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MCM MARTINHO CIRÍACO DE MATOS A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO POSTAL SALVADOR 2013

MARTINHO CIRÍACO DE MATOS A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA … · O objeto de pesquisa sobre o qual se processou os estudos desta monografia teve como base investigativa a temática da “imunidade

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MCM

MARTINHO CIRÍACO DE MATOS

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DA EMPRESA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO POSTAL

SALVADOR 2013

MARTINHO CIRÍACO DE MATOS

A IMUNIDADE TRIBUTÁRIA DA EMPRESA

PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO POSTAL

SALVADOR 2013

DECLARAÇÃO DO AUTOR

Declaro, para fins de pesquisa acadêmica, didática e técnico-científica, que o presente

Trabalho de Conclusão de Curso pode ser parcial ou totalmente utilizado desde que se faça

referência à fonte e ao autor.

Salvador, 30 de Maio de 2013 MARTINHO CIRIACO DE MATOS ______________________________________________

AGRADECIMENTOS

Em primeiro lugar agradeço a Deus por sempre ser minha fortaleza nos momentos de

dificuldades. Em segundo lugar a minha família.

RESUMO

O quadro conceitual inserido neste trabalho monográfico identifica e analisa as idéias contidas nas

principais perspectivas teóricas da produção doutrinária, jurisprudência, legislação e preceitos

constitucionais. Neste, aborda-se a Imunidade tributária da empresa prestadora de serviço público

postal, sobre os diversos aspectos, por conseqüência, chega-se ao entendimento de que sobre o

patrimônio, a renda e os serviços da delegatária de serviço público não deverá haver qualquer

tributação.

Palavras-Chaves: Delegatárias, Empresa Pública, Imunidade, Imunidade Recíproca, Imunidade objetiva, Imunidade Subjetiva, Serviço Postal. .

ABSTRACT

The conceptual framework in this thesis monograph identifies and examines the ideas

contained in the major theoretical perspectives in the production of doctrine, jurisprudence and

constitutional law. In this, deals with the tax immunity, the company providing a public postal

service, on the various aspects, therefore, one comes to understand that on the property, income and

services delegated public service should not be any taxation. Keywords: Delegated, Public Company, Immunity, Immunity Reciprocal Immunity objective Immunity Subjective Postal Service.

LISTA DE SIGLAS

ECT - Empresa de Correios e Telégrafo EBCT - Empresa Brasileira de Correios e Telegrafo DCT - Departamento de Correios e Telégrafo CF - Constituição Federal CRFB - Constituição da República Federativa do Brasil AGF - Agência Franqueada CTN - Código Tributário Nacional STF - Supremo Tribunal Federal UPU - União Postal Universal

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

2 ASPECTOS GERAIS E FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA IMUNIDADE14

2.1 Evolução histórica da imunidade ................................................................................. 14

2.2 Aspectos jurídicos da imunidade ................................................................................. 15

2.3 Aspecto valorativo da imunidade ................................................................................ 16

2.4 A imunidade e os direitos fundamentais...................................................................... 18

2.5 Imunidade como princípio constitucional .................................................................. 20

2.6 As imunidades tributárias: conceitos e classificações ................................................. 21

3 IMUNIDADE RECIPROCA .......................................................................................... 25

3.1 O pacto federativo, a isonomia e a imunidade recíproca ............................................ 26

3.2 A interpretação da imunidade recíproca ..................................................................... 28

3.3 A imunidade recíproca aplicada às estatais ................................................................ 32

4 A IMUNIDADE NA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFO (EBCT) .................... 37

4.1 A EBCT: aspectos legais de sua criação ...................................................................... 37

4.2 O serviço postal privativo da União ............................................................................. 38

4.3 Aspectos legais da prestação do serviço postal ............................................................ 41

4.4 EBCT:prestação do serviço postal e as normas de direito público............................. 43

4.5 A construção do conceito de imunidade para a ECT .................................................. 45

4.6 O serviço postal universal e a imunidade .................................................................... 48

4.7 A imunidade da ECT e os impostos ............................................................................. 49

4.7.1 Imposto sobre a renda (IRPJ) e contribuição social sobre o lucro (CSLL) ............ 50

4.7.2 Intributabilidade por meio do IPTU......................................................................... 51

4.7.3 Intributabilidade da ECT por meio de ICMS .......................................................... 52

4.7.4 A intributabilidade por meio de ISS ......................................................................... 56

4.7.5 Intributabilidade por meio de IOF, IE , II e IPI ...................................................... 58

4.8 A imunidade da ECT para as taxas e custas processuais............................................ 59

4.9 A intributabilidade por meio da COFINS e do PIS/PASEP ....................................... 63

4.10 Outras receitas de subsídio ao serviço postal universal ......................................... 65

4.11 As receitas do serviço postal internacional ................................................................ 68

4.12 A imunidade ampla da ECT e a livre concorrência .................................................. 70

4.13 O cumprimento de obrigações acessórias ................................................................. 73

5 A IMUNIDADE NA TERCEIRIZAÇÃO DO SERVIÇO POSTAL ............................. 76

5.1 Aspectos legais ............................................................................................................. 76

5.2 Abrangência da imunidade .......................................................................................... 77

5.2.1 A receita do serviço postal ......................................................................................... 77

5.2.2 A comissão recebida pelas agências franqueadas ..................................................... 78

5.3 Obrigatoriedades fiscais das franqueadas ................................................................... 80

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................... 82

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 84

1 INTRODUÇÃO

O objeto de pesquisa sobre o qual se processou os estudos desta monografia teve como

base investigativa a temática da “imunidade tributária da empresa prestadora de serviço

público postal”, a saber: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo(ECT).

O trabalho de pesquisa teve por objetivo a análise da imunidade tributária, expressa no

artigo 150, inciso VI alínea “a”, da Constituição Federal e sua aplicabilidade para as empresas

estatais, prestadoras de serviços públicos, em especial, a empresa prestadora de serviço

público postal.

Com efeito, o estudo evidenciou os aspectos controversos da extensão da imunidade

recíproca para as empresas prestadoras de serviços públicos, por conseqüência, chegou ao

entendimento final de que a imunidade é ampla, abrange todos os tributos.

A imunidade está fundamentada nos preceitos da Constituição Federal, pela qual se

confirma a impossibilidade jurídica dos Estados, Municípios, União e Distrito Federal, de

criarem tributos nas situações especificadas no texto Constitucional, seja de forma implícita

ou explicitamente.

No caso da imunidade recíproca, verifica-se que a mesma está diretamente ligada ao

pacto federativo, à preservação da federação. Assim, afirma-se que a toda e qualquer

imunidade tem finalidades especiais e, por conseqüência, o favorecido no final é a sociedade.

Do esteiro constitucional se extrai o pensamento de que as atividades ou instituições

que estejam desoneradas do pagamento de tributos por imunidade, têm por objetivo geral

construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional; erradicar

a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem

de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação.

Assim, a imunidade não é benesse, um privilégio que a sociedade concede, mas um

ônus que assume aquela instituição que se obriga a cumprir os requisitos constitucionalmente

estabelecidos para o exercício daquelas atividades determinadas.

Nessa ordem de idéias, o serviço postal é competência privativa da União. Somente esta

pode legislar sobre o serviço em questão, conforme o disposto na CF, artigo 21, inciso X e art.

22, inciso V. Todavia, nos termos da lei Federal 6835/1978, artigo 2°, “o serviço postal e o

serviço de telegrama são explorados pela União, através de empresa pública vinculada ao

Ministério das Comunicações”.

12

Na mesma lei, precisamente, nos artigos 3° e 4°, preceitua-se que a empresa deve

prestar os serviços para todos, com qualidade, continuidade, eficiência, obedecendo

rigorosamente os requisitos do Ministério das Comunicações.

Em consonância com os dispositivos legais, verifica-se que a empresa, mesmo com

prejuízo, não deve se furtar a prestação dos serviços, em todos os municípios brasileiros, para

todos os cidadãos. Dessa feita, da análise contextual verifica-se que a empresa prestadora de

serviço postal tem um ônus a cumprir.

Destarte, com toda essa responsabilidade e por ser o seu patrimônio totalmente da

União, a empresa prestadora de serviço postal, goza do direito a imunidade recíproca. Assim,

nos termos do artigo 150, inciso VI, alínea “a”, isto seja: não é permitido à União, aos

Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, instituir impostos sobre o patrimônio, renda ou

serviços, uns dos outros”.

Não obstante, mesmo sendo criada para o exercício de um objetivo público e sendo um

patrimônio da união, os Estados, os Municípios, o Distrito Federal e a própria União,

passaram a exigir impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços prestados pela empresa

pública EBCT (Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo).

Diante de tal situação, a ECT recorreu ao judiciário, sendo a imunidade reconhecida,

apenas para os serviços postais em regime de monopólio, sendo estes especificados na lei

6538/78, artigos 9° e 27°. As outras receitas não foram consideradas imunes, todavia, no

decorrer deste trabalho de pesquisa verifica-se que as mesmas o são.

Para buscar respostas as indagações, o estudo foi realizado em consonância aos

preceitos do método indutivo. Nesse contexto, com observância e análise crítica sobre o

objeto, passou-se a responder a questionamentos suscitados pela problemática visualizada na

temática.Para tanto, adotou-se como fonte de pesquisa , o campo bibliográfico para conclusão

do trabalho, foi extraído de livros, decisões judiciais, Constituição Federal, Leis e Decretos.

Neste contexto investigativo, chegou-se a um conceito teórico, esclarecedor, acerca

dos fatos que ora se apresentam com a temática e, desse modo, a monografia estruturou-se

da seguinte forma: No primeiro capítulo, foram estudados os aspectos constitucionais

pertinentes ao tema imunidade; na continuidade, os conceitos inseridos no segundo

capítulo, cuidadosamente foi analisado os fundamentos da imunidade recíproca;Em

prosseguimento, na terceira abordagem, tratou-se de modo especial acerca da imunidade

aplicada a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo; Por último, no quarto capítulo, a

análise da imunidade na intermediação, praticada pelas franqueadas de correios,na

prestação dos serviços postais.

13

Por fim, este trabalho procura mostrar os principais conceitos teóricos acerca do

tema, bem como apresentar um quadro conceitual que forneça respostas aos

questionamentos suscitados pela temática que ora se apresenta. Desse modo, este se destina

aos profissionais e estudantes da área jurídica, assim como a todos aqueles que se

interessem pelo tema, inclusive os doutos julgadores do judiciário brasileiros.

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2 ASPECTOS GERAIS E FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS DA IMUNIDADE

2.1 Evolução histórica da imunidade

Num passado distante e no Direito Romano a concessão de imunidade tributária era

expressão política. Privilégio de determinadas classes. Todavia, não estava a imunidade ligada

a qualquer política social, muito menos imbuída pelos ideais da democracia ou princípios

constitucionais. O benefício era das castas dominantes, com prejuízos relevantes para as

classes de menor importância.

No dizer de Nogueira a imunidade no contexto histórico, a imunidade inicialmente

estava voltada para favorecer a nobreza e a igreja, posteriormente, se verifica o aspecto social,

conforme segue:1 “No Estado Patrimonial (patrimônio do Estado centrado na figura do monarca), as imunidades eram forma de limitação do poder da realeza, consistindo no impedimento de tributar a nobreza e a igreja. No Estado Fiscal, a partir das grandes revoluções do século XVIII,(O Estado Fiscal é configuração específica do Estado de Direito) as imunidades deixam de ser forma de limitação do poder do Rei pela igreja e pela nobreza, para se transformar em limitação ao poder de tributar pela existência de direitos preexistentes dos indivíduos”.

O Estado fiscal nasceu com o advento da revolução Francesa em 1791, com os

fundamentos da liberdade, igualdade e fraternidade, as benesses fiscais foram retiradas das

castas privilegiadas, sendo concedidas apenas quando um valor maior do que a arrecadação

fosse apresentado.

Num esteiro de novas idéias, o conceito de imunidade evoluiu, precisamente chega-se

ao Direito Norte Americano. Dessa arte, em 1819 o Estado de Maryland pretendeu cobrar

imposto sobre a selagem com estampilhas de um banco oficial. O gerente do banco não se

conformou com a exigência fiscal e levou o caso a Corte Suprema dos Estados Unidos.

A Corte Americana decidiu com fundamentação seguinte, segundo informações de

Carrasa:2

“a competência para tributar por meio de impostos envolve, eventualmente, a competência para destruir; não se deseja, a própria Constituição não permite, nem que a União destrua os Estados-membros, nem que estes se destruam mutuamente ou a União; logo, nem a União pode exigir impostos dos Estados-membros, nem estes da União, ou uns dos outros.

1 NOGUEIRA, Roberto Wagner Lima. Liberdade Como idéia Fundante das Imunidades Tributárias.

São Paulo: Editora MP, 2005, pg.287

2 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004,pg.29.

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Na evolução dos fatos, chega-se ao Direto brasileiro, precisamente, em 1891 com a

primeira Constituição Republicana. Nesta foi assentado de forma expressa preceitos da

imunidade tributária, conforme se lê no artigo 10°: ”é proibido aos Estados tributar bens e

rendas federais ou serviços a cargo da União, e reciprocamente”.

Na Constituição seguinte, em 1934, a imunidade mais uma vez tem seu lugar

especificado no artigo 17, inciso X, nos seguintes termos: é vedado à União, aos Estados, ao

Distrito Federal e aos Municípios: tributar bens, rendas e serviços uns dos outros, estendendo-

se a mesma proibição às concessões de serviços públicos, quanto aos próprios serviços

concedidos e ao respectivo aparelhamento instalado e utilizado exclusivamente para o objeto

da concessão.

Em continuidade, nas Constituições seguintes o tema da imunidade foi tratado da

seguinte maneira: na Constituição Federal de 1937 consta a proibição exarada no artigo 32,

alínea “c”; Na Carta de 1946, no artigo 31, inciso V, alínea “a” e parágrafo único; Na Carta de

1967, a imunidade encontra-se exarada no artigo 20, inciso III, alínea “a”; Na Carta

Constitucional de 1969,emenda n°1, no artigo 19, inciso III, alínea “a”, a temática continuou a

ser preceituada. Por fim, na Constituição de 1988, no artigo 150, inciso V, alínea “a”.

Diante dos fatos históricos apresentados, verifica-se a importância dada pelo legislador

pátrio para o tema imunidade, em especial a recíproca. Em todas as constituições posteriores á

República a temática foi plasmada em contexto Constitucional, destacando, inclusive, as

Constituições de 1891 e 1934, de onde se extrai a imunidade ampla, para todos os tributos.

2.2 Aspectos jurídicos da imunidade

A imunidade é uma forma de exoneração de tributos, dessa feita, o sujeito passivo não

recolhe os tributos em relação aos fatos que constituem objeto da respectiva imunidade.

A imunidade é o obstáculo decorrente de regra da Constituição à incidência de regra

jurídica de tributação. O que é imune não pode ser tributado. A imunidade impede que lei

defina como hipótese de incidência aquilo que é imune. Trata-se de limitação ao poder de

tributar3.

3 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros, 2010,pg.

300

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Nesse diapasão conceitual, fica evidente que nas hipóteses de imunidades não pode o

ente público estabelecer, por intermédio de lei, qualquer espécie de tributação, dado o

impedimento estabelecido em regras da Constituição. Trata-se de limitação de competência

tributária, certos bens, serviços, patrimônios e pessoas são retiradas do campo de incidência

pela Constituição.

Assim, pode-se afirmar que toda espécie de exoneração tributária contida na

Constituição é uma forma de imunidade, isto é, a imunidade somente pode ser concedida pela

Carta Maior. Nessa ordem, a natureza jurídica da imunidade é constitucional.

A imunidade atinge qualquer espécie tributária. Na Constituição, de forma implícita

temos a imunidade específica de impostos apostas no artigo 150, VI. Noutro ângulo, em visão

sistêmica, verifica-se que a imunidade abrange outras espécies de tributos, não apenas os

impostos. Assim, tem na Constituição as imunidades para a seguridade social por parte das

entidades beneficentes de assistência social, art. 195, § 7. São expressas no texto da

Constituição imunidades referentes às taxas, nos seguintes artigos: Art. 5°, inciso XXXIV,

alíneas “a” e “b”; art.; 5°, inciso LXXIII, LXXIV E LXXVII; Imunidades dos artigos 208,

226 §1°e art. 230.

2.3 Aspecto valorativo da imunidade

A imunidade em sua essência é constituída por valores intrínsecos a própria sociedade.

Nesse pensar, verifica-se que toda imunidade tem como objetivo principal o aspecto social,

isto é, todas as pessoas, serviços, patrimônios e rendas imunes a tributação, tem por fim

precípuo a concretização de um benefício para a sociedade. Nessa ordem, por intermédio da

Constituição Federal, a própria sociedade confere valor à imunidade e entrega algumas

incumbências a determinadas pessoas, as quais têm ônus a serem cumpridos, por isso,

precisam da exoneração tributária.

Na esteira doutrinária, oportunamente, faz-se necessário expressar as palavras de

Pestana, que assim escreveu:4 Conferindo concretude aos valores, determinada classe de homens, num determinado tempo e espaço, organiza uma ordem jurídica, outorgando-lhe feição e roupagem, e criando mecanismos e instrumentos que permitam que tais valores

4 PESTANA, Marcio. O Princípio da Imunidade Tributária. São Paulo: Editora revistas dos Tribunais,2001,pg. 63

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sejam diuturnamente testados e refinados. No Brasil, esses valores encontram-se depositados na Constituição federal, ganhando, portanto, estatura de relevo no ordenamento, determinando e fixando, nessa condição privilegiada, os rumos e limites da movimentação enunciada e normativa que lhe sucede. “A imunidade tributária é exatamente um desses valores lançados na ordem constitucional”

Dessarte, o sentido dado ao valor contido na imunidade tributária somente se concretiza

com a vontade da sociedade, esta representada pelos legisladores, faz com que determinadas

situações sejam exoneradas da força coativa dos tributos, cabendo aos cidadãos, governantes e

poder judiciário organizar a ordem jurídica, por essa forma, concretizar o valor intrínseco a

exoneração tributária. Os valores, nesse contexto, necessitam de aprimoramento, testes e

refinação, de modo a abranger o fim social.

Não obstante, em muitas situações, numa visão bipolar, o interprete despreza o valor de

certa imunidade em apreço pelos ditames da tributação, com isso, divergências doutrinárias e

jurisprudencial são apresentadas e, nessa conjuntura, os contribuintes ficam inseguros,

principalmente, os que gozam da imunidade tributária recíproca. Ora, situações que se

encontram sobre o abrigo da imunidade não devem ser tributadas por um motivo simples, as

garantias constitucionais precisam ser respeitadas.

A divergência interpretativa de um valor constitucional é explicada pela doutrina, nos

termos teóricos de Carvalho:5 “os dispositivos constitucionais que enunciam puros valores guardam uma extrema subjetividade em sua interpretação. Alguns chamados princípios, como a isonomia, segurança jurídica, devido processo legal etc., ainda que sejam compreendidos em essência, tem um grau muito maior de dificuldade em gerar acordo entre os intérpretes em relação a casos concretos”

Assim, considera-se a imunidade como sendo um valor subjetivo, por esse modo

surgem divergências sobre sua aplicação e abrangência diante de casos concretos. Entretanto,

em se tratando de imunidade recíproca, numa análise sistêmica, na consonância com o pacto

federativo (união indissolúvel) contido no artigo 1° da Constituição Federal, a interpretação

deve ser ampla, alcançar toda e qualquer espécie tributária. Nesse caso, o valor não deve ser

convergido para um desvalor, ou seja, o que é imune por essência constitucional não pode ser

tributado.

5 CARVALHO, Cristiano. São as Imunidades Cláusulas Pétreas?São Paulo: MP Editora, 2005, pg. 81

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2.4 A imunidade e os direitos fundamentais

Toda e qualquer imunidade nasce com finalidades especiais e voltadas para o benefício

da sociedade. Nesse sentido, convém afirmar que o titular da imunidade não é a empresa, a

instituição, o Estado ou o município, mas a própria sociedade. Nessa ordem, as pessoas

políticas e instituições que desejam ser exoneradas de tributos pela imunidade, devem ter um

papel social definido, uma finalidade essencial em prol da sociedade.

Desse modo, toda e qualquer atividade, serviço, renda, patrimônio e instituições que

esteja desonerada do pagamento de tributo, tem por incumbência participar na construção de

uma sociedade livre, justa e solidária;garantir o desenvolvimento nacional;erradicar a pobreza

e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos,

sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação. Em outras palavras quem goza de imunidade deve cumprir metas, desenvolver

atividades que seja importante para o melhoramento social.

Na trilha doutrinária as palavras de Mazeto e Ribeiro, a saber:6 “ A imunidade deve estar jungida de uma finalidade essencialmente social, caso contrário haverá sua desnaturação finalística e, portanto,impossibilidade de aplicação, para esses casos.Assim, as imunidades tributárias constituem garantias constitucionais. Asseguram ,dentre outros, o pluralismo político, ao obstar a tributação dos partidos políticos, a liberdade de culto religioso, ao vedar a tributação de templos, a liberdade de expressão, ao impedir a cobrança de impostos sobre livros, jornais e periódicos entre outras situações dispostas na Carta Constitucional”

Desse contexto, verifica-se que a imunidade é uma garantia outorgada pela Constituição

Federal e, assim sendo, veda que o poder público viole o direito reconhecido. Logo, sendo

uma garantia vinculada as liberdades e direitos individuais ou ao pacto federativo, torna-se

irrevogável, isto é, não pode ser objeto de emenda Constitucional, nos termos do artigo 60,

§4°, inciso I e IV, da Constituição Federal de 1988. Portanto, assim sendo, a imunidade é

cláusula pétrea.

Neste sentido, se manifestou Elali, aduzindo que:7 “o texto constitucional, albergando diferentes casos de imunidades, passou a tê-las como garantias constitucionais. E isto porque estão nitidamente relacionadas aos princípios e finalidades da República , daí porque tem que ser vista na forma de cláusulas pétreas.Pode-se até questionar: mas por que cláusula pétrea? È que se alguma das imunidades do texto constitucional originário for restringida, por-se-á

6 MAZETO, Cristiano de Souza e RIBEIRO, Maria de Fátima.A Imunidade dos Partidos Políticos e Suas Repercussões no Contexto Econômico e Social.São Paulo:MP Editora, 2005, pg.99 7 ELALI,André.Sobre a Imunidade Tributária Como Garantia Constitucional e Como Mecanismo de Políticas Fiscais – Questões Pessoais.São Paulo:MP Editora, 2005, pg 29.

19

em risco uma série de diretos e garantias, diretamente vinculadas ás atividades e bens protegidos contra a imposição tributária”

Por um olhar critico, se confirma que direitos fundamentais precisam ser respeitados

pela tributação, isto é, não pode haver incidência de tributos nas situações em que os agentes

públicos, a exemplo de Empresas Delegatárias de serviços públicos, se encarregam de

cumprir finalidades constitucionais importantes para o efetivo exercício de direitos

fundamentais.

Assim, desse olhar, se verifica que os serviços postais visam à concretização de

objetivos fundamentais da república, dentre estes, o desenvolvimento nacional, reduzir as

desigualdades regionais, promover o bem de todos, preservação do direito fundamental de

comunicação e sigilo da correspondência. Por isso, é direito de todo cidadão brasileiro,

mesmo nas regiões mais distantes, se utilizar dos serviços de correios para se comunicar,

comprar ou vender produtos e transportar objetos, além de outros serviços essenciais, a

exemplo dos serviços básicos de banco.

Por esse e outro fatores, já demonstrado no decorrer deste trabalho, que os serviços

postais devem ser prestados exclusivamente pela União, de modo que esteja disponibilizado o

mais próximo possível de cada brasileiro e por um custo acessível. Para tanto, necessário a

não incidência de tributos sobre o patrimônio, a renda e os serviços que giram em torno da

atividade de correios.

Para concluir, oportuno fazer-se referência as palavras de Costa, que assim se escreveu:8 “Destaque-se, em primeiro lugar, que as imunidades tributárias são direitos fundamentais porque apresentam os atributos próprios do regime jurídico especial a que estes estão sujeitos, retromencionado:são normas constitucionais, erigidas ao status de cláusulas pétreas, e os comandos nelas contidos revestem-se de aplicabilidade direta e imediata....Qualificam-se como direitos fundamentais de primeira geração- porquanto foram os primeiros a serem reconhecidos universalmente - , pelo aspecto vedatório que encerram, impedindo ao Estado o exercício da tributação em razão de pessoas, bens ou situações”.

Com isso, percebe-se que as imunidades protegem direitos fundamentais, além disso, na

verdade, são elas consideradas direitos fundamentais e, portanto, nessa ótica, a cobrança de

imposto torna-se inviável, pois se assim não for, as finalidades sociais intrínsecas nas

mesmas, pereceriam.

8 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pg.82

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2.5 Imunidade como princípio constitucional

A imunidade não é considerada apenas no seu aspecto financeiro, qual seja o da

exoneração tributária simplesmente. O mais importante, quando se concede a desoneração de

qualquer espécie tributária por imunidade, é a finalidade essencial a ser cumprida. O valor

social está em proeminência com relação ao fator financeiro, a arrecadação tem somenos

importância nas situações de imunidades deferidas pela Constituição Federal.

A Constituição é um enunciado normativo que contem os valores importantíssimos para

a sociedade e, por outro modo, é a lei suprema. Assim, os valores nela elencados e os

objetivos sobre os quais se funda devem ser respeitados.

Os valores inseridos na ordem constitucional são princípios, regra primária, preceito

sobre o qual se apóiam outros preceitos, limita a autonomia do Estado. A imunidade é sem

dúvida um valor, um objetivo Constitucional, um princípio implícito, dado que não temos

expressão constitucional a esse respeito; um limitador ao poder do Estado para que este não

grave com tributos determinadas situações. Por outro lado, em sua essência, uma finalidade

social, haja vista a beneficiada pela imunidade ser a própria sociedade.

Ora, não é qualquer norma jurídica que é considerada princípio, necessário um grau de

importância destacado, um peso de valores intrínsecos a sua essência. Em outras palavras, um

relevante peso e importância. A esse respeito, escreve Pestana, nos seguintes termos:9 E para atribuir peso ou importância, necessária será a presença das ideologias, as quais articulam os valores , hierarquizando-os, autorizando que , quando em confronto , se opte por esse ou aquele valor[.......]A imunidade tributária é alçada ao plano dos princípios em razão da posição de proeminência que ocupa no ordenamento constitucional brasileiro, dotada de intensa consistência, considerável peso e importância, indiscutível normatividade[.....]Principio da imunidade Tributária é o feixe de valores jurídicos, depositados na Constituição Federal, que permitem construir normas jurídicas que revelam a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para instituir tributos nas situações especificadas no texto Constitucional

Portanto, imunidade é principio, assim sendo obedecê-lo significa dar concretude e

efetividade aos valores instituídos por este, por outra forma, não observá-lo se destaca uma

afronta a Constituição, por conseqüência, aos preceitos e valores do princípio da legalidade.

9 PESTANA, Marcio. O Princípio da Imunidade Tributária.São Paulo:Editora revistas dos Tribunais,2001, pg. 52 e 101.

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2.6 As imunidades tributárias: conceitos e classificações

Antes de adentrarmos nas classificações, oportuno se faz a conceituação e o ponto de

vista da doutrina acerca do tema imunidade.

Nessa ordem, tem-se o pensar de Amaro, nos seguintes termos:10 ”..... Não quer a Constituição que determinadas situações materiais sejam oneradas por tributos .A imunidade tributária é , assim, a qualidade da situação que não pode ser atingida pelo tributo , em razão de norma constitucional,á vista de alguma especificidade pessoal ou material dessa situação, deixou –a fora do campo sobre que é autorizada a instituição do tributo”.

Em consonância com o Hugo de Brito, a imunidade é:11 :“o obstáculo decorrente de regra da Constituição á incidência de regra jurídica de tributação.O que é imune não pode ser tributado. A imunidade impede que a lei defina como hipótese de incidência tributária aquilo que é imune.È limitação da competência tributária.A imunidade para ser efetiva , para cumprir suas finalidades, deve ser abrangente. Nenhum tributo pode ficar de fora de seu alcance.

Em outra fonte, precisamente Rocha:12 “[.......]a imunidade, pois, significa a impossibilidade constitucional determinada de se instituir o tributo sobre aquela específica situação protegida.Ou seja, o fenômeno da imunidade está em momento anterior á instituição do tributo. O fenômeno ocorre no momento em que a Constituição desenha a competência tributária que é oferecida ao legislador. Tratando-se de hipóteses protegidas pelo texto Constitucional, podemos concluir que as imunidades só podem ser suprimidas mediante emenda á Constituição, o que torna tais proteções essencialmente estáveis. Além disso, em muitos casos, as imunidades representam verdadeiras cláusulas pétreas, o que não se permite a supressão por emenda.”

Nesse esteiro de idéias, verifica-se que a imunidade é proteção Constitucional inibitória

da incidência tributária, fulcrada em valores econômicos e sociais relevantes, com

abrangência para todo e qualquer tributo, caracterizada por estabilidade haja vista não ser

possível a supressão por meio de emenda, visto ser as mesma verdadeira cláusula pétrea.

Em análise das classificações, verifica-se que a doutrina tem dedicado espaço e tempo

para classificar as espécies de imunidade. Em esteira do conhecimento doutrinário aponta-se

que a imunidade classifica-se em subjetiva, objetiva e mista. Noutras posições conceituais

amplia-se o escopo de estudo para especificar outras classificações.

Para o Carrazza, com fulcro na doutrina mais tradicional, expressa que a imunidade

classifica-se em subjetivas, objetivas e mistas, conforme alcancem pessoas, coisas ou

ambas13.

10 AMARO, Luciano. Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Saraiva 2009,pg. 151. 11 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros, 2010, pg. 300 12 ROCHA, João Marcelo.Direito Tributário.Rio de Janeiro:Editora ferreira, 2009, pg. 198

22

Da análise inferida na conceituação e classificação retrocitada, entende-se que a

imunidade subjetiva está relacionada às pessoas, ou seja, refere-se aos entes políticos; as

objetivas dizem respeito às coisas pertencentes às pessoas; por fim, as mistas que engloba os

dois conceitos.

No plano teórico de Costa, as imunidades estão classificadas em genéricas e específicas;

excludentes e incisivas; subjetivas, objetivas e mistas; ontológicas e políticas; explícitas e

implícitas; incondicionais e condicionais14.

Em interesse específico para a temática em estudo, necessário um maior

aprofundamento em cada uma das espécies citadas no parágrafo anterior, com isso chegarmos

a um ponto de vista suficiente para justificar a imunidade tributária para as empresas públicas

prestadoras de serviços públicos.

As imunidades gerais (genéricas) são aquelas constantes do artigo 150, inciso VI, da

Constituição da República Federativa do Brasil(CRFB), por meio das quais as pessoas

políticas são contempladas, não incidindo qualquer espécie de tributo sobre o patrimônio, a

renda ou os serviços destas. Nesta espécie de imunidade, se enquadra a EBCT, haja vista ser

a mesma patrimônio da União.

Em se tratando de imunidade específica, verifica-se que a mesma abrange geralmente

uma única espécie tributária, a exemplo das operações com produtos industrializados cujo

destino seja o exterior, nos termos do artigo 153, § 3°,inciso III, da CRFB.Portanto, são

concessões limitadas, diz respeito a interesses econômicos e sociais específicos.

No plano das imunidades excludentes, certas situações somente são tributadas por certo

tipo de imposto, a exemplo da prevista no artigo 153, & 5° da CRFB, a saber, nas operações

com ouro, quando este seja definido por lei como ativo financeiro, apenas haverá a incidência

de IOF.

Por outro lado, tem-se as imunidades incisivas como sendo aquelas que determinam,

que determinada situação somente seja tributadas por alguns impostos, deixado de lado outras

espécies tributárias. Nesse sentido, nos termos do artigo 155, §3°, nas operações relativas a

energia elétrica , serviços de telecomunicação, derivados do petróleo, combustíveis e

minerais do país, apenas incidem ICMS, Imposto de importação e exportação.

13 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004, pg. 21 14 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pgs. 123 a 131

23

Em continuidade, no plano analítico acerca das imunidades subjetivas, constata-se que

estas abrangem pessoas. Por conseqüência, o patrimônio, a renda e os serviços de tais sujeitos

políticos não podem recair qualquer espécie tributária. No dizer de Costa, as imunidades

objetivas são:15 “outorgadas em função da natureza da pessoa ou, mesmo, em consideração ao papel socialmente relevante que desempenha. A imunidade subjetiva é, assim, atributo da personalidade jurídica de certos entes.As pessoas titulares do direito á imunidade tributária de natureza subjetiva não possuem capacidade tributária para figurar no pólo passivo de relações obrigacionais tributárias concernentes a imposições fiscais abrangidas pela vedação. Interessante observar que a imunidade subjetiva é mais ampla que a imunidade objetiva, pois envolve quaisquer impostos que poderiam , em tese, ser exigidos de determinados sujeito”.

Assim, considerando as conceituações da doutrina, no parágrafo anterior, verifica-se

que gozam da imunidade subjetiva, todas as pessoas políticas, as autarquias, fundações e

empresas públicas delegatárias de serviços públicos. São imunidades concedidas em função

das pessoas, isto é, os Estados, os Municípios e a União, são imunes a qualquer espécie

tributária.

As imunidades objetivas são aquelas que abarcam coisas, não são concedidas em função

das pessoas. Nesse sentido,sobre determinadas coisas não podem haver a imposição de

tributos, a exemplo das imunidades de livro, jornais e periódicos, bem como do papel

destinado a sua impressão, conforme preceitos do artigo 150, VI, alínea “d”.

As imunidades mistas alcançam as pessoas e as coisas. Alcançam pessoas em razão da

natureza jurídica destas; alcançam coisas por estarem relacionadas a determinados fatos, bens

ou situações, a exemplo dos preceitos do artigo 153,§4°, da CRFB.

Por outro modo, as imunidades ontológicas, estas são oriundas de princípio

constitucional, a exemplo da imunidade recíproca que está diretamente liga a isonomia e ao

pacto federativo. Em outra esteira, as imunidades políticas, que não são conseqüências direta

de determinado princípio, porem, a concessão destas, devem está em consonância aos

preceitos de princípios contidos na Constituição Federal.A título de exemplo,as imunidades

dos entes políticos, assim como das empresas públicas, a exemplo da EBCT, são ontológicas.

No pensar de Costa, destacam-se as seguintes observações:16 “as imunidades ontológicas são as reconhecidas de jure, como consequência necessária de um princípio constitucional.Esse preceitos imunitórios sempre se revestem de caráter subjetivo. A imunidade ontológica por excelência é imunidade recíproca das pessoas políticas, visto não possuírem capacidade contributiva, pois seus recursos destinam-se ao custeio da prestação de serviços públicos que lhes incumbem.Também, cuidando-se de um Estado Federal, tal imunidade é decorrência lógica dessa mesma igualdade, agora voltada ás pessoas políticas.As imunidades políticas ,diversamente, sem constituirem consequência necessária de um princípio, são outorgadas para

15 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pg 126 e 127 16 Idem, pag. 128

24

prestigiar outros princípios constitucionais.Beneficial pessoas que detém capacidade contribuir.........São dessa espécie as imunidades dos templos, das entidades sindicais de trabalhadores e dos partidos políticos e suas fundações, bem como a conferida aos livros, jornais, periódicos e ao papel destinado á sua impressão”

Por imunidade explícita entende-se aquelas previstas de forma expressa no texto

Constitucional, a exemplo das imunidades dos livros, jornais e outras constantes do art. 150,

VI, alíneas “c” e “d”, da CRFB.Por outro lado, as imunidades implícitas, não estão expressa

na Constituição Federal, todavia, são extraídas com base em princípios constantes do

ordenamento jurídico, como exemplo,a imunidade recíproca ou ontológica.

Por fim, as imunidades incondicionadas e condicionadas, para as quais Costa, assim

define:17 “Se se trata de norma constitucional de eficácia plena e aplicabilidade direta e imediata a imunidade é incondicionada, posto independer de outro comando para produzir integralmente os seus efeitos. Se, diversamente, a norma constitucional acolhedora de a imunidade tributária qualificar-se como de eficácia contida e aplicabilidade imediata, mas passível de restrição, estar-se-á diante de uma imunidade condicionável aos termos da lei complementar. È a hipótese da imunidade das instituições de educação e de assistência social sem fins lucrativos, que, para o gozo do benefício devem atender aos requisitos postos pela lei complementar, art. 150, VI, “c”.

Dos tipos de imunidades estudadas neste tópico, destacam-se, pela importância para a

temática em estudo, as imunidades gerais, ontológicas, subjetivas, incondicionadas e

implícitas, pelo simples fato de que são estas reconhecidas por imunidade recíproca. Esta

espécie de imunidade diz respeito Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, conforme

exposto nos tópicos seguintes.

17 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pg. 130

25

3 IMUNIDADE RECIPROCA

Entre ás espécies de imunidade convém destacar a imunidade recíproca. Por ser a

mesma a espécie de imunidade defendida para a empresa prestadora de serviço público postal,

dedica-se tópico próprio para análise específica desta modalidade de imunidade.

A imunidade recíproca está prevista no artigo 150, inciso VI, alínea “a’ da CRFB, com

a redação de que não é permitido instituir impostos sobre o patrimônio, a renda e os serviços

uns dos outros. Em outras palavras, significa que as pessoas políticas não podem, não tem

competência para cobrar tributos umas das outras, incluindo nesse contexto às autarquias, as

empresas públicas e às fundações instituídas e mantidas pelo Poder Público.

Por uma melhor compreensão, convém analisar os elementos sobre os quais não é

permitida a instituição de impostos, a saber, patrimônio, renda e serviço. O primeiro significa

uma universalização de bens móveis e imóveis, direitos e obrigações pertencentes aos entes

políticos, a exemplo de uma empresa pública. A segunda, diz respeito a todo e qualquer

numerário auferido pela venda de um bem, recebimento de um direito ou pela prestação de

serviços públicos. O terceiro elemento se refere a todos os serviços públicos prestados em

favor dos administrados, pelo próprio Estado ou por quem lhes faça às vezes, a exemplo da

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos e o serviço público postal.

Do ponto de vista doutrinário, no entendimento de Costa, temos as seguintes

ponderações:18 “deve-se entender por patrimônio uma universalidade de bens, móveis e imóveis, direitos e obrigações, referida a um titular [.........]Renda, por sua vez, é todo rendimento obtido a partir de um bem ou direito.Por fim,há que se entender que os serviços referidos na norma constitucional são os públicos”

Ora, com base nos preceitos exarados nos dois parágrafos anteriores, verifica-se que

uma Empresa pública se enquadra no conceito de patrimônio. Desse modo, a imunidade

recíproca protege este complexo de coisas (empresa) da incidência de qualquer espécie

tributária. Destarte, tratando-se de patrimônio público, não cabe a exigência de qualquer

tributo. No mesmo conduto, sobre as rendas e serviços da empresa não haverá qualquer

embaraço tributária, todavia, deve esta ter como finalidade os fins públicos como forma de

prover a sociedade de serviços públicos essenciais e necessários.

18 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pg. 139

26

Toda imunidade tem por fim a realização de finalidades Constitucionais. Assim,a

imunidade recíproca está alicerçada em valores que a Constituição Federal visa resguardar, a

exemplo dos direitos fundamentais e a construção de uma sociedade justa,

conseqüentemente,a erradicação da pobreza, redução das desigualdades sociais e a promoção

do bem social.

Nesse esteiro a imunidade recíproca significa dizer que cada ente político, apesar de

possuir competência tributária, não a possui para imposição, sobre os outros entes, impostos19.

Em outra forma de expressão, não obstante a previsão expressa da imunidade recíproca

no texto constitucional, sua eventual inexistência não teria o condão de excluir tal regra do

ordenamento jurídico brasileiro, haja vista a sua intrínseca relação com o princípio

federativo20.

Em consonância com o entendimento doutrinário citado anteriormente, a imunidade

recíproca existiria, mesmo se na Consttituição federal não houvesse de forma expressa, ainda

assim, não teria competência tributária os entes políticos para tributarem uns aos outros. Tal

conclusão se baseia em princípios constitucionais, a exemplo do Pacto Federativo e Isonomia,

conforme veremos a seguir.

3.1 O pacto federativo, a isonomia e a imunidade recíproca.

O pacto federativo está preceituado no art. 1°, caput, da Constituição Federal, onde se

verifica que a Federação do Brasil, é formada pela união indissolúvel dos Estados e

Municípios e do Distrito federal.

Ora, se é uma união indissolúvel, significa que não pode haver qualquer obstáculo que

possa por em risco a unicidade. Assim, nesse contexto, a competência para instituir tributos,

não prospera, ou seja, não há competência e tampouco capacidade contributiva das pessoas

políticas, suas fundações, autarquias e empresas públicas Delegatárias de serviços públicos.

Na base conceitual de Filho, o pacto federativo se apresenta na seguinte conjuntura:21

19 ROCHA, João Marcelo.Direito Tributário.Rio de Janeiro:Editora ferreira, 2009,

pg.211 20 IBANÊZ.Andre Pereira.Imunidade Tributária Recíproca a Experiência do Direito Norte Americano.Porto Alegre:Livraria do Advogado,2010, pg.45 21 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira.Curso de Direito Constitucional.São Paulo:Editora Saraiva, 2007,pg.60 e 61.

27

“A ordem total, a ordem da Federação, apresenta dois aspecto diversos embora complementares: um aspecto unitário e um aspecto societário.Isso corresponde aliás á estrutura íntima do Estado federal que é um Estado mas composto de Estados.O Estado federal é um Estado e, por isso, apresenta um aspecto unitário, quer no plano internacional, quer no mero plano interno.No plano internacional, esse aspecto se manifesta em sua unidade de personalidade[......]No plano interno essa unicidade se manifesta antes de mais nada pela existência de um ordenamento jurídico(constitucional ou não) próprio ao todo, com organização completa, competente em todo território e sobre todos os habitantes desse território.Todavia, é também o Estado federal uma sociedade de Estados. Daí que, no típico Estado federal, os Estados membros de algum modo participam do governo do todo(seja por existir um órgão no ordenamento total cuja função é representá-los- um Senado- seja por elegerem eles o chefe de Estado e do governo”.

Diante de tais ponderações, verifica-se na própria Constituição federal, a repartição de

competências entre Estados, União e Municípios, a saber: repartição de competência

legislativa, a repartição de competência administrativa, a repartição de competência tributária

e a divisão de rendas, nos termos dos artigos 21 a 24 da Constituição Federal.

No exercício de tais competências não pode haver obstáculos de uns para com os

propósitos dos outros e, com isso, não poderá haver qualquer tributação sobre as finalidades

dos entes políticos, seja no patrimônio, na renda ou serviços, haja vista a unicidade de

propósitos. Em suma, as partes não podem prejudicar o todo.

No conduto de Ibanêz,a imunidade recíproca está fundamentada no seguinte: 22 “a imunidade recíproca decorre do princípio federativo porque a federação implica autonomia política, administrativa e legislativa dos entes federados. A eventual tributação de um ente pelo outro redundaria no exercício de uma soberania que inexiste na relação harmônica em que não pode haver ingerência de um na autonomia do outro”

Na conjuntura teórica do Carrazza, a imunidade recíproca é decorrência dos princípios

federativo e da isonomia, nos seguintes termos:23 “Este princípio decorre seja do princípio federativo, seja do principio da isonomia(igualdade jurídica das pessoas políticas).Decorre do princípio federativo porque, se uma pessoa política pudesse exigir imposto de outra, fatalmente acabaria por interferir em sua autonomia. Sim porque, cobrando-lhe impostos, poderia levá-la a situação de grande dificuldade econômica , a ponto de impedi-la de levar avante seus objetivos institucionais.Ora isso a Constituição absolutamente não tolera, tanto que inscreveu nas cláusulas pétreas que não será sequer objeto de deliberação a proposta de emenda constitucional tendente a abolir a forma federativa de Estado(art.60,§4°,I)”.

Noutra fonte, mais precisamente, Ibanêz, a isonomia significa que:24 Entre as pessoas políticas, reina a absoluta igualdade jurídica, não havendo a sobreposição de umas sobre as outras, pelo menos não em termos jurídicos. Assim, evidente que não podem sujeitar-se á incidência de impostos.Segundo considerável parcela da doutrina, a imunidade tributária recíproca atende a dois princípios constitucionais:o principio federativo e o princípio da igualdade, que, na área tributária é examinado de acordo o critério da capacidade econômica.

22 IBANÊZ, André Pereira. Imunidade Tributária Recíproca a Experiência do Direito Norte americano. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010,pg.46 23 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004,pg.27. 24 IBANÊZ, André Pereira. Imunidade Tributária Recíproca a Experiência do Direito Norte americano. Porto Alegre: Livraria do Advogado Editora, 2010,pg.47

28

Em mais um posicionamento, na baila teórica de Pestana, verifica-se:25 “Prevalece na nossa ordem constitucional a isonomia entre as pessoas políticas de direito constitucional interno, corolário do regime federativo brasileiro; não e cogita de distribuição hierárquica entre essas pessoas , mas sim, de competências específicas outorgadas pela Carta Brasileira”.

Portanto, do contexto doutrinário anteriormente relatado, destacam-se três pontos

relevantes, quais sejam: a igualdade jurídica, a autonomia e a capacidade econômica. O

primeiro diz respeito ao princípio da isonomia, os entes políticos são iguais juridicamente,

respeitadas as desigualdades Constitucionais; o segundo está diretamente ligado ao pacto

federativo e, significa governo de si próprio, delimitado pela Constituição, sem interferências

dos outros entes, porém, em observância ao poder soberano; o terceiro, diz respeito a

capacidade contributiva, a titularidade da riqueza das pessoa políticas.

Por tudo o exposto, as pessoas políticas não manifestam capacidade econômica para

pagar tributos, os recursos auferidos são para a realização das suas finalidades, não sendo

possível qualquer espécie de embaraço tributário.

3.2 A interpretação da imunidade recíproca

O fenômeno da exigência tributária não pode ser imposto de forma ilimitada, sob pena

de afronta a princípios consagrados pela Constituição Federal, em outras palavras, a

tributação desenfreada e desordenada não é admitida em nosso ordenamento jurídico.

Diante desse fato, necessário se faz a utilização das diversas formas de interpretação

quando se trata da temática imunidade, haja vista que não são apenas os princípios explícitos

que limitam a ganância impositiva dos entes políticos em arrecadar cada vez mais.Assim, é

primordial uma interpretação mais abrangente quando se cuida de limitar o poder tributante,

principalmente em relação a imunidade tributária recíproca, de modo que o fim social

pretendido pela imunidade seja totalmente alcançado.

Pela base teórica de Hugo de Brito, acerca da forma mais adequada para interpretar as

normas jurídicas em geral, a saber:26

25 PESTANA, Marcio. O Princípio da Imunidade Tributária.São Paulo:Editora revistas dos Tribunais,2001,pg.82 26 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros, 2010, pg. 121

29

“sendo possível mais de uma interpretação, todas razoáveis, ajustadas aos elementos sistemáticos e teleológicos, deve prevalecer aquela que melhor realize os princípios constitucionais e permita a solução que mais se aproxime dos valores essenciais que ao Direito Cumpre realizar- a saber, a segurança e a justiça”.......O elemento literal é de pobreza franciscana, e utilizado isoladamente pode levar a verdadeiros absurdos, de sorte que o hermenêutico pode e deve utilizar todos os elementos da interpretação, especialmente o elemento sistemático, absolutamente indispensável em qualquer trabalho sério de interpretação, e ainda o elemento teleológico , de notável valia na determinação do significado das normas jurídicas”.

Na continuidade conceitual, para melhor esclarecimento, consta-se que existem na

doutrina alguns meios de interpretação, com os quais pode o interprete trabalhar e conhecer

as significações que a leitura dos textos do direito positivo desperta, desse modo, amplia-se o

horizonte, por conseqüência estabelece contatos com valores intrínsecos ao caso concreto,

distancia-se da interpretação literal e consagra a segurança jurídica.

Nesse esteiro doutrinário, elencam-se algumas formas de interpretação, qual seja:

econômica, literal, benigna, sistemática ,teleológica,histórica e sociológica.

A interpretação econômica considera em primeiro lugar os efeitos econômicos

preceituados pela norma jurídica, ou seja, vislumbra-se o lado econômico na relação tributária

do fisco com o contribuinte.

Na interpretação literal, busca o interprete o significado gramatical da lei, o que importa

é o sentido restrito da palavra, vale o que está escrito, não leva em cona outros aspectos do

ordenamento jurídico.

Destarte, com relação a interpretação benigna, temos as diretivas conceituais do artigo

112 do Código Tributário Nacional, onde se estabelece que a lei tributária que define

infrações, ou lhes comina penalidades, interpreta-se da maneira mais favorável ao acusado.

Assim sendo, as dúvidas quando do conflito entre fisco e contribuinte, segundo este conceito

devem ser resolvidas em favor do contribuinte, parte mais frágil na relação, principalmente,

considerando a restrição que a tributação provoca no direito de propriedade.

Por interpretação sistemática entende-se o método que se utiliza de todas as

possibilidades existentes no ordenamento jurídico, isto seja, não considera apenas a norma

isoladamente no contexto em que ela se insere, mas no todo da qual ela é parte.

Mediante a interpretação teleológica, o intérprete busca adequar a finalidade da lei ao

caso concreto, por conseqüente realizar a vontade coletiva nela contida, ou seja, na aplicação

das normas contidas em uma lei ou na Constituição Federal o objetivo maior é a

concretização dos fins sociais a que a regra se dirige e os anseios do bem comum.

No esteiro da interpretação histórica, o intérprete busca conhecer os motivos que

levaram os legisladores a elaborarem a lei, estuda a relação da lei com o momento de sua

edição, isto seja análise do passado para decidir o caso concreto no presente.

30

Por outro modo, na conjuntura de elementos da interpretação sociológica, o intérprete

verifica a finalidade social da lei, analisa-se o aspecto da necessidade social a ser realizada, o

fim para o qual a lei foi criada.

Ora, diante de tais possibilidades interpretavas,considerando o fim social de toda

imunidade, a interpretação que deve ser dada nos casos de incompetência para tributar será

aquela que mais se aproxime da finalidade coletiva, ou seja, necessário um equilíbrio entre o

fim público almejado com a imunidade e o desejo insaciável de arrecadar.

No pensar doutrinário, precisamente na esteira conceitual de Hugo de Brito, a

imunidade tem abrangência ampla, indo além de impostos, nos seguintes termos:27 “Em edições anteriores afirmamos que a imunidade refere-se apenas aos impostos. Não aos demais tributos. Hoje, porém, já não pensamos assim.A imunidade, para ser efetiva, para cumprir suas finalidades, deve ser abrangente. Nenhum tributo pode ficar de fora de seu alcance”.

Noutra posição doutrinária, no trilhar de Costa,as imunidades devem ser interpretadas

de forma sistêmica e teleológica, com fundamento em princípios constitucionais, na forma de

expressão seguinte:28 “As normas imunizantes tem seus objetivos facilmente identificáveis pelo interprete, porquanto estampados na Constituição, quase sempre de modo explícito. A partir da identificação do objetivo(ou objetivos) da norma imunizante, deve o intérprete realizar a interpretação mediante a qual o mesmo será atingido em sua plenitude, sem restrições ou alargamentos do espectro eficacional da norma, não autorizados pela própria Lei Maior.Em outras palavras, a interpretação há de ser teleológica e sistemática- vale dizer, consentânea com os princípios constitucionais envolvidos e o contexto a que se refere.Em nosso entender a interpretação da norma imunizante deve ser efetuada de molde a efetivar o principio ou liberdade por ela densificado. O alcance da norma há que se conformar com a eficácia do principio ou liberdade. Portanto,interpretação que não conduza a esse desfecho é inadimissível”.

Dos pontos doutrinários em discussão, extrai-se a idéia de que a interpretação não deve

ser restritiva (literal), tampouco extensiva, mas um pensar interpretativo que seja na medida

certa, no equilíbrio necessário para a realização dos valores do Estado contido na norma

imunizante.

Todavia, surge uma duvida com a leitura do preceito inserido no artigo 111 do CTN,

qual seja:”interpretam literalmente a legislação tributária que disponha sobre outorga de

isenção”. Ora se na isenção interpreta-se literalmente, na imunidade também será da mesma

forma?

Sobre este dispositivo pondera Hugo de Brito, assim, conforme segue:29

27 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário. São Paulo: Editora Malheiros, 2010, pg. 300 28 COSTA. Regina Helena. Imunidades Tributárias: teoria e análise da jurisprudência do STF. São Paulo: Editora Malheiros, 2006, pg. 115 29 � MACHADO, Hugo de Brito.Op cit, pg. 121

31

“Assim, a regra do artigo 111 do Código tributário Nacional há de ser entendida no sentido de que as normas reguladoras das matérias ali mencionadas não comportam integração por equidade. Sendo possível mais de uma interpretação, todas razoáveis, ajustadas aos elementos sistemáticos e teleológicos, devem prevalecer aquela que melhor realize os princípios constitucionais e permita a solução que mais se aproxime dos valores essenciais que o Direito cumpre relizar- a saber, a segurança e a justiça. È inadequado o entendimento segundo o qual a interpretação das normas reguladoras das matérias previstas no art. 111 do Código Tributário não admite outros métodos, ou elementos de interpretação, além do literal”.

Nessa ordem conceitual, verifica-se que nem mesmo o preceito estabelecido

expressamente no artigo 111 do CTN, de que as isenções são interpretadas literalmente, tem o

condão suficiente de afastar outros métodos de interpretação da norma. Dessa feita, as

isenções quando postas em análise serão inicialmente verificadas sobre a ótica literal, todavia,

possível é a utilização de outros meios.

No pensar doutrinário de Leopoldo, as isenções são interpretadas em principio

restritivamente, haja vista a regra expressa no Código Tributário Nacional, enquanto as

imunidades, por não estarem no mesmo regramento e terem por objetivos a proteção de

valores políticos de forma ampliativa, conforme se escreve a seguir:30 “Não há norma expressa em nosso ordenamento jurídico que determine o modo como deve ser feita a interpretação das normas de imunidade, ao contrário das isenções........Assim, entende-se que ás isenções cabe interpretação literal não no sentido de que deve ser utilizado exclusivamente o método literal de interpretação, mas no sentido de que se inicia o processo exegético a partir da literalidade(que traduz o conteúdo indisponível daquilo que objetiva comunicar)mas também de que devem ser levados em consideração os demais métodos(sistemático, teleológico e histórico) para que o significado da norma não se afaste da razoabilidade e da harmonia do sistema jurídico pátrio.........Cabe, dessa forma, ás imunidades, principalmente em razão de sua finalidade, interpretação ampliativa”.

Do ponto de vista jurisprudencial, no mesmo sentido, o Supremo tribunal Federal em

consonância com o pensamento doutrinário, expressa que o elemento literal não basta para

solucionar casos concretos de isenções.A construção sistêmica será necessáririo literal não

seja adequado31.

Isso posto,significa que as isenções terão uma interpretação aproximada com o

elemento literal, não fugindo do contexto de outras espécies de interpretação, a exemplo da

sistêmica, teleológica e histórica.Por outro lado, as imunidades, que pela natureza

extremamente ligada a valores sociais e princípios constitucionais, também pela falta de regra

expressa, interpreta-se de modo amplo.

30 LEOPOLDO,Ana Caroline Kruger de Lima.A Interpretação das Imunidades.Porto Alegre:Livraria do Advogado Editora, 2010,pg. 21

31 “Em regra, a interpretação da legislação tributária sobre isenção é restritiva, salvo quando, por construção sistêmica, tal critério não atenda aos princípios posto no ordenamento jurídico fiscal”( Recurso Especial N° 85.289\SP, realizado em 05\09\96, nos termos do voto do Ministro José Delgado, relator).

32

3.3 A imunidade recíproca aplicada às estatais

As estatais são empresas públicas e sociedade de economia mista, com personalidade

jurídica de direito privado, criadas com o objetivo de explorarem atividades econômicas em

sentido estrito e em sentido amplo.

Nessa ordem, as atividades econômicas em sentido estrito, é toda prestação de serviços

em concorrência com os particulares, nos termos do artigo 173 da Constituição Federal. Por

outro lado, serviços em sentido amplo, é toda prestação de serviços públicos, nos termos da

Constituição Federal, artigo 175.

Dessarte,bebendo na fonte doutrinária, nos termos conceituais de Marcelo Alexandrino

e Vicente Paula, as empresas públicas e sociedades de economia mistas tem as seguintes

características:32 “As empresas públicas e sociedade de economia mista que atuam na exploração de atividades econômicas (de produção ou comercialização de bens ou prestação de serviços de natureza privada) são as entidades que, embora integrantes da Administração Pública em sentido formal, mais se aproximam das pessoas privadas. Somente se submetem a preceitos de direito público expressos no próprio texto constitucional, ou em leis administrativas, desde que, nesse caso, sejam derivados de normas constitucionais explicitas ou implícitas.......As empresas públicas e sociedade de economia mista prestadoras de serviços públicos, embora sejam, pessoas jurídicas de direito privado, estão sujeitas a diversas regras e princípios de direito público, especialmente como decorrência do postulado da continuidade dos serviços públicos.....Em face dessa dualidade de atividades desempenhadas pelas empresas públicas e pelas sociedades de economia mista(exploração de atividade econômica ou prestação de serviços públicos)temos regimes jurídicos distintos, a saber: a)aquelas que dedicam á exploração de atividades econômicas sujeitam-se predominantemente, sobretudo no exercício de suas atividades-fim, ao regime jurídico próprio das empresas privadas, conforme o art. 173 da Constituição Federal; b)aquelas que se dedicam á prestação de serviços públicos sujeitam-se predominantemente, sobretudo no exercício de suas atividades-fins, ao regime jurídico de direito público, nos termos do art.175 da Constituição Federal.

Por certo, consoante as preceituações doutrinária, temos duas situações importantes, a

saber: a criação de empresas públicas ou sociedade de economia mista para prestar serviços

públicos, as quais estão sujeitas ao regime jurídico público, por conseguinte, gozam dos

privilégios da Administração Pública, dentre os quais os benéficos fiscais.

Noutra ponta, as empresas públicas e sociedade de economia mista, criadas para

executarem atividades econômicas de produção ou comercialização. São regidas pelo direito

privado, não gozam dos privilégios da Administração Pública, participam da livre

concorrência e sujeitam-se a mesma carga tributária das empresas privadas.

32 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Direito Administrativo Descomplicado.São Paulo:Método, 2008,pg.78

33

Outro ponto que merece destaque diz respeito à forma descentralizada de prestação dos

serviços públicos, que nos termos do artigo 175 da Constituição Federal temos a concessão e

a permissão, sempre através de licitação (delegação). Também existe a autorização, nos

termos do artigo 21, incisos XI e XII, do mesmo diploma legal. Todavia, daremos ênfase a

delegação e outorga.

Nesse sentido, em conformidade a Alexandrino e Vicente, na forma descentralizada os

serviços serão prestados mediante outorga e delegação, expressos da seguinte maneira:33 “[....] há criação por lei,ou autorização legal para instituição, de uma entidade com personalidade jurídica própria, á qual é atribuída a titularidade da prestação daquele serviço.Esta entidade pode ser uma autarquia, uma empresa pública, uma sociedade de economia mista ou uma fundação pública.No caso de serviços prestados por entidades da administração indireta, diz-se que há outorga do serviço. A outorga será feita pela lei específica que crie ou autorize a criação da entidade;a lei, desde logo, enumera as competências da entidade que está sendo instituída , ou cuja criação está sendo autorizada.São exemplos de serviços descentralizados prestados pela administração indireta:o serviço de transporte ferroviário urbano prestado pela TRENSURB, empresa pública federal,o serviço postal prestado pela ECT, empresa pública federal,os serviços de abastecimento de água prestados por empresas públicas estaduais etc[....]A delegação consiste em transferir ao particular, sempre temporariamente, a incumbência de prestar, mediante remuneração, determinado serviço público. A titularidade do serviço, em qualquer hipótese, permanece sendo do Poder Público, que possui o poder dever de fiscalização da adequada prestação do serviço, podendo, sempre que verificada alguma falta, nele intervir de diversas formas, inclusive decretando a caducidade da delegação, o que acarreta a reversão do serviço para ele, Poder Público.

Por último, eles enfatizam, nos seguintes termos:34 “Em síntese, entendemos que as empresas públicas e sociedades de economia mista cuja criação tenha sido autorizada em lei para a prestação de determinado serviço público prestam-no como titulares;receberam da lei o serviço, por outorga; não são, nem podem ser, concessionária ou permissionária desse mesmo serviço”

Assim,depois da contextualização doutrinária acerca dos meios e formas de prestação

de serviços públicos , fica cristalino o entendimento de que as empresas públicas que prestam

serviços por outorga, fazem às vezes do Estado e, portanto, são regidas pelo direito público e

gozam da imunidade recíproca, desse modo, suas rendas, serviços e patrimônio não sofrerão

qualquer obstáculo tributário.

A imunidade recíproca para as empresas que prestam serviços públicos de prestação

obrigatória e exclusiva do Estado, é reconhecida, pela doutrina e pelo Superior Tribunal de

Federal(STF). Nesse sentido, no pensar de Alexandrino e Paulo, temos a seguinte

contextualização para o §2° do art 150, da CRFB:35 “Em que pese a literalidade do citado §2° do art. 150-que alude, tão-somente, a autarquias e fundações públicas - nossa Corte Constitucional, em diversos julgados, decidiu que as empresas

33 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Direito Administrativo Descomplicado.São Paulo:Método, 2008,pg. 572 e 573 34 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Op cit, pg. 84 35 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Direito Administrativo Descomplicado.São Paulo:Método, 2008,pg. 88

34

públicas e sociedades de economia mista que prestem serviços públicos de prestação obrigatória pelo Estado fazem jus á imunidade tributária recíproca.Essa orientação – algo surpreendente – reforçou sobremaneira a constatação de que as empresas públicas e sociedades de economia mista estão sujeitas a regimes jurídicos significativamente distintos, conforme o seu objeto.

Sem dúvidas, a imunidade recíproca para as empresas delegatárias(tem a outorga por

lei) de serviços públicos, está em consonância com os anseios sociais, preceitos e princípios

consagrados pela Carta Maior, visa prover a sociedade de serviços públicos essenciais e

necessários.

Nessa esteira, a riqueza estatal está direcionada para atingir fins públicos, não pode os

entes políticos embaraçar os objetivos uns dos outros com a exigência tributária, mesmo que a

riqueza seja uma empresa, esta faz às vezes do Estado e integra o patrimônio deste. Desse

modo, abrangida pela Imunidade recíproca está todas as empresas públicas e sociedade de

economia mista prestadoras de serviços públicos obrigatórios.

A expressão teórica de Sant Anna,justifica a imunidade das delegatárias de serviços

públicos, conforme se extrai das seguintes considerações:36 “Portanto,o fato de serem entes estatais já garante á imunidade recíproca suas finalidades.Precisamente as dúvidas residem em quem estará executando o serviço, auferindo renda, ou constituindo patrimônio não for o ente político, mas entidades da administração indireta. Dessa forma, como se compreende bens como as coisas de propriedade pública e integrantes do serviço público, móveis e imóveis, corpóreos ou não, inclusive complexos de coisas, como uma empresa ou um estabelecimento, se quer que a imunidade tenha exatamente esse alcance.......Enfim, todos os meios de execuções operadas por essas pessoas , sob várias modalidades, para realização dos fins que a Constituição expressa ou implicitamente comete, serão abrangidas pela imunidade recíproca”.

Dessa arte,diante do fato de serem entes estatais e todas a ações estarem direcionadas

para consecução dos fins públicos, oportuno destacar que mesmo que tais empresas ou

sociedades de economia mistas, que tem a outorga para fazer as vezes do Estado, venham a

prestarem algum outro serviço que tenha natureza econômica,não preponderante,autorizado

em lei, não deverão sofrer qualquer embaraço tributário .A atividade preponderante é o

serviços público, uma minoria de outros serviços não desqualifica a condição de outorgada e

de imune.

Ora, se o texto Constitucional, no artigo 150,§3°, expressa que não se aplicam as

vedações ao patrimônio, á renda e aos serviços , relacionados com a exploração de atividades

econômicas regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, logo,por meio de

uma interpretação sistemática e sociológica, conclui-se que tem atividades econômicas

regidas por normas aplicáveis a empreendimentos públicos,desse modo, para estas situações

aplica-se a imunidade. 36 SANT`ANNA, Carlos Soares.Imunidade de Empresas Públicas Prestadoras de Serviços Públicos.São Paulo:MP Editora, 2005,pg 47.

35

Em outra ponta de explicação, a lei que outorga o serviço obrigatório, de modo a

facilitar o ônus, também autoriza outros serviços, desse modo, são tais situações regidas pelo

direito público, portanto,alcançadas pela imunidade recíproca.

O ponto de vista expresso anteriormente, está baseado nas seguintes palavras do

Carrazza:37 “Portanto, não é dado a uma pessoa política, por meio de impostos, criar embaraços ou anular a ação de outra. E esta vedação cobre a universalidade de seus bens, aí compreendidas as rendas advindas até mesmo de preços públicos, bastando que sejam carreadas para a realização dos objetivos que a Constituição lhe comete”

Por fim, a imunidade recíproca para as estatais prestadoras de serviços públicos, se

justifica por vários motivos, dentre tantos, os principais que se segue:

a) Não determinam livremente o valor da contraprestação, que é regulado por lei ou

por ato do Poder executivo;

b) A contraprestação não é suficiente, não há equilíbrio em muitas situações entre o

custo da atuação estatal e o valor cobrado;

c) Presta serviço por determinação constitucional ou por força de lei, portanto, um

serviço obrigatório, trata-se de um ônus a ser cumprido com eficiência e

continuidade;

d) As exigências fiscais acabariam por mutilar em parte, a renda ou o patrimônio

destas empresas, por conseqüência, criaria obstáculo ao cumprimento das atividades

públicas essenciais, pelas quais estas empresas foram criadas;

e) A imunidade recíproca para as estatais está em consonância ao principio da

isonomia e do pacto federativo;

f) O patrimônio público afetado para o cumprimento da prestação do serviço público,

não deve sofrer decréscimo por meio de tributos;

g) Na prestação de serviços público as estatais é administração pública, estarão sujeita

ao regime jurídico administrativo.

Nessa ordem de idéias, a Empresas Brasileira de Correios e Telégrafos (EBCT),

empresa pública, prestadora de serviços públicos postal, nos termos da lei 6538/78 e artigo

21, inciso X da Constituição Federal, por fazer às vezes do Estado, cujo capital pertence

37 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de

Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004,pg 30.

36

integralmente a União, está abrangida pela imunidade recíproca, conforme exposições do

próximo capítulo.

37

4 A IMUNIDADE NA EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFO (EBCT)

4.1 A EBCT: aspectos legais de sua criação

O serviço postal era prestado pela Administração Direta, precisamente, pelo

Departamento de Correios e Telégrafo (DCT).Em 20 de Março de 1969, por meio do Decreto

lei 509, o Departamento foi transformado na Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo.O

decreto expressa em seu artigo 1° a seguinte redação: Art. 1º - O Departamento dos Correios e Telégrafos (DCT) fica transformado em empresa pública, vinculada ao Ministério das Comunicações, com a denominação de Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT; nos termos do artigo 5º, ítem II, do Decreto lei nº.200 , de 25 de fevereiro de 1967.

Em conformidade com o decreto lei 200, artigo 5°, inciso II, considera-se como

Empresa Pública a entidade dotada de personalidade jurídica de direito privado, com

patrimônio próprio e capital exclusivo da União, criada por lei para a exploração de atividade

econômica que o Governo seja levado a exercer por força de contingência ou de conveniência

administrativa podendo revestir-se de qualquer das formas admitidas em direito.

Nessa esteira legal, verifica-se que a empresa pública de Correios e Telégrafo foi criada

para exercer a atividade que antes estava sob a responsabilidade do DCT e, muito embora

tenha personalidade de direito privado, podendo ser constituída nas formas admitidas no

direito, está ela submetida ao regime jurídico administrativo, acompanhada das prerrogativas

e sujeições que colocam a administração pública em situação privilegiada em relação aos

particulares.

Do ponto de vista doutrinário, na cartilha teórica de Carrazza, temos o seguinte ponto de

vista:38 “As empresas públicas e as sociedades de economia mista são submetidas ao regime jurídico administrativo,acompanhado das prerrogativas e sujeições que colocam a administração pública numa posição de proeminência em relação aos particulares.Em suma,a empresa estatal delegatária de serviço público juridicamente é administração pública, faz administração pública e tem atributos(positivos e negativos) da administração pública. Desfruta, pois, do regime protetor que a Constituição Federal reservou aos bens e dinheiros públicos”.

As palavras de Carraza estão em consonância com as preceituações apostas nos

artigos 6°e seus parágrafos e artigo 17 do decreto lei 509\69, dos quais se extrai que todos os

38 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004 ,pg.51

38

créditos, bens, direitos e receitas do DCT, foram repassadas para a Empresa de Correios e

Telégrafo. No mesmo sentido, todo o capital inicial da empresa foi constituído por recursos da

União, sendo possível a participação de entes políticos internos no aumento de capital, ou

seja, pessoas jurídicas de direito público interno, bem como entidades integrantes da

Administração Federal Indireta, poderão participar do aumento de capital da ECT.Assim, não

resta dúvida a ECT é administração pública.

Ora, o objetivo de a união prestar em forma de monopólio o serviço postal não foi

alterado com a mudança do DCT para a ECT. Os bens continuaram sendo público, a empresa

continua sendo da união ou de entes políticos que queiram participar do capital da mesma.

Desse modo, as prerrogativas e sujeições pertinentes a administração pública continuam da

mesma forma que antes da transformação, inclusive a imunidade recíproca e outras regras que

a condição de ente público impõe a ECT.

4.2 O serviço postal privativo da União

No tópico anterior ficou evidenciado que a União prestava diretamente o serviço postal

até março de 1969, por intermédio do DCT (Departamento de Correios e Telégrafo). Todavia,

conforme já demonstrado, pelo Decreto lei 509/69, o DCT foi transformado em Empresa

pública e atribuiu a esta competência para executar e controlar, em regime de monopólio, os

serviços postais em todo o território Brasileiro, sob a subordinação e supervisão do Ministério

das Comunicações.

Na Constituição Federal a competência para prestar o serviço postal está expressa no

artigo 21, inciso X, nos seguintes termos: ”Compete a á União manter o serviço postal e o

Correio aéreo nacional”. Assim, fica evidenciado que o serviço postal é público e, que

somente a União, diretamente ou por meio de outorga, pode prestá-lo.

Na ótica doutrinária, na esteira conceitual de Carrazza, o serviço postal é essencialmente

público, não sendo permitido aos particulares executar tais serviços, nas seguintes palavras:39 “De fato, embora entre nós vigore o regime da livre iniciativa, aos particulares- e, por extensão, ás empresas privadas- não é dado imiscuir-se em determinados assuntos.Quais assuntos?Basicamente os adnumerados nos art. 21,25,30 e 32 da CF,que tratam , respectivamente, das competências administrativas da União, dos Estados-membros, dos Municípios e do Distrito Federal.....Ora,o

39 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004,pg 39 e 57.

39

serviço postal é, incontendivelmente, serviço público federal. A Constituição atribuiu-o á pessoa política União(cf. o art. 21, X, da Carta Magna).A Consulente apenas teve delegado, por lei, o encargo de levá-lo avante.Aliás, seus bens são federais, desincorporados do patrimônio da União e a ela afetados(cf.art.6° do Decreto lei 509\1969)”.

Destarte, constar no artigo 21, inciso X, da Constituição Federal a expressão de que os

serviços postais são privativos da União, não conformou alguns doutos interpretes e, muitas

questões foram levantadas em posição contrária ao Monopólio Postal, por conseqüência,

acerca da recepção ou não da lei postal 6538/78. Na esteira de discussão, a questão chegou a

Suprema Corte, que decidiu pelo reconhecimento do Monopólio Postal e pela recepção da lei

que regula o serviço postal. Notadamente, esclareceu o STF, infirmando os argumentos

contrários, de que a ECT presta serviço público e, conforme a Constituição, os serviços

típicos de Correios são de prestação obrigatória da União40.

Portanto, não resta dúvida, está pacificado pela jurisprudência do STF o monopólio da

União para prestação do Serviço Postal Por conseqüência, nos termos do Decreto lei 509,

art.2°, inciso I,somente a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo tem competência para

prestar o serviço postal exclusivamente, sendo inclusive, criada para este fim e, portanto, para

executar de forma eficiente o encargo, necessário as mesmas prerrogativas e privilégios

40 ADPF 46 -Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO-Relator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU-Julgamento: 05/08/2009-Órgão Julgador: Tribunal Pleno-Publicação: 26/02/2010- EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. EMPRESA PÚBLICA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS. PRIVILÉGIO DE ENTREGA DE CORRESPONDÊNCIAS. SERVIÇO POSTAL. CONTROVÉRSIA REFERENTE À LEI FEDERAL 6.538, DE 22 DE JUNHO DE 1978. ATO NORMATIVO QUE REGULA DIREITOS E OBRIGAÇÕES CONCERNENTES AO SERVIÇO POSTAL. PREVISÃO DE SANÇÕES NAS HIPÓTESES DE VIOLAÇÃO DO PRIVILÉGIO POSTAL. COMPATIBILIDADE COM O SISTEMA CONSTITUCIONAL VIGENTE. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 1º, INCISO IV; 5º, INCISO XIII, 170, CAPUT, INCISO IV E PARÁGRAFO ÚNICO, E 173 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA LIVRE CONCORRÊNCIA E LIVRE INICIATIVA. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. ARGUIÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO CONFERIDA AO ARTIGO 42 DA LEI N. 6.538, QUE ESTABELECE SANÇÃO, SE CONFIGURADA A VIOLAÇÃO DO PRIVILÉGIO POSTAL DA UNIÃO. APLICAÇÃO ÀS ATIVIDADES POSTAIS DESCRITAS NO ARTIGO 9º, DA LEI. 1. O serviço postal --- conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado --- não consubstancia atividade econômica em sentido estrito. Serviço postal é serviço público. 2. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade econômica em sentido estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar. 3. A Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e o correio aéreo nacional [artigo 20, inciso X]. 4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pública, entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n. 509, de 10 de março de 1.969. 5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos serviços públicos, do regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em sentido estrito é empreendida pelo Estado. 6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal. 7. Os regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade. 8. Argüição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º desse ato normativo

40

concedidos a União, indelevelmente, a imunidade recíproca, conforme exposto no artigo 12,

do decreto retrocitado.

O legislador ao exarar na Constituição Federal que o Serviço Postal apenas deve ser

prestado pela União evidenciou o grau de importância e relevância social intrínseco a este

serviço. Ora, o campo de atuação onde somente o Estado pode atuar, tem uma proeminência,

uma finalidade social relevante a ser atingida.

Desse modo, Incumbe ao Estado a prestação de serviços públicos para à sociedade, de

modo que todas as parcelas da atividade econômica em sentido amplo que sejam tidas como

indispensáveis à realização e ao desenvolvimento da coesão e da interdependência

social.Nessa arte, a idéia é a do serviço público como atividade destinada à efetivação dos

direitos fundamentais, sendo nesse contexto inseridos os serviços postais.

Os serviços de correios e telégrafos são, na essência e por natureza, típico instrumento

da interdependência e solidariedade sociais. São importante forma de integração entre países e

, no campo interno, tem como escopo o desenvolvimento das diversas regiões do Brasil. Para

cumprir essa finalidade, o princípio da universalização orienta que as operações deficitárias

possam ser custeadas com os rendimentos obtidos em operações "lucrativas", ocorrendo uma

espécie de subsídio ao custeio das prestações realizadas em locais de acesso dispendioso. Por

esse modo, a atividade postal exercida pela ECT, destina-se a preservar os direitos

fundamentais à comunicação e ao sigilo da correspondência, além de contribuir para a

concretização dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil41.

41 Ementa:CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. SERVIÇO POSTAL: SERVIÇO PÚBLICO DE COMPETÊNCIA DA UNIÃO. EXCLUSÃO DA ATIVIDADE DE LEITURA DE MEDIDORES E ENTREGA IMEDIATA DE CONTAS DE ÁGUA E ENERGIA ELÉTRICA.1. A atividade prevista no art. 21, X, da Constituição - "Compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional" -, é diversa da que está prevista no art. 170, parágrafo único: "É assegurado a todos o livre exercício de qualquer atividade econômica, independentemente de autorização de órgãos públicos, salvo nos casos previstos em lei".2. O serviço público, conquanto seja atividade econômica em sentido amplo, não o é em sentido estrito. A identificação do serviço público com a atividade econômica em sentido estrito faz parte da ideologia neoliberal, cuja pretensão de um "Estado mínimo" implica eliminar aquela categoria de atividade, em princípio, privativamente estatal. Mas não é possível, diante do sistema jurídico brasileiro, nem é conveniente, essa equiparação. Há, sim, um campo de atividades que se justifica continuar classificado como serviço público, com os princípios que lhe são pertinentes, em face de sua importância para a interdependência social e a solidariedade.3. Incumbe ao Estado a "provisão, à sociedade, como serviço público, de todas as parcelas da atividade econômica em sentido amplo que sejam tidas como indispensáveis à realização e ao desenvolvimento da coesão e da interdependência social" (Eros Grau). Outra idéia, mais recentemente defendida, é a do serviço público como atividade destinada à efetivação dos direitos fundamentais.4. Os serviços de correios e telégrafos são, na origem e por natureza, típico instrumento da interdependência e solidariedade sociais. Para cumprir essa finalidade, o princípio da

41

4.3 Aspectos legais da prestação do serviço postal

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, na prestação do serviço público postal,

deve, obrigatoriamente, observar as regras pertinentes a Administração pública. Assim, dentre

os dispositivos legais está obrigada a seguir as normas gerais de direito financeiro para

elaboração e controle do orçamento e balanços, bem como, é de observância obrigatória as

regras que diz respeito às licitações e contratos da Administração Pública, nos termos da lei

4320 de 17 de março de 1964 e lei 8666 de 21 de junho de 1993.

Desse ponto legal, se verifica pelas exigências fitas nas leis afetas a gestão pública, as

quais a EBCT obrigatoriamente deve seguir, que a empresa pública não poderá concorrer em

condições de igualdade com os particulares. Ao cumprir os requisitos das leis 4320/64 e

8666/93, terá que seguir rigorosamente as metas fixadas para investimentos e despesas.

Noutro sentido, as receitas, que são previstas de acordo com a política de preços estabelecidas

pelo Ministério das Comunicações, nos termos do art. 32 da lei 6835/78.

Ora, se não tem autonomia para executar os preços adequados para melhores resultados

e, tampouco, pode efetuar investimentos e despesas superiores ao orçado, fica evidente que

não será possível uma concorrência com os particulares. Dessa feita, correto está os

dispositivos expresso no artigo 2°, inciso I e art. 12, do decreto Lei 509/69, conforme segue: Art. 2º - À ECT compete executar e controlar, em regime de monopólio, os serviços postais em todo o território nacional;Art. 12 - A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e custas processuais.

Sem grandes rodeios, não se pode negar a importância de tais regramentos para que a

EBCT possa bem executar o encargo de prestar serviço público postal em todo território

brasileiro.Nessa conjuntura legal, o STF entendeu que o respectivo decreto fora recepcionado

pela Constituição Federal. Nessa conjuntura, confirmou a Suprema corte o entendimento de

universalização orienta que as operações deficitárias possam ser custeadas com os rendimentos obtidos em operações "lucrativas", ocorrendo uma espécie de subsídio ao custeio das prestações realizadas em locais de acesso dispendioso. Por outro lado, a atividade postal destina-se a preservar os direitos fundamentais à comunicação e ao sigilo da correspondência.5. Exclui-se do serviço postal apenas a operação de leitura de medidores e entrega imediata da conta ao consumidor de água ou de energia elétrica, tendo em vista que não há, nessa hipótese, remessa da correspondência. Não é o caso presente, cuja entrega se alega ser feita diretamente (que não se confunde com imediatamente) por servidores da ré.6. Apelação provida.

42

que a ECT goza do mesmo privilégio da União, inclusive impenhorabilidade dos bens e

abrangida pela imunidade recíproca42.

Noutra esteira legal, temos a lei 6538/78, que outorga, delega a competência para que a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo preste em todo o território nacional os serviços

postais, em regime de monopólio. Lei esta, que o Supremo Federal considerou Constitucional,

quando do julgamento da ADPF 46. A argüição de descumprimento de preceito fundamental

julgada improcedente por maioria, onde se procedeu a interpretação conforme à Constituição

42 STF - AG.REG.NO AGRAVO DE NSTRUMENTO: AI 243250 RS – Ementa-Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos: execução (CF, art. 100; C.Pr.Civil, arts. 730 e 731): recepção pela Constituição de 1988 do art. 12 do Decreto-Lei 509/69, que estendeu à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos os privilégios conferidos à Fazenda Pública, dentre eles o da impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, devendo a execução fazer-se mediante precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da Constituição da República: precedente.STF - AGRAVO DE INSTRUMENTO: AI 784957 SP

-Trata-se de agravo de instrumento contra decisão que negou seguimento a recurso extraordinário.No RE, fundado no art. 102, III, a, da Constituição Federal, alegou-se ofensa aos arts. 150, VI, e 173, §§ 1º e 2º, da mesma Carta.O agravo não merece acolhida. O acórdão recorrido encontra-se em harmonia com o entendimento da Corte que, ao julgar o RE 354.897/RS, Rel. Min. Carlos Velloso, reconheceu que a imunidade recíproca dos entes políticos é extensiva à empresa pública prestadora de serviço público, conforme se vê da a seguir transcrita:"CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO.I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem atividade econômica. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a.II. - R.E. conhecido e provido".Cito, no mesmo sentido, as seguintes decisões, entre outras: RE 357.291-AgR/PR, Rel. Min. Cezar Peluso; RE 418.450/RS, Rel. Min. Celso de Mello; RE 435.606/RS, Rel. Min. Março Aurélio.No que concerne à alegada ofensa ao art. 173, destaco o RE 220.906/DF, Rel. Min. Maurício Corrêa:"EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMPENHORABILIDADE DE SEUS BENS, RENDAS E SERVIÇOS. RECEPÇÃO DO ARTIGO 12 DO DECRETO-LEI Nº 509/69. EXECUÇÃO. OBSERVÂNCIA DO REGIME DE PRECATÓRIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.1. À empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei nº 509/69 e não-incidência da restrição contida no artigo 173, § 1º, da Constituição Federal, que submete a empresa pública, a sociedade de economia mista e outras entidades que explorem atividade econômica ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto às obrigações trabalhistas e tributárias.2. Empresa pública que não exerce atividade econômica e presta serviço público da competência da União Federal e por ela mantido. Execução. Observância ao regime de precatório, sob pena de vulneração do disposto no artigo 100 da Constituição Federal.Recurso extraordinário conhecido e provido".No mesmo sentido, menciono as seguintes decisões, entre outras: AI 243.250-AgR/RS, Rel. Min. Sepúlveda Pertence; RE 281.172/PE, Rel. Min. Moreira Alves; RE 230.161-AgR/CE, Rel. Min. Néri da Silveira.Isso posto, nego seguimento ao recurso.Publique-se.Brasília, 23 de fevereiro de 2010.Ministro RICARDO LEWANDOWSKI- Relator -

43

ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no

artigo 9º desse ato normativo.

A lei 6535/78(lei postal), logo em seu artigo 2°, caput, esclarece que o serviço postal e o

telegrama serão explorados pela União, por meio de uma empresa pública, sendo esta

vinculada ao Ministério das Comunicações, elegendo desde logo o seu objeto e suas fontes de

recurso.

Nos parágrafos desse mesmo artigo, estão elencadas atribuições que constituem o

objeto da empresa, pelas quais serão originadas as fontes de recursos, a saber: Fazer o

planejamento e explorar o serviço postal e de telegrama; Explorar atividades correlatas ao

serviço postal; treinar o pessoal para a execução dos serviços, exercer outras atividades afins,

autorizadas pelo Ministério das Comunicações; as fontes viram da receita proveniente da

prestação dos serviços; da venda de bens compreendidos no seu objeto; dos rendimentos

decorrentes da participação societária em outras empresas; do produto de operações de

créditos; de dotações orçamentárias e de valores provenientes de outras fontes.

Ora, não resta dúvida de que os serviços postais, o telegrama e as receitas destes,

são abrangidos pela imunidade recíproca, isso é fato explícito, haja vista a condição de

prestação pública e as receitas constituírem o patrimônio da União. Todavia, surge a dúvida

com relação a outras atividades afins, autorizadas pelo Ministério das Comunicações, as quais

geram as outras fontes de recursos.

As outras receitas também fazem parte do patrimônio da União e isso, por si só já basta

para não haver qualquer espécie tributaria para obstaculizar a prestação dos serviços postais.

Noutra forma de pensar, analisa-se o fato destes outros serviços serem autorizados pelo

Ministério das Comunicações, logo os mesmo serão regidos pelas normas do Direito público,

terão orçamento da União para este fim. Portanto, os outros serviços e as receitas destes

também são imunes a tributações, fazem parte do serviço postal conforme se percebe de uma

leitura atenta dos artigos 7° e 8° seus incisos e parágrafos, da lei postal.

A lei postal no artigo 9° explícita quais os serviços que não é permitido que aceita

iniciativa privada execute, isto seja, reserva para a União alguns serviços com o objetivo

público de que o serviço postal seja prestados em todo território brasileiro, de forma

universal,nos termos do artigo 4°, do mesmo diploma legal.Logo para subsidiar os custos de

tal amplitude, a lei estipulou o regime de monopólio para tais prestações, além, das

prerrogativas concedidas no artigo 12 do Decreto 509/69, conforme já referenciado

anteriormente.

44

Assim, com base em decisão da Suprema Corte e disposição legal chega-se ao

entendimento de que tanto o serviço postal, quanto a empresa são públicos e, portanto, gozam

dos privilégios da Administração Pública.

4.4 EBCT:prestação do serviço postal e as normas de direito público

Nos tópicos anteriores ficou demonstrado em algumas passagens que não é dado a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, voluntariamente, estabelecer suas metas de

receitas e despesas, tampouco contratar seus fornecedores sem observâncias das regras da lei

de licitações, a 8666\93. Do mesmo modo, não se admite que na execução o orçamento fuja

dos parâmetros de controle financeiro estabelecidos na lei 4320/64.

No mesmo conduto, não é permitido contratar e demitir seus funcionários da mesma

forma que as empresas particulares, e até mesmo estipular os preços necessários a adequada

cobertura de certos custos, não pode se furtar a prestar os serviços em todo o território

nacional. Por tudo isso, fica evidente que a EBCT é Administração Pública, age em nome da

União para a realização do bem da coletividade, obedece obrigatoriamente ao regime jurídico

administrativo.

Esse modo de pensar baseia-se em fonte doutrinária, nos termos escritos por Marcelo

Alexandrino e Vicente Paulo, que assim redigiu:43 “O denominado “regime jurídico- administrativo” é um regime de direito público, aplicável aos órgãos e entidades que compõem a administração Pública e á atuação dos agentes administrativos em geral.Baseia-se na idéia de existência de poderes especiais passíveis de serem exercidos pela Administração Pública, contrabalanceados pela imposição de restrições especiais á atuação dessa mesma atuação dessa Administração, não existentes – nem os poderes nem as restrições – nas relações típicas do direito privado.....As prerrogativas que o ordenamento jurídico confere ao Estado, então, que são típicas do direito público, justificam-se tão- somente na estrita medida em que são necessárias para que o Estado logre atingir os fins que lhe são impostos por esse mesmo ordenamento jurídico.Frise-se que não é a Administração Pública que determina a finalidade de sua própria atuação, mas sim a Constituição e as leis.A Administração atua estritamente subordinada á lei , como simples gestora da coisa pública , e possui poderes especiais unicamente como meios , como instrumento para atingir os objetivos que juridicamente é obrigada a perseguir.”

Nesse contexto, se expressa o objeto que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos

está obrigada por lei a cumprir, qual seja, o de prestar em todo território brasileiro o serviço

postal Para tanto, deverá envidar esforços no sentido de que a todos, dentro da estrita

43 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Direito Administrativo Descomplicado.São Paulo:Método, 2008, pg 10.

45

legalidade, seja disponibilizado os serviços públicos pelos quais ela foi criada, independente

do custo ou do prejuízo que possa alcançar.

Assim, o que importa é cumprir a vontade da lei, os desejos expressos pela Constituição

Federal, dentre estes, a tutela do interesse público, a elaboração e a distribuição dos serviços

públicos postais através dos recursos indispensáveis á execução destes, não se levando em

conta a desvantagem financeira de algumas localidades brasileiras em virtude dos autos custos

dos serviços. Nesse mesmo trilhar se verifica que a administração pública, as empresas

públicas delegatárias de serviços públicos não perseguem o lucro, mas o interesse coletivo e,

por isso, tem as prerrogativas especiais deferidas pelo direito público e Pela Constituição

Federal,a exemplo da imunidade recíproca .

De modo especial,recorre-se mais uma vez a Carrazza, que preceitua com muita

precisão:44 “De fato, é nossa convicção que as sociedades mistas e as empresas públicas, enquanto delegatárias de serviços públicos, são instrumentos do Estado – e, neste sentido , a ele se equiparam.Por força de lei, atuam em setor próprio do Estado, desempenhando atividades que as empresas privadas jamais assumiriam, a não ser que por ele contratadas, sob a forma de concessão ou de permissão.Podemos proclamar, pois, que, neste caso,pelas atribuições delegadas de Poder Público que exercitam, são, tão-só quanto á forma, pessoas de Direito Privado. Quanto ao fundo, são instrumentos do Estado, para a prestação de serviços públicos.Na medida em que criadas pela lei, com a especifica finalidade de levá-los adiante, acabam fazendo as vezes das autarquias, embora damo-nos pressa em proclamar-com elas não se confundam.....Retomando o fio do raciocínio, quando prestam serviços públicos as empresas públicas e as sociedades de economia mista são submetidas ao regime jurídico administrativo, acompanhado das prerrogativas e sujeições que colocam a Administração Pública numa posição de preeminência em relação aos particulares. Absolutamente não se sujeitam ás regras do art. 173 da CF, mas ás de seu art. 175, que garante a continuidade do serviço público”.

Portanto, sendo as empresas públicas e sociedade de economia mista instrumentos do

Estado para realização de objetivos Constitucionais, serão Administração Pública, não lhes

aplicando as restrições dos dispositivos contidos nos artigos 150, § 3° e 173, caput e § 2°, da

Constituição Federal.

Ora, as empresas que tem a outorga para prestar serviço público executam suas

atividades regidas pelas normas aplicáveis a Administração Pública e por preceituação

prevista na Constituição, realizam relevante interesse coletivo, desse modo, poderão sim,

gozar de privilégios fiscais não extensivos as do setor privado, até mesmo por os particulares

visam apenas o lucro e as delegarias almejam a concretização da finalidade social pela qual

foram criadas.

44 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004,pg 40 e 51.

46

4.5 A construção do conceito de imunidade para a ECT

O serviço postal, conforme já mencionado, era prestado diretamente pela União, por

meio do DCT (Departamento de Correios e Telégrafo e, assim sendo, não havia qualquer

embaraço tributário sobre o patrimônio, a renda e os serviços prestados.

Não obstante, por meio do Decreto 509/69 a União outorgou a prestação do serviço

postal para a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, atribuindo-lhe competência para

executar e controlar, em regime de monopólio. Desse modo, o serviço postal, as rendas

destes, o patrimônio e a própria empresa, são propriedades da União, dessa feita, imunes a

qualquer espécie tributária. Esse era o entendimento desde o Departamento de Correios e

Telegrafo, o qual passou para a Empresa Brasileira de Correios.

A EBCT tem um grande desafio e autos custo para concretizar seus objetivos. A

incumbência desafiadora está na lei 6835/78, precisamente, nos artigos 3 e 4, preceitua-se que

a empresa deve prestar os serviços para todos, com qualidade, continuidade, eficiência,

obedecendo rigorosamente os requisitos do Ministério das Comunicações.

Em consonância com os dispositivos legais, verifica-se que a empresa, mesmo com

prejuízo, não deve se furtar a prestação dos serviços, em todos os municípios brasileiros, para

todos os cidadãos. Dessa feita, da análise contextual verifica-se que a empresa prestadora de

serviço postal tem um ônus a cumprir.

Destarte, com toda essa responsabilidade e por ser o seu patrimônio totalmente da

união, a empresa prestadora de serviço postal, construiu o conceito de que goza do direito a

imunidade recíproca. Assim, nos termos do artigo 150, inciso VI, alínea “a”, a saber: não é

permitido à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, instituir impostos sobre

o patrimônio, renda ou serviços, uns dos outros”.

No conduto da construção desse conceito estava a regra aposta pelo Decreto lei

509/1969, que em seu artigo 12 assevera: “a ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e custas processuais.”

Não obstante, mesmo sendo criada para o exercício de um objetivo público e sendo um

patrimônio da união, os Estados, os Municípios e a própria União, passaram a exigir impostos

sobre o patrimônio, a renda e os serviços prestados pela empresa pública EBCT (Empresa

Brasileira de Correios e Telégrafo).

47

Diante de tal situação, não vendo alternativa, a ECT recorreu ao judiciário, sendo a

imunidade reconhecida tão somente para impostos e, apenas em relação aos serviços postais

em regime de monopólio45.

Em consonância com a jurisprudência da Suprema Corte, goza a ECT de imunidade

recíproca para os serviços tipicamente postais, em regime de monopólio, os especificados na

lei 6835/78. Todavia quanto às taxas, em conformidade ao RE 364202 / RS - RIO GRANDE

DO SU,L inexiste a imunidade recíproca. Noutra ponta, o RE 601392RG-PR-PARANÁ-

REPERCUSSÃO GERAL cuja discussão pertine acerca de outros serviços prestados em

suposto regime de concorrência, a exemplo do banco postal46.

45 EMENTA STF Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, "a", da Constituição Federal. Extensão. Empresa pública prestadora de serviço público. Precedentes da Suprema Corte. 1. Já assentou a Suprema Corte que a norma do art. 150, VI, "a", da Constituição Federal alcança as empresas públicas prestadoras de serviço público, como é o caso da autora, que não se confunde com as empresas públicas que exercem atividade econômica em sentido estrito. Com isso, impõe-se o reconhecimento da imunidade recíproca prevista na norma supracitada. 2. Ação cível originária julgada procedente, ACO 765 / RJ - RIO DE JANEIRO.

EMENTA STF: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA. IPTU. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. ABRANGÊNCIA. PRECEDENTES. O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a compatibilidade do Decreto-lei n. 509/69 --- que dispõe sobre a impenhorabilidade dos bens da ECT e os benefícios fiscais outorgados a essa Empresa --- com a Constituição do Brasil. Agravo regimental a que se nega provimento, AI 718646 AgR / SP - SÃO PAULO.

EMENTA STF- CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. ECT - EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO. TAXAS: IMUNIDADE RECÍPROCA: INEXISTÊNCIA. I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem atividade econômica. A ECT - Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade tributária recíproca: C.F., art. 22, X; C.F., art. 150, VI, a. Precedentes do STF: RE 424.227/SC, 407.099/RS, 354.897/RS, 356.122/RS e 398.630/SP, Ministro Carlos Velloso, 2ª Turma. II. - A imunidade tributária recíproca -- C.F., art. 150, VI, a -- somente é aplicável a impostos, não alcançando as taxas. III. - R.E. conhecido e improvido, RE 364202 / RS - RIO GRANDE DO SUL.

46 � EMENTA STF: CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. IMUNIDADE RECÍPROCA. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. ACÓRDÃO RECORRIDO QUE DISTINGUE ENTRE SERVIÇOS SUJEITOS AO MONOPÓLIO E SERVIÇOS PRESTADOS EM REGIME DE CONCORRÊNCIA PARA EFEITO DA PROTEÇÃO CONSTITUCIONAL. ART. 150, VI, A E §§ 2º E 3º DA CONSTITUIÇÃO. PROCESSUAL CIVIL. PROPOSTA ENCAMINHADA PELA EXISTÊNCIA DO REQUISITO DE REPERCUSSÃO GERAL DA MATÉRIA CONSTITUCIONAL, RE 601392RG-PR-PARANÁ-REPERCUSSÃO GERAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO(EM ANDAMENTO).

48

Dessa forma, com base na esteira conceitual da doutrina e da jurisprudência, tem a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos o entendimento de que presta serviço nos termos

do artigo 173 da Constituição Federal, primeira parte, onde se lê: ”ressalvados os casos

previstos nesta Constituição”, combinado com os preceitos do art. 175 do mesmo diploma

legal.

Nesse pensar baseado na Carta Maior, a EBCT tem consciência de que foi criada com

fundamento no interesse público, em relevante interesse coletivo. Assim sendo, goza da

proteção dada pela Constituição Federal para o patrimônio, rendas e serviços que executa,

incluído no contexto toda e qualquer espécie de renda, patrimônio e serviço.

Nessa conjuntura de argumento, o entendimento de que a ECT é patrimônio da União,

logo, sobre a universalidade patrimonial desta, na literalidade do artigo 150, inciso VI, alínea

“a”, não pode haver incidência de imposto. Nesse modo, é da União a universalidade

patrimonial da ECT, seja de qual fonte venham os recursos, até mesmo de serviços

considerados, por apressados interpretes, como sendo de natureza econômica.

O julgamento do Recurso Extraordinário número 601392, a lógica jurídica prevaleceu,

sendo deferida imunidade geral para todos os serviços da EBCT, conforme demonstrado no

informativo a seguir:

Quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

STF reconhece imunidade tributária recíproca sobre todos os serviços dos Correios

Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu nesta quinta-feira (28) o julgamento do Recurso Extraordinário (RE 601392) que discutia a imunidade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) em relação ao recolhimento do Imposto sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISS) nas atividades exercidas pela empresa que não tenham características de serviços postais. Após reformulação do voto do ministro Ricardo Lewandowski, somaram-se seis votos favoráveis para reconhecer que a imunidade tributária recíproca – nos termos do artigo 150, VI, “a”, da Constituição Federal (que veda a cobrança de impostos sobre patrimônio, renda ou serviços entre os entes federados) – alcança todas as atividades exercidas pelos Correios. O tema teve repercussão geral reconhecida.

No recurso, a empresa pública questionava decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que reconheceu o direito de a Prefeitura de Curitiba (PR) tributar os Correios com o ISS nos serviços elencados no item 95 da Lista anexa do Decreto-lei 56/1987. Esses serviços abrangem cobranças e recebimentos por conta de terceiros, inclusive direitos autorais, protestos de títulos, sustação de protestos, devolução de títulos pagos, manutenção de títulos vencidos, fornecimento de posição de cobrança ou recebimento e outros serviços correlatos da cobrança ou recebimento.

Conforme argumento dos Correios, a decisão do TRF-4 contrariou o artigo 21, inciso X, da Constituição Federal, segundo o qual compete à União manter o serviço postal e o correio aéreo nacional. Sustentou ainda que o STF deveria reconhecer a “imunidade completa” de suas atividades, pois todos os seus rendimentos estão condicionados à prestação de serviço público.

Julgamento

O julgamento foi retomado hoje com o voto-vista do ministro Dias Toffoli, que se posicionou pelo provimento do RE. De acordo com o ministro, “a imunidade deve alcançar todas as atividades desempenhadas pela ECT, inclusive as atividades afins autorizadas pelo Ministério das Comunicações, independentemente da sua natureza”. O ministro destacou que se trata de uma

49

empresa pública prestadora de serviços públicos criada por lei para os fins do artigo 21, inciso X, da Constituição Federal e afirmou que todas as suas rendas ou lucratividade são revertidas para as “finalidades precípuas”.

No mesmo sentido já haviam votado – em novembro de 2011 – os ministros Ayres Britto (aposentado), Gilmar Mendes e Celso de Mello. Na ocasião, o ministro Ayres Britto foi quem abriu divergência, ao entender que “é obrigação do poder público manter esse tipo de atividade, por isso que o lucro, eventualmente obtido pela empresa, não se revela como um fim em si mesmo, é um meio para a continuidade, a ininterrupção dos serviços a ela afetados”.

Após o voto do ministro Dias Toffoli, a ministra Rosa Weber acompanhou o mesmo entendimento, assim como o ministro Ricardo Lewandowski, que mudou seu posicionamento e, dessa forma, formou a maioria pelo provimento do recurso.

Lewandowski afirmou ter ficado convencido, após analisar melhor a questão, de que os Correios prestam um serviço público de natureza essencial e atua onde a iniciativa privada não tem interesse de atuar e, portanto, não há concorrência com fins lucrativos. Ele lembrou que as próprias empresas privadas responsáveis pela entrega de encomendas e pacotes se valem do serviço dos Correios porque do ponto de vista financeiro é desinteressante.

“Não se pode equiparar os Correios a empresas comuns em termos de concorrência porque não concorre de forma igualitária com estas. Primeiro porque precisa contratar seus bens e serviços mediante a Lei 8.666/93, que engessa sobremaneira a administração pública”, afirmou o ministro ao destacar que “não há nenhuma disparidade de armas no que tange ao reconhecimento dessa imunidade fiscal relativamente aos Correios”.

Relator

Ficaram vencidos nessa questão o relator, ministro Joaquim Barbosa, e outros quatro integrantes da Corte que o acompanharam: os ministros Luiz Fux, Cármen Lúcia, Marco Aurélio e Cezar Peluso (aposentado).

De acordo com o relator, no momento em que a empresa age com intuito de fins lucrativos, para si ou para outrem, a imunidade recíproca de tributos não deve ser aplicada. E este seria, segundo ele, o caso dos serviços questionados no RE. O ministro Joaquim Barbosa observou que o Estado e os “diversos braços estatais” só podem exercer essa atividade econômica excepcionalmente. “A regra é o exercício de atividade econômica por atores privados”. Em sua opinião, deveria haver uma distinção entre os serviços lucrativos e os serviços executados pelo Estado.

O relator ainda lembrou que a ECT exerce, ao mesmo tempo, atividade postal e bancária, como a venda de títulos em concorrência com o setor privado. De acordo com ele, a Constituição Federal determina que, quando o Estado ou empresa estatal resolve empreender na área econômica, deve fazê-lo em igualdade de condições com o particular. “Deve-se estabelecer a distinção: quando está diante de exercício de serviço público, há imunidade absoluta, quando se tratar de exercício de atividade privada, devem incidir as mesmas normas incidentes sobre as empresas privadas, inclusive as tributárias, como diz a Constituição”, afirmou.CM/AD

Assim, na forma prevista na Constituição Federal, por pertencer a União, a prestação

dos serviços postais em todo Brasil, outra conclusão não poderia ter o STF, a EBCT goza dos

mesmos privilégios da União, sendo patrimônio federal, goza de imunidade ampla.

4.6 O serviço postal universal e a imunidade

A atividade pública postal, universal, em observância ao regime de direito público, visa

atender as necessidades básicas da coletividade pelo serviço postal, abrangendo toda a

população, desse modo, obrigatoriamente deve ser prestado em todas as cidades do Brasil e

nas localidades igual ou superior a quinhentos habitantes.

50

O objetivo de prestação Universal do serviço postal foi estabelecido inicialmente na lei

6835/78, art. 4°,nos seguintes termos: é reconhecido a todos o direito de haver a prestação do

serviço postal e do serviço de telegrama, observadas as disposições legais e regulamentares.

Ora, somente a disposição legal expressa anteriormente seria suficiente para impor a

ECT a obrigatoriedade de prestação dos serviços postais para todos os brasileiros. Todavia, de

modo a não deixar dúvidas e assegurar a execução universal, O Ministro das Comunicações,

em consonância com o artigo 87, incisos II e IV, da Constituição Federal, expediu a instrução

normativa 310 de 18 de Dezembro de 1998.

A instrução retrocitada preceitua que dentro da perspectiva de atendimento a toda a

população do território nacional, a prestação de serviços postais deverá ser levada o mais

próxima possível de cada cidadão, valendo essa regra tanto para as pequenas localidades

quanto para os grandes aglomerados urbanos.

No mesmo esteiro de instrução, se estabelece as metas e ações para prestação de

serviços postais a toda a população do território nacional. Nessa conjuntura de objetivos a ser

cumprido fielmente está a prestação de serviços postais básicos, conforme definido na referida

instrução normativa, deverá ser propiciada a todas as localidades caracterizadas pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, em nível mínimo de distrito, com população

igual ou superior a quinhentos habitantes.

Noutra ponta de ação, a incumbência de nas cidades com mais de cem mil habitantes,

dentro de um raio máximo de dois quilômetros, deverá ser propiciado o acesso a todo o

cidadão, no mínimo, aos serviços oferecidos por meio de produtos pré-selados e ao envio de

objetos postais sem registro.

Diante desse desafio do serviço universal, o artigo 3° da lei 6835/78, enfatiza que a

empresa exploradora do serviço postal é obrigada a assegurar a continuidade dos serviços,

observados os índices de confiabilidade , qualidade, eficiência e outros requisitos fixados pelo

Ministério das Comunicações.

Do ponto de vista financeiro, a meta fixada pelo Ministério das Comunicações e as

responsabilidades legais expressas na lei, sem dúvidas tem um custo elevado, outras empresas

particulares jamais aceirariam operar em todo o território brasileiro, manter a qualidade e

continuidade dos serviços, independente do prejuízo e das dificuldades de logísticas

encontradas.

Todavia, do ponto de vista social, sob a regência do direito público, na prestação de um

serviço público o que importa é a concretização das finalidades estabelecidas. As empresas

51

públicas delegatárias de serviços públicos não tem como meta principal o lucro, mas sim a

satisfação das necessidades da população.

Por tudo isso, diante de tamanha responsabilidade, não podem os entes políticos,

Estados, Municípios e até a Própria União, embaraçar as atividades da Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafos com a instituição de tributos sobre a renda, os serviços e o patrimônio

desta. Nesse sentido está à regra de imunidade estabelecida no artigo 12 do decreto 509/69 e

as outras fontes de receitas preceituadas pela lei 6835/ 78, isto é, para custear o serviço

universal necessário a imunidade idêntica a da União e para manter a continuidade do serviço,

torna-se imprescindível a busca de outras fontes de receitas.

4.7 A imunidade da ECT e os impostos

Por meio de uma interpretação literal do texto Constitucional, artigo 150, inciso VI,

alínea ‘a’, não pode haver a instituição de impostos sobre o patrimônio, a renda ou serviços

uns dos outros. Desse ângulo, por ser a ECT patrimônio da União, ter sido criada com o

propósito de prestar serviço público e, na realização da incumbência recebida pela lei é

Administração pública e, portanto, goza dos privilégios da união. Assim sendo, tem a mesma

imunidade de impostos para com suas rendas, patrimônio e serviços, do mesmo modo que a

União.

Dessa ordem, numa visão econômica, não se exclui qualquer espécie de impostos, todos

sem exceção, atingem a renda e o patrimônio. Com isso, significa dizer que a imunidade

recíproca abarca todo e qualquer imposto. Por essa forma de pensar, a ECT por ser

Administração Pública e, gozar o privilégio da imunidade recíproca, não deveria pagar

quaisquer impostos na execução de suas atividades, conforme explanações específicas a

seguir delineadas.

4.7.1 Imposto sobre a renda (IRPJ) e contribuição social sobre o lucro (CSLL)

Em consonância com norma expressa no artigo 44 do Código Tributário, a base de

cálculo do IRPJ é o montante, real, arbitrado ou presumido, da renda ou dos proventos

52

tributáveis. No mesmo sentido, o artigo 219 do Decreto 3000/99(Regulamento do Imposto de

Renda) que exara ser a base de cálculo do imposto é o lucro real, presumido ou arbitrado,

correspondente ao resultado do exercício ou período de apuração.

Por outro modo, com relação a CSLL, instituída pela lei 7689 /88, que no seu artigo 2°,

estabelece que a base de cálculo da mesma será o resultado do exercício antes da provisão do

imposto de renda. Logo, diante do regramento em questão, fica evidente que a CSLL, também

será calculada sobre o lucro, inclusive a própria sigla expressa essa realidade.

Com efeito, sobre o acréscimo patrimonial da ECT não deve haver tributação por meio

do Imposto sobre a Renda e de Contribuição Social sobre o Lucro Líquido, haja vista a

incidência de tais exações ter como base de cálculo o lucro, ou seja,o saldo positivo originado

da soma das receitas brutas menos as despesas.Ora , a ECT não foi criada para gerar lucro,

mas para prestar serviço público e, por meio de uma gestão eficiente conseguir superávit.Este

por sua vez, serve tão somente para custear as atividades administrativas para as quais fora

criada a Empresa Brasileira de Correios e Telegrafo.

No esteiro doutrinário, no entendimento de Carrazza, a ECT goza da imunidade com

relação a IRPJ e CSLL, nos seguintes termos:47 “O lucro diga-se de passagem, é incompatível com a própria função das pessoas administrativas, que, por injunção constitucional e legal, colimam a satisfação do interesse público, com a máxima eficácia social possível.....As pessoas administrativas, pelo contrário, não atuam para ter lucro, isto é, não almejam proveitos econômicos. Antes, a sua razão de ser é o atingimento dos objetivos públicos que as fizeram nascer.Se, na perseguição destes mesmos objetivos, circunstancialmente surgirem saldos econômicos apropriáveis(superávits), tanto melhor:disporão de mais meios para realizar suas atividades típicas.....Tudo isto nos reconduz á idéia inicial:por não obter lucro(na acepção jurídica do termo), a Consulente, mesmo quando, em decorrência da prestação dos serviços postais, experimenta superávits, não pode ser alvo de tributação por meio de imposto sobre a renda de pessoa jurídica e de contribuição social sobre o lucro(CSLL)”.

4.7.2 Intributabilidade por meio do IPTU

O Imposto Sobre a Propriedade Predial e Territorial Urbana, não incidirá sobre a

propriedade, o domínio útil ou a posse de bem imóvel pertencente a Empresa Brasileira de

Correios e Telegrafo, quando estes sejam necessários a concretização das atividades públicas,

ou seja, sirvam de implemento de recursos ou sejam utilizados na prestação do serviço

público postal.

47 CARRAZZA. Roque Antonio. A imunidade tributária das Empresas Estatais Delegatárias de Serviços Públicos. São Paulo: Editora Malheiros, 2004, pg 68.

53

A doutrina expressa com precisão tal entendimento, nas palavras de Carrazza, conforme

segue:48 “Também não temos dúvidas em afirmar que a Consulente é imune á tributação por meio de imposto predial e territorial urbano(IPTU) enquanto proprietária, detentora do domínio útil ou possuidora de imóveis urbanos necessários ao desempenho de suas atividades típicas. Neste ponto, a ela se aplica por inteiro, o princípio da imunidade recíproca, consagrado n art.150, VI, “a”, da CF.Estamos por igual modo convencidos de que a mesma imunidade faz-se sentir sobre os imóveis, de sua propriedade, que loca á terceiros, para atingir seus objetivos institucionais. O fundamental, no caso, é que as receitas obtidas se destinem ao custeio de suas atividades típicas. Notamos que quando a consulente loca imóveis de sua propriedade não há que se falar em desvio de finalidade se as receitas daí provenientes, formando reservas, virão facilitar o pleno atingimento de seus objetivos institucionais.”,

Do ponto de vista jurisprudencial, Suprema Corte( STF), firmou entendimento de que a

ECT goza dos privilégios da União. Por este esteiro, não restam dúvidas de que a ECT goza

da imunidade recíproca e, desse modo, sobre a propriedade predial e territorial urbana, cujo

imóvel sirva de meio para implementação do serviço postal, pelo qual as finalidades públicas

são concretizadas, não haverá incidência de impostos, inclusive o IPTU49.

4.7.3 Intributabilidade da ECT por meio de ICMS

O Imposto sobre a circulação de mercadorias e sobre a prestação de serviços de

transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, não abrange as operações

realizadas pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos nas três situações específicas

desse imposto, fundamentadas na prática de um negócio jurídico,onde se verifica pela prática

48 Idem, pg 72

49 Trata-se de recurso extraordinário (art. 102, III, a, da Constituição) interposto de acórdão que considerou que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -ECT tem direito à imunidade tributária em relação ao IPTU (art. 150, VI, a, da Constituição).Esta Corte firmou orientação no sentido da aplicação da imunidade tributária recíproca à ECT. Registro, por oportuno, a da ACO 959 (rel. min. Menezes Direito, DJe de 16.05.2008):"EMENTA Tributário. Imunidade recíproca. Art. 150, VI, 'a', da Constituição Federal. Extensão. Empresa pública prestadora de serviço público. Precedentes da Suprema Corte. 1. Já assentou a Suprema Corte que a norma do art. 150, VI, 'a', da Constituição Federal alcança as empresas públicas prestadoras de serviço público, como é o caso da autora, que não se confunde com as empresas públicas que exercem atividade econômica em sentido estrito. Com isso, impõe-se o reconhecimento da imunidade tributária prevista no art. 150, VI, 'a', da Constituição Federal. 2. Ação cível originária julgada procedente."Confiram-se, em sentido semelhante, v.g., o RE 407.099 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 06.08.2004) o RE 354.897 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 03.09.2004) e o RE 398.630 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 17.09.2004). Quanto à fundamentação, cf. o RE 364.202 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 28.10.2004) e o RE 424.227 (rel. min. Carlos Velloso, Segunda Turma, DJ de 10.09.2004).Dessa orientação não divergiu o Tribunal de origem.Do exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário.Publique-se.Brasília, 14 de dezembro de 2010.Ministro JOAQUIM BARBOSARelator.STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 633721 PR .

54

comercial (ICMS operações mercantis com mercadoria, ICMS nas operações onerosa com

transporte e ICMS nas operações onerosa de comunicação).

Nos termos doutrinários, na forma peculiar de pensar do tributarista Carrazza, que assim

escreveu acerca do ICMS incidente nas três operações mercantis:50 “....Não vemos dificuldade alguma em proclamar que a consulente, enquanto realiza os serviços postais e afins, não realiza nenhuma operação mercantil. Menos ainda vende selos, embalagens para o acondicionamento da correspondência, catálogos contendo os códigos de endereçamento em vigor, e outros papéis necessários á fruição do serviços público em tela. Com efeito, em todos estes casos presta serviço público, regido pelo Direito Administrativo, jamais pratica negócios jurídicos regulados pelo Direito Comercial.Ademais, a consulente não transmite a titularidade de mercadorias.Pelo contrário, limita-se a entregar objetos postais”. “O serviço público de correio é imune á tributação de impostos. Esta imunidade repercute também no transporte que a Consulente realiza para levar a cabo o serviço postal.Melhor explicitando, temos para nós que o transporte em tela é mera atividade meio, necessária á concretização do serviço postal, devendo, por isso mesmo, receber o mesmo tratamento tributário a ele dispensado.” “De fato, estes serviços não se confundem. Não, pelo menos juridicamente, em face do que prescrevem os arts. 21, X e XI, da CF,verbis: “ART. 21. Compete á União:(...) X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; XI – explorar , diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei(....).A só leitura destes dispositivos constitucionais revela nitidamente que a lei maior não considera de comunicação o serviço postal, embora em ambos estejam insertas mensagens. Reforçam tal entendimento os incisos IV e V do art. 22 da mesma Carta Suprema, verbis. “ ART. 22. Compete privativamente á União legislar sobre(...) IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V – serviço postal; (...)”. Também estes incisos revelam que serviço postal e serviço de comunicação são, pelo menos ao lume de nosso Direito Positivo, fenômenos distintos, não podendo ser equiparados. Muito menos para fins de tributação, sempre presidida pelo princípio da tipicidade fechada, que veda o emprego, na tributação, da analogia(art. 108, § 1°, do CTN) e da discricionariedade(art. 142, parágrafo único, do CTN)”.

Em entendimento exarado pelo Supremo Tribunal Federal sustenta-se a imunidade

tributária da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo com relação ao ICMS.A Corte

Suprema deixa evidência no julgado que subsidia a tese de que inexiste a relação jurídico-

tributária entre a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT e os Estados quanto ao

imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços – ICMS51.

50 CARRAZZA. Roque Antonio.Op cit, pg 78 e 79.

51 STF - AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA: ACO 1259 GO - DECISÃO: Trata-se de ação cível originária, com pedido de antecipação de tutela, proposta pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos -ECT, contra o Estado de Goiás. 2. A empresa pública afirma ser beneficiária da imunidade de que trata a alínea "a" do inciso VI do art. 150 da Constituição do Brasil. Refere 13 [treze] autos de infração relacionados às fls. 23/35. 3. A lavratura dos autos de infração visou à constituição do crédito tributário do ICMS incidente sobre o serviço de transporte de encomendas realizado pela ECT. 4. A autora fundamenta a verossimilhança de suas alegações em diversos precedentes jurisprudenciais desta Corte que reconheceram a imunidade da ECT ao recolhimento do ICMS. 5. Alega a existência de "fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação", eis que a sua inscrição na dívida ativa do Estado-membro impede a obtenção de certidão negativa de débitos, documento necessário à celebração e renovação de diversos contratos e indispensável ao recebimento de valores pelos serviços prestados à Administração Pública. 6. A impossibilidade de obter a certidão implica a ausência de meios necessários à garantia da continuidade do serviço postal. 7. Requer a antecipação dos efeitos da tutela "para

55

Ponto relevante, diz respeito ao diferencial de alíquota, que corresponde a diferença

entre as alíquotas internas e interestadual do ICMS. Neste caso, quando se compra bens

destinados ao consumo ou para o ativo fixo, de outro Estado da federação, aplica-se a alíquota

interestadual e, a diferença para a alíquota interna, será recolhida pelo comprador

(contribuinte) ao Estado de destino.

De modo especial, cumpre destacar que na aquisição de mercadorias ou bens em outras

Unidades da Federação, a regra que obriga recolhimento do diferencial de alíquotas para o

Estado de destino, não se aplica aos entes políticos, neste contexto, as empresas públicas e

sociedades de economia mistas que prestam serviços públicos. E sendo assim, se conclui que

determinar que o requerido "abstenha-se de inscrever a Autora junto à Dívida Ativa da Fazenda Estadual, bem como, abstenha-se de promover qualquer restrição cadastral no CNPJ desta, em face dos débitos ora questionados, conforme retroespecificados, até julgamento final da lide" [fl. 18] 8. Requer, por fim, a confirmação das medidas antecipatórias ora pleiteadas e a anulação dos débitos oriundos dos autos de infrações que constam nas certidões positivas, declarando-se o direito à imunidade recíproca. 9. A ação foi inicialmente proposta perante a Seção Judiciária do Estado de Goiás. O Juízo Federal determinou a remessa dos autos a esta Corte nos termos do disposto no art. 102, I, "f", da Constituição. 10. É o relatório. Decido. 11. A concessão da tutela antecipada exige a coexistência da verossimilhança do direito invocado, mediante prova inequívoca, e do receio de dano irreparável pela demora na prestação jurisdicional definitiva pela sentença de mérito. 12. A controvérsia gira em torno da imunidade recíproca prevista no art. 150, VI, "a" da Constituição do Brasil e sua extensão à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. 13. Esta Corte já apreciou este tema em várias oportunidades. Quanto à imunidade ao ICMS, menciono o precedente do AgR-MC-ACO n. 1.095, assim ementado: "Agravo Regimental em Ação Cível Originária. 2. Decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada, nos termos do RE 407.099-5/RS, 2a Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 6.8.2004. 3. Suspensão da exigibilidade da cobrança de ICMS sobre o serviço de transporte de encomendas realizado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT. 4. Este Tribunal possui firme entendimento no sentido de que a imunidade recíproca, prevista no art. 150, VI, 'a', da CF, estende-se à ECT (ACO-AgRg 765-1/RJ, Relator para o acórdão Min. Joaquim Barbosa, Informativo STF nº 443). 5. A controvérsia sobre a natureza jurídica e a amplitude do conceito dos serviços postais prestados pela ECT está em debate na ADPF n. 46. 6. Agravo Regimental desprovido." 14. A pretensão dos autores reveste-se de plausibilidade jurídica. 15. O receio de dano irreparável ou de difícil reparação evidencia-se na medida em que os autores estão sofrendo medidas coercitivas, de conseqüências danosas e imprevisíveis, além de prejudiciais à prestação do serviço postal. Ante o exposto, antecipo os efeitos da tutela para suspender a exigibilidade dos créditos tributários constituídos nos autos de infração ora impugnados, até decisão final da presente ação cível originária. Cite-se o Estado de Goiás. Assino-lhe, para contestar, o prazo de 30 [trinta] dias [RISTF, art. 247, § 1º]. Publique-se. Comunique-se. Brasília, 5 de maio de 2009. Ministro Eros Grau - Relator 30/09/2009 Procedente MIN. EROS GRAU "(...) o pedido para declarar a inexistência de relação jurídico-tributária entre a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT e o Estado de Goiás quanto ao imposto sobre a circulação de mercadorias e serviços - ICMS. Condeno o réu ao pagamento das custas processuais, na forma da lei, e em honorários advocatícios fixados em 10% [dez por cento] sobre o valor atualizado da causa [art. 20, § 4º do CPC]. Publique-se." 05/10/2009 Expedido Ofício nº 10466/R, ao Governador do Estado de Goiás, comunicando decisão. ACO 1259 - AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA –Réu –Estado de Goiás.

56

a exigência legal não se efetiva pelo fato de que às pessoas políticas não estão sujeitas a

incidência do ICMS, não são contribuintes deste e de qualquer espécie tributária. Desse modo

de pensar, ainda que adquiram bens e mercadorias em outro Estado da federação, a operação

será alíquota interna do Estado de Origem, não cabendo ao legislador do Estado de destino

qualquer pretensão acerca do diferencial.

A Constituição Federal expressa de forma bem clara a esse respeito, conforme se extrai

da leitura do artigo 155, §2°, inciso VII,alíneas ‘a’ e ‘b’ e inciso VIII, nos seguintes termos: § 2º O imposto previsto no inciso II atenderá ao seguinte: (...) II- a isenção ou não incidência, salvo determinação em contrário da legislação: a)não implicará crédito para compensação com o montante devido nas operações ou prestações seguintes;b)acarretará a anulação do crédito relativo as operações anteriores; VII - em relação às operações e prestações que destinem bens e serviços a consumidor final localizado em outro Estado, adotar-se-á: a) a alíquota interestadual, quando o destinatário for contribuinte do imposto; b) a alíquota interna, quando o destinatário não for contribuinte dele;VIII - na hipótese da alínea 'a' do inciso anterior, caberá ao Estado da localização do destinatário o imposto correspondente à diferença entre a alíquota interna e a interestadual;

Da análise dos preceitos constitucionais retrocitados, verifica-se que o diferencial de

alíquotas é exigido somente nas operações interestaduais que destinem bens e serviços a

consumidor final contribuinte do imposto, aplicando-se para estes casos a alíquota

interestadual. Por outra forma, em não sendo o comprador contribuinte do ICMS, nas suas

aquisições de bens e mercadorias para o consumo ou ativo fixo não há que se falar em

diferencial de alíquotas e, neste caso, aplica-se a alíquota interna do Estado de origem.

Todavia, com relação às pessoas políticas (Estados, União e Municípios), inseridas

neste contexto as empresas públicas e sociedades de economia mistas (prestadoras de serviços

públicos) incluídas também, as autarquias e fundações (instituídas e mantidas pelo poder

público), se evidencia por necessário uma interpretação mais ampliativa.

Da interpretação ampliativa, verifica-se que as pessoas políticas não são consideradas

contribuintes, e assim se conclui pelo simples motivo de terem seus patrimônios, rendas e

serviços protegidos pela imunidade recíproca. Assim sendo, quando a União , os Estados e os

Municípios adquirem mercadorias para o consumo e bens para o ativo fixo em outra unidade

da federação, não deve haver diferencial de alíquota, aplica-se a regra do artigo 155, §2,

Inciso II, alínea ‘b’, da Constituição Federal.

Por todo o exposto, constata-se pelas evidências intrínsecas ao ICMS de que não será

Constitucional a exigência deste imposto sobre as operações da Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafo. Primeiramente, pela vedação expressa no artigo 150, inciso VI,’a’, da

Constituição Federal. Em segundo lugar, pelo fato de não haver operação mercantil nos

serviços postais, tampouco, operações de transporte e muito menos serviço de comunicação.

57

No mesmo conduto, por não ser contribuinte do ICMS, quando adquire mercadorias para

consumo e bens para o ativo fixo, não deve pagar diferencial de alíquota.

Assim sendo, fica notória e evidente, a imunidade da ECT para com o ICMS, em todas

as operações.

4.7.4 A intributabilidade por meio de ISS

O Imposto sobre serviços de qualquer natureza (ISQN), não compreendidos os serviços

de comunicação e os de transporte interestadual e intermunicipal, incide nas prestações

onerosas regidas pelas regras aplicadas a empreendimentos privados, cujo objetivo principal

destes seja a obtenção de lucro.

Em relação a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, verifica-se que a mesma não

presta serviço de qualquer natureza, mas serviço público; Tampouco, tem ela por objetivo

principal a obtenção de lucro, mas visa como objeto primordial a prestação do serviço postal

para todos os brasileiros.Para tanto, se faz presente em todas as cidades do Brasil,

independente dos custos, a meta é que a prestação do serviço público postal chegue o mais

próximo possível de cada cidadão.

Por esses motivos e por vedação Constitucional, com fulcro nos princípios da igualdade,

pacto federativo e o da imunidade recíproca, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo na

prestação dos serviços públicos (não é de qualquer natureza), não sofrerá embaraços pela

tributação dos Municípios, em especial, a incidência do Imposto sobre serviços de qualquer

natureza.

Dessa arte, bebendo na fonte doutrinária, no modo peculiar de pensar do Tributarista

Carrazza,as seguintes considerações que fundamentam a imunidade da ECT com relação ao

ISS:52 “De fato, o serviço público- isto é, a prestação de utilidade material, fruível individualmente, sob regime de direito público – escapa ao ISS, nos expressos termos do art. 150, VI, “a”, da CF.Este dispositivo veda que os serviços da alçada do Poder Público(serviços públicos) abram espaços á tributação por meio de impostos.O interesse público, no caso, sobrepaira o direito que o Município tem de realizar receitas. Por isso, serviço público não integra o campo dos serviços tributáveis.Uma coisa, porém, é certa:fatos que não configuram prestações de serviços privados, ou que estejam no campo material de impostos federais ou estaduais, não podem ser tributados por meio de ISS, ainda que uma lei complementar assim o permita.Aliás, lei complementar deste jaez seria inconstitucional,

52 CARRAZZA. Roque Antonio.Op cit, pg. 92.

58

por que estaria ampliando o âmbito de abrangência do ISS e- o que é muito pior – atropelando o direito subjetivo que todos os contribuintes tem de só serem tributados pela pessoa política competente, observadas as regras – matrizes exacionais, postas no Diploma Magno”.

Em contigua posição, o Superior Tribunal Federal expressa o entendimento

predominante em diversos julgados, ou seja, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo

tem as prerrogativas da União e, portanto, goza da imunidade recíproca, não sendo devido o

pagamento do imposto sobre a prestação de serviço de qualquer natureza.Em síntese, a

empresa pública que presta serviço exclusivo da União, distinguem daquelas que prestam

serviços privados53.

53 STF - AÇÃO CÍVEL ORIGINÁRIA: ACO 811 DF -O fundamento invocado para a demonstração da verossimilhança do direito invocado diz respeito ao fundamento de que a ECT seria prestadora de serviço público da União em regime de exclusividade.No julgamento do RE no 407.099-RS, Rel. Min. Carlos Velloso , a Segunda Turma desta Corte, por unanimidade, decidiu em acórdão assim (DJ de 06.08.2004) ementado:`CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS: IMUNIDADE TRIBUTÁRIA RECÍPROCA: C.F., art. 150, VI, a. EMPRESA PÚBLICA QUE EXERCE ATIVIDADE ECONÔMICA E EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇO PÚBLICO: DISTINÇÃO. I. - As empresas públicas prestadoras de serviço público distinguem-se das que exercem atividade econômica. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos é prestadora de serviço público de prestação obrigatória e exclusiva do Estado, motivo por que está abrangida pela imunidade tributária recíproca: C.F., art. 150, VI, a. II. - R.E. conhecido em parte e, nessa parte, provido.' (RE no 407.099-RS, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ de 06.08.2004).Relativamente à irreparabilidade dos danos que podem ser causados à autora, alega-se a urgência da pretensão cautelar (periculum in mora) na medida em que `o não pagamento do ISSQN poderá acarretar a atuação dos órgãos responsáveis, como a lavratura de autos de infração, não expedição de certidão de regularidade fiscal e inscrição no CADIN, dentre outros. Mais grave ainda, é a situação da ECT após a edição do já mencionado Comunicado ISS no 03/2005, posto que com a exigência do Distrito Federal,todas as empresas, bem com órgãos públicos e/ou entidades da Administração Pública Direta e Indireta, que mantém contrato com a ECT, para prestação de serviço postal, estão deixando de quitar seus débitos sob a alegação de que somente podem fazê-lo se a ECT emitir Nota Fiscal, onde venha destacado o valor do ISS a ser recolhido. Este é o caso do SERPRO, Caixa Econômica Federal, TSE, Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, dentre outros. Somente na Caixa Econômica Federal existe uma pendência de pagamentos no valor de R$ 18.295.288,85 (dezoito milhões, duzentos e noventa e cinco mil, duzentos e oitenta e oito reais e cinco centavos).' (fl.21) A meu ver, com fundamento no art. 5.º, XXXV, da CF, essa situação não pode persistir sem tutela jurídica, sob pena de ocasionar a deficiência, ou até mesmo a paralisação total dos serviços postais em patente violação ao princípio da continuidade dos serviços públicos.Salvo melhor juízo quanto ao mérito e tendo em vista que as provas apresentadas no pedido são inequívocas, reconheço a verossimilhança das alegações apresentadas pela ECT em razão de fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação, nos termos do art. 273, inciso I, do Código de Processo Civil. Nesse mesmo sentido, anoto as decisões monocráticas proferidas nos seguintes processos: ACO no 797-DF, Rel. Min. Eros Grau e AC (DJ de 31.08.2005) O no 790-SC, de minha relatoria .Destarte, nos termos do art. 151, V, do Código Tributário Nacional , defi (decisao de 27.09.2005) ro o pedido de antecipação parcial de tutela, do modo como formulado (CTN)às fls. 17-18, para suspender a cobrança e exigibilidade do tributo em questão. Comunique-se, com urgência. Publique-se.Brasília, 29 de setembro de 2005.Ministro GILMAR MENDES Relator' (fls. 534/541) 3. Contra essa decisao, o Distrito Federal interpôs Agravo Regimental, o qual foi improvido, a unanimidade, quando de seu julgamento pelo Plenário desta Suprema Corte, em 26.04.2007 (fls. 690/705). O acórdão possui a seguinte ementa: ' EMENTA : Agravo Regimental em Ação Cível Originária. 2. Decisão que deferiu o pedido de tutela antecipada, nos termos do RE 407.099-5/RS, 2ª. Turma, Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 6.8.2004. 3. Suspensão da exigibilidade da cobrança de IPVA sobre os veículos da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ' ECT (ACO- AgR 765-1/RJ, Relator para o acórdão Min. Joaquim Barbosa, informativo STF n.º 443). 5. A controvérsia sobre a natureza jurídica e a amplitude do conceito dos serviços postais prestados pela ECT está em debate na

59

Do ponto de vista doutrinário até os contornos da decisão do Supremo Tribunal Federal

não paira dúvidas quanto a imunidade recíproca para as receitas, patrimônio e serviços

públicos. Logo por ser a ECT, patrimônio público, não prestar serviços de qualquer natureza,

goza da imunidade recíproca, não deve os municípios exigir o ISS sobre os serviços da

empresa pública objeto do estudo em questão.

ADPF n.º 46. 6. Agravo Regimental desprovido.' 4. Diante do provimento jurisdicional antecipatório, sustenta a autora que 'não pode a Secretaria de Estado da Fazenda do Distrito Federal tomar quaisquer providências sancionatórias ' máxime a lavratura de autos de infração ' pelo não recolhimento do ISS'. Insurge-se, nesse aspecto, contra a lavratura do auto de infração n.º 10.528/2008, em que a Secretaria de Estado da Fazenda apurou o não cumprimento, no período de janeiro/2002 a abril/2008, de obrigações tributárias da autora (principal e acessório),vinculadas à incidência do Imposto Sobre Serviços - ISS. 5. Oportunizado o contraditório (fls. 733), o Distrito Federal manifesta-se pela inexistência do alegado descumprimento da decisão proferida nestes autos, porquanto '(...) o pedido que {a autora> formulou e foi atendido diz respeito apenas ao itemda Lista de Serviços da Lei Complementar n.º 116/2003 (serviços de coleta, remessa ou entrega de correspondências, documentos, objetos, bens ou valores)' (fl. 922). Nesse sentido, sustenta que o auto de infração lançou outros serviços '(...), descritos nos itens X e XI do Termo de Conclusão de Fiscalização, tais como assessoria ou consultoria, ensino, instrução, treinamento, avaliação de conhecimentos,agenciamento, corretagem ou intermediação de títulos, serviços de informática e congêneres' (fl. 922), não abarcados no item 26 da lista de serviços anexa à Lei Complementar n.º 116/2003. Defende, ao final, a regularidade do procedimento administrativo fiscal, pois realizado em estrita observância a amplitude do provimento antecipatório aqui deferido. 6. Inicialmente, verifico que o Auto de Infração n.º 10.582/2008 questionado pela autora, em seu item IX, expressamente afasta do lançamento realizado pela Secretaria de Estado da Fazenda do Distrito Federal aqueles serviços prestados sob a denominação'serviços de coleta, remessa ou entrega de correspondências, documentos, objetos, bens ou valores', relacionados no item 26 da lista de serviços anexa à Lei Complementar n.º 116/2003. E o fez em observância ao provimento antecipatório desferido nesta Ação Cível Originária, tal qual como postulado pela autora, que impede que o fisco do Distrito Federal tome, '(...) com base no subitem 26.01, da Lista de Serviços, veiculada pela Lei Complementar (distrital) n.º 116/03, quaisquer providências sancionatórias ' máxime a lavratura de autos de infração ' pelo não recolhimento do ISS, quando da prestação dos serviços de `coleta, remessa ou entrega de correspondências, documentos,objetos, bens ou valores', inclusive se abstenha de inscrever a requerente na Divida Ativa e no CADIN' (fl. 18, item 9, letra 'a' da exordial). Nesse mesmo sentido, já em complementação ao pedido inicial formulado pela Autora, o provimento antecipatório também determina que o Distrito Federal se abstenha de 'exigir de todas as empresas, bem como os órgãos públicos e/ou entidades integrantes da Administração Pública Direita ou Indireta, que mantém ou venham a manter contrato com a ECT, na qualidade de tomadoras do serviço postal, a retenção de valores por meio de substituição tributária, com base no subitem 26.01, da lista de serviços,veiculada pela Lei Complementar n.º 116/03, e da Lei Complementar Distrital n.º 687/2003, bem como se abstenha de exigir da ECT a expedição de nota fiscal' (fl. 18, item 9, letra 'b' da exordial). 7. Assim, observados os limites da postulação formulada pela Autora (art. 293 do CPC), tenho como não demonstrado o alegado descumprimento ao provimento jurisdicional antecipatório proferido nestes autos. 8. Ante o exposto, indefiro o pedido. Publique-se. Brasília, 15 de dezembro de 2008. Ministra Ellen Gracie Relatora 1

60

4.7.5 Intributabilidade por meio de IOF, IE , II e IPI

Dos impostos federais, nos interessam para fins do estudo em questão, aqueles que

incidem sobre as operações de créditos, cambio seguro, títulos e valores de mobiliários (IOF),

nas exportações para o exterior de produtos nacionais e nacionalizados (IE), na importação de

produtos estrangeiros (II) e produtos industrializados (IPI).

Em análise das espécies tributárias, citadas anteriormente, fica evidente que a Empresa

Brasileira de Correios e Telegrafo, nos termos do artigo 150, inciso VI, ‘a’ da CF, está

favorecida com relação a não incidência de qualquer espécie de imposto sobre suas rendas,

serviços e patrimônio, pelo simples fato, a ECT é patrimônio da União e, sobre o patrimônio

desta não haverá embaraços tributários. Nesse mesmo sentido a regra do Decreto Lei 509 de

1969, em seu artigo 12 destaca-se que a ECT gozará dos privilégios da União.

Em situação especial, com relação ao IE e II, poderia se indagar acerca da remessa de

objetos para o exterior e entrada destes vindos de outros países. Ora, a Empresa Brasileira de

Correios e Telegrafo quando remete objetos para o exterior está tão somente intermediando o

envio da encomenda ou correspondência do remetente (do Brasil) para o destinatário (em

outro país). Do mesmo modo se conclui do recebimento de objetos e correspondências de

outros países. Assim, constata-se que a ECT não faz qualquer espécie de importação e

exportação, mas presta apenas serviço de Correios.

Com relação ao IOF e o IPI, em se tratando de a ECT ser protegida pela imunidade subjetiva,

onde a pessoa política União não sofre constrições tributárias, fica fácil concluir que não

haverá imposição tributária por meio destes impostos,principalmente em se tratando do IPI,

haja vista a ECT prestar tão somente serviços, jamais industrialização.

4.8 A imunidade da ECT para as taxas e custas processuais

A imunidade com relação às taxas não guarda guarida na maior parte das conceituações

doutrinárias e tampouco na expressão exarada nas decisões de juízos a Tribunais, ou seja, a

jurisprudência também tem o entendimento de que a imunidade não alcança as taxas, mas

conforme interpretação literal da Constituição Federal, principalmente, artigo 150, inciso VI,

‘a’, apenas os impostos são considerados.

61

Nessa esteira, temos o entendimento de Carrazza, tratando da imunidade tributária da

ECT, nos seguintes termos:54 “A consulente embora imune a impostos, não o é a taxas em geral. O princípio da imunidade recíproca , que a favorece, não irradia efeitos sobre esta modalidade de tributos.Além disso, a Constituição Federal restringe as imunidades a taxas a algumas poucas hipóteses(numerus clausus)....Tal cobrança, em princípio , é válida, havendo farta jurisprudência, inclusive dos Tribunais Superiores , a legitimá-la. De fato,não sendo a Consulente imune a taxas, e sendo dado ao Município(ou ao Distrito Federal), no exercício de seu regular poder de polícia , averiguar se o estabelecimento está localizado no bairro adequado, se respeita as condições mínimas de segurança , higiene, interesse público etc., não vemos como questionar, a priori, tal pretensão tributária.”

No mesmo compasso da doutrina majoritária, a jurisprudência dos Tribunais, conforme

se percebe dos julgados entende que são devidas as taxas pelas pessoas políticas, ou seja,

Estado, Município e União podem cobrar taxa uns dos outros e, nesse contexto se insere a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo55.

Com a devida vênia aos entendimentos expressos anteriormente, acerca das taxas,

preferimos discordar e ficarmos com a minoria doutrinária. Na consecução dos serviços

públicos os entes políticos, por vedação constitucional, por meio de uma interpretação

sistêmica e social, não podem ter o patrimônio decrescido por meio de qualquer tributo, seja

por taxas, custas ou impostos. Assim é o desejo Constitucional quando firmou que a União

entre os entes políticos seja indissolúvel.

Não poderíamos ter outro entendimento. A obrigação tributária não pode ser

direcionada para entes políticos, por conseqüência diminuir o patrimônio destes e inviabilizar

o cumprimento das finalidades essenciais a coletividade. Se assim não fosse o princípio do

pacto federativo não poderia existir. Nesse modo de pensar, verifica-se que no conceito de

obrigação tributária, expressos por grandes autores, essa idéia de que somente particular tem

obrigação tributária fica evidenciado.

Nos termos conceituais de Ataliba(2010,pg.31), acerca da obrigação tributária,

posiciona-se no sentido de que desde quando se verifica(aconteça realmente) o fato a que a lei 54 CARRAZZA. Roque Antonio. Op. cit. pg, 111.

55 Ementa- TJSP - Apelação: APL 994081604490 SP-SABESP - COBRANÇA DE TAXAS - IMUNIDADE - INEXISTÊNCIA A imunidade tributária reciproca, 150, VI, "a", da CF) aplicável a impostos, não alcançando as taxas. RECURSO IMPROVIDO-Ementa- STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 265749 SP -RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. IPTU. IMÓVEIS DO ACERVO PATRIMONIAL DO PORTO DE SANTOS. IMUNIDADE RECÍPROCA. TAXAS.1. Imóveis situados no porto, área de domínio público da União, e que se encontram sob custódia da companhia em razão de delegação prevista na Lei de Concessoes Portuárias. Não-incidência do IPTU, por tratar-se de bem e serviço de competência atribuída ao poder público (artigos 21, XII, f e 150, VI, da Constituição Federal).2. Taxas. Imunidade. Inexistência, uma vez que o preceito constitucional só faz alusão expressa a imposto, não comportando a vedação a cobrança de taxas. Recurso Extraordinário parcialmente provido.

62

atribui esta virtude, a quantia em dinheiro(legalmente fixada) é crédito do estado;no mesmo

instante, fica devedora dela a pessoa privada prevista na lei relacionada com o referido fato56.

Do mesmo modo, conceituando obrigação tributária, expressa Hugo de Brito, no

seguinte modo:57 “Diríamos que ela é a relação jurídica em virtude da qual o particular(sujeito passivo) tem o dever de prestar dinheiro ao Estado(sujeito ativo), ou de fazer , não fazer ou tolerar algo no interesse da arrecadação ou da fiscalização dos tributos, e o Estado tem o direito de constituir contra o particular um crédito”.

Com relação à diminuição patrimonial que o tributo provoca no patrimônio do

contribuinte, temos novamente o escorreito pensar de Ataliba, que assim escreveu:58 “Sujeito passivo da obrigação tributária é devedor, convencionalmente chamado contribuinte. È a pessoa que fica na contingência legal de ter o comportamento objeto da obrigação, em detrimento do próprio patrimônio e em favor do sujeito ativo. È a pessoa que terá diminuição patrimonial, com a arrecadação do tributo”.

Noutra ponta de interpretação, convém adentrarmos nos fatos que justificam a cobrança

de taxa, quais sejam: o poder de polícia e a efetiva ou potencial utilização de serviços públicos

específicos e divisíveis. O primeiro diz respeito à restrição que o Estado impõe ao particular

quando da utilização de bens e direitos, em benefício do próprio Estado e da coletividade. No

segundo, a referência da prestação de serviços direcionado ao particular.

Diante de tal situação, fica evidente que os Municípios e os Estados não podem exercer

o poder de polícia para com a União. As competências de cada ente político foram

estabelecidas pela Constituição para que ambos realizem suas finalidades sem ingerências e

impedimentos de uns para com os outros.

Nessa ordem de idéias, oportuna as palavras de Hely Lopes Meirelles(citado por

Alexandrino e Vicente Paulo, com a precisão que segue:59 “Em verdade, em face do principio da predominância do interesse, que informa a repartição de competências entre os entes federativos na atual Carta, prevalece, entre nós, a lição do Prof. Hely Lopes Meirelles:”os assuntos de interesse nacional ficam sujeitos á regulamentação e policiamento da União; as matérias de interesse regional sujeitam-se ás normas e a policia estadual; e os assuntos de interesse local subordinam – se aos regulamentos edilícios e ao policiamento administrativo municipal”.

Com efeito, com relação a segunda hipótese para a instituição de taxas, fica evidente

que os serviços específicos e divisível sejam aqueles prestados para os particulares, jamais

para aqueles prestados em favor de pessoas políticas. Assim é o entendimento que se extrai do

56 ATALIBA, Geraldo.Hipótese de Incidência Tributária.São Paulo:Ed. Malheios,2010,pg 57 MACHADO, Hugo de Brito. Op cit., pg.129 58 ATALIBA, Geraldo.Hipótese de Incidência Tributária.São Paulo:Ed. Malheios,2010,pg 86. 59 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Op cit. pg.242

63

decreto 509 de 69, quando expressa que a ECT gozará dos privilégios da União, inclusive a

imunidade com relação as custas processuais.

A Suprema Corte(STF) e o STJ entenderam que o referido decreto fora recepcionado

pela Constituição Federal e, desse modo, concluiu que a ECT realmente goza da imunidade

com relação as custas, mesmo estas sendo uma prestação específica e divisível, muito embora

saibamos que não se confundem com as taxas60.

60 Ementa-STJ - RECURSO ESPECIAL: REsp 1144719 MT 2009/0113687-8-PROCESSO CIVIL - EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS - ECT - CUSTAS - ISENÇÃO - DECRETO-LEI 509/69, ART. 12 - REVOGAÇÃO PELA LEI 9.289/96 - INEXISTÊNCIA - PRECEDENTES DESTA CORTE E DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT é isenta do recolhimento de custas na justiça federal. Precedentes.2. O art. 4º da Lei 9.289/96 não revogou o art. 12 do Decreto-lei 509/69, que lhe é especial (cf. art. 2º, § 2º da LICC).3. Recurso especial provido. Decisão-STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 419814 MG-Trata-se de recurso extraordinário (art. 102, III, a, da Constituição) interposto de acórdão, proferido por Turma Recursal dos Juizados Especiais, que manteve a condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos ao pagamento de indenização por danos materiais e morais decorrentes de extravio de correspondência.2. Aponta a recorrente violação do disposto nos arts. 5º, II e XII, e 37 da Constituição federal. Sustenta que o acórdão recorrido, ao aplicar o Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/1990) em detrimento da Lei Postal (Lei 6.538/1978), violou o princípio da legalidade, na medida em que a ECT está adstrita aos ditames desta, e não daquela. Alternativamente, busca eximir-se da condenação nas custas processuais.3. No caso, verifico que o Tribunal a quo não analisou a questão referente à incidência da Lei Postal, por entender ser mais adequada a aplicação das disposições protetoras do Código de Defesa do Consumidor, em especial seu art. 14. Assim, a alegada violação demanda o exame prévio da legislação infraconstitucional, de modo que se trata de alegação de ofensa indireta ou reflexa ao texto constitucional, o que dá margem ao descabimento do recurso extraordinário.4. Ademais, nota-se que a recorrente busca o reexame dos fatos e provas que fundamentaram as decisões do acórdão recorrido. Isso inviabiliza o processamento do recurso, ante a vedação contida no enunciado da Súmula 279 desta Corte.5. Quanto à condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos nas custas processuais, com razão a recorrente.O art. 12 do Decreto-Lei 509/1969 dispõe sobre a transformação dos Correios e Telégrafos em empresa pública:"Art. 12 - A ECT gozará de isenção de direitos de importação de materiais e equipamentos destinados aos seus serviços, dos privilégios concedidos à Fazenda Pública, quer em relação a imunidade tributária, direta ou indireta, impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços, quer no concernente a foro, prazos e custas processuais."O Plenário desta Corte, no julgamento do RE 220.906 (rel. min. Maurício Corrêa, DJ 14.11.2002) decidiu que foi recebido pela atual Constituição o Decreto-Lei 509/1969, o qual estendeu à Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos os privilégios conferidos à Fazenda Pública, entre eles os concernentes a foro, prazos e custas processuais. É este o teor do julgado:"RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMPENHORABILIDADE DE SEUS BENS, RENDAS E SERVIÇOS. RECEPÇÃO DO ARTIGO 12 DO DECRETO-LEI Nº 509/69. EXECUÇÃO. OBSERVÂNCIA DO REGIME DE PRECATÓRIO. APLICAÇÃO DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL.1. À Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pessoa jurídica equiparada à Fazenda Pública, é aplicável o privilégio da impenhorabilidade de seus bens, rendas e serviços. Recepção do artigo 12 do Decreto-lei nº 509/69 e não-incidência da restrição contida no artigo 173, § 1º, da Constituição Federal [...]" (Grifei) Dessa orientação divergiu a decisão recorrida.6. Do exposto, nos termos do art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil, dou parcial provimento ao recurso extraordinário, tão-somente para excluir a condenação da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos nas custas processuais.Brasília, 23 de maio de 2005.Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator

64

Por todo o exposto, não resta dúvidas a ECT, por ser patrimônio da União, fazer as

vezes desta, tem direito aos privilégios da mesma e, assim sendo, goza da imunidade com

relação as taxas, pelos motivos seguintes:as taxas provocam diminuição no patrimônio da

ECT(União), causando dificuldades para o atingimento de suas finalidades; a obrigação

tributária é dirigida tão somente para os particulares; o poder de polícia é incompatível com o

princípio do pacto federativo, os entes públicos não sofrem subordinação em suas

competências; os assuntos que dizem respeito a União(ECT) não podem ser policiados pelos

Estados e por Municípios, cada qual na sua finalidade imposta pela Constituição Federal.

4.9 A intributabilidade por meio da COFINS e do PIS/PASEP

A Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) e o Programa de

Integração Social(PIS), cuja finalidade deste é a de promover a integração do empregado na

vida e no desenvolvimento das empresas,sendo que nas duas exações tributárias a base de

cálculo será o faturamento mensal de quaisquer receitas.

A questão que se desenha com relação às duas contribuições ora em estudo, diz respeito

ao alcance da imunidade recíproca para tais tributos e, principalmente, em especial, se a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo goza de tal prerrogativa, ou seja, se as receitas

desta, por serem da União, estariam livre da exação da COFINS e do PIS.

Na esteira doutrinária o pensamento negativo, com relação a imunidade da ECT por

meio da COFINS e do PIS, nos termos de Carrazza, que assim asseverou:61 “Entendemos, todavia, que a Consulente, no que concerne á COFINS e ao PIS/PASEP, continua sujeita ás regras insculpidas na Medida Provisória 2135 de 24.8.2001.......o caso das pessoas jurídicas imunes a impostos (caso da Consulente) tais tributações ainda se desenvolve sob a égide da legislação anterior (ex vi do art. 8°, IV, da Lei 10.637/2002 e do art. 10, IV, da Lei 10.833/2003)- ou seja, pagam os referidos tributos no chamado sistema cumulativo”.

Com efeito, com o devido respeito ao entendimento do tributarista Carrazza,

compreendemos diferente. Por meio de uma interpretação histórica, sistêmica e social, nos

valendo do princípio do pacto federativo e de conceitos gerais da doutrina, nos possibilita

afirmar acerca da imunidade da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo para as

contribuições da COFINS e do PIS/PASEP.

61 CARRAZZA. Roque Antonio. Op cit. pg 70 e 71..

65

Ora, a riqueza estatal, seja assim entendida como tal as receitas auferidas pela ECT,

estão voltadas para prover a sociedade de serviços públicos postais e, desse modo, são

destinadas a prestigiar e promover valores e interesses constitucionais, dentre os quais o

serviço postal universal, nos termos do artigo 21, inciso X.

Por intermédio da expressão doutrinária, nas palavras de Filho, a imunidade tributária

deveria abranger todas as formas de tributos, na seguinte maneira:62 “Ora, se o fundamento axiológico da imunidade recíproca é, de fato, a autonomia dos entes estatais, então esse regime deveria ser estendido a todas as espécies tributárias e em especial ás contribuições sociais. Dessa forma, a palavra “imposto”, referida no inciso VI do art.150 da Constituição Federal, deveria ter aplicação ampla de modo a contemplar toda e qualquer exação. Se assim não for devem ser abandonados os discursos acerca da legitimação ontológica da imunidade recíproca para admitir que ela funda-se, exclusivamente, no texto constitucional:em outras palavras, a imunidade recíproca seria o que a Constituição Diz”.

Por outro olhar doutrinário, as ponderações do mestre Hugo de Brito , com as seguintes

palavras:63 “Em edições anteriores afirmamos que a imunidade refere-se apenas aos impostos. Não aos demais tributos. Hoje, porém, já não pensamos assim. A imunidade, para ser efetiva, para cumprir suas finalidades, deve ser abrangente. Nenhum tributo pode ficar fora de seu alcance”.

Distante de serem comum, no contexto do judiciário, decisões que tratam da imunidade

para o PIS e a COFINS, haja vista o entendimento majoritário ser o de que a imunidade

apenas abarca os impostos, ficando de fora as outras espécies tributárias.Todavia, não é esse o

entendimento que temos, firma-se o entendimento de que a imunidade é ampla, deve atingir

objetivos fundamentais do bem comum64.

62 FILHO,Edmar Oliveira Andrade.Imunidade Tributária.São Paulo: MP editora , 2005, pg. 114 63 MACHADO, Hugo de Brito.Op cit.pg.300.

64 Mandado de Segurança MSPL 51075 PE 95.05.25263-3 (TRF5)-: CONSTITUCIONAL E TRIBUTÁRIO, IMUNIDADE, PIS, COFINS, COMBUSTÍVEIS E DERIVADOS DE PETRÓLEO. A AMPLA IMUNIDADE CONFERIDA ÀS OPERAÇÕES EFETUADAS COM COMBUSTÍVEIS E DERIVADOS DE PETRÓLEO IMPOSSIBILITA A EXIGÊNCIA DO PIS E DA COFINS SOBRE ELAS INCIDENTES. Decisão- STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 568141-PE-RECURSO EXTRAORDINÁRIO. TRIBUTÁRIO. INCIDÊNCIA DA CONTRIBUIÇÃO PARA O FINANCIAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL -COFINS SOBRE AS OPERAÇÕES RELATIVAS A SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. SÚMULA 659 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. RECURSO EXTRAORDINÁRIO PROVIDO.Relatório1. Recurso extraordinário interposto com base no art. 102, inc. III, alínea a, da Constituição da República contra o seguinte julgado do Tribunal Regional Federal da 5ª Região:"CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. COFINS. OPERAÇÕES RELATIVAS A SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. ISENÇÃO. - O art. 155, § 3º, da Constituição Federal estabelece que à exceção do ICMS, do Imposto de Importacao e do Imposto de Exportação, nenhum outro tributo incidirá sobre operações relativas à energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do País. - Precedentes. - Apelação provida" (fl. 44).2. A Recorrente alega que o Tribunal a quo teria contrariado o art. 155, § 3º, da Constituição da República.Argumenta que "a imunidade preconizada no art. 155, § 3º, do texto constitucional é restrita a tributo incidente sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do

66

Diante de tais considerações, na esteira do princípio do pacto federativo e, por todos os

argumentos apresentados em favor da imunidade ampla, não nos deixa outra alternativa que

seja diferente a afirmação de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, sobre suas

receitas, não terá a constrição tributária da COFINS e do PIS/PASEP.

País; já a COFINS incide sobre o faturamento" (fl. 153).Sustenta que é "incabível a intenção da ora recorrida, ao menos à luz da melhor doutrina e jurisprudência, pelo que deve ser provido o presente recurso extraordinário para os fins de reformar o v. acórdão recorrido, não sendo reconhecida a imunidade prevista no § 3º do artigo 155 da Carta Magna" (fl. 155).Assevera que "o artigo 195 é taxativo ao determinar que a Seguridade Social será financiada por toda a sociedade e isto se justifica pela sua repercussão social, pois através da mesma são assegurados direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social (art. 194)" (fl. 155).Apreciada a matéria trazida na espécie, DECIDO .3. Razão jurídica assiste à Recorrente.4. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal firmou-se no sentido de que é legítima a cobrança da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social -Cofins, do Plano de Integração Social -PIS e do Fundo de Investimento Social -Finsocial sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais do país. Incide na espécie a Súmula 659 do Supremo Tribunal Federal.Confiram-se, a propósito, os seguintes julgados:"CONSTITUCIONAL. TRIBUTÁRIO. PIS. COFINS. DISTRIBUIDORAS DE DERIVADOS DE PETRÓLEO, MINERADORES, DISTRIBUIDORAS DE ENERGIA ELÉTRICA E EXECUTORAS DE SERVIÇOS DE TELECOMUNICAÇÕES. C.F., art. 155 , § 3º. Lei Complr n. 70, de 1991. I. - Legítima a incidência da COFINS e do PIS sobre o faturamento da empresa. Inteligência do disposto no § 3º do art. 155, C.F. , em harmonia com a disposição do art. 195, caput, da mesma Carta.Precedente do STF: RE 144.971-DF, Velloso, 2.º T., RTJ 162/1075. II. -R.E. conhecido e provido" (RE 230.337, Rel. Min. Carlos Velloso, Plenário, DJ 28.6.2002).E:"COFINS. FINSOCIAL. OPERAÇÕES RELATIVAS A COMBUSTÍVEIS. INCIDÊNCIA. ARTS. 155, § 3º; E 195, CAPUT, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. O Supremo Tribunal Federal (sessão do dia 1º.07.99), no julgamento dos Recursos Extraordinários ns. 205.355 (Ag.Rg); 227.832;230.337; e 233.807, Rel. Min. Carlos Velloso, abrangendo as contribuições representadas pela COFINS, pelo PIS e pelo FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, a serviços de telecomunicações, e a derivados de petróleo, combustíveis e minerais, entendeu que, sendo elas contribuições sociais sobre o faturamento das empresas, destinadas ao financiamento da seguridade social, nos termos do art. 195, caput, da Constituição Federal, não lhes é aplicável a imunidade prevista no art. 155, § 3º, da Lei Maior. Recurso conhecido e provido" (RE 260.165, Rel Min. Ilmar Galvão, Primeira Turma, DJ 28.4.2000).E ainda:"AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. PIS. COFINS. FINSOCIAL. IMUNIDADE. ARTIGO 155, § 3º, DA CB/88. SÚMULA N. 659 DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. É legítima a cobrança da COFINS, do PIS e do FINSOCIAL sobre as operações relativas a energia elétrica, serviços de telecomunicações, derivados de petróleo, combustíveis e minerais no país. Súmula n. 659 do STF. Agravo regimental a que se nega provimento. Condenação ao pagamento de multa de 1% [um por cento] sobre o valor corrigido da causa" (RE 520.700-AgR, Rel. Min. Eros Grau, Segunda Turma, DJe 6.6.2008).5. Dessa orientação jurisprudencial divergiu o acórdão recorrido.6. Pelo exposto, dou provimento ao recurso extraordinário (art. 557, § 1º-A, do Código de Processo Civil e art. 21, § 2º, do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).Considerando-se a Súmula 512 do Supremo Tribunal Federal, deixo de condenar ao pagamento de honorários advocatícios de sucumbência.Publique-se.Brasília, 4 de fevereiro de 2010.Ministra CÁRMEN LÚCIA Relatora

67

4.10 Outras receitas de subsídio ao serviço postal universal

Em observância a determinação legal e autorização do Ministério das Comunicações a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, sob o regime jurídico público, presta outros

serviços afins e busca outras fontes de receitas, com o objetivo de reverter as rendas para o

custeio da atividade postal universal .Nesse contexto, entende-se que a ECT no exercício de

tais atividades goza também da imunidade recíproca, da renda gerada por esses serviços.

Não obstante, os grandes municípios do Brasil não aceitam a imunidade ampla da ECT,

alegam em suas defesas que os outros serviços da empresa, a exemplo do banco postal, não

são serviços públicos nem, tampouco, se inserem na categoria serviços postais e, portanto,

não se enquadram no monopólio concedido pela União. Assim, consideram que os outros

serviços, poderão ser realizados também por empresas da iniciativa privada, desse modo,

deverão ser tributados pelos municípios.

A discussão chegou ao Supremo Tribunal Federal, por meio de Recurso Extraordinário,

601.392, interposto pela ECT, inconformada com decisão prolatada pelo Tribunal Regional

Federal da 4° Região, favorável ao Município de Coritiba-PR. Na decisão prevaleceu o

entendimento de que é lícita a cobrança de ISS sobre os serviços não abarcados pelo

monopólio postal65.

A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo sustenta, em sua defesa que a imunidade

tributária recíproca tem extensão maior do que a definida pelo acórdão recorrido. Salienta que

todas as suas atividades deveriam ser tidas por imunes aos impostos. Alega que a decisão que

reconhece o direito do Município de Coritiba cobrar ISS sobre os outros serviços fora do

Monopólio,ofende os preceitos do art. 21, inciso X e 150,inciso V, alínea ‘a’, da Constituição

Federal.Acrescenta em suas justificativas, a situação de que presta serviços em nome da

União e correlatos, de modo permanente e sem fins lucrativos, arcando com despesas que não

cobertas pelos preços cobrados nas postagens, assim, a imunidade deve abranger todos os

serviços prestados.

65 “TRIBUTÁRIO.IMUNIDADE RECIPROCA.EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS.SERVIÇOS TIPICAMENTE POSTAIS ABARCADOS PELO MONOPÓLIO. 1.A ECT, empresa pública que presta serviços postais, os quais são de competência da União, está abrangida pela imunidade tributária prevista no artigo 150, inciso VI, letra ‘a’ da Constituição federal. 2. A imunidade aqui delineada, entretanto, restringe-se aos serviços tipicamente postais mencionados no art.9° da Lei n° 6538/78, sendo lícito ao município na cobrança de ISS, relativamente aos serviços não abarcados pelo monopólio concedido pela União. ”(Fls 462).

68

Ora, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, apesar de ter personalidade jurídica

de direito privado, age em conformidade as regras do regime jurídico administrativo, é

patrimônio da União e, como tal, não pode sofrer qualquer interferência tributária.

Além do mais, os custos que a ECT tem com a prestação dos serviços para todos os

brasileiros, não são cobertos pelos preços cobrados, visto que a determinação do quanto deve

pagar os cidadãos que utilizam os serviços postais é prerrogativa do Ministério das

Comunicações e, a determinação dos preços nestas circunstâncias nem sempre é adequada

(art. 32, da lei 6538/78). Mesmo assim, a empresa é obrigada a prestar o serviço

continuamente e com qualidade, em todas as cidades brasileiras e nas localidades que tenham

quinhentos ou mais habitantes. Sem duvidas, os outros serviços servem para auto custeio do

serviço postal,as operações lucrativas de uma região, servirão de subsídio ao custeio do

serviço universal66.

Na trilha doutrinária, expressa com precisão Carrazza, da seguinte forma em referência

a ECT, inclusive sobre as atividades econômicas:67 “Ademais, ao contrário dos particulares, não lhe é dado discutir o preço do serviço, que lhe é determinado pelo Poder Público delegante.Também são cobertas pelo manto da imunidade tributária as atividades afins(ou correlatas)levadas a efeito pela consulente,ainda que em regime de livre concorrência com as empresas privadas, desde que viabilizem ou, quando pouco, facilitem a prestação do serviço postal.Quando tal se dá, integram-no, devendo receber o mesmo tratamento jurídico – tributário a ele dispensado[...........].convém termos presente que, para levar avante suas atividades, a consulente suporta despesas altíssimas, pois é obrigada a manter, em todo o território nacional, funcionários altamente qualificados, agências, postos de atendimentos, veículos, sistemas de computação etc. Tais gastos raramente vem compensados com as módicas tarifas cobradas dos usuários dos serviços postais. Daí a imperiosa necessidade que tem de alargar suas fontes de receita, em ordem a compensar déficits. Isso sinaliza no sentido que as situações de dúvida – apreciáveis caso a caso – devem ser solvidas em favor da imunidade tributária”.

Por tudo isso, a decisão que melhor se coaduna com os asseios constitucionais, no caso

do RE 601392, será aquela que decida pela imunidade da ECT para todas as atividades,

66 TRF4 - APELAÇÃO CIVEL: AC 5002 SC 2006.72.16.005002-6-EXECUÇÃO FISCAL. EMBARGOS. EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOS. IMUNIDADE. EXTENSÃO. SERVIÇOS "CORRELATOS" AO SERVIÇO TÍPICO POSTAL. 1. Prestando a ECT serviço público de competência exclusiva do Estado e em regime de monopólio, a ela estende-se a imunidade recíproca de que trata o art. 150, VI, 'a', da CF. Precedentes do STF e desta Corte. 2. O conceito de serviço postal é dado pelo art. 7º da Lei 6538/78. Em seu artigo 2º e seus parágrafos 1º, 4º e 7º, a Lei 6.538/78 garante a ECT o direito de explorar outros serviços e atividades correlatas, com fulcro de implementar recursos a garantir a continuidade do serviço postal. A imunidade tributária recíproca comporta interpretação extensiva - ao contrário da isenção - para que os valores albergados pelo Texto Constitucional possam atingir suas finalidades. E, por ser imunidade subjetiva, também cabe observar ter o próprio Excelso Pretório a alargado quando se trata de obter renda para financiar as atividades precípuas das entidades. Dessa forma, esse serviço 'terceirizado"ou"correlato"(explorado diretamente pela ECT) também deve ser tido por serviço postal típico, pois a finalidade de sua execução é a aplicação de seu rendimento no serviço postal típico, não existindo subsunção à lista de serviços passíveis da cobrança do ISSQN. Não há falar em exploração de atividade econômica, mas sim em busca de financiamento e autocusteio do serviço público postal.

67 CARRAZZA. Roque Antonio.Op cit. pg. 123 e 124.

69

exercidas em regime de monopólio ou não, pelos seguintes fatos:os serviços de

correspondentes bancários visa tão somente a inclusão financeira de milhares de brasileiros

que antes não tinham acesso aos serviços básicos de banco; a prestação dos outros serviços,

fora do monopólio, é determinação legal da lei 6538/78; os serviços são prestados por

autorização do Ministério das Comunicações; a ECT não tem por finalidade a geração de

lucro; as outras fontes de receitas são para subsidiar os custos do serviço universal; as rendas

advindas da prestação integram o patrimônio da União e sobre este não pode haver tributação;

todos os serviços são prestados regidos pelas normas de direito público;as outras receitas

estão vinculadas ás finalidades essenciais da ECT, servem para custearem os serviços postais.

Assim, as outras receitas, auferidas pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos,

também são imunes, as mesmas servem de base para garantia de relevantes interesses sociais

e subsidiar a prestação universal dos serviços básicos de correios.

4.11 As receitas do serviço postal internacional

O serviço postal Internacional tem um papel importante na integração dos povos e,

também, para o desenvolvimento econômico dos países envolvidos. Por intermédio deste

instrumento, milhões de objetos são recebidos e enviados entre os diversos países.

Diante da importante relação por meio dos serviços postais, necessário a

regulamentação, a organização e o planejamento da logística de remessas, de forma que a

circulação de objetos e correspondências de um país para outro não tenha obstáculos, mas que

os serviços sejam completados entre remetentes e destinatários.

Assim, dessa necessidade, criou-se normas acerca do serviço postal internacional. Os

Plenipotenciários dos Governos dos Países membros da União Postal Universal(UPU),

reunidos em Congresso em Bucareste,elaboraram a Constituição da União Postal Universal,

concluída em Viena em 10 de Julho de 1964,complementada em algumas situações,

atualmente, atualizada pelo sétimo protocolo adicional.

A UPU é um organismo intergovernamental, integrado por 191 países-membros,

constituindo-se no principal fórum de cooperação entre os Correios, cujo papel de atuação

visa possibilitar a manutenção de uma rede universal que ofereça produtos e serviços

modernos e de qualidade.

70

A liberdade de trânsito é o princípio segundo o qual uma administração postal

intermediária deve transportar os objetos postais que lhe são entregues em trânsito por uma

outra administração postal, reservando a este correio o mesmo tratamento aplicado aos

objetos do regime interno.Em suma, os objetos internacionais terão o mesmo tratamento dos

objetos nacionais.

Nesse sentido, com base no Sétimo Protocolo Adicional á Constituição da União Postal

Universal, o serviço postal internacional tem por finalidade desenvolver as comunicações

entre os povos através do funcionamento eficaz e de contribuir para atingir os elevados

objetivos da colaboração internacional nos domínios cultural, social e econômico.

Assim, constitui por missão da União Postal Universal o estímulo ao desenvolvimento

sustentável de serviços postais universais de qualidade, eficazes e acessíveis, para facilitar a

comunicação entre os habitantes do planeta.

Diante desses fundamentos, em síntese apertada, verifica-se que o serviço postal entre

os diversos países observa regras de Direito internacional, destacando-se as seguintes

situações: colaboração internacional no desenvolvimento cultural, social e econômico; a

liberdade de trânsito dos objetos postais entre os países componentes da UPU;o território

postal unificado entre os países membros ; as regras da Constituição Postal são obrigatórias

para todos os países membros e não podem ser objetos de reservas.

Noutra fonte, na conformidade da Convenção Postal Universal, os países membro da

UPU, são obrigados a disponibilizar os serviços postais em todo o território nacional, isto é,

prestação universal, continua, com qualidade e por um preço acessível68.

Ora, prestar o serviço postal para todos de forma permanente, a preços acessíveis e com

qualidade, levando-se em conta as necessidades da população e as próprias condições

nacionais, não é uma tarefa fácil. Os custos dessa responsabilidade deveras são altos,

considerando as desigualdades regionais, diversas localidades geram prejuízos, a exemplo do

68 Art.1° e 3°- serviço postal universal: a oferta permanente de serviços postais básicos de qualidade, em todos os pontos do território de um país, para todos os clientes, a preços acessíveis. Para fortalecer o conceito de unidade do território postal da União, os Países membros zelam para que todos os utentes/clientes gozem do direito a um serviço postal universal que corresponda a uma oferta de serviços postais básicos de qualidade, fornecidos permanentemente em qualquer ponto do seu território, a preços acessíveis. Com vista a alcançar este objetivo, os Países membros determinam, no âmbito da sua legislação postal nacional ou de outros meios habitualmente utilizados para este efeito, o âmbito dos serviços postais em causa, assim como as condições de qualidade e de preços acessíveis, considerando ao mesmo tempo as necessidades da população e as próprias condições nacionais.Os Países membros zelam para que as ofertas de serviços postais e as normas de qualidade sejam respeitadas pelos operadores encarregados de assegurar o serviço postal universal.Os Países membros zelam para que a prestação do serviço postal universal seja assegurada de maneira viável, garantindo assim a sua perenidade”.

71

Brasil, onde as distâncias são imensas, muitas regiões pobres e as dificuldades de logísticas

também dificulta a prestação universal.

Por uma ótica crítica, evidencia-se o fato de que o Brasil é componente da União Postal

Universal, ratificou as normas pertinentes ao serviço postal internacional e, portanto, está

obrigado a disponibilizar os serviços de correios em todos os pontos do território nacional,

independente dos custos e das dificuldades de logísticas.

Nesse olhar crítico, afirma-se que em nome do Brasil, por outorga, a Empresa Brasileira

de Correios e Telégrafo tem a incumbência de prestar o serviços postais nacional e

internacional em todos os pontos do Brasil, com eficiência e qualidade, independente das

desvantagens econômicas.

Assim, por um modo lógico, se aceita por correta a interpretação de que sobre as

receitas originadas da prestação dos serviços postais internacional não haverá tributação,

pelos motivos óbvios já expostos no decorrer deste trabalho monográfico, dentre eles: os

serviços e as receitas auferidas pela prestação são da União; a imunidade para as receitas

internacionais visam tão somente subsidiar a prestação universal dos serviços básicos postais.

Em suma, a ECT não tem o benefício simples de não pagar tributos, mas uma tarefa

difícil de ser cumprida, uma obrigação assumida pelo Brasil perante a comunidade

internacional e, portanto, a desoneração da carga tributária é apenas uma forma de amenizar

as dificuldades da prestação universal do serviço internacional e nacional de correios.

4.12 A imunidade ampla da ECT e a livre concorrência

A livre iniciativa, conferida a iniciativa privada, tem por finalidade o desenvolvimento

econômico, a redução das desigualdades sociais e regionais, conformando aos preceitos

constitucionais da justiça social e da livre concorrência nas atividades econômicas.

Noutra ponta, nessa conjuntura de idéias, cabe ao Estado, na ordem econômica, o papel

secundário, age com o intuito de garantir e proteger os direitos essenciais de cada cidadão e

no sistema, imprimir esforços para a concretização dos interesses da coletividade. Assim, as

ações do Estado norteiam-se pela subsidiariedade, atua na normatização e regulação, de forma

a não reprimir a liberdade de iniciativa do particular, mas contribuir de maneira que os

regramentos da Constituição Federal, em especial aqueles apostos no artigo 170 e incisos,

sejam observadas por todos e efetivadas na ordem econômica e social.

72

Dessa ótica, por autorização Constitucional, a atuação do Estado nas atividades

econômicas será permitida quando necessária aos imperativos da segurança nacional e

relevante interesse coletivo, não sendo admitido, nestas atuações, que seja dada as empresas

públicas e as sociedades de economia mista, regidas pelas normas aplicadas a

empreendimentos privados, qualquer privilégio fiscal, conforme artigo 173, § 2°, da CF.Dessa

feita,conforme preceitos da livre iniciativa,nas atividades econômicas preserva-se a igualdade

de competição, isto é, além do relevante interesse social o Estado, assim como os

particulares, almeja o lucro.

Todavia, nos termos conceituais do artigo 173 da Constituição Federal, primeira parte,

reserva-se alguns casos de atividades econômicas para atuação do Estado e, nestes casos, as

ações estatais serão regidas pelas normas aplicáveis a administração pública, sendo

admissíveis as prerrogativas específicas em função da supremacia do interesse público.

Dessa ordem, por meio de uma interpretação sistêmica dos artigos 150, VI ‘a’ e

parágrafo 3° deste,quando o Estado outorga para as empresas públicas e sociedade de

economia mista finalidades de relevante interesse social, será admitido os privilégios fiscais,

até mesmo por que nessas ocasiões não se almeja a obtenção de lucro, não importa os custos

envolvidos e os prejuízos que possam acontecer, desde que liberado o orçamento necessário,

as finalidades coletivas serão atendidas.

Diante de situação peculiar como essa, não pode haver igualdade de competição, haja

vista serem relevantes as diferenças de atuação entre as Empresas públicas ou sociedades de

economia mista (outorgadas ou delegatárias) e as empresas da iniciativa privada.Aos

particulares importa apenas atuar com um único fim, a obtenção de lucro. Por outro lado,

diferentemente da iniciativa privada, a atuação estatal, que tem por meta a concretização do

interesse coletivo, mesmo que este proporcione prejuízo.

De certa forma, a Constituição Federal permite que os desiguais sejam tratados de

forma desigual, na medida de suas diferenças. Assim, expressa Filho, na seguinte forma

escrita:69 “Mas claramente. O principio da igualdade não proíbe de modo absoluto as diferenciações de tratamentos. Veda apenas aquelas diferenciações arbitrárias, as discriminações. Na verdade, o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência do próprio conceito de justiça.”

Em consonância com o pensamento doutrinário, segundo o tributarista Carraza , com

relação a atuação das empresas públicas e sociedades de economia mista, quando estas são

69 FILHO, Manoel Gonçalves Ferreira.Curso de Direito Constitucional.São Paulo:Editora Saraiva, 2007,pg. 283

73

delegatárias de serviços públicos, se igualam ao próprio Estado e não concorrem com os

particulares, nos seguintes termos:70 “Sendo porém, delegatárias de serviços públicos, as empresas públicas ou sociedades de economia mista, por não concorrerem com as empresas privadas, não se submetem aos ditames do precitado art. 173.....De fato, é de nossa convicção que as sociedades mistas e as empresas públicas, enquanto delegatárias de serviços públicos, são instrumentos do Estado- e, neste sentido, a ele se equiparam. Por força de lei, atuam em setor próprio do Estado, desempenhando atividades que as empresas privadas jamais assumiriam, a não ser que por ele contratadas, sob a forma de concessão ou de permissão”.

Noutro passo doutrinário, o entendimento de Alexandrino e Paulo, com relação às

empresas públicas prestadoras de serviços públicos, alega os autores que pode haver

concessão de benefícios fiscais para estas, sem, no entanto, desrespeitar a livre concorrência.

Esse ponto de vista foi expresso da seguinte maneira:71 “Por outro lado, as empresas públicas e sociedades de economia prestadoras de serviços públicos não estão sujeitas a essa vedação do §2° do art.173, ou seja, desde que observados os princípios constitucionais pertinentes, pode o legislador conceder-lhes benefícios fiscais exclusivos....Alguns autores poderiam, ainda, que, em tese, seria legitimo um benefício fiscal exclusivo concedido a uma empresa pública ou sociedade de economia mista que explore atividade econômica em regime de monopólio.Isso porque não existe qualquer ameaça ao princípio da livre concorrência, nessa hipótese.Concordamos com essa orientação.A rigor, segundo pensamos, no caso de uma empresa monopolista, nem mesmo haveria como cogitar a incidência da vedação do §2° do art. 173 da Constituição, pela simples impossibilidade de o privilégio fiscal a ela concedido ser “extensivo” as demais(inexistentes) empresas privadas!”

Ora, diante de posicionamento relevante, fica evidenciado que a imunidade concedida

para a Empresa brasileira de Correios e Telégrafo está conforme preceitos constitucionais e,

sem dúvida, respeita a livre concorrência, considerando que os serviços postais estão

resguardados para serem prestados exclusivamente pela União. Neste caso, por ser exclusive

da União, não podemos cogitar que haja qualquer concorrência, trata-se de monopólio, único

prestador72.

70 CARRAZZA. Roque Antonio.Op. cit. pg. 40. 71 ALEXANDRINO, Marcelo e PAULO,Vicente.Op. cit. pg. 86.

72 ADPF 46 -Relator(a): Min. MARCO AURÉLIO-Relator(a) p/ Acórdão: Min. EROS GRAU-Julgamento: 05/08/2009 Órgão Julgador: Tribunal Pleno-Publicação: 26/02/2010 –Ementa-EMENTA: ARGÜIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL. EMPRESA PÚBLICA DE CORREIOS E TELEGRÁFOS. PRIVILÉGIO DE ENTREGA DE CORRESPONDÊNCIAS. SERVIÇO POSTAL. CONTROVÉRSIA REFERENTE À LEI FEDERAL 6.538, DE 22 DE JUNHO DE 1978. ATO NORMATIVO QUE REGULA DIREITOS E OBRIGAÇÕES CONCERNENTES AO SERVIÇO POSTAL. PREVISÃO DE SANÇÕES NAS HIPÓTESES DE VIOLAÇÃO DO PRIVILÉGIO POSTAL. COMPATIBILIDADE COM O SISTEMA CONSTITUCIONAL VIGENTE. ALEGAÇÃO DE AFRONTA AO DISPOSTO NOS ARTIGOS 1º, INCISO IV; 5º, INCISO XIII, 170, CAPUT, INCISO IV E PARÁGRAFO ÚNICO, E 173 DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. VIOLAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA LIVRE CONCORRÊNCIA E LIVRE INICIATIVA. NÃO-CARACTERIZAÇÃO. ARGUIÇÃO JULGADA IMPROCEDENTE. INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO CONFERIDA AO ARTIGO 42 DA LEI N. 6.538, QUE ESTABELECE SANÇÃO, SE CONFIGURADA A VIOLAÇÃO DO PRIVILÉGIO POSTAL DA UNIÃO. APLICAÇÃO ÀS ATIVIDADES POSTAIS DESCRITAS NO ARTIGO 9º, DA LEI. 1. O serviço postal --- conjunto de atividades que torna possível o envio de correspondência, ou objeto postal, de um remetente para endereço final e determinado --- não consubstancia atividade econômica em sentido estrito. Serviço postal é serviço público. 2. A atividade econômica em sentido amplo é gênero que compreende duas espécies, o serviço público e a atividade econômica em sentido estrito. Monopólio é de atividade econômica em sentido estrito, empreendida por agentes econômicos privados. A exclusividade da prestação dos serviços públicos é expressão de uma situação de privilégio. Monopólio e privilégio são distintos entre si; não se os deve confundir no âmbito da linguagem jurídica, qual ocorre no vocabulário vulgar. 3. A Constituição do Brasil confere à União, em caráter exclusivo, a exploração do serviço postal e o correio aéreo nacional [artigo 20,

74

Destarte, por todo o conjunto de argumentos apresentados pela doutrina e

jurisprudência, considerando o monopólio e o regime jurídico da prestação dos serviços ser

público,evidencia-se pela conclusão de que, a imunidade da Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafo tem fundamento Constitucional e, por certo, observa a livre concorrência.

4.13 O cumprimento de obrigações acessórias

As obrigações acessórias não estão relacionadas com prestação pecuniária, mas dizem

respeitos as exigências legais de fazer e não fazer, cuja finalidade se revela pelo interesse da

arrecadação, a exemplo da emissão de notas fiscais, entrega de declarações. Por outro lado, as

obrigações principais que se refere ao dever de pagar os tributos ou penalidades pecuniárias.

Por esse ângulo conceitual, em análise específica com a temática ora em estudo, chega-

se ao entendimento de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, por gozar da

imunidade recíproca, fica desobrigada de pagar qualquer espécie tributária, logo, se percebe

que a mesma não tem obrigação principal. Todavia, em relação às obrigações acessórias, no

interesse da arrecadação, suscita-se algumas dúvidas e, por essa razão, necessário os

pertinentes esclarecimentos.

Dessa monta, em primeiro lugar, convém ponderação com relação as obrigações

acessórias ligadas a prestação dos serviços públicos postais e as outras receitas auferidas

conforme autorização do Ministério das Comunicações e previsão legal.Ora, já provamos em

posicionamentos anteriores que a ECT goza da imunidade recíproca e, desse modo, por não

ter a obrigação principal, as acessórias que dizem respeito aos serviços que ela presta,são

dispensadas de cumprimento.

Com efeito, quando da prestação dos serviços públicos e na arrecadação de outras

receitas direcionadas para as finalidades públicas, não necessita a ECT de entregar

inciso X]. 4. O serviço postal é prestado pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT, empresa pública, entidade da Administração Indireta da União, criada pelo decreto-lei n. 509, de 10 de março de 1.969. 5. É imprescindível distinguirmos o regime de privilégio, que diz com a prestação dos serviços públicos, do regime de monopólio sob o qual, algumas vezes, a exploração de atividade econômica em sentido estrito é empreendida pelo Estado. 6. A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos deve atuar em regime de exclusividade na prestação dos serviços que lhe incumbem em situação de privilégio, o privilégio postal. 7. Os regimes jurídicos sob os quais em regra são prestados os serviços públicos importam em que essa atividade seja desenvolvida sob privilégio, inclusive, em regra, o da exclusividade. 8. Argüição de descumprimento de preceito fundamental julgada improcedente por maioria. O Tribunal deu interpretação conforme à Constituição ao artigo 42 da Lei n. 6.538 para restringir a sua aplicação às atividades postais descritas no artigo 9º desse ato normativo.

75

declarações e emitir notas fiscais. Em síntese apertada, se não existe a obrigação principal, se

não há obrigatoriedade de pagamento dos tributos, desnecessários o cumprimento das

exigências acessórias, pertinentes a tais tributos.

No esteiro doutrinário, as palavras do mestre Hugo de Brito, que assim expressou:73 “O ser acessória, em Direito Privado, significa estar ligada a uma outra determinada obrigação. O caráter de acessoriedade manifesta-se entre uma determinada obrigação, dita principal, e uma outra, também determinada, dita acessória. No Direito Tributário não é assim, mas o caráter de acessoriedade não deixa de existir, embora sob outro aspecto.Realmente,em Direito Tributário as obrigações acessórias não precisariam existir se não existissem as obrigações principais.São acessórias, pois, nesse sentido. Só existem em função das principais, embora não exista necessariamente um liame entre determinada obrigação acessória. Todo o conjunto de obrigações acessórias existe para viabilizar o cumprimento das obrigações principais.”

Em sustentáculo ao entendimento da não obrigatoriedade de a ECT cumprir obrigação

acessória, quando da prestação do serviço público postal, o judiciário vem se posicionando no

sentido de que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo está isenta de emissão de notas

fiscais, bem como de fazer as declarações pertinentes a sua atividade74.

Do ponto de vista legal, precisamente, os preceitos estabelecidos no código Tributário

Nacional, artigo 113, §2°, combinado com o artigo 194, se tem as regras de que a obrigação

acessória decorre da lei e tem por objetivo as exigências de fazer ou não fazer, nela previstas

no interesse da arrecadação ou da fiscalização, aplicando-se tais regramentos também para as

pessoas que gozam da imunidade tributária ou de isenção. Em síntese, qualquer pessoa,

natural ou jurídica, mesmo que não seja contribuinte, cumpre obrigações acessórias.

O interesse público na arrecadação e na fiscalização tributária legitima o ente federado a

instituir obrigações, aos contribuintes e não contribuintes. Nesse sentido, mesmo na condição

73 MACHADO, Hugo de Brito.Op. cit. pg.131.

74 PROCESSO Nº 2006.83.00.008336-9-CLASSE-029 - AÇÃO ORDINÁRIA-AUTORA:EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS – ECT-RÉU:MUNICÍPIO DO RECIFE- ISTO POSTO, passo a DECIDIR:JULGO PROCEDENTE o presente Pedido com fundamento nos argumentos acima expendidos, para: a)declarar que a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos - ECT está isenta da emissão de Nota Fiscal pela prestação do serviço público postal, bem como do dever jurídico de recolhimento de Imposto sobre Serviço - ISS sobre a prestação dos "serviços de coleta, remessa ou entrega de correspondências, documentos, objetos, bens ou valores, inclusive pelos correios e suas agências franqueadas; courrier e congêneres", que passou a ser exigível no Município do Recife com o advento da Lei nº 16.933/2003; b)determinar que o Município do Recife se abstenha de exigir de todas as empresas, bem como dos órgãos públicos e/ou entidades integrantes da Administração Pública Direta e Indireta, que mantêm ou venham a manter contato com a ECT, na qualidade de tomadoras do serviço postal, a retenção de valores por meio de substituição tributária, com base no subitem 26.01, da Lista de Serviços, veiculada pela Lei Complementar nº.116/03, e da Lei Municipal nº 16.933/2003, bem como se abstenha de exigir da ECT a expedição de Nota Fiscal. Honorários advocatícios pela parte ré, que arbitro em 10% (dez por cento) sobre o valor da causa.Recife, 12 de abril de 2007-DR. HÉLIO SILVIO OUREM CAMPOS- Juiz Federal da 6ª Vara-PE.

76

de imune ou isento, a responsabilidade acessória pode acontecer, muito embora, em situações

específicas, a exemplo da substituição tributária, nos termos do artigo 9, § 1° do CTN.

A substituição tributária, prevista no artigo 128, do CTN, de onde se extrai que a lei

pode atribuir de modo expresso a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva

obrigação, a responsabilidade pelo crédito tributário. Neste caso, o dever de pagar do

responsável acontece no momento da ocorrência do fato gerador. Desde o início da obrigação,

fruto do fato gerador, a lei já define o responsável pelo pagamento do tributo.

Dessa arte, bebendo na fonte doutrinária, de onde se verifica que todas as pessoas

contribuintes ou não, de certo modo, tem obrigação acessória, conforme expressa Rocha:75 “Qualquer pessoa, natural ou jurídica, ainda que não seja contribuinte, pode ser fiscalizada.Fixa-se o princípio de que a imunidade, a não incidência ou a isenção, referem-se á incidência do tributo ou seu pagamento, e não á possibilidade de ser fiscalizado.Aliás, existem muitos casos de imunidade e isenção, por exemplo, que estão submetidos ao cumprimento de requisitos e condições. Sendo assim, compete á autoridade fazendária a fiscalização a respeito do fiel cumprimento delas.Além disso,pode ocorrer que certa pessoa, por ser imune ou isenta, não seja contribuinte de certo imposto- de renda, por exemplo.No entanto,pode ser responsável pelo imposto incidente sobre os salários de seus funcionários, que deve reter e recolher como fonte pagadora(responsabilidade por substituição). Por todos esses motivos, e outros, é que qualquer pessoa pode, e deve, ser fiscalizada”.

Assim, em relação a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, a responsabilidade por

substituição tem respaldo legal, nos termos do artigo 6° da lei 116/2003, do modo seguinte: “Art. 6º Os Municípios e o Distrito Federal, mediante lei, poderão atribuir de modo expresso a responsabilidade pelo crédito tributário a terceira pessoa, vinculada ao fato gerador da respectiva obrigação, excluindo a responsabilidade do contribuinte ou atribuindo-a a este em caráter supletivo do cumprimento total ou parcial da referida obrigação, inclusive no que se refere à multa e aos acréscimos legais”.

No campo dos tributos federais, a legislação tributária, expressa a responsabilidade por

substituição da ECT (na esteira do artigo 34 da lei 10.833/2003 e instrução normativa n°

480/2004) e, dessa feita, fica obrigada a ECT a fazer as retenções federais de

9,45%(IRRF,CSL,PIS e COFINS), sobre o valor total dos pagamentos aos fornecedores,

excetuando-se apenas os valores pagos as empresas optantes pelo Simples Nacional.Além

destas, está obrigada a empresa a observar as regras de substituições pertinentes aos Estados,

nos termos dos regulamentos do ICMS e, as responsabilidades referentes as retenções do

imposto de renda e do INSS,retidos na fonte de seus funcionários.

Por essa ótica, na condição de responsável tributário, a Empresa Brasileira de Correios e

Telégrafo tem o compromisso legal de recolher aos cofres públicos as retenções efetuadas na

fonte dos seus prestadores de serviços e funcionários (contribuintes). Nessa ordem, apenas

com relação a substituição tributária, deve a mesma cumprir obrigações acessórias, a exemplo

de declarações, relatórios de recolhimentos, exigência de notas fiscais dos seus fornecedores,

75 ROCHA, João Marcelo.Direito Tributário.Rio de Janeiro:Editora ferreira, 2009, pg. 498.

77

conforme exigências legais dos Municípios, Estados, Distrito Federal e da própria União(art.

175, § único do CTN, art. 285 do regulamento do imposto de renda, decreto 3000/1999 e

artigos 1° e 2° da lei 8846/1994).

Portanto, temos duas situações distintas, quando analisamos a obrigatoriedade da ECT

cumprir obrigação acessória. Em primeiro lugar, quando da prestação dos serviços próprios,

em decorrência da imunidade recíproca, não há obrigação principal, desse modo, por razão

lógica, não haverá obrigação acessória. Por outro lado, em segunda hipótese, na condição de

responsável por substituição, dado o interesse da arrecadação e fiscalização, deve a ECT

recolher os tributos retidos em nome de terceiros e cumprir as obrigações acessórias ligadas à

substituição.

78

5 A IMUNIDADE NA TERCEIRIZAÇÃO DO SERVIÇO POSTAL

5.1 Aspectos legais

Por atividade de franquia, em visão normativa, entende-se que seja um sistema pelo

qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao

direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente,

também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema

operacional desenvolvido ou detido pelo franqueador, mediante remuneração direta ou

indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício (lei 8955/94, art. 2°).

Desse modo, por franquia postal,temos as atividades auxiliares relativas ao serviço

postal,dentre elas a venda de produtos e serviços disponibilizados pela ECT, incluindo a

produção ou preparação de objeto de correspondência, valores e encomendas, que antecedem

o recebimento desses postados pela ECT, para posterior distribuição e entrega aos

destinatários finais(nos termos do decreto 6639/2008, regulamenta a lei 11668/2008).

Os contratos de franquia postal celebrados pela ECT são regidos pela Lei 11668/2008 e,

subsidiariamente, pelas Leis nos 10.406, de 10 de janeiro de 2002(Código Civil), lei 8.955, de

15 de dezembro de 1994(Dispõe sobre contrata de franquia empresarial), e 8.666, de 21 de

junho de 1993(Institui normas para as licitações e contratos da administração público).Por

fim, nas licitações de franquia postal será obrigatoriamente observado a melhor proposta

técnica, com o preço fixado no edital, conforme preceitos do artigo 15, inciso IV da Lei

8987/95.

Por todo o exposto, fica evidenciado que as franqueadas de Correios ficarão com a

responsabilidade de auxiliar a ECT na prestação do serviço público postal. O serviço quem

presta é a franqueadora, as fraqueadas, cabe tão somente, o auxilio inicial junto aos clientes, a

exemplo da captação dos objetos, coletas e preparo dos objetos para o envio aos centros de

operações da ECT. Em suma, é de responsabilidade da ECT a recepção dos postados das

franqueadas, sua distribuição e entrega aos destinatários finais.

79

5.2 Abrangência da imunidade

5.2.1 A receita do serviço postal

Na execução das atividades auxiliares, as franqueadas do serviço postal fazem a

captação dos objetos, entregam os mesmos nos centros operacionais da Empresa Brasileira de

Correios e Telégrafo e, se encarregam de fazerem a arrecadação dos valores cobrados dos

clientes e repassam tais recursos para a franqueadora no período de tempo determinado em

contrato.

Nessa sistemática, consta-se de logo que as receitas oriundas dos clientes captados pelas

Agências Fraqueadas, pertinentes aos serviços postais, são recursos públicos, pertencem a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo.

Assim, diante de tal realidade, evidencia-se por certo, o entendimento de que sobre os

recursos arrecadados pelas franqueadas de Correios, referentes aos serviços postais, não

haverá tributação, haja vista tais receitas pertencerem a Empresa Brasileira de Correios e

Telegrafo(União) e, conforme já esclarecido em argumentos anteriores, a imunidade recíproca

não permite que os recursos das pessoas políticas sofram embaraços tributários.

A doutrina tem posicionamento de que sobre as receitas auferidas para a ECT, por meio

das atividades auxiliares das franqueadas, não haverá incidência de impostos, conforme se

verifica nas doutas palavras do tributarista Carrazza, assim exaradas:76 “È igualmente intributável por meio do ISS a disponibilização que a consulente faz, a terceiros, da infra – estrutura postal que está sob seus cuidados.....Ora, quando disponibiliza a terceiros os meios e modos para que levem avante suas atividades típicas, longe de desviar-se de suas finalidades, a elas se mantém absolutamente fiel....Se, por absurdo, viéssemos a entender que tais serviços de disponibilização não estão abrangidos pela imunidade tributária, estaríamos aceitando, contra todas as evidências fáticas e jurídicas, que sua execução é ilegal,porque estranha ás finalidades institucionais da consulente.Portanto, a pretensa tributabilidade por via de ISS sobre os fatos sub examine não atende a critério algum de razoabilidade.Pelo contrário, desatende á lógica da prudência(jurisprudência), conatural á Ciência do Direito.Enfim, sob a óptica do Direito Tributário nas temos dúvidas em proclamar que a disponibilização a terceiros(agências franqueadas), por parte Consulente, da infra-estrutura postal, para que estes levem adiante suas finalidades profissionais, também refoge ao ISS”.

Desse ponto de vista doutrinário, o entendimento pacificador de que sobre as receitas do

serviço portal, oriundas da atividade das franqueadas, não haverá a incidência de impostos,

pelo simples motivo: as franqueadas apenas auxiliam a ECT na prestação dos serviços e

mesmo que prestassem os serviços na sua totalidade, as receitas geradas desta relação, sem

76 CARRAZZA. Roque Antonio.Op. cit. pg. 97 e 98.

80

duvidas são públicas, originaram-se das finalidades institucionais da Empresa Pública e,

portanto, imunes a tributação.

Ora, não estamos afirmando que as franqueadas de correios são imunes a impostos. O

que se confirma é que o serviço postal público não pode ser tributado, mesmo quando

terceiros auxiliam na prestação. Neste caso, se constata a imunidade objetiva, ou seja, os

serviços que as agências franqueadas de correios auxiliam são imunes, todavia, elas não

gozam de tal imunidade, conforme veremos no tópico seguinte.

5.2.2 A comissão recebida pelas agências franqueadas

As intermediações (auxílios) que as franqueadas de correios efetuam quando da

prestação do serviço postal são remuneradas conforme os meios e as formas estabelecidas em

contratos. A forma de pagamento e os meios que a ECT adotará,são clausulas essenciais do

contrato de franquia postal.São exigências legais que precisam ser observadas,dentre outras

disposições estabelecidas no artigo 4° da lei 11668/2008, aquela exarada no inciso IV, a

saber: Art. 4o São cláusulas essenciais do contrato de franquia postal, respeitadas as disposições desta Lei, as relativas: (....)V - aos meios e formas de remuneração da franqueada;(....).

Com efeito, sabe-se que no exercício da atividade de auxilio a prestação do serviço

postal, as franqueadas de correios tem por finalidade a obtenção de lucro, ou seja, o fim da

das suas ações é o lucro, perseguem o lucro por que para isto foram criadas. Além do mais,

são regidas pelas normas aplicáveis a empreendimentos privados, perseguem o lucro e,

portanto, não podem receber qualquer privilégio tributário.

Noutro ângulo de interpretação, os serviços de intermediação (auxilio), são executados

com autonomia e onerosidade (a ECT paga comissão), regidos subsidiariamente pelo Código

Civil de 2002 e sob a égide de um contrato comercial, conforme preceitos estabelecidos no

art. 3° da lei 11668/2008. Portanto, são serviços de qualquer natureza, preceituados na lista de

serviços da lei 116/2003, item 10.04.

Logo, se tem onerosidade e caráter negocial, previsto na listas de serviços, haverá, sem

dúvidas, incidência de ISS sobre o valor da comissão recebida por parte da Agência de

Correios Franqueada (AGF), trata-se de um serviço de qualquer natureza.

81

Por essa ótica, fica evidente, se tem lucro, este será à base de cálculo do Imposto de

renda. No mesmo conduto conclusivo, Se temos auxilio (agenciamento), é serviço de

qualquer natureza, prestado com onerosidade e caráter comercial, sendo, portanto, as

comissões recebidas pela intermediação a base de cálculo do ISS. Nessa mesma esteira os

julgados dos tribunais,onde se verifica o entendimento de que sobre as comissões recebidas

pelas Agências de Correios Franqueadas, haverá incidência do ISS77.

77 Ementa-TJSC - Pedido de Uniformização de Jurisprudência em Apelação Cível: AC 4164 SC 2007.000416-4-Apelação Cível. Ação Declaratória de inexistência de relação jurídico tributária. ISS. Agências franqueadas dos correios. Prestação de serviços. Lei Complr n. 116/2003. No contrato de franquia existem duas relações distintas: uma configurada na relação entre o franqueador e o franqueado e, outra, entre o franqueado e o consumidor. Na primeira não há que se falar em tributação, pois o contrato de franquia não representa espécie de serviço. Na relação com o consumidor, contudo, o serviço oferecido se apresenta como atividade-fim do franqueado, podendo se sujeitar à incidência do tributo. Os julgados deste Tribunal permitem abstrair o entendimento pela não tributação dos serviços específicos referidos nos itens 26 e 26.1 da lista de serviços trazida pela Lei Complr n. 116/2003, haja vista se tratar de serviço público prestado por empresa pública, abrangido, consequentemente, pela imunidade tributária recíproca. É que "quando as empresas estatais prestam, na condição de delegatárias, serviços públicos, a elas não se aplica a vedação do art. 150, § 3º da CF, mas, sim, o princípio da imunidade recíproca (art. 150, VI, a, da CF), que lhes garante o direito de não recolher impostos, ainda que haja contraprestação ou pagamento de preços ou tarifas pelo usuário" (Carrazza, Roque Antônio. Curso de direito constitucional tributário. 23ª ed. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 717). Os demais serviços prestados pelas agências franqueadas dos correios, desde que se subsumam nos itens da lista trazida pela LC n. 116/2003, poderão ser alvo do imposto sobre serviço, pois não integram o conceito de serviço público de prestação exclusiva e monopolizada do Estado, estando sujeitas à concorrência com empresas privadas. As empresas franqueadas como agências de correio (ACF) terceirizadas na prestação de serviços postais, telemáticos e outros diversos a que se dedica a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, praticam atividade de agenciamentos diversos, daí porque estão sujeitas ao pagamento de ISS sobre os valores que recebem da franqueadora a título de comissão. O contrato de franquia empresarial, no caso, envolve também um ajuste de prestação de serviços sob as modalidades de comissão e agência (Apelação Cível n. , de Criciúma, rel. Des. Jaime Ramos, j. 19.9.2008). Decisão STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 614203 MG -Trata-se de recurso extraordinário interposto contra acórdão que entendeu pela legitimidade da incidência do ISS sobre as atividades de intermediação e agenciamento postais realizados por agências franqueadas dos Correios, nos termos da lista de serviços anexa à Lei Complr 116/2003.Neste RE, fundado no art. 102, III, a, da Constituição, alegou-se, em suma, a inconstitucionalidade da referida incidência por ofensa ao art. 156, III, da mesma Carta.Alegou-se, ainda, que a imunidade tributária recíproca (art. 150, VI, a, da CF) reconhecida por essa Corte em favor dos Correios, em relação aos atividades postais, é extensiva aos recorrentes.No caso, o recurso extraordinário versa sobre matéria -incidência do ISS sobre contrato de franquia com base na lista de serviços anexa à Lei Complementar 116/2003 -cuja repercussão geral já foi reconhecida pelo Supremo Tribunal Federal (RE 603.136-RG/RJ, Rel. Min. Gilmar Mendes).Isso posto, determino, com fundamento no art. 328, parágrafo único, do RISTF, a devolução destes autos ao Tribunal de origem para que seja observado o disposto no art. 543-B do CPC, visto que neles se discute questão que será apreciada no RE 603.136-RG/RJ.Publique-se.Brasília, 14 de setembro de 2010.Ministro RICARDO LEWANDOWSKI- Relator - Decisão-STF - RECURSO EXTRAORDINÁRIO: RE 505220 RS -Trata-se de recurso extraordinário (art. 102, III, a, da Constituição federal) interposto de acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul cuja possui o seguinte teor:"TRIBUTÁRIO. ISSQN. EMPRESA DE PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS POSTAIS. FRANQUIA OU AGENCIAMENTO. IMUNIDADE.O contrato, ainda que nominado de franquia, em que o franqueado recebe o direito de uso da marca ‘Correio’, na Agência de Correio Franqueada, para prestar exclusivamente o

82

Dessa, feita, as Agências Franqueadas de Correios não gozam de imunidade tributária,

pagam ISS sobre o valor da intermediação e, pagam Imposto de renda pelos lucros auferidos.

Todavia, os serviços postais, as receitas auferidas pela prestação destes ou qualquer outra

receita que seja repassada para a ECT, não poderá haver qualquer tributação.

5.3 Obrigatoriedades fiscais das franqueadas

As obrigações fiscais pertinentes as Franqueadas de Correios, dizem respeito, as

acessórias e as principais. Sobre estas já tratamos no item 4.12, do capítulo anterior. As

primeiras se referem às obrigações de fazer e não fazer no interesse da arrecadação das

primeiras. A segunda tem por objeto o pagamento do tributo ou penalidade pecuniária.

Com efeito, no caso dos valores arrecadados pelas Agências Franqueadas de Correios,

pertinentes aos serviços postais e outros correlatos, cujos valores são repassados para a

Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, não haverá qualquer responsabilidade, nem

principal, tampouco acessória. Em síntese, não se paga tributos e também não se emite

qualquer nota fiscal ou declarações, haja vista não existindo as obrigações principais, as

obrigações acessórias referentes aquelas inexistem.

atendimento e a comercialização de serviços e produtos prestados ou vendidos pela franqueadora, remunerado com comissões, sob a forma de participação sobre as vendas, caracteriza-se por agenciamento e, como tal, esta enquadrado no item 50, da Lista de Serviços anexa ao Decreto-Lei nº 406/68 e Lei Complementar nº 56/87 e tributado pelo ISSQN de competência do Município. Não é da natureza do contrato de franquia que o franqueador pague algum valor ao franqueado, mas sim que este pague àquele a taxa de franquia e o royalty. Não há que se falar em imunidade recíproca quando a tributação não recai sobre as tarifas cobradas mas sobre a comissão recebida pelos serviços prestados pelo agenciador.APELAÇÃO NÃO PROVIDA." (fls. 100) Alega-se violação do disposto nos arts. 22, V, e 150, VI, a, da Constituição.O recurso não merece seguimento.Verifico que a argumentação constante das razões do recurso extraordinário não ataca os fundamentos da decisão recorrida, quais sejam, a caracterização do ajuste celebrado entre a ECT e a recorrente como contrato de agenciamento e a constatação de que o ISSQN não estaria a incidir sobre a tarifa cobrada pelos serviços postais, mas sobre a comissão recebida pela recorrente em razão do agenciamento. Aplica-se, portanto, o disposto na Súmula 284/STF.Ademais, mesmo que superado tal óbice, observo que concluir diversamente do Tribunal a quo demandaria o prévio exame de cláusulas contratuais, da legislação infraconstitucional e do quadro fático-probatório, o que é vedado no âmbito de cognição do recurso extraordinário por força do disposto nas Súmulas 279, 454 e 636/STF.Do exposto, nego seguimento ao recurso extraordinário.Publique-se.Brasília, 9 de agosto de 2010.Ministro JOAQUIM BARBOSA Relator.

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De modo peculiar, a respeito das obrigações acessórias existirem para proporcionar o

cumprimento das principais, vale a pena recorrermos novamente as palavras do mestre Hugo

de Brito, que assim escreveu:78 “O ser acessória, em Direito Privado, significa estar ligada a uma outra determinada obrigação. O caráter de acessoriedade manifesta-se entre uma determinada obrigação, dita principal, e uma outra, também determinada, dita acessória. No Direito Tributário não é assim, mas o caráter de acessoriedade não deixa de existir, embora sob outro aspecto.Realmente,em Direito Tributário as obrigações acessórias não precisariam existir se não existissem as obrigações principais.São acessórias, pois, nesse sentido. Só existem em função das principais, embora não exista necessariamente um liame entre determinada obrigação acessória. Todo o conjunto de obrigações acessórias existe para viabilizar o cumprimento das obrigações principais.”

Noutra ponta, as receitas que as agências franqueadas de correios auferem pelo

recebimento das comissões em virtude do agenciamento (auxilio a prestação do serviço

postal),pagas pelo do franqueador (ECT), a titulo de comissões. Sobre estas receitas e sobre o

lucro que conseguirem, não resta dúvidas de que haverá tributação (pagamento de ISS e IR),

por conseqüência, o cumprimento das obrigações acessórias (declarações e emissão de notas

fiscais no valor bruto das comissões recebidas).

Pelo pensamento exposto até aqui, evidencia-se por concluir que a imunidade recíproca,

da qual goza a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo, alcança os serviços de correios

agenciados pelas franqueadas. São receitas públicas oriundas de serviços públicos, portanto,

imunes a tributação. Por outro lado, em relação as comissões recebidas pela intermediação, as

franqueadas são obrigadas a cumprir os preceitos legais, deve pagar ISS sobre as comissões,

emitir as notas fiscais pelos valores recebidos da ECT, ou seja, as terceirizadas de Correios,

pessoas jurídicas privadas, perseguidora do lucro, não gozam de qualquer imunidade.

78 MACHADO, Hugo de Brito.Op. cit. pg.131.

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6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho monográfico procurou-se, de forma teórica, destrinçar as principais

características da Imunidade Tributária, refletidas pelos preceitos e princípios constitucionais.

Neste objetivo, partiu-se dos conceitos gerais do assunto em questionamento, chegando-se as

particularidades temáticas. Assim, de forma analítica, expusemos o porto de vista analítico

sobre as formas de imunidades, sua condição ampla e as finalidades pelas quais justificam a

incompetência para tributar , uma visão critica acerca dos reflexos que a imunidade perpassa

para a sociedade. Em suma, gozar da imunidade significa ter um ônus a ser cumprido em prol

da coletividade, independente dos custos e das dificuldades.

A Constituição é o alicerce do ordenamento jurídico. Seus preceitos têm reflexo em

todos os ramos do Direito, notadamente, guarda uma relação muito próxima com o Direito

Tributário. Neste pensar crítico, a contextualização da imunidade nos termos constitucionais,

consubstancia-se pela incompetência total das pessoas políticas em tributar umas as outras e,

as imunidades defendidas pela Carta Maior. Nessa ótica, confirma a hipótese inicial de que os

ditames da Constituição justificam e confirmam que a imunidade é ampla, abrange todo e

qualquer tributo.

Na continuidade analítica, destacamos os pontos relevantes verificados nas pesquisas,

quais sejam: a imunidade deve ser interpretada levando-se em conta os métodos histórico,

social e sistêmico; Na imunidade subjetiva (recíproca), a intributabilidade diz respeito à

pessoa política e, por conseqüência seu patrimônio, suas rendas e os serviços que presta não

terá qualquer embaraço tributário; A imunidade recíproca está fundamentada no princípio do

pacto federativo, principio da igualdade e outras preceituações inseridas pela Constituição

Federal. Em síntese, apertada, toda imunidade tem exclusiva proteção Constitucional.

Da inquirição inferida para a temática, verifica-se que a imunidade da ECT é

subjetiva(pessoal, reciproca), logo, goza a mesma dos privilégios da União e, assim sendo,

tem imunidade ampla, seja para impostos, seja para taxas ou custas.No mesmo conduto, com

relação as outras receitas, a exemplo do Banco Postal, também são imunes, haja vista serem

revertidas, aplicadas na consecução do serviço postal.

Salienta, também, o fato de que as receitas advindas por meio das agências de correios

franqueadas, também estão protegidas pela a Imunidade recíproca. Nesse sentido, de outra

forma não poderia ser, são receitas da União e, conforme preceituações constitucionais não

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podem ser tributadas. Não obstante, com relação às comissões, pagas pela a ECT, as suas

franqueadas não temos qualquer imunidade.

Por esteira crítica, chega-se a conclusão de que é de suma importância para os

estudantes de direito, profissionais da área jurídica, professores, empresários e a sociedade em

geral, conhecer a essência do tema “a Imunidade tributária da empresa prestadora de serviço

público postal”. Fenômeno de gênero, tanto no ponto de vista do Direito Constitucional,

quanto no esteiro do Direito Tributário, evidencia o papel funcional da Imunidade para a

sociedade.Quem goza de tal prerrogativa, não tem apenas bônus, mas um ônus e uma meta a

ser cumprida em prol do bem estar social.

Em análise última, o entendimento final de que restou provado a imunidade recíproca

da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafo. A mesma não tem capacidade contributiva, ou

seja, não pode suportar a carga tributária e ao mesmo tempo cumprir o encargo de prestar o

Serviço Postal de forma universal. Sem dúvidas, a incidência tributária sufocaria a prestação

dos serviços postais e serviços básicos de banco na maioria das regiões do Brasil. Necessário

também lembrar, que a riqueza da ECT faz parte do patrimônio da União e sobre este não

pode haver tributação.Assim, fica evidenciado que a imunidade da ECT é ampla, constitui-se

numa cláusula pétrea, um direito fundamental de todos os brasileiros.

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