32
366 MAIO 2011 PÁGINAS 26 E 27 O começo não foi fácil, porque o diretor da antiga TV Tupi queria algo alegre: um time de bichos que a garotada adorasse. Trinta anos depois ainda está por ser esclarecido o atentado terrorista do Riocentro, que tinha como alvo, em 1º de maio de 1981, um show musical que reunia milhares de jovens. O Exército armou uma farsa para deixar o crime impune e até hoje não revelou a verdade à opinião pública. TIA GLADYS Professora de Desenho, foi dela o primeiro programa infantil da tv PÁGINAS 24 E 25 E EDITORIAL O EXÉRCITO DEVE PEDIR DESCULPAS, PÁGINA 2 Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa EDIÇÃO DUPLA ACOMPANHA EDIÇÃO EXTRA COMEMORATIVA DO DIA DA IMPRENSA TODA A HISTÓRIA DO EXPURGO FEITO PELO ITAMARATY EM 1969 O COMANDANTE DA RAZZIA FOI O CHANCELER MAGALHÃES PINTO, UM FALSO LIBERAL QUE ASSINOU O AI-5. PÁGINAS 3, 4, 5, 6 E 7 PM NÃO TRÉGUA E CERCA A ABI NO ESTADO DE DIREITO ISTOÉ ESPALHA COMO REAL PIADA SEM GRAÇA DA INTERNET JORNALISTAS QUEREM PUNIR TRUCULÊNCIA DE REQUIÃO O PRETEXTO FOI UM ATO DE SOLIDARIEDADE AOS 13 DO PROTESTO CONTRA O PRESIDENTE BARACK OBAMA, EM MARÇO PASSADO. PÁGINA 9 A REVISTA TRATOU A BRINCADEIRINHA COMO MATÉRIA SÉRIA, REPRODUZIU O MAU GOSTO E ATÉ SERGINHO GROISMAN CAIU NESSA. PÁGINAS 14 E 15 NUNCA O SENADO ASSISTIU A ATOS DE TANTA VIOLÊNCIA COMO OS QUE ELE COMETEU CONTRA UM REPÓRTER DA BAND. PÁGINA 19 O Puma do atentado, símbolo do terrorismo de Estado. ACERVO PESSOAL

Jornal da ABI 366

Embed Size (px)

DESCRIPTION

Trinta anos depois ainda está por ser esclarecido o atentado terrorista do Riocentro, que tinha como alvo, em 1º de maio de 1981, um show musical que reunia milhares de jovens. O Exército armou uma farsa para deixar o crime impune e até hoje não revelou a verdade à opinião pública. E mais: - Toda a história do expurgo feito pelo Itamaraty em 1969 - PM não dá trégua e cerca a ABI no Estado de Direito - IstoÉ espalha como real piada sem graça da internet - Jornalistas querem punir truculência de Requião - Tia Gladys: Professora de Desenho, foi dela o primeiro programa infantil da tv - Justiça para o Padre Landell de Moura, o inventor do rádio - O Memorial da Resistência mostra quem resistiu às ditaduras

Citation preview

Page 1: Jornal da ABI 366

366MAIO2011

PÁGINAS 26 E 27O começo não foi fácil, porque o diretor da antiga TV Tupi queria algo alegre: um time de bichos que a garotada adorasse.

Trinta anos depois ainda está por ser esclarecido o atentado terrorista do Riocentro, que tinhacomo alvo, em 1º de maio de 1981, um show musical que reunia milhares de jovens. O Exército

armou uma farsa para deixar o crime impune e até hoje não revelou a verdade à opinião pública.

TIA GLADYS Professora de Desenho, foi dela o primeiro programa infantil da tv

PÁGINAS 24 E 25 E EDITORIAL O EXÉRCITO DEVE PEDIR DESCULPAS, PÁGINA 2

Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa

EDIÇÃO DUPLA

ACOMPANHA

EDIÇÃO EXTRA

COMEMORATIVA

DO DIA DA

IMPRENSA

TODA A HISTÓRIA DO EXPURGOFEITO PELO ITAMARATY EM 1969O COMANDANTE DA RAZZIA FOI O CHANCELERMAGALHÃES PINTO, UM FALSO LIBERAL QUEASSINOU O AI-5. PÁGINAS 3, 4, 5, 6 E 7

PM NÃO DÁ TRÉGUA E CERCAA ABI NO ESTADO DE DIREITO

ISTOÉ ESPALHA COMO REALPIADA SEM GRAÇA DA INTERNET

JORNALISTAS QUEREM PUNIRTRUCULÊNCIA DE REQUIÃO

O PRETEXTO FOI UM ATO DE SOLIDARIEDADE AOS13 DO PROTESTO CONTRA O PRESIDENTE BARACK

OBAMA, EM MARÇO PASSADO. PÁGINA 9

A REVISTA TRATOU A BRINCADEIRINHA COMO MATÉRIASÉRIA, REPRODUZIU O MAU GOSTO E ATÉ SERGINHO

GROISMAN CAIU NESSA. PÁGINAS 14 E 15

NUNCA O SENADO ASSISTIU A ATOS DE TANTAVIOLÊNCIA COMO OS QUE ELE COMETEU CONTRA

UM REPÓRTER DA BAND. PÁGINA 19

O Puma do atentado, símbolo do terrorismo de Estado.

ACERVO

PESSOAL

Page 2: Jornal da ABI 366

2 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

EditorialEditorial

O EXÉRCITO DEVE PEDIR DESCULPASPASSADOS 30 ANOS DAQUELES dias sinistros,

evocados agora com um acento crítico quenão era possível na época, em razão da cen-sura e do arbítrio imperantes, é chegado omomento de se conhecer a verdade sobre ofrustrado atentado de que foram incumbi-dos o então Capitão Wilson Lopes Macha-do e o Sargento Guilherme Pereira do Rosá-rio contra a realização do Show 1º de Maio,em 30 de abril de 1981, nas dependênciasdo Riocentro, em Jacarepaguá.

EPISÓDIO MARCANTE DO GOVERNO do Ge-neral João Batista de Figueiredo, o atenta-do tinha por objetivo imediato a explosãode bombas que impedissem a realização doespetáculo e punissem com morte e ferimen-tos boa parte de seus milhares de especta-dores. Grande parte destes seria vítima doatropelo que então se criaria com a tentati-va massiva de fuga de centenas de integran-tes da platéia.

A IMPERÍCIA DOS EXECUTORES DO ATENTADOevitou a tragédia planejada: a bomba ex-plodiu no colo do Sargento Rosário, ma-tando-o na hora, quando ele a manipulavano banco do carona, e provou lesões extre-mamente graves no Capitão Wilson Macha-do, que dirigia um carro Puma usado na ope-ração, salvo da morte pela competência dasequipes médicas do Hospital Municipal Mi-guel Couto.

NÃO LOGROU O ATENTADO efetivar a moti-vação maior que o determinara, qual seja a

pressão dos elementos da chamada linha durado regime, partidários de uma ditadura ain-da mais brutal e de uma repressão ainda maisimpiedosa do que aquela que torturava e mata-va seus adversários. A manifestação terroris-ta não era de responsabilidade exclusiva dosagentes que a executavam, pois toda umateia se estendia pelos bolsões de resistên-cia dos partidários da ditadura à possibili-dade que se desenhava de ampliação da aber-tura política iniciada no Governo do dita-dor precedente, General Ernesto Geisel. Portrás da manobra, como revelou em entre-vista a O Globo o Almirante Júlio de Sá Bi-errenbach, então um dos próceres do regi-me, estava um dos aspirantes a sucessor doditador de plantão, o General Otávio Medei-ros, que se considerava herdeiro natural da

ditadura em razão das quatro-estrelas queostentava como general-de-exército.

DIANTE DO IMPREVISTO GERADO pela ex-plosão prematura da bomba do SargentoRosário, o Ministério do Exército concebeue montou uma farsa para descaracterizar aautoria do atentado, instaurando um in-quérito confiado a um militar, o Coronel JobLorena, que cumpriu à risca a missão quelhe foi determinada: a de atribuir o ato ter-rorista à própria oposição ao regime e im-pedir eficaz apuração do episódio. Com apa-rato e cenografia que incluíram exibição deslides, projeção de gráficos e exibição de peçasde sustentação da versão que se pretendiaimpor à opinião pública, o Coronel Job Lorenafoi eficiente: produziu uma farsa que o Exér-cito patrocinou, dando como procedentesas falsidades de que estavam inçadas suaexposição e suas conclusões. Tal eficiênciateve seu estipêndio: pouco depois Job Lo-rena era promovido a general.

ESTA É UMA DAS DÍVIDAS que o Exército aindaestá por resgatar diante do conjunto dasociedade e da posteridade e do próprio juízoda História: ou pede desculpas pela farsacom que ofendeu a inteligência coletiva oupromove a divulgação dos documentos e tes-temunhos sobre o que realmente aconteceunaquela noite em que o terrorismo de Esta-do planejou o assassinato de milhares dejovens que pretendiam apenas assistir àapresentação dos principais astros da mú-sica popular brasileira.

MA

NIPU

LAÇ

ÃO

SOB

RE FO

TO D

E AN

IBA

L PHILO

T/AG

ÊNC

IA O

GLO

BO

DIRETORIA – MANDATO 2010-2013Presidente: Maurício AzêdoVice-Presidente: Tarcísio HolandaDiretor Administrativo: Orpheu Santos SallesDiretor Econômico-Financeiro: Domingos MeirellesDiretor de Cultura e Lazer: Jesus ChediakDiretora de Assistência Social: Ilma Martins da SilvaDiretora de Jornalismo: Sylvia Moretzsohn

CONSELHO CONSULTIVO 2010-2013Ancelmo Goes, Aziz Ahmed, Chico Caruso, Ferreira Gullar, Miro Teixeira, Nilson Lagee Teixeira Heizer.

CONSELHO FISCAL 2011-2012Adail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos Vaz, Jorge Saldanhade Araújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos Chesther de Oliveira e Manolo Epelbaum.

MESA DO CONSELHO DELIBERATIVO 2011-2012Presidente: Pery CottaPrimeiro Secretário: Sérgio CaldieriSegundo Secretário: Marcus Antônio Mendes de Miranda

Conselheiros Efetivos 2011-2014Alberto Dines, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Arthur José Poerner, DácioMalta, Ely Moreira, Hélio Alonso, Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Milton Coelho daGraça, Modesto da Silveira, Pinheiro Júnior, Rodolfo Konder, Sylvia Moretzsohn,Tarcísio Holanda e Villas-Bôas Corrêa.

Conselheiros Efetivos 2010-2013André Moreau Louzeiro, Benício Medeiros, Bernardo Cabral, Carlos Alberto MarquesRodrigues, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José GomesTalarico (in memoriam), Marcelo Tiognozzi, Maria Ignez Duque Estrada Bastos, MárioAugusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa e Sérgio Cabral.

Conselheiros Efetivos 2009-2012Adolfo Martins, Afonso Faria, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Meirelles,Fernando Segismundo, Glória Suely Álvarez Campos, Jorge Miranda Jordão, JoséÂngelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Luís Erlanger, Márcia Guimarães,Nacif Elias Hidd Sobrinho, Pery de Araújo Cotta e Wilson Fadul Filho.

Conselheiros Suplentes 2011-2014Alcyr Cavalcânti, Carlos Felipe Meiga Santiago, Edgar Catoira, Francisco Paula Freitas,Francisco Pedro do Coutto, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Pereira daSilva (Pereirinha), Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon, Salete Lisboa,Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães.

Conselheiros Suplentes 2010-2013Adalberto Diniz, Alfredo Ênio Duarte, Aluízio Maranhão, Arcírio Gouvêa Neto, DanielMazola Froes de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, JoséSilvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, SérgioCaldieri, Wilson de Carvalho, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.

Conselheiros Suplentes 2009-2012Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Argemiro Lopes do Nascimento (MiroLopes), Arnaldo César Ricci Jacob, Ernesto Vianna, Hildeberto Lopes Aleluia, JordanAmora, Jorge Nunes de Freitas (in memoriam), Luiz Carlos Bittencourt, Marcus AntônioMendes de Miranda, Mário Jorge Guimarães, Múcio Aguiar Neto, Raimundo CoelhoNeto (in memoriam) e Rogério Marques Gomes.

COMISSÃO DE SINDICÂNCIACarlos Felipe Meiga Santiago, Carlos João Di Paola, José Pereira da Silva (Pereirinha),Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Marcus Antônio Mendes de Miranda.

COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃOAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

COMISSÃO DE DEFESA DA LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOSAlcyr Cavalcânti, Antônio Carlos Rumba Gabriel, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel deCastro, Geraldo Pereira dos Santos,Germando de Oliveira Gonçalves, GilbertoMagalhães, José Ângelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Lucy MaryCarneiro, Luiz Carlos Azêdo, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind,Martha Arruda de Paiva, Sérgio Caldieri, Wilson de Carvalho e Yacy Nunes.

COMISSÃO DIRETORA DA DIRETORIA DE ASSISTÊNCIA SOCIALIlma Martins da Silva, Presidente; Manoel Pacheco dos Santos, Maria do PerpétuoSocorro Vitarelli, Mirson Murad e Moacyr Lacerda.

REPRESENTAÇÃO DE SÃO PAULOConselho Consultivo: Rodolfo Konder (Diretor), Fausto Camunha, George BenignoJatahy Duque Estrada, James Akel, Luthero Maynard e Reginaldo Dutra.

Jornal da ABINúmero 366 - Maio de 2011

O JORNAL DA ABI NÃO ADOTA AS REGRAS DO ACORDO ORTOGRÁFICO DOS PAÍSES DE LÍNGUA PORTUGUESA, COMO ADMITE O DECRETO Nº 6.586, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.

Editores: Maurício Azêdo e Francisco UchaProjeto gráfico e diagramação: Francisco UchaEdição de textos: Maurício Azêdo

Apoio à produção editorial: Alice Barbosa Diniz,André Gil, Conceição Ferreira, Guilherme PovillVianna, Maria Ilka Azêdo, Ivan Vinhieri, Mário Luiz deFreitas Borges.

Publicidade e Marketing: Francisco Paula Freitas(Coordenador), Queli Cristina Delgado da Silva,Paulo Roberto de Paula Freitas.

Diretor Responsável: Maurício Azêdo

Associação Brasileira de ImprensaRua Araújo Porto Alegre, 71Rio de Janeiro, RJ - Cep 20.030-012Telefone (21) 2240-8669/2282-1292e-mail: [email protected]

Representação de São PauloDiretor: Rodolfo KonderRua Dr. Franco da Rocha, 137, conjunto 51Perdizes - Cep 05015-040Telefones (11) 3869.2324 e 3675.0960e-mail: [email protected]

Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda.Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1.808Osasco, SP

Page 3: Jornal da ABI 366

3Jornal da ABI 366 Maio de 2011

O GRANDEEXPURGO DOITAMARATY

Sessão da 49ª Caravana da Anistia, realizada em30 de abril na ABI, revela a arrasadora depuração feita

na diplomacia brasileira durante a ditadura militar.

POR MAURÍCIO AZÊDO

ESPECIAL

Sob o comando do Chanceler Magalhães Pinto, que se procla-mava um liberal mas assinou o Ato Institucional nº 5, em 13 dedezembro de 1968, o Itamaraty promoveu em abril de 1969 o maiorexpurgo da História da diplomacia brasileira, através de uma ra-zzia que demitiu, aposentou, removeu ou repreendeu nada me-nos de 44 servidores, impondo essas punições tanto a funcionári-

os de alta graduação – ministros de segunda classe, que seriam fu-turos embaixadores – como a serventes, motoristas e até um men-sageiro. Acusados de homossexualismo, embriaguez, incontinênciade costumes e de inimigos do regime militar, as vítimas da gigan-tesca depuração tiveram apenas 26 dias de sobrevida no serviçopúblico entre a imputação e a punição – sem direito de defesa.

ILUISTRAÇÃO DE MUNIR AHMED

Page 4: Jornal da ABI 366

4 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

s pormenores dessa caça às bru-xas foram revelados agora nojulgamento do pedido de anis-tia da viúva de um dos cassados,

o diplomata Arnaldo Vieira de Me-llo, que morreu acabrunhado e des-gostoso seis anos após ser desliga-do da instituição a que servira du-rante 28 anos. No parecer que emi-tiu favoravelmente à concessão daanistia pleiteada pela viúva Gildados Santos Vieira de Mello, de 92anos, o Conselheiro da Comissão deAnistia do Ministério da Justiça Vir-ginius José Lianza da Franca fez am-pla e minuciosa descrição das violên-cias então praticadas pelo Itamaratysob a batuta e com o aval do Minis-tro Magalhães Pinto, que assinavaà margem dos processos despachosdeterminando o prosseguimento daperseguição.

O julgamento desse e de mais seisprocessos de anistia ocorreu no Au-ditório Oscar Guanabarino da ABI,no nono andar do Edi-fício Herbert Moses,na 49ª Caravana daAnistia, organizadapor iniciativa do Presi-dente da Comissão deAnistia, Paulo AbrãoPires Júnior, em parce-ria com a ABI, e aber-ta na tarde do dia 30de abril pelo Ministroda Justiça, DeputadoJosé Eduardo Cardo-zo, que prestou home-nagem ao BrigadeiroRui Moreira Lima, Co-mandante do Grupode Caça da Força Aé-rea Brasileira nos céusda Itália, durante aSegunda Guerra Mun-dial. O evento integrou as comemo-rações dos dez anos da Comissão deAnistia e dos três anos da primeira Ca-ravana da Anistia, realizada nessemesmo espaço da ABI no dia 4 de abrilde 2008, ano do centenário da Casa.

O ato reuniu centenas de pessoase contou com a participação de deze-nas de entidades representativas dasociedade civil, que exibiam faixas,cartazes e palavras de ordem nos es-paços do Auditório e de seu saguão,onde eram distribuiídas inúmeras pu-blicações, entre as quais o Jornal daABI, edição de abril de 2011, dedica-da ao Caso Rubens Paiva. Entre asreivindicações expostas figuravam asdo pessoal militar, cuja anistia é ob-jeto de contestação pela burocracia doExército, da Marinha e da Aeronáu-tica. Entre os presentes estavam osDeputados Chico Alencar e JeanWyllys, ambos do Psol, e o Diretor doArquivo Público do Estado do Rio deJaneiro, Professor Paulo Knaus, quetomaram assento à mesa, a ex-Depu-tada Laura Carneiro, Maria Prestes,

ESPECIAL O GRANDE EXPURGO DO ITAMARATY

viúva de Luís Carlos Prestes, e seu fi-lho Luís Carlos Prestes Filho.

Ao lado de sua filha Sônia, de 68anos, a viúva de Arnaldo Vieira deMello acompanhou o julgamento dopedido de anistia na primeira fila daplatéia do Auditório Oscar Guana-barino. Assim como Sônia, ela nãopôde esconder a emoção à medidaque o relator Virginius Lianza avan-çava na leitura de seu parecer e es-pecialmente nos trechos em que fa-lava do anistiando Arnaldo e de seufilho Sérgio Vieira de Mello, o brasi-leiro que chefiava o escritório dasNações Unidas no Iraque morto numatentado terrorista após assumir ocargo. Lembrou Virginius que Sérgiodeixou de concorrer ao Instituto RioBranco, para se tornar funcionário doItamaraty, em protesto contra o tra-tamento que o Governo brasileirodera a seu pai, cortando sua carreirasem processo regular nem direito dedefesa. “A ditadura é uma realidade”,disse então Sérgio Vieira de Mello.

“Agora chega, Rui”Um momento de grande emoção

do ato foi a homenagem do Minis-tério da Justiça ao Brigadeiro RuiMoreira Lima, que é também Presi-dente de Honra da Aliança Democrá-tica dos Militares Nacionalistas-Adnam. Após receber o certificado dehomenagem das mãos do MinistroJosé Eduardo Cardozo, o Brigadeiroiniciou um discurso em que evocoua visita que o embaixador da Alema-nha no Brasil e um alto funcionárioalemão vindo de Berlim fizeram à Es-cola Militar do Realengo, no come-ço da Segunda Guerra Mundial, em1939, para mostrar o poderio bélicode seu país. Organizado pelo Coman-dante da Escola, General Álvaro Fi-úza de Castro, o ato incluiu uma ex-posição dos visitantes, que, para es-tupefação do Comandante, após en-cerrá-la receberam ruidosa vaia doscadetes da Escola, insatisfeitos comos representantes do país que em 1ºde setembro daquele ano invadira a

Polônia, deflagrando a Segunda Guer-ra Mundial.

Antes que Moreira Lima comple-tasse a exposição e falasse de seudesdobramento (os cadetes recebe-ram um carão do General Fiúza deCastro; após nova intervenção dosvisitantes, eles repetiram a vaia ain-da com mais estridência), sua esposasaiu da segunda fila da platéia, su-biu ao palco, tomou-lhe o microfo-ne da mão e o fez encerrar o discur-so apenas iniciado. Sob aplausos erisos da platéia, disse-lhe a Senho-ra Maria José:

“Agora chega, Rui. O médico per-mitiu que você viesse com a condi-ção de falar pouco. Você já agradeceu,falou o necessário.”

O documento entregue ao Briga-deiro Rui Moreira Lima pelo Minis-tro José Eduardo Cardozo tem a se-guinte inscrição:

“CertificadoCertifico que Rui Barbosa Morei-

ra Lima é anistiado político brasilei-ro nos termos da Lei nº 10.4559, de13 de novembro de 2002.

Por meio desta manifestação po-lítica o Estado brasileiro reconheceseus atos de resistência contra o re-gime autoritário e em prol da liber-dade e da democracia em nosso País.

Pela anistia política constrói-se a re-paração aos que foram violados emseus direitos fundamentais, bem comoa memória e a verdade histórica.

Para que não se esqueça,Para que nunca mais aconteça.Rio de Janeiro, 30 de abril de 2011 José Eduardo Cardozo Ministro de Estado da Justiça”

Sob aplausos de Paulo Abrão, Presidente daComissão de Anistia, o Ministro José

Eduardo Cardoso cumprimenta o BrigadeiroMoreira Lima. Abaixo, o Presidente da ABI e

o Deputado Chico Alencar (Psol-RJ).

DIVU

LGAÇ

ÃO/ISAAC

AMO

RIM

DIVU

LGAÇ

ÃO/ISAAC

AMO

RIM

O

Page 5: Jornal da ABI 366

5Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Após a parte solene da 49ª.Caravanada Anistia, a mesa do ato foi desfeita paraceder lugar aos membros do Conselho daComissão de Anistia, para realização dasessão de julgamento dos sete processosconstantes da pauta. O plenário deferiuentão os processos de anistia de seis dossete requerentes:

CARLOS AUGUSTO COSTA RODRIGUES

Filho do Coronel Dagoberto da CostaRodrigues, Diretor-Geral do antigo De-partamento de Correios e Telégrafos econsiderado uma das principais lideran-ças militares para uma eventual resistên-cia do Presidente João Goulart aos gol-pistas, Carlos Augusto, então com dezanos, foi levado com o pai para o exíliono Uruguai. Após formar-se em artesplásticas no país vizinho, retornou aoBrasil com uma série de quadros parauma exposição de seus trabalhos. A re-pressão política prendeu-o sob a acusaçãode estar transportando armas para o Bra-sil, visando a uma ação militar, proces-sou-o e passou a persegui-lo. Restauradoo Estado de Direito e aprovada a anistia,Carlos Augusto livrou-se de seus perse-guidores e levou 37 anos – de 1964 a 2011– para obter justiça. Seu pedido de anis-

O parecer do relator Virginius Lianza no processorelativo ao diplomata Arnaldo Vieira de Mello faz mi-nuciosa exposição das violências a que o Itamaraty sub-meteu seus servidores após a decretação do Ato Institu-cional nª 5, que fundamentou os atos arbitrários depunição, sem conceder aos acusados o direito de defe-sa. O algoz-mor dos funcionários foi o EmbaixadorAntônio Cândido da Câmara Canto, que contou namissão cassadora com a colaboração de outros dois di-plomatas, os Embaixadores Carlos Sette Gomes Perei-ra e Manoel Emílio Pereira Guilhon, que assinaram comele o relatório em que foram propostas as punições.

Redigido de forma objetiva, em estilo despojado dequalquer arrebatamento que não correspondesse ao quefoi apurado na documentação examinada, o parecer doConselheiro Virginius mostra a extensão da razzia efe-tuada no Itamaraty e a preocupação da comissão Câma-ra Canto de atingir o máximo de funcionários. Para com-por a lista dos diplomatas que seriam punidos, a comis-são enviou telegramas aos chefes de missão do Brasil noexterior, intimando-os a informar os nomes dos servi-dores “implicados em ocorrências que tenham compro-metido sua conduta funcional”.

FILHO DO CORONEL DAGOBERTO ESPEROU 37 ANOS POR JUSTIÇAEle tinha dez anos quando foi para o exílio no Uruguai com o pai. Voltou com 20 e foi perseguido.

tia foi deferido. Ao anunciar a decisão, oPresidente da Comissão de Anistia, comofaz em todos os processos deferidos, pediu-lhe desculpas em nome do Estado nacio-nal pelos sofrimentos que a ditaduramilitar lhe impôs.

SÉRGIO DE SOUZA BIZZI

Advogado e escriturário, foi preso duran-te a greve dos bancários de 1979. Preso eprocessado, foi demitido por sua atuaçãono movimento sindical. Agora, 32 anosdepois, foi anistiado com base no artigo8º do Ato das Disposições Constitucio-nais Transitórias da Constituição daRepública e da Lei da Anistia.

ROGÉRIO MEDEIROS

Jornalista profissional, foi demitido em1979 do Jornal dos Sports após ser preso eacusado de desenvolver atividades sub-versivas. Torturado no Doi-Codi do IExército (Departamento de Operações deInformações-Comando de Operações daDefesa Interna), não encontrou maisoportunidades de trabalho após o processoa que respondeu e teve de sobreviver comocomo free lancer. Somente após a Lei daAnistia, em agosto de 1979, pôde fazerconcurso público para o magistério supe-

CAÇA ÀS BRUXAS CHEGOU A TODOS OS ESCALÕESO impressionante levantamento feito pelo relator Virginius Lianza para seu parecer na Comissão de Anistia: o Itamaraty

perseguiu homossexuais, os que tinham o hábito da bebida, os que tinham conduta pública considerada escandalosa, todos acusados,sem direito de defesa, numa investigação que durou apenas 26 dias e se estendeu aos nossos serviços diplomáticos no exterior.

guma motivação política. Trazem a explicação ‘risco desegurança’. Outros documentos secretos mostram queeles eram acusados de simpatizar com o comunismo.”

O parecerExcluídos os elementos de identificação do proces-

so (natureza do pedido, requerente, anistiando, relatore ementa da opinamento), o texto do parecer do Con-selheiro Virginius Lianza da Franca tem o seguinte teor:

“1. Trata-se de requerimento de anistia formulado, em17 de junho de 2009, por Gilda dos Santos Vieira de Me-llo, a esta Comissão, pleiteando o reconhecimento da con-dição de anistiado político post mortem em favor de seu ex-marido Arnaldo Vieira de Mello, bem como a reparaçãoeconômica em prestação mensal permanente e continu-ada, com base na Lei de Anistia nº 10.559/2002 (fl. 03 e 63).

I. RI. RI. RI. RI. RELAELAELAELAELATOTOTOTOTO DDDDDAAAAA R R R R REQUERENTEEQUERENTEEQUERENTEEQUERENTEEQUERENTE

2. A Requerente apresenta que o anistiando era ex-funcionário de carreira do Ministério das RelaçõesExteriores, tendo alcançado o cargo de Ministro de Se-gunda Classe. (fls. 01).

OS PROCESSOS JULGADOS

rior federal, foi aprovado e admitido. Seuprocesso de anistia também foi deferido.

FANNY TABAK

Professora da Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro, foi presa inú-meras vezes desde 1948. No processo maisrecente de caráter político a que respon-deu, foi acusada com o marido, tambémprofessor, de ser russa e, como tal, agentede subversão patrocinada pela antigaUnião Soviética. Um dos acusadores numdos muitos processos a que respondeu eque fez essa acusação foi seu ex-sogro, dadodepois como portador de esquizofreniagrave. Seu pedido de anistia foi deferido.Ela está atualmente com 89 anos.

ROSA MARIA SILVA DE SOUZA

Servidora do antigo Instituto Nacional daPrevidência Social-INPS, antecessor doatual INSS, foi presa e torturada no Doi-Codi do I Exército por ser militante do Par-tido Comunista do Brasil-PCdoB. Numadas prisões que sofreu foi obrigada por seusperseguidores a requerer ao INSS sua de-missão do cargo público que ocupava. Aprova dessa violência consta de documen-to incorporado aos autos do processo deanistia, que foi deferido. Ela acompanhou

o julgamento com as mãos tremendo, con-seqüência das graves lesões cerebrais quesofreu com as torturas.

MAURO DE MORAES

Ex-militar do Exército, requereu a anis-tia com uma peça inicial incompleta, naqual não declarou o posto ou graduaçãoque detinha, onde servia e quais as perse-guições que sofreu. Seu processo foi in-cluído na pauta desse julgamento por de-cisão judicial que deferiu petição queajuizou. Como o processo estava insufi-cientemente instruído, foi indeferido.Dessa decisão cabe recurso.

ARNALDO VIEIRA DE MELLO

Anistia deferida, com base no voto doConselheiro Virginius José Lianza daFranca, apresentado a seguir.

Da discussão dos processos de RogérioMedeiros, Fanny Tabak e Rosa Maria Silvade Souza participou o advogado Humber-to Jansen Machado, que discordou do valordas pensões permanentes e continuadasatribuídas aos requerentes. Também o jor-nalista Rogério Medeiros foi ouvido peloplenário, ao qual relatou as violências quesofreu e as dificuldades que enfrentou pornão ter acesso ao mercado de trabalho.

A comissão elaborou então a lista dos 13 diplomatasque seriam cassados, entre os quais o poeta Vinícius deMoraes, que era primeiro-secretário do quadro de diplo-matas. Os demais punidos foram Ângelo RegattieriFerrari, Arnaldo Vieira de Mello, Jenny de RezendeRubim, João Batista Telles Soares de Pina, José Augus-to Ribeiro, José Leal Ferreira Júnior, Marcos MagalhãesDantas Romero, Nísio Batista Martins, Raul José de SáBarbosa, Ricardo Joppert, Sérgio Maurício Corrêa doLago e Wilson Sidney Lobato.

“Arapongas das Forças Armadas cederam fichas demais de 80 diplomatas”, diz o parecer, que informa quea caça às bruxas chegou a todos os escalões do Ministé-rio das Relações Exteriores e resultou na perda de car-gos de 13 diplomatas, oito oficiais de chancelaria e 23servidores administrativos, entre os quais oito serven-tes, cinco porteiros e auxiliares de portaria, dois moto-ristas e um mensageiro.

Arnaldo Vieira de Mello, que era cônsul em Stuttgart,Alemanha, acabara de ser promovido a ministro de se-gunda classe, penúltimo degrau na hierarquia da carreira.“De todos os pedidos de cassação – diz o relator Virgi-nius – só os de dois oficiais de chancelaria indicam al-

Page 6: Jornal da ABI 366

6 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

3. Que foi aposentado compulsoriamente, em 29/04/1969, com base no Ato Institucional n° 5, vindo afalecer no dia 12/06/1973.(fls.01)

4. Que a aposentadoria compulsória tolheu brusca-mente a continuidade de seu mister profissional e im-pediu-lhe as promoções a que faria jus, se permaneces-se na ativa.(fls.02)

5. Que o forte abalo psicológico decorrente do atoarbitrário submeteu-o a grave estado depressivo e cul-minou com a sua morte prematura cerca de 06 anos após,aos 60 anos de idade.(fls.02)

6. Assim, junta aos autos os seguintes documentos:a) Cópia dos documentos pessoais da requerente e do

anistiando. (fls. 05 a 11)b) Cópia do Diário Oficial de União de 30/04/1969,

onde consta o ato de aposentadoria do anistiando. (fls. 12)c) Informações do Arquivo Nacional. (fls. 13 a 18)d) Notícia de jornal da época dos fatos. (fls. 26).e) Histórico da vida profissional do anistiando. (fls. 28).f) Notícia sobre a promoção post mortem do diplomata

Vinicius de Morais.7. Constam também nos autos, em razão de diligênci-

as efetuadas por esta Comissão, os seguintes documentos:g) Histórico Funcional e todos os documentos do

anistiando enquanto na ativa perante o Ministério dasRelações Exteriores, bem como toda a legislação referen-te as condições de progressão de carreira no âmbito doreferido Ministério. (fls. 37 a 120)

h) Informação do Instituto Rio Branco de que oanistiando não participou do curso de Altos Estudos.(fls. 123).

É, em síntese, o que era necessário relatar!

II. DII. DII. DII. DII. DAAAAA R R R R REPRESSÃOEPRESSÃOEPRESSÃOEPRESSÃOEPRESSÃO NONONONONO I I I I ITTTTTAMARAAMARAAMARAAMARAAMARATYTYTYTYTYNOSNOSNOSNOSNOS TEMPOSTEMPOSTEMPOSTEMPOSTEMPOS DODODODODO AI-5 AI-5 AI-5 AI-5 AI-5

8. No período mais sombrio da ditadura militar, comfundamento no Ato Institucional n° 5, o Ministério dasRelações Exteriores usou a Segurança Nacional comopretexto para violar a intimidade de funcionários eexpulsar diplomatas que, segundo o próprio órgão, eramconsiderados homossexuais, emocionalmente instáveisou alcoólatras.

9. Documentos constantes no Arquivo Nacional,vinculado a Casa Civil, e no Itamaratyprovam que a homofobia e a intole-rância pautaram o funcionamento daComissão de Investigação Sumária,que promoveu uma verdadeira ‘caçaàs bruxas’ em todos os escalões doItamaraty.

10. O órgão secreto deu origem a 44cassações em abril de 1969, no maiorexpurgo da história da diplomaciabrasileira!

11. A comissão foi criada pelo Mi-nistro Magalhães Pinto e chefiadapelo Embaixador Antonio Candido daCâmara Canto, que teve 26 dias paraconfeccionar a lista de colegas a serem degolados combase no nefasto Ato Institucional n° 5.

12. Em vez de perseguir esquerdistas, como fizeramoutros ministérios na época, o Itamaraty mirou nos fun-cionários cujo comportamento na vida privada afron-taria os “valores do regime”. Entre os aposentados aforca, de forma sumária e sem o direito a nenhuma de-fesa, estava, além do anistiando, o poeta e então primei-ro secretário Vinicius de Moraes.

13. Das informações contidas no relatório da comis-são, denota-se que o ódio contra homossexuais foi o fa-tor que mais pesou na escolha dos cassados.

14. Dos 15 pedidos de demissão de diplomatas, seteforam justificados com as seguintes palavras: “pela práti-ca de homossexualismo, incontinência pública escandalosa”.

15. A lista segue com “incontinência pública escanda-losa, decorrente do vício de embriaguez” (três casos), “in-

sanidade mental” (mais três), “vida ir-regular e escandalosa, instabilidadeemocional comprovada e indisciplinafuncional” (um caso) e “desinteressepelo serviço público resultante de fre-qüentes crises psíquicas” (um caso).

16. Outros dez diplomatas “sus-peitos de homossexualismo” deveriamser submetidos a “cuidadoso examemédico e psiquiátrico” por uma jun-ta de doutores do Itamaraty e daAeronáutica.

17. “Se ficar comprovada a suspeitaque paira sobre esses funcionários, a co-missão recomenda que sejam também de-finitivamente afastados do serviço exte-rior brasileiro”, diz o relatório. Ao lado dos nomes, Ma-galhães Pinto anotou: “Chamar a serviço e submeter aoexame médico”. No entanto, não há registros de reali-zação das consultas.

18. A comissão ainda receitou penas como repreen-são e remoção do cargo a cinco diplomatas por motivoscomo “demonstrações de irresponsabilidade” e “desmedidaincontinência verbal”.

19. Também pediu a demissão de oito oficiais dechancelaria e 25 servidores administrativos, além deexame médico para verificar a orientação sexual deoutros quatro.

20. A lista de afastamentos sumários inclui funcio-nários humildes, como oito serventes, cinco porteirose auxiliares de portaria, dois motoristas e um mensagei-ro. Junto aos nomes, aparecem acusações vagas, como“embriaguez” e “indisciplina”.

21. De todos os pedidos de cassação, são os de doisoficiais de chancelaria que indicam alguma motivaçãopolítica. Trazem a explicação “risco de segurança”. Ou-tros documentos secretos mostram que eles eram acu-sados de simpatizar com o comunismo.

22. Entre os diplomatas cassados estava ArnaldoVieira de Mello, que era cônsul em Stuttgart e acabarade ser promovido a ministro de segunda classe, penúl-timo degrau na hierarquia da carreira.

23. Os 13 diplomatas cassados na ocasião foramÂngelo Regattieri Ferrari, Arnaldo Vieira de Mello,

Jenny de Rezende Rubim, João Batis-ta Telles Soares de Pina, José Augus-to Ribeiro, José Leal Ferreira Junior,Marcos Magalhães Dantas Romero,Nísio Batista Martins, Raul José deSá Barbosa, Ricardo Joppert, SérgioMauriício Corrêa do Lago, Vinicius deMorais e Wilson Sidney Lobato.

24. Para compor a lista, a comissãorecrutou informantes civis e milita-res. Sua primeira medida foi despa-char circular telegráfica aos chefes demissão no exterior, intimados a en-tregar os nomes de servidores “impli-cados em fatos ou ocorrências que tenham

comprometido sua conduta funcional”.25. Arapongas das Forcas Armadas cederam fichas

individuais de mais de 80 diplomatas. Também assinamo relatório os embaixadores Carlos Sette Gomes Perei-ra e Manoel Emilio Pereira Guilhon, que auxiliaramCâmara Canto na missão sigilosa.

26. O chefe da comissão encerrou o texto com umautoelogio patriótico: “Tudo fizemos para atingir os obje-tivos colimados e preservar o bom nome do Brasil e do seu serviçono exterior”.

27. O chanceler Magalhães Pinto devolveu o docu-mento assinado e com uma ordem escrita a mão: “Reco-mendo que se cumpram as determinações”.

28. Cinco integrantes da lista seriam poupados até apublicação das aposentadorias, por ato do PresidenteCosta e Silva. Perderam o cargo 13 diplomatas, oitooficiais de chancelaria e 23 servidores administrativos.

Os decretos de cassação ocuparamtrês páginas do Diário Oficial de 30de abril de 1969.

29. O expurgo de 1969 interrom-peu várias carreiras em ascensão noItamaraty.

30. O primeiro-secretário RaulJosé de Sá Barbosa servia na embaixa-da do Brasil em Jacarta quando rece-beu um telegrama com a notícia daaposentadoria compulsória. Era con-siderado um dos melhores textos dasua geração de diplomatas. Aos 42anos, encabeçava a fila de promoçãopor antiguidade. Ele atribui o afasta-mento ao fato de ser homossexual.

– Fui vítima de preconceito. Cortaram minha carreira,destruíram minha vida. Minha turma de Rio Branco ti-nha 15 pessoas. Todos viraram embaixadores, menos eu.

31. Barbosa sofreu uma pena adicional: passou doismeses na Indonésia recebendo apenas um salário míni-mo, em cruzeiros. De volta ao Brasil, viu as dificulda-des financeiras se agravarem. A discriminação, tam-bém: – Muitos colegas que considerava amigos nuncamais me procuraram. Houve um silêncio acovardado dacarneirada, do rebanho.

32. O mais novo da lista era o segundo-secretárioRicardo Joppert. Em abril de 1969, ele servia no consu-lado de Gotemburgo quando foi convocado a voltar aspressas para o Brasil. Ao embarcar num avião da Varig,leu num exemplar do Globo a notícia da sua aposentado-ria. Tinha apenas 28 anos. – Nunca escondi que era ho-mossexual. Na época isso era visto como problema,porque a sociedade não estava preparada para encararas minorias – analisa ele, que foi reintegrado em 1986e hoje serve no Museu Histórico e Diplomático, no Rio.

33. Para a oficial de chancelaria Nair Saud, a demis-são significou uma ruptura traumática com a Casa ondeconseguiu seu primeiro emprego, aos 17 anos. Aos 86,ela ainda não se conforma com a cassação por “risco desegurança”, como indica o relatório secreto da Comis-são de Investigação Sumária. – Meu irmão ficou oitoanos sem falar comigo. Disse que preferia ter uma irmãprostituta a uma irmã comunista. Gente que freqüen-tava minha casa deixou de me cumprimentar, como seeu tivesse uma doença – emociona-se.

III. DIII. DIII. DIII. DIII. DAAAAA P P P P PERSEGUIÇÃOERSEGUIÇÃOERSEGUIÇÃOERSEGUIÇÃOERSEGUIÇÃO AOAOAOAOAO A A A A ANISTIANDONISTIANDONISTIANDONISTIANDONISTIANDO

34. Arnaldo Vieira de Mello crescera numa famíliade proprietários rurais no interior agrícola da Bahia.Arnaldo e os quatro irmãos haviam sido mandados paraum internato jesuíta em Salvador.

35. Após cursar a universidade no Rio, ele trabalhoucomo editor e comentarista de guerra de A Noite, umimportante jornal da época. Estava determinado a in-gressar no Itamaraty, o que se deu em 1941.

36. Pobre a ponto de não poder comprar livros nemcadernos, fazia todas as suas leituras numa bibliotecapública do Rio, espremendo suas anotações nas fichasdo tamanho da palma da mão usadas para solicitar livrosà biblioteca. Carregava pequenas bolsas repletas de pi-lhas dessas fichas e organizava as bolsas por assunto.

37. Em 1935, Arnaldo conheceu Gilda dos Santos,uma jovem carioca de dezessete anos. Logo fez amiza-de com a mãe dela, Isabelle da Costa Santos, uma talen-tosa pintora, e com o pai, Miguel Antonio dos Santos,homem de vários talentos, conhecido no Rio como autorde musicais para o teatro, tradutor do Frances e do ale-mão e poeta que dirigia uma loja de jóias com os irmãos.

38. “Arnaldo está noivando com meu pai”, brincava Gil-da com os amigos. Os jovens noivos casaram-se em 1940no Rio, e Gilda deu à luz uma filha, Sônia, em 1943, edepois a Sérgio, em 15 de março de 1948 – que mais tardetornar-se-ia o maior nome brasileiro na DiplomaciaMundial, até ter também a sua vida tolhida por ato de

“NO PERÍODO MAISSOMBRIO DA DITADURA

MILITAR, COMFUNDAMENTO NO

ATO INSTITUCIONAL N° 5,O MINISTÉRIO DAS

RELAÇÕES EXTERIORESUSOU A SEGURANÇA

NACIONAL COMOPRETEXTO PARA VIOLAR

A INTIMIDADE DEFUNCIONÁRIOS E

EXPULSAR DIPLOMATAS.”

“O FORTE ABALOPSICOLÓGICO

DECORRENTE DO ATOARBITRÁRIO SUBMETEU-O

A GRAVE ESTADODEPRESSIVO E CULMINOU

COM A SUA MORTEPREMATURA CERCADE 6 ANOS APÓS”

ESPECIAL O GRANDE EXPURGO DO ITAMARATY

Page 7: Jornal da ABI 366

7Jornal da ABI 366 Maio de 2011

autoritarismo e vandalismo pratica-do em Bagdá no ano de 2003, queveio a ceifar-lhe a vida de forma bru-tal durante a Guerra do Iraque. Sérgiodizia não ver sentido em servir à Casaque expulsou seu pai, recusando-se aprestar concurso para o Instituto RioBranco, e foi trabalhar na Onu, ondese tornaria um dos maiores expoen-tes pela luta em favor da paz.

39. Os Vieira de Mello levavamuma vida itinerante típica das famí-lias de diplomatas. Em 1950, Arnaldo, então com 36anos, mudou-se com a esposa e os dois filhos da Argen-tina para Gênova, Itália.

40. Em 1952, retornou ao Brasil, onde permaneceuaté ser mandado de volta a Itália para trabalhar no con-sulado em Milão.

41. Em 1956, ano da crise do Suez, a família morouem Beirute, e em 1958 enfim se fixou em Roma, ondemoraram por quatro anos, uma das permanências maislongas da família numa só cidade em toda a sua vida.

42. Arnaldo Vieira de Mello era um homem carismá-tico e de grande cultura. “A audácia é o dom dos vitoriosos”,gostava de dizer, ao insistir com o filho para que fosseousado nas suas atividades intelectuais e pessoais.

43. Quando trouxe a família de volta ao Rio em 1962,nas noites em que permanecia em casa, desaparecia emsua biblioteca, onde mergulhava num mundo de livrose mapas. Enquanto conservava seu emprego diurno dediplomata, conseguiu escrever uma história da políticaexterna brasileira do século XIX, que foi publicada em1963 e se tornou leitura obrigatória de aspirantes ao ser-viço diplomático brasileiro.

44. No final de 1963 foi designado para o consula-do brasileiro em Nápoles. Gilda, que aprendera a viveruma vida que girava em torno dos filhos mais do quedo marido, achou melhor permanecer no Brasil. A fi-lha, Sônia, havia se casado e esperava um bebê, enquan-to Sergio cursava o Liceu Franco-Brasileiro, uma escolado Rio freqüentada por muitos filhos de diplomatas.

45. Arnaldo tinha medo de avião, e, como a viagemde navio da Europa para o Brasil levava mais de uma se-mana, retornava ao País só uma vez por ano.

46. Em 1967 deixara Nápoles e se tornara cônsul-geraldo Brasil em Stuttgart, na Alemanha.

47. No Brasil, entretanto, a ditadura militar estavase tornando ainda mais repressiva. Forças paramilitarespercorriam o País detendo, torturando e muitas vezesaté matando os suspeitos de atividade subversiva.

48. Num dia de primavera de 1969, cinco anos apóso golpe, Arnaldo Vieira de Mello estava sentado amesa de sua residência em Stuttgart, bebendo seu cafématinal, enquanto lia os jornais matutinos e folhe-ava os relatórios diplomáticos do Brasil. Ao percorrera lista de funcionários públicos que o regime militarforçou a se aposentar, seus olhos se fixaram subitamen-te num nome que não esperava encontrar: o seu.Havia sido dispensado por um governo que servira du-rante 28 anos.

49. O episódio, anos depois, levou seu filho, SergioVieira de Mello, a buscar outra carreira. Sergio estavaem Paris quando soube da notícia. Enfureceu-se com oGoverno brasileiro por prejudicar sua família e recla-mou que o pai havia sido dispensado por seus pontosde vista políticos. O regime militar não deu nenhumaexplicação. “A ditadura é uma realidade”, expressou elesobre o episódio.

IVIVIVIVIV. D. D. D. D. DAAAAA A A A A ADEQUDEQUDEQUDEQUDEQUAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO ÀÀÀÀÀ L L L L LEIEIEIEIEI 10.559/2002. 10.559/2002. 10.559/2002. 10.559/2002. 10.559/2002.

50. Desta forma, resta plenamente demonstrada aperseguição, de cunho exclusivamente político, de quetrata a Lei 10.559D 02, capaz de ensejar o reconheci-mento da condição de anistiado político post mortem aoora anistiando.

51. Eis que depois de transcorridasexatas 42 primaveras, tem esta Co-missão de Anistia a obrigação de re-conhecer e reparar todas as mazelasque o Estado brasileiro cometeu paracom os seus concidadãos, em especi-al a família Vieira de Mello.

52. É hora, então, de reavivar a pri-mavera, a renovação dos sentimentos,reconstrução dos tempos, renasci-mento da vida, reencontro das flores,recrudescimento das idéias.

53. Quando as folhas secam, deixam as árvores tris-tes. Elas se despedem e voam suavemente, depois, me-lancolicamente choram, e caem. No adeus singelo dasfolhas, a promessa das águas, de verdes renascidos desen-cantando as flores! Deus na natureza, versos na alegria,e os fartos ventos que nos acoitam o corpo e a alma anun-ciando primaveras.

54. Brindemos esta Primavera e o ressurgimento dasflores! Compositores a homenageiam em suas canções.O grande Cartola desabafa: “queixo-me às rosas, mas quebobagem... as rosas não falam! Simplesmente as rosas exa-lam o perfume que roubam de ti...” Em seu poema dramá-tico Dona Rosita a solteira, Federico Garcia Lorca cantatoda a tristeza dramática de uma Granada Semana Santa,do canto Jondo, da profundidade mítica do majestosoAllambra, no tão belo poema “Lo que dicem las flores”. Prasbandas de cá, Geraldo Vandré respondeu a todas as bar-baridades de um vendaval maluco que por aqui passou,com uma bela canção que intitulou de Pra não dizer quenão falei das flores. E tantos outros po-etas que se inspiraram nos belos jar-dins pela vida!

55. Homenageemos então o anis-tiando, nesta primavera da verdadeirareconciliação, com a pureza do bro-tamento das flores, com o germinarde uma nova semente, com o resgateda vida que não o deixaram viver, dassementes que não o deixaram perpe-tuar, mas com a certeza de que o ho-mem de hoje, graças à semente plan-tada no ontem pela luta e regada como suor e o sangue de tantos brasileirosque se fizeram audazes, para nos fa-zer vitoriosos: pelos nossos sonhos,pelas nossas esperanças, pela nossamemória e pelas nossas pequenascoragens, das quais falava o poeta e di-plomata Vinicius de Moraes, também bruscamenteafastado de suas funções pelo regime ditatorial:“Resta essa faculdade incoercível de sonharDe transfigurar a realidade, dentro dessa incapacidadeDe aceitá-la tal como é, e essa visãoAmpla dos acontecimentos, e essa impressionanteE desnecessária presciência, e essa memória anteriorDe mundos inexistentes, e esse heroísmoEstático, e essa pequenina luz indecifrávelA que às vezes os poetas dão o nome de esperança.Resta esse desejo de sentir-se igual a todosDe refletir-se em olhares sem curiosidade e sem memóriaResta essa pobreza intrínseca, essa vaidadeDe não querer ser príncipe senão do seu reino.Resta esse constante esforço para caminhar dentro dolabirintoEsse eterno levantar-se depois de cada quedaEssa busca de equilíbrio no fio da navalhaEssa terrível coragem diante do grande medo, e esse medoInfantil de ter pequenas coragens.”

56. Assim sendo, demonstrada a perseguição políti-ca sofrida e a possibilidade de conceder a declaração dacondição de anistiado político post mortem, resta estabe-lecer a reparação econômica a ser fixada em razão daperseguição sofrida pelo anistiando.

57. Estabelece o artigo 4° da Lei 10.559D 2002 que será

devida a reparação econômica em prestação única àque-les que não puderem comprovar vínculos com a atividadelaboral; doutra banda, o artigo 5° do mesmo diplomalegal disciplina que será devida a reparação econômicaem prestação mensal, permanente e continuada àque-les que comprovem o rompimento de uma atividade la-boral, sendo facultado a opção pela prestação única, e,nos termos do artigo 3°, restando vedado o acúmulo dasmodalidades de reparação.

58. Isso posto, vem a requerente a esta Comissãopugnar por uma reparação econômica em prestaçãomensal permanente e continuada, equivalente aos ven-cimentos de um Ministro de Primeira Classe do quadropermanente do Ministério das Relações Exteriores, vis-to que seria esse o posto que ocuparia, se na ativa estivesse,conforme estabelece o artigo 6° da Lei 10.559/2002.

59. Da análise dos autos, conforme documentos defls. 37 a 120, Arnaldo Vieira de Mello ingressou no qua-dro permanente do Ministério das Relações Exteriores,sendo dele aposentado compulsoriamente em 12 de ju-nho de 1969, por força do Ato Institucional n° 5, quan-do ocupava a função de Ministro de Segunda Classe.

60. Caso o anistiando permanecesse na ativa, preen-cheria os requisitos objetivos à obtenção das progressõesnecessárias ao posto de Ministro de Primeira Classe.

61. Em que pese a legislação que trata da promoção nosquadros daquele Ministério a época do afastamento doanistiando acostada aos autos mencionarem a necessida-de da realização de um curso de Altos Estudos para quese alcançasse o posto de Ministro de Primeira Classe, bemcomo da certidão também constante dos autos dando

conta de que o anistiando não efetuouo referido curso, esses dados de per sinão são suficientes para afastar a pos-sibilidade de concessão da promoçãopostulada pela requerente.

62. E que o próprio Ministério dasRelações Exteriores formulou propos-ta de lei sancionada pelo Excelentís-simo Presidente da República em 21de junho de 2010, efetuando a pro-moção, post mortem, do então Primei-ro-Secretário Marcus Vinicius daCruz Mello de Moraes, ao posto deMinistro de Primeira Classe, o que de-monstra a plausibilidade do direitopostulado pela ora requerente.

63. Conforme documento cons-tante as fls, os valores percebidos peloMinistro de Primeira Classe, hoje, são

equivalentes a R$ 18.478,45.64. Ainda em acordo com o documento, o Ministro

de Segunda Classe tem remuneração equivalente a R$17.769,29.

65. Isto posto, traçados os argumentos fáticos e dedireito que dos autos constam, opino pelo deferimen-to parcial do pedido formulado para conceder:

a) Declaração de anistiado político post mortem comfulcro no artigo 1º inciso I da Lei 10.559/2002, oficia-lizando em nome do Estado Brasileiro o pedido de des-culpas ao Sr. Arnaldo Vieira de Mello;

b) Reparação Econômica, em prestação mensal per-manente e continuada equivalente à diferença do quevem percebendo como Ministro de Segunda Classe aoque deveria estar recebendo como Ministro de Primei-ra Classe, função que deveria estar ocupando, se na ati-va estivesse, o que equivale a um valor de R$ 709,16(se-tecentos e nove reais e dezesseis centavos), em favor desua viúva, Gilda dos Santos Vieira de Mello.

c) Retroativo qüinqüenal a contar de 17.06.2004, hajavista o protocolo nesta comissão ter sido de 17.06.2009,equivalente a R$ 63.304,35 (sessenta e três mil trezentose quatro reais e trinta e cinco centavos).

E como voto.Rio de Janeiro, 30 de abril de 2011.Virginius José Lianza da Franca Relator.”

“AO PERCORRER A LISTADE FUNCIONÁRIOS

PÚBLICOS QUE O REGIMEMILITAR FORÇOU A SE

APOSENTAR, SEUS OLHOSSE FIXARAM SUBITAMENTE

NUM NOME QUE NÃOESPERAVA ENCONTRAR:

O SEU. HAVIA SIDODISPENSADO POR UM

GOVERNO QUE SERVIRADURANTE 28 ANOS.”

“MEU IRMÃO FICOUOITO ANOS SEM FALARCOMIGO. DISSE QUE

PREFERIA TER UMA IRMÃPROSTITUTA A UMA IRMÃCOMUNISTA. GENTE QUE

FREQÜENTAVA MINHACASA DEIXOU DE ME

CUMPRIMENTAR, COMO SEEU TIVESSE UMA DOENÇA.”

Page 8: Jornal da ABI 366

8 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

ano de 2003 marcou o centenário donascimento daquele que foi o maiorpintor brasileiro: Cândido Torquato

Portinari, que nos deixou em 1962.Menino pobre de Brodósqui, cresceu sem ter

um diploma. Mudou-se para o Rio aos 18 anose com o pouco que ganhava comprava tintaspara pintar. Em 1922 exibe o primeiro quadrono salão da Escola de Belas-Artes. Logo é convi-dado para o curso. E como o Rio não era umaprovíncia em matéria de artes, Portinari escapada influência paulistana da chamada Semanad’Arte Moderna de 22.

Como prêmio de viagem vai a Paris e, aí sim,contata arte moderna e as lutas sociais antifas-cistas que abalavam o mundo. Ao voltar ao Rioinicia uma produção de grande porte. Uma obragigantesca! Sempre figurativo, mas emancipa-do do classicismo, retrata a gente simples do povobrasileiro: crianças, lavadeiras, operários, jogosde futebol, espantalho, cruzes, retirantes.

Em 1934 a Carnegie Foundation (EUA) pre-mia seu quadro O Café. O menino de Brodós-qui se alça ao lado dos grandes muralistas lati-no-americanos: Orozco, Rivera, Siqueiros. Osafrescos e painéis se sucedem. A capela de Pam-pulha, as paredes do Ministério da Educação, aRádio Tupi, um prodígio de criatividade que vaiatingir o máximo no Guerra e Paz, sob encomen-da da Onu, que eu tive a chance de ver, aindamenino, nos salões do Teatro Municipal do Rio.

Com o passar do tempo a pintura de Portina-ri ficou mais suave, mais transparente, maispoética, quase cubista, mas sempre fortemen-te expressiva. Fiel ao seu estilo brasileiro, pes-

ARTE

Em artigo especial para o Site da ABI, o jornalistaPAULO RAMOS DERENGOSKI relembra a trajetóriado pintor Cândido Portinari, cujo painel “Guerra ePaz”, que ilustra a sede das Nações Unidas, em

Nova York, está sendo restaurado no Rio.

Portinari,grande

Portinari

O

soal. Como não aderiu à moda passageira do abs-tracionismo, foi atacado. Mas onde estão hojeaqueles formalistas borra-tintas que o critica-vam? Sumiram do mapa!

Grande Portinari: cores vibrantes, luzes diá-fanas, conteúdo social – tudo gravado para sem-pre no arquétipo imemorial do Brasil.

O menino que começou como simples restau-rador de igrejas, o aluno brilhante de RodolfoAmoedo, o jovem que se extasiou diante dos mes-tres renascentistas e primitivos na Europa an-tifascista, o amigo dileto de Lúcio Costa, o co-munista convicto que foi uma espécie de pin-

tor oficial do Brasil varguista, transformou-seem nome mundial a partir de 1940, com seusquadros disputados em todos os leilões do mundo.

Sua obra gigantesca poderia ser sintetizadacomo expressionismo social, com referências ànossa História e cultura. Sua retórica de imagensjamais foi superada em força geométrica. Eleprocurou – e conseguiu construir – uma arte bra-sileira, mas com imaginário moderno. CândidoTorquato Portinari: gênio da raça!

PAULO RAMOS DERENGOSKI, sócio da ABI, é jornalista e escritor Radicado emLages, Santa Catarina, é Diretor do Patrimônio Histórico de Lages e membrodo Conselho Curador da Empresa Brasileira de Comunicação-TV Brasil.

O PAINEL PAZ, DA OBRA GUERRA E PAZ, DE PORTINARI.

Page 9: Jornal da ABI 366

9Jornal da ABI 366 Maio de 2011

O ato público em defesa dos 13 per-seguidos políticos no protesto diante doConsulado Americano contou com oapoio da ABI, da Reitoria da UFRJ, da Fa-culdade Nacional de Direitoda UFRJ, do Diretório Centrale Estudantes (DCE) da UFRJ,da Superintendência Geral deComunicação Social da UFRJ,do Sindicato Estadual dos Pro-fissionais de Educação do Riode Janeiro-Sepe-RJ, da Assem-bléia Nacional dos Estudan-tes-Anel, e da Central Sindical e Popu-lar-CSP-Conlutas, PSOL e PSTU.

O encontro teve início após a comu-nicação da ABI com a polícia. A mesa dehonra do evento foi formada por Mau-rício Azêdo, o advogado Marcelo Cer-queira, José Maria de Almeida e CyroGarcia, respectivamente, PresidentesNacional e Regional do PSTU, José Fer-reira (Sindicato dos Bancários), Faustode Paula Reis (Sindicato dos Bombeirosdo Estado do Rio de Janeiro), Sandra

Quintela (PACS), Deputado EstadualRóbson Leite (PT), Vanessa Portugal(PSTU-MG), Ricardo Pinheiro (PCB),João Pedro Acyoli Teixeira (Psol), além

de representantes do Sepe-RJ,Sindipetro, CSP-Conlutas, Anel,CTB, Associação de Moradoresdo Morro do Bumba.

Cyro Garcia abriu o ato des-tacando a importância da lutapelas liberdades:

“A prisão dos 13 manifes-tantes evidencia a política do

Governo do Estado do Rio de Janeiro decriminalização das lutas e dos movi-mentos sociais, como a luta do Sindica-to dos Bombeiros. São exemplos decomo o Governo do Estado encara asgreves e lutas. O direito de lutar não écrime; lutar é um direito. Nesta noitefria aqui no Rio de Janeiro, a presença devocês traz o calor necessário para conti-nuar na luta pela democracia e pelo di-reito de lutar e de se expressar.

Em nome da ABI, Maurício Azêdo

A Polícia Militar enviou quatroviaturas (placas LKS 8596, LPC4806, KLY 0995, LPD 3164) comcerca de dez militares para a sededa ABI no início da noite do dia19 de maio, a pretexto de evitarqualquer confusão diante do atopúblico que se realizava noauditório da Casa emsolidariedade aos 13 participantesdo protesto contra a visita aoBrasil do Presidente dos EstadosUnidos, Barack Obama, diante doConsulado Americano, no Centrodo Rio, em 17 de março passado.

Os integrantes das viaturasforam interpelados peloPresidente da ABI, MaurícioAzêdo, em razão de ocupaçãosemelhante de espaço da Casa,mesmo no hall do Edifício HerbertMoses, só ter como precedente operíodo da ditadura militar.

“A ABI estranha que no EstadoDemocrático de Direito se repitaum comportamento que foi típicoda ditadura militar. Pedimosesclarecimentos ao comandantedo grupo para que se dirija aoComando do 13º BPM a fim deesclarecer este episódio. Sepersistir a permanência da Políciaaqui, vamos encaminhar umamensagem de protesto ao

saudou os presentes e falou do papel daCasa na defesa da democracia:

“A Associação Brasileira de Imprensarecebe com muito carinho os compa-nheiros e as companheiras que vêm pres-tigiar este ato de solidariedade aos parti-cipantes daquele protesto histórico dian-te da visita do Presidente Barack Obama,os 13 companheiros da manifestação doConsulado Geral dos Estados Unidos. AABI está solidária com a luta pelos com-panheiros, com a luta dos companheirosdo PSTU e com o engajamento que dife-rentes setores da sociedade promoverame vem promovendo em defesa das pesso-as que se manifestaram naquele dia his-tórico diante do Consulado.

O Presidente da ABI informou a pla-téia, que lotou o Auditório Oscar Gua-nabarino, sobre a presença da políciano local:

“A ABI considera necessário ressaltarum ponto que já foi sublinhado pelonosso companheiro Cyro Garcia, que éo propósito de criminalização dos movi-

mentos sociais em nosso Estado. Tive-mos uma prova disso agora, pouco antesda abertura do ato, e um dos motivos deprotelação de sua instalação foi a presen-ça da Polícia Militar em espaço da ABI,na calçada da ABI, no hall térreo da ABI,coisa que não acontecia na Casa do Jor-nalista desde a ditadura militar (aplau-sos). Advertidos para esse fato, os Dire-tores da ABI foram ao térreo pedir expli-cações do comandante da força policialque lá se implantara para saber as razõesda mobilização desse dispositivo de se-gurança e de repressão diante do EdifícioHerbert Moses. Um sargento do grupoficou de fazer o contato com o 13º Bata-lhão da Polícia Militar e se dirigiu ao rádiode sua viatura. Estamos esperando o re-torno desse contato para que o Coman-do esclareça a razão do destacamento deuma força policial aqui para a Casa doJornalista, porque nós sublinhamos:que no Estado Democrático de Direito éinadmissível um ato como esse adotadopelo 13º Batalhão da Polícia Militar. Eu

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

“Estão criminalizando os movimentos sociais”

PM ocupa espaço da sede da ABIPOR CLÁUDIA SOUZA Governador Sérgio Cabral e ao

Comandante da Polícia Militar.”Com a permanência da PM no

local, o Presidente da ABI envioumensagem ao Governador SérgioCabral com o seguinte teor:

“Senhor Governador,O 13º Batalhão de PM mandou

duas viaturas e pelo menos seispraças para a sede da ABI, apretexto de prevenir manifestaçõesno ato em realização em nossoauditório em solidariedade com os13 participantes do protesto noConsulado dos Estados Unidoscontra a visita do PresidenteObama. A ABI estranha esseprocedimento, que tem precedentesomente na ditadura militar eagride o Estado Democrático deDireito. Peço sua intervenção.

Maurício Azêdo, Presidenteda ABI”

Em resposta, o GovernadorSérgio Cabral repassou aoPresidente da ABI o e-mail queendereçou ao Comandante-Geralda Polícia Militar do Rio de Janeiro,Coronel Mário Sérgio Duarte, coma seguinte determinação:

– Mário Sérgio, veja isso porfavor!!

Entretanto, uma das quatroviaturas permaneceu estacionadana calçada oposta à do prédioda ABI até o final do evento.

“O direitode lutarnão é

crime”, dizCyro Garcia

Os praças daPM e seusveículosocuparamparte dosaguão térreoe da calçadainterna doEdifícioHerbertMoses, quenão sãologradourospúblicos. Issosó ocorreuantes durantea ditadura.

FOTOS RENAN CASTRO

Page 10: Jornal da ABI 366

10 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Mais uma vez se confirmou a aprova-ção dos associados da ABI ao trabalho quevem sendo desempenhado na direção daCasa pela Chapa Prudente de Moraes,neto. O voto de confiança foi confirma-do na eleição para a renovação de umterço do Conselho Deliberativo e para atotalidade do Conselho Fiscal da ABI,para o exercício 2011/2014, realizada nodia 29 de abril. Na véspera, quando foi ins-talada, a Assembléia-Geral OrdináriaAnual de 2011 aprovou o Relatório da Di-retoria do exercício social 2010-2011 e oBalanço da ABI no ano cível 2010.

A eleição apresentou um quórumexpressivo de 119 votantes. Aberta aurna foram contabilizados 115 votosnos candidatos ao Conselho Deliberati-vo e 111 aos indicados para o ConselhoFiscal. Assim que se confirmou o resul-

subi para redigir uma mensagem aoGovernador do Estado e para enviá-lapor e-mail.”

Maurício detalhou as providências daABI em relação à postura da PM:

“Companheiro Mário Augusto Jako-bskind, que é membro da Comissão deLiberdade de Imprensa e Defesa dos Di-reitos da Pessoa Humana da ABI, ficou láembaixo em contato com os policiais, ejá a esta altura o grupo estava sendo co-mandado por um major, o qual revelouque, diante do constrangimento e da ile-galidade que a ABI denunciava, eles po-deriam botar os carros da Polícia do outrolado da rua, na outra calçada. O nossoMário Augusto, que é um lutador muitovivido nas lutas populares e democráticas,repeliu a idéia do major, recusou adesão àsua proposição, sublinhando também que,na verdade, apenas se disfarçaria a nature-za do constrangimento, a intimidação:em vez de ser direta, junto ao prédio daABI, seria do outro lado da rua.”

“Neste intervalo, eu dirigi uma men-sagem ao Governador do Estado, que énosso sócio, é jornalista profissional, de-nunciando esse episódio e pedindo aintervenção de Sua Excelência. Não seise por casualidade, ou se já por algumainiciativa de Sua Excelência, pelo menosuma das viaturas deixou as proximida-des da ABI, e se pôs ao largo em busca deobjetivos de segurança mais nobres emenos totalitários. É essa a comunicaçãoque nós queremos fazer, ressaltando esseaspecto da ameaça em curso de crimina-lização dos movimentos sociais, de queo companheiro Cyro Garcia citou maisde um exemplo, como o caso dos inte-grantes do Corpo de Bombeiros do Esta-do do Rio de Janeiro e outras manifesta-ções de setores da sociedade em defesa dedireitos legítimos que são sonegadospelo Poder Público. Quero convidar aassumir a representação da ABI, commuita honra para mim e para a Casa, onosso companheiro Mário AugustoJakobskind, que, como disse, é um anti-go lutador de todos os procedimentosem defesa do Estado de direito e do pro-gresso social do Brasil. Tenho que meafastar, como expliquei ao nosso CyroGarcia, em razão de outro compromis-so. Mas o meu coração, o meu sentimen-to e a minha consciência estão ao lado devocês e daqueles que lutaram contra aingerência indevida do Governo dos Es-tados Unidos na vida nacional.”

“Obama, um homem do mal”Dando continuidade ao encontro, o

advogado Marcelo Cerqueira destacoua sua participação na defesa dos presospolíticos e manifestou perplexidade di-ante da censura imposta aos participan-tes do protesto:

“Eu tinha combinado com o advoga-do Modesto da Silveira, que tambématua neste caso, de virmos hoje aquipara dar seqüência a um trabalho quepensávamos não ter mais que fazer. Nósdefendemos presos políticos, entre 1965e 1985, e imaginávamos que essa pági-na ruim na nossa História tivesse vira-da. Quando sou surpreendido com a pri-

são arbitrária e inconseqüente do pontode vista político, moral e jurídico daque-les que se manifestaram contra a presençado Presidente Obama, que é um homemdo mal. Ele que agora teve o americanoinvadindo um país soberano e assassinoucom requintes de crueldade um cidadão.E também essa perseguição aos bombei-ros, eu também fui chamado e estou atu-ando na defesa deles. Não há nenhumarazão de natureza jurídica para essa pri-são, para essa criminalização, num Paísque tem uma Constituição democráti-ca avançada no que se refere aos direitosfundamentais, à defesa do Estado Demo-crático de Direito, que tanto nos custou,tantas mortes, tantas lutas, tantas in-compreensões e passamos por isso. Anossa experiência naqueles anos de-monstrou que a defesa do perseguidopolítico amplia enormemente a luta.

José Maria de Almeida também fri-sou a relevância da manifestação contrao imperialismo:

“A luta pelo arquivamento da denún-cia contra os 13 presos políticos é essen-cialmente uma luta democrática, porum direito democrático básico de todocidadão. Mas essa luta também temoutra dimensão. Aquela luta foi a ex-pressão da defesa de um direito da sobe-rania do povo brasileiro contra os inte-resses norte-americanos das grandesindústrias petroleiras, representadospelo Presidente Barack Obama.

Representando os estudantes, omembro do Grêmio Estudantil do Co-légio Pedro II, João Pedro Acyoli Teixeira,um dos 13 presos políticos, fez um rela-to sobre a prisão e a experiência impos-ta pelas autoridades do Estado:

“Sou um dos 13 presos políticos quetiveram o direito à liberdade duramenteceifado pelo simples fato de se manifes-tar contra o imperialismo, contra a entre-ga do nosso pré-sal. Queremos destacaro caráter ilegal e político dessa prisão dosGovernos estadual e federal em prol dasempresas e esquecendo do povo. O queaconteceu na ditadura precisa ficar enter-rado pelo peso da história. Nós, da maisampla vertente de movimentos sociais,partidários, movimentos políticos, temosque ajudar a manter e garantir as liberda-des democráticas.”

O carteiro Yuri Costa, 22 anos, quetambém foi preso no protesto, assinaloua força que motivou o grupo na prisão:

“Nós estávamos apenas exercendo odireito de manifestação sobre o que re-presentava a vinda de Obama ao Brasil,mas o Governo não entendeu desta for-ma. Graças à campanha solidária de vá-rias instituições como a ABI e a OAB,entre outras, conseguimos a liberdade.Os dias na prisão foram pesados, umatentativa de nos humilhar, mas com anossa união enfrentamos tudo aquilo.A defesa da democracia será sempre a ra-zão para seguirmos lutando.

Aplausos

No final do evento, os 13 perseguidospolíticos foram convidados a subir aopalco e ovacionados pelas mais de 500pessoas que participaram do encontro.

Mesmo com chapa única, foi expressivoo comparecimento à votação para o terço do Conselho.

Associados reafirmaramapoio à Chapa

Prudente de Morais

POR JOSÉ REINALDO MARQUESE CLÁUDIA SOUZA

tado, o Presidente Maurício Azêdo fa-lou sobre a satisfação da Diretoria daABI pelo apoio que vem recebendo doquadro social, que tem demonstradoum alto índice de satisfação com o tra-balho desempenhado na sua gestão:

“A Chapa Prudente de Moraes, netose sente gratificada com o desempenhoeleitoral de hoje, em que, apesar de ha-ver apenas uma chapa, houve um com-parecimento expressivo de associadosdenunciando a preocupação desses com-panheiros de prestigiar a nossa entida-de. A Diretoria da ABI fica muito sen-sibilizada com essa demonstração deapreço ao seu trabalho e persiste no seupropósito de continuar se empenhan-do para o progresso crescente da Asso-ciação.”

A mesa escrutinadora foi compostapelos associados e Conselheiros SérgioCaldieri, Carlos Rodrigues, Ilma Mar-tins, Lênin Novaes e Leda Acquarone.

Integrante da chapa,Tarcísio Holanda (foto),Vice-Presidente da ABI,falou sobre a importân-cia do processo eleitoralna entidade:

“Esta eleição repre-senta a renovação da le-gitimidade da democra-cia e do respeito ao Pre-sidente Maurício Azê-do, um homem públicoimportante, com quemeu tive a honra de participar da Assem-bléia-Geral realizada na Sala Belisário deSouza, na ABI, no dia do anúncio dogolpe militar em 1964”.

Maurício também comentou este epi-sódio:

“Após a reunião na ABI, eu, TarcísioHolanda, Fichel Davit Chargel, SérgioCabral e Ivo Cardoso seguimos em di-reção à Rua Miguel Couto. Quando che-gamos na esquina com a Rua Ouvidor,apedrejamos uma vitrina de propagan-da de Carlos Lacerda. Militares perce-beram a ação e foram atrás de nós. Nacorreria, Sérgio Cabral caiu. Costuma-mos dizer que aquele dia foi marcadopor duas quedas: a do Presidente JoãoGoulart e a do Sérgio Cabral (risos).Conseguimos nos esconder dos milita-res dentro do Sindicato dos Gráficos,na Avenida Presidente Vargas”.

“A renovação da legitimidade da democracia.”Modesto da Silveira,

grande nome da advoca-cia na defesa de presospolíticos e nas causas re-lacionadas com os direi-tos humanos, ressaltou aparticipação da ABI naluta pelas liberdades:

“A ABI é um órgãocentenário que sempreesteve ao lado das boascausas neste prédio his-tórico arquitetonica-

mente tombado, fundamental para osjornalistas. Hoje eu sinto falta de mui-tos deles aqui, desde jovens estudantesa grandes nomes da comunicação”.

Ana Arruda, primeira mulher a exer-cer a função de chefe de reportagem noBrasil e a vencer o Prêmio Esso, aplaudiua nova fase da Associação:

“A ABI está em um momento de re-erguimento, porque aqui era um lugaronde todas as personalidades e pesso-as importantes que vinham ao Rio deJaneiro passavam obrigatoriamente.As entrevistas coletivas de pessoasimportantes eram aqui. E agora a gentevê novamente a ABI assumindo seulugar, e essa eleição é um momentobásico para isto”.

A jornalista e bailarina Ruth Lima re-forçou o compromisso com a atual ges-tão da ABI:

FRANC

ISCO

UC

HA

Page 11: Jornal da ABI 366

11Jornal da ABI 366 Maio de 2011

CONSELHO DELIBERATIVOEFETIVOSAlberto DinesAntonio Carlos Austregésilo deAthaydeArthur José PoernerDácio MaltaEly MoreiraHélio AlonsoLeda AcquaroneMaurício AzêdoMilton Coelho da GraçaModesto da SilveiraPinheiro JúniorRodolfo KonderSylvia MoretzshonTarcísio HolandaVillas-Bôas Corrêa CONSELHO DELIBERATIVOSUPLENTESAlcyr CavalcântiCarlos Felipe Meiga SantiagoCarlos João Di PaolaEdgard Mendes CatoiraFrancisco Paula FreitasFrancisco Pedro do CoutoItamar GuerreiroJarbas DomingosJosé Pereira da SilvaMaria Perpétuo SocorroVitarelliPonce de LeonSalete LisboaSidney RezendeSilvio PaixãoWilson S.J. Magalhães CONSELHO FISCALAdail José de PaulaGeraldo Pereira dos SantosJarbas DomingosJorge Saldanha de AraújoLóris Baena CunhaLuiz Carlos Chester de OliveiraManolo Epelbaum

“É com grande prazer que a ABI vemconvidá-los a participar de uma grandeconfraternização com os companheirosde profissão entre 10 horas da manhã e 8da noite do dia 29 de abril, sexta-feira, navotação para escolha de um terço doConselho Deliberativo (15 efetivos e 15suplentes) e dos sete membros do Con-selho Fiscal da Casa. Na véspera, a partirdas 10 horas da manhã, será realizada aAssembléia-Geral Ordinária de 2011,para apreciação do relatório da Diretoriarelativo ao exercício social 2010-2011 edas Contas de Gestão do ano civil 2010.

Como a nossa profissão é contraditó-ria, pois tem o condão de aglutinar os in-

Participaram da votação osassociados relacionados a seguir.

AAchylles Armando Jalul PeretAdail José de PaulaAlcyr Mesquita CavalcantiAlice de Oliveira Vila Real e OlivoAna Arruda CalladoAndré Luiz Fernando AndriesAntônio Carlos Ferreira GabrielAntônio Idaló NetoAntônio Modesto da SilveiraAntônio Mota CarneiroArnaldo Luiz FontesArthur José PoernerBBernardino Capell FerreiraBernardo CabralBruno Torres ParaísoCCarlos Alberto Caó de OliveiraSantosCarlos Alberto Marques RodriguesCarlos da Silveira RuasCarlos Felipe Meiga SantiagoCarlos João Di PaolaCelso BalthazarClóvis Assunção de MeloDDácio Gomes MaltaDomingos João MeirellesEEdgard LisboaEdimilson Francisco da SilvaEleonora Grazina MonteiroEliane Guedes PereiraEly Moreira da SilvaEsther Caldas Guimarães BertoletiEvaldo Alves de CarvalhoEveraldo Lima D’AlvereaFFernando Figueiredo MilfontFernando Foch Lemos Arigony daSilvaFrancisco de Assis Oliveira da CruzFrancisco Paula FreitasFrancisco Pedro do CouttoGGenésio Pereira dos SantosGeraldo CaetanoGeraldo Pereira dos SantosGerdal Renner dos SantosGermando de Oliveira GonçalvesGetúlio GamaHHomero Norberto AlimandroIIlma Martins da SilvaIsrael Manoel da PaixãoItamar GuerreiroJJarbas Domingos VazJesus ChediakJesus Edgar Mendes CatoiraJesus Soares Antunes

João Carlos Silva CardosoJoão Di PaolaJoão Luiz Rodrigues NeyJoé Baptista de SouzaJorge Ribeiro SilvaJorge Saldanha de AraújoJosé Alves Pinheiro JúniorJosé Andrade de AraújoJosé Bernardo CabralJosé Cristino da Costa FerreiraJosé Freires FilhoJosé Pereira da SilvaJosé Reinaldo Belisário MarquesJosé Tarcisio Saboya HolandaJuliano de Rezende C. CarmoKKepler Alves BorgesLLaís Honor de Oliveira SantosLauro Affonso FariaLeda Acquarone de SáLedy Mendes GonzálesLóris Baena CunhaLuiz Carlos Chesther de OliveiraLuiz Carlos de SouzaLuiz Carlos Fernandes BarbosaLuiz Eduardo Souto AguiarLuiz Fernando Taranto MartinsLuiz Sérgio CaldieriMManolo EpelbaumManuel Roberto FelixMárcia da Silva GuimarãesMarcos Alexandre de Souza GomesMarcos Antônio Mendes de MirandaMarcos Lopes FirmoMaria do Perpétuo Socorro VitarelliMaria Helena Modesto VieiraMaria Ignez Duque Estrada BastosMaria Lúcia Lima PutyMário Augusto JakobskindMauro Rodrigues Rocha FilhoMessias Marques de SouzaMilton Ximenes LimaMiro TeixeiraMoacir AndradeMoacyr Bahia LacerdaNNacif Elias Hidd SobrinhoNatanael Gonçalves VieiraNivaldo PereiraOOdete FerreiraOrion de Oliveira MarinhoOrpheu Santos SallesOscar Maurício de Lima AzêdoOsmar LeitePPaulo Gerônimo de SouzaPaulo Rodrigues de Paula FreitasRRalph Anzolin LichoteRaul Rodrigues AzêdoRaul Romeu Ewerton QuadrosRonaldo David AguinagaRubem dos Santos (RubemColaborou Renan Castro, estudante de Comunicação

e estagiário da Diretoria de Jornalismo da ABI

Um dos associadosda ABI que está semprepresente nas eleições daCasa é o jornalista e ex-Ministro da Justiça Ber-nardo Cabral (foto). Ele fa-lou sobre a importânciada continuidade do tra-balho que vem sendo re-alizado pelos integran-tes da Chapa Prudentede Moraes, neto:

“Sobre essa eleição, oque posso dizer é que a alternância do po-der é uma viga do processo democrático.Todavia a permanência do Maurício Azê-do à frente da chapa única Prudente deMoraes, neto configura o prestígio queesse velho companheiro goza no meionão só da imprensa, como de toda a soci-edade brasileira”, declarou o ex-Ministro.

O Deputado Federal Miro Teixeira (PDT-RJ) é outra personalidade que acompanhade perto os trabalhos da Diretoria da ABI.Ele disse que o seu apoio à atual Direção daABI está vinculado à representatividade daAssociação junto à sociedade:

“Essa eleição deixa claro um compro-misso que é um prazer, porque vemos a ABIassumindo cada vez mais seu papel de re-presentação da opinião pública”, afirmou.

Gerdal dos Santos, jornalista e ator deradioteatro das Rádios MEC e Nacional,elogiou Maurício Azêdo, a quem conside-ra um dos jornalistas mais brilhantes queele conhece. Disse Gerdal que dava o seuvoto à Chapa Prudente de Moraes, netoporque esta “congrega um número de jor-

“É necessário colaborar com a nossapresença em um lugar como a ABI e darapoio ao Presidente Maurício Azêdo.Digo isto em meu nome e de meu mari-do, o jornalista Mario Andrioli, associadoda ABI, que está radicado em BuenosAires, Argentina”.

As iniciativas da ABI em torno da ade-são de quadros jovens foi sublinhada pelaDiretora de Jornalismo da ABI, professorae pesquisadora Sylvia Morehtzsohn:

“É importante a participação das pes-soas no processo democrático para con-tinuar a desenvolver os nossos projetosna ABI, de tentar atrair os jovens, estu-dantes e os novos jornalistas para a Casa”.

Participar da eleição na ABI, nas pala-vras de Kepler Alves Borges, um dos maisantigos associados da Casa, é um impor-tante ato democrático e prazeroso:

“Tenho 70 anos de ABI, e se eu estouaqui é porque estou satisfeitíssimo. Gostode vir aqui, gosto muito da ABI e do Pre-sidente Maurício Azêdo”.

O Desembargador Fernando Foch,Conselheiro da ABI, Presidente do FórumPermanente de Direito à Informação e dePolítica de Comunicação Social do PoderJudiciário, falou sobre o viés democráticoque caracteriza a ABI e o Judiciário:

“Sou sócio da ABI há 40 anos, e realizoum trabalho com o Maurício Azêdo na

Emerj, no Fórum Permanente de Direito àInformação e Política de ComunicaçãoSocial do Poder Judiciário, que luta pelaliberdade de imprensa e de informação, queé muito importante, já que a nossa Cons-tituição não permite a censura. E a ABI éuma das vozes abalizadas da nossa socieda-de civil, que fala pela sociedade, como umainstituição civil e como instituição demo-crática, disse o Desembargador.

Raul Quadros, um dos grandes nomesdo jornalismo esportivo, destacou osanos de experiência profissional ao ladode Maurício Azêdo e saudou o atualmomento da Associação:

“Sou sócio da ABI desde 1970, quandoera do Estado de S. Paulo. Me orgulho mui-to de ser amigo do Maurício Azêdo, meucompanheiro desde 1965, quando entrei noJornal dos Sports, onde ele já era secretáriode Redação, e depois no Estadão, sucursaldo Rio de Janeiro, quando cheguei comorepórter e ele também já era secretário deRedação. Em 1973, fui para a revista Placarcom o Maurício, fiz matérias com ele, e hojeme orgulho de ser sócio da ABI tendo-ocomo Presidente. A ABI é uma Casa fantás-tica, com gente da melhor estirpe. Vim aquia convite do Maurício para votar, e comuma chapa dessa qualidade só poderia serchapa única, não tem como ser de outrojeito”, afirmou Raul Quadros.

“Vemos a ABI assumindo cada vez mais seupapel de representação da opinião pública.”

nalistas conhecidos e quemuito farão pela nossaAssociação”.

O associado Luiz Car-los de Souza disse que aseleições na ABI são sem-pre um evento impor-tante, porque se trata deuma entidade que repre-senta a imprensa brasi-leira. Para ele, a eleiçãoconfere à própria conti-nuidade da ABI como

organismo combativo da representativi-dade da classe jornalística.

O jornalista e ex-Deputado Carlos Al-berto de Oliveira, o Caó, elogiou a ChapaPrudente de Moraes, neto dizendo que estarepresenta a manutenção de uma das prin-cipais características permanentes da ABIque é de estar “no contexto e nas circuns-tâncias” das demandas que enfrenta:

“E há de manter e conduzir com eficá-cia a luta pela liberdade de informação eda ampla preservação dos direitos huma-nos em nosso País”, disse Caó.

Na forma do Estatuto, a posse dos elei-tos será no dia 13 de maio, em sessão emque também serão eleitas as Comissõesauxiliares do Conselho Deliberativo: Li-berdade de Imprensa e Direitos Humanos,Ética dos Meios de Comunicação, Comis-são Diretora da Diretoria de AssistênciaSocial e Sindicância, à qual compete opi-nar sobre as propostas de filiação à ABI.

FRANC

ISCO

UC

HA

Eles atenderam a este nosso apelo

tegrantes da comunidade jornalística etambém de dispersá-los, mantê-los afasta-dos uns dos outros, até no mesmo espaçode trabalho, esta será a oportunidade deum encontro afetivo e, também, de fecun-da troca de idéias e de proposições sobreas questões instigantes do meio profissio-nal, como a emergência de formas eletrô-nicas de produção e difusão de informa-ções, o estado dos direitos sociais dos jor-nalistas, as ameaças ao exercício de liber-dade de expressão e opinião, os caminhosdo jornalismo nos anos próximos.

Venham a este encontro: muitos com-panheiros ficarão felizes em revê-los eabraçá-los.”

Presentes na votaçãoConfete)Ruth Pereira LimaSSérgio Pinto da Motta LimaSylvia MoretzsohnTTeresa Cristina Fazolo FreireThales José Maciel BentoUUbirajara Moura RoulienUlysses Cláudio LonzettiVValtair de Jesus AlmeidaVenilton Pereira dos SantosWWaldemar Dalloz de Paula

Os eleitos

Page 12: Jornal da ABI 366

12 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Aconteceu na ABIAconteceu na ABI

Pery Cotta reeleito Presidente do Conselho

O jornalista Pery Cotta foi reeleitopor aclamação Presidente da Mesa Di-retora do Conselho Deliberativo daABI, na sessão especial realizada na tar-de de 13 de maio. Com o mesmo entu-siasmo foi saudada a reeleição do Con-selheiro Sérgio Caldieri para PrimeiroSecretário da Mesa e a eleição do asso-ciado Marcus Miranda como SegundoSecretário. Durante o ato foi realizadaa posse dos membros das Comissões au-xiliares da Diretoria.

A Mesa que conduziu os trabalhosfoi composta pelo Presidente da ABI,Maurício Azêdo, e pelo então Presiden-te do Conselho Deliberativo da Casa,Pery Cotta, auxiliado pelo 1º SecretárioSérgio Caldieri. A proposta de recondu-ção de Pery partiu do Presidente da ABI,que exaltou o trabalho por ele desenvol-vido à frente do órgão. O Presidentesaudou com especial ênfase a presençaentre os empossados do Professor HélioAlonso, eleito membro efetivo do Con-selho Deliberativo na votação realiza-da em 29 de abril.

“Em nome da Diretoria da ABI quere-mos saudar os companheiros eleitos, es-pecialmente aqueles que se integram aonúcleo anterior do Conselho Deliberati-vo, como o querido Professor Hélio Alon-so, que é o pioneiro do ensino de comu-nicação social privado do Rio de Janeiro.”

Destacou o Presidente que HélioAlonso é um educador excepcional naformação de gerações de advogados:

“Criador e mestre fundador de umcurso famoso, o Curso Hélio Alonso,que aprovava 90% dos candidatos nasFaculdades Nacional de Direito do Riode Janeiro, ele formou não só uma gera-ção inumerável de profissionais e opera-dores do Direito, mas também de amigosque o têm desde então na mais alta con-sideração”, afirmou.

OrgulhoEm seguida, o Presidente da ABI falou

sobre a importância da chegada de novosmembros ao Conselho Deliberativo:

“Queremos saudar, portanto, a chega-da do Professor Hélio Alonso a este cená-culo que é o Conselho Deliberativo daABI, assim como saudar com ênfase umcompanheiro antigo das lides jornalísti-cas, um dos ases da reportagem esporti-va, o nosso querido companheiro CarlosFelipe Santiago, que se incorpora a estenúcleo de novos integrantes do Conse-lho Deliberativo”, disse Maurício Azêdo.

O Professor Hélio Alonso falou sobreseu orgulho de participar do ConselhoDeliberativo da ABI:

“A ABI é uma instituição centenária,grandes nomes do jornalismo passaramaqui. Fiquei contente quando o Maurí-cio me convidou, e aceitei imediatamen-te. Fico vaidoso de participar com nomeshoje que eu via no meu tempo de profes-

Sua nova recondução foi aprovada por aclamação. Também foi reeleito o Primeiro Secretário Sérgio Caldieri.

sor, quando eu estava começando”, afir-mou Hélio Alonso.

Na abertura da sessão, Pery Cottaagradeceu a indicação do PresidenteMaurício Azêdo e completou elogian-do-o “por seu carisma, carinho e capaci-dade de realização”. Disse Pery que quan-do assumiu o cargo pela primeira vez suapreocupação era a de “trazer a ABI devolta às suas origens, aos seus pilares dadefesa da liberdade de imprensa e dodireito do trabalho dos jornalistas”.

Em seguida, foi aclamada, tambémpor unanimidade, a recondução dosmembros das quatro Comissões, comnovas adesões a algumas delas, como ados jornalistas Antônio Carlos RumbaGabriel, Luiz Carlos Azêdo e SérgioCaldieri à Comissão de Defesa da Liber-dade de Imprensa e Direitos Humanos.

ReencontroNovo membro da Comissão de Sindi-

cância, Carlos Felipe Santiago comen-tou sobre sua satisfação de voltar a fazerparte ativamente da ABI:

“Vejo aqui pessoas que conviveramcomigo por muito tempo, alguns forammeus professores, como MaurícioAzêdo, e Pery Cotta no Correio da Manhã.Na nossa época, o jornalismo era a melhorforma de se conquistar amigos. A genteera “inimigo” na hora de dar a notícia eera amigo na hora de dividir um sandu-íche ou um chope”, disse Carlos Felipe.

HistóriasCarlos Felipe relembrou também

histórias do passado, quando era revisoriniciante do Jornal do Brasil e enfren-tou figuras já consagradas do jornalis-mo na época, como Ferreira Gullar eReynaldo Jardim, por conta da coloca-ção de um pronome:

“Gullar escreveu “faz se” sem hífen eeu mandei colocar. Eu tinha sido aluno

de Aurélio Buarque de Ho-landa no Colégio Pedro II. ODoutor João Ribas,chefe daRevisão na época, me cha-mou a um canto e disse as-sim: “Você precisa entrarpara a ABI”. Isso em 1959.Estou na ABI desde aqueleépoca”, contou.

Ao ser questionado porMaurício Azêdo sobre o des-fecho da história, CarlosFelipe contou:

“Eu falei uma frase: do matobaixo é que pula o coelho, datoca rasa é que sai o tatu. E elesse assustaram quando eu dis-se que era aluno do ColégioPedro II, o que na época eramais ou menos como traba-lhar no Correio da Manhã, oprincipal jornal da época.”

Compromissos da ABINo encerramento da sessão, Maurí-

cio Azêdo destacou a importância dacontinuidade do trabalho realizado pelachapa reeleita:

“Nós iniciamos sempre um novomomento da ABI, um momento em quecada terço que se renova significa a con-tinuidade de um trabalho e a renovaçãodo entusiasmo por esse trabalho, com

Os eleitos e empossadosOs integrantes da Chapa Prudente de Morais, neto eleitos e empossados são os seguintesassociados:

CONSELHO DELIBERATIVOEfetivosAlberto Dines, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Arthur José Poerner, Dácio Malta,Ely Moreira, Hélio Alonso, Leda Acquarone, Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça,Modesto da Silveira, Pinheiro Júnior, Rodolfo Konder, Sylvia Moretzsohn, Tarcísio Holandae Villas-Bôas Corrêa.

SuplentesAlcyr Cavalcânti, Carlos Felipe Meiga Santiago, Carlos João Di Paola, Edgard MendesCatoira, Francisco Paula Freitas, Francisco Pedro do Couto, Itamar Guerreiro, JarbasDomingos, José Pereira da Silva, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Ponce de Leon,Salete Lisboa, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S..J. Magalhães.

CONSELHO FISCALAdail José de Paula, Geraldo Pereira dos Santos, Jarbas Domingos, Jorge Saldanha deAraújo, Lóris Baena Cunha, Luiz Carlos Chester de Oliveira e Manolo Epelbaum.

COMISSÕES AUXILIARES DO CONSELHOComissão de SindicânciaCarlos João Di Paola, José Pereira Filho(Pereirinha), Marcus Antônio Mendes de Miranda,Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Carlos Felipe Santiago.

Comissão de Ética dos Meios de ComunicaçãoAlberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.

Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos HumanosAlcyr Cavalcânti, Antônio Carlos Rumba Gabriel, Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro,Geraldo Pereira dos Santos, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, JoséÂngelo da Silva Fernandes, Lênin Novaes de Araújo, Lucy Mary Carneiro, Luís CarlosAzêdo, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva,Sérgio Caldieri, Wilson de Carvalho e Yacy Nunes.

Comissão Diretora da Diretoria de Assistência SocialIlma Martins da Silva, PRESIDENTE; Manoel Pacheco dos Santos, Maria do Perpétuo SocorroVitarelli, Mirson Murad, Moacyr Lacerda e Paulo Jerônimo de Souza.

um ânimo muito forte, um ânimo redo-brado de manter o empenho diante dacomplexidade das questões, sobretudoadministrativas e fiscais, em que a ABIse vê envolvida, como decorrência deuma seqüela de atos omissivos ou comis-sivos de antigas Diretorias e que até hojeconstituem um gravame muito fortepara o desempenho das atividades daABI”, disse o Presidente.

Ele reafirmou o compromisso da ABIcom as causas importantes para o jorna-lismo e para a sociedade:

“Ao mesmo tempo, queremos regis-trar, como o companheiro Pery Cotta jáassinalou, que a Casa, graças ao trabalhode seus inúmeros setores, inclusive daequipe que conduz o Jornal da ABI e queresponde pela produção de publicidadepara o jornal, como o nosso companhei-ro Chico Paula Freitas, tem um prestígiocrescente, alicerçado exatamente navisão que o jornal oferece sobre as suasatividades e sobre o nosso meio profissi-onal. Esse é o compromisso da nossaDiretoria e nos sentimos muito estimu-lados ao ver que nesta nova etapa conta-mos com a colaboração de figuras extra-ordinárias, como o nosso Professor Hé-lio Alonso, e também com a figura des-se grande batalhador do jornalismo e daconvivência profissional, como o nossocompanheiro Carlos Felipe Santiago.”

FRANC

ISCO

UC

HA

Com apoio do Conselho Deliberativo, a ABImanterá a defesa das liberdades, disse Pery.

Page 13: Jornal da ABI 366

13Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Ao elogiar publicamente a Ediçãonº 364 do Jornal da ABI no dia 5 demaio em seu concorrido blog, o jorna-lista Juca Kfouri gerou um tráfego deleitores para a versão digital da publi-cação de mais de 8.500 leitores, algunsdos quais deixaram mensagens de cum-primento. O recado de Juca aos seusleitores eletrônicos teve o objetivo dedivulgar a longa entrevista que eleconcedeu e que foi publicada naquelaedição. O texto diz o seguinte:

“O Jornal da ABI, da Associação Bra-sileira de Imprensa, fez uma longuís-sima entrevista com este blogueiro.

Quem tiver paciência para supor-tar 10 páginas com o dito cujo é sóclicar aqui.

De quebra, pode ler o jornal intei-ro, que é muito bom e, nesta edição,como usual, com temas bastante in-teressantes.”

Foram pouco mais de quatro linhaspublicadas com palavras de elogio àpublicação da ABI, mas a resposta deseus leitores foi imediata. “Elas pas-sam numa velocidade que quando setermina, fica aquele gostinho de que-ro mais, que pena que acabou”, escre-veu Adriano Lopes, um dos internau-tas que se manifestou. “Não hesiteiem nenhum momento em ler cadauma das 10 páginas e achar cada linhamuito interessante”, escreveu o leitorque assina Matheus.

A versão digital do Jornal da ABIpode ser encontrada em dois sites es-pecializados em publicações virtu-ais. São o Issuu.com (ow.ly/4W2a7) eo ReadOz.com (ow.ly/4W01c).

ErrataEm e-mail à ABI, Kfouri se disse

impressionado com a repercussão dapublicação da Casa e apontou algunserros registrados em sua entrevista.Eis a mensagem:

“Impressionado com a excelenterepercussão da entrevista ao nossoJornal da ABI, peço a gentileza dealgumas correções.

– Em vez de mestre Jânio de Frei-tas, ajudei a tirar Jane Capozzi doPaís, perseguida pela ditadura.

– “João Carlos Kfouri Moraes” éJoão Carlos Kfouri Quartim de Mo-raes, mais conhecido como JoãoQuartim.

– O Milton que ajudei a fazer jor-nal alternativo é o Coelho, não Pena.

– Não publiquei nenhuma entre-vista do Jô Soares em Playboy depoisda revelação da identidade de CarlosZéfiro. Ele, Alcides Caminha, o Zé-firo, foi quem deu uma entrevista aoJô em seguida.

– Finalmente, o ditado espanholdiz que “redacciones aburridas hacenperiódicos aburridos” não “aciones”como saiu.”

A versão digital já está corrigida.

Dois destacados membros do quadrosocial da ABI foram incluídos este anoentre as dez Personalidades Cidadaniaescolhidas numa votação que recolheu5.718 manifestações de representantes dediferentes segmentos da sociedade: o jor-nalista Ancelmo Gois, membro do Con-selho Consultivo da Casa, e o jornalista,professor e acadêmico Arnaldo Niskier,que foi membro do Conselho Deliberati-vo da ABI por mais de um mandato. Emo-cionados e felizes, Ancelmo e Niskierreceberam a honraria numa noite de galarealizada em 12 de maio na sede social doJockey Clube Brasileiro, no Centro doRio. Para a entrega da placa relativa aoprêmio, Ancelmo escolheu como padrinhoo Presidente da ABI, Maurício Azêdo,enquanto Niskier indicou para fazê-lo suaesposa, Ruth Niskier.

Promovido pelo jornal Folha Dirigida,pela Organização das Nações Unidas paraa Educação, a Ciência e a Cultura-Unescoe pela ABI, o Personalidade Cidadaniaprestou homenagem a outros oito escolhi-dos pelo numeroso segmento que partici-pou da votação: Carlos Lupi, Ministro doTrabalho e Emprego; Dom Orani Tempes-ta, Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro;Eduardo Paes, Prefeito da Cidade do Rio deJaneiro; Humberto Mota, empresário eDiretor da Associação Comercial do Riode Janeiro; Israel Klabin, empresário eex-Prefeito do Rio; José Mariano Beltra-me, Secretário de Segurança Pública doEstado do Rio de Janeiro; Sérgio Besser-man Vianna, sociólogo, e Vik Muniz,artista plástico.

Foram também agraciadas três insti-tuições que se destacaram em ações emfavor da cidadania: o Clube de Engenha-ria, o Ministério Público do Estado doRio de Janeiro e o Rotary Clube do Riode Janeiro. Seus prêmios foram recebidospor Francis Bogossian, Presidente doClube de Engenharia; pelo Procurador-Geral de Justiça Cláudio Soares Lopes,Chefe do Ministério Público do Estado,e Alice Cavalieri Lorentz, Presidente doRotary Clube.

Ancelmo: A educação étudo para a cidadania

Favorecido pela ordem alfabética nachamada para a entrega do prêmio, An-celmo Gois foi o primeiro a receber aplaca Personalidade Cidadania e não es-condeu a emoção de que estava tomado:era a primeira vez que o agraciavam.Com 48 anos de imprensa, ele lembrousua iniciação no jornalismo do Riocomo free lancer de uma revista técni-ca da Editora Abril, por indicação deMaurício Azêdo, ao qual se declarougrato até hoje. Nascido em Frei Paulo,pequeno Município de Sergipe, Ancel-

mo estudou política e economia na ex-tinta União Soviética, como membrodo antigo Partido Comunista Brasileiro-PCB. Atualmente é titular da colunacom seu nome publicada diariamentepor O Globo e apresentador do programaDe lá para cá, da TV Brasil. Modesto, elededicou o prêmio aos seus companhei-ros da coluna de O Globo: Marceu Viei-ra, Ana Cláudia Guimarães, Aydano An-dré Mota e Daniel Brunet.

Ao agradecer a distinção, Ancelmosalientou a importância da educação parao exercício efetivo da cidadania, porque“educar é tudo para a cidadania”, e fezuma exaltação poética da educação: “Edu-car é um gesto de manhã, um beijo aomeio-dia, um olhar e um ensinamento ànoite, é a mãe de todas as tarefas. E paravocê formar uma sociedade civilizada,generosa, humana, a educação é funda-mental. Mas é preciso também colocar osgestos, não deixar cair um papel no chão,não jogar no chão um saco de pipoca. Aeducação é importante inclusive nasescolas, que são apenas um pedaço dela emuito mais do que esse espaço”.

Ancelmo destacou igualmente o tra-balho como fundamental para a constru-ção de um país mais igual e democrático.“Trabalho é uma coisa incorporada ao serhumano e rigorosamente se integra nocotidiano de todos nós. É uma atividadeque, quando exercida com ética e equilí-brio, é muito bonita, além de essencial”.

Niskier: O CIEE treinou11 milhões de jovens

Também indicado pela primeira vezagora em 2011 para o Personalidade Ci-dadania, o jornalista, professor e acadê-mico Arnaldo Niskier declarou com

modéstia que não se considerava comméritos para a premiação e preferiu pôrem relevo a atividade do Centro de Inte-gração Empresa-Escola-CIEE do Rio deJaneiro, de que é Presidente. Em seu agra-decimento, disse:

“Tenho conseguido cooperar, como sediz na Matemática, com uma correspon-dência biunívoca, tanto como educador(tenho 55 anos de ação na área e já co-mandei algumas vezes a Secretaria deEstado) como um homem de cidadaniacom o Centro de Integração Empresa-Escola, que já treinou no Brasil 11 mi-lhões de jovens, entre estagiários e apren-dizes, e já distribuiu bolsas-auxílio demais de R$ 6,6 bilhões. É um organismofilantrópico e benemerente que quercontinuar assim. Essa é a razão pela qualentendo que a maior homenagem quepossa prestar é para a equipe do CIEE. São250 pessoas que trabalham no CIEE do Riopara dar andamento ao destino de 30 milpessoas, tanto em relação ao estágioquanto em relação ao aprendiz legal. Éum número bastante expressivo e quere-mos cada vez merecer outros prêmiospelas ações que estamos desenvolvendo.”

Apesar do caráter festivo e solene dasessão de entrega do prêmio, Niskier fezuma reivindicação: “O Governo lançouo Programa de Apoio ao Ensino Técnicoe fez uma série de parcerias, mas esque-ceu do CIEE, que talvez pudesse ser omaior parceiro, já que temos um progra-ma de treinamento sério, consolidado etradicional. O Ministro Carlos Lupi pro-meteu que levaria esta nossa reivindica-ção à Presidente Dilma Rousseff. Nósqueremos ajudar o Governo a tornarrealidade o ensino técnico profissional,que até hoje não passou de ficção”.

Numa votação que recolheu 5.718 manifestações de representantes de diferentes segmentos da sociedade,eles foram incluídos entre as dez Personalidades que constituem exemplos de dedicação ao bem comum.

EXEMPLOS

Ancelmo e Niskier,paradigmas de Cidadania

REPERCUSSÃO

8.500 lêementrevista deJuca Kfouriem seu blog

Embora a ocasião fosse festiva, Niskier (à esquerda) fez postulação reivindicadora aoreceber o seu prêmio. Ancelmo apontou a educação como essencial para a cidadania.

FOTOS: HENRIQUE HUBER/FOLHA DIRIGIDA

Page 14: Jornal da ABI 366

14 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

A ‘notícia’ era a seguinte.Ana Cata-rina Bezerra Silvares, 36 anos, divorci-ada, mãe de três filhos e analista contá-bil, sofre de uma doença chamada ‘com-pulsão orgástica’, que a leva à constan-te busca por orgasmos que aliviem suaansiedade. No auge da crise, procurouajuda depois de masturbar-se nada me-nos que 47 vezes num só dia. Após ba-talha judicial, finalmente a moça foi au-torizada, por um juiz do Trabalho deVila Velha, ES, a satisfazer-se sexual-mente no ambiente de trabalho. E maisdo que isso: para regozijo próprio, e

alegria de toda a seção, para fazê-lo elapode, sem qualquer constrangimento,utilizar o computador da empresa paraacessar imagens eróticas.

A história, totalmente absurda e semnexo, é, evidentemente, um trote. Tra-ta-se de uma situação de humor. Contu-do, há uma piada dentro da piada. Ape-sar do evidente tom de ‘farsa’ do texto, ede sua publicação original ter ocorridonum site chamado Tramado por Mulherese – vejam só! – na categoria Blablablá, Jor-nalismo Mentira, nem todos se deramconta disso. A julgar pelos comentáriosdeixados na página, os internautas logoperceberam que aquilo era uma simplesgozação – com o perdão do trocadilho.

Porém, houve quem levasse a histó-ria a sério. Pior do que isso, houve

quem a reproduzisse como ver-dadeira. E essa parte da piada,ao menos para a prática dojornalismo, não tem graça al-guma. Beira o trágico.

O primeiro veículo aconferir credibilidade à

galhofa humorística foi aIstoÉ. Em sua edição de 27

abril, a revista reproduziutodo o caso, como se fossenotícia real e – esperava-se –

apurada. A nota saiu na colunaSemana, assinada pelo Editor-Exe-

cutivo Antônio Carlos Prado e pelarepórter Juliana Dal Piva. A partir daí,

é claro, o incidente ganhou maior reper-cussão. A saga masturbatória de

Ana Carolina pelos consultóri-os médicos e tribunais ga-

nhou espaço em blogs,sites, salas de aula e atéem emissoras de televi-são.

“Soube da reprodu-

A preservação da memória do es-porte é um dos principais projetosanunciados pelo jornalista Eraldo Lei-te, reeleito Presidente da Associaçãodos Cronistas Esportivos do Rio deJaneiro-Acerj para o triênio 2011-2014, em votação realizada no dia 18de abril na Associação de ImprensaCampista-AIC, em Campos, e no Es-tádio General Sylvio Raulino de Oli-veira, em Volta Redonda, e no dia 19,na sede da entidade no Centro do Rio.

O pleito contou com a forte parti-cipação dos jornalistas esportivos dointerior, principalmente na cidade deCampos, de associados ilustres e degrandes nomes do jornalismo espor-tivo, como José Carlos Araújo, GérsonCanhotinha de Ouro, José Rezende,Gílson Ricardo, Wellington Campos,Fábio Azevedo, Waldir Luiz, Francis-co Aiello, Carlos Ramiro, Tadeu deAguiar, Carlos Silva, Mitre José, ElsoVenâncio, Luís Carlos Silva, SebastiãoPereira, Carlos de Souza.

Os trabalhos da Assembléia-Geralforam conduzidos por Carlos FelipeMeiga Santiago e Geraldo Pedroza. Aofinal da apuração das quatro urnas –Campos, Volta Redonda, Capital e itine-rante –, Eraldo Leite recebeu 116 do to-tal de 118 votos, sendo dois em branco,como cabeça da Chapa João Saldanha –Novos Desafios, a única inscrita.

“A nossa primeira ação será a cria-ção do Centro de Memória, com oobjetivo de disponibilizar no site daAcerj áudios históricos, como golsnarrados por antigos locutores, entreos quais Oduvaldo Cozzi, WaldirAmaral e Jorge Cúri, além de entre-vistas que serão produzidas com osgrandes nomes da crônica esportiva.José Rezende e Waldir Luiz vão pilo-tar o projeto”, afirmou Eraldo.

A Associação dos Cronistas Des-portivos-ACD foi fundada em 5 demarço de 1917. Em 22 de agosto de1967, o quadro social da ACD passoua incorporar também os associados doDepartamento de Imprensa Esporti-va da ABI, o prestigiado DIE, dandoorigem à Associação de Cronistas Es-portivos da Guanabara-Aceg. Com afusão dos Estados do Rio e da Guana-bara, em abril de 1975, a entidadepassou a se chamar Associação dosCronistas Esportivos do Rio de Janei-ro, que luta pelo melhoramento dacobertura esportiva e a valorização doespírito de competição no futebol. Olendário jornalista e dirigente espor-tivo Canôr Simões Coelho, que foimembro da ABI e dirigiu o DIE pormuitos anos, foi um dos fundadoresda entidade. (Cláudia Souza)

A criação de um centro dememória do jornalismo esportivo

será uma das primeiras metasda nova gestão da entidade.

CONSAGRAÇÃO

Eraldo Leitereeleito na Acerj

História falsa, publicada em site de humor, é reproduzidapor diversos veículos como notícia verdadeira. E expõe

a fragilidade da apuração no jornalismo atual.

FURADA

SAIU COMONOTÍCIA, E ERA

UMA PIADA.E NÃO TEM

GRAÇA ALGUMA

POR PAULO CHICO

ção do meu texto na IstoÉ por meio demeus seguidores no Twitter. Na segun-da-feira recebi várias vezes o link damatéria. Daí pedi a eles que elogiassema suposta conquista trabalhista para darmais credibilidade à nota publicada narevista. Minha primeira reação foi rirmuito, pois dois jornalistas assinavam aminha matéria como deles, e como sen-do verdade! Em momento algum elesdeixaram alguma pista de que poderia seruma mentira”, conta Fábio Flores, autordo texto original.

No rastro da IstoÉ, Xico Sá tambémdeixou-se seduzir pela anedota eróticae, justo no 1º de maio – coincidência ounão, Dia do Trabalho – comentou emseu blog a notícia que prometia a revo-lução dos hábitos e costumes nos escri-tórios de todo o País. O estilo de reda-ção do jornalista, contudo, deixava dú-vidas sobre o quanto ele próprio acredi-tava na história.

“E a repercussão foi crescendo. Umseguidor que estuda numa faculdade pri-vada do Espírito Santo me contou queum professor virou motivo de piadaentre os alunos, quando mostrou a notae, após uma rápida pesquisa no Google,os alunos descobriram o óbvio. Nem otribunal nem o juiz citados na matériaexistiam. Ainda assim, a decisão inéditado tal magistrado chegou a ser discuti-da seriamente em aulas de Direito Pe-nal”, surpreende-se Fábio.

O autor da falsa reportagem é geógra-fo especializado em formação docente,professor e também atua como humo-rista. “Comecei no humor de brincadei-ra, minha meta era ser apenas o produ-tor do primeiro grupo de humor capixa-ba. Ele era composto por três alunosmeus. Um deles disse que não poderia irà estréia porque assistiria a um jogo doFluminense. Criei um texto só parasubstituí-lo nesta oportunidade, mas otexto funcionou e decidi ficar no grupopara sempre”, recorda ele, que, nos últi-mos anos, intensificou sua atuação nocampo do humor.

Jornalismo mentira“Comecei a escrever os textos de

humor em 2008, exclusivamente parashows de stand up comedy. Em 2010 pas-sei a escrever para o blog Tramado porMulheres e a desenvolver o JornalismoMentira. Tudo começou bem de brinca-deira. Mas, por mais absurdas que fossemas notícias inventadas por mim, o pesso-al passou a repercuti-las nos comentári-os. Daí decidi profissionalizar a coisa.Comecei a escrever o texto num lingua-jar mais jornalístico e simulando fontesque nunca existiram. Isso fez toda adiferença. Hoje algumas postagens ul-trapassam 100 mil visualizações.”

E o episódio da ‘compulsão orgástica’não foi a primeira brincadeira de Flávioa ter repercussão na grande mídia. “Mui-tas histórias ganharam ampla reprodu-ção. A que mais gerou desdobramentoscomo verdadeira foi uma lista de parti-cipantes do programa A Fazenda 4, da TVRecord. Esta lista chegou no Jornal doBrasil, Folha de S.Paulo, O Dia, Terra e

Fábio Flores, autor danotícia inventada:

Comecei nohumor por

brincadeira.

DIV

ULG

AÇÃO

Page 15: Jornal da ABI 366

15Jornal da ABI 366 Maio de 2011

RedeTV!. Agora, esse caso da autorizaçãojudicial para masturbar-se no ambientede trabalho já foi reproduzida, comosendo real e verossímel, pelo Jornal daBand e pelo Serginho Groisman, em seuprograma Altas Horas, no quadro sobresexo, feito pela Laura Muller.”

O descolado apresentador da TV Glo-bo apresentou a questão como uma no-tícia inusitada. “Esses dias saiu numjornal e na internet um caso de uma mu-lher que sofre de ‘compulsão orgástica’.Ela teria conseguido na Justiça autoriza-ção de intervalos de 15 minutos a cadaduas horas para se masturbar no horáriode trabalho. Essa doença existe mes-mo?”, questionou Groisman, arrancan-

do risos da platéia de adolescentes. A se-xóloga, então, disse. “Pois é, esse é umcaso meio inédito. Os médicos que esta-vam avaliando o quadro disseram queera uma questão cerebral. Ela precisavase masturbar para dar alívio ao descon-forto. Há casos de compulsão por sexo.Ela é orgástica, quer ter orgasmos o tem-po todo. Isso requer tratamento mesmo.Essa moça está sendo tratada com medi-camentos e, talvez, com um pouco de te-rapia”, respondeu, em tom professoral.

Quanta desinformação para os garotose garotas do Altas Horas! E logo para eles,mergulhados que estão em plena ebuli-ção hormonal. Vale lembrar que umasimples conta, somada a uma dose míni-ma de bom senso, bastaria para desmen-tir a fantástica mentira de Fábio Flores.Ainda que a moça inventada por ele pas-sasse 24 horas acordada, sem dormir umminuto sequer, e masturbando-se 47vezes naquele dia, essa fissura exigiria, emmédia, uma sessão de sexo solitário a cadameia hora. Um pouco demais, não?

Sinais de preocupaçãoApesar de divertir-se com o ocorrido,

Fábio Flores mostra-se preocupado sobreo que o fato revela a respeito do jornalis-mo atual. “Eu penso que atualmente ojornalista vive uma pressão bem maiorem função das redações multimídias.Cada vez precisa fazer mais coisas emmenos tempo. Este é o cenário perfeitopara que eu possa disseminar meu jorna-lismo mentira. Quando um veículo decomunicação tradicional cai na ‘pegadi-nha’, minha notícia ganha mais credibi-lidade. Uma parte desse sucesso é preci-so ser creditada à habilidade de quem criaos roteiros. Criamos as histórias de formaque, no mínimo, deixemos o leitor emdúvida. Outra parte deve ser creditada àausência de tempo para apurar as maté-rias. Esse é um alerta de que o desejo dechegar na frente com a melhor notíciapode levar o jornalista a cair em ciladas.”

Fábio também trabalha com humorno rádio. Em 2009, recebeu o prêmio demelhor programa de rádio do EspíritoSanto ancorando o Esculacho, na RádioCidade FM. Agora, desenvolve o proje-to de um novo programa de rádio, namesma linha do ‘Jornalismo Mentira’.

A idéia de escrever a história da mulherautorizada a masturbar-se no trabalho,devido a uma doença rara, surgiu danecessidade de criar uma postagem se-manal. Em busca de audiência certeira,ele reuniu os ingredientes mais eficazesna construção de uma boa notícia:sexo, justiça e sonho.

“Falar sobre sexo rende audiência porser o assunto que as pessoas mais bus-cam na internet. Sempre que se fala deconquistas trabalhistas isso ganha vidapor meio de correntes nos e-mails. Efalar de algo que as pessoas sonham em

poder conquistar faz que, por maisabsurdo que possa ser, elas aceitem ofato como verdade, pois é a projeção dodesejo. Essa confusão toda vem tambémprovar que a internet é terra de nin-guém. As pessoas copiam e nunca dão ocrédito. Eu sempre assino as matérias.Pois um sonho meu é me tornar umredator de humor, e isto daria visibilida-de ao meu trabalho. Uma vez publiqueique o ‘sêmen humano poderia ser eficazno clareamento dental’. Acredite: umdentista publicou como dele a matériae acabou virando o autor reconhecido,pois o blog de um dentista possui maiscredibilidade que o de um humorista.”

Fábio afirma que, apesar de toda arepercussão do erro da IstoÉ, especial-mente na internet, não houve qualquercontato por parte da equipe da revista.Nem mesmo uma retratação, relatan-do o equívoco aos leitores. “Não houvecontato antes nem depois. Não soubedo desfecho da história. Só sei que eles

tiraram a página do ar depois de umasemana. Ainda bem que compreia revista impressa. Vou guardá-la como troféu”, conta ele, quefaz mais uma observação. Alô,alô leitores! Reparem no tom debrincadeira, tá? Não custa nadaavisar... Vai que algum desavisa-do acredita no que ele diz:

“Veja bem, entendo a confu-são na cabeça dos jornalistas.Não há nada de absurdo em

uma mulher masturbar-se e atin-gir o orgasmo 47 vezes por dia. A minha,por exemplo, consegue. Ela é uma pro-fissional...”, garante Fábio Flores, casadohá 11 anos. “Não possuo filhos biológi-cos. Apenas um schnauzer que está mehumanizando cada dia mais”, comple-ta. Para encerrar, o humorista volta a falarsério, quando perguntado se acredita emtudo aquilo que lê, ouve ou a que assis-te na mídia. “Quem já trabalhou numveículo de comunicação tem tudo paraduvidar de tudo”, decreta.

Em respeito às regras do bom jornalis-mo, o Jornal da ABI buscou contato comAntônio Carlos Prado, Editor-Executivoda IstoÉ e, em última análise, responsávelpela seleção do conteúdo publicado na

revista. Queríamos nada demais. Apenasrespostas objetivas para perguntas sim-ples. Como a IstoÉ soube daquela ‘notí-cia’? Como a equipe não percebeu tratar-se de uma piada? Qual a reação dos leito-res – e da própria direção da revista?Houve – ou haverá – algum desmentido,informando sobre o grave equívoco?Após sucessivos e-mails não respondidos,conseguimos contato direto com Antô-nio Carlos, por telefone. Falamos comele, que apenas nos disse estar numa reu-nião e ocupado com a produção da pró-xima edição. Faz todo sentido. Fecha-mentos, quase sempre, exigem muitocuidado na apuração.

A “notícia” publicada na Semana,da IstoÉ de 27 de abril: como acreditar

nas outras notas publicadas nessa seção?

Sergio Groisman(à direita)

pergunta a LauraMuller no Altas

Horas: “Essadoença existe

mesmo?” E elaresponde: “Os

médicos queestavam

avaliando oquadro disseram

que era umaquestão

cerebral“.

ROD

RIGO

CAPO

TE/ FOLH

APRESS

FAB

IO B

RAG

A/FO

LHAP

RESS

Page 16: Jornal da ABI 366
Page 17: Jornal da ABI 366
Page 18: Jornal da ABI 366

18 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

O alto índice de violência que atingejornalistas em todo o mundo ameaça osesforços que vêm sendo empregados emvárias regiões para garantir a liberdade deimprensa e de expressão. No Dia Mun-dial da Liberdade de Imprensa, 3 de maio,a organização não-governamental Fre-edom House divulgou um relatório emque mostra que a liberdade de impren-sa no mundo está seriamente ameaçada.

De acordo com o relatório, somente16% dos cidadãos do mundo vivem empaíses com imprensa livre. De 196 paísesobservados, 68 (35%) foram classifica-dos como livres, 65 (33%) como parcial-mente livres, e 63 (32%) como não li-vres, segundo a Organização.

Outro dado preocupante são os assas-sinatos de jornalistas. Um levantamentoda Organização das Nações Unidas paraa Educação, a Ciência e a Cultura-Unes-co aponta que na última década 500profissionais foram assassinados nomundo todo, 60 somente em 2010. Aofim do comunicado em seu site, a enti-dade reafirma seu compromisso:

“Passados vinte anos desde a Declara-ção de Windhoek, os eventos mostrama cada dia que promover a liberdade deexpressão continua a ser tão importan-te quanto antes. Neste Dia Mundial daLiberdade de Imprensa de 2011, exorta-mos todos os governos a unir esforçoscom as Nações Unidas para garantir epromover a liberdade de expressão na

O Ministro das Comunicações, Pau-lo Bernardo, anunciou que vai propor acriação de uma agência reguladora parao setor de radiodifusão, função que atu-almente é da responsabilidade da Agên-cia Nacional de Telecomunicações-Ana-tel. No entanto, segundo o Ministro, aproposta só será levada adiante se tivero aval da Presidente Dilma Rousseff.

O anúncio foi feito em Brasília no dia28 de abril durante a audiência na Câma-ra dos Deputados com membros daFrente Parlamentar pela Liberdade deExpressão e o Direito à Comunicaçãocom Participação Popular.

De acordo com a Agência Câmara,Paulo Bernardo disse que o novo marcoregulatório das comunicações poderáprovocar alterações na Lei Geral de Tele-

Violência matou 500 jornalistas em uma década

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

No mundo todo, apenas 16 em cada 100 pessoas vivem em países com imprensa livre.

mídia escrita, nas transmissões por on-das e on-line.”

A Federação Internacional dos Jorna-listas também produziu um relatório,no qual mostra que 94 profissionais (45a menos que em 2009) foram mortos poratos violentos em pleno exercício daprofissão, em todo o mundo, no ano de2010. Entre 1990 e 2010 foram mortos2.271 profissionais de imprensa no exer-cício da atividade profissional, conformedados divulgados pela entidade em rela-tórios anuais.

A Federação divulgou também umalista dos assassinatos de jornalistas em2010. Nela constam as mortes de profis-sionais brasileiros, como a do repórteresportivo Clóvis Silva Aguiar, da RedeTV, ocorrida no dia 24 de junho daque-le ano; e de Francisco Gomes de Medei-ros, da Rádio Caicó (AM), assassinado em18 de outubro de 2010.

Violência no BrasilNo Brasil, segundo dados levantados

pela Federação Nacional de Jornalistas-Fenaj, foram registrados 55 casos de vi-olência em 2009. Desse total, 40% doscasos são de agressões físicas e verbais;27% de censura e processos; e 15% sãoameaças. Dois assassinatos foram regis-trados no Estado de Pernambuco.

O levantamento da Fenaj apuroutambém casos de detenção e tortura(5%); atentados (5%); e atos de violên-cia contra sindicalistas (4%). Segundo orelatório, na maioria dos registros de

Ao assinalar a passagem do DiaMundial da Liberdade de Imprensa, aABI lamentou que os jornalistas en-frentem no mundo inteiro violênciase ameaças que causaram a morte de 18profissionais somente nos quatro pri-meiros meses de 2011. A ABI solidari-za-se com as famílias desses profissio-nais e manifesta sua esperança de quecessem tantas violências contra os pro-fissionais da comunicação.

Diz a mensagem da ABI:“Neste 3 de maio celebrado como o

Dia Mundial da Liberdade de Impren-sa, instituído pela Organização de Edu-cação, Ciência e Cultura das NaçõesUnidas-Unesco, a Associação Brasilei-ra de Imprensa lamenta registrar quetão importante data seja marcada nesteano de 2011 por graves lesões aos jor-nalistas no mundo inteiro, com a re-petição de mortes, ameaças, censura e

A ABI lamenta tantas mortesoutras práticas que violam a liberdadee punem com a perda da vida os profis-sionais da comunicação.

Informações divulgadas pela orga-nização não-governamental Repórte-res Sem Fronteiras dão conta de quenos primeiros quatro meses de 2011perderam a vida no exercício da profis-são nada menos de 18 jornalistas eauxiliares dos serviços de comunica-ção, numa escalada que gera apreen-são na comunidade jornalística detodos os países.

A ABI solidariza-se com as famíli-as desses profissionais e com seus com-panheiros nos veículos para os quaistrabalhavam e manifesta sua esperan-ça de que cessem tantas violências con-tra os profissionais da comunicação.

Rio de Janeiro, 3 de maio de 2011,Dia Mundial da Liberdade de Imprensa(a) Maurício Azêdo, Presidente.”

violência contra jornalistas há o envol-vimento de agentes do Estado.

Com base no registro de 16 mortes, oPaquistão aparece nos relatórios interna-cionais como o país com o pior índice desegurança para os trabalhadores de co-municação em 2010. Em seguida vêmMéxico e Honduras, com dez casos de

assassinatos de jornalistas cada um.Em comparação com 2009, a Fij de-

tectou uma redução no número demortes de profissionais de mídia, masmesmo assim a entidade considera queo índice de atos violentos cometidos con-tra jornalistas, em algumas regiões, con-tinua alto.

Ministro quer uma agênciapara regular a radiodifusão

O novo órgão assumiria funções que são atualmente da Anatel.

comunicações (Lei nº 9.472/97). Segun-do o Ministro, o projeto apresentadopelo Governo Lula não previa essa revi-são: “Nós vamos propor modificações,porque mudou muita coisa na realidadebrasileira, e a previsão é mudar muitomais com a convergência das mídias”,declarou Paulo Bernardo.

O Ministro disse também que faráum convênio com a Anatel para que oórgão possa fazer a fiscalização técnicada área de radiodifusão. Este seria, segun-do Paulo Bernardo, mais um mecanismopara evitar que verdadeiros donos deempresas de comunicação usem “laran-jas” para adquirir novas concessões derádio e televisão.

Em um debate realizado no Senadoum dia antes do anúncio, o Superinten-

dente do Serviço de Comunicações deMassa da Anatel, Ara Apkar Minassian,ressaltou que atualmente a Agência nãotem poderes legais para fazer certas in-tervenções de fiscalização, como, porexemplo, atuar contra as irregularidadesnos processos de licitações públicas deoutorgas de concessões de rádio e tv.

No encontro promovido pela Frente,o Deputado Fernando Ferro (PT-PE)defendeu a realização urgente de umamplo debate sobre o novo marco regu-latório das comunicações. Ele destacouque há muitas divergências sobre temascomo “conteúdo ofensivo” e “controledo setor de radiodifusão”, e propôs umamplo debate sobre “o poder dos barõesda comunicação brasileira”.

(José Reinaldo Marques)Paulo Bernardo: Convênio com a Anatel parauma fiscalização efetiva contra os “laranjas”.

ELZA FIÚZA/ABR

Page 19: Jornal da ABI 366

19Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Os Presidentes do Comitê de Im-prensa do Senado, Fábio Marçal, e do Sin-dicato dos Jornalistas do Distrito Fede-ral, Lincoln Macário, e o advogado Klausde Melo, da OAB-DF, protocolaram umarepresentação junto à Mesa Diretora doSenado, na Secretaria-Geral da Casa,contra o parlamentar Roberto Requião(PMDB-PR), que arrancou o gravadordas mãos do repórter Victor Boyadjian,da Rádio Bandeirantes, ao ser questiona-do se abriria mão do pagamento da apo-sentadoria de R$ 24 mil que recebe comoex-Governador do Paraná.

“Já pensou em apanhar, rapaz? Jápensou em apanhar? Me dá isso aqui.Não vai desligar mais p... nenhuma. Vouficar com isso aqui”, disse Requião aopegar o gravador.

“As medidas disciplinares previstas noregimento do Senado são a advertênciae a censura oral ou escrita. As duas quenós acreditamos que têm mais relaçãocom o caso. Ainda está prevista no regi-mento a perda de mandato, mas quemtem que fazer este juízo é o Conselho deÉtica para onde [a representação] seráencaminhada. O Presidente da Casa,José Sarney (PMDB-AP), poderia tam-bém advertir ou censurar o parlamen-tar”, disse Lincoln Macário.

Porém Sarney considerou uma “ques-tão de temperamento” a atitude do co-lega de partido e Presidente da Comissãode Educação do Senado:

“Não há qualquer conotação de quese trate de uma agressão à liberdade deimprensa ou de trabalho. Essas coisas àsvezes acontecem independente até

“Indignação santa”O Senador Roberto Requião (PMDB-

PR) afirmou no Plenário no dia 26 deabril que o episódio está sendo conta-do de forma equivocada pela impren-sa. Rebateu as afirmações de que teriatomado o gravador numa atitude decensura ao repórter, e lembrou quepostou a íntegra da entrevista em seusite pessoal:

“Eu apenas retirei o gravador paraevitar que ele editasse o conteúdo.”

Segundo Requião, o repórter questi-onava com o intuito de acuá-lo, “no es-tilo de programas como Pânico e CQC”.Ele reconheceu que perdeu a paciênciacom o repórter, que, segundo seu relato,insistia em repetir a pergunta que já teriasido respondida por ele. Comparando ofato àquele em que Jesus Cristo perde apaciência com os mercadores às portasdo Templo, ele disse que “muitas vezesa indignação é santa”.

Ainda de acordo com o Senador, aentrevista do repórter inicialmente ti-nha objetivo de arrancar dele críticas aoGoverno de Dilma Rousseff e sua polí-tica econômica. No decorrer da conver-sa, a pergunta sobre a pensão de ex-go-vernador do Paraná teria aparecido.

“A Bandeirantes veio com uma enco-menda para me irritar. Fui alvo de umaprovocação programada e reagi comindignação.”

Requião contou que, quando eraGovernador ficou sete anos e três mesessem dar entrevistas ao vivo porque erapressionado, “num regime de chanta-gem” pela imprensa a abrir os cofres doGoverno em contratos de publicidadepara não receber críticas dos meios decomunicação.

Requião citou ex-governadores do seuEstado “e mais uma boa dúzia de parla-

Jornalistas exigem a puniçãoda truculência de Requião

POR CLÁUDIA SOUZA

Desvairado, o ex-governador arrebatou o gravador da mão do repórter da Rádio Bandeirantes, ameaçou bater nele eapagou a gravação feita pelo jornalista. Comitês de Imprensa do Senado e da Câmara querem que sua violência seja punida.

Quase duas semanas depois dearrancar o gravador da mão do re-pórter Victor Boyadjin, da RádioBandeirantes, o Senador RobertoRequião (PMDB-PR) divulgou umvídeo em seu site dizendo que écontra o pagamento.

“Sobre as pensões, sempre fuicontra. Quando fui prefeito, eu aca-bei com as pensões para ex-prefei-tos. Quando fui deputado encabe-cei a liquidação da pensão dos depu-tados estaduais, sem contribuição”,disse Roberto Requião no vídeo.

No entanto, conforme foi vei-culado pela Folha Online, o SenadorRoberto Requião justifica o recebi-mento da pensão como um benefí-cio legítimo “em defesa do patrimô-nio da sua família”.

Com base na Constituição doParaná, atualmente nove ex-gover-nadores recebem aposentadoria novalor de R$ 24,1 mil, mas no finalde março quatro deles tiveram assuas pensões revogadas pelo Gover-nador Beto Richa (PSDB), mas con-tinuam recebendo por que recorre-ram da decisão.

Para retirar o pagamento das su-peraponsentadorias o atual Gover-no do Paraná alega que nem aConstituição Federal prevê benefí-cio semelhante para ex-Presidentesda República.

mesmo da vontade das pessoas. Nãoposso emitir conceito de valor contraum colega por quem eu tenho o maiorrespeito e que tem uma vida públicagrande neste País.”

Para Macário, a melhor solução seriaum pedido de desculpas de Requião:

“Acreditamos que o Senador aindanão se deu conta da dimensão de seu ato,é um péssimo exemplo que ele passa paraa sociedade e para milhares de pessoasque o têm como referência e que vota-ram nele. É a sociedade que vai estar pre-judicada a partir do momento que as au-toridades se acharem no direito de cas-sar os gravadores. Agora, depois de daruma entrevista, arrancar o gravador deum jornalista é uma demonstração cla-ra de censura que, esperamos, permane-ça naquele período sombrio que esperá-vamos ter ultrapassado.”

“Sempre fuicontra as pensões”

A ABI manifestou sua repulsa aocomportamento do Senador RobertoRequião (PMDB-PR) de arrebatar ogravador do repórter Victor Boyadjin,da Rádio Bandeirantes, e só devolvê-lo, após intervenção de um diretor daemissora, depois de apagar o chip damemória do aparelho em nota divul-gada no dia 26 de abril.

“Esse incidente é recebido com ex-tremo desagrado pela ABI, sobretudoporque partido de um político comdenso currículo, como o Senador Re-

A ABI reprovou as reações do parlamentar, que“deveria ser respeitoso com os profissionais de imprensa”.

“Senador deveria ter mais comedimento”

mentares do Plenário que também rece-be [pensão]”. E afirmou que a imprensamuitas vezes trata questões como estade maneira “absolutamente provocado-ra e irresponsável”. Ele acrescentou quea crítica ao recebimento da pensão cons-trangeu o também Senador Pedro Simon“até o desespero, por receber R$ 11 milquando funcionários do seu gabineterecebiam duas ou três vezes mais”.

“Numa boa, vou deletá-lo”Requião devolveu o cartão de memó-

ria do gravador, mas apagou o conteú-do da gravação. Maurício Tadeu, filhodo parlamentar, fez a entrega ao repór-ter, e, quando questionado por que o painão fizera a devolução, disse que Re-quião não estava no Gabinete.

No Twitter, Requião confirmou queapagaria a entrevista: “Acabo de ficarcom o gravador de um provocador en-graçadinho. Numa boa, vou deletá-lo”.“Deletei entrevista dada a repórter agres-sivo e a categoria se alvoroça”. “Sou donoda minha entrevista e da minha opi-nião”, escreveu logo depois.

O Senador disse ainda pelo microblogque estava sendo alvo de “agressão e pro-vocação e tentativa de linchamento”.“Minha história e meu currículo supor-tam com facilidade. Boa discussão”.

quião, que foi governador de Estado,prefeito de capital e senador e que de-veria, portanto, ter mais comedimen-to e ser respeitoso em seu relaciona-mento com os profissionais de im-prensa”, disse a ABI em declaraçãofirmada por seu Presidente, MaurícioAzêdo. Diz ainda a nota:

“A ABI apresenta a sua solidarieda-de ao jornalista Victor Boyadjin e aosseus companheiros da Rádio Bandei-rantes pela dignidade com que atua-ram no episódio.”

Requião no Twitter: “Deletei entrevista dada a repórter agressivo e a categoria se alvoroça”

JOSÉC

RUZ/AG

ÊNC

IASENAD

O

Page 20: Jornal da ABI 366

20 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Liberdade de imprensaLiberdade de imprensa

O jornalismo investigativo, tão ne-cessário ao controle do poder, corre sériosriscos no Brasil. Essa foi uma das conclu-sões do 2º Fórum Democracia e Liberda-de, promovido em 3 de maio pelo Insti-tuto Millenium no Centro de Conven-ções da Fundação Armando Álvares Pen-teado-Faap, em São Paulo, o qual reuniucentenas de intelectuais, acadêmicos,jornalistas e ativistas para discutir temascomo direitos humanos, perseguiçãoreligiosa, o papel dos governos e a con-tribuição da imprensa livre para a cons-trução de uma sociedade democrática.

Entre os convidados estavam desta-cadas personalidades nacionais e estran-geiras, como a ativista iraniana MinaAhadi, que recentemente coordenou acampanha mundial em defesa de Saki-neh Ashtiani, evitando seu apedreja-mento, e Javier El-Hage, Diretor-Geralda organização Human Rights Foun-dation. Apesar da ênfasenos aspectos internacio-nais dos temas, as ques-tões mais debatidas fo-ram as relacionadas coma situação brasileira, es-pecialmente diante dosriscos para a prática jor-nalística, denunciadosjustamente no Dia Mun-dial da Liberdade de Im-prensa, que então se co-memorava.

“Em todo o mundo,são realizadas discussõese debates com o intuito deconscientizar as pessoassobre a importância daliberdade em todos ossentidos. É uma oportuni-dade para aprofundar-mos o debate sobre o pa-pel do Estado e as distorções que ocorremquando há desvios para privilegiar inte-resses privados ou partidários. Nesse ce-nário, o jornalismo investigativo é es-sencial para aperfeiçoar as instituiçõespúblicas e impedir o uso indevido dopoder público. Também é a forma pararevertermos o processo de infantilizaçãodo cidadão brasileiro e evitar as ameaçasà democracia”, disse Paulo Uebel, Dire-tor-Executivo do Instituto Millenium.

Ahadi e El-Hage foram os primeirosa falar, logo após a abertura do eventopelo jornalista Roberto Civita, Presiden-te do Conselho Editorial do GrupoAbril. No caso da iraniana, radicada na

“Sem jornalismo investigativoa democracia fica em perigo”

POR MARCOS STEFANO

O recado foi dado durante o 2º Fórum Democracia e Liberdade, que reuniu em São Paulo personalidadesnacionais e estrangeiras para debater a situação dos direitos humanos no Brasil e em outros países.

Alemanha, sua exposição foi totalmentereformulada, já que logo que colocou ospés na capital paulista ela ficou sabendoda morte de Bin Laden. “Foi algo emble-mático, mas Bin Laden não é o únicoproblema”, disse Mina Ahadi no painelsobre Democracia, Liberdade e DireitosHumanos.

“Existe um movimento, inimigo dasmulheres e das liberdades. Temos regi-mes islâmicos que usam a religião paracontrolar o povo no Afeganistão, Paquis-tão, Nigéria, Arábia Saudita, Síria e tan-tos outros lugares”, denunciou Ahadi,que elogiou a Presidente Dilma Rousseffpor sua posição diante da ameaça de ape-

drejamento de Ashtiani. A intervençãoda iraniana recebeu apoio do dirigente daHuman Rights Foundation, que fez umbalanço do panorama político latino-americano e cravou: “Não existe demo-cracia de verdade sem direitos humanos,nem direitos humanos sem democracia.Infelizmente, para os regimes totalitá-rios, essa é uma verdade inegável”.

Caciques e transparênciaOutros quatro painéis, todos reunin-

do debatedores brasileiros, completa-ram a jornada. Entre os convidados esta-vam o sociólogo Demétrio Magnoli, oantropólogo Roberto DaMatta, o econo-

mista Alexandre Schwartsman, o cien-tista político Paulo Kramer, a advogadaTaís Gasparian e o diplomata Paulo Ro-berto de Almeida. Entre os temas emquestão, o Capitalismo de Estado X Liber-dade, painel mediado pelo jornalistaAndré Lahoz, Redator-Chefe da revistaExame, e O Brasil na encruzilhada: qualmodelo de País queremos?, com mediaçãode outro jornalista, Helio Gurovitz,Diretor de Redação da revista Época.

A atuação da imprensa foi discutidamais a fundo no painel Accountability,Jornalismo Investigativo e Democracia,mediado por Hélio Beltrão, Presidentedo Instituto Mises Brasil, e que tevecomo debatedores os jornalistas Cláu-dio Weber Abramo e Eugênio Bucci,além de Roberto Gazzi, Diretor de De-senvolvimento Editorial do jornal OEstado de S. Paulo.

Gazzi falou sobre o caso de censura aoEstadão, imposta pela Justiça em umaação movida pelo empresário FernandoSarney. Disse ele que esse é um caso em-blemático, que mostra como é difícilfazer jornalismo investigativo atual-mente no Brasil. “Por causa da internete das redes sociais, os jornais nunca fo-ram tão lidos como hoje. Mas é necessá-ria a pressão da sociedade para que a li-berdade de imprensa seja preservada.Vivemos num cenário de amplas liber-dades, como há muito não existia. Masinteresses políticos, dependência finan-ceira das mídias e o mau uso do poderpúblico podem ameaçá-lo.”

Abramo, que é Diretor-Executivo daorganização não-governamental Trans-parência Brasil, foi ainda menos otimistae expôs dados preocupantes. “Cerca de80% dos 820 jornais diários brasileirossão de cidades pequenas e dependem dedinheiro público. A imprensa acaba fi-cando refém de caciques de cada região.São os Sarney, os Collor, os Barbalho, osAlves, os Maia, os Jereisatti, e tantosoutros”, denunciou.

Bucci retomou o tema da morte de BinLaden para questionar a transparênciadas informações. “Como saber em quecondições tudo aquilo ocorreu? Tudofoi dito por fontes oficiais”, criticou ele,trazendo o problema, em seguida, parao contexto brasileiro. “A transparênciadeve partir das próprias empresas jorna-lísticas, principalmente no tocante asuas fontes de receita. Boa parte da pu-blicidade de muitos veículos é de empre-sas estatais. Com essa dependência,como teremos jornalismo investigativode qualidade?”

Mediado por Hélio Beltrão (ao centro), o painel Jornalismo Investigativo e Democracia teve apresença dos jornalistas Eugênio Bucci (esquerda) e Roberto Gazzi, que disse que a pressão

da sociedade é necessária “para que a liberdade de imprensa seja preservada”.

FOTOS: DIVULGAÇÃO

Paulo Uebel disse que o jornalismo investigativo é essencial para aperfeiçoar as instituiçõespúblicas e impedir o uso indevido do poder público. Ao seu lado, a ativista iraniana Mina Ahadi.

Page 21: Jornal da ABI 366

21Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Sindicato dos Jornalistas Profis-sionais do Município do Rio deJaneiro lançou em 10 de maio aprimeira edição do Prêmio Na-

cional Jornalista Abdias Nascimento, quevisa a estimular anualmente a coberturajornalística qualificada sobre temas rela-cionados à população negra. Criado pelaComissão de Jornalistas pela IgualdadeRacial-Cojira-Rio, o prêmio é uma dasatividades da agenda carioca de eventos2011, declarado Ano Internacional dosAfrodescendentes pela Organização dasNações Unidas-Onu.

O lançamento foi realizado no audi-tório do Sindicato, no Centro do Rio,emato que contou com a presença da Minis-tra Luiza Barrios, Chefe da Secretaria de

Abdias éinspiraçãode prêmioSindicato dos Jornalistas do Rio querestimular a cobertura jornalística de

questões relacionadas com apopulação negra.

O ex-Senador Abdias Nascimento é umícone do combate ao racismo no País.Nascido em 1914, desenvolveu vastaprodução intelectual como ativista, político,pintor, escritor, poeta, dramaturgo. Naturalde São Paulo, participou dos primeiroscongressos de negros realizados no Brasil.

No Rio de Janeiro, criou o TeatroExperimental do Negro-TEN na década de1940. Como jornalista, fundou o JornalQuilombo e atuou como repórter do JornalDiário, além de ter trabalhado em váriosperiódicos. Desde 1947 é filiado aoSindicato dos Jornalistas Profissionais doMunicípio do Rio de Janeiro.

Pressionado pela ditadura implantadapelo golpe militar de 1964, exilou-se nosEstados Unidos durante 13 anos. De voltaao Brasil, ocupou os cargos de Deputadofederal e Senador.

Atualmente, aos 97 anos, é professoremérito da Universidade de Nova York eDoutor Honoris Causa por váriasinstituições de ensino superior, entre elas,a Universidade de Brasília e a UniversidadeEstadual do Rio de Janeiro.

Políticas de Promoção da Igualdade Racialda Presidência da República, Ana Toni, re-presentante da Fundação Ford; Elisa Lar-kin, mulher de Abdias, doutora em psico-logia, professora e diretora do Instituto dePesquisas e Estudos Afrobrasileiros-Ipea-fro; Suzana Blass, Presidente do Sindicatodos Jornalistas do Município do Rio de Ja-neiro; e Angélica Bahsti, coordenadora doPrêmio e da Comissão de Jornalistas pelaIgualdade Racial do Sindicato dos Jorna-listas do Município do Rio.

Angélica Bahsti informou que umdos objetivos da Comissão e da Premia-ção é “provocar os jornalistas a repensarqual é o seu papel enquanto profissionalde imprensa, e qual o papel que a mídiatem no combate ao racismo”. Elisa Lar-

Os integrantes da segunda mesa doato, jornalista Miriam Leitão e professorde Comunicação da UFRJ e sociólogoMuniz Sodré, discutiram a presença donegro na mídia. Miriam fez uma sínte-se histórica e criticou a abordagem dealguns meios de comunicação a temascomo as cotas nas universidades. Elaconsidera que muito já foi feito pelosnegros, mas que ainda há um longo ca-minho a percorrer. Já Muniz Sodré acre-dita que a situação atual da representa-ção do negro nos veículos de comunica-ção, salvo raras exceções, ainda está lon-ge do ideal. Ele criticou a “visão coloni-zada” de muitos jornalistas, que costu-mam esconder o racismo que existe noBrasil, para que não se combata, e frisouque “não é preciso existir raça para exis-tir racismo”.

Batizado em homenagem a este ati-vista histórico pela igualdade racial e dos

O Prêmio Nacional Jornalista Abdi-as Nascimento contempla sete catego-rias: Mídia impressa; Televisão; Rádio;Mídia alternativa ou comunitária; Fo-tografia; Internet; e categoria especialde gênero, com destaque para as repor-tagens com foco nas demandas femini-nas. A melhor reportagem de cada cate-goria receberá o prêmio de R$ 5.000,00.Os vencedores serão anunciados emuma grande festa que ocorrerá em no-vembro, mês de comemoração da Cons-ciência Negra.

As inscrições para o Prêmio estarãoabertas de 11 de maio a 19 de agosto de2011. Estão aptos a participar do Prêmiojornalistas profissionais em todo o País.As reportagens inscritas devem ter sidoveiculadas ou publicadas entre 1 de ja-neiro de 2009 e 30 de abril de 2011.

Entre os temas sugeridos para con-correr ao Prêmio, estão: saúde da popu-lação negra, intolerância religiosa, ju-ventude negra, ações afirmativas, em-preendedorismo, desigualdades, direitoshumanos, relações raciais, políticaspúblicas, populações e comunidades tra-dicionais e discriminação racial.

kin reafirmou o compromisso da premi-ação e criticou também o papel assumi-do atualmente pelo negro na mídia:

“Há uma grande resistência e um gran-de quadro de desigualdade e de invisibi-lização, não de invisibilidade, é o proces-so de se tornar invisível o negro na mídiabrasileira. Porque este mesmo negro émuito visível na sociedade brasileira, sealguém quiser enxergar. O problema éque a imprensa brasileira, a mídia brasi-leira em geral tende a não enxergá-lo.”

Após a mesa de abertura, Abdias foilaureado com uma placa em homena-gem à sua filiação ao Sindicato dos Jor-nalistas do Município do Rio de Janeiro,em 1941, recebida por seu filho, Henri-que Abdias e por Elisa, das mãos do ex-

Deputado e ex-Presidente do Sindicatodos Jornalistas do Rio e membro da ABI,Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos.Em seguida, foi exibido um filme sobrea sua vida, no qual foi mostrada a suatrajetória na militância pelos direitosdos negros, como político e jornalista.Ao término da exibição, todos os presen-tes homenagearam e desejaram melho-ras a Abdias (que se encontrava interna-do e não pôde comparecer à homena-gem) com um minuto de silêncio.

direitos humanos, o Prêmio destacará aprodução de conteúdos jornalísticos quecontribuam para a prevenção, o combateàs desigualdades raciais e a eliminação detodas as formas de manifestação do ra-cismo. De acordo com o Sindicato dosJornalistas, o principal objetivo da pre-miação é “estimular a prática de um jor-nalismo plural com foco na promoçãoda igualdade racial”.

Para Miriam Leitão, o Prêmio “vaiincentivar o País a falar de um assuntoque é sempre tratado como não existen-te: o racismo. Quanto mais falarmos dasnossas desigualdades, mais conhecere-mos o problema. Quanto mais o conhe-cermos, mais perto estaremos da suasolução”, aposta a jornalista. Já MunizSodré acredita que o recorte não é raci-al, mas sim axial: “O negro é o eixo novode uma mudança nas relações sociais,porque, como o proletário em Marx,

tornou-se classe histórica no País”, dis-se o professor.

Na opinião de Miriam e Muniz, ahomenagem a Abdias Nascimento con-tribui para a construção de uma mídiamais plural e igualitária, o que ajuda,segundo Miriam Leitão, a ampliar odebate sobre democracia racial no Brasil:

“Abdias Nascimento tem uma vidainteira de coerência na mesma luta, daqual é precursor no Brasil, de apontar adesigualdade racial como uma das cha-gas nunca curadas, afirma a jornalista.”

Muniz Sodré complementa, afirman-do que homenagear Abdias Nascimen-to com um prêmio de jornalismo é res-tituir ao jornalismo de hoje, tão empe-nhado em serviços de consumo: “Algoda pública voz cívica que ele tinha nopassado. A exemplo da imprensa aboli-cionista e republicana, Abdias é voz depulmão cheio”, disse.

Abdias: pintor,poeta, dramaturgo,

escritor, político

As categorias, os prazosde inscrição, o valor

das premiações

O

RICARDO STUCKERT/PR

LANÇAMENTO

Miriam e Muniz Sodré defendem uma mídia plural

Page 22: Jornal da ABI 366

22 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Não é somente por tratar de umapersonalidade singular que a exposiçãoNão tens Epitáfio pois és Bandeira – Ru-bens Paiva, desaparecido desde 1971 é tãoemblemática. Também por causa do lo-cal onde ela é realizada, único no Brasil,o histórico prédio do Largo General Osó-rio, número 66, na região da Luz, em SãoPaulo, onde, pode-se dizer, as pedras cla-mam. Construído originalmente para serarmazém de uma estrada de ferro, duran-te a maior parte de sua existência o edifí-cio foi sede do Departamento Estadual deOrdem Política e Social do Estado de SãoPaulo, o temido Deops/SP, instituiçãosímbolo do controle do cidadão pelo Es-tado brasileiro. Especialmente nos tem-pos da ditadura militar, transformou-seem testemunha silenciosa de milhares dehistórias de prisões, torturas, mortes e re-sistência, um símbolo antagônico de lutapela liberdade e falta dela. Desde 2009, noentanto, seu papel é outro. Remodeladoe convertido no Memorial da Resistência,passou a ser um tributo à justiça, à demo-cracia e à luta contra a opressão.

Apesar de os anos de chumbo seremdos momentos mais significativos datrajetória recente da Nação, a imagem doprédio extrapola as dimensões de “porão”da ditadura militar. Seu objetivo é falarsobre todo o período republicano nacio-nal, que vai de 1889 até os dias atuais epassa por duas ditaduras, épocas mais sig-nificativas e de maior embate, tensão econtrole. Para tanto, suas dependênciasforam totalmente remodeladas e o pavi-mento térreo, onde funciona o Memori-al, passou a abrigar recepção, café e doisespaços distintos: um para sediar as expo-sições temporárias e outro para a mostrapermanente ou, usando um termo maiscorreto, de longa duração.

Logo na entrada, o visitante – que nãoprecisa pagar ingresso – é recepcionadopor uma apresentação multimídia dahistória do edifício, seus diferentes usose apropriações, além do funcionamentoe da trajetória do mais famoso órgão queali funcionou, o Deops. Justiça seja fei-ta, se for possível usar tal expressão,mesmo com tal apresentação “instituci-onal”, não são as palavras das autorida-des que serão ouvidas a partir dali, masdaqueles que as enfrentaram.

“A vocação deste espaço foi revelada apartir das memórias dos que resistiram. Asnovas gerações encontrarão aqui não so-mente informações sobre atrocidades darepressão, mas uma profunda reflexãosobre os rumos do País e inspiração para avalorização da solidariedade, dos princípi-os democráticos e do respeito à diferença”,

do órgão. A Polícia Política de São Paulotinha uma sede definitiva e ali funciona-ria até 1983, ano em que a ditadura encon-trou seu ocaso e o departamento foi fe-chado. A vocação policial se manteria emtempos posteriores com a Delegacia deDefesa do Consumidor-Decon, que ocu-pou o imóvel até 1997, e só mudaria coma transferência de sua propriedade para aSecretaria de Estado da Cultura. Esses, noentanto, já eram outros tempos.

Cotidiano vigiadoDesde que o prédio foi tombado, em

1999, pelo Conselho de Defesa do Patri-mônio Histórico, Artístico, Arqueológi-co e Turístico do Estado de São Paulo-Condephaat, devido à sua importânciahistórica e arquitetônica, não faltarampropostas para usar o espaço. Cogitou-seinstalar ali uma escola superior ou umauniversidade livre de música. Quem sabemontar uma escola de teatro, voltada para

ópera, artes cênicas e circo. Mas prevale-ceu a idéia de que o antigo espaço carce-rário tinha mais a cara de um memorial,ainda que em 2004 o edifício tenha sidorebatizado como Estação Pinacoteca eficado à disposição dessa instituição.

De fato, em uma área revitalizada ondefuncionam a nova Estação da Luz, a SalaSão Paulo, a Pinacoteca e o Museu da Lín-gua Portuguesa, a cultura dominaria tam-bém o edifício do Largo General Osório.Após uma ampla reforma, o segundo, oterceiro e o quarto andar foram reservadospara mostras e exposições especiais e tem-porárias. O quinto andar foi transforma-do em um auditório com capacidade para160 pessoas. Ao Memorial ficaram reser-vados o pavimento térreo, que dividiriacom um café, e o primeiro andar, tambémdividido com uma biblioteca sobre artes esobre a resistência política, além de umCentro de Documentação da Pinacoteca.

A memória da resistência deixaria ocampo abstrato para ganhar contornossólidos ainda em 1999, com a exposiçãoAnistia 20 Anos, composta por 50 painéis,com textos e reproduções de fotografias,documentos policiais, cartazes, revistase jornais. Ao mesmo tempo, no aindaabandonado espaço carcerário, a peçateatral Lembrar é Resistir, de Analy Alva-rez, representava o passado de repressãovivido por milhões de brasileiros. Venci-da a primeira etapa de reformas, em 2002,era inaugurado oficialmente o Museu doImaginário do Povo Brasileiro e o Memo-rial da Liberdade. Tudo sob gestão do Ar-quivo Público, o guardião da papelada doDeops, com seus 182 mil prontuários emais de 1,1 milhão de dossiês produzidospelo órgão em 69 anos de existência. Semcontar muito material que simplesmen-te “sumiu” do acervo.

A reinauguração do espaço foi mar-cada por uma instalação do artista SironFranco, pela mostra Cotidiano Vigiado– Repressão, Resistência e Liberdade nosArquivos do Dops 1924 – 1983, com do-cumentos e fotos de prontuários de pre-sos políticos, e pela exposição Cidada-nia – 200 Anos da Declaração Universaldos Direitos do Homem e do Cidadão. Mes-mo com outras exposições que se segui-ram, como Vozes Silenciadas e Vlado, 30Anos, apenas o Memorial da Liberdadevingou. Mas nem ele era consenso. A dú-vida pairava sobre o uso do termo “li-berdade” em uma prisão.

“Também faltava um projeto museo-lógico que pudesse ampliar a ação preser-vacionista e seu potencial educativo. Ape-nas realizar eventos não era o suficiente.Com a ajuda de uma comissão multidis-ciplinar, montada pela Pinacoteca e com-posta por especialistas e por representan-

Direitos humanosDireitos humanos

Instalado no edifício onde funcionou durante sete décadas o temível Deops, o Memorial da Resistênciaé um lembrete de que um futuro livre se constrói sem se esquecer das agruras do passado.

A Casa dos Horrores da repressão em SPagora mostra quem resistiu às ditaduras

POR MARCOS STEFANO

explica a museóloga Kátia Regina Felipi-ni Neves, Coordenadora do Memorial.

A criação do espaço é mais uma tenta-tiva de romper com a História oficial eacabar com os silêncios propositais emum de seus principais palcos. Projetadopelo escritório de Ramos de Azevedo, oprédio de cinco andares onde hoje está oMemorial foi inaugurado em 1914 e pormais de duas décadas funcionou comoescritório e armazém central da Estradade Ferro Sorocabana. Criado em 1924para combater a subversão política, oDeops ocupava outros endereços no Cen-tro da capital paulista, como a Rua 7 deAbril, número 81; a Rua dos Gusmões, 86;e a Rua Visconde de Rio Branco, 280.

Em 1940, os rumos de ambos começa-ram a se cruzar quando a Delegacia Espe-cializada de Explosivos, Armas e Muni-ções, vinculada ao Deops, foi transferidapara o endereço. No ano seguinte, o mes-mo aconteceu com as demais repartições

Um visitante solitário observa a linha do tempo no salão onde uma maquete reproduz o espaçoentre os anos 1969 a 1971. Abaixo, o corredor utilizado pelos prisioneiros para o banho de sol.

FOTOS: FRANCISCO UCHA

Page 23: Jornal da ABI 366

23Jornal da ABI 366 Maio de 2011

É bem verdade que museus e memo-riais não são a mesma coisa. Diferente-mente do museu, o memorial é um es-paço e um programa consagrados àmemória viva de uma época ainda pró-xima; um esforço de interpretação daHistória e do lugar que precisa constan-temente ser aperfeiçoado.

Perto de tantas histórias de quase setedécadas do Deops, o que já foi sistema-tizado pelo Memorial da Resistência ain-da é tímido. Por isso, suas propostas parao futuro são tão significativas e passampela ampliação das fontes documentaise bibliográficas do Centro de Referência,pela coleta de mais testemunhos de ex-presos políticos e de familiares de mortose desaparecidos e, talvez a mais audaciosa,ser o primeiro de uma rede de lugares sig-nificativos para a memória política e paraa resistência em São Paulo e Brasil afora.

Só com investimentos para alcançaresses alvos é que certas sentenças terãosentido. Uma delas, dita pelo judeu EliWiesel, sobrevivente dos campos de con-centração nazista na Segunda GrandeGuerra e presente na entrada e na saídada exposição de longa duração, expressaos pensamentos de milhões que experi-mentaram a luta contra o totalitarismo,mas ainda aguardam por serem ouvidos.Não por vingança, mas por um futuromelhor: “Enquanto lembramos, tudo épossível”.

Embora a prisão do Deops exista des-de a ditadura Vargas (1937-1945), os ide-alizadores do Memorial optaram por re-constituir o espaço de acordo com um pe-ríodo mais recente. Isso pode ser visto namaquete postada na entrada, que compa-ra a prisão no momento atual com a queera utilizada entre os anos de 1969 a 1971.Daquele tempo foram restauradas quatrocelas, ligadas por um corredor principale pelo corredor para o banho de sol. Aopassar por cada uma delas, é impossívelnão sentir arrepios e ser inundado pelasmais diversas emoções.

A primeira cela mostra os trabalhosdo processo de implantação do Memo-rial. A segunda presta uma homenagemaos milhares de presos políticos, desapa-recidos e mortos durante os períodosditatoriais. A terceira cela foi reconstru-ída segundo as lembranças de ex-presospolíticos. Cada uma delas tinha de 16 a18 colchonetes, de acordo com o núme-ro de ocupantes. Hoje, para recordaraquela época, foram deixados apenasdois. Próximos de um varal com toalhasestendidas, banheiro e lavatório. Nasparedes, muitos escritos. Lembranças deum grupo de ex-presos convidado paravoltar ao local e registrar o que viramquando estiveram lá pela primeira vezou o que eles mesmos escreveram.

Finalmente, a quarta cela oferece aovisitante a possibilidade de ouvir testemu-nhos gravados pelos ex-presos. Sentadasjunto às paredes, as pessoas podem obser-var no centro do espaço um cravo verme-lho, símbolo da solidariedade que permi-tiu a muitos dos que estiveram ali a chan-ce de sobreviver. Ao puxar a tranca dapesada porta com pequenas grades e sairdesta última cela, dá-se de cara com umaplotagem, referência à missa celebradapelos frades dominicanos em 1969, quan-do estiveram presos por apoiarem o gru-po guerrilheiro Ação Libertadora Nacio-

tes da sociedade civil organizada, como oFórum Permanente de Ex-Presos e Perse-guidos Políticos, pudemos preencher essaslacunas”, conta Kátia Neves.

Finalmente, em janeiro de 2009, nascomemorações do aniversário de SãoPaulo, a cidade ganhava como presenteum espaço retrabalhado, agora conheci-do como Memorial da Resistência.

Viagem no tempoNo espaço do Memorial o visitante

vê-se diante de uma linha do tempo quepercorre quase uma sala inteira articu-lando acontecimentos no Brasil e nomundo com presidentes, autoridades esuas políticas mais ou menos repressivas.Mas serão necessários mais alguns pas-sos para encontrar aquele que talvez sejao ambiente mais marcante do local:celas restauradas que proporcionamuma autêntica viagem para um tempode humilhação, desespero, fraternidadee tantas atitudes de resistência.

As celas, refeitas comono período 1969-1971

nal-ALN, de Carlos Marighella. A cena foiproduzida a partir do filme Batismo deSangue, de Helvécio Ratton, baseado nolivro homônimo de Frei Betto.

Os ecos do passado são completadosao se passar da carceragem para o Centrode Referência. Entre móveis antigos,fichários usados nos tempos do Deops,objetos, documentos considerados sub-versivos e fotos que mostram academiade ginástica, escritórios, barbearia e sa-las de reuniões – um verdadeiro raio-Xdo órgão –, o visitante tem a oportuni-dade de se aprofundar em diversos te-mas, pesquisando em modernos compu-tadores um banco de dados formado porfichas, prontuários e materiais digitali-zados pela instituição.

Permanente construçãoOs ruídos de trens de quase um sécu-

lo, as conversas de trabalhadores apenasde passagem, os irretocáveis sotaques deimigrantes e, depois, os sussurros dos en-carcerados já não podem ser mais ouvi-dos. Entretanto, mais de 90 mil visitan-tes passaram pelo Memorial da Resistên-cia somente no ano passado em busca dosvestígios daqueles tempos. Grande parteé atraída pela exposição de longa duraçãoe pelas mostras temporárias. Até agora edesde 2009, já foram realizadas sete gran-des exposições. Círculo Fechado retratouos japoneses sob o olhar vigilante doDeops; Artistas Nipo-Brasileiros Durantea Segunda Guerra Mundial trouxe obrasde cinco artistas e a reprodução de docu-mentos que atestam como foram perse-guidos; A Luta pela Anistia: 1964 - ? lis-tou importantes documentos relativosaos 30 anos da Lei da Anistia; Marighellarelembrou os 40 anos do assassinato doguerrilheiro; As Cores da Resistência trou-xe ao público uma parte importante datrajetória das artes gráficas no Brasil coma obra de Elifas Andreato; um ensaio fo-

tográfico de Marcelo Brodsky, BuenaMemória, apresentou aos brasileiros asconsequências de outra sangrenta dita-dura militar, a argentina, estabelecendocom os brasileiros um diálogo que pre-tende ser expandido para toda a AméricaLatina; e a atual Não tens Epitáfio pois ésBandeira, sobre Rubens Paiva, que estáaberta à visitação até o dia 10 de julho.

O trabalho do Memorial, porém, nãose resume às exposições. Para viabilizarcerca de 12 mil visitas educativas realiza-das também em 2010, a instituição pro-moveu seminários, debates e eventos,produziu materiais pedagógicos, lançoulivros e filmes e patrocinou cursos paraeducadores. Entre as atrações mais con-corridas estiveram os Sábados Resistentes,seminários realizados uma ou duas vezespor mês, em que as experiências do pas-sado são contrastadas com as situaçõesvividas no presente graças à presença deex-presos políticos, estudiosos, especialis-tas e personalidades. Gente preparadapara debater assuntos que vão dos papéisdos trabalhadores e da mídia na ditaduraaos bastidores de misteriosas engrena-gens da Polícia Política, como os interro-gatórios da chamada Operação Bandei-rante e do Doi-Codi paulista.

“Nosso objetivo é conscientizar umnúmero cada vez maior de pessoas sobrea questão dos desaparecidos, dos presos,dos torturados e dos mortos. E estamosconseguindo. Museus são as instituiçõesmais democráticas que existem. Nãoconfinam as pesquisas aos livros e tra-zem informação extensa de forma maispalatável”, defende a Coordenadora doMemorial Kátia Neves.

Memorial nãoé museu, é para

algo vivo, próximo

No centro da quarta cela, em destaque, osímbolo da solidariedade entre os

prisioneiros políticos: o cravo vermelho.

Esta cela foi restaurada segundo as lembranças dos prisioneiros, com colchonetes, varal comtoalhas, banheiro e lavatório. Nas paredes eles puderam deixar as suas marcas (no alto).

Page 24: Jornal da ABI 366

24 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Com paciência e profissionalismo,os repórteres Chico Otávio e

Alessandra Duarte descobriramo que as investigações militares

esconderam.

Direitos humanosDireitos humanos

Ela explodiu na noite de 30 de abril de1981, no Riocentro, durante um show demúsica popular em homenagem ao Diado Trabalho. Portanto, há exatos 30 anos.Passadas três décadas, o Brasil conservamuitas de suas mazelas, mas superou oregime de exceção, reconquistou o direi-to ao voto direto e ao exercício democrá-tico. Porém, estilhaços daquela bombaque, acidentalmente, explodiu no colo doSargento Guilherme Pereira do Rosário,ainda estão espalhados por aí. Na indig-nação que persiste em se manifestar di-ante de atos de terror. E, sobretudo, emforma de perguntas. Muitas perguntas,que ainda aguardam respostas.

Graças ao trabalho da imprensa, e me-nos por iniciativa dos governos ou deórgãos militares, algumas dessas questõesde vez em quando são respondidas. Foi oque ocorreu no dia 24 de abril, quando OGlobo abriu espaço para a matéria A RedeSecreta do Sargento, Linha Direta com o Ter-ror. Nela, os repórteres Chico Otávio e Ales-sandra Duarte esmiuçaram detalhes da-quela noite e revelaram nomes da agen-da pessoal do militar, que morreu com aexplosão do artefato em seu colo, aindano interior do Puma, antes de conseguirplantá-lo nas proximidades do públicoe dos artistas que se apresentavam noevento.

“Deixar que a bomba explodisse emseu colo não foi o único erro do SargentoGuilherme Pereira do Rosário na noite de30 de abril de 1981, no Riocentro. O ‘agen-te Wagner’ do Destacamento de Opera-ções de Informações do 1º Exército (DOII), principal centro de tortura do regimemilitar no Rio, também levava no bolsouma pequena agenda telefônica, conten-do nomes reais, e não codinomes, e respec-tivos telefones, de militares e civis envol-vidos com tortura e espionagem”, come-çava o texto da reportagem que, publica-da a partir da página 3 , mereceu chama-

analisaram seu conteúdo. E, claro, nomomento em que fui chamada para par-ticipar dessa matéria, ajudando o ChicoOtávio na apuração, vi que era uma gran-de história, daquelas que todo jornalistatem vontade de contar”.

O primeiro impulso, é óbvio, foi bus-car contato com as pessoas relacionadasna agenda do militar. Estariam vivas oumortas? Se lembrariam de GuilhermePereira? Que relação teriam com ele?Teriam algo a dizer, hoje, sobre o episó-dio ocorrido há 30 anos? “O assuntosempre causava apreensão em quem agente procurava. Boa parte das pessoasdisse que não se lembrava de ter conhe-cido o Sargento Rosário, mas alguns –bem poucos, é verdade – disseram ter co-nhecido, sim. No caso daqueles que dis-seram não se lembrar, ou não saber porque o nome estava na agenda dele, emalguns casos a gente percebia uma demo-ra ao responder, uma escolha de palavrascuidadosa demais, como se a pessoa qui-sesse pensar bem no que estava falando.Em outros casos, houve surpresa mesmo.

Uma pessoa chegou a dar um pulo nacadeira quando eu disse que o nome delaestava na agenda”, descreve Alessandra.

Alguns fatos, em especial, chamaram aatenção dos repórteres de O Globo. Eraimpossível não se surpreender com agrande quantidade não só de nomes desargentos como Rosário, de integrantes domeio militar ou policial de escalão maisbaixo, mas também com a presença denomes de alto escalão, como generais. Ofato de que os nomes eram registrados semsegredos – isto é, nomes reais e não pseudô-nimos ou apelidos – comprova o grau deconfiança dos militares que atuavamcomo agentes de repressão. “Essa opção, nocaso da agenda do Sargento Rosário, pa-recia indicar que ele achava que não seriapego, que não erraria, ou que não tinha oque esconder ou motivo para se esconder,pois estaria agindo da forma que ele achavacorreta”, aponta a jornalista.

Repercussão imediataA reportagem publicada pelo O Globo

ainda situa, no contexto histórico, a açãofria e, ao mesmo tempo, tresloucada,executada pelos militares no Riocentro.Atos de terror como aquele – que se repe-tiram em outros locais, como em bancasde jornais e nas sedes da Ordem dosAdvogados do Brasil e da própria ABI –foram alimentados e ganharam força apartir do momento em que o PresidenteErnesto Geisel determinou a desmobili-zação da máquina de torturar e matar nosporões do regime, que mudou de direção,indo da brutalidade para ações de inteli-gência, com a reestruturação dos DOIs.Os autores dos atentados eram, sobretu-do, militares insatisfeitos com o processode abertura e abrandamento das atroci-dades cometidas pelo regime.

“Descontentes com as mudanças, sar-gentos como Rosário, sobretudo os para-

REVELAÇÕESDOS BASTIDORESDE UMA NOITE

EXPLOSIVA

POR PAULO CHICO

Ao publicar detalhes da agenda do Sargento GuilhermePereira do Rosário, O Globo lança luzes sobre o atentado no

Riocentro. Uma das autoras da matéria, Alessandra Duarteconta detalhes da reportagem, cuja repercussão comprovaque ainda há muito o que se investigar sobre aquela noite.

da principal de capa daquela edição domi-nical, além de desdobramentos na ediçãode segunda-feira, 25 de abril.

Em nome da verdade, dos esclarecimen-tos do fato, e para que atos extremos comoaquele nunca mais se repitam, a existên-cia da agenda, enfim, chegou ao conheci-mento dos brasileiros. “O Globo teve acessoà agenda do Sargento Guilherme por meiode uma requisição oficial de acesso aosdois IPMs que foram abertos sobre o caso.Autorizado o acesso, Chico Otávio foi aBrasília, ao Superior Tribunal Militar, con-sultar todo o material dos inquéritos. Eramtrês anexos e, num deles, dentro de umenvelope, estava a agenda”, revela Ales-sandra Duarte ao Jornal da ABI.

A repórter afirma que, apesar da natu-ral surpresa diante da descoberta, nãohouve, em qualquer momento, dúvidaquanto à autenticidade da agenda. “Ela játinha sido periciada pelos IPMs queconstataram a sua autenticidade. A agen-da esteve lá, num dos três anexos dosIPMs, durante todo esse tempo. Só que osinquéritos apenas a periciaram, e não

O Puma dirigido pelo então Capitão Wilson Lopes Machado, no qual morreu o SargentoGuilherme Rosário, tornou-se um símbolo do terrorismo de Estado que dominou o País.

ANIB

AL PHILO

T/AGÊN

CIA O

GLO

BO

REPROD

UÇÃO

Page 25: Jornal da ABI 366

25Jornal da ABI 366 Maio de 2011

quedistas arregimentados anos antes pelarepressão, transformaram-se em braçosoperacionais de grupos terroristas de ex-trema direita. Trinta anos depois do aten-tado que vitimou o próprio autor do aten-tado e feriu gravemente o então CapitãoWilson Machado, O Globo localizou a agen-da e identificou metade dos 107 nomes etelefones anotados pelo sargento. De ofi-ciais graduados a soldados, de delegados adetetives, Rosário tinha contatos em se-tores estratégicos, como o Estado-Maiorda PM e a Chefia de Gabinete da Secreta-ria de Segurança, além de amigos ligadosa setores operacionais, como fábrica de ar-mamento e cadastros de trânsito”, afirmaa matéria, em outro trecho.

A grande e imediata repercussão dareportagem de Chico Otávio e AlessandraDuarte é prova de como o assunto aindamexe com as pessoas. De que ainda há oque ser revelado sobre os tristes aconte-cimentos daquela noite. E do quanto éimportante que a imprensa não abra mão

A Comissão da Verdade, cada vez mais necessária

MÁRIO AUGUSTO JAKOBSKIND

A questão da votação no Congresso daComissão da Verdade continua a provo-car polêmica, e a cada dia surgem novasdenúncias sobre participação de agentesdo Estado brasileiro que torturaram emesmo assassinaram opositores duranteo regime ditatorial instaurado no Brasila partir da derrubada do Presidente cons-titucional João Goulart. O DeputadoBrizola Neto, do PDT do Rio de Janeiro,requereu urgência para a votação damatéria, a fim de que os brasileiros pos-sam virar uma página de sua História econsolidar a democracia.

É possível que o pronunciamento doparlamentar — neto do falecido Gover-nador do Rio por duas vezes, LeonelBrizola, um dos políticos mais persegui-dos pelos militares que tomaram o poderpós-abril de 64 — se deva a uma das maisgraves denúncias surgidas nos últimostempos sobre a questão da violação dosdireitos humanos.

A denúncia foi feita por Paulo Fonte-les Filho em longa entrevista na rádioBrasil Atual e incrimina dois atuaisagentes da Agência Brasileira de Inteli-gência-Abin no Estado do Pará: o Vice-Superintendente do órgão, Magno JoséBorges, e Armando Souza Dias.

Segundo Fonteles Filho, os dois agen-tes participaram diretamente de tortu-ras e assassinatos de militantes da guer-rilha do Araguaia nos anos 70. Na oca-sião, centenas de integrantes do focoguerrilheiro na região, que atualmente

senador por dois mandatos de oito anoscada. Em 2010, não conseguiu se reele-ger obtendo a quarta colocação e poucosdias depois do término da eleição mor-reu por problemas cardíacos.

Fonteles Filho nasceu num presídiopolítico de Brasília no início dos anos 70,porque sua mãe e o pai se encontravampresos por serem opositores do regimeditatorial. Há 15 anos ele pesquisa osacontecimentos do período em que oExército reprimiu o movimento arma-do organizado pelo PCdoB e que nemchegou a ser deflagrado. Os familiaresdos mortos até hoje procuram localizaros restos mortais das vítimas e a maiorianão obteve êxito.

Recentemente, a Comissão de Direi-tos Humanos da Organização dos Esta-dos Americanos deu ganho de causa auma petição dos familiares e exigiu queo Estado brasileiro esclareça, até o finaldeste ano, onde estão os restos dos mor-tos daquele período. Exortou também oEstado a apurar em que circunstânciasos opositores foram mortos e reclamoua punição dos responsáveis.

O Estado brasileiro apelou no julga-mento, mas não obteve êxito e até res-pondeu que recentemente o SupremoTribunal Federal, a instância máxima daJustiça do País, considerou que anistiainstituída ainda nos estertores do regi-me militar segue em vigor. Por essa legis-lação, questionada pela OEA, torturado-res e assassinos também foram conside-rados anistiados, mesmo que todos osacusados nunca tenham sido submeti-dos a qualquer julgamento.

Paulo Fonteles Filho – que acusa oEstado brasileiro de ter sido o responsá-vel pela morte do seu pai em 1987, quan-do era advogado de camponeses e fami-liares de vítimas da repressão ao movi-

mento armado do Araguaia – assegurouque vai até o fim em suas investigaçõespara de uma vez por todas esclarecer osfatos da época, mesmo que volta e meiasofra ameaças de morte. Nestes dias, porexemplo, chegou a circular na internetuma falsa informação segundo a qual eleteria morrido em um acidente.

Como prova de que não teme amea-ças, o pesquisador também denuncia aparticipação de grupos empresariais noapoio à repressão militar no Araguaia.Fonteles Filho acusa diretamente aempreiteira Camargo Correa e garanteque atualmente o Estado brasileiro ain-da infiltra agentes nos movimentossociais com o objetivo de fiscalizá-los.

Por estas e outras denúncias, a cada diacresce a expectativa de que seja criada aComissão da Verdade, que no Brasil, emprincípio, não terá a função de puniragentes do Estado, civis ou militares,responsáveis por torturas e assassinatos,mas apenas esclarecer fatos relacionadoscom a violação dos direitos humanos doperíodo em que o País esteve governadopor generais impostos pela corporaçãomilitar, com o apoio de grupos empresa-riais. Os mesmos que atualmente finan-ciam milionárias campanhas eleitorais.

Alguns analistas acreditam que emface das implicações que podem resultardas investigações a Comissão da Verda-de a ser criada terá limites e para entrarde fato em vigor será necessário algumtipo de acordo para o seu funcionamen-to. Outros analistas, no entanto, enten-dem que a mobilização da sociedade,sobretudo dos movimentos sociais, terágrande peso no sentido de se chegar defato à verdade.

integra o Estado de Tocantins, forampresos e mortos em circunstâncias atéhoje oficialmente mantidas ocultas pelosmilitares responsáveis pela repressão.

Há denúncias de fuzilamentos sumá-rios e até mesmo de esquartejamentos deguerrilheiros por oficiais do Exército.Um dos poucos que conseguiram sobre-viver nesse período foi o ex-DeputadoJosé Genoíno, do Partido dos Trabalha-dores (PT), atualmente assessor do Mi-nistro da Defesa, Nélson Jobim.

Fonteles Filho não se resume em acu-sar os dois agentes que hoje servem à Abin.Ele garante que o recentemente falecidoSenador Romeu Tuma, do PTB de SãoPaulo, participou diretamente das atroci-dades no Araguaia e na época se apresen-tava na região como “Doutor Silva”. Fa-lecido em outubro do ano passado, Tumachefiou por longo tempo durante a dita-dura o Departamento de Ordem Políticae Social de São Paulo-Deops e a PolíciaFederal no mesmo Estado, tornando-seDiretor-Geral do órgão no Governo Co-llor de Mello. Ele já tinha sido acusado porvários opositores de participar direta-mente de sessões de tortura.

De acordo com o livro Habeas corpus,lançado em janeiro deste ano pela Secre-taria Especial de Direitos Humanos daPresidência da República, Tuma partici-pou diretamente na ocultação de cadá-veres de militantes políticos assassinadossob tortura e no falseamento de informa-ções que poderiam levar à localização doscorpos dos desaparecidos políticos. Aoingressar na política em l994, tornou-se

de seu papel de investigar o passado – atémesmo para ajudar o País a sarar feridase a planejar o seu futuro. “De fato, oimpacto da matéria foi muito grande.Não só dentro do jornal, mas junto aoutros jornalistas e entidades do setor,como o professor Nilson Lage e o Obser-vatório da Imprensa, que comentaram amatéria. Sem falar nos comentários dosleitores, pelo site do jornal ou então nosmandando e-mails e telefonando paranós. Alguns ligaram para passar maisinformações”, destaca ela.

O jornal O Globo, adianta AlessandraDuarte, seguirá na investigação da pau-ta. “Esse é um assunto ainda com bastantecoisas a se explicar. Como aconteceu hámuito tempo, chegar a essa explicaçãofica mais difícil. E, como aconteceu numperíodo de repressão, chegar aos esclare-cimentos fica ainda mais difícil pelo fatormedo. Porque, mesmo depois de tantotempo, cheguei a falar com gente – queatuava na época no meio militar ou po-

licial – que não quis falar, usando o argu-mento de que se tratava de uma questãode segurança nacional.”

Informações desencontradas, ou fal-seadas, são outro entrave histórico paraa elucidação dos fatos ocorridos naque-la noite, como aponta a reportagem de OGlobo. “Relatório confidencial da Aero-náutica mostra que o serviço secreto dainstituição criou uma versão para tentarinocentar os militares envolvidos noatentado ao Riocentro. O documentoconfidencial – escrito no IIIº ComandoAéreo Regional (Comar) em 7 de maiode 1981, uma semana após o atentado –desqualifica a informação, divulgadapelos jornais da época, de que a explosãofoi resultado de uma fracassada tentati-va de militares de extrema direita decometer um atentado e, com isso, forçarum retrocesso na incipiente aberturapolítica no País. O inquérito, concluídoem 2000, responsabilizou o Capitão Wil-son Machado e o Sargento Guilherme

Pereira do Rosário pela fracassada mano-bra”, diz o texto.

Na linha de especulações, peço a Ales-sandra Duarte que arrisque prever quaisteriam sido as conseqüências políticasdaquela noite, caso o artefato não tives-se explodido no colo do militar e – piordos cenários – feito centenas de vítimasjunto ao público dos shows. “É difícilresponder a esse tipo de pergunta sobrerealidades paralelas... Será que isso afeta-ria o ritmo da abertura política? Será queos responsáveis pela bomba jogariam aresponsabilidade em outro colo? Não sei,prefiro me ater ao que houve de fato”.Ok, aceito a resposta, mas não resisto. E,de repórter para repórter, faço mais umaprovocação. Supondo que GuilhermePereira do Rosário tivesse se ferido, e nãomorrido na explosão. Que pergunta fariaa ele? “‘Então, quer dizer que era o fiovermelho, em vez do verde?”, devolveAlessandra, rápida no gatilho. Pois é. Aíestá mais uma pergunta sem reposta.

Mário Augusto Jakobskind é Conselheiro da ABI emembro da Comissão de Defesa da Liberdade deImprensa e dos Direitos Humanos da Casa .

Pesquisador nascido num presídio político de Brasílianos anos 1970 denuncia que dois funcionários da

Agência Brasileira de Inteligência-Abin participaram de torturas.

Page 26: Jornal da ABI 366

26 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Em 1955, quando a televisão brasi-leira ainda dava seus primeiros passos,

a professora de desenho, programa-dora visual e decoradora GladysMesquita Ribeiro teve uma

idéia, aparentemente interessan-te, que poderia ser usada num pro-

grama de tv. Ela imaginou o quan-to seria curioso para os telespectadores co-nhecerem mais sobre as personalidadesque dão nomes às ruas do País e criou oprojeto do programa Você Sabe Onde Pisa?,no qual a artista desenharia as paisagensdessas ruas e contaria histórias e curiosi-dades sobre as tais personalidades. Na ver-dade, nada disso foi à frente. David Co-hen, o diretor artístico da TV Tupi, não seinteressou pela idéia de Gladys, mas per-cebeu que poderia utilizar a desenhistanum programa voltado para as crianças,aproveitando justamente as habilidadesda jovem para o desenho à mão livre.

“Cohen me perguntou se eu sabiadesenhar bichos e me pediu para desen-volver alguma coisa nessa linha”, contaGladys. “Então, me vesti de fada e, coma ajuda de alguns amigos, fiz um filme-zinho. Com minha imaginação fértil dejovem inexperiente, eu queria fumaça egente fantasiada. Vesti como formigasum grupo de crianças e posicionei aspobrezinhas atrás de uma grande folhade papel. Na frente, eu desenhava formi-guinhas com fuzain e tocava-as comuma varinha mágica; as crianças atraves-savam a folha de papel e dançavam balé.Uma coisa horrorosa! Obviamente que,naquela época, eu achava lindo”, lembraGladys dando muita risada enquanto selembra de seu início.

“É claro que Cohen detestou e achoutudo uma droga, e me disse que se quises-se gente dançando balé chamaria sua es-

eram a formiguinha Gilda,a gata Clarinha (uma ho-menagem à sua filha), a pei-xinha Marci, a abelha Domi, a cade-linha Lelete (inspirada num pequi-nês, presente do humorista Chico Any-sio) e o sapo Godô.

O programa era produzido e transmi-tido em cidades diferentes em cada diada semana. Na segunda-feira, no Rio deJaneiro; terça, em São Paulo; quarta, noParaná; quinta, em Belo Horizonte, entreoutras localidades. A atração esteve pre-sente na televisão brasileira por dez anosconsecutivos.

Professora de desenho e programadora visual, Gladys Ribeirocriou na antiga TV Tupi o primeiro programa de televisão

do Brasil dedicado exclusivamente às crianças.

PIONEIRISMO

POR JOSÉ ROBERTO GRAÚNA

posa, Madeleine Rosay, que era a primei-ra-bailarina do Teatro Municipal do Riode Janeiro. Quase morri de vergonha. Co-hen mandou tirar todo aquele carnaval eme disse: ‘É você com a sua cara, sem fan-tasia, sem nada. Pega, desenha e pronto!’

Gladys seguiu as orientações do dire-tor e criou um programa no qual dese-nhava e contava histórias para entretera gurizada. Numa grande folha de pa-pel branco Tia Gladys – como ficoumais conhecida pela petizada – conta-va divertidas histórias, ao mesmo tem-po que ia desenhando as cenas narradas.Nascia então o programa Gladys e SeusBichinhos, o primeiro na tv brasileira de-dicado exclusivamente às crianças, esurgia também uma nova profissãomuito comum nos dias de hoje: a decontador de histórias.

A criatividade de Gladys Ribeiro che-gou a inventar uma forma diferente deensinar História do Brasil, na qual elasubstituía personagens marcantes porsimpáticos bichinhos. Numa ocasião,Pedro Álvares Cabral chegou a ser apre-sentado como um cãozinho. “As crian-ças adoravam”, diz Tia Gladys.

No início de tudo o programa dura-va apenas quinze minutos. Gladys afir-ma que era fácil contar histórias e dese-nhar em tão pouco tempo. “Se hoje eufalo rápido, imagina naquela época”,lembra Gladys.

O programa era simples. A desenhis-ta contava histórias e ilustrava comdesenvoltura. E foi justamente essa sim-plicidade que conquistou seu público emanteve a atração no ar por bastantetempo. Quem teve oportunidade deassistir a Gladys desenhando na TV ja-mais esqueceu os famosos bichinhos dejardim. Os personagens mais freqüentes

Um tatuzinho invade o jardimDepois de um início de muito suces-

so na TV Tupi, Gladys, assim comomuitos artistas da época, transferiu-separa a TV Excelsior, emissora que ofere-cia melhores condições salariais. Ia tudoseguindo seu curso normal, até quenum certo dia, Tia Gladys, que não ti-nha o hábito de olhar para a televisãoenquanto estava apresentando seu pro-grama, nem mesmo durante os interva-los, deu uma espiada e percebeu a inter-seção de um estranho anúncio.

Tratava-se do comercial da caninhaTatuzinho, cujo jingle, de autoria deHélio Sindô, era bastante famoso naépoca e dizia “Ai Tatu, Tatuzinho, meabre a garrafa e me dá um pouquinho”.A musiquinha fácil de gravar na memó-ria poderia, com certeza, invadir a cabeçade qualquer incauto, inclusive das crian-ças. Gladys então procurou Wilton Fran-co, que na época era o Diretor Comercialda TV Excelsior, deixando claro que nãoconcordava com a inclusão do anúncionos intervalos de sua atração, e pratica-mente exigiu que este fosse substituídopor alguma coisa mais apropriada. Dias

depois, percebeu que o anúncio fora defato trocado por outro, no caso

pelo Whisky Lord. Com certadose de ironia, o Diretor Co-mercial comentou: “Viu só?Trocamos a cachaça por umproduto mais sofisticado”.

Num tempo onde muitasnormas éticas ainda não eram

sequer discutidas na sociedade,Gladys percebeu que era hora de

pegar seus fusains e ir para casa. E em1965, exatamente dez anos depois de suaestréia na TV Tupi, Tia Gladys se despedede seu programa diário.

Apesar desse fato, a desenhista e con-tadora de histórias ainda teve rápidaspassagens pelas TVs Educativa e Bandei-rantes, mas sentiu-se desmotivada e afas-tou-se por considerar que seu trabalho

Gladys Ribeiro também era garota-propaganda do guaraná Brahma, queveiculava anúncios durante os intervalos de seu programa infantil na TV Tupi.

FOTOS: ARQUIVO PESSOAL

Page 27: Jornal da ABI 366

27Jornal da ABI 366 Maio de 2011

continuava exatamente igual comoquando de seu início em 1955.

Perguntada se gosta do que vê atual-mente na televisão comercial na linhainfanto-juvenil, a pioneira responde:“Depois de mim, vi poucas coisas real-mente boas para nossas crianças na tele-visão. A loirinha Eliana, quando traba-lhava para as crianças, mesmo cercada detodo aquele merchandising, mantevealguma dignidade, mas acredito mesmoque quem mais se aproximou de minhaproposta foi o Daniel Azulay. De resto,o que se vê por aí é motivo apenas paravender bugigangas pros pequenos”, en-cerra Gladys.

Falabela, um admiradorMiguel Falabella foi um de seus teles-

pectadores mais assíduos. Quando crian-ça reunia-se com sua família em frenteà imponente TV preto e branco, para ad-mirar a loura que os encantava com suashistórias e desenhos. Certa vez, já adul-to e consagrado artista de televisão, Fa-labella acompanhou a atriz Regina Caséa uma palestra do arquiteto espanholSantiago Calatrava, que explicava seuplano para a construção do Museu doAmanhã, dentro do projeto de revitali-zação da área portuária do Rio de Janei-ro. No evento, o arquiteto usava umaparelho retroprojetor e croquis paraesclarecer detalhes de suas idéias. Issoacabou despertando a memória dos ato-res, que ao verem os desenhos surgiremna tela de luz, recordaram de como asmãos de Gladys bailavam como mágicasobre uma grande folha branca de papel.

Pouco depois o ator e diretor escreveuem sua coluna na Revista IstoÉ umaemocionada crônica que traduz todapaixão do artista à Gladys Ribeiro: “Elanos mostrou janelas que se abriam parajanelas, como se profetizasse o futuro nasua maneira de contar histórias. A nós foioferecida uma tela branca que é o come-ço de tudo, ou um quarto escuro em quese acenda a luz para encontrar a persona-gem. Não importa. Tia Gladys nos ofe-recia não só a origem, mas a semente dacriação e da possibilidade. Nunca pode-remos lhe agradecer o bastante”.

Prestes a completar 80 anos no dia 3de julho de 1931, Gladys Mesquita Ri-beiro nasceu em Petrópolis, Rio de Janei-ro, e vive atualmente em Embu das Ar-tes, famoso município com vocação parao artesanato, no Estado de São Paulo.

esde sua criação, em 22 dejulho de 1935, e suainserção no sistema

radiofônico nacional, comtransmissão simultânea em todasas emissoras de rádio, de Norte aSul, de Leste a Oeste do País, A Vozdo Brasil serve primordialmentepara tornar público, de maneiraabrangente e clara, o que pensame o que fazem todos os agentessociais e políticos que estão dentroou fora do Governo, do CongressoNacional e também do Judiciário.É um espaço democrático dapolítica e da informação. Emboratenha como matriz geradora umaemissora pública, o uso desseespaço não é um privilégio dequem está no Governo.

O mais importante é que omaior beneficiário desse espaço éo cidadão. Não o cidadão urbano.Não é o ricaço, endinheirado, quedispõe de outros meios para semanter informado. O maiorbeneficiário desse espaçodemocrático da informação é ocidadão comum, o homem docampo, da roça, da Vila dosConfins, de Mário Palmério, de OsSertões, de Euclides da Cunha, deA Bagaceira e Boqueirão, de JoséAmérico de Almeida, de Canaã, deGraça Aranha, de Grande Sertão:Veredas, de Guimarães Rosa, deMenino de Engenho e Bangüê, deJosé Lins do Rego, de O Mulo, deDarcy Ribeiro, e até mesmo de OCortiço e O Mulato de Aluísio deAzevedo, do Triste Fim de PolicarpoQuaresma, de Lima Barreto, e de OQuinze, de Rachel de Queirós.

Esses homens comuns, simples,humildes, sofridos, e que aindaexistem nos dias atuais, dependemdo radinho de pilha para semanterem informados. Muitosdeles não têm televisão e quando atêm em casa é para diversão dafamília. Ver um filme,acompanhar uma novela, com amulher e os filhos. É através doradinho de pilha que essa legião detrabalhadores, que carrega oradinho a tiracolo, pendurado nopescoço, se insere na sociedade oualdeia global, no mundo, e sesente, com imensa alegria ouimensa tristeza, parte dessemundo. O homem do campo é

amainar a terra, preparar o terrenoe semear; no segundo, ele estáchegando em casa, quando nãoestacionado na bodega do “Seu”Zé. Em qualquer hipótese, elesempre ouve A Voz do Brasil.

importante frisar que,também é sabido, tanto nacidade quanto no interior,

um considerável número deemissoras de rádio está na possede vereadores, prefeitos,deputados, senadores egovernadores. O próprio SenadorJosé Sarney, hoje Presidente doSenado Federal, lembra em suabiografia autorizada, da jornalistaRegina Echeverria, que quandono exercício do cargo dePresidente da Repúblicaencarregou o então Ministro dasComunicações Antônio CarlosMagalhães de negociar aconcessão de emissoras de rádiocom os políticos com mandato eforam distribuídas emissoras emtodo o território nacional.

E a esses políticos nãointeressa ver os seus adversáriosfalando nas suas emissoras. Falaraté pode, mas o problema é serouvido. Com a flexibilização,cada proprietário de rádio vaicolocar no ar, se colocar, nohorário mais conveniente paraseu grupo político. Esta é umaquestão. No Estado do Rio, porexemplo, é grande o número depolíticos, dos grandes e dosmenos graduados, que aparecemligados ou com influência juntoaos proprietários de emissoras derádio, das quais se utilizam paraautopromoção e promoção dosseus amigos e aliados. Nessasemissoras, os adversários nãotêm vez nem voz.

O Conselheiro Mário AugustoJakobskind sugere que a sociedadeseja mobilizada para impedir aflexibilização do horário d’A Vozdo Brasil. A sugestão é uma boa edeve começar pela sociedadeorganizada, os sindicatos detrabalhadores, rurais e urbanos,de todas as categorias.

A Voz do Brasil, um espaçodemocrático que não podeacabar nem ser reduzido

POR PEREIRA DA SILVA (PEREIRINHA)

Pereira da Silva (Pereirinha) é membro doConselho Deliberativo da ABI e Presidente daComissão de Sindicância da Casa.

sério e muito responsável,meticuloso à sua maneira e afeitoà habitualidade. Ele sabe que das19h às 20h A Voz do Brasil está noar. Liga o radinho, sentado navaranda da casa, na porta docasebre ou debaixo da mangueira,do oitizeiro ou da jaqueira, paraouvir as novidades e as brigas desuas excelências por cargos eposições no Governo.

Portanto, é muito oportuna aadvertência feita pelo nossoMário Augusto Jakobskind,quando diz, em artigo publicadono Jornal da ABI, que “queremsufocar A Voz do Brasil”. Nãoquerem sufocar. Querem acabarmesmo. Varrer do maparadiofônico um dos maistradicionais programasnoticiosos do rádio brasileiro,com uma abrangência e valoresexcepcionais, onde não háqualquer tipo de discriminação,nem de política partidária nemideológica.

or isso, é um crime que sepretende consumar com a talda flexibilização do horário

d’A Voz do Brasil. Essa tal deflexibilização, conforme chama aatenção esse Conselheiro da ABI,é muito grave, pois trata-se decriar obstáculos a um inalienáveldireito do povo, o de ser informado.Um outro problema grave é o doacompanhamento e fiscalizaçãoda transmissão do programa. Hávárias questões a serem observadas,tanto econômicas quantopolíticas, mas uma sobressai dasdemais que é a do horário detransmissão d’A Voz do Brasil.

Com a flexibilização o horáriode transmissão perderia areferência, ou seja, o cara que estátrabalhando de sol a sol vai ouvirA Voz do Brasil como? Não temcomo. É bem provável que oaspecto econômico tenha umpeso específico nessa estripulia doCongresso Nacional, mas acreditoque o peso maior seja o político. Ésabido que no interior desteimenso Brasil o horário damatina, das 6h às 8h, e o noturno,das 18 às 20h, são sagrados para ohomem do campo. No primeiro,ele está arribando pra roça, vai

D

É

P

Gladys: Vi poucas coisas boaspara nossas crianças na televisão.

Page 28: Jornal da ABI 366

28 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Uma das grandes atrações radiofônicas noBrasil entre as décadas de 1940 e 1950, o ra-dioteatro voltou ao ar com a estréia em 25 deabril da série inédita Contos no Rádio, na Rá-dio Mec. O projeto faz parte das atividadesdo recém-criado Núcleo de Radiodramatur-gia da Empresa Brasil de Comunicação-EBC,dirigido pela atriz Marília Martins.

A série de programas – que também étransmitida pela Rádio Nacional – é umaadaptação, em linguagem contemporânea,de obras de alguns dos maiores autores da li-teratura brasileira, entre os quais Lima Bar-reto, João do Rio, Machado de Assis, RaulPompéia e Mário de Andrade, e de autores es-trangeiros, como o italiano Alberto Moravia.Os esquetes terão a duração de cerca de 30minutos cada um.

A idéia do projeto Contos no Rádio nasceuem 2008 e, segundo a diretora Marília Mar-tins, era um desejo antigo de quem viveu,acompanhou ou conhece a História da radi-odramaturgia no Brasil: “Na verdade, achoque todos os que fizeram radioteatro naquelaépoca, como o Gerdal dos Santos e a DayseLúcidi, sempre mantiveram essa chama ace-sa. Na atual gestão da Superintendência deRádio da EBC sempre houve esse movimentopela retomada pelo radioteatro. E agora, pormeio de um convênio da EBC com a Sociedadede Amigos Ouvintes da Rádio Mec (Soar-mec), a volta da radiodramaturgia se tornouuma realidade”, disse a diretora do programa.

A equipe de Contos no Rádio é formada porum time de onze profissionais, que inclui umroteirista, dois sonoplastas, um operador deáudio e dois atores contratados exclusivamen-te para o núcleo, além dos que já atuam noelenco da Rádio Nacional, como Gerdal dosSantos, Dayse e Laio Jr. O projeto conta tam-bém com um núcleo de direção, produção ecoordenação artística:

“Temos convidado atores para fazer par-ticipações especiais, como a Aracy Cardoso,que já esteve aqui com a gente gravando umconto de Machado de Assis, e a atriz TerezaAmayo, além da parceria que estabelecemosas escolas de teatro para integrar novos ato-res ao nosso núcleo de produção. Por meiodesse processo, já recebemos mais de 15 ato-res. Vejo a volta da radiodramaturgia comouma oportunidade para jovens atores”, afir-ma Marília Martins.

Na estréia, Lima BarretoAté junho a série irá ao ar todas as segun-

das-feiras, às 20h, na Rádio Mec, e às quin-tas-feiras, às 10h, na Rádio Nacional. O pro-grama será retransmitido também em todasas emissoras que fazem parte da rede radio-fônica da EBC em várias regiões brasileiras.

A Rádio Nacional e a Rádio Mec restabelecem um formatode programa que fez extraordinário sucesso nos anos

1940 e 1950 e nunca perdeu seu poder de encantamento.

A volta doradioteatro

NOVIDADE

POR JOSÉ REINALDO MARQUES

As primeiras adaptaçõesde Contos no Rádio

O Homem que Sabia Javanês, de Lima BarretoA Amante Ideal, de João do RioA Parada da Ilusão, de João do RioO Homem de Cabeça de Papelão, de João do RioTílburi de Praça, de Raul PompéiaO Peru de Natal, de Mário de AndradeDos Tratos de Amor, livremente inspirado emconto de Alberto MoraviaD. Paula, de Machado de AssisA Carteira, de Machado de AssisO Espelho, de Machado de Assis

Rádio MEC – Segundas-feiras, às 20hRádio Nacional – Quintas-feiras, às 10h

O primeiro conto a ir ao ar foi O HomemQue Sabia Javanês, de Lima Barreto. Depoisserão apresentados três contos de João do Rio,conta Marília Martins: “Temos certeza de queos nossos ouvintes irão se deliciar com as his-tórias do Rio de Janeiro no início do século XX,na visão dos nossos melhores contistas. Emseguida, serão apresentados três textos deMachado de Assis, além de uma seleção decontos de Raul Pompéia. Nós estamos comum repertório de grandes autores e pretende-mos trabalhar também com escritores es-trangeiros.”

Outra boa notícia sobre a série Contos noRádio é que a produção acabou de conseguiros direitos da obra da Clarice Lispector paraadaptação para o rádio. Essa será a novida-de da segunda etapa do projeto. InformouMarilia Martins que já foram iniciadas asadaptações radiofônicas de alguns contos deClarice Lispector, como Viagem a Petrópolis, ALíngua do P e Ms. Algreen.

Não há como compararMesmo com todas as dificuldades burocrá-

ticas enfrentadas por ser um órgão estatal,a Rádio Mec sempre foi fiel a sua caracterís-tica de “protagonista e produtora de cultu-ra”. A emissora foi criada com a missão detransmitir os programas musicais e educa-tivos, e contava também com um elenco fixode radioteatro. Grandes nomes da dramatur-gia nacional saíram do cast da rádio, comoFernanda Montenegro, Edmundo Lys, SadiCabral, Sérgio Viotti, Magalhães Graça,Agnes Fontoura, Allan Lima e Ieda Oliveira,entre tantos outros.

A partir de 1940, durante mais de duasdécadas, incluída a chamada Era de Ouro dorádio brasileiro, foi a vez de a Nacional entreterseus ouvintes com uma programação vari-ada, com novelas, programas de auditório,humor e musicais. Nesse período, a emisso-ra se notabilizou também pela produção denoticiário, a exemplo do famoso Repórter Esso,e conquistou muitos ouvintes com as trans-missões esportivas.

Marília Martins considera que seria levi-ano fazer comparações qualitativas entre asproduções do passado e a série Contos noRádio, mas considera que a exploração dasduas experiências permite alcançar os melho-res resultados:

“É uma questão interessante porque essapercepção vai-se construindo aos poucos,porque é um processo que se desenvolve si-multaneamente. Ou seja, ao mesmo tempoque estamos produzindo os novos progra-mas, consultamos os arquivos de programasque foram ao ar até a década de 70, como oteatro de mistério. Além disso, contamos commuitos relatos sobre a época de ouro do rá-dio”, diz a atriz e diretora.

nosso trabalho e nos ensina muito, com en-tusiasmo e generosidade.”

“Um aprendizado fantástico”Um dos integrantes do elenco de Contos no

Rádio é o ator Luiz Octavio Moraes, que disseestar tendo o privilégio de ter sido chamadopara trabalhar na produção da nova série deradioteatro. Com uma trajetória ligada basi-camente ao teatro, ele também já fez cinemae televisão, mas essa é a primeira vez em queparticipa de um projeto de radiodramaturgia:

“Vejo essa experiência no rádio comoúnica e que dá ao ator um aprendizado fan-tástico, com a possibilidade de trabalhar comestudos de textos de alta qualidade literária.É tudo novo para mim, pois no rádio nóstrabalhamos somente com a voz dentro deum estúdio com um microfone à frente. Oradioteatro exige muita concentração do ator,como em qualquer outro tipo de dramatur-gia. Mas o ator tem que estar atento ao queestá falando, pois nesse caso a voz é o únicomeio que levar o ouvinte a imaginar a cena.”

Além de ator, Luiz Octavio Moraes é profes-sor de teatro e acha que o rádio pode vir a con-tribuir muito com a formação de novos atores:

“A radiodramaturgia exige muito estudoe cuidado do ator com a articulação das pa-lavras e a interpretação. No Brasil o númerode escolas de formação de atores é reduzido,são escassas as oportunidades para uma pes-soa desenvolver um trabalho artístico de in-terpretação. Normalmente a pessoa faz umcurso de teatro e já vira ator, e aí cai na vidapara trabalhar e não estuda mais nada. Vivedo improviso e do que consegue aprendercom a experiência do dia-a-dia”, afirma LuizOctavio, acrescentando que o trabalho norádio proporciona ao ator qualificar o seu tra-balho como um todo.

Na opinião de Luiz Octavio Moraes oprojeto Contos no Rádio, produzido pela Rá-dio Mec, deveria se multiplicar em outrasemissoras, porque abriria mais espaços detrabalho para os atores, além de incentivar osurgimento de novos tipos de programas ra-diofônicos:

“No momento, somente as Rádios Mec eNacional estão investindo nisso, mas estálançada a chama para que as outras emisso-ras venham a aderir à idéia. Nos áureos tem-pos, todas as rádios tinham vários programasde novelas, folhetins, mistério, entre outros.Eu vejo que há chances de se voltar a utilizaro rádio para esse tipo de programação.”

Um custo baratoA produtora Nely Coelho não revela nú-

meros, porque o projeto começou a ser pen-sado em 2008 e o custo de produção de Con-tos no Rádio foi alterado diversas vezes. Diz elaque é barato trabalhar com radioteatro, uma

A base de tudo: a palavraMarília Martins afirma que a essência é a

mesma, ou seja, a palavra. E isso faz com queseja possível oferecer para o ouvinte momen-tos de entretenimento, reflexão, emoção, ser-viços e aspectos que o radioteatro semprebuscou oferecer:

“O que há de diferente hoje em dia é jus-tamente os artistas que estão envolvidos nomomento presente. Então, o que dá umaidentidade para o nosso trabalho, por meiodessa modernidade, é o próprio perfil dessesartistas que estão atuando agora. E tambémuma busca de uma linguagem moderna nosentido da criação dos nossos roteiros radio-fônicos, com um caráter muito forte de ex-perimentação”, afirma.

Ela destaca que a prosódia atual é diferen-te e toda a questão da projeção da voz.Outro detalhe se refere à formação dos ato-res que as escolas de teatro do Rio de Janei-ro estão oferecendo:

“Na essência são momentos diferentes,temos que tomar muito cuidado para nãoincorrer no erro de dizer que hoje o radiotea-tro é melhor. Vejamos o exemplo da novela.A que foi produzida na década de 50 se forcomparada com a que está indo ao ar hoje emdia é totalmente diferente. O que era feito láatrás era o melhor que se podia oferecer na-quele momento.”

Marília Martins não esconde que há pre-ocupação com a qualidade do produto, e quetodos os profissionais envolvidos com a pro-dução de Contos no Rádio estão empenhadosna contextualização das histórias:

“Temos que contextualizar, porque preci-samos marcar que o cenário das radionove-las era diferente, por isso a nossa preocupa-ção com uma linguagem mais atual, aque-la com a qual os artistas estão envolvidos nomodo de produção contemporâneo, mas quenão é excludente. Nós estamos trabalhandocom o Gerdal dos Santos, que é um radioatorde 81 anos, moderníssimo, que engrandece o

DIVU

LGAÇ

ÃO

A turma do radioteatro: Nely Coelho, Luiz Octávio Moraes, Laio Jr., Joice Marino, Gerdal dosSantos e Marília Martins resgatam uma antiga tradição radiofônica com a série Contos no Rádio.

Page 29: Jornal da ABI 366

29Jornal da ABI 366 Maio de 2011

O radioteatro passou a fazer parte dasprogramações das Rádios MEC e Nacional apartir da década de 1940. Esta última veicu-lava folhetins cubanos traduzidos e adapta-dos, além de seriados, até formar seu cast deautores, entre os quais Oduvaldo Viana, DiasGomes, Janette Clair e Mário Lago. O sucessoalcançado pode ser avaliado pelos númerosda época: entre 1943 e 1945, foram transmi-tidas 116 novelas.

A primeira produção de radiodramatur-gia da Rádio MEC foi Radioteatro da Moci-dade, em 1945, que tinha no elenco a atrizFernanda Montenegro. Outro sucesso des-se período foi o Reino da Alegria, produzidopor Geni Marcondes. Houve ainda o progra-ma Terra Brasileira, com Ieda Oliveira, Ha-mílton Santos, Magalhães Graça, entreoutros, que transmitia histórias voltadaspara o homem do campo.

Novelas, seriados e os programas humo-rísticos foram os responsáveis pelos altosíndices de audiência da Rádio Nacional. Nosanos 1930, duplas de humoristas como Al-varenga e Ranchinho e Jararaca e Ratinhodestacavam-se na emissora “como legítimaexpressão do humor brasileiro”. Na décadade 1950, durante muito tempo, o grande su-cesso da radiodramaturgia foi o programaBalança, Mas Não Cai, criado por Max Nu-nes, cujo numeroso elenco contava com afamosa dupla formada por Paulo Gracindoe Brandão Filho, nos inesquecíveis papéisPrimo Rico e Primo Pobre.

Inventor do rádio, patrono dos radi-oamadores, cientista pioneiro nas tele-comunicações no mundo, o Padre Lan-dell de Moura foi homenageado pelaCâmara Municipal de São Paulo, em 17de maio, com o título in memoriam deCidadão Paulistano, que foi recebido porZemo José Almeida de Moura, 82 anos,seu sobrinho-neto.

A iniciativa, de autoria do VereadorEliseu Gabriel (PSB), visa a fortalecer asações pelo reconhecimento do Padre Lan-dell de Moura como o inventor do rádio,corrigindo o erro histórico no ano em quese comemora o 150º aniversário do cien-tista. Outra iniciativa aconteceu em janei-ro deste ano, quando a Empresa Brasilei-ra de Correios e Telégrafos-ECT lançouum selo comemorativo dos 150 anos deLandell de Moura no mês em que ele fariaaniversário. O Senador Sérgio Zambia-si (PTB-RS) apresentou projeto de lei queprevê a inclusão de Padre Landell de Mourano “Livro dos Heróis da Pátria”.

PioneirismoO Padre Roberto Landell de Moura

nasceu em Porto Alegre, em 21 de janei-ro de 1861. Ele foi o primeiro cientistado mundo a transmitir a voz humana àdistância sem o uso de fios, utilizandoequipamentos construídos por ele e pa-tenteados em março de 1901, no Brasil,sob o número 3279, no qual descreveu“um aparelho destinado à transmissãofonética à distância, com fio ou sem fio,através da terra, do espaço e doelemento aquoso”.

As primeiras expe-riências de Landell deMoura foram feitasem 1892 e 1893, emCampinas e em SãoPaulo. Em 1899, o cien-tista transmitiu a vozhumana a partir do Co-légio das Irmãs de SãoJosé, no bairro Santana,Zona Norte da capital pau-lista. A primeira demons-tração pública aconteceuem 3 de junho de 1900, naAvenida Paulista, em SãoPaulo, e foi noticiada pelaimprensa.

O italiano GuglielmoMarconi, notabilizado como o inven-tor do rádio, só realizou o feito no finalde 1914. Marconi inventou o telégra-fo sem fio, a transmissão de sinais emcódigo Morse, e não o rádio.

vez que todo o cenário se resume em umespaço com isolamento acústico, bons mi-crofones e o grupo de atores. Há também otrabalho que é executado em computadores,como sonoplastia e edição:

“Por exemplo, os sonoplastas nem se encon-tram, recebem tudo via computador. É umcaminho muito mais rápido a um custo bemmenor do que seria em qualquer outro meio.Se outras rádios quiserem abrir espaço paraeste tipo de programa é bom que saibam quenão vai custar uma fortuna. Inclusive nem émuito diferente da produção de um programamusical. Dá mais trabalho, mas é viável finan-ceiramente”, afirma Nely Coelho.

Um aspecto interessante apontado porNely foi a quantidade de gente que atendeu aochamado da Rádio MEC interessada em tra-balhar com radioteatro. Segundo Nely Coelho,os anúncios foram divulgados nas universida-des que têm cursos de teatro, como UniRio eUFRJ, e em outras unidades acadêmicas, comoUerj e Uff, que tem um curso voltado para aformação de profissionais de rádio:

“Nós tivemos essa percepção quando vi-mos o número de pessoas que se inscreverampara participar da oficina que estávamos ofe-recendo. Foi quando nos tocamos que hámuita gente de novo interessada em radiote-atro”, contou Nely com entusiasmo.

As emissoras de rádio da EBC farão a trans-missão de Contos no Rádio de acordo com estecronograma: a Nacional AM de Brasília eNacional da Amazônia entram em rede ereprisam os Contos no Rádio, às terças-feiras,às 21h05; a Nacional AM e a FM do AltoSolimões, também às terças-feiras, 13h10(hora local); a Rádio Nacional FM Brasília, aosdomingos, a partir das 22h30.

Uma fonte dedescobertade autores

RECONHECIMENTO

Justiça para o PadreLandell de Moura

A Câmara Municipal de São Paulo impulsiona movimento que visa areconhecê-lo como o inventor do rádio, com precedência sobre o italiano

Guglielmo Marconi, que o mundo celebra como o autor da criação do brasileiro.

POR CLÁUDIA SOUZA O engenheiro e físico canadense Re-ginald Aubrey Fessenden conseguiutransmitir o som publicamente em de-zembro de 1900, seis meses após o cien-tista brasileiro. Fessenden obteve pa-tente de seu engenho em setembro de1901, seis meses após a patente obtidapor Landell de Moura.

Mesmo tendo patenteado o inven-to no Brasil, Landell de Moura nãoobteve o reconhecimento. O jornal LaVoz de España, editado em São Paulo, pu-blicou matéria em 16 de dezembro de1900 sobre o descaso das autoridadesbrasileiras em relação ao trabalho do ci-entista. O jornal norte-americano NewYork Herald noticiou em 12 de outubrode 1902, as experiências do brasileiro.

Patentes nos EUACom sacrifício, Landell de Moura se-

guiu para os Estados Unidos, onde ob-teve três cartas patentes (transmissorde ondas, telefone sem fio e telégrafosem fio) e se tornou pioneiro ao proje-tar aparelhos para a transmissão de ima-gens (tv) e textos (teletipo), na utiliza-ção das ondas curtas para aumentar adistância das comunicações e no uso daluz para o envio de mensagens, o prin-cípio das fibras ópticas.

Em 1905, três anos depois, o primei-ro cientista brasileiro com registro in-ternacional de invenção pioneira retor-nou ao Brasil e enviou uma carta aoentão Presidente da República Rodri-gues Alves pedindo apoio para demons-trar as descobertas. Além de ter o pedi-

do negado, foi apon-

tado como louco. Um grupo de fiéis daIgreja Católica destruiu seus equipa-mentos e o acusou de feitiçaria.

Na trajetória religiosa, Landell deMoura foi cônego do Cabido Metropo-litano de Porto Alegre; 17 de setembrode 1927 foi elevado pelo Vaticano amonsenhor e nomeado arcediago, seismeses antes de falecer aos 67 anos, em30 de junho de 1928, com quadro de tu-berculose, no Hospital da BeneficênciaPortuguesa de Porto Alegre, no maiscompleto anonimato científico.

“Herói Sem Glória”Para marcar a relevância de Landell

de Moura para o Brasil e o mundo, foicriado o Movimento Landell de Mou-

ra, que reúne pessoas de diferen-tes áreas. As atividadesdo grupo são divulga-das no site www.mlm.landelldemoura.qsl.br.O objetivo é coletar 1milhão de assinaturaspara que Landell seja re-conhecido pelo Governobrasileiro como o precur-sor das telecomunicações.

Um dos criadores doMovimento é o jornalistaHamilton Almeida, autordos livros O Outro Lado dasTelecomunicações: A Saga doPadre Landell (1983); Lan-dell de Moura (1984); Paterund Wissenschaftler: Die Ges-chichte dês Paters Roberto Lan-dell de Moura (2004); PadreLandell de Moura: Um Herói

Sem Glória (2006).

Documento dapatente feitanos EstadosUnidos por Landell deMoura de seu transmissor de ondas.À direita, esquema do mesmo aparelho.

Landell de Moura: Acusado de feitiçaria esem apoio do Governo brasileiro.

REPROD

UÇÃO

Page 30: Jornal da ABI 366

30 Jornal da ABI 366 Maio de 2011

VidasVidas

A cobertura de guerras segue fazendovítimas fatais entre profissionais de im-prensa. O cineasta e fotógrafo britânicoTim Hetherington morreu no dia 20 deabril na cidade líbia de Misrata, terceiramaior cidade do país, atacada por tropasdo Governo. O norte-americano ChrisHondros também foi morto na mesmaoperação. Ele estava trabalhando para aagência Getty Images e seus prêmios an-teriores incluem a Medalha de Ouro Ro-bert Capa por fotografias de guerra.Outros dois fotógrafos que faziam par-te do grupo ficaram feridos, informou aimprensa americana. Especula-se que umataque de morteiro realizado pelas tropasde Muamar Kadafi, ditador líbio, tenhacausado a morte dos profissionais .

O conflito na Líbia começou comuma revolta contra o Governo de Mua-mar Kadafi, no poder há 42 anos, e setransformou numa batalha por territó-rio. Acredita-se que Hetherington eHondros estivessem num grupo de jor-nalistas que se retirava do front de bata-lha quando foram atingidos. A famíliade Hetherington diz que ele foi mortopor uma granada atirada por um propul-sor. No dia anterior à sua morte, o pró-prio Tim publicou a seguinte mensagemem sua página no microblog Twitter:

“Estou encurralado na cidade líbia deMisrata. As tropas de Kadafi atiram indis-criminadamente. Nenhum sinal da Otan”.

Brasileiro André Liohn viuO jornal The New York Times e a emis-

sora ABC citaram como fonte de suasinformações os relatos de outros jorna-listas que acompanhavam Hethering-ton na zona de conflito. De acordo comos sites de ambos os veículos, o fotojor-nalista brasileiro André Liohn, que esta-va com Hetherington cobrindo os con-flitos em Misrata, confirmou a morte dobritânico via Facebook. No entanto, a

Morrem dois fotógrafos no front da LíbiaO britânico Tim Hetherington concorreu ao Oscar de Melhor Documentário por seu trabalho no Afeganistão.O norte-americano Chris Hondros era detentor da Medalha de Ouro Robert Capa por fotografias de guerra.

POR PAULO CHICO

página em que o brasileiro teria faladosobre a morte foi apagada.

“Tim morreu cerca de duas horasatrás”, confirmou também Peter N.Bouckaert, da Human Rights Watch, emGenebra, um amigo do cineasta e fotó-grafo, confirmando os nomes dos ou-tros dois jornalistas atingidos no mesmoataque: o fotógrafo Guy Martin, daAgência Panos, que está em estado mui-to grave, e um freelancer, Michael Bro-wn, levemente ferido.

Nascido no Reino Unido, Hethering-ton, de 41 anos, estava baseado emBrooklyn, tinha dupla cidadania britâni-ca e americana, e era mais conhecido portrabalhar no Afeganistão. Em 2007, ga-nhou o cobiçado World Press Photo ofthe Year Award pela sua cobertura desoldados americanos no Vale do Koren-gal, um dos três prêmios World Press queele recebeu. Essas atribuições no Afega-nistão serviram como base para o filme

Restrepo, que ele dirigiu com SebastianJunger, autor de A Tempestade Perfeita.

Um bravo e amigoHetherington era reconhecido e res-

peitado por seus colegas pela sua bravu-ra e camaradagem. A abordagem artísti-ca nos assuntos fotojornalísticos levou-o a receber muitas honrarias, incluindouma bolsa da Fundação Nacional de Ci-ência, Tecnologia e Artes, bem como umadoação da Fundação Hasselbald. Em suacarreira, lançou outros dois filmes, Libé-ria: Uma Guerra Não Civil (2004) e TheDevil Came on Horseback (2007).

Restrepo, o filme, documenta um anoem uma base de guerra no Afeganistão,considerada o ‘lugar mais mortal domundo’ e batizada de Restrepo em home-nagem ao médico do pelotão, Juan Sebas-tián Restrepo, morto em combate. A obrateve grande repercussão internacional. Odocumentário foi premiado no Festival

de Sundance e recebeu uma indicação aoOscar 2011, na categoria Melhor Docu-mentário. É uma obra cinematográficapuramente empírica: as câmeras nuncasaem do vale e não há entrevistas comgenerais ou diplomatas. O único objeti-vo do filme é fazer o público sentir queparticipou de uma mobilização militardurante seus 90 minutos de duração.

Hetherington produzia materialtambém para a revista norte-americanaVanity Fair. A Casa Branca lamentou amorte dos profissionais e pediu que aLíbia proteja os jornalistas que cobremo conflito. O porta-voz do PresidenteBarack Obama declarou-se triste pelanotícia e muito preocupado com a situ-ação dos outros jornalistas feridos.

“Os jornalistas de todo o planeta ar-riscam suas vidas a cada dia para nosmanterem informados, pedir responsa-bilidades aos líderes mundiais e dar vozàqueles que de outra forma jamais seri-

Fotos como esta à esquerda, de Chris Hondros, feita no Iraque, e à direita e embaixo de Tim Hetherington, ambas feitas no Afeganistão, estão na galeria das melhores imagens do World Press Photo.

Page 31: Jornal da ABI 366

31Jornal da ABI 366 Maio de 2011

Um dos mais destacados jornalistasdo Brasil nos deixou neste mês de maio:no dia 17 morreu de enfisema pulmo-nar, aos 71 anos, o jornalista OséasMartinho de Carvalho, que trabalhouna imprensa de Minas Gerais, seu Esta-do, e do Rio de Janeiro e reformou pu-blicações em vários Estados do País. Eleera sócio da ABI, na qual ingressou em27 de junho de 1978.

Oséas de Carvalho nasceu no Mu-nicípio mineiro de João Monlevade eteve uma longa e fecunda trajetóriaprofissional, que começou no semaná-

Oséas Carvalho foi possivelmenteo maior embelezador de jornais do Bra-sil. Não um simples maquiador. Poisnão imprimia apenas nova dimensãovisual e cromática às primeiras pági-nas. Ele e sua entusiasta equipe iamfundo na reestruturação e na arquite-tura do miolo, redesenhando e refun-dindo conteúdos, titulagens e até for-matos editoriais das publicações. Cri-ava também suplementos revolucio-nários. Redimensionava com roman-tismo as páginas e os cadernos esporti-vos e de lazer diário.

O Dr. Alberto Torres, então Presiden-te de O Fluminense, que o teve na Reda-ção de Niterói – levado pela mão sapi-ente de Gilson Monteiro –, venerava-ocomo o recriador e modernizador deseu jornal. Achava porém que OséasCarvalho tinha mais do que o dom jor-nalístico da beleza gráfica inimitável:

“Oséas, você tem o mais bonito sor-riso do Brasil” — dizia o Dr. AlbertoTorres. E completava com a jocosa e sin-cera autoridade de deputado à Assem-bléia Legislativa do antigo Estado doRio e à Câmara dos Deputados: “Como seu sorriso, Oséas, me elegeria sena-dor e até presidente da República.”

Como bom mineiro de Monlevade,Oséas Carvalho amava a vida commansidão. Mas era um escorpiano deestética hiperativa e opiniática, sempredebatendo de política a futebol e lite-ratura ou arquitetura, ele que era umfanático do Galo e do Botafogo e seimpressionara tanto com Carlos Cas-tañeda quanto com Rubem Braga, ali-ás companheiro de Redação na velhaÚltima Hora e por ele convocado a ino-var as páginas de O Fluminense, dandoo último emprego ao velho Bragacomo cronista. Do misterioso e surre-

Jose Alves Pinheiro Junior é Conselheiro da ABI,autor de livros sobre jornalismo, como Mefibosete,Bombom Ladrão e Última Hora (como ela era). Foicompanheiro de Oséas Carvalho em diversasRedações.

O guerreiro que embelezava os jornais

POR PINHEIRO JÚNIOR

Oséas, o reformador de publicações

Ele deixou sua marca na imprensa de Minas, Rio de Janeiro e de vários Estados do País.

am escutados. O Governo líbio e todosos governos do mundo devem tomarmedidas para proteger os jornalistas emseu trabalho vital”, disse Jay Carney emum comunicado.

Um cinegrafista da Al Jazira, AliHassan Al Jaber, já havia sido morto e umoutro jornalista da rede de televisão fi-cado ferido no dia 12 de março em umaemboscada perto a Benghazi, bastião daoposição no leste da Líbia.

Ferido, caminhou 4 horasHetherington também ficou famoso

por produzir material para a rede ABCNews justamente sobre os conflitos noAfeganistão. James Goldston, um dosexecutivos da emissora, apontou-ocomo “um dos mais corajosos fotógra-fos e cineastas” que já conheceu.

“Durante um dia de filmagem, eleteve uma fratura séria na perna duran-te um ataque a uma base de operaçõesisolada. Mesmo ferido, teve força e âni-mo para caminhar por quatro horasdurante a noite com o tornozelo estilha-çado sem reclamar, debaixo de fogo cru-zado, para que todo o grupo chegasse aum lugar seguro”, lembrou Goldston.

rio Binômio, de José Maria Rabelo eEuro Arantes, lançado em 17 de feve-reiro de 1952. O jornal foi fechado peladitadura militar após o golpe de 1º deabril de 1964, violência que obrigou ojornalista a se mudar para o Rio deJaneiro.

No Rio, Oséas trabalhou na ÚltimaHora como uma das pessoas de confian-ça do fundador do jornal, Samuel Wai-ner. Nos anos 70 e 80, trabalhou emvários Estados promovendo a reformagráfica e editorial em diários como ACrítica, de Manaus, O Liberal, de Belém,

e O Fluminense, de Niterói (RJ), entreoutros. Foi editor do jornal Opinião, deFernando Gasparian, durante cerca dequatro anos, e trabalhou também noJornal do Brasil.

Ao tomar conhecimento da morte deOséas de Carvalho, o comentarista po-lítico da Rádio BandNews de Belo Hori-zonte, Luiz Carlos Bernardes, disse queOséas era uma figura humana e umprofissional “do primeiríssimo time dojornalismo”, e acrescentou que a suamorte “significa uma grande perda paraa imprensa e para os amigos”.

alista colombiano Castañeda lembra-va um ensinamento de Don Juan maiscomo piada de bom/mau gosto:

“O homem deve viver como umguerreiro que tem sempre a morte ca-minhando ao seu lado direito, à dis-tância de um braço. De vez em quan-do precisa acariciar a cabeça da mortecomo quem acarinha a cabeça de umcão fiel...”

Pois esse guerreiro chamado OséasCarvalho rendeu-se ao cão fiel no fimda manhã da última terça-feira no lei-to de um hospital em Belo Horizon-te depois de uma longa escaramuçatransformada em guerra contra umainsidiosa agressão pulmonar. Ao servelado, vestia a camisa do Botafogo etinha sobre o caixão a bandeira doAtlético Mineiro. Abraçados a ele, osfilhos Joana e João. Foi incineradoapós silenciosa celebração numa cape-la mortuária da Avenida Afonso Pena,Centro de Belo Horizonte, a cidadede sua juventude. E de suas iniciaçõespolíticas, que incluíram batalhas pelaliberdade e contra a ditadura militar.Foi em BH que ele começou sua mi-litância no Binômio, semanário dirigi-do pelo lendário José Maria Rabelo. Eque se celebrizou por enfrentar umgeneral empastelador de jornais cha-mado Punaro Bley.

Foi em BH que Oséas Carvalho in-corporou-se à Redação do Diário deMinas. Depois ingressou na ediçãomineira de UH, sendo chamado porSamuel Wainer para enriquecer a na-cional Última Hora do Rio/São Paulo/Brasília/Curitiba, PortoAlegre/Recife/Niterói. Com o massacre militar deUH, Oséas Carvalho refugiou-se no OJornal dos Diários Associados, ingres-sando com outros companheiros so-breviventes de UH numa Redação di-rigida por Manoel Gomes Maranhão.

Mas O Jornal também virou alvo daditadura. E em seguida Oséas Carvalhoentraria no semiclandestino Opinião.Por fim iria ajudar na edição secreta daVoz Operária, que, no entanto, cutuca-va a ditadura sanguinolenta com varacurta e a Voz acabou sendo silenciadapelo monstro que perseguia, tortura-va e matava jornalistas.

Mas, como mineiro bom sabe se es-conder no meio da multidão, OséasCarvalho escapou para ver a vitória dademocracia, voltando a recriar maisjornais. Jornais do quilate do Diário deNotícias, Jornal dos Sports, A Crítica deManaus e O Povo, de Brasília. Fundoudepois a revista Brasil Mais, reunindoos maiores nomes da inteligência na-cional, sem distinção de credo, comartigos de Oscar Niemeyer e DelfimNeto, Darcy Ribeiro, Luis FernandoVeríssimo e Antônio Ermírio de Mora-es. Por último manteve por longo pe-ríodo o site TemNotícias, levando à webuma plêiade de cronistas e ensaístas.

Como disse seu colaborador Conti-nentino Porto, Oséas Carvalho nãosabe descansar: “Ele foi fazer jornal emoutra dimensão”. O diretor da Mon-drian, Jorge Sávio, editor do BrasilMais, lembra que “a memória de suasidéias fabulosas será sempre um guiapara nós”: “Oséas é imortal. Passareipara meus filhos e meus netos o com-promisso de referirmo-nos a ele atravésde obras como o Brasil Mais. Suasidéias fabulosas serão sempre um guiapara nós. Ele é imortal.”

E Victor Cavagnari, o último doscopidesques de UH, completa: “O ine-lutável e o imprevisto não suprimema dor”.

Acima, cena do documentário Restrepo, deTim Hetherington e Sebastian Junger.

Embaixo, o poster do filme.

Page 32: Jornal da ABI 366