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O TEMA INDÚSTRIA NO MUNICÍPIO COMO CONTEÚDO CURRICULAR DE
GEOGRAFIA PARA O QUARTO ANO DA ESCOLA FUNDAMENTAL E OS DESAFIOS
PARA A FORMAÇÃO E A PRÁTICA DO PROFESSOR
Larissa Arvelos1
Universidade Federal de Uberlândia, [email protected]
Gledmar Pires de Moura2
Universidade Federal de Uberlândia, [email protected]
Introdução:
A Geografia como disciplina escolar nos anos iniciais do Ensino Fundamental deve
introduzir os pequenos alunos nos métodos, procedimentos, noções e conceitos próprios do fazer e
do pensar geográficos para alicerçar e desenvolver um saber pensar o espaço como conhecimento
crítico e estratégico para melhor compreender o mundo em que se vive e poder agir sobre ele
(FEGEPRO, 1986). Esse saber pensar o espaço que começa a se fazer de forma sistemática pelo
ensinar-aprender Geografia desde os anos iniciais da escola fundamental produz empoderamento
dos sujeitos como cidadãos qualificados para a participação política esclarecida, responsável e
consequente nos debates e embates acerca das questões sócio-espaciais que se colocam em
diferentes escalas do território para a vida dos habitantes dos lugares, das regiões, do mundo. A
análise da concepção que adotamos enquanto prática de ensino em sala de aula é embasada na
perspectiva histórico-crítica e sua postulação sobre o trabalho educativo e o papel do ensino na
formação dos seres humanos enquanto assimiladores de sua própria cultura, como expõe Saviani:
O trabalho educativo é o ato de produzir, direta e intencionalmente, em cada
indivíduo singular, a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo
conjunto dos homens. Assim, o objeto da educação diz respeito, de um lado, à
identificação dos elementos culturais que precisam ser assimilados pelos
indivíduos da espécie humana para que eles se tornem humanos e, de outro lado e
concomitantemente, à descoberta das formas mais adequadas para atingir esse
objetivo. (SAVIANI, 1995 p. 17)
1 Bolsista de Iniciação Científica Fundação de Amparo à Pesquisa de MG (FAPEMIG) e graduanda em Licenciatura e
Bacharelado em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia.
2 Graduando em Licenciatura em Geografia pela Universidade Federal de Uberlândia.
Conforme Gómez (1998, p. 13), o ser humano, desde suas origens, elabora mecanismos para
sua sobrevivência que são transmitidos às novas gerações. “Este processo de aquisição por parte das
novas gerações das conquistas sociais – processo de socialização – costuma denominar-se
genericamente como processo de educação”. Nesse sentido, a educação assume a função de
socialização e, em especial, de humanização do homem. Nas sociedades atuais a preparação das
novas gerações está sob a responsabilidade de instâncias específicas como a escola, cuja função é
preparar as “novas gerações para sua participação no mundo do trabalho e na vida pública”
(GÓMEZ, 1998, p. 13), ou seja, promover sua socialização. A escola, concebida como instituição
socializadora das novas gerações, cumpre uma função puramente conservadora: “garantir a
reprodução social e cultural como requisito para a sobrevivência da sociedade” (GÓMEZ, 1998, p.
14). No entanto, alerta o autor, a tendência conservadora lógica para a reprodução social choca-se
com outra tendência, que busca transformar os caracteres sociais, especialmente aqueles
desfavoráveis para alguns grupos, caracterizando uma contradição evidente e tornando o ambiente
escolar como também passível de engendrar transformações sociais.
Dessa perspectiva, a abordagem didática dos conteúdos de Geografia no currículo escolar,
desde os anos iniciais do ensino fundamental, precisa ir muito além de informações sobre temas e, a
partir desses, engendrar elaborações conceituais e procedimentos metodológicos adequados para
desenvolver um raciocínio espacial próprio de um modo de pensar fundado no conhecimento
geográfico. Cabe ao professor conceber, planejar e conduzir esse processo formativo dos alunos
através do ensino de forma sequenciada, articulada e eficiente, o que lhe exige formação teórica
sólida em Geografia e Educação para orientar sua prática no trabalho educativo. Se essa formação
não termina e nem se consolida com a graduação em Licenciatura, mas se faz como um contínuo ao
longo da experiência no trabalho docente e da vida de professor em formação permanente enquanto
exerce a profissão, são maiores e chegam a assustar os desafios colocados para a prática a futuros
professores em formação inicial no estágio supervisionado.
Objetivos
Tendo essas considerações iniciais como referencial teórico-metodológico, o objetivo
principal posto para esse trabalho é apresentar e discutir uma experiência formativa proporcionada
pelo primeiro estágio supervisionado na Licenciatura em Geografia que consistiu na regência de
aulas sobre o tema “Indústria no Município de Uberlândia” para uma classe de 4.o ano do ensino
fundamental em uma escola pública da rede municipal de ensino de Uberlândia-MG. A partir da
indicação do referido tema pela professora regente de classe na escola, considerando seu programa
de ensino para a turma de 4.o ano, procedeu-se uma análise das abordagens do tema no livro
didático adotado pela escola e no documento curricular oficial do Município para o ensino de
Geografia, concluindo-se que as mesmas eram limitadas ou inadequadas para a prática educativa
orientada para um conhecimento crítico da realidade e operacionalizada por procedimentos
metodológicos com materiais didáticos apropriados. A necessidade de se conceber e ministrar as
aulas sobre o tema com abordagem, procedimentos e materiais didáticos próprios, de caráter
autoral, além de proporcionar possibilidades para a criatividade com criticidade no ensino da
Geografia, transformou os desafios colocados inicialmente para a prática em rica experiência
formativa para a docência alicerçada na fundamentação teórica, revelando como principal resultado
a reafirmação da importância da teoria para a formação e a prática do professor de Geografia.
Metodologia
Munidos da proposta didático-pedagógica para o Ensino de Geografia na perspectiva
histórico-cultural tratar-se-á neste trabalho de reflexões teóricas resultantes da prática do Estágio
Supervisionado realizado pelos discentes Gledmar Pires de Moura & Larissa Arvelos, com a devida
orientação do professor Sérgio Luiz Miranda, enquanto atividade obrigatória à graduação em
Licenciatura em Geografia na Universidade Federal de Uberlândia. O estágio, em sua face prática,
foi desenvolvido na Escola Municipal Professor Domingos Pimentel de Ulhôa, que atende a alunos
do ensino fundamental localizada no Bairro Santa Mônica, Uberlândia-MG. Como o estágio em
questão é referente á análise das séries iniciais do Ensino Fundamental, este foi realizado na 3ª
Série/4º ano, Turma C, sob supervisão da Professora Maria Regina, professora da rede básica do
município, com o cuidado de promover atividades com linguagem adequada às crianças nessa fase
de aprendizagem.
Durante o estágio foram ministradas quatro aulas na escola, subsidiadas pela elaboração de
roteiro, construção de planos de aula e pesquisa e produção de materiais didáticos. Tais atividades
subsidiárias foram fundamentais para a delimitação da abordagem dos conteúdos e, portanto,
imprescindíveis á operacionalização das mesmas. Os conteúdos trabalhados inserem-se no conjunto
temático definido, qual seja a Indústria em Uberlândia sua identificação, classificação e seus
impactos. A partir desse recorte temático e por meio da delimitação da abordagem, o
desenvolvimento do conteúdo seguiu a seguinte organização esquemática: conceituação do que é a
indústria, importância do estudo sobre a indústria, tipos de indústrias (por uso dos produtos),
elementos necessários ao funcionamento da indústria, distribuição espacial das indústrias no
Município de Uberlândia, a concentração espacial no Distrito Industrial das indústrias em
Uberlândia e por fim, indústrias em Uberlândia localizadas fora do Distrito Industrial – o Exemplo
da Ambev S.A3. Logo em seguida discutimos os impactos sociais e ambientais das indústrias – o
exemplo da Ambev S.A em Uberlândia, síntese dos conteúdos trabalhados e aplicação de avaliação
dos conteúdos ministrados.
Resultados Preliminares
Acreditamos, que pela participação e envolvimento dos pequenos estudantes durante as
aulas e na aplicação da metodologia e pelos indicativos e resultados da avaliação empregada, que a
operacionalização das atividades foi exitosa. Faz-se mister, apesar da auto avaliação positiva do
estágio em sua face prática, salientar que o desenvolvimento do estágio na escola é totalmente
dependente do trabalho de preparação para as aulas, e seus resultados são indissociáveis, do
procedimento formativo teórico metodológico realizado previamente por meio das aulas da
disciplina na Universidade, sobretudo o cuidado com a linguagem ao lidar com crianças foi salutar
no preparo das aulas e na confecção de materiais didáticos que promovessem a compreensão dos
alunos sobre o que vem ser a indústria e seus impactos. O privilegiamento da descrição da face
prática do estágio aqui apresentado de modo resumido ocorreu porque acreditamos que o bom
desfecho do mesmo só pode ser, e no caso foi, uma expressão crassa e direta do valor do estágio em
sua face teórica. Portanto, o estágio supervisionado cumpriu importante papel formativo à
graduação dos estagiários, no sentido de nos fazer refletir o papel da indústria da estruturação do
espaço geográfico e como fazer com que os alunos compreenderem esses processos.
O tema das aulas ministradas foi definido pela Professora Supervisora na escola, sendo que
nos foi delimitado que o conteúdo abordado seria a indústria em Uberlândia, de maneira geral e a
partir de um intenso debate e pesquisa de materiais, destacamos sua importância, sua história sua
3 A fábrica de cervejas da Ambev situa-se na cidade de Uberlândia (MG) tem a capacidade de, no futuro, se tornar a maior da
companhia no mundo produtora de cervejas. A unidade da Ambev fica na zona rural do Município e está pronta desde 2014, mas
operando em fase de teste. A cervejaria tem capacidade de produção de 5,8 milhões de hectolitros da bebida por ano e conta com três
linhas industriais e vai demandar grande quantidade de água para seu funcionamento.
organização no município de Uberlândia e os impactos de suas instalações. A definição desse tema
foi produto do conteúdo que já estava sendo trabalhado na escola, cuja abordagem segue as
orientações das Diretrizes Básicas municipais para o ensino de Geografia no Ensino Fundamental,
onde o conteúdo “A indústria no município” aparece disposto.
Assim sendo, inicialmente realizamos uma análise dos conteúdos relativos á indústria
dispostos nas Diretrizes Básicas municipais para o ensino de Geografia na 3ª Série/4º ano do Ensino
Fundamental4, posto que, ao menos em sua dimensão formal, tais diretrizes orientam o processo
educativo e organizam os conteúdos doravante tidos como elementares ao ensino de Geografia.
Apesar disso, observamos na análise que os conteúdos delimitados se encontram dispostos de forma
fragmentada e pouco explicativa, pior que isso, não existe coerência entre os conteúdos, os
objetivos desejados e as sugestões de atividades. Outro problema é o fato das orientações
metodológicas presentes no documento estarem comprometidas com uma visão pedagógica que,
entre outros, secundariza o papel do professor, baseando-se em premissas
interacionistas/cognitivistas. Oliveira (1999) analisando os Parâmetros Nacionais Curriculares para
o Ensino de Geografia entende que ao invés de uma pluralidade teórico-metodológica pretendida
pelos autores do documento, identifica-se um ecletismo nos PCNs que se apresentam sem
fundamentação filosófica coerente apresentado diferentes propostas concepções pedagógicas,
muitas vezes excludentes entre si. O trabalho desde autor nos chama a refletir o papel dos
professores de Geografia, orientando-os a analisar com cautela a concepção de Geografia contida
nos PCNs, pois as contradições do ponto de vista filosófico são recorrentes no texto dessa proposta.
Esta postura, afirma o autor, pode revelar o caráter ideológico que é objeto de disputa no campo do
pensamento geográfico, uma vez que, o documento apresenta uma concepção de Geografia que
pode extinguir a visão de totalidade que a concepção dialética trouxe para o interior do pensamento
geográfico, elemento esse tão caro a nossa concepção de trabalho educativo. Dessa forma, a
abordagem do tema indústria em sala de aula foi apenas marginalmente determinada pelas
orientações das DB Municipais e Nacionais, sendo que sua determinação foi em profundidade
definida pela elaboração de um roteiro de conteúdos delimitados por meio de reuniões dos
4 Adverte-se que o procedimento de análise das diretrizes básicas para o ensino de Geografia (agora restrito ao nível 3ª
Série/4º ano do Ensino Fundamental), utilizado como fundamento teórico metodológico à prática do estágio, é parte de
uma dinâmica processual, cujos frutos são produtos de uma prévia realização desse mesmo procedimento no início da
disciplina, ou seja, as raízes desse procedimento estão na prévia discussão teórica das diretrizes gerais do ensino de
Geografia realizada no início da disciplina (e que agora, auxiliam esse procedimento e orientaram a prática).
estagiários com o professor orientador. Acrescenta-se que a realização do roteiro possibilitou uma
abordagem autoral e crítica sobre o conteúdo proposto. Discutimos com os pequenos alunos porque
a indústria é importante no cotidiano, no sentido de ser nela que é produzida a maioria dos produtos
que utilizamos no cotidiano, mostramos aos alunos a importância da cadeia produtiva no sentido de
que para as mercadorias chegarem ao consumidor são demandados inúmeros agentes. Analisamos
como a indústria se formou no tempo e no espaço e os impactos negativos e positivos de sua
instalação. Foram realizadas quatro aulas na Escola Municipal Professor Domingos Pimentel de
Ulhôa para desenvolver tais acepções da indústria através de material elucidativo. Os planos de aula
produzidos possibilitaram a organização esquemática dos conteúdos trabalhados e nortearam a
realização das aulas, constituindo-se enquanto importante instrumento do planejamento das aulas.
A pesquisa e produção de materiais didáticos foi sem dúvida o maior produto deste estágio,
enquanto duplo formador, uma vez que foi auxiliar dos estudantes, pois possibilitou aos pequenos
conceituar a indústria e aos estagiários promoveu a vivencia como docente enquanto mediador de
uma análise critica da indústria em Uberlândia. Os materiais produzidos foram um importante
elemento para a realização da prática do estágio na escola, sendo que além de subsidiar a
compreensão do conteúdo ensinado durante as aulas, estabeleceu-se como fulcro da prática,
permitindo ainda desenvolver diversos materiais novos e autorais que ampliaram o rol de
instrumentos para o ensino de Geografia, ultrapassando os livros didáticos e as atividades prontas,
viabilizando a existência de atividades em coerência com a orientação metódica/metodológica
assumida, contemplando também, portanto, a dimensão formativa e criativa/autoral. Ressalta-se
esse fato, na medida em que constitui-se enquanto grande problemática da prática do ensino a
restrita reprodução dos conteúdos dispostos no livro didático e/ou nas diretrizes básicas. Esse
processo, sob as sombras que o conforto lhe oferece, elimina a necessidade da formação continuada
requisitada na responsabilidade de transmissão de ampla gama de conteúdos, e restringe a
criatividade autoral, enquanto instrumento formativo, do processo educativo. Assim, a produção dos
materiais didáticos utilizados na escola utilizou-se da consulta a livros didáticos, da pesquisa na
internet de vídeos, reportagens, de imagens diversas (desde fotos aéreas à imagens de produtos e
processos industriais) e da pesquisa no Google Earth.
Seguem dispostos em tópicos os Materiais Didáticos Produzidos pelos estagiários:
Atividade sobre a presença da indústria no cotidiano e sua classificação por tipo de
produtos;
Atividade sobre o que as indústrias precisam para produzir;
Mapa com a distribuição das principais indústrias na cidade de Uberlândia;
Imagem da distribuição espacial da Ambev S.A. em Uberlândia e sua comparação com o
tamanho do Parque do Sabiá, um Parque Ecológico do município conhecido dos moradores
da cidade, sendo os mesmos de tamanhos similares e de grandes dimensões;
Texto descritivo sobre as características da Ambev S.A. em Uberlândia;
Avaliação dos conceitos fundamentais trabalhados em aula.
A seguir estão dispostos dois exemplos dos materiais utilizados e produzidos para trabalhar
os conceitos fundamentais de indústria com os alunos das séries iniciais:
Figura 1 - Material produzido pelos estagiários Larissa Arvelos e Gledmar Pires de Moura
direcionado aos alunos das séries iniciais em Geografia no sentido de identificarem os processos
necessários a produção industrial.
Figura 2 – Imagem do Google Earth (2010) com as comparações das dimensões entre a
fábrica de cervejas AMBEV S.A instalada em Uberlândia, área do Parque do Sabiá, Bairro Dom
Almir, em destacque na imagem aérea.
Com a temática que nos foi orientado a trabalhar, a saber, “A indústria em Uberlândia”
realizamos o sequencial trabalho educativo na escola com vistas a compreensão critica da atividade
insustrial. As regências de aulas foram realizadas em dois dias, correspondentes a quatro aulas de
50 minutos. Nas primeiras duas aulas realizadas na data 18/06/2015 com duração de 1h e 40
minutos trabalhamos com os alunos a conceituação básica do que é a indústria e a sua estruturação
no espaço geográfico de Uberlândia. Na segunda aula, realizada na data 25/06/2015 com a
respectiva duração, trabalhamos com o seguinte tema: a atividade industrial no município de
Uberlândia e as suas consequências sócio-espaciais e posteriormente realizamos a avaliação dos
alunos.
Durante o encontro pedagógico com os alunos com objetivo de promovem o Ensino e
Aprendizagem em Geografia realizamos o trabalho com os alunos de compreender a conceituação
básica do que é a indústria e sua importância, entendendo-a como uma atividade econômica que se
realiza no espaço e transforma matérias-primas em produtos. Ressaltamos a importância de se
estudar a indústria através da sua presença no cotidiano dos alunos, dialogando a quantidade de
produtos que usamos cotidianamente. Fizemos uma classificação dos tipos de indústria e seus
respectivos produtos, conceituando-os através dos usos que lhe são próprios. Foi feito um panorama
geral dos elementos que são fundamentais para o funcionamento das indústrias, assim como
elencamos as diferentes modalidades que estão presentes na cidade de Uberlândia.
Durante as aulas foram trabalhados com os alunos a indústria como uma atividade de
produção, ou seja, a atividade que transforma alguns materiais em produtos ou mercadorias para
venda. Estabelecemos a importância de se estudar, de saber como a indústria funciona para
compreendê-la e entender sua influencia na configuração do espaço geográfico. Justificamos a
importância da indústria na subsistência de inúmeras pessoas, pois a mesma gera empregos para
muitas pessoas, mas ao mesmo tempo, problematizamos as condições de trabalho e a importância
da salubridade no ambiente de produção de mercadorias. É possível inferir que os alunos
compreenderam que a atividade industrial pode gerar muitos problemas para a vida no lugar onde
vivemos e para o planeta todo se feita de maneira desordenada e irresponsável.
Para que os alunos visualizassem tais acepções foram desenvolvidos materiais pedagógicos
para cada tema proposto. Quando estabelecemos associações da presença da indústria no cotidiano
dos alunos através dos usos que os alunos fazem de determinados produtos industrializados
realizaremos atividade ilustrativa com imagens para que os alunos reconheçam estes elementos. Ao
classificar os tipos de indústrias em Uberlândia que os alunos conhecem, consideramos os exemplos
dos estagiários, para que houvesse destaque de quais produtos elas produzem e consequentemente
de qual tipologia ela faz parte. Ao elencar os elementos que as indústrias precisam para produzir
seus produtos, tais como (matéria-prima, transportes, Instalações, mão-de- obra trabalhadores,
máquinas e equipamentos, energia e mercado consumidor) realizamos seu reconhecimento através
de atividades com imagens dos elementos das empresas em Uberlândia.
Introduzimos nos alunos o debate da temática destacada com o principio norteador do nosso
percurso didático pedagógico desenvolvido em aula, sendo estes: o que é indústria, porque é
importante saber sobre indústria, tipologia das indústrias e seus produtos, do que as indústrias
precisam para funcionarem e seus impactos. Reconhecemos com os alunos quais os elementos estão
relacionados ao funcionamento da indústria e quais eles já conhecem: através de um diálogo com a
classe na qual os alunos responderam: o que eles entendem sobre o que é uma indústria, o que essa
indústria fabrica, para que serve ou para que são usados os produtos que elas fabricam, quem
compra e usa esses produtos e quem produz esses produtos na indústria. A definição ampliada da
indústria apresentando-a como aquela que produz, fabrica, faz algum produto, assim como aquela
que não só é a fábrica ou o prédio onde se engendra os produtos, mas aquela a que estão associadas
uma cadeia de elementos que permitem que ela funcione, foi elemento conceitual primordial para
que os pequenos estudantes de Geografia entendesse a complexidade desse processo. Por fim,
concluímos junto aos alunos que é importante estudarmos sobre a indústria para saber como ela
pode favorecer ou prejudicar nossa vida e se atentar para suas modificações no lugar onde se vive.
A avaliação dos alunos foi pensada através de confecção de prova elucidativa que
contemplassem todos os conceitos trabalhados com os alunos em sala de aula. Esta avaliação foi
previamente confeccionada pelos estagiários para ser aplicada com os alunos ao término das
atividades, juntamente com uma avaliação dos alunos acerca do conteúdo ministrado. Após a
aplicação recolhemos as provas e trabalhamos com a correção das mesmas, orientados pelo gabarito
também formulado por nós para medir a aprendizagem dos alunos acerca dos conceitos trabalhados.
A catalogação do desempenho dos alunos e as respectivas notas foram entregues a professora Maria
Regina na escola. Depois do termino das atividades na escola trabalhamos com a avaliação do
trabalho desenvolvido no Estagio na Universidade, com a efetivação da socialização dessas
experiências na aula de Estagio na universidade.
Considerações finais:
Nortearemos as considerações aqui desenvolvidas pela premissa de que todo exercício é um
exercício de posicionamento, isto é, toda ação social (ação de um indivíduo interferente no interior
de um conjunto social/sociedade ou ação subjetiva não isolada), conscientemente (ou não) e
intencionalmente (ou não), representa (e implica em) um posicionamento diante do modo pelo qual
se desenvolvem as relações sociais então estabelecidas. Os ecos que ressoam dos meus pares5 sobre
a realização dos estágios na Licenciatura em Geografia parecem indicar que estes têm sido tratados
como, e somente como, o cumprimento de uma obrigação, ou mais do mesmo (por motivos que
variam desde a desvalorização da Licenciatura pelos pretensos Geógrafos Bacharéis à
desvalorização do Licenciado pelo mercado)6. Apesar disso, a experiência do estágio nos anos
5 O descrédito do ensino de Geografia não é, entretanto, uma característica exclusiva dos Discentes da instituição, sendo que mesmo
no ensino superior, isto é, no palacete de intelectuais que compõe a Universidade, o comprometimento com o ensino de Geografia é
relegado, com poucas exceções, apenas aos professores com especialização no ensino, ou seja, raramente se observa o
comprometimento de professores especializados em outras áreas da Geografia com a sua própria atividade profissional, existindo
uma parca defesa de classe entre os Docentes da Geografia. 6 Ante o desejo de que o fato não represente um quadro geral, inocentemente, acreditarei que sejam estas particularidades do estágio
supervisionado da Licenciatura em Geografia, caso isolado no interior da Universidade Federal de Uberlândia e exclusividade no
conjunto da educação brasileira.
iniciais do ensino fundamental (enquanto processo teórico metodológico de reflexão sobre o
processo educativo e enquanto processo empírico de exercício da prática) me pareceu7, como quase
nunca na graduação, coerente e formativa.
A realização do estágio é produto de uma interpretação, ou melhor, a forma como se
desenvolve o estágio é resultante de uma visão de mundo, concatenada a uma leitura de ser humano,
educação, sociedade, dentre outros. Assim, os diferentes processos envoltos no conteúdo do estágio
são diferentemente interpretados de acordo com a leitura/visão/interpretação que se faz do
mundo/ser humano/educação/sociedade. Acresce-se que este fato vale também para outras
disciplinas e, apesar disso, o particularizamos aqui por que o estágio nos parece particularmente
perigoso8. O ‘perigo’, no caso do estágio em questão, é a possibilidade, sentida durante sua
realização de sua prática, na formação de seres humanos, digo, o seu potencial formativo, e logo,
transformador.
A parte prática do estágio, é extremamente complexa, trata-se de um exercício de
transmissão de determinado conteúdo proposto/discutido/teorizado, ao qual se deve atentar para o
debate epistemológico e teleológico precedente sobre o ato de ensinar e para a premente divergência
existente entre o método e a metodologia na hora do ensino, ou seja, a possível incoerência entre
uma postura metódica enquanto declaração (ou auto reconhecimento) em contradição com sua
expressão ou prática, isto é, a diferença entre a prática na teoria (ou estudo/conteúdo da prática) e a
teoria na prática (ou prática do conteúdo/estudado)9.
Nesse sentido, a preocupação com a dimensão formativa a partir da escolha de uma
transmissão crítica de um conteúdo importante e até então desconhecido (ou a tentativa de
desenvolvimento de atividades na zona proximal, em Vigostky), nos faz afirmar que a prática do
7 Alguns trechos das considerações finais, por acreditar que este tópico deve representar concepção sobre o trabalho desenvolvido no
estágio e porque algumas das práticas serão menos descaracterizadas e melhor expressas, considerando a dificuldade de expressar os
rebatimentos resultantes em nós dessas práticas sobre a forma escrita, ainda maior sobre o padrão de escrita científica, serão
intercaladamente escritos em reflexões corroboradas pelos dois autores, assim como se faz nesse mesmo momento, fato que diverge
da normativa dos trabalhos científicos, e por isso a prévia justificativa. Além disso, a ciência não tem sido gloriosa na tarefa de
transformar a sociedade, quiçá algumas teimosias na sua prática podem, ao menos, ser provocativas. 8 Essa particularidade poderia ser também expressa por uma das frases estancada nos muros de Paris em maio de 1968, “O que nós
queremos é que as idéias voltem a ser perigosas” (desde que consideradas as idéias como produtos da materialidade), ou também
pelo que certamente diria Riobaldo Tatarana, o Urutú Branco, “viver é muito perigoso !” (Lema de Grande Sertão: Veredas – João
Guimarães Rosa. Desde que considerada a literatura como um produto da realidade concreta). Apesar disso não às reproduzirei no
corpo do texto porque não quero parecer pós-moderno. 9 Acreditamos que essa divisão Aristotélica entre teoria e prática deve ser abolida juntamente com a sua criadora, a mais
elementar das divisões do trabalho, a divisão entre trabalho intelectual (não manual ou ideal) e trabalho material
(manual), assim que as condições de produção da vida permitirem uma inserção não particularizada (ou não
especialização) nas relações sociais de produção, ou melhor, essa divisão deverá abolida assim que a divisão do trabalho
for abolida.
estágio é também um exercício de posicionamento (tal como se requisita na premissa). Esse
posicionamento, no entanto, só se faz possível com uma sustentação teórica também crítica. No
estágio, essa sustentação se fez por meio de subsídio teórico metodológico prévio, adotando como
procedimento a reflexão sobre o processo educativo, sobre o ensino e sobre o conteúdo do ensino, e
a crítica á sua configuração eclética.
A importância desse procedimento teórico metodológico reside na possibilidade criada de
realização de uma prática ‘tal como ela pode ser’, ou seja, potencialmente divergente da proposta
formal. Esse procedimento foi, pois, a base para o posicionamento adotado na abordagem do
conteúdo da prática do estágio, e o pilar da tentativa de exercício da dialética. É como
posicionamento e divergência, portanto, que resiste arrefecido no complexo liame entre as
Diretrizes Gerais estabelecidas nos planos da educação, a factual prática docente nas escolas de
ensino básico e o estudo desse processo na Licenciatura do ensino superior, sendo desconsiderado
no ‘solo fixo do real’ mesmo pelos crítico-reprodutivistas em suas avançadas análises da ideologia
dominante no modo de produção capitalista e considerado somente no lado oculto da lua (onde,
curiosamente, a Terra não produz sombras), e que, no entanto, insurge inapagado e ‘desmanchando
no ar’ os crivos da lápide10 que enterra a educação escolar, é, contudo, assim que resiste o frondoso
exercício da dialética.
Referencias Biliográficas
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referência curricular. In: Parâmetros curriculares nacionais: terceiro e quarto ciclos do ensino
fundamental: introdução aos parâmetros curriculares nacionais. Brasília, MEC/SEF: 1998, p. 71-81.
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DUARTE, N. Concepções afirmativas e negativas sobre o ato de ensinar. Cad. CEDES,
Campinas, v. 19 n. 44, p. 85-106, 1998
DUARTE, N. A individualidade para-si (contribuição a uma teoria histórico-social da
formação do indivíduo). Campinas, Autores Associados, 1993.
10 “We don't need no education/ We dont need no thought control/ No dark sarcasm in the classroom/ Teachers leave
them kids alone/ Hey! Teachers! Leave them kids alone!/ All in all it's just another brick in the wall/ All in all you're
just another brick in the wall”
FEGEPRO. A Geografia: bom dia para o mundo. Supplément au feuillet d'information de la
Fegepro, Bruxelles, n.o 71, mai-juinl1986. Tradução para fins. (1986).
GÓMEZ, A. I. Pérez. As funções sociais da escola: da reprodução à reconstrução crítica do
conhecimento e da experiência. In: SACRISTÁN, J. Gimeno e GÓMEZ, A. I. Pérez.
Compreender e Transformar o Ensino. 4 ed. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SAVIANI .D. Pedagogia histórico-crítica: Primeiras aproximações. 5ª ed. São Paulo, Autores
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OLIVEIRA, U. A. Geografia e ensino: Parâmetros Curriculares Nacionais em discussão. In:
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