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Recebido em 22.06.2005. Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 11.07.2005. * Trabalho realizado no Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM 1 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França 2 MD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França 3 MD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França 4 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França 5 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 404, IFR 128 Biosciences Lyon-Gerland, Lyon - França 6 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 404, IFR 128 Biosciences Lyon-Gerland, Lyon - França 7 MD, PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França; Unité Immunologie Clinique et Allergologie, Lyon-Sud, Pierre - Bénite - França ©2005 by Anais Brasileiros de Dermatologia 335 An Bras Dermatol. 2005;80(4):335-47. Educação Médica Continuada Resumo: A dermatite de contato alérgica (DCA), também conhecida como hipersensibilidade de contato (HSC) é uma das der- matoses inflamatórias mais freqüentes, sendo caracterizada por eritema, pápulas e vesículas, seguidas de ressecamento e desca- mação. A DCA é induzida pelo contato da pele com substâncias químicas não protéicas denominadas haptenos, e corresponde a uma reação de hipersensibilidade cutânea do tipo tardio, mediada por células T hapteno-específicas. Durante a fase de sen- sibilização, tanto os precursores de células T CD4+ quanto os de CD8+ são ativados nos linfonodos de drenagem através da apresentação de peptídeos conjugados a haptenos pelas células dendríticas (CD) da pele. A subseqüente exposição de pele ao hapteno em um local a distância induz o recrutamento e ativação de células T específicas no local de provocação, levando à apoptose dos queratinócitos, recrutamento de células inflamatórias e desenvolvimento de sintomas clínicos. Estudos experi- mentais dos últimos 10 anos demonstraram que, em respostas normais de HSC a haptenos fortes, as células T CD8+ do tipo 1 são efetoras da HSC através de citotoxicidade e produção de IFNγ, enquanto que as células T CD4+ são dotadas de funções de regulação negativa. Estas últimas podem corresponder à população de células T regulatórias CD4+ CD25+ recentemente des- critas. Entretanto, em algumas situações, especialmente naquelas em que há um pool deficiente de células T CD8, as células T CD4+ podem ser efetoras da HSC. Estudos em andamento deverão confirmar que a fisiopatologia da DCA em humanos é seme- lhante à HSC em camundongos, e que a resposta de HSC a haptenos fracos comuns, mais freqüentemente envolvidos na DCA em humanos, é semelhante à descrita para haptenos fortes. Palavras-chave: Apoptose; Dermatite alérgica de contato; Inflamação; Pele Abstract: Allergic contact dermatitis (ACD) referred to as contact hypersensitivity (CHS) is one the most frequent inflamma- tory skin diseases characterized by redness, papules, and vesicles, followed by scaling and dry skin. ACD is elicited upon skin contact with non-protein chemicals called haptens and corresponds to a cutaneous delayed-type hypersensitivity reaction, mediated by hapten-specific T cells. During the sensitization phase, both CD4+ and CD8+ T cell precursors are activated in the draining lymph nodes by presentation of haptenated peptides by skin dendritic cells (DC). Subsequent hapten painting on a remote skin site induces the recruitment and activation of specific T cells at the site of challenge leading to apoptosis of keratinocytes, recruitment of inflammatory cells and development of clinical symptoms. Experimental studies from the last 10 years have demonstrated that, in normal CHS responses to strong haptens, CD8+ type 1 T cells are effector cells of CHS through cytotoxicity and IFNγ production while CD4+ T cells are endowed with down-regulatory functions. The latter may correspond to the recently described CD4+ CD25+ regulatory T cell population. However, in some instances, especially those where there is a deficient CD8 T cell pool, CD4+ T cells can be effector cells of CHS. Ongoing studies will have to confirm that the pathophysiology of human ACD is similar to the mouse CHS and that the CHS response to common weak haptens, most frequently involved in human ACD, is similar to that reported for strong haptens. Keywords: Apoptosis; Dermatitis, allergic contact; Inflammation; Skin Fisiopatologia da dermatite de contato alérgica: papel das células T CD8 efetoras e das células T CD4 regulatórias * Update on the pathophysiology with special emphasis on CD8 effector T cells and CD4 regulatory T cells * Ana Hennino 1 Marc Vocanson 2 Cyril Chavagnac 3 Pierre Saint-Mezard 4 Bertrand Dubois 5 Dominique Kaiserlian 6 Jean-François Nicolas 7

Fisiopatologia da dermatite de contato alérgica: papel das células T

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Page 1: Fisiopatologia da dermatite de contato alérgica: papel das células T

Recebido em 22.06.2005.Aprovado pelo Conselho Editorial e aceito para publicação em 11.07.2005.* Trabalho realizado no Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM 1 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França 2 MD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França3 MD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França4 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França5 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 404, IFR 128 Biosciences Lyon-Gerland, Lyon - França6 PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 404, IFR 128 Biosciences Lyon-Gerland, Lyon - França 7 MD, PhD, Institut National de la Santé et de la Recherche Médicale - INSERM U 503, Lyon, França; Unité Immunologie Clinique et Allergologie, Lyon-Sud,

Pierre - Bénite - França

©2005 by Anais Brasileiros de Dermatologia

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An Bras Dermatol. 2005;80(4):335-47.

Educação Médica Continuada

Resumo: A dermatite de contato alérgica (DCA), também conhecida como hipersensibilidade de contato (HSC) é uma das der-matoses inflamatórias mais freqüentes, sendo caracterizada por eritema, pápulas e vesículas, seguidas de ressecamento e desca-mação. A DCA é induzida pelo contato da pele com substâncias químicas não protéicas denominadas haptenos, e correspondea uma reação de hipersensibilidade cutânea do tipo tardio, mediada por células T hapteno-específicas. Durante a fase de sen-sibilização, tanto os precursores de células T CD4+ quanto os de CD8+ são ativados nos linfonodos de drenagem através daapresentação de peptídeos conjugados a haptenos pelas células dendríticas (CD) da pele. A subseqüente exposição de pele aohapteno em um local a distância induz o recrutamento e ativação de células T específicas no local de provocação, levando àapoptose dos queratinócitos, recrutamento de células inflamatórias e desenvolvimento de sintomas clínicos. Estudos experi-mentais dos últimos 10 anos demonstraram que, em respostas normais de HSC a haptenos fortes, as células T CD8+ do tipo 1são efetoras da HSC através de citotoxicidade e produção de IFNγ, enquanto que as células T CD4+ são dotadas de funções deregulação negativa. Estas últimas podem corresponder à população de células T regulatórias CD4+ CD25+ recentemente des-critas. Entretanto, em algumas situações, especialmente naquelas em que há um pool deficiente de células T CD8, as células TCD4+ podem ser efetoras da HSC. Estudos em andamento deverão confirmar que a fisiopatologia da DCA em humanos é seme-lhante à HSC em camundongos, e que a resposta de HSC a haptenos fracos comuns, mais freqüentemente envolvidos na DCAem humanos, é semelhante à descrita para haptenos fortes.Palavras-chave: Apoptose; Dermatite alérgica de contato; Inflamação; Pele

Abstract: Allergic contact dermatitis (ACD) referred to as contact hypersensitivity (CHS) is one the most frequent inflamma-tory skin diseases characterized by redness, papules, and vesicles, followed by scaling and dry skin. ACD is elicited upon skincontact with non-protein chemicals called haptens and corresponds to a cutaneous delayed-type hypersensitivity reaction,mediated by hapten-specific T cells. During the sensitization phase, both CD4+ and CD8+ T cell precursors are activated inthe draining lymph nodes by presentation of haptenated peptides by skin dendritic cells (DC). Subsequent hapten painting ona remote skin site induces the recruitment and activation of specific T cells at the site of challenge leading to apoptosis ofkeratinocytes, recruitment of inflammatory cells and development of clinical symptoms. Experimental studies from the last10 years have demonstrated that, in normal CHS responses to strong haptens, CD8+ type 1 T cells are effector cells of CHSthrough cytotoxicity and IFNγ production while CD4+ T cells are endowed with down-regulatory functions. The latter maycorrespond to the recently described CD4+ CD25+ regulatory T cell population. However, in some instances, especially thosewhere there is a deficient CD8 T cell pool, CD4+ T cells can be effector cells of CHS. Ongoing studies will have to confirm thatthe pathophysiology of human ACD is similar to the mouse CHS and that the CHS response to common weak haptens, mostfrequently involved in human ACD, is similar to that reported for strong haptens. Keywords: Apoptosis; Dermatitis, allergic contact; Inflammation; Skin

Fisiopatologia da dermatite de contato alérgica: papel dascélulas T CD8 efetoras e das células T CD4 regulatórias*

Update on the pathophysiology with special emphasis onCD8 effector T cells and CD4 regulatory T cells*

Ana Hennino1 Marc Vocanson2 Cyril Chavagnac3

Pierre Saint-Mezard4 Bertrand Dubois5 Dominique Kaiserlian6

Jean-François Nicolas7

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INTRODUÇÃOA dermatite de contato é uma dermatose

inflamatória freqüente nos países industrializados,com grande impacto socioeconômico, sendo umadas doenças ocupacionais mais comuns.1-3 Uma vezque é a barreira mais externa do corpo humano, apele é a primeira a entrar em contato com fatoresquímicos e físicos provenientes do meio ambiente.De acordo com os mecanismos fisiopatológicosenvolvidos, podem-se distinguir dois tipos de der-matite de contato. A dermatite de contato irritati-va é decorrente dos efeitos tóxicos e pró-inflama-tórios de xenobióticos capazes de ativar a imunida-de inata da pele. A dermatite de contato alérgicarequer a ativação da imunidade adquirida antíge-no-específica levando ao desenvolvimento de célu-las T efetoras, que são mediadoras da inflamaçãocutânea. É caracterizada por eritema, pápulas evesículas, seguidas de ressecamento e descama-ção.1-3

A dermatite de contato alérgica (DCA), tam-bém conhecida como hipersensibilidade de conta-to (HSC), é uma reação inflamatória cutâneamediada por células T decorrente de contatosrepetidos da pele com substâncias químicas nãoprotéicas, denominadas haptenos.1-4

Diferentemente do que ocorre com a hipersensibi-lidade do tipo tardia (HTT) clássica, que requer ainjeção intradérmica de proteína exógena, a inicia-ção da HSC é gerada pela aplicação tópica de hap-tenos sensibilizantes na epiderme (como níquel,cromo, DNFB, TNCB e oxazolina). Estudos dosúltimos 10 anos enfatizaram que as células T CD8+são as principais células efetoras da HSC, enquan-to as células T CD4+ comportam-se como regula-doras negativas.5-7 É importante salientar que aindahá alguma controvérsia quanto às células T CD8+serem efetoras da HSC em todas as cepas decamundongos e para todos os tipos de haptenos.8

Analogamente, a contribuição relativa das células TCD4 e CD8+ na DCA em humanos ainda não estáclara.9 Sabe-se agora que as células T CD8+ sãomediadoras das respostas de HTT na dermatite decontato alérgica, erupções a droga, asma e doençasauto-imunes.10 A diferença entre as células CD8+ eas CD4+ mediadoras de HTT pode estar relaciona-da aos mecanismos moleculares pelos quais osantígenos são processados e apresentados às célu-las T. Os antígenos exógenos são fagocitados e pro-cessados nas moléculas do CHP (complexo de his-tocompatibilidade principal) classe II (por exem-plo, o HLA-DR) para apresentação às células TCD4+. Em contraste, os antígenos citoplasmáticossão processados pela via endógena nas moléculasdo CHP classe I (por exemplo, o HLA-A, B e C) para

apresentação às células T CD8+. Alérgenos exter-nos também podem entrar na via endógena paraserem apresentados às células T CD8+, incluindomuitos sensibilizantes de contato, alérgenos respi-ratórios químicos e protéicos, antígenos virais,metabólitos de drogas e auto-antígenos. Os hapte-nos também são capazes de interagir diretamentecom peptídeos já presentes no sulco das moléculasde CHP classes I e II.4 Desta forma, as células TCD8+ e CD4+ poderiam ser ativadas nos linfono-dos por células apresentadoras de antígenos (CAA)expressando peptídeos conjugados a haptenosapresentados na fenda das moléculas de CHP clas-ses I e II, respectivamente.

1. FISIOPATOLOGIA DA HIPERSENSIBILIDADEDE CONTATO - Esquema geral

Os conhecimentos sobre a fisiopatologia daDCA são derivados principalmente de modelosanimais nos quais a inflamação cutânea induzidapela exposição da pele ao hapteno é conhecidacomo hipersensibilidade de contato (HSC). Duasfases dissociadas têmporo-espacialmente sãogeralmente necessárias para atingir uma reação deHSC máxima: as fases de sensibilização e de indu-ção (Figura 1). Descrevemos a seguir os mecanis-mos fisiopatológicos bem estabelecidos de HSC ede DCA. A fase de sensibilização (também conheci-da como fase aferente) ocorre ao primeiro contatoda pele com o hapteno e leva ao "priming" e àexpansão de células T hapteno-específicas nos lin-fonodos. O hapteno aplicado topicamente é capta-do pelas células dendríticas (CD) cutâneas, espe-cialmente as células de Langerhans (CL), quemigram da epiderme para a região paracortical doslinfonodos de drenagem, onde apresentam com-plexos de moléculas de CHP/peptídeo conjugado ahapteno aos precursores de células T hapteno-específicas. Células T específicas emigram dos lin-fonodos e atingem o sangue através do ducto torá-cico e recirculam no sangue e órgãos linfóidessecundários. A fase de indução ocorre algumashoras após um contato subseqüente da pele com omesmo hapteno, que induz a produção de quimio-cinas, a ativação de células endoteliais e mastóci-tos, e a infiltração de neutrófilos, todos necessá-rios para o recrutamento de células T específicas.As células T interagem com células cutâneas apre-sentadoras de antígeno portadoras de hapteno. Ascélulas T CD8+ citotóxicas ativadas produzemcitocinas tipo 1 (IFNγ) e induzem a ativação decélulas cutâneas e a apoptose dos queratinócitos,levando à amplificação da inflamação cutânea atra-vés da produção de todo um conjunto de citocinas

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e quimiocinas, sendo que estas últimas permitemo recrutamento de um infiltrado celular polimor-fo característico de HSC. Esta fase eferente daHSC dura 72 horas em humanos e 24 a 48 horasem camundongos. A reação inflamatória persistedurante vários dias e diminui progressivamentemediante mecanismos de regulação negativa fisio-lógicos.

2. HSC A HAPTENOS EXPERIMENTAIS FORTESA grande maioria dos dados disponíveis

sobre HSC foi obtida com sensibilizantes fortes,tais como DNFB, DNCB, TNP e oxazolina, que pos-suem propriedades imunoquímicas ímpares: i)eles representam uma minoria de substâncias quí-micas entre milhares capazes de induzir DCA emhumanos; ii) são dotados de propriedades pró-inflamatórias potentes, conhecidas como irritação,devidas à toxicidade da substância química. Essatoxicidade fornece um sinal de perigo ao sistemaimune inato da pele, levando à produção de cito-cinas inflamatórias (IL-1, TNF) e de quimiocinaspelas células cutâneas, e à ativação de CD cutâneasque podem iniciar seu processo de maturação e

emigrar para os linfonodos de drenagem. A matu-ração das CD e migração até os linfonodos é man-datória para a iniciação da HSC, e várias citocinas,quimiocinas e seus receptores, entre os quais oCCL21 e seu ligante CCR7, são importantes nesteprocesso.11

É importante salientar que os haptenos fortespodem induzir uma DCA primária, ou seja, uma rea-ção imune hapteno-específica após um único conta-to cutâneo, que tem a mesma fisiopatologia da rea-ção HSC clássica obtida com duas exposições cutâ-neas ao hapteno.12 A ocorrência de HSC após exposi-ção única ao hapteno poderia ser explicada pela per-sistência de haptenos na pele durante vários diasapós a exposição, permitindo o recrutamento decélulas T específicas no local de sensibilização dapele. Assim, os haptenos fortes, através de sua toxici-dade, enviam sinais de perigo capazes de ativarpotentemente a imunidade inata que permite odesenvolvimento de uma imunidade hapteno-especí-fica robusta e rápida.

Alternativamente, os haptenos mais freqüen-temente encontrados, classificados de moderados,fracos ou muito fracos, são muito menos irritantes

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FIGURA 1: Fisiopatologia da dermatite de contato alérgicaFase de sensibilização (fase aferente). Os haptenos penetram na epiderme (passo 1) e são captados pelas células epidérmicas incluindoas CD que migram para os linfonodos de drenagem (passo 2), onde apresentam peptídeos conjugados a haptenos às células T CD8+ efe-toras e às T CD4+ reguladoras negativas (passo 3). Precursores de células T específicos expandem-se clonalmente nos linfonodos dedrenagem, recirculam pelo sangue e migram aos tecidos, inclusive a pele (passo 4). Fase de indução (fase de provocação, fase eferente). Quando o mesmo hapteno é aplicado sobre a pele, ele é captado pelas célulasepidérmicas, inclusive as CD e os queratinócitos (passo 5), que apresentam peptídeos conjugados a haptenos a células T específicas. A ati-vação de LTCs CD8+ induz a apoptose dos queratinócitos e a produção de citocinas e quimiocinas pelas células cutâneas (passo 6), o queleva ao recrutamento de leucócitos do sangue para a pele. As células T CD4+ podem bloquear a ativação/expansão dos efetores CD8+nos linfonodos durante a sensibilização, e na pele durante a fase de indução da HSC (passos 3 e 7).

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que os haptenos fortes, e podem não ter a mesmacapacidade de ativar as células imunes inatas (videitem 3).

2.1. As células T CD8+ são efetoras, enquanto asCD4+ comportam-se como reguladoras

A contribuição respectiva das células TCD4+ e CD8+ na HSC tem sido analisada atravésde diferentes estratégias: i) depleção in vivo decamundongos normais com anticorpos monoclo-nais (mAbs) anti-CD4 e anti-CD8; ii) transferênciade células T CD4+ e CD8+ de camundongos sen-sibilizados para camundongos Rag°/° imunoincom-petentes; iii) uso de camundongos com CHP classeI°/° (deficientes em células T CD8+) ou com CHPclasse II°/° (deficientes em células T CD4+); iv)transferência de CD ligadas a hapteno de camun-dongos com CHP classe I°/° ou II°/° para induzirHSC em receptores não anteriormente expostos.Camundongos geneticamente deficientes em molé-culas CD4 ou CD8 (CD4°/° ou CD8°/°) não repre-sentam modelos relevantes de deficiência de célu-las T CD4+ ou CD8+, e os resultados obtidos comesses camundongos serão discutidos posterior-mente (vide item 4.2).

Experimentos de transferência adotiva primei-ro destacaram que a HTT à proteína era transferívelpara receptores pareados com CHP classe II, aopasso que a transferência de HSC requeria recepto-res pareados classe I.13 Usando a depleção in vivo desubpopulações de células T CD4+ e CD8+,Gocinski e Tigelaar foram os primeiros a sugerir queas células T CD8+ podiam mediar a resposta deHSC a DNFB e outros haptenos fortes.14

Posteriormente mostraram que as células T CD4+eram dotadas de atividade reguladora negativa, umavez que a reação de HSC era exacerbada após adepleção in vivo das células T CD4+.

Bour et al. usaram outra abordagem paraestudar a contribuição das subpopulações de célu-las T CD4+ e CD8+, avaliando a HSC em camun-dongos nocauteados (KO) para CHP classe I e CHPclasse II, que são deficientes em células CD8+ eCD4+, respectivamente.15-17 De fato, as células TCD4+ desenvolvem-se durante a ontogenia atravésda interação com CAAs tímicas expressando molé-culas de CHP classe II. Assim, na ausência de molé-culas de CHP classe II, os precursores tímicos nãopodem se diferenciar em células CD4+ e, portanto,a maioria das células T maduras circulantes é dotipo CD8+. Da mesma forma, devido à falta deseleção positiva de células T CD8+ em camundon-gos deficientes em CHP classe I, as células T CD4+constituem a grande maioria das células T periféri-cas maduras. Surpreendentemente, os camundon-

gos classe I°/° não desenvolveram nenhuma respos-ta de HSC a DNFB, indicando que as células TCD8+ eram mandatórias para o desenvolvimentoda patologia. Uma vez que esses camundongos I°/°possuem número e funções normais de células TCD4+ e podem desenvolver uma reação de HTTclássica a aloantígenos e antígenos protéicos,12-14

esses dados demonstraram que as células T CD4+não são mediadoras da reação de HSC a DNFB. Poroutro lado, camundongos classe II°/° desenvolve-ram uma reação de HSC exacerbada com inflama-ção cutânea crônica, e a depleção in vivo de célu-las T CD8+ nos camundongos com esse CHP resul-tou em anulação completa da HSC. Mais que isso,os efetores CD8+ hapteno-específicos foram capa-zes de se desenvolver sem o auxílio de células TCD4. De fato, as células T CD4+ não são necessá-rias para o "priming" de células T CD8+ em camun-dongos II°/°, e a presença de células T CD4+ temum efeito negativo sobre a intensidade da respostade HSC mediada por células T CD8+.15-18 Assim,outra informação importante desses estudos foi acaracterização de células T CD4+ restritas a CHPclasse II como células de regulação negativa daHSC. A maioria dos dados resumidos acima foiobtida com DNFB em camundongos C57BL/6(H2b)15-19 e BALB/c (H2d).20 Resultados semelhantesforam obtidos com outros haptenos fortes como aoxazolina,20,21 DMBA22 e TNP.18,23 Assim, esses acha-dos indicaram que existe uma dicotomia funcionalentre as células T CD8+ e as CD4+, que se com-portam como células efetoras e reguladoras, res-pectivamente, na HSC a haptenos fortes.

Uma das propriedades dos haptenos quimica-mente reativos é sua capacidade de gerar determinan-tes imunogênicos simultaneamente para células TCD8+ e CD4+ hapteno-específicas. Como será discu-tido posteriormente (item 5), as células T CD4+podem ser efetoras da HSC ao TNP em caso de defi-ciência de células T CD8+. A razão pela qual as célu-las efetoras da HSC estão confinadas apenas ao poolde células T CD8+ em camundongos normais foirecentemente explicada nos estudos de Martin S etcols, que mostraram que as células T CD8+ induzemapoptose mediada por Fas das células T CD4+, evi-tando, portanto, o "priming"/a expansão de células TCD4+ hapteno-específicas durante a fase de sensibili-zação da HSC.24

2.2. "Priming" de CD8+ e CD4+ específicos emórgãos linfóides durante a fase de sensibilizaçãoda HSC

Células CD8+ tipo 1 e CD4+ tipo 2O tempo ideal entre a exposição ao hapteno

e o "priming" de células T é de 5 dias em camun-

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dongos. Nesse momento, as células T recuperadasde linfonodos são dotadas de potentes atividadesproliferativas.19,25 A análise da produção de citoci-nas por subpopulações de células T CD4 e CD8após reestimulação in vitro por CAAs conjugadas ahapteno mostrou que as células T CD8+ produzemcitocinas tipo 1, principalmente IFNγ, enquanto ascélulas T CD4+ produzem citocinas tipo 2, incluin-do IL-4, IL-5 e IL-10.21 A análise da freqüência decélulas T CD8+ DNFB-específicas através de IFNγELISPOT mostrou uma média de 50 precursores decélulas T CD8+/105 células de linfonodos no dia 5após a sensibilização, um número semelhante aoencontrado em outras respostas imunes antígeno-específicas.26

Restrição do CHP de células T hapteno-específicasPesquisadores de diferentes grupos fornece-

ram evidências de que a apresentação de haptenosa células T na HSC era restrita ao CHP, e, portanto,semelhante à apresentação de antígenos protéicosna HTT clássica.18,23 A imunização de camundongoscom CD pulsadas com hapteno recuperadas da epi-derme ou derivadas de precursores da medulaóssea é capaz de levar ao estímulo de células Tespecíficas que proliferam em respostas secundá-rias ao DNFB. Procedimentos de imunização usan-do CD recuperadas de camundongos deficientesem CHP classe I ou classe II confirmaram os efeitosfuncionais opostos de pools de células T CD8 eCD4.19 Nesses experimentos, as CD expressandoCHP classe I (tanto de camundongos normaisquanto de camundongos com CHP I+/II-) induzi-ram o "priming" de células T CD8+ nos linfonodos(avaliada por proliferação específica) e a reação deHSC mediante provocação subseqüente. De modoinverso, a imunização por CD sem moléculas deCHP classe I (recuperadas de camundongos defi-cientes em CPH classe I) foi ineficiente em induziruma reação de HSC, mas foi capaz de levar ao estí-mulo das células T CD4+. De fato, as células TCD4+ purificadas de linfonodos desses camundon-gos eram hapteno-específicas, como foi avaliadoem respostas proliferativas secundárias.19 Essesresultados foram confirmados por um estudorecente em camundongos não geneticamentemodificados, usando CD derivadas de medulaóssea, pulsadas com peptídeos derivados de trini-trofenil (TNP), e administradas intradermicamentepara gerar uma reação de HSC. Foram usados doistipos de peptídeos que possuem afinidade tantopor peptídeos com CHP classe I ou II. Martin etcols mostraram que os peptídeos ligantes classe Iinduziram respostas de HSC semelhantes à obtidacom a aplicação epicutânea de TNP. Em contraste,

CDs pulsadas com peptídeos ligantes classe II nãosensibilizaram para uma HSC máxima.27 Baseadosnesses fatos, Cavani et cols especularam que acapacidade de haptenos químicos em impelir a ati-vação das células T CD8+ pode estar associadacom sua capacidade de ligarem-se diretamente apeptídeos próprios presentes na fenda das molécu-las de CHP classe I ou II.6

O "priming" de células T CD8+ não requerauxílio de células T CD4+

Classicamente, a ativação máxima de células TCD8+ não previamente expostas requer sinais rece-bidos por células T CD4+, conhecidos como auxíliodas células T CD4+. Durante a HSC a haptenos for-tes, a ativação de células T CD8+ em linfonodos nãorequer o auxílio de células T CD4+, nem a contri-buição da interação de CD40/CD40-L, uma vez quecamundongos deficientes em CD40-L desenvolvemuma HSC normal a DNFB.28 Camundongos com defi-ciência de células T CD4+ induzida tanto por trata-mento in vivo com mAb anti-CD4 0 por ruptura dosgenes de CHP classe II (camundongos KO para CHPclasse II) desenvolvem uma forte resposta de HSC ahaptenos.19 O fato de que a HSC pode se desenvol-ver na ausência de células T CD4+ restritas à classeII foi posteriormente confirmado pela observação deque a HSC poderia ser induzida por imunização comCDs sensibilizadas previamente com haptenos decamundongos classe II°/°,19 e com CDs de camun-dongos selvagens pulsadas com peptídeos de CHPclasse I conjugados a hapteno.27

Outros estudos sobre respostas de HTT indu-zidas por vírus indicaram que a ativação de célulasT CD8+ não previamente expostas para a geraçãode respostas imunes restritas a CHP classe I podemocorrer sem o auxílio de células T.29,30

Recentemente, foi demonstrado que o principalparâmetro que determinava a necessidade ou nãodo auxílio de CD4 foi o número de precursores deLTC que poderiam ser ativados no momento do"priming".31,32 As respostas de LTC induzidas por"priming" cruzado podem ser convertidas de CD4-dependentes para CD4-independentes aumentan-do-se a freqüência de precursores de LTC. Naausência de células T CD4, um grande número deprecursores de LTC foram capazes de se expandir ese tornar LTCs efetores.32 A capacidade de altas fre-qüências de células T CD8 em dispensar ajuda nãofoi devida a sua capacidade de sinalizar CD40 viaexpressão de CD154. Esses achados sugerem quequando as freqüências de precursores são altas, o"priming" das respostas de células T CD8 pode nãorequerer o auxílio de células T CD4. Outra explica-ção para o desenvolvimento de células efetoras

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CD8+ é a de que antígenos que possuem a capaci-dade intrínseca de induzir a maturação de CD dis-pensam a necessidade de auxílio de CD4 via ativa-ção de CD40.33 De fato, camundongos depletadosde células T CD4+ podem ser estímulados pararespostas de LTC por transferência de CD pulsadaspor antígenos, ativadas por LPS. Na HSC, a matura-ção das CD induzida por haptenos com forte capa-cidade inflamatória pode dispensar a necessidadede auxílio de CD4 via interação de CD40/CD40-L, epode ser suficiente para desencadear respostas deLTC específicas com uma alta freqüência de precur-sores.

2.3. A fase de indução da HSC é devida ao recru-tamento e ativação de células T citotóxicas(LTCs) CD8+

Uma vez que a principal função das células TCD8+ é a citotoxicidade, a observação de que a HSCera mediada por células CD8+ levantou a possibilida-de de que a citotoxicidade fosse mandatória para aexpressão da HSC. Os LTCs CD8+ são células efeto-ras do sistemas de defesa imune contra vírus e tumo-res,34 e exercem suas funções líticas através de doismecanismos independentes principais.35 A via secre-tora envolve a liberação de perforina e granzimas dosgrânulos citolíticos. A via não secretora envolve a inte-ração de Fas-L regulado positivamente durante a ati-vação de células T, com a molécula Fas indutora deapoptose na célula alvo.

Embora camundongos deficientes tanto emperforina (p°/°) como em Fas-L (mutante gld) fos-sem igualmente capazes de desenvolver uma res-posta de HSC normal a DNFB, e contivessem LTCsCD8+ hapteno-específicos capazes de matar alvosconjugados a haptenos, os camundongos dupla-mente deficientes em Fas-L e perforina não pos-suiam LTCs CD8+ e não foram capazes de desenvol-ver HSC. Isto demonstrou que a citotoxicidade eranecessária para o desenvolvimento do processopatológico e que uma via citotóxica poderia com-pensar a ausência da outra.26 A contribuição dosLTCs à fase efetora da HSC foi posteriormentedemonstrada através da análise da pele no local deprovocação com o hapteno. Akiba et cols demostra-ram que as células T CD8+ eram capazes de infil-trar a pele provocada 9 horas após a exposição dapele e que a cinética do recrutamento de CD8 eraparalela ao surgimento de transcriptos de IFNγ e àapoptose das células epidérmicas.20 A dupla colora-ção para as células com CHP classe II e apoptóticas(coloração de TUNEL) mostrou que os queratinóci-tos eram o principal alvo dos LTCs. Assim, as célu-las T CD8+ são dotadas de atividade citotóxica invivo, e os queratinócitos comportam-se como célu-

las apresentadoras de antígenos durante a fase deindução da HSC. Ainda não se sabe se outros tiposcelulares contribuem para a ativação in situ de LTCshapteno-específicos. De fato, os haptenos difun-dem-se rapidamente através da epiderme e pode-riam ser apresentados como peptídeos conjugadosa haptenos por vários tipos celulares expressando aclasse I na derme, incluindo as CD, células endote-liais e mastócitos, que poderiam contribuir para aativação de efetores CD8 recrutados na pele. A esserespeito, Biederman et cols relataram que o recru-tamento de neutrófilos via MIP-2 produzido exclusi-vamente por mastócitos ativados era necessáriopara o desenvolvimento de HSC.36

Estudos recentes trouxeram uma nova com-preensão dos passos precisos que levam ao recruta-mento de células T efetoras na pele mediante provo-cação por hapteno. A equipe de P. Askenase mostrouque a indução da HSC começa por uma reação cutâ-nea inflamatória inata, que é máxima 2 horas após aprovocação, chamada de fase de iniciação da HSC,que é seguida de uma reação semelhante à HTT clás-sica, máxima entre 24-48 horas, conhecida comofase efetora da HSC.37 A fase de iniciação da SC édevida à ligação do hapteno a anticorpos IgM espe-cíficos produzidos rapidamente após a sensibiliza-ção por células B1-B. Os complexos imunes hapte-no-IgM ativam o complemento levando à produçãode C5a, que se comporta como um fator quimiotáti-co para as células T.38 Outras quimiocinas têm sidoimplicadas no recrutamento de células efetoras,entre as quais estão a IL-8, MCP-1 e RANTES.39 OCXCL-1 (Groα) é produzido logo após 30 minutosda provocação e é responsável pela infiltração deneutrófilos na pele, passo mandatório para o recru-tamento de células T efetoras.40,41

A apoptose está envolvida em várias dermato-ses, não estando restrita à HSC. Na DCA, vários rela-tos enfatizaram a existência de processos apoptóticosenvolvendo a epiderme.5 Mais recentemente,Trautmann et cols demonstraram que as lesões cutâ-neas da dermatite atópica (DA) estavam associadas àocorrência de apoptose em massa das células epidér-micas.42 Demonstraram também que na DA as célulasT de memória/efetoras portadoras do antígeno cutâ-neo associado ao linfócito (ACL) e CD45 RO subme-tem-se à morte celular induzida por ativação, des-viando a resposta imune para as células Th2 sobrevi-ventes.43 Embora a contribuição dos LTCs na fisiopa-tologia da DA não seja conhecida com precisão, essesdados enfatizam que a apoptose das células epidér-micas é um padrão comum nas dermatoses eczema-tosas, e sugere que as drogas anti-apoptóticas pos-sam ser novas ferramentas para o tratamento dessasdoenças.44

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2.4. As células T CD4+ exercem uma regulaçãonegativa sobre a reação de HSC

As células regulatórias são fundamentais namanutenção da tolerância periférica e no controle derespostas inflamatórias, e há relatos de que inibem odesenvolvimento das respostas autoimunes e imu-noalérgicas em muitos modelos experimentais.6,45,46

Foram identificados três subpopulações principais decélulas T CD4+ regulatórias: i) clones de células Tr1antígeno-específicas, que produzem grandes quanti-dades de citocina IL-10 imunossupressora; ii) célulasT CD4+ do tipo Th2 antígeno-específicas, que anta-gonizam as células T efetoras tipo 1 características daHSC; e iii) células T CD4+CD25+ que ocorrem natu-ralmente.

Os linfócitos T CD4+ comportam-se comocélulas regulatórias negativas e mais provavelmenteregulam tanto a fase de sensibilização quanto a deindução da HSC. A freqüência de células T CD8+produtoras de IFNγ hapteno-específicas nos linfo-nodos de drenagem cutânea no dia 5 após a sensi-bilização pelo hapteno é muito maior em camun-dongos deficientes em células T CD4+ do que emcamundongos normais, sugerindo que as células TCD4+ controlam o desenvolvimento do pool decélulas T CD8+.47 Também é possível que as célulasT CD4+ que migram para o local da provocaçãocontribuam para o controle da inflamação e suaresolução.20 De fato, na ausência de células TCD4+, os camundongos desenvolvem uma inflama-ção mais pronunciada e persistente.14,15,21,48 Alémdisso, as células T CD4+ são recrutadas na peleprovocada várias horas após o recrutamento decélulas T CD8+.20 Assim, as células T CD4+ regula-tórias podem controlar a magnitude da HSC atravésda regulação in situ da ativação e das funções deLTC CD8+ efetores.

As informações atualmente disponíveissobre se uma subpopulação particular de célulasregulatórias está envolvida na regulação da HSCsão limitadas. Células Tr1 níquel-específicas (queproduzem grandes quantidades de IL-10) foramclonadas de lesões cutâneas de pacientes portado-res de DCA, sugerindo que esta subpopulação decélulas regulatórias pode contribuir para a regula-ção da fase eferente da sensibilidade de contato.9

Evidência indireta para a implicação das célulasCD4+CD25+ vem da observação de que a proteí-na de fusão IL-2-IgG2b inibiu a HSC e aumentou otamanho do compartimento de células TCD4+CD25+.49 Nossos próprios dados, no mode-lo de HSC a DNFB, sustentam um papel das célu-las T CD4+CD25+ regulatórias no controle da res-posta inflamatória cutânea e no estabelecimentoda tolerância oral a haptenos.46 Entretanto, a con-

tribuição relativa das subpopulações de células TCD4+ regulatórias no controle da DCA e da HSCainda carece de esclarecimento.

Os mecanismos através dos quais as células TCD4+ controlam o desenvolvimento de células TCD8 específicas e a magnitude da reação de HSCainda são pouco compreendidos. Dados recentesobtidos por Gorbatchev e Fairchild sugerem que ascélulas T CD4+ possam regular as respostas de HSCatravés da eliminação de CAAs apresentadoras dehapteno em órgãos linfóides durante a fase de sensi-bilização em um mecanismo dependente de Fas-L.50 Aconseqüência disto seria um acesso limitado das célu-las T CD8+ a CHP classe I/complexos de hapteno, esinais co-estimulatórios fornecidos pelas CD duranteo "priming" para a resposta de HSC.

3. HSC A HAPTENOS FRACOS COMUNSEm contraste com a HSC contra haptenos for-

tes, há poucas informações sobre as células efetorasmediando a HSC a haptenos moderados, fracos emuito fracos. A principal razão é a falta de modelosanimais reprodutíveis para esses haptenos fracos. Defato, as tentativas de desenvolver DCA a haptenos fra-cos em camundongos normais falharam até omomento. Várias hipóteses não mutuamente exclusi-vas poderiam explicar por que o contato cutâneorepetido com haptenos fracos não é capaz de induzirDCA: i) ao contrário dos haptenos fortes, os hapte-nos fracos não possuem propriedades pró-inflamató-rias intrínsecas e, portanto, não podem emitir sinaisde perigo mandatórios para a ativação, diferenciaçãoe migração de CD cutâneas para os linfonodos dedrenagem; ii) o contato da pele com haptenos fracosgera células T específicas sem funções efetoras, devi-do à sua baixa freqüência e/ou à baixa afinidade deseus receptores de células T; iii) conseqüentemente,a HSC a haptenos fracos pode ser mais sensível acélulas T reguladoras/supressoras, o que poderia evi-tar de forma eficiente o "priming" de células T efeto-ras específicas.

Haptenos fortes, por exemplo, o DNCB e a oxa-zolina, são moléculas tóxicas capazes de emitir sinaisde perigo às células cutâneas, resultando em inflama-ção tecidual dentro de minutos/horas após o contatocutâneo. Em contraste, os haptenos fracos são incapa-zes de induzir inflamação cutânea no local do conta-to, ou podem gerar apenas uma leve irritação na pele,mesmo quando utilizados em altas concentrações.Postulamos que a fisiopatologia da DCA a haptenosfracos é semelhante à da DCA a haptenos fortes eenvolve efetores CD8 capazes de infiltrar a pele emindivíduos sensibilizados. Estudos em andamento emnosso laboratório estão atualmente testando estahipótese.

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4. CÉLULAS T CD4+ PODEM FUNCIONAR COMOEFETORES DE HSC EM DETERMINADAS SITUAÇÕES

Embora a maioria dos estudos recentes enfati-ze que as células T CD8+ sejam os principais efetoresmediando a HSC, é possível que as células T CD4+ eoutros tipos celulares possam agir como efetores deHSC em determinadas condições experimentais.

4.1. Particularidade de algumas substânciasquímicas

Postula-se que algumas substâncias químicas,por exemplo, o isotiocianato de fluoresceína (ITCF)e o formaldeído, provoquem a produção preferen-cial de citocina tipo 2 pelas células T CD4+, que jáforam demonstradas como mediadoras da reaçãode HSC.51,52

4.2. Camundongos deficientes em CD4Os estudos de Kondo et cols e de Wang et cols

concluíram que as células T CD4+ eram efetoras deHSC, mostrando que a HSC a DNFB e oxazolina erabastante comprometida em camundongos CD4°/°,geneticamente deficientes em moléculas de CD4.53,54 Arazão para a discrepância entre esses resultados e osrelatados por outros pesquisadores está mais prova-velmente nas importantes diferenças funcionais entrecamundongos deficientes em CD4, depletados decélulas T CD4+ e camundongos deficientes em CHPclasse II. De fato, apesar da ruptura do gene de CD4,os camundongos CD4°/° contêm células duplamentenegativas CD4- CD8- exercendo as funções normaisdas células T CD4+ encontradas em camundongosnormais. A esse respeito, foi mostrada a ocorrência dematuração tímica eficiente das células T helper emcamundongos CD4°/°. De fato, as células CD4neg TCRαβ+ de camundongos CD4°/° permitem que eles con-trolem infecções por Leishmania, sejam mediadorasda mudança de classe de anticorpos e da reação HTTa KLH.55-57 Assim, embora os camundongos CD4°/° nãoexpressem a molécula CD4, eles são capazes dedesenvolver respostas restritas a CHP classe II, suge-rindo que o co-receptor CD4 é dispensável para oreconhecimento eficiente de antígenos apresentadospor moléculas de CHP classe II em células apresenta-doras de antígenos.

4.3. As células T CD4+ podem ser efetoras emHSC a haptenos quando as células T CD8+ sãodeficientes

As células T CD4+ podem ser efetoras na HSC aalguns haptenos quando a população de células TCD8+ é deficiente. A evidência surgiu de estudos deMartin et cols que demonstraram inicialmente que ascélulas dendríticas (CD) pulsadas com peptídeos deri-vados de TNP que têm afinidade por moléculas classe

II podiam induzir uma reação pequena, embora signi-ficativa, de HSC.27 A seguir, utilizaram camundongosC57BL/6 e camundongos classe I°/°, e estudaram a HSCa DNP e TNP. A HSC a DNP foi normal nos camundon-gos C57BL/6 e ausente nos camundongos classe I°/°,como relatado anteriormente.15 O TNP foi capaz deinduzir uma resposta de HSC nos C57BL/6 que foi ini-bida pela depleção in vivo das células T CD8+ usando-se mAbs específicos. Surpreendentemente, os camun-dongos classe I°/° foram capazes de desenvolver umareação de HSC normal ao TNP, que foi anulada peladepleção de células T CD4+.24

4.4. Contribuição de outros tipos celulares na HSCAlém das células T com TCR αβ+ que repre-

sentam efetores de HSC hapteno-específicos, mos-trou-se que outras subpopulações de células lin-fóides contribuem para a complexa via que final-mente leva à resposta de HSC.58,59 As células B-1são ativadas nos órgãos linfóides dentro de horasapós a sensibilização cutânea e produzem anticor-pos IgM. Esses anticorpos difundem-se na pele ese ligam ao hapteno imediatamente após a provo-cação. A presença de complexos imunes dá inícioà ativação do complemento que parece mandató-ria para o recrutamento de células T efetoras nolocal da provocação.60 Dados recentes sugeremque o recrutamento de células T depende deste"processo de iniciação" antígeno-específico inicialda HSC, que é mediado pela ativação de célulasTNK hepáticas produtoras de IL-4. A imunizaçãoepicutânea causa um rápido e dramático aumentona percentagem de iTNK hepáticas que duplicamdentro de 2 horas e permanecem elevadas por até24 horas.37

Os neutrófilos desempenham um importantepapel no desenvolvimento da HSC. Em sua ausênciaa HSC é reduzida. Segundo a literatura, estão envolvi-dos nas fases de iniciação e efetora da HSC da doen-ça. Os neutrófilos estão entre as primeiras células aserem recrutadas após a provocação de camundon-gos sensibilizados através do efeito quimiotático deCXCL-1 (Groα)40 e aparecem antes da infiltração decélulas T CD8 efetoras. Uma vez que as células efeto-ras tenham sido ativadas, outro influxo de neutrófilosé secundário à ativação de mastócitos que produzemTNFα e CXCL-2 (MIP-2).36

CONCLUSÕES Em resumo, a DCA pode ser vista como o

resultado da ativação de duas subpopulações distin-tas de células T dotadas de funções opostas: as célu-las T efetoras e as regulatórias negativas. A gravida-de e a duração da inflamação cutânea parecem dire-tamente relacionadas ao respectivo estado de ativa-

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ção e/ou ao tamanho desses dois compartimentos.Assim, uma regulação dominante em indivíduos sen-sibilizados pode levar à falta de inflamação (tolerân-cia) apesar de exposições repetidas ao hapteno,enquanto defeitos no número ou nas funções dascélulas regulatórias podem explicar a dermatite de

contato crônica. Estudos posteriores deverão abor-dar a possibilidade de reverter uma DCA estabeleci-da tanto alvejando a população de células T efeto-ras, evitando o recrutamento de leucócitos na pele,39

ou aumentando o número ou as propriedades fun-cionais das células T regulatórias. �

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ENDEREÇO PARA CORRESPONDÊNCIA:JF NicolasInserm U 503IFR 128 Biosciences Lyon-Gerland, 21 av TGarnier, 69007 Lyon - FrançaE-mail: [email protected]

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8. As células T CD8+ hapteno-específicas são ati-vadas pela apresentação de peptídeos conjugados ahapteno por:

a) moléculas do CHP classe Ib) moléculas do CHP classe IIc) moléculas co-estimulatórias d) imunoglobulinas

9. A expressão da reação de sensibilidade de contatoenvolve a ativação de:

a) queratinócitosb) células endoteliaisc) células T efetorasd) leucócitos que migram para a derme superficial

10. A reação inflamatória é regulada negativamentepor:

a) células B b) granulócitosc) células T produtoras de citocinas tipo 1d) células T CD4+

11. A fase eferente da hipersensibilidade de contatose caracteriza por:

a) ocorrer após poucas horas do contato subse-quente com o haptenob) durar cerca de 72 horas no ser humanoc) envolver a produção de quimiocinas e IFNγd) todas as anteriores

12. As células citotóxicas CD8+ :a) inibem o infiltrado inflamatório da hipersensi-bilidade de contatob) produzem IFNγ e amplificam a inflamação cutâneac) produzem quimiocinas e inibem apoptose de queratinócitosd) todas as anteriores

13. A hipersensibilidade de contato a haptenos fortes:a) envolve a produção de IL-1 e IL-2 pelas células de Langerhansb) ocorre através de toxicidade química queestimula células CD4+c) ocorre após ativação de células da resposta imune inatad) não pode acontecer após única exposição

Questões e resultados das questões

1. Haptenos são:a) substâncias químicas de baixo peso molecularb) compostos eletrofílicos c) capazes de se ligar a resíduos nucleofílicosd) todas as anteriores

2. As células dendríticas expressam:a) moléculas de CHP classe I b) moléculas de CHP classe II c) moléculas de adesãod) todas as anteriores

3. Quando um alérgeno de contato é aplicado sobrea pele, ele é captado por:

a) células de Langerhansb) linfócitos T c) linfócitos B d) eosinófilos

4. As células T hapteno-específicas são ativadas por:a) haptenos livresb) peptídeos extracelulares conjugados a haptenoc) peptídeos conjugados a hapteno ancorados nas fendas de ligação de antígeno das moléculas de CHPd) haptenos ligados a imunoglobulinas

5. A ativação de células T hapteno-específicas semexposição prévia ocorre:

a) na epidermeb) na dermec) nos linfonodos de drenagemd) no sangue

6. Durante sua migração para os linfonodos, as CLsofrem:

a) modificações morfológicasb) modificações fenotípicasc) modificações funcionaisd) todas as anteriores

7. Os peptídeos conjugados a hapteno podem serexpressos na superfície das células dendríticas comoresultado de:

a) interação direta com peptídeos ancorados nas fendas de ligação de antígeno das moléculas do CHPb) endocitose de peptídeos extracelulares conjugadosa haptenos e expressão em associação com moléculas do CHP classe IIc) penetração direta da parede celular e expressão em associação com moléculas do CHP classe Id) todas as anteriores

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14. Em camundongos nocauteados para CHP classe II:a) as células circulantes são CD8+ com ausência de HSC a haptenos fortesb) as células circulantes são CD4+ com ausência de HSC a haptenos fortesc) existe deficiência de células CD8+ com presen-

ça de HSC a haptenos fortesd) existe deficiência de células CD4+ com presen-ça de HSC a haptenos fortes

15. Durante a fase de sensibilização da HSC:a) as células CD4+ produzem IL-4, IL-5, IL-10b) as células de Langerhans produzem IL-12 e diversas quimiocinasc) as células CD8+ não possuem atividade proli-ferativad) rodas as anteriores

16. Durante a fase de indução da dermatite de contato:a) as células de Langerhans produzem quimiocinas que estimulam a célula CD4+b) os queratinócitos podem apresentar antígenos e serem alvo de citotoxicidadec) a citotoxicidade é mediada principalmente por células CD4+d) nenhuma das anteriores

17. O recrutamento de células T na pele após provo-cação por haptenos:

a) ocorre após ativação de complemento eprodução de C5ab) envolve a participação de IL-8, MCP-1 e RANTESc) é precedido pela infiltração de neutrófilosd) todas as anteriores

18. A apoptose de células epidérmicas:a) é descrita na dermatite de contatob) pode ocorrer na dermatite atópica e emoutros eczemasc) pode vir a ser alvo de tratamento com o uso de drogas anti-apoptosed) todas as anteriores

19. A atividade regulatória das células CD4+:a) ocorre através de mecanismo desconhecidob) se dá através da eliminação por citotoxicidade, das células CD8+c) envolve a eliminação de células apresentadoras de antígeno em órgãos linfóidesd) nenhuma das anteriores

20. No futuro, a estratégia terapêutica para controlara dermatite de contato:

a) deverá ter como alvo as células T efetorasb) deverá considerar a inibição do recrutamento de leucócitos na pelec) deverá estimular a função das célulasregulatóriasd) todas as anteriores

GABARITO

1. a2. d3. a4. c5. a6. c7. d8. b9. c10. b

11. d12. a13. a14. d15. b16. c17. c18. d19. d20. d

Síndrome antifosfolípide. 2005;80(3):225-39.

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