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FOTO: THAYS CABETTE

Fh 216 - Parte 1

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  • FH | pensadores

    14 outubro 2013 revistafh.com.br

    Verena souza | [email protected]

    Professor e Palestrante do sade Business forum 2013, Mario Sergio Cortella, analisa os temas liderana, sustentaBilidade econmica e cultura em um Pas de democracia recente e constantes mudanas

    uma mudana cultural est acontecendo e pode ser observada pelo incio de uma conscincia mais sustentvel, pela possibi-lidade de utilizar o fazer servio do ser, pelas resistncias na berlinda sendo foradas transformao, e pela democracia que co-mea a se assentar. em entrevista fH, o professor e palestrante do sade Business forum 2013 mario sergio cortella retrata as urgn-cias para afastar o colapso de um perodo de intensa movimentao e aproveitar as oportunidades. cortella falou fH durante o evento, que ocorreu na ilha de comandatuba (Ba).

    Tempo deaprender

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    FH: O que ser sustentvelpara voc?Mario Sergio Cortella: Sustentabi-lidade aquilo que afasta o colap-so em qualquer tempo possvel. O colapso uma possibilidade e no uma obrigao. O colapso na totalidade da vida humana algo possvel, mas no obrigatoriamen-te necessrio. E todas as vezes que a gente trabalha a ideia de sustentar significa manter em p nosso neg-cio, nossa vida, nosso afeto, relacio-namentos. Portanto manter em p, sustentar, impedir a derrocada, o esboroamento, o desabamento.

    FH: Com base no tema do Sade Business Forum de crescimento sustentado e sustentvel, as em-presas esto realmente empenha-das nessa questo ou tudo ainda no passa de um discurso? Cortella: As empresas mais inte-ligentes, com maior capacidade e inteligncia estratgica esto, sim, organizando seu negcio para que ele no seja autofgico, isto , auto-destrutivo, que leve capacidade de um biocdio, no permitindo a existncia de um lucro txico, uma convivncia degradada e um futuro desertificado. Desse ponto de vista, ns estamos ainda no fim do comeo ao invs de no comeo do fim. Mas j temos uma conscincia maior a exemplo de algumas empre-sas que mostram que no pode ha-ver outro caminho e que, portanto, ele um ponto de partida. Isso no nos acalma, mas nos anima.

    FH: Falar em crescimento susten-tado e sustentvel engloba uma srie de prticas como governan-a corporativa, planejamento de longo prazo, gesto de pessoas, entre outros. Na sua viso qual prtica ou valor fundamental para atingir a sustentabilidade?Cortella: uma percepo de na-tureza ertica, que vem do eros, ou seja, aquilo que desejamos. O desejo de ter uma vida que seja vivida com intensidade, sem sofrimento intil,

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    sQUEMFormado em filosofia, com mestrado e doutorado em educao, professor titular de graduao e ps-graduao em Educao, Teologia e Cincias da Religio na PUC-SP e professor convidado da Fundao Dom Cabral.Consultor e conferencista nas rea de Educao e Filosofia e autor de diversos livros, entre os quais: No Espere Pelo Epitfio, Qual a tua Obra?, Inquietaes Propositivas sobre Gesto, Liderana e tica, No Nascemos Prontos! e No se desespere! Provocaes filosficas.

    PERFIL

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    O MUNDO QUE ESTAMOS OBRA NOSSA. NENHUMA DIVINDADE DEMONACA OU DIVINA VEIO TONA E ORGANIZOU ESSE MUNDO. E , SE NS ASSIM FIZEMOS, PODEMOS FAZER DE OUTRO JEITO

    sem destruio tola e ao mesmo tempo sem sacrifcio desnecessrio. Temos hoje o pragmtico, o que utilitrio, e eu estou falando de um desejo mais fundo de vida coletiva, uma erotizao da questo da sus-tentabilidade. Ns conseguimos erotizar uma cala jeans, torn-la um desejo, assim como um carro. Temos que erotizar, tornar um dese-jo, uma vida sustentvel para todos.

    FH: Diferentemente, muitas vezes, de como encarada, a sustentabi-lidade estaria mais prxima do ser do que do fazer?Cortella: Esse pragmatismo, esse utilitarismo sempre serve para algo ao invs de possuir um valor essencial. O essencial aquilo que no pode no ser, como a amizade, lealdade, afetividade, religiosidade, sexualidade, fraternidade. O fun-damental o que ajuda a chegar ao essencial, os meios materiais como finanas, carreira. Por exem-plo, o dinheiro no essencial, mas fundamental. Sem ele, voc tem problema, mas ele em si no gera a vitalidade necessria para existir. Assim, ser est ligado essencia-lidade, enquanto o fazer funda-mentalidade. Os nossos negcios so fundamentais enquanto amiza-des, afetividades (...) so essenciais. Do contrrio, a nossa mortalidade, que em ns essencial, se torna no um horizonte, mas uma vivncia cotidiana com as pequenas mortes que vamos tendo, que so as nossas decepes, infelicidades, mortes do dia a dia. Da a necessidade de usar o fazer servio do ser.

    FH : pos svel conciliar sus-tentabilidade com crescimen-to da economia?Cortella: No h o que no seja possvel quando a gente decide que poder ser possvel naquilo que a gente j fez. O mundo que estamos obra nossa. Nenhuma divindade demonaca ou divina veio tona e organizou esse mun-do. Ele fruto da nossa obra. E, se

    ns assim fizemos, podemos fazer de outro jeito. A est colocada a possibilidade - mais do que um desejo hoje, uma urgncia. Se ns no fizermos isso, estamos sendo tolos. Qualquer pessoa que tiver estudado a histria da humanidade ter vis-to o quanto as sociedades altamente poderosas entraram em colapso como um buraco negro que arrasta tudo a volta quando entraram em crise de valor. Embora a frase que eu v dizer seja do sculo I, carpe diem, que significa aproveite o dia, do latim, ela s vai ter validade mesmo no sculo V, quando o fazer e o possuir eram o que importava. Por isso o lema era aproveite o dia porque no haver amanh. Estamos de novo com essa sociedade consumista e

    hedonista. Portanto essa densa questo de afastar esse risco uma urgncia, e no apenas um desejo.

    FH: Qual a importncia do lder nesse caminho e quais caractersticas ele possui?Cortella: Temos a necessidade de uma liderana que no seja personificada, isto , que no esteja pessoalizada em algum. O conceito de liderana, como sendo aquilo que inspira, anima e motiva, precisa ser disseminado no conjunto da vida coletiva. Nenhum de ns capaz de liderar qualquer coisa, mas nenhum de ns tambm incapaz de liderar alguma coisa. E aquilo que eu posso liderar, eu devo faz-lo. uma liderana muito mais di-luda e portanto com uma fora de penetrao no con-

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    junto da vida. O mundo globalizado, as democracias que se constroem, as interconectividades das plata-formas digitais nos levam a ter uma outra viso de liderana, que no mais a do passado clssico, nem do sculo XX, concentrada em figuras como Mahatma Gandhi, Martin Lu-ther King e Nelson Mandela. Todos necessrios para aquele momento, mas umasociedade interconectada precisa ter uma liderana partilhada.

    FH: O mdico pode ser esse lder, pois embora ele seja um ator funda-mental na assistncia, tambm cos-tumam ser resistente s inovaes?Cortella: A medicina est, cada vez mais, com maior capacidade de cui-dar. Cuidar passa pela integralidade, no sendo fragmentada, estilhaada. Portanto, a medicina especialmente capaz de ajudar a sade planetria e humanitria. Aqueles do campo da medicina mais resistentes precisam ter uma disposio, uma inclinao

    para romper esse tipo de barreira, afinal de contas, aqui-lo que urgente hoje no pode sofrer adiamentos por conta de idiossincrasias, ou seja, porque eu no quero perder o meu modo de fazer, eu deixo de fazer o que tem que ser feito. Sendo que muitas vezes o que tem que ser feito contrrio ao modo que eu estou habituado a fazer. Para citar um dos grandes cientistas da histria, Albert Einstein, tolice fazer as coisas sempre do mesmo jeito e esperar resultados diferentes.

    F H : Q u a l a s u a opi n io s ob re o prog ra m a M a i s M d ico s?Cortella: Decisivo para uma nao como a nossa. Ele tardou em vrios momentos. No deve ser apenas um programa de governo, tem de ser um programa de nao, que envolva o conjunto das instituies de formao como universidades, faculdades, hospi-tais, redes de apoio, tudo aquilo que nos conecta para impedir o inacreditvel - o homicdio cotidiano por omisso. H uma frase antiga que diz que os ausentes nunca tem razo. Pode haver necessidade de ajustes, mas preciso olhar para o sucesso que outras naes obtiveram na rea de sade coletiva, especialmente em sade sanitria. No pode de maneira alguma ser postergado. preciso neste momento fazer a implan-tao, promover os ajustes, ouvir as entidades, seja na

    rea de formao, de prestao de servio, mas no se pode adiar. Como dizia o Betinho [socilogo Herbert de Souza] quando criou a campanha contra a fome: quem tem fome, tem pressa, e isso vale para a sade.

    FH: Como voc julga a reao do governo brasileiro s recentes manifestaes populares? Acha que elas so um meio de melhoria efetiva?Cortella: Toda manifestao em uma democracia que se constri leva de fato a um crescimento. Nossa democracia no tem 30 anos. O Brasil um Pas que tem 513 anos e a democracia no est presente nem em 10% do nosso tempo histrico. Estamos aprenden-do, e no s o governo que est aprendendo, mas o conjunto da sociedade. Em um primeiro momento, ir para as ruas como aconteceu em junho foi, de fato, um smbolo bom e forte. Em um segundo momento, o desajuste entre o modo de manuteno da ordem das autoridades, unido a alguns movimentos mal intencionados, levaram a quebra no s de janelas como do prprio movimento, que arrefeceu foras. necessrio o entendimento de que estamos no incio. Venho propondo que a gente comece a fazer uma passeata na rua contra aqueles que votaram nos que esto no poder e que so foco de passeatas. Eu estou revoltado com gente que escolhe mal.

    VENHO PROPONDO

    QUE A GENTE COMECE A

    FAZER UMA PASSEATA NA RUA CONTRA

    AQUELES QUE VOTARAM NOS QUE ESTO NO

    PODER E QUE SO FOCO DE

    PASSEATAS. EU ESTOU

    REVOLTADO COM GENTE QUE

    ESCOLHE MAL

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    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR20 OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BRREVISTAFH.COM.BR

    Cesar Abicalaffe, da 2iM e consultor

    Luciano Regus, da MV

    Ana Luiza, da Philips

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    DI-LOGO NAUTI?UTI?UTI?

    EXECUTIVOS DEBATEM AS DIFICULDADES DA RELAO ENTRE HOSPITAIS E FORNECEDORES DE TI

    Marcelo Vieira | [email protected]

    DI-LOGO NAUTI?

    Marcelo Vieira | [email protected] Bin, do Icesp

    Fotos: Ricardo Benichio

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    entendimento exige muito dilogo. Isto par-ticularmente verdade no setor da Sade, no qual muitos atores se inter-relacionam, cada qual com interesses bastante distintos, mas com o objetivo comum de crescer. H, no entanto, um srio agravante: o que est em jogo vai muito alm do bem estar financeiro dos hospitais, operadoras, indstrias e outros players, pois neste setor, o que mais importa a sade dos pacientes.Com isso em vista, a revista FH reuniu para o It Mdia debate dois elos do setor cujo dilogo deve se intensificar ainda mais nos prximos anos. Hospitais e instituies assistenciais de um lado e desenvolvedores de solues de tecnologia da informao (tI) do outro. No centro da mesa, a ci-ncia de que o hospital digital trar muitos ganhos para profissionais e pacientes, mas tambm de que h muitos desafios a serem superados. Perguntas no faltam. Que solues podem real-mente atender demandas to particulares como as dos gestores hospitalares? Como integrar ferra-mentas de diferentes fabricantes? e como estend--las de departamentos operacionais para o corpo clnico? possvel incentivar mdicos, enfermei-ros e outros profissionais a adotarem a tecnologia? Como capacit-los para isso? de que forma traduzir suas necessidades em conceitos compreensveis no s para os fabricantes, mas tambm para os

    prprios departamentos internos de tI? Como atender ambas as partes?Para o consultor na rea de planos de sade e hospitais e scio diretor da 2iM, Cesar abicalaffe, muitas vezes o que est sendo produzido pelos desenvolvedores de tI no atende aos gestores, o que gera grande ansiedade. o gap est justamente no levantamento e compilao de informaes, geradas em diversas ferramentas, e no apenas no sistema de gesto corporativo (erP). Quando os gestores vo buscar as informaes no sistema o esforo muito grande. So relatrios extensos que exigem muito para se trabalhar.Com as organizaes hospitalares crescendo a pas-sos largos, e cada vez mais auditorias exigindo con-troles internos, a importncia de consolidar dados cresce para atender iniciativas de compliance. a necessidade das organizaes profissionalizarem o processo de gesto maior que nunca, ponderou o diretor geral da MV, Luciano regus, que aponta para a tecnologia como um grande aliado.uma organizao que busca crescimento susten-tvel e estvel deve ter uma tI muito alinhada com essa questo. os diretores esto se especializando muito em gesto, e ns de tI temos que chegar mais junto para conseguir suportar temas estratgicos: gerao de receita, gesto de custos, qualidade es-tratgica, delineou o executivo, que tambm re-

    conheceu que h um paradigma de que muitas vezes a tI fica muito presa infraestrutura e falta sensibilidade, formando um vazio que s vai ser preenchido ao longo dos anos.e ser inevitvel: a tI vai passar a ter um papel cada vez mais importante nas organizaes de sade, assim como o compliance, concordou a diretora de marketing e vendas da Philips Healthcare para a amrica Latina, ana Luiza oliveira. a presso de mercado vai acontecer e a gesto vai ser mais necessria, disse, mas h uma diferena funda-mental. esses aspectos so muito vivos dentro da indstria, mas a questo da vida diferente. Fazer um saco de biscoito na Nestl diferente. o aspecto clnico traz gesto uma outra dimenso.o diretor mdico de informtica do Instituto do Cncer do estado de So Paulo (Icesp), Kaio bin, concorda com os pares da indstria, mas prefe-re ver a questo de um ponto de vista mais pr-tico. Para ele, o principal ponto na relao entre fornecedores e consumidores de tI na Sade a transparncia. No tem coisa pior ao negociar com um fornecedor do que quando me sinto tapeado, enganado, e fica alguma coisa no ar, ponderou.Segundo ele, no so raros os casos de fornecedo-res que simplesmente evitam o dilogo, mesmo du-rante negociaes comerciais. muito importante essa transparncia, porque sem isso no tem con-

    Experincias e vises foram trocadas para responder a pergunta: o que o hospital espera exatamente do fornecedor de TI?

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    O que determina a

    escOlha de um fOrnecedOr

    de ti ?

    Suporte tcnicoe ps vendas

    Resposta rpida a solicitaes e

    demandas

    Menores preos

    Boas referncias do produto ou servio

    Bom relacionamentocom a instituio

    Conhecimento do setor em que a empresa atua

    fiana, nem parceria. o fornecedor tem que entender que quem contrata no burro, sabe dos problemas do mercado. Queremos ajudar. Se nosso parceiro cair, camos junto. No que-remos que ele caia, mas sem saber o que ele tem, como posso ajudar?

    gua fRiaMobilidade e automao operacio-nal so as tecnologias que causaro maior impacto no segmento de sa-de nos prximos anos, ou pelo me-nos assim pensam a maioria dos 167 CIos respondentes da pesquisa antes da tI, a estratgia na Sade, realizada pela It Mdia em parceria com consultores de mercado. Mas ser que esses realmente so temas prioritrios, e em que ordem eles apa-recem nos planos de investimento dos gestores?antes de falar em gastos preciso voltar a alguns conceitos prelimi-nares, acredita regus, da MV. os projetos, por exemplo, precisam amadurecer, privilegiando as etapas iniciais de definio dos processos. Isso porque os hospitais possuem estruturas muito distintas, ainda mais se consideradas diferenas regionais entre So Paulo e o resto do brasil. traduzindo: nem todos es-to prontos para falar de automao ou mobilidade, quanto mais escolher em qual investir primeiro.Infraestrutura em um hospital uma questo muito crtica, con-cordou ana Luiza. Para pensar em mobilidade, por exemplo, o hospital precisa ter WiFi de altssima qualida-de. Somos fornecedores de software, mas s vezes, quando vamos dar pal-pite, o hospital precisa ouvir.ana conta que a Philips Healthcare lanou, durante a ltima Feira Hos-pitalar, um portflio de mobilidade cujo objetivo quebrar a resistncia contra as tecnologias mveis. Con-siderando que atualmente 60% dos celulares vendidos no brasil so smartphones, o prximo passo tornar os aplicativos mais simp-ticos para os usurios. Se tivermos infraestrutura, no h porque no

    deixar a tecnologia mais palatvel e aumentar a adoo.abicalaffe prefere abordar outro aspecto. Se a automao e a mobilidade so inevitveis em um futuro de mdio e longo prazo, o que exatamente ser automatizado? Sem esta conscincia clara, os erros sero inevitveis. o que efetivamente deve ser feito, que tipo de dados e processos sero au-tomatizados para trazer alguma resposta efetiva para quem precisa tomar deciso, seja mdico ou gestor?, disse.um dos caminhos para a resposta desta pergunta vem do Icesp. Quando cheguei ao hospital, a antiga diretoria era muito inovadora, queriam tablets na enfermaria, mas no havia nenhum processo. o primeiro passo que o Icesp tinha que dar era consolid-los, fazer que todo mundo visse a impor-tncia da tI.antes disto, explica Kaio bin, o departamento de tI era uma espcie de bode expiatrio. Somente no momento em que a conscincia da impor-tncia estratgica da tI nos processos de assistncia ganhou corpo que

    abicalaffe: informaes gera-das em diversas ferramentas dificultam tanto para o gestor quanto para o fornecedor

    * Fonte: estudo Antes da TI, a Estratgia na Sade 2013, que ouviu 167 CIOs de instituies hospitalares brasileiras

    46,5%

    45,2%

    35,5%

    34,8%

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    as coisas comearam a andar com mais velocidade. Quando foram disponibilizados eletroni-camente, os dados surtiram efeito para a gesto do hospital e, depois, migraram naturalmente para a mobilidade e automao.atualmente, o Icesp sustenta um pro-cesso de mobilidade que triangula equipes de emergncia do hospital. Qualquer membro da equipe de as-sistncia pode convocar a equipe mdica por telefone, que responde ao chamado em at trs minutos. apesar disso, e por mais bvia que parea, nem toda tendncia tecnol-gica est fadada ao sucesso. o tablet no virou moda e no foi bem ava-liado pela equipe de enfermagem porque elas no gostaram de no sentir o teclado e o mouse. Mas um dia a gente pode caminhar para isso, disse bin.

    Formaoos executivos que participaram do It Mdia debate concordaram em um ponto a respeito das dificulda-des no dilogo entre fornecedores e instituies: a falta de uma formao hbrida dos profissionais que contra-

    tam e tambm dos que desenvolvem sistemas para essa rea. de um lado, mdicos sem noo exata dos limites e recursos dos sistemas de tI; de outro, desenvolvedores com pouca ou nenhum conhecimento das necessidades prticas de um processo hospitalar.ter colaboradores que entendam do negcio sade fundamental, pon-derou abicalaffe. regus traa um perfil mdio ideal para o profissional de tI hospitalar: bom conhecimento de gesto de tI, um pouco de medicina e tambm gesto empresarial, de modo a traduzir a linguagem de resultado. afinal, tambm deve ser considerado o lado da eficincia operacional da or-ganizao que precisa alcanar lucro e controlar custos. Kaio bin chega a traar um paralelo entre a formao dos profissionais bra-sileiros e de outros pases. Na Inglaterra, disse, muito comum, durante o perodo de formao do mdico, haver aulas de administrao e gesto em-presarial, enquanto no brasil costumam se tratar de disciplinas optativas e quase sempre vazias.tI uma rea operacional, defendeu bin. o gestor tem de reconhecer que no entende nada de tecnologia. tenho uma gerente especialista em tI, e nosso fator em comum a linguagem processual.regus concorda. Para ele, preciso reconhecer falhas e criar processos que tornem o relacionamento mais fcil. o caminho seria contar com mdicos na equipe de desenvolvimento. No caso da MV, o chefe mdico de produtos desenvolveu softwares por dez anos. ana Luiza, da Philips Healthcare, segue pelo mesmo caminho. a companhia conta com 400 mdicos globalmente, focados principalmente em inovao, esforo necessrio para uma diviso que produz atualmente cerca de 40% da receita global da companhia. a pesquisa na Philips pesada e est impul-sionando nossa inovao, disse.apesar das dificuldades, h luz no fim do tnel. abicalaffe observa novos cursos surgindo. Informtica em biomedicina, por exemplo. H um movi-mento dentro das universidades de unir conhecimento em medicina e tI. Mudana tambm percebida no prprio mercado pelo diretor geral da MV.

    Regus, da MV: no h um processo de mudana sem

    dificuldades, por isso o pres-tador precisa estar preparado

    quais tecnologias

    causaRo MaioR

    iMpacto nas oRganizaes

    de sade?

    mobilidade

    automao operacional

    Cloud Computing

    Big Data

    Social Business

    * Fonte: estudo Antes da TI, a Estratgia na Sade 2013, que ouviu 167 CIOs de instituies hospitalares brasileiras

    69,5%

    50,1%

    41,3%

    28,1%

    16,8%

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    Classicamente os gestores de tI dos hos-pitais fazem o relacionamento com os fornecedores, mas tem despontado uma safra de mdicos responsveis, tendn-cia particularmente muito boa. Vamos entrar em um vis mais aprofundado da rea assistencial, e isto ajuda muito, complementa regus.

    Ponta a Pontatalvez essa renovao profissional seja o impulso que falta para que os sistemas hospitalares, hoje em sua maioria foca-dos em processos de gesto e fatura-mento, migrem tambm para as reas assistenciais. o cerne da questo, para abicalaffe, que com os hospitais e o n-mero de convnios mdicos crescendo, ou seja, com a complexidade do merca-do cada vez maior, o foco na operao adquira carter de urgncia. existe um desalinhamento do que precisa ser feito pela preocupao com as receitas do ne-gcio, e algumas instituies esquecem que o verdadeiro negcio a sade do paciente, opinou o consultor.e no seria um investimento sem retor-no, ponderou ana Luiza. Quanto maior o percentual de uso clnico de um sistema, maior a satisfao. Segundo ela, apenas 30% da carteira de clientes da Philips He-althcare utilizam recursos assistenciais do portflio, mas so justamente eles os mais satisfeitos. regus confirma a tendn-cia na MV: um bom volume de hospitais no brasil, principalmente acreditados com oNa 3 e com ciclos de qualidade para anlise de corpo clnico, estariam puxando a curva de adoo para cima. Claro que esse avano no vem sem problemas, principalmente de ordem cultural. deixar claro o valor que es-sas solues agregam essencial para quebrar barreiras, que s conseguida atravs da entrega de resultados. No meu ponto de vista no tem muito chabu: tem que entregar. No s para no perder a conta, mas para honrar a confiana. Por mais difcil que seja migrar um sistema hoje, o cliente sempre tem essa opo, ponderou ana.Para qualquer empresa, adotar uma nova soluo implica treinamento, dis-se Luciano regus. Para isso o prestador precisa estar preparado, pois no h um processo de mudana sem dificuldades.

    na Prticatodos somos humanos com uma ca-racterstica em comum: medo daquilo que no conhecemos, ponderou Kaio bin. Para ele, natural haver resistn-cias, mais ainda quando se trata do cor-po clnico, que julga ser sua primordial responsabilidade cuidar do paciente, e no alimentar um sistema. Se for cirurgio ele precisa chegar ao centro cirrgico, operar, medicar etc, e depois vai pra casa. em algum momento ele usou um computador? No precisou. Na graduao aprendemos a lidar com a vida humana nas condies mais es-cassas, e em nenhuma delas preciso usar um teclado. Como convenc-lo de que ele precisa registrar?outro fator: algumas instituies usam sistemas de tI para colher da-dos dos procedimentos mdicos e se resguardar de eventuais erros. Para o gestor do Icesp, os sistemas dedo--duro desestimulam e so capazes de afugentar equipes inteiras.Mas nem tudo so problemas. bin aponta como pontos positivos do processo de implantao a distncia entre fornecedores e usurios finais com a instituio intermediando qual-quer tipo de relao. alm disso, cor-pos clnicos fechados costumam ser menos resistentes pelo compromisso que assumem com a instituio. No Icesp os residentes so os mais desin-teressados, citou o gestor.alm disso, necessrio oferecer es-tmulos. No Instituto do Cncer, por exemplo, o uso de pronturio eletr-nico deslanchou quando os mdicos comearam a pedir dados para apre-sentar em um congresso. em 5 minu-tos as pesquisas estavam prontas. Foi quando a gente ganhou a fora para implantar de vez, contou.Por ltimo h os fundamentais bene-fcios para os pacientes. eles sentem diferena quando veem um sistema bem implantado, com informaes disponveis para todos os nveis do hospital. No comeo eu achava que no fazia diferena, at que uma [paciente] disse que se sentiu mais segura, disse. acredito que os be-nefcios so infinitos, s falta fazer propaganda.

    Bin, do Icesp: o principal ponto na relao a trans-parncia. no tem coisa pior do que quando me sinto enganado

    Ana Luiza, da Philips: preciso

    entregar o prome-tido, pois o cliente

    tem sempre a opo de trocar

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    A PARADISACA ILHA DE COMANDATUBA, NO SUL DA BAHIA, FOI O CENRIO DE MUITO RELACIONAMENTO, CONTEDO, NEGCIOS E DIVERSO PARA MAIS DE 300 PARTICIPANTES DO SETOR DE SADE. ACOMPANHE NAS PRXIMAS PGINAS A INTENSIDADE DOS QUATRO DIAS (19 A 22 DE SETEMBRO) DO SADE BUSINESS FORUM 2013!

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    Foto

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Eduardo Giannetti

    Marcelo Vieira | [email protected]

    ACELERAR PARA

    EVOLUIREduardo Giannetti da Fonseca abriu o Sade Business Forum 2013 com reflexo sobre a importncia do investimento em capital humano; palestra tambm discutiu impostos e sucesso presidencial

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    O GRANDE RISCO QUE O BRASIL CORRE O DE ENVELHECER

    ANTES DE ENRIQUECER.

    QUERO VER COMO O PAS VAI LIDAR COM ESSA

    TRANSFERNCIA DE RENDA ENTRE AS

    GERAES

    Fotos: Nadson Carvalho

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Eduardo Giannetti

    Houve um movimento de mudana intenso na forma como as famlias alocam seus oramentos nos ltimos cem anos. Um estudo do prmio Nobel de economia Robert Fogel mostrou que as famlias de classe mdia dos pases desenvolvidos gastavam, no incio do sculo 20, 80% de sua renda com ali-mentao, vesturio e moradia. Cem anos depois, os mesmos itens absor-vem menos de um tero do total de recursos da mesma famlia hipotti-ca, dando lugar a gastos com entrete-nimento, educao e sade.No Brasil atual uma famlia mediana gasta 62% de sua renda com alimen-tao, vesturio e moradia. Esse mo-vimento das famlias representativas de pases desenvolvidas ainda est acontecendo no Brasil, e nossa classe mdia vai ser a narrativa do que foi a americana do sculo passado, refle-tiu o economista e socilogo Eduardo Giannetti da Fonseca.Diferente dos EUA no entanto, disse Giannetti, as escolhas da nao brasi-leira podem prejudicar esse processo, principalmente devido aos baixos in-vestimentos do estado brasileiro em capital fsico e intelectual. O dreno de recursos que o estado intermedia e transforma em gasto corrente vai ter que mudar se o Brasil quiser construir um futuro. Ele arrecada 36% do PIB, a chamada carga tributria bruta, mas gasta 39% e investe apenas 2,5%, pon-derou Giannetti.A situao ainda mais grave em dois pontos fundamentais: educao e sa-de. Cerca de 36% dos egressos no ensi-no superior brasileiro so analfabetos funcionais, lamentou o economista, que v neste capital intelectual um pos-svel princpio de uma base de desen-volvimento sustentvel e sustentado. Porque um trabalhador de um pas de alta renda gera de 4 a 5 vezes mais rique-za que em um pas de renda mdia? A diferena est fundamentalmente no estoque de capital fsico e humano. a diferena entre trabalhar com uma enxada e um trator, analisou.Para o economista, o Brasil est indo mal nesse processo pois investe pou-

    co. O Pas, diz ele, est passando pelo melhor momento demogrfico poss-vel em que a maior parte da popula-o economicamente ativa frente a uma minoria de idosos e crianas sem acelerar a produo de riqueza, ou seja, sem aproveitar o momento mgico na vida de um Pas para criar as bases do desenvolvimento.O problema que essa demografia fa-vorvel vai se virar contra ns. O que hoje uma pirmide etria vai comear a virar um cogumelo. O grande risco que o Brasil corre o de envelhecer antes de enriquecer. Quero ver como o Pas vai lidar com essa transferncia da renda entre as geraes.

    POLTICA E SUCESSOQuando perguntado pela plateia, Giannetti declarou estar envolvido na candidatura da ex-senadora Mari-na Silva, que atualmente se concentra em fundar um novo partido a tempo de concorrer s eleies presidenciais de 2014*. O economista participa da formulao de um futuro programa de governo cujas bases, disse ele, se concentram na formao de capital hu-mano a partir do investimento maior em sade e educao e nos princpios de sustentabilidade.Ela [Marina Silva] no aceita o presiden-cialismo de coalizo, lotear o governo de porteira fechada para facilitar apoio no congresso, que no se confirma efe-tivamente no dia a dia, disse Gianetti, criticando indiretamente o atual go-verno de coalizo da presidente Dilma Rousseff. Democracia existe para que formas diferentes de viso de futuro se confrontem, e o projeto vencedor deve ter capacidade de atrair os partidos para que seja implementado.O economista elogiou o segundo go-verno de Fernando Henrique Cardoso (de 1999 a 2002) e o primeiro mandato de Lus Incio Lula da Silva (de 2003 a 2006) com relao a gesto macro-econmica. Segundo ele, o projeto econmico de um futuro governo da Rede Sustentabilidade no seria rein-ventar nada, mas voltar ao que estava dando certo.

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Paulo Vicente Alves

    Marcelo Vieira | [email protected]

    Paulo Vicente Alves, da Fundao Dom Cabral, elenca tecnologias que podem no futuro alterar drasticamente a prpria espcie humana, mas que ao mesmo tempo traro grandes dilemas morais

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    Fotos: Nadson Carvalho

    A OPORTUNIDADE FAVORECE A MENTE

    PREPARADA: O MUNDO VAI

    QUEBRAR, ENTRAR EM CRISE. QUEM

    NO SE PREPARAR PARA AS NOVAS

    TECNOLOGIAS TAMBM QUEBRAR

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Paulo Vicente Alves

    No fico cientfica: entre as tecnolo-gias que devero mudar o mundo nos prximos anos esto verdadeiras rupturas na rea mdica, alcanadas por meio da nanotecnologia, da biotecnologia, da neuro-ergonomia e da medicina avanada. Surgir o ser humano 2.0, aprimorado por meio de terapia gentica e implantes robticos, entre outros recursos. A previso do pro-fessor Paulo Vicente Alves, da Fundao Dom Cabral, keynote speaker do Sade Business Forum 2013.Na palestra O futuro em quatro atos, Al-ves tentou prever, utilizando um modelo matemtico da histria humana a partir de 1500, como ser o sculo XXI. Este mo-delo combina duas formas de ver a hist-ria: ciclos hegemnicos ou de globalizao, que determinam a potncia (ou potncias) poltico-econmica vigente, e tecnolgicas, ou ciclos de Kondratieff, que determinam as crises cclicas do sistema capitalista e como as tecnologias as determinam e as encerram.Para Alves, atravs da anlise dos nmeros, haver um crise na dcada de 2020 sucedi-da por uma nova onda de tecnologia, ou um

    novo ciclo de Kondratieff. Essas tecnologias podem ser relativas a biorobtica. Por volta de 2060 os computadores sero mais ca-pazes que os seres humanos. No far mais sentido sermos humanos puros. Seremos hbridos para adquirir mais capacidade de memria. Lentamente a humanidade vai se tornando 2.0 e alcanando a fronteira da transumanidade, disse.Isso levar a humanidade a encarar gran-des dilemas ticos e morais: quando ho-mens e mquinas comeam a ficar to pr-ximos que inteligncias artificiais passam a ter direito de voto, por exemplo?Outra questo fundamental o aumento da expectativa de vida mdia. Se em labo-ratrio j possvel triplicar a expectativa de vida de um rato, o que faremos quando os seres humanos passarem a viver mais de 200 anos? Tem gente que acredita que o envelhecimento uma doena prestes a ser vencida. Os pessimistas falam em 200 anos, os otimistas em imortalidade, ponderou o professor. Triplicar expectativa de vida vai exigir um novo sistema de sade; a medicina do futuro drasticamente diferente da atual.

    Sistemas de previdncia tambm entraro em crise, e Alves acredita que uma soluo que aumente o tempo de contribuio po-liticamente impossvel, levando os gover-nos a imprimir mais dinheiro para cobrir as despesas. Isso vai gerar inflao? Sim. Pode no ser a melhor soluo econmica, mas a poltica, disse.Apesar de utilizar um modelo baseado em dados matemticos e histricos concretos, o professor categrico ao dizer que suas previses podem no se concretizar. E me reservo ao direito de mudar de opinio a qualquer momento, disse. Elas so inclu-sive francamente pessimistas para o Brasil. O Pas investe pouco em pesquisa e desen-volvimento de novas tecnologias (P&D), in-clusive na rea mdica, o que o coloca em posio de desvantagem frente a potncias como EUA e Alemanha, por exemplo, que devem liderar a inovao tecnolgica no sculo XXI.A oportunidade favorece a mente prepa-rada: o mundo vai quebrar, entrar em crise. Quem no se preparar para as novas tec-nologias tambm quebrar, disse.

    TRIPLICAR EXPECTATIVA DE VIDA VAI EXIGIR UM NOVO SISTEMA DE SADE; A MEDICINA DO FUTURO DRASTICAMENTE DIFERENTE DA ATUAL.

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Marina Silva

    Maria Carolina Buriti | [email protected]

    SUSTENTA-BILIDADE:UMA MANEI-RA DE SER

    Ex-senadora e ex-ministra do meio ambiente

    Marina Silva evoca a

    mudana do fazer para o ser rumo

    sada de uma crise

    civilizatria

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    Fotos: Nadson Carvalho

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    Keynote Marina Silva

    Demonstrando tranquilidade a cada ges-to, a ex-senadora Marina Silva arruma o xale e os culos antes de comear sua pales-tra durante o Sade Business Forum. Marina aborda de forma firme, coerente e serena um tema grave e complexo e que, como ela mesmo pontuou, tem um qu de dramtico: a sada de uma crise civilizatria - definio dada por ela para o momento atual da sociedade.Mais que crise essa? Muito mais que um colapso econmico, ambiental e social, a ex-ministra do meio ambiente falou sobre a urgncia de combater a perda de valores e de tica, que resulta em grandes impactos sus-tentabilidade, mas, sobretudo, questiona o que queremos ser como humanidade, criando a urgncia de envolver a todos nas possibilida-des surgidas a partir de um colapso.Segundo ela, o que se fala est cada vez mais incoerente e distante do que se faz, e a incapa-cidade tica muitas vezes apontada como incapacidade tcnica. Ela ilustra a frase com dois exemplos bem claros: o colapso econ-mico que eclodiu no mundo de 2008 no foi resultado de falta de tcnica, de economistas ou operadores de sistemas, mas, com certeza, avaliar ttulos podres como se fossem ttulos bons agravou a crise. O segundo exemplo so os milhes de analfabetos; no Brasil, o grupo chega a 10 milhes e no por falta de pe-dagogia. Temos capacidade de alfabetizar a humanidade inteira. No um problema tcnico, um problema tico.Marina foi parte deste problema tico at os 16 anos e conheceu na pele o impacto do desequilbrio entre os componentes do trip sustentvel. Ela cita exemplos de sua histria para pontuar o que hoje, infelizmente, ainda

    acontece: a grave falta de acesso ao bsico da sade e educao. Segundo ela, so dois bi-lhes de pessoas que vivem com menos de dois dlares por dia. sobre essas pessoas que recaem a maior parte das dificuldades em termos de sade, educao, saneamento bsico, moradia, entretenimento e acesso a servios fundamentais para que se possa ter uma vida digna, afirma.Dentro da emergncia social e econmica, a ambiental reflete uma humanidade que deixou de ser e comeou a fazer desenfreadamente. Marina avaliou o ideal do fazer como um momento recente em termos histricos. As pessoas queriam ser [no passado, analisando as eras da civilizao] e foi isso que nos trouxe para onde a sociedade est agora. Acordamos um belo dia e o ser filsofo virou fazer filosofia, o ser cientista virou fazer cincia e at mesmo a relao amorosa entre duas pessoas que se amam virou fazer amor.E completou: e onde se faz, faz e faz, indefi-nidamente, h de se ter um lugar para colo-car tanta coisa e ns criamos este lugar, e o nome dele consumo. Assim, o planeta est no vermelho em 50%. A ex-ministra pondera dizendo que a crtica se resume ao consumo txico, aquele onde se feliz por aquilo que se tem e no pelo que se , uma vez que ainda h aqueles que nada consomem, pois no tm acesso ao bsico como alimentao e etc.

    PROPOSTAS E EXEMPLOSPara sobreviver a essa crise civilizatria com-posta pelo conflito nas reas social, econ-mica, ambiental, poltica e tica, preciso, segundo ela, colocar o desafio de um novo caminho com a participao de todos. Para

    uma crise ser resolvida preciso o envolvi-mento das pessoas, mas para esse tipo, no suficiente a ao de um partido, grupo ou pessoa. A natureza da crise que estamos vivendo exige esforo de todos ao mesmo tempo agora, evoca.E esse esforo para uma mudana coletiva pas-sa por uma nova forma de pensar a sustenta-bilidade, buscar novos paradigmas, repostas e at novos significados. Acho que a sustenta-bilidade, seja do ponto de vista do planeta, da sociedade, uma maneira de ser, uma viso de mundo e um ideal. Se a sustentabilidade for pensada apenas como uma maneira de fazer, ns vamos fracassar, alerta.Para concluir, a ex-senadora relembrou uma histria. Aos 19 anos, ela e uma colega eram voluntrias da Pastoral da Terra e iam, a cada 15 dias, em uma pequena canoa levar alimentos para os amotinados de um conflito de seringueiros, nos Rinces do Acre. Anos depois, durante uma reunio de pastorais, Ma-rina conta que ansiava por um elogio e, para receb-lo, perguntou ao bispo o motivo pelo qual ele enviou duas meninas to frgeis para uma situao to arriscada. Eu queria que ele dissesse que ramos inteligentes, corajosas e espertas, mas ele sem dar muita confiana respondeu: porque quando no tem quem mandar, manda qualquer um.Neste dia, relembra Marina, aprendi uma lio pra vida: qualquer um pode fazer muita coisa. E o planeta sustentvel e a sade sustentvel so o trabalho de qualquer um de ns que se dispe s ideias cujo tempo chegou, orienta-dos no por uma tica circunstancial (aquele que bom para um em detrimento do todo), mas uma tica de valores.

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    Keynote Mario Sergio Cortella

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    Verena Souza | [email protected]

    O CARDEAL QUE ASSUMIU ADMIRVEL E TEM ALGO QUE ASSIS TAMBM TEVE, CORAGEM PARA ROMPER, PARA NO SE HABITUAR PUTREFAO, DESERTIFICAO DO FUTURO E ESTERILIZAO DA NOSSA VIDA COLETIVA

    Fotos: Nadson Carvalho

    LDERESSECULARESDesde Francisco de Assis at o Papa Francisco, coragem, humildade e esperana so valores preservados pelo tempo e que ainda se mostram efetivos para o verdadeiro lder

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    FH | ESPECIAL SADE BUSINESS FORUM

    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Keynote Mario Sergio Cortella

    Despiu-se de suas vestes e valiosa herana quando ainda era jovem, e inspirou milhares de seguidores a ter uma vida pobre de bens mate-riais, mas rica em devoo ao prximo. Oito sculos mais tarde, tambm conhecido por seus hbitos frugais, paralisou milhes de pessoas no Rio de Janeiro durante uma semana em prol do amor e da simplicidade. O tempo no foi capaz de distanciar dois lderes histricos, unidos por suas convices que, at hoje, se fazem presentes.De Francisco Francisco, ou mais precisamente, de So Francisco de Assis ao Papa Francisco, foi a reflexo proposta pelo filsofo e professor Mario Sergio Cortella no encerramento do Sade Business Forum 2013.Salvo as diferenas das pocas, o recm-eleito Papa Jorge Mario Bergoglio fez questo de escolher o nome Francisco como referncia simplicidade e dedicao aos pobres de So Francisco de Assis. Em discurso, em maio, o Papa afirmou que a solidariedade o verdadeiro tesouro do homem e que o culto ao dinheiro produz desigualdades e injustias contra coraes e povos. O dinheiro deve servir e no governar, disse citando o telogo do sculo VI So Joo Crisstomo.Submetidos os seres humanos a uma mentalidade consumista e preda-dora, segundo Cortella, ambos os Franciscos so exemplos do no como-dismo, do no conformismo, do ser no pusilnime, ou seja, acovardado. O cardeal que assumiu admirvel e tem algo que Assis tambm teve, coragem para romper, para no se habituar putrefao, desertificao do futuro e esterilizao da nossa vida coletiva, profere Cortella, que consegue arrancar com frequncia risos da plateia, mesmo em meio a frases contundentes. O filsofo faz inmeras digresses na histria da humanidade para eviden-ciar o esprito degradante das civilizaes, passando pelas invases do imprio romano at a morte rpida dos importantes rios Tiet e Pinheiros em So Paulo. Matamos uma fonte de vida milenar. Aquilo fede e a gente se acostuma, diz o professor, provocando a plateia ao lembrar o quanto todos usufruram as maravilhas de Comandatuba nos dias anteriores. Ter f, ser inspirado e agir so caractersticas comuns aos Franciscos. Assis, em pleno sculo XIII, no se fechou em conventos e monastrios como de costume, abdicou de todo o conforto familiar para viver no meio do povo e resolver o que era preciso, construir igrejas etc. Ele mostrou trs gran-des virtudes para no apodrecermos nossa vida: coragem, humildade e esperana. Mostrou que h uma s loucura, ou uma loucura sadia, afirma Cortella, ressaltando que preciso coragem para no ser pusilnime. No sculo XXI, a ruptura de paradigma pode ser simbolizada pela renn-cia do Papa Bento XVI em fevereiro deste ano, antes mesmo do conclave, seguida pela eleio de Francisco, o primeiro Papa no europeu em mais de 1200 anos e o nico jesuta. Alm de seus costumes, que dispensam pompa e protocolos. Como cardeal em Buenos Aires, Francisco vivia num pequeno quarto atrs de uma catedral e costumava se locomover com metr e nibus. Eleito Papa, suas vestimentas so mais simples do que de seus antecessores e atividades como pagar contas, fazer telefo-nemas, entre outras, ele mesmo prefere fazer.A primeira declarao dele foi sobre afeto e fraternidade. Sem usar a pa-lavra catlica, ele se dirigia a todos como irmos, falava em fraternidade de f, diz Cortella, lembrando, mais uma vez, que preciso coragem para no ser pusilnime lio deixada pelos Franciscos queles que querem fazer a diferena como cidados ou como representantes de instituies que prezam pela vida do prximo, como o caso da Sade.

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    It Mdia Debate Planejamento Estratgico

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    REVERTENDOO DFICITCom a ajuda da Fundao Dom Cabral, o Hospital da Baleia (MG) renegocia dvida e aposta no efeito McDonald s para colaboradores mais competitivos

    Cylene Souza | [email protected]

    Com uma dvida de R$ 29 milhes, Ebitda negativo de 10,5% e dficit de R$ 700 mil ao ms em junho de 2012, o Hospital da Baleia, de Minas Gerais, apostou no planejamento estratgico para operar no azul. Desenhado com apoio da Fundao Dom Cabral e baseado no Balance Scorecard (BSC), o plano definiu 16 objetivos estratgicos, 37 aes e 104 projetos e j conseguiu reverter o Ebitda: hoje, o ndice de 3,3%. A dvida foi equacionada e comea a ser paga em maio de 2014.Tambm foram estabelecidos contratos de gesto e, assim, a cultura come-ou a mudar, deixando de ser personalista no trato com os stakeholders e tornando-se mais pessoal. As pessoas tinham medo de mudar e, numa instituio de 70 anos, mexer com a cultura difcil, mas estamos conse-guindo mostrar que o lder aquele que veste a camisa, tem foco e sabe que h nus e bnus nesta posio. preciso trabalhar independente das relaes pessoais, avalia a superintendente geral da Fundao Benjamim Guimares, mantenedora do hospital, Elis Regina Guimares.Nas palavras da executiva, o objetivo conseguir um efeito Mc Donalds nos processos bsicos, para que os lderes possam se dedicar mais estratgia e tornar a instituio mais competitiva, viso corroborada pelo professor da Fundao Dom Cabral, Herclito Miranda, especialista em Planejamento e Estratgia Empresarial. O mundo est mais complexo e a tendncia que essa complexidade s aumente: hoje h mais especializao, variedade e competitividade, por isso, preciso pensar na reestruturao do custo para o valor.No Hospital da Baleia os principais processos esto sendo automatizados, o oramento foi definido e desenhou-se um roadmap com marcos de acom-panhamento para os prazos do projeto, tendo como reas foco: recursos financeiros, processos e padres, informaes e operao e custo.So feitos estudos de viabilidade para garantir que o crescimento das des-pesas ser menor que o crescimento das receitas, e os primeiros resultados comeam a ser percebidos na UTI peditrica, que, aps um acordo de metas e contrato de gesto com a nova equipe da rea, passou de um dficit de R$ 174 mil para um pequeno saldo positivo, de cerca de R$ 2 mil.Para 2015, o planejamento prev a abertura de uma unidade conhecida como hospital verde, por causa de suas caractersticas de cuidado com o meio ambiente. Com este novo prdio, a instituio passar de 210 para 458 leitos e os atendimentos devem crescer 72%.

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    ELIS REGINA GUIMARESSuperintendente geral na Fun-dao Benjamim Guimares, mantenedora do Hospital da Baleia (MG)

    QUEM

    HERCLITO MIRANDAProfessor e Coordenador Tc-nico da Fundao Dom Cabral, especialista em Planejamento e Estratgia Empresarial

    HERCLITO

    QUEM

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    It Mdia Debate - Governana Corporativa - Compliance

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    Em um setor com relaes to delicadas e interdependentes, as prticas de corrupo e a m conduta tica nos negcios preocupam gestores da Sade

    Maria Carolina Buriti | [email protected]

    Sade o quarto setor onde os crimes de corrupo e suborno so mais praticados. O setor fica na frente de gigantes como o financeiro e o de tecnologia. Os dados so do Trace Glo-bal Enforcement Report (GER) 2010, apresentado pelo professor e coordenador do ncleo de Governana Corporativa da Fundao Dom Cabral (FDC), Dalton Sardenberg, durante o Sade Business Forum. Segundo ele, o tema mais sensvel quando ocorre no setor de sade devido aos conflitos de interesses entre mdicos e a indstria, seja hospitalar ou farmacutica. Por essa razo, preciso que as instituies do setor invistam a cada dia em transparncia e boas prticas de governana corporativa.O professor mostrou a evoluo do tema desde sua origem at o amadurecimento da gesto e o advento de ferramentas de compliance termo que se tornou corriqueiro no vocabulrio dos gestores aps escndalos financeiros e a aprovao da lei Sarbanes-Oxley, nos Estados Unidos.Sardenberg apontou algumas prticas ilegais tanto de fabricantes de equipamentos e OPMEs at de gigantes farmacuticas, entre outras empresas globais, que colocam em risco a reputao de prestadores de servio e profissionais de sade, alm da vida de pacientes.Mas por que lderes competentes e com uma carreira, muitas vezes, estruturada acabam en-volvidos nestes escndalos? Sardenberg apresentou algumas possveis razes:

    1) Acreditam que tal atividade no realmente ilegal;2) Acreditam que esto agindo em benefcio da prpria empresa e se no fizerem, outro far;3) Acreditam que isso nunca ser descoberto;4) Acreditam que a empresa ir ser condescendente com aes que foram tomadas em benefcio dela prpria e que ir at mesmo defend-los de qualquer responsabilidade.

    TICA DO EINSTEIN Sardenberg conhece bem o case de um dos maiores hospitais da Amrica Latina, o Albert Einstein. No debate, a instituio estava representada por seu CFO (Chief Financial Officer), Fernando Leo, que explicou o funcionamento das prticas do hospital. A estrutura de go-vernana tem um papel fundamental em termos de controle. Institucionalmente a rea de compliance responde diretamente para a superintendncia geral do hospital, disse, acrescen-tando que tal ao ajuda a manter a independncia e o funcionamento adequado do rgo.A estrutura de compliance comeou a ser implantada em 2008 no hospital paulistano e hoje conta com diversas aes entre elas: o comit de tica, o manual de conduta tica e at uma declarao anual de conflito de interesse, onde os colaboradores so obrigados a detalhar a relao detalhados qualquer outro vnculo, mesmo eventuais, que mantenham com terceiros.O cdigo de conduta tica o elemento considerado mais eficaz para as polticas compliance, segundo uma pesquisa de benchmark apresentada por Sardenberg durante o debate.

    RISCOINERENTE

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    FERNANDO LEOCFO (Chief Financial Offi-cer) do Hospital Israelita Albert Einstein

    QUEM

    DALTONSARDENBERGProfessor e coordena-dor do ncleo de Gover-nana Corporativa da Fundao Dom Cabral

    QUEM

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    OUTUBRO 2013 REVISTAFH.COM.BR

    Acreditao

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    OBSTCULOSBRASIL AFORAApesar das instituies ainda terem dvidas sobre a metodologia mais adequada, a importncia do processo j reconhecida. A Rede DOr So Luiz, por exemplo, estabeleceu meta de chegar em 2014 com 80% do grupo acreditado

    Maria Carolina Buriti | [email protected]

    Se alguns hospitais j atuam na manuteno dos processos de excelncia e dos selos de qualidade, outros, que representam a grande maioria das instituies brasileiras, engatinham quando o assunto acreditao. Essa uma das concluses do encontro realizado durante o Sade Business Forum 2013, que reuniu hospitais de diferentes regies brasileiras durante a apresentao Acre-ditao: como monitorar, sensibilizar e comunicar equipes para obter resultados duradouros, realizada pela diretora de qualidade assistencial da Rede DOr, Helidea Lima, em parceria com a revista Melhores Prticas.Na sala, hospitais do interior de So Paulo e da regio Nordeste aproveitaram o momento para tirar dvidas sobre os diferentes tipos de selo e como iniciar o processo para a conquista do certificado. Este grupo reflete o que os nmeros j atestam: poucas so as instituies acreditadas brasileiras. Para se ter uma ideia, dos cerca de 6.800 hospitais cadastrados na base do CNES (Ministrio da Sade), apenas 250, o que corresponde a 3%, so acreditados pela ONA, Joint Comission Interna-tional (JCI) ou pela Acreditao Canadense. Nos Estados Unidos, 82% dos hospitais possuem a JCI.Entretanto, de acordo com a Helidea, a RDC 36, lanada pelo Ministrio da Sade em julho, deve colocar o gestor frente necessidade de investir em qualidade. A medida obriga as instituies a terem um Ncleo de Segurana do Paciente (NSP) responsvel por desenvolver um Plano de Segurana do Paciente (PSP). Toda instituio de sade dever ter uma poltica de segurana na instituio. Ela [a norma] nos coloca a obrigao de definir um ncleo gestor de segurana, pontua.O comit, segundo a executiva, deve ser representado por profissionais da farmcia, engenha-ria clnica, educao continuada e incluir reas crticas como terapia intensiva, centro cirrgico, emergncia e OPME. necessrio que eles se renam para identificar as possveis notificaes que ocorrerem, pois papel do comit fortalecer a notificao de evento, conta. Helidea ainda acrescenta que um estudo brasileiro recente apontou que 5,7% dos pacientes internados sofrem um evento adverso, o que expe ainda mais a necessidade fundamental dos processos de qualidade.

    REDE DORComposta por 24 hospitais, a Rede DOr So Luiz ilustra parte do restrito universo das instituies acreditadas brasileiras. Com hospitais localizados sobretudo na regio sudeste, tem 50% da rede com selo e pretende chegar em 2014 com 80% do grupo nesta condio.Segundo Helidea, o foco da acreditao e o que ela tem implantado no grupo deve estar, sobre-tudo, ligado segurana do paciente. Ainda estamos atendendo muito a prioridade do mdico, diz, explicando que na Rede DOr o mdico precisa se envolver cada vez mais. Outra dica dada pela especialista o tempo entre o diagnstico e a implementao da acreditao, que no deve ultrapassar dois anos.Em dois anos as pessoas cansam, muda a liderana e ele [o processo] no se mantm. J vi uni-dades que em dois meses foram acreditadas, conta. Mas a realidade do grupo est muito mais em manter o processo e os selos de qualidade e assim disseminar para outros da rede.

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    NA REDE DOR, ASFERRAMENTASUTILIZADAS SO:Termmetro de sensibilizao: mede como as equipes que atuam no hospital desde a parte de staff at os grupos mdi-cos e diretoria esto engajados e motiva-dos no processo de qualidade. Foi possvel medir, por exemplo, quais grupos se enga-jam melhor aos processos de qualidade. A pesquisa demonstrou, por exemplo, uma ideia j disseminada por vrias ins-tituies hospitalares: o mdico do corpo--clnico fechado mais engajado do que aqueles que atuam em outras instituies.Gesto de performance: o software Epi-med utilizado com foco na gesto clnica. Seis hospitais acreditados e localizados na regio sudeste da rede obtiveram resul-tados semelhantes na taxa de letalidade padronizada com pacientes internados em UTI (foco no tercil superior do SAPS 3) ao serem comparados com amostra do grupo Epimed. A Epimed apresentou taxa de 0, 68 % e a Rede DOr apresentou 0, 59%. A taxa deve ser menor que 1.Pesquisa de clima: pois como ela explica: o processo mudana de cultura, ento se a qualidade a alavanca, o ponto de apoio da alavanca a gesto de pessoas feita pelo RH.Pesquisa de percepo de segurana: se aplica um questionrio para avaliar o que os funcionrios pensam sobre a segu-rana da instituio. Usamos uma ferra-menta validada pelo modelo canadense.Check-list: para o acompanhamento peri-dico dos processos principais e de apoio.HELIDEA LIMA

    Diretora de qualidade assis-tencial da Rede DOr e ex-sub-secretria de Politicas e Aes de Sade de Minas Gerais

    QUEM

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