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GERAÇÃO DE PATENTES E SPIN-OFFS:
TAXA DE INOVAÇÃO EM
UNIVERSIDADES PÚBLICAS
BRASILEIRAS
Jose Sergio da Silva Junior (UFRN)
Sergio Ramalho Dantas Varella (UFRN)
Este artigo tem como objetivo analisar a taxa de inovação tecnológica
nas universidades públicas brasileiras por meio de patentes e spin-off,
observando a influência dos fatores externos e internos no processo
desenvolvimento tecnológico. AA metodologia empregada foi a
pesquisa survey, obtendo resposta de 19 universidades. Os resultados
apontam a importância da qualificação da mão de obra, a carência de
infraestrutura e de recursos financeiros nas universidades com menor
desempenho, e a forte correlação dos outputs entre si.
Palavras-chaves: Inovação tecnológica. Patente. Spin-off
XXXII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Desenvolvimento Sustentável e Responsabilidade Social: As Contribuições da Engenharia de Produção
Bento Gonçalves, RS, Brasil, 15 a 18 de outubro de 2012.
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1. Introdução
Diminuir os níveis de pobreza que permeiam as regiões e a desigualdade entre pobres e
ricos são dois dos grandes desafios que o Brasil tem no século XXI. Necessita-se com
urgência de estratégias para a implantação de um conjunto de ações que contribuam de forma
efetiva para a transformação da sociedade, possibilitando a geração e distribuição da riqueza
(Terra et al., 2006).
Visando contribuir com igualdade social, o Estado tem buscado novos meios para
aumentar o crescimento industrial, por meio da criação de leis, programas governamentais e
de novos órgãos. Passando-se, então, a proporcionar incentivo àqueles que objetivam
desenvolver novas tecnologias em diferentes setores econômicos.
Por sua natureza – adquirida a partir da evolução de sua missão, em que as universidades
incorporaram à atividade de ensino, a pesquisa e, posteriormente, o papel de protagonista do
desenvolvimento econômico (Etzkowitz & Leydesdorff, 2000) – as universidades são
designadas para fortalecer o conhecimento científico, social e econômico. Assumindo função
significante como empreendedor e promovedor de desenvolvimento regional na sociedade
baseada em conhecimento, infundida com visão estratégica, atuando em conjunto com outros
atores para inovação regional mais profunda (Etzkowitz & Zhou, 2006).
Nesse sentido, a abordagem da Hélice Tríplice caracteriza a dinâmica da inovação dentro
de um contexto de evolução, em que as relações se estabelecem entre três esferas
institucionais: a universidade, a iniciativa privada e o governo, configurando três pás distintas
de uma mesma hélice (Abdalla et al., 2009). Nesse desenvolvimento, as universidades contam
com o aporte crescente de recursos públicos, das três esferas de governo (Cruz, 2008).
Em vista da conjuntura descrita, o presente estudo propôs como objetivo analisar a taxa de
inovação tecnológica nas universidades públicas brasileiras para verificar a influência dos
fatores externos e internos no processo de desenvolvimento tecnológico. Para tanto,
desdobrou-se o objetivo geral em: (i) realizar pesquisa junto às universidades para colher
informações para caracterização das mesmas ou relativas às percepções de seus respectivos
gestores nos itens analisados, relativos aos fatores internos e externos que tipicamente são
considerados relevantes no estudo da taxa de inovação tecnológica; e, (ii) quantificar o
volume de depósito e concessão de patentes no 1990-2010 nas universidades públicas
brasileiras, bem como o número de spin-off no mesmo período.
A partir da contextualização acima, este trabalho apresenta como problema de pesquisa: a
infraestrutura das universidades brasileiras influencia o desenvolvimento tecnológico do país?
Com esse questionamento, o presente projeto contempla um modelo conceitual com o
encadeamento de quatro hipóteses (Figura 1), em que cada uma delas pode ter ramificações,
para que se possam examinadas em nível mais detalhado. Utiliza-se, então, o seguinte
enunciado genérico: os fatores internos/externos influenciam positivamente os outputs
pesquisados.
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Figura 1: Modelo conceitual da pesquisa com quatro hipóteses. Nota. Fonte: Elaborado pelos autores
2. Transferência de tecnologia
A transferência de tecnologia por ser concebida como um processo social e uma interação
ativa entre duas ou mais entidades sociais, em que nela se processa a soma de conhecimentos
tecnológicos, que são aumentados pela transferência de um ou mais componentes
tecnológicos (CYSNE, 2005).
Para caracterizar os modelos de cooperação entre os três atores (universidade-empresa-
governo), a literatura apresenta modelos estáticos e modelos dinâmicos para representar a
interação nesse ambiente. O modelo da Hélice Tríplice vem sendo cada vez mais usado para
descrever as relações de interação dos atores que participam de projetos de desenvolvimento,
com vistas a: a) a produção do conhecimento socialmente relevante nas universidades e
conseqüente transferência deste conhecimento para a sociedade; b) a inovação tecnológica nas
empresas e c) a participação dos governos no processo de inovação (SILVA, TERRA &
VOTRE, 2006).
Esse modelo sofreu alterações, adquirindo características dinâmicas, sendo denominado
Hélice Tríplice III e tem gerado uma infra-estrutura de conhecimento em termos de
sobreposição entre as esferas institucionais, com cada organização emergindo interfaces
híbridas sem limites entre essas esferas institucionais, descrevendo uma variedade de arranjos
institucionais e modelos políticos os quais explicam a dinâmica (ETZKOWITZ ET AL.,
2000).
Para facilitar a aproximação e ocorrer o intercâmbio entre os atores criam-se mecanismos
de interação para gerenciar a relação entre universidade e empresa (CAMPOS, 2003). Dentre
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estes, destacam-se os Escritórios de Transferência de Tecnologia (ETT), que, de acordo com
Schreiner (2003), baseando-se na experiência das universidades estadunidenses, são tratados
como a profissionalização da transferência de tecnologia, tendo em vista que os
departamentos ou administração universitária, ou mesmo os pesquisadores, não podem nem
devem realizar essa tarefa de transferência de tecnologia junto às empresas, devido à atividade
abranger muitos aspectos que transcendem C&T.
As atividades desempenhadas pelos ETTs tem se constituído em importantes articuladores
das relações universidade-empresa-governo ao estimularem iniciativas conjuntas com o setor
empresarial, contribuindo para a inovação em produtos, processos e serviços (CONDE &
SANTOS, 1999).
3. Indicadores para a Avaliação da Taxa de Inovação Tecnológica nas Universidades
O indicador (a medida) de desempenho exerce um papel importante nas organizações, pois
representa um processo de autocrítica e de acompanhamento das atividades e das ações e
decisões que são tomadas durante sua execução (OHASHI; MELHADO, 2004).
Nesta análise da taxa de inovação tecnológica, buscou-se levantar indicadores de input e de
output do processo de inovação tecnológica nas universidades, procurando identificar
relações, por meio de análises estatísticas, montando-se um sistema de indicadores para
analisar o microambiente.
Tipicamente, os dados investigados sobre os inputs do processo de inovação (no
microambente) levam em conta os valores investidos em P&D (internamente e externamente),
as fontes de financiamento de pesquisa, dispêndio para a aquisição de máquinas e
equipamentos, as cooperações/parcerias em P&D, o tamanho da empresa (tomando como
referência o número de empregados) e os recursos humanos empregados na atividade P&D
(contemplando tempo dedicado e a qualificação do pessoal) (IBGE, 2010; OCDE, 2002).
Por outro lado, são outputs comuns do processo de inovação, resultando na transferência
de tecnologia, a propriedade intelectual (marcas, patentes, desenho industrial e segredo
industrial), sua caracterização (tipo, tipologia e difusão) e seus benefícios (melhoria da
eficiência e eficácia no processo, melhoria na qualidade do produto, participação no mercado
e participação dos novos produtos no mercado e no mix da empresa) (IBGE, 2010; OCDE,
2002), contratação de estudantes, consultoria, treinamento, troca informal de informações,
publicações e relatórios (Póvoa, 2009) e a geração de spin-off (COSTA & TORKOMIAN,
2008).
Para argumentar a escolha de spin-off e patente como indicadores de output do processo de
inovação nas universidades, compartilha-se a relevância no desempenho nesses indicadores
dada por Araújo et al. (2005), tendo em vista que com a criação de empresas de base
tecnológica ou licenciamento de patentes, as universidades têm retorno financeiro direto na
forma de royalties pagos pelas licenças das patentes; investimentos em P&D para
desenvolvimento dos produtos/processos e bolsas para estudantes envolvidos nos projetos,
etc.
A patente constitui um importante indicador de inovação, tendo em vista que para a
universidade, ser detentor de uma patente lhe dar o poder de controlar o seu uso por parte das
empresas e impedir que este conhecimento seja apropriado e explorado por uma única
empresa (PÓVOA, 2009).
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Quanto ao spin-off como indicador, sua representatividade ocorre devido a essas empresas
apresentarem um alto grau de qualificação na mão de obra e investirem frequentemente em
P&D, com alto contato com o meio acadêmico (Almeida & Mello, 2009). Além disso, o spin-
off acadêmico possibilita a geração de empregos altamente qualificados, gera divisas para o
país e cria maior dinâmica inovativa dentro da indústria nacional (COSTA & TORKOMIAN,
2008).
4. Método de pesquisa
Este trabalho busca a obtenção de informações referentes às Universidades Públicas
brasileiras e como estas contribuem para os números agregados sobre inovação, por do uso de
metodologias quantitativas. Isto significa traduzir em números informações para classificá-las
e analisá-las (Silva, 2002), objetivando entender por meio de uma amostra o comportamento
de uma população, utilizando a pesquisa quantitativa survey.
A survey foi estruturada com questões fechadas e de múltipla escolha, dividida em três
faixas por tipo de pergunta. A primeira (de natureza quantitativa) corresponde aos inputs
(observar Figura 2, que descreve quais variáveis foram questionadas), composta por três
questionamentos referentes à estrutura e uma relativa aos recursos financeiros.
A segunda faixa (de natureza quantitativa) de perguntas trata sobre os outputs, contendo
uma questão sobre o número de patentes depositadas e concedidas no período de 1999-2010 e
pergunta-se quantas empresas spin-off universitárias surgiram na respectiva universidade
(observar Figura 2, que descreve quais variáveis foram questionadas).
Figura 2: Construto relacionando variáveis objetivas com os autores que a utilizaram/analisaram em estudo sobre
a taxa de inovação. Nota: ª Feita analogia de empresa para universidade.Fonte: Elaborado pelos autores.
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A terceira faixa (de natureza qualitativa) diz respeito ao preenchimento do questionamento
do tipo escala (observar Figura 3, que descreve quais variáveis foram questionadas).
Ratificando, trata-se de uma adaptação à escala de Likert, com a seguinte escala: (1-
Nenhuma Importância, 2- Pouco Importante, 3- Importância Regular, 4- Importante e 5-
Muito Importante), levantando opiniões relativas aos possíveis fatores influenciadores no
desenvolvimento da inovação tecnológica dentro da respectiva universidade (TELLES FILHO
& CASSIANI, 1999).
Concluída a elaboração do questionário, iniciou-se o envio para os NITs das universidades
públicas brasileiras, que ocorreu no período de 12/2010 a 05/2011, por meio de e-mail,
antecedido em alguns casos de contato telefônico.
Ao final da realização da coleta de dados, com o número final da taxa de retorno de
31,67% (19 de 60 universidades), realizou-se a organização em suas várias dimensões de
resposta, por meio do software Microsoft Excel, utilizado predominantemente na etapa da
apreciação univariada dos dados, por meio da análise da média, desvio padrão e frequência,
objetivando traçar o perfil da amostra, em termos de localidade, porte, produtividade
tecnológica, dentre outros fatores levantados na pesquisa.
Figura 3: Construto relacionando variáveis subjetivas com os autores que a utilizaram/analisaram em estudo
sobre a taxa de inovação. Nota. Fonte: Elaborado pelos autores
Para tratamento dos dados da análise bivariada, utilizou-se o software STATISCA,
visando a análise de correlação entre as variáveis objetivas, verificar a distribuição dos dados
e a partir disso aplicou-se o teste estatístico de Mann-Whitney nas hipóteses alçadas,
observado o nível de significância de ρ<0,05.
5. Resultados
5.1 Análise univariada
5.1.1 Dados de input
A Figura 4 apresenta a frequência de respostas e sua percentagem das variáveis objetivas
de input das diferentes dimensões apresentadas, no contexto da inovação tecnológica nas
universidades.
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A variável V1 – nº de professores: apresenta que a amostra é relativamente diluída, se for
considerada a quantidade dessa variável como uma aproximação de indicador do porte da
universidade; a variável V2 – nº de doutores e a variável V8 – % de professores com título
de doutor: explicitam a qualificação da amostra pesquisada, em que 57,89% apresentam
proporção menor que 75% entre professor e doutores; a variável V3 – anos de criação do
NIT: indica que a concepção dessas estruturas teve um alavancagem nos últimos 5 anos,
representando 57,90% das respostas, assim como pressuposto por Oliveira & Velho (2009)
que atribui uma grande parcela de responsabilidade do número expressivo de novos ETTs (ou
NITs) à Lei de Inovação Tecnológica, criada em 2004, pois impôs as Instituições Científicas e
Tecnológicas (ICT) que elas dispusessem de NIT, próprio ou em associação com outras ICT,
com a finalidade de gerir a política de inovação na instituição (Brasil, 2004); e, a variável V4
– quantidade de recursos financeiros recebidos pela universidade para o
desenvolvimento de inovação tecnológica: apesar de uma menor qualidade dos dados nesse
ponto (pela falta ausência de apuração de recursos para esse fim ou pela opção da não
divulgação), é possível constatar que há grande variação nos valores declarados pelas
instituições, tendo em vista que a média é aproximadamente 21, sendo maior que 75% da
amostra.
Figura 4: Perfil das respostas das variáveis objetivas de input. Fonte: Elaborado pelos autores
5.1.2 Dados de output
Analisando o somatório de depósito de patentes por ano, houve crescimento total
aproximado de 466%, representado na Figura 5. Similarmente às pesquisas de Amadei &
Torkomian (2009) e Póvoa (2008), em 2002, houve o crescimento mais significativo,
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procedente do número de universidades paulistas analisadas em ambas as pesquisas
apresentarem quantidades aproximadas, tendo uma participação no percentual total no número
de patentes no período 1999-2010 do presente trabalho, aproximadamente 44%.
Quanto à participação, houve o aumentou do número de universidades ativas nesse
indicador no período de 1999-2010, porém de forma menos expressiva comparativamente
com o depósito, como concebido na Figura 6 em que o depósito apresenta um declínio bem
claro no número de universidades “inativas” anualmente, enquanto a concessão apresenta
maior imprecisão, expondo uma tendência de declínio mais tímida.
Figura 5: Quantidade de patentes depositadas e concedidas no período de 1999-2010. Fonte: Elaborado pelos
autores
Figura 6 : Quantidade de universidades em que não houve depósito ou concessão de patente no período de 1999-
2010. Fonte: Elaborado pelos autores
Alterando o parâmetro de análise, a Figura 7 (em que o código representa o estado em que
se localiza a universidade, com o coeficiente diferenciando as universidades de mesma
localidade) apresenta a participação individual e acumulada das universidades no depósito e
concessão de patentes no somatório do período de 1999-2010, identificando a localidade das
universidades nesses valores agregados. Por meio desse novo parâmetro, percebe-se que em
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quaisquer das variáveis que os três maiores participantes sempre superam 60% do total
acumulado, sem grandes alterações nas colocações das universidades participantes da
amostra.
Figura 7:Participação e localização das universidades no depósito e concessão de patentes somatório do período
1999-2010 e número de spin-off. Fonte: Elaborado pelos autores
5.2 Análise bivariada
5.2.1 Análise das Variáveis Objetivas – Teste de Correlação
Com o intuito de avaliar o nível de associação das variáveis objetivas entre si, aplicou-se a
análise de correlação (Figura 8). Dentre os resultados, destacam-se aqueles que obtiveram
nível de significância estatístico ρ<0,05. Com isso, na relação dos inputs com os outputs,
releva-se a correlação entre o nível de qualificação (V2 e V8) e as variáveis de saída (V5, V6 e
V7). Os resultados obtidos indicam certa consonância com a pesquisa de Oliveira; Velho
(2009), em que as patentes geralmente são desenvolvidas por doutores.
Em se tratando das variáveis de output, analisando-as entre si, todas apresentam correlação
muito forte. É necessário ressaltar os resultados apresentados pela quantidade de spin-off (V7),
pois a correlação revela que há associação com as patentes (V5 e V6), isso se relaciona com o
alto valor econômico dos produtos, que contém alto valor agregado, assim como as patentes
(ARAÚJO ET AL., 2005).
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Figura 8 : Análise de correlação das variáveis objetivas. Fonte: Elaborado pelos autores De acordo com Hair Jr et
al. (2005), a intensidade dessa relação pode ser medido em 5 escalas (i) leve, quase imperceptível (±0,01 –
±0,20), (ii) Pequena, mas definida (±0,21 – ±0,40), (iii) Moderada (±0,41 – ±0,70), (iv) Alta (±0,71 – ±0,90) e
(v) Muito forte (±0,91 – ±1,00). *Significância de ρ <0,05
6. Considerações finais
Neste trabalho, foram levantadas informações relativas aos fatores internos das
universidades públicas brasileiras e a como os gestores dos escritórios de transferência de
tecnologia das respectivas universidades percebem a participação dos fatores internos e
externos para o processo de inovação tecnológica, com o intuito de medir a relação desses
com os outputs do processo produtivo, que no presente trabalho foram dados relativos ao
número total de spin-offs (que o escritório de transferência de tecnologia tem registro), de
patentes depositadas e de patentes concedidas (desses dois últimos, houve detalhamento do
setor originário dessas patentes na série 1999-2010).
O objetivo proposto foi, portanto, trilhado por meio dos métodos escolhidos, contudo não
foi possível chegar a resultados satisfatórios em alguns dos aspectos analisados, necessitando
serem ponderados alguns aspectos referentes à limitação da pesquisa. No que tange ao aspecto
recursos financeiros para a inovação, a falta de clareza no questionamento, em conjunto com a
falta de feedback por parte do respondentes, ou ainda o receio de fornecimentos de dados
relativos a esses recursos prejudicou análises confiáveis a respeito desse aspecto, haja visto o
baixo índice de resposta nesse quesito. Outro ponto que restringiu a análise foi a dificuldade
de contato com NITs especialmente das regiões Norte e, em parte, Nordeste, impedindo a
possibilidade de maior universalização da amostra e conclusões mais contundentes em relação
aos aspectos regionais.
No entanto, alguns resultados alcançados merecem destaque. Por meio da análise
univariada, constatou-se que a Lei de Inovação de 2004 possui parcela de responsabilidade no
crescimento no número de núcleos de inovação tecnológica no país, frente a criação de novos
núcleos após o decreto da lei.
Ainda assim, em se tratando da análise bivariada, destacou-se correlação positiva do
número de doutores e, em especial, da percentagem de doutor por professor com os outputs
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analisados no trabalho, indicando que a qualificação da mão de obra (absoluta ou relativa) se
relaciona positivamente com o desenvolvimento tecnológico. Também se verificou a ausência
de correlação significativa entre a criação do núcleo de inovação e o crescimento no número
de patentes, em contraponto ao que foi visualizado na análise univariada. Outro ponto que
obteve destaque foi a forte correlação de todos os outputs entre si, indicando que as
universidades que tem bom desempenho no depósito de patentes, apresentam força similar em
outro medidor da inovação tecnológica, no caso a spin-off universitária.
Com relação aos trabalhos futuros no tema, constata-se a possibilidade de explorar outros
atores do processo de inovação tecnológica nas universidades e de diferentes maneiras. É
possível realizar estudo de caso para conferir como o NIT gerencia as diferentes atividades de
inovação tecnológica. Também é plausível pesquisar diretamente com aqueles que
depositaram patentes (e com os que obtiveram êxito, alcançando a concessão da patente) para
verificar a relação com o NIT e identificar barreiras/motivações e carências/pontos positivos.
Da mesma forma da investigação sugerida anteriormente, pode ser feito um estudo
semelhante relativo ao suporte que o NIT ofereceu as empresas spin-off.
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