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GUIA DE ESTUDOS Liga das Nações (1931-1933) O incidente na Manchúria Lucas Mendes Corrêa Leite Diretor Ana Beatriz Sullato Diretora Assistente Ricardo Carvalho Nascimento Diretor Assistente

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GUIA DE ESTUDOS

Liga das Nações (1931-1933) O incidente na Manchúria

Lucas Mendes Corrêa Leite Diretor Ana Beatriz Sullato Diretora Assistente Ricardo Carvalho Nascimento Diretor Assistente

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SUMÁRIO

1. APRESENTAÇÃO DA EQUIPE ........................................................................................2

2. APRESENTAÇÃO DO TEMA .............................................................................................4

2.1 Introdução ao contexto chinês........................................................................................6

2.2 Introdução ao contexto japonês....................................................................................10

2.3 Introdução ao contexto mundial (1918-1931)...............................................................13

2.3.1 Conferência de Paz de Paris (1919)..........................................................................14

2.3.1.1 Catorze pontos de Wilson...........................................................................................14

2.3.1.2 Insatisfação oriental....................................................................................................15

2.3.2 A década de vinte........................................................................................................16

2.3.2.1 As potências européias em crise................................................................................17

2.3.2.2 A situação economica no Pacífico..............................................................................17

3. ESTRUTURA DO COMITÊ................................................................................................18

4. POSIÇÃO DOS PRINCIPAIS ATORES.............................................................................19

4.1 China................................................................................................................................19

4.2 Reino Unido.....................................................................................................................19

4.3 Japão...............................................................................................................................20

5. QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES..............................................................20

REFERÊNCIAS......................................................................................................................21

TABELA DE REPRESENTAÇÕES........................................................................................23

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1. APRESENTAÇÃO DA EQUIPE

Caros delegados, meu nome é Lucas Mendes Corrêa Leite tenho vinte anos e

durante o 17º Modelo Intercolegial das Nações Unidas (MINONU) estarei cursando o sétimo

período de Relações Internacionais da Pontifica Universidade Católica de Minas Gerais

(PUC Minas). Meu primeiro contato com o projeto aconteceu em 2013, quando participei

como voluntário do comitê sobre o Conselho da Europa, onde se discutia as questões de

liberdade religiosa. Nos últimos dois anos, tive a experiência de ter sido diretor assistente da

Organização dos Estados Americanos (OEA) e ano passado, do North Atlantic Treaty

Organization (NATO), em inglês. Ter estado em comitês tão diversos, o primeiro discutindo

direitos humanos e o outro uma situação de guerra, me trouxeram duas gamas de

conhecimento bem distintas que eu certamente aproveitarei no futuro.

Em relação ao tema deste comitê, acredito que há de ser muito proveitoso, tanto

para diretores quanto para delegados, pois se trata de uma situação e de um contexto que

não é comumente visto na sala de aula, mas que é muito importante para entender as

rivalidades na Ásia oriental nos dias atuais. Assim, ressalto a importância na leitura não só

deste guia, mas também ao blog do comitê, onde estarão inúmeros textos para ajuda-los no

entendimento do tema. Se atentem as postagens na página do Facebook, mas se

persistirem as dúvidas, todos os diretores estão disponíveis para dúvidas não só nas redes

sociais, quanto no nosso e-mail ([email protected]).

Caros delegados, meu nome é Ana Beatriz Sullato tenho 18 anos e estarei no 4º

período durante o 17º MINONU de Relações Internacionais da PUC Minas. Anteriormente a

essa edição, participei na organização da logística da simulação e esse ano optei pela área

interna do comitê, sendo então diretora assistente. A Liga das Nações tornou-se um dos

comitês históricos nessa edição do MINIONU, e é de extremo interesse estudar essa

Organização Internacional que teve grande importância para as relações internacionais

durante os anos de 1919 até a sua dissolução em 1946. Nosso comitê de caráter

essencialmente oriental irá tratar a questão da Manchúria ocorrida em 1931 e que

certamente marcou a história dos países envolvidos. Espero empenho e comprometimento

dos delegados para que nosso comitê seja inesquecível para todos.

Caros delegados, meu nome é Ricardo Carvalho tenho 18 anos e estarei no 3º

período durante o 17º MINONU de Relações Internacionais da PUC Minas. Tive o grande

privilégio de participar do modelo original em sua 16ª edição, como voluntário interno do

comitê Organização Internacional da Polícia Criminal (INTERPOL). Não há palavras para

dizer quão incrível foi esta experiência enriquecedora, em que pude compreender a imensa

importância do modelo na vida pessoal, acadêmica e profissional de todos aqueles que

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conquistam o privilégio de participar da organização e realização das simulações. O tema

que será tratado em nosso comitê durante os dias do MINIONU garante uma ótima

oportunidade de aprendizado e aprofundamento de questões históricas. No mais, desejo

que todos se esforcem ao máximo para assegurar o grande sucesso desse comitê. Estarei à

disposição para assisti-los em qualquer acontecimento e aguardo ansiosamente para

conhecer-lhes.

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2. APRESENTAÇÃO DO TEMA

O tema do comitê está intimamente relacionado com as tensões existentes no

Pacífico no período que antecede a Primeira Guerra Mundial. As raízes do que levam aos

acontecimentos do comitê sucedem de décadas de tensões na região, principalmente pela

crescente desigualdade da relação de poder entre os países do leste asiático. Se a

ascensão japonesa era contida, em grande medida, pelos interesses das potências

europeias, o resultado da Primeira Grande Guerra ajuda o Japão a se configurar como

potência dominante na área, já que a Rússia, o Reino Unido e a França saem enfraquecidos

do conflito.

O movimento para a adoção de uma política expansionista no Império do Japão

começa após a vitória na guerra contra a Rússia em 1905, já que o próprio país se

considera um território pequeno e com poucos recursos minerais e energéticos. (NISH,

1977). Não havendo nenhuma potência regional a sua altura, o Japão vê em seus vizinhos

uma oportunidade para se expandir e competir com o Ocidente de maneira mais igualitária,

em especial, o Império Qing (posteriormente, a República da China). A ilha de Formosa,

antigo território chinês, foi cedida ao Japão por meio do Tratado de Shimonoseki (1895) em

meio a pressões beligerantes do mesmo. (DONG WANG, 2005). Concentrando seus

esforços na recém-conquistada Coreia (1910) e em seu próprio avanço militar e tecnológico,

em 1915 faz uma série de demandas, as 21 Exigências, de modo a estender o controle

japonês da Manchúria e da economia chinesa (NARANGOA, 2004), como pode ser visto na

figura abaixo.

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FIGURA I – Linhas férreas operadas pela Ferrovia Trans-manchuriana em 1905

Fonte: Wikimedia, 2010

Ainda que nem todas as demandas fossem efetivamente assinadas, em grande

medida por retaliação da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos da América (EUA) contra o

Japão, isso acaba criando um sentimento de revolta contra os japoneses em toda a China.

(GOWEN, 1971). No contexto de uma China continuamente enfraquecida e dividida por

quase duas décadas, o Japão encontra o momento perfeito para se expandir pelo continente

asiático. Em decorrência da vitória na guerra Russo-Japonesa e dos eventos supracitados,

parte da linha férrea no Extremo Oriente de propriedade russo-chinesa, a Zona Ferroviária

do Sul da Manchúria é cedida ao Japão (ver FIGURA I).

Em 1931, é detonada uma pequena quantidade de dinamite perto da uma das linhas

de propriedade do Japão perto de Mukden.1 (HORVITZ & CATERWOOD, 2011). Mesmo

que a explosão fosse fraca, não chegando a atingir os trilhos, o Exército Imperial Japonês

acusa dissidentes chineses do ato e responde com uma invasão. (HORVITZ &

CATERWOOD, 2011).

Na manhã do dia 19 de setembro do mesmo ano, o Japão envia tropas para o

nordeste da China. O general na região é fortemente criticado por sua não resistência à

invasão japonesa, principalmente por comandar uma das tropas mais bem equipadas e

1 Atual Shenyang

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preparadas de todo país. (BASSETT, 1952). O governo central do Kuomintang pode ser

considerado indiretamente responsável por esta política, já mesmo que os japoneses

fossem a maior ameaça no momento, o governo concentrava os seus esforços

principalmente na erradicação dos comunistas e na recente enchente do Rio Yangtzé, que

gerou inúmeros desabrigados naquele ano. (GLANTZ, 2003).

Por estes motivos, o governo em Nanquim busca uma saída diplomática para essa

situação. (ZARROW, 2003). A República da China protesta na Liga das Nações contra o

Japão se utilizando o artigo 11 do Pacto da Liga das Nações, onde

Art.11. Fica expressamente declarado que toda guerra ou ameaça de guerra, quer afete diretamente ou não um dos Membros da Liga, interessará à Liga inteira e esta deverá tomar as medidas apropriadas para salvaguardar eficazmente a paz das Nações. Em semelhante caso, o Secretário Geral convocará imediatamente o Conselho a pedido de qualquer Membro da Liga. (LIGA DAS NAÇÕES, 1919, p. 1).

Menos de uma semana depois, no dia 24 de setembro de 1931, é convocada a

primeira reunião de emergência para tratar do assunto. Este momento marca o início do

comitê.

2.1 Introdução ao contexto chinês

O Império Qing, também chamado de “Homem doente da Ásia”, em alusão aos

Otomanos, conhecidos como o “Homem doente da Europa” na mesma época, é um império

em decadência a mais de um século. A primeira vez que é visível sua decadência em

relação à capacidade militar e tecnológica com o ocidente foi pela Primeira Guerra do Ópio,

em 1841. Com a assinatura do Tratado de Nanquim, as potências ocidentais viram na China

uma oportunidade de se expandirem para além das índias. A partir de então, a Dinastia Qing

irá sofrer outras derrotas militares para as potências ocidentais, iniciando a chamada era

dos Tratados Desiguais, quando o Imperador fará concessões de regiões portuárias para a

França, a Rússia, o Império Austro-húngaro, a Alemanha, a Bélgica, a Itália e o Japão.

(DONG WANG, 2005).

A Revolução Xinhai em 1912 terá a proposta de modernizar e unir um Estado

altamente burocrático, autocrático, tecnologicamente atrasado e com população vivendo em

péssimas condições. A Figura II mostra como as guerras na China tinham proporções

gigantes. De modo a se desvincular com a dinastia, Sun Yat-sen, o líder revolucionário e

líder do partido Kuomintang, muda a capital de Pequim, que historicamente é o trono do

imperador, para Nanquim, a nova capital da República. Apesar de tais propostas, a

revolução cria instabilidade e vácuo de poder, principalmente nas regiões afastadas do

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Cantão, após 300 anos de estabilidade política. Sun Yat-sen pretendia modernizar o país se

baseando no ocidente, sendo seus lemas: “democracia”, “nacionalismo” e “bem-estar da

população”, conhecidos como “O Três Princípios do Povo”. Nas regiões onde o poder do

Kuomintang não chegava, surgem os Senhores da Guerra, que por tentativa do antigo

Imperador de modernizar o exército, acabou por dar poder político as milícias do interior

(DIRLIK, 2011).

FIGURA II – Pintura da Batalha do Portão de Ta-Ping em Nanquim (1911)

Fonte: MIYANO, 2016.

A fim de resolver o problema da divisão do país e evitar futuros ultimatos externos,

Sun Yat-sen primeiramente propõe aceitar membros comunistas nas fileiras do nacionalista

Kuomintang (KMT), que em sua visão, desradicalizaria os comunistas ao longo do tempo. O

expansionismo japonês também suscitou críticas de grande parte do resto do mundo, mas

isso não resultou em ajuda militar significativa para a China, com exceção da União

Soviética. (VAN DE VEN, 2003).

Com o apoio financeiro dos soviéticos, o partido treinaria um exército profissional

para levar a cabo a Expedição do Norte, que derrotaria os Senhores da Guerra, finalmente

unindo o país. Formados na Academia Militar de Huangpu, Chiang Kai-sek liderou Exército

Nacional Revolucionário (ENR) ao norte. Muitos dos senhores da guerra foram derrotados,

mas aqueles que se convertessem a causa revolucionária foram aceitos no partido. Logo

após de derrotar o Clique de Anzhi, Chiang, desconfiado dos comunistas no partido, leva

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seu exército a Shanghai em 12 de abril de 1927 para exterminá-los, dando fim ao Primeira

Fronte Unido dos nacionalistas e comunistas. (ZARROW, 2003).

FIGURA III – CHINA 1926-27: A Expedição do Norte

FONTE: Unimaps, 2006

Como observado no mapa acima, as forças do Kuomintang saem do Cantão, em

rumo ao norte do país derrotando os Senhores da Guerra no caminho. Ademais, esses

fazem um breve desvio para Shanghai em 1927, até a tomada de Pequim. Tendo como

base a leitura Com a morte de Sun Yat-sen em 1925, a Chiang Kai-sek sai da Expedição do

Norte como o grande nome nacional e é nomeado para presidência em 1928. Apesar da

reunificação, o fim trágico do Fronte Unido divide o país politicamente. (ZARROW, 2003).

Como parte da Expedição Norte, Chiang tinha aceitado a rendição alguns senhores

da guerra em troca de apoio ao KMT (ZARROW, 2003). Apesar do apoio nominal ao KMT,

os senhores da guerra e funcionários públicos locais corruptos ainda dominavam o campo.

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Eles prestavam pouca ou nenhuma atenção ao sofrimento dos camponeses e continuavam

a exigir impostos, mesmo quando os agricultores agiam contra os efeitos da crise no início

dos anos 1930. A demanda externa para o chá, seda, algodão e outros produtos chineses

diminuíram vertiginosamente, levando muitos camponeses à falência e alguns em última

análise, a fome e a miséria. Por outro lado, os camponeses que trabalhavam em grandes

latifúndios recebiam baixíssimos salários por um alto grau de esforço. Os camponeses que

cultivavam em seu próprio terreno, o faziam em pequenas parcelas, que eram, na ocasião,

espalhados ao longo de grandes distâncias; isso impedia a mecanização, mesmo na remota

possibilidade de alguns camponeses tinham recursos para comprar máquinas agrícolas.

(ROSSABI, 2013).

As autoridades locais percebiam as dificuldades enfrentadas pelos camponeses por

não manterem de forma adequada os seus complexos de irrigação, canais, barragens e

outros projetos de infraestrutura. Inundações e secas atormentaram as áreas rurais, levando

a grande angústia e fome e a mortes de milhões na década de 1930. As condições sociais

nas áreas rurais também não foram alteradas. O governo dificilmente promovia programas

de saúde pública, o que contribuiu para incidências significativas de doenças infecciosas e

parasitárias, especialmente depois de inundações ou outros desastres naturais. As taxas de

natalidade e da mortalidade durante o parto foram igualmente elevadas. No campo as

crianças frequentemente não iam para a escola, levando a baixos níveis de alfabetização. A

partir da ascensão do Kuomintang ao poder, houve poucas mudanças perceptíveis na vida

da maioria dos camponeses, que se traduziu em perda considerável de apoio ao governo.

(ROSSABI, 2013).

Apesar da vida no campo, a era Kuomintang de meados da década de 1920 tinha

algumas características positivas nas cidades, em parte devido a uma ligação crescente

com a economia global. Ele aponta que a China lucrou com a apropriação de inúmeras

instituições, bens e serviços do Ocidente. As primeiras lojas modernas e lojas de

departamento exibiam ternos, gravatas, cosméticos, perfumes, sapatos de couro,

candeeiros, relógios, aparelhos de barbear e câmeras. Novos modos de transporte, como

bicicletas, táxis e autocarros públicos, chegaram à China. Casas foram modernizadas com

radiadores de gás, água encanada, telefone, eletricidade pouco confiável, água da torneira,

e tapetes. Novas escolas, com um fornecimento adequado de canetas, borrachas, livros e

máquinas de escrever, foram construídos. Em Xangai e em algumas outras cidades,

hospitais e escolas foram fundados. Uma grande variedade de restaurantes e cafés foram

estabelecidos. Os chineses, especialmente aqueles que viviam em áreas urbanas, foram

expostos à cozinha internacional e alimentos novos como massas, sorvetes e açúcar branco

(ROSSABI, 2013).

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2.2 Introdução ao contexto japonês

Com o fim da Guerra Civil e a dissolução do Shogunato em final da década de 1860,

o imperador Meiji sobe ao poder. Sua primeira ação foi transferir de Kyoto para Tóquio, a

nova capital; seu poder imperial foi restaurado. Como outras nações asiáticas subjugadas,

como a própria China na mesma época, os japoneses foram forçados a assinar tratados

desiguais com as potências ocidentais. Estes tratados concediam aos ocidentais vantagens

econômicas e legais unilaterais sobre o Japão. (CULLEN, 2003).

O imperador Meiji estava determinado a diminuir a diferença que existia entre as

potências ocidentais e o Japão tanto economicamente quanto militarmente, a fim de

recuperar a independência dos europeus e norte-americanos e estabelecer-se como uma

nação respeitada no mundo. Reformas drásticas foram realizadas em praticamente todas as

áreas. A modernização das forças aramadas era, é claro, uma alta prioridade para o Japão

em uma época do imperialismo europeu e americano. O serviço militar obrigatório foi

introduzido e foi criado um novo exército inspirado na força prussiana, e uma marinha,

inspirada no Reino Unido. (CULLEN, 2003).

Conflitos de interesses na Coréia e na Manchúria, desta vez entre a Rússia e o

Japão, levaram a Guerra Russo-Japonesa, em 1904-1905. O exército japonês também saiu

vitorioso dessa guerra, ganhando território e, finalmente, algum respeito internacional. O

Japão aumenta ainda mais sua influência sobre a Coreia, anexando-a completamente em

1910. Os sucessos de guerra naturalmente levaram ao nacionalismo e uma grande auto-

confiança nacional japonesa. (CULLEN, 2003).

Na Primeira Guerra Mundial, o Japão estava na posição privilegiada de ser

tecnicamente um combatente, mas fora da zona de guerra. Na ausência de concorrência

quando os recursos dos países ocidentais estavam sendo consumido em guerra, o Japão

começou a encontrar novos nichos nos mercados externos. Como o transporte de cargas

das potências ocidentais estava ausente, o Japão rapidamente expandiu sua construção

naval. A tonelagem de construção em 1919 foi de 600.000 toneladas, o que colocou a sua

produção próxima a da Grã-Bretanha e dos Estados Unidos, num momento em que eles

estavam ainda substituindo as perdas do tempo de guerra; e a frota mercantil do Japão

inevitavelmente cresceu, a ponto de ser a terceira maior do mundo. (CULLEN, 2003).

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FIGURA IV – O Crescimento do Império Japonês (1933)

FONTE: SELDEN, 2009

As mudanças Meiji são o resultado de uma aliança entre grupos feudais e os

comerciantes-capitalista que uniram forças para impedir uma resistência proletariado

camponês-urbana durante os estágios finais da desintegração da sociedade Tokugawa.

Esse autor aponta que a mudança política do período Taisho, seguida da dura morte do

Imperador Meiji em 1912, traz uma transição gradual de controle anterior do governo pela

oligarquia à regra de forças políticas partidárias do zaibatsu, os famosos conglomerados

industriais japoneses. Aqueles que lamentaram a esta tendência foram incapazes de

escapar de participação na mesma. (SHINOBU apud JANSEN, 1954).

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FIGURA V – Rua Ginza, grande Tóquio (1930)

Fonte: MURRAY STATE UNIVERSITY, 1930

O Japão tornou-se, em 1920, o maior exportador de têxteis para os mercados

asiáticos. O terremoto de Tóquio de 1923 não interrompeu a produção. A recuperação foi

rápida, e as novas infraestruturas fizeram da cidade uma moderna e em grande parte

metrópole no estilo ocidental. As linhas Yamanote, Chuo e Toyoko entre Tóquio e

Yokohama foram construídas para fornecer um serviço de trem urbano eficiente; a linha do

metrô de Ginza tomou forma entre 1927 e 1934. Trabalhadores de escritório foram

aumentando rapidamente. A maioria dos homens passaou a se vestir no estilo ocidental, e

mais lentamente a mesma alteração aconteceu com as mulheres. Os imóveis de Tóquio

ainda eram baratos, os locais nos subúrbios custavam não mais do que dois salários anuais

para o trabalhador urbano médio. (CULLEN, 2003).

A cidade torna-se uma metrópole de quase cinco milhões em 1930, e uma das

maiores cidades do mundo. Nessa mesma época, os automóveis de passageiros, pela

primeira vez ultrapassou rickshaws em número; o uso de táxis tornou-se comum. O sistema

de ensino desenvolvia rapidamente, não só as escolas e alunos do ensino secundário, mas

também o sistema universitário. De três universidades estaduais em 1910, o número total de

universidades subiu para quarenta e seis em 1930. (CULLEN, 2003). A Figura V acima

ilustra um pouco do avanço de Tóquio nessa época, mostrando um sistema de bondes,

prédios altos para época e bastante movimento numa das ruas mais importantes da cidade,

a rua Ginza.

A partir disso, o período Taisho é fundamental para a compreensão do Japão

moderno. Os homens japoneses, atraídos ao radicalismo e do internacionalismo no fomento

de novas ideias pós Primeira Guerra Mundial, encontrou sua correspondência na legislação

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repressiva do governo de Tóquio; intelectuais que confundiam o comunismo com a

democracia foram processados por um governo que identificou tanto a subversão. A

experiência desses anos é central para o presente clima de opinião no Japão XX (SHINOBU

apud JANSEN, 1954).

A burguesia, despertada pelo pesado fardo de despesas com a defesa, estava

lutando por uma maior abertura democrática, a fim de conter os militares. Uma vez que não

tinha exército próprio, eles usavam os trabalhadores como massa de manobra. Os motins

depois do Tratado de Portsmouth, os motins de arroz, as manifestações de sufrágio, foram

cada vez mais centrada nas cidades. Ao todo, os distúrbios tiveram lugar em 33 cidades e

201 cidades e aldeias, e mais de 8000 pessoas foram presas. A partir desta cobertura,

torna-se evidente que os distúrbios tinham conteúdo político considerável em áreas da

cidade, especialmente em Nagoya. Foi inédito de usar soldados contra o povo no século XX

(SHINOBU apud JANSEN, 1954).

Estes distúrbios são os eventos mais importantes na história Taishi. Eles revelaram

em primeiro lugar, a separação entre os com e os sem-terra, e entre capital e trabalho. A

expansão do capitalismo na agricultura deu frutos na prefeitura de Aichi, na região de

Nagoya, quando a legislação proibia reuniões de três ou mais inquilinos. Os giros malucos

do preço do arroz ainda eram resquícios da era Tokugawa. A colheita de 1916, um recorde

de milhões de toneladas, foi seguido pela escassez nos anos que se seguiram, enquanto o

governo, seguindo a tradição Tokugawa, virava-se para as grandes casas de câmbio com

medidas desesperadas para importar e vender arroz. (SHINOBU apud JANSEN, 1954).

Shinobu conclui que o movimento democrático falhou por outros motivos também,

entre eles a fraqueza da ideologia de seus principais porta-vozes, Yoshino Sakuz e Minobe

Tatsukichi, cuja insistência para "como tanto a democracia quanto antes", prometia poucas

mudanças. Mas, apesar destas deficiências, o descontentamento das pessoas permaneceu,

e provou se cada vez mais difícil de contrariar. Novos partidos proletários e novas caras na

política provocou o estímulo do Imperado a punições mais severas para "pensamentos

perigosos." Em último caso, o absolutismo fascista foi necessária para bloquear a revolução

na década de 1930. (SHINOBU apud JANSEN, 1954).

2.3 Introdução ao contexto mundial (1918-1931)

Para entender melhor as motivações dos atores durante em negociações no âmbito

da Liga das Nações, é necessária uma recapitulação da própria diplomacia e o momento

histórico que o mundo dessa época vive. Para tal, é necessário se pautar no mundo pós-

Guerra.

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2.3.1. Conferência de Paz de Paris (1919)

As negociações da Conferencia da Paz de Paris, logo após o término da Grande

Guerra, são marcadas pela disputa de visões divergentes sobre o tratamento das potências

derrotadas: uma paz sem vencedores e a responsabilidade total do eixo. (HARRIS, 1920).

As negociações também marcam o início da Liga das Nações, de modo a evitar guerras,

promovendo segurança coletiva entre os membros, desarmamento e resolvendo disputas

internacionais por meio de negociações.

Era de interesse dos Estados-membros evitar uma guerra com a mesma escala de

destruição. É também o início de uma agenda internacional sobre direitos humanos,

principalmente sobre minorias étnicas, uma vez que a comunidade internacional entra em

choque com o genocídio armênio, e direito trabalhista, visto a emergência de se renegociar

e melhorar as condições laborais. (FINK, 1996).

2.3.1.1 Catorze pontos de Wilson

Antes de embarcar para Paris, o presidente americano Woodrow Wilson enuncia em

8 de janeiro de 1918, em um discurso a ambas as casas do Congresso dos EUA, um

programa de 14 pontos delineando uma ordem pacífica para a Europa abalada pela Primeira

Guerra Mundial. São referidos:

1.º Pactos abertos de paz a serem alcançados abertamente, sem acordos secretos; 2.º Livre navegação absoluta, além das águas territoriais, tanto na guerra como na paz, exceto quanto a liberdade de navegação fosse cessada, em parte ou no seu todo, por execução de pactos internacionais; 3.º Remoção de todas as barreiras econômicas e estabelecimento de igualdade de condições de comércio entre todas as nações consentâneas à paz e à sua manutenção; 4.º Redução das armas nacionais ao mínimo necessário à segurança interna; 5.º Ajustes livres imparciais e abertos às reivindicações das colónias; 6.º Evacuação das tropas alemãs da Rússia, e respeito pela independência da Rússia; 7.º Evacuação das tropas alemãs da Bélgica; 8.º Evacuação das tropas alemãs da França, inclusive da contestada região da Alsácia-Lorena; 9.º Reajuste das fronteiras italianas dentro de linhas nacionais claramente reconhecíveis; 10.º Autogoverno limitado para o povo austro-húngaro; 11.º Evacuação das tropas alemãs dos Balcãs e independência para o povo balcânico; 12.º Independência para a Turquia e autogoverno limitado para as outras nacionalidades até então vivendo sob o Império Otomano; 13.º Independência para a Polónia; 14.º Formação de uma associação geral de nações, sob pactos específicos com o propósito de fornecer garantias mútuas de independência política e integridade territorial, tanto para os Estados grandes como para os pequenos (UNIVERSIDADE DE YALE, 1918, p. 1, grifo do autor)

Várias ideias de Wilson, em seu programa de 14 pontos supracitado, como a auto-

determinação dos povos e de uma paz mais justa foram substancialmente desconsiderados,

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sobretudo por influência britânica e francesa. A inabilidade das potências européia em

aceitar as reinvidicações americanas é alvo de inumeras críticas a posteriori2.

2.3.1.2 Insatisfação oriental

O Reino Unido e a França também são diretamente responsáveis pela insatisfação

do Japão, que a príncipio era considerada a quinta potencia da mesa de negociações.

Convidada para Paris como parte imporante. A participação japonesa na conferencia é

drasticamente reduzida, já que as outras potências se recusavam em aceitar as

reinvidicações territorial japonesa, que exigia a total transferencia das colonias alemãs no

Pacífico. O Império Japonês se afasta da conferencia após a garantia de somente metade

das colonias, apesar da proximidade geográfica. (MACMILLAN, 2003).

As consequências a curto e longo prazo de Versalhes foram elevadas para o Japão.

A Grã-Bretanha, já não via mais a aliança com Japão como um escudo contra a invasão

russa, mas como um concorrente sério, estava alarmado pela alteração do equilíbrio do

poder. Os medos britânicos também foram trabalhados pelos Americanos: em outras

palavras, a Grã-Bretanha e os Estados Unidos apresentaram uma cara unida ao Japão. A

aliança não foi renovada em 1922. (CULLEN, 2003).

Uma reunião de Washington de nove países ocorreu no final de 1921 para resolver

as tensões na região do Pacífico, uma contrapartida para a conferência de Versalhes de

1919. Em uma conferência naval em 1922, seguido por um mais uma em 1930, sob a égide

do encontro de Washington, tinha como finalidade a limitação da corrida naval entre os

países que tinham sido "aliados" em 1919, os americanos e Inglês ficaram juntos.

O isolamento em que o Japão se encontrava em sua busca do tema da igualdade na

conferência de Versalhes foi repetido; na verdade, em termos diplomáticos, o Japão foi

isolado a um grau que não tinha sido desde o início de sua relação com o mundo exterior

em 1853. A força naval japonesa tornou-se uma preocupação central para os países

ocidentais. A marinha japonesa já tinha alcançado um alto nível já em 1904. Apesar de seus

navios na época ainda serem construídas no exterior, suas especificações técnicas estavam

à frente de os ocidentais, e as suas estratégias e táticas da Marinha eram mais avançados

do que os de outras frotas. Apesar do aumento da influência política do exército, a diferença

das despesas entre os dois serviços estreitou ao longo do tempo, e foi praticamente

equiparada em 1913 (um ano em que a despesa naval foi a questão política dominante). No

final dos anos 1910, um excesso de despesas navais trazia uma mensagem ameaçadora de

desafio à supremacia ocidental no mar. (CULLEN, 2003).

2 Termo em latim para “do seguinte”, significando “em um período posterior”

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Outra parte bastante insatisfeita nas negociações é a Republica da China. A

pequena delegação chinesa tinha como objetivo apenas a devolução das concessões

alemãs em território chinês. Assim a delegação utitlizou do argumento de auto-determinação

dos povos. Apesar disso as potencias ocidentais, com exceção do EUA, refutam totalmente

suas reinvidicações, transferindo as concessões ao Japão.

O governo do Kuomintang se desapontou gravemente quando as potências

ocidentais concordaram com a reivindicação do Japão para as concessões da Alemanha em

Versalhes no final da Primeira Guerra Mundial. Muitos intelectuais chineses acreditavam que

o Ocidente tinha minado seu compromisso com a China. A promessa de autodeterminação

nacional não havia sido honrada (ROSSABI, 2003). Esse episódio leva a grandes protestos

estudantis na China no dia 4 de Maio, na tentativa de coagir o governo a não assinar o

Tratado de Versalhes. A estratégia é bem sucedida e a China é o unico país na Conferencia

a não assinar o tratado. (MACMILLAN, 2003).

2.3.2 A década de vinte

Após a 1ª Guerra Mundial, a produção de bens de consumo, tais como carros e

geladeiras se expandida significativamente nos Estados Unidos para atender à crescente

demanda. Os anos vinte, também conhecidos como os loucos ou dourados anos vinte, é um

período de intensa prosperidade econômica, sobretudo nas potências vencedoras da

Primeira Guerra Mundial, mas até mesmo nas derrotadas, como a Alemanha. O fator

econômico não é o suficiente para explicar a intensidade dessa década, sendo que a

década também se configura como o início da propagação de grandes ideologias que

mudaram todo o rumo do século, como o comunismo e o fascismo.

Essa década também é intensamente marcada pela volta da “normalidade” na

política mundial, depois de meia década de guerra total na Europa; da adoção da produção

em larga escala de automóveis, telefones e materiais elétricos; do início da indústria do

entretenimento. Após tanto crescimento, a crise econômica no fim da década volta a

mergulhar o mundo em conflito. Observa-se um mercado de bens saturados e uma indústria

incapaz de vender a produção excedente. (EICHENGREEN, 2014).

O gatilho para esse grave crise econômica foi a chamada "quinta-feira negra", em 24

de outubro de 1929 na Bolsa de Valores de Nova Iorque em Wall Street. Nesse dia, houve o

colapso do mercado de ações supervalorizadas da principal nação industrial, os EUA. As

razões para essa crise foram a superprodução de mercadorias e especulação em massa no

mercado de ações, que tinha sido financiado por empréstimos. (WHAPLES, 1995).

O boom econômico dos anos 20 leva a um significativo aumento no número de

apostadores na Bolsa. Muitos tinham recebido empréstimos de curto prazo para na

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esperança de ser capaz de atingir elevados retornos do mercado de ações. A partir de

outubro 1929, há um declínio nos preços, levando muitos especuladores a entrar em pânico.

Assim, os preços das ações também começaram a perderam mais e mais em valor, o que

agravou ainda mais a situação. (EICHENGREEN, 2014).

A crise econômica global em 1929 é apontada como a mais grave recessão em

todas as principais nações industriais. Como resultado desta crise, pode-se colocar o

colapso das empresas e desemprego em massa. O acidente na Bolsa de Nova York não

tardou a espalhar por outros paises.

2.3.2.1 As potências européias em crise

A Grã-Bretanha nunca nem chegou a experimentar o boom que havia caracterizado

os EUA, Alemanha, Canadá e Austrália em 1920, por isso o seu efeito pareceu menor, ainda

que fosse somente ilusão. Por conta do efeito em cascata das crises econômicas, o

comércio mundial da Grã-Bretanha caiu pela a partir de meados de 1929, a produção da

indústria pesada diminuiu em um terço e a taxa de emprego entrou em colapso em quase

todos os setores. (RICHARDSON, 1969).

Por outro lado, a economia francesa era mais forte do que as de seus vizinhos,

nomeadamente por causa da força mundial do franco, logo, os impactos demoraram mais a

chegar. Enquanto os Estados Unidos experimentaram um forte aumento do desemprego, a

França tinha quase nenhum. Essencialmente devido a uma simples falta de mão de obra; no

final da guerra, a França teve quase um milhão e meio de mortos e três milhões de feridos,

quase quatro mil vítimas. Um em cada quatro dos mortos era mais jovem do que 24 anos.

(COLE, 1996). A introdução do modelo econômico americano, inspirado principalmente pela

Ford, ajudou de maneira significativa a modernização das empresas francesas. Somente

após 1931 que se começou a sentir os efeitos, fazendo a taxa de desemprego subir de 2%

para 15%, ainda muito menor que em seus vizinhos. (LAUFENBURGER, 1936). Já não se

pode dizer o mesmo sobre a Italia, onde a crise de 1929 foi catástrofica. Quase toda

indústria italiana foi a falência após a tentativa do sistema bancário de resgate economico.

(MATTESINI; QUINTIERI, 1997).

2.3.2.2 A situação economica no Pacífico

Ao contrário do que se imagina, os efeitos no Japão e na China foram bastante

limitados. No caso da economia japonesa, houve um declínio de somente 8% durante 1929-

31. O Japão foi o primeiro a implementar políticas econômicas keynesianas. Em primeiro

lugar, por grande estímulo fiscal envolvendo gastos deficitários; e, segundo, pela

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desvalorização da moeda. A desvalorização da moeda teve um efeito imediato: a indústria

têxtil japonesa passa a ser mais competitiva que a britânica nos mercados de exportação. O

déficit provou ainda ser mais bem-sucedido: foi utilizado na compra de munições para as

forças armadas. (MYUNG, 2003).

No caso chinês, os efeitos foram praticamente inexistentes em 1929. Como a China

não entrou no padrão ouro3, como fez a maioria dos países no início do século XX, as

reservas de prata não foram afetadas. Na China, a crise tinha acontecido uma década

antes, já que após a Primeira Guerra, o preço da prata caiu drasticamente. Como somente a

China e o Raj Britânico se utilizavam do padrão prata, a demanda desses mercados ditavam

o preço. A desvalorização da prata e as medidas protecionistas do Kuomintang levam

justamente ao crescimento econômico chinês por substituição de importação, fazendo com

que os anos 1920 na China também fossem lembrados pelo enriquecimento da população.

(ROTHERMUND, 1996).

3. ESTRUTURA DO COMITÊ

A Liga das Nações é uma organização sediada em Genebra, criada pelas potências

aliadas como parte do acordo de paz para acabar com a Primeira Guerra Mundial. Conforme

o Pacto da Liga das Nações, seus três pilares são a Assembleia, o Secretariado

Permanente e o Conselho. (LIGA DAS NAÇÕES, 1919).

Ao Secretariado, encarregava-se a preparação da agenda para o Conselho e para a

Assembleia e a publicação de relatórios das reuniões e outros assuntos rotineiros, agindo

efetivamente como o serviço público para a Liga. A Assembleia era composta por

representantes de todos os Membros da Liga e era encarregada de admitir novos membros,

da eleição periódica sobre os membros não permanentes do Conselho, a eleição com o

Conselho dos juízes do Tribunal Permanente, e o controle orçamentário. (LIGA DAS

NAÇÕES, 1919).

No Conselho, o órgão executivo da Liga, era necessário uma votação unânime dos

quinze membros para ser aprovado uma resolução; portanto, a ação conclusiva era difícil,

se não impossível. Este problema deveu-se principalmente ao fato de que os principais

membros da Liga das Nações não estavam dispostos a aceitar a possibilidade de seu

destino ser decidido por outros países. (LIGA DAS NAÇÕES, 1919).

As negociações do incidente da Manchúria eram feitas no âmbito do Conselho

executivo da Liga das Nações, de modo que os estados membros na época se reuniam para

3 Eichegreen descreve este padrão como um sistema monetário em que o valor da moeda nacional é definido como uma quantidade fixa de ouro. (EICHENGREEN, 2014). É como se uma nota de 2 reais, por exemplo, se equivalesse a esse valor em gramas de ouro.

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apresentar suas reivindicações, exigências e propostas para o tratado de modo quase

semelhante ao Conselho das Nações Unidas atualmente. A princípio, todos os membros do

Conselho da Liga das Nações contavam com o poder de veto, mas a fim de evitar

problemas recorrentes durante o comitê, foi decidido manter o veto somente aos membros

permanentes e a China.

Durante os dias de debates será utilizada a moderação grega. Nesse tipo de

moderação os delegados que desejam se pronunciar devem apenas manter erguidas na

posição vertical sobre a mesa as placas de suas delegações, de modo a serem

reconhecidas aleatoriamente pela mesa moderadora. Este sistema visa dinamizar os

debates, visando uma maior agilidade dos discursos dentro do comitê.

4. POSIÇÕES DOS PRINCIPAIS ATORES

Abaixo está a posição dos principais atores no incidente discutido no comitê. São

delegações chaves, de modo que, todos os delegados presentes devem ter consciência de

suas posições.

4.1 República Da China

Em uma posição de desvantagem militar, a China busca uma retaliação por parte da

Liga em forma de sanções. Seu maior aliado anteriormente, a União Soviética, não só não

estava presente na Liga, como o Massacre do 12 de abril acabou com as relações entre os

países, fazendo com que o país não tenha grandes apoiadores na sua causa, se não a

própria Carta da Liga das Nações. (BASSETT, 1952). O grande desafio é conciliar a quebra

de sua soberania com as aspirações japonesas.

4.2 Reino Unido

Mesmo sendo o maior aliado do Japão, o Reino Unido busca uma saída em que

retire as tropas do país ao mesmo tempo em que não quer se use de sanções econômicas.

Como o mundo ainda está passando pela crise econômica mundial, lidar com sanções de

um grande parceiro comercial não era benéfico para nenhum dos dois lados. (NISH, 1977).

O principal fator na paz seria que ambos os países continuassem na Liga, como forma de

mostrar ao mundo que, apesar de ter falhado em outras ocasiões, isso não aconteceria

novamente. (BLICKENSTORFER, 1972).

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4.3 Japão

O Império do Japão pretende continuar sua influência na região, e a partir 1931,

manter seu suas possessões longe do controle direto da República da China. O grande

interesse do Japão não é necessariamente administrar a área, diferentemente de outros

casos que a Liga abordou, mas somente se utilizar dos recursos da região. (NISH, 1977).

5. QUESTÕES RELEVANTES NAS DISCUSSÕES

As questões relevantes são pontos mais importantes das discussões do comitê. Os

delegados terão que ter em mente que as respostas pensadas a essas questões impactarão

significativamente o andamento do comitê durante os dias da simulação.

1- Como criar uma paz duradoura entre o Japão e a China?

2- Qual o impacto da falta de outros países, como o Brasil e a União Soviética, para o

comitê?

3- O contexto interno do Japão e da China explicam suas posturas em âmbito

internacional?

4- Qual o impacto da Crise de 29 nas posições das delegações?

5- Como conciliar uma diplomacia pacifista com a belicosidade dos países nos anos

entre guerras?

6- Como garantir que o Japão aceite as medidas propostas na Liga das Nações?

7- De que forma a Liga das Nações pode alcançar um acordo que ajude a fortalecer o

papel da organização no cenário mundial

8- Sobre o caso estudado no comitê, existe algum momento anterior semelhante que

ajude na resolução do problema?

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TABELA DE DEMANDA DAS REPRESENTAÇÕES

Representação Demanda

Império Alemão

Comunidade da Austrália

República da China

Checoslováquia

República Espanhola

Estados Unidos da América

República Francesa

República da Turquia

Reino da Itália

Império do Japão

Estados Unidos Mexicanos

Império Persa

República da Polônia

Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

Reino da Suécia