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Fernando capez vol 4 - legislação penal especial - 2012

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  • Fernando Capez

    4legislaopenal especial

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  • Bacharel e Mestre em Direito pela USP. Doutor em Direito pela PUCSP. Procurador de Justia licenciado.

    Deputado Estadual. Presidente da Comisso de Constituio e Justia da Assembleia Legislativa do Estado de So Paulo (2007-2010).

    Professor da Escola Superior do Ministrio Pblico de So Paulo. Professor convidado em diversas instituies de ensino.

    Abuso de autoridade Crime organizado Crimes ambientais Crimes de trnsito Crimes hediondos Drogas Estatuto do Desarmamento Interceptao telefnica

    Juizados Especiais Criminais Lavagem de dinheiro Lei de Imprensa Sonegao fiscal Terrorismo Tortura

    Fernando Capez

    4legislaopenal especial

    Fernando Capez

    3parte especial

    7 edio

    2012

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  • ISBN 978-85-02-03026-8 obra completaISBN 978-85-02-16131-3 volume 4

    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)

    Capez, FernandoCurso de direito penal : legislao penal especial,

    volume 4 / Fernando Capez. 7. ed. So Paulo : Saraiva, 2012.

    Bibliografia.

    1. Direito penal I. Ttulo.

    CDU-343

    ndice para catlogo sistemtico:

    1. Direito penal 343

    F IL IAIS

    AMAZONAS/RONDNIA/RORAIMA/ACRERua Costa Azevedo, 56 CentroFone: (92) 3633-4227 Fax: (92) 3633-4782 ManausBAHIA/SERGIPERua Agripino Drea, 23 BrotasFone: (71) 3381-5854 / 3381-5895Fax: (71) 3381-0959 SalvadorBAURU (SO PAULO)Rua Monsenhor Claro, 2-55/2-57 CentroFone: (14) 3234-5643 Fax: (14) 3234-7401 BauruCEAR/PIAU/MARANHOAv. Filomeno Gomes, 670 JacarecangaFone: (85) 3238-2323 / 3238-1384Fax: (85) 3238-1331 FortalezaDISTRITO FEDERALSIA/SUL Trecho 2 Lote 850 Setor de Indstria e AbastecimentoFone: (61) 3344-2920 / 3344-2951Fax: (61) 3344-1709 BrasliaGOIS/TOCANTINSAv. Independncia, 5330 Setor AeroportoFone: (62) 3225-2882 / 3212-2806Fax: (62) 3224-3016 GoiniaMATO GROSSO DO SUL/MATO GROSSORua 14 de Julho, 3148 CentroFone: (67) 3382-3682 Fax: (67) 3382-0112 Campo GrandeMINAS GERAISRua Alm Paraba, 449 LagoinhaFone: (31) 3429-8300 Fax: (31) 3429-8310 Belo HorizontePAR/AMAPTravessa Apinags, 186 Batista CamposFone: (91) 3222-9034 / 3224-9038Fax: (91) 3241-0499 BelmPARAN/SANTA CATARINARua Conselheiro Laurindo, 2895 Prado VelhoFone/Fax: (41) 3332-4894 CuritibaPERNAMBUCO/PARABA/R. G. DO NORTE/ALAGOASRua Corredor do Bispo, 185 Boa VistaFone: (81) 3421-4246 Fax: (81) 3421-4510 RecifeRIBEIRO PRETO (SO PAULO)Av. Francisco Junqueira, 1255 CentroFone: (16) 3610-5843 Fax: (16) 3610-8284 Ribeiro PretoRIO DE JANEIRO/ESPRITO SANTORua Visconde de Santa Isabel, 113 a 119 Vila IsabelFone: (21) 2577-9494 Fax: (21) 2577-8867 / 2577-9565Rio de JaneiroRIO GRANDE DO SULAv. A. J. Renner, 231 FarraposFone/Fax: (51) 3371-4001 / 3371-1467 / 3371-1567Porto AlegreSO PAULOAv. Antrtica, 92 Barra FundaFone: PABX (11) 3616-3666 So Paulo

    Rua Henrique Schaumann, 270, Cerqueira Csar So Paulo SPCEP 05413-909PABX: (11) 3613 3000SACJUR: 0800 055 7688De 2 a 6, das 8:30 s 19:[email protected]: www.saraivajur.com.br

    Nenhuma parte desta publicao poder ser reproduzida por qualquer meio ou forma sem a prvia autorizao da Editora Saraiva.A violao dos direitos autorais crime estabelecido na Lei n. 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Cdigo Penal.

    Diretor editorial Luiz Roberto CuriaGerente de produo editorial Lgia AlvesEditora Thas de Camargo RodriguesAssistente editorial Aline Darcy Flr de SouzaProdutora editorial Clarissa Boraschi MariaPreparao de originais Ana Cristina Garcia

    Maria Izabel Barreiros Bitencourt Bressan Camilla Bazzoni de Medeiros

    Arte e diagramao Cristina Aparecida Agudo de FreitasLdia Pereira de Morais

    Reviso de provas Rita de Cssia Queiroz GorgatiAna Beatriz Fraga Moreira

    Servios editoriais Carla Cristina MarquesKelli Priscila Pinto

    Capa Guilherme P. PintoProduo grfica Marli Rampim

    Data de fechamento da edio: 8-11-2011

    Dvidas? Acesse www.saraivajur.com.br

    199.318.007.001 237257

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  • 5SOBRE O AUTOR

    Fernando Capez Bacharel em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo (USP). Mestre em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de So Paulo (USP). Doutor em Direito pela Pon-tifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUCSP).

    Ingressou no Ministrio Pblico em 1988 (aprovado em 1 lugar), onde integrou o primeiro grupo de Promotores responsveis pela defesa do pa-trimnio pblico e da cidadania. Combateu a violncia das torcidas orga-nizadas e a mfia do lixo.

    Professor da Escola Superior do Ministrio Pblico de So Paulo. tambm Professor convidado da Academia de Polcia de So Paulo, da Escola da Magistratura do Rio de Janeiro e da Escola Superior do Minist-rio Pblico do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paran, Rio de Janeiro, Esprito Santo, Alagoas, Sergipe, Bahia, Amazonas, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Amap, Rondnia e Gois.

    palestrante nacional e internacional.Tem diversos livros publicados, nos quais aborda temas como inter-

    pretao e aplicao de leis penais, crimes cometidos com veculos auto-motores, emprego de arma de fogo, interceptao telefnica, crime organi-zado, entre outros.

    coordenador da Coleo Estudos Direcionados, publicada pela Edi-tora Saraiva, que abrange os diversos temas do Direito, destacando-se a praticidade do sistema de perguntas e respostas, com grficos e esquemas, bem como da Coleo Pockets Jurdicos, que oferece um guia prtico e seguro aos estudantes que se veem s voltas com o Exame da OAB e os concursos de ingresso nas carreiras jurdicas, e cuja abordagem sinttica e linguagem didtica resultam em uma coleo nica e imprescindvel, na medida certa para quem tem muito a aprender em pouco tempo. tambm autor da Coleo Direito Simplificado, publicado pela mesma Editora.

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  • 7ABREVIATURAS

    ACrim Apelao CriminalADIn Ao Direta de InconstitucionalidadeAgI Agravo de InstrumentoAgRg Agravo RegimentalAp. ApelaoAPn Ao Penalc/c combinado comCC Cdigo CivilCComp Conflito de Competnciacf. conformeCF Constituio FederalCLT Consolidao das Leis do TrabalhoCNH Carteira Nacional de HabilitaoCP Cdigo PenalCPM Cdigo Penal MilitarCPPM Cdigo de Processo Penal MilitarCPP Cdigo de Processo PenalCTB Cdigo de Trnsito BrasileiroDJ Dirio da JustiaDJU Dirio da Justia da UnioDOU Dirio Oficial da UnioECA Estatuto da Criana e do AdolescenteEC Emenda Constitucionaled. edioExtr ExtradioFUNAI Fundao Nacional do ndioHC Habeas CorpusIBCCrim Instituto Brasileiro de Cincias CriminaisINSS Instituto Nacional do Seguro SocialInq. InquritoIP Inqurito Policialj. julgadoJCAT/JC Jurisprudncia CatarinenseJSTJ Jurisprudncia do STJJTACrimSP Julgados do Tribunal de Alada Criminal de So PauloJTACSP Julgados do Tribunal de Alada Civil de So PauloJTAMG Julgados do Tribunal de Alada de Minas GeraisLCP Lei das Contravenes PenaisLEP Lei de Execuo Penal

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  • 8MP Ministrio PblicoMS Mandado de Seguranam. v. maioria de votosn. nmero(s)OAB Ordem dos Advogados do Brasilp. pgina(s)Pet. PetioQCR Questo CriminalQO Questo de OrdemRE Recurso ExtraordinrioRECrim Recurso Extraordinrio CriminalRel. RelatorREsp Recurso EspecialRF Revista ForenseRHC Recurso em Habeas CorpusRISTF Regimento Interno do Supremo Tribunal FederalRJDTACrimSP Revista de Jurisprudncia e Doutrina do Tribunal de Alada

    Criminal de So PauloRJTARJ Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Alada do Rio de

    JaneiroRJTJESP Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia do Estado de

    So PauloRJTJRS Revista de Jurisprudncia do TJRSRJTJSC Revista de Jurisprudncia do Tribunal de Justia de Santa

    CatarinaRSTJ Revista do STJRT Revista dos TribunaisRTARJ Revista do Tribunal de Alada do Rio de JaneiroRTFR Revista do Tribunal Federal de RecursosRTJ Revista Trimestral de Jurisprudncia (STF)RTJE Revista Trimestral de Jurisprudncia dos Estadoss. seguinte(s)STF Supremo Tribunal FederalSTJ Superior Tribunal de JustiaT. TurmaTACrimSP Tribunal de Alada Criminal de So PauloTFR Tribunal Federal de Recursos (extinto)TJMS Tribunal de Justia do Mato Grosso do SulTJPR Tribunal de Justia do ParanTJRJ Tribunal de Justia do Rio de JaneiroTJRS Tribunal de Justia do Rio Grande do SulTJSC Tribunal de Justia de Santa CatarinaTJSP Tribunal de Justia de So PauloTRF Tribunal Regional Federalv. volumev. u. votao unnimev. v. voto vencido

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  • 9NDICESobre o Autor ......................................................................................... 5Abreviaturas .......................................................................................... 7

    ABUSO DE AUTORIDADE LEI N. 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965

    1. INTRODUO ................................................................................. 172. DIREITO DE REPRESENTAO ................................................... 213. APURAO DE RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA,

    CIVIL E PENAL ................................................................................ 234. RESPONSABILIDADE PENAL ...................................................... 235. CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 3) ....................... 256. CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 4) ....................... 377. AUTORIDADE .................................................................................. 538. OBEDINCIA HIERRQUICA. CAUSA EXCLUDENTE DA

    CULPABILIDADE ............................................................................ 559. ESTRITO CUMPRIMENTO DO DEVER LEGAL ......................... 5510. SANES LEGAIS ........................................................................ 5611. PROCEDIMENTO .......................................................................... 6012. COMPETNCIA ............................................................................. 6413. PRESCRIO ................................................................................. 68

    CRIMES AMBIENTAIS LEI N. 9.605,DE 12 DE FEVEREIRO DE 1998

    1. DAS DISPOSIES GERAIS CAPTULO I .............................. 702. DA APLICAO DA PENA CAPTULO II ............................... 793. DA APREENSO DO PRODUTO E DO INSTRUMENTO DE IN-

    FRAO ADMINISTRATIVA OU DE CRIME CAP TULO III . 91

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    4. DA AO PENAL E DO PROCESSO PENAL CAPTU-LO IV ................................................................................................ 93

    5. DOS CRIMES CONTRA O MEIO AMBIENTE CAPTULO V 996. INFRAO ADMINISTRATIVA CAPTULO VI ARTS.

    70 A 76 .............................................................................................. 1887. DA COOPERAO INTERNACIONAL PARA A PRESERVA-

    O DO MEIO AMBIENTE CAPTULO VII ARTS. 77 E 78 .................................................................................................... 190

    8. DISPOSIES FINAIS CAPTULO VIII ARTS. 79, 80 E 82 .. 190

    CRIMES HEDIONDOS LEI N. 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990

    1. CONSIDERAES GERAIS ........................................................... 1932. CRIMES HEDIONDOS CONCEITO .......................................... 1953. COMENTRIOS AO ART. 1 DA LEI CRIMES CONSTAN-

    TES DO ROL LEGAL ....................................................................... 1984. COMENTRIOS AO ART. 2 DA LEI ............................................. 2165. COMENTRIOS AO ART. 3 DA LEI ESTABELECIMENTO

    DE SEGURANA MXIMA........................................................... 2486. COMENTRIOS AO ART. 5 DA LEI LIVRAMENTO CON-

    DICIONAL ........................................................................................ 2497. COMENTRIOS AO ART. 7 DA LEI DELAO EFICAZ

    OU PREMIADA. CAUSA DE DIMINUIO DE PENA ............... 2538. COMENTRIOS AO ART. 8 DA LEI QUADRILHA OU BANDO 2569. COMENTRIOS AO ART. 9 DA LEI CAUSA DE AUMENTO

    DA PENA .......................................................................................... 25810. COMENTRIOS AO ART. 10 DA LEI ........................................... 263

    CRIME ORGANIZADO LEI N. 9.034,DE 3 DE MAIO DE 1995

    1. CONSIDERAES PRELIMINARES ............................................ 2642. COMENTRIOS AO CAPTULO I ................................................. 2643. COMENTRIOS AO CAPTULO II ................................................ 284

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    4. COMENTRIOS AO CAPTULO III ............................................... 2905. LIBERDADE PROVISRIA ............................................................ 2956. PRAZO PARA ENCERRAMENTO DA INSTRUO ................... 2977. APELAO EM LIBERDADE ........................................................ 2988. PROGRESSO DE REGIME ........................................................... 2999. APLICAO SUBSIDIRIA DO CDIGO DE PROCESSO

    PENAL .............................................................................................. 29910. CRIME ORGANIZADO E LAVAGEM DE DINHEIRO................ 299

    CRIMES DE TRNSITO LEI N. 9.503, DE 23 DE SETEMBRO DE 1997

    1. CONSIDERAES PRELIMINARES ............................................3002. PROCEDIMENTO NOS CRIMES DE TRNSITO ........................ 3003. CONCEITO DE VECULO AUTOMOTOR ..................................... 3034. PERMISSO OU HABILITAO PARA DIRIGIR VECULO ..... 3045. SUSPENSO OU PROIBIO DA PERMISSO OU HABILI-

    TAO PARA DIRIGIR VECULO ................................................. 3056. MULTA REPARATRIA .................................................................. 3117. AGRAVANTES GENRICAS .......................................................... 3148. PRISO EM FLAGRANTE E FIANA .......................................... 3169. DOS CRIMES EM ESPCIE ............................................................ 317

    ESTATUTO DO DESARMAMENTO LEI N. 10.826, DE 22 DE DEZEMBRO DE 2003

    1. INTRODUO ................................................................................. 3662. ASPECTOS GERAIS DOS CRIMES PREVISTOS NO CAPTU-

    LO IV ................................................................................................. 3673. POSSE IRREGULAR DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITI-

    DO (ART. 12)..................................................................................... 3844. OMISSO DE CAUTELA (ART. 13) ............................................... 3925. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO PERMITIDO

    (ART. 14) ........................................................................................... 401

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    6. DISPARO DE ARMA DE FOGO (ART. 15) .................................... 4117. POSSE OU PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RES-

    TRITO (ART. 16) ............................................................................... 4228. FIGURAS EQUIPARADAS (ART. 16, PARGRAFO NICO) ..... 4319. COMRCIO ILEGAL DE ARMA DE FOGO (ART. 17) ................44610. TRFICO INTERNACIONAL DE ARMA DE FOGO (ART. 18) .. 45711. CAUSAS DE AUMENTO DE PENA (ARTS. 19 E 20) ................. 46512. LIBERDADE PROVISRIA (ART. 21) ......................................... 46813. APREENSO DA ARMA DE FOGO, ACESSRIO OU MUNI-

    O (ART. 25) ................................................................................ 47114. COMRCIO DE BRINQUEDOS, RPLICAS E SIMULACROS

    DE ARMAS DE FOGO (ART. 26) .................................................. 47415. ARMAS DE FOGO SEM REGISTRO. DEVER LEGAL DE RE-

    GULARIZAO (ART. 30) ............................................................ 47416. ARMAS DE FOGO ADQUIRIDAS REGULARMENTE NOS

    TERMOS DA LEI N. 9.437/97. ENTREGA AUTORIDADEPOLICIAL .......................................................................................475

    17. POSSE DE ARMA DE FOGO E FACULDADE LEGAL DE ENTREG-LA AUTORIDADE COMPETENTE (ART. 32) ..... 47518. AUTORIZAES DE PORTE DE ARMAS DE FOGO CONCE-

    DIDAS NOS TERMOS DA LEI N. 9.437/97. EXPIRAO DO PRAZO DE VALIDADE ................................................................. 475

    19. COMERCIALIZAO DE ARMA DE FOGO E MUNIO ....... 47620. REFERENDO POPULAR ............................................................... 47621. REVOGAO DA LEI N. 9.437/97 ............................................... 47722. VIGNCIA DA LEI N. 10.826/2003 ............................................... 477

    LEI DE IMPRENSA LEI N. 5.250, DE 9 DE FEVEREIRO DE 1967

    1. CONSIDERAES GERAIS ........................................................... 4792. DA LIBERDADE DE COMUNICAO, DE INFORMAO E

    DE EXPRESSO DO PENSAMENTO: A LEI DE IMPRENSA E A ARGUIO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDA-MENTAL (ADPF N. 130) ................................................................. 480

    3. DOS CRIMES. COMENTRIOS GERAIS ...................................... 487

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    4. COMENTRIOS AOS CRIMES CONTRA A HONRA ARTS. 20 A 28 ............................................................................................... 494

    5. DISPOSIES COMUNS AOS CRIMES CONTRA A HONRA ... 5176. RETRATAO .................................................................................. 5237. PEDIDO DE EXPLICAES EM JUZO ....................................... 5248. DIREITO DE RESPOSTA................................................................. 5299. RESPONSABILIDADE PENAL ...................................................... 533

    INTERCEPTAO TELEFNICA LEI N. 9.296, DE 24 DE JULHO DE 1996

    1. INTRODUO ................................................................................. 5532. OBJETO. CONCEITO ...................................................................... 5553. LEI N. 9.296/96 ASPECTOS PROCESSUAIS ............................ 5644. LEI N. 9.296/96 ASPECTOS PENAIS ......................................... 5825. DAS PROVAS OBTIDAS POR MEIOS ILCITOS ART. 5, LVI,

    DA CF ................................................................................................ 586

    JUIZADOS ESPECIAIS CRIMINAIS LEI N. 9.099, DE 26 DE SETEMBRO DE 1995

    1. INTRODUO ................................................................................. 6002. MBITO DE INCIDNCIA ............................................................. 6033. DISPOSIES GERAIS ................................................................... 6124. FASE PRELIMINAR E TRANSAO PENAL .............................. 6155. PROCEDIMENTO SUMARSSIMO................................................ 6266. SUSPENSO CONDICIONAL DO PROCESSO ............................ 6347. QUESTES FINAIS ......................................................................... 644

    LAVAGEM DE DINHEIRO LEI N. 9.613, DE 3 DE MARO DE 1998

    1. CONSIDERAES PRELIMINARES ............................................ 6552. OBJETO JURDICO ......................................................................... 659

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    3. OBJETO MATERIAL ....................................................................... 6604. TIPOS PENAIS ................................................................................. 6605. CAUSA DE AUMENTO DE PENA .................................................. 6646. DELAO PREMIADA ................................................................... 6657. COMPETNCIA ............................................................................... 6658. CITAO. A QUESTO DO ART. 366 DO CPP ............................. 6669. FIANA E LIBERDADE PROVISRIA ......................................... 66610. MEDIDAS ASSECURATRIAS .................................................... 66711. AO CONTROLADA ................................................................... 66812. EFEITOS DA CONDENAO....................................................... 66813. DISPOSIES ADMINISTRATIVAS............................................ 669

    SONEGAO FISCAL LEI N. 8.137, DE 27 DE DEZEMBRO DE 1990

    1. CONSIDERAES GERAIS ........................................................... 6702. DOS CRIMES COMENTRIOS GERAIS .................................. 6713. COMENTRIOS AOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 1 ........... 6934. COMENTRIOS AOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 2 ........... 7035. COMENTRIOS AOS CRIMES PREVISTOS NO ART. 3 ........... 7076. CONCURSO DE CRIMES ............................................................... 711

    TERRORISMO 1. TERRORISMO NO DIREITO INTERNACIONAL ......................... 7122. TERRORISMO NO DIREITO PTRIO ........................................... 7153. OBJETIVIDADE JURDICA ............................................................ 7174. SUJEITO ATIVO ............................................................................... 7195. SUJEITO PASSIVO ........................................................................... 7196. CAUSA DE AUMENTO DE PENA .................................................. 7197. COMPETNCIA ............................................................................... 7208. AO PENAL ................................................................................... 7209. IMPRESCRITIBILIDADE ................................................................ 72010. TERRORISMO E CRIME DE LAVAGEM DE DINHEIRO .......... 720

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    11. TERRORISMO E LEI DOS CRIMES HEDIONDOS .................... 72112. ASILO. EXTRADIO .................................................................. 721

    TORTURA LEI N. 9.455, DE 7 DE ABRIL DE 1997

    1. CONSIDERAES INICIAIS ......................................................... 7242. TORTURA. ASPECTOS PENAIS .................................................... 7263. CRIMES DE TORTURA ................................................................... 7294. PROGRESSO DE REGIME ........................................................... 7485. EFEITOS DA CONDENAO ........................................................ 7496. GRAA E ANISTIA. FIANA ........................................................ 7497. EXTRATERRITORIALIDADE ........................................................ 7518. FEDERALIZAO DAS CAUSAS RELATIVAS A DIREITOS HU-

    MANOS. DO INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPE-TNCIA (EC N. 45/2004) ................................................................. 752

    DROGAS LEI N. 11.343, DE 23 DE AGOSTO DE 2006

    1. LEGISLAO ANTERIOR: LEIS N. 6.368/76 E 10.409/2002 ....... 7542. PARTE PENAL DOS CRIMES E DAS PENAS .......................... 7553. DA INVESTIGAO E DO PROCEDIMENTO PENAL ............... 8244. DA APREENSO, ARRECADAO E DESTINAO DE BENS DO ACUSADO .................................................................................. 8345. DAS DISPOSIES FINAIS E TRANSITRIAS .......................... 8386. QUESTES DIVERSAS................................................................... 845

    Bibliografia ........................................................................................... 849

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    ABUSO DE AUTORIDADELEI N. 4.898, DE 9 DE DEZEMBRO DE 1965*

    1. INTRODUO1.1. Breves noes sobre os direitos e garantias fundamentais1

    Direitos fundamentais, direitos do homem, direitos humanos, direitos pblicos subjetivos so algumas das diversas expresses empre-gadas pela doutrina para designar os direitos fundamentais da pessoa hu-mana. Anota Jos Afonso da Silva2 que direitos fundamentais do homem significa direitos fundamentais da pessoa humana ou direitos fundamentais. com esse contedo que a expresso direitos fundamentais encabea o Ttulo II da Constituio.... E conceitua: A expresso direitos fundamen-tais do homem so situaes jurdicas, objetivas e subjetivas, definidas no direito positivo, em prol da dignidade, igualdade e liberdade da pessoa humana. A respeito da natureza jurdica dessas normas, afirma: So di-reitos constitucionais na medida em que se inserem no texto de uma Cons- ti tuio ou mesmo constam de simples declarao solenemente esta belecida pelo poder constituinte. So direitos que nascem e se fundamentam, por-tanto, no princpio da soberania popular.

    Os direitos e garantias fundamentais compreendem: a) direitos e de-veres individuais e coletivos (Captulo I art. 5); b) direitos sociais (Ca-

    * Publicada no Dirio Oficial da Unio de 13 de dezembro de 1965.1. Texto retirado da obra de Ricardo Cunha Chimenti, Fernando Capez, Mrcio F.

    Elias Rosa, Marisa F. Santos, Curso de direito constitucional, So Paulo, Saraiva, 2004, p. 46, 49, 51, 52, 53, 54, 55.

    2. Curso de direito constitucional positivo, 18. ed., So Paulo, Malheiros, 2001, p. 182-184.

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    ptulo II arts. 6 e 193); c) direitos de nacionalidade (Captulo III art. 12); d) direitos polticos (Captulo IV arts. 14 a 17); e) partidos polticos (Captulo V). Interessam-nos particularmente, para o presente estudo, os direitos individuais constantes do art. 5 da Carta Magna.

    Em direito constitucional, direitos so dispositivos declaratrios que imprimem existncia ao direito reconhecido. Por sua vez, as garantias podem ser compreendidas como elementos assecuratrios, ou seja, so os dispositivos que asseguram o exerccio dos direitos e, ao mesmo tempo, limitam os poderes do Estado3.

    Na Constituio de 1988 o Captulo I do Ttulo II cuida dos direitos e deveres individuais e coletivos inscritos no art. 5. Segundo a doutrina, nos 78 incisos contidos no art. 5 encontramos os seguintes dispositivos: os que veiculam direitos, os que veiculam garantias, os que instituem o direito e a garantia correlata no mesmo inciso e os que veiculam os remdios consti-tucionais. Os chamados remdios so instrumentos processuais que podem ser utilizados quando a garantia se mostra ineficaz. So o habeas corpus, o mandado de segurana individual ou coletivo, a ao popular, o mandado de injuno e o habeas data. As garantias so elementos assecuratrios dos di-reitos fundamentais e limitativos dos poderes do Estado. Exemplificando:art.5, IX: livre a expresso da atividade intelectual, artstica, cientfica

    e de comunicao (direito), independentemente de censura ou licena (garantia);

    art.5, LXI: ningum ser preso (declara o direito de liberdade fsica e de locomoo), salvo flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente (direito). As respectivas garantias encontram-se nos incisos LXII: toda priso que se execute deve ser comu-nicada ao Estado-juiz; e LXV: A priso ilegal ser imediatamente rela-xada pela autoridade judiciria.

    Nos termos do art. 5, 1, da CF, as normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais tm aplicao imediata, independentemente da criao de ordenamento infraconstitucional.

    Os direitos e garantias individuais foram erigidos em clusulas ptreas (ncleo constitucional intangvel ou imodificvel), uma vez que h uma li-mitao material explcita ao poder constituinte derivado de reforma. Neste

    3. Ricardo Cunha Chimenti, Fernando Capez, Mrcio F. Elias Rosa, Marisa F. Santos, Curso de direito constitucional, cit., p. 49.

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    passo, o art. 60, 4, IV, expresso, ao dispor que no ser objeto de deli-berao a proposta de emenda tendente a abolir os direitos e garantias indi-viduais. Assim, s podem ser ampliados; do contrrio, sero imodi ficveis.

    Nossa Constituio deu enorme relevncia aos direitos e garantias fundamentais, assegurando-os de maneira quase absoluta. No entanto, h situaes em que o prprio constituinte autorizou exceo ao Estado Demo-cr tico de Direito (estado de normalidade constitucional). Funda men -talmente, podemos citar trs situaes:intervenofederalart.34;

    estadodedefesaart.136;

    estadodestioart.137.

    O estado de defesa consiste em uma situao na qual se organizam medidas destinadas a debelar ameaas ordem pblica ou paz social. Desse modo, quando h grande calamidade pblica ou situao que coloca em risco a estabilidade das instituies democrticas num ponto restrito do territrio nacional, o Presidente da Repblica decreta o estado de defesa, estabelecendo restries aos direitos fundamentais de: (a) reunio; (b) sigi-lo de correspondncia; (c) sigilo de comunicao telegrfica e telefnica (art. 136, 1, I). Depois de decretado, ser submetido apreciao do Congresso Nacional.

    Quanto ao estado de stio, conforme preceitua o art. 137 da CF, so causas de instaurao do estado de stio: (a) comoo grave de repercusso nacional ou ter a decretao de estado de defesa se mostrado ineficaz (inci-so I); (b) declarao de estado de guerra ou resposta a agresso armada es-trangeira (inciso II). Na hiptese de decretao de estado de stio em decor-rncia de comoo grave de repercusso nacional ou de o estado de defesa restar ineficiente, podem ser restringidos os seguintes direitos, nos termos do art. 139 da CF: I obrigao de permanncia em localidade determina-da; II deteno em edifcios no destinados a acusados ou condenados por crimes comuns; III restries relativas inviolabilidade de correspon-dncia, ao sigilo de comunicaes, prestao de informaes e liberdade de imprensa, radiodifuso e televiso, na forma da lei; IV suspenso da liberdade de reunio; V busca e apreenso em domiclio; VI interven-o nas empresas de servios pblicos; VII requisio de bens. Se o esta-do de stio for decretado em razo de guerra externa, quaisquer direitos e garantias podem ser suspensos. A CF estabelece essa possibilidade generi-camente no art. 138. Na vigncia do estado de stio com base no inciso II do art. 137, at mesmo a inviolabilidade do direito vida poder ser suspensa,

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    tendo em vista a possibilidade de aplicao de pena de morte em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX (art. 5, XLVII, a).

    Dispe o art. 141 da CF que, terminado o estado de defesa ou o estado de stio, a autoridade que extrapolou nos seus direitos de restringir essas ga-rantias poder ser responsabilizada. As pessoas que sofreram qualquer tipo de prejuzo em virtude dessas arbitrariedades possuem direito a indenizao.

    No tocante aos destinatrios dos direitos e garantias fundamentais, o Su-premo Tribunal Federal fixou a seguinte interpretao para a redao do caput do art. 5: o qualificativo residentes no Pas no qualificativo do substantivo estrangeiro e sim do sujeito composto brasileiros e estrangeiros. Desse modo, significa que a Constituio Federal assegura o exerccio daqueles direitos, indistintamente, a brasileiros e estrangeiros nos limites da nossa soberania.

    O art. 5 destina-se principalmente s pessoas fsicas, mas as pessoas jurdicas tambm so beneficirias de muitos dos direitos e garantias ali elencados, tais como o princpio da isonomia, o princpio da legalidade, o direito de resposta, o direito de propriedade, o sigilo de correspondncia, a garantia de proteo ao direito adquirido, ao ato jurdico perfeito e coisa julgada e o direito de impetrar mandado de segurana.

    A explanao acerca dos direitos e garantias fundamentais de suma importncia para o presente estudo, na medida em que a Lei de Abuso de Autoridade tipifica como crimes condutas praticadas por agentes pblicos que afrontam direitos e garantias fundamentais do cidado, assegurados constitucionalmente. Referido diploma legal, convm notar, busca tutelar, principalmente, os direitos fundamentais de primeira gerao. So aqueles que se fundamentam na liberdade, civil e politicamente considerada. So as liberdades pblicas negativas que limitam o poder do Estado, impedin-do-o de interferir na esfera individual. O direito integridade fsica e intimidade so exemplos. A liberdade a essncia da proteo dada ao indivduo, de forma abstrata, que a merece apenas por pertencer ao gne-ro humano e estar socialmente integrado4.

    1.2. Lei de Abuso de AutoridadeDispe o art. 1 da Lei: O direito de representao e o processo de res-

    ponsabilidade administrativa, civil e penal, contra as autoridades que, no exer-

    4. Ricardo Cunha Chimenti, Fernando Capez, Mrcio F. Elias Rosa, Marisa F. Santos, Curso de direito constitucional, cit., p. 46.

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    ccio de suas funes, cometerem abusos, so regulados pela presente Lei. A Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, portanto: (a) regula o direito de repre-sentao e (b) regula o processo de responsabilidade administrativa, civil e penal, nos casos de abuso de autoridade. Por isso, conhecida como Lei de Abuso de Autoridade. Trata-se de legislao que disciplina a responsabilizao do agente em trs esferas distintas: a administrativa, a civil e a criminal.

    2. DIREITO DE REPRESENTAO2.1. Direito assegurado constitucionalmente

    Qualquer pessoa pode pleitear perante as autoridades competentes a punio dos responsveis por abuso. Trata-se do direito de representao, previsto na Constituio Federal nos seguintes termos: So a todos asse-gurados, independentemente do pagamento de taxas: o direito de petio aos Poderes Pblicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder (...) (grifo nosso) (art. 5, XXXIV, a). Na lio de Uadi Lammgo Bulos, Consiste o direito de petio no poder de dirigir autoridade um pedido de providncias, ou de interveno, em prol de interesses individu-ais ou coletivos, prprios ou de terceiros, de pessoa fsica ou jurdica, que estejam sendo violados por ato ilegal ou abusivo de poder (...) se apresen-ta por intermdio de queixas, reclamaes, recursos no contenciosos, informaes derivadas da liberdade de manifestao do pensamento, aspi-raes dirigidas a autoridades, rogos, pedidos, splicas, representaes diversas, pedidos de correo de abusos e erros, pretenses, sugestes. Quanto s representaes, elas se fundem no prprio direito de petio5.

    2.2. Formas de exerccio do direito de representaoO art. 2 disciplina o exerccio do direito constitucional de representao.

    Assim, qualquer pessoa que se sentir vtima de abuso de poder poder, direta, pessoalmente e sem a necessidade de advogado, encaminhar sua delao autoridade civil ou militar competente para a apurao e a responsa bilizao do agente. De acordo com o mencionado dispositivo legal, o direito de repre-sentao ser exercido por meio de petio: a) dirigida auto ridade superior que tiver competncia legal para aplicar, autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sano. Uadi Lammgo Bulos reclama que, infelizmente, o

    5. Uadi Lammgo Bulos, Constituio Federal anotada, 2. ed., So Paulo, Saraiva, 2001, p. 168.

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    constituinte no previu punio para a falta de resposta e pronunciamento da autoridade. Pecou, assim, no ponto mais importante da questo: a eficcia social do direito de petio6; b) dirigida ao rgo do Ministrio Pblico que tiver competncia para iniciar processo-crime contra a autoridade culpada.

    2.3. Requisitos do direito de representaoDe acordo com o pargrafo nico do art. 2 da Lei, a representao

    ser feita em duas vias (original e cpia) e conter: (a) exposio do fato, com todas as suas circunstncias; (b) qualificao do acusado; (c) rol de testemunhas (no mximo trs). Esses requisitos aplicam-se tanto repre-sentao a ser apresentada autoridade administrativa superior quanto ao membro do Ministrio Pblico. Neste ltimo caso, trata-se de verdadeira delactio criminis postulatria, ou seja, a delao feita pelo ofendido ou qualquer do povo na qual se leva ao Parquet o conhecimento de um crime de ao penal pblica e, ao mesmo tempo, solicitam-se providncias apu-ratrias. Os requisitos para a delao constam no art. 6, 1, a, b e c, e so muito parecidos com os elencados pelo art. 2 (narrao do fato com todas as circunstncias, individualizao do suspeito e indicao das provas e das testemunhas, se houver). No que diz respeito representao dirigida autoridade administrativa, no resta dvida de que a Lei est mesmo tratan-do do direito constitucional de petio aos poderes pblicos. No caso, a vtima do abuso representa ao superior hierrquico ou autoridade com poderes de correio sobre o responsvel, a fim de que fique apurada a sua responsabilidade administrativa. Embora fale a lei em representao para a tomada de medidas administrativas, estas podem ser promovidas de ofcio, independentemente de provocao.

    2.4. Representao formulada perante o Ministrio Pblico: condio objetiva de procedibilidade?A representao de que trata o art. 2, pela forma como est redigida,

    poderia ser interpretada como a autorizao dada pelo ofendido ou seu re-presentante legal para a propositura da ao penal pblica, isto , como condio objetiva de procedibilidade, sem a qual o Ministrio Pblico est impedido de oferecer a denncia. Por essa razo, indaga-se se a ao penal por crime de abuso de autoridade depende, ento, de representao do

    6. Constituio Federal anotada, cit., p. 170.

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    ofendido. De acordo com a letra expressa da Lei n. 5.249, de 9 de dezembro de 1967, a falta de representao do ofendido, nos casos de abuso previstos na Lei n. 4.898, de 9 de dezembro de 1965, no obsta a iniciativa ou o curso de ao pblica. A ao , portanto, pblica incondicionada, por expressa determinao legal. Com isso, o art. 2 tornou-se letra morta, pois, em face do princpio da oficialidade, o Ministrio Pblico tem o dever de apurar qualquer crime, no se exigindo nenhum requisito para que o ofendido ou qualquer do povo lhe encaminhe a notitia criminis. Em outras palavras, com ou sem representao, ou ainda que esta no preencha os requisitos enume-rados pela lei, o rgo do Ministrio Pblico ter o dever de apurar os fatos, promovendo a competente ao penal, independentemente da vontade da vtima. Assim, a representao de que trata a alnea b no se constitui em condio de procedibilidade, e a no observncia dos seus requisitos no impedir o ajuizamento da ao penal. Como foi dito acima, o art. 2 quis apenas se referir possibilidade de o ofendido apresentar uma delao, ou seja, uma informao, uma notitia criminis ao rgo ministerial7.

    3. APURAO DE RESPONSABILIDADE ADMINISTRATIVA, CIVIL E PENAL

    Alm de regular o direito de representao, a Lei n. 4.898/65 define os crimes de abuso de autoridade e estabelece a forma de apurao das respon-sabilidades administrativa, civil e penal. A Lei de Abuso de Autoridade foi criada em um perodo autoritrio, com intuito meramente simblico, pro-mocional e demaggico. A despeito de pretensamente incriminar os chama-dos abusos de poder e de ter previsto um procedimento clere, na verdade cominou penas insignificantes, passveis de substituio por multa e facil-mente alcanveis pela prescrio. De qualquer modo, a finalidade da Lei n. 4.898/65 prevenir os abusos praticados pelas autoridades, no exerccio de suas funes, ao mesmo tempo em que, por meio de sanes de nature-za administrativa, civil e penal, estabelece a necessria reprimenda.

    4. RESPONSABILIDADE PENALOs arts. 3 e 4 da Lei n. 4.898/65 preveem os chamados crimes de abu-

    so de autoridade. Em caso de conflito aparente de normas entre as condutas

    7. STJ, 5 Turma, Rel. Min. Felix Fischer, HC 19.124/RJ, j. 2-4-2002, DJ, 22 abr. 2002, p. 226.

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    do art. 3, infraindicadas, e as do art. 4, prevalecem estas ltimas, em face do princpio da especialidade. que os tipos penais do art. 4 descrevem de mo-do mais especfico as figuras nele contidas, conforme se ver mais adiante.

    O art. 6, 3, 4 e 5, por sua vez, prev as sanes penais incidentes sobre esses crimes.

    4.1. Sujeito ativoA Lei de Abuso de Autoridade contm somente crimes prprios, uma

    vez que apenas podem ser praticados por autoridade, de acordo com o con-ceito legal contido no art. 5: Considera-se autoridade, para os efeitos desta Lei, quem exerce cargo, emprego ou funo pblica, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem remunerao. Mencionado dispositivo legal ser comentado mais adiante.

    4.2. Sujeito passivoOs crimes de abuso de autoridade so de dupla subjetividade passiva:

    (a) sujeito passivo imediato, direto e eventual: a pessoa fsica ou jurdica, nacional ou estrangeira; (b) sujeito passivo mediato, indireto ou permanen-te: o Estado, titular da Administrao Pblica. Damsio E. de Jesus, lem-brado por Gilberto Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas, ensina: evidente que, s vezes, o Estado, ou outra entidade de Direito Pblico, o nico sujeito passivo. Exemplo: atentado ao sigilo de correspondncia, em que seja o prprio Estado o seu titular8.

    4.3. Elemento subjetivoOs crimes de abuso de autoridade somente admitem a modalidade

    dolosa, ou seja, a livre vontade de praticar o ato com a conscincia de que exorbita do seu poder. inadmissvel a punio a ttulo de culpa.

    4.4. TentativaOs crimes previstos no art. 3 no admitem tentativa, j que qualquer

    atentado punido como crime consumado. So os chamados delitos de atentado.

    8. Damsio E. de Jesus, apud Gilberto Passos de Freitas; Vladimir Passos de Freitas, Abuso de autoridade, cit., p. 18.

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    5. CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 3)5.1. Delitos de atentado previstos no art. 3. Ofensa ao princpio

    da legalidadeDispe o art. 3 da Lei: Constitui abuso de autoridade qualquer

    atentado: (...). A expresso muito genrica, abrangendo qualquer con-duta que possa vir a atentar contra os bens jurdicos abaixo elencados. Por essa razo, o art. 3 de duvidosa constitucionalidade, ofendendo o princ-pio da legalidade. De acordo com esse princpio, no h crime sem descri-o pormenorizada do fato contida na lei, sendo a taxatividade uma decor-rncia lgica da legalidade. Assim, sem a definio dos elementos componentes da conduta tpica, no se concebe a existncia de crime (CF, art. 5, XXXIX). A reserva legal impe que a descrio da conduta crimi-nosa seja detalhada e especfica, no coadunando com tipos genricos, demasiado abrangentes. O deletrio processo de generalizao estabelece-se com a utilizao de expresses vagas e sentido equvoco, capazes de alcanar qualquer comportamento humano e, por conseguinte, aptas a pro-mover a mais completa subverso no sistema de garantias da legalidade. De nada adiantaria exigir a prvia definio da conduta na lei se fosse permi-tida a utilizao de termos muito amplos, tais como: qualquer conduta contrria aos interesses nacionais, qualquer vilipndio honra alheia ou qualquer atentado.... A garantia, nesses casos, seria meramente formal, pois, como tudo pode ser enquadrado na definio legal, a insegurana ju-rdica e social seria to grande como se lei nenhuma existisse. Por essa razo, o dispositivo em foco no prima pela clareza, nem pelo adequado cumprimento das exigncias constitucionais derivadas da reserva legal. Apesar de vago e impreciso, entretanto, o tipo acabou no sendo reconhe-cido inconstitucional pela jurisprudncia, nem pela doutrina.

    5.2. Aes configuradoras do abuso de autoridade (art. 3)5.2.1. Atentado liberdade de locomoo (alnea a)

    Qualquer conduta realizada por autoridade, no exerccio de funo pblica, que atente contra a liberdade do indivduo de ir, vir e permanecer, e no se enquadre nas hipteses legais autorizadoras da restrio, configu-ra crime de abuso de autoridade. Alis a liberdade de locomoo assegu-rada pelo art. 5, XV, da CF, o qual prev que livre a locomoo no ter-ritrio nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com os seus bens. A liberdade de locomoo, contudo, no absoluta, devendo ser restringida sempre que a

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    lei assim permitir. O art. 139 da CF prev que, na vigncia do estado de stio decretado com fundamento no art. 137, I, as pessoas podero ser obri-gadas a permanecer em localidade determinada ou podero ser detidas em edifcio no destinado a acusados ou condenados por crimes comuns. O art. 5, LXI, da CF, por sua vez, prev: Ningum ser preso seno em flagran-te delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciria competente, salvo nos casos de transgresso militar ou crime propriamente militar, definidos em lei. A regra, portanto, a no priso9, ou seja, o estado de liberdade. No entanto, admite-se a privao da liberdade nos se-guintes casos: (a) priso em flagrante delito efetuada por qualquer do povo ou por autoridade pblica (CPP, art. 301); (b) ordem escrita assinada por juiz de direito competente; (c) priso administrativa do militar. Com base no art. 244 do CPP, possvel a interceptao de um veculo ou de um transeunte sempre que haja suspeita de que transporte ou esteja na posse de arma proibida ou de objetos ou papis que constituam corpo de delito. Da mesma forma, com base no poder de polcia, no haver atentado liber-dade de locomoo, por exemplo, na hiptese em que a autoridade, reali-zando barreira policial, vistoria veculos e realiza a identificao dos seus condutores, ou quando concretiza blitz em boates com o fim de apreender substncias entorpecentes. que, no caso, agem as autoridades no intuito de prevenir e reprimir a prtica de crimes, hiptese em que est configura-do o estrito cumprimento do dever legal. Obviamente que elas devem agir dentro dos rgidos limites de seu dever, fora dos quais desaparece essa ex-cludente da ilicitude. Os excessos cometidos podero constituir crime de abuso de autoridade.

    Convm mencionar que o art. 4, a, da Lei prev o delito de ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as formalidades legais ou com abuso de poder. Ora, a priso ilegal ordenada nada mais constitui do que atentado liberdade de locomoo do indivduo, previsto no art. 3; no entanto, prevalece a figura criminosa do art. 4, em face do princpio da especialidade. que os tipos penais do art. 4 descrevem de modo mais especfico as figuras nele contidas.

    5.2.2. Atentado inviolabilidade do domiclio (alnea b)A CF, em seu art. 5, XI, consagra a garantia da inviolabilidade do

    domiclio, dispondo que a casa asilo inviolvel do indivduo, ningum

    9. Uadi Lammgo Bulos, Constituio Federal anotada, cit., p. 256.

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    nela podendo penetrar sem consentimento do morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou, durante o dia, por determinao judicial. Desde a mais humilde choupana ao mais majestoso palacete, todos os domiclios gozam de proteo legal. Se a autoridade viola o domiclio responde pelo crime capitulado no art. 3, b, e no pelo art. 150, 2, do CP, em face do princpio da especialidade.

    Somente se pode entrar na casa de outrem: (a) com consentimento do morador, noite ou durante o dia; (b) em caso de flagrante delito, noite ou durante o dia; (c) para prestar socorro, noite ou durante o dia; (d) em caso de desastre, noite ou durante o dia; (e) mediante mandado, isto , ordem escrita do juiz competente, durante o dia. De acordo com o art. 245 do CPP: As buscas domiciliares sero executadas de dia, salvo se o mora-dor consentir que se realizem noite, e, antes de penetrarem na casa, os executores lero o mandado ao morador, ou a quem o represente, intimando--o, em seguida, a abrir a porta. Se existe consentimento, possvel ingres-sar na casa alheia a qualquer hora do dia ou da noite (o morador recebe quem ele quiser e a que horas desejar). Sem consentimento, pode-se ingres-sar a qualquer hora do dia ou da noite, em caso de flagrante delito, desastre ou para prestar socorro; afinal, o domiclio no pode ser um santurio im-penetrvel para a prtica de crimes, nem seria lgico exigir ordem judicial para evitar uma tragdia. A expresso dia deve ser compreendida entre a aurora e o crepsculo; para outros, deve ser entendida como o perodo que vai das seis s dezoito horas10. No perodo noturno o mandado judicial j no poder ser cumprido, salvo se o morador consentir, pois noite no se realiza nenhuma diligncia no interior do domiclio, nem mesmo com au-torizao judi cial. Nesse caso, o executor da medida no poder invadir a casa. Deve-se aguardar at o amanhecer e, ento, arrombar a porta e cumprir o mandado. Fora dessas hipteses, haver abuso de autoridade.

    A expresso domiclio no tem, nem pode ter, o significado a ela atribudo pelo direito civil, no se limitando residncia do indivduo, ou seja, o local onde o agente se estabelece com nimo definitivo de moradia (CC/2002, art. 70), tampouco ao lugar que a pessoa elege para ser o centro de sua vida negocial. A interpretao deve ser o mais ampla e protetiva possvel, consoante o disposto no art. 150, 4, do Cdigo Penal. Assim,

    10. Nesse sentido: Gilberto Passos de Freitas, Vladimir Passsos de Freitas, Abuso de autoridade, cit., p. 38. Fernando da Costa Tourinho Filho, Processo penal, 24. ed., So Paulo, Saraiva, 2002, v. 1, p. 230.

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    considera-se domiclio: (a) qualquer compartimento habitado, do mais humilde cubculo ao mais suntuoso palacete. Abrange, portanto, o barraco de favela, casa, apartamento etc. Inclui-se nesse conceito a coisa mvel destinada moradia: trailer, iate; (b) aposento ocupado de habitao cole-tiva: cuida-se do espao ocupado por vrias pessoas, como o cmodo de um cortio ou o quarto de um hotel. Somente objeto da proteo legal a parte ocupada privativamente pelos moradores (p. ex., os aposentos). Excluem-se, portanto, os lugares de uso comum (p. ex., sala de espera); (c) comparti-mento no aberto ao pblico, onde algum exerce profisso ou atividade: trata-se do espao no destinado propriamente habitao, mas ao desen-volvimento de qualquer profisso ou atividade, por exemplo, o escritrio do advogado, o consultrio do mdico. Ressalve-se, contudo, que a parte desses locais aberta ao pblico no objeto da proteo penal. Excluem-se dessa proteo os restaurantes, bares e lojas, mas a sua parte interna (p. ex., o escritrio, o estoque) tem a inviolabilidade resguardada pela lei penal. Incluem-se nesse conceito as dependncias da casa, como quintal, garagem, celeiros, adegas etc. Quanto aos jardins, necessrio que estejam murados ou cercados. Segundo o 5 do art. 150 do CP, no se incluem naquela definio: (a) hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitao coletiva, enquanto aberta, salvo o espao privativamente ocupado pelos moradores; (b) taverna, casa de jogo e outras do mesmo gnero; esto excludos da proteo legal os bares, restaurantes, lanchonetes, lojas, bingos, casas lot-ricas, cujo acesso liberado ao pblico. A parte interna desses locais, cujo acesso vedado ao pblico, protegida pela lei.

    No caso de a violao de domiclio constituir meio para a prtica de crime mais grave, aplica-se o princpio da consuno, e o delito-fim absor-ve a violao. Assim, se autoridade invade o domiclio de um indivduo para mat-lo, s responde pelo homicdio.

    5.2.3. Atentado ao sigilo da correspondncia (alnea c)Dispe o art. 5, XII, da CF que inviolvel o sigilo da correspon-

    dncia e das comunicaes telegrficas, de dados e das comunicaes tele-fnicas, salvo, no ltimo caso, por ordem judicial, nas hipteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigao criminal ou instruo proces-sual penal. Consagrou-se, ento, o sigilo: (a) das comunicaes por carta; (b) das comunicaes telegrficas; (c) das comunicaes telefnicas.

    Correspondncia por carta, ou epistolar, a comunicao por meio de cartas ou qualquer outro instrumento de comunicao escrita. Telegrfica a comunicao por telegrama. Apesar de a Constituio no ressalvar hip-

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    tese de restrio ao sigilo desse tipo de transmisso de mensagem, deve-se consignar que no existe garantia absoluta em nenhum ordenamento cons-titucional. Nesse sentido a lio de J. J. Gomes Canotilho: Considera-se inexistir uma coliso de direitos fundamentais quando o exerccio de um direito fundamental por parte do seu titular colide com o exerccio do direi-to fundamental por parte de outro titular11. Em regra, o direito de confiden-ciar algo ntimo a outrem no deve ser alvo de interferncia, exceto em hipteses taxativas discriminadas na lei. De fato, no se justifica o sigilo absoluto em todos os casos. Ao invs, sua quebra necessria para evitar a tutela oblqua de condutas ilcitas ou prticas contra legem. A doutrina constitucional moderna cedia nesse sentido, porque as garantias funda-mentais do homem no podem servir de apangio desordem, ao caos, subverso da ordem pblica12. Realmente, nenhuma liberdade individual absoluta. Comporta excees para preservar o ditame da legalidade. Por-tanto, afigura-se possvel, observados os requisitos constitucionais e legais, a interceptao das correspondncias e das comunicaes telegrficas e de dados, sempre que as liberdades pblicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de prticas ilcitas13. Existem hipteses em que o legislador pode limitar o direito ao sigilo, em atendimento a imperioso interesse pblico. Vejamos algumas delas:

    (a) A antiga Lei de Falncias (Dec.-Lei n. 7.661/45) autorizava a aber-tura e a leitura da correspondncia do falido pelo sndico da massa (art. 63, II). Atualmente, o art. 22, III, d, da Lei n. 11.101, de 9 de fevereiro de 2005 que regula a recuperao judicial, a extrajudicial e a falncia do empre-srio e da sociedade empresria, tendo revogado, portanto, a Lei de Faln-cia , prev tambm a possibilidade de o administrador judicial, sob a fiscalizao do juiz e do comit, na falncia, receber e abrir a correspon-dncia dirigida ao devedor, entregando a ele o que no for assunto de inte-resse da massa.

    (b) O Cdigo de Processo Penal, em seu art. 240, 1, f, prev: Pro-ceder-se- busca domiciliar, quando fundadas razes a autorizarem, para: apreender cartas, abertas ou no, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu contedo possa ser til elucidao do fato.

    11. Direito constitucional, cit., p. 643.12. Uadi Lammgo Bulos, Constituio Federal anotada, cit., p. 115.13. STF, 2 T., HC 70.814-5/SP, Rel. Min. Celso de Mello, DJU, 24-6-1994, p. 166650.

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    (c) Dispe o Cdigo de Processo Penal, no art. 243, 2: No ser permitida a apreenso de documento em poder do defensor do acusado, salvo quando constituir elemento do corpo de delito. Mencione-se que, de acordo com a nova redao do inciso II do art. 7 do Estatuto da OAB: So direitos do advogado: a inviolabilidade de seu escritrio ou local de trabalho, bem como de seus instrumentos de trabalho, de sua correspondncia escri-ta, eletrnica, telefnica e telemtica, desde que relativas ao exerccio da advocacia (redao dada pela Lei n. 11.767/2008). E, segundo o art. 7, 6: Presentes indcios de autoria e materialidade da prtica de crime por parte de advogado, a autoridade judiciria competente poder decretar a quebra da inviolabilidade de que trata o inciso II do caput deste artigo, em deciso motivada, expedindo mandado de busca e apreenso, especfico e pormenorizado, a ser cumprido na presena de representante da OAB, sen-do, em qualquer hiptese, vedada a utilizao dos documentos, das mdias e dos objetos pertencentes a clientes do advogado averiguado, bem como dos demais instrumentos de trabalho que contenham informaes sobre clientes (includo pela Lei n. 11.767/2008). Finalmente, consoante o art. 7, 7: A ressalva constante do 6 deste artigo no se estende a clientes do advogado averiguado que estejam sendo formalmente investigados como seus partcipes ou coautores pela prtica do mesmo crime que deu causa quebra da inviolabilidade (includo pela Lei n. 11.767/2008).

    (d) Conforme interpretao doutrinria, permite-se a violao da cor-respondncia do menor de idade pelo seu responsvel. Prevalece o coman-do do art. 227 da CF, que assegura a proteo do menor, bem este maior que o seu direito intimidade14.

    (e) Conforme interpretao do disposto no art. 41, pargrafo nico, da Lei de Execuo Penal (Lei n. 7.210/84), admite-se a interceptao de corres-pondncia pelo diretor do estabelecimento penitencirio. Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Jnior trazem em sua obra um posicionamento do Supremo Tribunal Federal em que, segundo eles, este entendeu que o art. 41, pargrafo nico, da Lei de Execues Penais constitucional quando au-toriza a restrio ou mesmo a suspenso, mediante ato motivado do diretor do estabelecimento, do direito de contato do reeducando com o mundo exterior mediante correspondncia escrita ou outro meio de informao15.

    14. Nesse sentido: Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Jnior, Curso de direito constitucional, 3. ed., So Paulo, Saraiva, 1999, p. 103.

    15. Luiz Alberto David Araujo e Vidal Serrano Nunes Jnior, Curso de direito consti-tucional, cit., p. 103. Julgado citado pelos autores: RT, 709/418, Rel. Min. Celso de Mello.

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    Em que pese esse entendimento do Supremo Tribunal Federal, h posicionamentos na doutrina sustentando a inconstitucionalidade das ex-cees legais, previstas na letra, a, b, c e e, ao art. 5, XII, pois se argumen-ta que a Carta Magna somente estabeleceu uma exceo legal, que a relativa ao sigilo das comunicaes telefnicas, disciplinada na Lei n. 9.296/9616. Desse modo, de acordo com tal posicionamento doutrinrio, a violao de correspondncia realizada segundo essas autorizaes legais, que se reputam inconstitucionais, seriam indevidas, portanto haveria a configurao do crime em estudo. Assim, por exemplo, a apreenso de correspondncia em poder do acusado seria considerada crime. Entendemos que o sigilo de correspondncia telegrfica e epistolar, em tese, jamais admitiria violao, pois a Constituio Federal, em seu art. 5, XII, somen-te prev essa possibilidade para as comunicaes telefnicas. No entanto, no existe liberdade individual que seja absoluta, devendo o direito inti-midade, ao sigilo de correspondncia, ceder diante da maior relevncia de outros interesses, cujo valor social exige a sua preservao. Suponhamos uma carta apreendida ilicitamente, que seria dirigida ao chefe de uma poderosa rede de narcotrfico internacional, com extensas ramificaes no crime organizado. Seria mais importante proteger o direito do preso ao sigilo de sua correspondncia epistolar, do qual se serve para planejar crimes, do que desbaratar uma poderosa rede de distribuio de drogas, a qual ceifa milhes de vidas de crianas e jovens? Certamente no. No seria possvel invocar a justificativa do estado de necessidade? Nesse sen-tido, interessante acrdo do STF: A administrao penitenciria, com fundamento em razes de segurana pblica, pode, excepcionalmente, proceder interceptao da correspondncia remetida pelos sentenciados, eis que a clusula da inviolabilidade do sigilo epistolar no pode constituir instrumento de salvaguarda de prticas ilcitas17.

    No caso de violao abusiva praticada por autoridade no exerccio de suas funes, o crime o do art. 3, c, da Lei n. 4.898/65, o qual tem pre-ferncia sobre o previsto no art. 151 do CP, em face do princpio da espe-cialidade. S ocorrer o crime se a correspondncia estiver fechada, pois a aberta no considerada sigilosa.

    16. Nesse sentido: Cezar Roberto Bitencourt, Cdigo Penal comentado, So Paulo, Saraiva, 2002, p. 494-495, e Julio Fabbrini Mirabete, Manual de direito penal; Parte Espe-cial, 17. ed., So Paulo, Atlas, 2001, p. 200-201.

    17. STF, HC 70.814-5, Rel. Min. Celso de Mello, DJU, 24-6-1994, p. 166649.

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    5.2.4. Atentado liberdade de conscincia e de crena (alnea d) e ao livre exerccio do culto religioso (alnea e)

    O art. 5, VI, da CF dispe que inviolvel a liberdade de conscincia e de crena, sendo assegurado o livre exerccio dos cultos religiosos e ga-rantida, na forma da lei, a proteo aos locais de culto e s suas liturgias. Essa liberdade, contudo, no ilimitada, podendo a autoridade impedir a realizao de cultos que atentem contra a moral ou ponham em risco a ordem pblica. Obviamente, assim como as demais liberdades pblicas, tambm a liberdade religiosa no atinge um grau absoluto, no sendo, pois, permi-tido a qualquer religio ou culto atos atentatrios lei, sob pena de res-ponsabilizao civil ou criminal. Assim, no constitui abuso de autoridade a atuao do agente pblico para reprimir a prtica religiosa que, pelo exagero dos gritos e depredaes no interior do templo, perturbem o re-pouso e o bem-estar da coletividade18. Nesse caso, no haver crime algum por parte do agente que impedir ou interromper a celebrao do culto. Ressalte-se que tambm no constitui constrangimento ilegal a atuao do Poder Pblico ao reprimir a prtica de curandeirismo, pois a garantia cons-titucional da liberdade de crena no autoriza prtica teraputica a pretexto de livre exerccio de culto religioso.

    5.2.5. Atentado liberdade de associao e ao direito de reunio (alneas f e h)

    Associao a reunio estvel e permanente de vrias pessoas, para a consecuo de um fim determinado ou para o desempenho de certa atividade. Reunio o agrupamento voluntrio de pessoas, sem carter de permanncia ou estabilidade, em determinado lugar, no qual se discute um assunto qualquer e aps o qual o grupo se dissolve. A reunio transitria. A asso ciao, per-manente. A reunio pode ser impedida ou dissolvida por qualquer autoridade no exerccio de suas funes. Para tanto, basta que seus fins sejam ilcitos ou que esteja sendo realizada em local proibido ou sem prvia permisso. A associao s pode ser dissolvida por ordem judicial (CF, art. 5, XIX). A Constituio, em seu art. 5, XVI, assegura que todos podem reunir-se pa-cificamente, sem armas, em locais abertos ao pblico, independentemente de autorizao, desde que no frustrem outra reunio anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prvio aviso autoridade compe-

    18. Alexandre de Moraes e Gianpaolo Poggio Smanio, Legislao penal especial, 3. ed., So Paulo, Atlas, 2000, p. 35.

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    tente. A autoridade pode, portanto, proibir: (a) reunies com fins ilcitos; (b) reunies com fins blicos; (c) reunies de membros armados; (d) reunies em locais proibidos; (e) reunies realizadas sem prvio aviso. Quanto s associa-es, plena a liberdade de associao para fins lcitos, vedada a de carter paramilitar (CF, art. 5, XVII). Esto proibidas: (a) as associaes para fins ilcitos; (b) as associaes de carter paramilitar. Associao de carter para-militar a reunio estvel e permanente, sob o mesmo ideal, de membros uniformizados, submetidos a rgida disciplina hierrquica, nos moldes mili-tares, e que recebem treinamento fsico e psicolgico para o combate, apren-dem a manusear armas e obedecem a um mesmo smbolo ou bandeira. Cabe autoridade impedir a reunio dos associados sempre que a associao for ilegal, encaminhando o fato ao conhecimento do Ministrio Pblico, para que seja promovida a sua dissoluo judicial, por meio de ao civil pblica19.

    5.2.6. Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio do voto (alnea g)

    O pargrafo nico do art. 1 da Magna Carta estabelece que todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos da Constituio Federal. O art. 14 do mesmo Di-ploma Constitucional, por sua vez, explicita que no Brasil a soberania po-pular exercida pelo sufrgio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos. O voto tem as seguintes caractersticas: secreto, igual (mesmo peso poltico para todos os eleitores), livre (voto em quem quiser e se quiser, pois posso votar em branco ou anular o meu voto), pes-soal (no se admite voto por correspondncia ou por procurao) e direto (os eleitores escolhem por si, sem intermedirios, os governantes e repre-sentantes). tambm obrigatrio. Qualquer atentado, fsico ou moral, praticado por autoridade contra aquele que exerce o voto poder configurar crime de abuso de autoridade. No Cdigo Eleitoral no h nenhuma con-duta que se assemelhe presente, embora nele existam diversas figuras penais. Logo, no h possibilidade de conflito aparente de normas.

    5.2.7. Atentado incolumidade fsica do indivduo (alnea i)Esse crime engloba toda ofensa praticada pela autoridade, desde uma

    simples contraveno de vias de fato at o homicdio. Esto abrangidas

    19. Art. 5, XVII e XIX, da CF; art. 1.218, VII, do CPC; art. 115 da Lei de Registros Pblicos.

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    tanto a violncia fsica quanto a moral (hipnose, tortura psicolgica etc.). Se alm do atentado resultarem leses corporais ou a morte do indivduo, deve o agente responder por ambos os crimes em concurso formal imperfeito, somando-se as penas. No se h que falar em absoro das leses ou do crime contra a vida pelo abuso, uma vez que as objetividades jurdicas so diversas. No abuso, tutela-se no apenas o bem jurdico do cidado ofendido, mas tambm o interesse do Estado na correta prestao do servio pblico. No se h que invocar, portanto, o princpio da especialidade, pois as duas normas so violadas (a do abuso e a da leso). Alm disso, o abuso de auto-ridade delito menos grave do que as leses leves, graves e gravssimas, o que tornaria invivel a aplicao do princpio da consuno. Seria incons-titucional e atentatrio ao princpio da proporcionalidade admitir que uma infrao leve como a prevista na Lei n. 4.898/65 pudesse prevalecer sobre graves ofensas integridade do indivduo. Por outro lado, se a leso corporal absorvesse o abuso, no haveria nenhuma distino quanto ao tratamento punitivo conferido ao agente pblico que trai a confiana da Administrao e a um particular qualquer. Ora, a leso cometida em abuso de autoridade por um servidor muito mais grave e no pode ser tratada do mesmo modo. A melhor soluo, portanto, a responsabilizao por ambos os delitos. Prevalece, porm, o entendimento segundo o qual o sujeito deve responder pelas infraes em concurso material20. De qualquer modo, seja pelo con-curso formal imperfeito (uma s conduta com dois ou mais resultados), seja pelo concurso material (duas condutas com dois resultados), a consequncia acaba sendo a mesma: somam-se as penas. Convm notar que os crimes dolosos contra a vida praticados por militar contra civil so de competncia da Justia Comum, em face do disposto no pargrafo nico do art. 9 do Cdigo Penal Militar (com a redao determinada pela Lei n. 9.299, de 7-8-1996) e da Constituio Federal, cujo art. 125, 4, com a redao determi-nada pela EC n. 45/2004, ressalvou a competncia do tribunal do jri nos crimes dolosos contra a vida, quando a vtima for civil.

    Nem todo atentado incolumidade fsica do indivduo constituir o delito em apreo. Com efeito, dispe o art. 292 do CPP: Se houver, ainda que por parte de terceiros, resistncia priso em flagrante ou determina-da por autoridade competente, o executor e as pessoas que o auxiliarem podero usar dos meios necessrios para defender-se ou para vencer a re-

    20. Nesse sentido: STF, RTJ, 101/595; STJ, 5 T., REsp 12.614-0/MT, Rel. Min. Flaquer Scartezzini, Ementrio STJ, 6/696.

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    sistncia, do que tudo se lavrar auto subscrito tambm por duas testemunhas. Assim, a violncia empregada pela autoridade na execuo da lei ou de ordem judicial nela baseada, quando demonstrar-se necessria, no confi-gurar o crime em estudo, constituindo hiptese de estrito cumprimento do dever legal.

    Tendo em vista que a matria tratada no art. 322 do CP (Praticar violncia, no exerccio de funo, ou a pretexto de exerc-la) crime de violncia arbitrria foi integralmente disciplinada pelo art. 3, i, da Lei n. 4.898/65, entendemos que o art. 322 do CP foi revogado tacitamente pela mencionada lei especial. Esse , inclusive, o posicionamento que prevalece na doutrina21, embora na jurisprudncia haja corrente em sentido contrrio22. Os motivos para a revogao do art. 322 do CP nos so trazidos por Gilmar Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas: Realmente, conforme es-tudo elaborado pela Procuradoria-Geral de Justia do Estado de So Paulo, Os partidrios desse entendimento (revogao), argumentam que a Lei 4.898, de 09.12.1965, regulou inteiramente a punio dos crimes de abuso de poder, classe a que pertencia o denominado crime de violncia arbitrria. A aplicao do art. 322 do CP aos casos concretos, durante sua vigncia, ofereceu enorme dificuldade de interpretao, causando crticas e sugestes de reforma. O legislador, sensvel a tais reclamos, simplesmen-te disciplinou a matria na nova lei, empregando expresses minuciosas e concedendo ao juiz maior elasticidade na dosagem da pena, possibilitando, assim, imposies especficas e mais adequadas maior ou menor gravi-dade dos fatos. Alm disso, havia dvida a respeito de a descrio do art. 322 abranger somente a violncia fsica ou tambm a moral, sendo predo-minante a primeira corrente. A Lei 4.898 surgiu para dirimir tais dvidas, revogando o art. 322 do CP23.

    21. Damsio E. de Jesus, Direito penal; Parte Especial, 11. ed., So Paulo, Saraiva, 2001, v. 4, p. 186; Victor Eduardo Rios Gonalves, Dos crimes contra os costumes aos crimes contra a Administrao, 3. ed., So Paulo, Saraiva, 2000 (Coleo Sinopses Jurdicas, v. 10), p. 140; Julio Fabbrini Mirabete, Manual de direito penal; parte especial, 13. ed., So Paulo, Atlas, 2001, v. 3, p. 342; Gilberto Passos de Freitas, Vladimir Passsos de Freitas, Abuso de autoridade, cit., p. 171; Cezar Roberto Bitencourt, Cdigo Penal comentado, So Paulo, Saraiva, 2002, p. 1095. Em sentido contrrio: E. Magalhes Noronha, para quem no houve a revogao do art. 322 pela Lei de Abuso de autoridade (Direito penal, 19. ed., So Paulo, Saraiva, 1988, v. 4, p. 272).

    22. No sentido de que houve a revogao do art. 322 do CP: RT, 405/ 417, 512/343, 592/326. Em sentido contrrio: RT, 472/392, 511/322, 520/466.

    23. Gilberto Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas, Abuso de autoridade, cit., p. 171.

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    5.2.7.1. Atentado incolumidade fsica do indivduo (alnea i) e Lei de Tortura

    Segundo preceito constitucional contido no art. 5, III, da Carta Magna, ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante. No caso de a conduta enquadrar-se em uma das figuras tpicas previstas na Lei n. 9.455/97, prevalecero os dispositivos especiais e mais graves da Lei de Tortura. Com efeito, se o policial, por exemplo, constranger o criminoso com emprego de violncia ou grave ameaa, causando-lhe sofrimento fsico ou mental, com o fim de obter informao, declarao ou confisso, haver a configurao do crime previsto no art. 1, I, a, da Lei. Da mesma forma, haver a configurao da figura previs-ta no inciso II do art. 1 se o agente submeter algum, sob sua guarda, poder ou autoridade, com o emprego de violncia ou grave ameaa, a intenso sofrimento fsico ou mental, como forma de aplicar castigo pes-soal ou medida de carter preventivo. Pena: recluso, de 2 a 8 anos. O 2, por sua vez, prev que aquele que se omite em face dessas condutas, quando tinha o dever de evit-las ou apur-las, incorre na pena de deten-o de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Convm notar que, havendo o dever legal de agir, se o omitente tomar conhecimento da tortura antes de o crime ser praticado e desej-la ou aceitar o risco de ela se produzir, res-ponder pelo delito de tortura na qualidade de partcipe por omisso, de acordo com o art. 13, 2, a, do CP. Assim, o 2 fica reservado somen-te para aquele que foi negligente ao evitar a tortura, mas no a quis, nem a aceitou, e para aquele que, tomando conhecimento aps o seu cometi-mento, nada fez para apurar os fatos. A Lei de Tortura tambm prev uma figura qualificada pelo resultado ( 3). Assim, se do emprego de tortura advier leso corporal de natureza grave ou gravssima, a pena de reclu-so, de 4 a 10 anos; se resulta morte, a recluso de 8 a 16 anos. A mor-te, no caso, preterdolosa, uma vez que o agente atua com dolo em rela-o tortura e com culpa em relao ao resultado agravador. Note-se que a Lei contm uma causa de aumento de pena de 1/6 a 1/3 se o crime cometido por agente pblico (inciso I), contra criana, gestante, deficien-te ou adolescente (inciso II) ou mediante sequestro (inciso III). No caso de tortura praticada por autoridade contra criana ou adolescente, no mais incide o disposto no art. 233 do ECA, o qual se encontra revogado pela Lei de Tortura. Finalmente, a condenao acarretar a perda do cargo, funo ou emprego pblico e a interdio para seu exerccio pelo dobro do prazo da pena aplicada ( 5).

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    5.2.8. Atentado aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio profissional (alnea j)

    Reza o art. 5, XIII: livre o exerccio de qualquer trabalho, ofcio ou profisso, atendidas as qualificaes profissionais que a lei estabelecer. A Lei de Abuso de Autoridade, por sua vez, considera crime qualquer aten-tado aos direitos e garantias legais assegurados ao exerccio profissional. Para que se aperfeioe essa infrao, h necessidade de uma norma com-plementar enumerando quais so os direitos e garantias para o exerccio da profisso, razo pela qual o presente tipo uma norma penal em branco. Sem enumerao legal de direitos, no h o que ser violado. No caso do advogado, conforme a Lei n. 8.906, de 4 de julho de 1994, que dispe sobre o Estatuto da Advocacia e a OAB, os direitos esto previstos nos vinte in-cisos do art. 7.

    6. CRIMES DE ABUSO DE AUTORIDADE (ART. 4)6.1. Aes configuradoras do abuso de autoridade6.1.1. Ordenar ou executar medida privativa de liberdade individual,

    sem as formalidades legais ou com abuso de poder (alnea a)As hipteses de priso legal so as do j comentado inciso LXI do art.

    5 da Constituio e as do art. 283, caput, com a redao determinada pela Lei n. 12.403/2011:

    (a) ordem escrita e assinada pelo juiz competente: os juzes criminais podero determinar as seguintes ordens de priso: I priso preventiva; II priso em virtude de sentena condenatria transitada em julgado; III priso temporria. No podemos olvidar as prises determinadas pelos juzes cveis, como, por exemplo, a priso do depositrio infiel e a do deve-dor de alimentos (Lei n. 5.478/68), nicas autorizadas pelo Texto Constitu-cional (art. 5, LXVII). No tocante priso civil do depositrio infiel, ve-dada pelo Pacto de San Jos da Costa Rica e admitida pelo art. 5, LXVII, da CF, havia uma discusso doutrinria e jurisprudencial acerca da hierarquia dos tratados internacionais de proteo dos direitos humanos em nosso ordenamento jurdico, tendo por fundamento o art. 5, 2, da CF, o qual estabelece que os direitos e garantias expressos na Constituio no excluem outros decorrentes do regime e dos princpios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a Repblica Federativa do Brasil seja parte24.

    24. A respeito do tema, vide Flvia Piovesan, Direitos humanos e o direito constitu-cional internacional, 6. ed., So Paulo, Max Limonad, 2004.

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    Acabando com essa celeuma, a EC n. 45/2004 acrescentou o 3 ao art. 5 da CF, segundo o qual os tratados e convenes internacionais sobre direi-tos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por trs quintos dos votos dos respectivos membros, sero equivalentes s emendas constitucionais. A Carta da Repblica passou, portanto, a prever expressamente que os tratados e convenes internacionais sero equivalentes s emendas constitucionais, somente se preenchidos dois requisitos: (a) tratem de matria relativa a direitos humanos + (b) sejam aprovados pelo Congresso Nacional, em dois turnos, pelo qurum de trs quintos dos votos dos respectivos membros (duas votaes em cada Casa do Parlamento, com trs quintos de qurum em cada votao). Obedecidos tais pressupostos, o tratado ter ndole constitucional, podendo revogar norma constitucional anterior, desde que em benefcio dos direitos humanos, e tornar-se imune a supresses ou redues futuras, diante do que dispe o art. 60, 4, IV, da CF (as normas que tratam de direitos individuais no podem ser suprimidas, nem reduzidas nem mesmo por emenda constitucio-nal, tornado-se clusulas ptreas). Tal situao trouxe dvidas quanto aos tratados e convenes internacionais promulgados antes da EC n. 45/2004, isto , sobre a necessidade ou no de submet-los ao qurum qualificado de aprovao, como condio para tornarem-se equivalentes s emendas cons-titucionais. Com isso, passou-se a questionar se a priso civil do depositrio infiel, admitida expressamente pelo art. 5, LXVII, da CF, continuaria a ser permitida em nosso ordenamento jurdico. Isso porque o Pacto de San Jos da Costa Rica (Conveno Americana sobre Direitos Humanos aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo n. 27, de 25-9-1992, e promulgada pelo Decreto n. 678, de 6-11-1992), em seu art. 7, 7, vedou a priso civil do depositrio infiel, somente permitindo-a na hiptese de dvida alimentar. Ficaria, ento, a questo: o Pacto de San Jos da Costa Rica, promulgado anteriormente EC n. 45, para tornar-se equivalente s emendas constitu-cionais e proibir a priso do depositrio infiel, necessitaria ser aprovado pelo Congresso Nacional pelo qurum de trs quintos dos votos dos respec-tivos membros?

    Antes do advento da Emenda Constitucional n. 45/2004, a controvr-sia acabou sendo submetida apreciao do Supremo Tribunal Federal, o qual havia cristalizado interpretao no sentido de que esses tratados teriam posio subalterna no ordenamento jurdico, de modo que no poderiam prevalecer sobre norma constitucional expressa, permanecendo a possibi-lidade de priso do depositrio infiel. Nesse sentido: Priso civil de de-positrio infiel (CF, art. 5, LXVII): validade da que atinge devedor fidu-ciante, vencido em ao de depsito, que no entregou o bem objeto de

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    alienao fiduciria em garantia: jurisprudncia reafirmada pelo Plenrio do STF mesmo na vigncia do Pacto de So Jos da Costa Rica (HC 72.131, 22-11-1995, e RE 206.482, 27-5-1998) qual se rende, com ressalva, o relator, convicto da sua inconformidade com a Constituio25.

    Recentemente, o Plenrio do Supremo Tribunal Federal, no HC 87.585/TO, do qual relator o Ministro Marco Aurlio, na data de 3-12-2008, decidiu que, com a introduo do Pacto de So Jos da Costa Rica, que restringe a priso civil por dvida ao descumprimento inescusvel de pres-tao alimentcia (art. 7, 7), em nosso ordenamento jurdico, restaram derrogadas as normas estritamente legais definidoras da custdia do depo-sitrio infiel, prevista na Magna Carta. Prevaleceu, no julgamento, a tese do status de supralegalidade da referida Conveno, inicialmente defendida pelo Min. Gilmar Mendes no julgamento do RE 466.343/SP. Note-se que, no referido julgado, restaram vencidos, no ponto, os Ministros Celso de Mello, Cezar Peluso, Ellen Gracie e Eros Grau, que a ela davam a qualifi-cao constitucional. O Min. Marco Aurlio, relativamente a essa questo, absteve-se de pronunciamento.

    No RE 349.703/RS (rel. orig. Min. Ilmar Galvo, rel. p/ o acrdo Min. Gilmar Mendes, 3-12-2008) e no RE 466.343/SP (rel. Min. Cezar Peluso, 3-12-2008), a mesma orientao acima foi seguida. No entanto, vale men-cionar que, no RE 466.343, o Min. Celso de Mello, embora tenha conclu-do pela inadmissibilidade da priso civil do depositrio infiel, defendeu a tese de que os tratados internacionais de direitos humanos subscritos pelo Brasil teriam hierarquia constitucional e no status supralegal. Assim, No ponto, destacou a existncia de trs distintas situaes relativas a esses tratados: 1) os tratados celebrados pelo Brasil (ou aos quais ele aderiu), e regularmente incorporados ordem interna, em momento anterior ao da promulgao da CF/88, revestir-se-iam de ndole constitucional, haja vista que formalmente recebidos nessa condio pelo 2 do art. 5 da CF; 2) os que vierem a ser celebrados por nosso Pas (ou aos quais ele venha a aderir) em data posterior da promulgao da EC n. 45/2004, para terem natureza constitucional, devero observar o iter procedimental do 3 do art. 5 da CF; 3) aqueles celebrados pelo Brasil (ou aos quais nosso Pas aderiu) entre a promulgao da CF/88 e a supervenincia da EC n. 45/2004, assumiriam carter materialmente constitucional, porque essa hierarquia jurdica teria

    25. STF, 1 T., RE 345.345/SP, rel. Min. Seplveda Pertence, j. 25-2-2003, DJ 11 abr. 2003, p. 926.

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    sido transmitida por efeito de sua incluso no bloco de constitucionalidade. RE 466.343/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 12-3-2008 (RE 466.343) (conso-ante o Informativo do STF, n. 498).

    De qualquer modo, independentemente do status que assumiriam os tratados e convenes internacionais de direitos humanos, no ordenamento jurdico brasileiro, possvel concluir, segundo a deciso exarada no HC 87.585/TO, que o Pacto de San Jos da Costa Rica, subscrito pelo Brasil, torna inaplicvel a legislao com ele conflitante, no havendo mais base legal para a priso civil do depositrio infiel, sendo admitida apenas na hiptese de dvida alimentar. No mesmo sentido, foi editada a Smula 419 do STJ: Descabe a priso civil do depositrio judicial infiel e a Smula Vinculante 25 do STF: ilcita a priso civil de depositrio infiel, qualquer que seja a modalidade do depsito.

    No mais possvel a priso ordenada por autoridade administrativa em face do preceito constitucional contido no inciso LXI do art. 5. Con-siste na priso decretada por autoridade administrativa para compelir o devedor ao cumprimento de uma obrigao. Essa modalidade de priso foi abolida pela nova ordem constitucional. Com efeito, o art. 319 do Cdigo de Processo Penal no foi recepcionado pelo art. 5, LXI e LXVII, da Cons-tituio Federal, o que gerou a revogao expressa dos 1 a 3 do aludido dispositivo pela Lei n. 12.403/2011. Atualmente, o art. 319 dispe sobre medidas cautelares diversas da priso. No caso da priso do estrangeiro em processo administrativo de extradio (Lei n. 6.815/80), o STF j se mani-festou no sentido de que cabvel, desde que decretada por autoridade ju-diciria;

    (b) flagrante delito;(c) priso administrativa do militar, permitida pela CF para o caso de

    transgresses militares e crimes militares. Trata-se de exceo legal regra que veda a priso determinada por autoridade administrativa. Observe-se que o art. 142, 2, da CF reza que no caber habeas corpus em relao a punies disciplinares militares. A interpretao a ser dada a essa vedao a de que diz respeito ao mrito da punio disciplinar. Desse modo, permitido ao Poder Judicirio examinar os pressupostos de legalidade, como a hierarquia, o poder disciplinar, a motivao do ato e a legalidade da pena aplicada disciplinarmente26. Conclui-se, portanto, que, mesmo nessas puni-

    26. Nesse sentido: STF, HC 70.648-7/RJ, DJU, 4-3-1994, p. 3289; STJ, JSTJ, 4/452, 34/94.

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    es, so vedados o arbtrio e a ilegalidade. No caso da chamada priso para averiguao, aquela em que o indivduo privado momentaneamente de sua liberdade, sem autorizao judicial e fora das hipteses de flagrante, apenas por mera convenincia e a critrio da autoridade, com a finalidade de inves-tigao, tipifica-se essa figura do abuso, uma vez que se trata de privao da liberdade no autorizada nem pela lei, muito menos pela Constituio. Tam-bm vedada no regime castrense, pois s foi permitida a priso militar disciplinar, nunca uma arbitrria privao da liberdade de algum ao alvedrio da autoridade civil ou militar27. No caso, poder-se- lanar mo da priso temporria (Lei n. 7.960/89), instrumento legal destinado a possibilitar as investigaes de determinados crimes elencados nessa Lei, durante o inqu-rito policial. Convm mencionar a lio de Gilberto e Vladimir Passos de Freitas, os quais sustentam: Casos h, entretanto, que a priso efetuada sem a observncia das normas legais, no configura o crime de abuso. o que se d quando ausente o animus delinquendi, como, por exemplo, quan-do o indivduo, por se apresentar emo cio nalmente descontrolado ou pertur-bado, coloca em perigo a vida ou integridade fsica prpria ou de terceiros. Nesta hiptese, apesar de no estar cometendo nenhuma infrao penal ou contravencional, pois se o estivesse poderia ser autuado em flagrante, ad-mite-se a sua custdia. Essa precria privao da liberdade, que no se confunde com a priso, se constitui na guarda, vigilncia e conservao do cidado, com o fim de obstar toda iminente perturbao da ordem. Cessan-do o comportamento inadequado ou perigoso, o custodiado deve ser libera-do. Alis esse o entendimento sufragado pela Jurisprudncia28.

    O agente ordena ou executa medida privativa da liberdade individual sem as formalidades legais ou com abuso de poder. Abuso de poder, segun-do Hungria, o exerccio do poder alm da medida legal29. O agente, ao executar a medida privativa de liberdade, excede-se ou exorbita no exerccio de suas atribuies30.

    27. Jos Silva Loreiro Neto, Processo penal militar, 3. ed., So Paulo, Atlas, 1995, p. 78.

    28. Gilberto Passos de Freitas e Vladimir Passos de Freitas, Abuso de autoridade, cit., p. 74. O autor cita a seguinte jurisprudncia, dentre outras: O brio pode ser posto em custdia durante o tempo em que perdurar a embriaguez; ilegal a sua deteno correcional depois de se findar o seu estado de inconscincia total ou parcial (RT, 108/90)

    29. Nlson Hungria, Comentrios ao Cdigo Penal, 2. ed., Rio de Janeiro, Forense, 1959, p. 514.

    30. Nesse sentido: TJSP, RT, 183/95.

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    Convm notar que o crime em estudo absorve a conduta prevista na alnea c do art. 4, qual seja, a ausncia de comunicao da priso autori-dade judicial. Finalmente, se a vtima da priso ilegal for criana ou ado-lescente, o crime passa a ser outro: o do art. 230 do Estatuto da Criana e do Adolescente.

    6.1.2. Submeter pessoa sob sua guarda ou custdia a vexame ou a constrangimento no autorizado em lei (alnea b)

    Aqui a priso legal, mas o constrangimento criminoso. Mesmo o homem desfigurado pela prtica do crime e afastado do convvio com a sociedade pelo recolhimento ao crcere merece ter sua integridade fsica e sua dignidade preservadas. A pena imposta limita-se privao da li-berdade, no podendo ser acompanhada de outras medidas aflitivas, nem de humilhaes. O respeito dignidade da pessoa humana princpio fundamental, pilar de sustentao do Estado Democrtico de Direito (CF, art. 1, III), e nosso ordenamento bastante claro e enftico com relao a isso: ningum ser submetido a tortura nem a tratamento desumano ou degradante (CF, art. 5, III). assegurado aos presos o respeito inte-gridade fsica e moral (CF, art. 5, XLIX). O preso conserva todos os direitos no atingidos pela perda da liberdade, impondo-se a todas as autoridades o respeito sua integridade fsica e moral (CP, art. 38). Impe-se a todas as autoridades o respeito integridade fsica e moral dos condenados e dos presos provisrios (LEP, art. 40). Impe-se autoridade responsvel pela custdia o respeito integridade fsica e mo-ral do detento, que ter direito presena de uma pessoa de sua famlia e assistncia religiosa, pelo menos uma vez por semana, em dia previa-mente marcado... (CPPM, art. 2