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Níveis de inserção do SPrep: a) enunciativo, nível em que o SPrep é independente, isto é, não se insere em nenhum tipo de sintagma, nem mesmo à oração. Refere-se ao próprio locutor, veiculando a atitude do falante (sentimento ou engajamento/modalização) em relação ao que se fala. Ex.: Felizmente (= com felicidade) Joana faleceu. Com certeza (= certamente) farei um bom trabalho. Talvez ele chegue atrasado hoje. Obs.: Esses sintagmas podem ser parafraseados, usando-se outras palavras entre as quais o pronome ‘eu’, sem alteração do sentido inicial dos sintagmas. Isso prova que os Veja-se: (a) Eu estou feliz por declarar que Joana faleceu.; (b) Eu estou certo ao declarar que farei um bom trabalho.; (c) Eu não estou certo ao declarar que ele chegará atrasado. Além desse aspecto semântico-pragmático (veicular atitude do locutor em relação ao que ele profere), esses sintagmas podem ser livremente movidos (linearidade posicional) no interior da frase, sem alteração do sentido inicial. Observe- se: (a) Joana, felizmente , faleceu.; (b) Joana faleceu, felizmente . Nesse caso, o (Sprep) não tem função sintática, já que seu sentido não se relaciona com o material linguístico presente na frase. 1

Lingua Portuguesa Sintaxe Apostila

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▶ Níveis de inserção do SPrep:a) enunciativo, nível em que o SPrep é independente, isto é, não se

insere em nenhum tipo de sintagma, nem mesmo à oração. Refere-se ao próprio locutor, veiculando a atitude do falante (sentimento ou engajamento/modalização) em relação ao que se fala.

Ex.: Felizmente (= com felicidade) Joana faleceu.Com certeza (= certamente) farei um bom trabalho.Talvez ele chegue atrasado hoje.

Obs.: Esses sintagmas podem ser parafraseados, usando-se outras palavras entre as quais o pronome ‘eu’, sem alteração do sentido inicial dos sintagmas. Isso prova que os Veja-se: (a) Eu estou feliz por declarar que Joana faleceu.; (b) Eu estou certo ao declarar que farei um bom trabalho.; (c) Eu não estou certo ao declarar que ele chegará atrasado.

Além desse aspecto semântico-pragmático (veicular atitude do locutor em relação ao que ele profere), esses sintagmas podem ser livremente movidos (linearidade posicional) no interior da frase, sem alteração do sentido inicial. Observe-se: (a) Joana, felizmente, faleceu.; (b) Joana faleceu, felizmente.

Nesse caso, o (Sprep) não tem função sintática, já que seu sentido não se relaciona com o material linguístico presente na frase.

b) oracional, nível em que o SPrep é também independente, mas apenas dos sintagmas, isto é, o sentido dele não relaciona a um dos sintagmas, mas sim a toda a oração. Por essa razão, o (Sprep) oracional também pode ser livremente movido no interior da sentença, sem alteração do sentido inicial, entretanto é diferente do enunciativo por não veicular atitude (sentimento/engajamento) do locutor em relação ao que se profere. O (Sprep) oracional expressa diferentes tipos de circunstâncias (acidentes/detalhes sobre uma oração/situação), tais como: tempo, lugar, finalidade, concessão, causa, consequência, conformidade, oposição etc.Ex.: No verão, os dias são mais longos que as noites.

Por amor aos amantes, a noite descia sobre a terra. Para surpresa de todos, a noite desceu lentamente.

No Rio de Janeiro, a polícia está acuada pelos bandidos.Nesse caso, o (Sprep) funciona sintaticamente como um modificador

oracional, razão por que é expresso, no diagrama arbóreo, como um ramo diretamente originado da O, no mesmo nível dos SNsujeito e do SVpredicado. Linearmente é indicado na mesma linha da O, junto com o SNsujeito e o SVpredicado.

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c) sintagmático, nível em que o SPrep relaciona-se diretamente a um núcleo qualquer (ou do SN, ou do SAdj, ou ainda do SV). Por esse motivo, diz-se que o Sprep deve, posicionalmente, estar posposto ao seu respectivo núcleo (salvo em textos estilísticos, em que o uso da vírgula passa a ser uma necessidade). Sintaticamente, o Sprep pode funcionar ou como modificador (= (Sprep)m), ou como complemento (= Sprepc). Ex.: O amor de Joana aos pais é muito forte. (Sprepc do N) A menina de tranças chegou muito cedo. ((Sprep)m do N)

A tristeza de Joana chega a doer nos outros. (Sprepc do Adj) Joana é útil à nação brasileira. (Sprepc do Adj) O cigarro é prejudicial à saúde. (Sprepc do Adj) Joana correu muito da polícia. (Sprepc do V) Joana correu com desespero (= desesperadamente). ((Sprep)m do V) Enviou cartas aos amigos londrinos. (Sprepc do V) Chegou ao Ceará às dez horas. (Sprepc do V) Precisamos de alguns conselhos. (Sprepc do V)

Obs.: No interior interior (isto é, relacionado pelo sentido) de um SAdj, o Sprep sempre funcionará sintaticamente como complemento. No interior do SN, dependerá do tipo do núcleo nome: se for concreto, a função sintática será (Sprep)m; se o núcleo nome for abstrato (nomes deverbal, deadjetival e de sentimento), a função sintática será Sprepc. No caso do SV, também dependera do tipo de verbo: se o Sprep for o complemento do VTI, a função sintática será Sprepc; caso não seja complemento do VTI, então a função sintática será (Sprep)m

do verbo. Observe, finalmente, que o (Sprep)m de Verbo, quando expressa a idéia de modo, pode, em geral, ser expresso pelo (Sadv)m.

Exercícios

1. Retire todos os Sprep e SAdv das frases abaixo e indique a função sintática de cada um deles.a. A opinião da comissão foi desfavorável à aprovação do projeto.b. A organização dos trabalhos está muito precária.c. A fé em Deus opera milagres.d. O professor visitante dirigiu-se ao campus da Universidade.e. Todos se admiraram do seu desprendimento.f. As pessoas contrárias à proposta devem manifestar-se agora.g. É muito gratificante sentir-se útil à coletividade.h. O poeta residia naquele local desde o ano passado.i. Não nos esqueçamos de nossas obrigações.j. O povo cobrará dos eleitos o cumprimento das promessas feitas durante a campanha.k. Todos aplaudiram, do balcão, a cena.l. Os policiais avistaram, do sítio, o riacho.m. Os escoteiros assistiram, da viatura, ao assalto.

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n. O diretor falou, do Chile, aos estudantes.o. Com franqueza, não consigo entender a sua simpatia por Reinaldo.p. O aluno lia com vagar ao texto da aula.q. Apertou com força o braço da namorada.r. Levou-a para longe dali.s. As nuvens foram encobrindo com lentidão o azul do céu.t. Na varando, depois do jantar, os hóspedes conversavam com muita animação.u. Com certeza, você vai me chamar de pessimista.v. Sem dúvida, era uma bela mulher.x. Juntou com cuidado os cacos do vaso espalhados pelo chão.y. Com lástima, você está decidida a uma briga com seu pai.w. Sem nenhum constrangimento, o réu começou a relatar os detalhes do crime.

2. Observe os Sadj das frases abaixo e identifique a função sintática em cada ocorrência.a. A chuva fininha molhava constantemente a terra seca.b. O novo professor de Português é muito exigente.

3. Identifique todos os SNc de verbo e, enfim, reescreva as frases, substituindo-os por pronomes complementos. Observe o que acontece com o predicador (é substituído pelo pronome, ou não?)a. Julgara minha irmã mais magra.b. Consagraram o aluno mais velho o líder da classe.c. Considerei o aluno sempre delicado.d. Nomearam meu pai cônsul do Brasil na Inglaterra.e. Tenho minhas amigas por estudiosas.f. Designaram o advogado presidente da associação.g. Reputava o professor pessoa de bom-senso.h. Apelidaram Maria a protetora dos infelizes.i. Eu tornei meus filhos mais instruídos.j. Fizeram a secretária participante ativo dos debates.l. Elegeram meu irmão representante do colégio.

4. Elabore três frases:a) uma em que o Sadj seja sintaticamente modificador de nome,b) uma em que o Sadj seja sintaticamente predicador do SNsujeito,c) uma em que o Sadj seja sintaticamente predicador do SNc do verbo.

5. Explique como um Sadj pode exercer a função sintática de modificador de nome.

6. Explique como um Sadj pode exercer a função sintática de predicador.

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1.3.1 O sintagma verbal (SV)▶ Constituição: SV→ (aux.). + V Em tempos verbais simples, há apenas um léxico para

expressar o V; mas em tempos compostos, há léxico o auxiliar e o principal (que pode estar no infinitivo, ou no particípio, ou ainda no gerúndio). Nesse caso, diz-se verbo complexo (locução verbal), cujo léxico auxiliar tem a função gramatical apenas de expressar as categorias flexivas (tempo/modo e número/pessoa) ecujo léxico principal tem a função de expressar o significado básico do processo verbal.Ex.: Joana comeu a maçã. (voz ativa)

A maçã foi comida por Joana. (voz passiva)Joana tem de comer a maçã. (modal + voz ativa)A maçã tem de ser comida por Joana. (mod.+voz passiva)Joana tem comido a maçã. (aspecto + voz ativa)A maçã tem sido comida por Joana. (aspecto + voz passiva)Joana está comendo a maçã. (aspecto + voz ativa)A maçã está sendo comida por Joana. (aspecto+voz pass.)A maçã deve ter sido comida por Joana. (mod.+voz pass.)

▶ Núcleo: (aux.) + verbo

▶ Transitividade verbal e funções sintáticas no interior do SV:Os verbos, palavras que possuem flexão de modo;tempo e número/pessoa,

podem ser ou nocionais (isto é, o morfema lexical/radical possui um significado específico) ou não-nocionais (isto é, o morfema lexical/radical não possui um significado próprio). Esses últimos, não-nocionais, são designados de copula; os primeiro, nocionais, são designados ou de transitivos (isto é, o sentido do verbo começa com ele e se completa com um sintagma complemento), ou de intransitivos (ou seja, o sentido do processo verbal começa e termina no próprio verbo, razão por que os sintagmas relacionados a esse tipo de verbo funcionam, caso existam na frase, como modificadores, e não complemento).

a. verbo cópula = SV→ cóp. + SA/SN/SPpredicador

Ex.: Joana é muito rica. (cóp + Sadjpredicador) Joana tornou-se professora. (cóp + SNpredicador)

Joana virou santa. (cóp + Sadjpredicador) Joana é do Nordeste. (cóp + Spreppredicar)Obs. Cópula é o verbo, basicamente ´ser´, que não possui sentido em si mesmo,

isto é, é o verbo que, não sendo nocional, funciona apenas como elemento de ligação entre o SNsujeito e o Sadj/SN/Spreppredicador. Por não conter uma significação em si mesmo, a idéia central do predicado reside no predicador.

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b. verbo transitivo = SV→ (aux.) + V + SN/SPcomplemento

Ex.: Tenho necessidade de vocês. (Vtd + SNcomplemento) Necessito de vocês. (Vti + Sprepcomplemento)Obs.: Não se esqueça de que os complementos de verbo transitivo podem ser

substituídos pelos pronomes oblíquos.

c. verbo intransitivo Ex.: A menina dormiu tranquilamente ontem.

Joana morreu feliz.Obs. Se houver um Sprep ou Sadv relacionados, pelo sentido, ao verbo, a função

sintática desse sintagma será (Sprep/Sadv)modificador do Verbo, como ocorre com o (Sadv)m tranquilamente na frase mencionada no exemplo.

▶ Sentido dos verbos e tipos de complementos (predicação verbal)O sentido do verbo determina o tipo de estrutura sintagmática do SVa) Verbos cujo sentido exige um SN (sujeito paciente sem voz passiva)

Ex. As folhas caem no outono. Uma flor nasceu na rua. O gato está morrendo. Obs. Sujeito paciente = SN que expressa o ser que sofre o processo verbal, podendo ser, sintaticamente, o sujeito, ou o complemento de verbo etc.

b) Verbos cujo sentido exige um SN (sujeito agente / ativo) e ora admite SN complemento, ora não.

Ex. Esse menino não come (se alimenta) desde ontem. Esse menino não come frutas desde ontem. [eu] Escrevo muito durante a noite. [eu] Escrevo histórias durante a noite Nós não podemos enxergar nessa escuridão. Nós não podemos enxergar a carteira nessa escuridão.

c) Verbos cujo sentido exige ora apenas um SN (sujeito paciente), ora dois SN’s (um sujeito paciente e um complemento paciente).

Ex. Esse tecido encolhe após a lavagem. A lavagem encolhe esse tecido. A roupa secou rapidamente. O vento secou a roupa rapidamente. O sorvete vai derreter logo. O calor vai derreter logo o sorvete.

d) Verbos cujo sentido exige dois SN’s (na voz ativa = um sujeito agente e um complemento paciente; ou, na voz passiva, um sujeito paciente e um SPrep complemento ativo).

Ex. Lúcia visitou alguns amigos. // Alguns amigos foram visitados por Lúcia.

Ana resumiu a história // A história foi resumida por Ana. A polícia interditou a ponte. // A ponte foi interditada pela polícia.

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e) verbos cujo sentido exige dois SN’s (um sujeito ativo e um complemento paciente) e um Sprep (atividade), esse último com posição fixa após aquele SN.

Ex. O porteiro impediu o mendigo de entrar no prédio. O guarda obrigou o motorista a encostar o veículo. Ana dissuadiu o irmão de viajar

f) Verbos cujo sentido exige dois SN’s (na voz ativa, um sujeito agente e um complemento paciente; ou, na voz passiva, um sujeito paciente e um SPrep (complemento destinatário).Ex. O carteiro entregou o telegrama ao porteiro.

O telegrama foi entregue pelo carteiro ao porteiro. A garota ofereceu um jantar ao namorado. Um jantar foi oferecido pela garota ao namorado.

João recebeu uma carta de seu pai. Uma carta foi recebida por João de seu pai.

g) Verbos cujo sentido admitem reordenação (sujeito e complemento) por causa do uso pronominal (verbos pronominais).

Ex. O discurso da aluna me empolgava. Eu me empolguei com o discurso da aluna. Este relatório não me interessa. Eu não me interesso por este relatório. O congresso decepcionou o povo. O povo decepcionou-se com o congresso.

1.4 Funções sintáticas dos sintagmas na frase√ do SN a) sujeito (funciona como tema da oração)

Ex. A menina de trança chegou muito cedo. (Ela chegou muito cedo)b) complemento de verbo/objeto direto (funciona como

porção/sintagma que completa o sentido do verbo)Ex. Conheço muito bem a menina de trança. (Conheço-a muito bem)

c) aposto (funciona como referente-atributo de um outro SN)Ex. A menina, aquela de trança, chegou muito cedo.

c) Predicador/predicativo (funciona como um sintagma-atributo do SNsujeito ou do SNcomplemento, mas fica fora desses sintagmas)Ex.: A menina é uma estudante. (Ela é uma estudante.)

O juiz considerou o réu o mandante do crime. (O juiz considerou-o o mandante do crime.)

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√ do SAdja) modificador/adjunto (expressa uma restrição do referente/nome e

fica dentro do sintagma a que se refere)Ex. A menina loira é muito rica. (Ela é muito rica.)

b) predicador/predicativo (expressa um atributo do nome, mas fica fora do sintagma a que se refere) Ex.: A menina loira é muito rica. (Ela é muito rica.) Deixei a sala limpa.(Deixei-a limpa.)

√ do SPrep a) modificador/adjunto do nome,

Ex. A menina de trança chegou muito cedo.b) complemento do nome, c) Ex. O amor de Joana aos pais é muito sincero.d) complemento do adjetivo,

Ex. Joana é útil à nação brasileira.e) complemento do verbo,

Ex. Precisamos muito de sua ajuda.f) modificador/adjunto do verbo,

Ex. Todos esperávamos com ansiedade notícias suas.g) modificador/adjunto da oração/frase,

Ex. Celebramos o Natal no final do ano.h) predicador do nome

Ex. A menina é da Bahia.Obs. Não se esqueça de que há, ainda, o SPrep enunciativo, conforme no seguinte exemplo: Com certeza, os jovens carecem de orientação moral.

√ do SVApenas predicado.Ex. Celebramos, com muita animação, o Natal no final do ano.

Obs. Note que o (SPrep)m da frase não entra no predicado.

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ANEXOPrincipais preposições da Língua portuguesa1

1. ConceitoPalavra invariável, isto é, que não admite flexões (gênero/número, nem

modo e tempo/número e pessoa), cuja função é ligar (conectar = coesão) dois sintagmas entre si, estabelecendo entre eles certas relações (idéias).

Ex: cesta de lixo (de expressa idéia/valor de finalidade) cesta de Joana (de expressa idéia/valor de posse) cesta de couro ( de expressa idéia/valor de matéria)A palavra antecedente chama-se termo regente (nos exemplos: cesta), e a

palavra consequente chama-se termo regido (nos exemplos: lixo, Joana, couro)

2. Locução prepositiva (ou preposição complexa)Ao conjunto de duas ou mais palavras com valor (relacional, coesivo) de

preposição, denomina-se locução prepositiva, que necessariamente é finalizada por uma preposição, em geral de/a/com.

Ex.: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, além de, antes de, até a, ao lado de, ao invés de, ao redor de, a par de, apesar de, a respeito de, atrás de, através de, de acordo com, debaixo de, defronte de, dentro de, de per, depois de, diante de, embaixo de, em cima de, em face de, em frente a, em frente de, em lugar de, em redor de, em torno de, em vez de, fora de, junto a, junto de, não obstante, no caso de, para com, perto de, por detrás de por trás de, depois de, em vez de, à custa de, em via de, à volta com, a expensas de, à custa de, através de etc.

3. Combinação, contração e crase À união da preposição a com o artigo o/os ou com o advérbio onde é

denominada de combinação, pois não há alteração fonética.Se houver alteração fonética na junção da preposição com qualquer outra

palavra, tem-se então a contração: do (de + os), na (em + a), pelos (por + os), daquele (de + aquele), nisso (em + isso) etc.

A fusão da preposição a com o artigo a/as ou com os pronomes demonstrativos aquele(s), aquela(s), aquilo é um caso específico de contração (combinação de sons idênticos), chamado de crase. Deve ser assinalado na escrita pelo acento grave (`), conforme à(s),àquele(s), àquela(s), àquilo.

4. Valores (idéias, significados) das preposições

1 Conteúdo extraído do livro Nossa Gramática: teoria, de Luis Antonio Sacconi

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A (introduz objeto indireto, ou complemento nominal, ou ainda adjunto adverbial)

1) causa ou motivo: morrer à fome, acordar aos gritos, voltar a pedido dos amigos.

2) conformidade: puxar ao pai, escrever ao modo clássico, sair à mãe, bife à milanesa, jogar à Telê Santana.

3) destino (em correlação com a preposição de): ir de Santos a Guarujá, daqui a Salvador.

4) distância: morrer a três passos da praia, voltar a poucos anos.

5) exposição ou contato: estar ao Sol, à sombra, ao relento, ao vento.

6) fim: dar-lhe algo a beber, sair a trabalho, a que vens?

7) instrumento ou meio: escrever a lápis, passar a ferro, fechar a cadeado, ir a cavalo, voltar a pé, derrubar a porta a pontapés.

8) lugar: ir a Madri, levantar as mãos aos céus, virar à esquerda.Obs. A preposição a (com valor de lugar) expressa permanência temporária no local

indicado.

9) medida ou quantidade: comprar a quilo, vender a metro, caíram limões aos baldes.

10) modo: chegar aos berros, falar aos gritos, jorrar aos borbotões.

11) preço: A quanto está o quilo do feijão?, A cem reais.

12) proximidade ou contiguidade: estar ao telefone, à janela, sentar-se à mesa, ao piano, à máquina, dormir ao volante.

13) sucessão: um a um, dia a dia, pouco a pouco.

14) tempo: nascer a 02 de julho, ao entrar.

15) destinatário: dar o lápis a João, enviar o bilhete aos amigos.

ANTE (complemento: adjunto adverbial)

1) causa: ante as reclamações.

2) lugar (posição em frente): parar ante o túmulo dos pais.

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3) oposição: péssimo jogo ante o adversário, ante o exposto.Obs. Não use ante a.

APÓS (introduz adjunto adverbial)

1) lugar: após o último aluno, após o muro.

2) tempo: após o almoço, após as duas horas.

ATÉ (introduz adjunto adverbial)

1) limite: cavar um buraco até dez metros, ir até a farmácia, brigar até a morte.Obs. Não confundir com a palavra de inclusão até: Até eu cheguei cansado.

COM (introduz objeto indireto, ou compl. nominal ou ainda adjunto adverbial)

1) causa: assustar-se com a Joana, ficar rico com o roubo.

2) companhia: ir ao teatro com Joana, regressar com os amigos, café com leite.

3) concessão: com mais de 50 anos, ainda é jovem; com ser analfabeto, é sábio.

4) instrumento: abrir a porta com a chave, matar com revólver.

5) modo: andar com medo, subir com cuidado, falar com sabedoria.

6) matéria: vinho se faz com uva.

7) oposição: jogar com o Palmeiras, brigar com o marido.

8) referência: Com Joana, aconteceu diferente; Comigo é sempre assim.

9) simultaneidade (pode ser vista como tempo): Com o tempo, você aprende Português.

CONTRA (introduz objeto indireto ou adjunto adverbial)

1) oposição: jogar contra o Palmeira, atirar contra alguém, remar contra a maré, depor contra alguém, ser contra o governo, lançar pedra contra alguém.

2) direção: olhar contra o Sol.

3) proximidade ou contiguidade: apertar alguém/algo contra o peito.

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DE (introduz objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva, adjunto adnominal e adjunto adverbial)

1) assunto: falar de futebol.

2) causa: morrer de fome, tremer de medo, chorar de saudade.

3) conteúdo: xícara de café, maço de cigarro, balde de água.

4) definição: homem de bom senso, pessoa de coragem, mulher de fibra, menino de fé.

5) dimensão ou extensão ou tamanho: andar de dois andares, sala de vinte metros quadrados, menina de dois metros.

6) fim: dar-lhe algo de beber, automóvel de passeio, cesto de lixo, quadra de voleibol, vestido de Noiva, sair de férias.

7) instrumento ou meio: apanhar de chicote, brigar de faca, brincar de mão, viajar de avião, viver de ilusão.

8) lugar (de origem) ou origem: chegar de Santos, descender de japonês, ver de perto.

9) matéria: folha de papel, chapéu de palha, calça de seda, vestido de cetim, relógio de ouro.

10) medida ou extensão: régua de trinta centímetros, rua de vinte quilômetros, livro de duzentas folhas.

11) modo: olhar de frente, sair de mansinho, ficar de pé.

12) posse: casa de Joana, olhar de Joana.

13) preço: caderno de 30 reais, caneta de um e noventa e nove.

14) qualidade: vestido de primeira.

15) semelhança ou comparação: olhos de gata, atitude de jumento.

16) tempo: dormir de dia, estudar de tarde, sair de noite, de pequeno se torce o pepino.

DESDE (introduz adjunto adverbial)

1) lugar: dormir desde São Paulo até Pernambuco.

2) tempo: dormir desde o amanhecer.Obs. Nunca use desde de.

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EM (introduz objeto indireto e adjunto adverbial)

1) estado ou qualidade: ferro em brasa, televisor em cores, foto em branco e preto, voto em branco.

2) fim: vir em socorro, pedir em casamento.

3) forma ou semelhança: juntar as mãos em concha.

4) lugar: ficar em casa, entregar em domicílio, a janta está na mesa, ficar/estar em Recife.

5) meio: pagar em cheque, indenizar em ações.

6) modo: ir em turma, em bando, em pessoa; escrever em Francês.

7) preço: avaliar a casa em cem milhões de reais.

8) sucessão: de grão em grão, de porta em porta.

9) tempo: fazer algo em quatro horas, destruir algo em minutos.

10) transformação ou alteração: mudar a água em vinho, transformar ensino em lucro.

ENTRE (introduz adjunto adverbial)

1) lugar: estar entre a França e a Espanha, afundar entre os rochedos.

2) meio social: estar entre os índios, viver entre os animais.

3) reciprocidade: Entre mim e ela, há harmonia; Entre nós existe muita paz.

PARA (introduz complemento nominal e adjunto adverbial)

1) consequência: estar muito alegre para preocupar com Português, ser bastante inteligente para não cair em armadilhas.

2) fim: nascer para o trabalho, chegar para arrebentar, chegar para a conferência.

3) lugar: ir para Santos, apontar o dedo para o céu.Obs. O uso da preposição para (com ideia de lugar) expressa uma permanência

definitiva ao local indicado. Já a preposição a (também com idéia de lugar) significa permanência transitória.

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4) proporção: As baleias estão para os peixes assim como nós estamos para as galinhas.

5) referência: para mim, estar tudo bem.

6) tempo: água para dois ou três dias, viajar para o final de dezembro.

PERANTE (introduz adjunto adverbial

1) lugar (posição em frente): perante o juiz, perante Deus.Obs. Nunca use a preposição a após a preposição perante (perante a).

POR (introduz objeto indireto, complemento nominal, agente da passiva e adjunto adverbial)

1) causa: encontrar alguém por coincidência, ser preso por vadiar, por isso.

2) conformidade: tocar pela partitura, copiar pelo original.

3) favor: morrer pela Pátria, lutar pela liberdade, falar pelo réu.

4) lugar: ir pela avenida Liberdade, estar por aqui.

5) medida: vender bolacha por quilo.

6) meio: ir por terra, levar pela mão, enviar pelo Correio, recado por alguém.

7) modo: fazer a chamada por ordem numérica, saber por alto alguma coisa.

8) preço: comprar algo por dez reais, vender por custo.

9) quantidade: chorar por três vezes, perder por 2 a 1.

10) substituição: deixar o PDS pelo PTB, deixar o certo pelo duvidoso, comprar gato por lebre, jurar por Deus, valer por cinco homens.

11) tempo: estar em algum lugar pelo Natal, viver por muitos anos, brincar só pela manhã.

SEM (introduz adjunto adnominal e adjunto adverbial)

1) ausência ou desacompanhamento (pode ser vista como modo): estar sem dinheiro, palavras sem sentido, balão sem oxigênio.

SOB (introduz adjunto adverbial)

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1) lugar (posição inferior): estar sob a mesa, ficar sob o viaduto.

2) modo: sair sob pretexto, cantar sob pressão.

3) tempo: haver progresso sob a presidência de Jânio Quadros.

SOBRE (introduz adjunto adverbial)

1) assunto: falar sobre futebol, conversar/discutir sobre gramática.

2) direção ou oposição: ir sobre o adversário, jogar-se sobre o corpo do menino.

3) lugar: jogar-se sobre o sofá, cair sobre a lavoura.

Trás

No Português contemporâneo, usa-se apenas nas locuções adverbiais para trás (ir para trás) e por trás (chegar por trás) e na locução prepositiva por trás de (ficar por trás do muro).

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