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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa Jornal da ABI 354 MAIO 2010 PÁGINAS 3, 4, 5, 6 E 7 E EDITORIAL OS ARQUIVOS, OS ARQUIVOS! NA PÁGINA 2 Além de remunerar os profissionais com valores aviltantes, os veículos impressos estão diminuindo a publicação de trabalhos. PÁGINAS 14, 15, 16 E 17 TRIMANO DESENHISTA REVELA COMO O MERCADO FICOU HOSTIL AOS ILUSTRADORES BRASIL RÉU NA OEA A Comissão Interamericana de Direitos Humanos ignora a decisão do Supremo Tribunal Federal e mantém o processo em que o Estado brasileiro é acusado de crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar. Primeiro à direita na fila mais alta desta foto histórica, Mário integrou uma equipe talentosa da revista O Cruzeiro. Haverá quem identifique estes personagens? NEI LIMA CASO DAS TORTURAS NÃO SE ESGOTOU A aventura do repórter Mário de Moraes A aventura do repórter Mário de Moraes Páginas 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 32

Jornal da ABI 354

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A Comissão Interamericana de Direitos Humanos ignora a decisão do Supremo Tribunal Federal e mantém o processo em que o Estado brasileiro é acusado de crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar. Leia também a homenagem ao jornalista Mário de Moraes e o perfil do ilustrador Trimano.

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Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

Jornal da ABI354

MAIO2010

PÁGINAS 3, 4, 5, 6 E 7 E EDITORIAL OS ARQUIVOS, OS ARQUIVOS! NA PÁGINA 2

Além de remunerar os profissionais com valores aviltantes, os veículos impressos estão diminuindo a publicação de trabalhos.PÁGINAS 14, 15, 16 E 17

TRIMANO DESENHISTA REVELA COMO O MERCADO FICOU HOSTIL AOS ILUSTRADORES

BRASIL RÉU NA OEAA Comissão Interamericana de Direitos Humanos ignora a decisão do Supremo Tribunal Federal e mantém o

processo em que o Estado brasileiro é acusado de crimes contra os direitos humanos durante a ditadura militar.

Primeiro à direita nafila mais alta desta

foto histórica, Máriointegrou uma equipetalentosa da revistaO Cruzeiro. Haveráquem identifique

estes personagens?

NEI

LIM

A

CASO DAS TORTURAS NÃO SE ESGOTOU

A aventura do repórter Mário de MoraesA aventura do repórter Mário de Moraes

Páginas 26, 27, 28, 29, 30, 31 e 32

2 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

EditorialEditorial

DIRETORIA – MANDATO 2010-2013Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Orpheu Santos SallesDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretora de Assistência Social: Ilma Martins da SilvaDiretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn

CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage eTeixeira Heizer.

CONSELHO FISCAL 2010-2013Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, Jorge Saldanhade Araújo, Lóres Baena Cunha, Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Manolo Epelbaum eRomildo Guerrante.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2010-2011Presidente: Pery CottaPrimeiro Secretário: Sérgio CaldieriSegundo Secretário: Arcírio Gouvêa Neto

Conselheiros efetivos 2010-2013André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesRodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico,Marcelo Tiognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, Mário Augusto Jakobskind, OrpheuSantos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

Conselheiros efetivos 2009-2012Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles, FernandoSegismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, José Ângelo da SilvaFernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães, Nacif Elias HiddSobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros efetivos 2008-2011Alberto Dines, Antônio Carlos Austregesylo de Athayde, Arthur José Poerner, Carlos ArthurPitombeira, Dácio Malta, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima (in memoriam), LedaAcquarone, Maurício Azêdo, Mílton Coelho da Graça, Pinheiro Júnior, Ricardo Kotscho,Rodolfo Konder, Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros suplentes 2010-2013Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

Conselheiros suplentes 2009-2012Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (Miro Lopes),Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, Jordan Amora,Jorge Nunes de Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marcus Antônio Mendes de Miranda,Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo Coelho Neto (in memoriam) eRogério Marques Gomes.

Conselheiros suplentes 2008-2011Alcyr Cavalcânti, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Coutto,Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira da Silva (Pereirinha), Maria doPerpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Ruy Bello (in memoriam), Salete Lisboa, SidneyRezende,Sílvia Moretzsohn, Sílvio Paixão e Wilson S. J. de Magalhães.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIAJosé Pereira Filho (Pereirinha), Presidente, Carlos Di Paola, José Carlos Machado, Luiz SérgioCaldieri, Marcus Antônio Mendes de Miranda, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSLênin Novaes de Araújo, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Alcyr Cavalcanti, ArcírioGouvêa Neto, Daniel de Castro, Geraldo Pereira dos Santos, Germando de Oliveira Gonçalves,Gilberto Magalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lucy Mary Carneiro, Maria CecíliaRibas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente, Jorge Nunes de Freitas, José Rezende Neto, ManoelPacheco dos Santos, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George Benigno JatahyDuque Estrada, James Akel, Luthero Maynard, Pedro Venceslau e Reginaldo Dutra.

Jornal da ABINúmero 354 - Maio de 2010

Editores: Maurício Azêdo e Francisco UchaProjeto gráfico e diagramação: Francisco UchaEdição de textos: Maurício Azêdo

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,André Gil, Conceição Ferreira, Diogo Collor Jobimda Silveira, Elizabeth Ziliotto, Guilherme PovillVianna, Maria Ilka Azêdo, Mário Luiz de Freitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva,Paulo Roberto de Paula Freitas.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71 - Rio de Janeiro, RJ -Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/2282-1292e-mail: [email protected]

Representação de São PauloDiretor: Rodolfo KonderRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51Perdizes - Cep 05015-040Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960e-mail: [email protected]

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808Osasco, SP O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE

LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

OS ARQUIVOS, OS ARQUIVOS!A A A A A DECISÃODECISÃODECISÃODECISÃODECISÃO DODODODODO S S S S SUPREMOUPREMOUPREMOUPREMOUPREMO T T T T Tribunal Fribunal Fribunal Fribunal Fribunal Federal deederal deederal deederal deederal de

passar uma esponja no passado e perdoar ospassar uma esponja no passado e perdoar ospassar uma esponja no passado e perdoar ospassar uma esponja no passado e perdoar ospassar uma esponja no passado e perdoar osagentes do Estado que cometeram crimes con-agentes do Estado que cometeram crimes con-agentes do Estado que cometeram crimes con-agentes do Estado que cometeram crimes con-agentes do Estado que cometeram crimes con-tra os presos políticos postos sob sua custódiatra os presos políticos postos sob sua custódiatra os presos políticos postos sob sua custódiatra os presos políticos postos sob sua custódiatra os presos políticos postos sob sua custódianão encernão encernão encernão encernão encerrou esse capítulo sinistro e trágicorou esse capítulo sinistro e trágicorou esse capítulo sinistro e trágicorou esse capítulo sinistro e trágicorou esse capítulo sinistro e trágicoda nossa História nacional, ainda que os mi-da nossa História nacional, ainda que os mi-da nossa História nacional, ainda que os mi-da nossa História nacional, ainda que os mi-da nossa História nacional, ainda que os mi-nistros da Suprema Corte procurassem atribuirnistros da Suprema Corte procurassem atribuirnistros da Suprema Corte procurassem atribuirnistros da Suprema Corte procurassem atribuirnistros da Suprema Corte procurassem atribuirà origem da Là origem da Là origem da Là origem da Là origem da Lei de Anistia um teor de supostaei de Anistia um teor de supostaei de Anistia um teor de supostaei de Anistia um teor de supostaei de Anistia um teor de supostaconciliação entre os donos absolutos do poderconciliação entre os donos absolutos do poderconciliação entre os donos absolutos do poderconciliação entre os donos absolutos do poderconciliação entre os donos absolutos do poderna época e aqueles que se insurgiam contra essana época e aqueles que se insurgiam contra essana época e aqueles que se insurgiam contra essana época e aqueles que se insurgiam contra essana época e aqueles que se insurgiam contra essausurpação. Já dissemos aqui que esse alegadousurpação. Já dissemos aqui que esse alegadousurpação. Já dissemos aqui que esse alegadousurpação. Já dissemos aqui que esse alegadousurpação. Já dissemos aqui que esse alegadoentendimento jamais ocorentendimento jamais ocorentendimento jamais ocorentendimento jamais ocorentendimento jamais ocorreu, como ficou ereu, como ficou ereu, como ficou ereu, como ficou ereu, como ficou ex-x-x-x-x-presso na votação apertada com que a Câmarapresso na votação apertada com que a Câmarapresso na votação apertada com que a Câmarapresso na votação apertada com que a Câmarapresso na votação apertada com que a Câmarados Deputados deu por aprovado o projeto.dos Deputados deu por aprovado o projeto.dos Deputados deu por aprovado o projeto.dos Deputados deu por aprovado o projeto.dos Deputados deu por aprovado o projeto.

O O O O O PRONUNCIAMENTOPRONUNCIAMENTOPRONUNCIAMENTOPRONUNCIAMENTOPRONUNCIAMENTO DODODODODO Supremo não es- Supremo não es- Supremo não es- Supremo não es- Supremo não es-gota nem sepulta para sempre essa ignomínia.gota nem sepulta para sempre essa ignomínia.gota nem sepulta para sempre essa ignomínia.gota nem sepulta para sempre essa ignomínia.gota nem sepulta para sempre essa ignomínia.Esses crimes não dizem respeito apenas à coEsses crimes não dizem respeito apenas à coEsses crimes não dizem respeito apenas à coEsses crimes não dizem respeito apenas à coEsses crimes não dizem respeito apenas à co-----munidade brasileira, pois sua indignidade feremunidade brasileira, pois sua indignidade feremunidade brasileira, pois sua indignidade feremunidade brasileira, pois sua indignidade feremunidade brasileira, pois sua indignidade feretoda a Humanidade, ofende as pessoas comunstoda a Humanidade, ofende as pessoas comunstoda a Humanidade, ofende as pessoas comunstoda a Humanidade, ofende as pessoas comunstoda a Humanidade, ofende as pessoas comunsem todos os quadrantes do planeta e eem todos os quadrantes do planeta e eem todos os quadrantes do planeta e eem todos os quadrantes do planeta e eem todos os quadrantes do planeta e exige corxige corxige corxige corxige cor-----reição por todos os organismos vinculados àreição por todos os organismos vinculados àreição por todos os organismos vinculados àreição por todos os organismos vinculados àreição por todos os organismos vinculados àdefesa e preserdefesa e preserdefesa e preserdefesa e preserdefesa e preservação dos direitos humanos. Nãovação dos direitos humanos. Nãovação dos direitos humanos. Nãovação dos direitos humanos. Nãovação dos direitos humanos. Nãoé por outra razão que a Comissão Interameri-é por outra razão que a Comissão Interameri-é por outra razão que a Comissão Interameri-é por outra razão que a Comissão Interameri-é por outra razão que a Comissão Interameri-cana de Direitos Humanos, instância da Orga-cana de Direitos Humanos, instância da Orga-cana de Direitos Humanos, instância da Orga-cana de Direitos Humanos, instância da Orga-cana de Direitos Humanos, instância da Orga-nização dos Estados Americanos que cuida danização dos Estados Americanos que cuida danização dos Estados Americanos que cuida danização dos Estados Americanos que cuida danização dos Estados Americanos que cuida damatéria, não deu por findo o julgamento dasmatéria, não deu por findo o julgamento dasmatéria, não deu por findo o julgamento dasmatéria, não deu por findo o julgamento dasmatéria, não deu por findo o julgamento dasdenúncias contra o Estado brasileiro que lhedenúncias contra o Estado brasileiro que lhedenúncias contra o Estado brasileiro que lhedenúncias contra o Estado brasileiro que lhedenúncias contra o Estado brasileiro que lheforam forforam forforam forforam forforam formuladas, como omuladas, como omuladas, como omuladas, como omuladas, como o Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI Jornal da ABI dá no dá no dá no dá no dá no-----ticia nesta edição.ticia nesta edição.ticia nesta edição.ticia nesta edição.ticia nesta edição.

SSSSSEEEEE FFFFFALALALALALTTTTTAAAAA ÀÀÀÀÀ CIDH CIDH CIDH CIDH CIDH, como é notório, o poder de, como é notório, o poder de, como é notório, o poder de, como é notório, o poder de, como é notório, o poder decoerção necessário à imposição de sanções aocoerção necessário à imposição de sanções aocoerção necessário à imposição de sanções aocoerção necessário à imposição de sanções aocoerção necessário à imposição de sanções aoBrasil, é incontestável que seu veredicto cons-Brasil, é incontestável que seu veredicto cons-Brasil, é incontestável que seu veredicto cons-Brasil, é incontestável que seu veredicto cons-Brasil, é incontestável que seu veredicto cons-tituirá severa apenação moral aos que pratica-tituirá severa apenação moral aos que pratica-tituirá severa apenação moral aos que pratica-tituirá severa apenação moral aos que pratica-tituirá severa apenação moral aos que pratica-ram esses crimes hediondos e àqueles que, pas-ram esses crimes hediondos e àqueles que, pas-ram esses crimes hediondos e àqueles que, pas-ram esses crimes hediondos e àqueles que, pas-ram esses crimes hediondos e àqueles que, pas-

sados mais de 25 anos do fim da ditadura mi-sados mais de 25 anos do fim da ditadura mi-sados mais de 25 anos do fim da ditadura mi-sados mais de 25 anos do fim da ditadura mi-sados mais de 25 anos do fim da ditadura mi-litarlitarlitarlitarlitar, insistem, até mesmo no interior de um, insistem, até mesmo no interior de um, insistem, até mesmo no interior de um, insistem, até mesmo no interior de um, insistem, até mesmo no interior de umGoverGoverGoverGoverGoverno progressista, como o atual, em acono progressista, como o atual, em acono progressista, como o atual, em acono progressista, como o atual, em acono progressista, como o atual, em aco-----bertá-los e protegê-los. À frente dessa corte debertá-los e protegê-los. À frente dessa corte debertá-los e protegê-los. À frente dessa corte debertá-los e protegê-los. À frente dessa corte debertá-los e protegê-los. À frente dessa corte dedefensores dos indefensáveis está o Ministrodefensores dos indefensáveis está o Ministrodefensores dos indefensáveis está o Ministrodefensores dos indefensáveis está o Ministrodefensores dos indefensáveis está o Ministroda Defesa Nélson Jobim, coadjuvado pelosda Defesa Nélson Jobim, coadjuvado pelosda Defesa Nélson Jobim, coadjuvado pelosda Defesa Nélson Jobim, coadjuvado pelosda Defesa Nélson Jobim, coadjuvado pelosSecretários das três FSecretários das três FSecretários das três FSecretários das três FSecretários das três Forças Arorças Arorças Arorças Arorças Armadas.madas.madas.madas.madas.

É É É É É ESSEESSEESSEESSEESSE SISTEMASISTEMASISTEMASISTEMASISTEMA de cobertura e proteção de de cobertura e proteção de de cobertura e proteção de de cobertura e proteção de de cobertura e proteção detantos criminosos que bloqueia a etantos criminosos que bloqueia a etantos criminosos que bloqueia a etantos criminosos que bloqueia a etantos criminosos que bloqueia a exigênciaxigênciaxigênciaxigênciaxigênciade abertura dos arquivos da ditadura militarde abertura dos arquivos da ditadura militarde abertura dos arquivos da ditadura militarde abertura dos arquivos da ditadura militarde abertura dos arquivos da ditadura militar,,,,,impedindo que se conheçam os nomes dos torimpedindo que se conheçam os nomes dos torimpedindo que se conheçam os nomes dos torimpedindo que se conheçam os nomes dos torimpedindo que se conheçam os nomes dos tor-----turadores e de suas vturadores e de suas vturadores e de suas vturadores e de suas vturadores e de suas vííííítimas, onde ocortimas, onde ocortimas, onde ocortimas, onde ocortimas, onde ocorreramreramreramreramreramtantas etantas etantas etantas etantas exxxxxecuções e qual o destino dos corposecuções e qual o destino dos corposecuções e qual o destino dos corposecuções e qual o destino dos corposecuções e qual o destino dos corposa que os bandidos ara que os bandidos ara que os bandidos ara que os bandidos ara que os bandidos armados pelo Estado de-mados pelo Estado de-mados pelo Estado de-mados pelo Estado de-mados pelo Estado de-ram sumiço, entre os quais figuram os deram sumiço, entre os quais figuram os deram sumiço, entre os quais figuram os deram sumiço, entre os quais figuram os deram sumiço, entre os quais figuram os deinúmeros jorinúmeros jorinúmeros jorinúmeros jorinúmeros jornalistas, como Orlando Bonfimnalistas, como Orlando Bonfimnalistas, como Orlando Bonfimnalistas, como Orlando Bonfimnalistas, como Orlando BonfimJúniorJúniorJúniorJúniorJúnior, Jaime Amorim Miranda e Mário Al-, Jaime Amorim Miranda e Mário Al-, Jaime Amorim Miranda e Mário Al-, Jaime Amorim Miranda e Mário Al-, Jaime Amorim Miranda e Mário Al-ves de Souza Vves de Souza Vves de Souza Vves de Souza Vves de Souza Vieira, cujo sacrifício será evoieira, cujo sacrifício será evoieira, cujo sacrifício será evoieira, cujo sacrifício será evoieira, cujo sacrifício será evo-----cado em memorial a ser implantado em espa-cado em memorial a ser implantado em espa-cado em memorial a ser implantado em espa-cado em memorial a ser implantado em espa-cado em memorial a ser implantado em espa-ço do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. De-ço do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. De-ço do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. De-ço do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. De-ço do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. De-safortunadamente, o Goversafortunadamente, o Goversafortunadamente, o Goversafortunadamente, o Goversafortunadamente, o Governo abriga em suano abriga em suano abriga em suano abriga em suano abriga em suaintimidade um grave obstáculo ao cumprimen-intimidade um grave obstáculo ao cumprimen-intimidade um grave obstáculo ao cumprimen-intimidade um grave obstáculo ao cumprimen-intimidade um grave obstáculo ao cumprimen-to desse imperativo da constrto desse imperativo da constrto desse imperativo da constrto desse imperativo da constrto desse imperativo da construção de um verução de um verução de um verução de um verução de um ver-----dadeiro Estado Democrático de Direito entredadeiro Estado Democrático de Direito entredadeiro Estado Democrático de Direito entredadeiro Estado Democrático de Direito entredadeiro Estado Democrático de Direito entrenós: o Ministro Nélson Jobim.nós: o Ministro Nélson Jobim.nós: o Ministro Nélson Jobim.nós: o Ministro Nélson Jobim.nós: o Ministro Nélson Jobim.

CCCCCOMOOMOOMOOMOOMO FFFFFAZAZAZAZAZ OOOOO PÚBLICOPÚBLICOPÚBLICOPÚBLICOPÚBLICO em representações te- em representações te- em representações te- em representações te- em representações te-atrais de grande impacto, ao cobrar a presençaatrais de grande impacto, ao cobrar a presençaatrais de grande impacto, ao cobrar a presençaatrais de grande impacto, ao cobrar a presençaatrais de grande impacto, ao cobrar a presençado autor no palco, os segmentos democráticosdo autor no palco, os segmentos democráticosdo autor no palco, os segmentos democráticosdo autor no palco, os segmentos democráticosdo autor no palco, os segmentos democráticosdo Pdo Pdo Pdo Pdo País não cessarão o seu clamor para conhe-aís não cessarão o seu clamor para conhe-aís não cessarão o seu clamor para conhe-aís não cessarão o seu clamor para conhe-aís não cessarão o seu clamor para conhe-cer todos os escaninhos secretos da ditaduracer todos os escaninhos secretos da ditaduracer todos os escaninhos secretos da ditaduracer todos os escaninhos secretos da ditaduracer todos os escaninhos secretos da ditaduramilitarmilitarmilitarmilitarmilitar, através da revelação dos arquivos que, através da revelação dos arquivos que, através da revelação dos arquivos que, através da revelação dos arquivos que, através da revelação dos arquivos quea cumplicidade maldisfarçada mantém na obs-a cumplicidade maldisfarçada mantém na obs-a cumplicidade maldisfarçada mantém na obs-a cumplicidade maldisfarçada mantém na obs-a cumplicidade maldisfarçada mantém na obs-curidade, premiando a impunidade: os arqui-curidade, premiando a impunidade: os arqui-curidade, premiando a impunidade: os arqui-curidade, premiando a impunidade: os arqui-curidade, premiando a impunidade: os arqui-vos, os arquivos! Queremos conhecê-los!vos, os arquivos! Queremos conhecê-los!vos, os arquivos! Queremos conhecê-los!vos, os arquivos! Queremos conhecê-los!vos, os arquivos! Queremos conhecê-los!

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03 VVVVVergonhergonhergonhergonhergonha a a a a - O Brasil no banco dos réus

10 ReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimentoReconhecimento - A Academia homenageia

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Niemeyer e Brennand

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11 JustiçaJustiçaJustiçaJustiçaJustiça - Pena máxima para assassinos de Ivandel

11 PPPPPosse osse osse osse osse - Bernardo Cabral assume na

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Academia Internacional de Direito

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12 HistóriaHistóriaHistóriaHistóriaHistória - Novas luzes sobre um período sombrio

13 VVVVVeículos eículos eículos eículos eículos - A Folha promove nova

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reforma gráfica e editorial

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14 DesabafoDesabafoDesabafoDesabafoDesabafo - O mercado está contra os ilustradores

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18 PrêmioPrêmioPrêmioPrêmioPrêmio - Camões 2010 é de Gullar

19 Memória Memória Memória Memória Memória - Pedro Macário, um artista que

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adorava o poder das palavras

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26 MemóriaMemóriaMemóriaMemóriaMemória - Mário de Moraes, o repórter

SEÇÕES08 AAAAA CCCCC O N T EO N T EO N T EO N T EO N T EC E UC E UC E UC E UC E U N AN AN AN AN A A B A B A B A B A BIIIII

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Empossada a nova Diretoria

LLLLL IIIII BBBBB E RE RE RE RE RDDDDDA D EA D EA D EA D EA D E D ED ED ED ED E I I I I IMMMMM PPPPP RRRRR E NE NE NE NE NS AS AS AS AS A22 Controle da imprensa é tendência mundial,

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afirma Carl Bernstein em seminário no Rio.

23 É moda: Justiça impõe censura prévia

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ao Diário do Grande ABC

25 DDDDD IIIII RRRRR E I TE I TE I TE I TE I TO SO SO SO SO S H H H H HUUUUU M A N O SM A N O SM A N O SM A N O SM A N O S

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Advogados do Rio denunciam abuso de autoridade

33 VVVVV IIIII DDDDDA SA SA SA SA S

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Bemvindo Salles, Paulo Caringi

35 EEEEE S PS PS PS PS PEEEEEC I A LC I A LC I A LC I A LC I A LRelatório da DiretoriaExercício social 2009-2010 / Prestação

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de Contas - Ano civil de 2009

APELO AOS ASSOCIADOS EM DÉBITO - A Diretoria da ABIcomunica aos associados em débito há mais de um ano que, porforça de anistia decretada pela Casa, a quitação da mensalidade domês de julho próximo, até o dia 31 desse mês, zerará a dívidaexistente, reintegrando-os na plenitude de seus direitos sociais. Comisso será evitada a suspensão da remessa do Jornal da ABI, motivadapelo alto custo da produção editorial e gráfica da publicação e desua remessa pelo Correio. O boleto de quitação poderá sersolicitado pelo e-mail [email protected]. Peça o seu.

DESTAQUES DESTA EDIÇÃO

3Jornal da ABI 354 Maio de 2010

VERGONHA

Em audiências públicas realizadas em maio naCosta Rica, o Estado nacional é acusado dedesrespeito aos direitos humanos, por não

investigar os crimes cometidos durante a ditaduramilitar, agora com o aval do Supremo Tribunal.

POR PAULO CHICO

MAR

IA HELEN

A

O Brasil nobanco dos réus

A repercussão negativa da interpretaçãodada à Lei da Anistia pelo Supremo TribunalFederal, utilizada como argumento para isen-tar de punição acusados de crimes contra aHumanidade cometidos durante a ditaduramilitar no Brasil, ganhou contornos interna-cionais. O Governo brasileiro ocupou o ban-co dos réus em audiências na Corte Interame-ricana de Direitos Humanos realizadas naCosta Rica, nos dias 20 e 21 de maio, por nãoter cumprido a recomendação da entidade deinvestigar e punir os responsáveis por tortu-ras e outros crimes durante o regime de ex-ceção que governou o País de 1964 a 1985.

4 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

O processo contra o Estado brasileiro foi aber-to em 2009 pela Organização dos Estados Ame-ricanos-OEA e teve fundamentação, em termoscomparativos, nas experiências ocorridas emoutros países. A Argentina, por exemplo, julgouos autores de crimes cometidos durante a dita-dura. No Chile e no Peru, os Governos foramobrigados a mudar suas leis de anistia diante dacondenação emitida pela Corte. Nas audiênci-as públicas agora realizadas em São José da CostaRica, as Forças Armadas do Brasil foram formal-mente acusadas de detenção arbitrária, torturae desaparecimento forçado de 70 pessoas, entremembros do Partido Comunista do Brasil-PCdoBe camponeses, no Caso GomesLund x Brasil, dentro do con-texto da operação Guerrilha doAraguaia, ocorrida entre 1972e 1975, no Pará.

O Brasil deveria apresentaraté 21 de junho, por escrito,suas alegações de defesa. So-mente depois desse trâmite aCorte emitirá uma sentença,em prazo ainda não estabele-cido. Por isso mesmo, tambémem junho, são aguardados re-presentantes da Comissão deDireitos Humanos da OEA,que visitarão o Brasil para tra-tar do assunto, especialmenteapós a decisão do SupremoTribunal Federal que, em 29 deabril passado, rejeitou por setevotos a dois a ação impetradapela Ordem dos Advogados do Brasil-OAB plei-teando a revisão dos termos da Lei da Anistia.

Imagem arranhadaIndependentemente do veredicto final, a ima-

gem do Brasil no exterior está desde já arranha-da. “Como este País pode se apresentar como lí-der internacional se não é capaz de julgar aque-les que violaram os direitos humanos de seus ci-dadãos em nome do Estado?”, questiona BeatrizAffonso, Diretora no Brasil do Centro Pela Jus-tiça e o Direito Internacional, organização não-

governamental com sede emWashington. Ela representaparentes de vítimas da ditadura queapresentaram, em 1995, uma demanda juntoà Comissão Interamericana de Direitos Hu-manos, com sede em Washington e vincula-da à Organização dos Estados Americanos.

Desde que o Presidente Luiz Inácio Lula daSilva assumiu seu primeiro mandato, em 2003,o Brasil insiste em ocupar um lugar permanen-te no Conselho de Segurança da Organização dasNações Unidas. Neste contexto, o País teve pa-pel protagonista em diversos conflitos interna-cionais. As audiências na Costa Rica acontece-

ram menos de uma semanadepois que o Brasil assinoucom aTurquia e o Irã um acor-do sobre troca de material nu-clear, ainda que controverso.

“Agora mostramos que oBrasil não cumpre as leis inter-nacionais. O País precisa aca-tar a sentença do Tribunal, sobo risco de ser equiparado aoGoverno de Alberto Fujimorino Peru, que se negou a cum-prir uma resolução condena-tória da mesma Corte”, avaliaBeatriz Affonso.

A Lei de Anistia, promulga-da em 1979, poupou igualmen-te os civis e militares que parti-ciparam de violações dos direi-tos humanos durante a ditadu-ra. Relatório oficial do Governo

brasileiro, de 2007, reconheceu pela primeira vezque pelo menos 339 pessoas morreram de atroci-dades cometidas no período, fato que, na avalia-ção de Beatriz Affonso, não pode ser relevado.

“Até agora a Nação não conhece a verdadeiraHistória da fase militar. Por todas estas razões,é essencial e urgente fazermos a revisão histó-rica, discutindo a Lei da Anistia, problematizan-do o seu impacto e suas implicações na busca dareconstrução permanente da memória do País.Há necessidade de verdade e justiça”, afirma Be-atriz Affonso.

O advogado Wadih Damous, Presidente da Or-dem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro,representou a entidade na Costa Rica, como con-vidada a prestar testemunho no julgamento. Eleafirmou que “deve prevalecer a decisão do Tribu-nal, pois o País aderiu a ele em 1998, como mem-bro da Organização dos Estados Americanos, as-sumindo, assim, o compromisso de respeitar suas

resoluções”.Na prática, a OEA não tem como fazer

cumprir uma condenação da Corte, po-rém o País que não segue a orientação dotribunal tem sua imagem comprometidainternacionalmente.

Defensores do indefensávelO Brasil enviou às audiências 20 repre-

sentantes com a missão de defender suapostura de não investigar os crimes come-

O Juiz Clécio Braschi, da 8ª Vara Federal Cívelde São Paulo, extinguiu o processo contra os coro-néis reformados do Exército Carlos Alberto Brilhan-te Ustra e Audir Santos Maciel, comandantes doDoi-Codi de São Paulo entre 1970 e 1985. Braschicontrariou o Ministério Público Federal, que mo-veu ação civil pública contra a União e os dois mi-litares, denunciados por prisão ilegal, tortura, ho-micídio e desaparecimento forçado de cidadãos.

A Promotoria pretendia que a União entrasse comação de regresso contra os militares para que elespagassem as indenizações concedidas aos parentesdas vítimas e que perdessem as atuais funções pú-blicas. A ação previa ainda que o Exército Brasilei-ro tornasse públicas todas as informações relativasàs atividades desenvolvidas no Doi-Codi entre 1970e 1985, incluindo a divulgação de nomes de presos,datas e as circunstâncias de suas prisões, nomes detodas as pessoas torturadas, de todos os que mor-reram nas dependências do Doi-Codi, o destino dosdesaparecidos, nomes completos dos agentes mili-tares e civis que serviram no órgão.

“Não pode o Ministério Público ajuizar demandacível para declarar que alguém cometeu um crime”,argumentou o juiz, acrescentando que “a União játomou providências para promover o esclarecimen-to público das violações dos direitos humanos ocor-ridas durante a ditadura através do Programa Naci-onal de Direitos Humanos (Decreto 7.037/2009)”.

Braschi lembrou que a ação já prescreveu e ci-tou a decisão do Supremo Tribunal Federal, toma-da em 30 de abril último, sobre a Lei da Anistia. Eledestacou que “não há previsão legal de utilizaçãode ação civil pública para os fins objetivados peloMinistério Público de obtenção de informações edocumentos da União acerca de crimes praticadospor agentes públicos durante o período da repres-são”. E que o processo judicial não é o instrumen-to adequado para a apuração dos fatos, “cabendoaos órgãos de imprensa, ao Poder Legislativo, aoshistoriadores, às vítimas da ditadura e aos seusfamiliares etc”. (Cláudia Souza)

4 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

tidos por agentes do Estado nos 21anos de regime militar. Dessa for-

ma, dar a Lei de Anistia comoreconciliação ampla e irrestri-ta entre as partes envolvidas

é, de fato, o principal entrave legalpara colocar no banco dos réus os acu-

sados de violação de Direitos Humanos.Em sua argumentação, a Corte Inte-

ramericana de Direitos Humanos reite-rou que “são inadmissíveis as disposições

de Anistia, as disposições de prescrição e oestabelecimento de medidas excludentes de res-

ponsabilidade, as quais pretendam impedir a in-vestigação e a punição dos responsáveis por vi-olações graves dos direitos humanos, tais comoa tortura, as execuções sumárias, extrajudiciaisou arbitrárias e os desaparecimentos forçados,todas práticas proibidas por violarem direitos ir-revogáveis e reconhecidos internacionalmente”.

“MOSTRAMOS QUE O BRASIL NÃO CUMPRE AS LEIS INTERNACIONAIS.”

VERGONHA O BRASIL NO BANCO DOS RÉUS

Processo contra ex-chefesdo Doi-Codi é extinto

Wadih Damous: O Brasil tem ocompromisso de respeitar as resoluções daCorte Internacional de Direitos Humanos.

Juiz federal de São Paulo segue a receitado Supremo e livra de punição militares

que torturaram, mataram e sumiramcom os corpos de suas vítimas.

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5Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Em declaração distribuída à imprensa, o Partido Co-munista Brasileiro-PCB condenou a decisão do Supre-mo Tribunal Federal-STF, que por sete votos a dois de-cidiu estender o benefício da Lei de Anistia de 1979 aosagentes da ditadura que praticaram atos de tortura contrapresos políticos durante o regime militar (1964-1985).O PCB classificou como autoritário o entendimento doSupremo de que a Anistia também alcança aqueles que,sob o manto ou não do Estado, praticaram delitos de tor-

O Partidão condena perdão a torturadores

A ANISTIA AOS TORTURADORES E A CONCÓRDIA DOS VERDUGOS

Na História social e política brasileira, os mitosmais sagrados são o da concórdia entre as classes e onosso “espírito pacífico”. No dia 29 de abril passado,a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que por7 votos a 2 blindou politicamente a Lei de Anistia de1979, mostrou ao País como e por que tais mitossobrevivem e se fortalecem, ofendendo a memóriae a luta de homens e mulheres que sacrificaram suasvidas para combater a ditadura burguesa, sob a for-ma militar, que se instalou no Brasil em 1964.

Capitaneada pelo Ministro Eros Grau, relator damatéria, a sessão do STF contou com mais seis vo-tos favoráveis à Lei de Anistia, a maioria de minis-tros nomeados pelo Presidente Luiz Inácio Lula daSilva, cujas impressões digitais aparecem na decisão.O Procurador-Geral da República e o Advogado-Geralda União defenderam no STF, certamente por orien-tação de Lula, a interpretação de Eros Grau, funda-mentada no argumento de que todos, torturados etorturadores, foram “contemplados” pelo perdãoamplo, geral e irrestrito da lei. Coincidentemente, navéspera da decisão, o Presidente Lula jantou com osministros do STF.

Se havia alguma dúvida, o Supremo, para o deleitepolítico dos reacionários e fascistas de ontem e de hoje,textualmente consolida o entendimento autoritáriode que a Anistia também alcança aqueles que, sob omanto ou não do Estado, praticaram delitos que nãosão de natureza política, a exemplo de tortura e assas-sinato. Assim, a Suprema Corte brasileira, em nomede uma pacificação e concórdia que apenas servem parapreservar da punição os criminosos que atuaram a

tura. Trata-se, afirma, de “um golpe moral na História”No entendimento do PCB a decisão do STF, que teve

como relator o Ministro Eros Grau, possui significadosque transcendem os limites jurídicos: “Em uma demo-cracia frágil como a nossa, mesmo nos termos de sua ins-titucionalidade burguesa, blindar politicamente os ver-dugos da ditadura sinaliza para a sociedade que estesestão tacitamente perdoados também em um planomoral”. Foi esta a declaração do Partidão:

mando das classes dominantes, despreza a legislaçãomais avançada dos fóruns internacionais, a qual con-sidera imprescritíveis os crimes de tortura.

Para o Partido Comunista Brasileiro (PCB), a deci-são possui significados que transcendem os limitesjurídicos. O primeiro e principal significado é de na-tureza política. Em uma democracia frágil como anossa, mesmo nos termos de sua institucionalidadeburguesa, blindar politicamente os verdugos da dita-dura militar sinaliza para a sociedade que estes estãotacitamente perdoados também em um plano moral.Este perdão moral é quase uma homenagem aos ban-didos de ontem, fardados ou não, e um estímulo im-plícito àqueles que imaginam estar o Estado acima dosdireitos e garantias fundamentais da pessoa.

Este entendimento da lei, baseado no mito da con-córdia e de uma suposta índole pacífica do brasileiro, éainda mais grave porque institucionaliza a anistia aostorturadores, invertendo moralmente o seu sinal e trans-formando-a em um novo legado autoritário do antigoregime. Com os nove votos, o STF reescreve o signifi-cado político da Anistia, sob o qual o regime militar con-segue uma dupla vitória: perdoa a si mesmo com o per-dão confirmado aos seus verdugos, e condena uma se-gunda vez as vítimas do arbítrio, agora ofendidas mo-ralmente por uma Corte que se pretende imparcial, mas,com raras exceções, vota em geral pelos interesses maisconservadores da sociedade brasileira.

O segundo significado diz respeito à compreensãoda memória política daqueles fatos que repercutemhoje e vão repercutir no futuro. E assim ocorre por-que um dos valores da liberdade de qualquer povo é

Durou menos de seis meses otexto original do III ProgramaNacional de Direitos Humanos,conhecido pela sigla PNDH 3 e quedesde a sua edição, em dezembropassado, enfrentou reparos, críticas eprotestos dos setores conservadores.Agora em maio, o Presidente LuizInácio Lula da Silva assinou decretomodificando nove pontos do textofirmado em dezembro de 2009.Foram alterados tópicos criticadospelos meios de comunicação, pormilitares, por lideranças religiosas,especialmente da Igreja Católica, epor entidades ruralistas.

As entidades patronais da área decomunicação consideraram polêmica

O PNDH 3 NÃO ÉMAIS AQUELE

produção de material didático-pedagógico sobre o regime de 1964-1985, da resistência popular àrepressão e da identificação esinalização de locais públicos queserviram à repressão ditatorial. Nonovo texto, fica mantida a propostade produção de material didático-pedagógico sobre graves violaçõesde direitos humanos, ocorridas noperíodo de 18 de setembro de 1946,data de promulgação da Constituiçãoque se seguiu à derrubada do EstadoNovo, até 5 de outubro de 1988,data de promulgação do atual textoconstitucional. A identificação delocais públicos será feita em pontosonde tenham ocorrido violações dedireitos humanos.

Outra alteração foi a garantia denão se alterar nomes de ruas, praçase prédios públicos batizados comnomes de pessoas que praticaramcrimes de lesa-humanidade. O novotexto diz que esses logradouros nãodevem receber nomes de pessoasque atuaram comprovadamentecomo torturadores durante aditadura.

o conhecimento da verdade – verdade esta que tei-ma em aflorar, a despeito de leis autoritárias blinda-das, políticos coniventes com a mentira e uma im-prensa hegemonizada ideologicamente pelos interes-ses do capital.

Por tudo isso, a decisão do STF é um golpe morale político na História recente dos brasileiros. Daí sernecessário denunciá-la e resistir aos seus efeitos. Calarvai significar esquecer a memória da luta pela demo-cracia. Vai, sobretudo, sinalizar para os fascistas ereacionários de hoje que eles estão livres para come-ter torturas e assassinatos em nome da “SegurançaNacional” ou da ordem político-institucional. Nãonos surpreendamos se os torturadores passarem aexigir as reparações e indenizações atribuídas aosverdadeiros anistiados políticos.

O PCB reafirma que os bandidos que atuaram emnome da ditadura burguesa-militar devem ser puni-dos pelos seus crimes de lesa-humanidade.

O PCB alerta que a cultura do esquecimento, pro-posta sempre às vítimas pelos criminosos do terrorde Estado, deve ser repudiada e combatida.

O PCB exige a criação de uma efetiva COMISSÃODA VERDADE, e não de conciliação, como é da piortradição brasileira, que esclareça as torturas, assas-sinatos e desaparecimentos de todas as vítimas darepressão, dentre as quais dezenas de dirigentes emilitantes do nosso Partido.

COMITÊ CENTRALPARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO (PCB)Rio de Janeiro, maio de 2010.”

(Nota Política do PCB)

a proposta de instituição de leiprevendo penalidadesadministrativas, suspensão daprogramação e cassação deconcessão para os veículos quedesrespeitarem os direitos humanos.Entenderam que o texto sugeriacensura à liberdade de expressão eameaçaram recorrer ao SupremoTribunal Federal contra a medida.Também foi eliminada a proposta dese criar um ranking de veículosconsiderados pelo Governo como“comprometidos com os princípiosdos direitos humanos”, proposiçãooriginária dos dois Programasanteriores, editados pelo GovernoFernando Henrique Cardoso, em quea expressão ranking era apresentadasob a denominação de mapeamento.O novo texto sugere a criação demarco legal, nos termos do artigo221 da Constituição, estabelecendoo respeito aos direitos humanos nosserviços de radiodifusão – rádio etelevisão – concedidos, permitidosou autorizados.

Os militares considerarampolêmico o trecho que tratava da

Comissão da VComissão da VComissão da VComissão da VComissão da VerdadeerdadeerdadeerdadeerdadeFoi igualmente modificada a

proposta de projeto de lei que cria aComissão da Verdade. A proposiçãoanterior, que previa a investigaçãode militares que cometeram torturae assassinatos, gerou protestos doMinistério da Defesa e das ForçasArmadas. Logo após o lançamentodo PNDH 3, em janeiro passado, oscomandantes das Forças Armadaschegaram a ameaçar uma renúnciacoletiva. O Ministro da Defesa,Nelson Jobim, endossou essecomportamento e também ameaçoudeixar o cargo caso o projeto nãofosse alterado.

O Secretário Nacional de DireitosHumanos, Paulo Vannuchi, de seulado, anunciou que poderia deixar ocargo em virtude das críticascerradas ao Programa, concebidoem sua pasta. Ele discordava dapossibilidade de que militantes daesquerda armada durante a ditaduramilitar (1964-1985) fosseminvestigados, como exigiam oMinistro Nelson Jobim e oscomandantes das Forças Armadas.

AborAborAborAborAborto, símbolos, terrasto, símbolos, terrasto, símbolos, terrasto, símbolos, terrasto, símbolos, terrasO decreto altera o Programa no

ponto que estabelecia apoio àaprovação do projeto de lei quedescriminaliza o aborto, reconhecendoa autonomia das mulheres para decidirsobre seus corpos. A nova redaçãoconsidera o aborto como tema desaúde pública, com a garantia doacesso aos serviços de saúde.

O Presidente também suprimiu adisposição que previa a criação demecanismos para proibir a utilização desímbolos religiosos em locais públicose o artigo que limitava a atuação daJustiça em casos de conflito de terra,ao instituir exigir a utilização damediação como ato inicial em casosdas demandas. Pelo texto anterior doPNDH, a mediação teria participaçãodo Ministério Público, poder públicolocal e Polícia Militar.

O texto original acabou com aaudiência coletiva antes de umadecisão judicial sobre reintegração deposse. A mediação em conflitosagrários será feita pelo Incra,institutos regionais de terras eMinistério Público. (Cláudia Souza)

Ministro Eros Grau:Concórdia preserva dapunição os criminosos.

GERVÁSIO

BAPTISTA/SC

O-STFA decisão do Supremo Tribunal Federal é um golpe moral na História, afirma declaração do PCB.

Texto editado em dezembroresistiu menos de seis mesesàs pressões contrárias dos

setores conservadores.

6 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Ivan Proença e mais 205 são anistiados

A Comissão de Anistia do Ministé-rio da Justiça aprovou por unanimida-de o processo de anistia do cineastaGlauber Rocha. Aberta ao público, asessão foi realizada no dia 26 de maiono Teatro Vila Velha, em Salvador.Paula Gaitán, viúva do cineasta, rece-berá indenização mensal de R$ 2 mil,além de R$ 234,6 mil, valor retroati-vo a 2001, quando foi criada a Comis-são de Anistia.

Durante o julgamento do processo,a conselheira relatora, Luciana Garcia,fez a leitura do relatório que aponta-va as principais causas para a conces-são da anistia, como as perseguiçõese prisões sofridas por Gláuber Rochano período da ditadura militar, levan-do-o ao exílio e à censura de suas obras,como O Dragão da Maldade Contra oSanto Guerreiro, História do Brasil,Cabeças Cortadas, Di Cavalcânti, Idadeda Terra, Maranhão 66, Câncer, Claroe Pátio.

“Anistiar Glauber Rocha é pedir des-culpas a todos os brasileiros que sofre-ram perseguição política, sendo obri-gados a sair de suas casas, a abandonarsuas famílias durante o regime mili-tar”, afirmou o Presidente da Comis-são de Anistia, Paulo Abrão.

O Ministro da Cultura, Juca Ferrei-ra, testemunha no processo, salientou

Reunida no Rio no dia 29 de maio, a Comissão deAnistia do Ministério da Justiça aprovou a conces-são de anistia a 206 perseguidos políticos, entre osquais o jornalista, escritor e Professor Ivan CavalcântiProença, ex-Presidente do Conselho Deliberativo daABI, que esperou oito anos pelo benefício. Além deProença, foi também anistiada sua esposa, Ísis Ma-ria Balter Proença, que ingressou com seu requerimen-to na mesma época e, tal como ele, esperou tambémoito anos pela decisão de seu processo.

A decisão da Comissão de Anistia foi adotada na38ª e na 39ª Caravana da Anistia, instaladas na sededa Ordem dos Advogados do Brasil-RJ, pela manhã,e na Assembléia Legislativa do Estado, à tarde, am-bas sob a presidência do Presidente da Comissão,Paulo Abrão Pires Júnior. Na sessão na OAB-RJ fo-ram deferidos os recursos formulados por 190 ope-rários do Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro, de-mitidos após uma greve realizada em 1985 nessaunidade do Ministério da Marinha, quando era Mi-nistro do Trabalho o ex-Ministro do Tribunal Supe-rior do Trabalho Almir Pazzianotto, que fora advo-gado de sindicatos de trabalhadores do Estado de SãoPaulo e não impediu a dispensa em massa dos grevis-tas, em 1986. Dos191 processos dessa pauta, apenasum não foi aprovado, em razão do pedido de diligên-cias apresentado pelo relator.

Ele e a esposa esperaram oito anos pela decisão de seus processos, após mais de 40 anos de perseguições.Casa cheia

Com o amplo salão da OAB-RJ repleto de traba-lhadores do Arsenal de Marinha e de antigos ofici-ais e praças das Forças Armadas, vítimas de perse-guição política, após a sessão formal da Comissãode Anistia, o Presidente Paulo Abrão instalou a Au-diência Pública destinada à discussão da Argüiçãode Descumprimento de Preceito Fundamental nº158, ajuizada no Supremo Tribunal Federal peloConselho Federal da Ordem dos Advogados do Bra-sil, para o fim de impedir que os Ministérios mili-tares continuem a criar embaraços para o cumpri-mento da Lei da Anistia e para restabelecer os di-reitos de 495 cabos da Aeronáutica que foram anis-tiados e receberam os benefícios previstos na legis-lação, mas viram sua anistia anulada por ato doMinistério da Aeronáutica.

Tiveram assento à mesa que dirigiu os trabalhosdessa sessão o Presidente da Comissão de Anistia; oPresidente da OAB-RJ, Wadih Damous; o Presiden-te da Associação Democrática e Nacionalista dosMilitares-Adnam, Brigadeiro Rui Moreira Lima, de91 anos e que participou da campanha da Itália naSegunda Guerra Mundial como integrante do Gru-po de Caça da Força Aérea Brasileira; o ex-Presiden-te do Conselho Federal da OAB, Cézar Britto, em cujagestão, encerrada em fevereiro passado, foi ajuiza-

da essa ADPF nª 158; o Vice-Presidente da Adnam,Luiz Carlos Moreira, e os representantes da Comis-são Especial de Anistia da Câmara Federal, Deputa-do Carlos Santana (PT-RJ); da ABI, Maurício Azêdo;e da Comissão Brasileira de Justiça e Paz da Confe-rência Nacional dos Bispos do Brasil, Carlos Seidel.

Especialmente convidados, também participaramda mesa o Professor Cláudio Bezerra de Vasconcelos,que concluiu o doutorado em História pela Univer-sidade Federal do Rio de Janeiro, e Anderson da Sil-va Almeida, que fez mestrado em História na Uni-versidade Federal Fluminense, onde agora cursa dou-torado na mesma matéria. Assim como os demaismembros da mesa, Cláudio Vasconcelos e Andersonde Almeida também falaram na sessão, Cláudio apre-sentando o tema de seu doutorado, centrado na cri-se que culminou com a deposição do Presidente JoãoGoulart, e Anderson de Almeida relatando a sua tesede mestrado, em que mostra a origem e a trajetóriados marinheiros e fuzileiros navais que participaramdas célebres manifestações realizadas na semana an-terior ao golpe de 1º de abril de 1964 e o destino quetiveram nos anos seguintes.

A lição não esquecidaO plenário impressionou-se com a lucidez do Bri-

gadeiro Rui Moreira Lima, que recitou, palavra por

Anistia de Gláuber: 2 mil por mêsa importância do cineasta para a cul-tura brasileira:

“É um momento importante e his-tórico para o Brasil. Gláuber sofreu per-seguições e, por causa disso, passou pordiversas dificuldades financeiras. Seusfilmes já não recebiam apoio e isto pre-judicou muito a sua carreira. É ummomento de revisão da História doBrasil para evitarmos que tudo ocorranovamente”.

O processo de anistia de Gláuber foiiniciado em 2006 por sua filha PalomaRocha. A mãe do cineasta, Lúcia An-drade Rocha, contou que sofreu mui-to com a perseguição ao filho:

“Foram anos difíceis dos quais eujamais me esquecerei. Meu coraçãoestá acelerado e feliz. Tenho certeza deque onde meu filho estiver estará empaz agora”.

O Governador da Bahia, JaquesWagner, ressaltou que a anistia é um re-conhecimento à luta em nome da liber-dade de expressão. “Estamos fazendoo resgate da História, reconhecendo osnossos heróis. Espero que seja feita jus-tiça com todos os brasileiros persegui-dos políticos da época. A anistia é tam-bém uma maneira de dizermos que nãoqueremos que este período de ausên-cia de democracia retorne”, destacou.(Cláudia Souza)

Gláuber em Congonhas: a perseguição implacável imposta pela ditadura militar, comprisões, censura de seus filmes e exílio, vale uma indenização de R$2 mil por mês.

PAULA G

AYTAN

7Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Em 1975, nos subterrâneos da ditadura mi-litar, conheci a tortura – talvez a pior das fra-turas da alma humana. Naqueles tempos, mul-tiplicavam-se os regimes autoritários na Amé-rica Latina. Hoje, felizmente, conquistamos ademocracia e vivemos em liberdade. Embora aprática da tortura persista em muitos países,crescem as pressões da opinião publica mundialem defesa dos direitos humanos, como parte deuma nova cultura planetária que está surgindo.

Diante do torturador, olhamo-nos num im-placável espelho. Nossa própria imagem separte, fragmenta-se em mil pedaços. Isso nãonos deixa mais espaço, por exemplo, para qual-quer crença ingênua na bondade intrínseca dosseres humanos. A experiência da tortura tor-na as pessoas mais solitárias, deixa seqüelasquase insuperáveis. Sugere até mesmo uma“síndrome do torturado”, semelhante à “sín-drome do prisioneiro de guerra”.

No mundo inteiro, jornalistas como eu têmsido detidos e torturados por defenderem pa-cificamente suas opiniões. Eles são vítimas daopressão oficial, como milhares de dissiden-tes políticos, artistas, intelectuais, menorese mulheres.

Na Turquia, nas Filipinas, em El Salvador, naSíria, na Índia, na Etiópia, no Marrocos, temosinúmeros registros de mulheres torturadas, se-xualmente humilhadas pelos agentes da lei eda ordem. Mesmo enfrentando graves dificul-dades para denunciar as violações dos seus di-reitos, enfermeiras, professoras, advogadas, ju-ízas, assistentes sociais, estudantes, jornalis-tas, religiosas, militantes e parentes de pessoasperseguidas têm revelado os abusos estarrece-dores cometidos contra elas pelas autoridades.Os governos – cumpre lembrar – são respon-sáveis pelo respeito às normas internacionaisde proteção aos direitos humanos. São os go-vernos, portanto, que as vêm estuprando, emdezenas de países.

Nos porões, nas masmorras do mundo todo,porém, alguma coisa perturba a rotina perver-sa dos torturadores, em seu trabalho de fragmen-tar, humilhar, estilhaçar, desintegrar – e, fre-qüentemente, eliminar – seres humanos, a ser-viço de uma ordem, de uma estrutura de poderque depende do medo e da violência para sesustentar, para conservar seus ensangüentadosprivilégios. O que inquieta os torturadores?Uma convenção, aprovada por consenso na As-sembléia-Geral da Onu, vinte e seis anos atrás,e avalizada também pelo Governo brasileiro.

O documento consagra o princípio de juris-dição universal obrigatória sobre os torturado-

palavra, a mensagem de cerca de dez linhas que seupai lhe entregou em 16 de abril de 1939, quando elese decidiu pela carreira militar. Moreira Lima relem-brou momentos da campanha O petróleo é nosso, pa-lavra de ordem que chegava aos pontos mais dis-tantes do País, como São Gabriel da Cachoeira, nointerior do Rio Grande do Sul, como ele pôde tes-temunhar como piloto do Correio Aéreo Nacional.

Igualmente destacada foi a intervenção do Vice-Presidente da Adnam, Luiz Carlos Moreira, que de-nunciou as manobras dos Ministérios militarespara sonegar a anistia devida aos oficiais e praçaspunidos com perda de patente e graduação oumesmo cassados, como se deu com os oficiais dehierarquia mais alta.

Moreira mostrou que os Ministérios militaresdescumprem as disposições do decreto de regula-mentação da anistia, como aquela que estabeleceque, na anistia dos servidores civis e militares, seráconsiderado o que dispõem os respectivos estatu-tos. No caso do Ministério da Marinha, ao qualMoreira pertenceu como oficial até o golpe de 1ªde abril, o guichê dos anistiados não é o reserva-do a militares, e sim o das pessoas comuns, semvínculo de natureza militar.

Ato na AssembléiaEncerrado o ato na OAB-RJ, os integrantes da 39ª

Caravana da Anistia dirigiram-se à Assembléia Le-gislativa do Estado, onde se realizaria sessão sole-ne sob a presidência do Deputado Paulo Ramos(PDT), representando o Presidente da Casa, Depu-tado Jorge Picciani (PMDB).

Após a apresentação de um curta-metragem so-bre os 30 anos da anistia, produzido pela Comissãode Anistia e com imagens dos momentos tormen-tosos vividos pelo País após o golpe militar de 1964,discursaram o Vice-Prefeito Carlos Alberto Muniz,que recebeu do Presidente Paulo Abrão a sua decla-ração de anistiado político; o representante da Co-missão Brasileira de Justiça e Paz, Carlos Seidel; oDeputado Alessandro Molon (PT); o Presidente daABI, Maurício Azêdo; o Deputado Paulo Ramos eo Presidente da Comissão de Anistia. À mesa teveassento a Presidente do Diretório Estadual do Par-tido Comunista do Brasil-PCdoB, Ana Rocha.

Todas as intervenções concentraram-se nas ques-tões que constituem as grandes bandeiras do mo-vimento democrático – a exigência de abertura dosarquivos da ditadura e a responsabilização penal emoral dos agentes da ditadura que torturaram pre-sos políticos sob sua guarda.

Os anistiadosEncerrada a sessão solene, reuniram-se em ses-

são formal duas Turmas da Comissão de Anistia,uma no Plenário Barbosa Lima Sobrinho, outra noAuditório Senador Nelson Carneiro.

No Plenário Barbosa Lima, a 13ª. Sessão de Jul-gamento da Caravana da Anistia apreciou e defe-riu os processos de Ivan Cavalcânti Proença, Isis Ma-ria Balter Proença, Rosalice Magaldi Fernandes Par-reira, Maria Ângela Carvalho de Oliveira Muniz,Arthur Carlos da Rocha Muller, Carlos HenriqueTibiriçá Miranda, Maria de Fátima Pimentel Linse Carlos Eduardo Fayal de Lira.

No Auditório Senador Nelson Carneiro, na 14ª.Sessão de Julgamento da Caravana da Anistia, fo-ram apreciados e deferidos os requerimentos deEduardo Licariao de Sá Roriz, formulado por suaviúva Teresinha Maria Vaz Roriz, Cristina Concei-ção de Abreu Batista, Márcio Gonçalves Bentes deSouza, Sueli Roriz Moreira, Eduardo GuimarãesMachado Freire, Marcelo Guimarães Machado Frei-re, Maria Valderez Sarmento Coelho da Paz e Ma-ria Cândida de Sousa Gouveia.

TORTURA

A sevícia é adotada atualmente em maisde 90 países, informa a Anistia Internacional

POR RODOLFO KONDER

Rodolfo Konder, jornalista, é Diretor da ABI em São Paulo e membro do Conselho Municipal de Educação da Cidade de São Paulo.

res. Isso quer dizer que um torturador, a me-nos que seja extraditado para sofrer processoem outro país, será processado em qualquernação onde se encontre. Além disso, a conven-ção impede o repatriamento forçado ou a ex-tradição de pessoas que corram o risco de se-rem torturadas. Mais: exclui a “obediência a or-dens superiores” como defesa contra uma acu-sação de tortura. Obriga ainda os Estados a in-vestigar quaisquer inforquaisquer inforquaisquer inforquaisquer inforquaisquer informaçõesmaçõesmaçõesmaçõesmações sobre a prá-tica de tortura e de outros tratamentos cruéis,desumanos ou degradantes. E cria um Comi-tê contra a tortura, que examina informes,investiga denúncias, busca esclarecimentos,acolhe reclamações.

Para as inúmeras vítimas de tortura, que vi-vem num campo minado pela memória de hor-rores muitas vezes indescritíveis, a convençãorepresentou um certo alívio. Digo “certo alí-vio” porque há aqui outra questão envolvida.Há cura para a tortura? Podemos – e devemos– punir duramente os torturadores. Mas, e ostorturados?

O Canadian Center for Investigation and Pre-vention of Torture (Centro Canadense para In-vestigação e Combate à Tortura), de Toronto, eo Rehabilitation Center for Torture Victims (Cen-tro de Reabilitação das Vítimas da Tortura), emCopenhague, são as únicas instituições que se de-dicam, hoje, à questão da tortura e suas seqüe-las, como objeto precípuo de suas atividades. Aorganização canadense funciona desde 1984; adinamarquesa, desde 1982. Em ambos os casos,há estudos perturbadores, conclusões chocantesque envolvem também a configuração de uma“síndrome do torturado”. A vítima carrega pe-sada carga do passado, sofre uma espécie de in-versão moral (vê nas outras pessoas propósitosperversos, intuitos cruéis e posturas mentirosas),convive com um atormentador sentimento deculpa, sofre de depressões freqüentes, sente-seperdida, desorientada, perde o sono ou tem in-sistentes pesadelos. Sua crença mais profunda noser humano lhe foi retirada – ou, no mínimo, ru-demente golpeada.

Relatório recente da Anistia Internacionalrevela que a tortura é praticada com regulari-dade “em mais de noventa países”. Assim, po-demos concluir que ainda não saímos da Pré-História. Se a liberdade de uma pessoa deve sig-nificar a liberdade de todas as pessoas, e o des-tino dos seres humanos é um só – então cum-pre reconhecer que se alguém está sendo tor-turado, aqui ou em qualquer outro ponto doplaneta, todos nós estamos sendo torturados.Pior: somos todos torturadores.

8 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Em sessão realizada na tarde de 13de maio, a ABI empossou a sua novaDiretoria, o Conselho Consultivo e umterço do Conselho Deliberativo da Casapara o triênio 2010-2013 e os membrosdo Conselho Fiscal, para o exercíciosocial 2010-2011. Também foram em-possados os membros das ComissõesAuxiliares da Diretoria e do ConselhoDeliberativo.

A Mesa que conduziu os trabalhosfoi composta pelo Presidente da ABI,Maurício Azêdo, o Presidente do Con-selho Deliberativo da Casa, Pery Cot-ta, e o Primeiro e o Segundo Secretáriodo Conselho, Lênin Novaes e ZilmarBasílio. Na abertura da solenidade, PeryCotta exaltou a presença de dezenas deassociados:

“É uma satisfação ver tantos com-panheiros com os quais todos nós te-mos uma longa vivência, e observar queesta participação tão significativa sedeve à administração do PresidenteMaurício Azêdo, que fez da ABI umorganismo em sintonia com a socieda-de. Todos nós estamos comemorandoesta etapa vitoriosa. Declaro, portan-to, empossados os companheiros daChapa Prudente de Morais.”

Em seguida, o Presidente MaurícioAzêdo propôs a reeleição de Pery Cot-ta para a Presidência do Conselho De-liberativo da ABI e apresentou a indica-ção dos associados Luiz Sérgio Caldie-ri para Primeiro Secretário e ArcírioGouvêa Neto para Segundo Secretáriodo Conselho. “A substituição dos Secre-tários se dá por motivo do empenho deLênin Novaes de Araújo, atual Primei-ro Secretário, de se integrar à Comissãode Liberdade de Imprensa, na qual eleacredita poderá dar uma contribuiçãomais permanente e constante à Casa.Zilmar Borges Basílio, autora da propo-sição que permitiu que o quórum des-ta eleição superasse o das anteriores porlarga margem, tem motivos pessoais defamília para se afastar do cargo de Se-gunda-Secretária”, disse Maurício.

Por proposta do Conselheiro Bernar-do Cabral, a eleição dos membros daMesa Diretora do Conselho foi feitapor aclamação, expressada em prolon-gada salva de palmas.

Lênin Novaes e Zilmar Basílio agra-deceram o apoio dos Conselheiros aoseu desempenho como membros daMesa Diretora do Conselho e reafirma-ram o compromisso de dar continuida-de ao processo de revitalização da ABI.

Saudação especialNa seqüência da sessão, Maurício

Azêdo saudou com especial ênfase apresença de Leonor Guedes, que com-pareceu em uma cadeira de rodas, Ber-

Liberdade de Imprensa e Direitos Hu-manos da ABI.

Leonor Guedes, em discurso emoci-onado, também expressou orgulho emfazer parte da ABI. “Freqüento estaCasa há mais de vinte anos e com muitaalegria tenho levado o nome da Asso-ciação aos quatro cantos do País.

Homenagem a Mário CunhaReeleito para o Conselho Consulti-

vo da ABI, Teixeira Heizer pediu a pa-lavra para celebrar a memória do jor-nalista Mário Cunha:

“Aqui nesta sala há diversas pesso-as que foram companheiros de MárioCunha na sucursal do Estado de S. Paulo,fase da qual me orgulho muito de terparticipado. Não nos esqueçamos deMário Cunha. Foi ele quem trouxe Pru-dente de Morais, neto para esta Casa.Ele trouxe o Dr. Prudente de volta à boapolítica, na esquerda do processo, coi-sa que imaginávamos muito difícildados os seus antecedentes. Mário fezdo Dr. Prudente o mais valente doscomponentes da nossa brigada no Es-tadão. Esta chapa Prudente de Moraisreúne homens que estiveram nas me-lhores barricadas do jornalismo.”

Os Conselheiros aprovaram a suges-tão de Marilka Azêdo de homenagearMário Cunha com uma placa na ABI.

Sérgio Caldieri, Arcírio Gouvêa Neto,

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Empossada a nova DiretoriaPOR CLAUDIA SOUZA

nardo Cabral, Tarcísio Holanda, Fer-nando Foch, Teixeira Heizer, José Ân-gelo da Silva Fernandes, Ancelmo Gois,Sérgio Cabral e Francisca Talarico, mu-lher de José Gomes Talarico, decano doConselho e um dos empossados. Tala-rico, lembrou sua esposa, vai comple-tar 95 anos em dezembro próximo.

Após a aprovação dos membros dasComissões de Sindicância; de Ética dosMeios de Comunicação; de Defesa da Li-berdade de Imprensa e Direitos Huma-nos e a Comissão Diretora da Diretoriade Assistência Social, o ex-Senador Ber-nardo Cabral iniciou a sessão de depo-imentos dos presentes, aplaudindo asatuações de Pery Cotta e Lênin Novaesno Conselho Deliberativo da ABI.

Empossado no cargo de DiretorAdministrativo da ABI, o ConselheiroOrpheu Santos Salles destacou o em-penho da Presidência da ABI:

“Durante os últimos seis anos tive-mos à frente da Casa uma figura comoMaurício Azêdo, que conseguiu reer-guer a Associação. Gostaria também dehomenagear Marilka Azêdo, por suacolaboração e dedicação nos períodosmais difíceis e por tudo o que já fez evai continuar fazendo pela ABI.”

Em agradecimento à saudação a JoséGomes Talarico, Francisca Talaricoanunciou a doação à ABI do arquivoelaborado pelo marido com dados so-bre o trabalho por ele desenvolvido aolongo de 40 anos junto à Comissão de

A reeleição de Pery Cotta (de camisa azul) para a Presidência do Conselho Deliberativo foi proposta por Maurício (lendo). SérgioCaldieri (à esquerda e com o Vice-Presidente Tarcísio Holanda, ao lado) e Arcírio Gouvêa (ao fundo) foram eleitos Secretários.

Mauricio comOrpheu Salles,

novo DiretorAdmistrativo. Aoado, Domingos

Meirelles,reeleito Diretor

Econômico-Financeiro, com

Maria HelenaGouvêa, esposa

do SegundoSecretário

Arcírio.

Dois reeleitos: Jesus Chediak, Diretor Cultural, e Pery Cotta, reconduzidopor aclamacão por proposta de Bernardo Cabral (ao lado).

FOTOS EDIMILSON F. DA SILVA E CARLOS DI PAOLA

9Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Ilma Martins Silva, José Ângelo da Sil-va Fernandes e José Pereira Filho tam-bém agradeceram o apoio do Conselhoe da Presidência da ABI e renovaram ocompromisso de lutar em benefício daCasa, de seus membros e associados.

Antes de passar a palavra para amanifestação final do Presidente Mau-rício Azêdo, Pery Cotta convocou osConselheiros para a próxima reuniãoa ser realizada no dia 25 seguinte, apartir das 15h, quando estará em dis-cussão, entre outros assuntos, a inclu-são de novos sócios.

Revitalização, a metaEm nome dos Diretores da Casa,

Maurício Azêdo afirmou que a ABIcontinuará trilhando o caminho dadefesa da liberdade de opinião e dosdireitos humanos:

“A Diretoria e eu, pessoalmente, nossentimos gratificados pelo apoio dadopelo Conselho Deliberativo, através dePery Cotta e dos membros da MesaDiretora que agora entregam o postoaos seus sucessores, o apoio do Conse-lho de forma institucional e o estímu-lo que temos recebido individualmentedos associados, sejam membros ou não

CONSELHO CONSULTIVOAncelmo Gois, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lage eTeixeira Heizer.

DIRETORIAPresidente, Maurício Azêdo; Vice-Presidente, Tarcísio Holanda; Diretor Administrativo,Orpheu Santos Salles; Diretor Econômico-Financeiro, Domingos Meirelles; Diretor deAssistência Social, Ilma Martins da Silva; Diretor de Cultura e Lazer, Jesus Chediak;Diretor de Jornalismo, Sylvia Moretzsohn.

CONSELHO FISCALAdail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos, Jorge Saldanha deAraújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos de Oliveira Chester e Manolo Epelbaum.

CONSELHO DELIBERATIVOEfetivosAndré Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Rodrigues, Fernando Foch,Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, Marcelo Tognozzi,Maria Ignez Duque Estrada, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, PauloJerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

SuplentesAdalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Fróes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIACarlos Di Paola, José Pereira Filho (Pereirinha), Marcus Antônio Mendes de Miranda,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Toni Marins.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSLênin Novaes de Araújo, Presidente; Wilson de Carvalho, Secretário; Alcyr Cavalcanti,Arcírio Gouvêa Neto, Daniel Mazola Fróes de Castro, Germando de OliveiraGonçalves, Geraldo Pereira dos Santos, Gilberto Magalhães, José Ângelo da SilvaFernandes, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário AugustoJakobskind, Martha Arruda de Paiva e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente; Jorge Nunes de Freitas, Maria do Perpétuo SocorroVitarelli, Manoel Pacheco dos Santos, Mirson Murad, Moacyr Lacerda e PauloJerônimo de Souza.

Lideranças do PV, PSDB, PPS e DEMrealizaram em 17 de maio a primeirareunião pública de integração dos par-tidos em prol da candidatura do Depu-tado Fernando Gabeira ao Governo doEstado. O encontro aconteceu no Au-ditório Oscar Guanabarino, no 9º an-dar do Edifício Herbert Moses, sede daABI, no Centro do Rio.

A Mesa que orientou a reunião foiformada com o pré-candidato ao Gover-no do Rio, Fernando Gabeira (PV), o ex-Governador Marcelo Alencar (PSDB),o Deputado estadual Luiz Paulo Correiada Rocha (PSDB), o Presidente do PPSRegional, Comte Bittencourt, os can-didatos ao Senado Marcelo Cerqueira(PPS) e César Maia (DEM) e a Deputa-da federal Solange Amaral (DEM-RJ).

Primeiro orador a se pronunciar,Comte Bittencourt afirmou que desde

Os eleitos na Assembléia e no Conselho

Apoio a Gabeira reuniu quatro partidosPesos-pesados da política fluminense participaram de ato pré-eleitoral em nosso Auditório Oscar Guanabarino.

POR JOSÉ REINALDO MARQUES o primeiro momento o PPS se movi-mentou para viabilizar um projeto queserá capaz de “virar uma página nahistória política do Estado do Rio deJaneiro”. Ele elogiou o ex-GovernadorMarcelo Alencar e o pré-candidato Fer-nando Gabeira pela capacidade e lide-rança “para construir o futuro do Riode Janeiro”.

Representando o Presidente do PSDBRegional e o atual Prefeito de Duquede Caxias, José Camilo Zito, o Depu-tado Luiz Paulo Correia da Rocha dis-se que a chapa encabeçada por Fernan-do Gabeira tem como compromisso aética e a honra: “O Fernando Gabeirarepresenta a nova modalidade de fa-zer política no Estado. Ele é a expec-tativa de mudança no Rio de Janeiro.Não é uma promessa, trata-se de umarealidade.”

O ex-Governador Marcelo Alencartambém frisou que a coligação formada

pelo PV, PPS, PSDB e DEM tem comoponto forte “a ética na política”. Segun-do ele, esta é uma candidatura que temtodas as credenciais para sair vitorio-sa: “Estamos perto de tornar possíveisas coisas que pareciam difíceis de rea-lizar. O Gabeira é imortal, é celebrida-de, tem eleitores que torciam o narizquando se falava em candidatos. Então,mercê da vontade de servir o nossopovo, estamos juntos sem dissensões”.

O candidato ao Senado Marcelo Cer-queira disse que após 47 anos de vidapública tem o prazer de participar deuma campanha que tem como princí-pio “a ficha limpa” dos candidatos: “OFernando Gabeira é um homem limpoque tem como ponto forte na sua can-didatura a ética na política. Dou o tes-temunho de que faço a campanha deum homem limpo.”

No final do encontro, Gabeira, mui-to aplaudido pela platéia que lotou o

Auditório da ABI, iniciou o seu discursoelogiando a trajetória política de Mar-celo Alencar e falou sobre as suas prin-cipais propostas: “Em primeiro lugar,essa coligação merece parabéns porqueé a primeira a adotar a campanha daficha limpa, na frente de outras coliga-ções. A minha campanha já começou,iniciou com o compromisso com apopulação, das pessoas que vivem emcondições difíceis.”

Gabeira fez severas críticas ao atualsistema de transportes do Rio de Janeiro,dizendo que se eleito vai investir emtrens e metrô de superfície: “Mas pro-meto imediatamente que a populaçãoserá respeitada, o primeiro compromis-so do meu Governo será romper com osmonopólios políticos das empresas deônibus e metrô. Outro compromissoimediato será com o saneamento bási-co, que tem que ser a prioridade de qual-quer Governo sério deste País.”

do Conselho Deliberativo. Quero en-fatizar a necessidade de revitalizaçãoda nossa Casa não apenas no sentidode sustentação das bandeiras que jus-tificam a nossa existência, mas comocentro de presença e de convivência dosjornalistas. Demos um passo impor-tante nesta direção com a reforma pro-posta por Zilmar Basílio ao estender odireito de voto e de ser votado aos com-panheiros da categoria cooperador.”

Maurício também sublinhou a im-portância de estabelecer convívio maispróximo com os jovens: “Temos quetrazer gente para a Casa, principalmen-te, a geração mais nova. Tal como acon-teceu conosco, queremos transmitir olegado que recebemos de figuras emi-nentes como Presidente Prudente deMorais, neto. É com muita esperançaque incorporamos à Diretoria da Casaa professora e jornalista Sylvia Moret-zsohn, que assume a Diretoria de Jor-nalismo com a responsabilidade dedotar a Casa daquela vivacidade quepermita que a gente jovem da imprensapossa se perfilar ao nosso lado na de-fesa destas questões tão relevantes paraa Casa, para o nosso meio profissionale para a vida no País.

Em apoio aTeixeira Heizer,Marilka Azêdopropôs aafixação naABI de umaplaca emhomenagem aMário Cunha.Ao fundo, oSecretárioArcírio.

10 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

A Academia Brasileira de Letras con-cedeu em sua sessão de 13 de maio aMedalha João Ribeiro, sua mais impor-tante comenda, ao arquiteto cariocaOscar Niemeyer e ao escultor pernam-bucano Francisco Brennand, duas dasmais destacadas personalidades cultu-rais do País. A Medalha João Ribeiro foicriada pela ABL em 1962 e distinguepessoas ou instituições brasileiras quetenham se notabilizado no âmbito edi-torial ou cultural.

Jornalista, crítico, filólogo, historia-dor, pintor, tradutor, o sergipano JoãoRibeiro foi o segundo ocupante da Ca-deira 31 da ABL, eleito em 8 de agosto de1898. Em 1897, ao ser criada a Academia,estava ausente do Brasil e, por isso, nãofoi incluído no quadro de fundadores daCasa, dos quais era amigo, entre elesMachado de Assis. No ano seguinte,com o falecimento de Luís GuimarãesJúnior, a Academia o escolheu para essaprimeira vaga. Na ABL fez parte de nu-merosas comissões, entre as quais a Co-missão do Dicionário e a Comissão daGramática. Foi um dos principais pro-motores da reforma ortográfica de 1907.

Niemeyer nasceu no Rio de Janeirono dia 15 de dezembro de 1907. Con-siderado um dos nomes mais influen-tes e destacados da arquitetura moder-na internacional, Niemeyer foi um pi-oneiro na exploração das possibilida-des construtivas e plásticas do concretoarmado. Há muitas décadas, bem an-tes de seus mais de 102 anos de idade,Niemeyer tem sido exaltado comogrande artista e um dos mais importan-tes arquitetos dos últimos 100 anos. Aofalar de seu trabalho, uma de suas fra-ses mais famosas e que traduz todo otrabalho de toda uma vida é:

RECONHECIMENTO

A Academia homenageia Niemeyer e BrennandA mais importante láurea da ABL, a Medalha João Ribeiro, é concedida a estes gigantes da cultura nacional.

“Não é o ângulo reto que me atrai,nem a linha reta dura, inflexível, cria-da pelo homem. O que me atrai é acurva livre e sensual, a curva que en-contro nas montanhas do meu país, nocurso sinuoso dos seus rios, nas ondasdo mar, no corpo da mulher preferida.De curvas é feito todo o universo, ouniverso curvo de Einstein.”

Escultor, artista plástico, desenhis-ta, pintor, ilustrador, gravador e arte-são, o pernambucano do Recife Fran-cisco Brennand é considerado o mai-or artista vivo do País. Nasceu em 11de junho de 1927 e iniciou sua forma-ção aprendendo a modelar com Abe-lardo Horta e, posteriormente, rece-beu orientação em pintura de ÁlvaroAmorim e Murilo Lagreca. Em 1949mudou-se para Paris, França, ondetomou contato com os originais dedois grandes artistas plásticos: Picassoe Miró. Foi nessa época que descobriuna cerâmica seu principal meio de ex-pressão.

Durante a segunda metade do sé-culo passado, de 1958 a 1999, realizoudiversos painéis e murais cerâmicosem muitas cidades do Brasil e dos Es-tados Unidos. Em 1993, foi realizadagrande retrospectiva de sua produçãona Staatliche Kunsthalle, em Berlim,Alemanha. Em 1997 foi publicado olivro Brennand, pela editora Métron,com texto de Olívio Tavares de Ara-újo. No ano seguinte, foi realizada aretrospectiva Brennand: Esculturas1974-1998, na Pinacoteca do Estado deSão Paulo. Desde 1990, foram lança-das séries de vídeos sobre sua obra,entre elas, Francisco Brennand: Ofici-na de Mitos, pela Rede Sesc/Senac deTelevisão, em 2000.

O escultor pernambucano Francisco Brennand e o arquiteto carioca Oscar Niemeyer (abaixo) foram distinguidos pela Academia Brasileira de Letras em sessão solene.

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11Jornal da ABI 354 Maio de 2010

A Constituição de 1988 tem a marcado talento e da cultura do seu relator,Senador Bernardo Cabral, segundo a de-dicatória aposta pelo Presidente da As-sembléia Nacional Constituinte, Depu-tado Ulysses Guimarães, no primeiroexemplar da nova Carta Magna, que eledoou ao ex-Senador no ato da promul-gação solene realizado em 5 de outubrodaquele ano.

O episódio foi lembrado pelo ex-Mi-nistro da Fazenda Ernane Galveas nasolenidade realizada no auditório daConfederação Nacional do Comércio,Bens, Serviços e Turismo em 10 de maio,quando Bernardo Cabral foi recebidocomo titular da Cadeira nº 7 da Acade-mia Internacional de Direito e Econo-mia, na qual sucede ao Professor Bene-dito Ferri de Barros.

Bernardo Cabral agradeceu a investi-dura em um discurso que prendeu a pla-téia durante mais de 40 minutos, e noqual ele citou nominalmente várias daspersonalidades presentes, entre as quaiso jurista Rui Patrício, ex-Ministro daJustiça de Portugal.

A cerimônia foi realizada sob a Presi-dência do Presidente da Academia Inter-nacional de Direito e Economia, Desem-bargador Nei Prado, e com assentos àMesa do Presidente da ConfederaçãoNacional do Comércio-CNC, AntônioOliveira Santos; dos Presidentes da Aca-demia Brasileira de Letras-ABL, MarcosVinicios Vilaça; Academia Nacional deMedicina, Pietro Novelino; AcademiaBrasileira de Filosofia, João Ricardo Mo-derno; da ABI, Maurício Azêdo, e daAcademia Amazonense de Letras, Cláu-dio Chaves, e do Professor Edvaldo Pereirade Brito, Secretário-Geral da entidade. O

POSSE

Bernardo Cabral assume naAcademia Internacional de Direito

O relator da Constituição de 1988 adicionamais um título honroso ao seu denso currículo.

Presidente do Jornal do Commercio doRio de Janeiro, Maurício Dinepi, tambémesteve presente ao evento.

Entre os presentes encontravam-se osacadêmicos Arnaldo Niskier e MuriloMelo Filho; o escritor Marcio Souza,autor do romance Galvez, o Imperador doAcre; o ex-Ministro do Supremo Tribu-nal Federal Célio Borja; os jornalistasHelio Fernandes e Orpheu Santos Sales;o advogado Alexandre Farah, a esposa dohomenageado, Zuleide Cabral, e seu ir-mão Felipe Cabral, que embarcou demanhã de Manaus, para onde retorna-ria à noite, porque sua esposa se encon-trava gravemente enferma. Último achegar à solenidade, o jurista AurélioWander Bastos, como muitos dos pre-sentes foi saudado com muito carinhopor Bernardo Cabral.

Ao fazer a saudação em nome da Aca-demia, o ex-Ministro Ernane Galveas sa-lientou a trajetória de Bernardo Cabralcomo advogado e Presidente do Conse-lho Federal da Ordem dos Advogados doBrasil nos anos 70, sua atuação comoparlamentar, desde deputado estadual noAmazonas, seu Estado, pelo qual se ele-geu também deputado federal e senador.

Um dos citados com destaque porBernardo Cabral foi o advogado Theo-philo de Azeredo Santos, sobre o qual elelembrou um episódio que impressionoua assistência. Num encontro com inúme-ros advogados Theophilo perguntouquais dos presentes tinham sido seusalunos em curso de Direito, pedindo-lhesque levantassem a mão. Todos o fizeram,à exceção de Bernardo Cabral, que arre-matou a evocação dizendo: “Eu era oúnico que não fui aluno de Theophilo deAzeredo Santos, mas sou seu discípulo”.

Em ofício à ABI, o Presidente da Câ-mara Municipal de Marília, no interiorpaulista, pediu apoio à Moção de Repú-dio daquela Casa Legislativa contra de-claração do Deputado federal AbelardoCamarinha (PSB-SP), considerada ofen-siva a um servidor municipal portadorde deficiência.

Informou a Câmara que, pelo micro-fone da Rádio 950 AM, o Deputado Ca-marinha se referiu a um funcionário daCâmara, conhecido como Osmar, comoMula Manca. O fato foi classificadocomo “desastroso”, e a declaração doparlamentar como “preconceituosa,descabida e ofensiva a uma pessoa por-tadora de deficiência”.

Abelardo Camarinha já foi Prefeito

O Tribunal de Justiça de São Paulo-TJ-SP aplicou a pena máxima aos culpadospelo seqüestro e morte do jornalista Ivan-del Godinho Júnior, assassinado em ou-tubro de 2003. “A crueldade dos réus foitão grande que não permite atenuante”,afirmou o relator do recurso, Desembar-gador Geraldo Wohlers. “A pena está sen-do aplicada nessa intensidade porque esseé o limite da lei. Se fosse permitido umcastigo maior eu não teria dúvida emaplicar uma pena muito mais severa pelafrieza dos réus e pela violência e atroci-dade do delito”, justificou o revisor, De-sembargador Luiz Antônio Cardoso. Oassassino Fabiano Pavan do Prado foi con-denado pela 3ª Câmara Criminal a 43 anosde reclusão e ao pagamento de 360 dias-multa; seu cúmplice Wilson de Moraes daSilva, a 36 anos e 360 dias-multa.

O Juiz Edison Tetsuzo Namba, da 30ªVara Criminal da Capital de São Paulo,só reconheceu na sentença a prática docrime de extorsão mediante seqüestro eaplicou a pena de 12 anos de detenção.Quanto aos demais delitos, o magistra-do entendeu que não havia prova sufi-ciente para a condenação. Fabiano e Wil-son e mais três réus – Sidney Correia,Miguel José dos Santos Júnior e Welling-ton Ricardo da Silva – respondiam aprocesso pelos crimes de extorsão me-diante seqüestro, destruição e ocultaçãode cadáver, formação de quadrilha ecorrupção de menores. Insatisfeito coma sentença de primeiro grau, o Ministé-rio Público entrou com recurso contra osdois primeiros.

O Tribunal de Justiça entendeu quea prova era robusta não só para aumen-

JUSTIÇA

Pena máxima paraassassinos de Ivandel

Pela violência e atrocidade de seu delito, esses criminosos mereciam umapena muito mais severa, disse um dos desembargadores que julgou o caso.

tar a pena pelo delito de extorsão medi-ante seqüestro, que foi aplicada no tetode 30 anos, como também para os de-mais delitos. Pelo crime de formação dequadrilha ou bando o castigo foi de seisanos de reclusão, mais três anos pelodelito de destruição e ocultação de cadá-ver e quatro por corrupção de menores.

Ivandel Godinho foi seqüestrado emorto no cativeiro em outubro de 2003.Os seqüestradores levaram o corpo atéum campo de futebol na Zona Sul dacapital paulista, jogaram gasolina e pneusvelhos sobre ele e atearam fogo. Depoisde algum tempo, voltaram ao local, reco-lheram os ossos e levaram a outro lugar,para que a família não soubesse da mor-te e os acusados continuassem as nego-ciações para receber o resgate.

O seqüestro ocorreu na noite de 22 deoutubro de 2003, na altura do número698 da Rua Itália, no Jardim Europa.Ivandel Godinho estava em um táxi, quefoi abordado por duas pessoas numamotocicleta. No mesmo dia, os seqües-tradores fizeram contato com sua famíliaexigindo US$ 5 mil para libertá-lo. Ovalor foi alterado para US$ 6 mil e de-pois para R$ 40 mil. Mesmo depois damorte do jornalista o grupo continuoua fazer contatos exigindo o pagamentode R$ 45 mil.

A Divisão Anti-Seqüestro-DAS che-gou ao corpo do jornalista depois de doisanos e meio de investigações, após aprisão de Miguel José dos Santos Júni-or, o Juninho, um dos acusados. Ele ha-via trabalhado como motoboy na empre-sa de comunicação pertencente a Ivan-del e teria sugerido o seqüestro.

Câmara de Marília repudia ação de deputado

Abelardo Camarinha chamou um portador de deficiênciade Mula Manca, mostrando o quanto é preconceituoso.

de Marília em três oportunidades, e se-gundo a Câmara Municipal, “deveria teraprendido o mínimo de decoro e ética”.De acordo com o documento enviadoà ABI, esta não é a primeira vez que eleusa os microfones da rádio para “ofen-der, xingar, esbravejar e macular a honrade pessoas que não partilham de suasopiniões”.

O fato foi comunicado também àPresidência do Conselho Municipal deDireitos da Pessoa com Deficiência, aoConselho Estadual para Assuntos da Pes-soa Portadora de Deficiência e à Associ-ação Marilense de Esportes Inclusivos-Amei, além de entidades de classe, asso-ciações de moradores, clubes de serviçoe ao Congresso Nacional.

Bernardo Cabral: Autógrafo de Ulisses exalta seu papel como relator da Constituinte.

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12 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

“O jornal nasce como uma alterna-tiva ao cerrado bombardeio da mídiatradicional, facciosa e comprometidacom grupos econômicos que tendemsempre a manipular informações eopiniões a favor de seus interesses co-merciais, políticos e financeiros”.

A afirmação contundente é de JoãoVicente Goulart. E o veículo em ques-tão é o Página64, cuja primeira ediçãodata de 5 de maio deste ano. Além demembro do conselho editorial da pu-blicação, João Vicente é filho de JoãoGoulart e preside o Instituto que levao nome do ex-Presidente da Repúbli-ca, deposto pelos militares exatamen-te em 1964.

“A idéia do nome Página64 é maisque uma referência histórica. Sendo ojornal um veículo do Instituto Presi-dente João Goulart, também tem comocompromisso o resgate da História. As-sim, trazemos à tona os grandes proble-mas nacionais traduzidos pelas refor-mas de base defendidas por Jango, eainda hoje necessárias para o debate deuma proposta da reforma do Estado emnossos dias”, explica João Vicente.

Em sua primeira edição, que circu-lou sem preço, numa cortesia, inclusi-ve, da gráfica que o edita, o Página64levantou sérias ponderações, com cita-ções de Umberto Eco, pensador italia-no, em sua definição sobre a democra-cia plena. Segundo o autor, esse idealdemocrático só existe quando também

Jornalistas e empresas jornalísticas detodo o País ainda podem inscrever seus tra-balhos nas duas principais premiações quedistinguem matérias produzidas pela im-prensa brasileira, os Prêmios Esso e Embra-tel, que estão com as inscrições abertas erecebem trabalhos até julho e agosto.

O EmbratelO primeiro a encerrar as inscrições –

em 17 de julho – será o 12° Prêmio Im-prensa Embratel, que tem apoio do Sin-dicato dos Jornalistas Profissionais doRio de Janeiro e da Associação Profissi-onal dos Repórteres Fotográficos e Ci-nematográficos do Rio de Janeiro-Arfoc.

Podem concorrer profissionais com

SERVIÇO

Esso e Embratelrecebem inscriçõesPrazo para quem quer concorrer

vai até julho e agosto.

reportagens veiculadas entre junho de2009 e maio de 2010, em rádio, televisão,jornal, revista e internet. O objetivo dapremiação é reconhecer e estimular aprodução de reportagens sobre os gran-des temas nacionais, que tenham con-tribuído para a promoção do desenvol-vimento nos diversos setores do País.

A edição 2010 do Prêmio ImprensaEmbratel vai distribuir um total de R$ 166mil para os vencedores em 17 categorias,sendo cinco regionais, com mídia e temalivres; duas sobre tecnologia da informa-ção, comunicações e multimídia, commídia livre; e dez com temas nacionais:Jornal/Revista; Televisão; Jornalismoinvestigativo; Esportiva, Fotográfica, Ci-nematográfica, Rádio, Cultural, Econô-mica e Responsabilidade socioambiental.

Além dos 17 prêmios, será entregueo Grande Prêmio Barbosa Lima Sobrinhoao melhor trabalho jornalístico, escolhi-do entre os finalistas de todas as catego-rias. Os trabalhos publicados em veícu-los online podem ser inscritos nas cate-gorias Jornalismo Investigativo; Econo-mia; Responsabilidade socioambiental;Esportiva; Cultural; Tecnologia da infor-

mação, comunicações e multimídia;Regional e de Fotografia.

A avaliação das reportagens inscritaslevará em consideração a importância doassunto, a extensão da reportagem, a qua-lidade da edição e o esforço despendidopelo repórter para a sua realização, assimcomo a repercussão e os resultados obti-dos. Mais informações podem ser obtidasno site oficial do Prêmio no endereçowww.premioimprensaembratel.com.br.

O EssoO Prêmio Esso de Jornalismo, o mais

tradicional da imprensa brasileira, acei-ta inscrições até o dia 16 de agosto paraa sua 55ª premiação na área de mídia im-pressa, e a 10ª em telejornalismo. Para aedição de 2009 foram inscritos 1.212 tra-balhos, um recorde na história do prêmio.

Podem concorrer matérias veiculadasentre 16 de agosto de 2009 e 16 de agostode 2010, em 11 categorias de mídia impres-sa, e em telejornalismo. Aos vencedoresserá destinado um total de R$ 107 mil emprêmios e o resultado será anunciado nomês de novembro. Os jurados serão divi-didos em cinco comissões formadas por

profissionais da área e professores de Jor-nalismo que vão indicar os trabalhos fina-listas e apontar os vencedores.

A Comissão de Seleção de mídia im-pressa vai escolher três trabalhos fina-listas em cada categoria; os vencedoresserão apontados pela Comissão de Pre-miação. Para o Prêmio Esso de Fotogra-fia serão indicados cinco trabalhos. Aeleição dos vencedores será feita atravésdo site do Prêmio Esso por 50 jornalis-tas e editores de Fotografia. Os trabalhosconcorrentes serão submetidos à Comis-são de Pré-Seleção e, em seguida, à Co-missão de Seleção, que vai indicar os fi-nalistas e o primeiro colocado.

De acordo com o regulamento, nãoserão aceitos trabalhos de cinegrafistasamadores, ainda que obtenham reper-cussão, nem de reportagens que não te-nham sido exibidas como produto exclu-sivamente jornalístico.

Ao longo de mais de cinco décadas, oPrêmio Esso de Jornalismo recebeu 27 miltrabalhos, inscritos por 20 mil profissi-onais de imprensa. Entre os vencedores,cerca de 500 jornalistas, 165 equipes dereportagem e mais de 100 publicações.

Novas luzes sobre um período sombrio

HISTÓRIA

Em versões impressa e digital, o jornal Página 64 tem como proposta o resgate histórico da deposição do Presidente João Goulartpelo golpe militar de 1º de abril de 1964, ao mesmo tempo que promove o debate sobre as reformas de base que ele defendia.

se democratizam os meios midiáticosde publicação, com a participação detodos os segmentos sociais. Daí a fun-dação do jornal, com o objetivo de ofe-recer aos leitores um espaço alternativopara a reflexão sobre o processo polí-tico nacional e internacional, por meiode notícias, entrevistas e artigos.

A política nacional de reforma agrá-ria; as ações de manipulação da mídiano País; a atuação do publicitário IvanHasslocker na criação do InstitutoBrasileiro de Ação Democrática-Ibad,uma das matrizes do golpe militar; osefeitos de um projeto de educação ne-oliberal e o papel da cultura no desen-volvimento histórico das nações, alémde um perfil de homenagem ao jorna-lista Barbosa Lima Sobrinho, ex-Presi-dente da ABI, foram destaques da edi-ção de estréia.

A segunda edição já contou compontos de venda em 90 bancas do Dis-trito Federal, além de distribuição noCongresso Nacional, em AssembléiasLegislativas e Câmaras Municipais. Aproposta é de que o Página64 acompa-nhe o projeto de reforma do Estado bra-sileiro. Alguns debates sobre o tema se-rão promovidos pelo Instituto JoãoGoulart, em parceria com universida-des. Tudo para que 2014 não seja so-mente o ano da Copa no Brasil, mastambém um ano de reflexão.

“Serão completados 50 anos do gol-pe militar e isso não pode passar des-percebido, sem uma tomada de cons-ciência nacional, com diálogos com as

novas gerações. Para que todos saibamo que aconteceu neste País naquelaépoca, quando, claramente a serviço deinteresses multinacionais, perdemosnossa soberania e democracia”, afirmaJoão Vicente.

O corpo editorial reúne destacadosjornalistas, entre os quais Diretores eConselheiros da ABI, como Mário Au-gusto Jakobskind, Editor-Chefe da pu-blicação, Orpheu Santos Salles e Sér-gio Caldieri. Entre os articulistas estãopresentes historiadores, cientistas po-líticos, antropólogos e sociólogos. “Acriação de um conselho editorial comnomes ligados, de uma forma ou deoutra, à luta de Jango como homem,político e, principalmente, como con-

dutor e propositor das reformas de basenos faz condizer que nossa proposta departicipação no mercado jornalísticoserá focada como um jornal de opinião,íntegro, sério e com a responsabilida-de da conduta editorial nacionalista”,resume João Vicente Goulart.

Além da versão impressa, com peri-odicidade mensal, o Página64 está pre-sente também na mídia digital, comnewsletter semanal, com abrangênciade 170 mil endereços de políticos em es-cala municipal, que formam a grandebase da pirâmide social, direto com seuseleitores, que não tinham, a não serpelos tradicionais meios de informação,acesso a outros olhares sobre a notícia.

“Também esta ação é caracterizadapelo rompimento com os padrões comer-ciais e o perfil conservador de segmen-tos da imprensa nacional e internacio-nal, e firma-se em defesa da democracia,dos direitos humanos, da liberdade de ex-pressão e da justiça social”, diz o Presi-dente do Instituto João Goulart.

Uma das metas do Instituto é erguero Memorial da Liberdade PresidenteJoão Goulart, bem no eixo Monumen-tal de Brasília, que leva a assinatura deOscar Niemeyer, e em cuja cúpula se-ria demarcada uma seta vermelha coma indicação do ano 1964. Uma formade lembrar a queda da democracia e aruptura da constituição e da soberanianacional, que veio implantar a ditaduramilitar naquele ano, mergulhando oBrasil em um período sombrio, quesomente chegou ao fim em 1985.

POR PAULO CHICO

13Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Para comemorar seus 85 anos, a Fo-lha de S. Paulo apresentou no penúlti-mo domingo de maio, dia 23, nova re-forma gráfica e editorial, que apresentanovos suplementos, colunas e colabo-radores. O objetivo é oferecer aos lei-tores um produto mais fácil de ler e comvisual homogêneo. A última reformagráfica da Folha foi promovida em 1996,quando o jornal passou a ser totalmen-te impresso em cores. Ao longo da se-mana o jornal passará a publicar 13suplementos e revistas, encartados gra-tuitamente.

Editado pela jornalista Vera Maga-lhães, o caderno Brasil passa a se cha-mar Poder, direcionado aos Poderes Exe-cutivo, Legislativo e Judiciário, religião,meio ambiente, movimentos sociais esociedade civil. O Diretor-Executivo daorganização não-governamental Trans-parência Brasil, Cláudio Weber Abramo,e a atriz Fernanda Torres são os novoscolunistas do caderno.

Outro caderno que mudou de nome,Mercado substitui Dinheiro, e passa a ter15 novos colunistas, entre eles o em-presário Eike Batista; Fábio Barbosa,Presidente da Federação Brasileira deBancos-Febraban, e do Banco Santan-der no Brasil; o Deputado Antonio Pa-locci, ex-Ministro da Fazenda, e o pu-blicitário Nizan Guanaes. O editor é ojornalista Raul Juste Lores. Mercadotrará ainda a seção diária Commodities,com as tendências do setor, além da

VEÍCULOS

A Folha promove novareforma gráfica e editorialFoi um presente de aniversário que o jornal se deu, ao completar 85 anos.

POR CLAUDIA SOUZA

coluna Mercado Aberto, editada pela jor-nalista Maria Cristina Frias e que pas-sa a ocupar uma página inteira comnovas seções, exceto aos sábados, quan-do será publicada Cifras e Letras, dedi-cada a livros de economia, administra-ção, negócios e carreiras.

O suplemento FolhaInvest, que cir-cula às segundas-feiras, também ga-nhou reforços. A consultora MárciaDessen escreve semanalmente umacoluna dedicada à educação financei-ra e aos investimentos dos leitores.Outros dois novos colunistas, quinze-nais, são Maria Inês Dolci, especialis-

responsável pela crítica de televisão aosdomingos. “Minha intenção é tentaraliar um formato mais leve, de crôni-ca, ao texto mais tradicional de críticade tv”, diz Vanessa, autora de O LivroAmarelo do Terminal, vencedor do Prê-mio Jabuti na categoria Reportagem.

SubstituiçõesO caderno Ilustríssima circulará aos

domingos no lugar de Mais!, que com-pletaria 18 anos. O novo produto reunirá

ensaios, textos ficcionais, poe-sia, dramaturgia e quadrinhos,editado pelo jornalista PauloWerneck. “O caderno aposta naconvivência de gerações, de lin-guagens e pontos de vista diver-gentes para produzir um jorna-lismo cultural que seja crítico,reflexivo e de leitura prazero-sa”, sublinha Werneck.

Informática, que circulava àsquartas-feiras, será substituí-do pelo Tec, editado pelo jorna-lista Rodolfo Lucena, com re-portagens e entrevistas sobreo mercado de tecnologia, co-bertura extensiva de redes so-ciais, novos games, tendênci-as de mercado e negócios.

A Revista da Folha será subs-tituída pela nova revista São-Paulo, a partir do dia 6 de ju-nho. Direcionada ao leitor dacapital paulista, com matéri-as sobre a cidade, urbanismo,trânsito, meio ambiente, cul-tura, personagens da vidapaulistana, dicas de gastrono-mia, cultura e lazer, a revistalembra a Veja São Paulo. O ex-

tinto suplemento Vitrine retorna emSãoPaulo, com informações sobre liqui-dações, tendências, novos produtos ecríticas de lojas. Editada pela jornalis-ta Beatriz Peres, subordinada a Cleu-sa Turra, a revista terá novos colunis-tas e novidades no projeto gráfico.

Outro suplemento que não circulouna semana em que a reforma gráfica foiimplantada, Equilíbrio, que circulava àsquintas-feiras, passou a ser publicadoàs terças, também com mudanças.

InternetA reforma gráfica e editorial atingiu

também o site Folha Online que pas-sa a se chamar Folha.com, com novoleiaute, mais espaço para notícias, paraa participação do leitor e para as redessociais, como Facebook, Orkut e Twit-ter, além de uma versão para o iPad.Seguindo a estratégia de reformulação,as Redações das versões impressa eonline da Folha foram unificadas des-de abril. “É um passo importante na di-reção de um jornalismo mais conciso eagradável, e que atenda melhor às ne-cessidades do leitor”, informou o Edi-tor-executivo da Folha, Sérgio D’Ávila.

Assim, o conteúdo editorial do sitepôde ser ampliado em 30% e o espaçopara vídeos, fotos e áudios duplicou. Asmudanças pretendem ainda facilitar anavegação e otimizar o tempo de leitura.

ta em Direito do Consumidor, e Gus-tavo Cerbasi, em finanças pessoais.

Outras novidades estão em Cotidi-ano – com coluna quinzenal sobre aces-sibilidade assinada por Jairo Marques,responsável pelo blog Assim como Você,no Folha Online – e em Ilustrada, coma cronista Vanessa Barbara, que será

Na primeira página, as tipologias dasmanchetes ficaram maiores e mais fortes.

As fontes foram redesenhadas e o corpoda letra aumentou para facilitar a leitura.

As fotos e as ilustrações foram valorizadas.O caderno de Esportes agora é tablóide e

ganhou uma diagramação elegante.

Ilustríssima, suplemento que substituiu Mais!, dá destaque às ilustrações e ousa publicando desenhos em páginas inteiras.Já vários cadernos do jornal passaram a ostentar uma padronização de gosto discutível: sob seus títulos, uma tarja ciano.

14 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

O caso de Luis Trimano ilustra ospercalços enfrentados por ilustradoresno Brasil. Com mais de três décadas detalento dedicado ao traço, o artistavive, hoje, quase em compasso de es-pera. É escasso o volume de convitespara que exercite seu ofício – e algumasdessas propostas sequer merecem serconsideradas.

“O mercado é precário. Temos bonsartistas nas áreas da ilustração, carica-tura e charge. Mas eles são muito poucoaproveitados, desvalorizados e mal

Reconhecido como um dos mestresdo desenho no Brasil, o argentino

LUIS TRIMANO analisa com despudoradosenso crítico as restrições no mercado

de ilustrações e a desvalorizaçãodesses profissionais no País,

processo do qual também é vítima.

DESABAFO

O mercadoestá contra osilustradores

POR PAULO CHICO

remunerados. Na verdade, faltam edi-tores informados e interessados empublicar ilustração de qualidade. Oeditor é tão importante quanto o ilus-trador. Não adianta um magnífico de-senho se não houver uma edição com-petente”, explica Trimano.

Nascido em Buenos Aires em 1943,o artista mudou-se para São Paulo logono efervescente 1968. Desde 1974 re-side no Rio de Janeiro. Ainda conser-va indisfarçável sotaque. E a paixãopela profissão que abraçou quando

jovem na Argentina, onde teve a suaformação em ilustração e artes gráficas.

“O Brasil sempre teve fotógrafos denível internacional, mas carece de ilus-tradores à altura. Por causa disto, mui-tos editores optam pela fotografia comosolução para preencher essa lacuna. Masnão existe substituição. O fotógrafo‘mostra’, o ilustrador ‘interpreta’. Umnão deve invadir o campo do outro”.

A perda do espaço para os ilustra-dores nas Redações tem duas explica-ções possíveis, aponta Trimano. “Umdos fatores é o interesse comercial,ligado à publicidade, cujos anúnciosinvadem espaços gigantescos na mí-dia, fazendo com que as páginas dosjornais se assemelhem a propagandasde supermercado. Outro fator é amoda, presente em todos os sentidos,inclusive na arte. Hoje adota-se umvisual padronizado e são criados este-reótipos que induzem o leitor ao con-sumo fácil e rápido de conteúdos eobjetos”, diz ele, que prossegue.

“Nesse contexto, excessivamentecomercial e imediatista, não há espa-ço para a ilustração autoral. A imprensatem dado mais importância a anúnci-os do que a matérias ilustradas, sejamelas políticas ou culturais. E a maiorparte das publicações da imprensa co-mercial tem adotado este perfil, exclu-indo o ilustrador. Hoje existem poucasrevistas dedicadas à cultura, literatu-ra e política, e elas são ilustradas comdesenhos amadorísticos, realizados pornão profissionais, o que dá um tom deprecariedade às publicações. Esse po-deria ser um mercado, mesmo que res-trito, para artistas de verdade, se a es-colha dos editores fosse mais criterio-sa, recrutando profissionais que vivemdesempregados”, sentencia.

O ponto crucial para entender a crisepela qual passa o mercado de ilustra-

ção no Brasil parece mesmo ser a ques-tão de mensurar, em reais, o valor dotrabalho desses artistas. O próprioTrimano conta ter-se cansado de ouvir,ao longo de sua trajetória, pérolas quedavam conta de que ‘publicar desenhoé oneroso’. Na prática, faz-se de tudopara evitar o custo de ter que pagar pelotrabalho do ilustrador. Talvez isso aju-de a explicar o fato de que, para mui-tos deles, não resta outra saída senãotrabalhar quase de graça...

“Alguns colegas, inclusive amigos,tiveram que se dedicar a outras ativi-dades exatamente por causa dessa ‘di-tadura do mercado’. Saíram ou ‘foramsaídos’ da imprensa... Eles não aceita-ram a ‘padronização’, e se ressentiramcom a péssima remuneração. A ilustra-ção, cujo principio é a democratizaçãoda imagem, se vê exposta às corridasatrás dos ibopes e outros ‘comercialis-mos’, para mal sobreviver”, lamenta.

Época de ouro e o impactodos computadores

“Eu sinto um embrutecimento cul-tural na sociedade atual, vivemos umretrocesso. Se nós compararmos comos anos 1970, quando a imagem foiricamente elaborada nas artes gráfi-cas, com diagramações interessantese projetos ousados, nos quais o traba-lho era publicado com cuidado, pode-mos perceber o quanto nosso trabalhofoi perdido ou diluído em piruetaseditoriais sem valor”, critica Luis Tri-mano, que na chegada ao Brasil traba-lhou como caricaturista para a Folhade S.Paulo, tendo como Editor-ChefeCláudio Abramo.

A partir desse primeiro passo, mui-tas outras oportunidades se abriram.Passou pela então estreante Veja (donúmero zero, em 1968, até o ano se-guinte), pelos Fascículos da MPB da

ARQUIVO PESSOAL

15Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Editora Abril Cultural, em 1972, e pelojornal Opinião. Em 1973, atuou na re-vista Argumento. Com a vinda para oRio, colaborou no Jornal do Brasil e OGlobo até 1979. Teve desenhos publi-cados na Última Hora. Fez parte dasequipes da Revista Rock e do Jornal deMúsica, ambos dirigidos por Tárik deSouza. Esteve presente em capas dediscos de Nelson Cavaquinho e Carto-la. Em 1980, ilustrou A Paixão Medida,de Carlos Drummond de Andrade, euma coleção dos romances de José Linsdo Rego, estes para a Editora José Olym-pio. Em 1986, tornou-se Editor de Ilus-tração do novo projeto de O Pasquim,a convite de Jaguar. De 1993 a 2003,mostrou seu talento na edição domi-nical do Caderno Economia da Folha deS.Paulo.

Tamanha bagagem profissional nãoimpede que hoje Trimano sofra com asrestrições de um mercado que parecebeirar a extinção. Uma tendência quejá podia ser observada há 30 anos.

“A partir de meados dos anos 1980,com a moda do ‘besteirol’, começarama se impor imagens baratas, semelhan-tes a decalcomanias de banheiro, mis-turadas a bonecos de comics e desenhosanimados. Isso foi uma ‘idiotia’, como esvaziamento das imagens. Hipno-tizadores do visual urbano, eles eramignorantes sobre os verdadeiros ante-cedentes das artes gráficas no Brasil,como a revista modernista Klaxon, osdesenhos de J. Carlos e as xilogravurasde Oswaldo Goeldi ou Lívio Abramo.”

Acha Luis Trimano que o computa-dor veio mudar a relação do ilustradorcom os tradicionais meios e, num pri-meiro momento, chegou a excluir porcompleto a ação artesanal. “Nas capasde revistas, livros e cds se aprimoroua produção gráfica. Contudo, essa uti-lização excessiva do computador aca-bou despersonalizando o visual dessesprodutos. Eu defendo a idéia de que oilustrador, em nossos dias, deve mane-jar tanto o desenho artesanal como ocomputador. Essa mistura dará comoresultante uma nova forma de ‘olhar’a realidade.”

E são muitas as singularidades notrabalho do artista. “A forma se sobre-põe à utilização da cor. Eu provenho dasartes plásticas, de modo que estudeipintura. Mas emprego a cor como grá-fico, e não como pintor. Não utilizo astécnicas tradicionais da pintura. Nãohá pincel no meu desenho. A cor qua-se sempre é ácida, e nos remete às co-lorações das tintas industriais, por cau-sa da utilização de canetas esferográ-fica e hidrográfica. No desenho de pre-to-e-branco, que foi o que caracterizouas minhas ilustrações na imprensa,anterior à explosão da cor nos jornais,sempre utilizei o lápis como base e,principalmente o bico de pena. O jor-nal multicolorido mudou a linguageme, com raras exceções, banalizou a cor.Eu, pessoalmente, como desenhista,gostava mais do jornal em preto e bran-co. O visual dos jornais de 30 anos atrástinha ‘coloração’ mais próxima da gra-

vura, pelas manchas de pretos e cin-zas”, diz.

“O desenho, assim como a escritamanual, é inerente ao ser humano des-de a caverna. E nunca poderia ser con-siderado uma arte menor. O ‘endeusa-mento’ da máquina, no caso o compu-tador, é um descaminho que sobrepõeo invento ao inventor. O mercado não

passa de vulgar comércio. A gente nãodeve deixá-lo ditar regras no conheci-mento e na arte. Ele só pensa no lucro.Aceitar que o mercado mande nos ru-mos da arte, que é o que vem aconte-cendo cada vez mais, é compactuarcom o disparate”, condena ele, que la-menta a extinção de publicações comoRaposa, de Curitiba, e Versus e Bondi-

nho, de São Paulo, além dos já citadosO Pasquim e Opinião. Todos eles veícu-los alternativos de presença marcante,que abriam espaço para gente nova ede qualidade.

A receita e a esperançade um mestre dos traços

“Creio que a única forma de rever-ter a situação de precariedade do mer-cado é mostrando, seja na imprensaescrita ou na mídia eletrônica, os tra-balhos que vêm sendo realizados. Paraisso, valem também as exposições co-letivas”, acredita Trimano. Iniciativasválidas, mas que nem sempre têm oimpacto e o fôlego esperados. “Em 2009um grupo de 20 artistas, alguns bemconhecidos, fez exposição coletiva noMuseu Nacional de Belas-Artes, noRio, com a apresentação de suas obrasmais recentes. A grande imprensa, comalgumas raríssimas exceções, não to-mou conhecimento. Ela não valoriza oserviço do ilustrador, e se omite quandoda divulgação desses eventos. Issomostra o desconhecimento e o desin-teresse dessa gente para com o nossotrabalho”.

Nos últimos tempos, Trimano temse dedicado mais aos livros. “Há pou-co tempo ilustrei obra de Machado deAssis, Como se Inventaram os Almana-ques, para a editora Mercúrio de SãoPaulo. Fiz também A Crise da Globali-zação, do economista José Carlos deAssis, onde condensei ilustrações pu-blicadas anteriormente na Folha deS.Paulo, e Recordações do Escrivão Isaí-as Caminha, de Lima Barreto, para oCNPq. E desde 2005 trabalho nas ilus-trações do Canto Geral, um relato da

16 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

conquista da América pelos espanhóis,contado em versos de Pablo Neruda.Esta série está programada para expo-sição em novembro e dezembro desteano, no Museu Nacional de Belas-Ar-tes do Rio.”

Trimano começou a desenhar muitocedo, menino ainda. As principais influ-ências foram os pintores do realismosocial argentino, também muralistas eilustradores. Nomes como Lino EneaSpilimbergo, Juan Carlos Castagnino,Antonio Berni e Carlos Alonso. Outrascitações feitas pelo artista são as águas-fortes de Rembrandt, o expressionismoalemão, as gravuras de Käthe Kollwitz,o muralismo mexicano, os desenhos dojaponês Hokusai, a pintura negra e asgravuras satíricas de Goya, além dascaricaturas da imprensa francesa doséculo XIX, feitas por Honoré Daumi-er. “As minhas propostas de ilustraçãoneste momento estão relacionadas àsminhas primeiras referências profissio-nais, que foram os pintores figurativosargentinos, anteriores ao abstracionis-mo. É improvável que eu volte a dese-nhar para jornalismo. Mas a ilustraçãosegue nos livros, retratos e projetospessoais de poemas ilustrados.”

Ele defende que um artista, antes dese tornar ilustrador, deve se formarcomo plástico, mesmo que autodida-ta. Na ilustração para jornalismo, ohomem comum é o protagonista, o queconduz à ilustração política, ou de co-mentário político. “O ilustrador deimprensa, além da obrigação de aper-feiçoar o desenho, é sempre levado aampliar os seus conhecimentos sobreos diversos temas que compõem o jor-nal, onde se mostra a realidade domundo. Depois que a gente se consci-entiza sobre tudo isso, é que começa o

aprendizado do desenhista dentro dojornalismo, que é dinamismo, políticae ação. Um ritmo bem diferente doestúdio, onde o trabalho é mais reco-lhido, meditativo.”

Considerava Trimano que a ilustra-ção deve cumprir função social. Não éum divertimento da corte, é uma inter-venção crítica sobre a realidade. Preser-var o próprio trabalho da contaminaçãode uma prática vazia e sem sentido, deacordo com o gosto do mercado, é omínimo que o ilustrador pode fazer. Oúnico gesto profissional digno. “A mi-nha posição é de que o nosso trabalhonão deve compactuar com esses modis-mos. Devemos estudar e nos aprofun-dar tanto quanto for possível. Vivemosnum país onde as pessoas andam semdentes por falta de dinheiro e amassamlatas nas ruas para poder comer. Demodo que o artista não pode, nem deve,se prestar aos maniqueísmos de modasimpostas por aqueles que mandam.”

No contexto atual, não é fácil se tor-nar ilustrador de destaque. “O mercadotende a tornar medíocre o nosso traba-lho, ofuscar a personalidade do ilustra-dor. Travamos uma luta inglória contraa apatia instalada nessa gente. Esta é asituação no momento. A expressão e acrítica são banidas da arte, transforma-da num jogo de formalismos, reciclagense, no pior dos casos, em clonagem defórmulas norte-americanas e européias,ou num simples lazer de parque de diver-sões, atrás de falsos mitos, que eles cha-mam de celebridades. O desenho sem-pre foi uma necessidade premente deexpressão para mim. A ilustração, qua-se uma militância. A minha participaçãona realidade. Uma maneira de rompercom a elitização burguesa da imagem,exercida pelo chamado mercado de arte.”

PO RT F Ó L I O - Luis Trimano

17Jornal da ABI 354 Maio de 2010

PÁGINA 15RETRATO DE CAETANO VELOSO - Nanquim ecaneta esferográfica (sobre foto de AntonioGuerrero). Programa do espetáculo A Luzdo Solo, um recital de compositoresviolonistas: Caetano Veloso, Toquinho,Geraldo Azevedo, Gonzaguinha; GoldenRoom do Hotel Copacabana Palace; Riode Janeiro, 1985.

CAPA DA REVISTA DADOS E IDÉIAS; Serpro -Nanquim e guache. Rio de Janeiro, 1978.

PÁGINA 16RETRATO DE PIXINGUINHA - Nanquim. ProjetoPixinguinha; Funarte; Rio de Janeiro, 1984.

RETRATO DO POETA PERUANO CÉSAR VALLEJO -Nanquim e guache. Série Estigmas; GaleriaCarlos Oswald, MNBA; Rio de Janeiro,1985-86.

RETRATO DA FOTÓGRAFA ITALIANA TINAMODOTTI - Nanquim e guache. Série Diário -e 5 poemas de Juan Gelman; Galeria

Cândido Portinari, Uerj; Rio de Janeiro, 2006-07. Galeria Manuel Bandeira, ABL; Rio deJaneiro, 2007-08.

PÁGINA 17SÉRIE DIÁRIO - E 5 POEMAS DE JUAN GELMAN -Nanquim. Galeria Cândido Portinari, Uerj; Riode Janeiro, 2006-07. Galeria ManuelBandeira, ABL; Rio de Janeiro, 2007-08.

RETRATO DE ERNEST BLOCH - Nanquim ecaneta esferográfica. Capa do livro O Princípio

Esperança, EdiUerj; Rio de Janeiro, 2006.

RETRATO DO GRAVADOR JAPONÊS SHIKOMUNAKATA - Nanquim e guache. Série Diário- e 5 poemas de Juan Gelman; GaleriaCândido Portinari, Uerj; Rio de Janeiro, 2006-07. Galeria Manuel Bandeira, ABL; Rio deJaneiro, 2007-08.

SÉRIE O NEGRO - ESTUDOS SOBRE A FOTOGRAFIADE CHRISTIANO JUNIOR. Galeria HenriqueBernardelli, MNBA; Rio de Janeiro, 2005.

IDENTIFICAÇÃO DOS DESENHOS

18 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Poeta, crítico de artes plásticas, elepróprio pintor e dramaturgo brasilei-ro, Ferreira Gullar completará 80 anosno dia 10 de setembro. O presente, esteano, chegou antes, bem antes. No dia31 de maio, em anúncio oficial feitoem Lisboa pela Ministra da Cultura dePortugal, Gabriela Canavilhas, o ma-ranhense foi agraciado com o PrêmioCamões 2010. Em declarações feitasem entrevistas anos antes, o escritorchegou a afirmar que jamais moveriaum dedo para ganhar tal honraria. Para,logo em seguida, confidenciar. “Mas, seme dessem, ficaria muito contente.”

Gullar, cujo nome de batismo é JoséRibamar Ferreira, foi comunicado dapremiação no mesmo dia 31, por umtelefonema do escritor e professor daUniversidade Federal do Rio de Janei-ro Antônio Carlos Secchin, membro dojúri, que lhe repassou a mensagem daMinistra portuguesa. Gullar estava nacidade de Monteiro Lobato, no interi-or de São Paulo, almoçando no Sítio doPica-Pau Amarelo, e conversava comamigos sobre a trajetória de um dosmais populares escritores do Brasil. JoséBento Monteiro Lobato iniciara suacarreira exatamente naquela proprie-dade, que na época ainda se chamavaFazenda do Buquira e que hoje, reba-tizada com inspiração na obra do cria-dor de Emília e Dona Benta, atrai cen-tenas de turistas.

“Foi uma surpresa total. Fiquei feli-císsimo. É um prêmio de indiscutívelimportância. Quer dizer que o que euescrevi tocou as pessoas. E, por expres-sar um juízo de toda a comunidade lu-sófona, tem um significado maior”,considerou Gullar.

Distinção da culturaO Prêmio Camões, que é dado como

reconhecimento ao conjunto de umaobra literária, é a mais importante dis-tinção da cultura de língua portuguesa.Criado em 1989, quando foi concedidoao poeta português Miguel Torga, tementre seus ganhadores recentes o por-tuguês Antônio Lobo Antunes (2007)e o cabo-verdiano Armênio Vieira (2009).

PRÊMIO

Camões 2010é de GullarO poeta, que completará 80 anos

em 10 de setembro, passa aintegrar o grupo de oito brasileirosagraciados com a mesma láurea,criada em 1989 pelos Governos

do Brasil e de Portugal.

Associado da ABI desde 1983, reelei-to para o Conselho Consultivo da Asso-ciação em 30 de abril passado, FerreiraGullar tem a carreira marcada pela lutapela liberdade de expressão e pela demo-cracia. Nascido na capital maranhense,em 1930, filho de Newton Ferreira e Al-zira Ribeiro Goulart, ainda na adolescên-cia descobriu a poesia clássica, as obrasde Carlos Drummond de Andrade eMurilo Mendes, entre outros escritores.

Seu primeiro livro, Um Pouco Acimado Chão, foi escrito em 1949, quandoele tiha 19 anos. Um ano depois, como poema O Galo, venceu o concursopromovido pelo Jornal de Letras, tendono júri Manuel Bandeira, Willy Lewine Odilo Costa, filho. Em 1951, Gullarse mudou para o Rio de Janeiro, ondeconheceu o crítico de arte Mário Pedro-sa e o escritor Oswald de Andrade, etrabalhou como revisor na revista OCruzeiro. Em 1954, publicou A LutaCorporal, cujo projeto gráfico chamoua atenção de Augusto e Haroldo deCampos e Décio Pignatari. Nessa épo-ca, trabalhou na revista Manchete, noDiário Carioca e para o Suplemento Do-minical do Jornal do Brasil.

Em 1956, participou da I ExposiçãoNacional de Arte Concreta no Masp. Em1958, lançou o livro Poemas. Em 1961,assumiu a direção da Fundação Cultu-ral de Brasília, no Governo Jânio Qua-dros, e construiu o Museu de Arte Po-

Um criador fecundo,polêmico e combativo

Antes de Ferreira Gullar, outros oitobrasileiros receberam tal honraria: JoãoCabral de Melo Neto (1990); Rachel deQueiroz (1993); Jorge Amado (1994);Antônio Cândido (1998); Autran Dou-rado (2000); Rubem Fonseca (2003);Lygia Fagundes Telles (2005) e JoãoUbaldo Ribeiro (2008).

O júri da 22ª edição do Prêmio Ca-mões foi formado por Helena Buescu,professora da Universidade de Lisboa;José Carlos Seabra Pereira, professor daUniversidade de Coimbra; InocênciaMata, escritora de São Tomé e Prínci-pe; Luís Carlos Patraquim, poeta mo-çambicano; e, representando o Brasil,Antônio Carlos Secchin, e a escritoraEdla van Steen. O grupo apontou a altarelevância estética da obra de FerreiraGullar, em especial a poesia, incorpo-rando com maestria tanto a nota pes-soal do lirismo quanto a defesa de va-lores éticos universais.

“Foram colocados na mesa váriosnomes e, no momento da escolha final,falamos da imensa obra do FerreiraGullar, que está completando 80 anos.E que esse prêmio é o coroamento dotrabalho do escritor. E todos os outroscandidatos ainda têm mais tempo paraaumentar a obra”, apontou Edla VanSteen. “Ferreira Gular é um grandenome da lusofonia”, sublinhou a Mi-nistra da Cultura de Portugal, Gabrie-la Canavilhas.

O poeta receberá o prêmio de 100mil euros - 50 mil pagos pelo Estadobrasileiro e quantia idêntica paga peloEstado português.

pular. A partir de 1962, passou a inte-grar o Centro Popular de Cultura-CPCda União Nacional dos Estudantes-Une,e trabalhou na sucursal carioca de OEstado de S. Paulo. Nesse ano, publicouJoão Boa-Morte, Cabra Marcado paraMorrer e Quem Matou Aparecida. Em1963, foi eleito para o cargo de Presiden-te do CPC. No ano seguinte, em abril,filiou-se ao Partido Comunista Brasi-leiro-PCB e fundou o Grupo Opinião,juntamente com Oduvaldo Viana Fi-lho e Paulo Pontes, entre outros.

Linha de confrontoCom passagens pelo teatro, com pe-

ças como Se Correr o Bicho Pega, Se Fi-car o Bicho Come, Gullar esteve sempreem linha de confronto com o regimemilitar. Em 13 de dezembro de 1968, da-ta da edição do Ato Institucional nº 5,o famigerado AI-5, foi preso, assimcomo Paulo Francis, Caetano Veloso,Gilberto Gil e Mário Lago, entre outrosintelectuais e artistas. Em 1969, lançouo ensaio Vanguarda e Subdesenvolvimen-to, e passou a se dedicar à pintura. Em1971, seguiu para o exílio na antigaUnião Soviética e depois para o Chile,Peru e Argentina. Durante esse perío-do, colaborou com O Pasquim sob opseudônimo Frederico Marques.

Em 1975, publicou Dentro da NoiteVeloz e escreveu, em Buenos Aires, o fa-moso Poema Sujo, que chegou ao Brasilgravado em uma fita, trazida por Viní-cius de Moraes, publicado no ano seguin-te pela Editora Civilização Brasileira. Opoetinha Vinícius, aliás, considerava esse“o mais importante poema escrito emqualquer língua naquelas últimas déca-das”. O lançamento do livro no Rio de Ja-neiro transformou-se em um ato pelo re-torno de Gullar ao País, o que somenteaconteceu em 10 de março de 1977.

Nesse mesmo ano lançou AntologiaPoética e La Lucha Corporal y Otros In-cêndios, publicado em Caracas, Vene-zuela. Em 1978, gravou o disco Anto-logia Poética de Ferreira Gullar e levouaos palcos a peça teatral Um Rubi noUmbigo. Em 1985, recebeu o Molièrepor sua versão para Cyrano de Bergerac,de Edmond Rostand. Dois anos depois,lançou o livro de poemas Barulhos. Em1989, publicou ensaios sobre culturabrasileira em Indagações de Hoje. Entre1992 e 1995, dirigiu o Instituto Brasi-leiro de Arte e Cultura.

Em 1993, criticou as vanguardas nolivro Argumentação Contra a Morte daArte, criando polêmica entre artistasplásticos. Em 1997, lançou Cidades In-ventadas. Em 1998 é publicado Rabo deFoguete - Os Anos de Exílio. No ano se-guinte, Gullar lançou Muitas Vozes e foiagraciado com o Prêmio Jabuti, na ca-tegoria Poesia. Em 2000, recebeu oPrêmio Multicultural Estadão, de OEstado de S.Paulo, pelo conjunto de suaobra. Antes do Prêmio Camões, em2005, recebeu o Prêmio Machado deAssis, maior honraria da AcademiaBrasileira de Letras, seguido, em 2007,do Prêmio Jabuti na categoria Ficção,dessa vez pelo livro Resmungos.

19Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Entre os anos 80 e 90 o jornalista,poeta e pintor Pedro Macário Ferreira(1935-2010) foi colaborador do Jornalda ABI escrevendo sobre a história dacaricatura brasileira e também artigosliterários sobre as obras de poetas eescritores nacionais. Assim como Ál-varus, foi um dos grandes colaborado-res das publicações da Casa, contribu-indo com uma série de textos (dispo-níveis na coleção do Jornal da ABI naBiblioteca Bastos Tigres) que aborda-vam de modo peculiar a criação de al-guns dos mais importantes artistas doBrasil, do texto e do desenho, a exem-plo de J. Carlos.

Pedro Macário estreou como colu-nista no Jornal da ABI, em 1986, noexemplar nº 11, de setembro/outubrodaquele ano, com o artigo O jornalistaHumberto de Campos, humor e sofrimen-to. No texto, ele comenta a obra dopoeta, jornalista e escritor Humbertode Campos (1886-1934) – eleito mem-bro da Academia Brasileira de Letras(ABL), em 1919 –, que reúne32 volumes, entre contos,poesias, crônicas e críticas.

Muitos foram os autoresnacionais importantes quetiveram as suas obras esmiu-çadas por Pedro Macário, en-tre os quais Carlos Drum-mond de Andrade, saudadono artigo Drummond: prosa,poesia e caricatura, publicadono Jornal da ABI de setembro/outubro de 1987. O texto trazuma série de curiosidadessobre o poeta mineiro, entreas quais os seus pendores ar-tísticos para o desenho.

Nássara (1910-1995) e K. Lixto figu-ram na lista de caricaturistas cujas obrasforam abordadas por Pedro Macário nasua série de artigos para o Jornal da ABI.Sobre o primeiro – que também era com-positor e teve uma carreira de êxito nojornal O Globo, onde ingressou em 1927– Macário escreveu classificando-ocomo um “carioca genial” que desenha-va com estilo moderno: “Sem exagero,no modo de ser, na carioquice, na mú-sica popular e principalmente comodesenhista é um gênio... Assim como

MEMÓRIA

PEDRO MACÁRIOUm artista que adorava

o poder das palavrasComo colaborador do Jornal da ABI, ele mostroue valorizou a obra de escritores e caricaturistas

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

Picasso na pintura, Nássara é dono deum estilo próprio. Ele é também umartista moderno”.

Já o desenhista, caricaturista, pintore capista niteroiense Calixto Cordeiro(1877-1956) – que se assinava K. Lix-to – atraiu a atenção de Pedro Macário

por causa do seu estilo de de-senhar bem brasileiro. No ar-tigo que escreveu sobre ele,Macário o descreve como umdos grandes artistas gráficosbrasileiros do início do sécu-lo XX, “criador da caricaturabrasileira moderna, livre dospadrões europeus”.

Pedro Macário nasceu em5 de abril de 1935, na peque-na e agradável cidade deMangaratiba, RJ, que serviude cenário para o filme Limi-te considerado por ele a obra-prima de Mário Peixoto. De-vido à sua grande contribui-

ção ao campo das artes, Pedro Macáriotem seu perfil citado em importantespublicações artísticas do País, como aEnciclopédia de Literatura Brasileira, Di-cionário de Poetas Contemporâneos e Di-cionário de Pintores Brasileiros. Macárioajudou a produzir várias antologias,como a Abertura poética. Além disso,por causa dos contos e crônicas queescreveu ganhou alguns prêmios emconcursos literários.

A família sempre foi um referenci-al na vida de Pedro Macário. Costuma-

va dizer que o gosto pela leitura foi umcostume herdado do pai. Considerava-se um leitor incansável, para quem aleitura era mais que um prazer: “Sou umleitor incansável. O poder da palavraescrita é um desafio e um prazer. Gos-to de livros, uma tecnologia imortal. Ea força da poesia, e o mistério do homemda Terra”. Entre as boas lembranças quetinha da mãe citava “a bela macarronadade domingo e a forte fé católica”.

Pedro Macário foi professor de Re-lações Públicas da Faculdade HélioAlonso, assessor de im-prensa da White Mar-tins por mais de 20anos, além de diretorresponsável da revistaPaz e Bem, órgão ofici-al da Ordem Francisca-na Secular do Brasil.Foi secretário por doistriênios da Fraternida-de São Sebastião, emcujo ambiente costu-mava dar palestras.Ancorado na doutrinafranciscana, escreveuvárias peças de teatro,entre as quais uma so-bre a vida de Santa Isa-bel da Hungria, comoparte das comemora-ções dos 800 anos doseu nascimento.

Autor de muitas realizações, nocampo jornalístico ou literário, ondepublicou bons livros, entre os quaiso de poemas Vida Substantiva (Edi-ções Porta de Livraria, Rio de Janei-ro, 1980) e os infantis A Árvore daAlegria (1988) e A Revolta da Nature-za Contra o Rei do Fogo (1989), amboseditados pela Memórias Futuras Edi-ções, do Rio de Janeiro.

Em 2007, participou e foi vencedorde um concurso literário promovidopelo Jornal do Brasil, com o conto Bo-

lero, cuja premiação foia publicação no cader-no literário Idéias & Li-vros. Estudou pinturano Museu de Arte Mo-derna do Rio de Janei-ro, onde foi aluno deIvan Serpa, e partici-pou de diversas expo-sições coletivas e indi-viduais.

Na ABI, onde ingres-sou na categoria de só-cio efetivo em 26 de se-tembro de 1978, PedroMacário foi eleito pormérito em várias oca-siões como membrodo antigo Conselho doCentro de Memória, aprimeira em 29 demaio de 1991.

Macário e trêsdesenhos de artistasque foram tema de

seus artigos: Nássara(caricatura de DelfimNeto), o poeta Carlos

Drummond deAndrade (numa

autocaricatura) eK.Lixto (abaixo), queele descreveu como

um dos grandesartistas gráficos

brasileiros.

ARQU

IVO D

A FAMÍLIA

22 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

O grave quadro de restrições e ame-aças à liberdade de imprensa na Amé-rica Latina foi o tema central do Semi-nário Liberdade de Expressão que acon-teceu no auditório da Escola da Magis-tratura do Estado do Rio de Janeiro-Emerj, em 3 de maio, Dia Mundial daLiberdade de Imprensa. O semináriocontou com a participação de convida-dos do Brasil e do exterior como Car-los Alberto Zulouaga, Vice-Presidentede Operações da televisão venezuela-na Globovision; Emílio Palácios, dojornal El Univers , do Equador; HérnanVerdaguer, do jornal Clarín, da Argen-tina; Jayme Sirotsky, do Grupo RBS, doRio Grande do Sul; e Ricardo Gandour,de O Estado de S. Paulo, além do jorna-lista norte-americano Carl Bernsteinque afirmou existir uma onda mundi-al de censura ao trabalho da imprensa.Bernstein tornou-se mundialmenteconhecido ao denunciar, ao lado de BobWoodward, o escândalo Watergate,que provocou a renúncia do Presiden-te Richard Nixon.

O evento foi organizado pela Emerj,com a colaboração da Associação Na-cional dos Jornais-ANJ, AssociaçãoBrasileira das Empresas de Rádio eTelevisão-Abert e Associação Nacionaldos Editores de Revistas-Aner. Duranteo encontro foi prestada uma homena-gem especial ao Ministro do SupremoTribunal Federal Carlos Ayres Brittopor sua atuação na Corte Suprema ecomo relator da ação judicial que revo-gou a Lei de Imprensa, instituída peladitadura militar.

“A liberdade de expressão é a maiorexpressão da liberdade” disse AyresBritto em seu discurso de agradecimen-to. Ele afirmou ainda que o fato de acensura prévia ter sido extinta colocouo Brasil “na linha de frente dos paísesque fazem caminhar juntas liberdadede imprensa e democracia. Quantomaior a liberdade de imprensa, maisdensa a democracia.”

Além dos jornalistas convidadoscomo palestrantes, estiveram presen-tes também o Vice-Presidente das Or-ganizações Globo, João Roberto Mari-nho, e o Presidente do Tribunal de Jus-tiça do Estado do Rio de Janeiro, De-sembargador Luiz Zveiter. Represen-tando a ABI, compareceu ao seminárioo Conselheiro Arcírio Gouvêa Neto,membro da Comissão de Defesa da

fluidez de idéias de várias origens temque ser preservada.”

O painel teve como debatedores osjornalistas Carlos Alberto Zuloaga, docanal Globovision; Emilio Palácio, dojornal El Universo, e Hernán Verdaguer,do Clarín, que apresentaram um pa-norama dos dramas vivenciados porjornalistas e veículos de comunicaçãoem seus países, por força de cerceamen-tos à liberdade de imprensa.

Hernan Verdaguer iniciou o seu dis-curso dizendo que gostaria de compar-tilhar com o público presente a expe-riência vivida na Argentina nos últimosanos, onde, segundo ele, o enfrenta-mento do Governo contra a imprensaindependente vem crescendo.

Disse Verdaguer que o Governo daArgentina vem exercendo uma “pres-são oficial e política contra os veículosde comunicação, principalmente nadistribuição da publicidade oficial”. Eleapresentou um vídeo com discursos daPresidenta Cristina Kishner contra osmeios de comunicação, em particularcontra o Clarín.

Em seguida falou sobre os efeitos danova legislação que regula a comunica-ção no país: “A lei é um controle muitoforte do Governo aos meios de comu-nicação. Somente os veículos estataispreponderam nas mensagens veicula-das em cadeia nacional sem restrições.A legislação atenta contra a indústria

nacional dos meios de comunicação. Alimitação à produção de conteúdo é umaafronta. A cláusula que limita a produ-ção dos grupos midiáticos não tem pre-cedente em outro lugar do mundo. Semmeios sustentáveis não existe impren-sa independente”.

Restrições e ameaçasConvidado a participar da mesa que

debateu o cerceamento à liberdade deexpressão e de imprensa, Gillero Zulo-aga, dono da Globovision, único canalaberto da Venezuela, não pôde compa-recer ao evento porque estava proibi-do de deixar o país. Em março do anopassado ele foi preso e ficou detido pormais de oito horas, porque fez críticasao Governo Hugo Chávez, acusando-o de perseguição aos meios de comu-nicação. Em seu lugar, Gillermo enviouseu filho, Carlos Alberto Zuloaga, queé Vice-Presidente de Operações do ca-nal venezuelano.

Zuloaga divulgou números de ataquessofridos por jornalistas na Venezuela.Eleinformou que somente no ano passadoforam registrados 110 ataques a repór-teres, num total de 29 veículos atingidos,e a perspectiva é de que esse númeroaumente no decorrer de 2010. “O maisgrave é que esse tipo de coisa gera umaautocensura”, concluiu.

O equatoriano Emilio Palácio – queestá sendo processado sob acusação de

Controle da imprensa é tendência mundial,afirma Carl Bernstein em seminário no Rio.

O repórter que denunciou o escândalo do Watergate, que derrubou o Presidente Richard Nixon,denuncia que o cerceamento da imprensa não é exclusividade da América Latina.

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

Liberdade deImprensa e Direitos Hu-manos da Casa.

O Diretor-Geral da Emerj, Desem-bargador Manoel Alberto Rebêlo dosSantos, disse que o momento para arealização do seminário não poderia sero mais apropriado, “diante dos preocu-pantes sinais emitidos por Governosautoritários de alguns países da Amé-rica do Sul, todos apontando para ocerceamento da liberdade de impren-sa, a tão duras penas conquistada emnossos quadrantes, e que constitui,sem sombra de dúvida, um dos maiscaros bens imateriais do patrimônio dauniversalidade dos cidadãos”.

Ameaças episódicasMediador do painel O cerceamento

às liberdades de expressão na AméricaLatina, o jornalista Ricardo Gandour,Diretor de Conteúdo do jornal O Es-tado de S.Paulo – que continua sob cen-sura prévia por ordem judicial –, dis-se que o progresso de uma nação nãopode ficar atrelado apenas ao progres-so econômico:

“Vivemos no Brasil uma situaçãoplena de liberdade de imprensa, comproblemas sensíveis e ameaças episó-dicas pontuais que requerem atenção.Temos que ter atenção ao risco de emum país emergente passarmos a con-fundir progresso apenas com o progres-so econômico. A real possibilidade da

Carl Bernstein:a PrimeiraEmenda daConstituiçãodos EstadosUnidos, queproíbe acensura àliberdade deexpressão e deimprensa, é ocoração dademocracia dosEstados Unidos.

DIVULGAÇÃO

23Jornal da ABI 354 Maio de 2010

ofensa a uma autoridade pública, nocaso o Presidente Rafael Correa – dis-se que houve um tempo no Equador emque a imprensa tinha liberdade e inde-pendência junto ao poder político.

Citando o caso da sua prisão e oprocesso ao qual responde, Emilio Pa-lácio disse que atualmente o Gover-no equatoriano personaliza os ata-ques a jornalistas e meios de comu-nicação, diferentemente do que acon-tece na Venezuela e na Argentina:

“Correa fechou rádios indígenas edepois teve que voltar atrás devido àsreações negativas. Todas as suas ofen-sivas contra a liberdade de imprensativeram uma reação. Mas se eu forcondenado ele vai mostrar à opiniãopública que tem respaldo para man-ter a sua posição. Por isso ele tenta darexposição pública ao processo.”

Tendência mundialÚltimo debatedor a se apresentar

no seminário, Carl Bernstein fechouo debate com uma palestra sobre otema Tendência mundial de controle dainformação. Segundo ele, o processo decerceamento aos meios de comunica-ção não se restringe à América Lati-na, é um fenômeno mundial, queocorre inclusive nos Estados Unidos.

Disse Bernstein que no desfechodo caso Watergate, que levou à renún-cia do então Presidente Nixon, deve-se ressaltar a conduta do jornal Wa-shington Post, que enfrentou a intimi-dação da Casa Branca e divulgou orelatório do caso, e obrigou o sistemaamericano de defesa das liberdades,representado pelo Congresso, a fun-cionar, quando um juiz federal con-cluiu que “nenhum cidadão america-no está acima da lei”.

Bernstein citou a Primeira Emen-da da Constituição dos Estados Uni-dos, que proíbe a censura à liberdadede expressão e de imprensa, na quala Justiça se baseou para julgar o casoWatergate:

“Esse é o coração da nossa demo-cracia. Tentaram minar essa democra-cia, mas não conseguiram. Esse direi-to para uma imprensa livre e indepen-dente está sacramentado na nossacultura e em instâncias legais”.

Revelou Bernstein que aprendeuesses princípios quando iniciava a car-reira de repórter: “Há 50 anos no jor-nal Washington Star eu aprendi que oque há de sublime no nosso trabalhoé informar o público, que a imprensaexiste para o bem público, com a fun-ção de dar ao leitor a melhor visão pos-sível da realidade, um conceito simplese difícil de acordo com o comprome-timento dos executivos da mídia”.

Lembrando que em alguns paíseso acesso à internet ainda é restrito ouaté proibido, Bernstein disse que onovo modelo de cerceamento à liber-dade de imprensa é online: “Jornalis-tas da internet estão mais presos doque qualquer outro tipo. Eles podemvoar, o que eles escrevem não pode serinterceptado facilmente”.

Contra a censura, um jornalismoainda mais combativo. Que, em pri-meiro lugar, recorre judicialmente dadecisão arbitrária, enquanto assume oencargo do pagamento de multas, paranão abandonar seu papel de denunci-ar irregularidades ou absurdos. E, emsegunda instância, divide transparen-temente com seus leitores o drama deter sua liberdade cerceada. Essa temsido a postura adotada pelo Diário doGrande ABC no episódio em que, des-de a primeira semana de maio, foi proi-bido de publicar reportagens sobre odescarte, por parte da Prefeitura de SãoBernardo do Campo, SP, de mesas e ca-deiras escolares em bom estado de con-servação.

A liminar que restringe a atuação dojornal foi concedida pela 1ª Vara Cívelde Santo André, a pedido do PrefeitoLuiz Marinho (PT), que não gostou dareportagem publicada na edição de 24de fevereiro, a qual revelou que a Pre-feitura vinha fazendo doações decarteiras e cadeiras escolares, emperfeitas condições de uso e uti-lizadas pela rede pública de ensi-no, a centros de reciclagem, aomesmo tempo em que já realiza-va concorrência para a compra de11.170 novos conjuntos escolares– ao custo de R$ 3,2 milhões paraos cofres públicos.

A Prefeitura poderia ter rema-nejado, recuperado ou leiloado omaterial. Algumas das carteirasdoadas aos depósitos ainda conser-vavam as placas de identificação depatrimônio do Município de SãoBernardo. Um equipamento che-gou a ser comprado pela equipe doDiário do Grande ABC por 10 reais,7 pagos pela carteira e 3 pela cadei-ra. A reportagem destaca queambas estavam em plenas condi-ções de uso, com as borrachas dospés preservadas, assim como a es-trutura de metal e o tampo demadeira intactos, e afirma que agrande procura pelo material nosdepósitos é prova de como as ca-deiras e mesas doadas nem de lon-ge estão ‘imprestáveis’ – únicacondição que poderia justificar seudescarte pela Prefeitura.

“A administração municipal,na reportagem original, teve 1/3

É moda: Justiça impõe censuraprévia ao Diário do Grande ABC

Por decisão de um juiz de vara cível e a pedido do Prefeito de São Bernardo,Luiz Marinho (PT), o jornal foi proibido de publicar reportagens da série que

iniciara acerca do descarte de material escolar em perfeito estado de uso.

POR PAULO CHICO do espaço do texto para suas argumen-tações. Das 117 linhas da matéria, 33foram destinadas à resposta do Gover-no Marinho que, depois, tentou dizerque não havia nenhum descarte irre-gular, apenas de material já ‘imprestá-vel’, apesar de o próprio jornal ter com-prado um conjunto de cadeira e carteiraem bom estado, por esse valor despre-zível”, rebate Sérgio Vieira, Chefe deReportagem do Diário do Grande ABC.

“Lamentamos que o nosso trabalhoesteja sendo cerceado por causa de umaatitude lamentável de um político queestá impedindo a sociedade de obterinformações sobre bens e serviços pú-blicos”, completou.

Diante da restrição imposta pelaJustiça, o Diário do Grande ABC optoupor uma linha editorial combativa.Proibido de abordar a questão do des-carte das carteiras em suas reportagense de associar tal medida ao Prefeito LuizMarinho, o jornal entrou com recurso,que ainda não foi julgado. Enquanto ojornal continua impedido de falar so-

bre o assunto, sua Direção optou pormanter em suas páginas não somenteo caso, mas o explícito caso de censu-ra do qual é vítima, arcando com a penaprevista de multa diária de R$ 500.

“Sempre que temos fatos novos re-alizamos reportagens. E também te-mos repercutido a postura de LuizMarinho de investir contra o trabalhodo jornal. O assunto repercutiu juntoà Redação do Diário do Grande ABC,assim como em várias Redações peloPaís afora. Os jornalistas demonstra-ram indignação com a decisão do Pre-feito de ir à Justiça para impedir repor-tagens sobre o assunto. Nos dias se-guintes à decisão, a censura, sem dú-vida, foi o tema central das conversasentre os profissionais aqui do jornal”,descreve Sérgio Vieira.

Parlamentares paulistas, entre eleso Senador Eduardo Suplicy, do próprioPT, lamentaram a atitude de Luiz Ma-rinho. “Sou a favor da liberdade deimprensa. Não concordo com nenhumtipo de censura. Minha recomendação

é de que possa ser assegurada apublicação de qualquer tipo deinformação, garantindo o direi-to da outra parte de ser ouvida”,afirmou Suplicy. Também o De-putado estadual Orlando Moran-do (PSDB-SP) condenou a censu-ra ao Diário do Grande ABC. “Éprofundamente lamentável. Issoé a prova de que o Prefeito temmedo da verdade. Com essa de-cisão, a parte mais prejudicada éa sociedade”.

Em nota distribuída à impren-sa, a Associação Nacional de Jor-nais-ANJ condenou a censura àpublicação. “Conforme apurou areportagem, o material estava emplenas condições de uso, em al-guns casos ainda com placa de pa-trimônio público. Na liminar ago-ra concedida, o jornal, apesar deter registrado a versão do Gover-no municipal, foi proibido de vol-tar a tratar do assunto. A ANJ con-sidera medidas judiciais dessa na-tureza como estabelecimento decensura prévia, o que viola fron-talmente o espírito e a letra da li-berdade de expressão asseguradapela Constituição Federal. O di-reito à informação, mais do quedos meios de comunicação, é detoda sociedade”, registra o texto.

Censurado, o Diário do Grande ABC optou por continuarpublicando as matérias proibidas, arcando com a penade multa diária de R$500 imposta pela decisão judicial.

24 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

O Ministro de SegurançaPública de Honduras, ÓscarÁlvarez, contestou em entrevistaao jornal El Mundo as denúnciasfeitas por diversas organizações,entre elas a Anistia Internacional,sobre a existência de um grupoorganizado para assassinarjornalistas. Desde o dia 1º demarço, sete jornalistas forammortos a tiros em Honduras, paísque lidera o ranking das regiõesmais perigosas do mundo para oexercício do jornalismo. Segundo oMinistro Álvarez, “os assassinatospodem ter como motivo tentativade roubo e até ciúmes”.

A sucessão de crimes contraprofissionais da imprensa levou oPresidente de Honduras, Porfirio

A Associação Catarinense deImprensa divulgou nota emrepúdio aos atos de violênciacontra os jornalistas FelipePereira e Flávio Neves, do DiárioCatarinense, e Rafael Faraco, daRBS, durante cobertura damanifestação contra o aumentodas tarifas de ônibus emFlorianópolis, na noite do dia 21de maio.

“A ACI lamenta o episódio eespera sensatez e serenidade dosefetivos da Polícia Militar, emespecial quando se relacionamcom profissionais de imprensa,cuja presença nos eventospúblicos está justificada pelodever de ofício e pautada pelaisenção. Reforçamos nossaconvicção de que o ocorrido seráapurado com rigor pelasautoridades de segurança públicade Santa Catarina e que haveráum esforço para que não serepita. A liberdade de Imprensa,seja na cobertura dos fatos ou naexpressão de opinião, é colunaessencial na sustentação doestado democrático de direito”,diz a nota.

Felipe e Rafael contaram queos policiais militares teriamabordado de forma violenta ofotógrafo Flávio Neves, o quedeu início ao tumulto. E quesofreram agressões apesar deterem se identificado comojornalistas. Felipe foi algemado econduzido em um camburão àCentral de Polícia da Capital. Emseguida, passou por exames noInstituto Geral de Perícias.Rafael Faraco não chegou a serpreso, mas se apresentou paradepor na delegacia.

Em nota divulgada no dia 23,a Associação Nacional deJornais-ANJ solicitou àsautoridades uma investigaçãosobre o caso e pediu respeito aodireito à liberdade de imprensa ede expressão.

A censura imposta à imprensa pelaJustiça, entre as quais o caso do Esta-dão, foi um dos temas debatidos no se-minário Falhas e brechas da justiça: comoevitar a impunidade nos crimes contra aImprensa, organizado na Pontifícia Uni-versidade Católica do Rio de Janeiro-Puc Rio pela Sociedade Interamerica-na de Imprensa-Sip e a Associação Bra-sileira de Jornalismo Investigativo-Abraji.

Participaram do encontro RicardoTrotti, Diretor de Liberdade de Im-prensa e Informação da Sip; ChicoOtávio, repórter especial de O Globoe membro da Abraji, e Júlio CésarMesquita, membro do Conselho deAdministração do Grupo Estado eVice-Presidente da Associação Naci-onal de Jornais-ANJ.

O Estadão, por decisão judicial, estáproibido de publicar reportagens cominformações sobre a Operação Boi Bar-rica, na qual a Polícia Federal investi-gava Fernando Sarney, filho do Sena-dor José Sarney (PMDB).

Seminário debate censura ao EstadãoAo abrir o seminário, Júlio César Mes-

quita destacou o importante trabalhoque a Sip vem realizando há mais deseis décadas na defesa da liberdade deimprensa e de expressão. Mesquita fezquestão de mencionar que a Sip temcomo lema que, depois do direito àvida, “o mais básico dos direitos é odireito à livre expressão, porque so-mente onde ele é exercido é que podehaver a monitoração, a fiscalização e aproteção apropriadas dos demais direi-tos fundamentais”, afirmou.

Júlio César Mesquita também se re-portou a outros períodos em que o Es-tadão esteve sob censura, como os cin-co anos em que ficou sob intervençãono Estado Novo, de Getúlio Vargas, e acensura prévia sofrida durante a ditadu-ra militar. Ele reiterou ainda que é im-portante apoiar a Sip na sua defesa aosprincípios da Declaração de Chapulte-pec, de 1994, carta de princípios quedefende “uma imprensa livre como umacondição fundamental para que as so-ciedades resolvam os seus conflitos,

promovam o bem-estar e protejam a sualiberdade. Não deve existir nenhuma leiou ato de poder que restrinja a liberda-de de expressão ou de imprensa, sejaqual for o meio de comunicação”.

Jessica Carvalho Morris, da AnistiaInternacional, lembrou que o Brasil as-sinou a declaração duas vezes: “A pri-meira, em 1996, quando o Presidenteera Fernando Henrique Cardoso; de-pois, em 2006, pelo presidente Lula”.

Ex-diretor da Sip no Brasil, Júlio Cé-sar Mesquita elogiou a proposta atualda Sip de promover debates sobre asameaças à liberdade de expressão. “Issopode se manifestar em medidas comoa eliminação de meios de comunicaçãoindependentes, a criação de agências denotícias dirigidas pelo governo e açõescriminais injustificadas contra jorna-listas que criticam as autoridades, o quegera autocensura”, disse Mesquita.

Ao final do encontro, foram recolhi-das assinaturas de estudantes em apoioa Declaração de Chapultepec.

(José Reinaldo Marques)

Jornalistas da Colômbia denunciam censuraGoverno Uribe baixa decreto dispondo que cabe a ele dizer se é

procedente ou não notícia sobre ocorrências de “ordem pública”.

A exigência do Governo da Colôm-bia de que durante a campanha para aseleições presidenciais só podem ser pu-blicadas notícias “sobre acontecimen-tos de ordem pública que forem con-firmados oficialmente” movimentou oCírculo de Jornalistas de Bogotá-CPB,que fez no dia 28 de maio um protes-to formal contra a proibição, classifi-cada como censura pelos jornalistas.

Divulgado por meio de um decretodo Ministério do Interior e da Justiçavisando às eleições que aconteceriamem 30 de maio, o decreto tem 23 arti-gos, um dos quais estabelece que “emmatéria de ordem pública os meios decomunicação transmitirão no dia daseleições unicamente as informaçõesconfirmadas por fontes oficiais”.

Em um comunicado, o CPB criticoua medida, apontando-a como “restriçãoque impede os cidadãos de denuncia-rem delitos, repressões de grupos forada lei, roubo de votos, nem eventosrelacionados”. A declaração ressaltatambém que dessa maneira os meios decomunicação não poderão transmitiras informações livremente se antes nãoforem confirmadas por uma declaraçãooficial do Governo. O CPB, que é a maisimportante associação de jornalistas dopaís, lamentou e condenou a decisão doGoverno do Presidente Uribe, que comessas medidas está “censurando previ-amente e eliminando a liberdade de ex-pressão, que está assegurada na Cons-tituição Política da Colômbia”.

Em resposta, o Ministro de Interiore Justiça, Fabio Valencia, negou que odecreto seja uma proibição que viola odireito de informação e a independên-cia profissional dos jornalistas:

“A norma poderá se valer de qual-quer fonte de informação, mas parabuscar o equilíbrio, ou seja, a imparci-alidade e a veracidade, é necessário queessa informação seja confrontada coma fonte oficial, tendo em vista que es-tamos diante de temas de ordem públi-

ca”, disse o Ministro Fabio Valencia,acrescentando que as instituições ofi-ciais são as “encarregadas de protegera ordem pública” e somente elas podem“confirmar se de fato há uma alteraçãoda mesma”.

No entender de Valencia, o decreto“não pede que se publique exclusiva-mente o que dizem as fontes oficiais,mas que se confirme a informação so-bre a ordem pública com a de origemoficial”. (José Reinaldo Marques)

Governo de Honduras nega ação contra a mídiaLobo, a pedir ajuda nas investigaçõesà Espanha, Colômbia e EstadosUnidos. O anúncio foi feito no dia 22de maio, durante um encontro emEl Salvador. “Lamentamos muito aperda de qualquer vida humana emais ainda quando se trata de calarum direito universal, que é o direitode se expressar e opinar. Instruímosas autoridades de segurança paraque esgotem os meios necessáriospara que se possa esclarecer essesassassinatos de jornalistas”,afirmou Lobo.

Dezenas de entidades, como aSociedade Interamericana deImprensa-Sip, a Unesco e aRepórteres sem Fronteiras-RSF,exigiram punição para oscriminosos.

O fotógrafo levou uns trancos;o repórter, por protestar, foi

algemado e posto numcamburão. A AssociaçãoCatarinense de Imprensareclama a apuração do

episódio e a punição dospoliciais violentos.

ACI e ANJrepudiam

violência no Sul

25Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Direitos humanosDireitos humanos

Jornalistade Caxias

considera-seamordaçado

Vítimas de ofensas sofridas no exer-cício da atividade profissional, os ad-vogados Eurivaldo Neves Bezerra eBenigna Augusta da Silva Nunes en-traram com representações na Ordemdos Advogados do Brasil: ele, contraa Juíza Federal Márcia Helena Luz; ela,contra a Delegada Valéria de AragãoSadio, da Delegacia de Repressão aosCrimes contra a Propriedade Imateri-al. Após analisar as denúncias e defe-rir os seus processos, a OAB-RJ aco-lheu-os em Sessão Solene de Desagra-vo, realizada em sua sede.

Eurivaldo Neves Bezerra disse queem 18 anos de profissão nunca tinhapassado por tamanha humilhação.Contou que o agravo que sofreu foiuma ofensa proferida pela Juíza Fe-deral Márcia Helena Luz, que, ao con-testar os termos de uma ação ordiná-ria impetrada pelo escritório que re-presenta, teria usado palavras ofen-sivas à sua integridade intelectual eprofissional:

“Em seu despacho, ao se referir aostermos da petição, a Juíza escreveuque a ação só poderia ser objeto de umadvogado despreparado. Não possoreproduzir exatamente as suas pala-vras, mas ela me chamou textualmen-te de burro, denegrindo a minha ima-gem e a do escritório que represento”,afirmou Eurivaldo.

Disse que o motivo que o levou aencaminhar queixa à OAB foi o fatode constatar que falta decoro profis-sional a alguns juízes:

“Eu devo respeitá-los (juízes), maseles também me devem respeito. Euencaminhei a minha queixa à OABpara que se tomem providências, nosentido de que os magistrados meçamas suas palavras ao se reportarem aosadvogados ou a qualquer outra pes-soa. A minha atitude é para incenti-var que ninguém aceite esse tipo deabuso que um juiz venha a cometer.”

Como na ditadura“Eu me senti como se estivesse vi-

vendo o período da ditadura no Bra-sil, depois do golpe militar de 1964.”Esta foi a imagem utilizada pela ad-vogada Benigna Augusta da SilvaNunes para explicar o trauma que so-freu diante dos agravos a que foi sub-metida pela Delegada Valéria de Ara-

POR JOSÉ REINALDO MARQUES gão Sadio, da Delegacia de Repres-são aos Crimes contra a Proprieda-de Imaterial.

Benigna Augusta da Silva Nunesconsiderou violação dos seus direitosprofissionais de advogada o arromba-mento, sem justa causa, do seu escri-tório na Avenida Presidente Vargas,no Centro do Rio de Janeiro, numaação policial comandada pela Delega-da Valéria, sob a alegação de fazerparte de um esquema de contraven-ção de mercadorias contrabandeadas.

A Dra. Benigna estava viajando nomomento em que a Polícia invadiu oseu escritório. Ao retornar, tomou umsusto ao deparar-se com o arromba-mento. Imediatamente procurou osíndico do prédio, que lhe relatou oocorrido. Mais tarde, quando conse-guiu entrar na sala, constatou quedurante a ação policial tinham sidolevados alguns pertences pessoais,como jóias, e um computador.

Disse a advogada que foi procurara Delegada, a qual lhe devolveu as jói-as, mas se negou a devolver o compu-tador, alegando que este continuavasob investigação. Na realidade, a ad-vogada Benigna Nunes foi vítima deum erro policial, conforme lhe rela-tou a própria Delegada Valéria dizen-do que há tempos a Polícia estava fa-zendo escutas telefônicas de um es-critório colado ao seu.

Benigna então pediu para ouvir oconteúdo das gravações, mas teve opedido negado pela Delegada Valériasob a alegação que o material faziaparte de um processo que estava sobsegredo de Justiça. Foi então que to-mou conhecimento que o caso tinhaligações com uma investigação sobremercadorias contrabandeadas, quevinha sendo feita com a ajuda da Po-lícia de São Paulo, e que já havia umprocesso em curso tramitando na 11ªVara Criminal Federal de Busca eApreensão, no Rio.

Choque; marca vai ficarComo foi obrigada a prestar depo-

imento na Delegacia, a Dra. BenignaNunes, na condição de testemunha,passou a ter acesso ao processo, e foientão que descobriu que seu nomenem era citado na investigação:

“O meu nome não estava declina-do, não havia nem mandado de bus-ca e apreensão para o meu escritório.

Até hoje eu não sei o que houve. Masposso afirmar que foi um fato cho-cante. É uma marca que vai ficar. Mesenti como uma pessoa que é assal-tada. Trata-se de um episódio quenão se coaduna com o nosso EstadoDemocrático de Direito como cida-dã e como advogada, que prescrevea não violação do domicílio do localde trabalho. É um caso que estámuito fora da realidade. Por isso euachei um absurdo.”

O Secretário-Geral da OAB-RJ,Marcos Luiz Oliveira de Souza, dis-se “esses casos não são comuns emenos raros do que nós gostaríamosque fossem”. Na opinião dele, o casoda Dra. Benigna Nunes foi muitograve, porque, além do arrombamen-to do seu escritório sem razão apa-rente, objetos pessoais foram retira-dos do escritório:

“Casos de desagravo merecem sem-pre muita atenção da OAB. Abrimoseste processo porque o agravo sofridopela Dra. Benigna foi um atentadocontra um advogado no exercício daprofissão e que fere o princípio da in-violabilidade. Não podemos abrir mãodessa prerrogativa, que não é apenasdo advogado, é da cidadania.”

Afirmou o Secretário-Geral daOAB-RJ que essa prerrogativa de in-violabilidade do escritório de um ad-vogado é a garantia e o respaldo dodireito de defesa de um cliente. Se umadvogado guarda documentos sigilo-sos em seu escritório, “até mesmosobre processos criminais”, o faz comgarantia ao seu cliente que lhe con-fia as informações.

A OAB considera que o caso daDra. Benigna, além do abuso de au-toridade praticado pela Delegada,mostra que houve também o agravode desrespeito à inviolabilidade dafigura do advogado junto ao seu cli-ente, questão que é um dos pilares doEstado de Direito Democrático pre-visto na Constituição e nos estatutosadvocatícios:

“A OAB trata de casos de desagra-vo com muita cautela, só deferimosesses processos quando extrapolama ofensa do ofendido, ou seja, ofen-de toda a advocacia, quando ameaçaos princípios do exercício da advoca-cia, que são a autonomia, indepen-dência e a coragem de agir sem receiode desagradar a quem quer que seja.”

Advogados do Rio denunciamabuso de autoridade

Usando eufemismo, juíza federal chamou um advogado de burro. E a Políciainvadiu o escritório de uma advogada, surrupiou jóias e seqüestrou umcomputador, tudo na ausência da sua titular. A OAB-RJ desagravou-os.

Em e-mail à ABI, o jornalistaAlberto Marques Dias, editordo Blog do Alberto Marques, doMunicípio de Duque de Caxias,Baixada Fluminense, diz queestá sendo processado pelocasal Claise Maria e Zito (JoséCamilo Zito), atual Prefeito deCaxias e Presidente do PSDBRegional. O motivo doprocesso, por dano moral,segundo o jornalista, seriam os“comentários postados poranônimos” em seu blog:

“Entendo, porém, que oprocesso tem outras finalidades,como amordaçar a imprensa daBaixada, diante do fato de oprefeito responder a diversosprocessos na Justiça porimprobidade administrativa,bem como promover a primeira-dama, que é candidata adeputada estadual”, afirmouAlberto Marques.

Na mensagem à ABI, alémde mencionar o caso da censuraimposta ao jornal O Estado deS.Paulo, Alberto Marques Diaspede apoio para o seu caso,citando que a Casa “sempreresistiu ao arbítrio e à censura,legal ou econômica”.

Alberto critica ocomportamento dos políticosbrasileiros, muitos com “fichasmais do que sujas”, que hátempos vêm praticando váriostipos de censura, entre as quais“a econômica, com a ajuda daJustiça”. Perplexo com asituação do processo, Albertodesabafou: “Dirigi a Folha daCidade durante a ditadura,enfrentando uma censuraestúpida e analfabeta, masnunca enfrentei tal situação.

Com mais de 50 anos deatividade jornalística, AlbertoMarques Dias atua na BaixadaFluminense. Durante a épocaem que esteve à frente da Folhada Cidade, trabalhou ao ladodos jornalistas Luiz CarlosGarcia, Laís Costa Velho,fundador da Academia de Letrasde Duque de Caxias, RaulAzêdo Netto, Ruyter Poubel,Waldir Couto, entre outros.(José Reinaldo Marques)

O Prefeito Zito estáprocessando-o por dano

moral, mas na verdade, dizAlberto Marques Dias,pretende silenciá-lo.

26 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

om a morte de Mário de Mo-raes extingue-se, ou quase seextingue, uma excepcionalgeração de grandes repórteresde texto e de câmera. Fica re-

duzido a escassos remanescentes umgrupo de excelentes profissionais quedeu vida a publicações de importânciapara o desenvolvimento do jornalismoimpresso no Brasil, entre as quais a re-vista O Cruzeiro, onde Mário pontificou.

Não digo isso porque fomos amigos.Não digo isso por tudo que sonhamose fizemos juntos em mais de 50 anosde parceria. Digo pelo que observei,graças a essa longa convivência. Digopela bagagem jornalística que ele dei-xou, qualitativa e quantitativamentecom pouquíssimos similares, resulta-do do seu amor e irrestrita devoção àprofissão de repórter. Contam-se àsdezenas as reportagens que produziu,entre as quais a laureada Os paus-de-arara, uma tragédia brasileira, que fezem parceria com Ubiratan de Lemos,não somente operando a câmera, comoparticipando da elaboração do texto, eos “furos” – de pronto me ocorrem três,

MEMÓRIA

POR ALFREDO DE BELMONT PESSÔA

sendo dois internacionais e um nacio-nal –, que enriqueceriam o currículo dequalquer grande repórter. É o caso daentrevista com Jacques Monard, o as-sassino de Trotski, realizada no Méxi-co, em 1958, e a revelação, em repor-tagem de 1957, do segredo de Katsu-saburo Miyamoto, um japonês especi-alista na mumificação de animais, queguardava em casa, intacto como sedormisse, o cadáver embalsamado daesposa. O “furo” nacional, de 1958, éo encontro com Luís Carlos Prestes,recém-saído da clandestinidade, e dadocomo morto por muitas fontes, queMário “ressuscitou” numa entrevistaexclusiva, realizada com lances de thri-ller hollywoodiano.

Discutíamos, brigávamos, rompe-mos “definitivamente” mais de umavez. Mas sabíamos – jamais ignoramos!– que qualquer um dos dois responde-ria “Presente!” quando o outro chamas-se. Foi assim esse tempo todo, que pas-sou tão depressa, meu Deus! Estivemosem O Cruzeiro, na TV Globo, na TVS(atual SBT), na TV Bandeirantes. Apor-tamos por fim em nosso grande sonho

profissional que foi a Revista de Comu-nicação, com a qual, juntos, levantamoso primeiro Prêmio Esso de Melhor Con-tribuição à Imprensa (1986).

Em artigo que publiquei sobre ele, porocasião do lançamento de um de seuslivros, escrevi, parafraseando ManuelBandeira:

“Não tenho dúvida que daqui a mui-to tempo, quando Mário de Moraes che-gar ao céu dos repórteres – também devehaver um inferno, para uns e outros queandam por aí –, São Pedro abrirá em si-lêncio a grande porta do Paraíso. Máriovai encarar o santo, pigarrear, e pedir, re-verente, ao cabo de uns poucos segundos:

– Licença, meu santo?Prevejo um grande sorriso na face

pientíssima de São Pedro:– Entra, Mário, você não precisa pe-

dir licença!”Não hesito em dizer, nunca hesitei

nem hesitarei, que Mário de Moraes foia mais completa vocação realizada derepórter que conheci em quase 60 anosde profissão.

Alfredo de Belmont Pessôa foi chefe de Redação deO Cruzeiro e Editor da Revista de Comunicação.

ário de Moraes nasceu noRio de Janeiro, em 14 de ju-nho de 1925, na Rua Teodo-ro da Silva, em Vila Isabel, navizinhança de Noel Rosa.

Filho do jurista Evaristo de Moraes, for-mou-se em Direito pela então Universi-dade do Brasil, mas não compareceu àfesta de formatura, nem foi à secretariada Faculdade para pegar o diploma.Muito jovem ainda, com 20 anos oupouco mais, “aventurou-se” no mundoda comunicação, criando uma mínimaagência de publicidade, na qual acumu-lava as funções de dono, contato, dire-tor de criação, leiautista e arte-finalista.Teve uma meia dúzia, talvez nem isso,de contas, entre as quais a da Eucalol, queera a grande estrela da agência, e a de umaempresa aérea. Mas a publicidade não eraa sua “praia”. E Mário procurou e achouo que queria.A primeira experiência, muito amado-rística, foi um jornalzinho de humorchamado O Coringa, que não passou daquinta edição. Em O Cruzeiro, aportouem 1950. Sua primeira função na revis-ta, graças à sua habilidade de desenhis-ta, foi como diagramador. Com poucotempo, porém, passava para a Redação,tornando-se repórter. Trabalhador in-cansável, típico pé-de-boi, além de OCruzeiro prestava serviço, como freelan-cer, para os jornais O Radical e O Mun-do, na árdua escola da reportagem poli-cial, e para a revista Fon Fon, nesta comoilustrador. Por esse tempo, Moraes jáestava casado com Sônia Modesto (Sô-nia de Moraes, com o casamento) eaguardava o nascimento do primeiro dosdois filhos que o casal teve. Mário Cé-sar, o aguardado, é médico e vive emPortugal, onde se formou; Sônia, a caçu-la, é funcionária do Iphan.

A carreira de Mário de Moraes em OCruzeiro foi vitoriosa. Repórter e fotó-grafo, ora em uma, ora nas duas funções,participou de todos os grandes momen-tos da revista, da qual foi duas vezesChefe de Reportagem e duas vezes Di-retor de Redação, além de ter sido, an-

A grande aventura jornalística do primeiro ganhador do Prêmio Esso.

Mário de Moraes, o repórterMário de Moraes, o repórter

Jornal, revista,televisão:

ele brincavanas onze

C

M

FOTOS ARQUIVO DA FAMILIA

27Jornal da ABI 354 Maio de 2010

tes disso, assistente de José Amádio, naprimeira vez em que Amádio chefiou aRedação, na segunda metade dos anos1950. Aliás, foi Amádio que sugeriu aMoraes que aprendesse a fotografar parater mais “mobilidade” como repórter. Oconselho serviu para que ele embarcas-se no caminhão pau-de-arara para a con-sagração do prêmio mais cobiçado do jor-nalismo brasileiro, que é o Esso.

Além de O Cruzeiro, na fase, digamos,adulta da sua trajetória profissional,Mário de Moraes trabalhou na TV Tupi,como assistente de Maurício Shermane Alcino Diniz; na TV Globo, como chefede Redação do Tele Globo, primeiro jor-nal televisivo da emissora; na sucursalcarioca do Noticentro, jornal da TVS,atual SBT; no programa Abertura, deFernando Barbosa Lima, como chefe deReportagem; no Fantástico, da TV Glo-bo, na fase inicial do programa, com his-tórias de assombração; e, episodicamen-te, na TV Bandeirantes-Rio e Rádio Na-cional. Na maturidade profissional, comAlfredo de Belmont Pessôa, seu parcei-ro de longos anos e muitas jornadas,

fundou a Revista de Comunicação, que em1986 receberia o primeiro Prêmio Essode Jornalismo na qualidade de MelhorContribuição à Imprensa.

Mario de Moraes também trabalhouna agência de Relações Públicas de Eli-ézer Burlá, e foi assessor de imprensa naCoca-Cola e no Ministério da Fazenda.Além de toda a atividade jornalística ede assessoria, publicou dez livros, entreos quais um romance, duas históriasinfantis e Recordações de Ary Barroso -Último Depoimento, resultado de dias deentrevista com o compositor, já entãonos últimos meses de vida.

Nos últimos anos de vida, impulsio-nado pelo amor ao jornalismo, e paracomplementar a ridícula aposentadoriaque a Previdência paga ao trabalhadoraposentado, passou a escrever para jor-nais do interior, entre os quais O Povo,de Goiânia, que o acolheu com o carinhoe a satisfação que a sua história profis-sional merecia e o seu valor justificava.

Mário de Moraes foi, e assim deve serlembrado, um dos maiores repórteresque o Brasil já teve.

stava em El Salvador”,disse Mário de Moraes emdepoimento inédito paraa Revista de Comunicação(abril de 1977), “quando

recebi um telegrama de O Cruzeiro, comtrês palavras: ‘Siga Angola. Amádio’.Amádio era o secretário de Redação darevista, que na época se dava ao luxo deter repórteres nos quatro cantos domundo. Atarefado com o que fora fazerem El Salvador, simplesmente ignora-va o que estava acontecendo em Ango-la. Fui procurar a Embaixada do Brasilpara informar-me. Sabedor do conflito,pedi ao Rio que mandasse dólares paraLisboa, onde devia conseguir o “passe”para entrar em Luanda. Só que a coisanão foi tão fácil como supunha. Diasantes da minha chegada a Lisboa, ti-nham matado um jornalista francês naárea do conflito, e as autoridades por-tuguesas temiam que eu tivesse o mes-mo destino, o que poderia gerar um casointernacional com o Brasil. Mas tantoeu enchi o pessoal do Ministério dasRelações Exteriores português, que aca-bei ganhando o passe.”

Em Luanda, Moraes soube que a áreado conflito estava fechada para a impren-sa. Esbravejou, é claro, e foi preso. De-tido por pouco tempo, na verdade, esolto com a promessa de respeitar asregras do jogo. Pergunta-se: que repór-ter respeita as regras do jogo em casosemelhante? Mário de Moraes quandonasceu um anjo torto, fugido da cortedrumondiana, disse: “Vai, Mário, ser re-pórter na vida!” e Mário estava ali, emLuanda, exatamente por ser repórter. Ebolou um plano: aviões a serviço da CruzVermelha chegavam diariamente ao ae-roporto local com feridos resgatados nafrente de combate. Nada demais quetentasse viajar em um desses aviões,quando ele retornasse para apanharnovos feridos. Decidido a cumprir o pla-nejado, muniu-se dos seus apetrechos decaça (uma Rolleiflex e uma 35mm) e foipara o aeroporto. Lá acabara de pousarum avião, que deveria retornar ao front

“Vai, Mário, ser repórter na vida”

‘‘Eem uma hora. Moraes foi atrás do pilo-to, que tomava cerveja na cantina daestação de passageiros.

“Me apresentei como um repórterbrasileiro que estava ali para cobrir oscombates, e precisava de condução paraa linha de frente. Ele disse que não po-dia me levar. Argumentei; contra-argu-mentou. Perguntei então se a porta doavião estava aberta. Disse que sim. ‘E seeu entrar?’. Ele fechou os olhos.”

Moraes entrou no avião, que aterris-saria, pouco tempo depois, num campoimprovisado na cidade de Nambuangon-go, constante alvo de bombardeios. Apartir daí, enquanto esteve em Angola,o repórter ficou integrado ao 96º Bata-lhão de Caçadores, tropa portuguesa emoperação na área.

“Assisti a vários combates, vi muitagente morrer. Os moçambicanos tinhamuma arma chamada ‘canhangulo’, feitaà mão, que dava um só tiro. Os soldadosse posicionavam em cima das árvores ede lá atiravam contra os portugueses, masos que vinham logo atrás os derrubavamcom rajadas de metralhadora. Foi umamatéria difícil, uma das mais difíceis quefiz, principalmente pelo iminente risco devida, e pela coisa intolerável que é a guer-ra. Qualquer guerra.”

De Angola, naquele tempo em O Cru-zeiro ainda era assim, Mário de Moraesseguiu para Paris com a missão de entre-vistar João Goulart, virtual Presidente daRepública em razão da renúncia de Jâ-nio Quadros. O ano era 1961. Na voltaao Brasil, Moraes escreveu a reportagemda guerra, que foi um dos seus muitosêxitos profissionais. O texto e as fotosocuparam 19 páginas da revista.

FUTEBOL E OLIMPÍADASMário de Moraes participou, pela

revista O Cruzeiro, da cobertura de to-das as Copas do Mundo de futebol, de1950 a 1966, e do Campeonato Pan-Americano de Futebol, no México, em1954. Em dupla com o fotojornalistaRonaldo de Moraes, cobriu as Olimpía-das de Tóquio, em 1964.

Mário deMoraes noalto de umtanque emsua audaciosacobertura daguerra deAngola (fotona página àesquerda).Ao lado, emfoto recentee comodiagramador,no inícioda carreira,na revistaO Cruzeiro.Ao alto,com Biriba,mascote doBotafogo noCampeonatoCarioca de1948.

28 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

OS PAUS-DE-ARARA

A reportagem que fez em dupla comUbiratan de Lemos sobre a migração nor-destina nos caminhões paus-de-arara éa matéria mais lembrada de todas as queproduziu. Deve-se a preferência ao fatode ter ganhado o primeiro Prêmio Essode Reportagem, que era como se chama-va o Prêmio Esso de Jornalismo em 1956.A reportagem foi publicada em outubrode 1955. Quando isso aconteceu, Moraescorria risco de morte em razão do tifo quecontraíra na viagem de Salgueiro, em Per-nambuco, a Caxias, no Estado do Rio, abordo de um caminhão pau-de-arara,bebendo água poluída e alimentando-semal. Ele próprio narrou a aventura emmais de uma ocasião:

“Foram onze dias de grande sofrimen-to, espremidos entre mais de cem nor-destinos, num caminhão de oito tone-ladas, viajando por uma estrada Rio-Bahia que de estrada só tinha o nome.Vimos de tudo, inclusive partilhamos dadeterminação daquela gente sofredora,que teimava em alimentar, contra tudo,a esperança de um dia melhor. Minhavelha Rolleiflex registrou uma galeria depessoas esquálidas, de crianças doentes,de mulheres, algumas quase meninas,com os ossos do esqueleto desenhadosob a pele.”

Não se julgue que a publicação da re-portagem foi fácil. “A direção de O Cru-zeiro naquele tempo”, lembrava Mora-es, “dava mais valor a um concurso debelas misses do que a uma matéria feiacomo a nossa. A chance da publicaçãoapareceu graças à falta de uma matériapaga que viria de São Paulo. Eu estava emcasa, na cama, entre a vida e a morte, maso parceiro Ubiratan ‘buzinou’ no ouvi-do de Amádio, que era o ‘senhor de ba-raço e cutelo’, que o espaço poderia serocupado pela nossa matéria. Ele aquies-

Algumas grandes reportagens de Márioceu. Ubiratan desabalou para o arquivoa fim de desencavar a reportagem. No ca-minho, lembrou-se de que ela fora dia-gramada para 12 páginas e o espaço aber-to era de apenas oito. Experiente, ‘safo’,Bira ‘capou’, no percurso de volta à Re-dação, as quatro páginas finais da ma-téria, disponibilizando-a para o espaço

existente. E “Os paus-de-arara, uma tra-gédia brasileira” foi publicada na ediçãode O Cruzeiro de 23 de outubro de 1955.”

Mário de Moraes ainda estava demolho em razão da enfermidade contra-ída a bordo do pau-de-arara, quandoUbiratan inscreveu a reportagem no Prê-mio Esso, então Prêmio Esso de Reporta-

gem, criado no ano anterior, que seriadistribuído pela primeira vez em 1956.Foram mais duzentas reportagens inscri-tas. A bancada de julgadores era de altís-simo nível, com Herbert Moses, entãoPresidente da ABI; Alves Pinheiro, Secre-tário de Redação de O Globo; Oto LaraResende, Diretor de Manchete; e AntônioCallado, Redator-Chefe do Correio daManhã. A escolha foi unânime.

Moraes soube o resultado no dia se-guinte, quando saiu de casa pela primei-ra vez, ainda convalescente, para cor-tar o cabelo. “Os paus-de-arara, umatragédia brasileira” entrara para a His-tória do jornalismo brasileiro como aprimeira reportagem laureada com oPrêmio Esso.

ENTREVISTA COMLUÍS CARLOS PRESTES

Qualquer bom roteiristas usaria, numfilme de ação, passagens da “aventura”que Mário de Moraes viveu para entre-vistar Luís Carlos Prestes. Com a pala-vra o próprio Moraes, em texto publica-do na Revista de Comunicação, edição denovembro de 1997:

“A entrevista foi aqui no Rio, numacasa no Jardim Botânico. Prestes vivia naclandestinidade já há alguns anos. Ha-via quem dissesse que ele tinha morri-do. Mas o repórter não pode acreditar emtudo o que ouve. E não acreditei. Um diative notícia que sua filha Anita Leocádiachegara inesperadamente de Moscou,com a desculpa que me pareceu suspei-ta de conhecer o Brasil.”

Por sorte – a sorte é parte do equipa-mento do repórter –, Moraes conseguiufazer contato com Anita, e obteve a pro-messa de uma entrevista exclusiva, queela daria desde que ele se sujeitasse acertas normas de segurança. O repórtertopou, é claro.

Mário com Hideo Onaga, na cobertura das Olimpiadas de 1964, em Tóquio. Em Brasília, para a posse de Jânio Quadros, com os colegas Américo Valério e Ubiratan de Lemos.

Um furo sensacional de Mário: uma entrevista exclusiva com o líder comunista Luís CarlosPrestes, então em absoluta clandestinidade. Mário foi até ele com os olhos vendados.

MEMÓRIA MÁRIO DE MORAES, O REPÓRTER

29Jornal da ABI 354 Maio de 2010

“Uma noite, recebi um telefonemamandando que eu fosse a determinadolocal, nas imediações da minha casa, queera no Engenho Novo, onde um automó-vel estaria à minha espera para levar-meà presença de Anita Leocádia. De fato,no local indicado havia um carro esta-cionado. Sem violência, mas com ener-gia, os ocupantes do veículo – que eramdois, além do motorista – vendarammeus olhos e fizeram com que eu sen-tasse no banco traseiro. No curso daviagem, com jeito, movendo os supercí-lios, consegui deslocar o pano que veda-va meus olhos o suficiente para ter, pelaporta do automóvel, uma visão precária,mas nítida, do que se passava do lado defora. Graças a isso, consegui identificaras palmeiras do Jardim Botânico, e co-mecei a contar uma a uma, e continueia contar, aleatoriamente, mas com aintenção de avaliar o tempo do percur-so, a partir do momento em que o auto-móvel dobrou à direita, subiu uma pe-quena rampa, provavelmente de uma ga-ragem, e parou.”

Foi quando entrou na casa onde AnitaLeocádia o esperava, já sem a venda, quea intuição do repórter segredou no seuouvido que a “entrevista exclusiva’” coma filha de Prestes seria, de fato, o seualmejado tête-à-tête com o líder comu-nista. A suposição ganhou consistênciaquando soube, pela própria Anita, quePrestes marcara um encontro com elanaquele local e naquela noite. Seria oprimeiro encontro de pai e filha, depoisde anos sem se verem...

Enquanto esperava a chegada do lídercomunista, Moraes conseguiu de AnitaLeocádia autorização para fotografá-lo.Era tudo o que queria. Daí para a entre-vista foi questão de um bom “papo”,coisa que todo repórter tem de sobra.Moraes ainda se deu ao luxo de apostarcom Anita que saberia localizar a casaonde se encontravam, embora estives-se vendado durante todo o percurso atéo local. No dia seguinte, desembarcoude uma Kombi da revista na porta dacasa, no Jardim Botânico, onde se derao encontro.

A entrevista foi publicada com o títu-lo “48 horas com Luís Carlos Prestes”. Arevista O Cruzeiro mais uma vez esgotoupor obra e graça de Mário de Moraes.

A UNITED FRUIT EAS “FORÇAS OCULTAS”

Forças ocultas cruzaram o caminhode Mário de Moraes mais de uma vez.Com sucesso, pelo menos em uma de-las. Foi em 1961. O repórter era corres-pondente itinerante de O Cruzeiro Inter-nacional, revista associada, editada emespanhol, que Assis Chateaubriand “bo-lara” para concorrer com a norte-ame-ricana Life, que dominava a América doSul e a América Central. Na pauta, umamatéria sobre a atividade da United FruitCompany, multinacional com predomi-nância de capital americano, que detin-ha mais de 800 mil hectares de terras nasjocosamente chamadas “Banana Repu-blics”, que compreendia Guatemala,Honduras, Panamá, Costa Rica, Equadore Colômbia.

“Para que se tenha idéia da força po-lítica dessa empresa (a United Fruit)”,escreveu Moraes na Revista de Comuni-cação, “é bastante dizer que, em 1954, aqueda de Jacobo Arbenz, presidente daGuatemala, foi tramada por Sam Zemur-ray, ‘cabeça’ da United Fruit, e executa-da pela CIA. Na ocasião, o então embai-xador americano John Peurifoy teve acara de pau de exibir-se de uniforme decampanha.”

Moraes, um apurador obsessivo, le-vantou provas reveladoras da “bandida-gem” da empresa norte-americana, in-clusive evidências do esquema de cor-rupção que se instalara no “Império daBanana”, que era o apelido jocoso, nempor isso impróprio, pelo qual era conhe-cido o território dominado pela UnitedFruit Company. Inclusive da participa-ção da multinacional na deposição degovernos democráticos do continente,empreitada que contava com a colabo-ração da CIA, então dirigida por AllenDulles, que era um dos advogados daUnited. Chegou a reunir provas da par-ticipação da multinacional no “Massa-cre das Bananeiras”, que vitimara, naColômbia, em 1928, centenas de traba-lhadores agrícolas.

Não demorou a United sentir na peleo estilete cirúrgico do repórter. E plane-jou eliminar do rol dos vivos aquela in-cômoda personificação de Quixote, quese erguia do mundo que ela pretendiaque fosse para sempre subdesenvolvi-do e submisso, para fustigá-la com asarmas não necessariamente letais, masdemolidoras, representadas por umacâmera fotográfica e uma máquina deescrever.

No texto acima citado, Moraes contacomo o plano criminoso foi descoberto:

“Um menino aproximou-se do piloto

que eu contratara para sobrevoar, com seumonomotor, as terras da United Fruit, naGuatemala, e informou, temeroso:

– Eu vi um homem mexendo aí no seuavião...

– Onde?O guri apontou o bujão de entrada do

combustível. Não sei o que passou pelacabeça do piloto, mas ele meteu o dedono bujão, molhou-o na gasolina, levou-o à boca, fez uma careta e cuspiu:

– Colocaram açúcar na gasolina!– O que isso quer dizer? – indaguei– Que o motor ia parar quando esti-

véssemos já em cima...”Claro que isso não deteve o repórter.

O piloto retirou o combustível “envene-nado”, lavou o bujão e encheu-o comgasolina boa, e Moraes sobrevoou oscampos da United brandindo a lança deQuixote, ou seja, operando suas câme-ras fotográficas.

De volta ao Rio, escreveu o texto,encaminhou o material fotográfico aolaboratório, selecionou as fotos revela-das e acompanhou a diagramação. Tudopronto. Era aguardar o estouro, que afi-nal não aconteceu. A reportagem sobrea ação criminosa da United Fruit Com-pany na “República das Bananas”, quepoderia ter custado a vida do repórter,fora defenestrada por “forças ocultas”,como diria aquele Presidente...

COM O HOMEMQUE MATOU TROTSKI

Em 1956, quando Mário de Moraes foiao México participar da cobertura de umcampeonato pan-americano de futebol,levou no bolso a pauta dos sonhos dealguns repórteres de excepcional currí-culo, como David Nasser e Luciano Car-neiro: uma entrevista com Jacques Mo-

nard, o homem que matara Trotski, olíder comunista. Ele estava em uma pri-são mexicana e recusara encontrar-secom qualquer jornalista, fosse de ondefosse, incluindo os dois citados.

Uma das virtudes de Mário de Moraesera a persistência. Graças a ela conseguiualgumas das melhores reportagens pu-blicadas na época áurea de O Cruzeiro.Era o que se chamava pé-de-boi, em lin-guagem informal. E foi graças a isso queele, que fora ao México para uma cober-tura rotineira, de lá voltou com a entre-vista de Jacques Monard, o assassino deTrotski. Com a palavra o repórter, emtexto de novembro de 1997 (Revista deComunicação):

“Jornalistas de todo o mundo havi-am tentado a façanha, mas não só Jac-ques Monard se recusava a recebê-los,como ameaçava agredi-los, no caso dechegarem à sua presença. Na revista OCruzeiro, David Nasser e Luciano Car-neiro haviam falhado. No mundo todo,jornalistas com o mesmo gabarito dosdois brasileiros tinham amargado a re-cusa de Monard. Acontece que eu esta-va no México, aonde fora para a cober-tura de um campeonato pan-america-no de futebol; e no México tambémestava Monard, cumprindo pena pelocrime que cometera. Era a minha vez depelo menos tentar. E me virei de todojeito, nos ‘intervalos’ da competiçãoque cobria, para estabelecer contatocom alguém que me levasse até ele. Deisorte. Consegui uma entrevista com odiretor do presídio.”

Moraes alegou, para conseguir a en-trevista, que estava realizando umamatéria sobre sistemas carcerários nomundo. O diretor do presídio engoliu ahistória, e o repórter entrou aonde tan-tos outros tinham sido barrados...

“Eu tinha esperança de chegar até oassassino de Trotski. É claro que não re-velei ao meu ‘entrevistado’ a secreta in-tenção. Depois de visitar praticamentetodas as dependências do presídio, che-gamos às oficinas, onde sabia que Monardtrabalhava. ‘Este é Jacques Monard’, apre-sentou-me o diretor. Não dei a menorimportância. Joguei com a sua vaidade,e deu certo. ‘Sabe quem eu sou?’, pergun-tou Monard. ‘Não’, menti. ‘Sou o assas-sino de Trotski!’. Nessa altura o diretordo presídio afastara-se por um motivo doqual não me lembro. Aproveitei paraconseguir o que desejava.”

Moraes temeu uma reação violenta deJacques Monard, quando revelou que erarepórter. Mas a presa já estava captura-da. Ele disse apenas: “Você não devia terme enganado”. E continuou o “papo”,com a utilização, de parte a parte, de umespanhol ruim. Inclusive, deixou-se fo-tografar, com a câmera operada por ou-tro detento.

Naquele mesmo ano de 1956, Máriode Moraes ganharia o primeiro PrêmioEsso de Reportagem.

O SEGREDO DE MIYAMOTO

Mário de Moraes encontrou Katsusa-buro Miyamoto em Rosário, na Argen-tina. Procurou-o para uma entrevistasobre o método de mumificação que ele

Sentado sobre uma mesa, em sua cela no México, Jacques Monard, o matador de Trotski,fala a Mário de Moraes (no sofá, de costas), que o fez romper prolongado silêncio.

‘SABE QUEM EU SOU?’, PERGUNTOU MONARD. ‘NÃO’, MENTI. ‘SOU O ASSASSINO DE TROTSKI!’

30 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

inventara, e aplicava em mamíferos eaves. No curso da conversa, o repórternotou que o japonês, que já falaraexaustivamente sobre sua invenção,ainda tinha algo a revelar. A paciênciaé, ao lado da sorte, elemento valioso noalforje do jornalista, em particular dorepórter, mais em particular ainda dofotógrafo. Mário de Moraes, que alémde repórter era fotógrafo, sempre teveas duas em dose dupla, que aliadas ao“faro” para assuntos momentosos e acoragem de encará-los fizeram dele oprofissional que foi.

Moraes deu uma “espremida” emMiyamoto. O japonês revelou o seu se-gredo: tinha mumificado a esposa, quecontinuava a “viver” com ele! Miyamo-to levou o repórter ao quarto onde guar-dava o corpo da companheira, que apa-rentava dormir. “Converso com ela”,confessou o japonês, “como fazia quan-do estava viva.”

A reportagem, mais um “furo” na suacarreira, teve repercussão internacional.Vários jornais do mundo a traduzirame publicaram. Inclusive o Asahi Shimbu,do Japão, que tinha, na época, uma ti-ragem espetacular de milhões de exem-plares.

SANGUE NO PARANÁ

Santo Antônio, norte do Paraná,1957. “Eu estava ali numa missão pro-fissional”, lembra Mário de Moraes em“Quando a coragem é imprescindível”,primeiro artigo da série Memória de re-pórter, que publicou na Revista de Co-municação em março, maio, setembroe novembro de 1997. “O dia fora demuito trabalho e o intenso calor pediauma cerveja bem gelada. Eu e o pilotoque me levara até lá já estávamos nasegunda garrafa, quando ele entrou,pernas bambas de alcoolizado, olhosinjetados de ódio, sacou um velho 38do coldre pendurado no talabarte, eencostou o cano da arma na minhatêmpora direita, enquanto esbraveja-va: ‘Não quero foto minha em nenhumjornal, seu filho da puta!’

Moraes era o único repórter que sou-bera, graças a um informante, da revol-ta na cidade paranaense de Capanema.Posseiros e grileiros, estes, na verdade, ja-gunços a soldo de políticos inescrupulo-sos, estavam em pé de guerra, com mor-tes dos dois lados, principalmente entreos posseiros, que estavam entrincheira-dos naquela localidade, prontos paramanter a qualquer preço o que era seu.

“Tentara descer num campo impro-visado de Capanema”, recorda o repór-ter, “mas fora impedido por homensarmados, que atiraram no nosso teco-teco. Fui para Santo Antônio, cidadepróxima, de onde, mais tarde, a cavalo,consegui chegar a Capanema, não semantes passar pelo susto de ter um revol-ver apontado na minha cabeça, empu-nhado por um homem alcoolizado.”

Moraes deduziu mais tarde, depoisque o homem que o ameaçava, que erasargento da Polícia Militar do Paraná,foi desarmado por seu superior, que che-gara ao local graças ao piloto do teco-teco em que o repórter viajava, que toda

aquela encenação, incluindo os tiros noavião, fazia parte de uma plano para in-timidá-lo. Vã tentativa. Moraes costu-mava dizer que ele, pessoa física, nãose julgava corajoso, mas que o repórterera, ou tinha que ser. Seu ofício, afinal,faz com que passe por momentos, comoaqueles que vivera, que sem um poucode coragem é melhor desistir. Soubemais. O sargento e os atiradores docampo de pouso de Capanema agirama mando do Governador do Estado, queera Moisés Lupion, um político de his-tória pouco recomendável, que estariapor trás da usurpação das terras dosposseiros.

A reportagem, com o título “Sangueno Paraná”, por pouco não ficou inédi-ta. Lupion pediu a Assis Chateaubriand,o manda-chuva dos Diários e EmissorasAssociados, empresa à qual O Cruzeiropertencia, que impedisse a circulação darevista. “Dr. Assis, como nós o chamá-vamos”, lembra Moraes, “mandou sus-tar a distribuição. Felizmente, metade datiragem já estava na rua.”

No Paraná, o número de O Cruzeirocom a reportagem (texto e fotos) deMário de Moraes foi vendido, nas ban-cas, por dez vezes o preço de capa.

Além das grandes matérias, o dia-a-dia do repórter Mário de Moraes foimuito rico. Não houve um único acon-tecimento reportável em que não metes-se o bedelho, ainda que fosse como co-adjuvante, participando de uma cober-tura. É o caso do incêndio criminoso – amaior tragédia circense do mundo – doGran Circus Norte-Americano, em Ni-terói, que matou centenas de pessoas; oudo seqüestro de Sérgio Haziot, um me-nino da classe média alta, que abalou oRio no final dos anos 1957; ou do desas-tre ferroviário ocorrido no Rio, na esta-ção de Mangueira, entre Triagem e acabine 2 de Francisco Sá, cujo balançofinal acusou 120 mortos e mais de 300feridos. Há um episódio, na cobertura datragédia, que seria pelo menos pitores-co, se não fosse dramático. Um homempreso nas ferragens, esvaindo-se emsangue, ao ver Walter Luís, companhei-ro de Moraes em O Cruzeiro, fotografan-do os escombros, pediu, num fio de voz:“Faz uma foto minha, moço”.

É o caso, aqui como protagonista, dodeslinde do assassinato de Helena Amo-roso, filha de um poderoso banqueiro dobicho, somente solucionado, com a de-nunciação do verdadeiro assassino, gra-ças às reportagens investigativas de Mo-raes, fotografadas por Jorge Audi, que ino-centaram Ari Jorge, namorado da moça,que fora condenado pelo crime, e prova-ram que o verdadeiro assassino era TiãoMedonho, o mesmo Tião Medonho doroubo do Trem Pagador. Ou a reconstitui-ção, na República Dominicana, do assas-sinato de Rafael Trujillo, durante a qualcorreu o risco de “sumir do mapa” sob a

No dia-a-dia, grandes matériasmira dos calliers (policiais a paisana) queo ditador morto criara para intimidar eaté, ou principalmente, eliminar seusadversários políticos.

Na ocasião, em Santo Domingo, nãosomente entrevistou o filho de Trujillo,Ramfis Trujillo, que tinha assumido opoder, como desencavou, em uma publi-cação de turismo encontrada na mesa decabeceira do hotel em que se hospeda-ra, uma foto do cabeça do complô, Ge-neral José Román Fernández, cuja ima-gem as autoridades dominicanas queri-am manter longe da coxia. Ou da denún-cia do estado precário da rodovia Rio–Porto Alegre, que percorreu como aju-dante de motorista do caminhão quelevava o reparte de O Cruzeiro para a ca-pital gaúcha, reportagem que por pou-co não causou sua demissão da revista,a pedido de Jânio Quadros, que o repór-ter acusara, com base na apuração feita,“de só mandar asfaltar estradas de Mu-nicípios onde ganhara na eleição”. Ou doencontro com Oscar Acosta, que tinhasido campeão sul-americano de boxe, evagava, bêbedo e maltrapilho, pelas ruasdo Centro de São Paulo

Além do repórter excepcional que foi,Mário de Moraes também teve destacadaatuação, principalmente no final dos anos1960, como revisteiro, ou seja, como aque-le profissional a quem cumpre editar arevista que dirige. Formou com JustinoMartins, ele em O Cruzeiro e Justino naManchete, um duo insuperável, reconhe-cido por gregos e troianos e, mutuamen-te, pelos próprios componentes do duo.

Algumas das capas que Moraes edi-tou no período citado fizeram história

pela ousadia e criatividade. A do casa-mento de Pelé, por exemplo, que foi es-tampada em pleno Carnaval, quando atradição indicava uma capa com a fotohipercolorida do vencedor do concursode fantasias do baile do Teatro Munici-pal. Ou a do Papai Noel negro; ou a dojogo do bicho, com um espetacular de-senho de Carlos Estêvão; ou a de Esme-ralda Barros, uma mulata de 400 quila-tes, com um biquíni feito com o saco deaniagem do café destinado à exportação,com o nome Brasil no local que muitosdevem ter achado impróprio. Afora ascoberturas nacionais e internacionaisque propôs ou acolheu, como as passe-atas do final dos 1960; o charivari deCohn-Bandit, em Paris; a Guerra dos SeisDias; a homofobia que punha as man-gas de fora; o homossexualismo femini-no; o fantasma da esterilidade em ho-mens e mulheres, com fotos criativas deEd Keffel; o boom da pílula anticoncep-cional; e dezenas de outras, que hojepodem parecer inocentes, mas eramousadas e polêmicas naquele passado.

Não é demais dizer-se, para finalizar,que Mário de Moraes viveu em funçãoda atividade jornalística, seja na ediçãode O Cruzeiro, nos dois períodos em quefoi diretor, ou participando ativamenteda feitura da Revista de Comunicação, sejana estacada de repórter, que foi a suapraia por excelência, produzindo algu-mas das mais vibrantes reportagens re-alizadas por um jornalista brasileiro.

O repórter partiu, mas sua trajetóriado lado de cá há de permanecer, sem omínimo favor, como exemplo a ser segui-do pelas novas gerações.

Em Rosário, Argentina, o japonês Katsusaburo Miyamoto, inventor de um método demumificação, mostra a Mário o corpo da mulher, morta há anos e que "ainda vivia".

MEMÓRIA MÁRIO DE MORAES, O REPÓRTER

31Jornal da ABI 354 Maio de 2010

“Diante de mim, o renomado e tantasvezes premiado repórter relatava a suanova tarefa que era, diariamente, diantedo computador, redigir e enviar matériaspara pequenos jornais do interior. Fiqueiimaginando quanto mais árduo deveriaser do que aquela viagem de pau-de-ara-ra, consagradora reportagem em O Cru-zeiro. Mário, porém, exercia o jornalismocomo devoção e pioneirismo, sempre re-soluto em cumprir pautas trabalhosas.Como na época em que, lado a lado como também aguerrido e valoroso AlfredoPessôa, fazia circular por todas as facul-dades a exemplar Revista de Comunica-ção, ela própria uma escola de Jornalis-mo. Se Deus o chamou é porque deveestar pensando em reescrever a Bíblia oucomplementar o relato da divina passa-gem de seu Filho pela Terra. O ApóstoloMário, tão doce e suave companheiro debelas narrativas jornalísticas, terá com cer-teza como contar histórias ainda desco-nhecidas.

Por mim, ficaria feliz se alguma Editorade faculdade reunisse e compilasse assaborosas matérias que, nos últimosanos, enviou Brasil adentro.”PPPPPERYERYERYERYERY C C C C COOOOOTTTTTTTTTTAAAAA, jornalista e professoruniversitário, Presidente do ConselhoDeliberativo da ABI

“Pioneiro da moderna reportagem bra-sileira, como autor daquela histórica via-gem num “pau-de-arara”, que lhe conce-deu o primeiro Prêmio Esso, Mário deMoraes foi um incansável trabalhador donosso jornalismo, a quem serviu commodéstia, competência e dedicação, dei-xando-nos um exemplo de vida correta.Dele sentimos hoje e sentiremos sempremuita falta e saudades imensas.”MMMMMUUUUURRRRRIIIIILLLLLOOOOO M M M M MELELELELELOOOOO F F F F FIIIIILHOLHOLHOLHOLHO, jornalista e membroefetivo da Academia Brasileira de Letras

“A única sombra que a memória regis-tra quando me vem à mente a figura sem-pre afável do amigo Mário de Moraes édevida ao fato de não tê-lo conhecidomuito antes das festivas reuniões do Prê-mio Esso, na década de 1970. Primeirojornalista a ser contemplado com o Prê-mio Esso, em 1956, junto com Ubiratande Lemos, Mário jamais descuidou daprofissão que abraçou com entusiasmode menino e manteve vibrante até os úl-timos dias de vida. Quando o Prêmiocompletou 50 anos de existência ininter-rupta, em 2005, escolhemos Mário deMoraes como jornalista-símbolo na ho-menagem que prestamos a todos os ven-cedores. Entre as inúmeras referências àmelhor prática jornalística das últimasdécadas, difícil não distinguir o semprejovem Mário, um exemplo e dádiva para

O ApóstoloMário,

doce e suavecompanheiro

DEPOIMENTOS

todos os que tiveram a felicidade de comele conviver.”RRRRRUYUYUYUYUY P P P P PORORORORORTITITITITILHOLHOLHOLHOLHO, jornalista, é o coordenadordo Prêmio Esso de Jornalismo

“Conheci Moraes na década de 1950,por apresentação de Constantino Paleó-logo, logo que comecei a trabalhar naredação da Revista A Cigarra, que ficavano mesmo andar (7º) de O Cruzeiro. Tor-nei-me seu amigo e admirador, através decontinuado convívio profissional e social,de quem nem as fofocas do 7º andar con-seguiram me separar.

Acompanhei sua brilhante carreira pro-fissional, quer com a conquista do primei-ro Prêmio Esso de Reportagem (junta-mente com Ubiratan de Lemos), sobre aviagem de caminhão Rio–Nordeste–Riofeita pelos nordestinos que fugiam daseca, quando contraiu tifo e esteve dequarentena (Paleólogo e eu o visitamosno hospital), como com o “furo” interna-cional que foi a entrevista que fez, noMéxico, com Jacques Monard, o assassi-no de Trotski; e com as coberturas daGuerra de Angola, das Copas do Mundode 1950 a 1966 e das Olimpíadas de Tó-quio, em 1964, além da exclusiva entre-vista com Luís Carlos Prestes, entre outrostrabalhos.

Duas passagens marcaram nossa frater-na amizade:

– Quando me encontrava na Redaçãode O Cruzeiro Internacional, revista autô-noma, editada em espanhol, com even-tual aproveitamento de matérias de OCruzeiro nacional, consideradas de inte-resse para o público hispano-americano,Moraes foi enviado à Argentina para umasérie de reportagens naquele país, fazen-do, entre outros variados temas, umamatéria com o japonês Miyamoto, espe-cialista em conservação e manutenção decorpos de pássaros e mamíferos, embal-samados e conservados com a aparência

de quase vivos. Deu um verdadeiro furona imprensa daquele país, ao descobrirque o japonês mantinha em casa, utili-zando o seu original e exclusivo métodode conservação, o cadáver da própria es-posa.

– Carnaval de 1966. Estando naquelemomento respondendo pelo Departa-mento de Circulação e Distribuição de OCruzeiro, fui chamado por Moraes, queestava novamente na direção da revista,para me comunicar que pretendia que-brar uma norma das revistas semanais,que era publicar na capa, naquela sema-na, fotos carnavalescas. Iria colocar nacapa de O Cruzeiro a foto do casamentode Pelé com Rose, reportagem exclusivafeita por Ronaldo de Moraes a seu pedi-do. Disse-lhe que assim deveríamos tripli-car a tiragem, o que foi feito e com edi-ção esgotada.

Esse foi o Moraes que conheci, que,além de ter sido um dos maiores repór-teres da equipe de estrelas O Cruzeiro, erae sempre foi um grande revisteiro.CCCCCONONONONONSSSSSTTTTTANTIANTIANTIANTIANTINONONONONO P P P P P. K. K. K. K. KORORORORORAAAAACCCCCAKIAKIAKIAKIAKISSSSS, jornalista, foisecretário de Redação das revistas A Cigarrae O Cruzeiro Internacional

“Estávamos um tanto isolados, GeraldoRomualdo da Silva e eu, na cobertura dasOlimpíadas de Tóquio, outubro de 1964.Éramos grandes amigos, mas ainda assimsentíamos falta de mais brasileiros cobrin-do o grande acontecimento. Até que che-garam Mário de Moraes e um repórter-fo-tográfico que tinha o mesmo sobrenome:não só era Moraes como grafava a pala-vra pela antiga, à maneira de Mário, com“e” na última sílaba. Puxa vida, como ascoisas mudaram com a chegada dele!Não que a mudança fosse radical, comoa exclamação pode sugerir. Mas é quetudo se tornou mais fácil, mais alegre,uma alegria sem estardalhaço. As coisasdo outro lado do mundo, e num regime

de trabalho árduo, sempre acabam pornos desgastar um pouco. Não a alguémcomo Mário de Moraes. Mário estavasempre de bom-humor, tinha sempreuma tirada inteligente. Não parecia o re-presentante de uma família ilustre e, pro-fissionalmente, o pioneiro do PrêmioEsso. Numa palavra, era um homem sim-ples. E altamente sensível, como mostra,por exemplo, seu pequeno livro sobre acasa de Copacabana demolida. São Pe-dro, sem dúvida, recebeu Mário de Mo-raes no céu com a mesma bonomia comque mandou entrar a preta Irene, de Ma-nuel Bandeira.”MMMMMARCARCARCARCARCOSOSOSOSOS DEDEDEDEDE C C C C CASASASASASTROTROTROTROTRO, jornalista, foi repórterde Realidade e redator de Manchete, Jornaldo Brasil e O Globo

“Tantos anos de convivência profissio-nal com Mário de Moraes fizeram de nos-sa amizade um marco de lealdade e soli-dariedade mútuas. Hoje, relembrandobons momentos, tanto na lide profissio-nal como na área fraterna, só me restarecordar o passado como uma página demuito amor e companheirismo.”BBBBBALEIXEALEIXEALEIXEALEIXEALEIXE F F F F FIIIIILHOLHOLHOLHOLHO, jornalista, foi chefe doDepartamento de Jornalismo da rádioMayrink Veiga e subchefe de Redação doprimeiro telejornal da TV Globo

“Mário de Moraes ainda era muito jo-vem quando o conheci. Ele fora ao Depar-tamento de Publicidade da revista O Cru-zeiro com a arte-final de um anúncio depágina dupla de uma companhia aéreapara a qual sua pequena agência traba-lhava. Não pressenti, na ocasião, naque-le jovem publicitário, o repórter ágil queMoraes seria. Tampouco o revisteiro devisão em que se tornaria, com coragem eatilada sensibilidade para em pleno Car-naval estampar na capa da revista a fotodo casamento de Pelé, contrariando oque parecia ser a voz do bom senso, que

“MÁRIO JAMAIS DESCUIDOU DA PROFISSÃO QUE ABRAÇOU COM ENTUSIASMO DE MENINO”

Uma foto histórica da talentosa equipe de repórteres e fotógrafos de O Cruzeiro, que produzia a revista de maior circulação noPaís até os anos 60: l. Mário de Moraes; 2. Ubiratan de Lemos; 3. Flávio Damm; 4. Luciano Carneiro; 5. Indalécio Wanderley;

6. Luiz Carlos Barreto; 7. Armando Nogueira; 8. José Medeiros; 9. João Martins; 10. Geraldo Viola. Quem identificará os demais?

32 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

indicava uma capa carnavalesca. Para suaglória, o número com o casamento dePelé na capa transformou aquela ediçãodesacreditada pelos céticos num dosgrandes sucessos de venda de O Cruzei-ro. A mesma ousadia, aqui aliada à ante-visão do novo, que o levou, há mais de40 anos, na segunda metade dos anos1960, a encartar na revista um caderno dequatro páginas de humor, chamado OCentavo, no qual emplumaram, ao ladode consagrados artistas do traço, comoCarlos Estêvão, Ziraldo e Appe, alguns dosmais destacados cartunistas que o Brasilviria a ter.

Confesso que não previ que aquelequase menino que conheci como arte-fi-nalista de uma minúscula agência depublicidade seria, em poucos anos, emdupla com Ubiratan de Lemos, o ganha-dor do primeiro Prêmio Esso de Reporta-gem e, mais que isso, o repórter de tex-tos palpitantes e furos memoráveis.

Saudades, Moraes. HHHHHELIOELIOELIOELIOELIO L L L L LOOOOO B B B B BIANCIANCIANCIANCIANCOOOOO foi diretor de Publicidadede O Cruzeiro

“Conheci o Mário de Moraes duas ve-zes. A primeira, através de uma reporta-gem na revista O Cruzeiro que teve gran-de influência na minha vida, no modo deme relacionar com as pessoas. Nasci em1940 e fui criado na antiga Praça Onze,moradia, nos anos 1940/1950, de imi-grantes portugueses, italianos e judeuseuropeus, que conviviam harmonicamen-te na sua luta pela sobrevivência. Meu pai,alfaiate, tinha fregueses que iam desdedelegados de polícia e artistas, comoo Grande Otelo, a cafetões, malandros eprostitutas – a região era junto ao Man-gue, a maior zona boêmia da cidade, naépoca. Eu convivia com todos – semprefui curioso sobre os aspectos da vida dosoutros, e achava que não tinha preconcei-tos. Até que li a reportagem do Mário so-bre os paus-de-arara, migrantes nordes-tinos, narrando seu sofrimento para con-seguir chegar ao Rio, fugindo da fome,com a coragem de enfrentar um mundodesconhecido e hostil. A reportagem, ga-nhadora do primeiro Prêmio Esso de Re-portagem, bateu fundo em mim nos meusquinze anos de idade, porque senti queeu também, até aquele momento, tinhaum preconceito, sim, contra os “paraíbas”,como eles eram chamados. Isto mudouminha visão do mundo, passei a me es-forçar por aceitar o outro , o “diferente”,como ele era – com as devidas exceções,é claro – pelo seu nível social, econômicoe cultural, nas atitudes, no modo de pen-sar, na política e na escolha sexual, e creioque consegui isso, graças a esta reporta-gem. Em 1968 comecei a trabalhar naassessoria de imprensa do Ministério daFazenda, no Rio, e tive a alegria de conhe-cer Mário de Moraes pessoalmente e es-tabelecer uma profunda amizade comele. Quanto à sua personalidade de jorna-lista e escritor, de repórter investigativosempre em busca da notícia, do seu textoperfeito, direto, de sua honestidade profis-sional e pessoal, às vezes até ingênua nasua pureza e bondade, não é preciso fa-lar, todos nós conhecemos .”HHHHHENENENENENRRRRRIQUIQUIQUIQUIQUEEEEE G G G G GALIALIALIALIALINNNNNKIKIKIKIKINNNNN, jornalista, foi editor deeconomia de Última Hora-BH e assessor deimpensa do Ministério da Fazenda

“Mário de Moraes e eu fomos compa-nheiros de Redação em O Cruzeiro duran-te muitos anos. Nele encontrei sempreum amigo sincero e um profissional inte-ligente e responsável, que sabia lidar comtodos os assuntos e lidava com critério emaestria.

Daquele tempo e de Mário, resta, ago-ra, com sua morte, um grande vazio.”MMMMMOOOOOAAAAACYRCYRCYRCYRCYR L L L L LAAAAACERCERCERCERCERDDDDDAAAAA, jornalista, foi repórter deO Cruzeiro e assessor de relações públicasda antiga CTB.

“Tive a honra de conhecer Mário deMoraes na Revista de Comunicação, naqual também tive a honra de ser chefe deRedação, pela mão do editor Alfredo deBelmont Pessôa, companheiro de longadata do grande repórter. Infelizmente, nãoforam muitos os contatos que mantivecom ele, mas foram suficientes para des-pertar minha admiração pelo profissionale pelo ser humano carismático que era,capaz de despertar, em minutos de con-versa, a simpatia do interlocutor. Aliás, éprovável que muito do seu talento de re-pórter residisse nessas características ina-tas – carisma e simpatia –, capazes de en-volver as fontes, estabelecer com elas umaempatia, ganhar-lhes a confiança, até fazê-las, enfim, revelar o inconfessável.

Há vinte anos, ainda repórter na Revis-ta de Comunicação, tive o privilégio departicipar a seu lado – e ao lado de Alfre-do Pessôa e de Gualter Mathias Netto –de uma entrevista inesquecível com Lago

Burnett, outra grande figura do jornalis-mo, que emocionou a todos com um re-lato pungente de sua vida pessoal e pro-fissional. Na ocasião, impressionei-mecom o entusiasmo que Mário, já um re-pórter veterano, ainda mantinha pelo tra-balho jornalístico. Recentemente, quandotomei conhecimento de sua morte, veri-fiquei no Google que ainda permaneciana ativa, colaborando com o jornal A Vozda Serra, de Nova Friburgo. Até o fim, aos85 anos, manteve acesa sua paixão pelojornalismo.

Admirável Mário de Moraes.CCCCCHHHHHRRRRRIIIIISSSSSTIANTIANTIANTIANTIAN E E E E ESSSSSCCCCCOOOOOTTTTT M M M M MORORORORORAESAESAESAESAES, jornalista, foirepórter e chefe de Redação da Revista deComunicação e é coordenador dejornalismo da Câmara dos Deputados

Querido Mario de Moraes,Daqui de nossa querida São Paulo, fico

a imaginar a festa no céu, o banzé, a aco-lhida calorosa do pessoal da Redação doDiario do Infinito recepcionando um dosmelhores jornalistas brasileiros de todosos tempos. Entre tantos outros, lá comcerteza estavam: Jorge Ferreira, José Leal,José Medeiros, Margarida Izar, Péricles,Amélia Whitaker Gondim de Oliveira, LeãoGondim de Oliveira, José Amádio, AssisChateaubriand, Eugênio Silva, RonaldoMoraes, Henri Ballot, David Nasser, Rachelde Queiroz, José Cândido de Carvalho, Lu-ciano Carneiro, Walter Luiz, ArmandoNogueira, Carlos Rangel, Orlandino Rocha(Beti), Dulce Sales Cunha, Accioly Netto,

Indalécio Wanderley, Herberto Sales, JoãoMartins, Ed Keffel, Antônio Carlos Piccino,Ubiratan Lemos, Mario Camarinha da Sil-va, Luigi Mamprim, Euclides Galdino, Ge-raldo Romualdo da Silva, Liba Fridman,Robson de Freitas, Sérgio Porto (StanislawPonte Preta), Manoel Mota, Hamilton Al-meida, Odilo Costa Filho, Elias Nasser,Pierre Verger, Rubens Américo, Silveira deQueiroz, Austregésilo de Athaíde, Nehe-mias Gueiros, Gilberto Freire, Teófilo deAndrade, Alceu Pena, Carlos Estêvão, JoãoCalmon, João Condé, Chico Nélson, Sal-viano Nogueira, Eduardo Ramalho, Araú-jo Neto, Yllen Kerr, Appe, Geraldo Viola,Benedito Coutinho, Elza Marzullo, Borja-lo, Cláudio Lysias, Gilberto Pereira do Vale,Isabel Câmara, João Serpa, Carlos Caste-lo Branco, Aldyr Tavares, Badaró Braga,Antonio Ronek, Leda Barreto.

Querido Mario de Moraes, muito obri-gado. Sou mais um daqueles que apren-deram muito contigo em 58 anos de fra-terna convivência. Herdaste valores indis-pensáveis para esta e futuras gerações dejornalistas. Não esqueço. Um dia numaroda de estudantes, externaste este pen-samento valioso:

“Antes de mais nada para ser um bomjornalista tem que ser homem ou mulherde verdade.”

Daqui de casa, todos te mandam bei-jos e saudades – muitas saudades!

Se eu merecer, dia desses nos veremos...Do amigo de sempreJosé PintoSão Paulo, 24 de maio de 2010

JJJJJOSÉOSÉOSÉOSÉOSÉ P P P P PIIIIINTNTNTNTNTOOOOO, fotojornalista, foi das revistas OCruzeiro, Placar e Afinal e dos jornais ÚltimaHora (SP) e Jornal da Tarde.

“Mário de Moraes foi minha primeiraâncora no início da jornada na Redaçãode O Cruzeiro. Confiou em mim e me en-tregou o leme para várias rotas, como asquatro páginas semanais de fatos interna-cionais dos anos 60. Foi com ele que pu-bliquei minha primeira matéria assinadana imprensa, a que sucederam outras,muitas outras. Ele me honrou com a con-fiança, o afeto e a amizade de repórterpremiado e editor de visão. Por isso es-tou mais vazio agora, por só poder tê-lona lembrança.”GGGGGUUUUUALALALALALTERTERTERTERTER M M M M MAAAAATHTHTHTHTHIASIASIASIASIAS N N N N NEEEEETTTTTTTTTTOOOOO, jornalista, foieditor de texto da revista O Cruzeiro

“Não são muitos os homens que, apósa morte, nos deixam exemplos de umavida exemplar. Mário de Moraes foi umdesses homens. Desde jovem, ele deuseus primeiros passos como jornalistaprofissional e a essa profissão foi fiel avida inteira.

Mário de Moraes fez e faz parte de to-dos nós, que cruzamos com ele.”RRRRRAUAUAUAUAULLLLL G G G G GIIIIIUUUUUDICELLIDICELLIDICELLIDICELLIDICELLI,,,,, jornalista, foi chefe deRedação de Manchete e Diretor de Fatos &Fotos e O Cruzeiro

A Associação dos Jornalistas Aposenta-dos do Estado de São Paulo, por seu pre-sidente, jornalista Amadeu Mêmolo, e pordecisão unânime de seus diretores, asso-cia-se ao pesar dos profissionais de im-prensa do Brasil pela morte de Mário deMoraes, exemplo a ser lembrado e segui-do por quantos exercem o jornalismo oupretendam exercê-lo.

MEMÓRIA MÁRIO DE MORAES, O REPÓRTER

Mário e Alfredo de Belmont Pessoa (à esquerda) recebem o Prêmio Esso de MelhorContribuição à Imprensa pela Revista de Comunicação, que os dois criaram em 1985.

33Jornal da ABI 354 Maio de 2010

VidasVidas

O dia 12 de maio foi de tristeza para os profissio-nais de comunicação, por marcar o falecimento dePaulo Caringi, aos 86 anos. Um dos pioneiros do ra-diojornalismo, em especial na companhia de Car-los Pallut na antiga Rádio Continental, Caringi teveatuação marcante, primeiro no jornalismo, e em se-guida como relações-públicas, função que abraçoue terminou por priorizar em seus últimos anos deatividade profissional. Tendo lançado um livro dememórias este ano – O Que Estava em Todas - Ad-vertências – e dando expedientesemanal na Confederação Naci-onal do Comércio, Paulo Caringimorreu trabalhando, em plenaatividade.

Talvez por isso mesmo suamorte tenha causado grandeimpacto entre os profissionaisda área. “Era um homem leal,conciliador, generoso, além deum jornalista e um relações-públicas extremamente obsti-nado e eficiente”, avalia EdsonSchettine, da Adesg (Associação dos Diplomadosda Escola Superior de Guerra), colega e amigo pes-soal de Caringi desde o início dos anos 1970. “Ti-vemos mais de 40 anos de convívio e parceria, quan-do da atuação em entidades classistas e da realiza-ção de eventos”, recorda.

Criador do Operário PadrãoCaringi atuou como redator do Ministério da Saú-

de, de que era concursado, e fez carreira na esferapolítica, na assessoria de personalidades como Jus-celino Kubitschek e Roberto Marinho. Em O Glo-bo, em projeto realizado em parceria com o Sesi-RJ(Serviço Social da Indústria do Rio de Janeiro), foium dos idealizadores da campanha do OperárioPadrão, que a cada ano promovia a escolha de ho-menageados – semelhante à campanha Faz Diferen-ça, realizada atualmente pelo mesmo jornal. Traba-lhou em diversos veículos e teve participação nosprimeiros anos da CBN, fazendo comentários.

Essa era uma de suas atividades prediletas: exer-cer, sempre com equilíbrio e conhecimento de causa,a função de comentarista crítico. “O Jornal do Bra-sil, numa época, chegou mesmo a chamá-lo de ‘OGrande Crítico’. Era hábito de Caringi escrever, comcerta freqüência, para diversos jornais manifestandosua opinião sobre assuntos cotidianos, sempre deforma fundamentada”, lembra Schettine.

A descoberta da RPA carreira de Paulo Caringi mudou de rumo e tri-

lhou o caminho do jornalista Ivy Lee, norte-ame-ricano que fundou a profissão de relações-públicas,em 1906. Ao abraçar a nova atividade, sem, contu-do, deixar de ser Jornalista, fez uma das mais pro-fícuas carreiras na área, tornando-se Presidente daABRP (Associação Brasileira de Relações Públicas)e Secretário-Geral do Conrerp da 1ª Região (Con-selho Regional de Profissionais de Relações Públi-cas do Estado do Rio de Janeiro).

“Foi também idéia dele que eu tenha seguido Re-lações Públicas. Essa atividade que é essência em al-

Jornalista e Presidenteda Associação Sergipanade Imprensa-ASI, Bem-vindo Salles de CamposNeto morreu na madru-gada do dia 13 de maio,vítima de infarto, aos 81anos. Também membroda Academia Sergipanade Letras-ASL, na qualocupava a cadeira nº 21,teve carreira marcante noEstado. Familiares disseram que ele estava bem desaúde, mas na madrugada sentiu fortes dores no peitoe foi levado ao hospital, onde teve três paradas car-díacas e não resistiu.

O Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Esta-do do Sergipe-Sindjor, George Washington, disse queBemvindo era muito atuante na área. Em nota, a en-tidade manifestou solidariedade e sentimentos à famíliae à sociedade sergipana, que perde mais um grande jor-nalista, considerado um incansável batalhador pelascausas da categoria. Familiares, colegas e amigos com-pareceram ao velório, que aconteceu na ASL, e ao se-pultamento, realizado no final da tarde do mesmo dia13, no Cemitério Santa Isabel, em Aracaju.

Amigo de quatro décadas de Bemvindo, José Eugê-nio de Jesus recordou passagens profissionais do co-lega na revista Alvorada, no Sergipe Jornal e na Gazetade Sergipe. A José Eugênio cabe a responsabilidade deassumir a Presidência da ASI, onde já ocupava o car-go de Vice-Presidente. “Ele deixa uma grande lacuna.Mas esperamos contar com a mesma colaboração sem-pre dispensada a ele. Bemvindo foi um dos Presiden-tes com maior número de mandatos à frente da As-sociação, tendo presidido a casa por três vezes. Nes-ses períodos, sempre teve gestões marcadas pela bon-dade, seriedade e cavalheirismo”, disse José Eugênio.

Ivan Valença também relembrou com saudades docolega de longa caminhada no jornalismo. Ele con-tou que conheceu Bemvindo Salles em 1957, na fun-ção de Secretário de Redação do Sergipe Jornal, ondeera autor da coluna chamada Não Está Certo. Ivandisse que, mesmo aos 81 anos, Bemvindo se manti-nha ativo, tendo trabalhado até o último dia de vida.“Fica a lembrança de um sujeito alegre, um profissi-onal sério e principalmente um intelectual que sabiacultivar o gosto pela leitura. Fiquei muito triste coma notícia de sua morte”, lamentou.

Para o presidente da ASL, Professor José AndersonNascimento, a morte de Bemvindo significa umaperda irreparável. “Ele era um dos pilares da institui-ção. Tinha um trabalho muito bom na área cultural,com suas crônicas. E era também um crítico literá-rio, pesquisador e memorialista das coisas de Araca-ju”, disse ele, que destacou ainda a sua passagemmarcante em jornais, revistas e no jornalismo ofici-al. “Era um homem polivalente. Um profissional quepouco tem se encontrado”, completou.

Bemvindo Salles foi Assessor de Imprensa do Gover-no Augusto Franco, cargo que ocupou também na Pre-feitura de Aracaju, na administração de Godofredo Di-niz. Na Câmara Municipal, foi redator de debates legis-lativos. Deixou esposa, um casal de filhos e dois netos.

Bemvindo Salles,jornalista e escritor

Presidente da Associação Sergipana de Imprensae membro da Academia Sergipana de Letras, ele

foi surpreendido por um infarto, aos 81 anos.POR PAULO CHICO

Mais um pioneiro partiu:Paulo Caringi

Um dos mais respeitados profissionais da área de comunicação, ele se destacou comoum dos pioneiros do radiojornalismo e apaixonado pela atividade de relações-públicas.

guns homens especiais, como era o Paulo Caringi.Pessoas que, de um jeito ou de outro, fariam RP, in-dependente do país, do momento, da História, dasleis, das autarquias e das associações. Ele manteveo brilho e a firmeza no olhar até o fim. Firmeza quevinha do caráter. Brilho que vinha direto da alma.Assistiu a muitos, inspirou a tantos outros, comoa mim. Serviu, no melhor sentido que possa haverpara a palavra servir, ao próximo, ao não tão próxi-mo, ao distante, ao desconhecido”, afirma Manoel

Marcondes Neto, Secretário-Geral do Conrerp da 1ª Região.

O livro O Que Estava Em To-das - Advertências traz texto as-sinado pelo lendário GontijoTheodoro, ex-Repórter Esso, quedestacou: “A participação de Ca-ringi à frente do Sesi-RJ propi-ciou àquela entidade patronalo mais elevado sentido de efi-ciência, através da implemen-tação da medicina preventiva,atuando diretamente nas fábri-

cas, e da elevação e do reconhecimento do valor eda criatividade do operariado carioca, com a cam-panha Operário Padrão, feita com O Globo, marcan-do um período de fantástica integração patrão/em-pregado, em prol da paz social. Consagrado porseus méritos, foi eleito Presidente da ABRP, criandoa Semana de Integração Social, com o objetivo de le-vantar os problemas que afligiam as comunida-des do Rio.”

Um furo: Vargas morreuOutra passagem profissional marcante trata do

suicídio de Getúlio Vargas, na madrugada de 24 deagosto de 1954. Paulo Caringi estava com 30 anose trabalhava na Rádio Continental, fazendo cober-tura de rua, quando ocorreu o episódio. Ele estavano Ministério da Guerra, onde o General Zenóbioda Costa se reuniu naquela manhã com outros ofi-ciais, e ouviu, por acaso, alguém passar a informa-ção do ato extremo do Presidente da República.

“Alguém soprou para o Ministro que Getúlio sesuicidara. Eu estava escondido na cabine, em con-tato com a Rádio, e passei a informação. Foi umfuro completo, não obstante eu logo em seguidater entrado em depressão profunda”, recordou opróprio Caringi.

Defesa da ética“A imprensa exerce um papel muito sério. Trata-

se de um negócio comercial, mas não pode ser sen-sacionalista nem faltar com a verdade. A imprensadeve, necessariamente, ser ética, acima de tudo. Ojornalista precisa estar atento para não cair em ten-tação. Os meios de comunicação precisam de leito-res e não de apreciadores de desastres e catástrofessomente,” disse recentemente ao comentar o papeldos veículos de comunicação.

O corpo de Caringi foi velado no Memorial do Car-mo e sepultado em 14 de maio, no Cemitério do Caju.

Seu acervo será doado ao Centro de Cultura eMemória do Jornalismo, do Sindicato dos Jornalis-tas Profissionais do Município do Rio de Janeiro.

“A IMPRENSA DEVE,NECESSARIAMENTE, SERÉTICA, ACIMA DE TUDO.O JORNALISTA PRECISA

ESTAR ATENTO PARA NÃOCAIR EM TENTAÇÃO”

PAULO CARINGI

CESAR O

LIVEIRA

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35Jornal da ABI 354 Maio de 2010

Ilustres Membros do Conselho Deli-berativo da ABI,

1. NOSSOS COMPROMISSOS

1.1. Em conformidade com o dispos-to nos artigos 19 e 21 do Estatuto Social,submeto à apreciação desse colegiado oRelatório da Diretoria relativo ao exercí-cio social 2009-2010, iniciado em 13 demaio passado e na iminência de expirarem 12 de maio próximo, e as Contas deGestão relativas ao ano civil de 2009, emcomparativo com o ano civil de 2008.

1.2. Ao longo do exercício sob relato,a Diretoria da ABI, na senda descortina-da por esse ilustrado Conselho Delibe-rativo, manteve atuação subordinadaaos grandes princípios que norteiamnossa Casa desde a sua fundação em1908, acrescidos daqueles que se incor-poraram à nossa História durante asásperas lutas que travamos, ao lado dopovo brasileiro e outras instituições dasociedade civil, para o restabelecimen-to do Estado de Direito, conquistadoapós dolorosas perdas de vidas humanas.

1.3. Esse norte compreende a defesada liberdade de imprensa e os quatrodireitos que a integram, como preceitu-ado com rigor de nitidez pelo nosso ines-quecível Presidente Prudente de Morais,neto – o direito de informar, o direito deacesso às fontes de informação, o direi-to de opinar e, acolhido na abrangênciadeste, o direito de divergir, de dizer não–, bem como a defesa dos direitos huma-nos, que ganhou expressão na Casa so-bretudo na gestão do Doutor Prudente,como o chamávamos, em que foi indô-mito o seu repúdio ao assassinato do jor-nalista Vladimir Herzog nas masmorrasdo Doi-Codi de São Paulo, em 25 de ou-tubro de 1975.

1.4. Nestes 365 dias que agora se hãode completar, a Casa respondeu aos no-vos desafios impostos à comunidade jor-nalística e às suas instituições represen-tativas, como a Federação Nacional dosJornalistas-Fenaj e os sindicatos profis-sionais dos Estados, que se viram dian-te de grandes avanços no concernente àconstrução do Estado Democrático deDireito instituído pela Constituição de5 de outubro de 1988, como a revogaçãototal da Lei de Imprensa decretada peladitadura militar, objeto de uma Ação de

Descumprimento de Preceito Constitu-cional ajuizada perante o Supremo Tri-bunal Federal, através de seu partido,pelo eminente Deputado Miro Teixeira(PDT -RJ), que para honra nossa integrao Conselho Consultivo da ABI. Afastou-se assim, segundo a expressão desse com-petente e combativo parlamentar, umdos derradeiros entulhos autoritáriosremanescentes do regime militar.

1.5. Na decisão de questão tão trans-cendente para os jornalistas e os meiosde comunicação, a ABI não se quedou ematitude meramente contemplativa, emque acompanhasse como espectadorapassiva a tramitação de tão importantedemanda judicial. Através de convêniofirmado com o Núcleo de Prática Jurídicada Fundação Getúlio Vargas no Rio de Ja-neiro e de seu qualificado Diretor, Pro-fessor Thiago Bottino, a ABI requereu aorelator do processo, Ministro CarlosAyres Britto, sua admissão nos autoscomo amicus curiae, com direito de pe-ticionar e de intervir com direito à pa-lavra na sessão plenária de julgamento.Deferida sua postulação, a ABI, por meiodo Professor Thiago Bottino, pôde exporde viva voz os argumentos que alinha-ra em memorial precedentemente incor-porado aos autos. A ABI manifestou-seno julgamento por duas vozes que os mi-nistros do Supremo ouviram com extre-mada atenção: a do nosso consócio MiroTeixeira e a do nosso representante Thi-ago Bottino.

1.6. O mesmo Supremo Tribunal Fe-deral que se impôs à admiração da soci-edade ao sepultar a Lei de Imprensa foiincapaz de manter o mesmo padrão deexcelência jurídica e de adesão aos valo-res democráticos ao julgar outro feito deexcepcional significação para a comuni-dade jornalística, o de questionamentoda necessidade de conclusão do cursosuperior de Jornalismo ou de Comuni-cação Social para o exercício da profis-são de jornalista.

1.6.1. Com base no voto do relator, Mi-nistro Gilmar Mendes, seu Presidente, amaioria dos membros do Supremo Tri-bunal Federal decidiu escancarar o exer-cício da profissão de jornalista a quemquer se julgue apto a fazê-lo, sem aten-der a qualquer requisito, incluído o deuma escolaridade mínima. Com tal de-cisão, como assinalou o Jornal da ABI nasua edição 351, data de capa fevereiro de2010, o Supremo Tribunal Federal reve-lou-se duplamente infeliz: instalou ocaos no jornalismo e ofendeu a catego-ria profissional, ao consagrar a compa-ração que o Ministro Gilmar Mendes fez,em mau inspirado momento, entre aatividade do jornalista e a de um espe-cialista em gastronomia.

1.7. Desde a desastrada decisão daSuprema Corte, a ABI tem-se empenha-do na luta pela restauração do nível dequalificação dos profissionais do jorna-lismo, em coerência com uma posiçãoem que é historicamente pioneira. Foi a

ABI a primeira instituição do País a pro-clamar a necessidade de formação dosjornalistas em nível universitário, pro-posta aprovada no I Congresso Brasileirode Jornalistas, por ela organizado em1918 – há quase um século, portanto –,o qual incorporou à resolução entãoadotada uma grade curricular mínima,em que se definiam as matérias que de-veriam constar obrigatoriamente docurso, visando à qualificação dos profis-sionais de uma imprensa que começavaa perder seus rasgos românticos e a in-gressar numa fase empresarial.

1.8. Foi igualmente a ABI uma dasinstituições responsáveis pela criação doprimeiro núcleo universitário numa ins-tituição pública, o curso de Jornalismoda antiga Faculdade Nacional de Filoso-fia-FNFi da Universidade do Brasil, hojeUniversidade Federal do Rio de Janeiro,que nesse ponto secundou a pioneiraFaculdade de Jornalismo Casper Líbero,de São Paulo. A íntima ligação da ABI comesse passo para a elevação da qualificaçãotécnica e cultural dos jornalistas expres-sou-se numa circunstância de que a Casase orgulha: um dos professores do nascen-te curso foi o jornalista Danton Jobim,que a presidiu por duas vezes nos anos 70;seu adjunto era outro destacado membroda Casa, Pompeu de Sousa, que dirigiu aRepresentação da ABI em Brasília emmomentos tormentosos dos anos 70.

1.9. É imperioso registrar que não foieste o único momento em que o PoderJudiciário faleceu na sua obrigação decontribuir para o alargamento e aperfei-çoamento do Estado Democrático deDireito entre nós. Através do TribunalRegional Federal do Distrito Federal,sediado em Brasília, um juiz que não teveo escrúpulo de se declarar suspeito, porsua ligação com a família do postulan-te, impôs uma inconstitucional censu-ra prévia ao jornal O Estado de S. Paulo,impedindo-o de publicar qualquer ma-téria sobre a chamada Operação BoiBarrica da Polícia Federal que envolva oempresário Fernando Sarney, filho doPresidente do Senado Federal, José Sar-ney (PMDB-AP).

1. 9.1. Ao invés de impor o primadoda Constituição em suas disposiçõescristalinas e incisivas sobre a liberdadede imprensa e a liberdade de expressão,o Supremo Tribunal Federal valeu-se deuma filigrana processual para se eximir

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSARua Araújo Porto Alegre, 71 - Castelo - Rio de Janeiro - RJ Cep 20030-010

Telefone (21) 2282-1292 Fax (21) 2262-3893www.abi.org.br • e-mail [email protected]

RELATÓRIO DA DIRETORIAFÁB

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MIRO TEIXEIRA NA SESSÃO PLENÁRIA DE JULGAMENTO DA LEI DE IMPRENSA DEFENDE A POSIÇÃO DA ABI DIANTE DOS MINISTROS DO STF.

EXERCICIO SOCIAL 2009-2010PRESTAÇÃO DE CONTAS | ANO CIVIL DE 2009

36 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

do dever de garantir a liberdade de infor-mação do Estadão, que na data de apre-sentação deste Relatório contava quasenove meses de mordaça imposta peloPoder Judiciário. Este ofereceu matéria-prima para exercício do ridículo: inicia-do em Brasília e envolvendo um jornaleditado em São Paulo, o processo podeter seu desfecho em decisão da Justiçado Maranhão. Após o prolongado silên-cio imposto ao jornal, o empresário Fer-nando Sarney desistiu da ação, mas OEstado de S. Paulo, sobranceiramente, nãoaceitou seu recuo: quer que o processoseja julgado, para afirmação dos seusdireitos constitucionais.

1.10. Os reveses infligidos à liberda-de de informação conduziram à sobre-valorização pela comunidade profissio-nal e suas entidades representativas demomentos em que o direito de informarencontrou reparação, como no episódioda condenação agora em março de 2010dos matadores do jornalista Luiz CarlosBarbon, assassinado em 5 de maio de2007 no Município de Porto Ferreira,interior de São Paulo, em represália adenúncias que fizera de crimes cometi-dos por políticos locais.

1.10.1. Também mereceram atençãoo pagamento pelo Governo do Estadoda Bahia da indenização de R$ 100 mildevida à família do jornalista ManoelLeal de Oliveira, assassinado em 14 dejaneiro de 1998 na cidade de Itabuna pordenunciar irregularidades na adminis-tração municipal, e a condenação noMunicípio de Miguel Pereira, RJ, de umvereador que ofendera o jornalista PauloAlves, diretor do jornal alternativoMetrô Press, em revide a denúncias queeste fizera de irregularidades por ele pra-ticadas quando presidente da CâmaraMunicipal. Por sua conduta ofensiva, oVereador Cláudio Eduardo Alves de Mo-raes Soares foi condenado pelo JuizCláudio Rocha Rodrigues a pagar aojornalista R$ 5 mil como indenizaçãopor danos morais.

1.10.2. No caso do assassinato dojornalista Luiz Carlos Barbon a ABI teveatuação firme e perseverante desde queele foi abatido a tiros por uma coman-

dita integrada por quatro membros daPolícia Militar do Estado de São Paulo– – – – – entre eles um capitão – – – – – e um comer-ciante. Além de reclamar a apuração docrime em expediente que dirigiu ao en-tão Governador José Serra, a ABI acom-panhou o andamento das investigaçõese interveio em favor da viúva e dos fi-lhos de Barbon, reclamando a adoção deproteção especial em seu favor quandoos assassinos passaram a intimidar eameaçar a família de sua vítima. A ABIalertou o Governador, então, de que eleseria pessoalmente responsável peloque acontecesse à viúva Kátia Barbone seus filhos.

1.11. Através de ofícios a autoridadese de declarações em notas que emitiudiante de cada caso que chegou ao seuconhecimento, a ABI não transigiu comqualquer agressão ou violação da liber-dade de informação. Sua principal pu-blicação, o Jornal da ABI, deu a todos osepisódios dessa natureza o relevo devi-do, para reafirmar com clareza o seucompromisso inarredável com a liberda-de de informação e de opinião.

1.12. Durante o ano civil, a Presidên-cia expediu 1. 887 ofícios, 718 cartas,421 e-mails, 191 memorandos internose 83 telegramas. Sua Assessoria, inte-grada pelos funcionários GuilhermePovill Vianna e Mário Luiz de FreitasBorges, manteve o arquivamento demateriais e documentos relacionadoscom a ABI em 75 pastas e 507 materi-ais diversos em 270 pastas.

2. A GESTÃO DA CASA

2.1. O engajamento nas questões re-lacionadas com os bens imateriais quejustificam a sua existência não desvioua Diretoria de suas obrigações com agestão da Casa, que, tal como o País,enfrentou dificuldades derivadas da criseeconômica mundial. Esses percalçosresultaram na diminuição dos recursosde que a Casa pôde dispor e numa insu-ficiência operacional de R$ 339.744,89,como registra o Professor Sérgio Barbosa,Contador da Casa, nas Notas Explicati-vas às Demonstrações Contábeis em 31de dezembro de 2009 e 2008, em reais,as quais integram o presente Relatório.

2.1.1. Para esse déficit contribuiusubstancialmente a liquidação de obri-gações herdadas de administrações an-teriores a 2004, ano em que a ChapaPrudente de Morais assumiu a direçãoda Casa, como o pagamento de diferen-ças salariais devidas aos empregados daABI no montante de R$ 100.542,10, nostermos de entendimento concertadocom o sindicato da categoria. Depois deliquidar de uma feita o débito para comos funcionários com menor diferença ahaver, a Diretoria parcelou o pagamen-to devido aos demais empregados, numcronograma que resultou em janeirodeste ano de 2010 na liquidação totaldesse débito trabalhista.

2.1.2. O resultado da execução econô-mico-financeira foi impactado tambémpela diminuição no volume das receitasdecorrentes de publicidade e patrocínio,que não registraram no ano civil os ex-celentes níveis alcançados em 2008, emque a comemoração do centenário daCasa ensejou, como se esperava, a cap-tação de arrecadação expressiva. A des-peito da crise, a Coordenação de Publi-cidade e Marketing da Casa, confiada aum profissional especializado de com-provada competência, o associado Fran-cisco Paula Freitas, obteve uma progra-mação publicitária que alcançou o mon-tante de R$ 1.099.825,53 em valor bru-to e, descontadas as comissões de agên-cias, o volume líquido de R$ 898.294,58.

2.2. Para o estimulante desempenhoda Coordenação de Publicidade e Marke-ting colaboraram a regularidade dasedições do Jornal da ABI e a presençadiária na tela dos computadores do Siteda ABI (www.abi.org.br), como resulta-do da atividade dos dois profissionaismantidos pela Casa no ABI Online, JoséReinaldo Marques e Claudia Souza. Edi-tado pelo Presidente e pelo associado

Francisco Ucha, responsável pela progra-mação visual, diagramação e editoraçãoeletrônica, o Jornal da ABI é hoje festeja-do não apenas pelo corpo social mas tam-bém por grande parte dos que têm aces-so à leitura da publicação oficial da Casa.

2.2.1. Entre março de 2009 e feverei-ro de 2010 foram editados os números339 a 351 do Jornal da ABI, que tiveramas seguintes matérias principais nacapa: edição 339, março de 2009, Hen-fil para sempre; edição 340, abril de2009, O fim da lei fora-da-Lei; edição341, maio de 2009, Acordo Ortográfi-co - Aula magna de Bechara; edição 342,junho de 2009, Cadê o nosso diploma?;edição 343, julho de 2009, A bruxa dacensura está solta; edição 344, julho de2009, A mordaça resiste; edição 345,Edição Especial do Centenário, Volu-me 3, setembro de 2009 - Elas rompe-ram barreiras; edição 346, outubro de2009, A cidadania se rendeu?; edição347, novembro de 2009, Edição Extra- 200 anos de imprensa no Brasil; edi-ção 348, novembro de 2009, Edição Es-pecial - A cronologia dos quadrinhos;edição 349, dezembro de 2009, EdiçãoEspecial de Fotojornalismo -Caçadoresde Imagens; edição 350, janeiro de 2010- Lília salvou esta mulher; edição 351,fevereiro de 2010, Supremo implanta ocaos no jornalismo.

2.3. Os recursos administrados pelaDiretoria, com a atuação conjunta doPresidente, do Diretor AdministrativoEstanislau Alves de Oliveira e do Dire-tor Econômico-Financeiro DomingosMeirelles, permitiram que a Casa alcan-çasse estes resultados nos campos dagestão financeira e da gestão de pesso-al, como informam as funcionárias Sil-vana Velloso, Encarregada de RH, e Si-mone Romeu Pinto da Silva, Encarre-gada da Tesouraria:

CASO BARBON:FIRME ATUAÇÃO.

RELATÓRIO DA DIRETORIA

O ESTADO DE S.PAULO: CENSURA MANTIDA POR DECISÃO JUDICIAL

37Jornal da ABI 354 Maio de 2010

2.3.1. as diferenças salariais dos acor-dos de 2003 e 2004 foram pagas, comojá referido, em dez parcelas, a última dasquais liquidada em janeiro passado;

2.3.2. foi cumprido o acordo coletivofirmado com o Sindicato dos Empregadosem Atividades Culturais-Senalba, peloqual os funcionários por este representa-dos tiveram um reajuste salarial de 5,83%;

2.3.3. o 13° salário foi pago integral-mente em 4 de dezembro de 2009, comrecursos proporcionados por um em-préstimo bancário contratado com au-torização do Conselho Fiscal; nesse mes-mo mês os funcionários receberam umacesta de Natal, tradição instituída pelaCasa em 2004, e um kit da Perdigão, cons-tante de um peru, um salaminho e umqueijo parmesão, acondicionados numabolsa térmica;

2.3.4. o pagamento da folha de salá-rios vem sendo efetuado sempre até oúltimo dia útil de cada mês, em cumpri-mento de norma estabelecida desde aposse da Chapa Prudente de Morais, emmaio de 2004;

2.3.5. as obrigações de natureza fis-cal e trabalhista são regularmente cum-pridas e estão permanentemente atua-lizadas, como no caso da Rais (Relató-rio Anual de Informação Social), da Dirf(Declaração de Imposto de Renda Reti-do na Fonte), do Caged (Cadastro Geralde Empregados e Desempregados), doPPRA (Programa de Prevenção de RiscosAmbientais) e do PCMSO (Programa deControle Médico e Saúde Ocupacional);

2.3.6. durante o exercício social houvenove rescisões de contratos de trabalhoe admissão de quatro funcionários, doque resultou a fixação do total de 48 fun-cionários e de uma estagiária de Jorna-lismo no quadro de pessoal;

2.3.7. o seguro do Edifício Herbert Mo-ses foi renovado em janeiro passado como Banco do Brasil, mediante o pagamen-to do montante de R$ 4.461,72, valor in-ferior ao do seguro anterior, com pagamen-to dividido em sete parcelas, enquanto oSeguro Empresarial foi renovado automa-ticamente com o Bradesco,que debita à ABI mensalmen-te o valor de R$ 410,91;

2.3.8. o quadro social con-ta atualmente com 3.152integrantes, grande partedos quais inadimplentes, emrazão de insuficiências quea Diretoria começou a corri-gir e que já foram mais gra-ves; entre 1 de fevereiro de2009 e 1 de março de 2010ingressaram na Casa 111associados, graças sobretu-do à publicação em caráterpermanente no Site da ABIde uma proposta de filiação.

3. A VIDA GREMIAL,SEUS SERVIÇOS

3.1. Os recursos e os ser-viços da ABI foram manti-dos à disposição do corposocial, da comunidade aca-dêmica, de pesquisadores eestudiosos e de instituiçõesrepresentativas da vida so-

cial e do Poder Público através da ativi-dade e da programação das diferentesDiretorias da Casa e podem ser assimresumidos, como extrato do informadonos Relatórios Setoriais, que integrameste Relatório. Vejamos:

3.2. A Comissão de Sindicância, pre-sidida pelo associado Jarbas Domingos eintegrada pelos sócios Maria Ignez Du-que Estrada Bastos, Secretária, Carlos DiPaola, José Carlos Machado, Luiz SérgioCaldieri, Marcus Miranda e Toni Marins,emitiu parecer favorável à aprovação de93 propostas de filiação, das quais 39 paraa categoria Efetivo e 54 para a categoriaCooperador, e sobre seis pedidos de trans-ferência da categoria Efetivo para a Co-operador. A maioria das propostas, comojá referido, foi preenchida online.

3.3. A Diretoria de Assistência Soci-al promoveu no período relatado 2.489procedimentos gerais, incluindo a expe-dição de 781 guias para atendimento noPosto Dr. Paulo Roberto, instalado nosexto andar do Edifício Herbert Moses,e para serviços conveniados fora da sede.Sob a coordenação e liderança do Dire-tor Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê) e con-tando com uma Comissão Diretoraconstituída pelos associados Ilma Mar-tins da Silva, Jorge Nunes de Freitas, JoséRezende Netto, Maria do Perpétuo So-corro Vitarelli e Moacyr Lacerda, a Di-retoria de Assistência Social contou coma colaboração de outras instituições e or-ganismos, como a Santa Casa da Mise-ricórdia do Rio de Janeiro, o InstitutoNacional de Cardiologia de Laranjeiras,o Instituto Nacional do Câncer-Inca e oSesi-Senai do Rio de Janeiro.

3.3.1. Particularmente eficaz foi a par-ceria estabelecida com a Legião da BoaVontade-LBV para atendimento de asso-ciados aposentados com renda modesta,pessoas em situação de vulnerabilidadee funcionários da ABI, os quais receberamno período relatado cestas básicas e aten-dimento odontológico no Centro Educa-

cional e Comunitário José de Paiva Net-to, sediado na Avenida Dom Hélder Câ-mara, 3.059, em Del Castilho. No decor-rer do ano civil de 2009 foram forneci-das por esse convênio 488 cestas básicas.

3.4. Sob a liderança e coordenação doDiretor Jesus Chediak, a Diretoria de Cul-tura e Lazer, desenvolveu intensa progra-mação, em que teve relevo especial, no dia20 de julho, a abertura das comemoraçõesdo centenário de nascimento do compo-sitor Mano Décio da Viola, autor do cé-lebre samba-enredo Tiradentes, promovi-das pela ABI, pelo Instituto CulturalCravo Albin e pela Escola de Samba Im-pério Serrano e organizadas pelo PrimeiroSecretário do Conselho Deliberativo, as-sociado Lênin Novaes.

3.4.1. Entre outras iniciativas, promo-veu a Diretoria Cultural, diretamente ouem colaboração com outras entidades,outros eventos destacados, como:

3.4.1.1. o Seminário de Estética eNegritude no Brasil Contemporâneo,promovido pelo Centro Brasileiro deInformação e Documentação do Artis-ta Negro-Cidan e pela Secretaria Espe-cial de Políticas de Promoção da Igual-dade Racial-Seppir;

3.4.1.2. o ciclo de palestras Futebol Arte:Arte do Futebol, organizado pelo CentroHistórico Esportivo da Diretoria Cultu-ral em colaboração com a Memofut, o siteLivros de Futebol.com., o canal SporTVe o Laboratório de História do Esporte edo Lazer, por iniciativa do jornalista JoséRezende Neto, Conselheiro da ABI, o qualcontou com sete palestras e convidadosde grande renome na crônica esportiva ena vida universitária;

3.4.1.3. a programação do Cine ABI,desenvolvida em colaboração com o Cine-clube da Casa da América Latina e queconstou da apresentação de 17 filmes, amaioria jamais exibida no circuito comer-cial ou mesmo fora dele, como o documen-tário Salud!, de Connie Field, em sessão emparceria com a organização não-governa-mental norte-americana Medical Educa-

tion Cooperation with Cuba-Medicc e a Associação Naci-onal de Cubanos Residentesno Brasil-Ancfreb.

3.4.2. A apresentação daprogramação cultural foi co-ordenada pelo administradordos auditórios da ABI, funci-onário Neilson Lopes Paes,que acompanhou, atuandocomo responsável pelo espa-ço e operador de som em nadamenos de 160 eventos realiza-dos na Sala Belisário de Sou-za e no Auditório Oscar Gua-nabarino, o principal da Casa.A utilização desses espaçoscompreendeu a realização deatos políticos, assembléias sin-dicais, conferências, lança-mento de livros e atos da ABIe de instituições de que a Casaé parceira, como o Movimen-to de Defesa da EconomiaNacional-Modecon.

3.4.3. Outro espaço usu-fruído pelo corpo social e seusconvidados foi o do Salão de

Estar do 11º andar, o fes-tejado Onze, coordenadopelo funcionário MarceloFarias Cardoso de Moura.No Relatório Setorial queapresentou, o funcionárioMarcelo registra os melho-ramentos introduzi-dos no Salão, tantopara o lazer dos sóci-os como para benefi-cio dos funcionários,como a instalação de um refeitório dotadode condições adequadas. No espaço des-se pavimento foi também instalado o Ar-quivo Geral da ABI, que abriga a docu-mentação da Contabilidade, do setor deRecursos Humanos e da Tesouraria.

3.5. Vinculado à Diretoria de Jorna-lismo, o Site da ABI produziu e publicou637 matérias entre março de 2009 e fe-vereiro de 2010. Suas páginas registra-ram no mês de março de 2010 o total de1.057.144 acessos, com a média de34.101 acessos por dia. A equipe do Siteproduziu 14 entrevistas, parte delas re-produzida no Jornal da ABI, e divulgou1.037 notícias com informações objeti-vas sobre variados eventos, 86 notas cominformações sobre cursos e concursos,280 acerca de estágios e empregos, 35sobre eventos diversos e 31 acerca decertames jornalísticos.

3.6. Entre março de 2009 e fevereiro de2010 a Biblioteca Bastos Tigre atendeu a1.566 leitores, sendo 885 do sexo mascu-lino e 425 do sexo feminino, respondeua 140 consultas por e-mail e 37 por tele-fone e promoveu a produção de 7.346cópias. Dirigida pela Bibliotecária VilmaSantos de Oliveira e contando com asauxiliares Alice Diniz e Ivaldeci de Sou-za e o servente Annagê Frazão Filho, aBiblioteca procedeu a 248 encadernações,das quais 53 de livros e 195 de revistas,entre as quais Veja, de que a Casa tem acoleção completa, e CartaCapital. Entreos livros encadernados figuraram os da-nificados pela obra de reforma realizadana Biblioteca e parte dos volumes queintegram a Coleção Raul Azêdo Netto, deque a Biblioteca é depositária.

3.6.1. Como fez em anos precedentes,a Diretoria realizou importantes investi-mentos no espaço da Biblioteca, que foidescupinizada e equipada com impresso-ra e uma mapoteca com dez gavetas. Pro-cedeu-se também à colocação de pelícu-la de proteção solar nas portas e janelas(insufilme) para melhor conservação dosvolumes do acervo, que já vinham apre-sentando um processo de desgaste.

Os dados expostos de forma sucintaneste Relatório serão detalhados em publi-cação que a Diretoria fará antes da Assem-bléia-Geral Ordinária de 2010, programa-da para os dias 29 e 30 de abril corrente.

São estas, dignos membros do Con-selho Deliberativo da ABI, as informa-ções que submetemos à apreciação dessedouto colegiado em cumprimento aosditames estatutários.

Rio de Janeiro, 13 de abril de 2010.Maurício AzêdoPresidenteCHARGE DE J.BOSCO PUBLICADA NO JORNAL DA ABI 343: INDIGNAÇÃO COM A DECISÃO DO SUPREMO

38 Jornal da ABI 354 Maio de 2010

EM R$ ABI

ITENS 2009 2008

RECEITA ASSOCIATIVA

RECEITA PATRIMONIAL

RECEITA DE PUBLICIDADE

RECEITA DE PATROCÍNIO

RECEITA BRUTA - ATIVIDADE PRINCIPAL

DESPESAS OPERACIONAIS

GERAIS

PESSOAL

INSS

FGTS

PIS SOBRE FOLHA DE PAGAMENTO

ATIVIDADE SAÚDE

ATIVIDADE CULTURA

DESPESAS FINANCEIRAS

RECEITAS FINANCEIRAS

SUPERÁVIT / DÉFICIT OPERACIONAL

BENEFÍCIOS OBTIDOS RENÚNCIA FISCAL

OBTENÇÃO SERVIÇOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE

BENEFÍCIOS CONCEDIDOS - GRATUIDADE ATV. SAÚDE

SUPERÁVIT / DÉFICIT DO EXERCÍCIO

164.116,61

1.391.330,72

795.440,62

124.015,27

2.474.903,22

-3.103.403,63

-1.387.740,49

-1.216.087,44

-288.755,52

-103.795,72

-10.356,49

0,00

-500,00

-101.924,96

5.756,99

-628.500,41

288.755,52

214.360,00

-214.360,00

-339.744,89

184.066,98

1.326.534,26

1.010.090,55

774.307,83

3.294.999,62

-3.154.812,87

-1.759.119,21

-985.189,76

-253.368,27

-72.793,32

-9.771,99

-79,70

0,00

- 80.084,53

5.593,91

140.186,75

253.368,27

213.760,00

-213.760,00

393.555,02

RELATÓRIO DA DIRETORIA

1. CONTEXTO OPERACIONALA ASS ASS ASS ASS ASSOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BOCIAÇÃO BRRRRRASIASIASIASIASILEILEILEILEILEIRRRRRA DEA DEA DEA DEA DE

IIIIIMMMMMPPPPPRRRRRENENENENENSA - ABSA - ABSA - ABSA - ABSA - ABIIIII, sediada na RuaAraújo Porto Alegre, 71 – Castelo – Riode Janeiro – RJ, CEP: 20.030-012,legalmente constituída e registrada comsituação cadastral na Secretaria daReceita Federal ATIVA, CNPJ n°34.058.917/0001-69, é uma entidadesem fins lucrativos. Reconhecida comode utilidade pública no GovernoVenceslau Brás Pereira Gomes, em 14de julho de 1917, através do Decreto nº3.297, a ABI vem atuando há um séculona assistência social aos jornalistas esuas famílias, na promoção cultural deseus associados e na defesa dosinteresses do País e do povo brasileiro e

DEMONSTRAÇÃO DE RESULTADO SIMPLIFICADAASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI

Em 31 de dezembro de 2009 e 2008

BALANÇO PATRIMONIAL SIMPLIFICADOASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI

Em 31 de dezembro de 2009 e 2008

CONSOLIDADOEM R$

ATIVO

CIRCULANTE

- DISPONIBILIDADES

- CRÉDITOS A RECEBER

NÃO CIRCULANTE

REALIZÁVEL A LONGO PRAZO

- C/C ABI-SP NA SEDE-RJ

- CRÉDITOS A RECEBER

- DEPÓSITOS JUDICIAIS

• INVESTIMENTOS

• IMOBILIZADO

- BENS MÓVEIS

- BENS IMÓVEIS

• INTANGÍVEL

- MARCAS, DIREITOS E PATENTES

TOTAL

NotaExplicativa

4

5

6

7

8

2009

461.889,81

16.574,57

445.315,24

222.394,19

0,00

130.165,45

92.228,74

1.017.641,92

1.017.055,69

334.049,36

683.006,33

586,23

586,23

1.701.925,92

2008

566.292,33

109.001,51

457.290,82

240.902,64

23.335,53

125.338,37

92.228,74

961.448,82

961.448,82

310.057,41

651.391,41

0,00

0,00

1.768.643,79

PASSIVO

CIRCULANTE

- OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIAS

- CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS

- FORNECEDORES

- EMPRÉSTIMOS

- OBRIGAÇÕES COM EMPREGADOS

- OUTRAS OBRIGAÇÕES

NÃO CIRCULANTE

EXIGÍVEL A LONGO PRAZO

- JUROS E MULTAS A PAGAR

- CEDAE

- C/C ABI-RJ NA REPRESENTAÇÃO SP

PATRIMÔNIO SOCIAL

- FUNDO PATRIMONIAL

- FUNDOS ESTATUTÁRIOS

- SUPERÁVIT/DÉFICIT ACUMULADOS

TOTAL

NotaExplicativa

9

10

11

12

13

14

15

16

17

2009

669.656,25

8.937,99

138.163,97

6.661,80

282.901,63

40.174,68

192.816,18

221.259,33

160.056,41

61.202,92

0,00

811.010,34

301.357,78

509.652,56

-

1.701.925,92

2008

338.468,32

3.578,21

137.308,85

150.346,58

17.654,23

15.779,77

13.800,68

279.420,24

160.056,41

96.028,30

23.335,53

1.150.755,23

301.357,78

849.397,45

-

1.768.643,79

fosse apresentado recurso ao CNAS,porém a ABI, ao dar entrada no CNAS,constatou que já existia o Processo n°71010.00795/2004-17, requerendo arestituição da imunidade retroativa ajaneiro de 1995. Em 11 de maio de2005 o CNAS indeferiu, determinandoo arquivamento do pedido. Em julho de2005, a ABI formula novo pedido deRECONSIDERAÇÃO do indeferimentopublicado no D.O.U. de 17 de maio de2005. Em janeiro de 2006 o CNASindeferiu o pedido e arquivou oprocesso. Apesar da falta desensibilidade do CNAS, a ABI ainda temesperança no restabelecimento daisenção das contribuições sociais,interrompida em 1 de janeiro de 1995.O PO PO PO PO PROROROROROJJJJJEEEEETTTTTO DE LEI DO SENADO NºO DE LEI DO SENADO NºO DE LEI DO SENADO NºO DE LEI DO SENADO NºO DE LEI DO SENADO Nº11111999991/21/21/21/21/2006, de autoria do Senador006, de autoria do Senador006, de autoria do Senador006, de autoria do Senador006, de autoria do SenadorJosé SarneyJosé SarneyJosé SarneyJosé SarneyJosé Sarney, que concede isenção, que concede isenção, que concede isenção, que concede isenção, que concede isençãotributária as Academia Brasileira detributária as Academia Brasileira detributária as Academia Brasileira detributária as Academia Brasileira detributária as Academia Brasileira deLetras–ABLetras–ABLetras–ABLetras–ABLetras–ABL, Associação Brasileira deL, Associação Brasileira deL, Associação Brasileira deL, Associação Brasileira deL, Associação Brasileira deImprensa–ABImprensa–ABImprensa–ABImprensa–ABImprensa–ABI e Instituto Histórico eI e Instituto Histórico eI e Instituto Histórico eI e Instituto Histórico eI e Instituto Histórico eGeogGeogGeogGeogGeográfico Brasileiro–Iráfico Brasileiro–Iráfico Brasileiro–Iráfico Brasileiro–Iráfico Brasileiro–IIIIIIHGB, eHGB, eHGB, eHGB, eHGB, ecancela os débitos fiscais destascancela os débitos fiscais destascancela os débitos fiscais destascancela os débitos fiscais destascancela os débitos fiscais destasinstituições, dará solução aoinstituições, dará solução aoinstituições, dará solução aoinstituições, dará solução aoinstituições, dará solução aoproblema. O processo estáproblema. O processo estáproblema. O processo estáproblema. O processo estáproblema. O processo estátramitando na Comissão de Assuntostramitando na Comissão de Assuntostramitando na Comissão de Assuntostramitando na Comissão de Assuntostramitando na Comissão de AssuntosEconômicos, conforme relatório deEconômicos, conforme relatório deEconômicos, conforme relatório deEconômicos, conforme relatório deEconômicos, conforme relatório detramitação do Senado Ftramitação do Senado Ftramitação do Senado Ftramitação do Senado Ftramitação do Senado Federal anexo.ederal anexo.ederal anexo.ederal anexo.ederal anexo.Assim, a ABI continuou adotando,durante o exercício 2008, o mesmoprocedimento de renúncia fiscal dascontribuições sociais adotados em 2007.Enquanto isso, a ABEnquanto isso, a ABEnquanto isso, a ABEnquanto isso, a ABEnquanto isso, a ABI ingI ingI ingI ingI ingressou comressou comressou comressou comressou comAção Ordinária TAção Ordinária TAção Ordinária TAção Ordinária TAção Ordinária Tributária (Processoributária (Processoributária (Processoributária (Processoributária (Processo22222009.5009.5009.5009.5009.51.01.01.01.01.01.003.11.003.11.003.11.003.11.003.183.3) na 283.3) na 283.3) na 283.3) na 283.3) na 28ª. V8ª. V8ª. V8ª. V8ª. VaraaraaraaraaraFFFFFederal do Rederal do Rederal do Rederal do Rederal do RJ, contra a União com oJ, contra a União com oJ, contra a União com oJ, contra a União com oJ, contra a União com oobjetivo de reconhecimento judicialobjetivo de reconhecimento judicialobjetivo de reconhecimento judicialobjetivo de reconhecimento judicialobjetivo de reconhecimento judicialda cerda cerda cerda cerda certificação filantrópica para finstificação filantrópica para finstificação filantrópica para finstificação filantrópica para finstificação filantrópica para finsde imunidade tributária e obtençãode imunidade tributária e obtençãode imunidade tributária e obtençãode imunidade tributária e obtençãode imunidade tributária e obtençãode cerde cerde cerde cerde certidão negativa de débito.tidão negativa de débito.tidão negativa de débito.tidão negativa de débito.tidão negativa de débito.Espera-se com isso a anulação dosEspera-se com isso a anulação dosEspera-se com isso a anulação dosEspera-se com isso a anulação dosEspera-se com isso a anulação dosdébitos fiscais, multas e juros dasdébitos fiscais, multas e juros dasdébitos fiscais, multas e juros dasdébitos fiscais, multas e juros dasdébitos fiscais, multas e juros dascontribuições previdenciárias. A açãocontribuições previdenciárias. A açãocontribuições previdenciárias. A açãocontribuições previdenciárias. A açãocontribuições previdenciárias. A açãocontinua tramitando na Justiça aindacontinua tramitando na Justiça aindacontinua tramitando na Justiça aindacontinua tramitando na Justiça aindacontinua tramitando na Justiça aindasem julgamentosem julgamentosem julgamentosem julgamentosem julgamento; f) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paraf) Provisão paracontingências: contingências: contingências: contingências: contingências: Não foram constituídasprovisões para contingências comexpectativa de “perda provável”, tendoem vista não ter existido manifestaçãoda consultoria jurídica sobre os custosdos desfechos dos processos emandamento na Justiça; g) Demaisg) Demaisg) Demaisg) Demaisg) DemaisAtivos e PAtivos e PAtivos e PAtivos e PAtivos e Passivos: assivos: assivos: assivos: assivos: Os demais ativos epassivos, classificados no circulante elongo prazo obedecem ao prazo derealização ou de exigibilidade. Essesativos e passivos estão apresentadospelo valor de custo ou realização; h)h)h)h)h)Apuração do Resultado: Apuração do Resultado: Apuração do Resultado: Apuração do Resultado: Apuração do Resultado: As receitas eos gastos foram reconhecidos peloregime de competência, registrandoum déficit de R$ 3déficit de R$ 3déficit de R$ 3déficit de R$ 3déficit de R$ 3333339.79.79.79.79.744,8944,8944,8944,8944,89(tre(tre(tre(tre(trezentos e trinta e nove mil,zentos e trinta e nove mil,zentos e trinta e nove mil,zentos e trinta e nove mil,zentos e trinta e nove mil,setecentos e quarenta e quatro reaissetecentos e quarenta e quatro reaissetecentos e quarenta e quatro reaissetecentos e quarenta e quatro reaissetecentos e quarenta e quatro reaise oitenta e nove centavos)e oitenta e nove centavos)e oitenta e nove centavos)e oitenta e nove centavos)e oitenta e nove centavos)..... Oresultado refletiu a crise que o Paísenfrentou no exercício. As despesasoperacionais se mantiveram nospatamares do exercício anterior.Entretanto, a receita total teve umaredução de 25% em relação a 2008.Os maiores ofensores foram asreduções de 84% e 21% nas Receitas

demonstrações contábeis são asseguintes: a)a)a)a)a) Imobilizado: Imobilizado: Imobilizado: Imobilizado: Imobilizado: Estáregistrado ao custo de aquisição. Adepreciação é calculada pelo métodolinear, com base em taxas determinadasem função do prazo de vida útilestimada dos bens; b) Imposto deb) Imposto deb) Imposto deb) Imposto deb) Imposto deRenda PRenda PRenda PRenda PRenda Pessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – Iessoa Jurídica – IRRRRRPPPPPJ eJ eJ eJ eJ eContribuição Social sobre o Lucro –Contribuição Social sobre o Lucro –Contribuição Social sobre o Lucro –Contribuição Social sobre o Lucro –Contribuição Social sobre o Lucro –CSL: CSL: CSL: CSL: CSL: A ABI goza da prerrogativaconcedida pela União de isenção doImposto de Renda PImposto de Renda PImposto de Renda PImposto de Renda PImposto de Renda Pessoa Jurídica -essoa Jurídica -essoa Jurídica -essoa Jurídica -essoa Jurídica -IIIIIRRRRRPPPPPJ e Contribuição Social sobre oJ e Contribuição Social sobre oJ e Contribuição Social sobre oJ e Contribuição Social sobre oJ e Contribuição Social sobre oLucro - CSLLLucro - CSLLLucro - CSLLLucro - CSLLLucro - CSLL, conforme o art.15 da Lein° 9.532/97; c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: c) Cofins: A isenção destacontribuição esteve amparada pelalegislação que vigiu até 31/01/99 (art.6°, III, da Lei Complementar n° 70/91).A partir de 01/02/99, de acordo comos arts. 2° e 3° da Lei n° 9.718/98, abase de cálculo da Cofins foi ampliada.Porém, nos termos do art. 14, inciso X,da MP n° 1.991-16/2000, atual MP n°2.158-35/2001, em relação aos fatosgeradores ocorridos a partir de 01/02/99 as instituições de caráter filantrópico,recreativo, cultural, científico eassociações isentas do imposto derenda continuaram isentas da Cofins,mas restringindo às receitas relativasàs atividades próprias das entidades.d) Pis/Pd) Pis/Pd) Pis/Pd) Pis/Pd) Pis/Pasep:asep:asep:asep:asep:

A ABI efetua regularmente ospagamentos mensais com a alíquota de1% sobre a folha de salários, conformelegislação vigente. e)e)e)e)e) ContribuiçõesContribuiçõesContribuiçõesContribuiçõesContribuiçõesprevidenciárias: previdenciárias: previdenciárias: previdenciárias: previdenciárias: A isenção destascontribuições, de que tratam os arts. 22e 23 da Lei n° 8.212/91, concedida àsentidades beneficentes de assistênciasocial, foi cancelada em 18 de agostode 2003 pelo ATO CANCELATÓRIO DEISENÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES SOCIASN° 17.001/001/2003, retroagindo seusefeitos a 1 de janeiro de 1995. A atualadministração recorreuadministrativamente ao INSS em 4 denovembro de 2004 (Processo35301.011197/2004-34), o que foiindeferido. O Instituto orientou que

NOTAS EXPLICATIVASÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS

EM 31 DE DEZEMBRO DE 2009 E 2008 (Em Reais)

promovendo atividades filantrópicas,como estabelecido em seu Estatuto.

2. APRESENTAÇÃO DASDEMONSTRAÇÕES CONTÁBEISAs demonstrações financeiras foram

elaboradas e estão sendo apresentadasde acordo com as práticas contábeisadotadas no Brasil, de acordo com asnormas do Conselho Federal deContabilidade, obedecendo aocumprimento de todos os princípioscontábeis.

3. SUMÁRIO DAS PRINCIPAISPRÁTICAS CONTÁBEISAs principais práticas contábeis

adotadas pela ABI na elaboração das

39Jornal da ABI 354 Maio de 2010

de Patrocínio e Publicidade,respectivamente. Assim, a ABI teve umimpacto negativo na sua liquidez, tendoque captar recursos de curto prazo paramanter um capital de giro necessáriopara honrar as obrigações ordinárias.Concluindo, pode-se afirmar que,apesar das dificuldades encontradas noexercício diante de uma conjunturamacroeconômica adversa, a ABIconseguiu superar as dificuldades etem como meta, após a retomada docrescimento econômico, potencializaras receitas impactadas neste exercícioe recuperar a saúde financeira no anode 2010 .

4. DISPONIBILIDADESRepresenta os valores das contas

Caixa e Bancos devidamente conciliadas.

5. ATIVO NÃO CIRCULANTE –C/C ABI-SP NA SEDE-RJO valor da conta representa os

recursos aplicados na ABI-SP paracustear o funcionamento operacionalde uma estrutura mínima. Em 2009 acontabilização foi realizadacentralizadamente na ABI e o saldo foiajustado.

6. ATIVO NÃO CIRCULANTE –CRÉDITOS A RECEBERO valor de R$ 125.338,37 (cento e

vinte e cinco mil, trezentos e trinta e oitoreais e trinta e sete centavos), s.m.j.,resulta de vários direitos que continuammerecendo providências jurídicas, amédio e longo prazos, para o seurecebimento.

7. ATIVO NÃO CIRCULANTE –DEPÓSITOS JUDICIAISA ABI tem por decisão judicial desde

2006 o bloqueio das contas 1011882-4, Agência 026-4 do Banco Bradesco,no valor de R$ 57.637,29 (cinqüenta esete mil, seiscentos e trinta e sete reaise vinte e nove centavos) e 1010266-9,Agência 026-4 do mesmo Banco, R$34.591,45 (trinta e quatro mil,quinhentos e noventa e um reais equarenta e cinco centavos); totalizandoR$ 92.228,74 (noventa e dois mil,

duzentos e vinte e oito reais e setenta equatro centavos). Este saldo retratavalores do extrato bancário de março de2008, pois a partir deste mês o Bancoinformou que não forneceria mais osextratos das contas.

8. IMOBILIZADOOs valores do balanço patrimonial

não retratam o preço real dos bensmóveis e imóveis. Quanto aos valoresdos imóveis, torna-se necessário umareavaliação por perito ou empresaespecializada para ajuste de seu valorcontábil.

O valor de Marcas e Patentes foitransferido do Imobilizado para o novogrupo Intangível visando a cumprirdisposição da Lei nº 11.638/2007.

9. OBRIGAÇÕES TRIBUTÁRIASa) IRFOs valores já lançados na dívida ativa

foram objeto de notificação e cobrançaatravés de Termo de Constatação Fiscaldemonstrando um valor de R$38.998,67 (Principal + Multa),conforme Processo RPF/MPF nº0719000/02011/2005. Aadministração, tempestivamente, em 15de dezembro de 2005, requereu oparcelamento em 30 (trinta) meses,através do Processo 18471.001520/2005-71. A ABI efetuou o pagamentode 6 (seis) parcelas de R$ 1.316,94(hum mil, trezentos e dezesseis reais enoventa e quatro centavos). A PagadoriaGeral da Fazenda Nacional–Dívida Ativa,processou novo parcelamento comprazo de 60 (sessenta) meses noexercício de 2006, no valor de R$633,99 (seiscentos e trinta e três reais enoventa e nove centavos). A ABIcontinua honrando os pagamentosmensalmente.

b) ITROs ITR´s de 1998, 1999, 2001 e

2002 foram parcelados junto à DívidaAtiva em 60 (sessenta) meses e estãosendo pagos regularmente. A partir de2003 a ABI passou a fazer asdeclarações no prazo e vem efetuandoos pagamentos em dia.

10. CONTRIBUIÇÕES SOCIAISa) INSS Empregador a RecolherOs valores apurados até abril de

2004 e atualizados até dezembro de2007 são R$ 3.460.100,64 (trêsmilhões, quatrocentos e sessenta mil,cem reais e sessenta e quatro centavos)e não foram reconhecidos no passivoem função das informações constantesda Nota Explicativa 3e. Mesmo assim, oINSS está dando andamento aoprocesso de cobrança com aconseqüente execução do débito, masexistem duas alternativas para nãopagamento da dívida: a) o Projeto deLei do Senado nº 191, de 2006; b) aAção Ordinária Tributária contra a Uniãopara anular os débitos fiscais.

b) INSS Empregado a Recolher Os valores históricos de retenção da

contribuição social do empregado pelaABI e não recolhidos ao INSS, praticadapor gestões anteriores, estão emprocesso de execução no INSS. Caberessaltar que a nova administração, apartir de maio de 2004, passou a adotarum procedimento para pagamento detodas as retenções. O valor retidoatualizado até dezembro de 2007totaliza R$ 375.785,61 (trezentos esetenta e cinco mil, setecentos e oitentae cinco reais e sessenta e um centavos).A atual administração, apesar de não serresponsável pelo delito, requereujudicialmente o pagamento da dívida alongo prazo, com o oferecimento de umpercentual da receita.

c) INSS Autônomo a RecolherOs valores históricos contabilizados

sob este título representam a retençãoda contribuição social dos autônomosefetuados pela ABI e não recolhidos aoINSS. Cabe a observação de que a novaadministração a partir de maio de 2004passou a adotar um procedimento parapagamento de todas as retenções. Ovalor retido atualizado até dezembro de2006 está incluído no débito apuradodo INSS Empregado.

11. FORNECEDORESOs valores desta conta representam

as obrigações de curto prazo dosfornecedores de materiais e serviços.

12. EMPRÉSTIMOSA ABI captou recursos de curto prazo

em Instituição Financeira para reforço docapital de giro.

DEMONSTRAÇÕES DAS MUTAÇÕES DO PATRIMÔNIO LÍQUIDOASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI

Em 31 de dezembro de 2009 e 2003

Em 31 de Dezembro de 2003

Superávit do Exercício 2004

Em 31 de Dezembro de 2004

Superávit do Exercício 2005

Em 31 de Dezembro de 2005

Déficit do Exercício

Transferência para Fundo estatutário

Em 31 de Dezembro de 2006

Superávit do Exercício

Transferência para Fundo estatutário

Em 31 de Dezembro de 2007

Superávit do Exercício 2008

Transferência para Fundo estatutário

Em 31 de Dezembro de 2008

Déficit do Exercício 2009

Em 31 de Dezembro de 2009

PatrimônioSocial

301.357,78

301.357,78

301.357,78

301.357,78

301.357,78

301.357,78

301.357,78

FundosEstatutários

58.501,89

58.501,89

58.501,89

58.501,89

58.501,89

790.895,56

849.397,45

-339.744,89

509.652,56

Superávit (Déficit)Acumulado

-229.797,57

175.763,69

-54.033,88

288.425,01

234.391,13

-52.819,84

181.571,29

215.769,25

397.340,54

393.555,02

-790.895,56

0,00

339.744,89

0,00

Total

130.062,10

305.825,79

594.250,80

541.430,96

757.200,21

393.555,02

1.150.755,23

811.010,34

EM R$

SERGIO CORREIA BARBOSACONTADOR – C.R.C. – RJ - 073957

13. OBRIGAÇÕESCOM EMPREGADOSAs diferenças salariais não pagas por

gestões anteriores, referentes aosAcordos Coletivos, no valor deR$100.542,10 (cem mil, quinhentos equarenta e dois reais e dez centavos),foram pagas durante o exercício de2009. Assim, este passivo foisolucionado através de negociação como sindicato da categoria.

14. PASSIVO NÃO CIRCULANTE –JUROS E MULTAS A PAGARO valor representa as multas e juros

com o passivo do INSS, não atualizadopor estar aguardando orientação jurídicaquanto à Ação de Execução Fiscal2006.51.01.527985-1, em curso na5ª. Vara Federal de Execução Fiscal doRio de Janeiro. Conforme dito na NotaExplicativa 3e, a ABI espera obtersucesso com a Ação Ordinária Tributáriamovida contra a União para anular osdébitos fiscais.

15. PASSIVO NÃO CIRCULANTE –CEDAEA ABI renegociou a dívida junto à

Cedae em 80 (oitenta) parcelas de R$2.901,85 (dois mil, novecentos e umreais e oitenta e cinco centavos). Omontante da dívida de 144.649,5751UFIR, em outubro de 2005, totalizavaR$ 232.148,00 (duzentos e trinta e doismil, cento e quarenta e oito reais). A ABIestá efetuando os pagamentos em dia eo término previsto no contrato é junhode 2012.

16. PASSIVO NÃO CIRCULANTE –C/C ABI-RJ NA REPRESENTAÇÃOSP C/C ABI-SPO valor da conta representa os

recursos recebidos da ABI-RJ que estãoem poder da Representação ABI-SP paracustear o funcionamento operacional.Em 2009 a contabilização foi realizadacentralizadamente na ABI e o saldo foiajustado.

17. PATRIMÔNIO LÍQUIDOConsiderando que os Superávits

Acumulados de exercícios anteriores,bem como do exercício de 2008, foramtransferidos para o Fundo Estatutário,tendo em vista que a legislação nãopermite mais que no fechamento doexercício haja saldo na conta SuperávitAcumulado, o Prejuízo do Exercício foicompensado com este Fundo.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA

OSCAR MAURÍCIO DE LIMA AZEDOPRESIDENTE