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Material Estudo na Igreja CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA FACULDADE DE TEOLOGIA BOA VISTA – FATEBOV Uanderson Pereira da Silva CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA GOVERNADOR VALADARES - MG 2009 UANDERSON PEREIRA DA SILVA CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA Trabalho de Conclusão de Curso – exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Teologia – Submetido à Banca Examinadora do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de Teologia Boa Vista. GOVERNADOR VALADARES - MG 2009 ÍNDICE

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Material Estudo na Igreja

CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNAFACULDADE DE TEOLOGIA BOA VISTA – FATEBOV

Uanderson Pereira da Silva

CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

GOVERNADOR VALADARES - MG

2009

UANDERSON PEREIRA DA SILVA

CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA

Trabalho de Conclusão de Curso – exigência parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Teologia – Submetido à Banca Examinadora do Curso de Bacharel em Teologia da Faculdade de Teologia Boa Vista.

GOVERNADOR VALADARES - MG

2009

ÍNDICE

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INTRODUÇÃO.................................................................................................... 1

CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA NUMA SOCIEDADE PÓS-MODERNA 5

1. Paulo Torna Conhecido do Deus Desconhecido......................... 5

2. Paulo Expõe a Doutrina do Ser Humano......................................... 7

3. Paulo Fala Sobre a Ressurreição ...............................................9

4. Desafios Urbanos Pós-Modernos ...................................................... 11

CONCLUSÃO....................................................................................................13

BIBLIOGRAFIA............................................................................................ 16

INTRODUÇÃO 

Através deste trabalho acadêmico o leitor ficará inteirado com as principais estratégias missionárias de Paulo em Atos dos Apóstolos e depois refletir se essas estratégias continuam ou não eficazes nos dias de hoje.

A comunicação e suas diversas formas de expressão vem ocupar uma posição na história de missões, ou transmissão da mensagem do evangelho. Como um missionário provindo de uma cultura muitas vezes hostil à que ele está para ser inserido conseguirá levar a mensagem do evangelho, este que é carregado de uma cultura judaica, e que também é influenciado ao longo dos anos por várias outras culturas? Deve-se valer da apropriação dos princípios descritos na Palavra de Deus para ter um maior aproveitamento na comunicação do evangelho.

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A palavra contextualização vem de contexto que quer dizer “uma encadeamento de idéias. Uma composição de idéias” . Ou seja, a contextualização seria colocar para o receptor da mensagem aquilo que se quer transmitir de forma que ele venha entender em seu contexto e aplique na sua vida diária, como os profetas e os escritores bíblicos o fizeram.

O texto bíblico utilizado foi a versão atualizada da Bíblia Vida Nova e quando outra fonte foi citado a Bíblia utilizada.

Tendo em vista o tema proposto inicia-se este trabalho acadêmico definindo alguns termos, como o que é cosmovisão: Cosmo ou Cosmos: s.m.do grego Kosmos. “O Universo, considerado como um “todo organizado” e harmonioso. E visão “1. Ato ou efeito de ver. 2. O sentido da vista. 3. Ponto de vista; aspecto.” Então, cosmovisão é a visão do mundo, ou de mundos, é a percepção que esta pessoa, como indivíduo, tem de si mesmo e do mundo que o cerca, bem como daquilo que se está longe dela.

Pensando em pregação missionária teológica e contextualizada tendo por fonte de pesquisa o Novo Testamento, vê-se dois expoentes na pregação da Igreja Primitiva: Pedro e Paulo. O primeiro muito mais pelo sermão pregado no Pentecostes (Atos capítulo 2) e o sermão incompleto pregado na casa de Cornélio (Atos capítulo 10). Com relação a Paulo, temos os sermões transcritos em Atos, o primeiro na sinagoga de Antioquia da Psídia (capítulo 13), o segundo no Areópago, em Atenas (capítulo 17), o terceiro em Mileto, aos anciãos da Igreja em Éfeso (capítulo 20), o quarto ao povo judeu irado, em Jerusalém, o que na verdade não pode ser considerado um sermão, mas um testemunho pessoal (capítulo 22) e o derradeiro na presença do rei Agripa (capítulo 26). Além disso, as treze epístolas atribuídas à autoria paulina igualmente podem nos auxiliar neste intento.

Neste trabalho acadêmico abordar-se-á questões referentes à pessoa do apóstolo Paulo, sua obra, seu zelo, sua concepção e a ardor missionário. Suas viagens produziram uma obra, que foi o estabelecimento de igrejas em diversas cidades do Império Romano. 

O que os escritores querem dizer quando escrevem a respeito das bases para a evangelização? Serão suficientes as referências a regras, métodos, significados, alvos e bênçãos? Qual deve ser a motivação? Quais são os reais propósitos da comunicação do evangelho, seja nessa, ou naquela cultura? Como o missionário deve encaixar a mensagem na sociedade do mundo moderno, ou pós-moderno?

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A barreira lingüística provoca muito desânimo e desentendimento na comunicação. Além da dificuldade de se aprender um novo idioma, existe a nova cultura, e conhecimento gerais necessários à compreensão do campo como um todo. Quando em Atos o Espírito Santo enche os apóstolos estes começam a falar em línguas, na línguas nativas dos judeus, ali reunidos provindos de várias nações: pardos, medos, persas dentre outros. Quando Felipe vai pregar ao eunuco lhe explica uma passagem de Isaías, e muito provavelmente foi ele quem iniciou uma igreja ali na Etiópia. 

Quando for apresentado os fundamentos bíblicos e os propósitos da comunicação do evangelho ficará claro aos missionários que precisam suprir a grande necessidade de entender os métodos e a realidade do evangelho em sua comunicação transcultural.

Enormes alterações ocorrem no meio social. O que dirá em outras culturas. Algumas permanecem como que intactas outras nem tanto. O missionário deve perceber quão diferentes são as realidades social e cultural e as influências, em relação àquelas experimentadas pela cultura, na qual será, ou está, inserido. Essas considerações poderão refletir em perspectivas que, talvez, se consumem numa melhor transmissão do evangelho.

Parece que o enfoque tem sido outro. Tem-se tencionado o “crescimento de Igrejas” e não a proclamação do evangelho e a edificação de Igrejas pela Palavra de Deus.

A missiologia está sempre presente, levando a comunidade eclesial a atuar de modo a obedecer a ordem de seu Senhor, apontando o sentido de sua existência. A força atual da igreja só será medida quando se puser em prática a missiologia, com todos os elementos que ela supõe. 

Deus em sua soberania decidiu precisar de homens e mulheres para realizar isso de proclamar seu Filho. Por isso, os resgata, os chama, os vocaciona, os capacita e os respalda para essa obra. Esse é o papel da igreja: através da ação polarizadora do Espírito Santo levar as boas novas aos que ainda não ouviram. Ou seja, é preciso conhecer a Deus e torná-lo conhecido. Devemos para isso não medir esforços em aprender com Paulo em Atos dos Apóstolos. Em primeiro plano, analisar profundamente o que motivava o apóstolo a pregar o evangelho de cidade e cidade e as estratégias que ele usou para fazer isso. E desta forma, num segundo momento, ter uma visão clara para ver se pode-se ou não usar essas mesmas motivações e estratégias para a transformação da sociedade vigente através da obra redentora e reconciliadora de Jesus Cristo, proclamado com profundidade teológica e fervor missionário. Assim o Deus que não é conhecido de muitas culturas, ou mesmo adorado como em Atenas, como sendo

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um Deus desconhecido que operou outrora, trazendo de volta um conceito real de Sua presença e soberania neste mundo tão cheio de novas idéias, de novas formas, de novos, ou nenhum absoluto. Onde tudo é relativo na atual ”Atenas Global”. Onde os altares aos deuses são levantados e derrubados, na ânsia de uma mudança de se ter esperança, de se ter fé, de ver além desta realidade. Urge diante de nós a necessidade de levar ao mundo a cosmovisão cristã, para que renasça uma nova perspectiva de vida, um real cristianismo, sem barreiras, sem fronteiras lingüísticas, culturais. Algo sólido mesmo em mundo onde não se tem onde apoiar.

O desafio é grande e cabe a aqueles que se interessam por missões, e que são fiéis e sinceros servos do Deus Altíssimo analisar a Palavra como fora dito antes, e procurar nela bases para uma nova transmissão da mensagem do evangelho. Algo que seja claro, e atraente ao pecador, mas que o leve à cruz de Cristo, que mostre que Ele é o caminho, a verdade e a vida. Por isto a validade da analisa da vida deste grande apóstolo que foi Paulo. Tendo como ponto de partida Atos dezessete e sua empolgante e intrigante pregação no areópago.

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Em Atos 17, pode-ser ver que Paulo foi levado e convidado a expor seu ensino perante o areópago. Não há como saber se Lucas quer que se entenda que ele falou no Pórtico Real ou no próprio Areópago. 

Esta última é a opinião tradicional; os que visitam Atenas hoje em dia, podem ver o texto do discurso de Paulo no tribunal, inscrito em bronze no sopé do monte. 

Alguns temas desse discurso já apareceram no resumo do protesto de Barnabé e Paulo perante os moradores de Listra que se preparavam para lhes prestar honras divinas, mas a Areopagítica é mais completa, mais detalhada e adaptada ao ambiente intelectual de Atenas. Em Atenas, como antes em Listra, o Paulo de Atos não cita expressamente as profecias do Antigo Testamento, que, provavelmente, sua audiência não conheceria; as citações diretas que seu discurso contém, são de poetas gregos. No entanto, ele não argumenta a partir de “primeiros princípios” do tipo que formava a base de vários sistemas da filosofia grega, a exposição e defesa da sua mensagem estão fundamentadas na revelação bíblica e fazem eco ao pensamento, e às vezes à própria linguagem, dos escritos do Antigo Testamento. Como a revelação bíblica, seu discurso começa com Deus como criador de tudo, continua com Deus como sustentador de tudo, e conclui com Deus como juiz de tudo.

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1. Paulo Torna Conhecido do Deus Desconhecido

Paulo encontra seu texto, seu ponto de contato, na dedicatória de um altar que ilustra a religiosidade intensa dos atenienses - qualidade esta que impressionou muitos outros visitantes da cidade na Antigüidade. A dedicatória dizia: Agnosto Theo (“A um deus desconhecido”). Outros escritores nos dizem que altares a deuses desconhecidos podiam ser vistos em toda a cidade; se alguém lembra que nenhum deles fala de um altar “para um deus desconhecido” (no singular), pode ser suficiente dizer que duas ou mais dedicatórias “a um deus desconhecido” podem ser juntadas na referência a “altares a deuses desconhecidos” (no plural).

Contavam-se várias histórias para explicar essas dedicatórias anônimas; de acordo com uma, elas foram feitas sob a orientação de Epimênides, um sábio de Creta e um dos poetas citados no discurso. Quaisquer que tenham sido as circunstâncias ou intenções originais da inscrição que Paulo tomou como texto, ela interpreta como confissão da ignorância a respeito da natureza divina, e diz que o propósito da sua vinda é desfazer essa ignorância.

Em seguida, ele passa a instruí-los na doutrina de Deus. Primeiro, Deus criou o universo com tudo o que ele contém; ele é senhor do céu e da terra. Essa é a terminologia da revelação bíblica: o Deus Altíssimo é aquele “que possui os céus e a terra” (Gn 14.19,22); “Ao Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém” (Sl 24.1). Não se abre nenhuma concessão ao paganismo helenista; não se faz nenhuma distinção entre o Ser Supremo e um “demiurgo” ou mestre de obras que deu forma ao mundo, porque o Ser Supremo era puro demais para se contaminar com a ordem material.

Em segundo lugar, Deus não habita santuários feitos por mãos humanas. Estêvão, em sua defesa perante o Sinédrio, faz essa afirmação em relação ao templo de Jerusalém, construído para a adoração do Deus vivo; muito mais Paulo podia se sentir à vontade para fazê-la perante o Areópago, tendo diante dos olhos todos os templos magníficos que coroavam a Acrópole, dedicados a deuses que não eram deuses. O paganismo mais elevado, realmente, reconhecia que nenhuma estrutura material poderia abrigar a natureza divina: “Que casa feita por construtores”, perguntou Eurípedes, “poderia conter dentro do limite das paredes a forma divina?” As afinidades da terminologia de Paulo, porém, são bíblicas e não clássicas.

Em terceiro lugar, Deus não exige nada dos que ele criou. Nisso também se podem traçar paralelos com o argumento de Paulo da literatura grega clássica. O Eutrifo de Platão vem à mente. Paulo, contudo, está bem no meio da tradição profética. Os profetas e salmistas, em suas épocas, tiveram de refutar a idéia de que o Deus de Israel, em alguma medida, dependia do seu povo e das suas ofertas; seu povo é que dependia

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totalmente dele. Por isso, no salmo 50.9-12, ele recusa os sacrifícios deles nestes termos:

De sua casa não aceitarei novilhos,

nem bodes, dos teus apriscos.

Pois são meus todos os animais do bosque

e as alimárias aos milhares sobre as montanhas.

Conheço todas as aves dos montes,

e são meus todos os animais 

que pululam nos montes.

Se tivesse fome, não to diria,

pois o mundo é meu e quanto nele se contém. 

Essa é precisamente a ênfase de Paulo, quando ele declara que, se Deus aceita culto do ser humano, não é porque não pode passar sem ele. Longe de ser suprida alguma necessidade pelo ser humano, é ele quem supre toda necessidade deste.

2. Paulo Expõe a Doutrina do Ser Humano

Como o criador de todas as coisas em geral é o criador da raça humana em particular, Paulo passa da doutrina de Deus para a doutrina do ser humano.

Em primeiro lugar, o ser humano é um só. Os gregos podem se orgulhar da sua superioridade natural em relação aos bárbaros; os atenienses podem se vanglorizar de ser, diferentes dos outros gregos, autóctones, provindos do solo da sua própria Ática. Mas Paulo afirma que a raça humana tem uma só origem, criada por Deus e descendente de um ancestral comum. Perante Deus, todas as pessoas se encontram no mesmo nível.

Em segundo lugar, a habitação terrena do ser humano e o curso das estações preparados para o seu bem-estar. Isso também é uma posição bíblica. A terra, de acordo com Gêneses 1, foi formada e adequada para ser o lar do ser humano, antes que este

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fosse introduzido como seu morador. Além disso, parte da formação e adequação do lar do ser humano na terra consistiu no preparo de “tempos” para sua habitação. A primeira destas está implícita em Deuteronômio 32.8: “Quando o Altíssimo repartia as nações, quando espalhava os filhos de Adão, ele fixou fronteiras para os povos, conforme o número dos filhos de Deus”.

Os “tempos” devem ser identificados ou com a seqüência de semeadura e colheita (como no discurso de Listra) ou com as épocas da história humana (como nas visões de Daniel).

Em terceiro lugar, o propósito de Deus em fazer esses preparativos foi que as pessoas pudessem procurar e encontrá-lo - um anseio muito natural, porque elas provêm dele, e ele as ajuda em satisfazê-lo, estando próximos delas. É aqui que a terminologia do discurso mostra maiores afinidades helenistas, mas para uma audiência diferente Paulo poderia ter expressado o mesmo pensamento, dizendo que o ser humano é criatura de Deus, feito à sua imagem. Para sua audiência ateniense ele fundamenta sua afirmação com duas citações de poetas gregos que pressupõe o relacionamento do ser humano com o Senhor Supremo.

A primeira citação se baseia na quarta linha de um quarteto atribuído ao cretense Epimênides, que denuncia seus conterrâneos por seu atrevimento, ao dizer que o túmulo de Júpiter podia ser visto em Creta:

Fizeram um túmulo para ti, é santo e sublime -

Os cretenses, sempre mentirosos,

animais ferozes, comilões vadios!

Mas não estás morto:

vives e permaneces para sempre,

Pois em ti vivemos, nos movemos e existimos. 

A segunda vem do poema sobre Fenômenos naturais de Arato, conterrâneo de Paulo na Cilícia, um poeta influenciado profundamente pelo esoterismo. Esse poema começa com uma celebração de Júpiter - Júpiter, o Ser Supremo da filosofia estóica, e não Júpiter, o chefe do panteão mitológico grego:

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Comecemos com Júpiter; jamais, ó homens, o deixemos sem ser mencionado. Cheios de Júpiter estão todos os caminhos e todos os pontos de encontro do homens; o mar e os portos estão cheios deles. É com Júpiter que cada um de nós tem a ver em todos os sentidos, porque dele também somos geração. 

Não se quer dizer que o Paulo de Atos (muito menos o Paulo que conhecemos das suas cartas) entendia Deus em termos do Júpiter do panteísmo estóico, mas se pessoas que seus ouvintes reconheciam como autoridades tinham usado uma linguagem que podia corroborar seu argumento, ele citaria suas palavras, dando-lhes um sentido bíblico, ao fazê-lo. Paulo queria mostrar aos seus ouvintes a responsabilidade de todas as pessoas, como criaturas de Deus em quem ele tinha soprado seu fôlego de vida, de lhe dar a honra devida. E essa honra não é prestada, quando se retrata a natureza divina sob formas materiais. Novamente ouvimos o eco da profecia e salmodia hebraica, quando a idolatria pagã está em vista (Sl 115.4): “Prata e ouro são os ídolos deles, obra das mãos de homens”.

Por fim, Paulo faz um chamado ao arrependimento. Sua ignorância da natureza divina era culpável, mas Deus fora misericordioso e não a levara em conta. Como às pessoas em Listra foi dito que até então Deus “permitiu que todos os povos andassem nos seus próprios caminhos”, com a implicação de que agora se apresentava um novo começo, assim, aos membros do Areópago, é dito que a recente ressurreição de Cristo é a garantia de que, por meio dele, Deus irá “julgar o mundo com justiça” - mais um eco dos salmistas hebreus, que anunciaram que Deus “julgará o mundo com justiça e os povos, com eqüidade” (Sl 98.9). O “varão que destinou” para executar esse julgamento é facilmente identificado “como o filho do Homem” que, em Daniel 7.13s, é visto recebendo autoridade mundial do Ancião de Dias, e por isso com aquele a quem, de acordo com João 5.27, o Pai “deu autoridade para julgar, porque é o Filho do Homem”.

3. Paulo Fala Sobre a Ressurreição

Não há nada, porém, que confirme a idéia de que a “palavra da cruz” foi omitida da Areopagítica por uma questão de tato, porque se sabia que era loucura para os gentios; qualquer menção da cruz não teria parecido mais tola a esses gentios em particular do que a observação com que o discurso concluiu - sobre a ressurreição. Deus, diz Paulo, confirmou a certeza do futuro dia do julgamento, trazendo de volta da morte o homem por meio de quem esse julgamento seria executado.

Se entendermos o discurso em termos realistas, alguns ouvintes podem ter perguntado mais sobre esse homem - particularmente, o que havia nele que fez com que fosse ressuscitado. Se o entendermos em termos estilísticos, vemos que ele termina com uma

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conclusão apropriada. Mas o conteúdo da conclusão era totalmente inaceitável para a maioria dos ouvintes. Se Paulo tivesse falado da imortalidade da alma, teria prendido a atenção da maioria dos seus ouvintes, com exceção do epicureus, mas a idéia da ressurreição era absurda. Quando o ateniense Ésquilo, autor de tragédias, meio milênio antes, descreveu a instituição do tribunal do Aerópago por Atenas, a deusa padroeira da cidade, fizera o deus Apolo dizer:

Quando o pó endureceu o sangue de alguém, Uma vez morto, não há ressurreição. 

A palavra para ressurreição ali (anástasis) é a mesma que Paulo usou. Com que propósito esse homem veio a Atenas com essa conversa de ressurreição, quando todo ateniense sabia, com base na maior autoridade, que algo assim não podia acontecer?

Zombaria descarada e despedidas polidas foram as principais respostas à exposição que Paulo fez do conhecimento de Deus. Informa-se que um membro do tribunal do Areópago creu em sua mensagem - Dionísio, que divide com o apóstolo a honra de ter uma rua com seu nome na Atenas de hoje, e que, por volta de 500 d.C., serviu de pseudônimo para o autor de um conjunto literário de neoplatonismo e teologia mística. Entre os outros poucos que seguiram Paulo em Atenas, é feito menção especial a uma mulher chamada Damaris, da qual não se diz nada mais. Dos que foram persuadidos a tomar uma ação positiva pode ser dito, como foi dito dos tessalonicenses convertidos, que eles, “deixando os ídolos, se converteram a Deus, para servir o Deus vivo e verdadeiro e para aguardar dos céus o seu Filho, a quem ele ressuscitou dentre os mortos, Jesus, que nos livra da ira vindoura” (I Ts 1.9s). Há pouca menção explícita da theologia crucis nessas palavras de Paulo, assim como no discurso no Areópago, mas seria uma atitude muito precária inferir que Paulo não disse nada sobre a cruz em Tessalônica. Entretanto, não ouvimos de nenhuma igreja em Atenas na era apostólica, e quando Paulo fala das “primícias da Acaia”, é a uma família em Corinto que ele se refere (I Co 16.15). 

Paulo parte do pressuposto da necessidade do conhecimento de seu ouvinte ao transmitir sua mensagem, a mensagem de salvação. Quiçá a igreja aprenda com ele a transmitir sua mensagem ao mundo pós-moderno, contextualizando-a de forma a expandir o Reino de Deus.

4. Desafios Urbanos Pós-Modernos

Existem três desafios que se precisa visualizar e analisar para realizar esta missão urbana para a realidade contextualizada. 

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O primeiro é o pluralismo cultural constitutivo da sociedade urbana contemporânea. O mundo urbano traz pessoas dos mais diversos cantos e com culturas próprias, dentro até do mesmo país. Isso faz com que a cidade se torne uma aglomeração de diversificadas culturas, e conseqüentemente havendo um sincretismo cultural próprio em cada comunidade. 

O segundo desafio nasce do caráter multi-religioso e secular. As pessoas não se importam mais com a “religião da família”, mas com aquilo que pode trazer vantagens ou alívios pessoais. Na vida urbana, o importante é o bem estar, mesmo que pra isso seja necessário abandonar alguns princípios herdados ou aprendidos. 

O terceiro desafio surge das tremendas desigualdades de que são objetos muitos que vivem hoje nos espaços urbanos. Um desafio para vivermos na cidade em paz, justiça e solidariedade, sem nenhum tipo de exclusão social, econômica, religiosa, racial, cultural etc.. Diante dos desafios precisa-se tomar posições certas para realizar uma “missão urbana para a realidade”. 

A primeira posição é de uma pastoral comunitária acompanhada de uma teologia transformadora da cultura. 

A segunda posição é de uma pedagogia dessa teologia. Não adianta saber somente os conteúdos dela, é necessário inculcá-las. Para isso é necessária uma pedagogia que responda às necessidades das pessoas da cidade. 

Em terceiro lugar é necessária uma práxis voltada para as pessoas, tendo como sujeito primeiro a comunidade eclesial. Essa comunidade sarada e preparada para apregoar as três posições acima se torna o agente de pastoral que o mundo necessita.

Este é o mundo atual. Um mundo pós-moderno onde não se vê mais aquela vida agrária, onde em sua maioria as pessoas querem mais informações e a mensagem do evangelho deve ser atrativa, no sentindo de comover o coração e mente das pessoas a ouvirem a mensagem de amor do Senhor. Tem que ser uma mensagem contextualizada que atenda aos anseios dos ouvintes pós-modernos, levando-os a Cristo de uma forma viva e eficaz.

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CONCLUSÃO

No Brasil, 81,23% das pessoas estão morando em áreas urbanas (IBGE - censo 2000). Nos Estados Unidos, esse contingente já chegou a 90% da população. O número de mega-cidades (com mais de 10 milhões de habitantes) chegará à 26 até 2015, e nesse mesmo ano a ONU alerta que cerca de 4 bilhões de pessoas morarão em conglomerados urbanos. 

Numa reunião de pastores de uma determinada cidade, um deles indagou porque o povo não ia à igreja. Muitas respostas poderiam ser dadas para essa pergunta. Mas a principal razão é que as igrejas não atendem as necessidades reais das pessoas. A ação, como igreja, se restringe à mensagens irrelevantes, alienantes e descontextualizadas. 

Uma missão voltada para as necessidades das pessoas pode fazer muita diferença. Ela deve-se desenvolver num ministério para as pessoas. No episódio da transfiguração (Lc 9. 28-36), onde os discípulos queriam ficar na montanha, o Mestre relembrou que é junto do povo que teriam que estar. 

Os missionários devem estar prontos ao mesmo tempo para orar no “monte” e depois descer para junto do povo. Estar junto do povo nos faz ver a realidade que as pessoas estão inseridas e descobrir quais são suas reais necessidades, e conhecer sua linguagem, seu contexto. 

Observando a vida deste grande apóstolo e seu preparo seja como judeu, como fariseu, sua formação filosófica, a influência grega em seus pensamento, sendo que sua transformação de vida é o que mais importa, pois daí em diante ele vê o mundo em uma nova cosmovisão, não a visão paulina, mas a de Cristo. A visão de mundo, de Reino de Deus. Sabedor de que este deve ser expandido até aos confins da terra a igreja através daqueles que são vocacionados devem investir esforços de ordem financeira, de oração, e mesmo de envio para o mundo seja alcançado pra Cristo.

Após passar por uma igreja enviava suas cartas que são verdadeiros compêndios teológicos, de onde a igreja veio a se firmar. Apesar de parecer loucura a cruz, a pregação do evangelho Paulo preferiu ser louco para o mundo, mas sábio para Deus, como diz aos coríntios, em sua primeira carta.

Paulo empreendia seus esforços missionários, não de forma aleatória, mas sim de forma

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estratégica. Chegando nas cidades procurava primeiro as sinagogas, ou um lugar onde pudesse expor suas idéias ao maior número de pessoas possível. E mesmo preso adiante da guarda pretoriana sua estratégia continuava vigente. Tal era seu amor por Cristo e por sua obra, que deixava sua própria vida, a qual considerava não sendo dele, mas de Cristo.

Não tinha medo de pregar aos filósofos, nem de estar diante de reis, governadores, embaixadores, tinha a ousadia de Pedro, mas um conhecimento necessário para conhecer as linhas de sua época e traçar pensamentos lógicos, inteligíveis ao seu público, fez como poucos uma contextualização das verdades bíblicas aos problemas da humanidade. 

Se Paulo vivesse na pós-modernidade tempos não teria dificuldades de atender às necessidades de informações, de contextualização, de demonstração de Espírito e de Poder, pois suas mensagens estavam calcadas na Palavra, a firme verdade de Deus. O conhecimento dos símbolos somente o ajudavam a contextualizar a verdade. O conhecimento de seus ouvintes, ou leitores, era de suma importância, até mesmo porque eram motivos de oração do apóstolo. Que diz em Romanos capítulo dez, que a fé vem pelo ouvir e ouvir a palavra de Deus.

Os desafios atuais são grandes, mas frente a vida deste descomunal apóstolo, os missionários e pregadores da palavra podem encontrar material suficiente, e motivação necessárias de que no Senhor nosso trabalho não é vão.

Daí a real necessidade de primeiro se ter um encontro com Cristo, ter um conhecimento firme e sólido da palavra, e uma formação Bíblica-acadêmica-teológica, de forma semelhante, para que o mesmo saiba como contextualizar sem contudo, desfigurar as verdades da palavra de Deus.

A Contextualização é isto é a transmissão de forma clara e concisa, mesmo em meio a inúmeras idéias, e desafios, que tentam abafar os ouvidos, e inquietar os corações menos avisados.

O Desafio é grande, mas o próprio Senhor disse que estaria com a sua Igreja todos os dias e até aos confins da terra, e que enviaria o consolador que diante de reais dificuldades renova as forças, realça as motivações e faz a igrejas lembrar as Palavras de Jesus e converte o pecador a Cristo. O próprio Espírito pode-se também dizer, que é agente causador nesta contextualização, digerindo e impregnando no coração humano a verdade do evangelho. Que sua igreja aprenda com Ele, e que possa preparar melhor

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seus obreiros para esta grande seara, com a mensagem que pode tornar o homem pós-moderno sábio, mas sábio para a salvação.

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WILLOWBANK REPORT. O Evangelho e a Cultura. Trad. José Gabriel Said. 3a ed. São Paulo: ABU / Visão

Por Leonardo Gonçalves

Para iniciar nosso estudo, trabalharemos três conceitos de missões:

• Fundamentalismo missiológico: Rejeita a cultura, demonizando-a e se fechando para aquilo que ela pode oferecer.• Liberalismo missiológico: Absorve a cultura, mesmo em seus aspectos negativos, culminando em paganizarão da fé• Evangelismo missional: Dialoga com a cultura absorvendo e respeitando os valores que servem ao evangelho, ao mesmo tempo em que rejeita aquelas noções, muitas vezes tidas como culturais, que estão em oposição ao evangelho de Cristo.

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Exemplo de fundamentalismo missiológico: Igrejas plantadas por missionários europeus e estadunidenses em meados do século 19 e 20. Os missionários impunham padrões de vestimenta européia aos habitantes de países tropicais. Também importavam seus instrumentos e cânticos, não valorizando a cultura autóctone. Tal tendência pode ser observada nas igrejas pentecostais.

Exemplo de liberalismo missiológico: O movimento missionário cristão pós-constantino, que tinha como estratégia absorver a cultura dos países aos quais pregava, sem questionar a validade de tais práticas. Assim, a igreja sacramentalizou a cultura, colocando-a acima do evangelho. Tal tendência pode ser observada no catolicismo, no neopentecostalismo (contextualizando com a cultura capitalista) e no movimento emergente liberal, que trata questões como aborto e homossexualismo como demandas culturais, ao invés de práticas pecaminosas.Exemplo de evangelismo missional: A pregação de Jesus a mulher samaritana, onde o mestre pregou a mensagem de salvação a partir do contexto cultural daquela mulher; Paulo no areópago de Atenas, ao citar os filósofos pagãos em sua mensagem, criando uma ponte cultural através da qual introduziu o evangelho.

No entanto, o evangelismo missional dialoga com a cultura, sem ignorar o fato das culturas estarem manchadas pelo pecado. Assim, ele reconhece que nem tudo que é tido pelo homem moderno como valor cultural é aceitável diante de Deus. No fundamentalismo missiológico, a cultura é ignorada; no liberalismo cultural ela é endeusada e sobreposta ao evangelho. Já o cristianismo missional conversa com as diferentes culturas usando-as como ferramenta de contextualização, ao mesmo tempo em que rejeita valores culturais que se opõem a mensagem cristocêntrica.

Usando a cultura em favor do evangelho: Construindo pontes culturais para pregar o evangelho em um ambiente cultural diversificado

Se pudermos resumir a missiologia urbana e transcultural em uma só palavra, esta palavra é contextualização. Contextualizar significa apresentar idéias e pensamentos levando em consideração o contexto das pessoas, de modo a comunicar os fatos com maior clareza. Houve um tempo em que a contextualização era um principio distante, uma ferramenta usada apenas pelos missionários transculturais. No entanto, as demandas do mundo moderno e o ambiente policultural fazem da contextualização uma ferramenta indispensável à igreja contemporânea. A igreja que não contextualizar sua mensagem fossilizará e se tornará irrelevante para a sociedade ao seu redor.

Em Atos 17, o apostolo Paulo fez seu célebre discurso no areópago de Atenas. Cercado pela elite intelectual daquela cidade, ele apresentou um sermão engajado, no qual citava de memória os filósofos e poetas gregos, demonstrando afinidade com os temas de predileção daqueles homens. E foi assim, começando pelos poetas gregos que o doutor dos gentios conduziu seus ouvintes a mensagem de arrependimento. Quando Paulo mencionou a ressurreição, muitos se escandalizaram e se foram, mas Dionísio e alguns dos presentes se converteram ao cristianismo. Paulo foi sábio porque soube usar a cultura em seu benefício, construindo uma ponte por meio da qual introduziu o evangelho.

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O diálogo de Jesus com a mulher samaritana, em João capítulo 4, também é fundamental para nosso entendimento acerca da contextualização. Nele, Jesus aborda o tema da salvação usando um dos elementos que fazia parte do cotidiano daquela mulher, a água. Ele era judeu, ela uma samaritana, e havia uma grande rivalidade entre ambos os grupos, mas Jesus iniciou seu diálogo a partir de um ponto em comum: o poço de Jacó (que era historicamente importante para judeus e samaritanos), e a sede existencial que todo ser humano tem. Assim, Jesus conseguiu apresentar o evangelho a mulher de forma eficaz, e ainda foi introduzido por ela a aldeia dos samaritanos.

Em todas as culturas existem determinados elementos que são comuns, e que devem ser explorados pela igreja em sua tarefa missionária. Uma igreja que deseja ser relevante deve estudar o grupo que deseja alcançar e, a partir desta analise, definir o tom da palestra, o estilo litúrgico, os ritmos musicais, a decoração do ambiente e definir as estratégias que facilitarão o diálogo com as pessoas que ela deseja alcançar. Se a igreja for “poli” ou “multicultural”, é bom que ela tenha programas específicos e ministros auxiliares que atuem como missionários para cada grupo alcançado (crianças, adolescentes, jovens, adultos, idosos, estudantes, universitários, profissionais, undergrounds, etc.). Não pode, porém, permitir que a abordagem ocasione divisão ideológica ou partidarismos, pois a igreja é um misto de povos, línguas, etnias, todos em torno de uma só verdade.

Por ultimo, deve-se sempre lembrar que na contextualização o que varia é a apresentação, e não o conteúdo. O missionário é aquele que apresenta a mesma verdade de diferentes modos à diferentes culturas, e não aquele que apresenta verdades diferentes a cada cultura. Os métodos podem variar, mas o conteúdo é sempre o mesmo.

Quando os valores culturais conflitam com o evangelho: Uma abordagem missiológica da cultura da América Ibero-hispana

Um vídeo divulgado pela JOCUM mostra crianças portadoras de deficiências sendo enterradas vivas pelos pais em uma aldeia indígena. Para os índios daquela tribo, tal prática é aceitável. Para os antropólogos, trata-se de uma questão cultural. Para o evangelho, aquilo é assassinato.

No Brasil, ainda existe uma forte tendência machista, que despreza o trabalho feminino. Mulheres que trabalham ganham menos, mesmo que exerçam a mesma função. Para grande parte dos homens brasileiros, isso é um valor cultural, mas para o evangelho, isto é acepção, por tanto, pecado.

Na América Hispana a mesma tendência cultural existe, sendo mais forte em algumas regiões. Demonstrações de afeto dos pais para com os filhos são tidas como fraqueza, e muitos maridos, por “imposição cultural”, maltratam suas mulheres e são violentos. Para a sociedade isso é cultura, mas para o evangelho, é pecado.

Nos EUA e na Europa, as pessoas tem desenvolvido uma tendência materialista e cética, onde o individualismo e o egoísmo são as marcas principais. O mesmo tem

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acontecido na América Latina, embora com menor intensidade. Este individualismo, egoísmo e ceticismo são todos nuances da cultura pós-moderna, mas são totalmente opostos ao evangelho, que é espiritual, coletivo e altruísta. O que os modernos sociólogos chamam de cultura, a bíblia chama de pecado.

Assim, podemos concluir que a abordagem comum que se faz da missiologia, que diz que o missionário deve coincidir totalmente com a cultura é sofisma. O evangelho não é uma esponja que simplesmente absorve a cultura, mas um poder que redime as culturas. A Palavra de Deus nos dá claro e amplo entendimento para discernir entre valores culturais e vícios morais. Quando se ignora isso, abrem-se as portas para o sincretistimo e paganizarão da religião cristã.

O princípio redentor da cultura na bíblia sagrada: Como o evangelho desafia os pressupostos culturais

Na bíblia vemos diversos exemplos que nos possibilitam vislumbrar os limites entre cultura e pecado. Talvez o primeiro deles seja a recomendação do Senhor ao seu povo, quando eles entram na Terra Prometida, de que eles não deviam seguir os caminhos das nações. Obviamente, muitas daquelas noções religiosas cananéias eram parte de uma cultura, mas elas não deviam ser absorvidas pelos hebreus.

Embora usado pelos missiólogos como paradigma de missionário transcultural, o estadista Daniel, juntamente com seus amigos, se recusou a comer dos manjares do Rei, e também não tomou do seu vinho, que era consagrado a ídolos. Eles estavam submersos na cultura babilônica, mas sabiam separar pressupostos culturais, conceitos morais e crenças religiosas.

Jesus em sua encarnação foi judeu em todo aspecto da existência. No entanto, o fato dele mesmo ser judeu e de estar contextualizando com os judeus não o impediu de denunciar a hipocrisia dos fariseus que lavavam as mãos cerimonialmente antes de comer, quando seus corações continuavam impuros. Ele também se levantou contra o costume de consagrar seus bens ao Senhor quando parentes próximos passavam necessidade. Jesus foi missionário transcultural, mas não se submeteu incondicionalmente a cultura hebréia. Ele a redimiu.

Tudo isso nos revela que o evangelho não é apenas um agente passivo e submisso à cultura, mas um agente transformador.

“O evangelho se submete à cultura na mesma proporção em que a cultura se submete ao evangelho, e desafia a cultura com a mesma intensidade que a cultura afronta a Palavra de Deus”Conclusão

O tema deste estudo é na verdade uma incógnita no coração de muitos missionários urbanos e transculturais: “Como pregar o evangelho em um ambiente multicultural?”. Entendemos que a primeira coisa que o missionário deve fazer é encontrar a divisa entre a valorização da cultura e a absorção de valores opostos ao

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evangelho, posicionando-se de modo que lhe possibilite comunicar a mensagem de forma contextual e engajada, ao mesmo tempo em que resguarda os pressupostos absolutos contidos nas Escrituras.

Para isso ele deve usar a cultura a seu favor, rejeitando aqueles valores que, embora tidos por tendências culturais e modernas, se opõem ao evangelho. Ele deve dialogar com a cultura e usá-la como ferramenta pedagógica, mas não pode jamais endeusá-la, sobrepondo-a ao evangelho de Cristo. Por último, deve entender que o evangelho não é apenas um agente passivo e submisso à cultura, mas um agente transformador que muitas vezes se revela como principio contracultural, desafiando o status quo e redimindo a cultura ao nosso redor.

Questionário para discussão:

1. Quais as diferenças entre fundamentalismo missiológico, liberalismo missiológico e evangelismo missional? Onde podemos encontrar exemplos em nossa cultura?2. O que significa contextualização? Apresente exemplos bíblicos de contextualização do evangelho.3. Que estratégias sua igreja pode desenvolver para pregar o evangelho de um modo mais contextualizado?4. O que pode acontecer com o missionário, quando ele não compreende que todas as culturas estão manchadas pelo pecado?5. Apresente exemplos de tendências culturais que, embora em voga no mundo, não devem ser assimilados pelo evangelho.6. Que comportamentos culturais da sua cidade o evangelho precisa redimir? Que comportamentos culturais na sua igreja não estão de acordo com o evangelho?7. Apresente exemplos bíblicos de pessoas que rejeitaram ou mesmo se opuseram a valores culturais do seu tempo.8. Como este estudo te ajudará a pregar o evangelho em um ambiente policultural e pós-moderno?***Leonardo Gonçalves é missionário no Peru e editor do Púlpito Cristão. Seminário ministrado na Iglesia Bautista Misionera, 16/10/2010

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FENÔMENO E CONTEXTO, A MENSAGEM DE PAULO EM ATENAS.Para fundamentar nossa premissa de que para que haja comunicação intercultural eficaz é preciso que haja conhecimento cultural prévio. Vejamos um antigo relato que segundo Richardson (1995), citando um autor grego do século III a.D. , provavelmente aconteceu em alguma época, durante o sexto século antes de Cristo, numa reunião do Conselho da Colina de Marte (Acrópole). Uma praga cruel grassava a já mundialmente conhecida cidade de Atenas. Segundo o autor, o conselho da cidade se reuniu para deliberar a respeito de uma possível solução para este calamitoso problema. Diz a história que para isso, eles consultaram o Oráculo de Pítias (na pessoa de uma sacerdotisa), e que este lhes ordenou que procurassem em Cnossos, na Ilha de Creta, por um certo Epimênides, este, teria uma resposta para o terrível problema. O escolhido para ir ao encontro de Epimênides foi Nícias, um dos membros do conselho. Nícias, imediatamente empreendeu viagem e dentro de pouco tempo já se encontrava em contato com Epimênides, que prontamente atendeu seu pedido, e sem delongas, viajou com Nícias de volta a Atenas. Epimênides ficou estupefato com a grande quantidade de deuses que já amontoavam os dois lados da estrada que levava ao Porto de Pireu. Outras centenas adornavam uma montanha rochosa, a conhecida Acrópole, onde uma geração mais tarde, os atenienses construiriam o Paternon. 

Diz à história que Epimênides dispensou as honras e logo tratou de comunicar aos atenienses que no dia seguinte, bem cedo, lhe conseguissem um rebanho de ovelhas, um grupo de pedreiros e uma grande quantidade de pedras e argamassa e que levassem tudo para o pé da Acrópole. As ovelhas teriam que ser coloridas, algumas brancas e outras pretas. As mesmas não poderiam se alimentar durante toda à noite e Epimênides certificou-os que as mesmas deveriam estar famintas. Segundo Richardson (1995), no dia seguinte tudo estava da forma como o sábio Epimênides havia ordenado. Então o mesmo alçou voz, e falou:

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Sábios anciãos(...) vocês já se esforçaram muito ofertando sacrifícios aos seus numerosos deuses; entretanto, tudo se mostrou inútil. Vou agora oferecer sacrifícios baseado em três suposições bem diferentes das suas. Minha primeira suposição (...) é que existe ainda outro deus interessado na questão desta praga – um deus cujo nome não conhecemos e que não está, portanto, sendo representado por qualquer ídolo em sua cidade. Segundo, vou supor também que este deus é bastante poderoso – e suficientemente bondoso para fazer alguma coisa a respeito da praga, se apenas pedirmos a sua ajuda. Invocar um deus desconhecido? Exclamou um dos anciãos. Isso é possível? A terceira suposição é a minha resposta à sua pergunta, replicou Epimênides. Qualquer deus suficientemente grande e bondoso para fazer algo a respeito da praga é também poderoso e misericordioso para nos favorecer em nossa ignorância – se reconhecermos a mesma e o invocarmos! (Richardson. 1995, p. 12).

Após este caloroso discurso Epimênides, mais uma vez alçou voz e pronunciou diante de todos os presentes a seguinte oração:

Ó tu, deus desconhecido! Contempla a praga que aflige esta cidade! E se de fato tens compaixão para perdoar-nos e ajudar-nos, observa este rebanho de ovelhas! Revela tua disposição para responder, eu peço, fazendo com que qualquer ovelha que te agrade deite na relva em vez de pastar. Escolha as brancas se elas te agradarem; as pretas se te causarem prazer. As que escolheres serão sacrificadas a ti – reconhecendo nossa lamentável ignorância do teu nome! (Richardson. 1995, p. 12).

Ora, após a oração, Epimênides sentou-se no chão, e em seguida ordenou para que as ovelhas famintas fossem soltas sobre a grama verdejante da colina sagrada. Para espanto de alguns, algumas ovelhas não pastaram, tão somente deitaram-se e descansaram sobre a relva suculenta. Segundo Richardson (1995), o cretense pediu para que as ovelhas que agiram daquela maneira fossem separadas e que no exato local onde elas se deitaram e descansaram, os pedreiros erigissem altares, um para cada ovelha que se deitou, para que, conforme o mesmo mencionou durante a oração, as mesmas fossem sacrificadas sobre estes.

Os pedreiros, havidos por se livrarem de uma vez por todas daquela terrível praga, logo trataram de fazer conforme Epimênides havia ordenado. Sendo assim, uma vez que os altares se encontravam prontos, um dos conselheiros do grupo mais jovem perguntou: Qual o nome do deus que gravaremos sobre esses altares? Epimênides, então, respondeu:

Nome? Repetiu Epimênides, como se refletindo. A divindade, cuja ajuda buscamos, agradou-se em responder à nossa admissão de ignorância. Se agora pretendemos mostrar conhecimento, gravando um nome quando na verdade não temos a menor idéia a respeito dele, temo que vamos apenas ofendê-la. Não podemos correr este risco, concordou o presidente do conselho. Mas com certeza deve haver um meio apropriado de – dedicar cada altar antes de usá-lo. Tem razão, sábio conselheiro, existe um meio. Inscrevam simplesmente as palavras Agnosto Theo – a um “deus desconhecido” – no lado de cada altar. Nada mais é necessário. (1995, p.

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13).

As ovelhas em fim foram sacrificadas e na mesma noite já se percebia o recuar da praga. No decorrer de uma semana todos os doentes haviam sarado. O fato é que toda a Atenas se “encheu de louvor” ao Deus desconhecido de Epimênides . Mas, com o correr do tempo, o povo de Atenas começou e esquecer-se da misericórdia do deus desconhecido. Seus altares na colina foram completamente abandonados e os vândalos, pouco a pouco, os foram destruindo. O mato e o musgo dominaram os despretensiosos altares e inevitavelmente Atenas, mais uma vez, se viu dominada pelo panteão de deuses pagãos que se empilhavam por suas ruas de pedra e argila.

Ainda segundo Richardson (1995), dois anciãos, muito tempo depois passavam diante de um destes altares e pelo fato de terem participado de toda esta empreitada, logo se recordaram de todo o ocorrido exatamente da forma como aconteceu. Lembraram-se da misericórdia do deus desconhecido e como este foi misericordioso em livrá-los da praga. Por isso, estes escolheram um dos altares que ainda estava em boas condições e deliberaram sobre a possibilidade de o acrescentarem a lista de despesas perpétuas da cidade, como uma forma de preservar pelo menos um desses altares para posteridade, bem como a história de Epimênides, que devia ser mantida viva entre as suas tradições. Depois desta seção nostálgica, os anciãos acharam por bem, fazer como tinham combinado.

Todo este relato, conforme mencionamos, baseou-se, segundo Richardson (1995), em uma tradição registrada como história por Diógenes Laércio, numa obra clássica da literatura grega. O fato que queremos lançar luz, ao citá-la, é que muito tempo depois chegava à cidade de Atenas o Apóstolo Paulo, e este, segundo o relato de Lucas no livro de Atos, ao passar por uma das ruas de Atenas, percebeu um altar que era completamente diferente dos demais e isto aguçou sua mente iluminada pelo Espírito Santo. 

Em face de tamanha idolatria, conforme expomos, o espírito de Paulo revoltava-se. Começara ele a pregar “na praça todos os dias, entre os que se encontravam ali” (At 17.17). Os que se encontravam ali eram alguns dos filósofos epicureus e estóicos os quais contendiam com ele, havendo quem perguntasse: Que quer dizer este tagarela? Outros diziam que o apóstolo parecia ser pregador de estranhos deuses. Esta última sentença aponta para o fato que Paulo utilizara Theos (palavra grega para Deus) em sua pregação. Ora, os gregos sabiam que Xenofonte, Platão e Aristóteles (três grandes filósofos) usaram Theos como nome pessoal para um “Deus Supremo” em seus escritos (Richardson 1995). Por isso, Theos era um nome familiar para eles. Sendo assim, o que lhes causou tamanha surpresa quando da pregação de Paulo? Esta surpresa pode ser entendida da seguinte maneira:

É possível, portanto, que não fosse Theos, mas o nome Jesus, pouco familiar, que tivesse levado os filósofos a pensar que Paulo estava “pregando deuses estranhos”. Eles talvez ficassem também espantados com a idéia de alguém querer introduzir mais um deus em Atenas, a capital mundial dos deuses!

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Em resumo, os atenienses devem ter tido necessidade de uma lista de tamanho equivalente às páginas amarelas para controlar as inúmeras divindades já representadas em sua cidade!” (Richardson 1995, p. 18).

Ora, Paulo precisava expor aos atenienses que ele não estava tentando introduzir mais um deus em seu enorme panteão. Precisava fazer com que os atenienses entendessem a singularidade do Deus o qual ele estava pregando. Mas, o que fazer? Segundo Richardson (1995), há muito Paulo já possuía a resposta, vejamos:

Jesus Cristo fornecera a Paulo uma formula-mestra para enfrentar problemas de comunicação transcultural como o de Atenas. Falando através de uma visão tão convincente que deu a Paulo novas perspectivas e tão brilhante que o deixou temporariamente cego, Jesus havia dito: ”Para os quais eu te envio, para lhes abrir os olhos e convertê-los das trevas para luz” (At 26.17-18). A lógica de Jesus era impecável. Quando as pessoas devem voltar-se das trevas para a luz, é necessário que seus olhos se abram primeiro para que possam ver a diferença entre ambas. O que é preciso para abrir os olhos de alguém? Um abridor de olhos! (1995, p. 18). 

O abridor de olhos, o qual Richardson (1995) se refere, é justamente o parâmetro cultural utilizado pelo missionário, na tentativa de fazer com que os nativos (neste caso os atenienses) entendam, através de sua própria cultura, as verdades supraculturais da Bíblia. No caso que estamos tratando percebemos que Paulo era judeu, renascido cristão. Como ele descobriria, em uma Atenas infestada de deuses pagãos, um abridor de olhos para o Deus Supremo? É simples, ele teria que conhecer a cultura ateniense e através dela associar o caráter divino da mensagem a uma realidade compreensível. 

Ora, Paulo conhecia profundamente a cultura ateniense, e era um exímio pregador da mensagem cristã. Por causa disso, ele não teve problemas para conseguir uma ponte para a mensagem. O parâmetro cultural que ele utilizou a muito já fazia parte da história deste povo. Paulo utilizou como “abre olhos”, para uma melhor compreensão de sua mensagem, a famosa história do “deus desconhecido”. Conforme lemos na narrativa de Atos, Paulo já havia “passado e observado” e descobriu algo “no sistema” que não fazia parte “do” sistema. Era um altar que não se associava a qualquer outro ídolo. Um altar com a curiosa inscrição, “ao deus desconhecido” (Richardson 1995). Paulo percebia através de todas estas características livres de sincretismo, algo que poderia abrir as mentes e os corações daqueles filósofos estóicos e epicureus. 

O que temos em seguida exemplifica muito bem o assunto proposto, uma vez que Paulo inicia sua pregação da mesma forma como faria em qualquer outro lugar. Só que em dado momento ele “contextualiza” com os atenienses e transmite-lhes a mensagem de uma forma compreensível à sua cultura e momento histórico, retirando-lhes o véu que os impediam de ver a verdade que a muito estava latente aos seus olhos. Ele diz: “Senhores atenienses! Em tudo vos vejo acentuadamente religiosos; porque passando e observando os objetos de vosso culto, encontrei também um altar no qual está inscrito: AO DEUS DESCONHECIDO”. Após esta introdução fantástica o apóstolo

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continuou com uma declaração que aguardara cerca de seis séculos para ser pronunciada. E que em poucas linhas é um dos mais plenos exemplos de uma comunicação contextualizada. “Pois esse que adorais sem conhecer, é precisamente aquele que eu vos anuncio” (At 17.22-23). Com esta declaração estonteante os atenienses percebiam que o Deus pregado por Paulo de maneira alguma lhes era estranho, absolutamente, ele há muito era representado pelo singelo altar de Epimênides. Tratava-se, portanto, de um Deus que já interferira na história de Atenas. Tendo certamente o direito de ver o seu nome proclamado ali! (Richardson 1995). 

Esta verdade só se tornou pertinente e significativa aos atenienses por que Paulo pregou de maneira que os mesmos compreenderam. Ou seja, Paulo pregou uma mensagem extraída única e exclusivamente das Boas Novas do evangelho, todavia, através de parâmetros culturais inerentes aos atenienses – o altar ao “deus desconhecido”. O Apóstolo só utilizou este altar como ponte, por que sabia que o mesmo estava livre de toda e qualquer associação sincrética ou pagã, pois, este não era associado a nenhum deus ateniense (ou seja, não tinha qualquer simbolização idólatra), tinha livrado os atenienses da praga há muito tempo atrás (fato que revelava seu imensurável poder e singularidade) e em nenhum momento se envolveu na história ateniense se não nestes termos (revelando ser um Deus tão poderoso que não levou em conta a ignorância ateniense). Paulo compreendia isto muito bem, uma vez que há muito já tivera contato com a história de Epimenides, fato que é comprovado através de uma citação que Paulo faz em uma de suas cartas pastorais. “Foi mesmo dentre eles, um seu profeta que disse: cretenses, sempre mentirosos, feras terríveis, ventres preguiçosos. Tal testemunho é exato. Portanto, repreende-os severamente para que sejam sadios na fé” (Tt 1.12-13). Estas palavras que foram citadas pelo apóstolo, segundo Richardson (1995), se encontram em um antigo poema atribuído a Epimênides. Os membros do Areópago devem ter ficado surpresos quando descobriram ser o evangelho uma mensagem perceptiva, clara e objetiva. Isso graças a Contextualização. 

Após lançar luz à mente dos gregos, Paulo continuou seu articulado discurso. Ele sabia que a mensagem cristã visava não só edificar os santos, mas também denunciar os pecadores. Com certeza as sentenças seguintes que criticavam a idolatria bem como a adoração a imagens provocaria certo desconforto aos atenienses. Mas, o verdadeiro missionário possui compromisso apenas com a verdade. E Paulo compreendia isso muito bem. A mensagem não deve ser “amenizada” para não chocar os ouvintes, muito pelo contrário, ela deve ser pregada em toda sua extensão, para só assim, provocar uma verdadeira transformação; uma genuína conversão.

Segundo Richardson (1995), Paulo só pecou em um único ponto (no que diz respeito a estar pregando para filósofos), pois, em seu acalorado discurso “ele mencionou a ressurreição do homem que Deus autorizou para julgar o mundo, sem explicar primeiro como e porque ele teve que morrer”, Fato que causou, pela primeira vez, um espaço na “lógica” de sua pregação. O que fez com que os filósofos desabonassem o restante da mensagem para seu próprio fracasso espiritual. “Quando ouviram falar de ressurreição de mortos, uns escarneceram, e outros disseram: A respeito disso te ouviremos depois noutra ocasião. A essa altura Paulo se retirou do meio deles”. (At

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17.32-33).

Até mesmo um apóstolo como Paulo pode encontrar dificuldades na comunicação transcultural!

Mas, o motivo que nos impulsionou a tomar esta passagem como exemplo de mensagem contextualizada, não foi a negação dos filósofos que provavelmente não quiseram mais ouvir o discurso, por que este, a muito, já os inflamava, uma vez que combatia a idolatria e o seu orgulho à consistência racional, mas, pelo fato que “Nem todos descreram de Paulo por ter mencionado a ressurreição” (Richardson 1995). “Houve, porém, alguns homens que creram; entre eles estava Dionísio, o aeropagita, uma mulher chamada Dâmaris e, com eles, outros mais” (At 17.34). Mesmo cercados de discursos que requeriam para si autoridade divina, essas pessoas creram salvificamente no evangelho que fora pregado de forma contextualizada, o qual reuniu as condições necessárias para levá-los a uma reflexão que culminou em salvação. Por causa desta verdade, temos plenas condições de considerar a abordagem utilizada pelo Apóstolo Paulo de “uma empreitada de sucesso”. Para a Glória de Deus! 

Depreende-se, portanto, que a contextualização é indispensável para a perfeita comunicação do evangelho. Uma vez que ela serve como um abre olhos, que desobstrui a mente e o coração do indivíduo para a conversão e conseqüentemente para a salvação em Cristo Jesus. Este processo requer um estudo prévio da cultura a que se destina alcançar, pois, a ponte utilizada para exemplificação da mensagem deve estar livre de toda e qualquer associação sincrética, bem como pagã, para que o indivíduo não tenha nenhum tipo de idéia equivocada da mensagem sagrada que está recebendo, nem a associe a parâmetros culturais que não se coadunem com a mensagem divinamente inspirada, à semelhança do que Paulo conseguiu em Atenas.

Por fim, sendo o mais importante. Todo este “processo de contextualização” deve, em todas as suas áreas, ser iluminado e dirigido pelo Espírito Santo de Deus. O qual convence o homem da justiça, do pecado e do juízo .

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RESENHA

Gustavo Luiz Rodrigues Souza

BURNS, Bárbara Helen (org.). Contextualização Missionária: desafios, questões,

diretrizes. São Paulo: Vida Nova, 2011. 272 p.

O livro Contextualização Missionária é uma coletânea de artigos, onde a

organizadora Barbara Helen Burns, missionária americana que trabalha no Brasil desde

1969, buscou junto com vários autores elucidarem a história da discussão em torno de

contextualização, bem como suas bases bíblicas, os diálogos acadêmicos relacionados, e

exemplos práticos do campo missionário.

Barbara Burns, adotando um modelo de trabalho, interagiu com Ronaldo Lidório,

Bertil Ekström, Silas Tostes, Maria Bernadete da Silva e Silas Lima e assumiu a

organização dos capítulos expostos, divididos em quatro partes. Na primeira parte da

obra apresenta as raízes bíblicas e teológicas da contextualização missionária. Na

segunda parte, raízes da contextualização na história. Já na terceira parte aborda as

questões contemporâneas sobre a contextualização missionária. E na última parte trata-

se da contextualização em prática, através de estudos de casos.

No primeiro capítulo, Ronaldo Lidório faz uma abordagem sobre

contextualização sob uma perspectiva teológica.  Introduz o assunto com base em

Mateus 24.14. Salienta-se que “a nós cabe não somente viver Jesus, mas também

proclamá-lo de forma compreensível” (p. 17). Menciona os pressupostos, tais como: a) A

Palavra é supracultural e a-temporal; b) Contextualizar o evangelho não é reescrevê-lo à

luz da Antropologia; c) A finalidade maior da contextualização é apresentar Cristo.

Em seguida cita os pressupostos mais evidentes e simultaneamente perigosos de

contextualização: O perigo político- originado na tendência humana de impor a outros

povos a sua adquirida de pensar e interpretar. O segundo perigo, o pragmatismo-

assumido de uma abordagem puramente prática na contextualização. E por último, o

perigo sociológico- que reside na aceitação de uma abordagem humanista.

 Defende inclusive a conciliação entre a teologia e missiologia. E para isso evoca a

necessidade da missiologia se fazer presente nos centros acadêmicos quando afirma

Page 29: Material Estudo Na Igreja

que esta “dirige teólogos para o plano redentivo de Deus e os ajuda a ler as Escrituras

sob o pressuposto de que há um propósito para a existência da igreja” (p.21).

Ronaldo apresenta alguns princípios de contextualização. Enumera-os para nos

ajudar a pensar de modo criterioso: 1) Há uma verdade universal e supracultural; 2) O

pecado intencional que nos separa de Deus; 3) Somos seres culturalmente construtores

de ídolos; 4) A mensagem paulina na sua exposição é contextualizada à realidade da

vida e queda humana.

E a partir do texto bíblico insere o modelo de contextualização. Para tal

finalidade analisa três passagens bíblicas: Atos 9.19-22, Atos 13.14-16 e Atos 17.16-31.

Depois utiliza o modelo Paulino em relação à contextualização da mensagem. Conclui

que a mensagem, em um processo de comunicação contextual jamais deve ser diluída

em seu conteúdo. E prossegue ao dizer que o uso de simbologias culturais explicatórias

das verdades bíblicas podem ser utilizadas desde que apresentem claramente a

relevância do evangelho. Lidório diz que o evangelho deve ser explicado a partir de si

mesmo e não da cultura. O alvo final da apresentação  é levar  o homem ao

conhecimento de Cristo e não simplesmente comunicar. E ainda que, a contextualização

da mensagem, linguística e culturalmente, é um instrumento para uma boa

comunicação. E por último, que o resultado esperado da apresentação do evangelho é o

arrependimento dos pecados e sincera conversão.

O autor na reta final do capítulo aborda os critérios bíblicos para a

contextualização. Observa que toda comunicação do evangelho deve ser baseada nos

princípios bíblicos; que a comunicação do evangelho deve ser uma atividade realizada a

aprtir da observação e avaliação da exposição da mensagem que está sendo

comunicada; a rejeição do evangelho não deve ser vista, em si, como equivalente à má

contextualização e ao elaborar a abordagem na apresentação do evangelho deve-se

partir da Bíblia para a cultura e não o contrário.

Ronaldo Lidório de forma magistral finaliza com as seguintes palavras:

“Precisamos conciliar a sensibilidade e interesse cultural com uma teologia bíblica que

fundamente o ministério. Se uma sugestão pudesse ser dada seria esta: reavaliarmos

nossa atividade missionária e eclesiástica à luz daquilo que é teologicamente

fundamentado e não apenas praticamente frutífero, seja do ponto de vista da

comunicação da mensagem ou da formação da igreja” (p.32).

No segundo capítulo, Bertil Ekström, busca lições aplicáveis para a atualidade e

princípios básicos de contextualização que nos orientem na comunicação das verdades

eternas em outros contextos religiosos, culturais e linguísticos. Com este propósito em

mente se basea em dois textos: Atos 14 e 17. 

A síntese do texto de analisado de Atos 14 é a seguinte: a cura do homem

paralítico evidencia um evangelho integral de poder e esperança; caso houvesse atitude

Page 30: Material Estudo Na Igreja

de rechaçar a idolatria geraria enorme dificuldade posteriormente para a pregação

sobre Cristo; além dos milagres efetuados a mensagem revelou a pecaminosidade dos

moradores de Listra, o problema da idolatria e aponta o caminho de volta a Deus; utiliza

racionalmente o argumento da natureza  e do Criador desta, sem fazer citação do Antigo

Testamento; apesar da barreira linguística há identificação com o povo e demonstra na

apresentação de um Deus único a radicalidade do evangelho.

No resumo do trecho de Atos 17, Ekström constata que há uma diferenciação da

comunicação do evangelho em Atenas e de Listra. Ele afirma que a metodologia de Paulo

é contextualizada em Atenas. Que há uma adaptação da linguagem utilizada. E ainda,

que a argumentação de Paulo segue em Atenas uma linha mais racional e filosófica. E

finalmente, a pluralidade de Atenas facilita a pregação do evangelho, mas também torna

a mensagem uma entre muitas outras.

O autor deste capítulo na sua conclusão cita alguns princípios de

contextualização com base nos dois textos bíblicos, mencionados anteriormente. Deve-

se ser fiel ao evangelho, jamais abrir mão do essencial. Na comunicação transcultural

compreender a linguagem, cultura e crenças do povo. Usar elementos comuns do povo

para facilitar a compreensão da mensagem. Não descambar para o sensacionalismo.

Evitar a exaltação pessoal para exaltar somente Jesus Cristo.

O terceiro capítulo desta seção é de autoria de Kevin Bradford. Neste o autor

aborda a contextualização e a mensagem da cruz, ao considerar o texto de 1ª Coríntios

1.18-25. Kevin, inicialmente analisa vários textos bíblicos para enfatizar a mensagem da

cruz. Isto porque, segundo o autor, “trata-se de algo que Deus planejou e somente ele

poderia planejar. Através desse plano, Deus revela a sua sabedoria e o seu poder”

(p.48).

Adiante fala sobre a mensagem para crentes. Chama a atenção para o fato de que

o apóstolo Paulo destaca não apenas o autor do evangelho como também os seus

ouvintes. Kevin faz um alerta sobre o trabalho no campo missionário, pois pode haver a

tentação de pregar primeiro para os “potentes”. E lembra- é preciso atentar que Deus

chama mais os que facilmente reconhecem suas necessidades.

Depois o autor analisa tanto a natureza quanto o resultado da mensagem. No que

tange a mensagem diz que a mensagem de Deus tem aparência de fraqueza e loucura,

mas que na verdade, oferece poder e sabedoria. No que diz respeito ao resultado da

mensagem diz que a ênfase do apóstolo Paulo é a glorificação de Deus. Em sua

conclusão, Kevin nos adverte: “Na hora de fazer sua contextualização, não se esqueçam

da mensagem da cruz!”.

Na segunda parte da obra- raízes da contextualização na história, quem escreve é

Barbara Burns. Além de ser a organizadora com muito brilhantismo apresenta a

Contextualização na História de Missões: precedentes, definições e questões (pp.55-93).

Page 31: Material Estudo Na Igreja

Bárbara Burns considera a história e o ensino de contextualização missionária na

Bíblia. Com precisão e maestria afirma que missões é o mandato de Deus documentado

por ele na Bíblia. Por esse motivo analisa o modelo e ensino de Jesus, onde constata que

a formação de novos líderes e o desenvolvimento dos dons de cada pessoa é uma parte

importante no processo da contextualização. Mais adiante ao tratar sobre Paulo e

contextualização observa que apesar de Paulo ser judeu ortodoxo radical e perseguidor,

foi bem preparado para sua missão cristã aos gentios. Afinal, Paulo tem o interesse de

proclamar o evangelho de forma compreensível aos ouvintes, qualquer que fosse a

cultura deles.

 A autora segue o estudo considerando os exemplos da contextualização na

história de missões de Atos 28 a 1972 numa tarefa hercúlea e fascinante. Os

personagens examinados entre eles são: os Celtas- o movimento foi criado por Patrício;

entre os protestantes, os Morávios, Guilherme Carey, John Nevius e Hudson Taylor;

entre os católicos romanos: Roberto Nobili.

 Também se encontra neste capítulo um resumo do desenvolvimento da

contextualização de 1972 até a atualidade. Nesta parte é mencionado o Congresso

Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, Suíça (1974).  Em Lausanne o

primeiro evangélico a usar a palavra contextualização foi Byang Kato, um líder africano.

Após esse momento histórico de Lausanne, o termo contextualização alastrou-se tanto

em círculos evangélicos, como na Teologia da Libertação, na Igreja Católica Romana, em

diversos movimentos nacionalistas e até no mundo secular (p.75). Ainda, a autora trata

duas questões importantes: 1) sobre a influência de teorias de tradução da Bíblia e da

etnoteologia na contextualização. 2) a reação de missiólogos evangélicos a etnoteologia.

Em ambas as questões tão delicadas a autora mantém uma fidelidade escriturística e

equilíbrio nas observações.

Barbara Burns finaliza com uma pergunta: “Estamos enviando pessoas

comprometidas de vida e oração com o Senhor, de acordo com sua Palavra?”. E então,

arremata: “Não podemos esperar uma contextualização bíblica, se não há missionários

convictos e comprometidos com o Deus da Bíblia”.

O quinto capítulo é escrito também por Bárbara Burns, refere-se a uma análise

da obra de Bruce Nicholls e as controvérsias teológicas do século XX. Trata-se de um

resumo do pequeno livro de Nicholls: Contextualização: uma teologia do evangelho e

cultura. A autora diz que há indicações de que a igreja evangélica está cometendo erros

do século passado. Nos tempos hodiernos há uma ênfase exagerada no homem e na

cultura.

Na obra de Nicholls estudam-se os fatores culturais e supraculturais na

comunicação do evangelho. No que tange ao assunto- diante da insensibilidade cultural

e dificuldades de comunicação que alteram a mensagem porque o missionário não

Page 32: Material Estudo Na Igreja

percebe se os ouvintes estão, ou não, compreendendo a mensagem- é enfático: “A Bíblia

não é produto da cultura como dizem os antropólogos e alguns teólogos, mas é

supracultural e normativa para todas as culturas” (p 98).   Já no capítulo seguinte,

Nicholls aborda outro problema, dentro da análise de padrões no movimento de

contextualização para o sincretismo- ao invés de ser a falta de contextualização, há o

excesso dela. Para o autor da referida obra há dois níveis de contextualização: 1) o

cultural que é a preocupação, principalmente de antropólogos, com os segmentos mais

superficiais da cultura, como instituições da família, direito, educação, comportamento e

artefatos. 2) o teológico que é mais preocupado com a cosmovisão e também com

valores morais e éticos que se derivam dela.

Sabe-se através desta obra que muitas vezes o resultado da contextualização é o

sincretismo. Há dois tipos de sincretismo: (a) O cultural que envolve uma fusão de

símbolos e práticas religiosas cristãs e pagãs. b) O teológico que deixa a Bíblia sem

autoridade, é culturalmente condicionada.

  Para a compreensão da teologia bíblica é determinante a Bíblia como

determinante para a hermenêutica e a contextualização. Por esse motivo quatro

princípios são expostos: a) O princípio de um estilo de vida marcado pela fé e

compromisso; b) Princípio objetivo-subjetivo de distanciamento do texto e da

identificação com ele; c) Princípio da vida do corpo da comunidade cristã; d) Princípio

da missão no mundo.

Já no sexto capítulo do livro Contextualização Missionária, a Drª Maria Bernadete

traduziu e apresentou o trabalho de Paul Hiebert- um estudioso que tem feito grande

contribuição na área de missões. O foco é o Evangelho em contextos humanos. Maria

Bernadete salienta que Hiebert através de uma revisão histórica discute cinco modelos

ou fases, de contextualização.

O primeiro modelo é a Não contextualização/ou contextualização mínima. O

segundo, contextualização acrítica. Terceiro modelo- contextualização crítica. O

evangelho compartilhado em contextos humanos é o quarto modelo. E por último, a

revelação divina compartilhada em contextos humanos.

Segundo Hiebert três princípios podem ser úteis nesse processo: a) O evangelho

versus contextos humanos- neste caso o evangelho não deve ser equiparado com

qualquer contexto particular humano. b) O evangelho nos contextos humanos- é ter em

mente que o evangelho deve ser colocado em contextos socioculturais específicos para

que as pessoas possam entendê-lo. [Neste caso é preciso fazer teologia missional que é

estudar as pessoas em seus contextos, acima de tudo, as questões que as preocupam e

nos preocupam também; depois desta análise estudar os critérios ontológicos e fazer a

avaliação nos seus contextos]. c) O evangelho para os contextos humanos- guia-nos na

Page 33: Material Estudo Na Igreja

compreensão do relacionamento do evangelho com os contextos social e cultural é que

o evangelho é transformador.

No sétimo capítulo, mais uma contribuição de Barbara Burns, desta vez trata

sobre níveis de contextualização que é o desafio da contextualização bíblica. Como  lhe é

peculiar a Doutora  Barbara Burns enriquece o texto com várias  ilustrações afim de

auxiliar o leitor. Por isso busca neste capítulo examinar a história e bases teológicas de

teorias recentes em relação às estratégias missionárias e aos níveis de contextualização

sendo praticados nos dias atuais. Após as definições dos níveis de contextualizações que

são bem exemplificados, parte para o próximo caso de estudos de casos, tais como:

Rabban Sauma, Javaneses. Entre os casos brasileiros: o Suruwahá e o Susu. Em todos os

casos analisados pela autora há uma riqueza de detalhes impressionantes, além de

muita profundidade.

 Não obstante, os pormenores, a autora neste capítulo traça caminhos bíblicos a

ser percorridos. Cita Paul Hiebert para chamar de volta para os limites bíblicos na

contextualização (p.164). Vale-se de informações preciosas de Hesselgrave e de Nicholls

para aterem-se as verdades bíblicas. Assevera que a comissão é para todos e para

sempre. E que o ensino, a vida de submissão ao ensino é central na tarefa missionária. E

por fim desafia para cada crente levar as boas novas de cavação que transforma vidas,

lavando as pessoas das trevas e da morte para inclusão no corpo de Cristo.

No oitavo capítulo, o pr. Ronaldo Lidório aborda o assunto “Os konkombas e o

processo de contextualização da mensagem bíblica”. Dentro de uma perspectiva interna,

missionária, foi identificada entre os Konkombas, de gana vários fatores: cobertura de

coração, observação cultural, evangelização abundante e intencional, desenvolvimento

de uma identidade eclesiástica autóctone, concentração no discipulado de líderes e

envolvimento dos recém-convertidos no evangelismo e testemunho. O estudo do caso

dos konkombas ajudou a observar padrões de comunicação, processos de

contextualizações, inclusive acertos e erros.

Ronaldo assevera que é importante nunca perder de vista o alvo, que é

comunicar a Cristo de maneira teologicamente respaldada e culturalmente inteligível,

de forma que ele não seja compreendido como um Deus estrangeiro, para os de longe,

mas com Deus entre eles, e entre nós (p.196).

O pastor Joed Venturini nos brinda com o nono capítulo. Nele fala sobre a festa

do carneiro- um caso de contextualização crítica de uma celebração. A contextualização

diz respeito à cultura fula da região leste de Guiné Bissau, vivida na cidade de Bafatá. A

aplicação foi sempre mediante o respeito com os moradores da comunidade. A

contextualizada na comunidade fez com que houvesse uma familiaridade muito grande

entre eles. Sem falar que teve uma visualização como ênfase. No caso do cristianismo

ocidental enfatiza muito o auditivo em detrimento do visual. O trabalho realizado

Page 34: Material Estudo Na Igreja

permitiu uma integração da igreja na cultura local, além de auxiliar a valorização dos

líderes cristãos em sociedade. O autor afirma que apesar dos sucessos obtidos foi um

processo, e como todo processo que requer mudança, leva tempo e precisa ser encarado

com paciência. E arremata dizendo que “o missionário precisa encarnar a vida de Jesus

em meio ao povo alvo e a igreja precisa se aproximarem da cultura local por meio de

uma contextualização crítica, séria e coerente” (p.214).

O penúltimo capítulo é de autoria de Michael Dawson, filho de missionários entre

os yanomamis na Venezuela. O autor menciona a sua experiência entre o povo e dar

detalhes da contextualização entre os yanomami. Fica evidente o êxito obtido através da

contextualização.

O último capítulo do livro é de Silas Lima que versa sobre a contextualização

entre os indígenas. Ele aborda a necessidade, processo e desafios da contextualização

entre o povo Maxacali.

Recomenda-se a presente obra, devido sua relevância na área de missões. O uso

desta literatura nos centros acadêmicos torna-se indispensável devido o conteúdo

apresentado com maestria.  A utilização destina-se não apenas aos estudantes de

teologia, mas aos professores, pastores e demais líderes eclesiásticos interessados na

obra missionária.

Page 35: Material Estudo Na Igreja

A Relevância da Contextualização Missionária no Plantio de Igrejas

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Robson Rosa Santana

INTRODUÇÃO

A contextualização missionária é um dos temas mais importantes a ser considerado no que se

trata do cumprimento da missão da igreja de levar o evangelho a todos os povos e línguas. Até

meados do século XX a igreja buscou desempenhar seu papel de agente do Reino neste mundo sem

uma reflexão séria do que seja a missão. O primeiro aspecto a ser respondido foi o que é a missão

em si. A resposta é que a igreja não tem missão própria. Quem é o autor da missão é Deus (missio

Dei). Em síntese, o Pai escolhe os que seriam salvos, o Filho morre por eles especificamente e o

Espírito Santo aplica a obra de Cristo nos escolhidos. O papel da igreja é comunicar o evangelho a

todos de todos os lugares.

Quanto à questão da contextualização, o problema maior era como comunicar o evangelho a

pessoas de outras culturas, sem levar no bojo a cultura do missionário. Por muito tempo levar o

evangelho incluía levar também a cultura aparentemente mais desenvolvida dos países dos

missionários, especialmente dos Estados Unidos e de países europeus como Inglaterra, Irlanda,

Holanda, Alemanha, França, dentre outros.

Um dos problemas principais na comunicação do evangelho a outros povos e culturas está no

conhecimento da língua dos nativos, e depois de diminuída a barreira lingüística e com o surgimento

dos primeiros convertidos era tentar compreender a cultura local e propor as respostas que a Palavra

de Deus tinha para os aspectos culturais que iam de encontro aos mandamentos de Deus.

Esse é um desafio perene da Igreja de Jesus nesse mundo. Jesus sempre é o exemplo maior

de tudo que precisamos executar para cumprir a missão de levar as boas novas de salvação às

pessoas. Na contextualização missionária o nosso Senhor Jesus nos ensina em primeiro lugar a sua

experiência de auto esvaziamento para fazer a vontade do Pai. Jesus “a si mesmo se esvaziou,

assumindo a forma de servo” (Ef 2.7). Jesus não partiu do pressuposto do que Ele realmente era e é

– Deus - mas se esvaziou, identificou-se com aqueles que ele queria comunicar a salvação de Deus.

Ele se tornou gente como a gente. Encarnou a missão. Vestiu-se como o povo comum. Exemplo

disso foi quando Judas levou aqueles que o prenderiam no Getsêmani, e para identificar foi preciso o

sinal do beijo, porque nos aspectos exteriores ele era igual aos outros.

Quanto a outros exemplos bíblicos, que iremos expandir mais a frente, o apóstolo Paulo nos

dá diretrizes claras acerca da contextualização no diversos ambientes culturais que ele comunicou o

evangelho.

1. DEFINICÃO DE CONTEXTUALIZAÇÃO MISSIONÁRIA

Depois de fazer uma análise das raízes teológicas do significado de contextualização, citando

o conceito de autores como Byang H. Kato, Bruce J. Nicholls , George W. Peters e Harvie Conn,

David. J. Hesselgrave define o significado do termo na perspectiva missiológica cristã da seguinte

forma:

... pode-se pensar na contextualização como a tentativa de comunicar a mensagem da pessoa, das obras, da palavra e da vontade de Deus de modo fiel à revelação de Deus, sobretudo como está apresentando nos ensinos das Escrituras Sagradas, e que é significativo aos receptores em suas

Page 36: Material Estudo Na Igreja

culturas e contextos existenciais receptivos. A contextualização é tanto verbal quanto não-verbal e está ligada à teologização; à tradução, à interpretação e à aplicação da Bíblia; ao estilo de vida encarnacional; à evangelização; à instrução cristã; a criação e ao crescimento de igrejas; à organização da igreja; ao estilo de culto – na verdade a todas aquelas atividades relacionadas com a execução da Grande Comissão. [1]

Darrel L. Whiteman conceitua:

A contextualização tenta comunicar o Evangelho em palavras e ações e estabelecer a igreja de maneira que faça sentido para as pessoas dentro de seu contexto cultural local, apresentando o cristianismo de tal forma que atenda às necessidades mais profundas das pessoas e penetre sua visão de mundo, permitindo-os seguir Cristo e permanecer dentro desua própria cultura.[2]

É um desafio contínuo da igreja de Cristo em todos os tempos e contextos culturais fazer essa

ponte do contexto das Escrituras para o contexto dos seus ouvintes. Isso pode parecer evidente, mas

não é o que sempre acontece. Normalmente os pastores e missionários se vêem envoltos em suas

próprias culturas e mantendo tradições humanas de seus antepassados que não fazem parte da

essência do evangelho de Cristo.

Podemos citar o exemplo contextualizado de Davi mencionado por Paulo na sinagoga de

Antioquia da Pisídia, quando disse: “Porque, na verdade, tendo Davi servido à sua própria geração,

conforme o desígnio de Deus, adormeceu, foi para junto de seus pais e viu corrupção” (At 13.36, grifo

meu). Davi serviu a Deus na sua própria geração. Como diz Carlos del Pino, “o próprio Davi não

pode servir nem à geração de seus pais e avós, nem à geração de seus filhos e netos. Ele morreu e

o que pode fazer o fez nos seus próprios dias ou, de forma mais ampla, o fez no contexto dos seus

contemporâneos”.[3]

Muito do que foi pregado no passado foi o evangelho com a cultura do mensageiro. E se não

se utilizar da contextualização continuará pregando da mesma forma. É preciso compreender o

contexto dos ouvintes do evangelho, seja ele rural, urbano ou tribal, para que se faça a devida

adaptação da mensagem. Frisa isso de modo magistral Harry L. Reeder III, quando afirma:

Muitos pastores estão plantando e liderando igrejas que seriam maravilhosas se vivêssemos em 1750. Porém, não estamos nessa época. A mensagem do evangelho e os objetivos ministeriais da igreja são sempre os mesmos. Todavia, o modo como comunicamos o evangelho e o modo como alcançamos nossos objetivos ministeriais têm de mudar para se encaixar na natureza de nosso tempo.[4]

1.1 PRINCÍPIOS BÍBLICOS DE CONTEXTUALIZAÇÃO TOMADOS DE ROMANOS 1.18-32

Nesse tópico, sobre pressupostos bíblicos para a contextualização, sou devedor à análise de

Ronaldo Lidório do texto de Romanos 1.18-27 no livro Plantando Igrejas.

No verso 18, Paulo diz que Deus manifesta a sua ira dos céus contra a “impiedade” e

“perversão” (ARA) ou “injustiça” (ARC). A impiedade significando o relacionamento quebrado com

Deus e seus mandamentos, enquanto a perversidade ou injustiça, os relacionamentos quebrados

com o seu próximo. Deus está irado com os seres humanos que quebram os dois maiores

mandamentos das Escrituras Sagradas: amar a Deus e amar ao próximo. Enfim, o homem está

corrompido pelo pecado.

Nos versos 19 e 20, Deus nos mostra que os homens são indesculpáveis, pois o que se pode

conhecer de Deus foi manifestado por meio da criação. A própria criação revela Deus, ou seja, os

“atributos invisíveis de Deus”, “seu eterno poder” e “sua própria divindade”. Conclui aqui Ronaldo

Lidório:

Page 37: Material Estudo Na Igreja

Portanto, perante o homem caído, existente em sua própria injustiça, impiedoso e perverso, Paulo não destaca soluções humanas, eclesiásticas ou mesmo sociais. Ele nos apresenta Deus. Na teologia paulina, a solução para o homem não é o homem, mas Deus e sua revelação.[5]

Os versos 21 a 23 apontam para uma realidade marcante acerca do ser humano em pecado.

Ele preferiu mudar a realidade da revelação natural que aponta para Deus e assim “não o

glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”. Trocaram a glória de Deus pelos deuses de seus

próprios corações, manipuláveis e dirigidos por si mesmos. Tornaram-se “nulos em seus próprios

raciocínios”. Esses versos nos revelam algo muito importante a ser considerado. Apesar da

revelação natural de Deus, eles não o consideraram, por isso são condenados. Condenados não

porque não conhecem a Bíblia, ou por não glorificarem a Deus ou por não ouvirem o evangelho, “os

homens são condenados cada um por seu pecado”.[6]

Nos versos 24 a 32, Paulo nos ensina que “tais homens”...“mudaram a verdade de Deus em

mentira, adorando e servindo a criatura em lugar do Criador”. De alguma o juízo de Deus já se

manifesta sobre os homens. Por três vezes Paulo usa o verbo “entregou” (paredoken – vv. 24, 26,

28) como sinal de juízo, não por induzi-los ao pecado, mas retirando as restrições para pecarem

como desejam. Entregou-os “à imundícia” (v.24), “a paixões infames” (v.26) e “a uma disposição

mental reprovável” (v.28). “Essas pessoas já haviam abandonado voluntariamente a Deus que

apenas deixou-os à própria auto-determinação e auto-destruição, parte do preço da liberdademoral

do homem”.[7]

Ao final da exposição do texto de Rm 1.18-27, Ronaldo Lidório elenca alguns princípios de

contextualização:

1. Há uma verdade universal e supracultural: Deus é soberano e dono de toda glória. Esta verdade fundamenta a proclamação do evangelho.2. O pecado intencional (perversidade e impiedade) nos separa de Deus. Não há como apresentar Deus que busca se relacionar com o homem sem expor o pecado humano e seu estado de total carência de salvação.3. Somos seres culturalmente idólatras. É comum ao homem caído gerar uma idéia de deus que satisfaça aos seus anseios sem confrontá-lo com o pecado. Esta atitude é encontrada em toda a história humana e não colabora para o encontro do homem com a verdade de Deus.4. A mensagem pregada por Paulo é contextualizada expondo Deus em relação à realidade da vida e queda humana. Não é inculturada, pregando um Deus aceitável ou desejável, mas um Deus verdadeiro. Se amenizarmos a mensagem do pecado contribuiremos para a incompreensão do evangelho.[8]

1.2 CONTEXTUALIZAÇÃO CRÍTICA

Os missionários têm de lidar com algumas questões quando pessoas de outras culturas se

convertem. Por exemplo, o que fazer com os antigos costumes culturais, filosóficos, existenciais e

religiosos que diferem ou vão de encontro aos ensinos de Deus?

Há alguns modos de lidar com essas questões. Segundo Paul G. Hiebert pode-se lidar de três

formas: (1) negando o velho: rejeição da contextualização; (2) aceitando o velho: contextualização

acrítica; e (3) lidando com o velho: contextualização crítica.

1.2.1 Rejeição da contextualização

Boa parte da evangelização na era colonial era feita sem uma consideração séria do contexto

de seus ouvintes e convertidos. “Os primeiros missionários geralmente tomavam as decisões e

tinham a tendência de rejeitar a maioria dos velhos costumes considerados ‘pagãos’”.[9] Rejeitava-se

costumes tradicionais como músicas, instrumentos, ornamentos, roupas, comidas, celebração

matrimonial, rituais funerários, por exemplo, por se tratar de velhos costumes das religiões

tradicionais dos nativos. Coisa inaceitável para os missionários e/ou pastores. Muito dessa rejeição

Page 38: Material Estudo Na Igreja

estava ligada não ao evangelho em si, mas à cultura dos missionários. Em muitas culturas é difícil

definir com clareza ou que é religioso, daquilo que não é. Sabendo também que em algumas culturas

tudo envolve coisas espirituais, portanto, fruto de crenças religiosas, como no animismo.

Hiebert enumera três problemas com a negação do velho:[10] (1) deixa um vazio cultural que

precisava ser preenchido, que normalmente é preenchido pelos costumes do missionário. Exemplo,

tambores, címbalos e outros instrumentos são substituídos por órgãos e pianos. (2) a negação por

parte dos missionários leva a fazê-los às escondidas. Conduz ao sincretismo religioso. “Por exemplo,

não é incomum que na África as pessoas realizem um casamento cristão formal na igreja e depois

vão até à aldeia para as celebrações tradicionais”.[11] (3) A negação total das culturas locais

transforma os missionários e líderes em policiais e impedem que eles cresçam, impedindo-os de

tomarem suas próprias decisões. “Uma igreja só cresce espiritualmente se seus membros aprendem

a aplicar os ensinamentos do evangelho a suas próprias vidas”.[12]

1.2.2 Contextualização acrítica

Há uma segunda resposta sobre o que fazer os velhos hábitos e costumes culturais dos

nativos: aceitar as velhas práticas sem nenhum tipo de análise crítica. “Os velhos hábitos culturais

são vistos como basicamente bons, e poucas ou nenhuma mudança é considerada necessária

quando as pessoas se tornam cristãs”.[13]

Problemas sérios ocorreram quando o evangelho é pregado e nada é exigido de mudança na

vida das pessoas, das corporações e da sociedade em geral. Pois o evangelho exige mudanças em

todo o contexto que o ser humano esteja envolvido. Lidório afirma que “historicamente, a ausência de

uma teologia bíblica de contextualização tem gerado  duas conseqüências desastrosas no

movimento missionário mundial: o sincretismo religioso e o nominalismo evangélico”.[14]

1.2.3 Contextualização crítica

Vimos que a rejeição ou aceitação das práticas culturais sem um exame e aplicação crítica é

extremamente prejudicial ao cristianismo nativo. O que fazer, então, com os velhos aspectos

culturais? É preciso fazer uma contextualização crítica. Como se dá isso?

1.2.3.1 Exegese da cultura

O primeiro passo para a contextualização crítica é estudar a cultura local

fenomenologicamente. “Líderes da igreja local e o missionário devem conduzir a congregação a uma

reunião não-crítica e analisar as crenças e costumes tradicionais relacionados a alguma questão”.

[15] Todos devem analisar seus ritos tradicionais como casamento, funerais, festas, dentre outros

costumes, e depois discutir com eles o significado de cada aspecto daquela antiga tradição. O

propósito é entender, sem criticar inicialmente, pois se o missionário assim o fizer, não falarão sobre

o assunto e o significado mais profundo deles.

1.2.3.2 Exegese da Escritura e a Ponte Hermenêutica 

O segundo passo é conduzir a igreja a estudar a Escritura com relação à questão observada.

Os líderes da igreja analisam o significado, por exemplo, da morte na Bíblia e nas tradições locais. “O

líder deve ter também uma estrutura metacultural que o capacita a traduzir a mensagem bíblica nas

dimensões cognitiva, afetiva e avaliativa de outra cultura”.[16] Deve haver também uma participação

ativa da igreja no estudo do caso em questão para que tenha capacidade de discernir por si mesma a

verdade de Deus.

1.2.3.3 Resposta crítica

Page 39: Material Estudo Na Igreja

O terceiro passo é levar a igreja a avaliar criticamente à luz da Escritura seus próprios

costumes do passado e tomar decisões com respeito a essas práticas. Não é suficiente que os

líderes estejam convencidos das mudanças que são necessárias. “Os líderes podem compartilhar

suas convicções pessoais e apontar as conseqüências de várias decisões, mas eles devem permitir

o povo a tomar a decisão final na avaliação de seus costumes do passado”.[17]

Carlos del Pino resume esses três passos para uma contextualização crítica ao analisar Atos

13.36, citado anteriormente:

Nossa missão repousa sobre uma tarefa hermenêutica permanente muito ampla: estudar as Escrituras encontrando nelas os propósitos redentores de Deus; estudar a sociedade encontrando a alma da nossa geração e criar as devidas pontes para que a mensagem de Deus seja proclamada e vivida de forma relevante e transformadora dentro dessa geração.[18]

1.3. CONCLUSÃO

Quero concluir com alguns desafios propostos por Whiteman com respeito a contextualização

missionária. Segundo ele, devemos nos livrar de nosso próprio etnocentrismo e hegemonia

eclesiástica, sendo humildes para ouvir e aprender das culturas diferentes da dos missionários e

pastores envolvidos na comunicação do evangelho.

Whiteman aponta três desafios para a contextualização na missão:

1. A contextualização muda e transforma o contexto – este é o desafio profético.2. A contextualização expande nossa compreensão do evangelho porque nós agora vemos o evangelho através de lentes culturais diferentes – este é o desafiohermenêutico.3. A contextualização muda os missionários porque eles não serão os mesmos uma vez que eles se tornam parte do corpo de Cristo em um contexto diferente do deles – este é o desafio pessoal.[19]

2. MODELOS BÍBLICOS DE CONTEXTUALIZAÇÃO DA MENSAGEM

A questão básica para que os seres humanos, criados à imagem de Deus, conheçam o

propósito de salvador de Deus, passa pela comunicação da mensagem das boas novas. Paulo diz

claramente: “... E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.12). A Palavra de Deus é cheia de

exemplos de contextualização da mensagem para que a vontade salvadora de seja conhecida e

compreendida.

A própria comunicação acerca de Deus é feita, muitas vezes, contextualizada nas palavras ao

entendimento humano dentro de seu contexto existencial.

Vamos tomar como exemplos a experiência do apóstolo Paulo na comunicação do evangelho

de Cristo em quatro contextos distintos, os quais sejam: (1) Damasco (At 9.19-22), (2) Antioquia da

Pisídia (At 13.14-41), (3) Listra (At 14.14-17) e (4) Atenas (At 17.16-31).

2.1 Paulo em Damasco (At 9.19-22)

Logo após a conversão de Paulo e de seu chamamento para ser apóstolo de Jesus, ele se

associa com outros convertidos de Damasco e começa a pregar na sinagoga da cidade, num

contexto essencialmente judeu. Os judeus já tinham conhecimento das Sagradas Escrituras do

Antigo Testamento e, por conseguinte, da promessa do Messias. No tempo de Jesus era grande a

expectativa da chegada do Cristo de Deus. Vários são os textos que falam dessa expectativa por

parte dos líderes judeus, como do povo em geral (e.g. Mt 23.63; Lc 3.15; 22.67, Jo 1.41; 4.25).

A mensagem essencial dirigida a judeus na sinagoga foi pregada afirmando que Jesus é “o

Filho de Deus” (v.20), “demonstrando que Jesus é o Cristo” (v.22). A verbo grego para

“demonstrando” (symbibazon) é muito importante para o método de pregação de Paulo no contexto

Page 40: Material Estudo Na Igreja

mais estreitamente judaico. Lidório diz que “implica demonstração com evidências objetivas, visíveis,

o que nos dá a impressão de que Paulo o fazia por meio do próprio texto sagrado, as Escrituras”.[20]

Robertson diz que “aqui Saulo tomou os vários itens na vida de Jesus de Nazaré e encontrou

neles a prova que ele era na realidade ‘o Messias’ (o` Cristoj)”. Este método de argumento Paulo

continuou a usar com os judeus (At 17.3)”.[21]

Na versão em português ARA symbibazon é traduzida por “demonstrando”, mas a ARC traduz

por “provando”, assim como nas duas versões em inglês King James Version (KJV) e New

International Version (NIV) “proving”. Paulo ao pregar o evangelho aos judeus buscava provar pelas

Escrituras que de fato Jesus era o Cristo. O pastor puritano do século XVII Matthew Henry comentou

o verso da seguinte forma: “... em todos os discursos com os judeus, ele provava que esse Jesus era

o Cristo, o Ungido de Deus, o verdadeiro Messias prometido aos pais. Ele

estavaprovando, symbibazon – afirmando e confirmando, ensinando com persuasão”.[22]

2.2 Paulo em Antioquia da Pisídia (At 13.14-41)

O texto nos mostra Paulo e alguns companheiros, “atravessando de Perge para a Antioquia da

Pisídia, indo num sábado à sinagoga” (v.14).  Na sinagoga os chefes perguntam se eles tinham

“alguma palavra de exortação ao povo” (v.15). Paulo aproveita a oportunidade para pregar a Jesus.

O contexto humano em termos de religião é essencialmente judeu, com alguns simpatizantes e

prosélitos gentios. Ele começa sua mensagem falando de um dos eventos mais importantes para

seus ouvintes que foi o êxodo. Faz um panorama das história de Israel até Davi e faz a ponte do

Messias predito por Davi apontado para Jesus (vv.22-23). Assim Paulo parte do “Deus de Israel”,

fundamentando-se no Antigo Testamento para apresentar o Messias, porque sabia que havia ali

gentios que buscavam seguir o judaísmo bíblico.

 “Porém sua pregação tem também forte teor moral e escatológico, que a distingue da primeira

em Atos 9, apenas para os judeus, demonstrando sua sensibilidade para um auditório misto, mesmo

que prioritariamente judeu e judaizante”,[23] diz Lidório. A fim de apresentar também aos gentios

judaizantes a mensagem salvadora de Deus, Paulo apresenta de forma inclusiva “um Messias judeu

para judeus e gentios”.[24]

2.3. Paulo e Barnabé em Listra (At 14.14-17)

Ainda na sua primeira viagem missionária Paulo e Barnabé passam pela cidade de Listra, na

Licaônia, parte da seção da província romana da Galácia. Bertil Ekström afirma que “a cidade de

Listra ficava numa região agrícola e, por muitos, considerada atrasada. Seus habitantes falavam a

língua licaônica e não o latim ou grego, utilizadas pelos mais cultos no Império Romano. [...]

ambiente de zona rural e de idolatria”.[25]

A história da igreja em Listra começa com a cura de aleijado paralítico de nascença (vv.8-10).

As multidões entenderam que os deuses Júpiter e Mercúrio (no original grego Zeus e Hermes[26])

haviam baixado até eles. Nesse frenesi o sacerdote de Júpiter e as multidões preparam-se para

oferecer sacrifícios a Paulo e Barnabé. Estes por sua vez, indignados com aquilo, rasgam as suas

vestes, comportamento judeu, mas com certeza compreensível para o povo de Listra. Então

passavam a pregar o evangelho de forma contextualizada com o ambiente totalmente gentio e rural

(At 14.15-17).

Diz Ekström:

A pregação propriamente dita inicia-se com alguns termos chaves: anunciamos o evangelho (evangelizomai), para que destas coisas vãs (mataios – de matê – vão, ineficiente, inútil, infrutífero, sem base, louco, tolo, 1Co 3.20; 1Co 15.17; Tt 3.9) vos convertais (epistrefein – mudar de direção, dar meia volta, significando mudar de caminho de vida, uma transformação completa) ao Deus vivo. [27]

Page 41: Material Estudo Na Igreja

A abordagem da mensagem nesse contexto gentio e rural começa apresentando Deus como

Criador de tudo, que “permitiu que os povos andassem nos seus próprios caminhos” (At 14.16).

Contudo se manifestou por meio da natureza, especialmente da graça comum, ao enviar para eles

também “chuvas e estações frutíferas”, tendo como conseqüência “fartura e alegria” (At 13.17).

Eerdman comenta:

Em Listra Paulo dá um exemplo admirável da adaptação necessária da mensagem missionária ao auditório, não alterando sua essência, mas o enfoque. Paulo se dirige à entusiasmada multidão de pagãos. Não começa recorrendo à Escritura, que seus ouvintes desconhecem por completo, mas fala-lhes de Deus cujo poder e amor se manifestam nas obras da natureza e de sua providencia. Diante da bondade de um Deus vivo e verdadeiro como esse, Paulo convida a seus ouvintes a se arrependerem, e prepara o caminho para a mensagem acerca de Cristo, o Salvador.[28]

Fazendo uma comparação entre as abordagens entre judeus e gentios, Henry observa:

“quando pregaram aos judeus, que odiavam a idolatria, não tinham que fazer senão anunciar a graça

de Deus em Cristo. [...]. Mas, ao pregar aos gentios, tinham de corrigi-los dos erros e equívocos da

religião natural e tirá-los de suas deturpações grosseiras”.[29] Devemos notar também que a

exposição além de ser num contexto gentio, é rural também,  por isso “a terminologia é campesina e

facilita ao povo um reconhecimento da grandeza de Deus”.[30]

2.4 Paulo em Atenas (At 17.16-31)

A pregação do evangelho na cidade de Atenas se dá de forma semelhante à de Listra, ou seja,

num contexto totalmente pagão, sem pontes com a religião judaica. No entanto, o contexto cultural e

religioso de Atenas exige uma mensagem mais elaborada para atingir seus cidadãos. “Atenas é

contexto urbano, cosmopolita e pluralista”,[31] “o centro filosófico do mundo da época”.[32] Embora

Atenas tivesse uma sinagoga e Paulo pregou nela (At 17.17), ele também pregava na praça (agora).

Sendo descoberto por filósofos estóicos e epicureus, estes o levaram para o areópago (colina de

Ares). O povo da cidade e residentes que vieram de outros lugares possuíam o hábito de ouvir os

verdadeiros filosóficos nesse lugar. Aproveitando a curiosidade filosófica dos atenienses, Paulo

começa sua mensagem contextualizada elogiando sua acentuada religiosidade (At 17.22). Parece

que Paulo inicia seu discurso usando essas palavras no bom sentido para atrair a sua atenção.

Matthew Henry comenta que “o discurso registrado aqui é dirigido aos idólatras educados e

cultos de Atenas. Trata-se de um discurso admirável e, sob todos os aspectos, adequado ao público-

alvo e ao propósito que o apóstolo tinha em mente”.[33] Novamente Henry percebe, mesmo sem

usar o termo contextualização, que a mensagem era adequada  aos seus ouvintes.

Além da ponte da religiosidade dos atenienses, Paulo ainda utiliza-se da ponte de uma

divindade adorada por eles sem saber quem era, o “Deus desconhecido”. A partir do Deus

desconhecido e da revelação natural – o universo criado -  Paulo apresenta o Deus que ele conhecia

muito bem. Um exemplo clássico de contextualização da mensagem ocorreu quando o apóstolo

utilizou a palavra grega para Deus (Theós) como aquele “que fez o mundo e tudo que nele existe”

(v.24), assim como para o deus desconhecido.

Conforme analisa Lidório, “ele utiliza o termo grego existente para deus, para lhes apresentar

revelacionalmente o Deus da Palavra, criador de todas as coisas. Faz, em sua mensagem, uma clara

distinção entre deus e Deus. O fim da mensagem é o mesmo: Jesus que morreu e ressuscitou”.[34]

Num contexto judeu Paulo fala do Cristo prometido aos filhos da promessa, o povo judeu,

provando ser Jesus o Cristo. No contexto ateniense estritamente gentio, e alheio às promessas do

Antigo Testamento, Paulo fala-lhes como filhos da criação. Pois “possuíam tremenda atração pelas

obras criadas e fascinação pela figura do Criador”.[35] Além de falar dos atributos do Deus vivo,

Page 42: Material Estudo Na Igreja

Paulo finaliza apresentando a Jesus como o centro do plano salvador de Deus para toda

humanidade.

Há vantagens e desvantagens da contextualização em qualquer contexto onde deve ser

pregado o evangelho. Em Listra num ambiente cultural menos intelectual, Paulo e Barnabé quase

foram adorados. Parece que a mensagem foi mais absorvida. Já em Atenas, Paulo poderia ser

entendido como pregador de mais um “deus” entre tantos que eles adoravam. O único elemento

radical da sua mensagem era a ressurreição, coisa inaceitável para os ouvintes filósofos.

Devemos lembrar que por natureza o homem tende a rejeitar o evangelho, e que não é assim

tão fácil apresentar a mensagem salvadora de forma contextualizada. Sempre haverá rejeições. Em

Listra foi dado por morto depois de apedrejado. Em Atenas foi menosprezado e ridicularizado.

CONCLUSÃO

Como diz Lidório, “o valor primário da contextualização do evangelho é a mensagem, a

Palavra, e não a técnica, a comunicação”.[36] A contextualização não é um fim em si mesma, mas o

meio, a ferramenta que pode e deve ser usada para uma melhor compreensão e recepção do

evangelho.

O conteúdo da exposição do evangelho deve sempre incluir os três elementos básicos que

constituem o cerne da revelação especial de Deus: criação, queda e redenção. Lidório afirma que

o conteúdo do evangelho exposto em todo e qualquer lugar deve incluir: a) Deus como Ser Criador e Soberano (Ef 1.3-6); b) o pecado como fonte de separação entre o homem e Deus (Ef 2.5); c) Jesus, sua cruz e ressurreição como o plano histórico e central de Deus para redenção do homem (Hb 1.1-4); d) o Espírito Santo como o cumprimento da promessa e encarregado de conduzir a igreja até o dia final.[37]

Concluo dizendo que a ferramenta da contextualização da mensagem à realidades dos

receptores é de suma importância. No entanto, a mensagem evangélica jamais deve ser diluída,

deve-se pregar todo o desígnio de Deus, começando dos elementos centrais mais simples para os

mais complexos. É preciso sensibilidade ao público alvo como Paulo o fez nos quatro contextos

diferentes de Damasco, Antioquia da Pisídia, Listra e Atenas. O uso da fenomenologia cultural pode

ser usado, como o “Deus desconhecido” e a criação, desde que apresente claramente as boas

novas. O alvo final da comunicação da mensagem contextualizada é levar os homens o

conhecimento de Cristo, levando-os ao arrependimento e à conversão verdadeira e ao

estabelecimento de igrejas saudáveis e reprodutoras.

[1] HESSELGRAVE, David. J. Comunicação Transcultural do Evangelho. Vol. 1. Trad. Márcio Loureiro Redondo. São Paulo; Vida Nova, 1994, p.120.

[2] WHITEMAN, Darrell L. Contextualization: The Theory, The Gap, The Challenge. In: International bulletin of Missionary Research. New Haven, (quarterly) January 1997, p.2. Minha tradução.

[3] DEL PINO, Carlos. Caminhos Missionários da Igreja: estudos em Atos parte 1. In: Revista Palavra Viva. São Paulo: Cultura Cristã, s.d, p.45.

[4] REEDER III,  Harry L. A Revitalização da sua Igreja segundo Deus: para experimentar a ação visível do poder do Espírito Santo. São Paulo: Cultura Cristã, 2011, p. 104. O foco do autor é na revitalização de igrejas estabelecidas e que passam por estagnação ou declínio, tendo como um dos principais sintomas de enfermidade, o tradicionalismo morto, falta de fervor missionário e de contextualização.

[5] LIDÓRIO, Ronaldo. Plantando Igrejas: teologia bíblica, princípios e estratégias de plantio de igrejas. São Paulo, 2007, p. 33.

[6] Ibid.

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[7] ROBERTSON, A. T. Word Pictures of The New Testament. Disponível em: ttp://www.biblestudytools.com/ commentaries/robertsons-word-pictures/romans/romans-1-24.html. Acesso em: 03 nov. 2011. Minha Tradução.

[8] LIDÓRIO, Op. Cit., p. 33-34.[9] HIEBERT, Paul G. O Evangelho e a Diversidade das Culturas: um guia de antropologia

missionária.  São Paulo: Vida Nova, 2008, p.184.[10] Ibid., p.184-185.[11] Ibid., p.185.[12] Ibid.[13] HIEBERT, O Evangelho e a Diversidade das Culturas, p.185.[14] LIDÓRIO, Plantando Igrejas, p. 25.[15] HIEBERT, Paul G. Antropological Reflections on Missiological Issues. Grand Rapids: Baker,

1994, p.88. Minha tradução.[16] HIEBERT, Antropological Reflections on Missiological Issues. p.89.[17] Ibid.[18] DEL PINO, Caminhos Missionários da Igreja, p.46.[19] WHITEMAN, Contextualization, p.6.[20] LIDÓRIO, Plantando Igrejas, p. 34.[21] ROBERTSON. Word Pictures of The New Testament.[22] HENRY, Matthew. Atos a Apocalipse. In: Comentário Bíblico do Novo Testamento. Rio de

janeiro: CPAD, 2008, p.99.[23] LIDÓRIO, Plantando Igrejas, p.35.[24] Ibid.[25] EKSTRÖM, Bertil. Modelos Bíblicos de Contextualização em Atos 14 e 17.

In:Contextualização Missionária: desafios, questões, diretrizes. Barbara Helen Burns (ed.). São Paulo: Vida Nova, 2011, p.37.

[26] Júpiter e Mercúrio são as formas latinizadas dos deuses gregos Zeus e Hermes, respectivamente.

[27] EKSTRÖM. op. cit., p.39.[28] EERDMAN, Carlos R. Hechos de los Apóstoles. Grand Rapids: T.E.L.L., 1974, pp.133-134.[29] HENRY. Atos a Apocalipse, p.152.[30] EKSTRÖM. Modelos Bíblicos de Contextualização em Atos 14 e 17, p.41.[31] Ibid., p.41.[32] LIDÓRIO, Plantando Igrejas, p.35.

[33] HENRY. op. cit., p.191.[34]LIDÓRIO, Plantando Igreja, p.35-36.[35] Ibid., p.36.[36] Idem. A Teologia Bíblica da Contextualização. In: Contextualização Missionária: desafios,

questões, diretrizes. Barbara Helen Burns (ed.). São Paulo: Vida Nova, 2011, p.30.[37] LIDÓRIO, Plantando Igrejas, p.39.

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A sua igreja é missional?Irmãos,

Novos modelos de igrejas estão surgindo todos os dias, mas, este me chamou atenção.O pioneiro é tradicionalista, sem terno e sem gravata, mas, com mensagem cristocêntrica e expositiva.Ricardo Agreste um nome bem conhecido no meio evangélico é o expoente desse novo movimento.A ênfase é o desenvolvimento de missões urbanas, com novos caminhos para "plantação" de igrejas na sociedade pós-moderna.

Sua igreja está preparada para era pós-moderna, é missional?

Vital.

http://igrejamissional.wordpress.com/O que é a igreja missional?Publicado: 06/03/2011 em Igreja Brasileira, Reflexão Missional 2

Iniciamos esta série entrevistando o pastor José Marcos Jr, mais conhecido pela alcunha de Marquito.

Marquito é Plantador e pastor da Comunidade Alternativa Cristã Ajuntamento na cidade de Piracicaba – SP, formado em Teologia pelo Seminário Presbiteriano do Sul e Pós-Graduando em Plantação e Revitalização de Igrejas pela mesma instituição. É casado com Deborah, com quem tem uma filha: Luíza.

Igreja Missional: Em sua visão, o que é ser uma igreja missional?

Marquito: A minha visão de igreja missional tem a ver com uma comunidade “voltada para fora”, ou seja, onde o que fazemos como comunidade tem por objetivo alcançar a outros, cumprindo em nossa vida, programações, treinamento e visão a Grande Comissão do Evangelho, a saber: “ir a todo mundo e pregar o evangelho a toda criatura.” Desta forma, a manutenção da comunidade e toda burocracia nela envolvida torna-se secundária, pois o que importa é a contextualização do evangelho à nossa sociedade e cultura e o quanto cada membro da comunidade vive o evangelho como testemunho entre as nações. Resumindo: uma igreja missional não entende a missão de pregar e viver o evangelho como parte dela ou como um dos seus ministérios, mas como a essência de sua existência no Reino. 

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Igreja Missional: A Ajuntamento é uma comunidade que claramente busca a contextualização. Qual o fundamento bíblico para a contextualização?

Marquito: Para nós o maior fundamento bíblico está na encarnação. Para nós nada é mais contextual do que o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, ou seja, falou a nossa língua, teve o nosso cheiro, pisou nas estradas poeirentas de Israel. Também vemos o texto de Atos 17 (de Paulo em Atenas) como emblemático para a contextualização, pois ali ele usa do totem ao “deus desconhecido”, e a partir da realidade da idolatria daquele lugar prega o evangelho e faz um “link” com a realidade da salvação oferecida em Jesus.

Igreja Missional: Você enfrentou, ou ainda enfrenta, algum tipo de preconceito por parte de algumas igrejas? A que você atribui isso?

Marquito: Sim, ainda sofro com muito preconceito! Eu atribuo isto ao medo que o novo sempre gera em qualquer época ou sociedade. Durante décadas em nosso país estivemos acostumados a um tipo de igreja, a um determinado esquema litúrgico que inclui determinadas músicas, vestimentas e outros utensílios, além de um linguajar que se tornou próprio apenas de púlpitos ou templos. Quando, de alguma forma, você rompe com isto (sem abrir mão dos princípios), as pessoas tendem a imaginar que você está abrindo mão do evangelho em si. Aí, demonstra-se a confusão entre evangelho e cultura evangélica. O que propomos é seguir o evangelho de Jesus e contextualizar a mensagem de acordo com a cultura do tempo que se chama hoje.

Igreja Missional: A teologia ocupa lugar secundário dentro de uma proposta de igreja missional?

Marquito: Pelo contrário! Tudo o que uma igreja missional se propõe a fazer deve, necessariamente, estar embasado teologicamente. Não é possível fazer a contextualização sem um profundo conhecimento das bases históricas da nossa fé e sem uma hermenêutica muito bem feita das escrituras.

Igreja Missional: O que vem a ser uma liturgia missional?

Marquito: Vem a ser uma liturgia que tenha conexão com o tempo que vivemos, que transmita os valores do Reino àquele que está dela participando e que leve à adoração produzindo o mínimo possível de ruído na comunicação. Algumas perguntas precisam ser feitas ao se pensar uma liturgia missional: as músicas que cantamos falam o quê e a quem? A linguagem das músicas, textos e orações é inteligível ao ser humano pós-moderno? O que fazemos serve a Deus e a Seu povo ou apenas à história?

Igreja Missional: Pode definir o que é uma liderança missional?

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Marquito: É uma liderança que pensa a estratégia da igreja nos pressupostos listados acima para uma igreja missional. O que costumamos nos perguntar aqui ao tomar uma decisão é: o que fazemos tem a ver com a missão que entendemos Deus ter nos dado como igreja? Como podemos, através das estratégias que adotamos e do planejamento que fazemos ser fiéis ao chamado como igreja do Senhor Jesus em pleno século XXI – uma liderança missional sempre estará atenta a estas questões.

Igreja Missional: Como é uma pregação missional?

Marquito: Em primeiro lugar é altamente contextualizada. Um dos graves problemas que vejo em muitas mensagens cristãs do nosso tempo está no fato de que elas respondem de maneira altamente correta às perguntas que levanta, só que as perguntas que levanta não são as perguntas que o povo está fazendo. Ou seja, a resposta está certa, mas a pergunta proposta é equivocada. Aí, temos muita gente simplesmente respondendo a perguntas que não estão mais sendo feitas! Em segundo lugar precisa ser bíblica. Isto é importante ressaltar porque, muita gente no desejo de ser contextualizado e descolado tem perdido a oportunidade de pregar a Palavra. Há muito conteúdo de psicologia travestido de evangelho e pouco evangelho sendo anunciado. Em terceiro lugar precisa usar uma linguagem adequada. Não adianta falar muito e corretamente, com uma ótima hermenêutica e exegese se, na hora de transmitir a mensagem, ninguém entende nada! Um pregador missional precisa, necessariamente, conhecer o povo a quem prega e falar a língua dele!

Igreja Missional: Em sua opinião, “missional” é apenas uma nova onda eclesiástica, ou uma direção de Deus para igrejas hoje? Justifique.

Marquito: Em minha opinião é uma direção que Deus tem nos dado. A principal justificativa tem a ver com a Palavra. Ora, se Jesus, que é o Cabeça da Igreja, veio para buscar e salvar o perdido e não para manutenção da religiosidade reinante em seu tempo, então nós, como Corpo de Cristo precisamos entender assim o nosso chamado, compreendendo a igreja local não como um fim em si mesma, mas como um instrumento de Deus em nosso tempo para que o evangelho continue a alcançar os que estão perdidos. Assim, ao meu ver, a “onda missional” tem a ver com um despertamento do Espírito Santo no coração de muitas pessoas desejosas de ver o evangelho alcançando do maneira efetiva aqueles a quem Deus tem chamado.

*Você encontra mais do Marquito e da Comunidade ajuntamento em: www.ajuntamento.com.br

Em Cristo,

Roberto de AssisTwitter: @igrejamissionalE-mail: [email protected]

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