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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANADANIELLE MARIA SANTANA
o amor e a visao do feminino na obra 0 amor naturale no poema "Caso do vestido" de Carlos Drummond de
Andrade
Monografia apresentada como requisito parcialde Trabalho de Conclusao de Curso, para aFaculdade de Ciencias Letras e Artes daUniversidade Tuiuti do Parana. Curso de Letras
Orientadora: Professora Mestre Marlei Gomesda Silva Malinoski
Curitiba2005
Rcsumo
Meu trabalho de pesquisa explorara 0 arnor e a visao do feminino na obra 0 arnor
natural e no poema "Caso do vestido" de Carlos Drummond de Andrade. 0 problema depesquisa se centra em perceber como 0 "amor" e 0 "feminino" sao observados por alunos
do terceiro ana do Ensino Medio. Abordar temas como esses com adolescentes do
Ensino Medio e importante, porque alem de serem assuntos cotidianos, e uma maneira
diversificada de tratar a literatura na escola. Principalmente por sabermos que
geralmente, os alunos teem livros somente para fugir de notas baixas ou quando estao
em fase de prestar vestibular. Meu interesse em abordar esse assunto ocorreu apos
varias leituras dos textos em questao, Drummond constroi uma leitura prazerosa atraves
de seu vocabulario e de sua narrativa casual, fazendo 0 leitor se transportar para a
ambiente da leitura de modo a conseguir imaginar as cenas ocorrendo na sua frente.
Minha pesquisa se dara por meio de leihlras, analises de textos e debates ern sala que
procurarao abordar as conflitos encontrados em cada texto, e sua importancia estara em
obselvar e relatar como os alunos irao absorver as informa<;6es sobre as obras de forma
que isso se aproxime de suas realidades. Utilizarei como ferramenta de pesquisa dois
questionarios investigativos. Ao final, espera-se desvendar uma forma mais
esc1arecedora de se trabalhar Carlos Drummond e 0 feminino com adolescentes e
eshldantes do Ensino Medio; fazendo com que conhe<;am melhor 0 autor e tenham 0
"prazer do texto" ao ler e interpretar a obra de Drummond.
iNDICE
Resumo ...indicc ..INTRO()UI;AO ....
Drummond, memoria viva da Literatura Brasileira ..FUNDAMENTAI;AO TE6R1CA.. . .
. 4. 5
. 6......... 8. .... 17
Reflexoes sobre 0 texto Drummondiano no Ensino Media.. . 17A Vida . 21o Cotidiano . 22o amor, 0 amor familiar, a submissao feminina e 0 ~Imor natural 22o contcmporanco e 0 co mum das rcla~ocs humanas.. . 24A Scxualidadc do amor DaO e poroografia c sensualidade 24
As rela~5es Drummondianas no "Caso do Vestido",. . 27METO()OLOGIA.. . 32
Questiomirio 1 - "Caso do Vestido". . . 32Questiom'trio 2 - Poemas com a mesma tematica da obra: 0 amor Natural 35
CONCLUSAO . 38REFERENCIAS . 39ANEXOS 40
QUESTIONARIO 1 - "CASO DO VESTIDO" .Ill.. . 40QUESTIONAAIO -2 - Pocmas com a mcsma tcmatica da Obra: 0 amor Natural 41
INTRODU<;:AO
Meu trabalho de pesquisa explorani 0 arnor e a visao do feminino na obra 0 amor
Natural e no poema "Caso do vestido" de Carlos Drummond. 0 problema de pesquisa
ccntra-se em pcrceber como 0 "arnor" e 0 "feminino" podem ser observados por alunos
do primeiro ana do Ensino Media;
Abordar temas como esses com adolescentes do Ensino Medio e importantc
porque ah~m de serem assuntos cotidianos, sera uma maneira diversificada de tratar a
literatura na escola. Principalmente ao sabennos que geralmente, as alunos lecm livros
somenle para fugir de notas baixas ou quando csUio em fase de preslar vestibular.
Minha pesquisa se dan! por meio de leituras, analises de textos e debates em sala
que procurarao abordar os conflitos encontrados em cada lextc, e sua importancia estani
em observar e relatar como os alunos idio absorver as informa90es sobre as obras de
fonna que isso se aproxime de suas realidades.
Meu interesse em abordar esse assunto ocorreu ap6s varias leituras dos textos em
quesHio, Drummond eonstr6i urna leitura muito prazerosa atraves de seu vocabulario e de
sua narrativa casual. fazendo 0 leitor se transportar para 0 ambiente da leitura de modo a
conseguir imaginar as cenas oeorrendo em sua frente.
Sendo eu professora do Ensino Medio. cursando 0 ultimo ano de Letras portugues
e ingles, essa rnonografia me acrescentara entre muitas outras coisas, maior
esclarecimento na cscolha de textos literarios, que possam estar presentes na realidade e
questionamentos de meus alunos, descobrindo assim, qual a melhor fonna deles serem
trabalhados e como 0 habito da leitura poderft estar presente oa vida dos alunos.
Esse estudo monografico se organizara em quatro capftulos. 0 primeiro capitulo
constani da introdw;ao do trabalho monogrMico; uma breve discussao sobre os motivos
que levaram a investiga~ao do tema; uma apresenta~ao do autor: Carlos Drummond de
Andrade e as definir;oes necessarias sobre feminino e amor, constantes em todo corpus
textual.
o segundo capitulo sera 0 da Fundamentar;ao Te6rica, nele pretende-se discutir 0
ensino da literatura no Ensino Medio - peNs; a queslao do feminino nas obras litcrarias,
uma abordagem transversal; a obra de Drummond - 0 ponto de vista da critica literaria; a
livro: 0 Amor Natural e a questiio do feminino e algumas considera~oes sobre 0 feminino
nas obras de Drummond.
o terceiro capitulo sera 0 da Metodologia em que serao apresentados os textos aos
aiunos, uma leitura com a ajuda da professora, e explicar;oes sobre a vida do autor, em
seguida serao lanr;adas questionamentos em tome das personagens femininas e da visao
feminina do autor; que os levariio a interpretar do que se tratam os determinados textos.
Por exemplo: a sensualidade abordada na obra 0 Arnor Natural, os fara enxergar somente
o erotismo ou mais do que isso? A personagem feminina do pocma "Caso do vestido",
esta prescnte no seu dia-a-dia? Por que ainda hoje uma mulher se submete a ser
humilhada pelo marido? Ela possui alem do orgulho ferido 0 proprio? Em que momentos
podemos observar isso? Sera sugerido urn debate com perguntas ja prcviamente criadas
peJa profcssora.
No decorrer das aulas serao propostas a analise e observar;ao de outros textos que
tenham reta~ao com os que estardo sendo observados.
o contexto historico e a visao de Carlos Drummond em cada periodo que foram
escritas as obras, tambem serao de grande valia para que se passa ter uma boa
interprctacrao.
o objetivo geral dcsse trabalho e desvendar a fonna mais esciarecedora de se
trabalhar as obras de Carlos Drummond e as questoes relativas ao feminino corn
adolescentes e estudantes do Ensino Media; fazendo com que conhecram melhor 0 autor e
tcnharn 0 prazer em ler e interpretar suas obras.
No quarto capitulo. em carater dc conciusao, serao relatadas as dificuldades para se
fazer 0 trabalho; os resultados diante dos alunos e se foram satisfatorios Oll nao e por que;
o que descobrirnos; quais as encaminhamentos para pesquisas futuras.
Drummond, mem6ria viva da Literatura Brasilcira
Rarissimos autores conseguiram se tamar assim como Drummond, memoria viva
em nossa literatura; esse mineiro natural de Itabira do Mato Dentro, nono filho do
fazendeiro Carlos de Paula Andrade c de D. Julieta Augusta Drummond conseguiu com
seu cstilo, linguagem e principaimente com humildade chegar it popularizac;ao, em urn
pais que praticamente nao existe 0 habito da leitura, poemas como: "Jose" e "No meio do
carninho", tomaram-se ditos populaTes na voz do povo.
Nascido em 3 J de outubro de J 902, no ano de 2005 completaria J 03 anos. A
pequena cidade onde nasceu, habira, e conhecida pelo minerio de ferro. Existem muitos
poemas autobiograficos no conjunto da obra de Drummond. urn deles e "Confidencia do
itabirano":
"Alguns anos vivi em ltabira.Principahnente nasci em Jtabim.Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.[ ...]A vontade de amar que me paralisa 0 tmbalho,vern de Itabira. de suas noites brancas, sem mulheres e sem horizontes.Eo doce habito de sofrer, que tanto me diverte,e doce hcram;a itabirana."(LUera/lira COli/en/ada, 1980, pag.22)
o autor chama a cidade em que nasceu, no seu livro de cronicas Conjissoes de
Minas de Itabira ou "Vila da Utopia". A palavraforro e explorada de fonna especial: para
descrever aspectos de seu modo de ver 0 mundo, 0 poeta recorre ao minerio que fazia a
riqueza de sua terra, atribuindo 0 seu jeito de ser, uma base material, concreta; tambem
mistura ao seu olhar nostalgico uma dose de ironia.
Em 1918 come~a a estudar como interno do Coh!gio Anchieta, em Nova Friburgo
no Rio de Janeiro, depois de ter ficado afastado da escola por motivos de saude e nesse
periodo tendo aulas particulares com 0 professor Emilio Magalhaes. Embora se destacasse
entre os alunos, aos 17 anos foi expulso do Colegio Anchieta por "insubordina.;ao
mental", depois de urn incidente com 0 professor de portugues; 0 autor poetou esse fato
em 1945 com 0 poema "A flor e a Nausea":
" [...]por fogo em tudo, inclusive em mim.Ao menino de 1918 chamavam anarquista.Porem meu odio e 0 me1hor de mim.Com elc me salvoe dou a poucos urna esperanca mlnima.{ ...]"
(LilerallIra COlllen/ada, 1980, pag.22)
Esse acontecimento roi detenninante na fonna~ao do homem e da carreira, do
futuro intelectual; em uma aulobiografia para a revista: "Confissoes de Minas", 0 autor
cita:
\0
" A saida brusca do colegio teve intluencia enonnc no desenvolvimento dosmcus estudos e de toda minha vida. Perdi a fe. Perdi tempo. E sobretudo perdi aconfian~a oa justilf3 daqueles que me juigaram. Mas ganhei vida e fiz algunsamigos inesqueciveis."
("Autobiografia para urna revista", COllfissoes de Minos, pag.72. -Litera/ura Comel1lada, 1980, pag.S).
"Fria FrihurgoNao fico aqui [...]Eu fujo ou nao sci nao.mas e tao duroestc infinito espa'YOultrafechado.Esta montanha aqui eu nao cntcndo.Eslas caras nao sao caras de gente."( Fria Frihurgo - Terceiro dia", E.\"quecerpara Lemhrar, Boitempo Ill, pag.96)
o autor roi de certa maneira injusti~ado por tcr feito urn tcxto subversivo para a
epoca, e roi entao dito que se ele nao se retratasse seria expulso do Coh!gio. Drummond
se relrnlou diante dos aluoos e professores e mesmo assim foi expulso, isso fez com que
ele se senti sse muilO humilhado e triste com a situayao. que acabou fazendo parte de sua
vida e de suas lembrancras, ate porque ele sempre comentava 0 oeorrido; tanto que em
detenninada altura de sua vida foi convidado para a comemora~ao do centemirio do
Coiegio Padre Anehieta e se recusou a estar presente.
o surgimento do escritor Carlos Drummond de Andrade se iniciou, em publico,
com a publicac;ao do poema em prosa "Onda" na revista Maio, de habira que data maio
de 1918. Jei em 1920 passa a viver fixamente em Belo Horizonte e e quando passa a se
relacionar com jovens poetas e escritores e engrena sua trajet6ria poetica e jomalistica;
dois anos mais tarde recebe 0 premio de cinqUenta mil rcis da revisla Novella Mineira
polo conto "Joaquim do Telhado".
Em 1923 0 autor comccra a cursar farmacia na Escola de Odontologia de Belo
Horizonte e passa a mantcr contato com 0 grupo modernista de Sao Paulo que sao: Tarsila
II
do Amaral, Oswald de Andrade, Mario de Andrade que regressavam de uma cxcursao as
cidades historicas; atraves dai estabelecc uma grande amizade com Mario de Andrade que
e alimentada por correspondencias durante anos. Drummond fala dessa amizade em "Suas
cartas" na obra Conjissoes de Minas. pag.77-78
"As cartas de Mario de Andrade ficaram seoda 0 acontecimento maisfonnidavcl de nossa vida intclcctual belo-horizontina. Dcpois de rcccbe-Ias,ficavamos diferentes do que eramos antes.E diferentes no sentimento de mais lucidos. Quase sempre ele nos matava asilusoes, e a morle era tila completa que s6 podia deixar-nos of endidos einfelizes. Entao reagfamos com injustiryas, lolices, 0 que viesse de momento aocoraello envinagrado. Mario recebia essas toHees, mostrava que cramsimplesmente tolices, e ficavamos mais amigos ...Porque a amizade se formou numa base de literatura, e devia nutrir-se dela, ateque fossem chegando outros motivos de interesse e abandono, certasconfidencias dificeis, pedidos de conselhos. Isto que nas rela~oes comuns sO 0
conhecimcnto pessoal e 0 trato diario costumam permitir, 0 conhecimentopostal e litcnirio suscitara imprcvistamcnte e era mcsmo uma resta de rcccbcrcarta de Mario, (...)"
(Lileratura Comentada, 1980, pag.6-7).
As id6ias modemistas que atingiram a vida intelectualizada brasileira dos anos 20
eslava no auge e logo tambem chegou a Minas Gerais, em 1925, Drummond lanl'a A
Revis/a, juntamente com Martins de Almeida, Emilio Moura e Gregoriano Canedo,
revista que tern como objetivo expandir as id6ias modernistas, propor uma refonnula~ao
nos padroes cst6ticos literarios brasileiros da epoca.
Neste mesmo ana 0 autor se casa com D. Dolores Dutra de Moraes e tennina 0
curso de Fanmi.cia, mas desinteressado peJa profissao, Drummond vai Jecionar aulas de
gcografia e portugues no Gimisio Sul-Americano de Habira, porem nao e 0 rnagistrado
que atrai Drummond e regressando a Belo Horizonte 0 autor passa a ocupar 0 eargo de
12
redator e em seguida de redator-chefe do Diario de Minas. Nessa epoca seu primeiro filho
Fhivio, marre, momentos ap6s 0 nascimento.
Em 1928 nasee sua filha Julieta, a grande paixao do autor. E ainda nesse ano
Drummond se lorna motivo de escandalo ao publicar 0 poema "No meio do caminho", na
Revisla de Anlropo[agia de Oswald de Andrade.
Ao escrevcr 0 poem a, Drummond se remctc a urn obstaculo durante a sua trajet6ria
poetica, a estc obstaculo, podemos denominar os pr6prios conservadores, que nao
aceitavam uma forma inovadora da poesia; e cvidente no poema caracteristicas
contempor.'ineas como aparece em alguns fragmentos:
«Nunca me esqucccrci deste acontecimento"- esta Frase denota 0 humor Drurnmoniano,
porque apcsar de estar falando de urn obstaculo, algo negativo, onde a pr6pria pedra
representa a angustia do autor e seu lado psicol6gico, mesmo diante de tudo isso, ele diz
que jamais se esquecera desses sentimentos. Em outro verso, ele utiliza a encantado das
palavras: "Na vida de minhas tao fatigadas".
o poema larnbem apresenta uma organiza'tao ritrnica, como 0 processo de
repeti'tao:
«No meio do caminho tinha uma pedraTinha uma pedra no meio do caminho"
Apesar dcsse obstaculo estar presente tantas vezes oa vida do poeta, ele consegue
superci-Io, pois, utiliza 0 verbo ler no passado, provando que esta pedra nao rnais existe,
ou seja, que esta fase de obstciculos ficou apenas em sua lernbram;a. Ao se colocar na
posic;ao de cronista, Carlos Drummond comenta em urna reportagem para "Autobiografia
para uma revista", pag.73, 0 que pensa a respeito do ocorrido:
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"( ...) sou 0 aulor confesso de certo poema, insignificante em si. mas que a partirde 1928 vern escandalizando meu tempo. e serve ate hoje para dividir no Brasilas pessoas em duas catcgorias mentais ( ...)".
A partir dai, 0 pacta, jomalista e servidor publico passa a dividir seu tempo com
inumeras atividades. Drummond inicia sua carreira junto a Secrctaria de Educar;ao em seu
estado; em 1930 Ian,. sua primeira obra: Alguma Poesia. Em 1934 publica Brejo da.,
Almas e ingressa para 0 Rio de Janeiro passando ao cargo de chefe de gabinete de
Gustavo Capanema que era ministro da Educa~ao e Saude publica, em mcio a toda
correria Drummond nao abandona seus artigos jomalisticos.
Em 1940 publica poemas em Sentimento do Mundo, aqui sc da inicio a fase em
que Drummond passa a questionar 0 seu proprio "eu" de encontro ao mundo; pois, para 0
autor, a poesia e algo que exigc muita rcsponsabilidadc e tambem dedica~ao. 0 poeta nao
consegue escrcver urn poema, ou qualquer coisa, em apenas urn instante, sem trabalhar
em cima do que esta fazendo. Segundo Drummond, nao e poeta aquela pessoa que
escreve somente nas horas de dificuldade, a fim de lamenlar-se por urn amor perdido ou
por falta de dinheiro; como ele mesmo comenta em "Autobiografia para urna revista",
pog.?3:
"[ ...]honesto rotular-se de poeta quem apenas verscjc por dor-de-cotovelo, fa Itade dinheiro, ou momcntanea tomada de contata com as fof\'as lirieas do mundo,sem se entregar a trabalhos cotidianos e secretos da tecnica, da leitura, dacontemplayao e da ayao. At6 os poctas se armam e urn pocta dcsarmado 6,mesmo urn ser a merce de inspira~s fticeis. d6cil as modas e compromissos."
A primeira obra de edierao comercial foi Poesias, lanerada em 1942; seu prirneiro
livro de cronicas foi Confissoes de Minas, lan~ado em 1944; em 1945 lanera A Rosa do
Povo, e nesse ana que ele assume 0 cargo de chefia da Seerao de Hist6ria da Diretoria do
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Patrim6nio Historico e Artistico Nacional; em 1948, lanc.;a Poesia Ate Agora. Ao tinal dos
anas quarenta, Carlos Drummond comemora 0 nascimento dos netos e celebra com 0
paema: "A Luis Mauricio, infante":
"Acorda, Luis Mauricio. Vou tc mostrar 0 mundose e que nao prefercs ve-Io de teu rcino profunda."(Fazendeiro do Ar, pag.290)
A versfio ficcionista de Drummond estreia em 1951 com a publicac;ao de Contos de
Aprendiz; ainda em 1951 ele lanl'a Claro Enigma e A Mesa; em 1952, 1anl'a Viola de
Bolso Novamente Encordoada e Passeios na Ilha, que e 0 seu segundo volume de
cronicas; como paralelamente aD trabalho de funcionario publico e pacta e tambem
cronista, a unia.o dos tcxtos pra as jomais, ajuda-o nas puhlicac;oes de Fala Amendoeira,
Versiprosa e Versiprosa II.
Em 1962, 0 autor encerra suas atividades de funcionario publico, mas as literarias e
jomalisticas continuam. A aposentadoria sede mais tempo ao autor e e 0 momento que ele
se recolhe sua casa e continua a dialogar com 0 mundo que 0 cerca e com seus proprios
sentimentos, sem nunca perder a lucidez que e a propriedade de sua obra.
A fon;a de sua obra foi se solidificando cada vez mais nas decadas de 60 e 70 que e
quando surgem: Li9iio de Coisas, Antologia POl?tica, Obra Completa, Jose & Outros,
Boitempo & A Falta que Ama, Reuniiio. Suas regulares contribui~6es com cronicas para
os jomais colabora para 0 nascimcnto das obras em prosa; algumas sao: A Bolsa & A
Vida, Cadeira de Balan90, Caminhos de Joiio Brandiio, 0 Poder Ullrajovem, De Nolicias
e Niio-NoliciasJaz-se a Cr6nica e Os Dias Lindos.
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Drummond Creconhecido em muitos paises e tcve suas obras traduzidas em varias
linguas. A sua luta constantc pclos ideais do tempo presente foi manifestada em: As
lmpurezas do Branco, Discurso de primavera & Algumas Somhras e em 0 Marginal
Clorinda Gato, ou A Visila; 0 passado, e, as lembran93s de sua inffincia e juventudc sao
revividas em: Boitempo & A Falta que Ama, c em Menino Antigo e Esquecer para
Lembrar; as recorda~6es e a saudadc de sua terra se rctbnyam nas palavras do cronista:
"[ ...] fui itrlbirano, gente que quase nllo fala bern de sua tcrra, cmboraproiba exprcssamcnte aos Qutros falarem mal dela. Maneira indireta edisfa(\:ada de querer bern, legitima como tadas as maneiras. E, afinal, ell Iluneapodcria dizcr se culpo ou se agradcr,ro a Itabira pela tristeza que dcstilau no meuser, tristeza minha, que nao capiei, naa furtei ... que na rigidez da minha linha deAndrade a desvio flexivel do tra~o materna".
Nos primeiros versos de "Poema de Sete Faces", Drummond chama a atenc;:aoao
citar a palavra "gauche", que significa "esquerdo", na lmgua francesa. "ser gauche na
vida" pode ser interprelado como ser uma pessoa diferente, desajeitada, vivendo a vida
sempre de urn jeito diferente, distante do senso comum; e e como autor se auto-define.
Carlos Drummond de Andrade real mente e urn poeta de sete faces, como podcmos
observar na cronologia de suas obms, 0 autor inspirou varios diretores que desafiam
desvendar e interpretar sua figura (mica. 0 autor Carlos Gregorio interpretou-o no filme:
"Poeta de sete faces" do diretor Paulo Thiago e diz que se inspirou nos poemas de
Drummond e tambem num certo humor e ironia que autor possuia, pois 0 poeta falava
acelerado, despejava as palavras.
No tilme 0 personagem de Drummond da uma entrevista onde afinna que talvez
tenha se envoi vida mais com a literatura, porque ele nao trabalhava, todos as seus amigos
trabalhavam c elc era "vadio", e por isso tambem muito popular; dando a impressao de
16
que era Iidcr do grupo, pais acabava se aplicando mais a Icitura exatamente porque tinha
mais tempo.
o direlor e cineasta Paulo Thiago comenta:
"Tentei apresentar urna visao do pacla que eu admir~ desde a adolescencia, apartir de sua trajet6ria biogra#ica e poctica, pais, Drummond roi urn autor quese transformou em torna do tempo, come~a como pacta de vanguarda(modernista), depois passa a ser 0 pocta social engajado, depois mais filos6fico.depois aborda 0 resgatc da memoria, do passado que se lorna presente com aviagcm na familia c catcgoricamentc term ina escrevendo poemas eroticos; urnpoeta de urna multiplicidade de lemas fantasticos que atinge ate hoje urnaimensidao de leitores".
17
FUNDAMENTA<;:AO TEORICA
Reflexoes sabre a lexlo Drummondiano no Ensino Media
Bascados nos Parametros Curriculares Nacionais do Ensino Media, as professores
doutorcs Enid Yatsuda Frederico e Haquira Osakabe da Universidade Estadual de
Campinas escrevcram sabre como e abordada a Iiteratura nas salas de aula do Ensino
Medio. E podemos observar que:
"com 0 processo de "democratizayao" do ensino ocorrido em 1967, com aampliayao de vagas, climinayao dos chamados examcs de admissao,entre outrosfatores, colacau 0 ensino ginasial e, conseqiientemente, 0 colegial, nurna nova ediReil realidade: de urn momento para DUtro, urn novo publico, agora fannadapor alunos provenienlcs de origens sociais diversas, com expcricncias culturaisc lingOistieas muito peculiarcs, chcga as escolas publicas. Suas demandas emtOOas as areas do ensino eram muito distintas daquclc publico suposto pclosantigos programas.
Com isso, 0 sistema educacional teve que improvisar professores ou "mao-de-
obra" para que Fosse suprida rapidamcnte a necessidade desscs alunos que constituiam
urna grande massa heterogenea, a partir dai come~aram a surgir profcssores que nao cram
fonnados em licenciatura ou trabalhavam em outras areas, mas estavam indo para as salas
dc aula, tendo como dcsculpa 0 grande contingente de alunos .
Clara e conseqUentemente a qualidade de ensino come~ou a cair, nao havia mais
disponibilidade de cspa~o para abrigar esse novo publico, investimento para a
remunerac;ao adequada dos professores, mao-de-obra com fonna~ao universitaria, nem
constituic;ao de um novo plano academico, passou a haver urn desconhecimento total
quanto a esses assuntos, que podc se entender como urn preconceito - "nao se deve deitar
perolas aos porcos", ou seja, as classes subaltemas s6 merecem urn ensino it sua altura.
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A partir de entaD eria-se urn impasse quanta a decisao do professor no momenta
que vai tTatar em sala livros classicos au canones, surge a inseguran.;:a da capacidade do
aluno em assimilar 0 aprcndizado. Entao DeOITe a substitui\i30 da literatura diHcil por uma
mais "digcrivel". a substitui~ao da obra original por uma versao juvenil au resumos. Logo
a solu~ao encontrada pelo professor para enfrentar esse publico heterogcneo lorna-se
bastante discutivel e duvidoso quanta ao aprendizado da literatura. 0 mais dificil de se
entcnder e 0 porquc de ate hoje esscs rnetodos ainda serem usados, pais ladas hac de
convir que as metodos pedag6gicos de aprendizagem tern evoluido bastante mesmo no
ensino publico desde 1967.
Os PCNEM (pog. 137/138) citam:
"0 conceito de texto litecirio e discutivel. Machado de Assis e literatura, Paulocoelho nao. Por que? As explica~6es nao fazcm sentido no aluno.Dutra situn~aode sala de aula pode ser mcncionada. Solicitamos que alunos separassem de urnbloco de textos, que iam dcsde poemas de Pessoa e Drummond ate contas detelefone e cartas de banco, textos litentrios e nao-litenirios, de acordo comodcfinidos. Queslionados, os alunos responderam: "lodos sao nao litcrarios,porque servem apenas para fazer excrcicios na escola." "E Drummond?:"Rcsponderam: "E literato, porque voces afirmam que e. Eu nao concordo. Achoque clc c urn chato. Por que ZC Ramalho nao e litcratura? Ambos sao poctas,nao e verdade? ,.
Os textos de Paulo Coelho e de Ze Ramalho sao de facil acesso para 0 aluno, que
condit;oes de aprecia-los segundo seus padroes de prefcrencia, enquanto Machado e
Drummond esHio distanciados de suas experiencias lingiHsticas e por isso escapam it
capacidade de interpretat;ao e apreciat;ao.
E visto que 0 fen6rneno literario ou poetico tarnbem e manifestado nas criayoes de
consumo, como nas musicas populares. Djavan, Caetano Veloso, Ze Ramalho C outros
estao ai para comprovar.
19
"Inicinlmcntc, e necessaria partir da idcia basica de que uma das condicoes paraque um tcxto possa seT considerndo literario e 0 seu potencial de produzir, noleitor, uma sensacao de estranhamento. Islo e, tern de produzir-lhe urnincomodo c convoca-Io a deslocar-se de sua pcrcc~ao cotidiana, em geml,automatizada".
A primeira parte dos parametros que sao as Bases Legais apresenta a mudan,a do
Ensino Media, que segue acompanhando as novas tccnoiogias e tem 0 objetivo de
possibilitar a integrac;ao do aluno ao mundo contemporaneo, mediante a
intcrdisciplinaridadc e novas abordagens melodol6gicas tern como meta incentivar 0
raciocinio e a capacidade de aprender.
o projeta de refonna curricular do Ensino Medio teve desde de seu inicio a
prcocupac;ao de manter 0 dialogo entre lodos os setores da educa~ao. Sendo po Ensino
Medio a ultima etapa final de urna educa~ao de carMer gerat, portanto deve fonnar 0
cidadao. Nessa concep,ao, a Lei n" 9.394/96:
"muda no cerne a identidade estabelecida para a Ensina Media cant ida narcferencia anterior. a Lei n° 5.692171, cujo 2° grau se caracterizava par urnadupla fuorraa: preparar para 0 prosseguimento de integrayao de seu projeloindividual ao projeto da sociedade em que se situa;estudos e habilitar para 0exercicio de urna profissao ttknica. Campetcneias necessarias quanta:• 0 aprimoramento do educando como pessoa hurnana, incluindo a fonnayaoeliea e 0 desenvolvirncnto da autonornia intelectual e do pensamento cntico;• a prcparayao e orientayl1o basica para a sua integrarr3.o ao mundo do trabalho.com as competencias que garantam seu aprimoramento profissionai e pennilamacompanhar as mudanrras que caractcrizam a produrriio no nosso tempo;• 0 descnvalvimento das competencias para continuar aprendendo, de fonnaautonoma e critica, em nivcis mais complexos de estudos."
Scndo assim •temas que estejam de impacto com a realidade dos alunos, como 0
"arnor", a "mulher", 0 "erotismo e pomografia" devem ser discutidos em sala.
20
As considcra<;oes da Comissao Intcmacional sabre educa~ao para 0 seculo XXI,
incorporadas fia determina~ao da Lei nO 9.394/96, afirma que a educayao deve cumprir 0
papel economica, cientifico e cultural e tambcm deve possuir quatro alicerces:
Aprcndcr a conheccr - observa-se importfincia da educary30 ampia, com a possibilidade
de se aprofundar 0 conhecimento em detenninada area.
Aprcnder a fazer - 0 desenvolvimento de habilidades, estimulo de novas aptid6es.
Aprender a viver - aprcndcr a viver juntos desenvolvendo percepyoes para a realizacao
de projctos comuns.
Aprender a scr - a preparac;ao do individuo para a cria<;3ode pensamcntos aut6nomos e
criticos. Exercitar a Iiberdade de pensamento com discemimento [rente as diferentes
circunsHincias da vida.
Para Drummond, "estar no rnundo" tern rnuitas conseqi.h~ncias. Vma delas e a
necessidadc de explicar 0 que esta a sua volta, e tambcm explicar a si mesmo. Contemplar
a vida a partir da observa.;:ao dos acontecimentos, e irnbuir esscs sentimenlos em sua obra.
Drummond sernpre foi urn cuidadoso observador de sua propria obra, urn profundo
conhecedor de seus versos, no poema "Explica~ao" da obra Alguma Poesia ele cornprova
isso:
.• Meu verso e minim eonsola~ao.Meu verso e rninha eaeha~a. Todo rnundo tern sua eaehaya."
Para louvar a Deus como para aliviar 0 peito,queixar 0 desprezo da morena, cantar minim vida e trabalhose que fayo meu verso. Meu verso me agrada.
Meu verso me agrada semprc ...Ele as vezes tern 0 ar sem-vergonha de quem vai dar uma cambalhota,mas nao e para 0 publico, c para mim mesrno cssa cambalhota.
Eu bem me entcndo.
21
Se meu verso na~ deu certo, foi seu ouvida que entortou.Eu nao disse ao senhor que na~ sou senao pacta?"
Escolhida a cachaya, 0 pacta vai passar a vida experimentando as varias fannas de
beber, que semprc reforyara 0 acerto de suas escolhas.
Muitas vezes, podemos observar nas obras de Drummond, urna insatisfaC;3o com 0
mundo e consigo mesma, 0 pacta parece condenado a uma angustia de dificil soluc;ao.
Altemando a ironia com 0 desanimo. elc registra a sua perplcxidade, sensaC;3o de quem
naa e capaz de compreender a propria situac;ao:
" Nao sci se estoll sofrendoau se e alguem que se divertepor que nao? na naite escassacom urn insoluvel flautim."( "Soncto da pcrdida esperanca", Brejo das Alma\')
A Vida
Em Dutro paema, 0 autar demonstra sua insatisfac;ao com a vida, com urn olhar
voltado para a tematica da '"vida besta", [alta de sentirnento da vida:
"Nenhum desejo neste domingoncnhum problema nesta vidao mundo parou de rcpentcos homens ficaram caladosdomingo scm tim nem comer;o".( "Poema que aconteccu", Alguma Poesia)
o amor crepuscular e bastante comum na obra de Drummond, no poema "Campo
de flores" 0 autor cxprcssa esse tema:
22
"Mas, porque me tocou urn arnOT crepuscular,ha que amar difcrente. Dc urna grave paciencialadrilhar minhas maos. E talvez a ironiatcnha dilacerado a melhor doal;:ao.Ha que amar e calar."
Pais 0 arnor maduro e 0 verdadeiro, no qua] naD hft mais infantilidade, ja esta
consolidado. e naD oscila entre 0 dia e a naite, scm ser exatamente finne como 0
crcpusculo; 0 lema da maturidade foi inclusive lema de sua ultima obra: 0 Amor Natural.
o Cotidiano
Carlos Drummond de Andrade scrnprc tratou de temas cotidianos em suas obras, 0
dia-a.-dia e que despertava ncle 0 sentimento poetico. Ao come~ar por naD tcr uma vida
desrcgrada, 0 aular era pai de familia, funcionario publico, urn trabalhador, portanto sua
vida scmprc roi voltada para 0 aqui c agora, como cle mesmo citara no poema "'Maos
Dadas":
"0 tempo c minha materia, 0 tempo presente, os homens presentes, a vida presente."(Anlologia Poetica 2000, p. 118).
o amor, 0 amor familiar, a submissao feminina e 0 3mor natural
o arnor tambern foi 0 sentimento maior e principal motivador das obras de
Drummond, ele soube retratar com maestri a esse arnor de varias fonnas, 0 amor fisico, 0
arnor natural, 0 arnor puro, 0 arnor familiar, urn cxemplo pode ser obscrvado em urn
trecho do poema: "Caso do vestido":
23
"(...)e ja na ponta da estrada
vosso pai aparecia.Olhou pra mim em silencio,
(... )E disse apenas: Mulher,
Poe mais urn prato oa mesa.Eu fiz, cle se assentou,
Comeu, limpou 0 suor(...)
o barulho da com idana boca me acalentava,
me dava urna grande paz.urn sentimcllto esquisito
de que tudo foi urn sonho(...)."(Antologia POI!tica2000, p. 161).
o arnor familiar fica claro corn a presem;a do aHvio que a mulher teve ao ver 0 seu
marido de volta em casa, ao vc-Io sentado it mesa, almo9ando como de costume, como
uma familia normal, a mulher sentiu a paz novamente em seu cora9ao, sentiu 0 termino da
angustia que havia lido durante todD 0 tempo que 0 marido estava fora. 0 que importa pra
cia, nao c saber por que motivo ele saiu de casa tao brutalmente, au por que voltau; 0
importante e te-Io de volta seja como for, que ele esteja presente nao s6 em suas
lembranyas, mas tambem fisicamente porque cia depcnde da prescm;a masculina para sc
scntir protegida.
Drummond trata em suas obras de temas contemporancos, e e precisa destacar que
ao abordar a "mulhcr" e 0 "amor", 0 autor se posiciona como urn grande critico. Essa
critica pade ser observada quando 0 autor nos chama a aten~ao para urn cotidiano que e a
fato de muitas mulheres serem agrcdidas por seus companheiros, POl'emsutilmente 0
24
autar tarnbem nos expoc como no caso do pocma as motivos de muitas delas aceitarem
essa condic;;ao e tarnbem trata do sensualismo e erotismo de maneira especial nos levando
a observar a intirnidade entre urn casal, au seja, a realidade envolta tern relayiio com sellS
lextos.
o contcmporaneo e 0 comum das rela~oes humanas
o autar trata em suas obras de temas contemporaneos, e aD abordar a "muther" e 0
"arnor", nos mostra sua sensibilidade aD tratar de temas lao comuns nas vidas alheias,
escrever sabre a dor, sabre a desilusao e que fez Carlos Drummond sec reconhecido e
admirado ainda hoje mcsmo depois de cern anos da sua marte, sec lembrado com carinho
pela maioria dos leitores, Drummond continua vivo, pais, cle deixou relatados os dramas
existenciais, os acontecimentos cotidianos e quando ainda era urn assiduo escritor recebia
cartas de leitores de todo pais, comentando e admirando suas prosas e versos.
E como 0 proprio autor ja disse, nao adiantaria escrever sobre como a vida c
maravilhosa, sobre as Oores, porque as pessoas nao se sentiriam tocadas, as pessoas
coslumam parar para pensar, e refletir sobre a vida, sobre as coisas, quando soEr-em
alguma decepyaO, au sao frustradas de alguma fonna, e se sentem confortadas ao lerem
sua obra e de saber que em algum lugar do mundo urn outro ser humane tambcm passou
par essa mcsma expericncia de desapontamento e conseguiu expressar atraves da escrita.
A Sexualidade do amor Dao c pornografia e sensualidade
No caso de a Amor Natural, nos e apresentada uma obra repleta de poemas que
minuciosamente fala da rela~ao sexual entre urn homem e uma mulher; temos que
destacar que Drummond escreveu essa obra ja no final da vida, e mesmo falando de urn
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assunlo que causa prazer, 0 autar nao se asseguraria que seus leitores tambcm fossem
encarar tal obra de maneira positiva, sendo assim, apesar das criticas, soube mol dar os
paemas de forma lao nalural, e verdadeira, que tcria com certeza urn Dutro impacto se
tivesse side escrila por umjovem.
Drummond nos leva a questionar, sabre como achar a diferenc;a entre 0 arnor e 0
erotismo, levando em conta que os conceitos de pornografia e arnor esUio bastante em
voga nos dias atuais, e podemos obscrvar issa, ao assistir urn filme, ao ouvir uma musica
ou 0 que e pior no rclacionamento entre casais. Drummond quer esc1arecer com essa obra
que naD C somente na tcrceira idade que 0 arnor e natural, 0 arnor c natural durante toda
nossa vida e naD deve ser encarado como pomografia como muitos interpretam.
Assim como cila Lucia Castello Branco em sua ohra Erotismo: "Entre poetas,
sex6logos, manfacos e oportunistas, ha algo em comum: a necessidade de verbalizar 0
erotismo, de escrever a linguagem do desejo ..."
o teono erotismo surgiu no scculo XIX a partir do adjelivo: "er6tico", derivado do
grego, 0 mito da Grecia Antiga: Eros, que e considerado 0 Deus do amor, no sentido rna is
amplo, do desejo sexual. Segundo Eros tudo antes era silencioso, nu e agora tudo e lindo,
alegre, movimentado.
Do grego: "pomas" significa: prostituta + "grafo": escrever, ou seja, escrita da
prostituiyao - escrita a cerca do comercio sexual~ "pomas" derivado do verbo "pememi",
que significa: vender.
A obra 0 Amor Natural de Drummond chega a ser desclassificada como uma obra
seria par alguns criticos literarios como Wilson Martins, ganhador do premia Jabuti au
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chamada de "apelo comercial" como citou 0 mcstre em estudos litenirios Juarez Polleto.
Drummond e vista como senil pOTqUC narra 0 sexo, caisas que as pessoas estao
acostumadas a razer c nao a ouvir ou ler. E preciso tambcm lembras que ha um
preconceito com os Lemaserotismo e pornografia, nao com a obra de Drummond.
Segundo Georges Bataillc em sell ensaio "L'crostismc",citado por Lucia Castello
Branco, as exprcssoes artisticas possuem forte impulso er6tica, a rela~ao que se
estabelecc entre obra e leitor ou espcclador, 0 prazer durante a obra nao e 56 eSletica
racional ou intelectiva e sim erotica.
Analisando a mcsma obra de Lucia Castello, podemos observar urna das distin~6es
que Lernos de erotismo e pomografia e que 0 erotismo e "oohre" e "grandioso", enquanto
a pornografia tern carater "vulgar" e "grosseiro" porque se vincula diretamenle a
sexualidade, e a exibi~ao do indesejavel, 0 que se mostra e devia ser escondido. A
pornografia esla para cenas de sexo explicito, assim, como 0 erotismo esta para 0 sexo
implicito. Dessa maneira, todo impulso sexual natural ao ser humane deve ser
considerado vulgar e grosseiro.
o erotismo esla relacionado a obras de arte que abordem temas vinculados direla ou
indiretamente it sexualidade, ja pornograticos sao revistas de sexo, filmes pomos, obras
sobre sexo produzidas geralmente em serie com objelivo de comercializa~ao e consumo.
Ja que revislas de sacanagem sa.o consideradas pomos e os romances de Marques de Sade,
er61icos, 0 que dizer de Adelaide Carraro? Que esla entre escrilores respeitados e aborda 0
sexo na lileratura de forma "grosseira". Qual seria a conceilo de arte? Par que definir
essas regras?
27
Agora citando a obra Pornografia, de Eliane Moraes e Sandra Lapciz:
"~tlalqucr tentativa de comprcensao do que e pornografia deve sercontcxtualizada e considerados as fcnomenos do grupo social, do momentahistorico - que vai detenninar urn comportamcnto pornognifico. De acordo corna legisla~iio brasileira em vigor desde 1970, pomografia e compreendida comoqua\quer publica~o ou exterioriza~ao contniria a moral e as bons costumes eque explore a sexualidadc.'"
Scm cxplicar exatamentc 0 que seriam bons costumes e exploral;ao da sexualidadc.
1550 fica implicito em nossas no.;oes de moral de dccencia, que inclui claramcnte, manter
as aparencias.
'''Pomografia eo erolismo dos OULTOS", segundo Alain Robbe-Grillet, escritor frances.
As rela~oes Drummondianas no "Caso do Vestido".
No pocma "Caso do Vestido", e apresentada a historia de uma mulher que se ve
trocada par outra, par uma prostitula, mas acaba accitando 0 marido novamente, e
pendurando em urn canto da casa, 0 vestido usado pela amante do mesmo, foi enUlo que
pude observar a sinestesia daquele texto, onde os sentimentos de pena, amor e rcvolta se
misturam; porque ao mcsmo tempo em que a personagem do pocma sc mostra submissa
ao homem que a faz sofrer, ela tambern se revel a fief aos proprios principios; 0 que faz 0
leitor se queslionar sobre suas atitudes e sentimentos com rela<;ao a esta mulher.
Outro falo interessante, e que esta personagem pode se enquadrar em qualquer
classe social, culLura, religiao ou caniter que fosse abordado, pelo motivo de ser urn
acontecimento comurn, e que pode ocorrer na vida de qualqucr ser humano. Ao sofTcr
uma decep<;ao amorosa essa mulher poderia rcagir de varias maneiras, a cscolhida por
Drummond, foi a de cia pcrmanecer calada. mas no final. de provar ao homem, que cia
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tambem possui orgulho. mcsmo 0 aceitando novamenle, e naD tocanda no assunto que 0
fez sair de casa.
E passivel que essa personagem tcnha plancjado a vinganc;a de deixar exposto 0
vestido que tanto leva 0 marido lembrar de sua traic;ao? Ela sabia que em algum momento
cle iria valtar? Sera 0 arnor dado as ultimas conseqUencias que levau cssa muther a
esperar uma vida intcira pelo homem que 56 a fez sofrer?
Pode ser que cia arne esse homem, porquc isso e uma atitude comum no ser
humano, vivemos em busca de algum amor, pais sem ele a vida naD vinga, e por isso que
essa mulher se acaba, se scnte marta e~dcsesperada quando 0 marido sai de casa:
(...] "Sai pensando na morte,mas a morte nao chegava.
Andel pelas cinco ruas,passei ponte, passei rio,
visitei vossos parentes,nao cornia, nao falava,
tive uma febre ten;a,mas a marte nila chegava.
Fiquei fora de perigo,fiquci de cabcya branca,
pcrdi meus dentes, meus olhos,costurei, lavei, fiz dace,
minhas maos se escalavraram,mcus ancis se dispersaram,
minim corrente de ouropagou conta de fanmicia.
Vosso pai sumiu no mundo.o mundo e grande e pequcno".[ ..J
("Caso do vestido")
29
o arnor nao tern explica~ao, e clificil descobrir 0 por que, quando se e dominado
por elc, as pessoas querem tanto a lal ponto que ficam dependentes da pessoa amada. Sera
que se e escolhido au dominado? Ou sera tudo inconsciente? 0 assustador e saber que ao
mesmo tempo em que 0 arnor e sublime, elc e lambcm cruel quando rejeitado ou nao
correspondido. 0 sofrimento da personagern se da principaimentc por causa da distancia;
pais, nao ha nada pior para urn amante do que estar longe de seu amado, pais 0 arnor 56 e
realmente completo a dais.
E e por isso que surge a infelicidadc, porque quem ama, passa a sc anular, a anular
sua condil;ao de origem para agradar 0 amado e isso muitas vezes nao da ccrto porque as
pessoas sao diferentes e tendem a sofrer quando passam por drasticas rnudant;:as, mas se
desistem do amor, a dor maior, e a da distancia. Arnor e paz, e que lodos qucrem, porcm e
bern diferente na rcalidade, pois, quem ama, esta sujeito a brigas, a chantagens, para quem
ama, a prova do amor sera sempre a satisfat;:ao e plcna concordancia do amado para tudo
que for dito; quando se ama e c contrariado, 0 arnor cai em descredito. E ser trocada por
outra, como acontece no poema, e urna situarrao muito pior de ser resolvida, porquc 0 que
cotra em discussao IStambem 0 rcspeito pelo outro.
Porem 0 quc a csposa sentiu ao ver seu marido fora de casa, foi 0 mesmo que a
Dona de longe sentiu quando foi ate a esposa enLregar 0 vestido do "dia de cobra, da
maior humilharrao", nesse momento, os papeis se trocam e a amante passa a se sentir
compictamente apaixonada c desespcrada, cia amava 0 homem do mesmo modo que a
esposa, a amante aqui, tambcm nao e correspondida, e mais ou menos como: "se nao sou
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correspondida, nao deixo de amar, mas nao lenha razao de existir", como cita Betty
Millan em sua obea Amor. Urn exemplo disso se da nos versos:
[ ... J "Urn dia a dona soberhame apareccu ja scm nada,
pobre, desfeita, mofina,com sua trouxa na mao.[ ... ]
Quem ama safre muitas vezes sem afastar da dor de si, pelo contnirio, parece
cultivar a dor. E 0 cxemplo do poema, 0 vestido pendurado nos remcte ao sofrimento da
esposa por muitos anos scm a preSeny3 do marido, cia poderia nao ter aceitado 0 vestido
oferecido pela amante ou ter se livrado dele, pOfl!m 0 que cIa fez e pcndura-Io num prego
fia paredc, para assim relembrar lodos os dias a sua tristeza, sendo que 0 marido ainda nao
linha voltado pea casa.
Outro motivo que pode justificar 0 desespero dessa mulher pode ser a dependcncia
na~ s6 finance ira, mas fisica desse rnarido, e como sc cia precisasse estar scmprc com as
olhos nele para sc sentir segura e capaz de continuar sua vida tranqUilamentc, a mulher
ainda hoje e "prcparada", c criada pra ser a mha perfeita e obediente, porque ao cre$cer
espera-sc que cia dam inc urn lar, uma profissao, os filhos, apoie 0 trabalho do marido,
seja tiel com suas obriga~ijes de csposa, atenciosa com tudo, bonita, saudavei, cheia de
energia e born humor e claro.
Espera-se que a mulher seja prestativa e muitas vezes scm receber nada em troca.
Muitas mulheres aceitarn essa situa~ao e vao aos poucos se anulando; e quando sao
traidas, se punem, semprc procurando defcitos em si, se convencem de que a culpa e
sempre delas mesmas, de que elas poderiam ter feito alguma coisa para que aquela
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situar;ao fosse evitada. As mulheres agem dando trcgua c liberdade ao hom ern,
inconscientemcntc, mesmo quando pensam que nao, isso e uma quesHio cultural. Esse
seria urn dos motivos da mulher lcr urn indice de deprcssao e medo muito maior do que os
hornens.
Na cabcya de muitas del as, ainda, a condiyao de mulher e somentc servir, naG e de
se estranhar quando vemos uma adolescentc que se aproxima dos 18 au 20 aoos,
(principalmente se tiver namorada fixo) seoda observada, se sabe cozinhar, se e
organizada com suas caisas, senao for, deve aprender porque sc pensa em casar, deve ja
saber dar canta de lodos os afazeres domesticos; se esta adolescente prepara uma refciyao
que a aprovada por lodos que provam 0 prato, ja vern logo a frase conhecida: "ja pode
casar". Servir ao homem, jei se tomou uma coisa natural, este cargo e automalicamente
dado ilmulher.
E como os homens tendem a se casar e a valorizar mulhcres que agem de tal modo,
muitas passam a agir assim fielmente, para assegurar 0 homem perto de si, acharn que se
calando e aceitando tudo de cabe~a baix~ sendo discretas, serao mais interessanles e
estarao scguras ao lado desse homem, como acontece no poema. A personagem tern medo
de transgredir as regras, de se impor scm a ajuda dcsse homem, nao se sentc segura au
capaz distante dele, com certeza por que viu sua av6 e sua mae se comportando de
maneira submissa diante dos homcns, cia esta simplesmente se colocando no seu lugar,
segundo, a que acha certo.
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METODOLOGIA
A metodologia, estrutura-se oa investiga'rao com base oa aplica~ao de dais
questionarios para uma tunna de alunos de Ensino Media, em que se objetivava percebcr
os prcssupostos dos alunos feferentes as reia90es Drummondianas nos textos:
I ~ "Caso do Vestido";
2 - Poemas com a mesma tcmatica da cbra 0 amor Natural.
as qucstionarios foram aplicados com as alunos do 3° ano do supletivo do
Coh~gio Antonio Lacerda Braga. Os alunos sao maiores de 18 anos e totalizam uma tunna
de 2S alunos. Entre esses, cinco alunos csta.o sc prcparando para 0 vestibular.
Questionario 1- "Caso do Vestido".
Primeiramente [oi apresentado aos alunos 0 paema recitado pelo proprio autor,
Drummond, "Casa do vestido" atraves do cd, cles nao tiveram contato visual com 0
poema. Anteriormente foram sanadas todas as ditvidas quanto ao vocabulario e entregues
seis quest6es referentes ao poema; dezesseis alunos participaram sendo eles nove do sexo
feminino e seis do sexo masculino.
A primeira pergunta do questionario era se a esposa teria ou nao se vingado da
amante, tres alunas responderam que sim e seis que nao, entre os homens dois
responderam que sim e quatro que nao; os que responderam sim, que ela se vingou,
compreenderam que a esposa manteve sua postura caiada, pon:':m se vingou do marido por
expor ao mesmo de fonna indireta a escolha err6nea que fez em ter se casado com ele. Os
que responderam que eIa nao se vingoll, nao compreenderam a fonra narrativa, ficou mais
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facil aceitar que a mulher exerceu sua posi9ao de submissa frente ao homem e 0 tcnha
aceitado novamentc.
Outra quesHio foi a de quem tcria amado mais 0 homem em qucstao, tadas as
meninas responderam que roi a esposa que mais 0 arnOll, e entre as halTIcns, somenle urn
respondeu que leria sido a Dona de longe, urn plaear de quatorzc contra urn. t nonnal que
alunos tcndam a responder que a Dona de casa mais amou 0 marido, claro, pais e 0 que se
espera social mente, contudo em tennas de amor, ambas amaram igualmente 0 homem
porque a esposa soube esperar fiel e pacientcmente 0 marido, alcm de ter se humilhado
diante da amante, pensando exatamente na felicidadc e "bern estar" do companheiro. A
amantc tambem 0 amou com intensidade, mas a partir da convivencia com 0 homem, ela
soubc mais tarde recoohccer que tinha cometido urn erro, ""de ofender dona casada,
pesando no seu orgulho", soube se desculpar, 0 que nao deixou de ser uma humilha.;ao, e
oeste momento da hist6ria, cia ainda diz a esposa: ""naote dOll vosso marido, que nao sci
oode ele anda", quando no fundo sua vontade era de eslar com ele, de continuar a rela~ao,
no entanto, de nada adiantou impiorar 0 amor desse homem:
[...]"Me joguei as suas plantas
fiz tOOasorte de dengo,no chao rocei minha eara,
me puxci pelos cabo los,me lancei na eorrenteza,
me eortei de eanivete,me alirei no sumidouro,
bebi fel e gasolina,rezci duzentas novenas,
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dona, de nada valet!:vosso marido sumiu.[...]
A pergunta com rCl3yaO a durayao do tempo em que acontece toda historia possui
respOSlas bastante variadas, em urn panorama geral, scm especifica~ao de sexo, aita
respondcram que a dura.;ao do tcmpo foi de quinzc anos. tres acham que foram dez anos,
dais acham que se passou urn ana, urn acha que sc passaram dais anos e outro que se
passaram cinco anos.
Alguns trechos do poema provam que provavelmcnte tcnha se passado mais de cinco
anos:
[...] "me deixou com vassa bento,roi pam a dona de longe" [...]
[ ... J "Fiquei fom de perigo,fiquci de caberra branca,
perdi mctls dentes, mcus olhos,costurei, lavei, fiz dace" [...J
A ultima questao era qual sentimento confortava a esposa quando 0 marido chcga
em casa e diz pra par rnais urn prato de comida na mesa, oito alunos responderarn que 0
sentimenlo da esposa era de paz, seis que 0 sentimento era de amor e uma resposta foi que
o sentimento era de seguran~a, ninguem citou vinganc;a, ate porque seu maior sentimento
nesse momento e alegria, 0 prazer de ter 0 marido novamente sentado a mesa, com suas
mhas e a esposa, como uma familia nonnal, e como se cIa 0 tivesse 0 resgatado, suas
ultimas palavras sao:
[...] "0 barulho da com idana boca, me acalentava,
me dava uma grande paz,
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urn scntimenlo esquisito
de que tudo foi urn sonho,vestido nao M ...oem nada."( ..J
Questionario 2 - Poernas com a mesma tcmatica da obra: 0 amor Natural.
A segunda parte da metodologia se deu a partir de outro questioml.rio. entregue a
mesma tunna citada, parem a respeito dos poemas da obra: 0 Amor Natural de
Drummond.
Aqui houvc urna explana~ao sabre vida e ohra de Carlos Drummond e entaD [oi
cntregue em urna falha xerocada aos alunos com as poemas: "Destrui"ao" e "Arnor e seu
tempo", juntamente havia tres quest5cs a respeito dos poemas. 0 total de alunos era de
dezessete. sendo sete mulheres e dez homens.
A prirneira quesUio era se os alunos consideravam as trcchos:
[...] "Estendidos na mais estreita cama[ ...]
[...] r09ando, em cada poro, 0 ceu do corpo."[ ..]
do pocrna "Am or e seu tempo" er6ticos au nao. Entre as mulheres quatro disseram que
nao, justificando que 0 trecho expressava amor e nao erotismo, as tres que responderam
ser erotico justificaram que as palavras dcnotam 0 ato sexual por isso e erotico; ja entre os
homens sete disseram nao ser erotico, justificaram 0 mesmo que as mulheres, segundo
eles. 0 trecho fala de amor verdadeiro nao de sexo explicito. Os tres que consideraram 0
trecho erotico argumentaram que 0 treeho fala "de dois corpos se toeando" e "da relac;:ao
carnal entre homem e mulher".
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Perccbe-se que maioria entcndeu 0 objctivo do paema de Drummond, par estar
expressando urn alo normal que lodas os casais que se amarn praticam, a minoria que
considerou erotica, achou as palavras fortes, como CQma e roc;ando, e roi pensando na
moral dos bons comportamentos que rcsponderam a quesHio.
A scgunda quesUio era para 0$ alunos darern a definic;ao do que e erotica e
pomogrilJico, as respostas foram muito parccidas e lodas disseram que a pomografia e
considcrada "absecna", "chegar a fazer tudo oa caroa", "uma caisa scm amarI', "mais
ousada", "fantasiosa, caliente, cheia de fon;:a", "Iigada aD prazer", "mais perverso",
enquanto 0 crotismo roi considerado "urn reJacionamento mais calmo, de arnor". "c uma
caisa que duas pessoas que se amam fazern", "urn amor rna is calmo, sonhador, mais
calmo", "e mais sensual, uma rnancira menos ousada, mostrando a sensualidade das
pessoas", "e provocar 0 outro com uma roupa direrente". E facil observar que 0
pomografico lembra a elcs filmes pomos e logo isso nao e relacionado com amor, ja 0
erotico e comparado ao sensual.
A terceira e ultima questao era sc 0 arnor s6 tern rnesmo valor no fmal da vida, aqui,
somcnle tres alunos disscram que sirn, sendo uma mulhcr e dois hornens, aJ-innararn que 0
arnor chega com a maturidadc c que e nessa epoca que "se tern mais vontade de amar",
lodos os outros disseram que nao, que 0 arnor " tern valor a todo instantc da vida", e s6
saber aprovcitar.
Pude concluir que os alunos realmente desvalorizam 0 chamado: "sexo explicito e
vulgar", porem fclizmente 0 que tambem fica claro, e que poucos foram os que
consideraram a obra de Drummond pomografica, a maioria conseguiu observar a
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diferem;a entre erolismo e pomografia. A minoria que fez rela<;ao com pomografia como
ja foi dito, ao responderem pensaram nas questoes marais impostas por nossa sociedadc.
E importante scmprc lembrar que temas como csses esHio fadados ao preconceito c a
hipocrisia.
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CONCLUSAODurante a realiza9ao desse trabalho, nao houve dificuldades, pelo contnirio. 0 que
aconteceu cspccialmente de interessante roi que dcpois da aplic3.yao dos questiomlrios,
foram propostos debates com os alunos que participaram com dedic3930 contribuindo
inclusive com suas experiencias pessoais. Isso foi de grande satisfa<;ao, muitos pararam
pra pensar em sellS relacionamentos, na visao preconceituDsa de vcr 0 amor, e
principaimente reconheceram isso, houve qucixas diante dos relacionamentos atuais,
hist6rias de pessoas conhccidas, au scja, urna troca de experiencias. os debates como num
todo foram de grande enriquecirnento para todos.
Tambcm pude observar a descobrir a indignacrao dos alunos aD receberem a
notieia, au melhor, ao ouvirem quando a mulher do poema narra que se dirigiu ate a
amante e pediu para que ela ficasse com 0 marido, muitos nao admitem ou nao entendem
uma pessoa se humilhar tanto por outra, houve urn cora de vaia nesse momento. Todos
concordam que as pessoas precisam se valorizar e principalmente sendo mulher e na
posic;ao de csposa.
Prelendo lanc;ar mais questionarnentos como csses em sala, com textos de outros
autores inclusive, que faz com 0 aluno fale, colabore. Ternas polemicos como esses que
mexem com os sentimentos fazendo com que se enxcrgue no que se Ie a vida real, com
certeza Curn dos segredos para se criar uma aula dinamica e produtiva.
39
REFERENCIAS
MJLAN, Betty. Amor. Sao Paulo: Cireulo do Livro, 1984.
CASTELLO BRANCO, Lucia. Ero/ismo. Sao Paulo: Cireulo do Livro, 1983.
MORAES, Eliane R. & LAPEIZ, Sandra M. Pornografla. Sao Paulo: Cireulo do Livro,
1984.
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1986.
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ANDRADE, Carlos Drummond de. 0 arnor natural. Rio de Janeiro: Record, 1998.
BARHIES, Boland. 0prazer do lexlo. Sao Paulo: Elos, 1996.
ANDRADE, Carlos Drummond de. An/ologia POIitica.Rio de Janeiro: Record, 1999.
BRASIL. Secretaria de Educa'tllo Media e Tecnol6gica. Parametros Curriculares
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BRASIL. Secrctaria de Educa~ao Media e Tecno16gica. Parametros Curriculares
Nacionais: Ensino Media - Linguagens, C6digos e suas Tecnoiogias. Brasilia: MEC;
SEMTEC, 2002.
40
ANEXOS
QUESTIONARIO 1 - "CASO DO VESTIDO" Jll
Feminino ( )Masculino ( )
1) Questoes abertas e fechadas:Ela vai ate a arnante e pede para que fique com 0 seu marido (Ela se recusa a fazer 0 pedido que 0 marido solicita ( )
Justifique sua resposta.
2)Ela se vingou?Sim( ) Nijo( )
Por que? Justifique.
3) Quem mais amOll 0 homem em questao?A Dona de longe ( )A esposa ()
Justifiquc sua repesta.
4) Toda a historia acontece durante quante tempo?lano ()2anos ( )Sanos ( )\0 anos ( )15 anos ( )
Justifique sua opiniao.
5) Ela da 0 perduo a amante?Sim( )Niio( )
Por que? Justifiquc.
6) Quando 0 marido chega em casa e diz: "mulher, poe mais urn prato na mesa", que tipo desentimento conforta a mulher?
Paz ( )Vingan~a ( )Seguranc;:a ( )Arnor ( ) --- Juslifique a resposta
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QUESTION ARlO -2 - Poem as com a mcsma tcmatica da obra: 0 alllor Natural
Dcstrui4;ao
Os amanles se amam cruelmentee com se arnarem lanto nao se veem.Urn se beija no cutro, rcfletido.Dois am antes que sao? Dois inimigos.
Amantes sao meninos eSlragadospelo mimo de amar: e nao perccbemQuante se pulverizam no enla~ar-se,c como 0 que era mundo volve a nada.
Nada. Ninguem. Arnor, puro fantasmaque os passeia de (eve, assim a cobrasc imprime na lembrancra de seu trilho.
E eles quedam mordidos para sempre.deixaram de exislir, mas 0 existidocontinua a doer elernamente.
Amor e seu Tempo
ArnOT e privih!gio de madurosEstendidos no mais eslreita cama,Que se lorna a mais larga e mais revolva,RQ(;ando, em coda poro, 0 cell do corpo.
E iSlO, arnOT: 0 ganho nao imprcvisto,o premio subternineo e coruscante,Leitura de relfunpago eifrado.Que, dccifrado, nada mais cxiste
Valcndo a pena 0 prcc;:o do terrestrc,Salvo 0 minuto de ouro no relogioMinusculo, vibrando no crepusculo.
Amor e 0 que se aprende no limite,Dcpois de se arquivar toda a cienciaHerdada, ouvida. Amor come9a tarde.
1) Voce considera a primeira estrofe do poema "Amor e seu Tempo" erotico? Por que?2) De a defini-rao de erotico e pomografico.3) 0 amor s6 tern valor no final da vida? Justifique.