Meditacoes Santo Affonso Maria de Ligorio Tomo I

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MEDITAESPARA TODOS OS DIAS DO ANNOTOMO I

MEDITAES

PARA TODOS OS DIAS E FESTAS DO ANNO TIRADAS DAS OBRAS ASCTICAS DE

SANTO AFFONSO MARIA DE LIGORIOBISPO E DOUTOR DA SANTA IGREJA PELO

P. THIAGO MARIA CRISTINIDA CONGREGAO DO SS. REDEMPTOR

VERSO PORTUGUEZA DO

P.JOO

DE JONGDA ME S MA C ON GR E GA O

TOMO PRIMEIRO

DESDE O PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO AT A SEMANA SANTA INCLUSIVE

FRIBURGO EM BRISGAU (ALLEMANHA) 1921 HERDER & C I A ,L1VREIROS-EDITORES PONTIFCIOS BERLIM, CARLSRUHE, COLNIA, MUNICH, VIENNA, LONDRES, S. LUIZ MO.

APPROVA O.

PREFAC IO.

Em virtude dos poderes que me foram communicados pelo Revnio. P. Patrcio Murray, Superior Geral da Congregao do SSino. Redemptor, e visto o relatrio favorvel de dous theologos da nossa Congregao, encarregados de examinar as Meditaes tiradas das Obras ascticas de Santo Affonso Maria de Ligorio, Bispo e Doutor da Santa Igreja, para todos os dias e festas do anno, pelo P. TMago Maria Cristini, da Congregao do SSmo. edempior Verso portugueza do P. Joo de Jong, da mesma Congregao, permiltimos que sejam imprimidas, servatis de iure servandis. Rio de Janeiro, 2 de Outubro de 1919.

Esto reservados todos os direitos.Typographia de Herder e Cia., Friburgo em Brisgau (Allemaiiha).

Gult er Perrie ns, C. SS. R.,V is it . V ic eP r o v. B r a si l.

Imprimatur.Friburgi Brisgoviae, die 27 Decembris 1920

4- Carolus, Archiepps.

A presentando este livro de meditaes s pessoas devotas, f \ _ julgo desnecessrio justificar o trabalho por mim em-prehendido, com a sua traduco para o idioma portuguez, cousa que alis fiz por obedincia. A justificao acha-se no prprio titulo do livro; e ningum dir que so de mais os livros de meditao escriptos em portuguez. Ao lado dos que existem, e cujos merecimentos no necessitamos encarecer, haver logar para mais um, visto que, tambm no tocante s meditaes, a variedade deleita. A forma variada, sob a qual so propostas meditao as verdades immutaveis da f, excita novamente a atten-o, infiltra no espirito um novo raio de luz, commove mais efficazmente a vontade. Melhor justificao ainda tem a appario deste livro na segunda parte do titulo: Meditaes. . .tiradas das obras de Santo Affonso Maria de Ligorio. No hesito em applicar-lhe as seguintes palavras de um preclaro Bispo, na approvao dada s meditaes sobre o Sagrado Corao de Jesus, segundo Santo Affonso: Na escola dos santos que devemos aprender a orar e a meditar; ora, os pios exerccios que o Autor prope devoo dos fieis no so outra cousa seno os pensamentos, sentimentos, aspiraes do glorioso Santo Affonso, Doutor da Igreja. A piedade e sciencia deste grande santo commu-nica-lhes

unco que penetra o corao, e luz que esclarece o espirito. Acerca das obras ascticas de Santo Affonso dizia ainda o R. P. Mauron: No pode uma pessoa lr as obras deste santo Doutor, sem se sentir levada para Deus, e ouso dizer que a leitura assdua destes livros como que um signal de predestinao, visto como a alma que no est em graa ou no busca adquiril-a, no se pode comprazer na leitura destas paginas. O methodo adoptado pelo R. P. Cristini no carece de explicaes; convm somente observar que no fim de cada meditao vem indicado o logar das obras de Santo Affonso, d'onde ella foi tirada. Os nmeros do volume e da pagina referem-se edio italiana de G. Marietti, Turim, 1867. As meditaes que no trazem no fim indicao alguma, foram accrescentadas pelo Autor, por se no encontrar nas obras de Santo Affonso meditao apropriada festa ou ao dia. As oraes que no so do Santo, acham-se entre aspas, e as enriquecidas de indulgncias so marcadas com uma cruzinha (f). No appendice encontramse meditaes para diversas circumstancias particulares e algumas de reserva, de que o piedoso leitor poder fazer uso em logar de uma ou outra que menos condiga com o seu estado de vida ou de alma. Como sou de opinio que as meditaes de Santo Affonso muitox mais fructo ho de produzir, se fr seguido o modo de orar do Santo, direi sobre elle algumas palavras. Vr-se- ento que a meditao ou a orao mental n to difficil como

geralmente se imagina, e que antes um exerccio utilissimo a todos os fieis, mas indispensvel a quem deseja progredir no amor de Deus, na perfeio espiritual. Em seguida darei a tabeli das virtudes que Santo Affonso aconselha sejam praticadas cada mez sob a proteco especial de um dos Apstolos.

O Tradu ctor.

INDICE DO TOMO I.Pag.

Modo de fazer orao mental, segundo Santo Affonso . . 1 Tabeli das X II virtudes a sob a proteco dos santos Apstolos . . . . 4 serem praticadas em cada mez do anno,

I. DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTI CO.Primeira Juizo . . Deus mens . . . Tera-feira. Verbo . . . dos tempos . Deus . O decreto da Encarnao pelos semana do Advento: 7 ho10

Domingo. A temeridade do peccador e o dia do Segunda-feira. O peccado de Adam e o amor de

do 12 15 18

Quarta-feira. O Verbo se faz homem na plenitude Quinta-feira. Jesus illumina o mundo e glorifica a

Sexta-feira. Quaes sejam os que em verdade seguem a Jesus Christo . . . 20 23 Sabbado. Ineffavel dignidade de Maria Santssima

Quarto dia dia

X IX

de Dezembro. A Paixo de . . .

Jesus Christo durou todo o tempo da sua vida . . se offerece justia . . Sexto dia dia divina . como . . nossa victima 66 . . 63 Quinto dia dia

Segunda semana do Advento : Domingo. O encarceramento de Joo e a utilidade das tribulaSes 25 Segunda-feira. Deus entrega o prprio Filho morte para nos dar a vida . . passar outra 30 Quarta-feira. Amor que o Filho de Deus nos mostrou na Redem. . . 28 . . . .

xx de Dezembro. Jesus Menino

xxi

de Dezembro. Dr de Jesus . . . . .

Menino pela previso da ingratido dos homens 68 Stimo diadia Jos e Maria Santssima a Belm . . . . 71 . . .X XI I

Tera-feira. Retrato de um homem que acaba de

de Dezembro. Viagem de So

vida..................................................................................................................

Oitavo dia dia Belm . . , 76 . 74

xxiu.

de Dezembro. Jos e sem . . . abrigo .

Maria peregrinos em

po................................................................................................................. 33 Quinta-feira. Jesus, Homem de dores desde o seio de sua Me . 35 Sexta-feira. Na Cruz acha-se a nossa salvao . . . . 38 Sabbado. Maria Santssima, modelo de pacincia Terceira semana . . . 4o O do Advento: Domingo. Belm

Nono dia dia

xxiv

de Dezembro. A Gruta de

Dia xxv de Dezembro. Natividade de Nosso Senhor Jesus

testemunho de So Joo Baptista e a modstia christ 43 Segunda-feira. Jesus Menino toma

Christo . . . . . sobre si todos os peccados dos . . . . . 79 nomens . . . . . . . . 45 Dia xxvi de Dezembro. Festa de Santo Estevam, Tera-feira. No inferno soffre-se sempre............................................................................. Protomartyr . 81 Meditao para a tarde 48 50 Quinta-feira. Jesus attribulado durante toda a sua vida . 53 Novena para a festa do Natal: Primeiro diadia xvi de Dezembro. Jesus Menino consente em ser . 55 Segundo dia dia xvn de Dezembro. Tristeza do Corao de Jesus . . no . seio . da Virgem . . . 61 58 . . Maria . . nosso . . . Redemptor . . do mesmo dia: Uma visita Gruta de Belm . . . . . . 84 . 86 Meditao para a . . . . Quarta-feira. Jesus, fonte de graas............................................................................

Dia xxvii de Dezembro. Festa de So Joo Evangelista tarde do mesmo dia: Offerecimenlo do corao a Jesus Menino . 89 Dia xxvill de Dezembro. Festa dos Santos Innocentes . . 91 Meditao para a tarde do mesmo dia: Felicidade de quem nasceu depois da Redempo e na Igreja catholica . Christo 96 Dia XX X de Dezembro. Vida de tribulaes que Jesus Christo comeou a levar desde seu . . 94 Dia X XI X de Dezembro. Alegria . . . . . . trazida ao mundo pelo nascimento de Jesus . . . . . .

Terceiro dia dia xviu de Dezembro. Expectao do Parto da Virgem Maria . . . . .

nascimento 99

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Sabbado na oitava da Epiphania. Solicitude maternal de Maria para com Jesus Christo . *33 Primeira semana depois da Epiphania: , 104 136 138 Tera-feira. Hei de morrer um dia . . H0 Quarta-feira. A eternidade do inferno terrvel, mas justa 143 Quinta-feira. Exemplos que nos da Jesus Menino . . . 146 149 . . . . .

Para o ultimo dia do anno. Devemos approveitar o tempo . 101 Meditao para a tarde do mesmo dia: Jesus Christo tem feito e padecido tudo por nosso amor . , .

Domingo. Perda de Jesus no templo.......................................................................

Mez de Janeiro : Dia I de Janeiro. A Circumciso de Jesus e o Sacramento do baptismoIO

Segunda-feira. Fim do homem................................................................................

S Domingo entre a Circumciso e a Epiphania. Festa do Santssimo Nome de Jesus Dia 11 de Janeiro. Porque Jesus quiz nascer criana . m Dia I II de Janeiro. Jesus envolto em faixas n

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Sexta-feira. Fuga de Jesus para o Egypto.............................................................. Sabbado. Maria Santssima, modelo de f . 151 . semana depois da Epiphania:

4 7 . 9

Dia I V de Janeiro. Jesus alimentado IX

Dia v de Janeiro. O somno de Jesus Menino . .u

Segunda .

Domingo. Desejo que Jesus teve de soffrer por ns

. iS4 Segunda-feira. O amor vence tudo......................................................................... Jesus Christo . 1S6 Tera-feira. Remorsos e desejos de um peccador 122 moribundo . 159 Dia vil de Janeiro. Jesus chora.................................................................................. Quarta-feira. Morte feliz dos religiosos................................................................. I2 4 161 Dia viu de Janeiro. Da vida humilde e desprezada Quinta-feira. Estada de Jesus no Egypto............................................................... que Jesus '64 levou desde a meninice . . . . Sexta-feira. Volta de Jesus do Egypto.................................................................... 167 I2 7 Sabbado. Santo Affonso, modelo de devoo a Dia I X de Janeiro. Misericrdia de Deus em baixar Maria Santssima 170 do cu para Dia vi de Janeiro. Epiphania de Nosso Senhor nos salvar com a sua morte . i29 Dia x de Janeiro. Vida pobre que Jesus comeou a levar desde o seu nascimento . I I

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Terceira semana depois da Epiphania: Domingo. O Centurio e os homens de meia f . 173 Segunda-feira. Os bens do mundo no . 178Pag.

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nos podem fazer felizes . 175 Tera-feira. Vinda do divino Juiz e exame no Juizo final .

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3

Quarta-feira. Quanto cara a Deus a alma que sc lhe entrega

toda . , . . . . . . . 181 Quinta-feira. Jesus na casa de Nazareth . . . . 183 Sexta-feira. Jesus cresce em idade, em sabedoria, e em graa 186 Sabbado. Da confiana em Maria, Rainha de misericrdia . 188'

ficante . . . .

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. 227

Quarta semana depois da Epiphania: Domingo. A barca na tempestade e a Igreja catholica . 191 Segunda-feira. Incerteza da hora da morte , . . 193 Tera-feira. Do fogo do inferno . , . . . 196 Quarta-feira. Qual ser o gozo dos Bemaventurados no paraso . 198 Quinta-feira. Devemos esperar tudo pelos merecimentos de Jesus Christo . 1 . . . . . . . . 201 Sexta-feira. Jesus quiz soffrer afim de ganhar os nossos coraes 203 Sabbado. Maria Santssima, modelo de esperana . . 205 Quinta semana depois da Epiphania: Domingo. A parbola do joio e a conducta de Deus para com os peccadores . . . . . . . . 208 Segunda-feira. Sejamos peregrinos sobre a terra . 210 Tera-feira. Loucura dos peccadores . . 213 Quarta-feira. O peccador abandonado por Deus . . 216 Quinta-feira. Amor que Deus mostrou aos homens no mysterio da Encarnao . . . . . . . 219 Sexta-feira. A pena mais grave do Menino Jesus 221 Sabbado. Quanto os religiosos devem confiar no patrocnio de Maria . . . . . . . . . . 224 Sexta semana depois da Epiphania: Domingo. A parbola do fermento e os effeitos da graa santi-

Segunda-feira. Necessidade da orao mental . . . . 229 Tera-feira. Pacincia de Deus em esperar que o peccador faa penitencia 232 Quarta-feira. Momento da morte 234 Quinta-feira. Amor de Deus em fazer-se homem . . . 237 Sexta-feira. Amor de Deus em fazer-se criana . , 239 Sabbado. Vantagens das Congregaes de Maria Santssima . 241 Semana da Septuagesima: Domingo. A parbola dos operrios e a recompensa divina . 244 Segunda-feira. Para ser santo preciso desejal-o muito . 247 xits^B. U\J 1UMU 1. XLPag.

Tera-feira. Commemorao da agonia e orao de Jesus no Horto 249 Quarta-feira. 0 peccador no quer obedecer a Deus . . . 252 Quinta-feira. A santa Missa d a Deus uma honra infinita . 254 Sexta-feira. Corao de Jesus, afflicto pelo peccado de escndalo . . . . . . . . . . 257 Sabbado. Da gratido para com as dores de Maria Santssima . 259 Semana da Sexagsima: Domingo. A parbola do semeador e a palavra divina . . 262 Segunda-feira. O peccador afflige o Corao de Deus . 264 Tera-feira. O peccado renova a Paixo de Jesus Christo . 267 Quarta-feira. Do numero dos peccados . . . . . 269 Quinta-feira. O carnaval santificado e as divinas beneficncias . 272 Sexta-feira. Amor de Jesus em querer satisfazer por ns . 275 Sabbado. Fructos da meditao das dores de Maria Santssima . 277

Semana da Quinquagesima: Domingo. A Paixo de Jesus Christo e os divertimentos do carnaval . . . . . . . . .

. 279

Domingo. A transfigurao de Jesus Christo e as delicias do paraso , . . , . . . . . . 316 Segunda-feira. Como devemos preparar-nos para a morte . . 318 Tera-feira. Effeitos que em ns produz a divina graa . 321 Quarta-feira. Da dignidade de So Jos, Esposo da Virgem Maria . . . . . . . . . . 324 Quinta-feira. Jesus presente nos altares para ser accessivel a todos . . . . . . . . . . 327 Sexta-feira. Commemorao do sagrado Sudrio de Nosso. Senhor Jesus Christo . . . . . . . . . 329 Sabbado. Maria Santssima, modelo de amor para com Deus 332 Terceira semana da Quaresma: Domingo. O demnio mudo e as confisses sacrlegas . . 334 Outra meditao para o mesmo domingo : Estado miservel dos que recaem no peccado . . . . . 337 Segunda-feira. Da verdadeira sabedoria . . . . . 339 Tera-feira. A separao dos escolhidos e dos rprobos no Juizo final . . . . . . . . . . 342 Quarta-feira. Da gloria de So Jos, Esposo da Virgem Maria . 345 Quinta-feira. Grandeza da dadiva que Jesus Christo nos fez na santssima Eucharistia . . . . . . . 347 Sexta-feira. Commemorao das cinco Chagas de Nosso Senhor Jesus Christo . . . . . . . -. . 349 Sabbado. Terceira Dr de Maria Santssima Perda de Jesus no templo . . . . . 352 . . . .

Segunda-feira. Da confiana em Jesus Christo . . . . 282 Tera-feira. O peccador expulsa Deus do seu corao . . 285 Quarta-feira de Cinzas. A lembrana da morte e o jejum quaresmal 288 Quinta-feira. Amor de Jesus Christo em dar-se a ns como alimento . . . . . . . . . . 290 Sexta-feira. Commemorao da Coroa de espinhos de Nosso Senhor Jesus Christo . . . . . . . . 293 Sabbado. Primeira Dr de Maria Santssima Prophecia de Simeo . . . . . . . . . . 295 Primeira semana da Quaresma: Domingo. Jesus no deserto e as tentaes das almas escolhidas . 298 Segunda-feira. Bemaventurado o que no quer outra cousa seno a Deus . . . . . . . . . . 300 Tera-feira. Quanto doce a morte do justo . . . . 303 Quarta-feira. Contas que ter de dar a Jesus Christo quem no segue a vocao . . . . . . . . 306 Quinta-feira. Quanto Jesus deseja unir-se comnosco na santa Communho 308 Sexta-feira. Commemorao da Lana e dos Cravos de Nosso Senhor Jesus Christo . , . . 311 Sabbado. Segunda Dr de Maria Santssima Fugida para o

Egypto....................................................................................................... 313Tag.

Segunda semana da Quaresma:

Quarta semana da Quaresma: Domingo. A multido faminta e as almas do purgatrio . . 355

Outra meditao para o mesmo domingo: Terna compaixo de Jesus Christo para com os peccadores . . . 357 Segunda-feira. Meios para alcanar o amor de Deus e a santidade 360 Tera-feira. Da nobreza da alma . . . . . . 362 Quarta-feira. Sentena dos escolhidos e dos rprobos no Juizo universal . . . . . . . . . 364 Quinta-feira. Unio da alma com Jesus na santa Communho . 367 Sexta-feira. Commemorao do preciosssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Christo . . . . . . . 369 Sabbado. Dr de Maria Santssima em consentir na morte de Jesus ......................................................................... ......................................................................... 372Pag.

Sabbado. Jesus apresentado aos pontfices e por elles condem. . . . . nado morte . . . 39

Semana Santa: Domingo de Ramos. Jesus faz a sua entrada triumphal em Jerusalm ......................................................................................................... 392 Segunda-feira. Jesus levado a Pilatos e a Herodes, e posposto - a Barabbas . . . . . . . . 395

.

Meditao para a tarde do mesmo dia: Jesus preso columna e flagellado . . . . . . . . 398 Tera-feira. Jesus coroado de espinhos e apresentado ao povo . . . . . . . . . . 400 Meditao para a tarde: Jesus condemnado e vae ao Calvrio . . . . . . . . . 403

.

Quarta-feira. Quarta Dr de Maria Santssima Encontro com Jesus, que carrega a cruz . . . . . 405 Meditao para a tarde: Jesus crucificado entre dous ladres . . . . . . . 408 . . .

Quinta semana da Quaresma: Domingo da Paixo. Grande fructo que se tira da meditao da

Paixo de Jesus Christo . . . . . Quinta-feira Santa. O dia do 374 amor . . . . . . 410 Segunda-feira. Conselho dos Judeus e traio de Meditao para a tarde: Quinta Dr de Judas . . 377 Maria Santssima Tera-feira. Ultima ceia de Jesus Christo com os Morte de Jesus seus disc. . . . . . . pulos ........................................................................................................................ . 413 379 Sexta-feira Santa. Morte de Jesus . , . . Quarta-feira. Jesus ora no Horto e sta sangue . . . . 382 . Quinta-feira. Jesus preso, ligado e conduzido a Jerusalm . 385 Sexta-feira. Commemorao das sete Dores de Maria Santssima ......................................................................................................................... 387 . 415 Meditao para a tarde: Sexta Dr de Maria Santssima Jesus descido da cruz . . . 418 .

Sabbado Santo. Stima Dr de Maria Santssima Sepultura de Jesus . . . . . . . . . . 420

Meditao para a tarde: Soledade de Maria Santssima depois da sepultura de Jesus . . . . . . 423

XI V

IN DI C E DO TOMO T.

N D I C E D O T O M O I.

X V

Pag.

II. DIVERSAS FESTAS DE NOSSO SENHOR, DE MARIA SANTSSIMA, DOS SANTOS APSTOLOS E DE OUTROS SANTOS.xxx de Novembro. Festa do Apostolo Santo Andr . . .. 426 vi de Dezembro. Festa de So Nicolau, Bispo . . . . 428 vili de Dezembro. Festa da Immaculada Conceio de Maria 431 xxi de Dezembro. Festa do Apostolo So Thom . . 434 xxix de Janeiro. Festa de So Francisco de Sales . . . 436 11 ^le Fevereiro. Festa da Purificao de Maria e da Apresentao de Jesus . . . . . . . . . 438 xxiv de Fevereiro. Festa do Apostolo So Mathias . . 441 V II de Maro. Festa de Santo Thomaz de Aquino . . . 443 xv de Maro. Festa de So Clemente Maria Hoffbauer . . 446 xix de Maro. Festa de So Jos, Esposo da Virgem Maria . 449 X XI de Maro. Festa de So Bento, Abbade . . . 451 xxv de Maro. Festa da Annunciao de Maria Santssima . 454

APPENDICE.I. MEDITAES PARA AS PRIMEIRAS SEXTAS-FEIRAS DO MEZ. Mez de Dezembro. O Corao de Jesus, modelo de fidelidade . 457 Mez de Janeiro. A devoo ao S. Corao, setta reservada . 459 Mez de Fevereiro. Recompensa da devoo ao S. Corao: a per severana . . . . . . . . . 462 Mez de Maro. Meio de nos unirmos ao S. Corao: a boa inteno 465Pag.

Terceira Quarta-feira Da volta do Egypto e da perda de Jesus 110 templo . . . . . . . . . 477 Quarta e quinta Quarta-feira: vejam-se as quartas-feiras da segunda e tereeira semana da Quaresma, pag. 324 e 345. III. DEVOO A SANTO AFFONSO. MEDITAES, NAS QUAES 0 SANTO DOUTOR PROPOSTO COMO MODELO DAS VIRTUDES FUNDAMENTAES.

Mez de Dezembro. Santo Affonso, modelo de pacincia e de amor

cruz. . . . . . . . . . 479 Mez de Janeiro. Santo Affonso, modelo de f viva . . . 48^2 Mez de Fevereiro. Santo Affonso, modelo de firme confiana 484 Mez de Maro. Santo Affonso, modelo de amor a Deus . . 487 IV. MEDITAES DE RESERVA, de que cada um poder servir-se em substituio s meditaes que talvez convenham menos ao seu estado ou disposio. Primeira Meditao. Jesus nasce Menino . . . . .

490

Segunda Meditao. Da vida occulta de Jesus no Santssimo Sacramento . . . . . . . . . 493 Terceira Meditao. Da Orao Dominical . . . . 495 Quarta Meditao. Continuao da explicao da Orao Dominical . . , . . . . . 498 Quinta Meditao. Formosura de Maria Santssima . . 500 Sexta Meditao. Do grande mal que fazem os que occultam os peccados na confisso . . . . . . . 503 Stima Meditao. Da fugida das occasies . . . . 506

II. MEDITAES PARA O DIA XXV DE CADA MEZ SOBRE O MYSTERIO DA ENCARNAO DO VERBO. Dia xxv de Janeiro. Necessidade da f para contemplar com fructo o mysterio da Encarnao 467 469 . . . . . xxv de Fevereiro. Motivos para esperar em Jesus Christo xxv de Maro : veja-se a Meditao entre as festas, pag. 454. Ha. DEVOO A SO JOS. MEDITAES PARA AS QUARTAS-FEIRAS DO MEZ DE MARO. Primeira Quarta-feira de Maro. Da viagem de So Jos e Maria Santssima a Belm, onde nasceu Jesus . . . . Segunda Quarta-feira. Fuga para o Egypto . . . .

472 '47S

MODO DE FAZER ORAO MENTAL SEGUNDO SANTO AFFONSO.

A

meditao ou orao mental contm tres partes: a preparao, a meditao e a concluso.I. PREPARAO.

Na Preparao fazem-se tres actos: i? Acto de F na presena de Deus, dizendo: Meu Deus, eu creio que estais aqui presente e Vos adoro com todo o meu affecto. 2? Acto de Humildade, por um breve acto de contrio: Senhor, nesta hora deveria eu estar no inferno ,por causa dos meus peccados; de todo o corao me arrependo de Vos ter ofendido, Bondade infinita. 3? Acto de Petio de luzes: Meu Deus, pelo amor de Jesus e Maria, esclarecei-me nesta meditao, para que tire proveito delia. Depois uma Ave-Maria Santssima Virgem, afim de que nos obtenha esta luz; e na mesma inteno um Gloria-Patri a So Jos, ao Anjo Custodio e ao nosso santo Protector. Estes actos devem ser feitos com atteno, mas brevemente, depois do que se far a Meditao.II. MEDITAO. Para a Meditao sirvamo-nos sempre de um livro, ao menos no comeo, parando nas passagens que mais impresso nos fazem. So Francisco de Sales diz que devemos imitar as abelhas, que se demoram numa flor em-quanto acham mel, e voam depois para outra.S. Affonso, MedilafSes. I. I

2

MOD O DF. FA Z E R OR A O ME N TA L .

MOD O FA Z E R OR A O ME N TA L .

DE

3

Note-se alm disto que so tres os fructos da meditao: affectos, supplicas e resolues; nisto que consiste o proveito da orao mental. Assim, depois de haverdes meditado numa verdade eterna, e Deus ter falado ao vosso corao, mister que faleis a Deus: I ? Pelos affectos, isto , pelos actos de f, agradecimento, adorao, louvor, humildade, e sobretudo de amor e de contrio, que tambm acto de amor. O amor como que uma corrente de ouro que une a alma a Deus. Conforme Santo Thomaz, todo o acto de amor nos merece nais um grau de gloria eterna. Eis aqui exemplos de actos de amor: Meu Deus, eu Vos amo sobre todas as cousas. Eu Vos amo de todo o meu corao. Fazeime saber o que do vosso agrado; quero fazer em tudo a vossa vontade. Regozijo-me por serdes infinitamente feliz. Para o acto de contrio basta dizer: Bondade infinita, peza-me de Vos ter offendido. 2? Pelas supplicas, pedindo a Deus luzes, a humildade ou qualquer outra virtude, uma boa morte, a salvao eterna; mas principalmente o dom do seu santo amor e a santa perseverana, porque, no dizer de So Francisco de Sales, com o amor se alcanam todas as graas. Se a nossa alma est em grande aridez, basta dizermos: Meu Deus, soccorreime. Senhor, tende compaixo de mim. Meu Jesus, misericrdia 1 Ainda que nada mais fizssemos, a orao seria excellente.

3? Pelas resolues. Antes de se terminar

a orao, cumpre tomar alguma resoluo, no geral, como p. ex. evitar toda falta deliberada, de se dar todo a Deus, mas particular, como p. ex. evitar com mais cuidado tal defeito, em que se cahia mais vezes, ou praticar melhor tal virtude em que a alma procurar exercer-se mais vezes: como seja, aturar o gnio de tal pessoa, obedecer mais exactamente a tal Superior ou Regra, mortificar-se mais frequentemente em tal ponto, etc. Nunca terminemos a nossa orao sem havermos formado uma resoluo particular.III. CONCLUSO.

Emfim, a Concluso da orao compese de tres actos: i? De agradecimento pelas luzes recebidas, e de pedido de perdo das faltas commettidas no tempo da orao: Senhor, eu Vos agradeo as luzes e os affectos que me destes nesta meditao e Vos peo perdo das faltas nella commettidas. 2? De offerecimento das resolues tomadas e de propsito de guardal-as fielmente: Meu Deus, eu Vos offereo as resolues que com a vossa graa acabo de tomar, e resolvido estou a executai-as, custe o que custar. 3? De supplica, pedindo ao Pae Eterno, pelo amor de jf;* Jesus e de Maria, a graa de executal-as fielmente: Meu V; .Deus, pelos merecimentos de Jesus Christo e pela intercesso de Maria Santssima, dae-me a fora de pr fielmente em pratica as resolues que tomei. Termina-se a orao recommendando a Deus a santa ^Igreja, os seus Prelados, as almas do

purgatrio, os pec-^ vCadores, e todos os nossos parentes, amigos e bemfeitores, LP.r um Padre-nosso e uma Ave-Maria, que so as oraes mais teis por nos serem ensinadas por Jesus Christo e *:pela Igreja: Senhor, eu Vos recommendo a santa Igreja fp ?&n^os seus Prelados, as almas do purgatrio, a converso ^S^peccadores, e todas as minhas necessidades espiri-ijfuaes e temporaes bem como as dos meus parentes, amigos 3 bemfeitores.

D epois da Meditao, Depois da meditao devemos: 1 Conforme o conselho de So Francisco de Sales, fazer g*1 ramilhete de flores afim de cheiral-o durante o dia, Iguer dizer, imprimir bem na memoria um ou dous pensa-

th.

J

4

X II V I RTU D E S PA R A C AD A ME Z D O A NN O .

XI I VI RT UD E S PA R A CA DA ME Z D O AN N O ,

S

mentos que mais impresso nos fizeram, para os recordarmos e nos revigorarmos durante o dia, 2 Pr logo em prtica as resolues tomadas, tanto nas occasies pequenas como nas grandes, que se apresentarem : p. ex. supportarmos com pacincia uma pessoa irada contra ns, mortificarmonos na vista, no ouvido, na conversa. 3? Por meio do silencio e recolhimento, conservar o mais tempo possvel os aflctos excitados na orao; sem isso, o fervor concebido na orao esvaecer-se- logo pela dissipao no proceder ou pelas conversas inteis. (*IX 840.) TABELLA DAS XII VIRTUDES A SEREM PRATICADAS EM CADA MEZ DO ANNO SOB"a PROTECO DOS SANTOS APSTOLOS.I. JANEIRO.

Protector: So Thiago Maior Apostolo. Virtudes: O Amor para com Deus. Diliges Domi-num Deum tuum ex toto corde tuo, et ex tota anima tua, et ex tota mente lua, et ex tota virtute tua Amars o Senhor teu Deus de todo o teu corao, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e com todas as tuas foras (Mare. 12, 30).IV. ABRIL.

Protectores: Os santos Apstolos Pedro e Paulo. Virtude: A F. Ego sum lux mundi; qui sequitur me, non ambulat in tenebris, sed habebit lmen vitae Eu sou a luz do mundo; aquelle que me segue no anda nas trevas, mas ter o lume da vida (Io. 8, 12).II. FEVEREIRO.

Protector: So Joo Apostolo e Evangelista. Virtude: A Caridade para com o prximo. Hoc est praeceptum meum: ut diligatis invicem, sicut dilexi vos. Maiorem hac dilectionem nemo habet, ut animam suam ponat quis pro amicis suis O meu preceito que vos ameis uns aos outros, como eu vos amei. Ningum tem maior amor do que aquelle que d a prpria vida pelos seus amigos (Io. 1 5 , 1 2 13).V. MAIO.

Protector: Santo Thom Apostolo. Virtude: A Pobreza. Beatipauperes spiritu: quoniam ipsorum est regnum coelorum Bemaventurados os pobres de espirito, porque delles o reino dos cus (Matth. s , 3).VI. JUNHO.

Protector: Santo Andr Apostolo. Virtude: A Esperana. Quoniam in me speravit, liberabo eum: protegam eum, quoniam cognovit nomen meum Porquanto em mim esperou, livralo-ei; pro-tegel-o-ei, porquanto conheceu o meu nome (Ps. 90, 14).III. MARO.

Protector: So Thiago Menor Apostolo. Virtude: A Pureza de corpo e de espirito. Beati mundo corde, quoniam ipsi Deum videbunt Bemaventurados os limpos de corao, porque elles vero a Deus (Matth. 5 ,8). "

V II.

praecipio vobis Vs sois meus amigos, se fizerdes o que eu vos mando (Io. 1 5 , 14).VIII. AGOSTO.

JULHO,

Protector: So Philippe Apostolo. Virtude: A Obedincia. Vos amici mei estis, si fe-ceritzs quae ego

Protector: So Bartholomeu Apostolo. Virtude: A Mansido e a Humildade de corao. Disctte a me, quia mitis sum et humilis corde, et in

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XI I VI RT UD E S PA R A C AD A MF . Z D O A NN O .

venietis requiem animabus vestris Aprendei de mim que sou manso e humilde de corao; e achareis descanso para as vossas almas (Matth, u, 29).IX. SETEMBRO.

PRIMEIRO DOMINGO DO ADVENTO. A temeridade do

peccador e o dia do Juizo.Videbunt Filium hominis venientem in nube cum potestate ma-gna et maiestate Vero o Filho do homem que vir sobre uma nuvem com grande poder e majestade (Luc. 21, 27). Summario'. Uma considerao sria nos ensina que no ha actualmente no mundo pessoa mais desprezada de que Jesus Christo; pois injuriado to continuamente e com to desenfreada liberdade, como no o seria o mais vil dos homens. Eis porque o Senhor destinou um dia, no qual vir, com grande poder e majestade, a reivindicar a sua honra. Recorramos agora ao throno da divina misericrdia, para que naquelle dia no sejamos condemnados pela justia de Deus.

Protector: So Mattheus Apostolo e Evangelista. Virtude: A Mortificao. Qui odit animam suam in hoc mundo, in vitam aeternam custodit eam O que aborrece a sua vida neste mundo, guarda-a para a vida eterna (Io. 1 2 , 25).X. OUTUBRO.

Protector: So Simo Apostolo. Virtude: O Recolhimento e o Silencio. Dimissa turba, ascendit (Iesus) in montem solus orare Logo que despediu a turba, subiu (Jesus) s a um monte, a orar (Matth. 14, 23). XI. NOVEMBRO. Protector'. So Judas Thaddeu Apostolo. Virtude: A Orao. Oportet semper orare et non deficere Importa orar sempre e no cessar de o fazer (Luc. 1 8 , 1).

XII.

DEZEMBRO.

Protector: So Mathias Apostolo. Virtude: A Abnegao prpria e o Amor da cruz. Si quis vult post me ventre, abneget semetipsum, et tollat crucem suam, et sequatur me Se algum quizer vir aps de mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz, e siga-me (Matth. 16, 24).

I. Considerando bem, no ha no mundo actualmente quem seja mais desprezado que Jesus Christo. Trata-se com mais considerao um aldeo do que o prprio Deus. Receiam que o aldeo ao ver-se por demais offendido, se encolerize e tire vingana; Deus, porm, offendido incessantemente e de caso pensado, como se no pudesse vingar-se quando quizesse. Por isso o Senhor marcou um dia (chamado com razo, na Escriptura Sagrada, o dia do Senhor, Dies Domini), quando vae dar-se a conhecer tal como : Cognoscetur Dominus iudicia faciens*. Diz1

O summario poder ser lido na vspera precedente. Ps- 9, 17.

I. DOMINGOS, FESTAS E TEMPOS DO ANNO ECCLESIASTICO.(Desde o primeiro Domingo do Advento at Semana Santa inclusive.)

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D OMI N GO .

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So Bernardo, explicando este texto: O Senhor ser conhecido quando vier a fazer justia, ao passo que agora, porque quer usar de misericrdia, desconhecido. Ento esse dia no mais se chama de misericrdia e de perdo, seno dia de ira, dia de tribulao e de angustia, dia de calamidade e de misria 1. Conforme nos ensina o Evangelho de hoje, esse dia ser precedido de signaes pavorosos. Haver signaes no sol, na lua e nas estrellas; na terra os povos estaro angustiados sob o rugido surdo e confuso do mar e das ondas; os homens morrero com medo dos males que ho de vir sobre o mundo. Por fim, as virtudes dos cus (isto , na interpretao dos Padres, os nove coros dos Anjos) se commovero, e ento se ver apparecer sobre as nuvens o Filho do homem, com grande poder e majestade, a reivindicar a gloria que os peccadores nesta terra lhe quizeram tirar. Diz Santo Thomaz: Se, no horto de Gethsemani, com as palavras de Jesus Christo: Ego sum, cahiram por terra todos os soldados que o tinham vindo prender, que ser, quando Jesus, sentado para julgar, disser aos condemna-dos: ,Aqui estou, sou eu aquelle a quem tanto haveis desprezado1 ...; que ser quando pronunciar contra elles a sentena eterna: ,Apartae-vos de mim, malditos, para o fogo eterno! Discedite a me, maledicti, in ignem aeternum!'' 2 II. O dia do juizo, assim como ser para os rprobos um dia de pena e de terror, ser, ao contrario, para os escolhidos um dia de regozijo e

triumpho; porque, ento, vista de todos os homens, as suas beatas almas sero proclamadas rainhas do paraso e feitas esposas do Cordeiro immaculado. Oh! que ventura experimentaro os bemaventurados, quando Jesus, voltando-se para a direita, lhes disser: Vinde, meus bemditos filhos, vinde possuir o reino dos cus que vos foi preparado: possidete para-tum vobis regnum!1 Irmo meu, o que ser de ti naquelle dia? So Jeronymo, quando passava os dias na Gruta de Belm, em continuas oraes e mortificaes, tremia s em pensar no Juizo universal. O venervel P. Juvenal Ancina, lembrando-se do Juizo ao ouvir cantar a sequencia da Missa de de-functos, Dies irae, dies Ma, deixou o mundo e fez-se religioso. E tu, o que fazes para mereceres no dia do Juizo as bnos divinas, em companhia dos escolhidos? Com o intuito de nos preparar para o santo Natal, a Igreja prope hoje o Juizo nossa meditao. Sabendo que Nosso Senhor, na sua primeira vinda, appareceu num throno de graa e que na segunda apparecer num throno de justia rigorosssima, quer que procuremos agora recorrer a Jesus afim de experimentarmos os effeitos de sua infinita misericrdia. Aproximemo-nos com confiana do throno de graa: Adeamus ergo cum fiducia ad thronum gratiae 2. Ah! Jesus meu e meu Redemptor, Vs que um dia haveis de ser o meu juiz: perdoae-me antes que chegue esse dia. Agora, sois meu Pae, e como tal

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recebeis na vossa graa um filho que, arrependido, se prostra a vossos ps. Meu Pae, eu Vos amo de todo o meu corao e. no futuro no me quero mais afastar de Vs, no quero mais ter a temeridade de voltar a offender-Vos. Mas j que conheceis a minha fraqueza, ajudae-me com a vossa graa.

Excitae, Senhor, o vosso poder e vinde em meu auxilio, afim de que, mediante a vossa proteco, livrado dos perigos imminentes por causa de meus peccados, merea ser salvo por Vs. 8 Fazei-o pelo amor de Maria Santssima. (*II 1 1 3 . )

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D OMIN G O .

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Soph. I , 15. Matth. 25, 34.

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Matth. 25, 41. Hebr. 4, 16. Or. Dom. curr.

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SEGUNDA-FEIRA.

O peccado de Adam e o amor de Deus para com os homens.Et nunc quid mihi est hic, dicit Dominus, quoniam ablatus est populus meus grtis? E agora, que tenho eu que fazer aqui, diz o Senhor, visto ter sido levado sem nenhuma razo o meu povo? (Isa. 52, 5.) Suwmario. Pecca Adam, nosso primeiro pae, e em castigo de seu peccado expulso do paraiso terrestre com toda a sua descendncia con-demnado a uma vida de misrias e excluido para sempre do cu. O Senhor, porm, teve compaixo delle, e como se a sua beatitude dependesse da dos homens, e elle no pudesse ser feliz sem estes, resolveu a todo o custo ,salval-os. incomprehensivel amor de Deus! Mas, como que ns lhe lemos correspondido ?

I. Adam, nosso primeiro pae, pecca; desagradecido por tantos benefcios recebidos, revolta-se contra Deus, transgredindo o preceito de no comer da arvore prohibida. Por esse motivo ve-se Deus constrangido a expulsal-o agora do paraiso terrestre e a privar no futuro, tanto Adam como todos os descendentes deste revoltoso, do paraiso celeste e eterno, que lhes havia preparado para depois desta vida temporal. Eis, pois, todos os homens condemnados a uma vida de trabalhos e misrias, e para sempre excludos do cu. O demnio tem poder sobre elles, e incalculveis so os estragos que o inferno continuamente faz. Vendo, porm, o Senhor os homens reduzidos a to msero estado, compadeceu-se delles. Mas, como nos d a entender o propheta Isaias, parece que Deus, por assim dizer, se lamenta e se afflige, dizendo: Et nunc quid mihi est hic, quoniam ablatus est populus meus grtis? * E agora, que tenho eu que fazer aqui, visto ter sido levado sem nenhuma razo o meu povo?

Como se quizesse dizer: Que me restou de delicia no paraiso, uma vez que perdi os homens que eram as minhas delicias? Mas, no; quero a todo o custo salvalos; venha, por isso, um redemptor, que em logar do homem satisfaa minha justia e assim o redima da morte eterna. Mas, meu Senhor, tendes no cu tantos seraphins e tantos anjos, e de tal modo Vos afflige o terdes perdido os homens? Que preciso tendes Vs, tanto dos anjos como dos homens, para a perfeio de vossa beatitude? Sempre tendes sido e sempre sois felicssimo em Vs mesmo: que poder jamais faltar vossa felicidade que infinita ? Tudo isso verdade (assim o faz responder o cardeal Hugo), mas, perdido o homem, afigura-se-me ter perdido tudo, porquanto as minhas delicias eram estar com os homens; agora perdi os homens, e os infelizes esto condemnados a viver para sempre longe de mim. O amor immenso de Deus! amor incomprehensivel! amor infinito!1

Zach. 1, 3.

II. O meu Senhor, como possvel que, depois de terdes reparado, com a morte do vosso divino Filho, os damnos causados pelo pecCado, tenha eu tornado tantas vezes a renoval-os voluntariamente, com as offensas que Vos tenho feito? Vs me salvastes custa de tamanhos sacrifcios, e eu to repetidas vezes tenho querido perder-me, per-dendo-Vos, a Vs, Bem infinito. Inspirae-me, porm, confiana vossa palavra, que, se o peccador se converter a Vs, no Vos recusareis a abraai-o: Convertimini ad me et convertar ad vos1 Convertei-vos a mim e eu me converterei a vs. Vede, Senhor, que sou um de aquelles rebeldes, um ingrato

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e traidor que por mais de uma vez Vos voltei as costas e Vos expulsei da minha alma. Peza-me de todo o corao de Vos haver assim offendido e desprezado a vossa graa. Peza-me, e amo-Vos acima de todas as cousas. A porta do meu corao j est aberta para Vs: entrae nelle, mas entrae para nunca mais Vos retirardes. Sei que nunca Vos retirareis, se eu no tornar a expulsar-Vos. Eis ahi o que me faz medo, eis ahi tambm a graa que espero pedir-Vos sempre ; deixae-me morrer antes que Opusc. 63. venha a commetter para comvosco semelhante nova e maior ingratido. Jesus, meu caro Redemptor, pelas offensas que Vos tenho feito mereceria no mais poder amar-Vos; mas pelos vossos mritos, peo-Vos o dom do vosso santo amor. Por isso fazei com que eu conhea o grande bem que sois, o amor que me tendes dedicado e quanto tendes feito para me obrigar a Vos amar. Ah I meu Deus e Salvador meu, que eu no viva doravante to ingrato vossa to grande bondade. No quero separarme mais de Vs, meu Jesus. Basta de peccados. E justo que eu empregue os annos de vida que me restam inteiramente em Vos amar e dar-Vos gosto. Jesus meu, Jesus meu, ajudae-me; ajudae um peccador que Vos quer amar. Maria, minha Me, vs podeis tudo para com Jesus, visto que sois sua Me. Dizei-lhe que me perdoe; dizei-lhe que me prenda com os laos do seu santo amor. Vs sois a minha esperana; confio em vs. (*III667.) TERA-FEIRA. O decreto

Et audivi vocem dicents : Quem mittam ? Et quis ibit nobisf Et dixi: Ecce ego, mitte me. iE ouvi a voz de quem dizia: Quem enviarei eu? e quem nos ir l? Ento disse eu: Aqui me tens a mim, envia-me* (Isa. 6, 8).

Sumtnario. Embora o Filho de Deus previsse a vida penosa que teria de levar, subinetteu-se comtudo de boa vontade ao decreto da Encarnao, offereceu-se mesmo a fazer-se homem. E isso no s afim de satisfazer plenamente justia divina, mas tambm para nos mostrar seu amor, e obrigar-nos a que o amemos sem reserva. Como que at o dia de hoje temos respondido a to grande beneficio?

I. Afigura-se a So Bernardo1 em sua contemplao sobre a condio do gnero humano depois do peccado do primeiro homem, ver travarem contenda a justia divina e a misericrdia. Estou perdida diz a justia se Adam no fr punido. A misericrdia, ao contrario, replica: Estou eu perdida, se o homem no fr perdoado. Em vista de tal contenda, o Senhor decide que, para salvar o homem reu de morte, ha de morrer um inno-cente: Moriatur qui nihil debeat morti. Na terra, porm, no se achava um que fosse innocente. Portanto disse o Padre Eternoj que entre os homens no ha quem possa satisfazer minha justia, quem ir resgatar o 'homem? Os anjos, os cherubins, os seraphins, todos guardam silencio, ningum responde; s responde o Verbo Eterno e diz: Ecce ego, mitte me Aqui me tens a mim, envia-me. Meu Pae diz o Filho unignito a vossa majestade, por ser infinita, e offendida pelo homem, no pode ser plenamente satisfeita por um anjo, que uma pura crea-tura. E ainda que Vos quizesseis contentar com as satis-faces de um anjo, considerae que, apezar de

da Encarnao do Verbo.

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tantos benefcios prestados ao homem, apezar de tantas promessas e ameaas, no conseguimos ganhar o seu amor, porque at hoje no conheceu o amor que lhe tnhamos. Se qui-zermos obrigal-o irresistivelmente a amar-nos, que occasio se nos pode deparar mais prpria do que esta? Permitti que, para remir o homem, eu, vosso Filho, desa sobre a terra e tome a natureza humana; permitti que, pagando com a minha morte as penas devidas ao homem, satisfaa plenamente vossa justia divina, e o homem fique bem convencido do nosso amor. Mas considera, meu Filho assim torna o Pae considera que, encarregandote de pagar pelos homens, ters de levar uma vida toda de trabalhos, e os homens te Pagaro com a mais negra ingratido. Depois de teres vivido trinta annos como simples auxiliar de um pobre artfice, quando afinal sahires a pregar e a manifestar quem s, haver, verdade, uns poucos que te queiram seguir; mas a maior parte dos homens te desprezar, chamando-te impostor, feiticeiro, louco, samaritano, e finalmente te faro morrer ignominiosamente, exhausto de tormentos, sobre um lenho infame. No importa responde o Filho a tudo me sujeito, comtanto que seja salvo o homem: Ecce ego, milte me Aqui me tens a mim, envia-me. E assim foi decretado que o divino Filho se fizesse homem e redemptor dos homens. O amor incomprehensivel de Deus! Mas como temos ns at este momento respondido a to grande beneficio? II. Verbo Eterno, Vs Vos fizestes homem para nos remir e accender em nossos coraes o divino amor; como

foi possvel que encontrsseis nos coraes dos homens to grande ingratido? Vs nada poupastes para Vos fazer amado dos homens; chegastes a dar o vosso sangue e a vossa vida; como que os homens se mostram to ingratos para comvosco? Ignoram-no por ventura? No; sabem e crem que por elles viestes do cu para revestir-Vos de carne humana e tomar sobre Vs as nossas misrias; sabem que por amor delles levastes uma vida penosa e abraastes uma morte ignominiosa: como vivem ento assim esquecidos de Vs? Amam aos parentes, amam aos amigos, amam os prprios animaes; somente para comvosco so to frios, to ingratos. Mas ai de mim! Accusando aquelles ingratos, accuso-me a mim prprio, que peior do que os outros Vos tenho tratado! Anima-me, porm, a vossa bondade, que me tem tolerado tanto tempo afim de perdoar-me, comtanto que eu queira arrepender-me e amar-Vos. Sim, meu Deus,, quero arrepender-me; peza-me de toda a minha alma de Vos ter offendido e quero amar-Vos de todo o meu corao. Reconheo, meu Redemptor, que o meu corao j no merece mais ser por Vs acceito, visto que Vos tem deixado por amor s creaturas; mas vejo que, no obstante isso, Vs ainda o quereis, e eu, com todo o poder de minha vontade, Vol-o dou e consagro. Abrasae-o, pois, todo em vosso santo amor, e fazei com que de hoje em diante no ame seno a Vs, bondade infinita, digna de infinito amor. Amo-Vos, Jesus meu, amo-Vos, meu summo Bem, amo-Vos, amor nico de minha alma. O Maria, minha Me, vs, que sois a me do bello amor, impetrae-me a graa de amar o meu Deus; de vs a espero. (*III668.)

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QUARTA-FEIRA.

0 Verbo se faz homem na plenitude dos tempos.Ubi venit plenitude- temporis, misit Deus Filium suum, factum ex muliere, factum sub lege Quando veiu a plenitude do tempo, enviou Deus o seu Filho, feito da mulher, feito sujeito Lei (Gal.4,4). Sumtnario. O divino Redemptor demorou a sua vinda quatro mil .annos, no somente para que fosse mais apreciada pelos homens, seno 1 tambm para que melhor se conhecesse a malcia do peccado e a necessidade do remdio. Chegada que foi a plenitude dos tempos, enviou Deus um archanjo Santssima Virgem e, obtido o consentimento desta, o Verbo se fez homem no seio purssimo de Maria. Quanto no devemos agradecer ao Senhor o ter-nos feito nascer depois que se cumpriu to grande mysterio 1

I. Considera como Deus depois do peccado de Adam deixou decorrer quatro mil annos antes de enviar terra o seu Filho para remir o mundo. E, entretanto, que trevas desoladoras reinavam sobre a terral O Deus verdadeiro no era conhecido nem adorado, seno apenas num canto da terra. Por toda a parte reinava a idolatria, de sorte que eram adorados como deuses os demnios, os animaes e as pedras. Admiremos nisso a sabedoria divina. Demora a vinda do Redemptor para tornal-a mais acceitavel a s homens: demora-a para que se conhea melhor a malcia do peccado, a necessidade do remdio e a graa ^ Salvador. Se Jesus Christo tivesse vindo logo depois

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do peccado de Adam, a grandeza do beneficio teria sido pouco apreciada. Agradeamos, pois, bondade de Deus, o ter-nos feito nascer depois de j realizada a grande obra da Redempo. Eis que j chegado o feliz tempo que foi chamado a plenitude do tempo: ubi venit plenitudo temporis. O Apostolo diz: plenitudo, por causa da abundncia da graa que por meio da Redempo o Filho de Deus vem trazer aos homens. Eis que j se envia o anjo embaixador Virgem Maria na cidade de Nazareth para annunciar a vinda do Verbo que no seio delia quer encarnarse. O anjo a sada, chama-a cheia de graa e bemdita entre as mulheres. A virgemzinha humilde perturba-se com esses louvores por causa da sua profunda humildade. O anjo, porm, anima-a e lhe diz que achou graa diante de Deus; isso , a graa que estabelece a paz entre Deus e os homens, e repara os estragos occasionados pelo peccado. Em seguida annuncia-lhe o nome de Salvador que deveria dar ao filho: Vocabis nomen eius Iesum 1 Pr-lhe-s o nome de Jesus. Annunia-lhe que seu filho seria o prprio Filho de Deus, que devia remir o mundo e desta forma reinar sobre os coraes dos homens. Eis que afinal Maria consente em ser me de tal Filho: Fiat mihi secundum ver bum tuum2 Faa-se em mim segundo a tua palavra. E no mesmo momento o Verbo Eterno se fez carne e ficou sendo verdadeiro homem: Et Verbum caro factum ests E o Verbo se fez carne. II. Verbo divino feito homem por mim, se bem que Vos veja to humilhado e feito criana pequenina no seio de Maria, tenho e reconheo-Vos por meu Senhor e Rei, mas Rei de t amor. Meu caro Salvador, visto que viestes sobre a terra e tomastes a nossa misera carne afim de reinar sobre os nossos coraes, ah! vinde estabelecer o vosso reino tambm em meu corao, que em outros tempos esteve sob o domnio dos vossos inimigos, mas agora, assim o espero, vosso. Quero que seja sempre vosso e que de hoje em diante Vs sejais o seu nico senhor: Dominare in mdio inimicorum tuorum^ Reinae no meio dos vossos

QUARTA-FEIRA. jy inimigos. Os outros reis reinam pela fora das armas, mas Vs vindes reinar com a fora do amor, e por isso, no viestes com pompa real, no vestido de purpura e ouro, no ornado com sceptro e coroa, nem acompanhado de exrcitos de soldados. Viestes para nascer numa estrebaria, pobre e abandonado, para ser posto numa mangdoura sobre um pouco de palha, porque assim que quereis comear a reinar em nossos coraes. meu Rei-Menino! como tenho podido revoltar-me tantas vezes contra Vs e viver tanto tempo como vosso inimigo, privado de vossa graa, ao passo que Vs, para me obrigardes a Vos amar, abdicastes da vossa majestade divina e Vos humilhastes at ser visto, ora como criana numa lapa, ora como official numa loja, ora como ru sobre uma cruz? Feliz de mim, se tendo sahido, conforme espero, da escravido de Lcifer, me deixe para sempre governar por Vs e pelo vosso amor! O Jesus, meu Rei, Vs que sois to amvel e to enamorado de nossas almas, eia, tomae posse da minha; eu Vol-a dou toda inteira. Acceitae-a afim de que Vos sirva sempre, mas Vos sirva por amor. A vossa majestade merece ser temida, mas a vossa bondade muito mais merece ser amada. Vs, meu Rei, sois e sereis sempre o meu nico amor, e o nico temor que ,terei, ser o de Vos dar desgosto. Assim espero. Ajudae-me com a vossa graa. Querida Senhora minha, Maria, vs deveis impetrar-me a graa de fidelidade a este Rei amado da minha alma. (II 327.)

1 1

Luc. i:, 31. Ps. 109, 2.

9 Luc

- *> 38-

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Io. 1, 14.

S. Affonso, MeditaSes. I.

2

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QU I N TA - FE IR A .

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QUINTA-FEIRA.

Jesus illumina o mundo e glorifica a Deus.Creavit Dominus novum super terram Senhor creou uma cousa nova sobre a terra (Jer. 31, 22),

*0

Summario. Antes da vinda do Messias o mundo estava abysmado na ignorncia, e o Deus verdadeiro era apenas conhecido num cantinho da terra, na Judea. De todas aquellas trevas livrou-nos Jesus Christo, que desde o primeiro instante da sua conceio deu mais gloria ao Padre Eterno, do que lhe teem dado e daro todos os Anjos e Santos. Tomemos animo ns, os pobres peccadores, e offereamos a Deus-Pae este Menino e resarcil-oemos de todas as offensas que lhe temos feito.

Deus-Padre, que fala assim: Este o meu Filho dilecto em que deposito as minhas complacncias8. este Filho quem se fez homem. Embora criana nova, deu a Deus mais honra e gloria no primeiro momento de sua creao do que lhe teem dado e durante toda a eternidade lhe podero dar todos os Anjos e Santos juntos. Por isso que no nascimento de Jesus os Anjos cantaram : Gloria in excelsis Deo Gloria a Deus nas alturas. Jesus-Menino rendeu a Deus mais gloria do que lhe arrebataram os peccados de todos os homens. II. Tomemos, pois, animo, ns, pobres peccadores. Offereamos ao Padre Eterno o divino Menino; apresen-temoslhe as lagrimas, a obedincia, a humildade, a morte e os mritos de Jesus Christo e rasarciremos a Deus toda a injuria que com as nossas offensas lhe tenhamos feito. Ah! meu Deus eterno, eu Vos deshonrei, pospondo tantas vezes a vossa vontade minha, e a vossa santa graa s minhas satisfaces vis e miserveis. Que esperana de perdo poderia eu ter, se Vs no me tivsseis dado Jesus Christo exactamente afim de que fosse a esperana de ns, peccadores? Ipse est propitiatio pro peccatis nostris1 Elie a propiciao pelos nossos peccados. Sim, porque Jesus Christo, sacrificando a vida para satisfaco das injurias que ns Vos tnhamos feito, mais gloria Vos deu, do que ns Vos deshonraramos com os nossos peccados. Acceitae-me, pois, meu Pae, pelo amor de Jesus Christo. Peza-me, Bondade infinita, de Vos ter offendido. No sou digno de perdo; mas Jesus Christo digno de ser por Vs attendido. Estando pregado na cruz por mim, elle Vos pediu um dia: Pater,

I. Antes da vinda do Messias, o mundo estava abysmado na noite tenebrosa da ignorncia e do peccado. No mundo o Deus verdadeiro era conhecido to somente num cantinho da terra, saber, na Jude: Notus in Iudaea Deus Deus conhecido na Judea*. Em todo o resto do mundo eram adorados como deuses os demnios, s animaes e as pedras. Em toda a parte reinava a noite do peccado, que cega as almas, enche-as de vicios, e priva-as da vista do estado miservel em que se acham, inimigas de Deus e condemnadas ao inferno. Dessas trevas veiu Jesus livrar o mundo. Livrouo da idolatria dando-lhe o conhecimento do Deus verdadeiro; livrou-o do peccado com a luz de sua doutrina e dos seus exemplos divinos: 0 Filho de Deus veiu ao mundo para destruir as obras do diaboa.1

Ps. 75, 2. 17, 5.

5

i Io. 3. 8-

8

Matth.

O propheta Jeremias predisse que Deus havia de crear um novo Menino para ser o Redemptor dos homens: Creavit Dominus novum super terram. Esse novo Menino foi Jesus Christo, que faz as delicias do paraso e o amor de

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dimitte Pae, perdoae-Ihes; e mesmo agora no cu Vos pede que me acceiteis Por filho: Advocatum habemus lesum Christum, qui etiam Mterpellat pro nobis2Temos por advogado Jesus Christo, que tambm intercede por ns. Acceitae um filho ingrato que primeiro Vos deixou, mas agora volta com a reso' 1 IO. 2, 2. 1 Io. 2, I .

luo de Vos arnar, Sim, meu Pae, eu Vos amo e quero amar-Vos sempre. Ah! meu Pae, agora que conheo o amor que me tendes tido e a pacincia que por tantos annos haveis usado para commigo, no quero mais viver sem Vos amar. Dae-me um grande amor que me faa sempre chorar os desgostos que Vos tenho dado, a Vs, meu Pae to bom, e me faa sempre arder de amor para com um Pae to amante. Meu Pae, eu Vos amo, eu Vos amo, eu Vos amo. Maria, Deus meu Pae e vs sois minha Me. Vs podeis tudo junto de Deus: ajudae-me; alcanae-me a santa perseverana e o seu santo amor. (II 329.) SEXTA-FEIRA.

I. Faamos hoje algumas reflexes sobre estas palavras de Jesus Christo. Si quis vult post me venire Se algum quer vir aps de mim. Jesus no somente quer que a elle vamos, seno que vamos em seu seguimento. Jesus vae sempre para diante e no pra emquanto no chegar ao Calvrio, onde ir morrer. Portanto, se o amamos, devemos seguilo at nossa morte. Por isso faz-se mister que cada um se negue a si mesmo: abneget semetipsum; isso , recuse a si mesmo o que o amor prprio pede, mas que no do agrado de Jesus Christo. Diz ainda: Tollat crucem suam quotidie et sequatur me Tome a sua cruz cada dia e siga-me. Tollat, tome: de pouco serve carregal-a foradamente; todos os pec-cadores a carregam, mas sem merecimento. Para a carregarmos com merecimento, devemos abraal-a de boa vontade. Crucem, a cruz: sob o nome de cruz vem toda a tribulao, que por Jesus Christo chamada cruz, afim de nol-a tornar doce, com pensar que em uma cruz elle morreu por nosso amor. Jesus diz: suam, a sua cruz. Alguns, ao receberem qualquer consolao espiritual, se offerecem para soffrer o que teem soffrido os martyres: aculeos, unhas de ferro e laminas candentes; mas, logo em seguida no sabem soffrer alguma dor de cabea, uma falta de atteno da parte de um amigo, o enfado de um parente. Irmo meu, Deus no quer de ti que soffras nem cavalletes, nem unhas de ferro, nem laminas candentes; mas quer que soffras com pacincia essa dr, esse desprezo, esse aborrecimento. Tal outro quizera ir a um deserto para soffrer; quizera praticar grandes penitencias; entretanto no sabe supportar um seu

Quaes sejam os que na verdade seguem a Jesus Christo.Si quis vult post me venire, abneget semetipsum, et tollat crucem suam quotidie, et scquatur me Se algum quer vir aps de mim, negue-se a si mesmo, tome a sua cruz cada dia, e sign-me (Luc. 9, 23). Summario. Devemo-nos persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que supportemos com pacincia as tribulaes que elle mesmo nos envia para o nosso bem. Resolvamo-nos, pois, a recusar a ns mesmos aquillo que um amor prprio desordenado nos pede; abracemos de boa vontade a nossa cruz de cada dia; e no nos cancemos de a carregar aps de Jesus Christo at ao Calvrio, isso , at morte.

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superior, um seu companheiro de officio. Deus, porm, quer que elle carregue a cruz que lhe dada para carregar, e no aquella que elle mesmo escolheu. Ainda diz: quotidie, cada dia. Alguns abraam a cruz no principio, quando ella se apresenta; mas quando dura, dizem: No posso mais. Todavia, Deus quer que continues a carregal-a com pacincia, muito embora fosse preciso carregal-a sem cessar at morte. Eis ahi portanto em que consiste a salvao e a perfeio; consiste em cumprir estas tres palavras: Abneget, recusemos ao amor prprio o que no lhe convm. Tollat, abracemos a cruz que Deus nos envia4! Sequatur, sigamos as pegadas de Jesus Christo at morte. II. Devemo-nos, pois, persuadir de que Deus nos conserva no mundo, para que carreguemos as cruzes que nos envia; e isto o que faz a nossa vida meritria. Porque nosso Salvador nos ama, veiu sobre esta terra, no para gozar, mas para soffrer, afim de que lhe sigamos as pegadas : Christus passus est pro nobis, vobis relinquens exemplum ut sequamini vestigia eius Christo padeceu por ns, deixando-vos exemplo, para que sigais as suas pisadas1. Contemplemol-o, a Elie que vae adiante com a sua cruz, afim de traar-nos o caminho pelo qual devemos seguil-o, se nos quizermos salvar. Oh! que grande remdio, dizer a Jesus Christo em cada afflico: Senhor, Vs quereis que eu carregue esta cruz; acceito-a e quero soffrel-a at quando quizerdes. Assim, e muito mais ainda, o merece Jesus Christo, que, para nos livrar do inferno, escolheu uma vida de trabalho e uma morte de dor.1

Jesus meu, somente Vs pudestes ensinar-nos estas mximas de salvao, de todo contrarias s mximas do mundo, e somente Vs nos podeis dar a fora para carregarmos a cruz com pacincia. No Vos peo que me faais isento dos soffrimentos; peo-Vos somente que me deis fora para soffrer com pacincia e resignao. Padre Eterno, vosso Filho prometteu que nos haveis de dar tudo quanto Vos pedssemos em seu nome: Amen, amen dico vobis, si quid petieritis Pairem in nomine meo, dabit vobis2. Eis, pois, o que Vos pedimos: daenos a graa de soffrer com pacincia as afflices desta vida: attendei-nos pelo amor de Jesus Christo. E Vs, meu Jesus, perdoae-me todas as offensas que Vos tenho feito, por no ter praticado a pacincia nas cruzes que me enviastes. Dae-me o vosso amor: que me dar fora para soffrer tudo por Vs. Privae-me de todas as cousas, de todos os bens terrestres, dos parentes, dos amigos, da sade do corpo, de todas as consolaes; tirae-me ainda a vida, mas no o vosso amor. Dae-Vos a mim, e nada mais Vos peo. Virgem Santssima, obtendeme para com Jesus Christo um amor constante at morte. (*II 267.) SABBADO.

Ineffavel dignidade de Maria Santssima.De qua natus est Iesus, qui vocalur Christus Da qual nasceu Jesus, que se chama o Christo (Matth. i, 16). Summario. E to grande a dignidade de Maria como me de Jesus Christo, que s Deus com a sua sabedoria infinita a- pode comprehender; mas toda a sua omnipotncia no pode fazer outra maior. Faamos um acto de viva f acerca desta divina maternidade; alegremo-nos com a Santssima

i Petr. 2, 21.

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Io. 16, 23.

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Virgem, e augmentemos a nossa confiana nella, porquanto de certo modo nos devedora da sua altssima dignidade.

I. Para comprehender a altura a que Maria foi sublimada, mister se faria comprehender quo sublime a alteza e grandeza de Deus. Bastar dizer que Deus fez a Santssima Virgem me do seu Filho para ficar entendido que Deus no a pode elevar mais alto do que a elevou. Bem disse Santo Arnaldo Carnotense que Deus, fazendo-se Filho da Virgem, sublimou-a acima de todos os Santos e Anjos. Ainda que, em verdade, ella seja infinitamente inferior a Deus, ao mesmo tempo est immensa e incomparavelmente acima de todos os espritos celestiaes, como fala Santo Ephrem. Por este motivo lhe diz Santo

Anselmo: Senhora, vs no tendes quem vos seja igual, porque tudo quanto ha, est acima ou abaixo de vs; s Deus vos superior, e todos os mais vos so inferiores. Em uma palavra, to grande a dignidade da Virgem, que, se bem que Deus s com a sua sabedoria infinita a possa comprehender, todavia, no dizer de So Boaventura, com toda a sua omnipotncia no pode fazer outra maior Ipsa est qua maiorem facere non potest Deus. Quem considerar isto, deixar de estranhar porque os santos Evangelistas, que to diffusamente registram os louvores de um Joo Baptista, de uma Magdalena, to escassos' se

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PRIMEIRA SEMANA DO ADVENTO.

SE GU N DA SE MA N A DO AD V EN TO ,

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mostram em descrever as grandezas de Maria. Tendo dito que desta eximia Virgem nasceu Jesus: de qua natus est Iesus, no julgaram necessrio accrescentar outra cousa; porque neste seu maior privilegio se acham includos os demais. Qualquer titulo que se lhe d, nunca chegar a honral-a tanto quanto o de Me de Deus. Faamos um acto de viva f na maternidade divina de Maria, alegremonos com ella, agradeamos a Deus por ella e protestemos que estamos promptos a dar a nossa vida em defesa desta verdade, como de todas as outras que lhe dizem respeito. II. Diz Santo Anselmo que mais pelos peccadores do que pelos justos que Maria foi sublimada a Me de Deus; do mesmo modo que Jesus disse de si prprio que veiu para chamar, no os justos, seno os peccadores. A divina Me tem, pois, uma certa obrigao de soccorrer os miserveis que se lhe recommendam, porquanto a elles que , por assim dizer, devedora de sua altssima dignidade: Totum quod habes, peccatoribus debes. Con-gratulemonos, portanto, com Maria, sim; mas congratu-lemo-nos tambm com ns mesmos e ponhamos nella toda a nossa esperana.1

um extremo desejo de ajudal-os. Me de misericrdia, vede as minhas misrias e tende piedade de mim. Ouo que todos vos chamam refugio dos peccadores, esperana dos que desesperam: sede tambm o meu refugio, a minha esperana, o meu auxilio. Deveis salvarme com a vossa intercesso. Soccorreime pelo amor de Jesus Christo. Extendei a mo a um pobre cahido que se recommenda a vs. Sei que a vossa consolao ajudar um peccador, quando possvel; ajudae-me, pois, j que o podeis fazer. Pelos meus peccados perdi a graa divina e a minha alma. Entregome em vossas mos; dizei-me o que hei de fazer para de novo entrar na graa do meu Senhor; quero fazel-o sem demora. Elie me envia a vs, para que me soccorrais, quer que eu me refugie na vossa misericrdia, afim de que eu me salve no somente pelos mritos de vosso Filho, mas tambm pelas vossas oraes. A vs recorro; e vs rogae por mim. Mostrae como sabeis valer a quem confia em vs. Assim espero, assim seja1. (*I 184.) SEGUNDO DOMINGO DO ADVENTO.

Guilh. Paris.

f Me de Deus, eis aqui a vossos ps um miservel peccador, que a Vs recorre e em Vs confia. No mereo que lanceis sobre mim o vosso olhar; mas sei que, vendo vosso Filho morto para a salvao dos peccadores, tendes

O encarceramento de Joo e a utilidade das tribulaes.Ioannes autem cum audisset in vinculis opera Christi. . . Como Joo, estando no crcere, tivesse ouvido as obras de Christo . . . (Matth. 11} 2).

Summario. muito grande a utilidade que nos trazem as tribulaes. O Senhor nol-as envia para em seguida nos enriquecer com as melhores graas. Considerae, com effeito, que So Joo, estando encarcerado, chega a conhecer as obras de Christo, e recebe delle os mais elevados elogios. No tempo das tribulaes, em vez de nos lastimarmos, abracemos a cruz com resignao e com aco de graas. 1 Quem recitar esta orao em dia de Domingo, accrescentando tres Ave-Marias, em reparao das blasphemias contra a B. Virgem, ganha 300 dias de indulgncia.

I. no tempo das tribulaes que Deus enriquece as almas, suas predilectas, com as graas mais copiosas. Vede So Joo Baptista, que entre as correntes e as angustias do crcere chega a conhecer as obras de Jesus Christo, recebe da bocca de Jesus os elogios mais honrosos de homem forte, de penitente austero, de maior dos prophetas, c apontado e tido como o Anjo do Senhor, destinado a preparar-lhe o caminho: Praeparabit viam tuam ante te. Bem apreciveis so, portanto, as utilidades que as tribulaes nos trazem, e o Senhor nol-as envia no porque nos quer mal, mas porque nos quer bem. Qui non est tentatus, quid scit? 1 Quem no foi tentado, o que sabe? Quem vive na prosperidade e nunca tem experimentado a adversidade, nada sabe acerca do estado da sua alma e ser molestado com muitas tentaes de soberba, de vangloria, de cubica de mais riquezas, de mais honras, de mais prazeres. Ora, de todas estas tentaes livram-nos as adversidades, ao mesmo tempo que nos fazem humildes e contentes no estado em que approuve ao Senhor collocar-nos. A demais, ellas desvendam-nos os olhos que a prosperidade tinha vendado; e se somos peccadores, no somente reconduzem-

nos, como outrora o filho prdigo, aos ps de nosso Pae celestial, mas ainda nos faro satisfazer pelos peccados commettidos, muito melhor do que o fariam todas as penitencias por ns livremente escolhidas. Eis a razo por que Santo Agostinho reprehende o peccador que se lamenta das tribulaes enviadas por Deus e lhe diz: Meu irmo, quem te dera comprehender que remdio efficaz so as tribulaes para curar as chagas que te feriram os peccados! Se somos justos, as tribulaes nos desprendem o corao das cousas da terra, visto que no achamos nella seno amarguras. Affeicam-nos aos bens do cu, onde se acha a verdadeira felicidade, fazem-nos frequentemente lembrados de Deus e obrigam-nos a recorrer a sua misericrdia, ao vermos que s elle-nos pode alliviar das nossas misrias. Mas, o que mais , as tribulaes fazem-nos ganhar grandes thesouros de mritos junto de Deus, forne-cendo-nos occasio para praticar as virtudes que lhe so mais caras, taes como a humildade, a pacincia, a conformidade com a vontade divina, etc. Numa palavra: so taes e tantas as vantagens das tribulaes, que So Thiago chega a chamar bemaventurado quelle que as soffre com pacincia: Beatus vir qui suffert tentationem 1. II, Aquelle que vive nesta terra em tribulaes, tem nisso um signal certo de que querido de Deus, e tanto mais querido, quanto mais graves ellas forem. Porque eras acceito a Deus, foi necessrio que a tentao te provasse, disse o anjo a Tobias 2. Jesus disse o mesmo mais claramente a Santa Teresa: Minha filha, disse-lhe, as almas mais queridas de meu Pae so aquellas que soffrem padecimentos mais graves. A

Santa, pois, animada deste espirito, costumava dizer que no quizera trocar os seus soffrimentos por todos os thesouros do mundo. Deste mesmo espirito ns tambm devemos estar animados, se quizermos chegar um dia ao paraso e ser glorificados como Santos. Bem longe de nos lamentarmos nas tribulaes, abracemol-as dando graas a Deus; acceitemol-as no somente conformandonos com a vontade divina, mas alegrando-nos por Deus nos tratar como tratou a Jesus Christo, o Homem de

dores, e Maria Santssima, a Rainha dos Martyres. Digamos muitas vezes com Job: Si bona suscepimus de manu Dei, mala quare non susci-piamusi3 Si de boa vontade tenho recebido da mo de Deus os bens, i.v . a prosperidade terrestre; porque no receberei com mais satisfaco os males, i. . as tribulaes que me so muito mais vantajosas do que a prosperidade? Faa o Senhor de mim e de tudo o que meu segundo a sua vontade e seja sempre bemdito o seu santo nome: Sit nomen Domini benedictum *.

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D OMIN G O ,

27s

Eccli. 34, 9. Iac. I , 12. 4 lob i, 21.

1

Tob. 12, 13.

3

lob 2, 10.

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SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO.

SEGUNDA-FEIRA.

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Assim quero fazer, meu Deus. Mas Vs, que conheceis o meu nada, confortae-me com a vossa santa graa, e excitae o meu corao a preparar os caminhos para o vosso Filho unignito, afim de que, pela sua vinda, possa servirvos pura e sinceramente1. Fazei-o pelo amor de Jesus Christo. j- Doce Corao de Maria, sede minha salvao*. (* III348.)

SEGUNDA-FEIRA.

Deus entrega o prprio Filho morte para nos dar a vida.Deus autem, qui dives est in misericrdia, propter nimiam cari-tatem suam, qua dilexit nos, et cum essemus mortui peccatis, convivificavit nos Christo Deus que rico em misericrdia, por causa da extrema caridade, com que nos amou, tambm quando mortos estvamos pelos peccados, nos convivificou em Christo (Eph. 2, 4). Summario. Pelas nossas culpas ns, pobres peccadores, j estvamos todos mortos e condemnados ao inferno. Deus, porm, por causa do im-menso amor que tem s nossas almas, quiz restituir-nos vida, enviando terra o seu Filho unignito para morrer por ns. Pois dizei-me: Se Jesus Christo morreu por nosso amor, no mais do que justo, que ns somente para elle vivamos, e que elle seja o nico senhor dos nossos coraes ?

I. Considera que o peccado a morte da alma; visto que esse inimigo de Deus nos priva da graa divina, que a vida da alma. Assim ns, os pobres peccadores, j estvamos todos mortos por nossa culpa e todos condemnados ao inferno. Deus, porm, por causa do immenso amor que tem s nossas almas, quiz restituir-nos vida. Que fez? Enviou terra o seu Filho unignito afim de

morrer e com a sua morte recuperar-nos a vida. E com razo que o Apostolo chama esta obra de amor: nimiam caritatem, excesso de amor. Com effeito, nunca o homem pudera nutrir esperana de receber a vida de um modo to amoroso, se Deus no houvera excogitado esse meio de remi 1-o. Estavam mortos todos os homens, e no havia para elles remdio. Mas o Filho de Deus, pelas entranhas de sua misericrdia, desceu do cu a restituirnos vida. E exactamente por isso que o Apostolo chama Jesus Christo vita nostra, nossa vida. Eis que o nosso Redemptor, j incarnado e feito menino, nos diz: Veni ut vitam habeant, et abundantius habeant1 Eu vim para elles terem vida, e para a terem em maior abundncia. Jesus veiu e escolheu a morte para si, afim de nos dar a vida. , pois, justo que vivamos unicamente para um Deus que se dignou de morrer por ns. justo que o nico senhor de nosso corao seja Jesus Christo, porquanto deu o seu sangue e a sua vida para o ganhar. meu Deus, quem ser to ingrato e to desgraado que, sabendo pela^f que um Deus morreu para lhe grangear o amor, se recuse a amal-o e, renunciando amizade divina, queira fazer-se, por sua livre vontade, escravo do inferno ? II. meu Jesus, se Vs no tivsseis acceitado e padecido a morte por mim, teria eu ficado morto no meu peccado sem esperana de me salvar e de poder amar-Vos. Mesmo depois que com a vossa morte me obtivestes a vida, eu muitas vezes tenho tornado a perdel-a voluntariamente pelos meus peccados.

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SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO.

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Morrestes para Vos assenhoreardes do, meu corao, e eu, rebellando-me contra Vs, escravizei-o ao demnio. TenhoVos desrespeitado e dito que no Vos queria para meu Senhor. Tudo isso

verdade, mas tambm verdade que no quereis a morte do peccador, mas que se converta e viva, e Vs morrestes afim de nos dardes a vida.

SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO.

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SEGUNDA-FEIRA.

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Or. Dom. occurr. 3CO dias de indulg. cada vez.

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Io. IO, IO.

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Amado Redemptor meu, peza-me de Vos ter offendido; perdoae-me pelos merecimentos de vossa Paixo. Dae-me a vossa graa; dae-me aquella vida que me adquiristes com a vossa morte, e de hoje em diante reinae como supremo senhor em meu corao. No, no quero mais que seu senhor seja o demnio, que no meu Deus, que no me ama e nada tem padecido por mim. Em tempos passados foi elle no o verdadeiro senhor de minha alma, seno o injusto possuidor. Vs s, Jesus meu, sois o meu verdadeiro Senhor, Vs que me haveis creado e remido com o vosso sangue; Vs s me haveis amado e amado tanto. justo que eu seja unicamente vosso no tempo de vida que me resta. Dizei-me o que quereis que eu faa, pois que eu quero fazel-o. Castigae-me como quizerdes: acceito tudo. Poupae-me somente o castigo de ter de viver sem o vosso amor; fazei com que Vos ame, e depois disponde de mim segundo a vossa vontade. Maria Santssima, meu refugio e minha consolao, recommendae-me a vosso Filho; a sua morte e a vossa intercesso so a minha nica esperana. (II 332.) TERA-FEIRA 1.

descarnadas, o rosto cinzento, a lingua e os lbios cr de ferro, o corpo frio e pesado. Quantas pessoas, vista de um parente ou de um amigo morto, no mudaram de vida e deixaram o mundo!

Retrato de um homem que acaba de passar outra vida.Auferes spiritum eorum, et deficient, et in pulverem suum re-vertentur cTirarlhes-s o espirito, e deixaro de ser, e tornarse-o no seu p (Ps. 103, 29). Summario. Imaginemos que estamos vendo uma pessoa que acaba de expirar. Contemplemos nesse cadver a cabea pendida sobre o peito, o Cabello desgrenhado, os olhos encovados, as faces

I. Imagina que ests vendo uma pessoa que acaba de exhalar o ultimo suspiro. Contempla esse cadver deitado ainda no leito, a cabea cahida sobre o peito, o cabello desgrenhado, banhado ainda no suor da morte, os olhos encavados, as faces descarnadas, o rosto cinzento, a lingua e os lbios cr de ferro, o corpo todo frio e pesado. Empallidece e treme quem quer que o ve. Quantas pessoas, vista de um parente ou amigo defunto no mudaram de vida e deixaram o mundo! Mais horror ainda inspira o cadver, quando comea a corromper-se. No se passaram bem vinte e quatro horas que esse moo morreu, e j o mau cheiro se faz sentir. E preciso abrir as janellas e queimar bastante incenso; preciso cuidar que em breve seja levado igreja e posto debaixo da terra, para que no infeccione a casa toda. Eis ahi em que se tornou esse moo orgulhoso, esse dissoluto! Ainda ha pouco acolhido e desejado nas sociedades, e ag^a feito objecto de horror e de abominao para quem o ve 1 Os parentes anceiam por fazel-o levar para fora da casa e pagam aos coveiros para que o levem encerrado num caixo, e o entreguem sepultura. Outr'ora gabavam-se o espirito, a belleza, o trato fino e bons ditos; mas pouco depois de sua morte perde-se a memoria de tudo isso: Periit memoria eorum cum sonitu 1 A memoria delles pereceu com ruido.

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Ao ouvirem a noticia de sua morte, uns dizem que era homem honrado, outros que deixou os negcios em bom estado; uns lamentam-se, porque o defunto era-lhes ut; outros regozijam-se, porque a morte delle lhes traz Proveito.

Porfim, dentro em breve, j ningum falar nelle. Desde os primeiros dias os parentes mais chegados nao querem ouvir falar delle afim de no se lhes avivar a saudade. Nas visitas de pezames trata-se de outros

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SEGUNDA SEMANA DO ADVENTO.1 Ps

T E R A - FE I

Os devotos de S. Affonso podem tomar hoje a meditao sobre a sua pacincia e amor da crux. V. Appendice n. IV.

' 9, 7

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assumptos, e se algum por ventura fala do defunto, logo os parentes atalham: Por favor, no pronuncieis mais o seu nome, E entretanto, onde que estar a alma daquelle infeliz? II. Pensae que assim como vs fizestes na morte de vossos amigos, assim os outros faro para comvosco. Os vivos apparecero por sua vez na scena, occupando os bens e os logares dos mortos, e destes j no se faz ou quasi que no se faz caso ou meno. Os parentes afnigir-se-o ao principio por alguns dias, mas depressa consolar-se- com a parte da herana que lhes couber, de tal sorte que dentro em breve at se regozijaro de vossa morte. No mesmo quarto onde exhalastes a alma, e onde fostes julgado por Jesus Christo, se jogar e se rir como. antigamente. E a vossa alma onde estar ento? Jesus, Redemptor meu, agradeo-Vos por no me terdes deixado morrer quando estava em desgraa comvosco. Ha quantos annos no mereceria est* no inferno 1 Se eu tivesse morrido em tal dia, tal noite, que seria de mim por toda a eternidade? Senhor, eu Vos agradeo e no quero mais resistir as vossas chamadas. Quem sabe se as palavras que acabo de ler, no so para mim o vosso ultimo convite 1 Confesso que no mereo misericrdia: tantas vezes me tendes perdoado e eu, ingrato, tenho tornado a offender-Vos. Mas j que no sabeis desprezar um corao que se humilha e se arrepende, eis aqui um traidor que a Vos recorre arrependido. Por piedade, no me afasteis. Verdade que Vos ultrajei mais que muitos outros, pois que, mais que muitos outros fui favorecido por Vs com luzes e graas, mas o sangue que derramastes por mim, anima-me e offerece-me o perdo, se eu me arrepender. Sim, meu Bem supremo, arrependo-me de

toda a minha alma de Vos ter desprezado. Perdoae-me e dae-me a graa de Vos amar para o futuro. J demasiadamente Vos ofTendi. No quero empregar a vida que ainda me resta, a offender-Vos, quero empregal-a a chorar sempre os desgostos que Vos dei, e a amar-Vos de todo o meu corao. 0 Maria, esperana minha, rogae a Jesus por mim. (II 7.) QUARTA-FEIRA.

Amor que o Filho de Deus nos mostrou na Redempo.Dilexit nos et tradidit semetipsum pro nobis Christo nos amou e se entregou a si mesmo por ns (Eph. 5, z). Summario, A salvao ou a coudemnao de todos os homens no augrnenta nem diminue de nada a felicidade do Filho de Deus, que a bemaventurana mesma. Todavia elle tem feito e padecido tanto por ns, que, se a sua beatitude fora dependente da nossa, no teria podido padecer e fazer mais. Quo grande no deve, pois, ser nosso amor para com Jesus Christo e quo grande a nossa confiana de obtermos, pelos seus merecimentos, todas as graas que desejemos I

I. Considera que o Verbo Eterno o Deus infinitamente feliz em si mesmo, de tal sorte que a sua felicidade no pode ser augmentada. Nem mesmo a salvao ou a condemnao de todos os homens podem acrescentar-lhe ou diminuir-lhe alguma cousa. Comtudo, para nos salvar a ns, vermes miserveis, elle tem feito e padecido tanto, que, se a sua beatitude, no dizer de Santo Thomaz, tivesse sido dependente da do homem, no podra fazer nem padecer mais. Com effeito, se Jesus Christo no pudera ser feliz sem a nossa redempo, como poderia humilharse mais do que se humilhou, tomando sobre si todas as nossas enfermidades, as humiliaes da infncia, as misrias da vida humana e uma morte to desapiedada e lgnominiosa? S um Deus era capaz de

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amar-nos to excessivamente a ns mseros peccadores, to indignos de sermos amados. Diz um piedoso escriptor: Se Jesus Christo nos tivesse Permittido pedir-lhe a maior prova de seu amor, quem Jamais se atreveria a pedir-lhe que se fizesse homem como S. Affonso, Meditaes. I. ns, que se sujeitasse a todas as nossas misrias; ainda mais, que se fizesse de todos os homens o mais pobre, o mais desprezado, o mais maltratado, at morrer por mo de algoz e fora de tormentos num patibulo infame, amaldioado e abandonado de todos, mesmo de seu prprio Pae, que desamparou o Filho, para no nos abandonar a ns em nossa perdio ? Mas o que ns nem ousramos conceber em pensamentos, o Filho de Deus o excogitou e realizou. Desde o bero o divino Menino se offereceu por ns aos trabalhos, aos opprobrios e morte: Dilexit nos, et tradidit semetipsum pro nobis1 Elie nos amou e se entregou a si mesmo por ns. Sim, Jesus nos amou, e por amor se nos deu a si mesmo, afim de que, offerecendo-o ao Pae como victima, em expiao de nossos delietos, possamos, em vista de seus mritos, obter da divina bondade todas as graas que desejarmos. Esta victima agrada mais ao Pae do que se lhe fosse offerecida a vida de todos os homens e de todos os anjos. Offereamos, portanto, sempre a Deus os merecimentos de Jesus Christo, e por elles busquemos e esperemos todo o bem.1

vosso amor. Meu amado Re-demptor, eu sou um pobre peccador, mas Vs asseguraes que viestes para buscar os peccadores. Eu sou um pobre enfermo, mas Vs viestes para curar os enfermos. Eu sou um rprobo por causa de meus peccados, mas Vs viestes para salvar o que estava perdido: Venit enim Filius hominis salvare quod perierat2. Que poderei, pois, temer, se quizer emendar-me e ser vosso ? S devo ter medo de mim mesmo e da minha fraqueza ; mas a minha fraqueza e pobreza devem augmentar a minha confiana em Vs, que Vos gloriaes de ser o refugio dos pobres e promettestes attender a todos os seus desejos: Desiderium pauperum exaudivit 1 Dominus O Senhor ouviu os desejos dos pobres. Eis a graa que Vos peo, meu Jesus, dae-me confiana em vossos merecimentos, e fazei com que sempre me recommende a Deus pelos vossos mritos. Padre Eterno, pelo amor de Jesus Christo, livrae-me do. inferno e em primeiro logar do peccado. Pelos mritos desse vosso Filho, dae-me luz para conhecer a vossa vontade; dae-me fora contra as tentaes; dae-me o dom de vosso santo amor. Sobretudo supplico-Vos a graa de sempre pedir que me ajudeis pelo amor de Jesus Christo, que prometteu que haveis de conceder tudo quanto se pedir, quelles que Vos pedirem em seu nome. Se perseverar era pedir assim, serei salvo; se no o fizer, serei com certeza condemnado.Maria Santssima, impetrae-me a grandssima graa da orao, da perseverana em recommendarme sempre a Deus e a vs, visto que obtendes de Deus tudo quanto quizerdes. (II333.)

Eph. 5, a.

s

Matth. 18, n.

II. meu Jesus, eu seria por demais injusto para com a vossa misericrdia e o vosso amor, se, depois de me haverdes dado tantas provas do affecto que me tendes e do vosso desejo de me salvar, eu desconfiasse de vossa misericrdia e de

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QUINTA-FEIRA.

Jesus, Homem de dores desde o seio de sua Me.Virum dolorum, et scientem infirmilalem O homem de dores e experimentado nos trabalhos (Is. 53, 3).

Summario. O primeiro Adam gozou durante algum tempo as delicias do paraiso terreal; mas o segundo Adam, Jesus Christo, no teve nem siqner um instante em sua vida que no fosse cheio de affiices e agonias, porquanto desde o bero affligiu-o a dolorosa previso de todas as penas e ignominias que deveria padecer, e particularmente a previso da ingratido de que os homens usariam para com elle. cus! ns 'ambein temos contribudo parar contristar esse amabilissimo Corao. ' Fs- 9, 17-

I. O propheta Isaias chama a Jesus Christo o homem de dores. E com razo, porquanto a natureza humana de Jesus foi creada expressamente para padecer, e assim desde o bero comeou a soffrer as maiores dores, que os homens jamais teem soffrido. Para o primeiro homem, Adam, houve um tempo em que gozava as delicias do paraso terrestre; mas o segundo Adam, Jesus Christo, no teve nem siquer um instante de vida que no fosse cheio de afflices e agonias. Desde o bero affligiu-o a dolorosa previso de todas as penas e ignominias que deveria padecer no correr de sua vida e particularmente na hora de sua morte, quando deveria terminar a vida como que submergido num oceano de dores e de op-probrios, assim como o predisse David: Veni in altitudinem maris, et tempestas demersit me 1 Chegtiei ao alto mar e a tempestade me submergiu. Desde o seio de Maria, Jesus Christo acceitou obediente a ordem de seu Pae acerca da sua paixo e morte. De sorte que j antes de nascer previu os aoutes e apresentou seu corpo para os receber; previu os

espinhos e apresentou-lhes a cabea; previu as bofetadas, e apresentou-lhes as faces; previu os cravos e apresentou-lhes as mos e os ps; previu a cruz e apresentou a sua vida. Dahi que o nosso Redemptor, desde a primeira infncia e a cada instante da sua vida, padeceu um continuo mar-tyrio, e a cada instante offerecia esse martyrio por ns ao Pae Eterno. Mas, o que mais o atormentou, foi a vista dos peccados que os homens haviam de commetter, mesmo depois da sua to dolorosa Redempo. Na luz divina conhecia Jesus perfeitamente a malicia de cada peccado e veiu ao mundo exactamente para tirar os peccados; mas ao ver em seguida o numero to grande de peccados que ainda iam ser commettidos, a angustia que o Corao de Jesus soffreu, foi maior do que a que tem soffrido ou ainda soffrero todos os homens da terra. II. Meu doce Redemptor, quando que comearei a ser grato para com vossa bondade infinita? quando comearei a reconhecer o amor que me tendes consagrado, e as penas que tendes soffrido por minha causa? Nos tempos passados, em vez de amor e de gratido, paguei-Vos com offensas e desprezos. Deverei continuar a viver sempre to ingrato para comvosco, meu Deus, que nada poupastes para adquirir para Vs o meu amor? No, Jesus meu, no ha de ser assim. Nos dias de vida que ainda me restam, quero serVos grato; e Vs mesmo deveis ajudar-me nisso. Se Vos tenho offendido, as vossas penas, a vossa morte so a minha esperana. Promettestes perdoar a quem se arrepende. Arrependo-me de todo o meu corao de Vos ter desprezado. Cumpri a vossa promessa, Amor meu, e perdoae-me. meu caro Menino, contemplo-Vos nessa mangedoura como que j pregado

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na cruz, visto que esta Vos est presente e Vs a acceitaes por mim. O Menino crucificado assim quero chamar-Vos , eu Vos agradeo e Vos amo. Deitado sobre essa palha, padecendo por mim e preparando-Vos para morrer por meu amor, Vs mandaes e me convidaes a amar-Vos: Diliges Dominum Deum tuum1 Amars ao Senhor, teu Deus. No desejo outra cousa seno amar-Vos. J que

quereis ser amado por mim, dae-me todo esse amor que me pedis. O amor para comvosco um dom vosso, e o dom mais precioso que podeis conferir a uma alma. Acceitae, meu Jesus, o amor de quem, peccando, tantas vezes Vos tem offendido. Vs baixastes do cu para buscar as ovelhas perdidas: buscae-me, pois, a mim, que eu no busco seno a Vs. Vs quereis a

47Ps. 68, 3. ' Luc. io, 27.

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minha alma, e a minha alma no quer seno a Vs. Vs amaes a quem Vos ama, segundo a vossa palavra: Diligentes me diligo^ Eu amo a quem me ama. Eu Vos amo, amae-me tambm Vs; e se me amaes, prendei-me ao vosso amor, mas prendei-me de tal maneira, que eu no possa mais separar-me de Vs. Maria, minha Me, ajudae-me. Seja uma nova gloria para vs, verdes vosso Filho amado de um miservel peccador, que em outros tempos o tem offendido tanto. (II 334.) SEXTA-FEIRA.

vontade divina. Se no usarmos deste meio, dirijamo-nos aonde quizermos, faamos quanto1

Prov. 8, 17.

Na cruz acha-se a nossa salvao.Lignum vitae est his, qui apprehenderint eam; et qui tenuerit eam, beatus arvore de vida para aquelles que lanarem mo delia; e bemaventurado quem a no largar (Prov. 3, 18). Summario. Se quizermos salvar-nos, mister que nos resolvamos a carregar cem pacincia a cruz que Deus nos manda, e a morrer nella por amor de Jesus Christo, assim como elle morreu na cruz por nosso amor. este tambm o meio para acharmos a paz nos soffrimentos. Quem recusa acceitar a cruz, de ordinrio augmenta-lhe o peso; ao passo que quem a abraa e carrega com pacincia, tira-lhe o peso e converte-a em consolao.

I. Na cruz acha-se a nossa salvao, a nossa fora contra as tentaes, o desapego dos prazeres terrestres; na cruz, em summa, acha-se o verdadeiro amor de Deus. Mister , pois, que nos resolvamos a carregar com pacincia a cruz que Deus nos envia, e a morrermos nella por amor de Jesus Christo, que morreu na sua por nosso amor. No ha outro caminho por onde se entra no cu, seno o da resignao nas tribulaes at morte. O meio para acharmos a paz nos prprios padecimentos, a uniformidade com a

podermos, no conseguiremos subtrahirnos ao peso da cruz. Ao contrario, se a carregarmos de boa vontade, a cruz nos levar ao cu, e nos dar a paz nesta terra. Que o que faz quern rejeita a cruz? Augmenta-lhe o peso. Mas quem a abraa e carrega com pacincia, allivia a e converte-a em doura. Deus profuso com as suas graas para com todos aquelles que de boa vontade carregam a cruz para lhe agradarem. 0 padecimento no apraz a nossa natureza; mas quando o amor divino reina num corao, fal-o acceitavel. Ah! se considerssemos bem o estado de felicidade que gozaremos no paraso, se formos fieis a Deus em soffrermos sem lamentos os trabalhos da vida, de certo no nos queixaramos de Deus, quando nos envia cruzes. Antes havamos de lh'as agradecer, e at havamos de. pedir mais soffrimentos ainda. Se somos peccadores, devemo-nos consolar nas tribulaes que vierem, e pensar que Deus nos castiga na vida presente; porque isso signal certo de que Deus quer livrar-nos do castigo eterno. Ai do peccador que goza de prosperidade na terra! Quem tiver de soffrer alguma grave tribulao, lance um olhar no inferno merecido, e toda a pena se-lhe affigurar leve. II. Se quizermos ser santos, devemos transformar o nosso gosto. Emquanto no chegarmos a achar doce o que amargoso, e amargoso o que dfce, nunca nos poderemos unir perfeitam