Upload
buidieu
View
216
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA5ª VARA CRIMINAL DO FÓRUM CENTRAL DE SÃO PAULO - SP
Processo nº 0017872-34.2007.8.26.0050Controle nº 1607/10
JOÃO VACCARI NETO, já qualificado nos autos
da Ação Penal que lhe move a Justiça Pública, vem,
respeitosamente, à presença de Vossa Excelência, em atenção ao
r. despacho de fls., apresentar suas Alegações Finais em forma de
MEMORIAIS,
com fundamento no artigo 403, § 3º do Código de Processo Penal,
pelos motivos de fato e de Direito a seguir aduzidos.
DO ACUSADO VACCARI E DA BANCOOP
1. João Vaccari Neto é bancário aposentado,
ocupou diversos cargos na Diretoria da Bancoop e, no final de
2004, assumiu a função de Presidente da Cooperativa, cargo do
qual se desligou em 2010, para assumir a função de Secretário de
Finanças do Partido dos Trabalhadores, função que exerceu até
maio de 2015. Importante salientar que até a data em que
assumiu como presidente da Bancoop, Vaccari atuava exclusivamente como Presidente do Sindicato dos Bancários de 1998 até 2004, constando apenas pro forma na Diretoria da
Cooperativa. Entre 2000 e 2003, Vaccari atuou, ainda, como
tesoureiro nacional da CUT.
2. A Bancoop foi fundada em 18 de junho de
1996, por iniciativa do Sindicato dos Bancários de São Paulo,
Osasco e Região. Desde seu início, teve por objetivo fundamental
construir e auxiliar na conquista, pelos trabalhadores, de um
imóvel com qualidade e a preço de custo, pela modalidade de
cooperativa.
3. Primeiramente, a Cooperativa construiu e
entregou três empreendimentos, lançados na Zona Leste, Zona
Oeste e em Osasco. Hoje, são 5.698 (cinco mil, seiscentas e
noventa e oito) unidades construídas e já entregues aos
cooperados. Vejamos a situação atual da cooperativa no quadro
abaixo:
TODOS OS EMPREENDIMENTOS DA BANCOOP - Data base: jan/2016
EMPREENDIMENTOS STATUS TOTAL DE
UNIDADESUNIDADES ENTREGUES
UNIDADES ENTREGUES PELA BANCOOP
COOPERADOS AGUARDANDO ENTREGA PELA BANCOP
COOPERADOS AGUARDANDO RESTITUIÇÃO DOS VLR PAGOS
1 Ed. Cachoeira Concluído Com Escritura 92 92 92 – –
2 Jardim da Saúde Concluído Com Escritura 52 52 52 – –
3 Moradas da Flora Concluído Com Escritura 360 360 360 – –
4 Mirante do Tatuapé Concluído Com Escritura 168 168 168 – 2*
5 Parque das Flores Concluído Com Escritura 78 78 78 – –
6 Parque Mandaqui Concluído Com Escritura 196 196 196 – 1
7 Portal do Jabaquara Concluído Com Escritura 333 333 333 – –
8 Praia Grande Concluído Com Escritura 299 299 299 – –
9 Praias de Ubatuba Concluído Com Escritura 96 96 96 – –
10 Recanto das Orquídeas
Concluído Com Escritura 320 320 320 – 1
11 Residencial Moema3 Concluído Com Escritura 76 76 76 – –
12 Residencial Pêssego3 Concluído Com Escritura 152 152 152 – –
13 Saint Phelippe Concluído Com Escritura 80 80 80 – 2
14 Santak Concluído Com Escritura 52 52 52 – –
15 Swiss Garden Concluído Com Escritura 88 88 88 – 3
16 Torres de Pirituba Concluído Com Escritura 224 224 224 – –
17 Veredas do Carmo Concluído Com Escritura 504 504 504 – –
18 Vila Augusta Concluído Com Escritura 96 96 96 – –
19 Vila Formosa3 Concluído Com Escritura 168 168 168 – –
20 Vila Mariana Concluído Com Escritura 128 128 128 – –
21 Vila Mazzei3 Concluído Com Escritura 24 24 24 – –
22 Solar de Santana Concluído Com Escritura 204 204 204 – –
3790 3790 3790 – 9
23 Village de PalmasConcluído/ Fase de Conclusão Documental
106 106 106 – –
24 Vila Inglesa1Concluído/ Fase de Conclusão Documental
187 124 124 – 30
25 Horto FlorestalConcluído/ Fase de Conclusão Documental
240 240 240 – 1
27 Morada Inglesa4Concluído/ Fase de Conclusão Documental
100 100 100 – 3
633 570 570 – 3428 Colina Park Em Negociação 145 40 40 2 2629 Torres da Mooca Em Negociação 252 168 168 48 2730 Villas da Penha2 Em Negociação 250 118 118 25 63
647 326 326 75 11631 Bela Cintra Transferido 208 104 104 –32 Saint Paul Transferido 192 192 – – –33 Maison Piaget Transferido 64 – – – –34 Altos do Butantã Transferido 400 400 204 – –35 Mar Cantábrico Transferido 112 112 – – –36 Ihas d`Itália Transferido 216 216 72 – –37 Liberty Boulevard Transferido 288 144 144 – –38 Vila Clementino Transferido 188 188 132 – –39 Casa Verde Transferido 336 224 224 – –40 Anália Franco Transferido 264 132 132 – –
2268 1712 1012 – –
18 EmpreendimentosDescontinuados16
TOTAL 7338 6398 5698 75 1751 - Acordo aprovado em Assembleia Seccional estabelece que a Bancoop não concluirá as obras.
O projeto de construção, juntamente com o terreno, hoje utilizado como estacionamento, será
alienado. Os cooperados do bloco C, não construído, terão restituídos os seus valores.
2 - Existe acordo aprovado e homologado judicialmente envolvendo uma construtora. Os
cooperados estão reavaliando para assumir eles próprios a conclusão do empreendimento, por
meio de um condomínio de construção. Tal alteração exige nova assembleia entre os cooperados.
3 - Empreendimento da Cooperativa Habitacional da APCEF (APCEFCOOP).
4 - Empreendimento da Cooperativa Habitacional dos Trabalhadores (CHT).
* Refere-se à restituição de valores de duas vagas de garagem.
Obs.: A Bancoop descontinuou 18 seccionais por inviabilidade econômica. Os cooperados que
fizeram aportes a estes empreendimentos tiveram seus recursos restituídos, conforme Acordo
Judicial com o MP, exceto 16 deles que optaram pela via judicial.
4. Durante a gestão do acusado Vaccari, que
se iniciou interinamente em 2004, e efetivamente em 2005, ficou
evidente que, por problemas de avaliação dos custos e também de
inadimplência de cooperados, foram necessários ajustes de valores
das prestações, conforme previsto em lei e nos termos de adesão
assinados pelos cooperados.
5. A necessidade de rateio acabou por gerar
descontentamentos e acusações por parte de alguns dos
cooperados, conforme ficou demonstrado durante toda a
instrução. Isso levou, por sua vez, ao Inquérito Civil nº
14.161.446/06-1, o qual restou arquivado em dezembro de 2006 ,
sendo determinada, pela Promotoria do Consumidor de São Paulo,
a sua remessa ao Grupo de Atuação Especial de Repressão ao
Crime Organizado – GAECO – para eventuais investigações na
esfera criminal. O GAECO, no entanto, declinou da competência,
no início de 2007, por entender não ser objeto desse grupo
especializado, sendo, então, remetido a uma das promotorias para
providências.
6. Assim, restou instaurado o Inquérito Policial
nº 232/07, junto ao 1º DP de São Paulo, o qual pretendia
averiguar supostas irregularidades com relação à gestão dos
fundos da Bancoop e suas aplicações, todas provenientes de
contribuição dos cooperados, visando a apuração de eventuais
crimes.
7. Em 2010, deu-se, também, a instalação de
uma Comissão Parlamentar de Inquérito – CPI, na Assembleia
Legislativa do Estado de São Paulo, para apurar supostas
irregularidades na Bancoop.
8. Nesse meio tempo, em que pese o fato da situação em sede da Promotoria de Justiça do Consumidor ter sido resolvida com o Acordo Judicial firmado entre o Ministério Público de São Paulo e a Bancoop (Doc. 01), houve
diversos requerimentos por parte da Promotoria Criminal.
9. Assim, o Promotor de Justiça encarregado
do caso, em 5 de março de 2010, requereu o bloqueio de todas as
contas da Bancoop; a quebra do sigilo bancário e fiscal de João
Vaccari Neto e de Ana Maria Érnica; a oitiva destes perante a
autoridade policial, entre outras medidas.
10. Não obstante, o Juízo do DIPO, em 12 de
março de 2010, com a cautela necessária, e a preocupação com o
contorno político dado ao caso, decidiu que:
“Inicialmente não se pode desconsiderar a
repercussão política que a presente
investigação passou a ter a partir do
momento em que o teor do requerimento do
Ministério Público de fls. 5649 e ss. passou a
ser divulgado pela imprensa no último final
de semana, antes mesmo que fosse
apresentado em juízo. E isso porque,
faltando cerca de apenas sete meses para
as eleições presidenciais, uma das pessoas
de quem foi requerida a quebra de sigilo
(João Vaccari Neto) estaria sendo indicado
como possível integrante da equipe de
campanha da virtual candidata do partido
atualmente ocupante da Presidência da
República.
(...)
O Ministério Público e o Poder Judiciário são,
antes que tudo, instituições de Estado, e não
de governo. Assim, é imprescindível que sua
atuação fique acima de circunstâncias ou
convicções pessoais.
(...)
A manifestação apresentada pelo Ministério
Público descreve uma série de fatos e
circunstâncias, narrando como seria o
suposto esquema de desvio de valores da
BANCOOP, inclusive para fins de
financiamento ilícito de campanhas políticas.
Porém, NÃO HÁ EM TAL MANIFESTAÇÃO A INDICAÇÃO CLARA E PRECISA DOS ELEMENTOS DE PROVA DOS AUTOS QUE
SUSTENTAM TAL NARRATIVA, BEM COMO OS PEDIDOS FORMULADOS.(...)
É verdade que a fls. 5648 v., item 3, o
Ministério Público alegou que apresentaria
planilhas sobre a movimentação financeira
oportunamente.
Porém, tais planilhas, além de outras
informações, são imprescindíveis para o
próprio conhecimento da maior parte dos
pedidos apresentados. E das providências
pedidas (excluída apenas a que é
manifestamente descabida e fica já rejeitada
como abaixo indicado), tais como a oitiva de
pessoas e solicitação de informações
bancárias, NENHUMA DELAS CORRE O RISCO DE PERECIMENTO, não sendo
urgentes a ponto de ensejar a necessidade
de apreciação antes dos esclarecimentos
determinados.
(...)
Ante o exposto, assim decido:
(...)
4...
c - Apresente um resumo, indicando as
folhas dos autos que contenham tais
informações, sobre quais os integrantes da
Diretoria da BANCOOP em todo o período
investigado, bem como quais deles já
tiveram seu sigilo quebrado, ou assim
requerido, nestes autos, e demonstrando as razões da opção, agora, pelo pedido de quebra de sigilo especificamente de João Vaccari neto e Ana Maria Érnica.
d - Esclareça a conveniência da oitiva de tais
pessoas pela autoridade policial nesse
momento (item 5 de fls. 5661), e não após
eventual vinda de informações bancárias,
quando então poderão ser indagados e
esclarecer também sobre o que
eventualmente se revelar”.
11. Mesmo assim, e não cumpridas tais
determinações, sem sequer o réu ser ouvido, em momento
posterior, durante declarações perante a Comissão Parlamentar de
Inquérito, o ilustre Promotor de Justiça do caso, em 19 de outubro
de 2010, informou estar apresentando denúncia contra a Bancoop
e seus diretores pelos supostos fatos mencionados, anunciando
que também requereria a quebra do sigilo bancário e fiscal do
acusado.
12. Assim o fez, imputando ao acusado João
Vaccari Neto, os crimes previstos nos arts. 288, caput; 171, caput,
por 1.133 vezes; 171, caput, c.c. art. 14, II, por 2.362 vezes; 299,
caput; todos do Código Penal, mais o crime do art. 1º, VII da Lei
9.613/98 c.c. o art. 1º da Lei 9.034/95.
13. O recebimento da peça acusatória se deu
em 27/10/10, determinando a citação e intimação do acusado
para oferecimento de sua Resposta à Acusação, decisão que foi
cumprida com a apresentação, pela defesa, da referida resposta.
Os pleitos elencados nessa Resposta à Acusação foram rejeitados
e a denúncia recebida.
DO DIREITO
PRELIMINARMENTE
14. Durante a instrução processual foram
ouvidas as testemunhas de acusação e de defesa. Após, o
Ministério Público juntou, aproximadamente, 80 volumes de
documentos em mídia digital, dias antes do interrogatório,
impedindo a defesa que deles tivesse pleno conhecimento antes do
interrogatório do acusado, que foi realizado, apesar dos pedidos de
adiamento, objetivando oportunidade para a defesa se inteirar do
que fora juntado pelo Ministério Público. Esse fato ensejou
flagrante cerceamento de defesa, instalando-se uma nulidade
insanável no feito.
15. Na verdade, antes do encerramento da
instrução, o Ministério Público juntou aos autos nova denúncia,
cujos fatos foram embasados no refeito e corrigido relatório do
CAEX, contendo mais de 17 mil páginas (em torno de 80 volumes)
de movimentações bancárias, em mídia digital, sobre o qual a
defesa não teve tempo hábil para se manifestar.
16. Destaca-se, mais uma vez, que a defesa
protocolou inúmeros pedidos para que fosse concedido prazo
razoável para a análise da grande quantidade de informações
juntadas, em mídia digital, pelo Ministério Público (mais de 17 mil
páginas – 80 volumes), contudo, todos os pleitos foram negados,
apesar das advertências de eventual nulidade pelo cerceamento de
defesa.
17. Encerrada a instrução, a acusação
apresentou suas Alegações Finais, pleiteando a condenação do
acusado, nos termos da denúncia.
18. O Assistente de Acusação, por sua vez,
apresentou suas Alegações Finais requerendo a procedência da
acusação, juntando, extemporaneamente, mais de quatro volumes
de documentos inéditos, o que deveria ter sido feito na
oportunidade do prazo do art. 402 do Código de Processo Penal,
para que a defesa pudesse deles tomar conhecimento e
manifestar-se, o que não foi possível acontecer.
19. A defesa, por sua vez, antes de apresentar
suas Alegações Finais, requereu novamente a concessão de prazo
para que pudesse analisar todos os inéditos documentos juntados
extemporaneamente pela assistência da acusação.
20. Mais uma vez, os esforços da defesa em ver
respeitada a paridade de forças na instrução processual e o devido
processo legal, foram rejeitados, denegando-se a concessão de
prazo razoável para a análise dos documentos juntados pelo
Assistente de Acusação em suas Alegações Finais, o que ensejou,
novamente, data venia, mais uma nulidade absoluta, quer pelo
cerceamento de defesa verificado, quer pelo devido processo legal,
que foi desrespeitado.
21. Apesar de tudo isso, tempestivamente, a
defesa apresenta suas Alegações Finais em forma de Memoriais,
pugnando pelo reconhecimento das nulidades apontadas, bem
como pela absolvição do acusado, conforme se sustenta pelas
razões a seguir.
22. Primeiramente, é importante esclarecer que
inexiste prova contra o acusado Vaccari de que o mesmo teria
praticado algum crime, devendo a denúncia ser julgada
improcedente, absolvendo-o.
23. Contudo, antes de se adentrar no mérito
das infundadas acusações, necessário que se façam mais algumas
considerações preliminares.
24. Conforme já assinalado, foi apresentada
uma primeira denúncia, no início deste feito, todavia, ao final da
instrução, o Ministério Público apresentou nova denúncia.
25. Ao se examinar a primeira denúncia,
percebe-se que todo seu embasamento é fruto do trabalho
realizado pelo Laboratório de Tecnologia contra Lavagem de
Dinheiro do Ministério Público de São Paulo, o qual analisou as
contas correntes da Bancoop.
26. Contudo, diversos ERROS foram
encontrados na citada análise do setor de apoio do Ministério
Público. Para ilustrar, destacam-se apenas algumas dessas falhas
de análise, nos seguintes erros apontados abaixo. Um dos erros
mais gritantes foi o de considerar o valor de 38 mil reais, como se
fosse 38 milhões de reais. Vejamos:
A - Cheque nº 012400, de 16/11/04, no valor de R$ 38.804,66 (trinta e oito MIL , oitocentos e quatro reais e sessenta e seis
centavos) – no relatório do Ministério Público, o cheque foi lançado
de forma errada pelo valor de R$ 38.804.366,00 (trinta e oito
MILHÕES , oitocentos e quatro mil, trezentos e sessenta e seis
reais). Tal erro embasou a conclusão equivocada do Promotor
de Justiça de que o mês de novembro de 2004 foi o mês de maior
movimentação financeira da Bancoop, e mais, fez com que se
criassem hipóteses fantasiosas, já que foi no mesmo mês que os
antigos dirigentes da Bancoop morreram, vitimados por acidente
de carro.
B - Cheque nº 013277, de 10/01/05, no valor de R$ 129.027,98 (cento e vinte e nove mil e vinte e sete reais e noventa e oito
centavos) - no relatório do Ministério Público, o mesmo cheque foi
lançado de forma errada pelo valor de R$ 723.027,96 (setecentos
e vinte e três mil e vinte e sete reais e noventa e seis centavos),
gerando a diferença (para mais) de R$ 593.999,98 (quinhentos
e noventa e três mil, novecentos e noventa e nove reais e noventa e
oito centavos) na movimentação bancária verdadeira da entidade. Equivocadamente informado pelo Ministério Público quando da denúncia, tal fato também trouxe distorções insanáveis às conclusões.
C - Cheque nº 017265, de 23/06/05, no valor de R$ 69.473,61
(sessenta e nove mil, quatrocentos e setenta e três reais e sessenta
e um centavos) - no relatório do Ministério Público, novamente
houve lançamento errado do mesmo cheque, lançado pelo valor de
R$ 669.473,61 (seiscentos e sessenta e nove mil, quatrocentos e
setenta e três reais e sessenta e um centavos). A diferença de lançamentos entre o que é real e o que foi lançado erroneamente pelo Ministério Público supera a casa de meio
milhão de reais, chegando a exatos R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais) somente neste item.
D – Muitos outros erros também foram encontrados e
devidamente apontados pela defesa.
27. Ficou evidente que o primeiro trabalho
realizado pelo setor de apoio do Ministério Público, em face aos
erros cometidos, deveria ser completamente ignorado, já que nem
o simples ato de registrar os lançamentos bancários foi realizado
de forma criteriosa.
28. Apenas nestes três exemplos trazidos
acima, a diferença entre a movimentação bancária real da
Bancoop e a utilizada pelo Ministério Público, através do relatório
com os lançamentos errados, chegou a exatos R$ 44.149.989,59
(quarenta e quatro milhões, cento e quarenta e nove mil,
novecentos e oitenta e nove reais e cinquenta e nove centavos), o
que impactou negativamente na análise dos fatos feita pelo
Promotor de Justiça quando do oferecimento da denúncia, bem
como na análise do Juiz para seu recebimento.
29. Assim, em exame paralelo, a defesa
promoveu diligências no sentido de esclarecer as divergências
entre os números apresentados pelo Ministério Público e a
realidade da movimentação financeira da Bancoop.
30. Muitos outros erros foram encontrados no
relatório do CAEX, desde erros de grafia, duplicidade do mesmo
lançamento, e até triplicidade de lançamentos da mesma
movimentação, além da falta de conhecimento das rotinas
bancárias e da terminologia e finalidade de diversas operações,
que geraram um resultado irreal, não verdadeiro, pode-se dizer,
até fantasioso, o que levou o Ministério Público a concluir,
erroneamente, que ocorreram desvios e até lavagem de dinheiro.
31. OS ERROS COMETIDOS PELO MINISTÉRIO PÚBLICO, ELENCADOS ACIMA, GERARAM UMA DIFERENÇA DE VALORES ASTRONÔMICA, NO MONTANTE DE R$ 82.650.331,16 (OITENTA E DOIS MILHÕES, SEISCENTOS E CINQUENTA MIL, TREZENTOS E TRINTA E UM REAIS E DEZESSEIS CENTAVOS), ENTRE A MOVIMENTAÇÃO REAL E O EQUIVOCADO RELATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO.
32. O recebimento da primeira denúncia se deu
em bases equivocadas, já que Vossa Excelência foi induzida a erro
por conta de relatório contábil produzido por setor de apoio do
Ministério Público, relatório esse que não condiz com a verdade
dos fatos.
33. Em 05/08/2014, a testemunha da defesa
Márcia Campos, apresentou suas considerações preliminares
sobre os diversos erros e inconsistências do relatório do CAEX,
relatório esse que fundamentou toda a primeira denúncia no que
tange a supostos desvios de recursos e lavagem de dinheiro.
34. Um dia após o depoimento da testemunha
Márcia Campos, em 06/08/2014, o Ministério Público,
reconhecendo que existiram erros em seu trabalho, requereu vista
dos autos para que pudesse corrigir e refazer seu relatório.
35. Apenas em 25/03/2015, portanto 7 (sete)
meses depois, o CAEX informou que não possuía os dados
bancários para nova análise, sendo que em 07/04/2015 o
Ministério Público requereu nova quebra do sigilo bancário.
36. Em audiência para oitiva de testemunhas
de defesa, realizada em 06/05/2015, o Ministério Público
requereu mais 90 dias de prazo para o término da análise pelo
CAEX, o que foi deferido por Vossa Excelência, fixando o mesmo
prazo para que a defesa apresentasse suas considerações sobre o
primeiro relatório do CAEX, o qual havia embasado a primeira
denúncia.
37. Respeitando o prazo fixado por Vossa
Excelência, a defesa apresentou seu relatório em 04/08/2015.
Contudo, o Ministério Público quedou silente e, somente em
15/09/2015, informou que digitalizou o relatório apresentado pela
defesa e o encaminhou ao CAEX, com pedido de urgência na
análise.
38. Entretanto, esse pedido de análise “urgente”
feito pela acusação, demorou, de fato, mais 85 dias para ser
apresentado, sendo protocolado apenas no dia 29/10/2015,
juntamente com uma nova denúncia. Só neste episódio o
Ministério Público obteve quase 3 meses a mais para apresentar
seu trabalho.
39. Perceba-se que a acusação, sem causa justa
para tanto, adiou e atrasou a apresentação de seu trabalho, e
quando o fez, depois de 3 meses, surpreendeu a defesa com um
NOVO RELATÓRIO, EM MÍDIA DIGITAL, CONTENDO MAIS DE 17 MIL PÁGINAS (inclusive anexos) e com uma NOVA DENÚNCIA.
40. A acusação, ao invés de se manifestar sobre
as mesmas bases de informação que foram utilizadas no primeiro
relatório do CAEX (as quais já haviam sido analisadas pela
defesa), inovou e apresentou um novo trabalho, diverso do
anterior. Para se verificar que se trata de um novo relatório, basta
observar, superficialmente, que o PRIMEIRO RELATÓRIO CONTINHA 4.100 LINHAS DE LANÇAMENTOS, já no segundo
relatório foram apresentadas MAIS DE 165.000 LINHAS DE LANÇAMENTOS , RELACIONADOS EM MAIS DE 17 MIL PÁGINAS, em mídia digital, o que, só pelo aumento do tamanho
desse segundo relatório, deveria ser concedido à defesa tempo
suficiente para examiná-lo, o que não ocorreu.
41. Pior. O novo relatório do CAEX e a nova
denúncia foram juntados aos autos somente 2 dias úteis antes
dos interrogatórios dos réus, interrogatórios esses que ocorreram
sem que a defesa tivesse sido formalmente intimada da juntada
daqueles documentos (relatório e anexos com mais de 17 mil
páginas em mídia digital e nova denúncia) e, mesmo a defesa
requerendo o adiamento do ato, foram os réus interrogados e
questionados sobre esses novos documentos, sem que a defesa
tivesse tempo para examiná-los, impedindo, assim, a defesa de
exercer seu direito de reinquirição durante tais interrogatórios.
Data venia, é flagrante o cerceamento de defesa!
42. Destaca-se que a acusação, por reiteradas
vezes, procrastinou a entrega de seu segundo e inovador relatório
e só o fez quando já não haveria tempo para que a defesa pudesse
examiná-los antes dos interrogatórios.
43. De outro modo, a defesa sempre respeitou
os prazos estabelecidos por Vossa Excelência, sempre zelando pelo
bom andamento do processo.
44. Por esta razão, não se pode aceitar o
desequilíbrio causado pela juntada do novo relatório, elaborado a
partir de bases diversas do primeiro relatório (este, sim, analisado
pela defesa), todavia, o novo relatório com mais de 17 mil páginas,
juntado em mídia digital, gerou uma nova denúncia, sem que
fosse concedido prazo razoável para a análise e manifestação da
defesa, quer sobre o NOVO RELATÓRIO, quer sobre a NOVA
DENÚNCIA.
45. A acusação teve desde 05/08/2014 para
corrigir os dados apresentados no primeiro relatório do CAEX, o
qual estava errado. O Ministério Público, apenas em 29/10/2015,
ou seja, mais de um ano e um mês depois, é que apresentou seu trabalho, inovando tudo. Um universo completamente diverso de informações, sem que a defesa pudesse conhecer, examinar e se manifestar sobre tudo isso, sem falar na dificuldade de acesso ao material, pois a juntada deu-se por meio de mídia digital, em processo físico.
46. A não concessão de prazo razoável para a
análise e manifestação da defesa, além de desequilibrar as forças
processuais, cerceou a defesa em possíveis requerimentos e
impugnações relacionados ao novo relatório do CAEX. É fato que a
defesa não teve respeitado seu prazo com relação ao art. 402 do
Código de Processo Penal, momento processual no qual poderia
dirimir dúvidas a respeito do novo relatório e da nova denúncia
apresentados pelo Ministério Público. Nem pôde apresentar novas
eventuais falhas no citado relatório. Só para argumentar, mesmo
que se diga que não é uma nova denúncia, pouco importa tratar-
se ou não de uma nova denúncia, pois os elementos trazidos nas
mais de 17 mil páginas juntadas por meio digital, ao
permanecerem nos autos, obrigam a defesa a tomar conhecimento
e manifestar-se sobre eles, com prazo razoável para tal.
47. A não concessão de prazo razoável para a
análise do relatório do CAEX e da nova denúncia, apresentados
pelo Ministério Público, maculou o presente processo, data venia.
O cerceamento de defesa está presente, e a nulidade absoluta
instalada, sem falar na violação ao devido processo legal, ocorrida
com a juntada extemporânea de 4 (quatro) volumes de
documentos, pelo Assistente de Acusação, em suas Alegações
Finais, impedindo a defesa de tomar conhecimento deles na
oportunidade do art. 402 do Código de Processo Penal e sobre eles
se manifestar antes das Alegações Finais.
NO MÉRITO
48. O acusado, Sr. Vaccari, passou a atuar
efetivamente na Bancoop apenas a partir de novembro de 2004,
quando assumiu o cargo de Presidente Interino da Cooperativa,
em razão da morte de seu antigo presidente.
49. Antes da presidência da Cooperativa, em
novembro de 2004, a principal atividade do acusado era junto ao
Sindicato dos Bancários de São Paulo, Osasco e Região, no
qual atuou desde 1998, no cargo de Diretor Presidente.
50. Concomitantemente, o acusado ainda
ocupou, entre os anos de 2000 a 2003, o cargo de Tesoureiro
Nacional da CUT e, entre os anos de 2003 a 2006, o cargo de
Secretário de Relações Internacionais da CUT Nacional, além de
Membro do Conselho de Administração da OIT.
51. Tais fatos foram provados durante a
instrução processual. Além dos diversos documentos juntados,
várias testemunhas relataram a distância que o acusado, Sr.
Vaccari, mantinha da rotina da Bancoop, senão vejamos:
“M.P.: Só para a gente poder, então, retornar com relação aos acusados. O JOÃO VACCARI era diretor financeiro por período em que esteve lá, ele na verdade era superior hierárquico da senhora no período em que trabalhou lá juntamente?
D.: Sim, mas eu não me reportava a ele, ele ficava mais externo do que interno, eu me reportava ao LUÍS.” (depoimento da
testemunha de acusação X – testemunha
protegida) (grifo nosso)
“M.P.: O senhor conhecia, então, os
dirigentes da BANCOOP . Quem era o diretor financeiro à época, quando o senhor fez esses contatos para a
aquisição do terreno e a construção do empreendimento?
D.: Diretor financeiro?
M.P.: É .
D .: Eu não lembro com exatidão, esse meu depoimento foi há seis anos atrás, 2007, se não me engano...
M.P.: 2008 .
D.: Então cinco anos, mas eu me lembro que o início da BANCOOP os diretores eram o BERZOINE, o VACCARI e, depois de um tempo o LUIZ MALHEIRO sempre esteve à frente da BANCOOP , então, assim, na verdade ele era o presidente , quem tocava mesmo a questão da BANCOOP, e o TOMÁS como coordenador. Era com quem eu tinha contato, LUIZ MALHEIRO e TOMÁS. O VACCARI, o BERZOINE, em que pese eram diretores desde a fundação da BANCOOP, eu nunca os vi na BANCOOP , eles tinham outras funções, na verdade não eram diretores no dia-a-dia, de estarem lá encaminhando as coisas da BANCOOP, isso era delegado o LUIZ MALHEIRO e ao TOMÁS.” (depoimento da testemunha
Marcelo Baker) (grifo nosso)
“MP.: Nessa sua atividade. então. não
existia qualquer tipo de relação, a Germany,
Mirante. Mizu? E o Marcelo Rinaldo, ele ia à sala do senhor Tomás?
D.: Raramente.
MP.: E o João Vaccari Neto?
D.: Nunca.” (depoimento da testemunha
Fabiane Oliveira) (grifo nosso)
“Def.: No financeiro a senhora trabalhou?
D.: Trabalhei.Def.: Em que época? Que ano?
D.: 2002 a 2004, mais ou menos.
Def.: Nessa época, a senhora respondia a quem? Quem era o seu chefe?
D.: Era o Alessandro.
Def.: E quem estava à frente da cooperativa nessa oportunidade?
D.: Era o Luiz.
Def.: Luiz do quê?
D.: Luiz Eduardo Malheiros.
Def.: O senhor João Vaccari, nessa época que a senhora estava no financeiro, ele participava da gestão da cooperativa?
D.: Não o via por lá.
Def.:. Nunca?
D.: (Depoente balança a cabeça negativamente). Não.
(...)
Def.: E o senhor Vaccari a senhora lembra quando começou a efetivamente, fazer parte da gestão?
D.: Eu comecei a vê-lo com frequência depois do falecimento do Luiz.
(...)
M.P.: E o diretor financeiro, na época que o João Vaccari foi diretor financeiro. ele não tinha sala dentro da Bancoop?
D.: Não.” (depoimento da testemunha
Daniela Afonso) (grifo nosso)
“M.P.: O JOÃO VACCARI NETO não frequentava o local, fisicamente?
D.: Não, eu conheci só uma vez ele, depois que o doutor LUÍS tinha falecido, só uma vez, e às vezes eu via ele passando, mas poucas vezes eu vi ele ficando lá.
(...)
Def.: Ele não participava do dia a dia da Cooperativa. o senhor VACCARI?
D.: Não senhor.” (depoimento da
testemunha Ricardo Luiz do Carmo) (grifo
nosso)
“M.P.: O diretor financeiro à época, o senhor João Vaccari Neto. O senhor conheceu?
D.: Também conhecia por nome, mas na época ela era do sindicato dos bancários.” (depoimento da testemunha
Vander Luiz Silveira) (grifo nosso)
“M.P.: A senhora conheceu ou sabia ou ouviu dizer, alguma coisa a respeito do senhor João Vaccari Neto como diretor, a senhora chegou a conhecê-lo nas dependências da BANCOOP?
D.: O senhor João, eu vi pouquíssimas vezes, porque, realmente, quem tomava conta, era o seu Luiz Malheiro e, quando eu saí, ainda era o seu Luiz Malheiro. Não acompanhei nada do senhor João
Vaccari.” (depoimento da testemunha
Maria Conceição Oliveira) (grifo nosso)
“M.P.: O senhor João Vaccari Neto chegou a ter contato, ver alguma vez?
D.: Não, porque eu saí antes de ele entrar na BANCOOP, nunca tinha visto.(...)
M.P.: A senhora sabe quem era diretor técnico da BANCOOP?
D.: Se você me falar o nome, às vezes até sei, específico pelo nome, não.
M.P.: João Vaccari Neto?
D.: Esse entrou depois.” (depoimento da
testemunha Camila de Jesus) (grifo nosso)
“Def.: Portanto a senhora conheceu algum
gestores dirigentes da Bancoop, eu suponho.
Em 2004, com quem a senhora se relacionava pela Bancoop?
D.: Na verdade, eu comecei com a Ana Maria Ernica e com senhor João Vaccari, quando era administrado pelas outras pessoas, eram outros gerente.”
(depoimento da testemunha Katia Helena
Sanches) (grifo nosso)
“M.P.: E o senhor conheceu a senhora Ana Maria Érnica?
D.: Quando eu fui desligado da Bancoop, foi bem nessa transição entre a entrada do senhor João Vaccari e a senhora Ana Érnica, então, eu não tive contato com eles.” (depoimento da testemunha Ronaldo
Willian) (grifo nosso)
52. Importante frisar que os depoimentos acima
foram prestados tanto por testemunhas de defesa como por
testemunhas de acusação e comprovam, sem a menor sombra de
dúvida, que o acusado, Sr. Vaccari, não praticava qualquer ato de
gestão até o ano de 2004, quando assumiu interinamente a
presidência da Bancoop.
53. Uma vez que a Bancoop havia sido
constituída em razão de demandas encaminhadas ao Sindicato
dos Bancários por seus associados, era imposição que o
Presidente do Sindicato figurasse como membro da Diretoria da
Cooperativa, o que também foi comprovado através dos
depoimentos de testemunhas, senão, vejamos:
“O presidente do Sindicato ele também compõe a "direção" no caso dessa cooperativa, ele compõe, ele tem que ser cooperado, participa da assembleia, ele é eleito em uma chapa da cooperativa e com isso ele passa a ser membro; Mas você acaba não tendo um trabalho permanente na cooperativa; Você, praticamente, sede o nome, porque você entra na diretoria mais para mostrar que o Sindicato está apoiando no caso da Bancoop, como também no Travessia;
Então o Berzoini foi presidente do Travessia, o Vaccari foi presidente do Travessia, eu fui presidente do Travessia, eu só não fui presidente da Bancoop ou diretor da Bancoop porque quando eu assumi em 2004, que eu assumi o Sindicato em 2004 no primeiro semestre, quando chegou no segundo semestre o Luizinho acabou falecendo, e o Vaccari fazia parte da diretoria como o Berzoini fazia parte da diretoria da Bancoop, só que o Vaccari não assumia o dia a dia da Bancoop, ele passou a assumir o dia a dia da Bancoop quando o Luizinho faleceu e aí nós solicitamos
ao Vaccari se ele podia ficar de forma permanente, tempo integral na cooperativa.” (depoimento da testemunha
Luis Claudio Marcolino) (grifo nosso)
54. Diante de todos os testemunhos
mencionados, evidente que o acusado Sr. Vaccari não tinha
qualquer ingerência nos negócios da Cooperativa. É revelador o
depoimento da testemunha Luis Claudio Marcolino, uma vez que
revela o padrão encontrado nas atas de eleição da Bancoop, nas
quais sempre se encontra o Presidente do Sindicato dos Bancários
compondo a Diretoria da Cooperativa.
55. Como a própria testemunha Luis Claudio
Marcolino relata, o padrão foi seguido quando o Sr. Ricardo
Berzoini era presidente do Sindicato dos Bancários e depois,
quando o acusado Sr. Vaccari assumiu a presidência do
Sindicato, ocasiões em que ambos foram membros da Diretoria da
Bancoop.
56. Nada justifica a denúncia do acusado, Sr.
Vaccari, por fatos anteriores ao início de sua gestão como
presidente da Bancoop. Ele deveria ter o mesmo tratamento do Sr.
Ricardo Berzoini, que foi eleito em 27/02/02 para exercer o cargo
de Diretor Administrativo Financeiro, época em que diversas
empresas citadas na denúncia foram criadas, além de outros
cargos de diretoria que ocupou, e não foi denunciado. O tema será
retomado mais à frente quando a defesa for tratar do crime de
quadrilha ou bando.
57. Estranha a seletividade do Ministério
Público em denunciar o acusado Sr. Vaccari, excluindo-se o ex-
diretor, Sr. Ricardo Berzoini, uma vez que ambos figuraram como
Diretores da Bancoop, apenas por terem sido Presidentes do
Sindicato dos Bancários (Doc. 02). Ou os dois deveriam ter sido
denunciados ou ambos deveriam ter ficado de fora da denúncia.
58. Ora, como o Sr. Ricardo Berzoini ficou de
fora de denúncia, também o Sr. Vaccari não deveria ter sido
denunciado.
59. Restou evidente que o acusado, Sr. Vaccari,
não teve nada com os atos praticados antes do início de sua
gestão como Presidente Interino, em 2004, e depois como
Presidente Efetivo, a partir de 2005.
60. Aliás, o distanciamento do Sr. Vaccari das
atividades diárias da Bancoop era tão grande que sequer as
procurações da Cooperativa eram assinadas por ele. Conforme o
quadro abaixo, bem como as procurações acostadas (Doc. 03), todas elas foram assinadas pelos senhores Luiz Malheiros e
Ricardo Berzoini, senão, vejamos:
Outorgante- Bancoop Representada
pelos seguintes diretores:Outorgado Data da
ProcuraçãoData de Validade Cartório Livro Fls.
Luiz Eduardo Saeger Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Tomas Edson Botelho Fraga 17/03/1998 não há 8º Tabelião
de Notas 2501 81
Luiz Eduardo S Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Tomas Edson Botelho Fraga 26/05/2000 não há 8º Tabelião
de Notas 2645 275
Luiz Eduardo S Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Rosilaine Cristina dos Santos
Flauzino29/09/2000
01 ano a contar desta
data
8º Tabelião de Notas 2664 201
Luiz Eduardo S Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Rosilaine Cristina dos Santos
Flauzino29/09/2000
01 ano a contar desta
data
8º Tabelião de Notas 2710 17
Luiz Eduardo S Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Rosilaine Cristina dos Santos
Flauzino16/10/2001 31/12/2001 8º Tabelião
de Notas 2710 201
Luiz Eduardo S Malheiro, eRicardo José Ribeiro Berzoini
Rosilaine Cristina dos Santos
Flauzino11/11/2002
01 ano a contar desta
data
8º Tabelião de Notas 2760 87
Luiz Eduardo S Malheiro, eThomas Edson Botelho Fraga
Alessandro Robson
Bernardino09/08/2004 03/10/2004 8º Tabelião
de Notas 2834 397
61. O acusado Sr. Vaccari, como provado pelos
depoimentos e documentos acima, só é reconhecido como gestor
da Bancoop quando assume sua presidência, gestão que foi
pautada pela busca do aprimoramento e saneamento
administrativo da Cooperativa. Vejamos, ainda, outras
declarações:
“Def.: A senhora constatou diferença na gestão da cooperativa depois que o senhor Vaccari e Ana Ernica assumiram a gestão?
D.: Teve, teve diferenças, assim, em relação à reestruturação da cooperativa. Logo quando eu entrei, a maior parte dos funcionários era muito
jovem, tinha... praticamente o primeiro emprego, e aí, quando... com a mudança de diretoria, eles trouxeram alguns gerentes que já... com mais experiência, reestruturaram as áreas.
Def.: A senhora constatou melhoras, melhorias nessa gestão, nessa administração?
D.: Sim.” (depoimento da testemunha
Daniela Afonso) (grifo nosso)
“Def.: O senhor se recorda, eu vou ler a
afirmação que o senhor fez, depois o senhor
me diz se fez ou não essa...o senhor foi
questionado sobre a atuação do senhor
VACCARI e o senhor disse o seguinte "Eu notei que o doutor VACCARI queria acertar a bagunça que estava na Cooperativa ele se preocupou na hora em que ele viu o quadro, a situação que estava ", por que o senhor disse isso?
D.: Porque quando ele entrou lá deu a impressão de que ele ficou preocupado com o quadro que ele chegou a apurar dentro da BANCOOP, que eu tive, essa foi a primeira impressão.” (depoimento da
testemunha Ricardo Luiz do Carmo) (grifo
nosso)
“MP.: As obras que não eram concluídas, os cooperados iam reclamar, alguém falava com a senhora?
D.: Sim, eu até, inclusive, tinha reuniões, até,
assim, na gestão do João Vaccari nós fazíamos reuniões, mensal, a cada mês para, exatamente, o cooperado ver a evolução da obra e, óbvio, que eles
acompanhavam as contas porque a obra
estava mais lenta, menos lenta e a gente
tinha um cronograma de acordo com a
expectativa do empreendimento para tocar a
obra e na gestão do Vaccari nós fazíamos reuniões com todas seccionais que estavam em andamento e até mesmo as paradas, para esclarecer e explicar.J.: E até 2009 foi assim, as verbas existindo e as obras em andamento?
D.: Assim, eram tocadas de acordo com a
verba destinada e receita de cada obra e, na segunda gestão, o senhor João Vaccari assumiu, houve algumas mudanças, até de posicionamento mesmo, aí, cada
seccional passou a ser, cada conta de seccional passou a ser, realmente, daquela seccional, fiquei sabendo depois,
era uma conta, cada seccional tinha a sua
conta, mas, na realidade, uma bancava a
outra.” (depoimento da testemunha Angela
Maria Marques Campos) (grifo nosso)
62. A testemunha de acusação, Maria Angélica
Covello Silva, consultora especializada na área de gestão da
qualidade e tecnologia de construção, foi procurada,
primeiramente, na gestão de Luiz Malheiros e, depois, na gestão
do acusado Sr. Vaccari, quando ocorreu sua contratação, foi a
responsável pela implementação de melhorias nos procedimentos
da Bancoop.
63. Em razão do contato da testemunha Maria
Angélica com as duas gestões, ela pôde esclarecer as principais
diferenças entre o perfil de Luiz Malheiros e do acusado Sr.
Vaccari. Com relação à gestão de Luiz Malheiros, assim declara a
testemunha Maria Angélica:
“MP.: Diante disso a senhora fez certamente
um parecer técnico que foi entregue às mãos
dos dirigentes da BANCOOP à época?
D.: É uma espécie de relatório.
MP.: Um relatório?
D.: Um relatório técnico e nós tivemos naquela época várias reuniões, onde eu mostrava as necessidades, mas não houve a decisão naquela época, de fazer as modificações que eram necessárias.
Isso fez com que o nosso trabalho durasse
apenas quatro meses e nós então não
déssemos continuidade, porque quando isso
acontece, o nosso trabalho fica inócuo, não
tem muito o que implantar.” (depoimento da
testemunha Maria Angélica Covello Silva)
(grifo nosso)
64. Na gestão de Luiz Malheiros não houve
qualquer movimento no sentido de se melhorar os procedimentos
e rotinas internas da Bancoop, mesmo com as indicações feitas
pela testemunha de acusação Maria Angélica.
65. Entretanto, quando a testemunha Maria
Angélica foi inquirida sobre os trabalhos desenvolvidos durante a
gestão do acusado Sr. Vaccari, ela esclareceu todos os
procedimentos adotados, senão, vejamos:
“MP.: Apesar dos esforços da diretoria tanto
em 2000, onde a senhora foi procurada pelo
Thomás Edson, que à época o presidente era
o Luiz Malheiros, e o diretor financeiro João
Vaccari Neto, quanto em 2005, quando João Vaccari era o presidente da BANCOOP, a senhora chegou a apresentar nessa segunda oportunidade agora, a senhora implementou um treinamento?
D.: Foi um vasto treinamento, nós fizemos várias sessões de treinamento, envolvendo toda a equipe técnica, isso
ocorreu em salas específicas de treinamento,
um dos locais onde ocorreu foi no Sindicato
da Construção Civil, que loca salas, esses treinamentos eram bastante extensos, foram seguidos por reuniões onde nós com a equipe técnica da BANCOOP entrávamos no detalhe de como esses processos deveriam ser estruturados, isso gerou fluxos de processos, enxergando-se nesses fluxos o que seriam novas práticas que deveriam ser implementadas, e desses fluxos derivam procedimentos padronizados que têm de ser implementados por meio de novos treinamentos também.” (depoimento da
testemunha Maria Angélica Covello Silva)
(grifo nosso)
66. Como se observa, assim que o acusado Sr.
Vaccari assume a Presidência da Cooperativa, ele percebe a
necessidade de mudanças em procedimentos e rotinas internas, e
busca formas de melhorá-las, inclusive, não só na área técnica de
engenharia, mas na Cooperativa como um todo, vejamos mais:
“MP.: E dessas reuniões conjuntas, o que lhe
foi reportado pela TREVISAN com relação ao
funcionamento da BANCOOP, lhe foi
repassado que todos os empreendimentos da
BANCOOP, na área de gestão
administrativa, não tinham contas
individualizadas, mas sim geridas através
de uma conta pool, ou contas concentradas,
confusão negocial?
D.: Isso eu não tinha acesso. O que eu tinha acesso era a necessidade, da mesma forma que nós desenhávamos processos técnicos, a TREVISAN desenhava também fluxos que deveriam acontecer de pagamentos e tudo isso. E quando nós entramos nessa questão do processo de suprimentos, que era compras, contratações, havia um novo desenho proposto pela TREVISAN para suprir deficiências nesse sentido, de haver um controle maior de todo esse
fluxo de pagamentos, mas não entrávamos
no mérito de como isso estava organizado.”
(depoimento da testemunha Maria Angélica
Covello Silva) (grifo nosso)
67. A testemunha de acusação Maria Angélica é
bastante clara ao afirmar que a reformulação na Bancoop, após a
entrada do Sr. Vaccari, foi total, envolvendo a área técnica e
administrativa, buscando aperfeiçoar e corrigir eventuais
anomalias administrativas.
68. Aliás, essa testemunha de acusação, Maria
Angélica, foi explícita ao descrever o engajamento do acusado Sr.
Vaccari e de sua Diretoria no esforço para melhorar a Bancoop
técnica e administrativamente, senão, vejamos:
“Def.: No seu sentir, a administração antes de João Vaccari e depois com João Vaccari na presidência, melhorou a situação da cooperativa no que diz respeito a preocupação desta implantação de gestão da qualidade, da preocupação da cooperativa atender seus objetivos?
D.: Haviam posturas completamente diferentes como eu já afirmei em relação às duas contratações em que eu tive. Na
primeira, como eu disse, não havia essa disposição. Eu até acredito que da primeira
vez, não havia uma compreensão completa
da diretoria, da administração sobre o que
significava esse trabalho que era preciso
como papel da administração. Na segunda contratação isso já era claro. Essa nova administração tinha essa clareza, sabia das implicações desse trabalho, e contratou com a intenção deliberada de fazer o trabalho, e isso era declarado. Então haviam posturas bastantes distintas.” (depoimento da testemunha
Maria Angélica Covello Silva) (grifo nosso)
69. Muito embora o Ministério Público alardeie
que o acusado, Sr. Vaccari, participava da gestão de Luiz
Malheiros, a acusação não trouxe qualquer prova disso. Caso o Sr.
Vaccari tivesse participado da gestão, isso seria facilmente
comprovado através de documentos, uma vez que, conforme
afirma o Ministério Público, o acusado assinava cheques e vários
outros documentos no exercício de sua função como Diretor da
Cooperativa, o que, na verdade, não ocorreu.
70. Mesmo diante de duas quebras de sigilo
bancário, a acusação não foi capaz de juntar nenhum cheque que
tenha sido assinado pelo acusado Sr. Vaccari.
71. Em contraponto, temos os depoimentos, que
afirmam que o acusado Sr. Vaccari não participava da gestão de
Luiz Malheiros, existe, também, a procuração outorgada pelo
acusado para uma funcionária da Bancoop, além de diversos
depoimentos que afirmam que, quando o acusado Sr. Vaccari
assumiu a presidência, este passou a implementar diversas
mudanças de procedimentos, tudo com o intuito de sanear a
administração da Cooperativa.
72. O acusado Sr. Vaccari não pode ser
responsabilizado por nenhum fato que tenha ocorrido em período
anterior ao início de sua gestão, que se deu em novembro de 2004,
pois não teve participação direta nesse período.
73. E mais, numa clara demonstração de sua
intenção em resolver problemas e mudar os rumos da Bancoop,
verifica-se que, durante a gestão do acusado Sr. Vaccari na função de Presidente, nenhum empreendimento foi lançado,
muito pelo contrário, todos os esforços foram direcionados para o
saneamento da Bancoop, objetivando a entrega e regularização
dos empreendimentos já existentes.
DA ACUSAÇÃO DO CRIME DE QUADRILHA OU BANDO
74. Buscando dar alguma substância a suas
acusações, o representante do Ministério Público faz longa
explanação sobre as atividades de empresas como Germany
Construtora e Incorporações, Mizu Gerenciamento e Serviços,
Mirante Artefatos de Concreto Ltda., Ban Administradora de
Condomínios e Serviços S/C Ltda., Conservix Limpeza e Serviços
Ltda., Vita Administração e Consultoria Imobiliária Ltda.,
atribuindo a elas supostas práticas ilícitas.
75. O acusado nunca teve qualquer
participação societária nas referidas empresas, muito menos
assinou qualquer cheque para o pagamento de contas antes de
assumir como Presidente da Bancoop. Tudo conforme provado e
demonstrado anteriormente.
76. A acusação tenta fazer crer que o Sr.
Vaccari participou de esquema que envolveu a criação de
empresas para sangrar os cofres da Cooperativa, contudo, não
apresenta nenhum fato concreto de sua participação nas referidas
empresas, limitando-se a indicar seu nome como membro da
Diretoria da Bancoop.
77. Aliás, sobre esse ponto, vale fazer algumas
considerações pontuais sobre a denúncia.
78. A primeira delas diz respeito à constituição
da Ban Administradora de Condomínios - Bancon. O Ministério
Público sugere que a criação da Bancon teria ocorrido coberta por
mistério, em segredo, com o intuito de prejudicar os cooperados,
mas não é essa a verdade.
79. Conforme as cópias dos informativos da
Cooperativa, que agora se juntam (Doc. 04), a atividade e
finalidade da empresa Bancon era de amplo conhecimento dos
cooperados.
80. As atividades da Bancon sempre foram
divulgadas por meio do informativo da Cooperativa e, portanto, era
notória a sua existência e atividades.
81. Todavia, pior do que o relatado acima, é o
fato do Ministério Público, talvez inadvertidamente, quase levar a
erro o Juízo e a sociedade, conforme se verifica a seguir.
82. Às folhas 56 das Alegações Finais da
acusação, no quadro intitulado “Empresas Ligadas a Dirigentes da
Bancoop”, o acusador insere o nome do acusado Sr. Vaccari como
um dos sócios da BANCOOP – A COOPERATIVA, tentando causar
confusão, afirmando, claramente, que a Bancoop teria sócios ou
donos. Nada mais absurdo.
83. Com relação à empresa Germany
Construtora e Incorporações, o acusado somente veio saber de
sua existência quando efetivamente assumiu suas funções de
Presidente, em novembro de 2004.
84. IMPORTANTE DESTACAR QUE O CHEQUE Nº 012400, MENCIONADO NO INÍCIO DESTE TRABALHO, NO VALOR DE R$ 38.804,66 (TRINTA E OITO MIL, OITOCENTOS E QUATRO REAIS E SESSENTA E SEIS CENTAVOS) E LANÇADO DE FORMA ERRADA NO RELATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO PELO VALOR DE R$ 38.804.366,00 (TRINTA E OITO MILHÕES, OITOCENTOS E QUATRO MIL, TREZENTOS E SESSENTA E SEIS REAIS), DIZ RESPEITO A PAGAMENTO DE SERVIÇOS À EMPRESA GERMANY EM NOVEMBRO DE 2004.
85. Foi justamente o erro do CAEX com relação
ao cheque citado acima que motivou toda a acusação, inclusive,
mesmo depois de toda a demonstração dos erros feita pela defesa
e tais erros assumidos pelo Ministério Público, ainda assim, este
fato motivou questionamentos de Vossa Excelência sobre suposta
movimentação acima da média ocorrida em novembro de 2004,
Vejamos o que disse o acusado Sr. Vaccari:
“J.: O senhor tem conhecimento sobre uma grande movimentação financeira em meses que antecederam aí o senhor assumir a diretoria, setembro, outubro?
D.: Então, o que estava escrito na denúncia do promotor é que em novembro havia tido uma grande movimentação atípica, o que se constatou que foi um erro de registro.
J.: O senhor tem conhecimento então que houve uma retificação no relatório do promotor?
D.: Não, da retificação eu não tenho conhecimento, eu tive conhecimento do que foi feito porque nós checamos todos os lançamentos e era um erro, então isso que caracterizou; agora, não houve movimentação atípica na cooperativa, nem em setembro, nem em novembro.
J.: O senhor não tem conhecimento de nenhuma movimentação atípica que tenha decidido então?
D.: Não tenho conhecimento. A arrecadação da Bancoop era mais ou menos dentro de um quadradinho, depois foi definhando com o tempo, em função da grande campanha que foi feito contra, muitos cooperados ficaram com medo, pararam de pagar.
J.: A partir de quando?
D.: A partir de quando nós fomos declarados organização criminosa.
J.: Quando foi isso?
D.: Eu não me recordo, deve ter sido em 2006, que foi quando nós fizemos o acordo com Ministério Público e após ter
feito o acordo com o Ministério Público foi remetido ao GAECO para verificar se havia crime organizado, o GAECO disse que não havia e foi remetido então ao promotor para que fizesse apuração se crime houvesse, fizesse a apuração. E o promotor à época, antes de ouvir qualquer pessoa, inclusive a mim, eu nunca fui ouvido por ele, disse que a Bancoop era organização criminosa na CBN, num dia de manhã. A partir desse momento, nós passamos a viver uma crise porque ficamos com muita dificuldade.” (interrogatório do acusado Sr.
Vaccari) (grifo nosso)
86. O trecho do interrogatório do acusado
transcrito acima é extremamente relevante, uma vez que, além de
demonstrar a campanha difamatória empreendida pela acusação
nos meios de comunicação, conforme matérias anexas (Doc. 05), ainda demonstra que tanto a defesa como o acusado Sr. Vaccari
não tinham conhecimento dos relatórios e documentos juntados
pelo Ministério Público, conforme descrito na preliminar arguida.
87. Outro ponto relevante, que precisa ser
destacado, é que o Sr. Vaccari, logo após assumir o cargo de
presidente da Cooperativa, em meados de 2005, encerra as
relações comerciais entre a Cooperativa e a Germany.
88. De outro lado, quando trata da empresa
Mizu Gerenciamento de Serviços, a denúncia leva a crer que se
tratava de uma empresa fantasma. Entretanto, contradizendo sua
própria afirmação, o Ministério Público diz que colheu declarações
de dois de seus empregados.
89. O acusado em momento algum é envolvido
pela acusação em supostas irregularidades praticadas pela
empresa Mizu.
90. Foi em julho de 2002 que se criou a
empresa Mizu. Da mesma forma como ocorreu com a constituição
das empresas Germany e Bancon, não há na empresa Mizu
qualquer participação societária do acusado Sr. Vaccari e nem do
Sr. Ricardo Berzoini.
91. Quanto ao Presidente Luiz Malheiros, óbvio
que não poderia haver denúncia contra ele, posto que está morto,
entretanto, em uma Diretoria que era composta por apenas dois
cargos, Diretor Técnico e Diretor Administrativo Financeiro, por
que o Ministério Público decide denunciar apenas um dos
Diretores, mesmo que ambos tivessem exercido ambas as
Diretorias no período que trata a denúncia, período esse da
constituição das empresas Germany, Mizu e Bancon? Para esse
questionamento não há resposta, o que fica é a certeza de
nulidade que maculou todo o procedimento.
92. É fato que, acertadamente, o Sr. Ricardo
Berzoini não foi denunciado pelo o Ministério Público, o qual
afirma que o Sr. Berzoini “pouco exerceu tais funções”. De outro
lado, para justificar a necessidade de denúncia contra o acusado
Sr. Vaccari, a acusação junta em suas Alegações Finais uma
alteração contratual da empresa Bancon, na qual consta a
assinatura do acusado Sr. Vaccari.
93. Peculiar essa construção do argumento da
acusação, primeiro porque o Sr. Ricardo Berzoini exerceu sua
função de Diretor, ora como Diretor Técnico, ora como Diretor
Administrativo Financeiro, por cinco anos. Assim, se o acusado
Sr. Vaccari assinou uma alteração contratual da empresa Bancon,
o Sr. Ricardo Berzoini assinou a constituição da empresa Bancon
em conjunto com o Sr. Luiz Malheiros (Doc. 06). Dessa forma,
como acertadamente o Sr. Berzoini não foi denunciado, também o
Sr. Vaccari, por esse motivo, não deveria sê-lo.
94. Nessa mesma linha, o Ministério Público
inclui, em suas Alegações Finais (p. 32), o Contrato de Promessa
de Compra e Venda entre a Bancoop e a empresa Helbor
Empreendimentos Imobiliários, firmado em 20/07/1999, e afirma
que “cai por terra” a alegação de que o acusado Sr. Vaccari não
exercia atos de gestão enquanto era Diretor da Bancoop, uma vez
que teria assinado tal contrato como representante da
Cooperativa. Ora, da mesma forma que o acusado Sr. Vaccari
assinou, em nome da Bancoop, o Contrato de Compra e Venda
com a empresa Helbor, o Sr. Ricardo Berzoini assinou, em
28/06/1999, Contrato de Promessa de Compra e Venda entre a
Bancoop e a empresa Elage Engenharia (Doc. 07). Neste caso,
como o Sr. Berzoini foi corretamente excluído da denúncia, o Sr.
Vaccari também não deveria ter sido denunciado.
95. Não se pode aceitar que as mesmas
circunstâncias valham contra o acusado Sr. Vaccari, como prova,
segundo o Ministério Público, de “conhecimento das negociatas
criminosas na BANCOOP”, e para o Sr. Ricardo Berzoini valham
como prova de inocência ou pouca participação na administração
da Bancoop. Fica evidente que não se justifica a acusação contra o
Sr. Vaccari.
96. Seguindo a mesma lógica que o
representante do Ministério Público utilizou para excluir da
denúncia o Sr. Ricardo Berzoini, também o Sr. Vaccari não deveria
ter sido denunciado, já que ambos não atuaram efetivamente em
seus cargos, não obstante a Cooperativa continuar em plena
atividade.
97. O Ministério Público não pode escolher
quem denunciar, caso contrário, fere o princípio da
obrigatoriedade e da legalidade. Se assim agiu, comprometeu o
processo e a nulidade se cristalizou.
98. Como visto, o acusado encontra-se diante
de um paradoxo, pois mesmo não tendo qualquer relação
societária ou conhecimento da existência da empresa Germany
antes de ter assumido como presidente da Bancoop, é obrigado a
se defender das acusações do Ministério Público, sobre um
suposto conhecimento de atividades ilegais praticadas por essa
empresa.
99. Durante toda a acusação, o Ministério
Público repete que o acusado Sr. Vaccari sabia dos malfeitos
praticados pela Germany, pelo fato de ser diretor da Bancoop. A
acusação repete incessantemente que o acusado tinha
conhecimento das irregularidades, mas, em momento algum,
esclarece de que forma se deu tal conhecimento.
100. Toda a argumentação da acusação com
relação à empresa Germany trata, quase que exclusivamente,
sobre sua movimentação bancária, à qual o acusado Sr. Vaccari
jamais teve acesso.
101. Entretanto, mesmo não tendo qualquer
acesso à movimentação bancária da empresa Germany, a defesa
contestou os valores apresentados pelo Ministério Público com
base no relatório do CAEX.
102. O Ministério Público afirma, em suas
Alegações Finais (p. 67), que:
“Segundo Levantamento do Laboratório de
Tecnologia contra a Lavagem de Dinheiro,
através dos integrantes da quadrilha que
dirigiam a Germany “Construtora” recebeu da Bancoop e empresas coligadas o valor de R$ 21.864.893,01 (relatório
complementar fls. 11.416 e segs.)” (grifo
nosso)
103. Quem são essas empresas coligadas não se
sabe. Todavia, o quanto a Germany recebeu da Bancoop durante
todo o período é possível saber. O próprio Relatório CAEX
Complementar 2015 – fls. 11.480, no item 3.5.3.1, informa que a
Bancoop pagou à Germany, em valores retificados, a quantia de
R$ 9.902.555,72 (nove milhões, novecentos e dois mil, quinhentos
e cinquenta e cinco reais e setenta e dois centavos), ou seja,
menos da metade do que afirmou a acusação em suas Alegações
Finais.
104. Cabe, ainda, outra ressalva, antes da
contestação apresentada pela defesa: o valor apresentado pelo
Ministério Público (CAEX) era de 38 milhões de reais, o que, ao
depois, foi retificado para 38 mil reais.
105. O mais absurdo é como o Ministério Público
chega ao valor de R$ 249.853,19 (duzentos e quarenta e nove mil,
oitocentos e cinquenta e três reais e dezenove centavos) de
supostos desvios das contas da empresa Germany. A acusação
simplesmente subtraiu os valores lançados a título de débito dos
valores lançados a título de crédito e computou o resultado como
prejuízo, sem que houvesse qualquer base técnica para tanto!
106. Reforce-se, a defesa não tem qualquer
contato com a movimentação bancária da empresa Germany, além
daquela que foi disponibilizada através do relatório do CAEX, mas
os métodos utilizados pela acusação são completamente
questionáveis e carecedores de embasamento técnico.
107. Vale lembrar que antes da defesa
apresentar sua contestação ao relatório do CAEX, o valor
apresentado pelo Ministério Público a título de supostos desvios
da empresa Germany era de absurdos R$ 49.122,851,00
(quarenta e nove milhões, cento e vinte e dois mil e oitocentos e
cinquenta e um reais).
108. Concluindo a somatória dos supostos
desvios da empresa Germany, o Ministério Público afirma, na
página 69 de suas Alegações Finais, que o total estimado e
aproximado de desvio foi de R$ 22.000.000,00 (vinte e dois
milhões de reais). Como pode chegar a esse número, se na página
anterior assevera que o valor era de R$ 249.853,19 (duzentos e
quarenta e nove mil, oitocentos e cinquenta e três reais e dezenove
centavos)?
109. A nota de rodapé constante nas Alegações
Finais tenta justificar, apontando o erro, pois os 22 milhões
referem-se ao “valor total movimentado pela Germany em
prejuízo aos cooperados e cujo valor anterior de R$ 58.000.000,00
que constou por erro material foi devidamente corrigido ” . (grifo
nosso)
110. Por mais leiga que uma pessoa possa ser a
respeito de contabilidade e finanças, não se pode aceitar que toda
a movimentação de uma empresa seja fruto de desvio. Muito
embora a defesa nada saiba sobre a administração da Germany,
sabe que tal empresa existiu, prestou serviços, teve funcionários,
até onde se sabe, pagou impostos, portanto, como pode toda a sua
movimentação ser “desvio”? Não pode, isso é impossível, embora,
absurdamente, seja sustentado pelo Ministério Público.
111. Evidente a tendência do Ministério Público
ao paroxismo. Busca a acusação, a todo custo, justificar suas
errôneas conclusões, mesmo que os números teimem em
contrariá-las.
112. As mesmas infundadas alegações repetem-
se com relação à empresa Mizu Gerenciamento e Serviços.
113. A defesa poderia muito bem se calar diante
das acusações feitas pelo Ministério Público, uma vez que são
desprovidas de embasamento probatório. Contudo, por dever de
ofício, há que se contestá-las.
114. Primeiramente, o Ministério Público diz que
a empresa Mizu é uma empresa fantasma e foi criada em julho de
2002, tendo sua razão social alterada para Mirante Artefatos de
Concreto, contudo, diversos depoimentos relatam a venda de
blocos da empresa Mizu/Mirante para a Bancoop, inclusive um
dos sócios da Mizu/Mirante foi ouvido e relatou as atividades da
empresa, senão, vejamos:
“MP.: Da época que o senhor foi contratado por CLT na Mizu, quanto tempo depois levou para a Mizu se transformar em outra empresa, a Mirante?
D.: É, Mirante.
MP.: Quanto tempo levou?
D.: Não sei precisar ao certo, mas eu acho que a alteração de contrato social demorou entre seis meses.
MP.: E a primeira, o contrato social da Mirante, o senhor passou a figurar?
D.: Como sócio.
(...)
MP.: Quem era sócio com o senhor inicialmente, o senhor lembra?
D.: Era o Marcelo Rinaldi, o Alessandro, o Tomás e o Luiz. Eram os quatro que eram sócios da Mizu, e teve, nós
encontramos, adquirimos o terreno,
constituímos a empresa, e eu entrei, teve
alteração de endereço, alteração na razão
social e a minha inclusão.
(...)
MP.: E aí a Mirante começou a fabricar blocos de concreto para obras civis?
D.: Isso.” (depoimento da testemunha de
acusação Fábio Luiz Silveira) (grifo nosso)
115. A própria testemunha da acusação confirma
que não era uma empresa fantasma, assim como outras
testemunhas, também vejamos:
“MP.: Chega lá, preciso de quinhentos blocos,
a quem a senhora se dirigia para a compra
de blocos, na Mirante?
D.: Era feita a cotação normal, o mesmo, que era com a mirante, a Mirante não fornecia blocos para todas as obras.
MP.: Para quantas obras?
D.: Não me lembro, mas ela não fornecia para todas as obras, agora, cotava o mercado e cotava eles, com a Mirante.”
(depoimento da testemunha Angela
Marques) (grifo nosso)
116. Não é necessário se estender mais sobre
este tema, uma vez que o próprio Ministério Público produziu
provas destruindo suas alegações.
117. O Ministério Público afirma que a empresa
Mizu/Mirante teria sido usada para desviar recursos da Bancoop,
destinando-os para campanhas políticas do Partido dos
Trabalhadores. Como “prova” de sua alegação, apresentou uma
planilha com vários cheques que totalizavam R$ 43.210,00
(quarenta e três mil, duzentos e dez reais).
118. O primeiro ponto que derruba a
argumentação ministerial, é o fato da acusação alegar que a citada
planilha teria sido apresentada pela testemunha Fábio Luiz
Silveira, vejamos:
“As planilhas de controle financeiro da
empresa MIZU GERENCIAMENTO E
SERVIÇOS apresentados pelo senhor Fábio Luiz Silveira é possível detectar
vários lançamentos com a rubrica “DOAÇÃO
PT”, porém tais lançamentos correspondem a
cheques nominais a BANCOOP, totalizando o
valor de R$43.210,00 para o aludido partido
político, conforme depoimento prestado por Fábio Luiz Silveira e os documentos por ele apresentados...” (grifo nosso)
119. Contudo, a testemunha de acusação Fábio
Luiz Silveira, não confirma tal versão. Vejamos o que ele disse em
seu depoimento:
“MP.: O senhor foi ouvido no Ministério
Público e o senhor afirmou o seguinte, no seu
depoimento, prestado no anexo 67. O senhor apresentou ao Ministério Público um controle bancário, uma cópia?
D.: Eu não.
MP.: Ou lhe foi apresentado controle bancário da Mirante?
D.: Quando eu prestei depoimento o senhor me apresentou.” (depoimento da
testemunha Fábio Luiz Silveira) (grifo nosso)
120. Mais uma vez a testemunha de acusação
Fábio Luiz Silveira desmente o Ministério Público e derruba a
versão apresentada pelo órgão acusador, quando afirma que foi o
próprio Ministério Público que lhe apresentou a tal planilha.
121. Surge, então, uma pergunta: de onde surgiu
a planilha apresentada pelo Ministério Público, já que sua suposta
fonte negou tal argumento?
122. Se não foi a testemunha de acusação, quem
teria produzido referido documento? De onde surgiu? Isso nunca
saberemos. Embora seja tão infundada essa acusação, ela é
mantida nas Alegações Finais ministeriais, além de ter servido
como pauta de várias matérias jornalísticas, conforme verificamos
a seguir:
123. Mas não é só!
124. De acordo com a planilha apresentada pelo
Ministério Público, os cheques abaixo teriam sido destinados a
doações para o Partido dos Trabalhadores, senão, vejamos:
125. Por mais absurdo que possa parecer,
embora o Ministério Público afirme que tais cheques foram doados
ao Partido dos Trabalhadores, a planilha acima indica a quem se
destinaram os referidos cheques.
126. Vale destacar que os cheques de nº 000069,
nº 000070, nº 000071 e nº 000073, como a própria planilha
descreve, foram depositados na conta corrente da Cooperativa e
não foram “doados” ao Partido dos Trabalhadores, o que mostra o
absurdo da afirmação do Ministério Público.
127. O cheque de nº 000069 fez parte de um
depósito que continha outros cheques, conforme relação abaixo:
Emitente dos Cheques que compõem o depósito de 14/10/2002 Valor
Mizu 3.700,00Cooperado - Irene Aparecida Gonçalves 11.632,60Cooperado - Monica Miyuki Hiratsuka 2.999,22Total 18.331,82
128. Vejamos a cópia do extrato da Bancoop que
confirma o depósito:
129. Com relação aos cheques nº 000070 e nº
000071, ambos foram destinados a contas da Bancoop, conforme
cópia do cheque em anexo e cópia do extrato abaixo:
130. Quanto ao cheque nº 000073, verificamos
que o mesmo foi depositado na conta corrente da Bancoop e, por
óbvio, não foi utilizado para doação ao Partido dos Trabalhadores,
senão, vejamos:
131. Resta falar sobre os cheques nº 000068 e nº
000075, que totalizam o valor de R$ 27.550,00 (vinte e sete mil,
quinhentos e cinquenta reais) e que, de acordo com a planilha do
Ministério Público, não foram encaminhados ou são de pessoa
física identificada. De fato, os cheques acima são nominais a uma
pessoa identificada, e essa pessoa é Sergio Luiz Marcelino,
testemunha de acusação, conforme se verifica na cópia do cheque
abaixo:
132. Mais uma vez, a própria testemunha de
acusação destrói a tese ministerial, quando é questionada em
depoimento. Vejamos o que diz Sergio Luiz Marcelino:
“J.: Além desse cheque o senhor fez outros?
Muitos outros? Com que frequência o senhor fazia esses saques na boca do caixa?
D.: Olha, pelo menos uma vez por mês a gente fazia , mas não eram cifras altas assim.J . : Essas cifras eram em torno de?
D .: Cinco, vinte, dez.
J.: Era o senhor quem pagava o pessoal das obras?
D.: Sim.J.: Os seus funcionários?
D.: É .
J.: O senhor disse que esses pagamentos
eram feitos em dinheiro?
D.: Às vezes eu fazia com o meu cheque,
cheque pessoal.
J. : Qual era o valor médio da sua folha de pagamento?
D.: Era por volta de vinte mil, vinte e cinco mil reais.” (depoimento da
testemunha Sergio Luiz Marcelino) (grifo
nosso)
133. Como restou evidente, não houve doações
ao Partido dos Trabalhadores. Todos os cheques têm destinação
específica e justificada. Importante frisar que toda a verificação da
defesa foi feita através de documentos obtidos por quebra de sigilo
bancário ou por documentos juntados pelo próprio Ministério
Público, ou seja, todos eles acessíveis a todas as partes.
134. No tocante à empresa Mirante Artefatos de
Concreto, bem como sobre as empresas Conservix Limpeza e
Serviços Ltda. e Vita Administração e Consultoria Imobiliária
Ltda., nada foi trazido contra o acusado, Sr. Vaccari, que
comprovasse alguma conduta ilícita.
135. Sobre a suposta aquisição de terrenos
superfaturados, a denúncia insiste na fórmula de incluir o nome do Sr. Vaccari no início da argumentação como alguém que
sabia do suposto ilícito, contudo, quando relata os fatos, nenhuma menção faz ao acusado.
136. Quanto ao tema da acusação de aquisições
dos terrenos supostamente superfaturados, três pontos são
fundamentais:
a) Primeiro, o acusado, como já esclarecido, não
exercia efetivamente o cargo de Diretor no
período em que as aquisições foram feitas.
b) Segundo, após o acusado assumir a presidência
da Cooperativa, nenhum empreendimento foi
lançado ou terreno comprado.
c) Terceiro, após o trabalho técnico realizado e
publicado no balanço social da Cooperativa, foi
demonstrado que os valores pagos pelos
cooperados pelas suas unidades estavam abaixo
do mercado, demonstrando não haver hipótese
de superfaturamento.
137. Além do acusado não ter participado de
qualquer compra de terreno, há nos autos depoimentos de
testemunhas de acusação, as quais participaram do processo de
seleção e compra de terrenos, que refutam essa acusação de
superfaturamento, senão, vejamos:
“J.: Essa questão da escolha do terreno, MARCELO, o doutor já indagou, inicialmente o senhor relata que a BANCOOP forneceu uma lista com vinte e oito a trinta opções?D.: Sim.
J.: Dentre elas, inclusive com uma faixa de preços, valores aproximados, porque o senhor disse que foi um dos critérios que os senhores foram eliminando alguns terrenos.
D.: Sim. Na verdade tinha a lista com o terreno e o endereço, a metragem do terreno, a localização e o preço, preço por metro quadrado eu acho que era.J.: No final os senhores, a equipe
destacada...
D.: Na verdade foi a diretoria dos
BANCÁRIOS.
J.: Escolheu dois?
D.: Escolheu dois, eram três na verdade, no final descartou mais um, ficaram dois.
J.: Deram duas opções?
D. : Sim.
J.: Dessas duas opções a BANCOOP escolheu e comprou?
D.: A BANCOOP é quem foi negociar.
J.: Negociar que o senhor diz, é o..., como ia
pagar? Houve alteração de preço dentre aquilo que estava previsto ou não, já foi aquilo que foi escolhido?
D.: Não, tinha lá, no terreno não tinha o
preço final do terreno, tinha a metragem do
terreno e o valor por metro quadrado, que foi
avaliado, eu fui saber depois, por essa
consultoria. Mas não nos disseram isso,
falaram: "Nós levantamos... ".
J.: Mas aquilo que os senhores tinham prévio conhecimento, houve mudança daquilo, algo que deveria custar cem o metro quadrado passou a custar quinhentos?
D.: Não, que eu me lembre, não.
J.: Então, na verdade, foi dentro do esperado nesse momento dessa escolha?
D.: Que eu saiba, sim, eu acho que sim.”
(depoimento da testemunha Marcelo
Backer) (grifo nosso)
138. A testemunha de acusação Ivo Nascimento
relata, em seu depoimento, a autonomia que detinha para fazer a
avaliação de imóveis. Vejamos:
“DEF.: O senhor fazia avaliação de imóveis, de terrenos?
D.: Fiz em dois casos, se eu não me engano, eu fiz avaliação para o Tatuapé e o outro eu não lembro agora qual era, mas se eu não me engano foram dois casos que eu fiz avaliação, e depois eu
era responsável pela aprovação de
medições, controle e fiscalização de
andamento de serviço das obras das
construtoras contratadas.
DEF.: O senhor recebia algum tipo de interferência nessa atividade, nessas avaliações, enfim?
D.: De jeito nenhum.” (depoimento da
testemunha Ivo Nascimento) (grifo nosso)
139. O Ministério Público, além de fazer
acusações que não conseguiu provar, fez pior, pois suas
acusações são contraditadas por suas próprias testemunhas.
140. Além de não haver nada que ligue o
acusado Sr. Vaccari a compras de terrenos, não há nada nos
autos que indique que essas compras tenham sido fraudulentas,
independentemente de quem as fez.
141. Outro ponto, é que, de forma bastante
confusa, as Alegações Finais da acusação trazem suposta
ilegalidade na contratação de serviços de segurança da empresa
Cazo, em substituição à empresa ARG, de propriedade de Andy R.
Gurczynska.
142. Surpreendentemente, o Ministério Público
desistiu da oitiva de sua testemunha, Andy R. Gurczynska, única
testemunha que poderia ao menos corroborar suas alegações, não
trazendo qualquer outro elemento de prova que valide suas
acusações.
143. Talvez o Ministério Público tenha desistido
de sua testemunha Andy pela pouca confiabilidade que esta
inspirava, uma vez que, em depoimento prestado no dia
25/05/2010, diante dos membros da CPI da Bancoop, na
Assembleia Legislativa de São Paulo, ele afirmou que emitia notas
em valores distintos dos serviços efetivamente prestados, e que
também não recolhia encargos sociais, porque alguns de seus
trabalhadores eram policiais militares e realizavam seu trabalho
fazendo o chamado “bico”.
144. Pode ser, ainda no campo da especulação,
que o Ministério Público tenha desistido dessa testemunha por
conta do protesto movido pela empresa ARG (de propriedade dessa
testemunha), alegando, indevidamente, que não teria recebido a
rescisão contratual, protesto este que foi sustado judicialmente,
tendo a decisão judicial declarado ganho de causa à Bancoop; sem
falar na possibilidade de uma Ação Monitória movida pela
empresa ARG, com base no mesmo protesto ilegal, e que, da
mesma forma, foi negada judicialmente.
145. O que sabemos, e que causa perplexidade, é
que o Ministério Público não fez qualquer questionamento ao
acusado, Sr. Vaccari, sobre tais fatos, uma vez que teria interesse
em provar sua tese acusatória.
146. Indagações ao acusado foram realizadas
apenas pela ilustre Magistrada, que as fez nos seguintes termos:
“J.: Sobre a prestação de serviço de segurança para os empreendimentos, o senhor tem conhecimento de como era feita, por quem?
D.: Olha, quando eu virei presidente, tinha,
inclusive, escolta para o presidente e a
segurança era de uma empresa chamada RG, do senhor Ande, e também
a segurança dos empreendimentos nas
obras era feita pelo pessoal dele. E dado a inúmeros fatores, bate que a gente achava que tinha que diminuir o padrão, a quantidade de segurança. Nós fizemos isso num primeiro momento, e
depois pelo padrão da prestação de serviços, nós cortamos o contrato com ele, inclusive tinha problemas fiscais, enfim, um conjunto de problemas que a gente achava que não tinha condições de manter mais essa prestação de serviços.
J.: Então o senhor rompeu o contrato?
D.: Rompemos o contrato, ele abriu um processo contra nós.
J.: Foi contratada outra empresa na sucessão?
D.: Foi.
J.: Quem foi?D.: Foi a Cazo.
J.: Essa nova empresa foi contratada mais caro, mais barato, o que o senhor tem a dizer sobre isso?
D.: Eu acredito que tenha sido por valores de mercado da época porque ela
já prestava serviços para várias outras
entidades, inclusive, para o nosso sindicato,
quem prestava serviço era eles.
J.: E no caso, a empresa Cazo, a segurança dela passou a ser restrita aos canteiros de obra?
D.: E também à proteção patrimonial da sede, que era muito pouco, mas tinha que
ter. Mas escolta, essas coisas, desativamos
tudo.” (interrogatório do acusado João
Vaccari Neto) (grifo nosso)
147. Como visto, apenas é relatado o que se
sabe, que existia a empresa ARG de segurança, e que, num
determinado momento, no início da gestão do acusado Sr. Vaccari,
essa empresa foi substituída por outra, denominada Cazo.
148. Mais revelador foi o interrogatório da corré
Ana Maria Érnica. Na época em que a empresa ARG prestava
serviços de segurança à Bancoop, outras empresas também
prestavam esse tipo de serviço para a Cooperativa. Havia também
a empresa Conservix. Fato é que a empresa Cazo assumiu a
prestação de serviços de segurança para toda a Bancoop, daí a
suposta diferença de valores levantada pelo Ministério Público,
senão, vejamos:
“J.: E sobre a acusação então, o que a
senhora tem a declarar, o que mais a
senhora quer declarar espontaneamente
antes que eu faça perguntas específicas
sobre os tópicos da denúncia?
D.: Eu gostaria de falar de uma questão
específica, que é uma questão da denúncia
que me incomoda um pouco porque imputa a
minha gestão, depois que eu estava na
Bancoop, que é a contratação da empresa de
segurança Cazo. A denúncia disse que a gente contratou a Cazo pagando o triplo do que se pagava ao Ande, para a ARG, que era a empresa de segurança anterior. Isso não é verdadeiro. Antes da Cazo entrar, quem prestava serviços de segurança eram duas empresas, a ARG, que era desse Ande, e a Conservix; na verdade era segurança, a ARG prestava de segurança, vigia, portaria e acesso às obras, controle de acesso às obras, e a Conservix prestava serviços de vigia e acesso à portaria e não prestava serviços de segurança.” (interrogatório de
Ana Maria Érnica) (grifo nosso)
149. Fica totalmente esclarecido este ponto, pois
a empresa Cazo assumiu o serviço prestado também por duas
outras empresas. Não há indício de crime na contratação da
empresa Cazo.
150. Apenas a título de esclarecimento, após o
encerramento da prestação de serviços pela empresa ARG, foi
descoberto um esquema de “espelhamento de notas fiscais”
praticado por essa empresa. Quando o proprietário da ARG, Sr.
Andy, foi ouvido pelos membros da CPI da Bancoop, na
Assembleia Legislativa de São Paulo, ele apresentou notas fiscais
de serviços prestados por sua empresa à Bancoop, entretanto, os
valores descritos naquelas notas não eram os mesmos valores que
constavam das vias entregues à Cooperativa. Havia sempre uma
diferença a menor nas vias das notas fiscais de posse da empresa
ARG, as quais eram utilizadas para o cálculo de tributos.
151. Apenas para registro, vejamos abaixo um
quadro comparativo entre os valores descritos nas vias das notas
fiscais de posse da Bancoop e nas apresentadas por Andy durante
a sessão da CPI:
Nº NF Data Emissão Nome da Empresa Valor na cópia entregue pela ARG
Valor da nota original na contabilidade da 0064 16/02/04 ANDY (A.R.G.) 69.324,09 69.324,09
0071 02/03/04 ANDY (A.R.G.) *66.016,40 ** 66.016,400073 01/04/04 ANDY (A.R.G.) 673,79 67.379,880083 03/05/04 ANDY (A.R.G.) 69.630,64 69.630,640090 04/06/04 ANDY (A.R.G.) 682,13 68.213,000096 02/07/04 ANDY (A.R.G.) 6.870,40 67.802,40
000004 17/08/04 A.R.G 4.171,08 41.710,81000008 01/09/04 A.R.G 3.814,8S 38.148,59000021 19/10/04 A.R.G 3.814,85 38.148,59000028 01/11//04 A.R.G 3.814,85 38.148,59000031 01/12//04 A.R.G 3.814,85 38.148,59000046 03/01/05 A.R.G 3.814,85 38.148,59000064 01/02/05 A.R.G 3.814,85 38.148,59000091 01/04/05 A.R.G 38.148,59 38.148,59000103 02/05/05 A.R.G 47.132,96 47.132,96000120 01/06/05 A.R.G 54.497,52 54.497,52
* Valor Rasurado** Valor Sem Rasuras
152. Exemplificando a forma como se dava o
suposto espelhamento, vejamos a comparação entre a via da nota
fiscal entregue à Bancoop e a via entregue por Andy ao Ministério
Público, quando de seu depoimento prestado no dia 28/01/2008 e
cuja cópia encontra-se às fls. 3450, vol. 16, dos autos do presente
processo:
153. Resta, diante do que fora demonstrado, que
Vossa Excelência indague ao Ministério Público, quais medidas
foram adotadas para se investigar a suposta sonegação fiscal da
empresa ARG, de Andy R. Gurczynska.
154. Mais um ponto que precisa ser enfrentado
pela defesa quanto à acusação do crime de quadrilha ou bando,
diz respeito à imputação do Ministério Público, quando afirma que
a movimentação bancária da Bancoop era criminosa, justificando
que até 2003 existia uma conta bancária para cada
empreendimento e que, a partir de determinada data, fora
instituída a conta POOL, ou seja, uma conta para todos os
empreendimentos.
155. A acusação afirma, ainda, na denúncia, de
uma forma confusa, que havia algumas irregularidades na
liberação de recursos do FGTS para o pagamento dos imóveis
adquiridos da Cooperativa. Esse tema é de competência federal,
todavia, pondera-se sobre ele.
156. Cumpre esclarecer que a questão
envolvendo a liberação de recurso do FGTS foi objeto de Inquérito
Policial, que tramitou perante a Polícia Federal, e, concluída a
investigação, o Ministério Público Federal entendeu, por bem,
requerer seu arquivamento, conforme já provado neste feito,
durante a instrução processual.
157. Com relação à conta POOL, que é
absolutamente legal, a acusação deixou de indicar onde está o
ilícito em sua criação, argumentando, apenas, que a conta gerou
descontrole financeiro, o que impediria uma análise adequada dos
débitos e créditos. Isso não procede.
158. Mesmo não existindo qualquer indício de
que o acusado Sr. Vaccari tenha concorrido para a abertura da
conta POOL, ou qualquer indício de ilegalidade em tal ato, insiste
o Ministério Público em envolvê-lo em tal circunstância.
159. Vale ressaltar que a conta POOL não tem
nada de criminoso ou ilegal, é um instrumento de gestão
financeira, utilizado, principalmente, para reduzir custos
bancários, bem como aumentar o poder de negociação com as
instituições financeiras, devido ao maior volume de recursos que
circulam nessa conta.
160. Muito embora o acusado Sr. Vaccari nada
tenha com a determinação para a abertura da conta POOL, de
acordo com seu interrogatório, é possível verificar que toda a
escrituração das contas foi realizada adequadamente, conforme
perícias realizadas quando o acusado assumiu a presidência da
Bancoop, e todas elas examinaram a conta POOL, devido aos
registros que existiam. Vejamos:
“D.: Que isso, a conta pool, em si, ela não é nenhum problema. Na minha gestão nós
desmontamos a conta pool e voltamos ao
padrão anterior, de fazer as contas
individualizadas. Agora, o que era importante ser feito, era a escrituração dos empreendimentos, e isso sempre foi feito de forma adequada, não só feito de forma adequada, como nós abrimos a
perícias de vários peritos judiciais que foram aos representantes de várias comissões de obras que estiveram presentes, fiscalizando os documentos, tal, e os documentos todos existiam, havia a contabilidade, tudo direitinho. E
depois nós passamos, eu, particularmente, achava que era melhor pra você administrar, fazendo uma conta para cada empreendimento, e ter a
conta geral da cooperativa, Eu achava que
esse era o melhor modelo.” (interrogatório de
João Vaccari Neto) (grifo nosso)
161. O Ministério Público, em suas Alegações
Finais, sem esclarecer ou demonstrar porque a conta POOL era
utilizada para o cometimento de ilícitos, passa a outro tema, sem
qualquer ligação com a movimentação bancária, tratando de
supostos descontos concedidos a cooperados.
162. O Ministério Público se baseia,
exclusivamente, no depoimento de Flavio Fernandes dos Santos,
ex-funcionário da Bancoop, e contra o qual existe um Inquérito
Policial que investiga a apropriação indébita de cheque de
cooperada, cheque este que foi depositado na conta de sua sogra.
Por coincidência, mesmo existindo materialidade delitiva e indícios
de autoria, o Ministério Público, representado naquele inquérito
pelo mesmo Promotor que oficia nos presentes autos, já solicitou
por duas vezes, o arquivamento daquela investigação.
163. Volta-se a focar o que Ministério Público
reputa mais importante, a concessão de descontos a cooperados.
164. A própria testemunha de acusação, Flavio
Fernandes dos Santos, exclui o Sr. Vaccari de qualquer decisão
sobre eventuais concessões de desconto, conforme se verifica por
seu depoimento abaixo:
“Def.: Aqui, o senhor disse que tinha umas
reuniões, para decidir sobre o desconto,
pagamento, essas coisas, com o Marcelo
Rinaldo e mais outras pessoas. Só para
saber, quem são essas outras pessoas?
D.: Eles se reuniam muitas vezes, quando
chegava um cooperado com problema, e eu,
por exemplo, levava o problema ao
cooperado, eles se reuniam, eles mesmos, o senhor Tomás, o senhor Marcelo Rinaldo, o Alessandro e o Luiz. Depois do
veredito entre eles, eles decidiam o que ia
ser feito, chamava-se uma pessoa
responsável, ou às vezes a Claudia, que
trabalhava no Departamento de Atendimento
ou a própria Sônia, que era responsável pelo
Departamento de Cobrança, e se seguia o
que foi pensado por eles.” (depoimento da
testemunha Flavio Fernandes dos Santos)
(grifo nosso)
165. Como visto, a testemunha não cita o
acusado Sr. Vaccari, ficando claro que ele não está envolvido na
concessão de descontos, muito menos em sua liberação, nada
tendo com tal acusação.
166. Outro ponto do depoimento da testemunha
de acusação Flavio Fernandes dos Santos, que é bastante
revelador, informa quem comandava a Cooperativa. Vejamos:
“MP.: ... Era a pessoa responsável pela
gerência financeira, qualquer um chegava lá, autorizava, eles tinham alçada para isso?
D.: Dentro dos três, principalmente, o Marcelo, Luiz e Alessandro, era bem assim mesmo. Nós acatávamos as ordens dos três, como se fosse os três presidentes.” (depoimento da testemunha
Flavio Fernandes dos Santos) (grifo nosso)
167. A testemunha de acusação relata quem, a
seu ver, eram as pessoas que “mandavam” na Bancoop, todas
sendo tratadas como se Presidente fossem, quais sejam: Marcelo
Rinaldo, Luiz Malheiros e Alessandro, não havendo, também aqui,
qualquer menção ao acusado Sr. Vaccari.
168. A última fundamentação, dada pelo
Ministério Público, para o crime de quadrilha ou bando, mesmo
sem apontar no que consistiria o ilícito, é a obtenção de
empréstimos junto ao Sindicato dos Bancários e a criação do FDIC
– Bancoop.
169. Alega, o Ministério Público, que os
empréstimos foram tomados sem a devida autorização dos
cooperados, entretanto, o estatuto da cooperativa não exige a
aprovação em assembleia de cooperados, atribuindo à Diretoria a
decisão sobre a busca de financiamentos. A única decisão que
caberia aprovação da assembleia de cooperados seria no caso de
alienação de bens imóveis, situação que obviamente não é a do
presente caso. Vejamos o que diz o parecer do escritório Levy &
Salomão Advogados sobre o tema:
170. O acusado Sr. Vaccari informou, em seu
interrogatório, quais foram os trâmites adotados para a captação
de recurso, vejamos:
“J.: Isso foi feito com o conhecimento, com a
anuência dos cooperados?
D.:O que eu tenho conhecimento, da minha parte, quando eu renegociei, fora dar os informes pertinentes, colocando nos documentos da cooperativa, nós fizemos por decisão da própria diretoria, que
pelo estatuto nós tínhamos essa autoridade.
J.: Para fazer por diretoria sem a anuência dos cooperados?
D.: Sem, até porque nós estávamos vendendo direitos, antecipando o crédito, direitos creditórios. Agora, ao
mesmo tempo, que acho que isso é importante, é que eu participei da renegociação, eu não fiz o fundo, eu participei da renegociação dele, depois, inclusive, da liquidação dele.
J.: Foi liquidado esse empréstimo?
D.: Foi, foi liquidado. E que foi, inclusive,
denunciado à Polícia Federal, que nós
tínhamos gerado fundo ao TCU, que nós
tínhamos gerado prejuízo ao fundo de
pensão e o TCU não só investigou, como disse que não havia qualquer tipo de prejuízo aos fundos de pensão.”
(interrogatório de João Vaccari Neto) (grifo
nosso)
171. O FDIC foi aprovado não só pelo TCU, mas
também pela CVM (Doc. 08). Vale destacar que o Ministério
Público Federal, após investigação sobre a captação de recursos
através do FDIC, requereu o arquivamento da investigação, o que
foi deferido pelo MM. Juiz Federal.
172. Os recursos captados pela Bancoop foram
auditados por empresas particulares, Tribunais de Contas,
agências reguladoras, além de órgãos do judiciário, e nenhum
deles encontrou qualquer irregularidade, quer na sua captação,
quer na utilização desses recursos.
173. Aliás, o próprio Ministério Público sabe que
não há qualquer irregularidade na captação desses recursos. Isso
fica evidente pela singeleza como o tema é tratado, ocupando
apenas três parágrafos nas Alegações Finais da acusação.
174. Diante de tudo o que foi produzido durante
a instrução processual, deve ser a denúncia julgada improcedente,
absolvendo-se o acusado Sr. Vaccari, também, do crime de
quadrilha ou bando.
DA ACUSAÇÃO DE CRIME DE ESTELIONATO
175. Outra acusação constante da denúncia é do
crime de estelionato, imputando ao acusado Sr. Vaccari a prática
de milhares de crimes de estelionato tentados e consumados,
contudo, essa imputação também é totalmente improcedente.
176. No primeiro parágrafo de sua argumentação
com relação ao crime de estelionato, a acusação afirma que o
prejuízo supostamente causado aos cooperados seria da ordem de
20 milhões de reais, remetendo sua conclusão ao relatório
38/2010, esse mesmo relatório que foi corrigido, devido a diversos
erros encontrados pela defesa.
177. Contudo, o referido relatório 38/2010, seja
antes ou depois das retificações, não contém qualquer totalização
disponível no valor de 20 milhões, sendo impossível saber como o
Ministério Público chegou a esse número.
178. Talvez, esse tópico da denúncia seja o que
mais evidencia o prejuízo causado, não só ao acusado Sr. Vaccari,
mas à própria administração da Justiça, pelo laudo errado
elaborado pelo setor de apoio do Ministério Público e que embasou
a primeira denúncia.
179. A movimentação bancária da Bancoop é
tratada pelo CAEX com pouca perícia no laudo elaborado por esse
setor de apoio da acusação.
180. Após a indicação de todos os erros
constantes do relatório que embasou a primeira denúncia, o
departamento técnico do Ministério Público reconheceu os seus
erros, apresentando um novo relatório, lastreado em inédita base
de dados que, como alegado na preliminar da defesa, não foi
submetido ao escrutínio defensivo, uma vez que não foi concedido
prazo razoável para tanto.
181. Neste tópico, fica evidente o prejuízo que a
defesa teve com a não concessão de prazo para a análise do novo
relatório apresentado pelo Ministério Público.
182. Em diversos momentos, o Ministério Público
faz referência a novos documentos incluídos aos autos pelo novo
relatório. Exemplificando tal situação, vejamos: “incluído, ainda o
cheque 901592 no valor de R$ 4.939.548,70 (quatro milhões,
novecentos e trinta e nove mil, quinhentos e quarenta e oito reais e
setenta centavos), não citado no trabalho anterior, mas que
segue o mesmo tipo de transação”.
183. Perceba-se que o Ministério Público faz
referência ao relatório que foi juntado poucos dias antes do
interrogatório do acusado e ao qual a defesa não teve acesso,
evidente a ofensa ao princípio do contraditório e da ampla defesa.
184. Mesmo a defesa não tendo tempo para
analisar a grande quantidade de informações que serviram de
base de dados para o novo relatório do CAEX e que embasaram a
nova denúncia, buscará, dentro do possível, demonstrar os
equívocos da acusação.
185. O acusado Sr. Vaccari, como ficou provado
ao longo de toda a instrução, não participou da gestão da
cooperativa antes de assumir como Presidente em novembro de
2004, portanto, não tem conhecimento das rotinas adotadas à
época em que a conta POOL estava vigente.
186. Contudo, através de diversas perícias, que
foram realizadas ao longo de sua gestão como Presidente, pode-se
criar um vislumbre de como as coisas eram feitas.
187. O Ministério Público, citando o novo
relatório do CAEX, afirma que “Apesar de não haver desencaixe
financeiro esse tipo de transação causa estranheza porque não se
justifica o débito com a emissão de cheque TB e saque SQ21 e o
crédito na mesma conta bancária”, e, mais à frente, continua:
“mesma agência e conta corrente só se justifica para simular
operações e burlar balanços e iludir cooperados”.
188. A acusação, ainda, analisando apenas a
movimentação bancária da cooperativa, concluiu que os débitos e
créditos na mesma conta seriam para ludibriar os cooperados.
189. Entretanto, se o Ministério Público tivesse
analisado a movimentação bancária e os registros fiscais da
cooperativa, veria que existia um motivo ordinário, comum, em tal
movimentação.
190. A defesa pôde apurar, através de auditoria,
que a conta corrente era debitada e creditada no mesmo valor
para que, além de constar na contabilidade, a transação ficasse registrada também no financeiro. Um exemplo é o caso
da taxa de administração que, conforme previsto no Regimento
Interno, é paga por todos os empreendimentos em favor da
Cooperativa, para suportar seus gastos com despesas que não são
da obra, como back office, RH, recepção, sistema operacional,
telefonia, dentre outras.
191. Como a conta corrente era única, fazia-se
um débito no valor da taxa de administração do empreendimento
“X”, que era creditado na mesma conta corrente para a Bancoop.
Com isto, a operação trazia ainda mais transparência e controle
dos gastos da seccional na sua contabilidade individualizada.
192. Importante frisar que todos estes controles foram auditados pela Therco Grant Thorton, sem quaisquer apontamentos ou ressalvas, conforme relatório que foi
juntado aos autos.
193. Com relação aos cheques SQ21, chega a ser
surreal a afirmação da acusação de que tais cheques foram
sacados na boca do caixa. Impossível, pois isso é proibido por lei.
194. Quer sejam os cheques nominais à
Bancoop, quer sejam nominais ao Banco Bradesco, existe
proibição legal para o saque na boca do caixa.
195. Num completo desconhecimento da rotina
bancária, o Ministério Público tenta fazer crer que todos os
cheques emitidos nominais à Bancoop, ou à instituição financeira,
com o código bancário SQ21, autenticados em seu verso, eram
sacados na boca do caixa e seus valores retirados do banco. Isso
não é verdadeiro.
196. Para quem conhece minimamente a rotina
administrativa ou bancária, sabe que é praxe emitir cheques nominais ao próprio emitente ou à instituição financeira.
197. Embora seja óbvio, é preciso esclarecer que
esta referência é de um cheque da Bancoop, nominal à própria
Bancoop, ou ao Banco Bradesco, e para esse tipo de cheque não é
permitido por lei realizar saque na boca do caixa.
198. A testemunha Katia Helena Sanches,
gerente do Banco Bradesco, foi didática ao esclarecer que a
autenticação SQ21 não significa que o cheque foi sacado na boca
do caixa, senão, vejamos:
199. Em outro trecho das Alegações Finais
acusatórias, chega-se ao cúmulo de afirmar que “parte dos
recursos foram sacados na boca do caixa, ou ainda, destinados à
Germany”. Ora, como já visto, ambas as operações mencionadas
pelo Ministério Público são proibidas por lei, além do que o Banco
Bradesco teria de ser conivente e estaria cometendo uma
ilegalidade, nada mais absurdo.
200. “Cheques TB” foram largamente utilizados
na época tratada pela denúncia em razão da existência da
Contribuição Provisória sobre Movimentação ou Transmissão de
Valores e de Créditos de Natureza Financeira – CPMF, e tratava-se
das transferências entre contas do mesmo titular.
201. Isso fica evidente no relatório que a defesa
apresentou nestes autos, no qual justifica a legalidade de todos os
lançamentos tidos como suspeitos pela acusação. Até os cheques
que aparecem como sacados no caixa verifica-se que foram
utilizados para pagamentos de contas, totalizando o mesmo valor,
e com a autenticação sequencial. Com relação aos novos cheques,
mencionados no novo relatório, a defesa não teve a oportunidade
de examinar, porquanto não lhe foi dada oportunidade para tal
levantamento.
202. O Ministério Público afirma, ainda, que a
prática do crime de estelionato também se aplicaria à venda de
imóveis a preço de custo, na cobrança de aporte financeiro para a
conclusão das obras.
203. As Alegações Finais do Ministério Público
não passam de cópia da denúncia, inovando, apenas, quando
informam que as vítimas confirmaram os fatos em Juízo, sem, ao
menos, trazer os trechos de tais depoimentos, que, a seu ver,
corroborariam sua versão.
204. A acusação afirma que o acusado Sr.
Vaccari teria iludido e ludibriado milhares de pessoas para que
adquirissem imóveis a preço de custo, e depois de quitados, havia
a cobrança de aportes financeiros, representando vantagens
indevidas.
205. Portanto, é primordial saber se as
testemunhas de acusação tinham conhecimento do que é uma
cooperativa e a possibilidade da ocorrência de aporte financeiro.
Vejamos o que dizem as testemunhas:
“Def.: A senhora entende o sistema de cooperativa, sabe como funciona?
D.: Perfeitamente.
Def.: Sabe que existe um preço de custo e há, eventualmente, a necessidade de um rateio?
D.: Eu sei que, quando você entra para uma cooperativa, você lê o estatuto, ali você lê o que está escrito no estatuto, que você pode adquirir o imóvel a preço de custo, que é uma obra autofinanciada, quer dizer, cooperativa são várias pessoas, todo mundo tem que estar ali pagando, e se um deles deixar de pagar, uma boa parte da obra não se conclui; li isso para quando eu fui,
realmente, me coopera. Quando eu adquiri o imóvel, assinei um contrato, um termo de compromisso, do qual me foi passado que este empreendimento que eu moro, o valor que estava sendo colocado era um valor estimado. Valor estimado por quê?
Além de ele ser um preço de custo, tem o sistema do cooperativismo, que todo mundo tem que estar pagando, senão a obra para, e também que, se ao final da obra houver diferença entre, vamos falar assim, dentro do condomínio, ele foi maior, isso tem que ser rateado.
Então, eu tenho ciência disso também.
Então, é diferente de quando você vai em
uma construtora, que você compra o imóvel
de uma construtora e, se custou cem mil,
custou para ela duzentos, você vai pagar
cem. O cooperativismo já não é isso, tem que ser rateado tudo.” (depoimento da
testemunha Roseli Vieira de Lima) (grifo
nosso)
“DEF.: Bancoop, o senhor sabe que é uma cooperativa?
D.: Sabia.
(...)
DEF.: E o senhor tem conhecimento de que eles disseram que haveria um preço estimado para a realização da obra e que, ao final ou até durante, poderia ter a necessidade de um aporte de recursos para complementar o custo da obra? O
senhor tinha ciência disso?
D.: Sim.
DEF.: Era cláusula contratual?D.: Sim.” (depoimento da testemunha Pedro
Luiz Dias Galuchi) (grifo nosso)
“DEF.: Quando o senhor fez a adesão o senhor tinha ciência de que estava fazendo adesão a uma cooperativa?
D.: Sim.
DEF.: O senhor leu o contrato quando o senhor assinou?
D.: Li.DEF.: O senhor viu, se lembra de uma cláusula que falava sobre um eventual rateio ao final dos pagamentos, o valor inicial estimado e depois, ao final, para a conclusão das obras, que os adquirentes deveriam ratear um valor, lembra de uma cláusula assim?
D.: Sim, essa cláusula fala que quando a obra estivesse terminada poderia ser feito um rateio caso faltasse e se sobrasse seria devolvido. Como a obra não
foi terminada...” (depoimento da testemunha
Cleber Borges de Aguiar) (grifo nosso)
“DEF.: O senhor leu o contrato, o termo de adesão, quando o senhor assinou o termo de adesão?
D.: Eu li, com certeza.
DEF.: O senhor entendeu como é o sistema de cooperativa?
D.: Entendi.
DEF.: E a questão de preços e custos também?
D.: Também.” (depoimento da testemunha
Ismael Gonzales Teixeira) (grifo nosso)
206. Como visto, as testemunhas tinham
conhecimento do que era uma cooperativa, de seu funcionamento,
e da necessidade de eventual rateio. Portanto, não se pode afirmar
que as testemunhas foram enganadas ao aderir à Bancoop.
207. As declarações prestadas pelas
testemunhas de acusação revelam que o principal ponto de
insatisfação foi a cobrança do aporte financeiro, vejamos o que
disse uma dessas testemunhas:
“J.: Nessa primeira assembleia que o senhor
disse que houve ali uma boa aula de custos,
por que o senhor disse que houve uma boa
aula de custos? Eu quero saber o seguinte,
se explicaram para o senhor sobre a obra,
que custa X a mais do que o previsto e vai
ser dividido entre tantos adquirentes, os
custos são derivados de tais e tais coisas,
tais custos acima do previsto, foi assim no
seu caso, do custo daquela obra?
D.: Eu quis apenas elogiar a pessoa que fez
a apresentação, um administrador de
empresas que deu uma aula de custos, ele
fez uma boa apresentação, explanação sobre
custos; convincente para mim não foi, o
que foi apresentado não batia muito com o
que estava sendo cobrado, houve a
explicação mediante os itens das planilhas,
mas eu não conseguia visualizar que no meu caso eu tinha que contribuir com mais 32 mil reais por um erro de cálculo ou de estimativa.” (depoimento da
testemunha Ismael Gonzales Teixeira) (grifo
nosso)
208. Como dito pelo próprio Ministério Público,
os imóveis eram construídos a preço de custo, devendo seu preço
ser atualizado toda vez que se percebesse elevação nos custos de
construção.
209. A cobrança de aporte financeiro, apontada
como ilegal pelo Ministério Público, nada mais é, do que a
equalização das contas com a respectiva atualização dos valores a
serem pagos, tudo absolutamente legal.
210. A legalidade da cobrança do aporte
financeiro já foi largamente discutida na esfera cível e em diversas
outras ocasiões foi sempre considerada legal.
211. Tentar dar cores de ilegalidade criminal a
uma discussão meramente financeira não pode prevalecer. A
discussão sobre a necessidade de aporte financeiro, prevista em
contrato legalmente formalizado, é matéria cível, nunca criminal.
212. Diante da insuficiência dos argumentos
apresentados na denúncia com relação ao acusado Sr. Vaccari,
deve o mesmo ser declarado inocente.
DA ACUSAÇÃO DO CRIME DE FALSIDADE IDEOLÓGICA
213. O Ministério Público insiste na condenação
do acusado pelo crime de falsidade ideológica, consistente na
elaboração de instrumento particular de substituição em dação
em pagamento, por pagamento em dinheiro e quitação de crédito
hipotecário, no qual foram juntadas falsas prestações de contas.
214. Para tanto, a acusação entende ser
suficiente a simples menção ao nome do acusado Sr. Vaccari, sem
que haja qualquer comprovação de que tenha concorrido para a
prática do suposto crime. Aliás, não existe qualquer comprovação
de que houve um crime.
215. A falta de nexo entre a acusação e as provas
colhidas nos autos é tamanha, com tal descompasso, que não
pode ser outra a conclusão, senão a absolvição do acusado.
216. Diante da completa ausência de provas
sequer da existência de crime, quanto mais da participação do
acusado Sr. Vaccari, deve a denúncia ser julgada improcedente,
devendo o acusado ser declarado inocente.
DA ACUSAÇÃO DE LAVAGEM DE DINHEIRO
217. Antes de qualquer consideração sobre a
acusação de lavagem de dinheiro, é necessária a análise sobre a
impossibilidade jurídica de tal acusação.
218. Na época dos fatos, no período de fevereiro
de 1999 a dezembro de 2009, o art. 1º da Lei de Lavagem de
Dinheiro estabelecia um estrito rol de crimes antecedentes, quais
sejam: de tráfico de entorpecentes, de terrorismo e seu
financiamento, de contrabando ou tráfico de armas, de extorsão
mediante sequestro, contra a Administração Pública, contra o
Sistema Financeiro Nacional, praticado por organização
criminosa, ou por particular contra Administração Pública
Estrangeira.
219. Não havia, à época, definição do que era organização criminosa, o que gerou acalorados debates
acadêmicos.
220. Em esmerada tese de doutorado, o Professor
Marco Antonio de Barros pontifica que, no que tange à previsão de
lavagem de dinheiro por crime praticado por organização
criminosa, a ausência de definição do que seria a organização
criminosa, impede sua imputação. Vejamos:
“Sob o prisma do direito positivo pode-se
afirmar que há apenas uma noção
aproximada do que é crime praticado por
organização criminosa. A intenção do
legislador era, sem dúvida, punir a ocultação
ou dissimulação da natureza, origem,
localização, disposição, movimentação ou
propriedade de bens, direitos ou valores
provenientes, direta ou indiretamente, de
crimes cometidos por organização criminosa,
cujo ente representa a expressão viva da
macro-criminalidade. Mas, ao manter o tipo
penal aberto (organização criminosa de
qualquer tipo’), nenhum passo importante
deu para reavivar a aplicação da Lei
9.034/95.
(...)
Enquanto perdurar a pendência legislativa,
NÃO SERÁ POSSÍVEL ELIMINAR O EFEITO NEGATIVO QUE A SITUAÇÃO PROVOCA NO COMBATE AOS CRIMES DE
LAVAGEM. Note-se que, no caso das
‘organizações criminosas, a lei faz referência
a uma norma penal em branco,sem
especificar o tipo penal antecedente para
efeito de caracterização da lavagem. Em
outras palavras, em princípio, toda e
qualquer infração penal praticada por
organização criminosa, que represente um
acréscimo ao patrimônio dos seus
componentes, e que seja objeto de operação
ou transação utilizada para ocultar ou
dissimular a origem ilícita, configura o crime
de lavagem. Porem, tal qual sucede com o
terrorismo (ver.5.3), É DE SER CONSIDERADA INÓCUA A FIGURA CORRESPONDENTE AO INC.VII DO ART.1° DA LEI DE LAVAGEM, VISTO DESATENDER AO COMANDO CONSTITUCIONAL QUE ASSEGURA O DIREITO À LIBERDADE E À PROPRIEDADE POR NÃO HAVER CRIME SEM LEI ANTERIOR QUE O DEFINA, NEM PENA SEM PRÉVIA COMINAÇÃO LEGAL (ART.5°, INC.XXXIX, CF. Nullum crimen
nulla poena sine praevia lege.” (Lavagem de
capitais e obrigações civis correlatas. São
Paulo: RT, 2004, pp. 176 e ss.) (grifo nosso)
221. Os debates se seguiram, até que o Supremo
Tribunal Federal se manifestou nos autos do HC 96.007,
ratificando que não havia definição legal para organização
criminosa, senão vejamos:
“TIPO PENAL – NORMATIZAÇÃO. A
existência de tipo penal pressupõe lei em
sentido formal e material. LAVAGEM DE
DINHEIRO – LEI Nº 9.613/98 – CRIME
ANTECEDENTE. A teor do disposto na Lei nº
9.613/98, há a necessidade de o valor em
pecúnia envolvido na lavagem de dinheiro
ter decorrido de uma das práticas delituosas
nela referidas de modo exaustivo. LAVAGEM
DE DINHEIRO – ORGANIZAÇÃO CRIMINOSA
E QUADRILHA. O crime de quadrilha não se
confunde com o de organização criminosa,
até hoje sem definição na legislação pátria.” (STF, HC 96.007/SP, Relator Min.
MARCO AURÉLIO, Julgamento:
12/06/2012, Órgão Julgador: Primeira
Turma) (grifo nosso)
222. Aliás, a definição do conceito de organização
criminosa somente surgiu com o advento da Lei nº 12.683/2012,
muito após o oferecimento da denúncia, de modo que o novo tipo
penal, posterior aos fatos, é inaplicável à espécie.
223. De se verificar, assim, a falta de justa causa
e completa atipicidade da conduta do acusado Sr. Vaccari,
especialmente quanto à descrição do crime antecedente praticado
por organização não definida em lei.
224. Perceba-se que o Ministério Público busca
imputar a prática de lavagem de dinheiro, que teria ocorrido entre
os anos de 1999 e 2009, por entender a Bancoop como uma
organização criminosa, contudo, como visto acima, não havia
definição do que seria organização criminosa até o advento da Lei
nº 12.850/2013.
225. Não se trata de interpretação, mas de
posição consolidada na doutrina, jurisprudência e ratificada pela
promulgação da Lei nº 12.850/2013.
226. Portanto, impossível a condenação do
acusado Sr. Vaccari pelo crime de lavagem de dinheiro.
227. Toda a argumentação ministerial não
enfrenta o fato de que, à época, não havia definição do que seria
organização criminosa, posto que impossível superar-se tal óbice.
228. Diante de todo o exposto, restou evidente
que o acusado Sr. Vaccari não participou de qualquer ato de
gestão da Bancoop até assumir a presidência, primeiro
interinamente, em novembro de 2004, depois efetivamente, em
2005, não podendo ser responsabilizado por qualquer conduta
criminosa, no âmbito da Cooperativa, antes disso. Aliás, nada de
ilícito pode ser imputado ao acusado, pois, como visto, assim que
assumiu a presidência da Cooperativa foi sensível a mudança de
rumo e a disposição em aperfeiçoar os procedimentos internos da
Bancoop, postura que foi reconhecida por quase todos.
DO PEDIDO
229. Primeiramente, se requer o acolhimento
das preliminares arguidas, para decretar a NULIDADE ABSOLUTA DO FEITO.
230. Diante do acima exposto, caso não seja esse
o entendimento de Vossa Excelência, requer seja convertido o
presente julgamento em diligência, a fim de que se abra prazo
razoável para a defesa analisar o extenso volume de informações
juntadas aos autos pelo Ministério Público (mais de 17 mil
páginas em mídia digital), evitando-se o cerceamento de defesa,
garantindo-se a paridade de atuação entre acusação e defesa,
além de privilegiar o devido processo legal.
231. Por fim, diante de tudo o que foi produzido
durante a instrução processual, requer seja julgada improcedente
a presente Ação Penal, ABSOLVENDO-SE o acusado Sr. Vaccari,
tudo como medida da mais inteira JUSTIÇA!
São Paulo, 05 de abril de 2016.
LUIZ FLÁVIO BORGES D’URSOOAB/SP nº 69.991