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8/12/2019 LIVRO 2013 MUNDI Versao Final
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ISSN:2318 6003
UFRGSMUNDI:Guia de Estudos
Marina de Oliveira Finger
Willian Moraes RobertoOrganizadores
Porto Alegre, v. 1, nov. 2013
UFRGSMUNDI Porto Alegre v.1 p.1-303 2013
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Editor ChefePaulo Visentini (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Comit EditorialAnalcia Danilevicz Pereira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil) Andr Reis da Silva (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
rico Esteves Duarte (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Henrique de Castro (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Luiz Augusto Faria (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Jacqueline Haffner (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Jos Miguel Martins (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Marco Aurlio Cepik (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Snia Ranincheski (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Conselho EditorialLarissa Monteiro (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Luza Gimenez Cerioli (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)Diogo Ives (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Marcelo Kanter (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Marina de Oliveira Finger (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Willian Moraes Roberto (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Renata Schmitt Noronha (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
ContatoNcleo Brasileiro de Estratgia e Relaes Internacionais (NERINT)Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto Latino-Americano de Estudos Avanados
Campus do Vale, Prdio 43322
Av. Bento Gonalves, 9500, CEP 91509-900, Porto Alegre, RS
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Sobre a Revista
UFRGSMUNDI: Guia de Estudos uma publicao acadmica produzidacom o apoio do Centro Estudantil de Relaes Internacionais (CERI-UFRGS), do
UFRGSMUN e do Ncleo Brasileiro de Estratgia e Relaes Internacionais
(NERINT). O objetivo do peridico popularizar o estudo das Relaes
Internacionais entre alunos da graduao e do Ensino Mdio. Os artigos so
inditos e escritos em lngua portuguesa por alunos de graduao da UFRGS, de
acordo com os temas escolhidos pelo Conselho Editorial do peridico. A escolhadas temticas se d dentro de parmetros como a relevncia dessas para as
Relaes Internacionais e a proximidade dessa com a realidade dos alunos de
Ensino Mdio.
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Apoio:
Arte da Capa: Lucas Barbosa
Edio da Capa: Paula Moizes, Jordy Passa e Fernanda Zaffari
Qualquer parte desta publicao pode ser reproduzida, desde que citada
a fonte.
DADOS INTERNACIONAIS DE CATALOGAO NA PUBLICA
(CIP)Responsvel: Biblioteca Gldis Wiebbelling do Amaral, Faculdade deCincias Econmicas da UFRGS
UFRGSMUNDI/ Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Faculdade de Cincias Econmicas, Curso de Relaes Internacionais.v. 1
(2013). Porto Alegre:CERI/UFRGSMUN/NERINT/UFRGS, 2013-
Anual.
ISSN 2318 6003
1. Cincia Poltica. 2. Relaes internacionais. 3. Poltica
internacional. 4. Diplomacia.CDU 327
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Volume 1, 2013 Editorial..................................................................................................................................
Conselho de Segurana das Naes Unidas Histrico: A ocupao de Angola e as agresses da frica do Sul (1984)..................................................................................................................................
Bruna Contieri, Bruna Lersch, Jssica Hring, Willian Moraes Roberto
Conselho de Direitos Humanos das Naes Unidas: Polticas deimigrao e proteo aos direitos do imigrante.................................................................................................................................. Bernardo Prates, Giulia Baro, Jlia Tocchetto, Matheus Machado Hoscheidt, VictorMerola
Programa das Naes Unidas para o Meio Ambiente: transioenergtica...............................................................................................................9
Luciana Costa Brando, Othon Veloso Schenatto, Eduardo Dondonis, MichelleBaptista, Leonardo Weber, Lucas Santos
Conferndia de Bandung ................................................................................157
Giovana Esther Zucatto, Joo Arthur da Silva Reis, Marlia Bernardes Closs, NatliaRegina Colvero Maraschin, Osvaldo Alves
Organizao dos Estados Americanos: Reduo da oferta de drogas
na Amrica Latina: o caso da plantao decoca.................................................................................................................... 194
Andr Frana, Bruna Coelho Jaeger, Giordano Bruno Antoniazzi Ronconi,Guilherme Simionato, Lusa Saraiva
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Organizao Mundial do Comrcio: Protecionismo, desenvolvimentoe segurana alimentar: negociaes acerca dos subsdios agrcolas.................................................................................................................................2
Camille Remondeau, Giovana Esther Zucatto, Mariana M. S. Bom, Renata SchimittNoronha
Corte Internacional de Justia: Corpo Diplomtico e Consular dosEstados Unidos em Teer (Estados Unidos v. Ir).................................................................................................................................2
Andr da Rocha, Fernanda Graeff Machry, Luza Leo Soares Pereira, Michelle
Gallera Dias
Agncia de Comunicao.................................................................................272
Jade Knorre, Paula Moizes, Sarita Reed, Vinicius Fontana
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Editorial
O UFRGSMUNDI, Simulao das Naes Unidas para Secundaristas do Rio
Grande do Sul, teve sua origem na ao de um grupo de estudantes da UFRGS que
desejavam democratizar a tradicional simulao em ingls UFRGSMUN, voltada
para universitrios. A seleo de escolas, a maioria pblica, bem como todo
planejamento para a simulao realizada em portugus, foi feita pela equipe
organizadora de estudantes. Isso resultou, com a primeira edio, noengajamento de professores e alunos secundaristas, com enorme entusiasmo.
Sempre foi difcil aos professores de histria, geografia, filosofia, artes,
idiomas e sociologia, entusiasmarem seus estudantes a partir dos tradicionais
manuais escolares. A simulao, entretanto, permitindo que cada um buscasse
entender um pas em profundidade, a ponto de defend-lo como delegado,
mudou completamente a situao, pois era necessrio buscar conhecimentos einformaes em diversas reas. Sem perceberem, se tornavam multidisciplinares,
como o campo das relaes internacionais.
Os contedos aborrecidos das disciplinas isoladas ganharam novo
significado quando associados a problemas da guerra e da paz, prosperidade e
misria, entre outros. O exerccio permitiu a descoberta de outra realidade por
detrs dos clichs jornalsticos e das informaes da internet, sempreacompanhadas de imagens sensacionalistas. A iniciativa despertou talentos e
projetos futuros para muitos estudantes secundaristas. O sucesso do evento,
inclusive, gerou um problema: a cada ano o nmero dos que desejam participar
maior.
Assim, esta iniciativa dos alunos de relaes internacionais da UFRGS
demonstra, mais do que uma viso empreendedora, a solidariedade que prepara
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os futuros estudiosos do tema. E assim agindo desencadeiam um fenmeno
multiplicador, pois a experincia repassada a colegas secundaristas e seus
familiares. A poltica internacional deixa, desta forma, de ser domnio de um
grupo de experts, para se popularizar. E somente assim os avanos logrados peloBrasil no cenrio internacional sero irreversveis.
Prof. Dr. Paulo Fagundes Visentini
Coord. acadmico do UFRGMUNDI
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Conselho de Segurana Das Naes Unidas HistricoA ocupao de Angola e as agresses da frica do Sul (1984)
Bruna Contieri1
Bruna Lersch2
Jssica Hring3
Willian Moraes Roberto4
1. Histrico1.1. O Imprio portugus
Angola um pas localizado na costa ocidental do continente africano.
Sua histria est inserida no contexto da colonizao da frica por pases
europeus mais especificamente no contexto de colonizao portuguesa, a qual
resultado do processo de expanso martima que marca a poca moderna na
Europa5. Portugal foi pioneiro nesse novo empreendimento martimo visto sua
tima posio geogrfica na ponta oeste da Europa, projetando-se em direo
1 Estudante do 1 semestre de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e do 3semestre de Relaes Internacionais da ESPM-RS. 2Estudante do 3 semestre de Relaes Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS). 3Estudante do 5 semestre de Relaes Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS). 4Estudante do 5 semestre de Relaes Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul(UFRGS). 5 Nesse perodo, a economia europeia comeava a desenvolver-se e utilizava-se cada vez mais amoeda, diferentemente do antigo perodo feudal. A burguesia foi consolidando-se como importanteclasse e aliou-se ao Rei, o que possibilitou a formao dos Estados Nacionais atravs da centralizaodo poder nas mos de um monarca. Essas transformaes, aliadas a inovaes tecnolgicas quesurgiam, tais como a bssola e a caravela, possibilitaram a superao das barreiras medievais para o
desenvolvimento econmico. A partir da, os Estados comearam a enviar expedies martimas a fimde ampliar seus mercados e de encontrar novas fontes de metais preciosos.
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ao Oceano Atlntico e ao norte da frica e devido a sua centralizao precoce6.
A constituio do Imprio Colonial Portugus iniciou-se em 1415 e, em 1456,
Portugal d inicio ao povoamento do continente africano. A partir da, lanam-se
as bases para a expanso do domnio portugus, com o estabelecimento de
entrepostos comerciais na costa ocidental africana. No final do sculo XV, o Cabo
das Tormentas ponto mais ao sul do continente africano contornado,
abrindo caminho para a colonizao da costa oriental africana.
Quando os portugueses desembarcaram na frica, o continente era
constitudo por inmeros reinos e sociedades distintos, os quais possuam
culturas, sistemas polticos e econmicos particulares. Angola, por exemplo,
formou-se como o resultado da unio de dois desses reinos: Ndongo e Matamba
(CAVAZZI DE MONTECUCCOLO, 1965). Nesse sentido, Portugal, assim como as
outras potncias europeias, passou sculos aproveitando-se de conflitos tnicos e
estimulando uns contra os outros com o objetivo de enfraquecer a unidade
interna dos pases africanos e, dessa forma, facilitar a sua dominao e presena
nesses territrios.
Portugal estava interessado em Angola como um mercado abastecedor
de escravos para suas outras colnias como, por exemplo, o Brasil, que
vivenciava o ciclo da cana de acar e posteriormente da minerao, atividades
6 A centralizao precoce de Portugal e a formao de seu Estado Nacional devem ser entendidas nocontexto da Guerra de Reconquista e posterior Revoluo de Avis. A Guerra de Reconquista foi umprocesso que ocorreu na Pennsula Ibrica, entre o sculo VIII e o sculo XV, com o objetivo deexpulsar os rabes que estavam nessa regio. Enquanto os reinos que, apenas em 1469, dariamorigem Espanha, estavam envolvidos na Reconquista, Portugal, que antes era um condado do reinode Leo, tornou-se independente, sob o comando de D. Afonso Henriques. Em 1383, com a morte deD. Fernando, Castela tenta incorporar Portugal, mas uma revolta portuguesa expulsa os partidrios deCastela do pas e proclama um novo rei, dando inicio a dinastia de Avis. Mais uma vez, Portugalafirma-se como Estado Nacional. A partir da, pde concentrar seus esforos para investir em
empreendimentos como a expanso martima.
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dependentes de mo de obra escrava. Alm disso, Portugal tambm teve
motivaes e incentivos religiosos para expandir-se a ultramar, pois o clero
desejava converter outros povos ao cristianismo e assim aumentar suainfluncia7.
A partir do sculo XIX, com a independncia do Brasil, Portugal
aumentou sua presena em suas colnias africanas para compensar a perda de
recursos que antes eram provenientes de sua colnia americana. A crescente
industrializao portuguesa tambm foi um incentivo ao aumento da explorao
nessas regies como forma de obter matrias-primas. Alm disso, outraspotncias europeias como Inglaterra, Frana, Alemanha e Itlia apresentavam um
interesse cada vez maior em explorar outros territrios, tambm em busca de
matrias-primas, configurando, dessa forma, uma forte concorrncia a Portugal e
pressionando-o a controlar mais fortemente suas colnias e afirmar, perante
esses outros pases, a sua posio de domnio nessas reas.
Em 1884 ocorreu a Conferncia de Berlim, encontro proposto porPortugal, com o objetivo de redefinir as possesses coloniais africanas entre as
potncias imperialistas da poca. Esse evento demarca uma nova fase do
imperialismo europeu em busca de colnias, dessa vez centrada no continente
africano e asitico. A diviso da frica resultante da Conferncia foi totalmente
arbitrria, se dando de acordo com os interesses europeus, sem respeitar os
diferentes traos tnicos, culturais, sociais e polticos dos pases africanos, o queresultou em inmeros conflitos internos e guerras civis.
Nesse perodo, Angola ia se tornar a principal colnia portuguesa na
frica, pois se descobriu que era rica em jazidas minerais de petrleo, diamantes
7Aumentar a influncia e o domnio da Igreja Catlica sobre essas regies era uma forma de fortalecerem dobro a presena europeia na frica, uma vez que o poder catlico estava assentado na Europa.
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e ferro. A agricultura tambm comeou a gerar retornos metrpole, tendo como
principais produtos comerciais o caf, o algodo e o fumo8. Assim sendo, para
manter um controle mais rgido de sua colnia, Portugal estruturou o pas
conforme seus interesses, mantendo uma elite de aristocratas, religiosos e
funcionrios, enquanto a massa de trabalhadores estava na base da pirmide
social.
No incio do sculo XX, Portugal deixou de ser uma monarquia e tornou-
se uma Repblica. Este evento inaugurou um perodo caracterizado por uma
forte instabilidade de governos em Portugal, o que incentivou movimentos
nacionalistas e proporcionou uma maior autonomia s colnias em funo da
desestruturao do quadro burocrtico da metrpole (VISENTINI, 2012).
1.2. O contexto do sculo XX: as Grandes Guerras e a Guerra Fria
Este mesmo sculo XX foi marcado por acontecimentos que abalaram e
modificaram profundamente as relaes internacionais. As duas grandes guerras
foram caracterizadas por conflitos entre as ambies imperialistas das potncias
e resultaram em danos significativos para todos os pases envolvidos. Aps as
guerras, segue-se a decadncia da influncia europeia no sistema internacional,
visto que muito embora importantes pases europeus tenham sado vitoriosos,
estes tiveram suas economias abaladas devido aos gastos de guerra, ficando
impossibilitados de retomar suas antigas posies hegemnicas (HOBSBAWM,
1994).
8A abolio da escravatura em Angola j vigorava desde 1878. Logo, vrios experimentos agrcolasforam feitos a fim de encontrar um produto que substitusse os escravos na pauta de exportao da
colnia (VISENTINI, 2012).
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Nesse contexto, os EUA, que conseguiram manter-se fortes durante as
duas grandes guerras, surgiram como credores dos pases europeus, tornando-os
dependentes do capital estadunidense para a reconstruo de suas economias. AURSS, apesar de ter sofrido grandes perdas humanas e altos gastos durante os
conflitos mundiais, tambm ganhou importncia aps a II Guerra Mundial por
ter sido pea fundamental para a vitria dos aliados, adquirindo influncia
diplomtica internacionalmente. Alm disso, foi sua economia interna forte e
relativamente fechada em relao economia mundial que fez com que
conseguisse manter certa estabilidade econmica, assumindo uma posiovantajosa em relao aos pases europeus, que estavam totalmente fragilizados.
Com sua ascenso, EUA e URSS constituram blocos distintos entre si, os
quais defendiam ideologias divergentes, uma capitalista, sob a hegemonia dos
EUA, e a outra socialista, mantida pela URSS. Era o incio da Guerra Fria, perodo
no qual o Sistema Internacional tornou-se bipolar, isto , dominado por duas
grandes potncias, as quais se ameaavam mutuamente e utilizavam suainfluncia em Estados do Terceiro Mundo para atacar-se indiretamente, haja
vista o perigo de uma guerra nuclear num conflito direto entre os dois blocos.
Aps a II Guerra Mundial, os pases europeus, incluindo Portugal,
direcionaram todos os seus esforos para a sua reconstruo interna, baseada no
capital estadunidense,tornando a explorao efetiva das colnias cada vez mais
invivel do ponto de vista econmico9. Dessa forma, a presena das metrpoles
9Os EUA financiaram a reconstruo, aps a II Guerra Mundial, dos pases aliados europeus por meiode um plano econmico conhecido como Plano Marshall, criado em 1947. Essa ajuda consistiabasicamente em emprstimos financeiros. O Plano Marshall pode ser entendido, no contexto daGuerra Fria, como uma forma de fortalecer o capitalismo e a hegemonia estadunidense. EmboraPortugal no tenha se envolvido diretamente na II Guerra Mundial, teve sua economiadesestruturada, pois exportava para os pases envolvidos e, devido ao conflito, essas exportaes
caram, afetando a economia portuguesa. Nesse sentido, Portugal insere-se no Plano Marshall dereconstruo europeia.
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nas colnias tornou-se cada vez menor, assim, os pases africanos tiveram a
oportunidade de radicalizar seus movimentos nacionais e anticoloniais. Os EUA e
a URSS, mesmo defendendo ideologias diferentes, adotavam um posicionamento
parecido ao ser contra o colonialismo, seja alegando a livre determinao dos
povos, como os americanos, seja opondo-se ao imperialismo capitalista, no caso
sovitico.
Durante a Guerra Fria ocorre a Era das Independncias(HOBSBAWM,
1994), na qual os pases africanos lutaram, por meio de movimentos populares,
por sua descolonizao10. Considerando a constante concorrncia entre as duas
grandes potncias do perodo, era de extrema importncia que elas
conseguissem o maior nmero possvel de zonas de influncia no mundo, pois
estariam legitimando, internacionalmente, os seus modos-de-produo. Dessa
forma, EUA e URSS apoiavam os processos de independncia dos pases africanos
e, aps a independncia efetiva, ofereciam ajuda para estrutur-los internamente.
Esse tipo de ajuda para o desenvolvimento era o modo de manter um elo de
dependncia financeira e burocrtica entre esses novos e frgeis pases e as
potncias centrais.
Outro aspecto fundamental desse perodo que quando os pases
africanos conseguiam conquistar sua independncia em relao s antigas
metrpoles, iniciavam-se disputas domsticas para decidir quem seriam as elites
dirigentes que governariam a poltica nacional, visto que esses pases possuam
inmeras contradies internas resultantes dos primeiros processos de
10Era das Independncias um termo criado pelo autor Eric Hobsbawn (1994) para referir-se aosprocessos de descolonizao que ocorreram ao longo do sculo XX, no s na frica, mas tambm na
sia e Oceania.
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colonizao e acentuadas com a diviso arbitrria do continente prevista na
Conferncia de Berlim. Tudo isso resultou em processos de independncia
marcados por conflitos internos e posteriores guerras civis.
1.3. O processo de independncia de Angola
Ao contrrio da grande maioria das outras naes africanas que tiveram
sua independncia nas dcadas de 1950 e 1960, Angola teve o seu desligamento
da metrpole tardiamente. Tal fato deveu-se ao governo fascista de Antnio
Salazar, que no abriu mo dessa fonte de recursos e postou-se contra a mar,mantendo seus domnios tambm no restante da frica portuguesa. O processo
de independncia de Angola comeou na dcada de 1960, estendendo-se at a
dcada de 1970 quando, em vez de acontecer a celebrao da paz e da
estabilidade, os conflitos de independncia deram lugar Guerra Civil.
Havia trs grupos armados de oposio s foras de Portugal: MPLA
(Movimento pela Libertao de Angola), a FNLA (Frente Nacional pela Libertaode Angola) e a UNITA (Unio pela Independncia Total de Angola). O primeiro, de
orientao socialista e dirigido por Agostinho Neto, era o grupo mais bem
articulado e o que liderou o processo durante boa parte do perodo. Teve apoio de
pases do bloco socialista, em especial da URSS e de Cuba. A FNLA caracterizou-se
por ser bastante personalista, tendo foco o lder Holden Roberto. Era
anticomunista declarada e racista (contra brancos). Quanto UNITA, foi formadapor um membro que se desligou da FNLA, Jonas Savimbi. Era bastante fraca
militarmente, porm, teve, durante bastante tempo, o apoio dos Estados Unidos e
da frica do Sul. Sua posio ideolgica flutuava de acordo com a ajuda externa.
Houve a fuso dos dois ltimos movimentos quando da dissoluo da FNLA,
agindo todos sob o nome de UNITA (VISENTINI, 2012).
A Guerra Popular de Libertao do Povo Angolano teve seu incio em 1961,
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tendo sido treze anos de disputa entre os trs movimentos de libertao e o
governo portugus. O conflito foi, em sua maior parte, liderado pelo MPLA, exceto
quando da priso de Agostinho Neto perodo de turbulncia interna do
movimento, quando mesmo a URSS cessa com seu auxlio, voltando a conced-lo
no momento de sua soltura em 1964, quando Cuba tambm passa a apoi-lo.
Nesse mesmo ano de 1964 houve, por meio da Organizao da Unidade Africana,
o apoio da Zmbia, que possibilitou a abertura de uma nova base militar; e da
Tanznia, que foi intermediria na recepo das armas chinesas e soviticas ao
MPLA (VISENTINI, 2002).
O conflito estendeu-se at um episdio ocorrido em Portugal conhecido
como Revoluo dos Cravos, em 1974, que incorreu na queda do regime ditatorial
fascista de Antnio Salazar e, consequentemente, rompeu as principais amarras
da colnia com a metrpole. Consequncia disso vai ser a assinatura do Protocolo
de Alvor pelos trs movimentos de independncia e pelo governo de Portugal. Tal
acordo estabelecia as condies para o desligamento da colnia, que tinha ficado
marcado para o final do ano seguinte, em 11 de novembro de 1975.
Entretanto, a declarao de paz no trouxe paz e a guerra acabou se
estendendo. Um governo de transio formado pelos trs grupos e uma
representao de Portugal foi criado, mas devido s grandes diferenas
ideolgicas entre os membros este no se sustentou. Os apoios externos
continuam e agora passam a atuar diretamente no conflito, o deixando com
caractersticas de um conflito do mbito da Guerra Fria, o que fortalecido
quando os cubanos tambm passam a combater ao lado do MPLA em Angola11. A
11
Os cubanos entraro em Angola atravs da Operao Carlota em 1975, como ser descrito adiante.
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luta passa a se travar, ento, basicamente, entre o MPLA e os outros dois
movimentos.
1.4. O papel da frica do Sul
A partir de 1976, j depois da declarao de independncia, a guerra em
Angola recebe um novo apoiador aos movimentos contrrios ao MPLA que o
grupo que obteve sucesso na unilateral declarao de independncia.12Este
apoiador a frica do Sul, pas apoiador do Ocidente na Guerra Fria e detentor do
controle da infraestrutura regional- herdada da colonizao britnica-,o qualtinha tambm sob sua dependncia os pases vizinhos em funo da sua
superioridade econmica. Tal apoio sul-africano objetivava mudar a situao
vivida pelo governo desde o fim do colonialismo portugus na frica Austral, que
causou a quebra do chamado Cord~o Sanit|rio Estados vizinhos que antes
apoiavam o regime racista de uma minoria branca, o Apartheid.
O Apartheid, regime de segregao racial, comeou a ser institucionalizadoa partir da ascenso ao poder do National Party em 1948, mesmo tendo sido
elaborado anos antes13. Tal poltica baseava-se na ideia que s seria possvel a
coexistncia da minoria branca com a maioria negra no pas se a segunda se
submetesse primeira, caso contrrio causaria o suicdio da raa branca.
De forma sintetizada, o sistema era composto pelo Pequeno Apartheid e
pelo Grande Apartheid. O primeiro era caracterizado por discriminaescorriqueiras, para a utilizao de diversos estabelecimentos, como, por exemplo,
12Houve a declarao da Repblica Popular de Angola pelo MPLA e da Repblica Democrtica deAngola pela UNITA. A segunda no obteve reconhecimento de nenhum pas, enquanto foi a primeiraque prevaleceu externamente. 13 Na formulao de seus intelectuais e na explorao dos polticos, a histria do Apartheid tem incio
pouco antes de 1948. No entanto, a da segregao antecede essa data em muito e no so poucos osanalistas que localizam suas razes no sculo XIX (PEREIRA, 2007).
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restaurantes, estdios, praias, sistemas de transporte pblico, etc. Isto , havia
diferenas estabelecidas de acordo com a cor da pele para a utilizao desses
sistemas, coexistindo num mesmo espao, bancos de nibus para brancos e
outros somente para negros, por exemplo. J o Grande Apartheid consistia nos
grandes pilares legislativos que no eram to visveis, mas significavam um
distanciamento ainda maior entre os dois povos. Alguns exemplos dessas leis so:
Group Areas Act (Lei de reas de Grupos), de 1950, que dava permisso ao
governo de tirar fora quem no estivesse na terra considerada adequada por
este; Prohibition of Mixed Marriages (Proibio de Casamentos Mistos), de 1949,
que proibia o casamento entre as ditas raas diferentes; Immoralityact (Lei de
Imoralidade), de 1927-1959, que vetava relaes sexuais entre brancos e no-
brancos.
Com as independncias das ex-colnias portuguesas, o Primeiro Ministro
da frica do Sul poca, John Vorster, temendo a possibilidade de ocorrer uma
insurreio negra generalizada na frica contra regimes de brancos, formula uma
poltica chamada de dtnte, que consistia na busca da soluo dos conflitos na
regio por meios pacficos. Segundo Wolfgang Dopcke (2008),A exposio das fronteiras da frica do Sul e da Nambia aEstados [que adotavam polticas potencialmente antiapartheid]provocou Pretria a apresentar uma nova iniciativa na polticaregional, a chamada dtnte, que governou as relaes
internacionais na frica Austral entre meados de abril de 1974 eo final de 1975. O raciocnio central desta abordagem foi o deque a nova situao de segurana da frica do Sul necessitavauma resoluo pacfica dos conflitos correntes na frica Austral(Nambia e Rodsia do Sul [atual Zimbbue, desde 1979]), senoos conflitos iriam [aumentar]. (...) os movimentos anticoloniaispoderiam se radicalizar e a maioria dos africanos chegaria aapoiar estes movimentos radicais e comunistas(DOPCKE,2008).
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Com a dtnte, Vorster objetivava alcanar alternativas para os planos
internacionais de emancipao de territrios, bem como formar governos com
participao tambm da maioria negra, embora liderados pelas elites brancas(PEREIRA, 2007). Entretanto, foi a prpria frica do Sul que acabou por
promover o fracasso definitivo desta poltica ao invadir Angola em setembro de
1976.Houve, por parte da frica do Sul, no s o comeo do que Wolfgang Dopcke
(2008) chama de tradio de interferncia repressiva no subcontinente, como
tambm a subestimao das foras do MPLA e da presena sovitica e cubana em
territrio angolano.Vale lembrar que a presena de um regime socialista alinhado Unio
Sovitica to perto da frica do Sul era extremamente indesejada no s porser
uma ameaa governana da elite branca e ao sistema capitalista em si como
tambm pelo apoio que Angola prestava aos movimentos de oposio sul-
africanos, em especial, SWAPO (Organizao dos Povos do Sudoeste Africano)14.
2. Desenvolvimento da questo2.1. As guerras com a frica do Sul: guerra em larga escala na frica Austral
2.1.1. A Estratgia Total da frica do Sul e a invaso a Angola
O colapso do imprio portugus na frica, por volta de 1975, com as
independncias de Angola e Moambique, trouxe mudanas importantes na
din}mica regional do Sul da frica. Isso acabou rompendo com o cord~osanit|rio de regimes brancos que se encontravam ao redor da frica do Sul e
que antes a protegiam de incurses vindas do resto do territrio, alm de
garantir relativo apoio a esse tipo de governo (PEREIRA, 2012). Dessa forma, a
14 A SWAPO o movimento de libertao da Nambia, territrio ainda ocupado pela frica do Sul.
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ascenso de governos de cunho marxista, que se opunham aos regimes racistas,
colocou a frica do Sul em uma posio em que esta passou a sentir-se ameaada.
Aps uma poltica externa que
no logrou resultados efetivos, o
primeiro-ministro Vorster deixou o
cargo em 1978. Em seu lugar, aps
novas eleies, Pieter Willem Botha
assume como o novo Primeiro-
Ministro, dando incio a Era Botha. Seu
governo caracteriza-se por ser
responsvel por uma grande ascenso
dos militares, os quais passaram a
influenciar o processo de formulao
poltica (BRANCO, 2003). Talfenmeno responsvel pela
mudana da poltica externa da
frica do Sul para algo mais violento
e intervencionista.
Botha considerava
que a frica do Sul estava ameaadae cercada por regimes hostis. Por
isso, e considerando que a abordagem que buscava o dilogo - dtente, tentada
por Vorster, havia falhado, o atual Primeiro-Ministro resolve recuperar o
conceito de Assalto Total que fora criado em 1973. Esse conceito, criado pelos
militares, apresentava a frica do Sul cercada por inimigos que empunham
Mapa da regio do Sul da frica. Em verde,frica do Sul, regime do Apartheid. Com as independncias
de Angola e Moambique, somados a Botswana e Zmbia,criou-se pases antiapartheid e contra a frica do Sul.Zimbabwe, independente em 1979, tambm se opor africa do Sul. Nambia territrio dependente, e ocupado
pela frica do Sul poca.Fonte:http://3.bp.blogspot.com/--
oU2j5A6jAE/TfpxeWZ9M0I/AAAAAAAABnU/3nAUBFUdjMA/s400/southern_africa_map3.JPG
http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/http://3.bp.blogspot.com/--oU2j5A6jAE/8/12/2019 LIVRO 2013 MUNDI Versao Final
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contra ela uma guerra ideolgica, visando a mudar suas ideias e valores, e
utilizando-se de todos os meios disponveis que possuam militares, polticos,
diplomticos, religiosos, culturais, econmicos e sociais. Assim, a frica do Sulestaria envolvida em uma Guerra Total (BRANCO, 2003).
A criao de um grupo de pases chamados Estados da Linha de Frente
reforou a ideia do cerco frica do Sul. Motivadas pelas recentes
independncias no sul da frica, em 1976, no mbito da Organizao da Unidade
Africana (OUA), Angola, Moambique, Botswana, Tanznia e Zmbia criam esse
grupo que objetivava coordenar esforos, recursos e estratgias para apoiar osmovimentos de libertao na rea como na Nambia, Rodsia, frica do Sul,
Moambique e Angola15.
Diante disso, um ano depois, em 1977, utilizando-se do conceito de
Assalto Total, os militares da frica do Sul formulam uma nova doutrina militar, a
Estratgia Total Nacional (ETN), a qual ser adotada formalmente na Era Botha
como a poltica externa sul-africana. Segundo a ETN, seria necessria frica doSul uma ao coordenada e interdependente em todos os campos de atividade
para proteger-se. A frica do Sul aprofundaria sua veia intervencionista, visando
a desestabilizar os pases por ela considerados inimigos, como os Estados da
Linha de Frente (PEREIRA, 2012).
No fim dos anos 1970, Botha resolve aplicar a ETN primeiramente via
setor econmico, criando a Constelao de Estados da frica Austral, a qualvisava a usar a forte economia sul-africana para dominar a regio. Estando em
uma organizao econmica com a frica do Sul, seus vizinhos no poderiam ser
15A Nambia era um territrio ocupado pela frica do Sul desde 1915, possuindo tambm um regimeracista ligado a sua ocupante. A Rodsia do Sul, atual Zimb|bue, tambm possua regime racista. Os
outros grupos dentro dos pases citados eram todos grupos de libertao nacional, que lutavamcontra esses tipos de governo racistas e segregacionistas.
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agressivos para com ela, visto que precisariam de sua economia para se
sustentar. Essa era uma tentativa de reconstruir o cordo sanitrio em favor da
frica do Sul que se rompeu aps 1975. Botswana, Lesoto, Suazilndia, Malawi e
Zmbia, muito dependentes economicamente da frica do Sul, no tiveram outra
opo seno aceitar. Entretanto, Angola, Moambique e Tanznia resistiram e no
aderiram ao plano sul-africano.
Em 1979, a Rodsia do Sul, ainda governada por Ian Smith, lder de um
regime tambm racista, estava beira de uma troca de regime. Pressionada pela
comunidade internacional, a frica do Sul esperava a entrada de um novo
governo eleito constitudo de negros moderados, e ento os apoiava visto que
pretendia que esses, aps chegarem ao poder, entrariam na Constelao Sul-
Africana. Nesse ano, Margaret Tatcher, primeira-ministra da Gr-Bretanha,
convoca as partes conflitantes do pas, que j discutiam o fim do regime racista h
anos, e, atravs do Acordo da Casa Lancaster, concordam em realizar eleies16.
Entretanto, o resultado das eleies levou vitria de Mugabe, representante dos
negros mais radicais, indo contra as expectativas da frica do Sul. O pas passa a
partir dali a se chamar de Zimbbue e no mais de Rodsia do Sul, e em 1980 ele
rejeita participar da Constelao de Estados da frica Austral, sendo esse mais
um golpe aos planos da frica do Sul.
O fim do plano econmico da ETN da frica do Sul vir em 1980, com a
formao da SADCC (Conferncia de Coordenao para o Desenvolvimento do Sul
Africano) pelos Estados da Linha de Frente. Segundo eles, era impossvel
16 Aqui vale destacar que o motivo da frica do Sul apoiar uma das possibilidades de mudana, aoinvs de defender a permanncia do regime racista similar ao dela, o medo de que acontecesse naRodsia do Sul o mesmo que aconteceu em Angola e Moambique, ou seja, uma independncia radical
e turbulenta (BRANCO, 2003).
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combater as polticas da frica do Sul e continuar cooperando com ela
economicamente. A SADCC, assim, seria uma organizao econmica entre os
Estados que se opunham a frica do Sul para livrarem-se da dependncia paracom essa e se fortificarem entre si para poderem combate-la de melhor forma.
Para crescerem sem a frica do Sul, a SADCC propunha a construo de
corredores regionais ferrovias e rodovias que passassem por dentro de vrios
dos pases membros para que a produo destes pudesse ser escoada
(BRANCO, 2003). Isso criaria uma infraestrutura independente da frica do Sul,
visto que este o pas que herdou o sistema de ferrovias e rodovias coloniais.Sentindo-se ainda mais ameaada, a frica do Sul deixa de lado sua
tentativa econmica de realizar a ETN e parte para uma abordagem mais
agressiva. Adota ento, desde 1980, uma poltica de Desestabilizao
Generalizada para com os Estados da Linha de Frente. Suas aes se tornam mais
militarizadas, focando na contra insurgncia17. A partir da,
A frica do Sul (passa) a fazer incurses sistemticas nos pases vizinhos,dando assistncia de combate a grupos antigovernamentais, como no caso da
UNITA [...]. Tambm (faz) parte [...] o apoio financeiro e logstico para
treinamento e concesso de armamentos e a garantia de acolhida no territrio
sul-africano de grupos que (lutarem) contra os Estados da Linha de Frente a
UNITA, em Angola, a RENAMO, em Moambique [...]. Outro instrumento de ao
estratgica () a sabotagem. (So) inmeros os atos contra alvos econmicos emilitares nos Estados da Linha de Frente realizados por comandos sul-africanos,
bem como o envolvimento em golpes militares ou tentativas de golpes [...]. Por
17Medidas de contra insurgncia so aes tomadas pelos governos para acabarem com as atividadesde grupos insurgentes que se levantam contra as polticas do regime em questo. Os insurgentes
visam a destruir ou minimizar a autoridade poltica de uma regio, enquanto os contra insurgentesobjetivam proteger essa autoridade e diminuir o poder dos insurgentes.
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fim, [...] (h) aes militares, atentados e ataques contra o CNA e a SWAPO18, mas
tambm contra campos de refugiados e simpatizantes dos movimentos em quase
todos os Estados da Linha de Frente. A ideia, portanto, () a de neutralizar esses
pases no que diz respeito sua postura antiapartheid (PEREIRA, 2012).
Os principais pases atingidos so Moambique e Angola. Moambique,
alm de estar apoiando o CNA, um territrio estratgico para a SADCC, pois
possui trs dos cinco corredores de transportes regionais em construo. A
destruio destes est ligada a tentativa de inviabilizar os planos econmicos e
polticos da SADCC. So desferidos ataques ao territrio moambicano tanto por
parte das Foras de Defesa Sul-Africanas (SADF) quanto pela RENAMO, apoiada
pela frica do Sul (BRANCO, 2003).
Quanto a Angola, a frica do Sul, utilizando-se do territrio que ocupava
da Nambia, realiza em 1981 a chamada Operao Protea. Utilizando como
justificativa para sua a~o o direito de persegui~o o qual permite adentrar
em territrio vizinho quando em perseguio a invasores de seu territrio, a
frica do Sul adentra no sudeste de Angola, em suposta perseguio aos
membros da SWAPO, os quais possuam base e eram apoiados por Angola
(GEORGE, 2005). Entretanto, aps destruir certo nmero de bases da SWAPO,
5.000 soldados sul-africanos permaneceram no local ocupando essa regio de
Angola at hoje, mesmo sob constante represlia e condenao internacional.
18 O CNA (Congresso Nacional Africano) e o SWAPO (Organizao do Povo do Sudoeste da frica) soos grupos de negros libertrios da frica do Sul e da Nambia, respectivamente, assemelhando-se aoMPLA em Angola e ao FRELIMO (Frente de Libertao de Moambique) em Moambique. A UNITA e aRENAMO (Resistncia Nacional Moambicana) so ambos grupos antigovernamentais, na Angola e
em Moambique respectivamente, apoiados pela frica do Sul.
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Desde a invaso a Angola, a frica do Sul vem apoiando a UNITA para
ambas lutarem em territrio angolano contra as foras do MPLA, da SWAPO e de
Cuba. Nos seis primeiros meses aps a Operao Protea, as foras da frica do Sulmataram mais de 600 guerrilheiros e tomaram vastas quantidades de
equipamento militar, repassadas para a UNITA. Durante 1982 e 1983, apesar de
um aumento na ajuda sovitica s foras que lutam ao lado de Angola, a UNITA
expandiu seus ataques, os quais hoje vo desde pequenas incurses at assaltos
em grande escala (GEORGE, 2005).
Recentemente, em 1983, a frica do Sul, ainda entrincheirada em Angola,realizou uma nova srie de violentos ataques durante a Operao Askari.
Inicialmente planejada como uma pequena incurso, a operao
expandiu-se at envolver quatro unidades mecanizadas de 500 homens que
cruzariam Angola para atacar concentraes da SWAPO identificadas atravs de
reconhecimento areo , enquanto unidades menores patrulham a fronteira para
interceptar qualquer guerrilha que tente infiltrar-se no territrio da Nambia. Asforas terrestres seriam apoiadas por caas-bombardeiros Mirage e Impala
(GEORGE, 2005).
A operao comeou em 6 de Dezembro de 1983, e menos de uma
semana depois, Botha surpreendeu a todos oferecendo a retirada de tropas de
Angola caso esta expulsasse as foras da SWAPO de seu territrio. Entretanto, no
dia 20 de Dezembro de 1983, com a negao de Angola, o Conselho de Seguranadas Naes Unidas passou a Resoluo 546 demandando a sada da frica do Sul
da Angola imediatamente, bem como pagamento de reparaes ao pas invadido.
A frica do Sul no se retirou e as negociaes que ocorriam por trs como se
ver| na sess~o 1.3 complicaram-se.
Nesta sesso de 6 de Janeiro de 1984, o Conselho de Segurana das
Naes Unidas novamente se rene para tentar resolver os problemas das
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investidas da frica do Sul em Angola. H trs dias, em 3 de janeiro de 1984,
ignorando a Resoluo 546 e todas as outras j passadas por este rgo, a frica
do Sul, ainda sob a Operao Askari, realiza forte investida contra a cidade
angolana de Cuvelai, onde perto h campos de treinamento das foras da SWAPO.
Apesar das fortes chuvas que j transformaram o campo de batalha em um
pntano, a batalha continua e as foras angolanas responderam em ajuda a
SWAPO com seus prprios tanques T-55, provenientes da URSS. Tm-se dito que
as foras sul-africanas supostamente j mataram mais de 300 soldados da
SWAPO, de Angola e de Cuba, e sofreram uma perda de mais de 20 soldados.
necessria uma resposta a esse combate feroz que j dura trs dias, bem como a
esse problema que se estende desde 1981 com a ocupao sul-africana do
sudeste de Angola.
2.1.2. A Questo da Nambia
necessrio explicitar todo o problema por trs da ocupao da frica
do Sul no territrio da Nambia, ao tambm condenada pela comunidade
internacional h anos. A histria das ocupaes na Nambia comea em 1884
quando a Alemanha a transforma em sua colnia. Criou-se um regime
segregacionista, extremamente discriminatrio para com os negros que ali
habitavam, algo semelhante ao prprio Apartheid. Entretanto, de 1904 a 1907 os
nativos tentam expulsar os alemes, mas acabam sendo massacrados. Somente
em 1915, durante a Primeira Guerra Mundial, que a frica do Sul, apoiada pela
Gr-Bretanha e Frana, expulsar a Alemanha. Aps a expulso, as tropas sul-
africanas ficam estacionadas no territrio namibiano.
Em 1919, aps o fim da guerra e com a criao da Liga das Naes, essa
passa o territrio da Nambia para a frica do Sul como um mandato de proteo.
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Suas instituies polticas criadas so incorporadas s da frica do Sul, havendo
representantes da Nambia no Parlamento sul-africano, indicando uma
dominao real da frica do Sul sobre tal territrio. Porm, a partir de 1966,forma-se o grupo SWAPO, e os negros passam a querer a independncia e a
libertao da frica do Sul, que nega. A ONU, no mesmo ano, comea a condenar a
presena sul-africana na Nambia e em 1969 o Conselho de Segurana da ONU
passa as primeiras resolues, Resoluo 264 (1969) e 269 (1969), declarando
ilegal as aes da frica do Sul (BRANCO, 2003).
Sob presso, a frica do Sul em 1975 cede e h a realizao de umaconferncia nacional, sem a presena da SWAPO. Forma-se um grupo poltico, o
DTA, apoiado pela frica do Sul. Um ano depois, em 1976, o Conselho de
Segurana passa a resoluo 385 (1976), reforando uma opinio da Corte
Internacional de Justia que considerou necessria a imediata remoo de tropas
da frica do Sul da Nambia, e demanda a realizao de eleies. Em 1978 as
eleies acontecem e o chefe do grupo DTA assume o governo na Nambia.Porm, a frica do Sul continua mantendo presena na regio e alguns anos
depois passa a usar este territrio como base para lanar seus ataques contra a
Angola, no escopo da Estratgia Total Nacional. Essa presena continuada
enfraquece o governo criado em 1978, que em 1983 dissolvido, voltando a
frica do Sul a governar o territrio da Nambia. O Conselho de Segurana
responde em 1983 com uma nova resoluo, Resoluo 532 (1983), condenandoa contnua ocupao da frica do Sul (BRANCO, 2003). Hoje, 1984, o problema
continua sem ser resolvido, e a Nambia continua sendo base para as aes da
frica do Sul em Angola. A frica do Sul insiste que sua retirada dali deve ser
acompanhada de contrapartidas da Angola, segundo a Poltica de Ligao, como
se ver a seguir.
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2.1.3. A Poltica de Ligao e as Aes Prvias da ONU
A frica do Sul diz-se disposta a sair de Angola e da Nambia caso receba
uma contrapartida por parte do governo angolano. Essa seria a expulso das
tropas da SWAPO do territrio de Angola, bem como a expulso das tropas
cubanas ali presentes. Essa ideia baseada na Poltica de Ligaes, trazida pelos
EUA quando esse passou a tentar mediar o conflito diretamente entre as partes.
Em 1978, o Conselho de Segurana havia passado a Resoluo 435
(1978), que demandava mais uma vez a sada da frica do Sul da Nambia. J ali, a
frica do Sul expressou-se dizendo que no era contra a independncia da
Nambia, porm no aceitaria a Resoluo 435 (1978) porque ela no abarcava a
principal causa de perigo para a frica do Sul: a presena de bases da SWAPO em
Angola e o apoio que essas tropas tinham de Cuba e do governo angolano. Se
simplesmente sasse da Nambia, a frica do Sul ficaria exposta e aberta ao perigo
de guerrilhas que queriam derrubar o regime do Apartheid.
Em 1981, os EUA agem para mediar o conflito e reforam a posio da
frica do Sul, a apoiando e criando oficialmente a Poltica de Ligao sada da
frica do Sul da Nambia e Angola ocorrendo apenas se Angola expulsasses
tropas da SWAPO e de Cuba do seu territrio. Assim, com a formulao
estadunidense, a independncia da Nambia e a presena dos cubanos em Angola
tornaram-se conflitos ligados diplomtica e politicamente (PEREIRA, 2012).
Angola e Cuba responderam em 1982 com uma declarao conjuntura, numa
espcie de revers~o da poltica de liga~o, pois demandavam a independncia
da Nambia, eleies e a sada da frica do Sul dali antes da retirada de Cuba de
Angola. Mesmo com as diferenas, nota-se que parece haver uma aceitao de
ambos os lados de que a resoluo para ambos os conflitos ocupao em Angola
e Nambia est realmente ligada (GEORGE, 2005).
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Quanto s aes tomadas pela comunidade internacional e pela ONU no
combate as aes da frica do Sul, vale ressaltar alguns acontecimentos. Em
1962 a ONU cria o Comit Especial Contra o Apartheid, em clara condenao dasprticas desse regime. No mesmo ano, a Assembleia Geral consegue aprovar um
pedido ao Conselho de Segurana para que expulsassem a frica do Sul da ONU,
vetado pela Frana, Gr-Bretanha e EUA. No ano seguinte, cria-se um embargo
proibio de comrcio voluntrio de venda de armas frica do Sul (BRANCO,
2003).
Em 1976, a Assembleia Geral apoia uma resoluo condenando asprticas racistas e a poltica dos Bantustes na frica do Sul e no mesmo ano o
Conselho de Segurana aprova a Resoluo 387 (1976) condenando as incurses
da frica do Sul em Angola durante o perodo de sua guerra civil. No ano seguinte
a Resoluo 417 (1978) condena oficialmente a frica do Sul pela primeira vez
como racista. A ONU tambm proclama o perodo entre 1978-1979 como o Ano
da Luta contra o Apartheid.Em 1979, Resoluo 447 (1979) e Resoluo 454 (1979) do Conselho de
Segurana condenam novamente as incurses sul-africanas em Angola, bem
como a Resoluo 475 (1980) no ano seguinte, que j demonstrava a ligao
entre a utilizao do territrio da Nambia pela frica do Sul para desferir
ataques em Angola. Mesma condenao frica do Sul sucede-se aps sua nova
invaso e ocupao do sudeste de Angola em 1981 com a Operao Protea,ocorrendo o mesmo com a Resoluo 545 (1983), durante a Operao Askari.
2.2. A Guerra Civil de Angola como palco da Guerra Fria
A guerra civil de Angola, por seus desdobramentos e intervenes
diretas ou indiretas das Grandes Potncias, foi um dos cenrios da Guerra Fria.
A atuao das duas potncias em Angola ocorreu devido ao medo, por ambos os
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lados, que os interesses da potncia rival predominassem no continente africano,
seja por meio da ascenso de algum partido que no satisfizesse sua agenda
poltica, ou meramente por uma questo de prestgio e demonstrao de poder e
influncia nesse sistema.
At o momento da aprovao da operao IA Feature19 em julho de 1975
pela administrao Ford, os EUA no estavam preocupados com a situao em
Angola20: a agenda estadunidense estava voltada para outras questes, como, por
exemplo, as negociaes do acordo SALT II21, as guerras no Oriente Mdio, a
ascenso do comunismo na sia, a situao econmica interna, etc. Ao mesmo
tempo, entretanto, os EUA tinham um compromisso com os pases aliados na
frica Subsaariana de evitar a ascenso de governos comunistas, os quais
atuariam como fator desestabilizador na regio, havendo a possibilidade de
acabar com a poltica da dtente entre a frica do Sul e os pases da Linha de
Frente.
O lanamento da IA Feature tinha um contexto muito mais amplo,
envolvendo a capacidade de liderana dos Estados Unidos no sistema
internacional, cujo prestgio decara com o fracasso estadunidense em conter o
comunismo no Vietn, havendo a possibilidade dos pases duvidarem de sua
19Operao da CIA que dava suporte aos movimentos UNITA e FNLA, por meio de recursoseconmicos e instrutores militares para treinamento das guerrilhas. A IAFeature previu o envio de 14
milhes de dlares resoluo do conflito - US$ 8 milhes foram destinados para armas e avies queas transportariam de Kinshasa a Angola, US$ 2,75 milhes para encorajar Mobutu a enviar maisarmas a FNLA e UNITA e US$ 2 milhes que seriam destinados a Roberto e Savimbi para cobrir oscustos de operao (GLEIJESES, 2003, p. 294). 20Desde 1961 a CIA esteve patrocinando Holden Roberto, mas com recursos pouco significativos, osquais aumentariam de US$ 6.000,00 ao ano para US$ 10.000,00 mensais, em 1974 (GLEIJESES, 2003,p. 279). 21Os tratados SALT I e II (do ingls, Negociaes sobre Limites para Armas Estratgias) foram osresultados de duas rodadas de negociaes que tinham como objetivo limitar os armamentos com
capacidade nuclear dos EUA e da URSS.
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habilidade em conter a expanso comunista. Desse modo, a humilhao dos EUA
na sia fortaleceu a oposio poltica de dtente com a URSS22, exigindo uma
postura mais forte diante do bloco sovitico, tornando Angola o palco para areafirmao dos interesses dos Estados Unidos (GLEIJESES, 2003).
Durante a guerra civil, os Estados Unidos deram suporte ativo aFNLA e UNITA, e depois da independncia se referiam ao governo doMPLA como uma marionete da Unio Sovitica e de Cuba(SOMERVILLE, 1986, p. 181, traduo nossa).
A Unio Sovitica passa a prover suporte militar modesto ao MPLA
apenas no final dos anos 1961, sendo este frequentemente paralisado emdecorrncia do esprito da dtente e das negociaes SALT II (GLEIJESES, 2003).
De acordo com um memorando do Departamento de Estado dos EUA, no
momento da independncia, o MPLA havia recebido do bloco sovitico
equipamentos militares no valor de US$ 81 milhes, enquanto que os EUA e a
frica do Sul haviam contribudo com US$ 78 milhes, sem contar os recursos
enviados pela China, Frana, Inglaterra, etc. (GLEIJESES, 2003, p. 350). Os soviticos intervieram em Angola lentamente e relutantemente.Sua ajuda ao MPLA comeou no incio de 1975, depois de Pequimter enviado instrutores e armas para a FNLA de Roberto. Em agosto,apesar das evidncias de aumento no suporte externo a FNLA eUNITA, Brejnev rejeitou a proposta de Cuba [que oferecera enviarsuas tropas]. At a metade de outubro de 1975 a guerra permaneceulargamente uma luta entre Angolanos, e o MPLA estava vencendo(). [Porm,] com o encorajamento deWashington, a frica do Sulinvadiu Angola. Cuba respondeu enviando tropas [atravs daOperao Carlota]. [O]s sul-africanos foram forados a recuar, e osEstados Unidos sofreram uma derrota humilhante (GLEIJESES,2003, p. 389, traduo nossa).
22A dtente foi a poltica externa dos Presidentes dos EUA Richard Nixon e Gerald Ford em relao
URSS, prevendo um abrandamento nas relaes com esta, sendo caracterizada por uma srie denegociaes e acordos, dentre eles SALT I e II e os acordos de Helsinki.
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A Operao Carlota que faria a URSS participar ativamente da guerra civil
em Angola. Esta operao foi a grande interveno cubana, pautada numa fora
de 30.000 soldados presentes neste territrio entre novembro de 1975 e maro
de 1976. A deciso foi tomada aps a interveno sul-africana apoiada pelos EUA,
que fez com que Cuba respondesse enviando tropas de imediato a Angola, mesmo
sem consultar a URSS. Objetivava auxiliar a FAPLA (Foras Armadas Populares de
Libertao de Angola) no combate s guerrilhas e incurses e garantir que o
MPLA fosse o nico partido presente em Luanda no dia da Independncia. Foi
essa operao que significou a vitria do MPLA na Segunda Guerra de Libertao
Nacional23 e a retirada das tropas sul-africanas temporariamente (GEORGE,
2005). Depois do sucesso da Operao Carlota, durante todo o conflito, os
soviticos forneceriam os equipamentos e recursos necessrios tanto a FAPLA
quanto aos soldados cubanos, enquanto Cuba entraria com as tropas. Alm disso,
Cuba teria maior independncia diante da URSS e fortaleceria sua imagem no
cenrio internacional (GEORGE, 2005; GLEIJESES, 2003).
Apesar do sucesso da Operao Carlota em Angola, e da aprovao da
Emenda Clark24em Dezembro de 1975, a qual impossibilitava os EUA de prover
qualquer tipo de ajuda a movimentos militares ou paramilitares de Angola, os
Estados Unidos continuaram apoiando as guerrilhas, desta vez dando suporte
UNITA, principalmente atravs da frica do Sul. O fiasco estadunidense diante do
23A Segunda Guerra de Libertao comea com a invaso das tropas sul-africanas em outubro de 1975e termina com a retirada das tropas da frica do Sul em fins de maro de 1976 (GLEIJESES, 2003, p.300). 24 Um dos grandes problemas da Operao IA Feature, e que resultou na Emenda Clark, era apossibilidade deste tipo de operao piorar a imagem dos EUA, j bastante crtica em decorrncia daGuerra do Vietn e suas intervenes em diversos conflitos internacionais. Alm disso, havia o receio
de que aumentando a participao dos Estados Unidos, assim tambm o faria a URSS.
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sucesso da Operao Carlota e a interveno sovitica no Afeganisto, a qual
rompeu com adtente entre EUA e URSS, Fria, foram alguns dos motivos para que
o governo dos EUA retomasse seu apoio guerrilha liderada por Savimbi(GEORGE, 2005).
Ao longo de 1979, uma srie de revolues e golpes militaresderrubaram diversos regimes apoiados pelo Ocidente especialmente no Ir e Nicargua causando alarme emWashington, que temia a expanso da influncia sovitica nessasreas. Quando as tropas soviticas invadiram o Afeganisto no Natal,a administrao Carter abandonou a dtentee condenou a invaso,descartando o Tratado SALT II, recentemente assinado pelas partes.
Como uma nova gerao de lderes ocidentais emergiu guiados porMargaret Thatcher e Ronald Reagan os governos ocidentaisadotaram uma poltica mais conflituosa diante do bloco sovitico(GEORGE, 2005, p. 139, traduo nossa).
2.3. A Interveno Cubana: o ideal do internacionalismo
A poltica cubana de interveno era denominada internacionalismo. Esta
poltica dependia muito dos esforos dos lderes da Revoluo Cubana, Che
Guevara e Fidel Castro, em exportar a revoluo socialista. Inicialmente ointernacionalismo era mais focado no combate s ditaduras na regio do Caribe
como, por exemplo, Nicargua, Panam e Repblica Dominicana, numa posio
no apenas anti-imperialista, mas tambm, anti-estadunidense. Entretanto, ao
mesmo tempo em que os EUA provocariam o isolamento de Cuba, este se
afastaria dos EUA e expandiria suas aes a frica, em busca de aliados e apoio
internacional, onde atuaria dando suporte a movimentos de libertao nacional(GEORGE, 2005). O internacionalismo diz respeito misso incumbida aos pases
socialistas de expandir a revoluo socialista e combater os resqucios de uma
sociedade excludente e baseada nas diferenas de classe. A expanso da
revoluo leva os Estados a serem solidrios uns com os outros. O
internacionalismo cubano nasceu das ideias de Che Guevara: A ideologia de Guevara foi inspirada no Manifesto Comunista de Karl
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Marx e Friedrich Engels, publicado em 1848. Incitando osproletrios a derramar sua nacionalidade e lutar por uma causacomum contra a opress~o da divis~o de classes, o InternacionalismoProlet|rio de Marx foi refinado por Lenin, o qual introduziu oconceito de luta contra o imperialismo, criando a ideologiaMarxista-Leninista a qual inspirou muitos movimentos de libertaonacional. Incorporando os conceitos da solidariedade internacionalcom outras naes e a constante luta pela revoluo, oInternacionalismo Prolet|rio foi constantemente descrito por umescritor sovitico como a teoria Marxista-Leninista em todas assuas partes constituintes. A emergncia de um bloco socialistacontrolado pela Unio Sovitica depois da Segunda Guerra Mundialreforou o conceito de solidariedade entre estados socialistas e issoteve grande importncia quando a Guerra Fria dividiu o mundo emesferas de influncia Ocidental e Sovitica (GEORGE, 2005, p. 17,traduo nossa).
A presena cubana na frica comeou no incio da dcada de 1960, com o
apoio a FLN do francs, Frente de Libertao Nacional e treinamento de
guerrilhas na Arglia, desdobrada posteriormente na interveno cubana ao
Congo25
. Alm disso, a frica n~o era o jardim dos EUA, como acontecia com aAmrica, o que facilitaria a atuao cubana e o surgimento de grupos de
libertao nacional. Foi em Brazzaville, no Congo, que Guevara teve os primeiros
contatos com o MPLA. De pronto, Cuba ofereceu suporte ao movimento,
mantendo relaes desde ento (GEORGE, 2005; SOMERVILLE, 1986).
A deciso em intervir em Angola por meio da Operao Carlota, sem aviso
prvio URSS, significou uma Cuba mais atenta aos seus interesses26
. A vitria da
25 Localizado no corao da frica, uma interveno no Congo era vista por Che Guevara como o planoperfeito de expanso das guerrilhas (GEORGE, 2005) 26 Como j explicitado, a entrada da frica do Sul na guerra foi o estopim para a interveno cubana:Castro sabia do potencial das tropas sul-africanas e as possibilidades que tomassem Luanda eexpandissem suas polticas segregacionistas e anticomunistas a outros pases africanos. A URSS at
ento estava mais interessada no desenrolar da poltica de dtente que no seu ideal internacionalista,
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operao traria maior independncia a Cuba diante da URSS e fortaleceria sua
imagem de luta contra o imperialismo. Entretanto, apesar dos esforos cubanos
em no parecer uma fora intermediria ou uma marionete entre a URSS eAngola, a dependncia que tinha do bloco sovitico era evidente, como demonstra
Edward George: Os cubanos eram, de certa forma, uma fora proxy [ou seja, queintermediava as relaes] dos soviticos na frica. No fim, Moscouera o aliado mais importante de Cuba, e a misso cubana avanou osinteresses soviticos na regio, ajudando no treinamento dosmovimentos de libertao, armados e supridos por Moscou, e
obtendo novos aliados africanos para o bloco socialista. Apesar deCuba no ser membro do Pacto de Varsvia, suas foras (armadas etreinadas por militares soviticos) estenderam o poder sovitico nafrica subsaariana (GEORGE, 2005, p. 275276, traduo nossa).
Seguindo o incio da retirada da frica do Sul aps a derrota na Segunda
Guerra de Libertao, as tropas cubanas ficariam concentradas nas principais
cidades, dentro ou perto de Luanda, com vistas a proteger a capital poltica e
econmica e o principal porto para as operaes militares e econmicas. Alm
disso, medida que a guerra adentrou a dcada de 1980, cada uma das dezessete
capitais provinciais receberia apoio de pelo menos um regimento cubano.
2.4. A situao interna em Angola
A herana colonial em Angola marcou a sociedade em seus termos
econmicos, polticos e sociais. De todas as colnias portuguesas, essa era a que
apresentava a maior densidade de brancos e a menor organizao poltica da
populao (GLEIJESES, 2003, p. 233). Os grupos de libertao nacional que
surgiriam por volta da dcada de 1960 entraram em conflito entre si, muitas
vezes motivados por questes tnicas.
tanto que numa tentativa anterior de enviar tropas (agosto de 1975), a URSS j havia se posicionadocontrria (GEORGE, 2005).
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Diferentemente do regime sul-africano, Portugal no necessitava de uma
legislao que apoiasse a estrutura racista existente, porque esta era reiterada
pelas diferenas de classe, de acordo com o domnio da tcnica, dos meios de
produo e das melhores terras pelos portugueses (SOMERVILLE, 1986, p.72). A
diviso entre assimilados, mestios e indgenas provocou um distanciamento
entre a populao de origem angolana, porque os mestios eram vistos como a
elite no-branca do pas e colaboradores do regime portugus (GLEIJESES, 2003;
SOMERVILLE, 1986)27.
A independncia de Angola e ascenso do MPLA como partido poltico
dominante no foi seguida de interrupo nos conflitos irregulares no pas. Estes
eram por vezes fruto da situao interna no pas, principalmente no que diz
respeito situao econmica. O autor Keith Somerville (1986, p. 122) destaca
trs formas de dissidncia poltica no perodo que sucedeu a independncia em
Angola: surgimento de faces dentro dos partidos; oposio da pequena
burguesia frente s polticas governamentais e resistncia camponesa
organizao poltica do MPLA nas reas rurais; guerrilha e propaganda
internacional empreendida pela UNITA. Estes desafios pautaram as polticas do
MPLA para a reconstruo nacional e coeso interna; dos trs, o maior desafio foi
o combate aos partidos dissidentes, principalmente a UNITA.
Durante o regime que Portugal manteve no pas, as colocaes nos cargos
governamentais, nas instituies e nos prprios estabelecimentos nacionais
ficavam a cargo dos portugueses. Dessa forma, a retirada de Portugal trouxe
desafios ao MPLA para a administra~o do pas: noventa por cento dos
27 Essa diviso entre os negros angolanos teria fim somente em 1961, oitenta e trs anos depois do
fim oficial da escravido (SOMERVILLE, 1986, p. 72).
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Portugueses que viviam em Angola em Abril de 1974 j haviam deixado o pas em
Novembro de 1975, levando consigo 'quase tudo que fazia o sistema
governamental e a economia do pas funcionar'. O pas foi privado dostrabalhadores qualificados, incluindo profissionais da sade (GLEIJESES, 2003,
p. 381, traduo nossa). A economia angolana foi um dos setores mais
prejudicados, especialmente em decorrncia da destruio de importantes
sistemas de infraestrutura durante a guerra de libertao e domnio dos mesmos
pelas guerrilhas. Herana da escravido, a agricultura, importante fonte de
recursos num pas onde a maioria da populao vivia nas regies rurais tambmsofria com a falta de qualificao e mo-de-obra para o trabalho agrcola
(SOMERVILLE, 1986). Outro grande desafio era o problema da produo e
distribuio de alimentos e habitao28. As dificuldades econmicas e logsticas
permaneceram durante a primeira metade da dcada de 1980. A guerrilha e as
incurses da frica do Sul tinham como alvo as regies de produo agrcola, as
instalaes de comunicao e transporte, e no eram raros os conflitos entre oMPLA e a UNITA ocorrerem em reas de produo de alimentos29.
O MPLA sempre sofreu com a existncia de dissidentes dentro do partido.
Em maio de 1977 o governo de Agostinho Neto sofreu uma tentativa de golpe de
Estado pelo ex-Ministro do Interior Nito Alves, com apoio de algumas sees das
Foras Armadas, demonstrando os resqucios da sociedade excludente criada por
Portugal: alm do problema da falta de oferta de alimentos, os dissidentestambm discutiam a presena de mestios nos principais cargos do governo.
Desse modo, para combater as dissenses internas, o falecimento de Agostinho
28 A falta de moradias era um dos maiores problemas em Luanda, onde a populao atingira 1,5milho de habitantes em 1980, quase o dobro da realidade em 1975, devido ao retorno de refugiadosde pases vizinhos, contabilizando 350.000 s do Zaire (SOMERVILLE, 1986, p. 60).29 Importantes bases da economia angolana atingidas foram a indstria de diamantes em LuandaNorte e a regio de Cabinda, onde se dava a extrao de recursos minerais (SOMERVILLE, 1986).
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Neto em 1979 levou o partido escolha mais consensual possvel, Eduardo dos
Santos, at ento Ministro do Planejamento, como sucessor e Presidente do
Partido, o que permitiu que em 1980 o MPLA j tivesse atingido a coeso interna
que lhe era necessria, contando com 20.000 membros (SOMERVILLE, 1986).
Assim que conseguiu conter as rupturas internas, a maior dificuldade do
governo passou a ser o combate s guerrilhas da UNITA, que com o apoio
concreto da frica do Sul fortaleceu sua posio na regio sul do pas. Apesar da
derrota na Segunda Guerra de Libertao Nacional, a UNITA conseguiu sobreviver
aos anos 1980, quando as incurses sul-africanas se intensificaram, assim como
seu apoio prpria UNITA. A estratgia inicial era incitar as guerrilhas nas reas
da regio centro-sul e as camadas mais pobres, por meio de uma poltica
tribalizante, a se posicionarem contra o governo do MPLA (SOMERVILLE, 1986).
A situao interna em Angola antes da Operao Protea era de uma UNITA
atuante em reas limitadas. A consequncia da Operao foi que a frica do Sul
conseguiu uma localizao no sul de angola Provncia de Cunene, de onde
podia dar suporte s aes da UNITA e dirigir ataques da SADF contra as tropas
da FAPLA e da SWAPO. A presena sul-africana permitiu que a UNITA se
espalhasse para regies mais ao norte, de importncia econmica pela produo
de caf (SOMERVILLE, 1986, p. 64). No final de 1984, as foras militares da UNITA
eram estimadas em 60.000, das quais 26.000 constituam as foras regulares e as
demais 34.000 as foras de guerrilhas, utilizadas nas reas controladas pela
FAPLA (SOMERVILLE, 1986).
3. Posicionamento dos pases OsEstados Unidos da Amrica tm como um de seus princpios bsicos
a defesa da livre determinao dos povos. Sendo assim, apoiou efetivamente o
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processo de independncia de Angola de sua metrpole, Portugal. Atualmente, os
EUA esto imersos em um contexto ps Guerra do Vietn, no qual h uma grande
comoo popular aps os inmeros protestos que exigiram a sua sada doconflito. Em 1975 o pas retirou totalmente as tropas americanas do territrio
vietnamita, dando fim guerra aps inmeras derrotas e incontveis perdas
humanas.
No incio da Guerra Civil Angolana, tambm em 1975, os EUA assumiram
uma postura mais branda em relao ao conflito, pois j estavam desgastados
militarmente e sem apoio popular. Alm disso, os EUA tinham outraspreocupaes como, por exemplo, consolidar e manter suas reas de influncia
no Oriente Mdio, enfraquecendo a presena socialista na regio e garantindo a
explorao de reas petrolferas e o domnio de territrios estratgicos.
Entretanto, com o acirramento da Guerra Fria e das disputas entre EUA e
URSS, a Guerra Civil Angolana ganhou relevncia internacional. Pressionados
pelo desembarque de tropas cubanas, organizadas pela URSS, em Angola, os EUAacabaram por adotar uma atuao mais definida no conflito, como forma de deter
o avano socialista no territrio. Sendo Assim, os EUA passaram a apoiar a
coligao FNLA-UNITA por acreditar ser a mais preparada para assumir o
controle de Angola e instaurar um governo democrtico, pois tem seus princpios
alinhados ao bloco capitalista. No reconhecem o MPLA como representantes
legtimos do pas, opondo-se a sua ideologia marxista-leninista, a qual estavavinculada com o bloco socialista, e a sua poltica unipartidria.
A Unio das Repblicas Socialistas Soviticas (URSS) assume umapostura contrria ao que chama de imperialismo capitalista. Portanto, foi
totalmente favorvel independncia de Angola, apoiando o processo e
auxiliando na transio de governos. Juntamente com Cuba, foi o pas que mais
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deu suporte ao MPLA, fornecendo armamento, organizando tropas e concedendo
apoio financeiro.
A URSS reconhece como nica organizao legtima em Angola, o MPLA,
de tendncia marxista-leninista. Considera os outros partidos como organizaes
sem ideologia que apenas representam os interesses externos neocolonialistas.
Acusa a coligao FNLA-UNITA de ser responsvel por internacionalizar o
territrio angolano, ou seja, permitir que potncias estrangeiras que, segundo a
URSS, ainda mantm interesses imperialistas, assumam o controle e intervenham
na organizao do pas.
ARepblica Socialista Sovitica da Ucrnia, sendo parte integrante da
URSS e, portanto, alinhada ao bloco socialista, cr numa Angola independente,
estruturada sob a autoridade do MPLA, nico partido capaz de administrar o pas
e formular uma poltica adequada que afaste as intervenes imperialistas e
atente s necessidades internas.
O Reino Unido, enquanto membro da OTAN, mantm-se prximo poltica do bloco capitalista, opondo-se a tomada de poder pelo MPLA. No
contexto ps II Guerra Mundial, o Reino Unido, parte integrante dos aliados,
encontrava-se defasado economicamente, momento em que os EUA conseguiram
aumentar sua influncia poltica em relao a seus alinhados. Essa relao fica
mais clara ao observar a absteno do Reino Unido em resolues do Conselho de
Segurana da ONU como, por exemplo, as resolues 454 de 1979 e 475 de 1980,
ambas sobre a interveno da frica do Sul, aliada estadunidense, no territrio
angolano.
A Holanda, pas integrante do bloco capitalista e membro daOrganizao do Atlntico Norte (OTAN) aliana militar de carter capitalista
liderada pelos EUA, cujo objetivo conter o avano do bloco socialista - acredita
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que o conflito interno em Angola deve ser solucionado para que o pas, agora
independente, possa estabelecer um governo prprio, com polticas particulares.
Para isso, a Holanda apoia a UNITA como representante autntico do pas e comosendo o partido que deve liderar o novo Estado.
Atualmente governado por Hosni Mubarak, oEgito aproxima-se cada vezmais dos Estados Unidos, aumentando, inclusive, a participao de capital
estrangeiro estadunidense em sua economia. Essa aproximao atual um dos
reflexos dos Acordos de Paz de Camp David, assinado em 1979, o qual prev a
normalizao das relaes entre Israel e Egito, aps trinta anos de hostilidades.Ao pacificar as relaes com Israel, importante aliado norte-americano, o Egito
no teve mais obstculos ao estreitamento de sua aliana com os EUA, firmando
uma poltica externa mais prxima do bloco ocidental e distanciando-se da
influncia sovitica que caracterizava o perodo anterior. Tendo enfrentado uma violenta guerra civil entre 1978 e 1979, a
Nicargua atravessa agora uma profunda crise econmica, resultante desseconflito. Alm disso, o movimento revolucionrio sandinista, que detm o
controle poltico do pas e implementou medidas de carter socialista, est
enfrentando uma dura oposio por parte de um grupo guerrilheiro Os
Contras apoiado pelos EUA. Esse contexto poltico se reflete na poltica externa
do pas, sendo possvel observar uma postura contrria a ocupao do territrio
angolano pela frica do Sul, a partir do voto favorvel da Nicargua condenaodas prticas sul-africanas, prevista na resoluo 545 de 1983, do Conselho de
Segurana da ONU.
Inserido num mundo bipolar em plena Guerra Fria, oPeru esteve sobforte influncia norte-americana, sendo instaurado, na dcada de 1970, o
chamado Estado de Segurana Nacional como estratgia de defesa
anticomunista. Atualmente, o pas est passando por processos de
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redemocratizao, tendo sido aprovada uma nova Constituio em 1979 e novas
eleies em 1980. No entanto, o Peru ainda sofre com um conflito entre o
governo, que adota medidas liberais, e uma organizao guerrilheira de ideologia
comunista, chamada Sandero Luminoso. Porm, embora haja divergncias e
disputas polticas internas, as prticas do atual governo peruano, sob a
presidncia de Morales Bermdez, so de tendncias capitalistas, influenciando
uma poltica externa mais alinhada ao bloco ocidental.
Intimamente ligada a Angola durante sua luta de libertao, aRepblicaPopular da China apoiou, em algum momento, cada um dos trs movimentos delibertao. O suporte ao MPLA se deu logo no incio da guerra de libertao,
quando este pas ainda mantinha seus laos com a Unio Sovitica devido ao
regime socialista de ambos. Quando houve a ruptura poltico-ideolgica entre
China e a potncia socialista - embora as duas tivessem o mesmo regime,
possuam caractersticas distintas entre elas -, a FNLA foi a detentora do apoio
chins. Mais tarde, quando da dissoluo da FNLA e sua fuso com a UNITA, a
China d apoio a esta ltima, j que foi sob o nome de UNITA que a coligao
prosseguiu. Vale ressaltar que o apoio nem sempre foi com envio de tropas,
instrutores ou dinheiro, podendo ser apenas poltico-diplomtico. Recusou-se a
reconhecer o governo do MPLA quando da independncia, o que faz com que as
relaes diplomticas entre os dois pases sejam muito recentes, j que a China
apenas reconheceu o governo oficial do MPLA no dia 12 de janeiro de 1983.
Ex-colnia francesa localizada no noroeste da frica,Burkina Faso viveum dos vrios regimes militares de sua histria independente, tendo o capito
Thomas Sankara dado um golpe militar no ano passado, 1983, e mudado o nome
do pas- que antes se chamava Repblica do Alto Volta. Na questo da
interveno sul-africana na Guerra Civil em Angola, o pas no a apoia - posio
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esta que se confirmou com seu voto a favor da resoluo 477 de 1979, que
versava sobre a condenao da frica do Sul.
Embora estivesse do lado ocidental capitalista no conflito da Guerra Fria,a Repblica Francesa no teve interveno direta no conflito com envio detropas prprias, muito embora tenha participado por meio de coao que
resultou na atuao de soldados marroquinos ou no envio de dinheiro para a
oposio ao MPLA.Sua posio de alinhamento parcial aos Estados Unidos e ao
bloco capitalista de uma forma geral pde ser observada e confirmada quando da
sua absteno na votao da resoluo 447 de 1979, que condenava ainterveno da frica do Sul no territrio angolano. Vale lembrar que um voto
contrrio por parte da Frana, por ser um membro permanente do Conselho de
Segurana das Naes Unidas, implicaria no veto automtico da resoluo
ocasionando, ento, um enorme custo poltico.
Sendo um Estado recm-formado, a Repblica da ndia ganhou
soberania frente Inglaterra no ano de 1947 e, desde ento, tm adotadopolticas externas que variam do no-alinhamento (que quer dizer a opo por
no-adeso a nenhum dos blocos da Guerra Fria) com Nehru, na dcada de 1960,
aproximao com a URSS a partir da ascenso ao poder de Indira Gandhi na
dcada de 1970. Atualmente, a ndia vive um perodo conturbado no qual, aps
ter deixado o poder por trs anos e ter retornado em 1980, Indira foi assassinada
em outubro de 1984, no tendo se envolvido no conflito com Angola. As duasposies que, alternadamente, foram adotadas pelo pas se comprovam com a sua
condenao invaso sul-africana por meio da votao a favor da resoluo 477
de 1979- j que a ingerncia deste pas no condiz nem com os preceitos
socialistas pregados pela Unio Sovitica e menos ainda com os objetivos de
liberdade poltica almejados pelos pases no-alinhados.
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Arquiplago do Mar Mediterrneo, aRepblica de Malta tornou-se
independente do Reino Unido em 1964 e adotou o regime republicano
recentemente, em 1974. Em 1979, teve seu territrio, pela primeira vez, livre de
bases militares estrangeiras. Atualmente, com a ascenso recente ao poder de
Mifsud Bonnici, a aproximao com o bloco socialista - que era levada pelo seu
antecessor, o Primeiro- Ministro Mintoff - est incerta, bem como uma possvel
maior interao com a Comunidade Econmica Europeia. Como esperado, devido
ao seu histrico de alinhamento com o socialismo, Maltafoi contra a invaso sul-
africana em Angola e aprovou a Resoluo 477 de 1979.
A Repblica Islmica do Paquisto tornou-se independente do Reino
Unido junto com a ndia em 1947, ambos sendo ex-colnias britnicas no sul da
sia. Juntamente com a Birmnia (atual Mianmar), a ndia e outros pases do
Terceiro Mundo, foi criador do Movimento dos Pases No-Alinhados em 1955,
que tinha como alguns de seus preceitos a autodeterminao dos povos,
manuteno da soberania e a oposio colonizao- motivo pelo qual mais
tarde, em 1979, viria a votar a favor da condenao da interveno sul-africana
em Angola no Conselho de Segurana da ONU. Com a deposio e sentena de
pena de morte ao presidente que governou de 1971 a 1977, Zulfikar Ali Bhutto, o
general Zia-ul-Haq toma o poder, tornando-se o terceiro presidente militar do
Paquisto. O pas passa, ento, por um aumento da influncia islmica devido
substituio de leis seculares pela sharia- leis baseadas nos preceitos
muulmanos- no cdigo legal.
Tendo recm declarado, unilateralmente, sua independncia sob o nome
de Repblica do Zimbbue , a antiga Rodsia do Sul que era, at ento,controlada pela Inglaterra foi alvo da poltica externa sul-africana no que diz
respeito manipulao de seu governante. Sabendo que a manuteno de Ian
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Smith no poder, considerado um representante radical das ideologias
segregacionistas (similar ao Apartheid) pelo bloco socialista, seria invivel, a
frica do Sul achou por bem pression-lo para que deixasse o cargo em favor deum negro moderado, a fim de que o poder no fosse alcanado pelo lado radical
anti-segregacionista. Com a falha de suas intenes, em 1980 chega ao poder
Robert Mugabe que, se declarando parte dos Estados da Linha de Frente, est
alinhado aos movimentos de libertao africanos e, consequentemente, contra a
postura intervencionista da frica do Sul no continente.
4. Referncias
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