Guia de Farmacologia e Vias de ADM

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INSTITUTO DE FARMACOLOGIA E TERAPUTICA EXPERIMENTAL FACULDADE DE MEDICINA DE COIMBRA

GUIA DE FARMACOLOGIA: mdulo I

Formas farmacuticas, Vias e Tcnicas de administrao de medicamentos

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NDICE

Pgina Introduo .......................................................................................... .............................................................................. ........................................... 2 3 8 34 70

Alguns conceitos

Vias de administrao de medicamentos

Formas farmacuticas ........................................................................ Tcnicas de administrao de medicamentos .....................................

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INTRODUONestes textos de apoio iremos abordar as principais formas

farmacuticas, as diversas vias de administrao e as tcnicas de administrao de medicamentos. Teremos oportunidade de abordar as portas de entrada dos

medicamentos no organismo (Vias de administrao) desde as mais comuns, de uso dirio, como a via oral, at quelas que so restritas a um nmero reduzido de especialidades, com treino no seu uso, como por exemplo, as vias intra-articular ou intracoronria. Em estreita relao com a via de entrada esto as formas como o medicamento se apresenta para iniciar o seu ciclo no organismo (formas farmacuticas, formas galnicas ou preparados

farmacuticos). E, como do conhecimento comum, algumas dessas vias necessitam o concurso de instrumentos e de recursos humanos para serem viabilizadas. o caso da via intramuscular, por exemplo (tcnicas de administrao). So numerosos os factores a considerar para que um dado medicamento origine a resposta teraputica pretendida, sendo a adequada formulao e a escolha da via de administrao os factores dominantes. Procurar-se- que o Aluno se familiarize sobretudo com as formas farmacuticas, as vias e as tcnicas de administrao a que ir recorrer na sua prtica clnica diria, deixando-lhe antever as possibilidades das tcnicas menos comuns que constituiro para muitos um objectivo a atingir num futuro mais ou menos longnquo.

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ALGUNS CONCEITOSFrmaco: todo o agente qumico capaz de modificar funes dos seres vivos. Veneno: frmaco que exerce aces altamente nocivas, eventualmente mortais, no organismo humano. Medicamento: frmaco que exerce efeitos benficos no tratamento de doenas. Pode destinar-se a uso profilctico ou curativo. Biodisponibilidade: velocidade e extenso com que uma substncia activa absorvida de um medicamento e se torna disponvel no local de aco. Bioequivalncia: dois medicamentos so bioequivalentes se so equivalentes farmacuticos ou alternativas farmacuticas e se as suas biodisponibilidades, aps administrao na mesma dose molar, so to semelhantes que os seus efeitos, tanto no que diz respeito sua eficcia como sua segurana, sero essencialmente os mesmos. Alternativas farmacuticas: dois medicamentos so alternativas farmacuticas se contm a mesma parte activa da substncia, mas diferem na sua forma qumica (sal, ster, etc) ou na forma farmacutica e/ou dosagem. No so necessariamente bioequivalentes. Medicamento essencialmente similar: um medicamento

essencialmente similar a um produto original (inovador) quando satisfaz os seguintes critrios: Apresenta a mesma composio qualitativa e quantitativa que o medicamento original, em termos de substncias activas; Apresenta-se na mesma farmacutica; bioequivalente. A comercializao de um essencialmente similar pode ser autorizada sem que para tal seja necessrio repetir a avaliao de eficcia e segurana. S necessrio demonstrar aquilo que lhe intrnseco, ou seja, a qualidade. 4

Um medicamento essencialmente similar s poder ser autorizado sem permisso do titular do medicamento original se tiver terminado a proteco conferida pela patente e aquela que decorre do perodo de proteco de dados (8 anos aps a concesso de autorizao de introduo do medicamento no mercado). Medicamento genrico: medicamento essencialmente similar de um medicamento j aprovado (medicamento de referncia), que cumpre

determinados requisitos: O nome do medicamento tem obrigatoriamente de referir a substncia activa, pela sua Designao Comum Internacional DCI, seguida da dosagem e forma farmacutica; obrigatria a aposio das letras MG, num formato padronizado, a fim de permitir a identificao inequvoca como medicamento genrico; Impossibilidade de invocar a seu favor indicaes teraputicas diferentes relativamente ao medicamento de referncia j autorizado; Terem caducado os direitos de propriedade industrial relativos s respectivas substncias activas ou processo de fabrico.

Fig. 1 Medicamento de referncia

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Medicamento essencialmente similar de marca: medicamentos com nome de fantasia (marcas) que semelhana dos genricos so aprovados com base num processo abreviado essencialmente similar (dispensando a avaliao de eficcia e segurana), mas que por razes vrias no cumprem os requisitos definidos para os genricos (por exemplo, devido a opes comerciais do titular da autorizao).

Um genrico tem de ser essencialmente similar, mas um essencialmente similar no tem de ser genrico.

Via de administrao: a porta de entrada do frmaco no organismo.

Forma

farmacutica,

preparado

farmacutico

ou

forma

medicamentosa: corresponde ao modo como o medicamento se apresenta ao doente para ser administrado.

Preparaes extemporneas: so preparadas no momento em que se pretendem utilizar e destinam-se a uso imediato.

Os produtos que se alteram em soluo (ex. hormonas, penicilinas) podem submeter-se a um processo de liofilizao que consiste na evaporao da soluo aquosa a baixa temperatura e grande vazio. Estes produtos liofilizados, secos, conservam-se perfeitamente e dissolvem-se tipicamente em gua destilada ou em gua potvel fervida e arrefecida para uso imediato. Em alguns casos a embalagem contm indicao acerca do volume exacto do solvente a adicionar; noutros, porm, sabe-se apenas que o volume final da preparao no dever ultrapassar uma determinada referncia (risco ou seta no rtulo ou ainda vinco no frasco). Nestes casos, a adio do solvente deve fazer-se fraccionadamente, de modo a conseguir uma concentrao correcta.

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Aps a sua reconstituio, a forma farmacutica tem um tempo de utilizao limitado (quase sempre indicado pela firma produtora) aps o qual perde a sua validade, no podendo ser utilizada sem risco para o doente.

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VIAS DE ADMINISTRAO DE MEDICAMENTOSSo muitas as vias de administrao dos medicamentos e por isso na sua preparao deve ser considerada a via a que se destinam e a finalidade que deles se pretende.

INDIRECTAS OU MEDIATAS 1. Percutneas Cutnea Transdrmica

2. Mucosas DigestivaSublingual Oral Gengival Bucal Dentria Gastroentrica Rectal

RespiratriaNasal Endotraqueobrnquica Inalatria Endossinusal

OutrasAuricular Oftlmica Intravesical Uretral Vaginal Endocervical Intra-uterina

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DIRECTAS OU IMEDIATAS

Mais usadasIntradrmica Subcutnea Intramuscular Intravenosa

OutrasIntra-arterial Intracoronria Intracardaca Intra-ssea ou intra-medular Intralinftica Intratecal Epidural Intraperitoneal Intrapleural Intra-articular Periarticular Intrassinovial Intradisca Perineural Intralesional Extra-amnitica Endocervical Intracavernosa Intra-ocular Subconjuntival

Para que um frmaco actue necessrio que atinja o local de aco, e, para isso, ter de ser, na maior parte dos casos, introduzido no organismo. A escolha da via de administrao funo do doente (em particular no que respeita idade, estado de conscincia, situao patolgica existente), da necessidade de um incio de aco mais ou menos rpido (ex. a utilizao da via intravenosa numa situao de emergncia) e ainda das caractersticas fsico-qumicas do frmaco usado. A escolha da via de administrao ainda dependente do tipo de aco que se pretende obter: - para uma aco tpica ou local o frmaco aplicado no prprio local de aco (pele ou mucosa) atingindo assim concentraes suficientes para se obterem efeitos teraputicos - se o efeito pretendido uma aco sistmica ou geral, o frmaco dever ser introduzido directamente na corrente sangunea (via intravenosa) ou nos tecidos com a ajuda de uma agulha e seringa (ex. via intramuscular, via subcutnea), ou posto em contacto com uma mucosa (ex. via oral) ou com a pele (via

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transdrmica), para ser absorvido, distribudo nos vrios compartimentos orgnicos e assim atingir o seu local de aco. Numa aco regional, o frmaco aplicado de modo a exercer os seus efeitos numa determinada regio do organismo. As vias ento utilizadas no so de uso corrente (p.ex. via intra-articular) e s tm interesse em determinadas patologias.

Absoro e vias de administrao sistmicas

Relativamente ao uso sistmico de medicamentos, as superfcies de absoro mais relevantes so o tubo digestivo, os alvolos pulmonares e as paredes capilares, j que so estas as estruturas envolvidas nas vias de administrao sistmica mais frequentemente utilizadas; a pele tem tambm grande importncia uma vez que a administrao sistmica de frmacos atravs da pele (via transdrmica) tem vindo cada vez mais a ser usada e a ser alvo de ateno, quer relativamente diversidade de frmacos que podem ser administrados por esta via quer relativamente evoluo das formas farmacuticas a ela destinadas (sistemas teraputicos transdrmicos). As caractersticas da absoro so afectadas por factores gerais, que so abordados a seguir, e por factores associados via de administrao utilizada, que sero referidos na descrio de cada via em particular.

Factores gerais que influenciam a absoro a. rea de absoro A absoro ser mais intensa quanto maior for a rea de contacto do frmaco com a barreira absorvente. Assim so reas privilegiadas para a absoro o intestino delgado, com uma superfcie extraordinariamente aumentada pelas vilosidades intestinais, e as membranas alveolares

pulmonares, com uma rea extensssima;

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b. Tempo de contacto com a superfcie absorvente A absoro ser tambm mais extensa quanto mais tempo durar o contacto do frmaco com a superfcie absorvente. Por exemplo no tubo digestivo, a presena de alteraes do trnsito intestinal (acelerado, com diarreia, ou retardado, com obstipao) pode alterar a absoro, sendo esta maior se o trnsito for lento e menor se for rpido;

c. Intimidade do contacto A absoro ser melhor quanto mais ntimo for o contacto do frmaco com a superfcie absorvente. No caso da absoro pelo tubo digestivo, a escolha da forma farmacutica a administrar por via oral influencia a absoro. Assim, as formas farmacuticas lquidas (como as solues ou os xaropes) condicionam melhor absoro do que as suas equivalentes slidas (por ex. comprimidos). A presena de alimentos pode prejudicar a absoro por impedir o contacto do frmaco com a mucosa (de notar que nem sempre a presena de alimentos influencia negativamente a absoro havendo situaes em que a pode favorecer). Do mesmo modo, a presena de fezes na ampola rectal prejudica a absoro de frmaco administrados por via rectal;

d. Intensidade da irrigao sangunea da superfcie absorvente A absoro ser tanto maior quanto mais irrigada for a superfcie absorvente. Por exemplo, nas vias subcutnea e intramuscular, o uso de manobras como a massagem ou a aplicao de calor locais ou de vasodilatadores vai favorecer a aboro; de modo inverso, o uso de vasoconstritores ou a aplicao de frio vo retardar a absoro

e. Espessura da superfcie absorvente A absoro ser mais rpida e completa atravs de uma mucosa fina do que atravs de uma mucosa mais espessa. Isto tem particular relevo na via sublingual em que possvel a absoro muito rpida de determinados frmacos, em determinadas formas farmacuticas, atravs da fina e bem 11

irrigada mucosa sublingual.

Curvas de concentrao sangunea e vias de administrao sistmicas

As curvas de concentrao sangunea para determinada dose de um frmaco dependem das suas caractersticas farmacocinticas, sendo, no entanto, influenciadas, de modo genrico, pelas vias de administrao. Assim, um frmaco administrado por via intravenosa atinge a concentrao mxima quase imediatamente (cerca de um minuto aps a concluso da injeco); a concentrao decresce a um ritmo dependente da sua metabolizao e excreo. Se a mesma dose do mesmo frmaco for administrado por via intramuscular, a concentrao mxima ser atingida mais tarde e ser mais baixa. Por via oral, essa tendncia ser mais acentuada. Estes conceitos so gerais, havendo, no entanto, excepes,

nomeadamente frmacos que atingem concentraes mximas mais cedo quando administrados por via oral do que por via intramuscular (ex: a fenilbutazona, que se liga s protenas do msculo esqueltico, dificultando a absoro por via intramuscular, ou o diazepam, cuja absoro por esta via errtica e lenta).

Consideremos agora em detalhe cada uma das vias de administrao.

VIAS INDIRECTAS OU MEDIATASa.VIA CUTNEA

Consiste na aplicao de um medicamento sobre a pele, feridas cutneas, unhas ou zonas pilosas de modo a obter um efeito local. A epiderme, constituda pela camada crnea e pelos estratos lcido, granuloso, espinhoso e germinativo, tem funes de proteco no organismo. A

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camada crnea impede a passagem de materiais nos dois sentidos e quando ocorre absoro atravs da pele sempre lenta. A derme, pelo contrrio, bem fornecida com linfa e capilares sanguneos, havendo substncias que a atravessam com relativa facilidade, apesar de aplicadas com fins tpicos, podendo ento levar ao aparecimento de efeitos adversos gerais. Alguns metais pesados (como o mercrio e ainda os insecticidas de tipo organofosforado) podem acidentalmente ser absorvidos atravs da pele e ser causa de intoxicao ou mesmo morte. Outras substncias clnicas, como o dimetilsulfxido (DMSO) e certos processos mecnicos, como as frices, aumentam a permeabilidade cutnea e facilitam a penetrao de substncias atravs das glndulas e folculos pilosos. Vantagens da aplicao tpica cutnea: 1. Aco directa e circunscrita ao local de aco; 2. Altas concentraes do frmaco no local de aco; 3. Grande simplicidade tcnica e comodidade de administrao

Desvantagens: 1. Aco geralmente escassa sobre as camadas profundas da pele; 2. Possibilidade de efeitos txicos por absoro.

b.VIA TRANSDRMICA

Consiste na aplicao de um medicamento sobre a pele de modo a obter um efeito sistmico, aps passagem da barreira da pele. Aplicam-se por esta via substncias com elevado coeficiente de partilha leo/gua e que, portanto atravessam a barreira cutnea facilmente, como por ex., hormonas, nitritos, nicotina, etc. Utilizam-se ento sistemas especiais - os sistemas teraputicos transdrmicos - que condicionam uma libertao regular do frmaco ao longo do tempo. Estes sistemas so aderentes pele e cobertos por uma pelcula impermevel (plstica ou metlica) que produz o chamado efeito oclusivo. Este

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advm do impedimento da evaporao da transpirao cutnea normal com consequente hidratao da camada crnea, o que s por si aumenta de forma considervel a absoro cutnea. Esta via de administrao tem as seguintes vantagens: fornece ao organismo uma dose contnua e controlada de frmaco durante longos perodos de tempo (evitando

sobredosagens ou concentraes inferiores dose teraputica); evita os problemas associados com a administrao parentrica ou oral; possui grande comodidade de administrao; permite menor nmero de tomas o que condiciona uma elevada adeso teraputica Esta via utilizada, por exemplo, para a administrao de nitroglicerina por um perodo superior a 24 h, no tratamento e profilaxia da angina de peito ou para administrao de estrognios. c. VIA ORAL Consiste na administrao do frmaco pela boca e implica a sua deglutio. a via mais utilizada. Trata-se de uma administrao cmoda, barata, personalizada, requerendo voluntariedade e capacidade de deglutio. Com esta via podemos obter efeitos locais, caso da administrao de anticidos ou de sais de bismuto, que vo somente actuar a nvel gstrico, sem absoro; ou da administrao de antibiticos no absorvidos, como a neomicina e a polimixina B, no tratamento de diarreias especficas. No entanto, o objectivo mais frequentemente desejado uma aco sistmica, sendo a mucosa digestiva, pelas suas caractersticas, a mucosa de eleio para a absoro. So as caractersticas de cada frmaco que determinam o local onde a sua absoro mais intensa ou exclusiva; as substncias lipossolveis, cuja absoro se processa essencialmente por difuso passiva, s so absorvidas

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na forma no ionizada, o que vai depender do pH do meio e do pKa do frmaco. No estmago, com pH fortemente cido, so bem absorvidos os cidos fracos, que estaro muito pouco ionizados; as bases fracas, pelo contrrio, estaro quase totalmente ionizadas, sendo a absoro no estmago praticamente nula. No intestino delgado, onde o pH alcalino, passa-se o inverso, sendo preferencialmente absorvidas as bases fracas. Os factores que favorecem uma absoro rpida so: um grau de ionizao muito baixo e um elevado coeficiente de partilha lpidos/gua e, para as substncias hidrossolveis, um baixo peso molecular. A glicose e os aminocidos so absorvidos atravs de sistemas especficos de transporte ("carriers" ou transportadores) existentes no entercito. A absoro gstrica favorecida pelo estmago vazio: a presena de alimentos impede o contacto do frmaco com a mucosa e atrasa o esvaziamento gstrico, retardando assim a sua absoro a nvel intestinal. No entanto, se os frmacos tm uma aco irritante local, ou seja uma absoro e aco geral lenta e prolongada, o medicamento ser administrado durante ou depois das refeies. A absoro de um frmaco ingerido com o estmago vazio pode ser bastante irregular, uma vez que um frmaco irritante pode, nestas condies, fechar o piloro. Estes dados bastam para demonstrar que a velocidade de absoro dos frmacos tomados pela boca bastante irregular, excepto se forem observadas as regras que regulam a actividade gstrica, pois ento ser fcil assegurar uma absoro rpida ou lenta. No intestino, a intensa vascularizao, a extensa superfcie das vilosidades e a presena de blis facilitam a absoro. A mucosa intestinal a mucosa de eleio para a absoro da maior parte dos medicamentos administrados "per os" como o , alis, para os alimentos. No possibilita, no entanto, uma aco rpida dos medicamentos, dado que longo o trajecto que estes vo seguir aps a absoro. Excluindo aqueles que, pelas suas caractersticas seguiram os vasos linfticos, os restantes vo ser transportados at ao fgado pelo sistema porta; ora, sendo o fgado o rgo de metabolizao por excelncia, uma fraco de medicamento administrado vai ser

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metabolizada, por vezes at inactivao logo na primeira passagem. S a parte restante vai pelas veias supra-hepticas at veia cava inferior e circulao geral at ao local de aco - chama-se a este fenmeno efeito de 1 passagem. Vantagens da via oral: possibilidade de administrao pelo prprio doente; absoro mais ou menos segura; comodidade.

Desvantagens: a via oral intil quando o frmaco se ioniza quase por completo e no pode ser absorvido; no serve para substncias de natureza proteica (ex. insulina e adrenalina) porque so destrudas pelas enzimas gastro-intestinais; possui o efeito de 1 passagem;

- no pode utilizar-se quando os frmacos produzem irritao gstrica ou intestinal; no pode ser usada se existem: vmitos, sndroma de malabsoro, inconscincia do doente ou ainda dificuldades na deglutio por doena neurolgica no serve para casos de urgncia, uma vez que h um tempo de latncia entre a administrao e o aparecimento dos efeitos teraputicos.

d. VIA SUBLINGUAL Consiste na administrao de um medicamento debaixo da lngua, na mucosa sublingual, com o objectivo de obter uma aco sistmica muito rpida. Um exemplo a nitroglicerina, um vasodilatador coronrio, usado por esta via para tratar rapidamente a crise aguda de angina de peito.

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Vantagens: - grande comodidade de administrao; - grande rapidez de aco j que a absoro tem lugar imediatamente na boca (o pavimento desta e a face inferior da lngua so bastante finas e vascularizadas permitindo uma rpida e completa absoro). - drenagem venosa faz-se para a veia cava superior, pelo que no h efeito de 1 passagem

Desvantagens: -s se podem administrar alguns medicamentos, em formas farmacuticas convenientes, geralmente molculas pequenas ou com coeficiente de partilha leo/gua elevado - grande parte dos frmacos com essas caractersticas no se podem administrar por essa via devido ao sabor desagradvel ou caractersticas irritantes; -exige colaborao por parte do doente.

e. VIA GENGIVAL Consiste na aplicao de um medicamento nas gengivas, com o fim de obter uma aco local.

f. VIA BUCAL Consiste na administrao de um medicamento na cavidade oral, geralmente com o objectivo de obter uma aco local. Este termo s deve ser utilizado quando no for possvel aplicar uma designao mais especfica (como via sublingual ou via gengival) e no inclui a via oral.

g. VIA DENTRIA Consiste na aplicao de um medicamento para os dentes e nos dentes.

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h. VIA GASTROENTRICA Consiste na administrao de um frmaco directamente no estmago ou no duodeno, com um dispositivo apropriado.

i. VIA RECTAL Os frmacos so administrados no recto, atravs do nus, com o fim de actuar localmente sobre a mucosa ou para produzir efeitos sistmicos depois da sua absoro. Caractersticas desta via: - absoro mais rpida que por via oral, mas mais irregular, menos fivel e s vezes nula; - parte do medicamento escapa aco metabolizadora do fgado e entra mais rapidamente na circulao geral, drenado pelas veias hemorroidrias inferiores e mdias (com ligao directa veia cava inferior); - facilidade de administrao (principalmente nas crianas); - evita as propriedades irritantes gstricas de alguns frmacos; - evita o sabor e o cheiro de certos medicamentos; - possibilita a administrao de frmacos a doentes com vmitos ou inconscientes; - evita as transformaes qumicas devidas aco dos sucos digestivos.

Principais desvantagens: - absoro irregular; - incmodo para algumas pessoas; - possibilidade de irritao da mucosa (rectite); - no utilizvel nos casos de diarreia e quando existem leses do nus.

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j. VIA INALATRIA Consiste na administrao de medicamentos no sistema respiratrio por inalao, de modo a obter um efeito sistmico ou local no tracto respiratrio inferior. No inclui a via nasal nem a via endotraqueobrnquica. Esta via tem por finalidade introduzir partculas de gases (oxignio, anestsicos) lquidos volteis (altamente lipossolveis) ou solutos micronizados no organismo, atravs do epitlio alveolar, e ainda depositar partculas de frmacos na parede brnquica, para que actuem localmente na mucosa e na musculatura brnquica. Os pulmes constituem, de facto, a rea de absoro mais eficaz do organismo pela difuso fcil atravs da parede alveolar e do epitlio capilar (0,5 a 1 mcrone de espessura) e ainda pela grande superfcie alveolar de cerca de 200 m2. Por outro lado, todo o sangue que vem do corao direito passa atravs dos pulmes e, uma vez que o mesmo volume de sangue ejectado por ambas as metades do corao, os pulmes recebem em 1 minuto uma quantidade de sangue igual que passa atravs do restante organismo no mesmo intervalo de tempo. O funcionamento desta via depende das caractersticas ventilatrias do indivduo, das caractersticas das vias respiratrias e das dimenses das partculas: quanto mais pequena a partcula mais profundamente penetra no sistema pulmonar. Partculas superiores a 30 ug ficam depositadas na mucosa nasal e as maiores que 3 ug raramente alcanam o saco alveolar. Existem hoje dispositivos diversos para a aplicao de frmacos por esta via.

k. VIA ENDOTRAQUEOBRNQUICA Consiste na administrao de um frmaco na traqueia e/ou brnquios, por instilao. No inclui as preparaes para inalao (via inalatria). utilizada, por exemplo, na broncografia.

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l. VIA NASAL Consiste na administrao de um medicamento na mucosa nasal com o fim de obter efeitos locais ou sistmicos. O efeito tpico obtido, por exemplo, com vasoconstritores nasais com aco descongestionante da mucosa nasal. O efeito sistmico processa-se pela grande capacidade de absoro da mucosa nasal. Trata-se de uma via de fcil utilizao. O uso desta via exige, contudo a colaborao do doente que dever fazer uma inspirao aquando da aplicao do medicamento. So exemplos de frmacos que podem ser administrados por via nasal a ocitocina, para facilitar a sada do leite aquando da lactao e a desmopressina, um derivado sinttico que substitui a hormona antidiurtica em caso de diabetes inspida de origem central.

m. VIA ENDOSSINUSAL Consiste na administrao de um medicamento nos seios perinasais de modo a obter um efeito local.

n. VIA AURICULAR Destina-se aplicao no canal auditivo externo de medicamentos com efeito local (ex. analgsicos, antisspticos).

o. VIA OFTLMICA Consiste na administrao de um medicamento sobre o globo ocular e/ou a conjuntiva. De notar que esta via , na maior parte dos casos, utilizada apenas para uma aco local, por exemplo, nos casos das conjuntivites purulentas. No entanto, a mucosa conjuntival pode absorver frmacos os quais podem provocar intoxicaes sistmicas. As formas farmacuticas a 20

serem aplicadas por esta via tm que ser estreis, lmpidas, no irritativas, neutras e isotnicas com as lgrimas.

p. VIA INTRAVESICAL Consiste na administrao de um frmaco na bexiga, quer com fins diagnsticos (cistouretrografia miccional) quer com fins teraputicos

(antisspticos urinrios, citostticos, etc).

q. VIA URETRAL Consiste na administrao de um frmaco na uretra.

r. VIA VAGINAL Consiste na aplicao de um medicamento na vagina.

s. VIA INTRACERVICAL Consiste na administrao de um medicamento no colo uterino.

t. VIA INTRA-UTERINA Consiste na administrao de um medicamento na cavidade uterina.

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VIAS DIRECTAS OU IMEDIATAS(VIAS PARENTRICAS do grego: para = ao lado + enteron = intestino) Neste tipo de administrao, o frmaco injectado directamente na corrente sangunea, no interior de um tecido, de um espao seroso ou outro, por meio de uma agulha oca que penetra atravs da pele ou das mucosas. A administrao parenteral efectua-se com o fim de obter efeitos mais rpidos. Vantagens sobre a via oral: - no tem absoro no caso da via IV; - a travessia de barreiras celulares em geral mais rpida e mais completa (excepo, por exemplo, o Diazepam via IM); - evita-se a destruio possvel do frmaco no tubo digestivo e o efeito de primeira passagem; - pode usar-se quando a via oral impossvel (vmitos, m absoro, inconscincia, falta de cooperao do doente). Desvantagens: - ser dolorosa; - necessitar geralmente de pessoal especializado; - requerer assepsia rigorosa para evitar a formao de abcessos e a transmisso de doenas infecto-contagiosas; - possuir um risco elevado de sobredosagem, por ser muito difcil retirar o frmaco administrado.

VIA INTRADRMICA Os frmacos so introduzidos em pequenos volumes (0,1-0,2 ml) por injeco com agulha curta e fina na espessura da derme ou nas camadas profundas da epiderme. Absorvem-se com velocidade menor que por via subcutnea. Esta via de administrao utiliza-se apenas para fins profilticos

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ou de diagnstico (testes de alergia cutnea, intradermorreaco tuberculina, etc). a pele do antebrao a zona geralmente escolhida para a administrao intradrmica.

VIA SUBCUTNEA O frmaco em soluo ou suspenso injectado directamente sob a pele, no tecido subcutneo, e difunde-se atravs do tecido conectivo, ficando na vizinhana imediata dos capilares sanguneos e linfticos. A barreira de absoro constituda pela parede dos capilares. A velocidade de absoro est dependente das dimenses moleculares, da natureza da substncia activa e da sua lipossolubilidade. As solues e as suspenses a injectar devem ser neutras e isotnicas para no causar irritao, dor ou necrose. O volume injectado habitualmente, 0,5 a 2 ml, no origina desconforto, mas pode alcanar os 20 ml. As doses dos frmacos aplicados por esta via so, habitualmente, metade das utilizadas por via oral. Aumentam a velocidade de absoro: - a irrigao sangunea da zona injectada; - a massagem (aumenta a velocidade de absoro) por aumentar a difuso do frmaco; - o exerccio fsico; - a aplicao de calor no local da injeco; - a injeco de hialuronidase (trata-se de uma enzima que despolimeriza os mucopolissacridos do tecido conjuntivo, aumentando a superfcie de absoro. Permite uma mais ampla difuso do lquido injectado). Retardam a absoro: - a aplicao local de frio;

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- a juno ao lquido injectado de frmacos que diminuem o calibre dos vasos sanguneos (vasoconstritores como a adrenalina) - alm de atrasarem a absoro permitem obter um efeito local persistente; - a aplicao de um garrote entre o local de injeco e o corao. Esta tambm a tcnica de recurso, no caso de mordedura de serpente, para reduzir a velocidade qual o veneno alcana a circulao geral; - o uso de formas relativamente insolveis na gua; - o uso de comprimidos de implantao ("pellets") - dada a sua preparao especfica, permitem uma absoro retardada e mais ou menos regular ao longo de um perodo de tempo, de maneira a reduzir o nmero de injeces (usado para administrao de hormonas); - o uso de solues oleosas (estas podem enquistar e provocar o aparecimento de um abcesso, o que constitui uma complicao).

VIA INTRAMUSCULAR Consiste na injeco de um medicamento no tecido muscular. A via intramuscular usa-se quando a via oral no utilizvel por razes farmacolgicas (hidrlise digestiva ou m absoro dos produtos) ou clnicas (alteraes da conscincia, perturbaes da deglutio, vmitos, necessidade de uma aco mais rpida). O msculo estriado dotado de elevada vascularizao, sendo, em contrapartida, pouco inervado por fibras sensitivas. Estas duas caractersticas conferem-lhe facilidade de absoro medicamentosa e possibilidade de administrao mais ou menos indolor. De um modo geral, a velocidade de absoro muito mais rpida por esta via que pela via subcutnea durante a actividade, pois o msculo estriado muito mais irrigado; em repouso, a velocidade de absoro sensivelmente igual da via subcutnea; a barreira de absoro a partir da via intramuscular tambm a parede dos capilares.

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A via intramuscular permite a administrao de substncias mais irritantes do que a via subcutnea. No entanto, no permite, como aquela, a autoadministrao ou a administrao de volumes apreciveis de lquido. A absoro ocorre nos primeiros 10 - 30 minutos e so tolerados tambm volumes razoveis com pequena dor e irritao (pela menor riqueza em fibras sensitivas). Aconselha-se recorrer a agulhas compridas, que dem a possibilidade de atravessar todo o tecido celular subcutneo. As preparaes para administrao IM podem apresentar-se sob a forma de: Solues aquosas com tonicidade semelhante do soro sanguneo e pH entre 4,5 e 8,5. Quando o pH demasiado baixo ou elevado, podem surgir reaces que vo da simples dor (com inflamao e congesto subsequentes) at destruio por necrose dos elementos celulares. A dor concomitante ou subsequente injeco no depende exclusivamente das caractersticas fsicoqumicas da frmula, pode estar relacionada com a aco do prprio frmaco. Por exemplo, a injeco IM de penicilina dolorosa, embora o pH e a tonicidade da soluo sejam muito prximos dos valores ideais. Solues oleosas em que a viscosidade uma caracterstica a ter em conta. A tolerncia local e a velocidade de absoro do frmaco so favorecidas pela fluidez da preparao. Suspenses a absoro do frmaco processa-se lentamente,

conseguindo-se injectveis de aco prolongada. Neste caso, a via intramuscular pode ser usada para a administrao de preparados "depsito" caracterizados por uma lenta absoro (que requer muitas horas ou at dias). Quanto menor o coeficiente de solubilidade do frmaco, menor a velocidade de absoro. Estas preparaes oferecem vantagens ao doente e ao mdico, uma vez que eliminam a necessidade e o desconforto das injeces repetidas. Como exemplo destes preparados depsito referimos as suspenses microcristalinas de penicilinas lentas. A penicilina procanica solvel na proporo de 800 U/ml de gua, enquanto que a penicilina benzatnica se

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dissolve na proporo de 200 U/ml. Os diferentes coeficientes de solubilidade so responsveis pela diferena de comportamento destes dois injectveis (ambos sob a forma de suspenses IM). A penicilina procanica apenas mensurvel no sangue at cerca de 24 horas aps a injeco, enquanto que a penicilina benzatnica ainda evidencivel mesmo decorridos 10 a 15 dias. LOCAIS DE INJECORegio deltoideia Face antero-lateral da coxa Quadrante superior e externo da ndega - at 2 ml - at 10 ml - at 10 ml

CONTRA-INDICAES DA VIA INTRAMUSCULAR:

a) Contra-indicaes absolutas: - Perturbaes da coagulao sangunea: . Sndromas hemorrgicos . Nveis sanguneos de protrombina < 50% . Plaquetas < 100.000 - Doentes tratados com anticoagulantes - Infeco local

b) Contra-indicaes relativas: Caquexia, ausncia ou perda das massas musculares.

COMPLICAES: Podem distinguir-se: a) Complicaes locais: - Abcesso colectado, estril ou no;

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- Endurecimento e eritema; - Dor persistente; - Hematoma; - Hemorragia; - Fibrose muscular; - Elevao at 2 a 3 vezes os valores normais dos nveis de creatininafosfoquinase (CK). As leses do nervo citico s sero possveis se no se injectar no quadrante supero-lateral da coxa. Outros acidentes possveis: pigmentao cutnea e gangrena. b) Complicaes gerais Esto excepcionalmente ligadas injeco intramuscular, excepto as doenas de inoculao e o perigo de injectar o medicamento sob a forma de suspenso ou soluo oleosa dentro de um vaso com risco de embolia pulmonar. Mais frequentemente, as complicaes gerais so decorrentes do produto injectado e podem traduzir-se por perda dos sentidos, hipotenso (se a absoro for muito rpida) ou erupo urticariforme com prurido quando desencadeia uma reaco alrgica.

ESTUDO DA BIODISPONIBILIDADE DOS PRODUTOS Duas condies so favorveis a uma boa difuso sangunea do produto injectado: a lipossolubilidade e a hidrossolubilidade a pH fisiolgico. O componente hidrossolvel permite uma difuso atravs dos poros do endotlio vascular, enquanto o componente lipossolvel possibilita uma difuso directa transmembranar atravs do endotlio vascular. A

lipossolubilidade e a hidrossolubilidade da substncia injectada devem estar associadas em graus diversos para se conseguir uma difuso satisfatria. So numerosos os factores que modificam a absoro intramuscular: - a concentrao da soluo injectada; 27

- a osmolaridade da soluo injectada; - a superfcie de contacto entre o msculo esqueltico e o produto injectado e a vascularizao muscular (absoro diminuda em caso de choque ou de insuficincia cardaca); - a existncia de obesidade (diluio das substncias nos adipcitos). Por outro lado, a biodisponibilidade do produto injectado por via intramuscular pode ser incompleta, em particular pela possvel precipitao do produto no local de injeco ( as solues de frmacos insolveis no pH do msculo comportam-se como suspenses). Alguns medicamentos que pelas suas caractersticas levam a uma biodisponibilidade incompleta por via intramuscular so ampicilinas, quinidina, dicloxacilina, diazepam,

fenilbutazona e clordiazepxido.

VIA INTRAVENOSA Introduz o frmaco directamente numa veia. Uma vez que o medicamento introduzido directamente na corrente sangunea, no se pode falar em velocidade de absoro. Por este motivo, esta via a mais rpida. O volume a injectar por esta via varia entre limites muito latos, sendo correntes volumes de 1 a 1000 ml ou mesmo superiores. Por esta via apenas se administram: - Solues aquosas (maioria dos casos); - Suspenses aquosas e - Emulses leo em gua. Relativamente s suspenses aquosas e s emulses leo em gua (ambas menos utilizadas que as solues aquosas), fundamental que as partculas suspensas ou emulsionadas apresentem dimetros inferiores a 7 mcrones (em regra 1 a 2 mcrones), valor mdio do dimetro dos eritrcitos, caso contrrio poderiam surgir fenmenos de trombose e/ou embolia. Existem trs formas clssicas de administrao de medicamentos por via i.v:

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--Directa caracteriza-se pela administrao directa dos medicamentos na veia, ou atravs de um ponto de injeco no catter. Dependendo da durao da administrao, designa-se por: Blus se dura menos de 1 minuto. Intravenosa lenta se dura entre 3 a 10 minutos. --Perfuso intermitente caracteriza-se pela administrao de

preparaes medicamentosas injectveis j diludas atravs de sistemas de perfuso; usa-se para volumes compreendidos entre 50 e 100 ml, perfundidos velocidade de 120 a 210 ml/h. --Perfuso contnua caracteriza-se pela administrao de

medicamentos atravs de sistemas de perfuso regulados por bombas perfusoras; usa-se para grandes volumes (superiores a 500 ml), perfundidos velocidade de 100 a 125 ml/h. Vantagens da via intravenosa: - Obter efeitos rpidos, quase imediatos na urgncia, quando vital um incio de aco rpido; - Controlar rigorosamente as doses; - Administrar substncias irritantes para os tecidos sem causar dor e agresso tecidular (ex: mostardas nitrogenadas no tratamento do cancro); - Administrar frmacos que seriam destrudos por reaces qumicas ou enzimticas antes de alcanar a corrente sangunea; - Administrar grandes volumes de lquidos por infuso contnua (perfuso endovenosa). Perigos da via intravenosa: - Uma vez o frmaco administrado no pode ser mais retirado; - Choque osmtico - se a injeco muito rpida podem surgir efeitos lesivos que no esto relacionados com os efeitos dos frmacos injectados, uma vez que ocorrem tambm com substncias inertes sob o ponto de vista farmacolgico. Estes efeitos envolvem habitualmente os sistemas circulatrio e respiratrio e traduzem-se por respirao superficial e irregular, queda da

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presso arterial e paragem cardaca. Esto provavelmente associados chegada ao corao do produto injectado em concentrao relativamente elevada, uma vez que a injeco, sendo rpida, no permite obter a diluio na corrente sangunea em tempo til; - Possibilidade de embolia se o frmaco injectado precipita no sangue, est em soluo oleosa ou se injecta simplesmente ar; - Leses locais da parede da veia com a formao de cogulos dentro do vaso; - Possibilidade de extravasamento de um lquido irritante no tecido perivascular com necrose; - Possibilidade de aparecimento de infeces se houver contaminao do frmaco, da seringa ou da agulha; - o processo menos seguro da administrao de frmacos (a injeco dada lentamente reduz consideravelmente o perigo). Num indivduo normal a circulao completa do sangue demora cerca de 1 minuto e so necessrios cerca de 10 a 15 segundos para que o material injectado no brao atinja o corao. Assim, se as injeces intravenosas demorarem mais que 1 minuto possvel interromper a administrao em doentes nos quais as reaces adversas (tais com o a perda de conscincia), ocorram dentro de 15 a 30 segundos. Enunciamos de seguida, sumariamente, as restantes vias parentricas existentes, designando-as pelo termo mais especfico.

VIA INTRA-ARTERIAL Injeco de um frmaco numa artria. usada muito raramente. Utilizase para a injeco de substncias opacas aos raios X para visualizar o trajecto da artria (arteriografia) ou para a teraputica regional (fibrinolticos ou citostticos).

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VIA INTRACORONRIA Injeco de um frmaco nas artrias coronrias. Para efeitos teraputicos ou diagnsticos.

VIA INTRACARDACA Consiste na injeco do frmaco directamente numa cavidade cardaca ou no miocrdio (por vezes utilizada em situaes desesperadas como a paragem cardio-respiratria, na tentativa de fazer recomear as contraces cardacas).

VIA INTRA-SSEA OU INTRA-MEDULAR Trata-se da injeco de um medicamento na medula ssea do esterno ou da crista ilaca. Em situaes desesperadas constitui alternativa via intravenosa, sobretudo nas crianas, quando as veias superficiais esto colapsadas ou esto inacessveis, em consequncia de queimaduras, por exemplo. A agulha pode ser introduzida na tbia ou no fmur e, no adulto, ao nvel do esterno. Permite a administrao de volumes elevados de lquidos. A rapidez de aco semelhante via intravenosa.

VIA INTRALINFTICA Injeco de um medicamento num vaso linftico, geralmente com fins diagnsticos, para realizao de linfagiografia.

VIA INTRA-RAQUDEA Consiste em injectar uma preparao medicamentosa no canal raquideano, podendo ser praticada por via epidural (ou peridural) e por via intratecal (ou subaracnoideia). O emprego desta via deve-se difcil passagem dos medicamentos do sangue para o tecido nervoso,

especialmente para a regio do encfalo.

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Os med dicamentos injectve destinad a esta via devem ser solu s eis dos a ues quosas neutras e iso otnicas, rig gorosamen estrei e apirognicas. nte is aq Para co ompreende esta via fundamental relembrar alguns conceitos er a m c an natmicos: 1. Espao perimedular: o es . spao com mpreendido entre a m o medula esp pinhal e a parede ssea. Este espa e ao est dividido p pela duram mater em dois spaos: o extradural e o intrad l dural. O te ermo perim medular en ngloba todo os os es tip de adm pos ministrao " volta da" medula espinha tanto de o al, entro do es spao ex xtradural c como intrad dural. Fig.3

2.

Espao

Epidural l

ou

ext tradural

ou o

peridu ural:

espa ao

que

est

er gamento a amarelo, contm plexos p compreendido entre a duramate e o lig veno osos e fibro osos. 3. Espao Subdural: o esp pao compreendido entre a duramater e a r

cnide. Tra ata-se de um espa virtual, j que e condi o em es fisiol gicas arac norm mais a prp press do L.C.R mantm a aracni colada duram pria o R. m ide a mater. 4. Espao Subaracn noideo ou intratecal ou intrad dural: est compreendido

entre a aracn e nide e a piamate e cont er, tm o lq quido cefa alo-raqude eo. A adm ministrao subaracnoideia inclui aquela que se r realiza qua ando se in njecta direc ctamente o lquido ce efalo-raqudeo, atrav vessando a duramate tanto a nvel er, dos ventrculos cerebrais (intravent s s tricular) co omo a nve da medula espinha el al. 32

Fig. 4

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VIA EPIDURAL Consiste na injeco de um medicamento no espao epidural (ou seja, por fora da duramater).

VIA INTRATECAL Consiste na injeco de um medicamento no espao subaracnoideio (ou seja, na cavidade que contm o lquido cefalo-raqudeo). Em anestesiologia utiliza-se o termo "raquianestesia" para designar a injeco de um anestsico no canal raquidiano por via intratecal.

VIA INTRAPERITONEAL Corresponde injeco de um medicamento na cavidade peritoneal. A superfcie de absoro muito grande e a rapidez de penetrao na corrente sangunea equivalente da via intravenosa. Dado os acidentes que pode originar (infeco, formao de

aderncias...), a via intraperitoneal pouco utilizada em teraputica e recorrese a ela mais vezes com fins diagnsticos. Todavia usada correntemente em Medicina Experimental.

VIA INTRAPLEURAL Consiste na injeco de um frmaco na cavidade pleural. Podem ser injectados por esta via fermentos proteolticos, antibiticos (nos processos infecciosos localizados a esta serosa), substncias esclerosantes, citostticos ou at istopos radioactivos (ex: 32P).

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VIA INTRA-ARTICULAR Consiste na injeco de um frmaco na cavidade articular, com fins teraputicos ou diagnsticos (artrografia, pneumoartrografia). Implica o conhecimento perfeito da anatomia articular e um exagero na assepsia. utilizada com frequncia pelos ortopedistas e menos vezes em reumatologia para a administrao de corticides; tende a abandonar-se porque as administraes repetidas ocasionam alteraes das superfcies articulares.

VIA PERIARTICULAR Consiste na injeco de um frmaco na regio prxima de uma articulao, com o objectivo de se obter um efeito local.

VIA INTRASSINOVIAL Consiste na injeco de um frmaco nas bolsas sinoviais e nos tendes, em caso de bursites, tendinites ou tenosinovites.

VIA INTRADISCAL Consiste na injeco de um frmaco no ncleo pulposo de um disco intervertebral.

VIA PERINEURAL Consiste na injeco de um frmaco nas regies prximas de um ou mais nervos.

VIA INTRALESIONAL Consiste na aplicao, por injeco ou por outro mtodo, de um medicamento directamente numa leso. VIA EXTRA-AMNITICA Consiste na injeco de um frmaco entre o crion e o mnios.

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VIA INTRA-AMNITICA Consiste na injeco de um frmaco na cavidade amnitica.

VIA INTRA-OCULAR Consiste na aplicao de um medicamento no globo ocular. Esta designao s utilizada quando no se pode aplicar uma designao mais especfica (por exemplo, via intravtrea). No inclui a via oftlmica nem a via subconjuntival.

VIA INTRAVTREA Consiste na aplicao de um medicamento na cmara posterior do globo ocular.

VIA SUBCONJUNTIVAL Consiste na administrao de um frmaco imediatamente sob a conjuntiva.

VIA INTRACAVERNOSA Consiste na injeco de um frmaco no corpo cavernoso.

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FORMAS FARMACUTICASDEFINIODesignam-se por formas farmacuticas, preparados farmacuticos ou formas medicamentosas os produtos elaborados a partir dos frmacos, a que se junta por vezes uma base, veculo ou excipiente (uma substncia inerte) e diversos aditivos (conservantes, estabilizantes, aromatizantes, corantes,

desagregantes, etc), de modo a poderem ser administrados ao homem. Correspondem ao modo como o medicamento se apresenta ao doente para ser administrado. Diversos conhecimentos fsicos, qumicos e biolgicos so utilizados pela Farmcia galnica, no sentido de obter o mximo efeito e rendimento de uma forma farmacutica, adaptando-a via de administrao a que se destina. Por exemplo, o cido acetilsaliclico um frmaco que se pode administrar sob diversas formas farmacuticas: comprimidos, carteiras

(contendo um p solvel) para administrao oral; supositrios destinados via rectal e ainda soluo estril em frasco-ampola para administrao parentrica.

SUBSTNCIAS COMPONENTES DE UMA FORMA FARMACUTICAUma forma farmacutica contm diversas substncias que, consoante a sua funo, tm nomenclatura diferente: 1. SUBSTNCIA ACTIVA A substncia activa a parte

farmacologicamente activa de uma determinada forma farmacutica. 2. VECULO - O veculo a parte da forma farmacutica que lhe confere a forma e o volume, e que confere ao preparado uma maior estabilidade fsica. No tem aco farmacolgica.

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2.1. Excipiente - o veculo que tem uma aco unicamente passiva, pois destina-se a dar forma e a aumentar o volume da forma farmacutica at lhe dar um valor manusevel. 2.2. Intermedirio(ou intermdio) - o veculo, que vai conferir forma farmacutica uma maior estabilidade fsica (confere-lhe homogeneidade). Normalmente so usados nas formas farmacuticas lquidas ou pastosas em que os diversos componentes tm, por vezes, tendncia a separar-se por diferenas de osmolaridade - os intermedirios mais correntemente empregues so substncias tensioactivas. 3. CORRECTIVO - O correctivo uma substncia que se junta forma farmacutica para lhe modificar as suas caractersticas organolpticas. 3.1. Edulcorantes - So os correctivos que conferem um sabor agradvel preparao (acar, mel, sal, etc.).

CLASSIFICAO DAS FORMAS FARMACUTICASAs formas farmacuticas podem ser classificadas quanto ao tipo de prescrio, quanto origem da matriz (natural ou de sntese) ou sua forma fsica. 1. QUANTO AO TIPO DE PRESCRIO a) Formas farmacuticas magistrais - so aquelas cuja frmula da autoria do mdico, e que o farmacutico prepara na farmcia de oficina seguindo essas prescries. Regra geral, de conservao precria. b) Formas farmacuticas oficinais - so aquelas cuja frmula e tcnica se encontram inscritas e descritas na Farmacopeia Portuguesa, sendo preparadas na farmcia de oficina segundo a Farmacopeia. c.) Formas farmacuticas de Especialidades - so aquelas que se encontram j preparadas e embaladas (especialidade farmacutica), e que se apresentam sob um nome de fantasia ou sob uma denominao (comum ou

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cientfica) da substncia activa que entra na sua composio. So normalmente preparadas por laboratrios farmacuticos. 2. QUANTO FORMA FSICA - Consoante o estado fsico em que se

encontram, as formas farmacuticas podem-se classificar como slidas, pastosas, lquidas, gasosas e especiais. a) Formas slidas - so aquelas que encontram no estado slido e so: cpsulas; comprimidos; comprimidos vaginais; drageias; esponjas; granulados; lpis; vulos; prolas; ps; supositrios. b) Formas pastosas - so aquelas que se encontram sob uma forma pastosa e so: cataplasmas; cremes; emplastros; geles; pastas; pomadas. c)Formas lquidas - so aquelas que esto no estado lquido e so: emulses; enemas; nebulizaes; solues; suspenses; xaropes. d)Formas gasosas - so aquelas que se apresentam sob uma forma gasosa (gases; vaporizaes). e)Formas especiais - so aquelas formas farmacuticas que, ou se apresentam em mais do que uma forma fsica, ou se encontram num estado da matria diferente dos anteriores, e so: aerossis; sistemas transdrmicos; ampolas.

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3.QUANTO VIA DE ADMINISTRAO A QUE SE DESTINAM a. Preparaes cutneas e transdrmicas b. Preparaes orais c. Preparaes para aplicao na boca e gengivas d. Preparaes oftlmicas e. Preparaes auriculares f. Preparaes nasais g. Preparaes vaginais h. Preparaes intra-uterinas i. Preparaes para uso intravesical e uretral j. Preparaes rectais

k. Preparaes para inalao l. Preparaes parentricas

CLASSIFICAO COMBINADA 1. Formas farmacuticas para aplicao cutnea e transdrmica a. Formas slidas: P cutneo Lpis cutneo Esponja cutnea

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b.Formas semi-slidas: Pomada Pasta cutnea Creme Gel Emplastro medicamentoso Cataplasma c.Formas lquidas: Soluo cutnea Suspenso cutnea Emulso cutnea Champ Soluo (sprays) Verniz para unhas medicamentoso d.Formas especiais Sistema transdrmico Espuma cutnea e suspenso para pulverizao cutnea

2. Formas farmacuticas para administrao por via oral: a. Formas slidas: P oral Granulado Cpsula Comprimido Goma para mascar medicamentosa b. Formas semi-slidas: Pasta oral Gel oral

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c. Formas lquidas: Soluo oral Suspenso oral Emulso oral Xarope

As formas lquidas para dividir, destinadas via oral, podem fraccionarse em volumes definidos, em gotas ou s colheres (colheres-medida = 5 ml com divisria indicando 1/2 = 2,5 ml).

Volumes das colheres para administrao das formas lquidas por via oral:PESO

Volume aquosasColher de sopa Colher de sobremesa Colher de ch Colher de caf 15 ml 10 ml 5 ml 2,5 ml

Xarope20 g 15 g 7g 3,5 g

Solues15 g 10 g 5g 2,5 g

O volume das gotas depende das foras tensioactivas inerentes prpria soluo, mas em geral: 1 grama de soluo aquosa (= 1 ml) 1 grama de soluo alcolica 1 grama de soluo de ter 20 gotas 60 gotas 90 gotas

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3. Formas farmacuticas para aplicao na boca e gengivas a. Formas slidas: Comprimido sublingual Cpsula bucal Comprimido bucal Pastilha b. Formas semi-slidas: Pasta gengival Gel gengival Pasta bucal Gel bucal c. Formas lquidas: Soluo gengival Soluo bucal Soluo para lavagem da boca Soluo para gargarejar Soluo para pulverizao bucal (spray) Preparao para pulverizao sublingual (spray) Suspenso bucal 4. Preparaes oftlmicas a. Formas semi-slidas: Creme oftlmico Gel oftlmico Pomada oftlmica b. Formas lquidas: Soluo (colrio) Suspenso (colrio) Soluo para lavagem oftlmica

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5. Preparaes auriculares a. Formas slidas P auricular Lpis auricular b. Formas semi-slidas Creme auricular Gel auricular Pomada auricular c. Formas lquidas Soluo - gotas auriculares Suspenso - gotas auriculares Emulso - gotas auriculares Soluo para pulverizao auricular (spray) Suspenso para pulverizao auricular (spray) Emulso para pulverizao auricular (spray) Soluo para lavagem auricular Emulso para lavagem auricular

6. Preparaes nasais a. Formas slidas: P nasal Lpis nasal b. Formas semi-slidas: Creme nasal Gel nasal Pomada nasal

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c. Formas lquidas: Soluo - gotas nasais Suspenso - gotas nasais Emulso - gotas nasais Soluo para pulverizao nasal (spray) Suspenso para pulverizao nasal (spray) Emulso para pulverizao nasal (spray) Soluo para lavagem nasal 7. Preparaes vaginais a. Formas slidas: vulo Cpsula vaginal Comprimido vaginal Tampo vaginal medicamentoso Sistema intra-uterino (ex. contraceptivos hormonais aco sistmica de longa durao)

Fig. 5 b. Formas semi-slidas: Creme vaginal Gel vaginal Pomada vaginal c. Formas lquidas: Soluo vaginal Suspenso vaginal Emulso vaginal d. Formas especiais: Espuma vaginal

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8. Preparaes rectais a. Formas slidas: Supositrio Cpsula rectal b. Formas semi-slidas: Creme rectal Gel rectal Pomada rectal c. Formas lquidas: Soluo rectal clister ou enema Suspenso rectal clister ou enema Emulso rectal clister ou enema d. Formas especiais: Espuma rectal 9. Preparaes para inalao Soluo para inalao por nebulizao Suspenso para inalao por nebulizao Emulso para inalao por nebulizao Soluo pressurizada para inalao Suspenso pressurizada para inalao Emulso pressurizada para inalao P para inalao P para inalao, em cpsula P para inalao em recipiente unidose P para inalao por vaporizao Cpsula para inalao por vaporizao Soluo para inalao por vaporizao Comprimido para inalao por vaporizao Gs para inalao

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A profundidade de penetrao de uma preparao depende das dimenses das partculas obtidas com o dispositivo libertador. Dimetro das partculas > 30 20 a 30 10 a 20 3a 5