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 Instrumentos Judicos de garantias de direitos das pessoas vi vendo com HIV/Aids. Miriam Ventura, in Avessos do Prazer: Drogas, Aids e Direitos Humanos, (Gilberta Acselrad, org.), 2ª ed, Ed. Fiocruz. Rio de Janeiro, 2005, pp 125-154. Resenha A autora apresenta em seu artigo um painel dos instrumentos jurídicos que desde os anos 80 vêm permitindo a garantia de direitos de pessoas vivendo com HIV /Aids. Imp ortante destacar as modificações ocorridas nesse per íodo, em par tic ular, no que tan ge às formas de articulação pol ítica que per mitiram o aprimoramento das estratégias de lutas em prol dos referidos direitos. De início, Miriam Ventura aponta uma importante característica relacionada à idéia de responsabilidade pelos efeitos da doença. Ao se rotular determinados grup os como prop ensos à Aids - o que ocorreu atr avés da noção de gru pos de risco - insu fla-se pre conce itos que acabam por redu ndar em restri ções sever as de direitos garantidos por lei. Assim, pode-se dizer que aquele momento inicial de manifestação da pandemia já apresentava aos operadores do direito e da saúde o dilema entre realizar as abo rdag ens tradiciona is de saúde públ ica - as quais, gro sso modo, pau tar-se-iam em mecanismos de identificação, isolamento e interrupção da cadeia de transmissão - e aquelas car acter izadas pelo viés dos direitos humanos. Deve-se registrar que ainda hoje mecanismos de restrição continuam a vigorar, haja vista, por exemplo, a proibição de ingresso nos EUA de portadores do vírus HIV de outras nacionalidades. Em 1992 podemos localizar um marco nas ações dirigidas à Aids, com a publicação do livro  A Ai ds no Mundo . É ali que se revelam instrumentos que efetivamente poderiam vir a ser utilizados pelos movimentos de direitos humanos e os indicadores de avaliação que também poderiam produzir novas ações preventivas e assistenciais futuras. A autora, ao avaliar o momento atual, afirma que os pontos que continuam a ser cruciais na discussão direitos humanos/Aids são: - a escolha de um padrão moral que permita a inclusão de diferenças sociais/culturais nas diversas modalidades de intervenção; - a emancipação do doente, tornando-o protagonis ta do tratamento; -a socialização do atendimento médico.

Instrumentos Jurídicos de garantias de direitos das pessoas vivendo com HIV/Aids

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A autora apresenta em seu artigo um painel dos instrumentos jurídicos que desde os anos 80 vêm permitindo a garantia de direitos de pessoas vivendo com HIV/Aids. Importante destacar as modificações ocorridas nesse período, em particular, no que tange às formas de articulação política que permitiram o aprimoramento das estratégias de lutas em prol dos referidos direitos.

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5/11/2018 Instrumentos Jur dicos de garantias de direitos das pessoas vivendo com HIV...

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Instrumentos Jurídicos de garantias de direitos das pessoas vivendo comHIV/Aids. Miriam Ventura, in Avessos do Prazer: Drogas, Aids e Direitos Humanos,(Gilberta Acselrad, org.), 2ª ed, Ed. Fiocruz. Rio de Janeiro, 2005, pp 125-154.

Resenha

A autora apresenta em seu artigo um painel dos instrumentos jurídicos que

desde os anos 80 vêm permitindo a garantia de direitos de pessoas vivendo com

HIV/Aids. Importante destacar as modificações ocorridas nesse período, em

particular, no que tange às formas de articulação política que permitiram o

aprimoramento das estratégias de lutas em prol dos referidos direitos.

De início, Miriam Ventura aponta uma importante característica relacionada

à idéia de responsabilidade pelos efeitos da doença. Ao se rotular determinados

grupos como propensos à Aids - o que ocorreu através da noção de grupos de

risco - insufla-se preconceitos que acabam por redundar em restrições severas

de direitos garantidos por lei. Assim, pode-se dizer que aquele momento inicial de

manifestação da pandemia já apresentava aos operadores do direito e da saúde

o dilema entre realizar as abordagens tradicionais de saúde pública - as quais,

grosso modo, pautar-se-iam em mecanismos de identificação, isolamento e

interrupção da cadeia de transmissão - e aquelas caracterizadas pelo viés dos

direitos humanos.

Deve-se registrar que ainda hoje mecanismos de restrição continuam a

vigorar, haja vista, por exemplo, a proibição de ingresso nos EUA de portadores

do vírus HIV de outras nacionalidades.

Em 1992 podemos localizar um marco nas ações dirigidas à Aids, com a

publicação do livro  A Aids no Mundo. É ali que se revelam instrumentos que

efetivamente poderiam vir a ser utilizados pelos movimentos de direitos humanos

e os indicadores de avaliação que também poderiam produzir novas ações

preventivas e assistenciais futuras.

A autora, ao avaliar o momento atual, afirma que os pontos que continuam

a ser cruciais na discussão direitos humanos/Aids são:

- a escolha de um padrão moral que permita a inclusão de diferenças

sociais/culturais nas diversas modalidades de intervenção;

- a emancipação do doente, tornando-o protagonista do tratamento;

-a socialização do atendimento médico.

5/11/2018 Instrumentos Jur dicos de garantias de direitos das pessoas vivendo com HIV...

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Ventura destaca também três fatores que teriam propiciado essa nova

abordagem na saúde pública e no sistema legal:

- O entendimento de que a Aids é um conjunto de sintomas decorrentes da

aquisição do vírus HIV e que, devido às peculiaridades dessa síndrome, o

isolamento do doente não responde de modo eficiente e eficaz aos problemasdela decorrentes;

- O fato de que a Aids atinge preponderantemente a população jovem e

ativa;

- A constatação de que a Aids é a primeira epidemia internacional da era

moderna dos direitos humanos.

O cenário brasileiro no qual a Aids mostrou-se inicialmente pode sercaracterizado como marcado pela ‘evolução de uma crise social, política e

econômica que tem sido descrita com precisão como (....) a pior da história

brasileira’ [130, apud Parker].

Assim, na medida em que os serviços foram sendo organizados para

responder de modo mais apropriado, revela-se o verdadeiro perfil do

soropositovo: trata-se, sem dúvida, daqueles que se situam nos segmentos mais

empobrecidos e vulneráveis da população.Nesse contexto, o grupo Pela Vidda é um dos que vai buscar na luta pela

garantia de direitos junto ao sistema legal resultados palpáveis no campo da

saúde dos portadores do vírus HIV.

Revela-se então que as estratégias de luta atravessam não apenas o

 Judiciário como também as outras esferas do Poder Público. No limite, a autora

demonstra que a discussão sobre as diretrizes de atendimento aos portadores do

vírus HIV diz respeito também a uma discussão maior sobre o tipo de saúdepública oferecida a população brasileira em geral.

Na parte final do artigo é apontado também como a oposição inicial

salientada (entre intervenções mais segregadoras e restritivas e outras marcadas

pela inclusão social e reguladas pela atenção aos direitos humanos) apresenta-se

também nos sistemas legal nacional e internacional de modo diferente ao longo

tempo. Tal luta ainda se faz manifesta e, sem dúvida, o tema central do artigo é o

apelo à necessária organização da sociedade em prol da democratização, dasolidariedade e da garantia de direitos que, de outro modo, correm o risco de

sucumbir frente à mercantilização da vida.

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