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Trabalho escrito para a disciplina de História da Filosofia Contemporânea
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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES
CURSO DE GRADUAÇÃO EM LICENCIATURA EM FILOSOFIA
DISCIPLINA DE HISTÓRIA DA FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA II
PROFESSOR LÉO PERUZZO
ALUNO ERIK KIERSKI
KANT E A GENIALIDADE DO CONHECIMENTO
Kant considera que o campo metafísico é imprudente por considerar muitas
coisas como verdade, afirmando-a sobre coisas que o homem não tem experiências,
como a liberdade, Deus e a morte. Nossa proposta é explicitar, em linhas gerais, os
elementos que constituem o conhecimento. O mundo, em sua filosofia, é constituído
pelos fenômenos e pelos nôumenos, e podemos apenas ter conhecimento dos
fenômenos como representações da realidade.
Os nôumenos são denominados como a coisa-em-si, e que não podem ser
conhecidos em nenhuma ocasião, mas apenas pensados. O homem não tem a
capacidade de conhecer a diversidade das coisas do mundo nôumênico enunciadas
metafisicamente, como a existência e permanência da alma, o mundo como totalidade
e a existência do ser originário. Ou seja, Kant não nega a metafísica, mas sim a
discussão da veracidade de seus enunciados. Por outro lado, é possível haver
conhecimento dos fenômenos, pois estes podem se encontrar sujeitos às formas a
priori da sensibilidade, do entendimento e da razão; e assim, podemos dizer que, para
Kant, todo conhecimento inicia-se com um autoconhecimento.
O homem tem a capacidade de reconhecer o seu próprio Eu, e essa é a atitude
diferencial entre homens, animais e coisas, e que o torna superior aos outros animais.
Pelo reconhecimento do Eu, Kant nomeia o homem como pessoa, que tem
consciência do seu pensar.
Que o ser humano possa ter o eu em sua representação, eleva-o infinitamente acima de todos os demais seres que vivem na terra. É por isso que ele é uma pessoa, e uma e mesma pessoa em virtudes da unidade da consciência em todas as modificações que lhe possam suceder, ou seja, ele é, por sua posição e dignidade, um ser totalmente distinto das coisas, tais como os animais irracionais [...] (Kant, 2006, p. 27)
A pessoa primeiramente se reconhece no pensamento para então reconhecer-
se na linguagem, com o uso da primeira pessoa; passa, assim, de apenas sentir-se,
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e começa a pensar em si mesma. Kant utiliza da experiência da fala da criança para
exemplificar, pois uma criança, mesmo depois de aprender a falar, refere a si mesma
na terceira pessoa, i.e., se ela quer comer, o quer pois suas percepções estão
dispersas ou ainda não reunidas sob um conceito; após aproximadamente um ano, a
criança começa a pensar Eu, e assim começa a referir-se em primeira pessoa, “uma
luz parece se acender para ela, quando começa a falar por meio do eu” (KANT, 2006,
p. 27).
As representações, para passarem ao plano de consciência, podem fazê-lo de
duas maneiras: através da atenção ou da abstração. Para Kant, é mais louvável que
as pessoas abstraiam, e aquelas que não conseguem são infelizes.
O noivo poderia fazer um bom casamento, se pudesse deixar de lado uma verruga no rosto ou uma falha nos dentes da amada. Mas é um costume especialmente ruim de nossa faculdade de atenção fixá-la, mesmo sem intenção, justo no que há de defeituoso nos outros, voltando os olhos para a visível falta de um botão no casaco, para falhas nos dentes ou para um habitual erro de linguagem, o que desconcerta o outro, mas também estraga o próprio prazer que se poderia ter no convívio com ele. (Kant, 2006, p. 31)
A abstração não é uma falta de atenção, ou uma mera distração, mas um ato
real da faculdade de conhecer para afastar, numa consciência, uma representação de
que o ser é consciente da ligação com outras; e essa capacidade de abstrair pode ser
adquirida pela prática. Sua prática é mais ampla do que a capacidade de prestar
atenção, pois consiste em abstrair de uma representação, mesmo quando esta é
imposta pelos sentidos do ser humano. Ela também demostra uma liberdade da
faculdade de pensar e o poder sobre o espírito para formar suas próprias
representações.
A repressão do sujeito não é uma observação de si, pois a observação de si
como percepções de si mesmo poderia levar à loucura. É necessário, para o filósofo,
prestar atenção a si mesmo, mas não nas relações, pois o indivíduo pode se sentir
incomodado e afetado. A pessoa que tenta observar-se e começa a julgar a si mesma
como se vê, ou como imagina que os outros o veem e não como alguém o visse ou
ouvisse, na verdade está se enganando fazendo uma representação falsa de si,
forjando sua própria aparência de si mesmo. Para Kant, esta pessoa perde o prestígio
do juízo dos demais, pois fica clara a intenção de enganar. O comportamento natural
das pessoas está na sinceridade do modo como se mostram exteriormente, mas a
ausência na arte da dissimulação é considerada fraqueza e ingenuidade. Somos
conhecedores da arte da aparência, porém, alguns a utilizam para o bem e outros
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para o mal. Há pessoas, por exemplo, que ao estarem diante de um camponês não
habituado aos costumes urbanos, sorriem quando percebem sua sinceridade, não
como zombaria, mas sim como benevolência; contudo, há os que o fazem por uma
maldade já presente em nossa humanidade corrompida.
Muitas vezes, na observação de si, o indivíduo faz descobertas daquilo mesmo
que ele introduziu sem notar. Para Kant, as observações de diferentes atos da
faculdade de representação, quando provocados, são algo digno de reflexão. Assim,
na auto-observação, verificamos haver ideias obscuras e claras.
As ideias obscuras são as representações que temos em nós, mas não temos
consciência delas; têm essa natureza apenas por não se ter qualquer ideia
representacional daquilo que é percebido. Kant nos dá um exemplo: imaginemos que
estamos vendo a forma de um ser humano, porém não vemos partes que compõem
um rosto, como nariz e olhos, i.e., não somos conscientes de percebê-las, então como
poderíamos afirmar que vemos um humano? Pela imensidão existente no campo de
nossas sensações, nosso espírito também é imenso em representações obscuras,
das quais não temos consciência que são. Por serem a maior parte do homem, não
há salvação dos absurdos para o entendimento, pois o homem é influenciado por tais
representações, mesmo quando reconhecidas como enganosas. O homem faz parte
do jogo das representações obscuras, pois o entendimento não pode evitar a
impressão dessas representações.
As ideias claras estão em menor número em nossa consciência, e permitem
reconhecer a coisa representada, sendo distintas do pensar ou da intuição.
[É absurdo que] no grande mapa de nosso espírito só haja poucos lugares iluminados, isso pode nos causar espanto com relação a nosso próprio ser; pois bastaria apenas que um poder superior exclamasse “faça-se a luz!”, que, mesmo sem o acréscimo de quase nada (por exemplo, se tomamos um literato com tudo o que tem em sua memória), meio mundo, por assim dizer, se abriria diante de nós. (2006, p. 35)
Uma ideia clara pode ser confusa ou distinta. A confusão ocorre quando a ideia
apresentada possui a representação de uma qualidade sensível, porém não se sabe
explicar o que a diferencia das demais ideias, como a cor, exemplo dado pelo filósofo.
Temos a ideia do verde e do azul, mas a pergunta “qual a diferença entre as duas
cores?” se dá apenas na comparação das duas, sem saber o que realmente diferencia
cada uma delas; as ideias distintas o são quando se sabe explicar quais aspectos as
diferenciam, como em casos de quantidade, extensão, forma, estados emocionais, e
outras propriedades.
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A composição de várias representações distintas é que forma o conhecimento,
e por serem as ideias confusas indistintas, não pode haver conhecimento de uma
composição delas. As ideias confusas já são compostas, e, como o conhecimento
deve ser simples, naquilo que é simples não pode haver confusão, sendo esta
causada por sua indistinção. Para o conhecimento claro deve haver uma ordem de
representações parciais, por uma simples lógica ou uma divisão real das partes,
procedimento que torna o conhecimento distinto.
Bem se vê que se a faculdade de conhecer deve ser denominada em geral entendimento (na significação mais geral da palavra), este tem que conter a faculdade de apreensão (attentio) das representações dadas para produzir a intuição; a faculdade de abstração (abstractio) do que é comum a várias representações para produzir o conceito; e a faculdade de reflexão (reflexio), para produzir conhecimento do objeto. (2006, p. 38)
Assim, Kant considera uma pessoa como gênio quando ela possui a
capacidade de desenvolver e utilizar de suas faculdades em grau elevado. O ignorante
é aquele que nada aprendeu, e por isso necessita de instruções; aquele que não
consegue pensar por si é considerado como possuindo uma capacidade limitada, e
por mais que aprenda, nunca pensará sozinho suas ideias.
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REFERÊNCIAS
CHAVES, Noêmia de Sousa; O conceito de pessoa na antropologia kantiana: uma abordagem prática e pragmática. Polymatheia. Fortaleza, v. V, n. 7, p. 137-154,
2009. Disponível em: <www.uece.br/polymatheia>. Acesso em: 17 junho 2015. KANT, Immanuel. Antropologia de um ponto de vista pragmático. São Paulo. Ed. Iluminuras, 2006. PEREZ, Daniel Osmar; O significado de natureza humana em Kant. Kant E-Prints, v.5, p. 75-87, jan-jun 2010. SILVA, Neilson da; A Propósito da introdução à crítica da razão pura de Immanuel Kant. Metavnoia. São João del-Rei, n.1, p. 84-91, 1999. Disponível em: <
http://www.ufsj.edu.br/portal-repositorio/File/revistalable/numero1/neilson11.pdf> Acesso em: 18 junho 2015