram

atraídas para estudar na primeira instituição de ensino universitário

instalada em Planaltina; esperavam concretizar o sonho da formação

e obtenção do diploma de um curso superior.

Todavia, a instituição ia de mal a pior. No ano de 2009 foi

registrado um índice de evasão escolar tão grande, que por pouco não

teve que fechar as portas. Os motivos constatados foram diversos,

dentre os quais, a precária qualidade de gestão praticada.

Em janeiro de 2010 a FAE passou pela transição de

mantença. Desde então, vem conduzindo a instituição, com foco no

processo ensino-aprendizagem. Através de uma gestão participativa,

tem procurado interagir com o governo distrital e com a sociedade

em geral, de modo que o resgate da confiança vem aumentando a

cada ano. A situação é cada vez mais positiva, haja vista que o

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número de alunos matriculados já foi triplicado desde então. Hoje

conta com três cursos de graduação, todos reconhecidos pelo

Ministério da Educação (MEC).

O curso de Administração (bacharelado) foi reconhecido

pelo MEC através da Portaria nº 431, de 21 de outubro de 2011, e

publicada no Diário Oficial da União de 24 de outubro de 2011.

O curso de Matemática (licenciatura) foi reconhecido pelo

MEC através da Portaria nº 4, de 24 de janeiro de 2012 e publicada

no Diário Oficial da União de 25 de janeiro de 2012. O curso de

Matemática (licenciatura) teve a renovação do reconhecimento pelo

MEC através da Portaria nº 286, de 21 de dezembro de 2012 e

publicada no Diário Oficial da União de 27 de dezembro de 2012.

O curso de Letras (licenciatura) foi reconhecido pelo MEC

através da Portaria nº 301, de 27 de dezembro de 2012, e publicada

no Diário Oficial da União de 31 de dezembro de 2012. Solicitou-se

ao MEC a retificação dessa Portaria.

A FAE implantou outros tantos cursos de pós-graduação. Os

cursos de pós-graduação lato sensu são em nível de especialização

em: Metodologia do Ensino Superior, Psicopedagogia e Orientação

Educacional. Além dos cursos de graduação e de pós-graduação,

também forma ministrados dezenas cursos de extensão em diversas

áreas do conhecimento.

A FAE adotou recentemente o slogan FAE - A Nossa

Faculdade. O sentido do slogan é para que ao ler, as pessoas possam

imaginar que a FAE está ao seu próprio alcance.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 21

A FAE reestruturou a sua missão a qual passou a ser a

seguinte, de acordo com Boff et al. (2011, p. 9) “A Faculdade das

Águas Emendadas tem por missão proporcionar um ambiente

educacional de qualidade, comprometido com a ética, a cidadania e

as necessidades contemporâneas, com o intuito de contribuir para a

formação integral e a valorização do ser humano”.

Dentre os valores da FAE, destacam-se: a qualidade, o

comprometimento e a ética. A qualidade no ensino, no

relacionamento com os clientes, fornecedores, parceiros e com a

sociedade em geral. O comprometimento em promover o ensino

superior, contribuindo para a formação profissional e o

desenvolvimento do ser humano e do seu preparo para o exercício

pleno da cidadania. A ética profissional, isto é, a ética do bem.

FAE - A Nossa Faculdade desenvolve suas atividades com

o objetivo de garantir uma formação superior voltada a um ensino

com qualidade, de acordo com as exigências do MEC, da legislação

vigente, do mercado de trabalho e da sociedade. Segundo Boff et al.

(2011, p. 9) "visa atender às necessidades do mercado de trabalho,

capacitando profissionais éticos e competentes para o

desenvolvimento da região na busca sistemática da excelência

educacional”. A filosofia dos projetos pedagógicos dos cursos, que

fixam os objetivos e as metas a serem alcançados durante a formação

dos alunos, os critérios norteadores para a definição do perfil do

egresso tomam como base uma visão humanista, a internalização de

valores de responsabilidade social, justiça e ética profissional.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 22

Integram, assim, as competências e as habilidades na formação do

futuro profissional.

A FAE “assumiu a missão de produzir conhecimentos e

experiências destinados a propiciar ao ser humano a construção do

seu projeto de vida, que lhe dê acesso, segundo suas necessidades,

aos bens e serviços que a civilização oferece” de acordo com Boff et

al. (2011, p. 10). E, também, assegurar a participação na construção

de uma sociedade mais justa, cooperativa e pluralista.

Assim, a instituição está empenhada em proporcionar um

ambiente educacional comprometido com a ética, responsabilidade,

cidadania e necessidades contemporâneas, de modo a contribuir para

a formação integral e valorização do ser humano. Do mesmo modo,

imbuída em possibilitar a transmissão, disseminação e produção do

conhecimento, através de atividades de ensino, pesquisa e extensão e

da educação continuada, articulando a academia e a sociedade, a

teoria e a prática. E empenhada em promover o desenvolvimento das

pessoas envolvidas e das empresas e instituições parceiras no

contexto da região de sua inserção – a cidade de Planaltina, com

abrangência de todo o Distrito Federal, das cidades da região do

entorno e do país (BOFF et al., 2011, p. 10).

A FAE possui inúmeros contratos e convênios de parceria

firmados com empresas e instituições, a fim de propiciar a sociedade

acesso ao ensino e conhecimento.

Como visão de futuro, a FAE quer crescer e ser referência

em educação na região até o ano de 2015.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 23

Dentre os projetos que a FAE está pensando em implantar

num futuro próximo, destacam-se: novos cursos de graduação e de

pós-graduação, incluindo o strito sensu; o Belvedere das Águas

Emendadas; ampliar as parcerias.

5 CONCLUSÃO

A FAE nasceu e reestruturou-se em Planaltina e pretende se

desenvolver na mesma cidade de origem, propiciando o melhor em

educação e cidadania, tanto para a população local como para a

sociedade em geral.

Dentro de sua visão a faculdade está apta a expandir a sua

área de atuação, criando novos cursos de graduação e de pós-

graduação dentro de um curto horizonte de tempo.

Assim, a FAE tem plenas condições, por meio do ensino,

pesquisa e extensão e da educação continuada, a produção,

transmissão, disseminação, gestão e preservação do conhecimento e

da informação, sempre preocupada em articular a teoria e a prática,

aproximando a academia da sociedade, com o intuito de promover o

desenvolvimento de pessoas, empresas e da própria região.

Como disseminadora de conhecimento e formadora de

opinião, a FAE, em seu relacionamento com a sociedade, tem

procurado ser mais um elemento de conscientização da população

local quanto à importância da preservação do meio ambiente. E,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 24

consequentemente, da própria Estação Ecológica de Águas

Emendadas, para que a população atual e vindoura possa ter uma

qualidade de vida mais adequada e saudável.

REFERÊNCIAS BOFF, Rubem José et al. Plano de Desenvolvimento Institucional. Planaltina: FAE, 2011. GDF. Águas Emendadas: o paraíso do Cerrado. Brasília: Secretaria de Estado de Infra-Estrutura e Obras; Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos, 2004. VARNHAGEN, Francisco Adolfo. A questão da capital: marítima ou no interior. Brasília: Thesaurus, 1978.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 25

A IMPORTÂNCIA DA PESQUISA CIENTÍFICA NO ENSINO SUPERIOR

Alesandra Batista de Oliveira1 Carlos Antonio Lopes2

Marilei Francisca da Silva3 Resumo: Esta pesquisa tem o objetivo de apresentar a importância da pesquisa científica como um instrumento para o processo de construção do conhecimento. Parte do princípio de que no ensino superior, os alunos devem estar engajados no seu processo de aprendizagem, tendo a pesquisa como principal metodologia de ensino empregada pelos docentes da instituição para a formação de acadêmicos comprometidos com a ética e a construção do conhecimento. Assim, é importante frisar que o conhecimento científico é um produto cultural construído historicamente e que possui características específicas. Esta investigação tem caráter estritamente bibliográfico e parte do princípio de que para se aumentar a qualidade do ensino superior é preciso que as disciplinas da grade curricular sejam vistas de forma interdisciplinar e tenham foco na formação de alunos pesquisadores, sobretudo na disciplina Metodologia Científica, que inicia o acadêmico no universo da Ciência.

Palavras-Chave: Metodologia científica. Pesquisa científica. Ensino superior.

1 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE). Licenciada em Matemática (FAE). 2 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE) Licenciado em Letras (FAE). 3 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE) Licenciada em Matemática (FAE). Professora universitária. Coordenadora do Curso de Matemática (FAE).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 26

1 INTRODUÇÃO

O processo de aprendizagem nos cursos superiores encontra-

se comumente voltado à especificidade de cada disciplina,

produzindo assim um saber fragmentado, sem conexão com uma das

finalidades da Educação neste nível de ensino que é desenvolver no

aluno a prática da pesquisa.

O Ensino Superior caminha buscando alcançar os objetivos

impostos por lei, conforme o texto da Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB 9394/96), título VII, em seu artigo 4, relata que

A educação de 3º grau tem por objetivo a pesquisa, o desenvolvimento das ciências, letras e artes, a formação de profissionais de nível universitário e a difusão e discussão sistemática da cultura superior aberta à participação de toda população (BRASIL, 1996, p. 17).

Partindo deste princípio percebe-se que uma das finalidades

da Educação Superior é ingressar os acadêmicos no campo da

iniciação científica, permitindo que os mesmos possam desenvolver

habilidades e competências que regem o universo científico e possam

ingressar em estudos posteriores.

Neste caso, o grande desafio deste nível de ensino é além

propiciar o conhecimento próprio de cada uma das disciplinas

específicas do curso, instrumentalizar os alunos para o

desenvolvimento de trabalhos científicos e contribuir para a iniciação

científica.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 27

Uma maneira de proporcionar ao aluno a iniciação científica

é sua matrícula e efetiva participação na disciplina, obrigatória para

todos os cursos superiores, metodologia científica, vista logo no

início da graduação, seu foco é quase sempre nos trabalhos

conclusivos do curso.

Este estudo propõe mostrar que a pesquisa científica, no

decorrer de toda a graduação, é importante por conter características

que contribuem para o processo de desenvolvimento intelectual do

estudante, permitindo assim que sua vida acadêmica percorra

caminhos propostos para a sua boa formação neste nível de ensino.

Neste âmbito de aprendizagem, o aluno adquire as condições

de modificar gradualmente seus conhecimentos, deve ser estimulado

à prática da autonomia e responsabilidade intelectual, colabora com a

produção do pensamento crítico-analítico e reflexivo, pois convive

de forma direta com a prática da pesquisa.

Sendo assim, o objetivo principal deste trabalho é

compreender a importância da pesquisa para o processo de

aprendizagem do aluno no Ensino Superior, para alcançá-lo foi

preciso buscar o entendimento sobre a epistemologia do

conhecimento, conhecer os caminhos que o produzem e, por fim,

discorrer sobre a prática da pesquisa como fazer obrigatório ao longo

de toda a graduação.

Estudos referentes a este assunto colocam a pesquisa

acadêmica como um processo de desenvolvimento intelectual, pois

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 28

trazem conhecimentos existentes e comuns às disciplinas específicas,

que podem ser questionados e investigados.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

O conhecimento sempre esteve presente na história da

humanidade. Na antiguidade o homem buscava soluções para os

diferentes questionamentos que afligiam a população e, graças as

suas investigações, o relato histórico da sociedade, ficou marcado

por grandes descobertas (SHIMIDT, 2007).

Estas descobertas contribuíram significativamente com a

evolução do ser humano, da sociedade e da ciência, pois

Desde seu nascimento o homem adapta-se progressivamente a um mundo pré-existente e, no processo de socialização, procura encontrar respostas para suas dúvidas e incertezas através do questionamento progressivo dos significados do mundo que o cerca. Assim, todo o desenvolvimento experimentado pela humanidade é fruto da incessante busca do homem pela compreensão do universo circundante e o desejo de aprimorá-lo (LANZONI 2012, p.19).

Desta forma, os povos da antiguidade buscavam

compreender o mundo e, cada um deles utilizavam diferentes meios

para gerar o saber (MATALLO, 1989). Entretanto, estas formas não

produziam o conhecimento científico, pois as descobertas não

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 29

provinham de uma técnica adequada que os legitimassem

(SCHIMIDT, 2007).

2.1 O caminho para o conhecimento científico

Na antiguidade o homem procurava explicar os fenômenos

da natureza para poder entender o universo. Ao longo dos tempos

foram sendo criados argumentos e teorias que pudessem comprovar a

diversidade ocasionada por seus estudos, a fim de validá-los

(SCHIMIDT, 2007).

Estas investigações resultaram no surgimento de novas ideias

que foram concebidas por Platão, Aristóteles e Thomás de Aquino.

Cada um deles defendia o conhecimento, como algo que poderia ser

adquirido a partir da essência que caracterizava o objeto (GHEDIN e

FRANCO, 2008).

Segundo Matallo (1989), Platão acreditava que a essência do

elemento está em sua forma, na sua ideia, já para Aristóteles esta

concepção não poderia ser confiável, pois para ele o conhecimento

consiste no estudo das formas, mas não se resume somente a isso.

Estas ideias acerca do conhecimento foram sendo

questionadas, então, surgiu uma nova interpretação sobre o assunto.

Esta fase é vista por Ghedim e Franco (2008, p. 23) “como uma

transição do saber, o mesmo já não estava centrado no objeto e sim

no sujeito” que busca conhecer os fatos e explicá-los.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 30

Após estas mudanças, na visão de Schimidt (2007), o

panorama histórico sobre o conhecimento começou a ganhar novas

dimensões e, somente no século XVII, os renascentistas buscaram

compreender e explicar a realidade, através de métodos adequados,

que validariam as suas investigações.

A revolução científica, propriamente dita, registra-se nos séculos XVI e XVII, com Copérnico, Bacon e seu método experimental, Galileu, Descartes e outros. Não surgiu, porém, do acaso. Toda descoberta ocasional e empírica de técnicas e de conhecimentos referentes ao universo, à natureza e ao homem, desde os antigos babilônios e egípcios, a contribuição do espírito criador Grego, sintetizado e ampliado por Aristóteles, às invenções feitas nas épocas das conquistas preparam o surgimento do método cientifico e o caráter de objetividade que vai caracterizar a ciência a partir do século XVI, ainda de forma vacilante, agora de modo rigoroso (CERVO; BERVIAN, 2006, p. 6).

A consequência do método científico foi uma nova visão de

mundo que o homem passou a ter. Nesta época houve uma

reformulação no conceito de ciência, ele passou a ser definido como

uma gama de conhecimentos articulados entre si que podem ser

testados e comprovados (MATALLO, 1989).

De acordo com Ghedin e Franco (2008), a comprovação dos

conhecimentos adquiridos através dos métodos científicos é a base

da ciência para garantir a veracidade dos resultados, pois

A ciência busca compreender a realidade de maneira racional, descobrindo relações universais e necessárias entre os fenômenos, o que permite prever acontecimentos e, consequentemente, também agir sobre a natureza. Para

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 31

tanto a ciência utiliza métodos rigorosos e atinge um tipo de conhecimento sistemático, preciso e objetivo (LANZONI, 2012, p. 33).

Cabe notar, nos argumentos apresentados, que o conceito de

ciência foi modificado ao longo dos tempos, inicialmente houve a

busca de soluções para questões cotidianas e problemas que afligiam

os seres humanos (SHIMIDT, 2007; LANZONI, 2012).

No segundo momento, questiona-se a produção do

conhecimento na antiguidade, por falta do método científico

(SCHIMIDT, 2007) e, no terceiro momento apresenta-se mais uma

evolução, ao exigir o método para a construção do saber

(MATALLO, 1989; SCHIMIDT, 2007).

Por fim, o foco no objeto, utilizado na antiguidade, evolui

para o foco no sujeito que interage com o objeto (GHEDIN e

FRANCO, 2008), mas foi somente no século XVI e XVII que surgiu

a ideia de criar um método científico capaz de universalizar o

conhecimento. No entanto, esta nova forma de obtê-lo e modificá-lo

aconteceram graças às inquietações sobre a temática em momentos

anteriores ao seu surgimento (CERVO e BERVIAN, 2006).

Neste contexto, o conhecimento é produção do homem, mas

ele não o produz sozinho, porque existe um instrumento entre o

sujeito que investiga e o objeto de investigação. Na ciência não é

diferente, o indivíduo quando pesquisa de forma científica, percorre

um caminho para alcançar um resultado, este caminho é visto como

um instrumento entre o sujeito e o objeto (CERVO; BERVIAN,

2006).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 32

2.2 CONCEPÇÕES MODERNAS PARA O TERMO

CONHECIMENTO

Parece-nos muito pertinente ressaltar a natureza do

conhecimento visto que “O conhecimento deve ser compreendido

como um processo dinâmico, inacabado e em constante

transformação e adaptação” (LANZONI, 2012, p.19). Essa ideia de

transformação permanente nos obriga a traçar um diálogo estável

com o conhecimento.

Para Koche (1997) o conhecimento é classificado de acordo

com sua natureza e está presente na vida do ser humano para

colaborar com sua existência. Uma das classificações mais utilizadas

é a que distingue o conhecimento do senso comum e a do

conhecimento científico. Discernir entre estes dois é fundamental

para um acadêmico, visto que o foco da educação formal e do ensino

superior é o conhecimento científico.

2.2.1 CONHECIMENTO DO SENSO COMUM

O senso comum “é o conhecimento do povo, conhecimento

de oitiva que atinge os fatos sem lhes inquirir as causas” (RUIZ,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 33

2002, p. 95). Em uma discussão mais aprofundada pode-se afirmar

que

Este tipo de conhecimento, também chamado de espontâneo, vulgar ou empírico, surge do viver cotidiano e geralmente se apresenta desprovido de método e sistematicidade e pautado unicamente pela prática e percepções cotidianas. Na tentativa de encontrar explicações para os acontecimentos cotidianos, consegue basicamente uma percepção do que o rodeia, sem se preocupar com relações de causa e efeito e sem uma postura racional (LANZONI, 2012, p. 22).

Desta forma percebe-se que o senso comum é “obtido ao

acaso, após ensaios e tentativas que resultaram em erros e em

acertos. Este tipo de conhecimento é ametódico e assistemático”

(CERVO e BERVIAN, 2006, p. 8).

É considerado como “a forma mais usual que o homem

utiliza para interpretar a si mesmo, o seu mundo e o universo como

um todo, produzindo interpretações significativas” (KOCHE, 1997,

p. 23).

Nessa vertente é importante destacar que o conhecimento do

senso comum provém, geralmente, de percepções cotidianas, as

quais o sujeito toma como verdadeiras e passa a transmitir este saber

como certo. Este conhecimento torna-se um fato cultural e é

cultivado de geração em geração. O senso comum é praticado por

grande parte da população.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 34

2.2.2 CONHECIMENTO CIENTÍFICO

O conhecimento científico quando fora definido por

Aristóteles era tido como algo concebido através da demonstração,

por um sistema certo, geral e metódico, ou seja, era originário de

algo pronto e acabado, portanto, tornava-se aceito somente aquilo

que poderia ser comprovado (CERVO; BERVIAN, 2002).

Este tipo de conhecimento “surge da necessidade de o

homem não assumir uma posição meramente passiva, de testemunha

dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos”

(KOCHE, 1997 p. 29). Destarte, o conhecimento científico é

[...] o resultado de uma reflexão sistemática, rigorosa e de conjunto acerca da própria prática, de sua construção, atinge o sujeito, diretamente no mais intimo de seu ser. Pelo conhecimento ele se deixa envolver, distancia-se da realidade justamente para poder compreendê-la em sua significação mais profunda, pois ela o toca em todos os níveis (GHEDIN, FRANCO, 2008, p.141).

O conhecimento científico nasce a partir de um

questionamento, de forma crítica e rigorosa seus caminhos são

descobertos através de uma ação programada obedecendo a um

sistema metódico de leis que verificam as relações que existem entre

os fenômenos (LANZONI, 2012). Koche (1997) afirma que

O conhecimento científico surge da necessidade de o homem não assumir uma posição meramente passiva, de testemunha dos fenômenos, sem poder de ação ou controle dos mesmos. Cabe ao homem, otimizando o uso de sua racionalidade, propor uma forma sistemática, metódica e

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 35

crítica da sua função de desvelar o mundo, compreendê-lo explicá-lo e dominá-lo (p.29).

Estes fenômenos possuem características explicáveis e

confirmam as causas e os embasamentos de sua certeza,

estabelecendo princípios para todos os acontecimentos, que ocorram

nas mesmas condições e conjunturas (RUIZ, 2002).

Considerando o ponto de vista destes autores com relação à

natureza do saber científico é possível observar que, há um consenso

entre eles, pois todos concordam que este existe para suprir as

necessidades do homem, é o próprio indivíduo quem o elabora e o

questiona (LANZONI, 2012; KOCHE, 1997).

Para que este saber seja alcançado é necessário a existência

de procedimentos sistemáticos de investigação. A diferença entre ele

e outros conhecimentos é o caminho percorrido para comprovar o

resultado, já que para se denominar conhecimento científico faz-se

necessária a utilização de um método científico seguro e eficaz

(CERVO e BERVIAN; 2006; RUIZ, 2002).

2.2.3 O MÉTODO CIENTÍFICO

Antes de discutir o método científico importa ter claro o

conceito de método. Segundo Cervo e Bervian (2002), “A palavra

método é de origem grega e significa o conjunto de etapas e

processos a serem vencidos ordenadamente na investigação dos fatos

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 36

ou na procura da verdade” (Ruiz, 2002, p. 137), “nas ciências,

entende-se por método o conjunto de processos empregados na

investigação e na demonstração da verdade”.

O método científico é um caminho seguro para produzir o

conhecimento, este evoluiu a partir das investigações que eram

feitas, sendo observado após os resultados colhidos, ou seja, antes de

ser criado, o método só era analisado em momento posterior à

pesquisa (KOCHE, 1997).

Ruiz (2002) concorda com esta afirmativa ao observar que

“o homem primeiro agiu metodicamente, e só depois estruturou os

passos e exigências do método científico”. Lanzoni (2012, P. 39) nos

adverte que

O termo método designa a ordem a ser seguida nos diferentes processos que são necessários para se chegar a determinado fim ou resultado. Em outras palavras, método pode ser entendido como um procedimento regular, explícito e que pode ser repetido a fim de se conseguir algo material ou conceitual.

O método científico possui um elevado grau de

confiabilidade, no entanto, este instrumento de trabalho só é eficaz

quando utilizado por um pesquisador que tenha uma atitude

científica e saiba pensar cientificamente (RUIZ, 2002).

Gressler (1989, p. 24) explica que

Método científico é o processo seguido na obtenção de conhecimentos, compreendendo os seguintes passos básicos: observações preliminares, problema, revisão

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 37

bibliográfica, amostragem, instrumentos, coleta de dados, tabulação, análise e inferências.

2.2.4 PESQUISA E PROCESSO CIENTÍFICO

A pesquisa é o instrumento fundamental para o mundo

acadêmico. É ferramenta para a busca e constituição de

conhecimentos. Para Cervo e Bervian (2002, p.63) “A pesquisa é

uma atividade voltada para a solução de problemas teóricos ou

práticos com o emprego de processos científicos”.

Na visão de Reis (2006, p.34)

A pesquisa induz a ação ou efeito de investigar, buscar, indagar e inquirir os fenômenos com o objetivo de compreendê-los e explicá-los. Isso significa que pesquisar não supõe o domínio de instrumentações pouco acessíveis, mas de dialogar de forma crítica e criativa com a realidade, o que culmina em elaboração própria e na capacidade de intervenção.

Lanzoni (2012) complementa esta visão ao afirmar que a

pesquisa é “um processo sistemático que tem como objetivo a

construção do conhecimento”.

Portanto importa ressaltar que a pesquisa é fundamental para

o ensino superior, pois “Autoridades educacionais afirmam que uma

das mais específicas funções da universidade é a pesquisa com o

objetivo de melhorar o ensino” (GRESSLER, 1979, p. 14). Neste

caso a pesquisa pode ser considerada como um instrumento

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 38

metodológico de ensino que visa à aprendizagem em contexto amplo.

Almeida (1989, p. 99) nos indica que

Não se trata mais de perguntar o que o professor pretende do aluno. Nem o que o aluno pretende mostrar ao professor. Mas o que o professor e aluno, engajados na descoberta e elaboração do conhecimento, pretendem desse conhecimento no mundo a fim de justificar a transformação desse mundo.

Assim a pesquisa torna-se o grande elo entre os protagonistas

do fazer acadêmico, ela deve nortear e ao mesmo tempo remodelar o

ensino superior.

Almeida (1989, p. 99) afirma ainda que “Dentro dessa

perspectiva educacional, o estudo aparece para o aluno como forma

de pesquisa, apresentado comumente por diversos autores nas

modalidades de pesquisa bibliográfica e documentação”.

O ensino superior é responsável pela formação teórico-

prática do aluno em relação às áreas e subáreas do conhecimento

propriamente dito (FRANCO, 1997). Assim, ele se pode fazer o

grande diferencial de um profissional.

Nesta esfera de aprendizagem deve haver um programa que

será complementado com pesquisas por parte do aluno, sendo assim,

o acadêmico passa a ser responsável por sua própria aprendizagem

(LANZONI, 2012).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 39

2.2.5 INICIAÇÃO CIENTÍFICA NAS INSTITUIÇÕES DE

ENSINO SUPERIOR

A iniciação cientifica nas Instituições de Ensino Superior

norteia algumas especificações referentes aos objetivos deste nível de

ensino que, segundo Reis (2006) “é orientar o aluno a estudar os

conteúdos de diversas disciplinas e a ensaiar construções incipientes

de ciência, motivando-o a exercitar o raciocínio lógico de pesquisa” (

p. 15).

A sua finalidade é “estimular a criação cultural e o

desenvolvimento do espírito científico e do pensamento reflexivo,

incentivando o trabalho de pesquisa e a investigação cientifica e

promovendo a extensão” (LIBÂNEO, OLIVEIRA e TOSCHI, 2009,

p. 259).

Almeida, Costa e Freitas (2012, p.2) afirmam que

[...] para que a escola, principalmente de ensino superior, cumpra sua função social é mister que busque a inserção na sociedade de forma abrangente e ao mesmo tempo pontual, criando mecanismos que possam garantir a ligação entre o conhecimento produzido pelas instituições de ensino e aquele que a sociedade realmente necessita, reduzindo o hiato teoria versus prática e produção versus aplicação de conhecimento.

Neste sentido, o emprego de processos científicos deve ser

objeto do ensino superior, pois é neste ambiente que o acadêmico

recebe instruções para produzir o conhecimento (RUIZ, 2002).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 40

Estas instruções seguem uma sequência de métodos

empregados em trabalhos acadêmicos, as quais norteiam a relação

entre conceitos e procedimentos. Geralmente, é visto em disciplina

específica denominada por muitos como Metodologia da Pesquisa.

Esta disciplina tem a “função maior de orientar o processo didático-

pedagógico de produção de conhecimentos pela pesquisa” (REIS,

2006, p. 15).

Segundo Ruiz (2002, p. 03) a Metodologia Científica

“pertence ao núcleo das disciplinas básicas de cursos superiores de

diversas áreas. Em razão de sua função auxiliar e propedêutica, esta

disciplina é ministrada no primeiro semestre de vários cursos”. Esta

disciplina também apresenta algumas metas imediatas. Cervo e

Bervian (2006, p. 02) nos relatam estas metas:

melhorar a apresentação dos trabalhos escolares e, sobretudo, elevar o nível de aperfeiçoamento dos estudos, despertando no aluno um senso crítico suscetível de colocá-lo em condições de reagir, de ser ativo ou participar das atividades escolares. Esse senso crítico deverá evoluir, tornando-se espírito científico fecundo e criador.

Por todas as razões acima descritas a disciplina Metodologia

Científica precisa ter relação estreita com a pesquisa e deve colaborar

para que os acadêmicos possam iniciar-se nos caminhos da pesquisa

científica e no desenvolvimento de habilidades de leitura,

compreensão, crítica e diálogo permanente com as teorias de cada

curso.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 41

3 METODOLOGIA

Toda pesquisa acadêmica deve ter como ponto de partida os

meios que nortearão os estudos, o que requer do pesquisador uma

compreensão das técnicas metodológicas que serão utilizadas para o

desenvolvimento da pesquisa.

Por esta razão definir os procedimentos que serão adotados

para concluir a pesquisa científica, torna-se essencial para a

conclusão do trabalho.

Em suma, é necessário determinar qual o método de estudo

adequado que irá direcionar a problemática em estudo. Desta forma

Koche (1997, p.121) afirma que

A ciência se apresenta como um processo de investigação que procura atingir conhecimentos sistematizados e seguros. Para que se alcance esse objetivo é necessário que se planeje o processo de investigação. Planejar significa aqui traçar o curso de ação que deve ser seguido no processo de investigação científica.

Seguindo esta orientação e considerando a importância em

planejar um estudo científico, ficou definida como instrumento de

viabilização para execução deste trabalho, a pesquisa de caráter

bibliográfico, por entender que o tema abordado requer esta diretriz.

A pesquisa bibliográfica para Koche (1997, p.122) “se

desenvolve tentando explicar um problema, utilizando o

conhecimento disponível a partir das teorias publicadas em livros ou

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obras congêneres”. Este foi a meta deste trabalho pesquisa em

bibliografia pertinente a importância da pesquisa para a formação

acadêmica. Segundo Gil (2009, p.44) a pesquisa bibliográfica

é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora em quase todos os estudos seja exigido algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas.

A partir da escolha da bibliografia o pesquisador irá dar

prosseguimento ao processo de investigação através de uma leitura

minuciosa e crítica, recolhendo os dados necessários para a

estruturação do seu trabalho.

A primeira etapa de uma pesquisa bibliográfica segundo as

concepções de Medeiros (2010, p.39) será a “escolha do assunto

seguido pela elaboração do plano de trabalho, identificação,

localização, compilação, fichamento, análise e interpretação,

redação”.

Definir a metodologia da pesquisa é um ponto de partida que

viabiliza o saber científico, seguindo os conhecimentos metódicos

para a realização deste trabalho acadêmico, convém questionar: a

pesquisa científica é importante para a formação superior?

O objetivo deste trabalho é compreender a importância da

pesquisa científica como um instrumento eficiente no processo de

construção do conhecimento disposto em cada disciplina.

Tendo ainda como objetivos específicos:

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 43

• Entender a finalidade do ensino superior.

• Analisar a relação entre pesquisa e conhecimento.

• Perceber como acontece a Iniciação Científica nas

Instituições de Ensino Superior brasileiras;

Para atingir estes objetivos utilizou-se ao longo deste estudo

uma metodologia de abordagem qualitativa de caráter estritamente

bibliográfico, por meio da visão e entendimento de autores e

sumidades na área a respeito da pesquisa científica no Ensino

Superior.

4 DISCUSSÃO

Esta investigação sobre a importância da pesquisa científica

no Ensino Superior possibilitou reunir e sistematizar alguns

conceitos fundamentais para a compreensão do estudo através da

pesquisa neste âmbito de ensino. Há, entretanto, aspectos

importantes que podem ser descritos com segurança possibilitando

algumas inferências sobre o assunto abordado.

Um desses aspectos está relacionado aos objetivos do ensino

superior – promoção da iniciação científica, por meio da disciplina

Metodologia da pesquisa. De fato, esta disciplina possui uma gama

de conhecimentos que são repassados aos alunos com o intuito de

que ele possa desenvolver o pensamento crítico e reflexivo acerca de

determinados assuntos e saiba utilizar os instrumentos para

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apresentação de trabalhos acadêmicos. Contudo para que isto

realmente ocorra é fundamental que a disciplina seja bem ministrada

tendo como foco principal a pesquisa e a elaboração de trabalhos

realizados com os esforços de compreensão, de leitura e crítica dos

próprios alunos e permeados pela ética. É preciso que os acadêmicos

aprendam a conhecer a natureza do conhecimento científico deste o

primeiro semestre e a elaborar seus próprios trabalhos de pesquisas

orientados por um docente qualificado e ciente da necessidade da

formação de um aluno com perfil de pesquisador que saiba discutir

as teorias científicas, questioná-las, buscar novos referenciais e a

partir daí produzir interpretações adequadas à sua realidade.

Nesta perspectiva não é possível se ater a uma mera

transmissão de conhecimentos, esta realidade exige dinamismo,

capacidade e disposição para atender todas as exigências de seu

campo profissional. Neste sentido o conhecimento das regras

metodológicas apenas com conceitos não resulta em um processo de

iniciação científica.

Já que a iniciação científica acontece quando o aluno torna-

se capaz de empregar os conhecimentos adquiridos junto às

disciplinas que os contém, logo a utilização da pesquisa

propriamente dita pode ser engajada como um meio que consiste na

transposição e reconstrução de saberes provindos, em geral, do

conhecimento já existente. Contudo para formar os estudantes com o

perfil de pesquisador faz-se necessário um esforço de todos os

docentes do curso. Foi relatada a importância da disciplina

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Metodologia Científica, contudo não pode uma única disciplina

formar um pesquisador. Ela, quando bem desenvolvida é

fundamental para iniciar o acadêmico, entretanto é necessário que

todas as disciplinas da grade curricular tenham esta preocupação de

preparar o estudante para a pesquisa e para a leitura e interpretação

do conhecimento construído à luz das teorias estudadas de forma a

compreender e agir no mundo, pois como pondera Reis (2006, p. 34)

o ato de pesquisar “induz a ação ou efeito de investigar, buscar,

indagar e inquirir os fenômenos com o objetivo de compreendê-los e

explicá-los”. Desta forma, a pesquisa é uma forma de intervir

conscientemente na realidade.

O conhecimento dos métodos científicos é um processo

fragmentado na maioria das faculdades brasileiras. Neste sentido a

educação superior também sofre com deficiências adquiridas no

decorrer do processo de ensino aprendizagem, os alunos ficam

desprovidos desta ciência aplicada, pois conheceram, mas não

praticaram e como temos discutido esta realidade deve ser

modificada. Como nos aponta Franco (1997) o ensino superior é

responsável pela capacitação do discente em relação ao

conhecimento teórico e prático que pretende construir. Logo este

nível da educação precisa assumir de maneira responsável sua

responsabilidade. Para tal o caminho apontado pela pesquisa

bibliográfica é o da interdisciplinaridade, da formação do acadêmico

com o perfil de pesquisador e do comprometimento e qualificação

dos docentes de ensino superior para abranger este trabalho. Ao

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 46

longo do referencial teórico mostramos a importância que a pesquisa

científica tem para a formação em nível superior.

Diante destas possibilidades é viável que o professor tenha

conhecimentos dos caminhos que deve percorrer para promover a

interação entre o ensino e a aprendizagem, já que é muito comum

nestes casos o professor por falta de habilidades deixa a cargo dos

alunos a interpretação e a interação entre os conceitos da disciplina

com sua realidade.

O professor traça suas estratégias, que consiste no

planejamento das aulas com formulação dos objetivos, seleção dos

conteúdos, o aprimoramento e adequação dos métodos de ensino,

para isso é preciso ter conhecimentos prévios de sua clientela para

direcionar suas aulas de acordo com o corpo discente e definir quais

mecanismos permitirá a apropriação do saber.

O professor tem total autonomia para desenvolver suas

práticas pedagógicas, no entanto precisa reconhecer seu papel de

mediador do conhecimento proporcionando aos alunos métodos

adequados e seguros que viabilizem a apreensão do saber, pois diante

da atualidade na qual o aluno é sujeito ativo não é mais possível ser

apenas transmissor do conhecimento, sobretudo na educação

superior.

Neste sentido o processo de ensino permeia o planejamento

organizado, sistemático e coerente, mantendo uma relação entre a

disciplina e os procedimentos metodológicos com o objetivo único

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 47

de promover a aprendizagem crítica e reflexiva por parte dos alunos,

orientados pelo professor em suas atribuições formativas.

Para o educador envolvido com pesquisa, não basta dominar

os conceitos e saber transmiti-los, é preciso ir além das expectativas

dos alunos, é condição necessária, considerando as características do

ser humano, saber articular saber com outros saberes de maneira

interdisciplinar. Para isso existem diversas formas, uma delas na

visão Gressler (1979) é a pesquisa em si, que colabora com a

formação crítica e criativa dos estudantes e tem como função dar

qualidade e aprimoramento à universidade.

As disciplinas ligadas à metodologia são recheadas de

procedimentos que podem ser trabalhados em contextos reais,

buscando o aperfeiçoamento com o curso específico.

Neste caso o aluno deixa de receber informações e

reproduzi-las, e passa a construir seu próprio conhecimento através

de um método de ensino que viabilize a pesquisa científica. Desta

forma contribui para a formação de futuros pesquisadores capazes de

dar continuidades em estudos e pesquisas bem sucedidas tanto na

graduação, quanto na pós-graduação e colaborar com o

desenvolvimento científico do país.

As informações acumuladas pelos alunos podem ser

transformadas em conhecimento a partir da aquisição de novos

saberes, desta forma interfere nas concepções preexistentes acerca da

realidade, modificando e reconstruindo conceitos, dando origem a

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 48

um novo conhecimento que contribuirá para a formação do

estudante.

Para Medeiros (2010, p.41) “as peculiaridades de seu método

diferenciam a ciência das muitas formas de conhecimento humano”,

mesmo que as investigações sejam originárias de conhecimentos

advindos do senso comum, o poder de comprovação dos métodos

resulta em uma teoria científica e na construção de um novo saber.

Uma educação neste patamar acaba por promover o

desenvolvimento científico e cultural, contribui com a aquisição do

conhecimento e permite o aprimoramento de ideias e a construção de

novos saberes. Supera as dificuldades de aprendizagem propiciando

uma reflexão acerca dos processos e práticas pedagógicas.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através deste estudo pode-se observar que uma das

finalidades do ensino superior é contribuir para a formação técnico-

científica do estudante. Uma forma de viabilizar o saber científico é

tornar a pesquisa como ferramenta de construção de conhecimentos.

Esta afirmativa se justifica nas idealizações do ensino

superior e na origem do conhecimento, que sempre acompanhou o

homem em sua jornada profissional e social.

Em épocas passadas o conhecimento era visto como algo que

surgia a partir das intuições de alguns excêntricos da sociedade, e

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 49

com o passar dos tempos as informações eram aceitas e reconhecidas

como verdades absolutas que não poderiam ser modificadas.

Com a evolução social e humana esta visão dogmática

ganhou novas dimensões, pois o homem passou a questionar as

verdades ditas absolutas, conscientizando-se de que elas poderiam

sofrer mudanças de acordo com o que era observado, surgindo, então

uma nova visão de como proceder para gerar o saber.

Este modo de conceber o conhecimento ficou determinado

por alguns filósofos como processos metódicos em que a produção

seria discutível e justificável em qualquer situação, podendo ser

questionada por diferentes ângulos.

Na atual percepção da sociedade este caminho que orienta a

busca por informações que constroem o conhecimento é ofertado na

instituição de nível superior através de uma disciplina específica, que

visa instrumentalizar o aluno a desenvolver trabalhos acadêmicos, a

Metodologia Científica.

No entanto a função maior das academias é, também,

contribuir para o crescimento científico da sociedade e dos

acadêmicos, instrumentalizando-os com teorias e técnicas capazes de

produzir novos conhecimentos, permitindo que o estudante tenha

uma visão crítica e reflexiva dos saberes abordados e da própria

sociedade.

Destarte deve haver obrigatoriamente a prática da pesquisa

nas salas de aula do ensino superior, pois esta visa colaborar com a

compreensão de vários contextos relacionados ao curso e a sociedade

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 50

em que o acadêmico está inserido, o que não permite um saber

fragmentado, como se cada disciplina percorresse um caminho de

forma isolada.

Quando acontece o ensino de conteúdos específicos, é

preciso considerar que este conhecimento surgiu por meio de

investigações e, cabe ao aluno questionar e procurar respostas para

suas argumentações, esta atitude corrobora com uma atitude

reflexiva e analítica, permitindo que o aluno produza seu próprio

conhecimento.

Neste sentido, cabe ao professor orientar e incentivar os

estudantes e promover à pesquisa, a discussão, a procura de

respostas, por meio de um trabalho que envolvente e embasado

cientificamente.

Quando realiza uma pesquisa de cunho científico, o aluno

tem a possibilidade de aprender mais a respeito de um assunto que já

fora abordado anteriormente, pois o professor do Ensino Superior

não está pedindo ao estudante este entenda o processo pelo qual o

conhecimento é construído, algo que já fora visto, entendido e

estudado por pesquisadores, anteriormente.

Vale lembrar que a pesquisa científica ajuda aos discentes na

busca por um aprendizado mais ativo e efetivo, além de mostrá-los a

respeito do quanto é preciso dedicação para que se consiga entender

o ponto de vista de outra pessoa, ainda que, o pesquisador concorde

ou discorde daquela visão interpretada e demonstrada pelo

pesquisador.

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Importante ressaltar ainda que o acadêmico ao realizar um

trabalho científico deve se preocupar com o caminho a ser

percorrido, sempre estando atento com o caráter único e inovador da

pesquisa ou na interpretação e análise do que o autor quis demonstrar

ao longo de sua pesquisa.

Deste modo, pode-se concluir que a pesquisa científica é de

vital importância para a formação em Ensino Superior, pois ajuda o

aluno a buscar a construção de seu próprio conhecimento, para que

entenda a natureza dos saberes e fazeres acadêmicos para que

aprenda efetivamente processos importantes como análise, crítica,

interpretação, conclusão, observação, elaboração e reelaboração

teórica bem como a aplicação da teoria na transformação da

realidade, na efetiva compreensão do mundo e dos saberes

acadêmicos.

No entanto para que a desenvolvimento do acadêmico com

perfil de pesquisador se dê de forma ampla faz-se necessário que

todas as disciplinas da grade curricular estejam comprometidas com

a formação na e pela pesquisa visando a transformação do mundo

como nos indicam as palavras de Almeida (1989) o mais importante

é que educadores e acadêmicos estejam “engajados na descoberta e

elaboração do conhecimento” e de como pretendem usar este saber

no mundo “a fim de justificar a transformação desse mundo” ( p. 99).

Esse é o maior objetivo do ensino e da pesquisa promover a

construção do conhecimento de forma a entender e modificar a

realidade para melhor e de agir de forma consciente na sociedade.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 54

PESQUISA ACADÊMICA: a matemática e a produção científica

Soraia Cristina de Morais1 Resumo: Este artigo abordou um dos aspectos cruciais na formação superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa científica, e que representa um dos eixos elementares da graduação na matemática, por se tratar de uma perspectiva que pode servir de estímulo à realização de investigação acadêmico-científica, e certamente, capaz de desenvolver ciência e tecnologia, paralelo à criação e difusão da cultura. Partindo do princípio de que esses fatores condizem com uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar, este trabalho alcançou seus objetivos, tendo em vista que discutiu a importância da pesquisa científica na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e dos novos códigos e ressaltou os aspectos (formativos) essenciais para produção de saberes na graduação da matemática, que licencia os discentes a desenvolverem papéis de educadores, capazes de concretizar o conhecimento de várias gerações de alunos. Ademais, enfatizou a importância dos aspectos metodológicos, enquanto excelência de aprendizagem, que dentre outros papéis, viabiliza a realização de pesquisas que exercem influência significativa nos educandos, de modo que os mesmos sintam-se estimulados a investigarem temas, de modo a se aperfeiçoarem profissionalmente, e integrar a proposição intelectual com a difusão da criação científica. Portanto, ressaltou a aprendizagem matemática, e o favorecimento do debate sobre teorias, informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica, produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático, dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Palavras-Chave: Matemática. Conhecimento Científico. Pesquisa. 1 Mestre em História do Brasil (UFPI). Especialista em Comunicação de Massa (PUC/SP). Graduada em Comunicação Social (FAITER). Professora (FAE).

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1 INTRODUÇÃO

A educação (superior) no Brasil, desde o ano de 1996,

quando foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (LDB) passou a ressaltar os vários processos formativos

que favorecem a capacitação do discente, passando pela convivência

humana, habilitação para o trabalho e preparação para sua prática

social participativa e pró-ativa. Esses fatores refletem os princípios

de todas as Instituições de Ensino Superior (IES), no que concerne ao

pleno desenvolvimento do discente e seu preparo para o exercício da

cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Nessa linha de raciocínio, esse artigo aborda um dos aspectos

cruciais na formação superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa

científica, um dos eixos elementares do ensino superior brasileiro,

que visa incentivar a realização de pesquisa (investigação)

acadêmico-científica, com o objetivo de desenvolver ciência e

tecnologia, paralelo à criação e difusão da cultura, para desse modo,

contribuir com o entendimento do homem e do meio social em que

vive (LDB, 1996).

Partindo do princípio de que esses fatores condizem com

uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar,

este trabalho tem como objetivos: Discutir a importância da pesquisa

científica na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e

dos novos códigos e ressaltar os aspectos (formativos) essenciais

para produção de saberes na graduação da matemática, que licencia

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os discentes a desenvolverem papéis de educadores, capazes de

concretizar o conhecimento de várias gerações de alunos.

Portanto, se torna indiscutível que o ensino superior (da

matemática), enquanto excelência de aprendizagem, dentre outros

papéis, deve exercer influência significativa em seus educandos, para

que os mesmos sintam-se estimulados a realizarem pesquisas, de

modo a se aperfeiçoarem profissionalmente, ou seja, integrar a visão

e proposição intelectual com a difusão dos benefícios que a criação

científica pode oferecer à sociedade.

2 A PRODUÇÃO CIENTÍFICA DA MATEMÁTICA

Produzir cientificamente é nada mais do que pesquisar

criteriosamente sobre um assunto, um tema, um paradigma ou um

conceito (seja na perspectiva teórica ou empírica). Para tanto, o

docente que atua nesta área de conhecimento (e em todas as outras)

tem uma função imprescindível, no sentido de despertar a

curiosidade, a reflexão, o senso crítico, e acima de tudo, motivar os

estudantes de licenciatura em matemática com relação à busca de

respostas para os questionamentos que surgem naturalmente, à

medida que o conteúdo das disciplinas (grade curricular) é

trabalhado em sala de aula (e fora dela) (SORDI, 2010).

Motivação é um dos elementos da aprendizagem que todos

os professores (docentes) devem se preocupar. É a partir desse

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 57

aspecto que os discentes passam a sentir desejo, vontade e

necessidade de aprender, criar e produzir, ou melhor, realizar estudos

que possam viabilizar o alcance dos objetivos propostos pela sua

pesquisa. Implica dizer, que não existe estudo acadêmico sem

objetivos, nem objetivos sem discussão teórica, nem fundamentação

teórica sem resultados. Ademais, para atingir os seus propósitos,

evidentemente que o aluno deve ter discernimento sobre o estudo a

ser desenvolvido e as peculiaridades da área de ensino, que neste

caso corresponde à matemática (D’AMBROSIO, 2002).

Existem dois tipos de motivação: extrínseca e intrínseca. A

motivação extrínseca ocorre quando o sujeito (discente) executa o

que outra pessoa (docente) pede, e ao realizar a atividade, o

estudante é recompensado por ter feito algo que lhe fora sugerido (e

exigido). Por outro lado, a motivação intrínseca surge quando o

indivíduo faz algo que se sente realizado, ou seja, considera a tarefa

como um fim em si mesmo, pelo fato de estar suficientemente

interessado e determinado a adquirir conhecimento explicativos, com

competência para demonstrar os resultados que alcançou (SORDI,

2010).

Portanto, produzir cientificamente (e matematicamente) é se

sentir estimulado a propor um questionamento (problema) que possa

ter uma resposta positiva para o mundo acadêmico, mas

principalmente (efetivamente), beneficiar a sociedade a partir da

difusão do conhecimento. Afinal, o programa de ensino superior

deve ter a perspectiva coletiva, posto que a aprendizagem formativa

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 58

na graduação, além de inserir o discente na vida profissional,

também oferece perspectivas para o desenvolvimento da sociedade

de uma maneira geral (LDB, 1996).

2.1 Os novos códigos e linguagens da matemática interdisciplinar

Considerando o teor dessas discussões, fica evidente que a

matemática não é mais ensinada somente sob o ponto de vista lógico,

formal e intuitivo. Ao contrário, o ensino da matemática

contemporânea tem um caráter (eminentemente) interdisciplinar1,

que certamente favorece o desenvolvimento de pesquisas

acadêmicas, à medida que o aproveitamento nos estudos supere o

cumprimento das atividades formais (provas) e valorize outros

instrumentos de conhecimento, como por exemplo, escrita e

publicação de trabalhos acadêmicos (artigos, resenhas e ensaios),

apresentação dos resultados de pesquisas em Seminários e

Congressos, e preferencialmente, a continuidade de estudos na

1 Para a Coordenadora do Grupo de Estudos e Pesquisas da Interdisciplinaridade (GEPI), Ivani Fazenda (PUC-SP), a interdisciplinaridade é aquela que respeita o conhecimento adquirido do aluno, e de forma criativa consegue despertá-lo para várias abordagens, aliando o conteúdo programático do curso, com as novas concepções do ato de aprender, que passa pelas teorias, experiências pessoais, práticas culturais, metodologias, leituras e debates plurais e significativos.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 59

perspectiva do desenvolvimento do espírito científico e do

pensamento reflexivo.

Diante da amplitude de reflexões e de abordagens didáticas,

convém pontuar com mais precisão, as novas linguagens da

matemática contemporânea. Ou seja, o ensino superior nesta área de

conhecimento (matemática) ressalta a importância da

comunicabilidade, para além dos números e dos símbolos, ou seja, o

discente que passa pela experiência de se habilitar como licenciado

em matemática deve resignificar o conceito de aprender/fazer, posto

que a formação de licenciado se respalda numa proposição

qualitativa de aprendizagem que contempla um conjunto de novos

paradigmas: pesquisar, analisar, argumentar, compreender,

(re)significar, discutir e formar o aluno, de modo a torná-lo partícipe

da conjuntura social e de todos os aspectos dialéticos nela inseridos

(BRANDÃO, 2003).

Além desses enfoques, as novas linguagens na aprendizagem

da matemática, não mais se restringem à logicidade numérica, com

suas equações e a exata conclusão de um teorema. É preciso que a

produção acadêmica amplie o debate, para além do viés intuitivo e

dedutivo, e avance para concepções plurais, preferencialmente, ideias

que despertem a necessidade de pesquisar e refletir sobre novos

conjuntos de competências e habilidades, não mais centrados nos

sistemas simbólicos, mas com um olhar crítico e contextualizado,

capaz de responder às necessidades e exigências da vida

contemporânea.

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Fica evidente que o paradigma da interdisciplinaridade é tão

somente um conhecimento amplo que desperta no discente uma

visão de mundo atualizada. Quando se coloca a palavra atualizada,

significa que a matemática deve ser trabalhada de modo a formar

professores (e profissionais) capazes de aprender continuamente, de

modo a alcançar um entendimento amplo: técnico, humano,

tecnológico, científico, que possa propiciar uma compreensão

dinâmica da nossa vivência material, cultural, produtiva e social

(BRANDÃO, 2003).

Afinal, dentre outros papéis das Instituições de Ensino

Superior (IES) está o compromisso de produzir cientificamente. Essa

produção é tão somente o fomento à pesquisa acadêmica, a ponto de

contribuir com o meio social, à medida que os pesquisadores

respondem às inquietações e questionamentos, tanto no âmbito

(puramente) teórico, quanto no âmbito prático. É da educação

superior que saem alternativas para dar resolutividade às

problemáticas da sociedade. Essas alternativas não são meras

sugestões, ao contrário, são respostas evidenciadas pelos estudantes

(pesquisadores), através de um processo criterioso de investigação e

pesquisa, baseado em métodos científicos éticos e normativos.

Em outras palavras, a aprendizagem matemática (no âmbito

superior de ensino) deve favorecer o debate sobre teorias,

informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com

a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica,

produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 61

dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Este último,

sempre na perspectiva investigativa, pois somente a pesquisa

favorece o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra

sugestões palpáveis para interrogações e inquietações, seja dentro

das faculdades, ou fora de seus muros (MIGUEL e MIORIM, 2004).

3 A PESQUISA QUE “LICENCIA” CONHECIMENTO

No bojo deste debate sobre a importância da pesquisa

científica no decorrer do Curso de Licenciatura em Matemática está

uma das vivências mais pertinentes relativas à investigação, e diz

respeito ao Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). É comum, nós,

professores de Metodologia Científica, experimentar o susto e a

insegurança dos alunos, quando se discute sobre a necessidade de

realizar uma pesquisa, que deverá mostrar resultados (teórico-

empíricos), cujo registro é de suma importância para conclusão da

sua graduação.

A inexperiência e falta de familiaridade com a pesquisa

acadêmica por parte do discente, além de evidente, é indiscutível e

merece uma discussão contundente, posto que a educação superior se

respalda nos três eixos (temáticos): Ensino, Pesquisa e Extensão.

Partindo desse princípio, se torna imprescindível que as faculdades

tenham um olhar sensível em relação a necessidade (e importância)

da pesquisa, para que a insegurança (para não dizer medo) não mais

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 62

faça parte do cotidiano educativo e formativo do estudante de

graduação (de matemática).

A princípio, a palavra pesquisa pode suscitar dúvidas, mas

no decorrer do aprendizado o discente se conscientiza de que se trata

tão somente de novas descobertas, que tem início com um problema

(uma pergunta, uma interrogação ou ainda, uma problematização).

Esse problema está inserido dentro de um tema (assunto), ou seja,

escolhido o tema (dificuldade de aprendizagem na matemática no

Ensino Fundamental, por exemplo), o discente parte para a

identificação de uma pergunta (problema) que deve ser elucidada no

decurso da investigação (pesquisa) (MIGUEL; MIORIM, 2004).

Esse problema de pesquisa, sempre, inegavelmente, sempre,

estará articulado a conhecimentos anteriores, e esta nova

investigação irá proporcionar nova (s) descoberta (s), através de

novos e antigos referenciais teóricos. Nessa linha de raciocínio, os

professores de Metodologia Científica devem despertar nos alunos, a

curiosidade, que é inerente ao ser humano, e por essa razão, não é

difícil incentivá-los e motivá-los a desvendar os mistérios de um

problema (pergunta), como por exemplo: Quais dificuldades de

aprendizagem os alunos do 5º ano apresentam na resolução dos

primeiros problemas matemáticos?

Fatalmente, o estudante (pesquisador) só encontrará

respostas, se pesquisar em uma escola de Ensino Fundamental (séries

iniciais), junto a um grupo de alunos e certamente, um grupo de

professores (de matemática), para entender e compreender os reais

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 63

motivos que interferem (negativamente) no ensino-aprendizagem

desses estudantes que apresentam dificuldades na realização das

primeiras equações.

Conforme o exemplo citado, não é nenhum difícil fazer o

aluno de graduação entender o ponto de partida de uma pesquisa

acadêmica. Portanto, se faz necessário desconstruir o mito de que

pesquisar é uma tarefa enfadonha, “chata” ou monótona. Ao

contrário, creio que uma das atividades mais satisfatórias na vida

acadêmica é o ato de pesquisar, que significa tão somente, uma tarefa

que permite conhecer, perceber e descobrir coisas sobre a realidade,

aliando teorias e o cotidiano de todos nós: aprendizagem, vivências,

trocas (simbólicas), imaginação, criatividade, informações, meios de

comunicação, debates e produção de conhecimento (BORBA;

ARAÚJO, 2004).

Todos esses fatores têm relação direta com a importância da

pesquisa na matemática, sob o ponto de vista das novas linguagens e

dos novos códigos. Conforme a discussão do primeiro capítulo,

somente dialogando com os estudantes, na perspectiva da visão

ampla formativa, será possível prepará-los para encarar os desafios

de novas descobertas científicas.

Por esta razão, convém repetir (ressaltar): a aprendizagem

na/da matemática deve favorecer o debate sobre teorias, dúvidas e

questionamentos que possam contribuir com a compreensão do

processo histórico da vida social, acadêmica, produtiva e evolutiva

da vida, contemplando o caráter prático, dialético, abstrato, crítico,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 64

participativo e científico. Este último, sempre na perspectiva

investigativa, haja vista que a pesquisa (indiscutivelmente) favorece

o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra

sugestões (respostas) para interrogações e inquietações que suscitam

nas leituras e tantas outras atividades didáticas e paradidáticas.

3.1 Aspectos que caracterizam o conhecimento científico

O conhecimento tem sua origem no conjunto de informações

adquiridas desde a infância, por meio do aprendizado resultante do

contato social (irmãos, professores, amigos, livros, observações,

meios de comunicação, experiências e reflexões):

No sentido correto da palavra, conhecer é elucidar a

realidade. Etimologicamente, a palavra elucidar vem do latim lucere,

cujo significado é trazer à luz. Assim, conhecer significa trazer luz à

realidade. E somente com a aquisição do conhecimento é possível

desvendar a verdade presente na realidade, tornando-a inteligível,

transparente, clara, cristalina (LUCKESI et. al., 2002).

Fica evidente que não é algo inalcançável o fato de buscar

respostas para viabilizar uma pesquisa de cunho acadêmico. Apenas

se faz necessário desmitificar que investigação, sob o ponto de vista

científico, deve seguir padrões normativos, e as normas existem em

todos os parâmetros de nossa vida, pois do contrário, seria inviável

viver harmonicamente, haja vista a infinidade de grupos sociais e

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 65

suas respectivas ideologias, filosofias, crenças, etnias, culturas e

identidades sexuais.

Nessa linha de pensamento, também é pertinente retomar a

idéia de que uma investigação deve ser rica em debates (e embates),

e para tanto, há que se pontuar os novo códigos e as novas

linguagens, para que os estudantes de matemática não fiquem presos

aos aspectos simbólicos dos números, fatores, equações e resoluções

numéricas.

O estudante de graduação em matemática é um pensador, e

como tal, não pode ficar atrelado à formulação de problemas lógicos.

Ao contrário, o estudante (pesquisador) em matemática deve ser

capaz de interagir com outras dimensões de linguagens e percepções,

que os possibilitem pensar e escrever, debater e investigar,

questionar e responder, estudar e demonstrar, de modo crítico,

criativo e pluridimensional (MIGUEL; MIORIM, 2004).

Todos esses fatores refletem interdisciplinaridade e

conhecimento científico, que permeiam a experiência de todo

estudante de ensino superior, independente da área de conhecimento

e da linha de pesquisa que investiga ou investigou. Nesse sentido,

pesquisar é uma proposta com visão múltipla, de modo a tornar o

estudante capaz de associar aprendizado com vivências e

experiências (GARNICA, 2004).

Significa, portanto, que conhecimento superior, como é

definido pelo Conselho Nacional de Educação (CNE), não pode

(nem deve) ficar (estar) separado da realidade conjuntural, posto que

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 66

construção de saberes científicos deve está relacionado à dinâmica

dos indivíduos, para além dos muros das Instituições de Ensino

Superior (IES), sejam públicas ou privadas.

Nessa linha de raciocínio, constata-se que o processo gerador

da construção do conhecimento matemático (saber/fazer) deve ser

dinâmico, passando pelo cotidiano escolar/acadêmico, pelas

proposições científico-produtivas, e, além disso, reflexiva e

transformadora. Todos esses elementos dialéticos mostram que o

ensino-aprendizagem do discente na graduação, deve despertar o

interesse dos graduandos pela investigação (pesquisa), cujas

experiências teóricas e metodológicas sejam capazes de criar

alternativas para resoluções de problemas (teórico-empíricos).

(GARNICA, 2004).

Essa reflexão implica no repensar e resignificar o ato de

aprender, dentro da área de conhecimento que tem sido debatida até

então, sem perder de vista o viés interdisciplinar, que está no bojo da

aprendizagem contemporânea, tendo início no Ensino Infantil,

passando pela Educação Fundamental, Ensino Médio, e,

destacadamente, no âmbito da Educação superior. É nesse nível de

ensino (superior) que a pesquisa ganha um enfoque acadêmico e que

gera muitas dúvidas, mitos, contradições, e, evidentemente, alcança

um patamar de cientificidade. A partir de agora convém discorrer

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 67

sobre o que diferencia um estudo comum da investigação

epistemológica. 1

O conhecimento da realidade e seus significados correlatos

possuem dois parâmetros: o senso comum e o senso crítico. O senso

comum é a compreensão do mundo real e imaginário, por meio de

um conjunto de opiniões, hábitos e formas de pensamento, que são

utilizados diariamente pelos indivíduos, como forma de orientação

para suas vidas. Portanto, é comum a todos os seres, e nesse sentido,

não é investigado os seus fenômenos, e por esta razão é chamado de

conhecimento superficial, sem base científica, e sem comprovações

pelos métodos que a fundamentação teórica exige (GARNICA,

2004).

Por outro lado, o conhecimento crítico, ou como geralmente

é denominado de metódico-crítico, não se contenta com a

superficialidade das informações (comuns), nem muito menos se

satisfaz com as impressões. Ou seja, o indivíduo que encara a

empreitada de investigar (pesquisar) cientificamente, busca além

daquilo que é consenso no seu dia-a-dia. Por esta razão, a

aprendizagem superior é importantíssima no esclarecimento sobre o

1 Epistemologia é uma palavra que se originou do grego: epistéme (ciência) e logia (lógica). Significa um conjunto de conhecimentos que têm por objeto o conhecimento científico, visando a explicar os seus condicionamentos (sejam eles técnicos, históricos, antropológicos, sociológicos, matemáticos, linguísticos e etc.) de modo a sistematizar as suas relações, esclarecer vínculos ou antagonismos, para em seguida avaliar os seus resultados e aplicações.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 68

papel de um método científico, ou ainda, da disciplina metodologia

científica, que neste caso, discute no paradigma matemático.

O saber adquirido pelo método científico, proporciona ao

pesquisador, segurança, estímulo, criatividade e eficiência nas suas

ações acadêmicas e extra-acadêmicas, possibilitando-o distinguir nos

fenômenos, a aparência e a essência, a sua razão de ser, as

características e suas definições (SEABRA, 2003).

Em outras palavras, o que diferencia o conhecimento

comum, do conhecimento científico, é simplesmente o caráter

crítico, suas significações e interpretações. Este último aspecto

merece destaque, pois os estudantes geralmente tendem a repetir o

que lêem, sem nenhum senso crítico que possa torná-los capazes de

interpretar. Portanto, quando o conhecimento dos fatos (e das

leituras) exige alguma interpretação, surgem então os

questionamentos, que fundamentam a capacidade crítica.

Nesse contexto é que o (s) significado (s) permite (m) o

emprego da ciência. Por sua vez, a facilitação da compreensão dos

fenômenos ocorre com a aplicação de um método científico. É por

isso que não existe conhecimento científico sem critério

metodológico, que torna a aprendizagem sistemática e possível de

demonstrar resultados verdadeiros. É por conta desses fatores que

todo tema a ser estudado (e pesquisado) deve se basear no método

científico, e suas respectivas regras de pensamento, para ser digna de

ser chamada de ciência (OLIVEIRA, 2004).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 69

3.2 Uma breve abordagem sobre o método

A matemática tem um potencial riquíssimo em matéria de

pesquisa e descobertas. Por esta razão, se faz necessário que os

educadores saibam despertar o senso crítico nos alunos (de

graduação), para que o processo de investigação ocorra de maneira

prazerosa, rompendo com os mitos (negativos) que geralmente as

pessoas internalizam sobre aquisição de saberes, sob o viés

metodológico. Diferentemente do que a maioria dos estudantes

imaginam, a pesquisa científica não se encerra apenas em rigores e

sistemas simbólicos e normativos.

A pesquisa científica é um trabalho desenvolvido a pouco a

pouco, de forma artesanal e experimental, como um jogo de quebra-

cabeças. A metodologia científica apenas clareia o procedimento a

ser seguido pelo aluno, na construção dos eixos principais de uma

pesquisa: problema, hipóteses, objetivos e fundamentação teórica.

Sem esses elementos, qualquer estudo será inviável, principalmente

quando a investigação busca ressaltar o paradigma interdisciplinar,

onde a matemática pode ser trabalhada de vários modos, através de

várias ideias e com originalidade (OLIVEIRA, 2004).

O aprender/fazer no âmbito do ensino superior não pode

deixar de colocar na pauta de discussão, as dificuldades da realização

de pesquisas científicas, principalmente em relação aos estudantes de

matemática, que conforme a abordagem deste artigo vivencia uma

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 70

aprendizagem plural, sob o ponto de vista das novas linguagens e dos

novos códigos. Conforme a discussão deste conteúdo, somente

dialogando com os estudantes, na perspectiva da visão ampla

formativa, será possível prepará-los para encarar os desafios de

novas descobertas (científicas).

Ao mesmo tempo, despertá-los para os fatores que

favorecem uma investigação que simbolicamente representa a

conclusão do seu curso universitário, como por exemplo, o Trabalho

de Conclusão de Curso (TCC). Portanto, é simples o processo

investigativo de uma pesquisa acadêmica, seja ela de caráter

monográfico, integrada ou interdisciplinar. É uma experiência

exploratória, que geralmente é denominada de ciclo, pois envolve

etapas consecutivas: escolha do assunto (tema), delimitação do tema,

identificação do problema (pergunta), as teorias pertinentes, a

metodologia apropriada e um recorte empírico, caso seja pertinente

(OLIVEIRA, 2004).

Por exigência das Instituições de Ensino Superior (IES), que

obedece a um critério técnico-científico do Ministério da Educação

(MEC), todo estudante de graduação deve apresentar uma pesquisa,

cujos resultados serão apresentados como monografia, que por sua

vez, fecha o ciclo da graduação. No caso da matemática, adquire o

título (grau) de licenciado. Sem dúvida é de fundamental importância

o fomento à pesquisa na área de formação de professores de

matemática.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 71

Educação Matemática, Educação em Matemática, Formação

em Matemática, são várias conotações que implicam na dimensão da

aprendizagem contemporânea interdisciplinar, com um olhar nas

pesquisas, ou melhor, na realização de pesquisas. Portanto, existem

muitos enfoques metodológicos para a pesquisa nesta área de

conhecimento, e que devem ser exploradas e valorizadas.

Definitivamente não se pode conceber a ideia ultrapassada de que o

matemático é essencialmente lógico e intuitivo.

O pesquisador (estudante) de matemática é reflexivo e

investigativo, e consequentemente tem dado sua contribuição ao

ensino e a aprendizagem, em qualquer nível de modalidade que atue.

Fica evidente, no entanto, que existem barreiras a serem superadas, e

a principal delas é aproximar a educação dos números, da capacidade

de fazer leituras plurais, críticas, transversais e interdisciplinares

(BRANDÃO, 2003).

Todos esses fatores, sem dúvida alguma contribuirão com a

formação cidadã e ampla, que segundo a Lei de Diretrizes e Bases da

Educação (LDB), deve fazer parte dos princípios da aprendizagem

superior. Ressalta ainda, a importância da comunicabilidade, para

além dos números e dos símbolos, ou seja, o discente que passa pela

experiência de se habilitar como licenciado em matemática deve

resignificar o conceito de aprender/fazer, posto que a formação de

licenciado se respalda numa proposição qualitativa de aprendizagem

que contempla um conjunto de novos paradigmas: pesquisar,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 72

analisar, argumentar, compreender, (re)significar, discutir, dialogar,

de modo a torná-lo partícipe da conjuntura social e cultural.

Portanto, método, pesquisa, ideias, perguntas, investigação,

interdisciplinaridade, dentre outros conceitos colocados ao longo

deste artigo, são fatores intrínsecos à capacidade de se aprofundar em

conhecimento científico, que se baseia em uma, ou várias teorias,

outro elemento que geralmente causa estranheza aos estudantes.

É comum ouvirmos a palavra teoria “pra lá e pra cá”, mas

nem sempre se sabe ao certo o que implica uma teoria, sob o ponto

de vista metodológico. A teoria se baseia ou corresponde ao

conhecimento anterior, construído por outros pesquisadores. Essa

palavra vem do grego theoreim, cujo significado é ver (verificar). É

na relação (associação) entre o ver e o saber, que se constitui as bases

da ciência ocidental (BRANDÃO, 2003).

É pela sua dimensão científica, que uma teoria para ser

considerada como válida, deve ser apoiada em fatos observados e

provados, como resultado de uma pesquisa criteriosa. Ademais, a

teoria é um conhecimento que se adquire por meio da investigação,

sendo fundamentada em um sistema organizado de proposições que

orientam a obtenção e a análise dos dados, que, por conseguinte,

estruturam os conceitos, os quais sintetizam os fenômenos

processados no mundo real.

Por conta de existirem suposições e/ou conclusões errôneas

sobre a aplicabilidade da matemática, sua linha de investigação e sua

relação com a pesquisa, é que este trabalho veio à tona, no sentido de

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 73

desmitificar que o estudante não sabe pesquisar (ou refletir

cientificamente). Quanto às dificuldades de escrever coerentemente

sobre teorias e aspectos epistemológicos ou fenomenológicos, essa

falta de habilidade é encontrada em vários segmentos de

aprendizagem, ou melhor, em várias áreas de conhecimento.

É nesse sentido que as publicações podem (e devem)

contribuir para o esclarecimento desses aspectos, pois no geral, antes

de se buscar respostas para dúvidas, o indivíduo tende a formar ou

internalizar pontos de vista arcaicos, como é o caso de achar que a

metodologia científica é tão somente enfadonha e arcaica.

Pelo contrário, a aprendizagem da matemática, na atual

conjuntura, tem sido ressaltada como uma área de pesquisa

importantíssima, e como tal, deve contribuir com a sociedade

brasileira, seja no âmbito da educação, da tecnologia, da cultura, do

meio ambiente, e etc. afinal, para que o conhecimento (científico)

matemático alcance uma amplitude de discussão, se torna

imprescindível que se enfatize alguns aspectos pontuais de produção

científica na matemática (SEABRA, 2001):

• fazer uso do conhecimento científico e tecnológico que

possam suscitar alternativas sobre questões sociais e

ambientais;

• associar conhecimento científico com a realidade sócio-

cultural e econômica (produtiva);

• reconhecer a perspectiva histórica da matemática, sem perder

de vista o seu papel na vida humana, e mais precisamente, na

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 74

capacidade humana de transformar o meio social em que

vive;

• entender que a matemática está associada ao desempenho

tecnológico, ao processo produtivo da vida social e do

conhecimento.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este artigo abordou um dos aspectos cruciais na formação

superior acadêmica, que diz respeito à pesquisa científica, e que

representa um dos eixos elementares do ensino superior brasileiro,

por se tratar de uma perspectiva que pode servir de estímulo à

realização de pesquisa (investigação) acadêmico-científica, e

certamente, desenvolver ciência e tecnologia, paralelo à criação e

difusão da cultura, para desse modo, contribuir com o entendimento

do homem e do meio social em que vive (LDB, 1996).

Partindo do princípio de que esses fatores condizem com

uma aprendizagem contemporânea participativa e interdisciplinar,

este trabalho alcançou seus objetivos, tendo em vista que discutiu a

importância da pesquisa científica na matemática, sob o ponto de

vista das novas linguagens e dos novos códigos e ressaltou os

aspectos (formativos) essenciais para produção de saberes na

graduação da matemática, que licencia os discentes a desenvolverem

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 75

papéis de educadores, capazes de concretizar o conhecimento de

várias gerações de alunos.

Ademais, enfatizou a importância dos aspectos

metodológicos no ensino superior (da matemática), enquanto

excelência de aprendizagem, que dentre outros papéis, viabiliza a

realização de pesquisas que exercem influência significativa nos

educandos, de modo que os mesmos sintam-se estimulados a

investigarem temas, de modo a se aperfeiçoarem profissionalmente,

ou seja, integrar a visão e proposição intelectual com a difusão dos

benefícios que a criação científica pode oferecer à sociedade.

Em outras palavras, a aprendizagem matemática (no âmbito

superior de ensino) deve favorecer o debate sobre teorias,

informações, dúvidas e questionamentos que possam contribuir com

a compreensão do processo histórico da vida social, acadêmica,

produtiva e evolutiva da vida, contemplando o caráter prático,

dialético, abstrato, crítico, participativo e científico. Este último,

sempre na perspectiva investigativa, pois somente a pesquisa

favorece o conhecimento individual e coletivo à medida que encontra

sugestões palpáveis para interrogações e inquietações, seja dentro

das faculdades, ou fora de seus muros.

REFERÊNCIAS BORBA, M. C; ARAÚJO, J. L. Pesquisa qualitativa em educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 76

BRANDÃO, C. R. A pesquisa a várias mãos: a experiência da pesquisa no trabalho do educador. São Paulo: Cortez, 2004. BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB). MEC: Brasília, 1996. D’AMBROSIO, Ubiratan. História da matemática e educação. Campinas: Papirus, 2002. Cadernos CEDES, Nº 87 FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade de A a Z. Disponível em: <http://www.educacional.com.br>. Acesso em: 21 jun. 2010. GRAYLING, A. C. A Epistemologia. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br>. Acesso em: 23 maio 2010. GARNICA, A. V. M. História oral e educação matemática. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. LUCKESI, Cipriano C. et. al. Fazer universidade: uma proposta metodológica. São Paulo: Cortez, 2002. MIGUEL, A; MIORIM, M. A. História na educação matemática: propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. OLIVEIRA, Silvio L. de. Tratado de metodologia científica. São Paulo: Pioneira, 2002. SORDI, Mara Regina L. de. Ensino, pesquisa e extensão são desafios nas IES. Disponível em: <http://www.universa.com.br>. Acesso em: 13 jun. 2010.

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UM ESTUDO SOBRE LOGÍSTICA REVERSA NA INDÚSTRIA E COMÉRCIO DE PNEUS NO DF

David Vieira de Souza1

Resumo: O presente estudo teve como objetivo principal verificar as dificuldades enfrentadas pelos empresários do setor pneumático, para implantação e prática da logística reversa. Para tal, foram analisadas as informações colhidas em pesquisa de campo realizada no Distrito Federal, na qual foram entrevistados administradores de empresas do setor pneumático que atuam na indústria, importação e comercialização. Por meio de um questionário, os entrevistados completaram as informações necessárias para que seja retratado o real cenário vivido pelas empresas que atuam neste setor. Além disso, muitas informações relacionadas aos pneus foram obtidas por meio de pesquisa bibliográfica, informativos institucionais e em órgãos fiscalizadores e reguladores ligados ao meio ambiente. O estudo procurou mostrar a importância da logística reversa como diferencial competitivo para as empresas e a preservação do meio ambiente como responsabilidade social. A preocupação com o meio ambiente pode não estar presente em todas as organizações, mas o estudo procura revelar a sua existência em todos os níveis da cadeia produtiva do setor pneumático, o que representa um grande avanço em direção ao equilíbrio ambiental. Palavras-chave: Logística reversa. Diferencial competitivo. Meio ambiente. Responsabilidade social.

1 Especialista em Metodologia do Ensino Superior (FAE). Bacharel em Administração (FAE). Professor e Diretor Administrativo e Financeiro (FAE).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 78

1 INTRODUÇÃO

Com os constantes avanços tecnológicos e a globalização,

aliado ao crescimento da demanda por produtos cujo ciclo de vida é

cada vez menor, é imprescindível que as indústrias adotem medidas

que minimizem os impactos que tais produtos possam causar ao meio

ambiente após o seu uso. O descarte desses produtos pela

obsolescência ou quando perdem a utilidade por estarem danificados,

tem sido motivo de preocupação de toda população mundial. E neste

momento marcante de globalização de mercados, as empresas

pressionadas pela concorrência buscam novas formas de conseguir

competitividade (LEITE, 2009).

Neste contexto, surge a necessidade de políticas voltadas à

retirada desses produtos, do meio ambiente. Segundo Martins e Alt

(2009), para que se possa vencer a batalha da globalização, é

necessário que sejam delineados objetivos, ferramentas e

componentes estratégicos, táticos e operacionais do jogo logístico.

De acordo com Bowersox e Closs (2010, p.51) “Em algumas

situações, o fluxo normal de trânsito de estoque em direção aos

clientes tem que ser invertido”. Nesta perspectiva, tem-se a Logística

Reversa, (o retorno do produto à sua origem) como objeto de

pesquisa deste trabalho no qual serão abordadas as dificuldades e

peculiaridades desse processo. Serão apresentadas ainda, as

iniciativas de algumas organizações que mostram a preocupação com

a reciclagem e com a destinação correta dos produtos do setor

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 79

pneumático após o final do seu ciclo de vida, que se refletem como

responsabilidade social. Além disso, este estudo revela também, o

nível de preocupação dos consumidores, com a destinação dos

resíduos do setor pneumático.

Para a realização do presente trabalho, considerou-se como

problema as questões ligadas à logística reversa e as dificuldades

enfrentadas pelas indústrias, importadores e comerciantes de pneus,

para o recolhimento e nova destinação, ecologicamente correta, deste

produto ao fim do seu ciclo de vida. Neste contexto, quais as

dificuldades relacionadas à implantação da logística reversa no setor

pneumático?

O objetivo deste artigo é estudar os fatores que geram

dificuldades para que as empresas do setor pneumático façam a

coleta de seus produtos após serem usados, para que não sejam

lançados, de forma inadequada, no meio ambiente.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Histórico da logística

Na época do Império Romano, do Império Grego e do

Império Bizantino existia um tipo de profissional que era chamado

de logistikas cuja função assumia a responsabilidade sobre as

atividades de distribuição física e financeira desses impérios. Apesar

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 80

de ser uma época em que não havia os meios de transporte que hoje

se conhece e na qual o principal meio era o cavalo e cuja

comunicação só era por carta ou pelo envio de recado, já existiam

profissionais responsáveis pela distribuição. Tal função era

desempenhada de forma racional e lógica na realização das tarefas.

Entende-se, portanto, que a logística é uma atividade que implica o

uso da razão, de uma lógica para sua execução, essas são afirmações

de Pires (apud BARTHOLOMEU; CAIXETA-FILHO, 2011).

Seguindo a mesma linha de pensamento de outros autores,

para Novaes (2007), o conceito de logística teve a sua origem nas

operações militares nas quais os generais tinham sob suas ordens,

equipes que providenciavam o deslocamento de munição,

equipamentos, viveres e socorro médico para o campo de batalha.

Nas empresas, foi isso mesmo que ocorreu durante muito

tempo, pois as indústrias precisavam transportar e armazenar matéria

prima para garantir a fabricação de seus produtos e em seguida, da

fábrica para os depósitos ou para as lojas de seus clientes. Essas

atividades eram consideradas operações de apoio e os executivos

acreditavam que elas não agregavam nenhum valor aos seus

produtos. Atualmente a logística é reconhecida como um setor que

agrega quatro tipos de valores à cadeia produtiva.

Segundo Bowersox e Closs (2010), antes da década de 1950,

as funções que hoje são conhecidas e aceitas como logística, eram

geralmente, consideradas como serviço de apoio ou facilitação.

Nessa época vários setores da empresa eram responsáveis pelos

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 81

serviços de logística. Ainda de acordo com este autor, não existia

coordenação inter-funcional, gerando, duplicações e desperdícios.

Além disso, as informações eram distorcidas e chegavam atrasadas.

2.2 Conceitos de Logística

Quando a logística é mencionada ao acaso, pensa-se logo em

transportes, pois essa é uma das principais atividades logísticas.

Entretanto, a logística exige muito a prática de todas as funções da

administração e a cada conceito elas vão sendo mais evidenciadas. É

o que se pode confirmar com a definição de Leite (2009, p. 2):

A logística pode ser entendida como uma das mais antigas e inerentes atividades humanas na medida em que sua principal missão é disponibilizar bens e serviços gerados por uma sociedade, nos locais, no tempo, nas quantidades e na qualidade em que são necessários aos utilizadores.

Ainda de acordo com Leite (2009), a logística como

atividade empresarial tem sido introduzida gradativamente ao longo

da história das empresas, de uma simples área de estocagem de

materiais até uma área estratégica no atual cenário de concorrências.

A logística agrega valor aos produtos e serviços, pois seu

objetivo é disponibilizá-los no local onde são necessários, no

momento em que são desejados. No entanto, apesar de existir desde

as antigas civilizações, a implementação da logística moderna

representa um grande desafio para gestores, tanto do setor público

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 82

como do setor privado, pois sua área de atuação envolve o fluxo de

informações, estoques, transporte, manuseio de materiais,

armazenamento e embalagem gerando um alto custo em sua criação

(BOWERSOX; CLOSS, 2010).

2.3 Logística reversa

Nas últimas décadas pode-se perceber grande movimentação

para o lançamento de modelos e produtos em todos os setores

empresariais no mundo inteiro. Preocupadas em atender diferentes

segmentos de clientes e em diferentes aspectos, as empresas fabricam

produtos e modelos específicos. Além das cores, tamanhos,

capacidades e especificações diferenciadas, esses produtos são

segmentados por idade e sexo, etnia dos clientes e outros aspectos.

Por outro lado, percebe-se que o tempo de vida

mercadológico e útil dos produtos está sendo cada vez mais

reduzido, devido à introdução de novos modelos, tornando os

anteriores ultrapassados em consequência do seu próprio projeto,

pelo uso de materiais de menor durabilidade ou pela dificuldade

técnica para consertá-los.

A consequência é uma grande quantidade de produtos ainda

sem uso ou já consumidos, que retornam ao ciclo de negócios ou de

produção. Alguns produtos com defeito ou dentro da garantia, não

consumidos ou com pouco uso, voltam ao ciclo de negócios na busca

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 83

pela recuperação de valor. Outros produtos, cuja vida útil chega ao

fim ou reutilizáveis e os resíduos industriais, quando não interessam

ao proprietário, retornam ao ciclo de produção ou de negócios com

objetivos idênticos aos do primeiro, porém por outros caminhos

(LEITE, 2009).

Observa-se que é necessária a criação de canais que

possibilitem o retorno desses produtos, aos ciclos mencionados

anteriormente. Tais canais já haviam sido objeto de estudo em

décadas anteriores com enfoque mais restrito. O ciclo de vida de um

produto, do ponto de vista logístico, não termina com a sua entrega

ao cliente. Ao se tornarem obsoletos, danificados ou deixarem de

funcionar, deverá retornar ao seu ponto de origem para ser reparado,

reciclado ou descartado de maneira adequada e obedecendo as

normas vigentes no país onde foi comercializado.

Padrões de qualidade, cada vez mais rígidos, exigem maior

capacidade de retirada de produtos de circulação, quando estes

trouxerem consequências negativas para a organização. Com relação

a isso, Bowersox e Closs (2010 p.51) fazem a seguinte afirmação:

O aspecto mais significativo da logística reversa é a necessidade de um máximo controle quando existe uma possível responsabilidade por danos à saúde (por exemplo, um produto contaminado. Nesse sentido, um programa de retirada do mercado é semelhante a uma estratégia de serviço máximo ao cliente que deve ser executado independentemente do custo.

Do ponto de vista financeiro, além dos custos com matéria-

prima, produção, armazenagem e estocagem, o ciclo de vida de um

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 84

produto inclui os custos de todo o gerenciamento do seu fluxo

reverso. No entanto, incluir tais custos nesta fase de produção pode

significar um desafio ainda maior para o administrador.

De acordo com Leite (2009, p.15), “os primeiros estudos

sobre logística reversa são encontrados nas décadas de 1970 e 1980,

tendo seu foco principal relacionado ao retorno de bens a serem

processados em reciclagem de materiais, denominados e analisados

como canais de distribuição reversos.

Na década de 1980, o conceito de logística reversa era tido

apenas como um movimento contrário do fluxo direto de produtos na

cadeia de suprimentos. A partir da década de 1990 surgiram novas

abordagens que aos poucos foram introduzidas e passaram a fazer

parte do conceito que evoluiu impulsionado pelo crescimento dos

movimentos relacionados à preservação ambiental e a constante

preocupação das empresas com a redução de custos e com sua

imagem perante a opinião dos consumidores. Embora a logística

tradicional já trouxesse em sua base a preocupação com a satisfação

dos clientes.

2.3.1 Logística reversa pós-consumo

Bens de pós-consumo são os produtos ou materiais cujo ciclo

de vida útil chegou ao fim e não podem mais ser comercializados em

canais tradicionais de vendas. No entanto, isso não quer dizer que

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 85

não possam ser reaproveitados. Isso é possível graças à adoção da

logística reversa e de seus canais de distribuição reversos (CDRs).

Neste caso a sigla ganha mais duas letras e se torna CDR-PC (Canais

de Distribuição Reversos de bens de Pós-Consumo) cujas etapas

envolvem o retorno de produtos considerados bens de pós-consumo.

Essas etapas formam o processo de logística reversa a qual é bem

parecida com a logística direta. Esses canais cuidam do fluxo de bens

de usados desde a sua coleta até a sua reintegração ao ciclo produtivo

como matéria-prima secundária (LEITE, 2009).

Uma abordagem sobre o ciclo de vida do produto se faz

necessária para melhor compreensão do processo. Uma definição

bastante difundida é dada por Leite (2009, p. 38) que afirma que:

A vida útil de um bem é entendida como o tempo decorrido desde a sua produção original até o momento em que o primeiro possuidor se desembaraça dele. Esse desembaraço pode se dar pela extensão de sua vida útil, com novos possuidores, quando existe o interesse ou a possibilidade de prolongar sua utilização, ou pela disponibilização por outras vias, como a coleta de lixo urbano, as coletas seletivas, as coletas informais, entre outras, passando-o à condição de bem de pós-consumo.

Compreende-se então que um produto ou material torna-se

bem de pós-consumo quando sua vida útil é encerrada, mas mesmo

assim ele ainda pode ser aproveitado para algum fim por outro dono

ou como matéria-prima secundária para a fabricação de outro bem.

O retorno desse bem de pós-consumo ao ciclo produtivo

constitui a principal preocupação da logística reversa (LEITE, 2009).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 86

O descarte de um produto é que dá início ao processo de logística

reversa. “Para a logística o conceito de ciclo de vida do produto vai a

partir de sua concepção até o destino final dado a este produto, seja o

descarte, reparo ou reaproveitamento” (TRIGUEIRO, 2003, p. 1).

Quanto ao ciclo de vida do produto a Lei 12.305 de 2 de

Agosto de 2010 no art.3º inciso IV, define que: “ciclo de vida do

produto: série de etapas que envolvem o desenvolvimento do

produto, a obtenção de matérias-primas e insumos, o processo

produtivo, o consumo e a disposição final” (BRASIL, 2010).

Os canais de distribuição reversos no pós-consumo referem-

se aos produtos adquiridos, usados e descartados pelo consumidor.

São produtos, cuja vida útil chegou ao fim, ou que foram descartados

devido a imperfeições e defeitos ocasionados pelo excesso de uso, ao

longo do tempo, cujo conserto é considerado inviável pelo seu alto

custo, ou por não servirem mais às conveniências iniciais do

consumidor. Os canais de distribuição reversos de pós-consumo

(CDR-PCs) são responsáveis pelo fluxo inverso de produtos ou

materiais constituintes que surgem no descarte dos produtos depois

de encerrada a vida útil e que retornam ao ciclo produtivo (LEITE,

2009). Esses canais podem ser de reciclagem ou de reuso.

A reciclagem como atividade econômica movimenta grande

parcela da sociedade devido ao seu impacto ambiental e social, pois

além de beneficiar as empresas que a adotam como estratégia de

minimizar custos e aumentar a competitividade, absorve a mão-de-

obra de milhares de pessoas em todo o país. Essas pessoas,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 87

geralmente, iniciam nessa atividade com a perspectiva de tirar seu

sustento e obter alguma renda em caráter temporário, mas depois de

algum tempo tornam-se profissionais do ramo.

De acordo com Leite (2009) reciclagem é o canal reverso

que dá um novo valor aos materiais que constituem os produtos

descartados e são extraídos industrialmente, transformando-se em

matérias-primas secundárias ou recicladas que serão reincorporadas à

fabricação de novos produtos.

O exemplo mais comum desse tipo de canal reverso é o

comércio de metais, como alumínio, cobre e outros metais que são

extraídos de diversos tipos de produtos descartados e de resíduos

gerados pelas indústrias. Esses metais retornam ao ciclo produtivo

como matéria-prima secundária, fechando o ciclo de reciclagem.

Outra maneira de tentar o reaproveitamento de produtos de

pós-consumo é através do desmanche, onde diversos materiais

podem ser obtidos através da desmontagem desses bens, para depois

serem reaproveitados e retornar ao ciclo produtivo. Segundo Leite

(2009, p. 9), desmanche pode ser definido como: um sistema de

revalorização de um produto durável de pós-consumo que, após sua

coleta, sofre um processo industrial de desmontagem no qual seus

componentes em condições de uso ou de re-manufatura são

separados de partes ou materiais para os quais não existem condições

de revalorização, mas que ainda são passíveis de reciclagem

industrial. Os primeiros são enviados, diretamente ou após

remanufatura, ao mercado de peças usadas, enquanto que os

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 88

materiais inservíveis são destinados a aterros sanitários ou são

incinerados.

O processo de desmanche é típico de bens de pós-consumo

duráveis, geralmente veículos e máquinas de diversos tipos. Esta é

uma atividade rentável cuja exploração é feita, principalmente por

pequenos comerciantes.

Os canais de distribuição reversos são responsáveis pelo

retorno de bens de pós-consumo ao ciclo produtivo, impedindo assim

que haja acúmulos de materiais descartados em ambientes urbanos.

De acordo com Leite (2009), produtos ou materiais de pós-consumo

podem ocasionar grandes quantidades acumuladas, resultando em

problemas ambientais, se não retornarem ao ciclo produtivo.

Na legislação brasileira a logística reversa também tem uma

definição semelhante às demais acrescentando apenas alguns termos.

Na Lei 12.305 (2010), em seu artigo terceiro, inciso XII, a logística

reversa é definida como:

Instrumento de desenvolvimento econômico e social caracterizado por um conjunto de ações, procedimentos e meios destinados a viabilizar a coleta e a restituição dos resíduos sólidos ao setor empresarial, para reaproveitamento, em seu ciclo ou em outros ciclos produtivos, ou outra destinação final ambientalmente adequada (BRASIL, 2010).

Do exposto até aqui, pode-se concluir que bens de pós-

consumo são aqueles cuja vida útil chegou ao seu final, produtos que

já foram usados, mas que ainda reúnem características que os tornam

reutilizáveis e os resíduos industriais em geral.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 89

Na figura número 1, pode-se observar o fluxo dos produtos

nos canais de distribuição diretos, desde as matérias-primas até o

mercado primário dos produtos. Segundo Leite (2009, p. 7) “Esse

fluxo direto pode se processar por meio de diversas possibilidades

conhecidas como etapas atacadistas ou distribuidores, chegando ao

varejo e ao consumidor final”. Nela observam-se também os canais

reversos.

Figura 1: Canais de distribuição diretos e reversos. Fonte: Leite (2009).

2.4 Logística reversa como diferencial competitivo

Com os movimentos ambientalistas que surgiram nas últimas

décadas e a preocupação, cada vez maior, com o aquecimento global,

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levam consumidores a refletir sobre quais os tipos de produtos que

devem comprar. Neste contexto, os produtos reciclados e

reaproveitados que as empresas comercializam podem demonstrar o

seu nível de preocupação com o meio ambiente tornando-se um

diferencial para os consumidores. Os riscos à imagem corporativa e à

reputação da organização crescem proporcionalmente, pela má

utilização dos produtos e embalagens após o uso, de garantia de

destinação correta dos produtos com validade, de garantia de

reaproveitamento adequado e certificados (LEITE, 2009).

Ainda de acordo com Leite (2009, p. 32), “na perspectiva do

fabricante, os ganhos competitivos poderão provir de produtos de

pós-venda e de pós-consumo, desde que possam ser encontrados

meios de reintegração ao ciclo de negócios ou ao ciclo produtivo”.

Tal afirmação indica que se um produto puder ser revendido ou re-

manufaturado, então ele terá um custo menor, pois não será usada

nenhuma ou quase nenhuma matéria-prima para sua produção e,

portanto, poderá ser comercializado por um preço menor o que

poderá significar maior competitividade para a organização.

Na figura 2 pode-se observar como a logística reversa pode

transformar-se em diferencial competitivo, tanto quando praticada na

pós-venda quanto no pós-consumo.

A existência de um sistema logístico reverso bem gerenciado

é muitas vezes essencial na decisão de compra de produtos ou

serviços, dependendo da especificidade destes. Um bom exemplo

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 91

disso são as empresas que vendem por catálogos e garantem a

devolução do dinheiro, se a satisfação do cliente não for atendida.

Figura 2: Logística reversa agregando valor. Fonte: Leite (2009)

Assim, a logística reversa pode gerar vantagem competitiva

através da elevação do nível de serviço oferecido ao cliente pelo

marketing de relacionamento após a venda. Ela estabelece uma rede

confiável de retorno de produtos através de uma estrutura de

atendimento ao cliente que necessita do canal reverso para solução

de um problema com um produto por algum motivo.

2.5 Logística reversa de pneus

Como foi descrito anteriormente, a logística reversa é

atualmente uma importante área da logística empresarial e agrega

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valores ao produto, alavancado tanto pela economia de matérias-

primas como pela percepção do consumidor em relação às políticas

adotadas pelas empresas no contexto ambiental.

O crescimento econômico, o desenvolvimento industrial e o

aumento do consumo têm como resultado o crescimento na geração

de resíduos de diversas naturezas e de diferentes características.

Neste contexto, a gestão da logística deve viabilizar o

reaproveitamento e a reciclagem a fim de reintroduzir parte desses

resíduos no ciclo produtivo.

Ao atingir o fim de sua vida útil, o pneu passa a ser um

resíduo inerte e seu descarte deve ser feito de forma correta, pois ele

constitui fonte de preocupação ambiental devido à elevada

quantidade descartada nos últimos anos e ao longo do período

necessário para sua decomposição (ainda inserto, sabe-se apenas que

é superior a 100 anos) (BARTHOLOMEU; CAIXETA-FILHO,

2011).

Percebe-se que no setor pneumático, a logística reversa tem

uma importância ainda maior por tratar-se de um produto que leva

muito mais tempo para ser absorvido pelo meio ambiente. Tal

peculiaridade foi observada pela Lei 12.305 (2010) que institui a

Política Nacional de Resíduos Sólidos, na qual fica claro a

obrigatoriedade de implementação de logística reversa de pneus e o

classifica como resíduo perigoso. No art. 33, citado por Bartholomeu

e Caixeta-Filho (2011, p.69, sem grifo no original) resumido da

seguinte maneira:

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 93

[...] Ficam obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa, mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor, de forma independente do serviço público de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos, os fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes de resíduos e embalagens de agrotóxicos; pilhas e bateria; pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz misto; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes.

2.5.1 Um pouco da história do pneu

Segundo informações disponíveis no site da Associação

Nacional da Indústria de Pneumáticos (ANIP), o pneu, um dos

principais componentes dos veículos, passou por várias etapas de

evolução desde sua origem, no século XIX, até chegar à tecnologia

conhecida atualmente. A invenção do pneu ocorreu há mais de um

século e possui fatos curiosos que até causaram a falência de alguns

empresários. A borracha, por exemplo, não passava de uma goma

“grudenta” utilizada para impermeabilizar tecidos e apresentava sério

risco de se dissolver quando exposta a temperaturas elevadas.

Com o objetivo de resolver esse problema, o americano

Charles Goodyear iniciou uma série de experimentos, por volta de

1830, que culminaram com a confirmação acidental, de que a

borracha cozida a altas temperaturas, com enxofre, mantinha suas

condições de elasticidade no frio ou no calor. Tal descoberta resultou

no processo de vulcanização da borracha que, além de dar forma ao

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 94

pneu, aumentou a segurança nas freadas e diminuiu as trepidações

nos carros.

Alguns anos mais tarde, em 1845, os irmãos Michelin foram

os primeiros a patentear o pneu para automóvel. As etapas iniciais de

desenvolvimento dos pneus ainda passaram pelo feito do inglês

Robert Thompson que, em 1847, colocou uma câmara cheia de ar

dentro dos pneus de borracha maciça. A partir de 1888, com a

utilização do pneu em larga escala, as fábricas passaram a investir

mais em sua segurança.

De acordo com a revista Quatro Rodas (2011), antes do feito

de Thompson, as rodas eram feitas de madeira ou ferro, revestidas de

borracha, mas mesmo assim eram muito duras e foi apenas depois de

alguns anos que Thompson criou a câmara de ar, mas por falta de

matéria-prima desistiu da ideia e voltou a cobrir os aros com

borracha.

Cronologia da evolução dos pneus:

• Em 1844, Charles Goodyear inventou a borracha

vulcanizada, posteriormente utilizada para criar o pneu;

• Em 1888, John Dunlop inventou o pneumático, porém,

foram para suas bicicletas;

• Em 1895, André Michelin foi a primeira pessoa a usar pneus

em um automóvel, porém, não teve êxitos;

• Em 1911, Philip Strauss inventou o primeiro pneu, com

sucesso. Foi uma combinação de um pneu e um tubo no

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 95

interior, cheio de ar. A empresa de Strauss Hardman Tire &

Rubber Company comercializou os pneus;

• Em 1903, P.W. Litchfield da Goodyear Tire Company

patenteou o primeiro pneu tubeless, no entanto, nunca foi

explorado comercialmente até 1954;

• Em 1904, foram introduzidas rodas removíveis que permitiu

aos motoristas, arrumar seus próprios pneus;

• Em 1908, Frank Seiberling inventou pneus com ranhuras

para melhor tração na pista;

• Em 1910, BF Goodrich Company inventou pneus com vida

mais longa através da adição de carbono à borracha;

• Em 1937, Goodrich também inventou o primeiro pneu de

borracha sintética feita de uma substância chamada

Chemigum, segundo informações disponíveis no site

(<http://www.pneusfacil.com.br>, 2011).

A figura número 3 mostra o momento em que um operário

faz a montagem de uma roda de um veículo automotor com uma

técnica bastante rudimentar. Nota-se que esta roda não oferecia tanto

conforto ao usuário desses veículos, pois apenas a capa era de

borracha.

Ainda segundo a revista Quatro Rodas (2009), foi em 1988

que o escocês John Boyd Dunlop adaptou pneus no triciclo do seu

filho (um tubo cheio de ar atado ao aro por fitas), e fez tanto sucesso

que fundou a primeira fábrica de pneus do mundo. Os pneus ainda

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 96

eram muito frágeis e por isso foram usados inicialmente em

bicicletas por não suportar muito peso.

Figura 3: Operário cobre roda com borracha. Fonte: Quatro Rodas (2009).

Foram muitas as etapas de evolução dos pneus, mas mesmo

assim ele é o componente do setor automobilístico que evolui mais

rapidamente desde a sua invenção. Outro fato importante nessa

evolução está relacionado à cor do pneu que inicialmente era branca

(cor natural da borracha), mas era frágil e foi 1908 que a BF

Goodrich adicionou fuligem (negro-de-carbono, derivado de

petróleo) à borracha, criando um material mais resistente e durável.

No entanto, os pneus com lonas de algodão continuavam a ser frágeis

e a esquentar muito, o que levava a estouros. A fuligem criou

também uma moda, pois devido ao alto custo passou a ser usada

somente na banda de rodagem. Por isso, apenas os pneus mais caros

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 97

eram totalmente pretos, o que significava status até a década de 30.

Logo depois o pneu faixa branca conquistou a preferência dos

consumidores e passou a equipar os carros mais sofisticados até os

anos 70.

O surgimento dos pneus de borracha fez com que fossem

substituídas as rodas de madeira e ferro, usadas desde os primórdios

da História. Esse grande avanço foi possível graças ao norte-

americano Charles Goodyear quando inventou o pneu ao descobrir, o

processo de vulcanização da borracha que trouxe significativas

mudanças para o setor automobilístico em todo o mundo.

Entre as suas potencialidades industriais, além de ser mais

resistente e durável, a borracha absorve melhor o impacto das rodas

com o solo, o que tornou o transporte muito mais prático e

confortável. No entanto, juntamente com essas mudanças no setor

dos transportes, a utilização dos pneus de borracha trouxe consigo

preocupações relacionadas ao impacto que esse produto iria causar

no meio ambiente, depois de alguns anos.

Esta preocupação justifica-se atualmente porque a maior

parte dos pneus usados é descartada em locais inadequados,

causando grandes transtornos para a saúde e a qualidade de vida dos

seres humanos. Eles servem, por exemplo, de depósitos de água

possibilitando o surgimento de larvas de mosquito transmissor da

Dengue que já causou muitas mortes em todo o Brasil.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 98

Além disso, os pneus levam mais de 100 anos para se

decompor na natureza, segundo afirmação de Bartholomeu e

Caixeta-Filho (2011).

De acordo com organizações internacionais, estima-se que a

produção de pneus novos chega a cerca de dois milhões diários em

todo o mundo. Ao passo que o descarte de pneus inservíveis chega a

atingir, anualmente, quase 800 milhões de unidades.

A ANIP afirma que a produção brasileira de pneus iniciou

em 1934, quando foi implantado o Plano Geral de Viação Nacional.

No entanto, esse plano só se concretizou em 1936 quando foi

instalada a Companhia Brasileira de Artefatos de Borracha,

opularmente conhecida como Pneus Brasil, no Rio de Janeiro, que

em seu primeiro ano de funcionamento fabricou mais de 29 mil

pneus.

Entre 1938 e 1941, outras grandes fabricantes do mundo

passaram a produzir seus pneus no País, elevando a produção

nacional para 441 mil unidades. No final dos anos 1980, o Brasil já

tinha produzido mais de 29 milhões de pneus. Desde então, o Brasil

conta com a instalação de 15 fábricas de pneus, das quais cinco

internacionais: Bridgestone, Continental, Goodyear, Michelin e

Pirelli.

Atualmente, de acordo com o portal Ambiente Brasil,

estima-se que são produzidos cerca de 40 milhões de pneus por ano e

quase metade dessa produção é descartada nesse período

(<www.ambientes.ambientebrasil.com.br>, 2010).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 99

3 METODOLOGIA

3.1 Método

Segundo Creswell (2007), um projeto de levantamento dá

uma descrição quantitativa ou numérica de tendências, atitudes ou

opiniões de uma população ao estudar uma amostra dela e a partir

dos resultados obtidos na amostragem, o pesquisador faz suas

alegações acerca da população. Tal afirmação é corroborada por

Roesch (1999) que afirma que quando a pesquisa é descritiva e as

técnicas de coleta são entrevistas e questionários, na qual as análises

são por meio de métodos estatísticos, tem-se um método

quantitativo.

Com base nestas informações, pode-se afirmar que nesta

pesquisa foi usado o método quantitativo, com dez perguntas

fechadas inerentes ao setor pneumático e suas características.

De acordo com Gil (2009), o tipo de pesquisa realizada pode

ser definida como uma pesquisa descritiva, pois nela busca-se

descrever os aspectos de empresas que foram selecionadas para

compor uma amostra para análise de aspectos relacionados ao

gerenciamento dos seus canais de distribuição reversos.

Considerando os meios de investigação utilizados nesta pesquisa

pode-se classificá-la como sendo de campo, pois os procedimentos

utilizados coincidem com a definição de Gil (2009, p.53) na qual ele

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 100

afirma que: “Tipicamente, o estudo de campo focaliza uma

comunidade, que não é necessariamente geográfica, já que pode ser

uma comunidade de trabalho, de estudo, de lazer ou voltada para

qualquer outra atividade humana”. Ainda no entender do mesmo

autor a pesquisa de campo é feita por meio de entrevistas com

membros do grupo estudado, os quais dão informações sobre o que

ocorre em tal grupo e pela observação direta das atividades por ele

realizadas.

3.2 Universo / Amostra

Com a perspectiva de chegar-se a resultados que

representasse a realidade vivenciada no setor pneumático do DF, a

pesquisa foi realizada no período de março a junho de 2011, cuja

amostra foi composta por 40 empresas escolhidas aleatoriamente,

dentro do segmento de comércio e reparação de veículos

automotores e motocicletas. O total de empresas, cadastradas até o

final de 2009 neste segmento, é de 36.133 segundo estimativa do

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2011). Como

as 40 empresas pesquisadas fazem parte deste universo, a amostra foi

formada por meio do cálculo estatístico descrito abaixo, seguindo a

mesma linha de raciocínio de Boff (2003), que aponta os seguintes

parâmetros estatísticos para o cálculo do tamanho da amostra:

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 101

• Grau de confiança de 95,5%

• Margem de erro de, mais ou menos, 10%

Tais parâmetros possibilitaram que se chegasse a uma

amostra de 40 entrevistas com profissionais que trabalham em

importadoras de pneus, centros automotivos, borracharias e lojas do

ramo utilizando a seguinte fórmula:

n = N . p . q . z²

(N-1) . e² + p . q . z²

Na qual:

n = tamanho da amostra

N = tamanho da população

p = probabilidade de sucesso da hipótese

q = probabilidade de fracasso da hipótese

z = variável representativa da normal padronizada

e = margem de erro considerada no cálculo

Ainda de acordo com Boff (2003), quando não há o

conhecimento total de uma estimativa para p, utiliza-se p= 0,50 e q

=0,50, o que maximiza o tamanho da amostra, tornando-a mais

segura. Com a aplicação desta fórmula, chegou-se a seguinte

amostra:

n = 36.133 x 0,50 x 0,50 x 2,00² = 33,13

(36.132) x 0,05² + 0,50 x 0,50 x 2,00²

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 102

A amostra foi formada por 40 empresas do setor pneumático

que atuam em quatro regiões do Distrito Federal, havendo assim um

acréscimo de 21% em seu tamanho, para aumentar o grau de

confiança.

A fórmula usada no cálculo facilitou a formação da amostra

e proporcionou maior confiabilidade nos resultados obtidos na

pesquisa.

3.3 Coleta de dados

Na ocasião foi apresentado ao respondente um questionário

com perguntas fechadas com duas, três e quatro opções de escolha,

relacionadas às dificuldades enfrentadas pelo setor, quanto à

destinação dos pneus usados, cujas respostas foram usadas para

formação de tabela estatística.

A realização dessa pesquisa de campo foi necessária para

fazer uma avaliação do nível de preocupação dos empresários, dos

funcionários do setor e dos clientes quanto ao descarte, recolhimento

e reciclagem de pneus. Essa pesquisa foi feita in loco, para que se

possa ter a real noção das condições físicas das empresas

eventualmente escolhidas. A coleta de dados se deu em diferentes

ocasiões e em reunião em diferentes locais proporcionando maior

variedade possível de respostas e tornar o estudo mais confiável.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 103

O questionário teve natureza impessoal para assegurar

uniformidade na avaliação de uma situação para outra, como

propõem Cervo e Bervian (2002, p.48) que afirmam ainda que o

questionário “possui a vantagem de os respondentes se sentirem mais

confiantes, dado o anonimato, o que possibilita coletar informações e

respostas mais reais”.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

Logo no início da pesquisa, percebeu-se que o conceito de

logística reversa no setor pneumático é ainda desconhecido pela

maioria das pessoas entrevistadas. Entretanto, quando é explicado ao

entrevistado, que a logística reversa é a área da logística empresarial

responsável pelo retorno de bens ao ciclo de negócios ou de

produção, eles rapidamente compreendem o significado e alegam

que já a praticam.

Esse é um fator que confirma a necessidade deste estudo,

pois a falta de informação sobre o assunto é até maior do que se

imaginava antes do início da pesquisa. Observou-se ainda que, há

indícios de má formação profissional, considerando-se que mesmo

nos casos em que o entrevistado é o gerente da empresa, apenas 5 %

dos entrevistados responderam que já ouviram falar de logística

reversa.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 104

Os dados colhidos preocupam não só pela formação

profissional, mas pela falta de conhecimento das normas sócio-

ambientais, tendo em vista que a logística reversa exerce um papel

fundamental para a preservação do meio ambiente. Através da Lei

12.305 (2010), citada por Bartholomeu e Caixeta-Filho (2011), os

empresários em diferentes níveis do setor pneumático ficam

obrigados a estruturar e implementar sistemas de logística reversa,

mediante retorno dos produtos após o uso pelo consumidor,

independente do serviço de limpeza urbana e de manejo de resíduos

sólidos.

Os resultados mostram que as empresas consideram o

incentivo ao recolhimento de pneus usados algo que pode ser mal

interpretado pelos clientes. Tal receio deve-se ao fato de que, quando

o cliente compra pneus novos para o seu veículo, geralmente ele

supervaloriza seus pneus usados e questiona a intenção do vendedor

quanto à destinação dos usados. Isto porque os pneus substituídos,

quase sempre não estão totalmente inservíveis, despertando no

consumidor a desconfiança de que a empresa terá algum tipo de

lucro extra com o produto usado.

Neste caso, fazer com que os clientes deixem os pneus

inservíveis poderia gerar um custo muito alto para a empresa.

Embora Bowerssox e Gloss (2010) afirmem que o ciclo de vida de

um produto inclui os custos de todo o gerenciamento do seu fluxo

reverso, este é um fator inibidor de campanhas para coleta de pneus

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 105

usados, pois as indústrias não prevêem tais custos para o setor de

varejo.

A pesquisa revelou que quase todas as empresas possuem um

local para armazenarem os pneus usados, porém observou-se que os

espaços são provisórios e não podem ser considerados, canais de

distribuição reversa (CDR’s), pois ocupam um pequeno espaço em

um canto da loja. No entanto, todas elas afirmam que a destinação

final do produto é feita por empresas terceirizadas com as quais

firmam contratos, que nem sempre são formalizados por escrito.

Neste contexto, a preocupação passa a ser com a eficiência

desses processos reversos, tendo em vista que a falta de registro

desses contratos, atenua a responsabilidade do contratado para o

cumprimento de suas obrigações. Mesmo assim, os entrevistados

afirmam que os contratados são motivados pelos lucros que obtêm,

pois os pneus usados são praticamente doados à esses integrantes da

cadeia reversa.

Em alguns casos, o recolhimento é feito pelo serviço de

limpeza urbana ou por caminhões das Administrações Regionais.

Entretanto, isto configura um descumprimento da Lei 12.305 (2010),

que atribui aos fabricantes do setor pneumático, a responsabilidade

do recolhimento e destinação correta desses resíduos, como já

mencionado anteriormente. Mesmo assim, o recolhimento dos pneus,

feito pelo SLU ou pelas AR’s, é visto pelos entrevistados, como uma

obrigação do governo para prevenir as consequências da falta de

limpeza das cidades.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 106

Quando esclarecidos sobre os principais conceitos de

logística reversa, alguns respondentes conseguem vislumbrar

vantagens competitivas que podem ser alcançadas com a implantação

desse tipo de logística. No entanto, a maioria ainda acredita que a

logística reversa não contribui para criar diferencial competitivo.

Nesse caso, a falta de conhecimento das teorias relacionadas à

logística reversa pode ser a causa dessa inversão de valores e

impedem que administradores do setor pneumático implementem

ações que culminem em ganhos de competitividade. Para se

compreender melhor tal inversão recorre-se a afirmação de Lacerda

(2003), na qual o autor diz que os clientes valorizam empresas que

possuem políticas de retorno de produtos, pois isso lhes garante o

direito de devolução ou troca de produtos.

Ressalta-se que embora esta pesquisa tenha sido feita com

gerentes e proprietários, nota-se que os funcionários têm o

conhecimento empírico de que o descarte desses pneus no meio

ambiente é criticado pela sociedade e reprimido pelos órgãos de

fiscalização ambiental, o que desgasta a imagem da empresa.

Por outro lado, a pesquisa revelou que a preocupação da

sociedade com as questões ambientais ainda é pequena e que os

clientes do setor pneumático não demonstram tanta preocupação

dentro de uma perspectiva ecológica. Tal conclusão deve-se ao fato

de que grande parte dos entrevistados afirmou, com bastante

convicção, que a maioria dos clientes quer levar o pneu inservível

para casa com a intenção de auferir algum tipo de lucro ou

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 107

reaproveitá-lo de alguma maneira. No entanto, esses pneus acabam

sendo abandonados em lugares inadequados, como nos quintais de

suas casas, onde se transformam em verdadeiros criadouros de

insetos e transmissores de doenças como a dengue, afirmam os

entrevistados. Essa atitude dos clientes demonstra a necessidade de

campanhas que promovam maior conscientização da sociedade sobre

a importância de tratar este resíduo de forma diferenciada.

O transporte foi apontado como o fator que mais dificulta o

descarte de pneus. Neste caso, considerou-se apenas o descarte de

pneus inservíveis e cujo ciclo de vida útil tenha chegado ao fim. Tal

resultado reflete a falta de implantação de canais de distribuição

reversos apropriados. Sobretudo porque todas as empresas

pesquisadas dependem de canais externos, pois os pneus inservíveis

só são armazenados por elas durante um curto período e em

pequenas quantidades o que as tornam dependentes de terceiros para

o transporte a destinação correta destes produtos.

Outro dado preocupante é a falta de incentivos do governo,

tanto federal como distrital, à prática da logística reversa no setor

pneumático, pois apenas dois, de quarenta entrevistados afirmam

recebê-los. Vale ressaltar que os dois respondentes que afirmam

receber incentivos, referem-se à coleta sistemática dos pneus pelos

caminhões da administração da cidade onde estão localizadas as

respectivas empresas.

O resultado demonstra que a posição do governo é de

reservar-se no direito de apenas fiscalizar o cumprimento da Lei

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 108

12.305 (2010), que o isenta da responsabilidade de implantação da

prática da logística reversa de resíduos sólidos. No entanto, as

empresas afirmam que uma maior participação do governo no setor,

criando incentivos que visem aumentar a coleta de pneus inservíveis,

daria bons resultados. Segundo alguns entrevistados, existem várias

maneiras do governo incentivá-los, como exemplo, o desconto no

valor de impostos, proporcional à quantidade de pneus recolhidos;

consideram que tais incentivos aumentariam significativamente o

número de pneus recolhidos, bem como sua destinação correta e

reduziria a presença desse resíduo no meio ambiente.

Quanto ao tipo de incentivo considerado vantajoso pelas

empresas, foi feita uma simulação de escolha entre condecoração;

privilégios em licitações; e redução de tributos, cujo resultado

mostrou que as empresas não querem apenas um título que reconheça

as suas boas ações e nem mesmo consideram como vantagem os

privilégios em licitações. Sendo assim, ficou evidenciado que

maioria nem hesitaria em optar pela redução e descontos em tributos.

Vale ressaltar que qualquer tipo de imposto ou contribuição é tido

como tributos. Além disso, alguns respondentes duvidam que o

governo possa dar descontos, mas afirmam que este incentivo

poderia acabar com o descarte inadequado de pneus inservíveis, e

ainda resultaria na redução de gastos em várias áreas da

administração pública. Com este resultado a preocupação das

empresas com a redução de carga tributária, e qualquer ação do

governo que tenha como resultado esta redução.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 109

A pesquisa aponta ainda, a ausência de agentes do governo

para dar orientações, aos empresários e seus colaboradores, sobre os

impactos que este resíduo inerte pode causar ao meio ambiente. Não

cabe aqui, fazer crítica ao governo, pois este não é o objetivo deste

trabalho, porém é necessário lembrar que o Estado deve cuidar para

que as leis sejam cumpridas. Além disso, as empresas que operam

dentro da legalidade e de forma transparente não se importam com a

presença de agentes fiscalizadores que podem atestar a sua

capacidade de ser competitiva com responsabilidade social.

Vale ainda ressaltar que a ausência a que se refere este

estudo é apenas da fiscalização, pois o governo está presente através

dos serviços de coleta e armazenamento dos pneus nas unidades de

tratamento do Serviço de Limpeza Urbana (SLU), como já

mencionado anteriormente. Portanto não há omissão do governo

quanto à prestação do serviço de limpeza urbana e de ações

preventivas relacionadas ao acúmulo de resíduos em locais

inadequados.

5 CONCLUSÃO

Foram detectados alguns fatores que dificultam a

implantação efetiva da logística reversa neste setor, a começar pela

falta de conhecimento dos entrevistados, dos conceitos logísticos

reversos e seu potencial de agregar valores aos produtos e serviços

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 110

que podem se transformar em diferencial competitivo melhorando a

imagem da empresa. Este fator contribui para que as empresas não

realizem campanhas para a coleta de pneus inservíveis, como foi

verificado por meio da pesquisa.

Os locais de armazenamento que as empresas afirmam ter

são, na verdade, os depósitos do SLU. Diante disso, entende-se que

tais empresas são dependentes deste serviço público para

recolhimento dos pneus usados, cujo cronograma nem sempre

coincide com a sua demanda, ocorrendo muitas vezes, o acúmulo

excessivo do produto inservível em suas lojas. Notou-se que a

afirmação de que a maioria de seus funcionários se preocupa com o

descarte correto dos pneus usados é uma tentativa de preservar a

imagem da empresa e evitar pressões externas.

A falta de preocupação dos clientes em relação à destinação

correta dos pneus inservíveis surge como um fator determinante na

implementação da logística reversa no setor pneumático, pois as

atitudes descritas anteriormente impedem o recolhimento de todos os

pneus substituídos e essa parte restante acaba sendo lançada ao meio

ambiente. Isto ocorre pela falta de incentivos alegada pelos

entrevistados que acreditam ter condições de reverter esta

dificuldade, caso recebam incentivos fiscais do governo. Além disso,

a falta de monitoramento por parte do governo é vista como descuido

pelos que se preocupam com o meio ambiente.

As ações implementadas pelas cinco maiores indústrias de

pneus são louváveis, pois se tratam de estratégias que estruturam a

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 111

cadeia de coleta e destinação de pneus inservíveis envolvendo a

sociedade e o poder público em todo o país.

Por meio deste estudo foi possível constatar que no Distrito

Federal, não há complexidade na estratégia usada para romper as

dificuldades enfrentadas pelo setor pneumático em relação à logística

reversa, pois as empresas simplesmente seguem a estratégia das

indústrias, mencionadas no parágrafo anterior. Tais ações, que

consistem na coleta dos pneus inservíveis por meio do Serviço de

Limpeza Urbana, são facilitadoras para as empresa do DF.

É importante ressaltar que apesar de ter sido observado que

as indústrias promovem a coleta dos pneus inservíveis, a ação delas

torna-se mais evidente no transporte do produto recolhido, a partir

das unidades do SLU. Portanto, os empresários do DF precisam

tomar conhecimento e refletir sobre a importância da logística

reversa no setor pneumático, como responsabilidade social.

As informações que foram obtidas nesta pesquisa mostram

que existe preocupação com a preservação do meio ambiente, porém

ela é impulsionada muito mais pela pressão das leis do que pela

consciência ambiental. Tal constatação é preocupante, pois se abre o

pressuposto de que novas perspectivas só serão criadas se houver a

aprovação de novas leis que regulem a cadeia reversa.

Com as informações reunidas neste estudo, conclui-se que os

conceitos de logística reversa ainda são pouco conhecidos entre os

gerentes e proprietários de lojas que revendem pneus, fator que gera

dificuldade em sua plena implantação.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 112

Neste contexto, é recomendável que sejam apresentados a

estes profissionais os conceitos mencionados para criar uma nova

perspectiva para o setor, pelo menos no nível comercial. Conhecendo

melhor a logística reversa, estes profissionais poderiam usá-la como

forma de agregar valores aos produtos e serviços, transformando este

processo em um diferencial competitivo da empresa.

As indústrias podem assumir a responsabilidade de

conscientizar a sociedade dos impactos que os pneus inservíveis

causam ao meio ambiente, por meio de campanhas publicitárias que

estimulem os consumidores a deixarem o produto usado nas lojas e

centros automotivos, no momento da sua substituição por novos. Por

outro lado, o governo pode oferecer incentivos fiscais às empresas,

proporcional a quantidade de pneus coletados, como forma de

aumentar as campanhas para tal coleta e fazer parcerias com o

objetivo de orientá-las e monitorá-las. Com isso, haveria a

diminuição deste resíduo inerte descartado de maneira irregular no

meio ambiente. Com estas ações, também é possível diminuir os

gastos públicos com a limpeza do meio ambiente, com doenças e

com reconstrução de áreas devastadas por enchentes resultantes de

descartes inadequados.

Por fim, diante dos resultados, infere-se que as dificuldades

encontradas no setor pneumático podem ser superadas com poucas

ações dos empresários, do governo e da sociedade. Além disso,

percebe-se que algumas medidas, tomadas pelas indústrias, já

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 113

minimizam bastante os impactos no meio ambiente, as quais

representam um grande avanço em direção ao equilíbrio ambiental.

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do fluxo de produtos e dos recursos. Centro de Estudos em Logística. COPPEAD, UFRJ. São Paulo: Atlas, 2003. LEITE, Paulo Roberto. Logística reversa: meio ambiente e competitividade. São Paulo: Prentice Hall, 2009. MARTINS, Petrônio G.; ALT, Renato C. Administração de materiais e recursos patrimoniais. São Paulo: Saraiva, 2009. NOVAES, Antonio G. Logística e gerenciamento da cadeia de distribuição. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007. ROESCH, Silvya M.A. Projetos de Estágio e de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 1999. TRIGUEIRO, Felipe G. R. Logística reversa: a gestão do ciclo de vida do produto. Disponível em <http://www.guialog.com.br/ARTIGO439.htm>. Acesso em: 7 set. 2010. <http://ambientes.ambientebrasil.com.br/residuos/reciclagem/reciclagem_de_pneus.html/>. Acesso em: 20 nov. 2010. <http://quatrorodas.abril.com.br/autoservico/reportagens/historia-pneu-476615.shtml>. Acesso em: 20 fev. 2011. <http://www.anip.com.br/?cont=anip>. Acesso em: 25 fev.2011. <http://www.pneusfacil.com.br/historia_fatos_pneus.php>. Acesso em: 23 mar. 2011. <http://www.reciclanip.com.br>. Acesso em: 5 maio 2011. <http://www.ibge.gov.br/estadosat/perfil.php?sigla=df>. Acesso em: 12 jun. 2011.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 115

O ESTADO DE BEM-ESTAR SOCIAL FRENTE AO COMPORTAMENTO DA ECONOMIA EUROPEIA NO

PERÍODO DE 2000 A 2010

Carlos Alberto Francisco de Sousa; Danilo da Costa e Silva; Tiago Trindade1

Luiz Batista Alves2 Resumo: A Europa usufruiu durante várias décadas de uma economia sólida, com taxas de inflação, desemprego controlado e crescimento econômico constante. Tal período ficou conhecido como bem-estar social, entretanto tal fase parece ter chegado ao final. Contudo este artigo objetivou de maneira geral verificar o estado de bem estar social nos dez maiores países da zona do euro em termos de PIB, inflação e nível de desemprego no período de 2000 a 2010. A metodologia utilizada foi a pesquisa de revisão bibliográfica em livros, revistas cientificas, teses e dissertações, que contenha informações e dados relevantes ao assunto. A análise dos dados foi feita utilizando números-índices. Conclui-se que o estado de bem-estar europeu acabou, fato que fica evidente ao constatar que na maioria dos países as taxas de inflação e desemprego aumentaram e o crescimento econômico sofreu reduções significativas. Palavras-Chaves: Crescimento Econômico. Bem-Estar social. Europa. Números Indices. 1 Acadêmico do 4º ano de Ciências Econômicas da Universidade Estadual de Goiás (UEG-UnUCSEH). 2 Professor e Pesquisador (UEG-UnUCSEH).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 116

1 INTRODUÇÃO

Em 2008 o mundo foi afetado pela crise econômica mundial,

vários países entraram em recessão, outros tiveram demissões em

massa, além da falência de grandes corporações. Neste contexto, os

países desenvolvidos apareceram no núcleo do problema sendo os

mais afetados e as economias em desenvolvimento não tiveram

grandes impactos, principalmente se comparados aos países

desenvolvidos.

Assim tanto a Europa como os Estados Unidos foram

fortemente afetados pela crise, que causou pânico em toda a zona do

euro. Tais países passaram a viver situações que nunca antes haviam

passado, com as altas taxas inflacionárias, crescimento negativo,

desemprego em massa e enormes dívidas principalmente no caso

grego. Tal situação levou a uma constante onda de revoltas por toda

a Europa, a população antes acostumada com o estado de bem-estar

econômico e social agora passa por constantes dificuldades

financeiras.

Contudo é importante analisar a economia europeia para

verificar quais foram os impactos da crise na sua economia. Assim

este artigo objetivou de maneira geral verificar o estado de bem estar

social nos dez maiores países da zona do euro em termos de PIB,

inflação e nível de desemprego no período de 2000 a 2010. E

especificamente analisar a teoria do crescimento e desenvolvimento

econômico.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 117

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na análise econômica é necessária uma diferenciação quanto

a relação crescimento e desenvolvimento econômico, o crescimento

abrange uma dimensão quantitativa, enquanto o desenvolvimento

econômico se refere a avanços qualitativos. O crescimento

econômico possibilita a produção de mais bens, já o

desenvolvimento implica no aperfeiçoamento na qualidade de vida,

nas qualidades dos bens disponíveis ou em como a produção se

organiza (BYRNSJR, 1995).

O estudo do desenvolvimento econômico e social partiu da

constatação da profunda desigualdade, de um lado, entre os países

que se industrializaram e atingiram elevados níveis de bem estar

material, compartilhados por amplas camadas da população, e de

outro, aqueles que não se industrializaram e permaneceram em

situação de pobreza e com acentuados desníveis sociais. Durante o

século XIX, a industrialização de muitos países da Europa e América

do Norte reduziu os demais países na condição de colônias políticas

e/ou econômicas destes primeiros (PRZEWORSKI, 1993).

A partir da Segunda Guerra Mundial, a busca ao

desenvolvimento foi quase sempre precedida por profundas

mudanças políticas, especialmente a conquista da independência

política e a formação de governos que colocavam o desenvolvimento

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 118

nacional como principal objetivo, fortalecendo ainda mais o aspecto

nacionalista de sua população dando papel fundamental a esta

característica no processo de progresso social, a partir daí firma-se a

ideia de “desenvolvimento”, um processo de transformação estrutural

com o objetivo de superar o atraso histórico em que se encontravam

esses países e alcançar, no mais curto prazo possível, o nível de bem-

estar dos países considerados “desenvolvidos” (BATISTA JÚNIOR,

2007).

Como verificado por Furtado (1969), o desenvolvimento de

todo e qualquer país depende de suas características próprias,

situação geográfica, passado histórico, extensão territorial,

população, recursos naturais e principalmente sua cultura. No

entanto, as mudanças que caracterizam o desenvolvimento

econômico estão fortemente relacionadas no aumento da atividade

industrial em comparação com a atividade agrícola, migração da

mão-de-obra do campo para as cidades, redução das importações de

produtos industrializados e das exportações de produtos primários e

menor dependência de auxilio externo.

A Organização das Nações Unidas usa os seguintes

indicadores para classificar os países segundo o grau de

desenvolvimento: índice de mortalidade infantil, expectativa de vida

média, grau de dependência econômica externa, nível de

industrialização, potencial científico e tecnológico, grau de

alfabetização, instrução e condições sanitárias. (Disponível em:

<http://www.carlosescossia.com/2009/09/o-que-e-crescimento-e-

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 119

desenvolvimento.html>). Entre os muitos obstáculos ao

desenvolvimento pode-se destacar os seguintes, disponíveis em

(http://revista.ibict.br/ciinf/index.php/ciinf/article/viewFile/452/411):

• Dificuldade de toda a população integrar-se na economia

nacional.

• Isolamento social, cultural ou econômica, representado por

barreiras linguísticas e religiosas entre diferentes setores da

população e por subsistemas econômicos alienados do

conjunto da economia nacional.

• Dificuldade de encaminhamento do excedente potencial da

economia para os setores prioritários de cujo crescimento

depende todo o processo.

• Desperdício de recursos (sob a forma de exportação de

capitais, consumo supérfluo, gastos militares excessivos,

especulação financeira) que, investidos, poderiam

reproduzir-se e ampliar.

Cardoso (1995) apresenta que no período da década de 1960

o desenvolvimento ainda era identificado essencialmente como o

progresso material, como o crescimento econômico, admitia-se que

era o centro do processo social e, para alguns, o processo material

levaria espontaneamente à melhoria dos padrões sociais. Com o

tempo, deixa-se de ter um conceito tão unificado para uma análise

fragmentada, fala-se de desenvolvimento humano, desenvolvimento

social, desenvolvimento sustentável, desenvolvimento com equidade.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 120

O crescimento de uma economia é um elemento de um

processo maior, e seus resultados não se traduzem automaticamente

em benefícios na área social e/ou ambiental. Evidentemente políticas

de desenvolvimento devem ser estruturadas por valores que não são

apenas os da dinâmica econômica (CARDOSO, 1995).

Haberle (1976) destaca que com o começo de uma nova

ordem mundial os governos colocam seus esforços para o

crescimento e desenvolvimento de suas nações, e se no apogeu da

revolução keynesiana o objetivo era o emprego e a estabilidade

econômica, a ênfase agora é outra, a saber, o problema do

crescimento. Todas as políticas econômicas são voltadas no sentido

de fomentar o crescimento econômico, as altas taxas de crescimento

viraram uma maneira de se fazer campanha eleitoral nos países

democráticos, os governantes desses países têm o seu sucesso ou

fracasso frequentemente julgado pelo nível de crescimento das suas

econômicas.

Contudo, retrocedendo nota-se que os economistas sempre se

preocuparam com o crescimento, embora não utilizassem o termo

crescimento, percebe-se que o próprio Smith (1988) trata justamente

sobre crescimento e desenvolvimento, apesar de não utilizar o termo.

Para alcançar o crescimento econômico, várias teorias são

propostas, entre elas está a teoria neoclássica que postula que o livre

mercado irá conduzir o país ao crescimento econômico e

posteriormente o desenvolvimento, o que atrapalha são as

imperfeições que o Estado causa a interferir no mercado, portanto o

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 121

Estado não consegue corrigir as imperfeições de mercado, ele é o

criador de tais imperfeições (PRZEWORSKI, 1993).

Já Keynes (1996) chega a conclusão que o Estado tem que

intervir diretamente na economia de forma a gerar investimento e

assim contribuir para o crescimento econômico, portanto esse autor

rejeita completamente os postulados da escola neoclássica, não aceita

mais a noção de racionalidade ilimitada dos indivíduos, e agora

trabalha com a ideia de racionalidade limitada.

Assim, a noção de Keynes (1996) é contrária aos autores

neoclássicos, pois ele vê a necessidade de intervenção por parte do

Estado no sistema econômico, o mercado não conseguirá sozinho

regular-se e propiciar o desenvolvimento econômico. Contudo, a

melhor maneira de intervenção do Estado é através do investimento,

que tem uma importância fundamental no modelo Keynesiano, pois

para ele o investimento através do seu efeito multiplicador é a mola

propulsora do sistema.

O modelo keynesiano recebe muitas críticas por o

considerarem estático, e alguns escritores escreveram teorias de

crescimento sobre as bases keynesianas onde é atribuída uma

dinâmica ao modelo e até mesmo teorias de crescimento em longo

prazo.

Outros autores ainda se propõem a estudar o

desenvolvimento dentro de uma estrutura subdesenvolvida entre eles

está Celso Furtado (1969) que aborda a questão do desenvolvimento

econômico dentro dos países periféricos. Ele analisa todo o processo

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 122

histórico que os levaram a ser dependentes e os motivos que fazem

com que esses países permaneçam nesta condição de dependência.

Este autor não acredita que o subdesenvolvimento seja uma etapa a

ser superada por esses países, que fatalmente encontrariam o

desenvolvimento no futuro, para ele os países subdesenvolvidos

estão nesta situação por ser de vital importância para o capitalismo

mundial essa relação de dependência imposta aos países periféricos.

Portanto, Furtado (1969) é pessimista quanto ao desenvolvimento

que não acontecerá enquanto não superada a relação de dependência,

contudo tal relação de dependência tende a ser intensificada

impossibilitando que os países subdesenvolvidos se tornem

desenvolvidos.

Kuznets (1969) também faz uma discussão interessante nesse

sentido, ele mostra claramente ao tentar comparar a situação dos

atuais países subdesenvolvidos com os países desenvolvidos do

século XVIII, que não necessariamente um país tem que passar por

uma situação de subdesenvolvimento para chegar ao

desenvolvimento.

Na tentativa de teorizar o desenvolvimento econômico

Rostow (1974) também faz importantes contribuições, ele aponta

cinco etapas de desenvolvimento econômico: a sociedade tradicional,

que é uma espécie de sociedade feudal onde existe um teto no nível

alcançável de volume de produção per capita, este teto origina do

fato do progresso técnico estar incipiente; as precondições para o

arranco, esta etapa do desenvolvimento engloba as sociedades que

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 123

estão em processo de transição, tal fase surge principalmente por

interferência de outras sociedades principalmente por meio de

invasões; o arranco, as antigas obstruções e resistências ao

desenvolvimento regular são afinal superadas, o desenvolvimento

passa a ser uma situação normal; a marcha para a maturidade, nesta

fase a economia está em firme ascensão e começa a estender a

tecnologia moderna à frente de sua atividade econômica, com o

aperfeiçoamento de técnicas novas, indústrias se aceleram e as

antigas se estabilizam; a era do consumo de massa, agora a renda real

per capita elevou-se a um ponto em que maior número de pessoas

consegue como consumidor ultrapassar as necessidades mínimas,

começa então um surto do estado de bem-estar social, manifestação

de uma sociedade que caminha para além da maturidade técnica.

Percebe-se que diferentemente de Furtado (1969) e Kuznets

(1969), Rostow (1974) trata da questão do desenvolvimento como

etapas a serem superadas pelas sociedades, assim pode cada país ver

tendências que devem ser seguidas a fim de conseguir o

desenvolvimento econômico.

Com parte importante para compreensão e estudo do

crescimento/desenvolvimento econômico surge a necessidade da

evidenciação de mais variáveis macroeconômicas relevantes para

nosso estudo, como a constituição do PIB, emprego e inflação.

Enquanto definição do Produto Interno Bruto pode-se

destacá-lo como a sintetização do valor monetário dos bens e

serviços finais produzidos dentro das fronteiras nacionais de um país

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 124

durante um dado período, conforme expõe Stiglitz, 2003, o PIB é a

medida padrão daquilo que é produzido na economia, independente

se a produção tenho lugar no setor privado ou no setor público ou se

os bens e serviços seja adquirido por famílias, governos ou setor

externo.

Os componentes que constituem o PIB são consumo (C),

investimento (I), as aquisições do governo (G), as exportações (X) e

as importações (M): PIB = C + I + G + X – M; PIB é igual a

consumo mais investimentos mais aquisições do governo mais

exportações menos importações (STIGLITZ, 2003).

Sendo uma medida de atividade agregada, o PIB é

certamente a principal variável macroeconômica, no entanto, o

desemprego e a inflação são também aspectos importantes do

desempenho de uma economia.

Conforme apresenta Blanchard (2007), emprego é definido

como o número de pessoas que tem trabalho, e desemprego o número

das que não tem, sendo a força de trabalho a soma de emprego e

desemprego. Já a taxa de desemprego é a razão entre o número de

pessoas desempregadas e o número de pessoas na força de trabalho,

tal variável é de alta relevância por sinalizar se a economia está

fazendo uso de seus recursos de forma eficiente.

A inflação é definida como o aumento generalizado dos

preços ou como preços crescentes, não simplesmente como preços

elevados, assim a inflação é um estado de desequilíbrio e deve ser

analisada dinamicamente, suas causas são consideradas por três

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 125

diferentes situações, como inflação de procura, de custos ou de

remarcações, cada qual estabelecida com sua própria dinâmica e

características específicas; a taxa de inflação é a taxa à qual o nível

de preços se eleva (ACKLEY, 1978).

3 METODOLOGIA

Para satisfazer os objetivos deste trabalho será feita uma

análise comparativa entre as variáveis, Produto Interno Bruto,

inflação e desemprego, através de números índices. O método

utilizado será o hipotético-dedutivo que segundo Gil (2002) envolve

as seguintes etapas: elaboração do problema para o qual quer uma

resposta, construção de hipóteses supostamente capazes de responder

ao problema, dedução de consequências particulares da hipótese

proposta, tentativa de refutação ou falseamento das consequências

deduzidas, por meio da observação e experimentação, corroboração

da hipótese, no caso de não ser possível seu falseamento ou

refutação.

Em termos técnicos o índice é uma variação relativa entre

valores de alguma medida. Por exemplo índice de liquidez, índice de

lucratividade e índice de endividamento. Para o nosso entendimento

número-índice é a relação entre o valor da variável em duas datas

diferentes. Assim, o valor posicionado no numerador é chamado

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 126

valor considerado, o valor no denominador, é chamado valor-base ou

referência, conforme fórmula (1) (MILONE; ANGELINI, 1995).

��,� =������� ����������� �����

������� á��������������∙ 100 (1)

onde;

I é o número-índice; b é o valor na data-base e; c é o valor na data

considerada.

Por convenção os números-índices são dados na forma de

porcentagem, entretanto não tem nenhum indicativo de porcentagem.

Assim, as variáveis analisadas serão Produto Interno Bruto

(PIB), inflação, taxa de Desemprego. Dos principais países europeus,

a saber: Alemanha, França, Itália, Espanha, Países baixos, Bélgica,

Áustria, Grécia, Finlândia e Portugal.

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Quando a taxa de crescimento a Tabela 1 apresenta os dez

principais países europeus, em termos de PIB.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 127

Tabela 1 – Taxa de crescimento do PIB

Taxa de crescimento real do PIB - volume (variação percentual em relação ao ano anterior)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Bélgica 3,7 0,8 1,4 0,8 3,3 1,8 2,7 2,9 1,0 -2,8 2,2 1,9

Alemanha 3,1 1,5 0,0 -0,4 1,2 0,7 3,7 3,3 1,1 -5,1 3,7 3,0

Grécia 3,5 4,2 3,4 5,9 4,4 2,3 5,5 3,0 -0,2 -3,3 -3,5 -6,9

Espanha 5,0 3,7 2,7 3,1 3,3 3,6 4,1 3,5 0,9 -3,7 -0,1 0,7

França 3,7 1,8 0,9 0,9 2,5 1,8 2,5 2,3 -0,1 -3,1 1,7 1,7

Itália 3,7 1,9 0,5 0,0 1,7 0,9 2,2 1,7 -1,2 -5,5 1,8 0,4

Áustria 3,7 0,9 1,7 0,9 2,6 2,4 3,7 3,7 1,4 -3,8 2,3 3,0

Portugal 3,9 2,0 0,8 -0,9 1,6 0,8 1,4 2,4 0,0 -2,9 1,4 -1,6

Finlândia 5,3 2,3 1,8 2,0 4,1 2,9 4,4 5,3 0,3 -8,4 3,7 2,9

Holanda 3,9 1,9 0,1 0,3 2,2 2,0 3,4 3,9 1,8 -3,5 1,7 1,2

Fonte: Eurostat (2012)

Para uma melhor análise, utilizando-se dos números-índice

foi feito o índice de crescimento desses países. Nota-se que na

Tabela 2, no caso da Bélgica o índice caia significativamente no ano

de 2008 (-35,7143), ano da crise econômica financeira que atingiu o

mundo, em 2009 a queda é mais acentuada (-127,273) verifica-se

então o aprofundamento da crise financeira, apenas em 2010 nota-se

uma reação com um índice 115,7895. Na Alemanha percebe-se a

mesma tendência no ano da crise 2008, o índice de crescimento

econômico caiu significativamente (-21,5686) permanecendo em

queda mais acentuada no ano de 2009 (-137,838), reagindo apenas

em 2010. Todos esses países tiveram a mesma tendência, alguns com

Page 129: FAE - Ciência - Ed. 01 - 2012-2 - 2013-1.pdf

Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 128

quedas mais acentuadas, até porque cresciam mais anteriormente,

outros com quedas mais amenas.

Tabela 2 – Índice da Taxa de Crescimento do PIB na Europa

Indices de Crescimento

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Bélgica 462,5 57,1 175,0 24,2 183,3 66,7 93,1 290,0 -35,7 -127,3 115,8

Alemanha 206,7 0,0 0,0 -33,3 171,4 18,9 112,1 300,0 -21,6 -137,8 123,3

Grécia 83,3 123,5 57,6 134,1 191,3 41,8 183,3 -1500,0 6,1 94,3 50,7

Espanha 135,1 137,0 87,1 93,9 91,7 87,8 117,1 388,9 -24,3 3700,0 -14,3

França 205,6 200,0 100,0 36,0 138,9 72,0 108,7 -2300,0 3,2 -182,4 100,0

Itália 194,7 380,0 0,0 0,0 188,9 40,9 129,4 -141,7 21,8 -305,6 450,0

Áustria 411,1 52,9 188,9 34,6 108,3 64,9 100,0 264,3 -36,8 -165,2 76,7

Portugal 195,0 250,0 -88,9 -56,3 200,0 57,1 58,3 0,0 0,0 -207,1 -87,5

Finlândia 230,4 127,8 90,0 48,8 141,4 65,9 83,0 1766,7 -3,6 -227,0 127,6

Holanda 205,3 1900,0 33,3 13,6 110,0 58,8 87,2 216,7 -51,4 -205,9 141,7

Fonte: Elaborada pelos autores

Gráfico 1 – Índice da Taxa de Crescimento do PIB na Europa

Fonte: Elaborada pelos autores

-4000,00

-2000,00

0,00

2000,00

4000,00

2000 2002 2004 2006 2008 2010

Holanda

Finlândia

Portugal

Áustria

Itália

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 129

Através da representação gráfica (gráfico 1) pode-se ver

com mais clareza, que nos anos de crise há uma tendência a

recessão da maioria dos país europeus. Sendo que os que não

apresentaram índices de crescimento negativo tiveram seu PIB

reduzido significativamente

Outra variável analisada foi à taxa de inflação, esta

apresenta dados mais inconstantes.

Tabela 3 – Taxa de Inflação

Taxa de Inflação (Taxa de variação média anual (%)

200

0

200

1

200

2

200

3

200

4

200

5

200

6

200

7

200

8

200

9

201

0

201

1

Bélgica 2,7 2,4 1,6 1,5 1,9 2,5 2,3 1,8 4,5 0,0 2,3 3,5

Alemanha 1,4 1,9 1,4 1,0 1,8 1,9 1,8 2,3 2,8 0,2 1,2 2,5

Grécia 2,9 3,7 3,9 3,4 3,0 3,5 3,3 3,0 4,2 1,3 4,7 3,1

Espanha 3,5 2,8 3,6 3,1 3,1 3,4 3,6 2,8 4,1 -0,2 2,0 3,1

França 1,8 1,8 1,9 2,2 2,3 1,9 1,9 1,6 3,2 0,1 1,7 2,3

Itália 2,6 2,3 2,6 2,8 2,3 2,2 2,2 2,0 3,5 0,8 1,6 2,9

Áustria 2,0 2,3 1,7 1,3 2,0 2,1 1,7 2,2 3,2 0,4 1,7 3,6

Portugal 2,8 4,4 3,7 3,3 2,5 2,1 3,0 2,4 2,7 -0,9 1,4 3,6

Finlândia 2,9 2,7 2,0 1,3 0,1 0,8 1,3 1,6 3,9 1,6 1,7 3,3

Holanda 2,3 5,1 3,9 2,2 1,4 1,5 1,7 1,6 2,2 1,0 0,9 2,5

Fonte: Eurostat (2012)

A Bélgica em 2009 apresentou inflação nula, contudo seu

índice subiu para 65,71429 em 2010. Na Alemanha a situação repete-

se, entretanto no seu caso a inflação não foi nula, contudo foi baixa,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 130

apresentando significativa alta no ano de 2010, entretanto menor que

o índice do ano de 2008. A inflação Grega também teve um grande

aumento apresentando índice de 151,6129. Na Tabela 4, nota-se que

todos os países tiveram uma tendência a elevação da taxa de inflação

no ano de 2008, configurando os efeitos negativos da crise

econômica financeira nestes países.

Tabela 4 – Índice da Taxa de Inflação

Indice da Taxa de Inflação

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Bélgica 112,5 150,0 106,7 78,9 76,0 108,7 127,8 40,0 0,0 0,0 65,7

Alemanha 73,7 135,7 140,0 55,6 94,7 105,6 78,3 82,1 1400,0 16,7 48,0

Grécia 78,4 94,9 114,7 113,3 85,7 106,1 110,0 71,4 323,1 27,7 151,6

Espanha 125,0 77,8 116,1 100,0 91,2 94,4 128,6 68,3 -2050,0 -10,0 64,5

França 100,0 94,7 86,4 95,7 121,1 100,0 118,8 50,0 3200,0 5,9 73,9

Itália 113,0 88,5 92,9 121,7 104,5 100,0 110,0 57,1 437,5 50,0 55,2

Áustria 87,0 135,3 130,8 65,0 95,2 123,5 77,3 68,8 800,0 23,5 47,2

Portugal 63,6 118,9 112,1 132,0 119,0 70,0 125,0 88,9 -300,0 -64,3 38,9

Finlândia 107,4 135,0 153,8 1300,0 12,5 61,5 81,3 41,0 243,8 94,1 51,5

Holanda 45,1 130,8 177,3 157,1 93,3 88,2 106,3 72,7 220,0 111,1 36,0

Fonte: Elaborada pelos autores.

O gráfico 2 mostra a tendência da inflação nos países

europeus, nota-se uma inconstância no comportamento dessas

variáveis, onde alguns países apresentam um índice negativo e outros

um índice positivo. Contudo, o comportamento da inflação perante a

crise dependerá da realidade econômica de cada país.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 131

Gráfico 2 – Índice da taxa de Inflação

Fonte: Elaborada pelos autores

Tabela 5 – Taxa de desemprego (%), 2000-2011

Taxa de desemprego (%)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Bélgica 6,9 6,6 7,5 8,2 8,4 8,5 8,3 7,5 7,0 7,9 8,3 7,2

Alemanha 7,5 7,6 8,4 9,3 9,8 11,2 10,3 8,7 7,5 7,8 7,1 5,9

Grécia 11,2 10,7 10,3 10,0 9,7 7,9 5,9 4,7 5,5 13,8 16,9 12,5

Espanha 11,1 10,3 11,1 11,1 10,6 9,2 8,5 8,3 11,3 18,0 20,1 21,7

França 9,0 8,3 8,6 9,0 9,3 9,3 9,2 8,4 7,8 9,5 9,7 9,7

Itália 10,1 9,1 8,6 8,4 8,0 7,7 6,8 6,1 6,7 7,8 8,4 8,4

Áustria 3,6 3,6 4,2 4,3 4,9 5,2 4,8 4,4 3,8 4,8 4,4 4,2

Portugal 4,0 4,1 5,1 6,4 6,7 7,7 7,8 8,1 7,7 9,6 11,0 12,9

Finlândia 9,8 9,1 9,1 9,0 8,8 8,4 7,7 6,9 6,4 8,2 8,4 7,8

Holanda 3,1 2,5 3,1 4,2 5,1 5,3 4,4 3,6 3,1 3,7 4,5 4,4

Fonte: Eurostat (2012)

-3000,00

-2000,00

-1000,00

0,00

1000,00

2000,00

3000,00

4000,00

20

00

20

01

20

02

20

03

20

04

20

05

20

06

20

07

20

08

20

09

20

10

Bélgica

Alemanha

Grécia

Espanha

França

Itália

Áustria

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 132

Analisou também a taxa de desemprego (Tabela 5) desses

mesmos países europeus, nota-se que a maioria dos países teve

alguma alteração na taxa de desemprego durante o período da crise

financeira internacional.

Entretanto os números índice nos fornecem uma melhor

visualização dos dados, como observa se na Tabela 6.

Tabela 6 – Índice da taxa de desemprego

Índice da taxa de desemprego

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Bélgica 104,5 88,0 91,5 97,6 98,8 102,4 110,7 107,1 88,6 95,2 115,3

Alemanha 98,7 90,5 90,3 94,9 87,5 108,7 118,4 116,0 96,2 109,9 120,3

Grécia 104,7 103,9 103,0 103,1 122,8 133,9 125,5 85,5 39,9 81,7 135,2

Espanha 107,8 92,8 100,0 104,7 115,2 108,2 102,4 73,5 62,8 89,6 92,6

França 108,4 96,5 95,6 96,8 100,0 101,1 109,5 107,7 82,1 97,9 100,0

Itália 111,0 105,8 102,4 105,0 103,9 113,2 111,5 91,0 85,9 92,9 100,0

Áustria 100,0 85,7 97,7 87,8 94,2 108,3 109,1 115,8 79,2 109,1 104,8

Portugal 97,6 80,4 79,7 95,5 87,0 98,7 96,3 105,2 80,2 87,3 85,3

Finlândia 107,7 100,0 101,1 102,3 104,8 109,1 111,6 107,8 78,0 97,6 107,7

Holanda 124,0 80,6 73,8 82,4 96,2 120,5 122,2 116,1 83,8 82,2 102,3

Fonte: Elaborada pelos autores

Através da analise dos números índice observa-se que o

desemprego nesses países europeus teve um grande aumento em

2010, reflexo da crise financeira, os únicos países que mantiveram

índices que ficaram abaixo de 100 foram o da Espanha e de Portugal,

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 133

a provável causa é que estes países já apresentavam altos níveis de

desemprego.

Pode-se observar melhor esses a tendência do desemprego

nesses países através do gráfico 3.

Gráfico 3 – Índice da taxa de desemprego

Fonte: Elaborada pelos autores

Fica evidente que após 2008,o desemprego começa a

subir em todos os países europeus. Apenas Grécia, Bélgica,

Alemanha e Espanha matem o desemprego em patamares

parecidos com os anteriores. Sendo que a Alemanha continua

com as sua taxa controlada, enquanto Espanha e a Grécia

continuam com altas taxas de desemprego.

0,00

50,00

100,00

150,00Bélgica

Alemanha

Grécia

Espanha

França

Itália

Áustria

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se que a Europa foi fortemente afetada pela

crise de 2008, passou por grande período recessão. Suas taxas

de crescimento reduziram significativamente e sua inflação

teve consideráveis aumentos. A taxa de desemprego também

aumentou, ou seja, o estado de bem estar social que vigorava

na Europa desde a década de 1970, não existe mais.

A situação econômica da Europa no geral não é

favorável à população. A população europeia sofre agora com

altas taxas de desemprego e inflação, com taxas de crescimento

mais modestas. Alguns países apresentam economias mais

sólidas como e o caso da Alemanha, mas outros países estão

totalmente debilitados como Portugal, Espanha e Grécia.

A Europa precisa esquecer o passado, e tomar medidas

para controlar a sua situação econômica. Não da para viver do

passado de glórias.

REFERÊNCIAS ACKLEY, G. Teoria macroeconômica. 2. Ed. São Paulo: Pioneira , 1973.

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A LOGÍSTICA REVERSA DE LIXO ELETRÔNICO DE COMPONENTES DE COMPUTADORES

Thiago dos Anjos Vigilato Sousa1 Resumo: O presente artigo tem como objetivo principal estudar a importância socioeconômica da Logística Reversa de componentes de computadores para as organizações, e como elas podem ter benefícios a partir desta atividade. Para isso, foram analisadas informações relativas à Logística Reversa, como os fatores determinantes para implantação de um canal reverso, as importâncias ecológicas e sociais da atividade e os benefícios e oportunidades que a Lei 12.305 pode proporcionar àquelas que venham a fazer a Logística Reversa. Também foram explanadas informações relativas ao nicho de mercado, com o objetivo de mostrar que a atividade é economicamente viável, e também citar os desafios e gargalos inerentes à atividade. Palavras-chave: Logística Reversa. Socioeconômico, pós-consumo. Competitividade.

1 Bacharel em Administração (FAE).

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1 INTRODUÇÃO

O mundo tem passado por grandes transformações, e estas

transformações, segundo Robbins (2002, p. 7-8) podem ser divididas

em três ondas. A primeira foi a onda da agricultura, que teve os seus

primórdios na era Egípcia, quando o homem deixou de ser nômade e

passou a se instalar nas margens dos rios, onde a terra era mais fértil;

esta onda durou até o fim do século XIX. A segunda foi a onda da

industrialização, quando os países desenvolvidos, liderados pela

Inglaterra, deixaram de ser sociedades agrárias para serem

sociedades movidas a máquinas; esta onda perlongou até os anos

1960. A terceira onda está sendo da informação, onde as pessoas

passam a tratar a informação de forma mais rápida e precisa, graças a

equipamentos de tecnologia da informação.

E foi a partir da Revolução Industrial que o nível de

consumo de bens duráveis foi crescendo a passos largos, e foi se

criando, principalmente nos Estados Unidos, uma cultura de

consumismo justificado pela alavancagem da economia, que tem

como resultado, um alto descarte destes produtos, por exemplo, no

Japão, o tempo de vida útil de uma geladeira é de apenas 1 ano, e nos

Estados Unidos, quanto mais velho é o automóvel, maior será o

imposto (IPVA) a ser pago.

Todo esse avanço tem proporcionado facilidades e

comodidades nas atividades rotineiras, rapidez e maior qualidade no

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 139

acesso a informações e entretenimento, e maior qualidade de vida

das sociedades ao redor do mundo.

Além das facilidades e comodidades, os avanços

tecnológicos foram de suma importância para as organizações no que

diz respeito à redução de custos de produção, qualidade dos

produtos, atendimento ao consumidor, inovação, entre outros. Em

virtude disso, as empresas se tornaram altamente dependentes da

informação, tanto para realização das tarefas diárias quanto para

projeções de planejamentos estratégicos.

Em virtude do rápido desenvolvimento tecnológico, aliado

ao crescimento econômico dos países e blocos emergentes, dentre

eles o BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), tem-se

presenciado nos últimos anos, principalmente a partir da abertura da

China para o mercado, um vertiginoso crescimento da produção de

eletrodomésticos, veículos automotores, equipamentos de

comunicação e de informática em geral, ou seja, bens duráveis.

Com isso, os consumidores passaram a ter uma grande

variedade de produtos e marcas das mais diversas localidades do

mundo (China, Taiwan, Japão, Estados Unidos, Alemanha, entre

outros), fenômeno que tornou os clientes cada vez mais inconstantes

e exigentes, mudando a maneira como o mercado tem reagido ao

comportamento de compra dos consumidores, fazendo com que o

tempo de vida útil dos produtos seja reduzido gradativamente.

Diante de tal cenário, tem-se observado que grande parte

destes produtos, principalmente os equipamentos de informática, tem

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 140

o seu tempo de vida útil encurtado pela obsolescência precoce ou

devido ao apelo de fabricantes para troca por versões mais

atualizadas, gerando uma grande quantidade de resíduos que em sua

grande parte é descartada de forma errada em aterros sanitários,

lixões a céu aberto, incinerados ou jogados em canais fluviais,

causando um impacto ambiental ainda mais preocupante.

O lixo proveniente do descarte de computadores junto ao

meio ambiente têm como consequência o risco à saúde humana, pois

muitos de seus componentes têm em sua composição metais pesados

como o chumbo, o cádmio e mercúrio que em contato com o solo

contaminam os lençóis freáticos ou quando queimados poluem o ar.

Quando este tipo de contaminação passa a ser de

conhecimento da população, e a constatação de que os recursos,

principalmente os naturais, são finitos e escassos, aliado a crescente

preocupação mundial com o meio ambiente, novas formas de

planejamento das atitudes relacionadas ao desenvolvimento

sustentável estão surgindo e ganhando cada vez mais força no

cenário mundial.

Para tanto, repensar o destino dos resíduos sólidos,

principalmente os componentes de computadores, tem sido um

desafio para ambientalistas, engenheiros ambientais e

administradores, pois a nova realidade do mercado é a de

consumidores cada vez mais preocupados com as questões

ambientais, que em sua essência, influencia diretamente as

estratégias competitivas das empresas.

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É com o intuito de estudar soluções viáveis do ponto de vista

social, ambiental e financeiro, e analisar os fatores determinantes,

para que um processo e canal de Logística Reversa dos resíduos dos

componentes de computadores sejam instalados, nas organizações

que atuam na produção, na revenda e manutenção destes produtos

para o mercado consumidor, que este artigo é constituído.

O objetivo deste artigo é estudar a importância

socioeconômica da Logística Reversa de lixo eletrônico para as

organizações.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 Logística

O conceito logístico surgiu durante a Segunda Guerra

Mundial para definir as atividades realizadas sequencialmente com o

intuito de organizar e suprir as necessidades militares em meio à

batalha, como: alimentação, armamento, transporte, reparação, entre

outros. As atividades logísticas eram de tal importância que uma

guerra era ganha ou perdida em função de sua organização logística

de suprir o exército em batalha.

A logística passou por várias transformações e etapas em

suas atividades até chegar ao layout em que se encontra atualmente.

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Novaes (2001, p. 41) e Ballou (1993, p. 28) classificam o processo

evolutivo da logística em quatro fases distintas.

A primeira fase surgiu após a Segunda Guerra Mundial, a

qual Novaes (2001, p. 43) cita que as empresas para atender a

demanda da época, formavam lotes econômicos com produtos

padronizados, buscando utilizar um modal de transporte mais barato,

com veículos de maior capacidade de carga, ou buscando terceirizar

o serviço com empresas que cobravam um frete com preço reduzido,

sem se preocupar com custo e tamanho dos estoques gerados com

estas atividades.

A segunda fase pode ser divida em duas partes, antes da

crise do petróleo (1973) e depois da crise. Antes da crise há um

despertar de desejos por produtos diferenciados nos clientes

incentivados pelo marketing, com isso, os automóveis e

eletrodomésticos produzidos na época passaram a ser ofertados com

cores e modelos variados, causando assim, segundo Novaes (2001, p.

44) e Ballou (1993, p. 30) um crescimento vertiginoso dos níveis de

estoques e, consequentemente, maiores custos para manutenção dos

mesmos.

Com a crise do Petróleo que ocasionou o aumento do preço

dos combustíveis afetando diretamente os custos de transporte e

distribuição. Estes custos tiveram que ser repassados para o

consumidor final. Isso fez com que as organizações começassem a

despertar para diversificação nos modais de transporte e

posteriormente para os níveis de estoque tanto de produtos acabados,

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quanto para matéria-prima, visando manterem-se competitivas no

mercado.

A terceira fase é marcada pela utilização dos meios de

comunicação e integração entre os participantes (fornecedores e

acionistas) no processo produtivo. Neste processo a comunicação

entre elementos da cadeia foi otimizada com o uso do Eletronic Data

Interchange (EDI), sendo definida por Novaes (2001, p. 79) como

“transferência eletrônica e automática de dados entre os

computadores das empresas participantes, dados estes estruturados

dentro dos padrões previamente acertados entre as partes”. Com

isso, os processos puderam ser ajustados com maior rapidez e

precisão, visando a maior satisfação dos consumidores, coisa que era

desconsiderada anteriormente.

A quarta fase é caracterizada pelo avanço da logística,

passando a ser considerada como elemento estratégico para tomada

de decisão. Nesta fase há a intensa formalização de parcerias entre

empresas com maior interação e troca de informações, visando

soluções para problemas existentes, para juntas, tornarem-se mais

competitivas no mercado. Este tipo de parceira era inimaginável na

primeira e metade da segunda fase.

Para Universidade Católica de Brasília (2007)

Logística é definida como o processo de planejar, programar e controlar de maneira eficiente o fluxo e a armazenagem de produtos, bem como os serviços de informações associadas, cobrindo desde o ponto de

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origem até o ponto de consumo, com o objetivo de atender as necessidades do consumidor.

No Brasil, a Logística teve o seu nascimento na década de

1980, com a explosão da informática, e acerca desta época Santos

(2007) afirma que:

Surgiram algumas entidades dando enfoque a Logística, como: ASBRAS (Associação Brasileira de Supermercados), ASLOG (Associação Brasileira de Logística), IMAM (Instituto de Movimentação e Armazenagem), entre outras, que tinham a difícil missão de disseminar este novo conceito, voltado para as organizações. (SANTOS, 2007, p. 1)

Para enfatizar o fator econômico da Logística, Ballou (1993)

vem dizer o principal problema a ser resolvido por ela é reduzir o

gap entre a produção e a demanda, pois os consumidores e os

recursos estão dispersos em uma área geográfica muito ampla, por

exemplo, parte da carne bovina produzida no Brasil é consumida na

Europa e Rússia.

O controle do processo logístico é de suma importância para

a gestão financeira das empresas, pois segundo BOWERSOX e

CLOSS (2001), este processo é “responsável por uma das maiores

parcelas do custo final do produto (5% a 35% do valor das vendas),

sendo superado somente pelo custo dos materiais consumidos na

produção e dos custos dos produtos vendidos no atacado ou no

varejo”. Sendo assim, o controle do processo logístico influencia

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diretamente nos ganhos das empresas, aumentando ou diminuindo o

seu percentual de lucro.

2.2 Logística Reversa

Com o tempo, o termo logística ganhou algumas

ramificações, uma delas é a logística reversa, conceituada por Leite

(2003) como área da logística empresarial que planeja, opera e

controla o fluxo e as informações correspondentes, retorno dos bens

pós-vendas e de pós-consumo ao ciclo de negócios (reutilização) ou

ao ciclo produtivo (reciclagem), agregando-lhes valor de diversas

naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem

corporativa, entre outros, por meio de canais de distribuição reversos.

Os processos e atividades de Logística Reversa existem há

muito tempo, mas não eram tratados como tal, como por exemplo, o

recolhimento dos resíduos sólidos pelos sistemas de coletas de lixo

urbano e o retorno de vasilhames em geral às empresas. Apenas no

final da década de 80 (coincidentemente com o surgimento das

primeiras leis ambientais que tratavam do destino dos resíduos pós-

venda e pós-consumo) que teve início o estudo aprofundado e a

sistematização dos processos inerentes à logística inversa, tal como

ela é nos dias atuais.

Como afirma Stock (apud RODRIGUES et al. 2002, p. 2),

nos anos 90 o termo ganha novas abordagens que incrementam o

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conceito inicial, nas quais estão a “logística do retorno dos produtos,

redução de recursos, reciclagem, e ações para distribuição de

materiais, reutilização de materiais, disposição final dos resíduos,

reaproveitamento, reparação e remanufatura de materiais.”

Em 1998, Carter e Ellram definindo a Logística Reversa,

incluíram a questão da eficiência ambiental.

A Logística Reversa trata do caminho inverso do fluxo

convencional, que é da fábrica em direção ao consumidor final. Leite

(2003, p. 15-29) apresenta de modo sintético, a evolução dos

conceitos de logística reversa:

• CLM – Council of Logistics Management “define Logística

Reversa como um amplo termo relacionado às habilidades e

atividades envolvidas no gerenciamento de redução,

movimentação e disposição de resíduos de produtos e

embalagens” (CLM, apud LEITE, 2003, p. 15).

• Stock (apud LEITE, 2003, p.15) “define Logística Reversa

em uma perspectiva de logística de negócios; o termo refere-

se ao papel da logística no retorno de produtos, redução na

fonte, reciclagem, substituição de materiais, reuso de

materiais, disposição de resíduos, reforma e remanufatura”.

Para Rogers e Tibben-Lembke (1999) Logística Reversa:

[...] é o processo de planejamento, implementação e controle do fluxo eficiente e de baixo custo de matérias primas, estoque em processo, produto acabado e informações relacionadas, desde o ponto de consumo até o

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ponto de origem, com o propósito de recuperação de valor ou descarte apropriado para coleta e tratamento de lixo (ROGERS E TIBBEN-LEMBKE, 1999)

Pode-se fazer a junção de todos estes conceitos e chegar à

definição mais atualizada que segundo Leite (2006):

Logística Reversa é uma área da logística empresarial que planeja, opera e controla o fluxo e as informações logísticas correspondentes, do retorno dos bens de pós-venda e de pós-consumo, ao ciclo de negócio ou ao ciclo produtivo, por meio dos canais de distribuição reversos, agregando-lhes valor de diversas naturezas: econômico, ecológico, legal, logístico, de imagem corporativa, entre outros (LEITE, 2006, p. 16-17)

O termo logística reversa, como o próprio nome já diz, trata

do fluxo inverso ao da logística, pois este trata do retorno dos

produtos ou seus resíduos para a fonte produtora, ou seja, faz com

que os produtos que não servem mais para os consumidores, ou os

resíduos por este produzidos retornem à fabrica para que seja dado o

devido descarte ou, se possível, fazer a reciclagem dos materiais

constituintes.

2.3 Lixo Eletrônico

Lixo eletrônico são RAEE (Resíduos de Aparelhos Elétricos

Eletrônicos), chamados popularmente no Brasil de “sucata de

informática” ou “lixo tecnológico”. Como explicita WIDMER (apud

HORI, 2010, p. 18), estes são originários de uma crescente gama de

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dispositivos eletrônicos que utilizam energia elétrica, desde grandes

utensílios domésticos de uso corriqueiro como geladeira e ar-

condicionado, até aparelhos de pequeno porte, que em sua maioria

possui um aporte tecnológico digital maior, como netbooks e

smatphones, que seus usuários consideraram que tenha chegado o

final de seu ciclo de vida, e por isso, optaram por descartá-los.

O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (IDEC,

2009) classifica lixo tecnológico e cita os seus potenciais riscos da

seguinte forma:

Lixo eletrônico são os resíduos resultantes do descarte de equipamentos como TVs, celulares, computadores, geladeiras, entre muitos outros que passaram a fazer parte de nossa vida como sinônimos de bem-estar. Jogados em lixões, são um sério risco ao meio ambiente, pois contêm metais pesados altamente tóxicos, como chumbo, mercúrio e cádmio. Em contato com o solo, contaminam o lençol freático. Quando queimados, poluem o ar. Também são um grave risco à saúde, pois se acumulam no corpo, podendo causar doenças como o câncer (IDEC, 2009, p. 27)

Compõem o lixo eletrônico os seguintes equipamentos:

• Informática e comunicações (monitores, PC’s, impressoras,

telefones, fax)

• Eletrônica de entretenimento (televisores, aparelhos de som,

leitores de CD)

• Equipamentos de iluminação (sobretudo lâmpadas

fluorescentes)

• Grandes aparelhos caseiros (fogões, geladeiras)

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 149

• Pequenos aparelhos caseiros (torradeiras, aspiradores)

• Esportes e lazer (brinquedos eletrônicos, equipamentos de

ginástica)

• Aparelhos e instrumentos médicos (máquinas de Raio-x)

• Equipamentos de vigilância (câmeras e monitores)

Produtos da área de tecnologia podem ser uma fonte valiosa

para a reciclagem de matérias primas, quando tratados

apropriadamente; caso contrário, são altamente tóxicos. Devido ao

fato de aparelhos elétricos e eletrônicos conterem muitos

componentes considerados tóxicos e não biodegradáveis, desde 2003

na União Europeia, os fabricantes passaram a ser responsabilizados

pelo recebimento e reciclagem (constituindo a logística reversa) dos

seus produtos, sem custo para o consumidor final.

A União Europeia implementou em janeiro de 2003 um

sistema de responsabilidades ambientais, conforme citado por Hori

(2010), o chamado Waste from Eletronics and Electronic Equipment

(WEEE), originário da Diretriz 2002/96/EC da União Europeia, que

regula sobre a prevenção, reuso, reciclagem e outras formas de

recuperação de resíduos eletroeletrônicos, e que foi adaptada e

efetivada em leis de muitos países. No Brasil leis semelhantes foram

aprovadas com incentivo para a reciclagem de sucata de informática,

e que desde 2010 se culminaram na Política Nacional dos Resíduos

Sólidos.

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Na mesma época a União Europeia implantou a Restrição ao

Uso de Substâncias Nocivas (RoHS – Restriction of Hazardous

Substances) na fabricação de equipamentos eletrônicos, pela qual os

fabricantes são obrigados a retirar (ou reduzir ao mínimo) da

composição de seus produtos os elementos: chumbo, mercúrio,

cádmio, cromo com valência 6, bifenilas polibromadas (PBB) e éter

difenilo polibromado (PBDE), estes dois últimos empregados como

agentes retardantes de chamas em peças plásticas.

Com a institucionalização da política Nacional dos Resíduos

Sólidos em 2010, a responsabilização dos fabricantes para a

reciclagem do lixo eletrônico ganhou escala, para isso, empresas

especializadas foram criadas para receberem os equipamentos

obsoletos entregues pelos consumidores, promovendo uma parceria

para o reaproveitamento dos materiais contidos nos componentes de

computadores.

2.4 Importância da Logística Reversa

Com a crescente preocupação com o meio ambiente e com o

futuro do planeta, o conceito de Desenvolvimento Sustentável está

sendo bastante difundido nas mídias (televisão, jornal, rádio e

principalmente internet), baseando-se na ideia de crescimento

econômico sem comprometer as gerações futuras em seus

abastecimentos, principalmente em recursos naturais. De acordo com

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Rodrigues et al. (2002), as razões para a Logística Reversa podem

ser divididas em: sensibilidade ecológica, pressões legais, redução do

ciclo de vida dos produtos, imagem diferenciada e redução de custos.

A sensibilidade ecológica pode ser definida como a

preocupação com aspectos do equilíbrio ecológico. De acordo com

Leite (1998), alguns destes aspectos afetam os canais de distribuição

como: disposição do lixo urbano devido aos efeitos nocivos, baixa

porcentagem de reciclagem das embalagens descartáveis e

produtos/materiais passíveis de serem reciclados ou reutilizados –

como é o caso do lixo orgânico, que pode ser transformado em

composto (fertilizante) para utilização na agricultura.

As pressões legais são advindas das legislações ambientais

sobre resíduos sólidos que têm suas origens na reação aos impactos

ao meio ambiente que podem ser causados, por exemplo, pela

dificuldade de desembaraço dos resíduos até a sua disposição final.

O que era de responsabilidade dos Governos Estadual e Federal,

agora passam a ser responsabilidade dos fabricantes e consumidores

finais, ou seja, a ideia de que a cadeia industrial de produtos que, de

certa forma, agridem o ambiente, deva se responsabilizar pelo que

acontece com os mesmos após o seu uso original (LEITE, 1998).

Outra razão para a implantação da Logística Reversa é o

fato de que o ciclo de vida dos produtos vem se tornando cada vez

mais curto, devido ao desenvolvimento tecnológico aliado à rápida

obsolescência dos bens, gerando um grande volume de resíduos

sólidos e produtos ultrapassados.

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A imagem diferenciada está relacionada à boa imagem que a

empresa pode alcançar por ser ecologicamente correta, por meio de

políticas mais liberais e eficientes de devolução de produtos, como

também por meio do marketing ligado à questão ambiental, por

exemplo, a obtenção de selo verde, ISO 14000, entre outros.

A redução de custos encontra-se em economias obtidas na

utilização de embalagens e componentes retornáveis e no

reaproveitamento de materiais para produção, como é o caso da

utilização de fibras de garrafa PET na fabricação de tecidos que pode

ser empregado em vários setores, entre eles, o de vestuário como o

usado nas camisas da Seleção Brasileira de Futebol.

Por todos estes motivos é que a Logística Reversa se faz

importante, seja na questão da sensibilização ecológica da atividade,

na redução de custos de produção, no ganho de imagem corporativa

diferenciada, no cumprimento de leis ou outros motivos mais.

3 METODOLOGIA

Como os objetivos visam a verificação, demonstração e

listamento de fatores e importâncias, a metodologia empregada neste

estudo foi a pesquisa bibliográfica que segundo Vergara (2000,

p.48), “é o estudo sistematizado desenvolvido com base em material

publicado em livros, revistas, jornais, redes eletrônicas, isto é,

material acessível ao público em geral”.

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Por se tratar de um tema relativamente novo e ainda pouco

estudado, grande parte dos materiais estudados consta em livros,

artigos e publicações na internet e em revistas especializadas no

assunto estudado. Quase todos os documentos bibliográficos datam

dos anos 2000 até os anos atuais, enfatizando ainda mais a

precocidade do estudo do tema.

Segundo Trujillo (apud LAKATOS; MARCONI, 2001, p.

44) a pesquisa bibliográfica tem por finalidade “colocar o

pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre

determinado assunto, com o objetivo de permitir ao cientista o

reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de

suas informações”. É com base nesta afirmação que o presente artigo

se estrutura, buscando informações de várias fontes relativas ao

tema, para compor os dados necessários para comprovar a

importância do objeto de estudo.

Para Manzo (apud LAKATOS e MARCONI, 2001, p. 44) “a

bibliografia pertinente oferece meios para definir, resolver, não

somente problemas já conhecidos, como também explorar novas

áreas, onde os problemas ainda não se cristalizaram

suficientemente”. Por isso que o artigo empregou como método de

investigação a pesquisa bibliográfica, pois o problema não será

analisado de forma isolada, mas serão considerados todos os tipos de

influência sobre o problema de estudo.

A principal vantagem de se fazer uma pesquisa bibliográfica

segundo Gil (2010, p. 30) é o fato de “permitir ao investigador a

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 154

cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que

aquela que poderia pesquisar diretamente. Essa vantagem torna-se

particularmente importante quando o problema de pesquisa requer

dados muito dispersos pelo espaço.” Como os dados analisados são

quantitativos e de várias pesquisas já realizadas no setor (dados

primários), ou seja, utilização de dados primários para gerar dados

secundários, mas que tem ligação entre eles, então a vantagem de

cobrir uma gama de fenômenos muito ampla toma ainda mais

importância ao se analisar o problema.

Em relação aos livros e autores utilizados para pesquisar o

tema, o autor que foi mais consultado é o Paulo Roberto Leite com

sua obra “Logística Reversa: meio ambiente e competitividade” em

sua primeira edição, pois se trata de um livro recente, com vários

dados e ilustrações interativas que facilitam a compreensão do leitor,

facilitando a montagem do presente trabalho.

Segundo a Fundação Getúlio Vargas (2001):

Métodos quantitativos constituem os fundamentos matemáticos da ciência da administração que instrumentam a estruturação e sistematização dos processos de análise e de tomada de decisão na administração de empresas. Mensurando fenômenos através de escalas qualitativas e quantitativas. Descrevendo, sumarizando e apresentando dados qualitativos e quantitativos. Medindo graus de certeza: cálculo de probabilidades. Estimando parâmetros populacionais com base em amostras. Testando hipóteses acerca de parâmetros populacionais. Analisando problemas de tomadas de decisão (FGV - FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS, 2001).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 155

O método a ser utilizado para análise dos dados é a pesquisa

exploratória de dados quantitativos, pois segundo Miranda (2008) “a

investigação quantitativa caracteriza-se pela atuação nos níveis de

realidade e apresenta como objetivos a identificação e apresentação

de dados, indicadores e tendências observáveis”. Assim sendo, o

estudo apresentou tendências de mercado, indicadores de

rentabilidade e opiniões de especialistas, fazendo do presente artigo

um estudo de dados quantitativos.

Com o intuito de se chegar a resultados que instigasse as

empresas e consumidores a promover a Logística Reversa de

componentes de computadores, o presente artigo buscou dados de

iniciativas bem-sucedidas no Brasil e no exterior, que traduzissem

em números as vantagens de se realizar tal atividade.

4 ANÁLISE E DISCUSSÃO

A partir da descrição do cenário atual sobre o esgotamento

dos recursos naturais e a insustentabilidade do modelo de produção e

de consumo capitalista, além da preocupação com o meio ambiente,

foram apresentados dados e informações que explicitam a

necessidade de se reformular o modelo de consumo, produção e

descarte de produtos oriundos da tecnologia da informação,

principalmente os componentes de computadores.

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Mas, como foi mostrado, grande parte dos consumidores não

sabem como dar a destinação correta para este tipo de lixo, fazendo

com que este resíduo tenha destinos que não são os mais

recomendáveis do ponto de vista ambiental, social e econômico.

Estão, de que maneira os consumidores (sejam eles pessoas físicas

ou jurídicas) podem se desfazer de seus computadores, sem que

estejam comprometendo as gerações futuras? É por meio da

Logística Reversa que consumidores podem destinar tais produtos

sem serventia, tanto para reuso (aumentando o seu tempo de vida útil

e viabilizando a inclusão e ensino digital para pessoas carentes),

quanto para reciclagem (no caso de empresas, podendo obter

vantagens econômicas por meio deste tipo de atividade).

A Logística Reversa é praticada em pós-venda e pós-

consumo, mas o foco de estudo deste artigo trata apenas dos

componentes de computadores de pós-consumo, pois se trata de

produtos que, mesmo com pouco uso, tiveram serventia e foram

utilizados pelos consumidores.

4.1 Logística Reversa de pós-venda

Logística Reversa de pós-venda é o caminho seguido por

produtos que tiveram pouco ou nenhum uso, e que por motivos

diversos, os consumidores consideram estes inúteis.

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Este tipo de canal é de tal importância que segundo Leite

(2003, p. 18), nos Estados Unidos, este é responsável por

aproximadamente 0,5 % do Produto nacional Bruto (PNB), com forte

tendência a crescimento.

Segundo Vialli (2007), há estimativas de que o comércio de

resíduos industriais movimente em torno de R$ 250 milhões ao ano

no Brasil, mas tem potencial para chegar a R$ 1 bilhão ao ano. E

para estimular esse mercado, a FIESP (Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo) criou a Bolsa de Resíduos Industriais, onde

pelo site, as empresas podem negociar 200 diferentes tipos de

resíduos industriais, desde plástico a silicones industriais.

4.2 Logística Reversa de pós-consumo

Um item de pós-consumo é classificado por Leite (2003)

como um produto ou material de vida útil encerrada e, mesmo assim,

ainda podem retornar ao ciclo produtivo, ou serem enviados a

destinos tradicionais, como a incineração ou os aterros sanitários,

sendo esses últimos, os mais impactantes ao meio ambiente.

Sendo assim, a Logística Reversa de pós-consumo trata de

coordenar as atividades de retorno de bens e suas partes integrantes

ao seu ponto de origem para serem reaproveitados ou descartados de

maneira adequada, recebendo cada qual um tratamento adequado ao

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grau de complexidade e de contaminação, agregando-lhes valor

econômico, ecológico e logístico.

4.3 Fatores determinantes da Logística Reversa

Existem inúmeros fatores que são determinantes ou exercem

grande influência para implementação de um canal reverso. Leite

(2003) diz que tais fatores interferem na organização e estruturação,

e por consequência, no equilíbrio entre as quantidades de bens de

pós-consumo que são descartadas e as reintegradas ao ciclo

produtivo e que justificam o grau de inserção da Logística Reversa

na estratégia empresarial.

4.3.1 Fatores Econômicos

Fatores econômicos segundo Hori (2010, p. 46), referem-se a

benefícios obtidos por meio do reaproveitamento de matéria-prima,

materiais e produtos com os quais a empresa possa tirar proveito na

revenda de produtos em mercados secundários, recuperação de

produtos para posterior revenda e redução de custos no que tange o

descarte.

Estes benefícios são tangíveis, pois os materiais provenientes

de produtos de pós-consumo são relativamente mais baratos para a

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 159

produção de novos produtos, porque a exemplo do ouro, é

socialmente mais responsável, financeiramente menos oneroso, e

ecologicamente mais sustentável reaproveitar o que já existe nos

produtos de pós-consumo que explorar este material na natureza.

As empresa são motivadas a fazer a Logística Reversa de

componentes de computadores, porque ao realizar esta atividade, elas

podem gerar renda a partir da revenda destes materiais, reciclagem e

utilização destes no processo produtivo (proporcionando economias

de produção), ganhos de imagem corporativa por meio da sociedade,

e até benefícios fiscais por meio de programas governamentais.

4.3.2 Fatores Ecológicos

Este fator é então entendido como uma ação sustentável, pois

as empresas que praticam estas ações evitam que os produtos

provenientes do pós-consumo de computadores contaminem o meio

ambiente, visto que a sociedade tem se tornado cada vez mais

ecologicamente sensibilizada e tem preferido consumir produtos de

empresas sustentáveis do ponto de vista ecológico.

É possível que o fator ecológico seja aliado ao fator

econômico, pois as organizações que realizam a Logística Reversa de

componentes de computadores com fins ecológicos também se

beneficiam do fator econômico, pois a sua imagem corporativa ganha

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 160

robustez, resultando em maior fatia de mercado, fazendo com que a

empresa tenha maiores lucros.

4.3.3 Fatores Legislativos

“Um dos principais fatores estratégicos da Logística

Reversa é o crescente número de legislações ambientais que têm

surgido em todo mundo” (ROGERS e TIBBEN LEMBKE 1999, p.

26), por isso, as empresas se viram pressionadas a se adequarem aos

novos parâmetros impostos pelas legislações, influenciando na forma

com que a empresa lida com a produção e, principalmente, com o

retorno dos produtos à mesma.

Com isso, conclui-se que se as empresas não se enquadrarem

à “nova ordem mundial” de sustentabilidade e preservação do meio

ambiente, certamente sofreram duras represarias por parte da

sociedade e do Estado.

4.3.4 Fatores Logísticos

O fator logístico é a parte mais sensível na organização do

canal reverso de pós-consumo, pois, segundo Leite (2003) “diz

respeito à existência de condições de organização, localização e

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 161

sistemas de transporte entre os diversos elos da cadeia de

distribuição reversa”.

É por meio da formatação da logística que os produtos e

materiais potencialmente recicláveis vão do consumidor final

(empresas e consumidores em geral) até a fonte produtora (empresas

fabricantes de peças de computadores), podendo passar por

intermediários (ONG’s, recicladores e/ou revendedores) ou não.

Quando bem formado, este canal proporciona competitividade para

as empresas, tornando-as mais lucrativas e mais ágeis, mas se este

canal não for cuidadosamente estudado e estruturado, poderá

inviabilizar a atividade.

5 CONCLUSÃO

A partir das informações apresentadas, constatou-se que a

Logística Reversa de componentes de computadores no Brasil é uma

atividade ainda pouco praticada, pois não há informações suficientes

sobre o que é feito e para onde vão esses resíduos, apesar de ser uma

atividade que pode melhorar a imagem corporativa da organização,

proporcionando ganhos financeiros relacionados à prática da

reciclagem ou ganhos relacionados à prática da responsabilidade

sócio-empresarial, além de educar os clientes sobre a forma mais

adequada de consumir produtos que têm impacto direto no meio

ambiente.

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Verificou-se que para uma empresa instituir um canal

reverso, alguns fatores são decisivos para o sucesso da atividade. O

fator legislativo é, em muitos casos, o primeiro a ser levado em

consideração, após a sanção da Lei 12.305/10, por causa da

obrigatoriedade das empresas em fazer a coleta e dar a correta

destinação para certos produtos que podem ser nocivos ao meio

ambiente e à humanidade.

O fator econômico é o que mais salta aos olhos, pois se

verificou que a reciclagem dos componentes de computadores que

tiveram o seu tempo de vida esgotado é financeiramente atrativa,

além de ser ecologicamente correta e socialmente responsável, pois

promove a inclusão digital e o ensino profissionalizante de muitas

pessoas de baixa renda, dá a destinação adequada para este tipo de

produto, e serve de matéria-prima para a produção de novos

computadores, reduzindo o custo de produção dos mesmos.

O fator ecológico refere-se à preocupação da empresa com a

contaminação do meio ambiente por meio da má destinação e

tratamento dos resíduos de componentes de computadores, fazendo

com a organização além de proteger o meio ambiente, ainda desfrute

dos benefícios que a atividade proporciona (seja de imagem

corporativa ou benefícios tributários).

Já os fatores logísticos e tecnológicos são os que dão

sustentação à Logística Reversa, pois se referem à existência de

condições de organização, localização, sistemas de transporte entre

os diversos elos da cadeia de distribuição reversa e informações

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 163

relativas à atividade que auxiliam e melhoram o processo de

produção e descarte dos componentes de computadores.

Assim como esta atividade pode proporcionar ganhos

financeiros, ela também contribui com a sociedade ao viabilizar a

inclusão digital de pessoas carentes, proporcionando também a

capacitação profissional dos mesmos, gerando empregos das mais

diversas qualificações e amenizando o impacto ambiental do descarte

dos produtos provenientes de computadores.

Portanto, como considerações finais, é possível constatar

que a atividade de Logística Reversa no pós-consumo de

componentes de computadores é altamente benéfica às organizações,

pois pode gerar ganhos nas várias fases do elo reverso, a saber: às

organizações que reaproveitam os materiais para a produção de

novos computadores ou outros produtos e, com isso, diminuem os

custos de produção; às organizações que fazem a (re)distribuição dos

componentes de computadores usados, lucrando com o transporte e a

revenda a empresas reciclagem ou mercado de segunda-mão; às

organizações que se beneficiam com o marketing de

responsabilidade sócio-empresarial, ou seja, empresas que fazem a

Logística Reversa, ou empresas que apenas montam postos de coleta,

todas se beneficiam deste marketing; e, por fim, todas as

organizações supracitadas se beneficiam com o consumo consciente

por fazer com que a sustentabilidade seja estabelecida.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 164

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 167

A NAVEGABILIDADE E O TIPO DE JULGAMENTO

Sergio Luis dos Santos Lima1 Leila Amaral Gontijo2

Resumo: Esta pesquisa teve por objetivo identificar a influência do tipo de julgamento na navegabilidade. Adotou-se a abordagem da Ergonomia Cognitiva. Os resultados obtidos demonstraram que tipo de julgamento modula a percepção da pessoa e que aqueles que possuem preferência pelo julgamento passo a passo apresentaram um melhor desempenho na navegabilidade. Palavras-chave: Tipo de Julgamento. Navegabilidade. Ergonomia Cognitiva.

1 Doutor em Engª da Produção (UFSC). Mestre em Engª da Produção (UFSC). Graduado em Psicologia (UnB). Professor (FAE). 2 Pós-Doutora (Lund University, Suécia). Doutora em Ergonomia (Université Paris, França). Metre em Ergonomia (CNAM). Graduada em Desenho Industrial (FUMA). Professora (UFSC).

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1 INTRODUÇÃO

A Internet é um meio de comunicação que causa um impacto

importante na sociedade ao revolucionar a forma e a amplitude de

como nos comunicamos e interagimos. É um ambiente não linear que

tem uma cultura peculiar. Em consonância com Filho (2000) é

possível assegurar que a Internet representa um clássico exemplo de

tecnologia de rompimento e, como toda a inovação desta magnitude,

provoca uma reorganização da humanidade, o que atualmente está a

acontecer.

Assim sendo, organizações têm se interessado em se integrar

a essa nova modalidade de comunicação e interação estabelecendo

suas estratégias competitivas no universo virtual. Entretanto, as

variáveis que interferem no processo decisório e na resolução de

problemas dos internautas, ou seja, em suas estratégias operatórias,

ainda não foram mapeadas. Esta pesquisa analisou uma delas: o tipo

de julgamento que a pessoa afere ao objeto.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

De acordo com Abrahão (1993) a Ergonomia é uma área do

conhecimento que visa transformar o trabalho, adaptando-o às

características das pessoas, bem como às características de sua

atividade, almejando uma otimização do conforto, da segurança e da

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eficácia. Seu objetivo é humanizar o trabalho defendendo a premissa

de que este deve ser adaptado às características das pessoas em

articulação com as exigências sócio-técnicas das tarefas, aos

objetivos a serem cumpridos e as condições de trabalho efetivas que

lhes são dadas. Em consonância com Abrahão, Silvino e Sarmet

(2005), trata-se de uma abordagem mediadora entre a pessoa e a

tecnologia como forma de assegurar que a lógica que guia a ação da

pessoa seja contemplada tanto no processo de concepção quanto de

reformulação das interfaces em geral.

A Ergonomia possui como pressuposto epistemológico: o

antropocentrismo, e como principal pressuposto metodológico: a

Análise da Atividade. Esta Análise considera a conduta humana em

situação real, as estratégias operatórias que a pessoa efetivamente

utiliza para executar a atividade. Utiliza-se o termo conduta em

detrimento de comportamento porque o conceito de conduta, como

salienta Daniellou (2004), introduz uma noção de “motivos” ou de

“intenção”. Dessa forma, trabalhando em uma perspectiva

antropocêntrica, a Ergonomia, além de aumentar a produtividade,

contribui para uma redução da carga de trabalho tanto em seu

componente psíquico, que determina as vivências de prazer da

pessoa, quanto em seu componente físico, minimizando os esforços

biomecânicos e fisiológicos, como também em seu componente

cognitivo, diminuindo suas exigências, como a memória, resolução

de problemas, processos decisórios, dentre outros.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 170

De acordo com Abrahão, Silvino e Sarmet (2005), a

Ergonomia Cognitiva - EC é um campo de aplicação da Ergonomia

que tem como objetivo explicitar como se articulam os processos

cognitivos face às situações de resoluções de problemas nos

diferentes níveis de complexidade. Para Silvino (2004), a EC

frequentemente está associada à demanda de novos conhecimentos e

instrumentos que permitam explicar as ações das pessoas e os

mecanismos subjacentes a elas. Assim sendo, o ergonomista busca as

informações emitidas pelas pessoas, seja em forma de

comportamento, seja em forma de verbalização, buscando formar um

‘quadro cognitivo’ claro sobre a pessoa. Este quadro irá subsidiar

decisões de como ajustar e/ou conceber a interface à pessoa.

A conexão entre a atividade e as representações disponíveis e

utilizadas origina um delineamento da estratégia operatória

desenvolvida pela pessoa para resolver um problema posto ou tomar

uma decisão (SANTOS-LIMA, 2003).

A estratégia operatória é compreendida como o processo

cognitivo de categorização, resolução de problemas e tomada de

decisão que resulta em um modo operatório adotado pela pessoa.

2.1 Tipo de Julgamento

De acordo com Allen (2000), quando pessoas avaliam um

objeto, seja ele um produto ou um serviço, elas podem realizar dois

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tipos de julgamento, a saber: (1) julgamento passo a passo das

características do objeto, utilizando um raciocínio procedimental

(atributo por atributo). Dessa forma, o objeto tem uma função

psicológica funcional, instrumental; (2) julgamento afetivo,

“holístico”, tendo uma função psicológica expressiva.

Esses processos descritos por Allen (2000, 2001) são

alicerçados nos conceitos de Mittal (1988) e Fiske & Pavelchac,

(1986, apud Allen & Ng, 1999). Para Mittal (1988), o julgamento

afetivo possui três características principais: é holístico, é

influenciado pelo o que denominou de self da pessoa e é de difícil

explicação. O outro modo de julgamento está baseado na avaliação

dos atributos tangíveis e funções utilitárias de um determinado

produto. Já para Fiske & Pavelchac, as pessoas podem avaliar um

objeto por meio de uma resposta afetiva passo-a-passo, ou seja, a

atitude com relação ao objeto é resultado de uma combinação

algébrica do afeto associado a cada atributo; ou por meio de uma

resposta afetiva baseada na categoria do produto, ou seja, o objeto é

comparado ao seu exemplar e quando são compatíveis, os afetos

associados ao exemplar são transferidos ao objeto. Dessa forma,

Allen & Ng (1999), propuseram os dois tipos de julgamento, o

passo-a-passo, que se relaciona ao modo do processo cognitivo

avaliativo dos atributos de Mittal (1988) e à resposta afetiva passo-a-

passo descrita por Fiske & Pavelchak (1986), e o julgamento afetivo

relacionado ao modo afetivo de escolha de Mittal e à resposta afetiva

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 172

baseada na categoria do produto de Fiske & Pavelchak (ALLEN &

NG, 1999).

3 TRAJETÓRIA METODOLÓGICA

O percurso metodológico adotado foi inspirado na

Tecnologia de Avaliação e (re) concepção de Interfaces – TAI

(SILVINO, 2004). Assim, a pesquisa foi realizada em quatro fases

que consistiu de: (a) Planejamento; (b) Avaliação; (c) Confrontação;

e (d) Análise dos Resultados e Conclusão.

A fase do planejamento é a que orienta os procedimentos da

pesquisa. Apoiou-se na análise da demanda que, neste caso, foi

construída utilizando a interface de um Sistema de Turismo Social: o

SBTUR – Sistema Brasileiro de Hotéis, Lazer e Turismo. Nesta

análise da demanda, consta também uma análise contextual da

organização e do serviço de Turismo.

A fase da Avaliação foi composta pelas etapas de

identificação dos dados demográficos dos respondentes e preferência

por tipo de julgamento sobre o objeto. Para tanto foi utilizado a

Escala de Preferência por Tipo de Julgamento de Allen e Ng (1999)

traduzida para o Brasil por Nepomuceno & Torres (2005).

A etapa de Avaliação também se constituiu de uma análise

da navegabilidade na interface do sistema SBTUR e posteriormente

de uma confrontação da pesquisa junto aos respondentes por meio de

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 173

entrevistas. Por fim, a quarta fase consistiu da análise dos resultados

da pesquisa e conclusão. Estas etapas serão explicitadas

detalhadamente nos procedimentos.

Foram escolhidos dois níveis de tarefa, A primeira tarefa

apresentada consistiu no respondente buscar a informação sobre o

que é um título do Sistema SBTUR. Esta tarefa visou avaliar tanto o

desempenho quanto identificar qual das representações técnicas

presentes na interface da página inicial do SBTUR atraem a atenção

do respondente: a representação técnica simbólica (Figura 1) ou a

representação técnica utilitária (Figura 2).

Figura 1 – representação técnica simbólica.

Figura 2 – representação técnica utilitária.

A segunda tarefa de navegabilidade consistiu no respondente

realizar uma reserva de hospedagem no Fluminense Hotel, situado

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 174

em Rio do Sul em Santa Catarina. A cidade e o hotel são fictícios,

foram inseridos no sistema do SBTUR justamente para atingir os

objetivos desta pesquisa. Esta tarefa tem por objetivo avaliar o

desempenho do respondente. O critério de desempenho é medido em

termos da eficiência e da eficácia na interação. A eficácia é medida,

neste estudo, como o cumprimento da tarefa proposta ao

respondente, ou seja, eficaz é quando o respondente consegue, ou

não, realizar a reserva de hospedagem no hotel. A tarefa era

considerada executada assim que o respondente clicava em ‘Efetuar

Reserva’ na tela de confirmação da reserva.

A eficiência, por sua vez, foi medida pelo numero de passos

que o usuário utilizou em seu modo operatório de navegação; e pelo

enfrentamento, ou não, de um problema de usabilidade na resolução

do problema proposto. Trata-se de um problema de usabilidade

qualquer interferência na navegabilidade, em relação ao

desempenho, gerando conseqüente insatisfação e/ou desconforto para

o usuário. Segundo Cybis (2002) a taxonomia dos problemas de

usabilidade é classificada, em relação à estrutura, como: (a) Barreira,

quando o usuário esbarra sucessivas vezes e não suplanta um

problema de usabilidade; (b) Obstáculo, quando o usuário esbarra em

um problema de usabilidade, contudo aprende a suplantá-lo; e (c)

Ruído, quando um aspecto da interface, sem que se constitua em

barreira ou obstáculo, causa uma diminuição do desempenho do

usuário sobre a tarefa.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 175

A amostra foi definida pela precisão da estimativa de mais

ou menos 10% em um nível de confiança e 95% e consistiu de 96

(noventa e seis) respondentes. O perfil da amostra consistiu em

pessoas residentes no Distrito Federal (44,2%), Porto Alegre (34,2%)

e Florianópolis (21,7%), que possuem acesso a Internet, uma conta

corrente em banco e que costumam viajar pelo menos uma vez por

ano. O método de amostragem foi o não probabilístico do tipo

acidental.

O recrutamento dos respondentes para a pesquisa foi

realizado por meio dos associados (n= 16) e colaboradores (n=36) do

Sistema de Turismo Social SBTUR, alunos do desenho industrial da

Universidade de Brasília (n=10), alunos da disciplina de Interfaces

Homem Computador da UNIREAL (n=6), pessoas do círculo de

relacionamento do pesquisador (n=31), bem como por os outros

respondentes que foram recrutados aleatoriamente (n=21).

4 RESULTADOS

O desempenho foi medido por meio da eficácia e da

eficiência. Na variável eficácia, 65,6% dos respondentes

conseguiram realizar a tarefa. A variável eficiência foi verificada por

meio de duas estratégias: (1) processo decisório de navegação (2)

resolução de problema de usabilidade.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 176

4.1 Processo decisório de navegação

No processo decisório de navegação, o respondente possuía

algumas oportunidades de desempenhar, entretanto 97,3% dos

respondentes restringiram-se a: iniciar a navegação pela

representação técnica de login do associado, 22,7%, apontado pela

seta azul na figura 2, ou iniciar a navegação pela representação

técnica de Reservas on line que totalizou 74,7% (seta verde). Outras

condutas perfizeram 2,7%.

Figura 2 – Escolha de Navegabilidade

A navegabilidade dos respondentes na tarefa 2 apresentou

um tempo médio de interação de 3’03’’(três minutos e três

segundos), sendo o desvio padrão de 103,82 . O tempo médio de

navegabilidade foi de 3’02’’ (três minutos e dois segundos). Sendo

que o menor tempo foi de um minuto, no entanto esta navegabilidade

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 177

foi realizada justamente por um dos profissionais responsáveis pela

confecção do sítio eletrônico do SBTUR, possuindo assim, bastante

experiência e familiaridade com o sítio. Ou seja, este é o tempo

ótimo para a resolução desta tarefa.

Na navegabilidade, 46,7 % dos respondentes se defrontaram

com um problema de usabilidade obstáculo. Outros 17,3% dos

respondentes defrontaram-se com um problema de usabilidade

barreira antes mesmo de conseguirem alcançar esta etapa da

interação com o sistema. Para os 36% restantes, não ocorreu

qualquer tipo de problema de usabilidade.

A barreira verificada na navegabilidade está representada na

tela de confirmação da reserva, onde o respondente não encontra o

link de efetuar a reserva, justamente por estar abaixo da barra de

rolagem, conforme ilustrada na figura 3.

Figura 3 – Problema de usabilidade: Barreira

Quanto ao tipo de Julgamento, 60 % da amostra preferem o

tipo de Julgamento passo-a-passo, provavelmente amparado em um

tipo de raciocínio algoritmo. Os dados encontrados na amostra

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 178

surpreendem na medida em que aguardava-se que o turismo eliciasse

a preferência pelo julgamento afetivo. Conforme Allen (2000),

“férias” é um produto de valor hedônico, caracterizado por desejos

emocionais, por uma representação mental imaginativa.

Uma relação significativa é demonstrada na relação entre

preferência por tipo de julgamento e a preferência pela representação

técnica (Chi Square=.000; Spearman=.000). Dos respondentes que

possuem o julgamento afetivo, 70,8% preferem a representação

técnica do tipo simbólica enquanto que 62,5% daqueles que utilizam

um julgamento passo a passo preferiram a representação técnica do

tipo utilitária. Essa relação significativa corrobora com a hipótese do

pesquisador de que aqueles que têm um julgamento afetivo preferem

a representação técnica simbólica, bem como aqueles que têm um

julgamento passo a passo preferem a representação técnica do tipo

utilitária. Pode ser que haja uma espécie de atenção seletiva, ou seja,

aqueles que preferem utilizar um julgamento afetivo só perceberiam

a representação técnica do tipo simbólica. Uma representação técnica

utilitária não atrairia a atenção desta pessoa. Entretanto, tal afirmação

necessita de estudos que corroborem esta hipótese, na medida em

que esta correlação é baixa e inversa (-3,754).

Ao relacionar a eficácia e a eficiência com experiência no

sítio do SBTUR, percebe-se que 76,9% dos respondentes que se

defrontaram com o problema de usabilidade barreira, são

inexperientes no sítio do SBTUR, como também 71,4% daqueles

defrontaram-se com o problema de usabilidade obstáculo são

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 179

inexperientes. Na mesma tendência, 63,0% daqueles que realizaram

a navegabilidade sem ruídos são experientes e 77,1% daqueles que se

defrontaram com o obstáculo na navegação são inexperientes na

interface. Aqui se percebe a interveniência desta variável na

navegabilidade.

Quanto à relação entre eficácia e preferência pelo tipo de

julgamento, os respondentes que realizam um julgamento passo a

passo do objeto obtiveram maior eficácia, dado que 71,7% destes

conseguiram completar a tarefa, enquanto que aqueles que realizam

um julgamento afetivo do objeto obtiveram 57,5% de êxito. Mesmo

sendo uma relação não significativa (Chi Square=.154; R;

Spearman=.157), pode-se concluir que aqueles que utilizam o

julgamento passo a passo são mais eficazes na navegabilidade.

Ao relacionar o tipo de julgamento com a eficiência, 70,4%

daqueles que obtiveram uma navegação sem ruídos são os

respondentes que possuem preferência pelo tipo de julgamento passo

a passo, enquanto que 60,6% daqueles que se defrontaram com

obstáculo no decurso da interação possuíam preferência pelo tipo de

julgamento afetivo. Apesar desta relação não ser significativa (Chi

Square=.087; Spearman=.235) e a magnitude da correlação ser baixa

(1,427) , pode-se concluir, mesmo assim, que aqueles que utilizam

um julgamento passo a passo, utilizando um raciocínio

procedimental, possuem um melhor desempenho na navegabilidade,

já que demonstraram ser mais eficazes e eficientes.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 180

5 CONCLUSÃO

Ao realizar a regressão linear foi possível observar que o tipo

de julgamento apresenta nível se significância confiável para esta

amostra que Este dado corrobora com os achados quando ao

relacionar eficácia e preferência pelo tipo de julgamento, concluiu-se

que aqueles que utilizam o julgamento passo a passo são mais

eficazes na navegabilidade. Ao relacionar o tipo de julgamento com

a eficiência, conclui-se, também, que aqueles que utilizam um

julgamento passo a passo, utilizando um raciocínio procedimental,

possuem um melhor desempenho na navegabilidade, por

demonstrarem serem mais eficazes e eficientes.

Corroborando com os achados de Allen (2000), pessoas que

possuem preferência pelo tipo de julgamento afetivo tendem a

perceber estímulos visuais (representação técnica simbólica), bem

como as pessoas que demonstram preferência pelo tipo de

julgamento é passo a passo, a representação técnica que ativará a

representação psicológica no modelo mental da pessoa, é de natureza

verbal (representação técnica utilitária). Esta relação é confirmada

aqui nesta pesquisa, mesmo tendo uma magnitude de correlação

pequena. Isto implica afirmar que o tipo de julgamento modula a

percepção da pessoa e caso seja necessário realizar uma interface

respeitando a variabilidade dos usuários finais, o designer deve

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 181

colocar numa mesma representação técnica tanto elementos verbais

quanto visuais.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 182

FILHO, A.A.S. Comércio Eletrônico: Marketing, Segurança, Aspectos Legais e Logística. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, UFSC, 2000. MITTAL, B. The Role of Affective Choice Mode in the Consumer Purchase of Expressive Products. Journal of Economic Psychology, 9, 1988, p. 499-524. NEPOMUCENO, M.V.; TORRES, Claudio V. Validação da Escala de Julgamento e Significado do Produto. Estudos de Psicologia, v. 10, nº 3. Natal, 2005. SANTOS-LIMA, Sergio L. Ergonomia cognitiva e a interação pessoa-computador: análise ergonômica da urna eletrônica 2002 e do módulo impressor externo. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção e Sistemas apresentada ao Programa de Pós-graduação em Engenharia de Produção e Sistemas, UFSC, 2003. SILVINO, Alexandre M. D. Ergonomia Cognitiva e Exclusão Digital: a Competência como elemento de (re)Concepção de Interfaces Gráficas. 2004. Tese de Doutorado apresentada ao Instituto de Psicologia da Universidade de Brasília. UnB, Brasília. Disponível em: <http://www.unb.br/ip/labergo/sitenovo/imgprod/AlexandreMagnoCompetenciaElemento.pdf>. Acesso em: 20 dez. 2008.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 183

COMUNICAÇÃO E CONSUMO: o jornal goiano no Século XXI

Adriano Salles Amadeu1 Ludimila Stival Cardoso2

Resumo: Comunicação e consumo caminham juntos, promovendo diferenciação social e status, mas o ser humano não está inerte a essa realidade e reinterpreta as mensagens midiáticas segundo sua realidade. Exemplo disso é o jornal, que precisa ser reavaliado, não porque corra o risco de ser extinto, porém sofre um processo de adaptação e mudança, ao qual se deve ater o pesquisador da mídia, especificamente no estado de Goiás, em que se faz necessário analisar a dinâmica destes jornais e, em especial, um caso ainda pouco considerado: o jornal Daqui. Palavras-Chave: Jornal. Consumo. Comunicação.

1 Mestre em Ciências Empresariais (ULBRA). Especialista Gestão Empresarial (ULBRA). Especialista em Gestão Financeira (Universo). Especialista Gerenciamento Empresarial (Universo). Bacharel em Administração (ULBRA). Professor e Diretor Acadêmico (FAE). 2 Mestre em Comunicação (UFG). Graduada em Relações Internacionais (PUC/GO).

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1 INTRODUÇÃO

Este artigo tem por finalidade o estudo dos jornais goianos

da atualidade, fazendo esta investigação por meio da ótica da

comunicação e do consumo. Espera-se que com a realização do

mesmo, estudantes e interessados pela área de comunicação social,

bem como os profissionais da área, tenham mais um instrumento

para conceber suas análises e ponderações.

Um dos objetivos contidos na realização deste material está

substanciado na possibilidade de verificar se aquilo que autores

colocam como acontecimentos atuais e intervenientes no cotidiano

dos jornais, ocorrem da mesma forma no estado de Goiás.

Compreender o comportamento dos leitores de jornais em

Goiás é de grande importância para profissionais deste meio, pessoas

interessadas, para a sociedade goianiense e, em especial, para

professores e estudantes de comunicação social ou marketing.

O método para a realização do trabalho envolveu a pesquisa

bibliográfica, a estruturação de instrumentos qualitativos tais como,

roteiros de entrevistas, roteiros de observação e roteiros para a

mediação de grupos de discussão. Por fim houve a comparação entre

os dados de origem bibliográfica com as pesquisas qualitativas,

primárias, feitas a campo.

O resultado do trabalho envolveu importantes constatações

acerca da forma como acontecimentos, tidos como globais, estão

ocorrendo em Goiás.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 185

2 CONTEXTUALIZAÇÃO TEÓRICA

A história da humanidade, seguindo as orientações de

DeFleur e Ball-Rokeach (1993) é melhor compreendida quando se

estuda o desenvolvimento da comunicação, já que esta forja

realidades e confere poder a quem a detém. Além disso, os meios de

comunicação são instrumentos de suma importância para a cultura,

no sentido de construção e disseminação da mesma.

Assim, a comunicação está inserida nas relações sociais que

são, inerentemente, desiguais e, já que baseadas no poder. Logo, a

comunicação representa uma forma de expressão dos interesses das

elites do poder, pois se estabelecem verdades que são internalizadas

pelos sujeitos enquanto verdades absolutas.

Ao mesmo tempo em que a comunicação, quando bem

utilizada, proporciona o domínio de uma classe sobre outra, pode

trazer a consciência da importância de se ter acesso às informações.

Ou seja,

Na medida em que afirmamos que informação é poder – informação no sentido mais amplo de know-how e tecnologia – a era já iniciada dos sistemas de satélites, a “infosfera” de Toffler, propiciará conhecimento e poder a todos os povos e a todos os homens, que reclamarão, com justa razão, seu direito à informação e à participação nas grandes decisões em que é interessada a Humanidade inteira. (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 186).

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 186

A expansão dos meios de comunicação processou-se em

diferentes fases resultando no status que possuem hoje como

elementos determinantes das representações da sociedade. Houve

períodos de desenvolvimento dos sinais, da fala, até o aparecimento

dos veículos de massa, sejam eles o jornal, o cinema ou a televisão.

Durante muito tempo utilizou-se o conceito de ‘comunicação

de massa’ como se este se fundamentasse, unicamente, em uma

indústria cultural alienante, indiferente às realidades das populações

que a recebem. Estas análises determinavam que ocorria uma

uniformização cultural que minava a capacidade criativa dos

homens, ou seja, privilegiava-se a produção em detrimento da

criatividade.

Partindo de tal pressuposto é, coloca-se que,

Em se tratando da comunicação massiva e seus respectivos veículos, manipulados no mundo ocidental, em sua maioria, pela iniciativa privada voltada para o lucro, está claro que das três funções atribuídas às artes por Kelly – criativa, lúdica e comunicativa – a primeira deve ceder lugar às duas últimas. A mensagem de massa, mesmo a estética (ou que tenha pretensões a sê-lo) deve ter um “sentido”, caso contrário: 1) dificilmente decodificável, ou vazada em símbolos herméticos, não atingiria a massa que, mesmo alfabetizada, não teria refinamento ou capacidade para entendê-la; 2) a mercadoria-mensagem não teria colocação no mercado consumidor e estaria fadada ao insucesso. (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 82).

Este discurso tornou-se ainda mais corrente a partir do

surgimento da televisão, quando a imagem e a linguagem apareceram

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 187

de formas múltiplas fazendo com que muito de suas essências fossem

perdidas, o que dificultou a percepção do mundo, dividindo-o entre

os que têm acesso à alta cultura (teatro, ópera e literatura clássica) e

os que são engendrados pela indústria da diversão, fundamentada no

mercado de massas, sobretudo na televisão.

Contudo, as populações que recebem estas mensagens da

mídia não são, como se pensava, passivas, ao contrário, elas

reinterpretam os conteúdos segundo suas realidades culturais. Há, na

verdade, para Denys Cuche (1999), uma uniformização da

mensagem, mas não, necessariamente, o mesmo ocorre com a

recepção.

A crença na passividade dos indivíduos diante do conteúdo

da mídia era sustentada pela ideia de que esta lógica se aplicava aos

meios populares, o que não se confirma, pois, ainda segundo Cuche

(1999), a comunicação de massa usufrui de maior penetração nas

classes médias, já que os populares possuem uma grande capacidade

de seleção das mensagens, porque são muito céticos em relação a

tudo que não vem de sua realidade social.

Esta perspectiva também está presente em Beltrão, que

coloca em sua tese que,

(...) “teimosa, obstinadamente, o povo conserva a sua inteligência e, através dela, passam os episódios e fatos gerais que julgamos comuns e irresistíveis”. Teimosa e obstinadamente, resiste ao imperialismo cultural, defende “as características julgadas nacionais contra o nivelamento pela cultura internacional, dirigida e comum”, facilmente

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vitorioso nas classes altas e médias (BELTRÃO, 2001, p. 62).

A ideia de que o “povo” resiste à dominação cultural,

embora para muitos pareça equivocada, pode ser sentida também na

comunicação de massa, preceito defendido tanto por Denis Cuche

(1999), nos parágrafos acima, quanto por Beltrão, o qual assevera

que,

Na comunicação coletiva, porém, o órgão comunicador só exerce uma espécie de atividade – a comunicativa. Não há, portanto, interrupção do circuito ou perda de contato entre os dois elementos – o agente e o paciente do processo. Assim, embora a comunicação coletiva seja, tecnicamente, unilateral, os receptores na verdade alimentam o diálogo, utilizando outros meios mecânicos para manifestar a sua reação, que não se reclama seja necessariamente em palavras (BELTRÃO, 2001, p. 55).

Não só as classes populares são afetadas por essa

‘comunicação de massa’, embora não sejam dominadas pela mesma

e utilizem outras formas para dialogarem com o mundo, assim

também o são diversos outros setores, por isso Beltrão e Quirino

colocam que,

São afetados pela Comunicação de Massa, evidentemente, além do receptor, o sistema de comunicação social e o próprio comunicador institucionalizado, na medida em que este, alternando-se no diálogo iniciado com o feedback especial, passa a assumir o papel de receptor para recolher o eco das suas mensagens industrializadas, constantemente reelaboradas, premido como se encontra pela concorrência sem tréguas na sociedade de consumo (BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 191).

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Embora todos sejam afetados pela comunicação de massa,

esta atua em prol dos que a detém, ou seja, os veículos de massa são

realizadores de uma função que se volta à permanência do sistema,

por isso, atuam no sentido de “fornecer mensagens que estabeleçam

a realidade das instituições sociais e facilitem o seu controle”

(GERALD, apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 138) e, impedir

grandes mudanças em seus componentes, sobretudo, na audiência.

Esta perspectiva é corroborada ainda por Warren Breed, quando

escreve que,

Os media tradicionais (...) e, também, os media emergentes reforçam a tradição e, ao mesmo tempo, explicam novos papéis pela expressão, dramatização e repetição de padrões culturais. Assim os membros da sociedade permanecem integrados na estrutura sócio-cultural. Entendidos como forma de socialização adulta, os media surgem como garantia de que um conjunto de valores básicos permanece visível, constituindo fonte contínua de consenso, não obstante a introdução de mudanças. (GERALD apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 140).

Por ter o objetivo, primeiro de manutenção da audiência e,

consequentemente, de prender a atenção desta, acaba-se utilizando o

que muitos intelectuais chamam de ‘conteúdo de mau gosto’

(violência, pornografia, músicas de baixa qualidade, entre outros).

Contudo, deve-se considerar que esta é uma realidade não só das

classes populares, pois, segundo Beltrão e Quirino (1986), existem

determinados assuntos pelos quais o homem, de forma geral,

demonstra mais interesse. Estes temas foram enumerados por Fraser

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Bond, em seu livro “Introdução ao jornalismo” (1962), em lista

contendo onze itens:

1) o interesse próprio; 2) o dinheiro; 3) o sexo; 4) a violência (luta ou agressão); 5) o culto ao herói ou à fama; 6) o incomum ou sensacional; 7) a expectativa (“suspense”); 8) o interesse humano; 9) acontecimentos que afetam grandes grupos; 10) a disputa (emulação); 11) o crime. (BOND apud BELTRÃO; QUIRINO, 1986, p. 199).

Contudo, o conteúdo da comunicação midiática não é

escolhido arbitrariamente apenas no sentido de garantir a estabilidade

do sistema. Ele faz parte, segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993),

de um sistema social concernente às condições culturais do contexto

do qual faz parte.

Dessa forma, os veículos de massa são analisados enquanto

realizadores de uma função que, na maioria das vezes, se volta à

permanência do sistema, por isso, trabalham no sentido de impedir

grandes mudanças em seus componentes, sobretudo, na audiência.

Assim, procuram produzir um divertimento que capte a atenção dos

receptores, engendrando-os na lógica do consumo, já que se depende

muito da publicidade.

Partindo de tal perspectiva, pode-se dizer que tudo se coloca

enquanto consumo, inclusive a ideia que se tem de cultura e

felicidade, ou seja, o ser humano se realiza como um consumidor e

assimila os mercados à terra de Canaã, por isso estes locais

produziriam satisfação completa, por meio de uma banalidade

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 191

cotidiana, carregando em si os preceitos de milagre, poder e graça

divina.

Contudo, deve-se ressaltar que o consumo não é um bem

universal, que todos desfrutam em igual proporção, existe uma

desigualdade que é fruto da própria história humana, o que

demonstra seu significante social específico: não se consome o

objeto em si, mas a distinção social produzida por este. Desse modo,

o consumo atua como processo de significação e comunicação, como

um sistema de troca e; como sistema de classificação e diferenciação

social.

Este é realizado enquanto fato social e não por simples

fruição do prazer, sendo, ao mesmo tempo, código, instituição e

sistema de organização, por isso visa assegurar determinado nível de

comunicação, não se fundamentando na necessidade e no prazer, por

si próprios, embora isto seja importante, já que vivemos segundo a

maximização do prazer e a curiosidade da experimentação.

Assim, dentro das massas, o indivíduo é requerido no seu

papel de consumidor, já que o consumo é percebido como um mito

de felicidade, o que, no futuro, coloca profeticamente Baudrillard

(1981), levará (muitos consideram que já leva) ao apogeu do sistema

de valores individualistas. Neste processo de consumo, o indivíduo

sofre a pressão de duas forças: enquanto força de trabalho, ele

(homem) é um ser coletivo, pois a exploração se dá sobre essa

dinâmica; por outro lado, como consumidor ele é uno e se reconhece

sua soberania, mas isto não significa, necessariamente, ação social.

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 192

Esse processo é fortalecido pelo sistema através da produção

industrial das diferenças, o que parece ser contraditório quando se

pensa na tendência à homogeneização de que fala Stuart Hall (1989).

Todavia, essa produção da diferença nada mais é do que a adoção de

determinado modelo e a renúncia a toda diferença real, visto que

todos são iguais perante os objetos em seu valor de uso, mas não

como signos e diferenças, estas, por sua vez, são profundamente

hierarquizadas. As diferenças são, então, passíveis de serem

consumidas, os indivíduos são diferentes, mas estão em

conformidade com modelos gerais.

Nesse momento já nos é possível afirmar que comunicação,

sobretudo a de massa, e consumo caminham juntos, o que afeta todos

os meios, seja a televisão, fato já várias vezes debatido pela

academia; a internet, com considerável crescimento através de

programas de inclusão digital ou as conhecidas lan houses e; o jornal

que, como se verá, vem passando por grandes transformações, sendo

questionado, mas sobrevivendo, o que nos caberá discutir na

sequência.

2.1 Jornal: do início até o século XXI

De acordo com DeFleur e Ball-Rokeach (1993), os

precursores do jornal começaram a surgir em 1621, quase um século

e meio depois da introdução da impressão na Inglaterra, no final do

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 193

século XV, com o nome de Corantos, concentrando-se em

informações sobre o estrangeiro, reguladas pelo governo. Contudo,

os “jornais de verdade” só surgirão com o declínio das monarquias

feudais e o surgimento de conceitos como democracia política, o que

levará ao princípio da liberdade de imprensa e à tradição do jornal

como “uma arena de debate público, protesto dos partidos e debate

político” (p. 65).

Já no século XVIII, segundo os mesmos autores, pequenos

jornais foram publicados, abaixo de mil exemplares de circulação.

Nas colônias norte-americanas havia cerca de trinta e cinco jornais

desse tipo na época da Declaração de Independência. Exemplo

desses pequenos jornais foi o New York Sun, de Benjamin H. Day,

iniciado em 1830, salientando temas que, como já vimos, mobiliza o

ser humano de uma forma geral. Assim, focava em noticiário local,

estórias de interesse humano e descrições sensacionalistas de fatos

chocantes, ou seja, para ele notícia relacionava-se a “relatos de

crimes, estórias pecaminosas, catástrofes e outras desgraças” (p. 68),

o que o levou a vender, em 1837, 30.000 exemplares, sendo

reconhecido como um grande sucesso financeiro, atraindo muitos

imitadores e anunciantes.

Percebe-se, pois, certa ressonância da “notícia” entre os

primeiros jornais, os “jornais de tostão” (vendidos por um penny) e

os jornais populares do século XXI, que aderem ao sensacionalismo,

à narrativa de crimes e outras desgraças, em busca de leitores e

anunciantes, ou seja, em função do consumo, o que no caso brasileiro

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Revista FAE-Ciência ▪ Nº 1 ▪ Janeiro a Junho de 2013 194

é bastante problemático, pois a educação pública de massa, que nos

Estados Unidos atinge, geralmente, a todos, no Brasil e, de maneira

similar, na América Latina é bastante deficitária, fazendo com que a

população passe da fase da oralidade para o audiovisual, sem uma

entrada na escrita.

Isto se constitui em um problema, pois, segundo Michel de

Certeau (1994), nessas passagens é que se encontraria o progresso,

sobretudo quando se fala de escrita, pois o desenvolvimento

contemporâneo seria de modo escriturístico, porque escrever é “uma

atividade concreta que consiste, sobre um espaço próprio, em

construir um texto que tem poder sobre a exterioridade da qual foi

previamente isolado” (CERTEAU, 1994, p. 225).

De tal definição distinguem-se, segundo o autor supracitado,

três elementos básicos concernentes à escrita: a página em branco,

espaço “próprio” de produção para o sujeito, em que este está

afastado das ambiguidades do mundo e diante de um objeto; um

texto, produzido na página em branco e visando construir uma ordem

e; essa construção não é apenas um jogo, pois este é distinto das

práticas sociais efetivas e o que se busca no jogo escriturístico é a

formalização de um sistema que se remete à realidade da qual se

distinguiu com o objetivo de modificá-la.

Portanto, o ato de escrever coloca-se como iniciação a uma

sociedade capitalista e conquistadora, porquanto transformou a

relação com a linguagem, visto que não há mais apenas um locutor

(Deus), que exigia somente a capacidade de ouvir, mas várias vozes

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que nos levam à necessidade de fazer e exclui tudo que é oral ou está

ligado às tarefas não verbais, já que há um novo poder, o “burguês”,

o poder de fazer a história fabricando linguagens, o que estratifica a

sociedade e “funciona como a lei de uma educação organizada pela

classe dominante”, definindo “o código da promoção sócio-

econômica” (CERTEAU, 1994, p. 230), por dominar, controlar ou

selecionar, de acordo com suas normas, todos os que não possuem

esse domínio da linguagem.

A explicação de Michel de Certeau (1994) acerca da relação

escrita/progresso joga luz sobre o desenvolvimento da América

Latina como, intrinsecamente, contraditório, porque foi um progresso

concomitante a uma cultura oral, que, segundo o mesmo autor,

emperraria qualquer tipo de avanço. Ou seja, foi um crescimento

moroso, “preguiçoso” e débil, podendo ser uma das explicações para

os problemas de rentabilidade e venda de jornais numa realidade que

não privilegia a escrita e, dessa forma, todos os meios que dela

dependem.

2.2 Desafios dos jornais na atualidade

Embora a debilidade educacional possa explicar em parte o

declínio do jornal, outras realidades se apresentam com diferentes

elementos que caminham no mesmo sentido. Voltemos aos Estados

Unidos. Segundo DeFleur e Ball-Rokeach (1993), a partir de 1920

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observou-se queda constante da venda de jornais em relação ao

acréscimo do número de residências norte-americanas, mesmo com o

aperfeiçoamento da tecnologia, a coleta de notícias e a alfabetização.

Isto se explica, prosseguindo com os mesmos autores, em função de

outras formas de veículos que atendem as mesmas necessidades que

o jornal (revistas, cinema, televisão, internet).

Pode-se dizer, portanto, que a debilidade na educação e as

novas tecnologias da comunicação permitem uma primeira

explicação sobre o declive do jornal, o qual, ao contrário de muitas

análises apressadas e, por isso, apocalípticas (que pensam no fim

deste meio), sobreviverá, para DeFleur e Ball-Rokeach (1993), com

alguma queda na fatia de mercado, mas aderindo a uma “realidade

líquida”, baseada na velocidade, na síntese, premida de mudanças

aceleradas, como enuncia Bauman (2007).

Em função disso, o jornalista Lorival Sant’Anna, em

entrevista concedida por e-mail à Tribuna do Planalto, diz que o

jornal impresso apresenta algumas tendências visando garantir sua

continuidade, tais como: a diminuição do número de páginas;

investimento na análise, interpretação e narrativa de alguns fatos,

aspecto que vem da função tradicional do jornal; diminuição em

formato, deixando o standard para o tablóide, maximizando a

portabilidade e, por fim, a mesma tendência de diminuição de

leitores observada anteriormente (SANT’ANNA, 2008).

Junto a todas essas tendências, a concorrência com outros

meios pode, segundo Sant’Anna, levar o jornal a investir na

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contextualização (narrativa), interpretação e análise da notícia, em

uma periodicidade de 24 horas, isto porque os leitores dos grandes

jornais são, sobretudo, de um poder aquisitivo maior – classes A e B

– e têm acesso á notícia por outros meios, antes do jornal, o que faz

com que este não possa se reduzir a simplesmente dar a notícia.

3 METODOLOGIA

Como forma de contextualizar empiricamente essa realidade

do jornal percebida até o momento nas perspectivas teóricas,

realizou-se entre os meses de janeiro e dezembro de 2011, análises

qualitativas, exploratórias, de hábitos de compradores de jornais. No

caso específico da cidade de Goiânia1, ocorreram observações de

comportamento nos pontos de venda, observações de hábitos de

leitura e entrevistas em profundidade envolvendo 92 amostras para

cada uma destas modalidades. A amostra foi definida por

conveniência dos pesquisadores e encerraram-se as pesquisas de

campo quando foi observado que não ocorriam novas hipóteses ou

diversidade de hábitos e comportamentos.

4 DISCUSSÃO DE RESULTADOS

1 Escolha realizada pelos autores em função do interesse pessoal dos mesmos por esta realidade da qual são atores participantes.

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Logo de início observou-se que tanto leitores quanto

vendedores de jornais valorizam a “isenção” dos “grandes jornais de

fora de Goiás”, a exemplo da Folha de São Paulo e outros com a

mesma notoriedade, entretanto criticam a ausência das notícias

regionais, que obviamente não estão presentes nos mesmos. Em

contrapartida consideram que todos os jornais regionais são

demasiadamente vinculados a grupos políticos, em especial a aqueles

que estiverem no poder momentaneamente. É interessante observar a

contradição entre a busca do regionalismo e, ao mesmo tempo, a

crítica ao vínculo político nos veículos regionais. As críticas ocorrem

em todas as classes sociais e abrangem todos os jornais regionais.

Tomando, particularmente, o caso de um jornal de cunho

mais “popular”: o Daqui, observou-se que o mesmo tem uma

penetração maior nas classes de menor poder aquisitivo e que seus

“leitores” o percebem não exatamente como um “jornal”, sendo mais

próximo ao hábito de colecionar figurinhas (os selos para troca pelo

brinde), com desembolso diário de quantia considerada irrisória

(gostam também da rotina, do hábito diário).

Em segunda instância os consumidores do Daqui gostam do

entretenimento barato, que não qualificam como notícias, mas como

“entretenimento” durante o ócio, no transporte coletivo, ao aguardar

os clientes da loja, no horário do lanche, etc. Outro aspecto bastante

valorizado pelos consumidores foi sua “excelente” portabilidade,

aspecto já considerado na análise do jornalista Lorival Sant’Anna.

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Além do que, o jornal Daqui estabelece a política de brinde1,

o que para Sant’Anna seria como um “anabolizante”, com prazo de

validade por falta de sustentação financeira, que visa atrair novos

leitores e criar neles o hábito da leitura, para que continuem

usufruindo do jornal após o fim dos brindes. O que no caso

trabalhado, não se confirma, já que essa prática se coloca como

estrutural, algo que está, mesmo, na essência do consumo desse

produto.

De mais a mais, no Daqui observa-se a mesma noção de

“notícia” que se tinha nos “jornais de tostão”, voltada ao noticiário

local e descrições sensacionalistas de fatos chocantes, como crimes e

catástrofes, deixando de lado a função tradicional do jornal: o debate.

Com esse tipo de jornalismo coadunamos comunicação e

consumo, sendo este o seu grande fim, isto é, o ato de comunicar

com o objetivo de consumir, daí se explica a tiragem considerável

desse jornal se comparado a outros considerados como tradicionais,

mas com menor venda, como O Popular e Diário da Manhã.

Por outro lado, percebeu-se, ainda, que os leitores de

qualquer um dos jornais goianos pesquisados, não possuem o hábito

frequente de acessar online as edições dos seus jornais, mesmo para

assinantes que possuem acesso gratuito ao O Popular e entre os

leitores do Diário da Manhã (este disponibiliza gratuitamente o

acesso). Como entusiastas do meio eletrônico, encontraram-se

1 Brinde que advém do ato de comprar o jornal e juntar os selos para a troca por uma mercadoria específica, após o término da promoção.

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basicamente jornalistas e outras pessoas envolvidas com imprensa.

Alguns acessam apenas a página principal e “passam o olho na

manchete principal” sem, entretanto, fazer a leitura pormenorizada

da edição.

Outra importante constatação foi a evidente substituição

gradual da leitura de jornais por notícias de portais, reduzida a

“olhar” manchetes ou fotos-legendas, sem profundidade nos fatos,

análises ou comentários.

Notaram-se, ao mesmo tempo, duas outras tendências: a

especialização dos jornais a exemplo dos jornais de concursos, a

valorização dos classificados, como o do O Popular por parte da

população mais jovem e; a busca – como já verificado no caso do

Daqui – da portabilidade, visto que muitos criticaram os jornais em

formato standard pelas dificuldades de manuseio, aspectos que

Sant’Anna já percebia, aos quais agregou outros: a diminuição de

páginas, o formato tablóide e o investimento em contar estórias, sem

uma análise e interpretação da notícia.

Enfim, percebeu-se a partir da pesquisa com “leitores” de

diferentes jornais goianos, que estes possuem algumas perspectivas

acerca do produto que estão consumindo e são críticos em relação ao

conteúdo desse meio de comunicação, sendo possível afirmar que,

provavelmente, houve uma melhoria – upgrade – da qualificação dos

leitores. Além do que há outros diagnósticos: a portabilidade como

uma exigência do consumidor, a busca pelo regional e pela

identificação com a notícia, a noção de que há vínculo entre

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comunicação e poder – político institucional –, que é criticado pelos

entrevistados, os quais o percebem de forma mais evidente.

Contudo, essas críticas e constatações advindas da pesquisa,

não invalidam o fato de que existe uma relação de simbiose entre

comunicação e mercado/consumo, ao contrário a confirma,

sobretudo no que se refere ao jornal Daqui, que utiliza da política de

brindes para garantir venda, o que não se percebe, ao menos com

tamanha ênfase, em outros veículos.

Muitos dos leitores de jornais que iniciaram seu hábito com o

Daqui buscam, agora, por aquilo que consideram jornais mais

elaborados, mas admitem que não teriam iniciado o consumo de

jornais sem o incentivo existente neste jornal. Cabe notar neste

discurso a necessidade de ascensão social, por meio de sofisticação

do consumo, de criticidade, amadurecida e aguçada somente após

algum tempo de permanência na leitura deste que foi seu primeiro

acesso efetivo a jornais e a educação que este proporcionou.

E, embora pareça contraditório, esse consumo não ocorre de

forma passiva, pois como enunciado por Denys Cuche (1999), as

classes populares são muito refratárias a tudo que não sai da sua

própria realidade – e o Daqui é um exemplo disso. Ou seja, as

pessoas que o consomem têm a exata noção de suas debilidades e da

razão de assim procederem, não sendo inertes ao que o jornal

apresenta, mesmo que o ato de consumir signifique a elas

diferenciação social.

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5 CONCLUSÕES E PROPOSIÇÕES

O presente estudo atingiu seus objetivos ao sondar a

realidade dos jornais de Goiás, segundo a perspectiva da

comunicação e do consumo. Explorou, em sua etapa de campo, o

comportamento dos consumidores, obtendo resultados que foram

bastante significativos, em especial ao estabelecer comparação entre

a realidade apontada por autores, com a realidade regionalizada (de

Goiás).

Espera-se que, para estudos futuros, sejam abordados os

apontamentos deste artigo, no intuito da realização de outros estudos

descritivos.

Os principais apontamentos estiveram concentrados no

Jornal Daqui, por sua relativa desconexão com a realidade e casos

apontados pelos autores pesquisados. Trata-se de um jornal que se

utiliza de algumas das fórmulas adotadas em outros lugares, mas

agora, com adaptações em sua estrutura financeira e de marketing,

que o tornam bastante diferente. Este mesmo jornal apresentou-se

como forma de acesso ao mundo da leitura e da cultura por uma

classe que, até então, não tinha contato com esta realidade.

Outra constatação que se mostrou bastante intrigante, foi

verificar que muitos dos leitores deste jornal, que tiveram o acesso ao

mundo da leitura por meio deste veículo, agora buscam, também, por

outras leituras e cobram deste, melhorias em sua escrita e conteúdo.

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O fato demonstrou que, mesmo sendo, na ótica de alguns dos

consumidores, um entretenimento barato e não aquilo que

classificariam como um jornal, este cumpre com um importante

papel de acesso cultural.

A cobrança e valorização da cobertura de fatos regionais por

parte dos jornais goianos, quando contrastada com a exigência de

isenção e imparcialidade mostram um desafio para as redações destes

veículos.

Por fim, acredita-se que o estudo demonstrou que diante das

necessidades da atualidade, os jornais estão se reinventando

(adaptando-se), para suprir as necessidades de um mundo

extremamente mutável, onde quem não se adequar, estará fadado ao

fracasso e a obsolescência.

REFERÊNCIAS BANDEIRA, Marcos. 24 horas é ideal para dar sentido à notícia. Entrevista com Lorival Sant’Anna, publicada originalmente no jornal Tribuna do Planalto (14/09/2008). Disponível em: <http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=504IMQ006>. Acesso em: 9 maio 2011. BAUDRILLARD, Jean. A sociedade de consumo. Lisboa: Edições 70, 1981. BAUMAN, Zygmunt. Vida líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 2007.

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BELTRÃO, Luiz. Folkcomunicação: um estudo dos agentes e dos meios populares de informação de fatos e expressão de ideias. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001. (Coleção Comunicação, 12). BELTRÃO, Luiz; QUIRINO, Newton de Oliveira. Subsídios para uma teoria da comunicação de massa. São Paulo: Summus, 1986. (Novas buscas em comunicação, v. 13). CERTEAU, Michel. A invenção do cotidiano. 6. ed. Petrópolis: Vozes, 1994. (v. 1: artes de fazer). CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru: EUDSC, 1999. DEFLEUR, Melvin Lawrence; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da comunicação de massa. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editores, 1993. HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 1998. SILVERSTONE, Roger. Por que estudar a mídia? São Paulo: Loyola, 2002.

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incluindo a versão em inglês; palavras-chave de três a cinco, incluindo a sua versão em inglês; nome do(s) autor(es);

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resumo de sua titulação e experiência profissional, em até três linhas; entrelinhado 1.

12. O texto deve iniciar na segunda página. 13. Citações deverão constar no corpo do texto e deverão adotar

o sistema autor-data-página. Exemplo: (SILVA, 2003, p. 55). Citações com mais de três linhas devem iniciar isoladas, a partir de 4 cm da margem esquerda, com entrelinhado simples ou 1.

14. Notas deverão ser remetidas ao rodapé de cada página, e redigidas em corpo 10.

15. Ilustrações e fotografias devem ser incluídas em anexo ao trabalho, numerado e claramente identificado.

16. Tabelas e gráficos devem ser numerados, possuir título e fonte, quando for o caso.

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