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Etologia INFORMAÇÃO TÉCNICA SOBRE PEQUENOS ANIMAIS N.º 5 Set./Out. 2015

INFORMAÇÃO TÉCNICA SOBRE PEQUENOS ANIMAIS Set./Out. …

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EtologiaINFORMAÇÃO TÉCNICA SOBRE PEQUENOS ANIMAISN.º 5 Set./Out. 2015

CLÍNICA ANIMAL5

PUBLICAÇÃO VETERINÁRIA INDEPENDENTE

CONSELHO CIENTÍFICO

DIRETOR TÉCNICO: Enrique Ynaraja. COLABORADORES EM PORTUGAL: Maria João Costa, Pimentel de Carvalho, Carla Guerra, Rui Oliveira, Elizabete Martins, Sandra Ferreira, Manuel Santana, Anabela Almeida.ANESTESIA: Antonio González. HV Rof Codina.CARDIOLOGIA: Joaquín Bernal. Cardiovet. Laín García.CARDIORESPIRATÓRIO: Montserrat Jorro. HV Molins.CIRURGIA: Joaquín Sopena. UCH-CEU, Valencia.José Rodríguez. FV de Zaragoza.CIRURGIA DE MÍNIMA INVASÃO: Jesús Usón. CCMI.COMPORTAMENTO: Xavier Manteca. FV de Barcelona.DIAGNÓSTICO LABORATORIAL: Mariano Morales. Laboratorios Albéitar. DIAGNÓSTICO POR IMAGEM:Ecografia: Susana Serrano Sobrino. CV Los Madrazo.Radiologia: Amalia Agut. Dipl. ECVDI. FV de Murcia.DERMATOLOGIA: Ana Ríos. Centro Médico Veterinario. Maite Verde. Servicio de Dermatología, FV Zaragoza.ENDOCRINOLOGIA: Carlos Melián. CV Atlántico.ENDOSCOPIA: Vicente Torrent. IME. EXÓTICOS: Albert Martínez. Centro CRARC-COMAM.Jordi Grifols. Hospital Zoologic de Badalona.Andreu Riera. HV Molins. Beatriz Álvarez Carrión. CV Camaleo.GASTRENTEROLOGIA: Jaume Rodón. Vet Lab, S.L.GERIATRIA: Manuel Morales. Facultad de Veterinaria ULPGC.MEDICINA FELINA: Mª Luisa Palmero. CV Gattos. GEMFE.MEDICINA INTERNA: Ana Mª Montes Cepera. FV Murcia.José Ramón García. CV San Francisco de Asís.Alberto Montoya. Facultad de Veterinaria ULPGC.NEUROLOGIA: Xavier Raurell. HV Molins. Paloma Toni. FV de Madrid.NUTRIÇÃO: Cecilia Villaverde.ODONTOLOGIA: Soledad Montes. Cardiovet.Javier Collados. Servicio Móvil de Odontología.ONCOLOGIA: Miguel Laporta. HV Molins.PARASITOLOGIA: Juan Antonio Castillo. FV de Zaragoza.REPRODUÇÃO E OBSTETRÍCIA: Pedro García. FV Lugo.TOXICOLOGIA E FARMACOLOGIA: Arturo Anadón. FV de Madrid.TRAUMATOLOGIA E NEUROCIRURGIA: Tomás Fernández. Centro Médico Veterinario.Ramón Sever. Policlínica Veterinaria Rover.Fernando Díaz Santiago. Fauna Clínica Veterinaria.URGÊNCIAS: Jordi Manubens. HV Molins.

ÍndiceClínica Animal • Vol. 3 • N.º 5 Empresa editora: Publicações Ciência e Vida

Editor: António SimõesPublicidade e MKT: Sofia CarrondoImpressão: Publicações Ciência e Vida

PUBLICAÇÕES CIÊNCIA E VIDA, LDA.Av. da Igreja, N.º 37 C, 13.º Atelier Dto.1700-233 LisboaTel. 21 478 78 50 – Fax 21 402 07 50E-mail: [email protected]

GRUPO ASÍS BIOMEDIA S.L.Centro Empresarial El Trovador, planta 8, oficina I – Plaza Antonio Beltrán Martínez, 150002 Zaragoza – EspanhaTel. (0034) 976 461 480 – Fax (0034) 976 423 000E-mail: [email protected]

A revista Clínica Animal tem secções comuns à revista Argos, que é uma marca registada, propriedade do Grupo Asís Biomedia, S.L., com sede social no Centro Empresarial El Trovador, planta 8, oficina 1, em Saragoça, Espanha.Todos os artigos publicados nesta edição da revista Clínica Animal têm direitos reservados (2013) para Grupo Asís Biomedia, S.L.Todos os direitos de publicação em território nacional da edição da revista Argos, têm direitos reservados (2013) para a editora Publicações Ciência e Vida, Lda.Copyright©2013 Grupo Asís Biomedia, S.L.Copyright©2013 Publicações Ciência e Vida, Lda.Proibida a reprodução parcial ou total do conteúdo desta publicação, sob qualquer forma ou quaisquer meios, sem prévia autorização escrita.Toda a responsabilidade dos artigos publicados, reportagens, notícias, comunicados, etc., recai exclusivamente sobre os seus autores.Esta publicação distribui-se de uma forma gratuita, exclusivamente para médicos veterinários.Decorrente da Lei 67/98, de 26 de Outubro, Lei de Proteção de Dados Pessoais, a editora Publicações Ciência e Vida, Lda. informa que possui um ficheiro com dados de carácter pessoal, com o objetivo de proporcionar a distribuição desta publicação. Qualquer reclamação, pedido para consulta, retificação ou eliminação, deverá ser remetida por escrito a Publicações Ciência e Vida, Lda. Isenta de registo no ICS nos termos da alínea a) do n.º 1 do Artigo 12.º do Decreto Regulamentar n.º 8/99, de 9 de Junho.Isenta de Depósito Legal e ISSN, por se tratar de uma edição exclusivamente digital.Periodicidade: BimestralTiragem: Por se tratar de uma edição exclusivamente digital, a tiragem tem um caráter ilimitado.

36Estandardização da consulta

20Glossectomia parcial por carcinoma de células escamosas no cão

24Manejo nutricional de um gato obeso com diabetes mellitus felina

CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

Problema do medo a ruídos fortes em cães ......................... 6

Enriquecimento ambiental na espécie felina .................... 10

Condutas compulsivas .................................................................... 14

PRÁTICA CLÍNICA

Glossectomia parcial por carcinoma de células escamosas no cão ............................................................................... 20

Manejo nutricional de um gato obeso com diabetes mellitus felina ......................................................... 24

Uso de um neuroestimulador para a localização do espaço epidural no espaço sacrococcígeo para OHE numa gata ......................................................................... 29

Intoxicação por Clostridium botulinum num cão .......... 32

MARKETING

Estandardização da consulta ...................................................... 36

ROYAL CANIN

A alimentação pode ajudar o gato e o cão a recuperar o equilíbrio emocional? ....................................... 40

CAPA / PRÓXIMOS NÚMEROS

Nov./Dez.Patologia ocularData limite para a recepção da informação:30 de Novembro de 2015.

Jan./Fev.Clínica de reproduçãoData limite para a recepção da informação:30 de Janeiro de 2016.

6CAPAEtologia em pequenos animais

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CLÍNICA ANIMAL5

EDITORIAL

“422...”Raramente nos dias de hoje temos a possibilidade de refletirmos tranquilamente sobre o nosso lugar no mundo. Dispormos daquele momento que nos permite, sem o stress do dia ‑a ‑dia, fazermos uma introspeção sobre a forma como agimos e nos colocamos na sociedade. Será a mais correta? Farei tudo aquilo que está ao meu alcance? Até onde posso ir? Estou atento ao que me rodeia?, etc.

António SimõesDiretor Clínica Animal

Há uns dias, depois de ler um artigo sobre o número de árvores que existem no planeta, dei­­me conta que nunca tinha olhado para esta questão tal como era colocada.

De facto, só reparamos nas árvores quando precisamos de uma sombra, ou quando, por qualquer motivo, ela “choca” connosco, seja pela sua dimensão, cor ou formato.

Nas voltas matinais que dou para passear o meu companheiro de há quase sete anos, é inevitável que este escolha as árvores para fazer as suas necessidades e marcar o seu território. Vivendo num local muito aprazível, onde existem felizmente muitas árvores, fiquei a saber que afinal não são assim tantas. Aliás, são até muito poucas.

Segundo um estudo publicado na revista Nature, existem em todo o mundo mais de 3 triliões de árvores, um número sete vezes superior ao estimado anteriormente, e, todos os anos surgem mais 5 mil milhões de novas árvores. Estas são as boas noticias. A má notícia é que são destruídas todos os anos 15 mil milhões. Neste momento já foram destruídas quase metade das árvores existente no planeta, ou seja, 46% do total. Em Portugal, segundo este estudo, existem 3126 milhões.

A nova medição não veio acrescentar novas árvores, nem apresentou novos dados sobre o que se conhece da vegetação do planeta. Apenas se limitou a ser mais rigorosa, não afastando qualquer cenário negativo até então apresentado sobre a desflorestação global e o seu impacto ambiental.

O estudo envolveu investigadores de 15 países, recolha de dados no terreno e medições via saté­lite.

Sendo as árvores um dos organismos mais importantes da terra, cuja armazenagem de carbono e a importância para a reciclagem do ar e da água ainda não são totalmente conhecidos, estes números vão permitir segundo o coordenador do estudo, Thomas Crowthe, compreender a pressão humana sobre a floresta.

O estudo, segundo Crowthe, poderá ajudar a calcular melhor a quantidade de carbono que é re­colhido pelas árvores, atrasando o aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera, fenómeno que provoca o aquecimento global que muitos teimam em ignorar.

As consequências do corte de árvores é em parte conhecido. No Brasil, por exemplo, o aumento da seca piora de ano para ano. Nos EUA, em particular na Califórnia, as temperaturas têm vindo a aumentar, batendo recordes.

Segundo os especialistas da Organização Meteorológica Mundial, o fenómeno do El Nino vai fa­zer­se sentir com particular intensidade este inverno, entre os meses de Outubro e Janeiro.

Posto isto e feitas as contas, chegamos assim a um número, 422. É um número que não dirá nada a muita gente, mas diz respeito a todos nós. É o número de árvores no planeta que cada ser humano tem disponível para si.

Provavelmente nunca tinha pensado no problema desta maneira, mas quando sair ou for passear o seu amigo de quatro patas, olhe ao seu redor e chegará à mesma conclusão do que eu.

Consoante o lugar onde vivam, uns terão mais árvores ao seu redor, outros menos, dependendo do nível de humidade, temperatura e pressão humana. Assim, talvez seja boa ideia, pressionar a sua Junta de Freguesia ou Câmara Municipal para plantar mais árvores. Já reparou que, havendo tantas ao nosso redor, afinal não são assim tantas…. Já reparou nos imensos espaços que existem sem ár­vores?

Está na hora de colocarmos de lado a conversa e fazermos alguma coisa para o nosso bem e de todos os seres vivos.

CLÍNICA ANIMAL5

5COMUNICADOS

CLÍNICA ANIMAL5

A área de etologia em pequenos ani-

mais é por vezes subestimada. Inicia-

mos esta secção com um artigo que

nos fala da fobia dos cães a determi-

nados sons fortes e o modo como a

podemos controlar. De seguida,

apresentamos um artigo que explicita

os tipos de enriquecimento ou estí-

mulos que contribuem para otimizar

a qualidade de vida dos gatos e final-

mente é abordado o tema das con-

dutas compulsivas e do seu enfoque

terapêutico para as controlar.

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6 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

Capa

Etologia em pequenos animais

A reação de medo exagerada não é adaptativa, e pode mesmo chegar

a constituir um problema sério de bem -estar no animal que dele padece.

A prevenção da fobia é o ideal, mas, tendo já surgido, as terapias curativas

e paliativas permitem controla -la.

Camino García-Morato Fernández-BaílloVeterináia, Mestre em Etologia Clínica pela UAB. Residente ECAWBM.Departamento de Ciência Animal e dos Alimentos da Faculdade de Veterinária da Universidade Autónoma de Barcelona (Serviço de Etologia)

O medo é uma emoção que induz uma resposta de adaptação que permite ao animal evitar situações e atividades que poderiam ser perigosas (1). Para que o medo seja adap­tativo, apenas deveria surgir naquelas cir­cunstâncias que realmente ameacem a segu­rança do animal.

Contudo, também encontramos animais nos quais a resposta de medo é despropor­cionada face a um determinado estímulo. Neste caso estaríamos a falar de fobias (2). A fobia mais frequente nos cães é, provavel­

mente, a fobia a ruídos intensos, tais como o dos trovões, ou os sons provocados pela ex­plosão de petardos ou algo similar. As reações dos cães variam de intensidade, desde uma ligeira intranquilidade, a uma autêntica reação de pânico, que inclui comportamentos de evitação ativa, tremores, bem como arfar in­tenso, salivação e vocalizações intensas (3).

Este problema pode surgir durante os pri­meiros anos de vida e piora ano após ano. Isto é devido ao facto de que uma das carac­terísticas das fobias é que não respondem a um processo de habituação normal. Ou seja, ainda que o estímulo que desencadeia a fo­bia se apresente de forma repetida sem con­sequências negativas para o animal, a respos­ta de medo não só não desaparece, como inclusive pode aumentar (4). Esta reação de medo exagerada não é adaptativa, e chega a causar um sério problema de bem ­estar ao animal que dele padece (5).

Problema do medo a ruídos fortes em cães

Durante o protocolo deve evitar-se na medida do possível a exposição ao estímulo real desencadeante

da fobia. Portanto, recomenda-se iniciar este programa em períodos do ano durante os quais não se

prevejam eventos desagradáveis para o cão.

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Desenvolvimento e permanência da fobia

É importante conhecer os fatores que in­tervém no desenvolvimento e permanência das fobias a ruídos fortes, com o objetivo de compreender porque é que aparece este pro­blema de comportamento e como se pode prevenir. Os fatores que se devem ter em conta são os seguintes:

Processos que aumentam gradualmente (sensibilização)

A sensibilização consiste num aumento da resposta a um estímulo devido à apresenta­ção repetida deste, ou seja, a resposta do animal é cada vez mais intensa (7,8). Além disso, no caso das fobias a trovoadas e a petardos, a duração e a intensidade dos estí­mulos não é constante. Por exemplo, no caso dos petardos pode surgir de uma forma pon­tual, ou vários seguidos; pode ocorrer duran­te um breve período – como nas celebrações por um êxito desportivo, por exemplo, ou durante todo o dia, ou inclusive vários dias, como é o caso de algumas festividades em algumas localidades. Portanto, o cão não é capaz de predizer a duração nem a intensi­dade que vão ter esses estímulos aversivos cada vez que eles ocorrem. Esta falta de pre­visibilidade provoca que, ainda que estes estímulos fóbicos tenham a sua expressão mínima, a resposta do animal é despropor­cionada dado que antecipa uma intensidade e duração maiores.

Estímulos compostosQuando diferentes estímulos se apresen­

tam sempre juntos, formam uma configura­

ção de estímulos (8,9). No caso das trovoa­das, por exemplo, o estímulo aversivo do som pode ser acompanhado por outros eventos, como alteração de luminosidade, alterações na humidade e na pressão atmos­férica ou na intensidade da chuva, entre ou­tros. Muitos animais acabam por associar qualquer destas alterações ao evento fóbico na sua máxima intensidade (“a grande tem­pestade”), de modo que a sua resposta é exagerada em comparação com o estímulo que realmente surge, por exemplo, apenas um dia chuvoso. Portanto, a resposta do ani­mal será desproporcionada inclusive nos mo­mentos em que apenas apareça um dos ele­mentos da configuração de estímulos.

Ineficácia das respostas comportamentais

Os comportamentos de evitação por parte do animal procurando um lugar no qual a exposição ao estímulo fóbico seja inferior, po­dem não resolver a situação aversiva (2,3,6). Os estímulos que induzem o medo chegam ao sistema nervoso central através dos órgãos sensoriais (10). Durante o acontecimento fó­bico, o cão percebe os múltiplos estímulos da configuração através dos diferentes sentidos (visual, auditivo, olfativo e inclusive tátil), de uma forma continuada. Portanto, estão expos­tos permanentemente à situação atemorizante e esta circunstância limita as estratégias de enfrentamento do animal.

Representação dos nove ruídos que provocam com maior frequência a sensibilização numa população de 1.516 cães (agudo vs. gradual) [6] Sherman e Mills 2008 Canine anxieties and phobias: An update on separation anxiety and noises aversions. VetClin North Am 38, 1081-1106.

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0Fogos de

artifício (836)Trovoadas

(817)Disparos

(430)Motores

(198)Batidas de portas (161)

Espantalhos (57)

Petardos (160)

Aspiradores (160)

Vozes altas (208)

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8 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

Como prevenir o aparecimento da fobia?

Devido às características no desenvolvi­mento deste tipo de fobias, o tratamento nos cães já sensibilizados pode ser complicado. Por este motivo convém enfatizar a importân­cia da prevenção (11). Para reduzir a proba­bilidade de que os cães tenham fobia às tro­voadas e aos petardos, dever ­se ­iam evitar as experiências negativas durante os primeiros meses de vida do cachorro (12). Aliás, con­vém antecipar ou começar a fazer a habitua­ção do cachorro a todos os elementos que constituam a configuração de estímulos aver­sivos, tanto das trovoadas, como dos petardos ou fogos ­de ­artifício.

Procura ­se descompor o evento aversivo, por exemplo, a trovoada, nos seus compo­nentes e habituar o cachorro aos mesmos. Como fazê ­lo:

Habituação ao som• Utilizar um DVD com gravações de ruídos

de trovoada.• Associar a reprodução dos sons, primeiro de

baixa intensidade, com atividades agradáveis para o cão, como um jogo ou a comida.

• Progressivamente, sempre que o cachorro não reaja com intranquilidade ou medo, pode ­se ir aumentando o volume do som ao longo dos dias.

Habituação ao resto dos estímulos associados à trovoada• Aproveitar os dias nublados ou de chuva

(sem trovoada) para realizar atividades ao ar livre com o cachorro e, de novo, intro­duzir elementos que gostem, como um jogo com o proprietário ou a comida, por exemplo.

• Após sucessivas repetições, estes elemen­tos da configuração de estímulos da tro­voada (luz, humidade, chuva e pressão atmosférica, entre outros), passarão a ser o sinal das atividades divertidas para o cão.

O que fazer no caso de cães já sensibilizados?

Existem duas estratégias face a um proble­ma de medo a ruídos fortes:

Terapias curativasO seu objetivo é erradicar a resposta de

medo, ou seja, que o cão deixe de se assustar com os petardos e/ou as trovoadas. Para o conseguir, aplicam ­se técnicas de dessensibi­lização nas quais são utilizadas gravações de sons aversivos (13). Deve advertir ­se o pro­prietário que o processo pode ser longo e complexo, e pode não ter necessariamente os resultados esperados.

Em geral, o êxito destes programas de ha­bituação é muito variável e depende, entre

outros fatores, da fidelidade com que se pos­sa recrear o estímulo que desencadeia a fobia. Com frequência, os animais não identificam o som de DVD como real (2,3,4,13). Isto pode ser minimizado utilizando equipamentos de som de alta qualidade e situando ­se próximos de uma janela, de forma que o ruído chegue do exterior da casa. Em qualquer caso, de todos os elementos da configuração de estí­mulos que constituem a trovoada ou os pe­tardos, unicamente podemos tentar controlar o sonoro, e isto limita o êxito desta estratégia.

Por outro lado, convém assinalar que du­rante o protocolo deve evitar ­se na medida do possível a exposição ao estímulo real de­sencadeante da fobia. Portanto, recomenda­­se iniciar este programa em períodos do ano durante os quais não se prevejam eventos desagradáveis para o cão.

Terapias paliativasO seu objetivo não é eliminar o medo, mas

sim controlar a sua intensidade quando surge.A base do tratamento é a administração de

medicação ansiolítica no momento, ou, se possível, antes de surgir o estímulo que as­susta o cão. As benzodiazepinas resultem bem nestes casos, já que, para além de apre­sentarem propriedades ansiolíticas, têm efei­tos amnésicos que nestas situações nos po­dem interessar (14). Não se aconselha o uso de acepromazina para o tratamento de fobias a ruídos. Este fármaco dificulta a capacidade motora do animal, mas o cão continua a per­ceber todos os estímulos atemorizantes do ambiente, podendo assim aumentar a sensi­bilidade do animal aos ruídos.

Além disso, convém levar a cabo a criação de uma zona de abrigo. Como referimos an­teriormente, os trovões e os petardos são es­tímulos que um cão dificilmente pode evitar. Uma das poucas estratégias ao alcance do cão será esconder ­se, para assim reduzir a presen­ça e intensidade daquilo que o assusta. O proprietário deve ajudar assim o seu cão a encontrar um refúgio longe da fonte de ruído, onde se possa sentir mais seguro. Se o pro­prietário nota que o seu cão, em dias de tro­voada ou de festa com petardos, se vai escon­der de forma natural, numa determinada zona da casa (normalmente zonas mais interiores), pode colocar ali a cama e alguns brinquedos do seu animal. Também pode ajudar o facto de se fecharem as janelas ou os estores, ou pôr música a tocar, ou ainda subir um pouco o som do televisor, para assim amortecer um pouco o som que vem de fora. o

Bibliografia na posse da editora

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10 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

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Renata VelascoResponsável pelo Departamento de Etologia Clínica e membro da equipa médica do H.V. MontjuicImagens cedidas pela autora

Enriquecimento ambiental na espécie felinaOs gatos são particularmente sensíveis ao stress, que pode levar a alterações do seu comportamento. A melhoria

do seu bem -estar com estímulos ambientais necessários para otimizar a sua qualidade de vida contribui para evitar

que se desencadeiem fatores stressantes nesta espécie.

O enriquecimento ambiental no cuidado dos animais em cativeiro permite a melhoria do seu bem ­estar, tanto físico como psicoló­gico, identificando e proporcionando estímu­los ambientais necessários para otimizar a sua qualidade de vida.

Enquanto determinadas espécies parecem estar obrigadas a viver em grupos sociais toda a sua vida, outras há que se adaptam a viver também como indivíduos solitários, e entre estes últimos, encontra ­se o gato doméstico.

O enriquecimento ambiental na espécie felina deve tentar sempre o respeito pelo seu etograma, ou seja, o que, em termos gerais, seria o inventário dos seus comportamentos.

Os gatos são animais especialmente sensí­veis ao stress, que tem uma relevância clínica muito notória e pode conduzir a alterações problemáticas no seu comportamento, não só para o animal, como também para o seu proprietário.

Proporcionar um ambiente adequado pode contribuir para prevenir, melhorar e/ou resolver este stress e problemas tais como a obesidade, a ansiedade, comportamentos es­tranhos, alterações nos hábitos de higiene, marcação com urina, falta de apetite, agressi­vidade, etc.

O veterinário deve entender o comporta­mento do felino e relaciona ­lo com as neces­sidades do seu contexto, para poder enquadrá ­lo na expressão dos seus compor­tamentos naturais e ser capaz de o expor na clínica diária.

O comportamento do gato doméstico tem muitas similitudes com o do seu ancestral selvagem Felis lybica. Necessita que o seu

território seja um local conhecido, estável e controlado, promovendo a redução do stress. Se o gato se sente ameaçado, recorrerá a mecanismos de fuga, luta ou tenderá a mas­carar ou ocultar sintomas de debilidade e/ou doença. Se formos capazes de criar um con­texto adequado, poderemos intensificar o seu bem ­estar.

Tipos de enriquecimento

O aporte de qualquer estímulo que suscite o interesse do gato de modo positivo pode ser considerado como enriquecimento, in­cluindo objetos naturais ou artificiais, diferen­tes aromas, alimentos novos, introdução de novos membros da sua espécie ou de outras.

Os estímulos de enriquecimento ambiental para o gato doméstico dividem ­se em cinco grupos fundamentais: sensoriais, alimenta­ção, manipulação, contexto e social.

SensoriaisEstímulos para intensificar os sentidos vi­

suais, olfativos, táteis e gustativos. O objetivo que procuramos é motivar o nosso gato a que explore e investigue.

OlfatoCentramo ­nos sobretudo no olfato, já que

a informação captada por este sentido é primordial para os felinos. O órgão vome­ronasal, localizado no palato duro como aparelho olfativo auxiliar, deteta as feromo­nas, substâncias ou mistura de substâncias que transmitem informação entre indiví­duos da mesma espécie e que são utilizadas pelos gatos para se comunicarem com os seus congéneres e para potenciar o reco­nhecimento do território como próprio, criando assim uma maior sensação de se­gurança e conforto.

Devemos evitar substâncias que sejam agressivas para o nosso gato, e odores dema­siado fortes (produtos de limpeza, detergen­tes, substâncias corrosivas). Pode ser reco­mendável a utilização de feromonas sintéticas D

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felinas, cuja finalidade é a de potenciar a sensação de segurança e comodidade, o que contribui para a redução do stress. Devemos também evitar a limpeza excessiva daqueles lugares nos quais o gato depositou as suas marcas faciais e corporais.

Se o gato sente odores ou feromonas que identifique como uma ameaça, podem desencadear ­se os problemas que foram re­feridos anteriormente, tais como os derivados de uma eliminação desadequada (marcação com urina), agressividade, alterações no com­portamento de alimentação (anorexia, exces­so de fome ou outros problemas), doenças das vias urinárias inferiores ou inclusive, con­dutas compulsivas.

VisãoRelativamente aos estímulos visuais, na­

queles gatos sem acesso ao exterior, é con­veniente que o espaço do animal disponha de pelo menos uma janela, e, se as condições assim o permitirem, que tenha acesso a um pátio, permitindo assim o desenvolvimento de condutas baseadas na observação de pre­sas ou inclusive a caça das mesmas.

AlimentaçãoO objetivo é apresentar o alimento de ma­

neira que obrigue o gato a investigar, mani­pular e trabalhar para o conseguir obter, o que não significa que não haja comedouros e bebedouros à sua disposição.

Na natureza, os felinos desenvolvem a ati­vidade de caça com uma taxa de êxito baixa quanto à obtenção da sua presa. É por isso que, nestas condições, existe um equilíbrio relativamente ao controlo do peso. No caso do gato doméstico, o alimento é ­lhe propor­cionado sem qualquer esforço. Requer assim uma alimentação ad libitum controlada, de modo que tenha à sua disposição pequenas quantidades de alimento, em diferentes reci­pientes, e a diferentes alturas para promover a sua mobilidade e ter, desta maneira um controlo de peso, como ocorre com o seu homólogo selvagem.

Podemos recorrer a métodos que favore­çam a localização e a captura do alimento através de sistemas mais ou menos sofistica­dos para a sua obtenção (existem no merca­do diversos sistemas, por exemplo, bolas dispensadoras de comida, que lhe dispensam o alimento quando rodam).

Naqueles locais onde existe mais do que um gato, podemos proporcionar lugares de alimentação individual, para favorecer a pri­vacidade e evitar o stress associado à compe­tição pelo alimento.

Se existe acesso a um pátio exterior ou algo similar, podem ­se incluir fontes ou reci­pientes para recolher a água da chuva. Den­tro de casa, podem ­se colocar pequenas fon­tes de água, sempre e quando estejam longe da zona de alimentação.

Em todos os casos, o acesso ao alimento deve ser sempre relativamente fácil, já que de contrário, podemos provocar ­lhe um estado de frustração. O que se procura, uma vez mais, é a redução do stress e as alterações derivadas do mesmo, favorecendo a conduta exploratória e a brincadeira.

ManipulaçãoConsiste em proporcionar elementos que

os gatos possam manipular com as suas ex­tremidades, boca, cabeça, etc., dando origem, novamente, ao comportamento de explora­ção e de jogo. Neste sentido, podemos proporcionar ­lhes brinquedos, opções de interação com o proprietário e outros animais no caso de existirem, e inclusive podemos incluir dispositivos que favoreçam a procura ativa do alimento.

Pode ­se recorrer à utilização de brinque­dos tipo cana de pesca, em cuja extremidade se coloca um objeto com plumas ou algo

similar, que faça o felino brincar com ele. Deste modo, conseguimos que o gato o pos­sa atrair para si, mordê ­lo, arranhá ­lo ou cra­var as suas unhas. É possível utilizar brinque­dos de tamanhos diferentes, texturas, consistências, cores, tudo isto para atrair o animal.

A rotação dos brinquedos é mais aconse­lhável do que ter muita quantidade deles, isto porque os gatos normalmente aborrecem ­se com situações previsíveis. Se há mais do que um gato, deveremos ter brinquedos suficien­tes para evitar o conflito pela posse dos mes­mos.

É interessante saber que um sinal de bem­­estar felino baseia ­se na existência da ativi­dade lúdica, inclusive quando o gato já não é tão jovem. Obviamente que a intensidade das brincadeiras em adulto já não é tanta como em etapas mais precoces.

Podemos recorrer à comida como imitação do comportamento predatório, escondendo o alimento ou lançando pequenas bolinhas de ração para que o gato as cace.

Se inibimos algumas destas condutas, tere­mos animais frustrados, com alterações a nível orgânico e inclusive animais com um alto nível de agressividade.

Tipos de enriquecimento ambiental

Sensorial Explorar o meio ambiente através da informação olfativa.

Alimentação Apresentar o alimento para favorecer a conduta exploratória e a brincadeira.

Manipulação Proporcionar recursos ambientais para reduzir o risco de stress e as doenças derivadas do stress.

Contexto Satisfazer as necessidades vitais do gato, respeitando e favorecendo os recursos chave.

Social Interação gato-gato, gato-proprietário ou gato-cão.

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12 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

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ContextoConsiste na melhoria do habitat do animal,

estabelecendo diferentes áreas destinadas ao descanso, à eliminação, à alimentação, ao recreio e exercício, tudo isso dentro de um contexto no qual o gato se sinta seguro, ou seja, um lugar no qual não se sinta ameaçado.

Podemos proporcionar ao gato estruturas para poder fugir ou esconder ­se, tais como caixas de cartão de acesso fácil e inclusive o seu próprio transportador (com uma habitua­ção adequada). Neste tipo de estruturas permite ­se resguardar ou simplesmente pode utiliza ­las para descansar, lavar ­se, etc.

Os locais com uma certa elevação, as pla­taformas ou estantes – sobretudo as verticais, permitem trepar e realizar marcação com as suas unhas. Podem também utilizar ­se árvo­res, cordas, estruturas de descanso apoiadas em aquecimentos, etc. Qualquer opção é válida, sempre e quando cumpra com as ne­cessidades do felino.

Naqueles lugares nos quais haja mais do que um gato, teremos de dispor de tantos locais seguros, como do número de gatos existente, de modo a que possam descansar individualmente.

Outro dos recursos chave neste grupo é a existência de bandejas de eliminação. Deve­riam ter dimensões de acordo com o tama­

nho do felino, com areia ou substrato ade­quado (geralmente têm preferência por areias finas e não perfumadas), e a localiza­ção será escolhida minuciosamente: longe de lugares de passagem, de comedouros e be­bedouros, ou daquelas localizações que não proporcionem tranquilidade e/ou privacida­de. O número de bandejas será sempre uma por gato, mais outra. Ou seja, se tivermos dois gatos, seria bom dispormos de três ban­dejas. A sua limpeza será diária e a renovação total do substrato será de, pelo menos, uma vez por semana.

Não podemos omitir a existência de um rascador ou de uma zona para desgastar as unhas, pois este comportamento faz parte da sua conduta natural.

A separação dos recursos e a introdução de novos estímulos no habitat do gato reduz o risco de stress e favorece as necessidades vitais do felino.

SocialConsiste em proporcionar relações intraes­

pecíficas (com outros congéneres) e interes­pecíficas (com humanos ou outras espécies animais).

Relações intraespecíficasA incorporação de um novo membro feli­

no numa casa pode ser muito benéfica se se tiver em consideração um adequado e corre­to protocolo de reintrodução. É possível que os dois felinos se convertam em companhei­ros inseparáveis, ou em inimigos potenciais. As condutas afiliativas, como o descanso, mantendo o contacto físico, o allogrooming (higiene mútua), ou o allorubbing (o ato de se roçar no outro indivíduo), etc., são indica­tivas de compatibilidade. No final, tudo de­penderá do grau de sociabilidade de cada um, do contexto e do resultado na apresen­tação dos animais.

Relações interespecíficasNo que se refere às relações com os huma­

nos, o gato doméstico é capaz de estabelecer uma forte ligação com uma ou várias pessoas, e o contacto regular e amistoso manifesta ­se em comportamentos positivos, com uma re­dução considerável do fator stress. Os gati­nhos deveriam começar a relacionar ­se com as pessoas durante o denominado período de sociabilização (desde as 2 até às 7 ­9 semanas de vida). O contacto físico com as pessoas durante esse período, sempre e quando seja amistoso e regular, dá origem a animais adap­táveis na etapa adulta e com uma menor pre­disposição para o stress.

Não se deveriam forçar as interações com o gato, e os contactos devem ser curtos, com pequenas e suaves carícias. À medida que o gato cresce e envelhece, as necessidades de interação podem variar quanto à intensidade e à duração condicionadas por alterações pró­prias da etapa de desenvolvimento na qual se encontre (existência de doenças, dores, etc.).

Por último, o enriquecimento social pode ­se realizar através da introdução de um compa­nheiro canino. O ideal seria promover o contac­to precoce, tal como ocorre com a sociabilização dos humanos. Um gato que cresce com um cão, não o considerará no futuro como um predador. Se introduzimos um cão num território onde já existe um gato, a apresentação deve ser gradual, para evitar situações de instabilidade que alte­rem o equilíbrio de ambas as espécies.

Em resumo, o enriquecimento ambiental consistem em satisfazer as necessidades me­dio ambientais do gato, que conduzam ao seu bem ­estar, tanto físico, como psicológico, respeitando a expressão das condutas natu­rais, próprias da sua espécies. o

Bibliografia disponível em www.argos.grupoasis.com/bibliografias/ambiental169.doc

NexGardTM 11 mg comprimidos mastigáveis para cães → 2 ‑4 kg; 28 mg comprimidos mastigáveis para cães → 4 ‑10 kg; 68 mg comprimidos mastigáveis para cães → 10 ‑25 kg; 136 mg comprimidos mastigáveis para cães → 25 ‑50 kg. COMPOSIÇÃO QUALITATIVA E QUANTITATIVA Substância activa: Cada comprimido mastigável contém Afoxolaner (mg): para cães 2 -4 kg – 11,3 mg; 4 -10 kg – 28,3 mg; 10 -25 kg – 68,0 mg; 25 -50 kg – 136,0 mg. Excipiente: Sorbato de potássio (E202) 3 mg/g. FORMA FARMACÊUTICA Comprimidos mastigáveis. Matizados, de cor vermelha a castanho avermelhado, com forma circular (comprimidos para cães 2-4 kg) ou com forma rectangular (comprimidos para cães 4 -10 kg, comprimidos para cães 10-25 kg e comprimidos para cães 25 -50 kg). INFORMAÇÕES CLÍNICAS Espécie(s)‑alvo Caninos (Cães). Indicações de utilização, especificando as espécies‑alvo Tratamento de infestações por pulgas em cães (Ctenocephalides felis e C. canis) durante pelo menos 5 semanas. O medicamento veterinário pode ser administrado como parte de uma estratégia de tratamento para o controlo da Dermatite Alérgica por Picada de Pulga (DAPP). Tratamento de infestações por carraças em cães (Dermacentor reticulatus, Ixodes ricinus, Rhipicephalus sanguineus). Um tratamento mata carraças até 1 mês. As pulgas e as carraças devem estar fixas no hospedeiro e começar a alimentação, para serem expostas à substância activa. Para as pulgas (C. felis), o efeito ocorre dentro de 8 horas após a fixação. Para carraças, o início do efeito (morte) ocorre dentro de 48 horas após a fixação. Contra ‑indicações Não administrar em caso de hipersensibilidade à substância activa ou a algum dos excipientes. Advertências especiais para cada espécie‑alvo Os parasitas precisam de começar a sua refeição no hospedeiro para ficarem expostos ao afoxolaner, por conseguinte o risco de transmissão de doenças transmitidas por parasitas não pode ser excluído. Precauções especiais de utilização Precauções especiais para utilização em animais: Na ausência de informação disponível, o tratamento de cachorrinhos com menos de 8 semanas de idade e/ou cães com menos de 2 kg de peso corporal deve ser baseado na avaliação benefício/risco realizada pelo médico veterinário responsável. Precauções especiais a adoptar pela pessoa que administra o medicamento aos animais: Para prevenir que as crianças tenham acesso ao medicamento veterinário, remova apenas um comprimido de cada vez do blister. Volte a colocar o blister com os restantes comprimidos mastigáveis na caixa. Lavar as mãos após a manipulação do medicamento veterinário. Reacções adversas (frequência e gravidade) Nenhumas. Utilização durante a gestação e a lactação Os estudos de laboratório efectuados em ratos e coelhos não produziram qualquer evidência de efeitos teratogénicos, ou qualquer efeito na capacidade reprodutiva nos machos e nas fêmeas. A segurança do medicamento veterinário não foi determinada durante a gestação e a lactação ou em cães reprodutores. Administrar apenas em conformidade com a avaliação benefício/risco realizada pelo médico veterinário responsável. Interacções medicamentosas e outras formas de interacção Desconhecidas. Posologia e via de administração Para administração oral. Dosagem: O medicamento veterinário deve ser administrado na dose de 2,7 -6,9 mg/kg de peso corporal. Para cães com mais de 50 kg de peso corporal administrar a combinação apropriada de comprimidos mastigáveis de diferente /igual dosagem. Os comprimidos não devem ser divididos. Método de administração: Os comprimidos mastigáveis são palatáveis para a grande maioria dos cães. Os comprimidos podem ser administrados com a comida, se os cães não os aceitarem directamente. Esquema do tratamento: Administrar em intervalos mensais, durante as estações de pulgas e/ou carraças, com base na situação epidemiológica local. Sobredosagem Não foram observadas reacções adversas em cachorrinhos Beagle saudáveis com mais de 8 semanas de idade quando tratados com 5 vezes a dose máxima repetida 6 vezes em intervalos de 2 a 4 semanas. Foram observados diarreia e vómitos, em Collies quando tratados com aproximadamente 5 vezes a dose máxima (25 mg/kg de peso vivo). Intervalo(s) de segurança Não aplicável. Precauções especiais de conservação Este medicamento veterinário não necessita de quaisquer precauções especiais de conservação. O medicamento veterinário é individualmente embalado em blisters de PVC laminados termo -formados e um filme de papel de alumínio. (Aclar/PVC/Alu). Uma caixa contém um blister com 1, 3 ou 6 comprimidos mastigáveis. TITULAR DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO MERIAL, 29, avenue Tony Garnier, 69007 Lyon, França NÚMERO(S) DA AUTORIZAÇÃO DE INTRODUÇÃO NO MERCADO EU/2/13/159/001 -012 Medicamento veterinário sujeito a receita médico ‑veterinária.

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13 13

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14 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAISP

anba

zil/s

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ock.

com

Daniel Ferreiro1, Tomás Camps2, Marta Amat2

1Serviço de Etologia Veterinária do Hospital Veterinário Guadiamar2Departamento de Etologia do Hospital Veterinário da UABImagens cedidas pelos autores

Condutas compulsivasEste problema de comportamento, cujo primeiro passo diagnóstico consiste em excluir a etiologia orgânica,

tem um prognóstico reservado. O seu adequado enfoque terapêutico pode contribuir para diminuir a frequência

e intensidade do surgimento dos sintomas.

As condutas compulsivas são aquelas con­dutas anormais que se realizam de forma repetitiva, invariável e sem função aparente (1). Mason estabelece uma classificação fun­cional e divide as condutas compulsivas em dois grandes grupos: aquelas que surgem como uma estratégia comportamental para fazer face a umas determinadas condições ambientais adversas, e aquelas que são resul­tado de alterações patológicas a nível neural e de um funcionamento anormal do cérebro (doença) (8).

Estas condutas de caráter compulsivo pro­cedem de outros padrões de comportamento (limpeza do pelo, locomoção, alimentação, caça, agressividade), mas manifestam ­se de forma exagerada, fora do contexto e interfe­rem com a vida normal do animal (2).

Esta alteração tem similitudes com os trans­tornos obsessivos compulsivos de medicina humana, como a resposta a determinados tratamentos, mas dado que em medicina ve­terinária não se pode afirmar que existe um componente obsessivo (1), neste artigo ire­mos utilizar o termo conduta compulsiva.

Manifestação clínica das condutas compulsivas

Durante a manifestação das condutas com­pulsivas, o animal pode chegar a causar a si próprio lesões e automutilações, o que po­derá agravar o problema e servir como agen­te cronificador.

Existem vários comportamentos observa­dos nos cães e nos gatos que partilham estas características, e que poderiam classificar ­se como condutas compulsivas (3):• A síndrome de hiperestesia felina é um

comportamento complexo. O animal tem uma conduta frenética, com corridas súbi­tas e espasmos da musculatura cutânea dorsal. Pode ou não mostrar ­se agressivo e o estímulo desencadeante pode ser o contacto físico ou as carícias (1).

• A alopecia psicogénea, que faz parte de um grupo de doenças que afetam a pele, cau­sadas por uma lambedura excessiva (as der­matoses psicogéneas), que não se podem justificar pela presença de lesões prurigino­sas. O lamber excessivo pode sobretudo afetar o terço posterior do abdómen e a face medial das extremidades posteriores (1).As condutas compulsivas podem surgir

pela primeira vez a qualquer idade, e são igualmente frequentes nos machos e nas fê­meas (1). Observou ­se uma certa predisposi­ção racial (tabela 2), o que pode indicar uma certa componente genética que contribua para o aparecimento desta alteração (1,2).

Há que ter em conta que estas condutas têm de cumprir as caracte­

rísticas anteriormente referi­das para serem consideradas con­

dutas compulsivas, ou seja, o animal tem de as realizar de uma forma repetitiva e inva­riavelmente e sem nenhuma função aparente.

Causas

Devemos considerar que as condutas com­pulsivas são um sinal, não um diagnóstico, dado que podem ter diversas causas.

Em primeiro lugar, teremos em conta que todas as condutas compulsivas referidas po­dem ter uma causa orgânica (8), o que nos obriga a descartar esta possibilidade antes de assumir um diagnóstico etológico. Existe uma grande variedade de causas orgânicas que podem dar lugar a condutas compulsivas: causas intracraniais como tumores ou hidro­cefalia, fraturas de cauda, problemas derma­tológicos quando a conduta implica o “lam­ber”, epilepsia psicomotora, encefalopatia hepática ou intoxicação por chumbo, são algumas das causas mais frequentes.

Não obstante, as condutas compulsivas são associadas frequentemente a fatores ambien­tais e a situações que geram ansiedade ou stress, como por exemplo:• Conflito: faz referência a uma situação na

qual o animal tem duas motivações muito intensas e por vezes incompatíveis uma com a outra. Alguns animais nestas situa­ções acabam por ter uma conduta que não está relacionada com nenhuma das moti­vações principais, e que aparece totalmen­te fora do contexto, como por exemplo, condutas por excesso de lamber. Estas são as condutas de deslocamento ou também designadas por condutas em vazio. De acordo com alguns autores, se surgem muito frequentemente e durante muito tempo, podem dar lugar a condutas com­pulsivas.

• Frustração reiterada ou crónica: refere ­se a situações nas quais o animal não pode rea­lizar uma conduta pela qual tem uma enor­me motivação. Isto pode ocorrer em situa­ções de isolamento prolongado e permanência em ambientes pobres em termos de estímulos. Existem evidências de que certos comportamentos como a copro­fagia, o lamber excessivo e outras condutas estereotipadas, são tipicamente expressas sob condições de baixa estimulação mental (por exemplo, os animais encerrados em canis durante muito tempo, ou que perma­

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15 15

necem apenas no jardim 24 horas por dia). As condições de vida dos refúgios para cães podem ser consideradas análogas às dos animais selvagens que vivem em cativeiro. Neste sentido, observou ­se uma elevada incidência de coprofagia e de lambedura excessiva em cães de refúgio albergados em condições de isolamento social e de espa­ços reduzidos. Em relação ao isolamento social, existem estudos que demonstram uma maior incidência de circling ou copro­fagia em animais albergados isolados do que nos animais alojados em grupo (7).Também existem outras situações de stress

crónico que parecem favorecer o surgimen­to destas condutas compulsivas. Alguns ca­sos de dermatite acral por lambedura (DAL) parecem secundários à ansiedade por sepa­ração. Por outro lado, o castigo inconsisten­te por parte do proprietário dá lugar a uma situação de falta de previsibilidade e contro­lo sobre o ambiente para o animal, que pode favorecer a que apareçam condutas compul­sivas. Desta forma, o conflito a frustração, a ansiedade ou o stress crónico podem servir como detonante de uma conduta compulsi­va. Ou seja, sempre que surge um estímulo que provoca estas situações, dão ­se compor­tamentos compulsivos. Mas pode ocorrer, se a situação persiste e não se soluciona, que após um longo período desta conduta, não seja necessário que apareça um estímulo de­tonante para a manifestação da conduta compulsiva (emancipação), e que esta se manifeste sem relação alguma com o con­texto original que a provocou. As condutas compulsivas de tipo locomotor respondem a este padrão, e o animal apresenta uma excitação aparente. Mas nas de tipo oral, um animal parece estar relaxado e aparecem em contextos onde é muito difícil encontrar o detonante ambiental (para o caso de o ha­ver) (3).

É importante mencionar que as condutas compulsivas podem estar reforçadas involun­tariamente pelo proprietário. Se o proprietá­rio apenas presta atenção ao cão quando manifesta esta conduta, ainda que seja com o objetivo claro de interrompe ­la, a conduta pode ter tendência a repetir ­se (1,3).

Diagnóstico

O diagnóstico das condutas compulsivas baseia ­se na observação da conduta, bem como numa anamnese etológica profunda e na exclusão de uma causa orgânica (3).

A anamnese deve recolher uma história de­talhada dos hábitos de vida do animal, infor­mação sobre como se iniciou o problema e como evolui, descrição dos contextos nos quais o comportamento se manifestava inicial­mente e os contextos em que se manifesta agora, descrição de outros aspetos como o momento do dia, presença de pessoas ou o comportamento prévio à manifestação da con­duta compulsiva, uma descrição do comporta­mento em si (se possível, acompanhado por uma gravação de vídeo), a reação dos proprie­tários perante a conduta, a facilidade ou difi­culdade para a interromper e o comportamen­to do animal após a conduta compulsiva (3).

Atendendo à classificação de Mason, não poderemos estabelecer um diagnóstico etoló­

gico para uma conduta compulsiva sem des­cartar uma causa orgânica que possa justificar um mau funcionamento do cérebro (8).

Para excluir causa orgânica, será necessário, pelo menos, um exame físico geral, um exame neurológico, uma hematologia e bioquímica e uma urianálise (1,3). Nos casos de DAL, lam­bedura das partes laterais ou alopecia psicogé­nea, é imprescindível proceder a um protoco­lo dermatológico completo. Noutros casos, como os cães que caçam moscas imaginárias, pode ser necessária a realização de testes of­talmológicos (1). As condutas compulsivas são muito heterogéneas e as causas mais frequen­tes são problemas neurológicos, dermatológi­cos, metabólicos e infeciosos, e por isso os exames complementares de diagnóstico po­dem variar em função de cada caso individual.

Tratamento das condutas compulsivas sem causa orgânica

As condutas compulsivas têm um prognós­tico reservado e o plano de tratamento nem sempre consegue o êxito que se espera. Num estudo de Overall, na maioria dos casos conseguia ­se uma redução considerável da conduta, tanto em intensidade, como na fre­quência, o que pode ser mais viável para a vida do animal e menos para a dos seus pro­prietários (4). Contudo, se a conduta compul­siva está emancipada, ou seja, surge indepen­dentemente do estímulo que a provocou originalmente, o prognóstico é mau. O plano de tratamento consiste em:• Terapia farmacológica.• Modificação do ambiente (eliminar a fonte

de conflito/stress/frustração, aumento da estimulação mental, rotinas de passeios, exercício, alimentação, obediência).

• Correção do manejo do proprietário (evitar o castigo, reforço involuntário, maneio) (1,3,4).

Tabela 1. Exemplos de condutas compulsivas.

Locomotor Circling, perseguição da cauda, perseguição a luzes ou reflexos, freezing, correrias súbitas, hipertesia felina.

Oral Lambedura excessiva, dermatite acral por lambedura (DAL), alopecia psicogénea, lamber o ar, o chão, objetos, o nariz, as laterais do corpo, ingestão do pelo, caçar moscas imaginárias.

Agressividade Autodirigida, dirigida a objetos inanimados, dirigida a pessoas de forma imprevisível.

Vocalização Ladrar rítmico, guinchos persistentes.

Alucinações Evitar objetos imaginários, ver sombras, sobressaltos sem razão aparente.

Modificado a partir de A. Luescher (2000) Compulsive Behavior in Companion Animals.

Durante a manifestação das

condutas compulsivas, o animal

pode chegar a causar a si próprio

lesões e automutilações, o que

poderá agravar o problema e

servir como agente cronificador.

CLÍNICA ANIMAL5

16 CAPA / ETOLOGIA EM PEQUENOS ANIMAIS

Terapia farmacológicaA clomipramina é o fármaco de eleição para

o tratamento das condutas compulsivas. Em cães, recomenda ­se uma dose de 2 ­3 mg/kg, cada 12 horas, e em gatos, de 0,5 ­1 mg/kg uma vez por dia (3). Contudo, alguns autores reco­mendam uma introdução progressiva para evitar alterações gastrintestinais, de forma que começam com 1 mg/kg cada 12 horas duran­te 14 dias, seguidos de outros 14 dias a 2 mg/kg cada 12 horas, e por último passa ­se a 3 mg/kg cada 12 horas durante 1 mês para um tra­tamento mínimo de 2 meses (4). Recomenda­­se que a retirada do fármaco seja progressiva, eliminando não mais do que 25% da dose por semana, até à sua retirada total (1,3).

Contudo, na literatura existem referências a tratamentos com outros psicofármacos como a fluoxetina, a sertralina ou a paroxe­tina (3,4).

Há que referir que estão a surgir novas opções de tratamento, como a memantina, um antagonista dos recetores NMDA. Ainda que seja um tratamento muito caro, parece ser uma opção muito eficaz na redução das

condutas compulsivas. Pode ­se administrar isolado ou em combinação com fluoxetina ou clomipramina, pelo que representa uma opção para ter em conta naqueles animais resistentes ao tratamento com inibidores da recaptação da serotonina (9,10).

Tratamento etológico• Modificação do ambiente: eliminar a fonte

de conflito/stress/frustração, aumentar a estimulação mental, estabelecer rotinas de passeio, exercício, alimentação, obediên­cia.

• Correção do manejo do proprietário: evitar o castigo, reforço involuntário, manejo.Em primeiro lugar, é imprescindível elimi­

nar a fonte de stress/ansiedade, conflito ou frustração. Em alguns casos, é muito difícil conhecer o detonante ambiental. Noutros casos, pode ­se identificar o desencadeante e para o eliminar há que primeiro tratar outros problemas de comportamento, como por exemplo, DAL em ansiedade por separação. Existe a possibilidade de ser impossível eli­minar o estímulo desencadeante das condu­

tas compulsivas. Por este motivo, devemos advertir os proprietários da dificuldade do tratamento nesta situação, e indicar ­lhes que a alteração de casa/proprietário pode ser uma solução razoável.

Quando uma conduta compulsiva está es­tabelecida, qualquer situação stressante pode perpetuá ­la. Portanto, está indicado tentar reduzir o stress ambiental o mais possível. Dado que o castigo, per si, é stressante, está contraindicado aplica ­lo aos animais afetados (3). O nosso objetivo vai ser dar ao animal a máxima previsibilidade e controlo sobre o ambiente. Instruiremos os proprietários para

Tratamento de condutas compulsivas

• Tratamento psicofarmacológico:- Clomipramina- Fluoxetina- Sertralina- Paroxetina- Memantina

• Tratamento etológico:- Retirar a fonte de conflito, frus-

tração, stress ou ansiedade.- correção do manejo do proprietá-

rio: evitar o castigo físico, reforço involuntário.

- reduzir ao máximo o stress ambiental:- Estabelecer rotinas de passeio,

alimentação e exercício.- estimulação mental- interações estruturadas com

proprietários- Programa de substituição de res-

posta

Overall, K (2013) Manual of Clinical Behavioral Medicine for Dogs and Cats. Elsevier.

Resultados do tratamento de 103 cães comn condutas compulsivas

60

50

40

30

20

10

0

Frequência

Redução de baixa intensidade (<50%)

Redução de alta intensidade (>50%)

Redução de baixa frequência (<50%)

Redução de alta frequência (>50%)

Resultado Sem mudanças

Tabela 2. Predisposição racial a condutas compulsivas.

DAL/GranulomaDoberman, Labrador, Pastor Alemão, Dogue alemão, Akita, Dálmata, Setter Inglês, Maltês, Shar-Pei, Schnauzer standard, Weimaraner, Golden Retriever

Sucção das partes laterais Doberman.

Perseguição da cauda Bull Terrier, Pastor Alemão, pastor australiano.

Sucção dos tecidos Siamês.

Alopecia psicogénea Siamês, Oriental, Himalaio, Absínio.

R. E. Mentzel (2006) Trastorno obsesivo compulsivo en caninos y felinos.

CLÍNICA ANIMAL5

17 17

que interajam com o animal de forma consistente e estru­turada. É recomendável estabelecer um regime regular de passeios, de alimentação, de brincadeiras, de rotação de brinquedos para aportar uma estrutura à rotina diária do animal. Uma atividade que requeira exercício físico, como pode ser o frishee dog ou o agility, ou qualquer outra ativi­dade de treino em obediência orientada para o jogo, podem ser benéficas para o animal (5). Nos gatos recomenda ­se incluir no protocolo de enriquecimento ambiental momen­tos de brincadeira concentrados na mesma hora do dia, com jogos que incluam plumas, canas de pescar ou inclusive lançar e trazer o objeto (3).

Também se pode introduzir um programa de contra­­condicionamento, também designado como substituição de resposta. Se os proprietários decidem utilizar esta ferramenta, é necessário avisa ­los da importância de realizar este trabalho de forma consistente para que o tratamento seja eficaz. É muito importante que o animal nunca tenha a oportunidade de manifestar a conduta compulsiva. Em cães, ensina ­se com reforço positivo a realizar uma conduta incompatível, ou seja, que não pode realizar em vez da conduta compulsiva.

Cada vez que o cão mostre algum sinal de que vai reali­zar a conduta compulsiva, inter rompe ­se indiretamente e procuramos levá ­lo a realizar outra conduta alternativa (3,5). É muito importante que a interrupção se faça de forma in­direta, ou seja, com estímulos alheios ao proprietário (por exemplo, um ruído de longe), antes de lhe pedir a ordem. É imprescindível que a distrição do animal seja efetiva. Se não for o caso, pedir a nova conduta pode resultar ineficaz­mente, e até pode agravar o problema servindo de reforço involuntário (3).

Recordemos que este último poderia ser a causa de algu­mas condutas compulsivas e eliminá ­lo é primordial no tra­tamento (1,3). Devemos ter em conta que os cães com con­dutas compulsivas são mais persistentes do que os restantes. Num estudo submeteram ­se cães com e sem condutas com­pulsivas a um programa de extinção de uma conduta (tocar com o nariz), previamente treinada e reforçada durante 40 ensaios. Observou ­se que o número médio de respostas dadas pelos cães com condutas compulsivas durante a fase de extinção era quase o dobro do número médio de respos­tas que davam os animais do grupo controlo (6).

Conclusão

As causas das condutas compulsivas podem ­se dividir em dois grandes grupos:• Orgânicas (problemas neurológicos, dermatológicos, in­

feciosos ou metabólicos).• Não orgânicas (conflito, frustração, ansiedade ou ansie­

dade mantendo o tempo).É muito importante chegar a um diagnóstico definitivo

para poder implementar um plano de tratamento adequado.Trata ­se de um problema de comportamento com prog­

nóstico reservado, ainda que com um tratamento adequado, na maioria dos casos, se possa reduzir consideravelmente o problema, na frequência e na intensidade. o

Bibliografia na posse da editora

CLÍNICA ANIMAL5

20 PRÁTICA CLÍNICA

Glossectomia parcial por carcinoma de células escamosas no cãoA glossectomia, ou ressecção da língua, é o tratamento de eleição neste tipo de neoplasias, o mais frequente na língua, e no qual a quimioterapia parece não ser eficaz.

A língua é um órgão especializado, de origem muscular, recoberto por uma mucosa, constituída por um epitélio plano estratificado não queratinizado. É imprescindível para deglutição e cumpre função como órgão do paladar, sen­sível ao tato, à dor e à temperatura. No cão, para além disso, serve para a termorregulação através do arfar.

A língua é irrigada pela artéria lingual e glândulas sublin­guais da artéria carótida comum. Entre as veias, a veia su­blingual tem uma importância prática porque se vê clara­mente na superfície ventral da língua, sendo assim possível a sua punção. O nervo hipoglosso (XII Nervo Cranial) é o principal nervo motor dos músculos da língua.

Não é um órgão onde surjam com frequência as neopla­sias mas, ainda assim, podemos encontrar carcinomas de

Whyte A.; Bonastre C.; Díaz-Otero A.; Pedret B.; Cruz A.; González A.; Obón, J.*Hospital Clínico VeterinárioFaculdade de Veterinária. Universidade de Saragoça.Miguel Servet 177 50013 Saragoça* Médico odontólogoDpo. Anatomia e Histologia HumanaFaculdade de Medicina. Universidade de SaragoçaCorrespondência: [email protected] cedidas pelos autores

células escamosas, mioblastomas, fibrossarcomas, mastoci­tomas, melanomas malignos, hemangiossarcomas e linfo­mas, ainda que o mais comum é o primeiro que se referiu. Este tipo de tumor é muito invasivo e pode desenvolver metástases. A glossectomia, ou ressecção da língua, é o tratamento de eleição. A quimioterapia parece não ser efi­caz e o seu prognóstico é pouco favorável.

A glossectomia é uma técnica cirúrgica indicada para a eliminação total ou parcial da língua, e que leva a cabo quando se tem confirmado um diagnóstico de cancro. A técnica consiste na extirpação da massa oncológica, com uma intenção curativa, e pode ser:• Glossectomia parcial: remoção parcial da língua (afeta a

parte livre da língua).• Glossectomia total: remoção completa da língua.• Hemiglossectomia: remoção de um lado da língua.

A técnica cirúrgica dependerá da localização da neopla­sia.

Nas massas pequenas, de situação rostral livre ou dorso­caudal, a ressecção parcial pode ser feita com bons resul­tados e permite eliminar até 40 ­60% do tecido da língua, o que torna possível uma boa qualidade de vida ao paciente.

As lesões malignas que se localizam mais profundamen­te na base da língua, ou que fazem com que esta fique sujeita ao tecido mole adjacente, são candidatas a uma ressecção completa.

A ressecção cirúrgica parcial implica uma hemorragia significativa em muitos casos. A realização de um tornique­te na língua, caudal em vez da excisão, com clamps intes­tinais atraumáticos, constitui uma grande ajuda no controlo do sangramento. O tecido lingual é eliminado em forma de cunha, de maneira a que posteriormente se possam mane­jar de forma correta as mucosas lingual, dorsal e ventral.

A aposição do epitélio lingual deverá ser feita com uma sutura de material monofilamento absorvível.

Durante o pós ­operatório será necessário administrar uma dieta mole para facilitar o paciente a ingerir o alimen­to, ainda que, por vezes, haja pacientes com problemas de adaptação nos quais terá de ser colocado um tubo de ali­mentação de modo temporal. Dever ­se ­á administrar anti­bioterapia de modo profilático durante uma semana.

Caso clínico

É remetido para o Serviço de Odontologia do Hospital Veterinário da Universidade de Saragoça um Husky Sibe­riano, macho, de quatro anos de idade, que tinha sido tratado com antibiótico e pentoxifilina (melhora o fluxo Figura 1. Aspeto inicial da lesão.

CLÍNICA ANIMAL5

21PRÁTICA CLÍNICA

sanguíneo), após uma lesão antiga, e que não respondia ao tratamento.

A proprietária refere que o animal apresenta a língua inflamada e que sangra com frequência.

Na exploração da cavidade oral observa ­se, a nível lin­gual, na sua porção rostral, um tecido proliferativo, hetero­géneo, muito vascularizado e com a presença de úlceras (figura 1). A exploração geral do animal não evidencia nenhum dado relevante.

Decidiu ­se proceder a uma biopsia sob anestesia geral. No mesmo ato cirúrgico, procedeu ­se à punção ­aspiração do gânglio submandibular. A recolha da biopsia da massa lingual fez ­se através de laser Co

2 (figura 2).

O resultado da punção ­aspiração do gânglio submandi­bular evidenciou uma população pleomórfica com predo­mínio de linfócitos, sem outros tipos celulares, pelo que se considerou uma imagem citológica negativa. Contudo, a

biopsia remetida ao serviço de anatomia patológica deter­minou a presença de um carcinoma de células escamosas na língua.

Perante o resultado obtido, optou ­se pela amputação da porção rostral da língua. Como tratamento pré ­operatório protocolou ­se ácido aminocapróico 100 mg/8 horas/3 dias antes da cirurgia como hemostático preventivo.

Após a indução anestésica e a correspondente prepara­ção do campo cirúrgico, o paciente foi posicionado em decúbito esternal e foi colocado um afastador para manter a abertura da cavidade oral durante a cirurgia (figura 3).

A cirurgia iniciou ­se com a colocação de dois clamps intestinais atraumáticos com o objetivo de controlar a he­morragia. De seguida, procedeu ­se ao corte em forma de cunha ao longo de toda a espessura da língua (figura 4).

Uma vez identificados os vasos sanguíneos de grande calibre, procedeu ­se à ligação dos mesmos com material

Figura 2. Aspeto da língua após a recolha da biópsia com laser de CO2.

Figura 3. Posicionamento do paciente, preparação do campo cirúrgico e detalhe da massa na zona dorsal e ventral da língua.

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22 PRÁTICA CLÍNICA

reabsorvível 3/0 para o controlo da hemorragia (figura 5). De seguida, deram ­se uns pontos de tração nos extremos da língua para nos permitir segurá ­la após a retirada dos clamps (figura 6).

Depois, fechou ­se a camada muscular através de uma sutura contínua com pontos de reforço e material reabsor­vível 4/0. Posteriormente, suturou ­se a mucosa com pontos simples soltos com material reabsorvível 3/0 (figura 7).

Durante o procedimento cirúrgico, ocorreu a inflamação do tecido lingual, que foi controlada através da administra­ção de metilprednisolona à razão de 2 mg/Kg IV.

No pós ­operatório, continuou ­se com metilprednisolona durante 4 dias a uma dose de 1 mg/Kg PO cada 24 horas,

após os quais se iniciou o protocolo de redução. Também se administrou tramadol como analgésico 2 mg/Kg PO cada 8 horas, durante 7 dias e antibioterapia à base de amoxicilina ­clavulânico 15 mg/kg PO, cada 12 horas du­rante 7 dias e enrofloxaxiona 5 mg/kg, cada 24 horas du­rante 7 dias. Inicialmente, recomendou ­se dieta líquida nos primeiros dias, ainda que aos 5 dias após a intervenção, o animal já era capaz de ingerir alimento mole e bebia de forma autónoma (figura 8).

A análise anatomopatológica confirmou o diagnósti­co inicial de carcinoma de células escamosas, para além da ausência de células tumorais nos rebordos da incisão.

Figura 4. Início da resseção da língua. Figura 5. Identificação e ligação dos vasos sanguíneos de grande calibre.

Figura 7. Imagem após a sutura da mucosa com pontos simples

soltos.Figura 6. Colocação dos pontos de tração nos extremos da língua.

CLÍNICA ANIMAL5

23PRÁTICA CLÍNICA

Figura 9. Imagem do paciente aos 13 dias após a intervenção.Figura 8. Imagem do paciente aos 8 dias após a intervenção.

Discussão

A língua é uma localização pouco comum de tumores. A sua presença é rara em cães e representa apenas 2 a 4% de todos os tumores orofaríngeos e cerca de 25% dos casos de diagnóstico casual. Ainda assim, o melanoma e o carci­noma de células escamosas são os tumores malignos mais frequentes na língua, seguidos de linfoma.

Os sintomas associados a este tipo de neoplasias são a alimentação com dificuldade, halitose, sialorreia e, em fases avançadas, dificuldade respiratória.

O prognóstico depende da localização do tumor e do seu tamanho. Os de situação rostral têm um melhor prog­nóstico, dado que aí são detetados mais cedo e é mais fácil respeitar as margens cirúrgicas. Os de localização caudal podem ter uma maior rede linfática e vascularização, o que facilita a metastização.

Relativamente ao tamanho, em estudos realizados por Syrcle (2008), parece que os tumores malignos maiores de 4 cm2 são quase 10 vezes mais propensos a desenvolver recidivas ou metástases.

A indicação para a amputação parcial da língua é a neo­plasia, que normalmente assenta na margem ou base da­quela. A amputação de 40 a 60% da língua rostral, em geral, é bem tolerada. A amputação na base dificulta a ingestão de sólidos e de líquidos. Contudo, o animal pode aprender a sugar a água ou o alimento, o que pode ajudar a preen­são.

No pós ­operatório, deve ­se oferecer água ao animal de­pois de ter recuperado da anestesia. Às 12 ­14 horas pode ­se iniciar a alimentação mole, mantendo ­se até normalmente duas semanas. Os cães devem começar a comer no mesmo dia da cirurgia, ou logo no dia seguinte, recuperando a preensão progressivamente.

Quando se realiza uma resseção lingual de mais de 50%, é aconselhável a realização de uma esofagostomia com o

objetivo de assegurar a alimentação do animal. A sonda de alimentação deve ser deixada durante 2 semanas ou até o cão ser capaz de comer e beber por si.

Algumas das complicações da glossectomia a curto pra­zo, são: necrose marginal da língua, disfagia, ptialismo e deiscência da sutura. A longo prazo podem ­se observar ligeiras alterações nos hábitos alimentares. o

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CLÍNICA ANIMAL5

24 PRÁTICA CLÍNICA

Manejo nutricional de um gato obeso com diabetes mellitus felinaUmas das consequências da obesidade felina é o surgimento da resistência à insulina, que provoca o aparecimento da diabetes mellitus não dependente desta hormona. Por isso, a dieta pode ajudar a controlar a glicemia em gatos diabéticos, como é o caso do paciente protagonista deste caso clínico.

A diabetes mellitus (DM) felina não dependente de insu­lina partilha muitas características patofisiológicas com a DM humana tipo 2 (Lutz and Rand, 1995). De entre as principais características da DM tipo 2, a mais comum nos gatos (80 ­95% das diabetes felinas), são a diminuição da secreção de insulina – devido a um defeito funcional nas células beta do pâncreas –, e à resistência à ação da insuli­na nos tecidos alvo (Martin et al., 2010). Em ambas as es­pécies, a obesidade é um dos fatores de risco mais impor­tantes no desenvolvimento da DM tipo 2. Estudos como o de Panciera et al. (1990) sugerem que o sobrepeso, a idade avançada, o sexo (macho) e a esterilização, são fatores de risco para a DM em gatos. Nos últimos anos, tem ­se obser­vado um aumento na prevalência de diabetes tipos 2, pos­sivelmente devido ao aumento de fatores de risco como a obesidade e a inatividade nos gatos domésticos (Rand et al., 2004; Slingerland et al., 2009), isto para além de um melhor e mais precoce diagnóstico.

Jenifer Molina, BVSc1, Cecilia Villaverde, BVSc, PhD, Diplomate ACVN & ECVCN1,2 e Marta Hervera, BVSc, PhD, Diplomate ECVCN3

1Fundação Hospital Clínico Veterinário, Universidade Autónoma de Barcelona, Belaterra, Spain2Departamento de Ciência Animal e do Alimento, Universidade Autónoma de Barcelona, Belaterra, Spain3Unidade de nutrição e endocrinologia Oniris. La Chantrerie, 44307, Nantes, France

O mecanismo pelo qual a obesidade é predisponente é um aumento da resistência à insulina (Martin and Rand, 2000; Hoenig et al., 2007; Hoenig, 2012). Sabe ­se que um aumento de 50% na condição corporal se traduz numa redução de 60% da sensibilidade celular à insulina (kley et al. 2009). Também se observou que a perda de peso nor­maliza a sensibilidade à insulina (Biourge et al., 1997; Hoe­nig et al., 2007), sendo então importante que os pacientes felinos com DM e obesidade se submetam a um plano de perda de peso para tentar reverter a doença.

A dieta também pode ajudar a controlar a glicemia na DM, através de várias estratégias (aumento do nível de fibra ou redução do nível de carboidratos digestíveis, entre as mais comummente utilizadas). Assim, o maneio nutricional é uma ferramenta útil para o controlo da DM felina, de forma direta, através do controlo da obesidade e alterações lipídicas (Ihle, 1995).

Neste artigo reportamos o caso de um gato diagnostica­do com DM e sobrepeso.

Resenha, anamnese e tratamento médico

Pitu é um gato cruzado de Siamês, de 5 anos de idade, macho castrado, de vida indoor. Foi diagnosticada a Pitu DM e sobrepeso pelo seu veterinário e três meses depois foi referenciado para o nosso hospital.

Nesse momento e desde há cerca de 1 semana que tinha melhorado a sua sintomatologia (poliúria, polidipsia, apatia e anorexia). Era ­lhe administrada 0,4 ml de insulina lenta e 0,2 ml de insulina rápida, via intramuscular, três vezes ao dia (em sincronia com cada comida). O controlo da DM não era o ideal de acordo com as curvas de glicose reali­zadas.

No mesmo dia em que deu entrada no nosso hospital, realizou ­se um estudo ecográfico, no qual foi detetado rea­tividade pancreática, compatível com pancreatite, e espes­samento da camada muscular do intestino delgado. Nas análises ao sangue, foi observada uma elevação do nível de colesterol total (247,5 mg/dl).

Ainda que a lípase pancreática específica felina não fosse compatível com pancreatite (2,1 µg/l), depois de observadas as alterações ecográficas, tratou ­se o caso como tal.

Iniciou ­se o tratamento da pancreatite, com buprenorfina (20 µg/Kg), antibiótico amoxicilina ­clavulâmico (30 mg/Kg) e alterou ­se para uma dieta intestinal altamente digestível.

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25PRÁTICA CLÍNICA

Passados dois meses Pitu estava clinicamente bem e com a glicemia controlada. Decidiu ­se então retirar paulatina­mente a insulina e foi referenciado para o serviço de nutri­ção, a fim de realizar um plano de perda de peso, tentando manter o seu estado de remissão.

História dietética

Depois do diagnóstico inicial com sobrepeso e DM por parte do seu médico veterinário, alterou ­se a sua dieta de manutenção para uma dieta seca terapêutica para a perda de peso (dieta A). Esta dieta é enriquecida com nutrientes, para evitar deficiências nutricionais durante a restrição caló­rica. A sua distribuição calórica (% da energia metabolizável), é de 38% (12,6 g/100 kcal), 21% (3,2 g/100 Kcal) e 41% (8,2 g /100 Kcal) de proteína, gordura e carboidratos, respetiva­mente, e tem um conteúdo de fibra bruta de 2,2 g/100 kcal.

Já no nosso hospital, depois do diagnóstico presuntivo de pancreatite, alterou ­se para uma dieta seca intestinal moderada em gordura (dieta B). Esta dieta tem um perfil calórico de 35% (9,5 g/100 Kcal), de proteína, 31,6% (3 mg/10 Kcal), de gordura, 33,4% (8,9 g/100 Kcal) de carboidratos, com um conteúdo em fibra bruta de 1,3 g /100Kcal. Com esta dieta e o restante tratamento melhorou o quadro clínico, mas sem chegar a um controlo adequado da glicemia.

Por isso, quinze dias depois, o serviço de medicina inter­na (após consultar o serviço de nutrição), decide alterar para uma dieta seca para gatos diabéticos (dieta C), com uma distribuição calórica de 46% (12,4 g/100 Kcal), 30% (3,2 g/100 Kcal), 24% (6,5 g/100 Kcal) de proteína, gordura e carboidratos, respetivamente, e um conteúdo em fibra de 1,2 g/100 kcal. Existem duas estratégias diferenciadas para o maneio nutricional da DM felina: dietas altas em fibras ou baixas em carboidratos. A dieta escolhida é um ponto mé­dio entre as duas: o seu nível de carboidratos, ainda que maior do que o de outras dietas, é moderado ­baixo e o seu nível em fibra não é tão alto como o de outras dietas. Esta dieta tem a vantagem de ser mais moderada em gordura do que as dietas típicas baixas em carboidratos, aspeto adequado num gato com história de pancreatite, como neste caso. Além disso, tem menor densidade energética que essas mesmas dietas, o que ajuda a que Pitu mantenha o seu peso atual e não continue a engordar. Com esta die­ta conseguiu ­se uma melhoria clínica, acompanhada por um controlo adequado da glicemia, até ao ponto de se poder retirar a insulina do seu tratamento.

Avaliação nutricional

Exame clínicoO peso inicial de Pitu quando veio pela primeira vez ao

nosso hospital era de 5,3 Kg. Este peso foi aumentando à medida que melhorava o seu estado clínico, até aos 6,4 Kg no momento em que referenciado para o nosso serviço, três meses depois. A condição corporal de pitu era de 7 em 9, considerando 4 ­5 como o ideal (Laflamme, 1997) e a sua condição de massa muscular era de 3 em 3, considerando 3 adequada e 0 perda muscular grave (Freeman et al., 2011).

Necessidades energéticas teóricasCalculamos as necessidades energéticas de manutenção

(MER) para Pitu, utilizando a fórmula para gatos com ten­dência para a obesidade do NRC (National Research Cou-ncil, 2006).

MER (gato adulto com sobrepeso) = 130 x (peso atual em Kg)0,4 = 130 x (6,4)0,4 = 273 Kcal/dia

Consumo energético atualPitu consumia 70 gramas da dieta C, repartidos em 3

vezes por dia. Esta ração aportava 270 Kcal por dia.Como se pode observar, neste caso, as necessidades teó­

ricas de Pitu e a sua ingestão energética real são equivalen­tes, mas isto não sucede sempre, já que as necessidades energéticas teóricas das fórmulas para a estimulação das necessidades energéticas podem resultar em erros de até ±50% (Gross et al., 2010). Assim, é sempre importante par­tir do consumo real se se dispõe dele.

Maneio nutricional para Pitu

Os objetivos da terapia para Pitu foram:1. Ajudar à redução pós ­prandrial da glicose.2. Reduzir a flutuação das concentrações de glicose no

sangue pós ­pandriais, tentando evitar as hiperglicemias e as hipoglicemias.

3. Alcançar o peso corporal adequado.Para os objetivos 1 e 2, historicamente são utilizadas die­

tas altas em fibra (e por vezes em carboidratos complexos). A fibra pode afetar os enzimas digestivos, o que potencial­mente pode resultar num menor pico de glicose pós­­pandrial a favor de uma absorção mais lenta e constante da glicose. Existe um estudo (Nelson et al., 2000) que compara duas dietas em gatos com DM, uma com 19% de fibra die­tética total (12% em matéria seca de celulose), com uma dieta controlo, com 4,1% de fibra dietética total, durante 24 semanas. Nos gatos que consumiram a dieta alta em fibra, observou ­se uma redução tanto na concentração de glicose pós ­pandrial, como na concentração média de glicose (12 horas). Este tipo de dietas do mercado aportam 11 ­12 g/100

Figura 1. Comparação do conteúdo em macronutrientes da dieta diabética que Pitu consumia (C) com a dieta de perda de peso de

eleição (D) (ELN: extrativos livres de nitrogénio).

Niv

el d

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14

12

10

8

6

4

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Macronutrientes

Proteína bruta Gordura bruta ELN (carbohidratos) Fibra bruta

n Dieta C (seco)n Dieta D (seco)

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26 PRÁTICA CLÍNICA

kcal de proteína, 2,8 ­3,5 g/100 kcal de gordura, 9 ­10,5 g/100 Kcal de carboidrato e 2,5 ­4 g/100 Kcal de fibra bruta.

Nos últimos anos, alguns estudos sugeriram que o uso de dietas baixas em carboidratos e em fibra (e mais altos em gordura e moderadas ­altas em proteína) pode ser be­néfico no manejo da doença, e certos autores propõem ­no como tratamento de eleição nos gatos com DM (Martín and Rand, 2000):• O estudo (não controlado) de Frank et al. (2001) analisou

o uso de uma dieta deste tipo durante 3 meses em 9 gatos com DM, após um mês a consumir uma dieta alta em fibra. A dieta não teve efeito na concentração de glicose sanguínea, nem na fructosamina, ainda que se tenha reduzido a dose de insulina nos gatos em função dos sinais clínicos.

• O seguinte estudo (Mazzaferro et al., 2003), também sem grupo controlo, utilizou 18 gatos com DM e tratou ­os com uma dieta húmida para gatinhos em crescimento, baixa em carboidratos, para além de um hipoglicemian­te oral. A concentração de glicose baixou em todos os gatos, e em 11 deles pode ­se parar o tratamento com insulina. Contudo, estes gatos que responderam à dieta mais medicação também perderam peso, com o que o efeito da dieta é indistinguível deste efeito. O estudo de Bennett et al. (2006), esse sim com controlo, comparan­do uma dieta alta em fibra (3,1 g/100 Kcal vs. 0,1 g/100 Kcal), com uma dieta baixa em carboidratos (26% contra

12% de acordo com a energia), durante 4 meses. As dietas eram parecidas em proteína, mas diferentes em carboidratos, gordura, fibra e densidade energética. 60% dos gatos com a dieta baixa em carboidratos remitiu, comparado com 40% dos gatos que consumiram a dieta alta em fibra.

• O último estudo comparou, em gatos diabéticos, uma dieta terapêutica baixa em carboidratos (17% de acordo com a energia), com várias dietas de manutenção (secas, húmidas) e não encontrou diferenças na remissão (Hall et al., 2009). As dietas no mercado baixas em carboidra­tos aportam 12 ­14 g/100 kcal de proteína, 4,5 ­6 g/100 kcal de gordura, 2 ­4,7 g/100 Kcal de carboidrato e 0,4 ­1 g/100 Kcal de fibra bruta.Com a informação de que se dispõe a partir destes

estudos, é difícil recomendar uma percentagem ideal de proteína, gordura e carboidratos (e conteúdo em fibra), em gatos com DM e deve ­se avaliar cada caso especifica­mente. Outra diferença fundamental que pode afetar a nossa decisão é se o gato tem sobrepeso ou está dema­siado magro, já que as dietas baixas em carboidratos podem ser muito elevadas em energia e as dietas altas em fibra podem ser demasiado voluminosas. Além disso, tanto o valor de carboidratos, como o de fibra têm limi­tações analíticas importantes: os carboidratos estimam ­se por diferença (com o que têm um elevado erro e podem sobre estimar o amido) e a fibra bruta declarada na eti­queta, claramente subestima o conteúdo em fibra total. De facto, comparar dietas comerciais nestes nutrientes é complexo e inexato.

Quando Pitu veio à nossa consulta, alimentava ­se com a dieta C, mantendo estável a glicemia sem necessidade de administrar insulina. Esta dieta é alta em proteína, mas não é das mais baixas em carboidratos, já que é moderada em gordura, coisa que nos interessava neste caso devido à história de pancreatite do paciente. O seu nível de fibra é de moderado a alto. Visto que esta estratégia no Pitu havia resultado no controlo dos seus sinais clínicos e na descon­tinuação na insulina, o objetivo foi encontrar uma dieta com características similares, mas que por sua vez fosse também adequada para a perda de peso.

As dietas terapêuticas de perda de peso têm uma baixa densidade energética e estão enriquecidas em nutrientes (níveis elevados de proteína, vitaminas e minerais) para promover a perda de peso sem risco de criar deficiências (Center et al., 2000). Comparando entre si as dietas para a perda de peso existentes no mercado, escolheu ­se para Pitu uma dieta de perda de peso (dieta D) com a seguinte dis­tribuição calórica ME: 49% proteína, 1% gordura e 20% carboidratos, um conteúdo em fibra de 2,0 g/100 Kcal e em energia de 3,3 Kcal/g de alimento.

Ou seja, escolheu ­se uma dieta com um perfil de macro­nutrientes similar à dieta que consumia o paciente, mas com uma menor densidade energética (3,3 contra 3,9 Kcal/g) e enriquecida com vitaminas e minerais (figura 1). A menor densidade energética deve ­se ao facto de que a dieta de perda de peso tem mais fibra do que a diabética. Esta fibra adicional da dieta, além de ajudar ao controlo da glicemia (como se referiu), reduz a densidade energética da dieta,

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com

CLÍNICA ANIMAL5

27PRÁTICA CLÍNICA

sendo assim útil como prevenção e/ou tratamento da obe­sidade (Prola et al., 2006).

Relativamente à proteína em estudos como o de Hoenig et al. (2007), observou ­se que dietas altas em proteína (45,2 g/100 Kcal vs 27,5 g/100 Kcal) foram benéficas para manter a sensibilidade normal à insulina em gatos obesos, enquan­to em estudos mais recentes (Mimura et al, 2013), não se observou este efeito. Neste caso, escolhemos uma dieta de mas de 40% de proteína já que, ainda que o seu efeito na DM seja ainda pouco claro, reportou ­se o seu efeito bené­fico para uma perda de peso efetiva e duradoura em gatos (Vasconcellos et al., 2009). Outro motivo para escolher uma dieta elevada em proteína durante a fase de restrição caló­rica é o efeito benéfico que apresenta, o aumento da perda de gordura corporal no que diz respeito à massa muscular (Hoenig et al., 2007).

Para promover a perda de peso, realizou ­se uma redução calórica de 20% relativamente à ingestão energética real de Pitu (270 kcal/dia). Portanto, as calorias que se devem ad­ministrar a Pitu como ponto de início foram de 210 kcal/dia /65 gramas da dieta de eleição por dia repartidos em duas vezes). Estima ­se que cada ponto acima da condição corporal adequada (5 em 9), equivale a um sobrepeso de 10 ­15%. Assim, Pitu apresentava um sobrepeso de 20 ­30%.

Evolução

Durante um plano de perda de peso recomenda ­se pesar o paciente a cada semana, na mesma balança e calcular cada 3 ­4 semanas a percentagem de peso perdido a partir das seguintes fórmulas:

% peso perdido = [(peso inicial ­peso final)/peso inicial] x 100

% peso perdido por semana = % peso perdido/número semanas

O objetivo de perda é de 1 ­2% semanal para não correr o risco de surgirem deficiências, perda muscular e/ou pro­blemas de comportamento derivados da fome excessiva (Center et al., 2000).

No caso de Pitu, passado um mês desde o início da dieta D, realizou ­se a primeira revisão. A sua perda de peso semanal era de 1,6%, tendo ­se decidido continuar com o mesmo aporte energético diário (210 Kcal/dia). Na revisão realizada dois meses depois (abril de 2013), observou ­se uma perda semanal de 1%, tendo ­se optado por reduzir a ração em 5% (60 gramas/dia), com o objetivo de acelerar a velocidade de perda de peso. Nas revisões seguintes mensais (figura 2), Pitu perdeu peso ao ritmo esperado e não se modificou a quantidade de alimento administrado. Em julho de 2013, Pitu chegou à condição corporal objeti­vo (5/9, peso = 5,7 Kg).

Manteve ­se o mesmo plano durante mais um mês. Pas­sado esse mês e vendo que Pitu mantinha o peso de 5,7 kg, decidiu ­se alterar a dieta por um alimento seco com a seguinte distribuição calórica EM 39% proteína, 27% gordu­ra e 34% carboidratos, 2,7 gramas de fibra bruta por 100 Kcal e 3,4 Kcal por grama de alimento, e calculou ­se a quantidade equivalente à ingestão energética de Pitu nesse momento (58 gramas repartidos em duas vezes por dia).

Em outubro de 2013, a proprietária referiu ­nos que Pitu não se saciava com a dieta e pedia comida.

Como estratégia para melhorar a saciedade, decidiu ­se aumentar a humidade da dieta estabelecendo 25% das calorias sob a forma de alimento húmido. A distribuição calórica EM da dieta húmida que foi prescrita foi de 56% proteína, 29% gordura e 15% carboidratos, 1,4 g/100 Kcal de fibra bruta e 0,69 Kcal por grama de alimento. A nova ração administrada foi de 40 gramas de alimento seco + 100 gramas de alimento húmido (equivalente a uma sobremesa). Com esta nova ração, o paciente mos­trava uma menos reclamação pelo alimento, ainda que continuou a perder peso até chegar aos 5,5 Kg nos dois meses seguintes. Decidiu ­se então aumentar em 10% a quantidade a administrar. Esta quantidade foi aumentada na sua totalidade como alimento seco para que a dieta fosse o mais manejável possível para a proprietária, ad­ministrando um extra de comida diária e 44 gramas de ração. Com esta quantidade observou ­se nas revisões mensais que o peso se conseguiu estabilizar nos 5,7 kg a longo prazo, tendo ­se então recomendado seguir como uma ração de manutenção. Com este plano nutricional também se conseguiu manter a diabetes mellitus reverti­da. Por isso, passados vários meses de estabilidade, deu­­se alta a Pitu.

Resumo

• A diabetes mellitus (DM) felina não dependente de insu­lina, ou tipo 2, é a mais comum em gatos, e a obesidade é um dos fatores mais importantes no seu desenvolvi­mento. Por isso, é importante que os pacientes felinos com DM e obesidade sejam sujeitos a um plano de per­da de peso que possa reverter a doença.

• A administração de uma dieta de prescrição para perda de peso pode ser uma boa estratégia em gatos obesos com DM. A composição nutricional das dietas de pres­crição para perda de peso geralmente altas em proteína e fibra, podem ajudar no controlo da glicemia e na redu­ção de peso, como se referiu anteriormente. É difícil fazer uma recomendação sobre a percentagem ideal de pro­teína, gordura e carboidratos (e conteúdo em fibra) nes­

Figura 2. Evolução do peso de Pitu (Kg) durante o tratamento

Pes

o (k

g)

6,5

6,3

6,1

5,9

5,7

5,5

5,3

5,1

4,9

4,7

4,5

Data

out-12 jan-13 mai-13 ago-13 nov-13 mar-14 jun-14

-5% calorias

Condição corporal ideal

Alteração para a dieta de

manutenção

+10 % calorias

Acrescenta-se dieta húmida

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28 PRÁTICA CLÍNICA

tes animais e deve ­se avaliar cada caso ao detalhe, como fizemos para Pitu.

• Realizar uma redução calórica inicial de 20% relativamen­te ao consumo atual, pode ser um bom ponto de partida num plano de perda de peso com um alimento de pres­crição para este fim. É muito importante ajustar a ração seguindo a evolução do peso do animal, tentando seguir um objetivo de ritmo de perda de 1 ­2% semanal. Deste modo, podemos evitar o risco de deficiências nutricio­nais, perda de massa muscular e/ou problemas de com­portamento por fome excessiva.

• Uma vez chegados à condição corporal alvo, mantendo a glicemia em valores desejados, pode ­se alterar a dieta de perda de peso por uma dieta de manutenção ou uma dieta para pacientes diabéticos, ainda que faça falta a insulina. Deve ­se adequar a ração às calorias nas quais o animal mantenha o peso e controlar a sua evolução com a nova dieta até comprovar que o peso e a glicemia se mantém constantes. o

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CLÍNICA ANIMAL5

29PRÁTICA CLÍNICA

Uso de um neuroestimulador para a localização do espaço epidural no espaço sacrococcígeo para OHE numa gataEsta técnica permite realizar uma ovariohisterectomia sem a necessidade de usar outros analgésicos na indução ou na manutenção, e outorga um controlo ótimo da dor, tanto durante, como depois da intervenção.

Soto Martín, M., Torralbo del Moral, D., Sández Cordero I.Serviço de anestesiologia da Sinergia Veteriná[email protected] cedidas pelos autores

Em medicina veterinária, está cada vez mais difundida a utilização da anestesia locorregional. Uma das técnicas usa­das desde há anos é a anestesia epidural, técnica que tem sido utilizada classicamente tanto no gato, como no cão, no espaço lombossacro. Contudo, para a espécie felina, esta localização contempla um risco maior, pois o cone medular estende ­se até à primeiras vértebras sacras. A isto, junta ­se o tamanho dos pacientes felinos, que faz com que o risco de aceder ao espaço subaracnoídeo quando se realiza a punção a nível lombossacro seja maior.

O problema radica em que a entrada no espaço subarac­noídeo (e portanto, a administração espinal ou raquídea do anestésico, em vez de epidural), passe inadvertida.

Caso clínico

Por um lado, ao levar a cabo uma epidural, devem ser seguidas uma ou várias técnicas de verificação de que a localização é a correta:• A pressão negativa presente no espaço epidural é paten­

te quando se vê a “absorção” do anestésico local do cone da agulha. A visualização da dita absorção confirma a localização.

• Outra opção é a perda de resistência. Muitas vezes, em veterinária isto confunde ­se com a falta de resistência. Efetivamente, não se deve encontrar nenhuma resistência à introdução da solução anestésica. Mas a perda de re­sistência, tal como se realiza em medicina humana, con­siste no avanço da seringa de baixa resistência que con­tenha soro ou ar e cujo êmbolo se vai empurrando à medida que se avança a agulha. No momento em que se acede ao espaço epidural, nota ­se uma alteração, um “salto” para um espaço que oferece uma resistência nula. Nesse momento mantém ­se essa localização e acopla ­se então a agulha à seringa com o anestésico local.

• Em medicina humana verifica ­se com frequência a téc­nica através de fluoroscopia, com a administração prévia de contraste.Muitas vezes as agulhas utilizadas para esta técnica são

agulhas espinais (para aceder ao espaço raquídeo que con­tém o líquido cefalorraquidiano, LCR), ou inclusive utilizam­­se agulhas hipodérmicas, em vez de outras indicadas para o acesso epidural (por exemplo, agulhas Tuohy, que ao serem menos afiladas, oferecem uma maior sensibilidade da passagem dos tecidos ao anestesista, protegendo ­o mais).

No gato, frequentemente, não se vê a pressão negativa. Por outro lado, poucas clínicas veterinárias têm kits epidu­rais que contenham seringas de baixa resistência, ou agu­lhas Tuohy. Aliás, por vezes não é suficiente esperar uns segundos para verificar que o cone da agulha não se enche com LCR. Há que realmente dar tempo para descartar a injeção espinal inadvertida.

Figura 1. Diferenciação de acesso sacrococcígeo e lombossa-

cro para proceder a uma anestesia epidural

Espaço sacrococcígea

Espaço lumbosacral

CLÍNICA ANIMAL5

30 PRÁTICA CLÍNICA

O risco de não se encontrar no lugar desejado radica em que a farmacocinética e a farmacodinâmica dos anestésicos locais alteram num ou noutro lugar. As doses de anestésicos locais e opioides em espinal devem ser reduzidos substan­cialmente. Além disso, os tempos de latência e a duração dos seus efeitos variam. A pessoa que realiza a técnica deve conhecer todos estes pormenores para manejar os fármacos corretamente.

Caso clínico

Trata ­se de uma gata de 7 meses de idade, 3,5 kg de peso, para cirurgia de ovariohisterectomia programada. O pré­­cirúrgico revela uns valores hematológicos e bioquímicos dentro dos valores fisiológicos, assim como uma radiogra­fia de tórax sem achados patológicos.

O protocolo anestésico usado consistiu numa pré­­medicação com dexmedetomidina 10 mcg/Kg, juntamente com metadona o,4 mg/Kg e alfaxolona 0,5 mg/Kg intra­

musculares. Aos 10 minutos a gata estava sedada e após cateterizar a veia cefálica e pré ­oxigenar, procedeu ­se à indução com 0,5 mg/Kg de alfaxolona IV, 0,1 ml de lido­caína na glote e a intubação.

Uma vez estabilizada a gata com isoflorano a 1% de expirado, preparou ­se o campo para realizar a epidural sacrococcígea com lidocaína a 1%, associada a morfina 0,1 mg/Kg. A anestesia manteve ­se com valores de isofluo­rano expirado entre 0,6 e 0,9%.

Para o pós ­operatório protocolou ­se meloxicam cada 24 horas 0,1 mg/Kg, durante 5 dias e tramadol, em caso de necessidade, 2 mg/Kg durante dois dias.

Técnica utilizada

Para evitar o risco inerente à técnica epidural a nível lombossacro na espécie felina, estudou ­se o acesso ao es­paço epidural mais caudalmente, de modo a que o aneste­sista fique isento de risco de fazer uma anestesia raquidiana.

Publicações recentes descrevem o acesso epidural inter­coccígeo (Bonastre et al., 2014), ou sacrococcígeo, entre S3 e Cd1 (Otero et al., 2015) nesta espécie. Os métodos de verificação de que se está no espaço epidural podem ser os habituais (perda de resistência, a pressão negativa é di­fícil de ver, verificação radiológica), mas o uso de um neu­roestimulador com este objetivo apresenta ­se como uma opção simples e que confere segurança à boa realização da técnica.

Otero et al. obtiveram 95,8% de êxito em 24 gatos nos quais foi aplicada a injeção epidural de anestésico local utilizando uma agulha de neuroestimulação e aplicando uma corrente de 0,7 mA. A resposta procurada consistia num claro movimento lateral do rabo. A parte que deve ter um movimento mais claro é a média (isto é, nem a base do rabo, nem a ponta), e deve prestar ­se atenção a que seja no sentido lateral, pois muitas vezes pode ­se observar um movimento dorsoventral, não sendo neste caso correta a colocação da agulha.

Figura 2. Localização do espaço sacrococcígeo.

Figura 3. Localização do espaço epidural sacrococcígeo através de um neuroestimulador.

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31PRÁTICA CLÍNICA

A anestesia epidural na abordagem sacrococcígea é uma técnica segura, com escassos efeitos secundários e que pro­porciona um bloqueio completo dos estímulos nociceptivos gerados durante a ovariohisterectomia (OHE), fruto da tra­ção dos ovários e, em menor medida, do útero. Para asse­gurar a eficácia da técnica, devemos controlar o avanço cranial da solução anestésica (geralmente lidocaína ou bu­pivacaína, juntamente com morfina, sem necessidade de utilizar outros analgésicos), de modo que chegue até T9. Na espécie felina, doses de 0,4 ml/kg sem exercer os 1,5 ml totais, levam a uma migração até T9 e, portanto, seria um bloqueio válido para realizar uma OHE.

Discussão

O êxito do bloqueio dos estímulos gerados ao longo de toda a cirurgia é rotundo, sem se observarem efeitos secun­dários. Esta técnica permite realizar uma OHE sem a neces­sidade de analgésicos na indução ou de manutenção e outorga um controlo ótimo da dor (que é o que sempre proporciona o melhor dos anestésicos: o anestésico local, pois bloqueia a condução nervosa), tanto intra como pós­­operatório. No período intraoperatório consegue ­se uma grande estabilidade hemodinâmica, fruto da ausência de nocicepção e da redução das necessidades de anestésico inalatório.

Dada a duração média de uma OHE, realizamos a epi­dural com lidocaína. É utilizada a 2% enquanto a dose total o permita (há que ter em conta que a dose tóxica de lido­caína para o gato é de 10 mg/kg). No caso de que o volu­

me indicado em lidocaína a 2% exceda a dose em mg/Kg segura, diluir ­se ­á o menos possível. Optamos pela lidocaí­na em vez da bupivacaína para que o paciente recupere a capacidade motora o mais rápido possível no pós ­operatório imediato.

É importante realçar que a administração de fármacos por via epidural deve ser feita de um modo lento. Além disso, durante a injeção, o animal deve estar completamen­te monitorizado e, perante qualquer sinal adverso, deve deter ­se a aplicação.

Conclusão

A utilização do neuroestimulador ligado a um acesso mais caudal (espaço sacrococcígeo) na utilização da epidu­ral no gato, facilitam notavelmente a técnica, e dotam ­se de uma taxa de êxito e um grau de segurança que se deve ter em conta para esta espécie. Por outro lado, além dos efeitos intraoperatórios, observa ­se um benefício claro no pós­­operatório. o

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Figura 4. Monitorização cardiorrespiratória.

CLÍNICA ANIMAL5

32 PRÁTICA CLÍNICA

Intoxicação por Clostridium botulinum num cãoAinda que em alguns casos a sintomatologia que o paciente apresenta seja bastante característica, é sempre necessário fazer uma anamnese minuciosa para não descartar possíveis causas de doença.

Expõe ­se neste artigo o caso de um paciente que apre­sentava uma síndrome neurológica periférica com paralisia flácida de evolução progressiva. Os dados clínicos e a falta de alterações nos exames colaterais, juntamente com uma anamnese meticulosa, despertaram a suspeita de uma pos­sível existência de botulismo. Posteriormente confirmou ­se com a identificação da toxina botulínica no sangue.

Martínez Munera, Ana María; Monaldi, Alessandro; Santano Esquiu, Javier; Almagro Carrión, VíctorClínica Veterinária VetAMMolina de Segura (Murcia)[email protected] cedidas pelos autores

Resenha e anamnese

Lula é uma cadela cruzada com 30 Kg de peso, esterili­zada aos três anos de idade. Vive na zona de Múrcia, pró­ximo de uma suinicultura, com zonas pantanosas e de re­gueiro. O animal fugiu da sua quinta juntamente com outro cão, o qual não foi encontrado.

O animal apresenta descoordenação, debilidade e que­das. Entrou num centro veterinário próximo, onde se des­creve com um estado de torpor e paralisia flácida progres­siva, até terminar num estado de decúbito lateral. Mantém ­se atenta em todo o caso e apresenta midríase bilateral (figura 1).

A primeira suspeita, tendo em conta a sua fuga e o con­texto rural, foi uma possível intoxicação. No entanto, a falta de convulsões e a progressão da sintomatologia para uma flacidez generalizada, fazem repensar um pouco o diagnóstico, pois tem ­se em consideração que a maioria das substâncias tóxicas são agentes que provocam convulsões.

Exame clínico

O animal mantém ­se sempre em decúbito lateral e apre­senta flacidez em todas as extremidades, incluindo a cabe­ça e o pescoço (figura 2). A respiração é superficial e tem taquipneia. A cor das mucosas é normal e apresenta taqui­cardia. A condição corporal é ótima, assim como o seu estado de hidratação. O que mais se evidencia é o seu es­tado mental, que parece normal e com uma atenção de auxílio (figura 3). Apesar de haver uma total paralisia da cabeça, impedindo ­a de girar, o animal consegue fazer pe­quenos movimentos com a cauda.

Exame neurológicoO estado mental é normal. Apresenta um olhar de au­

xílio. Relativamente à postura, o animal está em decúbito lateral e mostra flacidez e hipotonia generalizadas. A sua cabeça fica totalmente em ventroflexão e sem tónus al­gum. A resposta à ameaça é de normal a ligeiramente diminuída.

Considerando o tamanho do animal e a sua total flacidez, é difícil determinar as reações posturais, mas estão ausentes nos quatro membros. A sensibilidade profunda mantém ­se (perceção da dor), mas o reflexo de retirada está ausente.

Relativamente aos reflexos cranianos, há midríase bilate­ral, com pouca resposta fotomotora; palpebral diminuída; trigémino facial ausente. A deglutição faz ­se com dificulda­de, com sialorreia.

Figura 1. Lula apresenta olhar atento.

Figura 2. Flacidez generalizada.

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33PRÁTICA CLÍNICA

Os reflexos espinais estão muito diminuídos nas quatro extremidades; o perineal está diminuído e o panicular pre­sente.

Fazem ­se exames complementares. Na bioquímica sérica, os valores de gpt, creatinina e ureia são normais. Há um aumento da creatinquinase. O hemograma completo é to­talmente normal. O estudo radiológico cervical também não demonstra alterações.

Diagnóstico diferencial

É difícil intuir a etiologia deste quadro, ainda que a sin­tomatologia que Lula apresenta é muito característica. Esta­mos perante um caso de perda de reflexos, com hipotonia generalizada e ligeira midríase. A midríase poderia fazer pensar numa possível intoxicação, mas na realidade, a maioria dos agentes tóxicos provocam convulsões. Um pos­sível traumatismo, que neste caso seria cervical, não enca­charia com a flacidez total das extremidades e do pescoço, e um estado de consciência normal. O diagnóstico diferen­cial baseia ­se nas possíveis causas que podem provocar a síndrome de lesão do neurónio motor inferior, que são:• Polirradiculoneurite• Miastenia grave• Botulismo.

Se se considerar a anamnese ambiental e recente do animal (ou seja, a fuga numa zona pantanosa), o diagnós­tico mais provável neste caso poderia ser o botulismo. Para o diagnóstico definitivo desta patologia, há que isolar a toxina em líquidos biológicos (vómito, diarreia, urina ou sangue). Assim, envia ­se para o laboratório uma amostra de sangue obtida nas primeiras fases sintomatológicas, na procura da toxina botulínica. Enquanto se aguarda, o trata­mento é apenas de manutenção.

O tratamento higiénico ­sanitário inclui alteração de de­cúbito e esvaziamento manual da bexiga três vezes por dia. Dá ­se apoio com fluidoterapia: Ringer Lactato, suplemen­tado com glicose e aminoácidos, em função do seu peso.

Inicia ­se uma terapia antibiótica com enroflaxicino e acrescenta ­se terapia hepato ­protetora.

Diagnóstico definitivo

Confirma ­se a presença de toxina botulínica na amostra sanguínea do paciente. Deste modo confirma ­se a intoxi­cação.

Evolução

Durante os quatro dias seguintes, o animal começou a recuperar a mobilidade das extremidades e a tonicidade do pescoço (figura 4). No quarto dia conseguiu sentar ­se (ain­da que com ventroflexão do pescoço), recuperou a deglu­tição totalmente e solucionou ­se o ptialismo. No quinto dia conseguiu dar quatro ou cinco passos. Atualmente está totalmente recuperada (figura 5).

A partir do quarto dia, quando estávamos totalmente seguros de que o anima podia deglutir sem problemas, começou a alimentar ­se por si mesma, com uma dieta mole.

Discussão

O botulismo é uma doença neuroparalítica aguda e pro­gressiva. É causada pela ingestão da toxina botulínica pré­­formada no alimento ou em cadáveres em decomposição. A toxina é produzida por Clostridium botulinum, uma bac­téria anaeróbica Gram positiva, que forma esporos e é al­tamente resistente ao ambiente. Os esporos resistem a tem­peraturas de 120ºC, enquanto a toxina se inativa aos 85ºC.

A toxina provoca um processo de paralisia do neurónio motor inferior, com uma evolução rápida. Começa de forma típica, com debilidade dos membros posteriores, com pro­gressão cranial e evolução para os quatro membros. Há hiporreflexia e redução muito acentuada do tónus muscular (o animal está como que anestesiado). É muito característi­co que se mantenha o nível de consciência e a nocicepção. O movimento da cauda também de mantém, o que indica que não há compromisso dos ramos motores da medula.

Apresenta ­se discreta midríase arreflética ou com pouca resposta fotossensível. Alguns animais apresentam disfagia, disfonia e dilatação esofágica. A incapacidade de deglutir desencadeia sialorreia, por vezes compensada por uma di­minuição da produção de saliva (bloqueio parassimpático). Nos casos graves pode ­se complicar com pneumonia por aspiração.

Os músculos respiratórios também podem ser afetados e surgir taquipneia. Primeiro, os intercostais e, por último (felizmente) o diafragma, já que apresenta uma maior re­sistência à toxina.

A doença é sempre provocada pela ingestão da toxina pré ­formada. Só em medicina humana é descrita, de forma esporádica, a formação da toxina no segmento intestinal por parte de Clostridium (botulismo infantil), ou contami­nação de uma ferida cutânea pela mesma bactéria que começa a produzir a toxina.

A incubação depois da ingestão vai desde as 12 horas até aos 6 dias. A sintomatologia varia em função da quantidade de toxina ingerida e da sensibilidade de cada paciente: pode ser muito ligeira e limitar ­se a provocar uma ligeira debili­

Figura 3. Decúbito lateral e administração de fluidoterapia.

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34 PRÁTICA CLÍNICA

dade motora, ou só a afetar algum nervo cranial com alte­ração, por exemplo, da voz (disfonia) ou atonia mandibular.

A toxina é capaz de provocar paralisia do neurónio mo­tor inferior ao evitar a libertação presináptica de acetilcolina na ligação neuromuscular. Se se considera que a acetilcoli­na é um neurotransmissor a diferentes níveis, podem coe­xistir sinais de disfunção do SNP (músculo ­esquelético) e autónomo (simpático e parassimpático). A toxina botulíni­ca é formada por uma cadeia pesada que permite a ligação à membrana pré ­sináptica, e uma cadeia ligeira que entra na espessura da membrana e impede a libertação das ve­sículas de acetilcolina no espaço sináptico. Por isto, considera ­se uma patologia pré ­sináptica (figura 6).

Existem sete serotipos de toxina (A ­G) e todas são capa­zes de bloquear a exocitose da acetilcolina no espaço si­náptico.

Importância do diagnóstico diferencialEntre os diagnósticos diferenciais, há que considerar que

são poucas as doenças que podem provocar esta sintoma­tologia. É muito importante saber interpretar a midríase e a flacidez muscular neste caso, porque na maioria das into­xicações por agentes que provocam convulsões, apresenta­­se a primeira delas, mas neste caso temos uma flacidez acentuada com hipotonia grave.

1. Paralisia por carraça. Esta doença não é frequente na Europa. Inclusive há autores que dizem que na Europa não existe, mas constitui um perigo na Austrália e na América do Norte. A toxina (holociclotoxina) contida na saliva da carraça, provoca uma união reversível na membrana pré­­sináptica. A produção da toxina aumenta na fase de criação das carraças. O tratamento consiste na eliminação do para­sita e na Austrália existe uma antitoxina.

2. Polirradiculoneurite aguda e polimiosite. Ambas as doenças provocam hiperestesia. As polirradiculoneurites podem ser primárias (idiopáticas) ou secundárias, induzidas por parasitoses hemáticas (rickettsiose, ehrlichiose, borre­liose, etc.).

3. Miastenia grave. Na sua forma adquirida, a formação de auto anticorpos contra os recetores pós ­sinápticos da acetilcolina provoca uma desordem compatível com lesão do neurónio motor inferior.

4. Mordedura e envenenamento por uma serpente coral (na América do Norte).

Figura 4. Decúbito esternal e flacidez do pescoço.

História da doença

A palavra botulismo procede do latim botulus, que significa salsa, pois inicialmente pensava-se que esta doença pudesse ter a sua origem na salsa.

O primeiro estudo data de 1820, quando Justinus Kerner descreveu as manifestações clínicas obser-vadas num grupo de pacientes com esta patologia. Em 1895, Van Ermengem demonstrou que o bo-tulismo era causado por uma toxina de um bacilo anaeróbio, o Clostridium botulinum, o qual conse-guiu isolar pela primeira vez do baço de uma pessoa vítima desta patologia, depois de ingerir alguns ali-mentos em mau estado. Posteriormente reproduziu com êxito os sintomas em animais de laboratório.

Em 1900, começou-se a utilizar a toxina de forma experimental com fins médico terapêutico: contra o estrabismo em crianças e sucessivamente por dife-rentes neurologistas por causa das doenças neuro-lógicas, como são as distonias. Hoje em dia é muito conhecida em medicina estética e utiliza-se como tratamento de outros transtornos como a hiperhi-drose (hipersudoração), bruxismo, sialorreia, tremo-res e outros problemas.

EpidemiologiaConsidera-se que a toxina botulínica é o veneno

mais poderoso que existe, 10.000 vezes mais po-tente do que cianeto. Em Espanha, ainda hoje se descrevem casos em medicina humana, ainda que se trate de uma doença pouco frequente. Os casos que foram notificados ao Sistema de Vigilância Epi-demiológica foram 13 em 2009, 8 em 2010 e 91 em 2012. Em gatos é pouco frequente, possivelmente pela seletividade na hora de comer e pela própria resistência.

Figura 5. Lula durante a sua recuperação.

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35PRÁTICA CLÍNICA

O diagnóstico anamnésico é o mais importante no caso de animais que vivem em liberdade em zonas rurais com acesso ao lixo, a lixeiras e a alimentos enterrados que favo­recem as condições de anaerobiose para a produção da toxina. Pela sintomatologia, podemos suspeitar que a doen­ça existe nos casos de paralisias flácidas generalizadas. Os casos ligeiros, com simples debilidade, disfagia ou afonia, ficam por diagnosticar.

O diagnóstico definitivo consiste no isolamento da toxina no vómito, soro, urina e fezes, que apenas se pode demons­trar nas primeiras fases da doença. Estas amostras têm de ser extraídas nas primeiras fases sintomatológicas e recomenda ­se não congela ­las (a refrigeração simples não interfere).

Outra possibilidade é a inoculação intraperitoneal de uma amostra do paciente em ratos de laboratório, esperando ­se depois o desenvolvimento de sintomatologia.

Na maioria dos casos os tratamentos disponíveis resumem ­se a cuidados de suporte. Se se tem em conta que a toxina está pré ­formada, muitas vezes é inútil a utilização de antibióticos. Aliás, a utilização de antibióticos aminogli­cosídeos poderá estar contraindicada, se se considerar que provocam uma redução da libertação de acetilcolina.

A antitoxina é uma utopia, já que funciona apenas nas primeiras fases. A única disponível é a antitoxina para hu­manos frente aos serotipos A, D e E, e a toxina equina

frente aos serotipos A, B e E. Tendo em conta que a toxina canina é o serotipo C, qualquer intenção de administração seria inútil.

Outros tipos de tratamentos descritos seriam os poten­ciadores musculares e os tratamentos com anticorpos ape­nas disponíveis em humanos, criados e fabricados em mas­sa devido ao perigo do bioterrorismo.

O prognóstico dependerá em todo o caso da quantidade de toxina ingerida.

O neurónio fica irreversivelmente danificado, mas não há morte celular. A irreversibilidade, se o animal sobrevive à doença, pode ser resolvida por restauração das ligações neu­romusculares, conseguindo assim uma recuperação total.

Se consideramos que todas as sinapses cujo neurotrans­missor é a acetilcolina são afetadas, justifica ­se facilmente a sintomatologia que o nosso paciente apresentava. o

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O grupo amino da cadeia pesada intervém na translo-cação da cadeia ligeira dentro do citoplasma neuronal e entope as vesículas de ACH.

Esquema da toxina botulínica Presença da toina butilínica no espaço sináptico

Toxina

Cadeia pesada

Cadeia ligeira

Grupo carboxilo

Grupo amino

Terminação nervosa

Vesículas de acetilcolina (ACH)

Recetor de membrana

Músculo

O grupo carboxilo da cadeia pesada une-se ao recetor de membrana do neurónio.

A B

C D

Figura 6. Modo de atuação da toxina botilínica no neurónio.

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MARKETING

Os protocolos na clínica veterinária (III)

Estandardização da consulta

Ignacio MéridaAssis VBA Ltd.

Nas ofertas de emprego no Reino Unido, pode ­se facil­mente reconhecer a qualidade e o tipo de clientela de uma clínica veterinária. A única coisa que falta ver é a duração da consulta, ou se esta aparece indicada na oferta.

Depois da liberalização do mercado das clínicas veteri­nárias nos princípios do século e da entrada de fundos de investimento, a profissionalização deste setor iniciou ­se. Isto implicou a aplicação de técnicas normais noutros setores, como a estandardização de procedimentos, o uso da mar­cação prévia, a otimização dos recursos humanos para re­duzir os custos, a especialização, etc.

Um estudo publicado na Vet Record (Robinson et al., 2014), indicava que a duração média de uma consulta em duas clínicas do Reino Unido era de 9 minutos e 49 segun­dos, ainda que 48% das consultas duravam mais do que 10 minutos. Um estudo de medicina humana levado a cabo por Freeman et al. (2002), concluiu que as consultas mais longas são melhores para os pacientes. Além disso, a ne­cessidade de uma maior interação com os pacientes obriga a esta maior duração, e a presença de problemas crónicos e geriátricos obriga a alargar o tempo dedicados aos pa­cientes.

Uma clínica de baixo custo funciona com consultas de 10 minutos ou menos (esta prática foi adotada do NHS, o sistema de saúde britânico, que funcionava com consultas de 10 minutos). A eficiência na consulta, juntamente com uma contenção de custos, permite ter preços mais compe­titivos. Existem clínicas que primam pela qualidade do ser­viço e pela atenção dada ao cliente, oferecendo consultas

de 15 minutos. As clínicas de especialistas podem chegar a tempos por consulta de meia hora ou mais.

Importância da estandardização

Esta série de artigos na secção de marketing que temos publicado trata dos procedimentos e tarefas e não das es­tratégias de negócio e financeiras. Ainda assim, devo desviar ­me um pouco para explicar a importância da estan­dardização da consulta, neste terceiro artigo. O minuto ve­terinário é a unidade básica de cálculo de preços: o seu minuto tem um determinado valor, cada tarefa ou procedi­mento tem tantos minutos, logo este é o preço.

Como se referiu anteriormente, a produtividade é funda­mental para calcular os preços: a rentabilização das consul­tas, a repartição dos gastos fixos e a melhor competitivida­de. O custo da consulta, portanto, é influenciado pela duração da mesma, mas também por quantas consultas estão ocupadas. Não se trata de oferecer mais horas, mas sim de oferecer as melhores horas (aproveito para comen­tar que, se tem uma produtividade de 100%, não tem de contratar ninguém, mas sim de subir os preços e se ainda continuar a ter procura a que já não consiga responder, aí sim, terá de contratar alguém).

Modelo de consulta de Calgary ‑Cambridge

Tal como comentávamos, uma pessoa pode perceber que tipo de clínica tem pela frente pelo tempo que oferece aos clientes. Ainda assim, devemos entender que uma con­sulta de satisfazer quatro entes bem diferenciados:• Cliente: quer uma solução para o seu animal, a um cus­

to adequado.• Paciente: o nosso primeiro desígnio.• Chefe: procura um benefício económico• Nós mesmos: devemos gostar do que fazemos.

Para levar a cabo tudo isto, é fundamental ter um méto­do de consulta, composto por todos os procedimentos e atos que a compõem (não se trata apenas de fazer algumas perguntas e uma exploração física). A maioria das escolas anglo ­saxónicas ensinam uma variação do método Calgary­­Cambridge. Neste link podemos encontrar mais informa­ção a este respeito: http//assisvba.com/es/PDF/consulta%efectiva.pdf. Ainda assim, e porque o que se pre­tende é que este artigo seja prático, indicarei de seguida alguns passos para conseguir uma consulta efetiva e que satisfaça os quatro pontos anteriormente mencionados.

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A duração da consulta determina, entre outras coisas, o tipo de serviço que oferecemos aos nossos clientes. Estabelecer um protocolo ou um guia, não só permite oferecer um serviço mais homogéneo, como também evitar a perda de rentabilidade.

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A consulta começa antes mesmo do cliente entrar na receção. De acordo com o modelo Calgary ­Cambridge, definem ­se seis segmentos bem diferenciados. De seguida, incluiremos uma série de passos para facilitar a preparação do guião (protocolo) que cada um deveria preparar. Em minha opinião, se ensaiamos as cirurgias, porque é que não deveremos ensaiar e preparar as consultas?

Preparação• Preparar ­se mentalmente para ver o cliente, independen­

temente de estarmos ou não num mau dia. Devemos estar a 100% mentalmente.

• Verificar que o consultório está limpo e organizado.• Comprovar que a bata e as mãos estão limpas.• Verificar na ficha qual o motivo da consulta.• Verificar se todo o equipamento funciona adequadamente.• Comprovar de que não existe o perigo de fuga do animal

(portas e janelas).• Memorizar o nome e o género do animal.• Comprovar a hora de início da marcação (para saber se

está atrasado, ou não).

Início• Receber o cliente na receção, dizendo o nome do animal

e saudando o proprietário.• Segurar a porta e fazer um gesto para convidar a entrar.• Apresentar ­se pelo nome e cargo, se for a primeira vez.• Oferecer a possibilidade de o proprietário se sentar.• Saudar o animal pelo seu nome. Se é um gato, deixá ­lo

na jaula de transporte com a porta aberta. Se for um cão, deixá ­lo à solta no gabinete.

• Explicar ao dono porque fazemos isso (queremos que o animal relaxe, e aproveitamos para falar com o dono).

• Colocar ­se num ângulo de 90º com o dono quando lhe fizer perguntas.

• Olhar nos olhos do proprietário no mínimo 50% do tem­po da conversação.

Recolher informação• Fazer uma pergunta aberta sobre o motivo da visita (se

é uma vacina, comprovar se veio à revisão anual e pedir o boletim).

• Evitar expressões como: “Só vem cá vacina ­lo.”• Iniciar as perguntas básicas da anamnese fechadas

(Come? Bebe? Vomita? Tem diarreia? Tosse ou espirra? Bebe mais água do que costuma? Faz as necessidades normalmente?

• Se alguma destas perguntas tem uma resposta afirmativa, deve ­se abrir uma nova árvore de perguntas fechadas que facilitem a resposta ao dono (não perguntar se vomita ou regurgita. Deve perguntar simplesmente se reconhece o que ele comeu no vómito, ou não, por exemplo).

• Se o cliente responde afirmativamente a um sintoma (tosse, vómito, …), deve ­se demonstrar alguma com­preensão pela situação, dizendo que entendemos a frus­tração de ver o seu animal assim.

• Depois de terminada a anamnese, colocar o animal na mesa, explicando ao proprietário de que vamos proceder ao exame completo.

Exame físico• Começar sempre o exame numa ponta e terminar na

outra. A exploração física básica inclui:1 – Otoscópio.2 – Estetoscópio3 – Termómetro

• Cada vez que se detete algo, é recomendável verbalizar o que se está a fazer e para quê: “Estou a observar os ouvidos, que estão muito ruborizados”, ou “Vou escutar o latido cardíaco”, etc.

• Se, por exemplo, o animal tem tártaro, podemos utilizar expressões como “O seu cão beneficiaria muito de uma limpeza bucal”.

• Felicitar o cliente sempre que se encontra alguma carac­terística do seu animal: “Os dentes estão muito limpos e bem tratados!”, ou “A cor do seu pelo é mesmo linda e brilha imenso. Nota ­se que tem uma boa dieta.”.

• Se realizarmos algum outro exame diferente, deve ­se dei­xar claro as possíveis reações adversas, como: “Ao ser aplicado este produto no olho, pode lacrimejar durante algum tempo”.

• Quando se explica alguma coisa, evitar sempre o uso de uma linguagem técnica, e deve ­se referir os possíveis resultados ou os incómodos derivados.

Explicação e plano• Uma vez terminada a exploração física do animal, devemo­

­nos centrar de novo no cliente quando falamos (sair por detrás da mesa e voltar a colocar ­se num ângulo de 90º).

• Neste momento, devemos ter um plano para finalizar a consulta:1 – Vacina.2 – Tratamento empírico.3 – Plano diagnóstico.4 – Eutanásia (esta consulta é especial e tem um proto­

colo próprio).

VacinaTemos de preparar a injeção, sem voltar as costas para o

dono.1 – Enquanto preparamos a seringa, explicamos de pas­

sagem as doenças contra as quais se está a vacinar.2 – Explicar as possíveis reações do animal à injeção.3 – Explicar os possíveis efeitos secundários a curto prazo.4 – Afirmar que estamos convictos de que tudo vai cor­

rer sem sobressaltos.5 – Perguntar se podemos ajudar em alguma coisa mais.6 – Agradecer o facto de ter trazido o seu animal para a

revisão anual.7 – Despedir ­se até para o ano seguinte (ou aos 6 meses

quando a revisão é semestral).

Tratamento empírico1 – Confirmar que cada injeção ou comprimido se utiliza

para cada sintoma.2 – Oferecer opções de tratamento, com as suas vanta­

gens e desvantagens (um antibiótico injetável de longa du­ração é fácil de dar, mas sai mais caro do que o seu equi­valente em comprimidos, por exemplo).

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3 – Explicar que se em 24 ­48 horas não houver melho­rias, agradecíamos que nos voltasse a contactar para ver­mos novamente o paciente (isto é uma rede de segurança).4 – Confirmar que nos explicámos devidamente e que

não foi esquecido nenhum sintoma.5 – Despedir ­se afirmando que, perante qualquer pro­

blema, não deve hesitar em nos contactar.

Plano diagnóstico1 – Explicar o que se vai passar.2 – Explicar o funcionamento básico dos exames (com

métodos esquemáticos ou gráficos simples).3 – Explicar os custos envolvidos.4 – Confirmar de que explicámos tudo corretamente.5 – Assegurar de que faremos tudo para que o paciente

melhore.6 – Acompanhar o cliente à receção para o convidar a

preencher o consentimento informado e recolher todos os dados de contacto.7 – Confirmar que logo que tenhamos resultados, con­

tactaremos (nos casos que implique o recurso a um labo­ratório externo) para explicarmos a situação.

Em todos os casos, devemos acompanhar o cliente até à porta da consulta ou da receção.

Finalizar a consulta• Despedir ­se do dono, agradecendo a colaboração deste

e do seu animal.• Agradecer que esperem um momento na receção en­

quanto escrevemos no computador para manter a ficha atualizada (nesse momento, é a receção que se encarre­ga do cliente: questionário de qualidade, promoção de planos de saúde, etc.).

• Fechar a porta do consultório.• Tomar as devidas notas.• Descrever a exploração física típica (a que se faz em

todas as vacinações, por exemplo), e tomar nota de exa­mes complementares efetuados (reflexo traqueal positi­vo, fluoresceína, …).

• Escrever o diagnóstico diferencial e o plano diagnóstico ou o tratamento empírico.

• Escrever o que o dono comentou a respeito, incluindo as possíveis reações negativas ao facto de se fazer, por exemplo, novos exames.

• Listar os serviços prestados para a fatura.• Limpar a mesa.• Limpar o termómetro.• Lavar as mãos.

Adaptação do protocolo

Ainda que tenhamos um guião (que pode ser este ou melhor ainda), é claro que duas consultas nunca serão iguais e que muitas das coisas aqui referidas se converterão em atos instintivos. Contudo, até lá, não virá mal ao mundo termos este esquema presente, e, como em tudo em vete­rinária, praticar é a palavra ­chave. Deve ­se ter sempre pre­sente que: “A prática não leva à perfeição. A prática da perfeição é que faz com que a consigamos ter”. o

Bibliografia– Robinson N.J.; Dean R.S.; Cobb M.; Brennan M.L. (2014); Consultation length in first opinion small animal practice. Veterinary Record doi:10.1136/vr.102713.– Freeman G. K., Horder J. P., Howie J. G., Hungin A. P., Hill A. P., Shah N. C. & Wilson A. (2002) Evolving general practice consultation in Britain: issues of length and context. BMJ, 324, 880 ­882.

Cada vez que se detete algo, é recomendável verbalizar o que se está a fazer e para quê.

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A alimentação pode ajudar o gato e o cão a recuperar o equilíbrio emocional?

Ao longo do último século, os gatos e os cães deixaram de ser simples animais e passaram a ser companheiros do Homem. São uma parte cada vez mais importante das vidas dos seus donos, e têm no agregado familiar um papel de relevo crescente. O estilo de vida urbano dos donos dos animais envolve mudanças contínuas às quais os animais têm que se adaptar. A proximidade de vidas e ambientes tem consequências para os gatos e para os cães. Os hábitos diários dos seus donos, as dinâmicas dos ambientes em que vivem, as pessoas que visitam a sua casa, novos membros na família, viagens, renovação da casa, tempestades, sons intensos… Todas estas rotinas afetam as suas vidas diretamente.

Ao longo do último século, os gatos e os cães deixaram de ser simples animais e passaram a ser companheiros do Homem. São uma parte cada vez mais importante das vidas dos seus donos, e têm no agregado familiar um papel de relevo crescente. O estilo de vida urbano dos donos dos animais envolve mudanças contínuas às quais os animais têm que se adaptar. A proximidade de vidas e ambientes tem consequências para os gatos e para os cães. Os hábitos diários dos seus donos, as dinâmicas dos ambientes em que vivem, as pessoas que visitam a sua casa, novos membros na família, viagens, renovação da casa, tempestades, sons intensos… Todas estas rotinas afetam as suas vidas direta­mente.

Mais interessante e importante ainda, uma vez que os gatos e os cães respondem a um número limitado de pala­vras, eles prestam a máxima atenção à linguagem corporal e tom de voz dos seus donos, o que significa que também são afetados pelas emoções dos seus donos.

Se, durante as consultas, observa gatos e cães com:• Alterações de apetite;

• Alterações de comportamento (o animal esconde ­se mais do que o habitual, evita contacto com os donos ou outras pessoas, ladra ou uiva mais do que o habitual, lam­be excessivamente algumas áreas do corpo, tem compor­tamento destrutivo);

• Sintomas digestivos (vómito, diarreia);• Micção em locais inapropriados.Pode ser necessário incluir na anamnese questões rela­

cionadas com possíveis alterações na rotina destes animais, e considerar a possibilidade de que todos estes sintomas são na realidade o reflexo de uma resposta adaptativa do organismo a essas mudanças, resultante sobretudo da liber­tação de adrenalina e cortisol.

Como ajudar a manter o equilíbrio emocional?Existem 2 moléculas que se mostraram muito eficazes na

recuperação do equilíbrio emocional do gato e do cão. Essas moléculas são o L ­Triptofano e a Alfa ­casozepina.

L ‑ Triptofano

É um aminoácido percussor da serotonina que por sua vez é um neurotransmissor. Uma vez absorvido pelo orga­nismo, o L ­triptofano é convertido em L ­5 ­hidroxitriptofano por uma enzima chamada triptofano hidroxilase, sendo depois metabolizado em 5 ­hidroxitriptamina ou serotonina pela ação de decarboxilases (1). Estudos demonstraram que aumentando a concentração de triptofano no cérebro ocorre um aumento da libertação de serotonina. A deple­ção de triptofano conduz nos humanos alterações de hu­mor e ao aumento de ansiedade. Os cofatores para a sín­tese de serotonina no cérebro são as vitaminas niacina e piridoxina. O stress impede a síntese de serotonina, uma vez que o cortisol pode decompor a enzima necessária. A serotonina atua sobretudo como timoanaléptico e estabi­lizador dos estados anímicos, reduzindo a impulsividade e a reatividade (2). A serotonina ajuda a regular o humor, a ansiedade, o apetite e o sono. Na realidade, vários estu­dos revelaram que os cães que receberam alimentos enri­

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41Espaço Nutrição-Saúde

quecidos com triptofano manifestaram menos comporta­mentos de agressão territorial e de agressão por dominância (3, 4).

Alfa ‑casozepina

Em lactentes, a tripsina decompõe a caseína do leite materno para produzir este decapeptídeo único, que se liga a receptores GABA no cérebro. Neste caso, a alfa ­casozepina parece ter um efeito tranquilizante semelhante ao do dia­zepam, mas sem os respetivos efeitos secundários, como a sedação, a desinibição ou a dependência. Com o avançar da idade, o sistema digestivo sofre alterações, ocorrendo a clivagem da caseína pela pepsina, pelo que os adultos apenas produzem alfa ­casozepina em quantidades bastan­te reduzidas A tolerância deste “diazepam natural” é extre­mamente boa, tanto na forma pura – suplemento alimentar – como em dietas preparadas, especialmente no caso do gato. A sua eficácia, nomeadamente em problemas de an­siedade e sintomas relacionados com o stress, já foi testada por médicos veterinários Franceses com acesso a esta subs­tância ativa há vários anos (5).

O alimento CALM®

Os alimentos CALM® contém uma combinação única de nutrientes que contribuem para ajudar a recuperar o equi­líbrio emocional no gato e do cão, tais como, a alfa­­casozepina e o L ­triptofano, um conjunto de vitaminas do complexo B e histidina que ajudam a reforçar a barreira cutânea, FOS e MOS que promovem segurança, uma com­posição mineral que promove um ambiente urinário desfa­

vorável ao desenvolvimento de cristais urinários como a estruvite e o oxalato de cálcio. No caso do cão, previne ainda a formação de tártaro através da introdução de poli­fosfato de sódio e, no caso do gato, promove a eliminação das bolas de pelo, graças à introdução de fibras que esti­mulam o trânsito intestinal normal.

A prescrição da dieta CALM Royal Canin®, idealmente 4 semanas antes da mudança prevista à rotina, pode ajudá ­los a manter o equilíbrio emocional e o bem ­estar durante esse período de adaptação.

É uma solução simples para ajudar a resolver situações por vezes complicadas, tanto para os animais como para os seus donos. o

Referências bibliográficas1. Floc’h, Le N., et Seve B., 2007.Biological roles of teyptophane and its metabolism: Potential implicationsfor pig feeding. Livestock Science 112, n.º 1 ­2 (October): 23 ­32. Kelley R, Lepine A.J. Improving puppy trainability through nutrition. Advances in Puppy & Kitten Health Care. Iams Nutrition Symposium, Seville 2005, pp. 28 ­33.2. Houpt KA, Zicker S. Dietary effects on canine and feline behavior. Vet Clin Small Anim 2003; 33: 405 ­416.3. DeNapoli JS, Dodman NH, Shuster L, et al. Effect of dietary protein content and tryptophan supplementation on dominance aggression, terri­torial aggression, and hyperactivity in dogs. JAVMA 2000; 217: 504 ­508.4. Beata C, Lefranc D, Desor D. Lactium®: A new anxiolytic product from milk. Curr Iss Res Vet Behav Med. Minneapolis 2005, pp. 150 ­154.5. Beata C, Beaumont E, Diaz C, et al. Comparison of the effect of alpha­casozepine and selegiline chlorhydrate in the treatment of anxious disor­ders in dogs. Proceedings of the 6th International Veterinary Behavior Meeting & ECVBM ­CA 2007, pp. 118.

Artigo gentilmente cedido por Rita Silva (médica veterinária)

Departamento de Comunicação da Royal Canin (Portugal)

Nome do medicamento veterinário Veraflox 15 mg comprimidos para cães e gatos. Veraflox 60 mg comprimidos para cães. Veraflox 120 mg comprimidos para cães. Titular da AIM Bayer Animal Health GmbH, D -51368 Leverkusen, Alemanha. Composição qualitativa e quantitativa: Cada comprimido contém: Pradofloxacina 15 mg. Pradofloxacina 60 mg. Pradofloxacina 120 mg. Espécies ‑alvo Caninos (Cães), Felinos (Gatos). Indicações terapêuticas Cães: Tratamento de: infeções de feridas causadas por estirpes sensíveis de Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius), piodermite superficial e profunda causada por estirpes sensíveis de Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius), infeções agudas do tracto urinário causadas por estirpes sensíveis de Escherichia coli e Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius) e como tratamento adjuvante da terapia periodontal mecânica ou cirúrgica no tratamento de infeções graves das gengivas e tecidos periodontais causadas por estirpes sensíveis de organismos anaeróbicos, por exemplo Porphyromonas spp e Prevotella spp. (ver Precauções especiais para utilização em animais). Gatos: Tratamento de infeções agudas do trato respiratório superior causadas por estirpes sensíveis de Pasteurella multocida, Escherichia coli e Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius). Posologia e via de administração Administração oral. Dosagens A dose recomendada é de 3 mg de pradofloxacina/kg de peso corporal, uma vez ao dia. Devido às apresentações disponíveis de comprimidos, a dose resultante varia de 3,0 a 4,5 mg/kg de peso corporal. Para assegurar uma dosagem correcta, deve -se determinar o peso corporal com a maior exactidão possível para evitar a sub -dosagem. Duração do tratamento A duração do tratamento depende da natureza e gravidade da infeção e da resposta ao tratamento. Na maioria das infeções, os cursos terapêuticos que se seguem serão suficientes:

Cães:

Indicação Duração do tratamento (dias)Infeções da pele:

Piodermite superficial 14 – 21Piodermite profunda 14 – 35Infeções de feridas 7

Infeções agudas do tracto urinário 7 – 21Infeções graves das gengivas e dos tecidos periodontais 7

O tratamento deve ser reavaliado nos casos em que não se observem melhorias da situação clínica decorridos 3 dias, ou nos casos de piodermite superficial 7 dias, e nos casos de piodermite profunda 14 dias, após o início do tratamento.

Gatos:

Indicação Duração do tratamento (dias)Infeções agudas do tracto respiratório superior 5

O tratamento deve ser reavaliado caso não se observem melhorias da situação clínica decorridos 3 dias após o início do tratamento. Contraindicações Não administrar em caso de conhecida hipersensibilidade às fluoroquinolonas. Cães: Não administrar a cães em fase de crescimento, uma vez que o desenvolvimento das cartilagens articulares pode ser afectado. O período de crescimento depende da raça. Na maioria das raças, os medicamentos veterinários contendo pradofloxacina não devem ser administrados a cães com menos de 12 meses de idade e, nas raças gigantes, a cães com menos de 18 meses de idade. Não administrar a cães com lesões persistentes das cartilagens articulares, uma vez que as lesões podem agravar -se durante o tratamento com fluoroquinolonas. Não administrar a cães com perturbações do sistema nervoso central (SNC), tais como epilepsia, uma vez que as fluoroquinolonas podem possivelmente causar crises convulsivas em animais predispostos. Não administrar durante a gestação e lactação. Gatos: Dada a ausência de estudos, a pradofloxacina não deve ser administrada a gatinhos com menos de 6 semanas de idade. A pradofloxacina não exerce quaisquer efeitos sobre o desenvolvimento da cartilagem de gatinhos com idade igual ou superior a 6 semanas. Contudo, este medicamento veterinário não deve ser administrado a gatos com lesões persistentes das cartilagens articulares, uma vez que estas lesões podem agravar -se durante o tratamento com fluoroquinolonas. Não administrar a gatos com perturbações do sistema nervoso central (SNC), tais como epilepsia, uma vez que as fluoroquinolonas podem potencialmente causar crises convulsivas em animais predispostos. Não administrar durante a gestação e lactação. Reações adversas Foram observados casos raros de perturbações gastrintestinais ligeiras e transitórias, incluindo vómitos, em cães e gatos. Advertências especiais para cada espécie alvo Não existem. Precauções especiais para utilização em animais Sempre que possível, a administração deste medicamento veterinário deve ser baseada em testes de sensibilidade. Devem ser tomadas em consideração as políticas antimicrobianas oficiais e locais aquando da administração deste medicamento veterinário. É prudente reservar as fluoroquinolonas para o tratamento de situações clínicas que tenham tido, ou se espere que venham a ter fraca resposta, a outras classes de antibióticos. A administração deste medicamento veterinário, fora das indicações do RCM, pode aumentar a prevalência da resistência bacteriana às fluoroquinolonas e diminuir a eficácia do tratamento com outras fluoroquinolonas devido à potencial resistência cruzada. A piodermite ocorre na maioria dos casos secundariamente a uma doença subjacente, por conseguinte é aconselhável determinar a causa subjacente e tratar o animal em conformidade. Este medicamento veterinário só deve ser administrado em casos de doença periodontal grave. A limpeza mecânica dos dentes e a remoção da placa e cálculos ou extracção dos dentes são pré -requisitos para um efeito terapêutico persistente. Em caso de gengivite e periodontite, este medicamento veterinário só deve ser administrado como adjuvante da terapia periodontal mecânica ou cirúrgica. Apenas os cães cujos objectivos da terapia periodontal não sejam atingidos com o tratamento exclusivamente mecânico devem ser tratados com este medicamento veterinário. A pradofloxacina pode aumentar a sensibilidade da pele à luz solar. Durante o tratamento, os animais não devem portanto ser expostos a luz solar excessiva. A excreção renal é uma importante via de eliminação da pradofloxacina no cão. Tal como nas restantes fluoroquinolonas, a taxa de excreção renal da pradofloxacina pode estar reduzida nos cães com função renal comprometida e, por conseguinte, a pradofloxacina deve ser administrada com precaução nestes animais. Número de autorização: EU/2/10/107/001 - 012. Data da autorização: Abril de 2011. Medicamento veterinário sujeito a receita médico ‑veterinária.

Nome do medicamento veterinário Veraflox 25 mg/ml suspensão oral para gatos. Titular da AIM: Bayer Animal Health GmbH, D -51368 Leverkusen, Alemanha. Cada ml contém: Pradofloxacina 25 mg. Espécies ‑alvo Felinos (Gatos). Indicações terapêuticas Tratamento de: infeções agudas do tracto respiratório superior causadas por estirpes sensíveis de Pasteurella multocida, Escherichia coli e Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius); infeções de feridas e abcessos causados por estirpes sensíveis de Pasteurella multocida e Staphylococcus intermedius (incluindo S. pseudintermedius). Posologia e via de administração Administração oral. Dosagens A dose recomendada é de 5,0 mg de pradofloxacina/kg de peso corporal, uma vez ao dia. Devido à graduação da seringa, a dose resultante varia de 5,0 a 7,5 mg/kg de peso corporal de acordo com a seguinte tabela:

Peso do Gato kg) Dose da suspensão oral a ser administrada (ml) Dose de pradofloxacina (mg/kg pv)> 0,67 – 1 0,2 5 – 7,5

1 – 1,5 0,3 5 – 7,51,5 – 2 0,4 5 – 6,72 – 2.5 0,5 5 – 6,32,5 – 3 0,6 5 – 63 – 3.5 0,7 5 – 5,83,5 – 4 0,8 5 – 5,74 – 5 1,0 5 – 6,35 – 6 1,2 5 – 66 – 7 1,4 5 – 5,87 – 8 1,6 5 – 5,78 – 9 1,8 5 – 5,69 – 10 2,0 5 – 5,6

Para assegurar uma dosagem correcta, deve -se determinar o peso corporal com a maior exactidão possível para evitar a sub -dosagem. Para facilitar a exactidão da dosagem, o frasco de 15 ml de Veraflox suspensão oral é fornecido com uma seringa de dosagem oral de 3 ml (graduação: 0,1 a 2 ml). Duração do tratamento A duração do tratamento depende da natureza e gravidade da infeção, e da resposta ao tratamento. Na maioria das infeções, os cursos terapêuticos que se seguem serão suficientes:

Indicação Duração do tratamento (dias)Infeções de feridas e abcessos 7Infeções agudas do tracto respiratório superior 5

O tratamento deve ser reavaliado caso não se observem melhorias da situação clínica decorridos 3 dias após o início do tratamento. Modo de administração Agitar bem antes de usar. Retirar a dose equivalente com a seringa. Administrar directamente na boca. Para evitar contaminação cruzada, não se deve utilizar a mesma seringa em animais diferentes. Assim, só se deve utilizar uma seringa por cada animal. Após a administração, a seringa deve ser lavada com água corrente e conservada na caixa de cartão, junto com o medicamento veterinário. Contraindicações Não administrar a gatos em caso de conhecida hipersensibilidade às fluoroquinolonas. Dada a ausência de estudos, não administrar a gatinhos com menos de 6 semanas de idade. A pradofloxacina não exerce quaisquer efeitos sobre o desenvolvimento da cartilagem de gatinhos com idade igual ou superior a 6 semanas. Contudo, este medicamento veterinário não deve ser administrado a gatos com lesões persistentes das cartilagens articulares, uma vez que estas lesões podem agravar -se durante o tratamento com fluoroquinolonas. Não administrar a gatos com perturbações do sistema nervoso central (SNC), tais como epilepsia, uma vez que as fluoroquinolonas podem potencialmente causar crises convulsivas em animais predispostos. Não administrar a gatos durante a gestação e lactação. Reações adversas Foram observados casos raros de perturbações gastrintestinais ligeiras e transitórias, incluindo vómitos. Advertências especiais para cada espécie alvo Não existem. Número de autorização: EU/2/10/107/013 -014. Data da autorização: Abril de 2011. Medicamento veterinário sujeito a receita médico veterinária.

Nome do medicamento veterinário Profender 15 mg/3 mg Comprimidos de libertação modificada para Cães Pequenos, Profender 50 mg/10 mg Comprimidos de libertação modificada para Cães Médios, Profender 150 mg/30 mg Comprimidos de libertação modificada para Cães Grandes.Titular da AIM: Bayer Animal Health GmbH, D -51368 Leverkusen, Alemanha. Cada comprimido contém: Substâncias ativas:

Emodepside PraziquantelProfender Comprimidos para Cães Pequenos 3 mg 15 mgProfender Comprimidos para Cães Médios 10 mg 50 mgProfender Comprimidos para Cães Grandes 30 mg 150 mg

Espécie‑alvo: Canina (cães). Indicações de utilização Para cães sofrendo de, ou em risco de, infeções parasitárias mistas causadas por nemátodos e céstodos das seguintes espécies: Vermes redondos (nemátodos) Toxocara canis (adultos maduros, adultos imaturos, L4 e L3), Toxascaris leonina (adultos maduros, adultos imaturos e L4), Ancylostoma caninum (adultos maduros e adultos imaturos), Uncinaria stenocephala (adultos maduros e adultos imaturos), Trichuris vulpis (adultos maduros, adultos imaturos e L4), Vermes achatados (céstodos) Dipylidium caninum, Taenia spp., Echinococcus multilocularis (adultos maduros e imaturos), Echinococcus granulosus (adultos maduros e imaturos) Posologia e via de administração Profender deve ser administrado na dose mínima de 1 mg de emodepside / kg peso vivo e de 5 mg de praziquantel / kg peso vivo. Uma única administração por tratamento é eficaz.

Peso (kg)

Número de comprimidos Profender por

cães pequenos

1 = 3 kg

cães médios

1 = 10 kg

cães grandes

1 = 30 kg

1 – 1,5 ½

> 1,5 – 3 1

> 3 – 4,5 1½

> 4,5 – 6 2

> 6 – 10 1

> 10 – 15 1½

> 15 – 20 2

> 20 – 30 1

> 30 – 45 1½

> 45 – 60 2

Modo de administração Administração por via oral em cães a partir das 12 semanas de idade e pesando pelo menos 1 kg. Os comprimidos Profender são aromatizados com carne e geralmente aceites pelos cães sem qualquer alimento. Administrar unicamente a cães em jejum. Por exemplo: Jejum durante a noite se o cão for tratado durante a manhã. Não deve ser dado alimento até 4 horas após o tratamento. Contraindicações Não administrar a cachorros com menos de 12 semanas de idade ou peso inferior a 1 kg. Não administrar em caso de hipersensibilidade às substâncias ativas ou a algum dos excipientes. Reações adversas Em casos muito raros foram observadas perturbações ligeiras e transitórias do trato digestivo (p.ex. hipersalivação, vómitos). Em casos muito raros foram observadas perturbações neurológicas ligeiras e transitórias (p.ex. tremores, incoordenação). O não cumprimento dos requisitos de jejum tende a ser uma característica destes casos. Adicionalmente, os sinais de perturbações neurológicas podem ser mais graves (p.ex. convulsões) nos Collies, Shelties e Australian Shepherds mutantes para mdr1 ( -/ -). Não se conhecem antídotos específicos. A frequência dos eventos adversos é definida utilizando a seguinte convenção: – Muito comum (mais de 1 em 10 animais apresentando evento(s) adverso(s) durante o decurso de um tratamento) – Comum (mais de 1 mas menos de 10 animais em 100 animais) – Pouco frequentes (mais de 1 mas menos de 10 animais em 1.000 animais) – Raros (mais de 1 mas menos de 10 animais em 10.000 animais) – Muito rara (menos de 1 animal em 10.000 animais, incluindo relatos isolados). Advertências especiais Os parasitas podem desenvolver resistência a qualquer classe de anti -helmínticos após a administração frequente e repetida de um anti -helmíntico dessa mesma classe. Número de autorização: EU/2/05/054/018 – 031 Data da autorização: 25/08/2008 Medicamento veterinário sujeito a receita médico ‑veterinária.

Nome do medicamento veterinário Profender 30 mg/7,5 mg solução para unção punctiforme para gatos pequenos, Profender 60 mg/15 mg solução para unção punctiforme para gatos médios, Profender 96 mg/24 mg solução para unção punctiforme para gatos grandes.Titular da AIM: Bayer Animal Health GmbH, D -51368 Leverkusen, Alemanha. Composição qualitativa e quantitativa: emodepside 21,4 mg/ml e praziquantel 85,8 mg/ml. Cada dose unitária (pipeta) de Profender contém:

Volume Emodepside Praziquantel

Profender para Gatos Pequenos (≥ 0,5 – 2,5 kg) 0,35 ml 7,5 mg 30 mg

Profender para Gatos Médios (> 2,5 – 5 kg) 0,70 ml 15 mg 60 mg

Profender para Gatos Grandes(> 5 – 8 kg) 1,12 ml 24 mg 96 mg

Espécie‑alvo: Felina. Indicações de utilização Para gatos sofrendo de, ou em risco de, infeções parasitárias mistas causadas por nemátodos e céstodos das seguintes espécies: Vermes redondos (nemátodos) Toxocara cati (adultos maduros, adultos imaturos, L4 e L3), Toxascaris leonina (adultos maduros, adultos imaturos e L4), Ancylostoma tubaeforme (adultos maduros, adultos imaturos e L4), Vermes achatados (céstodos) Dipylidium caninum (adultos), Taenia taeniaeformis (adultos), Echinococcus multilocularis (adultos) Posologia e via de administração Dosagem e Esquema de tratamento As doses mínimas recomendadas são de 3 mg de emodepside / kg peso vivo e de 12 mg de praziquantel / kg peso vivo, equivalentes a 0,14 ml de Profender / kg peso vivo.

Peso do gato (kg) Apresentação da pipeta a ser utilizada Volume (ml) Emodepside (mg/kg p.v.)

Praziquantel(mg/kg p.v.)

≥0,5 – 2,5 Profender para Gatos Pequenos 0,35 (1 pipeta) 3 – 15 12 – 60>2,5 – 5 Profender para Gatos Médios 0,70 (1 pipeta) 3 – 6 12 – 24>5 – 8 Profender para Gatos Grandes 1,12 (1 pipeta) 3 – 4,8 12 – 19,2

>8 Utilizar a combinação adequada de pipetas

Uma única administração por tratamento é eficaz. Modo de administração Exclusivamente para uso externo. Remover uma pipeta da embalagem. Segurar a pipeta na posição vertical, torcer e retirar a tampa. Usar a extremidade oposta da tampa para partir o selo da pipeta. Afastar o pêlo do pescoço, na base da nuca do gato, até a pele ser visível. Colocar a ponta da pipeta sobre a pele e apertar a pipeta várias vezes com firmeza, de modo a esvaziar o conteúdo directamente na pele. A aplicação na base da nuca minimizará a possibilidade do gato lamber o produto. Contraindicações Não administrar a gatinhos com menos de 8 semanas de idade ou peso inferior a 0,5 kg. Reações adversas Em casos muito raros, podem ocorrer salivação e vómitos. A ocorrência destes efeitos é considerada como uma consequência do gato lamber o local de aplicação imediatamente após o tratamento. Em casos muito raros, após a administração do Profender foram observados transitoriamente alopecia, prurido e/ou inflamação no local de aplicação. A frequência dos eventos adversos é definida utilizando a seguinte convenção: – Muito comum (mais de 1 em 10 animais apresentando evento(s) adverso(s) durante o decurso de um tratamento) – Comum (mais de 1 mas menos de 10 animais em 100 animais) – Pouco frequentes (mais de 1 mas menos de 10 animais em 1.000 animais) – Raros (mais de 1 mas menos de 10 animais em 10.000 animais) – Muito rara (menos de 1 animal em 10.000 animais, incluindo relatos isolados). Advertências especiais A lavagem com champô ou imersão do animal em água imediatamente após o tratamento pode reduzir a eficácia do medicamento veterinário. Assim, animais tratados não devem ser lavados até a solução secar. Os parasitas podem desenvolver resistência a qualquer classe de anti--helmínticos após a utilização frequente e repetida de um anti -helmíntico dessa mesma classe. Número de autorização: EU/2/05/054/001 -016 Data da autorização: 27/07/2005 Medicamento veterinário sujeito a receita médico ‑veterinária.

CLÍNICA ANIMAL5

44 PRÁTICA CLÍNICA

O artigo deve estar concebido e redigido com um caráter eminentemen­te prático.• Título: Preferimos títulos breves, com um máximo de 6 palavras.• Subtítulo: Deve­se destacar brevemente o conceito de maior interesse do

artigo.• Texto: O texto deve ser dividido em diferentes partes. É ainda convenien­

te que a primeira frase de cada parágrafo seja a mais importante.• Estilo: Utilizar preferencialmente um estilo directo, com a frase principal

no início do parágrafo. A extensão das frases não deve superar, de um modo geral as 20­25 palavras.

• Conclusões: Resumo dos aspetos mais relevantes que se deseja expôr.• Assinatura: Indicar nome, apelidos, formação do autor e direção profis­

sional de contacto (incluindo telefone, fax e endereço eletrónico para nosso arquivo).

• Referências Bibliográficas: Indicar os livros, artigos ou páginas web que o autor tenha consultado na elaboração do trabalho, ou nas quais o leitor possa encontrar mais informação sobre o tema exposto (10 referências no máximo).

• Extensão: Aconselha­se um máximo de 2500 palavras. Poderá consultar facilmente no Microsoft Word o número de palavras, através da ferramen­ta de contagem.

• Envio do artigo: Deverá ser remetido preferencialmente por mail, para: [email protected]. Também poderá remetê­lo por correio, para: Publica­ções Ciência e Vida, Praça de Alvalade, n.º 9, 4.7 • 1700­037 Lisboa, incluin­do sempre uma cópia impressa e outra em suporte informático (em Word).

Estrutura do artigo

Elementos gráficos

Devem ilustrar e proporcionar um caráter didático ao artigo. Aconselhamos entre 2 e 4 fotografias, que deverão ser enviadas ou em suporte informático gravado em alta resolução, (mínimo de 300 pontos por polegada, formato TIFF ou JPEG), ou os originais em papel.

Poderão ainda ser enviados, no máximo 2 quadros ou 2 tabelas que tenham como função aprofundar ou detalhar a informação exposta no texto, e não funcionem apenas como resumos do mesmo.

Originalidade

É fundamental que os artigos enviados não tenham sido publicados anteriormente em nenhuma outra publicação. Se o autor desejar a sua reprodução num outro meio, de­verá informar previamente a nossa editora.

Condições de publicação

Todos os artigos enviados serão analisados pela Direção e Conselho Científico da Clínica Animal, que avaliará o interesse do seu conteúdo para inclusão na revista. Todos os artigos deverão ser escritos com o Novo Acordo Orto­gráfico. Caso o autor, de uma forma expressa, se oponha a fazê­lo, deverá informar antecipadamente a editora, de for­ma a incluirmos uma nota no final do artigo, explicitando que o autor escreve de acordo com a antiga grafia.

Revisão

O autor receberá por correio eletrónico ou fax uma pro­va do artigo, adaptado ao estilo e normas editoriais da re­vista, podendo assim rever devidamente o texto e realizar as correções que achar oportunas. Apenas se corrigirão erros de redação, não se acrescentando novos parágrafos.

Prazo de publicação

Por motivos de programação dos artigos, extensão dos mesmos, número de páginas do exemplar em que está prevista a sua publicação, etc…, as Publicações Ciência e Vida reservam­se no direito de determinar as condições de publicação, em termos da data, extensão, material gráfico a incluir, etc…

Devolução do material

Devolver­se­á todo o material gráfico enviado para ela­boração do artigo, (fotografias, diapositivos, CDs,…), logo a pós a sua publicação. O autor receberá por correio um exemplar da revista em que tenha sido publicado o seu trabalho. o

Normas para publicaçãoINFORmAÇÃO TÉCNICA sOBRE PEQUENOs ANImAIs

Nº 1

Janeiro 2013

Cirurgia abdominal

e torácica

Obstrução

uretral felina

Como realizar a

análise SWOT

Pneumotórax

espontâneo

Clinica animal_1 - 1p.indd 1

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