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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECE CENTRO DE EDUCAÇÃO - CED CURSO DE PEDAGOGIA ALUNA: HELAINE CAVALCANTE PORTELA MATRÍCULA Nº 0938450 O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADEi

Monografia Helaine Portela

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Este trabalho analisa o processo educativo de jovens que cumprem medida socioeducativa no Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF) em Fortaleza-CE. A lei garante a esses jovens a educação formal. O CSMF administra esta educação com escola, professores, pedagogos e pessoal de suporte. A partir da observação in loco e posteriormente, por meio de questionário aplicado aos adolescentes, foi analisado o processo educativo disponível a esses jovens. O adolescente infrator é um indivíduo em processo de construção da personalidade e a educação formal, sendo um direito, é também um dos mecanismos que contribuem para essa construção. O atendimento a esse direito tem de ser efetivado mesmo na situação peculiar de semiliberdade. A pesquisa teve a forma de pesquisa de campo, tipo estudo de caso. Foi realizada em uma instituição de medida de semiliberdade: o Centro de Semiliberdade Mártir Francisca. Foram realizadas visitas para observação do ambiente em que ocorre o processo ensino-aprendizado. Foram observados os métodos de ensino, a postura dos instrutores, o progresso dos alunos bem como a adequabilidade das instalações e do projeto político pedagógico. Foi aplicado um questionário com os adolescentes sobre questões relacionadas ao processo educativo ao qual eles estão submetidos e entrevista com a diretora, o coordenador pedagógico, instrutores, funcionários e alunos.

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECECENTRO DE EDUCAÇÃO - CEDCURSO DE PEDAGOGIA ALUNA: HELAINE CAVALCANTE PORTELAMATRÍCULA Nº 0938450

“O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE”

FORTALEZA (CE)2012

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO CEARÁ – UECECENTRO DE EDUCAÇÃO - CEDCURSO DE GRADUAÇÃO EM PEDAGOGIAALUNA: HELAINE CAVALCANTE PORTELAMATRÍCULA Nº 0938450

“O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE”

Monografia apresentada à Banca Examinadora do Curso de Pedagogia da Universidade Estadual do Ceará, sob orientação da Professora Lia Machado Fiúza Fialho

FORTALEZA (CE)2012

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HELAINE CAVALCANTE PORTELA

“O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDAS SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE”

Monografia Aprovada em 17 de julho de 2012

BANCA EXAMINADORA

____________________________________________________

Profª. Ms. Lia Machado Fiúza Fialho - Orientadora

Universidade Federal do Ceará - UFC

____________________________________________________

Profª. Ms. Rosa Maria Barros Ribeiro – Examinador Interno

Universidade Estadual do Ceará - UECE

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Page 4: Monografia Helaine Portela

AGRADECIMENTOS

A Jeová, o criador do universo, por me dar a vida e o conhecimento da verdade.

Aos meus pais, por me transmitirem a vida e me orientarem no caminho da honra,

honestidade, humildade e sinceridade de coração.

Aos meus colegas de curso pelo necessário companheirismo e pela ajuda na realização

das tarefas escolares.

Às minhas amigas Fernanda Clara, Manuela, Natália e Mirley por trilharem este

caminho junto comigo, dando-me apoio e credibilidade.

Aos amigos Erich, Pâmela, Cristiano, Elaine, Vívian e Emanuele pelos momentos de

convívio e usufruto da amizade que aprendemos a cultivar.

Aos professores do curso de pedagogia da UECE pela valorosa educação transmitida.

À professora Lia Fialho pela dedicada orientação deste trabalho.

Ao professor José do Nascimento Portela pela valorosa contribuição e assistência em

todos os passos deste trabalho.

Aos meus irmãos Israel, Istone, Saulo e Juliete pelos momentos de infinito valor que

compartilhamos e que me ajudaram a trilhar na minha estrada até agora.

À minha prima Janis Joplin, pelo suporte emocional e intelectual.

À minha sobrinha Júlia Helen pela companhia carinhosa que ajudou a suportar os

momentos mais difíceis.

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Page 5: Monografia Helaine Portela

Em algum lugar além do arco-íris

Bem lá no alto

Os sonhos que você sonhou se tornam realidade

Um dia vou acordar onde as nuvens ficaram para trás

Onde os traumas derretem como balas de limão

Longe, acima do topo das chaminés,

É ali que você vai me encontrar

E os sonhos que ousei sonhar...

Oh! Por quê? Por que não?

Traduzido e adaptado de “Somewhere over the rainbow” de E.Y.Harburg e Harold Arlen.

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Page 6: Monografia Helaine Portela

RESUMO

Este trabalho analisa o processo educativo de jovens que cumprem medida

socioeducativa no Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF) em Fortaleza-CE.

A lei garante a esses jovens a educação formal. O CSMF administra esta educação com

escola, professores, pedagogos e pessoal de suporte. A partir da observação in loco e

posteriormente, por meio de questionário aplicado aos adolescentes, foi analisado o

processo educativo disponível a esses jovens. O adolescente infrator é um indivíduo em

processo de construção da personalidade e a educação formal, sendo um direito, é

também um dos mecanismos que contribuem para essa construção. O atendimento a

esse direito tem de ser efetivado mesmo na situação peculiar de semiliberdade. A

pesquisa teve a forma de pesquisa de campo, tipo estudo de caso. Foi realizada em uma

instituição de medida de semiliberdade: o Centro de Semiliberdade Mártir Francisca.

Foram realizadas visitas para observação do ambiente em que ocorre o processo ensino-

aprendizado. Foram observados os métodos de ensino, a postura dos instrutores, o

progresso dos alunos bem como a adequabilidade das instalações e do projeto político

pedagógico. Foi aplicado um questionário com os adolescentes sobre questões

relacionadas ao processo educativo ao qual eles estão submetidos e entrevista com a

diretora, o coordenador pedagógico, instrutores, funcionários e alunos.

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ABSTRACT

This paper analyzes the educational process of young people who abide social-educative

measures in Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF) in Fortaleza. The law

guarantees for these young people the education. The CSMF administers this education

with school, teachers, educators and support staff. From the observation and later,

through a questionnaire applied to adolescents, we analyzed the educational process

available to these young people. The adolescent offender is under an individual process

of construction of the personality. And formal education, being a right, it is also one of

the mechanisms that contribute to this construction. Compliance with this right must be

realized even in the peculiar situation of semi-freedom. The research took the form of

research in field, case-study. It was held in a semi-liberty measure institution: the

Centro de Semiliberdade Mártir Francisca. Visits were made to observe the

environment in which occurs the teaching-learning process. We observed the teaching

methods, the attitude of the instructors, students' progress and the adequacy of facilities

and the political pedagogical project. We used a questionnaire with adolescents on

issues related to the educational process to which they are submitted and interviews

with the director, the pedagogical coordinator, instructors, staff and students.

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LISTA DE SIGLAS

CEABM Centro Educacional Aldaci Barbosa Mota

CECAL Centro Educacional Aluísio Lorscheider

CEDB Centro Educacional Dom Bosco

CENTEC Centro de Ensino Tecnológico

CEPA Centro Educacional Patativa do Assaré

CESF Centro Educacional São Francisco

CESM Centro Educacional São Miguel

CSMF Centro de Semiliberdade Mártir Francisca

DCA Delegacia da Criança e do Adolescente

ECA Estatuto da Criança e do Adolescente

LAC Liberdade Assistida Comunitária

LAI Liberdade Assistida Institucional

LDB Lei de Diretrizes e Bases

LDBEN Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LOAS Lei Orgânica da Assistência Social

SINASE Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

STDS Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social

SGDCA Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente

URLBM Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 1

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1. CONCEITOS E PRESSUPOSTOS SOBRE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE 5

1.1 Pressupostos sobre educação 5

1.2 A sociabilidade do adolescente em regime capitalista 7

2. ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: APORTES LEGAIS E CONCEITUAIS

12

2.1 Violência e abandono: o ato infracional em debate 12

2.2 As medidas "socioeducativas" 18

2.3 A escolarização do adolescente infrator na legislação 23

2.4 Metodologia da investigação 30

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O PROCESSO EDUCATIVO NO CENTRO DE SEMILIBERDADE MÁRTIR FRANCISCA

34

3.1 locus da pesquisa: Centro de Semiliberdade Mártir Francisca 34

3.2 O corpo profissional 36

3.3 A proposta institucional 37

3.4 O processo educativo de adolescentes na concepção dos pesquisados

40

3.4.1 Respostas do questionário 40

3.4.2 A visão do adolescente acerca da educação formal 42

3.4.3 A visão dos educadores 43

REFLEXÕES FINAIS 46

REFERÊNCIAS 48

Anexo A: Questionário 51

Anexo B: Imagens do Centro de Semiliberdade Mártir Francisca 52

Anexo C: Termo de Consentimento Livre Esclarecido 53

O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES QUE CUMPREM MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE SEMILIBERDADE

INTRODUÇÃO

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O objetivo desta pesquisa é compreender como se dá o processo educativo, por

intermédio da educação formal, de adolescentes em instituição de reabilitação. O

interesse pelo tema surgiu a partir da observação da ação de profissionais da educação

sobre adolescentes infratores veiculados pela mídia. O objetivo da “detenção” do

adolescente é reabilitá-lo socialmente. A atividade educacional nestas instituições

deveria influir no comportamento do adolescente visando sua inserção ou reinserção na

sociedade. A qualidade dessa educação torna-se fundamental nesse processo, visto que

o adolescente foi privado da frequência à escola convencional. Neste contexto, surgem

questionamentos importantes que merecem respostas: Que escola está sendo oferecida a

esses jovens, uma vez que a própria escola convencional pública, em muitos aspectos,

deixa de atender a uma formação de qualidade dos jovens? Que nível de atenção é dado

por parte das autoridades a esse segmento escolar? Se a escola pública convencional

precisa de muitos ajustes para melhorar a qualidade, de que ajustes necessita a escola

para jovens em regime de semiliberdade?

O ambiente escolar nessas instituições tem características diferentes da escola

convencional. Visto tratar-se de ambiente educacional especifico, a análise desse lócus e

da qualidade da educação é essencial na eficácia da ressocialização. O processo de

construção da cidadania da criança e do adolescente é alimentado por mecanismos de

interação e articulação de valores, à medida que sua identidade pessoal os coloca diante

de escolhas no ambiente que os abriga. Dessa maneira, a educação ocorre com a

participação da escola formal, da família e da sociedade.

O adolescente é um individuo cuja personalidade está em processo de construção e a

escola formal, além de ser um direito assegurado legalmente, é um dos mecanismos que

contribuem para essa construção. Para tal, além de professores preparados e sensíveis as

peculiaridades vivenciadas pelos jovens em conflito com a lei, também é importante que

os instrutores, profissionais que organizam a dinâmica diária e fiscalizam a boa conduta

dos internos, sejam qualificados para lidar com metodologias pedagógicas e didáticas

para atingir as particularidades de alunos diferenciados.

O atendimento ao direito à educação formal tem de ser realizado mesmo na situação

peculiar de privação de liberdade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no

Cap. 4, Art. 53, afirma que “A criança e o adolescente têm direito à educação, visando

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ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho” (ECA, 1990). Nesse Capítulo, asseguram-se direitos a:

Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Direito de ser respeitado por seus educadores;

Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias

escolares superiores;

Direito de organização e participação em entidades estudantis;

Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

A escola formal compõe a estrutura educacional que dá ao jovem oportunidade de

crescimento através do prosseguimento nos estudos, preparo para o mercado de trabalho

e exercício da cidadania (LDB 9394/96). No caso do jovem infrator, a escola formal

ganha mais uma função, ressocializar. Visando transformar o jovem em conflito com a

lei em um cidadão útil à sociedade, que seguirá as leis e normas sem mais desrespeitá-

las, vivendo em harmonia com a sociedade.

Diante de um quadro educacional que, em situação de normalidade do seu

funcionamento, não consegue alcançar seus objetivos pré-definidos em lei, é um desafio

ainda maior motivar o jovem infrator para que tenha anseios fraternos, estabeleça alvos

pessoais nobres, assimile e construa conhecimentos pertinentes à vida salutar em

sociedade e desenvolva habilidades profissionais.

Na tentativa de compreender o processo de educação formal ministrado a jovens que

cumprem medida socioeducativa de semiliberdade, o presente estudo analisa a educação

escolar formal do adolescente privado parcialmente da liberdade. E tem como

problemática principal: Que tipo de educação formal vivenciam os adolescentes

sentenciados que cumprem medida socioeducativa de semiliberdade no Mártir

Francisca, única instituição masculina do estado do Ceará?

É algo incomum educar formalmente um adolescente em ambiente fechado, porque

educação pressupõe liberdade. Esta situação cria um tipo novo de atividade escolar. Um

quadro de dificuldades específicas se apresenta: o adolescente não tem um tempo de

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permanência suficiente na instituição para conclusão de um ciclo educacional, as idades

e níveis de escolarização são bastante variados, o número de adolescentes é insuficiente

para formar classe regular por ser reduzido, e ao mesmo tempo o ensino particular não é

adotado, dentre outras nuances que serão discutidas posteriormente.

Importa esclarecer que devido a regimes de progressão da sentença, a qualquer

momento o jovem pode deixar a instituição, somando-se a esse fato, há a dificuldade de

qualificação dos profissionais envolvidos no processo educativo, principalmente desse

público específico, engloba-se nesse caso: profissionais da rede de atendimento

especializado, promotoria, juizado da infância e da juventude, conselhos tutelares,

agentes de programas governamentais de apoio e assistência, educador social, além de

professores e pedagogos.

O projeto pedagógico aplicado deveria ser específico para esse público, pois o

aprendizado dividido em séries, o conteúdo estruturado nos livros didáticos e as

atividades que se aplicam normalmente em salas de aula comuns, talvez não sejam

adequadas nesse caso. Configura-se necessário levar em consideração que a

participação no ensino formal, os cursos profissionalizantes, atividades pedagógicas,

esportivas e culturais, e por último, o aspecto da segurança, disciplina e reincidência do

jovem compõem uma conjuntura específica que não pode deixar de ser pensada nas suas

singularidades. A postura dos professores e pedagogos face aos alunos internos força a

construção de um perfil profissional diferenciado, repleto de respeito à diferença e

desnudo de preconceito. Assim, a análise do tipo de educação formal praticada nessas

instituições é necessária para subsidiar a construção ou reformulação do projeto

pedagógico, adequando-se, cada vez melhor, a esse tipo de público e contexto escolar.

É importante para o pedagogo, compreender as singularidades oriundas da situação

peculiar da semiliberdade para que possa elaborar um projeto pedagógico que atenda a

esse público especifico. Os recursos materiais da escola e o conhecimento dos

professores devem ser direcionados para adolescentes com conflitos de relacionamento

no meio social, ou de cumprimento e aceitação de normas instituídas. Visto que a sala

de aula é um espaço de convivência, esse ambiente não pode tornar-se um campo de

conflitos para esses jovens, mas um espaço de negociação, mediação e construção do

conhecimento. O que requer do pedagogo adequação e flexibilidade na utilização dos

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diferentes métodos de ensino e das mais variadas técnicas, visando facilitar a

aprendizagem de maneira comprometida, responsável e envolvente.

Para pesquisar esta temática, elegemos como objetivo geral investigar o processo de

educação formal desenvolvido na instituição de medida socioeducativa de

semiliberdade Mártir Francisca. Assim pretendemos, de forma mais específica,

identificar os métodos de ensino utilizado, o projeto pedagógico, analisar os recursos

didáticos e a qualificação dos instrutores e verificar a aplicação do projeto pedagógico

por parte dos profissionais. Essa análise permitirá inferir sugestões, críticas e

comentários pertinentes que poderão nortear a atividade profissional do professor, do

instrutor e demais envolvidos no processo de ressocialização, bem como a elaboração

de um projeto pedagógico mais adequado às especificidades da semiliberdade.

Objetivos

Objetivo Geral

Analisar o processo educativo desenvolvido na unidade de semiliberdade para

adolescentes em conflito com a lei, Mártir Francisca.

Objetivos específicos

Conhecer o método de ensino aplicado;

Identificar os recursos didáticos utilizados;

Averiguar a qualificação dos educadores;

Compreender o projeto pedagógico da Instituição e sua relação com a educação

ministrada;

Compreender como se dá o processo educativo formal no Centro de

Semiliberdade Mártir Francisca.

1. CONCEITOS E PRESSUPOSTOS SOBRE EDUCAÇÃO E SOCIEDADE

1.1 PRESSUPOSTOS SOBRE EDUCAÇÃO

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"A educação é a arma mais poderosa que você

pode usar para mudar o mundo."

Nelson Mandela

Educação engloba os processos de ensinar e aprender. É um fenômeno observado em

qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, responsável pela sua manutenção

e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais

de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu

grupo ou sociedade.

Tendo como foco o indivíduo, a Educação visa o desenvolvimento integral do

indivíduo: corpo, mente, espírito, saúde, emoções, pensamentos, conhecimento e

expressão, gerando benefício para a própria pessoa, mas também contribuindo com sua

integração harmônica e construtiva com a sociedade em que o indivíduo está inserido.

Conforme a Lei 9394/96 – Lei de Diretrizes e Bases, em seu artigo 1° “A educação

abrange processos formativos que se desenvolvem na vida familiar, na convivência

humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos movimentos sociais e

organizações da sociedade civil e nas manifestações culturais”.

De acordo com o Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, educação é:

“Processo de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral da criança e do ser humano em geral, visando à sua melhor integração individual e social. Aperfeiçoamento integral de todas as faculdades humanas”. (HOLANDA, 1986, p.619).

Alguns pensadores manifestaram o que pensam sobre educação:

Paulo Freire disse: “a educação para a liberdade implica exercício constante,

permanente, da conscientização que se volta para si mesma e para sua relação com o

mundo, tentando encontrar razões que expliquem e esclareçam a situação concreta do

homem no mundo”. (TORRES, 2003, p.31)

Já Bertrand Russell (RUSSELL, 1982) afirma:

A educação, no sentido em que a entendo, pode ser definida como a formação, por meio da instrução, de certos hábitos mentais e de certa perspectiva em relação à vida e ao mundo. Resta indagar de nós

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mesmos, que hábitos mentais e que gênero de perspectiva pode-se esperar como resultado da instrução? Uma vez respondida essa questão, podemos tentar decidir com o que a ciência pode contribuir para a formação dos hábitos e da perspectiva que desejamos.

Friedrich Froebel (1826), citado em (FROEBEL, 2001), comunga com as ideias de

Russell (1982) e Freire (1979) quando relata:

A educação é o processo pelo qual o indivíduo desenvolve a condição humana, com todos os seus poderes funcionando com harmonia e completa, em relação à natureza e à sociedade. Além do mais, era o mesmo processo pelo qual a humanidade, como um todo, se elevando do plano animal e continuaria a se desenvolver até sua condição atual. Implica tanto a evolução individual quanto a universal.

A partir dos teóricos acima referenciados percebe-se que a educação exerce um papel

importante no processo de humanização do homem e na transformação da sociedade. A

educação transforma a sociedade e vice-versa. Portanto, a evolução da Educação está

intrinsecamente ligada à evolução da sociedade. Gadotti (GADOTTI, 1999) afirma que

a prática da Educação é muito anterior ao pensamento pedagógico, pois este surge com

a reflexão sobre a prática, pela necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de

determinados fins e objetivos. Inserido nesse contexto, pode-se inferir que o professor é

um dos principais agentes possuidores de meios para transformar a Educação por

intermédio de sua prática pedagógica consciente e renovadora, com metodologias

coerentes com a realidade do educando.

Não há, aqui, lugar para uma visão ingênua que acredita que a educação sozinha

transforma a sociedade, mas como salienta Paulo Freire (1978), sem ela tampouco a

sociedade muda. Nesse cenário, ninguém está isento do processo educativo. Em casa, na

rua, na escola, de um modo ou de outro, todos se envolvem no processo de aprender, e

ensinar. Para saber, para fazer, para ser ou para conviver, todos os dias, a educação

cruza a rotina das pessoas. Seja de forma estruturada na escola ou de modo informal no

dia-a-dia com o convívio social com outras pessoas. Por isso é que cada indivíduo

sempre tem algo a dizer sobre a forma de educação que lhe invade a vida.

A educação é de fato um processo natural, que se dá com a pessoa desde o nascimento.

Nesse processo, aprende-se uma infinidade de coisas importantes para o

desenvolvimento individual e, por consequência, da sociedade. O processo de

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aprendizagem é contínuo e espontâneo: Quem ensina uma criança a caminhar ou a

identificar o significado dos sons, ou a pronunciar as primeiras palavras? Neste caso, a

aprendizagem acontece naturalmente. No entanto, a gramática da língua que se fala, a

linguagem abstrata dos símbolos, só se aprende pela ação da educação formal na escola.

A educação ajuda a pensar sobre os tipos de homens, influencia o processo de produção

de crenças e ideias, de qualificações e especialidades que envolvem as trocas de

símbolos, bens e poderes que, em conjunto, constroem as mais diversas sociedades.

Da família à comunidade, a educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as

incontáveis práticas dos mistérios do aprender; primeiro, sem classes de alunos, sem

livros e sem professores especialistas; mais adiante com escolas, salas, professores e

métodos pedagógicos.

A educação pode existir livre e entre todos, pode ser um instrumento que as pessoas

usam para tornar comum o que é individual, como saber, ideia, crença e para tornar

individual aquilo que é comunitário como bem, trabalho e saúde. Ela pode, também,

existir imposta por um sistema centralizado de poder, que usa o saber e o controle sobre

o saber como armas que reforçam a desigualdade entre os homens, na divisão dos bens,

do trabalho e dos direitos.

1.2 A SOCIABILIDADE DO ADOLESCENTE EM REGIME CAPITALISTA

A lógica do capitalismo é a individualização, a valorização de bens em detrimento das

qualidades individuais. A vaidade, a riqueza, o ganho, dentre outras, são qualidades

saudáveis para o capitalismo. O indivíduo é estimulado a possuir o maior número de

bens e, consecutivamente, a comprar e consumir cada vez mais. O adolescente como ser

social sofre as influências desse sistema. Os desejos de consumo, a busca pelo

enriquecimento o convida a participar dessa corrida, principalmente quando não possui

princípios sólidos e concepções críticas dos fatos e acontecimento, de tal maneira que:

“Todos são convidados a serem sujeitos funcionais, consumidores e produtores. A

sociedade administrada, totalmente orquestrada, se apresenta como única forma de

existir e convida todos a participar dessa lógica.” (CHAVES, 2007)

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Page 17: Monografia Helaine Portela

A identificação social em uma sociedade de mercado é determinada pela constatação

dos bens/objetos que o indivíduo possui. O processo de diferenciação entre indivíduos,

e entre grupos dentro do meio social, ocorre mais acentuadamente à medida que a

diferença de posses aumenta. Mostrar capacidade para consumir, expressa a

classificação de importância de um indivíduo em relação ao seu grupo.

A situação do adolescente diante de uma sociedade que uniformiza seus membros torna-

se singular, devido ao processo de desenvolvimento do adolescente que está em

andamento. O adolescente que não possui condições financeiras para obter o objeto de

consumo, objeto do desejo de “todos” consagrado pela mídia, impedido no seu íntimo

instintivo, poderá encontrar no crime um meio para obtê-lo. Tal argumento encontra

amparo nas ideias de GAUER quando explicita: “As questões contemporâneas que

instigam os furtos e os roubos representam o desejo de consumo e poder – declarado

pelo significante dinheiro, como mediador do reconhecimento almejado – e de inclusão

social.” (2010, p.86).

O desejo de obtenção de bens não é privilégio de quem tem condições de satisfazê-lo. É

ingênuo acreditar que só os ricos desejam. Impulsionado pela propaganda, o desejo é

construído no íntimo da pessoa e afeta todas as classes sociais. O adolescente, sem

distinção de poder aquisitivo, está mergulhado nessa atmosfera. Segundo Gonçalves

Filho (1998) o consumismo é uma forma regredida de desejo: forma em que o desejo

mais se aproxima de uma necessidade orgânica. As sociedades mercantilistas são

inimigas do desejo, condenando o indivíduo à eterna insatisfação pelo consumismo.

Sabe-se a lógica do consumo não pode ser a única responsável pela realização do ato

infracional, pois questões familiares, sociais, orgânicas, educativas, dentre outras

também interferem sobremaneira no que concerne a prática de atos ilícitos, mas se pode

ignorar que a sociedade brasileira é “caracterizada por representar um sistema muitas

vezes excludente, a sociedade capitalista contemporânea define-se pela sua forma de

acumulação flexível e pela alta competitividade no mercado de trabalho” (HARVEY,

1994). Isso ocorre de tal maneira que muitos jovens embebidos dos princípios

meritocráticos que postulam o fracasso da ascensão social apenas ao indivíduo,

ignorando as condições sociais e desiguais possibilidades de vida acabam por visualizar

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Page 18: Monografia Helaine Portela

nas ações ilícitas a forma mais fácil e prática de alcançar bens materiais, respeito entre

seus pares e desejos de consumos realizados. Pois “enquanto um sistema excludente, a

lógica de mercado que delineia os caminhos do capital desqualifica o trabalhador,

considerando-o um ser descartável, fragmentando as relações sociais em favor dos

avanços tecnológicos da era pós-moderna” (BRAVERMAN, 1987), a valorização do

individuo muitas vezes se dá pelo que ele possui em riquezas materiais e não pelos tipos

de sentimentos que possui.

Avanços tecnológicos, promessas de inserção no grupo dos que desfrutam do melhor da

vida, segurança no futuro, afastamento da miséria, somados às exigências de um

mercado global competitivo, incidem diretamente na vida da população, em especial

dos adolescentes que estão iniciando sua participação nessa conjuntura social do

trabalho.

A estrutura familiar em muitos casos fornece pilares básicos que viabilizam condições

aos indivíduos de obter inserção social pelas vias honestas, pelo trabalho, pelo mérito

educacional. Mas aqueles que não desfrutam dessa estrutura adequadamente lidam com

maior impossibilidade de colocação no mercado de trabalho, e são mais facilmente

atraídos pelo caminho da delinquência, vislumbrando nesta uma fuga ou alternativa para

obter aceitação em gangues ou outros subgrupos de semelhantes, bem como maior

conforto e a ascensão social desejada.

Na fase da adolescência, o corpo assume importância de identificação social. O

adolescente oferece o corpo como objeto desejável aos outros. Surge a possibilidade de

enfatizar os relacionamentos e de ser reconhecido, e visto, socialmente. Com este

objetivo em mente, o adolescente se esforça na busca de identificação com os grupos

com os quais se relaciona. A aparência, a sexualidade, o poder, iniciam o processo de

situação no meio social. Também a possibilidade de conquistas de grupos sociais ainda

não compartilhados. A influência capitalista torna-se mais forte. A necessidade de

trabalhar, estudar, ganhar dinheiro, frequentar lugares desejados, comprar, conquistar o

sexo oposto pela exibição do poder financeiro são instrumentos capitalistas

influenciadores do comportamento individual. Sobre adolescentes e dinheiro, Spitz

afirma:

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Neste mundo materialista e capitalista em que vivemos, o dinheiro é citado a cada instante e por todos os meios de comunicação. O indivíduo é valorizado pelo que possui, o destaque vai para as pessoas que conseguiram ganhar dinheiro e ostentam sua riqueza. Em uma idade em que não temos dinheiro, mas muitos desejos materiais, isto se torna um verdadeiro problema. (SPITZ, 1994, p.206)

Para a inserção nos grupos sociais, o adolescente precisa seguir as regras impostas por

esses grupos. Emprego público requer concurso, estudo, disciplina, vida escolar intensa

e habitual. Classe média, carro, casa, moto, lazer, são alvos que requerem esforço para

ser alcançados. As posições no topo da pirâmide de estrato econômico que a sociedade

oferece requerem um preço: esforço pessoal somado à condições propícias de boa

educação e finanças confortáveis para investimento em negócios promissores. Todas

essas expectativas podem ser desalentadoras para quem não tem “capacidade

monetária” para acompanhar e auxiliar o indivíduo em formação na escalada biossocial.

(CASTRO, 2011). Para quem não foi treinado a cumprir regras e desenvolver disciplina,

ou deixou-se pressionar em demasia pelo desejo do consumo, torna-se o adolescente

desestruturado socialmente, que adere aos métodos antissociais de aquisição destes

bens, acompanhando grupos marginais estabelecidos.

O pressuposto acima se dá de tal maneira que, mesmo reconhecendo que não se vive em

sociedade estática ou sem possibilidades de mudança não estrato social, presencia-se,

ainda, uma educação dual: de escolas particulares para os mais abastados que podem

custeá-las e obter melhor qualidade no ensino e escolas públicas para os mais

desfavorecidos economicamente, que devem se contentar com a educação muitas vezes

de qualidade inferior a ministrada nas instituições privadas. Comungando com o

exposto Gauer afirma:

Os adolescentes de classes mais favorecidas permaneçam apoiados pelo núcleo familiar para ampliar seu conhecimento intelectual, prolongando a adolescência. Quando não há recursos na família para aprimoramento laboral, atribui-se a responsabilidade ao Estado. (GAUER, 2004, p.69).

O meio social, os grupos dos quais o adolescente participa e se identifica, exercem forte

influência na confirmação de sua identidade social. Notadamente durante a puberdade,

quando o adolescente, por diversas razões (afetivas, familiares, econômicas, ou sociais)

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Page 20: Monografia Helaine Portela

é forçado a abrir mão de seus referenciais infantis e assumir obrigações, deveres, e

enfrentar problemas que, em princípio, não deveriam fazer parte de sua realidade. Seja

por não estar preparado ou por não ter, ainda, maturidade para resolvê-los. Esse fato é

normalmente verificado com os jovens de classes econômicas mais baixas, que são

incumbidos de auxiliar, ou mesmo de prover sozinho, de alguma forma o sustento da

família.

Os jovens abandonados afetiva e economicamente, que inicia o processo de busca de

inserção social, lida com dificuldades de acesso aos grupos que desfilam à sua frente

todos os dias sem poder acompanhá-los (Uma das características do capitalismo é a

ostentação das consecuções materiais – sucesso e exibição se associam como respiração

e vida).

Salienta-se que aspectos culturais, afetivos e econômicos definem a afirmação da

identidade do sujeito. O meio social absorve as referências parentais e infantis que o

adolescente possui e oferece outras possibilidades de identificação.

Fator altamente preponderante que se destaca como causa da infração juvenil é a

desigualdade no poder aquisitivo. E ainda as contradições entre as possibilidades de

consumo e a impossibilidade de sua concretização. O regime capitalista fundamenta-se

em produzir e vender. Para isso, os consumidores são estimulados ao consumo

desenfreado. Este sistema apresenta um número infindável de possibilidades de

consumo, e bombardeia toda a população com propaganda. Incluídos aqueles que não

têm condições efetivas de realizar o desejo arquitetado pela propaganda. Nestas

circunstâncias, instala-se uma atitude reivindicatória por parte do adolescente: seja de

uma posição, de um bem, de uma visibilidade social, de um lugar nesse mundo de

infinitas possibilidades e que “todos” estão usufruindo (a propaganda impõe a ideia de

que todos podem usufruir de suas delícias). Os que não conseguem acesso aos bens são

deixados de lado pelos próprios costumes sociais, em um fenômeno denominado de

subcultura adolescente (SILVA, 2010). Dessa subcultura decorrem e se expandem as

reações desses adolescentes, tidas muitas vezes como sinal de rebelião, mas que dizem

respeito a uma maneira de demonstrar que não aceitam passivamente a situação em que

vivem.

xx

Page 21: Monografia Helaine Portela

Em uma sociedade de massificada que leva à supervalorização do poder aquisitivo, o

jovem tem necessidade de ser educado para se adaptar. À medida que a sociedade

brasileira definiu seu estilo de vida capitalista, à base de tecnologia, industrialização e

urbanização, com decorrente recompensa monetária (salários), percebe-se a importância

de uma reformulação na educação, que combata a alienação e propicie uma visão crítica

acerca das propagandas publicitárias. Segundo Dominguez:

Na ocasião em que recebe o diploma de ensino médio, o adolescente típico já foi exposto a bem mais de cem mil anúncios, o que equivale a uma taxa de três a quatro horas por semana. A intenção da tecnologia da propaganda, equipada com a pesquisa de mercado e uma sofisticada psicologia, é desequilibrar-nos emocionalmente — prometendo em seguida resolver o nosso problema com um produto. (DOMINGUEZ, 2007, p.63)

No âmbito pessoal, prevalecem as características de globalização econômica com

efeitos significativos no âmbito social. O adolescente quer fazer parte desse mundo. E a

propaganda adotou o adolescente como um dos pilares de seu edifício financeiro. Um

dos alvos da máquina geradora de dinheiro. Revistas, filmes, discos, livros, jogos,

computadores, roupas, produtos de consumo que, antes, eram de adultos, passaram a

compor a demanda de adolescentes. A música pop e a indústria do entretenimento,

componentes importantes do capitalismo, oferecem variados produtos. O adolescente

deseja adquirir esses produtos. A busca por obtê-los, influenciam seu comportamento e

inserção na sociedade.

2. ADOLESCENTES EM CONFLITO COM A LEI: APORTES LEGAIS E CONCEITUAIS

2.1 VIOLÊNCIA E ABANDONO: O ATO INFRACIONAL EM DEBATE

A expressão “menor infrator” refere-se ao indivíduo com idade situada abaixo da idade

penal, 18 anos, geralmente criança ou adolescente, que pratica algum ato classificado

pela lei como infração.

xxi

Page 22: Monografia Helaine Portela

No Brasil, o termo “menor infrator” foi inicialmente utilizado no setor jurídico, depois

acabou ganhando amplo uso nos meios de comunicação. De acordo com o Estatuto da

Criança e do Adolescente (ECA) brasileiro, as contravenções praticadas por tais

adolescentes são chamadas de infrações ou “atos infracionais”, e as penalidades são

chamadas de “medidas socioeducativas”. Os adolescentes infratores estão sujeitos às

medidas socioeducativas listadas no Capítulo IV do ECA, entre as quais está a

internação forçada (detenção física) por um período de no máximo três anos, conforme

artigo 121, § 3º, do referido Estatuto.

Quando se assiste a um programa de televisão sobre violência, é inevitável a exposição

de roubos à mão armada e assassinatos, muitos deles praticados por jovens. Mas,

invariavelmente as reportagens se referem aos atos isolados dos indivíduos que

amedrontam a comunidade e suas famílias, relevando a terceiro plano a reflexão sobre

as causas do ato ilegal e da formação do menor infrator. Aparenta ao espectador que o

menor infrator surge dentro da sociedade já no estado predador. Oriundo de um mundo

paralelo, ou de um submundo, e que é invasor do “nosso” mundo. Transparece que a

situação do menor não pode ser mudada, mas que é somente passível de amputação

como gangrena social. Configurando-se em um mal que se resolve com extirpação cada

vez que for gerado sem que seja necessário sondar a causa que promove a geração de

indivíduos com esse perfil.

Diante do crime, a sociedade se sente incomodada e vigilante, pois estão em risco a

propriedade, a segurança e o bem-estar. Decorre, em seguida, o clamor por aparato

policial, segurança nas ruas e repressão ao infrator. Porém, o que não é aparente na

mídia são as causas do fenômeno da violência. Aquilo que se vê na tela da televisão tem

origem em âmbitos mais recônditos da sociedade.

A sociedade não oferece ao indivíduo possibilidades para que ele seja feliz, mas o coloca a todo instante sob tensão, insegurança e medo, e prega, em nome da auto-conservação, a capacidade para suportar as adversidades, a resistência ao sofrimento... ao valorizar essa lógica, instiga a violência. (CHAVES, 2007, p. 38)

Desse modo, cabem os seguintes questionamentos: Como surge esse menor e seu ato

infrator? Que forças contribuíram para sua formação? Qual a responsabilidade do

xxii

Page 23: Monografia Helaine Portela

cidadão e do Estado? Estas questões são pertinentes visto que ninguém nasce médico,

engenheiro ou assaltante, mas cada um é formado em um ambiente de convívio

chamado sociedade. A partir de uma visão mais abrangente pode-se chegar à matriz da

violência das ruas protagonizada pelo menor.

Toda vez que direitos humanos básicos são suprimidos, pratica-se um ato de violência

com consequentes males sociais. Tal supressão de direitos pode ser perpetrada por ações

diretas do cidadão ou pelo Estado por meio de seus representantes ou pela passividade

de ambos em não encarar a causa do problema, limitando-se a clamar por ação policial.

Cabe ao cidadão exigir ação efetiva do Estado para que cesse de alimentar, com o

descaso e a inoperância, o celeiro que armazena o número crescente de miseráveis à

mercê da inadequação cidadã e, consequentemente, da infração. Assim como o cidadão

vai às ruas em passeata pedir mais segurança, devia também pedir socorro para as

famílias abandonadas que estão à margem da sociedade. É dessas famílias

desestruturadas, ou que sequer foram formadas, que podem surgir as crianças que mais

tarde se tornam infratores.

A miséria que leva ao crime não é apenas de alimento, mas inclui a falta de moradia, de

família, da cidadania, de educação e saúde. Se o cidadão não exige a garantia de direitos

humanos básicos para todos os membros de sua sociedade terá como resposta a ação

prejudicial do infrator, indivíduo que não consegue se inserir no conjunto de normas

estabelecido e seguido pela sociedade. A violência do menor infrator nas ruas é a ponta

do iceberg. Sob a superfície encontra-se a violência da desigualdade social decorrente

da injusta repartição das tarefas e dos privilégios individuais. Esta injustiça leva ao

irregular aproveitamento dos bens produzidos pela comunidade. O fato de crianças

permanecerem fora das escolas, cerceadas de direitos que lhe são inerentes e

constitucionalmente consagrados, também configura uma violência que não é divulgada

na mídia. Esta forma de violência é tão cruel e abominável quanto as outras formas de

violência.

Acima de tudo, existe uma espécie de violência que poucos se atrevem a questionar que

é a violência institucional. O Estado, como gestor da sociedade politicamente

organizada, preocupa-se em não deixar nenhuma sombra, por menor que seja, sobre a

ordem estabelecida. Daí, imputa sistematicamente os problemas sociais aos próprios

xxiii

Page 24: Monografia Helaine Portela

infratores que ele deixa ao desalento e, por isso, inadaptados para agir construtivamente

na sociedade. A falta de seriedade do Estado em acolher e inserir o membro da

sociedade que está abandonado (sem emprego, sem educação, sem serviços de saúde,

sem pagar impostos, sem teto, desorientado e desprotegido) é um tipo de violência

porque causa a situação de pessoas que não aprenderam a conquistar pelo mérito e como

bichos coletam o que está disponível a fim de satisfazer suas necessidades. Além disso,

a situação de um indivíduo abandonado é perpetuada em seus descendentes. O menor

abandonado cresce e logo tem seus próprios filhos que também se tornam abandonados

pelo Estado. Roberti (2000) comunga com essa ideia quando afirma:

O caminho que leva à marginalidade não é traçado por uma categoria particular de crianças e adolescentes, mas sim por todo um conjunto de problemas estreitamente relacionados com condições de habitação subumanas, crises entre os pais, sentimento generalizado de alienação e de isolamento no seio da família e na escola e, acima de tudo, pela discriminação por parte de pessoas do seu meio, que representam a sociedade dita “normal” (p. 317).

Este caminho é construído por um conjunto de condições estreitamente relacionadas:

condições de habitação subumanas (falta de saneamento e higiene mínima), pobreza

extrema, crise e violência na família, alcoolismo e toxicomania, sentimento

generalizado de alienação e de isolamento no seio da família e da comunidade, fracasso

escolar, ações violentas praticadas por pessoas próximas ao menor, e discriminação dos

que compõem o grupo que forma a sociedade. Crianças que nascem nestas condições de

desvantagem têm o processo de desenvolvimento mental, emocional e social

dificultado, de modo que sua formação como cidadão é comprometida a ponto de

prejudicar a inserção salutar no meio social.

Formar cidadãos é tarefa que leva tempo e requer esforços da família e do Estado. Sem

a força desses dois elementos, o indivíduo transita dentro da sociedade sem possuir o

sentimento de pertencer a tal sociedade, sem participar, sem exercer as tarefas que lhe

cabem individualmente, sem compreender seu eu social ou como a sociedade funciona

como mecanismo que visa o bem coletivo. O indivíduo e suas carências tornam-se o

centro de suas percepções possibilitando a marginalização. Em consequência, seus atos

são desaprovados pela sociedade que não o acolheu nem o inseriu em suas partes

dinâmicas e interdependentes.

xxiv

Page 25: Monografia Helaine Portela

Não é possível formar cidadãos, nem falar em direitos humanos sem antes atentar para o

universo de pessoas que estão destituídas dos direitos básicos de humanidade. O que se

verifica hodiernamente é que se atacam os efeitos e não as causas. A problemática do

menor infrator merece uma reflexão profunda sobre diversos conceitos humanísticos

que servem de base às aspirações do homem na construção de um mundo melhor.

Amparar a família brasileira, a partir da mais pobre, socorrendo, em primeiro, aquelas

miseráveis e esfomeadas, procurando trazer ao seu seio os filhos menores distribuídos

pelas ruas, bem como amparando com cuidados relacionados à saúde, alimentação,

moradia, educação, emprego, dentre outros, é uma solução exequível para combater a

causa das infrações cometidas pelo menor. Há estudiosos que apontam a desestruturação

familiar como causa da iniciação em atos infracionais.

Crianças vitimizadas, coisificadas, submetidas ao abuso de quem rompeu os laços de confiança existentes ou transgrediu seu poder/dever de proteção, evidenciarão diversas sequelas, a curto, médio e longo prazo, tais como: problemas mentais, autoculpa, hiperagressividade, pesadelos, desenvolvimento inadequado da capacidade cognitiva, dificuldades na escola, síndrome do pânico ou comportamento autodestrutivo. (LEAL, 2001, p. 46)

Alguns indivíduos sequer constituíram uma família. A partir de uma gravidez não

planejada, um novo ser chega ao mundo sem o amparo necessário ao desenvolvimento

físico, cognitivo e psicossocial salutar. Pai e, ou, mãe não assumem a responsabilidade

de educar e proteger a criança, mesmo porque, em alguns casos, os mesmos já não

gozaram de proteção familiar. O estado de abandono parece ser transmitido por herança

aos descendentes. Sem a proteção da família, crianças ficam expostas à violência de

variadas formas. Os males advindos dessa condição tornam-se visíveis à sociedade

quando a criança adquire força física para lutar pela sobrevivência do modo como ela

acha que deve. Para satisfazer suas carências, não apenas físicas, mas de consumo,

geradas pela força da mídia aliada à falta de criticidade, são absorvidas por grupos

marginais1 que vivem na forma de sobreviventes da sociedade que os repeliu por não

conseguir integrá-los ao modo comportamental aceito.

Ante a impossibilidade de se manter a criança, ou adolescente, menor no seio de uma

família estruturada, instituições governamentais assumem a tarefa de amparar menores

1 Marginais nesse contexto: indivíduos excluídos por seus pares por não se adequarem aos padrões de normalidade determinados pela construção sócio-histórica da sociedade em que está inserido.

xxv

Page 26: Monografia Helaine Portela

abandonados com o objetivo de fornecer a estes um ambiente propício ao seu

desenvolvimento social. Qual a eficácia dessas instituições em cumprir esse objetivo?

Muito pouco vem sendo realizado. O ambiente familiar interliga as pessoas pelo amor e

fortes laços afetivos. Portanto, não pode ser simulado profissionalmente. Mesmo os

mais competentes e motivados profissionais não seriam capazes de substituir os pais de

um menor abandonado. Não é possível expressar amor genuíno usando técnicas de

relacionamento. Um casal "substitutivo" para os pais de uma criança abandonada em

alguns casos é uma solução viável, mas pode revelar-se um ambiente familiar artificial.

Ao viver de um modo particular, pessoal, que não reconhece os valores defendidos e

seguidos pela maioria, regras como “primeiro eu” e “o mundo é dos mais fortes” soam

como lógicas predominantes e irrefutáveis, pois que a criança não aprendeu a valorizar e

agir com afetividade nos primeiros anos de vida a partir de vivências familiares com

pais e parentes, seus pares, que deviam ter lhe transmitido esse valor para agregar a sua

personalidade. Respeitar os outros, considerar a vontade e o direito alheio, parecem soar

como lances de um jogo que deve resultar em se conseguir a satisfação de suas próprias

carências. A criança abandonada aprende muito cedo a sobreviver, a escapar de perigos

e superar restrições à sua maneira, por vezes não respeitando as regras da sociedade.

Surge então a desorientação. Por não ter como referência um ideal de vida, o menor

sozinho, sem dúvidas, sem questionamentos, sem afetividade e equilíbrio emocional,

fica desorientado iniciando um lamentável processo de desarticulação individual, a

partir do abandono. A desorientação o conduz a não compreensão de seu papel no grupo

humano de que inevitavelmente fará parte, ou a compreender de forma distorcida, como

uma fera que faminta concentra todos os sentidos em se alimentar.

Talli (2003), abordando o problema da infância desvalida e do menor carente, em

poucas palavras explicita a forma como se pode alcançar uma sociedade responsável por

seus membros. Diz esse notável Desembargador que: "Todos nós somos um pouco

culpados" - referindo-se à iníqua desigualdade de tratamento dado ao menor

desamparado - "O passado é irrecuperável, o presente é que vale e o futuro será o que

tivermos a coragem e o destemor de fazer hoje sem procrastinações." O autor mostra a

necessidade de ação da parte dos representantes da sociedade em cuidar de seus

membros desvalidos.

xxvi

Page 27: Monografia Helaine Portela

2.2 As medidas socioeducativas

Ao ser apanhado em flagrante em ato infracional, o adolescente é acusado e

encaminhado à Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA) mais próxima do local

em que ocorreu a infração. Depois de registrada a infração, cabe ao juiz responsável,

aplicar uma das determinações legais intituladas de medidas socioeducativas.

A medida socioeducativa é uma determinação legal imposta pelo juiz da infância e da

juventude ao adolescente que comprovadamente comete um ato infracional. O objetivo

é reconduzi-lo à sociedade dado sua conduta antissocial. A medida socioeducativa tem

dimensão punitiva e educativa, buscando prioritariamente o caráter educativo e, depois,

o sancionatório. Tais medidas são determinadas considerando a gravidade da infração,

as circunstâncias em que foi praticada e a capacidade do adolescente de cumpri-las. As

medidas que mantêm o jovem no convívio familiar e social no qual está inserido são

priorizadas.

Destaca-se que o adolescente tem direito ao respeito, durante o processo penal e em

todos os momentos subsequentes, que “consiste na inviolabilidade da integridade física,

psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da

identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais”

(Art. 17 do ECA). Esses direitos são universais, pois não se aplicam especificamente

aos considerados menores de idade e, por consequência, inimputáveis.

Existem seis medidas socioeducativas que a autoridade judiciária pode aplicar ao

adolescente, autor do ato infracional:

1. Advertência (Art. 115);

2. Obrigação de reparar o dano (Art. 116);

3. Prestação de serviço à comunidade (Art. 117);

4. Liberdade assistida (Art. 118);

5. Inserção em regime de semiliberdade (Art. 120); e

6. Internação em estabelecimento educacional (Art. 121).

xxvii

Page 28: Monografia Helaine Portela

Cada uma dessas medidas tem características peculiares na aplicabilidade expressas em

artigos específicos do ECA:

1- Advertência; É a primeira das medidas aplicável ao adolescente infrator primário

que comete um ato infracional de pouca gravidade, como pequenos furtos,

agressões leves, dentre outros. Consiste em “admoestação verbal, que será reduzida

a termo e assinada, sendo, logo após, o menor entregue aos pais ou responsável”

(Lei N° 8.069). A advertência é oral e registrada em documento escrito, que deve

ser assinado no intuito de registrar a ciência, tanto do jovem como de seu

responsável legal, do ato incorreto e firmar o compromisso de não reincidir na

ilegalidade. Como se trata de uma medida singela, que visa repreender os “impulsos

da juventude”, basta a prova da materialidade2 e indícios de autoria.

2- Obrigação de reparar o dano; Consiste em restituição, ressarcimento ou

compensação do dano ou do prejuízo causado à vítima. Dessa maneira, o jovem

infrator ficaria obrigado a reparar o prejuízo que ocasionou, mas como geralmente

não possui trabalho e sua renda é proveniente dos pais, são justamente os

responsáveis que ressarcem a vítima ou custeiam o reparo do bem. Quando não há

condições materiais para compensação, inviabilizando a aplicabilidade dessa

medida, ela deverá ser substituída por outra de mesma adequação. Objetiva-se

despertar no menor a consciência das consequências do seu ato ilícito, visando

educação e ressocialização. Salienta-se que a obrigação de reparação do dano pelo

jovem deve ser efetuada com cautela para não submetê-lo à humilhação pública.

3- Prestação de serviço à comunidade; Foi uma inovação ao Estatuto introduzida

após quatro anos de sua publicação, como alternativa à privação de liberdade.

Consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse social, por período inferior a

seis meses, em entidades assistenciais: escolas, hospitais, programas comunitários,

dentre outros. As atividades são atribuídas conforme aptidão do jovem e visam

ressocializá-lo, despertando o prazer pela ajuda humanitária e favorecendo o

desenvolvimento da consciência ética de respeito a si e aos direitos dos outros,

2 Materialidade é a existência do fato. Prova da materialidade consiste em elementos que afirmam a certeza que o fato efetivamente ocorreu. No direito penal, a materialidade do fato é insuficiente para a condenação criminal, pois esta depende de outros fatores, como, por exemplo, a prova da autoria, a inexistência de alguma circunstância que exclua o crime ou a penalidade, a tipicidade da conduta (o enquadramento do fato em alguma norma que constitua crime), dentre outros. Nos casos de advertência, considera-se suficiente a prova da materialidade e apenas os indícios da autoria (Artigo 386, II do Código de Processo Penal).

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Page 29: Monografia Helaine Portela

necessita de cautela na aplicação para não prejudicar a frequência escolar ou a

jornada de trabalho do jovem, no caso deste possuir uma profissão. Logo, a carga

horária máxima destinada à prestação do serviço à comunidade não deverá

ultrapassar oito horas semanais, poderá ser realizada em feriados e final de semana

e será acompanhada por um profissional de nível superior responsável pela

coordenação do serviço e por um orientador socioeducativo diretamente ligado ao

exercício da atividade realizada.

4- Liberdade assistida; Esta medida se destina aos jovens que aparentemente são

passíveis de recuperação em meio livre e que estão se iniciando no processo

infracional. Ela restringe o direito de liberdade, apesar de possibilitar seu

cumprimento no convívio social, junto à família e sob o controle sistemático do

juizado e da comunidade. Consiste no acompanhamento, auxílio e orientação ao

adolescente em liberdade por um período mínimo de seis meses, visando promover

sua inclusão social e familiar mediante construção de um novo projeto de vida

orientado por um técnico designado oficialmente pelo magistrado. Vale mencionar

que essa medida pode ser realizada na comunidade (Liberdade Assistida

Comunitária - LAC) ou em uma instituição específica (Liberdade Assistida

Institucional - LAI), mas em ambos os casos a vigília e orientação são

características preponderantes.

5- Regime de semiliberdade; Legalmente pode ser aplicado como tratamento tutelar

designado desde o início, como medida socioeducativa, pela autoridade; ou como

progressão de medida da internação à liberdade, sendo esta última mais frequente.

Essa medida não comporta prazo determinado, propicia a participação do jovem em

atividades externas no meio aberto, como: escolarização e relações de emprego e

estabelece vínculo do adolescente com uma instituição, pois no decorrer do dia, ele

desenvolve atividades em “liberdade” e retorna à instituição no período da noite.

6- Internação; Consiste na privação de liberdade e no controle de ir e vir do

adolescente, vinculando-o a um estabelecimento especializado, próprio para essa

finalidade, e exclusivo para adolescentes, observando os critérios de idade,

compleição física e gravidade da infração. Não comporta prazo determinado, mas

deve ser aplicada em um período mínimo de seis meses e máximo de três anos,

podendo ser reavaliada a cada seis meses mediante decisão fundamentada. É

xxix

Page 30: Monografia Helaine Portela

norteada por três princípios básicos: o da brevidade, da excepcionalidade e do

respeito à condição peculiar da pessoa em desenvolvimento.

Faz-se necessário conhecer todas as medidas socioeducativas com suas características,

bem como perceber as situações em que elas se aplicam para facilitar a compreensão do

atual sistema de punição direcionado aos indivíduos menores de dezoito anos de idade.

Todavia, como este estudo focaliza o processo educativo das instituições de internação,

na percepção dos jovens cearenses em conflito com a lei, a pesquisa limita-se a discutir

a medida “internação”.

INSTITUIÇÕES SOCIOEDUCATIVAS

Até outubro de 2010, o estado do Ceará contava com doze unidades de atendimento

para jovens em conflito com a lei, quatro destas se situavam no interior do estado e oito

na capital, Fortaleza.

As cidades interioranas contavam apenas com instituições de semiliberdade que

atendiam jovens do sexo masculino ou feminino, com idades entre doze e vinte e um

anos, e tinham capacidade para receber o máximo de vinte e cinco infratores.

Denominadas de acordo com a natureza do atendimento e município em que se

localizam, intitulavam-se:

Unidade da Semiliberdade de Crateús;

Unidade da Semiliberdade de Juazeiro do Norte;

Unidade da Semiliberdade de Sobral; e

Unidade da Semiliberdade de Iguatu.

Não havia unidade de internação no interior logo, quando um jovem era sentenciado à

internação provisoriamente ou por tempo decidido pelo juiz, ele teria necessariamente

que ser transferido para uma unidade da capital por falta de instituições instaladas em

seu município de origem. Esse fato gerou diversos transtornos ao sistema, dentre os

quais podemos citar:

A superlotação das unidades de Fortaleza, ocasionando piora na qualidade do

atendimento;

xxx

Page 31: Monografia Helaine Portela

O distanciamento do jovem de sua família, dificultando visitas e

acompanhamentos; e

Aumento na incidência de transtornos psicológicos ocasionadas pela

vulnerabilidade e carência dos jovens deslocados.

Em 2010, o Governo do Estado planejava inaugurar mais cinco unidades de

atendimento, sendo duas em Fortaleza, destinadas ao atendimento de internação e outra

de semiliberdade que seriam denominadas Canidezinho e Mártir Francisca. E outras três

unidades no interior, das quais duas iriam se localizar em Sobral, uma destinada ao

regime de internação e outra para internação provisória; e uma em Juazeiro, com regime

de internação, pois este município já conta com uma unidade de semiliberdade.

Também estão programadas duas reformas, uma na unidade provisória de Juazeiro e

outra em Fortaleza no Passaré.

A Secretaria de Trabalho e Desenvolvimento Social (STDS) tem como objetivo realizar

novas construções de unidades de atendimento, a fim de descentralizar o atendimento

socioeducativo, possibilitando uma regionalização, para que os jovens possam

permanecer mais próximos de seu domicílio e “descongestionar” as instituições da

capital. Dessa maneira, as novas unidades de Sobral ficariam responsáveis pelo público

residente nesse município, na região da Zona Norte e na região dos Inhamuns; e as

unidades de Juazeiro atenderiam aos jovens daquele município, da região do Centro Sul

e do Cariri. Afinal, o ECA determina que o adolescente deva “permanecer internado na

mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável”.

Em dezembro de 2010, as medidas mencionadas pela STDS começaram a ser

implementadas, pois foi inaugurada a instituição de internação de Juazeiro, mas os

demais centros mencionados, bem como as reformas, ainda não se concretizaram.

Fortaleza conta com oito instituições destinadas a atender jovens em conflito com a lei

que diferem quanto à natureza e público de atendimento:

1- Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro (URLBM); atende jovens dos sexos

femininos e masculinos, no intervalo de doze a dezoito anos e possui caráter

transitório. Pois, o acusado de ato infracional permanece na instituição somente

xxxi

Page 32: Monografia Helaine Portela

enquanto aguarda decisão da autoridade judiciária, num período máximo de 24

horas.

2- Centro Educacional Aldaci Barbosa Mota (CEABM); único no município que

atende o sexo feminino, recebendo garotas de doze a vinte e um anos, autoras de

ato infracional e encaminhadas por ordem judicial para cumprimento de medida

socioeducativa de internação ou semiliberdade.

3- Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF); atende público masculino, com

idade entre doze e vinte e um anos, cumprindo medida socioeducativa de

semiliberdade, geralmente por progressão de medida.

4- Centro Educacional Dom Bosco (CEDB); atende garotos do sexo masculino, com

idade entre doze e quinze anos, cumprindo medida socioeducativa de internação

sanção ou internação.

5- Centro Educacional Patativa do Assaré (CEPA); atende jovens do sexo masculino,

com idade entre dezesseis e dezessete anos, cumprindo medida socioeducativa de

internação.

6- Centro Educacional Aluísio Lorscheider (CECAL); atende homens maiores de

idade, entre dezoito e vinte e um anos, que foram condenados a cumprir medida

socioeducativa de privação de liberdade quando ainda eram menores, sendo

transferidos do CEPA para o CECAL após completarem a maioridade (18 anos).

7- Centro Educacional São Miguel (CESM); atende jovens do sexo masculino, com

idade entre doze e dezoito anos, que cumprem medida socioeducativa de internação

provisória.

8- Centro Educacional São Francisco (CESF); atende a mesma clientela do CESM,

rapazes com idade entre doze e dezoito anos em regime de internação provisória.

2.3 A escolarização do adolescente infrator na legislação

O Capítulo IV do Estatuto da Criança e do adolescente (ECA) trata “Do Direito à

Educação, à Cultura, ao Esporte e ao Lazer”. Neste Capítulo, no Art. 53, afirma-se que

“A criança e o adolescente têm direito à educação, visando ao pleno desenvolvimento

xxxii

Page 33: Monografia Helaine Portela

de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho”.

Nesse Capítulo, asseguram-se-lhes direitos a:

Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

Direito de ser respeitado por seus educadores;

Direito de contestar critérios avaliativos, podendo recorrer às instâncias

escolares superiores;

Direito de organização e participação em entidades estudantis;

Acesso à escola pública e gratuita próxima de sua residência.

Neste contexto, a legislação garante ao jovem infrator condições de continuar, ou

retomar, seus estudos para que possa desenvolver-se a fim de alcançar a fase adulta

inserido no fluxo social útil. Uma vez que esses direitos são estabelecidos legalmente, o

poder público passa a responder diante da sociedade pela execução dos serviços

correspondentes à garantia desses direitos, podendo ser cobrado pela sociedade civil,

caso negligencie sua responsabilidade.

O Art. 124 do ECA, mencionando os direitos ao conhecimento relativos a sua situação

processual inclui o direito de receber escolarização, profissionalização e de ter

condições dignas para a sua permanência no internato.

Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:

XI - receber escolarização e profissionalização;

No texto do ECA, a função educativa é privilegiada no conjunto das práticas judiciais.

Preconiza que todas as medidas a serem aplicadas aos adolescentes infratores devem ter

por objetivo sua reeducação, visando ao “preparo para o exercício da cidadania e

qualificação para o trabalho”.

Dessa forma, os agentes das unidades de internação (assistente social, psicólogo,

educadores) tornam-se responsáveis pela aplicação das medidas socioeducativas e pela

avaliação de seus resultados. Assumem a função de controlar, gerenciar e avaliar a

aplicação das medidas informando ao juiz os progressos educacionais desenvolvidos.xxxiii

Page 34: Monografia Helaine Portela

O texto do ECA serve para nortear o trabalho nas unidades de atendimento, visto que o

trabalho desenvolvido em tais unidades deve garantir os direitos nele garantidos,

incluindo a escolarização de adolescentes em regime de semiliberdade.

Com a publicação e a implementação de normas nacionais sobre o direito à educação,

exigiu-se das escolas públicas a abertura incondicional de matrícula para crianças e

adolescentes, o que significou a inclusão escolar de uma população infanto-juvenil com

perfil pessoal, social, cultural e econômico diversificado. Parte desse público é

constituída por crianças e adolescentes que evadem da sala de aula ou frequentam-na

com irregularidade, apresentam histórico escolar instável ou são rejeitados pela escola

por indisciplina ou deficiências graves na aprendizagem (PEREIRA, 2009). Entre estes,

os adolescentes dos programas socioeducativos em meio aberto, semiliberdade, ou

egressos de unidades de internação, figuram como o grupo que tem maior dificuldade de

aceitação e interesse por parte da escola.

O esforço interinstitucional busca garantir a cidadania de crianças e adolescentes em

conflito com a lei. Ministério Público, governo estadual e conselho tutelar devem

colaborar para atingir o “Direito à Educação” expresso no ECA Cap. 4. Trata-se de um

olhar multifocal na direção dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas de

internação ou de semiliberdade.

Esta ação interinstitucional representa o compromisso de garantir aos adolescentes

autores de atos infracionais o direito à educação, como determina o Estatuto da Criança

e do Adolescente (ECA), que prevê ainda a aplicação de “medidas protetivas sempre

que os direitos nele previstos forem ameaçados ou violados.” O promotor de Justiça

Evandro Santos de Jesus exemplificou: “Hoje, os adolescentes em cumprimento de

medida socioeducativa, quer estejam no regime aberto quer no fechado, enfrentam

dificuldades para estudar. Eles resistem a retomar aos estudos e às instituições

educacionais, chegam a alegar falta de vagas para estes jovens”. Tal situação ressalta o

desafio que se constitui inserir esses adolescentes, ou mesmo garantir a sua

permanência, no ambiente educacional. A despeito dos desafios impostos à garantia

desses direitos, as instituições têm o dever de oferecer tais direitos aos adolescentes:

xxxiv

Page 35: Monografia Helaine Portela

Por se tratar de direito fundamental, com embasamento na Constituição Federal de

1988, a escolarização do adolescente infrator em cumprimento de medida

socioeducativa encontra respaldo no ECA, que determina ainda que as instituições

responsáveis pela execução da medida têm por obrigação adicional acompanhar o

processo de escolarização. No entanto, não é bastante que os operadores do direito

estejam engajados no projeto. Conforme afirma a promotora de Justiça Maria Pilar

Maquieira Menezes:

As escolas têm que adotar uma visão receptiva sobre esses jovens. É preciso, também, que sejam criados projetos pedagógicos específicos para que eles se sintam atraídos ao ambiente escolar, destacou a promotora, frisando que, dentre os jovens em cumprimento de medida socioeducativa, aqueles que estudam têm um nível de reincidência muito menor que o daqueles que não frequentam o ambiente escolar. (PINHEIRO, 2011, p.1)

A aprovação de leis que asseguram o direito à educação, da criança e do adolescente,

levou a uma interpretação equivocada do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

por parte de alguns operadores do Sistema de Garantia de Direitos da Criança e do

Adolescentes (SGDCA) e do Sistema de Ensino. A palavra ‘direito’ foi assimilada

como a ausência de responsabilidades e de deveres. Essa corrupção do entendimento fez

com que parte dos profissionais que atuam no espaço escolar destinado ao adolescente

infrator considerasse o direito da criança e do adolescente como o culpado pela

diminuição da autoridade do professor, causa de indisciplina e violência nas escolas.

Isto ajudou a gerar a alegação de indisponibilidade e de aceitação do adolescente na

escola.

A Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS), promulgada em sete de dezembro de

1993, dispõe sobre a organização da Assistência Social, cria um tipo de seguridade

social não contributiva, para proteger a família, a maternidade, a infância, a

adolescência e a velhice, buscando a integração ao mercado de trabalho, habilitando e

reabilitando pessoas portadoras de necessidades especiais, promovendo-as no que

denomina de vida comunitária. Em seu Art.2º. reza:

A assistência social tem por objetivos:

II - o amparo às crianças e adolescentes carentes;xxxv

Page 36: Monografia Helaine Portela

Em 20 de dezembro de 1996, foi aprovada a Lei No 9.394 – a Lei de Diretrizes e Bases

da Educação Nacional (LDB), que tem como princípios em seu artigo 3º.

Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:

I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;

II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a

arte e o saber;

III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;

IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;

V - coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;

VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;

VII - valorização do profissional da educação escolar;

VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos

sistemas de ensino;

IX - garantia de padrão de qualidade;

X - valorização da experiência extra-escolar;

XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.

Destaca-se o inciso I que garante “igualdade de condições para o acesso e permanência

na escola”. O princípio não exclui quem está à margem do processo educacional

regular. Isto valida o acesso à educação formal em escola que lhe seja acessível, aos

adolescentes que cometem atos infracionais.

Outros artigos desta Lei privilegiam a questão do atendimento educacional ao

adolescente infrator, considerando que o mesmo está inserido na demanda educacional,

cabendo ao Estado, à família e à sociedade, proporcionar condições para que este

adolescente seja escolarizado. O Título III da LDB in verbis:

DO DIREITO À EDUCAÇÃO E DO DEVER DE EDUCAR

Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública será efetivado mediante a

garantia de:

xxxvi

Page 37: Monografia Helaine Portela

I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive para os que a ele não tiveram

acesso na idade própria;

II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade ao ensino médio;

De onde se entende que a obrigatoriedade do ensino fundamental e médio é dever do

Estado. No parágrafo 4º. impõe ao governante a obrigação de cumprir a Lei sob pena de

responder por “crime de responsabilidade”.

§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente para garantir o oferecimento

do ensino obrigatório, poderá ela ser imputada por crime de responsabilidade.

O Poder Judiciário, mais especificamente o Juiz da Infância e da Juventude, é o

legitimado maior para o exercício do poder em, e do dever de, garantir os direitos da

criança e do adolescente dentre os quais está o Direito à Educação. Assim, seja a oferta

de matrícula escassa ou irregular, situando-se o interesse por ela no campo individual,

difuso ou coletivo, o Poder Judiciário se torna o destinatário natural da reivindicação

desses direitos.

Embora a lei garanta escolarização aos adolescentes infratores, as unidades de

atendimento a esses jovens lidam com desafios pedagógicos. A trajetória escolar desses

jovens é marcada pelo conflito com professores, diretores e colegas. São comuns os

históricos de repetência, desistência e de repetidas tentativas de retorno à escola. Após

as “idas e vindas” ao espaço escolar, a opção muitas vezes é interromper os estudos.

A falta de contexto familiar, escolar, de trabalho e de outros espaços sociais salutares

(comunidade religiosa), etc, com regras e normas sociais rígidas, possibilitou ao

adolescente processos de desterritorializações (saída dos espaços institucionais, falta

de convivência em um núcleo de experiências comuns a um grupo) e novas

reterritorializações em outros microterritórios, que podem ter descortinado a vida em

aventuras, fortes emoções, liberdade e gerenciamento do próprio tempo, com o

estabelecimento de regras pessoais próprias, além de normas e relações sociais

peculiares a esses territórios.

xxxvii

Page 38: Monografia Helaine Portela

Além disso, a instituição lida com graves deficiências estruturais: a ausência de salas de

aulas adequadas, de bibliotecas e de materiais didáticos, bem como projetos de

capacitação e formação continuada dos professores, em relação ao emprego de

metodologia de ensino adequada ao público tão específico, de projetos e propostas

escolares para os jovens em privação de liberdade.

Pode-se entender que, entre continuar em espaços de tensões e conflitos ou constituir

novas formas de sociabilidade e experiências em outros espaços exteriores à escola, os

adolescentes optaram em aventurar-se em outros microterritórios (a rua, o grupo de

dependentes químicos, o grupo de delinquentes, etc).

Para os adolescentes autores de atos infracionais, a escola, aos poucos, perdeu a sua

importância e atratividade e se transformou em uma atividade igual a outras, sem

importância para o adolescente infrator. Com a inserção em outros microterritórios, a

escola deixa de ser vista como possibilidade de presença no mundo para além da

família. A incursão em outros espaços contribuiu para a constituição de novos laços de

amizade e companheirismo, a criação de novos grupos sociais, constituindo novos

contextos de sociabilidade.

Neste contexto, a escolarização assume nova dimensão, como parte do cumprimento de

uma medida jurídica. A escola passa a utilizar, obrigatoriamente, mecanismos e

dispositivos para fazer com que os adolescentes permaneçam nas salas de aulas, com a

obrigatoriedade de estudar e a vigilância constante a que estão submetidos.

Além dos pais ou do responsável, a principal instituição legitimada para a tomada das

providências de natureza judicial em defesa do Direito à Educação da criança e do

adolescente é, sem dúvida, o Ministério Público. Estão legitimados igualmente a União,

os Estados, os Municípios, o Distrito Federal, os Territórios e as associações legalmente

constituídas que tenham em seus objetivos institucionais a defesa dos interesses e

direitos da criança e do adolescente. O instrumento legal utilizado na exigibilidade dos

direitos é a ação civil pública, nos termos exarados pelo Art. 208 e seguintes do Estatuto

da Criança e do Adolescente. A possibilidade de ação legal reclamando o não

oferecimento, ou a oferta insuficiente da educação escolar, de fato não constitui solução

xxxviii

Page 39: Monografia Helaine Portela

para as demandas sociais do problema “adolescente infrator”. No entanto, a sociedade

passa a contar com significativo instrumento de coerção, que acionado pode impulsionar

mudanças necessárias e desejadas na aplicação das medidas socioeducativas de

ressocialização do adolescente. A legislação brasileira pode contribuir para a mudança

da mentalidade na sociedade, habituada a se omitir diante das injustiças de que são

vítimas as crianças e adolescentes.

2.4 METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

Tipo de Estudo

Este estudo é exploratório, descritivo e de natureza qualitativa. A escolha da abordagem

qualitativa “partilha a premissa epistêmica de que o conhecimento é produzido numa

interação dinâmica entre o sujeito e objeto do conhecimento e que há um vínculo

indissociável entre o mundo objetivo e (inter)subjetivo dos sujeitos” (DESLANDES,

2002, p. 199).

A metodologia adotada na investigação possibilitou uma abordagem qualitativa,

do campo de estudo (MINAYO, 2003), uma vez que se adotou como procedimentos de

investigação o estudo bibliográfico acerca da temática; questionários, entrevistas e

diário de campo permitindo observar e analisar minuciosamente a educação formal

ministrada na instituição socioeducativa pesquisada, a partir da escuta das percepções

não apenas da diretora, mas de vários membros envolvidos no processo da educação

formal. Além disso, de acordo com André e Lüdke (1986, p. 03) “como atividade

humana e social, a pesquisa traz consigo, inevitavelmente, a carga de valores,

preferências, interesses e princípios que orientam o pesquisador”.

Minayo (2005, p.27), quando escreve acerca da abordagem qualitativa, confirma a ideia

supracitada relatando:

Embora apresentadas de várias formas, as abordagens qualitativas têm características comuns. Em primeiro lugar, referem-se à necessidade de levar em conta a participação e as percepções dos sujeitos envolvidos na criação e na implementação dos programas

xxxix

Page 40: Monografia Helaine Portela

sociais. Em segundo lugar, consideram as relações e as percepções como parte fundamental dos eixos e limites das ações [...].

No tocante ao critério de classificação, proposto por Vergara (2003), a presente pesquisa

pode ser classificada, quanto aos fins, como estudo de caso, uma vez que fica

circunscrita à análise dos canais participativos introduzidos pelos sujeitos do estudo,

jovens em regime de semiliberdade.

É oportuno salientar que o estudo teve início com a pesquisa bibliográfica de livros,

teses, dissertações e artigos publicados em revistas ou periódicos que tratassem da

temática para que, de posse dos trabalhos previamente desenvolvidos, houvesse uma

seleção de produções científicas nacionais e internacionais relevantes para fundamentar

esse estudo.

Local da Pesquisa

Para o desenvolvimento da pesquisa, optou-se pela escolha de uma instituição, sob

administração do governo do Estado do Ceará, localizada no município de Fortaleza-

CE, única que trabalha com semiliberdade na referida cidade. Motivo este que justifica

a opção pelo Centro de Semiliberdade Mártir Francisca.

Dessa maneira, o cenário da realização da pesquisa de campo foi o Centro de

Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF), localizado na Rua Papi Junior, nº 1717, Bairro

Bela Vista, em Fortaleza-CE. Uma Instituição Governamental que atende adolescentes e

jovens, do sexo masculino, com faixa etária entre doze e vinte e um anos incompletos,

autores de atos infracionais, em cumprimento de medida socioeducativa de

semiliberdade, prevista no Estatuto da Criança e do Adolescente (Cap. IV, Seção VI,

Art. 120); encaminhados por ordem judicial das Comarcas de Fortaleza e do interior do

Estado.

O CSMF é uma unidade masculina com capacidade para quarenta adolescentes, que em

sua grande maioria estão no regime de semiliberdade como progressão de medida.

Participantes

Participaram da pesquisa oito jovens, do sexo masculino, que cumpriam medida de

semiliberdade no CSMF. A escolha dos participantes foi aleatória, ficando excluídos da

xl

Page 41: Monografia Helaine Portela

pesquisa aqueles que não concordassem em participar voluntariamente ou não possuísse

escolaridade mínima para responder o questionário, mas não houve entre os escolhidos

nenhum desses casos. Os adolescentes apresentavam idades variando entre quinze e

dezoito anos, com média de idade de dezesseis anos e nove meses (Tabela 1).

Tabela 01 – Idade dos adolescentes

Idade Quantidade de jovens

15 anos 1

16 anos 2

17 anos 3

18 anos 2

Fonte: Ficha de registro do CSMF

Vale salientar que dentre os adolescentes não havia nenhum com necessidade

educacional especial diagnosticada.

Coleta de Dados

Os dados da pesquisa foram coletados no intervalo de agosto de 2011 a março de 2012,

por intermédio da observação sistemática registrada em diário de campo, do

questionário aberto (apêndice A) aplicado aos jovens sujeitos da pesquisa e da entrevista

temática com a direção.

Análise dos dados

As respostas das cinco perguntas abertas do questionário foram processadas mediante

“Análise de Conteúdo”, segundo Bardin (2002), para a identificação dos temas

principais.

Bardin (2002) explica que análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise de

comunicação que visa obter, mediante procedimentos sistemáticos e objetivos de

xli

Page 42: Monografia Helaine Portela

descrição do conteúdo das mensagens, indicadores que permitam inferências de

conhecimentos relativos às condições de produção e recepção destas mensagens. Logo:

Classificar os elementos em categorias impõe investigação do que cada um deles tem em comum com os outros. O que vai permitir o seu agrupamento é a parte comum existente entre eles. A categorização é comum em nossa vida (p. 118).

De acordo com esse referencial, os dados foram estruturados de maneira organizada

para viabilizar uma análise mais consistente, sem perder a visão do todo, possibilitando

conclusões baseadas na subjetividade de cada adolescente.

Nesse sentido, as respostas foram assim agrupadas:

1º Juntar todas as respostas iguais;

2º Agrupar as respostas que, mesmo não sendo iguais, continham evidente

semelhança;

3º Dividir as respostas em dois grandes grupos: 1- relacionadas à satisfação com

a educação formal, 2- relacionadas à insatisfação com a educação formal;

4º Agrupar, finalmente, as respostas em categorias definidas pela frequência com

que apareciam os tipos de resposta.

Posteriormente, realizou-se uma triangulação metodológica com as informações

oriundas do diário de campo, dos questionários e da entrevista visando compreender as

possíveis congruências e divergências emergidas no tocante a educação formal no

CSMF.

Aspectos Éticos

Antes do início da coleta de dados, os objetivos da pesquisa foram explicitados para a

direção, coordenação e alunos, esclarecendo que a participação seria voluntária e que o

sigilo seria assegurado quanto às identidades dos adolescentes.

xlii

Page 43: Monografia Helaine Portela

Posteriormente, foram apresentados os Termos de Consentimento Livre e Esclarecido

(Apêndice C), que foram assinados pelos adolescentes. Os adolescentes foram

orientados que sua participação ou recusa não produziria perda ou ganho diante da

instituição.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO: O PROCESSO EDUCATIVO NO CENTRO DE SEMILIBERDADE MÁRTIR FRANCISCA

3.1 LOCUS DA PESQUISA: CENTRO DE SEMILIBERDADE MÁRTIR FRANCISCA

O CSMF compõe a Célula de Medidas Socioeducativas que está diretamente vinculada

à Coordenadoria de Proteção Social Especial da Secretaria do Trabalho e

Desenvolvimento Social (STDS). Esta Secretaria coordena todas as ações da área social

no Estado do Ceará, objetivando desenvolver e coordenar a política de assistência

social, através de duas linhas de atuação: proteção social básica e proteção social

especial.

São integrados à STDS, dentro da proteção social especial, abrigos e centros

educacionais (unidades educacionais que se destinam a manter jovens cuja liberdade

esteja sob restrição parcial ou total, em razão do cometimento de atos infracionais).

Existem oito centros educacionais em Fortaleza. Entre eles está o Centro de

Semiliberdade Mártir Francisca, único na cidade, destinado a atender em regime de

semiliberdade, que pode ser determinado desde o início como medida socioeducativa

determinada em decorrência do cometimento de ato infracional, ou como forma de

transição do regime de internação para o meio aberto, sendo possibilitada a realização

de atividades externas, independente de autorização do juiz (ECA, cap. IV, Seção VI,

art. 120).

Além desses oito centros, existe a Unidade de Recepção Luís Barros Montenegro, uma

espécie de centro de triagem, onde o adolescente permanece inserido, encaminhado pela

xliii

Page 44: Monografia Helaine Portela

Delegacia da Criança e do Adolescente, até que sua medida socioeducativa seja

estabelecida, dentro do prazo de um dia.

Dos oito centros educacionais existentes em Fortaleza, apenas um é destinado ao

cumprimento de medidas socioeducativas para jovens do sexo feminino,

compreendendo os regimes de internação provisória, semiliberdade e internação (Centro

Educacional Aldaci Barbosa Mota). Os demais são para o atendimento de jovens do

sexo masculino, sendo dois para o regime de internação provisória (Centro Educacional

São Miguel e Centro Educacional São Francisco), um para internação sanção e

internação (Centro Educacional Dom Bosco), dois para o regime de internação (Centro

Educacional Patativa do Assaré e Centro Educacional Cardeal Aloísio Loscheider) e,

como dito, um para o regime de semiliberdade. O Ceará possui cinco Centros de

Semiliberdade Regionais que se localizam em Fortaleza, Sobral, Crateús, Iguatu e

Juazeiro do Norte.

O CSMF foi inaugurado no dia 31 de julho de 2001, tendo como sede uma estrutura

alugada, uma antiga clínica para idosos, localizada na Avenida Washington Soares, em

Messejana. Anteriormente, no período de julho de 1990 a julho de 2001, o cumprimento

de medida de semiliberdade, juntamente com a medida provisória e de internação, eram

cumpridas no Centro Educacional Dom Bosco. Atualmente, o CSMF está instalado,

desde fevereiro de 2009, em um prédio alugado, onde funcionava o antigo Colégio La

Salet, localizado na Rua Papi Junior, nº 1717, Bairro Bela Vista, em Fortaleza-CE.

Esse Centro foi inaugurado com a pretensão de modificar a metodologia até então

utilizada pelo regime de semiliberdade executado em Fortaleza. A priori seu

funcionamento contrariava demasiadamente os preceitos do ECA, uma vez que não era

permitido aos jovens passar os fins de semana em casa, pouco ou quase nunca

frequentavam os equipamentos sociais comunitários e não eram envolvidos em uma

proposta pedagógica consistente. Uma vez que o objetivo primordial deveria ser

oportunizar ao jovem a retomada do convívio sócio- familiar e comunitário, com

responsabilidades e consciência de suas ações e a elaboração de um novo projeto de

vida, através do acompanhamento interdisciplinar do jovem e sua família, pautando-se

pelo referencial teórico do protagonismo juvenil e da pedagogia da presença; seguindo,

os dispositivos constitucionais, o Estatuto da Criança e do Adolescente e os

xliv

Page 45: Monografia Helaine Portela

pressupostos pedagógicos do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo

(SINASE).

Dessa maneira, o CSMF passou a possibilitar aos socioeducandos educação formal,

sala de reforço escolar, oficinas de iniciação profissional (textura e serigrafia) e

atendimento e acompanhamento multidisciplinar visando oportunizar aos adolescentes a

construção de novas atitudes e conhecimentos a partir de uma vivência cidadã.

Os socioeducandos vinculados a referida instituição, também, possuem a possibilidade

de realizar atividades externas, independentemente de autorização judicial (Art. 120,

ECA), podendo, assim, estudar em escolas da comunidade, participar de cursos

profissionalizantes, trabalhar mediante registro na Carteira de Trabalho e Previdência

Social, usufruir de atendimentos ofertados por equipamentos sociais comunitários, bem

como gozam do direito de passar os finais de semana junto à família.

Quanto à estrutura física, o Centro é composto pelo térreo (onde funciona a secretaria),

a sala dos policiais, o refeitório, a cozinha, a monitoria, o banheiro dos jovens, a

gerência, uma pequena lavanderia, uma quadra poliesportiva coberta, uma área de

convivência, uma sala com banheiro para os funcionários de serviços gerais e as

cozinheiras, uma sala onde ficam guardados os quadros produzidos pelos

socioeducandos e uma sala de TV. No primeiro andar é instalada a direção, a equipe

técnica (Serviço Social, Psicologia, Setor Jurídico e Pedagogia), três salas de aulas, duas

salas para a realização de oficinas (textura e serigrafia) e um auditório.

3.2 O CORPO PROFISSIONAL

Com relação à estrutura organizacional tem-se: a direção da unidade ocupada por uma

servidora pública com formação acadêmica em Serviço Social; a equipe técnica

composta por profissionais do Serviço Social, da Pedagogia, da Psicologia e do Direito.

Há, também, a equipe de administração que é composta por um gerente e uma agente

administrativa; a equipe gerencial de apoio, formada por cinco cozinheiras, quatro

profissionais de serviços gerais, dois porteiros e um motorista; e a equipe de educadores

sociais composta por trinta e cinco profissionais, responsáveis pelo acompanhamento

xlv

Page 46: Monografia Helaine Portela

das atividades realizadas pelos jovens no interior da Unidade e, quando necessário, nas

atividades externas.

O Serviço Social, existente desde a inauguração, atua no sentido de fortalecer os

vínculos familiares fragilizados ou resgatá-los, buscando a participação efetiva da

família na vida institucional através de atendimentos e encontros realizados na Unidade

com o intuito de preparar a família para receber o adolescente quando for liberado e

propiciar a este condições de gozar sua liberdade irrestrita com responsabilidade. Assim,

na realização dos atendimentos e acompanhamentos aos adolescentes, tenta-se

proporcionar aos socioeducandos uma reflexão crítica sobre os atos ilícitos cometidos e

uma ressignificação de valores, para que seja elaborado um novo projeto de vida.

O setor pedagógico é formado por uma pedagoga, dois instrutores de ofícios e

professoras contratadas por instituições terceirizadas para a realização das oficinas,

textura e serigrafia, e pela educação formal dos jovens, respectivamente.

O setor de psicologia é composto por uma psicóloga e uma estagiária universitária.

Responsável pelo acompanhamento psicológico individual do adolescente.

O setor jurídico é composto de uma advogada e uma assistente jurídica. Responsável

pelo esclarecimento acerca do delito cometido pelo adolescente e do agendamento das

audiências que serão cumpridas pelo adolescente.

De acordo com o Art.12 do SINASE (2012): “A composição da equipe técnica do

programa de atendimento deverá ser interdisciplinar, compreendendo, no mínimo,

profissionais das áreas de saúde, educação e assistência social, de acordo com as normas

de referência”. O CSMF conta com o trabalho de uma técnica em enfermagem que se

responsabiliza pelo controle de medicamentos, agendamento de consultas médicas e

acompanhamento do adolescente à consulta médica.

3.3 A PROPOSTA INSTITUCIONAL

Os procedimentos realizados quando o adolescente ingressa à unidade são:

1º - Recepcionar o jovem pela direção, quando se explica como será a execução da

medida, os seus direitos e as normas institucionais; xlvi

Page 47: Monografia Helaine Portela

2º - Encaminhar o jovem ao Serviço Social para ser realizada a acolhida, um primeiro

contato, com a captação de alguns dados pertinentes acerca da história de vida e

posteriormente poder efetivar contato com os familiares, a fim de dar ciência do local

em que se encontra o jovem e repassar todas as informações necessárias.

3º - Realizar o atendimento no setor pedagógico, onde é feita uma sondagem de

conhecimentos e habilidades, para serem definidos os aspectos relacionados ao ensino

formal e às atividades pedagógicas não formais como: o ano que deverá cursar, se deve

ser matriculado em colégio da comunidade e a oficina na qual pode ser engajado;

4º - Comunicar ao setor de Psicologia sobre o ingresso do jovem para que esse agende

atendimento personalizado no decorrer da semana;

5º - Encaminhar ao setor Jurídico o processo referente ao jovem, bem como sua

documentação, quando se faz necessário, para o devido acompanhamento legal.

Em 2009, foi estabelecido que o socioeducando tivesse o direito de passar o final de

semana em casa de quinze em quinze dias. Esse tempo foi imposto sob a afirmação da

necessidade do jovem construir um vínculo institucional para que pudesse retornar à

unidade após o fim de semana, sem perder a referência e contato familiar. Havia, ainda,

uma diferenciação no referido direito em relação aos jovens advindos da progressão de

medida e os que estavam cumprindo a primeira medida. No primeiro caso, regime de

progressão, os jovens poderiam gozar do direito de desfrutar um final de semana com a

família após quinze dias de ingresso na unidade, e no segundo caso, primeira medida,

essa concessão seria somente após trinta dias de permanência na instituição. Vale

mencionar ainda que tais critérios não constam em nenhum instrumento normativo, pois

inexistem documentos regulamentadores do funcionamento da Unidade de

Semiliberdade, ficando as regras a critério do gestor.

Desse modo, somente a partir de setembro de 2009, fica garantido aos socioeducando o

direito de passar os finais de semana com a família, desde que não desrespeitem as

regras institucionais. Caso isso ocorra, ele pode sofrer como sanção a perda do final de

semana com a família. Essa dinâmica efetivou-se motivada por conflitos que ocorreram

dentro da unidade entre os socioeducandos e por reclamações da vizinhança sobre o

xlvii

Page 48: Monografia Helaine Portela

descumprimento da medida pelos adolescentes que pulavam o muro da instituição

adentrando nas dependências das residências vizinhas, gerando medo e insegurança.

Os cursos profissionalizantes externos à Unidade que os socioeducandos podem ser

engajados são realizados em parceria com alguns projetos da STDS, como o Projeto

Transformando Vidas, Primeiro Passo e com outras entidades, como o Centro de Ensino

Tecnológico (CENTEC) da cidade de Maracanaú.

No entanto, enfrentam-se dificuldades em engajar os jovens nos cursos

profissionalizantes para aumentar suas chances de inserção no mercado de trabalho, pois

além do reduzido número de cursos e de vagas que visem à iniciação profissional,

depara-se com a baixa escolaridade dos socioeducandos; pois pré-requisitos básicos são

exigidos, como: ler e escrever, cursar a partir do 9º ano do ensino fundamental, dentre

outros. E são poucos os jovens que atendem a esse perfil. Entretanto, a Unidade sempre

tenta engajar o maior número de jovens nas turmas de iniciação profissional, solicitando

um maior número de vagas para eles.

Tanto a Constituição Federal quanto o ECA definem o direito à convivência familiar e

comunitária como sendo um direito fundamental de crianças e adolescentes, ao lado do

direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à

cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade; colocando tais questões com prioridade

absoluta e devendo ser assegurado pela família, sociedade em geral e o poder público

(Constituição Federal de 1988, artigo 227, e ECA, art. 4º).

É relevante ressaltar, por fim, que o modelo de gestão desenvolvido pelo CSMF foi

elaborado por critérios definidos a partir do entendimento da gestão, pois não há

documentos oficiais específicos que versem acerca da regulamentação do

funcionamento de uma unidade de semiliberdade. Por esse motivo foi elaborado um

regimento interno em julho de 2001 que nunca foi revisto desde a inauguração da

Unidade, apesar da realização de inúmeras mudanças organizacionais.

xlviii

Page 49: Monografia Helaine Portela

3.4 O PROCESSO EDUCATIVO DE ADOLESCENTES NA CONCEPÇÃO DOS PESQUISADOS

3.4.1 Respostas do questionário

Após a explicação acerca dos objetivos da pesquisa e assinatura do termo de

consentimento livre esclarecido, foi realizada a distribuição do instrumento de coleta de

dados da pesquisa, o questionário, aos adolescentes, com o objetivo de analisar suas

percepções acerca do processo educativo de que fazem parte.

As respostas dos adolescentes foram agrupadas em categorias: interrupção na

escolarização, importância dos estudos, falta de estímulo para com a escolarização,

ensino regular e Educação de Jovens e adultos (EJA).

Pode constatar a partir das respostas que:

A totalidade dos adolescentes (100%) afirmou que já haviam interrompido os

estudos. Em média um ano e nove meses de tempo fora da escola regular;

Todos os adolescentes (100%) relataram que a escolarização é importante para

suas vidas, demonstrando reconhecimento da relevância de obter o

conhecimento formal;

Grande parte dos adolescentes (85%) expressou algum tipo de aversão às

atividades escolares, caracterizada pela falta de estímulo: “não gosto de fazer

muito dever”, “não gosto de acordar muito cedo”, “não gosto de ficar na sala de

aula o tempo todo”, “não gosto de muita regra”, “não gosto de ler em voz alta”;

A escolaridade dos adolescentes situa-se entre o 7º e o 9º ano, com apenas um

adolescente ainda no 5º ano;

Metade dos adolescentes pesquisados (50%) é favorável ao ensino na

modalidade EJA, mas parte considerável (37,5%) acredita que a escola regular é

a melhor opção para o bom aprendizado. O restante (12,5) afirmou que a

modalidade EJA é a melhor opção para eles, com a ressalva de que “o aluno não

aprende nada”;

Optou-se por expressar com gráfico a porcentagem de satisfação versus insatisfação dos

adolescentes com o processo educativo que lhes é oferecido visando facilitar a

xlix

Page 50: Monografia Helaine Portela

compreensão do leitor (Gráfico 1);

Gráfico 1 – Percentual de satisfação e insatisfação com relação ao processo educativo.

Fonte: Questionário

A maioria dos jovens entrevistados relatou estar insatisfeito com seu processo

educativo. Com efeito, é mister perceber que os jovens apresentam distorção entre idade

e série ideal decorrente da interrupção nos estudos e repetência, logo, sua escolarização

no sistema regular de ensino encontra-se comprometida, restando como única opção o

sistema EJA.

Essa distorção idade versus série em curso dos adolescentes pesquisados pode ser mais

bem analisada através da comparação entre o perfil de um aluno na faixa etária regular

(sem interrupção de estudos e sem repetição) e os jovens entrevistados (gráfico 2).

Gráfico 2 – Comparativo para distorção idade versus série escolar.

l

Legenda1 Satisfeitos 12%2 - Insatisfeitos 88%

Idad

e (a

nos)

Série 5º. ano 6º. ano 7º. ano 8º. ano 9º. ano

Aluno na faixa etária média

Adolescente do CSMF

Page 51: Monografia Helaine Portela

Fonte: questionário

A partir do gráfico acima pode-se perceber que os jovens participantes do estudo estão

atrasados nos estudos quando comparados aos alunos que não reprovaram alguma série

escolar ou pararam os estudos. O que pode ter acarretado maior insatisfação com o

processo educativo.

Salienta-se, também, que mesmo não havendo no questionário itens específicos para

mensurar o nível real de escolarização, por não constituir o foco principal da pesquisa,

foi possível perceber, através das respostas abertas, que capacidade de escrita dos

adolescentes é muito comprometida. Observa-se expressão de pensamentos pobre,

quase sem estrutura lógica, com poucas palavras e com muitos erros de grafia.

3.4.2 A visão dos adolescentes acerca da educação formal

Na concepção dos adolescentes atendidos pelo CSMF, o processo educativo a que estão

submetidos, carece de muitas melhorias. Estudar é importante, admitem, mas não

entendem bem os processos a que têm de atender em ambiente escolar. Horários de

aula, disciplina, concentração, exigências, autoridade institucional, regras de

convivência, são elementos com que têm de conviver e aceitar, e que deixa transparecer

em relatos não fazer parte do mundo ao qual estão habituados. Estão mais dispostos à li

Page 52: Monografia Helaine Portela

atividade física praticada nos esportes (futebol de salão) e à atividade profissional

desenvolvida nas oficinas de serigrafia e pintura do que as aulas formais. A atividade

intelectual parece ser enfadonha e desestimulante, de forma que pensam sempre em

abandonar a escola. Admitem a importância da escolarização e do conhecimento formal

como um alvo que todos devem buscar, mas consideram um caminho muito difícil de

ser percorrido porque uma carreira de estudos consome muito tempo, que poderia ser

utilizado de forma mais gratificante.

3.4.3 A visão dos educadores

Os educadores, professores e pedagogos, que trabalham no CSMF lidam com muita

dificuldade ao aplicar os métodos de ensino em sua rotina de trabalho. A dificuldade

principal está em lidar com um aluno que não se enquadra em um percurso pedagógico

planejado, com início, meio e fim, previstos.

A temporariedade do aluno, às vezes com pouquíssimo tempo de permanência na

Unidade, faz do processo ensino-aprendizado uma tarefa, muitas vezes, improvisada. A

interrupção de estudos a que os adolescentes vêm sendo submetidos regularmente, faz

do adolescente um estudante irregular que não consegue ter um aprendizado

cumulativo. Dessa forma, o professor está sempre retomando o caminho inicial do

aprendizado, revendo fundamentos básicos, para que o estudante siga um rumo

posterior de apreensão do conhecimento.

A retenção do conhecimento por parte do aluno é muito prejudicada pelos períodos de

interrupção dos estudos. Esta pausa é considerada pelos profissionais a responsável pela

demolição do que é construído a cada período de permanência na escola. Os professores

relatam que estão andando em círculo sem avançar no aprendizado de conceitos mais

complexos; que os adolescentes estão sempre (re)iniciando os estudos. Em adição, a

formação dos professores não inclui o treinamento para o magistério no ensino

fundamental II ( do 6º ao 9º ano), principalmente em situação tão peculiar como a de

ministrar aulas para jovens que cumprem medida socioeducativa de semiliberdade. Em

lii

Page 53: Monografia Helaine Portela

sua totalidade, os professores são formados em cursos de licenciatura, que preparam

apenas para a educação infantil e séries iniciais do ensino fundamental (até o 5º ano).

Não seria inoportuno mencionar ainda que os professores lidam com questões

trabalhistas que os tornam também temporários em sua função. Há os estagiários, os que

não têm definida sua permanência na instituição e, por isso, não possuem vínculo com a

instituição e compromisso como a árdua tarefa de planejar o ensino que deveria

impulsionar um progresso no processo educativo em relação às diversas nuance em que

estão inseridos os jovens em conflito com a lei. Há professores que já estão concluindo

sua permanência na instituição, o que gera desmotivação e consequente procura de

trabalho em outro lugar.

Simão de Miranda, educador e psicólogo, acredita que um dos principais geradores de

desestímulo nos alunos é a falta de motivação no próprio professor:

É uma cadeia. O professor desmotivado não se mobiliza para encontrar iniciativas criativas e inovadoras dentro do contexto da Educação. Ele espera que as soluções para suas aulas apareçam prontas, como num toque de mágica, ou venham de autoridades públicas, sendo que também cabe ao professor buscar novos recursos pedagógicos e metodologias que estimulem seus alunos em seus aprendizados (MIRANDA, 2005, p.1).

Há necessidade de trabalhar também a motivação e o envolvimento do grupo do

magistério. Percebe-se a necessidade de treinamento para os profissionais e de

valorização do trabalhador da educação, incluindo ganho salarial, reconhecimento por

parte do governo e melhores condições de trabalho.

O processo educativo carece de propriedade organizacional. Cada professor age como

peça independente dos demais órgãos que compõem o processo. Não se percebe a

interdependência entre as ações dos vários setores educativos: magistério, pedagogia,

família. Falta um elemento aglutinador dessa granularidade para formar um corpo. Na

falta de força concentradora cada um procede dentro de sua concepção. Alguns

percebem que esta escola é diferente, mas não têm ideia do que fazer na sua rotina

escolar para se adequar a essa situação peculiar.

liii

Page 54: Monografia Helaine Portela

Somando-se a todas essas questões, foi constatado que não há projeto pedagógico, pois

não foi observada a existência de um documento com o projeto, cada professor baseia-

se no que considerava pertinente, segundo experiência particular e pessoal, para

desenvolver seu trabalho, e afirmaram nunca ter tido acesso a qualquer documento para

nortear suas ações educativas, ou terem participado de qualquer capacitação para

ministrar aulas nas condições peculiares em que trabalham.

REFLEXÕES FINAIS

O processo educativo do adolescente que cumpre medida de semiliberdade em

Fortaleza-CE, no Centro de Semiliberdade Mártir Francisca (CSMF), carece de

melhoras em sua estrutura devido ao fato de que o projeto pedagógico não atende aos

objetivos registrados no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). A instalação

física da unidade requer melhoras, o corpo de professores é formado por profissionais

com licenciatura, ao passo que, o que se requer para este caso são professores de ensino

básico. A respeito disso, vale ressaltar que a escolarização garantida por lei deve ser

dada em escola regular do estado e não na unidade CSMF.

Em face da dinâmica do capitalismo que se insere na sociedade brasileira, a escola deve

se ajustar para preparar os jovens a fim de desenvolver a criticidade para que entendam

essa dinâmica, e que venham a ser dotados das ferramentas intelectuais necessárias ao

enfrentamento diário da manipulação midiática pelo consumo desenfreado. Para que os

jovens em conflito com a lei possam vir a ter uma vida útil e produtiva, e que deixem o

mundo particular que gira muitas vezes somente em torno de suas necessidades

individuais e reconheçam a relevância da vida em comunidade de maneira respeitosa e

harmônica.

O ser humano precisa se sentir livre para ser educado. E a situação de semiliberdade cria

um tipo novo de atividade e rotina escolar. Um quadro de dificuldade específico se

liv

Page 55: Monografia Helaine Portela

apresenta principalmente porque o adolescente não tem um tempo de permanência

suficiente na instituição, de modo que se possa planejar seu curso educacional em séries

de estudos. Devido a regimes de progressão da sentença, a qualquer momento o jovem

pode deixar a instituição. Outra dificuldade é a qualificação adequada dos profissionais

envolvidos no processo socioeducativo: a rede de atendimento especializado,

promotoria, juizado da infância e da juventude, conselhos tutelares, agentes de

programas governamentais de apoio e assistência, educador social, professores e

pedagogos.

Em termos de projeto pedagógico, não foi observada a existência de um documento,

logo, cada professor baseia-se no empirismo, segundo a experiência própria para

elaborar aulas. Falta uma ação conscientizadora por parte de um órgão central, do

governo ou da sociedade, que direcione e capacite a ação dos envolvidos no processo

educativo: professores, técnicos administrativos e pessoal de serviços, para que junto às

famílias possam empreender as ações preconizadas para a ressocialização do

adolescente em situação de conflito com alei. O trabalho junto às famílias é pouco

efetivado e extremamente superficial. Foram observadas tentativas tímidas de

aproximação entre esses dois grupos, sem notáveis resultados.

A insatisfação dos adolescentes com a escola é clara. Não faz parte de seus planos

escolarizarem-se, seguir o caminho incerto, longo e árduo do progresso mediante a

educação formal. O imediatismo é evidente e gera a impaciência, não se percebe

interesse no curso dos nove anos do ensino fundamental, mais três do ensino médio,

afora a educação tão longínqua educação superior.

A escola deveria ser específica para esse aluno em situação peculiar: com objetivos,

metodologias, ambientes e didáticas apropriadas. Bem como com professores treinados

para o trabalho com esse público peculiar. Diante desses desafios, a comunidade

pedagógica, muitas vezes se encontra estática, à espera que algo transformador aconteça

na esfera governamental. A implantação de um projeto pedagógico aplicável e eficiente

parte de dentro de cada escola, de suas necessidades eminentes.

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Page 56: Monografia Helaine Portela

A comunidade de professores age de forma individualizada. A falta de uniformidade

pedagógica resulta na não disseminação dos bons resultados. Cada profissional aplica o

que sua experiência e bom senso indicam. Não há treinamento para os profissionais,

nem fóruns de discussão, nem avaliação da qualidade das aulas, nem acompanhamento

dos egressos da Unidade e isso resulta no retorno dos jovens que incidem na violação da

semiliberdade ou cometem outros atos infracionais.

lvi

Page 57: Monografia Helaine Portela

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Page 60: Monografia Helaine Portela

ANEXO A

QUESTIONÁRIO

NOME:_______________________________________________________________________

IDADE: __________ ESCOLARIDADE: _________________________________

01. VOCÊ JÁ INTERROMPEU OS ESTUDOS ALGUMA VEZ? CASO AFIRMATIVO INFORME O TEMPO AFASTADO.

_______________________________________________________________________

02. O QUE VOCÊ ACHA DA EDUCAÇÃO ESCOLAR NO CSMF?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

03. O QUE VOCÊ ACHA DO ENSINO MODALIDADE EJA QUANDO COMPARADO AO ENSINO REGULAR?

_____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

04. APONTE O QUE VOCÊ GOSTA E O QUE VOCÊ NÃO GOSTA NA ESCOLARIZAÇÃO.

____________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

ANEXO B

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IMAGENS DO CENTRO DE SEMILIBERDADE MÁRTIR FRANCISCA

ANEXO C

Foto 2 – Exposição de quadros pintados por adolescentes do CSMF.

Foto 1 - Adolescentes do CSMF participando em atividade comunitária.

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TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Você está sendo convidado a participar de uma pesquisa sobre o processo

educativo de adolescentes que cumprem medida de semiliberdade. Os participantes da

pesquisa estão sendo escolhidos aleatoriamente. A qualquer momento você pode desistir

de participar e retirar o seu consentimento. Sua recusa não interferirá no

acompanhamento da instituição.

O objetivo da pesquisa é realizar um estudo avaliativo do processo educativo de

adolescentes que cumprem medida de semiliberdade no CSMF. A participação nesta

pesquisa será de responder algumas questões que serão solicitadas pelo entrevistador.

Não existindo riscos relacionados à participação de vocês e sim benefícios,

contribuindo assim para um aprendizado e reflexão sobre o tema. As informações

obtidas nestas entrevistas serão utilizadas apenas para atender os objetivos da pesquisa,

e a sua identidade será mantida em sigilo. Será usado um nome fictício para divulgação

destas informações impossibilitando assim a sua identificação.

Você receberá uma cópia deste termo no qual há meios de contatar a

pesquisadora, podendo tirar suas dúvidas a qualquer momento.

________________________________________

Entrevistadora / Pesquisadora

Helaine Cavalcante Portela Rua B, nº 55, Conj. Jardim Primavera, Parque dois

irmãos, Fortaleza-CE Tel. (85) 3291.2320.

Após ler estas informações e ter minhas dúvidas esclarecidas pelo pesquisador,

concordo em participar de forma voluntária neste estudo.

________________________________

Sujeito da pesquisa ___/___/___