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IMPRESSO ESPECIAL CONTRATO N o 9912233178 ECT/DR/RS FUNDAÇÃO PRODEO DE COMUNICAÇÃO CORREIOS Porto Alegre, 16 a 30 de junho de 2010 Ano XV - Edição N o 564 - R$ 1,50 Montagem sobre arte de antenadissimo.blog.terra.com.br Em breve, o Solidário estará na internet. Aguarde. O gesto concreto de doação de dois milhões de euros – em torno de cinco milhões de reais – é a resposta da Igreja ao mundo sobre a polêmica instalada em relação ao tema. As pes- quisas sobre o uso de célula-tronco adultas – também conhecidas como células-mãe – serão desenvolvidas no hospital Banbin Gesu, de Roma, mantido pelo Vaticano. A Igreja se opõe à pesquisa sobre células-tronco Manter a chama onde está implantada e evangelizar novos continentes é missão bi-milenar do cristianismo. E a esses desafios, o tempo atual acrescentou nova e difícil tarefa: ser mis- sionário no sexto con- tinente, o continente virtual, no qual transi- tam milhões de huma- nos de todos os cantos dos cinco continentes. Como o evangelizador deve fazer-se presen- te no cyberespaço, na convergência virtual, na computação em nuvens, na agência digital, sem abrir mão da presença real na comunidade reunida? Páginas centrais Desafio cristão no novo milênio: ser presença no continente cibernético Pesquisa sobre células adultas tem apoio do Vaticano embrionárias porque ela envolve a destruição de embriões e acena com células adultas – encontradas no cor- dão umbilical, na placenta, na medu- la óssea, nos intestinos e nos embri- ões como alternativa cientificamente viável, segura e ética. Segundo o cardeal Renato Mar- tino, a Igreja apoia integralmente o projeto, dirigido pelo cientista Ales- sio Fasano, porque ele não envolve células embrionárias. “Quando se utiliza um embrião para obter cé- lulas-tronco, o restante do embrião é eliminado, e uma vida humana é destruída”, enfatizou o cardeal. O porta-voz da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi S.J., disse que “sempre se reconheceu como legítimos a pes- quisa científica e o uso clínico de cé- lulas-tronco provenientes de tecidos adultos. A distinção entre células- tronco adultas e embrionárias é fun- damental sob o ponto de vista ético”. Esclarecimento da Teologia Voz do PASTOR Página 2 A vida artificial Página 9 Críticas à Igreja “O Concílio não só abriu espaço para maior participação (plena), mas determina que se realize. O que falta? Que as ru- bricas sejam modifica- das e ampliem a partici- pação da comunidade.” Página 5 A relação marital e parental na pós- modernidade Na sociedade pós-moderna, não mais se aceita uma relação de dominação; a “negociação” torna-se uma norma e tende a “democratizar” não somente as relações entre os cônjuges, mas também entre pais e filhos. Página 3 “É fácil assimilar ideias sobre Deus, mais difícil é convencer-se de sua existên- cia real, e muito mais com- plexo é amá-lo sobre todas as coisas. Para isso se há de levar uma vida inteira.” Idosos e ações solidárias “Ainda haverá espa- ço para olharmos ao nosso redor e observar que há pessoas que precisam de atenção, como aquelas es- quecidas em asilos, orfana- tos, hospitais e, até, em ca- sas de geriatria de um certo luxo...” Página 4 Banco de Dados da AMBT

Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

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Jornal Solidário

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Page 1: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

IMPRESSO ESPECIALCONTRATO No 9912233178

ECT/DR/RSFUNDAÇÃO PRODEODE COMUNICAÇÃO

CORREIOS

Porto Alegre, 16 a 30 de junho de 2010 Ano XV - Edição No 564 - R$ 1,50

Montagem sobre arte de antenadissimo.blog.terra.com.br

Em breve, oSolidário estará nainternet.Aguarde.

O gesto concreto de doação de dois milhões de euros – em torno de cinco milhões de reais – é a resposta da Igreja ao mundo sobre a polêmica instalada em relação ao tema. As pes-quisas sobre o uso de célula-tronco adultas – também conhecidas como células-mãe – serão desenvolvidas no hospital Banbin Gesu, de Roma, mantido pelo Vaticano. A Igreja se opõe à pesquisa sobre células-tronco

Manter a chama onde está implantada e evangelizar

novos continentes é missão bi-milenar do cristianismo.

E a esses desafios, o tempo atual acrescentou nova e

difícil tarefa: ser mis-sionário no sexto con-tinente, o continente

virtual, no qual transi-tam milhões de huma-nos de todos os cantos dos cinco continentes. Como o evangelizador

deve fazer-se presen-te no cyberespaço, na

convergência virtual, na computação em nuvens,

na agência digital, sem abrir mão da presença real

na comunidade reunida? Páginas centrais

Desafio cristão no novo milênio: ser presença no

continente cibernético

Pesquisa sobre

células adultas

tem apoio do

Vaticano

embrionárias porque ela envolve a destruição de embriões e acena com células adultas – encontradas no cor-dão umbilical, na placenta, na medu-la óssea, nos intestinos e nos embri-ões como alternativa cientificamente viável, segura e ética.

Segundo o cardeal Renato Mar-tino, a Igreja apoia integralmente o projeto, dirigido pelo cientista Ales-sio Fasano, porque ele não envolve células embrionárias. “Quando se

utiliza um embrião para obter cé-lulas-tronco, o restante do embrião é eliminado, e uma vida humana é destruída”, enfatizou o cardeal. O porta-voz da Santa Sé, Pe. Federico Lombardi S.J., disse que “sempre se reconheceu como legítimos a pes-quisa científica e o uso clínico de cé-lulas-tronco provenientes de tecidos adultos. A distinção entre células-tronco adultas e embrionárias é fun-damental sob o ponto de vista ético”.

Esclarecimentoda Teologia

Voz doPASTOR

Página 2

A vidaartificial

Página 9

Críticas à Igreja

“O Concílio não só abriu espaço para maior participação (plena), mas determina que se realize. O que falta? Que as ru-bricas sejam modifica-das e ampliem a partici-pação da comunidade.”

Página 5

A relação marital e parental na pós-

modernidade

Na sociedade pós-moderna, não mais se aceita uma relação de dominação; a “negociação” torna-se uma norma e tende a

“democratizar” não somente as relações entre os cônjuges, mas

também entre pais e filhos.Página 3

“É fácil assimilar ideias sobre Deus, mais difícil é convencer-se de sua existên-cia real, e muito mais com-plexo é amá-lo sobre todas as coisas. Para isso se há de levar uma vida inteira.”

Idosos e ações

solidárias

“Ainda haverá espa-ço para olharmos ao nosso redor e observar que há pessoas que precisam de atenção, como aquelas es-quecidas em asilos, orfana-tos, hospitais e, até, em ca-sas de geriatria de um certo luxo...”

Página 4

Banco de Dados da AMBT

Page 2: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

EDITORIAL

16 a 30 de junho de 2010 2

Voz doPASTOR

Dom Dadeus GringsArcebispo Metropolitano

de Porto Alegre

A RTIGOS

O esclarecimentO da teOlOgia

Fundação Pro Deo de Comunicação

Conselho DeliberativoPresidente: José Ernesto

Flesch ChavesVice-presidente: Agenor Casaril

CNPJ: 74871807/0001-36

Voluntários Diretoria Executiva

Diretor Executivo: Jorge La Rosa Vice-Diretor: Martha d’Azevedo

Diretores Adjuntos: Carmelita Marroni Abruzzi, José Edson Knob e

Ir. Erinida GhellerSecretário: Elói Luiz ClaroTesoureiro: Décio Abruzzi

Assistente Eclesiástico: Pe.Attílio Hartmann sj

RedaçãoJorn. Luiz Carlos Vaz - Reg. 2255 DRT/RS

Jorn. Adriano Eli - Reg. 3355 DRT/RSRevisão

Nicolau Waquil, Ronald Forster e Pedro M. Schneider (voluntários)

Administração Elisabete Lopes de Souza e Davi Eli

Impressão Gazeta do Sul

Rua Duque de Caxias, 805 Centro – CEP 90010-282

Porto Alegre/RSFone: (51) 3221.5041 – E-mail:

[email protected]

Conceitos emitidos por nossos colaboradores são de sua inteira responsabilidade,

não expressando necessariamente a opinião deste jornal.

Conselho Editorial Presidente: Carlos AdamattiMembros: Paulo Vellinho,

Luiz Osvaldo Leite, Renita Allgayer e Beatriz Adamatti Diretor-Editor

Attílio Hartmann - Reg. 8608 DRT/RSEditora Adjunta

Martha d’Azevedo

Voz doLEITOR

Cartas para esta seção até 600 caracteres para o e-mail solidá[email protected]

As relAções de comunicAção A filosofia parte da constatação

da realidade para, pela razão, atingir a origem e o destino

de tudo. Chega assim à descoberta de Deus. Trata-se de uma via racio-nal. Há nela, porém, algo mais que racional. Envolve o homem todo, com seus pensamentos, vontade e sentimentos. Se lhe faltar um destes ingredientes, não estará em condições de satisfazer suas exigências vitais.

Diz-se, por isso, que, se para fazer entender uma coisa basta uma quinta parte do empenho, para con-vencer se requer outra; para mover, porém, são ne-cessárias as três demais partes. Em outras palavras, é relativamente fácil ensinar. Mais difícil é convencer e dificílimo levar à ação. Ou, aplicando, é fácil as-similar ideias sobre Deus, mais difícil é convencer-se de sua existência real, e muito mais complexo é amá-lo sobre todas as coisas. Para isso se há de levar uma vida inteira.

Na verdade, é impossível ao homem "apossar-se" de Deus. Não o consegue "aprisionar" em sua pequena mente. Ele a transcende infinitamente. Pode racionalmente concluir que Ele existe e balbuciar algo acerca de sua divindade. Mas fica nisso. Vem então o próprio Deus em socorro de sua fraqueza. Dá-lhe o dom da fé. Revela-se ao homem conce-dendo-lhe também a possibilidade de acolher esta revelação.

Vem então a teologia para desenvolver os con-teúdos da fé. Ajuda a entendê-los. A teologia, dife-rentemente da filosofia, não se propõe provar a exis-tência de Deus. Já parte não só da aceitação de sua existência, mas também de sua manifestação. Procu-ra colocá-la no contexto de nossa cultura. Elabora a doutrina da fé. Mostra o que devemos, concretamen-te, crer e como viver a partir desta visão.

O ponto de partida da teologia não são verdades ou princípios gerais, que se devam crer e praticar.

Antes pelo contrário: o ponto de parti-da são pessoas que conhecemos e ama-mos, ou melhor ainda, são pessoas das quais nos aproximamos, porque elas já antes se aproximaram de nós e se re-velaram. Começamos por Jesus Cristo, que nos revela o Pai e dá-se a conhecer também pessoalmente e nos envia o Espírito Santo, para nos dar a conhe-

cer, convencer e mover pelos ditames da fé. A partir dali, não temos apenas um "espírito humano" insu-flado no início da criação do homem, mas também um "espírito divino", enviado desde Pentecostes. Ali está o segredo da fé. Sem ele não poderíamos crer.

Nossa ideia de Deus não fica, pois, no plano fi-losófico, que nos certifica que Deus existe – o Deus dos filósofos não move ninguém – mas sobe ao pla-no da fé, para além da ideia. Se aproxima, concre-tamente, de Jesus Cristo. A teologia, porém, não se enclausura na palavra de Deus. Impele, ao contrário, a procurar, nos sacramentos, o contato pessoal com Ele. Tornamo-nos um com e em Cristo.

Vamos à teologia para saber algo mais dos con-teúdos de nossa fé. Descobrimos ali um acervo ines-timável e inesgotável, que nos aproxima de Deus. Conhecer para amar e, inversamente, amar para co-nhecer mais e aprofundar este relacionamento vital com Deus. Envolve pensamentos, vontade e senti-mentos. Faz penetrar esta fé na vida, a ponto de levar a exclamar, com S. Paulo: "Para fim viver é Cristo". É a realização plena!

A teologia, assim como a filosofia, se desdobra em duas dimensões: uma, chamada especulativa, elabora os princípios básicos da fé; a outra, prática, deduz as atitudes fundamentais que dali decorrem. Em outras palavras, a primeira traça as grandes li-nhas do pensamento da fé e a segunda indica sua aplicação prática, na moral. Isto significa que uma moral, sem base teológica, é arbitrária, e a teologia, sem orientação moral, é inócua.

Futebol e salário“São verdadeiramente absurdos os salário que

muitos jogadores recebem, que escapa a qualquer hierarquia de valores. O que eles ganham em um mês, a maioria dos brasileiros não ganha traba-lhando a vida toda. E quem são os responsavéis? Num certo sentido, todos nós, que somos sócios de clubes, que vamos aos campos de futebol, que ve-mos os jogos na tv, que lemos os noticiários espor-tivos. Se houvesse uma greve geral, não fôssemos mais ao estadio, deixássemos de ser associados, não víssemos os jogos pela mídia nem lêssemos as notícias, certamente a realidade seria diferente! Utopia? É preciso tê-las, quem sabe um dia desper-temos e não nos contentemos com “pão e circo.”Jorge Alberto Fagundes - Professor - P. Alegre

Cooperativa Laborsul“É digno de nota o trabalho realizado

pela Cooperativa Social Laborsul, vinculada à Fundação de Apoio ao Egresso do Sistema Penitenciário. Seus associados trabalhadores, egressos do sistema penitenciário, desenvol-vem atividades manuais de precisão, onde, com o acompanhamento inovador de psicó-logos, no próprio local de trabalho, estão re-cuperando a auto-estima e despertando para ressocialização que os levará ao mercado de trabalho. Vislumbra-se, também, uma coo-peração de empresários ligados à ADCE, no sentido de ser ampliada a ação pioneira da Co-operativa LABORSUL.”Angelo Orofino - Engenheiro - Porto Alegre

Se as crianças já nascem “digitais”, a maioria das pessoas adultas ainda vive o estágio do fascínio diante das tec-nologias de informação e suas “infinitas” possibilidades

para a comunicação humana no século XXI. É um estágio infan-til ou adolescente pelo qual se passa, mas no qual não se pode ficar preso, para não se tornar ridículo. As mídias, sejam quais forem, são meios e como tais devem ser utilizados nas relações de comunicação entre humanos. Para que as pessoas continuem sendo isso mesmo: humanas! É um fenômeno até interessante observar que crianças e adolescentes, que nasceram na era di-gital, integram e absorvem melhor estas tecnologias que pesso-as de mais idade. Poderíamos dizer que assimilaram, vivem e se movem na cultura digital com toda a naturalidade. Fazem das mídias seus servidores que é o que elas, as mídias, devem ser.

No uso das modernas tecnologias pode-se aplicar o “tanto/quanto” de homens e mulheres sábios e santos que usaram as mídias das quais podiam dispor em seu tempo na medida e pro-porção que serviam ao que queriam.

No processo e pedagogia da evangelização, como ficam es-tes meios? Com o padre Jaques Szortyka podemos responder que a presencialidade “não tem preço! A internet, de modo ne-nhum, substitui a presença, um abraço, o olhos-nos-olhos. Nada e nunca a internet substituirá a presença do padre nas comuni-dades, em torno da mesa da Palavra e da Eucaristia. O padre deve fazer-se presente nas comunidades virtuais, usar as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), mas como ferra-mentas. Do contrário, vira padre de gabinete, monta uma ilha de edição para vídeos e textos e fica sem contato com as pesso-as. Com isso, mostraria que não entendeu nada ainda do que é o sacerdócio” (páginas centrais).

Já o professor universitário Luciano Sathler, diante das po-tencialidades para a evangelização das tecnologias de informa-ção e comunicação, é enfático. Para ele, o padre, o pastor ou outro líder religioso, não pode dar-se ao luxo de não entender as mudanças que a convergência digital oferece: “Não há como dialogar sem compreender a forma como as pessoas se comuni-cam, se informam e aprendem hoje em dia. Em meio a um tempo de crise as igrejas devem ter a coragem de se assumir como um eixo articulador de uma mensagem diferente, utilizando-se de todos os meios possíveis para difundir a fé, o discurso profético e a transformação que o mundo tanto carece” (centrais).

Na contracapa, o Solidário fala do que aconteceu na Usina do Gasômetro, onde a solidariedade pediu passagem e mostrou um pouco do muito que a Igreja, através de organismos e inicia-tivas muito diversas, vem realizando em favor “destes irmãos mais pequeninos”, com os quais o próprio Mestre se identifica (cf Mt 25,31 a 46). A Expofeira 100 anos de Solidariedade da Arquidiocese de Porto Alegre (2 a 6 de junho) foi apenas uma amostra de projetos sociais voltados para a criança, o amparo à família, geração de renda e emprego, proteção à saúde integral, atendimento a pessoas com deficiência, dependentes químicos, migrantes, etc.

Ainda na contracapa desta edição, o Solidário saúda o novo bispo de Santa Cruz do Sul/RS, Dom Canísio Klaus, que tomará posse da Diocese no próximo dia 18 de julho. Natural de Arroio do Meio, Dom Canísio estava servindo ao Povo de Deus como bispo de Diamantino/MT desde junho de 1998, tendo sido, inclusive, presidente do Regional Oeste 2 da CNBB de setembro de 2003 a maio de 2007. Dom Canisio substitui no cargo a Dom Sinésio Bohn, a quem agradecemos as constantes colaborações a este jornal. ([email protected])

Page 3: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

FAMÍLIA &SOCIEDADE 316 a 30 de junho de 2010

A relação torna-se mais instável

Se a relação marital pode ser de grande qua-lidade porque traduz uma intimidade profunda, também pode tornar-se mais instável, pois está continuamente sujeita a reavaliações. Se um dos membros do casal se sente enganado por uma ou outra razão, ele tende a substituir o outro por um companheiro mais compatível. Os cônjuges estão engajados num “projeto de construção de si mes-mos”, de construção de sua identidade, implican-do um permanente crescimento pessoal, por isso estão sujeitos a muitas avaliações e mudanças. Exigem respeito à individualidade e disso não abrem mão.

A taxa elevada de divórcios ou de separações, além de outros motivos, também pode ser um in-dicador da queda de um casamento que se reduzia a um projeto econômico ou de vivência do amor romântico, e caminha para um amor opcional e igualitário. Este requer democracia, igualdade e engajamento num projeto de construção de si.

A identidade vai se fazendo e refazendo...

Cada um dos companheiros está ciente de que pode fazer e refazer sua identidade. Nin-guém é um produto terminado, já que há uma permanente possibilidade de melhorar e de se realizar. A identidade tem um passado e um vir

A relação marital e parental na pós-modernidade

Deonira L. Viganó La RosaTerapeuta de Casal e de Família. Mestre em Psicologia

A sociedade pós-moderna é a modernidade avançada, aquela da família do hoje e do amanhã, profundamente atingida pelas revoluções da ciência, da

economia e do próprio entendimento de sociedade.Todas as relações pessoais, destacando-se as conjugais, sofrem profundas mudanças.

Na sociedade pós-moderna, não mais se aceita uma relação de dominação; a “ne-gociação” torna-se uma norma e tende a “democratizar” não somente as relações

entre os cônjuges, mas também entre pais e filhos. A relação entre marido e mulher é hoje baseada sobre um tipo de amor que permite às pessoas decidirem livremente

sobre como querem viver o dia a dia juntas, como será sua comunicação e como vão colaborar mutuamente.

Foi-se o tempo do casamento que mais parecia uma prisão de alta segurança, fechando-se, uma vez por todas, sobre a mulher. Atualmente, a relação entre dois adultos é opcional e igualitária. Os arranjos não mais são fixados por convenção,

mas trabalhados pelo casal sem medo do olhar dos outros e até mesmo do que dizem ou deixam de dizer. Seu objetivo não é mais satisfazer a ordem social, mas satisfa-

zer as necessidades e as aspirações pessoais.

a ser, e seu ponto central, a autenticidade, rara-mente é atingida de uma vez por todas. Tornar-se uma pessoa de modo próprio, e não somente na aparência, não é coisa fácil e nem mesmo definitiva.

Tudo aquilo que tende a impedir o cresci-mento da própria identidade torna-se insupor-tável na relação pós-moderna. Por isso, a inti-midade moderna é marcada por uma igualdade não somente econômica, mas também psíquica e afetiva. O poder desigual já não é aceito, e pode levar ao divórcio pois a pessoa luta por livrar-se do poder abusivo do outro.

A relação conjugal acontece entre dois

“eus” soberanosA idéia de ter uma vida para si é

relativamente nova para a mulher, sobretudo para as mães que desco-brem a possibilidade de cuidar do seu eu para não correr o risco de tornar-se o apêndice do outro.

As mulheres descobriram que o suporte contemporâneo da iden-tidade, depois da industrialização, é o trabalho remunerado. Não há, pois, a possibilidade para uma identidade de funcionar num vazio

social. As mulheres já não querem declarar-se dependentes e vulneráveis; elas reivindicam mais qualidades associadas tradicionalmente aos homens.

As mulheres não são mais somente esposas ou mães, mas cidadãs. Elas estão impondo progres-sivamente a democracia na esfera íntima como, antes delas, os homens na esfera pública. Os afa-zeres domésticos começam a perder, lenta mas seguramente, seu valor simbólico mesmo entre casais clássicos. Os homens cuidam as crianças e fazem o trabalho doméstico sem se sentirem diminuídos em sua identidade masculina.

O valor da igualdade tornou-se o princípio algébrico da democracia fora e dentro de casa.

Tanto que a partir dos anos 80, o uso do ter-mo “parentalidade” toma força, embora até hoje não se tenha clareza sobre sua conceituação. O termo traz embutido o sentido de “construção” (não se nasce pai ou mãe, a gente se torna pai ou mãe) e, segundo, traz o sentido de “indife-renciação”, isto é, o termo serve para os dois sexos; o que interessa é ser bons pais, pouco importando o sexo. Parentalidade é o processo através do qual nos tornamos pais do ponto de vista psíquico, conceito que abrange ambos os pais.

Isto é indicador da morte de papéis este-reotipados e do surgimento de papéis novos, inventivos e originais para ambos os cônjuges.

Billy Alexander

Page 4: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

O PINIÃO 4 16 a 30 de junho de 2010

“Sonhar não é fugir da realida-de, mas cultivar a arte de ver um pouco mais adiante”.

Sonhar

Frei Ivo BortoluzPároco da Par. Sant. Sacramento e Igreja S. Terezinha

No meio de tantos desencantos, nunca perca o en-canto pela vida!

Sonho?.. Utopia?.. Alienação?... Romantis-mo?...lnfantilidade?... Sem entramos em dimensões pro-fundamente teológicas, você não acha que a Páscoa de Jesus só aconteceu, porque Ele foi um grande sonhador?... Sonhou que era possível um mundo novo e diferente! So-nhou o sonho de que poderíamos nos amar e de viver como irmãos e irmãs! Sonhou o sonho de que a gente poderia servir, ajudar e partilhar! Sonhou o sonho de que a gente deveria e poderia perdoar, assim como o Pai nos perdoa!

Sonhar, não é fugir da realidade. Sonhar, não é ser um alienado. Sonhar, não é viver um romantismo infan-til. Sonhar, é ter a capacidade de olhar um pouco além. Sonhar, é cultivar a arte de ver um pouco mais distante. Sonhar, é nunca perder o entusiasmo, pelo horizonte que você sonha, mesmo que os seus pés estejam machucados num chão podre, corrupto, falso, desonesto, mentiroso.

Claro que Jesus sabia do sofrimento que Ele iria en-frentar... das injúrias pelas quais Ele iria passar... da dor que Ele teria que sofrer... das decepções que Ele iria sentir...

Mesmo tendo consciência de tudo isso, Jesus nunca deixou de sonhar o sonho de uma vida nova, diferente, transformada. Quando Jesus fala: "olhe, gente, no pas-sado era assim... mas hoje eu vos digo..." Ao fazer esta afirmação, Jesus está abrindo as portas para que a Páscoa possa acontecer.

Só quem acredita, é capaz de sonhar... só quem acredita, é capaz de se lançar... só quem acredita, é capaz de gastar sua vida por amor. Só quem acredita é capaz de fa-zer a Páscoa âcontecer.

E não adianta querer negar, pois toda pessoa que sonha é tida, por muitos, como um louco. Um louco que poucos ou quase ninguém entende. Mas é uma loucura que faz o sonhador feliz, mesmo que por causa desta loucura ele tenha que enfrentar mil e um sofrimen-tos. É uma loucura que, por não ser entendida, acaba por escandalizar aos que não conseguem sonhar, mas não tira o pique de quem continua animado pelo sonho que tem pela frente.

Será que a loucura de Francisco de Assis foi uma per-da de tempo, quando ele sonhou uma Igreja diferente, mais limpa, mais fiel a Jesus, mais fraterna e largou tudo por causa deste sonho? Será que a loucura de um Gandhi foi uma perda de tempo, quando sem raiva, sem violên-cia, ele conseguiu abrir caminhos para a libertação de seu povo?! Será que a loucura de um Marthin Luther King foi uma perda de tempo quando ele sonhou o sonho de uma igualdade e quase 50 anos depois, o seu sonho se mate-rializa com um presidente negro?! Será que a loucura de uma Zilda Arns foi perda de tempo, quando através de seu sonho são salvas milhares de vidas em todos os recantos?!

Sem fugir da realidade, sem tirar os pés do chão da vida, sem cair em fanatismos, sem buscar soluções mila-grosas que alienam, faça a Páscoa acontecer, sonhando o sonho de uma vida nova, diferente e transformada.

Junte suas mãos, abra seu coração, estenda seus bra-ços e com a "cera da esperança e da boa vontade," faça uma vela-luz surgir, iluminando e animando a todos, para acreditarem que é possível construirmos um mundo novo, diferente, se nós não perdermos a capacidade de sonhar do jeito que Jesus sonhou. E o sonho de Jesus não termi-nou no calvário. Seu sonho se plenificou e completou com a Páscoa da Ressurreição.

Sermão proferido pelo sacerdote por ocasião da Páscoa 2010.

Antônio E. AllgayerAdvogado

Num momento histórico em que potências mundiais vêm sendo assoladas por severa crise financeira é de estranhar que décadas

após a abolição da escravatura pelo governo Lin-coln, os afrodescendentes ainda não deixavam de ser discriminados Eis que o jovem e carismático se-nador Barack Obama, filho de pai negro e mãe bran-ca, acaba de ser guindado à suprema magistratura do país mais poderoso do mundo.

Após a vitória nas urnas tem continuado a pro-nunciar o slogan ”we can” ( nós podemos) usado na campanha eleitoral, para significar a cidadãos tíbios ou catastrofistas que um mundo diferente está por acontecer.

Paradoxalmente tal aceno a mudanças inovado-ras sucede enquanto uns poucos indivíduos, abro-quelados atrás de um capitalismo selvagem, acu-mulam incomensuráveis fortunas, em detrimento de multidões despossuídas, famintas e miseráveis, as quais, segundo avaliação aproximativa, perfazem dois terços da humanidade.

Com a implosão da União Soviética e a derru-bada do muro de Berlim atenuou-se ou se extinguiu de vez a guerra fria entre potências hegemônicas. Mas, em contrapartida, recrudesceu assustadoramente a vio-lência privada. Com a impotência dos órgãos estatais incumbidos de pôr cobro à criminalidade, continua campeando a impunidade. Abstenho-me de descrevê-la, porquanto as leitoras e os leitores que por engano me estejam lendo, certamente já terão sofrido na pele e na carne, como eu tenho sofrido, a violência nas ruas, nos lares, em locais reservados ao grande público.

A tais fatos somam-se perversos atentados à vida no planeta Terra, através da destruição de ni-chos ecológicos e o desmantelamento de florestas úmidas. São práticas demolitórias de que resultaram mudanças climáticas seguidas de inundações e des-

alegria e promessa de um mundo diferente

lizamento de terra em encostas montanhosas. Isto posto, em acréscimo ao consumismo autofágico e a uma tecnologia a serviço de empreendimentos infensos à biosfera, cabe perguntar se é admissível falar, sem ofensa ao bom senso, em alegria, espe-rança ou na promessa de “novos céus e uma nova terra”( 2 Pd 3, 13).

É precisamente na Bíblia, que se encontra res-posta a tão graves indagações.

São Paulo, o combativo Apóstolo das Gentes, em plena “Pax Romana” inaugurada por César Augusto nos primórdios da era cristã, do fundo de um cala-bouço endereçou a pagãos e judeus de Filipos por ele evangelizados esta mensagem: “Sede alegres, ale-grai-vos sempre no Senhor. ” Sempre, disse Paulo, ou, em outra versão, o tempo todo. Paulo intuíra que pode haver alegria em meio a acerbas tribulações. E, nas entrelinhas de suas grandes epístolas teológicas, denota-se que para ele a alegria não surge por gera-ção espontânea, qual flor que brota num monturo ou no deserto. Sendo uma virtude a depender da vonta-de do sujeito, precisa ser cultivada como planta frágil necessitada de cuidados permanentes.

O ensinamento e a prática de Jesus nos fazem ver que Deus quer que todos tenham vida e vida em abundância. Vida abundante não rima com tristeza. Em oração ao Pai manifestou o desejo de que a sua alegria esteja nos seus, a fim de que a possuam em plenitude (Jo 17,13). Atentemos para esta advertên-cia bíblica: “Não te deixes dominar pela tristeza e nem te aflijas com teus pensamentos. A alegria do coração é a vida do homem. A alegria do homem au-menta os seus dias. Ilude tuas inquietações, consola teu coração, afasta de ti a tristeza, porque a triste-za matou a muitos e nela não há utilidade alguma” (Eclo 3O, 21-23).

Victor Emill Frankl, autor da Logoterapia, saído vivo dos campos de extermínio nazistas, diz em seu livro “Psicoterapia para Todos” que supera a tristeza quem encontra ou reencontra o sentido da vida.

Carmelita Marroni AbruzziProfessora universitária e jornalista

Confesso que hesitei quanto ao título deste ar-tigo. Não gosto da conotação, por vezes pejo-rativa, que se sente em parte da sociedade em

relação ao termo idoso. Mas o assunto se refere exa-tamente a essa faixa etária. A média da vida humana vem aumentando regularmente nos últimos anos, no mundo todo e no Brasil; anuncia-se, por exemplo, que em 14 anos São Paulo terá mais idosos do que crianças.

Tais dados nos remetem a várias questões re-lacionadas com idosos e sua expectativa de vida. Entre elas, as discutidas pelos governos e órgãos de previdência quanto ao número de anos de trabalho, aposentadoria e recursos financeiros. Cogita-se, até, de mudar a faixa da terceira idade, considerando seu início a partir dos 65 ou 70 anos.

Outros enfoques vão surgindo: não se pode mais pensar no idoso apenas como objeto ou centro de ações destinadas a assisti-los, a protegê-los. Há mui-tos chamados idosos que estão em pleno vigor de sua saúde e de suas faculdades mentais, gente que se apo-sentou e dispõe de muito tempo livre e que, às vezes, não sabe sequer como empregá-lo.

Há aqueles que apenas se preocupam com ativi-dades prazerosas, que, sem maiores repercussões no social, em nada contribuem para melhorar o mundo em que vivem: “Trabalhamos muito, dizem eles, fize-mos muitos sacrifícios, agora merecemos descansar.”

Isto é natural e justo, porque após anos e anos

idosos e ações solidáriassujeitos a horários e regulamentos, querem dispor de tempo para atividades que não puderam desenvolver antes. Afinal, todos temos sonhos e projetos que a aposentadoria talvez nos ajude a concretizar.

Mas como hoje são bem mais longos esses anos, seria bom a gente pensar num plano de vida para essa nova etapa. Vamos dedicar mais tempo aos nossos “hobbies”, a viagens, a cursos e novas aprendiza-gens? Tudo bem. Porém, ainda haverá espaço para olharmos ao nosso redor e observar que há pessoas que precisam de atenção, como aquelas esquecidas em asilos, orfanatos, hospitais e, até, em casas de ge-riatria de um certo luxo.....

Há excelentes associações, instituições e campa-nhas que visam a educar o povo, provocar mudanças de comportamento, influir na qualidade de vida da comunidade. E aí a contribuição dos idosos com sua sabedoria, sua experiência de vida é insubstituível.

Há tanto para ser feito. O Senhor nos entregou um mundo para construirmos e nos deu maior nú-mero de anos e disponibilidade de tempo. Se temos condições de saúde, com algum entusiasmo podere-mos engajar-nos em ações voluntárias e lembrar que “a Messe é grande e os operários são poucos”.

E, então, poderemos olhar dentro de nós e inter-rogar-nos:

– Será que temos o direito de empregar egoisti-camente esses preciosos anos a mais que nos foram dados, “matando o tempo”, ao invés de ocupá-los em algo que pode deixar nossa marca positiva nes-se mundo em permanente construção/reconstrução? ([email protected])

Críticas à Igreja

Page 5: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

EDUCAÇÃO &PSICOLOGIA 5

Divulgação

16 a 30 de junho de 2010

Jorge La RosaProfessor universitário

“Toda a religião, incluída a cristã, precisa do bom senso e da permanente vigilân-cia da sã razão. O fato de o cristianismo

basear-se na revelação divina não o isenta da crítica... Quando a religião

rejeita a crítica, sujeita-se ao fideísmo, abrindo as portas para fundamentalismos

e fanatismos...” (Urbano Zilles. Crítica à Religião, p. 7).*

Primeira observação a ser feita é que a re-ligião pretende mediar relações entre o homem e Deus, e para fazê-lo, institu-

cionaliza-se, organiza-se, buscando atingir seus fins. Problema perene de qualquer religião será sua institucionalização, que se dará sempre em momento histórico determinado e em contexto social específico. E disto não pode fugir.

Aqui começam os problemas. Primeiro, a incapacidade de distinguir entre o elemento or-ganizacional/institucional – sempre meio para atingir fins – e o fim da instituição religiosa que é a glorificação de Deus e a salvação dos seres humanos. Os ritos, a disciplina, normas litúrgi-cas podem mudar, mas isto não implica em mu-dança da fé. Há pessoas que lutam, e muito, para modificar a organização porque ela muitas vezes engessa-se em suas formas cultuais, normas e leis, e acaba por dificultar e impedir o alcance de sua finalidade essencial. João XXIII, profeta que vislumbrou com rara lucidez esse problema da Igreja, convocou o Concílio Ecumênico para atualizar a Instituição, adequando-a ao tempo e espaço. Esse trabalho é diuturno, não cessa, por-que os tempos evoluem e a Organização corre sempre o risco de tornar-se anacrônica e não res-ponder ao homem contemporâneo.

Nos tempos de São PauloSão Paulo viveu esse problema no primeiro

século, com os cristãos de origem judaica que queriam impor seus ritos, leis e costumes aos cristãos de outras origens. Pau-lo, paladino da liberdade e cons-ciente do enraizamento cultural e histórico de qualquer religião, reagiu opondo-se a essa ban-deira e propondo para os novos tempos novo horizonte religioso, sem essas velhas normas e costu-mes que nada diziam aos cristãos de outras culturas e espaços geo-gráficos.

Hoje, o que poderíamos dizer da organização eclesial? Lendo diversos autores e ouvindo di-versos grupos, há clamor, entre

EDUCAÇÃO E FÉ

outras coisas, contra a uniformidade de ritos, normas e leis e o centralismo no Vaticano no que concerne ao governo da Igreja.

No que se refere à uniformidade de ritos, é preciso ter presente a dimensão missionária da Igreja e a necessidade de inculturação do Evan-gelho que se manifestará também nos rituais diferenciados dos diversos povos e culturas – o que é dito pela Sacrosanctum Concilium. O ritu-al eucarístico na Escandinávia, na Europa Meri-dional, na América Latina e na do Norte continua sendo rigorosamente o mesmo, como se fossem povos de mesma sensibilidade e cultura. Até o presente, contudo, não temos observado que a norma do Concílio tenha sido posta em prática, diferenciando a celebração da eucaristia confor-me tempos e lugares – o que é pena e prejuízo para a Igreja em termos de evangelização. O do-cumento citado (nº 37) também afirma: “A Igreja não deseja impor na Liturgia uma forma rígida e única para aquelas coisas que não dizem res-peito à fé...” Os cristãos esperamos celebrações que não estejam engessadas, como não o foi a celebração da quinta-feira santa presidida por Je-sus. Os mais jovens sentem mais essa rigidez, e isso muitas vezes os afasta das práticas rituais. O Concílio ouviu o clamor do povo, vamos pôr em prática?

ParticipaçãoOutro aspecto a ser considerado é a parti-

cipação do povo na missa, houve avanços em relação aos tempos do latim. E significativos.

Observamos que a comunidade quer parti-cipar mais ainda – o que é muito bom! Assim, certas comunidades rezam junto com o presi-dente da assembléia a Oração da Paz, aquela antes da comunhão, e o “Por Cristo, com Cris-to,...” Já observei também celebrações em que o presidente convida o povo a rezar junto a ora-ção inicial, depois do Glória, e aquela depois da Comunhão – e o povo, quanto mais participa, mais feliz saí do templo. Ora, a própria Sacro-sanctum Concilium diz: “Com esta reforma... o povo cristão possa... também participar plena e ativamente da celebração comunitária” (nº23). Ou seja, o Concílio não só abriu espaço para essa maior participação (plena), mas determi-na que se realize. O que falta? Que as rubricas sejam modificadas e ampliem a participação da comunidade – além do que aqui foi menciona-do.

Para a glória de Deus e alegria da comuni-dade!

*Urbano Zilles é doutor em Teologia, professor na PUCRS

Críticas à Igreja

Page 6: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

TEMA EM FOCO 6 716 a 30 de junho de 2010

ConectadoNatural do município de Guaíba, onde nasceu há 34 anos, Pe. Ja-

ques usa as ferramentas da informática como auxiliares de evangeli-zação.

Solidário – Que vantagens vê no uso da internet para a sua missão?

Pe. Jaques - Bento XVI frisa muito a necessidade de usar todos os meios que estão à disposição para levar adiante a mensagem do evan-gelho. Pela internet chega-se na vida de muitas pessoas e em locais muito distantes. O cyberespaço não tem geografia.

S – O senhor tem seu blog, participa do Facebook, Twiter e Orkut. Como é o retorno?

Jaques – Olho todos os dias. No Orkut tem gente perguntando o ho-rário da missa, horário em que aten-do confissões. Há pedidos – cujo acesso é exclusivo meu – de con-selhos espirituais. São pessoas que não conseguem dispor de um tempo para vir aqui conversar. Uso o MSN ou até mesmo o e-mail.

S – E a presencialidade, a viva voz, na liturgia da palavra e na animação da comunidade?

Jaques - Não tem preço! A in-ternet, de modo nenhum, substitui a presença, um abraço que vou dar em meus pais quando os visito. Por mais torpedos que mando para a mãe dizendo que estou com sauda-des, nada tem o valor de dizer isso, olhando nos olhos. Nada e nunca a internet substituirá a presença do padre na comunidade, em torno da mesa da palavra e da eucaristia. É diferente ler a palavra de Deus no monitor do notebook ou do desktop. Nada como celebrar a palavra de Deus na comunidade reunida.

S - No meio termo, a virtude!Jaques – Exato. O padre deve fazer-se presente nas comunidades

virtuais, usar as TIs mas como ferramentas. Do contrário, vira padre de gabinete, monta uma ilha de edição para vídeos e textos e fica sem contato com as pessoas. Com isso, mostraria que não entendeu nada ainda do que é o sacerdócio.

Evangelizar no espaço cibernético: o padre e as tecnologias de informação

Há dois mil e quinhentos anos, os cavalos e os gritos levavam notícias e mensagens para as lonjuras. Ciro, o Grande, rei da Pér-sia, inaugurava um sistema de correios ininterrupto que consistia em revezamentos sucessivos dos melhores ginetes da cavalaria

persa. Também oferecia outro serviço – este mais caro – que trabalhava a gritos: de voz em voz, as palavras atravessam as monta-nhas. Hoje, em tempos da rede mundial de computadores, a carta eletrônica dá duas voltas ao redor do mundo em um segundo. E nesse

mesmo espaço cibernético milhões de pessoas estão conversando ou se visitando 24 horas por dia através de sites, blogs, miniblogs – twitter – e redes sociais e cujos participantes passam de um bilhão de pessoas a trocar vídeos, fotos ou votos de aniversário. Só o Face-book tem 400 milhões de usuários – mais que o terceiro país mais populoso do mundo – entre sete e 70 anos, de skatistas e banqueiros

de investimento, que se ‘conhecem’, se ‘encontram’ virtualmente. E o padre? Como deve se situar nesse ‘sexto continente’? É possível evangelizar e como fazê-lo através da internet? Qual a im-portância da virtualidade na transmissão da Boa Nova e até que ponto o sacerdote deve aderir e adotar as atuais TIs – tecnolo-gias de informação – para o exercício de seu ministério? Jesus, que privilegiava o presencial, lançaria mão desses meios? “É!

Está todo mundo on line. E o padre deve cuidar para não ficar off line”, diz o Pe. Jacques Szortyka Rodrigues, há 10 meses pároco da Paróquia da Catedral de Porto Alegre.

Luciano SathlerProfessor universitário*

A convergência digital rompe as fronteiras dos meios de comunicação de massa e permite a individualização da produção ou consumo da infor-mação. A informática e a internet se misturam aos veículos tradicionais.

Rapidamente se popularizarão aparelhos que mesclam as funções de televisão, rádio, computador, livro e telefone celular, por exemplo. As igrejas que não se apropriarem das possibilidades abertas por esse movimento tendem a se tornar inócuas ou museus vivos, reduzidas pouco a pouco no número de seus fiéis e influência.

Para pensar comunicação e religião é preciso saber que as manifestações visíveis de religiosidade são diversas, por meio das quais se revela o objeto sa-grado. Essas compreendem o objeto cultual, os espaços sagrados onde o culto acontece, os tempos sagrados, a ação sagrada, a palavra sagrada, mulheres sa-gradas, homens sagrados e comunidades sagradas. Especialmente, a palavra dita (sabendo que o silêncio também pode ser sagrado e dizer muito) e a palavra es-crita, expressões que ajudam a difundir e perpetuar o que precisa ser anunciado .

Perenidade da comunicação escritaO sagrado é aquilo que é dedicado a uma função religiosa, o que no cristianismo

aponta obrigatoriamente atos de piedade (a relação com Deus) e atos de misericór-dia (a relação com o próximo). Religião cristã é antes e acima de tudo experiência vivida, ação que remete a uma vida diferente do contexto no qual os fiéis se inserem.

O sagrado se manifesta no tempo e no espaço, por meio de uma multiplicidade de formas, pela iniciativa do que lhe é central, o Mistério que inspira toda espiritua-lidade. Desde sempre a comunicação escrita tem auxiliado na preservação e difusão do sagrado, seja por meio das epístolas, evangelhos, demais livros da Bíblia ou textos teológicos, dentre outros. Lembrando ainda a importância das artes plásticas, atos ritualísticos e a música como elementos fundamentais de sedimentação dos fundamentos doutrinários e de costumes defendidos pela religião, especialmente em tempos de pouco letramento por parte da população.

Novas tecnologias de informação As décadas recentes têm demonstrado que a religiosidade pode ser fortalecida

pelos meios de comunicação de massa, tais como jornais, revistas, rádios e televi-são. As igrejas costumam adotar as tecnologias de informação e comunicação (TIC) mais tarde que as empresas, mas quando o fazem podem demonstrar excepcional competência para mobilizar multidões, embaladas por discursos convincentes e emocionantes.

Tanto para o bem quanto para o mal, as TIC têm servido a vários líderes reli-giosos, sejam eles leigos ou sacerdotes consagrados oficialmente por alguma igreja. Quem se dispõe a adotar a comunicação para além do púlpito sabe quão desafiador é manter uma rádio, um jornal ou um programa de televisão. Exige dedicação, dinheiro e criatividade para não cair no mesmo problema dos templos vazios, cuja audiência diminui à proporção em que a burocracia se instala, a mesmice toma con-ta, quando os atos religiosos passam a ser automatizados, o ritual se torna oco e as pessoas se percebem em meio a ladainhas hipnóticas imobilizadoras.

As exigências pertinentes à sustentação dos veículos de comunicação de massa são as mesmas em todo lugar, independente de estarem a serviço de uma religião organizada ou não. A premência da novidade toma conta. Misturam-se os limites entre o que é mero entretenimento, que acomoda, e a mensagem religiosa transfor-madora, que consola e anima à mudança.

Os líderes religiosos à frente de programas de comunicação podem facilmente cair na tentação da personalidade narcísica , com uma excepcional dose de auto-referência, necessidade de se perceberem sempre amados e apreciados pelo outro, com uma vida emocional superficial, sentindo pouca empatia verdadeira com a rea-lidade de quem os cerca, com fantasias de grandeza e entediados quando a fachada externa perde seu brilho.

Religião, comunicação e conveRgência digital

Meios de comunicação de massa Um para muitos Rádios comunitárias Alguns para muitos Redes sociais de comunicação Muitos para muitos Convergência digital Todos para todos

É possível ser padre, pastor ou outro tipo de líder

religioso e se dar ao luxo de não entender as mudanças trazidas pela

convergência digital?Definitivamente, não. Pela simples razão que a religiosidade difusa e a espi-

ritualidade não institucionalizada tendem a crescer nesse contexto. Não há como dialogar sem compreender a forma como as pessoas se comunicam, se informam e aprendem hoje em dia.

É possível ser padre, pastor ou ou-tro tipo de líder religioso e não ado-tar as possibilidades trazidas pela

convergência digital?

Sim. Mas é preciso ter consciência do quanto está se desperdiçando ótimas chances de se aproximar dos fiéis e potenciais fiéis. Em meio a um tempo de crise, as igrejas devem ter a coragem de se assumirem como um eixo articulador de uma mensagem diferente, utilizando-se de todos os meios possíveis para difundir a fé, o discurso profético e a transformação que o mundo tanto carece.

Convergência digitalPor outro lado, a convergência digital traz possibilidades variadas da comuni-

cação ser mais personalizada e participativa. As redes sociais de comunicação são baseadas na internet e permitem o tra-balho colaborativo, descentralizado e não hierarquizado. As ferramentas de comunicação online (e-mail, comuni-cação instantânea, videoconferência etc) facilitam a relação entre pares e faz aumentar a busca de informações confiáveis com base na experiência dos outros. Os mecanismos de comu-nicação móvel, tais como telefones celulares, I-Pad, I-Phone, netbooks, notebooks e outros, passam a ser tam-bém repositórios de músicas, imagens e outras informações. A computação nas nuvens potencializa a capacidade de armazenamento e uso de recursos informacionais. As páginas pessoais na WEB, tais como blogs, tornam cada indivíduo um potencial jornalis-ta ou escritor. O quadro a seguir dá alguns exemplos de como a produção e o consumo da informação se modi-ficam com os avanços crescentes das TIC.

Luciano Sathler

Pe. Jacques Rodrigues

* Presidente da Asociación Mundial para la Comunicación Cristiana (WACC)

Page 7: Jornal Solidario - 2ª Quinzena JUN/2010

SABER VIVER 8

Dicas deNUTRIÇÃO

Dr. Varo Duarte Médico nutrólogo e endocrinologista

Nutrição Normal

16 a 30 de junho de 2010

Visa e Mastercard

JOSY M. WERLANG ZANETTE

Técnicas variadasAtendemos convênios

CRP-07/15.236Avaliação psicológica

Poucos assuntos afligem mais os pais do que ter que falar sobre morte com seus filhos pequenos. O tema ainda é tratado como tabu em muitas famílias, que para evitar que a criança sofra com a perda de algum parente ou amigo, usa de vá-rios artifícios para justificar sua ausência. Tal comporta-mento é criticado por psicó-logos e psicopedagogos que afirmam que os pais devem tratar o assunto com natu-ralidade e, principalmente, sempre dizer a verdade a seus filhos.

Segundo a pedagoga e psicóloga Maria Grupi, a morte só é impactante para aqueles adultos que não ti-veram a oportunidade de trabalhar estas questões quando crianças. Para ela, a melhor forma de abordar o assunto é explicando às crianças sobre o ciclo da vida. "As crianças precisam aprender que todos os seres vivos, sejam bichos, plantas ou homens morrerão um dia para dar lugar a outros seres vivos", afirma.

Leia abaixo respostas da psicóloga Maria Grupi para algumas questões:

É correto afirmar que apenas as pessoas mais ido-sas morrem?

Não. É importante que a criança entenda quais mo-tivos levam uma pessoa à morte: velhice, uma doença de difícil cura ou um aci-dente. Uma criança pode morrer também? Pode, mas

Vovô virou uma “estrelinha”

deve-se frisar que isto é algo muito raro.

E para a pergunta "para onde as pessoas vão depois de mortas?". O que responder?

A explicação para esta questão deve acompanhar a crença de cada um. Há os que acreditam na ressurrei-ção e na vida eterna (céu), os que creem na reencarna-ção e também os que acham que a morte é o fim. Se o pai não tem uma crença defi-nida, isto também deve ser dito à criança. Falar que vi-rou uma estrelinha é adiar o problema, já que, no futuro, os pais serão questionados sobre isso pelos filhos, que ao saberem que foi uma his-tória inventada, passarão a não mais confiar nas respos-tas dadas pelos pais.

A criança deve ser le-vada a um velório?

As crianças devem, sim, ver como é um velório e um enterro. Não há a necessi-dade de ficar muito tempo nestes eventos, mas devem saber e ver o que acontece nestes momentos, sempre da forma mais tranquila e respeitosa possível.

No caso de alguém mui-to doente, também é im-portante que a criança faça visitas regulares, a fim de ter a oportunidade de acom-panhar a evolução da doen-ça. Assim, os pais terão um aliado, no caso de um futuro falecimento, que é a própria observação da criança.

Como vivenciar o luto?

A saudade da crian-ça por alguém que morreu deve ser tratada como algo absolutamente normal pelos pais, assim com a vonta-de de chorar quantas vezes quiser. Todos devem viver o luto profundamente.

Voltamos a defender os princípios básicos da nutrição normal, que descrevemos em nossos livros publicados pela Editora Artes e Ofícios:

Nutrição e obesidade - Coma de tudo sem comer tudo - Alimentos funcionais.

Sugerimos aos leitores e estudiosos de nutrição, médicos, nutricionistas, professores de Educação Físi-ca e estudantes dessas áreas que a atualização comple-ta pode ser obtida pela aquisição conjunta, do pacote Coma de tudo sem comer tudo + Alimentos funcio-nais, em suas últimas edições.

Inicialmente, desejo me posicionar sobre dois tópi-cos que provocaram reação generalizada, pela força de seus personagens, ambos médicos, em programas de televisão e na mídia impressa.

Primeiro: Nutrição da Gestante, proibindo o uso de frutas e verduras na alimentação da gestante no último trimestre da gravidez, pelo perigo de provocarem pos-síveis lesões cardíacas no concepto.

Revisando a literatura e consultando pessoas atua-lizadas no setor, nada foi encontrado que comprovas-sem estas afirmativas, inclusive publicadas em perió-dico médico, como pesquisa realizada no Instituto de Cardiologia.

O Conselho de Medicina-CREMERS estuda, atra-vés de sua Câmara Técnica de Nutrologia, um pronun-ciamento oficial sobre o assunto.

Minha opinião: nada existe, na literatura médica, comprovando esta afirmação.

Mais estresse e depressão

Doenças relacionadas ao estresse e ao transtorno de humor, como episódios depressivos recorrentes, encabeçam a lista de trans-tornos mentais e compor-tamentais que mais afasta-ram trabalhadores em 2009. Juntas, equivalem a 12.277 auxílios-doença acidentários nessa categoria - 91% dos concedidos pelo Ministério da Previdência em 2009. São pessoas que não só ado-eceram mas também ficaram incapacitadas (temporaria-mente) para o trabalho, diz a funcionária do Ministério, Maria Maeno. Mesmo as-sim, afirma ela, essa soma-tória está mascarada. Inclui apenas casos reconhecidos pela perícia do INSS. Muita gente incapacitada está tra-balhando, na esfera privada e na pública, diz.

Alguns se escondem com receio de ser estigmati-zados, esclarece o psiquiatra Kalil Duailibi. Temem ser demitidos ou ter o salário reduzido, acrescenta o psi-quiatra Catulo César Barros, do Hospital Nove de Julho.

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SABER VIVER 8

Dicas deNUTRIÇÃO

Dr. Varo Duarte Médico nutrólogo e endocrinologista

Nutrição Normal

16 a 30 de junho de 2010

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Poucos assuntos afligem mais os pais do que ter que falar sobre morte com seus filhos pequenos. O tema ainda é tratado como tabu em muitas famílias, que para evitar que a criança sofra com a perda de algum parente ou amigo, usa de vá-rios artifícios para justificar sua ausência. Tal comporta-mento é criticado por psicó-logos e psicopedagogos que afirmam que os pais devem tratar o assunto com natu-ralidade e, principalmente, sempre dizer a verdade a seus filhos.

Segundo a pedagoga e psicóloga Maria Grupi, a morte só é impactante para aqueles adultos que não ti-veram a oportunidade de trabalhar estas questões quando crianças. Para ela, a melhor forma de abordar o assunto é explicando às crianças sobre o ciclo da vida. "As crianças precisam aprender que todos os seres vivos, sejam bichos, plantas ou homens morrerão um dia para dar lugar a outros seres vivos", afirma.

Leia abaixo respostas da psicóloga Maria Grupi para algumas questões:

É correto afirmar que apenas as pessoas mais ido-sas morrem?

Não. É importante que a criança entenda quais mo-tivos levam uma pessoa à morte: velhice, uma doença de difícil cura ou um aci-dente. Uma criança pode morrer também? Pode, mas

Vovô virou uma “estrelinha”

deve-se frisar que isto é algo muito raro.

E para a pergunta "para onde as pessoas vão depois de mortas?". O que responder?

A explicação para esta questão deve acompanhar a crença de cada um. Há os que acreditam na ressurrei-ção e na vida eterna (céu), os que creem na reencarna-ção e também os que acham que a morte é o fim. Se o pai não tem uma crença defi-nida, isto também deve ser dito à criança. Falar que vi-rou uma estrelinha é adiar o problema, já que, no futuro, os pais serão questionados sobre isso pelos filhos, que ao saberem que foi uma his-tória inventada, passarão a não mais confiar nas respos-tas dadas pelos pais.

A criança deve ser le-vada a um velório?

As crianças devem, sim, ver como é um velório e um enterro. Não há a necessi-dade de ficar muito tempo nestes eventos, mas devem saber e ver o que acontece nestes momentos, sempre da forma mais tranquila e respeitosa possível.

No caso de alguém mui-to doente, também é im-portante que a criança faça visitas regulares, a fim de ter a oportunidade de acom-panhar a evolução da doen-ça. Assim, os pais terão um aliado, no caso de um futuro falecimento, que é a própria observação da criança.

Como vivenciar o luto?

A saudade da crian-ça por alguém que morreu deve ser tratada como algo absolutamente normal pelos pais, assim com a vonta-de de chorar quantas vezes quiser. Todos devem viver o luto profundamente.

Voltamos a defender os princípios básicos da nutrição normal, que descrevemos em nossos livros publicados pela Editora Artes e Ofícios:

Nutrição e obesidade - Coma de tudo sem comer tudo - Alimentos funcionais.

Sugerimos aos leitores e estudiosos de nutrição, médicos, nutricionistas, professores de Educação Físi-ca e estudantes dessas áreas que a atualização comple-ta pode ser obtida pela aquisição conjunta, do pacote Coma de tudo sem comer tudo + Alimentos funcio-nais, em suas últimas edições.

Inicialmente, desejo me posicionar sobre dois tópi-cos que provocaram reação generalizada, pela força de seus personagens, ambos médicos, em programas de televisão e na mídia impressa.

Primeiro: Nutrição da Gestante, proibindo o uso de frutas e verduras na alimentação da gestante no último trimestre da gravidez, pelo perigo de provocarem pos-síveis lesões cardíacas no concepto.

Revisando a literatura e consultando pessoas atua-lizadas no setor, nada foi encontrado que comprovas-sem estas afirmativas, inclusive publicadas em perió-dico médico, como pesquisa realizada no Instituto de Cardiologia.

O Conselho de Medicina-CREMERS estuda, atra-vés de sua Câmara Técnica de Nutrologia, um pronun-ciamento oficial sobre o assunto.

Minha opinião: nada existe, na literatura médica, comprovando esta afirmação.

Mais estresse e depressão

Doenças relacionadas ao estresse e ao transtorno de humor, como episódios depressivos recorrentes, encabeçam a lista de trans-tornos mentais e compor-tamentais que mais afasta-ram trabalhadores em 2009. Juntas, equivalem a 12.277 auxílios-doença acidentários nessa categoria - 91% dos concedidos pelo Ministério da Previdência em 2009. São pessoas que não só ado-eceram mas também ficaram incapacitadas (temporaria-mente) para o trabalho, diz a funcionária do Ministério, Maria Maeno. Mesmo as-sim, afirma ela, essa soma-tória está mascarada. Inclui apenas casos reconhecidos pela perícia do INSS. Muita gente incapacitada está tra-balhando, na esfera privada e na pública, diz.

Alguns se escondem com receio de ser estigmati-zados, esclarece o psiquiatra Kalil Duailibi. Temem ser demitidos ou ter o salário reduzido, acrescenta o psi-quiatra Catulo César Barros, do Hospital Nove de Julho.

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16 a 30 de junho de 2010 ESPAÇO LIVRE 916 a 30 de junho de 2010

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A vidA ArtificiAl: um debAte necessário, sem ArtificiAlismos

Afonso MottaAdvogado e produtor rural

A referência religiosa predomi-nante de que o homem vem de Deus, tantas vezes questionada

pelos estudos que buscam a origem da vida, agora se depara com a descoberta do geneticista americano Craig Venter, pela criação de um organismo com DNA sintético. A experiência, que utilizou mi-cróbios comuns e substâncias químicas durante 10 anos, conseguiu obter a re-produção a partir de um genoma sinté-tico. Em resumo, como se fosse possível simplificar no campo científico, estamos diante de um primeiro passo para criação da vida em laboratório.

É o avanço tecnológico oferecendo inovações e o próprio homem buscando incessantemente o conhecimento para ter todas as repostas para tudo. Na reali-dade, quanto mais avança o nosso desen-volvimento científico, novas indagações vêm surgindo.

O que causa maior perplexidade ain-da, a partir da criação da célula sintética, é a possibilidade de ajustar suas funções, criando organismos com diversas finali-dades que podem redundar em avanços para o bem da humanidade, mas que também podem se transformar em de-vastadoras armas biológicas.

Esta é a razão pela qual a grande ques-tão que a sociedade deve colocar diante do fato é a forma como esta descoberta vai ser aplicada no futuro e a sua efetiva contribuição para o destino da humani-dade. Antes da exploração econômica que nos tempos atuais tem se apropria-do do conhecimento, com a finalidade de obter a maior remuneração, devemos aprofundar as repercussões éticas e so-ciais, que possam colaborar para o maior de todos os desafios da humanidade nes-te estágio da trajetória humana que está relacionado com os valores e referências civilizatórias que garantam o respeito à pessoa e sua dignidade.

Dentre tantas questões transcenden-tais como aquelas que estão consagradas como “os desafios do milênio” para a inteligência e a ar-ticulação global resolver, não se inclui, sem dúvi-das, a criação de vida ar-tificial por si só, mesmo que louvável o avanço científico. Com efeito, a descoberta só fará senti-

do no contexto da sustentabilidade, da criação de energias alternativas e como fonte alimentar, dentre tantas outras re-ferências essenciais para a vida e na sua sequente melhoria de qualidade, contri-buindo para a supressão das diferenças entre as pessoas e os povos. Na verdade, há muito tempo, diversos pesquisadores, espalhados pelo mundo, vem trabalhan-do neste campo científico, que a partir de sua divulgação deverão ser sistema-tizados para a devida compreensão dos setores sociais e entidades, no sentido de começar a construir os regulamentos e controles para a utilização em beneficio exclusivo da humanidade. A possibilida-de da vida artificial não deve estimular o caráter egoísta da perpetuidade, nem tampouco o fim estritamente econômi-co que tanto desconforto vem causando a todos que acreditam numa sociedade mais humana e igualitária. Será funda-mental que a “academia” estimule o bom debate e comece a contribuir na formula-ção da visão de mundo adequado dentro de parâmetros e referências antes de tudo sociais e políticas. Não será o lucro que deverá evidenciar o novo feito, mas seu sentido de usar o micro-organismo cria-do em benefício dos povos.

Portanto, o anúncio bombástico da descoberta em que o autor foi acusado “de brincar de Deus”, serve de mais um alerta para todos nós, com a finalidade de compreendermos que o debate que vai decidir nosso futuro não está na di-mensão do nosso quintal, com nossos interesses meramente pessoais. Com efeito, temas de grande repercussão e importância coletiva deverão contar para nossa vida e das nossas comunidades. Devemos por esta razão estar preparados para compreender os fatos, mesmo que de complexidade e de linguagem sofis-ticada, para ter opinião e oferecermos a nossa participação.

Ainda estamos longe de afirmar ca-tegoricamente que a vida artificial pode ser concebida pelo homem, mas o futuro depende de todos nós.

A vidA e seus mistériosJ. Peirano Maciel

Médico

Quão difícil é definir a Vida, a nossa e a dos seres vi-vos em geral! Como é grandiosa esta nossa capaci-dade de viver nossos dias e noites, entre alegrias,

angústias,dúvidas, e tantas outras coisas que caracterizam nosso ir e vir,nossa consciência da realidade.Grande mistério e indefinível questão essencial!

Ficamos atônitos e interessados pelas notícias recentes de que um cientista conseguiu criar a vida de uma bactéria, me-lhor dizendo, conseguiu que este minúsculo ser se reproduzis-se com DNA sintético, havendo troca de DNA de um germe para outro.

Este fato poderá, deveras, chamar-se de vida criada só porque houve reprodução?

Não vamos discutir essa questão, não é nossa intenção neste texto. A ciência há muito tempo estuda, de modo ex-traordinário, os fenômenos vitais, descreve-os na Biologia (bio=vida; logia=estudo) ,e notáveis avanços vem conquistan-do, tendo ultimamente , em nossos dias, atingido novos para-digmas com a descoberta do genoma humano e sua decodifi-cação. Foi um grande marco científico. Porém, longe estamos de conhecer e interpretar esse genoma , com fins médicos, ecológicos e muitos outros.

Agora, leitor paciente, peço licença para sair do labirinto da ciência, das idéias mundanas, das teorias pretensiosas, e in-gressar em outra esfera de conhecimento, sem deixar a razão de lado, mas utilizando, também, a nossa Fé, e, com as duas juntas, entendermos o fenômeno vital sob outro aspecto.

Quando uma pessoa encontra-se no limiar da morte, ouve-se dizer: “exalou o último suspiro”. Este suspiro lembra-nos a ideia de “sopro”, de vento. Depois dessa derradeira exalação, temos o cadáver, a fuga da vida, uma criatura inerme, caracte-rística. Não há respiração. Não há vida.

No Velho Testamento, existe uma passagem belíssima, no momento em que o profeta (Ezequiel), diante que uma enor-me coleção de esqueletos abandonados, comanda: “Espírito, vem dos quatro cantos e sopra sobre estes mortos e eles vive-rão!!” Imediatamente, levantam-se os mortos e põem-se de pé, de prontidão”. É o “sopro” que nos interessa, esse miste-rioso sopro que dá origem à vida! Ainda no VT, no Gênesis, Deus na origem do homem, criado da terra, “sopra” sobre ele e lhe transmite a vida. Respirando, ergue-se o homem.

Em muitas outras ocasiões, observam-se fatos semelhan-tes. Sim, trata-se de milagres de Fé, dirão os críticos, é outra questão! De acordo, trata-se de Fé, mas nada irracional, pois para quem crê, crê também na Onipotência divina.

Foi nosso propósito, com o acima exposto, mostrar a cria-ção da Vida, grande mistério, como algo dependente de Deus, uma forma por todos intelegível, se houver Fé e também Ra-zão, sem detalhes complexos, sem conotações científicas, por-que não é o caso.

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IGREJA &CCOMUNIDADE 10

SolidárioLITÚRGICO

16 a 30 de junho de 2010

SolidáriaCATEQUESE

Lugares da catequese

Irmã Nery - FSC

2000 anos de

TURBULÊNCIASPARTE IV

O maior crime dos cristãos foi o de não adorarem os deuses dos pa-gãos. Como o imperador era consi-

derado um deus, fácil era achar um pretexto para condenar os seguidores do Nazareno. Isso alimentava os fofoqueiros que levavam às autoridades denúncias sem fundamento, como as de que os cristãos, em suas reuni-ões litúrgicas, praticavam coisas absurdas: sacrificavam crianças e bebiam seu sangue; viviam em promiscuidade, etc. Este quadro proporcionou o surgimento dos apologetas (defensores dos cristãos), que procuravam desfazer as mentiras e mostrar os lados po-sitivos das comunidades da Igreja, entre os quais o respeito pelas autoridades constituí-das e que a fé em Jesus Cristo era vivida no amor e não no ódio. Escreviam cartas e li-vros, inclusive aos imperadores, como Qua-drato, no ano 124, se dirigiu ao Imperador Adriano. Vieram depois Aistides, Militão de Sardes, Taciano, Atenágoras, Arnóbio... Os apologetas mais famosos, no entanto, foram Justino, “o rei dos apologistas”, e Tertuliano. O primeiro escreveu, no ano 153, ao Impera-dor Marco Aurélio. Não só defende a Igreja, mas afirma a divindade de Cristo.

Já Tertuliano, jurista famoso e orador de Cartago, no ano 197, escreveu sua celebre “Apologia”. Entre suas múltiplas passagens, podemos destacar algumas. Tertuliano diz, por exemplo, que os cristãos “eram um corpo, pelo sentimento da mesma crença, pela uni-dade da disciplina e pelo vínculo da mesma esperança... Nós nos reunimos para ler as Sa-gradas Escrituras. Nelas procuramos, sejam advertências para o futuro, sejam exemplos do passado. Se existe entre nós uma espé-cie da caixa comum, ela não é constituída por quantias honorárias, pagas pelos eleitos, como se a religião fosse comprada. Cada um dá a contribuição modesta, num dia fixo do mês, ou quando quer, e se quiser e puder. Nin-guém é forçado. É uma oferta que parte da fé. De fato, não se usa desse dinheiro para festas e diversões, mas para nutrir e sepultar digna-mente os pobres, para socorrer meninos e me-ninas que não têm recursos, nem pais, ou os servos idosos, ou ainda os náufragos. É essa prática da caridade que, aos olhos de muitos, vem a ser motivo de difamação. Eles dizem: “Veja como eles (os cristãos) se amam”, “Veja como eles estão prontos de morrer uns pelos outros”. Quanto à nossa refeição, o próprio nome diz o que ela é. Chama-se “ágape”, uma palavra grega que significa “amor”. Não nos sentamos à mesa antes de ter feito uma oração a Deus. Come-se tanto quanto para satisfazer a fome; bebe-se com sobriedade. Mesmo durante a noite, conversa-se como gente que sabe que Deus nos escuta”. (Apologia, cap. 39) (CA/Pesquisa)

Primeiros defensores dos cristãos

A Comunidade CristãQuando se fala em comunidade, obviamente

está se falando em relações humanas, afeto, cui-dado, apoio. Há muitas formas de comunidade. A primeira e mais próxima é a família. Depois, há outras e outras que vão se construindo, no círculo de amigos, na escola, na paróquia, nos grupos, as-sociações, movimentos.

O importante é fazer acontecer, nesta comu-nidade fraterna e amiga, a presença do Senhor, os valores do Evangelho. Há uma evangelização e uma catequese que devem acontecer por meio da convivência, da fala, do canto, das orações, das ce-lebrações, das referências religiosas, das leituras e do testemunho de vida. É por isso que o CR diz que “o lugar ou ambiente normal da catequese é a comunidade cristã” (CR 118).

A FamíliaA família é sujeito, destinatária e agente da ca-

tequese. A Igreja ensina que os pais são os primeiros e principais educadores da fé na família (cf GE 2).

O sacramento do Matrimônio torna a família uma “igreja doméstica”. Ela é, portanto, uma mini-assembleia permanente de culto a Deus, um lugar privilegiado de oração, de proclamação da palavra de Deus, de exercício do amor mútuo e da carida-de, especialmente com os mais pobres, um lugar a partir do qual todos constroem uma sociedade justa e solidária.

É indispensável que a catequese coloque como prioridade os adultos, pois deles depende profun-damente a educação da fé tanto das crianças como dos jovens, a vitalidade da Igreja e a transformação da sociedade segundo o Plano de Deus. Atuar ca-tequeticamente apenas com as crianças e os jovens é correr o risco de realizar uma tarefa incompleta e frágil, pois eles dependem do apoio e do testemu-nho dos pais e responsáveis.

A EscolaHoje, na sociedade plural, cada vez menos se

realiza catequese na escola, mas Ensino Religioso.Entretanto, os cristãos que ali atuam podem,

de modo criativo, zeloso e respeitoso, realizar na escola uma missão importante para a catequese.

Eles educam para os valores, para a religiosi-dade, para o respeito à opção religiosa dos outros, para o ecumenismo e o diálogo religioso.

E eles motivam os alunos e colegas, profes-sores e funcionários para a fé, especialmente por meio do testemunho.

Os Meios Comunicação Social (MCS)Tanto os meios grupais (boletins, jornais, tea-

tro, cartazes...), como os massivos (tv, vídeo, cine, espetáculos, internet...) oferecem um imenso po-tencial para a veiculação dos valores cristãos e de elementos da fé.

No entanto, o uso dos MCS para a evangeliza-ção e a catequese é ainda tímido e sem suficiente qualidade.

20 de junho – 12o Domingo Comum (verde)

1a leitura: Profecia de Zacarias (Zc) 12,10-11;13,1Salmo 62 (63) 2a leitura: Carta de S. Paulo aos Gálatas (Gl) 3,26-29 Evangelho: Lucas (Lc) 9,18-24NB.: Para uma melhor compreensão dos comentários litúrgicos é fundamental que se leia, antes, o respectivo texto bíblico.

Comentário: Duas perguntas surgem da leitura do Evangelho deste domingo: quem é Jesus para mim? O que significa mesmo ser discípulo missionário?

Lembremos o texto: Jesus pergunta, inicialmente, aos discípulos: Quem diz o povo que eu sou (9,18)? Foi fácil para os discípulos responder e já foram ci-tando profetas e João Batista. É muito fácil responder hoje o que as pessoas e pensam e dizem de Jesus, o que diz o papa, bispos, catequistas, teólogos, rádio, televisão, jornais. Nada fácil, mas muito mais importante é responder a segunda pergunta que Jesus fez aos discípulos há dois mil anos e faz a nós, hoje: E vós, quem dizeis que eu sou (9,26)? A esta pergunta respondemos por nosso modo de viver a vida, pelas opções concretas que fazemos, pelos compromissos com a realidade que assumimos. É preciso ter muito cuidado quando nos apresentam um Jesus que não é exigente, um Jesus festivo, light, que se aplaude e se canta, mas que não traz conseqüências sociais nem não nos leva a lutar por uma socie-dade mais justa e solidária. O Jesus real, o Jesus do Evangelho, não foi assim, e deixou bem claro, quando, no mesmo texto de Lucas, diz com todas as letras: Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e me siga (Lc 9,23).

Seguir Jesus é fazer o que ele faria, se estivesse aqui hoje. Jesus foi morto, não pelo povo, mas por grupos de interesse bem definidos, os anciãos,os chefes dos sacerdotes e os doutores da Lei (9,22), que eram a elite dominante em ter-mos econômicos, religiosos e ideológicos. Os verdadeiros discípulos missioná-rios também entrarão em conflito com grupos que hoje representam os mesmos interesses. Esta é uma das grandes tentações que nos é proposta, muito bem embalada: a tentação de um Jesus sem maiores exigências, um Jesus intimis-ta e individualista, um Jesus alienado da realidade e cujo seguimento não traz conseqüências políticas, econômicas ou ideológicas. Ser discípulo missionário é seguir o Jesus real, o do Evangelho. Este seguimento vai trazer sofrimentos, superações, desacomodações, perseguições, martírio, por que não!? Ser cristão, ser cristã é carregar a cruz de cada dia e viver coerente com o projeto do Pai, que busca servidores para quem a justiça é o caminho para a solidariedade.

27 de junho – 13o Domingo do Tempo Comum (Verde)

1a leitura: Primeiro Livro dos Reis (1Rs) 19,16b.19-21Salmo 15 (16)2a leitura: Carta de S. Paulo aos Galatas (Gl) 5,1.13-18Evangelho: Lucas, (Lc) 9,51-62

Comentário: Quem põe a mão no arado e olha pra trás não está apto para o Reino de Deus (9,62). Essa frase que Lucas põe na boca de Jesus nos leva a uma definição de “velho”: velho não é quem tem mais ou menos anos de vida; velho é alguém que deixa suas lembranças tomarem o lugar de seus sonhos. Neste sentido, há velhos de 20 anos e há jovens, muito jovens de 80, 90 anos. Definitivamente, juventude não é uma questão cronológica, mas uma disposi-ção de alma, de mente e coração. Porque, enquanto alguém tem idéias novas, tem sonhos, tem projetos, ele tem uma razão para viver. E o que nos conserva jovens, em qualquer idade, é ter uma razão para viver.

Claro que lembranças boas e, mesmo, saudade de momentos felizes que se viveu fazem parte da nossa vida e é salutar recordá-los, de vez em quando. Ajudam-nos a viver, porque recordar também é viver. Mas nossas lembran-ças, nosso ontem, não podem tomar conta de nosso presente e, muito menos, inibir ou fazer-nos desanimar de nossos sonhos, de nossos projetos. Pessoas escravas do passado são, geralmente, pessoas tristes, amargas e amarguradas, infelizes.

Jesus não quer velhos, presos ao passado, amargos e amargurados como seus seguidores; ele quer jovens, jovens de todas as idades, que alimentam sonhos e realizam projetos. Projetos que podem ser muito simples, mas que vão alimentando o mais importante de uma vida: uma razão para viver. O Evangelho de Lucas deste domingo precisa ser lido e meditado nesta chave, nesta disposição: deixar o ontem para o ontem, o passado para o passado, os “mortos para os mortos”. Lembremos sempre: um minuto de futuro, de amanhã vale mais do que 80 anos de ontem, de passado; porque os 80 anos da minha vida estão cristalizados, “mortos”, neles nada posso mudar; mas no primeiro minuto que está à minha frente eu posso salvar uma vida... ([email protected])

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11ESPAÇO DAARQUIDIOCESE16 a 30 de junho de 2010

Coordenação: Pe. César Leandro Padilha

26° Arquidiocesano de CEBsCom o tema “Comunidades Ecológicas e Missionárias” e tendo

por lema “Mãe Terra Precisamos de Ti!” aconteceu na cidade de Guaíba, na Comunidade Santa Rita de Cássia, no Bairro Florida, o 26° Encontro Arquidiocesano das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O evento reuniu entre os dias 22 e 23 de maio passado, lideranças de diversas comunidades da Arquidiocese de Proto Ale-gre e outras dioceses convidadas, discutindo em forma de debates e oficinas, temas que dizem respeito à ecologia, políticas públicas e iniciativas de geração de renda e de economia solidária.

A programação começou no sábado, dia 22 de maio, com aco-lhida, credenciamento e celebração de abertura e oficinas, à noite, Vigília de Pentecostes. No dia 23 de maio (domingo), logo após a oração da manhã, o retorno das oficinas, estudo sobre os compro-missos e desafios dos Vicariatos. Após o plenário e almoço, aconte-ceu a tradicional “Fila do Povo” e o encontro foi encerrado com a Celebração Final e Caminhada na Beira do Guaíba.

Os temas das oficinas foram: “Educação para a Vida Saudável”, “Comunidade: Economia e Vida”, “Comunidade e Bíblia”, “Co-munidade: Ecologia e Vida”, “Comunidade: Sementeiras de Lide-ranças", “Comunidade: Reciclando Fé e Atitudes”, “Comunidades Missionárias e Discípulas”, “Comunidade e Juventude”, tendo como assessores Frei Luiz Carlos Suzin, Ir. Antonio Cechin e Irmã Ana Formoso, entre outros.

Em 18 de maio deste ano, a Arquidiocese de Porto Alegre inaugurou uma sala para ativi-dades da Pastoral da Comunica-ção. A equipe é composta pelo coordenador da Pascom da Ar-quidiocese de Porto Alegre, Pe. César Leandro Padilha, e pela jornalista Cynara Baum.

A Pascom tem por objetivo integrar todas as demais pasto-rais. Deve formar um conjunto de ações realizadas dentro da comunicação eclesial. Evange-lizar através da comunicação, tornando presente os valores da mensagem de Cristo nos meios de comunicação social, reali-zar a divulgação dos eventos e datas comemorativas que acon-tecem dentro das comunidades e manter os fiéis informados através dos veículos de comu-nicação. Segundo as palavras do Papa João Paulo II, "Evan-gelizar é comunicar".

O modelo da Pastoral da Comunicação deve ser partici-pativo e circular, onde a pala-vra pertence a todos. As suas reuniões se tornam um espaço de vivência e exercício das re-lações comunitárias. Pois onde somente uma pessoa domina o conteúdo e o meio, não há co-municação.

Primeiras atividadesO começo foi logo em um

evento de grande importância, o centenário da Arquidiocese de Porto Alegre. A Pascom passou a integrar-se com a comissão de organização das atividades co-memorativas. O assessor de im-

Festa de São João BatistaDe 18 a 27 de junho, a paróquia São João Batista oferece

aos fiéis a programação da novena e festa de São João Batista. No dia 26 acontece a quermesse de São João, após a procissão e missa solene, no pátio da igreja. No dia 27, missas de do-mingo da festa, às 9h, às 18h (com a participação do Coral da Amizade) e às 20h.

A paróquia fica localizada na Av. Benjamim Constant n° 76, Porto Alegre. Para mais informações, basta acessar o site www.paroquiasaojoao.org.br, e-mail [email protected], ou através do fone (51) 3342.4270.

Caminhada da Solidariedade pelas ruas do Centro

Arquidiocese de Porto Alegre inaugura sala da Pascom

prensa da Rede de Escola São Francisco, jornalista Rubens Melo, foi um grande reforço para a equipe liderada pelo Pe. César na divulgação nos meios de comunicação de Porto Ale-gre e região metropolitana. Até o início das comemorações, fo-ram realizados encontros sobre planejamento de divulgação da Expofeira dos Cem Anos e a procissão de Corpus Christi. O resultado foi um grande sucesso com nove inserções espontâne-as nos quatro jornais diários da capital, além de matérias repro-duzidas nos telejornais locais e programas de rádio.

Porém, o início das ativida-des se deu na Caminhada da So-lidariedade, no dia 2 de junho, quando crianças, adolescentes e educadores de projetos sociais ligados à Arquidiocese parti-ram da Esquina Democrática em direção à Usina do Gasô-metro, levando a mensagem de Jesus Cristo para todos os que passavam pelas ruas, através de palavras, músicas, um sorriso e gestos.

A Usina do Gasômetro transformou-se na “Catedral da Solidariedade” e recebeu inú-meros fiéis de 2 a 6 de junho. Lá estavam 80 expositores que, integrados com o sentimento de solidariedade, comercializavam seus artigos artesanais, onde os valores arrecadados serão re-vertidos para trabalhos sociais da Igreja Católica. A procissão de Corpus Christi teve sua con-centração e missa no anfiteatro Pôr do Sol e foi acompanhada por mais de 10 mil fiéis.

Próximos passosManter interação com os

membros de pastorais das pa-róquias, dioceses e vicariatos, para que juntos possam realizar a construção de uma comunica-ção em nome de Cristo; manter os fiéis informados das ativida-des da Igreja em suas comuni-dades; aproximar cada vez mais a igreja dos fiéis através de ati-vidades relacionadas à comuni-cação; participar de encontros ligados a área da comunicação para compartilhar experiências. (Por Cynara Baum)

Ano SacerdotalNo dia 19 de junho de 2009, por ocasião da Festa do

Sagrado Coração, do Dia Mundial de Oração pela Santifi-cação dos Sacerdotes e do 150º aniversário da morte de São João Maria Vianney, o Santo Patrono de todos os párocos do mundo, Sua Santidade Bento XVI declarou o Ano Sa-cerdotal “como o tempo de promover o compromisso da renovação interior de todos os sacerdotes por um forte e incisivo testemunho evangélico no mundo de hoje”.

O Ano Sacerdotal será concluído em Roma com o Congresso Internacional de Sacerdotes, cujo tema é “Fide-lidade de Cristo, Fidelidade do Sacerdote”. Momentos de oração, reflexão e troca de experiências culminarão com o encontro com a Sua Santidade na Praça São Pedro. O even-to, promovido pela Congregação para o Clero e com orga-nização técnico-logística da Opera Romana Pellegrinaggi, dá continuidade aos precedentes Encontros Internacionais do Clero que, entre 1996 e 2004, aconteceram em Fátima (Portugal), Yamoussoukro (Costa do Marfim), Guadalupe (México), Nazaré, Belém e Jerusalém (Terra Santa), Roma (por ocasião do Grande Jubileu de 2000) e, finalmente, em Malta.

O programa oficial da Congregação para o Clero é formado por momentos de oração, conferências, vigílias e Exposição do Santíssimo Sacramento, possibilidades de confissão e Celebrações Eucarísticas, além de encontros com o Papa Bento XVI. As reflexões, meditações e cele-brações terão como temas: “Conversão e Missão”, “Cená-culo: invocação do Espírito Santo com Maria, em comu-nhão fraterna”, “Com Pedro, em comunhão eclesial”. Estes momentos têm lugar na Basílica de São Pedro, Basílica de Santa Maria Maior, São Paulo e São João de Latrão.

Nossa Arquidiocese de Porto Alegre faz-se representar pelos Padres César Leandro Padilha (Paróquia Santa Tere-sinha do Menino Jesus, P. Alegre) e Miguel Faleiro (Paró-quia Santuário São Cristóvão, Canoas).

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Porto Alegre, 16 a 30 de junho de 2010

A frase foi pronunciada por alto funcionário do gabinete presidencial durante reunião sobre benefícios fiscais patronais a entidades filantrópicas. E reconhece a importância da liderança da Igreja Católica em projetos sociais com o objetivo de minorar a carência material e humana que atinge muitos milhões de brasileiros. “A Igreja cumpre apenas um legado deixado pelo seu fundador, Jesus Cristo, especialmente enfatizado em Mateus, capítulo 25, e suas obras não objetivam qualquer visibilidade pública, porque, o mesmo Evangelho diz que ‘... não sai-ba a mão direita o que faz a mão esquerda...’. Mas pensamos que é importante dar a público um pouco do que se faz em obras sociais. Por isso essa exposição que mostra parcialmente os 100 anos de caminhada solidária da Arquidiocese”. A explicação é de Carlos Prietto, diácono leigo e presidente da Comissão dos ‘100 anos de Solidariedade’. “Por mero acaso, temos aqui 80 estandes armados na Usina do Gasômetro de Porto Alegre, o que coin-cide com os 80 por cento de responsabilidade da Igreja de todas as obras sociais do Brasil e que tem à frente um exército de voluntários e lideranças abnegadas que realizam o trabalho orientado no ideal evangélico”, complementa Prietto.

A Expofeira 100 anos de Solidariedade da Ar-quidiocese de Porto Alegre encerrou-se no domin-go, 6 de junho último, com milhares de visitantes durante sua realização iniciada em 2 de junho. Pretendeu ser apenas uma amostragem de projetos sociais liderados por casas de saúde, cooperativas comunitárias, diaconias, fundações, institutos e comunidades religiosas, irmandades, instituições filantrópicas e paróquias e que estão voltados para criança e amparo à família, ge-ração de renda e emprego com produção de artesanato, reciclagem de papel, etc., proteção à saúde integral, atendimento a pessoas com deficiência, atendimento a dependentes químicos, atendimento a migrantes.

Expofeira: um século de solidariedade da Igreja em P. Alegre

“O Brasil viraria um caos se a Igreja decidisse cessar suas obras sociais”.

Dom Canísio Klaus é o novo bispo diocesano de Santa Cruz do Sul, no-meado em 19 de maio último por Bento XVI. É o terceiro bispo, sucedendo a Dom Sinésio Bohn, que está à frente dessa Igreja particular desde 31 de agosto de 1986, sucedendo a Dom Alberto Etges, o primeiro bispo. Dom Canísio vem transferido da Diocese de Diamantino, no Mato Grosso e sua posse em S. Cruz será em solenidade na Catedral S. João Batista, em 18 de julho próximo.

Dom Canísio, 59 anos, é natural de Arroio do Meio. Foi ordenado sacer-dote em 28 de dezembro de 1979. Entre suas diversas funções, foi pároco na Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Santa Cruz do Sul, professor, orientador, assistente espiritual e reitor do Seminário Sagrado Coração de Jesus, em Arroio do Meio. Em 1985, atuou como missionário no “Projeto Igrejas Irmãs”, na Diocese de Sinop, no Mato Grosso. Em 1990, voltou à sua Diocese de origem para atuar como pároco da Paróquia Nossa Senhora da Conceição, em Moinhos, Lajeado. Retornou para o Mato Grosso em 1993 e em 22 de abril de 1998 recebeu do Papa João Paulo II a nomeação como bis-po diocesano de Diamantino, MT, sendo ordenado bispo em 21 de junho de 1998 em sua terra natal. De setembro de 2003 a maio de 2007 foi presidente do Regional Oeste 2 – MT, da CNBB; neste período também foi membro do Conselho Permanente da CNBB Nacional.

Santa Cruz do Sul tem novo bispo

Dom Canísio e Dom Sinésio

Dogival Duarte

Carlos Prietto