12
... = ... x ∈R x(t): R→R x(t) dx dt ; d 2 x dt 2 ; d 3 x dt 3 ; etc . . . 7t · x 2 +3 d 2 x dt 2 3 - x · dx dt =5t 3 dx/dt d 3 x/dt 3 x 5t 3 · d 2 x dt 2 - e -γt dx dt + sen(ωt) · x = ln(αt) dx dt · x =5t d 2 θ dt 2 = αsen(θ) ( dx dt ) 2 =5t · x x

Introdução às equações diferenciais - gibbs.if.usp.brcrochik/feo/edos.pdf · O problema amosV ver como resolver equações lineares, homogêneas, a coe cientes constantes

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Introdução às equações diferenciais

Professor Leonardo Crochik

Notas de aula

1 O que é

1. é uma equação:. . . = . . .

2. a incógnita não é um número x ∈ R, mas uma função x(t) : R → R

3. na equação estão presentes, além de termos envolvendo a função x(t), também termos envol-vendo as funções derivadas dx

dt; d

2xdt2

; d3xdt3

; etc . . .

4. Exemplo:

7t · x2 + 3

(d2x

dt2

)3

− x · dxdt

= 5t3

2 Classi�cação

1. Ordem: refere-se à derivada de maior ordem presente na equação. Exemplos:

(a) se só aparece na equação a derivada dx/dt, trata-se de uma �equação de primeira ordem�;

(b) se a derivada de maior ordem é d3x/dt3, trata-se de uma �equação de terceira ordem�

2. Linear / não-linear: Se, nos termos envolvendo a função x e suas derivadas, elas aparecemsempre elevadas à potência 1 e não estão multiplicados entre si, trata-se de uma equaçãolinear. Caso contrário, é uma equação não linear. Exemplos:

• 5t3 · d2xdt2− e−γt dx

dt+ sen(ωt) · x = ln(αt) é uma equação (de segunda ordem) linear;

• dxdt· x = 5t é uma equação (de primeira ordem) não-linear;

• d2θdt2

= αsen(θ) é uma equação (de segunda ordem) não-linear;

•(dxdt

)2= 5t · x é uma equação (de primeira ordem) não-linear;

3. Homogênêa / inomogênêa: se existe um termo, diferente de zero, independente de x e desuas derivadas, trata-se de uma equação inomogênea. Caso contrário, temos uma equaçãohomogênea. Exemplos:

1

• 5t3 · d2xdt2− e−γt dx

dt+ sen(ωt) · x = ln(αt) é uma equação (de segunda ordem, linear)

inomogênea;

• 5t3 · d2xdt2−e−γt dx

dt+sen(ωt) ·x = 0 é uma equação (de segunda ordem, linear) homogênea.

4. Autônomo / dependente do tempo: se a variável t, da qual x é função, não aparece explici-tamente na equação temos uma equação autônoma. Caso contrário, temos uma equaçãodependente do tempo. Exemplos:

• 5t3 · d2xdt2− e−γt dx

dt+ sen(ωt) · x = ln(αt) é uma equação (de segunda ordem, linear,

inomogênea) dependente do tempo;

• 5 · d2xdt2−3dx

dt+2 ·x = 0 é uma equação (de segunda ordem, linear, homogênea) autônoma.

3 Abordagens para resolução

3.1 Resolução numérica

Há vários métodos. Todos eles, entretanto, partem de um mesmo princípio: escolhemos um valorde intervalo de tempo ∆t su�cientemente pequeno. Apartir daí, iteramos a equação: calculamoso valor de x(t + ∆t) a partir do conhecimento de x(t) e dx/dt(t). Vamos explicar esse processoatravés de um exemplo.

Exemplo 1

Seja a equação:

(dx

dt

)2

= 5t · x (1)

1. Para iniciar a resolução, precisamos conhecer a condição inicial. Suponhamos x(0) = 3.

2. Vamos isolar a derivada dx/dt:

dx

dt=√

5t · x

e calcular seu valor para t = 0 :

dx

dt(0) =

√5 · 0 · x(0)

dx

dt(0) =

√5 · 0 · 3 = 0

3. De�nimos agora um valor para dt = ∆t = 0, 01. Conhecendo x(t), calculamos x(t+ ∆t):

x(0) = 3

x(0 + 0.01) = 3 +dx

dt·∆t = 3 + 0 · 0, 01 = 3

2

0 1 2 3 4 5 t0

20

40

60

80

100

x

Figura 1: Solução da equação (1) para x0 = 3.

4. Voltamos à etapa 2, porém agora para t = 0, 01:

dx

dt(0, 01) =

√5 · 0, 01 · x(0, 01)

dx

dt(0, 01) =

√5 · 0, 01 · 3 = 0, 3873

x(0, 01 + 0, 01) = x(0, 01) +dx

dt·∆t = 3 + 0, 3873 · 0, 01 = 3, 003873

e assim por diante.

Exemplo 2

Seja a equação:

d2x

dt2+dx

dt+ x = sen(t) (2)

1. Nesse caso, temos uma equação de segunda ordem. Vamos desmembrá-la em duas equaçõesde primeira ordem acopladas. Chamemos dx/dt de v:{

dxdt

= vdvdt

= −v − x+ sen(t)

2. Precisamos agora das condições iniciais. Suponhamos x(0) = 3 e v(0) = 0. Calculamosentão dx/dt(0) e dv/dt(0):{

dxdt

(0) = v(0) = 0dvdt

(0) = −v(0)− x(0) + sen(0) = −3

3

0 10 20 30 40 50 t−2

−1

0

1

2

3

x

Figura 2: Solução da equação (2) para x0 = 3 e v0 = 0.

3. Escolhemos ∆t = 0, 01 e calculamos x(0 + ∆t) e v(0 + ∆t) a partir de x, v, dx/dt e dv/dt:{x(0 + ∆t) = x(0) + dx

dt·∆t = 3

v(0 + ∆t) = v(0) + dvdt·∆t = −0, 03

4. Voltamos à etapa 2, mas agora para t = 0, 01:

{dxdt

(0, 01) = v(0, 01) = −0, 03dvdt

(0, 01) = −v(0, 01)− x(0, 01) + sen(0, 01) = −2, 96{x(0, 02) = x(0, 01) + dx

dt∆t = 2, 9997

v(0, 02) = v(0, 01) + dvdt

∆t = −0, 0596

e assim por diante...

Comentários

1. A escolha adequada do intervalo de tempo ∆t é o ponto crítico. Um valor su�cientementepequeno para uma equação pode não o ser para outra.

2. Esse método de resolução permite descobrir a função procurada, dada a condição inicial. Elenão nos permite encontrar a forma algébrica dessa função para qualquer condição inicial.

3. Em compensação, qualquer equação diferencial pode, em princípio, ser resolvida dessa forma.

4. O método aqui apresentado é o �Método de Euler�.

4

3.2 Análise do espaço de fases

• Considere uma equação diferencial autônoma. Exemplos:

dx

dt= (x2 − 1) (3)

d2x

dt2= −5x (4)

• Para a equação (3), o conhecimento de x em um dado instante t permite determinar atrajetória. Por isso, o espaço de fases é unidimensional:

equilibrioestavel

equilibrio

dx/dt>0dx/dt>0 dx/dt<0

−1 10x

instavel

• Para a equação (4), é necessário conhecer x e v em um dado instante t para determinar atrajetória. Por isso, o espaço de fases é bidimensional:

dx

dt= v

dv

dt= −5 · x

vmax

xmax

vmin

xmin x

vdx/dt>0

dx/dt<0

dv/dt<0

dv/dt>0

5

• A análise do espaço de fases nos permite concluir como são, geometricamente, as trajetóriaspara todas as condições iniciais próximas de um ponto de equilíbrio.

• Ela não permite, entretanto, saber a forma exata da trajetória x(t). Trata-se de uma análisequalitativa.

• A representação no espaço de fases nos permite ver a diferença entre soluções de equaçõesde primeira e de segunda ordem. No primeiro caso, o �espaço das soluções� é unidimensional(depende apenas de uma constante ligada à condição inicial), enquanto, no segundo caso, ébidimensional (depende de duas constantes).

3.3 Resolução analítica

• A resolução analítica é a única que permite saber a expressão algébrica da função x(t).

• Entretanto, nem todas as equações diferenciais podem ser resolvidas analiticamente.

• Equação diferenciais lineares sempre podem ser resolvidas analiticamente.

• Vamos ver alguns métodos, sem, entretanto, buscar a completeza.

Equações de primeira ordem

dx

dt= x2t+ t (5)

1. Precisamos fatorar o lado direito de (5), buscando separar um fator que dependa só de x eoutro que dependa só de t:

dx

dt= (x2 + 1)t⇒ dx

x2 + 1= t · dt

2. Separamos assim a equação em um membro envolvendo apenas x e outro envolvendo apenast. Podemos, portanto, integrar os dois membros:

∫ x(t)

x0

dx

x2 + 1=

∫ t

0

t · dt

arctg(x(t))− arctg(xo) = t2/2

arctg(x(t)) = arctg(x0) + t2/2

x(t) = tg(arctg(x0) + t2/2)

Equações de segunda ordem

O problema Vamos ver como resolver equações lineares, homogêneas, a coe�cientes constantes(autônomas):

a · d2x

dt2+ b · dx

dt+ c · x = 0 (6)

6

Figura 3: Solução da equação (5) para x0 = 3.

Transformação em um problema algébrico Nosso objetivo é transformar essa equação difer-encial em uma equação algébrica, ou seja, em uma equação cuja incógnita é um número p ∈ R.

• Sabemos que ddtet = et. Ou seja, é como se a função exponencial fosse o elemento neutro da

derivação. Pensando nisso, vamos propor uma solução tentativa para a equação (6):

xp(t) = ept (7)

• Temos que:

d

dtxp = p · ept ⇒ d

dtxp = p · xp

d2

dt2xp = p2 · ept ⇒ d2

dt2xp = p2 · xp

, de maneira que a operação de derivar essa função é equivalente à operação de multiplicá-lapor p.

• Substituindo (7) em (6), temos:

a · p2xp + b · p · xp + c · xp = 0

a · p2 + b · p+ c = 0 (8)

• Para que (7) seja solução da equação diferencial (6), p precisa ser solução da equação algébrica

(8). Nosso problema reduziu-se assim a resolver uma equação de segundo grau:

p1 =−b+

√b2 − 4ac

2a⇒ x1(t) = ep1t

p2 =−b−

√b2 − 4ac

2a⇒ x1(t) = ep2t (9)

7

Algorithm 1 Demonstração da propriedade de superposição de soluções

Como x1 e x2 são soluções de (6), sabemos que:

a · d2x1

dt2+ b · dx1

dt+ c · x1 = 0 (10)

a · d2x2

dt2+ b · dx2

dt+ c · x2 = 0 (11)

Somando a equação (10) multiplicada por α à equação (11) multiplicada por β, temos:

a · αd2x1

dt2+ a · βd

2x2

dt2+ b · αdx1

dt+ b · βdx2

dt+ c · αx1 + c · βx2 = 0

a · d2

dt2(

≡x(t)︷ ︸︸ ︷αx1 + βx2) + b · d

dt(

≡x(t)︷ ︸︸ ︷αx1 + βx2) + c(

≡x(t)︷ ︸︸ ︷αx1 + βx2) = 0

Portanto, x(t) é solução da equação (6). Como depende de duas constantes arbitrárias, α e β, x(t)é a solução geral da equação. �

Solução geral: superposição de soluções Encontramos duas soluções particulares para aequação (6). Qual será sua solução geral?

• A solução geral deve depender de duas constantes, determinadas a partir das condiçõesiniciais (por que?).

• Para equações diferenciais lineares e homogêneas, vale a �propriedade de superposição desoluções�, demonstrada no quadro 1:

� �Se x1(t) é solução de (6) e x2(t) é solução de (6), então x(t) ≡ α · x1(t) + β · x2(t) é asolução geral da equação (6), onde α e β são constantes que dependem das condiçõesiniciais.�

• A solução geral é, portanto:x(t) = α · x1(t) + β · x2(t) (12)

Análise das possíveis soluções Nossa solução geral depende dos valores de p, determinadosem (9). Temos três casos possíveis:

1. Caso 1: b2 − 4ac > 0 ⇒Soluções reais e distintas. Temos essencialmente a soma de duasfunções exponenciais. Como exemplo, vamos resolver a equação:

d2x

dt2+ 5

dx

dt+ 4x = 0 (13)

, submetida à condição inicial x(0) = 4 e dx/dt(0) = 1.

(a) Equação algébrica característica:

p2 + 5p+ 4 = 0⇒ p1 = −4 ou p2 = −1

8

0 0.5 1 1.5 2 2.50

1

2

3

4

x

t

Figura 4: Solução da equação (13) para x0 = 4 e v0 = 1.

(b) Solução geral (equação (12)):

x(t) = αe−4t + βe−t

(c) Determinação de α e β:{x(0) = 4 ⇒ α + β = 4dxdt

(0) = 1 ⇒ −4α− β = 1⇒ α = −5/3

β = 17/3

x(t) = −5

3e−4t +

17

3e−t

2. Caso 2: b2 − 4ac < 0⇒Soluções complexas e distintas. Nesse caso, temos:

p = − b

2a︸︷︷︸≡γ

±

√√√√√b2 − 4ac

4a2︸ ︷︷ ︸≡−ω2

⇒ p1 = −γ + i · ω ⇒ x1(t) = e−γt · eiωtp2 = −γ − i · ω ⇒ x2(t) = e−γt · e−iωt (14)

• Quanto vale eiωt? A resposta a essa pergunta é a chamada fórmula de Euler, demon-strada no quadro 2:

eiθ = cos θ + isenθ (15)

• Assim, a solução geral da equação �ca (equações (12), (14) e (15)):

x(t) = e−γt (α cosωt+ β cos(−ωt) + iαsenωt+ iβsen(-ωt)) =

= e−γt (α cosωt+ β cos(ωt) + iαsenωt− iβsen(ωt)) (17)

• Para garantir que x(t) seja uma função real, escolhemos valores de α e β que anulem aparte imaginária da equação (17). Por isso, fazemos α ≡ A

2− i · B

2e β = A

2+ i · B

2e,

substituindo em (17), temos:

x(t) = e−γt [A · cosωt+B · senωt] (18)

9

Algorithm 2 Demonstração da fórmula de Euler

De�na x(θ) = eiθ. Nossa estratégia é: �descobrir de que equação diferencial de segunda ordem essafunção é solução�. Sabemos que x(0) = ei·0 = 1. Calculemos dx/dθ:

dx

dθ= ieiθ ⇒ dx

dθ(0) = i

Calculemos d2x/dθ2:

d2x

dθ2= i2eiθ = −

=x(θ)︷︸︸︷eiθ ⇒ d2x

dθ2= −x (16)

Mostramos em aula que a solução da equação diferencial (16) é:

x(θ) = a · cos(θ) + b · sen(θ)

Substituindo as condições iniciais:

x(0) = 1 ⇒ a = 1

dx

dθ(0) = i ⇒ b = i,

concluimos que:x(θ) ≡ eiθ = cos θ + isenθ �

• Exemplo: Resolver a equação:

d2x

dt2+ 2

dx

dt+ 5x = 0 (19)

, submetida à condição inicial x(0) = 4 e dx/dt(0) = 1.

(a) Equação algébrica característica:

p2 + 2p+ 5 = 0⇒ p1 = −≡γ︷︸︸︷1 +

≡ω︷︸︸︷4 i ou p2 = −1− 4i

(b) Solução geral (equação (18)):

x(t) = e−1t(A cos 4t+Bsen4t)

(c) Determinação de A e B:

dx

dt= e−1t(−4Asen4t+ 4B cos 4t)− e−1t(A cos 4t+Bsen4t)

{x(0) = 4 ⇒ A = 4dxdt

(0) = 1 ⇒ 4B − A = 1⇒ A = 4

B = 5/4

x(t) = e−t(4 cos 4t+ 5/4sen4t)

10

0 1 2 3 4−2

−1

0

1

2

3

4

x

t

Figura 5: Solução da equação (19) para x0 = 4 e v0 = 1.

3. Caso 3: b2 − 4ac = 0⇒Soluções reais e idênticas

• Nesse caso, o método utilizado por nós só encontrou uma solução para a equação.Entretanto, a solução geral precisa de duas soluções (e duas constantes que dependemdas condições iniciais).

• p = − b2a⇒ x1 = e−

b2at. Mas, como encontrar uma segunda solução x2?

• Não vamos mostrar aqui como encontrá-la. Mas você pode veri�car que x2 = t · e− b2at

também é solução da equação (6) no caso em que b2 − 4ac = 0. A solução geral �ca,portanto:

x(t) = αe−b2at + βt · e−

b2at (20)

• Exemplo: Resolver:d2x

dt2+ 4

dx

dt+ 4x = 0 (21)

, submetida à condição inicial x(0) = 4 e dx/dt(0) = 1.

(a) Equação algébrica característica:

p2 + 4p+ 4 = 0⇒ p1 = p2 = −2

(b) Solução geral (equação (20)):

x(t) = αe−2t + βt · e−2t

(c) Determinação de α e β:

dx

dt= −2αe−2t + βe−2t − 2βt · e−2t

{x(0) = 4 ⇒ α = 4dxdt

(0) = 1 ⇒ −2α + β = 1⇒ α = 4

β = 9

x(t) = 4e−2t + 9te−2t

11

0 1 2 3 40

1

2

3

4

x

t

Figura 6: Solução da equação (21) para x0 = 4 e v0 = 1.

12