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MG: R$ 3 N Ú MERO 24.910 2 ª EDI ÇÃ O 128 P Á GINAS FECHAMENTO DA EDI ÇÃ O: 21H30 www.uai.com.br B E L O H O R I Z O N T E , D O M I N G O , 1 8 D E A B R I L D E 2 0 1 0 Endereço na internet: www.uai.com.br/em.htm Assinatura Uai: 0800 031 5000 Assinaturas e serviço de atendimento: Belo Horizonte: (31) 3263-5800 - Outras localidades: 0800 031 5005 771809 987014 9 ISSN 1809-9874 9 F F E E M M I I N N I I N N O O & MASCULINO FARRA DA NOTA FRIA NA ASSEMBLEIA RAPOSA E TIGRE BRIGAM HOJE PELA OUTRA VAGA Galo na final Num jogo em que desperdiçou várias oportunidades claras, principalmente no primeiro tempo, o Atlético ficou no 0 a 0 contra o Democrata, no Mineirão. Mas se classificou para a decisão do Estadual, pois tinha vencido a primeira partida por 2 a 1. MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS ESPECIAL MAIS TENSÃO NO CAMPO CAOS AÉREO JÁ ATORMENTA 20 PAÍSES EUROPEUS FLERTE COM O TOTALITARISMO Na oitava reportagem, que fecha a série sobre o Programa Nacional de Direitos Humanos, a preocupação de produtores rurais com a proposta de se criar mediação entre invasores de terra e proprietários, antes da apelação à Justiça para a reintegração de posse. PÁGINA 14 PÁGINA 21 PLANTAS DE MINAS BLOQUEIAM VÍRUS DA DENGUE E ROTAVÍRUS PÁGINA 24 Para todas as ocasiões Edição especial mostra a história do jeans, a produção no Brasil, as grifes mineiras e o que vai bombar no inverno. Para calçar o embolso dos recursos extras, que só podem ser usados para custear o mandato, parlamentares estaduais mineiros estão apresentando grande volume de cupons fiscais de origem duvidosa, superfaturados ou emitidos por empresas de fachada. Pelo menos 51 dos 77 deputados têm alguma irregularidade na prestação de contas. Deputados usam o artif í cio para justificar o recebimento de R$ 20 mil mensais de verba indenizat ória O Estado de Minas analisou 11.039 notas, do período de julho de 2009 a janeiro deste ano, e vai mostrar em série de reportagens os problemas com o pagamento de um total de R$ 8,7 milhões. A empresa que teria recebido a maior fatia do dinheiro funciona numa garagem, sem qualquer estrutura, em Contagem. O representante de outra firma admitiu forjar notas para os deputados. Fachada da Máxima Comércio Ltda, que emitiu faturas de R$ 685,7 mil PÁGINAS 3, 4 E 6 DOMINGO HENRIQUE GUALTIERI/DIVULGAÇÃO BETO NOVAES/EM/D.A PRESS B B E E M M V V I I V V E E R R Fique esperto com a hipertensão E E M M O novo legado de Chico Xavier Lista de profissões tem 47 novidades TRABALHO E FORMAÇÃO PROFISSIONAL TRUCULÊNCIA E MANIPULAÇÃO Chefe do bando que matou e decapitou dois empresários tem um passado de violência e manobras contra outras pessoas, segundo testemunhas, tendo espancado até o ex- sócio. Contrabandista com quem as vítimas trabalhavam seria o próximo alvo, de acordo com a polícia, e pediu garantia de vida. Família teria acobertado ações criminosas. PÁGINAS 25 A 27 EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS Novas buscas na mata próxima à Favela da Serra, atrás de cabeças decapitadas, foram infrutíferas, ontem O goleiro Bruno, do Democrata, na disputa com o zagueiro atleticano Jairo Campos, conseguiu salvar sua meta

Notas Frias S/A

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A verba indenizatória da Assembléia Legislativa de Minas transformou-se em ferramenta de corrupção, desvio de recursos públicos ou beneficiamento pessoal para mais de dois terços dos deputados mineiros. Durante quatro meses, os repórteres do Estado de Minas construríam um banco de dados com informações de 11 mil notas fiscais apresentas pelos parlamentares para justificar despesas entre julho de 2009 e incio de 2010. O cruzamento dos dados com outras fontes de informação levaram descoberta de abusos diversos, como pagamento a empresas que só existem no papel ou que já fecharam, restituição por despesas pessoais, além da emissão de documentos fictícios ou com valores mais altos que os cobrados pelos serviços prestados.

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●● M G : R $ 3 ●● N Ú M E R O 2 4 . 9 1 0 ●● 2 ª E D I Ç Ã O ●● 1 2 8 P Á G I N A S ●● F E C H A M E N T O D A E D I Ç Ã O : 2 1 H 3 0 ●● w w w . u a i . c o m . b r

B E L O H O R I Z O N T E , D O M I N G O , 1 8 D E A B R I L D E 2 0 1 0

Endereço na internet:www.uai.com.br/em.htmAssinaturaUai:0800031 5000 Assinaturas e serviço de atendimento:BeloHorizonte: (31) 3263-5800 -Outras localidades: 0800031 5005

771809 9870149

ISSN 1809-9874

9

FFEEMM IINNIINNOO&MASCULINO

FARRA DA NOTA FRIANA ASSEMBLEIA

RAPOSA E TIGRE BRIGAMHOJE PELA OUTRA VAGA

Galona final

Num jogo em que desperdiçou várias oportunidadesclaras, principalmente no primeiro tempo, o Atléticoficou no 0 a 0 contra o Democrata, noMineirão.Mas se classificou para a decisão do Estadual,pois tinha vencido a primeira partida por 2 a 1.

MARCOSMICHELIN/EM/D.A PRESS

ESPECIAL

MAIS TENSÃONO CAMPO

CAOS AÉREO JÁATORMENTA 20PAÍSESEUROPEUS

FLERTE COM O TOTALITARISMO

Na oitava reportagem, que fechaa série sobre o Programa

Nacional de Direitos Humanos, apreocupação de produtores rurais

com a proposta de se criarmediação entre invasores de terrae proprietários, antes da apelaçãoà Justiça para a reintegração

de posse. PÁGINA 14

PÁGINA 21

PLANTAS DE MINASBLOQUEIAMVÍRUS DADENGUE E ROTAVÍRUS

PÁGINA 24

Para todasas ocasiõesEdição especial mostra a

história do jeans, a produçãono Brasil, as grifes mineiras e oque vai bombar no inverno.

Para calçar o embolso dos recursos extras, que sópodem ser usados para custear omandato,

parlamentares estaduais mineiros estãoapresentando grande volume de cupons fiscais de

origem duvidosa, superfaturados ouemitidos por empresas de fachada. Pelomenos 51 dos 77 deputados têmalguma

irregularidade na prestação de contas.

Deputados usam o artifício para justificar o recebimento de R$ 20mil mensais de verba indenizatória

O Estado de Minas analisou 11.039 notas, doperíodo de julho de 2009 a janeiro deste ano, e vaimostrar em série de reportagens os problemas como pagamento de um total de R$ 8,7 milhões. Aempresa que teria recebido amaior fatia do dinheirofunciona numa garagem, sem qualquer estrutura,em Contagem. O representante de outra firmaadmitiu forjar notas para os deputados.

Fachada da Máxima Comércio Ltda,que emitiu faturas de R$ 685,7 mil PÁGINAS 3, 4 E 6

DOMINGO

HENRIQUEGUALTIERI/

DIVULGAÇÃO

BETONOVAES/EM/D.A PRESS

BBEEMM VVIIVVEERR

Fique esperto coma hipertensão

EE★★MM

O novo legadode Chico Xavier

Lista de profissõestem 47 novidades

TRABALHOE FORMAÇÃO PROFISSIONAL

TRUCULÊNCIA E MANIPULAÇÃOChefe do bando que matou e decapitou doisempresários tem um passado de violência emanobras contra outras pessoas, segundotestemunhas, tendo espancado até o ex-sócio. Contrabandista com quem as vítimastrabalhavam seria o próximo alvo, de acordocom a polícia, e pediu garantia de vida.

Família teria acobertado ações criminosas.PÁGINAS 25 A 27

EULERJÚNIOR/EM/D.APRESS

Novas buscas na mata próxima à Favela da Serra, atrás de cabeças decapitadas, foram infrutíferas, ontem

Ogoleiro Bruno, doDemocrata, na disputa como zagueiro atleticano Jairo Campos, conseguiu salvar suameta

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Pelosmenos 51 dos 77 parlamentares têmalguma irregularidade na prestação de contas dosgastos coma verba indenizatória. Despesas de 13 têmcomprovação comempresas de fachada

NOTAS FRIAS S/AR$ 8,7milhões

MÁXIMA FOI AQUE RECEBEU, DE LONGE, OMAIORVOLUMEDE RECURSOS. ELESEQUIVALEMA8%DOSR$ 8,7MILHÕES PAGOSDEVERBA INDENIZATÓRIANESTE PERÍODO

A FARRADOSDEPUTADOSTHIAGO HERDY, ALESSANDRA MELLO

E AMANDA ALMEIDA

Deputados estaduaisminei-ros estão despejando todos osmeses na contabilidade da As-sembleiaLegislativadeMinasGe-rais umgrandevolumedenotasfiscais friaspara justificaros seusgastos.Desde2001,depoisqueti-veramde cortar seus supersalá-rios (até RS 90mil), os parlamen-tares têmdireitomensalmenteaumaverbaindenizatóriadeR$20milparacustearomandato,massó recebem o dinheiro se apre-sentaremocomprovantedades-pesa.Eéaíqueocorremafarraeodescontrole comos recursos pú-blicos:paramostrarque tiveramrealmenteosgastoseembolsaraverba,elesrecorremanotasfrias,superfaturadasoufornecidasporempresasdefachada.

Apenas aMáximaComércioLtda., empresaque funcionaemumapequenasalanaentradadeuma garagem emumbairro re-sidencial de Contagem, recebeuR$ 685,7mil entre julho de 2009e janeiro deste ano para produ-zir boletins informativos de 13deputados.Semterumamáqui-na de impressão sequer, ela em-bolsou82%deste valor (R$ 561,6mil). Isso porque pagou apenasR$124milaumagráficaterceiri-zadaparaproduzir omaterial.

Os deputados que transfe-riram recursos à Máxima:Adalclever Lopes (PMDB), HelyTarquínio (PV), Chico Uejo(PSB), Antônio Júlio (PMDB),Gilberto Abramo (PMDB), Sá-vio Souza Cruz (PMDB), JoséHenrique (PMDB), Delvito Al-ves (PTB), JuninhoAraújo (PTB),Doutor Rinaldo (PSL), Mauri

vulgadas desde o segundo se-mestre de 2009 no site da As-sembleia e integram umbancodedadoselaboradopelareporta-gemnosúltimosquatromeses.

Uma resolução daMesa Di-retoradaALMGlimitaosgastoscomcombustível, consultoria ealuguel de veículos em até 25%da verba, cada, mas não fazqualquer restrição ao uso paradivulgação da atividade parla-mentar.Não à toa, 95das 98no-tas comvaloresmaiores que R$10mil foramapresentadasparajustificar supostas despesascom divulgação. As gráficas re-ceberamR$3,58milhõesnosse-te meses analisados, o que cor-responde a 41,4% do total. Emseguida vêmos postos de com-bustível, R$ 1,68milhão (19,5%),e supostas empresas de consul-toria e assessoria parlamentar,R$ 1,32milhão (15,3%).

De57deputadosque recebe-rammaisdeR$100mil,cada,nossetemeses de análise, a título deverba indenizatória, pelomenos41 apresentamalgum indício deabuso na prestação de contas.Procurados, os deputados disse-ramdesconhecer qualquer irre-gularidade. Para revelar essedes-caso comodinheiro público, re-pórteres do Estado de Minas sepassaram,emalgunsmomentos,porassessoresparlamentares,pa-ra conhecer asmanobras usadaspelos deputados para justificardespesas indevidas ou que nãoocorreram. Todas as abordagensforamgravadas.

Torres (PSDB), Eros Biondini(PTB) e Fábio Avelar (PSC).

Entre as 2,1 mil empresasque emitiram11.039 notas paradeputados mineiros nos setemesesanalisadospeloEstadodeMinas, aMáxima foi a que rece-beu, de longe, o maior volumederecursos.Elesequivalema8%dosR$8,7milhõespagosdever-ba indenizatória neste período.Mas não foi a única usada pelosdeputados. Há episódios com

fortes indícios de uso indevidoderecursospúblicos–comoain-denização por notas que apre-sentam numeração seriada – etambémcomfraude confessa.

“Ele (o deputado) vai quererfazerjornalouvaiquerersónota?Porque o jornal a gente podia fa-zerunscincomiljornalzinho(sic)e tira a nota de R$ 50mil”, disseWashingtonMarques de Almei-da, ligadoaduasfirmasquerece-beram, sozinhas, R$ 167,4mil de

umgrupodeseisdeputados:Cé-lioMoreira (PSDB), Juarez Távola(PV), Carlos Gomes (PT), DimasFabiano (PP), Carlos Pimenta(PDT).Washingtonadmitiu,tam-bém,tirarnotasfriasparaAlencardaSilveira Jr. (PDT).

DOCUMENTOSA série de repor-tagensquecomeçaaserpublica-da hoje conta estas e outras his-tórias de abusos cometidos porpelomenos51dos77deputados

mineiros. Tem como base as11.039 notas apresentadas à AL-MGentre julhode2009e janeirodeste ano. Os documentos des-pertaram suspeitas sobre quaseduas centenasdeempresas, sejapelos valores pagos, seja pela re-lação entre os deputados e osproprietários das firmas, entreoutrosaspectos.As informaçõesprincipaisdasnotas (comoono-me do deputado, data, empresaemitente, CNPJ e valor) são di-

Fachada da Máxima Comércio, em Contagem, que forneceu notas fiscais de serviços com indícios de fraudes para 13 parlamentares estaduais

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E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 8 D E A B R I L D E 2 0 1 0

POLÍTICA E D I T O R : B a p t i s t a C h a g a s d e A l m e i d a

E D I T O R - A S S I S T E N T E : R e n a t o S c a p o l a t e m p o r e

E - M A I L : p o l i t i c a . e m@ u a i . c o m . b r

T E L E F O N E : ( 3 1 ) 3 2 6 3 - 5 2 9 3

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BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

❚ ❚LEIAMAIS SOBRE

VERBAS INDENIZATÓRIASPÁGINAS 4 E 6

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POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 1 8 D E A B R I L D E 2 0 1 0

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NOTAS FRIAS S/AR$ 281,8mil

FOIOVALORAPRESENTADO EMNOTASDAMÁXIMAPORQUATROPARLAMENTARES ESTADUAIS DOPMDB

Apenas uma gráfica forneceu notas no valor total de R$ 685,7mil para 13 deputados de junhode 2009 a janeiro deste ano,mas preço do serviço contratado de terceiros foi só de R$ 124mil

Esquema muito lucrativo

FASE 1Nos últimos quatro meses, a reportagem do Estado de Minas

elaborou um banco de dados com as informações contidas nasnotas fiscais apresentadas pelos deputados estaduais de MG parareceberem a verba indenizatória. Desde julho do ano passado, osdados são disponibilizados no site da Assembleia.

Em poder dos dados, os jornalistas criaram duas planilhasparalelas. A primeira traz as informações resumidas dos gastos, comtipo de despesa, nome do deputado, mês e valor. A segunda trazinformações detalhadas de cada nota, como CNPJ e razão social daempresa emissora, além dos dados que constam na primeiraplanilha.

As duas tabelas foram confrontadas para garantir aconfiabilidade das informações e eliminar qualquer chance de errono processo de transferência de dados do site da Assembleia para obanco de dados.

Garantida a integridade das informações, chegou-se a um bancode dados com todas as 11.039 notas fiscais de 2,1 mil empresas, quetotalizam a indenização global de R$ 8,7 milhões. As notas foramapresentadas entre julho de 2009 e janeiro de 2010.

FASE 2A partir do banco de dados principal, a equipe produziu seis

bancos de dados temáticos, para debulhar as informações obtidas.O EM checou cadastros na Receita Federal e/ou Junta Comercial demais de uma centena de empresas que se destacavam pelosvultosos valores recebidos e pelo tipo de serviço prestado. Osrepórteres foram a campo complementar dados e conhecer asempresas de perto. Em alguns momentos, se passaram porassessores parlamentares para obter informações sobre os serviçosprestados para os deputados e os métodos usados para burlar asregras de uso da verba. Todas as abordagens foram gravadas.

OS CLIENTES

Delvito Alves (PTB)

R$ 123,3MILJosé Henrique (PMDB)

R$ 84,3 MILSávio Souza Cruz (PMDB)

R$ 77,2 MIL

Chico Uejo (PSB)

R$54,7 MILHely Tarquínio (PV)

R$ 53,4 MILJuninho Araújo (PTB)

R$47,8 MILAntônio Júlio (PMDB)

R$62,2 MILAdalclever Lopes (PMDB)

R$58,1 MIL

Doutor Rinaldo (PSL)

R$41,3 MILMauri Torres (PSDB)

R$28,8 MILFábio Avelar (PSC)

R$21,7 MILEros Biondini (PTB)

R$ 16,5 MILGilberto Abramo (PRB)

R$ 16,3 MIL

DEPUTADOSQUE CONTRATARAMOS SERVIÇOSDAMÁXIMA COMÉRCIO LTDA.

Abuso desconhecidoAMANDA ALMEIDA

Os deputados negam abusoscom notas fiscais. Antônio Júlio(PMDB) admitiu conhecer o só-cio daMáxima e confirmou queeleprestouserviçosparaele.Masafirmou que sempre fez pesqui-sas de preços e que nunca des-confioudosvalores cobrados. Sá-vio SouzaCruz (PMDB)dissequeconfiana cotaçãodepreços reali-zada por seus assessores. “Eusimplesmente falo assim: ‘É pa-ra imprimir 200mil exemplaresdesse aqui’.” O deputado JoséHenrique também afirmou quedelega funções e quenão conhe-ce aMáxima.DelvitoAlves (PTB)afirmou que sempre fez mate-rial de campanha e de gabinetecom Joaquim, mas que desco-nhecia a terceirização de servi-ços. ChicoUejo (PSB) sedisse sur-

preso com a diferença entre osvalorespagos eosvalores gastos.“É verdade isso?Ô louco.”

Hely Tarquínio (PV) afirmounãotertempoparachecarpreços.“Deixoparaaáreaadministrativado gabinete.” Fábio Avelar reco-nheceu ter contratadoaMáxima,mas negou irregularidades. ErosBiondini (PTB) disse que seus as-sessores têm autonomia paracontratarecitouonomedeoutragráfica que produz seumaterial.Mauri Torres (PSDB) afirmouquesua chefe de gabinete cuida dacontratação de serviços. “Não seicomquemfaz.Achoquenenhumdeputado entra muito nesse as-sunto”, disse. Os deputados Adal-clever Lopes (PMDB), JuninhoAraújo (PTB), Doutor Rinaldo(PSL), Mauri Torres (PSDB) e Gil-berto Abramo (PRB) não atende-ramas ligaçõesda reportagem.

THIAGOHERDY

A empresa que mais faturoucom a verba indenizatória da As-sembleiaLegislativadeMinasGe-rais funciona em uma sala de 25metros quadrados, improvisadanagaragemdacasanúmero1.988da Rua das Acássias, no Bairro El-dorado, em Contagem, e tem ca-pitalsocialdeapenasR$10mil.Naparede, um banner com fotogra-fias demáquinas impressoras ti-radas da internet convida o clien-te que bate à porta a contratar osserviçosdaempresa. “Vocêgosta-riadevisitaronossoparquegráfi-co?”, sugere JoaquimMilagres Lo-pes, de 49 anos, sócio da empresadesde fevereiro e responsável pe-lo contato comosparlamentares.

Mais tarde, ele mesmo se en-carregadeexplicaronegócio: “Naverdade,eutenhoumaterceiriza-ção, tanto que aqui é a MáximaComércio”,diz, destacandoaúlti-mapalavradarazãosocialdaem-presa. JoaquimafirmaqueprestaserviçosparaosdeputadosdaAL-MG desde o início do ano passa-do. “Eu tenho uma facilidade, fa-ço todooserviço. Tenhoa flexibi-lidade de me sentar com eles

(parlamentares).Vouparaogabi-nete com o meu computador,abro, ele traz as fotos, as notícias,preparo o arquivo final. Ele revi-sa, a gentenegocia opreço”, diz.

Ocontatocomosparlamenta-res rendeuàMáximaR$685,7milentre julhode2009ejaneirodesteano. Quatro dos cinco deputadosquemaispagaramàempresanes-te período são do PMDB: JoséHenrique, R$ 84,3mil; Sávio Sou-zaCruz,R$77,2mil;Antônio Júlio,R$ 62,2mil, e Adalclver Lopes, R$58,1 mil. (veja a lista completaabaixo). Omaior gasto, de R$123,3mil, é do deputado DelvitoAlves (PTB). Joaquimafirmaqueodeputado Antônio Júlio foi o seuprimeirocliente. “Euestavafazen-do santinho para uma candidataa vereadora de Onça do Pitangui,quemeindicouporquegostoudoserviço”, disse.

Quase a metade de todas asnotas (45%) da Máxima foramapresentadas nos dois últimosmeses do ano passado, no limitedo prazo para uso do adicionalmensal. A ALMG permite a acu-mulação da verba, desde que osaldoremanescentesejausadonomesmo ano. Das 53 notas fiscais

apresentadaspelosdeputados,44pertencema séries numeradas. Amaior série, com nove notas, foiemitida emnovembro.

Questionado sobre o nome eendereço da gráfica onde impri-me os serviços, Joaquim respon-deu ser apenas uma: “(EditoraGráfica) Daliana, aqui em Conta-gem”, disse. O Estado de Minasprocurouodonodaempresacita-da, Daniel Henrique de AlmeidaMarques. Ele confirmou prestarserviçosparaagráficadeJoaquim.Mas o esquema montado pelaMáxima se revelou quando Da-niel informouocustodosserviçosprestadosnossetemesesconside-radospelareportagem:apenasR$124.076.Estevalorrepresenta18%do total pago pelos deputados àMáximanoperíodo.

EMPRESASAatuaçãode JoaquimnãopareceserestringiràMáxima.Quando se tornou sócio da em-presa,eleocupouolugardeLydia-neMenezesdeCarvalho,queapa-recianocontratosocialdaempre-sa com endereço falso: AvenidaNossa Senhora de Fátima, 290,Bairro Pedra Azul, emContagem.“Essamoça nuncamorou aqui”,

disse JanaínaBoanares,queresideno local. Ela é ex-mulher de Jefer-sonRodrigodaSilva, sóciodeumaeditora que se chamaDanieli. Se-gundo Daniel, o dono da editoraonde Joaquim rodou trabalhos,ele seapresentavanãoapenas co-mo representante da Máxima,mas tambémdaEditoraDanieli.

Coincidentemente,quatrodos13 deputados que contrataram aMáxima usaram a verba indeni-zatóriaparapagardespesascomaoutra empresa ligada a Joaquim:Fábio Avelar, Gilberto Abramo,Delvito Alves e Doutor Rinaldo.Juntos,pagaramR$44,4mil. Inda-gado sobre sua relação coma ou-tra empresa, Joaquim disse queapenas atuava como vendedor.Afirmouqueelestinhamestrutu-raprópria, oquenãoéverdade.Oendereço da empresa cadastradonaReceitaFederal,RuaItapoã,152,no Eldorado, em Contagem, estásempre fechado. Joaquim tam-bémnegou ter obtido 82% de lu-cro com a prestação de serviçosaos deputados. Disse não podermostrarasnotasquecomprovamseuscustosporqueelas teriamsi-do roubadas emmarço. Logo nodiado seuaniversário.

ENTENDAA INVESTIGAÇÃO

Fac-símile de trechos de notas fiscais da Máxima Comércio Ltda. divulgadas no site da Assembleia Legislativa de Minas Gerais parajustificar despesas com verbas indenizatórais de diferentes deputados estaduais e que apresentam numeração seriada

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

Sócio da Máxima, JoaquimMilagres atende os clientes parlamentares

LIA PRISCILA/ALMG – 19/12/07

PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS – 13/12/09EULER JÚNIOR/EM/D.A PRESS – 9/8/07

CAROL COELHO/ALMG – 19/10/06 JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS – 27/3/07 ALAIRVIEIRA/ALMG – 29/4/09 JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS – 7/10/08 MARCELO SANT’ANNA/EM/D.A PRESS – 10/3/09

JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS – 10/4/07 GUILHERME BERGAMINI/ALMG – 2/12/08 GUILHERME BERGAMINI/ALMG – 17/6/09

GUILHERME BERGAMINI/ALMG – 26/11/09 CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS – 30/4/08

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POLÍTICA

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NOTAS FRIAS S/AR$ 167,4mil

TERCEIROMAIORVALOR NAPRESTAÇÃODE CONTASDOSDEPUTADOS É JUSTIFICADOCOMNOTAS FISCAIS DAS EMPRESAS WASHINGTON MARQUES E ARTES GRÁFICAS GSM

Fornecedor de notas frias para calçar despesas de deputados revela como funciona esquemae o nome de cinco parlamentares para quem vendeu os documentos irregulares de serviços

Confissões de um fraudadorTHIAGO HERDY

Pelo menos quatro deputados recorrem aosserviços deWashingtonMarques de Almeida, de51 anos, para comprar notas fiscais frias e rece-ber os valores da verba indenizatória da Assem-bleia Legislativa deMinas Gerais. Quem afirma éo próprio Washington, que mantém a sede desua “gráfica” no segundo andar de uma casa sim-ples, com acabamento de reboco, na Cachoeiri-nha, na Região Nordeste de Belo Horizonte. Emvez de máquinas e papel, no local há roupas es-palhadas por todos os cantos. Ele diz que a filhamantém uma loja de roupas e calçados ali.

Sem saber que era gravado, Washington ofe-receu notas fiscais ao repórter do Estado de Mi-nas, que o procurou dizendo estar interessadoem fazer um jornal para um parlamentar. “Mas

ele (o deputado) vai querer fazer jornal ou vaiquerer só nota?”, perguntouWashington, que lo-go completou: “Porque o jornal a gente podia fa-zer uns cinco mil jornalzinho (sic) e tirar a notade R$ 50 mil”. Os documentos fiscais são emiti-dos em nome da empresa cuja razão social é seupróprio nome, mas também pela Artes GráficasGSM, que funciona a 500metros de sua casa, nu-ma loja onde há apenas dois computadores.

Entre julho de 2009 e janeiro de 2010, as duasempresas emitiram 18 notas que totalizam R$167,4 mil, o terceiro maior valor registrado nobanco de dados elaborado pelo EM combase nasprestações de contas dos parlamentares. O no-me dos deputados que encomendaram as notasé o próprio Washington quem revela, mostran-do as outras vias dos documentos ao repórter:“Olha aqui: Carlos Wilson Pimenta, Dimas Fa-

biano Toledo Júnior, aqui ó, R$ 11 mil. Temuma aqui de R$ 35 mil, de R$ 80 mil, olha aqui,do Alencar (da Silveira Júnior). (...) Tem dessecara aqui também, você deve conhecer ele (...),Carlos Gomes de Freitas”.

Entre os quatro nomes citados, apenas as no-tas de Alencar da Silveira ainda não foramdivul-gadas no site da ALMG (faltam dados de janeiroemarço). No entanto, o próprio deputado admi-te ter contratado os serviços das empresas liga-das a Washington. Além dos citados, há notasemitidas para os deputados Célio Moreira (PS-DB) e Juarez Távola (PV). Oito das 18 notas estãoseriadas, de duas em duas.

Washington se apresenta como figura exclu-siva: “Oúnico cara que tira nota aqui emBeloHo-rizonte, só eu mesmo!”. Ele oferece uma nota deR$ 50 mil por R$ 11 mil, incluído no serviço um

pequeno volume de jornais para justificar a des-pesa. “(Isto representa) uns 22% do valor da no-ta”, diz o repórter. “Eumarco uns 18%, igual eu fa-ço para eles lá”, sugere Washington, tentandomelhorar a proposta.

No endereço da empresa com seu nome, re-gistrado na Receita Federal, no Bairro Cachoei-ri-nha, há uma casa e uma sala que seria usada porWashington, mas que só fica fechada. “Tem umapapelada dele aí no chão, de Correio, que nuncamais ele veio buscar”, diz a vizinha, quemora nomesmo terreno do imóvel. A poucos metros doendereço fictício da empresa e da casa de Wa-shington, funciona a empresa Artes GráficasGSM, que também emitiu notas para os deputa-dosmineiros. É lá que ele diz produzir um fotoli-to para justificar a despesa com divulgação daatividade parlamentar.

DIÁLOGOS PROIBIDOS

OS CLIENTES

O repórter de EM chamaWashingtonMarques de Almeida na rua ondefica sua casa. Ele aparece na janela e observa desconfiado. Dizer que oprocura por causa de um deputado é a senha para transformar osemblante deWashington, que convida o repórter a entrar.

Repórter: “Eu preciso do orçamento de um folder para um deputado”.

Washington: “E a nota disso aí, como é que é? “

Repórter: “Eu quero a nota que você faz pra eles (deputados). Comovocê faz para eles?”

Washington: “Uai, tira um bocado de jornal e a nota...” (faz silêncio eolha para o repórter)

Repórter: “Faz maior?”

Washington: “ É...”

Repórter: “Mas tem uma comissão fixa a pagar do valor da nota,como é que é?”

Washington: “Mas essa nota é para quem?”

Repórter: “É para o deputado. Ele falou que quer a mesma condiçãoque você dá para os outros.”

Washington: “Mas ele vai querer fazer jornal, ou vai querer só nota?”

Repórter: “O jornal tem que fazer alguma coisa, né?”

Washington: “Porque o jornal a gente podia fazer uns cinco miljornalzinho (sic) e tira a nota de R$ 50 mil.”

Repórter: “Entendi.”

Washington: “Eu vou para a Assembleia daqui a pouco, vou só acabarde me arrumar e esperar minha filha chegar. Quer encontrar comigolá? Qual que é o seu gabinete?”

Repórter: “Eu não vou estar lá agora à tarde.”

Washington: “Então eu ligo pra você, porque o único cara que tiranota aqui em Belo Horizonte, só eu mesmo. Alencar, Dimas Fabiano,Carlos Wilson Pimenta, só eu. Pra o... como ele chama?... Pô! (Paratentar se lembrar do nome, ele abre uma gaveta com o bloco denotas e mostra ao repórter as notas que tirou para os deputados.)

Olha aqui, Carlos Wilson Pimenta, Dimas Fabiano Toledo Júnior, aquió, R$ 11 mil, tem uma aqui de R$ 35 mil, de R$ 80 mil, olha aqui, doAlencar é R$ 60 mil, tem desse cara aqui também, você deve conhecerele também... como é que ele chama? Aquele que o irmão deletrabalha com ele lá... (não se lembra e vai lendo as outras notas)Carlos Gomes de Freitas...”

(...)

Repórter: “A nota tem um percentual do valor ou a gente negocia cadauma?”

Washington: “Negocia cada uma”.

Repórter: “Mas, em média, dá quanto? Uma nota de R$ 50 mil, porexemplo, quanto tem que pagar?”

Washington: “Vamos supor R$ 50 mil (ele pega uma calculadora e fazo cálculo de 22% do valor da nota). Dá R$ 11 mil.”

Repórter: “Uns 22% do valor da nota.”

Washington: “Ou então eumarco uns 18%, igual eu faço para eles lá.”

Repórter: “Isso incluído o valor do jornal...”

Washington: “Com fotolito e tudo mais.”

Repórter: “OK, então, vou indo então.”

Washington: “Eu te ligo ou vocême liga?“

Repórter: “Eu te ligo.”

O repórter sai da casa deWashington. Poucos minutos depois, batena campainha da empresa Artes Gráficas GSM, que funciona a 500metros dali. A última coisa que esperava era encontrarWashingtonno outro endereço.

Washington: “Uai, de novo, você? Fotolito é aqui que eu faço! Aquique é o fotolito! (...) Eles aqui são amigos nossos também. Tem aqui oarte-finalista que faz tudo bonitinho.”

Repórter: “Então eu vim no lugar certo...”

Washington: “Tudo que você precisar, eles fazem pra você aí.”

Funcionário do lugar: “Tudo o que você precisar, você pode vir aí.”

Washington: “Você já sabe agora onde é.”

Célio Moreira (PSDB)

R$57,6MILCarlos Gomes (PT)

R$33,9MILDimas Fabiano (PP)

R$31,2MILCarlos Pimenta (PDT)

R$30MILJuarez Távola (PV)

R$ 14,7MIL

DEPUTADOSQUE CONTRATARAMAS EMPRESASWASHINGTONMARQUESDE ALMEIDA E ARTES GRÁFICAS GSM LTDA.

Deputados desconhecem fraudeAMANDA ALMEIDA

OsdeputadoscitadosporWashingtonafir-mamdesconhecer qualquer esquema envol-vendonotasfriasparacomprovardespesasdomandato. “Nãome lembrodessapessoa.Nãomexodiretamente(comacontrataçãodeem-presas). Que troço chato. Não acontece isso”,disse Carlos Gomes. Ele pediu à repórter querepetisse onomedeWashingtondiversas ve-

zes, prometendo anotar e pesquisar se a em-presa foi contratada por ele. Dimas Fabianotambémdissenãoproduzirnotas frias. “Todomaterial (que encomendo) é feito e distribuí-do”, afirmou. Segundo ele, a contratação deempresaséfeitaporfuncionáriosdeseugabi-nete, por isso não sabe queméWashington.CélioMoreiradisseomesmo: “Nãoentrones-safria, façotudocorretamente.Vouverificaronomedesserapazcomopessoaldogabinete.”

JáodeputadoCarlosPimenta reconheceuque Washington prestou serviços para ele,masgarantequenãohouvefraude.“Deusmelivre de um tremdesses. É divulgação da ati-vidade. São jornais que faço regularmente.Mas é tudo certo”, afirmou.Alencar da Silvei-ra tambémreconheceutercontratadoosser-viços deWashington,mas negou ter havidoirregularidades.OdeputadoJuarezTávolanãofoi localizado. (comThiagoHerdy)

Casa deWashington Marques, local onde funciona uma loja deroupas e onde é guardado o bloco de notas dadas aos deputados

Fachada da Artes Gráficas GSM, empresa ligada aWashington quejustifica despesas parlamentares, mas tem apenas dois computadores

No endereço da empresa com o nome deWashington que consta nosregistros da Receita Federal, há uma casa e uma sala que fica fechada

FOTOS: BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

JUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS – 26/10/05 JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS – 5/11/09 ALMG/DIVULGAÇÃO – 14/7/05 MARCELO SANT’ANNA/EM/D.A PRES – 2/6/09 ALAIRVIEIRA/ALMG – 15/5/09

CONFIRA NO UAIOuça o áudio dosdiálogos na internet

w w w . u a i . c o m . b r

Page 5: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 257,5mil

ÉOVALORQUE AGRÁFICA E EDITORA EXPRESSA EMITIU EMNOTAS PARAOSDEPUTADOSPARA JUSTIFICARUSODAVERBA INDENIZATÓRIA

Donos de gráficas que forneceramnotas fiscais para comprovar gasto com verba indenizatóriade parlamentares estaduais revelamesquema de caixinha prévia para a propaganda eleitoral

POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 9 D E A B R I L D E 2 0 1 0

3

Verba no caixa de campanha

Eu tenho feito até uma, comoassimdizer, caixinha, para não ficar pesado,sabe?Desde agosto eles vêmpagandoR$ 2mil, R$ 3mil, R$ 4mil, R$ 7mil pormês, aí

temuns 12 deputados assim

■■ Ângelo Buldrini, dono da Gráfica e Editora Expressa

DEPUTADOS QUE CONTRATARAM A PAPELFORM EDITORA LTDA.

Repórter do EM se apresenta na Papelform Editora como pessoa ligada a um deputadoe é atendido pelo proprietário, Renê Aparecido Fraga. Veja trechos da conversa.

Repórter: “A gente tá querendo fazer um orçamento já e pensando na campanha,como é que você estão fazendo? Já estão fechando, ou deixando a coisa mais prafrente?”Renê: “Pois é, tem uns deputados aí que já estão até adiantando um dinheiro aí paracomprar papel e deixar estocado. Então, estamos comprando papel aí.”

Repórter: “É um grupo de quantos, mais ou menos?”

Renê faz silêncio, faz cara de desconfiado.

Repórter: “Quando junta alguns fica mais barato, na hora de comprar?”

Renê: “É.” (Responde lacônico, ainda desconfiado. Em seguida, chama SolangeFraga, que frequentemente visita os gabinetes dos parlamentares e cuida desse tipode atendimento.)

Renê: “A gente é muito restrito nessa gráfica aqui, a essas negociações, correto?Então, é sempre assim: eu não dou nome aos bois do que eu faço, com quem eu faço.Vocême desculpe pela franqueza, entendeu? Eu não vou te falar qual deputado estáme adiantando dinheiro para comprar papel. Você entendeu? Mas são os deputadosque estão me adiantando dinheiro. Não sei se você sabe, mas pelo TRE (TribunalRegional Eleitoral) não se pode gastar e tal, aquele troço todo. Mas a gente pode fazeruma nota menor, pode fazer uma nota num valor maior, isso depende muito. Então, agente sabe o trâmite todo como é que é. Agora, eu não posso citar; ‘O deputado láestá mandando x, o deputado fulano de tal está mandando Y, entendeu? Isso eu nãoposso...’

Repórter: “Eu preciso é do papel...”

Renê: “Você, não, nós precisamos do papel. A forma que ele vai vir, é comigo. (...)Tem muita gente querendo fazer isso e eu não tô querendo (deixar crescer), porque,não vai ter lugar pra colocar papel. Eu não posso deixar um papel fora do local, ondeele vai me dar problema de umidade, de sumiço, é muita responsabilidade. Então,tem que ter responsabilidade, tem que estar embaixo dos meus olhos, dos olhos daSolange.

O empresário explica como calcular o volume de papel e a quantidade de santinhosque é possível fazer.

Repórter: “O pagamento pode ser em dinheiro, transferência?”

Renê: “Pode, a gente pode fazer transferência...”

Solange interrompe a conversa.

Solange: “Eu acho melhor dinheiro. Até mesmo porque a transferência, não pode sernão.”

Renê: “É, não pode ser não...”

Solange: “Atrapalha pra você e atrapalha pra ele. Tem que andar muito certinho, pravocê não ter problema. A nota fiscal tem que ser muito certinha. O que você vaipassar de dinheiro para o Renê fazer não importa. Mas tem que pegar o materialcerto.”

Renê: “Eu posso te dar um recibo aqui, que você vai guardar na sua gaveta lá. Esterecibo nós não podemos nem entrar com ele, porque pode dar uma complicação paravocê e para mim. Mas eu vou te dar um recibo de que, por exemplo: para 5 milhõesde santinhos, eu vou comprar 160 resmas de papel agora, mês que vem. Então, vocêvai mandar o dinheiro, pode depositar, não precisa depositar o dinheiro pra mim.Você pode depositar nessa conta, empresa tal.”

Repórter: “E se precisar usar verba de gabinete da Assembleia, como fazem os outrosdeputados?”

Renê: “Pra gente fazer com essa verba, nós vamos tirar uma nota fiscal pra você, deum jornal que a gente... nós não precisamos fazer jornal não. Mas eu preciso que vocêarrume as fotos para mim e que você pegue com o seu jurídico lá o que pode conterno jornal, pra chegar lá na Assembleia não barrar a sua nota, entendeu? Aí, essejornal, nós vamos fazer uma arte dele, uma coisa simples, você vai pegar, nós vamostirar uma cópia com papel cuchê e anexar junto com a nota. O jornal não vaiacontecer. O que vai acontecer é a nota. Aí você pode usar esse dinheiro pra compraro que você quiser, se quiser comprar papel, se quiser pagar um serviço, você faz o quequiser, para tudo o que você quiser, pode.”

DIÁLOGOS PROIBIDOS

DEPUTADOS QUE CONTRATARAM A GRÁFICA E EDITORA EXPRESSA LTDA.

Juarez Távola (PV)

R$ 82,8 MILRêmolo Aloise (PSDB)

R$ 82,6 MIL

Durval Ângelo (PT)

R$ 32,7 MIL

Duarte Bechir (PMN)

R$ 24,6 MILCarlosMosconi (PSDB)

R$ 19,7 MILDjalma Diniz (PPS)

R$ 15 MIL

Carlos Pimenta (PDT)

R$ 23,8 MILDoutor Ronaldo (PDT)

R$ 19,8 MILRosângela Reis (PV)

R$ 11,4 MIL

THIAGO HERDY

Gráficas que receberam nos últi-mos meses recursos oriundos daverba indenizatória da AssembleiaLegislativa deMinas Gerais já fazemuma espécie de “caixinha” parabancar gastos dos deputados nacampanha de 2010. Sem saber queeram gravados, os donos de duasempresas que estão entre as quemais receberam dinheiro público atítulo de divulgação parlamentaradmitiram que parlamentares jáadiantam o pagamento de despesasdas eleições de outubro, o que con-traria a legislação eleitoral. Há indí-cios de que parte da verba da As-sembleia seja usada para este fim. Éo quemostra o Estado de Minas nasegunda matéria da série NotasFrias S/A.

O empresário Ângelo Buldrini deSouza, de 44 anos, é dono da Gráficae Editora Expressa Ltda., a segundaquemais recebeu recursos de verbaindenizatória entre julho de 2009 ejaneiro de 2010: R$ 257,5 mil, atrás

apenas da Máxima Comércio Ltda.O endereço da empresa cadastradona Receita Federal é um galpão va-zio, na Rua João Carlos, 264, no Hor-to, em Belo Horizonte. O endereçoreal fica na rua de baixo, nomesmobairro, onde a firma se apresentacom outro nome: Bigráfica.

É lá que Buldrini trabalha eman-témuma grande estrutura emaqui-nário, que funciona 24 horas pordia. Quando questionado sobre co-mo estavam os preparativos para acampanha eleitoral, pensando quefalava com um assessor parlamen-tar, o empresário soltou: “Eu tenhofeito até uma, como assim dizer,caixinha, para não ficar pesado, sa-be? Desde agosto eles vêmpagandoR$ 2 mil, R$ 3 mil, R$ 4 mil, R$ 7 milpor mês, aí tem uns 12 deputadosassim”, afirmou, preferindo não di-zer o nome dos parlamentares.

Ângelo explicou que aquelesque participam da “caixinha” fa-zemuma carta de crédito, com basenos valores da tabela de preços dagráfica. “Uns já têm R$ 20 mil, ou-

tros R$ 40 mil”, diz o empresário,que há 30 anos trabalha com gráfi-cas e política, sempre torcendo pa-ra todos os candidatos, segundo ele.“Só não dei sorte com o PMDB. Ho-je eu rodo tudo do PSDB, PT, PV”,gaba-se. No pátio da gráfica há des-de informativos do PT a livro come-morativo do centenário de Tancre-do Neves. Ainda pensando que fala-va com um assessor, ele desconver-sou quando indagado se era possí-vel usar recursos da verba indeniza-tória para a “caixinha”. “Não, aí de-putado só coloca uma gordurinhaaqui, outra ali”, afirmou.

Seis deputados contrataram aGráfica Expressa com uso de verbaindenizatória nos sete meses anali-sados. Os quemais gastaram foramJuarez Távola, do PV, R$ 82,8 mil, eRêmolo Aloise, do PSDB, R$ 82,6mil. (veja lista completa abaixo).Os dois deixaram o posto no iníciodeste ano para dar lugar a parla-mentares que integravam o secre-tariado do governo estadual. Mes-mo emitidas em datadas diferen-

tes, várias notas apresentam nume-ração seriada, fato estranho parauma gráfica de grande porte, quefunciona 24 horas por dia. A notamais cara foi apresentada por Távo-la (PV) em 30 de novembro, ao cus-to de R$ 58,5 mil. É também a notamais cara apresentada por um de-putado no período analisado.

JORNAL FICTÍCIO Buldrini não é oúnico que já recebe recursos paracampanha. “Tem uns deputados aíque já estão até adiantando um di-nheiro para comprar papel e deixarestocado”, disse Renê AparecidoFraga, dono da gráfica PapelformEditora, no Bairro São Francisco, emBH, sem saber que era gravado. Des-confiado, ele evitou dizer o nomedos parlamentares que adiantamrecursos. “Não sei se você sabe”,continuou ele, “mas pelo TRE (Tri-bunal Regional Eleitoral) não se po-de gastar. Mas a gente pode fazeruma nota menor, pode fazer umanota num valor maior, isso depen-de muito”, afirmou.

Com didatismo, Renê explicoucomo produzir a nota com recursosda Assembleia. O caminho seria for-jar a produção de um jornal. “Nósvamos fazer uma arte dele, uma coi-sa simples. Você vai pegar, nós va-mos tirar uma cópia com papel cu-chê e anexar junto com a nota. Ojornal não vai acontecer. O que vaiacontecer é a nota”, disse. Realizadaamanobra, o deputado pode usar odinheiro a seu gosto. “Se quisercomprar papel, se quiser pagar umserviço, você faz o que quiser, paratudo o que você quiser, pode.”

O pagamento deve ser feito emdinheiro. Na receita, a empresa deRenê está cadastrada como espe-cializada no comércio atacadista deartigos de escritório e papelaria, oque não corresponde à sua verda-deira atividade, a produção gráfica.No período analisado pelo Estadode Minas, três deputados apresen-taram seis notas que, somadas, al-cançaram R$ 55 mil (veja lista). Oslogan da empresa é “sua melhorimpressão é o nosso papel”.

Todos dizemser inocentes

ALICE MACIEL

ProcuradopeloEM, ÂngeloBuldrini dissequevai corri-gir na Receita Federal o endereço da Gráfica Expressa. Elenegouque façauma “caixinha”paradeputadosquedispu-tarãoaeleição. “Quemsoueupara falarumtremdesses. Jáfechamos alguns pacotes de campanha, mas não há di-nheiroenvolvido”, afirmou. Indagadosobrea “gordurinha”quedisse colocar nasnotas da verba indenizatória, Ângelodisseque foimal interpretado. “Eumereferia agorduradecomissão, a títulodevendedor, pode ter sidoumapergun-ta que eu não entendi bem”, afirmou. Ele disse que nuncacometeu irregularidadesnos20anosemquetrabalhacomgráficas epolítica. “Nãoroubo,nemfaço rolo”, afirmou.Re-nê foi procuradona sexta-feira na Papelform,mas funcio-nários disseramque ele não estava.

Os deputados que contrataram serviços das gráficastambém negaram que estão antecipando verbas paracobrir gastos de campanha. Durval Ângelo (PT) reconhe-ceu contratar a empresa, mas disse não estar certo nemsobre a sua candidatura em outubro. “Só voume candi-datar se o Pimentel concorrer ao governo.” Duarte Be-chir (PMN) disse que tentará se reeleger, mas afirmounão adiantar verbas para campanha, tampouco conhe-cer a gráfica. Carlos Mosconi (PSDB) também disse nãose lembrar da Expressa. “Fiz um jornal no fim do anopassado e preparo ummaterial para divulgação do tra-balho parlamentar. Não lembro o nomeda empresa quepresta os serviços.”

Mosconi tambémnegou ter adiantado recursos, assimcomo o deputado Carlos Pimenta (PDT): “Eu nunca fiz is-so”, disse.Odeputadoconfirmou já ter contratadoaPepel-formEditoraedisseque tentaráa reeleição.AdeputadaRo-sângelaReis (PV) informouquenãopoderia falar comoEMporque estava em reunião, e o deputado Rêmulo Aloise(PSDB) disse omesmo, porque estava viajando. Juarez Tá-vola (PV), Djalma Diniz (PPS) e Doutor Ronaldo (PDT) nãoatenderamas ligações. (Com Thiago Herdy)

JACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS – 3/7/09 CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

Na Papelform Editora o proprietário, Renê Aparecido Fraga,estoca papel para uso na campanha eleitoral

ALAIR VIEIRA/ALMG – 19/5/09 ALAIR VIEIRA/ALMG – 7/3/06

CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESSGUILHERME BERGAMINI/ALMG

JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS CARLOS ELLER/ESP. EM/D. A

GUILHERME BERGAMINI/ALMG

MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS

MARCELO SANT’ANNA/EM/D.A

Page 6: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/A14

FOIONÚMERODENOTAS FISCAIS EMITIDAS PELA GOLD EDITORAGRÁFICA ENTRE JULHODE 2009 E JANEIRODESTE ANOPARAQUATRODEPUTADOS

Empresa que recebeu sozinhaR$ 158,4mil de quatro parlamentares estaduais para divulgaçãotem endereço irregular. Funcionário revela emitir nota com valor maior para os deputados

POLÍTICA

E S T A D O D E M I N A S ● S E G U N D A - F E I R A , 1 9 D E A B R I L D E 2 0 1 0

4

Serviço no preço solicitado

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GERDAU AÇOMINAS S.A.CNPJ nº 17.227.422/0001-05 - NIRE nº 31300036677

ASSEMBLEIA GERAL ORDINÁRIA

CONVOCAÇÃO

Convocamos os Senhores Acionistas da GERDAU AÇOMINAS S.A., (*) para se reunirem em

Assembleia Geral Ordinária, a se realizar no próximo dia 26 de abril de 2010, às 10h00min, na sede

social da Sociedade no Município de Ouro Branco, Estado de Minas Gerais, na Rodovia MG 443, Km

07, a fim de deliberarem sobre a seguinte ordem do dia:

1. Tomar as contas dos administradores, examinar, discutir e votar as demonstrações financeiras

relativas ao exercício social encerrado em 31/12/2009.

2. Deliberar sobre a destinação do lucro líquido do exercício e a distribuição de resultados.

3. Eleger os membros do Conselho de Administração e fixar a remuneração dos Administradores.

(*) Para provar sua qualidade de acionista, os titulares de ações escriturais deverão depositar, na

sede da Sociedade, com antecedência mínima de 48 horas, comprovante expedido pela instituição

financeira depositária. Deverão, igualmente, depositar o respectivo instrumento de outorga de

poderes de representação, se forem representados por procuradores.

Ouro Branco, 14 de abril de 2010

Jorge Gerdau Johannpeter

Presidente do Conselho de Administração

Pregão Eletrônico nº. 10000062/2010A DR/MG torna publico o Adiamento da Abertura da Licitação, publicada no DOU,página 105 da Seção 3 do dia 06/04/2010 cujo objeto é Serviço de assessoria técnicapara desenvolvimento de projetos de fundação e estrutura para a ECT/DR/MG,através do sistema de registro de preços – SRP. conforme se segue: Recebimentodas propostas: no endereço http://www.correios.com.br, até às 09:45 horas dodia 30/04/2010. Abertura das Propostas em 30/04/2010 às 09:45 horas. Inícioda Disputa de Preços às 10:30 horas do dia 30/04/2010. Obtenção do Edital: Noendereço eletrônico acima. Informações pelo FAX: (0XX31) 3249-2533 e telefone:(0XX31)3249-2515, no horário de 09:00 às 12:00 e das 14:00 às 17:00 horas.

FRITZ TEIXEIRA GUIMARÃES FRAGAPregoeiro DR/MG

EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELÉGRAFOSDIRETORIA REGIONAL DE MINAS GERAIS

AVISO DE ADIAMENTO

Ministério dasComunicações

Pregão ADBHO nº 34/2010Data da Abertura: 30/04/2010, 10h. Publicação anterior: Jornal Estado de Minas,25/03/2010, pág. 04. Processo: 0901446138. Objeto: Prestação de serviçosauxiliares para o Banco Central do Brasil em Belo Horizonte, incluindo os serviçosde encarregado de copa, copeiro, recepção, supervisão, técnico em informática,serviços gerais e motorista, conforme Termo de Referência constante do Anexo 1e demais condições previstas no Edital e em seus ANEXOS. Motivo da alteração:modificações no edital. Obtenção do edital alterado: www.comprasnet.gov.brou www.bcb.gov.br/?pregao ou na Av. Álvares Cabral, 1605, Belo Horizonte.Informações: (31)3253-7067.

LUCIANO IANNINI COTTAPregoeiro

GERÊNCIA ADMINISTRATIVA EM BELO HORIZONTE

AVISO DE ALTERAÇÃO

AS 10 MAIS (*)

DAS 10 EMPRESAS QUE MAIS RECEBERAM RECURSOS DEVERBA INDENIZATÓRIA DA ALMG NOS SETE MESES

ANALISADOS, NOVE ESTÃO RELACIONADAS À DIVULGAÇÃO DAATIVIDADE PARLAMENTAR

Empresa Valor (R$)

Máxima Comércio Ltda. 685,7 mil

Gráfica e Editora Expressa Ltda. 257,5 mil

Gold Editora Gráfica Ltda. 158,4 mil

Moreira Lima Comercial Ltda. 131,2 mil

Artes Gráficas GSM Ltda. 89,5 mil

Júnior Rent A Car Ltda. 84,2 mil

Washington Marques de Almeida 77,9 mil

Sempre Editora Ltda. 77,5 mil

Imagem Gráfica Ltda. 76 mil

Ponto X Comunicação Integrada Ltda. 73,5 mil

(*) A presença das empresas nesta lista não significanecessariamente que elas tenham cometido algum abuso

OS CLIENTES

ENTENDA A SÉRIE

RESPOSTAS

OdeputadoEros Biondini negou conhecerValdemarBragaegarantiuque épautadopela éticanahorade escolher osfornecedores do seugabinete. “Não conheço esseValdemar,mal frequento o clube, porque viajomuito nos fins desemana. É preciso termuito cuidadonestemomento, paranãoacontecer de justos pagarempelos pecadores", disse odeputado. Ele afirmou tambémqueasmatérias omotivarama fazerum levantamentode todasas empresasque jáprestaramserviçopara seugabinete.Odeputadodisse que cabeàAssembleia fiscalizar as firmas contratadascomusodaverba.OdeputadoAlencar da Silveira tambémnegou ter cometido irregularidades nousoda verba, assimcomoDuarte Bechir. A reportagemdo EEMMdeixou recadosno telefonedodeputadoVanderleiMiranda,masnãohouve retornoaté o fechamentoda edição.

THIAGO HERDY

Uma empresa que recebeu,sozinha, R$ 158,4 mil de quatroparlamentares para suposta di-vulgação da atividade parlamen-tar não funciona no endereço in-formado àReceita Federal. No lu-gar da Gold Editora Gráfica Ltda.,na Rua Coronel José Benjamim,número128,noBairroPadreEus-táquio, em Belo Horizonte, fun-cionaoutra firma,aMercográfica.Quando pensava que falava comum assessor parlamentar, o res-ponsável pela administração dolugar, Valdemar Braga, disse quefazmaterial gráfico para deputa-dos equedisponibilizanotasnosvalores que a equipe do parla-mentar solicita.

Desconfiado e dizendo quepreferia aguardar a contrataçãodo serviço para acertar detalhesda confecção da nota, Braga afir-mouqueafidelidadeépré-requi-sito para chegar a um acerto.“Nós, aqui, gostamosdeparceiro.A fidelidade é uma coisa muitoboa. Mas tem que ser bom paratodos. Faço, não tem problemanenhum, sempre tiro a nota, oquevocêprecisar. ‘Valdemar, temqueseressevalor’, semproblema.Mas temque fazer o trabalho co-migo”, afirmou.

Ele também disse que produ-ziamaterial gráfico para deputa-dos, mas que não podia dizer,porqueanotaeraemitidaemno-

me de outras empresas. “Eu nãogostodetocarnesseassunto,maseuimaginoquevocê jádevaestarsabendo. O do Vanderlei eu rodoenãoposso falarquerodo”,disse.

A Gold Editora Gráfica emitiu14 notas entre julho de 2009 e ja-neiro deste ano para quatro de-putados.Amigoecolegadeclubede Valdemar, o deputado ErosBiodini (PTB) foi oquemais apre-sentounotasdaGoldEditoraGrá-fica: são seis notas que totalizamR$ 69,2 mil. Amais cara foi apre-sentada em dezembro, no valordeR$33,5mil. Emseguidavêmosdeputados Vanderlei Miranda(PMDB), comR$ 68,8mil, Alencarda Silveira Jr. (PDT), com R$ 17,9mil, e Duarte Bechir (PMN), comR$2,9mil.

SOCIEDADE Aindapensandoquefalava com um assessor parla-mentar,ValdemarBragadissequesó seria possível emitir notas depapelecomosvaloresqueoemi-tente desejasse até junho. Issoporque, depois deste período, eleprecisaráaderir ao sistemadeno-taeletrônica.Até julhodoanopas-sado,adonadecasaMarleneGon-zaga Ferreira, de 46 anos, integra-va o quadro societário da GoldEditora. “Nuncamexicomgráfica,não”, disseMarlene, quepassouotelefoneparao filho. “Onomede-la estava mesmo nisso, mas seique o negócio não deu certo, porisso tiraramdepois”, ele afirmou.

O Estado de Minas localizouomarido da atual sócia-proprie-táriadaGold,AnaFlávia Lavarini

Lopes, JairoAlves Jr., que se apre-sentou como o verdadeiro donoda empresa. Ele disse que faziamaterial gráfico de apenas umdeputado, Vanderlei Miranda,masquedesdeo fimdoanopas-sado não rodava mais o serviçonoendereçodoPadreEustáquio,mas na gráfica do irmão, naPampulha. Segundo ele, o pontofoi vendido a um empresário.Quando o EM citou o nome deoutros deputados que tambémapresentaram notas de sua em-presa, ele disse ter se lembrado,naquele momento, dos traba-lhos realizados.

Jairo Alves negou ter havidoqualquer irregularidade na pro-dução dos materiais e disse queValdemar Braga não respondepor sua empresa,maspor aquelaque agora funciona no endereçodoPadreEustáquio.Afirmouqueabriu a Gold em 2008, para reali-zaracampanhadeprefeitos,masquenãofoicapazdemanterovo-lume de trabalho no ano seguin-te, por isso vendeu parte doma-quinário.

Procurado novamente peloEstado de Minas, Valdemar ne-gou,primeiro,quetrabalhassenaGold Editora. Quando indagadosetrabalhavanaMercográfica, eletambém negou. Em seguida, oEMperguntouseeleprestavaser-viços para parlamentares. Valde-mardissequenãoedesligouote-lefone celular.

DEPUTADOS QUE CONTRATARAM A GOLD EDITORA GRÁFICA LTDA.

Eros Biondini(PTB)

R$ 69,2 MIL

VanderleiMiranda (PMDB)

R$ 68,8 MIL

Alencar daSilveira Jr. (PDT)

R$ 17,9 MIL

Duarte Bechir(PMN)

R$ 2,9 MIL

Sede daMercográfica, que funciona no endereço da Gold Editora Gráfica

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

Até o fim desta semana o Estado de Minas publica a série dematérias Notas Frias S/A. Os repórteres construíram um banco dedados com informações contidas nas 11.039 notas fiscaisapresentadas pelos deputados estaduais de MG para receberem averba indenizatória entre julho de 2009 e janeiro de 2010. A fontedos dados é a página da Assembleia na internet. Empresas que sedestacaram pelos vultosos valores recebidos ou pelo tipo de serviçoprestado tiveram cadastros checados e foram visitadas pelosrepórteres, que em alguns momentos se passaram por assessoresparlamentares para obter informações sobre os serviços e métodosusados para burlar as regras de uso da verba.

MARCELO SANT’ANNA/EM/D.A PRESS BETO NOVAES/EM/D.A PRESS GUILHERME BERGAMINI/ALMGJUAREZ RODRIGUES/EM/D.A PRESS

Page 7: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 60,2mil

ÉOVALORDASNOTASDA CGC BRINDES APRESENTADAS PELOSDEPUTADOSVANDERLEIJANGROSSI (PP) E JUAREZTÁVOLA (PV) NA PRESTAÇÃODE CONTAS

Deputados usam notas de loja de brindes e fábrica de carimbo para justificar despesas comdivulgação domandato. Até documento fiscal de empresas fantasmas é apresentado por eles

POLÍTICA

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Prestação de contas irregularTHIAGO HERDY

Umalojadebrindes localizadanosegundoandardoMercadoNovo,noCentro de Belo Horizonte. Um pré-dio abandonado onde deveria fun-cionar uma gráfica na Vila Satélite,emSarzedo.Agaragemdeumacasaem Contagem onde a filha do pro-prietário jura ter rodado R$ 59,9milem jornais para um deputado. Osexemplos têmemcomumouso in-devidodeverba indenizatóriadaAs-sembleiaLegislativadeMinasGeraisparacobrirserviçosdesupostadivul-gaçãodaatividadeparlamentar.

Pertoda épocade eleição, o donoda CGC Brindes Comércio e Repre-sentações, Clemente Cunha, ficamaisanimado.Sabequeteráachan-ce de vender adesivos, ímãs de gela-deira e até embalagens de lixa deunha com o nome e o número decandidatos. Mas, antes mesmo daseleições, a casa de brindes já faturacom dois deputados mineiros queemsetemesesgastaramnaloja loca-lizadanoMercadoNovoR$60,2mil.Vanderlei Jangrossi (PP) pagou R$49,2mil, e Juarez Távola (PV), R$ 11mil.“Eu tiro nota fiscal direto aí proVanderlei”, soltouodonodaempre-sa, pensandoque falava comumas-sessorparlamentar.Quandoorepór-ter insistiu em saber mais sobre asnotas, Clemente desconfiou e des-

conversou. “Eu façoanotadele inte-gral, também, com o valor real dacompra”, afirmou.

ABANDONADOUmimóveldetijolona Rua José Batista Filho, número452, na Vila Satélite, em Sarzedo, naregiãometropolitana, é onde deve-ria funcionaraempresaquerecebeuR$67mildistribuídosemoitonotasfiscais apresentadas pelo deputadoAdemir Lucas (PSDB) para justificaradivulgaçãodaatividadeparlamen-tar.Mas, segundoMárciaCruz, sobri-

nha de uma das donas da empresa,AnaMoreiradaCruz,nada funcionano local. “Isso aí é dela, mas aindanão sei que ela vai fazer aí não”, dis-se a mulher, que mora no mesmoterreno.

Para a Receita Federal, a Conta-gem Ação Promoção Eventos e Pu-blicidadeLtda. éumaempresaespe-cializadaematividadesdiversas:des-de a impressão de jornais, organiza-çãode feiras, sonorização e ilumina-çãoatéa locaçãodeautomóveis,alu-gueldepalcosepublicidade.Aasses-

soria do deputadoAdemir Lucas in-formou que a empresa produz jor-nais domandato.

A gráfica artesanal que funcionana garagemda casa deMagnoCletoMoreira,noParqueRecreio,emCon-tagem, está prestes a fechar. Quemcontaéa filhadodono,RitaMoreira,queseapresentacomoapessoaquecuida dos trabalhos contratados naempresa,quefaztambémcarimbos.“Temos tidomuito pouco trabalhonos últimos anos”, admite. Questio-nadasobreos serviçosprestadospa-ra o deputado Dalmo Ribeiro Silva(PSDB),eladissequeeraresponsávelpor fazeraartedeumjornal. “Agen-te imprimeaquimesmo”, disse.

Procurado pelo EM, o próprioMagno Cleto disse não ser possível.“Nãoconsigoimprimir jornal, sócoi-sasemformatopequeno”,admitiuoempresário. Entre julhode2009e ja-neiro deste ano, a empresa deMag-noemitiuoitonotasquetotalizaramR$59,9mil. Dalmonegou irregulari-dades edisse desconhecer quemfazo trabalhodedivulgação. “Quemto-ma conta éminha assessoria. Podetercertezadequesemprepauteicor-retamenteminhas coisas”, afirmou.

OS CLIENTESQUEM CONTRATOU A CGC BRINDES

QUEMCONTRATOUACONTAGEMAÇÃOPROMOÇÃOEVENTOS

Ademir Lucas (PSDB)

R$ 67 MIL

QUEM CONTRATOU A MAGNOCLETO MOREIRA

Dalmo Ribeiro Silva (PSDB)

R$ 59,9 MI

Vanderlei Jangrossi (PP)

R$ 49,2 MILJuarez Távola (PV)

R$ 11 MIL

❚ ❚LEIAAMANHÃ:

ABUSOSNOSGASTOSCOMCONSULTORIA EASSESSORIA

Endereço de “empresa” que presta serviços e emite notas fiscais para odeputado Ademir Lucas em Sarzedo, na Grande BH, onde só há uma casa

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS – 8/2/07 ALAIR VIEIRA/ALMG – 19/5/09

RENATOWEIL/EM/D.A PRESS – 9/4/08MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS – 26/10/08

Page 8: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 1,3milhão

ÉOVALORQUEOSDEPUTADOS ESTADUAIS DEMINAS GERAIS GASTARAM, ENTREJULHODE 2009 E JANEIRODESTE ANO, COMCONTRATAÇÃODE CONSULTORIAS

Empresa campeã em recebimento por prestação de serviços de parecer técnico a deputadosentre julho e janeiro funciona em casa que é sede de clube de futebol amador da Grande BH

Time líder em consultoria

POLÍTICA

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ALESSANDRA MELLO

Parte da verba indenizatóriadeR$20milqueosdeputadoses-taduais recebem todos osmesespara “custeio domandato” podesergastacompagamentodecon-sultoria, segundamaior despesados parlamentares, conforme le-vantamento feitopeloEstado deMinas na série de reportagemNotas Frias S/A, publicada desdedomingo. De julho de 2009 a ja-neiro deste ano, os deputadosgastaramR$1,3milhão comcon-sultorias,dinheiroquemuitasve-zes acabou namão de empresasque só existemnopapel. É o casoda campeã de recebimentos nes-saprestaçãodeserviço:aWFCon-sultoria e Assessoria, empresa defachada localizada em uma casademuro chapiscado na Rua Cra-voRoxo,nobairro residencialBe-la Vista, em Brumadinho, RegiãoMetropolitanadeBeloHorizonte.

Entre julho e janeiro, aWF re-cebeuR$67mil comopagamen-tode serviçosde consultoria queteriaprestadoparaosdeputadosestaduais IvairNogueira (PMDB),Doutor Viana (DEM) e LuizHumberto (PSDB). Os três apre-sentaram 14 notas da WF Con-sultoria para receber parte daverba indenizatória, 13 delascomnúmeros sequenciais.O en-dereço dessa empresa tambémaparece como sendo a sede doEligê Futebol Clube, time ama-dor de Brumadinho, conformeinformação da página que aequipemantémna internet.

AWFConsultoriaestáregistra-da na Receita Federal em nomede Frederico Silva Antunes, de 25anos, dirigente do PSL deBruma-dinho,edesuamãe,LilianeMaria

Silva Antunes, de 44. Fredericotambém aparece no site do Eligêcomo um dos fundadores daequipe amadora, que já partici-pou da primeira divisão do fute-bolmineiro.Nemele, nemamãeforamencontradosno localondeseria a sede oficial daWF. A infor-maçãodoatualmoradorédequeFrederico jámoroucomafamílianaqueleendereço,massemudoupara Belo Horizonte. Os atuaismoradoreseosvizinhosnãotêminformações sobre o funciona-mento de alguma empresa na-quele endereço.

OUTRO LADO A reportagemnão conseguiu localizar umcon-tato de Frederico, pois, no nú-mero de telefone da WF queconstanadocumentaçãoda em-presa, ninguém atendeu as liga-ções.NaReceita Federal, a descri-ção da principal atividade eco-nômicadaWFConsultoria, aber-ta em fevereiro de 2007, é “ou-tras atividades de serviços pres-tados principalmente para em-presas não especificadas”.

Frederico é filho de WagnerAntunes, técnico epresidentedoEligê, que tambémpreside a Co-missãoProvisória doPSLdeBru-madinho.Wagner, que já foi can-didato a vereador nomunicípio,nas eleições de 2004 e 2008, é lo-tadonogabineteda liderançadoDemocratas, com salário de R$2.800 pormês. Antes de ser lota-dona liderançadosDemocratas,Wagner trabalhou em diversosoutros gabinetes da Assembleia.A reportagem tentou falar comosdeputadosque “contrataram”os serviços da WF, mas eles nãoretornaramos recados deixadosno gabinete.

DISTRIBUIÇÃO DO RECURSO

RANKING DE EMPRESAS E PESSOAS QUE MAIS RECEBERAM RECURSOS DE VERBAS INDENIZATÓRIAS

PESSOAS JURÍDICASRazão social Cidade Valor

WF Consultoria e Assessoria Ltda. Brumadinho R$ 67 milCONASPP – Consultoria e Assessoria Pública e Privada Ltda. Belo Horizonte R$ 46,8 milJ&R Produções Ltda. Belo Horizonte R$ 42 milMaia & Maia Consultoria Ltda. São Joaquim de Bicas R$ 40 milMultidados Comunicação Ltda. Belo Horizonte R$ 35,4 milMoreira Alves Advogados Associados Belo Horizonte R$ 31 milTadeu Dassumpção e Magno Dassumpção Consultoria Ltda. Rio Acima R$ 30 milNeander Araújo e Fernando Padovani Advogados Associados Belo Horizonte R$ 30 milMansur, Calazans & Castro Advogados Associados Juiz de Fora R$ 30 milCarvalho e Garcia Advocacia Belo Horizonte R$ 30 milMoreira Lima Comercial Ltda. Belo Horizonte R$ 29,4 milJac Empreendimentos Agroflorestais Ltda. Itabira R$ 29 milEficaz Comunicação & Marketing Ltda. Belo Horizonte R$ 26,6 milKgf Assessoria e Comunicação Social Ltda. Itapagipe R$ 25 milAugusto Paulino Advogados Associados Belo Horizonte R$ 25 milJ & A Associados Ltda. Belo Horizonte R$ 25 mil

PESSOAS FÍSICAS**Nome Valor

Ariana Martins de Amorim R$ 35 milIlídio Antônio dos Santos R$ 30 milAntônio Vicente Coelho Campos R$ 30 milEustáquio Pereira de Moura Júnior R$ 30 milMarcos Queiroga de Castro Tito R$ 28 milDomingos Viggiano R$ 26,6 mil

(**) Ranking das que receberam acima de R$ 25 milFonte: Assembleia Legislativa de Minas Gerais (www.almg.gov.br)

OS CLIENTESQUEM CONTRATOU AWF CONSULTORIA E A JAC

EMPREENDIMENTOS AGROFLORESTAIS

MARIA TEREZA CORREIA/EM/D.A PRESS – 23/11/07

WILLIAN DIAS/ALMG – 3/12/09 CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS – 23/11/07

Doutor Viana (DEM)

R$ 29,7 milIvair Nogueira (PMDB)

R$ 35 mil

Luiz Humberto (PSDB)

R$ 3 milJayro Lessa (DEM)

R$ 29 mil

Casa na Rua Cravo Roxo, em Brumadinho, aparece como endereço daWF Consultoria e do Eligê Futebol Clube

Empresa do deputado Jayro Lessa: firmaque presta serviço para grupo doparlamentar emitiu notas deR$ 29mil

Assessoriaambiental

Odeputadoestadual JayroLes-sa (DEM) apresentounotas fiscaisde uma consultora registrada emnomedeumprestadordeserviçosdogrupoVDL, que reúne todas asempresas do parlamentar. Entrejulho de 2009 e janeiro deste ano,ele justificou parte de seus gastoscomessaverbacomopagamentodesetenotasnovalordeR$29milemitidas pela JAC Empreendi-mentosAgroflorestaispelosservi-ços inscritos na categoria de con-sultoria, assessoria e pesquisa. Se-gundo a Receita Federal, essa em-presa atua na atividade e apoio àproduçãoflorestalecomércioata-cadistadesementes, floreseplan-tas.Metadedasnotasemitidaspe-la JACemnomedodeputadotêmnumeração sequencial. A sede daJAC Empreendimentos funcionaemumacasaemItabirito.Arepor-tagem esteve no local, mas nin-guématendeu.

A empresa está registrada emnome do engenheiro florestalAntônioMarcosGeneroso, de 38anos, filiadoaoDEM,ex-candida-to a vereador no município em2004e2008, ede seupai, JesusAl-ves Cotta. Os dois também sãosóciosda JACComérciodeLenhae Produtos Agroflorestais, quetrabalha no comércio de lenha ecarvão vegetal e tem comoprin-cipal cliente a VDL Siderurgia.Localizada em Itabira, a JAC Co-mércio fornece carvão vegetalpara a VDL Siderurgia, empresado grupo de Lessa que fica nomesmomunicípio.

Quemquiser saber o paradei-ro de Generoso, como ele é co-nhecidonacidade, bastapergun-tarnoportariadaVDLSiderurgia.“Elenãoéempregadodaqui,masé como se fosse. A empresa delefornece carvãopara agente”, res-pondeu um funcionário da em-presa, sem saber que estava con-versando com um repórter. Oalojamentodospeõesda JAC ficaao ladodaVDLSiderurgia, na en-trada de Itabritio.

Masas relaçõesentreLessaeaJAC não param por aí. A esposade Generoso, Elizabeth Rita deOliveira Generoso Cotta, tam-bém já foi lotada no gabinete deJayro Lessa, na Assembleia Legis-lativa.Há três anos ela foi exone-rada do gabinete do deputado etransferida para a liderança doDEM,mesmopartidododeputa-do. Apesar de morar em Itabira,Elizabeth, queéde Itabirito, rece-be salário de R$ 3,4 mil por oitohoras de serviço. A reportagemtentou falar com Generoso emsua casa pelo telefone, mas, deacordocomaesposa,Generosoéassessor de Lessa e estava viajan-do com o deputado para o inte-rior do estado.

AUXILIARLessaalegouqueGene-roso é consultor ambiental e oauxilianaelaboraçãodeprojetoslegislativos, apesar de a maioriadosprojetosdoparlamentarnãotratar de temas ambientais. Se-gundo o deputado, a esposa deGeneroso é sua assessora em Ita-birito. Ele confirmou que a em-presa de Generoso fornece car-vão vegetal para sua siderurgia,pois éumadasgrandesproduto-ras da região. De 2009 até abrildeste ano, o deputado apresen-tou nove projetos de lei na As-sembleia, nenhumdeles ligado àquestão do meio ambiente. Amaioria das propostas são paratransformação de associaçõesementidadessemfins lucrativos.

FOTOS: CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS

MINISTÉRIO PÚBLICO

Oprocurador-geral de JustiçadoEstadodeMinasGerais, Alceu José TorresMarques, abriuontemprocedimento investigatório comoobjetivode “apurar eventuais irregularidades” cometidaspordeputados estaduais. Amedida foimotivadapela série dematérias.Desdedomingo, oEstado deMinas vemmostrandoqueoadicionalmensal deR$20mil dosparlamentares foiusadopara cometer abusosdiversos, comopagamentoaempresas que só existemnopapel ouque já fecharam, restituiçãopordespesaspessoais, alémdaemissãodedocumentos fictícios.AlceuMarques informouque encaminharáofício aopresidente daALMG, odeputadoAlbertoPintoCoelho, solicitandodocumentos e informações, paraque se iniciemasapurações.

Page 9: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 1.683.611,11

FOIOVALORDASNOTAS COMCOMBUSTÍVEL E LUBRIFICANTE APRESENTADAS PELOSDEPUTADOS, O SEGUNDOMAIORGASTO, DEPOIS DADIVULGAÇÃODAATIVIDADE PARLAMENTAR

Prestação de contas de despesas com combustíveis dos deputados estaduais revela abusos eirregularidades como a emissão de notas fiscais com valormais alto e comnumeração seriada

Farra na bomba de gasolina

POLÍTICA

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THIAGO HERDY

O deputado estadual quemais gastoucom gasolina entre os 77 parlamentaresmineiros, Doutor Rinaldo Valério (PSL)apresentou notas de umposto cujo donojura nunca ter abastecido carros a serviçododeputado.Conseguirumanotacomva-lormais alto é fácil. Quemdá a dica são osprestadores de serviço do deputado Antô-nioGenaro (PSC). Na quartamatéria da sé-rieNotasFriasS/A, oEstadodeMinas con-ta estes e outros episódios de abuso na in-denizaçãoadespesasdecombustívelnaAs-sembleia LegislativadeMinasGerais.

Entre julhode2009ejaneirodesteano,odeputadoDoutorRinaldo(PSL)apresentounotas referentes a umgasto de R$ 37,5milcomgasolinaemoitopostos,omaiorvalorentre todos os parlamentares. As despesasmaisaltas teriamocorridonospostosVemCar (R$ 15,6mil), emDivinópolis, base elei-toral dodeputado, e no Javari (R$ 10,3mil),no Bairro Cachoeirinha, em Belo Horizon-te. O posto de Divinópolis confirmaman-ter uma conta do parlamentar. Omesmonãoocorrenopostoda capital.

“Nenhum deputado abasteceu aqui,não temnada disso”, afirma Aiála Fernan-des,gerentedoJavariháumano.Odonodoposto,DicoLima, tambémdissenãoconhe-cerninguémrelacionadoaogabinetedeRi-naldo. “Nota tirada aqui no posto? Não, só

tiroocupomfiscalnamáquina,nãofaçodeoutraforma.Nemconheçoestecara”,disseo empresário, que trabalha nomesmo en-dereçohá35anos. “Osistematemodia to-dopara tirar umanota. Se eu vender R$ 10mil, alguémpode tirar anota emqualquervalordentrodestamargemdodia.Umfun-cionáriopodeterpassadonotapraalguém,é aúnicapossibilidade”, disse Lima.

ProcuradopeloEM,DoutorRinaldoafir-mouque seumotorista abastece o veículo,por isso não conhece todos os postos ondetemdespesas.“Meusassessorescuidamdis-so, não acredito que tenha algumacoisa er-rada. Na verdade, a gente gastamais com-bustíveldoqueaAssembleiaressarce”,disseo deputado, quemora no Bairro Floresta enãotemescritóriopolíticonaCachoeirinha.

NOTANoPostoCássia,naAvenidaFranciscoSá,noPrado,emBH,anotafiscalvemnova-lor queodeputadopedir e quemconta sãoosprópriosadministradores.Semsaberqueeram gravados, eles disseram como tiramnotasparaodeputadoAntônioGenaro. “Àsvezesprecisadeumafolgalá(naALMG),né?Para acertar as contas…”, disse André Barre-to,umdossóciosdoposto.“Quandoodepu-tadoestáprecisandodeumanotinhamaior,a gente tira. Não afeta muito não”, conti-nuou. (Vejaodiálogoabaixo).

Entre julhodoanopassadoejaneiro,Ge-naro apresentou seis notas doPostoCássia,

que totalizamR$29,2mil.Osdonosdopos-to falaramque seu gastomédio varia entreR$3,5mileR$4mil.Amenornotaapresen-tadaporGenaro,emjaneiro,foideR$4,7mil.Asduasmaiores,ambasdeR$5,1mil, foramapresentadas em setembro e outubro. Ochefe de gabinete do deputado informouque ele desconhece qualquer episódio queenvolvasuperfaturamentodenotas.Confir-mouqueoscarrossãoabastecidosnoPostoCássia,masnegouhaver irregularidades.

Se as notas fiscais apresentadas pelo de-putadoChicoUejo (PSB) para justificar des-pesas comcombustível estiveremcorretas,o parlamentarmantémumestranhohábi-to:oscarrossãoabastecidosdedoisemdois.Noperíodoanalisado,por21vezesapráticaserepetiu,comnotasseriadasdeR$100eR$80,noPostoDarioLuizPretti,noBairroSan-to Agostinho, em BH. O mesmo ocorreucomodeputadoGetúlioNeiva(PMDB).Das114notas doAuto Posto Expresso apresen-tadaspeloparlamentar,61estãoseriadas,deduasemduas,oudetrêsemtrês.Osdoisde-putados foramprocurados na tarde de on-tem,masnãoatenderamàs ligações.

Deputado valor (R$)

Doutor Rinaldo 37.498,11Arlen Santiago 34.891,61Ivair Nogueira 34.687,41Cecília Ferramenta 34.324,84Fahim Sawan 34.003,31Getúlio Neiva 33.654,77Jayro Lessa 32.688,78Irani Barbosa 32.485,81CarlosMosconi 32.482,67Paulo Guedes 32.472,10DeiróMarra 31.200,09José Henrique 26.350,14Alencar da Silveira Jr. 30.654,55DjalmaDiniz 30.644,60Maria Tereza Lara 30.208,44Hely Tarquínio 30.036,68Carlos Gomes 29.935,39Sargento Rodrigues 29.912,14RômuloVeneroso 29.819,13Neider Moreira 29.643,18Walter Tosta 29.573,11Pinduca Ferreira 29.503,28Lafayette de Andrada 29.290,79Juninho Araújo 29.239,13Tiago Ulisses 28.873,94Wander Borges 28.674,12Antônio Genaro 28.234,56Padre João 27.632,72Gil Pereira 27.417,69

Os valores nas notas apresentadas por 29 dos 77 deputados (38%) entre julhode 2009 e janeiro de 2010 permitiria a cada umdeles, todos osmeses:

■ Viajar do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS) quatro vezes

■ Cruzar Minas Gerais deManga, no Norte, aExtrema, no Sul, 19 vezes

■ Percorrer do BH Shopping ao Aeroporto TacredoNeves, em Confins, 393 vezes

TAMANHODODESEMBOLSO

Distância Oiapoque (AP)ao Chuí

RS 5,5milquilômetros

Manga a Extrema

1,1milquilômetros

BH Shopping– Confins

57quilômetros

NOTANQUE

O repórter diz que trabalha como assessorparlamentar e que procura um posto paraatender à demanda de gabinete. André eGustavo se apresentam como administradoresdo Posto Cássia e dizem que já trabalham comdeputados da ALMG, como Antônio Genaro.

Repórter: “Quanto o deputado está gastandopormês?”André: “R$ 3,5mil, R$ 4mil. Amédia deles é

essa. Temmês que vaimais, temmês que vaimenos...”Repórter: “Pra gente vai ser por aí também.Mas a nota, como éque funciona a nota? Vai serque valor?...”André: “Aí você vê, se pedir umanotinhamaior, a gente vai vendo aí...Às vezes precisa deuma folga lá, né? Para acertar as contas...”Repórter: “Agente quer amesma condição doGenaro.”André: “É,agenterebolaumbocado, também.

Quandoodeputadoestáprecisandodeumanotinhamaior, agente tira.Nãoafetamuitonão...”Repórter: “Pois é, a gente quer saber, porque amédia é até R$ 5mil que pode...”André: “Pois é, ele gasta R$ 3,5mil, R$ 4mil, temmês que vaimais.”Gustavo: “Temmês que vaimenos, também...”Repórter: “Maspra eles vocês tiramanota comumpoucomais...”

Gustavo: “Quando eles precisam.Quandoprecisameles dão o toque, a gente aí vê o queconsegue. ‘Tem lastro? Tem’, então a gente vailá e dá umpouco amais. Não temerro. Só nãoposso tirar notamaior do que aminha vendadomês, então tenhoque encaixar...”

DIÁLOGOS PROIBIDOSJACKSON ROMANELLI/EM/D.A PRESS

Posto Javari, na Cachoeirinha, é um dos queemitem nota para o deputado Doutor Rinaldo(PSL), campeão de gastos com combustível

O deputadoGetúlio NeivagastouR$ 11 milno Auto Posto Expresso Ltda

RENATOWEIL/EM/D.A PRESS – 5/7/07

O deputadoAntônio Genarogastou R$ 29,2milno Posto Cássia

ALAIR VIEIRA/ALMG – 20/3/03

O deputado Chico UejogastouR$ 11,1 milno Posto Dario Luiz Pretti

JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS – 10/4/07

O deputadoDoutor RinaldogastouR$ 10,3 milno Posto Javari

CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS – 18/10/05

❚ ❚LEIAMAIS SOBREGASTOS

COMCOMBUSTÍVEISPÁGINA 8

CONFIRA NO UAIOdiálogodo repórter do EstadodeMinascomos sócios deumdos postosdegasolina queatendemadeputados.

ww ww ww .. uu aa ii .. cc oo mm .. bb rr

● LEIA AMANHÃDESPESAS COMVEÍCULOS

Page 10: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/A4

ÉONÚMERODE AUDITORESDAAGEQUEVÃO FAZER A ANÁLISE DASEMPRESAS PRESTADORASDE SERVIÇOS, INCLUSIVE COMVERIFICAÇÃO IN LOCO

Assembleia faz convênio com Auditoria-Geral do Estado para implantar sistema restrito defornecedores que serão aceitos para justificar despesas com recursos da verba indenizatória

Cadastro para barrar abusos

POLÍTICA

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Não é quetemosmuitospartidosporque asociedadebrasileira é

muitofracionada,

mas porque éfácil criar e

manter vivospartidos,mesmo

quando nãotêm

enraizamento real. Énossa

legislaçãoque fazcom quetenhamostantos

MARCOS COIMBRA

As relações entre Judiciário,meiopolítico e imprensaatravessamumafasecomplicada.Nestavésperadeprocessoeleitoral, háumaespéciede cabodeguerraentreos três.Oraéumquepuxadeumlado, querendo trazerooutro, oraéaquelequeprecisavaser empurradoquequer fazer osoutros dois semexer.

Típico das relações queestabelecematualmente é aimprensa reivindicar ação doPoder Judiciário quandoentende que é preciso vencer ainércia do sistema político. Ouo próprio Judiciário seantecipar e assumir a iniciativanormativa, antes de sercobrado.

Nos dois casos, teríamosaquilo que os comentaristaschamam, hoje emdia,judicialização, a excessivapresença do Judiciário naconformação do sistemapolítico. No primeiro, induzidadesde fora, emmodelo queguardaalgumasemelhançacomo que prevaleceu no Brasildos anos 1950 em relação aosmilitares. Lá, era a eles que aimprensa dirigia seus apelos,para que “fizessemalgumacoisa” (nisso se incluindo aintervenção na política) quepusesse termo àquilo deerrado que os políticos faziam.Afinal, comomostrou AlfredStepan em suas análises doperíodo, o “podermoderador”das Forças Armadas sempre foiexercido em resposta aos“clamores” da sociedadeapresentados pela imprensa(ou por ela inventados). Já nosegundo caso, a judicializaçãoseria endógena.

Venha de onde vier, ela éindesejável. A palavra, em simesma, sugere algo indevido,

pois implica considerar queuma coisa que nada tem dejudicial passou a ter essanatureza. Quando as pessoasfalam dela, é como sedissessem que ela nãodeveria existir.

De fato, a judicializaçãonãocontribui para odesenvolvimento político doBrasil, ao contrário. Sempreque o Judiciário avança sobreas prerrogativas dos demaispoderes, autonomeando-separa o papel de zelador dasinstituições, é porque algo nãovai bem. Na normalidade, emnada é necessário que ocupeespaços que não são seus.

É difícil, no entanto, criticá-la, pois o senso comumvigentenão apenas considera que elapode acontecer como é a tábuade salvaçãoda cidadania emumcontexto de incapacidadedomeio político de responderaos seus anseios. Se quem éresponsável se omite, ainiciativa seriaautomaticamente transferidaa quem se oferece para fazê-lo.

É, por isso, muito positivoque o novo presidente doTribunal Superior Eleitoral(TSE) esteja assumindo suasfunções explicitando suadiscordância coma ideia. Paraoministro RicardoLewandowski, que desde asemanapassada preside o TSEe que vai estar à sua frente naeleição, a judicializaçãodapolítica é “indevida eexcessiva”. Segundo ele,“muitas coisas que deveriamser resolvidas pelo CongressoacabamdesaguandonoJudiciário”.

Ao semanifestar sobre ascausas da dificuldade de oPoder Legislativo resolver porconta própria os problemas e

os deixar para decisão dostribunais, oministro consideraque o “gigantismo doCongresso” é o culpado. Este,por sua vez, decorreria da“pulverização excessiva daopinião pública”, que estariana origemdo grande númerode partidos que temosatualmente.

É de se notar que aproliferação artificial dospartidos tempouco a ver comas divisões reais que existememnossa sociedade. Naverdade, derivamuitomaisdas características de nossalegislação sobre amatéria. Ou

seja, ]não é que temosmuitospartidos porque a sociedadebrasileira émuito fracionada,mas porque é fácil criar emanter vivos partidos, mesmoquando não têmenraizamento real. É nossalegislação que faz comquetenhamos tantos.

Há quatro anos, logo apósas eleições de 2006, foi pordecisão do Judiciário que a“pulverização” foi consagrada,na interpretação deinconstitucionalidade dasrestrições que o Congressohavia aprovadoà sobrevidados partidos de desempenho

eleitoral irrelevante. Quandocaiu a cláusula de barreira,todas as decorrênciasnegativas do “gigantismo”(instabilidade crônica naformaçãodemaiorias enegociações indevidas noParlamento, para citar apenasduas) permaneceram.

Mas émuito positivo ouviroministro dizer que, noprocesso político, como nofutebol, bom é o juiz queninguémpercebe. Tomara queas coisas aconteçam como eleimagina: “Quantomenos aJustiça intervier,mais bonitaserá a eleição”.

Mudança no TSE MARCOSMICHELIN/EM

SOCIÓLOGO E CIENTISTA POLÍTICO

[email protected]

JULIANA CIPRIANI

Os 77 deputados estaduaisterão o lequede empresas comasquais gastamparte dosR$ 20mil mensais a título de verbaindenizatória restrito. Nos pró-ximosmeses, aAuditoria-Geraldo Estado fará, em parceriacom a Assembleia Legislativa,um cadastro dos prestadoresde serviçosnas áreasde locaçãoe fretamento de veículos, con-sultoria, assessoria epesquisa edivulgação da atividade parla-mentar aptos a serem contra-tados. O Legislativo só vaireembolsar gastos dos parla-mentares direcionados paraaqueles que tiverem sido certi-ficados neste processo.

O convênio entre a ALMG eaAuditoria-Geral do Estado foifirmado ontem, como conse-quência da série de reporta-gensNotas Frias S/A, doEstadodeMinas, que vemmostrandoo suposto uso de notas fiscaisfrias por deputados estaduaispara receber a verba indeniza-tória. Segundo o presidente daAssembleia, deputado AlbertoPinto Coelho (PP), o pagamen-to das notas suspeitas já foifeito mediante análise formale legal dos documentos. Deacordo com ele, o procedi-mento da parte técnica do Le-

gislativo inclui consulta a umasérie de cadastros para verifi-car a regularidade das empre-sas, com mecanismos de bus-ca a dados da Junta Comercial,Receita Federal, Secretaria deEstado da Fazenda, banco dedadosmunicipal e outros.

Sobre a possibilidade de pu-nição para 51 dos 77 deputadosestaduais que apresentaramnotas colocadas sobsuspeitaouda devolução dos valores, PintoCoelho evitou especular. O pre-sidente disse que agora cabe aoMinistério Público Estadual,que abriuprocesso investigató-rio para avaliar as suspeitas, ve-rificar se há irregularidades nopagamentodaverba.Oprocedi-mento foi anunciado pelo pro-curador-geral de Justiça, AlceuJosé Torres Marques. “OMP semanifestou e será exercida suaprerrogativanaplenitude.AAs-sembleia cumprirá seu papelfornecendo toda a documenta-ção necessária. Agora, temosumritodentroda competênciadoMP e aqueles fatos serão ob-jeto de um processo investiga-tório que temvários caminhos.Antecipar é fazer uma conclu-são precipitada”, disse.

De acordo comopresidenteda Assembleia, a Casa já vinhatratando da implantação deumórgão de auditoria interno,

o que será antecipadopela par-ceria comosistemadoExecuti-vo. Apesarde evitar falar emfa-lhas, Alberto Pinto Coelho ad-mitiu que o atual sistema dereembolsopode ser aperfeiçoa-do. É oquepretendeoprocessode certificação a ser feito nospróximosmeses.Osdeputadosinformarão à Mesa da Casa as

empresas das quais contratamserviços e, a partir daí, será feitaauditoria para comprovar,além da existência e da regula-ridade fiscal desses estabeleci-mentos, as condições de forne-cer os serviços propostos.

AUDITORES De acordo com aauditora-geral do estado,Maria

Celeste Morais, pelo menosquatro auditores ficarão porcontadaanálise e, sepreciso, fa-rão visitas in loco para averi-guar a legalidade das empresas.Os aprovados receberão certifi-cado e serão publicamente re-conhecidos como aptos à con-tratação, podendo ser periodi-camente reavaliados. “Éumtra-

balho preventivo, feito antesqueanota fiscal chegue.Vaiha-verumcadastrodaquelasnotasqueserãoaceitas.Osdeputadospodem até usar outras empre-sas, mas não serão reembolsa-dos”, afirmou. O convênio tam-bém prevê cursos de capacita-çãoe trocadeexperiência entreas duas instituições.

O chefe do Legislativo mi-neiro defende uma mudançaestrutural no sistemade remu-neraçãodos deputados que, se-gundo diz, já foi levada comopropostademobilizaçãoaoCo-légiodePresidentesdasAssem-bleias Legislativas. Para PintoCoelho os deputados estaduaisdeveriamteros salários equipa-rados ao teto do Judiciário, nocasodos estados, o subsídiodosdesembargadores do Tribunalde Justiça, de R$ 22,1mil, o quelhes daria um acréscimo de R$7,4milnos atuaisR$14,6mil re-cebidos. Alémda remuneração,segundooparlamentar, as des-pesas com gabinetes continua-riam sendo pagas pelo Legisla-tivo, porém os gastos seriamfeitos pela própria instituição,via processo licitatório, o que,de acordo comele, alémde evi-tar a confusão entre opúblico eo privado, geraria economiadiante do volume de serviçoscontratados.

JORGE GONTIJO/EM/D.A PRESS

Presidente da ALMG, Alberto Pinto Coelho, e auditora-geral Maria Celeste Morais anunciaram parceria

Page 11: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 65.603,73

ÉOVALORQUEOSDEPUTADOS ESTADUAIS USARAMDAVERBAINDENIZATÓRIA PARAPAGARTRIBUTOS ETAXASDEVEÍCULOSDEUSOPARTICULAR

Deputados estaduais empregam verba indenizatória para pagar IPVA e taxas de até seteveículos próprios ou de carros de luxo. Prática, apesar de permitida, dá margem a abusos

Imposto no bolso do povo

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POLÍTICA E D I T O R : B a p t i s t a C h a g a s d e A l m e i d a

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Gestantes, crianças de 6 meses a menores de 2 anos, jovens de 20 a 29 anos

e pessoas portadoras de doenças crônicas que ainda não se vacinaram contra

a Influenza H1N1 também poderão ir aos postos de vacinação neste sábado.

Marque esse compromisso com a sua saúde. Leve o cartão ou caderneta de

vacinação e faça a sua parte.

VACINAÇÃO CONTRA INFLUENZA H1N1NESTE SÁBADO, 24 DE ABRIL, COMEÇA A ETAPA DOS

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PESSOAS COM 60 ANOS OU MAIS, ESTARÁ DISPONÍVEL A PARTIR DO DIA 08 DE MAIO.

OS IDOSOS PORTADORES DE DOENÇAS CRÔNICAS PODERÃO AGUARDAR

ATÉ O DIA 08 DE MAIO E TOMAR AS DUAS VACINAS NO MESMO DIA.

ALESSANDRA MELLO E AMANDA ALMEIDA

A verba indenizatória de R$ 20mil recebidamensalmente pelosdeputadosestaduaispara “manu-tençãodomandato”tambémtemsido usada para custear despesasdecarros,muitasvezesdeluxo,re-gistradosemnomedosparlamen-tares e frequentemente usadospor parentes. Levantamento feitopelo Estado de Minas sobre osgastos dos deputados com verbaindenizatória, de julho de 2009 ajaneiro deste ano, revela que pelomenos 27 parlamentares usarampartedaverbaparapagartributosque todo início do ano pesamnobolso do contribuinte: o ImpostoSobrePropriedadedeVeículosAu-tomotores(IPVA),oseguroobriga-tóriopordanospessoaiscausadosporacidentesde trânsito (DPVAT)ea taxade licenciamento.

Ao todo, os deputados gasta-ram o equivalente a R$ 65.603,73parapagar tributos e taxasdeveí-culos deusoparticular, conformemostra a quinta reportagem ex-clusiva da série Notas Frias S/A ,

quedesdedomingovemrevelan-do irregularidadesnousodasver-basindenizatórias.Essevalorpodeser bem maior, já que muitosapresentaram recibo de apenasuma das parcelas do imposto pa-gaaté janeiro,quecustaaté4%so-breovalorde tabeladoveículo.

O campeãodeusodaverba in-denizatória para quitar tributo deveículos é o deputado JuninhoAraújo (PTB), que pagou IPVA eDPVATno valor de R$ 6.039,68 detrêscarrosdesuapropriedade,umHondaFiteduasPajeros.Osegun-docolocadonolevantamentofoiodeputado Sávio Souza Cruz(PMDB), que pagou com recursospúblicostodooIPVAdeR$3.099,32de suaNissan Pathfinder,modelo2006, que custouR$140mil. Tam-bémquitou tributos de seus FordRangereFordExplorernovalorto-taldeR$2,6mil.Aotodo,odeputa-dopagouR$5.718,95emimpostosdeseustrêsveículos.DomingosSá-vio (PSDB) tambémusou a verbapara saldar as dívidas como IPVAde sua Tucson, ano 2008, compra-da por R$ 79,1 mil, e também de

seuKiaSorento,modelo2009,quecustou nada menos que R$ 103mil, conforme levantamento noDepartamento de Trânsito deMi-nasGerais (Detran-MG).

Já o deputado Inácio Franco(PV) usouR$ 4.614,10parapagar oIPVAde apenas umcarro,mas dealto luxo. A verba para custeio demandatoquitoudeumaúnicavezoIPVAdesteanodesuaToyotaHi-llux,compradaem2008porR$158mil.Outroparlamentar, odeputa-do Getúlio Neiva (PMDB), usou averbaparaquitarnadamenosqueoIPVAdeseteveículosregistradosem seu nome ao custo de R$ 3,2mil. DélioMalheiros (PV) apresen-tounotasdedívidasquitadas jun-to à Secretaria da Fazenda com averba indenizatórianovalordeR$4.694,44,mas na descrição do gas-to não há detalhes se foramdébi-tos de IPVAoude outros tributos.A deputada Glaúcia Brandão pa-gou o IPVAde sua Space Fox, ano2010, compradaporR$50mil.

OS ‘CONTRIBUINTES’MAIORES GASTOS DE VERBA INDENIZATÓRIA COM IPVA

Sávio Souza Cruz (PMDB)

R$ 5.718,95

Domingos Sávio (PSDB)

R$ 4.918,74

Juninho Araújo (PTB)

R$ 6.039,68

Inácio Franco (PV)

R$ 4.671,07

GUILHERME BERGAMINI/ALMG – 17/6/09 CRISTINA HORTA/EM/D.A PRESS – 30/4/08

PAULO FILGUEIRAS/EM/D.A PRESS – 14/10/09 GUILHERME BERGAMINI/ALMG – 4/10/07

REGULAMENTO

Osdeputadosestaduaisusamrecursospúblicosparapagartaxasetribu-tosde veículosparticu-lares respaldadospelaDeliberação2.446,de ju-nhode2009, quedisci-plinouousodaverba in-denizatória.Oartigo3°dessaresoluçãoafirmademaneiragenéricaquesão indenizáveis “despe-sasgerais comosveícu-los”.Noentantooartigoseguinte, no incisoV, dizque “nãoserãoobjetoderessarcimentopormeiodeverba indenizatóriaasdespesas referentesapeças,manutençãome-cânicaeelétrica, lanter-nagem,pintura, refor-ma, impostos, taxase se-gurodeveículoquenãosejadepropriedadedodeputado”.

OUTROS DEPUTADOS

Getúlio Neiva (PMDB)

Hely Tarquínio (PV)

Vanderlei Miranda (PMDB)

Dalmo Ribeiro Silva (PSDB)

Gláucia Brandão (PPS)

Neider Moreira (PPS)

Antônio Carlos Arantes (PSC)

Chico Uejo (PTB)

Padre João (PT)

Durval Ângelo (PT)

Carlos Gomes (PT)

Arlen Santiago (PTB)

Ademir Lucas (PSDB)

Almir Paraca (PT)

Lafayette de Andrada (PSDB)

Doutor Ronaldo (PDT)

João Leite (PSDB)

Elmiro Nascimento (DEM)

Eros Biondini (PTB)❚ ❚LEIAMAIS SOBREDEPUTADOSPÁGINA 4

Page 12: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AVeículo com taxas pagas pela verba indenizatória

tem que ser de uso do parlamentar, mas hácasos em que familiares utilizam esses carros

POLÍTICAE S T A D O D E M I N A S ● Q U I N T A - F E I R A , 2 2 D E A B R I L D E 2 0 1 0

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Direçãoentreguea parentes

AMANDA ALMEIDA

Quarenta e seis carros usa-dos exclusivamente para ativi-dades parlamentares. Pelome-nos é o que apontam notasapresentadas por deputadosestaduais para receber verbaindenizatória relativa ao paga-mento de impostos comoIPVA e seguro obrigatório.Mas, na prática, a AssembleiaLegislativa deMinasGerais pa-gou também para que paren-tes de parlamentares pudes-sem transitar tranquilamentepor viasmineiras.

Só o deputadoDalmo Ribei-ro (PSDB) usou parte da verbaindenizatória para quitar o pa-gamento do IPVA e do seguroobrigatóriodequatrocarros.Nagaragemdeumluxuosoprédiono Bairro Santo Agostinho, Re-gião Centro-Sul de Belo Hori-zonte,noqualmora, estãoumaHilux e um Corolla, ambos daToyota. Já emOuro Fino, no SuldeMinas, a 470 quilômetros dacapital, base eleitoral do parla-mentar, ficam um Voyage, daVolkswagen, e umClasseA160,daMercedes-Benz.Opagamen-to de impostos dos quatro veí-culos já custaouneste anoàAs-sembleia R$ 6,4mil.

PelomenosemBH,nãoé se-gredopara funcionáriosdoedi-fício que os filhos de Dalmousamumdos veículos. Na sex-ta-feira, o Estado de Minasacompanhouamovimentaçãona porta do prédio. Às 11h30,umdos filhosdodeputadoche-gou ao local conduzindo o Co-rolla. Duas horas depois saiunovamente com o carro, diri-gindo-se à Avenida Amazonasaté pegar a BR-381. Já na rodo-via federal, parouemumpostode gasolina e encheu o tanquede combustível.

Sem perder tempo, seguiuviagem até Ouro Fino. O IPVAdoveículo custouàAssembleiaR$ 1.300,80. A lei diz que a ver-ba indenizatóriadeve serusadaexclusivamente com despesasrelacionadas ao exercício domandato. Segundo Dalmo Ri-beiro, os filhos não trabalhamna Assembleia. “Meus filhossempre participam da minhaatividade, mas sem nenhumaremuneração. Não são contra-tados. Naquele dia, ele condu-ziuoCorolla atéOuroFinopor-queeuestava lá edeuavarianomotordaminha caminhonete.Ele foimesocorrer”, dizodepu-tado, que tem outros dois veí-culos na cidade.

Mas, segundoumfuncioná-rio do prédio, não é tão inco-mumassim os filhos do depu-tado usarem o carro. “A Hiluxé usada geralmente em via-gens. Odeputado sempre viajacom ela.Mas o Corolla é dirigi-do pelos filhos dele”, relata ofuncionário, que preferiu nãose identificar. “Eu que uso oCorolla direto. Ele é usado ematendimentos em BH. Meu fi-lho, inclusive, perdeu umaprova na faculdade para mebuscar em Ouro Fino”, alegouo deputado.

Corolla placa HDM 5117,

em nome do deputado

Dalmo Ribeiro e

dirigido por um de seus

filhos, deixa garagem

do prédio em BH e

pega estrada. Para em

posto para abastecer e

segue viagem até Ouro

Fino, no Sul de Minas

❚ ❚LEIA AMANHÃ

MAISABUSOSCOMVERBA INDENIZATÓRIA

FOTOS: RENATOWEILL/EM/D.A PRESS

Page 13: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 1.207,50

GASTODODEPUTADO IRANI BARBOSANOBOLÃODE SANTATERESA, O SUFICIENTEPARA PAGAR 100ROCHEDÕES, O PRATOMAIS CONHECIDODORESTAURANTE

Levantamento do EMmostra que parlamentares mineiros usaram verba indenizatória parapagar contas e confraternizações em restaurantes de BH e até em Búzios, no litoral do Rio

DEPUTADOS FAZEMFARRA DA COMILANÇA

E S T A D O D E M I N A S ● S E X T A - F E I R A , 2 3 D E A B R I L D E 2 0 1 0

POLÍTICA E D I T O R : B a p t i s t a C h a g a s d e A l m e i d a

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ALESSANDRA MELLO

Boa parte da verba indenizatóriatambém é usada pelos deputadospara pagar a contratação de serviçosjurídicos. Por coincidência, muitosdos escritórios de advocacia que re-cebem como consultores tambémdefendem deputados em processosque eles figuram com o réus, namaioriadasvezesna JustiçaEleitoral.Alguns “consultores” tambémsão fi-liados a partidos políticos.

O advogado Eustáquio Pereira deMoura Júnior emitiu R$ 30 mil em

notas fiscais de R$ 5mil cada emno-me do deputado estadual Irani Bar-bosa(PMDB), para justificardespesascom serviços de consultoria. Porcoincidência, ele advoga para o par-lamentar em todas as ações que elerespondena Justiça. Foi elequemde-fendeu o deputado no processo quecassou seumandato.

Em fevereiro deste ano, Irani foicassadoporunanimidadepeloTribu-nalRegionalEleitoral (TRE-MG)porserecusaracomparecercomotestemu-nhaemaçãodeimpugnaçãodeman-dato eletivo contra vereador, eleito

em 2004. No entanto, ele permanecenocargoatéasentençafinaldoTribu-nalSuperiorEleitoral (TSE).Eustáquiotambémdefendeodeputadoeamu-lher, a ex-prefeita de Ribeirão dasNe-ves (RegiãoMetropolitanadeBeloHo-rizonte),GracinhaBarbosa,emumin-quéritosigilosoquetramitacontraosdois no Supremo Tribunal Federal(STF). As apurações estão a cargo dacortesuperior,poisentreos investiga-dosestáodeputadofederalCarlosWi-lliam (PTC).Odeputadodisse quepa-ga do próprio bolso as despesas coma defesa de Eustáquio Moreira nosprocessosemqueelefiguracomoréuequenãopassadecoincidênciaofatode ele também trabalhar como seuconsultornaAssembleia.

A advogada ArianaMarins Amo-rim advogou para o deputado NacibDuarte Bechir no recurso eleitoralmovidoporeleparatentarsuspenderarejeiçãodassuascontaseleitoraisdadisputa de 2008, quando disputouumavagadevereador.Nacibassumiu

ano passado o cargo de deputado nolugar deMaria LúciaMendonça, cas-sadapela JustiçaEleitoral.Elatambémemitiu notas fiscais no valor de R$ 35mil como prestadora de serviços deconsultoria para o deputado.Mesmocaso do advogadoMayron Campi Li-maBarbosa, que advogadapara o ex-deputado Rêmolo Aloise (PSDB), quedeixou o cargo janeiro, em um pro-cesso que tramita na Justiça Eleitoral.Ele recebeu R$ 22,5mil das verbas in-denizatórias declaradas pelo deputa-dode julhoa janeirodeste ano.

Entre os consultores também hápessoas ligadas a partidos políticos,caso de Antônio Augusto ResendeMaia, umdos sócios daMaia&MaiaConsultoria, que preside a comissãoprovisória do PSDB de São JoaquimdeBicas, naRegiãoMetropolitanadeBeloHorizonte. A empresa, tambémlocalizadanomunicípio,prestouser-viços de consultoria para os deputa-dos Gil Pereira (PP) e Diniz Pinheiro(PSDB) no valor total de R$ 40mil.

Advogado paracausa própria

THIAGO HERDY

Averba indenizatóriadaAssembleiaLegisla-tivadeMinasGerais (ALMG) foiusadapelosde-putados mineiros para promover confraterni-zações e pagar a conta de restaurantes de luxo.Quemmais gastou foi o deputado Irani Barbo-sa (PMDB), que apresentou notas referentes aalimentação que somamR$ 24,1mil. Os gastosdo parlamentar não ficaram restritos a MinasGerais. PelomenosR$618,58 forampagosaumrestauranteeauma lanchonetedeBúzios,no li-toral do Rio de Janeiro, durante o recesso parla-mentarde janeiro.A resoluçãodaALMGquere-gulamentaosgastos comaverba indenizatórianãopermitequeassessoresalmocemporcontada Assembleia. No entanto, funcionários da Vi-la Giannina, restaurante localizado próximo àALMG,dizemqueservidoresdogabinetedode-putadoVanderleiMiranda (PMDB)– justamen-teoqueapresentoumaisnotasdealimentaçãodo local – semprepedemocomprovante.Ode-putado nega que elas sejam apresentadas. Ouso dessa ajuda de custo para pagar alimenta-çãodeparlamentareseassessoreséo temades-ta sextamatéria da sérieNotas Frias S/A, publi-cada pelo Estado deMinas desde domingo.

Dezembro e janeiro foram os meses emque o deputado Irani Barbosa mais gastoucomalimentação. A despesamais curiosa estáexposta em duas notas referentes a gastos daprimeira quinzena de janeiro: R$ 380,58 pagosao restaurante Satyricon, no dia 10, e R$ 238 àconfeitaria Gulf Stream, no dia 12, ambos osestabelecimentos localizados em Búzios. “Euestava em atividade parlamentar. Fui me en-contrar com deputados do Rio. Onde estiverem atividade, eu pago, seja Nova York, Búziosou Paris”, disse o parlamentar, que passou boaparte de dezembro frequentando restauran-tes da capital mineira, sempre apresentandonotas pelas refeições à Assembleia.

Amaratonagastronômicacomeçoudia3,emrestaurantesdeBeloHorizonte.Aentregaaopra-zerdecomerocorreu,deverdade,nofimdomês.De acordo comasnotas divulgadaspelaAssem-bleia, apenasem22de janeiroodeputadoeseusconvidadospassaramporseisrestaurantes.Ano-tamaismodestaédeR$85.Asoutrasseguemou-tropadrão:R$160,90naVilaGiannina;R$319naPizzeriaMarilia, R$640noKeiCozinha Japonesa,R$ 838,50 no restaurante da Câmara dos Verea-dores, e,por fim,R$1.207,50notradicionalBolãodeSantaTeresa.Ovalordaconta seria suficientepara pagar nada menos que 100 Rochedões, opratomais conhecidodo restaurante.

“Ajudoosmeus funcionários comalimenta-ção. Minhas despesas de restaurante eu pagocom cartão de crédito pessoal, sem problema”,afirmou o deputado, que disse gastar com al-moços ou jantares comautoridades. “Eu recep-cionoopessoal, ondemarcar, eu recebo. Tenhoumaverbade representaçãopara isso”, comen-

tou o parlamentar, que classifica os gastos co-mo “justificáveis” e dentro da “previsão legal enormativa”. Segundo ele, as notas mais altasnãose referemaapenasumarefeição,masa to-das realizadas durante omês.

CONVIDADOS Quem também não vê qual-quer problema no alto gasto do gabinete comalimentação é o deputado Vanderlei Miranda(PMDB). Sem saber que era gravada, uma fun-cionária do restaurante Vila Giannina, no San-toAgostinho, disse quepessoas dogabinete deMiranda pegam notas fiscais para apresentá-las à ALMG. “Eu preencho com o nome do de-putado e coloco o endereço da Assembleia. Devez em quando, eles juntam os cupons e, de-pois, vêmbuscar a nota fiscal”, disse a funcio-nária. Miranda negou a irregularidade e afir-mou que todas as despesas apresentadas sãoreferentes às suas refeições e às de seus convi-dados. “Seumfuncionáriopedeumanota, nãosignifica que ele vá apresentá-la na Assem-bleia. A instituição inteira almoça naquele lu-gar”, afirmou. Das 114 notas da Vila Gianninaindenizadas pela ALMG, 62 eramdeMirada.

Mesmo comaproibição de pagamento dasdespesas de alimentação de servidores comverba indenizatória, outros restaurantes noentorno da Assembleia faturam alto graças aesse adicional mensal. Apenas o Abrolhos, naRua Araguari, recebeu R$ 12,6mil em seteme-ses. O deputado Getúlio Neiva (PMDB) pagouR$ 7,5mil dessa fatura. O Gardinus, localizadonamesma rua, recebeuumaquantia parecida:R$ 12,7 mil. O campeão dos gastos no restau-rante foi o deputado Antônio Júlio (PMDB),com R$ 4,7 mil. As notas do Rodeio dos Pam-pas, também localizadoperto daALMG, totali-zam R$ 7,5 mil. Os maiores clientes foram Ro-naldo Magalhães (PV), com R$ 3,5 mil em gas-tos, e Domingos Sávio (PSDB), comR$ 2,1mil.

MESA FARTA

MAIORES GASTOS DE ALIMENTAÇÃO PAGOSCOM VERBA INDENIZATÓRIA NA ALMG (*)

GETÚLIO NEIVA (PMDB)R$ 7,5 mil no Abrolhos

IRANI BARBOSA (PMDB)R$ 4,5 mil no Vecchio SognoR$ 3,8 mil no Magia do SaborR$ 3,6 mil no AbrolhosR$ 2,9 mil na Churrascaria TrevoR$ 1,2 mil no Bolão de Santa TeresaR$ 1 mil em restaurante de Nova LimaR$ 618,58 em restaurantes de Búzios

ANTÔNIO JÚLIO (PMDB)R$ 4,7 mil no Gardinus

RONALDO MAGALHÃES (PV)R$ 3,5 mil no Rodeio dos Pampas

DOMINGOS SÁVIO (PSDB)R$ 2,1 mil no Rodeio dos Pampas

VANDERLEI MIRANDA (PMDB)R$ 2,7 mil na Vila Giannina

❚ ❚LEIAMAIS SOBREVERBA INDENIZATÓRIA

PÁGINA 4

(*) ENTRE JULHO DE 2009 E JANEIRO DESTE ANO

Page 14: Notas Frias S/A

NOTAS FRIAS S/AR$ 65.603,73

GASTODE 27 PARLAMENTARESMINEIROS COMOPAGAMENTODETRIBUTOS ETAXASDEVEÍCULOSDEUSOPARTICULAR SOMENTE EM JANEIRO

Mudança em termo de ajustamento de conduta (TAC) com oMinistério Público permitiu quedeputados utilizassem verbas indenizatórias para quitar gastos com automóveis particulares

POLÍTICAE S T A D O D E M I N A S ● S E X T A - F E I R A , 2 3 D E A B R I L D E 2 0 1 0

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ALESSANDRA MELLO

A Assembleia LegislativadeMinasGerais alterouo ter-mo de ajustamento de con-duta (TAC) que instituiu em2001 a verba indenizatóriapara permitir que esse recur-so fosse usado também parapagar tributos e taxas de veí-culos, muitas vezes de altoluxo, registrados em nomedos deputados estaduais. Re-portagem da série NotasFrias S/A publicada ontempelo Estado de Minas reve-lou quepelomenos 27 depu-tados usaram parte da verbaindenizatória de R$ 20 milmensais para quitar o Impos-to sobre Propriedade de Veí-culosAutomotivos (IPVA), se-guro contra acidentes(DPVAT) e taxa de licencia-mento, tributos obrigatóriose que todo início de ano pe-sam no bolso do contribuin-te. Por pressão do MinistérioPúblico, o uso de verba inde-nizatória para pagamento detributos de automóveis é ex-pressamente proibido na Câ-mara Municipal de Belo Ho-rizonte, desde 2008.

A mudança no TAC foifeita em junho de 2009 pelamesa diretora da Assembleiapor meio da Deliberação2.446, que alterou a normaanterior, publicada em se-tembro de 2001, que nãoprevia essa possibilidade(veja quadro). Mesmo semestar previsto expressamen-te nos textos anteriores, pe-lo menos desde 2003, os de-putados usam a verba paraquitar IPVA e outros débitosde veículos particulares.

A verba indenizatória sur-giu em 2001, a partir de TACfirmado pelo LegislativocomoMinistério Público de-pois das denúncias do EMsobre os altos salários recebi-dos pelos deputados esta-duais, para separar os venci-mentos dos gastos com omandato. “Isso não existia naresolução de 2001 que redu-ziu o salário dos deputados ecriou a verba indenizatória”,afirma o promotor do Patri-mônio Público, João Medei-ros, que abriu um inquéritopara apurar a existência deimprobidade administrativano pagamento das verbas. AProcuradoria-Geral da Justi-ça também apura a respon-sabilidade dos deputados noâmbito criminal.

NAS ENTRELINHASAResolu-ção1.739, deoutubrode2001,

autorizavaa indenização “dosgastos comcombustível,ma-nutenção geral e locação deveículos utilizados no exercí-cio do mandato parlamen-tar”.Dois anosdepois, o textofoi alterado pela Deliberação2.331, de 30 de abril, que am-pliava para “despesas gerais”com veículos os gastos inde-nizáveis pela verba. No anopassado, a possibilidade deusar recursos públicos paraquitar tributosdos carrosdosdeputados foi autorizada nadeliberação aprovada em ju-nho pela mesa diretora. Cu-riosamente, essa possibilida-denão foi regulamentada cla-ramente no artigo que des-creve o que pode ser pagocom a verba indenizatória e,sim,noquedetalhaoquenãopode ser indenizado. “Não se-rão objeto de ressarcimentopor meio de verba indeniza-tória as despesas referentes apeças,manutençãomecânicae elétrica, lanternagem, pin-tura, reforma, impostos, ta-xas e seguro de veículo quenão seja de propriedade dodeputado”, diz o texto.

Segundo informações ob-tidas pela reportagem, oIPVA vem sendo pago comverba indenizatória pelome-nos desde 2003 e a alteraçãodo ano passado teve comoobjetivo apenas impedir quetambém fosse pago o impos-to de veículos registrados emnomede esposas e outros fa-miliares de deputados. So-mente em janeiro deste ano,27 parlamentares gastaramoequivalente a R$ 65.603,73para pagar tributos e taxasde veículos de usoparticular.Esse número pode ser bemmaior, já que muitos quita-ram apenas uma das trêsparcelas do IPVA.

NOTA Um dos campeões degastos com IPVA, o deputadoestadual Domingos Sávio(PSDB) divulgounota emqueafirmaqueousoda verba in-denizatória para pagamentode taxas e tributos de veícu-los “é de conhecimento doMinistério Público Estadual,que assinou com a Assem-bleia um termo de ajusta-mentode conduta (TAC), dei-xando claro que esses gastospodem ser considerados co-mo despesas com o manda-to”. Pormeio da nota, ele ale-ga ainda que não “há ilegali-dade e tampouco imoralida-de” nousodaverba indeniza-tória para pagamento de tri-butos de veículos.

FAÇA SUA PARTESAIBA COMO CONSULTAR OS GASTOS DOS DEPUTADOS ESTADUAIS COM VERBA INDENIZATÓRIA

Acesse o site da Assembleia Legislativade Minas Gerais (www.almg.gov.br)

1º Do lado esquerdo da página,clique no link “Administração”

2º Em seguida, clique no link“Prestação de contas”

3º Basta acessar o link “Verba indenizatória”e inserir o

nome do deputado estadual que será pesquisado4º

O SITE DISPONIBILIZA INFORMAÇÕES SOBRE OS GASTOS COM A VERBA DE JULHO DE 2009 A ABRIL DESTE ANO

Empresa que presta serviços de limpeza e conservação aparece em nota de aluguel de carro apresentada pelo deputado Sebastião Costa (PPS)

CONFIRA AS RESOLUÇÕES SOBRE PAGAMENTO DE IPVA COM VERBA INDENIZATÓRIA

SAIBA MAIS

RESOLUÇÃO 1.739DE 27/09/2001

Referência: Feita porrecomendação do MinistérioPúblico, instituiu a verbaindenizatória

Descrição: A AssembleiaLegislativa indenizará odeputado por “gastoscom combustível,manutenção geral e locaçãode veículos utilizados noexercício do mandatoparlamentar”

DELIBERAÇÃO 2.331DE 30/04/2003

Referência: Não autoriza opagamento de IPVA, masacrescenta o termo despesasgerais

Descrição: A AssembleiaLegislativa indenizará odeputado por “gastos comcombustível, manutenção geral,locação e despesas geraiscom veículos utilizados noexercício do mandatoparlamentar”

DELIBERAÇÃO 2.446DE 15/06/2009

Referência: Autoriza opagamento do IPVA, só que noartigo que regulamenta o quenão pode ser indenizado

Descrição: “Não serão objeto deressarcimento pormeio de verbaindenizatória as despesasreferentes a peças,manutençãomecânica e elétrica, lanternagem,pintura, reforma, impostos, taxase seguro de veículo que não sejade propriedade do deputado” ❚ ❚LEIA AMANHÃ

MAISABUSOSCOMNOTAS

Jeitinho liberou o IPVA

FOTOS: ALMG.GOV/REPRODUÇÃO DA INTERNET

BETO NOVAES/EM/D.A PRESS

Locação de automóveis sob suspeitaTHIAGO HERDY

O deputado Sebastião Cos-ta (PPS) pagou R$ 35 mil poraluguel deveículos aumaem-presa cadastradanaReceita Fe-deral como especializada emlimpeza de prédios e domicí-lios. AConservar Serviços Ltda.funciona na Avenida AbílioMachado, noBairro Frei Eustá-quio, emBeloHorizonte.OEs-tado de Minas esteve no en-dereço para tentar alugar um

veículo. Mas, as funcionáriasinformaram que esse tipo deserviçonunca foi oferecidonoendereço. “Somos uma em-presade terceirizaçãode servi-çosde limpezae atendimento.Nunca teve carro por aqui”,disse a recepcionista.

O folder de divulgação daempresa explica que ela for-nece funcionários para servi-ços de telefonia, recepção eportaria, conservação, limpe-za e jardinagem. Procurado, o

deputado Sebastião Costa in-formou que aluga veículoscom a empresa, porque co-nhece o donohámuitos anos.Ele disse que os funcionáriosprovavelmente não citaramos serviços relacionados a veí-culos porque a empresa esta-ria mudando o foco de atua-ção. Ele apresentou uma alte-ração contratual da Conser-var, que prevê a locação deveículos e amplia o leque deatuaçãoda empresa, comode-

sinfecção hospitalar, consulto-ria em saneamento ambiental,digitação de documentos, res-taurante e estacionamento.

Os deputados estaduaisAdalclever Lopes (PMDB) e Gil-berto Abramo (PRB) gastaramboa parte da verba indenizató-ria da Assembleia para cobrirdespesas de interesse partidá-rio. Quemcontou foi a proprie-tária da Sólida Locadora de Veí-culos,Maria Aparecida Ferreira.“O Adalclever pegou quase 15carros coma gente, para a cam-panha”, disse, referindo-seàdis-puta pela presidência regionaldo PMDB. Sem saber que eragravada, ela disse também queo valor das notas foi divididoentre outros parlamentares, dejulho a novembro.

Adalclever disputou e per-deu a presidência do PMDB emMinas. Mesmo sem ser doPMDB, Gilberto Abramo foiapoiador de sua candidaturadesde o início. De acordo comaAssembleia, osdoispagaramR$38,5mil à Sólida.Osdoisnegamousopartidário da verba.