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FESP – FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAIBA
COORDENAÇÃO DO CURSO DE DIREITO
IGOR DANTAS VIEIRA DE MELO
A EXTINÇÃO DO CONTRATO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO À LUZ DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
JOÃO PESSOA
2012
IGOR DANTAS VIEIRA DE MELO
A EXTINÇÃO DO CONTRATO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO À LUZ DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Trabalho de Conclusão de Curso- TCC
apresentado à Fesp Faculdades de Ensino
Superior da Paraíba – do Curso de Graduação
em Direito para atender a exigência parcial
para o título de Bacharel em direito.
Área: Direito do Consumidor.
Professor: Alexandre Cavalcanti.
JOÃO PESSOA
2012
S587a MELO, Igor Dantas Vieira de.
A extinção do contrato nas relações de consumo à luz
da função social do contrato/ Igor Dantas Vieira de Melo. – João Pessoa,
2012.
20f.
Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino Superior
da Paraíba – FESP.
1. Anulação. 2. Abuso do poder econômico. 3. Contrato. 4.
Consumidor.
I. Título.
BC/FESP CDU: 347(043)
IGOR DANTAS VIEIRA DE MELO
A EXTINÇÃO DO CONTRATO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO À LUZ DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Trabalho de Conclusão de Curso- TCC
apresentado à Banca Examinadora de Artigos
Científicos da Faculdade de Ensino Superior
da Paraíba – FESP, como exigência parcial
para obtenção do grau de Bacharel em Direito.
Aprovada em: ____/____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________
Professor: Alexandre Cavalcanti.
Orientador
_________________________________
Membro da Banca Examinadora
_________________________________
Membro da Banca Examinadora
A EXTINÇÃO DO CONTRATO NAS RELAÇÕES DE CONSUMO À LUZ DA
FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
RESUMO
IGOR DANTAS VIEIRA DE MELO
*
Sabe-se que o contrato é a lei das partes, então, possui força normativa. Contudo, nas
relações de consumo tem-se uma vulnerabilidade maior por parte do consumidor, pois,
muitas vezes, sofre abusos por parte do contraente, no momento, da tradição do objeto
da prestação. Ocorre quando o objeto da prestação sofre perda ou deterioração por parte
do fornecedor, devido ao vínculo obrigacional, se houver culpa responderá
proporcionalmente ao agravo. Para tanto, o ordenamento civil brasileiro, bem como o
Código de Defesa do Consumidor pondera os casos de extinção do contrato, em
contrapartida, há também autores que criticam a defesa exagerada ao pólo passivo das
relações de consumo, tendo então uma transgressão ao contrato. Mas, aderimos à linha
de raciocínio que o instituto de proteção ao consumidor é devido, pois os fornecedores
tentam iludi-lo para a compra e venda de produtos lesados.
Palavras-chave: Anulação. Abuso do poder econômico. Contrato. Consumidor.
INTRODUÇÃO
Neste artigo pondera-se um tema de grande relevância na esfera do direito
contratual, tendo em vista que a nova conjuntura da vida moderna instiga o consumo
demasiado. Sendo assim, vários atos do dia-a-dia desenvolvem uma relação contratual
de consumo.
É consenso que, os consumidores, muitas vezes, adquirem objetos
danificados ou que já vieram lesados. Por isso, o direito privado tutela a devida proteção
ao consumidor, para que não haja o abuso. Destaca-se que a causa de extinção de uma
obrigação, seja positiva ou negativa difere-se da anulação de um contrato.
A linha de pesquisa centra-se na codificação do Código Civil de 2002 e no
Código de Defesa do Consumidor, bem como das decisões judiciais. É perfeitamente
plausível destacar que as obrigações contratuais têm o objetivo central de serem
* Concluinte do curso de Direito da Fesp Faculdades. Estagiário; Endereço eletrônico:
1
extintas, ou seja, tem-se a transitoriedade com relação ao seu tempo de existência,
porém o que ocorre é a renovação desse vínculo jurídico e não sua perpetuidade.
Sabe-se que a função social do contrato engloba a tutela do ordenamento
jurídico frente à necessidade e a liberdade de contratar nas relações econômicas. Não
podemos olvidar que essa nova cosmovisão é de cunho protecionista do Estado de
Direito, tendo em vista que o sistema capitalista-burguês, desde sua gênese visa o lucro
exacerbado.
Nesse diapasão, “O contrato desempenha importantíssima função social,
mas nasce para em determinado momento ser extinto em prazo mais ou menos longo.
Essa é a sua nobre e importante função social. Não existem obrigações perenes [...] a
permanência é a característica dos direitos reais, a partir da propriedade, que é o direito
nela mais amplo.” (DINIZ, 2009, p. 487).
No entanto, a responsabilidade contratual deve ser vista sob o mesmo espectro
da função social do instituto contratual, de acordo com o interesse da coletividade.
Nesse diapasão, o alvitre maior dos princípios do direito contratual é evitar a
insegurança jurídica no arrolamento do negócio jurídico, logo, é notável o seguinte
questionamento: a responsabilidade que põe em jogo a transgressão de um dever geral
de conduta?
Então, poder-se-á profanar que ambos os institutos estão diretamente
ligados à eficácia social do instrumento contratual. Com isso, analisa-se à questão da
extinção do contrato de compra e venda e de prestação de serviços quando há um vício
oculto ou explícito, verificando a incidência das hipóteses de extinção do contrato na
legislação brasileira.
Destaca-se que ter-se-á a análise, da mesma feita, da legislação civilista,
incluindo os dispositivos do Código de Defesa do Consumidor. Diante do novo cenário,
da atuação de um capitalismo racional, o Estado tem papel de proteger a dignidade
humana do consumidor.
Sabe-se que as relações de consumo formam um liame, um vínculo
obrigacional entre o consumidor e o fornecedor, observando os princípios contratuais
básicos, haja vista que o contrato é o instrumento jurídico que estabelece os direitos e
obrigações dos contratantes. Assim, os contratos de consumo firmados devem obedecer
aos princípios da boa-fé objetiva; da função social; da transparência, da lealdade e da
confiança.
Logo, como o consumidor é a parte hipossuficiente da relação de consumo,
2
necessita, portanto, da tutela jurídica. Para a formação do contrato de consumo exigem-
se os requisitos da autonomia da vontade; do consensualismo; da obrigatoriedade; a
boa-fé e da função social dos contratos.
Deve-se observar a supremacia da ordem pública, que não implica na
intervenção estatal, mas sim diz respeito à observância da legalidade e da formalidade
dos contratos. Porquanto, têm-se casos em que os contratos podem ser nulos ou
anuláveis, segundo o artigo 166, I, e 171, I, do Código Civil.
Em face da quebra de confiança e do descumprimento das obrigações
contratuais, pode-se rescindir o contrato, contudo, não é cabível, se a rescisão for
unilateral e imotivada. Causando, assim, insegurança e instabilidade nas relações de
consumo.
Nesse sentido, afirma Diniz (2009, p. 533) acerca da vulnerabilidade do
consumidor em face das relações de consumo:
Sem sombra de dúvida, é no âmbito do consumidor que avultará de
importância a garantia pelos produtos ou pelos serviços [...] o fornecedor
tem o dever de informar o consumidor acera das qualidades do produto ou
serviço, bem como adverti-lo dos riscos. Entre as regras de programa que
traz a lei (Lei nº 8.078/90), é reconhecida a vulnerabilidade do consumidor
no mercado de consumo [...] A garantia em relação ao consumidor deve ser
vista, a priori, dentro desse balizamento. ( DINIZ, 2009, p. 533)
Destarte, o Código de Defesa do Consumidor dita que a cláusula é nula,
quando não permite a anulação do contrato, garantindo, dessa maneira, a proteção aos
abusos contra o consumidor, sendo uma extinção anormal, por meio de uma
antecipação temporal ou alterada no objeto ou na forma.
Assim, o cerne da problemática aqui elencada trata-se de que o individuo
prudente que estabelece uma relação contratual tem a consciência do dever de obedecer
ao que foi estipulado, mas frente a enorme diferença entre as obrigações contratuais e
extracontratuais, precisa da tutela da ordem jurídica.
2. BREVE HISTÓRICO
Sabe-se que as relações de compra e venda na sociedade ocidental,
essencialmente mercantilizada, é sine qua non para o desenvolvimento da vida social.
Cotidianamente, as pessoas pactuam contratos, apesar do conhecimento do senso
3
comum não faça tal análise. O simples fato de comprar o pão e o leite na padaria já
caracteriza uma relação de compra e venda.
Mas, as relações contratuais não estão tão somente no plano privado. A
partir do dirigismo contratual, que é a supremacia do interesse coletivo, em detrimento
do particular. Assim, princípios gerais do direito funcionam como estrutura basilar e
uma força motriz e normativa nas contraprestações que equilibram as relações jurídicas.
Entre os romanos, nos primeiros tempos, até da época republicana ( 27 a. C),
o formalismo existiu de forma exagerada. Os romanos contratavam com
observância de rígidos esquemas, de tal sorte que os atos eram praticados em
verdadeiro ritual de formas, que, não observadas, acarretavam a plena
nulidade. (AZEVEDO, 2002, p. 22).
A partir do Código Civil de 2002 constata-se que os direitos fundamentais,
previstos constitucionalmente, têm grande influência no direito privado e são de
aplicação imediata. Então, foi dada especial relevância aos preceitos da dignidade da
pessoa humana e da isonomia.
Dessa feita, as relações contratuais nascem das necessidades humanas
repercutindo no meio social e, consequentemente no direito.
[...] o desenvolvimento do comércio trouxe consigo a reforma da antiga
economia natural, na qual a vida econômica se processava praticamente sem
a utilização do dinheiro. Havia desvantagens na permuta dos gêneros, nos
primórdios da Idade Média. Parece simples trocar cinco galões de vinho por
um casaco, mas na realidade não era assim tão simples. (HUBERMAN,
1981, p. 35)
Vale destacar que quanto aos efeitos obrigacionais do contrato de compra e
venda, o sistema civilista brasileiro adotou o modelo romano. Assim, o contrato não
transfere o domínio, gerando entre os contratantes (vendedor e comprador), somente a
obrigação de transferir o domínio ao comprador.
Destarte, o sistema jurídico brasileiro adotou o modelo romano a respeito
das relações de compra e venda, conforme verifica-se:
Realmente, o direito brasileiro acolheu o sistema romano, segundo o qual
traditionibus non nudis pactids domina rerum transferuntur. Fugiu, destarte,
do sistema francês, em que o mero consentimento, externado no negócio de
compra e venda, transfere o domínio do alienante ao adquirente. Com efeito,
de acordo com a concepção romana, o contrato de compra e venda, transfere
o domínio da coisa que constitui seu objeto. Há mister de se recorrer a um
procedimento complementar, ou seja, a um modo de adquirir a propriedade,
que é a traditio. ( RODRIGUES, 1979, p. 140).
Assim, o modelo brasileiro repeliu o sistema francês, cujos mecanismos
jurídicos dão efeitos reais aos contratos de compra e venda, ou seja, através deste o
4
comprador adquire o domínio da coisa. “a simples cláusula de dessaisine saisine, que se
insere nos atos notariais, tem o efeito de uma tradição fictícia. De fato, por meio dessa
cláusula, o vendedor afasta de si a posse e o domínio da coisa vendida, que naquele
mesmo ato é transmitida ao comprador. (RODRIGUES, 1979, p. 141).
Sabe-se que o Direito do consumidor é formado desde os períodos remotos,
como no Código do Rei Hamurábi, em que eram descritas normas que tratavam, por
exemplo, de defeitos nas embarcações. Contudo, o Direito Romano elucidou a compra e
venda de produtos com vícios.
Inexoravelmente, o Direito do Consumidor é um direito moderno, pois em
âmbito mundial surgiu em 1910, na Suécia, mas com real significado, desde a
Revolução Industrial. Podemos arrazoar que o capitalismo excessivo fez com que
surgisse um novo modelo de consumo, com regras desleais que impunham ao comércio.
Nesse contexto socioeconômico, o modelo legislativo norte-americano
influenciou o Código de Defesa do Consumidor, no Brasil. Vale destacar que antes da
Constituição de 1988, não havia leis esparsas sobre tal tema, apenas referências no
Direito Civil, que favorecia a capitalização pública e a boa-fé do contratante.
A Constituição Federal de 1988 foi marco legislativo do Direito do
Consumidor, disposto no seu art.5º, inciso XXXII “o Estado promoverá, na forma da
lei, a defesa do consumidor”. Assim, a defesa do consumidor é tutela de interesse
público, já em 11 de setembro de 1990 foi sancionada a Lei nº 8.078, o Código de
Defesa do Consumidor. Trata-se do primeiro regramento que aborda as relações de
consumo no direito brasileiro.
Assim, a Carta Magna inaugurou o Direito do Consumidor, de forma
sistematizada no ordenamento jurídico brasileiro. Ademais, o nosso Código de Defesa
do Consumidor é uma codificação moderna, inspiradora de outras legislações
alienígenas.
Contudo, pode-se elucidar o Decreto-Lei nº 22.626 de 07/04/1933, a Lei da
Usura, o qual trouxe à gênese do direito consumerista no Brasil. Posteriormente, adveio
o Decreto-Lei n.869 de 18/11/1938, abordando os Crimes Contra a Economia popular.
Antes do período militar, elucidou a Lei Delegada nº4 de 26/09/1962, a qual veio a
positivar a intervenção estatal no domínio econômico.
Nesse diapasão, com a Constituição Federal de 1988, a proteção aos direitos
do consumidor obteve status de ocupando clausula pétrea, enquanto um direito
fundamental. A previsão legal encontra-se no art.5º inciso XXXII cumulado com o
5
artigo 170, V, abordando o direito do consumidor, como princípio imprescindível à
atividade econômica do Estado.
O ápice da legislação consumerista foi o Código Brasileiro de Defesa e
Proteção ao Consumidor, positivado pela Lei n. 8.078/90, compilando as disposições a
respeito dos direitos dos consumidores. Destarte, trouxe à baila os instrumentos de
cidadania para a defesa do consumidor, modernizando alguns institutos do direito civil.
Grandes foram às conquistas contra as arbitrariedades de comerciantes e
fornecedores, podemos inclusive elucidar alguns movimentos populares como a marcha
da fome em 1931, bem como a marcha da panela vazia em 1953. Já em 1963 houve o
protesto contra o alto custo de vida e boicote à carne em 1979.
Com isso, o CDC é instrumento jurídico que protege o consumidor de
práticas abusivas das empresas, tutelando a proteção da vida, saúde e segurança;
educação para o consumo; informação adequada e clara sobre os produtos; proteção
contra a publicidade enganosa e abusiva e métodos comerciais ilegais dentre outros.
3. AS FORMAS DE EXTINÇÃO CONTRATUAL NAS RELAÇÕES DE
CONSUMO NA LEGISLAÇÃO BRASILEIRA: INOBSERVÂNCIA DO
PRINCÍPIO DA FUNÇÃO SOCIAL DO CONTRATO
Pode-se conceituar o consumidor, conforme o CDC como sendo o
destinatário final que adquire ou faz uso de produtos ou serviços, com isso, a doutrina
divide-se em finalista, a maximalista e a mista.
Portanto, a legislação pátria filia-se a corrente dos finalistas, não podendo se
aplicar a maximilista, sob pena de revogar todo o direito civil e o direito
comercial, pois passaria a existir somente o direito do consumidor no que
concerne aos contratos de maneira geral. Todavia, é notório que o conceito de
consumidor não se restringe ao art. 2o., "caput", do CDC, mas também
aquele descrito no parágrafo único do art. 2o., arts. 17 e 29, lembrando que os
capítulos V e VI, citados no art. 29, cuidam, respectivamente, das práticas
comerciais e da proteção contratual. Verifica-se que o conceito de
consumidor deve ser verificado, principalmente, através da análise da
jurisprudência pátria, restando evidente que o CDC também se aplica aos
consumidores pessoas jurídicas no que concerne aos contratos não vinculados
ao seu objeto social.A jurisprudência possibilita-nos uma visão criteriosa
sobre a aplicação do Código de Defesa do Consumidor, deixando evidente
que existe uma "terceira via", nem finalista, nem maximalista, mas que leva
em consideração o princípio da vulnerabilidade, além da destinação final do
produto ou serviço.( SILVA, 2002, p. 2)
Analisa-se o conceito de consumidor conforme o CDC “Art. 2° Consumidor
é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
6
destinatário final.” Vale destacar que o consumidor pode ser uma pessoa física ou
pessoa jurídica, bem como por equiparação, ou seja, a coletividade de pessoas.
Logo, a teoria finalista afirma que o consumidor é aquela pessoa seja física
ou jurídica que adquire o produto ou contrata o serviço para si ou terceiros, desde que
não desenvolva atividade de produção comercial ou profissional. Já a teoria maximalista
não importa se o consumidor final venha a adquirir lucro, por fim, a teoria mista mescla
as duas outras teorias, ressalvando a necessidade de demonstrar a vulnerabilidade do
consumidor na aquisição do produto e na contratação do produto.
Entende-se o fornecedor como sendo toda pessoa física ou jurídica, pública
ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que
desenvolvem atividades de produção montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de
serviços, consoante o art. 3º do CDC. Assim, o empresário, o fabricante, o vendedor e o
prestador de serviços são fornecedores.
Ao passo que o produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou
imaterial, além disso, os bens econômicos são de natureza patrimonial e também
jurídica, mas também é de caráter subjetivo, pois exige apreciação por parte do
consumidor e outra característica do produto diz respeito a sua materialidade ou
imaterialidade, podendo ser móvel ou imóvel.
Entende-se o serviço como aquele prestado mediante remuneração podendo
ser não-duráveis ou duráveis. Assim, o serviço trata-se de uma atividade do setor de
serviços ou terceiro setor da economia que é acessível no mercado de consumo, por
meio de remuneração.
Afirma Souza (2010, p.1):
A relação de consumo é o vínculo jurídico entre o consumidor e o
fornecedor, regulada pela Lei 8.078/1990 – Código de Defesa do Consumidor
– que dispõe sobre a proteção do consumidor. Essa relação jurídica é
norteada por princípios que refletem os valores tutelados e protegidos. Busca-
se com o presente trabalho estudar os principais princípios que regulam as
relações de consumo, conceituando-os, observando as suas implicações
jurídicas, bem como verificando comparativamente a legislação estrangeira.
Por fim, o que caracteriza a relação de consumo é aquela que afere de um
lado o consumidor ou consumidor por equiparação, por outro o fornecedor; o objeto (o
produto ou serviço), desde que a transação econômica seja remunerada, pois a relação
de consumo tem como afã suprir uma necessidade privada do consumidor. Ademais, a
7
relação de consumo não necessita da contraprestação pecuniária, conforme o CDC,
assim, há relação de consumo na propaganda e publicidade.
Com relação á forma de extinção dos contratos afirma o professor Venosa
(2009, p. 488) “ Como não existe concordância na doutrina acerca dos termos extinção,
resolução, resilição, rescisão, revogação, melhor que partamos da noção de
desfazimento, que vai englobar todos esses institutos, qualquer que seja a compreensão
jurídica a eles outorgada.” Então, as terminologias tratam da extinção do contrato, tanto
na esfera cível como também consumeirista.
Em primeiro lugar, quanto à extinção do contrato elucida o Código de
Defesa do Consumidor em seu art. 46:
Art. 46. Os contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os
consumidores, se não lhes for dada a oportunidade de tomar conhecimento
prévio de seu conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos
de modo a dificultar a compreensão de seu sentido e alcance.
Ante o exposto, o contrato deve ser claro e objetivo visando à compreensão
imediata do consumidor, por isso, este não se encontra obrigado a assinar tal contrato,
caso não tome conhecimento do seu conteúdo. Por isso, as cláusulas contratuais deverão
ser explicitadas de modo mais cômodo ao contratante.
Em sede de direitos do consumidor, o dever de garantia legal não pode ser
restringido, nem pode o fornecedor dele exonerar-se contratualmente.
Qualquer cláusula nesse sentido, que impossibilite, exonere ou atenue a
obrigação de indenizar, é nula ( art. 25). Ademais, a garantia é de cunho
legal e independe de termo( art. 24). Se o fornecedor de bens ou serviços é
o Estado, também a entidade pública será responsabilizada nos termos do
Código ( art. 22). ( VENOSA, 2009, p. 536).
A partir do momento que, forem expressas a declaração de vontade,
especialmente em instrumentos particulares como nos recibos e nos pré-contratos
relativos, que dizem respeito à relação contratual estabelecida entre fornecedor e
consumidor, tais instrumentos vinculam-nos, ensejando inclusive execução específica
na esfera judicial. Porquanto, o consumidor poderá desistir do contrato sem
comprovação de vícios do objeto da prestação.
Conforme o art. 49 do CDC, “O consumidor pode desistir do contrato, no
prazo de 7 dias a contar de sua assinatura ou do ato de recebimento do produto ou
8
serviço, sempre que a contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora
do estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou a domicílio”. Assim, o
consumidor poderá exercitar o direito de arrependimento, dos valores eventualmente
pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, ou seja, de 7 (sete) dias serão
devolvidos, de imediato, além de monetariamente atualizados.
Diante da facilidade para firmar um contrato de consumo, como de um
plano de saúde, de uma plano de uma operadora de telefônica, de cartão de crédito,
entre outros, muitas vezes o consumidor não está atento às cláusulas e disposições no
momento da celebração do contrato. Com isso, desconhece seus direitos e obrigações e,
nem ao menos solicita uma fotocópia do contrato de consumo.
Aliás, a captação de clientes é feita de forma intencional e estratégica, de
modo que os vendedores não repassam às informações descritas no contrato. Isso ocorre
frequentemente nos contratos de adesão. Dessa forma, outros produtos e serviços são
inseridos, sem o consentimento do consumidor.
Assim, as empresas nos contratos de consumo inserem várias condutas
abusivas, como multas exorbitantes em caso de desistência, e, dificuldades para a
extinção do contrato. Para tanto, consideram-se cláusulas abusivas, conforme o art. 51
do CDC:
Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais
relativas ao fornecimento de produtos e serviços que: I - impossibilitem,
exonerem ou atenuem a responsabilidade do fornecedor por vícios de
qualquer natureza dos produtos e serviços ou impliquem renúncia ou
disposição de direitos. Nas relações de consumo entre o fornecedor e o
consumidor pessoa jurídica, a indenização poderá ser limitada, em situações
justificáveis; II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia
já paga, nos casos previstos neste código; III - transfiram responsabilidades a
terceiros; IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis
com a boa-fé ou a eqüidade;V - (Vetado); VI - estabeleçam inversão do ônus
da prova em prejuízo do consumidor; VII - determinem a utilização
compulsória de arbitragem; VIII - imponham representante para concluir ou
realizar outro negócio jurídico pelo consumidor; IX - deixem ao fornecedor a
opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor; X -
permitam ao fornecedor, direta ou indiretamente, variação do preço de
maneira unilateral; XI - autorizem o fornecedor a cancelar o contrato
unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XII -
obriguem o consumidor a ressarcir os custos de cobrança de sua obrigação,
sem que igual direito lhe seja conferido contra o fornecedor; XIII - autorizem
o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do
contrato, após sua celebração; XIV - infrinjam ou possibilitem a violação de
normas ambientais; XV - estejam em desacordo com o sistema de proteção
ao consumidor; XVI - possibilitem a renúncia do direito de indenização por
benfeitorias necessárias.
9
Em muitos contratos de consumo, percebe-se a inserção de multas apenas
para o consumidor, contrariamente, as empresas descumprem o prometido, com isso, o
consumidor poderá requerer a rescisão contratual, pois é a parte que sofre mais danos na
esfera econômica.
Ao passo que para os vícios redibitórios, a lei do consumidor reforça a
responsabilidade do fornecedor, no art.12 desta lei:
Art. 12. O fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou estrangeiro, e o
importador respondem, independentemente da existência de culpa, pela
reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de
projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação,
apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos.
Assegura o Código do Consumidor a respeito da responsabilidade pelo fato
do produto e do serviço, disposto nos artigos 12 a 17. O art. 12 aborda a
responsabilidade independentemente de culpa do fabricante, o fornecedor, produtor e o
importador pela reparação dos danos causados ao consumidor, sendo a abordagem da
teoria da responsabilidade objetiva.
Referem-se aos defeitos decorrentes de projeto, fabricação, construção,
montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou acondicionamento, bem como por
informações insuficientes ou inadequadas sobre sua utilização e riscos. Sendo divididos
em: defeito de concepção ou criação (vícios podem ser resultantes de erro no projeto);
os defeitos de produção ou de fabricação (falha mecânica ou manual, no processo
produtivo). Logo, o fornecedor poderá ser responsabilizado caso deixe de fazer as
advertências quanto à periculosidade na utilização e conservação do produto.
Vale destacar que a responsabilidade objetiva não é absoluta, admitindo
excludentes da responsabilidade, a saber: que não colocou o produto no mercado; II-
que embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste; III- a culpa
exclusiva do consumidor. Esses fatores isentam a responsabilidade pelo fato do produto
o fabricante, produtor, construtor ou importador.
Ademais, com o princípio da inversão do ônus da prova alusivo ao Direito
do Consumidor, logo, o fornecedor deverá provar a inexistência de defeito no produto.
Quando o serviço é considerado defeituoso há a responsabilidade pelos danos causados
ao consumidor, assim, o fornecedor deverá, da mesma feita, provar que não existe
defeito no serviço prestado ou trata-se de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
Porquanto, é cabível a responsabilidade do prestador de serviço durante ou
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após a prestação dos serviços. Destaca-se que a responsabilidade objetiva pelos danos
causados pela prestação de seus serviços, são passíveis tanto as pessoas jurídicas de
direito privado, quanto os órgãos públicos, suas concessionárias e permissionárias de
serviços públicos.
Então, o legislador determinou a responsabilidade social do fornecedor
quanto aos vícios de produtos e serviços. Acrescenta a Lei nº 8.078/99, art. 18:
Art. 18. Os fornecedores de produtos de consumo duráveis ou não duráveis
respondem solidariamente pelos vícios de qualidade ou quantidade que os
tornem impróprios ou inadequados ao consumo a que se destinam ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da disparidade, com
a indicações constantes do recipiente, da embalagem, rotulagem ou
mensagem publicitária, respeitadas as variações decorrentes de sua natureza,
podendo o consumidor exigir a substituição das partes viciadas.
A dinâmica das relações comerciais, que são legitimadas pelo lucro
exagerado, trouxe uma cautela maior para o legislador, portanto, buscou a proteção de
acordo com o princípio da veracidade na responsabilidade legal do consumidor.
A lei faz distinção entre vícios parentes ou de fácil constatação e vícios
ocultos. O fornecedor responsabiliza-se por uns e outros. Não podemos ver
na possibilidade de reclamação de vícios aparentes uma derrogação do
princípio dos vícios redibitórios. Como expusemos nas linhas introdutórias
desta obra, a sociedade de consumo é uma sociedade de massa. Como tal, os
serviços e produtos oferecidos em grande quantidade não permitem ao
consumidor que faça um exame detalhado do que está adquirindo. Quando
muito, e se tanto, fará ligar o televisor na loja para saber se está
funcionando; inspecionará extremamente um veículo novo que adquire em
uma concessionária; e levará o folheto publicitário de um prestador de
serviços. Evidentemente, vícios aparentes e comezinhos podem surgir
quando o consumidor efetivamente colocar em uso a coisa adquirida: o
televisor não tem som; o veículo foi entregue com defeito somente
perceptível com dias de uso etc. Desse modo, a aparência de que a lei é que
surge após a utilização da coisa, o que retira aplicação dos princípios dos
vícios redibitórios; na verdade, mais acentua sua utilidade.( RAMOS, 2009,
p. 537)
Vale profanar que, hodiernamente, os efeitos do contrato são relativos, pois
refletem apenas entre as partes e não entre terceiros. O terceiro na relação contratual
terá sempre vantagens, nunca obrigações, mas poderá exigir o adimplemento da
obrigação. Assim, dá-se ênfase ao princípio da relatividade ( vide arts. 436 a 440 do
Código Civil).
Contrariamente, o princípio da função social do contrato, exposto no art.
421 do Código Civil, produz seus efeitos além das partes. Podemos assim dizer que tal
princípio é análogo à função social da propriedade exposto na constituição para os
direitos reais.
11
Portanto, os vícios sociais e de vontade tem efeito ex nunc, mas as causas da
anulabilidade provém do nascimento do negócio jurídico. Então, caberá analisar a fonte
que formou o contrato, isto é, observando tanto o plano da existência quanto da
validade. Não podemos negar que as mudanças na estrutura econômica barganham
elementos de vícios nas relações de consumo, assim, têm-se produtos e/ou serviços
viciados, havendo, portanto, diminuição do seu valor.
O contrato pode estar inquinado, desde o início de sua elaboração, de um
vício. Se ocorrer vício insanável, a nulidade opera desde a raiz do vínculo.
Embora se decrete a nulidade ex tunc, é inegável que o contrato nulo deixa
rastros materiais que não podem ser ignorados. A compra e venda efetuada
por agente incapaz, por exemplo, pode ter transferido a posse da coisa e
pode ter gerado benfeitorias, direito de retenção, perdas e danos etc. Nesse
caso, o desfazimento retroage à data do contrato, mas o momento em que se
declara desfeito o vínculo em juízo não deixa de ter importância.. ( DINIZ,
2009, p. 488)
Diante disso, deve haver a responsabilidade e a solidariedade passiva do
fornecedor. Esta é uma questão delicada e alvo de discussões nas cortes judiciárias,
trata-se, essencialmente da anulação de contratos de compra e venda. É certo que o
consumidor ao solicitar a permuta de peças ou reparação da coisa adquirida, sendo feita
em 30 dias, mas se o fornecedor não quiser, caberá o remédio jurídico de acordo com §
1º do art. 18, do CDC, não como forma de extinção do contrato e sim com outras
alternativas elencadas na legislação consumeirista.
Se o contratante tiver comprado um aparelho essencial para sua atividade
profissional, nesse caso, o prazo para sanar o vício acarretará enorme prejuízo. Assim,
defende-se que cabe ao consumidor pedir de contíguo a redibição, ou seja, a devolução
da coisa defeituosa.
Note que persistem nessa lei as clássicas ações edilícias aqui estudadas.
Nesse ponto, afora as ações redibitórias e estimatória, tem o consumidor o
direito de pedir a substituição da coisa por outra autentica. Essa
possibilidade não fica afastada na ação redibitória clássica. Apenas não se
imagina que nas relações exclusivamente privadas existia a possibilidade de
o vencedor, ou assemelhado, ter condições de substituir uma coisa por outra,
pois nem sempre o bem será fungível. Por essa razão, essa derivação na ação
redibitória clássica somente é possível com a concordância do alienante. Na
lei do consumidor, também existe alternatividade por disposição expressa: o
consumidor escolhe um dos três pedidos permitidos. ( DINIZ, 2009, p.534).
Mas, dentre as alternativas postas ao consumidor, caso este opte pela
substituição e não tendo o fornecedor, não caberá a falta de sentença, mas condensá-la
em perdas e danos, podendo, contudo, optar pelo pedido alternativo. (VENOSA, 2009)
O dever de indenizar é a forma de reparação do dano, consoante à
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responsabilidade civil, ou seja, havendo a ampla possibilidade de reparação. Logo, os
requisitos essenciais para que haja a responsabilidade civil são a antijuridicidade: o
agente transgrediu a norma contratual; imputabilidade: ao agente responde
conscientemente, sem que haja caso fortuito e força maior; nexo causal: relação de
causalidade, ou seja, o dever de indenizar para quem propiciou o evento danoso.
Nesse diapasão, elucida a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:
CIVIL. CONTRATO DE SEGURO. COBRANÇA DO VALOR
SEGURADO. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ART. 27.
PRESCRIÇÃO DE 5 (CINCO) ANOS. INAPLICABILIDADE. AÇÃO DE
REPARAÇÃO DE DANOS POR FATO DE SERVIÇO.
DESSEMELHANÇA COM A RESPONSABILIDADE CIVIL
DECORRENTE DO INADIMPLEMENTO CONTRATUAL.
PRESCRIÇÃO ÂNUA. CÓDIGO CIVIL, ART. 178, § 6º, II. LEI DE
INTRODUÇÃO. ART. 2º, § 2º. RECURSO ACOLHIDO. EXTINÇÃO DO
PROCESSO. I - A ação de indenização do segurado contra a seguradora,
decorrente do contrato de seguro, prescreve em um ano, não tendo aplicação
o art. 27 do Código de Defesa do Consumidor, dispondo essa norma a
propósito da prescrição em cinco (5) anos nas ações de reparação de danos
por fato de serviço, que não guarda relação com a responsabilidade civil
decorrente do inadimplemento contratual. II - Na linha do § 2º do art. 2º da
Lei de Introdução, a lei nova, no caso o Código de Defesa do Consumidor, ao
estabelecer disciplina especial quanto à ação de reparação de danos por fato
de serviço, aí incluindo os decorrentes das relações de consumo entre
segurado e seguradora, não revogou o art. 178, § 6º, II do Código Civil,
sendo esse dispositivo mais amplo, a englobar as demais ações entre
segurado e seguradora. (REsp 232483 / RJ
RECURSO ESPECIAL
1999/0087212-6. Relator: Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA
(1088). T4 - QUARTA TURMA. Data do julgamento: 15/02/2000. Data da
publicação: 27/03/2000)
Para Venosa ( 2009, p. 535) “Não se trata de prazo de decadência para o
ajuizamento de ação, mas prazo para o fornecedor efetuar os reparos. É prazo de direito
material.” Observa-se que no que se refere aos prazos, segundo o CDC, em seu art. 18,
§ 2º, as partes poderão convencionar a redução ou ampliação do prazo previsto no
parágrafo anterior, não podendo ser inferior a sete nem superior a cento e oitenta dias.
Assim, nos contratos de adesão, a cláusula de prazo deverá ser convencionada em
separado, por meio de manifestação expressa do consumidor.
Consoante o enunciado n. 360 da IV Jornada de Direito Civil IV Jornada de
Direito Civil do Conselho da Justiça Federal: “ 360 - Art. 421: O princípio da função
social dos contratos também pode ter eficácia interna entre as partes contratantes.”
O princípio da autonomia da vontade possui um liame com a questão da
função social no contrato, contudo, um nega o outro. Percebe-se que nas relações
contratuais a responsabilidade civil contratual e extracontratual interpela-se, como a
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responsabilidade profissional no dever da conduta médica. Então, quando não há o
devido cumprimento do que fora estabelecido no negócio jurídico tem-se o indício de
um dever violado, para tanto, cabe à responsabilidade civil.
Assim, a função social do contrato é um mecanismo para coibir condutas
abusivas do fornecedor, defendo o consumidor dos atos arbitrários daqueles. Nesse
sentido, em caso de conflitos entre as partes, levar-se-á em consideração o interesse
público e o bem comum. Essa tendência ocorreu em virtude da constitucionalização do
direito privado, limitando o poder negocial.
A função social do contrato é mero corolário do princípio constitucional da
função social da propriedade e da justiça (LICC, art.5º), norteador da ordem
econômica. O art. 421 é, como já dissemos, uma norma principiológica que
contém um clausula geral: a função social do contrato. O art. 421 instituiu,
expressamente, a função social do contrato, revitalizando-o, para atender aos
interesses sociais, limitando o arbítrio dos contratantes, para tutelá-los no seio
da coletividade, criando condições para o equilíbrio econômico-contratual,
facilitando o reajuste das prestações e até mesmo de sua resolução. ( DINIZ,
2009, p. 27)
À luz do Código Civil, quando um bem é adquirido, havendo um defeito
oculto, de modo que o consumidor não tinha ciência, dessa forma, o negócio jurídico
torna-se inexistente. Tal previsão legal encontra-se inserida no artigo 443 do CC,
cabendo, inclusive a indenização por perdas e danos.
Ressalta-se, outrossim, acerca da função social dos contratos:
Por essa razão, assumiu de importância no Estado social a consideração da
vulnerabilidade em que se encontram as pessoas em certas situações
negociais. A vulnerabilidade jurídica vai além da debilidade econômica da
parte contratante, pois interessa o poder negocial dominante, ou seja, aquela
que se presume em posição de impor sua vontade e seu interesse à outra. A
presunção é definida em lei, como se dá com o consumidor, no CDC, e com o
aderente, no novo é Código Civil. A presunção é absoluta e não pode ser
contrariada pela consideração do caso concreto. O consumidor e o aderente,
ricos ou pobres, são juridicamente vulneráveis, pois submetidos ao poder
negocial da outra parte. Os três princípios sociais dos contratos (função
social, equivalência material e boa-fé objetiva) são comuns a todos os
contratos, ainda quando não se configure o poder negocial dominante. Porém,
nas hipóteses em que há presunção legal de sua ocorrência, alguns princípios
complementares adquirem autonomia e com eles se equiparam. Tal se dá com
os princípios da vulnerabilidade e da informação, nas relações de consumo,
os quais, no plano geral, desdobram os princípios da equivalência material e
da boa-fé. No direito do consumidor ainda se cogita do princípio da
razoabilidade que atuaria como condição e limite dos princípios da
equivalência material e da vulnerabilidade; a defesa do consumidor e a
interpretação favorável vão até os limites da razoabilidade. ( LÔBO, 2002, p.
2)
14
Ademais, o CDC em seu artigo 4º diz que ao consumidor é garantida a
aquisição de produtos e serviços com padrões adequados de qualidade, segurança,
durabilidade e desempenho, cabendo à plena responsabilidade ao fornecedor em face
dos defeitos do produto ou do serviço.
Destarte, são recorrentes os casos em que o consumidor compra um bem por
meio de contrato, posteriormente surpreende-se com algum defeito oculto, tornando-o
impróprio para o uso e havendo a minoração do seu valor econômico, com isso, o
Código Civil permite a extinção judicial do contrato ou o abatimento no seu valor de
mercado, pois se trata de um vício redibitório.
4. A EXTINÇÃO DO CONTRATO NAS RELAÇOES DE CONSUMO NO
DIREITO COMPARADO
Não se pode deixar de explicitar o grande avanço da legislação civilista e do
consumidor no que se refere à proteção contra os vícios ocultos e aparentes. Mas, há
resquícios de apreciação objetiva e subjetiva do julgador, pois os vícios redibitórios são
impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razoavelmente
deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade.
“A figura jurídica que autoriza a resolução por descumprimento imputável a
uma das partes é conhecida pela denominação de pacto comissório ou cláusula
resolutória, que pode ser expressa ou tácita.”( DINIZ, 2009, p. 492). Ambos ocorrem
quando a obrigação não fora cumprida.
Além disso, “O direito francês adotou o sistema pelo qual a cláusula
entendia-se presente em todos os contratos sinalagmáticos, ainda que os contratantes
não a mencionassem expressamente. Passou a ter uma cláusula subentendida, tácita.
(DINIZ, 2009, p. 493).
A Convenção de Estrasburgo de 1977, é tão somente a Convenção Europeia
dos Produtos Responsabilidade, haja vista que nos casos de lesão ou morte precisa
haver a responsabilidade, inclusive influenciou a Directiva 85/374/CEE, contudo,
poucos os países-membros a ratificaram. Da mesma forma, apresentou o primeiro
programa de ação acerca da tutela do consumidor, elucidando os seguintes direitos
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fundamentais do consumidor, como o direito à proteção da saúde e segurança; a
proteção aos interesses econômicos a educação e a representação.
Não obstante, o objetivo da comunidade foi tutelar o consumidor, como o
acesso dos consumidores à justiça, o fortalecimento da legislação alimentar, assim,
houve a legislação condensada com os pedidos de indenização, os contratos negociados
à distância publicidade comparativa, bem como as transferências transfronteiras.
Destaca-se também o Tratado de Amesterdão elucida a integração dos
interesses dos consumidores dentro da União Europeia. Também há o Livro Verde de
2001, versando sobre orientação da defesa do consumidor na União Europeia, propondo
um sistema regulatório de defesa ao consumidor.
O escopo de tais regulamentos é de proporcionar segurança e garantir a
aplicação eficiente e eficaz da legislação no plano interno e externo. No que tange à
legislação sobre responsabilidade por danos causados por produtos defeituosos, elenca-
se a Directiva 85/374/CEE, dispondo sobre os danos à sua saúde e sua propriedade por
um produto defeituoso.
Salienta-se que a Lei 14/2000 da Espanha, alterada pela Lei 22/1994, fala
sobre a responsabilidade civil por produtos defeituosos, como também as commodities
agrícolas e da pecuária. Assim, há responsabilidade solidária pelos vícios de
quantitativo e qualitativos do produto fornecido, assim, o consumidor não será obrigado
a ir atrás do fabricante, mas poderá demandar o que comercializou o produto, tanto no
âmbito nacional e internacional.
Trata-se de uma proteção à extensão da qualidade. Se um fotógrafo anuncia
que entrega a foto em cinco minutos, deve cumprir sua mensagem
publicitária. Assim também o construtor que informa terminar uma casa em
90 dias, e assim pó diante. Vale consequentemente o brocardo popular “
quem não tem competência que não se estabeleça”. A mensagem
publicitária vincula o fornecedor. Também nessa hipótese haverá a
alternatividade das ações edilícias, bem como a possibilidade, também
alternativa, de ser pedida a reexecução dos serviços, sem custo adicional e
quando cabível. Lembre-se de que os serviços devem ser executados não
apenas mo prazo, mas também com a perfeição suficiente para sua
finalidade. Isso é decorrência da prática garantia clássica que regula a teoria
dos vícios redibitórios. Aqui, são trazidos os princípios também para a
prestação de serviços. É necessidade da vida social. O defeito é examinado
não propriamente na coisa, mas no resultado da atividade prestação de
serviços, mas no resultado da atividade prestação de serviços. Nem sempre
haverá um resultado material nessa prestação. ( VENOSA, p. 546, 2009)
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A responsabilidade civil do contrato ocorre quando o contratante não
cumpre voluntariamente a obrigação, assim, cabê-la-á por meio judicial adimpli-lo.
Assim, no sistema alemão:
No sistema dotado pelo Código alemão, no caso de inadimplemento de uma
das partes, a outra deve fixar um prazo fatal para o cumprimento da avença,
para considerar o contrato resolvido. O Código argentino segue essa
orientação, repelindo o pacto comissório tácito. Pelo art. 1.203 desse
diploma, se as partes não dispuserem expressamente que o contrato se
dissolve em caso de inadimplemento, somente se poderá pedir seu
cumprimento. Destarte, fica excluído o pacto comissário tácito como um
elemento presente em todos os contratos, conforme ocorre entre nós. O
Código de 1916, secundado pelo diploma em vigor, ao admitir a condição
resolutiva tácita, ingressou no sistema francês, embora com alguns matizes.
( RAMOS, 2009, p. 493)
Portanto, leva-se em consideração a qualidade do serviço prestado e do
produto avençado, pois é a essência da relação contratual. Sabe-se que a gênese de tal
instituto dá-se com o direito romano com a lex commissoria nas referidas vendas de
crédito, então, o inadimplemento do preço na data de pagamento condicionava a
resolução do contrato de pleno direito. Assim, a responsabilidade contratual está
diretamente ligada aos termos do contrato, ao passo que a responsabilidade aquiliana ou
extracontratual permite um viés investigatório maior, pois cabe ao dever de indenizar
demonstrar a parte probatória.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O Código de Defesa do Consumidor tem a finalidade de proteger os
eventuais danos contra os consumidores dita que o sócio responde subsidiariamente e
solidariamente com o seu patrimônio particular, no caso das sociedades empresárias.
Muitos sócios e/ou administradores de má fé desfrutam da personalidade
das sociedades e corporações, em virtude do princípio da autonomia da pessoa jurídica
que frustra os valores de justiça, pois implica não só a lesão da ordem jurídica, mas sim
de terceiros, credores, sócios e dos consumidores.
Vale destacar que cabe ao ordenamento jurídico tutela, tanto os vícios
aparentes e os ocultos. No caso de resilição, ocorre a cessão do vínculo contratual de
acordo com o princípio da vontade das partes, ou seja, o desfazimento voluntário do
17
contrato. Por isso, os contratos no âmbito das relações de consumo devem primar pela
observância dos princípios alusivos ao contrato, por isso, deve haver a extinção direta
desses contratos.
Percebe-se que os fornecedores não cumprem a função social dos contratos,
favorecendo tão só os seus lucros e causando danos econômicos ao consumidor. Nesse
sentido, podem-se exemplificar os contratos coletivos de assistência à saúde, os quais
negociam com as empresas, contudo, não prestam a assistência devida aos seus
usuários, podendo haver a extinção desses contratos em razão do descumprimento das
cláusulas contratuais.
Quanto aos danos causados com relação à fraude alimentar, o consumidor
recebe passivamente as consequências, tornando-se vítima de um sistema de
fiscalização precário que contribui para o crescimento da violência silenciosa, do dano
ao consumidor e à saúde pública.
Logo, o papel do Ministério Público, como órgão de controle social tem a
incumbência de diagnosticar as condutas lesivas ao consumidor, requerendo
judicialmente a extinção dos contratos de consumo, bem como pleiteando danos morais
e materiais. Isso posto, é inadmissível a venda de gêneros alimentícios vencidos aos
consumidores, o descumprimento da prestação de serviços, a adulteração de
combustíveis, dentre outros, assim, em caso de má-fé o consumidor poderá buscar a
tutela do Poder Judiciário para extinguir o contrato de consumo e incidir a
responsabilidade civil do fornecedor.
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THE TERMINATION OF THE CONTRACT IN CONSUMER RELATIONS IN
THE LIGHT OF THE SOCIAL FUNCTION OF THE CONTRACT
ABSTRACT
It is known that the contract is the law of the parties then have normative force.
However, in consumer relations has a larger vulnerability on the part of the consumer,
because often suffer abuse by the contractor, at the time, the tradition of the object of
delivery. Occurs when the object of the provision suffers loss or damage by the supplier
due to claims over link, if there is guilt will respond proportionately to the grievance.
For both, the Brazilian civil law, as well as the consumer defense code ponders the
cases of termination of contract, on the other hand, there are also authors who criticise
the exaggerated defense to passive consumer relations, having then a transgression to
the transgression to the contract. However, we joined the line of reasoning that the
consumer protection Institute is due, as vendors try to ilidi it to the purchase and sale of
damaged products.
Keywords: annulment. Abuse of economic power. Contract. Consumer.
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