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AUTOR: CARLOS ROBERTO DE C. JATAHY ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS GRADUAÇÃO 2019.1

ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS … · teles em “Política”, detalhada, posteriormente, por John Locke, no “Segundo Tratado do Governo civil” e, finalmente,

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GRADUAÇÃO2018.1

AUTOR: CARlOs RObeRTO de C. JATAhy

ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA

E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS

GRADUAÇÃO2019.1

SumárioORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS

INTRODUÇÃO .......................................................................................................................................................3

AULAS 1 A 4: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL.O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA. ..........................................................................................................................6

AULAS 5 E 6: O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. ............................................................................................................36

AULAS 7 A 9: O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E A JUSTIÇA FEDERAL. .............................................................................70

AULAS 10 A 12: A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL. ............................................................................................................99

AULA 13 A 15: AS JUSTIÇAS ESPECIAIS INDIVIDUALIZADAS. ..........................................................................................141

AULAS 16 A 18: O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO. ..................................................................................................166

AULAS 19 A 21: A ADVOCACIA PÚBLICA E A DEFENSORIA PÚBLICA. ..................................................................................208

AULAS 22 E23: A POLÍCIA FEDERAL E A POLICIA CIVIL. .................................................................................................223

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CURSO: ORGANIZAÇÃO DA JUSTIÇA E DAS CARREIRAS JURÍDICAS PÚBLICAS

INTRODUÇÃO

A Constituição da República, visando a evitar o arbítrio e o desrespeito aos direitos fundamentais do homem, previu a existência dos poderes cons-tituídos do Estado, independentes e harmônicos entre si, repartindo entre eles as funções estatais e prevendo prerrogativas e imunidades para que bem pudessem exercê-las. Criou também mecanismos de controles recíprocos, sempre como garantia da perpetuidade do Estado Democrático de Direito.

É a célebre Separação de Poderes, esboçada pela primeira vez por Aristó-teles em “Política”, detalhada, posteriormente, por John Locke, no “Segundo Tratado do Governo civil” e, finalmente, consagrada por Montesquieu no “O Espírito das Leis”.

O estudo de algumas dessas Instituições será o objeto de nossa disciplina eletiva, com ênfase na Organização Judiciária Brasileira e nos organismos estatais que ocupam lugar de relevo como atores na função constitucional de distribuição de Justiça.

Assim, analisaremos, tanto no aspecto orgânico como em alguns aspectos de índole processual, o Sistema da Justiça Brasileira, ou seja:O Poder Judiciário; O Ministério Público; eas demais Instituições constitucionalmente incumbidas das funções essenciais à Justiça, de natureza pública: a Advocacia Pública e a Defensoria Pública.

Veremos ainda a Polícia Federal e a Policia Civil, instituições que vem chamando a atenção da sociedade e, por conseguinte, algumas funções priva-tivas de Autoridade Policial.

Pensamos, ao elaborar a disciplina, nos alunos que pretendem ingressar nas Carreiras Jurídicas Públicas e que precisam estar preparados para os con-cursos de ingresso em tais Instituições, cada vez mais disputados no meio jurídico contemporâneo.

O Poder Judiciário é um dos Três Poderes clássicos previstos na Cons-tituição (Art. 2º), e tem como função a administração da Justiça e como verdadeiro mister a guarda da Constituição.

Não se consegue conceituar um Estado Democrático de Direito sem a existência de um Poder Judiciário, autônomo e independente, para o pleno exercício de suas funções. Daí as garantias que seus membros gozam, assegu-radas pela própria Constituição, como a vitaliciedade, a inamovibilidade e a irredutibilidade de subsídios.

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Já o Ministério Público, consagrado com novo perfil em nossa Constitui-ção e situado fora da estrutura dos demais poderes da República, é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático de Direito e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (Artigo 127 da CF).

Para tanto, também lhe foi conferida uma estrutura organizacional pró-pria, com autonomia, independência e garantias.

A Advocacia Pública, inserida constitucionalmente no novo texto mag-no, é instituição que, diretamente ou por intermédio de órgão vinculado, representa a União; os Estados e o Distrito Federal; e os Municípios, judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe as atividades de consultoria e assessora-mento jurídico do Poder Executivo.

A Defensoria Pública, prevista na Constituição Federal como institui-ção essencial à função jurisdicional do Estado, está incumbida da orientação jurídica, da promoção dos direitos humanos e da defesa em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, dos necessitados.

A Policia Federal e as Polícias Civis, que também possuem previsão constitucional, são destinadas a apurar as infrações penais e atuar como po-lícia judiciária, na forma preconizada no Artigo 144 da CF, sendo dirigidas por delegados de polícia, privativamente bacharéis em direito.

O curso foi montado com base na constatação de que um bom profissional do direito necessariamente precisa conhecer as instituições estatais que inte-gram o sistema de Justiça, a forma como operam, que funções institucionais desempenham e que competências lhes foram atribuídas pelo constituinte e pelo legislador. Pragmaticamente, também serão examinados tópicos que serão objeto de questionamento nos concursos de ingressos paras as aludidas carreiras.

Só assim, tendo o domínio desses conceitos técnicos, o futuro profissional poderá maximizar a utilização do sistema em todas as suas instâncias, for-mando opinião e pensamento crítico para o aprimoramento e transformação das estruturas examinadas.

Procura-se, por meio da utilização de diferentes metodologias, uma abor-dagem analítica e uma visão crítica como elementos permeadores de todo o curso. O objetivo é a interatividade dos alunos com o conteúdo apresentado e o caráter cooperativo que deve propiciar uma aproximação maior entre alunos e professor.

Como o programa incorpora conteúdos dos mais variados, como ciência política, direito constitucional, direito administrativo, teoria geral do pro-cesso e organização judiciária, algumas aulas serão mais expositivas enquanto outras serão mais abertas a discussões. Em todos os momentos, porém, ire-mos adotar uma postura de incentivo ao aluno no estabelecimento de links com assuntos correlatos.

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Durante todo o curso, casos práticos serão apresentados, como forma de aproximar a teoria estudada com a realidade social em que vivemos, median-te debates, construções ideológicas e solução dos mesmos.

A Ciência do Direito, apesar de estudada de forma estratificada, requer uma visão global para ser potencialmente compreendida. O que se idealiza é uma interdisciplinaridade entre todos os ramos do Direito.

Durante o semestre, os alunos serão avaliados de acordo com os seguintes critérios:• dois testes aplicados em sala de aula, abordando toda a matéria do curso,

um na metade e o outro ao final do semestre; e• avaliações “pro bono”, que podem acrescentar pontos, tanto na P1 como

na P2 aos alunos selecionados ou voluntários para apresentações, análises de textos e discussões e debates sobre o conteúdo programático.

Encarem com prazer o desafio de conhecer a estrutura do Poder Judiciário e demais Carreiras Jurídicas Públicas!

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AULAS 1 A 4: O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO. A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA. A MAGISTRATURA NACIONAL. O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA.

1) O PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO.

Historicamente, o Poder Judiciário, apesar de estar no mesmo plano dos demais poderes, sempre teve uma menor participação nas decisões do Estado, em comparação com o Executivo e o Legislativo. Isto porque, em muitos Es-tados da velha Europa, os juízes eram meros servos da nobreza, atuando como longa manus do soberano. Subordinado, não podia se desenvolver a contento.

A instauração do Estado de Direito (Estado Liberal, Constitucional) fez surgir a primeira geração de direitos (direitos de liberdade, direitos civis e políticos), fazendo nascer também a linguagem jurídica. Esta, por conter ter-mos rebuscados e imprecisos (como, por exemplo, “boa fé” e “mulher hones-ta”), provocou um distanciamento entre o Judiciário e o povo, intermediado pelos advogados, que falavam a linguagem acessível aos magistrados.

Acrescente-se ainda que no Estado liberal e absenteísta, as questões eram relativas às demandas individuais, em que somente se discutiam interesses particulares. Não havia repercussão social nas decisões do Judiciário, mas já havia uma maior participação do Judiciário nas questões diuturnas.

Com a instituição do Estado Social, em que o Ente Público passou a ser prestador de obrigações (direitos sociais), criando direitos que deveriam ser providos, a inércia do Estado obrigava o indivíduo a buscar a solução de seus conflitos no Judiciário. Decorre daí o aumento da demanda judicial e um conflito entre os poderes.

De fato, vamos assistir a conflitos entre o Executivo e o Judiciário na grande depressão americana (quando a Suprema Corte quis interferir nas ações do pre-sidente Roosevelt) e na criação da Justiça Constitucional, quando o Judiciário interfere na decisão do Parlamento, considerando uma lei inconstitucional.

A par disto, vamos ver a sociedade industrial criar um novo tipo de con-flito. O conflito meta-individual ou transindividual, com um número mui-to grande de interessados na sua solução: as denominadas “class actions”. O Judiciário sai de uma posição secundária e subalterna para uma situação de protagonista, sendo capaz de produzir consequências profundas nas relações sociais, política e do cotidiano. O juiz, antes inerte, passa a adotar uma pos-tura mais ativa, podendo, por exemplo, paralisar a construção de uma estrada que está afetando o equilíbrio ecológico em uma determinada região; obrigar o Estado ao fornecimento de medicamentos básicos aos hipossuficientes; de-terminar a Administração Pública a contratar médicos e professores, visando a plena implementação de políticas sociais.

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No Estado Democrático de Direito hoje existente, em que o Estado, o direi-to e a sociedade assumem um compromisso com a Constituição, o Judiciário passa a ter uma importância maior, diante de seu maior ativismo judicial.

Consequentemente, surge a necessidade de um maior controle sobre o “Gi-gante adormecido”. Afinal, controle faz parte da teoria dos “checks and balances”.

A Constituição Brasileira de 1988, seguindo esta tendência mundial dos paí-ses democráticos, conferiu ao Poder Judiciário lugar de destaque, confiando-lhe a tutela de direitos subjetivos até mesmo contra o Poder Público e a função de efetivar os direitos e garantias individuais, abstratamente inscritos em seu texto.

O Poder Judiciário, consoante o artigo 2º da CF, possui a função precípua de julgar os conflitos de interesse que surgem na sociedade, fazendo aplicar a Lei e o Direito ao caso concreto. Deve, portanto, manter a paz social, impondo aos cidadãos o cumprimento das leis do país, intervindo, quando provocado nos litígios existentes e solucionando os conflitos de interesse.

E como é feita essa pacificação? Mediante a atuação da vontade do direito objetivo que rege o caso concreto. Assim, duas pessoas em conflito num pro-cesso judicial terão seus problemas solucionados por meio da aplicação da lei ao caso concreto. É o juiz exercendo a jurisdição.

Ressalve-se que a jurisdição é una. Como expressão do poder estatal, ela é eminentemente nacional e não comporta divisões. Porém, para uma distri-buição racional do trabalho, é importante que se criem organismos distintos, para os quais serão destinadas determinadas espécies de causas. São diversos os critérios determinantes na distribuição dos processos: em razão da maté-ria, da qualidade da pessoa etc. É o Estado, fazendo a divisão das Justiças, com vistas à melhor atuação da função jurisdicional. Trata-se da denominada ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA.

2) A ORGANIZAÇÃO JUDICIÁRIA

Com efeito, a Organização Judiciária tem como objetivo estabelecer nor-mas sobre a constituição dos órgãos encarregados do exercício da jurisdição. Para análise da matéria, deve-se partir de três premissas básicas:

(a) A estrutura judiciária brasileira é definida basicamente pela Constituição, sendo o Capítulo III (Arts. 92 a 126) do título IV (Da Organização dos Pode-res) da Carta Maior o texto básico para a compreensão e estudo do tema;(b) O Poder Judiciário brasileiro, em razão da forma de Estado federativo adotado pelo texto constitucional, é dual. Com tal modelo, haverá um ramo da Justiça que é administrado e mantido pela União e outro ramo adminis-trado pelos Estados-membros da Federação brasileira; e(c) A noção de que a ordem judiciária constitucional se estabelece em graus de jurisdição.

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De fato, a primeira premissa denota que para se conhecer a estrutura do Poder Judiciário brasileiro deve-se conhecer a Constituição Federal. Esta constatação é conseqüência da garantia do Juiz Natural, também conhecida como “Princípio da naturalidade do Juízo” (HC 73.801-MG, Celso Mello, DJU 27.06.1997), positivada no texto constitucional no Artigo 5º, LIII (“Ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”). Esta expressão significa que o juiz natural ou a autoridade competente, no Brasil, é o órgão jurisdicional cujo poder derive de fontes constitucionais, de competência devidamente indicada pela Constituição Federal.

Assim, só é legítimo o juízo previsto pela Constituição e reconhecido por ela como natural, invalidando-se, em razão deste princípio, qualquer órgão jurisdicional criado à margem da Carta Magna, também chamado de juízo de exceção (Art. 5º, XXXVII, da CF: “Não haverá Juízo ou Tribunal de exceção”). Nesta dimensão, o Artigo 92 da Constituição estabelece a estrutura do Poder Judiciário brasileiro, integrado por diversos órgãos, repudiando todos aqueles que ali não se encontrem como integrantes do Poder Judiciário, ainda que recebam a denominação de juiz ou tribunal. Logo, não integram esta estrutu-ra – e, portanto, não são órgãos do Poder Judiciário – o Tribunal Marítimo, os Tribunais de Contas, da União e dos Estados ( e dos municípios do Rio de Janeiro e de São Paulo) e o Superior Tribunal de Justiça Desportiva.

A segunda premissa decorre do princípio do dualismo judiciário, por meio do qual convivem, no mesmo sistema, um Poder Judiciário organizado pela União e o Poder Judiciário organizado por cada Estado-membro da Federação. Há, portanto, em decorrência de tal premissa, o Poder Judiciá‑rio da União (também chamado por muitos de Federal) e diversos Poderes Judiciários Estaduais, formando o Poder Judiciário Nacional.

A União organiza e mantém as Justiças Especializadas (ou, Especiais) do Tra-balho, Eleitoral e Militar da União; e a Justiça Comum Federal e Comum do Distrito Federal e Territórios. É de sua responsabilidade, também, o Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça. Por sua vez, cada Estado-mem-bro organiza, de acordo com sua Constituição, o respectivo Poder Judiciário local (Art. 125 da Constituição Federal), composto da Justiça Comum Estadual e da Justiça Militar Estadual. Cabe ressaltar que as Justiças administradas pela União possuem sua estrutura definida na Constituição Federal, sendo sua organização judiciária definida em legislação federal. Já as Justiças Estaduais têm sua estrutura definida nas Constituições Estaduais, respeitadas as diretrizes fixadas na Consti-tuição Federal (Art. 125, caput). Sua organização judiciária é fixada por meio de legislação estadual, em regra denominada Código de Organização Judiciária.

Finalmente, a terceira premissa, denominada princípio do duplo grau de jurisdição. Por tal princípio, toda causa que ingressa no Sistema Judiciário está sujeita a um duplo exame: o exame inicial, que é o julgamento originário da causa, e um exame posterior, que possui caráter revisional do primeiro jul-gamento. Por este princípio, haverá a possibilidade de duas decisões válidas

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e completas num mesmo processo, emanadas por juízes diferentes, preva-lecendo sempre a segunda sobre a primeira. Consoante decisão do STF, a formulação do duplo grau de jurisdição exige que o exame inicial e o exame posterior, também chamado de reexame, sejam promovidos por órgãos ju-risdicionais diversos. Neste teor: “Para corresponder à eficácia instrumental que lhe costuma ser atribuída, o duplo grau de jurisdição há de ser concebido, à moda clássica, com seus dois caracteres específicos: a possibilidade de um reexame integral da sentença de primeiro grau e que esse reexame seja confiado a órgão diverso do que a proferiu e de hierarquia superior na ordem judiciária.”(ROHC nº 79.785-7/RJ. Min.: Sepúlveda Pertence. DJU 22/11/2002).

Esta terceira premissa, denominada duplo grau de jurisdição, possui os seguintes fundamentos:

(a) Satisfazer o inconformismo do vencido. Há uma relação de autoridade entre o juiz, que fala em nome do Estado, e a parte, como cidadão, que tem que se curvar às decisões da autoridade. Mas o inconformismo do vencido é um fator grave de intranqüilidade social. A finalidade da jurisdição é não só atuar a vontade da lei, como também pacificar os cidadãos para que eles vol-tem, encerrado o litígio, a viver harmoniosamente num instinto de solidarie-dade. A instituição do recurso visa atender a esse clamor, a essa revolta, a essa insatisfação do vencido, dando uma segunda oportunidade de obter uma de-cisão favorável e, portanto, contribuindo para que ao final dessa segunda de-cisão, mesmo que continue sendo desfavorável, voltem a viver pacificamente.(b) Coibir o arbítrio do juiz. O juiz que sabe que sua decisão pode ser reformada pelo tribunal superior, sente-se vigiado, controlado e cede com menos freqüência à tentação do arbítrio. Já o juiz que sabe que sua decisão é irrecorrível, possui maior tendência ao arbítrio, até mesmo em busca de uma justiça melhor que a justiça da lei. Ele acaba vendo na irrecorribilidade, se não tiver um espírito crítico muito aguçado, um poder absoluto, fazendo a melhor justiça da sua consciência, que não é necessariamente a justiça da lei.(c) Melhorar a qualidade das decisões. O juiz pode ter examinado mal a pro-va, ou a matéria ser muito complexa, ou ainda pode ter uma opinião jurídica que não é a melhor, não é aceita pelos tribunais superiores. Uma segunda opor-tunidade de julgamento dá ao tribunal de superior instância a oportunidade de examinar a causa com base na motivação do juiz de primeiro grau e outros fundamentos, além daqueles expostos pelo juiz na sua decisão. Dois julgamen-tos aumentam a probabilidade de acerto da decisão. Neste contexto, percebe--se que temos, portanto, na terminologia brasileira, juízos, que são órgãos de primeiro grau, em regra monocráticos, ou seja, o julgamento é realizado por um único juiz, e temos também os tribunais, órgãos de segundo grau, cujo jul-gamento, em regra, se dá de forma colegiada. São órgãos inferiores e superiores.

Observe o Organograma a seguir, que representa a Organização Judiciária brasileira, com fundamento em dispositivos da Constituição Federal:

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(art. 118, III e IV

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Este organograma acompanhará nosso estudo, quando analisarmos cada um dos ramos da Organização Judiciária.

Após examiná-lo, responda?

Existe entre os juízos e os tribunais uma hierarquia?

A resposta é não. Há que se ressaltar que não existe entre eles qualquer hierarquia jurisdicional. Não há poder de mando dos ór-gãos superiores aos inferiores no que tange aos julgamentos a serem realizados. O que há é um poder de revisão, dentro do princípio já examinado do duplo grau de jurisdição, mas cada juiz é livre para proferir a sua sentença.

Diferentemente, no plano administrativo, existe sim uma hierar-quia. Isto porque, os Tribunais de Justiça e os Tribunais Regionais são responsáveis pela administração da Justiça na sua área de atuação, cabendo-lhes prover cargos, realizar concursos, aplicar penalidades etc.

Acima de todos os juízos e tribunais estão o Supremo Tribunal Federal e o Conselho Nacional de Justiça, com funções jurisdicionais e administrativas, compondo assim o Poder Judiciário nacional.

3) A MAGISTRATURA NACIONAL

A Magistratura é o conjunto de juízes que integram o Poder Judiciário. Além das disposições constitucionais acima descritas, que organizam a

estrutura da Justiça no Brasil, existe ainda a Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979, mais conhecida como LOMAN, que estrutura a carreira da magistratura nacional, estabelecendo as garantias, prerrogativas, deveres, direitos, vencimentos, vantagens, forma de ingresso, dentre outras coisas. É a Lei Orgânica da Magistratura Nacional. Que apesar de ser anterior à CF, foi expressamente recepcionada, conforme já decidiu o STF:

“Até o advento da lei complementar prevista no art. 93, ca-put, da Constituição de 1988, o Estatuto da Magistratura será disciplinado pelo texto da LC 35/1979, que foi recebi-da pela Constituição.” (ADI 1.985, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 3-3-2005, Plenário, DJ de 13-5-2005.) No mesmo sentido: ADI 2.580, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 26-9-2002, Plenário, DJ de 21-2-2003; AO 185, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 17-6-2002, Plenário, DJ de 2-8-2002.

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A magistratura é organizada em carreira. A investidura se dá por meio de concurso público, com a obrigatória participação da OAB, exigência inserida no Artigo 37, II da Constituição, para todos os cargos iniciais da magistratu-ra nacional. Confira-se a decisão do STF:

“Concurso para a magistratura: exigência constitucional de participação da Ordem dos Advogados do Brasil ‘em todas as suas fases’: consequente plausibilidade da arguição de in-constitucionalidade das normas regulamentares do certame que: (a) confiaram exclusi vamente ao presidente do Tribunal de Justiça, com recurso para o Plenário deste, decidir sobre os requerimentos de inscrição; (b) predeterminaram as notas a conferir a cada cate goria de títulos: usurpação de atribui-ções da comissão, da qual há de participar a Ordem.” (ADI 2.210‑MC, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 28-9-2000, Plenário, DJ de 24-5-2002.) No mesmo sentido: ADI 2.204‑MC, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento em 8-11-2000, Plenário, DJ de 2-2-2001.

Já para o Supremo Tribunal Federal e Tribunais Superiores, a forma de

investidura é diversa, como veremos nas próximas aulas.Para concorrer ao cargo de magistrado, o candidato deverá preencher,

entre outros, os seguintes requisitos:

Nacionalidade brasileira – aqui não existe distinção entre brasileiros natos ou naturalizados, sendo vedado somente o acesso aos estrangeiros.

Diploma de bacharel em Direito – curso de Direito em faculdade oficial ou reconhecida pelo Ministério da Educação.

Três anos de atividade jurídica – inovação trazida pela Emenda Constitu-cional nº 45. A matéria é hoje regulamentada pelo CNJ, através da Resolução 118, que alterou e consolidou a Resolução nº 75, norma reguladora anterior. Como a expressão “atividade jurídica” não é muito precisa, logo após a pu-blicação da Emenda, iniciou-se uma discussão a respeito de sua definição. A matéria hoje se encontra regulamentada pela citada Res. 118/2001, na forma que se coloca abaixo.

“Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º, alínea “i”:I - aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito;

1 Revogou e consolidou a Res nº 75/CNJ

1 Revogou e consolidou a Res nº 75/CNJ

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II - o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, me-diante a participação anual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei nº 8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em cau-sas ou questões distintas;III - o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de ma-gistério superior, que exija a utilização preponderante de conhe-cimento jurídico;IV - o exercício da função de conciliador junto a tribunais judi-ciais, juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados espe-ciais ou de varas judiciais, no mínimo por 16 (dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano;V - o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na composição de litígios.§ 1º É vedada, para efeito de comprovação de atividade jurídica, a contagem do estágio acadêmico ou qualquer outra atividade anterior à obtenção do grau de bacharel em Direito.§ 2º A comprovação do tempo de atividade jurídica relativamen-te a cargos, empregos ou funções não privativos de bacharel em Direito será realizada mediante certidão circunstanciada, expe-dida pelo órgão competente, indicando as respectivas atribuições e a prática reiterada de atos que exijam a utilização preponderante de conhecimento jurídico, cabendo à Comissão de Concurso, em decisão fundamentada, analisar a validade do documento.”

No que se refere ao concurso de ingresso na carreira da magistratura, o CNJ uniformizou as regras em todos os ramos do Poder Judiciário nacional.2

A partir da nova Resolução, o concurso deverá ser realizado em cinco eta-pas, ao contrário da antiga que previa apenas quatro fases.

Na primeira etapa, o candidato realizará uma prova objetiva seletiva, de caráter eliminatório e classificatório. Exclusivamente para a execução desta fase, os Tribunais poderão contratar os serviços de instituições especializadas. Para a segunda etapa, também de caráter eliminatório e classificatório, o can-didato deverá responder questões discursivas e elaborar uma sentença.A ter‑ceira etapa é constituída de três fases de caráter apenas eliminatório: sindicân-cia da vida pregressa e investigação social; exame de sanidade física e mental e, por último, exame psicotécnico.Vencidas essas três etapas, o candidato deverá ser argüido através da prova oral (quarta etapa) pela Banca do Concurso. A fim de dar maior transparência e confiabilidade a esta fase, a Resolução de-terminou o registro em gravação de áudio ou por qualquer outro meio que possibilite a sua posterior reprodução. Por fim, a quinta e última etapa, com a apresentação dos títulos que eventualmente o candidato possua, é meramen-te classificatória, chegando-se ao final do concurso com a classificação final.

2 Resolução do CNJ nº 118/2010. www.cnj.jus.br

2 Resolução do CNJ nº 118/2010. www.cnj.jus.br

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Assim, os juízes iniciam a carreira em cargos inferiores (Juiz substituto – Art 93-I da CF), com possibilidade de acesso a cargos mais elevados, segun-do critérios de promoção, por antiguidade e merecimento, alternadamente, conforme dispõe o Artigo 93, II da CF.

Para prosseguir na carreira, haverá promoções por antiguidade e por merecimento, chegando ao segundo grau de jurisdição, quando passará a integrar o tribunal respectivo.

A aferição de merecimento se dará com base no desempenho, nos cri-térios objetivos de produtividade e presteza no exercício da função, bem como a freqüência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento.

Há, também, outra forma pela qual um profissional do Direito pode vir a integrar a magistratura. Por meio do instituto jurídico denominado “Quinto constitucional.” O quinto constitucional tem previsão na Cons-tituição Federal e estabelece a forma de integração de advogados e mem-bros do Ministério Público aos quadros dos tribunais estaduais (Art. 94 da CF) e federais (art. 107, I; 111-A, I; 115,I; 123, Parágrafo único, I e II da CF). Em regra, a partir de uma lista tríplice encaminhada pelo próprio Tribunal, o governador do estado ou o Presidente da República escolherá um de seus integrantes para nomeação, matéria que estudaremos mais pro-fundamente no decorrer do curso.

4) A INDEPENDÊNCIA DO PODER JUDICIÁRIO E SUAS GARANTIAS

Como já estudado, o objetivo inicial da clássica separação das fun-ções do Estado e distribuição entre órgãos autônomos e independentes tem como finalidade a proteção da liberdade individual, dos direitos fun-damentais e do Estado Democrático de direito.Para tanto, atribuiu-lhes um mecanismo de controles recíprocos, denominado freios e contrapesos (checks and balances).

A estes órgãos (Legislativo, Executivo, Judiciário) a Constituição Fe-deral confiou parcela da autoridade soberana do Estado, garantindo-lhes autonomia e independência.

O legislador constituinte, no intuito de preservar este mecanismo recípro-co de controle e a perpetuidade do Estado democrático, previu, para o bom exercício das funções estatais, diversas prerrogativas, imunidades e garantias a seus agentes políticos. As garantias conferidas aos membros do Poder Judici-ário têm, assim, o condão de conferir à instituição a necessária independência para o exercício da jurisdição.

Podemos então dividir tais garantias, para melhor visualização e estudo, em garantias institucionais e garantias aos membros.

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Ao Poder Judiciário como instituição, a Constituição assegura a prerro-gativa do autogoverno. Em que consiste o autogoverno? Consiste na au‑tonomia administrativa e financeira. É o exercício pelo Poder Judiciário de atividades normativas e administrativas de auto-organização e auto-re-gulamentação. Compreende ainda a autonomia financeira, consistente na prerrogativa de elaboração de proposta orçamentária e na gestão das dotações pelos próprios tribunais.

É o próprio Judiciário ainda quem organiza suas secretarias e serviços auxiliares, elege seus órgãos diretivos e elabora seus regimentos internos, concede licenças, férias e afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores, dá provimento, por concurso público, aos cargos necessários à administração da Justiça etc.

Já as garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário dividem-se em garantias de independência e garantias de imparcialidade.

As primeiras se destinam a tutelar a independência do magistrado pe-rante órgãos ou entidades estranhas ao Poder Judiciário ou até mesmo pertencentes à própria organização judiciária.São elas: vitaliciedade, ina-movibilidade e irredutibilidade de subsídios, todas elas disciplinadas no Artigo 95 da Constituição.

A vitaliciedade é a impossibilidade de perda do cargo senão por sentença transitada em julgado, dentro de determinadas hipóteses previstas em lei. Não é possível, portanto, após o vitaliciamento, a exoneração do magistrado de seu cargo por mero procedimento administrativo.Sua aquisição se dá após o chamado estágio probatório, ou seja, após dois anos de efetivo exercício da carreira, mediante aprovação no concurso de provas e títulos.

Durante este período de prova, o magistrado deverá prestar conta de sua atuação por meio de relatórios periódicos, além das correições a que será submetido.A EC 45 permitiu, entretanto, que o CNJ possa quebrar a vitali-ciedade do magistrado em procedimento próprio. Portanto, a única hipótese de um magistrado vitalício perder o cargo sem processo judicial é através de procedimento determinado pelo CNJ.

Confira-se decisão do STF:

“Poder Judiciário. CNJ. Competência. Magistratura. Magis-trado vitalício. Cargo. Perda mediante decisão administrativa. Previsão em texto aprovado pela Câmara dos Deputados e cons-tante do Projeto que resultou na EC 45/2004. Supressão pelo Senado Federal. Reapre ciação pela Câmara. Desnecessidade. Subsistência do sentido normativo do texto residual aprovado e promulgado (art. 103-B, § 4º, III). Expressão que, ademais, ofenderia o disposto no art. 95, I, parte final, da CF. Ofensa ao art. 60, § 2º, da CF. Não ocorrência. Arguição repelida.

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Precedentes. Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos De-putados expressão suprimida pelo Senado Federal em texto de projeto que, na redação remanescente, aprovada de ambas as Casas do Congresso, não perdeu sentido normativo.” (ADI 3.367, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 13-4-2005, Plenário, DJ de 22-9-2006.)

A inamovibilidade, por sua vez, consiste na impossibilidade de se re-mover membro da instituição do órgão onde esteja lotado, sem a sua ma-nifestação voluntária. A inamovibilidade não sofre exceção sequer em caso de promoção, que não pode ocorrer sem a aquiescência do magistrado. Em caso de interesse público, porém, reconhecido pelo voto da maioria absoluta do Tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, dispensa-se essa anuência. Trata-se da remoção compulsória.

Por fim, a irredutibilidade de subsídios emerge da necessidade de se garantir ao juiz, para o bom desempenho de suas relevantes funções insti-tucionais, imunidade a eventuais retaliações dos governantes no que con-cerne à diminuição de sua remuneração.

Ressalte-se, porém, que tal garantia não é impeditiva da incidência de quaisquer tributos sobre os vencimentos dos juízes.

As garantias de imparcialidade são impedimentos constitucionais dos juízes que consistem em vedações que visam a dar-lhes melhores condições de imparcialidade, representando, assim, uma garantia para os litigantes.

O juiz é impedido, consoante o Artigo 95, parágrafo único da CF, de:

“I - exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério;3

II - receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou parti-cipação em processo;III - dedicar-se à atividade político-partidária.IV - receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou con-tribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou priva-das, ressalvadas as exceções previstas em lei; V - exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração.4”

Este inciso V é mais uma inovação trazida pela Reforma do Judiciário – EC nº 45. Trata-se da quarentena, imposta aos juízes e membros do Mi-nistério Público5.A finalidade da norma é preservar a imparcialidade-neutra-lidade dos juízes e tribunais nos quais o ex-juiz ou ex-promotor tenha atuado.

3 O CNJ aprovou a Resolução 34, de abril de 2007, que regulamenta a atividade de magistério pelo Magistrado. Basicamente, veda ao magistrado o exercício de atividade de magistério ligada à gestão.4 Artigo 95, parágrafo único da Constituição Federal.5 Artigo 128, §6º da Constituição Federal.

3 O CNJ aprovou a Resolução 34, de abril de 2007, que regulamenta a ati-vidade de magistério pelo Magistrado. basicamente, veda ao magistrado o exercício de atividade de magistério ligada à gestão.

4 Artigo 95, parágrafo único da Consti-tuição Federal.

5 Artigo 128, §6º da Constituição Fe-deral.

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O trabalho, como é sabido, cria laços de amizade e companheirismo entre colegas da profissão. Surge daí a necessidade de se evitar o tráfico de influên-cia que poderia ocorrer nestes casos.Parte dos estudiosos festeja a inovação, sendo um dos reclamos atendidos pelo constituinte derivado, como garantia de uma maior imparcialidade nas decisões do Poder Judiciário.

Outros, porém, criticam a forma como isto restou estipulado:

“A norma não se apresenta apta a inibir o exercício da advocacia nos termos estipulados, vez que juízes e promo-tores poderão utilizar-se de outras pessoas para atuarem em seu nome. Ademais, não será pelo mero decurso do pe-ríodo de três anos (prazo temporal desacompanhado de qualquer outra exigência mais firme) que os possíveis laços de amizade e influência de um magistrado desaparecerão. Pelo contrário, o comum é que a mera passagem do tempo os fortaleça, se já existiam realmente. Se não existiam, o problema não se põe e a restrição é inadmissível. Assim, a medida não se mostra eficaz na prática.Há um pressuposto sinistro, além disso, de que juízes e pro-motores, que até então eram responsáveis pela prestação da Justiça, no dia seguinte passariam a adotar atitudes imo-rais e desonestas, para atender a interesses pessoais escusos.Por fim, impedir pura e simplesmente, o exercício da ad-vocacia, por juízes ou promotores que se aposentaram ou foram exonerados, significa restringir direitos individuais, o que só tem sentido se for para salvaguardar o interesse público, o que não parece ser facilmente demonstrável no caso em tela.6”

Outro impedimento, previsto na LOMAN, veda ao magistrado se “ma-nifestar, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sen-tenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério.7”

Veja o que decidiu o STF sobre o assunto:

“O magistrado é inviolável pelas opiniões que expressar ou pelo conteúdo das decisões que proferir, não podendo ser pu-nido nem prejudicado em razão de tais pronunciamentos. É necessário, contudo, que esse discurso judiciário, manifesta-do no julgamento da causa, seja compatível com o usus fori e que, desprovido de intuito ofensivo, guarde, ainda, com o

6 TAVARES, André Ramos. Reforma do Judiciário no Brasil Pós-88. Saraiva, 2005, p.86.7 Artigo 36, III da Lei Complementar 35/79.

6 TAVARes, André Ramos. Reforma do Judiciário no brasil Pós-88. saraiva, 2005, p.86.

7 Artigo 36, III da lei Complementar 35/79.

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objeto do litígio, indissociável nexo de causalidade e de per-tinência. A ratio subjacente à norma inscrita no art. 41 da Loman decorre da necessidade de proteger os magistrados no desempenho de sua atividade funcional, assegurando-lhes condições para o exercício independente da jurisdição. É que a independência judicial constitui exigência política destinada a conferir, ao magistrado, plena liberdade decisória no julga-mento das causas a ele submetidas, em ordem a permitir-lhe o desempenho autônomo do officium judicis, sem o temor de sofrer, por efeito de sua prática profissional, abusivas instaura-ções de procedimentos penais ou civis.” (Inq 2.699‑QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 12-3-2009, Plenário, DJE de 8-5-2009.)

Acerca das vedações, destaque-se que o CNJ, através da Resolução n. 10/2005, proibiu o exercício pelo magistrado de funções nos Tribunais de Justiça Desportiva e em Comissões Disciplinares. Visa-se com todas estas vedações obter a dedicação exclusiva do magistrado às suas funções constitu-cionais. Veja decisão do STF sobre o tema:

“Mandado de segurança. Resolução 10/2005 do CNJ. Vedação ao exercício de funções, por parte dos magistrados, em tribunais de justiça desportiva e suas comissões disciplina res. Estabeleci-mento de prazo para desligamento. Norma proibitiva de efeitos concretos. 1166 .Inaplicabilidade da Súmula 266/STF. Impossibilidade de acumulação do cargo de juiz com qualquer outro, exceto o de magistério. A proibição jurídica é sempre uma ordem, que há de ser cumprida sem que qualquer outro provimento admi-nistrativo tenha de ser praticado. O efeito proibitivo da conduta – acumulação do cargo de integrante do Poder Judiciário com outro, mesmo sendo este o da Justiça Desportiva – dá-se a par-tir da vigência da ordem e impede que o ato de acumulação seja tolerado. A Resolução 10/2005, do CNJ, consubstancia norma proibitiva, que incide, direta e imediatamente, no patrimônio dos bens juridicamente tutelados dos magistrados que desem-penham funções na Justiça Desportiva e é caracteri zada pela autoexecutoriedade, prescindindo da prática de qualquer outro ato administrativo para que as suas determinações operem efei-tos imediatos na condição jurídico-funcional dos impetrantes. Inaplicabilidade da Súmula 266 do STF. As vedações formais impostas constitucionalmente aos magistrados objetivam, de

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19FGV dIReITO RIO

um lado, proteger o próprio Poder Judi ciário, de modo que seus integrantes sejam dotados de condições de total indepen-dência e, de outra parte, garantir que os juízes dediquem-se, integralmente, às funções inerentes ao cargo, proibindo que a dispersão com outras atividades deixe em menor valia e cui-dado o desempenho da atividade jurisdicional, que é função essencial do Estado e direito funda mental do jurisdicionado. O art. 95, parágrafo único, I, da CR vinculou-se a uma proibição geral de acumulação do cargo de juiz com qualquer outro, de qualquer natureza ou feição, salvo uma de magistério.” (MS 25.938, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 24-4-2008, Plenário, DJE de 12-9-2008.)

O quadro abaixo é elucidativo:

Garantias

Da instituição Autogoverno•Autonomia funcional•Autonomia administrativa•Autonomia financeira

Dos membros

Garantias deindependência

•Vitaliciedade•Inamovibilidade•Irredutibilidade de subsídios

Garantias deimparcialidade(vedações)

•exercício de outro cargo ou função, salvo uma de magistério;

•recebimento de custas e participações em processos;

•dedicar-se à atividade político-partidária;•receber, a qualquer título ou pretexto,

auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;

•exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração;

•manifestar-se, por qualquer meio de comunicação, opinião sobre processo pendente de julgamento, seu ou de outrem, ou juízo depreciativo sobre despachos, votos ou sentenças, de órgãos judiciais, ressalvada a crítica nos autos e em obras técnicas ou no exercício do magistério.

•exercer funções nos Tribunais de Justiça Desportiva e em Comissões Disciplinares

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20FGV dIReITO RIO

Finalmente, cabe ressalvar que os magistrados, face ao regime jurídico es-pecial que possuem, têm ainda prerrogativas e deveres previstos na LOMAN, onde se destacam:

Prerrogativas do Magistrado

“Art. 33 - São prerrogativas do magistrado:I - ser ouvido como testemunha em dia, hora e local previamente ajustados com a autoridade ou Juiz de instância igual ou inferior;II - não ser preso senão por ordem escrita do Tribunal ou do órgão especial competente para o julgamento, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que a autoridade fará imediata comunicação e apresentação do magistrado ao Presidente do Tri-bunal a que esteja vinculado (vetado);III - ser recolhido a prisão especial, ou a sala especial de Estado--Maior, por ordem e à disposição do Tribunal ou do órgão especial competente, quando sujeito à prisão antes do julgamento final;IV - não estar sujeito à notificação ou à intimação para compare-cimento, salvo se expedida por autoridade judicial;V - portar arma de defesa pessoal.Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver in-dício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribu-nal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.

Deveres do Magistrado

“Art. 35 - São deveres do magistrado:I - Cumprir e fazer cumprir, com independência, serenidade e exatidão, as disposições legais e os atos de ofício;II - não exceder injustificadamente os prazos para sentenciar ou despachar;III - determinar as providências necessárias para que os atos pro-cessuais se realizem nos prazos legais;IV - tratar com urbanidade as partes, os membros do Ministério Público, os advogados, as testemunhas, os funcionários e auxi-liares da Justiça, e atender aos que o procurarem, a qualquer momento, quanto se trate de providência que reclame e possibilite solução de urgência.V - residir na sede da Comarca salvo autorização do órgão disci-plinar a que estiver subordinado;

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21FGV dIReITO RIO

VI - comparecer pontualmente à hora de iniciar-se o expediente ou a sessão, e não se ausentar injustificadamente antes de seu término;VIl - exercer assídua fiscalização sobre os subordinados, especial-mente no que se refere à cobrança de custas e emolumentos, em-bora não haja reclamação das partes;VIII - manter conduta irrepreensível na vida pública e particular.”

Todas estas garantias e deveres, que constituem uma “blindagem” para o exercício pleno das atividades da magistratura, são imprescindíveis à de-mocracia, à perpetuidade da separação dos poderes e ao respeito aos direitos fundamentais, configurando suas ausências, supressões ou mesmo reduções, obstáculos inconstitucionais ao Poder Judiciário, no exercício do seu mister constitucional.

Há também na Constituição Federal a garantia do Foro por prerrogativa de função, prevista no Art. 96, III, que apenas admite que magistrados e membros do Ministério Público estadual sejam processados e jugados no Tribunal de Justiça e não no juízo de primeiro grau.

A proposta hoje sofre críticas vigorosas da sociedade, existindo questão de ordem afetada ao plenário do STF modificando o entendimento da Corte acerca do tema (Ação Penal Originária 937/RJ – Relator Ministro Luis Ro-berto Barroso).

Em relação a magistrados aposentados, já houve manifestação do STF:

“Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de ForoA Turma, em questão de ordem, decidiu, por maioria, afetar ao Plenário julgamento de recurso extraordinário em que se discute se o foro especial por prerrogativa de função estende-se ou não àqueles que se aposentam em cargos cujos ocupantes ostentam tal prerro-gativa. Trata-se, na espécie, de agravo de instrumento convertido em recurso extraordinário criminal interposto, por desembargador aposentado, contra decisão da Corte Especial do STJ que declina-ra de sua competência, em ação penal contra ele instaurada, ao fundamento de que, em decorrência de sua aposentadoria, não teria direito à prerrogativa de foro pelo encerramento definitivo da função. O ora recorrente sustenta a incidência do art. 95, I, da CF, assegurador da vitaliciedade aos magistrados, sob a alega-ção de que esta somente poderia ser afastada por sentença judicial transitada em julgado, na qual consignada a perda do cargo. Ale-ga, ainda, que a correta leitura do art. 105, I, a, da CF, incluiria também os desembargadores aposentados, uma vez que interpre-

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22FGV dIReITO RIO

tação diversa desse dispositivo o colocaria em situação inusitada, pois, o submeteria, na qualidade de ex-presidente e ex-corregedor--geral, a juiz que eventualmente tenha recebido alguma sanção disciplinar. Por fim, pleiteia o reconhecimento da negativa de vi-gência aos artigos 5º, XXXV, LIV, LV, e § 2º e 93, IX, ambos da CF e, alternativamente, requer sejam tidos como transgredidos os artigos 94, I e 105, I, da CF. Vencidos, quanto ao deslocamento, os Ministros Carlos Britto e Cármen Lúcia que, tendo em conta a existência de precedentes da Corte, consideravam que a matéria poderia ser decidida pela própria Turma. RE 549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 23.10.2007. (RE-549560)” Informativo nº 485 do STF – de 22 a 26 de outubro de 2007.

Quanto aos Juízes de primeiro grau que são convocados pelos Tribunais de Justiça para exercer a função de desembargador, o Superior Tribunal de Justiça já decidiu que eles não possuem a prerrogativa de foro prevista no ar-tigo 105 da Constituição Federal. A prerrogativa é vinculada ao cargo e não ao eventual exercício da função em substituição:

“PROCESSO PENAL. AGRAVO REGIMENTAL. JUÍZA DE 1º GRAU EM SUBSTITUIÇÃO NO TRIBUNAL DE JUSTIÇA. AUSÊNCIA DE PRERROGATIVA DE FORO. AGRAVO IMPROVIDO.1. Os Juízes de 1º grau em substituição nos Tribunais de Justiça não possuem a prerrogativa de foro assegurada pelo art. 105, in-ciso I, da Constituição da República.2. Agravo regimental improvido.”(AgRg na Representação nº 368 - BA (2007/0195172-5), Re-lator Ministro Arnaldo Esteves Lima. Acórdão publicado em 15/05/2008)

TÓPICO 1:

Magistrado tem que se explicar em CPI? Após ter estudado bastante para seu concurso público, relembrando todo o material da graduação da FGV, você se encontra no exercício da magistratura federal. Recentemente, atuou em processo rumoroso, que lhe rendeu bastante trabalho, tendo proferido 20 laudas de decisão para o deferimento de liminar em favor da Empresa X, a qual litigava contra a Caixa Econômica Federal acerca de expressivo numerário que teria sido irregular-mente utilizado por esta estatal com violação a direitos contratuais da Empresa X. Passados dois meses do deferimento da liminar, eis que surge uma correspondência do Senado Federal em seu gabinete, convocando-o a “prestar esclarecimentos pe-

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23FGV dIReITO RIO

rante a Comissão Parlamentar de Inquérito dos Bingos”, tendo em vista ter você proferido decisão contra a CEF, em favor da Empresa X, ambas sob investigação da CPI. Está você obrigado a comparecer? Está obrigado a prestar esclarecimentos acerca de sua decisão? Em caso de respostas negativas, o que você poderia fazer? (Leitura obrigatória: HC 86581/DF. Rel. Min. Ellen Gracie, 23/2/2006, disponível no sítio eletrônico do Supremo Tribunal Federal) TÓPICO 2: O Quinto Constitucional é Garantia democrática ou privilégio odioso?

TÓPICO 3: É o foro especial uma blindagem necessária para autoridades exer-cerem suas funções ou uma violação constitucional ao princípio da igualdade?

TÓPICO 4: Ativismo Judicial: Atividade democrática ou geradora de tensões constitucionais?

5) O CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Após a análise sobre o Poder Judiciário e a necessidade de sua imparcia-lidade e independência, convém tratarmos da legitimidade de um controle externo sobre suas atividades.

A Reforma do Judiciário, estabeleceu, como órgão do Poder Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça. Trata-se da implementação do controle exter-no da administração da Justiça em nosso ordenamento, como ocorre já de há muito tempo em alguns países da Europa.

Diversas motivações nortearam o Congresso Nacional. Uma delas, de grande apelo popular, dizia respeito à moralidade administrativa, sacrificada por atos de nepotismo, falta de concursos públicos para contratação de asses-sores e abuso de poder encontráveis, em maior ou menor grau, na magistra-tura estadual e federal.

As questões levantadas são tipicamente de administração da Justiça, en-contrando no âmbito do Conselho recém criado um foro adequado para a sua discussão ampla.

Por isso, a competência do Conselho para o controle do cumprimento dos deveres funcionais de juízes. Está previsto ainda o controle da atuação ad-ministrativa e financeira, com a conseqüente elaboração anual de relatório8, propondo as providências necessárias sobre a situação do Poder Judiciário no país e da prestação do serviço jurisdicional, sugerindo, inclusive, alterações nas legislações e na própria Constituição9. Controle de atuação administrativa e financeira significam uma avaliação do serviço prestado. O sistema de Justiça e subsistemas que o integram são considerados atualmente não simplesmente

8 Disponíveis para consulta no link http://www.cnj.jus.br/relatorios9 Um exemplo disso é a Emenda Constitucional n. 50, que se originou da PEC 347/96, e que o CNJ pediu, em seu relatório de 2005 a prioridade do Poder Legislativo para a sua aprovação (ver página 94 do relatório).

8 disponíveis para consulta no link http://www.cnj.jus.br/relatorios

9 Um exemplo disso é a emenda Cons-titucional n. 50, que se originou da PeC 347/96, e que o CNJ pediu, em seu re-latório de 2005 a prioridade do Poder legislativo para a sua aprovação (ver página 94 do relatório).

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como o exercício de uma potestade pública, mas como serviços públicos, suscetíveis de serem organizados, dirigidos e avaliados da mesma maneira como podem sê-lo a saúde, a educação, o transporte etc. A transparência é essencial. Esta competência teve como motivação a necessidade de o Estado brasileiro oferecer às cidadãs e cidadãos do país uma administra-ção de Justiça ágil, transparente e eficaz para a proteção dos direitos e reparação das violações.

Neste cenário, foi criado o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), órgão integrante do Poder Judiciário brasileiro, com atuação em todo o territó-rio nacional, instalado em 14 de junho de 2005, com sede em Brasília, e composto pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e mais 14 mem-bros nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução. Em sua maioria (nove integrantes), o CNJ é composto por membros do próprio Poder Judiciário e pode ser dividido da seguinte forma:

(a) Membros do Judiciário (9):

• o Presidente do Supremo Tribunal Federal;• um ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo

tribunal; • um ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo

tribunal; • um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tri-

bunal Federal; • um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; • um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal

de Justiça; • um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; • um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Supe-

rior do Trabalho; • um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho;

(b) Membros das Funções essenciais à Justiça (4):

Ministério Público (2):• um membro do Ministério Público da União, indicado pelo procurador-

-geral da República; • um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo procurador-

-geral da República dentre os nomes indicados pelo órgão competente de cada instituição estadual;

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Advocacia (2):• dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advoga-

dos do Brasil;

(c) Membros da sociedade escolhidos pelo Legislativo (2):

• dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal.

Cabe destacar que, com a alteração promovida pela Emenda Constitucio-nal nº 61/2009, caberá ao Presidente do STF presidir o Conselho Nacional de Justiça e, nas suas ausências e impedimentos, caberá ao Vice-Presidente do STF.

Para o Supremo Tribunal Federal, “a existência, no Conselho de membros alheios ao corpo da magistratura, além de viabilizar a erradicação do corpora-tivismo, estende uma ponte entre o Judiciário e a sociedade, permitindo a oxige-nação da estrutura burocrática do Poder e a resposta a críticas severas” (STF – Pleno – ADIN nº 3.367/DF – Rel. Min. César Peluso, decisão: 13-4-2005).

Doutrina e jurisprudência muito divergiam a respeito da constitucionali-dade da criação deste controle externo. A discussão passava principalmente por dois pontos: a independência dos poderes (Art. 2º da CF) e a vulneração das cláusulas pétreas (Art. 60,§ 4º da CF).

Pense, medite e responda:

Viola a criação do CNJ a independência entre os poderes e as cláusulas pétreas?

Até que ponto a criação desse órgão controlador não iria ferir a inde‑pendência dos poderes, tão preservada em nossa Constituição e que veio inclusive coberta pelo manto da imutabilidade das cláusulas pétreas?

Ocorre que, como é cediço, as estruturas do Poder – Legislativo, Execu-tivo e Judiciário – vêm sofrendo um grande desgaste nas últimas décadas. Questões relevantes precisam ser discutidas para a reestruturação do Estado e dos poderes públicos. O Parlamento não mais, necessariamente, reflete a vontade popular, havendo necessidade de uma ampla reforma política, principalmente no tocante ao sistema eleitoral.

No campo do Poder Executivo, problemas semelhantes se apresentam. A transformação do Estado Liberal para o Estado do Bem-Estar Social mudou completamente a relação Executivo – Sociedade. São as privati-zações, as agências reguladoras, a ingerência cada vez maior do Estado na vida do particular...

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26FGV dIReITO RIO

Da mesma forma, é inegável também a crise no Judiciário brasileiro. O nosso Judiciário é considerado lento, ineficaz e caro. O Judiciário tornou-se protagonista de uma série de conflitos, mas não vem sendo capaz de dar as tão almejadas respostas à sociedade.

Quais as causas para esta crise do Judiciário?

Para o STF, as causas são muitas, mas especialmente:

• A criação dos Juizados Especiais na Justiça Estadual, em 1995, e na Justiça Federal, em 2002, que elevou significativamente o acesso à Justiça;

• A intensa judicialização das denominadas lesões de massa, como por exemplo, as questões decorrentes dos planos econômicos;

• O aumento da criminalidade organizada; • O aumento do controle de constitucionalidade, tanto a nível con-

centrado quanto a nível difuso.10

Uma das soluções encontradas para se acabar com a crise no Judiciário foi a sua Reforma, ocorrida em 2004, com a EC nº 45, que criou o então órgão de controle externo, denominado Conselho Nacional de Justiça.

Tal criação já foi objeto de Ação de Declaração de Inconstitucionalidade, ADIN nº 3367, julgada em abril de 2005, tendo como relator o ministro Cezar Peluso, tendo sido reconhecida a constitucionalidade do Conselho Nacional de Justiça.

Trata-se de um órgão cuja natureza é meramente administrativa. Órgão interno do Poder Judiciário de controle administrativo, financeiro e disci-plinar da magistratura. Não há infringência nas funções típicas do Judici-ário. Preserva-se a imparcialidade e a independência do magistrado, apesar do mesmo passar a se submeter a um controle administrativo externo por parte do CNJ. Esta decisão inova não somente em relação ao CNJ, cuja constitucionalidade foi declarada, mas também reforça e centraliza na força do Supremo Tribunal Federal todo o ordenamento jurídico-constitucional brasileiro. Torna o STF não só a cúpula jurisdicional do Poder Judiciário brasileiro, como já tradicionalmente estabelecido, como também, a partir da EC nº 45/04, sua cúpula administrativa, financeira e disciplinar, pois todas as decisões do CNJ sobre o controle da atuação administrativa e fi-nanceira dos tribunais e sobre a atuação funcional dos magistrados serão passíveis de controle jurisdicional pelo STF, que fixará o último posiciona-mento. Leia a seguir o trecho da decisão acerca deste ponto:

10 Ministro Nelson Jobim, então Ministro do STF, em artigo “Judiciário: Construindo um novo modelo; in “A reforma do Poder Judiciário no Estado do Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas-Rio de Janeiro, 2005.

10 Ministro Nelson Jobim, então Minis-tro do sTF, em artigo “Judiciário: Cons-truindo um novo modelo; in “A reforma do Poder Judiciário no estado do Rio de Janeiro. Fundação Getúlio Vargas-Rio de Janeiro, 2005.

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27FGV dIReITO RIO

“(...) 4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade administrativa, financeira e discipli-nar da magistratura. Competência relativa apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribu-nal Federal. Preeminência deste, como órgão máximo do Poder Judiciário, sobre o Conselho, cujos atos e decisões estão sujeitos a seu controle jurisdicional. Inteligência dos art. 102, caput, inc. I, letra “r”, e § 4º, da CF. O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma competência sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse o órgão máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito. (...)”

Seria constitucional um Estado da Federação criar um órgão similar ao CNJ no âmbito estadual?

O Supremo Tribunal Federal também já teve a oportunidade de solucionar tal questão, na mesma ADIN, nos seguintes termos:

“(...) 3. PODER JUDICIÁRIO. Caráter nacional. Regi-me orgânico unitário. Controle administrativo, finan-ceiro e disciplinar. Órgão interno ou externo. Conselho de Justiça. Criação por Estado membro. Inadmissibili-dade. Falta de competência constitucional. Os Estados membros carecem de competência constitucional para instituir, como órgão interno ou externo do Judiciário, conselho destinado ao controle da atividade administra-tiva, financeira ou disciplinar da respectiva Justiça.(...)”

Como já ressaltado acima, a jurisdição é una. Como expressão do poder estatal, ela é eminentemente nacional e não comporta divisões. Desta forma, como bem assinalou o STF, o Poder Judiciário é nacional e seu regime orgânico é unitário, não comportando a instituição de novos órgãos controladores em âmbito estadual.

Desta forma, três são os pontos caracterizadores do CNJ que afastam a possibilidade de declaração de sua inconstitucionalidade sob alegação de in-terferência na separação de Poderes:é órgão integrante do Poder Judiciário;sua composição apresenta maioria absoluta de membros do Poder Judiciário;eexiste possibilidade de controle de seus atos pelo órgão da cúpula do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal.

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28FGV dIReITO RIO

Resta, portanto, agora, saber quais são as tão discutidas atribuições do CNJ.

A Constituição Federal trouxe, em seu Artigo 103–B, § 4º, um rol exemplificativo das mais importantes atribuições do CNJ. Passam elas pelo controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes.

Veja uma decisão do STF acerca do tema:

“O CNJ, embora integrando a estrutura constitucional do Po-der Judiciário como órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura – excluídos, no entan-to, do alcance de referida competência, o próprio STF e seus ministros (ADI 3.367/DF) –, qualifica-se como instituição de caráter eminentemente administrativo, não dispondo de atribuições funcionais que lhe permitam, quer colegialmente, quer mediante atuação monocrática de seus conselheiros ou, ainda, do corregedor nacional de justiça, fiscalizar, reexaminar e suspender os efeitos decorrentes de atos de conteúdo juris-dicional emanados de magistrados e tribunais em geral, razão pela qual se mostra arbitrária e destituída de legitimidade ju-rídico-constitucional a deliberação do corregedor nacional de justiça que, 1419 Art. 103-B, § 4º, II agindo ultra vires, para-lise a eficácia de decisão que tenha concedido mandado de se-gurança.” (MS 28.611‑MC‑AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 14-10-2010, Plenário, DJE de 1º-4-2011.) No mesmo sentido: MS 28.598‑MC‑AgR, Rel. Min. Cel‑so de Mello, julgamento em 14-10-2010, Plenário, DJE de 9-2-2011; MS 27.148‑AgR, Rel. Min. Celso de Mello, jul-gamento em 11-5-2011, Plenário, DJE de 25-5-2011.

Para uma maior aproximação do Conselho Nacional de Justiça com a sociedade, garantindo maior efetividade na sua atuação, a EC nº 45/2004 previu ainda no Art. 103-B, §7º, a criação de Ouvidorias de Justiças, com competência para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxi-liares, representando diretamente ao CNJ.

Questão que tem encontrado grande divergência jurisprudencial e doutriná-ria diz respeito aos limites do poder normativo do CNJ. A Reforma do Judiciá-rio lhe conferiu a importante atribuição de zelar pela autonomia do Poder Judi-ciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências.

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29FGV dIReITO RIO

Há que se explicitar qual o real objetivo do constituinte ao conferir tal poder regulamentar ao CNJ. Seria um grande equívoco imaginar que a sociedade tivesse conferido ao CNJ o poder de, mediante resoluções, subs-tituir a vontade geral do povo, ou seja, substituir o Poder Legislativo. Da mesma forma, seria errôneo o entendimento de que o CNJ poderia subs-tituir o próprio Poder Judiciário, por meio de concessão de medidas limi-nares, por exemplo, de caráter jurisdicional. Não pode o CNJ romper com os princípios da reserva da lei e da reserva de jurisdição. O poder de expedir atos regulamentares tem um objetivo específico, qual seja, o controle ad-ministrativo. Aliás, essa é a ratio essendi da criação do CNJ. Tratando-se de atos de fiscalização administrativa, apenas podem dizer respeito à situações concretas. Essa é a distinção. A matéria reservada à lei, geral e abstrata, diz respeito a previsão de comportamentos futuros. Já a matéria reservada aos atos regulamentares do CNJ diz respeito as diversas situações que surjam da atividade concreta dos juízes, exercendo o CNJ um controle destas. São dois os limites, portanto: não pode expedir atos regulamentares com caráter geral de abstrato, em face da reserva de lei; e não pode se ingerir nos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, face a cláusula de proibição de restrição a direitos e garantias fundamentais, que se sustenta na reserva de lei.

Desta forma, os atos regulamentadores do CNJ esbarram assim na im-possibilidade de inovar e na impossibilidade de restringir direitos e garantias pessoais, funcionais e institucionais. Deve-se restringir, portanto, a emitir atos regulamentares de carárter fiscalizatório, porém, somente em sede ad-ministrativa.

Pode o CNJ, por meio de um Procedimento Administrativo, anular concurso público para Juiz de Direito substituto? E mais, poderia fazê‑‑lo ex officio?

Sim, tendo em vista a previsão contida nos artigos 91 e 93 do novo Regimento Interno do CNJ.

Art. 91. O controle dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário será exercido pelo Plenário do CNJ, de ofício ou mediante provocação, sempre que restarem contrariados os princípios estabelecidos no art. 37 da Constituição, especialmente os de legalidade, impesso-alidade, moralidade, publicidade e eficiência, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União e dos Tribunais de Contas dos Estados.

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30FGV dIReITO RIO

Art. 93. A instauração de ofício do procedimento de contro-le administrativo poderá ser determinada pelo Plenário, me-diante proposição de Conselheiro, do Procurador-Geral da República ou do Presidente do Conselho Federal da OAB.

Cumpre-nos ressaltar, porém, que o Supremo Tribunal Federal, apesar da criação do Conselho Nacional de Justiça como órgão integrante do Poder Judiciário Brasileiro, continua sendo a Corte máxima deste Poder, sendo o órgão legitimado para o julgamento de questões que envolvam decisões to-madas pelo CNJ ou regulamentos por este expedidos.

TÓPICO 4: O CNJ e a Audiência de Custódia: Proteção aos direitos hu‑manos ou mera tentativa de desafogar presídios?

JURISPRUDÊNCIA

PODER JUDICIÁRIO

Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de Foro - 1

O Tribunal iniciou julgamento de recurso extraordinário, afetado ao Pleno pela 1ª Turma, em que se discute se o foro especial por prerrogativa de função se estende ou não àqueles que se aposentam em cargos cujos ocupantes osten-tam tal prerrogativa. Trata-se, na espécie, de agravo de instrumento convertido em recurso extraordinário criminal interposto, por desembargador aposentado, contra decisão da Corte Especial do STJ que declinara de sua competência, em ação penal contra ele instaurada, ao fundamento de que, em decorrência de sua aposentadoria, não teria direito à prerrogativa de foro pelo encerramento definitivo da função. O ora recorrente sustenta a incidência do art. 95, I, da CF, assegurador da vitaliciedade aos magistrados, sob a alegação de que esta somente poderia ser afastada por sentença judicial transitada em julgado, na qual consignada a perda do cargo. Alega, ainda, que a correta leitura do art. 105, I, a, da CF, incluiria também os desembargadores aposentados, uma vez que interpretação diversa desse dispositivo o colocaria em situação inusitada, pois, o submeteria, na qualidade de ex-presidente e ex-corregedor-geral, a juiz que eventualmente tenha recebido alguma sanção disciplinar. Por fim, pleiteia o reconhecimento da negativa de vigência aos artigos 5º, XXXV, LIV, LV, e § 2º e 93, IX, ambos da CF e, alternativamente, requer sejam tidos como trans-gredidos os artigos 94, I e 105, I, a, da CF — v. Informativo 485.

RE 549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.2.2008. (RE-549560) - Informativo 495

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31FGV dIReITO RIO

Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de Foro - 2

O Min. Ricardo Lewandowski, relator, negou provimento ao recurso por entender que a pretensão do recorrente esbarra na orientação jurisprudencial fixada pelo Supremo. Reportou-se ao que decidido no HC 80717/SP (DJU de 5.3.2001), no qual se consignara que, com o cancelamento do Enunciado da Súmula 394 do STF, estaria afastada a competência originária do STJ para proceder ao julgamento de juiz do TRT aposentado, entendimento baseado no julgamento do Inq 687 QO/SP (DJU de 9.11.2001). Citou, também, o que estabelecido pela Corte no RE 291485/RJ (DJU de 23.4.2003), no sen-tido de que o foro especial por prerrogativa de função tem por objetivo o res-guardo da função pública; que o magistrado, no exercício do ofício judicial, goza da prerrogativa de foro especial, garantia que está voltada não à pessoa do juiz, mas aos jurisdicionados; e que, não havendo mais o exercício da fun-ção judicante, não há de perdurar o foro especial, haja vista que o resguardo dos jurisdicionados, nesse caso, não é mais necessário. Ressaltou, ainda, que o provimento vitalício é o ato que garante a permanência do servidor no car-go, aplicando-se apenas aos que integram as fileiras ativas da carreira pública. Por fim, aduziu não haver se falar em parcialidade do magistrado de 1ª ins-tância para o julgamento do feito, porquanto a lei processual prevê o uso de exceções capazes de afastar essa situação. Em seguida, o Min. Marco Aurélio levantou questão acerca da impossibilidade de se discutir a matéria, que já se encontraria julgada por esta Corte, em processo objetivo (ADI 2797/DF, DJU de 19.12.2006), sob pena de se atuar como legislador positivo, restabe-lecendo, embora de forma mitigada, o § 1º do art. 84 do CPP. No ponto, o relator acompanhou essa manifestação, mantendo seu voto.

RE 549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.2.2008. (RE-549560) - Informativo 495

Juiz Aposentado: Vitaliciedade e Prerrogativa de Foro - 3

Em divergência, o Min. Menezes Direito deu provimento ao recurso para assegurar ao magistrado aposentado plena prerrogativa das garantias que são inerentes à magistratura, ao fundamento de que o ato que é objeto do proces-so foi praticado no exercício das funções judicantes. Salientou, inicialmente, estar-se diante de situação exemplar não contemplada em nenhum dos prece-dentes citados, que deveria ser analisada pela Corte, qual seja, o fato de que um ex-desembargador, aposentado hoje, ter praticado um delito no exercício da função judicante. Disse que, se o magistrado é vitalício no exercício da função judicante, e se ele, eventualmente, em razão dessa atividade, comete certo ato que pode ser objeto de determinada ação, essa ação não se referiria a nenhuma atividade posterior ao exercício da atividade judicante, mas concretamente

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32FGV dIReITO RIO

ao exercício da atividade judicante. Assim, quando um magistrado, sob qual-quer circunstância, em qualquer instância, exercesse atividade judicante, ele teria de ter, até por princípio de responsabilidade do sistema constitucional, a proteção que a CF lhe assegura (CF, art. 95, I). Mencionou, ademais, dis-positivo constante do Estatuto de Roma, que aprovou o Estatuto do Tribu-nal Penal Internacional, integrado pela adesão brasileira e relativo à garantia dos juízes que dele fazem parte (“Artigo 48º... 2 - Os juízes, o procurador, os procuradores-adjuntos e o secretário gozarão, no exercício das suas funções ou em relação a estas, dos mesmos privilégios e imunidades reconhecidos aos chefes das missões diplomáticas, continuando a usufruir de absoluta imunidade judicial relativamente às suas declarações, orais ou escritas, e aos atos que pratiquem no desempenho de funções oficiais após o termo do respectivo mandato.”). Após, o julgamento foi suspenso com o pedido de vista do Min. Eros Grau.

RE 549560/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 20.2.2008. (RE-549560) – Informativo 495

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Conselho Nacional de Justiça e Atribuições - 1

O Tribunal iniciou julgamento de questão de ordem suscitada pelo Min. Sepúlveda Pertence em dois mandados de segurança, dos quais relator, im-petrados contra o Conselho Nacional de Justiça - CNJ, que julgara impro-cedente Procedimento de Controle Administrativo - PCA, formulado com o objetivo de trancar procedimento disciplinar instaurado, contra o impetran-te, juiz federal, no TRF da 3ª Região, para apurar supostas ilegalidades no processamento e julgamento de habeas corpus. O Min. Sepúlveda Pertence, relator, resolveu a questão de ordem no sentido de referendar a decisão de indeferimento da liminar e não conhecer da segurança. Salientou, inicial-mente, a necessidade de se proceder a uma redução teleológica da alínea r do inciso I do art. 102 da CF, aditada pela EC 45/2004, que conferiu ao Supremo a competência originária para processar e julgar as ações contra o CNJ, de modo a não converter a Corte, por meio do mandado de seguran-ça, em verdadeira instância ordinária de revisão de toda e qualquer decisão do Conselho. Asseverou, no ponto, ser preciso distinguir as deliberações do CNJ que implicam intervenção na órbita da competência ordinária confia-da, em princípio, aos juízos ou tribunais submetidos ao seu controle das que traduzem a recusa de intervir. Esclareceu, quanto às primeiras, as positivas, não haver dúvida de que o CNJ se torna responsável pela eventual lesão ou ameaça de lesão a direito conseqüentes, submetidas ao controle jurisdicional do Supremo, como, por exemplo, as que avoquem processos disciplinares

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33FGV dIReITO RIO

em curso nos tribunais, apliquem sanções administrativas, desconstituam ou revejam decisões deles ou lhes ordene providências, mas que, diversamente, quanto às segundas, as negativas, o Conselho não substitui por ato seu o ato ou a omissão dos tribunais, objeto da reclamação, que, por conseguinte, re-manescem na esfera de competência ordinária destes.

MS 26710 QO/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2.8.2007. (MS-26710) MS 26749 QO/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2.8.2007. (MS-26749) - Informativo 474

Conselho Nacional de Justiça e Atribuições - 2

O relator considerou que, no caso, o CNJ, ao recusar o pedido do interes-sado de ordenar ao TRF que não instaurasse o processo disciplinar cogitado, nada decidira a respeito de sua instauração ou não, deixando à deliberação do órgão judicial reclamado. Ressaltou que nem mesmo a motivação da decisão negativa do CNJ vincularia o tribunal federal, que estaria livre para acolher qualquer das alegações do interessado, seja mediante decisão administrati-va de não instaurar o processo disciplinar, seja, a fortiori, no exercício do controle jurisdicional de deliberação administrativa em sentido contrário, o qual, mediante mandado de segurança, é de sua competência originária (LOMAN, art. 21, VI). Desse modo, afirmou que a ameaça de abertura do processo disciplinar, contra a qual se insurge o impetrante, continuaria im-putável exclusivamente ao tribunal a que está subordinado, e que careceria o Supremo de competência originária para conhecer do pedido de mandado de segurança. Após, pediu vista dos autos o Min. Cezar Peluso.

MS 26710 QO/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2.8.2007. (MS-26710)MS 26749 QO/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2.8.2007. (MS-

26749) – Informativo 474

LEITURA COMPLEMENTAR:

Constitucionalidade e Legitimidade da criação do Conselho Nacional de Justiça. Luís Roberto Barroso. Artigo disponível na internet: http://www.justiçavirtual.com.br >artigos clássicos constitucional

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34FGV dIReITO RIO

QUESTÕES ACERCA DA MATÉRIA:

01.Assinale a alternativa INCORRETA: (a)A Constituição Federal assegura ao Poder Judiciário autonomia adminis-trativa e financeira(b) Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos mem-bros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitu-cionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público(c) Os juízes não podem dedicar-se à atividade político-partidária(d) O Supremo Tribunal Federal é competente para alterar o número de membros dos tribunais inferiores, criar e extinguir cargos e fixar vencimentos de seus membros, dos juízes e, onde houver, dos serviços auxiliares e os juízos que lhe forem vinculados.(e) Os juízes não podem receber custas ou participação em processo.

02.Analise as afirmações abaixo: I)O Magistrado só poderá exercer uma função no Magistério se estiver em disponibilidade.II)Desde seu ingresso na carreira, o Magistrado só poderá perder seu cargo por sentença judicial transitada em julgado.III)Somente poderão ingressar no STF os Ministros que exerceram durante dois anos suas funções no STJ.IV) Os Tribunais poderão declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato nor-mativo do Poder Público, pelo voto da maioria de seus membros ou dos membros do seu órgão especial.

Pode-se afirmar que:(a) Todas as afirmações estão incorretas;(b) Todas as afirmações estão corretas;(c) Apenas as afirmações I e II estão corretas;(d) Apenas a afirmação III está correta.(e) Apenas as afirmações III e IV estão corretas

03.Em relação às garantias da magistratura, é correto afirmar que:

(a)A vitaliciedade é sempre adquirida pelos magistrados após dois anos de exercício no cargo;(b)A inamovibilidade pode ser afastada por motivo de interesse publico;(c)A irredutibilidade de subsídio torna os juízes imunes à tributação por meio do imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza;(d)A Vitaliciedade impede definitivamente a perda do cargo pelos juízes.(e) Nenhuma das respostas acima.

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35FGV dIReITO RIO

5) Há alguma exceção à garantia de inamovibilidade dos Juízes? Resposta objetivamente justificada (TJ/SP - Magistratura)

6). Em relação às garantias e funções do Poder Judiciário é correto:

(a)Lei específica, de iniciativa do Congresso Nacional, disporá sobre o Esta-tuto da Magistratura.(b) A promoção por merecimento pressupõe quatro anos de exercício na res-pectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antigui-dade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago.(c)Um quinto dos lugares dos TRF´s, dos Tribunais dos Estados, do Distrito Federal e dos Territórios será composto de membros do Ministério Público e de advogados com mais de quinze anos de efetiva atividade profissional, indi-cados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.(d)Vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida depois de dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judi-cial transitada em julgado.(e) N.R.A

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36FGV dIReITO RIO

AULAS 5 E 6: O SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

1. INTRODUÇÃO

O Supremo Tribunal Federal (STF) e o Superior Tribunal de Justiça (STJ) são Tribunais da União que possuem a especificidade de não pertence-rem a qualquer das Justiças.

São, na verdade, órgãos cuja competência originária vem determinada de forma expressa na Constituição, além da competência para julgar recursos interpostos em causas que já tenham exaurido todos os graus das Justiças comuns e especiais. São, neste último caso, órgãos de superposição.

A principal distinção entre estes dois tribunais reside no fato do STF jul-gar questões exclusivamente constitucionais, enquanto ao STJ compete as questões federais infraconstitucionais.

Quanto ao exercício desta competência de superposição, esses dois tribu-nais julgam os recursos especial (STJ) e extraordinário (STF). São recursos de extrema excepcionalidade, onde apenas questões de direito são apreciadas e não questões de fato.

E mais: somente exame do direito nacional (aplicação em todo o território brasileiro) e não do direito local (estadual e municipal).

Há que se ressaltar, porém, que o sistema brasileiro não consagra a exis-tência de uma corte constitucional encarregada somente de resolver as ques-tões constitucionais do processo sem decidir a causa.

Esse é o modelo de Justiça constitucional europeu, que se fundamenta essencialmente e, em regra, na noção de um Tribunal Constitucional com competência específica para conhecer os litígios constitucionais.

O Supremo Tribunal Federal constitui-se, no sistema brasileiro, na corte constitucional por excelência, sem deixar de ser autêntico órgão judiciário.

O Supremo Tribunal Federal representa o ápice da estrutura judiciária na-cional e articula-se quer com a Justiça comum, quer com as Justiças especiais.

Não chefia administrativamente os demais órgãos da jurisdição, face a independência jurídica dos magistrados, mas sem dúvida os encabeça funcio-nalmente: o STF é a máxima instância de superposição, em relação a todos os órgãos da jurisdição.

2. ORGANIZAÇÃO

O Supremo Tribunal Federal, ao qual iremos nos ater agora de forma mais detalhada, tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional.

Sua composição vem discriminada na Constituição Federal, Art. 101, num total de 11 membros.

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37FGV dIReITO RIO

Os ministros devem estar no gozo dos direitos políticos, ter mais de 35 anos e menos de 65 de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada.

Outro requisito para nomeação encontra-se inscrito no art. 12, §3º, IV da Constituição, ao exigir sejam eles brasileiros natos.

O STF, assim como os outros tribunais, tem a prerrogativa de organizar sua atuação interna mediante a elaboração do próprio regimento interno. O STF o fez fixando o seu funcionamento no plenário ou em turmas. A distribuição dos 11 ministros se dá em duas turmas, estando cinco minis-tros em cada uma delas, sendo certo que o presidente apenas participa das sessões plenárias (RISTF, Art. 2º ao 4º)

O ingresso ao Supremo Tribunal Federal não se faz por carreira, mas por nomeação do Presidente da República, depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal.

O Presidente da República, presentes os requisitos constitucionais para investidura, escolhe livremente o candidato, que será sabatinado pelo Senado Federal, devendo ser aprovado pela maioria absoluta de seus membros, para poder ser nomeado pelo chefe do Poder Executivo.

Vê-se, portanto, que o STF não exige a obrigatoriedade do bachare-lado em ciências jurídicas e, tão pouco, que seus membros sejam prove-nientes da magistratura. O critério de escolha é eminentemente político, com a participação do chefe do Poder Executivo e do Legislativo, por meio do Senado Federal.

Este critério vem gerando grandes discussões não só no meio jurídico mas também no meio político e social, crise agravada pelo recente julga-mento do chamado “Caso Mensalão”, esquema montado para distribuir recursos para partidos aliados ao governo, provocando a maior crise po-lítica no governo do Presidente Luis Inácio Lula da Silva. Naquele mo-mento, 7 (sete) dos 11 (onze) ministros que compunham o STF haviam sido indicados pelo Presidente. Atualmente, a investigação denominada “Lava Jato”, com ramos tanto em Curitiba, Rio de Janeiro e Brasília revi-goram as dúvidas e receios da sociedade acerca da composição da Corte, com ministros sendo apontados pela imprensa como vinculados ideoló-gicamente a partidos políticos e autoridades do Governo.

Desta forma, pergunta-se:

TÓPICO 1: Os critérios para a investidura do ministro do STF são justos? Como funciona este processo na Europa e nos EUA?

Leia os textos abaixo, extraídos da revista eletrônica Consultor Jurídico, de autoria de membros da magistratura.

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38FGV dIReITO RIO

Indicação ao SupremoAo invés de mudar, é melhor fazer o sistema funcionarpor Flávio Portinho Sirangelo

Está em curso o debate sobre o modo de provimento dos cargos de minis-tro do Supremo Tribunal Federal. Já existe inclusive um projeto de emenda constitucional que tende a restringir a ampla liberdade dada ao presidente da República para fazer a indicação. A Constituição prevê que os ministros do STF sejam nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

Tudo decorre, na verdade, de um fato recente: o anúncio da iminente saída, por razões diversas, de alguns dos atuais ministros, o que daria ao presi-dente Lula, consideradas as nomeações já feitas por ele até agora, o privilégio incomum de compor, na prática, a maioria da Suprema Corte.

A pergunta que tem sido feita é a seguinte: haverá risco de abalo à inde-pendência da Corte Suprema e do próprio Judiciário se restar concentrado nas mãos de um único presidente o poder de indicação da maioria dos juízes?

A resposta a esta indagação não é singela. Se é válida a premissa de que há um risco para o equilíbrio dos poderes, diante da coincidência de várias sucessões de cadeiras no STF durante um mesmo mandato presidencial, por que a atual Constituição — e bem assim as constituições anteriores — já não teriam estabelecido um sistema diferente e mais controlado? A premissa, como se vê, não é necessariamente correta.

Na minha opinião, ao invés de mudar o que já existe — e correr o risco provável de mudar para pior —, é mais razoável esperar que os ritos políticos de indicação, aprovação e nomeação se cumpram efetivamente e se completem.

O processo de nomeação é um processo de natureza política, já que os ju-ízes do STF não integram qualquer tipo de carreira no serviço público, como ocorre, a contrário senso, com os juízes das instâncias ordinárias. Por esta razão, é indispensável que o Senado faça uma avaliação profunda e efetiva da indicação. Nesta atuação, o Senado é governo e exerce funções executivas de governo, compartilhando-as com o presidente. É legítimo esperar, inclusive, que o Senado exerça a tarefa de recusar a indicação se ela se mostrar equivo-cada do ponto de vista do interesse republicano e institucional, mesmo que se trate de alguém possuidor de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Nos Estados Unidos, não é incomum a recusa pelo Legislativo de indica-ções judiciais feitas pelo chefe do Executivo. George Washington, o líder da independência e primeiro presidente dos EUA, teve, ele próprio, recusada pelo Senado americano uma indicação que fez para a Suprema Corte. O candidato John Rutlege, segundo conta a história, era qualificado, já exercia funções judiciais e havia sido inclusive um dos convencionais que escreveram a Constituição, mas foi mesmo assim rejeitado pela maioria dos senadores porque se opusera ao tratado de paz com o Reino Unido.

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39FGV dIReITO RIO

Durante os dois séculos seguintes, muitas indicações presidenciais para a Suprema Corte dos Estados Unidos foram recusadas no Senado por inú-meras e variadas motivações. Entidades e organizações reconhecidas como representativas da sociedade civil participam ativamente e influenciam as decisões do presidente e dos senadores. Dentre as motivações de recusa, so-bressaem o comprometimento excessivamente ideológico ou partidário do candidato, que atingiram indiscriminadamente democratas e republicanos, liberais e conservadores.

George W. Bush, o todo-poderoso presidente atual, detendo a maioria republicana nas duas casas do Congresso em boa parte do primeiro mandato e durante todo o mandato em curso, nem assim vem conseguindo emplacar a totalidade das suas indicações para vagas de tribunais federais. Mais do que isso: teve de amargar a retirada de uma indicação que fez para a Suprema Corte, no final do ano passado, em face da resistência de entidades da so-ciedade civil e, principalmente, porque o Senado sinalizou a virtual recusa daquela que havia sido nomeada pelo presidente.

No momento em que escrevo, o juiz federal Samuel Alito, que foi indica-do em substituição àquela frustrada nomeação, vem sendo duramente com-batido pelos principais líderes democratas no Senado americano por meio de uma rigorosa sabatina. O interrogatório dos senadores já ocupou uma boa parte deste mês de janeiro e o indicado ainda não conseguiu, apesar de suas inegáveis qualidades pessoais como jurista, receber o sinal verde para assumir a cadeira que lhe foi acenada pelo presidente.

Se é possível resumir o modo de atuação do Senado dos Estados Unidos em face de indicações do presidente para a Suprema Corte, pode-se afirmar que ele tende, independente de quem detenha a maioria ocasional, a rejeitar os chamados “ideológicos” e a buscar alguém que mostre capacidade para comprometer-se com os valores fundamentais do país na tarefa de interpretar e aplicar o direito.

Como adotamos aqui o mesmo modelo e a mesma sistemática para pro-ver os cargos de ministro do nosso Supremo Tribunal Federal, não faríamos mal se adotássemos práticas políticas semelhantes na análise do acerto ou do desacerto da indicação feita pelo presidente.

Revista Consultor Jurídico, 25 de janeiro de 2006

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40FGV dIReITO RIO

Ministra diz que deveria haver mandato no STFpor Marina Ito

A ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, defendeu man-dato para ministro da mais alta Corte de Justiça do país. Tempo de perma-nência: 9 a 12 anos. Ela participou do evento Diálogos com o Supremo, na FGV Direito Rio, na sexta-feira (6/11).

“A pessoa passa a ser chamada de excelência todos os dias. Daqui a pou-co, começa a acreditar que é mesmo”, disse com o bom humor que lhe é peculiar. A plateia era formada de juízes, desembargadores, professores e es-tudantes da escola de Direito da FGV. A ministra demonstrou que, embora não saiba qual o modelo ideal de indicação para os ministros, entende que as opções que estão sendo cogitadas demandam reflexão.

Ela considera complicada a indicação de parte dos integrantes do STF pelo Congresso. Hoje, a indicação é feita pelo presidente da República. Os indicados são sabatinados pelo Senado. Para o Supremo, disse de modo vee-mente, não existe interesses partidários. “Entrou no Supremo e pôs a toga, o ministro tem compromisso com ele mesmo.”

Cármen Lúcia questionou se o Parlamento brasileiro indicaria um minis-tro sem pensar que depois não poderia chegar perto para lhe pedir um favor. “Os partidos vão se coligar para aprovar nomes indicados por tal ou qual partido?” Esse tipo de indicação, entende a ministra, pode gerar problemas.

Ela lembrou que, se o juiz “não pode deixar coração no congelador e o fígado na geladeira”, tem de se declarar suspeito ou impedido. “Ninguém paga nada, muito menos com a toga”.

Ela também falou sobre a possibilidade de ter parte de ministros represen-tantes de juízes de carreira. “O Supremo não é local de magistrado de carreira porque é cúpula de Poder e exerce papel político”, afirmou sem hesitar. Até o Superior Tribunal de Justiça, entende, pode ter cotas de representantes de tribunais, de advogados e procuradores.

“Não vejo que modelo melhor poderia substituir o atual. Não é nem que eu ache que não tenha; pode ter.” Ela entende que o controle da sociedade está cada vez maior.

Cármen Lúcia também contou que, durante seus três anos e meio no Supremo Tribunal Federal, já votou contra si própria para ficar ao lado da Constituição. “A Justiça está na lei, não a que eu penso, a que eu quero”, disse. Ela também contou que, entre as coisas que tem aprendido, é a de que o bom juiz tem de ter muita disciplina, autocontrole e compaixão. Afirmou ainda que o juiz deve escrever para que as pessoas entendam.

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Indicação polêmica

No final de agosto deste ano, convidado abrir a série Diálogos com o Supremo, o ministro Ricardo Lewandowski também foi questionado sobre a indicação de ministros para o STF. Na ocasião, ele falou sobre a independência dos ministros em casos julgados contra supostos interesses de quem os indica.

Lewandowski citou um caso recente que, segundo ele, demonstra que a indicação de ministro para o Supremo pelo presidente da República não interfere na independência dos julgadores sobre temas que podem ser delica-dos ao governo. No julgamento sobre o recebimento da denúncia contra o ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, no caso Francenildo, disse Lewan-dowski, os integrantes do STF divergiram.

Três ministros indicados pelo presidente Lula votaram pelo arquivamento da denúncia contra seu ex-ministro Palocci e foram acompanhados pelos dois indicados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Dois minis-tros também indicados por Lula votaram pelo recebimento da denúncia, se-guidos de um ministro indicado pelo ex-presidente Fernando Collor e outro indicado pelo ex-presidente José Sarney.

Revista Consultor Jurídico, 09 de novembro de 2009

O que será então este notável saber jurídico? Vocês concordam com isso?

Apesar de ser uma tradição constitucional brasileira, este requisito sem-pre foi questionado e criticado na doutrina. Alguns defendem um mínimo de cinco juízes de carreira na composição do STF. Outros entendem que esta expressão deveria ser substituída por requisitos subjetivos, como, por exemplo, 10 anos de atividade profissional como advogado, membro do Ministério Público, magistrado ou comprovação da qualificação de jurista, através do título de doutor em Direito etc.

Nomeados, os ministros passam a gozar de todas as garantias e impedi-mentos dirigidos aos juízes togados, dispostos no Artigo 95 e parágrafo da Constituição.

Adquirem ainda uma prerrogativa especial, qual seja: nos crimes de res-ponsabilidade, são processados e julgados pelo Senado Federal (Art. 52, II, CR) e nos crimes comuns, pelo próprio Supremo (Art. 102, I, b, CR).

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3. COMPETÊNCIA

A Constituição Federal descreveu a competência do STF nos artigos 102 e 103, dividindo-a em dois grupos, conforme a maneira de acioná-lo: com-petência originária e recursal.

No primeiro caso, o STF é acionado diretamente por meio de ações que lhe cabe processar e julgar originariamente, ou, seja, será o STF o primeiro órgão jurisdicional a ter contato com o conflito posto.

Já na competência recursal, o STF é acionado mediante recursos, ordiná-rios ou extraordinários, analisando a questão em última instância (compe-tência recursal).

3.1 Competência originária:

Sua função básica é a de manter o respeito à Constituição e sua unidade substancial em todo o país, garantindo a prevalência das normas constitucio-nais no ordenamento jurídico, o que faz, principalmente, por meio do con-trole concentrado de constitucionalidade no Direito Brasileiro e das demais hipo´tese de sua competência. Como afirma o Ministro decano:

A defesa da CR representa o encargo mais relevante do STF. O STF – que é o guardião da Constituição, por expressa delegação do Poder Constituinte – não pode renunciar ao exercí cio desse encargo, pois, se a Suprema Corte falhar no desempenho da gravíssima atribuição que lhe foi outorgada, a integridade do sistema político, a proteção das liberdades pú-blicas, a estabilidade do ordenamento normativo do Estado, a segurança das relações jurídicas e a legitimidade das institui-ções da República restarão profundamente comprometidas. O inaceitável desprezo pela Constituição não pode converter-se em prática governamental consentida. Ao menos, enquanto houver um Poder Judiciário independente e consciente de sua alta responsabilidade política, social e jurídico-institucional.” (ADI 2.010‑MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 30-9-1999, Plenário, DJ de 12-4-2002.)

Assim, compete ao STF processar e julgar as ações diretas de inconstituciona-

lidade, as ações de inconstitucionalidade por omissão, as ações declaratórias de constitucionalidade e a arguição de descumprimento de preceito fundamental.

Além disso, cabe ainda ao STF o julgamento de casos em que figurem como parte – seja réu ou autor – as mais altas autoridades da República, quando direitos fundamentais estiverem sendo ameaçados ou sob real viola-ção, conforme preceitua a Carta Magna:

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“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipua-mente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:I - processar e julgar, originariamente:d) o “habeas-corpus”, sendo paciente qualquer das pessoas referi-das nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o “habeas--data” contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câ-mara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Su-premo Tribunal Federal;i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância; q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regu-lamentadora for atribuição do Presidente da República, do Con-gresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, das Mesas de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Con-tas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal”

Por fim, ainda dentro da competência originária, cabe ao STF processar e

julgar, originariamente:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipua-mente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:I - processar e julgar, originariamente

b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vi-ce-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República;c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilida-de, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;”

Quanto ao alcance da expressão “infrações penais comuns”, o STF já se manifestou no sentido de alcançar todas as modalidades de infrações penais, estendendo-se, inclusive, aos delitos eleitorais e às contravenções penais.

Como se vê, a competência do STF abrange infrações penais comuns co-metidas por pessoas que possuem foro por prerrogativa de função, enquanto

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durarem seus mandatos ou cargos, esteja ou não a infração relacionada com o exercício das funções.

Consequentemente, cessado o exercício deste mandato ou cargo, encerra--se também o foro por prerrogativa de função, não subsistindo mais a com-petência do STF. Como já decidiu A Corte:

Competência. Prerrogativa de foro. Afastamento do cargo. Julga-mento iniciado. Cessação. Deixando o detentor da prerrogativa de foro o cargo que a motivou, cessa a competência do Tribunal, não influenciando o fato de o julgamento já ter iniciado.” (Inq 2.277, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 24-5-2006, Plenário, DJ de 29-9-2006.)

3.1.1 Conflito de Competência

Último ponto a ser analisado em relação à competência originária do STF, diz respeito ao conflito de competência que deve por ele ser dirimido.

Dispõe o Artigo 102, I, “o” da Constituição:

“o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Jus-tiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal”

Sendo assim, caberá ao STF resolver os conflitos de competência entre o STJ e TRE; STJ e TRT; STJ e TJM:

TRE

STJ TRT

TJM

Observe-se que não constam, na demonstração acima, o TRF e o TJ, isso porque o STJ é órgão hierarquicamente superior a eles. Onde há hierarquia jurisdicional não há conflito de competência. A decisão do STJ vincula o TRF e os TJ Estaduais.

De acordo com o texto constitucional, o STF também resolverá os con-flitos de competência existentes entre os Tribunais Superiores, conforme de-monstração abaixo:

STJ TSE TST STM

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Caberá, ainda, ao STF resolver os conflitos de competência existentes en-tre os Tribunais Superiores e qualquer outro tribunal:

TSE

TRF TJ TRE TRT TJM

TST

TRF TJ TRE TRT TJM

STM

TRF TJ TRE TRT TJM

Cumpre ressaltar que, apesar da omissão constitucional, o STF tem com-petência para resolver o conflito entre Tribunais Superiores e juízes perten-centes a outros Tribunais, já que o STJ não é hierarquicamente superior aos demais Tribunais Superiores.

Exemplo: Juiz Federal ou Estadual X TST. Confira:

O STF é titular de competência originária para dirimir o con-flito entre juízo estadual de primeira instância e o TST, nos termos dispostos no art. 102, I, o, da CB. Apesar de a Consti-tuição não afirmar expressamente a competência do STF para julgar os conflitos de competência entre tribunais superiores e juízes a ele não vinculados, a matéria não deve escapar à aná-lise desta Corte.” (CC 7.242, voto do Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 18-9-2008, Plenário, DJE de 19-12-2008.)•Conflito negativo de competência entre juiz federal e o TST. Reclamação trabalhista. IBGE. Alegado vínculo sob o molde de contrato de trabalho. Entendimento desta Corte, no sen-tido de que, em tese, se o empregado público ingressa com ação trabalhista, alegando estar vinculado ao regime da CLT, compete à Justiça do Trabalho a decisão da causa (CC 7.053,

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Rel. Min. Celso de Mello, DJ de 7-6-2002; CC 7.118, Rel. Min. Maurício Corrêa, Plenário, DJ de 4-10-2002.) Conflito de competência julgado procedente, ordenando-se a remessa dos autos ao TST.” (CC 7.134, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 12-6-2003, Ple nário, DJ de 15-8-2003.)

3.2. Competência recursal:

Ao STF foi atribuída ainda pela Constituição Federal a competência re-cursal para julgar:

3.2.1. Recurso Ordinário, nos casos de:

crimes políticos; eHabeas Corpus, Mandado de Injunção, Mandado de Segurança e Habe-as Data, decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, quando denegatória a decisão, incluindo aqui tanto as decisões de mérito quanto as decisões que extinguem o processo sem julgamento do mérito.(Artigo 102, II, a e b, CR)

3.2.2. Recurso Extraordinário

Meio idôneo para a parte interessada, no âmbito do controle difuso de constitucionalidade, levar ao conhecimento do STF controvérsia constitu-cional concreta, suscitada nos juízos inferiores.

Assim dispõe a Constituição:

“Art. 102(...)III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decidi-das em única ou última instância, quando a decisão recorrida:a) contrariar dispositivo desta Constituição;b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal;c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição.d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal”.

Essa competência constitucional extraordinária é mais um mecanismo para assegurar a supremacia das normas constitucionais, possibilitando, por-tanto, ao Pretório Excelso somente a análise jurídico-constitucional do recur-so, e não o reexame da matéria fática.

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Pela leitura da alínea a, já de início percebe-se que o constituinte não exige que a decisão recorrida tenha provindo de um tribunal, o que nos faz concluir que o recurso extraordinário é cabível até mesmo contra decisões proferidas por juiz singular, nas hipóteses em que não existir recurso ordiná-rio e dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais.

Três são os requisitos exigidos para a impetração do recurso: A – Prequestionamento – exige-se o debate e a existência de decisão sobre o tema jurídico versado no recurso. O requisito justifica-se pela necessidade de verificar-se o enquadramento do recurso num dos permissivos constitucio-nais, devendo ser indicado, na petição de encaminhamento, obrigatoriamen-te, a hipótese constitucional permissiva.Daí a necessidade do órgão recorrido ter se manifestado sobre a questão cons-titucional, emitindo juízo de valor sobre o tema. Deve, portanto, haver o esgotamento de todos os meios possíveis de prequestionamento.

B – Ofensa direta e frontal à Constituição. A decisão deve dar interpreta-ção direta e frontal diversa do texto constitucional. Não se admite alegação de ofensa reflexa. A via reflexa se caracteriza quando a apuração da ofensa à norma constitucional depender do reexame das normas infraconstitucionais aplicados pelo Poder Judiciário ao caso concreto; ou ainda, quando para atin-gir a violação do preceito constitucional houver necessidade de interpretação do teor e sentido da legislação infraconstitucional.

C – Repercussão Geral das questões constitucionais – inovação trazida pela EC nº 45, com a introdução do parágrafo terceiro ao texto do artigo 102 da CF. A matéria, regulada pela Lei 11.418, de 19 de dezembro de 2006, passou a exigir que o recorrente demonstre a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, de cunho econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa, nos termos da aludida lei, a fim de que o STF examine a admissão do recurso extraordinário. A medida, que já existe nos Estados Unidos, na Alemanha e no Japão, funciona como uma espécie de filtro dos recursos extraordinários levados ao Supremo.

Não obstante a Lei 11.418/06 ter produzido alterações apenas no CPC, o requisito da repercussão geral também é exigido no processo penal, conforme decisão do Supremo proferida no AI-QO 664567/RS.

Para o STF, o requisito constitucional da repercussão geral aplica-se aos recursos extraordinários em geral. A inclusão do § 3º no art. 102 da CF fez

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com que a exigência da repercussão geral passasse a integrar o núcleo co-mum da disciplina constitucional do recurso extraordinário. Sendo assim, o fato da alteração ter se dado apenas no CPC não tem maior relevo, tendo em vista que as normas nele inseridas possuem um caráter geral.

A partir da EC 45/04, então, cabe verificar, no âmbito do juízo de admissibilidade – seja na origem, seja no Supremo – se o recorrente, em preliminar do recurso extraordinário, desenvolveu fundamentação espe-cificamente voltada para a demonstração, no caso concreto, da existência de repercussão geral, sob pena de seu recurso não ser admitido. A reper-cussão geral passou, portanto, a ser pressuposto constitucional de admis-sibilidade do recurso.

Essa foi a solução encontrada pelo constituinte derivado para evitar que controvérsias concretas insignificantes, de absoluta irrelevância ju-rídica, sejam submetidas à apreciação do Supremo. É uma espécie de filtragem das matérias a serem definidas pelo STF via recursal. Tal re-quisito serve para reduzir a distribuição de recursos extraordinários ao Supremo Tribunal Federal e racionalizar o seu processamento em todo o Poder Judiciário. Ele permite que uma única decisão em cada questão constitucional. Assim, a Corte não precisa se pronunciar em outros pro-cessos com idêntica matéria. Ao mesmo tempo, convertidos em última instância para as ações que envolvem questões de interesse exclusivo das partes, o Superior Tribunal de Justiça, o Tribunal Superior do Trabalho e os Tribunais de Justiça saem fortalecidos. É mais um mecanismo, como já estudado, na tentativa de reduzir o número de processos que chegam ao STF todos os anos.

Tratando-se a repercussão geral de conceito juridicamente indetermina-do, caberá ao Supremo Tribunal Federal avaliar, diante do caso concreto, se o julgamento da questão constitucional tem importância geral, nos as-pectos de sua relevância política, econômica, social ou jurídica.

No site do Supremo Tribunal Federal, é possível realizar uma pesquisa avançada dos temas da Repercussão Geral, através de seus títulos, números, situação do leading case ou status do julgamento do mérito, sendo possível delimitar o período desejado, além de permitir ao usuário o acompanha-mento da votação dos temas que estão no Plenário Virtual.

Ainda é possível consultar as matérias que foram submetidas à análise do STF através dos recursos representativos, sobrestando de imediato os recursos que versam sobre o mesmo tema nos tribunais e turmas recursais de origem. Confira-se o quadro abaixo, meramente exemplicificativo, cuja a fonte é o Portal de Informações gerais da Corte, com dados atualizados até 05 de outubro de 2010.

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A análise dessa questão inaugura um sistema próximo do sistema ame-ricano, em que os Ministros exercem um sistema de discricionariedade ao escolherem os processos que vão julgar, e ao recusarem outros, in limine, que são classificados como questões menores.

O jurista André Ramos Tavares faz uma breve pesquisa de semelhante re-quisito no direito comparado e sintetiza as hipóteses que possivelmente serão consideradas como de repercussão geral em nosso ordenamento:

“Em síntese, e procurando aplicar as idéias anteriores à situa-ção brasileira, deverá se compreender como de “repercussão geral” (i) a temática que afete um grande número de pessoas (Bianchi, 1994:184); (ii) que trate de “assuntos significativos” (Morello, 1997:4); (iii) que possua um significado geral, socialmente re-levante; que transcenda os interesses egoísticos e pessoais das par-tes processuais envolvidas; que tenha “repercussão considerável sobre o conjunto do ordenamento jurídico e político” (Favoreu, 1997:103). Ou, ainda, as causas quando envolvam (i) aspectos econômicos de monta; (ii) temas já amplamente debatidos mas ainda pendentes em diversas instâncias judiciais, com decisões contraditórias; (iii) assuntos intrinsecamente relacionados a cau-sas pendentes de julgamento no STF. Evidentemente, e seria até desnecessário dize-lo, a enumeração não pretende ser exaustiva.11”

Quase um ano após a regulamentação da repercussão geral pela Lei 11.418/2007, o Supremo Tribunal Federal devolveu apenas 26% dos re-cursos por falta deste requisito. Com a utilização deste instituto o Pleno não precisou decidir questões de interesse meramente individual tais como12:• dano moral para torcedor que se sentiu prejudicado com o rebaixamento

de seu time (RE 565.138);• se o Estado tem que indenizar por emitir CPF em duplicidade (RE 570.846);• possibilidade de redução de multa quando a sentença já transitou em jul-

gado (RE 556.385);• obrigatoriedade da colocação de semáforos em faixas de pedestres (RE 565.506).

4. SúMULA VINCULANTE

Uma grande inovação da Emenda Constitucional nº 45, com certeza a maior delas, foi a súmula vinculante, recentemente regulamentada pela Lei nº 11.417, de 19 de dezembro de 2006. Objeto de acirradas discussões dou-trinárias já há muitos anos, veio a ser instituída finalmente em nosso ordena-mento jurídico em 2004.

11 TAVARES, André Ramos. Reforma do Judiciário no Brasil Pós-88. Saraiva. 2005, p.101.12 COSTA, Priscyla. Relevância Suprema. Disponível no sítio www.conjur.estadao.com.br. Acesso em o6 de junho de 2008.

11 TAVARes, André Ramos. Reforma do Judiciário no brasil Pós-88. saraiva. 2005, p.101.

12 COsTA, Priscyla. Relevância Suprema. disponível no sítio www.conjur.estadao.com.br. Acesso em o6 de junho de 2008.

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E o que vem a ser a Súmula vinculante?

Antes de mais nada, cabe fazer aqui uma distinção entre jurisprudência, súmula e a nova súmula vinculante. A jurisprudência é a reiteração uniforme e constante de uma decisão, sempre no mesmo sentido. É o que se chama de ubi idem ratio, ibi idem jus, ou seja, onde houver a mesma razão, aplica-se o mesmo direito. Quando chega a surgir um consenso quase absoluto sobre o modo de se decidir uma questão, o tribunal pode sintetizar tal entendimento por meio de um enunciado objetivo, sintético e conciso, denominado súmula.

Nem a jurisprudência, nem a súmula possuem caráter cogente. É apenas uma orientação para os juízes em seus próximos julgados. Eles estão livres para decidir de acordo com a sua convicção pessoal, optando por aplicar o entendimento jurisprudencial sumulado ou não.

Na prática, sabe-se que acabam tendo grande influência nas próximas deci-sões, inclusive com juízes diferentes, mas trata-se de uma faculdade do julgador.

Passemos, agora sim ao conceito de súmula vinculante, previsto pelo cons-tituinte reformador, da EC nº 45/2004:

“Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofí-cio ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria cons-titucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pú-blica direta e indireta, nas esferas federal, estadual e mu-nicipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.

§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja con-trovérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a ad-ministração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.

§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade.

§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que con-trariar a súmula aplicável ou que indevidamente a apli-car, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que,

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julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.”

É, portanto, um enunciado sobre matéria constitucional, que já havia sido reiteradamente julgada num determinado sentido, vindo a ser aprovado pelo Supremo Tribunal Federal vinculando toda a Administração Pública direta e indireta e os demais órgãos do Poder Judiciário. Sua edição, revisão e cance-lamento foram regulamentados pela Lei Federal nº 11.417/2006.

A idéia de instituir a súmula vinculante surgiu da necessidade de reforço à idéia de uma única interpretação jurídica para o mesmo texto constitucional ou legal.

Isto porque nossa Constituição, por ser tão abrangente nos direitos que assegura, por vezes se mostra ineficaz na prática diante de tantas omissões estatais, decisões divergentes nos tribunais, morosidade, enfim, causas que le-vam ao enfraquecimento do Poder Judiciário, ao desprestígio do Direito. Foi a crescente insatisfação e a perda da legitimidade do Judiciário que levou o constituinte derivado a instituir a súmula vinculante como forma de restabe-lecer a segurança jurídica (por meio da diminuição do número de diferentes interpretações jurídicas de uma mesma norma), o princípio da igualdade (a mesma interpretação legal deve ser aplicada aos casos concretos semelhantes) e a celeridade jurídica (impedindo a eternização dos conflitos sobre matérias que o STF já decidiu).

Além disso, por certo, foi criada com a finalidade de produzir uma drásti-ca redução do número de processos. É uma tentativa de reduzir os gigantes-cos números do nosso Judiciário.

Cabe ressaltarmos que estamos diante de uma forte mudança estrutural no que diz respeito à competência das Cortes revisoras devido ao incontro-verso acúmulo de processos em todos os níveis do Poder Judiciário.

A situação do Supremo Tribunal Federal se agravou após a Constituição de 1988, conforme demonstra a doutrina13:

“Mas foi a Constituição de 1988 que alterou sobremaneira a situação dando nova dimensão ao Poder Judiciário que, além de ter se tornado bem maior (p. ex., com a criação do Superior Tribunal de Justiça e dos Tribunais Regionais Federais), assumiu uma competência mais ampla, inclusive com intervenção nas po-líticas públicas do Poder Executivo. Tudo isto, aliado à facilidade de levar os recursos até as instâncias superiores, inclusive o Supre-mo Tribunal Federal, fez com que a Justiça se tornasse, pouco a pouco, abarrotada de processos e exposta a críticas.

13 FREITAS. Vladimir Passos de. A morosidade continua. Decisões são delegadas da primeira instância para o STF. Texto publicado no sítio www.conjur.estadao.com.br. Acesso em 06 de junho de 2008.

13 FReITAs. Vladimir Passos de. A moro-sidade continua. Decisões são delegadas da primeira instância para o STF. Texto publicado no sítio www.conjur.estadao.com.br. Acesso em 06 de junho de 2008.

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A partir dos anos noventa, várias tentativas de controlar a explo-são de processos e a conseqüente morosidade foram feitas. Entre outras, a criação de varas, aumento de tribunais, fusão de tribu-nais de Justiça e Alçada, criação de Juizados Especiais, inclusive Federais, convocações de juízes para atuar em segunda instância, mutirões, reformas do Código de Processo Civil, reforma do Poder Judiciário pela Emenda Constitucional 45/2004. Sem sucesso. A morosidade continua.”

De fato, o Supremo tem buscado das mais variadas formas reduzir o nú-mero de processos que lhes chegam todos os anos. E são muitos, consideran-do o número ínfimo de 11 ministros. Observe na tabela abaixo o demons-trativo de movimentação processual no Supremo nos anos de 2003 a 201114.

Movimentação STF 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Proc. Protocolados 87.186 83.667 95.212 127.535 119.324 100.781 84.369 71.670 27.640

Proc. Distribuídos 109.965 69.171 79.577 116.216 112.938 66.873 42.729 41.014 18.172

Julgamentos 107.867 101.690 103.700 110.284 159.522 130.747 121.316 103.869 39.570

Acórdãos publicados 10.840 10.674 14.173 11.421 22.257 19.377 17.704 10.814 5.872

Fonte: Portal de Informações Gerenciais do STF.   *Dados de 2011 atualizados até 31 de maio.

Obs:  Julgamentos - engloba decisões monocráticas (despachos) e decisões colegiadas (acórdãos).

E as súmulas editadas pelo Supremo antes da EC nº 45? Será que elas ganharam efeito vinculante automaticamente?

A Emenda 45 tratou do tema em seu artigo 8º, determinando que as súmulas anteriormente editadas pelo STF “somente produzirão efeito vincu-lante após sua confirmação por dois terços dos seus integrantes e publicação na imprensa oficial”.

E quais serão os requisitos exigidos para que estas súmulas anteriores ganhem efeito vinculante? Será que basta o preenchimento dos dois terços dos integrantes do STF? Ou será necessário observar todos os requisitos do Artigo 103-A?

Para Fernando Capez15 “todos os requisitos da EC nº 45/2004 deverão estar preenchidos, pois não se podem criar duas categorias de súmula vinculante, uma com e outra sem conteúdo constitucional.”

14 Informações obtidas junto ao sítio www.stf.gov.br em junho de 2011.15 CAPEZ, Fernando. Súmula vinculante. Jus navigandi, Teresina, ano 10, n.911, 31 dez. 2005. Disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7710. Acesso em 07 nov.2006.

14 Informações obtidas junto ao sítio www.stf.gov.br em junho de 2011.

15 CAPeZ, Fernando. súmula vincu-lante. Jus navigandi, Teresina, ano 10, n.911, 31 dez. 2005. disponível em: http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7710. Acesso em 07 nov.2006.

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55FGV dIReITO RIO

É o que parece que será realmente exigido, tendo em vista decisão do STF no sentido de que, além dos requisitos previstos no art. 8º da EC 45/04, as súmulas anteriores devem preencher os requisitos previstos na Constituição para que possam ser dotadas de efeito16.

E o que acontecerá quando um ato administrativo ou uma decisão judicial desrespeitar a súmula vinculante, seja contrariando, seja aplicando-a indevidamente?

Caberá reclamação perante o STF, conforme determina o parágrafo 3º do Artigo 103-A da Constituição Federal. Julgada procedente, o Supremo anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial e determinará que outra seja proferida de acordo com a súmula vinculante.

A Lei 11.417/06 prevê a responsabilização civil, administrativa e até mes-mo penal, dos órgãos da administração pública que não observarem o co-mando da súmula vinculante. Entretanto, não dispôs sobre qualquer sanção aplicável aos membros do Judiciário, sob pena de estar punindo o juiz por exercer algo inerente a sua profissão, ou seja, a interpretação de leis. Desta forma, garantiu-se ao magistrado “a liberdade de apreciar os elementos para definir se a conclusão do processo deve ser harmônica ou não com o verbete” (Mi-nistro Marco Aurélio in notícias do STF, 08 de fevereiro de 2007).

O Ministro destacou que a única hipótese plausível para que os tribunais não apliquem a súmula vinculante se dará quando houver por parte do ma-gistrado, a percepção de alguma peculiaridade no caso concreto.

São muitas as divergências acerca do tema. Posições antagônicas vêm sen-do tomadas pelos nossos juristas.

Em síntese, a discussão gira em torno dos seguintes argumentos: a adoção da súmula vinculante em nosso ordenamento acabaria por engessar o Judici-ário brasileiro, paralisando a evolução do Direito e transformando nossos juí-zes de primeiro grau em simples máquinas copiadoras de decisões já tomadas.

Assim pensam alguns juristas como, por exemplo, Luiz Flávio Gomes:

“A inconstitucionalidade da súmula vinculante é evidente (cf. Gomes, L. Flávio, A dimensão da magistratura no Estado de Direito, São Paulo, RT, 1997, p.202 e ss). Toda interpretação, dada por um Tribunal a uma lei ordinária, por mais sábia que seja, jamais pode vincular os juízes das instâncias inferiores, que devem julgar com absoluta e total independência. A súmula vinculante viola a independência jurídica do juiz, isto é, sua independência interna (dentro da e frente à própria instituição a que pertence).”

16 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento, n. 414207-RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 02.05.2006.

16 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento, n. 414207-RJ, rel. Min. Gilmar Mendes, j. em 02.05.2006.

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56FGV dIReITO RIO

Ou ainda a boa argumentação de Renato Marcão:

“A súmula vinculante, além de outras sérias implicações que não comportam abordagem nas linhas deste trabalho, mitigou de forma significativa os limites da coisa julgada e impôs ao órgão jurisdicional de Superior Instância a tarefa de “dizer o direito em tese”, em caráter genérico e universal, atribuição para a qual nunca esteve autorizado politicamente, carecendo de legitimação democrática, a configurar, ainda, perigoso desvio de sua missão de dizer o direito casos a caso, compondo os conflitos de interesse na exata medida de suas realidades.”

Mas há também juristas renomados a favor da súmula vinculante:

“Não concordamos com esse posicionamento, nem tampouco nos pa-rece que a edição de súmulas vinculantes poderá acarretar o engessa-mento e conseqüente paralisia na evolução e interpretação do Direito.(...)A EC nº 45/04 possibilitou ao supremo Tribunal Federal, as-sim como à Corte Suprema Americana e à Câmara dos Lordes inglesa, a não vinculação ad eternum a seus próprios prece-dentes, podendo, a partir de novas provocações, reflexões e di-versas decisões futuras, alterar a interpretação dada em maté-ria constitucional e, consequentemente, proceder a revisão ou cancelamento da súmula, o que impedirá qualquer forma de engessamento e paralisia na evolução do Direito, sem, contu-do, desrespeitar os princípios da igualdade, segurança jurídica e celeridade processual.17”

Alexandre de Moraes e Fernando Capez concordam que como forma de não engessar a atividade do julgador, este poderá, ao constatar que não há plena similitude entre a súmula vinculante e a matéria no caso concreto que está sendo apreciada, concluir pela presença de um elemento diferenciador e não aplicar a súmula, desde que o faça fundamentadamente.

É o que ocorre de maneira semelhante no direito norte-americano por meio de um mecanismo processual chamado distinguishing, ou seja, é a dis-tinção entre o caso concreto e o precedente judicial, quando não será obriga-tório o uso deste último.

Este é o cenário com o qual nos deparamos atualmente, sendo necessário aguardar que o tempo transcorra para sabermos como irá se posicionar o Supremo, os juízes e a doutrina.

17 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 20 ed. Atlas. São Paulo. 2006, p.537.

17 MORAes, Alexandre de. direito Constitucional. 20 ed. Atlas. são Paulo. 2006, p.537.

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57FGV dIReITO RIO

Já começam a surgir as primeiras decisões acerca de questões ventiladas em súmulas vinculantes, como por exemplo, a proferida pelo Supremo na Reclamação 6963, em que a Defensoria Pública da União questionava a de-cisão de juíza federal que determinou o uso de algema nos pés e nas mãos de sul-africano durante depoimento.

Para a Defensoria a decisão desrespeitou a dignidade do réu e a autoridade da súmula vinculante nº 11.

A Egrégia Corte, entretanto, entendeu que a decisão não afrontou a sú-mula e negou seguimento à reclamação, sob o fundamento de que fora devi-damente justificado o uso das algemas no caso em questão.

Da mesma forma, foi decidido pelo Ministro Joaquim Barbosa na Recla-mação 716518, apresentada contra ato de juiz que manteve o réu algemado durante toda a audiência, apesar dele ser primário, ter bons antecedentes, não ter resistido à prisão, nem representar risco concreto de fuga.

Para o Ministro, a justificativa do juiz neste caso concreto foi satisfatória, tendo em vista a alegação da falta de segurança da sala de audiência e do pró-prio Fórum, e que, desde a sua instalação, já ocorreram três fugas de réus que estavam algemados. Considerou, ainda, que o julgamento que deu origem à Súmula Vinculante tratava de um caso diferente, pois naquela ocasião foi dis-cutido o “emprego de algemas em sessão de julgamento de Tribunal de Júri, cujos jurados poderiam ser influenciados pelo fato de o réu ter permanecido algemado no decorrer do julgamento”.

EIS ALGUMAS DAS SÚMULAS vINCULANTES JÁ APROvADAS PELO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL:

SÚMULA vINCULANTE Nº 1OFENDE A GARANTIA CONSTITUCIONAL DO ATO JURÍDICO PERFEI-TO A DECISÃO QUE, SEM PONDERAR AS CIRCUNSTÂNCIAS DO CASO CONCRETO, DESCONSIDERA A VALIDEZ E A EFICÁCIA DE ACORDO CONSTANTE DE TERMO DE ADESÃO INSTITUÍDO PELA LEI COMPLE-MENTAR Nº 110/2001. SÚMULA vINCULANTE Nº 2É INCONSTITUCIONAL A LEI OU ATO NORMATIVO ESTADUAL OU DISTRITAL QUE DISPONHA SOBRE SISTEMAS DE CONSÓRCIOS E SOR-TEIOS, INCLUSIVE BINGOS E LOTERIAS.

18 Decisão de 21/10/2009, publicada no DJE nº 203, divulgado em 27/10/2009.

18 decisão de 21/10/2009, publicada no dJe nº 203, divulgado em 27/10/2009.

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58FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE Nº 3NOS PROCESSOS PERANTE O TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO AS-SEGURAM-SE O CONTRADITÓRIO E A AMPLA DEFESA QUANDO DA DECISÃO PUDER RESULTAR ANULAÇÃO OU REVOGAÇÃO DE ATO ADMINISTRATIVO QUE BENEFICIE O INTERESSADO, EXCETUADA A APRECIAÇÃO DA LEGALIDADE DO ATO DE CONCESSÃO INICIAL DE APOSENTADORIA, REFORMA E PENSÃO.

SÚMULA vINCULANTE Nº 4SALVO NOS CASOS PREVISTOS NA CONSTITUIÇÃO, O SALÁRIO MÍNI-MO NÃO PODE SER USADO COMO INDEXADOR DE BASE DE CÁLCU-LO DE VANTAGEM DE SERVIDOR PÚBLICO OU DE EMPREGADO, NEM SER SUBSTITUÍDO POR DECISÃO JUDICIAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 5A FALTA DE DEFESA TÉCNICA POR ADVOGADO NO PROCESSO ADMI-NISTRATIVO DISCIPLINAR NÃO OFENDE A CONSTITUIÇÃO. SÚMULA vINCULANTE Nº 6NÃO VIOLA A CONSTITUIÇÃO O ESTABELECIMENTO DE REMUNERA-ÇÃO INFERIOR AO SALÁRIO MÍNIMO PARA AS PRAÇAS PRESTADO-RAS DE SERVIÇO MILITAR INICIAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 7A NORMA DO §3º DO ARTIGO 192 DA CONSTITUIÇÃO, REVOGADA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 40/2003, QUE LIMITAVA A TAXA DE JUROS REAIS A 12% AO ANO, TINHA SUA APLICAÇÃO CONDICIO-NADA À EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR. SÚMULA vINCULANTE Nº 8SÃO INCONSTITUCIONAIS O PARÁGRAFO ÚNICO DO ARTIGO 5º DO DECRETO-LEI Nº 1.569/1977 E OS ARTIGOS 45 E 46 DA LEI Nº 8.212/1991, QUE TRATAM DE PRESCRIÇÃO E DECADÊNCIA DE CRÉDI-TO TRIBUTÁRIO. SÚMULA vINCULANTE Nº 9O DISPOSTO NO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/1984 (LEI DE EXECUÇÃO PENAL) FOI RECEBIDO PELA ORDEM CONSTITUCIONAL VIGENTE, E NÃO SE LHE APLICA O LIMITE TEMPORAL PREVISTO NO CAPUT DO ARTIGO 58.

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59FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE Nº 10VIOLA A CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO (CF, ARTIGO 97) A DE-CISÃO DE ÓRGÃO FRACIONÁRIO DE TRIBUNAL QUE, EMBORA NÃO DECLARE EXPRESSAMENTE A INCONSTITUCIONALIDADE DE LEI OU ATO NORMATIVO DO PODER PÚBLICO, AFASTA SUA INCIDÊNCIA, NO TODO OU EM PARTE. SÚMULA vINCULANTE Nº 11SÓ É LÍCITO O USO DE ALGEMAS EM CASOS DE RESISTÊNCIA E DE FUN-DADO RECEIO DE FUGA OU DE PERIGO À INTEGRIDADE FÍSICA PRÓPRIA OU ALHEIA, POR PARTE DO PRESO OU DE TERCEIROS, JUSTIFICADA A EXCEPCIONALIDADE POR ESCRITO, SOB PENA DE RESPONSABILI-DADE DISCIPLINAR, CIVIL E PENAL DO AGENTE OU DA AUTORIDADE E DE NULIDADE DA PRISÃO OU DO ATO PROCESSUAL A QUE SE REFE-RE, SEM PREJUÍZO DA RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. SÚMULA vINCULANTE Nº 12A COBRANÇA DE TAXA DE MATRÍCULA NAS UNIVERSIDADES PÚBLI-CAS VIOLA O DISPOSTO NO ART. 206, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 13A NOMEAÇÃO DE CÔNJUGE, COMPANHEIRO OU PARENTE EM LINHA RETA, COLATERAL OU POR AFINIDADE, ATÉ O TERCEIRO GRAU, IN-CLUSIVE, DA AUTORIDADE NOMEANTE OU DE SERVIDOR DA MES-MA PESSOA JURÍDICA INVESTIDO EM CARGO DE DIREÇÃO, CHEFIA OU ASSESSORAMENTO, PARA O EXERCÍCIO DE CARGO EM COMIS-SÃO OU DE CONFIANÇA OU, AINDA, DE FUNÇÃO GRATIFICADA NA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIRETA E INDIRETA EM QUALQUER DOS PODERES DA UNIÃO, DOS ESTADOS, DO DISTRITO FEDERAL E DOS MUNICÍPIOS, COMPREENDIDO O AJUSTE MEDIANTE DESIGNAÇÕES RECÍPROCAS, VIOLA A CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 14É DIREITO DO DEFENSOR, NO INTERESSE DO REPRESENTADO, TER ACESSO AMPLO AOS ELEMENTOS DE PROVA QUE, JÁ DOCUMENTA-DOS EM PROCEDIMENTO INVESTIGATÓRIO REALIZADO POR ÓRGÃO COM COMPETÊNCIA DE POLÍCIA JUDICIÁRIA, DIGAM RESPEITO AO EXERCÍCIO DO DIREITO DE DEFESA. SÚMULA vINCULANTE Nº 15O CÁLCULO DE GRATIFICAÇÕES E OUTRAS VANTAGENS DO SERVI-DOR PÚBLICO NÃO INCIDE SOBRE O ABONO UTILIZADO PARA SE ATINGIR O SALÁRIO MÍNIMO.

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60FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE Nº 16OS ARTIGOS 7º, IV, E 39, § 3º (REDAÇÃO DA EC 19/98), DA CONSTITUI-ÇÃO, REFEREM-SE AO TOTAL DA REMUNERAÇÃO PERCEBIDA PELO SERVIDOR PÚBLICO. SÚMULA vINCULANTE Nº 17DURANTE O PERÍODO PREVISTO NO PARÁGRAFO 1º DO ARTIGO 100 DA CONSTITUIÇÃO, NÃO INCIDEM JUROS DE MORA SOBRE OS PRE-CATÓRIOS QUE NELE SEJAM PAGOS. SÚMULA vINCULANTE Nº 18A DISSOLUÇÃO DA SOCIEDADE OU DO VÍNCULO CONJUGAL, NO CURSO DO MANDATO, NÃO AFASTA A INELEGIBILIDADE PREVISTA NO § 7º DO ARTIGO 14 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 19A TAXA COBRADA EXCLUSIVAMENTE EM RAZÃO DOS SERVIÇOS PÚ-BLICOS DE COLETA, REMOÇÃO E TRATAMENTO OU DESTINAÇÃO DE LIXO OU RESÍDUOS PROVENIENTES DE IMÓVEIS, NÃO VIOLA O ARTI-GO 145, II, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. SÚMULA vINCULANTE Nº 20A GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE TÉCNICO-ADMI-NISTRATIVA – GDATA, INSTITUÍDA PELA LEI Nº 10.404/2002, DEVE SER DEFERIDA AOS INATIVOS NOS VALORES CORRESPONDENTES A 37,5 (TRINTA E SETE VÍRGULA CINCO) PONTOS NO PERÍODO DE FEVE-REIRO A MAIO DE 2002 E, NOS TERMOS DO ARTIGO 5º, PARÁGRAFO ÚNICO, DA LEI Nº 10.404/2002, NO PERÍODO DE JUNHO DE 2002 ATÉ A CONCLUSÃO DOS EFEITOS DO ÚLTIMO CICLO DE AVALIAÇÃO A QUE SE REFERE O ARTIGO 1º DA MEDIDA PROVISÓRIA NO 198/2004, A PARTIR DA QUAL PASSA A SER DE 60 (SESSENTA) PONTOS. SÚMULA vINCULANTE Nº 21É INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO OU ARROLAMEN-TO PRÉVIOS DE DINHEIRO OU BENS PARA ADMISSIBILIDADE DE RE-CURSO ADMINISTRATIVO. SÚMULA vINCULANTE Nº 22A JUSTIÇA DO TRABALHO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR AS AÇÕES DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS E PATRIMONIAIS DECORRENTES DE ACIDENTE DE TRABALHO PROPOSTAS POR EM-PREGADO CONTRA EMPREGADOR, INCLUSIVE AQUELAS QUE AINDA NÃO POSSUÍAM SENTENÇA DE MÉRITO EM PRIMEIRO GRAU QUANDO DA PROMULGAÇÃO DA EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 45/04.

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61FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE Nº 23A JUSTIÇA DO TRABALHO É COMPETENTE PARA PROCESSAR E JULGAR AÇÃO POSSESSÓRIA AJUIZADA EM DECORRÊNCIA DO EXERCÍCIO DO DIREITO DE GREVE PELOS TRABALHADORES DA INICIATIVA PRIVADA. SÚMULA vINCULANTE Nº 24NÃO SE TIPIFICA CRIME MATERIAL CONTRA A ORDEM TRIBUTÁRIA, PREVISTO NO ART. 1º, INCISOS I A IV, DA LEI Nº 8.137/90, ANTES DO LANÇAMENTO DEFINITIVO DO TRIBUTO. SÚMULA vINCULANTE Nº 25É ILÍCITA A PRISÃO CIVIL DE DEPOSITÁRIO INFIEL, QUALQUER QUE SEJA A MODALIDADE DO DEPÓSITO. SÚMULA vINCULANTE Nº 26PARA EFEITO DE PROGRESSÃO DE REGIME NO CUMPRIMENTO DE PENA POR CRIME HEDIONDO, OU EQUIPARADO, O JUÍZO DA EXE-CUÇÃO OBSERVARÁ A INCONSTITUCIONALIDADE DO ART. 2º DA LEI N. 8.072, DE 25 DE JULHO DE 1990, SEM PREJUÍZO DE AVALIAR SE O CONDENADO PREENCHE, OU NÃO, OS REQUISITOS OBJETI-VOS E SUBJETIVOS DO BENEFÍCIO, PODENDO DETERMINAR, PARA TAL FIM, DE MODO FUNDAMENTADO, A REALIZAÇÃO DE EXAME CRIMINOLÓGICO. SÚMULA vINCULANTE Nº 27COMPETE À JUSTIÇA ESTADUAL JULGAR CAUSAS ENTRE CONSU-MIDOR E CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO DE TELEFONIA, QUANDO A ANATEL NÃO SEJA LITISCONSORTE PASSIVA NECESSÁ-RIA, ASSISTENTE, NEM OPOENTE. SÚMULA vINCULANTE Nº 28É INCONSTITUCIONAL A EXIGÊNCIA DE DEPÓSITO PRÉVIO COMO REQUISITO DE ADMISSIBILIDADE DE AÇÃO JUDICIAL NA QUAL SE PRETENDA DISCUTIR A EXIGIBILIDADE DE CRÉDITO TRIBUTÁRIO. SÚMULA vINCULANTE Nº 29É CONSTITUCIONAL A ADOÇÃO, NO CÁLCULO DO VALOR DE TAXA, DE UM OU MAIS ELEMENTOS DA BASE DE CÁLCULO PRÓPRIA DE DETERMINADO IMPOSTO, DESDE QUE NÃO HAJA INTEGRAL IDEN-TIDADE ENTRE UMA BASE E OUTRA.

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62FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE Nº 31 É INCONSTITUCIONAL A INCIDÊNCIA DO IMPOSTO SOBRE SERVIÇOS DE QUALQUER NATUREZA – ISS SOBRE OPERAÇÕES DE LOCAÇÃO DE BENS MÓVEIS. SÚMULA vINCULANTE Nº 32 O ICMS NÃO INCIDE SOBRE ALIENAÇÃO DE SALVADOS DE SINISTRO PELAS SEGURADORAS.

SÚMULA vINCULANTE 33APLICAM-SE AO SERVIDOR PÚBLICO, NO QUE COUBER, AS REGRAS DO REGIME GERAL DA PREVIDÊNCIA SOCIAL SOBRE APOSENTADORIA ES-PECIAL DE QUE TRATA O ARTIGO 40, § 4º, INCISO III DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, ATÉ A EDIÇÃO DE LEI COMPLEMENTAR ESPECÍFICA.

SÚMULA vINCULANTE 34A GRATIFICAÇÃO DE DESEMPENHO DE ATIVIDADE DE SEGURIDADE SOCIAL E DO TRABALHO – GDASST, INSTITUÍDA PELA LEI 10.483/2002, DEVE SER ESTENDIDA AOS INATIVOS NO VALOR CORRESPONDENTE A 60 (SESSENTA) PONTOS, DESDE O ADVENTO DA MEDIDA PROVI-SÓRIA 198/2004, CONVERTIDA NA LEI 10.971/2004, QUANDO TAIS INATIVOS FAÇAM JUS À PARIDADE CONSTITUCIONAL (EC 20/1998, 41/2003 E 47/2005).

SÚMULA vINCULANTE 35A HOMOLOGAÇÃO DA TRANSAÇÃO PENAL PREVISTA NO ARTIGO 76 DA LEI 9.099/1995 NÃO FAZ COISA JULGADA MATERIAL E, DES-CUMPRIDAS SUAS CLÁUSULAS, RETOMA-SE A SITUAÇÃO ANTERIOR, POSSIBILITANDO-SE AO MINISTÉRIO PÚBLICO A CONTINUIDADE DA PERSECUÇÃO PENAL MEDIANTE OFERECIMENTO DE DENÚNCIA OU REQUISIÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL.

SÚMULA vINCULANTE 36COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL COMUM PROCESSAR E JULGAR CIVIL DENUNCIADO PELOS CRIMES DE FALSIFICAÇÃO E DE USO DE DOCU-MENTO FALSO QUANDO SE TRATAR DE FALSIFICAÇÃO DA CADERNETA DE INSCRIÇÃO E REGISTRO (CIR) OU DE CARTEIRA DE HABILITAÇÃO DE AMADOR (CHA), AINDA QUE EXPEDIDAS PELA MARINHA DO BRASIL.

SÚMULA vINCULANTE 37NÃO CABE AO PODER JUDICIÁRIO, QUE NÃO TEM FUNÇÃO LEGISLA-TIVA, AUMENTAR VENCIMENTOS DE SERVIDORES PÚBLICOS SOB O FUNDAMENTO DE ISONOMIA.

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63FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE 38 É COMPETENTE O MUNICÍPIO PARA FIXAR O HORÁRIO DE FUNCIO-NAMENTO DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL.

SÚMULA vINCULANTE 39 COMPETE PRIVATIVAMENTE À UNIÃO LEGISLAR SOBRE VENCIMEN-TOS DOS MEMBROS DAS POLÍCIAS CIVIL E MILITAR E DO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR DO DISTRITO FEDERAL.

SÚMULA vINCULANTE 40 A CONTRIBUIÇÃO CONFEDERATIVA DE QUE TRATA O ART. 8º, IV, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, SÓ É EXIGÍVEL DOS FILIADOS AO SINDICA-TO RESPECTIVO.

SÚMULA vINCULANTE 41 O SERVIÇO DE ILUMINAÇÃO PÚBLICA NÃO PODE SER REMUNERADO MEDIANTE TAXA.

SÚMULA vINCULANTE 42 É INCONSTITUCIONAL A VINCULAÇÃO DO REAJUSTE DE VENCIMEN-TOS DE SERVIDORES ESTADUAIS OU MUNICIPAIS A ÍNDICES FEDE-RAIS DE CORREÇÃO MONETÁRIA.

SÚMULA vINCULANTE 43 É INCONSTITUCIONAL TODA MODALIDADE DE PROVIMENTO QUE PRO-PICIE AO SERVIDOR INVESTIR-SE, SEM PRÉVIA APROVAÇÃO EM CON-CURSO PÚBLICO DESTINADO AO SEU PROVIMENTO, EM CARGO QUE NÃO INTEGRA A CARREIRA NA QUAL ANTERIORMENTE INVESTIDO.

SÚMULA vINCULANTE 44 SÓ POR LEI SE PODE SUJEITAR A EXAME PSICOTÉCNICO A HABILITA-ÇÃO DE CANDIDATO A CARGO PÚBLICO.

SÚMULA vINCULANTE 45 A COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DO TRIBUNAL DO JÚRI PREVALE-CE SOBRE O FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO ESTABELECIDO EXCLUSIVAMENTE PELA CONSTITUIÇÃO ESTADUAL.

SÚMULA vINCULANTE 46 A DEFINIÇÃO DOS CRIMES DE RESPONSABILIDADE E O ESTABELECI-MENTO DAS RESPECTIVAS NORMAS DE PROCESSO E JULGAMENTO SÃO DA COMPETÊNCIA LEGISLATIVA PRIVATIVA DA UNIÃO.

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64FGV dIReITO RIO

SÚMULA vINCULANTE 47OS HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS INCLUÍDOS NA CONDENAÇÃO OU DESTACADOS DO MONTANTE PRINCIPAL DEVIDO AO CREDOR CON-SUBSTANCIAM VERBA DE NATUREZA ALIMENTAR CUJA SATISFAÇÃO OCORRERÁ COM A EXPEDIÇÃO DE PRECATÓRIO OU REQUISIÇÃO DE PEQUENO VALOR, OBSERVADA ORDEM ESPECIAL RESTRITA AOS CRÉDITOS DESSA NATUREZA.

SÚMULA vINCULANTE 48 NA ENTRADA DE MERCADORIA IMPORTADA DO EXTERIOR, É LE-GÍTIMA A COBRANÇA DO ICMS POR OCASIÃO DO DESEMBARAÇO ADUANEIRO.

SÚMULA vINCULANTE 49 OFENDE O PRINCÍPIO DA LIVRE CONCORRÊNCIA LEI MUNICIPAL QUE IMPEDE A INSTALAÇÃO DE ESTABELECIMENTOS COMERCIAIS DO MESMO RAMO EM DETERMINADA ÁREA.

SÚMULA vINCULANTE 50 NORMA LEGAL QUE ALTERA O PRAZO DE RECOLHIMENTO DE OBRIGA-ÇÃO TRIBUTÁRIA NÃO SE SUJEITA AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE.

SÚMULA vINCULANTE 51 O REAJUSTE DE 28,86%, CONCEDIDO AOS SERVIDORES MILITARES PELAS LEIS 8622/1993 E 8627/1993, ESTENDE-SE AOS SERVIDORES CIVIS DO PODER EXECUTIVO, OBSERVADAS AS EVENTUAIS COMPEN-SAÇÕES DECORRENTES DOS REAJUSTES DIFERENCIADOS CONCEDI-DOS PELOS MESMOS DIPLOMAS LEGAIS.

SÚMULA vINCULANTE 52 AINDA QUANDO ALUGADO A TERCEIROS, PERMANECE IMUNE AO IPTU O IMÓVEL PERTENCENTE A QUALQUER DAS ENTIDADES REFERI-DAS PELO ART. 150, VI, “C”, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, DESDE QUE O VALOR DOS ALUGUÉIS SEJA APLICADO NAS ATIVIDADES PARA AS QUAIS TAIS ENTIDADES FORAM CONSTITUÍDAS.

SÚMULA vINCULANTE 53 A COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO PREVISTA NO ART. 114, VIII, DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL ALCANÇA A EXECUÇÃO DE OFÍ-CIO DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS RELATIVAS AO OBJETO DA CONDENAÇÃO CONSTANTE DAS SENTENÇAS QUE PROFERIR E ACORDOS POR ELA HOMOLOGADOS.

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65FGV dIReITO RIO

TÓPICO 2: O Estado de Coisas Inconstitucional e a superpolução car‑cerária brasileira. Pode o STF interferir no executivo quando entenda violada a Constituição?

TÓPICO 3: A prisão em segunda instância e a presunção de inocência: Estará o STF desrespeitando a CF?

JURISPRUDÊNCIA

Competência originária do STF

“O poder absoluto exercido pelo Estado, sem quaisquer restrições e con-troles, inviabiliza, numa comunidade estatal concreta, a prática efetiva das liberdades e o exercício dos direitos e garantias individuais ou coletivos. É preciso respeitar, de modo incondicional, os parâmetros de atuação deline-ados no texto constitucional. Uma Constituição escrita não configura mera peça jurídica, nem é simples escritura de normatividade e nem pode caracte-rizar um irrele vante acidente histórico na vida dos povos e das nações. Todos os atos estatais que repugnem a Constituição expõem-se à censura jurídica dos tribunais, especialmente porque são írritos, nulos e desvestidos de qual-quer validade. A Constituição não pode submeter-se à vontade dos poderes constituídos e nem ao império dos fatos e das circunstâncias. A supremacia de que ela se reveste – enquanto for respeitada – constituirá a garantia mais efetiva de que os direitos e as liberdades não serão jamais ofendidos. Ao STF incumbe a tarefa, magna e eminente, de velar por que essa realidade não seja desfigurada.” (ADI 293‑MC, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 6-6-1990, Plenário, DJ de 16-4-1993.)

Súmula VinculanteNepotismo e Conselheiro de Tribunal de Contas - 1

Por vislumbrar ofensa à Súmula Vinculante 13 (“A nomeação de cônju-ge, companheiro, ou parente, em linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau, inclusive, da autoridade nomeante ou de servidor da mes-ma pessoa jurídica investido em cargo de direção, chefia ou assessoramento, para o exercício de cargo em comissão ou de confiança ou, ainda, de função gratificada na Administração Pública direta e indireta, em qualquer dos Po-deres da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, compre-endido o ajuste mediante designações recíprocas, viola a Constituição Fe-deral.”), o Tribunal deu provimento a agravo regimental interposto contra

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decisão que indeferira pedido de liminar em reclamação ajuizada contra decisão de 1º grau que, no bojo de ação popular movida pelo reclamante, mantivera a posse do irmão do Governador do Estado do Paraná no cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas local, para o qual fora por este no-meado. Asseverou-se, de início, que o caso sob exame apresentaria nuances que o distinguiriam da situação tratada no julgamento do RE 579951/RN (DJE de 24.10.2008), na qual se declarara que a prática do nepotismo no âmbito dos três Poderes da República afronta à Lei Maior, e, ressaltando-se a diferença entre cargo estritamente administrativo e cargo político, repu-tara-se nulo o ato de nomeação de um motorista e hígido o do Secretário Municipal de Saúde, não apenas por se tratar de um agente político, mas por não ter ficado evidenciada a prática do nepotismo cruzado, nem a hi-pótese de fraude à lei. Esclareceu-se, no ponto, que, em 24.6.2008, o Presi-dente do Tribunal de Contas daquela unidade federada encaminhara ofício ao Presidente da Assembléia Legislativa, informando a vacância de cargo de Conselheiro, em decorrência de aposentadoria, a fim de que se fizesse a seleção de um novo nome, nos termos dos artigos 54, XIX, a e 77, § 2º, da Constituição estadual. O expediente fora lido em sessão no mesmo dia em que recebido, mas protocolizado no dia subseqüente. Neste dia, a Comis-são Executiva da Assembléia Legislativa editara o Ato 675/2008, abrindo o prazo de 5 dias para as inscrições de candidatos ao aludido cargo vago, além de estabelecer novas regras para o procedimento de escolha e indicação da Casa, em especial para transformar a votação de secreta em nominal, segun-do uma única discussão. Destacou-se que tal ato fora publicado em jornal no Diário da Assembléia somente em 9.7.2008, e que, no mesmo dia, em Sessão Especial Plenária, os Deputados Estaduais integrantes da Assembléia Legislativa elegeram o irmão do Governador para ocupar o cargo de Con-selheiro do Tribunal de Contas, tendo o Governador, no dia 10.7.2008, assinado o Decreto 3.041, que aposentou o anterior ocupante do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas estadual, o Decreto 3.042, que exo-nerou o irmão do cargo de Secretário do Estado da Educação, e o Decreto 3.044, que o nomeou para exercer o mencionado cargo de Conselheiro. Rcl 6702 AgR‑MC/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.3.2009. (Rcl‑6702) Informativo 537

Nepotismo e Conselheiro de Tribunal de Contas - 2

Entendeu-se que estariam presentes os requisitos autorizadores da con-cessão da liminar. Considerou-se que a natureza do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas não se enquadraria no conceito de agente político, uma vez que exerce a função de auxiliar do Legislativo no controle da Admi-nistração Pública, e que o processo de nomeação do irmão do Governador,

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ao menos numa análise perfunctória dos autos, sugeriria a ocorrência de vícios que maculariam a sua escolha por parte da Assembléia Legislativa do Estado. Registrou-se o açodamento, no mínimo suspeito, dos atos levado a cabo na referida Casa Legislativa para ultimar o processo seletivo, o que indi-caria, quando mais não seja, a tentativa de burlar os princípios da publicida-de e impessoalidade que, dentre outros, regem a Administração Pública em nossa sistemática constitucional. Observou-se que a aprovação do irmão do Governador para o cargo dera-se inclusive antes de escoado integralmente o prazo aberto para a inscrição de candidatos ao mesmo, cuja vacância, ao menos do ponto de vista formal, ocorrera apenas em 10.7.2009. Afirmou--se, também, ser de duvidosa constitucionalidade, em face do princípio da simetria, a escolha de membros do Tribunal de Contas pela Assembléia Le-gislativa por votação aberta, tendo em conta o disposto no art. 52, III, b, da CF. Concluiu-se que, além desses fatos, a nomeação do irmão, pelo Gover-nador, para ocupar o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas, agente incumbido pela Constituição de fiscalizar as contas do nomeante, estaria a sugerir, em princípio, desrespeito aos mais elementares postulados republi-canos. Por conseguinte, deferiu-se, por unanimidade, a liminar, para sustar os efeitos da nomeação sob exame até o julgamento da mencionada ação popular. Por maioria, determinou-se a imediata comunicação da decisão, ficando vencido, neste ponto, o Min. Marco Aurélio. O Min. Menezes Di-reito fez ressalva no sentido de não se comprometer com a manifestação do relator acerca da natureza do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas. Rcl 6702 AgR‑MC/PR, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 4.3.2009. (Rcl‑6702) Informativo 537

Uso de Algemas e Excepcionalidade - 4

O Tribunal aprovou o Enunciado da Súmula Vinculante 11 nestes ter-mos: “Só é lícito o uso de algemas em caso de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado”. A edição do verbete ocorreu após o julga-mento de habeas corpus impetrado em favor de condenado pela prática de crime doloso contra a vida que permanecera algemado durante toda a sessão do Júri - v. Informativo 514. O Tribunal reconheceu, também, que esta e as demais Súmulas Vinculantes passam a ser dotadas das características das Súmulas impeditivas de recursos. HC 91952/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 13.8.2008. (HC-91952) Informativo 515

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LEITURAS COMPLEMENTARES

Jurisdição Constitucional: Breves Notas Comparativas sobre a estrutura do Supremo Tribunal Federal e a Corte Suprema Norte Americana. Ale-xandre de Moraes. Artigo disponível no site: http://www.justicavirtual.com.br > artigos clássicos constitucional.

Súmula vinculante. José Joaquim Calmon de Passos. Artigo disponível no site: http://www.direitodoestado.com.br/rede.asp

Perplexidade do novo instituto da súmula vinculante no direito brasilei‑ro. André Tavares Ramos. Artigo disponível no site: http://www.direitodo-estado.com.br/rede.asp

QUESTÕES DE CONCURSOS:

01. A instituição da súmula vinculante (Artigo 103‑A da Constituição) pela Reforma do Judiciário (EC 45/04) viola a independência funcional dos juízes? Resposta objetivamente justificada.

02. Sobre a figura da Súmula com efeito vinculante, prevista na EC nº. 45/2004, é CORRETO afirmar que:(a) o STF somente poderá aprovar súmula com efeito vinculante com relação aos demais órgãos do Poder Judiciário, respeitada o princípio da separação e harmonia entre os Poderes.(b) o STF poderá, de ofício ou por provocação, cujo quorum é de 2/3, apro-vá-la com aquele efeito tanto em relação ao demais órgãos do Poder Judiciá-rio; quanto em relação à Administração Pública Direta e Indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.(c) uma vez aprovada não poderá proceder à sua revisão ou cancelamento, salvo nova controvérsia no STF, e após 2 (dois) anos da sua aprovação.(d) cabe ação de descumprimento de preceito fundamental contra ato da Administração Pública ou de decisão que contrariar a súmula vinculante.(e) somente ação rescisória perante o STF poderá alterar o conteúdo de súmula com efeito vinculante, nos termos e prazos previstos na lei processual específica.

03. No Supremo Tribunal Federal:

I – A fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso extraordinário, deverá o recorrente demonstrar a repercussão geral das questões constitu-cionais discutidas no caso, nos termos da lei, somente podendo o Tribunal recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

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II – Declarada a inconstitucionalidade por omissão na ação direta, por falta de norma regulamentadora da Constituição, será expedida de imediato pela Corte medida para tornar efetiva a norma constitucional, dando-se ciência ao Congresso Nacional e ao Poder Executivo.

III – As decisões definitivas de mérito proferidas pelo Tribunal nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionali-dade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à Administração pública direta e indire-ta, nas esferas federal, estadual e municipal.

IV – Não há a atuação do Procurador-Geral da República nas causas relativas ao controle concentrado de constitucionalidade

Analisando-se as asserções acima, podemos afirmar que:

que estão corretas apenas as de números I e III;somente as de números II e IV estão corretas;estão corretas apenas as de números I, III e IV;todas estão corretas;N.R.A.

04. O julgamento dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, nos cri‑mes de responsabilidade, cabe: (a) Ao Senado Federal(b) Ao Supremo Tribunal Federal(c) À Câmara dos Deputados(d) Ao Congresso Nacional(e) N.R.A

05. Compete ao Supremo Tribunal Federal processar e julgar, origina‑riamente:

(a) nas infrações penais comuns, os Governadores dos Estados e os desembar-gadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal.(b) as ações contra o Conselho Nacional do Ministério Público.(c) o mandado de segurança impetrado contra ato do Superior Tribunal de Justiça.(d) os conflitos de atribuições entre autoridades judiciárias de um Estado e ad-ministrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e as da União.

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AULAS 7 A 9: O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA E A JUSTIÇA FEDERAL

1) O SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

No organograma do Judiciário, como órgão revisor de decisões de cunho jurisdicional, logo abaixo do Supremo Tribunal Federal, está o Superior Tri-bunal de Justiça, órgão previsto no Artigo 92, II da Constituição Federal, tam-bém com sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional. Alguns juristas19 criticam tal colocação topográfica, que daria ao STJ uma pro-eminência hierárquica em relação aos demais Tribunais Superiores (TSE, TST e STM). Não concordam, portanto, com o fato de ser o STJ, juntamente com o Supremo, um órgão de superposição, como pensa Ada Pellegrini Grinover20.

O Superior Tribunal de Justiça, de fato, relaciona-se com a Justiça comum (Justiça Federal e Justiça Estadual), sendo o órgão de jurisdição máxima de tal Justiça. Com efeito, não recebe causas oriundas das Justiças especiais (di-reito trabalhista, eleitoral e militar), apesar de serem estas matérias de compe-tência legislativa da União. Para estes juristas, mais correto seria considerar o Superior Tribunal de Justiça como instância máxima para assuntos de direito federal comum infraconstitucional, ou seja, é o Superior Tribunal de Justiça a última instância da Justiça brasileira para as causas infraconstitucionais não relacionadas diretamente à Constituição. Como órgão de convergência da Justiça comum, aprecia causas oriundas de todo o território nacional, em todas as vertentes jurisdicionais não-especializadas.

O Tribunal é inovação da Constituição de 1988, sendo a corte responsá-vel por uniformizar a interpretação da lei federal em todo o Brasil, seguindo os princípios constitucionais e a garantia e defesa do Estado de Direito. Foi criado com a função de absorver parte da competência que até então era afeta ao Supremo Tribunal Federal. O Ato das Disposições Constitucionais Tran-sitórias, regulamentando a transição entre a Constituição anterior e a atual, dispôs em seu artigo 27 sobre a extinção do antigo Tribunal Federal de Re-cursos e a criação do STJ. Instalado inicialmente sobre a presidência do STF, o STJ teve sua composição definida mediante dois critérios: aproveitamento dos ministros do TFR e nomeação de ministros necessários para completar o número de 33 magistrados, definido na CR/88.

2) COMPOSIÇÃO

Composto por no mínimo 33 ministros, que serão nomeados pelo pre-sidente da República dentre brasileiros com mais de 35 e menos de 65 anos de idade, notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. São os mesmos requisitos

19 WAGNER Junior, Luiz Guilherme da Costa [et al]. “Poder Judiciário e Carreiras Jurídicas”, Editora Del Rey, 2006, pág. 76 e seguintes.20 GRINOVER, Ada Pellegrini [et al]. Teoria Geral do Processo. Editora Malheiros, 22ª edição. 2006.

19 WAGNeR Junior, luiz Guilherme da Costa [et al]. “Poder Judiciário e Car-reiras Jurídicas”, editora del Rey, 2006, pág. 76 e seguintes.

20 GRINOVeR, Ada Pellegrini [et al]. Teoria Geral do Processo. editora Ma-lheiros, 22ª edição. 2006.

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e condições especiais impostas para o cargo de Ministro do Supremo Tri-bunal Federal, exceto o de tratar-se de brasileiro nato (Art. 12, § 2º e §3º, IV). Estão excluídos da possibilidade de nomeação, portanto, somente os estrangeiros. A composição atual do STJ conta com o ministro Felix Fischer, que é natural de Hamburgo, Alemanha. O eminente ministro é, portanto, brasileiro naturalizado.

Existem regras pré-determinadas para a escolha de seus ministros, aplican-do-se a regra do que poderíamos chamar de terço constitucional.• 1/3 de juízes do Tribunal Regional Federal(Desembargadores Federais);• 1/3 de desembargadores dos Tribunais de Justiça Estaduais;• 1/3, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público

Federal, Estadual, do Distrito Federal e Territórios, alternadamente. É o “princípio constitucional da paridade entre as duas classes”, conforme disposto pelo min. Carlos Velloso21 no julgamento de um mandado de segurança sobre semelhante questão.E como deve ser resolvida a questão para o caso do Tribunal contar com

um número ímpar de vagas para o terço constitucional? Não teríamos como atingir a paridade plena entre as classes. Como se resolver tal questão?

O Supremo, no mesmo julgamento supramencionado, determinou que quando for ímpar o número de vagas destinadas ao terço constitucional, uma delas será, alternada e sucessivamente, preenchida por advogado e por membro do Ministério Público, de tal forma que, também sucessiva e alternadamente, os representantes de uma dessas classes superem os da outra em uma unidade.

Isso foi o que o então ministro do Supremo Tribunal Federal, min. Octa-vio Galotti, chamou de “critério subsidiário de alternância.22”

“De toda essa evolução legislativa, pode deduzir-se que a institui-ção do quinto constitucional restringiu-se, de início, à regra da cooptação, para os Tribunais, de representantes dos dois ramos básicos da atividade forense, alheios aos quadros da magistratura.Passou-se, em seguida, a garantir também o equilíbrio de oportu-nidade entre os concorrentes oriundos da advocacia e do Ministé-rio Público, equilíbrio hoje traduzido no princípio de igualdade do número de representantes de ambas as classes, só se apelando para o critério subsidiário de alternância, na hipótese especial prevista no art. 100, §2º, da Lei Orgânica.Digo que a paridade é o princípio geral e a alternância uma regra subsidiária, porque o primeiro emana da Constituição e a segun-da é explicitada em norma infra-constitucional; e ainda porque a alternância é dirigida apenas àquela “hipótese excepcional”, as-sim qualificada no parecer do Ministro Xavier de Albuquerque, e destinada ao preenchimento de vaga excedente do número par imediatamente inferior.”

21 Mandado de Segurança n. 23972-7-DF, Pleno, rel. Min. Carlos Velloso, j. 12.09.2001, DJ 29.08.2003.22 Mandado de Segurança n. 20597-1-DF, Pleno, rel. Min. Octávio Galotti, j. 22.10.1986, DJ 05.12.1986.

21 Mandado de segurança n. 23972-7-dF, Pleno, rel. Min. Carlos Velloso, j. 12.09.2001, dJ 29.08.2003.

22 Mandado de segurança n. 20597-1-dF, Pleno, rel. Min. Octávio Galotti, j. 22.10.1986, dJ 05.12.1986.

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É o próprio Superior Tribunal de Justiça quem formula a lista tríplice para preenchimento das vagas na corte destinadas a juízes de Tribunal Re-gional Federal e Tribunais de Justiça Estaduais e envia para o presidente da República realizar a escolha (Art. 26 do RISTJ).

Dentro deste contexto, um juiz de Tribunal Regional Federal foi escolhido pelo presidente da República, dentre os integrantes da lista tríplice, para ser mi-nistro do Superior Tribunal Justiça. Ao enviar sua mensagem de escolha para a devida sabatina no Senado Federal, o presidente da República foi surpreendido por um mandado de segurança impetrado pela Associação dos Juízes Federais do Brasil – AJUFE. O argumento utilizado foi que este magistrado passara a integrar os quadros do TRF pela regra do quinto constitucional, sendo origina-riamente pertencente aos quadros da advocacia. Isso gerou muita controvérsia e indignação dentre os juízes federais, por entenderem que tal escolha teria ferido o princípio instituído pelo Art. 93, III da Constituição.

Pergunta-se: procede tal argumentação? Estão corretos os juízes federais? Ou o juiz escolhido tem o direito de ser nomeado, se assim entender o Se-nado Federal?

Essa questão chegou ao STF, tendo o referido órgão decidido da seguinte maneira:

“MS-AgR 23445 / DF - DISTRITO FEDERALAG.REG.NO MANDADO DE SEGURANÇARelator(a):  Min. NÉRI DA SILVEIRAJulgamento: 18/11/1999            Órgão Julgador:  Tribunal Pleno

EMENTA: - Mandado de segurança. 2. Ato do Presidente da República. Mensagem 664, de 21 de maio de 1999, que submeteu ao Senado Federal nome de Juiz de TRF para o provimento de cargo de Ministro do Superior Tribunal de Justiça, em vaga destinada a juiz de Tribunal Regional Fe-deral (Constituição, art. 104, parágrafo único, inciso I, 1ª parte). 3. Alegação de que o juiz indicado não é originário da carreira da magistratura federal, violando-se assim, o princípio instituído pelo art. 93, III, da CF. 4. Liminar indeferida. Agravo regimental contra despacho indeferi-tório da liminar não conhecido, por intempestivo e inca-bível. 5. Não é o Superior Tribunal de Justiça corte de se-gundo grau, em termos a invocar-se a aplicação do art. 93,

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73FGV dIReITO RIO

III, da Lei Magna. 6. A regra expressa da Constituição dispõe sobre a composição e forma de preenchimento dos cargos de Ministro no Superior Tribunal de Justiça, a teor de seu art. 104, parágrafo único, incisos I e II. 7. A carreira dos Juízes Federais tem seu segundo grau nos Tribunais Regionais Federais. 8. Para o provimento dos cargos a que se refere o art. 104, parágrafo único, inciso I, 1ª parte, não cabe distinguir entre juiz de TRF, originá-rio da carreira da magistratura federal, ou proveniente do Ministério Público Federal ou da advocacia (CF, art. 107, I e II). 9. Hipótese em que o juiz do TRF indica-do proveio da advocacia (CF, art. 107, I), estando, des-se modo, enquadrado no âmbito do art. 104, parágrafo único, inciso I, 1ª parte, da Constituição. 10. Objeção à investidura como Ministro do Superior Tribunal de Jus-tiça improcedente. 11. Incabível, também, a aplicação por analogia, à espécie, dos arts. 93, III, e 111, § 1º, I, da Constituição. 12. Mandado de segurança indeferido.”

Sobre este assunto, leia abaixo artigo da então Ministra Eliana Cal‑mon, publicado no Jornal O Globo em 24/11/09:

Magistratura pede socorro

Para a magistratura de carreira, o órgão maior do Poder Judiciário é o Superior Tribunal de Justiça. De formação eclética, dos 33 integrantes, 22 são de carreira e onze escolhidos dentre membros do Ministério Pú-blico e Advogados.

Às vagas da magistratura concorrem desembargadores federais ou esta-duais, e para as vagas do Ministério Público e dos Advogados concorrem os seus representantes com mais de dez anos de atividade. As categorias têm formação distinta, e, na composição das turmas de julgamento, tem-se a preocupação de mesclar a formação, de modo a se manter equilíbrio.

Quando da elaboração da Constituição de 1988, pretendeu-se estabele-cer, regra que consagrasse o equilíbrio, a exemplo da formação do Tribunal Superior do Trabalho; na escolha dos ministros daquela Corte, observa-se a origem dos magistrados.

Seja por atrofia política, seja por falta do necessário empenho dos órgãos representativos, o certo é que deixou de constar no texto constitucional a observância da gênese dos magistrados na composição do STJ.

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74FGV dIReITO RIO

A falta de texto escrito tem ensejado grave distorção na formação do “Tri-bunal da Cidadania”. Como dos tribunais de justiça e dos tribunais federais participam representantes do quinto, a não observância da origem tem en-sejado acesso desses ao STJ, concorrendo nas vagas dos desembargadores de carreira, porque, a partir da nomeação, estão aptos a alcançarem o tribunal superior, sem interstício algum. A prática desequilibra a formação eclética da Corte, porque esses magistrados, com os representantes da sua categoria, passam a figurar em número que tende a superar os magistrados de carreira.

No passado, a escolha dos desembargadores para comporem as listas de escolha ao STJ dava-se entre os que tinham realce na Corte, identificados como vocacionados, e para os desembargadores do quinto, o tempo era de, no mínimo, dez anos no tribunal.

Nos últimos anos, as escolhas passaram a obedecer a critérios outros, de tal forma que advogados recém chegados aos tribunais, com um ou dois anos de magistratura, passaram a concorrer às vagas do STJ, disputando com desem-bargadores com mais de vinte ou trinta anos de magistratura.

Além da quebra de paridade, a prática é de flagrante injustiça para com a magistratura, cujos integrantes a escolheram em tenra idade, prepararam-se, após se submeterem a concurso, viverem em longínquas cidades, padecerem com as dificuldades de escolha até ascenderem aos tribunais e, quando po-dem almejar o coroamento da carreira, enfrentam como concorrentes os co-legas do quinto constitucional recém chegados - se juízes de carreira fossem, não estariam aptos a disputar sequer vaga nos tribunais inferiores.

A face mais perversa da disfunção aqui registrada está nas poucas chan-ces de um magistrado de carreira, dentro do STJ, exercer as funções de di-reção da magistratura. Raros são os juízes de carreira que, como ministros, chegam à presidência, vice-presidência e corregedoria, entre outras funções exercidas pelos ministros mais antigos. Os magistrados de carreira chegam ao STJ com bem mais idade do que os seus colegas do quinto, e, antes de chegarem à antiguidade necessária às funções de direção, são alcançados pela aposentadoria compulsória.

Tenho observado a absurda distorção, lamentando estar a magistratura sendo dirigida e conduzida quase que exclusivamente pelos advogados trans-formados em juízes pelo mecanismo constitucional do quinto. Tenho me indignado com a omissão dos órgãos representativos da magistratura. São incapazes de encetar uma eficiente defesa institucional em favor da magistra-tura imparcial e equilibrada.

Até aqui tenho mantido a discrição necessária ao exercício do meu mister, na esperança de ver corrigida a distorção. Entretanto, chego à conclusão da necessidade de falar para que se possa ver o óbvio: as insensatas e injustas es-colhas desestimulam, desprestigiam os juízes de carreira que, céticos quanto

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75FGV dIReITO RIO

ao acesso, vão aos poucos se transformando em modestos servidores, sem a pujança que se espera de um agente político. A disfunção traz prejuízos institucionais irreversíveis, pela inserção de julgadores com pouca vivência e sem formação adequada em um tribunal eminentemente técnico como é o Superior Tribunal de Justiça. Calar faz-me parecer covardemente acomo-dada. É preciso combater todas as práticas que possam macular a última das trincheiras de cidadania, o Judiciário.

Já para a escolha dos advogados e membros do Ministério Público que comporão o terço oriundo do MP e da OAB, serão preparadas listas sêxtuplas por cada instituição, que as encaminhará ao Superior Tribunal de Justiça, na forma do Art. 26, 1º do RISTJ, abaixo transcrito:

CAPÍTULO VIISEÇÃO IArt. 26. A indicação, pelo Superior Tribunal de Justiça, de Juízes, Desembargadores, Advogados e membros do Minis-tério Público, a serem nomeados pelo Presidente da Repú-blica, para comporem o Tribunal, far-se-á em lista tríplice.§ 1º. Ocorrendo vaga destinada a Advogado ou a mem-bro do Ministério Público, o Presidente do Tribunal, nos cinco dias seguintes, solicitará ao órgão de representação da classe que providencie a lista sêxtupla dos candidatos, observados os requisitos constitucionais (Constituição, art. 104, parágrafo único).§ 2º. Tratando-se de vaga a ser preenchida por Juiz ou Desembargador, o Presidente solicitará aos Tribunais Re-gionais Federais e aos Tribunais de Justiça que enviem, no prazo de dez dias, relação dos magistrados que contem mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, com indicação das datas de nascimento (Constitui-ção, art. 104, parágrafo único).§ 3º. Recebida a lista sêxtupla, ou esgotado o prazo indica-do no parágrafo anterior, convocará o Presidente, de ime-diato, sessão do Tribunal para elaboração da lista tríplice.§ 4º. Para a composição da lista tríplice, o Tribunal reu-nir-se-á, em sessão pública, com o quorum de dois terços de seus membros, além do Presidente.§ 5º. Somente constará de lista tríplice o candidato que obtiver, em primeiro ou subseqüente escrutínio, a maioria absoluta dos votos dos membros do Tribunal, observado o disposto no artigo 27, § 3º.

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§ 6º. Os candidatos figurarão na lista de acordo com a ordem decrescente dos sufrágios que obtiverem, respeitado, também, o número de ordem do escrutínio. Em caso de empate, terá prefe-rência o mais idoso.§ 7º. A escolha dos nomes que comporão lista tríplice far-se--á em votação secreta, realizando-se tantos escrutínios quantos forem necessários.§ 8º. Para colocação dos nomes na lista, em caso de empate far--se-á o desempate em favor do candidato mais idoso; se ainda persistir o empate, adotar-se-á o critério do tempo de serviço público no cargo, para os magistrados e membros do Ministério Público, ou tempo de inscrição na Ordem como advogado, para os advogados.”

O STJ, por sua vez, elaborará lista tríplice a ser encaminhada ao presiden-te da República para escolha e posterior sabatina pelo Senado Federal.

Pergunta-se: e quando o STJ rejeita a lista sêxtupla encaminhada pela OAB ou pelo Ministério Público?

Essa questão também chegou ao STF, tendo a 2ª Turma decidi‑do da seguinte maneira:

Quanto ao tema relativo à determinação ao STJ para que promovesse a redução da lista sêxtupla encami-nhada pela recorrente, aduziu-se que a seleção de fu-turo integrante do STJ é um ato complexo e que tal es-colha não consubstancia mera decisão administrativa, daquelas a que respeita o inciso IX do art. 93 da Cons-tituição, devendo ser apurada de forma a prestigiar--se o juízo dos membros do Tribunal. Enfatizando que nenhum dos indicados obtivera a maioria absoluta de votos, reputou-se que isso significaria recusa, pelo STJ, da lista a ele remetida. Registrou-se a excepcionalida-de da situação, em que a Corte recorrida constatara a ocorrência de impasse insolúvel diante da legitimi-dade da norma de seu regimento interno que prevê a necessidade de obtenção de maioria absoluta dos votos pelo candidato à vaga de Ministro. No ponto, enten-

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77FGV dIReITO RIO

deu-se que a divulgação, por cada um dos Ministros votantes, dos motivos pelos quais nenhum integrante da lista sêxtupla alcançara a maioria absoluta de vo-tos, além de não trazer solução para o impasse, pro-vocaria desarrazoada exposição dos advogados que dela constam, além de eliminar a natureza secreta da votação. Concluiu-se pela ausência de direito lí-quido e certo da OAB a que determinados advogados fossem incluídos em lista tríplice a ser formada pelo STJ, sob pena de se impor àquela Corte a obrigação de ratificar a escolha de indivíduos que lá não obti-veram o voto da maioria absoluta de seus atuais inte-grantes. Vencidos os Ministros Joaquim Barbosa e Cel-so de Mello que proviam parcialmente o recurso por julgar que o ato impugnado careceria de motivação. RMS 27920/DF, rel. Min. Eros Grau, 6.10.2009. (RMS-27920)

De fato, em 12 de fevereiro de 2008, ao votar a lista sêxtupla apresen-tada pela OAB para preenchimento de vaga de ministro, oriundo da classe dos advogados, o Plenário do Superior Tribunal de Justiça a rejeitou em sua totalidade devolvendo-a a OAB.

Impetrado o mandado de segurança pela entidade de classe, o pedido foi rejeitado. Dessa decisão, recorreu-se ao STF alegando a OAB a ilegalidade e o descumprimento dos deveres constitucionalmente conferidos ao STJ.

O Recurso (RMS 27920) foi decidido por maioria pela Segunda Tur-ma do Supremo Tribunal Federal. Três votos foram proferidos contra a entidade classista e dois a favor. Joaquim Barbosa e Celso de Mello foram favoráveis à entidade, votando pela anulação do ato por falta de motivação. Para eles, pelo princípio da transparência, o STJ deveria justificar a razão do veto. Já Cezar Peluso, Eros Grau e Ellen Gracie, votaram pela rejeição do recurso. O voto decisivo foi da Ministra Ellen, entendendo que a justi-ficativa da rejeição por parte dos ministros que participaram do escrutínio tiraria o caráter secreto da sessão; tolheria a liberdade para escolha dos no-mes para figurar na lista tríplice e exporia desnecessariamente os advogados indicados pela OAB.

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78FGV dIReITO RIO

3) ORGANIZAÇÃO

A organização do STJ pode ser representada pelo gráfico abaixo descrito:

ORGANOGRAMA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA

Obs.: A competência da Corte Especial, das seções e das Turmas, ratione matariae, é definida no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. O Tribunal Pleno só exerce funções administrativas. O Conselho da Justiça Federal exerce a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de 1º e 2º graus.

Para que possa cumprir melhor sua missão institucional, o Superior Tri-bunal de Justiça (STJ) foi organizado pelo critério da especialização. Três seções de julgamento, cada uma delas composta por duas turmas, analisa e julga matérias de acordo com a natureza da causa submetida à apreciação. Acima delas está a Corte Especial, órgão máximo do Tribunal. As funções administrativas do STJ são exercidas pelo plenário, integrado pela totalidade dos ministros da Casa.

3.1) Seções de julgamento:

Existem três seções especializadas de julgamento no Superior Tribunal de Justiça (STJ). Cada seção é formada por duas turmas especializadas, e cada tur-ma é integrada por cinco ministros. A Primeira Seção, composta por ministros da Primeira Turma e da Segunda Turma, aprecia matérias de Direito Públi-co, com destaque para as questões administrativas e tributárias, entre outras.

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3) ORGANIZAÇÃO

A organização do STJ pode ser representada pelo gráfico abaixo

descrito:

Obs.: A competência da Corte Especial, das seções e das Turmas, ratione matariae, é definida no Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça. O Tribunal Pleno só exerce funções administrativas. O Conselho da Justiça Federal exerce a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de 1º e 2º graus.

Para que possa cumprir melhor sua missão institucional, o Superior

Tribunal de Justiça (STJ) foi organizado pelo critério da

especialização. Três seções de julgamento, cada uma delas composta

por duas turmas, analisa e julga matérias de acordo com a natureza

da causa submetida à apreciação. Acima delas está a Corte Especial,

órgão máximo do Tribunal. As funções administrativas do STJ são

CF)

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79FGV dIReITO RIO

A Segunda Seção, composta por ministros da Terceira Turma e da Quarta Turma, decide sobre matérias de Direito Privado, examinando questões de Di-reito Civil e Comercial. Já a Terceira Seção, composta por ministros da Quinta Turma e da Sexta Turma, julga causas que envolvam matérias de Direito Pe-nal, como habeas-corpus, bem como questões previdenciárias, mandados de segurança contra ministros de Estado e matérias de Direito Público e Privado não cobertas pela Primeira e Segunda seções. É nas seções especializadas que são julgados os processos de competência originária do STJ, aqueles que têm início no próprio Tribunal. São exemplos de processos originários os manda-dos de segurança, as ações rescisórias, os conflitos de competência e, ainda, os embargos de divergência, que buscam uniformizar a interpretação do Direito entre as turmas de uma mesma seção, quando estas divergirem.

Quando há divergência de interpretação do Direito entre as turmas de uma mesma seção, os feitos são remetidos à respectiva seção. Nos casos em que há divergência de interpretação entre turmas de diferentes seções, o exa-me da questão é remetido à Corte Especial.

No STJ, as turmas reúnem-se com a presença de, pelo menos, três minis-tros. Têm prioridade de julgamento as causas criminais, havendo réu preso, e os habeas-corpus.

3.2) Plenário:

Constituído pela totalidade dos ministros do Tribunal, o Plenário é o órgão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que resolve as questões admi-nistrativas sob responsabilidade dos magistrados. É o Plenário do STJ que dá posse aos membros do Tribunal e elege, a cada dois anos, o presidente e o vice-presidente da Corte. É ali também onde se vota o Regimento In-terno do STJ e suas emendas, assim como os nomes que compõem as listas tríplices dos juízes, desembargadores, advogados e membros do Ministério Público que devam compor o Tribunal. Como a Corte Especial, o Plená-rio é dirigido pelo presidente do STJ, a quem cabe fazer a convocação dos ministros quando houver matéria em pauta. Tanto quanto os ministros do Supremo, os ministros do STJ, qualquer que seja a origem, uma vez empossados, ficam sob as garantias e vedações constitucionais, já estudadas, que são destinadas aos juízes togados.

3.3) Conselho de Justiça Federal:

O Conselho da Justiça Federal (CJF), com sede em Brasília-DF, tem como missão promover e assegurar a integração e o aprimoramento hu-mano e material das instituições que compõem a Justiça Federal, sem prejuízo da autonomia necessária ao bom desempenho dessas unidades.

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80FGV dIReITO RIO

O Colegiado do CJF é formado por cinco ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e pelos presidentes dos cinco Tribunais Regionais Federais do país, sendo presidido pelo presidente e vice-presidente do STJ. A com-petência do CJF está prevista no parágrafo único do art. 105 da Constitui-ção Federal – exercer a supervisão administrativa e orçamentária da Justiça Federal de primeiro e segundo graus – e na Lei n. 8.472/1992. As propos-tas orçamentárias aprovadas pelos Tribunais Regionais Federais (TRFs), propostas de criação ou extinção de TRFs, de criação de novos cargos de juiz federal ou de varas federais são examinadas pelo Colegiado do CJF e encaminhadas à apreciação do Superior Tribunal de Justiça. Passam pela aprovação exclusiva do Colegiado do CJF as propostas de normatização de procedimentos administrativos para a Justiça Federal, ou de fixação das po-líticas e diretrizes de atuação das Secretarias do CJF. As decisões do Cole-giado do CJF que fixam normas são objeto de Resoluções, atos normativos cujo cumprimento é obrigatório em toda a Justiça Federal.

Por meio de seus atos administrativos, o CJF tem regulamentado uma série de atividades essenciais à celeridade na prestação jurisdicional da Jus-tiça Federal. Em decorrência da criação dos Juizados Especiais Federais, pela Lei 10.259/2001, o Conselho dotou-se, ainda, de função jurisdicional.

Em setembro de 2002 começou a funcionar junto ao CJF a Turma Nacional de Uniformização da Jurisprudência dos Juizados Especiais Fe-derais, órgão julgador colegiado que aprecia, em grau de recurso, processos oriundos dos Juizados. A uniformização da Jurisprudência dos Juizados, promovida pela Turma Nacional, é de fundamental importância para a garantia da celeridade e da segurança jurídica desses juízos.

A partir da entrada em vigor da Emenda Constitucional nº45, o CJF passou a ter também poderes correicionais, cujas decisões terão caráter vinculante.

4) COMPETÊNCIA

O Superior Tribunal de Justiça é considerado o guardião do ordena-mento jurídico federal. É o defensor da lei federal e unificador do Direito. Da mesma forma que o Supremo, o STJ também possui competências originária e recursal.

• Competência originária

Compete ao STJ processar e julgar originariamente os casos em que as altas autoridades da República, que não estejam sob a jurisdição do STF, tenham seus direitos fundamentais ameaçados ou concretamente violados, ou quando estas mesmas autoridades estiverem violando direitos funda-mentais dos cidadãos.

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81FGV dIReITO RIO

Assim, compete ao STJ, processar e julgar, originariamente, consoante o Artigo 105 da CF:

“Art. 105 - Compete ao Superior Tribunal de Justiça I – processar e julgar, originariamente:a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Re-gionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea “a”, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Co-mandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressal-vada a competência da Justiça Eleitoral; d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, res-salvado o disposto no art. 102, I, “o”, bem como entre tribu-nal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma re-gulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

De acordo com o texto da alínea “d”, acima, caberá ao STJ resolver con-flitos de competência:

a) Entre quaisquer tribunais, ressalvada a competência do STF:

TRF TJ TRE TRT TJM

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82FGV dIReITO RIO

b) Entre tribunais e juízes a eles não vinculados:

JUÍZES ESTADUAIS

TRF JUÍZES ELEITORAIS

JUÍZES TRABALHISTAS

JUÍZES MILITARES

JUÍZES FEDERAIS

TJ JUÍZES ELEITORAIS

JUÍZES TRABALHISTAS

JUÍZES MILITARES

JUÍZES FEDERAIS

TRE JUÍZES ESTADUAIS

JUÍZES TRABALHISTAS

JUÍZES MILITARES

JUÍZES FEDERAIS

TRT JUÍZES ESTADUAIS

JUÍZES ELEITORAIS

JUÍZES MILITARES

JUÍZES FEDERAIS

TJM JUÍZES ESTADUAIS

JUÍZES ELEITORAIS

JUÍZES TRABALHISTAS

c) Entre Juízes vinculados a tribunais diversos:

JUÍZES FEDERAIS

JUÍZES ESTADUAIS

JUÍZES ELEITORAIS

JUÍZES TRABALHISTAS

JUÍZES MILITARES

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83FGV dIReITO RIO

Em 2005, como parte da reforma do Judiciário, o STJ assumiu também a competência para analisar algumas matérias internacionais, como a con-cessão de cartas rogatórias e o processamento e julgamento da homologação de sentenças estrangeiras. Até então, a apreciação desses pedidos era feita no Supremo Tribunal Federal (STF)23.

• Competência Recursal

Recuso Ordinário constitucional

Compete ao Superior Tribunal de Justiça julgar, em recurso ordinário:

a) os “habeas-corpus” decididos em única ou última instância pelos Tribu-nais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória;

b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Ter-ritórios, quando denegatória a decisão; e

c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Recurso Especial

É uma modalidade de recurso cuja finalidade precípua é a defesa do direi-to federal e a unificação da jurisprudência, preservação da unidade e da auto-ridade do direito federal. Não abrange, porém, o exame da matéria de fato. Deve se restringir à análise jurídico-constitucional do recurso. Compete ao STJ julgar, mediante recurso especial, as causas decididas em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida:

a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência;

Isso é o mesmo que tê-la por inexistente, negar-lhe vigência, deixar de apli-cá-la ou violá-la. É obrigatória aqui a indicação do dispositivo legal violado.

b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal;

c) dar a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

23 O STF manteve a competência para processar e julgar, originariamente, o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território e a extradição solicitada por Estado estrangeiro (Artigo 102, I, alíneas e e g da Constituição Federal).

23 O sTF manteve a competência para processar e julgar, originariamente, o litígio entre estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o estado, o distrito Federal ou o Territó-rio e a extradição solicitada por estado estrangeiro (Artigo 102, I, alíneas e e g da Constituição Federal).

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84FGV dIReITO RIO

A Súmula 13 do STJ ressalta que a divergência deve se dar entre tribunais diferentes. Divergência entre julgados do mesmo tribunal não enseja recurso especial. Tal divergência, ainda, deve ser atual. Se o entendimento trazido à colação como paradigma já se encontra superado no tribunal que o profe-riu, o recurso não será admitido. Ressalte-se também aqui a necessidade de prequestionamento e conseqüente análise por parte do Tribunal Regional Federal ou dos Tribunais Estaduais ou do Distrito Federal da questão federal a ser posteriormente analisada pelo Superior Tribunal de Justiça.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO

Ação civil púbica proposta pelo MP para tratamento de saúde de criança.

Felizardo, 9 anos, residente em Porciúncula/RJ, sofre de enfermidade au-ditiva, cujo tratamento somente se encontra disponível na cidade do Rio de Janeiro. Acompanhado de sua mãe Piedade, após ter procurado a Secretaria de Saúde do Município sem sucesso, dirigiu-se ao seu gabinete, ou seja, à Pro-motoria de Justiça da Comarca de Porciúncula. Sendo profissional atuante, comprometido com a concretização dos direitos fundamentais e com a atuação socialmente responsável do direito, você propôs Ação Civil Pública24 em favor do menino, para custeio das viagens rodoviárias (Porciúncula x Rio) necessá-rias ao tratamento hospitalar já obtido na rede pública (Hospital da UFRJ). Com a ação, obteve sentença de procedência junto ao Juízo de Porciúncula, a qual foi, entretanto, reformada pelo TJERJ, que deu provimento à Apelação interposta pelo Município de Porciúncula, sob o fundamento de que não teria o MP legitimidade para propor ACP em favor de uma criança, eis que se tra-taria de direito individual, insuscetível de tutela pela via da ação civil pública. Considerando o direito individual indisponível de Felizardo (direito à saúde), como poderia o Ministério Público recorrer da decisão proferida pelo TJERJ?

CASO DE SEDIMENTAÇÃO 2

No dia 20 de novembro de 2006, o promotor de Justiça da 34ª Vara Cri-minal do Rio de Janeiro recebe em seu gabinete peças de informação relatando o crime de lesão corporal gravíssima praticado por um desembargador do Tri-bunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro contra sua esposa. Estando certa a autoria e havendo justa causa para tanto, o promotor de Justiça forma sua opinio delict e denuncia o desembargador pela prática do crime perante o juízo de primeira instância. O Juiz da 34ª Vara Criminal, por sua vez, recebe a de-núncia, dando prosseguimento à ação penal. Ao ser citado, o desembargador aciona seus advogados que impetram um hábeas corpus em favor do paciente. Pergunta‑se: Para que tribunal foi endereçado o HC? Qual a fundamentação?

24 Em termos gerais, a ação civil pública, instituída pela Lei 7.347/85, disciplina a responsabilidade por danos causados aos direitos transindividuais, assim entendidos o dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Trata-se de uma das funções institucionais do Ministério Público, conforme disposto no artigo 129, III da CF.

Cabe ressaltar os motivos que levaram a introdução da ação civil pública, ao lado da ação popular (Lei 4717/65), em nosso ordenamento jurídico. Teve o legislador em mente, principalmente, a ampliação do acesso à justiça, permitindo que inúmeras pessoas lesadas pudessem vindicar seus direitos de maneira mais eficaz. Objetivou também atender ao princípio da economia processual, substituindo um número incalculável de demandas, com idêntico objeto, por ações coletivas, visando a atender, num único processo, o maior número de interessados. Levou em conta ainda o princípio da segurança jurídica, evitando-se inúmeras decisões judiciais contraditórias, proferidas em processos individuais (Mendes, 2002, p. 27-36), privilegiando a possibilidade de uma única decisão judicial � mais facilmente executável � atingir maior número de jurisdicionados.

A lei 8.078/90 pormenorizou e conceituou os interesses transindividuais na forma que se segue:“Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo.Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os decorrentes de origem comum.”

24 em termos gerais, a ação civil pú-blica, instituída pela lei 7.347/85, disciplina a responsabilidade por danos causados aos direitos transindividuais, assim entendidos o dano ao meio am-biente, ao consumidor, a bens e direi-tos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico. Trata-se de uma das funções institucionais do Ministério Público, conforme disposto no artigo 129, III da CF.

Cabe ressaltar os motivos que leva-ram a introdução da ação civil pública, ao lado da ação popular (lei 4717/65), em nosso ordenamento jurídico. Teve o legislador em mente, principalmente, a ampliação do acesso à justiça, per-mitindo que inúmeras pessoas lesadas pudessem vindicar seus direitos de maneira mais eficaz. Objetivou tam-bém atender ao princípio da economia processual, substituindo um número incalculável de demandas, com idênti-co objeto, por ações coletivas, visando a atender, num único processo, o maior número de interessados. levou em conta ainda o princípio da segurança jurídica, evitando-se inúmeras decisões judiciais contraditórias, proferidas em processos individuais (Mendes, 2002, p. 27-36), privilegiando a possibilidade de uma única decisão judicial – mais facilmente executável – atingir maior número de jurisdicionados.

A lei 8.078/90 pormenorizou e con-ceituou os interesses transindividuais na forma que se segue:“Art. 81. A defesa dos interesses e di-reitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individual-mente, ou a título coletivo.Parágrafo único. A defesa coletiva será exercida quando se tratar de:I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeter-minadas e ligadas por circunstâncias de fato;II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste código, os transindividuais, de natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;III - interesses ou direitos individuais homogêneos, assim entendidos os de-correntes de origem comum.”

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85FGV dIReITO RIO

5) JUSTIÇA FEDERAL

A estrutura orgânica da Justiça Federal é composta por juízes federais, em primeira instância, e pelos Tribunais Regionais Federais, em segunda instân-cia. Com a promulgação da Constituição Federal de 1988, houve a extinção do antigo Tribunal Federal de Recursos e o segundo grau de jurisdição, no âmbito federal, passou a ser exercido pelos Tribunais Regionais Federais en-tão criados. O objetivo foi a regionalização dos serviços jurisdicionais do segundo grau da Justiça Federal.

E por que surgiu a Justiça Federal, em contraposição à Justiça Estadual?Isso se deu em decorrência da proclamação da República, que tam-

bém instituiu o regime federalista, quando se visualizou a conveniência de distribuir as funções jurisdicionais entre Estados e União. Reservou--se para a Justiça Federal a competência para julgamento das causas em que a União é parte, tudo isto para que o Estado federal não ficasse com seus interesses subordinados ao julgamento das magistraturas das unidades federadas.

É o “sistema da dualidade da Justiça - federal e estadual”25.Há discussão doutrinária acerca de ser a Justiça Federal de natureza co-

mum ou especializada.Antônio Carlos de Araújo Cintra, Ada Pellegrini Grinover e Cândido

Rangel Dinamarco26 entendem ser a Justiça Federal pertencente à Justiça comum. Isto porque, quanto a Justiça Especial, a Constituição atribuiu com-petência para causas de determinada natureza, ramos específicos do Direito como direito trabalhista, eleitoral e militar. Já a Justiça Comum (Estadual e Federal) conhecem qualquer matéria que não esteja contida na competência das Justiças especializadas.

Já para Athos de Gusmão Carneiro27, a Justiça Federal é uma Justiça Es-pecializada já que a competência desta última vem expressamente prevista na Constituição, o que também ocorre com os outros ramos da Justiça adminis-trados pela União (Militar, do Trabalho e Eleitoral).

Há ainda uma posição intermediária, de Arruda Alvim28, que entende que “a justiça federal pode ser considerada, em relação à estadual, como uma justiça de índole especializada. Todavia, a Justiça Federal é comum tendo em vista o critério das normas por ela aplicadas”.

Os julgados do Supremo Tribunal Federal, por seu turno, referem-se sistematicamente à Justiça comum Federal, priorizando, assim, a primeira corrente examinada29.

A Constituição Federal de 1988, em seu Ato de Disposições Constitu-cionais Transitórios, fixou em cinco o número dos Tribunais Regionais Federais a serem criados.

25 CAVALCANTI, Themistocles Brandão. Manual da Constituição, 2 ed., p. 205).26 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo [et al]. Teoria Geral do Processo. Malheiros. 22 ed., p. 160.27 CARNEIRO, Athos de Gusmão. Jurisdição e Competência. 9ª ed., p. 22.28 ALVIM, Arruda. Manuela de direito processual civil. 7ed., V. 1, p 345.29 Recurso Extraordinário n. 144.880-6-DF, rel. Min. Celso de Mello, j. em 31.10.2000, DJ em 02.03.2001, p. 12.

25 CAVAlCANTI, Themistocles brandão. Manual da Constituição, 2 ed., p. 205).

26 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo [et al]. Teoria Geral do Processo. Malheiros. 22 ed., p. 160.

27 CARNeIRO, Athos de Gusmão. Juris-dição e Competência. 9ª ed., p. 22.

28 AlVIM, Arruda. Manuela de direito processual civil. 7ed., V. 1, p 345.

29 Recurso extraordinário n. 144.880-6-dF, rel. Min. Celso de Mello, j. em 31.10.2000, dJ em 02.03.2001, p. 12.

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86FGV dIReITO RIO

“Art. 27-(...)§ 6º - Ficam criados cinco Tribunais Regionais Federais, a serem instalados no prazo de seis meses a contar da pro-mulgação da Constituição, com a jurisdição e sede que lhes fixar o Tribunal Federal de Recursos, tendo em conta o nú-mero de processos e sua localização geográfica.”

São cinco regiões que, em conjunto, cobrem todo o território nacional.Em cumprimento à disposição constitucional, o extinto Tribunal Federal

de Recursos editou a Resolução 1/88 que definiu:

O TRF da primeira região, com sede em Brasília e jurisdição sobre o Distri-to Federal e os Estados do Acre, Amapá, Amazonas, Bahia, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Piauí, Rondônia, Roraima e Tocantins;

O TRF da segunda região, como sede no Rio de Janeiro e jurisdição sobre os Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo;

O TRF da terceira região, com sede em São Paulo e jurisdição sobre os Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul;

O TRF da quarta região, com sede em Porto Alegre e jurisdição sobre os Estados do Rio Grande do Sul, Paraná e Santa Catarina; e

O TRF da quinta região, com sede em Recife e jurisdição sobre os Estados de Pernambuco, Alagoas, Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Cada região é integrada por diversas seções judiciárias, tendo em vista que abrange vários Estados. Cada seção judiciária é composta por varas federais, cujo número é variável, criadas por lei e localizadas onde ela dispuser. Não ficam necessariamente sediadas apenas nas capitais dos Estados. A tendên-cia atual é a interiorização da justiça federal de primeira instância. As varas federais são titularizadas por juízes federais de carreira. A Justiça Federal de primeiro grau, portanto, é representada pelos juízes federais, presentes em todos os Estados e no Distrito Federal. São juízes monocráticos ao lado dos quais funciona também o Tribunal do Júri.

O ingresso na magistratura federal se dá mediante concurso público de provas e títulos para os cargos de juiz substituto, conforme exigência do já estudado Artigo 93, I da CF. A Lei Orgânica da Magistratura Nacional exige do candidato à judicatura federal a idade mínima de 25 anos. Por meio de promoção, por antiguidade ou merecimento, o juiz federal substituto chega a juiz federal. Os juízes federais de carreira são responsáveis pelo julgamento das causas federais arroladas no Artigo 109 da Constituição.

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87FGV dIReITO RIO

O Superior Tribunal de Justiça já teve a oportunidade de se manifestar acerca do rol de competências e decidiu que “a competência da justiça federal está limitada mediante enumeração exaustiva, pelo Artigo 109 da Constituição.30”

E o que deve fazer, por exemplo, um aposentado que deseje ingressar em juízo com uma ação previdenciária, se a cidade onde ele vive com sua família não possui vara federal? Terá ele que se locomover até a Capital do seu Estado?

É disso que trata o Art. 109, § 3º da CF:

“Art. 109 –(...)§ 3º - Serão processadas e julgadas na justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segu-rado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permi-tir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela justiça estadual.”

São causas federais que podem ser julgadas em condições especiais, por juízes estaduais de primeira instância. É o que a ministra Eliana Calmon convencionou chamar de “competência delegada da justiça estadual.”31

A condição constitucional para que a delegação se dê é que não haja vara federal instalada na Comarca em que o segurado/beneficiário é domiciliado. Veja que tal previsão é um favor constitucional. Trata-se de uma faculdade, uma opção colocada à disposição do segurado e não uma imposição. Assim, pode o beneficiário entender melhor ingressar no juízo federal da capital do Estado, tendo que até lá se locomover, do que ingressar no juízo estadual de sua cidade. Esta é sua opção e deve ser respeitada32.

O Artigo 109, §3º autoriza ainda que a lei preveja a delegação de compe-tência para outras causas. Foi o que fez a Lei nº 5010/1966, que ainda hoje organiza a Justiça Federal em primeiro grau e já declarada recepcionada pela Constituição de 198833, ao dispor em seu artigo 15:

“Art. 15. Nas Comarcas do interior onde não funcionar Vara da Justiça Federal (artigo 12), os Juízes Estaduais são competentes para processar e julgar:

30 Conflito de Competência 14051/SP, Min. Humberto Gomes de Barros.31 STJ – Recurso Especial 517.719-RS, rel. Min Eliana Calmon, j. 26.04.2005, DJ 13.06.2005.32 STF – Recurso Extraordinário 239594-2-RS – rel. Min. Sepúlveda Pertence, j. 17.11.1998, DJ 12.02.1999.33 Conflito de competência n. 45199, rel. Min Castro Meira.

30 Conflito de Competência 14051/sP, Min. humberto Gomes de barros.

31 sTJ – Recurso especial 517.719-Rs, rel. Min eliana Calmon, j. 26.04.2005, dJ 13.06.2005.

32 sTF – Recurso extraordinário 239594-2-Rs – rel. Min. sepúlveda Pertence, j. 17.11.1998, dJ 12.02.1999.

33 Conflito de competência n. 45199, rel. Min Castro Meira.

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88FGV dIReITO RIO

I - os executivos fiscais da União e de suas autarquias, ajuiza-dos contra devedores domiciliados nas respectivas Comarcas; II - as vistorias e justificações destinadas a fazer prova pe-rante a administração federal, centralizada ou autárqui-ca, quando o requerente for domiciliado na Comarca; III - os feitos ajuizados contra instituições previdenciárias por segurados ou beneficiários residentes na Comarca, que se referirem a benefícios de natureza pecuniária.”

Decisão recente do STJ34 fixou a competência da Justiça Federal para pro-cessar e julgar o furto ocorrido no MASP (Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand) em 2007. Na ocasião, foram subtraídas duas obras de arte: “O Lavrador de Café”, de Cândido Portinari, e “O Retrato de Suzanne Blo-ck”, de Pablo Picasso, ambas tombadas pelo Instituto do Patrimônio Histó-rico e Artístico Nacional (Iphan).

Para o relator, Min. Arnaldo Esteves Lima, o que desloca a competência para a Justiça Federal não é o fato do furto ter ocorrido dentro do MASP, mas sim o fato da coleção de arte que compõe o seu acervo ser tombada pelo IPHAN, cabendo a este a sua manutenção e vigilância.

A União, por intermédio do IPHAN, possui efetivo interesse na preserva-ção e manutenção do patrimônio histórico e artístico nacional, resguardando os bens de excepcional valor cultural e artístico.

Sendo assim, concluiu o Ministro relator que “compete à Justiça Federal o processo e o julgamento de eventual ação penal”, tendo a 3ª Turma, por unanimidade, conhecido o conflito e declarado a nulidade da sentença pro-ferida pelo Juízo Estadual.

Os recursos interpostos contra atos dos juízes federais de primeiro grau, bem como dos juízes estaduais que se pronunciem no exercício da com-petência delegada, são processados e julgados pelos Tribunais Regionais Federais da região na qual estejam os julgadores de primeiro grau.

“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais FederaisII - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência fe-deral da área de sua jurisdição”

Essa é a competência recursal dos Tribunais Regionais Federais, porém, duas exceções devem ser mencionadas. Quando os juízes federais julgam em primeiro grau os crimes políticos, cabe ao Supremo Tribunal Fede-ral julgar o recurso ordinário contra tal decisão, funcionando, neste caso, como órgão de segundo grau.

34 Conflito de competência n. 106413, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima.

34 Conflito de competência n. 106413, rel. Min. Arnaldo esteves lima.

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“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Mi-litar e da Justiça Eleitoral;

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipu-amente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

II - julgar, em recurso ordinário:b) o crime político;”

De forma similar, quando os juízes federais julgam em primeiro grau as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organis-mo internacional, o recurso cabível também é o ordinário e compete ao Superior Tribunal de Justiça julga-lo, na função de órgão de segundo grau de jurisdição.

“Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional;

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:

II - julgar, em recurso ordinário:c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou or-ganismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País”

Além da competência recursal mencionada, os Tribunais Regionais Fede-rais possuem ainda competência originária, estabelecida no Artigo 108, I da Constituição Federal.

“Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais:

I - processar e julgar, originariamente:

a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral;

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b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região;c) os mandados de segurança e os “habeas-data” contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;d) os “habeas-corpus”, quando a autoridade coatora for juiz federal;e) os conflitos de competência entre juízes federais vincu-lados ao Tribunal;”

Passemos então ao estudo da estrutura orgânica do Tribunal Regio-nal Federal.

6) TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS

As manifestações dos Tribunais Regionais Federais são, em regra, colegiadas. São proferidas em reunião plenária ou por meio de um de seus órgãos fracionários. O pleno dos tribunais é composto pela tota-lidade de seus membros. Quando o tribunal é composto por mais de vinte e cinco julgadores, pode ser constituído um órgão especial para o exercício das atribuições delegadas da competência do pleno, conforme preceitua a CF:

“Art. 93(...)XI nos tribunais com número superior a vinte e cinco jul-gadores, poderá ser constituído órgão especial, com o míni-mo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antigüidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno;”

Os tribunais se dividem ainda em turmas julgadoras, as quais se reúnem normalmente em seções especializadas.

No Tribunal Regional Federal da segunda região, por exemplo, que abrange o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, são quatro seções e oito turmas com diferentes matérias de especialização.

Os juízes que compõem os Tribunais Regionais Federais são chamados de desembargadores federais e originam-se de duas classes:

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1 - Classe do quinto constitucional

É composta de advogados com mais de dez anos de efetiva atividade pro-fissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira, que são indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes35. A indicação, desta forma, inicia-se na intimidade dos órgãos de representação de classe.

No caso dos advogados, a representação é feita pela Ordem dos Advoga-dos do Brasil:

“Art. 44. A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), serviço público, dotada de personalidade jurídica e forma federativa, tem por finalidade:II - promover, com exclusividade, a representação, a defesa, a seleção e a disciplina dos advogados em toda a República Fede-rativa do Brasil.

Art. 54 – Compete ao Conselho FederalXIII - elaborar as listas constitucionalmente previstas, para o preenchimento dos cargos nos tribunais judiciários de âmbito nacional ou interestadual, com advogados que estejam em pleno exercício da profissão, vedada a inclusão de nome de membro do próprio Conselho ou de outro órgão da OAB;36”

No caso do Ministério Público, a lista sêxtupla é elaborada pelo Colégio de Procuradores da República:

“Art. 53. Compete ao Colégio de Procuradores da República:

II - elaborar, mediante voto plurinominal, facultativo e secreto, a lista sêxtupla para a composição dos Tribunais Regionais Fede-rais, sendo elegíveis os membros do Ministério Público Federal, com mais de dez anos de carreira, que contém mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos de idade, sempre que possível lota-dos na respectiva região;37”

Encaminhadas as listas sêxtuplas, cabe ao Tribunal Regional Federal for-mar lista tríplice, enviando ao presidente da República que, nos vinte dias subseqüentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação38.

35 Artigo 107, I c/c Artigo 94, ambos da Constituição.36 Lei 8906/94 – dispõe sobre o Estatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil.37 Lei Complementar 75/93 – dispõe sobre a organização, as atribuições e o Estatuto do Ministério Público da União.38 Art. 94 § único e Art. 107, caput, c/c Art. 84, XVI, todos da Constituição Federal.

35 Artigo 107, I c/c Artigo 94, ambos da Constituição.

36 lei 8906/94 – dispõe sobre o es-tatuto da Advocacia e a Ordem dos Advogados do brasil.

37 lei Complementar 75/93 – dispõe sobre a organização, as atribuições e o estatuto do Ministério Público da União.

38 Art. 94 § único e Art. 107, caput, c/c Art. 84, XVI, todos da Constituição Federal.

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2 – Classe da magistratura de carreira

Já a classe da magistratura de carreira é integrada por juízes federais que chegam ao tribunal por meio de promoção, por antiguidade ou merecimen-to, devendo para tanto contar com mais de cinco anos de exercício. É uma exigência constitucional (Art. 107, II da CF).

O Supremo Tribunal Federal já se pronunciou sobre o tema e decidiu que nestes cinco anos também se computa o tempo de exercício no cargo de juiz substituto39.

7) JUIZADOS ESPECIAIS FEDERAIS

A Justiça Federal é composta ainda, com apoio no Artigo 98, §1º da Constituição e Lei nº10259/2001, pelos Juizados Especiais Federais, cíveis e criminais. Compete ao Juizado Especial Federal Criminal “processar e jul-gar os feitos de competência da Justiça Federal relativos às infrações de menor potencial ofensivo, respeitada as regras de continência e conexão” (Art. 2º da Lei 10259/01), assim entendidos os crimes cuja pena máxima não ultrapasse 2 anos, cumulada ou não com multa.”

Aos Juizados Especiais Federais Cíveis compete processar e julgar causas de competência da Justiça Federal até o valor de sessenta salários mínimos, bem como executar as suas sentenças, ressalvadas as matérias excluídas pelo parágrafo 1º do Artigo 3º da Lei nº 10259/2001. Dentro da estrutura dos Juizados existem ainda as Turmas Recursais, competentes para rever as deci-sões dos Juizados. Trata-se de órgão colegiado, composto por três juízes, em exercício no primeiro grau de jurisdição, reunidos na sede do Juizado.

Existem também as Turmas de Uniformização, competentes para julgar pedido de uniformização baseado em divergência entre decisões de turmas de diferentes regiões ou da decisão proferida em contrariedade à súmula ou jurisprudência dominante do STJ.

O acesso aos juizados federais cíveis é optativo nos Municípios onde não houver a Vara do Juizado Especial Federal Cível, permitindo-se ao cidadão a livre escolha entre o procedimento adotado pela Justiça comum ou aquele previsto para os juizados especiais. Já nos Municípios que possuem vara do Juizado Especial Federal Cível, ele é obrigatório, conforme art. 3°, § 3° da Lei 10.259/0140, excetuada as causas do §1° do mesmo artigo41. O processo nesses juízos valoriza os critérios da oralidade, da simplicidade, da informalidade, da economia processual e da celeridade, buscando sempre que possível a concilia-ção das partes. Nos juizados especiais valoriza-se a prática de atos processuais da maneira mais simples possível, possibilitando, assim, a sua realização em horá-rio noturno, conforme dispuserem as normas locais de organização judiciária.

39 Mandado de Segurança n. 23789-0-PE, rel. Min. Ellen Gracie, j. 30.06.2005, DJ 23.09.2005.

40 § 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado Especial, a sua competência é absoluta.

41 § 1o Não se incluem na competência do Juizado Especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desapropriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por improbidade administrativa e as demandas sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

II - sobre bens imóveis da União, autarquias e fundações públicas federais;

III - para a anulação ou cancelamento de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

IV - que tenham como objeto a impugnação da pena de demissão imposta a servidores públicos civis ou de sanções disciplinares aplicadas a militares.

39 Mandado de segurança n. 23789-0-Pe, rel. Min. ellen Gracie, j. 30.06.2005, dJ 23.09.2005.

40 § 3o No foro onde estiver instalada Vara do Juizado especial, a sua compe-tência é absoluta.

41 § 1o Não se incluem na competência do Juizado especial Cível as causas:

I - referidas no art. 109, incisos II, III e XI, da Constituição Federal, as ações de mandado de segurança, de desa-propriação, de divisão e demarcação, populares, execuções fiscais e por im-probidade administrativa e as deman-das sobre direitos ou interesses difusos, coletivos ou individuais homogêneos;

II - sobre bens imóveis da União, au-tarquias e fundações públicas federais;

III - para a anulação ou cancelamen-to de ato administrativo federal, salvo o de natureza previdenciária e o de lançamento fiscal;

IV - que tenham como objeto a im-pugnação da pena de demissão impos-ta a servidores públicos civis ou de san-ções disciplinares aplicadas a militares.

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Exemplos da celeridade e economia processual existente nos Juizados Es-peciais Cíveis podem ser divididos em duas classes: uma destinada a qualquer parte do processo, e outra à União, autarquias, fundações e empresas públicas federais. Em relação às partes processuais, no Juizado Especial Federal não se admite recurso que não seja da sentença e da concessão ou denegação da medidas cautelares (art. 5°). Quanto à União, autarquias, fundações e em-presas públicas federais, elas são tratadas de maneira idêntica ao particular, não possuindo esses entes prazo diferenciado para a prática de qualquer ato processual ou recursal (art. 9°), possibilidade de essas pessoas conciliarem, transigirem ou desistirem (art. 10, Parágrafo único e art. 11, Parágrafo úni-co), a não obrigatoriedade do reexame necessário (art. 13) e o pagamento de valor até 60 salários mínimos ser feito de forma integral e independentemen-te de precatório (art. 17, §§ 1° e 3°). Caso o valor ultrapasse os 60 salários mínimos, o pagamento deverá ser realizado integralmente por precatório ju-dicial, facultado ao exeqüente a renúncia ao crédito excedente para receber integralmente e sem precatórios (art. 17, § 4°).

A regulamentação dos juizados pugna pela conciliação prévia das partes, desejando-se, assim, que a demanda não prossiga em seus trâmites regulares, mas que antes seja solucionada na audiência de conciliação. Para tanto, valo-riza a presença dos conciliadores e dos árbitros, que são os primeiros juízes da causa: examinam previamente o pedido, reúnem-se com as partes e, se possível, conseguem a conciliação, que será posteriormente submetida ao juiz togado.

No caso dos Juizados Especiais Criminais, verificada a ocorrência de infra-ção penal de menor potencial ofensivo pela autoridade policial, um simples termo circunstanciado substitui o inquérito policial, garantindo-se, assim, o exercício do princípio da oralidade.  Juntamente com a autuação sumária, deve a autoridade policial encaminhar o autor do fato e o ofendido ao jui-zado, cumprindo-lhe, ainda, diligenciar no sentido da realização dos exames periciais necessários. Caso não seja possível a realização imediata da audi-ência preliminar, o juiz designa outra data, saindo as partes intimadas. A composição nos Juizados Criminais pode operar-se por meio da composição dos danos, em que o autor da infração supre o prejuízo patrimonial por ele causado à vítima, e da transação, proposta do Ministério Público de aceitação pelo autuado de pena não privativa de liberdade. É possível ainda que no mo-mento do oferecimento da denúncia oral pelo Ministério Público seja feita a proposta de suspensão condicional do processo, pelo qual o acusado ficará submetido a um período de prova por dois a quatro anos.

Pelo exposto, induvidosamente, são duas as funções principais desempenha-das pelos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A primeira é relativa ao acesso ao Poder Judiciário; a segunda é, conseqüentemente, a de reverter o descrédito na Justiça ocasionado pela reconhecida morosidade no andamento dos processos.

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8) FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES CONTRA OS DIREITOS HUMANOS E INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA

A Emenda Constitucional nº 45 de 2004 trouxe uma importante inova-ção ao ordenamento jurídico brasileiro tendo sido objeto de grandes discus-sões doutrinárias.

Trata-se do Incidente de Deslocamento de competência para a Justiça Federal, previsto no Artigo 109, §5:

“Art. 109 –(...)5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procu-rador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cum-primento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do in-quérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.”  

Com esta inovação, o Superior Tribunal de Justiça foi “alçado à condição de tribunal da federação, responsável pela relevante tarefa de equacionar as dificuldades relacionadas ao cumprimento judicial de obrigações relacionada aos direitos huma-nos, inclusive aquelas decorrentes de tratados internacionais versando essa temática.42”

Como já mencionado, há grande discussão doutrinária acerca do novo instituto. Parte da doutrina vê com bons olhos a alteração feita pela EC nº 45. Isto porque a União é a responsável, internacionalmente, pelo cumpri-mento dos tratados internacionais em que o Brasil seja parte. Ocorre que, antes da EC nº 45 não havia um mecanismo de controle da União sobre a aplicação do tratado quando a Justiça Estadual era, no caso, a responsável pela sua aplicação. Era um contra-senso. Outros, porém, vem taxando de inconstitucional o instituto por violação ao princípio do juiz natural, pelo qual não só o juízo ou o tribunal para a causa devem ser previamente iden-tificados, como também regras prévias e objetivas para a determinação da competência dos órgãos julgadores.

Tendo em vista a excessiva abertura da expressão “grave violação dos di-reitos humanos” pode ocorrer de um processo judicial já instaurado vir a ser deslocado para a Justiça Federal com base em critérios vagos e imprecisos, fe-rindo desta forma a garantia que seria conferida pelo princípio do juiz natu-ral. São quatro as condições fixadas pela Constituição, de forma cumulativa:

42 TAVARES, André Ramos. Reforma do Judiciário no Brasil pós-88. Saraiva, 2005, p.49.

42 TAVARes, André Ramos. Reforma do Judiciário no brasil pós-88. saraiva, 2005, p.49.

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1 – estar originalmente a competência atribuída à Justiça Estadual, podendo o processo judicial estar em qualquer fase ou mesmo ainda ser apenas um inquérito policial;

2 – haver grave violação dos direitos humanos. Muito se critica a indefinição desta expressão por ser alta a discricionariedade conferida ao Superior Tri-bunal de Justiça. Critérios objetivos deveriam ter sido definidos de forma a limitar essa prerrogativa do Tribunal Superior.

3 – obter o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais dos quais o Brasil seja parte. Basta que o Brasil seja signatário do tratado. A nor-ma não exige, portanto, que aquele processo específico de recepção do tratado ao ordenamento jurídico pátrio, previsto no Artigo 5º, §3º da CF, seja deflagrado.

4 – ser suscitado pelo procurador-geral da República. Essa legitimidade ex-clusiva também tem sido criticada. Teria havido um retrocesso, contrariando a moderna orientação da Constituição quanto à abertura para acionar o con-trole de constitucionalidade.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO:

No dia 05 de janeiro de 2008, uma cidade foi cenário de um terrível crime. Pessoas estavam sendo escravizadas numa fazenda no interior do Estado, duas de-las vindo a falecer naquele mesmo dia. O acontecimento virou notícia nos jornais do Brasil e do mundo, devido à crueldade a que eram submetidas essas pessoas.

Os autores foram presos em flagrante e o promotor de Justiça da comarca denunciou os mesmos pelo crime imediatamente. O juiz competente rece-beu a denúncia, dando prosseguimento à ação penal, já estando o júri mar-cado para outubro de 2008.

Em maio de 2008, porém, o procurador-geral da República suscitou pe-rante o Superior Tribunal de Justiça um incidente de deslocamento de com-petência para a Justiça Federal, alegando se tratar o caso em questão de grave violação aos direitos humanos.

Pergunta‑se: Deve o Superior Tribunal de Justiça deferir o deslocamento?

TÓPICO DE DISCUSSÃO: As diligências policiais, notadamente da denomina-da Operação “Lava-Jato” têm se utilizado do instituto da condução coerciti-va (Art. 260 do CPP) para o êxito da investigação. Até um ex-presidente da República recebeu este tratamento, considerado vexatória e inconstitucional (Arts. 5º, LIV e LVII da CF) por muitos juristas. Qual a sua opinião sobre o assunto? Prepare‑se para um debate sobre o tema.

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JURISPRUDENCIA

“Prerrogativa de foro dos conselheiros do Tribunal de Contas estadual, pe-rante o STJ, nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade (CF, art. 105, I, a). Compete, originariamente, ao STJ, processar e julgar os membros dos Tribunais de Contas estadu ais nos crimes de responsabilidade e nos ilícitos penais comuns, assim definidos em legis lação emanada da União Federal. Mostra-se incompatível com a CR – e com a regra de competência inscrita em seu art. 105, I, a – o deslocamento, para a esfera de atribuições da Assembleia Legislativa local, ainda que mediante emenda à Constituição do Es-tado, do processo e julgamento dos Conselheiros do Tribunal de Contas esta-dual nas infrações político-administrativas.” (ADI 4.190‑MC‑REF, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 10-3-2010, Plenário, DJE de 11-6-2010.)

“Competência criminal. Ação penal. Membro do Ministério Público estadual. Condição de corréu. Conexão da acusação com fatos imputados a desembargador. Pretensão de ser julgado perante o Tribunal de Justiça. Inadmissibilidade. Prerrogativa de foro. Irrenunciabilidade. Ofensa às ga-rantias do juiz natural e da ampla defesa, elementares do devido processo legal. Inexistência. Feito da competência do STJ. Habeas corpus denegado. Aplicação da Súmula 704. Não viola as garantias do juiz natural e da ampla defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão ou con-tinência, do processo do corréu ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados, a qual é irrenunciável.” (HC 91.437, Rel. Min. Cezar Peluso, julga mento em 4-9-2007, Segunda Turma, DJ de 19-10-2007.) No mesmo sentido: HC 83.583, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 20-4-2004, Segunda Turma, DJ de 7-5-2004; HC 89.417, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 22-8-2006, Primeira Turma, DJ de 15-12-2006.

Os membros do MPU, que atuam perante quaisquer tribunais judiciários, estão sujeitos à jurisdição penal originária do STJ (CF, art. 105, I, a, in fine), a quem compete processá-los e julgá-los nos ilícitos penais comuns, ressalva-da a prerrogativa de foro do PGR, que tem, no STF, o seu juiz natural. (CF, art. 102, I, b). A superveniente investidura do membro do MPU, em cargo ou em função por ele efetivamente exercido perante tribunais, tem a virtude de deslocar, ope constitutionis, para o STJ, a competência originária para o respectivo processo penal condenatório, ainda que a suposta prática delituosa tenha ocorrido quando o Procu rador da República se achava no desempenho de suas atividades perante magistrado federal de primeira instância.” (HC 73.801, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 25-6-1996, Primeira Turma, DJ de 27-6-1997.) No mesmo sentido: RHC 84.184, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 6-6-2006, Primeira Turma, DJ de 25-8-2006.

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“A competência do STJ para julgar habeas corpus é determinada constitu-cionalmente em razão do paciente ou da autoridade coatora (art. 105, I, c, da CF). Nesse rol constitucio nalmente afirmado, não se inclui a atribuição daquele Superior Tribunal para processar e julgar, originariamente, ação de habeas corpus na qual figure como autoridade coatora juiz de direito.” (HC 94.067‑AgR, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 28-10-2008, Pri-meira Turma, DJE de 13-3-2009.)

“O TRF é competente para processar e julgar ação penal em que se impu-ta a depu tado estadual a prática de crimes conexos a delitos de competência da Justiça Federal.” (HC 91.266, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 2-3-2010, Segunda Turma, DJE de 23-4-2010.) No mesmo sentido: HC 80.612, Rel. Min. Sydney Sanches, julgamento em 13-2-2001, Primeira Turma, DJ de 4-5-2001.

Inquérito policial. Investigação. Ex-prefeito municipal. Desvio de ver-bas públicas. Com petência da Justiça Federal. Interesse da União. Au-sência de comprovação. (...) A competência da Justiça Federal depende, para a sua fixação, de comprovação do interesse da União no feito.” (RHC 97.226‑AgR, Rel. Min. Luiz Fux, julgamento em 6-9-2011, Primeira Turma, DJE de 30-9-2011.)

Os crimes contra o Sistema Financeiro Nacional, previstos na Lei 7.492/1986, devem ser processados e julgados na Justiça Federal. Não ocorre a prescrição quando não transcorrido o prazo correspondente, contado a partir das causas interruptivas fixadas no art. 117 do CP. A materialidade e a autoria do delito estão assentadas em panorama fático tomado como verdadeiro pelo acórdão recorrido e que não pode ser refu-tado sem reexame profundo da prova. Incidência da Súmula 279/STF.” (RE 446.908, Rel. Min. Menezes Direito, julgamento em 2-9-2008, Primeira Turma, DJE de 21-11-2008.)

Compete à Justiça Federal, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas entre autarquias federais e entidades públicas locais, inclusive man-dados de segurança, ressalvada a ação fiscal, nos termos da CF de 1967, art. 119, § 3º.” (Súmula 511.)• “Compete à Justiça estadual, em ambas as instâncias, processar e julgar as causas em que for parte o Banco do Brasil S.A.” (Súmula 508.)• “Compete à Justiça ordinária estadual o processo e o julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente do trabalho, ainda que promovidas con-tra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista.” (Súmula 501.)

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“Arguição de incompetência da Justiça Federal. Improcedência: o núme-ro de cento e oitenta pessoas reduzidas à condição análoga a de escravo é suficiente à caracterização do delito contra a organização do trabalho, cujo julgamento compete à Justiça Federal.” (HC 91.959, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 9-10-2007, Segunda Turma, DJE de 22-2-2008.)

QUESTÕES ACERCA DA MATÉRIA

01. Ao Superior Tribunal de Justiça (STJ) compete julgar: (a) Os governadores dos estados, nos crimes de responsabilidade;(b) Os Desembargadores, nos crimes comuns e de responsabilidade;(c) Os membros dos Tribunais de Contas, apenas nos crimes comuns;(d) Os membros dos Ministérios Públicos que oficiem perante tribunais;(e) Nenhuma das respostas anteriores

02. Quanto aos ministros do Superior Tribunal de Justiça:(a) um terço deles, em partes iguais, será composto por advogados e mem-bros do Ministério Público, alternadamente.(b) um quinto deles, em partes iguais, será composto por advogados e mem-bros do Ministério Público, alternadamente, com mais de 15 (quinze) anos de efetiva atividade profissional ou de carreira.(c) um terço deles será composto por desembargadores dos Tribunais de Jus-tiça indicados em lista tríplice elaborada pelo Conselho Nacional de Justiça.(d) um terço deles será composto por juízes dos Tribunais Regionais Federais indicados em lista sêxtupla elaborada pelo Conselho da Justiça Federal.(e) N.R.A

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AULAS 10 A 12: A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL

A Justiça Estadual é o ramo da Justiça comum competente para apreciar as matérias que não estejam afetas constitucionalmente à Justiça especiali-zada ou à Justiça Federal, também pertencente à Justiça comum. Trata-se, portanto, de uma competência residual. Conforme preceitua o Artigo 125 da Constituição Federal “os Estados organizarão sua Justiça de acordo com a respectiva Constituição.” A matéria vem disciplinada não só na Constituição Federal (Art. 93 – 100 e 125), como também na Lei Orgânica da Magis-tratura Nacional (LC/35/79), na Constituição Estadual do respectivo ente federativo e pela sua Lei de Organização Judiciária (Código de Organiza-ção Judiciária local).

A Constituição Estadual e a Lei de Organização Judiciária são editadas no exercício do chamado poder constituinte derivado decorrente, sendo complementares à Constituição Federal. Portanto, são elaboradas de forma autônoma pelo Estado-membro, respeitados os princípios cogentes da Cons-tituição Federal e da LOMAN.

No Rio de Janeiro a matéria é disciplinada nos Artigos 151 e seguintes da Constituição Estadual, com as alterações realizadas pela Emenda Constitu-cional nº 37, de 1º de junho de 2006. A Constituição Estadual remete ainda para a Lei de Organização Judiciária (Lei 6.956, de 13 de janeiro de 2015) e para o Regimento Interno do Tribunal de Justiça.

ESTRUTURA DO PODER JUDICIÁRIO ESTADUAL.

A Constituição Federal prevê como órgãos do Poder Judiciário Estadual os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. São, portanto, dois graus de jurisdição. O segundo grau de jurisdição é integrado pelos Tribunais de Justiça, com sede na capital do Estado e jurisdição em todo o território estadual. São órgãos colegiados compostos por membros chamados desembargadores.

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Dentro do próprio tribunal, para uma melhor prestação da Justiça, há sub-divisões que serão por nós estudadas. No Rio de Janeiro, como já asseverado, o Tribunal de Justiça compõe-se de 180 (cento e oitenta) desembargadores, divididos em diversos órgãos julgadores fracionários, tais como: O Tribunal Pleno; o Órgão Especial, as Seções especializadas e as câmaras (atualmente 8 Criminais, 27 Câmaras Cíveis).

A reunião de todas as Câmaras, em função de sua especialidade material gera um órgão fracionário denominado Seção. No Rio de Janeiro existe uma Seção Criminal, presidida pelo 2º vice-presidente do Tribunal de Justiça e constituída pelos dois desembargadores mais antigos lotados em cada uma das Câmaras Criminais. A competência é específica para matéria criminal como, por exemplo, o julgamento de prefeitos por crimes comuns (Artigo 29, X da Constituição Federal). A reunião de todos os desembargadores for-ma o Tribunal Pleno.

Há ainda toda uma estrutura administrativa de apoio à segunda Instân-cia da Justiça Estadual Fluminense, bem como a toda primeira instância, constituída de Juízes de Direito e Juízes substitutos. Veja a organização Judiciária do Estado do Rio de Janeiro, recentemente alteradas pela Lei 6956/15, novo CODJERJ:

ORGANOGRAMA DO PODER JUDICIÁRIO NOS ESTADOS

TRIBUNAL DE JUSTIÇA

ÓRGÃOESPECIAL

SEÇÃOCRIMINAL

CÂMARASCRIMINAIS

CÂMARASCIvEIS

JUÍZES DEDIREITO

JUIZADO DA INFÂNCIA E JUvENTUDE

TRIB. DE JUSTIÇAMILITAR

AUD. MILITAR(art. 25, § 4º, CF)

JUSTIÇA DE PAZ(art. 98, II, CF)JUIZADOS ESPECIAIS

(art. 98, CF E Lei 9099/95)

TURMAS RECURSAIS(art. 98, CF E Lei 9099/95)

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LEI Nº 6.956 DE 13 DE JANEIRO DE 2015 DISPÕE SOBRE A ORGANIZAÇÃO E DIVISÃO JUDICIÁRIAS DO ESTA-DO DO RIO DE JANEIRO, E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS.   O GOVERNADOR DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO,Faço saber que a Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

TÍTULO I

Capítulo I  Das Disposições Gerais

 Art. 1º ‑ Esta Lei dispõe sobre a organização e divisão judiciárias do Estado do Rio de Janeiro, bem como sobre as normas gerais de administração e fun-cionamento do Poder Judiciário e seus serviços auxiliares. Parágrafo Único ‑ Fica vedada a extinção ou desinstalação quando se tratar de vara única.   Art. 2º - O Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro exerce com inde-pendência a função jurisdicional e tem as garantias de autonomia adminis-trativa e financeira, observadas a Constituição da República, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro e as leis. Parágrafo Único ‑ Todas as decisões judiciais e administrativas dos órgãos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro serão motivadas e os julga-mentos públicos, ressalvadas as exceções previstas na Constituição da Repú-blica. Art. 3º - São órgãos do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro: I ‑ Tribunal Pleno; II ‑ Órgão Especial; III - Seções Especializadas; IV - Câmaras; V ‑ Juízos de Direito; 

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VI ‑ Tribunais do Júri; VII - Conselhos da Justiça Militar; VIII - Juizados Especiais e suas Turmas Recursais;   IX ‑ Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;   X ‑ Juizados do Torcedor e Grandes Eventos.   § 1º ‑ O Tribunal de Justiça, mediante Resolução, sempre que necessário para a adequada prestação jurisdicional e sem aumento de despesa, poderá alterar a competência, a estrutura e a denominação dos órgãos judiciários, bem como determinar a redistribuição dos feitos. § 2º ‑  Ficam mantidas as atuais competências dos órgãos julgadores que compõem o Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. § 3º ‑ O Órgão Especial, por Resolução, no prazo de 120 (cento e vinte) dias contados da publicação da presente lei, consolidará as alterações de compe-tência já realizadas. § 4º ‑ O Presidente do Tribunal de Justiça, no mês de dezembro de cada ano, consolidará, em ato específico, as alterações de competência dos ór-gãos julgadores, determinadas pelo Tribunal Pleno e pelo Órgão Especial no período e encaminhará o respectivo ato à Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. Art. 4º ‑ O Tribunal de Justiça, com sede na Capital e jurisdição em todo o território do Estado, compõe-se de 180 (cento e oitenta) Desembargadores. Art. 5º ‑ Os Juízes, Turmas Recursais e Tribunais de primeira instância têm jurisdição nas áreas territoriais definidas por este Código ou por ato norma-tivo editado pelo Tribunal de Justiça. § 1º ‑ Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o Juiz far-se--á presente no local do litígio. § 2º ‑ O Tribunal de Justiça manterá a Justiça Itinerante, incumbida de prestações jurisdicionais a serem definidas por ato normativo do Tribunal de Justiça.

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Capítulo IIDos magistrados

 Art. 6º - Os cargos de Desembargador, Juiz de Direito e Juiz Substituto serão providos por ato do Presidente do Tribunal de Justiça ou do Governador do Estado, na forma e nos casos estabelecidos pelas Constituições da República e do Estado. Art. 7º - A carreira da magistratura, em primeira instância, é composta por Juízes Substitutos, Juízes de Entrância Comum e Juízes de Entrância Espe-cial. § 1º ‑ Os Juízes Substitutos terão exercício pleno nas Regiões Judiciárias, ressalvada a Comarca da Capital, na qual poderão exercer funções de auxílio. § 2º ‑ Os Juízes de Entrância Comum serão titulares nas Varas e Juizados das Comarcas de mesma denominação e dos cargos de Juízes Regionais. § 3º ‑ Os Juízes de Entrância Especial serão titulares nas Varas e Juizados existentes nas Comarcas de mesma classificação. Art. 8º ‑ O Presidente do Tribunal de Justiça poderá convocar, a qualquer tempo, em face de imperiosa necessidade do serviço, Juízes de Direito Titu-lares de Entrância Especial, integrantes da primeira quinta parte da antigui-dade, para compor as Câmaras.  

TÍTULO IIDa divisão judiciária

 Capítulo I

Da divisão territorial Art. 9º  - O território do Estado, para efeito da administração do Poder Ju-diciário, divide-se em Regiões Judiciárias, Comarcas, Distritos, Subdistritos, Circunscrições e Zonas Judiciárias. § 1º ‑  Cada Comarca compreenderá um ou mais Municípios, desde que contíguos. § 2º ‑ As Regiões Judiciárias serão integradas por grupos de Comarcas ou Varas, conforme resolução do Tribunal de Justiça. 

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§ 3º ‑ Ato Normativo Conjunto do Presidente do Tribunal de Justiça e do Corregedor-Geral da Justiça disciplinará a utilização de meio eletrônico para os atos de comunicação processual, substituindo, sempre que possível, o em-prego de meio impresso. § 4º ‑ O Presidente do Tribunal de Justiça poderá transferir, provisoriamen-te, a sede de Comarca, Juízo ou Juizado, em caso de necessidade ou relevante interesse público. § 5º - As situações decorrentes da modificação ocorrida na divisão política e administrativa do Estado serão reguladas na alteração da organização e divi-são judiciárias que se seguir, prevalecendo até lá as existentes. Art.10 - A criação de Varas, Juizados e Fóruns Regionais será  feita: a) por desdobramento, em outros de igual competência, quando o número ou a natureza dos feitos distribuídos anualmente justificar a medida; b) por especialização, quando a justificarem o número de feitos da mesma natureza ou especialidade, a necessidade de maior celeridade de determina-dos procedimentos, ou o interesse social; c) por descentralização, quando o exigir expressiva concentração populacional em núcleo urbano afastado do centro da sede da Comarca, cuja distância em re-lação ao fórum local torne onerosa ou dificulte a locomoção dos jurisdicionados; d) por transformação, quando se verificar a necessidade de readequação das competências da Comarca, sendo possível a desinstalação de Varas e Juízos para posterior transformação em novas Varas, Juízos ou Juizados. Parágrafo Único  - A competência dos Juízos das Varas Regionais, fixada pelo critério funcional-territorial, é de natureza absoluta. Art.11 - A instalação de Comarca terá caráter solene e será  feita pelo Presi-dente do Tribunal de Justiça. 

Capítulo IIDa criação e classificação das Comarcas

 Art. 12 - Na criação ou elevação das Comarcas, o Tribunal  de Justiça, ao elaborar o respectivo projeto de lei, levará em consideração as normas cons-titucionais que disciplinam o acesso aos serviços judiciais e, notadamente, o movimento forense, a arrecadação tributária e a respectiva população. 

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Art. 13 - As Comarcas são de Entrância Comum e de Entrância  Especial, esta constituída das Comarcas da Capital, de Belford Roxo, de Cabo Frio, de Campos dos Goytacazes, de Duque de Caxias, de Niterói, de Nova Fribur-go, de Nova Iguaçu-Mesquita, de Petrópolis, de São João de Meriti, de São Gonçalo, de Teresópolis e de Volta Redonda. Art. 14  - São Comarcas de Entrância Comum as de Angra  dos Reis, Ara-ruama, Armação de Búzios, Arraial do Cabo, Barra do Piraí, Barra Mansa, Bom Jardim, Bom Jesus do Itabapoana, Cachoeiras de Macacu, Cambuci-São José de Ubá, Cantagalo, Carapebus- Quissamã, Carmo, Casimiro de Abreu, Conceição de Macabu, Cordeiro- Macuco, Duas Barras, Engenheiro Paulo de Frontin, Guapimirim, Iguaba Grande, Itaboraí, Itagauí, Italva-Cardoso Moreira, Itaocara, Itaperuna, Itatiaia, Japeri, Laje de Muriaé, Macaé, Magé, Mangaratiba, Maricá, Mendes, Miguel Pereira, Miracema, Natividade-Varre--Sai, Nilópolis, Paracambi, Paraíba do Sul, Paraty, Paty do Alferes, Pinheiral, Piraí, Porciúncula, Porto Real-Quatis, Queimados, Resende, Rio Bonito, Rio Claro, Rio das Flores, Rio das Ostras, Santa Maria Madalena, Santo Antônio de Pádua-Aperibé, São Fidélis, São Francisco do Itabapoana, São João da Bar-ra, São José do Vale do Rio Preto, São Pedro da Aldeia, São Sebastião do Alto, Sapucaia, Saquarema, Seropédica, Silva Jardim, Sumidouro, Tanguá, Trajano de Moraes, Três Rios-Areal-Levy Gasparian, Valença e Vassouras  

TÍTULO III 

Capítulo IDa Administração do Tribunal de Justiça

  Seção I

Da composição, funcionamento e competência Art. 15 - O Tribunal de Justiça tem a estrutura e a competência  de seus órgãos judiciais e administrativos definidas na Constituição da República, na Constituição do Estado, na Lei e no seu Regimento Interno. Parágrafo Único - Integram a estrutura administrativa do Tribunal  de Jus-tiça o Órgão Especial, o Conselho da Magistratura, a Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, o Fundo Especial do Tribunal de Justiça e a Escola de Administração Judiciária, incumbindo: I ‑ ao Órgão Especial, o exercício da função administrativa  superior, na for-ma do Regimento Interno; 

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II ‑ ao Conselho da Magistratura, o exercício da função administrativa  su-perior, inclusive editando atos normativos sobre administração de pessoal e administração financeira, na forma prevista em regimento próprio; II ‑ à Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro (EMERJ), a for-mação e o aperfeiçoamento permanente de magistrados; III ‑ ao Fundo Especial do Tribunal de Justiça, a gestão das receitas vincu-ladas ao custeio, ao processo de modernização e ao aparelhamento do Poder Judiciário; IV ‑ à Escola de Administração Judiciária, o aperfeiçoamento permanente dos servidores do Poder Judiciário. 

Seção IIDos membros da Administração Superior do Tribunal de Justiça

 Art. 16  - Compõem a Administração Superior do Tribunal de Justiça o Presidente do Tribunal de Justiça, o Corregedor-Geral da Justiça e os três Vice-Presidentes, eleitos em votação secreta pelos membros do Tribunal de Justiça na forma do Regimento Interno. Parágrafo Único - O Regimento Interno disporá sobre o processo eleitoral no âmbito do Tribunal de Justiça.  

Seção IIIDo Presidente

 Art. 17 - O Presidente do Tribunal de Justiça é o Chefe do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro, sendo suas atribuições: I ‑ dirigir os trabalhos do Tribunal, presidir as eleições para os cargos de direção e as sessões do Tribunal Pleno, do Órgão Especial e do Conselho da Magistratura; II ‑ prover os cargos de Desembargador, Juiz de Direito e Juiz Substituto, na forma e nos casos estabelecidos pelas Constituições da República e do Estado; III ‑ designar:      a) Juízes para substituição, acumulação ou auxílio na primeira instância; 

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b) Juízes de Direito para assessoramento e auxílio à Presidência do Tribunal de Justiça; c) por indicação do Corregedor-Geral, os Juízes dirigentes dos Núcleos Re-gionais; d) por indicação do Corregedor-Geral, os Juízes de Direito que deverão ficar à disposição da Corregedoria Geral da Justiça; e) por indicação do 3º Vice-Presidente, os Juízes de Direito para permanece-rem à disposição da 3ª Vice-Presidência; f) Juiz de Direito para a função de diretor de fórum; IV - organizar tabela de substituição de magistrados em casos de suspeições e faltas ocasionais; V ‑ conceder férias e licenças aos magistrados; VI - superintender, ressalvadas as atribuições de órgãos de  competência espe-cífica, todas as atividades jurisdicionais e administrativas do Poder Judiciário, podendo, para isso, agir diretamente junto a qualquer autoridade; VII ‑ expedir os atos de disponibilidade e declaração de incapacidade de ma-gistrados e servidores; VIII ‑ aplicar medidas disciplinares de sua competência a servidores, notários e registradores; IX ‑ prover e declarar vagos os cargos integrantes dos quadros de pessoal dos serviços auxiliares compreendidos pelas secretarias do Tribunal e da Correge-doria, os desta por indicação do Corregedor- Geral, expedindo, entre outros, os atos respectivos de nomeação, vacância, progressão, promoção, exonera-ção, demissão e aposentadoria; X ‑ prover e declarar vagos os cargos em comissão; XI ‑ prover e declarar vagas as funções de confiança, com exceção daquelas vinculadas à Corregedoria Geral de Justiça; XII ‑ dispor sobre a administração de prédios e instalações do Poder Ju-diciário; 

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XIII ‑ apresentar, anualmente, relatório circunstanciado das  atividades do Poder Judiciário, expondo o estado da administração, suas necessidades, as dúvidas e dificuldades verificadas na aplicação das leis e demais questões que interessarem à boa distribuição da Justiça estadual; XIV ‑ consolidar a proposta orçamentária do Poder Judiciário e o Plano de Ação Governamental, encaminhando-os ao Órgão Especial; XV ‑ fazer publicar no órgão oficial, para conhecimento dos magistrados e servidores, providências de caráter geral, bem como os nomes dos Advogados eliminados ou suspensos pela Ordem dos Advogados do Brasil; XVI ‑ submeter ao Conselho da Magistratura projetos de atos normativos para aplicação da legislação sobre administração de pessoal e financeira, pra-ticando os atos respectivos, ressalvada a competência do Órgão Especial ou do Tribunal Pleno; XVII ‑ disponibilizar os dados estatísticos e a produtividade dos magistrados; XVIII - designar, quando necessário, o Juiz responsável em matéria de regis-tro civil das pessoas naturais; XIX ‑ designar, entre os Desembargadores, o Gestor do Fundo Especial do Tribunal de Justiça; XX ‑ expedir ato de suspensão de prazos processuais; XXI ‑ expedir atos de outorga e extinção de delegação dos serviços registrais e notariais; XXII ‑ V E T A D O XXIII ‑ expedir atos executivos, atos normativos, avisos, circulares, convites, comunicados, convocações, ordens de serviço e portarias sobre matérias de sua competência; XXIV ‑ instituir comissões e designar magistrados para integrá-las, ressalvado o processo de escolha dos integrantes das Comissões de Legislação e Normas e do Regimento Interno; XXV ‑ as demais estabelecidas no Regimento Interno e em  Resoluções do Tribunal de Justiça. 

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Parágrafo Único ‑ V E T A D O 

Seção IVDos Vice‑Presidentes

 Art. 18 - Ao 1º Vice-Presidente incumbe: I ‑ substituir o Presidente, cumulativamente com suas atribuições próprias; II ‑ integrar o Órgão Especial e o Conselho da Magistratura; III ‑ distribuir, na forma da lei processual, os feitos de natureza cível de com-petência de órgão julgador de segunda instância; IV ‑ tomar parte nos julgamentos do Órgão Especial, sem as funções de re-lator ou revisor, salvo quando vinculado por vista ou distribuição anterior; V ‑ exercer as funções administrativas que lhe forem delegadas pelo Presi-dente; VI ‑ expedir atos normativos, avisos, circulares e ordens de serviço sobre ma-térias de sua competência. Art. 19 - Ao 2º Vice-Presidente incumbe: I - substituir o 1º Vice-Presidente, sem prejuízo de suas atribuições próprias; II - integrar o Órgão Especial e o Conselho da Magistratura; III - presidir as sessões da Seção Criminal; IV - tomar parte nos julgamentos do Órgão Especial, sem as funções de re-lator ou revisor, salvo quando vinculado por vista ou distribuição anterior; V - distribuir os feitos de natureza criminal, de competência de órgão julga-dor de segunda instância; VI - exercer o juízo de admissibilidade sobre os recursos ordinários constitu-cionais; VII - apreciar os pedidos de concessão de efeito suspensivo a recursos ordiná-rios, ainda não submetidos a juízo de admissibilidade; 

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VIII - exercer as funções administrativas que lhe forem delegadas pelo Pre-sidente; IX ‑ expedir atos normativos, avisos, circulares e ordens de serviço sobre ma-térias de sua competência. Art. 20 - Ao 3º Vice-Presidente incumbe: I - substituir o Corregedor-Geral da Justiça e o 2º Vice-Presidente, sem pre-juízo de suas atribuições próprias; II ‑ integrar o Órgão Especial e o Conselho da Magistratura; III - exercer as funções administrativas e judicantes que lhe forem delegadas pelo Presidente ou atribuídas pelo Regimento Interno; IV ‑ tomar parte nos julgamentos do Órgão Especial, sem as funções de re-lator ou revisor, salvo quando vinculado por vista, distribuição anterior ou competência regimental; V ‑ admitir, inadmitir, sobrestar, suspender, realizar o juízo de conformidade e indeferir o processamento dos recursos especiais e extraordinários interpos-tos para os Tribunais Superiores; VI ‑ processar o recurso interposto das decisões de inadmissão dos recursos especiais e extraordinários para os Tribunais Superiores; VII ‑ responder às reclamações a que se referem os artigos 102, I, alínea “l”, e 105, inciso I, alínea “f”, da Constituição Federal; VIII ‑ definir, no âmbito da competência do Tribunal de Justiça, os proce-dimentos relativos ao processamento dos recursos especiais e extraordinários repetitivos e de repercussão geral, inclusive com a criação de teses; IX‑ acompanhar o julgamento dos recursos paradigmas e representativos de controvérsia em trâmite perante os Tribunais Superiores; X ‑ determinar a remessa dos autos ao órgão julgador de origem, quando decidido o mérito dos recursos paradigmas, para as providências legais; XI - deferir ou indeferir os pedidos de concessão de eficácia suspensiva a re-cursos excepcionais, ainda não submetidos a juízo de admissibilidade; 

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XII - prestar informações solicitadas pelos Tribunais Superiores, em matéria jurisdicional, se referentes a processo em tramitação na 3ª Vice-Presidência; XIII - indicar ao Presidente do Tribunal os Juízes de Direito que exercerão auxílio temporário à 3ª Vice-Presidência; XIV ‑ expedir atos normativos, avisos, circulares e ordens de serviço sobre matérias de sua competência. 

Seção VDo Corregedor‑Geral da Justiça

 Art. 21 ‑ A Corregedoria Geral da Justiça, órgão de planejamento, supervi-são, coordenação, orientação, disciplina e fiscalização das atividades adminis-trativas e funcionais da Primeira Instância do Poder Judiciário e dos Serviços Notariais e Registrais, é exercida pelo Desembargador Corregedor-Geral da Justiça. Art. 22 - Ao Corregedor-Geral incumbe: I ‑ substituir o 3º Vice-Presidente, sem prejuízo de suas atribuições próprias; II ‑ dirigir as atividades administrativas da Corregedoria Geral; III – integrar o Órgão Especial e o Conselho da Magistratura; IV ‑ tomar parte nos julgamentos do Órgão Especial, sem as funções de rela-tor ou revisor, salvo quando vinculado por vista anterior; V ‑ instruir representação contra Juízes, por determinação do  Órgão Espe-cial; VI ‑ promover, de ofício ou mediante representação, investigação preliminar em face de magistrado de primeiro grau, determinando o seu arquivamento quando não configurada infração disciplinar ou ilícito penal; VII ‑  encaminhar ao Órgão Especial proposta de instauração de processo administrativo disciplinar em face de magistrado de primeiro grau; VIII ‑ conhecer de reclamações e representações contra órgãos e servidores lotados no primeiro grau de jurisdição e em sua secretaria, assim como nos serviços notariais e registrais; 

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112FGV dIReITO RIO

IX‑ praticar todos os atos referentes à lotação, designação, movimentação, concessão de férias e licenças dos servidores lotados no primeiro grau de ju-risdição e em sua secretaria; X ‑ superintender e, a seu critério, presidir a distribuição dos feitos nas Co-marcas da Capital e do Interior; XI ‑ prestar ao Tribunal de Justiça as informações devidas nas promoções, remoções e permutas de magistrados de primeiro grau; XII ‑ aplicar penas de advertência, repreensão, multa e suspensão aos servi-dores lotados no primeiro grau de jurisdição e em sua secretaria, bem como julgar os recursos das decisões dos chefes de serventias e dos Juízes de Direito que as aplicarem, sendo que em última instância quando se tratar de adver-tência, repreensão ou multa; XIII ‑ aplicar aos notários e registradores as penalidades legais, excetuada a perda da delegação; XIV ‑ expedir normas e determinar medidas de uniformização e padroni-zação dos serviços administrativos das Varas da Infância, da Juventude e do Idoso, dos Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, e dos Juizados dos Torcedores e Grandes Eventos, incluindo as instruções necessárias sobre o relacionamento desses Juízos com entidades e órgãos vin-culados às respectivas áreas de atuação; V ‑ fixar o número de colaboradores voluntários e proceder à sua designação, mediante indicação do Juiz de Direito competente na matéria da infância, da juventude e do idoso; XVI ‑ indicar ao Presidente os Juízes de Direito para as funções de Auxiliar da Corregedoria Geral da Justiça, de Coordenador de Centrais de Serviços Judiciais e de Dirigente de Núcleo Regional - NUR; XVII - apresentar, anualmente, relatório das atividades da  Corregedoria Ge-ral da Justiça no exercício anterior; XVIII - expedir atos normativos, atos reservados, avisos, circulares, convites, convocações, ordens de serviço e portarias sobre matérias de sua competência; XIX ‑ expedir atos de regulamentação do exercício da atividade correicional e adotar as providências para a realização da Correição Geral Anual, sem prejuízo de correições extraordinárias e especiais; 

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113FGV dIReITO RIO

XX ‑ designar e dispensar os ocupantes das funções gratificadas da Secretaria da Corregedoria Geral; XXI ‑ V E T A D O XXII ‑ V E T A D O Art. 23 - A Correição Geral, observado calendário organizado  pela Corre-gedoria Geral da Justiça, será realizada anualmente pelos Magistrados nas serventias a eles diretamente subordinadas, e, nas demais serventias, pelos Juízes especialmente designados pelo Corregedor- Geral da Justiça. 

Capítulo IIDo Tribunal Pleno

 Art. 24 - O Tribunal Pleno, órgão máximo da estrutura do Tribunal  de Jus-tiça, constituído por todos os Desembargadores ativos, tem sua competência definida na Constituição da República, na Constituição do Estado e no seu Regimento, podendo autoconvocar-se para deliberar sobre matérias que en-tenda estratégicas para a organização e o funcionamento do Poder Judiciário. § 1º ‑ Compete, exclusivamente, ao Tribunal Pleno:   I ‑ eleger os membros da Administração Superior do Tribunal de Justiça, na forma prevista no Regimento Interno; II ‑ eleger o Diretor-Geral da Escola da Magistratura do Estado do Rio de Janeiro; III - eleger doze membros do Órgão Especial e seus respectivos suplentes; IV ‑ eleger dois Desembargadores e dois Juízes de Direito, e seus respectivos suplentes, para integrarem o Tribunal Regional Eleitoral (TRE); V ‑ compor, na forma do art. 94 da Constituição da República, lista tríplice de membros do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes; VI ‑ compor, na forma do art. 120, § 1º, I da Constituição da República, lista tríplice de juristas a serem nomeados pelo Presidente da República para o Tribunal Regional Eleitoral. 

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114FGV dIReITO RIO

VII ‑ eleger cinco desembargadores para compor o Conselho da Magis-tratura. VIII ‑ decidir sobre criação, extinção, alteração ou modificação de com-petência dos órgãos julgadores de segundo grau. IX ‑ outras competências que lhe sejam atribuídas por norma regimental. § 2º ‑ O Tribunal Pleno será convocado pelo Presidente do Tribunal ou me-diante autoconvocação para deliberação sobre critérios de sua competência. § 3º ‑ A autoconvocação deverá ser formulada com indicação de pauta específica. § 4º ‑ O quórum mínimo para instalação do Tribunal Pleno será de 120 (cento e vinte) desembargadores, isto é dois terços dos cargos existentes. § 5º ‑ V E T A D O § 6º ‑ A eleição de integrantes da Administração Superior do Tribunal de Justiça, do Diretor-Geral da Escola de Magistratura, dos magistrados para integrar o Tribunal Regional Eleitoral e de candidatos para compor a lista tríplice para ingresso no Tribunal pelo quinto constitucional do Ministério Público e da Ordem dos Advogados do Brasil e de desembargadores para o Conselho da Magistratura será disciplinada no Regimento Interno. § 7º ‑ As eleições poderão ser realizadas mediante processo eletrônico. 

Seção IDos órgãos Julgadores de Segundo Grau Das disposições gerais

 Art. 25 - As competências dos órgãos julgadores de segundo grau do Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro serão definidas na Constituição Fede-ral, na Constituição do Estado, na Lei e no Regimento Interno. Art. 26 - São órgãos julgadores de segundo grau: I ‑ o Órgão Especial;   II ‑ as Seções Especializadas;   III ‑ as Câmaras.   

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115FGV dIReITO RIO

Seção IIDo Órgão Especial

 Art. 27 - O Órgão Especial do Tribunal de Justiça atua por delegação do Tribunal Pleno e é constituído de vinte e cinco desembargadores, sendo 13 (treze) vagas preenchidas por antiguidade e 12 (doze) por eleição. § 1º - Na composição do Órgão Especial serão adotados os seguintes critérios: I ‑ nas 13 (treze) vagas a serem preenchidas por antiguidade, três serão des-tinadas a desembargadores oriundos do quinto constitucional, sendo uma vaga para cada classe e a terceira preenchida de forma alternada; II ‑ nas vagas preenchidas por eleição, duas serão destinadas a desembargado-res oriundos do quinto constitucional, sendo uma para cada classe de origem. § 2º - A eleição para o Órgão Especial será realizada na forma prevista pelo Regimento Interno. § 3º - O Desembargador em exercício simultâneo no Órgão Especial e em Câmara terá, nesta, a distribuição reduzida em 1/3 (um terço). § 4º - A eleição para os suplentes do Órgão Especial será realizada de forma autônoma. § 5º - Se houver vacância na parte eleita do Órgão Especial, será realizada eleição no prazo de 30 (trinta) dias, devendo os eleitos completar o período de mandato dos seus respectivos antecessores. § 6º - Compete ao Órgão Especial, após a eleição do Presidente do Tribunal de Justiça, eleger os membros da Comissão de Regimento Interno e Comis-são de Legislação e Normas, na forma do Regimento Interno. § 7º - O acesso de Juízes de Direito de Entrância Especial  ao cargo de De-sembargador será decidido pelo Órgão Especial. 

Seção IIIDo Conselho da Magistratura

 Art. 28 ‑ Integram o Conselho da Magistratura o Presidente, o Corregedor--Geral da Justiça, os Vice-Presidentes e cinco Desembargadores que não fa-çam parte do Órgão Especial. 

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§ 1º ‑ O Conselho da Magistratura terá o Órgão Especial do Tribunal de Justiça como revisor de suas decisões em procedimentos originários, e seus atos internos serão regulados por regimento próprio. § 2º - Compete ao Conselho da Magistratura, dentre outras competências previstas em regimento próprio: a) dispor sobre a realização de concursos públicos para o provimento dos cargos de serventuário e para delegação de serviço notarial e de registro; b) julgar recursos administrativos contra atos administrativos proferidos pelo Presidente e pelo Corregedor-Geral; c) exercer atividades de controle, supervisão e fiscalização sobre órgãos que integram a estrutura do Poder Judiciário; d) dispor, de ofício ou por encaminhamento da Presidência, sobre questões inerentes ao planejamento estratégico do Poder Judiciário, excetuadas as ma-térias reservadas expressamente ao Órgão Especial. Art. 29 - Os Desembargadores integrantes do Conselho da Magistratura per-manecerão no desempenho da função judicante, e, ainda quando afastados do respectivo exercício, poderão exercer as funções do Conselho. 

Seção IVDas Seções Especializadas e Câmaras

 Art. 30 - O Tribunal de Justiça, por resolução do Tribunal  Pleno, poderá criar, trans-formar ou extinguir Seções especializadas, definindo suas respectivas competências. Art. 31 - O Tribunal de Justiça terá, no mínimo, trinta e cinco Câmaras com a principal atribuição de julgar os recursos interpostos contra as decisões dos órgãos julgadores de primeiro grau. § 1º ‑ O regimento interno do Tribunal de Justiça disporá sobre a denomina-ção, a composição, a competência e a forma de funcionamento das Câmaras. § 2º ‑ Cada Câmara terá, no mínimo, três desembargadores.   § 3º ‑ Os desembargadores que exercerem as funções de Gestor do Fundo Especial do Tribunal de Justiça e de Presidente da Mútua dos Magistrados terão reduzida em 1/3 (um terço) a distribuição de feitos nos respectivos órgãos julgadores. 

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117FGV dIReITO RIO

§ 4 ‑ O Órgão Especial poderá reduzir a distribuição de feitos aos desem-bargadores designados para presidir Comissões permanentes ou temporárias instituídas no Poder Judiciário do Estado do Rio de Janeiro. § 5º ‑ O desembargador Diretor-Geral da EMERJ e o magistrado Presi-dente da Associação de Magistrados do Estado do Rio de Janeiro poderão requerer afastamento, no todo ou em parte, de suas funções jurisdicionais pelo período do mandato.  

TÍTULO IVDos Tribunais e Juízes de primeira instância

 Capítulo I

Da composição da Justiça de primeira instância Art. 32 São órgãos judicantes de primeira instância:   I ‑ Tribunais do Júri;   II ‑ Juízos de Direito;   III ‑ Conselhos de Justiça Militar;   IV ‑ Juizados Especiais e suas Turmas Recursais;   V ‑ Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher;   VI ‑ Juizados do Torcedor e Grandes Eventos.   

Capítulo IIDos Tribunais do Júri

 Art. 33 - Os Tribunais do Júri têm competência para o julgamento dos cri-mes dolosos contra a vida e conexos.

Capítulo IIIDos Juízes de Direito

 Seção I

Disposições gerais Art. 34 - Aos juízes de direito incumbe:   

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I ‑ processar e julgar os feitos de sua competência;   II ‑ cumprir cartas precatórias;   III ‑ promover a gestão da serventia judicial e a fiscalização permanente de seus serviços, observando as rotinas administrativas estabelecidas pelo Tribu-nal de Justiça, zelando por sua eficiência e pelo cumprimento das determina-ções das autoridades judiciárias superiores; IV ‑ apurar as faltas e aplicar as penas disciplinares da sua competência aos servidores que lhes sejam subordinados, solicitando, quando for o caso, a intervenção da Corregedoria Geral da Justiça; V ‑ solicitar a transferência ou a remoção de servidor lotado no Juízo de sua titularidade; VI ‑ realizar as correições de sua competência, nos termos das instruções e determinações expedidas pela Corregedoria Geral da Justiça; VII ‑ decidir as reclamações contra atos praticados por serventuários, servido-res e auxiliares subordinados; VIII ‑ indicar o chefe e seu substituto de serventia do Juízo de que for titular ou daquele vago no qual esteja em exercício. IX ‑ exercer, por designação do Presidente do Tribunal de Justiça, funções de auxílio à Administração Superior do Tribunal de Justiça. Parágrafo Único - O Juiz de Direto não poderá atuar mais de quatro anos em funções de auxílio à Administração Superior do Tribunal de Justiça. Art. 35 - Ao Juiz de Direito, no exercício da direção de fórum, incumbe: I ‑ supervisionar os serviços de administração e a ordem interna do edifício ou nas dependências do fórum local, sem prejuízo da competência dos demais juízes; II ‑ exercer permanente fiscalização dos serviços comuns a diversas serventias judiciais; III ‑ apurar as faltas e aplicar as penas disciplinares da sua competência aos servidores que lhe sejam subordinados, solicitando, quando for o caso, a in-tervenção da Corregedoria Geral da Justiça; 

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119FGV dIReITO RIO

IV ‑ autorizar, mediante pedido justificado, a distribuição com atraso de atos notariais, bem como sua baixa e retificação, comunicando o fato, em 48 ho-ras, à Corregedoria Geral da Justiça; V ‑ exercer as demais atividades administrativas que lhe forem atribuídas em atos da Administração Judiciária Superior. Parágrafo Único - O juiz de direito designado para o exercício da direção de fórum não poderá desempenhá-la por mais de dois anos, salvo situações especiais nas quais o rodízio entre os juízes da Comarca não for possível. Art. 36 - Os juízes de direito titulares serão substituídos, nos casos de férias, licenças, afastamentos e vacância: I ‑ pelos juízes de direito das regiões judiciárias;   II ‑ em caso de necessidade, por outro juiz titular da mesma Comarca ou de Comarca próxima. Parágrafo Único - A substituição, nos casos de impedimento, suspeição e faltas ocasionais, far-se-á conforme tabela organizada pela Presidência do Tribunal de Justiça. 

Seção IIDos Juízes da Região Judiciária Especial

 Art. 37 - Os juízes de direito da Região Judiciária Especial exercerão as fun-ções de substituição e auxílio nas Comarcas de Entrância Especial, conforme designação da Presidência do Tribunal de Justiça. 

Seção IIIDos Juízes das demais Regiões Judiciárias

 Art. 38  - Os juízes regionais das demais regiões judiciárias exercerão as funções de substituição e auxílio nos Juízos existentes nas Comarcas corres-pondentes à sua região, conforme designação da Presidência do Tribunal de Justiça. Art. 39 - Os juízes com exercício na Primeira Região Judiciária funcionarão em substituição ou auxílio de juízes de direito de qualquer região, por desig-nação da Presidência do Tribunal de Justiça.

 

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Seção IVDo Auxílio e da Substituição

 Art. 40 - Nas Varas em que houver juiz de direito designado, a este caberá o exercício das funções de titular. Parágrafo Único - Nas Varas em que houver mais de um juiz de direito de-signado, o exercício provisório da titularidade caberá ao mais antigo dos juízes. Art. 41 - O juiz de direito designado como auxiliar terá as mesmas atribui-ções jurisdicionais do juiz de direito titular. § 1º ‑ Na falta de prévia estipulação de critérios, os feitos de numeração ím-par, em cada serventia, caberão ao juiz de direito titular, e os de numeração par, ao juiz de direito auxiliar. § 2º ‑ Não poderá ser atribuído ao juiz de direito auxiliar mais da metade dos feitos distribuídos à serventia judicial. 

Seção VDos Juízos de Direito do Cível

 Art. 42 - Os juízes de direito cíveis têm competência genérica  e plena na matéria de sua denominação, ressalvada a privativa de outros juízes, compe-tindo-lhes, ainda, cumprir cartas precatórias pertinentes à jurisdição cível. 

Seção VIDos Juízos de Direito de Família

 Art. 43 ‑ Compete aos juízes de direito em matéria de família:   I ‑ processar e julgar: a)  ações de nulidade e anulação de casamento, divórcio e as  demais relativas ao estado civil, bem como as fundadas em direitos e deveres dos cônjuges e companheiros, inclusive com relação aos filhos, ressalvadas as de competên-cia das varas da infância, da juventude e do idoso; b)   ações de investigação de paternidade, cumuladas, ou não,  com as de petição de herança; c)  ações de interdição, tutela ou emancipação de crianças e  adolescentes; 

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d) ações de alimentos fundadas em relação de direito de família,  inclusive quando o requerente for idoso, e as de posse e guarda de filhos menores, quer entre pais, quer entre estes e terceiros, assim como as de suspensão e perda do poder familiar, ressalvadas as de competência das varas da infância, da juventude e do idoso; e)  ações decorrentes de união estável hetero ou homo afetivas; f)  pedidos de adoção de maior de dezoito anos; g)  requerimentos de registro tardio de nascimento, na forma  da Lei de Re-gistros Públicos; h)  ações de indenização por dano moral decorrente de relações  familiares; i)  ações de extinção de condomínio de bem imóvel originado  de partilha em divórcio ou dissolução de união estável, entre ex-cônjugues ou ex-companheiros; II ‑ suprir o consentimento do cônjuge e, em qualquer caso,  o dos pais ou tutores, para o casamento dos filhos ou tutelados, ressalvada a competência das varas da infância, da juventude e do idoso; III ‑ praticar os atos de jurisdição voluntária necessários à  proteção da pessoa dos incapazes e à administração de seus bens, ressalvada a competência das varas da infância, da juventude e do idoso e de órfãos e sucessões; IV ‑ conceder aos pais, ou representantes de incapazes, nos  casos previstos em lei, autorização para a prática de atos dela dependentes; V ‑  processar e cumprir as precatórias pertinentes à matéria  de sua competência;  

Seção VIIDos Juízos de Direito de Fazenda Pública

 Art. 44  - Compete aos juízes de direito em matéria de interesse  da Fazenda Pública processar e julgar: I ‑ causas de interesse do estado e de município, ou de suas  autarquias, em-presas públicas e fundações públicas; II ‑ mandados de segurança quando a autoridade coatora for estadual ou muni-cipal, excetuadas as hipóteses de competência originária do Tribunal de Justiça; 

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III ‑ habeas data, quando o órgão ou entidade depositária da  informação for estadual ou municipal, excetuadas as hipóteses de competência originária do Tribunal de Justiça; IV ‑ mandado de injunção, quando a responsabilidade pela regulamentação do direito for de órgão estadual ou municipal, excetuadas as hipóteses de competência originária do Tribunal de Justiça; V ‑ ações de improbidade administrativa e populares que envolvam,  direta ou indiretamente, qualquer dos entes referidos no inciso I, além das sociedades de economia mista vinculadas ao estado e a município, bem como as ações civis públicas, ressalvado em relação a estas a competência das varas especializadas; VI ‑ causas em que for parte instituição de previdência social  federal e cujo objeto for benefício de natureza pecuniária, quando o segurado ou beneficiá-rio tiver domicílio na Comarca e esta não for sede de Vara Federal; VII ‑ justificações previdenciárias e assistenciais relativas a  servidores muni-cipais e estaduais; VIII ‑ processar e cumprir as precatórias pertinentes à matéria de sua competência. Parágrafo Único ‑ No caso do inciso II, considerar-se-á estadual  ou mu-nicipal a autoridade coatora se as consequências de ordem patrimonial do ato impugnado houverem de ser suportadas pelo estado, por município, ou entidades por eles controladas.  

Seção VIIIDos Juízos de Direito da Dívida Ativa

 Art. 45 - Compete aos juízes de direito em matéria de dívida  ativa processar e julgar: I - execuções fiscais e demais ações que lhes sejam correlatas; II - ações que versem sobre matéria tributária estadual ou municipal.  

Seção IXDos Juízos de Direito de Órfãos e Sucessões

 Art. 46  - Compete aos juízes de direito em matéria de órfãos  e sucessões: I ‑  processar e julgar:   

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a)    inventários, arrolamentos, requerimentos de alvará e outros  feitos que lhes sejam decorrentes; b)  causas de nulidade, anulação e execução de testamentos  e legados; c)   causas relativas à sucessão por morte, salvo as de petição  de herança, quando cumuladas com investigação de paternidade; d)  causas que envolvam bens vagos ou de ausentes e a herança  jacente, salvo as ações diretas contra a fazenda pública; e)  ações de prestações de contas de tutores, testamenteiros,  inventariantes e demais administradores sujeitos à sua jurisdição; f)  ações declaratórias de ausência;   II - abrir os testamentos cerrados e codicilos e decidir sobre a  aprovação dos testamentos particulares, ordenando, ou não, o registro, a inscrição e o cum-primento deles e dos testamentos públicos.  

Seção XDos Juízos de Direito em Matéria Acidentária

 Art. 47 - Os juízes de direito em matéria de acidente de trabalho  exercerão a competência deferida na legislação especial, bem como cumprir cartas pre-catórias pertinentes à sua jurisdição. 

Seção XIDos Juízos de Direito de Registros Públicos

 Art. 48 - Aos juízes de direito em matéria de registro público,  salvo o de registro civil das pessoas naturais, incumbe: I ‑  processar e julgar os feitos contenciosos e administrativos,  relativos aos registros públicos; II  - processar e decidir as dúvidas levantadas por notários e  oficiais de regis-tro público, ressalvado o cumprimento de ordem proferida por outro juiz; III ‑  processar e decidir as consultas formuladas, em casos  concretos, por notários e oficiais do registro público; 

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124FGV dIReITO RIO

IV ‑  processar e decidir as dúvidas e consultas de matéria  administrativa que versem sobre o valor de emolumentos e adicionais sobre ele incidentes, ouvido previamente o departamento técnico da Corregedoria Geral da Justiça, ficando os efeitos da decisão sujeitos ao referendo do Corregedor-Geral da Justiça; V ‑ processar e decidir os mandados de segurança impetrados  contra ato de registrador e notário; VI ‑ processar e decidir os pedidos de cancelamento de procuração;   VII - prover quanto à autenticação, inclusive por meios mecânicos, dos livros dos notários e oficiais de registro público, que ficarão sob sua ime-diata inspeção; VIII - determinar averbações, cancelamentos, retificações,  anotações e de-mais atos de jurisdição voluntária, relativos a registros públicos. § 1º - Excluem-se da competência definida neste artigo as  causas em que houver interesse da fazenda pública, bem como os processos administrativos originários de correições. § 2º ‑  As decisões proferidas no âmbito dos incisos II e III,  salvo as oriundas do art. 38, § 1º, da Lei estadual nº 3350/99, estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confirmadas pelo Conse-lho da Magistratura, que apreciará, também, os recursos voluntários. 

Seção XIIDos Juízos de Direito de Registro Civil

 Art. 49  - Compete aos juízes de direito em matéria de registro  civil de pes-soas naturais: I ‑ exercer as atribuições relativas ao registro civil, inclusive a celebração de casamentos; II ‑ conhecer da oposição de impedimentos matrimoniais e  demais contro-vérsias relativas à habilitação para casamento; III ‑ processar e julgar as justificações e os requerimentos de  retificações, anota-ções, averbações, autorizações de sepultamentos e cremações, cancelamentos e restabelecimentos dos respectivos assentos, excetuando-se os requerimentos de registro tardio de nascimento, na forma da Lei de Registros Públicos; 

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IV ‑ fiscalizar, no exercício de suas atividades, o cumprimento  das normas legais e regulamentares por parte dos registros civis das pessoas naturais, co-municando à Corregedoria Geral da Justiça qualquer irregularidade; V ‑ processar e cumprir as precatórias pertinentes à matéria de sua com-petência; VI ‑ processar e decidir as dúvidas levantadas pelos Oficiais  de Registro Ci-vil de Pessoas Naturais, com fundamento na Lei de Registros Públicos e no artigo 38, § 1º, da Lei estadual nº 3350/99; VII ‑ processar e decidir as consultas formuladas, em casos  concretos, por Oficiais de Registro Civil de Pessoas Naturais, vedada a formulação de con-sulta com caráter genérico ou normativo; VIII ‑ processar e decidir os mandados de segurança impetrados  contra atos dos Oficiais de Registro Civil; IX ‑ processar e decidir as dúvidas e consultas de matéria  administrativa que versem sobre o valor dos emolumentos e adicionais sobre elas inciden-tes, ouvido previamente o departamento técnico da Corregedoria Geral da Justiça, ficando os efeitos da decisão sujeitos ao referendo do Corregedor--Geral da Justiça. Parágrafo Único - As decisões proferidas com base nos incisos  VI e VII, salvo as oriundas do art. 38, § 1º, da Lei estadual nº 3350/99, estão sujeitas ao duplo grau de jurisdição, não produzindo efeito senão depois de confir-madas pelo Conselho da Magistratura, que apreciará, também, os recursos voluntários.  

Seção XIIIDos Juízos de Direito em Matéria Empresarial

 Art. 50 - Compete aos Juízes de Direito em matéria empresarial:   I ‑ processar e julgar:   a)  falências, recuperações judiciais e os processos que, por  força de lei, de-vam ter curso no juízo da falência ou da recuperação judicial; b)  execuções por quantia certa contra devedor insolvente,  bem como pedi-do de declaração de insolvência; 

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126FGV dIReITO RIO

c)  ações coletivas em matéria de direito do consumidor, ressalvadas  as que tratarem de matéria de competência exclusiva do Juizado do Torcedor e Grandes Eventos; d)    ações relativas a direito ambiental em que sociedade empresarial  for parte, à exceção daquelas em que for parte, ou interessado, ente público ou entidade da administração pública indireta; e)  as ações relativas ao direito societário, especialmente:   1 ‑ quando houver atividade fiscalizadora obrigatória da Comissão  de Valo-res Mobiliários; 2 ‑ quando envolvam dissolução de sociedades empresariais,  conflitos entre sócios cotistas ou de acionistas dessas sociedades, ou conflitos entre sócios e as sociedades de que participem; 3 ‑ liquidação de firma individual;   4 ‑ quando envolvam conflitos entre titulares de valores mobiliários  e a so-ciedade que os emitiu, ou conflitos sobre responsabilidade pessoal de acionis-ta controlador ou dos administradores de sociedade empresarial, ou, ainda, conflitos entre diretores, membros de conselhos ou de órgãos da administra-ção e a sociedade; f)  ações relativas a propriedade industrial, direito autoral e  nome comercial; g)  ações em que a Bolsa de Valores for parte ou interessada;   h ) ações relativas a direito marítimo, especialmente as de:   1. indenização por falta, extravio ou avarias, inclusive às relativas a sub-rogações; 2. apreensão de embarcações;   3. ratificações de protesto formado a bordo;   4. vistoria de cargas;   5. cobrança de frete e sobrestadia;   6. operações de salvamento, reboque, praticagem, remoção de destroços, avaria grossa; 

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7. lide relacionada a comissões, corretagens ou taxas de agenciamento de embarcação; i)  ações diretamente relacionadas às sentenças arbitrais e  que envolvam as matérias previstas neste artigo; j)  as ações diretamente relacionadas à recuperação de ativos  desviados de sociedades empresariais em razão de fraude e/ou lavagem de dinheiro; II ‑ cumprir precatórias pertinentes à matéria de sua competência.    

Seção XIVDos Juízos de Direito da Infância e da Juventude

 Art. 51  - Compete aos juízes de direito em matéria da infância  e da juventude: I ‑ processar, julgar e praticar todos os atos concernentes  aos direitos de crianças e adolescentes, nas situações previstas nas respectivas legislações; II ‑ conceder suprimento de idade para o casamento de adolescentes sob sua jurisdição; III ‑ fiscalizar e orientar instituições, programas, organizações  governamen-tais e não governamentais, bem como quaisquer outras entidades de atendi-mento à criança ou ao adolescente, com o fim de assegurar-lhes o funciona-mento eficiente e coibir irregularidades; IV ‑ conhecer de pedidos de registro civil de nascimento tardio  de criança e adolescente sob sua jurisdição, e regularizar seus registros no curso de proce-dimentos de sua competência; VI ‑ cumprir precatórias pertinentes à matéria de sua competência;   V ‑ orientar e fiscalizar a ação dos colaboradores voluntários  da infância e da juventude. Parágrafo Único  - Os colaboradores voluntários da infância  e da juventude serão designados pelo Corregedor-Geral da Justiça, sem ônus ao erário.  

Seção XIVDos Juízos de Direito do Idoso

 Art. 52 - Compete aos juízes de direito em matéria do idoso:   

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128FGV dIReITO RIO

I ‑ processar, julgar e praticar todos os atos concernentes  aos direitos dos idosos em situação de risco, na forma da lei; II - fiscalizar e orientar instituições, programas, organizações  governamen-tais e não governamentais, bem como quaisquer outras entidades de aten-dimento ao idoso, com o fim de assegurar-lhes o funcionamento eficiente e coibir irregularidades; III ‑ conhecer de pedidos de registro civil de nascimento tardio de idoso sob sua ju-risdição, e regularizar seus registros no curso de procedimentos de sua competência; IV ‑ orientar e fiscalizar a ação dos colaboradores voluntários  do idoso; V ‑ cumprir precatórias pertinentes à matéria de sua competência.   Parágrafo único ‑ Os colaboradores voluntários do idoso serão  designados pelo Corregedor-Geral da Justiça, sem ônus ao erário.  

Seção XVDos Juízes de Direito em Matéria Criminal

 Art. 53 - Os juízes de direito em matéria criminal têm competência  genérica e plena na matéria de sua denominação, incumbindo- lhes, ressalvada a com-petência das varas especializadas: I ‑ processar e julgar:   a)  as ações penais, inclusive aquelas tipificadas na legislação    recuperação judicial, extrajudicial e falência do empresário e da empresa, bem como a execução e respectivos incidentes, inclusive a reabilitação de condenados por sentenças ou acórdãos substitutivos nelas proferidas, ressalvada a competên-cia da Vara de Execuções Penais; b)  os habeas-corpus, habeas data e mandados de segurança,  em matéria de sua competência; II - expedir cartas de sentença ou boletins de informação cadastral,  confor-me preso ou foragido o condenado, e encaminhá-los à Vara de Execuções Penais após o trânsito em julgado da sentença ou acórdão, nos casos de me-dida de segurança de internação e pena privativa de liberdade, inclusive nas hipóteses de revogação de sursis, conversão de pena restritiva de direito em privativa de liberdade, ou conversão de tratamento ambulatorial em medida de segurança de internação; 

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129FGV dIReITO RIO

III - adotar o mesmo procedimento quando, no curso da execução,  venha a ser revogada a suspensão condicional ou ocorrer a conversão, em privativa de liberdade, de pena de outra natureza inicialmente imposta ao condenado. 

Seção XVIDos Juízes de Direito em Matéria de Execução Penal

 Art. 54   Aos juízes de direito da Vara de Execuções Penais,  com sede na Comarca da Capital e jurisdição em todo o território do estado, compete: I ‑ processar e julgar:   a)  a execução das penas privativas de liberdade e das medidas  de segurança detentivas que importem no recolhimento dos réus ou pacientes a estabele-cimento penal do estado; b)  a execução e os respectivos incidentes relativos às penas  restritivas de di-reito, multas, sursis e medida de segurança não detentivas, quando impostas pelas varas criminais da Comarca da Capital, observada a competência dos Juizados Especiais Criminais e dos Juizados de Violência Doméstica e Fami-liar Contra a Mulher; c)  a execução das penas restritivas de direito, de multas e  de prisão simples, bem como as de reclusão ou detenção em que for concedido o sursis, quando impostas pelos Juízos das Varas Criminais da Comarca da Capital, observada a competência dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; d)  habeas corpus e mandados de segurança contra atos das  autoridades admi-nistrativas incumbidas da execução das penas de reclusão e detenção e de medi-das de segurança detentivas, ressalvada a competência dos tribunais superiores; e)  reclamações quanto às faltas disciplinares a que alude a  SUBSEÇÃO II da Lei de Execução Penal, cabendo checar se foram assegurados o contraditório, ampla defesa e presunção da inocência para a imposição de sanções. II - cumprir as precatórias atinentes à matéria de sua competência;   III ‑ proceder à:   a)  inspeção dos estabelecimentos penais destinados à execução  das penas de reclu-são, detenção, das medidas de segurança, das casas de custódia e de qualquer outro estabelecimento penal destinado a presos provisórios, adotando, se for o caso, as providências indicadas nos incisos VII e VIII, do art. 66, da Lei de Execução Penal; 

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130FGV dIReITO RIO

b)  composição e instalação do Conselho da Comunidade.   § 1º ‑ Poderá o Juízo da Vara de Execuções Penais, em residindo  o condenado ou liberado condicional fora da Comarca da Capital, e mediante solicitação do interessado, deprecar a fiscalização do cumprimento da execução da pena privativa de liberdade em regime aberto, e das condições impostas para o livra-mento condicional, ao Juízo Criminal do local do domicílio do apenado. § 2º ‑  Aos Juízos das Varas Criminais das demais Comarcas  compete a execução das sentenças ou acórdãos substitutivos, nos casos de execução de penas de multa ou restritivas de direito, bem como nas hipóteses de suspen-são condicional da pena e medidas de segurança não detentivas, observada a competência dos Juizados Especiais Criminais e dos Juizados de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher. § 3º ‑ No curso da execução a que se refere o § 2º, a competência  para o prosseguimento da execução passará a ser do Juízo da Vara de Execuções Penais quando ocorrer causa superveniente que importe em recolhimento a estabelecimento penal de qualquer natureza ou a hospital de custódia e tratamento psiquiátrico. Art. 55 - Resolução do Órgão Especial disciplinará os procedimentos  que serão adotados na execução penal.  

Capítulo IVDos Conselhos de Justiça Militar

 Art. 56 - Ao juiz de direito e aos Conselhos de Justiça Militar  incumbe pro-cessar e julgar as causas de sua competência específica. Art. 57 - Como órgão de segunda instância da Justiça Militar  estadual fun-cionará o Tribunal de Justiça, ao qual caberá também decidir sobre a perda do posto e da patente de oficiais. Art. 58  - Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar  os policiais militares e bombeiros militares acusados dos crimes militares definidos em lei. Art. 59 ‑ O cargo de juiz auditor será exercido por juiz de  direito de entrân-cia especial. Art. 60 - Ao juiz auditor, além da competência prevista na  legislação aplicá-vel, compete: 

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131FGV dIReITO RIO

I ‑ presidir os Conselhos de Justiça e redigir as sentenças e decisões que profiram; II ‑ expedir todos os atos necessários ao cumprimento das  decisões dos Con-selhos ou no exercício de suas próprias funções; III ‑ decidir os habeas corpus, habeas data e mandados de  segurança em matéria de sua competência; IV ‑ processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos  contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares.  

Capítulo VDos Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher

  Art. 61 ‑ Compete aos juízes de direito em matéria de violência  doméstica e familiar contra a mulher: I ‑ processar e julgar as causas descritas na lei específica,  além da execução penal de suas sentenças ou acórdãos substitutivos, nos quais tenham sido im-postas penas de multa ou restritivas de direito, bem como nos casos de sursis ou medida de segurança não detentiva; II ‑ cumprir precatórias pertinentes à matéria de sua competência.    

Capítulo VIDo Juizado do Torcedor e Grandes Eventos

 Art. 62 - Compete ao Juizado do Torcedor e Grandes Eventos  processar e julgar os feitos criminais, aí incluídos os deferidos na Lei nº 9.099/95, bem como os cíveis, individuais ou coletivos, descritos na lei específica, além do cumprimento das precatórias pertinentes à matéria de sua competência e da execução de suas sentenças ou acórdãos substitutivos, nos quais tenham sido impostas penas de multa ou restritivas de direitos, e, ainda, quando suspensa a execução da pena ou determinada medida de segurança não detentiva.  

Capítulo VIIDos Juizados Especiais e suas Turmas Recursais

 Art. 63  - Integram o Sistema de Juizados Especiais os Juizados  Especiais Cí-veis, os Juizados Especiais Criminais, os Juizados Especiais da Fazenda Pública e respectivas Turmas Recursais, com a competência prevista na legislação federal. 

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132FGV dIReITO RIO

§ 1º ‑  As Turmas Recursais terão competência para o julgamento  de man-dados de segurança, habeas corpus e recursos das decisões proferidas pelos Juizados Especiais de todas as Comarcas do Estado do Rio de Janeiro, bem como de outras ações e recursos a que a lei lhes atribuir competência. § 2º ‑  Os juízes de direito integrantes da Turma Recursal e  seus suplentes serão escolhidos pelo Conselho da Magistratura, observada a alternância de antiguidade e merecimento, vedada a recondução. § 3º ‑  Compete aos Juizados Especiais Criminais processar e  julgar as cau-sas descritas na lei específica, além da execução penal de suas sentenças ou acórdãos substitutivos, nos quais tenham sido impostas penas de multa ou restritivas de direito, bem como nos casos de sursis ou medida de segurança não detentiva.  

Capítulo VIIIDos Juízes de Paz

 Art. 64 ‑ Em cada distrito e subdistrito das Comarcas do Interior  e em cada área de atuação dos Serviços do Registro Civil na Comarca da Capital, haverá um juiz de paz e até dois suplentes. §1º ‑ A impugnação à regularidade processual, a arguição de  impedimentos ou de quaisquer incidentes ou controvérsias relativos à habilitação para o casamento serão decididos pelo juiz de direito competente em matéria de Registro Civil. §2º ‑ Nos casos de falta, ausência ou impedimento do juiz de  paz e de seus suplentes, caberá ao juiz de direito com competência para o Registro Civil a nomeação de juiz de paz ad hoc. Art. 65 - Compete ao Conselho da Magistratura a regulamentação  sobre o funcionamento da Justiça de Paz no Estado, dispondo a respeito de direitos, deveres e penalidades aplicáveis aos juízes de paz e decidindo os casos omissos. Parágrafo Único - Até que seja disciplinado, por lei específica,  o proces-so de eleição mencionado no art. 98, inciso II, da Constituição Federal, o Conselho da Magistratura regulamentará o processo de escolha de juízes de paz, a serem designados por ato específico do Presidente do Tribunal de Justiça.  

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133FGV dIReITO RIO

Título VDas disposições finais e transitórias

 Art. 66 - Não haverá expediente nos órgãos do Poder Judiciário:   I ‑ aos sábados, domingos e no dia 8 de dezembro (Dia da  Justiça); II ‑  nos dias declarados como ponto facultativo nas repartições  públicas estaduais; III ‑ segunda, terça e quarta-feira da semana do carnaval;   IV ‑ quinta e sexta-feira da Semana Santa;   V ‑ em feriados nacionais, estaduais e municipais, nos municípios  sede das respectivas Comarcas. § 1º  - Os prazos processuais ficarão suspensos nos dias  compreendidos entre 20 de dezembro e 20 de janeiro, período em que não serão desig-nadas audiências e/ou sessões de julgamento, salvo casos de urgência, não havendo expediente no período compreendido entre 20 de dezembro e 06 de janeiro, inclusive. § 2º ‑ Os cartórios do Registro Civil das Pessoas Naturais  funcionarão dia-riamente, podendo fazê-lo em regime de meio expediente, das 9 às 12 horas, nos dias referidos neste artigo. § 3º ‑ O Presidente do Tribunal de Justiça divulgará escala  de plantão de magistrados para os dias e horários em que não houver expediente forense. Art. 67 - Por motivo de ordem pública, o Presidente do Tribunal  de Justiça poderá decretar o fechamento de fórum ou de qualquer dependência do servi-ço judiciário, bem como encerrar o expediente respectivo antes da hora legal. Art. 68 - Continuam em vigor a Resolução nº 05, de 24 de  março de 1977, e o Título III do Livro II da Resolução nº 01, de 21 de março de 1975, com as alterações posteriores, no que não conflitarem com a presente Lei ou até que sejam alterados por normas supervenientes. Art. 69  - Os acréscimos de competência de órgão judicial terão  eficácia imediata, salvo nos casos em que lei ou resolução preveja transformação ou extinção do órgão, caso em que somente terão eficácia após a vacância. 

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134FGV dIReITO RIO

Parágrafo Único - Na hipótese de transformação, extinção  ou desmem-bramento do órgão, bem como alteração de competência, a Presidência do Tribunal de Justiça e a Corregedoria Geral, nas segunda e primeira instân-cias, respectivamente, regularão a distribuição e a eventual redistribuição de processos. Art. 70 - O disposto no §1º do Artigo 66 entrará em vigor a  partir de 20 de dezembro de 2015, mantendo-se até então a regra da legislação anterior Art. 71 - Ficam mantidas as atuais denominações, competências  e compo-sição das Câmaras. Art. 72 - O Tribunal de Justiça, no prazo de 1 (um) ano adotará  e deflaga-rá as medidas necessárias para a consolidação da elevação das Comarcas de Cabo Frio, Itaboraí, Magé e Barra Mansa. Art. 73  - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação.  

 Rio de Janeiro, em 13 de janeiro de 2015.

   

LUIZ FERNANDO DE SOUZAGovernador

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135FGV dIReITO RIO

Façamos agora uma análise mais detalhadas sobre alguns órgãos do TJRJ.

A PRESIDÊNCIA

À Presidência compete um extenso rol de atividades administrativas e de atividades jurisdicionais, quando de julgamento no Órgão Especial, no Tri-bunal Pleno e no Conselho de Magistratura. Recebe o auxílio, em suas ativi-dades, por três vice-presidentes. Ao 1º vice-presidente compete a substituição do presidente quando se fizer necessário e a distribuição cível, além de outras funções. Ao 2º vice-presidente compete a substituição do 1º vice-presidente, a Presidência da Seção Criminal e a distribuição criminal, dentre outras fun-ções. Ao 3º vice-presidente compete a substituição do corregedor-geral de Justiça e o deferimento ou o indeferimento dos recursos especial e extraordi-nário, resolvendo-se os incidentes que se suscitarem.

A CORREGEDORIA-GERAL DE JUSTIÇA

É um órgão correcional. A correição consiste na inspeção dos serviços judiciários, para que sejam executados com regularidade, e no conhecimento de denúncias ou pedidos de providências. Compete à Corregedoria as fun-ções administrativas de disciplina e fiscalização de toda atividade administra-tiva da primeira instância do Tribunal de Justiça, bem como sobre todas as serventias extrajudiciais.

E o que são serventias extrajudiciais?São os Cartórios de Notas, os Tabelionatos, os Cartórios de Registro de Imó-

veis, Registros de Títulos de Documentos e Registro Civil das Pessoas Naturais.

O CONSELHO DE MAGISTRATURA.

O Conselho da Magistratura é integrado pelo presidente, vice-presi-dentes, corregedor-geral e cinco desembargadores que não façam parte do Órgão Especial, eleitos por este, em sessão pública e escrutínio secreto, para um mandato de dois anos. É o órgão censório do Tribunal de Justi-ça. Compete a ela conhecer as representações em face de magistrados. Os órgãos de segunda instância comunicarão ao Conselho da Magistratura os erros e irregularidades passíveis de sanções disciplinares, praticados por ma-gistrados. Qualquer pessoa poderá representar, por petição, ao Conselho da Magistratura, por abusos, erros ou omissões de magistrados, ou quaisquer auxiliares da Justiça.

42 TAVARes, André Ramos. Reforma do Judiciário no brasil pós-88. saraiva, 2005, p.49.

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136FGV dIReITO RIO

ESCOLA DA MAGISTRATURA ESTADUAL DO RIO DE JANEIRO (EMERJ)

Órgão integrante da estrutura administrativa do Tribunal de Justiça. Trata--se de uma escola de formação e aperfeiçoamento de magistrados. Tem tam-bém sob sua responsabilidade Curso de Preparação à carreira da Magistratura.

PRIMEIRO GRAU DE JURISDIÇÃO

Logo abaixo dos Tribunais de Justiça estão os juízes de Direito e o Tribu-nal do Júri, primeiro grau de jurisdição da Justiça Estadual.

O Tribunal do Júri

O Júri é instituição referida no Artigo 5º, XXVIII da Constituição Fe-deral, competente para o julgamento de crimes dolosos contra a vida, quais sejam, o homicídio, o infanticídio, o aborto e o induzimento, instigação ou auxílio ao suicídio. É um órgão colegiado especial. Seus julgamentos são pro-feridos por um colegiado e não monocraticamente. É especial porque em sua composição estão representantes do povo funcionando como jurados que, juntamente com o juiz de direito, decidirão o caso. A primeira fase do jul-gamento se perfaz perante o juiz togado e a segunda fase em Plenário, com julgamento pelos representantes do povo. No Rio de Janeiro há quatro Tri-bunais do Júri na Capital, designados por números ordinais, e um em cada uma das demais Comarcas.

Os Juízos de Direito

Os juízos de direito são órgãos monocráticos, compostos por um único juiz. Sua competência é determinada pelo Código de Organização e Divisão Judiciárias do Estado do Rio de Janeiro (CODJERJ). Os juízos são distri-buídos pelo território estadual, localizando-se em comarcas, que são as uni-dades em que se divide o território do Estado para efeito de administração da Justiça Estadual. A comarca não se confunde com município. Enquanto o município é uma unidade político-administrativa, a comarca é uma uni-dade judiciária, embora muitas vezes sejam equivalentes. Para a criação e a classificação das comarcas, serão considerados os números de habitantes e de eleitores; a receita tributária; o movimento forense e a extensão territorial dos municípios do Estado. No Estado do Rio de Janeiro, as comarcas são classifi-cadas em três entrâncias: especial, segunda e primeira entrâncias. A entrância é um grau de classificação administrativa das comarcas. Não há entre elas qualquer espécie de hierarquia.

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137FGV dIReITO RIO

A promoção dos juízes se dá de entrância em entrância até que, por anti-guidade ou merecimento, alternadamente, alcancem uma vaga no Tribunal de Justiça como desembargadores.

A comarca é o foro em que tem competência o juiz de primeiro grau. Em cada comarca poderá haver um ou mais juízos, ou seja, uma ou mais varas. Pode ocorrer de uma comarca possuir apenas uma vara. Na vara única todas as causas são decididas pelo mesmo juiz, independentemente da matéria. Quando uma comarca possui mais de uma vara, teremos varas especializadas em deter-minadas matérias conforme dispuser o Código de Organização Judiciária. Pode haver assim Vara Cível, Fazendária, Empresarial, Criminal, dentre outras.

Juízes de Paz

Em cada distrito e subdistrito das comarcas do interior e em cada circunscrição do Registro Civil, na comarca da capital, haverá um juiz de paz e dois suplentes.

O juiz de paz será competente, nos limites territoriais das respectivas ju-risdições para habilitar e celebrar casamentos. Neste sentido, dispõe o Artigo 98, II da Constituição Federal:

“Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão:II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos elei-tos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação.”

Apesar da Constituição Federal estabelecer eleição para o cargo, no Rio de Janeiro são nomeados pelo governador do Estado, mediante escolha em lista elaborada pelo presidente do Tribunal de Justiça, conforme dispõe o Artigo 158 do CODJERJ:

“Art. 159 - O Juiz de Paz será nomeado pelo Governador do Es-tado, para servir pelo prazo de quatro anos mediante escolha em lista tríplice organizada pelo presidente do Tribunal de Justiça.”

O exercício do cargo de juiz de paz constitui serviço público relevante, assegurará o direito a prisão especial em caso de crime comum, até definitivo julgamento e não causa impedimento para o exercício simultâneo de cargo público, não sendo, no entanto, computado para qualquer efeito, o tempo de serviço prestado nessa função.

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138FGV dIReITO RIO

Justiças Militares Estaduais

Quanto as Justiças Militares Estaduais, prevista no Artigo 125, §§3º, 4º e 5º da Constituição Federal, iremos estudá-las juntamente com a análise da Justiça Militar.

Juizados Especiais

A Constituição Federal, em seu artigo 98, previu a criação dos Juizados Especiais Estaduais, tendo a Lei nº 9.099/1995 regulamentado a matéria.

A estrutura da Lei que regula os Juizados Especiais se assenta em alguns pilares fundamentais:

Acessibilidade – descentralização da Justiça: expediente noturno; dispensa de assistência advocatícia nos juizados cíveis; dispensa em primeiro grau do pagamento de custas, taxas e despesas; obrigatoriedade de implantação de serviços de assistência judiciária.

Operosidade – equivalentes jurisdicionais como a conciliação e a arbi-tragem; juízes leigos; concentração e informalidade do procedimento; preo-cupação com os costumes e regras da vida da comunidade; afastamento da exigência de certeza, priorizando as possibilidades e probabilidades.

Utilidade – prioridade para a celeridade como forma de atingir a efetivi-dade do processo; oralidade, simplicidade, informalidade e economia proces-sual; execução no próprio Juizado; cominação de multa diária para garantir a utilidade da sentença (astreinte).

Proporcionalidade – possibilidade de citação de pessoa jurídica mediante a entrega de correspondência em mãos de recepcionista (mas a revelia só se produzirá se o contrário não resultar da convicção do juiz); sacrifício do di-reito de defesa com minimização de suas conseqüências.

Os Juizados Especiais são compostos por juízes de direito - chamados de juízes togados -, conciliadores, juízes leigos e Turmas Recursais. O juiz diri-girá o processo com liberdade para determinar as provas a serem produzidas, para apreciá-las e para dar especial valor às regras de experiência comum ou técnica. Os conciliadores e juízes leigos são auxiliares da Justiça, recrutados, os primeiros, preferentemente, entre os bacharéis em direito, e os segundos, entre advogados com mais de cinco anos de experiência.

Os Juizados Especiais Cíveis são responsáveis pela conciliação, processo e julgamento das causas cíveis de menor complexidade, assim consideradas as causas cujo valor não exceda a quarenta vezes o salário mínimo; as enumera-das no art. 275, inciso II, do Código de Processo Civil; a ação de despejo para uso próprio e as ações possessórias sobre bens imóveis de valor não excedente a quarenta salários mínimos.

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139FGV dIReITO RIO

Os Juizados Especiais Criminais são competentes para a conciliação, pro-cesso e julgamento das infrações penais de menor potencial ofensivo, assim consideradas as contravenções penais e os crimes a que a lei comine pena máxima não superior a dois anos, cumulada ou não com multa, respeitadas as regras de conexão e continência.

O processo perante o juizado especial orientar-se-á pelos critérios da oralidade, informalidade, economia processual e celeridade, objetivando, sempre que possível, a reparação dos danos sofridos pela vítima, a aplica-ção de pena não privativa de liberdade e a conciliação entre as partes. Da sentença proferida pelo juiz no âmbito do juizado especial, caberá recurso para o próprio juizado a ser dirimido pelas chamadas Turmas Recursais. Prevista no Artigo 41 e 82 da Lei 9.0099/95, a Turma Recursal é formada por três juízes no exercício do primeiro grau de jurisdição. Não se trata, portanto, de um tribunal.

Da mesma forma que nos Juizados Especiais Federais já estudados, a regulamentação dos juizados pugna pela conciliação prévia das partes, desejando-se, assim, que a demanda não prossiga em seus trâmites regula-res, antes seja solucionada na audiência de conciliação. Para tanto, valori-za a presença dos conciliadores e dos árbitros, que são os primeiros juízes da causa: examinam previamente o pedido, reúnem-se com as partes e, se possível, conseguem a conciliação, que será posteriormente submetida ao juiz togado.

No caso dos Juizados Especiais Criminais, verificada a ocorrência de infra-ção penal de menor potencial ofensivo pela autoridade policial, um simples termo circunstanciado substitui o inquérito policial, garantindo-se, assim, o exercício do princípio da oralidade.  Juntamente com a autuação sumária, deve a autoridade policial encaminhar o autor do fato e o ofendido ao jui-zado, cumprindo-lhe, ainda, diligenciar no sentido da realização dos exames periciais necessários. Caso não seja possível a realização imediata da audiência preliminar, o juiz designa outra data, saindo as partes intimadas.

A composição nos Juizados Criminais pode operar-se por meio da com-posição dos danos, em que o autor da infração supre o prejuízo patrimonial por ele causado à vítima, e da transação, proposta do Ministério Público de aceitação pelo autuado de pena não privativa de liberdade. É possível ainda que no momento do oferecimento da denúncia oral pelo Ministério Público seja feita a proposta de suspensão condicional do processo, pelo qual o acusa-do ficará submetido a um período de prova por dois a quatro anos.

Pelo exposto, induvidosamente, são duas as funções principais desempe-nhadas pelos Juizados Especiais Cíveis e Criminais. A primeira é relativa ao acesso ao Poder Judiciário; a segunda é, conseqüentemente, a de reverter o descrédito na Justiça ocasionado pela reconhecida morosidade no andamen-to dos processos.

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140FGV dIReITO RIO

A Lei 11.340, de agosto de 2006 criou mecanismos para coibir a violên-cia doméstica e familiar contra a mulher, nos termos do § 8o do art. 226 da Constituição Federal, da Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres e da Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher.

De acordo com o artigo 14, deve haver a criação de Juízos especializa-dos, denominados de “Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher”. Os Juizados, órgãos da Justiça Ordinária com competência cível e criminal, poderão ser criados pela União, no Distrito Federal e nos Territó-rios, e pelos Estados, para o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes da prática de violência doméstica e familiar contra a mulher.

No Estado do Rio de Janeiro, a Resolução 23/2006 do TJRJ alterou a denominação dos Juizados Especiais Criminais para Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e Especiais Criminais, incluindo em sua competência o processo e o julgamento dos fatos a que se refere a Lei nº 11.340/06.

Da mesma forma ocorreu com os Juizados Especiais Adjuntos Criminais, que passaram a ser denominados Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher e Especiais Adjuntos Criminais, mantendo, contudo, sua vinculação aos órgãos ao qual estavam subordinados.

Em atendimento ao disposto na Lei 11.340/2006, o Tribunal de Justiça Estadual já criou nove Juizados de Violência Doméstica, cinco na Comarca da Capital, um na Comarca de Nova Iguaçu, um na Comarca de Niterói, um na Comarca de Duque de Caxias e outro na Comarca de São Gonçalo.

TÓPICO PARA DISCUSSÃO:

A divisão de competência do TJRJ, com distinção entre matérias apenas de natureza penal e cível (Câmaras Criminais e Câmaras Cíveis) é melhor para o jurisdicionado do que aquela feita em outros tribunais (por exemplo TJ/SP e STJ)? A especialização de julgadores (Direito Público, Direito Pri-vado, Fazenda Pública, Criminal, etc) é benéfica para a celeridade da Justiça? Qual é a sua opinião? Prepare‑se para um debate sobre o tema.

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141FGV dIReITO RIO

AULAS 13 A 15: AS JUSTIÇAS ESPECIAIS INDIvIDUALIZADAS

1) JUSTIÇA MILITAR

A Justiça Militar também é conhecida como Justiça Castrense, em virtude do termo latino castrum (uma fortificação que servia de acampamento militar romano, tido como antecessor dos castelos medievais). Como já estudado, é uma Justiça especializada, administrada pela União, ao lado da Justiça do Trabalho e da Justiça Eleitoral.

Sua competência vem expressamente definida na Constituição Federal, nos artigos 122 a 124 e 125, parágrafo único, além da Lei nº 8457, de 1992, que organiza a Justiça Militar da União e regula o funcionamento de seus serviços auxiliares. Recentemente entrou em vigor a Lei nº 13.491/20117, que alterou o inciso II do Artigo 9º do Código Penal Militar e vem sendo objeto de intensa discussão nos meios forenses.

A Justiça Militar da União tem como órgãos de sua composição o Supe-rior Tribunal Militar, a Auditoria de Correição, o Conselho de Justiça, os Juízes-Auditores e os Juízes-Auditores Substitutos.

Para efeito de administração da Justiça Militar, o território nacional é dividido em Circunscrições Judiciárias Militares.

Atualmente são 12 Circunscrições e cada Circunscrição possui uma ou mais Auditorias da Justiça Militar:

Circunscrição da Justiça MilitarNúmero de Auditorias

1ª - Estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo 42ª - Estado de São Paulo 23ª - Estado do Rio Grande do Sul 34ª - Estado de Minas Gerais 15ª - Estados do Paraná e Santa Catarina 16ª - Estados da Bahia e Sergipe 1

7ª - Estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Paraíba e Alagoas 1

8ª - Estados do Pará, Amapá e Maranhão 19ª - Estados do Mato Grosso do Sul e Mato Grosso 110ª - Estados do Ceará e Piauí 111ª - Distrito Federal e Estados de Goiás e Tocantins 212ª - Estados do Amazonas, Acre, Roraima e Rondônia 1

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142FGV dIReITO RIO

As Auditorias são competentes para conhecer os feitos relativos à Mari-nha, Exército e Aeronáutica. Cada Auditoria tem um juiz-auditor e um juiz--auditor Substituto. Ambos são juízes togados, integrantes da Magistratura Militar, tendo nela ingressado após regular aprovação em concurso público de provas e títulos. O ingresso na carreira se dá no cargo de juiz-auditor subs-tituto, e, por meio de promoção, chega-se ao cargo de juiz-auditor.

A competência dos juízes–auditores vem definida no Artigo 30 da Lei nº 8457/1992:

“I - decidir sobre recebimento de denúncia, pedido de ar-quivamento, de devolução de inquérito e representação;II - relaxar, quando ilegal, em despacho fundamentado, a prisão que lhe for comunicada por autoridade encarregada de investigações policiais;III - manter ou relaxar prisão em flagrante, decretar, re-vogar e restabelecer a prisão preventiva de indiciado, me-diante despacho fundamentado em qualquer caso;IV - requisitar de autoridades civis e militares as providências necessárias ao andamento do feito e esclarecimento do fato;V - determinar a realização de exames, perícias, diligências e nomear peritos;VI - formular ao réu, ofendido ou testemunha suas perguntas e as requeridas pelos demais juízes, bem como as requeridas pelas partes para serem respondidas por ofendido ou testemunha;VII - relatar os processos nos Conselhos de Justiça e redigir, no prazo de oito dias, as sentenças e decisões;VIII - proceder ao sorteio dos conselhos, observado o dispos-to nos arts. 20 e 21 desta lei;IX - expedir alvará de soltura e mandados;X - decidir sobre o recebimento de recursos interpostos;XI - executar as sentenças, inclusive as proferidas em pro-cesso originário do Superior Tribunal Militar, na hipótese prevista no § 3° do art. 9° desta lei;XII - renovar, de seis em seis meses, diligências junto às au-toridades competentes, para captura de condenado;XIII - comunicar, à autoridade a que estiver subordinado o acusado, as decisões a ele relativas;XIV - decidir sobre livramento condicional;XV - revogar o benefício da suspensão condicional da pena;XVI - remeter à Corregedoria da Justiça Militar, no prazo de dez dias, os autos de inquéritos arquivados e processos julgados, quando não interpostos recursos;

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143FGV dIReITO RIO

XVII - encaminhar relatório ao Presidente do Tribunal, até o dia trinta de janeiro, dos trabalhos da Auditoria, re-lativos ao ano anterior;XVIII - instaurar procedimento administrativo quando ti-ver ciência de irregularidade praticada por servidor que lhe é subordinado;XIX - aplicar penas disciplinares aos servidores que lhe são subordinados;XX - dar posse, conceder licenças, férias e salário-família aos servidores da Auditoria;XXI - autorizar, na forma da lei, o pagamento de au-xílio-funeral de magistrado e dos servidores lotados na Auditoria;XXII - distribuir alternadamente, entre si e o Juiz-Auditor Substituto e, quando houver, o Substituto de Auditor está-vel, os efeitos aforados na Auditoria, obedecida a ordem de entrada;XXIII - cumprir as normas legais relativas às gestões ad-ministrativa, financeira e orçamentária e ao controle de material;XXIV - praticar os demais atos que lhe forem atribuídos em lei.”

Apesar do vasto rol de competências, não são responsáveis pelo julgamen-to dos crimes militares isoladamente. O primeiro grau de jurisdição da Jus-tiça Militar, fugindo à tradição do Poder Judiciário, é um órgão colegiado. Trata-se do Conselho de Justiça, composto pelo Conselho Especial de Justiça e pelo Conselho Permanente de Justiça. São eles responsáveis pelo processo e julgamento dos casos de competência da Justiça Militar da União, os crimes militares definidos em lei.

Em recente julgado, assim decidiu o Superior Tribunal de Justiça:

“CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. CONSTITUCIONAL E PENAL MILITAR. CORRELAÇÃO DA CONDUTA COM TIPOS PRE-VISTOS NO CÓDIGO PENAL MILITAR. AUTORES MILITARES E VÍ-TIMA BOMBEIRO MILITAR. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR.Os delitos previstos na denúncia, tipificados nos artigos 129, caput, 147 e 331, do Código Penal, possuem equivalência nos artigos 209, caput, 233 e 299 do Código Penal Militar, como exige o art. 124 da CF/88 para os processos de com-petência da Justiça Castrense.

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144FGV dIReITO RIO

A qualificação como crime militar encontra guarida na combinação do previsto na alínea ‘a’ do inciso II, do art. 9º, do CPM, que considera crime militar em tempo de paz, aquele que tiver sido, em tese, praticado ‘por militar em situação de atividade ou assemelhado, contra militar na mesma situação ou assemelhado’, com a definição de bombeiro como militar do art. 42 da CF/88.Conflito conhecido para declarar competente a Justiça Militar da União para processar e julgar o feito.”(Conflito de competência n.º 62.095‑RJ (2006/0008902-0), Ministro Re-lator Paulo Medina, julgado em 14 de março de 2007, DJ em 02/04/2007)

Em outro processo, tendo como acusado e vítima agentes militares, assim decidiu o STJ o conflito de competência entre a Justiça Comum e a Militar:

“PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO CULPOSO. POLICIAL MILITAR. VEÍCULO PARTICULAR. ACIDENTE DE TRÂNSITO FORA DO PERÍ-ODO DE CASERNA. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA COMUM.1. Cabe à Justiça Comum Estadual julgar homicídio decorrente de acidente au-tomobilístico em que o acusado e a vítima, embora agentes militares, não se encontravam em exercício militar.2. Ademais, diante de atividade de natureza individual e particular não se há por correto cogitar-se de atividade militar ratione materiae.(Precedentes).3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direto do Foro Distri-tal de Ipuã, da Comarca de São Joaquim da Barra, SP.”(Conflito de competência 26986 (1999/0070357-0), Ministro Relator Thereza de Assis Moura, julgado em 14 de março de 2007, DJ em 26/03/2007, p. 192)

E o que são crimes militares?

Os crimes julgados pela Justiça Militar da União estão definidos no Códi-go Penal Militar. De forma geral, em tempos de paz, eles podem ser definidos da seguinte forma:

• crimes militares contra o serviço militar e contra o dever militar;• crimes contra autoridade ou disciplina militar;• crimes contra militares;• crimes contra a administração e contra o patrimônio militar;• crimes cometidos em locais sob a administração militar;• crimes contra a segurança externa do país.

Com os crescentes índices de criminalidade, o perfil dos crimes julgados pela Justiça Militar da União foi ampliado. Antes, os casos de deserção, por exemplo, eram os mais comuns.

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Atualmente, é freqüente a tramitação, nas instâncias da Justiça Militar da União, de crimes como tráfico e uso de drogas, roubo de armas e estelionato, dentre outros.

Em decisão de 2007, o Supremo Tribunal Federal assim se manifestou a respeito da especialidade da legislação penal militar e da justiça castrense:

“EMENTA: HABEAS CORPUS. PENAL MILITAR E PROCESSUAL PE-NAL. CRIME DE PORTE DE SUBSTÂNCIA ENTORPECENTE PARA USO PRÓPRIO PREVISTO NA LEI N. 11.343/06: LEI MAIS BENÉFICA: NÃO-APLICAÇÃO EM LUGAR SUJEITO À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. ART. 290 DO CÓDIGO PENAL MILITAR. PRECEDENTES. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS INDEFERI-DO. 1. O art. 290 do Código Penal Militar não sofreu alteração pela superveni-ência da Lei n. 11.343/06, por não ser o critério adotado, na espécie, o da retroa-tividade da lei penal mais benéfica, mas, sim, o da especialidade. O fundamento constitucional do crime militar é o art. 124, parágrafo único, da Constituição da República: tratamento diferenciado do crime militar de posse de entorpecente, definido no art. 290 do Código Penal Militar. 2. Jurisprudência predominante do Supremo Tribunal Federal reverencia a especialidade da legislação penal militar e da justiça castrense, sem a submissão à legislação penal comum do crime militar devidamente caracterizado. Precedentes. 3. Habeas corpus indeferido.(HC 92462 / RS - RIO GRANDE DO SUL. HABEAS CORPUS. Relator(a):  Min. CÁRMEN LÚCIA. Julgamento:  23/10/2007. Órgão Julgador:  Primeira Turma)”

O Conselho Especial de Justiça é competente para o julgamento dos ofi-ciais43, sendo composto por um juiz-auditor, quatro juízes militares (leigos), sob a presidência de um oficial-general ou oficial-superior. Os juízes militares são escolhidos por sorteio dentre militares de posto superior ao do acusado, por respeito a hierarquia militar, prevista no Artigo 14 da Lei nº 6880/1980.

“Art. 14. A hierarquia e a disciplina são a base institucio-nal das Forças Armadas. A autoridade e a responsabilida-de crescem com o grau hierárquico. § 1º A hierarquia militar é a ordenação da autoridade, em níveis diferentes, dentro da estrutura das Forças Armadas. A ordenação se faz por postos ou graduações; dentro de um mesmo posto ou graduação se faz pela antigüidade no posto ou na graduação. O respeito à hierarquia é consubstancia-do no espírito de acatamento à seqüência de autoridade. “

Este conselho é constituído especialmente para cada processo, dissolven-do-se após a conclusão dos trabalhos.

43 A exceção feita a essa regra se refere aos oficiais generais, cujo processo e julgamento compete, originariamente, ao Superior Tribunal Militar, conforme dispõe o artigo 6º, I, a, Lei 8457/92.

43 A exceção feita a essa regra se refere aos oficiais generais, cujo processo e julgamento compete, originariamente, ao superior Tribunal Militar, conforme dispõe o artigo 6º, I, a, lei 8457/92.

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O Conselho Permanente de Justiça é competente para o julgamento dos praças, sendo composto por um juiz-auditor, um oficial superior que será o presidente, e três oficiais de posto até o capitão-tenente ou capitão. Este conselho é constituído para funcionar durante três meses, coincidindo com o trimestre do ano civil.

Esses dois conselhos podem se instalar e funcionar apenas com a maioria de seus integrantes, sendo indispensável somente a presença do juiz auditor e do presidente. De suas decisões caberá recurso ao Superior Tribunal Militar.

Na primeira instância podemos encontrar ainda a Auditoria de Correição. Trata-se de um órgão de fiscalização e orientação judiciário-administrativa, composto por um juiz-auditor corregedor, um diretor de secretaria e auxilia-res que trabalham com o objetivo de uniformizar procedimentos e corrigir eventuais equívocos cometidos nas auditorias militares.

TÓPICO PARA DEBATE

A LEI 13.491/17, AS OPERAÇÕES DAS FORÇAS ARMADAS NA GARANTIA DA LEI E DA ORDEM E A CONTROVÉRSIA INSTAU‑RADA NO MEIO JURÍDICO.

Recentemente, foi editada a Lei 13.491/17, que alterou a definição de crime militar, prevista no Art. 9º do Código Penal Militar.

Tal norma vem gerando grande discussão acerca de sua amplitude e efei-tos processuais e de competência para julgamentos. Confira:

LEI Nº 13.491, DE 13 DE OUTUBRO DE 2017.

Altera o Decreto-Lei no  1.001, de 21 deoutubro de 1969 - Código Penal Militar.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacio-nal decreta e eu sanciono a seguinte Lei: 

Art. 1o  O art. 9o do Decreto-Lei no 1.001, de 21 de outubro de 1969 - Código Penal Militar, passa a vigorar com as seguintes alterações:  

“Art. 9o ........................................................................................................................................................ 

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II – os crimes previstos neste Código e os previstos na legislação penal, quando praticados:

...................................................................................... 

§ 1º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e co-metidos por militares contra civil, serão da competência do Tribunal do Júri. 

§ 2º Os crimes de que trata este artigo, quando dolosos contra a vida e co-metidos por militares das Forças Armadas contra civil, serão da competência da Justiça Militar da União, se praticados no contexto:  

I – do cumprimento de atribuições que lhes forem estabelecidas pelo Pre-sidente da República ou pelo Ministro de Estado da Defesa;  

II – de ação que envolva a segurança de instituição militar ou de missão militar, mesmo que não beligerante; ou  

III – de atividade de natureza militar, de operação de paz, de garantia da lei e da ordem ou de atribuição subsidiária, realizadas em conformidade com o disposto no art. 142 da Constituição Federal e na forma dos seguintes diplomas legais:  

a) Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986 - Código Brasileiro de Aeronáutica;     

b) Lei Complementar no 97, de 9 de junho de 1999;       

c) Decreto-Lei no 1.002, de 21 de outubro de 1969 - Código de Processo Penal Militar; e       

d) Lei no 4.737, de 15 de julho de 1965 - Código Eleitoral. ”  (NR) 

Art. 2o  (VETADO). 

Art. 3o  Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. 

Brasília, 13 de  outubro  de 2017; 196o da Independência e 129o da República. 

MICHEL TEMER Raul Jungmann

Houve aparente alteração da definição de crime militar e consequente-mente do âmbito de incidência da Justiça Militar. Analise a discussão exis-tente sobre o tema. Prepare‑se para um debate sobre o tema

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148FGV dIReITO RIO

SUPERIOR TRIBUNAL MILITAR

Órgão de segundo grau de jurisdição, o Superior Tribunal de Justiça tem sede na Capital Federal e jurisdição em todo o território nacional.

É composto por 15 (quinze) ministros:• 3 (três) oficiais-generais da Marinha;• 4 (quatro) oficiais-generais do Exército;• 3 (três) oficiais-generais da Aeronáutica• 5 (cinco) civis, sendo 3 (três) advogados (de notório saber jurídico e

conduta ilibada, com mais de 10 anos de efetiva atividade profissional) e 2 (dois) por escolha paritária, dentre juízes-auditores e membros do Ministério Público Militar.

São todos nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal. A escolha do presidente é livre, não estando ele limitado a qualquer lista tríplice ou sêxtupla. O Superior Tribunal Militar tem competência originária e recursal. Sua competência originária veio definida no artigo 6º, I da Lei 8457/92:

“ I - processar e julgar originariamente:a) os oficiais generais das Forças Armadas, nos crimes militares definidos em lei; b) revogado;c) os pedidos de habeas corpus e habeas data, nos casos permitidos em lei;d) o mandado de segurança contra seus atos, os do Presidente do Tribunal e de outras autoridades da Justiça Militar;e) a revisão dos processos findos na Justiça Militar;f) a reclamação para preservar a integridade da competência ou assegurar a autoridade de seu julgado;g) os procedimentos administrativos para decretação da perda do cargo e da disponibilidade de seus membros e demais magis-trados da Justiça Militar, bem como para remoção, por moti-vo de interesse público, destes últimos, observado o Estatuto da Magistratura;h) a representação para decretação de indignidade de oficial ou sua incompatibilidade para com o oficialato;i) a representação formulada pelo Ministério Público Militar, Conselho de Justiça, Juiz-Auditor e advogado, no interesse da Justiça Militar;”

Já a competência recursal do Superior Tribunal Militar está fixada no artigo 6º, II da Lei 8457/1992:

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II - julgar: a) os embargos apostos às suas decisões; b) os pedidos de correição parcial;c) as apelações e os recursos de decisões dos juízes de primeiro grau;d) os incidentes processuais previstos em lei;e) os agravos regimentais e recursos contra despacho de relator, previstos em lei processual militar ou no regimento interno;f) os feitos originários dos Conselhos de Justificação;g) os conflitos de competência entre Conselhos de Justiça, entre Juízes-Auditores, ou entre estes e aqueles, bem como os de atribui-ção entre autoridades administrativa e judiciária militares;h) os pedidos de desaforamento;i) as questões administrativas e recursos interpostos contra atos administrativos praticados pelo Presidente do Tribunal;j) os recursos de penas disciplinares aplicadas pelo Presidente do Tribunal, Corregedor da Justiça Militar e Juiz-Auditor;”

Eventual recurso ordinário ou extraordinário de decisão proferida nas causas de competência originária será da competência do Supremo Tribunal Federal se ocorrerem as hipóteses dos incisos II e III do Artigo 102 da Cons-tituição Federal.

Eventualmente, será competente ainda a Justiça Militar da União para julgar civis. Isso ocorrerá nos casos de cometimento de crimes contra o patri-mônio e contra a administração militar e crimes contra militares no exercício de funções militares.

JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

Ao lado da Justiça Militar da União, a Constituição Federal prevê a possi-bilidade de criação da Justiça Militar Estadual. É possível a criação por meio de lei estadual ordinária, mediante proposta de iniciativa privada do Tribu-nal de Justiça Estadual.

A Justiça Militar Estadual é formada por juízes de direito e conselhos de Justiça, no primeiro grau de jurisdição, sendo o Tribunal de Justiça Estadual seu órgão de segundo grau. Nos estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil integrantes, é possível a criação do Tribunal de Justiça Militar, o segundo grau de jurisdição.

Compete aos juízes de direito no primeiro grau de jurisdição julgar, sin-gularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares.

Ao Conselho de Justiça, sob a presidência do juiz de direito, compete processar e julgar os demais crimes militares.

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150FGV dIReITO RIO

São dois os critérios, portanto:• ratione materiae – ocorrência de crime militar, ou seja, os assim defini-

dos de forma concentrada no Código Penal Militar;• ratione causae – qualidade do agente, que dever ser policial militar ou

bombeiro.

É o que já decidiu o Supremo Tribunal Federal:

“EMENTA: HABEAS CORPUS - CRIME COMETIDO POR CIVIL CONTRA O PATRIMÔNIO DA POLICIA MILITAR DO ESTADO - INCOMPETENCIA ABSOLUTA DA JUSTI-ÇA MILITAR ESTADUAL (CF, ART 125, PAR. 4.). - PRIN-CÍPIO DO JUIZ NATURAL - NULIDADE DOS ATOS DE-CISORIOS PROFERIDOS PELA JUSTIÇA MILITAR DO ESTADO - PEDIDO DEFERIDO. - A Justiça Militar estadual não dispõe de competência penal para processar e julgar civil que tenha sido denunciado pela pratica de crime contra a Policia Mi-litar do Estado. Qualquer tentativa de submeter os réus civis a procedimentos penais-persecutórios instaurados perante órgãos da Justiça Militar estadual representa, no contexto de nosso sistema jurídico, clara violação ao princípio constitucional do juiz natural (CF, art. 5., LIII). - A Constituição Federal, ao definir a compe-tência penal da Justiça Militar dos Estados-membros, delimitou o âmbito de incidência do seu exercício, impondo, para efeito de sua configuração, o concurso necessário de dois requisitos: um, de ordem objetiva (a pratica de crime militar definido em lei) e outro, de índole subjetiva (a qualificação do agente como policial militar ou como bombeiro militar). A competência constitucional da Justiça Militar estadual, portanto, sendo de direito estrito, estende-se, tão--somente, aos integrantes da Policia Militar ou dos Corpos de Bom-beiros Militares que hajam cometido delito de natureza militar44.”

Assim, não é competente a Justiça Militar Estadual para julgar crimes

comuns, ainda que praticado por militar estadual. Cabe ressaltar que não é só porque um militar praticou um crime comum que este vai se transformar automaticamente em crime militar.

Crimes militares são somente aqueles definidos no Código Penal Militar. Exemplo disso é o crime de abuso de autoridade que, por não estar previsto no Código Penal Militar, ainda quando praticado por militar, será julgado na Justiça comum. É o que dispõe a Súmula 192 do STJ “Compete à Justiça Comum processar e julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”

44 Hábeas Corpus n. 70604-SP, rel. Min. Celso de Mello, j. 10.05.1994, DJ 01.07.1994.

44 hábeas Corpus n. 70604-sP, rel. Min. Celso de Mello, j. 10.05.1994, dJ 01.07.1994.

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151FGV dIReITO RIO

Também não é competente a Justiça Militar Estadual para julgar crimes praticados por civil. A Justiça Militar Estadual só julga policial militar e bombeiro militar. Para finalizar o estudo sobre a Justiça Militar, devemos nos ater a uma última questão.

Por que órgão judicial serão julgados os crimes dolosos contra a vida previstos no Código Penal Militar (homicídio, instigação, induzimento ou auxílio ao suicídio e genocídio)?

Muita dúvida já surgiu em torno do tema. Compete ao Júri ou à Justiça Castrense? A Emenda Constitucional 45 de 2004 constitucionalizou a questão.

No Artigo 125, §4º, ao tratar da Justiça Militar Estadual, ressalvou a com-petência do júri, pelo que, hoje, crime doloso contra a vida praticado por militar contra civil deve ser julgado pelo júri. Não tem a Justiça Militar Esta-dual competência para processar e julgar tais crimes. Quanto a Justiça Militar da União, como a Constituição Federal não fez a mesma ressalva, aplica-se a Lei nº 9299/1996, cuja constitucionalidade já foi atestada pelo Supremo Tribunal Federal45 e que de igual forma excluiu da Justiça Castrense Federal a competência para julgar tais crimes.

A questão, portanto, se encontra uniformizada tanto na Justiça Militar Estadual, quanto da União, não tendo a Justiça Militar competência para julgar crimes dolosos contra a vida.

45 Recurso Extraordinário n. 260.404-MG, rel. Min. Moreira Alves, j. 22.03.2001.

45 Recurso extraordinário n. 260.404-MG, rel. Min. Moreira Alves, j. 22.03.2001.

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152FGV dIReITO RIO

O quadro abaixo é elucidativo:

JUSTIÇA MILITAR DA UNIÃO

JUSTIÇA MILITAR ESTADUAL

COMPETÊNCIA

Processa e julga os inte-grantes das Forças Arma-das (Marinha, Exército e Aeronáutica) acusados de crime militar, definido no Código Penal Militar. Diferentemente da Justiça Militar Estadual, a Justi-ça Militar da União pode julgar civis em casos espe-ciais.

Processa e julga os crimes militares e as ações ju-diciais contra atos disci-plinares praticados pelos oficiais e praças da Polí-cia Militar e do Corpo de Bombeiros, bem como os crimes cometidos por mi-litares da reserva e refor-mados, nos casos especi-ficados na legislação penal militar.

COMPOSIÇÃO

O Superior Tribunal Mi-litar, a mais alta corte da Justiça Militar, compõe--se de 15 ministros vi-talícios, nomeados pelo presidente da República, depois de aprovada a in-dicação pelo Senado Fe-deral. Três dos indicados dever ser oficiais-generais da Marinha, quatro, do Exército, e três, da Aero-náutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira. Os outros cinco indicados devem ser civis, 3 advogados e os outros 2, de forma paritária, dentre Juízes-Auditores e mem-bros do Ministério Públi-co Militar.

Juízes de Direito, com exercício nas varas da Jus-tiça Militar e nos Conse-lhos de Justiça (primeiro grau de jurisdição). Na segunda instância, é com-posto pelos Tribunais de Justiça Estaduais ou pelos Tribunais de Justiça Mi-litar, no caso dos estados em que o efetivo militar seja superior a 20 mil.

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TÓPICO PARA DEBATE

A Justiça Militar, que é o ramo do Judiciário mais antigo do país é necessá-ria em um Estado de Direito Contemporâneo? Prepare‑se para um debate.

2) JUSTIÇA DO TRABALHO

Prevista nos artigos 111 a 117 da Constituição Federal, com certeza este foi o ramo do Judiciário que mais profundamente sofreu alterações com a Emenda Constitucional 45 – Reforma do Judiciário – não só no que tange à sua composição mas também à sua competência. São órgãos da Justiça Trabalhista: o Tribunal Superior do Trabalho; os Tribunais Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho.

É uma das Justiças especializadas, ao lado da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral, sendo sua competência expressamente prevista na Constituição Federal. Antes de iniciarmos o estudo de cada órgão em separado, é im-portante ressaltar que a Emenda Constitucional nº 24, de 9 de dezembro de 1999, extinguiu a participação de juízes classistas na Justiça Trabalhista em todas as instâncias. Não há mais juízes classistas no Tribunal Superior do Trabalho ou no Tribunal Regional do Trabalho. No primeiro grau de jurisdição, o órgão colegiado denominado Junta de Conciliação e Julga-mento, transformou-se em Vara do Trabalho, cuja jurisdição é exercida por um só juiz singular.

TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO

O Tribunal Superior do Trabalho é o órgão de cúpula da Justiça do Tra-balho. Em sua composição estão 27 Ministros escolhidos da seguinte forma:

“Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor--se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:

I- um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Pú-blico do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercí-cio, observado o disposto no art. 94;

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154FGV dIReITO RIO

II- os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Tra-balho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. “

Aplica-se ao Tribunal Superior do Trabalho, como visto, a regra do quin-to constitucional, em respeito ao mandamento do Artigo 94 da Constitui-ção. O diferencial aqui é que em relação aos membros oriundos da magis-tratura de carreira, a Constituição Federal não faz menção a lista tríplice, sendo a indicação feita diretamente pelo Tribunal Superior do Trabalho ao Senado Federal. A nomeação dos membros se dará pelo presidente da Re-pública, após aprovação pela maioria do Senado Federal. Funcionarão junto ao Tribunal Superior do Trabalho a Escola de Formação e Aperfeiçoamento da Magistratura do Trabalho, cabendo-lhe regulamentar os cursos oficiais para o ingresso e promoção da carreira, e o Conselho Superior da Justiça do Trabalho, cabendo-lhe exercer a supervisão administrativa, orçamentária, financeira e patrimonial da Justiça Trabalhista em primeiro e segundo graus, como órgão central do sistema, cujas decisões terão efeito vinculante.

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155FGV dIReITO RIO

Em sua forma organizacional, o Tribunal Superior do Trabalho está dividido em:

ÓRGÃO COMPOSIÇÃO COMPETÊNCIA

PLENÁRIO

Totalidade dos Ministros do

TST, ou seja, 27 Ministros.

Dar posse à direção do Tribunal e dar posse aos Ministros do

Tribunal.

ÓRGÃO ESPECIAL11 Ministros mais

antigos do Tribunal.

Questões administrativas, argüições de inconstitucionalidade, mandados de segurança contra ato de Ministro do Tribunal e contra

ato do Presidente do TRT.

SEÇÃO ESPECIALIZADA EM DISSÍDIOS COLETIVOS

9 Ministros, dentre o presidente, o vice-presidente,

o corregedor e os seis ministros mais

antigos do Tribunal.

Julgam dissídios coletivos, embargos infringentes, recurso

ordinário, agravo de instrumento em recurso ordinário, agravo

regimental, mandado de segurança e recurso ordinário em mandado

de segurança, todos decorrentes de dissídios coletivos.

SEÇÃO ESPECIALIZADA

EM DISSÍDIOS INDIVIDUAIS

SBDI I

11 ministros, dentre o presidente, o

vice-presidente , o corregedor e 8

ministros integrantes das turmas. Quorum

de sete ministros para funcionar.

Julgamento de embargos de divergência e agravo regimental em

embargos.

SBDI II

9 ministros, dentre presidente, vice-presidente,

corregedor e cinco integrantes de

turmas.Quorum de cinco ministros para

funcionar

Ações rescisórias; mandados de segurança; agravos regimentais em ações rescisórias e em mandado de segurança; recursos ordinários em

agravos regimentais e mandados de segurança; agravos de instrumento

em recursos ordinários e em agravos regimentais e mandados

de segurança; conflitos de competência.

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156FGV dIReITO RIO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO

Previsto no Artigo 115 da Constituição Federal, o Tribunal Regional do Trabalho é órgão de segundo grau de jurisdição da Justiça Trabalhista.

Sua composição está prevista no Artigo 115 da seguinte forma:

“Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem--se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da Re-pública dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:

I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Pú-blico do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercí-cio, observado o disposto no art. 94;

II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antigüidade e merecimento, alternadamente.”

Aplica-se aos Tribunais Regionais do Trabalho, como visto, a regra do quinto constitucional, em respeito ao mandamento do Artigo 94 da Constituição. Duas importantes inovações prometem conferir à Justiça do Trabalho a celeridade e eficiência tão almejadas: a Justiça Itinerante (Art. 115, §1º) e a possibilidade de funcionar descentralizadamente por meio de Câmaras Regionais (Art. 115, §2º), ambas já estudadas na primeira aula de nosso curso. Os Tribunais Regionais do Trabalho funcionam em Plenário ou divididos em Turmas e Grupos de Turmas, dependendo exclusivamen-te do seu tamanho e das disposições do seu Regimento Interno.

O Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, por exemplo, está dividido em: Plenário (todos os desembargadores); Órgão Especial (13 desembargadores); Seções – são duas: uma seção especializada pelos dissídios coletivos e a outra seção especializada pelos dissídios individu-ais; e nove Turmas.

Funciona junto ao Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro, ainda, a Escola de Magistratura da Justiça do Trabalho no Estado do Rio de Janeiro – EMATRA-RJ - com as finalidades de preparação, formação, aper-feiçoamento e especialização dos magistrados do trabalho.

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157FGV dIReITO RIO

Hoje, no Brasil, existem 24 Tribunais Regionais do Trabalho, sendo o maior, em número de juízes, o de São Paulo, com 64 magistrados. Só Ama-pá, Roraima, Acre e Tocantins não possuem ainda Tribunal Regional em sua área territorial, pertencendo a tribunais situados em outros Estados.

Juízes do Trabalho

O primeiro grau de jurisdição da Justiça do Trabalho é composta por ju-ízes trabalhistas que ingressam na carreira mediante aprovação em concurso público de provas e títulos. Ingressam como juízes do trabalho substitutos e, por meio de promoção, por merecimento ou antiguidade, alternadamente, chegam a juízes do trabalho. Há ainda a possibilidade do jurisdicionado, do-miciliado em comarca não abrangida pela Justiça do Trabalho, ingressar em juízo junto à Justiça Estadual Comum, cujo juiz de direito terá competência para julgar a causa, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Tra-balho da Região46. Trata-se de um grande incentivo e implemento do acesso à Justiça na área trabalhista.

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

A competência da Justiça do Trabalho veio enumerada no Artigo 114 da Constituição Federal, que trazemos à colação:

“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II - as ações que envolvam exercício do direito de greve; III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data , quan-do o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição traba-lhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a , e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.”

46 “Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.”

46 “Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atri-buí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.”

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158FGV dIReITO RIO

No que se refere ao inciso I do Artigo 114 supra descrito, cabe men-cionar que o Supremo Tribunal Federal, conforme noticiado no Informati-vo 422, conferiu interpretação conforme à Constituição para suspender da competência da Justiça do Trabalho a apreciação de causas instauradas entre o Poder Público e os servidores a ele vinculados por típica relação de ordem estatutária ou de caráter jurídico-administrativo.

Já no que se refere ao inciso VI do mesmo Artigo, cabe ressaltar que a par-tir da Emenda Constitucional nº 45, de 30 de dezembro de 2004, as ações de indenização, inclusive por dano moral, com base em acidente de trabalho, proposta por empregado contra (ex)empregador, são da competência da Jus-tiça do Trabalho, conforme decisão do STF no CC 7204/MG47.

Cumpre-nos trazer à colação, recente julgado do Superior Tribunal de Justiça a respeito de conflito de competência entre a Justiça do Trabalho e a Justiça Estadual Comum (Vara Empresarial):

“Justiça Empresarial do Rio de Janeiro é competente para julgar as ques-tões da falência da Varig

Em decisão unânime, a Segunda Seção do Superior Tribunal de Justiça (STJ) reconheceu a competência do juiz da 1ª Vara Empresarial da Comarca do Rio de Janeiro para julgar as ações referentes à falência da Varig. A 1ª Vara sucedeu a 8º Vara Empresarial, que, por decisão liminar do próprio STJ, já estava proces-sando as ações da empresa.

O conflito de competência foi suscitado pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro porque as Justiças estadual e trabalhista declararam-se competen-tes para julgar a ação proposta na Justiça do Trabalho pelo Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA) e associações de comissários, mecânicos de vôo e pilotos da Varig e da Nordeste Linhas Aéreas. Na ação foi pedido o bloqueio dos US$ 75 milhões levantados com o leilão da Unidade Produtiva da Varig (UPV) como garantia de pagamento das ações trabalhistas.

Em seu voto, o ministro Ari Pargendler ressaltou que somente o Tribunal de Justiça estadual poderá rever a decisão judicial que livrou a empresa Aéreo Transportes Aéreos S/A – subsidiária da Varig Log e arrematante da Unidade Produtiva da Varig – de arcar com as despesas trabalhistas. O juiz da 8ª Vara Empresarial se recusou a cumprir a decisão do juiz da 33ª Vara do Trabalho, que havia determinado o bloqueio do dinheiro. O ministro Ari Pargendler res-saltou que tal exigência não constava no edital do leilão.

Caso seja mantida a decisão de primeiro grau, a empresa Aéreo Transportes Aéreos S/A poderá continuar a dispor do capital destinado ao plano de recupe-ração da empresa.”

47 Conflito de Competência 7204-MG, Pleno, rel. Min. Carlos Britto, j. 29.06.2005.

47 Conflito de Competência 7204-MG, Pleno, rel. Min. Carlos britto, j. 29.06.2005.

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159FGV dIReITO RIO

Por fim, recentemente, o STJ decidiu que esta justiça especializada tam-bém é competente para julgar ações relativas à representação sindical após a EC nº 45. O Ministro Humberto Martins destacou que, “após o advento da EC nº 45/2004, passou a justiça especializada a ser competente para julgar e processar os feitos que envolvam a cobrança de contribuição sindical prevista no artigo 578 da Constituição das Leis Trabalhistas (CLT), em ações propostas por sindicatos, federações ou confederações. O relator ressaltou que a única exceção é referente aos casos em que existiam sentenças proferidas anteriormente ao advento da EC nº 45/2004.”

CASO DE SEDIMENTAÇÃO

No dia 10 de dezembro de 2004, João sofreu um acidente enquanto tra-balhava. Tendo procurado ajuda, o diretor da empresa o encaminhou para a enfermaria, a qual aconselhou a remoção para o hospital mais próximo. A di-retoria, porém, não permitiu a saída de João, que ferido, foi obrigado a con-tinuar o seu turno de trabalho. Tendo em vista o ocorrido e estando ciente da Reforma do Judiciário (EC nº45/2004), no dia 28 de dezembro de 2004, João ingressa com uma ação de reparação de danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho na Justiça Trabalhista. O juiz trabalhis-ta, em primeiro grau extinguiu o feito por entender ser incompetente para o julgamento de referida ação. João, então, impetra embargos de declaração, alegando a existência de omissão e de contradição na sentença impugnada, porquanto essa interpretou o tema debatido - competência para o processo e julgamento de ação de reparação de danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente do trabalho - em desconformidade com o decido pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal no julgamento do CC 7.204/MG, Relator o Ministro Carlos Britto.

Pergunta‑se: Qual o Juízo competente para julgar a ação?

3) JUSTIÇA ELEITORAL

Prevista no Artigo 92, V da Constituição Federal, a Justiça Eleitoral é mais um órgão do Poder Judiciário. É uma justiça especializada, ao lado da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, pertencente também ao ramo da Justiça da União. São órgãos da Justiça Eleitoral: o Tribunal Superior Eleitoral; os Tribunais Regionais Eleitorais; os Juízes Eleitorais e as Juntas Eleitorais. Trata-se de uma justiça sui generis tendo em vista sua total compo-sição por membros integrantes de outros órgãos judiciários. Não há ingresso diretamente na carreira da magistratura eleitoral.

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160FGV dIReITO RIO

O Artigo 121 da Constituição Federal exige Lei Complementar para dis-por sobre a organização e competência dos Tribunais, Juízes de Direito e Juntas Eleitorais. Como o Código Eleitoral que disciplina esta matéria é lei ordinária e datada de 1965 – Lei nº 4737 – procedeu-se à chamada recepção da referida Lei pela Constituição de 1988, como se Lei Complementar fos-se48. Para melhor organização, o território nacional foi dividido em circuns-crições eleitorais. Cada Estado e o Distrito Federal constituem uma circuns-crição. A circunscrição, por sua vez, é dividida em zonas eleitorais. Passemos agora ao estudo estratificado de cada órgão.

TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL

O Tribunal Superior Eleitoral é o órgão máximo da estrutura da Justiça Eleitoral. É o ápice da estrutura. É composto por sete membros: três juízes dentre os ministros do Supremo Tribunal Federal, eleitos por voto secreto; dois juízes dentre os ministros do Superior Tribunal de Justiça, eleitos por voto secreto; dois juízes, dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal e nomeados pelo presidente da República.

Como se pode ver, não se aplica aqui a regra do quinto constitucional, até porque a própria Constituição já determinou uma composição bastante mista para o Tribunal.

A Constituição, no Artigo 119, II, fez somente duas exigências para os advogados indicados: notável saber jurídico e idoneidade moral.

O Supremo Tribunal Federal, porém, julgando a questão em âmbito do Tribunal Regional Eleitoral, decidiu ser também exigível 10 anos de efetivo exercício da atividade profissional. A Constituição Federal se omitiu quanto a este requisito somente quando tratou da Justiça Eleitoral. Assim é cons-titucional tal exigência e este entendimento deve ser também aplicado ao Tribunal Superior Eleitoral.

A Constituição Federal faz uma limitação temporal ao exercício do cargo de ministro do Tribunal Superior Eleitoral. Eles servirão por dois anos, no mínimo, e nunca por mais de dois biênios consecutivos49.

E porque isso?Alexandre de Moraes50 traz a resposta, afirmando que o objetivo é a pre-

servação da imparcialidade do Judiciário e o afastamento das ingerências po-líticas nos Tribunais Eleitorais. Como Tribunal Superior, possui competên-cias originárias e recursais determinadas no Código Eleitoral:

48 A matéria relativa à organização dos tribunais eleitorais, disciplinada no Código Eleitoral, foi recepcionada, com forca de Lei Complementar, pela vigente Constituição, firmando-se a jurisprudência do Tribunal Superior Eleitoral, outrossim, no sentido de que os parágrafos do art. 25 do Código Eleitoral não foram revogados pela Lei 7.191/84 (Resoluções 12.391 e 18.318). (Recurso Especial Eleitoral n. 12641-TO, rel. Min. Paulo Roberto Saraiva da Costa Leite, j. 29.02.1996.)49 Artigo 121, 2º da CF.50 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. P. 547.

48 A matéria relativa à organização dos tribunais eleitorais, disciplinada no Código eleitoral, foi recepcionada, com forca de lei Complementar, pela vigente Constituição, firmando-se a jurisprudência do Tribunal superior eleitoral, outrossim, no sentido de que os parágrafos do art. 25 do Código eleitoral não foram revogados pela lei 7.191/84 (Resoluções 12.391 e 18.318). (Recurso especial eleitoral n. 12641-TO, rel. Min. Paulo Roberto saraiva da Costa leite, j. 29.02.1996.)

49 Artigo 121, 2º da CF.

50 MORAes, Alexandre de. direito Cons-titucional. P. 547.

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161FGV dIReITO RIO

“Art. 22. Compete ao Tribunal Superior:I - Processar e julgar originariamente:a) o registro e a cassação de registro de partidos políticos, dos seus diretórios nacionais e de candidatos à Presidência e vice-presidência da República;b) os conflitos de jurisdição entre Tribunais Regionais e ju-ízes eleitorais de Estados diferentes;c) a suspeição ou impedimento aos seus membros, ao Procu-rador Geral e aos funcionários da sua Secretaria;d) os crimes eleitorais e os comuns que lhes forem conexos cometidos pelos seus próprios juízes e pelos juízes dos Tri-bunais Regionais;e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em matéria elei-toral, relativos a atos do Presidente da República, dos Minis-tros de Estado e dos Tribunais Regionais; ou, ainda, o habeas corpus, quando houver perigo de se consumar a violência an-tes que o juiz competente possa prover sobre a impetração;f) as reclamações relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto à sua contabilidade e à apura-ção da origem dos seus recursos;g) as impugnações á apuração do resultado geral, procla-mação dos eleitos e expedição de diploma na eleição de Pre-sidente e Vice-Presidente da República;h) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos nos Tribunais Regionais dentro de trinta dias da conclusão ao relator, formulados por partido, candidato, Ministério Pú-blico ou parte legitimamente interessada. i) as reclamações contra os seus próprios juízes que, no pra-zo de trinta dias a contar da conclusão, não houverem jul-gado os feitos a eles distribuídos. j) a ação rescisória, nos casos de inelegibilidade, desde que intentada dentro de cento e vinte dias de decisão irrecorrí-vel, possibilitando-se o exercício do mandato eletivo até o seu trânsito em julgado.

II - julgar os recursos interpostos das decisões dos Tribunais Regionais nos termos do Art. 276 inclusive os que versarem matéria administrativa.”

As decisões proferidas pelo Tribunal Superior Eleitoral são irrecorríveis, salvo as

que declararem a invalidade de lei ou ato contrário à Constituição Federal e as de-negatórias de “habeas corpus” ou mandado de segurança, das quais caberá recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, interposto no prazo de 3 (três) dias51.

51 Artigo 22, parágrafo único c/c Artigo 281, ambos do Código Eleitoral.

51 Artigo 22, parágrafo único c/c Artigo 281, ambos do Código eleitoral.

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162FGV dIReITO RIO

Tribunal Regional Eleitoral

Logo abaixo do Tribunal Superior Eleitoral estão os Tribunais Regionais Eleitorais, órgãos de segundo grau de jurisdição. Existe um tribunal regio-nal na capital de cada Estado e um no Distrito Federal. Sua composição é de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça, escolhidos mediante eleição, pelo voto secreto do respectivo Órgão Especial; dois juízes de direito, escolhidos entre os magistrados estaduais, mediante eleição, pelo voto secreto; um juiz do Tribunal Regional Federal respectivo, ou, não ha-vendo, um juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo aludido Tribunal Regional Federal; dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça, por nomeação do presidente da República.

O Tribunal Regional Eleitoral não é fracionado organicamente, sendo suas decisões proferidas por maioria de votos, em sessão pública, colegiadamente52.

Competência

Os Tribunais Regionais Eleitorais também possuem competência originá-ria e recursal previstas no Código Eleitoral:

“Art. 29. Compete aos Tribunais Regionais:I - processar e julgar originariamente:a) o registro e o cancelamento do registro dos diretórios es-taduais e municipais de partidos políticos, bem como de candidatos a Governador, Vice-Governadores, e membro do Congresso Nacional e das Assembléias Legislativas;b) os conflitos de jurisdição entre juizes eleitorais do res-pectivo Estado;c) a suspeição ou impedimentos aos seus membros ao Pro-curador Regional e aos funcionários da sua Secretaria as-sim como aos juizes e escrivães eleitorais;d) os crimes eleitorais cometidos pelos juizes eleitorais;e) o habeas corpus ou mandado de segurança, em matéria eleitoral, contra ato de autoridades que respondam peran-te os Tribunais de Justiça por crime de responsabilidade e, em grau de recurso, os denegados ou concedidos pelos juizes eleitorais; ou, ainda, o habeas corpus quando houver peri-go de se consumar a violência antes que o juiz competente possa prover sobre a impetração;

52 Artigo 28 do Código Eleitoral.

52 Artigo 28 do Código eleitoral.

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163FGV dIReITO RIO

f) as reclamações relativas a obrigações impostas por lei aos partidos políticos, quanto a sua contabilidade e à apuração da origem dos seus recursos;g) os pedidos de desaforamento dos feitos não decididos pelos juizes eleitorais em trinta dias da sua conclusão para julgamento, formulados por partido candidato Mi-nistério Público ou parte legitimamente interessada sem prejuízo das sanções decorrentes do excesso de prazo.

II - julgar os recursos interpostos:

a) dos atos e das decisões proferidas pelos juizes e juntas eleitorais.b) das decisões dos juizes eleitorais que concederem ou de-negarem habeas corpus ou mandado de segurança.”

As decisões do Tribunal Regional Eleitoral são irrecorríveis, salvo quan-do forem proferidas contra disposição expressa da Constituição ou de lei; ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais tribunais eleitorais; versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; denegarem “habeas-corpus”, mandado de segurança, “habeas-data” ou mandado de injunção, quando então será cabível recurso ao Tribunal Superior Eleitoral53. Ressalve-se, por oportuno, que não cabe recurso direto do Tribunal Regional Eleitoral ao Supremo Tribunal Federal, conforme já decidido pelo STF54.

Juízes Eleitorais e Juntas Eleitorais

Abaixo do Tribunal Regional Eleitoral na estrutura orgânica da Justiça Eleitoral estão os juízes eleitorais e as juntas eleitorais. Quem exerce as fun-ções de juiz eleitoral é um juiz de direito estadual, conforme determina o Artigo 11 da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – a LOMAN.

Quando, na comarca, houver mais de uma vara da Justiça Estadual, é o

Tribunal Regional Eleitoral quem designa a qual incumbe o serviço eleito-ral55, consoante critérios estabelecidos nas Resoluções do TSE nº 20505/1999 e nº 21009/2002 e mediante aspectos objetivos de rodízio e antiguidade. Os juízes eleitorais exercem jurisdição nas zonas eleitorais, conforme o Artigo 35 do Código Eleitoral.

53 Artigo 121, §4º da Constituição Federal.54 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. 164491-6-MG, 1ª Turma, rel. Min. Sydney Sanches, j. 18.12.1995, DJ 22.03.1996.55 Artigo 32, parágrafo único do Código Eleitoral.

53 Artigo 121, §4º da Constituição Federal.

54 Agravo Regimental no Agravo de Instrumento n. 164491-6-MG, 1ª Turma, rel. Min. sydney sanches, j. 18.12.1995, dJ 22.03.1996.

55 Artigo 32, parágrafo único do Código eleitoral.

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164FGV dIReITO RIO

Juntas Eleitorais

As Juntas Eleitorais são órgãos da Justiça Eleitoral competentes para apu-rar as eleições; resolver impugnações e incidentes durante a apuração dos votos, expedir boletins de urnas; e diploma de candidatos eleitos (no caso de eleições municipais).56 São compostas por um juiz de direito e de dois a qua-tro membros escolhidos pelo Tribunal Regional Eleitoral dentre cidadãos de notória idoneidade, que exercem funções de juízes de fato. O voto de cada um dos componentes da turma tem o mesmo valor.

LEITURAS COMPLEMENTARES

Tribunal do Júri na Justiça Militar Estadual. Fernando A. N. Galvão da Rocha. Artigo disponível no site: http://www.tjm.mg.gov.br > artigos.

Prefeitos e Deputados Estaduais e a competência para o processamento e julgamento nos crimes militares. Ricardo Henrique Alves Giuliani. Artigo Publicado na Revista de Estudos e Informações da Justiça Militar do Estado de Minas Gerais nº 21. Disponível no site: http://www.tjm.mg.gov.br.

JURISPRUDÊNCIA

ADI: Composição e Competência da Justiça Militar

O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta ajui-zada pelo Procurador-Geral da República para declarar a inconstituciona-lidade dos §§ 1º e 3º do art. 57, bem como do art. 58, da Constituição do Estado de Goiás, que dispõem sobre a composição e a competência da Justiça Militar daquela unidade federativa. Entendeu-se que os dispositi-vos impugnados ofendem o art. 125, § 3º, da CF, que atribui à lei ordi-nária, cuja iniciativa é reservada ao Tribunal de Justiça local, a criação da Justiça Militar estadual. Precedente citado: ADI 725/RS (DJU de 4.9.98). ADI 471/GO, rel. Min. Eros Grau, 3.4.2008. (ADI-471) - Informativo 500

Indenização por Danos Decorrentes de Acidente do Trabalho: Competência

As ações de indenização propostas por empregado contra empregador, fundadas em acidente do trabalho, são da competência da justiça do traba-lho. Com base nesse entendimento, que altera a jurisprudência consolidada pelo Supremo no sentido de que a competência para julgamento dessa ma-téria seria da justiça comum estadual, por força do disposto no art. 109, I,

56 Artigos 40 e 41 do Código Eleitoral.

56 Artigos 40 e 41 do Código eleitoral.

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165FGV dIReITO RIO

da CF, o Plenário, em Conflito de Competência suscitado pelo TST - Tribu-nal Superior do Trabalho em face do extinto Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais, conheceu da ação e determinou a remessa do feito à Corte suscitante. Entendeu-se que não se pode extrair do referido dispositivo a nor-ma de competência relativa às ações propostas por empregado contra empre-gador em que se pretenda o ressarcimento por danos decorrentes de acidente de trabalho. Esclareceu-se que, nos termos da segunda parte do inciso I do art. 109 da CF, excluem-se, da regra geral contida na primeira parte - que define a competência dos juízes federais em razão da pessoa que integra a lide - as causas de acidente do trabalho em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas, na condição de autora, ré, as-sistente ou oponente (CF: “Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou opo-nentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;”). Afirmou-se que referidas causas consis-tem nas ações acidentárias propostas pelo segurado contra o INSS, nas quais se discute controvérsia acerca de benefício previdenciário, e que passaram a ser da competência da justiça comum pelo critério residual de distribuição de competência (Enunciado da Súmula 501 do STF). Não se encaixariam, portanto, em nenhuma das partes do mencionado dispositivo as ações repa-radoras de danos oriundos de acidente do trabalho, quando ajuizadas pelo empregado contra o seu empregador, e não contra o INSS, em razão de não existir, nesse caso, interesse da União, de entidade autárquica ou de empresa pública federal, exceto na hipótese de uma delas ser empregadora. Concluiu--se, destarte, ressaltando ser o acidente de trabalho fato inerente à relação empregatícia, que a competência para julgamento dessas ações há de ser da justiça do trabalho, a qual cabe conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, e outras controvérsias decor-rentes daquela relação. Asseverou-se que tal entendimento veio a ser aclarado com a nova redação dada ao art. 114 da CF, pela EC 45/2004, especialmente com a inclusão do inciso VI (“Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho pro-cessar e julgar:... VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;”). Acrescentou-se, ainda, que o direito à indenização em caso de acidente de trabalho, quando o empregador incorrer em dolo ou culpa, está enumerado no art. 7º da CF como autêntico direito trabalhista, cuja tutela, deve ser, por isso, da justiça especial. Fixou-se, como marco temporal da competência da justiça laboral, a edição da EC 45/2004, por razões de política judiciária. Vencido, no ponto, o Min. Marco Aurélio, que estabelecia o termo inicial dessa competência a partir da redação original do art. 114 da CF. CC 7204/MG, rel. Min. Carlos Britto, 29.6.2005. (CC-7204) Informativo 394)

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166FGV dIReITO RIO

AULAS 16 A 18: O MINISTÉRIO PÚBLICO BRASILEIRO

1) INTRODUÇÃO

O Ministério Público, consoante o art. 127, caput, da Constituição Fe-deral, é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Tal norma encontra-se inse-rida no capítulo constitucional dedicado às “Funções essenciais à Justiça” ao lado da Advocacia-Geral da União e da Defensoria Pública. A finalidade da existência do Ministério Público é a função de defesa da sociedade no regi-me democrático instituído pela Carta de 1988. As palavras “permanente” e “essencial” geram reflexos impeditivos ao próprio poder de reforma da Cons-tituição, com a finalidade de extirpar do texto constitucional o “Parquet”57, considerando-se, pois, o Ministério Público como cláusula pétrea implícita à função jurisdicional do Estado58.

A Carta Magna deferiu ao Parquet a condição de guardião dos interesses sociais e individuais indisponíveis, vinculando-o assim à tutela (coletiva ou individual) dos direitos mais expressivos da sociedade, aqueles de relevante valor social. Esses valores recebem atenção dos membros do Ministério Pú-blico, seja quando estes se encarregam da persecução penal, deduzindo em juízo a pretensão punitiva do Estado e postulando a repressão ao crime, seja quando no juízo cível se ocupam de certas instituições como a família, de cer-tos bens e valores fundamentais como o meio ambiente, ou de certas pessoas como os incapazes e os consumidores.

O Ministério Público, no Brasil, é configurado como instituição autôno-ma que não integra o Poder Judiciário, embora desenvolva as suas funções essenciais, primordialmente, no processo e perante os juízos e tribunais. A natureza jurídica da instituição e seu posicionamento na Carta de 1988 são questões que têm gerado controvérsia na doutrina. Na visão do jurista Al-fredo Valadão, o Ministério Público seria um verdadeiro Quarto Poder do Estado59. Na verdade, não há que se falar em quarto poder. Trata-se de um órgão de extração constitucional.

Oficiando os membros do Ministério Público junto ao Poder Judiciário, e compondo-se este, como já estudado, de diversos ramos distintos, é compre-ensível que também o Parquet se apresente diversificado em vários organis-mos. Assim, temos o Ministério Público da União, integrado pelo Ministério Público Federal, Ministério Público do Trabalho, Ministério Público Militar e Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios, além do Minis-tério Público dos Estados, presente em cada uma das unidades federativas.

57 A origem das expressões “Parquet” e “Ministério Público” advém da época do Reinado de Felipe IV, o Belo, na França, em 1302, eis que os procuradores do rei, em correspondências que trocavam entre si, denominavam sua função como um ofício ou ministério público, visando distinguí-lo do ofício privado dos advogados, sendo certo que, a expressão Parquet, utilizada atualmente como sinônimo da Instituição, tem origem no estrado existente nas salas de audiência, onde os procuradores do rei podiam sentar-se lado a lado com os magistrados.

58 O Artigo 85, II, da Carta Magna e o Artigo 146, II, da Carta Fluminense, por exemplo, consideram crimes de responsabilidade, respectivamente, do Presidente da República e do Governador do Estado, qualquer ato atentatório ao livre exercício do Ministério Público.

59 Informado por MELLO JÚNIOR, João Câncio de. A função de controle dos atos da Administração Pública pelo Ministério Público. Belo Horizonte: Líder, 2001, p. 49.

57 A origem das expressões “Parquet” e “Ministério Público” advém da época do Reinado de Felipe IV, o belo, na França, em 1302, eis que os procuradores do rei, em correspondências que trocavam entre si, denominavam sua função como um ofício ou ministério público, visando distinguí-lo do ofício privado dos advogados, sendo certo que, a ex-pressão Parquet, utilizada atualmente como sinônimo da Instituição, tem origem no estrado existente nas salas de audiência, onde os procuradores do rei podiam sentar-se lado a lado com os magistrados.

58 O Artigo 85, II, da Carta Magna e o Artigo 146, II, da Carta Fluminense, por exemplo, consideram crimes de responsabilidade, respectivamente, do Presidente da República e do Governa-dor do estado, qualquer ato atentatório ao livre exercício do Ministério Público.

59 Informado por MellO JÚNIOR, João Câncio de. A função de controle dos atos da Administração Pública pelo Mi-nistério Público. belo horizonte: líder, 2001, p. 49.

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167FGV dIReITO RIO

2) PRINCÍPIOS INSTITUCIONAIS

Para a garantia de tão importantes funções, a instituição foi dotada de uma série de garantias e princípios, os quais analisaremos a partir de ago-ra. O §1º do art.127 da Carta Magna fixa os princípios institucionais do Ministério Público. Sua observância é cogente e qualquer ato que destoar deles será inválido, eivado de inconstitucionalidade.

São três os princípios institucionais enumerados no texto da Carta Mag-na: a unidade; a indivisibilidade; e a independência funcional.

A Unidade Institucional

A unidade traduz a identidade do Ministério Público como Institui-ção. Seus membros não devem ser identificados na sua individualidade, mas sim como integrantes de um mesmo organismo. Ao atuarem, oficiam em nome da Instituição. A Instituição se faz presente com o compareci-mento de um de seus membros. “Unidade significa que os membros do Mi-nistério Público integram um só órgão sob a direção de um só chefe”60. Não há unidade, porém, entre Ministérios Públicos de estados distintos, nem tampouco, entre o Ministério Público estadual e o Ministério Público da União. A unidade significa também que, para cada função institucio-nal deferida ao Ministério Público na Constituição, só exista um único ramo do Ministério Público apto para desempenhá-la, ou seja, para um determinado caso concreto, apenas um ramo do Ministério Público terá atribuição para atuar.

Indivisibilidade

O princípio da indivisibilidade significa que os membros do Minis-tério Público podem ser substituídos uns pelos outros, sem solução de continuidade das funções institucionais. Um membro do Ministério Pú-blico, observada a sistemática legal, poderá substituir um outro quando se fizer necessário, como por exemplo, férias, licenças, impedimentos, suspeições ou outros tipos de afastamentos, em nada comprometendo a atividade institucional, já que os atos devem ser compreendidos como se produzidos pela instituição e não pelo seu agente. Para tanto, as substi-tuições não podem ocorrer arbitrariamente, mas somente segundo a for-ma estabelecida em lei. A indivisibilidade está estreitamente vinculada ao Princípio do Promotor Natural. Impede, portanto, a odiosa designação do promotor de encomenda bem como as designações especiais para essa modalidade de substituição.

60 MAZZILLI, Hugo Nigro. Regime Jurídico do Ministério Público. 5ª ed. São Paulo: Saraiva, 2001, p. 155

60 MAZZIllI, hugo Nigro. Regime Ju-rídico do Ministério Público. 5ª ed. são Paulo: saraiva, 2001, p. 155

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168FGV dIReITO RIO

Independência Funcional

Princípio mais importante da Instituição, a independência funcional pre-coniza que os membros do Parquet, no desempenho de suas atividades não estão subordinados a nenhum órgão ou poder, mas somente à sua consciên-cia, devendo sempre, fundamentar suas manifestações processuais (art. 129, VIII, CRFB). No âmbito do Ministério Público só se concebe hierarquia entre o chefe da instituição e seus integrantes no sentido administrativo, nunca no sentido de índole funcional ou técnica. Os membros do Ministério Público estão sujeitos a recomendações dos órgãos da administração supe-rior. Tais recomendações podem ser de cunho administrativo ou mesmo de cunho institucional, entretanto, não vinculam o membro da instituição, face ao princípio da independência funcional. As recomendações administrativas, no entanto, se diferem das decisões administrativas da Administração Supe-rior, as quais devem ser obrigatoriamente atendidas pelo membro da Insti-tuição. Por exemplo: dever de atender às convocações, dever de encaminhar relatórios periódicos, etc.

Do princípio ora em análise, decorre também a imunidade quanto à res-ponsabilidade civil por seus eventuais erros de atuação. De fato, os membros do Parquet não podem ser responsabilizados pelos atos que praticarem no estrito exercício de suas funções, a menos que tenham agido com dolo ou fraude (art.85 do Código de Processo Civil).

A despeito disso, crescente vem sendo o número de ações de ressarcimento movidas diretamente contra o membro do Ministério Público, motivo pelo qual o Ministério Público do Rio de Janeiro editou uma súmula para garantir a presença da Instituição como assistente simples nestes processos, auxiliando a defesa do promotor61.

A indivisibilidade e a independência funcional

O princípio da indivisibilidade não implica a vinculação de pronuncia-mentos dos agentes do Ministério Público no processo de um modo a obri-gar que um membro da instituição que substitui a outro observe a mesma linha de pensamento de seu antecessor. Questão controvertida versa sobre a possibilidade de um membro do Ministério Público recorrer de uma senten-ça que tenha acolhido o pedido de absolvição de outro promotor. Exemplo: Um promotor X pede a absolvição do réu e logo depois sai de férias com sua família. A sentença acolhe o pedido do Ministério Público, absolvendo o réu. O promotor Y, substituto, tomando ciência da sentença, apela, pedindo a condenação do réu. Apesar de divergente a matéria, o entendimento majori-tário é pela possibilidade de manifestações díspares, apoiado no princípio da independência funcional.

61 Súmula 2 da Assessoria de Assuntos Institucionais do Ministério Público do Rio de Janeiro.

61 súmula 2 da Assessoria de Assuntos Institucionais do Ministério Público do Rio de Janeiro.

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169FGV dIReITO RIO

“I. Ministério Público: Sucumbência no provimento da apelação da defesa, apesar de com ela se ter posto de acor-do Promotor de Justiça. A independência funcional é, de fato, incompatível com a pretensão de que a concordância do Promotor com a apelação vinculasse os órgãos da Insti-tuição que oficiem junto ao Tribunal, de modo a inibi-los de interpor recurso especial contra decisão que, provendo o recurso da defesa, desclassificou a infração.62”

“se um representante do MP manifestou-se na fase de ale-gações finais em prol da exclusão de qualificantes, o que foi acolhido na sentença de pronúncia, um outro membro do Parquet que o substitui no processo pode interpor recurso pugnando para que se preserve a acusação inicial, não me-recendo abrigo a tese de falta de interesse processual.63”

PRINCÍPIO DO PROMOTOR NATURAL

Similar ao princípio do juiz natural, constitucionalmente tutelado no art. 5º, XXXVII e LIII, da CRFB, o princípio do promotor natural procura repe-lir, a partir da vedação de designações casuísticas, com propósitos políticos e pouco recomendáveis, efetuadas pela chefia da instituição, a figura do “acu-sador de exceção”. Consagra uma garantia da ordem jurídica destinada tanto a proteger o membro do Parquet, na medida em que lhe assegura a inamovi-bilidade, quanto a tutelar a própria coletividade, a quem reconhece o direito de ver atuando em quaisquer causas apenas o promotor cuja intervenção se justifique a partir de critérios abstratos e predeterminados estabelecidos em lei. Antes de ser uma prerrogativa institucional, tal princípio é direito ina-lienável do cidadão de se ver processado por membro do Ministério Público isento e imparcial, que proverá a Justiça sem odiosas discriminações64. Tal princípio é reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal, bem como pelo Superior Tribunal de Justiça.65

Garantias Institucionais

Especificamente, em relação ao Ministério Público, a Constituição Fe-deral assegurou, de forma expressa, a autonomia funcional e administrativa e, implicitamente, lhe garantiu autonomia financeira. A Lei nº 8625/1993 – Lei Orgânica Nacional do Ministério Público – em seu artigo 3º fez re-ferência expressa à autonomia nessas três vertentes. O Artigo 127 § 2° da Constituição prevê que o Ministério Público goze de autonomia funcional e

62 STF - HC 80.315-SP- 2000 - Rel. Min. Sepúlveda Pertence - inf.206.63 STJ - 6ªTurma- Resp. 92.666RJ – Rel.Min.Vicente Leal, 20.05.97: “Processo Penal. MP. Princípio da Unidade e da Indivisibilidade. Alcance. Vinculação de pronunciamento de seus agentes. Inexistência.”64 Vide STF - HC 67759/RJ, Rel.Min.Celso de Mello.65 “O Promotor ou procurador não pode ser designado sem obediência ao critério legal a fim de garantir o julgamento imparcial e isento. O réu tem direito público subjetivo de conhecer o órgão do Ministério Público que vai lhe acusar, como ocorre com o juiz natural.” (RSTJ 39/461)

62 sTF - hC 80.315-sP- 2000 - Rel. Min. sepúlveda Pertence - inf.206.

63 sTJ - 6ªTurma- Resp. 92.666RJ – Rel.Min.Vicente leal, 20.05.97: “Processo Penal. MP. Princípio da Unidade e da Indivisibilidade. Alcance. Vinculação de pronunciamento de seus agentes. Inexistência.”

64 Vide sTF - hC 67759/RJ, Rel.Min.Cel-so de Mello.

65 “O Promotor ou procurador não pode ser designado sem obediência ao critério legal a fim de garantir o julgamento im-parcial e isento. O réu tem direito público subjetivo de conhecer o órgão do Ministé-rio Público que vai lhe acusar, como ocorre com o juiz natural.” (RsTJ 39/461)

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administrativa, podendo, portanto, estruturar-se na forma prevista na respec-tiva lei orgânica, prover seus cargos diretamente, editar atos relativos ao seu quadro de pessoal, inclusive provendo seus cargos e os de seu serviço auxiliar, enfim, reger seus destinos sem qualquer vinculação a outro Organismo ou Poder. A Instituição está imune a qualquer influência externa no exercício de sua atividade finalística.

Há limitações, entretanto, à autonomia administrativa prevista na própria Constituição. Com efeito, a nomeação do procurador-geral é realizada pelo chefe do Poder Executivo; a destituição do procurador-geral é deliberada pelo Legislativo; e o membro da Instituição vitalício somente pode perder o cargo por força de sentença judicial transitada em julgado66.

No que concerne à autonomia financeira, a Carta Magna, diferentemen-te do tratamento conferido ao Poder Judiciário (Artigo 99 da CF), onde o termo é expressamente previsto, optou por conferir à Instituição, no § 3º do Artigo 127, a iniciativa de elaboração de sua proposta orçamentária, dentro dos limites estabelecidos na LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias).

Teria havido alguma restrição ao Ministério Público face ao trata‑mento diferenciado? Entendemos que não, com o apoio de Alexandre de Moraes67.

A autonomia financeira, como consectário da autonomia funcional e ad-ministrativa, traduz-se na prerrogativa que o órgão possui de elaborar sua proposta orçamentária, prevendo sua gestão financeira anual, assim como o Judiciário. Há que se fazer menção, ainda, a autonomia legislativa, prevista no artigo 128 § 5º da Carta Magna, legitimando o respectivo procurador-ge-ral a deflagrar o processo visando a estabelecer a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público.

COMPETÊNCIAS E PRINCIPAIS ATRIBUIÇÕES CONSTITUCIONAIS

A atuação do Ministério Público na área penal

Sem sombra de dúvida, a persecução penal é uma das mais importan-tes atribuições ministeriais, confundindo-se com a própria essência do Mi-nistério Público. A Carta Magna, ao deferir privativamente ao Parquet o monopólio da persecução penal, baniu de nosso ordenamento os procedi-mentos penais ex officio, revogando o artigo 26 do CPP e todas as leis es-peciais que permitiam a instauração da ação penal pública, sem denúncia do Parquet ou queixa, nas hipóteses legais. A ação penal, em regra, é de ini-ciativa pública incondicionada, cabendo ao Ministério Público promovê-la, independentemente da manifestação da vontade de qualquer um que seja.

66 Artigo 128, §3º, §4º e §5º, I, a, respectivamente, da Constituição Federal.67 MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada, p. 1523.

66 Artigo 128, §3º, §4º e §5º, I, a, res-pectivamente, da Constituição Federal.

67 MORAes, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada, p. 1523.

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Há casos, expressamente previstos em lei68, em que a iniciativa do Ministé-rio Público dependerá da representação do ofendido69 ou da requisição do Ministro da Justiça. Há, ainda, a hipótese da ação penal ser promovida pelo próprio ofendido ou por quem tenha qualidade para representá-lo. É a ação penal de iniciativa privada, “onde ocorre uma espécie de substituição processual, em que se defende interesse alheio em nome próprio”.70

A atuação do Ministério Público na área cível

A atuação ministerial no âmbito cível não pode ser estudada dissociada dos artigos 176 a 181 do Código de Processo Civil:

Tendo em vista os mencionados dispositivos, infere-se que a atuação do Parquet no processo civil pode ser sintetizada em duas hipóteses: quando exerce o direito de ação, conforme o Artigo 177 do CPC, será órgão agente e nos casos enumerados no artigo 178 do CPC, atuará como órgão inter‑veniente. Cumpre destacar que, qualquer que seja a sua participação pro-cessual, seja ela como órgão agente ou interveniente, esta função advém de dispositivo constitucional (art.129, II e III da CRFB), bem como de inú-meros textos legais, codificados ou não (vide CC/2003, CPC, L. 7347/85, L.8560/92, L.7853/89, L.8429/92, L.8069/90 etc.).

Controle Externo da Atividade Policial

Função ministerial geradora de controvérsias é o controle externo da ati-vidade policial.

A Lei Complementar nº 75/1993 (LOMPU), em seu artigo 9º, veio disci-plinar a matéria, valendo lembrar sua incidência imediata em relação a todos os Ministérios Públicos Estaduais, por força da aplicação subsidiária de suas normas, prevista no Artigo 80 da LONMP. A Lei Complementar Estadual nº 106/2003 (LOMPRJ) também regulou a matéria, fazendo menção genérica a tal dispositivo, em seu artigo 36. O controle externo permite ao Ministério Pú-blico buscar um trabalho policial dedicado e bem conduzido, para que sejam fornecidos subsídios capazes de gerar a justa causa necessária para o desencade-amento da ação penal pública. É oportuno asseverar que tal controle possui ín-dole técnica e tem por objetivo apurar omissões, eventuais desvios de conduta das autoridades policiais e seus agentes e abuso de poder. Pedro Roberto Deco-main71, define, com acerto, tão importante função ministerial afirmando que

“o termo “controle” tem aqui o sentido de acompanhamento, ob-servação, orientação, e não de subordinação hierárquica. Cui-da-se de possibilitar o acesso do Ministério Público a todas as atividades-fim exercidas pela polícia, em especial as de polícia

68 Art. 24 do CPP.69 “A ação penal que depende de representação, reclama manifestação de vontade do ofendido para atuação do Ministério Público. Sem essa iniciativa, a ação penal nasce com vício insanável.” (RSTJ 106/436)70 MIRABETE, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. São Paulo: Atlas, 1999. p. 52571 DECOMAIN, Pedro Roberto. Comentários à Lei Orgânica Nacional do Ministério Público. Florianópolis: Editora Obra Jurídica. 1996. p. 184.

68 Art. 24 do CPP.

69 “A ação penal que depende de re-presentação, reclama manifestação de vontade do ofendido para atuação do Ministério Público. sem essa iniciativa, a ação penal nasce com vício insaná-vel.” (RsTJ 106/436)

70 MIRAbeTe, Júlio Fabbrini. Código Penal Interpretado. são Paulo: Atlas, 1999. p. 525

71 deCOMAIN, Pedro Roberto. Comen-tários à Lei Orgânica Nacional do Mi-nistério Público. Florianópolis: editora Obra Jurídica. 1996. p. 184.

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judiciária, na medida em que antes de tudo são para ele volta-das. Naturalmente que, no exercício desse controle, cabe também ao Ministério Público verificar a ocorrência de eventuais desvios no exercício das funções da polícia, quer representem prejuízos para a coletividade (porque eventualmente não se apura crime ocorrido), quer para algum indivíduo em particular (que se torne vítima de alguma forma de abuso de poder ou autoridade), to-mando as providências que a hipótese possa recomendar para que tal situação tenha fim.”

Em maio de 2007 o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução nº 20 regulamentando o art. 9º da Lei Complementar nº 75/93 e o art. 80 da Lei nº 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Ministério Públi-co, o controle externo da atividade policial.

Inovando a legislação até então existente acerca do assunto, a resolução dispôs em seu artigo 1º a respeito dos sujeitos passivos dessa atividade fis-calizadora do Ministério Público. São eles não só os organismos policiais relacionados no artigo 144 da CF (polícia federal, polícia rodoviária federal, polícia ferroviária federal, polícia civil, polícia militar e corpo de bombeiros militares), bem como as polícias legislativas ou qualquer outro órgão ou ins-tituição, civil ou militar, à qual seja atribuída parcela de poder de polícia, relacionada com a segurança pública e persecução criminal.

Duas são as formas de se exercer o controle em estudo: através do controle difuso (por todos os membros do Ministério Público com atribuição cri-minal, quando do exame dos procedimentos que lhes forem atribuídos) ou através do controle concentrado (membros com atribuições específicas para o controle externo da atividade policial, conforme disciplinado no âmbito de cada instituição).

Os órgãos do Ministério Público, no exercício das funções de controle externo da atividade policial têm livre acesso aos estabelecimentos prisionais, aos documentos relativos à atividade-fim policial, bem como aos presos a qualquer momento72.

No exercício de suas atribuições rotineiras na fiscalização da atividade po-licial, incumbe ao membro do Ministério Público; a) havendo fundada ne-cessidade e conveniência, instaurar procedimento investigatório referente a ilícito penal que tenha ocorrido no exercício da atividade policial; b) instaurar procedimento administrativo visando sanar as deficiências ou irregularidades detectadas no exercício do controle externo da atividade policial; c) apurar as responsabilidades decorrentes do descumprimento injustificado das requisi-ções que tenha feito; d) encaminhar cópias dos documentos ou peças de que dispõe ao órgão da instituição com atribuição para a instauração de inquérito civil público ou ajuizamento de ação civil por improbidade administrativa.73

72 Artigo 5º, I, II e VII da Resolução nº 20 do CNMP.73 Artigo 4º, §§ 1º, 2º e 3º da Resolução nº 20 do CNMP.

72 Artigo 5º, I, II e VII da Resolução nº 20 do CNMP.

73 Artigo 4º, §§ 1º, 2º e 3º da Resolução nº 20 do CNMP.

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Em suma, o controle externo da atividade policial pelo Ministério Pú-blico tem como objetivo a constatação da regularidade e adequação de pro-cedimentos empregados na realização da atividade de polícia judiciária, bem como a integração das funções do Ministério Público e da Polícia judiciária voltada para a persecução penal e o interesse público, devendo o Parquet atentar, nesta atividade, para a prevenção da criminalidade; a fina-lidade, a celeridade, o aperfeiçoamento e a indisponibilidade da persecução penal; a prevenção ou a correção de irregularidades, ilegalidades ou abuso de poder relacionados com a atividade de investigação criminal; e buscar superar as falhas na produção da prova, inclusive técnica, para fins de in-vestigação criminal.

CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PúBLICO

Tendo em vista a independência e a autonomia do Ministério Público, muito se discutiu sobre a necessidade de haver um controle externo da enti-dade, a fim de evitar eventuais abusos cometidos por seus membros. A Emen-da Constitucional nº 45 criou o Conselho Nacional do Ministério Público, ao qual se aplicam, com algumas ressalvas, os mesmos comentários feitos em relação ao Conselho Nacional de Justiça. Não é possível tratá-los, porém, como se fossem sinônimos. O CNMP difere em alguns aspectos peculiares. Inicialmente, cabe ressaltar não se tratar de órgão que integra o Ministério Público, quer da União, quer dos Estados. Também não se encontra inserido na estrutura de nenhum dos Poderes Estatais. O CNMP, de forma similar ao Ministério Público e ao Tribunal de Contas, é órgão constitucional au-tônomo dissociado dos Poderes do Estado. É um órgão de “extração consti-tucional” (Min. Carlos Ayres), ou seja, deriva da própria Constituição e não está vinculado nem ao Poder Executivo, nem ao Poder Judiciário e nem ao Poder Legislativo. Trata-se de mais uma inovação na linha evolutiva dos tra-dicionais mecanismos de checks and balances que permeiam as relações entre os órgãos de soberania.

Composição do CNMP

Conforme disciplina o Artigo 130-A da Constituição Federal:

“Art. 130-A. O Conselho Nacional do Ministério Público com-põe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da Re-pública, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:

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I - o Procurador-Geral da República, que o preside;II - quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de cada uma de suas carreiras; III - três membros do Ministério Público dos Estados;IV - dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça;V - dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;VI - dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal”

Trata-se de uma composição híbrida, havendo nítido desequilíbrio entre o Ministério Público da União e os Ministérios Públicos Estaduais. De fato, enquanto o MPU tem cinco representantes no Conselho, o MPE, dentre os 26 Ministérios Públicos Estaduais do Brasil, tem apenas três representantes.

Atribuições do CNMP

“Art. 130-A(...)§ 2º Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o con-trole da atuação administrativa e financeira do Ministério Pú-blico e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe:I - zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministé-rio Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências;II - zelar pela observância do art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos pra-ticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas;III - receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos discipli-nares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa;

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IV - rever, de ofício ou mediante provocação, os processos discipli-nares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano;V - elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no art. 84, XI.”

Essas são as atribuições constitucionalmente conferidas ao Conselho Na-cional do Ministério Público. O relacionamento do CNMP com as insti-tuições controladas tem natureza preventiva no que concerne a autonomia financeira e repressiva quanto à autonomia funcional e administrativa. Res-salve-se que as sanções aplicáveis ao membro do Ministério Público pelo con-selho não abrangem a perda do cargo. O constituinte derivado preocupou-se em enumerar exaustivamente as sanções aplicáveis pelo conselho, que são a remoção, a disponibilidade e a aposentadoria (Artigo 130, §2º, III), não abrangendo, portanto, a perda do cargo.

Corregedor Nacional do Ministério Público

Um dos integrantes do conselho será escolhido para atuar como Cor-regedor Nacional do Ministério Público. A escolha será feita por votação secreta, da qual participarão todos os integrantes do Conselho Nacional. As atribuições do corregedor estão voltadas às atividades de cunho disciplinar e correicional, cabendo-lhe o recebimento e a colheita de informações para fins de submissão ao conselho, órgão com atribuição para valorá-las e decidir. Sua atividade é instrumental e não finalística. Poderá ainda, no exercício de suas funções, realizar inspeções em qualquer dependência do Ministério Pú-blico da União ou dos Estados, bem como requisitar e designar membros do Ministério Público ou servidores, delegando-lhes atribuições para a apuração das reclamações e denúncias.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO

O Conselho Nacional do Ministério Público recebeu uma reclamação anônima narrando o fato de ter o Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, atuando conforme sua iniciativa legislativa, proposto a criação de 10 cargos de confiança, sem submeter a proposta ao Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça como determina a Lei nº 8625/1993, Artigo 10, III. Tendo em vista o relatado, e sendo competên-cia do CNMP zelar pela legalidade dos atos administrativos dos membros

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do Ministério Público da União e dos Estados (Artigo 130-A, parágrafo 2º, II da CR/88), desconstituiu o ato e aplicou uma sanção administrativa ao chefe da Instituição (suspensão por três dias), assegurada a ampla defesa no procedimento administrativo.

Pergunta‑se: Foi legal a atuação do CNMP?

ESTATUTO FUNCIONAL DO MINISTÉRIO PúBLICO

Passemos agora ao estudo das Garantias, Vedações, prerrogativas e res-ponsabilidades dos membros do Ministério Público.

Garantias dos membros do Ministério Público

A par das garantias institucionais, o constituinte outorgou aos membros do Ministério Público três garantias, visando o pleno e independente exer-cício das funções ministeriais, previstas no artigo 128, §5º, I, “a” a “c” da CRFB, que agora serão analisadas:

A Vitaliciedade

É a impossibilidade de perda do cargo após dois anos de efetivo exercício, senão por sentença transitada em julgado, dentro de determinadas hipóteses previstas em lei.

A vitaliciedade dos membros do Parquet, preconizada no Artigo 128, § 5º, I “a” da CF difere da estabilidade garantida aos servidores públicos, após três anos de efetivo exercício, prevista no Artigo 41 da Carta Magna, por-que somente poderá ser quebrada mediante processo judicial, com decisão trânsito em julgado. Deve-se ressalvar que, para alcançar a vitaliciedade, o membro da instituição deverá contar com dois anos de exercício efetivo, isto, é, não computados quaisquer períodos de férias, licenças ou afastamentos, consoante comando insculpido no Artigo 53, caput, da LONMP. Enquanto não vitaliciado, o promotor de Justiça pode perder o cargo mediante ma-nifestação voluntária (pedido de exoneração) ou ser demitido em processo administrativo disciplinar. Isto não ocorre após o vitaliciamento quando, então, perderá o cargo somente por decisão judicial transitada em julgado.

Após ser vitaliciado, o Promotor de Justiça somente poderá perder o cargo, consoante determinado pela LONMP em seu Artigo 38 § 1º, por sentença judicial proferida em ação civil própria e transitada em julgado, se ocorrerem quaisquer das seguintes hipóteses: abandono do cargo por mais de trinta dias corridos; exercício da advocacia e prática de crime incompatível com a função.

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A LC Estadual nº 106/2003 acresceu mais uma hipótese a este rol: a prática de improbidade administrativa, em decorrência da Lei Federal n° 8.429/1992, que não havia sido prevista na LONMP. Inovou também a legislação esta-dual ao estipular, nos § 3º e 4° do aludido Art. 134, os crimes considerados incompatíveis com o exercício funcional, a ensejar a perda do cargo do pro-motor vitaliciado. Assim, são considerados incompatíveis com o exercício do cargo os crimes dolosos contra o patrimônio, contra a administração e fé pública, os que importem lesão aos cofres públicos e aqueles previstos no Artigo 5º, XLIII da Carta Magna.

A inamovibilidade

A inamovibilidade, preconizada no Artigo 128 § 5, I, “b” da Carta Magna e disciplinada nos Artigos 38, II da LONMP c/c 79, II da LC nº 106/2003, é a impossibilidade de se remover um membro da Instituição do órgão onde esteja lotado, sem sua manifestação voluntária, impedindo até a própria pro-moção sem a prévia aquiescência, salvo motivo de interesse público, após manifestação do órgão colegiado competente.

Por não ser uma garantia de caráter absoluto, a inamovibilidade pode ser afastada por decisão da maioria absoluta dos membros do Conselho Superior do Ministério Público, em caso de interesse público (remoção compulsória), assegurada ao membro do Parquet a ampla defesa e o devido processo legal (Arts 15, VIII da LONMP c/c 22 V da LC 106/03), cabendo recurso de tal decisão ao Órgão Especial do Colégio de Procuradores de Justiça (Art. 12, VIII “d” da LONMP c/c 74 § único da LC 106/03).

A irredutibilidade de subsídios

A irredutibilidade de subsídios foi outorgada aos membros do Ministério Público pela Carta de 1988.

E o que vem a ser subsídio?

A Constituição Federal, em seu artigo 39, §4º dispõe ser o subsídio uma remuneração exclusiva, fixada em parcela única, vedado o acréscimo de qual-quer gratificação, adicional, abono, prêmio, verba de representação ou outra espécie remuneratória. Para tanto, há que se obedecer, em qualquer caso, os Artigos 37, X e XI.

A razão da irredutibilidade de vencimentos ou subsídios emerge da ne-cessidade de se garantir ao membro do Parquet, para o bom desempenho de suas relevantes funções institucionais, imunidade às eventuais retaliações dos governantes no que concerne à diminuição de sua remuneração.

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178FGV dIReITO RIO

Foro Especial

Outro predicado constitucional dos membros do Parquet é o do foro es-pecial por prerrogativa de função. A CF, em seu artigo 96, III, outorga aos membros do MP Estadual o foro por prerrogativa no TJ do Estado onde estiver vinculado. Trata-se de exceção do princípio do “locus delicti comissi”, local do cometimento do crime, regra geral do Direito processual, outorgada também pelos artigos 40, IV da LONMP c/c 81, V da LC 106/03. Ressalte-se que os membros do Ministério Público da União possuem foro especial no STJ (artigo 105, I, “a” da CRFB) ou nos TRFs (artigo 108, I, “a” da CRFB) de sua região. O procurador-geral da República, por sua vez, é processado e julgado originariamente, nas infrações penais comuns, perante o STF (Art. 102, I “b” da CF). Vale ressalvar que tal garantia é de ordem absoluta, só havendo exceção na hipótese de crime eleitoral, quando o promotor será julgado no TRE onde estiver vinculado. Assim, mesmo que cometa crime de competência da Justiça Federal74, Militar ou ainda crime doloso contra a vida75, o juiz natural do membro do Ministério Público Estadual (promotor ou procurador de Justiça) será o Tribunal de Justiça do Estado onde estiver vinculado, pelo órgão definido para tanto pelo regimento interno da Corte. No Rio de Janeiro, a competência é do Órgão Especial.

Há ainda duas questões interessantes sobre a matéria: o crime de responsa-bilidade praticado pelo procurador-geral de Justiça, que tem por juiz natural, consoante o artigo 99, XIV da Constituição Estadual, a Assembléia Legisla-tiva do Estado, que será presidida, excepcionalmente, pelo presidente do TJ e o julgamento do procurador geral da República, na mesma hipótese, que será feito no Senado Federal e presidido pelo presidente do STF (art. 52, II da CRFB).

Ressalte-se, por oportuno, que o foro especial cessa quando o membro do Ministério Público se aposenta, já que a garantia é destinada ao cargo e não ao seu ocupante.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO

Tendo prestado concurso público para ingresso no Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro, Juliana logrou êxito em ser aprovada nas provas e tomou posse como promotora de Justiça substituta no dia 10 de maio de 2004.

Durante o tempo em que esteve submetida ao estágio probatório, Juliana entregou regularmente os relatórios exigidos ao CEJUR (Centro de Estudos Jurídicos), atuando conforme os princípios reitores da Instituição.

74 “Compete aos Tribunais de Justiça o julgamento de juizes estaduais, mesmo que acusados de crime de competência da Justiça Federal (CF, Art. 96, III)”(STF-Pleno –HC nº 77.558/ES)75 “HC. Homicídio praticado por Promotor de Justiça. Competência originária do Tribunal de Justiça.”(STF – 1ª Turma – HC 73.112-1/MG –Min.: Ilmar Galvão)

74 “Compete aos Tribunais de Justiça o julgamento de juizes estaduais, mesmo que acusados de crime de competência da Justiça Federal (CF, Art. 96, III)”(sTF--Pleno –hC nº 77.558/es)

75 “hC. homicídio praticado por Promo-tor de Justiça. Competência originária do Tribunal de Justiça.”(sTF – 1ª Turma – hC 73.112-1/MG –Min.: Ilmar Galvão)

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179FGV dIReITO RIO

Ocorre que, no dia 20 de maio de 2006, sem que ainda houvesse sido oficialmente vitaliciada pelo Conselho Superior do Ministério Pú-blico, Juliana praticou um ato de improbidade administrativa (Lei nº 8429/1992).

Tendo em vista o ocorrido, foi instaurado um processo administrativo disciplinar, respeitada a ampla defesa e o contraditório, e Juliana veio a perder o cargo no dia 10 de junho de 2006.

Pergunta‑se: Agiu corretamente o Conselho Superior?

AS VEDAÇÕES CONSTITUCIONAIS DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PúBLICO

Percepção dos honorários ou verbas equivalentes

Ao membro do Ministério Público é vedado auferir a qualquer título ou pretexto, honorários, porcentagens ou custas processuais, já que sua remune-ração consiste nos vencimentos ou subsídios, como anteriormente visto. No que concerne à sucumbência obtida em ações por ele ajuizadas76, a Institui-ção – e não seu membro – pode cobrá-la, devendo o montante ser creditado ao Fundo Especial do Ministério Público (Lei estadual nº 2.819, de 07 de novembro de 1997, art. 4o, inciso XII), destinado ao aperfeiçoamento insti-tucional do Ministério Público.

Exercício da Advocacia

O exercício da advocacia é vedado aos membros do Ministério Público, consoante os Artigos 128 § 5º, II, “b” da CF. A prática da advocacia, para o membro vitalício do Parquet enseja a perda do cargo, consoante previsto no Artigo 38 § 1º, II da LONMP c/c 134 I, “b” da LC 106/03, gerando a demissão, mediante processo administrativo, daquele não vitalício. Ressalve--se que o Artigo 29 § 3º do ADCT resguardou aos membros do Ministério Público Estadual o direito à advocacia, se ingressos na Instituição antes do advento da LC 40/8177. Isto porque a primeira lei orgânica do Ministério Público Estadual já vedava esta atividade, sendo seguida, neste mister, pela LC 28/82, antiga Lei orgânica do Ministério Público Fluminense (Art. 159, VIII) que apenas ressalvava o direito aos já inscritos em 15 de Dezembro de 1981. Note-se que os membros do Ministério Público da União, que não possuíam qualquer vedação em seus respectivos estatutos, somente passaram a ter a restrição com o advento da Carta Magna.

76 Inclusive verba honorária. Confira-se Informativo STF nº 120, Agravo em Agravo Regimental 189.430/SP, rel. Min. Sepúlveda Pertence.77 Confira-se o Artigo 165 da LC 106/03, que reitera a norma transitória do Artigo 29 § 3º do ADCT.

76 Inclusive verba honorária. Confira--se Informativo sTF nº 120, Agravo em Agravo Regimental 189.430/sP, rel. Min. sepúlveda Pertence.

77 Confira-se o Artigo 165 da lC 106/03, que reitera a norma transitória do Arti-go 29 § 3º do AdCT.

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180FGV dIReITO RIO

Participação em sociedades comerciais

Outra vedação ao membro do MP (Art. 128 § 5º, II, “c” da CF c/c Arts. 44, III da LONMP e 119, III da LC 106/03) é a de exercer o comércio ou participar de sociedade mercantil. Há ressalva, entretanto, para a condição de quotista ou acionista sem, no entanto, poder de gestão. O intuito da ve-dação é afastar o membro do Parquet das atividades estranhas ao exercício funcional, permitindo, entretanto que participe de atividades empresariais, na qualidade de mero capitalista, sem dispêndio de qualquer esforço geren-cial ou de direção.

Exercício de outra função pública

A Constituição Federal, em seu Artigo 128 § 5º, II “d”, veda ao membro do Ministério Público o exercício de qualquer outra função pública, salvo um magistério da mesma natureza. A essência da vedação é evitar que o membro do Ministério Público possa desempenhar qualquer outra atividade, mesmo pública, salvo um magistério, em detrimento do exercício daquelas funções institucionais deferidas ao Parquet.

Atividade político-partidária

Até o advento da Emenda Complementar nº 45/2004, os membros do Ministério Público podiam, nos casos previstos em lei, exercer atividade po-lítico-partidária. Para tanto, uma série de requisitos e prazos deveriam ser obedecidos. A Emenda 45 inovou totalmente o tema. Não há mais a ressalva constitucional. O constituinte vedou de forma absoluta a atividade político--partidária por membro do Ministério Público.

AS PRERROGATIVAS

As prerrogativas dos Membros do Ministério Público encontram previsão legal, respectivamente, nos artigos 40 a 42 da LONMP e nos artigos 81 a 83 da LC 106/2003. Inicialmente, cabe ressalvar que as prerrogativas não são privilégios outorgados aos membros do Parquet, mas, na verdade, cons-tituem atributo com a finalidade de assegurar o pleno exercício das funções institucionais deferidas pela Carta Magna.

A prisão e a investigação do membro do Ministério Público

A Lei 8625 estabelece que o membro do Ministério Público somente poderá ser investigado, em caso de conduta delituosa, pelo Procurador Geral de Justiça.

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181FGV dIReITO RIO

Desta forma, se no curso da investigação surgem indícios de que quem co-meteu o ilícito foi um Promotor, deve a autoridade policial remeter os autos, imediatamente, sob pena de prática de abuso de autoridade (art. 3º, “j” da Lei nº 4898/1965), ao Procurador Geral de Justiça, não podendo mais continuar nas investigações.78 A investigação prosseguirá por parte do procurador-geral de Justiça. O feito é distribuído para um desembargador do órgão especial do Tribunal de Justiça para servir de juiz natural à causa. Poderá o PGJ oferecer denúncia em face do membro do parquet, ou determinar o arquivamento (não requer, determina). A prisão do membro do MP pode se dar por ordem judicial proferida por autoridade competente.

Quem é a autoridade judiciária competente? Se for uma decisão criminal, somente um desembargador integrante do

Órgão Especial poderá mandar prender o promotor de Justiça, sendo dele a competência para julgar o promotor. Já no caso do promotor não pagar a pensão alimentícia devida ou for depositário infiel, poderá ser preso pelo juiz da vara de família ou da vara cível. Pode ocorrer também a prisão em flagrante na hipótese de crimes inafiançáveis. Nesta hipótese, cabe à autori-dade policial lavrar o auto de prisão em flagrante, remetê-lo ao Tribunal de Justiça e apresentar o membro do Parquet ao procurador geral de Justiça. A não apresentação no prazo hábil acarretará a perda da condição coercitiva de liberdade do instrumento flagrancial, sendo cabível o relaxamento da prisão. Assim, a autuação é feita imediatamente, mas, a apresentação do promotor de Justiça ao procurador-geral é indispensável para a regularidade do ins-trumento flagrancial. A lei determina, portanto, um plus no que concerne à validade do flagrante. A prerrogativa de ser investigado apenas pela chefia institucional não pode ser estendida aos membros aposentados do Parquet. Com efeito, não se tratando de atributo pessoal, mas de cunho institucional, o membro aposentado não pode utilizá-lo.

Intimação pessoal das decisões

A intimação pessoal do membro do Ministério Público está prevista nos artigos 41, IV da LONMP e no artigo 82, III da LC nº 106/2003. Antiga-mente, entendia-se que a prerrogativa da intimação pessoal só era aperfei-çoada com o “ciente” do promotor. Não bastava a entrada do processo no escaninho destinado ao Ministério Público na secretaria da vara ou mesmo nas dependências do Ministério Público. A intimação deveria se dar median-te a entrega dos autos, com vista, certificada pelo escrivão. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal era pacífica nesse sentido, mas recentemente houve alteração no entendimento da Corte, no que concerne ao cômputo do prazo processual, que para a nova tendência jurisprudencial inicia-se na

78 Conforme art. 41, §único da LONMP

78 Conforme art. 41, §único da lONMP

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182FGV dIReITO RIO

data que o feito tiver ingressado nas dependências do Ministério Público. A entrega dos autos com vista continua em vigor. O que o STF mudou foi o cômputo do prazo processual. A intimação continua se realizando por meio da entrega dos autos com vista ao promotor. Ocorre que, considera--se como iniciado o cômputo do prazo processual no momento em que os autos ingressam na secretaria da Promotoria de Justiça. Não está se exigin-do mais, para o início do prazo, o ciente do promotor de Justiça, como se dava anteriormente.

Porte de Arma

Dispõe o artigo 42 da LONMP sobre a licença legal para porte de arma que gozam os membros do Ministério Público, prerrogativa esta que inde-pende de qualquer ato formal de licença ou autorização.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO

Lei da Mordaça – O MP pode falar com a imprensa?

Dois procuradores da República que investigam corrupção no governo federal foram procurados por jornal de grande circulação para dar entrevista acerca do caso. Após a publicação das declarações prestadas, onde foram ana-lisadas as diligências já realizadas pelo MP e os elementos de prova até então recolhidos, duas situações ocorreram:

Uma assídua leitora do jornal, a velhinha de Taubaté, sentiu-se muito orgulhosa pela atuação do MP contra a corrupção. Reacendeu-se nela, e em todos seus vizinhos, após conhecer o trabalho que o MP vinha de-senvolvendo, a esperança de que a impunidade e a corrupção no Brasil estão sendo combatidas com vigor.

Os políticos envolvidos no escândalo de corrupção propuseram ação de responsabilidade civil contra os dois procuradores da República (pesso-almente) buscando elevados valores de indenização pelos danos morais decorrentes da publicação das informações.

A- Na qualidade de advogado dos Procuradores da República, o que você alegaria em resposta à ação proposta.

B- Na qualidade de advogado dos Políticos, o que alegaria na ação proposta.

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183FGV dIReITO RIO

A ESTRUTURA LEGISLATIVA E ORGANIZACIONAL DO MINISTÉRIO PúBLICO

Como já visto, a Instituição é dividida, pelo Artigo 128 da Carta Maior, em duas grandes vertentes: O Ministério Público da União, que se encontra disciplinado na LC 75/93 e que abrange o Ministério Público Federal, o Ministério Público do Trabalho, o Ministério Público Militar e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios; e os Ministérios Públicos dos Es-tados, regidos por uma Lei Orgânica de cunho nacional (Lei nº 8625/1993 – LONMP), que estabelece parâmetros, balizas e preceitos que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelos diversos Ministérios Públicos locais, res-peitado é claro, a autonomia decorrente do pacto federativo. Cada Ministé-rio Público Estadual possui ainda uma Lei Orgânica própria, consubstancia-da formalmente em Lei Complementar Estadual, cuja iniciativa é facultada aos respectivos procuradores-gerais de Justiça (art.128, par. 5º da CF). A Lei Orgânica especificamente do Estado do Rio de Janeiro é a LC nº 106/2003. Ressalte-se que o Artigo 80 da LONMP autoriza a aplicação subsidiária, aos Ministérios Públicos Estaduais, das normas previstas na Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº 75/1993), numa clara demonstração do legislador da existência de um pensamento institucional monolítico a nível nacional acerca do Parquet.

MINISTÉRIO PúBLICO DA UNIÃO

O Ministério Público da União é chefiado pelo Procurador-Geral da Repú-blica, escolhido livremente pelo presidente da República, dentre os integran-tes da carreira maiores de 35 anos, com a chancela do Senado Federal, para mandato de dois anos, admitida sua recondução ao cargo, respeitado o mes-mo processo (art.128, parágrafo 1º da Carta da República). O chefe do Mi-nistério Público da União pode ser reinvestido indeterminadamente em suas funções, obedecido o critério constitucional. Ressalve-se que o procurador--geral da República pode ser integrante de qualquer uma das quatro carreiras que integram o Ministério Público da União. A destituição do procurador--geral da República, no exercício de sua investidura “pro tempore”, dar-se-á apenas por iniciativa do presidente da República, mediante autorização do Senado Federal, por maioria absoluta de seus membros (CF, Art. 128, §5º).

O Ministério Público Federal

O Ministério Público Federal compreende o ramo do Ministério Público da União que atua perante o Supremo Tribunal Federal, o Superior Tribunal de Justiça, os Tribunais Regionais Federais e juízes federais e os Tribunais e juízes eleitorais.79

79 Art. 37, I da LC 75/93.

79 Art. 37, I da lC 75/93.

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184FGV dIReITO RIO

É chefiado pelo Procurador-Geral da República (Art. 45 da LC 75/93), in-vestido em tais funções na forma acima descrita e que acumula a chefia com a direção superior do Ministério Público da União e a função de Procurador--Geral Eleitoral. Incumbe ao Procurador-Geral da República exercer as fun-ções do Ministério Público junto ao Supremo Tribunal Federal, manifestan-do-se previamente em todos os processos de sua competência.

A carreira do Ministério Público Federal possui três classes, que compre-endem os cargos de Procurador da República (oficiam perante as varas fede-rais); os Procuradores Regionais da República (oficiam perante os TRFs) e os Subprocuradores-Gerais da República (atuando perante o STF, o STJ e o TSE (art.66 da LC 75/93). Certo é que, no STF e no TSE, os subprocuradores-ge-rais atuam por delegação do PGR. Os procuradores da República são lotados em ofícios, nas Procuradorias da República sediadas nos Estados e no Distrito Federal. Já os procuradores regionais da República são lotados nas Procurado-rias Regionais da República, sediadas nas cidades onde há Tribunais Regionais Federais (Rio de Janeiro, São Paulo, Recife, Porto Alegre e Brasília).

O Ministério Público do Trabalho

O Ministério Público do Trabalho é o ramo do Ministério Público da União que atua perante a Justiça do Trabalho, competindo-lhe, entre outras funções institucionais, a promoção da ação civil pública, para a defesa de in-teresses coletivos, quando desrespeitados direitos sociais constitucionalmente garantidos; a promoção das demandas que lhe sejam atribuídas pela Consti-tuição Federal e pelas Leis trabalhistas, podendo inclusive propor ações para a declaração de nulidade de cláusulas de contrato, acordo coletivo ou con-venção coletiva que violem liberdades individuais ou coletivas ou ainda direi-tos individuais indisponíveis dos trabalhadores; e ainda oficiar em qualquer fase do processo trabalhista, por iniciativa própria, do Juiz ou das partes.80

O Ministério Público do Trabalho tem por chefe o Procurador- Geral do Trabalho, nomeado pelo Procurador-Geral da República, dentre integrantes da instituição, com mais de trinta e cinco anos de idade e cinco na carreira, que integrem lista tríplice escolhida mediante votação plurinominal por toda a classe. A investidura se dá por dois anos, admitida uma recondução, por igual período, respeitado o mesmo procedimento. A exoneração, antes do término do mandato, dar-se-á por ato do procurador-geral da República, mediante solicitação do Conselho Superior do Ministério Público do Tra-balho. O procurador-geral do Trabalho tem assento perante o plenário do Tribunal Superior do Trabalho, propondo as ações cabíveis e manifestando--se nos processos de sua competência81. O procurador-geral do Trabalho é substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo vice-procurador-geral do Trabalho, por ele designado dentre os subprocuradores-gerais do Trabalho.82

80 Para o rol das funções institucionais do Ministério Público do Trabalho, confira-se o Art. 83 da LC 75/93.81 Art. 90 da LC 75/93.82 Art. 89 da LC 75/93.

80 Para o rol das funções institucionais do Ministério Público do Trabalho, confira-se o Art. 83 da lC 75/93.

81 Art. 90 da lC 75/93.

82 Art. 89 da lC 75/93.

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185FGV dIReITO RIO

A carreira do Ministério Público do Trabalho é constituída de três classes: os Procuradores do Trabalho, os Procuradores Regionais do Trabalho e os Subprocuradores-Gerais do Trabalho. Os procuradores do Trabalho e pro-curadores regionais do Trabalho atuam perante os TRTs, os primeiros es-pecialmente nos litígios trabalhistas que envolvam interesses de menores e incapazes83. Os subprocuradores-gerais do Trabalho oficiam perante o TST e na Câmara de Coordenação e Revisão, órgão de coordenação e integração do exercício funcional da instituição.

O Ministério Público Militar

O Ministério Público Militar é o ramo do Ministério Público da União que oficia perante os órgãos da Justiça Militar da União, compreendidas as Circunscrições da Justiça Militar, distribuídas, em número de onze, por todo o território nacional, compostas por auditorias de Justiça Militar (primei-ra instância) e o Superior Tribunal Militar. Convém ressaltar que, no Rio de Janeiro, consoante facultado pelo Artigo 125 § 3º da Carta Magna, há Justiça Militar Estadual de primeira instância, constituída de Conselhos de Justiça Militar84, competente para processar e julgar policiais militares e in-tegrantes do Corpo de Bombeiros Militar nos crimes militares definidos em Lei. Os membros do Ministério Público que atuam perante a Auditoria da Justiça Militar Estadual não pertencem ao Ministério Público Militar e sim ao Ministério Público Estadual.

O chefe da Instituição é o Procurador-Geral da Justiça Militar, nomeado pelo Procurador-Geral da República, dentre integrantes da instituição, com mais de trinta e cinco anos de idade e cinco na carreira, que integrem lista trí-plice escolhida mediante votação plurinominal por toda a classe. A investidura se dá por dois anos, admitida uma recondução, por igual período, respeitado o mesmo procedimento. A exoneração, antes do término do mandato, dar-se-á por ato do procurador-geral da República, mediante solicitação do Conselho Superior do Ministério Público Militar. O procurador-geral da Justiça Militar tem assento perante o Superior Tribunal Militar, propondo as ações cabíveis e manifestando-se nos processos de sua competência85. O procurador-geral da Justiça Militar é substituído, em suas faltas e impedimentos, pelo vice-procu-rador-geral da Justiça Militar Trabalho, por ele designado dentre os subprocu-radores-gerais da Justiça Militar.86 A carreira do Ministério Público Militar é constituída de três classes: os Promotores de Justiça Militar, os Procuradores da Justiça Militar e os Subprocuradores-Gerais da Justiça Militar. Os promo-tores e os procuradores da Justiça Militar atuam perante a primeira instância, lotados em ofícios nas Procuradorias da Justiça Militar espalhadas por todo o território nacional.87 Os subprocuradores-gerais da Justiça Militar oficiam pe-rante o STM e na Câmara de Coordenação e Revisão, órgão de coordenação e integração do exercício funcional da instituição.88

83 Arts. 110 a 112 da LC 75/93.84 Art. 166 da Constituição do Estado do Rio de Janeiro.85 Art. 120 e 121 da LC 75/93.86 Art. 122 da LC 75/93.87 Arts. 144 e 146 da LC 75/93.88 Art. 140 da LC 75/93.

83 Arts. 110 a 112 da lC 75/93.

84 Art. 166 da Constituição do estado do Rio de Janeiro.

85 Art. 120 e 121 da lC 75/93.

86 Art. 122 da lC 75/93.

87 Arts. 144 e 146 da lC 75/93.

88 Art. 140 da lC 75/93.

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186FGV dIReITO RIO

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios é o ramo do Mi-nistério Público da União que oficia perante o Tribunal de Justiça e juízes do Distrito Federal e Territórios. O chefe da Instituição é o Procurador-Geral de Justiça, que é nomeado pelo Presidente da República89 e empossado pelo Procurador-Geral da República90, dentre integrantes da instituição, com mais de cinco anos na carreira, que integrem lista tríplice escolhida mediante vota-ção plurinominal por toda a classe. A investidura se dá por dois anos, admi-tida uma recondução, por igual período, respeitado o mesmo procedimento. A exoneração, antes do término do mandato, dar-se-á por deliberação da maioria absoluta do Senado Federal, mediante representação do presidente da República91. O procurador-geral de Justiça tem assento perante o Plenário do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, propondo as ações cabíveis e manifestando-se nos processos de sua competência92. É substituí-do, em suas faltas e impedimentos, pelo vice-procurador-geral da Justiça, por ele designado dentre os procuradores de Justiça.93

A carreira do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios é cons-tituída de três classes: os Promotores de Justiça Adjuntos, os Promotores de Justiça e os Procuradores de Justiça. Os promotores adjuntos e os promo-tores de Justiça atuam perante a primeira instância, lotados em ofícios nas Promotorias de Justiça.94 Os procuradores de Justiça oficiam perante o Tri-bunal de Justiça e nas Câmaras de Coordenação e Revisão, órgãos setoriais de coordenação e integração do exercício funcional da instituição.95

MINISTÉRIO PúBLICO ESTADUAL

Como já asseverado neste trabalho, uma das grandes vertentes do Ministé-rio Público Brasileiro é o Ministério Público dos Estados, regidos, cada qual, por duas ordens jurídicas: A primeira, correspondente a Lei Orgânica Nacio-nal (Lei nº 8625/1993 – LONMP), que estabelece parâmetros, balizas e pre-ceitos que devem ser obrigatoriamente obedecidos pelos diversos Ministérios Públicos locais, respeitado é claro, a autonomia estadual em decorrência do pacto federativo. A segunda, específica para cada Ministério Público Estadual, consubstanciada em Lei Complementar Estadual, cuja iniciativa é facultada aos respectivos procuradores-gerais de Justiça (art.128, par. 5º da CF).

A Lei Orgânica Nacional do Ministério Público tem por objetivo es-tabelecer normas gerais e princípios que devem ser seguidos por todos os Ministérios Públicos Estaduais, sendo vedado a qualquer Ministério Pú-blico Estadual dispor, em sua Lei Orgânica, de modo diferente. Determi-na, ainda, a estrutura dos órgãos da administração superior do Ministério

89 Art. 156 da LC 75/93.90 Art. 26, IV da LC 75/93.91 Art. 156 § 2º da LC 75/93.92 Art. 158 da LC 75/93.93 Art. 157 da LC 75/93.94 Arts. 178 e 179 da LC 75/93.95 Arts. 167 e 175 da LC 75/93.

89 Art. 156 da lC 75/93.

90 Art. 26, IV da lC 75/93.

91 Art. 156 § 2º da lC 75/93.

92 Art. 158 da lC 75/93.

93 Art. 157 da lC 75/93.

94 Arts. 178 e 179 da lC 75/93.

95 Arts. 167 e 175 da lC 75/93.

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187FGV dIReITO RIO

Público, fixando-lhes a competência e os mecanismos de controle inter-no da instituição, além das atribuições dos seus membros e dispositivos acerca da autonomia do Parquet. Ressalte-se, por oportuno, que o Artigo 80 da LONMP autoriza a aplicação subsidiária, aos Ministérios Públicos Estaduais, das normas previstas na Lei Orgânica do Ministério Público da União (LC nº 75/1993).

O Ministério Público tem por chefe o Procurador-Geral de Justiça, no-meado pelo governador do Estado, dentre integrantes da carreira, com mais de dois anos de atividade, indicados em lista tríplice, para mandato de dois anos, permitida uma recondução sendo observado o mesmo procedimento. O ingresso na carreira se dá mediante concurso público de provas e títu-los, em obediência ao disposto no Artigo 37 da Constituição Federal, no cargo de Promotor de Justiça Substituto, atuando perante o primeiro grau de jurisdição. Após dois anos de estágio probatório o promotor de Justiça é vitaliciado e no decorrer da carreira, por merecimento ou antiguidade, alternadamente, será promovido a procurador de Justiça, passando a atuar junto ao segundo grau de jurisdição.

O MINISTÉRIO PúBLICO ELEITORAL

O Ministério Público Eleitoral não é uma instituição dotada de auto-nomia administrativa, financeira e orçamentária, não constituindo ramo autônomo do Ministério Público, com as prerrogativas previstas no Artigo 127 da Carta Magna. Trata-se, na verdade, de uma função institucional afeta ao Ministério Público Federal, nos precisos termos do art. 72 da LC 75/93. O chefe do Ministério Público Eleitoral é o Procurador-Geral da República que, nestas funções, recebe a denominação de Procurador-Geral Eleitoral96, competindo-lhe exercer as funções do Ministério Público Elei-toral junto ao Tribunal Superior Eleitoral, podendo para tanto designar, para auxiliá-lo neste mister, um vice-procurador-geral eleitoral, dentre os Subprocuradores-Gerais da República além de membros do Ministério Pú-blico Federal, para oficiarem naquela corte, sob sua aprovação.97

Em cada Estado da Federação e no Distrito Federal há um Procurador--Regional Eleitoral, designado pelo procurador-geral eleitoral dentre os procuradores regionais da República, onde houver, ou procuradores da República já vitaliciados, para exercerem as funções do Ministério Público Eleitoral perante os respectivos Tribunais Regionais Federais.98.

As funções eleitorais junto aos juízes e juntas eleitorais são exercidas pelo Ministério Público Estadual, por meio dos promotores de Justiça, que são denominados promotores eleitorais.99

96 Art. 73 da LC 75/93.97 Arts. 73 §único e 74 § único da LC 75/93. 98 Art. 76 da LC 75/93.99 Art. 78 da LC 75/93.

96 Art. 73 da lC 75/93.

97 Arts. 73 §único e 74 § único da lC 75/93.

98 Art. 76 da lC 75/93.

99 Art. 78 da lC 75/93.

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188FGV dIReITO RIO

O MINISTÉRIO PúBLICO JUNTO AO TRIBUNAL DE CONTAS

A Carta Magna de 1988 previu, em seus Artigos 73 § 2º, I e 130, a existên-cia de um Ministério Público junto ao Tribunal de Contas, gerando contro-vérsias acerca da natureza e a autonomia dessa Instituição. O STF, entretan-to, entendeu que ”O Ministério Público que atua perante o TCU qualifica-se como órgão de extração constitucional, eis que sua existência jurídica resulta de expressa previsão normativa constante da Carta Política... O Ministério Público junto ao TCU não dispõe de fisionomia institucional própria e, não obstante as expressivas garantias de ordem subjetiva concedidas aos seus Procuradores pela própria Constituição (Art. 130), encontra-se consolidado na intimidade estrutu-ral dessa Corte de Contas, que se acha investida – até mesmo em função do poder de auto-governo que lhe confere a Carta Política (Art. 73, caput, in fine) – da prerrogativa de fazer instaurar o processo legislativo concernente à sua organiza-ção, à sua estruturação interna, à definição de seu quadro de pessoal e à criação dos cargos respectivos.”

A INVESTIGAÇÃO DIRETA PELO MINISTÉRIO PúBLICO

A persecução criminal no nosso ordenamento jurídico divide-se, em regra, em duas fases. A primeira, de cunho extraprocessual, com o inquérito policial ou consectários. A segunda fase, de índole processual, com a ação penal. Questão controvertida versa sobre a possibilidade do Ministério Público rea-lizar, na fase extraprocessual, investigação direta. A controvérsia se acentuou devido a decisão do Supremo Tribunal Federal, da lavra do ministro Nelson Jobim, nos seguintes termos:

“A constituição Federal dotou o Ministério Público do poder de requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial (CF, art. 129, VIII).A norma constitucional não contemplou a possibilidade do Par-quet realizar e presidir inquérito policial.Não cabe, portanto, aos seus membros inquirir diretamente pes-soas suspeitas de autoria de crime, mas requisitar diligência neste sentido à autoridade policial. Precedentes.O recorrente é delegado de polícia e, portanto, autoridade admi-nistrativa.Seus atos estão sujeitos aos órgãos hierárquicos próprios da corpo-ração, Chefia de Polícia e Corregedoria.Recurso conhecido e provido.”100

100 Hábeas Corpus 81326.

100 hábeas Corpus 81326.

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Inicialmente, o STF empreendeu análise histórica, concluindo que desde 1936 até os dias de hoje, apesar das tentativas de modificação do modelo de investigação policial, nunca foi concedido ao Ministério Público o poder de realizar diligências investigatórias. É inoperante o método histórico utiliza-do. A nova hermenêutica preconiza que nenhum método de interpretação é capaz de, isoladamente, resolver em definitivo uma questão de tamanha complexidade. Com a Constituição de 1988, o Ministério Público teve seu papel amplamente aumentado, passando de Instituição vinculada e subordi-nada ao Poder Executivo, para um perfil independente, recebendo o papel maior de guarda do Estado Democrático de Direito, da defesa da ordem jurídica e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Desta forma, há um novo fundamento de validade a embasar a atuação da Instituição, não podendo, portanto, o intérprete se utilizar de posicionamentos doutrinários, leis e julgados anteriores à Constituição de 1988 para concluir que o Minis-tério Público não possui poderes investigatórios.

Outro importante argumento utilizado foi o de ser competência exclusi-va da Polícia Judiciária a atividade investigatória, não tendo o Parquet essa função institucional. Ora, pela simples leitura do artigo 144, §1º da Carta da República pode-se observar que a verdadeira vontade do constituinte não foi de conferir exclusividade à Polícia no que tange à investigação, mas sim delimitar o âmbito de atuação de cada uma das Polícias ali mencionadas, re-servando, em especial, para a Polícia Federal a apuração das infrações penais, a prevenção e repressão ao tráfico de drogas e o exercício, com exclusividade, das funções de polícia judiciária da União. Não deixou também o constituin-te de ressalvar para a Polícia Civil as funções de polícia judiciária e apuração de infrações penais, quando não colidentes com a competência da União. Quis o legislador, portanto, apenas delimitar a atribuição de cada uma delas, tanto é assim, que em seguida elencou as funções da Polícia Militar, Polícia Ferroviária e Rodoviária Federal. Na verdade, o poder de investigação não é exclusividade da polícia, nem o seria desta e do Ministério Público. Existem outros órgãos do Estado para os quais a lei prevê a possibilidade de realização de diligências investigatórias.

Exemplos:

Constituição Federal de 1988“Art. 58§ 3º - As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros previstos nos regimentos das respectivas Casas, serão criadas pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal, em conjunto ou separadamente, mediante requerimento de um terço de seus mem-

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bros, para a apuração de fato determinado e por prazo certo, sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao Ministério Público, para que promova a responsabilidade civil ou criminal dos infratores.”

LC 64/90 “Art. 22. Qualquer partido político, coligação, candidato ou Mi-nistério Público Eleitoral poderá representar à Justiça Eleitoral, diretamente ao Corregedor-Geral ou Regional, relatando fatos e indicando provas, indícios e circunstâncias e pedir abertura de investigação judicial para apurar uso indevido, desvio ou abuso do poder econômico ou do poder de autoridade, ou utilização in-devida de veículos ou meios de comunicação social, em benefício de candidato ou de partido político(...)”

Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal“Art. 43. Ocorrendo infração à lei penal na sede ou dependência do Tribunal, oPresidente instaurará inquérito, se envolver autoridade ou pessoa sujeita à sua jurisdição,ou delegará esta atribuição a outro Ministro.”

LC35/79 – Lei Orgânica da Magistratura Nacional“Art. 33 – São prerrogativas do magistrado:Parágrafo único - Quando, no curso de investigação, houver in-dício da prática de crime por parte do magistrado, a autoridade policial, civil ou militar, remeterá os respectivos autos ao Tribu-nal ou órgão especial competente para o julgamento, a fim de que prossiga na investigação.”

Vale lembrar, também, não ser o inquérito policial indispensável ao lastro da peça acusatória. O Artigo 12 do CPP é claro ao deixar patente a pres-cindibilidade do inquérito, sendo certo que o Superior Tribunal de Justiça, apreciando a questão, inclusive assim já decidiu.101 Para reforçar esta idéia de prescindibilidade do inquérito policial, lembre-se do artigo 27 do CPP que permite que qualquer do povo provoque a iniciativa do Ministério Público, fornecendo-lhe informações necessárias sobre o crime de seu conhecimento, admitido-se no ordenamento processual, portanto, inclusive, a investigação particular. O artigo 39, § 5º do CPP também não pode ser esquecido, visto que ele admite expressamente que o Ministério Público dispense o inquérito se a representação recebida vier acompanhada de dados suficientes para que desde já, seja deflagrada a ação penal. Vale ressalvar, que o artigo 28 e o artigo 67, I, ambos do CPP falam em “peças de informação”, corroborando assim com a existência de investigação criminal fora da sede de inquérito policial.

101 RHC 9340 / SP, Relator Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 16/12/1999, quinta turma.

101 RhC 9340 / sP, Relator Min. José Arnaldo da Fonseca, j. 16/12/1999, quinta turma.

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Por tudo o que foi exposto, portanto, nos dias atuais, com a nova ordem constitucional vigente, não há que se falar em monopólio da Polícia no que tange ao poder de investigação criminal.

O poder investigatório do Ministério Público encontra-se lastreado em diversos diplomas legais:

Constituição Federal de 1988“Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público:I - promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei;VI - expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;VIII - requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais;IX - exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas.”

LC 75/93“Art. 8º Para o exercício de suas atribuições, o Ministério Público da União poderá, nos procedimentos de sua competência:I - notificar testemunhas e requisitar sua condução coercitiva, no caso de ausência injustificada;V - realizar inspeções e diligências investigatórias;VII - expedir notificações e intimações necessárias aos procedi-mentos e inquéritos que instaurar;”

Lei 8625/93 – LONMP“Art. 26. No exercício de suas funções, o Ministério Público po-derá:I - instaurar inquéritos civis e outras medidas e procedimentos administrativos pertinentes e, para instruí-los:a) expedir notificações para colher depoimento ou esclarecimentos e, em caso de não comparecimento injustificado, requisitar con-dução coercitiva, inclusive pela Polícia Civil ou Militar, ressal-vadas as prerrogativas previstas em lei;b) requisitar informações, exames periciais e documentos de au-toridades federais, estaduais e municipais, bem como dos órgãos e entidades da administração direta, indireta ou fundacional,

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de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Fede-ral e dos Municípios;c) promover inspeções e diligências investigatórias junto às autori-dades, órgãos e entidades a que se refere a alínea anterior;II - requisitar informações e documentos a entidades privadas, para instruir procedimentos ou processo em que oficie;IV - requisitar diligências investigatórias e a instauração de in-quérito policial e de inquérito policial militar, observado o dis-posto no art. 129, inciso VIII, da Constituição Federal, podendo acompanhá-los;4º A falta ao trabalho, em virtude de atendimento à notificação ou requisição, na forma do inciso I deste artigo, não autoriza desconto de vencimentos ou salário, considerando-se de efetivo exercício, para todos os efeitos, mediante comprovação escrita do membro do Ministério Público.”

Alguns juristas se insurgem contra o poder investigatório ministerial, tendo como argumentação a suposta ausência de controle de legalidade dos seus atos. Mais uma vez não merece prosperar tal questionamento. A própria Constituição assegurou no seu artigo 5º, XXXV, como direito fundamental do homem, que a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito. Na hipótese de excesso ou subversão da lei por parte do Ministério Público quando de suas investigações, lícito será ao ofendido a impetração dos remédios constitucionalmente previstos para todos os casos de abuso de autoridade e agressão a lei, quais sejam, o Habeas Corpus ou o Man-dado de Segurança, devendo figurar o Ministério Público como agente coa-tor, já tendo o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro decidido neste sentido.102

Apesar de toda a previsão legal e opiniões doutrinárias e jurisprudenciais no sentido de reconhecer ao Ministério Público o poder investigatório, se nada disso fosse suficiente para se reconhecer ao Ministério Público tal poder investigatório, ainda assim, não prosperariam os argumentos contrários a tal autorização diante da Teoria dos Poderes Implícitos. Valendo-se da máxi-ma de quem pode o mais pode o menos, Pinto Ferreira, invocando a Teoria dos Poderes Implícitos, cunhada pela Suprema Corte norte-americana no julgamento do caso McCulloch X Maryland, de aplicação corrente no direi-to constitucional pátrio, segundo a qual, se o constituinte concede a deter-minado órgão ou instituição, uma função (atividade-fim), implicitamente estará concedendo-lhe os meios necessários ao atingimento do seu objetivo, sob pena de ser frustrado o exercício do múnus constitucional que lhe foi cometido103. De fato, de que adiantaria a Constituição da República dotar o Ministério Público de tamanha grandeza institucional, fornecer-lhe objetivos a serem conquistados, se não lhe proporcionasse os meios para atingi-los?

102 Apelação Criminal 4174/2000. Primeira Câmara Criminal – Desembargador Paulo Ventura – j. 27.03.2001.103 Apud Ofício encaminhado pela CONAMP – Associação Nacional dos Membros do Ministério Público ao Secretário da Reforma do Judiciário a propósito das investigações criminais realizadas pelo Ministério Público, in www.conamp.org.br/noticias/investiga.htm, acesso em 10/09/03, p. 4.

102 Apelação Criminal 4174/2000. Pri-meira Câmara Criminal – desembarga-dor Paulo Ventura – j. 27.03.2001.

103 Apud Ofício encaminhado pela CO-NAMP – Associação Nacional dos Mem-bros do Ministério Público ao secretário da Reforma do Judiciário a propósito das investigações criminais realizadas pelo Ministério Público, in www.co-namp.org.br/noticias/investiga.htm, acesso em 10/09/03, p. 4.

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Se o constituinte originário dotou o Ministério Público da privativa pro-moção da ação penal, forneceu-lhe a faculdade, de quando entender necessá-rio, requisitar informações ou expedir notificações, por que haveria ele de se manter inerte diante de casos em que a Polícia Judiciária se fizesse inoperante na promoção da investigação de que o Parquet tanto necessita.

Recente decisão da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, no HC 89.837/DF, esposou a tese de não haver óbice à investigação criminal pelo Ministério Público, tendo por base justamente os fundamentos ante-riormente apontados:

E M E N T A: “HABEAS CORPUS” – CRIME DE TORTU-RA ATRIBUÍDO A POLICIAL CIVIL – POSSIBILIDADE DE O MINISTÉRIO PÚBLICO, FUNDADO EM INVESTI-GAÇÃO POR ELE PRÓPRIO PROMOVIDA, FORMULAR DENÚNCIA CONTRA REFERIDO AGENTE POLICIAL – VALIDADE JURÍDICA DESSA ATIVIDADE INVESTIGA-TÓRIA – CONDENAÇÃO PENAL IMPOSTA AO POLI-CIAL TORTURADOR - LEGITIMIDADE JURÍDICA DO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – MONOPÓLIO CONSTITUCIONAL DA TITULARI-DADE DA AÇÃO PENAL PÚBLICA PELO “PARQUET” – TEORIA DOS PODERES IMPLÍCITOS – CASO “Mc-CULLOCH v. MARYLAND” (1819) – MAGISTÉRIO DA DOUTRINA (RUI BARBOSA, JOHN MARSHALL, JOÃO BARBALHO, MARCELLO CAETANO, CASTRO NUNES, OSWALDO TRIGUEIRO, v.g.) – OUTORGA, AO MINIS-TÉRIO PÚBLICO, PELA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA, DO PODER DE CONTROLE EXTERNO SOBRE A ATIVIDADE POLICIAL – LIMITAÇÕES DE ORDEM JURÍDICA AO PODER INVESTIGATÓRIO DO MINISTÉRIO PÚBLICO – “HABEAS CORPUS” INDE-FERIDO. NAS HIPÓTESES DE AÇÃO PENAL PÚBLICA, O INQUÉRITO POLICIAL, QUE CONSTITUI UM DOS DIVERSOS INSTRUMENTOS ESTATAIS DE INVESTI-GAÇÃO PENAL, TEM POR DESTINATÁRIO PRECÍPUO O MINISTÉRIO PÚBLICO. - O inquérito policial qualifica--se como procedimento administrativo, de caráter pré-processual, ordinariamente vocacionado a subsidiar, nos casos de infrações perseguíveis mediante ação penal de iniciativa pública, a atuação persecutória do Ministério Público, que é o verdadeiro destina-tário dos elementos que compõem a “informatio delicti”. Prece-dentes. - A investigação penal, quando realizada por organismos

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policiais, será sempre dirigida por autoridade policial, a quem igualmente competirá exercer, com exclusividade, a presidência do respectivo inquérito. - A outorga constitucional de funções de polícia judiciária à instituição policial não impede nem exclui a possibilidade de o Ministério Público, que é o “dominus litis”, de-terminar a abertura de inquéritos policiais, requisitar esclareci-mentos e diligências investigatórias, estar presente e acompanhar, junto a órgãos e agentes policiais, quaisquer atos de investigação penal, mesmo aqueles sob regime de sigilo, sem prejuízo de outras medidas que lhe pareçam indispensáveis à formação da sua “opi-nio delicti”, sendo-lhe vedado, no entanto, assumir a presidência do inquérito policial, que traduz atribuição privativa da autori-dade policial. Precedentes. A ACUSAÇÃO PENAL, PARA SER FORMULADA, NÃO DEPENDE, NECESSARIAMENTE, DE PRÉVIA INSTAURAÇÃO DE INQUÉRITO POLICIAL. - Ainda que inexista qualquer investigação penal promovida pela Polícia Judiciária, o Ministério Público, mesmo assim, pode fazer instaurar, validamente, a pertinente “persecutio criminis in ju-dicio”, desde que disponha, para tanto, de elementos mínimos de informação, fundados em base empírica idônea, que o habilitem a deduzir, perante juízes e Tribunais, a acusação penal. Dou-trina. Precedentes. A QUESTÃO DA CLÁUSULA CONSTI-TUCIONAL DE EXCLUSIVIDADE E A ATIVIDADE IN-VESTIGATÓRIA. - A cláusula de exclusividade inscrita no art. 144, § 1º, inciso IV, da Constituição da República - que não inibe a atividade de investigação criminal do Ministério Público - tem por única finalidade conferir à Polícia Federal, dentre os diversos organismos policiais que compõem o aparato repressivo da União Federal (polícia federal, polícia rodoviária federal e polícia ferroviária federal), primazia investigatória na apuração dos crimes previstos no próprio texto da Lei Fundamental ou, ainda, em tratados ou convenções internacionais. - Incumbe, à Polícia Civil dos Estados-membros e do Distrito Federal, ressal-vada a competência da União Federal e excetuada a apuração dos crimes militares, a função de proceder à investigação dos ilíci-tos penais (crimes e contravenções), sem prejuízo do poder inves-tigatório de que dispõe, como atividade subsidiária, o Ministério Público. - Função de polícia judiciária e função de investigação penal: uma distinção conceitual relevante, que também justifica o reconhecimento, ao Ministério Público, do poder investigatório em matéria penal. Doutrina. É PLENA A LEGITIMIDADE CONSTITUCIONAL DO PODER DE INVESTIGAR DO

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MINISTÉRIO PÚBLICO, POIS OS ORGANISMOS POLI-CIAIS (EMBORA DETENTORES DA FUNÇÃO DE POLÍ-CIA JUDICIÁRIA) NÃO TÊM, NO SISTEMA JURÍDICO BRASILEIRO, O MONOPÓLIO DA COMPETÊNCIA PE-NAL INVESTIGATÓRIA. - O poder de investigar compõe, em sede penal, o complexo de funções institucionais do Ministério Público, que dispõe, na condição de “dominus litis” e, também, como expressão de sua competência para exercer o controle externo da atividade policial, da atribuição de fazer instaurar, ainda que em caráter subsidiário, mas por autoridade própria e sob sua direção, procedimentos de investigação penal destinados a viabi-lizar a obtenção de dados informativos, de subsídios probatórios e de elementos de convicção que lhe permitam formar a “opinio delicti”, em ordem a propiciar eventual ajuizamento da ação pe-nal de iniciativa pública. Doutrina. Precedentes. CONTROLE JURISDICIONAL DA ATIVIDADE INVESTIGATÓRIA DOS MEMBROS DO MINISTÉRIO PÚBLICO: OPONIBI-LIDADE, A ESTES, DO SISTEMA DE DIREITOS E GA-RANTIAS INDIVIDUAIS, QUANDO EXERCIDO, PELO “PARQUET”, O PODER DE INVESTIGAÇÃO PENAL. - O Ministério Público, sem prejuízo da fiscalização intra-orgânica e daquela desempenhada pelo Conselho Nacional do Ministério Público, está permanentemente sujeito ao controle jurisdicional dos atos que pratique no âmbito das investigações penais que pro-mova “ex propria auctoritate”, não podendo, dentre outras limi-tações de ordem jurídica, desrespeitar o direito do investigado ao silêncio (“nemo tenetur se detegere”), nem lhe ordenar a condução coercitiva, nem constrangê-lo a produzir prova contra si próprio, nem lhe recusar o conhecimento das razões motivadoras do pro-cedimento investigatório, nem submetê-lo a medidas sujeitas à reserva constitucional de jurisdição, nem impedi-lo de fazer-se acompanhar de Advogado, nem impor, a este, indevidas restri-ções ao regular desempenho de suas prerrogativas profissionais (Lei nº 8.906/94, art. 7º, v.g.). - O procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Público deverá conter todas as peças, termos de declarações ou depoimentos, laudos periciais e demais subsídios probatórios coligidos no curso da investigação, não po-dendo, o “Parquet”, sonegar, selecionar ou deixar de juntar, aos autos, quaisquer desses elementos de informação, cujo conteúdo, por referir-se ao objeto da apuração penal, deve ser tornado aces-sível tanto à pessoa sob investigação quanto ao seu Advogado. - O regime de sigilo, sempre excepcional, eventualmente prevalecen-

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te no contexto de investigação penal promovida pelo Ministério Público, não se revelará oponível ao investigado e ao Advogado por este constituído, que terão direito de acesso – considerado o princípio da comunhão das provas – a todos os elementos de in-formação que já tenham sido formalmente incorporados aos autos do respectivo procedimento investigatório.A C Ó R D Ã OVistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros do Supremo Tribunal Federal, em Segunda Turma, sob a Pre-sidência da Ministra Ellen Gracie, na conformidade da ata de julgamentos e das notas taquigráficas, por unanimidade de votos, em indeferir o pedido de “habeas corpus”, nos termos do voto do Relator. Falou, pelo Ministério Público Federal, o Dr. Wagner Gonçalves. Ausente, justificadamente, neste julgamento, o Senhor Ministro Cezar Peluso. Brasília, 20 de outubro de 2009. CEL-SO DE MELLO – RELATOR (HC nº 89.837/DF)

Além do HC 89.837/DF, a Segunda Turma julgou mais três habeas cor-pus104, em que se discutia a legitimidade investigatória do Ministério Público em matéria criminal. Mais uma vez, por unanimidade, reconheceu-se que a investigação criminal realizada pelo MP é constitucional e legítima, possuin-do um caráter concorrente e subsidiário.

Cabe ressaltar, no entanto, que o Ministro Celso de Mello105, apesar de reconhecer que o Ministério Público possa formar sua opinio delicti com apoio aos elementos de convicção resultantes das atividades investigatórias por ele próprio promovida, não poderá se utilizar de dados informativos que derivem de documentos ou escritos anônimos, nem os tenham como único fundamento causal.

A Resolução nº 13 do CNMP

Em 13 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do Ministério Público editou a Resolução nº 13 regulamentando o art. 8º da Lei Complementar 75/93 e o art. 26 da Lei n.º 8.625/93, disciplinando, no âmbito do Mi-nistério Público, a instauração e tramitação do procedimento investigatório criminal, e dá outras providências.

Dispõe a resolução que o procedimento investigatório criminal é instru-mento de natureza administrativa e inquisitorial, instaurado e presidido pelo membro do Ministério Público com atribuição criminal, e terá como fina-lidade apurar a ocorrência de infrações penais de natureza pública, servindo como preparação e embasamento para o juízo de propositura, ou não, da respectiva ação penal.

104 Habeas Corpus nºs 87.610, 90.099 e 94.173, Relator Ministro Celso de Mello, julgados em 27/10/09.105 Habeas Corpus nº 100042, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 02/10/09.

104 habeas Corpus nºs 87.610, 90.099 e 94.173, Relator Ministro Celso de Mello, julgados em 27/10/09.

105 habeas Corpus nº 100042, Relator Ministro Celso de Mello, julgado em 02/10/09.

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Ressalva a resolução, porém, que o procedimento investigatório criminal não é condição de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuiza-mento de ação penal e não exclui a possibilidade de formalização de investi-gação por outros órgãos legitimados da Administração Pública.

Em poder de quaisquer peças de informação, o membro do Ministé-rio Público poderá promover a ação penal cabível, instaurar procedimento investigatório criminal, encaminhar as peças para o Juizado Especial Cri-minal, caso a infração seja de menor potencial ofensivo, promover funda-mentadamente o respectivo arquivamento, ou requisitar a instauração de inquérito policial.

O procedimento investigatório criminal poderá ser instaurado de ofício, por membro do Ministério Público, no âmbito de suas atribuições criminais, ao tomar conhecimento de infração penal, por qualquer meio, ainda que informal, ou mediante provocação.

Dispondo desta forma, resta clara a intenção do Conselho Nacional do Ministério Público em regulamentar o poder investigatório do Ministério Público, restando normatizado o que na prática já vinha ocorrendo mas sem um procedimento previamente determinado.

Em 10 de outubro de 2006, a Associação dos Delegados de Polícia do Brasil ajuizou no Supremo Tribunal Federal a Ação Direta de Inconstitucio-nalidade - ADI 3806 - sob o fundamento de que a Resolução, além de violar a exclusividade da condução das investigações criminais pela polícia judi-ciária, ao legislar sobre matéria processual penal, confronta a Constituição Federal em seu artigo 22, inciso I, por tratar-se de matéria de competência privativa da União.

Em 21 de dezembro de 2006, a Ordem dos Advogados do Brasil ajuizou outra Ação Direta de Inconstitucionalidade – ADI 3836 – com os mesmos fundamentos acima explicitados.

JURISPRUDÊNCIA

SEGUNDA TURMA

Ministério Público e Poder Investigatório - 1

O Ministério Público dispõe de competência para promover, por autori-dade própria, investigações de natureza penal, desde que respeitados os di-reitos e garantias que assistem a qualquer indiciado ou a qualquer pessoa sob investigação do Estado, observadas, sempre, pelos agentes de tal órgão, as prerrogativas profissionais de que se acham investidos os advogados, sem pre-juízo da possibilidade — sempre presente no Estado Democrático de Direito

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— do permanente controle jurisdicional dos atos praticados pelos promoto-res de justiça e procuradores da república. Com base nesse entendimento, a Turma indeferiu habeas corpus em que se alegava a nulidade de ação penal promovida com fulcro em procedimento investigatório instaurado exclusiva-mente pelo Ministério Público e que culminara na condenação do paciente, delegado de polícia, pela prática do crime de tortura. HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 2

Inicialmente, asseverou-se que não estaria em discussão, por indisputável, a afirmativa de que o exercício das funções inerentes à Polícia Judiciária com-petiria, ordinariamente, às Polícias Civil e Federal (CF, art. 144, § 1º, IV e § 4º), com exceção das atividades concernentes à apuração de delitos militares. Esclareceu-se que isso significaria que os inquéritos policiais — nos quais se consubstanciam, instrumentalmente, as investigações penais promovidas pela Polícia Judiciária — serão dirigidos e presididos por autoridade policial competente, e por esta, apenas (CPP, art. 4º, caput). Enfatizou-se, contudo, que essa especial regra de competência não impediria que o Ministério Pú-blico, que é o dominus litis — e desde que indique os fundamentos jurídicos legitimadores de suas manifestações — determinasse a abertura de inquéritos policiais, ou, então, requisitasse diligências investigatórias, em ordem a pro-ver a investigação penal, conduzida pela Polícia Judiciária, com todos os ele-mentos necessários ao esclarecimento da verdade real e essenciais à formação, por parte do representante do parquet, de sua opinio delicti. Consignou-se que a existência de inquérito policial não se revelaria imprescindível ao ofere-cimento da denúncia, podendo o Ministério Público, desde que disponha de elementos informativos para tanto, deduzir, em juízo, a pretensão punitiva do Estado. Observou-se que o órgão ministerial, ainda quando inexistente qualquer investigação penal promovida pela Polícia Judiciária, poderia, assim mesmo, fazer instaurar, validamente, a pertinente persecução criminal. HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 3

Em seguida, assinalou-se que a eventual intervenção do Ministério Públi-co, no curso de inquéritos policiais, sempre presididos por autoridade poli-cial competente, quando feita com o objetivo de complementar e de colabo-rar com a Polícia Judiciária, poderá caracterizar o legítimo exercício, por essa Instituição, do poder de controle externo que lhe foi constitucionalmente de-ferido sobre a atividade desenvolvida pela Polícia Judiciária. Tendo em conta o que exposto, reputou-se constitucionalmente lícito, ao parquet, promover,

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por autoridade própria, atos de investigação penal, respeitadas — não obs-tante a unilateralidade desse procedimento investigatório — as limitações que incidem sobre o Estado, em tema de persecução penal. Realçou-se que essa unilateralidade das investigações preparatórias da ação penal não auto-riza o Ministério Público — tanto quanto a própria Polícia Judiciária — a desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao suspeito e ao indiciado, que não mais podem ser considerados meros objetos de investigação. Dessa for-ma, aduziu-se que o procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Público não interfere nem afeta o exercício, pela autoridade policial, de sua irrecusável condição de presidente do inquérito policial, de responsável pela condução das investigações penais na fase pré-processual da persecutio crimi-nis e do desempenho dos encargos típicos inerentes à função de Polícia Judi-ciária. HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Poder Investigatório - 4

Ponderou-se que a outorga de poderes explícitos, ao Ministério Públi-co (CF, art. 129, I, VI, VII, VIII e IX), supõe que se reconheça, ainda que por implicitude, aos membros dessa instituição, a titularidade de meios destinados a viabilizar a adoção de medidas vocacionadas a conferir real efetividade às suas atribuições, permitindo, assim, que se confira efetivi-dade aos fins constitucionalmente reconhecidos ao Ministério Público (teoria dos poderes implícitos). Não fora assim, e desde que adotada, na espécie, uma indevida perspectiva reducionista, esvaziar-se-iam, por completo, as atribuições constitucionais expressamente concedidas ao Ministério Público em sede de persecução penal, tanto em sua fase judi-cial quanto em seu momento pré-processual. Afastou-se, de outro lado, qualquer alegação de que o reconhecimento do poder investigatório do Ministério Público poderia frustrar, comprometer ou afetar a garantia do contraditório estabelecida em favor da pessoa investigada. Nesse sen-tido, salientou-se que, mesmo quando conduzida, unilateralmente, pelo Ministério Público, a investigação penal não legitimaria qualquer conde-nação criminal, se os elementos de convicção nela produzidos — porém não reproduzidos em juízo, sob a garantia do contraditório — fossem os únicos dados probatórios existentes contra a pessoa investigada, o que afastaria a objeção de que a investigação penal, quando realizada pelo Mi-nistério Público, poderia comprometer o exercício do direito de defesa. Advertiu-se, por fim, que à semelhança do que se registra no inquérito policial, o procedimento investigatório instaurado pelo Ministério Públi-co deverá conter todas as peças, termos de declarações ou depoimentos e laudos periciais que tenham sido coligidos e realizados no curso da investigação, não podendo o membro do parquet sonegar, selecionar ou

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deixar de juntar, aos autos, qualquer desses elementos de informação, cujo conteúdo, por se referir ao objeto da apuração penal, deve ser torna-do acessível à pessoa sob investigação. HC 89837/DF, rel. Min. Celso de Mello, 20.10.2009. (HC-89837)

Ministério Público e Investigação Criminal - 1

A Turma negou provimento a recurso extraordinário, em que se susten-tava invasão das atribuições da polícia judiciária pelo Ministério Público Fe-deral, porque este estaria presidindo investigação criminal, e ilegalidade da quebra do sigilo de dados do recorrente. Na espécie, o recorrente tivera seu sigilo bancário e fiscal quebrado para confrontação de dados da CPMF com a declaração de imposto de renda, com o intuito de se apurar possível sone-gação fiscal. Quanto à questão relativa à possibilidade de o parquet promover procedimento administrativo de cunho investigatório e à eventual violação da norma contida no art. 144, § 1º, I e IV, da CF, considerou-se irrele-vante o debate. Asseverou-se que houvera a devida instauração de inquérito policial para averiguar fatos relacionados às movimentações de significativas somas pecuniárias em contas bancárias, bem como que o Ministério Público requerera, a título de tutela cautelar inominada, ao juízo competente, a con-cessão de provimento jurisdicional que afastasse o sigilo dos dados bancários do recorrente. RE 535478/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 28.10.2008. (RE‑535478) Informativo 526

Ministério Público e Investigação Criminal - 2

Considerou-se, ademais, que, mesmo que se tratasse da temática dos poderes investigatórios do Ministério Público, melhor sorte não assistiria ao recorrente, haja vista que a denúncia pode ser fundamentada em peças de informação obtidas pelo órgão do Ministério Público sem a neces-sidade do prévio inquérito policial, como já previa o CPP. Reputou-se não haver óbice a que o Ministério Público requisite esclarecimentos ou diligencie diretamente a obtenção da prova de modo a formar seu con-vencimento a respeito de determinado fato, aperfeiçoando a persecução penal, especialmente em casos graves como o presente que envolvem al-tas somas em dinheiro movimentadas em contas bancárias. Aduziu-se, tendo em conta ser princípio basilar da hermenêutica constitucional o dos “poderes implícitos”, segundo o qual, quando a Constituição Fede-ral concede os fins, dá os meios, que se a atividade fim - a promoção da ação penal pública - foi outorgada ao parquet em foro de privatividade, não haveria como não lhe oportunizar a colheita de prova para tanto, já que o CPP autoriza que peças de informação embasem a denúncia.

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201FGV dIReITO RIO

Dessa forma, concluiu-se pela possibilidade de, em algumas hipóteses, ser reconhecida a legitimidade da promoção de atos de investigação por parte do Ministério Público, especialmente quando se verifique algum motivo que se revele autorizador dessa investigação. No mais, afastou--se a apontada violação ao princípio da irretroatividade das leis, devido à invocação do disposto na Lei 10.174/2001 para utilização de dados da CPMF, haja vista que esse diploma legal passou a autorizar a utilização de certas informações bancárias do contribuinte para efeitos fiscais, mas, mesmo no período anterior a sua vigência, já era possível a obtenção des-ses dados quando houvesse indícios de prática de qualquer crime. Não se trataria, portanto, de eficácia retroativa dessa lei, e sim de apuração de ilícito penal mediante obtenção das informações bancárias. No que tange aos demais argumentos apresentados, não se conheceu do recurso, já que as matérias teriam natureza infraconstitucional. RE 535478/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 28.10.2008. (RE‑535478) Informativo nº 526

Ação Civil Pública e Legitimidade do Ministério Público

O Ministério Público possui legitimidade para propor ação civil pública com o fim de obter certidão parcial do tempo de serviço que segurado tem averbado em seu favor. Com base nesse entendimento, a Turma negou pro-vimento a agravo regimental em recurso extraordinário em que o Instituto Nacional do Seguro Social - INSS sustentava ofensa aos artigos 127 e 129, III, da CF. Considerou-se que o direito à certidão traduziria prerrogativa jurídica, de extração constitucional destinada a viabilizar, em favor do indi-víduo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o escla-recimento de situações, de tal modo que a injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa preten-são, autorizaria a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou como a própria ação civil pública, esta, nos casos em que se configurasse a existência de direitos ou interesses de caráter transin-dividual, como os direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos. Enfa-tizou-se que a existência, na espécie, de interesse social relevante, amparável mediante ação civil pública, restaria ainda mais evidenciada, ante a constata-ção de que os direitos individuais homogêneos ora em exame estariam reves-tidos, por efeito de sua natureza mesma, de índole eminentemente constitu-cional, a legitimar desse modo, a instauração, por iniciativa do parquet, de processo coletivo destinado a viabilizar a tutela jurisdicional de tais direitos. RE 472489 AgR/RS, rel. Min. Celso de Mello, 29.4.2008. (RE-472489) - Informativo 504

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202FGV dIReITO RIO

Ação Civil Pública e Legitimidade do Ministério Público

A Turma iniciou julgamento de recurso extraordinário em que se dis-cute a legitimidade do Ministério Público estadual para propor ação civil pública para impugnar majoração supostamente abusiva da tarifa de trans-porte coletivo público. O Min. Gilmar Mendes, relator, deu provimento ao recurso e assentou o cabimento da ação civil pública, ajuizada pelo par-quet com base nos artigos 127, caput e 129, III, ambos da CF, assim como da Lei 7.437/85 e na Lei 8.625/93, com o objetivo de impugnar a ilegali-dade do reajuste de tarifas de transporte público urbano. Considerou que a mencionada ação estaria voltada à proteção dos usuários (consumidores) do transporte coletivo público, indeterminados, o que faria transparecer o interesse difuso em jogo, tal como definido pelo art. 81, I, do CDC. Ade-mais, esclareceu que não se estaria diante de tributo, mas de preço público cobrado como contraprestação ao serviço de transporte público urbano. De outro lado, rejeitou a tese utilizada no acórdão recorrido, de que o Poder Judiciário não poderia se pronunciar sobre o assunto. Enfatizou que, no caso, tratar-se-ia de controle da legalidade dos atos e contratos firmados pelo Poder Público municipal para a prestação à população dos serviços de transporte público urbano. Após, o julgamento foi suspenso em virtude do pedido de vista do Min. Eros Grau. RE 228177/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 1º.4.2008. (RE-228177) - Informativo 500

Conflito de Atribuições entre Ministérios Públicos e Competência do Supremo

Compete ao Supremo Tribunal Federal dirimir conflito de atribuições entre Ministérios Públicos (CF, art. 102, I, f). Confirmando esse entendi-mento, o Tribunal, por maioria, conheceu de conflito negativo de atribui-ções entre os Ministérios Públicos do Estado de São Paulo e do Estado do Mato Grosso do Sul, e, por unanimidade, reconheceu a competência do primeiro para apreciar suposto crime de receptação (CP, art. 180). Con-siderou-se que não teria sido praticado nenhum ato de conteúdo jurisdi-cional com força bastante para atrair a tipificação de conflito negativo de competência. Vencido, quanto à preliminar, o Min. Carlos Britto que, reportando-se ao que decidido na ACO 756/SP (DJU de 31.3.2006), não conhecia do feito, ao fundamento de que a Constituição não incluiu na competência judicante do STF conflito de atribuições entre nenhuma au-toridade. Precedentes citados: Pet 3528/BA (DJU de 3.3.2006); ACO 853/RJ (DJU de 27.4.2007). Pet 3631/SP, rel. Min. Cezar Peluso, 6.12.2007. (Pet-3631) – Informativo 491

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203FGV dIReITO RIO

Concurso para Procurador da República e Cargo Privativo de Bacharel em Direito

O Tribunal indeferiu medida cautelar em mandado de segurança impetrado contra ato do Procurador-Geral da República que cancelara a inscrição prelimi-nar do impetrante no 24º Concurso Público para provimento de cargos de Pro-curador da República (Edital 24/2007). Salientou-se, inicialmente, a necessida-de de se apresentar o pedido de liminar à apreciação do Plenário, em razão de manifestação divergente, em sede de liminar, de dois Ministros da Corte sobre questão aparentemente idêntica, o que poderia gerar conseqüências concretas que violariam o princípio da igualdade. Esclareceu-se que o ora impetrante, que exerce o cargo de auditor fiscal da Secretaria de Estado da Fazenda do Paraná, desde 30.4.96, e é bacharel em Direito desde 1º.3.93, anteriormente impe-trara o MS 27014/DF contra a Resolução 93/2007 do Conselho Superior do Ministério Público Federal, alegando que a exigência, para a comprovação de atividade jurídica, de exercício de cargo, emprego ou função públicas privativos de bacharel em Direito para inscrição no concurso para provimento de cargos de Procurador da República feria os princípios da legalidade, da isonomia e da razoabilidade. O pedido de liminar, nesse writ, fora indeferido, com base no que decidido na ADI 3460/DF (DJU de 15.6.2007). Ocorre que outra candi-data, ocupante do cargo de analista tributário da Receita Federal do Brasil, des-de 13.1.93, e bacharel em Direito desde 27.2.99, impetrara o MS 27013/DF, questionando a mesma Resolução, tendo obtido, entretanto, o deferimento da liminar pleiteada. Concluiu-se não haver razões suficientes para reputar ilegal ou inconstitucional o ato ora impugnado, tendo em conta que, ao menos no plano formal, o cargo exercido pelo impetrante não seria privativo de bacharel em Direito, não atendendo, em princípio, o disposto no art. 129, § 3º, da CF, nos termos do que definido no julgamento da ADI 3460/DF.

MS 27158 MC-QO/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 21.2.2008. (MS-27158) – Informativo 495

Notícia do STF em 23.12.2010Ministro Celso de Mello reafirma validade de investigação conduzida pelo MP

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Celso de Mello negou recurso ordinário em Habeas Corpus (RHC 83492) que pretendia anular investigação feita pelo Ministério Público do Rio de Janeiro. Em sua decisão, o ministro ressaltou que “o Ministério Público dispõe de competência para promover, por autoridade própria, investigação de natureza penal”.

O pedido de anulação foi feito pela defesa do empresário José Caruzzo Escafura, que responde por crime de corrupção ativa (suborno) por supos-tamente contribuir para um fundo destinado ao pagamento de propinas a funcionários públicos no estado.

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204FGV dIReITO RIO

No recurso apresentado ao Supremo, a defesa argumentou que o MP do Rio de Janeiro teria agido como polícia ao instaurar inquérito criminal e oferecer denúncia contra o empresário. De acordo com os advogados, o ato deveria ser considerado nulo desde o início.

DecisãoFundamentado em jurisprudência do STF, especialmente em decisões da

Segunda Turma da Corte, o ministro Celso de Mello destacou que, apesar de a presidência do inquérito policial caber à autoridade policial, nada impede que o órgão da acusação penal (Ministério Público) possa solicitar, à Polícia Judiciária, novos esclarecimentos, novos depoimentos, ou novas diligências, sem prejuízo de poder acompanhar, ele próprio, os atos de investigação rea-lizados pelos organismos policiais.

Celso de Mello ressaltou ainda que “a atuação do Ministério Público no contexto de determinada investigação penal, longe de comprometer ou de reduzir as atribuições de índole funcional das autoridades policiais – a quem sempre caberá a presidência do inquérito policial – representa, na realidade, o exercício concreto de uma típica atividade de cooperação, que, em última análise, mediante requisição de novos elementos informativos e acompanha-mento de diligências investigatórias, além de outras medidas de colaboração, promove a convergência de dois importantes órgãos estatais (a Polícia Judi-ciária e o Ministério Público) incumbidos, ambos, da persecução penal e da concernente apuração da verdade real”.

O ministro lembrou, no entanto, que nem o Ministério Público e nem a Polícia Judiciária estão autorizados a desrespeitar as garantias jurídicas que assistem ao suspeito e ao indiciado, que não mais podem ser considerados meros objetos de investigação. “O indiciado é sujeito de direitos e dispõe, nessa condição, de garantias legais e constitucionais”, destacou.

Ele também ressaltou que a pessoa investigada tem o direito assegurado de ter acesso a toda informação já produzida e formalmente incorporada aos au-tos como provas, pois tais informações podem servir para sua própria defesa.

Ao concluir que a investigação por parte do Ministério Público reveste-se de integral legitimidade constitucional, o ministro negou o recurso para con-siderar válida a investigação promovida pelo Ministério Público fluminense.

Esse caso envolveu extensa investigação criminal promovida pelo Ministé-rio Público do Estado do Rio de Janeiro contra chefes do crime organizado, delegados de polícia e outros agentes policiais, supostamente envolvidos em práticas como corrupção ativa e passiva.

Envolvido na investigação, o empresário José Caruzzo Escafura teve ne-gada pelo Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro alegação quanto à nulidade da investigação conduzida pelo Ministério Público – decisão que foi poste-riormente confirmada pelo Superior Tribunal de Justiça e contra a qual foi impetrado o RHC 83492 no Supremo.

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205FGV dIReITO RIO

LEITURAS COMPLEMENTARES

O controle externo do Ministério Público. Hugo Nigro Mazzili. Artigo disponível no site: http://www.mundojuridico.adv.br

A Constituição e os requisitos para investidura do Chefe do Ministério Público nos Estados. Clèmerson Merlin Clève. Artigo disponível no site: http://www.cleveadvogados.com.br > artigos

Investigação Criminal e Ministério Público. Clèmerson Merlin Clève.Ar-tigo disponível no site: http://www.cleveadvogados.com.br > artigos

Direito Individual Homogêneo e Legitimidade do Ministério Público: visão dos Tribunais Superiores. Humberto Dalla Bernadino Pinho. Artigo disponível no site: http://www.humbertodalla.pro.br

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206FGV dIReITO RIO

QUESTÕES ACERCA DA MATÉRIA

01. Sobre o Conselho Nacional do Ministério Público, é correto afirmar que: (Concurso para Técnico Administrativo do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – março de 2007)

(a) É presidido sempre por membro do Ministério Público, alternando-se na função, a cada biênio, um representante da União e um dos Estados;(b) Tem seus membros nomeados pelo Procurador-Geral da República, de-pois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução;(c) Limita-se a receber e conhecer reclamações contra membros do Ministé-rio Público;(d) Cabe-lhe rever e desconstituir os atos administrativos ilegais praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados;(e) Compete ao Corregedor nacional requisitar servidores do Ministério Pú-blico e, após autorização do Congresso Nacional, requisitar membros do Mi-nistério Público.

02. De acordo com as normas constitucionais, é correto afirmar que o Con-selho Nacional do Ministério Público: (Concurso para Técnico Superior Pro-cessual do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro – março de 2007)

(a) Não possui poder regulamentar;(b) Tem legitimidade para propor ação judicial para demissão de membro vitalício;(c) É órgão subordinado diretamente ao Ministério Público da União;(d) Age apenas por provocação, por tratar-se de órgão excepcional de contro-le externo do Ministério Público;(e) Pode aplicar sanções administrativas aos membros Ministério Público, incluindo remoção compulsória.

03. Em caso de extinção de vara judicial junto à qual atua órgão de execução, o Promotor de Justiça que dele era titular se submete a qual situação funcio-nal? Explique as possibilidades decorrentes dessa situação, com base nas ga-rantias constitucionais e na disciplina normativa institucional. O acréscimo ou supressão da competência do juízo alteram imediatamente a atribuição do órgão de execução?          RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA.            (XXX Concurso para Ingresso Ministério Público/RJ – 2008 – Princípios Institucionais do Ministério Público - Prova específica)

04. O Corregedor Nacional do Ministério Público recebe uma mensagem eletrônica apócrifa noticiando que determinado Promotor de Justiça omite-

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-se deliberadamente no exercício de suas funções, deixando de oferecer ação penal contra indiciado com quem supostamente manteria relações de ami-zade, embora todos os elementos para o ajuizamento da denúncia estivessem presentes. Determinando a instauração direta de procedimento disciplinar, o Corregedor Nacional constata a veracidade dos fatos e aplica a sanção de remoção do membro do Ministério Público, com a conseqüente designação direta de outro Promotor de Justiça para o oferecimento imediato da denún-cia. As providências adotadas estão corretas?RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA.(XXX Concurso para ingresso no Ministério Público/RJ – 2008 - Princípios Institucionais do Ministério Público - Prova preliminar)

05. Determinado agente público é notificado pelo órgão com atribuição do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro para prestar esclarecimentos em inquérito civil que apura o seu possível envolvimento na prática de atos de improbidade administrativa. Irresignado com a situação, referido agente busca amparo no Conselho Na-cional do Ministério Público, argumentando que: (a) o juízo valorativo do membro do Ministério Público em relação aos fatos é equivocado, já que to-dos os atos, no seu entender, foram praticados para a salvaguarda do interesse público; (b) a investigação gera uma ruptura do sistema constitucional de divisão dos poderes, pois afronta a total liberdade política do Administrador, sendo manifestamente ilícita. Após a regular tramitação do processo admi-nistrativo, o Conselho Nacional do Ministério Público acolhe os argumentos apresentados para trancar o inquérito civil e, face à gravidade do fato, aplicar ao Promotor de Justiça a sanção de aposentadoria compulsória com proven-tos proporcionais ao tempo de serviço. À luz desses fatos, questiona-se: é juridicamente correta a decisão do Conse-lho? RESPOSTA OBJETIVAMENTE JUSTIFICADA.(XXIX Concurso para ingresso no MP/RJ – 2007 – Direito Constitucional – Prova preliminar)

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208FGV dIReITO RIO

AULAS 19 A 21: A ADvOCACIA PÚBLICA E A DEFENSORIA PÚBLICA

Tendo em vista esta especificidade, o Advogado-Geral da União não pos-

sui as mesmas garantias que dispõe o Procurador Geral da República, não possuindo investidura garantida por tempo determinado, podendo ser demi-tido ad nutum conforme conveniência do Poder Executivo. São nomeações que se caracterizam por ser pessoais e políticas e, como tais, possuem uma volatilidade que lhes é inerente.

Todavia, a Constituição reconhece o status especial dos Advogados Pú-blicos, pois exercem uma função essencial à Justiça. Daí a necessidade de que as Instituições de advocacia pública tenham autonomia administrativa, financeira e orçamentária, para melhor cumprir sua missão.

A composição da Advocacia-Geral da União, consoante a LC nº 73/1993 compreende:

“Art. 2º - A Advocacia-Geral da União compreende:

 I - órgãos de direção superior:

        a) o Advogado-Geral da União;        b) a Procuradoria-Geral da União e a da Fazenda Nacional;        c) Consultoria-Geral da União;        d) o Conselho Superior da Advocacia-Geral da União; e        e) a Corregedoria-Geral da Advocacia da União;

II - órgãos de execução:

        a) as Procuradorias Regionais da União e as da Fazenda Na-cional e as Procuradorias da União e as da Fazenda Nacional nos Estados e no Distrito Federal e as Procuradorias Seccionais destas;        b) a Consultoria da União, as Consultorias Jurídicas dos Ministérios, da Secretaria-Geral e das demais Secretarias da Pre-sidência da República e do Estado-Maior das Forças Armadas;

III - órgão de assistência direta e imediata ao Advogado-Geral da União: o Gabinete do Advogado-Geral da União”.

Os pareceres do advogado-geral da União, aprovados pelo Presidente da Re-pública e publicados, vinculam a Administração Federal, cujos órgãos e entida-des ficam obrigados a lhe dar fiel cumprimento (Artigos 39 e seguintes da LC 73/93). Da mesma forma ocorre como as súmulas da Advocacia-Geral da União que têm caráter obrigatório quantos aos órgãos jurídicos enumerados no Artigo 2º supra descrito e quanto aos órgãos jurídicos das autarquias e fundações.

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209FGV dIReITO RIO

PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

Em simetria a este organismo representativo, porém, na esfera estadual, existem as Procuradorias-Gerais do Estado. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal exercerão a representação judicial e consultoria jurídica das respectivas unidades federadas e serão organizadas em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos. A Emenda Cons-titucional nº 19/1998, inovou ao exigir a participação obrigatória da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases do concurso.

Suas principais atribuições estão previstas no Artigo 132 da Constituição Federal e no Artigo 176 a Constituição do Estado, destacando-se as de funcio-nar como órgão central do sistema jurídico estadual, de supervisionar os servi-ços jurídicos da administração direta e indireta no concernente às Autarquias, Fundações, Empresas Públicas e Sociedades de Economia Mista no âmbito do Poder Executivo, de oficiar no controle interno da legalidade dos atos da Administração Pública e de exercer a defesa dos interesses legítimos do Estado.

No caso do Estado do Rio de Janeiro, a organização e funcionamento da Procuradoria Geral do Estado estão descritos na Lei Complementar Estadual nº 15 de 1980, que dispõe sobre a carreira de Procurador do Estado, seu modo de ingresso, cargos, direitos, deveres, garantias e prerrogativas.

A estabilidade será adquirida pelos procuradores após três anos de efetivo exercício, mediante a avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.

A competência para legislar sobre a organização administrativa e judiciária da PGE é da Assembléia Legislativa, sendo de iniciativa privativa do governa-dor do Estado a lei complementar que irá tratar da matéria. A Procuradoria Geral do Estado possui dotação orçamentária própria, autonomia financeira e também administrativa. Possui ainda competência privativa para a cobran-ça judicial e extrajudicial da dívida ativa do Estado.

PROCURADORIA GERAL DO MUNICÍPIO

Em simetria a Procuradoria Geral do Estado existe, nos Municípios, a Procuradoria Geral do Município. No Rio de Janeiro, a previsão encontra--se na Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro - Artigos 134-136 - e na Lei 788/85. A PGM/RJ é o órgão do Poder Executivo ao qual compete a representação judicial do Município e de suas autarquias, a cobrança admi-nistrativa e judicial da dívida ativa do Município, a defesa em juízo ou fora dele, ativa ou passivamente, dos atos e prerrogativas do prefeito, o exercício de funções de consultoria jurídica da Administração, defender em juízo ou fora dele o Legislativo municipal e responder a consultas por ele formuladas, dentre outras competências disciplinadas no Art. 3º da Lei nº 788/1985.

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“Lei Orgânica do Município do Rio de Janeiro

Título III - Da Organização dos PoderesCapítulo III - Do Poder ExecutivoSeção VII - Da Procuradoria-Geral do MunicípioSubseção I - Das Atribuições e Organização

Art. 134 - A representação judicial e a consultoria jurídica do Município, ressalvadas as competências da Procuradoria-Geral da Câmara Municipal, são exercidas pelos Procuradores do Mu-nicípio, membros da Procuradoria-Geral, instituição essencial à Justiça, diretamente vinculada ao Prefeito, com funções, como órgão central do sistema jurídico municipal, de supervisionar os serviços jurídicos da administração direta, indireta e fundacional no âmbito do Poder Executivo.§ 1º - Os Procuradores do Município, com iguais direitos e de-veres, são organizados em carreira na qual o ingresso depende de concurso público de provas e títulos realizado pela Procuradoria--Geral do Município, assegurada em sua organização a partici-pação da Ordem dos Advogados do Brasil, observados os requisi-tos estabelecidos em lei complementar.§ 2º - A Procuradoria-Geral oficiará obrigatoriamente no con-trole interno da legalidade dos atos do Poder Executivo e exerce-rá a defesa dos interesses legítimos do Município, incluídos os de natureza financeiro-orçamentária, sem prejuízo das atribuições do Ministério Público do Estado e da Procuradoria Especial do Tribunal de Contas do Município.§ 3º - O exercício de cargos comissionados na Procuradoria--Geral do Município, excetuados aqueles dos serviços de apoio, é privativo de Procuradores do Município.§ 4º - A Procuradoria-Geral do Município prestará qualquer in-formação dos dados que dispuser a qualquer do povo que o requerer.§ 5º - Lei complementar disciplinará a organização e o funcio-namento da Procuradoria-Geral, bem como a carreira e o regime jurídico dos Procuradores.

Título III - Da Organização dos PoderesCapítulo III - Do Poder ExecutivoSeção VII - Da Procuradoria-Geral do MunicípioSubseção II - Da Competência PrivativaArt. 135 - Além de outras competências estabelecidas em lei, compete privativamente à Procuradoria-Geral do Município a cobrança judicial e extrajudicial da dívida ativa do Município.

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211FGV dIReITO RIO

Título III - Da Organização dos PoderesCapítulo III - Do Poder ExecutivoSeção VII - Da Procuradoria-Geral do MunicípioSubseção III - Do Assessoramento JurídicoArt. 136 - Integram o sistema jurídico municipal as Assessorias Jurídicas da administração direta, autárquica e fundacional do Município, as quais serão chefiadas preferencialmente por Procu-rador do Município ou por Assistente Jurídico.§ 1º - Os Assistentes Jurídicos do Poder Executivo e dos órgãos a este vinculados exercem suas funções, sob supervisão da Procura-doria-Geral do Município, no sistema jurídico municipal, sem representação judicial.§ 2º - Ao Assistente Jurídico são reservadas as funções de asses-soramento jurídico, atividade da advocacia cujo exercício lhe é inerente.§ 3º - A carreira de Assistente Jurídico é composta de advogados aprovados em concurso público de provas ou de provas e títulos.”

Na área de urbanismo e do meio-ambiente, a PGM atua no plano admi-nistrativo e no judicial para a proteção do patrimônio cultural e ambiental, para o desenvolvimento da política habitacional, da regularização da ocupa-ção do solo urbano, zoneamento e edificações. Na área tributária, a Procu-radoria exerce a defesa do Tesouro em face do contribuinte, e do Município enquanto contribuinte em face das demais entidades tributantes. As desa-propriações, necessárias à condução da política de obras e serviços públicos no âmbito municipal, são conduzidas pela PGM, bem como as negociações de dissídios coletivos e causas trabalhistas relativos ao pessoal celetista em-pregado pelo Município. Além disso, a PGM atua na elaboração de contra-tos, licitações e convênios celebrados pela administração municipal, zelando tanto pela otimização dos serviços públicos prestados pela prefeitura, como também pela garantia da legalidade nas relações do Município para com o seu quadro de pessoal estatutário (servidores públicos). A PGM faz também a cobrança dos tributos municipais inscritos em dívida ativa, isto é, os im-postos e taxas não pagos, que precisam ser cobrados de forma amigável ou através de execução judicial.

A direção da instituição compete ao Procurador Geral, com as prerroga-tivas de Secretário Municipal, nomeado em comissão dentre bacharéis em Direito maiores de 35 anos. A PGM, diretamente subordinada ao prefeito, será composta de procuradores e de órgãos que integram a sua estrutura orgânica. O quadro de Procuradores do Município é constituído de 75 (setenta e cinco) cargos distribuídos em categorias (1ª, 2ª e 3ª categorias).

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212FGV dIReITO RIO

O ingresso na carreira de Procurador do Município far-se-á na 3ª catego-ria, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação de representante da Ordem dos Advogados do Brasil, podendo a ele concorrer bacharéis em Direito.

A PGE possui autonomia administrativa e financeira e disporá de dotação orçamentária própria.

A DEFENSORIA PúBLICA

A Defensoria Pública, prevista na Constituição Federal como uma das instituições essenciais à função jurisdicional do Estado, é competente pela orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, dos necessitados, assim considerados na forma do inciso LXXIV do art. 5º da CF. Segundo o Artigo 134 da CF, as Defensorias são essenciais, perante todos os juízos e tribunais do país. Por esta razão não só a União estruturará adequadamente a sua, como também os Estados deverão fazê-lo (Art.134, §1º). Não obstante isso, poucos são os Estados brasileiros que já o fizeram. No Estado de São Paulo, por exemplo, um dos maiores Estados do nosso país, com uma população carente de número bastante ex-pressivo, só no ano de 2006 veio a promulgar uma lei complementar implan-tando a Defensoria Pública.

Quais os requisitos para se fazer jus a gratuidade de Justiça?

A pessoa que se enquadrar no conceito legal de necessitado, deve apresen-tar uma afirmação de hipossuficiência. É uma petição simples, sem formali-dades, que será anexada à petição inicial. Esta afirmação goza de presunção relativa, presumindo-se pobre, até prova em contrário, quem afirmar essa condição nos termos desta lei, sob pena de pagamento até o décuplo das custas judiciais.

“Lei nº 1.060/1950Art. 2º-(...)§2 Considera-se necessitado, para os fins legais, todo aquele cuja situação econômica não lhe permita pagar as custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio ou da família.”

Este é o conceito legal de necessitado econômico.

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213FGV dIReITO RIO

E no que consiste essa gratuidade?O necessitado, com esta afirmação, fica dispensado de pagar as taxas ju-

diciárias e os selos; os emolumentos e custas devidos aos juízes, órgãos do Ministério Público e serventuários da Justiça; as despesas com as publica-ções indispensáveis no jornal encarregado da divulgação dos atos oficiais; as indenizações devidas às testemunhas que, quando empregados, receberão do empregador salário integral, como se em serviço estivessem, ressalvado o direito regressivo contra o poder público federal, no Distrito Federal e nos Territórios; ou contra o poder público estadual, nos Estados; os honorários de advogado e peritos; as despesas com a realização do exame de código ge-nético – DNA que for requisitado pela autoridade judiciária nas ações de investigação de paternidade ou maternidade.

Os benefícios da assistência judiciária compreendem todos os atos do pro-cesso até decisão final do litígio, em todas as instâncias. Cabe ressaltar que a Lei nº 1060/1950, conhecida como a Lei de Assistência Judiciária ou Lei de Gratuidade de Justiça, não é privativa da Defensoria Pública. Assim, todo e qualquer advogado pode requerer a gratuidade para seu cliente, desde que de acordo com os requisitos da lei, quando, então, estará prestando assistência judiciária gratuita.

E como se estrutura a Defensoria Pública?A Estrutura Nacional da Defensoria compreende a Defensoria Pública da

União, a Defensoria Pública do Distrito Federal e Territórios e a Defensoria Pública dos Estados. O ingresso na classe inicial da carreira se perfaz median-te concurso público, em atendimento à exigência constitucional (Art. 37 da CF). Em atendimento ainda ao disposto no Artigo 134, §1º da Constituição, foi promulgada a Lei Complementar nº 80, de 1994, chamada Lei Orgânica da Defensoria Pública, alterada pela Lei Complementar nº 132 de 2009.

Esta Lei tem uma tríplice função, pois: (a) Organiza a Defensoria Pú-blica da União; (b) organiza a Defensoria Pública do Distrito Federal e dos Territórios; e (c) prescreve normas gerais para a organização das Defensorias Públicas nos Estados.

No Estado do Rio de Janeiro, por exemplo, é a Lei Complementar nº 06/1977 que organiza a Defensoria Pública no Estado.

A chefia da Defensoria Pública da União fica a cargo do Defensor Públi-co-Geral Federal, nomeado pelo Presidente da República, dentre membros estáveis da carreira, maiores de trinta e cinco anos, escolhidos em lista tríplice formada pelo voto direto, secreto, plurinominal e obrigatório de seus mem-bros, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida uma recondução, pre-cedida de nova aprovação do Senado Federal. Da mesma forma ocorre nas Defensorias Públicas dos Estados, cujo chefe será o Defensor Público-Geral, nomeado pelo Governador do Estado.

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214FGV dIReITO RIO

Autonomia funcional, administrativa e orçamentária

Por fim, cumpre-nos falar um pouco sobre o grande salto que a Defensoria Pública deu no cenário jurídico após a Emenda Constitucional nº 45/2004, com o acréscimo do §2º do Art. 134:

§ 2º Às Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autono-mia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no art. 99, § 2º.

Antes da Emenda, a autonomia funcional e administrativa tinha respaldo infraconstitucional. Isso prejudicava a real autonomia da instituição. Já a autonomia financeira não existia. Hoje, atendendo os reclamos da doutrina, existe a iniciativa para a proposta orçamentária, o que deverá tornar este órgão mais fortalecido. Deve-se lembrar que, muitas vezes, a Defensoria Pú-blica em suas atividades se voltava contra o próprio Poder Executivo ou fisco. Eram ações propostas em nome do assistido contra o Estado. Ocorre que este mesmo Estado era o patrocinador da entidade. Era o Poder Executivo o responsável pelo repasse orçamentário à Defensoria Pública, o que tornava a situação, ao menos desconfortável naquelas demandas em que o próprio patrocinador da entidade era por esta caracterizado como réu.

Com a alteração trazida pela Lei Complementar nº 132 de 07 de outubro de 2009, tal autonomia passou a constar também na Lei Orgânica da Defen-soria Pública (art. 97-A, incisos I a VII, da LC 80/94).

De acordo com o art. 97-B, da Lei Orgânica, caberá à Defensoria Pública do Estado elaborar sua proposta orçamentária dentro dos limites definidos na lei de diretrizes orçamentárias e encaminhá-la ao Chefe do Poder Execu-tivo dentro do prazo estabelecido.

Caso a proposta não seja enviada dentro do prazo ou esteja em desacordo com os limites estipulados pela lei de diretrizes, caberá ao Poder Executivo considerar os valores aprovados na lei orçamentária vigente ou proceder aos ajustes necessários para fim de consolidação da proposta orçamentária anual.

Caberá ao Poder Legislativo, mediante o controle externo e interno, a fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial da Defensoria Pública do Estado, quanto à legalidade, legitimidade, aplicação de dotações e recursos próprios e renúncia de receitas (art. 97-B e parágrafos).

Essa inovação, portanto, certamente permitirá um substancial aumento orçamentário e conseqüentemente uma desejável efetiva e imparcial atuação. Desta forma, mostra-se de imensurável importância a atuação da Defensoria Pública, intuindo-se sua imprescindibilidade para realização do Estado De-mocrático de Direito.

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215FGV dIReITO RIO

Legitimidade da Defensoria Pública nas ações coletivas lato sensu

No dia 16 de janeiro de 2007 foi publicada a Lei 11.448/2007, alterando o artigo 5º da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), legitimando para a sua propositura a Defensoria Pública.

Mas, quais são os direitos que podem ser legitimamente defendidos pela Defensoria Pública? A questão passou a ser bastante discutida nos meios ju-rídicos.

A Defensoria Pública sustenta que o objetivo da lei foi incluir mais um órgão no rol dos legitimados para a defesa dos interesses transindividuais, possibilitando o maior acesso possível à Justiça. Desta forma, estaria a Defen-soria Pública legitimada a defender qualquer interesse transindividual através da ação civil pública.

Outros organismos, ao contrário, entendem que a lei conferiu a Defen-soria Pública a legitimidade para propor ações civis públicas direcionados à tutela coletiva, genericamente considerada, apenas de hipossuficientes, tendo em vista que essa é a sua legitimação constitucional (Constituição da Re-pública, Título IV, Capítulo IV, artigos 127 a 135) cabendo à Defensoria Pública a defesa dos hipossuficientes.

Nada impede, porém, superadas as divergências, a atuação litisconsorcial, por exemplo, da Defensoria Pública e do Ministério Público, na hipótese de haver cumulação de pedidos. Assim, no caso de uma poluição de um rio com o rompimento de um dique e consequente alagamento das casas ribeiri-nhas, poderia atuar o Ministério Público na defesa do meio ambiente com o pedido de reparação ambiental, e a Defensoria Pública atuaria na defesa das pessoas hipossuficientes que tiveram suas casas alagadas devido ao desastre ecológico. Nada impediria, da mesma forma, a prevalecer este entendimento da legitimidade genérica, que o Ministério Público e a Defensoria Pública ajuizassem conjuntamente uma ação civil pública na defesa desses mesmos bens e pessoas lesadas.

Nesse sentido também é o entendimento do Ilustre Dr. Humberto Dalla Bernardina de Pinho106:

“Nesse sentido, e tendo em vista que, em geral, normas definido-ras de direito e garantias devem ser interpretadas de forma exten-siva, estamos em que a Defensoria Pública, ao menos hoje, tem legitimidade para a tutela das três espécies de direitos (difusos, coletivos e individuais homogêneos).Caberá ao Defensor, no caso concreto, aferir se aquela situação demanda a atuação da Defensoria Pública, levando em conta todas as circunstâncias que puder examinar, sobretudo as econô-micas, sociais, culturais e jurídicas.”

106 PINHO, Humberto Dalla Bernadino. A Legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de Ações Civis Públicas: primeiras impressões e questões controvertidas. Disponível em www.humbertodalla.pro.br. Acesso em 17 de outubro de 2007.

106 PINhO, humberto dalla bernadino. A Legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de Ações Civis Pú-blicas: primeiras impressões e questões controvertidas. disponível em www.humbertodalla.pro.br. Acesso em 17 de outubro de 2007.

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216FGV dIReITO RIO

Entendemos que muito ainda há que se discutir acerca do tema. Uma norma regulamentadora há de ser prontamente elaborada a fim de evitar que celeumas doutrinárias e disputas políticas acabem por prejudicar a coletivi-dade. Até que esta norma seja editada, entendemos que a previsão genérica é que deva prevalecer.

Caso se conclua que a Defensoria Pública só poderá atuar na seara coletiva em prol dos necessitados, cabe lembrar que o Ministério Público atua como custos legis nas ações civis públicas propostas por outros legitimados e continu-ará o fazendo em sede de ação proposta pela Defensoria Pública. Desta forma, atuando a Defensoria em matéria que não seja referente a hipossuficientes, ca-berá ao Parquet, como custos legis, alertar para esta preliminar de ilegitimidade ativa e, com isso, assumir o pólo ativo da demanda quando for necessário.

No dia 16 de agosto de 2007, a Associação Nacional dos Membros do Minis-tério Público – CONAMP - ajuizou no Supremo Tribunal Federal uma ação direta de inconstitucionalidade107 contestando a Lei 11.448/2007.

CASO DE SEDIMENTAÇÃO:

No dia 30 de outubro de 2005, Tício, que conduzia seu veículo distrai-damente, subiu na calçada e atropelou Mévio, morador de rua, lesionando-o em suas pernas gravemente. Tício foi processado pelo crime de lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor (Artigo 303 da Lei nº 9503/1997), vindo a ser condenado em março de 2006. Sabendo-se que a sentença penal condenatória transitada em julgado torna certa a obrigação de indenizar o dano, sendo, portanto, título executivo judicial, o Ministério Público ajuíza a ação de execução no juízo cível.

Diante da redação do Artigo 68 do Código de Processo Penal e do que acabamos de estudar, pergunta‑se: agiu corretamente o membro do Ministério Público ao impetrar a ação civil ex delito?

JURISPRUDÊNCIA

DEFENSORIA PúBLICA

Procuradores Estaduais e Opção pelo Cargo de Defensor Público

O Tribunal julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Procurador-Geral da República para declarar a inconstitucionalidade do art. 11 do Ato das Disposições Transitórias da Constituição do Estado de São Paulo e do caput, incisos e § 3º do art. 3º e do § 1º do art. 4º das Disposições Transitórias da Lei Complementar 988/2006, do mesmo Estado-membro,

107 ADI nº 3943

107 AdI nº 3943

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217FGV dIReITO RIO

que facultam aos Procuradores estaduais, no prazo de 60 dias da promulgação da Lei Orgânica da Defensoria Pública, optarem pela permanência no quadro da Procuradoria-Geral do referido Estado-membro, ou na carreira de Defen-sor Público, garantidas as vantagens, os níveis e as proibições. Entendeu-se que as normas impugnadas seriam harmônicas com a Constituição Federal, haja vista que os Procuradores do Estado de São Paulo, aos quais viabilizada a opção pela carreira de Defensor Público, teriam ingressado na Administração Pública mediante concurso de provas e títulos. Além disso, asseverou-se que a Lei Complementar estadual 478/86 teria previsto as atribuições próprias ao cargo de Procurador do Estado, estabelecendo a divisão da Procuradoria em três áreas de atuação: o Contencioso Geral, a Consultoria Geral e a As-sistência Judiciária. Assim, os candidatos ao cargo de Procurador estadual, aos quais facultada a opção, teriam feito concurso para prestar serviços nessas diversas áreas, entre elas a de prestar assistência judiciária aos menos favore-cidos. Tendo isso em conta, ressaltou-se que o Supremo, da mesma forma como admitira a junção de carreiras (ADI 1591/RS, DJU de 30.6.2000), ha-veria de admitir situação inversa, em que observada simplesmente a cisão de carreira que se mostrava única e que, até o surgimento da Defensoria Pública, viera a ser preservada quanto ao Contencioso Geral e à Consultoria Geral. ADI 3720/SP, rel. Min. Marco Aurélio, 31.10.2007. (ADI-3720) – Informativo 486

Ação Penal Pública Condicionada e Ilegitimidade da Defensoria Pública

A Turma negou provimento a recurso ordinário em habeas corpus em que a Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro alegava a ilegitimidade do Ministério Público para propor ação penal pública condicionada à represen-tação pela suposta prática dos delitos de estupro (CP, art. 213) e atentado violento ao pudor (CP, art. 214) quando, não obstante a pobreza da víti-ma, o ente da federação possui Defensoria Pública devidamente aparelhada. Rejeitou-se o argumento de inconstitucionalidade do art. 225, §§ 1º e 2º, do CP pelo simples fato de o Estado-membro ser provido de Defensoria Pública estruturada. Asseverou-se, no ponto, ser distinto o dever de o Estado prestar assistência judiciária às pessoas menos favorecidas e as condições estabeleci-das no Código Penal para a propositura da ação penal. Desse modo, conside-rou-se despropositada a construção da recorrente no sentido de invocar, para a espécie, a norma do art. 68 do CPP e a jurisprudência fixada pela Corte quanto a esse dispositivo - até que viabilizada, em cada Estado, a implementa-ção da Defensoria Pública, o parquet deteria legitimidade para o ajuizamento de ação civil ex delicto, quando o titular do direito à reparação do dano for pobre -, a fim de converter a ação penal pública condicionada em ação penal privada, que passaria a ter como parte legitimada ativa a Defensoria Pública.

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218FGV dIReITO RIO

Aduziu-se que a opção do legislador pela convivência entre os artigos 32 do CPP (autoriza o juiz, comprovada a pobreza da parte, a nomear advogado para a promoção da ação penal privada) e 225 do CP (concede titularidade ao Ministério Público para a propositura de ação penal pública condiciona-da) tem como conseqüência impedir que, na hipótese do art. 225, § 1º, I, do CP (vítima pobre), depois de formalizada a representação, possa haver concessão de perdão ou abandono da causa. Por fim, entendeu-se que tal eleição não fora alterada com a criação e instalação das defensorias públicas nos Estados, pois a norma visa impedir que, nas hipóteses de pobreza decla-rada da ofendida, após a representação formalizada, não haja disposição de conteúdo material do processo. RHC 88143/RJ, rel. Min. Joaquim Barbosa, 24.4.2007. (RHC-88143) - Informativo 464

ADI e Vinculação da Defensoria Pública Estadual à Secretaria de Justiça

O Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuiza-da pelo Diretório Nacional do Partido Trabalhista Brasileiro - PTB para declarar a inconstitucionalidade da alínea c do inciso IV do art. 2º da Lei 12.775/2005, do Estado de Pernambuco, que vincula a Defensoria Pública Estadual à Secretaria de Justiça e Direitos Humanos - SEJUDH que cria. Entendeu-se que o dispositivo impugnado viola o § 2º do art. 134 da CF, incluído pela EC 45/2004, que assegura às Defensorias Públicas Estaduais autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamen-tária. Asseverou-se que a EC 45/2004 não conferiu à Defensoria Pública a iniciativa legislativa para criação de cargos, outorgada ao Ministério Público, continuando ela vinculada, no ponto, ao Poder Executivo estadual (CF, art. 61, §1º). Ressaltou-se, entretanto, que, no caso, a vinculação da Defensoria Pública à Secretaria de Justiça submete a primeira à tutela do Secretário de Estado, que sobre ela deterá poder de controle de legalidade, que é incompa-tível com o vigente status constitucional da Defensoria Pública. Além disso, afastou-se a alegação de que a ação seria desprovida de utilidade, em razão de o dispositivo impugnado repetir orientação prévia fixada pelo art. 2º da Lei Complementar estadual 20/98, a qual, por não ter sido objeto de impugna-ção, subsistiria ainda que declarada a inconstitucionalidade do dispositivo questionado. Aduziu-se que, quando da sanção da Lei 12.755/2005, o art. 2º da Lei Complementar 20/98 já estava revogado, por não estar em harmonia com o texto constitucional modificado. A Min. Cármen Lúcia ressalvou que a vinculação, por si só, não acarretaria a quebra da autonomia, mas tendo em conta o que foi dito na ação com relação à tutela, acompanhou o rela-tor. ADI 3569/PE, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 2.4.2007. (ADI-3569) - Informativo 462

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219FGV dIReITO RIO

ADVOCACIA

Interrogatório do Acusado e Presença de Defensor

A Turma deu provimento a recurso extraordinário para declarar a nu-lidade de processo, em que condenado o recorrente, a partir da realização do interrogatório sem a presença do respectivo defensor. No caso, a De-fensoria Pública da União interpusera recurso extraordinário contra acór-dão do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul que assen-tara que o interrogatório não estaria sujeito ao princípio do contraditório, porquanto ato privativo do magistrado, sendo absolutamente dispensável o comparecimento do defensor. Considerou-se que se aquele que está sim-plesmente preso deve ser informado dos respectivos direitos, com assistência de advogado, com mais razão tal garantia há de ser conferida àquele que já possui contra si ação penal instaurada. Assim, tendo em conta o princí-pio de que ninguém pode ser processado sem assistência técnica, asseverou--se que o interrogatório é fase do próprio processo e que cumpre observar a imposição constitucional (CF, art. 5º, LV) e também a legal (CPP, art. 261). Ressaltou-se, ainda, que a edição da Lei 10.792/2003, que alterou a redação do art. 185 do CPP, apenas explicitara algo que já decorreria do próprio sistema legal, qual seja, a exigência da presença do advogado no interrogatório. Precedente citado: HC 83836/RS (DJU de 23.9.2005). RE 459518/RS, rel. Min. Marco Aurélio, 23.10.2007. (RE-459518) ‑ In-formativo 485

ADVOCACIA PúBLICA

Procurador-Geral do Estado: Escolha - 2

O Tribunal, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Governador do Estado de São Paulo contra a expressão “entre os Procuradores que integram a carreira”, contida no parágrafo único do art. 100 da Constituição do referido Estado-membro (“O Procurador-Geral do Estado será nomeado pelo Governador, em comissão, entre os Procuradores que integram a carreira, e deverá apresentar declaração pública de bens, no ato da posse e de sua exoneração.”) — v. Informativo 336. Entendeu-se que a Constituição estadual, subordinada aos princípios contidos na Constituição Federal, no exercício da auto-organização conferida pelo art. 25, teria com-petência para a definição dos critérios para a escolha do Procurador-Geral, na forma prevista no inciso VIII do art. 235, e em consonância com o art. 132, que estabelece a representatividade do Estado por integrantes da carreira

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220FGV dIReITO RIO

(“Art. 235... VIII - até a promulgação da Constituição Estadual, responderão pela Procuradoria-Geral, pela Advocacia-Geral e pela Defensoria-Geral do Es-tado advogados com notório saber, com trinta e cinco anos de idade, no mínimo, nomeados pelo Governador eleito e demissíveis ad nutum;”). Nesta assentada, o Min. Sepúlveda Pertence, em voto de desempate, na linha de outros votos já proferidos, acompanhou o relator, ao fundamento de não ser essencial do cargo em comissão, segundo a Constituição Federal, a inexistência de quaisquer limites à clientela passível desta nomeação. Vencidos os Ministros Maurício Corrêa, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Ellen Gracie e Nelson Jobim que julgavam o pedido procedente por considerar que a norma im-pugnada, ao impor limitação ao exercício do poder discricionário de escolha conferido ao Governador, ofenderia o art. 61, § 1º, II, c, da CF, bem como o princípio da separação entre os Poderes.

ADI 2581/SP, rel. orig. Min. Maurício Corrêa, rel. p/ o acórdão Min. Marco Aurélio, 16.8.2007. (ADI-2581) – Informativo 476

LEITURAS COMPLEMENTARES

A Legitimidade da Defensoria Pública para a propositura de Ações Ci‑vis Públicas: primeiras impressões e questões controvertidas. Humberto Dalla Bernadino Pinho. Artigo disponível no site: http://www.humberto-dalla.pro.br > artigos.

ADI nº 3943: atentado contra a democracia. Cirilo Augusto Vargas. Artigo disponível no site: http://www.jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=10490.

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221FGV dIReITO RIO

QUESTÕES ACERCA DO TEMA

01. Assinale abaixo a alternativa em que se descreve prerrogativa compatível com estatuto constitucional de Procurador do Estado.

(a) Foro Especial por prerrogativa de função junto ao Tribunal de Justiça, nos crimes de resposnsabilidade definidos em lei(b) Estabilidade após 03 (três) anos de exercício efetivo aplicando-se-lhe, no tocante a esta, a mesma disciplina prevista para os servidores públicos ocu-pantes de cargo de provimento efetivo em virtude de concurso público, in-clusive quanto a perda do cargo, naquilo em que o regime que lhe é próprio não for derrogante do regime comum(c) Monopólio da representação judicial da pessoa jurídica de direito público a que estiver vinculado, excludente da capacidade desta para conferir manda-do ad judicia a outros advogados para causas especiais(d) Foro especial por prerrogativa de função junto ao Tribunal de Justiça, nos crimes dolosos contra a vida(e) Independência funcional

02. A Defensoria Pública possui:

(a) Iniciativa de lei referente à sua estrutura.(b) Iniciativa de sua proposta orçamentária(c) Iniciativa de lei referente à criação e extinção de cargos e à fixação de ven-cimentos e vantagens.(d) Prerrogativa de se manifestar sobre projetos de lei referentes à sua estru-tura.(e) Poder de veto sobre projetos de lei referentes à sua estrutura.

03. Aos defensores públicos é vedado:

(a) Filiar-se a partido político.(b) Exercer o magistério.(c) Fazer parte de sociedade comercial.(d) Integrar associação civil.(e) Exercer a advocacia fora de suas atribuições institucionais.

04. Relativamente às funções essenciais da justiça, vigora no sistema consti-tucional brasileiro a seguinte regra:

(a) A Advocacia Geral da União é instituição essencial à função jurisdicional, que representa a União, judicial e extrajudicialmente.

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222FGV dIReITO RIO

(b) A Advocacia Geral da União é instituição permanente essencial à função jurisdicional, que representa a União, judicial e extrajudicialmente.(c) A Advocacia é instituição permanente para a função jurisdicional do Estado.(d) A Defensoria Pública é instituição essencial à função jurisdicional do Estado.(e) O Ministério Público é instituição não permanente essencial à função jurisdicional.

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223FGV dIReITO RIO

AULAS 22 E 23: A POLÍCIA FEDERAL E A POLICIA CIvIL

A POLÍCIA FEDERAL

O constituinte originário fez questão de estabelecer de forma expressa as diretrizes principais da segurança pública em nosso país. Assim, dentro do Título destinado à Defesa do Estado e das Instituições Democráticas, prevê a Carta Magna de 1988 um capítulo específico sobre a Segurança Pública (Capítulo III), nos seguintes termos:

“Art. 144. A segurança pública, dever do Estado, direito e res-ponsabilidade de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:I - polícia federal;II - polícia rodoviária federal;III - polícia ferroviária federal;IV - polícias civis;V - polícias militares e corpos de bombeiros militares.”

Salvo as três primeiras, as demais polícias são estaduais.A polícia federal, instituída por lei como órgão permanente, organizado

e mantido pela União e estruturado em carreira, destina-se a: I - apurar in-frações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interes-tadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei; II - prevenir e reprimir o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o contrabando e o descaminho, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência; III - exercer as funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; IV - exercer, com exclusi-vidade, as funções de polícia judiciária da União.

A polícia rodoviária federal é um órgão permanente, organizado e man-tido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das rodovias federais.

A polícia ferroviária federal é um órgão permanente, organizado e man-tido pela União e estruturado em carreira, destina-se, na forma da lei, ao patrulhamento ostensivo das ferrovias federais.

Às polícias civis, dirigidas por delegados de polícia de carreira, incumbem, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apu-ração de infrações penais, exceto as militares.

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224FGV dIReITO RIO

Às polícias militares, por sua vez, cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública.

Aos corpos de bombeiros militares, por fim, além das atribuições definidas em lei, incumbe a execução de atividades de defesa civil.

A doutrina clássica costuma classificar a polícia em dois grandes ramos: a polícia administrativa e a polícia judiciária.

Segundo José dos Santos Carvalho Filho108:

“ A Polícia Administrativa á atividade da Administração que se exaure em si mesma, ou seja, inicia e se completa no âmbito da função administrativa. Os mesmo não ocorre com a Polícia Judiciária, que, embora seja atividade administrativa, prepara a atuação da função jurisdicional penal, o que a faz regulada pelo Código de Processo Penal (arts. 4º e seguintes) e executada por órgãos de segurança (polícia civil ou militar), ao passo que a Polícia Administrativa o é por órgãos administrativos de caráter mais fiscalizador.

Outra diferença reside na circunstância de que a Polícia Administrativa incide basicamente sobre atividades dos indi-víduos, enquanto a polícia judiciária preordena-se ao indiví-duo em si, ou seja, aquele a quem se atribui o cometimento do ilícito penal.

(...)Por pretender evitar a ocorrência de comportamentos nocivos à

coletividade, reveste-se a Polícia Administrativa de caráter emi-nentemente preventivo: pretende a Administração que o dano social sequer chegue a consumar-se. Já a Polícia Judiciária tem natureza predominantemente repressiva, eis que se destina à res-ponsabilização penal do indivíduo. (...)”

No âmbito estadual, portanto, nós temos a presença das polícias civis e militares. Às polícias militares cabem a polícia ostensiva e a preservação da ordem pública. Já as polícias civis são dirigidas por delegados de polí-cia de carreira (ingressos por meio de concurso público de provas ou de provas e títulos), incumbindo-lhes, ressalvada a competência da União, as funções de polícia judiciária e a apuração de infrações penais, exceto as militares.

Em âmbito federal, consoante expressa previsão constitucional, é atri-buição da Polícia Federal exercer, com exclusividade, as funções de po-lícia judiciária da União. É no estudo da polícia federal que iremos nos ater um pouco mais nesta aula.

108 CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 15ª edição, rev. amp. e at., Lúmen Júris, 2006, p. 69.

108 CARVAlhO FIlhO, José dos santos. Manual de Direito Administrativo. 15ª edição, rev. amp. e at., lúmen Júris, 2006, p. 69.

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225FGV dIReITO RIO

A POLÍCIA FEDERAL

A Polícia Federal, nos termos da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, é órgão permanente, organizado e mantido pela União e estruturado em carreira. Compõe a segurança pública que, é dever do Estado, direito e responsabilidade de todos e é exercida para a preservação da ordem pública e da incolumidade das pessoas e do patrimônio.

Como órgão específico singular, é autônomo administrativa e financei-ramente e tem por finalidade a execução, em todo o território nacional, das atribuições constitucionais previstas no art.144, §1º, além das previstas em legislação complementar. (v. Decreto nº. 5834, de 06 de julho de 2006)

ORIGEM

A origem do Departamento de Polícia Federal (DPF) é controvertida, tendo sido, inclusive, missão de um grupo de trabalho o estudo e pesquisa de subsídios que possibilitassem a decisão pelo Conselho Superior de Polícia da data real de criação do Departamento de Polícia Federal.

O resultado deste trabalho foi publicado no livro editado com o objetivo de comemorar os 60 (sessenta) anos do DPF; “Departamento de Polícia Fe-deral – 60 anos – a serviço do Brasil” em 2004.

O Conselho Superior de Polícia concluiu, de maneira simplificada, que a Polícia Federal foi criada pelo Decreto nº. 6378, de 28 de março de 1944, quando a Polícia Civil do Distrito Federal foi transformada em Departamento Federal de Segurança Pública objetivando a federalização da atividade policial.

Em 1967, com o advento do Decreto-Lei nº. 200, há alteração de nomen-clatura, nos termos do art.210 daquele dispositivo legal. Art.210: “o atual Departamento Federal de Segurança Pública passa a denominar-se Departa-mento de Polícia Federal, considerando-se automaticamente substituída por esta denominação a menção à anterior constante de quaisquer leis ou regulamentos.”

O decreto nº 6378, de 28 de março de 1944, vige até o dia 16 de novembro de 1964, quando a Lei nº 4.483 determina a reorganização do Departamento. Esta é a data que parte dos policiais federais acreditava ser a origem do DPF.

ATRIBUIÇÃO CONSTITUCIONAL

O art.144, §1º da Constituição da República Federativa do Brasil prevê dentre as atribuições da Polícia Federal, o exercício, com exclusividade, das funções de Polícia Judiciária da União.

Neste contexto, destaque-se não haver dúvida acerca da atribuição cons-titucional para a investigação policial. Atente-se que o Ministério Público tem, dentre suas atribuições constitucionais, a de requisitar a instauração de procedimento policial, bem como diligências em procedimentos existentes.

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Prevê a Carta Magna que compete à Polícia Federal, apurar infrações pe-nais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei. (Lei 10.446/2002)

É atribuição do DPF a prevenção e repressão ao tráfico ilícito de entorpe-centes e drogas afins, o contrabando e o descaminho de bens e valores, sem prejuízo da ação fazendária e de outros órgãos públicos nas respectivas áreas de competência.

Por fim, o texto constitucional diz ser atribuição da Polícia Federal o exer-cício das funções de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras.

Além das atribuições contitucionais existem outras atribuições da Polícia Federal, senão vejamos:

O Departamento de Polícia Federal, sem prejuízo dos demais órgãos da segurança pública, poderá atuar nas investigações dos crimes dispostos no art. 1º, caput, da Lei 10.446/02, desde que tais crimes tenham repercussão interestadual ou internacional, bem como exijam repressão uniforme.

Os crimes previstos no dispositivo são: sequestro, cárcere privado e extorsão mediante seqüestro, praticado por motivação política ou em razão da função pública exercida pela vítima; formação de cartel; violação a direitos humanos; furto, roubo ou receptação de cargas, inclusive bens e valores, transportadas em operação interestadual ou internacional, quando houver indícios da atuação de quadrilha ou bando em mais de um Estado da Federação.

Outros crimes não dispostos no caput, do art. 1º, da Lei 10.446/02, mas que também tenham repercussão interestadual ou internacional dependem de determinação do Ministro da Justiça para apuração pelo Departamento de Polícia Federal.

A Polícia Federal atua também quando há turbação e esbulho possessório dos bens da União e das entidades integrantes da Administração Pública Fe-deral, sem prejuízo da manutenção da ordem pública pelas Polícias Militares dos Estados. Instaura ainda inquéritos relacionados aos conflitos agrários ou fundiários e os deles decorrentes, quando se tratar de crime de competência federal, bem como previne e reprime esses crimes.

Cumpre destacar a relevância social e a importância jurídica dos trabalhos desenvolvidos pelo DPF no exercício de suas atribuições.

A liberdade de iniciativa, inerente ao poder de investigar, traz conseqüên-cias e reflexos imediatos para a sociedade. Mais do que apurar fatos preté-ritos, o exercício da polícia judiciária da União permite o desenvolvimento de uma atividade bastante dinâmica. Quando fundadas em atividades de inteligência, as investigações podem identificar e interromper a atuação de organizações criminosas que causam, de maneira continuada, prejuízo direto

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aos cofres públicos com reflexo danoso para toda a sociedade. A simples de-sarticulação de tais organizações (portanto, antes mesmo de haver processo penal ou formação de culpa) traz o efeito imediato de estancar as ações cri-minosas que atingem a Administração Pública e a impedem de promover a sua função social. Por conseqüência, valores antes desviados para enriquecer as contas da corrupção poderão finalmente chegar ao seu destino original, beneficiando a população com a melhoria dos serviços públicos prestados, como a educação e saúde.

Além de repercutir diretamente em favor da sociedade, a atividade da polícia judiciária da União traz importantes conseqüências na esfera jurídica. As ações policiais provocam constantes posicionamentos do Ministério Pú-blico e do Poder Judiciário, na medida em que os inquéritos são concluídos e relatados. É nesse instante que as diversas teses jurídicas sustentadas durante a fase de investigação, tanto no âmbito do direito formal quanto substancial (como, por exemplo, em matéria de produção de prova, adequação da tipifi-cação penal, etc.) serão apreciadas e decididas. Em outras palavras, o primei-ro juízo em matéria penal e processual penal (v. g. o exercício da subsunção e verificação da legalidade dos procedimentos de investigação) é feito na esfera policial, ainda que condicionados a uma apreciação posterior pelo Ministério Público e pelo Judiciário, o que evidencia o caráter de carreira jurídica do cargo de delegado de polícia federal.

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ORGANOGRAMA

ESTRUTURA ORGANIZACIONAL

A estrutura organizacional do Departamento de Policia Federal está prevista na Portaria 1825/2006. O DPF é composto de unidades centrais e descentrali-zadas cujas atribuições estão disciplinadas na Instrução Normativa nº 13, de 15 de junho de 2005, que define as competências específicas de cada unidade e as atribuições de seus dirigentes.

Veja abaixo, o organograma da Instituição:

A POLICIA CIVIL

• Palestra Com Delegado(a) de Policia.

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CARLOS ROBERTO DE CASTRO JATAHYProcurador de Justiça do Ministério Público do RJ. Graduado pela UeRJ e Mestre em direito Público pela UNesA, foi subprocurador Geral de Justiça (2003/2005; 2009/2013) e Conselheiro do CsMP (2005/2009). Atualmente é Titular de Procuradoria de Justiça junto à 1ª Câmara Criminal do TJRJ. É Professor das disciplinas Organização da Justiça e das Carreiras Jurídicas Públicas e Tutela Coletiva de direitos na FGV/direito Rio.

este Material didático foi revisto, ampliado e atualizado por Carlos Roberto C. Jatahy em Janeiro de 2018.

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FINANÇAS PÚBLICAS

FGV DIREITO RIO 214

FICHA TÉCNICA

Fundação Getulio Vargas

Carlos Ivan Simonsen LealPRESIDENTE

FGV DIREITO RIO

Sérgio GuerraDIRETOR

Antônio Maristrello PortoVICE-DIRETOR

Thiago Bottino do AmaralCOORDENADOR DA GRADUAÇÃO

André Pacheco Teixeira MendesCOORDENADOR DO NÚCLEO DE PRÁTICA JURÍDICA

Cristina Nacif AlvesCOORDENADORA DE ENSINO