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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO MUSEU NACIONAL PROGRAMA DE PÔS-GRADUAÇÃO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL Mario Grynszpan MOBILIZAÇÃO CAMPONESA E COMPETIÇÃO POLÍTICA NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO (1950 - 1964) VOLUME I / O J RJ 014 G894m

GRYNSPAN, Mario - Mobilização Camponesa e Competição Politica No Estado Do Rio de Janiero1950-1964

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    UNIVERSIDADE FEDERAL D O RIO DE JANEIROMUSEU NACIONAL

    PROGRAM A DE PS-GRADUAO EM ANTROPOLOGIA SOCIAL

    Mario Grynszpan

    MOBILIZAO CAMPONESA E COMPETIO POLTICANO ESTADO DO RIO DE JANEIRO(1950 - 1964)

    VOLUME I

    /O J

    RJ 014G894m

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    Mano Grynszpan

    MOBILIZAO CAMPONESA E COMPETIO POLTICANO ESTADO DO RIO DE JANEIRO(1950 - 1964)

    VOLUME 1

    Dissertao de mestradoapresentada ao Programade P6s-Graduao em Antropologia Social do Museu Nacional da Universidade Federal do Riode Janeiro.

    fUFfl.j\Ro de Janeiro

    1987

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    pg.1. TABELA 1 - BAIXADA: ESTABLECIMENTOS POR GRUPOSDE REA EM 1920, 1940, 1950 E 1960 32

    2. TABELA II -BAIXADA: ESTABELECIMENTOS E REA E- UNDO A CONDIO DO RESPONSVEL1920, 940 s 950 960 ........... 34

    3.. TABELA III -BAIXADA: ESTABELECIMENTOS E REA EGUNDO A CONDIO DO RESPONSVEL iRELAO AO TOTAL RECENSEADO E SUA VARIAO ENT RE 1920 ;1940, 950 E 1960T 354. TABELA IV - BAIXADA: REA OS STAELECIMENTOSSEGUNDO A UTILIZAO DAS TERRAS M

    1940, 950 960 .................... 3950 OBRAS DE SANEAMENTO REALIZADAS NA BAIXADA FLUMINENSE E NA BAIXADA DA GUANABARA .................... 426. BAIXADA:. POPULAO DIVIDIDA. SEGUNDO O SETOR DE ATIVIDADE M 950 960 ........................... 507. TABELA V ESTADO DO RIO DE JANEIRO E AIXADA:PESSOAL OCUPADO E PARCEIROS NOS ESTABELECINENTOS RURAIS EM 1950 E 1960 61

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    A Chil e Augusta,meus pais

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    AGRA )ECIMENTOS

    A redao dos agradecimentos &, sem duvida, uma daspartes difceis de um trabalho. Tantas so as pessoas e ins-titui6es que, de uma forma ou de outra, contribuem parasua realizao, que corremos o risco de, ao arrola-las, co-metermos alguma grande injustia. Por isso mesmo, ostariade iniciar manifestando meu reconhecimento, de forma geral,a todos aqueles que me ajudaram ao longo de minhas pesqui-sas e na fase de elaborao desta dissertao. Particularmente, eu lembraria daqueles cue me dedicaram algumas horas doseu tempo, concedendo-me as entrevistas que tornaram stetrabalho possvel. Seus nomes no sero aqui mencionados,porraz6es que ficaro claras adiante.

    Alm deles, lembraria tamb&m de Eduardo Martins, doprofessor Eduardo Principe, do ex-governador Badger da Sileira e do doutor Irnio de Natos Pereira aue, apesar de nossos poucos contatos, confiaram-me documentos de suas ole-es pessoais.

    '1Das instituies que me incentivaram, uma delas foi

    o CNPq atrav&s de uma bolsa de mestrado durante parte otempo em que freqentei os cursos do Programa de Ps-Gradua-o em Antropologia Social (PPGAS) . Alm dele, gostari eagradecer tambm, e de forma especial, Associao Nacionalde Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (ANPOC S) que,cornos recursos da Fundao Ford, me concedeu urna otaopara pesquisa durante o segundo semestre de 1985 e o primei

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    ro de 1986. Foi atravs desta dotao que pude arcar com oscustos materiais da pesquisa.

    No poderia deixar de mencionar, igualmente,FINEP. Foi do seu convnio com o Centro de Pesquisa e Docu -mentao. de Histria Contempornea do Brasil (CPDOC), aFundao Getlio Vargas, que vieram os recursos para a manu -teno do pesquisador.

    Quanto ao CPDOC, a ele deyo grande parte da minhaformao em pesquisa. Foi esta instituio que me colheucomo estagirio, ainda em 1977, e que me incentivou constan-temente ao longo de todos estes anos. No fosse este apoio,certamente a elaborao deste trabalho teria sido muito difcii. S6 posso, assim, manifestar uma profunda gratido oCentro, nas pessoas de sua diretora, Celina Moreira Franco,de sua coordenadora geral, Alzira Abreu, e de sua coordenador de pesquisa, Aspsia Alcntara de Camargo.

    Sou especialmente grato a Aspsia Camargo, com quemvenho trabalhando desde 1977. Cientista social de alta competncia, Aspsia tambm grande conhecedora dos roblemasagrrios no Brasil. Foi trabalhando com ela que comeceime interessar pelos estudos de campesinato. Aprendi bastantecom Aspsia que, acima de tudo, tem sido para mim uma amigae constante incentivadora.

    Ainda do CPDOC, gostaria de destacar o apoio conti-nuo que recebi de Maria Celina Soares D'Arafijo e Dulce Cha-

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    ves Pandolfi. A sua amizade foi fundamental para a .conclu-so deste trabalho.

    De minha passagem pelo PPGAS guardo apenas mafrustrao, qual seja, a de no ter podido participar, ointensamente quanto gostaria, de todas as suas ricas discussoes e atividades. Ao Museu Nacional eu devo boa parte aminha formao.intelecutal e, para mim, o seu maior egadofoi a recusa do fcil e o questionamento constante.

    Do Programa, eu gostaria de destacar, particularmente, os nomes de dois professores a quem sou bastante agrade-cido. Um deles o de meu orientador de dissertao, MoacirPlmeira. Crtico incansvel, Moacir foi fundamental na concepo e no desenvolvimento deste trabalho. Suas bserva-es sempre pertinentes e o seu constante exerccio de rela-tivizao ajudaram-me a ir alm das aparncias. Desta for-ma, no estarei exagerando ao dizer que os asoectos positi -vos desta -dissertao tm, sem dvida, a sua marca. 1

    O outro nome o de Afrnjo Garcia Jr. onhecedords problemas agrrios fluminenses, foi com ele que, indano curso de graduao, iniciei minhas pesquisas sobre stetema. J no mestrado, Afrnio. foi, mais do que um orienta -

    1dor de curso, um amigo smpre presente e interessado. euincentivo, e tambm suas criticas, foram muito mportantesnesta minha trajetria.

    Dos meus colegas de mestrado, cito Ligia Dabul

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    iiiriam Nutil, que me fizeram criticas e interessantes ugestaes ainda na fase do projeto de dissertao. Foi Ligia, ain-da, que me possibilitou o acesso a alguns antigos iderescamponeses de Duque de Caxias.

    Tambm gostaria de mencionar a professora LeonildeServolo de Medeiros, da Ps-Graduao em Desenvolvimentogricola da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro,coordenadora do grupo de Movimentos Sociais do Programa eIntercimbio de Pesquisa Social em Agricultura (PIPSA). ualeitura de meus primeiros trabalhos, sua disponibilidade urante o perodo de minha pesquisa, me foram de grande ajuda.

    Aos colegas do Departamento de Histria da Universi-dade Federal Fluminense, onde sou professor, agradeo por meterem proporcionado, nos ltimos meses, as condi6es indispens.veis para a concluso desta dissertao.

    Sou igualmente grato aMrcia Isrnerio, Manoel Barro-so de Azevedo Jr. e Joo Carlos Miranda. A primeira, pela forma sria com que me ajudou durante parte do meu levantamentode dados. Os dois ltirnos, pela cuidadosa transcriio de mi-nhas entrevistas.

    Agradeceria, ainda, a Jorge Luiz dos Santos Silva eDebora Pinto Otoni, pelo milagre de terem datilografado todasestas paginas em to poffco tempo.

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    Para concluir esta extensa lista, gostaria de citardois nomes muito importantes e que, apesar de virem ao i-nal, eto na base de tudo o que pude fazer. Um deles oaquim Brito. Sem sua ajuda teria sido impossvel chegar ataqui. O outro o de minha esposa, Danielie. Com o seu consante estimulo, Danielie me propiciou as condies necess -rias para prosseguir. Sua presena carinhosa, seu afeto,suaornpreenso e sua confiana foram fundamentais para que eu udesse, superar as dificuldades inerentes a um trabalho comoeste.

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    J Z E S U M O

    O objetivo deste tabalho estudar a mobilizao camponesa ocorrida no estado do Rio de Janeiro, entre os nosde 1950 de 1964, associando-a competio entre iversosgrupos e partidos polticos em torno do campesinato. Num primelro momento,_ identificamos a regio do estado a partir daqual as lutasdos lavradores se iniciaram, caracterizando, tambrn, os atores sociais nelas envolvidos. Em segundo ugar,reconstitumos o processo de organizao dos lavradores,tentando para suas mudanas ao longo do tempo e, tambm, paraquem detinha o controle das organizac6es. Em terceiro,racterizarnos as principais formas de luta dos lavradores, assuas modfica6es e sua intensificao noinicio os nos1960. No quarto capitulo, arrolamos as principais foras mpresena no campo fluminense, indicando suas posturas em relao aos lavradores. Finalmente, analisamos a qUesto da competio entre aquelas foras, suas diferentes formas "e seusdesdobramentos ao nivel da mobilizao camponesa.

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    LNDJCpg.

    INTRODUO i1. A BAIXADA E O flCIo DAS LUTAS .................. 2

    1.1. ecadncia e cupao ...................... 211.2.. Ava1orizao das terras e os despejos ....... 411.3. osseiros rileiros em luta ................ 602. O PROCESSO E ORGANIZAO ........................ 912.1. a ssociao o indicato .................... 1012.2. uta rganizao .......................... 1323. AS UTAS .......................................... 146

    3.1. s esistncias ............................. 1473.2. s cupa6es ................................ 1663.3. s esapropriaes ............................ 1913.4. ba2e. ofvo/t.ct" ......................... 2064.AS ORAS M E N A ................................. 2224.1. s roprietrios ............................ 2264.2. overno stadual .......................... 2304.3. s irculos Operrios e a FLERJ ............. 2534.4. overno ederal ........................... 2614.5. enrio avalcanti ........................... 26846. s igas amponesas ......................... 282S. COMPETIO E ADICALIZAO ....................... 286

    S. uas representa6es conflitantes ............ 2885.2..Organizaio.e ontrole politico ............. 3055.3. obi1izao e apital politico .............. 3135.4. neutralizao as igas .................... 3295.5. adicalizao .............................. 3436. CONCLUSO ....................................... 358BIBLIOGRAFIA ........................................ 367

    F a v o r n o f a z e r a n e l a e s o u g r i f t i n t a o u a (;St pibiica

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    INTRODUO

    Este trabalho lida, em termos gerais., com o proces-so de insero poli tica do campesinato. No Brasil, este pro-cesso se d a partir dos anos 1950. neste momento que,travas de sua mobilizao, o campons, ateento excludorestrito a aparies eventuais no noticirio policial, uem manifestaes de cunho messinico, comea a se afirmar como um novo ator na cena poltica brasileira. Na medida mque isto ocorre, porm, ele tambm se transforma em alvo dasdisputas entre grupos e partidos pelo poder de represent-lo, de falar em seu nome, de expressar os seus interesses lgitimos.

    De forma mais especifica, procuramos ver corno esteprocesso geral transcorreu no antigo estado do Rio de Janei-ro, entre os anos 1950 e 1964. Aqui tambm, apolitizao daquesto agrria e das aes camponesas acirrou o rocessode competio entre diversas foras. Assim, tentamos. - bus-car os nexos entre a mobilizao camponesa e as disputas P2l3ticas que, no estado, se deram em torno do campesinato.

    Nosso interesse pelo caso do estado do Rio norecente. Ele vem desde 1977 quando, atravs de um stgiono CPDOC, comeamos a trabalhar com a professora Aspsia Camargo em suas pescuisas sobre a questo agrria no rasil.Chamou-nos ento a atencio, o fato de que, embora j houvesse uma reflexo sobre o movimento campons no Nordeste, coma ao das Ligas Camponesas e dos Sindicatos de rabalhado

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    res Rurais, nada havia sido produzido sobre o Rio de Janei -ro. E este vazio nos parecia ainda mais estranho quando,pesar da notoriedade das Ligas, era em grande parte no esta-do do Rio, que j.ornais de linha conservadora buscavam seusexemplos de agitao no campo, com ocupaes de terras e choques armados entre lavradores e a polcia.

    Na verdade, algumas sondagens e pesquisas iniciaisJa vinham sendo feitas, particularmente pelos professores Eirane Cantarino e Afrnio Garcia Jr. Foi do contato com es-te ltimo, ento professor do PPGAS e assessor da FETAG-RJque resultou nossa primeira investida, um levantamento exaustivo do jornal Luta Democrtica, que pertenceu ao ex-deputado Tenrio Cavalcanti, entre-os anos 1960 e 1964. egundoalgumas antigas lideranas camponesas fluminenses, o jornalcobria de forma sistemtica as lutas ocorridas no estado, eo prprio Tenrio nelas teria tido alguma participao.

    O levantamento realizado confirmou amplamente sinformaes e, a partir dele, conseguimos reunir uma grandequantidade de dados. Dele resultaram, ainda, dois trabalhosnossos centrados na verso da Luta sobre as mobilizaes carnponesas ocorridas no estado e a atuao, nelas, do grupo deTenrio Cavalcanti. (Grynszpan, 1982 e 1982a)

    Aid&ia central desta dissertao, no entanto, surgiu a partir das discussaes de um curso sobre Movimentos Sodais ministrado pelo professor Moacir Palmeira, no PGAS,em 1983. O curso tinha por base a critica a urna certa divi-

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    o do trabalho cadmico existente, pela qual os antroplo-gos delegavam a tarefa de pensar a participao dos camponees na poltica a outros cientistas sociais. Paradoxal, sta diviso no parecia levar em conta que a presena do Es-tado e constitutiva das prprias definies de campons. Assim, enquanto os antroplogos se limitavam s relaes o-ciais que transcorriam no pequeno inundo campons, indo, nomximo, ate aquesto de corno se operava a mediao ntreeste mundo e a sociedade abrangente, os outros ientistaspensavam a grande poltica.

    Desta forma, o que ocorria e que, alm de se produir uma viso espacializada da poltica, vedava-se tambm apossibilidade de incorporar, na anlise da participao oampesinato na grande poltica, os aspectos especficos aorganizao social camponesa. Igualava-se a participao nagrande poltica ao de classe. Neste sentido, a reflexose resumia possibilidade, ou no, do campesinato se constituir e agir enquanto classe, ou, no rnximo, a quais eriamas camadas camponesas verdadeiramente revolucionrias.

    A proposta -do curso era, assim, um convite a que sebuscasse sadas para este c3:rculo vicioso, tentanto ensar

    o problema. Para isso, uma das uestessugeridas por Moacir Palmeira era, justamente, a de "como a 4)te.a6e4 poi-tcica6 podam nioiLda,'i. a Ldentidada 4oe-La.t de m aca4e excuZda da po-L-tLca, ou de como uma c.ac exc'uZdada- potZtca pode 4e.k objeto de a-e e dL-sputa poUti.ca.."

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    Este trabalho ma- tentativa de, juntando nossa eporincia de historiador com nossa forrnao em Antropologia,explorar algumas questes que, hoje, so colocadas pelos antroplogos. Acreditamos que, com ele, estaremos ontribuindo para enriquecer as reflexes acerca da relaio entre cani-pcsinato e poltica. Alm disso, estaremos concorrendo,travs da anlise de um caso pouco estudado como o cio Riode Janeiro, pira um melhor. conhecimento sobre a intensa,indita, mobi.lizaao camponesa ocorrida no Brasil nos nosque antecederam o Golpe de 1964.

    Os cortes cronolgicos que, delimitaram nossa pesuuis se justificam em funo do nosso objeto de estudo. sanos 1950 marcam o incio no apenas de um processo de mobi-lizao, mas tambm de reconhecimento poltico, do carnpesina- o. As primeiras organiza6es camponesas comeam, ento,se afirmar no estado do Rio, e suas lutas passam a ser noti-ciadas pelos jornais de forma recorrente. Como parte dessaslutas, os lavradores comeam a realizar manifestaes nas cidades, buscando-a solidariedade da populao urbana, cobran'do solu6es aos polticos e ao Governo. Neste processo eafirmao, algumas foras procuraro atuar junto aos lavradores, competindo entre si. A competio, no entanto, como veremos, ter seus reflexos sobre a prpria mobi1izao oslavradores, produzindo, jno incio dos anos 1960, uma ntensificaio e unia radicalizao das lutas. Este rocesso,contudo, ser SUSCflSO pelo Golpe de 1964, que terminar coma competio e impor, tambm, a desmobilizao.

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    Desenvolvemos nossa pesquisa com dois tipos de fonLes: peridicos de poca, fundamentalmente jornais, e entre -vistas. Em ambos os casos, o critrio de seleo foi o de quedeveriam expressar as posiaes e os pontos de vista das diverGas foras envolvidas na disputa poltica em torno dos lavra-dores. Neste sentido, os jornais foram tratados, tambm eles,corno elementos das disputas, como veiculos das posies r aluta, alm claro, de fontes de informaes mais substanti -vas o, como datas, lugares e nomes.

    Nossa pesquisa inicial na Luta Democrtica, ssimcomo conversas com pessoas qe tambm vinham desenvolvendo pesquisas sobre o Rio de Janeiro, permitiram a identificao dealgumas das foras que atuaram no campo neste estado. estaforma, foram definidos, a principio, sete jornais que seriamexaustivamente levantados. Primeiramente, compietaramoslevantamento da L uta, estendendo-o at 1954, ano em que oicriado o jornal. O segundo era o ultima Hora, em sua ediopara o estado do Rio. Este jornal expressava as posi6es oPartido Trabalhista Brasileiro, e cobriu o perodo de 1959 a1964. Em terceiro lugar vinha Terra Livre, rgo vinculado Unio dos Lavradores e T rabalhadores Agricolas do Brasil, deinfluncia comunista. O perodo cue abrangia ia de 19541964. Em quarto estava Liga, peridico das Ligas Camponesasque circulou entre 1962 e 1964. O quinto era Novos Rumos, jorflal do PCB criado em 1959 e que se manteve at 1964. Finalmente, vinham Correio da 1anh e O Estado de So Paulo, ambosde postura conservadora, apesar das nuanas. Eles eram ornais nacionais e circularam durante todo o periodo abrangido

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    pc;quisa. Sua nclusio tinha por objetivo avaliar as re))(LCUSOCS nacionais das mobi.liza6os camponesas ocorridas no

    Lado do Rio. Alem disso visvamos, atravs destes jornais,colher os pontos- de vista favorveis aos proprietrios,fint de incorpora-los nossa anlise.

    - idia que tnhamos era de que, na medida em que apesquisa avanasse, novos jornais poderiam ser agregadoslista iricia1. De fato, a extenso do levantamento da Luta Democrtica permitiu descobrir que o dirio Imprensa Popularligado ao PCB e que circulou at 1958, tanbm fazia a cobcrtura das lutas camponesas do estado do. Rio. Por outro lado,Jornal O Sernnrio, igualmente de esquerda, foi includo urnavez que abrigou, at 1962, quando foi criado Liga, alguns jorhalistas vinculados s Ligas Camponesas. Tarnbrn o Jornal oBrasil, de postura liberal, cobriu com certa freqncia,partir de fins dos anos 1950, os problemas do campo flumi -nense. Ele transcrevia algumas declara6es de lavradores e,por no ser diretamente envolvido com nenhuma das foras mdisputa, fornecia dados interessantes para a relativizao dasinforma6es dos outros jornais.

    1m destes peridicos, a necessidade de -trabalharcom as posi6es do PCB acerca da 'questo agrria e da sndicalizao rural, levou-nos a investir na revista Problemas, quetinha uni carter ter.ico. Outro jornal comunista que foi ovantado, este, porm, tendo em vista a atuao do P03 ocampo no perodo anterior quele abrangido pela nossa pesqui-sa, foi A Classe Operaria.

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    Finalmente, foram consultados tambrn, mas de ormaai;sisLcmtica, tendo por objetivo apenas complementar nfor

    acerca de um ou outro evento, os seguintes eridi-cos: o Dia, O Fluminense e Tribuna da Imprensa, alm da revista o Cruzeiro.

    Os peridicos foram pesquisados na Biblioteca Nacio-nal, no Rio de. Janeiro. As nicas excees foram a Liga e AClasse Operaria, cujo levantamento foi feito no Projeto de Memria do Trabalho Industrial no Rio de Janeiro, do Institutode Histria Social Brasileira, tambm no Rio de Janeiro.

    A pesquisa nos.peridicos se mostrou riciussirna, dela tendo resultado uma grande quantidade de informaes.resultado final, entretanto, no foi homogneo, o que odeser um reflexo da prpria fora efetiva de cada um dos gruposem disputa. Consideramos, contudo, que a posiio dos proprietrios, por exemplo, no ficou bem representada. O Correio daManh e OEstado de So Paulo traziam algumas de suas manifestaes que, comparativamente com as dos outros rupos,foram poucas, Algumas razes para isso serto vistas adiante.Por agora, gostaramos de ressaltar aue, talvez, os proprietrios expressassem as suas posi6es, preferencialmente, atra-vs de outros meios. De qualquer forma, a questo dos proprietrios j , por si s, bastante complexa, e exigiria lamesma um investimento especifico em pesquisa.

    Outra fora, que no foi contemolada, em termos eperidicos, foi a Fedcrao dos Crcu1os Operrios Fluminen -

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    ., ligada a Igreja e que, -no campo, atuava atravs de mafederao cio lavradores, em oposio a uma outra organizao

    prxima aos comunistas. Soubemos da existncia de um boletimque cobria as suas atividades, mas noconseguimos ter acessoa ele.

    Foi o levantamento em peridicos que nos ermitiucsboar.uma primeira lista d:nomes que deveriam ser entrevis-tados. Os demais for,-2.m surgindo a partir das prprias entre -vistas. Sendo nosso objetivo analisar a relao entre a mobi-lizao camponesa e a competio poltica em torno do campesinato, trabalhamos com pessoas que expressavam as foras mpresena,. lideres, assessores, ativistas, militantes, tcni -cos e polticos.

    O trabalho de pesquisa, ainda mais em se tratando deprocessos ocorridos anos atrs, envolve uma demorada investi-

    - gao, atravs da qual a teia de atores relacionados a um determinado evento vai sendo lenta e cuidadosamente reconstituicia. Nem sempre, entretanto, a reconstituio e possvel ,mesmo que seja, isto no significa, necessariamente, que eva conseguir ter acesso aqueles atores. difcil, depois deanos, refazer as suas trajetrias de forma a saber onde elespodem ser encontrados no momento da pesquisa, ou mesmoseinda esto vivos. Alm disso, eles podem-no estar dispostos,ou cm condi6cs, de dar o seu depoimento.

    No nosso caso especifico, haum agravante. stamosestudando um processo relativamente recente, profundamente re

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    .com o momento que vivemos hoje. A intensa participae a polarizao polticas, ento ocorridas levaram a cue,

    conjuntura posterior, algumas pessoas sofressem prisese perseguiOeS que marcaram de forma incisiva, ou mesmo de-z cstruturaram, suas vidas. Por isso mesmo, muitas delas e-

    dar declara6es que possam vir a cpmpromet-las. Outras,porem, resistem em falar justamente porque, antes do olpe,desempenharam papis que, pelos padres atuais, ou pelas fun-6esque ocupam, seriam vistos de forma negativa, comprometendoa imagem que possuem hoje.

    Destarte, um trabalho como o nosso exige uma boa doe de convencimento e de confiana, o que nem sempre possi

    vel de se obter num breve e nico contato. O pesquisador, assim, pode ser obrigado investir diversas vezes, e de diversasformas, sobre urna mesma pessoa, fazendo tambem longos e n-fruUferos deslocamentos. Nestes casos, dois elementos ue,certamente, influem, so as referncias do pesciuisador, aqui-lo que ele, , suas relaes, e os intermedirios, isto ,elo de ligao entre o pesquisador e o informante.

    Todos os problemas acima arrolados, partibularrrente. aqueles relacionados com o tipo de engajamento politico osinformantes no perodo pesquisado, associados ao fato de cruea quase totalidade de nossas entrevistas foram realizadas entre os meses de maro e agosto de 1986, sendo que, desde nto, alguns novos elementos surgiram na conjuntura poflticadoPais, levaram-nos a optar por omitir os nomes dos entrevistados ainda que, naquela ocasio, nem todos nos tenham explci-

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    lo

    t3mente pedido para faz-1o. A nica exceo e o ex-governa -dor. Badger da Silveira, a ouem entrevistamos ainda em 981 1juntamente com o professor Jos Ribas Vieira, do Departamentode Cincia Poltica da Universidade Federal Fluminense.depoimento cio ex-governador fluminense se encontra depositadono Setor de Histria Oral do CPDOC.

    Foram realizadas, ao todo, dezoito entrevistas, almda de Badger da Silveira. Seis delas so de lderes canipone-ses vinculados ao grupo mais prximo ao PCB, e que atuava naFederao das Associaes de Lavradores e Trabalhadores Agr-colas do Estado do Rio de Janeiro. Trs destes lideres i-nham atuao no municpio de Duque de Caxias, um em Itabora,outro em Mag& e, finalmente, o ultimo em Nova Iguau. Tanto ode Nag& quanto o de Nova Iguau tiveram forte atuao na Lederao e no movimento ao nve1 do estado como i..ini todo. E aindadentro deste grupo, foram entrevistados uni antigo advogado dafederao, um ex-parlamentar ligado ao PCB e um antigo mil -tante comunista que atuou como um dos responsveis pela se-o de campo do Partido a partir de fins dos anos 1950.

    Dois dos entrevistados haviam pertnciclo s LigasCamponesas, na posio de dirigentes. Nenhum dos dois era lavrador. Um deles foi um dos dirigentes da Liga ciue havia mCachoeiras de Nacacu. O outro, jornalista, atuou como assis -tente da Liga de Campos.

    Da parte da Federao dos Crculos Ooerrios Flurni -fleflses, pudemos entrevistar, tanibErn, duas pessoas. Uma cicias

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    havia sido presidente desta federao. A outra, fazia o trabalho de assistncia na formao de organiza6es camponesas. 1gualmente aqui no nos foi possvel. ter acesso a informantesdo origem camponesa.

    Foi tambm entrevistado um antigo t&cnico do chamadoplano de Ao Agrria, rgo do Governo estadual que idavacom os problemas agrrios. Este tcnico atuou no Plano duran-te a gesto de seu ltimo diretor, o padre Antanho da CostaCarvalho, que foi quem o convidou a ir para aquele rgo,que ocupava uma importante posio na Federao dos CrculosOperrios Fluminenses.

    Ainda cora relao. ao Plano de Ao Agrria, foi tambem entrevistada uma pessoa que teve destacada atuaio no 5rjo, ainda em sua primeira direo, no Governo de Roberto Silveira, com quem tinha estreita ligao.

    Finalmente, cabe destacar dois outros entrevistados.O primeiro, um antigo tcnico do Instituto Nacional de Imigrao e Colonizao, 6rgo do Ninistrio da Agricultura quefoi absorvido pela Superintendncia de Poltica Agrria, criada j no Governo Joo Goulart. Este tacnico atuou como admi-nistrador de um dos ncleos coloniais existentes no estado doRio, e que foi tarnb&n urna das reas onde ocorreram lutas pe-la terra. E o ltimo entrevistado se trata, justamente, eum proprietrio rural, dono de terras numa das reas radi-cionais do estado, e que ocupou durante um largo perodo mImportante cargo de direo na entidade que representava s

    .. , . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . , . - . . . . . . :

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    interesses dos proprietrios no estado.

    Alm destas, utilizamos tarnbrn algumas entrevistascom um destacado lder da Federao das Associaes de Lavra-dores e Trabalhadores Agrcolas, realizadas por Afrnio1arie France Garcia durante o ano de 1980 e dentro, portanto,de um quadro de preocupaes diferente do nosso.

    Em termos de documentao, o acesso a ela foi bastante restrito. A dos sindicatos foi, em grande parte, des-truda aps o Golpe de 1964. Quanto dos 6rgos oficiaisela se encontra dispersa. Os poucos documentos a que tivemosacesso faziam parte de colees ressoais. Eles so eferentes, basicamente, atuao de alguns 6rgos oficiais. ns

    'poucos, porem, so relativos Federao dos Circulos operarios. Afora isso, consultamos a documentao.da seo flumi-nense do Partido Social Democrtico. Nela,entretanto, no encontramos informaes significativas.

    Nossa dissertao esta dividida em cinco captulos..No prirneiro,procuramos reconstituir as relaes sociaisxistentes no campo fluminense, de forma a poder explicar o1flCjOdas lutas, bem como identificar os atores sociais nels envolvidos. Para tanto, partimos dos prprios elatosdas lutas feitos pelos jornais.' Acui, contudo, um roblemase apresentava. Os jornais s se voltam para as lutas mseus aspectos mais espetaculares, no atentando para os ml-tiplos atos e .rela6es que antecedem a sua e1oso. Pudemos,n entanto, perceber algumas recorrncas entre estes ela

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    ios e as informa.es cue obtivemos cm nossas entrevistas. Vimos,tambm, que estes dados tinham urna correspondncia comalguns processos apontados em trabalhos de historiadoresgegrafos. Desta forma, foi possvel fazer um pequeno hist-rico do estado, retornando aquelas relac6es, delimitandoregio a partir da qual as lutas se iniciaram e indicando asraZeS para isso.

    No segundo capitulo, fazemos um estudo sobre o pro-cesso de organizao dos lavradores no estado. Neste estudo, eprocuramos explicar o inicio deste processo, acompanhandoigualmente, as suas transformaes ao longo do tempo. maspecto bsico, tarnbrn tratado aqui, de quem so os avradores que participam e controlam as organizaaes.

    O terceiro capitulo lida com a mobilizao propria-mente. Nele analisamos as principais formas de luta dos avradores, suas reivinaicaaes, como eram organizadas e desenvolvidas, quem as liderava e delas participava, formas de solidariedade e seus desdobramentos. Atentamos para lgumastransforma6es nestas formas de luta durante o periodo pes-quisado, indicando uma.intensificao da mobilizao na medida em que nos aproximamos de 1964.

    Iniciamos o quarto capitulo chamando a aten paraa necessidade de se relacionar a intensificao da mobiliza-o com as competies politicas em torno do campesinato. Aseguir, descrevemos cada urna das foras em disputa, indican-do o tipo de relao que mantinham umas com as outras.

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    No quinto captulo,.cnfim, & que a cometio pro-pria mente e analisada em relao mobilizao. rocuramosindicar, aqui, a existncia de diferentes mveis de disput.a.1ais ainda, buscamos mostrar como, no sistema cio rela6escuese estabeleceu, os agentes foram levados a radicalizar ssuas posi6es, indo mesmo alem de seus objetivos program5ticos iniciais. E esta radicalizao, por sua vez, teve refle-xos ao nivel da mobilizao,

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    1. A BAIXADA E O INTCJO DAS LUTAS

    Ao percorrer alguns jornais fluminenses dos anosque antececleramo Golpe de 1964, o leitor desatento oderno se aperceber das escassas e isoladas denuncias sobre a

    "xpeoJLcvcio" de lavradores em municpios como Itaocara, Barra Mansa, Vassouras e Valena. Casos como o da Fazenda Secretrio, em Vassouras, onde o lavrador, alm de entregar a tera parte do que produzia ao proprietrio, tinha que pagaruma taxa de pastagem mesmo que seus animais no se alimentassem com o pasto da fazenda, so esparsos e ocupam espao re-duzido nos peridicos. 3

    J as not5cias sobre reivindica6es e movimentosdos trabalhadores rurais das reas canavieiras, uito pro-vavelmente, despertar-5o a ateno do leitor. Embora localizadas principalmente na rea de Campos, com eventuais, ou mes-mo raras, referncias Usina Tangu, no municipio de Itaborai, as reportagens sobre ms condi6es de vida e de traba-lho, bem como sobre paralisa6es e greves daqueles trabalhadores por motivos salariais, entre outros, so um pouco maisconstantes e merecem um destaque maior. (2)

    (1) ltima Hora, edio do estado do Rio de Janeiro, 22/08/1961, PS.(2) Ver, por exemplo, Imprersa.Ponu1ar: 15/02/1952, p5; 17/10/1953, pS; 16/08/1955, p6. tiltima flora, edio do estado cio Rio de Janeiro, 13/11/1962, p5.

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    O mesmo leitor, contudo, no poder deixar de notarjnmeras noticias sobre despejos de lavradores que vinham

    ocorrendo em diversos municipi.os do estado do Rio de Janei-ro.

    A leitura dos jornais nos sugere que, pela sua grande recorrncia, pela sua abrangncia espacial, pelo itmerode pessoas envolvidas, pelos seus aspectos dramticos e violentos, com tiros, espancamentos, queima -de casas e destruio de plantaes, o despejo de lavradores das terras que ocupavamn h vrios anos era o principal problema social exis-tente no campo fluminense entre 1950 e o in[cio da dcada de1.960. Esta percepo reforada pela memria dos atores queviveram aqueles processos, quaisquer que sejam as suas vin-culaes politicas e ideolgicas. Tanto antigos ilitantesdo Partido Comunista Brasileiro (PCB) quanto ativistas catlicos quando. prguntados, hoje, sobre os problemas sicosento existentes na rea rural do estado, lembram-se imedia-tamente dos despejos. 3

    A intensidade com que eles vinham ocorrendo odeser aferida pelas declaraes de um lider campons de Duquedo Caxias, ao descrever os problemas enfrentados pelos lavradores da Fazenda So Loureno, localizada naquele mesmo muniCipio:

    (3) Jos Pureza, antiga -liderana camponesa fluminense, tamhirt faz diversas referncias aos despejos em suas cm6rias. (Pureza, 1982).

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    "Pobue de 1952 a. 1961 houve despejo. Ne44a epoca 6o 40 despejo, um em cinza oo1L-to, um em c-mC do ou-to. N54 vCmo4dez anos b,'tando a em JuZzo. Qua4e. quede 4Cqj em 4e.L4 mC.Se4 tLnIlaL m depe-30 i , (espaldados ou no por ordens judiciais, os espe

    jos de lavradores ocorreram em diversos municpios. Elesbrangeram areas desde So Joo da Barra e Maca, ao Norte doestado, at Barra Mansa e Vassouras, passando por Cabo Frio,Caserniro de Abreu, Miracema, Paracarnbi, Silva Jardim, Trajano de Morais e Vassouras. Sua regio de maior incidncia, noentanto, foi aquela mais prxima cidade do Rio de Janeiroe Baia de Guanabara, destacando-se os municpios de Cacho-eiras de Macacu, Itaborai, Itagual e, particularmente, Duque-de Caxias, Nova Iguau e Maga.

    comum ouvirmos de pessoas que vivenciaram os probiemas do campo fluminense, durante os anos 1950 e niciodos 1960, a caracterizao da regio ao redor da cidade oRio de Janeiro, qual se referem como Baixada luminense,ou simplesmente Baixada, como sendo bastante critica. staopinio parecia ser corfente )a naquela epoca, corno podemosperceber por um artigo do jornalista Maurcio Hill, publicado em meados de 1962 no di&ro ltima Hora. Segundo ele, numa comparao com urna das regies do pas onde havia urna gri

    4) As datas mencionadas, 1952 e 1961, referem-se ao primeiro grande despejo ocorrido na fazenda e sua desapropriao pelo Governo estadual, resoectivamente.

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    tante situaio de'misria conde proliferavam as Ligas Campoa Baixada era o Nod4t 4ern eca". e acordo com

    j 11, havia, naquelas terras que se situavarn "Ct4 po/L.ta4 aGuanabct'La", cerca de cinco mil famlias camponesas ameaadasde despejo. Hill, 1962: 5)

    Na verdade, o termo Baixada Fluminense, tal como uualmente empregado hoje, e em parte tambm naquele perodo,

    t - em uma conotao marcamente urbana. Ele se refere a quatromunicpios mais prximos e com estreitos vnculos com a ci-dade do Rio d.e Janeiro, que so Duque de Caxias, Nova quzu, Niljolis e So Jogo de Menti, estes dois ltmos omma arca rural bastante reduzida. Reunindo algumas condiessociais semelhantes, estes quatro municpios, que foram dcnembrados de um nico, de nome Nova Iguau,,' na cada e1940, experimentaram altas taxas de crescimento demogrfico,assando a abrigar grande parte da populao trabalhadora dantiga capital federal. tualmente, o municpio de agtambm tem sido includo nesta concepo da Baixada Fluminense. (Beloch, 1986: 16 e 17)

    or ter esta matriz urbana, tal acepo de BaixadaFluminense se mostra insuficiente quando se trata de problemas sociais no campo. Ela deixa de fora alguns municpios, co

    (5) en-J)raJfloS cue o estado da Guanabara foi criado em 1960,aps a transferncia da capital federal para Brasilia.(6) De acordo com Renato da Silveira Mendes, Nova Iguau foi

    o municipi6 que mais cresceu no pais, em ter nos popula -cionais, entre 1920 e 1940. (Mendes, 1950: 102)

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    itctgua, Itaborai e Cachoeiras de Macacu, cujas reas rutais apresentam determinadas questaes que so emelhantes,inclui outros, como So Joo de Menti e Nilpolis, ue

    no trn urna significao maior com relao queles problemasno periodo estudado. Por outro lado, ela parte da "tvi.banizaao" cornd um dado, sem indicar os deslocamentos sociaispossiveis atritos gerados por este processo.

    Procurando refletir sobre estes deslocamentos eritos, tal corno se deram nas reas prximas ao Rio de Ja-neiro, e em funo mesmo das presses exercidas elo eucrescimento urbano, Frederico Arajo busca urna unidade maiorque aquela embarcada pelo termo Baixada Fluminense. dota,portanto, a categoria Baixad da Guanabara, que utilizadapelos gegrafos quando se referem zona fisiogrfica uecircunda a Baia de Guanabara e parte do Rio de Janeiro. Tambm.esta delimitao, no entanto, mostra-se ineficaz uma vezque seu ponto de referncia no o das relaes sociais.Porisso mesmo, sua abrangncia, como aponta o prprio autor, apresenta algumas variaes. Assim, em 1950, segundo os critrios do Instituto Brasileiro de Geografia Estatistica(IBG E) , a Baixada cia Guanabara compreendia os seguintes municpios: Cachoeiras de Macacu, Duque de Caxias, Itaborai, Nag, Nilpolis, Niteri, Nova Iguau, So Gonalo e So Joode Menti. J no Censo de 1960, o municpio de Nova guauseria considerado corno pertencente Baixada do Rio Guandu,enquanto o de Rio Bonito seria includo na Baixada da Guana-bara. (Arajo, 1982: 14)

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    TainLm eipregac10 pelos gegrafos, h ainda um outroconceito de Baixada Fluminense, mais amolo que o rimeiro.Seu cri-t&rio tambm fisiogrfico, e abrange toda a extensafaixa localizada entre a Serra do Mar e o Oceano Atlntico.Segundo esta definio, a Baixada Fluminense compreende di-versas. unidades fisiogrficas menores, com seus respectivosmunicipios. So elas, alm da Baixadada Guanabara, as e-guintes: Baixada de Goitacazes, com os municpios de Campos,Conceio de Macabu, Maca o Joo da Barra; Baixada doRio So Joo, com os municpios de Casimiro de Abreu e Sil-va Jardim; Baixada de Araruama, com os municioios de Ararua-ma, CaboFrio, Maric, So Pedro da Aldeia e Saquarema; ,finalmente., Baixada do Rio Guandu, com os municoios de -tagual, Nova Iguau e Paracambi.

    Embora seja bastante amplo, e inclua vrias reasnde foram observados despejos, este conceito de Baixada Fiuinense tarnhm parece no resolver nossos problemas. Ele reie, sob um mesmo rotulo, realidades bastante distintas. eramos assim, ao norte da Baixada Fluminense, a rea de Caroos com suas usinas e grandes propriedades produtoras de ca-na. Ao sul, a regio.vizinha a cidade do Rio de Janeiro, 50frendo-as influnbias de um forte processo de urbanizao.Aocentro, teramos os municpios de Casimiro de Abreu e SilvaJardim, com sua baixa densidade populacional e com suasreas ocupadas por matas e por uma pecuria extensiva. Mendos, 1950: 143; Geiger &Mesquita, 1956: 123)

    A rigor, uma anlise um pouco mais detida revela di

    . .-'- 5 ,

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    ferenas significativas mesmo entre aqueles municipios pr6xi.Rio de Janeiro. Apesar disso, eles estiveram ubmeti

    dos a alguns processos semelhantes e, em seu conjunto, elarecorrncia dos despejos bem como as formas pelas quais slavradores a eles reagiram, contriburam para projetar aBaixada a imagem de um "No.tde4te. sem 4ca". Optamos, ssim,por adotar, simplesmente, o termo Baixada, bastante utilizado poca, plos jornais, e ainda hoje, pelos que viveram aqueles processos, para designar as reas das cercanias do Rio deJaneiro que, em sua diversidade, terminaram por conformar umacerta unidade. So elas: Duque de Caxias, Nova Iguau, flag,Itagua3, I taborai e Cachoeiras de I'iacacu. Desta forma, Baixa-da, nos termos deste trabalho, difere de Baixada Fluminensepara a qual foi mantida a acepo baseada em critrios fisiogrficos.

    Os despejos no se restringiram Baixada, mas foi apartir dela que se irradiaram as resistncias organizadas doslavradores contra eles. Assim, para entender este processo, preciso que, antes, nos detenhamos sobre as relaes existen-tes naquela regio.

    1.1. Decadncia e ocupao

    As descries dos despejos de lavradors compem, daBaixada, um quadro de urna regio com grandes extenses de terras, a maior parte pblicas mas tambm privadas, abandonadas,incultas e, em alguns trechos, pantanosas e sujeitas a doen -

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    as. Estas terras vo sendo ocupadas por lavradores,oriundosde outras regies do prprio estado ou do pais e que, ezPor outra, so referidos corno "de.b/Lat'adoke4". Eles ali passam.a produzir para si e para os mercados mais prximos. Numdado momento, porem,, aparecem pessoas, que so referidas co-mo grileiros, reclamando a terra' e promovendo os despejos.

    Noticando a ao de despejo movida pela Santa Casada Misericrdia contra lavradores da regio de Austin, mNova Iguau, no inicio de 1952, dizia o jornal Imprensa Porular:

    "Gkande. pat..t.e do.s mohado,te.s de ocal .Ciicede lia t)jas de. 30 anos. Quando .h.Ciaii.am, o mato e.&a de ni e-t en. medo, m a. . . ono a44u4.tou 04 eampone.4e4 que. hav.-cani ne.on-ti.ado um .(u9aii sem dono. e,h/Lai,aaIa .tviiuz, de.nj.uba/Lam a ma-ta e. cOn4-t.tuZ.'.am4e.u4 rnode..to4 iianclto4. Ago/La, depos epa44ado tanto tempo sem que. a .San-ta CactLze..se a nie.notc ke.eamaao a 'Le.4pe.to apoe dc'.4 te.kka4, e.-.c14 que. era, vendo ueo4 -te.)/e.no4 e.4.to .Ulnpo4, ameaa ce.ws .-e.k-'ta4 pafLa oz.a. 04 avnado.e.6 quede_xe:n a.s 6azenda4 em que e.4-tao."( 7 )E o mesmo jornal, referindo-se a um outro caso, es-

    te o da Fazenda Piranema, situada em Duque -de Caxias, relatavarn em fins de 1954:

    (7) Imprensa Popular, 15/03/1952, p5.

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    Fazenda P'Lanema, ocaUzadati niade XeJLCm (-LnIia R-o V'Ouko) (8) ,munic-Zp10 de Caxia, compkeende a-gun4 nilhaAe deaeqaeL'Le4S de -te'tka4. Seu ve'Ldade.ito do-no, 4e e que ela j -teve dono, e e4conhecido. E4tCve abandonada pm mu--Los a.no4 ate que o-L ocupada po campone3esvndo3 de dJve&4a4 paktes do pai4, n -Ciu4ve Noitdet. Chegavam, on4-t ' ta-ZambenetoJtLa4, abkam ccttnnho, nt-cm.Lam de,b'LcLvanC10 -todo o local ate ntomata uL/tg em. " 9Tal imagem tambm compartilhada, ainda hoje, por

    pessoas que tiveram parte ativa em todos este problemas, como por exemplo, Badger da Silveira, que governou o stadodo.Rio de 1963a 1964. Para ele, a Baixada continha errasabandonadas ou devolutas, e "que e'ia,n eoonzadct4 h mutO4ano4 zem nenhum uaoJL. Ve tepen-te, vaJLcY/Lza.'Lam mwL-to e. apatece-'utm o' ve4dctdeio4 dono4, ou pseudo-donos, g/LLLe.L-to6, ue.endo -tomaiL e4a4 tekta." 10

    Na verdade, este quadro da Baixada coincide com aquele que nos intado tarnbm por trabalhos de historiado -res e gegrafos. Analisando as percepes dos grupos gr-rios dominantes fluminenses sobre as mudanas econmicascorridas no estado entre os anos de 1870 e 1910, Ana Mariados Santos (1984) ostra como a categoria decadncia oreles constantemente acionada. Ligados ao caf e scravi-

    ( 8) Refere-se ao ramal e linha da estrada de ferro s margens da qual a fazenda se localizava.9 ) Imprensa Popular, 2/11/1954, p8

    (10) Entrevista com Badger da Silveira.

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    do, estes grupo interpretavam a sua perda de espao, a partirde fins do scu10 'XIX,wno representando a prpria ocac]&ncia do estado como um todo. Opunham sua situao atual aum passado dourado que fora rompido pela abolio da escravatura. (Santos, 1984: 8 9) Beja antes disso, porEmn, o conceito de decadncia jera utilizado para caracterizar a Baixa-da, particularmen.te aquelas reas ao redor da Baa de Guana-bara:

    "The concep.t o dacadence wa-5 ha.AdEt.i ;mewLn R-Lo de Jane/Lo. Lt had afwazj3 ;:2a.'cdOORn9-tIiC d4.oca.ton (' 't.1cn5and -tI:e cha jincl cifePCIS o ex ce1 Ra.O de JancLi.o, -'t had ic'ruj b'.n u3-Co dea'Lbe -Che cond -on- o c.c'tai'z4uc.h as -tha l3axada da Guanaba'a 'L Che conCeJJLaJ.on o. uqa-'cane -;ido., Go-tacaze and o aoc i the PanaZba. VaUcj. te/L 177 :thc co;:cp' ook on a rno/u oc)ieAaZ and deo.eo;cctfL4en4e - deccLde.nce o -tlie po'iLnce nd

    o a LCLVLC -n 9CflCILCL-C - nd arne.-Co expke4 -tiie 4Lua-t-ion o u iz -t--e.c.Ca." (Santos, 1984: 80)

    ocupao do estado do Rio e da prpria aixadadatam, ainda, do sculo XVI. Nela, primeiramente, foram instalados engenhos e planta6es 'de cana. o final do scuio,o numero e o tamanho dos engenhos, segundo Ana Maria dos Santos, j haviam aumentado bastante e grandes extenses de terras eram dadas aos recm-chegados. (Santos, 1984: 20) A par-tir de meados do sculo XVIII, no entanto, a plantation aucareiracomearia a florescer e a dominar a rea de Campos,ao Norte do estado. No comeo do sculo seguinte, Campos jse havia tornado rea monocultora, o numero. de seus engenhoshavia dobrado e sua produo suplantado a da Baixada, to

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    nanclo-se o principal produtor de acar do estado. (Santos,1984: 21 e 22).

    Tarribm a partir de fins do sculo XVI II, cafpassaria a ser produzido no estado. Ele seguiria, a princ-prio, a trilha deixada pelo acar, utilizando-se da estru-tura pra-existente da plantation e instalando-se em torno da cidade do Rio de Janeiro, nas reas mais elevadas daBaixada. Aqui, entretanto, o caf teria vida curta e, ja nos&ulo XIX, ele comearia a subir a Serra. Santos, 1984:27)

    Com a concentrao da produo agrcola mais valorizada no Norte do estado e no Vale do Paraba, a aixadapassou a ser vista corno rea abandonada e decadente. A suasituao, no final do sculo XIX, assim descrita elogegrafo Renato da Silveira Mendes que, na dcada de 1940,realizou uma extensa pesquisa sobre a regio da Baixada Fluminense:

    "Oide ou-t'to'rct haua uma vda Autal a-tan-te tiou-'inentada, popuaao a-tva -mente. densa, gitcuzde.s paJ -tace4,e.zhO4 meqando em peiena a i'dade., baitc.04, cak/Lo.6 e tJLopa4 aii.mando a pa- -3a-C.m, -6omne.n-te impC/ctJa a ruZua ;1o4 in4do ecuo XIX. Eira como que um 4e./LcC40, urna vcrLtct a pa.14a9C1)1 ;i,,z.tuAal com acxpctnio dv4 biie.j04, do.s ca/iira.Sea4da-.s capoe.iira4 attaties da,s -teirita4 Ofl -qu.-tada4 ;zto. coon-zadc'ires C T .p ir.dua tu.ta ec'm ,ia a Stoiresta opct;ztcuzo

    4 vctas ca4a4 gtiajules, to so'dad;zte co LZ4eta-, e.n; cotnpctc' abandono e comea-

    Favor r armolaes ou grfstinta ou a Ipsnia puLc3aD

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    ' anz a 4e)L de,-t/z.uZda4 pela ao do04 asl.tCBo4 po.'L-1L04guu-a.cif, Cujo 1110 V-.nle.11;to -tanto c.hamai'a a ateno do4 vajaH -tes, -tainhein no ecapa'.am dessa deoCao." (Mendes, 1950: 75)A crise do sistema escravista, e tambam a perda e

    terreno do caf fluminense para o das reas mais dinmicasao sul do pais, associada prpria queda do preo do produtono mercado internacional, ainda em fins do saculo XIX, levouas elites a empreenderem todo um debate em torno da necessidade de se diversificar a produo e de no se depender exclusivamente da agricultura de exportao. A proposta de diversificao vinha associada a duas outras: a da recuperao dasroas decadentes, onde seriam desenvolvidos os novos produtos,e a da imigrao, que resolveria o problema da mo-de-obraReivindicava-se, para ambas as medidas, o concurso efetivo do stado, visto encontrarem-se elas para alam do alcance de recursos privados. (Santos, 1984: 187) Dentro deste projeto, aBaixada parecia ocupar funo estratagica, reservando-se pa-ra ela a produo e o fornecimento de bens de subsistncia.

    De fato, a imigrao proposta no chegou a ocorrer ,sendo o problema da substituio da mo-de-obra escrava resolvida com trabalhadores locais, atrav&s da parceria e do arrendamento. (Santos, 1984: 191) Quanto recuperao das reasdecadentes, ela no vinha se dando de maneira eficaz e s.istc-rntica. O problema da Baixada no era apenas o do bandono,

    i&tS Lambam o das inundaes e das doenas, corno a alria,que grassavam na regio. A Baixada, assim corno toda a exten-so da Baixada.F]umincnse, ormada por olanicies luvio-. , . . . .-'-

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    nais sujeitas a enchentes peridicas, e por vastos anta-nais. Com o abandono da regio por parte dos senhores, scanais e rios deixaram de ser limpos e desobstrudos, o quepermitiu que grandes trechos dos terrenos fossem novamentealegados. (Mandes, 1950: 75 e 79) Assim, a intensificaodaproduo agrcola na rea exigia um prvio esforo de saneamento e drenagem. Este esforo, contudo, no vinha endoempreendido nos niveis necessrios.

    No inicio do scuio XX, como ressalta Ana Maria dosSantos, a Baixada estava muito longe de tornar-se, tal comohavia sido proposto, o celeiro da regio e do Distrito Federal. No somente a diversificao no vinha se dando da forrua esperada, como a prpria produo agricola como um todovinha decaindo. Alm disso, os pntanos anda se mpunhamem diversas reas. O crescimento do mercado urbano e opro-cesso de industrializao, na anlise da autora, no haviamproduzido os incentivos para o desenvolvimento da produoagrcola na regio. (Santos, 1984: 278)

    Este quadro no se havia modificado at a dcadade 1930 quando o Governo Federal niciou a implementao deUM amplo programa de recuperao da Baixada que incluia obras de saneamento e drenagem. A situao da regio. era crito, segundo uru relatrio de Luciano Pereira da Silva, consultor jurdico do Ministrio da Agricultura, de deo-c'a-ao e "abandono":

    UFRJ In4etad'i pcnden'ta, em que 6obe-

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    4aCnt a. ma'iLa e. a4 vC Lriuno4e4 2 . eon4ckt'ava-4e de4pot'c'ada e cnzp Lodutva, uj'iztando 04 que pod.Lam apko'ea'&,-fze ste)L'1a4, cuja de6vat(-zaao heg ou aoponto de nZic 4e unpok.ta tem au;z. de setisp/Lop.-ta'tc4, cc'rn pekde-ea. ;io execu-Lvo4 4ea14, pcvi.a a cob'a;ia dern04 i.rnpo4-to o)L.La., que IIe.6 Cumovdo4 pela Fazenda PLLcCa do tadedo R-o de Jane.-ILo, de.po-5 de as abardo;:/Le.m de Ltvatnen.te.. . Silva, 1961: 3)

    curioso que, .ainda no incio dos anos 1950,ento realizadas inmeras obras pblicas "na Baixada, a situao agrcola da Baixada no parecessa ter sofrido ltera-es significativas. Dois gegrafos que realizaram pesquisade campo na regio, naquele perodo, Pedro Geiger e yriarnesquita, chamam a ateno para o fato de que, ali, com a .

    rncto& modeiui.zaZo da4 cdade., coI'z-t/La4a a qucte JotaJL p Lcdom...nncct de. 44-temaS phtntvo,6 na at.vLdctde..s ag,,tico . os ea CxL4-t.ne-a de ntelsas aJLea4 ncu-Uct4, tic lusve iict6 Lz-nfiana da4 tajide ccdade4". (Geiger Mesquita, 1956: 1)

    Esta constante imagem de decadncia e de bandonoassociada a Baixada, no entanto, como os lembram aindaGeiger e Mesquita, que desenvolveram suas pesquisas nasroas rurais de toda a Baixada Fluminense., deve ser relativi-zada. Segundo eles, novas culturas surgiram, j no nciodo Perodo Republicano, em reas pouco aproveitadas. Trata~va-se principalmente da fruticultura, mas tambrn da lavou-ra de gneros alimentcios. Ao lado disso, em certas zonas,associada ao desenvolvimento industrial e urbano, crescia aderrubada de matas para a extrao de madeira, da lenha e ofabrico do carvo. Aps o desmatamento, instalava-se nas ter

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    ras a lavoura ou a criao de gado. (Geiger & Mesquita, 1956:34)

    Se observarmos atentamente, no entanto, veremos quea fruticultura, que comea a se expandir a partir da l uerr Mundial, ocupando terras nos municpios de Cachoeiras eMacacu, Itaborai e Nova Iguau, entre outros, j na dcada de1940 comea a enfrentar dificuldades. Relacionam-se tais di-ficuldades, por um lado, com a queda das exportaes em fun-o da 2 Guerra Mundial e, por outro, a intensa atividade espeulativa com terras, particularmente nas reas mais prxi -mas a cidade do Rio de Janeiro. Os pomares, como reconhecemGeiger e Mesquita, foram desativados em vastas reas de muni-cpios como Itagua, Nova Iguau, Maga, So Gonalo e Itabo-rai. (Geiger & Mesquita, 1956: 36)

    So ilustrativos, quanto a esta questo, os depoimentos 'de dois antigos lideres camponeses fluminenses. O primei-ro deles, de Nova Iguau, lembra que a rea de Pedra Lisa, naquele municpio, teve, entre aqueles que ali se estabeleceramcomo posseiros durante os anos 1940, uni grande ontingentede lavradores que haviam ido para a regio em busca de empre-go na produo de laranja. J o segundo, de Duque de Caxias,relata que sua famlia possua um stio de laranja em ovaIguau. A morte do pai e a queda do preo do produto, entre -tanto, obrigaram-no a vender o stio e a mudar para Duque deCaxias no inicio dos anos 1950.

    Em relao possibilidade da retirada de mata, urna

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    vez limpo o terreno, ser sucedida pela lavoura ou pela cria-o de gado, o preciso frisar que nem sempre isso areceter ocorrido, ficando a terra improdutiva, sujeita specu-lao. A1m disso, deve-se tambin ter em mente que, como ressaltava o gegrafo Orlando Valverde, a criao pode, na ver-dade, ser urna forma do proprietrio, com baixa aplicao decapital, ganhar tempo espera da valorizao das suas ter-ras. (Valverde, 1952: 86) Acrescente-se a isso o fato de que,ali onde a lavoura substituiu a mata, ela, no necessari cnte se constituiu numa atividade estvel. Tal parece ter sidoo caso da Fazenda Piranema, em Duque de Caxias, onde, sejun-do o relato dos jornais, os lavradores, aps retirarrn a ma-ta, obtiveram da pessoa que se dizia responsvel pela reaa permisso para ali permanecerem e produzirem mediante o pagamento de urna determinada taxa. Mais tarde, porm, no mi -cio dos anos 1950, iniciaram-se as tentativas para despej-

    (los. 11)

    Ao que nos parece, a caracterizao da situao daBaixada como sendo de decadncia deve, de fato; ser relativizada. A simples afirmao de que a produo nunca cessou completarnente na regio, no entanto, no suficiente. A categoria decadncia no se esgota em si mesma. Ela pressup6e mmomento de prosperidade que, no caso da Baixada, ssociadoao predorninio dos grandes senhores e da cultura da cana.

    (11) Luta Democrtica, 12/09/1958, p5.

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    decadncia, assim E relativa ao abandono e ao desinteressedos grandes proprietrios. 2) astante significativa, noste sentido, a j citada afirmao de Renato da Silveira Mendes de que, na Baixada, em fins do sculo XIX, "as velhas ca4a-34aflde, to 6oldamente coniutZda, e ap'tesentavatn de4en..tas, e.sn completo abandono e comeavam a sex de.4t&uda4 pIa ato do tempo." (Mendes, 1950: 75)

    Desvalorizadas, sem interesse para os grandes pro-prietrios tradicionais a partir do sculo XIX, diversasreas da Baixada vo mudando de mos ao longo do scu10 se-guinte. Embora o Recenseamento de 1920 tenha excludo os estabelecimentos rurais crn produo anual inferior a 500$000,os dados da tabela 1 nos indicam um processo de diviso depropriedades na Baixada entre aquele ano e o de 1960. Ao mes

    (12) Uma interessante reflexo sobre a noo de decadncia Eaquela feita por Alfiedo Wagner B. de Almeida em eutrabalho A ideologia da dccadncia. Centrando sua an-lise no discurso das elites maranheses do sculo XIX, oautor mostr a cor n o a idia de "de.cade.ncia da auoun.a",associacla aos interesses de grupos dominantes locais, termina por se impor como um esquema explicativo inquestionvel, ao nvel da historiografia regional, obscurecen-do uma srie de outras rela6es"Vct Ft1ca do pquado't este e.queniaurna vez e .taJ?zado, acaba po'i. 6e.a't num b-tacu -10 pa'ta o entend--men.o e. a comp en.o da.3 co;ides e

    a de e.xL-tencca dos gtupo34oc1aL..s euvovdos na pitoduo agZcoCa na 1'eao.T'an4 oma-4a numa auto-evdciica, m conjunto de. a 1'tsnaE5es que 'io tJda.s conio nouetionave.1, que dpen.an atia- qUe/L coipc'vaEio po't que uma pLfle-t-Laizaao e'tudLta as co unou." (Almol da, 1983: 22 e 23)

    - ..- - . : -

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    mo tempo cm que aumcntou o numero de estabelecimentos da r-.rea inferior a 500 ha, e particularmente daqueles localizadosna faixa de at 50 ha, diminuiu O nimero dos de rea superi-or a 500 ha. A trnica ressalva a ser feita refere-se aos esta-belecimentos entre 5.000 e 10.000 ha que, entre 192G .e 1950,triplicaram o seu ntzinero. Mesmo assim, o Censo de 1960 j a-pontava uma queda de 50% em relao ao Censo anterior.

    As tabelas II e III apontam no mesmo sentido da ninero I. Se no Recenseamento de 1920 o numero de estabe1ecimcr -tos sob a responsabilidade direta do proprietrio represcrUi-va 61,6% do total de estabelecimentos, esta relao cai para54% em 1940, subindo depois para 67,2% em 1950, e caindo nova

    mente para 38.89,5 em 1960. Mas se em termos proporcionais 15uma queda, em termos absolutos o que se observa, entre 920e 1960, um aumento de 282,3% no nmero de estabelecimentos

    controlados por prop: ietrios na Baixada.

    Tais variaes, contudo, no tm uma correspondnciadireta com as que se verificam na rea destes establecirnen-tos. Assim, se de 1940 a 1950 sua rea total tem um crescimo de 14,3%, em 1960 h uma reduo de 18,9% em relao.1950. Por outro lado, a mdia derea 3para cada estabele-

    (13) Estamos considerando como mdia de rea o resultado adivisio da rea total dos estabelecimentos ontroladospor uma determinada categoria pelo nmero total destes estabelecimentos.

    ,. 4.

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    e . 6

    cimento que, em 1940, era de cerca de 65 ha, passa a 410 3 haem 1950, baixando em 1960 para 35 ha. Destarte, podemos afirmar que h um processo de fragmentao de algumas proprieda-des na Baixada, sendo, em boa parte, pequenos emdios sproprietrios responsveis pelos estabelecimentos recensca -dos.

    O processo de fragmentao claro no caso de NovaIguau maior produtor de laranja atea dcada de 1940. O forte desenvolvimento da fruticultura no municpio, a partir de1920, fez com que antigas propriedes abandonadas fossemad-quiridas e loteadas para a formao de pomares. (Mencles,1950:100 e 101) Assim que,, pelo Recenseamento de 1920, havia ali161 estabelecimentos sob a responsabilidade de proprietrios.Em 1940 este numero salta para 704 e, em 1950, mesmo pso desmembramento do municpio, j seriam 1289. A mdia derea para cada estabelecimento, que antes era de cerca e18,6 ha, passaria em 1950 para 12,1 ha, caindo mais inda,em 1960, para 7,8 ha, apesar da reduo no numero de estabe-lecimentos. (14)

    (14) Da mesma forma que o aumento em 1950, a reduco no ntmero de estabelecimentos controlados por proprietrios emNova Iguau em 1960 deve ser relacionada, cm boa medida, citricuitura. Como observam Geiger e fle9uita, a que-da nas exportaes de frutas a partir da 2 Guerra Munrdial levou vrios proprietrios a venderem suas terras.(Geiger &Mesquita, 1956: 60)

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    As propriedades maiores, na Baixada, encontravam-senas mos dos administradores. Enquanto havia, em 1920, 92 estabelecimentos nesta situao, em 1940 seriam 516, em 950524 e, em 1960, 884. A mdia de Eirea destes estabelecimentosera, em 1940, de pelo menos 127,6 ha, subindo depois ara175 ha e baixando, em 1960, para 88,7 ha. Mesmo com esta rduo, entretanto,'a mdia de rea dos estabelecimentos. aqui,era maior do que aquela dos que se encontravam sob a respon-sabilid,ade de outras, categorias.

    Ao lado de proprietrios e administradores, encon -tramos igualmente arrendatrios frente de diversos estabe-lecimentos. rurais. Grandes mas tambm, e principalmente, m&dios e pequenos, estes estabelecimentos somavam 324 em 1920,subindo para 743 em 1940, caindo para 522 em 1950, e ubi.rido novamente,agora para 1554, em 1960. Sua mdia de rea, queera de pelo menos 18,3 ha em 1940, passa por 15,2 ha em 1950,descendo ate 10,7 ha em 1960.

    Um aspecto bastante impressionante revelado elastabelas II e III, contudo, crescimento do nmero de estabelecirnentos controlados por ocupantes, ou posseiros. e,em 1940, eles praticamente no figuravam nos dados do Censorelativos aos municpios da Baixada, em 1950 eles j - - eram253 e, em 1960, pulavam para 1596. De 0,03% do total de estabelecirnentos recenseados na Baixada em 1940, eles passam para 24,2% em 1960. Sua mdia de ra sobe, de 8,8 ha em1950,para 13,6 ha em 1960.

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    Na verdade, pequenos arrendatrios e ocupantes mclicam uma outra face da moeda da decadncia da Baixada. Partedas terras abandonadas, despovoadas e incultas, no penasmuda cio proprietrio, mas tambm passa a receber lavradoresque, em condi6cs diversas que vo desde a parceria atocupao pura e simples, passando pelo arrendamento, ali comeam a produzir juntamente com suas famlias.

    Tais observaes ganham ainda mais fora quando comparamos os resultados vistos anteriormente com os da tabelaIV. Podemos observar por esta que, entre 1950 e 1960, asreas dedicadas lavoura, na Baixada, expandiram-se em e-trimento das pastagens, matas e terras incultas. Este aumen-to da lavoura, por sua vez, bastante prximo do umentodas reas sob a responsabilidade de arrendatrios e de ocu-pantes. Enquanto as lavouras tiveram sua rea acrescida e27.663 ha, ocupantes e arrendatrios passaram a ontrolarmais 28.290 ha de terras. Desta forma, deram estes, com cer-teza, uma forte contribuio para a expanso das reas de lvoura na Baixada. -

    claro que uma anlise de cada municpio ndicaque, com exceo de Duque de Caxias, a correlao entre rrendatrios e ocupantes, por um lado, e a rea de lavourapor outro, no & to perfeita assim. Em Itaborai, inclusive,onde era menor o numero de estabelecimentos controladas porocupantes, a expanso destes ficou bem abaixo daquela verificada nas reas de lavoura. 2 patente, contudo, que, em cadacaso, as contiibuios de arrendatrios e ocupantes oram

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    muito significativas. Atemesmo em Nova Iguau, onde ouveurna contrao das lavouras, a reduo s no foi maior, oque nos parece, graas ao aumento das reas de ocupantes.

    Assim, se no estado como um todo, sao as reas epastagens que mais crescem entre 1950 e 1960, (CODERJ, 1970:93) o mesmo no ocorre na Baixada. Aqui, so as faixas dedi-cadas ao plantio que se expandem. Isto se d, em grande pdida, porque lavradores oriundos de diversos pontos do estado,ou do pais, estabelecem-se nas teiras da Baixada trav' sde ocupao, arrendamento ou outro tipo de relao, elaspassando a produzir.

    Parece ter havido um .f luxo relativamente recente denovos lavradores para as terras da Baixada. Sua chegada va-ria entre a dcada de 1920, conforme apontam os relatos maisrecuados, e mesmo a de 1950, como indicam os prprios dadosdo Censo. Os mais antigos deles, portanto, encontravam-se nsreas h5 cerca de 30 anos quando os despejos comearam a o

    correr de forma mais sisterntica.Curiosamente, foi tambm na dcada de 1950, quando

    aumentava o numero de ocupantes na Baixada, que os despejosde lavradores comearam a se intensificar. A prpria resis -tncia dos lavradores aos despejos, por seu turno, ontri-buiu para aumentar ainda mais a presena de ocupantes na regio. Sobre isso, porm, falaremos adiante.

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    1.2. A va1orizai' das terras e os despejos- Segundo grande parte dos relatos sobre despejos, os

    lavradores viviam tranquilos, produzindo na terra, at que,num dado momento, apareceram pessoas, referidas por eles co;no grileiros, exigindo a sada. O interesse maior destes griiciros seria a valorizao das terras provocada, principal -mente, pela realizao de obras ptblicas ao longo da Baixa

    da, em particular o saneamento e a construco de stradas.Seu objetivo com os despejos seria, no a produo nasreas, mas sim, basicamente, a especulao e o lotearnento das

    : erras para venda.De fato, no apenas a Baixada, mas a Baixada Flurni-

    nense como um todo, tambm alagada em largos trechos e comum parco sistema virio, foi alvo, a partir dos anos 930, as atenaes e de pesados investimentos por parte do Esta-do. (15) Constitui-se a Baixada Fluminense, desde ento e ato inicio da dcada de 1950, na regio do pais em que, al-vez, corno.ressaltam Pedro Geiger e Nyriam Mesquita, tenha sido empreendido o maior ntirnero de obras ptiblicas diretamenteligadas s atividades ec6nmicas, como drenagem das lani-Cies, instalao de colnias agrcolas, abertura e pavimentao de numerosas estradas. (Geiger &Mesquita, 1956: 36 e37)Dentro da Baixada Fluminense, no entanto, foi nos municpios

    1(15) At o comeo dos anos 1930 a Baixada Fluminense ispunha de apenas duas estradas revestidas de concreto:

    Rio-Petr6polis e a Rio-So Paulo. (Ges, 1939: 58) -

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    prximos i cidade do e Janeiro e ao redor da Baia de Guanabara que grande parte das obras foi realizada.(1G )

    O problema do saneamento da Baixada Fluminense, egundo Alberto Lamego, foi tratado, a partir de fins do sculoXIX, por treze corniss6es consecutivas, todas com esultadosparciais localizados. (Lamego, 1964: 277) A razo isso,na avaliao de Renato da Silveira Mendes, foi a descontinui-dado administrativa, a falta de verbas e, acima de tudo,inexistncia de um plano conjunto. (Mendes, 1950: 109)

    Em julho de 1933, contudo, Gettdio Vargas criaComisso de Saneamento da Baixada Fluminense, cujo objetivosegundo um de seus coordenadores, Hildobrando de Arajo Ges,seria o dc estudar as iniciativas anteriores.. apurar as cau-sas de seus insucessos e fixar novas linhas de ao. Como resultado de seus trabalhos, a Comisso elabora um plano geralcoordenado, que inclua desde a realizao de obras idru-

    (16) Renato da Silveira Mendes (1950: 113) fornece os seguin-tes dados sobre as obras realizadas na Baixada Fluminen-se e na Baixada da Guanabara at julho de 1944:

    SERVIOS RZIXADA 1LUMINENSE D A BARkIIXADAExtens m ) VoluTe (m 3) Extenso (m) Volume (m3)Diques de Alvenaria 17.673 44.712 - -Diques de Terra 123.732 4.942.928 47.700 2.182.022Regulari zao Mecinica 805.855 26.236.201 432.889 14.011.954Regu1arizao M E inual 2.816.929 8.354.520 1.043.513 3.728.843Terrapanagem - 733.484 - 587.602Li.mnczados.Rios 6.620.354 - 3.179. 20 -1\estcresr)eiover tni1m Alberto Lamego. (1964: 297)

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    licas visando melhrar a salubridade da regio e recuperarsuas reas frteis, ata ofomento da colonizao e do desen-volvimento de culturas intensivas, passando pelo estabeleci-mento de uma rede de transportes para o escoamento da produ-o. Em 1936, a Comisso transformada na Diretoria de Sa-neamento da Baixada Fluminense, embrio do futuro eparta-mento Nacional de Obras de Saneamento e da inicio aos servios preliminares do plano elaborado, com a limpeza dos riose dos canais de drenagem. (Ges, 1939: 19 e 20)

    A necessidade de uni plano integrado de obras e ecolonizao para a Baixada Fluminense justifica-se pela consci&ncia de que apenas o saneamento seria insuficiente aradar conta de dois dos problemas que se procurava atacar:abandono da agricultura e a apropriao irdbita de erraspblicas na regio. Pelo contrExrio,corno.lembra Luciano Pe-reira da Silva, as obras, por si ss, poderiam agravar sproblemas, uma vez que valorizavam as terras sobre as quaisincidiam. (Silva, 1961:- 3) Previa-se mesmo, para as reasparticulares, a criao de uma taxa de saneamento que, inci-dindo sobre.a valorizao das terras, seria tanto maior quanto menos cultivadas fossem elas, o que obrigaria o seu apro-veitamento agrcola. (Ges, 1939: 61) Para as terras ptb1i-cas, o remadio indicado era a colonizao, atravs da cria-o de ncleos coloniais.

    A colonizao no Brasil se inseria na retrica es-tadonovista de coristruo da nacinalidade, de expanso oBrasil dentro de suas prprias fronteiras, de conquista o

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    interior do pais e de ocupao e recuperao de seus espaosvazios. (1 isava-se, com o deslocamento controlado da fronteiraagricola,. a reduo de tens6cs nas areas mais tradicionais e mais densamente povoadas. (Tavares, Considera, Silva,1972: 33) Desta forma, procurava-se esvaziar as press6es ;odais mantendo-se, ao mesmo tempo, nestas reas, as estruturas de dominao e de poder.

    Para diri.ir a colonizao foi criada, cm 1938,Diviso de Terras e Colonizao (DTC) , vinculada ao Minist 6 - -rio da Agricultura. Sua tarefa era a fixao o lavrador,concedendo-lhe terras, amparo e assistncia tcnica so-cial. (Carnes, 1981; 50 a 52)

    Dentro desta poltica, o Governo central editou, cru26 de novembro de 1938, o Decreto-lei 893, que dispunha so-bre o aproveitamento agrco1a da Fazenda Nacional e SantaCruz localizada, em parte, na rea da ento Capital Federale, em parte, no municpio de ItaguaL Eram trs os fundamen-tos deste decreto:

    'ia) a n e.e .e .4 ctde. de. nce,-va/L ap/toveitctrnen.io da d-..ta Fazenda e de c'u--t)ro4 nzoue-b da Un-iiio -L-tuados na &Lxada. FJ1wnnen,3e e bcnec-adof, pC1a-oba4 de 'saneamento que o Go.'eno t 'CJflai- /teaLzando;b) p5 -te'tmo oeupaiio'db-i.ta dessastc/i.'ta4 pen.-Leneez.tc3 a Unao poii -tZ.0-Coa rzequZt'occ4;

    (17) Para urna analise do sentido ideolgico desta propostaver. Ncid Esterci. (1972) e Otvio Velho (1976)11

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    1 de.4nvoCve.Jt a pequena popkedde ne4a iteiu, de que deue.iovantac o)isdcjtve pata o abastecLrnento da Cap-L- ta .e da Repub.iea e 1-0na.s adjacentes, v4.tc no .lC)L ado.bom iie.4utado o kcqnie d'e. aendarien.t04 e. ao4arnen-o4 ap.PJcado s VL-)ta4." (Slva, 1961 3)

    Para tanto, contudo, um problema se apresentava eera justamente, o do desconhecimento da Unio, em funo desucessivas ocupaes e da inexistncia de um cadastro, deseu patrimnio real na Baixada Fluminense. Como soluo, omesmo decreto-lei 893 previa que a Unio se apropriaria detodas as terras includas no plano de colonizao cujos do-nos no conseguissem comprovar a propriedade. O decreto in-vertia, ssim, o nus da prova, ou seja, em vez da Unio terque provar que era dona das terras para poder formar os n-cleos, o que seria um processo lento e difcil, todos os foriros, arrendatrios, ocupantes e aqueles que se ulgassemcom direitos sobre terras da Unio na Baixada Fluminense, ficavam obrigados a exibir os ttulos em que fundavam seu di-reito. Para proceder ao trabalho de verificao destes itulos, oi designada a Primeira Comisso Especial Revisora deTtulos de Terras. Tais medidas seriam estendidas tambm para os outros irnveis do domnio da Unio pelo ecrto-lei5.110, e 12 de janeiro de 1940. Silva, 961: e 11)

    - oram formados, ate o ano de 1955, sete ncleos coloniais no estado do Rio. A partir da dcada de 1940, criao de ncleos foi tambm incentivada pelas crises de abaste

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    cimento vividas pela cidade dQ Rio de Janeiro durante e logo aps a 2 Guerra Mundial. Aidia, era criar umcinturoverde em torno da cidade, que lhe SUprISSe com os rodutosagrcolas de que necessitava. (Arezzo, 1984: 1)

    Interessante observar que todos os ncleos colo-niais do estado do Rio localizavam-se na Baixada lumincn-se. Deles, porem, apenas um, o de ?4aca, criado cm 1951, sesituava fora da Baixada. Todos os outros encontravm-se n:;ta -regio: o de Santa Cruz, criado .em 1930; o de So l3cntc,localizado em Duque de Caxias e criado em 1932; o de Tincju,criado cm 1938 no municpio de Nova Iguau; o de Duque eCaxias, localizado parte em Duque de Caxias e parte em Mayc,e criado em 1941; o de Papuca.ia, em Cachoeiras de flacacu, euja formao data de 1951; e, finalmente, ode Santa lice,localizado em Itagual e Pira, e criado em 1955. (ArezzoBarros, 1984: 19 a 22)

    recorrente a associao entre Baixada e aixadaFluminense, como se constitussem um todo, emprestando a esta caracteiisticas que sao prprias quela. Assim, em euPaisagens culturais da Baixada Fluminense, Renato da Silvei-ra Mendes (1950) dedica suas maiores atenes aos municpiosda Baixada. reas como Casimiro de Abreu e Silva Jardim, porexemplo, ocupam espao bastante reduzido no livro. O esmoocorre com Pedro Geiger e Myriam Mesquita (1956) que, odiscorrerem sobre a decadncia da Baixada Fluminense, refe-rem-se, todo o tempo, s transformaes ocorridas nas reas.prximas ao Rio de Janeiro e ao redor da Baa de Guanabara .

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    Tambm nestas reas que, corno vimos, a Diretoria de Sanca-fltO da Baixada Fluminense investiu grande parte dos eus

    esforos, e foi criada a quase totalidade dos ncleos colo -niajs do estado.

    Na verdade, a Baixada.que, em tempos de crise,ternsido indicada, inclusive com o concurso das elites agrariasdo estado, corno arca privilegiada para a experimentao emedidas alternativas. Ana Maria dos Santos (1984) mostra co-mo,- com o declnio do caf e da escravido, em fins do sculo XIX, alguns setores da elite fluminense comearam a de-fender a imigrao e a colonizao, bem como a diversifica -o da produo agrcola como as tinicas solues ossveispara a economia do estado. Para tanto, indicava-se tambmnecessidade de uma diviso da propriedade em reas meiores.Eo local que, nos debates, surgia corio o ideal para a execu -o destas medidas era, justamente, a regio correspondente Baixada. Desta forma, mantinha-se intacta a estruturagrria do restante do estado.

    Alguns elementos deste mesmo projeto, que terminouno se concretizando, estaro presentes nas tentativas xealizadas a partir de 1930 7 tendo frente o =rio Estado, decriar uma fonte deabastecirnento para a antiga capital fede-ral. Procurar-se-, aqui, afirmar uma vocao agr3cola paratoda a Baixada Fluminense e, principalmente, pira a aixada, destinada a ser um cinturo verde, ao mesmo tempo em quese promove a industrializao em outras regi6es do estado doRio. Como diz JurandyrPires Ferreira, em seu prefcio En-

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    ciclopdia_nipios Brasileiros:"De un vzte ano-3 a e6ta pakte., ent'antoi JLeaJc a ecoizon;a gIamncase e o Estado paou a adqu-'t uma no'a uanacLacando-6e e.;z-t'te. 04 Eado4 -T4otte4 da Fedeaao. E44a .keato -te'c aeun's gatoies de. 4iinpo'Can.te 4c:Lhe4 ju4.t-.Lca/L o 4u'to p'toq.'C64.4.ta. Empk..Lnie'to Lugait a.s ob'tas da Laixada Uu :zifle.n4e com o 4eu 4anea:nen-to; a 4e.gu.in., a.e4-t)ada4 que. Lhe cicu.ao de k-queza.s e. a du.ae.zao c'c.cen-te do E3-tado. Uoje a zona paLu-t"Lc como que e.ta eLminadct. ei'Ladica.o d'

    mpdtudmo da 6axada FLum-nc.ne e c'ua-Le. eompLc..tct. Po'i c'u.vio eado, a zona cPa..'taba pa.ou a -teiL nc'vc' 4uk.to, e . i n- z2io da ndw.-.a.e1za.c que se oJ a- a.s4en-tando." (Ferreira, 1959: 7)

    Mas o "4u' -to p)Lc:gke43J4a" apontado pelo autor, co-ino ele pr6rio percebe, refere-se muito mais s possibilidades industriais e, de forma geral, urbanas do. estado. Apesarde ser ainda predominantemente agrcola, o Rio de aneirovinha experimentando um fluxo negativo de sua produo ru-ral. Os ganeros alimentcios, por exemplo, tiveram sua pro-duo diminuda de 35% entre 1940 e 1950, maior queda percentual de todos os estados. (Ferreira, 1959: 9 e ].0) Por outrolado, a populao urbana que, em 1940, representava 37,5% dototal, subiu para 47,5% em 1950 e, em 1960, atingiu os

    (18) Segundo o Diagnostico do Estado do Rio de- Janeiro,trabalho da Cornoarihia de Dcsevoivi:rento do Estado do Rio deJaneiro (CODERJ) , o crescimento da popu1aio urbana noBrasil corno um todo-foi mais moderado que no estado doRo. Emrelao i populao total do pais, a urbana representava 31,2% em 19404 36,1% em 1950 e 4500- em 1960.(CODERJ, 1970: 45)

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    H 49Na Baixada, o numero de pessoas envolvidas com ati-

    vidades agopcuriase extrativas era, em1950, de 32.758 ,e correspondia a 13,3% do total de pessoas agrupadas segundo

    f eus ramos de atividade. J..em 1960, este nmero aumenta pa-ra 120.614, equivalendo a 15,7% cio total. A populao volta-da para atividades industriais, .contudo, que em 1950 era de34.643 e equivalia a 14,1% do total, passa a 199.271 em 1960,

    (19)e a 25,96 do total.

    Os dados demonstram que, j nos anos 1950 e 1960 ,era bastante grande o ndice deurbanizao da populao daBaixada. lrn disso, as reas rurais das imedia6es das cidades vinham perdendo suas caractersticas. Assim, como obser-vam Pedro Geiger e Myriam Mesquita, estendendo esta situaopara toda a Baixada Fluminense:

    " Baixada Fum-ene.ne ap' Je.itta um x e r npo tee4an-te: pctne.jou-4e a / t e . a C - i z aao de obkas de ai'came.itto, iJandounia ine.icao das a-t.iu-i.dada- ap'cca4. Con-tudo, o que. 4e. obe ,a Q a ex-ten 4ao cada vez mao/L das av-dadcs de-teamei-to de -t-.ipo u-bano, a. 'concen-ta3da populao nas r-dade o'i-antes. e4pecuao com a3 -C'La4 vao'rZzada.s pca4 ob1'i.a4 6e ops ao seu apoveJ-tamcn.tc'piiodwtvo." (Geiger & Mesquita, 1956: 2)

    Podemos ver que os objetivos inicialmente propostaspelo plano de obras e de colonizao da Baixada, ainda naada de 1930, quais sejam, recuperar a regio tornando-a pro

    dutiva, clirninar dali a apropriao indbita de terras, cv