[LIVRO] Tratamento da dependência de crack, àlcool e outras drogas aperfeiçoamento para profissionais de saúde e assistência social.pdf

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    MDULO 4Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Preveno4

    Autores

    Fernanda Kreishe, Anne Orgle Sordi e Slvia Halpern

    CAPTULO 19

    Os princpios relacionados a seguir destinam-se a ajudar pais, educadores e lderes comunitrios a

    pensar, planejar e promover programas de preveno de abuso de drogas baseados em pesquisa, para a

    comunidade. As referncias que seguem cada princpio so representativas de pesquisa recente.

    Fatores de risco e fatores de preveno

    PRINCPIO 1

    Os programas de preveno devem reforar fatores de proteo e reduzir fatores de risco:

    o risco de se tornar um abusador de drogas envolve a relao entre a quantidade e o tipo de fatores

    de risco (por exemplo, as atitudes e os comportamentos negativos) e fatores de proteo (por

    exemplo, o apoio dos pais);

    o impacto potencial dos fatores de risco e de proteo varia conforme a idade. Por exemplo, fatores

    de risco na famlia tm maior impacto sobre uma criana mais jovem, enquanto que o abuso de

    drogas por amigos pode ser um fator de risco mais significativo para um adolescente;

    a interveno precoce em fatores de risco (por exemplo, comportamento agressivo e pouco

    autocontrole) frequentemente tem um impacto maior do que a interveno mais tardia, alterando

    4 Traduzido e adaptado NIDA (National Institute of Drug Abuse). Red Book. Preventing drug use among children and adolescents. A research-Based Guide for Parents, educators and Community leaders.In Brief. 2. Ed.

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    a trajetria do curso de vida de uma criana, distanciando-a dos problemas e aproximando-a dos

    comportamentos positivos;

    apesar de os fatores de risco e de proteo afetarem pessoas de todos os grupos, esses fatores

    podem ter um diferente impacto dependendo da idade, do sexo, da etnicidade, da cultura e do

    ambiente social da pessoa.

    PRINCPIO 2

    Os programas de preveno devem abranger todas as formas de abuso de drogas, isoladamente

    ou em combinao, incluindo o uso de drogas lcitas de menores de idade (por exemplo, tabaco ou

    lcool), o uso de drogas ilcitas (por exemplo, maconha ou ecstasy) e o uso inadequado de substncias

    obtidas legalmente (por exemplo, solventes), medicamentos prescritos ou a automedicao.

    PRINCPIO 3

    Os programas de preveno devem abordar o tipo de droga de abuso que problema na comunidade

    local, focar nos fatores de risco modificveis e reforar os fatores de proteo identificados.

    PRINCPIO 4

    Os programas devem ser adaptados para abordar riscos especfi cos da populao ou caractersticas

    do pblico-alvo, como idade, sexo e etnicidade, para melhorar a efetividade do programa.

    Planejando PrevenoProgramas de Famlia

    PRINCPIO 5

    Programas de preveno baseados na famlia devem reforar o vnculo e as relaes familiares e

    incluir as habilidades parentais: prtica no desenvolvimento, discusso e aplicao de polticas fa-

    miliares sobre o abuso de substncia e treinamento em educao e informao sobre drogas.

    O vnculo familiar o alicerce do relacionamento entre pais e fi lhos. O vnculo pode ser reforado

    atravs de treinamento de habilidades no apoio dos pais aos fi lhos, na comunicao entre pais e

    fi lhos e no envolvimento dos pais.

    Acompanhamento e superviso dos pais so fundamentais para a preveno do abuso de drogas.

    Essas habilidades podem ser melhoradas com treinamento no estabelecimento de regras, tcnicas

    para monitoramento das atividades dos fi lhos, reforo para comportamento adequado e disciplina

    moderada e consistente para o cumprimento das regras familiares defi nidas.

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    Educao e informao sobre drogas para os pais ou cuidadores reforam o que as crianas esto

    aprendendo sobre os efeitos nocivos das drogas e abrem oportunidades para discusses familiares

    sobre o abuso de substncias lcitas ou ilcitas.

    Intervenes breves focadas na famlia podem mudar positivamente o comportamento dos pais,

    reduzindo, dessa forma, os riscos de abuso de drogas de seus fi lhos.

    Programas Escolares

    PRINCPIO 6

    Programas de preveno podem intervir j na pr-escola abordando, nesse caso, alguns fatores de

    risco para o abuso de drogas, tais como:

    comportamento agressivo;

    poucas habilidades sociais;

    difi culdades acadmicas.

    PRINCPIO 7

    Programas de preveno para crianas do ensino primrio devem visar melhoria do aprendizado

    acadmico e socioemocional, focando em fatores de risco para o abuso de drogas, tais como:

    agresso precoce;

    fracasso escolar;

    evaso escolar.

    A educao deve focar-se nas seguintes habilidades:

    autocontrole;

    conscincia emocional;

    comunicao;

    resoluo de problemas sociais; e

    apoio acadmico, especialmente na leitura.

    PRINCPIO 8

    Programas de preveno para alunos do ensino fundamental ou ensino mdio devem aumentar as

    competncias acadmica e social com as seguintes habilidades:

    hbitos de estudo e apoio escolar;

    comunicao;

    relacionamentos entre colegas;

    autoefi ccia e assertividade;

    habilidades de resistncia droga;

    reforo de atitudes antidrogas, e

    reforo dos compromissos pessoais contra o abuso de drogas.

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    Programas na Comunidade

    PRINCPIO 9

    Programas de preveno visam, nas populaes em geral, a pontos-chave de transio, como, por

    exemplo, a transio para o ensino fundamental, podendo produzir efeitos benfi cos, mesmo entre

    as famlias e crianas de alto risco. Tais intervenes no separam populaes de risco e, portanto,

    reduzem a rotulagem e promovem a vinculao escola e comunidade.

    PRINCPIO 10

    Programas de preveno na comunidade que combinam dois ou mais programas efi cazes, como

    programas de base familiar e escolar, podem ser mais efi cazes do que um nico programa sozinho.

    PRINCPIO 11

    Programas de preveno na comunidade que envolvam a populao de vrias maneiras, por exemplo,

    nas escolas, nos clubes, nas organizaes religiosas e na mdia, so mais efi cazes quando apresen-

    tam mensagens consistentes e amplas para toda a comunidade.

    Entrega de Programa de Preveno

    PRINCPIO 12

    As comunidades que adaptam os programas para atender s suas necessidades (normas da comu-

    nidade ou diferentes exigncias culturais) devem conservar os elementos centrais da interveno

    original baseada em pesquisa, que incluem:

    estrutura (como o programa organizado e construdo);

    contedo (as informaes, habilidades e estratgias do programa) e

    entrega (como o programa adaptado, implementado e avaliado).

    PRINCPIO 13

    Programas de preveno devem ser de longo prazo, com intervenes repetidas para reforar as

    metas de preveno original. Pesquisas mostram que os benefcios dos programas de preveno de

    ensino fundamental diminuem sem o seguimento de programas em nvel de ensino mdio.

    PRINCPIO 14

    Programas de preveno devem incluir o treinamento de professores para boas prticas no manejo na

    sala de aula, como reforar o comportamento adequado dos alunos. Tais tcnicas ajudam a promover

    o comportamento positivo dos estudantes, a motivao acadmica e o bom desempenho escolar.

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    PRINCPIO 15

    Programas de preveno so mais efi cazes quando utilizam tcnicas interativas, como discusses de

    grupo com colegas e dramatizao com os pais, o que permite a participao ativa na aprendizagem

    sobre o abuso de drogas e reforo de habilidades.

    PRINCPIO 16

    Programas de preveno baseados em pesquisas podem ser custo-efetivos. De acordo com pesquisas

    anteriores, dados recentes mostram que para cada dlar investido em preveno, pode ser vista uma

    economia de at 10 dlares em tratamento por abuso de lcool ou outra substncia.

    1.1 Parte 1

    Fatores de risco e fatores de proteo

    Quais so os fatores de risco e os fatores de proteo?

    Pesquisas realizadas durante as duas ltimas dcadas tm tentado determinar como o abuso de

    drogas se inicia e como evolui. Muitos fatores podem aumentar o risco de uma pessoa para o abuso de

    drogas. Os fatores de risco podem aumentar as chances de uma pessoa abusar de substncias psicoativas,

    enquanto os fatores de proteo podem reduzir o risco. No entanto, a maioria dos indivduos em risco para o

    abuso de drogas no usa ou torna-se dependente de drogas. Alm disso, um fator de risco para uma pessoa

    pode no ser para outra.

    Fatores de risco e de proteo podem afetar crianas em diferentes estgios de suas vidas. Em cada

    etapa, os riscos que ocorrem podem ser mudados atravs de uma interveno de preveno. Riscos pre-

    coces na infncia, como comportamento agressivo, podem ser mudados ou evitados com intervenes (na

    famlia, na escola e na comunidade) focadas em ajudar as crianas a desenvolverem comportamentos ade-

    quados (positivos). Se no forem abordados, comportamentos negativos podem levar a maiores riscos, tais

    como o mau desempenho escolar e difi culdades sociais, o que coloca as crianas em risco adicional para o

    abuso de substncias no futuro.

    Este segmento descreve como os fatores de risco e proteo influenciam os comportamentos de abuso de drogas, nos sinais precoces de risco,

    nos perodos de transio de alto risco e padres gerais de abuso de drogas entre crianas e adolescentes. O foco principal em como os programas

    podem fortalecer a proteo e interferir para reduzir riscos.

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    A tabela a seguir descreve como os fatores de risco e de proteo afetam as pessoas em cinco dom-

    nios, onde intervenes podem ter espao.

    Fatores de Risco Domnio Fatores de Proteo

    Comportamento agressivo precoce Individual Autocontrole

    Falta de superviso dos pais Famlia Monitoramento dos pais

    Abuso de substncia Colegas Competncia acadmica

    Disponibilidade da droga Escola Polticas contrrias ao uso de drogas

    Vulnerabilidade social Comunidade Forte vnculo com a vizinhana

    Os fatores de risco podem infl uenciar o abuso de drogas de vrias maneiras. Quanto maior o nmero

    de riscos a que uma criana for exposta, maior a probabilidade de ela abusar de drogas. Alguns fatores de

    risco podem ser mais infl uentes do que outros em determinadas fases do desenvolvimento, como presso

    dos colegas durante a adolescncia, por exemplo. Por outro lado, alguns fatores de proteo, como um forte

    vnculo entre pais e fi lhos, por exemplo, podem ter maior impacto em reduzir riscos durante os primeiros

    anos. Um objetivo importante da preveno inclinar a balana entre fatores de risco e de proteo para

    que os fatores de proteo superem os de risco.

    Quais so os sinais precoces de risco que podem predizer o abuso de drogas no futuro?

    Alguns sinais de risco podem ser vistos j no incio da infncia, tais como comportamento agressivo,

    falta de autocontrole ou temperamento difcil. Conforme a criana torna-se mais velha, interaes com a

    famlia, na escola e com a comunidade podem afetar o risco da criana para um posterior abuso de drogas.

    As primeiras interaes infantis ocorrem na famlia, algumas vezes situaes familiares potencializam

    o risco de uma criana abusar de drogas posteriormente, como, por exemplo, quando houver:

    falta de apego e carinho pelos pais ou responsveis;

    paternagem inefi caz, e

    abuso de drogas de um cuidador.

    Mas as famlias, por outro lado, podem oferecer proteo contra o abuso de drogas, quando houver:

    um forte vnculo entre pais e fi lhos;

    envolvimento dos pais na vida da criana e

    limites claros e reforos consistentes de disciplina.

    Programas de preveno baseados em pesquisa concentram-se em intervenes precoces no desenvolvimento da criana para reforar fatores protetores antes do

    desenvolvimento de comportamentos problemticos.

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    Interaes fora da famlia podem implicar em riscos para as crianas e

    adolescentes, como:

    comportamento em sala de aula ou habilidades sociais pobres;

    fracasso escolar;

    interao com amigos abusadores de drogas.

    Outros fatores como disponibilidade da droga e crenas que o

    abuso de drogas geralmente tolerado so riscos que podem infl uen-

    ciar pessoas jovens a iniciar o abuso de drogas.

    Quais so os perodos de maior risco para abuso de drogas durante a adolescncia?

    As pesquisas tm mostrado que os perodos de maior risco para abuso de drogas so durante as

    maiores transies da vida das crianas.

    A primeira grande transio para as crianas quando elas deixam a segurana da famlia e entram

    na escola.

    Mais tarde, quando avanam do ensino fundamental para o ensino

    mdio, elas, muitas vezes, experimentam novas situaes acadmicas e

    sociais, como aprender a conviver com um grupo maior de colegas.

    nesta fase - incio da adolescncia - que as crianas tm maior proba-

    bilidade de encontrar drogas pela primeira vez.

    Quando entram no ensino mdio, os adolescentes enfrentam no-

    vos desafi os sociais, emocionais e educacionais. Ao mesmo tempo, eles

    podem estar expostos a uma maior disponibilidade de drogas, a depen-

    dentes de drogas e a atividades sociais que envolvem drogas. Esses desafi os

    podem aumentar o risco de abusarem de lcool, tabaco e outras substncias.

    Quando jovens adultos saem de casa para a universidade ou trabalho e esto sozinhos pela primeira

    vez, o risco para abuso de drogas e lcool muito alto. Consequentemente, intervenes em jovens adultos

    so necessrias tanto quanto nas fases anteriores.

    Quando e como o abuso de drogas comea e progride?

    O uso de drogas se inicia no Brasil em mdia aos 12 anos para lcool e um pouco mais tarde para

    as outras substncias. Abuso precoce inclui, muitas vezes, substncias como tabaco, lcool, inalantes,

    maconha e medicamentos prescritos. Os estudos mostraram tambm que o abuso de drogas no fi nal da

    infncia e incio da adolescncia est associado a um maior envolvimento com drogas. importante notar

    que a maioria dos jovens, no entanto, no progride ao abuso de outras drogas.

    Cientistas propuseram vrias explicaes do porqu algumas pessoas se envolvem com drogas e, em

    seguida, passam para o abuso. Uma explicao aponta para uma causa biolgica, como ter um histrico

    Interao com amigos abusadores de drogas geralmente o principal risco para a exposio

    dos adolescentes ao uso de drogas e ao comportamento

    delinquente.

    Uma vez que os riscos aparecem em

    cada transio de vida, os profissionais precisam planejar programas que fortaleam os fatores de proteo em cada fase de desenvolvimento.

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    familiar de abuso de drogas ou lcool. Outra explicao que abusar das drogas pode levar aproximao

    com amigos abusadores de drogas, o que, por sua vez, expe o indivduo a outras drogas.

    Pesquisadores descobriram que os jovens que aumentam rapidamente seu abuso de substncias tm

    nveis elevados de fatores de risco com baixos nveis de fatores de proteo. Gnero, raa e localizao

    geogrfi ca tambm podem exercer um papel em como e quando as crianas comeam a abusar de drogas.

    Quadro das Aes na Comunidade

    Os pais podem usar informao sobre fatores de risco e de proteo para ajud-los a desenvolver aes positivas de preveno (por exemplo, falar com a famlia sobre drogas) antes de os problemas acontecerem.

    Educadores podem reforar a aprendizagem e o vnculo com a escola abordando os comportamentos agressivos e a falta de concentrao - riscos associados com um posterior abuso de drogas e problemas relacionados.

    Lderes comunitrios podem avaliar o risco na comunidade e os fatores de proteo associados ao problema das drogas.

    1.2 Parte 2

    Planejando a preveno de abuso de drogas na comunidade

    Este segmento apresenta o processo para auxiliar as comunidades a implementarem programas de

    preveno baseados em pesquisa. Ele prov orientaes de como utilizar princpios de preveno, avaliar

    necessidades, prontido e motivao da comunidade para a ao, e avaliar o impacto dos programas im-

    plementados.

    Como pode a comunidade desenvolver um plano de preveno baseado em pesquisas?

    O primeiro passo no planejamento de um programa de preveno de abuso de drogas avaliar o tipo

    de droga que problema na comunidade, e determinar o nvel dos fatores de risco que afetam o problema.

    Os resultados dessa avaliao podem ser utilizados para aumentar a conscincia quanto natureza e

    gravidade do problema na comunidade e guiar a seleo dos melhores programas de preveno.

    Em seguida, avaliar a receptividade da comunidade para programas de preveno pode auxiliar a de-

    terminar os passos seguintes para implementar aes educativas antes de se iniciar o processo. Alm disso,

    Intervenes preventivas podem proporcionar habilidades e apoio aos jovens com alto risco, aumentando os nveis de fatores de proteo e impedindo a escalada ao abuso de drogas.

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    uma reviso dos programas atuais necessria, a fi m de determinar os recursos existentes e as carncias,

    identifi cando as necessidades da comunidade e os recursos adicionais.

    Finalmente, o planejamento pode se benefi ciar da experincia de organizaes comunitrias que forne-

    cem servios para adolescentes. A convocao de um encontro com lderes destas organizaes pode propiciar

    a captao de ideias e recursos para ajudar a implementar e sustentar programas baseados em pesquisas.

    Plano da Comunidade

    Programas de preveno sugerem que um plano de comunidade bem construdo deve:

    identificar as drogas especficas e outros problemas das crianas e adolescentes na comunidade;

    ter como base recursos existentes (por exemplo, programas de preveno do abuso de drogas que j tenham sido realizados ou em execuo);

    desenvolver objetivos de curto prazo relacionados com a seleo e realizao de programas de preveno baseados em pesquisa e estratgias;

    propor metas de longo prazo para que os planos e os recursos estejam disponveis para o futuro, e

    incluir avaliao contnua do programa de preveno.

    O processo de planejamento

    O planejamento geralmente se inicia com uma avaliao do abuso de drogas e outros problemas das

    crianas e dos adolescentes, os quais incluem mensurar o nvel de abuso da comunidade, assim como exa-

    minar o nvel de outros fatores de risco da comunidade (exemplo: vulnerabilidades sociais). O resultado da

    avaliao pode ser utilizado para despertar a conscincia da comunidade sobre a natureza e seriedade do

    problema, e servir como guia para a seleo de programas mais relevantes e suas necessidades. Esse um

    processo importante, caso a comunidade esteja optando por um programa relacionado preveno de base

    curricular em escolas, ou, por exemplo, planejando intervenes mltiplas que englobem toda a comunidade.

    Uma avaliao da prontido da comunidade para a preveno pode auxiliar os passos seguintes

    que so necessrios para educar a comunidade para antes de iniciar qualquer esforo de preveno. E,

    fi nalmente, o planejamento da comuniadade pode se benefi ciar de organizaes comunitrias que provm

    servios a jovens. Convocar reunio com lderes da comunidade pode auxiliar a coordenar ideias, recursos

    e expertise com o objetivo de ajudar a implementar e sustentar programas baseados em pesquisa. Planeja-

    mento para implementao e manuteno de programas requer desenvolvimento de recursos para equipes

    e gesto, compromissos de fi nanciamento a longo prazo e parcerias com sistemas existentes.

    Como pode a comunidade usar os princpios de preveno no planejamento de programas preventivos?

    Os princpios de preveno oferecem orientao e apoio para selecionar e adaptar de forma efi caz

    programas de preveno baseados em pesquisa para as necessidades especfi cas da comunidade. Por

    exemplo, o Princpio 3 identifi ca como um plano deve abordar os problemas da droga em uma comunidade,

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    e os passos que podem ser tomados para enfrent-los. O Princpio 5 explica o contedo para incluir em um

    programa familiar.

    Os princpios podem ajudar os profi ssionais como guia na seleo de melhores programas de preven-

    o para sua comunidade e na prestao de melhores estratgias para coloc-los em prtica. Dessa forma,

    pais, educadores e lderes da comunidade podem planejar cuidadosamente como, quando e onde executar

    cada programa.

    Como a comunidade pode avaliar o nvel de risco para abuso de drogas?

    Para avaliar o nvel de risco dos jovens para o abuso de drogas, importante:

    medir a natureza e a extenso dos padres do abuso de drogas e tendncias;

    coletar dados sobre fatores de risco e de proteo em toda a comunidade;

    entender a cultura da comunidade e como esta afeta e afetada pelo abuso de drogas;

    consultar com os lderes da comunidade que trabalham com preveno de uso de drogas, tratamen-

    to, lei, sade mental e reas correlatas;

    avaliar o conhecimento da comunidade a respeito do problema; e,

    identifi car os esforos de preveno j em curso para resolver essa questo.

    Est a comunidade preparada para preveno?

    Identifi car um importante risco na comunidade nem sempre signifi ca que esta esteja pronta para a

    ao. Com base em estudos de muitas comunidades pequenas, pesquisadores tm identifi cado nove es-

    tgios de prontido da comunidade que podem orientar o planejamento de preveno. Uma vez que os

    profi ssionais reconhecem em que fase a comunidade se encontra, eles podem dar os prximos passos para

    comear programas de preveno (ver tabela a seguir).

    Como pode a comunidade ser motivada para implementar programas de preveno baseados em pesquisa?

    Os mtodos necessrios para motivar uma comunidade a agir dependem do estgio de motivao ou

    prontido da comunidade, para que as aes promovidas proporcionem o mximo de benefcios.

    Uma forma importante de efetivar mudanas na comunidade atravs do desenvolvimento de uma

    parceria ativa contra as drogas na comunidade. As parcerias comunitrias de combate s drogas podem e

    renem-se em toda a comunidade, desenvolvem campanhas pblicas de educao e atraem patrocinadores

    para as estratgias de preveno do abuso de substncias. Para reforar o impacto dessas estratgias sobre

    os problemas de drogas na comunidade, as parcerias devem focar-se na implementao dos programas e

    abordagens testadas.

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    Avaliando Prontido Ao da Comunidade

    Estgio de Prontido

    Resposta da Comunidade Ideias

    1. Nenhuma conscincia

    Relativa tolerncia ao abuso de drogas

    Criar motivao. Encontro com lderes comunitrios envolvidos com a preveno do abuso de drogas; usar a mdia para identificar e falar sobre o problema; incentivar a comunidade a ver como se ela se relaciona com temascomunitrios; iniciar o pr-planejamento

    2. NegaoNada acontece aqui, no se pode fazer nada sobre isso

    3. Vaga conscinciaConscincia, mas no motivao

    4. Pr-planejamentoLderes conscientes, alguma motivao

    5. PreparaoAtiva liderana e tomada de decises

    Trabalhar em conjunto. Elaborar planos para a programao de preveno atravs de parcerias e outros grupos da comunidade

    6. IniciaoDados utilizados para apoiar programas de preveno

    Identificar e implementar programas baseados em pesquisa

    7. EstabilizaoComunidade em geral apoia programas existentes

    Avaliar e melhorar os programas em andamento

    8. Confirmao/expanso

    Gestores apoiam melhorando ou expandindo os programas

    Institucionalizar e ampliar os programas para atingir um nmero maior da populao

    9. Profissionalizao

    Conhecendo o problema de drogas da comunidade, expectativa de solues efetivas

    Colocar programas multicomponentes em ao para todos

    Pesquisas tm mostrado que a mdia pode sensibilizar o pblico sobre o problema das drogas de uma comunidade e prevenir o abuso de drogas entre populaes especficas.

    Preveno CAPTULO 19Preveno CAPTULO 19

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    Como pode a comunidade avaliar a efetividade dos esforos da atual preveno?

    Muitas comunidades iniciam o processo com uma reviso dos programas de preveno atuais para

    determinar:

    Quais programas esto em vigncia na comunidade?

    Foram utilizados padres cientfi cos para testar os programas durante o seu desenvolvimento?

    Os programas correspondem s necessidades da comunidade?

    Os programas esto sendo realizados conforme o planejado?

    Que percentagem de jovens em situao de risco est sendo alcanada pelos programas?

    Outra abordagem de avaliao a de monitorar os dados ao longo do tempo sobre o abuso de dro-

    gas entre estudantes, as taxas de evaso escolar, suspenses na escola, detenes por abuso de drogas, e

    admisses relacionadas com drogas em emergncias. Dados das avaliaes da comunidade podem servir

    como base para medir a mudana. Considerando que o abuso de drogas muda com o tempo, avaliaes

    peridicas podem garantir que os programas cumpram as necessidades atuais da comunidade.

    Uma vez que as comunidades esto mobilizadas, a implementao dos programas requer clara sus-

    tentabilidade, metas mensurveis, recursos a longo prazo, liderana preservada, e suporte da comunidade

    a fi m de manter as mudanas preventivas. Avaliaes contnuas mantm a comunidade informada e permi-

    tem reavaliaes peridicas de necessidades e objetivos.

    Aes na Comunidade

    PAIS podem trabalhar com outros em sua comunidade para aumentar a conscientizao sobre o problema do abuso de drogas local e a necessidade de programas de preveno baseados em pesquisa.

    EDUCADORES podem trabalhar com outros no sistema escolar para rever programas em curso, e identificar as intervenes de preveno baseadas em pesquisa voltadas para estudantes.

    LDERES COMUNITRIOS podem organizar-se em grupos para desenvolver planos de preveno, coordenar recursos e atividades, e apoiar preveno baseada em pesquisa em todos os setores da comunidade.

    MDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    1.3 Parte 3

    Aplicando os princpios da preveno para programas de preveno de abuso de drogas

    Como so os fatores de risco e de proteo abordados nos programas de preveno?

    Os fatores de risco e de proteo so os principais alvos dos programas de preveno efi cazes utiliza-

    dos na famlia, na escola e na comunidade. O objetivo desses programas o de estabelecer novos fatores

    de proteo, e fortalecer os j existentes, alm de anular ou reduzir fatores de risco em jovens.

    Os programas de preveno so geralmente projetados para atingir as populaes-alvo em seu local

    de origem. No entanto, nos ltimos anos tornou-se mais comum encontrar programas para todos os grupos-

    alvo, determinando uma variedade de locais, como um programa de base familiar, em uma escola, ou igreja.

    Programas de preveno tambm podem ser descritos para o pblico a que se destinam:

    Universal: projetados para a populao em geral, como, por exemplo, para todos os estudantes em

    uma escola.

    Seletiva: projetados para grupos de risco ou subgrupos da populao em geral, como crianas com

    problemas de aprendizagem ou fi lhos de abusadores de drogas.

    Indicada: projetados para pessoas que j esto experimentando drogas.

    Na famlia

    Os programas de preveno podem fortalecer os fatores de proteo entre as crianas, ensinando aos

    pais melhores habilidades de comunicao dentro da famlia, adequados estilos de disciplina, aplicao das

    regras fi rmes e consistentes, e outras abordagens de manejo familiar. Pais podem ser ensinados em como

    melhorar o suporte emocional, social, cognitivo, e material, que inclui, por exemplo, assistir s necessida-

    des de sade, transporte ou curriculares de seus fi lhos. Pesquisa confi rma os benefcios quando os pais

    estabelecem regras consistentes e disciplina, conversam com as crianas sobre as drogas, acompanham

    suas atividades, conhecem seus amigos, seus problemas e preocupaes, e esto envolvidos em sua apren-

    dizagem. A importncia da relao pais-fi lhos continua ao longo da adolescncia e alm dela.

    Este segmento descreve como os princpios de preveno tm sido aplicados para criar programas efetivos para famlias, escolas e comunidades.

    O objetivo oferecer informao sobre como trabalhar com fatores de risco e proteo, adaptando programas com base nos elementos-chave, implementando

    e avaliando programas de preveno baseados em pesquisa.

    Preveno CAPTULO 19Preveno CAPTULO 19

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    Na escola

    Os programas de preveno nas escolas focam nas habilidades sociais e acadmicas das crianas, incluin-

    do melhora nas relaes entre colegas, no autocontrole, no enfrentamento e nas habilidades de recusa s drogas.

    Se possvel, os programas de preveno nas escolas devem ser integrados ao programa acadmico, porque o

    fracasso escolar est fortemente associado com a incapacidade da criana ler ao atingir a terceira e quarta sries,

    e ao abuso de drogas. Os programas integrados fortalecem o vnculo afetivo dos alunos com a escola e reduzem

    a probabilidade de evaso. Grande parte do currculo preventivo envolve um componente de educao normativa

    elaborado para corrigir percepes errneas de que muitos estudantes esto abusando das drogas.

    Na comunidade

    Os programas de preveno trabalham em nvel comunitrio com entidades civis, religiosas, legais, e

    outras organizaes governamentais para melhorar regras antidrogas e comportamentos pr-sociais. Mui-

    tos programas coordenam os esforos de preveno atravs de comunicao na escola, no trabalho, nas

    instituies religiosas e na mdia. Pesquisas tm mostrado que os programas que atingem os adolescentes

    atravs de mltiplas confi guraes podem ter forte impacto nas normas da comunidade. Programas de

    base tipicamente comunitria tambm incluem o desenvolvimento de polticas e execuo de regulamen-

    tos, envolvimento da mdia e programas de conscientizao da comunidade como um todo. importante

    observar, por exemplo, que algumas intervenes cuidadosamente estruturadas e orientadas pela mdia e

    conscientizao da comunidade tm se mostrado muito efi cazes em reduzir o abuso de drogas. Exemplos

    incluem restrio de propaganda, reduo de pontos de venda de bebidas alcolicas, criao de zonas livres

    de lcool na comunidade, e aumento no preo de cigarros.

    Quais so os principais elementos de programas eficazes de preveno baseados em pesquisa?

    Nos ltimos anos, programas de preveno baseados em pesquisa tm se mostrado efi cazes. Esses

    programas foram testados em diversas comunidades, em uma grande variedade de confi guraes e com

    uma gama de populaes.

    As comunidades revisam os programas de preveno para determinar qual melhor se adapta s suas

    necessidades, no entanto, devem considerar os seguintes elementos bsicos:

    Estrutura - como cada programa organizado e construdo.

    Contedo - como as informaes, habilidades e estratgias so apresentadas; e

    Entrega - como o programa selecionado ou adaptado e implementado, bem como a forma como

    avaliado em uma comunidade especfi ca.

    Ao adaptar os programas para atender s necessidades da comunidade, importante manter esses

    elementos fundamentais para garantir que as peas mais efi cazes do programa permaneam intactas. Os

    elementos bsicos ajudam a construir um efetivo programa baseado em pesquisa.

    Os principais elementos so descritos a seguir.

    MDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Estrutura

    A estrutura aborda o tipo de programa, o pblico e os locais. Vrios tipos de programas tm se mos-

    trado efi cazes na preveno do abuso de drogas. Os programas baseados na escola foram os primeiros a

    serem totalmente desenvolvidos e testados, tornando a abordagem primria a alcanar todas as crianas.

    Programas baseados na famlia tm se revelado efi cazes ao abranger crianas e pais de vrias formas. Mdia

    e programas de informtica esto comeando a demonstrar efi ccia em atingir as pessoas tanto em nvel

    comunitrio quanto individual.

    Estrutura de programa de preveno

    Tipo de programa Pblico Local

    Comunidade (Universal) Todos os jovens Peas publicitrias

    Escola (Seletiva) Estudantes de ensino mdio Programas aps a escola

    Famlia (Indicada) Jovens de alto risco e suas famlias Clnica

    Dentro dessas categorias, os programas tm sido elaborados para atingir especifi camente as ne-

    cessidades de um pblico em particular, como indicado nos programas de preveno para jovens de alto

    risco. Exemplos de outras categorias podem incluir populaes urbanas e rurais, minorias tnicas e raciais,

    e diferentes grupos etrios. Pesquisadores esto testando como modifi car programas para melhor acessar

    essas diferenas.

    O local descreve onde o programa ocorre. Programas de preveno so frequentemente elaborados

    para atingir as populaes nos seus locais de origem, como, por exemplo, os programas para jovens que so

    desenvolvidos em escolas. Tem se tornado comum, entretanto, para sua maior efetividade, o desenvolvimento

    de programas de preveno em outros locais que no somente os de origem dos grupos aos quais so direcio-

    nados. Programas voltados para a famlia abrangem as populaes em uma variedade de locais.

    Contedo

    O contedo composto de informaes, desenvolvimento de habilidades, mtodos e servios. As

    informaes podem incluir dados sobre as drogas e seus efeitos, bem como leis e polticas de drogas. Por

    A pesquisa tambm demonstra que a combinao de dois ou mais programas eficazes, tais como os programas da famlia e escola, pode ser ainda

    mais efetiva do que um nico programa isolado.Estes so chamados de programas multicomponentes.

    Preveno CAPTULO 19Preveno CAPTULO 19

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    exemplo, em uma interveno familiar, os pais podem receber educao e informao sobre substncias

    psicoativas, reforando o que seus fi lhos esto aprendendo sobre os efeitos nocivos das drogas no seu

    programa de preveno nas escolas. Isso abre oportunidade para discusses familiares sobre o abuso de

    drogas lcitas e ilcitas.

    Informao isolada sobre droga, no entanto, no tem se mostrado efi caz para conter o abuso de dro-

    gas. Combinando informaes com habilidades, mtodos e servios, os resultados so mais efi cazes.

    Mtodos so orientados para a mudana, como a criao e aplicao de regras sobre abuso de

    drogas nas escolas, em casa e dentro da comunidade.

    Servios podem incluir aconselhamento e assistncia escolar, aconselhamento de colegas, terapia

    familiar, e cuidados com a sade.

    O acompanhamento e a superviso dos pais podem ser melhorados com o treinamento para esta-

    belecimento de regras, mtodos para a monitorizao das atividades da criana; reforo de compor-

    tamento adequado, e disciplina moderada e consistente para o cumprimento das regras da famlia.

    Contedo dos programas de preveno

    Tipo de Programa Informao

    Desenvolvimento de habilidade Mtodo Servios

    ComunidadeTendncias da droga

    Habilidades sociais

    Polticas tolerantesZonas de droga livre

    Escola Efeitos da drogaHabilidades

    de resistnciaMudanas de normas

    Aconselhamento e assistncia

    escolar

    FamliaSintomas do

    abuso da drogaHabilidades parentais

    Teste de drogas em casa

    Controle de horrios

    Terapia de famlia

    Entrega

    Entrega inclui a seleo ou adaptao do programa e implementao.

    Tipo de programa Seleo e/ou adaptao do programaImplementao

    de caractersticas

    Comunidade Linguagem da populaoMensagens consistentes

    de multimdia

    Escola Gnero Sesses de estmulo

    Famlia Rural Recrutamento e reteno

    MDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Durante o processo de seleo, as comunidades tentam combinar a efi ccia dos programas baseados

    em pesquisa com as necessidades da comunidade. Realizar uma anlise estruturada dos programas exis-

    tentes pode ajudar a determinar quais lacunas faltam ser preenchidas para aquela determinada comunida-

    de. Essa informao pode, ento, ser incorporada no plano da comunidade, que orienta a seleo de novos

    programas baseados em pesquisa.

    A adaptao envolve a elaborao de um programa para atender s necessidades de uma populao

    especfi ca de diversas maneiras. Programas que ainda no foram adaptados devem executar o programa tal

    como proposto ou incluir os elementos essenciais para garantir os resultados mais efi cazes.

    A execuo refere-se a como um programa entregue, inclui o nmero de sesses, os mtodos utili-

    zados e o programa de seguimento. Pesquisa tem constatado que a forma como um programa implemen-

    tado pode determinar sua efi ccia na preveno do abuso de drogas.

    Como pode a comunidade implementar e manter programas de preveno eficazes?

    Aps considerar os fatores de risco e de proteo dentro da comunidade e selecionar e adaptar os pro-

    gramas de preveno para atender a esses riscos, a comunidade deve comear a implementar programas.

    Em muitas comunidades, as parcerias formadas durante o processo de planejamento continuam envolvidas

    na superviso, mas a responsabilidade pela execuo de programas individuais geralmente permanece com

    organizaes comunitrias em locais pblicos ou privados. Executar um programa efi caz baseado em pes-

    quisa requer, muitas vezes, a utilizao de amplos recursos fi nanceiros e humanos e um srio compromisso

    com a formao e assistncia tcnica. Esforos para atrair e manter os participantes do programa interes-

    sados e envolvidos so importantes, sobretudo com populaes difceis de alcanar. Pesquisa mostrou que

    o esforo extra na criao de incentivos, horrios fl exveis, contato pessoal e com o apoio de lderes da

    comunidade ajudam a atrair e reter os participantes do programa. Em suma, a forma como um programa

    desenvolvido especifi camente para cada populao crucial para seu sucesso.

    Como a comunidade pode avaliar o impacto do seu programa sobre abuso de drogas?

    Avaliar programas de preveno da comunidade pode ser um desafi o. Os lderes comunitrios, fre-

    quentemente, consultam peritos em avaliao, como as universidades locais ou agncias do Estado, para

    auxiliar no projeto de avaliao.

    O uso de mtodos interativos e sesses de reforo adequadas contribuem para consolidar o contedo do programa e as habilidades para manter os benefcios do programa.

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    Uma avaliao deve responder s seguintes perguntas:

    O que foi realizado no programa?

    Como o programa foi realizado?

    Quanto do programa foi recebido pelos participantes?

    Existe relao entre o montante recebido do programa e os resultados?

    O programa foi executado como previsto?

    O programa alcanou o que era esperado a curto prazo?

    O programa produziu os efeitos desejados a longo prazo?

    O plano da comunidade deve orientar as aes de preveno ao longo do tempo porque a comunida-

    de precisa de mudanas. Portanto, importante verifi car o andamento do mesmo e decidir se os objetivos

    originais esto sendo atendidos. As avaliaes podem oferecer mudana nos planos e mtodos para melhor

    abordar problemas atuais da comunidade.

    MDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Poltica nacional sobre drogas

    A partir do ano de 1998, o Brasil d incio construo de uma poltica nacional especfi ca sobre

    o tema da reduo da demanda5 e da oferta de drogas6. Foi depois da realizao da XX Assembleia Geral

    Especial das Naes Unidas, na qual foram discutidos os princpios diretivos para a reduo da demanda

    de drogas, aderidos pelo Brasil, que as primeiras medidas foram tomadas. O ento Conselho Federal de En-

    torpecentes (CONFEN) foi transformado no Conselho Nacional Antidrogas (CONAD) e foi criada a Secretaria

    Nacional Antidrogas (SENAD)7, diretamente vinculada , ento, Casa Militar da Presidncia da Repblica.

    Com a misso de coordenar a Poltica Nacional Antidrogas, por meio da articulao e integrao

    entre governo e sociedade e como Secretaria Executiva do Conselho Nacional Antidrogas, coube SENAD

    mobilizar os diversos atores envolvidos com o tema para a criao da poltica brasileira. Assim, em 2002,

    por meio de Decreto Presidencial n. 4.345, de 26 de agosto de 2002, foi instituda a Poltica Nacional

    Antidrogas PNAD.

    5 Reduo da demanda: aes referentes preveno do uso indevido de drogas lcitas e ilcitas que causem dependncia, bem como aquelas relacionadas com o tratamento, a recuperao, a reduo de danos e a reinsero social de usurios e dependentes.6 Reduo da oferta: atividades inerentes represso da produo no autorizada e do trfico ilcito de drogas. As aes contnuas de represso devem ser promovidas para reduzir a oferta das drogas ilegais e/ou de abuso, pela erradicao e apreenso permanen-tes destas produzidas no pas, pelo bloqueio do ingresso das oriundas do exterior, destinadas ao consumo interno ou ao mercado internacional e pela identificao e desmantelamento das organizaes criminosas.7 Medida Provisria n. 1.669 e Decreto n. 2.632, de 19 de junho de 1998.

    A poltica e a legislao brasileira sobre drogasAutores

    Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte e Carla Dalbosco

    CAPTULO 20

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    Em 2003, o Presidente da Repblica apontou a necessidade de construo de uma nova Agenda Nacional

    para a reduo da demanda e da oferta de drogas no pas, que viesse a contemplar trs pontos principais:

    integrao das polticas pblicas setoriais com a Poltica Nacional Antidrogas, visando ampliar o

    alcance das aes;

    descentralizao das aes em nvel municipal, permitindo a conduo local das atividades da

    reduo da demanda, devidamente adaptadas realidade de cada municpio;

    estreitamento das relaes com a sociedade e com a comunidade cientfi ca.

    Ao longo dos primeiros anos de existncia da Poltica Nacional Antidrogas, o tema drogas manteve-se

    em pauta e a necessidade de aprofundamento do assunto tambm. Assim, foi necessrio reavaliar e atua-

    lizar os fundamentos da PNAD, levando em conta as transformaes sociais, polticas e econmicas pelas

    quais o pas e o mundo vinham passando.

    Em 2004, foi efetuado o processo de realinhamento e atualizao da poltica, por meio da realizao

    de um Seminrio Internacional de Polticas Pblicas sobre Drogas, seis fruns regionais e um Frum Na-

    cional sobre Drogas.

    Com ampla participao popular, embasada em dados epidemiolgicos atualizados e cientifi camente

    fundamentados, a poltica realinhada passou a chamar-se Poltica Nacional sobre Drogas (PNAD)8. Como

    resultado, o prefi xo anti da Poltica Nacional Antidrogas foi substitudo pelo termo sobre, j de acordo

    com as tendncias internacionais, com o posicionamento do governo e com a nova demanda popular, ma-

    nifestada ao longo do processo de realinhamento da poltica.

    A Poltica Nacional sobre Drogas estabelece os fundamentos, os objetivos, as diretrizes e as estra-

    tgias indispensveis para que os esforos, voltados para a reduo da demanda e da oferta de drogas,

    possam ser conduzidos de forma planejada e articulada.

    Todo esse empenho resultou em amplas e importantes conquistas, refl etindo transformaes histri-

    cas na abordagem da questo das drogas.

    Em 2006, a SENAD coordenou um grupo de trabalho do governo que assessorou os parlamentares no

    processo que culminou na aprovao da Lei n. 11.343/2006, que instituiu o Sistema Nacional de Polti-

    cas Pblicas sobre Drogas (SISNAD), suplantando uma legislao de trinta anos que se mostrava obsoleta

    e em desacordo com os avanos cientfi cos na rea e com as transformaes sociais.

    1.1 A Lei n. 11.343/2006 Lei de drogas

    A Lei n. 11.343/2006 colocou o Brasil em destaque no cenrio internacional ao instituir o SISNAD e

    prescrever medidas para preveno do uso indevido, ateno e reinsero social de usurios e dependentes

    de drogas, em consonncia com a atual poltica sobre drogas.

    8 Aprovada em 23 de maio de 2005, entrando em vigor em 27 de outubro desse mesmo ano, por meio da Resoluo n. 3/GSIPR/ CONAD.

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Essa Lei nasceu da necessidade de compatibilizar os dois instrumentos normativos que existiam

    anteriormente: as Leis 6.368/19769 e 10.409/200210. A partir de sua edio, foram revogados esses

    dois dispositivos legais, com o reconhecimento das diferenas entre a fi gura do trafi cante e a do usurio/

    dependente, os quais passaram a ser tratados de modo diferenciado e a ocupar captulos diferentes da lei.

    O Brasil, seguindo a tendncia mundial, entendeu que usurios e dependentes no devem ser pe-

    nalizados pela justia com a privao de liberdade. Esta abordagem em relao ao porte de drogas para

    uso pessoal tem sido apoiada por especialistas que apontam resultados consistentes de estudos, nos quais

    a ateno ao usurio/dependente deve ser voltada ao oferecimento de oportunidade de refl exo sobre o

    prprio consumo, ao invs de encarceramento.

    Assim, a justia retributiva baseada no castigo substituda pela justia restaurativa, cujo objetivo

    maior a ressocializao por meio de penas alternativas:

    advertncia sobre os efeitos das drogas;

    prestao de servios comunidade em locais/programas que se ocupem da preveno/recupera-

    o de usurios e dependentes de drogas;

    medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.

    Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas (SISNAD)

    O Sistema Nacional de Polticas Pblicas sobre Drogas, regulamentado pelo Decreto n. 5.912, de

    27 de setembro de 2006, tem os seguintes objetivos:

    I) contribuir para a incluso social do cidado, tornando-o menos vulnervel a assumir comporta-

    mentos de risco para o uso indevido de drogas, trfi co e outros comportamentos relacionados;

    II) promover a construo e a socializao do conhecimento sobre drogas no pas;

    III) promover a integrao entre as polticas de preveno do uso indevido, ateno e reinsero

    social de usurios e dependentes de drogas;

    IV) reprimir a produo no autorizada e o trfi co ilcito de drogas;

    V) promover as polticas pblicas setoriais dos rgos do Poder Executivo da Unio, Distrito Federal,

    Estados e Municpios.

    O SISNAD est organizado, de modo a assegurar a orientao central e a execuo descentralizada

    das atividades, as realizadas em seu mbito. Com a sua regulamentao, houve a reestruturao do Conse-

    lho Nacional Antidrogas (CONAD), garantindo a participao paritria entre governo e sociedade.

    9 Lei n. 6.368/1976, de 21 de outubro de 1976, fala sobre medidas de preveno e represso ao trfico ilcito e uso indevido de substncias entorpecentes ou que determinem dependncia fsica ou psquica.10 Lei n. 10.409/2002, de 11 de janeiro de 2002, dispe sobre a preveno, o tratamento, a fiscalizao, o controle e a represso produo, ao uso e ao trfico ilcito de produtos, substncias ou drogas ilcitas que causem dependncia fsica ou psquica.

    A poltica e a legislao brasileira sobre drogas CAPTULO 19CAPTULO 20

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    Em 23 de julho de 2008, foi instituda a Lei n. 11.754, por meio da qual o Conselho Nacional

    Antidrogas passou a se chamar Conselho Nacional de Polticas sobre Drogas (CONAD). A nova lei tam-

    bm alterou o nome da Secretaria Nacional Antidrogas para Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas

    (SENAD). Esta modifi cao histrica era aguardada desde o processo de realinhamento da Poltica Nacio-

    nal sobre Drogas, em 2004, tornando-se um marco na evoluo das polticas pblicas no Brasil.

    A ao do CONAD descentralizada por meio de Conselhos Estaduais e de Conselhos Municipais.

    I) Atribuies do Conselho Nacional de Polticas sobre Drogas (CONAD)

    Acompanhar e atualizar a Poltica Nacional sobre Drogas, consolidada pela SENAD.

    Exercer orientao normativa sobre aes de reduo da demanda e da oferta de drogas.

    Acompanhar e avaliar a gesto dos recursos do Fundo Nacional Antidrogas11 e o desempenho dos

    planos e programas da Poltica Nacional sobre Drogas.

    Promover a integrao ao SISNAD dos rgos e entidades congneres dos Estados, dos municpios

    e do Distrito Federal.

    O Decreto n. 5912/2006, com as alteraes introduzidas pelo Decreto n 7426/2010, regula-

    mentou, ainda, as competncias dos rgos do Poder Executivo no que se refere s aes de reduo da

    demanda de drogas.

    II) Atribuies da Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas (SENAD)

    Articular e coordenar as atividades de preveno do uso indevido, de ateno e reinsero social de

    usurios e dependentes de drogas.

    Consolidar a proposta de atualizao da Poltica Nacional sobre Drogas (PNAD) na esfera de sua

    competncia.

    Defi nir estratgias e elaborar planos, programas e procedimentos para alcanar as metas propostas

    na PNAD e acompanhar sua execuo.

    Gerir o Fundo Nacional Antidrogas e o Observatrio Brasileiro de Informaes sobre Drogas (OBID)12.

    Promover o intercmbio com organismos internacionais na sua rea de competncia.

    11 O Fundo Nacional Antidrogas composto por recursos oriundos de apreenso ou de perdimento, em favor da Unio, de bens, direitos e valores, objeto do crime de trfico ilcito de substncias entorpecentes ou de drogas que causem dependncia fsica ou psquica, e outros recursos colocados disposio da Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas.12 O OBID um rgo de estrutura do Governo Federal, vinculado SENAD, com a misso de reunir e centralizar informaes e conhecimentos atualizados sobre drogas, incluindo dados de estudos, pesquisas e levantamentos nacionais, produzindo e divulgando informaes, fundamentadas cientificamente, que contribuam para o desenvolvimento de novos conhecimentos aplicados s atividades de preveno do uso indevido, de ateno e de reinsero social de usurios e dependentes de drogas e para a criao de modelos de interveno baseados nas necessidades especficas das diferentes populaes-alvo, respeitadas suas caractersticas socioculturais.

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    O trabalho da SENAD desenvolvido em trs eixos principais:

    1) Diagnstico situacional

    Objetivo: realizao de estudos que permitam um diagnstico sobre a situao do consumo de

    drogas no Brasil e seu impacto nos diversos domnios da vida da populao. Este diagnstico vem

    se consolidando por meio de estudos e pesquisas de abrangncia nacional, na populao geral e

    naquelas especfi cas que vivem sob maior vulnerabilidade para o consumo e o trfi co de drogas.

    Exemplos de aes: realizao de levantamentos sobre uso de drogas em diversos segmentos da

    populao brasileira, como, por exemplo, na populao geral, entre estudantes da educao bsica,

    estudantes universitrios, povos indgenas, entre outros.

    2) Capacitao de agentes do SISNAD

    Objetivo: capacitao dos diversos atores sociais que trabalham diretamente com o tema drogas, e

    tambm de multiplicadores de informaes de preveno, tratamento e reinsero social.

    Exemplos de aes: cursos de formao para conselheiros municipais, operadores do direito, lide-

    ranas religiosas e comunitrias, educadores, profi ssionais das reas de sade, assistncia social,

    segurana pblica, empresas/indstrias, entre outros.

    3) Projetos estratgicos:

    Objetivo: projetos de alcance nacional que ampliam o acesso da populao s informaes, ao

    conhecimento e aos recursos existentes na comunidade.

    Exemplos de aes: parceria com estados e municpios para fortalecimento dos conselhos sobre

    drogas; apoio tcnico e fi nanciamento a projetos por meio de subveno social; manuteno de

    servio nacional de orientaes e informaes sobre drogas (Viva Voz); ampliao e fortalecimento

    da cooperao internacional, criao da rede de pesquisa sobre Drogas, entre outros.

    Para potencializar e articular as aes de reduo da demanda e reduo da oferta de drogas, em ja-

    neiro de 2011 a SENAD foi transferida do Gabinete de Segurana Institucional da Presidncia da Repblica

    para o Ministrio da Justia. Essa mudana teve como principal objetivo articular as aes de preveno

    e as de represso ao trfi co numa perspectiva cidad, na qual aes de segurana pblica interagem com

    diferentes polticas sociais, priorizando as de preveno do uso de drogas.

    1.2 A poltica nacional sobre o lcool

    A Poltica Nacional sobre o lcool resultou de um longo processo de discusso. Em julho de 2005, o en-

    to Conselho Nacional Antidrogas, ciente dos graves problemas inerentes ao consumo prejudicial de lcool, e

    A poltica e a legislao brasileira sobre drogas CAPTULO 19CAPTULO 20

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 191Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 191 28/03/2012 12:25:2428/03/2012 12:25:24

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    com o objetivo de ampliar o espao de participao social para a discusso de to importante tema, instalou a

    Cmara Especial de Polticas Pblicas sobre o lcool (CEPPA), composta por diferentes rgos governamen-

    tais, especialistas, legisladores e representantes da sociedade civil. A Cmara Especial iniciou suas atividades

    a partir dos resultados do Grupo Tcnico Interministerial criado no Ministrio da Sade, em 2003.

    Esse processo permitiu ao Brasil chegar a uma poltica realista, sem qualquer vis fundamentalista ou

    de banalizao do consumo, embasada de forma consistente por dados epidemiolgicos, pelos avanos da

    cincia e pelo respeito ao momento sociopoltico do pas. A poltica sobre o lcool refl ete a preocupao da

    sociedade em relao ao uso cada vez mais precoce dessa substncia, assim como o seu impacto negativo

    na sade e na segurana.

    Em maio de 2007, por meio do Decreto n. 6.117, foi apresentada sociedade brasileira a Poltica

    Nacional sobre o lcool, que tem como objetivo geral estabelecer princpios que orientem a elaborao de

    estratgias para o enfrentamento coletivo dos problemas relacionados ao consumo de lcool, contemplando

    a intersetorialidade e a integralidade de aes para a reduo dos danos sociais, sade e vida, causados

    pelo consumo desta substncia, bem como das situaes de violncia e criminalidade associadas ao uso

    prejudicial de bebidas alcolicas.

    Esta poltica, reconhecendo a importncia da implantao de diferentes medidas articuladas entre si

    e numa resposta efetiva ao clamor da sociedade por aes concretas de proteo aos diferentes segmentos

    sociais que vivem sob maior vulnerabilidade para o uso abusivo de bebidas alcolicas, veio acompanhada

    de um elenco de medidas passveis de implementao pelos rgos de governo no mbito de suas compe-

    tncias e outras de articulao com o Poder Legislativo e demais setores da sociedade.

    Estas medidas so detalhadas no anexo II do Decreto n. 6.117 e podem ser divididas em nove ca-

    tegorias:

    Diagnstico sobre o consumo de bebidas alcolicas no Brasil.

    Tratamento e reinsero social de usurios e dependentes de lcool.

    Realizao de campanhas de informao, sensibilizao e mobilizao da opinio pblica quanto

    s consequncias do uso indevido e do abuso de bebidas alcolicas.

    Reduo da demanda de lcool por populaes vulnerveis.

    Segurana pblica.

    Associao lcool e trnsito.

    Capacitao de profi ssionais e agentes multiplicadores de informaes sobre temas relacionados

    sade, educao, trabalho e segurana pblica.

    Estabelecimento de parceria com os municpios para a recomendao de aes municipais.

    Propaganda de bebidas alcolicas.

    Merecem destaque, dentre estas medidas estratgicas para minimizar os impactos adversos decor-

    rentes do uso de bebidas alcolicas, as aes ligadas associao lcool e trnsito, tendo em vista que,

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    os problemas relacionados ao consumo excessivo de bebidas alcolicas no atingem apenas populaes

    vulnerveis, mas associam-se diretamente com os ndices de morbidade e mortalidade da populao geral.

    Por esta razo, tornou-se urgente desenvolver medidas contra o ato de beber e dirigir.

    Aps exaustivo processo de discusso e com ampla participao popular, a nova Lei n. 11.705,

    conhecida como lei seca, foi sancionada em 19 de junho de 2008, por ocasio da realizao da X Sema-

    na Nacional sobre Drogas. Esta Lei alterou alguns dispositivos do Cdigo de Trnsito Brasileiro, impondo

    penalidades mais severas para o condutor que dirigir sob a infl uncia de lcool.

    O motorista que tiver qualquer concentrao de lcool por litro de sangue estar sujeito s penali-

    dades administrativas, previstas no artigo 165 da Lei n. 9503/97, como multa, apreenso do veculo e

    suspenso do direito de dirigir por 12 (doze) meses.

    O motorista que apresentar concentrao de lcool igual ou superior a 0,6 g/L de sangue sofrer pena

    de deteno de seis meses a trs anos, alm das penalidades administrativas13.

    1) Penalidades Administrativas at 0,6 g/L.

    2) Penalidades Criminais a partir de 0,6 g/L.

    So vedados, na faixa de domnio de rodovia federal ou em local prximo faixa de domnio com

    acesso direto rodovia, a venda varejista ou o oferecimento de bebidas alcolicas (teor superior a 0,5 Graus

    Gay-Lussac) para consumo no local.

    Esta Lei prev tambm que os estabelecimentos comerciais que vendem ou oferecem bebidas alco-

    licas sejam obrigados a exibir aviso informativo de que crime dirigir sob a infl uncia de lcool, punvel

    com deteno.

    Todas estas medidas tm como objetivo reduzir o nmero de acidentes de trnsito no Brasil, coibindo

    a associao entre o consumo de lcool e o ato de dirigir.

    1.3 Plano integrado de enfrentamento ao crack e outras drogas e programa Crack, possvel vencer

    O avano da criminalidade associada ao trfi co de drogas e as complexas relaes existentes entre si-

    tuaes de risco e consumo de drogas, principalmente o crack, tm imposto desafi os cada vez maiores, que

    exigem respostas efi cazes do governo e da sociedade. Para esse enfrentamento, preciso convergir esforos

    de diferentes segmentos na construo de alternativas que extrapolem as aes repressivas e considerem os

    diversos componentes associados aos problemas decorrentes do consumo de crack e outras drogas.

    13 O Decreto n. 6488, de 19 de junho de 2008, no seu artigo 2 determina que: "para fins criminais de que trata o artigo 306 da Lei n. 9.503/1997 Cdigo de Trnsito Brasileiro, a equivalncia entre os distintos testes de alcoolemia a seguinte:

    I Exame de sangue: concentrao igual ou superior a seis decigramas de lcool por litro de sangue (0,6 g/L);

    II Teste de aparelho de ar alveolar pulmonar (etilmetro): concentrao de lcool igual ou superior a trs dcimos de miligramas por litro de ar expelido dos pulmes".

    A poltica e a legislao brasileira sobre drogas CAPTULO 19CAPTULO 20

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 193Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 193 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

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    Na busca por solues concretas, capazes de enfrentar os desafi os que os problemas associados ao

    crack vm impondo a todo o pas, foi lanado em 20 de maio de 2010, por meio do Decreto n. 7.179, o

    Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, que indicou a implementao de aes para

    a abordagem do tema de forma intersetorial.

    Esse Plano teve por objetivo desenvolver um conjunto integrado de aes de preveno, tratamento

    e reinsero social de usurios de crack e outras drogas, bem como enfrentar o trfi co em parceria com

    estados, Distrito Federal, municpios e sociedade civil, tendo em vista a reduo da criminalidade associada

    ao consumo dessas substncias junto populao.

    Visando ampliao e ao fortalecimento do Plano Integrado, em dezembro de 2011, j no Governo

    Dilma Rousseff, foi lanado o Programa Crack, possvel vencer! que prope aes em trs eixos: pre-

    veno, cuidado e autoridade. O objetivo desse Programa :

    PREVENO: ampliar as atividades de preveno, por meio da educao, disseminao de

    informaes e capacitao dos diferentes segmentos sociais que, de forma direta ou indireta, de-

    senvolvem aes relacionadas ao tema, como educadores, profi ssionais de sade, de assistncia

    social, segurana pblica, conselheiros municipais, lderes comunitrios e religiosos;

    CUIDADO: aumentar a oferta de aes de ateno aos usurios de crack e outras drogas e seus

    familiares, por meio da ampliao dos servios especializados de sade e assistncia social,

    como os Consultrios na Rua, os Centros de Ateno Psicossocial lcool e drogas (CAPS ad), as

    Unidades de Acolhimento adulto e infantojuvenil, Centros de Referncia Especializada em Assis-

    tncia Social (CREAS), entre outros;

    AUTORIDADE: enfrentar o trfi co de drogas e as organizaes criminosas atravs de aes de

    inteligncia entre a Polcia Federal e as polcias estaduais. Sero realizadas tambm intervenes

    de segurana pblica com foco na polcia de proximidade em reas de maior vulnerabilidade

    para o consumo, que contaro com a ampliao de bases mveis e videomonitoramento para

    auxiliar no controle e planejamento das aes nesses locais.

    Assim como o Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras Drogas, o Programa Crack,

    possvel vencer prev uma atuao articulada entre governo federal, estados, municpios e Distrito Federal,

    alm da participao da sociedade civil e o monitoramento intensivo das aes.

    Compem a equipe responsvel pelas aes do Programa os Ministrios da Justia, Sade, Desenvol-

    vimento Social e Combate Fome e Educao, alm da Casa Civil da Presidncia da Repblica. No mbito

    local, sero criados comits gestores estaduais e municipais, com o objetivo de coordenar e monitorar o

    andamento de todas aes realizadas.

    Cada vez mais, so fundamentais o conhecimento e a ampla disseminao da poltica e da legislao

    brasileira sobre drogas em todos os setores do pas, mostrando a sua importncia como balizador das aes

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    de preveno do uso, de tratamento, de reinsero social de usurios de crack e outras drogas, bem como

    ao enfrentamento do trfi co de drogas ilcitas.

    O uso de crack e outras drogas afeta a todos, seja familiares, educadores, lderes comunitrios, pro-

    fi ssionais ou cidados. A observncia legislao vigente, aliada s orientaes da Poltica Nacional sobre

    Drogas, da Poltica Nacional sobre lcool e do Programa de enfrentamento ao crack e outras drogas, con-

    tribui para o fortalecimento de uma rede de ateno s questes relativas ao uso de crack e outras drogas

    numa perspectiva inclusiva, de respeito s diferenas, humanista, de acolhimento e no estigmatizante do

    usurio e seus familiares.

    BibliografiaBRASIL. A Preveno do Uso de Drogas e a Terapia Comunitria. Braslia: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006.BRASIL. Decreto n 7.179/2010, de 20 de maio de 2010.BRASIL. Decreto n 7.637/2011, de 08 de dezembro de 2011.BRASIL. Inovao e participao. Relatrio de aes do governo na rea da reduo da demanda de drogas. Braslia: Secretaria Nacional Antidrogas, 2006.BRASIL. Lei n 11.343/2006, de 23 de agosto de 2006.BRASIL. Lei n 11.705/2008, de 19 de junho de 2008.BRASIL. Poltica Nacional sobre Drogas. Braslia: Presidncia da Repblica, Secretaria Nacional de Polticas sobre Drogas, 2010.

    A poltica e a legislao brasileira sobre drogas CAPTULO 19CAPTULO 20

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 195Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 195 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

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    Toda sociedade possui suas normas internas de regulamentao para viabilizar a convivncia harm-

    nica entre as pessoas que nela vivem. Tais normas so concretizadas de diferentes maneiras, dependendo

    da organizao que a sociedade adota. Na maioria destas sociedades, tais normas se expressam atravs de

    leis, que buscam expressar os acordos aceitos pela populao.

    Na sociedade brasileira, a partir da Constituio Federal, elaborada e aprovada por representantes

    eleitos democraticamente pelo povo, so defi nidas diretrizes que orientam leis especfi cas. Sendo assim,

    tudo aquilo que est explicitado em nossa Carta Magna no pode ser regulamentado de forma diversa aos

    princpios ali contidos.

    Com o advento da Constituio Federal de 1988, a populao brasileira passa a contar com uma

    srie de diretrizes voltadas a assegurar direitos iguais a todos os cidados, bem como introduz conceitos

    de proteo social mais amplos.

    J em seu artigo 6, assegura que so direitos sociais a educao, a sade, o trabalho, a moradia,

    o lazer, a segurana, a previdncia social, a proteo maternidade e infncia, a assistncia aos desam-

    parados, na forma desta Constituio.

    Esses preceitos constitucionais se fazem presentes ao serem detalhados os princpios da legislao

    referente sade, assistncia social e, em especial, proteo da criana e do adolescente.

    Legislao e polticas pblicas sociais e de sade

    Autores

    Silvia Chwartzmann Halpern eMarilia Borges Hackmann

    CAPTULO 21

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 197Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 197 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

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    O Sistema nico de Sade (SUS)

    Lei n. 8.080, de 19 de setembro de 1990

    Atravs da Lei n. 8.080, fi caram estabelecidos os dispositivos gerais que regem promoo, prote-

    o e recuperao da sade da populao brasileira. A mesma prev integrao de aes assistenciais e

    atividades preventivas, alm da organizao, do funcionamento, prestao de servios. Inclui-se tambm o

    conjunto de aes e servios prestados por rgos e instituies pblicas federais, estaduais e municipais,

    e servios privados. Na lei encontra-se a descrio das suas competncias, seus objetivos, atribuies, ges-

    to, planejamento, princpios e diretrizes. Com o advento do SUS, fi ca explicitado o conceito mais amplo

    de sade preconizado pela Organizao Mundial de Sade, que entende a sade no s como a ausncia

    da doena, mas, principalmente, como um completo bem-estar fsico, social e emocional. Deste modo, a

    pessoa deve ser inserida em um contexto social que tambm determina as condies de vida do sujeito.

    Baseado na premissa de que a sade um direito fundamental do ser humano, sendo o Estado

    responsvel por prover as condies mnimas para o seu pleno desenvolvimento, esta lei tem, baseada no

    artigo 196 da Constituio Federal, os seguintes princpios:

    I - universalidade de acesso aos servios de sade em todos os nveis de assistncia, ou seja, assistir a todos em todas as suas necessidades;II - integralidade de assistncia, entendida como conjunto articulado e contnuo das aes e servios preventivos e curativos, individuais e coletivos, de acordo com a demanda de cada caso e em todos os nveis de complexidade do sistema, e entender a pessoa como um sujeito nico e sem fragmentar a interveno no processo de adoecimento; III - preservao da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade fsica e moral; IV - igualdade da assistncia sade, sem preconceitos ou privilgios de qualquer espcie, independente de raa, religio, credo, gnero, orientao sexual, etc; V - direito informao s pessoas assistidas a respeito de sua sade;VI - divulgao de informaes quanto ao potencial dos servios de sade e a sua utilizao pelo usurio;VII - utilizao da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, alocao de recursos, defi nio de programas e projetos a serem implantados e executados;VIII - participao da comunidade, ou seja, envolvimento do usurio desde a formulao das polticas de sade, gesto e execuo destas, at a utilizao dos recursos disponibilizados pelo sistema; IX - descentralizao poltico-administrativa, com direo nica em cada esfera de governo, atravs da implantao dos servios para os municpios e regionalizao da rede de servios de sade;X - integrao das aes de sade, meio ambiente e saneamento bsico;XI - conjugao dos recursos fi nanceiros, tecnolgicos, materiais e humanos da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios na prestao de servios de assistncia sade da populao;XII - capacidade de resoluo dos servios em todos os nveis de assistncia; XIII hierarquizao das aes, ou seja, organizao e racionalizao dos servios pblicos, aes de sade e recursos, de modo a evitar a duplicidade dos mesmos para fi ns comuns.

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Em 28 de dezembro de 1990, passa a vigorar a Lei n. 8142, que dispe sobre a participao da

    populao na gesto do SUS, e sobre outras transferncias intergovernamentais de recursos na rea da

    sade. Desta forma, criam-se assim, em cada esfera de governo, duas instncias colegiadas:

    I. Conferncia de Sade

    II. Conselho Nacional de Sade (CNS).

    I. As Conferncias Nacionais de Sade so espaos destinados a avaliar os avanos e retrocessos do

    SUS, e propor diretrizes para a formulao de novas estratgias de poltica de sade para a populao.

    Com a representao de vrios segmentos da sociedade, a Conferncia de Sade ocorre a cada 4 anos.

    convocada pelo Poder Executivo, ou, em casos extraordinrios, pelo Conselho de Sade. antecedida

    pelas Conferncias Estaduais e Municipais de Sade, que so realizadas em todo pas, que tratam dos

    mesmos temas j previstos para a etapa nacional e objetivam discutir e aprovar propostas prvias que

    contribuam com as polticas de sade e aperfeioamento do sistema.

    II. O Conselho Nacional de Sade composto por representantes do governo, prestadores de servios,

    profissionais da rea da sade e usurios, formando um rgo colegiado em carter permanente e

    deliberativo. O CNS possui papel preponderante na questo da sade do pas, uma vez que lhe cabe

    atuar na formulao de estratgias e no controle da execuo da Poltica Nacional de Sade, na esfera

    do Governo Federal, inclusive no estabelecimento de diretrizes a serem observadas na elaborao dos

    planos de sade estaduais e municipais incluindo os aspectos econmicos e financeiros, em razo das

    caractersticas epidemiolgicas e da organizao dos recursos. Alm disso, competncia do Conselho

    elaborar cronograma de transferncia de recursos financeiros aos Estados, ao Distrito Federal e aos

    Municpios, consignados ao SUS, aprovar os critrios e os valores para remunerao de servios e os

    parmetros de cobertura de assistncia, acompanhar o processo de desenvolvimento e incorporao

    cientfica e tecnolgica na rea de sade, visando observao de padres ticos compatveis com

    o desenvolvimento sociocultural do pas e propor critrios para a definio de padres e parmetros

    assistenciais.

    Legislao e polticas pblicas sociais e de sade CAPTULO 19CAPTULO 21

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    Assistncia em Sade Mental

    Lei n 10.216, de 6 de abril de 2001

    A Lei n. 10.216 dispe sobre os direitos de pessoas portadoras de transtornos mentais, redirecio-

    nando o modelo assistencial em sade mental.

    De acordo com o Art. 1. desta Lei, os direitos e a proteo das pessoas acometidas de transtorno

    mental so assegurados sem qualquer forma de discriminao quanto raa, cor, sexo, orientao sexual,

    religio, opo poltica, nacionalidade, idade, famlia, recursos econmicos e ao grau de gravidade ou tem-

    po de evoluo de seu transtorno, ou qualquer outra.

    A Lei estabelece, atravs de seu pargrafo nico, os direitos da pessoa portadora de transtorno mental

    como listados a seguir:

    I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de sade, consentneo s suas necessidades;

    II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de benefi ciar sua sade, visando

    alcanar sua recuperao pela insero na famlia, no trabalho e na comunidade;

    III - ser protegida contra qualquer forma de abuso e explorao;

    IV - ter garantia de sigilo nas informaes prestadas;

    V - ter direito presena mdica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou no de sua

    hospitalizao involuntria;

    VI - ter livre acesso aos meios de comunicao disponveis;

    VII - receber o maior nmero de informaes a respeito de sua doena e de seu tratamento;

    VIII - ser tratada em ambiente teraputico pelos meios menos invasivos possveis;

    IX - ser tratada, preferencialmente, em servios comunitrios de sade mental.

    I - internao voluntria: aquela que se d com o consentimento do usurio;

    II - internao involuntria: aquela que se d sem o consentimento do usurio e a pedido de terceiro; e

    III - internao compulsria: aquela determinada pela Justia.

    Sobre a internao psiquitrica, a Lei prev o seguinte:

    O tratamento em regime de internao ser estruturado de forma a oferecer assistncia integral

    pessoa portadora de transtornos mentais, incluindo servios mdicos, de assistncia social, psicolgicos,

    ocupacionais, de lazer, e outros.

    Pargrafo nico. So considerados os seguintes tipos de internao psiquitrica:

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

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    Art. 4o A internao, em qualquer de suas modalidades, s ser indicada quando os recursos

    extra-hospitalares se mostrarem insufi cientes.

    Estatuto da Criana e do Adolescente (ECA)

    Lei n. 8.069, de 13 de julho de 1990

    um conjunto de normas do ordenamento jurdico brasileiro que tem como objetivo a pro-

    teo integral da criana e do adolescente, aplicando medidas, e expedindo encaminhamentos.

    Considera-se criana a pessoa de at 12 (doze) anos de idade incompletos, e adolescente

    de 12 anos completos a 18 anos incompletos, sendo proibido qualquer tipo de trabalho adulto a

    menores de 14 anos, salvo na condio do aprendiz.

    A partir da Constituio de 1988 e do Estatuto da Criana e do Adolescente, as crianas

    brasileiras, sem distino de raa, classe social, ou qualquer forma de discriminao, passaram de

    objetos a sujeitos de direitos, considerados em sua peculiar condio de pessoas em desenvol-

    vimento, a quem se deve assegurar prioridade absoluta na formulao de polticas pblicas, bem

    como destinao obrigatria de recursos pblicos em todas as esferas de governo.

    Outros importantes preceitos do Estatuto da Criana e do Adolescente, que marcam a ruptura

    com o velho paradigma da situao irregular, so: a prioridade do direito convivncia familiar e

    comunitria e, consequentemente, o fi m da poltica de abrigamento indiscriminado; a priorizao

    das medidas de proteo sobre as socioeducativas, deixando-se de focalizar a poltica da infncia

    nos abandonados e delinquentes; a integrao e a articulao das aes governamentais e no

    governamentais na poltica de atendimento; a garantia de devido processo legal e da defesa ao

    adolescente a quem se atribua a autoria de ato infracional; e a municipalizao do atendimento;

    s para citar algumas das alteraes mais relevantes.

    O Estatuto criou mecanismos de proteo nas reas de educao, sade, trabalho e assistn-

    cia social, estabeleceu o fi m da aplicao de punies para adolescentes, tratados com medidas

    de proteo em caso de desvio de conduta e com medidas socioeducativas em situaes de come-

    timento de atos infracionais.

    O ECA versa sobre todas as competncias que envolvem a criana e o adolescente e

    todos os direitos fundamentais inerentes pessoa humana, sem prejuzo da proteo integral

    de que trata esta Lei, assegurando todas as oportunidades e facilidades, com o intuito de lhes

    facultar o desenvolvimento fsico, emocional, moral, e social, em condies de liberdade e de

    dignidade.

    Legislao e polticas pblicas sociais e de sade CAPTULO 19CAPTULO 21

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 201Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 201 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

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    Seguindo o mesmo preceito constitucional de garantir direitos a todo e qualquer cidado, o

    ECA extingue o ento vigente Cdigo de Menores e introduz a ideia de que crianas e adolescentes

    tambm so cidados brasileiros e, portanto, detentores de direitos iguais. Para alm desses direi-

    tos, so cidados em situao de vulnerabilidade devendo, deste modo, ter sua proteo assegu-

    rada, atravs de um conjunto articulado de programas e projetos voltados a atender s demandas

    especfi cas desta populao. Com o Estatuto, tanto as crianas e adolescentes em situao de risco

    como aqueles que cometeram atos infracionais so alvo de polticas de proteo e insero social.

    So linhas de ao da poltica de atendimento:

    MDULO 4 Preveno, legislao, polticas pblicas e reinsero socialMDULO 4 Preveno, legislao e polticas pblicas sobre drogas

    I - polticas sociais bsicas;

    II - polticas e programas de assistncia social, em carter supletivo, para aqueles que deles necessitem;

    III - servios especiais de preveno e atendimento mdico e psicossocial s vtimas de negligncia,

    maus-tratos, explorao, abuso, crueldade e opresso;

    IV - servio de identifi cao e localizao de pais, responsvel, crianas e adolescentes desaparecidos;

    V - proteo jurdico-social por entidades de defesa dos direitos da criana e do adolescente.

    I - municipalizao do atendimento;

    II - criao de conselhos municipais, estaduais e nacional dos direitos da criana e do adolescente,

    rgos deliberativos e controladores das aes em todos os nveis, assegurada a participao popular

    paritria por meio de organizaes representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais;

    III - criao e manuteno de programas especfi cos, observada a descentralizao poltico-administrativa;

    IV - manuteno de fundos nacional, estaduais e municipais vinculados aos respectivos conselhos dos

    direitos da criana e do adolescente;

    V - integrao operacional de rgos do Judicirio, Ministrio Pblico, Defensoria, Segurana Pblica

    e Assistncia Social, preferencialmente em um mesmo local, para efeito de agilizao do atendimento

    inicial a adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional;

    VI - mobilizao da opinio pblica no sentido da indispensvel participao dos diversos segmentos

    da sociedade.

    So diretrizes da poltica de atendimento:

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    Referncias:

    1. Estatuto da Criana e do Adolescente. ECA. 3. ed, Braslia. 2001.2. Lei de Sade Mental n. 10.216. Braslia. 2001.4. Sistema nico de Sade. SUS. 1990 - Portal da Sade - www.Saude.gov.br - Principal.5. Site lcool e Drogas sem Distoro (www.einstein.br/alcooledrogas) / NEAD - Ncleo Einstein de lcool e Drogas do Hospital Israelita Albert Einstein.

    Legislao e polticas pblicas sociais e de sade CAPTULO 19CAPTULO 21

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 203Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 203 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

  • Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 204Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 204 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

  • MDULO 5Sistema nico de Assistncia Social SUAS: perspectivas para o trabalho integrado com a questo do crack, lcool e outras drogas

    Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 205Miolo_Livro Capacitao Sade.indd 205 28/03/2012 12:25:2528/03/2012 12:25:25

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    A Assistncia Social poltica pblica componente da Seguridade Social prevista pela Constituio Fe-

    deral de 1988 (art. 194, 203 e 204) e regulamentada pela Lei Orgnica da Assistncia Social - LOAS (Lei

    n 8.742, de 1993), alterada pela Lei n 11.258, de 2005, e pela Lei n 12.435, de 6 julho de 2011. Os

    processos, mecanismos e instrumentos de sua operacionalizao encontram-se, por sua vez, defi nidos e regula-

    mentados pela Poltica Nacional de Assistncia Social - PNAS, de 2004, e pela Norma Operacional Bsica do

    SUAS - NOB/SUAS, de 200514, ano em que se inicia o processo de implantao do SUAS no territrio brasileiro.

    A Assistncia Social est voltada garantia de direitos sociais. Opera servios, programas, projetos

    e benefcios, devendo realizar-se de forma integrada s demais polticas pblicas setoriais, garantindo m-

    nimos sociais e provimento de condies para atender a contingncias sociais e acesso aos direitos sociais.

    Segundo as legislaes, a Assistncia Social est confi gurada na forma de um sistema, o SUAS - Sis-

    tema nico de Assistncia Social15, que tem como caractersticas:

    a noo de territrio;

    a centralidade no atendimento famlia;

    Sistema nico de Assistncia Social SUAS

    CAPTULO 22

    14 Igualmente em 2005, foi sancionada a Lei n 11.258 que alterou a Lei n 8.742, de 7 de dezembro de 1993, a qual dispe sobre a organizao da Assistncia Social, para acrescentar o servio de atendimento a pessoas que vivem em situao de rua.15 O SUAS implica numa perspectiva de integralidade e complementaridade, com o propsito de superar a fragmentao e sobre-posio na poltica de Assistncia Social.*Rosrio de Maria Costa Ferreira; Jos Ferreira da Crus; Mariana Lopez Matias

    Departamento de Gesto do SUAS/SNA/MDS*

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    a garantia de ateno diferenciada por nveis de proteo social (bsica e especial);

    a gesto compartilhada das aes entre Estado e sociedade civil, sob coordenao e primazia do primei-

    ro na atribuio de competncias t cnicas e polticas diferenciadas para as diferentes esferas federativas;

    a corresponsabilidade entre os entes federados;

    o planejamento, monitoramento e a avaliao por meio de sistemas de informaes;

    o controle social exercido pelos Conselhos de Assistncia Social.

    Conforme previso legal, de acordo com a Lei n 8.742/1993 e suas alteraes, a Assistncia Social

    tem por objetivos:

    I - a proteo social, que visa garantia da vida, preveno da incidncia de situaes de risco

    pessoal e social e de seus agravamentos, em especial:

    a proteo famlia, maternidade, infncia, adolescncia e velhice;

    o amparo s crianas e aos adolescentes;

    a promoo da integrao ao mercado de trabalho;

    a habilitao e reabilitao das pessoas com defi cincia e a promoo de sua integrao vida

    comunitria; e

    a garantia de 1 (um) salrio mnimo de benefcio mensal pessoa com defi cincia e ao idoso que

    comprovem no possuir meios de prover a prpria manuteno ou de t-la provida por sua famlia;

    II - a vigilncia socioassistencial, que visa analisar territorialmente a capacidade protetiva das fam-

    lias e comunidades, bem como a ocorrncia de vulnerabilidades e riscos pessoais e soc