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O CONTRATO SOCIAL EM SAMUEL PUFENDORF título The Samuel Pufendorf’s social contract Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd [a] [a] Professor adjunto dos cursos de Graduação e Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Uberlândia, MG - Brasil, e-mail: [email protected] Resumo O presente artigo tem como objetivo reconstruir argumentos centrais desenvolvidos por Saumuel Pufendorf. Pufendorf opera um compromisso explícito entre Hobbes e a lei natural tradicional. De Hobbes, ele retém a doutrina individualista do contrato social quanto ao direito de governar; mas rejeita categoricamente sua doutrina da soberania, em proveito de um código laico da lei natural que expõe em detalhes em seus livros. Segundo o argumento de Pufendorf, na origem todos os homens viviam num “estado de natureza” em que eram livres, iguais e sem governo. Por conseguinte, todo governo provém de um contrato social, como ensinou Hobbes. Contudo, embora os homens sejam naturalmente apolíticos, eles não são naturalmente egoístas, mas, ao contrário, sociais e sociáveis. Desde então, seu estado natural é um estado social e pacífico, em que podiam aplicar e aplicavam a lei natural tal como a descobriu sua razão. Palavras-chave: Estado de natureza. Lei natural. Contrato social. Soberania. Estado. Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 21, n. 28, p. 143-163, jan./jun. 2009 ISSN 0104-4443 Licenciado sob uma Licença Creative Commons

O Contrato Social Em Pufendorf

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  • O CONTRATO SOCIAL EMSAMUEL PUFENDORF

    ttuloThe Samuel Pufendorfs social contract

    Luiz Felipe Netto de Andrade e Silva Sahd[a]

    [a] Professor adjunto dos cursos de Graduao e Ps-Graduao em Filosofia da UniversidadeFederal de Uberlndia (UFU), Uberlndia, MG - Brasil, e-mail: [email protected]

    Resumo

    O presente artigo tem como objetivo reconstruir argumentos centraisdesenvolvidos por Saumuel Pufendorf. Pufendorf opera um compromissoexplcito entre Hobbes e a lei natural tradicional. De Hobbes, ele retm adoutrina individualista do contrato social quanto ao direito de governar;mas rejeita categoricamente sua doutrina da soberania, em proveito de umcdigo laico da lei natural que expe em detalhes em seus livros. Segundoo argumento de Pufendorf, na origem todos os homens viviam num estadode natureza em que eram livres, iguais e sem governo. Por conseguinte,todo governo provm de um contrato social, como ensinou Hobbes.Contudo, embora os homens sejam naturalmente apolticos, eles no sonaturalmente egostas, mas, ao contrrio, sociais e sociveis. Desde ento,seu estado natural um estado social e pacfico, em que podiam aplicar eaplicavam a lei natural tal como a descobriu sua razo.

    Palavras-chave: Estado de natureza. Lei natural. Contrato social.Soberania. Estado.

    Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 21, n. 28, p. 143-163, jan./jun. 2009

    ISSN 0104-4443Licenciado sob uma Licena Creative Commons

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    Abstract

    The present article aims at reconstructing Samuel Pufendorfscentral arguments. It is an explicit compromise between Hobbesand more traditional natural law. Pufendorf accepts Hobbessindividualistic social contract doctrine regarding the right torule but emphatically rejects his doctrine of sovereignty in favorof a secular code of natural law, which he sets forth in greatdetail in his books. According to Pufendorfs argument, all menoriginally lived in a state of nature in which they were free,equal, and without rule; hence, all rule arises from a socialcontract, as Hobbes had taught. Although men are naturallyapolitical, however, they are not naturally selfish but rathersocial and sociable; therefore, their natural state was a socialand peaceful one in which they could and did practice the lawof nature as discovered by reason.

    Keywords: State of nature. Natural law. Social contract.Sovereignty. State.

    Direito natural e sociabilidade

    Na tradio de Jean Bodin, Hugo Grotius e Thomas Hobbes, SamuelPufendorf desenhou os contornos do Estado moderno a partir da noo de soberania.O summum imperium posto na dependncia dos dois contratos sociais da votaoda constituio e do ato de submisso firmados por sujeitos livres e detentores darazo natural. Como os seus contemporneos, Pufendorf tambm extrai da filosofiapoltica um arsenal de princpios aplicveis ao direito natural ao empreender umainvestigao criteriosa sobre o impacto das noes de indivduo e legalidade na soluodefinitiva do problema da justia e das relaes mtuas dos homens. Movendo-se,assim, na rbita do iuris naturalis scientia, constri um sistema capaz defundamentar a tica individual e social sem contar com as hipteses religiosas.1Partindo da filosofia poltica e dos princpios racionais axiomticos, evidentes, deduzidoscom coerncia (more geometrico), Pufendorf faz uma tarefa nada fcil de distinguire assinalar o lugar prprio do direito natural no pensamento filosfico e jurdico dosculo XVII.2 Se na sua obra mais importante (De jure naturae et gentium) o autor

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    1 O impacto desta deciso enorme e reflete um movimento iniciado pela escolstica espanhola,em particular por Francisco de Vitria. A reformulao da razo natural tornou-se fundamentalno direito das gentes da primeira modernidade, quando a colonizao promovida pela coroaespanhola precisava ser administrada juridicamente. Foi preciso resolver alguns impasses,vencer preconceitos e tomar duas decises axiomticas: os habitantes das terras recm-descobertas deveriam ser definidos como pessoas possuidoras da mesma natureza doscolonizadores europeus, isto , os selvagens eram seres humanos e pessoas juridicamenteresponsveis por seus atos, estavam assim aptos como parceiros legais para contratos eacordos que regulassem as vidas com os novos parceiros do reino hispnico. Se os novosparceiros legais so incorporados como pessoas de direito, ento tambm deveria ser-lhesatribuda uma razo natural. Por ser o homem um animal rationale, um ser racional, a razotambm faz parte da natureza humana, independentemente de sua pecaminosidade(SCHMIDT-BIGGEMANN, 2003, p. 160). Cada indivduo dotado de direitos naturais eraaceito tambm como uma pessoa dotada de razo, no importando aqui se era ou no crist.Essas teses foram aceitas pelos juristas holandeses arminianos, sobretudo por Hugo Grotius(HAGGENMACHER, 1983, p. 489-496; TUCK, 1979, p. 64; TUCK, 1999, p. 78-79;VILLEY, 2005, p. 655). Desse modo, o objeto da teoria do direito natural um direito moralque natural em dois sentidos: por estar inscrito na natureza do homem e por ser acessvelpor meio da razo natural, em vez da revelao divina (HAAKONSSEN, 1996;HOCHSTRASSER, 2000). Um direito moral cujo papel atua como fundamento normativoe padro universal poltica e ao direito positivo (HUNTER, 2001).

    2 Apesar das aparncias, Ren Sve insiste que preciso relativizar a importncia do raciocniomore geometrico na doutrina dos jusnaturalistas modernos: La dduction logique y esttoujours mle aux arguments dautorit avances comme preuves ou confirmations, et surtoutaux considrations anthropologiques manant de lexprience (SVE, 1989, p. 9). Aconfirmao de lacunas na deduo lgica dos princpios e o seu preenchimento comargumentos de autoridade no invalidam, portanto, o projeto moderno de uma moral comfundamentos inabalveis. isso justamente o que pensou ter realizado Pufendorf noclssico De jure naturae et gentium (publicado em 1672). Para ele, a obra preencheinteiramente este projeto, expe o sistema do direito natural [...] que somente a boa morale a boa poltica contm [disciplina juris naturae [...] quae genuinam ac solidam doctrinammoralem & civilem absolvit], e corresponde ideia de uma verdadeira cincia [veraescientiae] (PUFENDORF, 1998a, I, II, 4). Desse modo, a moral [...] baseia-se emfundamentos inabalveis, dos quais podem-se tirar verdadeiras demonstraes, capazes deproduzir uma cincia slida [[...] omnino ejusmodi fundamentis nititur, ut exide genuinaedemonstrationes, quae solidam scientiam parere sint aptae, deduci queant] (PUFENDORF,1998a, I, II, 4). correta a avaliao de Simone Goyard-Fabre: A obra de Pufendorf , doponto de vista metodolgico, mais complexa e mais sutil: de fato, mesmo o jurisconsultodeclare, tambm ele, ter a inteno de construir um sistema do direito natural, ele se afastado esquema hipottico-dedutivo dos matemticos e, no curso de seus escritos, a razoadquire um perfil diferente, de modo que, quando Thomasius lembra a admirao quePufendorf dedicava a seu mestre Weigel e aproxima a evoluo de seu pensamento quelaadotada por Grcio e Hobbes, ele suprime o que faz a originalidade de textos nos quais asconstncias se manifestam entre as nuances (GOYARD-FABRE, 2007, p. 40).

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    oferece uma definio precisa, no manual intitulado De Officio Hominis et CivisJuxta Legem Naturalem Libri Duo que encontramos a melhor abordagem dadiferena deste campo do saber outrora identificado com outros ramos doconhecimento. A obra escrita para facilitar a compreenso dos alunos e professoresque iniciam a rdua tarefa da pesquisa jurdico-filosfica do direito trata de mostrarque o estudo e a prtica do direito natural se diferenciam tanto do direito civil comoda teologia moral. O contedo do direito natural, suas fontes, seu mtodo, seu espritodependem em grande medida das fronteiras atribudas a essa cincia. A diferenano s de contedo e temas especficos, mas tambm pela forma podemos identificara especificidade do assunto cujo vocabulrio empregado para explicar o direito naturale o princpio de que parte, a sociabilidade, so prprios. Para Pufendorf, o contedoe os temas do direito natural se organizam sobre seis pontos bsicos: primeiro, odireito natural tem a pretenso de consolidar os princpios universais que fundamentamos deveres comuns de todos os homens em todos os tempos e lugares. o direitoque determina as obrigaes no Estado concreto, atribuindo teologia moral o papelrestrito de efetiv-las nica e exclusivamente nas diferentes ordens confessionaissegundo as crenas e credos dos fiis. Segundo, as leis naturais so demonstradas,conhecidas e compreendidas mediante a razo natural do homem. Este no precisade outro auxlio alm de suas faculdades racionais. Terceiro, o direito natural descoberto, metodologicamente, mediante a razo humana, no necessrio apelarpara uma instncia sobrenatural ou buscar ajuda alm das suas prprias foras.Quarto, a finalidade que anima o direito natural justamente a de conduzir, educar eproporcionar ao homem a condio para se transformar num membro til sociedadeem que vive, proporcionando os instrumentos das mudanas e realizaes dos finsque ele prprio e a sociedade se propem. Quinto, o direito natural serve para julgara maior parte das aes externas dos homens, pois o que pertencem ao foro interno, conscincia, no se pode emitir qualquer juzo segundo os seus critrios. Sexto, odireito natural considera a natureza corrompida do homem, uma vez sem oreconhecimento dessa limitao seria difcil admitir a possibilidade do homem viverem sociedade e em paz com seus semelhantes.

    O princpio mais importante do direito natural que todo homemtem o dever de cultivar e preservar a sociabilidade (PUFENDORF, 1998a,II, III, 20);3 esta obrigao implica a existncia dos deveres numa tripla

    3 Aqui, Pufendorf decompe a natureza humana em trs elementos bsicos para determinar a leide seu ser. Estes componentes sintetizados na socialitas so: o amor sui (o amor de si ou oimpulso de autoconservao), a imbecillitas e a naturalis indigentia, e a pravitas animi, queincita o homem a prejudicar o seu semelhante.

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    dimenso: diante de Deus, diante de si mesmo e diante dos outros(PUFENDORF, 1997, I, IV e I, V). Mais ainda, enquanto indivduo, todohomem deve observar que as suas aes produzem efeitos em outraspessoas, e mediante essa trade de obrigaes ele deve atuar de modo a sechegar condio de elemento til sociedade.

    O primeiro dever de quem vive coletivamente est na buscaincansvel de todos os meios possveis para no causar dano a nenhum outro(tese defendida tambm por Grotius e Hobbes); mas ficar a somente no basta,a busca incansvel seria insuficiente. O homem tambm precisa eliminar osmeios e as ocasies propcias a provocar uma reao antissocial, isto , devematuar visando aos outros, respeitando a dignidade e a igualdade de cada um, eevitar qualquer tipo de injria e dano aos demais: que cada um estime e trate ooutro como naturalmente igual a ele ou como igualmente homem(PUFENDORF, 1997, I, VII, 1). Desta afirmao, porm, Pufendorf deduz osegundo dever: a sociedade j no considerada comunidade deve sefundamentar no reconhecimento mtuo da igual dignidade de todos os homens,algo oposto ao domnio de uns sobre os outros como ocorria em pocas passadas.Para manter a sociedade unida e os seus membros vivendo em harmonia preciso conseguir que o dever de benevolncia o terceiro dever prevaleasobre os outros (PUFENDORF, 1997, I, VIII).

    O respeito, a igual dignidade e a benevolncia so trs deveres queservem para justificar as obrigaes nas aes polticas e nos atos jurdicospraticados pelos indivduos na sociedade. Orientam as relaes intersubjetivasque se utilizam da linguagem, como contratos, pactos, promessas, compras evendas de propriedades, doaes, heranas, etc. Mas tambm deles derivam asobrigaes prprias do indivduo como membro de uma famlia e de um Estado.

    Neste ponto, Pufendorf parece incorporar as teses de Sneca,quando o filsofo latino afirma que as paixes mais odiosas e detestveis so ainjustia e a ingratido, ambas levam irremediavelmente dissoluo dasociedade e loucura de seus habitantes (PUFENDORF, 1997, I, VIII, 8).Desse modo, para Pufendorf, a sociabilidade se converte no fundamento dodireito natural, tambm na justificao da existncia e do desenvolvimento dasociedade humana. O homem dentro da coletividade cumpre certas obrigaes,podendo alcanar a condio de membro til para todos e afastar uma vez portodas as aes injustas e ingratas (PUFENDORF, 1997, I, V; II, V, 4; II, XIII,2 e II, XVII, 4). Mais do que preservar a segurana e garantir a boa vida emsociedade, o homem cumpridor de seus deveres promove o desenvolvimentosocial, econmico, poltico e cultural.

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    Em outras palavras, o autor afirma no De jure naturae etgentium que a natureza humana exige dos indivduos a convivncia pacficacom outros indivduos da mesma espcie ao manter e incrementar asociabilidade de todos. A observao da natureza mostra que o homem umser talhado para viver em sociedade, pois a sua constituio fsica indicaclaramente que ele foi feito para viver com os outros numa relao societria.Por um lado, ele tem numerosas necessidades naturais, por outro, a naturezano o dotou diretamente dos meios indispensveis para satisfazer a essasnecessidades. Ao contrrio de alguns animais que, sem sacrificar suasnecessidades naturais, podem viver sozinhos, fora do estado social, o homems pode suprir suas necessidades de modo satisfatrio associando-se a outroshomens. O estado de sociedade uma necessidade lgica decorrente do fatode que as necessidades naturais do homem superam as possibilidades dasquais dispe para satisfaz-las sozinho (SCHINO, 1995, p. 25-32). O fimalmejado pelos seres humanos consiste em tornar efetiva a existncia naturale irrenuncivel do modo de ser do homem de viver em sociedade pacificamente:Com estas premissas, escreve Pufendorf, parece que a lei natural fundamental a seguinte: cada homem deve cultivar e manter na medida do possvela sociabilidade (PUFENDORF, 1998a, II, III, 15). Embora a finalidadedo homem seja realizar o atributo por excelncia da condio humana, asocialitas, os indivduos que vemos diante de ns so inconstantes e egostas(homens pecadores), mais preocupados com os prprios interesses e movidospor paixes muito pouco dignificantes. Como dar conta deste intervalo entrea natureza do homem tal como ela realmente e a natureza tal como deveriaser? Se Pierre Laurent tem razo ao defender a tese de um antropocentrismomoderado na doutrina de Pufendorf, pode-se falar ento que a sociabilidade,no seu sentido mais profundo, vincula estreitamente o ser individual do homemao seu ser em relao (LAURENT, 1982, p. 109). Por princpio, Pufendorfrecusaria um tratamento da condio humana a partir da sua individualidadeabsoluta, ela teria somente um valor relativo na medida em que dependeria dasociedade (OLIVEIRA, 1996, p. 112-113).

    O homem solitrio no um indivduo autnomo, mas sim umsujeito vulnervel (DENZER, 1972, p. 92-93). As necessidades de companhia,sobrevivncia e viver melhor impulsionam o homem a associar-se paraconstruir mutuamente uma sociedade onde todos coloquem em comum seusescassos saberes, habilidades e muitas necessidades. Produto da associaoaleatria e coincidncia temporal de interesses renovados pelas prefernciasindividuais, a sociedade converte-se em realidade a partir da admisso de

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    todos da necessidade absoluta por uma vida gregria. Portanto, a natureza dohomem e de sua interao comunitria conduz necessariamente aoestabelecimento do Estado: tamanha a estupidez da maioria dos homens ea violncia das suas paixes, que apenas bem poucos conferem a estasquestes a considerao que lhes devida. Portanto, no restou nenhumremdio mais eficaz para conter a maldade dos homens que o fornecido pelosEstados (PUFENDORF, 1998b, VII, I, 11).

    Estamos diante da concepo da sociedade composta porelementos justapostos que tm carncias de toda ordem e espcie. Ela no a comunidade do ideal poltico aristotlico, mas a conjuno harmonizadade elementos diferentes num mesmo espao e durante um tempodeterminado. Mais ainda, a sociedade no o produto do instinto socivel,psicolgico, construdo a partir da ordem fsica (appetitus societatis). Ela um dever. Separada de modo radical dos seres fsicos, a doutrina dosseres morais (entia moralia) parece contradizer o naturalismo de Hobbese de Spinoza e se vincular s frmulas incertas de Grotius (GROTIUS,1919, Prolegmenos, 7-8). Mas enquanto neste ltimo o appetitussocietatis um impulso da natureza humana e a vida social flui como suaconsequncia natural, em Pufendorf a exigncia da imbecillitas faz afloraruma socialitas que permite deduzir o contedo mais profundo da vidaassociativa. Onde em Grotius se manifestava uma tendncia inata do homema viver em sociedade, em Pufendorf se distingue o objetivo regulador (WOLF,1927, p. 89-90). Em suma, a antropologia bifronte de Pufendorf pretendea harmonizao sinttica de dois relevantes perfis da natureza humana.4No mximo, o jurisconsulto admite um appetitus societatis restrito scomunidades pequenas, como a amizade, o matrimnio e a famlia, mas noao Estado (PUFENDORF, 1998b, VII, I, 3). A relao entre a socialitase o appetitus socialis se configuraria desse modo: a sociabilidade seria acategoria objetiva do valor do agir tico-social, isto , constituiria o contedoda lei natural. As causas vitais ou psicolgicas (causae impulsivae) daatuao da lei natural seriam as convices de seu valor e o temor diantede Deus; para as comunidades pequenas, o appetitus societatis, para oEstado, o temor dos outros homens (WELZEL, 1993, p. 74).

    4 Segundo BRUFAU, Prats. (1968, p. 56). Nos encontramos diante de uma antropologia quebebe em duas fontes diversas, mas que deseja desembocar numa harmonizao sinttica,fazendo da socialitas e da imbecillitas dimenses ontologicamente radicadas na naturezado homem.

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    Admitindo-se que h vrios componentes de uma antropologiapessimista na filosofia moral de Pufendorf,5 pode-se dizer que o autordemonstraria nitidamente a dificuldade do homem em alcanar por si mesmo arealizao das obrigaes recorrendo unicamente aos seus possveis benefcios pr em movimento por vontade prpria uma busca de padres morais razoveismediante as suas vantagens. Desse modo, o sistema ou a teoria da sociabilidade,fundamento da construo terica de Pufendorf, exige um desenvolvimento ejustificao posterior, que se oferecem nos livros segundo do De officio e stimodo De jure. Neles, o autor explica os meios mais eficazes para suprimir as msaes, as tendncias desviantes e egostas, os maus usos e costumes, e tudo oque pode prejudicar ao outro e sociedade. Estes meios, alis, j esto presentes

    5 No h, aqui, consenso entre os estudiosos de Pufendorf. Alguns comentadores importantesressaltam a influncia desempenhada pela antropologia negativa de Hobbes na teoria dePufendorf. A razo principal a favor da recepo hobbesiana pode ser descrita desta forma:no estado de natureza, os indivduos esto originariamente centrados sobre a singularidade, eno relacionados com outra coisa. Se eles entram em alguma forma de sociedade, isso no sedeve a um impulso natural irresistvel nem busca da virtude, mas a um clculo que visa utilidade individual. Na medida em que a sociabilidade do homem finalizada conservao desi, ele , paradoxalmente, profundamente egosta. A mesma definio da lei de natureza, lugarfundamentalmente de todo o direito natural, mostra explicitamente que a necessidade desociedade uma consequncia da necessidade de conservao e que, portanto, o verdadeiroprincpio do direito natural a autoconservao do indivduo (SCATTOLA, 2005, p. 104).Duas teses importantes podem ser retiradas do comentrio de Scattola: 1) embora Pufendorfatribua sociabilidade humana uma funo central (primeira lei de natureza), o seu papel noimplica absolutamente que os homens sejam sociais e o corpo poltico seja coessencial aohomem, o que poderia sugerir a existncia de indivduos fora da sociedade. Para o comentador,o princpio de sociabilidade tem, com efeito, um valor exclusivamente epistemolgico: ofundamento lgico que permite a deduo do conjunto jusnaturalista (SCATTOLA, 2005, p.105). Desse modo, a sociabilidade no uma caracterstica intrnseca dos homens, mas umafico lgica compartilhada por todos que faz das normas do direito natural um produto darazo e uma conquista a partir das determinaes fundamentais da natureza humana. 2) sugerea presena de um trao paradoxal na doutrina de Pufendorf, qual seja, a sociedade humananasce da sociabilidade natural do homem, mas fundada recorrendo a um segundo princpio,a imbecillitas, ou seja, a insegurana do direito e, em ltima instncia, o interesse individual(SCATTOLA, 2005, p. 105). O vnculo de parentesco insuficiente e restrito s relaesafetivas dos pequenos grupos domsticos, e as pessoas fora deste crculo limitado soconsideradas pouco confiveis e inimigas declaradas. Os homens no estado de natureza,portanto, no se ajudam mutuamente e so presas fceis do desejo de se prejudicarem:impera entre eles a suspeita perptua, a desconfiana mtua e o desejo de prepotncia deforma que s verdadeiramente feliz quem v no amigo um inimigo em potencial e em tempode paz pensa na guerra. Cf. tambm BRUFAU PRATS, 1968, p. 56; PALLADINI, 1990.

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    e reconhecidos no estado de natureza, e se efetivam quando os homens decidemconstruir a cidade e o Estado, isto , quando decidem viver e realizar asociabilidade (PUFENDORF, 1997, II, V, 9). Em outras palavras, Pufendorfinicia com grande esforo uma abordagem terica objetivando justificar aexistncia das sociedades e a incluso do homem nelas. Esforo que lhe d acondio de pensar os problemas do jusnaturalismo sob a tica da filosofiapoltica e da formao do Estado moderno.

    Contrato social e summum imperium

    Quando Pufendorf escreveu e publicou seus textos sobre este tpico,as teses da existncia de um estado natural, o regresso natureza como lugarapropriado e feliz do homem, o sonho de uma idade de ouro, encontrava-se submetidaa uma crtica profunda e sob os efeitos de absoluto descrdito. Os jurisconsultos daprimeira fase da Ilustrao consideravam essa atrao pelo retorno natureza umacuriosa retomada das teorias antigas e uma construo ideal invivel, na melhor dashipteses, apenas um tema a mais do elenco de questes de um tratado de direitonatural. Por isso, ao colocar o problema do estado de natureza como condionecessria, prvia e real para estabelecer os Estados e construir um processo histricodiferenciado, no mais apenas como uma qualidade natural do modo de ser dohomem, Pufendorf tenha atrado tantos adversrios e contundentes crticas(PALLADINI, 1978, p. 163-271). No minha inteno aqui retomar este ricodebate, mas apenas salientar as dificuldades da passagem do estado de naturezapara a formao do corpo poltico e, talvez o mais importante, se a doutrina doEstado do autor saxo uma ampla defesa do modelo absolutista de governo. Apreocupao se justifica se consideramos as anlises cuidadosas de Michel Villeysobre a formao da mentalidade alem pelo culto da autoridade e pela apologia daobedincia de origem luterana: Ainda assim, Lutero plantou na alma alem o germede um tipo original de positivismo jurdico, fundado na f religiosa, extremo em suasconsequncias e que se resume ao culto da autoridade e apologia da obedincia eda disciplina. Esse germe frutificar lentamente na filosofia alem e tambm nopensamento comum: no s em um Pufendorf, um Kant ou um Stahl, mas tambmem um Bismarck. E, conhecendo-se a glria da universidade alem a partir dosculo XIX, possvel que por mil canais indiretos ns mesmos sintamos suainfluncia (VILLEY, 2005, p. 333). Deixando de lado os exageros do aristotlicoVilley, estaria o pensamento de Pufendorf preso s armadilhas da soberania absolutaque permitiu a consolidao definitiva do Estado moderno? Estado que se coloca

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    como a nica alternativa vivel de organizao social e sua consequenteadministrao dos conflitos inerentes s relaes comunitrias e interaeseconmicas? Nesse caso, a maioria das pessoas parece pensar que alguma formade governo centralizado e coercitivo necessria ordem social, especialmentenas condies do mundo moderno. Ordem social contrastada s desordens queocorrem quando faltam regularidade e previsibilidade vida social e quando hpouca cooperao entre os indivduos. Muitos acreditam que a segurana bsica depessoas e posses exige a presena do Estado, e a proteo contra os vizinhos econtra os predadores mais distantes, como tambm da maioria dos bens humanos,seria uma condio da ordem social. Pufendorf, ento, responderia integralmenteesta exigncia da presena forte do Estado como nico rgo capaz de oferecerproteo interna e externa ao indivduo e suas posses.

    Eis a definio de Pufendorf: O Estado uma pessoa composta,cuja vontade, formada a partir dos pactos de vrios indivduos, considerada avontade de todos, e deve valer-se da fora e das capacidades deles para realizara paz e a segurana comum (PUFENDORF, 1998b, VII, II, 13).6

    6 Para Pufendorf, uma opinio sediciosa a de que o conhecimento do bem e do mal (dumcognitionem boni & mali) e do que vantajoso para o Estado pertence aos indivduos (privatosautem homines). No diz respeito aos sditos julgar a argcia dos meios cuja execuo umprncipe ordena para assegurar o bem pblico (ad se trahunt, cupere esse sicut reges; id quodsalva civitate fieri nequit) (PUFENDORF, 1998b, VIII, I, 5). Isto significa que, se um indivduoconsidera uma regra do direito positivo contrria ao direito natural, no a sua opinio particularque deve prevalecer, mas a deliberao da autoridade competente do Estado que predomina. E arazo simples: Como se observa entre os homens a maior diversidade de julgamentos edesejos, pelos quais pode surgir um nmero infinito de disputas, os interesses da paz tambmexigem que seja publicamente definido o que cada homem considera seu e o que considera dooutro, o que deve ser considerado legtimo, o que deve ser considerado ilegtimo no Estado, o que honroso, o que desonroso. Assim como tambm o que o homem ainda conserva de sualiberdade natural, ou, em outras palavras, como todos deveriam moderar o uso do seu direito,para a tranquilidade do Estado. E, finalmente, o que cada cidado pode, por direito seu, exigir deoutro e de que maneira [Praeterea quia mxima inter homines diversitas judiciorum & adpetituumdeprehenditur, ex qua infinita contraversiarum sages oriri potest; inde pacis quoque interestpublice definiri, quid cuique suum, quid alienum censeri debeat, quid in civitate pro licito, quidpro illicito, quid pro honesto aut inhonesto habendum. Item, quid cuique ex libertate naturalisupersit, aut quomodo cuique jurium suorum usus ad tranquillitatem civitatis sit temperandus](PUFENDORF, 1998b, VII, IV, 2). possvel ver aqui a forte influncia de Hobbes, por umlado, e o passo mais ousado dado por Locke a respeito do direito de resistncia, por outro. Esteltimo, de fato, vai mais longe ao defender que a resistncia justificvel se o uso da fora pelogoverno no s for injusto mas tambm ilegtimo, isto , contrrio no apenas s leis de naturezamas tambm s leis positivas (LOCKE, 1988, XVIII, 203-204).

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    O Estado constitudo para superar a situao de guerra em quese degenerou o estado de natureza e oferecer segurana aos homens (BEHME,1995, p. 112-182). preciso construir a proteo entre eles e para eles: Portanto,a causa genuna e principal que levaram alguns pais de famlias perdidos emsua liberdade natural a constiturem os Estados, foi para se protegerem dosmales provenientes do homem que ameaavam o homem (PUFENDORF,1998b, VII, II, 1). Como Pufendorf se espelha na violncia e brutalidade emque a Europa submergiu durante a Guerra dos Trinta Anos, a inseguranaprovocada por este sangrento conflito determinou no autor a necessidadeimperiosa da formao dos Estados para se alcanar a segurana poltica, sociale econmica dos pases territorialmente em expanso.7 Estados que pudessemassim garantir o desenvolvimento dos homens. nos Estados que se encontraum remdio imediato, bem ajustado s caractersticas dos homens(PUFENDORF, 1997, II, V, 9).

    Para fazer parte da sociedade como membro ativo, no entanto,no basta pertencer espcie humana, preciso que certas qualidades semanifestem como, por exemplo, servir e subordinar todos os bens (vida, riquezamaterial e fortuna) no desenvolvimento do Estado. preciso atuar de acordocom os deveres impostos pelo modelo de cidado e observar trs tipos de regrasgerais (os deveres para com o prximo): no provocar injria, dano e lesograve aos direitos e propriedades dos outros ( o direito natural integridadecorporal); buscar o bem-estar dos outros e reconhecer mutuamente a igualdignidade de todos os homens ( a igualdade de direitos do cidado, princpio dejustia da modernidade) (PUFENDORF, 1998a, III, II, 3-9);8 e prevenir asaes destrutivas e os comportamentos negativos, estimulando e fomentando aconfiana, a fidelidade e a gratido ao maximizar a benevolncia (PUFENDORF,1998a, III, III, 1-17).9 Este esquema serve para explicar e justificar asobrigaes derivadas dos atos jurdicos, dos usos e costumes, das relaessociais e at mesmo dos atos de fala (PUFENDORF, 1998a, III, VII, 1-2).

    7 Pufendorf tambm foi um historiador da formao dos Estados modernos, por isso a suapreocupao com os fatos marcantes de sua poca (DUFOUR, 1987, p. 103-125; DUFOUR,1996, p. 107-138; HAAS, 2006).

    8 A consequncia desse dever que a igualdade perante a lei aceita como direito humano.9 A violncia na autodefesa se justifica, no entanto, se o dever pessoal ou poltico da paz

    lesado e impossvel uma soluo no-violenta do conflito (PUFENDORF, 1998a, II, V, 1).

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    Desse modo, Pufendorf defende o Estado moderno como arealizao perfeita do desenvolvimento moral da humanidade, o lugar certo dasuperao do afastamento entre a sociedade civil artificial construda peloshomens segundo suas necessidades e interesses e a necessidade moral. OEstado deve ser entendido como criado para nossos fins, nossa proteo edefesa. Pode-se dizer que a adequao dessa forma de organizao, comotambm de suas correspondentes formas de socializao, determinada peloseu sucesso em satisfazer nossos fins. Mas tambm enobrece a unio doshomens e de seus esforos em instaurar e efetivar o direito natural. Sua origemest em Deus (PUFENDORF, 1998a, II, III, 20; e ZURBUCHEN, 1991,p. 23-24) e sua finalidade em governar a humanidade (CARR; SEIDLER, 1994,p. 356). O Estado no sistema de Pufendorf o ponto final da sociabilidade, suarealizao plena, e como tal exige um direito que regule e ordene ocomportamento dos cidados (PUFENDORF, 1998b, VII, III, 2).

    At o momento tratamos apenas da sociabilidade e dos deveresdo indivduo, preciso portanto estabelecer as condies de possibilidade que otorna membro da sociedade. Que motivaes so necessrias para formar asociedade civil e construir o Estado ordenado?

    Uma sociedade que se caracterizaria pela diferena proposta porJohannes Althusius entre multido e povo (GOYARD-FABRE, 1994, p. 169),10que no se reduziria apenas simples somatria de indivduos, esta no passariada agregao de pessoas sem vnculos permanentes, mas seria pensada comouma associao. Que condies so necessrias para realizar a submissoplena dos associados ao imperium do Soberano? Que realizasse, em suma, atransformao definitiva do Estado de persona ficta em pessoa moral? Maisexatamente, o movimento que vai da massa informe associao organizada eestruturada sob vnculos permanentes, configura o Estado, estabelece o regime

    1 0 Althusius inicia a sua Poltica deste modo: A poltica a arte de reunir os homens paraestabelecer vida comum, cultiv-la e conserv-la. Por isso, chamada de simbitica. O temada poltica , portanto, a associao, na qual os simbiticos, por intermdio de pacto explcitoou tcito, se obrigam entre si comunicao mtua daquilo que necessrio e til para oexerccio harmnico da vida social [Politica est ars homines ad vitam socialem inter seconstituendam, colendam & conservandam consociandi. Unde symbiotici vocatur. Propositaigitur Politicae est consociatio, qua pacto expresso, vel tacito, symbiotici inter se invicem adcommunicationem mutuam eorum, quae ad vitae socialis usum & consortium sunt utilia &necessria, se obligant] (ALTHUSIUS, 1932, p. 15).

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    poltico e o governo, reconhece a autoridade soberana superior e ordena asrelaes entre os sditos e o governante. Um movimento longo, difcil, repletode obstculos, que exige uma soluo rpida e a participao do maior nmerode vontades particulares. preciso dois tipos de acordos e um decreto (duopacta et unum decretum).11 Nas palavras do autor: Para que uma multidose torne uma nica pessoa [...], preciso que seus membros em conjunto tenhamde comum acordo unido suas vontades e suas foras por meio de algumaconveno (PUFENDORF, 1998b, VII, II, 6).

    De fato, todo contrato ou conveno, no importa as suasclusulas, um compromisso mtuo de indivduos racionais (livres e iguais),e deve comportar uma promessa recproca. O contrato social no pode serexceo regra, os contratualistas sobretudo neste ponto esto de plenoacordo. Mas quando se trata de precisar quem so os personagens queestabelecem o compromisso mtuo e se obrigam coletivamente, os autoresse dividem. possvel admitir primeiro a concepo de Hobbes que asociedade civil formada mediante um suposto pacto concludo por indivduosque consentem em se tornarem seus membros. Cada indivduo se submetevoluntariamente (livremente) autoridade de um nico homem ou de umaassembleia, ao criar uma repblica (Commonwealth), sob a condio deque todos os outros faam o mesmo. Os indivduos escolhem abrir mo deseu desejo, renunciar sua liberdade para entreg-la a uma autoridade deum soberano (sovereign) ou de um corpo poltico (political body), que,doravante, ter todo o poder para fazer reinar a paz e a segurana. Ossignatrios da conveno (covenant) sero, assim, ligados uns aos outros,uns pelos outros. No tero mais o direito de exigir algo alm dos benefciosque se podem esperar da tranquilidade pblica. Nessa concepo do contrato(contract), o soberano recebe o seu poder atravs do pacto que os indivduosconcluram entre si. O soberano, porm, no participa do compromisso dossditos, no faz parte da permuta verbal de direitos e obrigaes e nada

    1 1 A passagem para o Estado uma aliana (foedus) e no um contrato privado, nem a deciso deum s indivduo.

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    promete em troca de sua constituio.12 Ele dispe tambm do poder absolutosobre todos os membros do Estado. Em outras palavras, o soberano no estsujeito conveno, pois ele o produto desta, e no um dos que a assinou pois ele um corpo artificial, totalmente separado da comunidade poltica,e no um corpo natural. Mesmo que assuma, formalmente, a figura de umindivduo ou de uma assembleia, que se resuma a uma pessoa fsica(monarquia) ou se divida em vrias (oligarquia), o soberano goza de umpoder poltico absoluto. Tudo o que fizer ser legtimo, desde que a convenoseja respeitada; desde que no ameace a vida dos que a assinaram. O pactocomo concebe Hobbes essencialmente um pacto de associao: o fimltimo a unio de todos em um corpo indivisvel, e a submisso inerentes clusulas da aliana o meio mais eficaz de realizar a unidade do corpopoltico (HOBBES, 1996, p. 91-100).

    1 2 Embora nos ltimos anos um bom nmero de comentadores tenha minimizado os efeitos dessaalienao de direitos dos indivduos temerosos com a prpria sorte no estado de guerrageneralizado, Norberto Bobbio parece ter alguma razo quando ressalta o papel da obedinciacega e absoluta dos sditos. Mesmo no defendendo o regime monrquico absolutista emvigor, o filsofo de Malmesbury mais rigoroso e severo nas punies s infraes de crimesde lesa-majestade, principalmente nos tipificados pela traio ao soberano. Bobbio escreve:Em suma, a poltica de Hobbes, que comeara com a tese da unidade do poder, chega atravsdo fio condutor de um raciocnio excepcionalmente vigoroso a tecer a trama de uma dasteorias da obedincia mais radicais jamais conhecida pela histria das doutrinas polticas;diante dela, a prpria doutrina do direito divino do rei, que era empregada em sua poca paradefender o absolutismo ou seja, precisamente o Estado fundado na obedincia -, podia serjulgada como uma doutrina moderada. Com efeito, esta ltima doutrina admitia, pelo menos,a obedincia passiva, ou seja, reconhecia a possibilidade de desobedecer lei civil quando estacontrariasse a lei divina, contanto que essa desobedincia fosse, por assim dizer, compensadapela aceitao voluntria da pena que se seguiria transgresso. Hobbes no admite a obedinciapassiva; ao contrrio, condena-a severamente como um erro. O lgico consequente no deixaaberto aos sditos mais do que um caminho, o da obedincia ativa, da obedincia em qualquercaso, salvo quando a prpria vida do sdito que est ameaada (BOBBIO, 1991, p. 80-81).Por outro lado, o poder soberano um poder fraco se no for a representao do povo comocorpo poltico: nessa representao que encontra suas bases e dela que retira sua fora.Simone Goyard-Fabre, analisando o surpreendente captulo XVI do Leviat, defende que oestatismo hobbesiano enraza-se numa democracia originria: a unicidade do mandatorepresentativo explica ao mesmo tempo a instituio e o exerccio do poder (GOYARD-FABRE, 2003, p. 130). Tese semelhante j era defendida por Richard Tuck: The liberalinterpretation of Hobbes begins from his theory of sovereign as the representative of thecitizens. [...] Moreover, in the Elements of Law and De Cive, Hobbes had gone to somelengths to depict the original sovereign created by the inhabitants of the state of nature asnecessarily a democratic assembly, which could only transfer the rights of sovereignty to asingle person or small group by a majority vote of its members: so Hobbess theory was in itsorigins heavily involved with the forms of electoral politics (TUCK, 1996, p. 35).

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    Mas pode-se conceber o pacto social de outro modo, segundo umafrmula contratual mais complexa que envolve trs momentos distintos deelaborao. Os dois momentos principais dessa operao so: o pactum societatis(pacto de associao) em que os homens se renem para constituir uma sociedadecivil, e o pactum subjectionis (pacto de submisso) em que os membros dessanova comunidade designam os titulares do poder que ter o encargo de proteg-los, de fazer reinar a paz, governando-os. Na primeira conveno criada umaassociao sem governo cuja unio entre iguais desprovida de relaes desujeio. Na segunda conveno institudo o governo e os poderes de coao, introduzido na associao o fator da soberania e sujeio que lhe faltavaanteriormente (SPITZ, 1987, p. 85). Pufendorf opta por esta ltima alternativa.

    Ao elaborar a sua doutrina do Estado, Pufendorf defende de modoperemptrio a teoria do duplo contrato e empreende de forma inconteste ajustificativa terica da necessidade do pacto de submisso13. Contra os

    1 3 Neste ponto em particular, Jean-Fabien Spitz insiste no papel desempenhado pela distinoentre a associao e a constituio do governo na teoria contratualista de Pufendorf: Lanalysepropose par Pufendorf repose sur lide que la socit civile nest complete que si elle ralisedeux liens distincts lun de lautre: lassociation ou union dune part, et la soumission ousujtion dautre part (SPITZ, 1987, p. 85). Aqui, tambm no h consenso entre oscomentadores, Fiammetta Palladini defende que o ncleo fundamental da doutrina de Hobbes conservado, pois, para a fundao do Estado, s decisivo o segundo pacto, atravs do quala multido unificada num corpo que age como se fosse uma s pessoa (PALLADINI, 1990,p. 34-39). Embora apresente uma leitura criteriosa e fina, estou inclinado a defender a necessidadedos dois pactos e, por isso, atribuir razo aos argumentos de Spitz e recusar as teses dePalladini. A teoria do duplo contrato e a distino entre associao e sujeio permite, a meuver, manter uma relativa autonomia jurdica do povo que no havia no dispositivo contratualde Hobbes. A ausncia provisria do soberano no conduz ao desaparecimento completo dasociedade civil. A mesma teoria permite, alm disso, fundar sobre uma conveno a relaojurdica entre o soberano e seus sditos. Em suma, a teoria do duplo contrato reflete umdesacordo mais importante, qual seja, a definio de direito natural. Alm disso, VictorGoldschmidt ressalta a importncia do papel desempenhado pelo termo lei fundamental nopensamento moderno e sua longa tradio: On sait que cette expression remonte au XVIesicle, et quelle joue un rle minent dans les luttes politiques en France, en Anglaterre et dansles colonies anglaises du Nouveau Monde. On notera ici deux points. Lide de loi fondamentale,comme la montr Jellinek, se joint celle, plus ancienne, dun contrat constitutionnel entre leroi et le peuple (cest cette conception contractuelle qui prvaut chez Pufendorf et Burlamaqui).Dautre part, Hobbes constate, en 1651: Je nai jamais pu voir chez un auteur ce que signifieloi fondamantale. Lui-mme considre comme fondamentale dans chaque cite, la loi dont lasuppression dissoudrait la cit. Or lunique loi fondamentale est celle qui enjoit aux citoyensdobir la personne de la cite, cest--dire celui qui dtient le pouvoir suprme. Car, cetteloi supprime, la cite nest plus; si elle subsite, la cit elle aussi demeure. Autrement dit, la loifondamentale est le pacte dunion (GOLDSCHMIDT, 1983, p. 667-668).

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    argumentos de Hobbes, o jurista alemo explica a formao do Estado por doispactos bem diferentes entre si: a primeira conveno o desejo dos indivduospela formao de uma mesma associao civil, um pacto de unio que une oscidados e impe obrigaes mtuas. A segunda conveno comporta doisaspectos, a escolha do soberano mediante um acordo contratual dos associadose o compromisso de obedincia irrestrita, e a troca de promessas mtuas entreo soberano e seus sditos o primeiro promete a proteo de todos e agir embusca do bem comum, os segundos prometem obedincia (PUFENDORF, 1998b,VII, II, 7-8). um pacto de submisso. Entre eles, porm, h um decretodos associados para decidir a forma de governo. Para Pufendorf, ambos osmovimentos de constituio do corpo poltico so absolutamente necessrios.

    O primeiro acordo tem origem entre homens livres, independentes,responsveis e racionais na insegurana do estado de natureza: todos aceitamformar uma associao. Eles decidem que a forma de administrar a seguranacoletiva e individual se articula mediante o acordo mtuo e reconhecimento daliderana capaz de ditar as normas a seguir. Este acordo denominado coetus,unio simples entre os homens para assegurar a sobrevivncia. Em essncia, opacto de associao requer o consentimento, expresso ou tcito, de todos osparticulares. Quem no aceita participar desta aliana permanece fora dasociedade e conserva sua liberdade natural, est entregue a prpria sorte edeve arcar com o nus da providncia dos meios materiais de sua prpriaconservao. Os associados que recorrem aliana esto, por isso, desobrigadosdo socorro aos no-associados. A finalidade do pacto ao mesmo tempo superara condio de insegurana natural e infrapoltica dos homens, garantido o auxliomtuo, e iniciar o comeo e o esboo de um Estado (GOYARD-FABRE,1994, p. 171). Mas nesse estgio no h ainda sujeio, a pluralidade das vontadesindividuais no constitui ainda o poder de coao e o governo capaz de aplicarleis e dominar os sditos. Por essa razo, ela permanece frgil e precria equalquer um pode na ausncia de coao jurdica violar os compromissos. Odireito natural cuja anlise da promessa estabeleceu que ela a condio devalidade e origem dos compromissos corre o risco de ser desrespeitado ousimplesmente ignorado pelos associados. Tal unio estaria sempre ameaada eno poderia por si mesma durar muito tempo. Como no estado de natureza, aassociao ainda imperfeita: sem leis, sem poder executivo, sem jurisdio.

    O pactum unionis assim descrito necessrio, mas no suficiente para engendrar a sociedade civil autntica e durvel. Um segundocompromisso deve permitir por um decreto (decretum) fixar e regrar a formade governo. um acordo determinado pela escolha da maioria: uma decisosobre qual forma de governo se deve estabelecer (PUFENDORF, 1997, II,VI, 8). Assim, esto desenhados os contornos da regra majoritria que

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    Pufendorf, antes de Locke, v claramente como um dos suportes mais slidosdo governo de Estado (GOYARD-FABRE, 1994, p. 172).

    Mas ainda no atingimos o objetivo proposto, pois o primeiro acordorecproco deve ser completado com um outro, o contrato de governo, que estruturaa forma da soberania a partir da submisso dos indivduos autoridade. S comeste passo definitivo dos associados, portanto, possvel se chegar a ordenarpoliticamente a sociedade do contrato de unio, dando lugar a uma organizaopoltica formada pelo soberano e cidados: um Estado perfeito e regular [perfecta& regularis civitas] (PUFENDORF, 1997, II, VI, 9). Esta segunda alianaimplica obrigaes recprocas entre todos os membros associados e as instituies:os cidados fazem juras de obedincia irrestrita autoridade, que deve observaras leis inerentes a sua condio de governante. Por sua vez o governante secompromete a resguardar o Estado e suas instituies mediante o exerccio dasuprema autoridade, o que significa preservar a segurana dos cidados e garantiro progresso social e econmico de todos (BUCKLE, 1991, p. 108-124). umcontrato semelhante ao que foi proposto um sculo antes pelos Monarcmacos,14cujo compromisso recproco dos governantes e governados estabelece um vnculorelacional permanente; mais exatamente, um contrato fundado sob as bases datroca entre a autoridade soberana e os sditos, tambm conhecido como contratode submisso e sujeio. somente a partir do encontro das vontades dosassociados que o Estado pode ser considerado tecnicamente formado eefetivamente existir. Assim, quando posto em funcionamento o acordo o Estado constitudo de modo completo e regular. O Estado formado a partir da unio dasvontades permite, portanto, que consideremos o poder poltico como a sociedadedos homens com nomes prprios que implica a individualizao de cada sujeito-, parentescos, posses e famlias. Mas como estrutura hierrquica, diferenciadorae unitria da vontade e do poder, o corpo poltico acima de tudo independente dogovernante e dos indivduos que o iniciam e chegam a constitu-lo. um sermoral composto que no se reduz aos elementos simples de sua composio(PUFENDORF, 1998a, I, I, 13).

    1 4 Robert Derath lembra que a teoria do pacto de submisso remonta concepo da monarquiaeletiva e suas origens datam da Idade Mdia. Mas foi somente a partir do sculo XVI que a teoriase tornou popular e se viu vinculada a maior parte das controvrsias e polmicas relativas aospoderes e obrigaes do monarca diante de seus sditos. Ela amplamente formulada por JuniusBrutus pseudnimo provavelmente inspirado em Marcus Junius Brutus, o assassino de Csar,citado no texto quando da questo do tiranicdio em seu Vindiciae contra Tyrannos de 1579(DERATH, 1970, p. 208). A obra frequentemente atribuda aos huguenotes Hubert Languete Philippe Duplessis Mornay. Este ltimo teria trabalhado e apresentado o texto definitivo apartir da primeira verso de Languet (TERREL, 2001, p. 73-96).

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    Operando-se dessa maneira, Pufendorf pensa ter conseguidoconciliar a liberdade individual com as necessidades da vida social, pois o Estadoestaria apto a cumprir a paz em seus quatro aspectos: segurana vital (sermembro e estar capacitado para administrar a justia), segurana para promovera doutrina crist, segurana material para viver com dignidade segundo polticaseconmicas que proporcionem o bem-estar de todos, e segurana para distribuircom justia as honras governamentais. Desse modo, podem-se superardefinitivamente os problemas derivados da passagem do estado de natureza sociedade, superar obstculos como a ingratido, a inimizade e a falta decooperao social (PUFENDORF, 1998b, VIII, IV). Em termos de interessepessoal, talvez, pode no valer a pena realizar algum ato cooperativo que contribuapara a proviso de algum bem coletivo. Mas se os indivduos no raciocinamem termos de interesse pessoal apenas e levam em conta seu interesse pelosoutros, eles podem encontrar a cooperao racional. Para Pufendorf, o corpopoltico cria efetivamente o refgio seguro dos cidados sociveis e cooperativos.S ele capaz de garantir a paz social e realizar assim plenamente a condiohumana em geral, a de ser um sujeito de relao com vnculos sociaispermanentes. Por fim, o Estado no tem legitimidade para contrariar os direitosnaturais e o direito positivo ou construdo deve realizar os princpios ali contidos.15Para Pufendorf, o homem tem uma dignidade inalienvel, na medida em que,pela sua prpria natureza, sujeito de direitos.

    1 5 Embora sustente que o direito positivo depende do direito natural, e rejeite a tese hobbesianade que o Estado no pode causar dano a um cidado, Pufendorf no oferece uma respostamuito animadora aos defensores do direito de resistncia quando os danos provocados pelosgovernantes so srios. Se num primeiro momento desobriga os cidados da obedincia cega auma ordem superior repugnante ao comando de Deus, num segundo momento, porm,defende a fuga e a busca de proteo em territrio estrangeiro como alternativa mais aceitvel.Mas, se a fuga no for possvel, um homem deve antes ser morto que matar, no tanto pelapessoa do prncipe quanto por toda a comunidade, que geralmente ameaada com grandestumultos em tais circunstncias [Quin & si fugae via non datur, moriendum potius, quamoccidendum est, non tam propeter ipsius principis personam, quam propter totam remp.,quae tali occasione gravibus fere turbis solet involvi] (PUFENDORF, 1998b, VII, VIII, 5).Prevalece nestes casos limites a razo de estado (LARRRE, 1992, p. 33-36; DUFOUR,1996, p. 107-138). Ainda assim, Alfred Dufour insiste no trao mais importante de Pufendorf,no ecletismo de seu pensamento, para se compreender a poltica do autor. luz desseecletismo que devemos ler o autor saxo (DUFOUR, 1987, p. 104).

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    Recebido: 12/12/2008Received: 12/12/2008

    Aprovado: 03/02/2009Approved: 02/03/2009

    Revisado: 30/09/2009Reviewed: 09/30/2009

    O contrato social em Samuel Pufendorf

    Rev. Filos., Aurora, Curitiba, v. 21, n. 28, p. 143-163, jan./jun. 2009