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#121 EDIÇÃO OÁSIS COMO LUCRAR COM OS NOSSOS DESEJOS NEUROMARKETING ETNA, A MORADA DOS DEUSES “Vulcão-menino” vira patrimônio da humanidade OS CÉUS INCRÍVEIS De Alan Dyer PODEMOS FALAR A LÍNGUA DOS GOLFINHOS? É certo: eles conversam entre si

NEUROMARKETING - brasil247.com · postos a mensagens relacionadas com experiências de consumo, essas sofisticadas técnicas de imagea-mento identificam na tela do computador, por

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#121

Edição Oásis

Como luCrar Com os nossos dEsEjos

NEUROMARKETING

ETNA, A MORADADOS DEUSES“Vulcão-menino” vira patrimônio da humanidade

OS CÉUS INCRÍVEISde alan dyer

PODEMOS FALAR A LÍNGUA DOS GOLFINHOS?É certo: eles conversam entre si

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por

Editor

PEllEgriniLuis

“Os neurOmarqueteirOs cOnseguem entrar na mente das pessOas e descObrir

desejOs antes mesmO que elas tenham cOnsciência da sua existência”

V ocê acredita que é perfeitamente capaz de escolher o que consome? E que ninguém no mundo pode te empurrar algo que não queira? Cuidado! a arte de

convencer a comprar é, na verdade, uma ciência chamada neuromarketing. Ela se baseia na psicologia e em equipamen-tos empregados pela medicina.Essa nova disciplina emprega técnicas e tecnologias da medici-na, da psicologia e do marketing para estudar o comportamen-to do consumidor. descobre-se assim, com rigor científico, o que leva as pessoas a consumir. Primeira constatação: acreditar que escolhemos o que consumimos é pura ilusão. Entre muitas outras tecnologias, os pesquisadores do neuro-marketing utilizam a das imagens por ressonância magnética funcional (irMf) para medir a quantidade de sangue oxigena-do no cérebro visando identificar com precisão as variações das suas atividades. Essas variações depois são traduzidas em termos de desejos, gratificações sensoriais, reação a estímulos

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por

Editor

PEllEgriniLuis

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de toda ordem, etc. Para que? Simplesmente para descobrir quais os modos mais eficazes de acionar o botão de compras que todos nós temos no cérebro. Quando acionado, esse impulso faz algumas pessoas consumirem mais, outras menos. até há pouco tempo, o que motivava esse comportamento era uma verdadeira incógnita. agora não é mais, já que a arte de convencer o indivíduo a comprar tornou-se uma ciência. os neuromarqueteiros conseguem entrar na mente das pessoas e descobrir desejos antes mesmo que elas tenham consciência da sua existência.

Um exemplo? Entre as “armas” que os neuromarqueteiros usam para nos forçar a consumir está o branding sensorial: os nossos sentidos são seduzidos por aromas e percepções que nos estimulam a comprar. Você sabe o que é rtX9338PJS? Código esquisito, não é? Mais estranho ainda é o produto: um spray que contém aroma de cheeseburger com bacon. Quan-do é pulverizado nos dutos de ventilação de uma hamburgue-ria todo mundo lá dentro fica estimulado pelo aroma e acaba consumindo o dobro da comida e da bebida que teria consu-mido sem esse estímulo artificial.

o neuromarketing é o tema da nossa matéria de capa, muito bem explicado pela jornalista Fabíola Musarra.

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NEUROMARKETING

Como lucrar com os nossos desejos

OáSIS . CoMPortaMEnto

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ocê acredita que é perfeitamente capaz de escolher o que conso-me? E que ninguém no mundo pode te empurrar algo que não queira? Cuidado! A arte de con-vencer a comprar é, na verdade, uma ciência chamada neuroma-rketing. Ela se baseia na psico-logia e em equipamentos empre-gados pela medicina.

Todo mundo tem um botão de compras no cérebro. Quando acionado, esse impul-so faz algumas pessoas consumirem mais, outras menos. Até há pouco tempo, o que motivava esse comportamento era uma verdadeira incógnita. Agora não é mais, já que a arte de convencer o indivíduo a

comprar tornou-se uma ciência. O neu-romarketing, como é chamada a nova disciplina, baseia-se em pesquisas sobre o comportamento do consumidor, mas emprega técnicas e tecnologia da me-dicina e do marketing para avaliar com rigor científico o que leva as pessoas a consumir. Auxiliados pela ressonância magnética e pela tomografia computa-dorizada, os neuromarqueteiros con-seguem entrar na mente das pessoas e descobrir desejos antes mesmo que elas tenham consciência da sua existência.

Parece complicado... E é. Na prática, porém, não é difícil entender como fun-ciona o neuromarketinkg. Nem tampou-co perceber aonde ele pretende chegar. Basta refletir sobre as “armas” que são usadas para nos forçar a consumir. En-tre elas, o branding sensorial: os nos-sos sentidos são seduzidos por aromas e percepções que nos estimulam a com-prar. Por exemplo, você sabe o que é RTX9338PJS? Código esquisito, não é? Mais estranho ainda é o produto: um spray que contém aroma de cheesebur-ger de bacon. Quando é pulverizado nos dutos de ventilação de uma lanchonete, o seu proprietário vende uma quantida-de muito maior de sanduíches.

Vuma nova disciplina emprega técnicas e tecnologias da medicina, da psicologia e do marketing para estudar o comportamento do consumidor. descobre-se assim, com rigor científico, o que leva as pessoas a consumir. primeira constatação: acreditar que escolhemos o que consumimos é pura ilusãoPor: Fabíola Musarra

Enquanto nós, reles mortais, estamos intoxicados com o que acreditamos ser o cheiro de um saboroso hambúrguer, involuntariamente estamos nos ren-dendo à última fronteira do marketing: o branding sensorial, um conjunto de estratégias empregadas pelos experts da publicidade para “seduzir” os nos-sos sentidos. Em lanchonetes, shopping centers, supermercados e em muitos outros lugares. A embalagem de um café instantâneo exala um sa-boroso aroma do produto quando aberta. A ideia foi concebida pelos engenheiros de alimentos da em-presa, com o intuito de aumentar as vendas.

Aliás, exemplos de como somos fisgados mesmo sem saber não faltam. Em 2007, o psicólogo Eric Spangenberg, da Universidade de Washington (EUA), descobriu que o cheiro de baunilha difuso em uma loja de roupas femininas foi o responsável pelo dobro das vendas de saias, blusas e vestidos (as norte-americanas são malucas por essa fragrân-cia). Posteriormente, ele repetiu a mesma experi-ência, desta vez usando um odor considerado mas-culino, com aroma amadeirado, o que duplicou a venda de roupas masculinas.

Por sua vez, os engenheiros de alimentos do fabri-cante de um conceituado café instantâneo traba-lharam pesado para criar uma embalagem capaz de liberar um delicioso aroma quando a tampa do pro-duto fosse aberta. Fácil? Teoricamente, sim. Afinal, esse café instantâneo tem um cheiro divino, como poucos de seus concorrentes têm. O único detalhe é

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que nós, os consumidores, jamais deveríamos saber disso.

Não é à toa também que as padarias de diversos hipermercados estão localizadas perto da porta de entrada: o aroma exalado pelo pão quentinho e recém-saído do forno estimula o apetite e também nos ajuda a pensar como os produtos ali comerciali-zados são fresquinhos. A origem de tudo

O neuromarketing surgiu no final da década de 1990, a partir de estudos acadêmicos feitos por um grupo de pesquisadores nos Estados Unidos. Um deles, Gerald Zaltman, médico e pesquisador da Universidade Harvard, teve a ideia de empregar aparelhos de ressonância magnética para fins de marketing, e não estudos médicos. O termo neuro-marketing, no entanto, apenas seria conhecido em 2002, cunhado por Ale Smidts, um professor de marketing na Erasmus University, em Roterdã, na Holanda. A partir daí é que a nova disciplina, que estuda as variáveis capazes de influenciar o proces-so de decisão da compra com o emprego de ferra-mentas da psicologia e da medicina, passou a ser utilizada.Embora o neuromarketing ainda esteja em seus pri-meiros passos, várias corporações estão desenvol-vendo pesquisas nessa área. É o caso das empresas Nielsen, General Motors, Ford, Daimler, GE, Coca--Cola, McDonald’s, K-Mart, Kodak, Levi-Strauss e Delta Airlines.

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Nada é por acaso

Em 2001, uma ação de branding sensorial usada pela Bauducco foi bastante comentada pelas pesso-as e talvez você até se lembre (ou tenha participa-do) dela: no Natal daquele ano, a empresa espalhou o aroma de panetone em 32 salas de cinema de São Paulo, enquanto imagens do produto eram exibidas na tela, antes de o filme começar. Nem é preciso contar como foram as suas vendas de panetones na-quele ano.

Os aromas são armas tão poderosas que, quando os hipermercados começaram a surgir, a preocupação inicial dos empresários era diminuir o incômodo cheiro de peixe. Para solucionar a situação, começa-ram a colocar aromas, como os de cravo e baunilha, que deixavam as pessoas com fome durante as com-pras.

Embora a disposição dos produtos no supermerca-do pareça aleatória, não se iluda: não é. Muito pelo contrário, ela respeita critérios bem específicos. Você já reparou que na entrada e no espaço onde se dão os primeiros dez passos em seu interior não existem produtos. Sabe por quê? Porque nesse mo-mento você não vai comprá-los. Por isso, esses lo-cais são utilizados apenas para adaptar a sua visão ao novo ambiente.

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Já os produtos frescos (o pão, os legumes e as fru-tas) são colocados logo após a entrada, para dar uma sensação de frescor. Produtos de consumo di-ário, como o sal e o açúcar, são dispostos em locais distantes uns dos outros para forçar os clientes a olhar e a percorrer todo o interior da loja. Doces, balas e gomas estão sempre perto dos caixas, para encorajar as crianças a pedir aos pais. E eles aca-bam comprando as guloseimas porque estão estres-sados com a fila e sem disposição alguma para bri-gar com os filhos.

Mexer com o pudor e o senso de decência

Cenas eróticas são usadas em anúncios para chocar as pessoas e mexer com o seu pudor e senso de de-cência. Nesse caso, não é o sexo em si que é usado para atrair a atenção, mas a provocação e a reper-cussão que ele causa.

Cientificamente, o olfato parece ser o sentido mais fortemente manipulável. Afinal, os odores se fixam no cérebro humano de forma bem duradoura. Eles são armazenados no nível do sistema límbico, sob a forma de emoções ligadas ao contexto em que nos marcaram. Se sentirmos novamente esses odores, reviveremos tudo aquilo que havíamos vivenciado anteriormente.

O cheiro é uma eficiente arma usada pela publicida-de, mas ele não é a única maneira de sermos alve-jados. Você notou que a casca dos ovos vem se tor-nando amarronzadas ao longo dos anos? Pelo

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menos já percebeu que esses ovos estão sempre em locais mais privilegiados nas prateleiras, dispostos em lugares mais visíveis do que os de cascas bran-cas. Já tentou imaginar o motivo disso?

Em primeiro lugar, a mudança na casca dos ovos não ocorre por conta de uma mutação genética das galinhas. Trata-se, sim, de uma solução encontrada por um especialista em marketing. De acordo com os estudos dele, o marrom parece nos lembrar pai-sagens bucólicas, e vende mais. Para obter ovos com cascas dessa cor, os agricultores já sabem que basta dar vitaminas para as galinhas. Mas e você? O que deseja colocar em sua panela? E no seu organismo?

Além dos cheiros e das cores, também a sensuali-dade tem um poder de persuasão semelhante. Es-pecialmente quando é feita para provocar. Bom exemplo disso é a publicidade de Calvin Klein. Seus anúncios “eróticos” são elaborados para chocar as pessoas e mexer com o seu pudor e senso de decên-cia. Nesse caso, não é o sexo em si que é usado para atrair a atenção, mas a provocação e a repercussão que ele causa nas pessoas: no final, todo mundo acaba comentando o assunto.

Mas esses truques não são os únicos usados pelos neuromarqueteiros. Dois pesquisadores da Univer-sidade de Leicester (Inglaterra) constataram que as vendas de vinhos de um hipermercado variavam de acordo com a música. Nos dias em que eram to-cadas músicas facilmente reconhecidas como fran-cesas, os vinhos da França vendiam mais. Em con-

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trapartida, o mesmo acontecia com as músicas e os vinhos italianos, portugueses, alemães... Como funciona o “imageamento”

Auxiliados por equipamentos de ressonância mag-nética, os neurocientistas conseguem registrar ins-tantaneamente as atividades cerebrais e a formação de sinapses e reações, monitorando as emoções que sentimos durante as compras. Enquanto somos ex-postos a mensagens relacionadas com experiências de consumo, essas sofisticadas técnicas de imagea-mento identificam na tela do computador, por meio de gráficos coloridos e em terceira dimensão, as zonas do cérebro estimuladas e o funcionamento de cada pedaço de nossa mente.

Já com a tomografia de ressonância magnética fun-cional, os cientistas produzem imagens coloridas da troca de substâncias no cérebro e registram ins-tantâneos da localização e intensidade da atividade cerebral. Sinais de radiofrequência fornecem a ima-gem das alterações no fluxo sanguíneo e na oxige-nação em determinadas áreas cerebrais. O processo também mostra como a intensidade cerebral se al-tera diante de anúncios publicitários.

É assim, por meio da atividade elétrica cerebral, que os neurocientistas esperam explicar o que move a decisão das compras e obter dados e informações relevantes sobre os processos e as variáveis mentais que possam explicar melhor as expectativas, prefe-rências, motivações e comportamentos relacionados

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com o consumo, ajustando as estratégias de marke-ting das empresas.

Entretanto, os neuropsicólogos asseguram que não existe um botão para o consumo porque a tomada de decisões envolve diversas regiões do cérebro que atuam de forma sequencial num curto espaço de tempo. Por isso, segundo eles, a atividade prática do neuromarketing até agora se limita à fotografia do cérebro no instante exato da tomada de decisão. O grande avanço científico é conseguir ver na prá-tica como as funções cerebrais (emoção, memória e raciocínio) são ativadas diante de um estímulo.

Ficção científica, lógica do consumo

Essas cenas parecem ser de uma ficção científica, mas não é nada disso. Essas e outras “façanhas” sensoriais são narradas no livro A Lógica do Consu-mo. O autor, Martin Lindstrom, é um dos maiores especialistas no mundo da sedução dos bens. Em 228 páginas, revela o que nos leva a comprar um produto em detrimento de outro e quais as sutis es-tratégias que são utilizadas para as grandes marcas captarem mais.

Lindstrom conhece todas essas armas porque pes-quisa o consumidor a fundo, em nome de grandes marcas. São experiências reais, como ele conta em seu livro, mesmo quando exigem o uso de métodos científicos e equipamentos da medicina, como a to-mografia computadorizada ou a ressonância magné-tica, para saber o que acontece com nossos cérebros

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quando estamos na presença de um produto nas prateleiras dos supermercados ou quando assisti-mos a um comercial na televisão.

No relato dessas experiências reais, fica claro que o neuromarketing já faz parte da realidade. E veio para ficar. Ao mapear como cada um dos nossos neurônios reage ao estímulo de uma marca, ao sa-bor de um refrigerante ou aos apelos de um ou-tdoor na rua, a expectativa é de que, em breve, as empresas consigam entender com um nível de de-talhamento inédito quais são os fatores que desen-cadeiam toda a corrente de desejos, necessidades e anseios que levam uma pessoa a comprar um deter-minado produto.

Essa possibilidade abre espaço para algumas po-lêmicas e para muita reflexão. Se, de um lado, os neuromarqueteiros usarem com consciência o co-nhecimento adquirido sobre os desejos dos consu-midores, as empresas poderão conhecer melhor as suas necessidades e fabricar produtos que realmen-te os satisfaçam. De outro, não há como não pensar na questão ética: a nova ciência será usada para manipular a mente do consumidor?

Ela é mesmo apenas um inofensivo método de estu-dos dos hábitos de consumo ou não? Afinal, traba-lha em cima de estímulos que não são conscientes, uma ação eticamente condenável. Na realidade, ninguém tem essas respostas. No entanto, dá para antever que, como tudo que foi criado no mundo, o neuromarketing poderá ser usado com boas ou más

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intenções, tornando o marketing mais honesto ou não. É esperar para ver!

Para saber mais:

A Lógica do Consumo – Verdades e Mentiras Sobre Por Que Compramos, Martin Lindstrom, Editora Nova Fronteira, 207 págs., R$ 24,40.

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ETNA, A MORADA

DOS DEUSES“Vulcão-menino” vira

patrimônio da humanidade OáSIS . UnESCo

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om “apenas” 550 mil anos, apro-ximadamente, o Etna é considera-do um vulcão jovem. Talvez essa seja a causa de ele ser tão irre-quieto e nervoso. Montanha mais bela da Sicília, integrado à lista do patrimônio da humanidade da Unesco no dia 21 de junho 2013, o Etna vive este ano um dos seus ciclos eruptivos mais intensos.

Espetaculares erupções no seu topo, com jatos de lava incandescente que atingem centenas de metros de altura, proporcio-nam shows noturnos que atraem multidões de turistas que querem, pelo menos uma vez na vida, ver um vulcão em plena ativi-dade.

O Etna atende a todas as expectativas e não costuma decepcionar: ele tem ofere-cido, na atualidade, entre 7 e 35 erupções ao ano – quase 1,5 erupção ao mês. Assim, se você quiser ser espectador de uma delas, basta ir à Sicília, instalar-se numa das muitas cidadezinhas que exis-tem ao redor da montanha – de preferên-cia a encantadora Taormina, à beira do mar – e esperar alguns dias. O Etna não se fará de rogado e dará o seu show.

Uma história muito antiga

Na verdade, não se tratam de várias erup-ções, mas sim de uma única, que começou a cerca 2700 anos e não parou até hoje. Esse vulcão parece estar vivo. Apresenta até um curioso fenômeno que foi batizado de “respiração do Etna”, no qual, após uma erupção, ele recomeça a acumular lava e gases em seu interior, até chegar a um grau de pressão insuportável, quando erupta novamente. Durante o pro-cesso desses “respiros” o solo na região do Etna chega a subir e baixar dezenas de centímetros.

Como suas cercanias são habitadas pelo homem desde o início dos tempos históri-cos, e talvez até mesmo antes, as ativida-des do Etna estão entre as mais bem

CO maior vulcão da europa é relativamente jovem e tem hoje erupções quase constantes. a unesco acaba de inseri-lo na lista do patrimônio natural da humanidade, definindo-o como um dos vulcões mais emblemáticos e ativos do mundo

Por: EquiPE oásis

documentadas de toda a vulcanologia. Sabe-se, por exemplo, que a grande maioria das suas erupções ocorre nas crateras localizadas no seu cume. Elas são mais espetaculares, porem muito menos perigosas do que aquelas que acontecem nos seus flancos. Estas últimas derramam grandes quantidades de lava que formam verdadeiros rios que, às vezes, atingem al-deias e vilarejos situados nas imediações. Felizmente, as erupções laterais acontecem na média de uma a cada quatro anos. A lava da erupção lateral de 1669, no entanto, chegou até a grande cidade de Catânia, correndo pelas suas ruas até chegar ao mar. Até hoje podem ser observados em Catânia vestígios bem evi-dentes dos estragos que produziu.

Ele é simplesmente gigantesco

Além de ser o mais alto vulcão da Europa e um dos mais altos do mundo, atingindo aproximadamente 3340 metros de altitude, o Etna é simplesmente gi-gantesco. A extensão total da sua base é de 1190 qui-lômetros quadrados, com uma circunferência de 140 quilômetros, superando em quase três vezes o tama-nho do Vesúvio.

É um dos vulcões mais ativos do mundo, mas, normalmente, as erupções não oferecem grande risco à população que vive nas localidades próximas. Os so-los vulcânicos em redor propiciam bons campos para a agricultura, com vinhedos e hortas espalhados nas faldas da montanha e em toda planície de Catânia, a sul.

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Lendas do mundo romano

O Etna era conhecido na Roma Antiga como ÆTNA, um nome derivado provavelmente do grego antigo “aitho” (queimar violentamente). As frequentes e por vezes dramáticas erupções fizeram da montanha um tema recorrente na mitologia clássica, traçando-se paralelos entre o vulcão e vários deuses e gigantes das lendas do mundo romano e grego. Éolo, o rei dos ventos, teria confinado os ventos em cavernas sob o Etna. O gigante Tifão foi preso sob o vulcão, de acordo com o poeta Ésquilo e foi a causa de suas erupções. Outro gigante, Encélado, revoltou-se contra os deuses e foi morto e sepultado sob o Etna.

Diz-se também que Vulcano (Hefesto na mitologia grega), o deus do fogo e da forja, tinha sua fundição sob o Etna e atraiu o deus de fogo Adrano para fora da montanha, enquanto os ciclopes mantinham uma forja em que fabricavam raios para que Zeus os usasse como armas. Supõe-se que o submundo grego, Tárta-ro, encontrava-se abaixo do Etna.Empédocles, um importante filósofo pré-socrático e homem público do quinto século antes de Cristo, te-ria encontrado a morte numa das crateras do vulcão Etna.

No mundo católico, acredita-se que o Etna entrou em erupção em respeito ao martírio de Santa Águeda no ano 251, fazendo com que os muçulmanos posterior-mente a invocassem contra ameaças do fogo e relâm-pagos.

Video: Uma incrível erupção do vulcão Etna21/38OáSIS . SaúdE

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OOS CÉUS INCRÍVEISDE ALAN DYER

OáSIS . aStro

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scritor e produtos de programas de ciência para o Telus Spark Science Centre, em Calgary, Ca-nadá, Alan Dyer é o mais conheci-do fotógrafo de fenômenos astro-nômicos do seu país. Astrônomo amador, seus interesses incluem a astrofotografia e a observação do céu profundo.

Sempre que pode, Alan visita também o he-misfério sul para fotografar os fenômenos celestes que ocorrem nessas latitudes.

Eas cores radiantes das auroras boreais, o prateado das nuvens mesosféricas atravessadas pelos raios do sol: o fotógrafo canadense alan dyer clica os fenômenos astronômicos que enfeitam os céus nas altas latitudes

Por: EquiPE oásis. Fotos: alan DyEr - aMazingsky.nEt

1. Todas as cores do céu

As cores desta foto chamam a atenção em primeiro lu-gar. Mas a aurora nela imortalizada não é a única coisa que atrai o nosso olhar. Nessa visão panorâmica reali-zada pelo fotógrafo e jornalista astronômico canadense Alan Dyer, realizada em Alberta, Canadá, no dia 5 de junho 2013, aparecem diversos fenômenos celestes que, sozinhos, já valeriam um inteiro serviço fotográfico.

Comecemos com o arco da Via Láctea, que se estende em toda a sua beleza à direita da imagem; na direção norte, um pouco mais à esquerda do centro da foto, sur-ge a luminosidade amarelada do crepúsculo perene que se contempla na latitude do clique (51° Norte), nos dias próximos ao solstício de verão. Logo acima, podem ser observadas as camadas verde e violeta de uma aurora boreal baixa.

A luminosidade verde que se percebe no céu é provoca-da por uma perene luminescência estratosférica devida à liberação de energia dos átomos de oxigênio na parte superior da atmosfera. À esquerda da casa, no horizon-te, percebe-se o brilho amarelado da poluição atmosfé-rica urbana e, à esquerda, nota-se um hóspede especial: a nave de carga Einstein ATV, retratada na sua viagem em direção à Estação Espacial Internacional.

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2 Nuvens de ouro e prata

Quatro noites depois, a 9 de junho, Alan capturou com sua câmera um outro céu tira-fôlego produzido pelo encontro entre uma aurora boreal e as luzes de uma imensa nuvem mesosférica, na mesma área geo-gráfica, ao sul da cidade de Alberta.

As nuvens mesosféricas, raramente observadas, cons-tituem um fenômeno atmosférico algumas vezes visível no final dos crepúsculos em regiões de alta latitude. São mais frequentes nos meses de verão, formando-se a cerca de 80 quilômetros de altitude, e constituídas de minúsculos cristais de gelo suspensos na atmosfera. Quando a luz solar as atravessa, podem produzir extraordinárias luminosidades.

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3 No lugar certo, no momento adequado

“A principal dificuldade para se fotografar as auro-ras boreais e as nuvens mesosféricas está no fato de que é preciso estar no lugar certo e no momento cer-to quando tais fenômenos ocorrem”, explica Dyer. “A aurora é parcialmente previsível, mas será que você estará num lugar adequado para fazer belas fotos? Isso tem de acontecer longe das áreas urbanas e com um fundo fotogênico. Sobretudo, com o céu limpo. Nas últimas semanas perdi fenômenos celestes muito interessantes por causa das más condições meteoro-lógicas”.

Na foto, um outro mix perfeito entre nuvens mesosfé-ricas e aurora boreal.

4 Quando você menos espera

Quando se trata de nuvens mesosféricas não existem sistemas de previsão. Captar belas fotos dessas nu-vens significa, muitas vezes, permanecer acordado e atento a noite toda. Dorme-se pouco ou nada!”, diz Dyer.

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5 Tentativas e erros

“Quando finalmente um belo fenômeno celeste se ma-nifesta, é relativamente simples obter boas fotos deles com uma câmera digital. Os tempos de exposição de-pendem do brilho e claridade do fenômeno e do céu, mas isso fica fácil de se conseguir depois de alguns testes. A câmera irá captar intensidades sempre maio-res, em termos de estrutura e cores, daquilo que o olho humano consegue ver”.

Veja o vídeo das nuvens mesosféricas surgidas na noi-te de 9 de junho: http://youtu.be/HyNZV28N_1k

6 Triângulo astronômico

Em outras ocasiões, o espetáculo tem de ser busca-do muito além dos limites da nossa atmosfera. Nesta foto, a conjunção de planetas que foi captada por Dyer a 26 de maio 2013. Mercúrio, Vênus e Júpiter se en-contram dentro de um estreito “triângulo” no céu.

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7 Olha quem aparece!

Um outro evento muito frequente mas difícil de fo-tografar: a passagem da Estação Espacial Internacio-nal (ISS) sobre nossas cabeças. Nessa foto, feita com objetiva “olho-de-peixe”) aparece a passagem da ISS sobre o Canadá, a 5 de junho. No centro aparece a Via Láctea e ao fundo as luzes de uma baixa aurora bore-al.

8 Um novo encontro

Uma outra passagem da ISS, desta vez na noite de 9 de junho. O céu parece mais azul, enquanto a base em órbita corre do oeste para o leste.

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PODEMOS FALAR A LÍNGUA DOS GOLFINHOS?É certo: eles conversam entre si

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enise Herzing passou três dé-cadas pesquisando e se comu-nicando com golfinhos selva-gens em seu meio natural e respeitando as suas condições e exigências. No livro “Dolphin Diaries” ele conta a sua extra-ordinária experiência com es-ses cetáceos.

Desde 1985 ela passa os verões numa

área marítima junto ao arquipélago das Bahamas, como parte do Wild Dolphin Project. Esse trabalho possibilitou a De-nise entender melhor a estrutura social do grupoo de cetáceos que observa, seu comportamento, meios de comunicação e o seu habitat natural. Um dos aspectos mais notáveis de sua pesquisa são os equipamentos que in-ventou para possibilitar aos humanos uma forma de comunicação com os gol-finhos.D

há 28 anos, denise herzing passa cinco meses a cada verão vivendo com um grupo selvagem de golfinhos-pintados-do-atlântico, seguindo três gerações de relações familiares e seus comportamentos. está claro que eles se comunicam entre si - mas isso é uma linguagem? Os humanos podem usá-la também? ela compartilha um experimento inédito e fascinante para testar esta ideiaVíDEo: tED iDEas Worth sPrEaDingtraDução Para o Português: Francisco DubiEla. rEVisão: roDrigo bEltrão

a PEsquisaDora DEnisE hErsing

Tradução integral da palestra de Denise Hersing proferida no TED

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“Bem, agora estamos indo para as Bahamas encontrar um grupo notável de golfinhos com quem trabalhei na nature-za nos últimos 28 anos.Sou interessada por golfinhos por causa de seus grandes cérebros e pelo que podem estar fazendo com esse poder cerebral na natureza. Sabemos que eles usam parte desse poder cerebral para viver vidas complicadas, mas o que realmente sabemos sobre a inteligência dos golfinhos?Bem, sabemos algumas coisas. Sabemos que sua razão cérebro-corpo, que é uma medida física de inteligência, é superada apenas pelos humanos. Cognitivamente, eles podem entender línguas criadas artificialmente. E eles passam no teste de autopercepção nos espelhos. Em algu-mas partes do mundo, usam ferramentas, como esponjas para caçar peixes. Mas resta ainda uma questão: Eles têm linguagem, e se tiverem, o que eles estão falando?Décadas atrás, não anos atrás, eu me dispus a buscar um lugar no mundo onde pudesse observar golfinhos dentro d’água para tentar decifrar o código de seu sistema de comunicação. Em muitas partes do mundo a água é mui-to turva, então é muito difícil observar animais dentro d’água, mas encontrei uma comunidade de golfinhos que vivem nesses lindos bancos de areia transparentes e ra-sos das Bahamas que estão a leste de Flórida. Eles passam o dia descansando e socializando com segurança nesses bancos superficiais, mas à noite eles parte para a borda e caçam no fundo do mar.Agora, não é lugar ruim para ser um pesquisador, tam-bém. Então saímos por cerca de cinco meses a cada verão num catamarã de 20 metros, e vivemos, dormimos e tra-balhamos no mar por semanas a cada vez. Minha princi-pal ferramenta é uma câmera subaquática com um hidro-fone que é um microfone subaquático, para que eu possa

correlacionar som e comportamento. E a maior par-te de nosso trabalho é praticamente não invasivo. Tentamos seguir a etiqueta dos golfinhos enquanto estamos na água, já que estamos realmente obser-vando-os fisicamente na água. O golfinho-pintado--do-atlântico é uma espécie muito boa para traba-lhar por algumas razões. Eles nascem sem pintas, e ganham as pintas com a idade, e passam por fases de desenvolvimento muito distintas, então é inte-ressante rastrear seu comportamento. Ao chegar na idade de 15 anos, eles estão cheios de pintas brancas e pretas.A mãe que vocês veem aqui é a Mugsy. Ela tinha 35 anos nessa foto, mas os golfinhos podem viver até os 50, na verdade. E como todos os golfinhos em nos-sa comunidade, fotografamos a Mugsy e rastreamos suas pintinhas e as marcas de sua barbatana dorsal, e também seus padrões únicos de pintas enquanto

Tradução integral da palestra de Denise Hersing proferida no TED

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ela crescia.Agora, golfinhos jovens aprendem muito enquanto enve-lhecem, e eles usam seus anos de adolescente para prati-car habilidades sociais. Aos nove anos e idade as fêmneas se tornam sexualmente maduras, então podem engravi-dar, e os machos amadurecem um pouco mais tarde, aos 15 anos de idade. Os golfinhos são muito promíscuos, e nós temos de determinar quem são os pais, então fazemos testes de paternidade coletando material fecal da água e extraindo o DNA. Isso quer dizer que, depois de 28 anos, estamos rastreando três gerações, incluindo avôs e avós. Agora, os golfinhos são especialistas em som. Eles produ-zem sons dez vezes mais altos escutam sons 10 vezes mais altos que nós. Mas eles têm outros sinais de comunicação que usam. Eles têm boa visão, então eles usam posturas corporais para se comunicar. Eles têm paladar, não olfato.

E eles têm tato. E o som pode ser sentido na água, pois a impedância acústica do tecido e da água são as mesmas. Então os golfinhos podem se chamar e se cutucar à distância.Agora, sabemos algumas coisas sobre como os sons são usados com certos comportamentos. O assobio de assinatura é um assobio que é específico para um golfinho individual, e é como um nome. (Sons de as-sobios de golfinhos) Este é o som mais bem estuda-do, pois é fácil de medir, na verdade, e encontramos esse assobio quando as mães e seus bebês estão se reunindo, por exemplo.Outro som bem estudado são os cliques de eco-loca-ção. Este é o sonar do golfinho. (Sons de eco-locação de golfinhos) Eles usam esses cliques para caçar e se alimentar. Mas eles podem comprimir esses cli-ques juntos em chamados e usá-los socialmente. Por exemplo, os machos estimulam uma fêmea durante uma perseguição de corte. Vocês sabem, eu fui cha-mada na água. (Risos) Não contem para ninguém. É um segredo. E vocês podem sentir o som. Esse foi meu ponto sobre isso. (Risos)Então os golfinhos são animais políticos, e eles pre-cisam resolver conflitos. (Sons de golfinhos) E eles usam esses sons de rajadas em pulsos assim como seus comportamentos cabeça-a-cabeça quando bri-gam. E esses são sons muito pouco estudados pois são difíceis de medir.Este é um vídeo de uma briga típica de golfinhos. (Sons de golfinhos) Vocês vão ver dois grupos, e vo-cês vão ver a postura cabeça-a-cabeça, algumas bo-cas abertas, muitos grasnidos. Aparece uma bolha. E basicamente, um desses grupos vai meio que recuar

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e tudo vai ficar bem, e isso não aumenta muito para vio-lência. Nas Bahamas nós também temos golfinhos-nariz-de--garrafa que interagem socialmente com os golfinhos--pintados. Por exemplo, eles cuidam dos bebês uns dos outros. Os machos têm expressões de dominância que usam quando estão perseguindo outras fêmeas. As duas espécies formam alianças temporárias quando estão afas-tando os tubarões. E um dos mecanismos que eles usam para comunicar sua coordenação é a sincronia. Eles sin-cronizam seus sons e suas posturas corporais para parecer mais fortes e soar mais alto. (Sons de golfinhos) Agora, estes são golfinhos-nariz-de-garrafa e vocês vão vê-los começar a sincronizar seus comportamentos e seus sons. (Sons de golfinhos)Vocês veem, eles se sincronizam com seu parceiro assim como a outra dupla. Eu gostaria de ser coordenada assim.Agora, é importante lembrar que vocês estão escutando apenas as partes humanamente audíveis dos sons dos gol-finhos, e os golfinhos fazem sons ultra sônicos, e usamos equipamentos especiais na água para coletar esses sons. Agora, os pesquisadores mediram realmente a complexi-dade dos assobios usando a teoria da informação, e esti-ma-se que os assobios pulsos estão muito relacionados às linguagens humanas. Sons de rajadas em pulsos são mis-teriosos.Vejam estes três espectrogramas. Dois são de palavras humanas, e um é de uma vocalização de golfinho. Então tente adivinhar na sua mente qual deles é o do golfinho. Acontece que sons de rajadas em pulsos parecem um pou-co com fonemas humanos. Uma forma de decifrar o código é interpretar esses sinais e descobrir o que eles significam, mas é um trabalho di

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fícil, e nós ainda não temos uma Pedra de Roseta. Uma segunda forma de decifrar o código é desenvolver alguma tecnologia, uma interface para fazer comunicação bimo-dal, e é o que nós estamos tentando fazer nas Bahamas e em tempo real. Agora, os cientistas usam interfaces de te-clado para tentar ligar os pontos com outras espécies in-cluindo os chimpanzés e os golfinhos. Este teclado aquá-tico em Orlando, Flórida, no Epcot Center, foi a interface bimodal mais sofisticada já criada, projetada para huma-nos e golfinhos trabalharem juntos embaixo d’água e tro-car informações. Então nós queríamos desenvolver uma interface como essa nas Bahamas, mas num contexto mais natural. E uma das razões pela qual pensamos que podí-amos fazer isso é porque os golfinhos estavam começan-do a nos mostrar muita curiosidade mútua. Eles estavam imitando espontaneamente nossas vocalizações e nossas

posturas, e eles estavam nos convidando para as brincadeiras dos golfinhos. Agora, os golfinhos são mamíferos sociais, então eles amam brincar, e um dos seus jogos favoritos é levar algas marinhas, ou sargaço nesse caso, por aí. E eles são muito adeptos. Eles gostam de trazer e jogar isso de membro para membro. Neste vídeo, a adulta é a Caroh. Ela tem 25 anos, e esse é seu recém nascido, Cobalt, e ele está aprendendo a brincar nesse jogo.(Sons de golfinhos) Ela está meio que provocando e caçoando dele. Ele realmente quer esse sargaço. Agora, quando os gol-finhos pedem para os humanos brincarem, eles frequentemente afundam verticalmente na água, e trazem um pequeno sargaço na sua nadadeira, e eles meio que lançam e soltam às vezes no fundo e nos deixam pegá-lo, e então nós fazemos um jogo de bobinho com o sargaço. Mas quando não mergu-lhamos para pegá-lo, eles o trazem para superfície e eles meio que agitam isso na frente da gente com sua cauda e o jogam para nós como fazem com seus be-bês, e então nós pegamos e fazemos um jogo.E começamos a pensar, bem, não seria legal se cons-truíssemos uma tecnologia que permitisse que os golfinhos pedissem essas coisas em tempo real, seus brinquedos favoritos? A proposta original era ter um teclado pendurado no barco acoplado a um compu-tador, e os mergulhadores e golfinhos iriam ativar as teclas do teclado e trocar alegremente ia nformação e pedir brinquedos um ao outro. Mas rapidamen-te descobrimos que os golfinhos simplesmente não iriam acompanhar o barco usando um teclado. Eles tinham coisas melhores para fazer na natureza. Eles podiam fazer isso em cativeiro, mas na natureza...

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o golFinho-PintaDo-Do-atlântico

Então construímos um teclado portátil que podíamos car-regar até a água, e marcamos quatro objetos que eles gos-tam de brincar, o lenço, a corda, o sargaço, e também uma boia, que é uma atividade divertida para um golfinho. (Som) E este é o assobio do lenço, que está associado com um símbolo visual. E há assobios criados artificialmente. Eles estão fora do repertório normal dos golfinhos, mas eles são facilmente imitados pelos golfinhos. E eu pas-sei quatro anos com meus colegas Adam Pack e Fabienne Delfour,trabalhando no mar com esse teclado usando en-tre a gente para pedir brinquedos enquanto os golfinhos nos assistiam. E os golfinhos podiam entrar no jogo. Eles podiam apontar o objeto visual, ou podiam imitar o asso-bio.Este é um vídeo de uma sessão. O mergulhador tem um brinquedo de corda, e estou no teclado à esquerda, e aca-bei de apertar a tecla da corda, e isso é o pedido dos hu-manos pela corda. Então eu recebi a corda, estou mergu-lhando, e estou basicamente tentando chamar a atenção dos golfinhos, pois eles são meio que crianças. Você preci-sa prender sua atenção. Eu vou jogar a corda, e ver se eles se aproximam. Aí vem eles, e então eles pegam a corda e a levam como um brinquedo. Agora, estou no teclado à es-querda, e na verdade esta é a primeira vez que tentamos isso. Eu vou tentar pedir pelo brinquedo, a corda, dos golfinhos usando o som da corda. Vamos ver se eles po-dem entender o que isso significa. (Som) Este é o assobio da corda. Aí vem os golfinhos, e eles jogam a corda. Oba! Uau!(Aplausos)Isso foi só uma vez. Não sabemos com certeza se eles re-almente entenderam a função dos assobios. Muito bem, aqui está o segundo brinquedo na água. Este é o brin-

quedo do lenço, e vou tentar levar o golfinho até o teclado para mostrar a ela o sinal visual e o sinal acústico. Agora esse golfinho, vamos chamá-la de “ladra do lenço”, pois ao longo dos anos ela fugiu com uma dúzia de lenços. Na verdade, a gente acha que ela tem uma butique em algum lugar nas Baha-mas. Então estou me aproximando. Ela pega o lenço pelo lado direito. E tentamos não tocar muito nos animais, não queremos habituá-los demais conosco. E estou tentando levá-la de volta ao teclado. Então o mergulhado ali vai ativar o som do lenço para pedir por ele. Então eu tento dar a ela o lenço. Opa. Quase o perdi. Mas este é o momento quando tudo se tor-na possível. O golfinho está no teclado. Temos sua atenção total. E às vezes isso levou horas. E eu quis compartilhar esse vídeo com vocês não para mostrar grandes descobertas, pois elas não aconteceram ain-da, mas para mostrar a vocês o nível de intenção e foco que esses golfinhos têm, e seu interesse no sis-tema.E por causa disso, decidimos que precisávamos de alguma tecnologia mais sofisticada. Então juntamos forças com a Georgia Tech, com o grupo de compu-tação portátil de Thad Starner para nos construir um computador portátil aquático que chamamos de CHAT. [Cetacean Hearing and Telemetry: Teleme-tria e Audição de Cetáceos] Agora, ao invés de car-regar um teclado dentro d’água, o mergulhador está vestindo o sistema completo, e é apenas acústico, então basicamente o mergulhador ativa o som num teclado em seu antebraço, o som é emitido por um fone aquático, se um golfinho imita o assobio ou um humano toca o assobio, o sons chegam e são locali

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zados pelos dois hidrofones. O computador pode localizar quem pediu pelo brinquedo se houver correspondência de palavra. E o verdadeiro poder do sistema está nesse siste-ma de reconhecimento em tempo real, de forma que pode-mos responder aos golfinhos rapidamente e com precisão.Estamos no estágio do protótipo, mas isso é como espe-ramos que funcione. O Mergulhador A e o Mergulhador B vestem um computador portátil e o golfinho escuta o as-sobio como um assobio, o mergulhador escuta o assobio como assobio na água, mas também como uma palavra pela condução óssea. Então o Mergulhador A toca o asso-bio do lenço ou o Mergulhador B toca o assobio do sarga-ço para pedir um brinquedo para quem tiver. O que espe-ramos que aconteça é que o golfinho imite o assobio, e se o Mergulhador A tiver o sargaço, se este for o som que foi tocado e pedido, então o mergulhador vai dar o sargaço

para o golfinho que pediu e eles vão nadar alegre-mente para o pôr-do-sol brincando com o sargaço para sempre.Agora, até que ponto essa comunicação pode ir? Bem, o CHAT é projetado especificamente para ca-pacitar os golfinhos a pedir coisas de nós. É proje-tado para ser bimodal. Agora, eles vão aprender a imitar os assobios funcionalmente? Esperamos e pensamos que sim. Mas enquanto deciframos seus sons naturais, estamos planejando em colocá-los no sistema computadorizado. Por exemplo, agora mes-mo podemos colocar seus próprios assobios de assi-natura no computador e pedir para interagir com um golfinho específico. Da mesma forma, podemos criar nossos próprios assobios, nossos próprios assobios de nomes, e fazer os golfinhos chamar por mergu-lhadores específicos para interagir.Agora, pode ser que toda nossa tecnologia portátil seja a mesma tecnologia que nos auxilie a nos comu-nicar com outras espécies no futuro. No caso de um golfinho, vocês sabem, é uma espécie que provavel-mente está próxima de nossa inteligência de muitas formas, e pode ser que sejamos incapazes de admitir isso agora, mas eles vivem num ambiente diferente, e ainda precisamos ligar os pontos entre sistemas sensoriais.Quero dizer, imaginem como seria entender real-mente a mente de outras espécies inteligentes no planeta.Obrigada.

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