44
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS CURSO DE MATEMÁTICA O CONTEÚDO DE FUNÇÕES NA PERSPECTIVA DA MODELAGEM MATEMÁTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO William Gonçalves Meireles Santa Maria, RS, Brasil 2014

O CONTEÚDO DE FUNÇÕES NA PERSPECTIVA DA …w3.ufsm.br/coordmat/images/TCC_2-2014/TCC_willian.pdf · Assim, no presente TCC encontrar-se-á um histórico a respeito do ... respeitando

  • Upload
    dolien

  • View
    214

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

CURSO DE MATEMÁTICA

O CONTEÚDO DE FUNÇÕES NA PERSPECTIVA DA MODELAGEM MATEMÁTICA EM LIVROS DIDÁTICOS

DE MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

William Gonçalves Meireles

Santa Maria, RS, Brasil

2014

O CONTEÚDO DE FUNÇÕES NA PERSPECTIVA DA

MODELAGEM MATEMÁTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE

MATEMÁTICA DO ENSINO MÉDIO

William Gonçalves Meireles

Monografia apresentado ao Curso de Matemática, da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM, RS), como requisito parcial para

obtenção do grau Licenciado em Matemática

Orientador: Prof. João Carlos Gilli Martins

Santa Maria, RS, Brasil

2014

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS NATURAIS E EXATAS

CURSO DE MATEMÁTICA

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova o Trabalho de Conclusão de Curso

O CONTEÚDO DE FUNÇÕES NA PERSPECTIVA DA MODELAGEM MATEMÁTICA EM LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DO

ENSINO MÉDIO

Elaborado por William Gonçalves Meireles

Como requisito parcial para obtenção do grau de Graduado em Matemática

COMISSÃO EXAMINADORA:

João Carlos Gilli Martins, Dr. (Presidente/Orientador)

Liane T. W. Roos, Dra. (UFSM)

Ricardo Fajardo, Dr. (UFSM)

Santa Maria, 02 de Dezembro de 2014

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por me iluminar nos momentos mais difíceis

e me guiar em minha trajetória acadêmica.

A minha família, em especial minha mãe Naja, pelo cuidado, dedicação,

imenso amor e carinho, e também a minha noiva Letícia pelo incentivo e dedicação.

Ao orientador professor Dr. João Carlos Gilli Martins pelo auxílio, paciência e

por acreditar nos meus objetivos e no meu potencial.

A todos os professores que fizeram parte de minha trajetória acadêmica

deixando boas lembranças.

A todos os colegas com quem pude compartilhar angústias, desejos,

realizações e momentos de descontração.

Agradeço a todos aqueles que torceram por mim e tornaram esse sonho

realidade.

RESUMO

Trabalho de Conclusão de Curso Curso de Matemática

Universidade Federal de Santa Maria

TÍTULO AUTOR: WILLIAM GONÇALVES MEIRELES

ORIENTADOR: Prof. JOÃO CARLOS GILLI MARTINS Data e Local da Defesa: Santa Maria, 02 de Dezembro de 2014.

O presente TCC pauta-se no conteúdo de funções na perspectiva da Modelagem Matemática em livros didáticos de Matemática do Ensino Médio, observando o desenvolvimento histórico desse conceito. Modelagem Matemática, considerada como estratégia de ensino, concepção de “educar matematicamente” ou alternativa metodológica que tenta auxiliar na compreensão e na interpretação de situações da vida ou situações-problema, uma vez que parte da resolução de problemas oriundos da realidade. A problemática tem como finalidade analisar o modo como os livros didáticos de Matemática do Ensino Médio apresentam o estudo de funções visando contemplar a perspectiva da Modelagem. O itinerário metodológico parte da análise bibliográfica de livros referentes à História da Matemática que subsidiarão a estruturação teórica a respeito do desenvolvimento histórico do conceito de função. Segue, também, a análise bibliográfica relativa a concepções sobre a Modelagem Matemática e uma análise de situações-problema que envolvem funções em livros didáticos de Matemática do Ensino Médio. Em suma, pode-se dizer que as situações-problemas encontradas nos livros didáticos analisados, pouco se referenciam nas situações oriundas da realidade, contrariando um dos fatores primordiais da Modelagem Matemática na concepção dos autores pesquisados.

Palavras-chave: Ensino. Funções. Modelagem Matemática.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1− Gráfico velocidade-tempo de Nicole Oresme............................................10 Figura 2 – Esquema do processo de Modelagem......................................................16 Figura 3 − O contexto os meios o processo...............................................................17 Figura 4 – Situação-problema envolvendo função afim.............................................24 Figura 5 – Situação-problema envolvendo função quadrática...................................24 Figura 6 – Situação-problema envolvendo função de terceiro grau...........................25 Figura 7 – Situação-problema envolvendo função modular.......................................26 Figura 8 –Situação-problema envolvendo função exponencial..................................26 Figura 9 – Situação-problema envolvendo função logarítmica..................................27 Figura 10 – Situação-problema envolvendo função afim...........................................29 Figura 11 –Situação-problema envolvendo função afim............................................30 Figura 12 – Situação-problema envolvendo função afim...........................................30 Figura 13 – Situação-problema envolvendo função quadrática.................................31 Figura 14 – Situação-problema envolvendo função de terceiro grau.........................33 Figura 15 – Situação-problema envolvendo função exponencial...............................34 Figura 16 – Situação-problema envolvendo função logarítmica................................35 Figura 17 –Situação-problema envolvendo funções matemáticas.............................37 Figura 18 – Situação-problema envolvendo função modular.....................................39

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................. 8

2 ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE FUNÇÃO................. 9

2.1 Evolução histórica do conceito de função................................................ 9

3 A MODELAGEM MATEMÁTICA E SUAS CONCEPÇÕES........... 14

4 O CONTEÚDO DE FUNÇÕES APRESENTADO NOS LIVROS DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO A PARTIR DE SITUAÇÕES-PROBLEMAS....................................................................................................

21

4.1 Distinção das situações-problema.............................................................. 22 4.1.1 Situações-problema que se referenciam na própria matemática................. 23 4.1.1.1 Situações-problema encontradas no livro, Matemática − Ensino Médio / Katia Cristina Stocco.............................................................................................

24

4.1.1.2 Situação-problema encontrada no livro, Matemática no Ensino Médio / Márcia Cintra.........................................................................................................

25

4.1.1.3 Situações-problema encontradas no livro, Matemática – Dante / Volume Único........................................................................................................

26

4.1.2 Situações-problema que se referenciam na semi-realidade........................ 27 4.1.2.1 Situações-problema encontradas no livro, Conexões com a Matemática / Editora Moderna..................................................................................................

28

4.1.2.2 Situação-problema encontrada no livro, Matemática – Volume único / Manuel Paiva.........................................................................................................

31

4.1.2.3 Situações-problema encontradas no livro, Matemática – Paiva / Volume1................................................................................................................

32

4.1.3 Situações-problema que se referenciam na vida real.................................. 35 4.1.3.1 Situação-problema encontrada no livro, Matemática – Paiva................... 36 4.2 Situação-Problema........................................................................................ 40

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................... 42

REFERÊNCIAS............................................................................................... 43

1. INTRODUÇÃO

O conteúdo de funções, na perspectiva da Modelagem Matemática, vem

sendo abordado de forma ainda bastante tímida nos livros didáticos de Matemática

do Ensino Médio. Diante disto, apresenta-se uma pergunta: De que forma os livros

didáticos de Matemática apresentam o estudo de funções visando contemplar essa

perspectiva? Desta pergunta surgiu uma reflexão e da reflexão uma motivação para

conhecer melhor este conceito. Juntamente com essa motivação surgiu o interesse

de analisar o conteúdo de funções na perspectiva da Modelagem Matemática em

livros didáticos de Matemática do Ensino Médio, observando o desenvolvimento

histórico desse conceito.

Desta forma, investigar-se-á o desenvolvimento histórico do conceito de

função assim como, buscar-se-á apresentar e compreender as diferentes

concepções existentes a respeito de Modelagem Matemática.

Assim, no presente TCC encontrar-se-á um histórico a respeito do

desenvolvimento do conceito de função, bem como uma compilação de concepções

sobre Modelagem Matemática, destacando as de : João Frederico da Costa

Azevedo Meyer , Ademir Donizeti Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio Burak, e

Rodney Carlos Bassanezi e Jonei Cerqueira Barbosa. Da mesma forma que,

encontrar-se-á um olhar para a forma como o conteúdo de funções é apresentado

nos livros didáticos de Matemática, a partir de situações-problema que estarão

dividas em relação a três tipos de referência.

.

2. ESTUDO HISTÓRICO SOBRE A NOÇÃO DE FUNÇÃO

2.1 Desenvolvimento histórica do conceito de função

Dedicar-se-á aqui a fazer um efêmero estudo histórico, no intuito de buscar a

origem e o desenvolvimento do conceito de função. Para isto, utilizar-se-á de parte

da literatura disponível sobre este assunto, com concentração nas principais etapas

do desenvolvimento do conceito de função.

O presente estudo se dará de forma cronológica, respeitando a periodização

realizada por Howard Eves1 no seu livro : Introdução à História da Matemática , o

qual, divide os períodos de forma ordenados em:

Períodos de Transmissão (950 – 1500 d.C.) ;

Moderno (Primeira metade, 1450 a 1700 d.C.) e

Moderno (Segunda metade, 1700 d.C. até o presente).

Desta forma, utilizar-se-á esta classificação com a finalidade de direcionar ou

conduzir o estudo a respeito do desenvolvimento do conceito de função.

Havia uma discussão desde a época dos filósofos escolásticos, a respeito de

como quantificar as “formas” variáveis. No século XIV, Nicole Oresme (1323-1382)

desenvolveu a teoria das latitudes e longitudes , a qual diz que tudo que é

mensurável pode ser imaginável na forma de quantidade contínua. Assim, ele traçou

um gráfico velocidade-tempo para um objeto, o qual se deslocava com uma

aceleração constante (BOYER,1974).

O gráfico de Oresme foi elaborado determinando pontos numa reta horizontal

no qual esses representavam instantes de tempo ou longitudes. Nos determinados

instantes de tempo, foram traçado segmentos de retas perpendiculares à reta

1 Howard Eves - Foi um matemático estadunidense, especializado em história da matemática

10

horizontal, chamados de latitudes cujos comprimentos simbolizavam a velocidade

deste corpo.

Nicole Oresme foi além, percebeu que se o objeto movimenta-se de maneira

uniforme e acelerado, então os segmentos partem de um repouso e vão

aumentando até o ponto de formar um triângulo retângulo, deste modo, a área

(função distância) desse triângulo representava a distância percorrida (ver figura 1

abaixo).

Figura 1− Gráfico velocidade-tempo de Nicole Oresme Fonte: História da matemática (1974, p. 193)

Em relação aos termos latitudes e longitude, pode-se dizer que eles possuem

certa correspondência com as nossas atuais ordenadas e abcissas do plano

cartesiano. Entretanto, o uso de coordenadas não era novidade, como se pode

pensar, pois o novo estava na forma de quantificar as “formas” variáveis.

Com isto, seu diferencial está na sua representação de uma função, que se

pode considerar como a precursora da representação gráfica de uma função.

Portanto, as representações de Oresme foram de suma importância, à medida que

elas serviram de base para se chegar posteriormente ao conceito de função.

Galileu Galilei (1564-1642) foi importante para a evolução de tudo aquilo que

já era conhecido em relação ao conceito de função, pois com ele houve a introdução

do quantitativo nas representações gráficas, fato que o diferenciava de Nicole

Oresme, o qual não utilizava medidas nas suas representações.

Com o francês François Viète (1540-1603), a álgebra e, conseqüentemente

as funções, evoluem, devido ao uso de uma simbologia, pois este usava uma vogal

11

para representar uma quantidade desconhecida e uma consoante para representar

uma grandeza conhecida.

Já René Descartes (1596-1650) foi além em sua álgebra, pois pela primeira

vez sustentou a ideia que através de uma equação, com parâmetros e incógnitas,

seria possível encontrar valores de uma delas, graças à correspondência entre os

valores. Assim, Descartes introduziria as funções sob a forma de equações.

O século XVII foi muito produtivo para o desenvolvimento da matemática ,

graças a notáveis matemáticos como, Isaac Newton (1642-1727) e Gottfried Wilhelm

Leibniz (1646-1716) que inventaram o cálculo. Leibniz, por sua vez, ofereceu uma

excelente contribuição, uma vez que brindou a humanidade particularmente com a

utilização ,pela primeira vez, da palavra “função” num sentido muito similar ao que

se emprega atualmente. Assim, Gottfried Wilhelm Leibniz para Boyer (1974,p.297)

“não é responsável pela moderna notação para função, mas é a ele que se deve a

palavra “função”, praticamente no mesmo sentido que é usada hoje.”

Com Jean Bernoulli (1694-1698) aparece a primeira definição explicita de

notação para função, semelhante à moderna. Ele chegou a testar muitas notações

para uma função de x, dentre elas, destacamos ϕx. Bernoulli definiu, também, um

conceito para função, descrito como “uma quantidade composta de qualquer modo

de uma variável e constantes quaisquer” (Boyer, 1974, p. 311). Entretanto, na sua

definição, Bernoulli não oferecia una indicação sobre a maneira de construir uma

função a partir de uma variável independente.

No século XVIII, Leonhard Euler (1707-1783) segue seu mestre Jean

Bernoulli e desenvolve um conceito de função, “ qualquer expressão analítica

formada daquela quantidade variável e de números ou quantidades constantes”

(Boyer, 1974, p. 327), que foi de suma importância para o desenvolvimento da

Matemática.

Para Howard Eves

Está última idéia corresponde ao conceito de função que a maioria dos alunos dos cursos elementares de matemática tem. O conceito de Euler se manteve inalterado até que Joseph Fourier (1768-1830) foi levado a considerar, em suas pesquisas sobre a propagação do calor, as chamadas séries trigonométricas. Essas séries envolvem uma forma de relação entre as variáveis que as que já haviam sido estudadas anteriormente.(EVES,1997,p.660)

12

Em 1834, Bernhard Bolzano (1781 – 1848) construiu uma função contínua

num intervalo, a qual não possuía derivada em ponto algum deste intervalo.

Entretanto, tal função fora esquecida pelos seus contemporâneos. Assim, o crédito

da construção da primeira função contínua não derivável em nenhum ponto foi

atribuído ao alemão Karl Weierstrass, anos mais tarde.

Augustin-Louis Cauchy (1789 – 1857) brindou a Matemática com inúmeras

contribuições ao Cálculo, entretanto destacar-se-á, aqui, a definição de função

contínua elaborado por ele. Deste modo, Cauchy definiu-a como :

A função f(x) é contínua entre limites dados se entre esses limites um incremento infinitamente pequeno i da variável x produz sempre um incremento infinitamente pequeno f (x + i) – f (x) da própria função. (BOYER, 1974, p.380)

No século XIX inicia-se um processo de fundamentação rigorosa da Análise.

Com isto, estudiosos como Condorcet (1778), Lacroix (1797), Fourier (1821) e

Lobatchevsky (1837), baseados nos trabalhos realizados por Euler, aprofundam a

concepção de função, bem como, reviram antigas noções.

Por volta da metade do século XIX, Lejeune Dirichlet (1805 – 1859), tentando

definir uma função de forma ampla o suficiente para abranger a forma de relação

descoberta por Joseph Fourier, descreve-a da seguinte forma:

Uma variável é um símbolo que representa um qualquer dos elementos de um conjunto de números; se duas variáveis x e y estão relacionadas de maneira que, sempre que se atribui um valor a x, corresponde automaticamente, por alguma lei ou regra, um valor a y, então se diz que y é uma função (unívoca) de x . A variável x, à qual se atribuem valores à vontade, é chamada variável independente e a variável y, cujos valores dependem dos valores de x, é chamada variável dependente. Os valores possíveis que x pode assumir constituem o campo de definição da função e os valores assumidos por y constituem o campo de valores da função.( EVES,1997, p. 661)

Embora esta definição se aproxime da função conhecida atualmente, ela

acaba se tornando para Eves (1997, p. 661) “uma definição muito ampla que as

demais, não implica a necessidade de acomodar em alguma forma de expressão

analítica a relação que há entre x e y, essa definição acentua a idéia de relação

entre dos conjuntos de números.”

Logo após surge à teoria dos conjuntos com novos conceitos, os quais foram

de grande valia, pois proporcionaram novas “ferramentas” para os matemáticos

13

desta época. Desta forma, foi possível ampliar o conceito de função , de modo que

abrangesse as relações entre dois conjuntos de elementos quaisquer, podendo ser

estes números ou quaisquer outras coisas.

Deste modo, Eves mostra como ficou definido o conceito de função na teoria

dos conjuntos :

Uma função f é, por definição, um conjunto qualquer de pares ordenados de elementos, pares esses sujeitos à condição seguinte: se (a1, b1) ∈ f, (a2, b2)

∈ f e a1 = a2 , então b1 = b2 . O conjunto A dos primeiros elementos dos pares ordenados chama-se domínio da função e o conjunto B de todos os segundos elementos dos pares ordenados se diz imagem da função. Assim, uma função é simplesmente um tipo particular de subconjunto do produto cartesiano A x B. ( EVES,1997, p. 661)

Nesse sentido, a definição e o conceito de função foram desenvolvendo até

se aproximar daqueles que se conhece e que são trabalhados nas escolas nos dias

de hoje. Como mostra disto, analisar-se-á a definição do conceito de função nos

livros Matemática e Conexões com a Matemática, sendo o primeiro classificado

como volume único : “Sejam A e B conjuntos diferentes do vazio. Uma relação f de A

em B é função se, e somente se, todo elemento de A estiver associado, por meio de

f, a um único elemento de B.”, E o segundo destinado ao primeiro ano do Ensino

Médio :

Considerando dois conjuntos, A e B, não vazios, dizemos que f é uma função de A em B ( ou que y é uma função de x) se, e somente se, para cada elemento x de A existe em correspondência um único elemento y de

B. Representamos assim: f: A ⟶ B (Barroso, 2010, p.70)

3. A MODELAGEM MATEMÁTICA E SUAS CONCEPÇÕES

As aplicações da Modelagem no ensino de Matemática iniciaram no século

XX, no momento em que os matemáticos puros e aplicados buscavam entre eles um

método adequado para se ensinar Matemática. Assim, no decorrer dos anos a

Modelagem Matemática foi se disseminando até chegar, em particular no Brasil.

No Brasil, autores como : João Frederico da Costa Azevedo Meyer , Ademir

Donizeti Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio Burak, e Rodney Carlos

Bassanezi, deram relevantes contribuições, a partir do final da década de 1970 para

projetar ou disseminar a Modelagem Matemática, enquanto metodologia de ensino.

Pois, eles por meio de cursos para professores, trabalhos sobre modelos

matemáticos e ações em sala de aula, contribuíram para criar uma nova alternativa

para o ensino de Matemática.

Em virtude disto, destacar-se-á aqui a visão dos cinco professores em relação

à Modelagem Matemática, assim como posicionar-se-á a favor de uma das cinco

concepções que serão apresentadas logo abaixo.

Profissionais do ensino como João Frederico da Costa Azevedo Meyer e

Ademir Donizeti Caldeira consideram a Modelagem como uma tendência em

Educação Matemática, que vem sendo muito disseminada, juntamente com outras

tendências, como, por exemplo, a Etnomatemática e as Tecnologias da Informação

e Comunicação. (MEYER, 2011).

Diante desse panorama, desperta-se uma curiosidade em conhecer melhor

ou de forma mais aprofundada essa tendência chamada Modelagem Matemática.

Assim, apresentam-se abaixo as concepções defendidas pelos profissionais citados

acima.

João Frederico da Costa Azevedo Meyer e Ademir Donizeti caracterizam a

Modelagem Matemática como uma concepção de “educar matematicamente”,

baseada estreitamente no entendimento que eles têm sobre Matemática, a qual está

inserida diretamente num contexto social, histórico e cultural. Além disso, discordam

de autores que consideram a Modelagem um simples método para se ensinar

Matemática , pois “vista assim, como método, apenas legitimam o currículo e a ideia

da Matemática dominante como imutável – e verdadeira.” (MEYER, 2011, p.34).

15

Nesta concepção, Meyer e Caldeira esperam e têm interesse que os alunos

aprendam Matemática, entretanto, se preocupam mais em abordar questões da

realidade, uma vez que, para o aluno o interessante seria trabalhar com situações

mais familiarizadas, pois acarretaria, possivelmente, num maior significado para ele

e, conseqüentemente, numa maior compreensão do conteúdo Matemático. Assim,

[...] há uma preocupação muito forte se os alunos aprendem Matemática e, mais do que isso, de que os alunos necessitam aprender um instrumental matemático relevante, mas entendemos que essa aprendizagem vai se dar melhor, e isso é apenas uma suposição, se os alunos encontrarem um significado para aquilo que eles estão aprendendo, ou seja, se aquilo que está sendo ensinado na sala de aula faz sentido para eles enquanto pessoas que produzem uma prática social. Um aprendizado matemático crítico – e comprometido! (MEYER, 2011, p.51).

Frederico da Costa Azevedo Meyer e Ademir Donizeti Caldeira sugerem que

a primeira coisa que se deve fazer quando se for trabalhar com a Modelagem

Matemática é identificar um problema do cotidiano. Logo após, deve-se simplificá-lo

para facilitar a resolução do mesmo. Em seguida, adequá-lo ao conceito matemático

apropriado, transformando-o, agora, num problema matemático, ou seja, com a

linguagem e simbologia típica da Matemática. Num quarto momento, deve-se validar

as soluções encontradas e, por fim, definir o que fazer diante dos resultados obtidos.

É importante destacar que esses processos talvez não sejam cabíveis para

todos os casos, pois não constituem uma receita de como se trabalhar Modelagem

Matemática, mais sim uma orientação para todos que quiserem um dia trabalhar

com este tema. Para elucidar melhor esses momentos, apresenta-se a seguir um

dos diversos esquemas que descrevem o processo de Modelagem Matemática na

perspectiva de Caldeira e de Meyer .

16

Figura 2 – Esquema do processo de Modelagem Fonte: Modelagem em Educação Matemática (2011, p.42)

Para Ubiratan D’Ambrosio, a aprendizagem se dá pela relação entre o refletir

e o agir de um indivíduo. Como “fruto” disso, tem-se uma freqüente modificação da

realidade, em especial a da escola. Esta modificação ocorre, por exemplo, quando

um estudante utiliza-se da Modelagem Matemática para compreender ou até mesmo

resolver um problema surgido, elaborando modelos os quais estarão sendo usados

como estratégias de ação. Desta forma, a Modelagem Matemática está sendo

empregada como uma estratégia pedagógica.

Isto posto, iremos apresentar logo abaixo um esquema e uma figura que irão

nos esclarecer sobre a estratégia defendida por D’ Ambrósio fundamentado no

processo de Modelagem.

Primeiramente é preciso fazer a passagem de uma situação real para uma

situação típica da Matemática, com linguagem e simbologia que lhe é característica.

Depois disso, deve-se aproximar os dados reais de dados mais aceitáveis

matematicamente, no intuito de facilitar a modelagem do problema, justificando

claramente os motivos pelos quais foi preciso fazer isto. Num terceiro momento, é

preciso analisar os dados obtidos e ponderar sobre o que se deve fazer. E, no

17

último momento, decidir sobre qual das hipóteses levantadas é mais coerente e

plausível para compreensão ou solução do problema.

Figura 3 − O contexto os meios o processo Fonte:Da realidade à ação : reflexões sobre educação e matemática (1986, p.66)

Já para Dionísio Burak a Modelagem Matemática pode ser caracterizada

como uma alternativa metodológica para o ensino de Matemática, a qual parte do

interesse de um grupo ou de grupos de aluno(s) e não somente do interesse do

professor , como se tem visto no modelo tradicional de ensino. Com isto, ele

acredita que haverá maior dedicação ou interesse por parte dos alunos, uma vez

que poderão escolher o tema que gostariam de estudar e que, conseqüentemente,

18

teria mais significado para eles. Desta forma, estariam participando de forma mais

ativa no processo de ensino-aprendizagem.

A Modelagem Matemática pode ser trabalhada na escola, tendo em vista a

concepção de Burak, obedecendo ou se orientando por cinco etapas, sendo elas:

escolha do tema;

pesquisa exploratória;

levantamento dos problemas;

resolução do(s) problema(s) e o desenvolvimento da Matemática relacionada

ao tema ; e

análise crítica da(s) solução(es)

A escolha do tema, neste entendimento, deve ser realizada pelo grupo ou

grupos, os quais deverão conter entre três ou quatro participantes. Esta escolha faz

com que “[...] o ensino de Matemática torna-se dinâmico, mais vivo e, em

conseqüência, mais significativo para o aluno e para o grupo.” (BURAK, 2004, p. 3)

Após se definir a escolha do tema, deve-se ir para a pesquisa exploratória,

que será a etapa na qual se fará a pesquisa de campo, no intuito de apurar ou

levantar os possíveis problemas relacionados ao tema escolhido , chegando se

então, na terceira etapa desse processo. Nesta etapa, denominada “levantamento

dos problemas” serão coletados os dados convenientes e as informações

necessárias para a solução dos questionamentos. Vale ressaltar que esta etapa

[...] se configura como importante para o desenvolvimento, no grupo ou nos grupos, da experiência de campo, ajudando a formar um comportamento mais atento, mais sensível e mais crítico, tornando os alunos capazes de realizar uma leitura mais atenta da realidade, atributos importantes na formação de um pesquisador." (BURAK, 2004, p. 5)

Na quarta etapa, resolução do(s) problema(s) e o desenvolvimento da

Matemática relacionada ao tema, é que realmente começar-se-á a construir os

modelos matemáticos, escolhendo o(s) conteúdo(s) mais relevante(s), depois de

haver levantado todos os dados ou informações possíveis. E, por fim, devem-se

analisar criticamente as soluções para ver se tais resultados são compatíveis com a

realidade, uma vez que, dependendo do tema trabalhado, pode-se chegar num

19

produto aceitável matematicamente; porém, no entanto, completamente

incompatível se estiver olhando exclusivamente para o nosso cotidiano.

Para Bassanezi (2012, p.10), a Modelagem Matemática pode ser considerada

uma estratégia de ensino, a qual deve ser empregada com a finalidade de se chegar

a algum entendimento de certa situação real. Esta estratégia será orientada por

cinco importantes passos, de modo sucessivo : medir ou contar, analisar os dados,

formular hipóteses, propor modelos e validá-los.

Quando se trabalha com Modelagem Matemática, considerando a concepção

de Rodney Carlos Bassanezi, precisa-se entender e seguir alguns procedimentos

considerados básicos, sendo eles:

escolha de temas;

coleta de dados;

análise de dados;

formulação de modelos; e

validação

O primeiro procedimento que se deve fazer é escolher o(s) tema(s), o qual

seria interessante se fosse eleito ou selecionado pelos alunos, bem como que a

escolha partisse de algo que eles gostariam de melhor compreender. Deste modo,

os mesmos se sentiriam provavelmente corresponsáveis pelo processo de

aprendizagem, uma vez que estariam “atuando” de forma efetiva no mesmo.

Após a escolha do tema, adentrar-se-á no segundo processo, a coleta de

dados. Neste, buscar-se-á informações relacionadas ao tema ,em grupos pequenos,

determinados pelo monitor. Tais dados poderão ser coletados, por exemplo, através

de pesquisas bibliográficas, de entrevistas e de até mesmo de situações vivenciadas

pelos discentes. Nesse contexto, o professor passa a agir como um monitor,

auxiliando os grupos e não determinando o que eles deverão fazer.

Num terceiro e quarto momento, necessita-se analisar os dados e,

conseqüentemente formular o(s) modelo(s) pertinente(s). No intuito de objetivar uma

melhor análise dos dados coletados, Bassanezi (2012, p.13) acredita que eles

deverão ser acomodados em tabelas, podendo ser inclusive usados para uma

20

construção de um gráfico de curvas de tendências. Logo após, dar-se-á início à

formulação dos modelos ou da Modelagem Matemática.

Na validação, último procedimento do processo, é que se aceitará ou se

rejeitará o que foi construído até agora, pois devem ser comparados os dados reais

com os do modelo e verificar se são admissíveis, aceitáveis e conexos.

Sendo assim, acredita-se que seria interessante trabalhar com a Modelagem

Matemática nas escolas, tendo em vista a concepção de Rodney Carlos Bassanezi,

o qual a considera como uma estratégia de ensino que deve ser empregada com a

finalidade de se chegar a certo entendimento a respeito de uma determinada

situação real. Isto, devido à necessidade de se cumprir , integralmente, o currículo

escolar da forma como ele está posto, com conteúdos, por exemplo, segmentados

por séries.

Desta forma, acredita-se que seria possível fazer uma mescla entre a

Modelagem Matemática e a forma de ensino tradicionalmente seguida nas escolas.

Assim, o professor poderia trabalhar com todos os conceitos exigidos pelo currículo ,

como também poderia trabalhar com problemas oriundos do cotidiano do aluno ou

da escola.

4. O CONTEÚDO DE FUNÇÕES APRESENTADO NOS LIVROS

DIDÁTICOS DO ENSINO MÉDIO A PARTIR DE SITUAÇÕES-

PROBLEMA

PARA ANALISAR o conteúdo de funções apresentado nos livros didáticos de

Matemática do Ensino Médio, a partir de situações-problema, foi necessário,

primeiro:

Procurar no portal do MEC os Guias do Livro Didático para o período 2012

−2015;

Buscar nas escolas públicas os livros didáticos clássicos e os livros distribuídos

pelo Programa Nacional do Livro Didático (PNLD);

Selecionar e analisar as situações-problema apresentadas nos livros didáticos de

Matemática do Ensino Médio que são relacionadas ao ensino de funções.

Ou seja, inicialmente, realizou-se uma pesquisa no portal do MEC, cujo

endereço eletrônico é o http://portal.mec.gov.br/, em busca dos Guias do Livro

Didático. Entretanto, não foi possível acessá-los, pois os mesmos não estavam mais

disponíveis no portal FNDE.

Na etapa seguinte, dirigiu-se ao Colégio Estadual Tancredo Neves e à Escola

Estadual Dr. Paulo Devanier Lauda, no intuito de conseguir os livros didáticos

enviados pelo MEC. Esta viagem foi produtiva , pois conseguiu-se através dela os

livros:

Matemática – Contexto e Aplicações / Luiz Roberto Dante;

Matemática − Ensino Médio / Kátia Cristina Stocco;

Matemática no ensino médio / Márcia Cintra;

Matemática – volume único / Manuel Paiva;

Conexões com a Matemática / Editora Moderna;

.

22

Matemática – Paiva; e

Matemática – Volume único / Luiz Roberto Dante.

No terceiro momento desse processo, iniciou-se a seleção e análise de

situações-problema nos livros didáticos doados pelas escolas, fundamentada nas

referências vistas no capítulo anterior e respeitando a distinção entre as situações-

problema apresentadas por Jonei Cerqueira Barbosa. Tais situações foram divididas

em relação a três referências. Sendo assim ,

A primeira, referência à própria matemática, faz a alusão a situações integralmente contidas na disciplina matemática (entendida em termos conceituais e rigorosos) e, portanto, formuladas em termos matemáticos. (BARBOSA, 2001, p.32)

A segunda, denominada referência na semi-realidade, faz relação às

situações elaboradas tendo como referência as questões de um mundo não tão real,

ou seja, de um “mundo utópico”. Entretanto, tais situações são construídas, por

exemplo, por um autor de livro didático objetivando trabalhar com algum conceito

matemático. E, a terceira, denominada referência na vida real, faz relação com as

situações oriundas do cotidiano ou de áreas de conhecimento diferentes da área de

Matemática (BARBOSA, 2001).

No intuito de organizar as situações-problema encontradas nos livros

didáticos doados pelas escolas, far-se-á, nas seções abaixo, uma distinção entre as

situações-problema, obedecendo à divisão apresentada por Jonei Cerqueira

Barbosa, como também listar-se-á em quais dos livros didáticos observados foi

possível ou não encontrar situações-problemas caracterizadas com as respectivas

classificações, bem como mostrar-se-á um entendimento sobre a importância de se

trabalhar com situações-problema com referência na vida real.

4.1 Distinção das situações-problema

As situações-problema se diferenciam segundo Barbosa (2001, p. 32) “em

termos de três referências”. Desta forma, as situações-problema envolvendo funções

23

encontradas nos livros didáticos de Matemática do ensino médio estão distribuídas,

logo abaixo, conforme essa distinção:

4.1.1 Situações-problema que se referenciam na própria matemática

Nesta seção, encontrar-se-á, segundo Barbosa (2001, p.32) “[...] situações

integralmente contidas na disciplina matemática (entendida em termos conceituais e

rigorosos) e, portanto, formuladas em termos matemáticos”. Tais situações diferem

das que os autores João Frederico da Costa Azevedo Meyer, Ademir Donizeti

Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio Burak e Rodney Carlos Bassanezi, adotam

nos seus processos de Modelagem Matemática. Pois, estes acreditam, por

diferentes razões, ser necessário trabalhar com problemas oriundos do mundo real

(visto no capítulo anterior). Neste sentido, João Frederico da Costa Azevedo Meyer

e Ademir Donizeti Caldeira acreditam que

[...] a Modelagem não trabalha com problemas inventados, “teóricos” – aqueles que, de modo um tanto injusto, chamamos pejorativamente de “problemas de livro texto”, mas com problemas reais. Essa é uma das características que diferencia essa postura, por exemplo, daquelas que se pode construir um problema para atender a um determinado conhecimento matemático.(MEYER, 2011, p.24-25)

Isto posto, apresentar-se-á, logo abaixo, uma lista dos livros que mais

contemplam este tipo de situação, bem como as situações-problema selecionadas e

analisadas com essa característica.

Nos livros listados logo abaixo, foi possível encontrar muitas situações

formuladas com a linguagem e simbologia típica da Matemática.

Matemática – Contexto e Aplicações / Luiz Roberto Dante;

Matemática − Ensino Médio / Kátia Cristina Stocco;

Matemática no ensino médio / Márcia Cintra;

Matemática – volume único / Manuel Paiva;

Conexões com a Matemática / Editora Moderna;

Matemática – Paiva; e

24

Matemática – Volume único / Luiz Roberto Dante.

4.1.1.1 Situações-problema encontradas no livro, Matemática − Ensino Médio / Katia

Cristina Stocco

As duas situações abaixo, sugerem a aplicação de forma direta dos

conhecimentos matemáticos relacionados às funções afins e quadráticas,

respectivamente. Situações , que na visão dos autores já mencionados, não

permitem, por exemplo, a escolha de um tema gerador por parte dos alunos, da

mesma forma que não permitem uma pesquisa de campo.

Situação 1:

Figura 4 – Situação-problema envolvendo função afim Fonte: Matemática − ensino médio – volume 1− 1ª série (2005, p.112)

Situação 2:

25

Figura 5 –Situação-problema envolvendo função quadrática Fonte: Matemática − ensino médio – volume 1− 1ª série (2005, p.143)

4.1.1.2 Situação-problema encontrada no livro, Matemática no Ensino Médio /

Márcia Cintra

A situação abaixo, sugere a aplicação de forma direta do conhecimento

matemático relacionado à função do terceiro grau. Situação , que no entendimento

dos autores já mencionados, não permite, por exemplo, a escolha de um tema

gerador por parte dos alunos, da mesma forma que não permitem uma pesquisa de

campo. Consequentemente, não permite a Modelagem Matemática na concepção

dos autores, vistos no capítulo anterior.

Situação 1:

Figura 6 –Situação-problema envolvendo função de terceiro grau Fonte: Matemática no Ensino Médio – volume 1(1999, p.161)

4.1.1.3 Situações-problema encontradas no livro, Matemática – Dante / Volume

Único

26

As três situações dispostas logo abaixo, valorizam o uso de forma direta dos

conhecimentos sobre Matemática relacionados às funções modulares, exponenciais

e logarítmicas, respectivamente. Assim, tais situações divergem das situações-

problemas adotadas pelos autores, vistos anteriormente, nos seus processos de

Modelagem , pois as situações referentes a esta seção se preocupam mais com o

conteúdo matemático do que em abordar questões da realidade do aluno.

Situação 1:

Figura 7 –Situação-problema envolvendo função modular Fonte: Matemática – Dante / Volume único (1999, p.103)

Situação 2:

Figura 8 –Situação-problema envolvendo função exponencial Fonte: Matemática – Dante / Volume único (1999, p.111)

27

Situação 3:

Figura 9 –Situação-problema envolvendo função logarítmica Fonte: Matemática – Dante / Volume único (1999, p.128)

4.1.2 Situações-problema que se referenciam na semi-realidade

Na seguinte seção, encontrar-se-á situações-problemas elaboradas, por

exemplo, por um autor de livro didático tendo como referência as questões que se

assemelham com as do cotidiano. Tais situações diferem também das que os

autores, vistos no capítulo anterior, adotam, pelo fato destas já virem prontas não

possibilitando então, a escolha de uma tema para ser trabalhado, por exemplo, em

sala de aula.

Assim sendo, apresentar-se-á, logo abaixo, uma lista dos livros que mais

contemplam este tipo de situação, bem como as situações-problema selecionadas e

analisadas com essa característica.

Nos livros listados logo abaixo, foi possível encontrar muitas situações-

problema com referência na denominada semi-realidade.

Matemática – Paiva;

Conexões com a Matemática / Editora Moderna; e

Matemática – Contexto e Aplicações / Luiz Roberto Dante.

28

Já nos livros listados logo abaixo, não foi possível encontrar situações-

problema com essa característica.

Matemática − Ensino Médio / Katia Cristina Stocco;

Matemática no ensino médio / Márcia Cintra; e

Matemática – Volume Único / Manuel Paiva.

4.1.2.1 Situações-problema encontradas no livro, Conexões com a Matemática /

Editora Moderna

Nas três situações abaixo, nota-se uma disposição dos dados dos problemas

em tabelas. Posteriormente, observa-se o uso ou necessidade do conhecimento

relativo às funções afins para entender ou até mesmo para resolver a situação que

se apresenta.

Desta forma, as situações dispostas logo abaixo, poderiam ser resolvidas ou

entendidas, se fossem oriundas da realidade, pelos procedimentos considerados

básicos no processo de Modelagem Matemática de Rodney Carlos Bassanezi. Pelo

fato deste, considerar a Modelagem Matemática uma estratégia de ensino, a qual

deve ser empregada com o objetivo de se chegar a um entendimento sobre uma

situação real. Assim como, sugere que os dados coletados de um determinado

problema, possam ser acomodados em tabelas, pois considera que isto facilitaria a

análise dos mesmos.

Situação 1:

29

Figura 10 –Situação-problema envolvendo função afim Fonte: Conexões com a Matemática da Editora Moderna (2010, p.71)

Situação 2:

30

Figura 11 –Situação-problema envolvendo função afim Fonte: Conexões com a Matemática da Editora Moderna (2010, p.72)

Situação 3:

Figura 12 –Situação-problema envolvendo função afim Fonte: Conexões com a Matemática da Editora Moderna (2010, p.140)

31

4.1.2.2 Situação-problema encontrada no livro, Matemática – Volume único / Manuel

Paiva

A situação abaixo, sugere a análise e a interpretação correta dos dados da

situação-problema, bem como o conhecimento matemático referente à função

quadrática.

Deste modo, percebe-se então, uma situação com mais complexibilidade do

que as com referência na própria Matemática, vista na seção 4.2.1. Fato que a

aproxima em parte das situações-problemas adotadas pelos autores João Frederico

da Costa Azevedo Meyer, Ademir Donizeti Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio

Burak e Rodney Carlos Bassanezi , nos seus processos de Modelagem.

Situação 1:

Figura 13 –Situação-problema envolvendo função quadrática Fonte: Matemática – Volume único / Manuel Paiva (2003, p.96)

32

4.1.2.3 Situações-problema encontradas no livro, Matemática – Paiva / Volume1

As situações abaixo, sugerem também a análise e a interpretação correta das

informações referentes às situações-problema, da mesma forma que os

conhecimentos matemáticos relacionados às funções do terceiro grau, exponenciais

e logarítmicas, respectivamente.

Desta maneira, observa-se também maior complexibilidade nas situações-

problema, se comparadas com as da seção 4.2.1. Fato que as aproximam em parte

das situações-problemas adotadas pelos autores João Frederico da Costa Azevedo

Meyer, Ademir Donizeti Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio Burak e Rodney

Carlos Bassanezi , nos seus processos de Modelagem.

Situação 1:

33

Figura 14 –Situação-problema envolvendo função de terceiro grau Fonte: Matemática – Paiva / Volume1 (2013, p.104)

34

Situação 2:

Figura 15 –Situação-problema envolvendo função exponencial Fonte: Matemática – Paiva / Volume1 (2013, p.182)

Situação 3:

35

Figura 16 –Situação-problema envolvendo função logarítmica Fonte: Matemática – Paiva / Volume1 (2013, p.187)

4.1.3 Situações-problema que se referenciam na vida real

Na presente seção, ir-se-á apresentar algumas situações –problema com

referência na vida real, ou seja, situações oriundas do cotidiano ou de áreas

diferentes da área da Matemática. Assim, listar-se-á os livros didáticos que

apresentam situações-problema com essa característica.

No livro listado abaixo, foi possível encontrar situações oriundas do dia a dia.

36

Matemática – Paiva

. Já nos livros listados abaixo, não foi possível encontrar situações-problema

com essa característica.

Matemática – Contexto e Aplicações / Luiz Roberto Dante;

Matemática − Ensino Médio / Katia Cristina Stocco;

Matemática no ensino médio / Márcia Cintra;

Matemática – volume único / Manuel Paiva;

Conexões com a Matemática / Editora Moderna ; e

Matemática – volume único / Luiz Roberto Dante.

4.1.3.1 Situação-problema encontrada no livro, Matemática – Paiva

É importante destacar que situações-problema com essa característica

proporcionam ou dão condições para os alunos desenvolverem a Modelagem

Matemática, tendo em vista as concepções de João Frederico da Costa Azevedo

Meyer , Ademir Donizeti Caldeira, Ubiratan D’ Ambrosio, Dionísio Burak, e Rodney

Carlos Bassanezi, uma vez que partiriam de situações-problema procedentes do

mundo real. Desta forma, estariam dando o primeiro passo em direção a Modelagem

Matemática na perspectiva dos professores mencionados acima. Se os alunos

adotassem os procedimentos indicados, por exemplo, por João Frederico da Costa

Azevedo Meyer e Ademir Donizeti Caldeira, bastariam, agora, tornar de deixar o

problema menos complexo, se necessário fazer algumas aproximações ou

arredondamentos nos dados quantitativos, no intuito de facilitar a resolução do

mesmo. Em seguida, seria necessário adequar o problema ao conceito matemático

apropriado para que posteriormente se pudesse validar as soluções encontradas e,

por fim, definiriam o que fazer diante dos resultados obtidos.

37

Situação 1:

38

39

Figura 17 –Situação-problema envolvendo funções matemáticas Fonte: Matemática – Paiva / Volume1 (2013, p.114 - 115)

Situação 2:

40

Figura 18 –Situação-problema envolvendo função modular Fonte: Matemática – Paiva / Volume1 (2013, p.167)

4.2 Situação-Problema

A Matemática, juntamente com outras áreas de conhecimento, deve atingir

algumas metas no decorrer de toda a educação básica. Entre estas metas, deve

estimular a investigação e a compreensão, “competência marcada pela capacidade

de enfrentamento e resolução de situações-problema, utilização dos conceitos e

procedimentos peculiares do fazer e pensar das ciências” (BRASIL, 2002, p.113).

Desta forma, torna-se imprescindível tratar de situações ou problemas que

ofereçam ao jovem a oportunidade de pensar, de raciocinar, de relacionar diversos

conhecimentos adquiridos, bem como de elaborar estratégias de resolução. Assim,

41

A resolução de problemas é peça central para o ensino de Matemática, pois o pensar e o fazer se mobilizam e se desenvolvem quando o indivíduo está engajado ativamente no enfrentamento de desafios. Essa competência não se desenvolve quando propormos apenas exercícios de aplicação dos conceitos e técnicas matemáticas, pois neste caso, o que está em ação é uma simples transposição analógica: o aluno busca na memória um exercício semelhante e desenvolve passos análogos aos daquela situação, o que não garante que seja capaz de utilizar seus conhecimentos em situações diferentes ou mais complexas. (BRASIL, 2002, p.112)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao longo desta pesquisa, percebeu-se que a prática aplicada referente ao

ensino de matemática, pelo menos nas últimas décadas, tem valorizado quase que

exclusivamente a memorização como prática de ensino, assim como o formalismo,

gerando um ensino muito desvinculado da realidade vivida pelos alunos, ou seja,

descontextualizado.

No intuito de oferecer maior qualidade ou significado ao que se é ensinado ou

aprendido e reconhecendo o grande papel da Matemática como uma ciência que

auxilia no desenvolvimento de um sujeito mais crítico e participante da vida em

sociedade, sugere-se a Modelagem Matemática como uma excelente alternativa

para o ensino de Matemática na educação básica.

Especificamente, sugere-se este método aliado ao estudo de funções, pois

possivelmente possibilitará aos alunos abordarem diferentes situações do cotidiano.

E possibilitando, quem sabe, numa maior compreensão dessas situações, uma vez

que a Modelagem Matemática parte da resolução de problemas oriundos da

realidade.

Já em relação ao aprofundamento histórico sobre o desenvolvimento do

conceito de função, acredita-se que este proporcionará um melhor entendimento

deste conceito, uma vez que se conseguirá observar, desde o princípio até os dias

atuais, a forma como fora utilizada e definida está poderosa ferramenta matemática.

Em suma, pode-se dizer que as situações-problemas encontradas nos livros

didáticos analisados, pouco se referenciam nas situações oriundas da realidade,

contrariando um dos fatores primordiais da Modelagem Matemática na concepção

dos autores pesquisados.

43

6. REFERÊNCIAS

BARBOSA, J. C. Modelagem Matemática: Concepções e experiências de futuros professores. 2001. 253 f. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro (SP), 2001. BARROSO, J. Conexões com a Matemática. São Paulo (SP) : Moderna, 2010.

BASSANEZI, R. C. Temas e Modelos. São Bernardo do Campo (SP): Ed.UFABC, 2012.

BOYER, C. B. História da Matemática; tradução: Elza F. Gomide. São Paulo (SP),1974.

BRASIL, Orientações Educacionais Complementares aos Parâmetros Curriculares Nacionais - Ministério da Educação. Brasília - Matemática. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/CienciasNatureza.pdf. Acesso em: 30 ago. 2010. BRASIL, Ciências da Natureza, Matemática e suas Tecnologias - Ministério da Educação. Brasília - Matemática. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ciencian.pdf. Acesso em: 30 ago. 2010. BRASIL, Parâmetros Curriculares Nacionais - Ministério da Educação. Brasília - Matemática. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/blegais.pdf. Acesso em: 30 ago. 2010. BURAK, D. Modelagem Matemática:uma metodologia alternativa para o ensino de Matemática na 5ª série . Rio Claro-SP, 1987. Dissertação (Mestrado em Ensino de Matemática) – IGCE, Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho-UNESP,1987. D' AMBROSIO, U. Etnomatemática: elo entre as tradições e a modernidade. Belo Horizonte (MG): Autêntica, 2002. D' AMBROSIO, U. Da realidade à ação: reflexões sobre educação e matemática. São Paulo (SP): Summus; Campinas: Ed. da Universidade Estadual de Campinas, 1986.

44

DANTE, L. R. Matemática: contexto & aplicações. São Paulo (SP) : Editora Ática, 2013. DANTE, L. R. Matemática: volume único. São Paulo (SP) : Editora Ática, 2005. EVES, H. Introdução à história da matemática. Trad. Hygino H. Domingues. Campinas (SP): Editora da UNICAMP, 1997. GILLI MARTINS, J. C. Sobre Revoluções Científicas na Matemática. Tese de Doutorado. Universidade Estadual Paulista, Rio Claro (SP), 2005. GOULART, M. C. Matemática no ensino médio. São Paulo (SP) : Scipione, 1999. MEYER, J. Modelagem em Educação Matemática. Belo Horizonte (MG): AUTÊNTICA, 2011. PAIVA, M. Matemática:volume único. São Paulo (SP) : Editora Moderna, 2003. PAIVA, M. Matemática. São Paulo (SP) : Editora. Moderna, 2009. ROQUE, T. História da matemática: uma visão crítica, desfazendo mitos e lendas. Rio de Janeiros: Zahar, 2012. SMOLE, K . S. Matemática : ensino médio. São Paulo (SP) : Saraiva, 2005.