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GEAEL – Escola de Aprendizes do Evangelho - Aliança Espírita Evangélica 1 Visite nosso site: geael.wordpress.com e baixe os números anteriores 913. Qual é o maior de todos os vícios? – Já o dissemos muitas vezes, é o egoísmo: dele deriva todo o mal. Observai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo; não adianta combatê-los, não conse- guireis extirpá-los enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe destruírdes a causa. Então, que todos vossos esforços se voltem para esse objetivo, pois aí está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, já nesta vida, aproximar-se da perfeição moral, deve extirpar do coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatí- vel com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades. 914. Como o egoísmo se fundamenta na satisfação do inte- resse pessoal, parece bem difícil desarraigá-lo completamente do coração do homem; será que ele chegará lá? – À medida que os homens se instruem a respeito das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais; de- pois, é preciso reformar as instituições humanas, que o ali- mentam e incitam. Isso depende da educação. 915. Sendo inerente à espécie humana, o egoísmo não será sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na terra? – Está claro que o egoísmo é o vosso mal maior, mas deve-se à inferioridade dos Espíritos encarnados na terra, e não à humanidade em si; ora, depurando-se por sucessivas encarnações, eles se livram do egoísmo, como de suas ou- tras impurezas. Não tendes na terra nenhum homem sem egoísmo e que pratique a caridade? Há mais do que pen- sais, mas pouco os conheceis, porque a virtude é discreta, se existe um, por que não existirão dez? Se há dez, por que não haverá mil, e assim por diante? 916. Longe de diminuir, o egoísmo aumenta com a civili- zação, que parece excitá-lo e fomentá-lo. Como poderá a causa destruir o efeito? – Quanto maior for, mais terrível é o mal; seria pre- ciso que o egoísmo causasse um mal muito grande para que todos compreendessem a necessidade de erradicá-lo. Quando os homens tiverem se despido do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se mutuamente, levados pelo sentimento recí- proco da solidariedade; então, o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não se verão mais homens aos quais Grupo Espírita Aprendizes do Evangelho de Limeira Conhecendo a Doutrina Espírita – 18 Estudos doutrinários do GEAEL GEAEL Egoísmo

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913. Qual é o maior de todos os vícios?– Já o dissemos muitas vezes, é o egoísmo: dele deriva

todo o mal. Observai todos os vícios e vereis que no fundo de todos há egoísmo; não adianta combatê-los, não conse-guireis extirpá-los enquanto não atacardes o mal pela raiz, enquanto não lhe destruírdes a causa. Então, que todos vossos esforços se voltem para esse objetivo, pois aí está a verdadeira chaga da sociedade. Quem quiser, já nesta vida, aproximar-se da perfeição moral, deve extirpar do coração todo sentimento de egoísmo, porque o egoísmo é incompatí-vel com a justiça, o amor e a caridade: ele neutraliza todas as outras qualidades.

914. Como o egoísmo se fundamenta na satisfação do inte-resse pessoal, parece bem difícil desarraigá-lo completamente do coração do homem; será que ele chegará lá?

– À medida que os homens se instruem a respeito das coisas espirituais, menos valor dão às coisas materiais; de-pois, é preciso reformar as instituições humanas, que o ali-mentam e incitam. Isso depende da educação.

915. Sendo inerente à espécie humana, o egoísmo não será

sempre um obstáculo ao reinado do bem absoluto na terra?– Está claro que o egoísmo é o vosso mal maior, mas

deve-se à inferioridade dos Espíritos encarnados na terra, e não à humanidade em si; ora, depurando-se por sucessivas encarnações, eles se livram do egoísmo, como de suas ou-tras impurezas. Não tendes na terra nenhum homem sem egoísmo e que pratique a caridade? Há mais do que pen-sais, mas pouco os conheceis, porque a virtude é discreta, se existe um, por que não existirão dez? Se há dez, por que não haverá mil, e assim por diante?

916. Longe de diminuir, o egoísmo aumenta com a civili-zação, que parece excitá-lo e fomentá-lo. Como poderá a causa destruir o efeito?

– Quanto maior for, mais terrível é o mal; seria pre-ciso que o egoísmo causasse um mal muito grande para que todos compreendessem a necessidade de erradicá-lo. Quando os homens tiverem se despido do egoísmo que os domina, viverão como irmãos, sem se fazerem mal algum, auxiliando-se mutuamente, levados pelo sentimento recí-proco da solidariedade; então, o forte será o apoio e não o opressor do fraco, e não se verão mais homens aos quais

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falte o necessário, porque todos praticarão a lei de justiça. Esse é o reino do bem, que os Espíritos estão encarregados de preparar. (784)

917. Qual é o meio de destruir o egoísmo?– De todas as imperfeições humanas, a mais difícil

de erradicar é o egoísmo, porque se deve à influência da matéria de que o homem, ainda demasiado próximo da sua origem, não conseguiu libertar-se, e tudo contribui para ali-mentar essa influência: suas leis, sua organização social, sua educação. O egoísmo se enfraquecerá com a ascendên-cia da vida moral sobre a vida material, e principalmen-te com a compreensão que o espiritismo vos dá do vosso estado futuro real, e não deturpado por ficções alegóricas; bem compreendido, e quando estiver identificado com os costumes e as crenças, o espiritismo transformará os há-bitos, os usos, as relações sociais. O egoísmo se funda na importância da personalidade; ora, o espiritismo bem com-preendido, repito, faz com que se veja as coisas de tão alto que a percepção da personalidade desaparece, por assim di-zer, diante da imensidão. Ao destruir essa importância, ou, pelo menos, limitando-a ao que realmente é, ele fatalmente combate o egoísmo.

É o choque provocado pelo egoísmo alheio que muitas vezes torna o homem egoísta, porque ele sente necessidade de ficar na defensiva. Ao ver que os outros pensam em si mesmos e não nele, o homem é levado a preocupar-se mais consigo do que com os outros. Se o princípio da caridade e da fraternidade for a base das instituições sociais, das relações legais de povo para povo e de homem para homem, este pensará menos em sua pessoa quando vir que outros já pensaram nisso; ele sentirá a influência moralizadora do exemplo e da convivência. Diante do atual excesso de egoísmo, é necessária uma grande virtude para renunciar à própria personalidade em proveito dos outros, que mui-tas vezes nem sequer agradecem; é principalmente a esses que possuem essa virtude que o reino dos céus está aberto; é a eles, principalmente, que está reservada a felicidade dos eleitos, pois em verdade vos digo que, no dia da justiça, todo aquele que tiver pensado somente em si será posto de lado, e sofrerá pelo abandono. (785)

Fénelon

Sem dúvida, louváveis esforços são feitos para levar a humanidade a progredir; encorajam-se, estimulam-se, digni-ficam-se os bons sentimentos mais do que em qualquer outra época, e no entanto o egoísmo, esse verme roedor, continua a ser a chaga social. É um mal real que respinga sobre todo mundo, e do qual cada um é mais ou menos vítima; é preciso combatê-lo como se combate uma doença epidêmica. Para tanto, é preciso agir como os médicos: buscar-lhe a origem. Que se investigue, então, em todas as partes da organiza-ção social, da família aos povos, da choupana ao palácio, todas as causas, todas as influências, claras ou ocultas, que excitam, alimentam e desenvolvem o sentimento do egoís-

mo; uma vez conhecidas as causas, o remédio surgirá por si mesmo; tratar-se-á então só de combatê-las, senão todas de uma vez, pelo menos em parte, e pouco a pouco o veneno será extirpado. Como as causas são numerosas, a cura poderá ser demorada, mas não impossível. Só se chegará a isso, porém, atacando o mal pela raiz, isto é, pela educação; não essa edu-cação que visa a fazer homens instruídos, mas a que tende a fazer homens de bem. A educação, quando bem entendida, é a chave do progresso moral; quando se conhecer a arte de lidar com o caráter, como se conhece a de lidar com a inteli-gência, será possível endireitá-lo como se endireitam plantas novas; mas essa arte exige muito tato, muita experiência e uma profunda observação; é um grave erro pensar que basta ter instrução para exercê-la proveitosamente. Quem acompa-nhar, seja o filho do rico, seja o do pobre, desde a hora do nas-cimento, e observar todas as influências danosas que atuam sobre ele em consequência da fraqueza, da negligência e da ignorância dos que o dirigem, se observar também quantas vezes os meios que empregam para moralizá-los falham, não deve surpreender-se por encontrar tantos defeitos no mundo. Faça-se quanto ao moral o mesmo que se faz quanto à inteli-gência e se verá que, se há temperamentos rebeldes, há muito mais do que se pensa que só requerem uma boa cultura para dar bons frutos. (872)

O homem quer ser feliz; é um sentimento natural. Por isso trabalha sem cessar para melhorar sua posição na terra, e procura a causa dos seus males para remediá-los. Quando compreender bem que o egoísmo é uma dessas causas, a que gera o orgulho, a ambição, a cobiça, a inveja, o ódio, o ciúme, que a todo instante o magoam, que perturba todas as re-lações sociais, que provoca desavenças, destrói a confiança, que o obriga a manter-se sempre na defensiva contra seu vi-zinho, enfim, a que faz do amigo um inimigo, então também compreenderá que esse vício é incompatível com a sua felici-dade e, acrescentamos, com a sua segurança. E, quanto mais tiver sofrido, mais necessidade terá de combater o egoísmo, como combate a peste, os animais nocivos e todos os outros flagelos; será levado a isso por seu próprio interesse. (784)

O egoísmo é a causa de todos os vícios, como a caridade é a fonte de todas as virtudes; destruir o primeiro, desen-volver a outra deve ser o objetivo de todos os esforços do homem, se quiser garantir sua felicidade tanto neste mundo como no futuro.

O Livro dos EspíritosAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto

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PERGUNTA: — No conceito dos habitantes de vossa esfera espiritual, o álco-ol é também considerado como um dos grandes malefícios da Terra?

RAXATIS: — Em nossa esfera espiritual não consideramos a indústria do álcool como um malefício, mas sim como incontestável benefício para o ser humano. O vosso mundo deve muitos favores ao álcool, pois é elemento de gran-de utilidade. Ele serve para a fabricação de xaropes, tintas e desinfetantes; move motores, alimenta fogões, ilumina habitações, higieniza as mãos, desinfeta as seringas hipodérmicas e as contusões infeccionadas; limpa os móveis e as roupas, extrai manchas e asseia objetos, destrói germens perigosos e enriquece os recur-sos da química do mundo. Usado com parcimônia nos medicamentos, estimula o aparelho cardíaco, ajuda a filtração hepática e desobstrui as veias atacadas pelas gorduras, nos homens idosos. O abuso na sua ingestão é que merece censuras, pois avilta, deprime e mata, embora sejam fabricadas com ele as mais variadas bebidas que se apresentam com reclames pomposos.

O alcoólatra, seja o que se embriaga com o uísque caríssimo ou o que se entrega à cachaça pobre, não passa de um “caneco vivo”, pelo qual muitos espíritos desencarnados e viciados se esforçam para beber “etericamente” e aliviar a sua sede ardente de álcool. Muitas vezes o homem se rebela contra as vicissitudes da vida humana e por isso entrega-se à embriaguez constante, mas não sabe que as enti-dades astutas, das sombras, o seguem incessantemente, alimentando a esperança de torná-lo o seu recipiente vivo ou o seu tentáculo absorvente no mundo carnal.

PERGUNTA: — Quer isso dizer que todos os beberrões desencarnados vivem à cata de “canecos vivos”, na Terra, para poderem saciar o seu vício; não é isso mesmo?

RAMATÍS: — São poucos os encarnados que sabem do terrível perigo que se esconde por detrás do vício do álcool, pois a embriaguez é sempre uma das situações mais visadas pelos espíritos viciados que procuram a desejada “ponte viva” para

satisfação de seus desejos no mundo da matéria. Os espíritos desencarnados e ainda escravos das paixões e vícios da carne — em virtude da falta do corpo físico — são tomados de terrível angús-tia ante o desejo de ingerir o álcool com o qual se viciaram desbragadamente no mundo físico. Devido à fácil excita-bilidade natural do corpo astral, esse desejo se centuplica, na feição de uma ansiedade insuportável e desesperadora, como acontece com os morfinômanos, que só se acalmam com a morfina! É um desejo furioso, esmagador e sádico; a vítima alucina-se vivendo as visões mais pavorosas e aniquilantes! E quando isso acontece com espíritos sem escrúpulos, eles são capazes de todas as infâmias e torpezas contra os encarnados, para mitigarem a sede de álcool, assemelhan-do-se aos mais desesperados escravos do vício dos entorpecentes.

Os neófitos sem corpo físico, que aportam ao Além ardendo sob o dese-jo alcoólico, logo aprendem com os veteranos desencarnados qual seja a melhor maneira de mitigarem em parte a sede alcoólica. Como já temos dito por diversas vezes, depois de desencar-nadas as almas se buscam e se afinizam atraídas pelos mesmos vícios, idéias, sentimentos, hábitos e intenções. Em conseqüência dessa lei, os encarnados que se viciam com bebidas alcoólicas passam também a ser acompanhados de espíritos de alcoólatras já desencar-nados, ainda escravos do mesmo vício aviltante, que tudo fazem para transfor-mar suas vítimas em “canecos vivos”, para saciarem seus desejos.

Em geral, os infelizes alcoólatras ao deixarem seus corpos cozidos pelo álcool nas valetas, nos catres de hospitais ou mesmo em leitos ricos, aqui despertam enlouquecidos pelo desejo desesperado de satisfazer o vício. Quando se defron-tam com a realidade da sobrevivência no Além-Túmulo e compreendem que a

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vida espiritual superior exige a libertação do vício degradante, desesperam-se e negam-se a abdicar do seu desejo perverti-do. Apenas um reduzido número deles se entrega submisso à terapia do sofrimento purificador e consegue resistir ao desejo mórbido, para lograr a maior eliminação possível do eterismo tóxico remanescente, do álcool, e então recebe o auxílio dos benfeitores e é ajudado a vencer a fase mais cruciante após a sua desencarnação. Certas almas corajosas e decididas, depois de se desligarem completamente dos desejos do álcool, entregam-se ardorosamente ao serviço de socorro aos alcoólatras, junto à Crosta, não só influenciando-os para que deixem o vício, como cooperando nos ambientes espirituais e junto às instituições religiosas, conduzindo para ali doentes e sofredores alcoólatras, a fim de inspirar-lhes a mais breve libertação do domínio do terrível adversário.

Eis o motivo por que alguns médiuns videntes verificam, surpresos, que, enquanto alguns espíritos de ex-embriagados cooperam nos seus trabalhos mediúnicos, outros ainda rebel-des e inconformados preferem aviltar-se ainda mais na exe-crável tarefa de preparar “canecos vivos” que, na superfície da Terra, operem escravizados para satisfazer aos seus desejos.

PERGUNTA: — Quando os espíritos nos dizem que a morte do corpo físico não extingue a vontade de ingerir álcool, ficamos confusos pois, se o corpo é físico, tudo leva a crer que o túmulo terreno seja a fronteira definitiva das sensações físicas! Estamos equivocados em nosso raciocínio?

RAMATÍS: — A desencarnação não destrói os desejos, pois estes são psíquicos e não físicos. Após a morte corporal, quando a alma se vê impedida da satisfação alcoólica, é justa-mente quando o seu desejo ainda mais recrudesce e a idéia da impossibilidade de saciar o vício produz-lhe atroz desespero.

Há muito tempo a tradição ocultista vos ensina que o corpo astral, como um dos veículos que compõem o perispírito, é realmente o “corpo dos desejos”, no qual sedia-se o desejo do espírito e conservam-se todos os resíduos produzidos pela sua emotividade e paixões vividas nos milênios findos. Através desse sutilíssimo corpo astral, constituído de toda a essência psíquica emotiva desde a sua origem planetária, é que real-mente se manifesta o desejo do espírito. Nessa contextura delicadíssima atuam, gritam e dominam todos os ecos e estí-mulos das paixões, desejos e vícios que hajam vibrado na alma através de suas anteriores encarnações físicas. É por isso que a simples perspectiva de não poderem saciar a angustiosa sede de álcool, trazida da Terra, deixa esses infelizes alcoólatras cegos e enlouquecidos sob os mais cruciantes acometimentos. Rompem-se-lhes as algemas de qualquer convenção ou deve-res afetuosos, levando-os a praticar as mais vis torpezas para conseguir o álcool. Aqueles que já presenciaram os ataques etí-licos dos alcoólatras e se compungiram pelos seus alucinantes delírios, sem dúvida não observaram vinte por cento do que acontece a esses infelizes desesperados pelo vício, quando lan-çados brutalmente no mundo astral! Além disso, as entidades

das sombras procuram auxiliar os viciados recém-chegados ao espaço, ensinando-os a ter paciência e a buscar o seu “médium eletivo”, na crosta terráquea, a fim de torná-lo um dócil “cane-co vivo” que, na forma de um canal, lhes mitigará no mundo material a sede ardente do álcool.

PERGUNTA: — Qual a idéia mais clara que podería-mos formar desse infeliz que denominais “caneco vivo”?

RAMATÍS: — Designo como “caneco vivo” a criatura que se deixa dominar completamente pelo vício do álcool, tornando-se enfraquecido no seu senso de comando psicológi-co e espiritual. Quando tal acontece, os viciados do Além, que se afinizam à sua constituição psíquica, vigiam-na e atuam incessantemente sobre ela a fim de conseguirem situá-la sob a freqüência vibratória com que operam em comum, para subverterem-lhe completamente a vontade e o caráter. De acor-do com a lei de afinidade espiritual, é preciso que o candidato à função de “caneco vivo” vibre na mesma faixa vibratória do malfeitor desencarnado, pois só deste modo é que este conse-gue agir com êxito e interceptar qualquer inspiração superior que possa ser enviada à sua vítima no sentido de se livrar do vício. Assim que o obsessor consegue domínio completo sobre o bêbedo encarnado, trata de cercá-lo de cuidados e protegê-lo contra outras entidades desencarnadas que também o possam usar como “caneco vivo”.

O álcool ingerido pelo alcoólatra terreno, depois que lhe atinge o estômago, volatiliza-se em operação progressiva, até alcançar a sua forma etéreo-astral, momento em que os espíritos viciados podem então sugá-lo pela aura do infeliz beberrão. Trata-se de uma espécie de repulsiva operação de vampirismo que, para satisfazer em parte aos desencarnados, exaure a vitalidade da vítima. Certas vezes aglomeram-se várias entidades viciadas sobre a aura de um mesmo bêbedo, constituindo uma grotesca e degradante cena de sucção de álcool! Elas se mostram irascíveis e irritadas quando os seus pacientes não as atendem a contento deixando de beber a quantidade desejada para a sua satisfação mórbida completa. Trabalham furiosamente para que o infeliz aumente a sua dose de álcool, pois ele representa o transformador que deve saturar-se cada vez mais a fim de cumprir a repulsiva tarefa de dar de beber aos viciados do Além.

Daí o motivo por que muitos alcoólatras insistem em afir-mar que uma força oculta os obriga a beber cada vez mais, até que chegam a cair ao solo inconscientes. Saturados então de álcool, quais míseros farrapos humanos a exsudarem os vapores repelentes da embriaguez total, eles atravessam o resto de suas existências transformados em vítimas dos seus obsessores, que astuciosamente se ocultam nas sombras do Além-Túmulo.

Fisiologia da AlmaRamatís / Hercílio Maes

Editora do ConhECimEnto

“São poucos os encarnados que sabem do terrível perigo que se esconde por detrás do vício do álcool, pois a embriaguez é sempre uma das situações mais visadas pelos espíritos viciados que procuram a desejada “ponte viva” para satisfação de seus desejos no mundo da matéria.”

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31. Como vimos, o fluido universal é o elemento primi-tivo do corpo carnal e do perispírito, que são apenas trans-formações dele. Pela identidade da sua natureza, esse fluido, condensado no perispírito, pode fornecer ao corpo princípios reparadores; o agente propulsor é o espírito, encarnado ou desencarnado, que infiltra num corpo deteriorado uma parte da substância do seu envoltório fluídico. A cura se opera pela substituição de uma molécula doente por uma molécula sadia. O poder curativo será, pois, proporcional à pureza da substância inoculada; depende, também, da energia da von-tade, que provoca uma emissão fluídica mais abundante e dá ao fluido maior força de penetração; depende, finalmente, das intenções que animam aquele que deseja curar, seja ele homem, ou espírito. Os fluidos que emanam de uma fonte impura são como substâncias medicinais deterioradas.

32. Conforme as circunstâncias, os efeitos da ação fluídi-ca sobre os doentes são extremamente variados; essa ação é algumas vezes lenta e exige um tratamento continuado, como no magnetismo comum; outras vezes é rápida como uma cor-rente elétrica. Há pessoas dotadas de tal poder, que operam curas instantâneas em certos doentes pela simples imposiçào das mãos, ou mesmo por um mero ato da vontade. Entre os dois polos extremos dessa faculdade, há infinitas nuances. Todas as curas dessa espécie são variedades de magnetismo, e apenas diferem quanto à intensidade e a rapidez da ação. O princípio é sempre o mesmo: é o fluido que desempenha o papel de agente terapêutico, e cujo efeito está subordinado à sua qualidade e a circunstâncias especiais.

33. A ação magnética pode produzir-se de várias maneiras:1o. pelo próprio fluido do magnetizador; é o magnetis-

mo propriamente dito, ou magnetismo humano, cuja ação se acha subordinada à força e, principalmente, à qualidade do fluido;

2o. pelo fluido dos espíritos atuando diretamente e sem intermediário sobre um encarnado, seja para curar ou acal-mar um sofrimento, seja para provocar sono sonambúlico espontâneo, seja para exercer sobre o indivíduo uma influên-cia física ou moral qualquer. É o magnetismo espiritual, cuja qualidade é proporcional às qualidades do espírito;1

3o. pelo fluido que os espíritos derramam sobre o mag-netizador e para o qual este serve de condutor. É o magne-tismo misto, semi-espiritual ou, se o preferirmos, humano--espiritual. O fluido espiritual, combinado com o fluido humano, dá a este último as qualidades que lhe faltam. Em tais circunstâncias, a colaboração dos espíritos é às vezes 1 Exemplos: Revista Espírita, fevereiro de 1863; abril de 1865; setembro de 1865.

espontânea; na maioria delas, porém, é provocada pelo apelo do magnetizador.

34. A faculdade de curar pela influência fluídica é muito comum, e pode ser desenvolvida pelo exercício; a de curar instantaneamente pela imposição das mãos, porém, é mais rara, e seu auge pode ser considerado excepcional. Contudo, em diversas épocas e em quase todos os povos, viram-se indivíduos que a possuíam em grau superior. Nos últimos tempos, viram-se vários exemplos notáveis, cuja autentici-dade não pode ser contestada. Como essas espécies de curas assentam num princípio natural, e como o poder de realizá--las não é um privilégio, é porque não se afastam da natureza e porque de milagrosas só têm a aparência.2

A GêneseAllan Kardec

Editora do ConhECimEnto2 Exemplos de curas instantâneas relatados na Revista Espírita: “O Príncipe de Hohenlohe”, dezembro de 1866; “Jacó”, outubro e novembro de 1866, outubro e novembro de 1867; “Simone”, agosto de 1867; “Caïd Hassan”, outubro de 1867; “O Cura Gassner”, novembro de 1867.

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PERGUNTA: — Que relação há entre a mediunidade e o “Consolador” prometido por Jesus? Que é, propriamente, a mediunidade?

RAMATÍS: — A mediunidade é um patrimônio do espí-rito; é faculdade que se engrandece em sua percepção psíqui-ca, tanto quanto evolui e se moraliza o espírito do homem. A sua origem é essencialmente espiritual e não material. Ela não provém do metabolismo do sistema nervoso, como alegam alguns cientistas terrenos, mas enraíza-se na própria alma, onde a mente, à semelhança de eficiente usina, organiza e se responsabiliza por todos os fenômenos da vida orgânica, que se iniciam no berço físico e terminam no túmulo.

A mediunidade é faculdade extra-terrena e intrinsecamen-te espiritual; em sua manifestação no campo de forças da vida material, ela pode se tornar o elemento receptivo das energias sublimes e construtivas provindas das altas esferas da vida angélica. Quando é bem aplicada, transforma-se no serviço legítimo da angelitude, operando em favor do progresso huma-no. No entanto, como recurso que faculta o intercâmbio entre os “vivos” da Terra e os “mortos” do Além, também pode servir como ponte de ligação para os espíritos das sombras atuarem com mais êxito sobre o mundo material. Muitos médiuns que abusam de sua faculdade mediúnica e se entregam a um serviço mercenário, em favor exclusivo dos seus interesses particulares, não demoram em se ligar imprudentemente às entidades malfeitores dos planos inferiores, de cuja companhia dificilmente depois eles conseguem se libertar.

PERGUNTA: — Dizem certos médicos, estudiosos do assunto, que a mediunidade é apenas um “fenômeno orgâ-nico”. Que dizeis sobre isso?

RAMATÍS: — A mediunidade não é fruto da carne tran-sitória, nem provém de qualquer sensibilidade ou anomalia do sistema nervoso. Repetimos: é manifestação característica do espírito imortal. É percepção espiritual ou sensibilidade psí-quica, cuja totalidade varia de indivíduo para indivíduo, pois, em essência, ela depende também do tipo psíquico ou do grau espiritual do ser. Embora os homens se originem da mesma fonte criadora, que é Deus, eles se diferenciam entre si, porque são consciências individualizadas no Cosmo, mas conservando as características particulares, que variam conforme a sua maior ou menor idade sideral. Há um tom espiritual próprio e específico em cada alma, e que se manifesta por uma tonalida-de particular durante a manifestação mediúnica. É como a flor, que revela o seu perfume característico, ou então a lâmpada, que expõe a sua luz particular.

PERGUNTA: — Conforme temos observado, a mediu-nidade, atualmente, generaliza-se e recrudesce entre os homens de modo ostensivo. Por que ocorre tal fenômeno em nossos dias?

RAMATÍS: — É fenômeno resultante da hipersensibili-dade psíquica que presentemente sobressai entre os homens, em concomitância com o “fim dos tempos” ou “juízo final”, tantas vezes já profetizado. O século em que viveis é o remate final da “Era da Matéria”, que até o momento tem sido regida pela belicosidade, cobiça, astúcia, cólera, egoísmo e cruelda-de, paixões mais próprias do instinto animal predominando sobre a centelha espiritual. Encontrai-vos no limiar da “Era do Espírito”, em que a humanidade sentir-se-á impulsionada para o estudo e o cultivo dos bens da vida eterna, com acentuado desejo de solucionar os seus problemas de origem espiritual.

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As comprovações científicas da imortalidade da alma, através do progresso da fenomenologia mediúnica, reduzirão bastante a fanática veneração do homem pela existência transitória do corpo físico.

Assim como o organismo carnal do homem em certo tempo verticalizou-se para servi-lo em nível biológico superior, o seu espírito também há de se erguer da horizontalidade dos fenômenos e dos interesses prosaicos da vida física provisória, para atuar definitivamente na freqüência vibratória do mundo crístico.

A época profética que viveis atualmente, sob a emer-são coletiva do instinto animal simbolizado na “Besta do Apocalipse”, que tenta subverter o espírito do homem ainda escravo das formas terrenas é que produz essa ansiedade, esse nervosismo e essa inquietação das massas humanas, ateando o barbarismo das guerras e das revoluções, incitando as lutas de classes e os ódios racistas, enquanto os cientistas investigam como matar mais depressa por intermédio das armas nuclea-res. A humanidade terrena pressente que já chegou a sua hora angustiosa de seleção espiritual e consolidação planetária. O homem terá que se decidir definitivamente para a “direita” ou para a “esquerda” do Cristo, pois, conforme reza a profecia, serão separados os lobos das ovelhas e o trigo do joio.

Freme o magnetismo do ser humano à periferia do seu psiquismo exaltado pela energia animal, a qual emerge em sua desesperada tentativa de subverter os costumes, as tradi-ções e a disciplina do espírito imortal. Os homens encontram--se confusos no limiar de duas épocas extremamente antagô-nicas, pois, justamente com o reiterado apelo do Alto para a cristificação humana, recrudesce também a efervescência do automatismo instintivo da vida animal.

Os hospitais estão abarrotados de criaturas alienadas ou obsidiadas, que provêm desde os barracões de favelados até as altas esferas sociais, cuja maioria é torturada pelas crises financeiras ou morais. Nessa miséria espiritual, abrangendo tanto os ateus como os seres egressos das mais variadas dou-trinas e religiões, o vosso mundo comprova que o sacerdócio organizado, das religiões oficiais, realmente fracassou em sua missão salvadora. E o pior é que, durante essa eclosão incon-trolável do instinto inferior, os espíritos desencarnados e mal-feitores firmam o seu alicerce na carne e executam também o seu programa diabólico contra os terrícolas, que são apáticos aos sublimes ensinamentos salvadores do Cristo Jesus.

Atuado pelas mais contraditórias circunstâncias, viven-do em minutos o que os seus antepassados não viveram em alguns anos, o homem do século atômico destrambelha os seus nervos e superexcita o seu psiquismo, perdendo terreno no seu controle espiritual e tornando-se um instrumento dócil nas mãos dos espíritos desencarnados malévolos. Essa constante relação dos “vivos” com os “mortos”, embora os primeiros sejam inconscientes do que acontece, termina por sensibilizar cada vez mais a criatura humana, com a agra-vante de que se efetua nela um verdadeiro desenvolvimento mediúnico de inferior qualidade. Daí, pois, a necessidade inadiável de o homem prudente e bem intencionado integrar-

-se definitivamente nos preceitos salvadores do Cristo e vivê--los incessantemente à luz do dia.

PERGUNTA: — Poderíamos supor que o progresso cien-tífico atual também contribui para essa hipersensibiliza-ção humana, em que o homem cada vez mais se sintoniza com as forças do mundo oculto?

RAMATÍS: — O cientificismo avançado do século XX, engendrando a criação dos satélites artificiais, dos aviões a jato, dos projetis teleguiados e dos foguetes interplanetários; as pesquisas corajosas dos velhos “tabus” e segredos da mente humana, sem dúvida são importantes contribuições que não só aceleram a dinâmica de pensar e aumentam a área da consciência, como também sensibilizam a emotividade do ser. Já vos lembramos de que o homem atualmente vive, em algu-mas horas, e de modo simultâneo, os raciocínios, as reflexões, as conjecturas e as mutações mentais e emotivas que os seus antepassados não chegavam a experimentar em dezenas de anos. O cidadão do século XX defronta e resiste obrigatoria-mente a uma multiplicidade de fenômenos “psico-físicos” tão eqüidistantes em suas manifestações variadas, que isso seria suficiente para endoidecer a maioria dos habitantes terrenos de alguns séculos atrás.

Cresce assim a sensibilidade psíquica entre os homens terrícolas; acentua-se-lhes a eclosão da mediunidade em comum, porque também vivem sob o incessante acicate dos espíritos desencarnados, que assim exploram essa oportuni-dade cada vez mais favorável para agirem sobre a matéria. Indiscutivelmente, confirmam-se os vaticínios de Jesus, de que no “fim dos tempos” os velhos, os moços e as crianças teriam visões, ouviriam vozes estranhas e profetizariam, isso logo em seguida ao advento do Espírito da Verdade. O Mestre indicou claramente o século que viveis no presente, quando predisse os acontecimentos materiais incomuns dos vossos dias e a eclosão simultânea da mediunidade generalizando-se entre os homens, simbolizando o “Consolador” prometido a derramar-se pela carne das criaturas.

Assim se manifestou o Divino Amigo, com suas palavras inesquecíveis: “Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. Porém o Consolador, que é o Santo Espírito que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito”. (João, 14:15-17, 26).

MediunismoRamatís / Hercílio Maes

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8 Conhecendo a Doutrina Espírita

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É preciso que se dê mais importância à leitura do Evangelho. E, no entanto, abandona-se esta divina obra;faz-se dela uma palavra vazia, uma mensagem cifrada. Relega-se este admirável código moral ao esquecimento.

3. Se o amor ao próximo é o princípio da caridade, amar os inimigos é a sua aplicação máxima, pois esta virtude é uma das maiores vitórias alcançadas contra o egoísmo e o orgulho. Entretanto, as pessoas geralmente se enganam quanto ao sentido da palavra amar aplicada nessa circuns-tância. Jesus não quis dizer, com essas palavras, que se deve ter pelo inimigo o mesmo carinho que se tem por um irmão ou por um amigo, pois carinho pressupõe confiança. E não podemos ter confiança em alguém que sabemos que não nos quer bem; não podemos dar-lhe demonstrações de amizade, porque sabemos que é capaz de abusar disso. Entre as pes-soas que desconfiam umas das outras, não pode existir as mesmas manifestações de simpatia que existe entre pessoas que partilham das mesmas idéias. Não podemos, enfim, ao encontrar um inimigo, sentir prazer igual ao que sentimos quando encontramos um amigo, uma vez que esse sentimen-to tem origem na lei física da atração e repulsão dos fluidos. Por isso, o pensamento maldoso gera uma corrente fluídica cujo efeito é desagradável, e o pensamento benevolente nos envolve com uma emanação agradável. Aí está a razão pela qual experimentamos diferentes sensações diante da aproxi-mação de um amigo ou de um inimigo.

Amar os inimigos não pode, pois, significar que não de-vemos fazer distinção alguma entre eles e nossos amigos. Esse ensinamento do Cristo só parece difícil ou impossível de ser posto em prática, porque se pensa erradamente que ele manda que se dê, tanto ao inimigo como ao amigo, o mesmo lugar no coração. Se a pobreza da linguagem humana nos obriga a usar a mesma palavra para exprimir várias nuances de um mesmo sentimento, cabe à razão, diante de cada caso, estabelecer a diferença. Dessa forma, amar os inimigos não significa ter por eles uma afeição que não é espontânea, pois o contato com um inimigo faz o coração bater de maneira bem diferente do que acontece quando se trata de um amigo. Amar os inimigos é não ter contra eles nem ódio, nem rancor, nem desejo de vin-gança; é perdoar-lhes, sem segundas intenções e incondicio-nalmente, o mal que nos fazem; é não opor nenhum obstáculo à reconciliação; é desejar-lhes o bem e não o mal; é alegrar-se, ao invés de aborrecer-se, com as coisas boas que lhes aconte-çam; é estender-lhes a mão caridosa em caso de necessidade; é evitar tudo o que possa prejudicá-los, seja por palavras ou atos; é, enfim, retribuir-lhes todo o mal com o bem, sem a in-tenção de humilhá-los. Quem fizer isso, cumpre as condições do mandamento Amai os vossos inimigos.

4. Para o incrédulo, amar os inimigos é um absurdo. Aquele para quem a vida presente é tudo vê no inimigo uma criatura nociva que lhe perturba a tranquilidade, e da qual, pensa ele, só a morte pode livrá-lo. Daí o desejo de vingança. Ele não tem o menor interesse em perdoar, a não ser para sa-tisfazer o próprio orgulho aos olhos do mundo. Perdoar, em certos casos, lhe parece uma fraqueza indigna de si. Mesmo que não se vingue, nem por isso deixará de guardar rancor e

de desejar-lhe mal, ainda que secretamente.Para quem crê, principalmente para o espírita, o modo

de ver é totalmente diferente, pois seu olhar está voltado para o passado e para o futuro, entre os quais a vida presen-te não passa de um mero instante. Ele sabe que, pela própria destinação da Terra, é natural encontrar nela homens maus e perversos, e que as maldades a que está exposto fazem parte das provações pelas quais deve passar. O entendimento desse ponto de vista faz com que suas vicissitudes se tornem menos amargas, quer venham elas dos homens ou das coisas. Se não se queixa das provações, também não deve queixar-se daqueles que delas são instrumentos. Se, ao invés de lamen-tar-se, agradecer a Deus por colocá-lo à prova, deve também ser grato à mão que lhe dá oportunidade de mostrar sua paciência e sua resignação. Esse pensamento o predispõe naturalmente ao perdão. Além do mais, ele sente que, quan-to mais generoso for, mais cresce aos próprios olhos e fica fora do alcance das investidas maldosas do inimigo.

O homem que ocupa uma posição elevada no mundo não se sente ofendido por insultos de quem considera seu inferior. O mesmo acontece com quem, no mundo moral, se eleva aci-ma da humanidade materialista: ele compreende que o ódio e o rancor o rebaixariam moralmente. Ora, para ser superior ao seu adversário, é preciso que tenha a alma maior, mais nobre e mais generosa.