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1 UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE IPORÁ LICENCIATURA EM GEOGRAFIA RICARDO DE OLIVEIRA SILVA O TRABALHO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA PERSPECTIVA DE COMBATE AO BULLYING IPORÁ 2011

O Trabalho Do Professor de Geografia Na Perspectiva de Combate Ao Bullying

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    RICARDO DE OLIVEIRA SILVA

    O TRABALHO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA

    PERSPECTIVA DE COMBATE AO BULLYING

    IPOR

    2011

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    UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIS

    UNIDADE UNIVERSITRIA DE IPOR

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    RICARDO DE OLIVEIRA SILVA

    O TRABALHO DO PROFESSOR DE GEOGRAFIA NA

    PERSPECTIVA DE COMBATE AO BULLYING

    Trabalho de Concluso de Curso apresentado

    Universidade Estadual de Gois, Unidade

    Universitria de Ipor, como exigncia parcial

    para a concluso do curso de graduao em

    Geografia, modalidade Licenciatura.

    Orientadora: Prof. Esp. Ana Maria Porto

    IPOR

    2011

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    Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)

    Silva, Ricardo de Oliveira

    S 784m O trabalho do professor de Geografia na perspectiva de combate ao

    Bullying. [manuscrito]/Ricardo de Oliveira. 2011

    59f.:CD

    Referncias.

    Trabalho de Concluso de Curso (Monografia) Universidade

    Estadual de Gois, Unidade Universitria de Ipor, Curso de

    Geografia, Ipor, 2011.

    Orientador: Esp. Ana Maria Porto.

    1. Educao. 2. Geografia. 3. Diferenas. 4. Bullying. I Ttulo.

    CDU: 85.08

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    Dedico

    Quero dedicar esse trabalho a todos que

    acreditaram em sua realizao. Em especial

    minha famlia, que sem o apoio no teria

    conseguido seguir em minha caminhada.

  • 6

    AGRADECIMENTOS

    Quero agradecer a todos que tornaram possvel a realizao desse trabalho:

    A Deus, pela inspirao na escolha da temtica.

    minha orientadora, prof. Ana Maria, pelo compromisso e pelo profissionalismo

    em todos os momentos em que necessitei, no apenas de apoio, mas de um caminho para

    seguir sem fracassar.

    Aos pais, alunos, professores e diretores das escolas onde a pesquisa se realizou.

    Aos colegas, funcionrios da UEG e professores do curso de Geografia, pelo apoio

    quando precisei.

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    No so a morte, o sofrimento ou a perda

    que nos roubam a fora: so o medo da

    morte, o medo da dor e o medo da perda

    que transformam os manipulados em

    vtimas e os manipuladores em terroristas.

    Sharif M. Abdulah

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    RESUMO

    O presente estudo tem como temtica o papel do professor de Geografia no combate ao

    bullying na escola a partir do reconhecimento do que sejam os conceitos de diversidade e

    pluralidade cultural, considerando a necessidade de um trabalho que se volte, essencialmente

    ao reconhecimento do multiculturalismo como parte inerente do contexto escolar. Discute-se

    no trabalho os conceitos de bullying a partir do reconhecimento de que este um fenmeno

    que surge a partir da no compreenso de que o Outro pode ser diferente e que deve ser

    respeitado. O bullying tem sido visto como uma manifestao de intolerncia que tem tomado

    conta dos ambientes sociais e principalmente, tem dificultado os processos de ensino e

    aprendizagem dentro da escola. Nesse aspecto aborda-se tambm o papel do professor de

    Geografia e como este pode fazer do espao da sala de aula um local de respeito,

    principalmente pelo prximo. O estudo teve como metodologia a reviso bibliogrfica cujo

    suporte se deu com a leitura de autores que versam sobre a pluralidade e diversidade cultural,

    tais como Arajo (2008), Arendt (1993), Canen (2007) que dentre outros aborda as questes

    voltadas para o multiculturalismo. A violncia na escola e o bullying apresentado por Fante

    (2005), Ferreira e Alves (2009) que discutem como esses fatores afetam o desempenho

    escolar. No que diz respeito ao ensino de Geografia voltado para a perspectiva da

    multiculturalidade, cita-se os Parmetros Curriculares Nacionais de Geografia, Costa (2009),

    Maral (2009) e Cavalcanti (1998). Alm da reviso bibliogrfica foi feita uma pesquisa

    campo em duas escolas pblicas da cidade de Ipor tendo alunos, pais e professores como

    sujeitos e a aplicao de questionrios como instrumentos. O estudo encontra-se dividido em

    trs captulos sendo que os dois primeiros apresentam o discurso dos autores e o terceiro

    procura associar o que estes dizem prtica que pode ser verificada.

    Palavras-chave: Educao; Diferenas; Bullying na escola.

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    SUMRIO

    INTRODUO ---------------------------------------------------------------------------------- 10

    1. CONCEITOS E PERSPECTIVAS DA DIVERSIDADE E DO

    MULTICULTURALISMO -------------------------------------------------------------------- 12

    1. 1 Educar para a diversidade: fatores scio-culturais da convivncia humana ---- 12

    1.2 Os significados da Pluralidade Cultural numa abordagem educativa ------------- 15

    1. 3 A formao do indivduo e a educao na formao de valores -------------------- 20

    1.4 A importncia da interao familia, escola e sociedade no combate ao Bullying 22

    1.5 O Bullying e seus conceitos como resposta no aceitao da diversidade ------ 25

    2.ENSINO DE GEOGRAFIA SOB A PERSPECTIVA DA PLURALIDADE E DA

    DIVERSIDADE CULTURAL ----------------------------------------------------------------- 30

    2. 1 Geografia Escolar e ensino de cidadania: passos fundamentais para a educao

    voltada para a diversidade e pluralidade cultural ----------------------------------------- 31

    2. 2 Como o professor de Geografia pode combater a violncia escolar e em especial, o

    Bullying ------------------------------------------------------------------------------------------- 34

    3.AS VISES E OS DISCURSOS SOBRE A VIOLNCIA E O BULLYING: A

    REALIDADE VIVENCIADA COMO OBJETO DE ANLISE ------------------------ 37

    3. 1 Como a famlia v a violncia escolar e o bullying ----------------------------------- 38

    3. 2 Os alunos e seus discursos diante da violncia escolar e o bullying --------------- 43

    3. 3 O discurso dos professores em relao ao ensino voltado para a diversidade e o

    combate ao bullying ----------------------------------------------------------------------------- 52

    CONSIDERAES FINAIS ------------------------------------------------------------------ 55

    REFERNCIAS ---------------------------------------------------------------------------------- 57

    ANEXOS

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    INTRODUO

    A pesquisa proposta objetiva as relaes que se constroem na escola atual

    considerando os pressupostos da diversidade cultural e do discurso multicultural. Nesse

    sentido, como premissa de investigao responder problemtica que se impe na seguinte

    questo: como a escola lida com a pluralidade e quais so os desafios que esta enfrenta no

    sentido de educar para a diversidade, ou seja, como preparar o indivduo para a vida social

    levando-se em conta as situaes onde no se deve imperar o preconceito ou a discriminao.

    Insere-se na proposta de estudo os problemas advindos da intolerncia

    diversidade e discute-se, principalmente o bullying como uma das grandes temticas a serem

    discutidas e combatidas no mbito escolar e social. A pesquisa se prope a investigar como se

    constroem as relaes sociais na escola, partindo dos conceitos de diversidade, pluralidade e

    multiculturalidade.

    Vale ressaltar os principais problemas gerados pela no compreenso da

    diversidade cultural, conceituar o que seja bullying e como estas aes interferem no conceito

    de multiculturalidade, apontar possveis solues para os desafios de se educar para a

    diversidade.

    O presente estudo tem a sua relevncia pautada na considerao de que o

    reconhecimento do Outro como ser nico e diverso o primeiro passo para uma educao de

    valores e de qualidade. A efetivao da pesquisa foi a reviso bibliogrfica aliada a uma

    pesquisa de campo para que se pudesse construir dados necessrio para a compreenso da

    dimenso social inerente ao conceito de diversidade cultural e pluralidade.

    Foi considerada muitas literatura que versa sobre a diversidade cultural, bullying

    e seus problemas, contando tambm com os textos voltados para o ensino de Geografia e

    como o professor dessa disciplina pode organizar o seu trabalho e contribuir para o combate

    violncia escolar.

    Desse modo, o estudo se estrutura, onde discute os conceitos e diversidade,

    pluralidade cultural e multiculturalidade, bem como aborda o espao geogrfico e como

    professor de Geografia compreende e analisa o ensino para a diversidade como forma de

  • 11

    combate violncia em sala e aula, citando o bullying e ao estudo feito em campo,

    considerando duas escolas pblicas da cidade de Ipor e tendo como sujeitos, pais,

    professores e alunos das referidas com a inteno de conhecer a realidade vivenciada no

    contexto escolar e apontar as possveis solues para os problemas representados pela

    violncia e seus desdobramentos na vivncia social do indivduo.

  • 12

    1. CONCEITOS E PERSPECTIVAS DA DIVERSIDADE E DO

    MULTICULTURALISMO

    1.1 Educar para a diversidade: fatores scio-culturais da convivncia humana

    A educao que se tem na atualidade parte da premissa de que uma pessoa no

    igual outra, pois a sua individualidade se constri na considerao de sua cultura e de seu

    contexto social. Nesse sentido, o ato de ensinar se configura a partir dos conceitos de

    pluralidade, diversidade cultural e multiculturalismo. Este ltimo pode ser conceituado de

    diversas formas, mas para o estudo que se prope, considera-se a relao de culturas e

    indivduos dentro de um mesmo contexto.

    O ponto de partida para a existncia da diversidade a identidade que o individuo

    constri dentro do seu contexto social. Desse modo, tem-se a perspectiva de que:

    Ao lidar com o mltiplo, o diverso e o plural, o multiculturalismo encara as

    identidades plurais como a base de constituio das sociedades. Leva em

    considerao a pluralidade de raas, gneros, religies, saberes, culturas, linguagens

    e outras caractersticas identitrias para sugerir que a sociedade mltipla e que tal

    multiplicidade deve ser incorporada em currculos e prticas pedaggicas. (CANEN, 2007, p. 94)

    No entanto, deve-se levar em conta que as identidades plurais no so construdas

    ao acaso, como se insiste em crer em uma educao homogeneizadora e cartesiana. A

    identidade, no discurso de Canen (2007) se constri na premissa de que esta, em sua essncia,

    inacabada. O indivduo a constri e a reconstri a cada dia, mediante o convvio com o

    Outro, que aqui se coloca em relao alteridade, e suas relaes sociais. Assim, a escola que

    v a identidade do sujeito como algo j construdo ou moldado tem a pretenso de adotar a

    postura que segrega e particulariza classes ou setores.

    Ressalta-se que, no plano cultural os indivduos e seus grupos sociais enfrentam o

    desafio da diversidade, isso porque, com a ampliao das relaes que se fazem tambm no

    plano virtual, h uma maior convivncia com as diferenas, com os modos de ser e fazer de

    cada grupo social, de cada pessoa, a forma como estas vem o mundo e agem nele.

  • 13

    Mediante essa perspectiva, tem-se o discurso de Lopes (2011) que discorre que a

    partir da alteridade, sugere-se o reconhecimento de uma necessidade profcua de uma abertura

    maior ao dilogo, previsto, principalmente no que diz respeito s diferenas interculturais. O

    discurso da igualdade e da unidade tnica pauta-se principalmente na banalizao das relaes

    sociais onde o conceito de homogeneizao est imbudo no comportamento que se verifica

    ou nas aes que so construdas no contexto histrico de uma sociedade que, basicamente se

    formou sobre o preconceito, a discriminao e a no considerao da alteridade.

    necessrio que se compreenda que o reconhecimento da diversidade cultural

    no um processo fcil e por isso, no campo educacional visto como um desafio a ser

    superado. Nesse aspecto inserem-se as particularidades de gnero, religio, profisso, gostos e

    escolha, alm dos aspectos conceituais de multiculturalidade e pluralidade. No debate que se

    constri entre escola e sociedade coloca-se em discusso o multiculturalismo em

    contraposio ao monoculturalismo.

    De um lado, a viso essencialista, universalista, igualitria do monoculturalismo

    corre o risco de legitimar a dominao de um projeto civilizatrio frente s minorias

    culturais. De outro lado, a multiculturalidade, ao enfatizar a historicidade e uma

    viso relacional inerentes construo das identidades culturais, permite pensar alternativas para os diversos grupos sociais; mas tambm pode justificar a

    fragmentao ou guetos que reproduzem desigualdades e preconceitos. (LOPES,

    2011, p.2)

    O discurso de Lopes (2011) coloca em evidncia a preocupao ressonante que

    lana a questo para alm da viso monocultural e multicultural das relaes sociais e

    consequentemente do que se cognomina de diversidade e pluralidade cultural. Assim, estes

    conceitos possuem a premissa de buscar e desenvolver estratgias que objetivem a construo

    do que chama de identidades particulares e diferentes ainda que possam sustentar uma

    interrelao crtica e solidria.

    Citando autores pesquisados, dentre eles Lopes (2011), Arendt (1993) possvel

    perceber que a base para a compreenso dos conceitos e pressupostos da diversidade cultural

    o dilogo. por meio do estabelecimento de uma cultura de anlise, de trocas, de

    considerao de que no h uma raa superior ou uma etnia inferior, que um costume que se

    considere estranho no pode ser a porta de entrada para o estranhamento, isso porque em uma

    remisso histrica possvel perceber a falta que o dilogo faz na compreenso do Outro

    como uma extenso do Eu individual.

    A questo da diversidade cultural alcanou a escola com a justificativa de que o

  • 14

    ato de educar inerente ao fazer humano e por isso a educao exerce um papel considerado

    fundamental para que se possa compreender as particularidades da realidade social, onde os

    saberes se construam a partir do reconhecimento de que a sociedade , por natureza,

    multicultural e que por isso, cada sujeito que nela vive deve ter a premissa de aprender a

    conviver com o Outro em uma busca conjunta.

    Tendo como ponto de partida esse enfoque a cultura passa a representar um dos

    elementos essenciais do mundo moderno. Assim, a cultura central no porque ocupe um

    centro, uma posio nica e privilegiada, mas porque perpassa tudo o que acontece nas nossas

    vidas e todas as representaes que fazemos desses acontecimentos. (VEIGA-NETO, 2003,

    p.6).

    Na compreenso da diversidade cultural necessrio que os sujeitos

    multiculturais tambm compreendam os conceitos de cultura, para que esta possa de fato ser o

    ponto de partida para a construo ou abstrao da dimenso do que realmente seja a

    pluralidade e diversidade cultural. Nesse sentido, tem-se a cultura conceituada como ou

    caracterizada como toda a criao humana, ao que Lima (2001) denomina como parte

    essencial da natureza humana, uma vez que o homem cria conhecimento que por sua vez pode

    ser constitudo em sua organizao, compartilhado de forma comunitria e transmitido

    indefinidamente.

    Postula-se ainda, que no se pode considerar que a cultura seja apenas um nfimo

    conceito que se limite a uma matriz lxica, mas deve se derivar do cuidado do homem com a

    natureza, com a sua alma e a do outro, com as crianas e o que est sendo feito em prol delas.

    Considera-se que a cultura seja tudo o que se refira aos costumes, as tradies

    pessoais e sociais, o que diferencia um povo de outro, a lngua, a raa, a religio e tudo que

    represente os significados da diversidade humana e que torna o sujeito culto, ou seja,

    repleto de cultura.

    Ser culto no ter escolaridade simplesmente, mas sim, ser voc mesmo

    preservando seus valores, seus costumes, falando a sua lngua e apreciando as

    diferenas, amando e respeitando a si e seus semelhantes. O ensinar/aprender est

    presente em todos os momentos da vida do homem. com a capacidade de criar,

    recriar, atribuir que o homem molda seus valores ao longo de sua existncia, porque

    ele est em constante transformao. (LIMA, 2001, p. 4)

    Em sua matriz etimolgica, o termo multiculturalidade faz remisso ideia de

    muitas, diversas culturas. Uma educao multicultural isso, so aes voltadas para essa

    gama cultural que compem o fazer e o estar em sociedade inerente ao homem.

  • 15

    Embora somente aps os movimentos em direo ao mundo globalizado que a

    questo da diversidade cultural tenha entrado em debate, j na perspectiva freireana, havia

    uma preocupao com o educar para a diversidade, considerar o que diferenciava um sujeito

    do outro, ou seja, a sua alteridade. Segundo Freire, citado por Souza (2002), em seu discurso

    procurou demonstrar sua preocupao com a educao diante de uma perspectiva

    sociocultural, sendo esta instrumento e atividade bsica prevista para o desenvolvimento do

    fazer cultural do indivduo, e desse modo, colocada como uma ao capaz de efetivar a

    democracia na sociedade, principalmente, ao se considerar os diferentes sujeitos, e

    principalmente os populares.

    A fala de Souza (2002) coloca em evidncia j a preocupao de transformar a

    educao em uma atividade cultural que seja produzida pelo fazer diferente e diferenciado.

    Nesse sentido, a temtica da Pluralidade Cultural se justifica na considerao de que viver em

    sociedade ou at mesmo buscar uma vida democrtica deve se basear no respeito s

    diferenas culturais. Considera-se que no mbito social brasileiro, um dos maiores desafios

    seja a superao da discriminao e o papel da escola o de revelar a riqueza que a

    diversidade cultural traz imbuda de significados e simbologias prprias e particulares.

    1.2 Os significados da Pluralidade Cultural numa abordagem educativa

    Na discusso sobre Pluralidade Cultural, diversidade ou multiculturalidade

    necessrio que se destaque o ensino intercultural no pode ser relegado ou ministrado como

    uma disciplina isolada. Esse aspecto mais uma srie de aes a serem desenvolvidas na

    escola do que uma fragmentao de saberes. Desse modo,

    a educao intercultural, no sendo uma disciplina, coloca-se como uma outra

    modalidade de pensar, propor, produzir e dialogar com as relaes de aprendizagem,

    contrapondo-se quela tradicionalmente polarizada, homogeizante e universalizante.

    (FLEURI, 2003, p. 73)

    O crescimento cultural do indivduo e sua constituio enquanto pessoa se d

    apenas depois que h a considerao do Outro como uma extenso de seu Eu. Filosoficamente

    falando, isso recai na premissa de que no se deve fazer ao outro o que no se quer que seja

    feito a si mesmo. Esse pensamento recai na perspectiva de considerar a diferena como forma

    de complementao cultural. Ora, as opes de gnero, credo, as raas to diversificadas

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    que d sentido existncia humana, pois, querer que todos sejam belos, brancos, de olhos

    claros, somente se configura em uma falsa imagem de raa pura.

    Considera-se que a conscincia da pluralidade de culturas o passo dado em

    direo ao reconhecimento, respeito e novas formas de observar as diferenas que compem a

    cultura. Mediante isso que se coloca a educao, no sentido de se enquadrar como

    necessrio um comportamento de fato conscientizador e no apenas sob esse aspecto.

    O professor tem que compreender que inaceitvel sua condio formadora

    qualquer movimento de aceitao ao comportamento discriminatrio, racista ou segregador

    que se detecte na escola ou at mesmo fora dela. Espera-se como comportamento mnimo,

    uma atitude de repdio aos comportamentos, passados ou atuais, que representem a falta de

    respeito pelo que o Outro representa mediante a sua cultura.

    Arendt (1993), ao discutir educao e educao multicultural afirma que:

    A educao o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele e, com tal gesto, salv-lo da runa que seria

    inaceitvel no fosse a renovao e a vinda dos novos e dos jovens. (ARENDT,

    1993, p. 240)

    Assumir a responsabilidade sobre a compreenso do que seja realmente

    multiculturalismo a temtica recorrente dos Parmetros Curriculares Nacionais, que

    possuem como premissa inicial o objetivo de incorporar o cotidiano social e cultural vivido e

    transp-lo para o cotidiano escolar. Assim, a perspectiva dos PCN (BRASIL, 2002) tenta

    imprimir no professor e no aluno uma concepo diferenciada que permita que este

    compreenda as culturas que os cercam, alm de conceber uma viso de mundo pautada na

    cidadania e no respeito pelas particularidades de cada um.

    No que diz respeito pluralidade cultural os temas que compem os PCN podem

    ser considerados como inovadores, pois apresentam conceitos afirmativos sobre a diversidade

    cultural e a coloca no patamar de riqueza humana a ser explorada, transformando-se em fonte

    de conhecimento e um rico material a ser usado nas aes educativas.

    Embora os Parmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2002) apresentem a

    Pluralidade Cultural como um dos temas transversais, estes devem perpassar por todas as

    outras reas do conhecimento, isso porque, segundo o documento, papel da escola buscar o

    desempenho mximo nesse processo:

    Em primeiro lugar, porque um espao em que pode se dar a convivncia entre

    estudantes de diferentes origens, com costumes e dogmas religiosos diferentes

    daqueles que cada um conhece, com vises de mundo diversas daquela que

  • 17

    compartilha em famlia. Nesse contexto, ao analisar os fatos e as relaes entre eles,

    a presena do passado no presente, no que se refere s diversas fontes de que se

    alimenta a identidade ou as identidades, seria melhor dizer imprescindvel

    esse recurso ao Outro, a valorizao da alteridade como elemento constitutivo do

    Eu, com a qual experimentamos melhor quem somos e quem podemos ser.

    (BRASIL, 2002, p. 6)

    O trabalho com a diversidade justificado nos PCN pela afirmao de que a

    criana, no ambiente escolar convive com a diversidade e como tal pode fazer desses

    momentos uma ao de aprendizagem. Assim, parte-se do pressuposto de que as

    singularidades presentes nas caractersticas culturais, de etnias, de regies ou at mesmo de

    famlias, podem ser melhor percebidas quando o ensino as coloca junto.

    Freire (2001), ao discutir o papel que a escola deve assumir diante da sociedade

    argumenta que:

    A escola de que precisamos, assim viva, assim democrtica, no escola que

    aparece por acaso. Sobretudo no escola que funcione por acaso. Aqui, tambm, o

    nosso grande problema o de passagem ou trnsito da escola livresca e

    antidemocrtica para a escola democrtica, formadora de hbitos de trabalho, de

    participao, de crtica, de solidariedade, com que o nosso educando, desenvolvendo

    a sua dialogao, se integre, com autenticidade, no clima cultural que ora vivemos.

    (FREIRE, 2001, p.98)

    A multiculturalidade no pode ser considerada como um fenmeno isolado da

    diversidade. No discurso de Garcia (2001), h a perspectiva de que a escola exerce um papel

    ambguo mediante as diferenas culturais, uma vez que se verifica uma falta de articulao

    entre o discurso e a prtica, tendo esta ltima se configurado como expresso do sistema, que

    prega pelo exerccio da multiculturalidade e pratica a segregao social. Portanto no se

    trata, apenas de considerar o diferente, mas de consider-lo acrescido das relaes

    assimtricas de poder. ( p. 44)

    Assim, a considerao de que os diversos conflitos que norteiam a vida social

    sejam estes de origem cultural, econmica ou poltica, coloca a educao diante do

    enfrentamento desses problemas. Nesse sentido o discurso dos autores pesquisados coloca

    frente a necessidade de promover uma educao que de fato possa ser considerada como

    libertadora fundamentada na necessidade de se vencer desafio.

    Desse modo, a educao no se coloca como uma ao isolada no processo de

    reconhecimento da diversidade cultural, mas assim como a cultura acaba por sofrer o impacto

    da nova sociedade que se configura, a educao tambm passa por essas divergncias.

  • 18

    Afirmar o direito diferena e identidade um dos mais importantes imperativos

    da luta pela dignidade humana. Trata-se de um direito to fundamental quanto o

    direito igualdade de oportunidades socioeconmicas - mas diverso e, muitas vezes,

    de carter coletivo. No sistema educacional importante transmitir a histria da

    conquista desse direito pela humanidade (uma conquista ainda em processo, muito

    mais terica do que efetiva, como, infelizmente, o mostram os mltiplos conflitos

    tnicos e guerras do mundo atual). (LIMA, 2001, p.4)

    O direito diferena e identidade que faz da sociedade uma composio

    multicultural. Fazer com que o indivduo consiga conviver com diferenas, o grande desafio

    da educao moderna. Os primeiros passos foram dados com a incluso, ainda que esta tenha

    que se estender para as esferas sociais, pois o pas ainda se encontra distante de um modelo

    social onde o sujeito portador de qualquer necessidade especial, ou que pertena s minorias

    econmicas e tnicas, possa de fato se denominar como parte da sociedade e como tal, que

    emita opinies e que participe efetivamente de suas transformaes. Destaca-se que o

    histrico da no compreenso do campo das diferenas no Brasil, no se dirige apenas ao

    negro ou aos ndios, mas, infelizmente, a todos que fujam do padro escolhido para ser

    seguido por uma parcela da sociedade.

    Ainda em referncia ao conceito de diversidade cultural, tem-se na perspectiva de

    uma educao intercultural como uma referncia aos fenmenos de interao, reciprocidade,

    interdependncia e intercmbio de aes que possuem a premissa de reger as relaes

    culturais que perfazem o domnio das relaes. Nesse sentido, compreende-se a educao

    como vetor de valores e partindo da que podem surgir os possveis projetos de trabalho

    voltados para um ensino multicultural que possa, de fato, garantir a dignidade pessoa que se

    constri dentro de seus espaos.

    Lidar com a pluralidade cultural no fcil, pois a atitude de reconhecer no Outro,

    a extenso de seu prprio Eu, ou reconhecer que o outro possui suas particularidades que os

    tornam diferentes, vai contra muito dos valores que foram perpassados em uma educao de

    outrora. Conceitos, comportamentos, atitudes e vises no so denominados apenas no espao

    escolar, mas tambm e principalmente dentro do espao social que o aluno ocupa.

    Desse modo, no so apenas os comportamentos vistos em sala de aula que

    devem ser discutidos e analisados, mas o debate sobre o que seja pluralidade cultural e como a

    sociedade se constri deve perpassar os muros da escola, e atingir, principalmente a casa dos

    alunos, onde se d a formao dos primeiros conceitos de respeito pela diversidade.

    necessrio que se destaque tambm a problemtica advinda da padronizao

    cultural, principalmente a que se impe pelos meios de comunicao. Essa padronizao

    acaba responsvel pela excluso dos que no se integram a ela, o que acaba por gerar os tipos

  • 19

    de comportamentos que so definidos pela no aceitao das limitaes, diferenas e

    diversidade cultural.

    Marin (2004) alerta para o fato de que a padronizao cultural facilmente

    percebida por meio da insistncia que se tem de assumir padres que no fazem parte da

    cultura natural de um povo, citando como exemplo a americanizao dos costumes. Segundo

    o autor: [...] Atualmente, a americanizao o aspecto mais grotesco e o mais caricato desse

    processo, no qual o sistema capitalista, em sua expanso, transforma tudo o que toca em

    mercadoria, no seu trnsito do desenvolvimento industrial industrializao da cultura. (p.

    152)

    Em uma anlise cultural mais aprofundada possvel perceber que essa

    padronizao acaba por se tornar responsvel pela recorrncia de comportamentos violentos

    por parte do indivduo que no compreende como o Outro no faz parte desses padres a

    ser seguido. A partir da surgem os rtulos, as brincadeiras, principalmente as que envolvem

    gneros, e mais adiante o prprio comportamento extremamente agressivo, voltado para a

    violncia.

    Na questo da diversidade cultural, o comportamento padronizado desumaniza as

    relaes sociais, ora, ningum deseja ser tratado como um modelo de produo cuja

    identidade se constri apenas com um nmero. E embora no deseje ser apenas mais um

    boneco cultural, o indivduo acaba optando pela padronizao cultural porque cr que a

    formao de pequenas tribos com comportamentos iguais possa ser um modo de se afirmar

    dentro da diversidade cultural inerente ao seu ambiente social.

    Acredita-se que o homem no esteja pronto nunca. Em constante processo de

    construo este tem a premissa de se modificar e de modificar suas aes durante todo o

    perodo de sua vida. Por ser inacabado o homem tambm considerado como incompleto, o

    que na educao acaba por refletir no modo com que este veja o mundo e seu entorno, os

    aspectos sociais, o ser humano e sua cultura.

    Somente os seres que podem refletir sobre sua prpria limitao so capazes de

    libertar-se desde, porm, que sua reflexo no se perca numa vaguidade descomprometida, mas se d no exerccio da ao transformadora da realidade condicionante. Desta forma, conscincia de e ao sobre a realidade so

    inseparveis constituintes do ato transformador pelo qual homem e mulheres se fazem seres de relao. (FREIRE, 2002, p.78)

    No se pode esquecer tambm que no apenas a escola responsvel pela

    formao cultural do indivduo. Assim, a famlia vista como um dos primeiros agentes

  • 20

    socializadores da criana. Nela, so construdas as vises e os smbolos que a criana usar

    para construir a sua percepo de mundo e de sociedade. Ao oferecer condies para que a

    criana construa o seu contexto e compreenda que a escola outra realidade, mas faz parte

    tambm desse contexto construdo, as noes de espao, pessoais e do Outro, as noes de

    respeito, pelo que seu e pelo que pertence ao Outro estaro bem internalizadas, e facilitar a

    ao da escola.

    Alega-se que as maiores dificuldades da criana quando vai escola, est no

    reconhecimento do que seja o Eu e o Outro nas relaes sociais, ou aceitar o que seja dela e o

    que seja do Outro. E nesse reconhecimento que se inserem as primeiras aes de repdio e

    estranheza respeito do que diverso de sua cultura e que tenha caractersticas particulares e

    prprias.

    1.3 A formao do indivduo e a educao na construo de valores

    Um dos maiores problemas com os quais a escola moderna tem de lidar a falta de

    capacidade que o indivduo apresenta de lidar, no apenas com a diversidade cultural, mas

    principalmente com os conflitos que surgem da convivncia com pessoas que so diferentes

    umas das outras em diversos aspectos.

    Diante dessa perspectiva, torna-se necessrio que se estabelea uma relao entre o

    desenvolvimento do sujeito e a construo de sua identidade social como forma de

    estabelecimento de valores essenciais ao convvio e por consequncia, ao combate qualquer

    forma de violncia que possa caracterizar o bullying.

    Dentre os estudiosos da formao do indivduo, ressalta-se o discurso de Vygotsky

    (apud Oliveira 1992) que aborda a construo do desenvolvimento humano a partir da

    perspectiva social. No entanto, com a perspectiva da violncia escolar, tm-se os estudos de

    Wallon (1995) que a partir das consideraes sobre a afetividade e suas influncias no

    contexto do indivduo, oferece matria para a anlise de como o sujeito se constri e constri

    suas relaes sociais.

    De acordo com Dantas (1992), para Wallon a emoo ponto de partida para a

    anlise que pode ser feita acerca do indivduo e suas relaes sociais. Assim dentro de seu

    contexto, possvel considerar que

    A emoo constitui tambm uma conduta com profundas razes na vida orgnica: os

    componentes vegetativos dos estados emocionais so bem conhecidos, e Wallon

    mergulha neles at descobrir sua origem na funo tnica. (DANTAS, 1992, p.85)

  • 21

    Wallon considera que o indivduo possa desenvolver um comportamento

    emocional a partir da interao social. Diante desse aspecto, possvel inferir que o sujeito

    que pratica bullying, seja na escola, seja em outros espaos, no possui o comportamento

    emocional bem estruturado de acordo com as necessidades da convivncia em grupo.

    A violncia tida como uma expresso da emoo. Quando o sujeito no tem a

    sua educao emocional estruturada em torno da possibilidade de existncia de conflitos, a

    emoo de manifesta de forma negativa. Acredita-se que o bullying seja uma manifestao

    negativa de emoes que no foram bem trabalhadas.

    De acordo com Dantas (1992), Wallon coloca o desenvolvimento humano a partir

    da afetividade e dessa forma, pode-se dizer que esta seja responsvel pela integrao do

    indivduo ao seu meio. Ao se romperem os laos afetivos, surgem os conflitos que, ainda que

    estejam restritos ao interior do indivduo, podem se manifestar por meio de atos de violncia

    contra seus pares.

    Alm de Wallon, as pesquisas de Piaget tambm so usadas como referncia para

    ao estudo da formao do indivduo em uma perspectiva social. De acordo com La Taille

    (1992, p.14), Piaget coloca o sujeito como um ser social e assim, defende que o ser social de

    mais alto nvel justamente aquele que consegue relacionar-se com seus semelhantes de

    maneira equilibrada. Dentro do contexto escolar, necessrio que se destaque que a

    violncia caracterizada no bullying, nada mais do que uma manifestao de desequilbrio

    por parte do sujeito ou do grupo ao qual este pertence.

    Sendo visto como um ser social, o indivduo tem papel ativo quando se determina

    a educao para os valores que decorrem na aceitao da diversidade cultural como fator

    inerente vida em sociedade. Quando se fala em educao de valores, h o reconhecimento

    da necessidade de se construir relaes a partir da interao.

    Piaget diferencia o contexto social da criana do contexto do adolescente. De

    acordo com La Taille (1992, p. 14)

    a maneira de ser social de um adolescente uma, porque capaz de participar de

    relaes como aquela descrita pela equao, e a maneira de ser social de uma

    criana de cinco anos outra, justamente porque ainda no capaz de participar de

    relaes sociais que expressam um equilbrio de trocas intelectuais.

    Os valores so considerados como a ferramenta que mais faz falta quando se

    discute o porqu do espao que a violncia est tomando dentro da sociedade, principalmente

  • 22

    dentro dos espaos escolares. De acordo com La Taille (1992), Piaget apresenta em suas

    pesquisas os conceitos do dever moral, aprendido a partir da imposio de regras e deveres

    que so impostos, primeiramente, dentro do contexto familiar e so reafirmados no ambiente

    social incluindo a escola.

    Diante da determinao do dever moral e de sua construo dentro do contexto

    social do indivduo, possvel observar que em muitas manifestaes de bullying dentro da

    escola, h uma carncia de valores que deveriam ser fundamentados na famlia.

    Um dos grandes problemas que a escola enfrenta na atualidade a falta de dilogo

    que pontue de forma efetiva quais valores sero abordados nas instituies de ensino e quais

    valores so estritamente familiares. No tocante ao bullying h uma inverso entre o que seja

    certo e errado, permitido ou proibido. A falta de limites, to necessrios formao social do

    indivduo faz com que ele se sinta no direito de resolver os seus dilemas e conflitos de forma

    violenta e quando no existem conflitos a serem resolvidos, que vejam no preconceito, nas

    piadinhas de mau gosto como uma forma de impor o seu desrespeito.

    1.4 A importncia da interao famlia, escola e sociedade no combate ao Bullying.

    possvel resolver os conflitos que se interpem na relao da sociedade, famlia

    e da escola e da compreenso do que seja Pluralidade Cultural, com atitudes que so

    determinantes para essa ao. Desse modo, se h o conflito, este deve ser analisado e

    considerado, principalmente na dimenso da aprendizagem do aluno.

    Estudos recentes realizados na Inglaterra apontam para o fato de que a famlia

    uma das grandes responsveis pelo nascimento dos denominados valentes, autores das

    situaes de bullying. Isso porque os pais geralmente incentivam os filhos a adotarem

    posturas em que se coloquem como os mais fortes, na crena de que assim possam se

    sobressair no contexto escolar.

    Registra-se que a aprendizagem torna-se mais difcil quando h conflitos a serem

    resolvidos. No tocante relao famlia, sociedade e escola, no h soluo para as diferenas

    se no h a possibilidade do dilogo.

    Quando os valores da escola coincidem com os valores da famlia, quando no h

    rupturas culturais, a aprendizagem ocorre com mais facilidade. Nas comunidades

    homogneas, em que os professores partilham os mesmos valores, linguagem e

    padres culturais dos pais dos alunos, est garantida a continuidade entre a escola e

    a famlia. (ROCHA e MACEDO, 2011, p. 23)

  • 23

    Na anlise das concepes acerca dos papeis da famlia e da escola, tem-se duas

    perspectivas distintas: uma que defende que os pais no se interessam pelo que seus filhos

    fazem no ambiente escolar, acreditando ser este um ambiente seguro, tanto para a

    aprendizagem quanto para as relaes sociais. E outra, que afirma que a escola que no

    deseja a presena dos pais em seu interior. Na conjuno destes questionamentos coloca-se a

    violncia que advm do no comprometimento, tanto da escola, quanto da famlia ou da

    sociedade com o indivduo que est sendo formado.

    No entanto, observa-se que o ponto de acordo, que a escola deve estabelecer

    parceria com a famlia e tambm com os grupos sociais, uma vez que no h como

    desvincular o processo de aprendizagem, dos processos sociais estabelecidos pela famlia.

    Os professores e os gestores das unidades escolares alimentam, ainda, a iluso de

    uma maior participao dos pais na escola, que seria resultado de uma ao

    formativa da escola em relao famlia. Centrados em uma viso escolarizada do

    problema, eles no pem em dvida o lugar construdo para e pela escola, em

    relao s demais instituies sociais, dentre elas a famlia. (FARIA FILHO, 2011,

    p.44)

    Defende-se que a relao da famlia com a escola deva ser estabelecida pela tica,

    onde os juzos de valor no tenham espao, e nem condies de se fortalecerem. Ser tico em

    relao famlia dos alunos implica no em silenciar diante dos comportamentos nocivos que

    possam causar danos fsicos ou morais aos alunos, mas ter em mente que o respeito pela

    diferena cultural que faz parte do contexto do aluno possa ser levado em conta e colocado

    como elemento primordial na ao de educar.

    Ressalta-se, mais uma vez que a ao da escola no deve ser unilateral, pois

    depende tambm da reao da famlia e da sociedade com relao ao reconhecimento de seu

    papel dentro de sua ao interventiva e no estabelecimento do dilogo que se volte,

    fundamentalmente para a compreenso da multiculturalidade.

    Desse modo, no h como se exigir que a escola dialogue se sociedade ou famlia

    no estiver pronta para o dilogo, se no seu interior as atitudes preconceituosas forem vistas

    com naturalidade. necessrio que a famlia esteja pronta para se envolver em algo to

    complexo quanto a compreenso dos fazeres educativos, mas que a sociedade tambm se

    permita o envolvimento nas questes relativas educao para a diversidade, sem no entanto

    se eximir de sua parcela de responsabilidade no planejamento de estratgias de combate direto

    violncia.

  • 24

    Mediante essa questo Rocha e Macedo (2011) ressaltam que necessrio que se

    observe que o envolvimento da famlia com a escola s tem trazido pontos positivos,

    principalmente ao se considerar que estes podem ser usados como instrumentos de combate

    violncia. Segundo os autores, ao colaborarem com a escola de forma mais ativa, os pais

    sentem-se motivados para analisar e envolverem nos problemas surgidos no contexto de

    ensino, e no apenas julgar a competncia de professores ou gestores.

    Tambm possvel observar que o objetivo da escola, da sociedade e da famlia

    o mesmo, ou seja, o de promover a educao e a formao de suas crianas ou adolescentes.

    Assim, esse trabalho se torna possvel quando ambas reconhecem que por meio da

    proximidade e da abertura para a colaborao essa atividade se torna menos complexa e mais

    favorvel. Diante disso, tem-se ainda a perspectiva dos autores citados de que o

    envolvimento familiar no traz benefcios apenas para os alunos, mas tambm para

    professores que passam a v-los como aliados.

    So diversos os fatores que sustentam a relao da famlia com a escola, e esta

    relao s ser solidificada se houver a considerao de que a famlia pode ser um espao

    onde a criana se sinta segura e amada, sem que a escola pense que no esteja sendo

    suficiente para a aprendizagem o que a criana esteja recebendo nesse ambiente. A sociedade

    tambm deve assumir a responsabilidade de conceder meios para que o ambiente familiar

    possa ser tranqilo para o desenvolvimento da criana. Esses espaos de desenvolvimento s

    estaro longe da violncia quando a sociedade no permitir qualquer manifestao de

    desapreo pelo que diferente. Outro fator a ser considerado diz respeito ao que a escola

    espera da famlia ou ao que esta espere da escola.

    Assim, necessrio que se reconhea que,

    Ao mesmo tempo em que se aluno tambm se filho e vice-versa, o que faz com

    que famlia e escola estejam interligadas; entretanto, importante que se perceba

    quais so as funes e as responsabilidades de cada uma, para as duas no ficarem

    em um jogo de empurra, onde o aluno acaba ficando no meio, quando na

    realidade, ele a personagem de importncia indiscutvel para ambas, mas suas necessidades ainda continuam espera de um olhar mais apurado. (SOUSA e

    FILHO, 2011, p.7)

    Possivelmente esteja a a soluo para a crise que se estabelece na sociedade, no

    entanto, registra-se a relutncia das partes em definirem quando ouvirem o aluno e quando

    ouvirem o filho. O segredo que se apresenta como meio de evitar os conflitos est em

    estabelecer a relao dialgica.

  • 25

    No entanto, essa relao dialgica no deve ser aquela onde no haja

    interlocuo, ou seja, onde somente a escola fale, ou somente a famlia se manifeste.

    possvel que seja mais complicado do que se imagina essa proposio do estabelecimento do

    dilogo, no entanto, este configura-se em possibilidade a ser construda. Nesse sentido, tem-se

    o discurso de Sousa e Filho (2011) que defendem que o aluno deve ser visto como cidado e

    como tal, no h como se dissociar a famlia da escola e ambas do contexto social. Isso advm

    do reconhecimento de que o indivduo no constroi a sua aprendizagem apenas no contexto

    escolar, mas na vivncia social e na interao com seu meio de origem.

    Ao se resolver essa dualidade entre instruo e educao, ser possvel perceber

    que a amplitude considerada em relao famlia e escola passa a assumir uma dimenso

    maior do que a que se propaga. Assim, percebe-se que h muito mais a ser dimensionado

    nessa relao do que o que tem sido evidenciado nas pesquisas.

    H muito mais na relao famlia, escola e sociedade, do que a simples atribuio

    de papeis. O papel da primeira est em formar a base para o respeito s diferenas, segunda

    cabe a educao para a diversidade, terceira dado o papel de criar condies para que o

    indivduo possa desenvolver atitudes de compreenso do espao do Outro e respeit-lo. Estas

    trs instituies, juntas so responsveis por determinar aes que superem o desafio de se

    educar para uma sociedade multicultural considerando a individualidade e combatendo,

    principalmente qualquer atitude que demonstre violncia, tal como se define no j discutido

    bullying.

    1.5 O Bullying e seus conceitos como resposta a no aceitao da diversidade

    Segundo os PCN (BRASIL, 2002), as culturas so produzidas pelos grupos

    sociais ao longo de sua trajetria histrica, seja na construo de suas formas de sobrevivncia

    na natureza, seja na organizao de sua vida social ou nas suas relaes com o meio cultural

    em que vive.

    A diferena entre culturas fruto da singularidade desses processos em cada grupo

    social. A desigualdade social uma diferena de outra natureza: produzida na

    relao de dominao e explorao socioeconmica e poltica. Quando se prope o

    conhecimento e a valorizao da pluralidade cultural brasileira, no se pretende

    deixar de lado essa questo. Ao contrrio, principalmente no que se refere discriminao, impossvel compreende-la sem recorrer ao contexto

    socioeconmico em que acontece e estrutura autoritria que marca a sociedade. As

    produes culturais no ocorrem fora de relaes de poder: so constitudas e

  • 26

    marcadas por ele, envolvendo um permanente processo de reformulao e

    resistncia. (BRASIL, 2002, p. 4)

    A violncia e o comportamento pernicioso em relao ao Outro e suas diferenas

    advm de uma semente que plantada na no compreenso das diferenas culturais que

    compem a sociedade. Nas discusses atuais, o bullying representa uma preocupao que

    toma maior espao a cada dia, pois se tornou comum nos veculos de comunicao as notcias

    sobre agresses de alunos. A violncia se tornou to banalizada que passou a ser comum a

    mostra de vdeos onde aparecem jovens brigando, principalmente por causa de

    comportamentos que fogem padronizao cultural.

    O termo bullying, de acordo com Fante (2005), uma palavra de origem inglesa

    que vem de bully (boi bravo, touro) e que se tornou um verbo, passando a significar a ao de

    cometer violncia contra algum, brutalizar, amedrontar. A autora trata o bullying como um

    fenmeno, mas as pesquisas mais atuais j consideram o fato como uma doena social e como

    tal, necessita de tratamento. De acordo com Fante (2005)

    Bullying: palavra de origem inglesa, adotada em muitos pases para definir o desejo

    consciente e deliberado de maltratar uma outra pessoa e coloc-la sob tenso; termo

    que conceitua os comportamentos agressivos e anti-sociais, utilizado pela literatura

    psicolgica anglo-saxnica nos estudos sobre o problema da violncia escolar.

    (FANTE, 2005, p.27)

    De acordo com Middelton-Moz e Zawadski (2007), a violncia produz o que

    chama de bully, que so os que praticam o bullying. Para as autoras, esses indivduos no se

    contentam com uma agresso ocasional ou que fiquem no campo verbal, muito pelo contrrio,

    esses sujeitos abusam tambm de diversas substncias, tais como lcool e outras drogas, para

    que tenham suporte ou coragem para os seus atos e fazem do bullying um meio de

    intimidao para que possam exercer o controle sobre outra pessoa, o que deixa as suas

    vtimas com sensaes de intensa vulnerabilidade, medo, vergonha ou baixa auto-

    estima.(MIDDELTON-MOZ e ZAWADSKI, 2007, p. 11)

    Usando a definio dada por Fante (2005), o termo bullying significa:

    [...]um conjunto de atitudes agressivas, intencionais e repetitivas que ocorrem sem motivao evidente, adotado por um ou mais alunos contra outro(s), causando dor,

    angstia e sofrimento. Insultos, intimidao, apelidos crueis, gozaes que magoam

    profundamente, acusaes injustas, atuao de grupos que hostilizam, ridicularizam

    e infernizam a vida de outros alunos levando-os excluso, alm de danos fsicos,

  • 27

    morais e materiais, so algumas das manifestaes do comportamento bullying.

    (FANTE, 2005, p.29)

    O termo bullying relativamente novo nos estudos do comportamento humano,

    no entanto, a violncia escolar possui um carter histrico que remonta desde a poca em que

    negros e brancos eram separados e pobres e ricos no conviviam no mesmo ambiente. Nos

    pases da Europa, na Frana, especificamente, os estudos sobre o bullying tem como ponto de

    partida a anlise do contexto de violncia aos quais os indivduos encontram-se inseridos e

    aos nveis de stress pelo qual perpassam ao longo do seu processo de escolarizao. A

    violncia, e no apenas a fsica apontada como fator principal no processo de

    desencadeamento e instaurao do bullying.

    De acordo com Caprera (2005) no se pode afirmar que a violncia escolar seja

    um fenmeno recente, mas a problemtica social que assumiu essas situaes tornaram

    necessrios os estudos aprofundados e as discusses mais direcionadas problemtica que

    advm dessas situaes. Isso acontece principalmente porque no mais se associa a violncia

    ao problema de estratificao social, e a relaciona mais ao despreparo do indivduo para viver

    em sociedade.

    Segundo a autora, o comportamento violento no diz respeito apenas ao

    fsica, mas tambm a uma atitude na qual o Outro colocado em constante ameaa, passa por

    momentos de verdadeiro terror e medo, advindos de comportamentos que so capazes de

    desestruturar qualquer base social que tenha sido ou que esteja em construo. H um tipo de

    violncia escondida, camuflada na escola ou na famlia que assume uma dimenso

    significativa na construo dos comportamentos sociais e que devem ser colocados em

    discusso.

    O bullying tomou o espao que hoje possui graas esse comportamento de

    negao, de no aceitao da presena do trao de violncia nas brincadeiras, nas piadas, nas

    relaes de gnero. Um dos fatores que contriburam para que esse tipo de comportamento

    alcanasse a dimenso que hoje se tem, baseia-se na recusa que a escola enquanto instituio

    social, de aceitar que os atos violentos no acontecem somente fora de seus muros, mas que

    comeam a ser concebidos dentro da prpria instituio.

    No podemos isentar a escola como se a violncia estivesse somente do lado de

    fora. Apontar os pais, a estrutura familiar, a estrutura econmica como responsveis

    pela crueldade entre as crianas (...) violncia que gerada dentro da prpria

    escola, no apenas porque ela uma instituio homogeneizadora, controladora,...,

  • 28

    mas tambm porque ela a expresso de grupos em permanente conflito.

    (GUIMARES, 1996, p.81).

    Nas questes relativas violncia, e ao que se denomina de Bullying, esse

    conceito se torna mais fcil de ser compreendido quando se tem a conscincia de que h

    formas de violncia que se configuram de forma fsica, simblica e institucional que invadem

    a escola ou so produzidas dentro de seu espao enquanto instituio. Essas aes podem

    trazer grandes conseqncias, tanto para o desempenho dos alunos, quanto para o professor,

    uma vez que este tambm vtima de bullying. necessrio que se perceba que essas atitudes

    devem ser combatidas porque repercutem tambm na qualidade do ensino que oferecido.

    Segundo Fante (2005) o bullying no existe de forma isolada, pois este advm de

    fatores que se agregam e que acabam por gerar as situaes de violncia que podem ser

    detectadas, principalmente no ambiente escolar. De acordo com a autora, as causas do

    comportamento abusivo que se configura em bullying devem-se a um conjunto de fatos que

    vo desde a carncia afetiva, a ausncia de limites ou como forma de afirmao de poder,

    tanto pelos pais, quanto pelos professores e mesmo as denominadas prticas educativas que

    vo, desde os maus-tratos fsicos ou psicolgicos perpassando pelas exploses emocionais

    violentas.

    Acredita-se que a violncia na escola, as atitudes que se configuram em bullying

    devem ser combatidas a partir da considerao dos quatro pilares da educao e,

    principalmente no que diz respeito ao aprender a conviver que a base de uma educao

    voltada aos princpios da Pluralidade Cultural. Essa idia de suplantao da violncia por

    meio da consolidao de uma cultura de paz evita a conseqncia desta principalmente no

    tocante ao fracasso escolar. As experincias escolares e pesquisa psicolgica demonstram que

    o ensinar a viver junto tem a competncia de reverter o quadro de violncia escola e de

    bullying.

    Defende-se o fato de que a violncia no deve ser aceita na escola e nesse

    sentido, cabe a compreenso de que as manifestaes do comportamento violento so

    dirigidas a professores e a funcionrios e principalmente a alunos. O bullying se caracteriza

    por ser uma forma de violncia silenciosa, velada e nociva que ocorre geralmente entre os

    prprios alunos.

    O ato de bullying, na concepo de Ramos (2008) acontece principalmente

    quando um ou mais alunos sentem-se no direito de perseguir, intimidar, humilhar, denominar

    o indivduo por meio de apelidos com traos de crueldade contundente, demonstrar

  • 29

    abertamente que no aceita a diversidade e a pluralidade cultural e traduzir esse

    comportamento de forma sistemtica e desrespeitosa.

    As vtimas de bullying so consideradas como sofredores silenciosos, pois,

    acostumados com as situaes de perseguio, exposio e humilhaes se recolhem em si,

    por medo de serem expostos ainda mais a essas situaes de violncia. Desse modo,

    necessrio que se pense em aes onde a famlia, a sociedade e escola se comprometam em

    trabalhar em conjunto no sentido de combater e repudiar qualquer tipo de violncia seja na

    escola, seja fora desta.

    Envolvimento de professores, pais e alunos fundamental para a implementao de

    projetos de reduo do bullying. A participao de todos visa estabelecer normas,

    diretrizes e aes coerentes. As aes devem priorizar a conscientizao geral; o

    apoio s vtimas de bullying, fazendo com que se sintam protegidas; a conscientizao dos agressores sobre a incorreo de seus atos e a garantia de um

    ambiente escolar sadio e seguro (NETO, 2005, p. 169).

    Como o bullying uma violncia silenciosa, esta se instala e torna-se difcil de

    ser detectada a no ser que se associe uma observao e diagnstico sistemtico do

    comportamento do aluno. Assim, necessrio que, tanto pais, quanto professores se atentem

    ao comportamento das crianas com as quais convivem, em casa ou na escola. O que se

    precisa que se observe se estas esto sendo vtimas ou autoras de bullying. Destaca-se que

    quando o problema detectado j no incio e combatido, as conseqncias podem ser

    minoradas, pois o bullying sintoma de problemas no apenas para a vtima, mas,

    principalmente para os agressores.

    Ressalta-se que os denominados comportamentos de risco so nocivos apenas aos

    vitimados, mas atingem a todos porque todo o ambiente social passa a ser considerado como

    locais de risco, o que coloca o bullying como um crescente problema, no apenas no espao

    brasileiro, mas em todo o mundo. Esta problematizao assume essa dimenso porque no se

    pode pormenorizar o resultado das aes agressivas que partem de seus autores. O bullying

    est diretamente relacionado no compreenso da diversidade cultural como fator inerente

    ao ser humano.

  • 30

    2. ENSINO DE GEOGRAFIA SOB A PERSPECTIVA DA

    PLURALIDADE E DA DIVERSIDADE CULTURAL

    Considerando o espao geogrfico formador do cidado a partir de um contexto

    vivenciado, o ensino de Geografia volta-se para a constituio de seu espao como forma de

    relao intercultural. Diante disso, considera-se o que os PCN de Geografia colocam como

    sendo fundamental a considerao do espao como meio e fonte de aprendizagem.

    Em se tratando da diversidade cultural, tem-se a perspectiva da considerao de

    que o homem o produtor de seu espao, e este deve ser pensado como um meio

    multicultural, repleto de experincias histricas. Desse modo, os PCN preconizam que

    O espao considerado como territrio e lugar historicamente produzido pelo

    homem medida que organiza econmica e socialmente sua sociedade. A percepo

    espacial de cada indivduo ou sociedade tambm marcada por laos afetivos e

    referncias socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como

    sujeito produtor desse espao, um homem social e cultural, situado alm e mediante

    a perspectiva econmica e poltica, que imprime seus valores no processo de

    produo de seu espao. (BRASIL, 2002, p. 35)

    na considerao desse espao que historicamente construdo e, portanto,

    carregado de relaes sociais que o contexto da Geografia escolar vai sendo estruturado.

    Assim, ao se pensar em ensino voltado para a diversidade e para a pluralidade cultural, o

    professor dessa disciplina tambm necessita considerar que o seu aluno no apenas um

    receptor passivo de mensagens e construes simblicas, mas que ele agente ativo que

    forma suas concepes e teoriza acerca do mundo que o cerca.

    Considerando que um dos grandes problemas que a escola enfrenta com relao

    violncia surge justamente da no aceitao das diferenas, necessrio que o professor de

    Geografia compreenda que o seu papel essencial na formao cidad de seus alunos, uma

    vez que se considera esta como ponto de partida para o trabalho voltado para a diversidade e

    pluralidade cultural.

  • 31

    2.1 Geografia escolar e ensino de cidadania: passos fundamentais para a educao

    voltada para a diversidade e pluralidade cultural.

    O ensino da Geografia, assim como em outras reas do conhecimento, passou por

    profundas modificaes para que fosse possvel acompanhar os prprios processos de

    transformao pelos quais a sociedade perpassou. Nesse sentido, no cabe mais dentro de um

    contexto de educao para a cidadania, a prtica dos professores que no vem que o espao

    da sala de aula deve ser pensado de forma que seja possvel aos alunos compreenderem e

    interpretarem a realidade, considerando a leitura crtica que possa ser construda a partir da

    anlise do espao.

    Considerando o ensino de Geografia diante de uma perspectiva plural, no h

    como se pensar no aluno apenas como reprodutor da realidade. Quando se discute a violncia

    na escola e seus reflexos fora dela, o aluno j est se comportando como reprodutor, sendo ele

    mesmo o reflexo do espao em que se encontra inserido.

    Ao se tratar do campo de conhecimento da Geografia, o campo de atuao do

    professor deve ser voltar e considerar, efetivamente para a realidade que est sendo construda

    e modificada de forma dinmica. A esse respeito, Santos (1997), destaca que o professor,

    muitas vezes cr que so apenas as relaes econmicas que devem ser consideradas no

    ensino de Geografia, estas, podem ser analisadas, mas em conjunto com uma totalidade de

    fatores que se voltam para as relaes sociais.

    De acordo com o autor, h uma carncia, na constituio do espao geogrfico e

    do ensino da Geografia escolar de se trabalhar contedos que possam incutir no aluno a

    necessidade de se criar laos culturais e solidrios, de modo que, qualquer forma de

    intolerncia possa ser combatida. Ressalta-se tambm, nesse mesmo discurso, o fato de que

    diante do contexto da globalizao e da emergncia da neomodernidade, h uma tendncia em

    se considerar que as relaes sociais no so necessrias, pois a individualidade deve ser

    conservada em detrimento do convvio social.

    O ensino a construo de conhecimentos pelo aluno, ele o sujeito de seu processo

    de formao e de desenvolvimento intelectual, afetivo e social, e o professor tem um

    papel de mediador desse processo. E um dos desafios, o de desenvolver em sala de

    aula, atividades considerando a escola um lugar de cultura, de encontro de culturas.

    (COSTA, 2009, p.2)

    Voltando as discusses para o contexto do ensino da Geografia em um espao

    plural, tem-se o discurso de Maral (2009), ao afirmar que, mediante as transformaes

  • 32

    sociais pelas quais o mundo passa, o ensino da disciplina deve mediar o processo de

    compreenso de como o espao geogrfico se constroi a partir da relao homem/homem e

    homem/natureza. Desse modo, parte-se da perspectiva da diversidade e das diferenas que

    ocorrem a partir da aceitao da multiculturalidade como percurso histrico de transformao

    do espao geogrfico.

    Segundo Oliveira (2003) o ensino da Geografia, considerando a pluralidade deve

    ser constitudo da seguinte forma que seja,

    [...] ensino que busque incutir nos alunos uma postura crtica diante da realidade, comprometida com o homem e a sociedade; no com o homem abstrato, mas com o

    homem concreto, com a sociedade tal qual ela se apresenta, dividida em classes com

    conflitos e contradies. E contribua para a sua transformao (OLIVEIRA 2003, p.

    143).

    O discurso acerca da violncia escolar considera que um dos grandes responsveis

    por seu crescimento seja a falta de uma proposta de ensino que realmente eduque o sujeito

    para a cidadania. Nesse sentido, parte-se da premissa de que no importando qual seja a sua

    natureza, na ao educativa que h o reflexo da sociedade. Diante desse fato, a diversidade

    cultural deve ser colocada como um meio de o indivduo se tornar nico, de modo

    diferenciado, a partir do respeito s suas expectativas e suas experincias que se do em um

    contexto particular.

    Considerando que a Geografia escolar tem como funo formar para a cidadania,

    e que no campo da diversidade e da pluralidade, esse tambm o primeiro fundamento do

    combate intolerncia e aceitao do multiculturalismo, Cavalcanti (2002), destaca que

    necessrio que o professor da rea pense de forma cuidadosa, sobre o seu papel considerando

    que a sociedade seja, de fato, dinmica. Tendo em vista essa perspectiva, cabe a esse

    profissional indicar os caminhos a serem seguidos, privilegiar os questionamentos e

    auxiliando na construo de novos conhecimentos.

    Entender que a Geografia no se resume apenas na localizao de determinada

    regio, de construir mapas cartogrficos ou estudar fenmenos naturais o desafio a ser aceito

    e superado. Dentro da concepo dessa disciplina tambm como campo de anlise do espao

    geogrfico e da mobilidade do homem dentro desse, faz com que a diversidade seja melhor

    compreendida como um fenmeno natural dos grupos sociais em evoluo.

    Nesse sentido de diversidade e de singularidade, a cidade e o campo, considerados

    como contedo escolar, devem ser concebidos para alm das suas formas fsicas,

    considerando a materializao dos modos de vida, o espao simblico, o fato de serem formadores de sentidos de pertencimento e de identidade. Esses elementos so

    fundamentais na formao da cidadania. (COSTA, 2009, p. 3)

  • 33

    Essa perspectiva confirmada tambm por Cavalcanti (1998) ao afirmar que

    papel da Geografia formar o raciocnio geogrfico. Esse aspecto o responsvel pela

    formao de uma conscincia espacial que vai alm da prerrogativa do conhecimento e da

    localizao. A partir dessa conscincia, o indivduo torna-se capaz de proceder e usar

    instrumentos de anlise, compreender como se instituem a espacialidade quando se fala em

    prticas sociais e desse modo, se habilitar para intervir usando para isso a suas convices que

    so construdas pela prtica cotidiana, no levando em conta apenas as suas aes

    particulares, mas todo o seu contexto social.

    Partindo do pressuposto de que os valores de cada um, sua cultura e nessa, suas

    tradies so o que fazem a pluralidade cultural, a compreenso do que seja e como se

    fundamenta a identidade dos indivduos tambm ponto de partida para o ensino de

    Geografia que tenha em vista o combate violncia.

    Para que essa premissa possa ser melhor compreendida, cita-se Libneo (2005)

    que, ao discutir as prticas de ensino, ressalta que estas no devem ser restritas famlia ou

    escola, mas que devem unir esses dois contextos ao espao social. Se h violncia fora da

    escola, isso significa que, naturalmente isso ir se refletir no contexto educativo, no entanto,

    necessrio que o educador tenha formao suficiente para compreender que esses reflexos no

    podem tomar lugar do convvio pacfico.

    Um dos grandes problemas relacionados ao bullying como forma de violncia, a

    falta de identidade do sujeito, no sentido de no pertencer a um meio, e a carncia de meios de

    se fazer com que isso possa ser superado. Os PCN de Geografia (2002) afirmam que

    O ensino de Geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que

    cidadania tambm o sentimento de pertencer a uma realidade em que as relaes

    entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado (constantemente em

    transformao) do qual ele faz parte e que, portanto, precisa conhecer e do qual se

    sinta membro participante, afetivamente ligado, responsvel e comprometido

    historicamente com os valores humansticos. (BRASIL, 2002, p.29)

    H no ensino de Geografia a recorrncia de uma iluso de que, para que no haja

    violncia na escola, necessrio que o aluno seja resguardado de sua existncia. Em

    contraponto a isso, h a perspectiva de que essa disciplina deve ser um dos caminhos usados

    pelo indivduo em sua formao social, sem que a realidade seja desvinculada deste e de tal

    forma, sem que os problemas do mundo sejam considerados.

    Na perspectiva da diversidade e da pluralidade cultural, o conhecimento acerca do

    espao e suas mltiplas formas de construo devem ser concebidos a partir das relaes

  • 34

    sociais que so estabelecidas. Diante desse fator, o professor de Geografia no papel de

    mediador torna-se um dos principais contribuintes para que o sujeito tome conscincia de que

    a violncia no pode ser considerada como um resultado do confronto do mundo com a

    realidade concreta.

    O confronto com a realidade, a partir da interveno do professor de Geografia

    ocasionado a partir de um trabalho cuidadoso em que os sujeitos da aprendizagem

    compreendem como se constroem as formas e os interesses implcitos na organizao do

    espao geogrfico.

    Ao alicerar-se no espao cotidiano dos educandos o processo de ensino-

    aprendizagem utiliza-se de uma base concreta, ou seja, um espao conhecido e

    experimentado pelo educando, contribuindo para que o ensino de geografia supere a

    abstrao descontextualizada. Esta constatao fundamenta-se no pressuposto de que a educao um processo construtivo, que envolve o aluno e seu meio de ao, ou

    seja, o seu lugar. (OLIVEIRA, 1989, p.85)

    Nesse sentido, importante destacar tambm o papel que o professor de

    Geografia assume mediante a necessidade de um trabalho voltado para o combate violncia

    escolar.

    2.2 Como o professor de Geografia pode combater a violncia escolar e em especial o

    bullying

    As discusses sobre a violncia escolar e o bullying, por vezes do a entender que

    nesse processo, apenas os alunos esto envolvidos. No entanto, o professor, ainda que no

    seja o agressor direto, ao se eximir de tomar uma atitude pode estar contribuindo para a

    existncia da violncia em sala de aula. Tambm o sujeito que se diz educador, mas que

    constantemente critica e compara um aluno a outro ou mesmo desconhece a sua existncia em

    sala de aula, expe esse aluno e colabora com o que comete bullying.

    Ao professor de Geografia cabe a tarefa de ser o articulador dos dilogos e debates

    que so essenciais para a compreenso no apenas do espao fsico, mas tambm do contexto

    social que constitui o campo da diversidade.

    Em se tratando do ensino de Geografia voltado para a pluralidade cultural o que se

    tem como problemtica volta-se para o professor que insiste no modo de transmisso que

    considera o aluno separado do contexto geogrfico. A forma como a disciplina ensinada

    colabora para o distanciamento do aluno, que o coloca com passividade diante dos contedos.

    O professor que no consegue compreender como o ensino de Geografia pode se voltar para a

  • 35

    constituio do indivduo em sua totalidade, no pode ser considerado como instrumento de

    trabalho no combate violncia. O modo tradicional de ensino, que no concede o espao

    necessrio para que o aluno possa refletir, construir e re-construir suas concepes, no pode

    ser considerado como essencial para a educao para a diversidade.

    Ressalta-se que ensino de Geografia tendo em vista a pluralidade e a diversidade

    cultural construdo de modo que seja possvel formar cidados, como preconiza os PCN

    (BRASIL, 2002) ao ressaltar que

    O ensino de Geografia pode e deve ter como objetivo mostrar ao aluno que

    cidadania tambm o sentimento de pertencer a uma realidade em que as relaes

    entre a sociedade e a natureza formam um todo integrado (constantemente em

    transformao) do qual ele faz parte e que, portanto, precisa conhecer e do qual se

    sinta membro participante, afetivamente ligado, responsvel e comprometido

    historicamente com os valores humansticos. (BRASIL, 2002, p.29)

    Diante de tais pressupostos, o professor de Geografia deve ter em mente o seu

    papel de formador de cidados e mediante esse fator ter em mente que est formando

    indivduos que devem, no apenas ser capazes de conviver com a diferena, mas assumir o

    seu papel de transformar a realidade quando se fizer necessrio.

    O contexto do professor de Geografia, quando este se prope ao trabalho com a

    diversidade, deve partir da compreenso de que ao reconhecer a necessidade de uma base

    concreta em que a construo do conhecimento se d a partir do estabelecimento de relaes

    sociais, torna-o efetivamente problematizador e a partir da, capaz de colocar em evidencia a

    necessidade de uma contribuio real e no apenas no campo da teoria, com o trabalho

    voltado para o fato de que, no h como criar, dentro da escola, um universo onde os

    problemas no acontecem.

    O que deve, essencialmente, fazer parte do campo de ao do professor de

    Geografia so as abordagens que fazem com que o ensino sirva ao propsito de uma tomada

    de conscincia de que o mundo um laboratrio de percepes e de reaes que fazem com

    que as reaes diante de conflitos ou de divergncia de pensamentos se dem de forma

    diferenciada de uma pessoa para outra.

    No trabalho com a diversidade cultural o professor de Geografia pode propor a

    aplicao de projeto que partam do fato de que o mundo descoberto aos poucos pelo sujeito

    em fase de aprendizagem escolar e diante disso, torna-se necessrio que o educador saiba

    proporcionar a construo de saberes e conceitos que faam com que aluno construa as suas

  • 36

    concepes de espao e mundo de forma que a diversidade, o ser diferente, desigual, possa ser

    visto como natural nas relaes humanas.

    Para o trabalho do professor de Geografia possa ajudar a escolar a combater a

    violncia escolar, este pode partir do estudo que faa com que o aluno possa reconhecer a sua

    realidade e possa se ver como parte fundamental desta. Assim, a prtica de ensino de

    Geografia deve partir da realidade vivenciada e no apenas teorizada, isso acontece a partir do

    momento em que o professor promove o reconhecimento de que o espao do aluno vai alm

    da leitura de mapas ou da construo de maquetes.

    Essa postura confere ao professor a perspectiva de quem capaz de reconhecer

    que os alunos so capazes de agir de forma consciente quando os problemas surgem,

    principalmente os de relacionamento, advindos dos pensares e dos contextos diferenciados.

    Espera-se, no apenas do professor de Geografia, mas de todos os educadores de que estes

    sejam capazes de fazer com que os preceitos da educao se tornem realidade quando se trata

    de formar sujeitos que sejam conscientes de que a falta de respeito pelo outro no pode ter

    lugar nos contextos sociais.

    O professor de Geografia ao ter conscincia desse fator consegue promover o

    ensino para a diversidade e combater a violncia escolar a partir da abordagem que demonstra

    que esta uma cincia que deve ser considerada fundamental no reconhecimento do indivduo

    como sujeito construtor de seu espao. Diante disso, Souza (2001) salienta que:

    [...] ao procurar um sentido para a escola e para o ensino de Geografia, o fazemos

    partindo do pressuposto de que a escola e, conseqentemente, o ensino de Geografia

    podem se tornar elementos importantes para o entendimento da realidade da

    clientela escolar e tambm para propiciar-lhes acesso a uma forma de pensar e

    entender prpria da escola e da sociedade como um todo, que por meio de

    conhecimentos cientficos construdos e acumulados pela humanidade. (SOUZA,

    2001, p. 76)

    As discusses acerca do papel do professor de Geografia no combate violncia e

    ao bullying podem ocupar um espao muito grande dentro da proposio da pesquisa e isso

    acontece porque o campo da disciplina ultrapassa o contexto da sala de aula, assim como a

    violncia escolar acaba atingindo em cheio a sociedade. Diante dessa perspectiva, o prximo

    captulo mostra como pais, alunos e professores vem e vivem o bullying enquanto reflexo da

    intolerncia e da violncia escolar e diante do discurso desses sujeitos, analisar o que

    possvel ser feito para que a diversidade e a pluralidade cultural possam ser respeitados.

  • 37

    3. AS VISES E OS DISCURSOS SOBRE A VIOLNCIA E O

    BULLYING: A REALIDADE VIVENCIADA COMO OBJETO DE

    ANLISE

    Para a realizao do estudo em campo foram selecionadas duas escolas pblicas da

    cidade de Ipor, O Colgio de Aplicao (A) e o Colgio Ariston Gomes da Silva (B). A

    escola A possui alunos oriundos da periferia e encontra-se situada a uma considervel

    distncia do centro da cidade de Ipor.

    Nessa escola encontra-se uma realidade que faz parte da maioria das instituies

    que estejam distantes do centro, por conta disso, a clientela dessa escola, tambm colocada

    margem do processo educativo e por conta dos problemas ligados ao contexto scio

    econmico desta. 15 alunos do ensino fundamental participaram da pesquisa o que

    representou um quantitativo pequeno em considerao quantidade de alunos que a estudam.

    Dez pais participaram da pesquisa e apenas trs professores responderam s questes.

    A escola B encontra-se situada no centro da cidade e tem uma clientela

    diferenciada da escola A. Essa escola considerada como referncia de ensino pblico e

    possui uma boa estrutura fsica, resultado do investimento do poder pblico em adequ-la s

    necessidades dos alunos que nela estudam.

    A escola funciona nos trs turnos, sendo que o turno matutino recebe alunos com

    poder aquisitivo maior, muitos vindos da rede particular de ensino, no turno vespertino

    encontram-se os alunos originados na zona rural e no turno noturno freqentam os alunos que

    exercem alguma atividade profissional durante o dia.

    Na escola B a maior parte dos alunos participantes da pesquisa do Ensino Mdio

    e 34 responderam s perguntas. O quantitativo de pais que responderam s questes foi de 40

    enquanto que trs professores se dispuseram a participar. Os dados obtidos junto aos pais e

    alunos foram sistematizados em forma de grficos e a resposta dos professores apresenta-se

    em um texto discursivo conforme se segue.

  • 38

    3.1 Como a famlia v a violncia escolar e o bullying

    Um dos grandes problemas relacionados violncia escolar tem sido o

    distanciamento que a famlia coloca entre o seu contexto e a escola e em muitos casos, entre o

    que considera como comportamento natural de seu filho e o que de fato, considera como ato

    de violncia. No tocante famlia, observa-se uma dificuldade que os pais ou responsveis

    possuem de perceber os gritos de socorro que so emitidos pelos indivduos sob sua

    responsabilidade. Em muitos casos no apenas quem agredido que se torna uma potencial

    vtima da violncia, mas quem agride tambm pode estar passando por uma situao de

    angstia ou de stress que o leva a assumir esse tipo de comportamento.

    Conforme mencionado anteriormente foram 50 pais ou responsveis se

    dispuseram a participar do estudo proposto. 10, possuem filhos que estudam na escola A e

    so, em sua maioria, pessoas que no acompanham a vida dos filhos na escola com

    freqncia, por conta da jornada de trabalho. 40 pais ou responsveis possuem filhos que

    estudam na escola B e em grande parte, acompanham a trajetria destes em sala de aula, tendo

    o costume de participar de reunies de pais ou de conselhos de classe.

    Aos pais ou responsveis participantes da pesquisa foi perguntado seu filho ou

    seus filhos j se queixou ou queixaram de ter sido vtimas de agresso, intimidao ou

    violncia na escola. Dos 50 entrevistados, 10 afirmaram que sim, que os filhos j haviam

    reclamado terem sido intimidados ou agredidos, 40 afirmaram que os filhos nunca fizeram

    esse tipo de reclamao. O percentual das respostas pode ser verificado no grfico 1.

    Seu filho j se queixou de ter sido vtima

    de intimidao,agresso ou violncia

    20%

    80%

    SIM NO

    Grfico 1. Fonte: a pesquisa, 2011.

  • 39

    O fato de no se queixarem estar sendo vtimas de agresso no significa que os

    indivduos no estejam sofrendo bullying. Na maioria dos casos, os pais desconhecem que os

    filhos sofram qualquer tipo de violncia no contexto escolar, pois estes desenvolvem

    resistncia em contar aos seus responsveis o que lhes acontecesse em sala de aula.

    Perguntou-se aos pais e responsveis se estes j presenciaram situaes de violncia na

    escola. Segundo as respostas, 17 presenciaram tais situaes enquanto que 33 afirmaram

    nunca terem presenciado. O percentual dessas respostas conferido no grfico 2.

    Voc j presenciou situaes de violncia na

    escola?

    34%

    66%

    SIM NO

    Grfico 2. Fonte: a pesquisa, 2011.

    A maioria dos pais afirma no terem presenciado situaes de violncia na

    escola, isso acontece porque nem sempre o bullying se d por meio da agresso fsica. Em

    muitos casos, o que se percebe so as agresses verbais que podem ou no evoluir para a

    violncia fsica. O combate ao bullying depende da compreenso que se tem do que seja

    violncia, pois em alguns casos, as agresses dadas em um contexto mais subjetivo, como na

    fala, por exemplo, nem sempre so vistas pelos pais como casos de bullying.

    Dando continuidade ao estudo, foi perguntado aos pais se os seus filhos

    apresentam ou j apresentaram comportamento agressivo ou arredio. A essa pergunta, 8 pais

    responderam que sim, que os filhos, em algum momento j apresentaram um comportamento

    fora do que seria considerado normal e 42 afirmaram que no, que nunca perceberam uma

    mudana no comportamento dos filhos a ponto deles parecerem mais agressivos ou arredios.

    Os pais que observaram uma mudana no comportamento dos filhos, em algum momento,

    no souberam dizer os motivos que poderiam justificar essa mudana e revelaram no

  • 40

    acreditarem que o motivo seria a violncia porque logo voltaram ao normal. O percentual de

    respostas a essa pergunta pode ser percebido no grfico 3.

    Seu filho apresenta ou apresentou

    comportamento agressivo ou arredio?

    16%

    84%

    SIM NO

    Grfico 3. Fonte: a pesquisa, 2011.

    A essa pergunta a teoria que aborda a violncia escolar, mais especificamente,

    para o fato de que, nem sempre uma mudana de comportamento no indivduo pode significar

    que ele esteja sendo vtima de bullying. Em se tratando de adolescentes que passam por

    considerveis transformaes, as variaes de humor podem ser constantes e somente uma

    boa conversa pode servir como base para a deteco da violncia seja como deflagradores,

    seja como vtimas desta.

    Em prosseguimento, foi perguntado aos pais ou responsveis se os filhos falam

    bem dos colegas. Essa pergunta foi feita no sentido de se observar como o contexto social da

    escola trazido para dentro das casas. Ao comentarem de forma positiva sobre seus colegas,

    os indivduos denotam que o relacionamento tambm est sendo construdo de modo positivo.

    Quando, em reao contrria, os sujeitos passam a falar mal de seus colegas, isso pode

    significar uma reao instintiva violncia ou ao bullying.

    Em resposta pergunta 41 pais ou responsveis afirmaram que os filhos falam

    bem dos colegas, embora no sejam amigos de todos, 9 afirmaram que os filhos no falam

    bem dos colegas e no apresentam nenhuma justificativa para isso. O percentual das respostas

    consta no grfico 4.

  • 41

    Seu filho fala bem dos colegas da escola?

    82%

    18%

    SIM NO

    Grfico 4. Fonte: a pesquisa, 2011.

    Tambm foi perguntado aos pais ou responsveis se estes sabiam o que o

    bullying. Todos responderam que sabem o que seja o bullying, o que mostra que, enquanto

    fenmeno, os seus conceitos esto sendo bem discutidos e principalmente porque houve nos

    ltimos tempos uma sucesso de casos que tomaram conta da mdia e que tiveram sua

    justificativa na violncia sofrida na escola, como aconteceu em Realengo quando um ex-aluno

    entrou em no colgio e atirou nas crianas que estavam em sala de aula. Esse fato chamou a

    ateno para a necessidade de se combater o bullying e diversos pais, em conversa informal,

    afirmaram que passaram a conhecer sobre o problema depois que este foi mencionado na

    televiso.

    Perguntou-se tambm se os pais ou responsveis acreditam que o filho pratica

    bullying. Embora em um nmero reduzido, a resposta positiva de 6 pais mostrou a coragem

    destes em assumir que na suas casas, h um indivduo com potencial para a violncia e que

    necessita de cuidados, ao tomar essa atitude, os pais apontam para a necessidade de a escola

    estar, de alguma forma, auxiliando-os a monitorarem seus filhos para que a violncia no seja

    mais parte de seu cotidiano.

    A maioria dos pais, 44, afirmou que no acredita que o filho pratique bullying,

    pois estes no apresentam tendncias para isso. Esse pensamento refora o fato de que,

  • 42

    embora o sujeito que pratique bullying tenha uma srie de comportamentos que possam

    identific-los, estes no trazem um rtulo pregado em seus rostos que dizem que so

    violentos, necessrio que haja, por parte dos pais, uma observao sistemtica de um

    conjunto de posturas assumidas que do conta da prtica ou no de bullying. O percentual

    dessas respostas compe o grfico 5.

    Voc acredita que o seu filho

    pratica bullying?

    12%

    88%

    SIM NO

    Grfico 5. Fonte: a pesquisa, 2011.

    Para finalizar o questionamento direcionado aos pais ou responsveis foi

    perguntado se estes acreditavam que a escola tem ajudado no combate ao bullying. As

    respostas mostraram que a escola ainda detm a esperana da sociedade de que a educao

    pode transformar o contexto social. Para 32 pais ou responsveis, a escola est fazendo algo

    contra a violncia e o bullying.

    No entanto, necessrio que se ressalte que, para 18 dos entrevistados a escola no

    est fazendo nada para reverter a situao de violncia que se encontra dentro de seus muros.

    Assim, possvel perceber que em alguns casos, a omisso por parte da instituio de ensino

    a tem desacreditado de sua misso, que a de formar cidados. O resultado em porcentagem

    aparece no grfico 6.

  • 43

    A escola tem ajudado no combate ao

    bullying?

    64%

    36%

    SIM NO

    Grfico 6. Fonte: a pesquisa, 2011.

    Em prosseguimento ao estudo proposto, a pesquisa se voltou para os alunos no

    intuito de observar como a violncia escolar est presente no seu cotidiano e de que forma

    reagem a ela.

    3.2 Os alunos e seus discursos diante a violncia escolar e o bullying

    Consideraram-se as respostas dos alunos da escola A e B, mas a anlise no foi

    feita de forma separada porque no intenso do estudo ressaltar o contexto scio-econmico

    de um ou outro estabelecimento de ensino que possa influenciar em uma atitude de violncia

    ou no. Isso acontece porque, a violncia no apenas caracterstica de um grupo social ou de

    outro, pois tanto os de maior, quanto os de menor poder aquisitivo encontram-se suscetveis a

    serem vtimas ou praticantes de bullying.

    Participaram da pesquisa 49 alunos da escola A e B e inicialmente foi perguntado

    a eles se sabiam o que era bullying. Todos responderam saber e usaram a mesma justificativa

    dada pelos pais, de que a televiso est mostrando muitos casos de bullying e eles tm se

    mantido informados sobre esse fenmeno.

    A segunda pergunta quis saber se j sofreram alguma intimidao ou agresso. Do

    total de participantes, 13 afirmaram que sim, h sofreram intimidao ou agresso. 36 alunos

    disseram nunca terem sofrido agresso ou intimidao, conforme o grfico 7.

  • 44

    Voc j sofreu algum tipo de

    intimidao ou agresso?

    27%

    73%

    SIM NO

    Grfico 7. Fonte: a pesquisa 2011.

    O que mais chama a ateno com relao ao grfico acima que, considerando as

    respostas dos pais, falta o dilogo necessrio ou o espao dentro de casa para que os

    indivduos possam dizer, nos seus lares, se passaram por situaes de violncia na escola. Isso

    acontece principalmente pelo medo de quem vivencia o bullying de que o agressor possa se

    voltar para as pessoas de sua famlia, ou que seus familiares possam rejeit-los a partir do

    momento em que souberem que so agredidos na escola e que so incapazes de reagir contra