189
1 BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Os Ditames da Consciência Vol. I

  • Upload
    maribel

  • View
    319

  • Download
    15

Embed Size (px)

DESCRIPTION

O presente livro é o resultado de 15 anos de elaborações, construções e realizações relativas à Consciência. Iniciamo-nos na senda do autoconhecimento, portanto, do despertamento, construção e/ou desenvolvimento da Consciência aos 14 anos de idade, com base no conhecimento do meio em que estávamos inseridas, quando (re)encontramos o mestre, pai espiritual e amigo, Jair Tércio, que, com seu amor incondicional, nos mostrou o caminho, demonstrando-o pelo exemplo do seu caminhar.

Citation preview

Page 1: Os Ditames da Consciência Vol. I

11111

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Page 2: Os Ditames da Consciência Vol. I

Maribel Oliveira Barreto

Os Ditamesda Consciência

Salvador, Bahia

2009

Page 3: Os Ditames da Consciência Vol. I

33333

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

B26 BARRETO, Maribel Oliveira.Os Ditames da Consciência / Maribel Oliveira Barreto.- Salvador: Sathyarte, 2009.188p.: il.; 15x21 cm.

1. Educação 2. Consciência 3. Desenvolvimento Humano I. Título.

CDD: 153

Ficha catalográfica elaborada por Eloina Batista Oliveira Santos CRB5/1392

1ª Edição - Salvador/Bahia, 2009.Direitos desta edição reservados à autora,

que permite e estimula a reprodução de parte do livro,desde que seja citada a fonte.

ISBN

Projeto gráfico e editoração:Sathyarte - Arte e Mídia Ltda.e-mail: [email protected]

Capa:Ana Paula Amorim

Revisão:Renaielma Queiroz Suzart

Page 4: Os Ditames da Consciência Vol. I

44444

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

AGRADECIMENTOS

Agradeço à Deus por guiar nossa vida e porreconhecê-Lo no todo da presente obra.

Agradeço à Natureza que como um livro aberto nospermite compreender perfeitamente suas sentenças e buscarrealizar na direção dos seus ensinamentos.

Agradeço aos Seres Humanos que como uma sóirmandade, têm me auxiliado na busca de saber sentir,pensar e agir, inclusive, concomitantemente, para melhorrealizar tudo que necessito, tanto individual quantosocialmente, e, em especial:

· à Alexandre Caldas, Luciano Barreto Caldas (Sat) edemais familiares que escolhi para trilhar a jornadanesta existência, lembrando que a família representaminha fortaleza e sempre está presente em todosos momentos, principalmente, nos mais difíceis;

· ao mestre, pai espiritual e amigo Jair Tércio, porsintetizar, simplificar, enfim, significar a nossaexistência; e

· aos demais amigos e irmãos, por semearmos juntosconsciência e colhermos amizade, bem comoalegrias insuspeitáveis.

Page 5: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 6: Os Ditames da Consciência Vol. I

66666

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

“A Consciência é um útero,no qual uma nova humanidade pode ser concebida;

e de onde ela pode surgir”(Jair Tércio)

“A consciência é essa percepção que temos,essa vida interior de experiência que nos diferencia

dos robôs e zumbís [...]”(Stuart Hameroff)

“O drama do conflito e da polaridade precisa ser resolvidopara que ganhemos acesso a níveis elevados de consciência”

(Robert Happé)

Page 7: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 8: Os Ditames da Consciência Vol. I

88888

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

SUMÁRIO

PREFÁCIO .................................................... 09

APRESENTAÇÃO ............................................. 13

1 OBJETO .................................................... 19

A CONSCIÊNCIA COMO RECURSOPARA A BOA QUALIDADE DE VIDANA PÓS-MODERNIDADE ...................................... 21

2 FINALIDADE ............................................... 35

CONSCIÊNCIA E EDUCAÇÃO ................................ 37

3 JUSTIFICATIVA ............................................ 61

O PAPEL DA CONSCIÊNCIANO DESENVOLVIMENTO HUMANO .......................... 63

4 FUNDAMENTO ............................................. 81

O CENTRO É TODA PARTE:A CONSCIÊNCIA É PROVA CABAL DISTO........................ 83

Page 9: Os Ditames da Consciência Vol. I

99999

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

5 MÉTODO .................................................... 109

INCLUSÃO EDUCATIVAO PAPEL DA CONSCIÊNCIA NA ATUAÇÃODOS EDUCADORES ............................................ 111

O PAPEL DA CONSCIÊNCIA NAPROFISSIONALIZAÇÃO CONTINUADA TRANSDISCIPLINARDE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS ........................... 126

6 RECURSOS ................................................ 147

A CONSCIÊNCIA COMO BASEPARA O DESENVOLVIMENTO DE VALORESDE LEIS NATURAIS NA EDUCAÇÃO......................... 149

7 FONTE ..................................................... 155

A CONSCIÊNCIA SIGNIFICA SEM SIGNIFICAR .............. 157

NOTAS ....................................................... 187

Page 10: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 01 01 01010

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

PREFÁCIO

Tenho, no meu dia a dia, o privilégio de conviver comMaribel Barreto (Bel para os amigos), como colega e parceira decrença no ser humano. Sou testemunha de seus estudos científicossobre consciência e autoconhecimento, de sua busca diária decompreensão do ser humano, principalmente de seu aprendizado,constatado em suas ações cada vez mais éticas e amorosas emprol do gênero humano individual e coletivo.

Em Os Ditames da Consciência, a autora expõe, emlinguagem simples e sensível, o avanço de construções teórico-práticas multirreferenciais e multidisciplinares sobre a temática.Os oito artigos que o compõem, por certo, provocarão nosleitores grandes reflexões sobre diversos aspectos existenciaisimprescindíveis para o enfrentamento dos graves problemas dahumanidade, como: crises familiares, tragédias ambientais(tsunamis, enchentes, furacões), ruptura da camada de ozônio,além da miséria, fome, entre outros. Isso porque a autora pregao que acredita com o propósito de fortalecer as relações humanas,o bem comum e a felicidade plena.

Sem a pretensão de convencer os leitores, as indagaçõesexistenciais da autora, suas crenças e caminhos percorridos embusca da autointegração, autoconhecimento e autotransformação,indicam a necessidade existencial de tomada de consciência dasociedade global, semeando reflexões, em busca da harmoniada sociedade global.

Acredita a autora que o desenvolvimento da consciênciareflete-se na evolução dos seres humanos ao compartilharemações e emoções. Daí porque considera que as pessoas devem,individualmente, integrar-se a sua essência, para alcançarem

Page 11: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 11 11 11 11 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

maior plenitude, amor e alegria de viver. Como o processo deconscientização é dinâmico e contínuo, envolve, também, asuperação das resistências interiores de diversas ordens,principalmente porque algumas permanecem aprisionadas emamarras criadas no decorrer de suas experiências pessoais. E adespeito da fantástica velocidade dos avanços da tecnologia dainformação e comunicação, muitas se encontram solitárias,infelizes, deprimidas, buscando fora de si alternativas parasolucionarem seus problemas existenciais.

Sua proposta desafiadora é de visão integral da consciênciahumana na interrelação cérebro-cosmo. Maribel Barreto nos fazrefletir sobre temas como educação, ética e responsabilidadesocial, embasados nas interrelações com o outro e com o planeta,no desenvolvimento da consciência planetária e na necessidadede esforço coletivo para a construção de um futuro melhor paratodos. Percebe a Consciência como recurso humano de prioridademáxima na pós-modernidade e busca sua harmonização com aconsciência cósmica e transpessoal.

O livro nos faz mergulhar fundo nos argumentosapresentados e acreditar na esperança inabalável da autora deque o estudo da consciência pode contribuir com a educaçãoformal, ao destacar o papel do educador no processo dedespertamento, construção, desenvolvimento e/ou expansãoda Consciência dos educandos, ao dar significação às relaçõesinterpessoais.

Sugere que a Consciência seja trabalhada nos espaçoseducacionais de forma transdisciplinar, envolvendo não sóeducadores e educandos, mas todas as pessoas vinculadas àInstituição, nas mais diversas funções. Defende a educaçãointegral para o desenvolvimento de todas as dimensões do serhumano, integrando espiritualidade, materialidade,individualidade e coletividade.

Neste sentido, a autora demonstra lucidez e fundamentosobre as teorias apresentadas, seja discutindo A Consciência

Page 12: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 212121212

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

como Recurso para a Boa Qualidade de Vida na Pós-modernidade; refletindo sobre Consciência e Educação;abordando O Papel da Consciência no DesenvolvimentoHumano; pensando O Centro é Toda Parte – a Consciência éProva Cabal Disto; ponderando sobre Inclusão Educativa – oPapel da Consciência na Atuação dos Educadores; debatendoO Papel da Consciência na profissionalização ContinuadaTransdisciplinar de Docentes Universitários; considerando AConsciência como base Para o Desenvolvimento de Valores deLeis Naturais; ou constatando que A Consciência Significa semSignificar. Fica evidente que seu compromisso é com aqualidade de vida dos seres humanos; sua estratégia básica é odiálogo aberto; e sua praxis é semear amor.

Os artigos trazem à tona uma sensibilidade altamentedesenvolvida e o amadurecimento precoce da autora, ao pensaro ser humano na interconexão corpo, mente e espírito, essênciae alma; ao se preocupar com o significado e a qualidade de vidadas pessoas, na interrelação consciência e desenvolvimentohumano, integrando o sentir, pensar e agir, que possibilite inclusãoe autorrealização. Expõe sua identidade sem medos, na busca deseu centro/essência, como representação do todo universal, suas(re)construções teórico-práticas, tendo como meta odesenvolvimento pleno do ser humano, baseado em valores moraise éticos, no respeito ao próximo, na felicidade que aproximapessoas e pode contaminar o planeta de amor e de paz.

Sabemos que as grandes revoluções da humanidade nãoocorreram em campos de batalha, por imposição legal ou de ummomento para outro. Ao contrário, aconteceram lentamente, nointerior da mente humana, como este trabalho de “formiguinha”,dia após dia, num processo silencioso, mas forte o suficientepara transformar, transformando-se.

Enfim, é importante ainda destacar que este livro é umacontribuição importantíssima para todos que estão buscandorespostas para suas inquietações. Com sua publicação surge a

Page 13: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 31 31 31 31 3

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

possibilidade de acelerar o debate sobre o papel da consciênciana solução dos muitos problemas individuais e sociais.

Que o desejo da autora de um mundo mais fraterno eharmonioso não tarde a se concretizar, de modo a propiciar acada ser humano ser senhor de sua própria vida e capaz deestabelecer relações interpessoais significativas em todo oplaneta.

Nívea Maria Fraga Rocha1

__________________________________________________________

1 Doutora e Mestre em Educação. Professora de Currículos e Programas daFaculdade de Educação/ Universidade Federal da Bahia – UFBA (aposentada);Avaliadora ad hoc de Cursos de Graduação e Cursos EAD – MEC/INEP; Profª doMestrado em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social da FundaçãoVisconde de Cairu – FVC (a partir de 2002).

Page 14: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 41 41 41 41 4

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

APRESENTAÇÃO

O presente livro é o resultado de 15 anos de elaborações,construções e realizações relativas à Consciência.

Iniciamo-nos na senda do autoconhecimento, portanto,do despertamento, construção e/ou desenvolvimento daConsciência aos 14 anos de idade, com base no conhecimentodo meio em que estávamos inseridas, quando (re)encontramoso mestre, pai espiritual e amigo, Jair Tércio, que, com seuamor incondicional, nos mostrou o caminho, demonstrando-opelo exemplo do seu caminhar.

Foi a partir dos 21 anos de idade, ou seja, há 15 anos atrás(1995), entretanto, que fomos, de forma mais sistemática,elevadas para o processo de estudos científicos, filosóficos ereligiosos, com o fim de desenvolvimento de projetos econstruções de palestras, cursos, enfim, realizações acadêmicas,numa dimensão coletiva, voltadas para a divulgação esocialização dos assuntos relativos à Consciência, favorecendoo conhecimento de nós mesmas, de forma direta.

Mais adiante, no ano de 2001, fomos exaltadas no caminhoda autorrealização, segundo uma das ciências de Bem-aventurança, a Onilateração, pelo mestre Jair Tércio, no Valeda Iluminação, dos santuários de Luz, sito na Chapada Diamantinabaiana, favorecendo explicitamente nosso processo individualsistemático de busca do despertamento, construção e/oudesenvolvimento da Consciência, rumo ao encontro com o Autorde Todas as coisas, que é e está em todas as partes, portanto,inclusive, em nós mesmos. Destacamos, assim, o valor real esignificativo desta Ciência de Iluminação, a Onilateração, comoaquela ação que nos favorece e vem favorecendo quanto às

Page 15: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 515151515

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

experiências diretas, corretas e completas para com aprofundidade, largura e altura do nosso ser, na totalidade, paraos devidos fins.

Salientamos que a Consciência, segundo a nossa experiência,prova-se, praticando-se, em prol da evolução abreviada econsciente do gênero humano, individual e coletivamente. Ecomo uma faculdade inata capital do gênero humano que é,favorece-nos quanto à percepção direta, à compreensão correta,bem como à autointegração, portanto, ao autoconhecimento eeste à autotransformação, por conseguinte, à experiênciacompleta para com o que é verdadeiro, enfim, a autorrealização.

Assim, considerando o todo de nossa experiência, o quepudemos até então constatar está afeito à ideia de que, quantomais Consciência, maior compreensão acerca da vida, como umtodo, a partir de nós mesmos. Afinal, se queremos compreendera vida devemos começar pelo que está mais próximo de nós, ouseja, nós mesmos, através da prática da moralização, doautoconhecimento, enfim, da espiritualização. E, considerandoque, no universo, energia e matéria se relacionam, devemos,através da matéria, buscar indagar, cada vez mais, quanto ànossa origem causal, ainda que transcendental; enfim, indagarquanto à Criação Natural; isto porque, o fato de sermos seresinteligentes, sugere que estamos fadados à libertação; para tanto,cada vez mais, Inteligência, Verdade, enfim, Consciência.

Neste sentido, este livro busca auxiliar quanto às grandesindagações existenciais e encontra-se estruturado por 8 artigos,apresentados com base nos itens básicos da metodologiacientífica, a que estão mais diretamente relacionados, a saber:objeto, finalidade, justificativa, fundamento, método,recursos e fonte, relativos à Consciência, a fim de favorecermelhor precisão por parte do autor, bem como compreensãopor parte do leitor.

Ressaltamos que nos diferentes artigos serão encontradasidênticas proposições relativas ao estudo da Consciência e sua

Page 16: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 616161616

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

implantação no sistema formal de educação, nas diferentesmodalidades de ensino, da educação infantil até o ensino superior,em nível de pós-graduação stricto sensu. Destacamos que areincidência de algumas ideias tem o sentido de sensibilizar umnúmero cada vez maior de seres humanos quanto à Consciência,em função da sua relevância e da necessidade de compreendê-la como um recurso humano de prioridade máxima na pós-modernidade.

Apresentando o Objeto da Consciência, tem-se o artigo:

A Consciência como Recurso para a Boa Qualidade de Vidana Pós-modernidade. Produzido em 1999, e publicado nosCadernos de Pesquisa do Núcleo de Filosofia e História daEducação da Faculdade de Educação da Universidade Federal daBahia. Ele revela nosso interesse e preocupação com a busca deuma boa qualidade de vida, na pós-modernidade, pois tem sidofactualmente verificável que o ser humano ainda não atingiu umnível de consciência suficiente que o possibilite viver com graude qualidade de vida significativo nesse panorama pós-moderno.

Para compreensão da Finalidade da Consciência, indicamoso artigo:

Consciência e Educação, escrito em 2006, no momento emque participamos do I Simpósio Nacional sobre Consciência – Embusca da Consciência que está por vir. Contempla reflexões sobreo fomento de uma sinergia nacional acerca do estudo daConsciência, através da educação formal e se apresenta comoum convite à reflexão do educador sobre o seu papel de auxiliarno processo de despertamento, construção, desenvolvimentoe/ou expansão da Consciência dos educandos, incluindo açõesque favoreçam a integração do seu sentir, pensar e agir.

E por que estudar a Consciência? A Justificativa éapresentada no texto:

O Papel da Consciência no Desenvolvimento Humano,produzido em 2002 e publicado na Revista Científica da Fundação

Page 17: Os Ditames da Consciência Vol. I

1717171717

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Visconde de Cairu, v. 9, logo após a implantação da disciplinaConscienciologia no Curso de Especialização em Gestão eDesenvolvimento de Seres Humanos e no Curso de Mestrado emDesenvolvimento Humano e Responsabilidade Social na FundaçãoVisconde de Cairu. Seu objetivo é relacionar o papel da consciênciano desenvolvimento humano, dando ênfase à compreensão daconsciência, em si, com base nos estudos da psicologia transpessoal,bem como à finalidade e justificativa relativas ao seudespertamento e/ou construção, através da educação.

Quanto ao Fundamento da Consciência, temos o artigo:

O Centro é Toda Parte – a Consciência é Prova Cabal Disto,escrito em 2008, para o III Simpósio Nacional sobre Consciência– Em busca do nosso Centro, como fruto de uma pesquisabibliográfica, também embasada em nossas experiências diretas,corretas e completas, pessoais, profissionais e espirituais. Suafinalidade maior é oportunizar reflexões acerca do Universo eas Leis Naturais que o rege, destacando o Centro comorepresentação do Todo e a Consciência como recurso paraencontrar o referido Centro.

A compreensão do Método da Consciência é tratada emdois artigos:

Inclusão Educativa – O Papel da Consciência na Atuaçãodos Educadores, produzido em 2008 e publicado na RevistaEscritos Pedagógicos do Departamento de Ciências da Educaçãoda Universidade Estadual de Santa Cruz e o artigo: O Papel daConsciência na Profissionalização Continuada Transdisciplinarde Docentes Universitários que, por sua vez, foi escrito em2009, como capítulo de livro sobre Docência Transdisciplinar,sob organização da Profa. Dra. Maria Cândida Moraes, daUniversidade Católica de Brasília.

O primeiro tem como objetivo socializar as demandas deuma educação inclusiva, com base na concepção de Consciênciacomo a nossa capacidade de compreender, no mínimo, a noção

Page 18: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 81 81 81 81 8

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

de identidade universal, que nos possibilita incluir sempre, excluirjamais, percebendo a consciência que está em nossa frente – oeducando, Ser Humano.

Já o segundo, apresenta questionamentos acerca dosobjetivos da educação, em função de que a maioria doseducadores envolvidos parte do pressuposto que a sua função égraduar, denunciando que o método de ensino é mais importanteno ato de educar. Há demanda, portanto, de novo método deensino, para tanto, profissionalização não como um fim, massim como um meio, com foco na perspectiva transdisciplinar daeducação, que ultrapassa o mero domínio de conteúdosespecíficos de uma área do saber e envolve uma percepçãomais ampla da realidade.

Quanto aos Recursos da Consciência, apresenta-se aquio artigo:

A Consciência como Base para o Desenvolvimento deValores de Leis Naturais na Educação, construído em 2008, esocializado na Revista Escola de Pais, evidenciando que tanto ospais, quanto o professor, a escola e o conhecimento são os pilaresdo desenvolvimento de uma Educação que propõe aautorrealização humana e a implantação de uma nova cultura,que dissemine códigos moralmente elevados, em prol de umasociedade mais justa e equilibrada.

Quanto à Fonte da Consciência, relacionamos o artigo:

A Consciência Significa sem Significar, produzido em 2009para o IV Simpósio Nacional sobre Consciência – A consciência éIsto, que versa sobre a compreensão da Consciência na suatotalidade, na concepção exata desta potencialidade inerenteao Ser Humano, no dia a dia do viver, para além da racionalidade,ressaltando as perspectivas do Ser Humano viver sem tantasconfusões, desencontros e desconfortos, portanto, viver emestado de renascimento, semeando e colhendo o bem, espalhandoo amor e perpetuando a verdade.

Page 19: Os Ditames da Consciência Vol. I

1 91 91 91 91 9

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Quiçá as reflexões que os artigos sugerem sejam umarealidade em nossas vidas; afinal, o lapidador é para o diamante,o que o renascido é para a Consciência humana.

Que a Consciência nos aproxime, nos identifique com oque é verdadeiro e nos conduza adiante!

Salvador, 31 de dezembro de 2009.

Maribel Barreto

Page 20: Os Ditames da Consciência Vol. I

2020202020

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

1OBJETO

“A consciência é uma das faculdades inatas capitais do Ser Humano,que lhe permite encontrar a verdade inteira,

portanto que liberta, e libertar-se.”(Jair Tércio)

“A consciência é a base do ser.”(Amit Goswami)

“A Consciência É, e tudo o que se manifesta,seja no mundo físico ou não-físico,

é Consciência individualizada.”(Theda Basso e Aidda Pustilnik)

Page 21: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 22: Os Ditames da Consciência Vol. I

2222222222

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

A CONSCIÊNCIA COMO RECURSOPARA A BOA QUALIDADE DE VIDA

NA PÓS-MODERNIDADE

“A conduta do ser humano é diretamente proporcionalao grau de consciência por ele, até então, adquirido.”

(Jair Tércio)

RESUMO

Com o propósito principal de socializar as ideias acerca da consciência segundoa Psicologia Transpessoal e apontando a importância desse estudo para oensino formal, o presente artigo se refere ao nosso interesse e preocupaçãocom a busca de uma boa qualidade de vida na pós-modernidade. Isso porquetem sido factualmente verificável que o ser humano ainda não atingiu umnível de consciência suficiente que lhe possibilite viver com grau de qualidadede vida significativo nesse panorama pós-moderno, face às crises com asquais convivera e convive – consequências dos desafios naturais da vida.

Palavras-chave: Consciência. Pós-modernidade. Qualidade de vida.

Page 23: Os Ditames da Consciência Vol. I

2323232323

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

Há mais de uma década, nessa passagem terrena – comdedicação de tempo e energia significativas voltadas para oprocesso de “buscar para achar” a compreensão tanto doprincípio criador de todas as coisas, quanto da finalidade davida, bem como da razão da minha existência – venho buscandosaber, cada vez um pouco mais, acerca de quem sou, de ondevim e para onde vou.

Neste tempo, despertar conhecendo, assim comodesenvolvendo, mantendo e usando o meu potencial humanolatente em prol do alcance da autointegração e doautoconhecimento, para favorecer a autotransformação, bemcomo o autodesenvolvimento e, por que não dizer, a possívelautorrealização, é o que, reputo, tem me favorecido viver emestado de equilíbrio dinâmico razoável, tanto individual quantosocialmente. Como também me possibilitado atingir, parece-me, novos estados de consciência, em grau significativo,reforçando o existente, tanto pessoal, quanto profissional e,ainda, espiritualmente, se assim posso dizer, facultando-me, atéentão, realizar, de forma racionalmente proveitosa, aquilo aque me proponho.

Eis que, uma vez cônscia, como dito, pessoal, profissionale espiritualmente, da importância de tal busca, cada vez maistenho me envolvido com o estudo da consciência como uma dasatividades-meio, ou seja, o “buscar” mais significativo que possafactualmente me favorecer atingir tal atividade-fim, ou seja, o“achar” deste meu processo: o autoconhecimento. Daí a minhanecessidade, que aqui vai expressa, de socializar as ideias acercadessa temática: a consciência.

Mais especificamente nesses últimos três anos – seja com aexperiência de ministrar aulas na disciplina de Metodologia ePrática do Ensino Médio (na Faculdade de Educação da UFBA,

Page 24: Os Ditames da Consciência Vol. I

2424242424

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

no Curso de Pedagogia) e Metodologia do Ensino Superior (emCursos de Especialização), seja coordenando Cursos na área dePlanejamento de Ensino (em diversas instituições de ensino,situadas em Salvador, Bahia) – venho percebendo os limites daeducação, principalmente os da educação tradicional baseadano paradigma newtoniano/cartesiano; o qual se caracteriza poridealizar uma realidade, ou melhor, uma concepção de mundomecânica e tão somente material, com ênfase no racionalismo ena objetividade. Ou seja, uma concepção demarcada por umdescaso aos sentimentos e aos valores humanos superiores.

E, uma vez considerando essa concepção que nos evidenciaa visão de mundo fragmentada, é possível pensarmos emintegração? Na verdade, parece-me que, enquanto a educaçãoestiver pautada nesse paradigma, nossas concepções de serhumano e de mundo também serão parciais, sem a devidaconsciência. E, uma vez sem consciência, o que poderá o serhumano criar?

A família planetária, as sociedades mundiais, enfim, omundo encontra-se em estado de crescente caos, em grausexageradamente alarmantes, parecedores sem fim e semprecedentes. Isto é, se podemos dizer, em dificuldades de saberadministrar, em grau de suportabilidade, um inevitável ciclo deestabilidade e caos.

Assim, a condição pós-moderna da vida tem sidocaracterizada pela dificuldade de muitos seres humanos emsentirem e representarem o mundo. De acordo com Santos (1986),essa sensação é de irrealidade, com vazio e confusão. Só se falaem desencanto, desordem, descrença e deserto. É como se alógica e a imaginação humana falhassem ao representarem arealidade e alguma coisa estivesse se esvaziando, zerando.

Porém, interessa-me compreender que a vida não é umproblema a ser resolvido, mas experiências em série para sefazerem, o que me motiva a estudar essa temática. Neste sentido,urge, parece-me, uma nova concepção da vida e do mundo,

Page 25: Os Ditames da Consciência Vol. I

2525252525

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

com seus contornos bem definidos, sem tantas fragmentações e“vazios”. Inclusive, para parafraseamos Wilber (1979) aoexpressar que o velho paradigma newtoniano-cartesiano, cujalógica provocou um progresso enorme nos domínios daMacrofísica, da Biologia e mesmo da Psicologia, se revela comoexpressão de uma verdade parcial e reducionista.

Desse modo, podemos afirmar que tanto a MacrofísicaQuântica como a Psicologia Transpessoal nos apontam uma novaforma de realidade e fazem surgir um novo paradigma – oparadigma holístico – que está a exigir novas teorias.

Contudo, é bem verdade que algumas das maioresdificuldades do gênero humano ainda são a criação de teoriasacerca da sua evolução abreviada, em função da sua finalidadesobre o planeta que habita, que importem por fazerem sentidoe a criação de métodos precisos que lhe possibilitem tantodeterminarem tal evolução quanto fazerem-na compreendida.Eis que o tempo urge e qualquer coisa feita, senão a favor, podee deve ser considerada contra.

Pois bem. No que respeita à necessidade de novas teoriasque favoreçam a citada evolução, vale destacar a concepçãosistêmica da vida e do mundo baseada na consciência do estadode inter-relação e interdependência essencial de todos osfenômenos – físicos, biológicos, psicológicos, sociais, culturais eespirituais.

Por exemplo, para os físicos, ficou demasiado claro que amedição e a verificação objetivas já não podiam ser a marca darealidade absoluta, porque o objeto medido jamais poderia serseparado por completo do sujeito medidor. E, uma vez sesentindo incapazes de responder às questões que eles mesmosformulavam, muitos físicos saíram em busca da psicologia, dareligião e das mais importantes tradições da humanidade,começando, assim, a exigir o surgimento de uma nova consciência,pela própria ciência.

Page 26: Os Ditames da Consciência Vol. I

2626262626

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Por sua vez, consoante a Weil (1993, p. 21): “Recuperar aunidade perdida significa reconquistar a paz. Mas, desta vez, oinimigo a derrotar não é estrangeiro. Ele mora dentro de nós. Éa força que isola o ser humano racional de suas emoções eintuições.”

Assim, nesta fase, a humanidade é chamada, através decada um, a reintegrar as partes, anteriormente separadas edominadas pelo senso da razão, em busca de um novo padrão dequalidade de vida.

A BUSCA DA BOA QUALIDADE DE VIDA NO PANORAMAPÓS-MODERNO

Antes de abordar a referida busca, interessa-me,inicialmente, compreender o que é a vida.

Segundo Rojas (1996, p. 91): “[...] a vida é constituída porum complexo grupo de ingredientes de todo tipo que devem serenfrentados pelo ser humano [...]. Ela desliza pelos frios tecidosda trama das circunstâncias, envoltas sempre num halo deincerteza.”

Nesse contexto, o nosso desafio parece ser conseguirmosnão perder o fio condutor da existência, ter os objetivos bemdefinidos, bem como, não nos contrariar diante dos imprevistosque marcam nossas trajetórias pessoais, profissionais e espirituais,numa busca constante de captarmos a riqueza e a complexidadedo que significa viver.

Precisamos não só viver, mas, prioritariamente, a nossavida precisa ter um sentido, um porquê, uma razão de ser, embusca da felicidade. Mas, estaria a felicidade no bem-estar, nodinheiro, no poder, na beleza, nos prazeres, na segurança pessoal,econômica e social? Não. Viver é ser, é estar em relação com otodo de que se faz parte. Mas, qual o valor significativo real das

Page 27: Os Ditames da Consciência Vol. I

2727272727

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

relações? Será a satisfação, a busca da segurança e do prazer?

Em todas e em cada uma dessas circunstâncias, o ser humanopode encontrar satisfação, mas a felicidade é alguma coisa maisprofunda e complexa, pois consiste na totalidade do ser humano.A felicidade implica em se estar bem consigo mesmo e em terum projeto de vida coerente e significativo nas áreas pessoal,profissional e espiritual.

Os sintomas da verdadeira felicidade são, portanto, aautorrealização nessas três áreas do viver supracitadas, a harmoniainterior e o equilíbrio dinâmico. Porém, sabemos que a sociedadeestá em crise. Uma crise de fragmentação que chegou a limitesextremos e ameaça a sobrevivência de todas as formas de vidasobre a Terra.

Weil1 (1993, p.20) demonstra claramente esse nosso processode fragmentação, quando ele afirma que: “[...] quebramos aunidade do conhecimento e distribuímos os pedaços entre osespecialistas. Para os cientistas, demos a natureza; aos filósofos,a mente; aos artistas, o belo; aos teólogos, a alma.”

Nesse mesmo momento, por outro lado, somos convidadospela nossa própria consciência e pelo próprio universo pararestabelecermos a ordem, em busca de uma boa qualidade devida. A consciência, por sua vez, parece inspirar outra maneirade ver as coisas em ciência, filosofia, arte e religião.

De acordo com a concepção dos psicólogos transpessoais,o caminho da preservação da vida, é, sobretudo, uma questãode consciência. E, como consciência é um fenômeno que seprocessa no interior do ser humano, é justamente em seu interiorque devemos trabalhar. A educação, por sua vez, tem um papelbem concreto a desempenhar: desenvolver o discernimentohumano em uma constante harmonização do espiritual, do mentale do físico.

O Relatório da Comissão Internacional sobre Educação parao século XXI, dirigido à UNESCO e coordenado por Jacques Delors

Page 28: Os Ditames da Consciência Vol. I

2828282828

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

(1999), nos convida para termos coragem de pensar em escalaplanetária, de romper com os modelos tradicionais e demergulhar, decididamente, no desconhecido.

Este documento defende a criação de um programa deeducação mundial que abra os olhos das crianças e dos adultospara a era planetária que estamos vivendo e convida oseducadores para serem os pioneiros e propagadores de umafilosofia holística da educação para o século XXI, fundamentadanas seguintes premissas:

a) o planeta Terra que habitamos e de que todos somoscidadãos é uma entidade única, fervilhante de vida;

b) a ecologia do planeta deve ser preservada dasdestruições insensatas e da exploração selvagem;

c) o amor e a compaixão, bem como a amizade e acooperação devem ser estimuladas, agora que a nossaconsciência desperta para a solidariedade planetária;

d) as grandes religiões do mundo, na luta pela supremacia,devem parar de se combaterem, e sim cooperarem parao bem da humanidade;

e) o flagelo do analfabetismo deve ser eliminado em todoo mundo;

f) a educação holística deve ter em conta as múltiplasfacetas – físicas, intelectuais, estéticas, emocionais eespirituais – da personalidade humana e tender, assim,para a realização deste sonho eterno: um ser humanoperfeitamente realizado vivendo num mundo emharmonia.

Naranjo (1991, p. 122), psicoterapeuta transpessoal, temesperança de que, dentro em breve, as escolas de educaçãocompreendam o suficiente da interpretação holística, para que,na época de deixarem a universidade, os professores tenhamdesenvolvido a perspectiva e as habilidades, a maturidade e a

Page 29: Os Ditames da Consciência Vol. I

2929292929

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

profundidade que uma educação total exige. Isto nos fazvislumbrar a conquista de uma boa qualidade de vida na pós-modernidade, por meio do estudo sobre a consciência do serhumano, como um recurso de grande valia nesse processo.

Afinal, a consciência é uma das faculdades inatas, capitaisdo ser humano – com a qual ele age e interage no meio em queestá inserido, segundo seus sentimentos, pensamentos e atos,em função de suas realizações – e a finalidade desta é, também,a de nos fazer refletir sobre a existência como um todo.

A CONSCIÊNCIA COMO RECURSO PARA A BOA QUALIDADEDE VIDA

Conforme expressa o Imutabilismo2 (1995), quanto maisconsciência tem o ser humano, menos conflitos e menosdesequilíbrio ele tem e, na sociedade, produz. Na verdade, aconsciência pode ser considerada o fio condutor que nos guiará,de forma segura, na nossa trajetória de vida.

Assim considerado, a educação deveria ter como um dosobjetivos primordiais despertar a consciência do ser humano,lembrando que ela não nos é dada plenamente manifesta; elanos é dada como um dom. Mas, para que se manifeste, necessitada nossa capacidade para manifestá-la e esta, por sua vez,depende do nosso desenvolvimento.

Então, a consciência se desenvolve, conforme expressaLuckesi3 (1998). Porém, para sabermos, enquanto educadores,utilizá-la e despertá-la devidamente no nosso ser, faz-senecessário o estudo sobre os seus conteúdos internos e as suasimplicações.

Nesse momento, é válido ressaltarmos o valor dos estudosda Psicologia Transpessoal. Área da Psicologia que se relaciona,fundamentalmente, com a consciência em si mesma – sua

Page 30: Os Ditames da Consciência Vol. I

3030303030

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

natureza, sua estrutura e suas formas variadas – com o contextode toda experiência. De modo que o verdadeiro estadotranspessoal é de natureza holística, pois abrange o mundo relativoe dualista pessoal, assim como o estado absoluto transpessoal,eliminando a última dualidade (WEIL, 1993).

A percepção do universo como um todo harmonioso eindivisível é o enfoque central do paradigma holístico e, comoevidencia a ‘teoria holográfica’, cada parte constitutiva douniverso contém informações sobre todo o universo e, portanto,alterações nas partes afetam todo o universo, interferindodiretamente na nossa trajetória de vida.

Dentro dessa perspectiva, na Psicoterapia Transpessoal, oser humano é visto como um sistema ou totalidade cuja estruturaespecífica emerge da interação dos níveis da consciência – físico,emocional, mental, existencial e espiritual – interligados einterdependentes (TABONE, 1995). Concepção que substitui omodelo fragmentado e reducionista baseado na orientaçãomecanicista do paradigma newtoniano/cartesiano, já evidenciadoaqui anteriormente. Portanto, as recentes descobertas nos váriosdomínios científicos ofereceram novas e mais amplas possibilidadespara a pesquisa da consciência, nos seus vários níveis.

A noção da totalidade da consciência estratificada em váriosníveis levou à elaboração de um sistema explanatório específicodo campo transpessoal. Tal teorização pode ser entendida comoum esforço para a compreensão de todas as experiências implícitasao longo do contínuo inconsciente/consciente da psique humana.

Dentro desse parâmetro, a “psicologia do espectro”desenvolvida por Ken Wilber4 – considerada a abordagem queapresenta a mais clara exposição dos aspectos multidimensionaisda consciência e de maior relevância para a PsicologiaTranspessoal – reflete, basicamente, a consciência humana e seusprincipais níveis: o nível do ego; o nível existencial; e o nívelda mente, com seus quatro níveis menores (o nível transpessoal,o nível biossocial, o nível filosófico e o nível da sombra).

Page 31: Os Ditames da Consciência Vol. I

3 13 13 13 13 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Para Wilber (1982), diferentes modalidades deconhecimento correspondem a diferentes níveis de consciência,bem como às faixas distintas e facilmente reconhecidas doespectro da consciência.

Além do mais, existem, especificamente, duas modalidadesbásicas de conhecimento ao nosso dispor, como descobriram osfísicos: o conhecimento dualista, simbólico, inferencial oucartográfico; e o conhecimento não-dual, direto ou íntimo.

Ainda de acordo com Wilber (1977, p. 39):

Se quisermos conhecer a Realidade em sua plenitude eem sua totalidade, se quisermos deixar de esquivar-nos e de escapar de nós mesmos no próprio ato de tentarencontrar-nos [...] teremos de abrir mão do modosimbólico dualístico de conhecer.

Ou seja, no que se refere a essas modalidades, precisamosdispor do conhecimento não-dual, direto ou íntimo da realidade,através do qual sujeito e objeto estão intimamente unidos emsua operação.

Parafraseando Luckesi (1998), importa ressaltarmos o papelque a educação assume nesse processo que envolve um nível deconhecer não-dual. Segundo ele, a educação serve para criarcondições, a fim de que, disciplinadamente, cada um de nóspossa ter acesso a níveis, cada vez mais sutis, de consciência. Aconsciência, portanto, não é abstração, algo intocável, mas simaquilo que somos na totalidade do nosso ser, o que inclui,simultaneamente, as dimensões do corpo, da personalidade(emoção) e da espiritualidade.

Assim considerado, a educação parece ocupar um lugarmuito especial, por meio do qual nós nos auto-organizamos emnossas interações com as múltiplas dimensões da vida, tendo emvista a manifestação do nosso Ser.

Nesse processo de manifestação do Ser, é nossa tarefalivrarmo-nos dos condicionamentos e dos padrões que limitam o

Page 32: Os Ditames da Consciência Vol. I

3232323232

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

nosso despertar interior. De acordo com Thoenig5 (1991, p. 28),isso significa que “[...] devemos ajustar os níveis de realidade,portanto, harmonizar a consciência humanizada com aconsciência cósmica/ transpessoal”.

Já Leloup6 (1998, p.18-19), em sua teoria, defende queexistem diferentes etapas de desenvolvimento da consciência,desde a vida intrauterina pré-pessoal até a abertura aotranspessoal, quais sejam:

a) relativas ao id – Consciência Matricial, Consciência Oral(nascimento), Consciência Anal e Consciência Genital;

b) relativas ao superego – Consciência Familiar;

c) relativas ao ego – Consciência Social (ego bem adaptado)e Consciência Autônoma (ego autônomo);

d) relativas aos planos superiores (denominação nossa) –Consciência do Self e Consciência Teoantrópica.

Como podemos notar, existem diferentes estratificaçõesreferentes aos estados de consciência humana. Nesse momento,interessa-me, especificamente, ressaltar a importância deconhecermos todos os níveis possíveis de despertamento daConsciência, vislumbrando um novo padrão de qualidade de vida.Afinal, o nível de consciência do ser humano é demonstrado efactualmente perceptível por meio do seu comportamento nodia a dia de relações.

Considerando tal interesse em estudar e desvendar os“mistérios” da consciência humana, na busca dessa qualidade devida, coloco-me, por meio desse escrito, à disposição dosinteressados nessa temática para socializar e trocar as ideiasaqui expressas, para aprimorá-las cada vez mais, “solidificando”a necessidade de se estudar a consciência no sistema formal deensino; assim como, se for o caso, para propor a criação eimplantação da disciplina Conscienciologia, em princípio, nocurrículo do Curso de Pedagogia.

Page 33: Os Ditames da Consciência Vol. I

3333333333

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Vale salientarmos que tal proposta seria o resultado dasetapas construtivas anteriores caracterizadas como a Criação deum Núcleo de Pesquisa na Universidade sobre Os Estados deConsciência; a Organização de um Curso de Extensão naUniversidade sobre Conscienciologia e, então, a Criação daDisciplina Conscienciologia na própria Universidade, considerandoa carência de estudos dessa natureza, aqui no Brasil,principalmente na Bahia, na área da educação.

Isso porque acreditamos na premissa de que somente umser humano educado pela consciência dos valores pode servirde pedra fundamental da harmonia social e da paz mundial. E,assim, quando a ciência se integrar totalmente na consciência,então o mundo terá paz e ordem universal.

REFERÊNCIAS

BRANDÃO, Dênis; CREMA, Roberto. Visão holística em psicologia eeducação. São Paulo: Summus, 1991.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: MEC: UNESCO, 1999.

FERGUSON, Marilyn. A conspiração aquariana – transformaçõespessoais e sociais nos anos 80. Rio de Janeiro: Record, 1993.

HARVEY, David. Condição pós-moderna: uma pesquisa sobre asorigens da mudança cultural. São Paulo: Loyola, 1989.

LELOUP, Jean-Yves. Caminhos da realização. Petrópolis, RJ:Vozes, 1996.

______. O corpo e seus símbolos – uma antropologia essencial.Petrópolis, RJ: Vozes, 1998.

LUCKESI, Cipriano C. Desenvolvimento dos estados de consciênciae ludicidade. Cadernos de Pesquisa/Núcleo de Filosofia e Históriada Educação, Salvador, v. 2, n. 1, p. 83-102, 1998.

NARANJO, Cláudio. Educando a pessoa como um todo para um

Page 34: Os Ditames da Consciência Vol. I

3434343434

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

mundo como um todo. In: BRANDÃO, D. M. S.; CREMA, R. Visãoholística em psicologia e educação. São Paulo: Summus, 1991. p.111-122.

NEUMANN, Erich. História da origem da consciência. São Paulo:Cultrix, 1968.

OCIDEMNTE - 7o C.D.E. - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOSMATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS. Imutabilismo - Quanto acódigos perenes e imutáveis de Leis Naturais que regem oUniverso - Módulo 1. Salvador, 1995.

ROJAS, Enrique. O homem moderno. São Paulo: Mandarim, 1996.

ROHDEN, Humberto. Rumo à consciência cósmica: diretrizespara autoconhecimento e auto-realização. São Paulo: MartinClaret, 1986.

SANTOS, Jair Ferreira dos. O que é o pós-moderno. Rio deJaneiro: Brasiliense, 1986.

TABONE, Marcia. A Psicologia Transpessoal: introdução à novavisão da consciência em psicologia e educação. São Paulo: Cultrix,1995.

THOENIG, Monique. a visão holística: uma nova conciência para ahumanidade. In: BRANDÃO, D. M. S.; CREMA, R. Visão holísticaem psicologia e educação. São Paulo, Summus, 1991. p. 22-30.

WALSH, Roger (Org.). Além do ego – dimensões transpessoais empsicologia. São Paulo: Cultrix, 1980.

WEIL, Pierre. Sementes para uma nova era. Petrópolis, RJ:Vozes, 1982.

______. A consciência cósmica: introdução à PsicologiaTranspessoal. Petrópolis, RJ: Vozes, 1991.

______. Holística: uma nova abordagem do real. São Paulo: PalasAthenas, 1991.

______. Mística e ciência: pequeno tratado de PsicologiaTranspessoal. Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

______. (Org.). Rumo à nova transdisciplinaridade – sistemasabertos de conhecimento. São Paulo: Summus, 1993a.

Page 35: Os Ditames da Consciência Vol. I

3535353535

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______. A arte de viver em paz: por uma nova consciência, poruma nova educação. São Paulo: Gente, 1993b.

WILBER, Ken O espectro da consciência. São Paulo: Cultrix,1977.

______. A consciência sem fronteiras – pontos de vista doOriente e do Ocidente sobre o crescimento pessoal. São Paulo:Cultrix, 1979.

______. (Org.). O paradigma holográfico e outros paradoxos –uma investigação nas fronteiras da ciência. São Paulo: Cultrix,1982.

Page 36: Os Ditames da Consciência Vol. I

3636363636

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

2FINALIDADE

“Saber e sentir qual o Princípio Criador, qual a Finalidade da Vida,bem como qual a Razão de Nossa Existência

é uma questão de Consciência”(Jair Tércio)

“Seja senhor da tua vontade e escravo da tua consciência” (Aristóteles)

“Sua consciência se eleva de acordo com sua determinaçãode assumir o comando de sua própria vida”

(Robert Happé)

Page 37: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 38: Os Ditames da Consciência Vol. I

3838383838

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

CONSCIÊNCIA E EDUCAÇÃO

“Consciência implica operaçãoque não deixa resto.”

(Jair Tércio)

RESUMO

Com o presente artigo, temos como objetivo fomentar uma sinergia nacionalacerca do estudo da Consciência por meio da Educação Formal. Para tanto,ele é apresentado como um convite-reflexivo destinado ao educador sobre oseu papel de auxiliar o processo de despertamento, construção,desenvolvimento e/ou expansão da Consciência dos educandos, incluindo açõesque favoreçam a estes a integração do seu sentir, pensar e agir.

Palavras-chave: Consciência. Educação. Lei.

Page 39: Os Ditames da Consciência Vol. I

3939393939

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

A temática proposta no presente artigo, “Consciência eEducação”, retrata, de certa forma, a consciência que temos daresponsabilidade como dever e da liberdade como direito, bemcomo da nossa utilidade individual e social, especialmente, pormeio da educação, e do fato de buscarmos, no dia a dia, agir einteragir com base não só no conhecimento, mas também noautoconhecimento, em prol da autorrealização.

Apesar dos estudos sobre Consciência não serem recentes,eles têm sido aprofundados, a partir do século XX, à luz dereflexões e abordagens teórico-práticas, de psicólogostranspessoais, pedagogos, filósofos, físicos quânticos,neurocientistas, sociólogos, revelando, direta ou indiretamente,a necessidade de fazermos Ciência com Consciência.

Por sua vez, o estudo da Consciência nos remete a uma melhorcompreensão da vida, com base na concepção do Ser Humano comouma totalidade. Portanto, um Ser que sente, pensa e age, lembrandoque os nossos sentimentos, pensamentos e atos nada mais são senãoexpressões de nossa consciência. Com isso, buscamos ouvir e atendera um apelo contemporâneo por uma educação integral quetranscenda a visão dual entre ciência e religião.

Até porque, enquanto a educação estiver sendo dissociadado corpo, da alma e da totalidade do Ser Humano, significa queas ciências ainda abstêm-se do que indica a noção exata deConsciência e de Lei Natural, para a evolução abreviadaconsciente do gênero humano; e, enquanto assim, os educandosinclinam-se na busca prioritária da segurança, da satisfação e dafelicidade sem a razão, o bom senso e a boa intenção; porconseguinte, sem a sabedoria, a força e a beleza nas ações.

Por isso, não nos cabe mais, por exemplo, buscar fazer Ciênciasem Consciência ou mesmo buscar promover o desenvolvimentoprofissional, por meio da educação, sem a preocupação com o

Page 40: Os Ditames da Consciência Vol. I

4040404040

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

despertamento, o desenvolvimento e a socialização do potencialhumano como um todo. Afinal, Ciência sem Consciência deforma aalma humana e fragmenta o corpo físico.

Nesse contexto, confirmamos a necessidade de umaeducação voltada para o desenvolvimento integral do SerHumano, fundamentada no estudo da Consciência, com base nacompreensão de que todo trabalho pedagógico deve, no mínimo,propor a criação de oportunidades que possibilitem conduzir oeducando ao despertamento, conhecimento, desenvolvimentoe expansão de sua consciência, em função da sua necessidadede conhecer, autoconhecer e autorrealizar, considerando aFinalidade da Vida e a Razão de Nossa Existência.

Assim sendo e considerando que a prática da reflexãopropicia o discernimento, este, a iniciativa, e toda iniciativa,as realizações, iremos nos dedicar às reflexões sobre educaçãoe o nosso papel enquanto educadores, com o propósito derealizações ainda maiores.

REFLEXÕES SOBRE A EDUCAÇÃO

Inegáveis e inúmeras são as demandas no atual sistema deeducação, pois vivemos em tempos de profundas e significativastransformações, que podem ser facilmente compreendidas emfunção do grau de Consciência dos sujeitos diretamente envolvidoscom a nobre causa de educar, conscientemente, o ser humano.

Tendo em vista essas mudanças aceleradas da civilizaçãohumana, urge o momento de agirmos conscientemente em relaçãoao nosso sistema educacional. Estudos voltados para a práticade uma educação com Consciência envolvem uma efetiva epeculiar revolução/transformação do modo dualístico de concebera realidade humana que incorpora pensamento e sentimento,objetividade e subjetividade, individualidade e sociedade,

Page 41: Os Ditames da Consciência Vol. I

4 14 14 14 14 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

convertendo, dialeticamente, as dualidades em totalidades, combase em um referencial integral da existência humana.

Sob esta ótica, a educação deve contribuir para odesenvolvimento pessoal, profissional e espiritual dos educandos,incluindo as dimensões da intelectualidade, da objetividade,bem como adentrando nos meandros da subjetividade, de formaque favoreça o desenvolvimento integral do Ser Humano nosaspectos físico, intelectual, emocional e, sobretudo, espiritual.

Há os que consideram que apenas instruindo o ser humano,fazendo-o coligir e correlacionar fatos e técnicas, o estão educando.É um ledo engano essa ideia de que as informações, as instruções,os testes e os diplomas devam ser os nossos critérios de educação.

Na verdade, a educação tem como fim integrar o SerHumano, torná-lo sensível para enfrentar os desafios da vida eseus complexos ditames. Torná-lo inteligente não em um nívelcircunscrito, mas, sim, em todos os níveis para ele viver emtodos os níveis conscientemente.

Nota-se, hoje, que tem sido dado mais valor aos sistemastécnicos educacionais do que propriamente ao Ser Humano.Esqueceu-se de que tão somente ensinar uma técnica ao SerHumano é a maneira, senão a mais tola, a menos inteligente econsciente de se educar.

Isto gera novos desafios para o ensino, uma vez que nãobasta ensinar o que é conhecido; é também necessário capacitaro educando para questionar, refletir, transformar e criar, pormeio de um método educativo preocupado com um ensino quefacilita a aprendizagem, bem como toda aprendizagem quedesperta o sentimento, favorecendo novas criações.

Nesse contexto, o conhecimento das teorias sobre a práticaeducativa, os melhores métodos para a aprendizagem e osentimento de responsabilidade para com o processo de educarsubjetividades são fundamentais para todo educadorcomprometido com a educação.

Page 42: Os Ditames da Consciência Vol. I

4242424242

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Assim, no amanhecer deste novo milênio, é constatável quejá passamos por diversas experiências individuais e sociais, jáabraçamos diversas teorias e o problema da integração do SerHumano ainda perdura, instigando-nos a questionar as abordagenseducacionais que se dedicam, prioritariamente, à dimensão exteriordo Ser Humano ou mesmo ao desenvolvimento das dimensões doagir e do pensar, em detrimento da dimensão do sentir.

Isto não quer dizer que devemos abandonar a ciência e atecnologia, mas sim buscar integrá-las com o respaldo de princípioséticos, morais e estéticos elevados. Afinal, é o despertamento, oconhecimento, o desenvolvimento e a expansão da Consciênciaque implicam progresso, e não o avanço tecnológico.

Não podemos ser ingênuos em acreditar que umatransformação desta natureza se originará de elites dominantesou será proveniente de instâncias superiores figuradas comoordem divina, numa dimensão de fora para dentro, ou dasociedade para o indivíduo, mas ocorrerá, sim, através de umatransformação que parta de dentro de cada Ser Humano.

O projeto educativo é, então, integrar e não afastar o SerHumano de si mesmo, o que implica ter presente seus valoressubjetivos, além dos objetivos, proporcionando aos educandoscondições de uma formação adequada, de tal maneira que possamdescobrir, por si sós, suas tendências e valores próprios, bemcomo sua finalidade de existir, seus deveres naturais para com avida, incluindo valores que envolvam as pessoas, de um modogeral, e o equilíbrio dinâmico nas relações cotidianas.

Uma prática educativa, com base em uma visão integral,emerge como um antídoto, entre outros, para a nossa sociedade,que está alicerçada, até que se prove o contrário, no descuidocom a formação integral do Ser Humano, demonstrado nas açõescotidianas; fazendo com que, do ponto de vista pessoal, nostornemos descuidados conosco mesmos e com os outros e, doponto de vista da educação, formemos, na maioria das vezes,profissionais e técnicos, mas não seres humanos. Com isso,

Page 43: Os Ditames da Consciência Vol. I

4343434343

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

denunciamos não só esquecer, mas inobservar que, muito antesde sermos profissionais, somos seres humanos.

Cabe ressalvar que estes profissionais podem até sercompetentes em suas ações específicas, mas a maioria não sesente capaz de compreender a realidade e de agir em função dotodo, o que pode garantir uma ação eficiente, porém nem sempreadequada do ponto de vista humano, seja ele individual oucoletivo; gerando, por conseguinte, ações que acabamfomentando o caos social, até porque um Ser Humanofragmentado só pode oferecer à sociedade fragmentação.

Nessa perspectiva, algo nos chama atenção. Em 1999, aUnesco elaborou um relatório sobre educação, intitulado Educação– um Tesouro a Descobrir, no qual o seu organizador reuniueducadores do mundo inteiro que chegaram a uma síntesedivulgada por meio dos quatro pilares da educação para o séculoXXI, a saber: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprendera viver juntos e aprender a ser.

O aprender a ser, inclusive, foi compreendido como oaprendizado basilar. Ou seja, se a pessoa não aprende a ser, asoutras aprendizagens ficam comprometidas. Porém, precisamosparar para refletir que, desde o ano de sua publicação, em 1999,até os dias atuais – 2006 –, sete anos se passaram, e continuamosconvivendo com problemas individuais e sociais incalculáveis,em detrimento do equilíbrio dinâmico nas relações cotidianas.Além disso, os índices de corrupção, violência e volúpia seestendem, quando deveriam estar diminuindo. Estaria faltandoalguma coisa? Qual seria a origem dos referidos problemas?

A nossa proposição, portanto, é incluir a Consciência comoa base que sustenta os quatro pilares da educação, sob pena deestarmos, ainda, expandindo conflitos. Até porque Consciênciasignifica sem conflito e nos favorece distinguir o melhor caminhoque devemos seguir em prol do equilíbrio dinâmico do Universoatravés das Leis Naturais que o regem.

Page 44: Os Ditames da Consciência Vol. I

4444444444

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

CONCEPÇÕES DE CONSCIÊNCIA

Assumimos, portanto, a necessidade da consciência ser abase de sustentação dos quatro pilares da educação para o séculoXXI, afinal, ela é a melhor maneira de conhecermos a nós mesmos,conduzindo-nos da Fragmentação à Totalidade, com base naampliação da nossa percepção acerca da realidade como um todo.

Assim sendo, faremos um breve percurso pelas diferentes,porém complementares, concepções acerca da Consciência –segundo alguns representantes da Psicologia Transpessoal, daEducação, da Filosofia, da Sociologia, da Medicina e da Física –com o objetivo principal de fazer da diversidade a unidade,capacitando-nos e possibilitando-nos ver melhor a realidade.

A etimologia da palavra, baseada nas línguas saxônicas, comoo inglês, permite diferenciar dois tipos de Consciência:conscience, que é a Consciência em seu sentido moral; econsciousness, traduzindo seu sentido psiconeural. O idiomaportuguês dispõe de apenas uma palavra para atender aos doissignificados, indicando a consciência como sinônimo de“Conhecimento, noção do que se passa em nós [...] Percepçãomais ou menos clara dos fenômenos que nos informam a respeitoda nossa própria existência [...]” (HOUAISS, 1980, p. 219).

Numa dimensão de análise filosófica, Lalande (1999, p. 195)define a Consciência como a “[...] intuição (mais ou menoscompleta, mais ou menos clara) que o espírito tem dos seusestados e atos”. Ela se apresenta como um elemento fundamentaldo pensamento anterior à distinção entre o conhecedor e oconhecido, “[...] é o dado primeiro que a reflexão analisa emsujeito e objeto” (LALANDE, 1999, p. 195).

Capra (1999), físico e teórico de sistemas, afirma que aConsciência é uma propriedade da mente caracterizada pelapercepção e cognição de si própria. Para ele, a percepção e acognição de si mesmo só se manifestam no ser humano, por

Page 45: Os Ditames da Consciência Vol. I

4545454545

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

meio da Consciência, isto é, da autoconsciência. Fala ainda deConsciência como percepção do que acontece à nossa volta.

Damásio (2000), neurologista de formação, entende que,hoje, o último limite a ser transposto pelas ciências da vida édesvendar a mente, destacando a Consciência como o mistériosupremo a ser esclarecido.

De acordo com os estudos de Morin (2000, p. 1) um dosprincipais pensadores sobre complexidade que vê o mundo comoum todo indissociável:

As ciências humanas não têm consciência dos caracteresfísicos e biológicos dos fenômenos humanos. As ciênciasnaturais não têm consciência de sua inscrição numacultura, numa sociedade, numa história. As ciências nãotêm consciência do seu papel na sociedade. As ciênciasnão têm consciência dos princípios ocultos quecomandam as suas elucidações. As ciências não têmconsciência de que lhes falta uma consciência [...]

Morin nos apresenta a consciência em dois sentidos: morale intelectual. No sentido moral, corrobora com o pensamentode Rabelais (apud MORIN, 2000, p. 11) que diz: “Ciência semconsciência é apenas ruína da alma.” E, no sentido intelectual,relaciona-se com a aptidão autorreflexiva, considerada comoqualidade-chave da consciência. Em 1982, Morin (2000, p. 1) jáafirmava que “[...] consciência sem ciência e ciência semconsciência são radicalmente mutiladas e mutilantes [...]”.

Nesse sentido, a educação assume um papel essencial nacondução de princípios conscientes para a formação integral doseducandos, até porque, quando a educação nos conduz a falsosprincípios, podemos antecipar que a ciência é pervertida paraservir a objetivos dúbios e destrutivos; bem como a cultura, aoinvés de ampliar, estreita as nossas perspectivas, tempo em quefomenta a corrupção, a violência e a volúpia e, com isso,demonstramos os efeitos de se fazer ciência sem Consciência.Daí, todos nós corremos riscos e perigos inevitáveis, de prejuízosquase que irreparáveis.

Page 46: Os Ditames da Consciência Vol. I

4646464646

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Para Grof (2000), psiquiatra e estudioso da PsicologiaTranspessoal, a Consciência é algo que simplesmente existe eque, em última instância, é a única realidade; algo que émanifesto em cada ser humano e em tudo a nossa volta. Poresse motivo, é imprescindível que a Consciência sejadesenvolvida em todo o seu potencial, explorada, expandida,aprofundada no contato consigo, com o que está à volta e como universo como um todo. Essa é a condição para alcançar aplenitude do potencial humano.

Grof (200, p. 273) acrescenta que a consciência é uma“[...] espécie de fenômeno primário da existência [...] algoque surge da complexidade do sistema nervoso e está lá paranós, para refletir a existência objetiva”. Já o neurocientistaKarl Pribram (2004, p. 271) afirma que a Consciência vem deconscire: fazer ciência em conjunto; adquirir conhecimentoem conjunto. E, de acordo com Sheldrake (2004, p. 272),biólogo e parapsicólogo: “Consciência é conhecer com [...]Está relacionada com a esfera de possibilidades estruturadapor campos [...] escolha entre ações possíveis [...]”.

Goswami (2004, p. 274), físico quântico que tem buscadocorrelacionar ciência e espiritualidade, expressa que, nos anosrecentes, a física está se aproximando, rapidamente, do pontoem que terá de lidar, de modo explícito, com a Consciência.Para ele, Consciência é a base de todo ser.

Por fim, gostaríamos de destacar a concepção de Wilbersobre Consciência, o autor acadêmico mais traduzido dos EUA.Ele é bioquímico de formação, porém, desde os primórdios dasua vida acadêmica, dedica-se à pesquisa da consciência combase nos fundamentos da Psicologia e da Filosofia, tanto Ocidentalquanto Oriental.

Para Wilber (1998; 2000; 2001), o Ser Humano integra, emsi, “todos os níveis, todos os quadrantes”, que envolvem osaspectos intencionais, comportamentais, culturais e sociais. Essesquadrantes também dizem respeito às esferas culturais de valores:

Page 47: Os Ditames da Consciência Vol. I

4747474747

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

a arte, a moral e a ciência; o Belo, o Bom e a Verdade; a estética,a ética e a verdade; o EU, o NÓS e o ELE.

A expressão “todos os quadrantes”, por sua vez, nos conduza reconhecermos que, em cada um dos “níveis” de Consciência(sensório, mente, espírito), há um interior individual e coletivo,assim como um exterior individual e coletivo, o que nos possibilita,em cada nível de ser e de conhecer, uma experiência estética(EU), uma experiência ética (NÓS), uma “ciência” sobre cadafenômeno individual, bem como uma “ciência” sobre os sistemasde fenômenos coletivos (ELE). Daí a compreensão de que umaabordagem integral do Ser Humano deve levar em conta todos osníveis da Grande Cadeia do Ser e todas as suas dimensões.

De acordo com Wilber (2001, p. 11), o caminho dapreservação da vida é, sobretudo, uma questão de consciência eafirma que uma verdadeira “[...] visão integral [...] deveria incluira matéria, o corpo, a mente, a alma e o espírito tal como seapresentam em seu desdobramento através do eu, a cultura e anatureza [...] uma visão que abraçasse a ciência, a arte e a moral”.

Outra perspectiva de análise da Consciência é encontradaem Triviños (1995, p. 57), sociólogo que a conceitua como:

[...] um tipo de reflexo, a propriedade mais evoluídade reflexo, peculiar só à matéria altamente organizada.Desta maneira, a consciência não é matéria comopensavam os materialistas vulgares. A consciência éuma propriedade da matéria, a mais altamenteorganizada que existe na natureza, a do cérebrohumano. Essa peculiaridade surgiu como resultado deum longo processo de mudança da matéria.

O estudo da Consciência, portanto, nos dá a chave paraabrirmos o tesouro do entendimento sobre nós mesmos. Hoje,sabe-se que a Consciência está relacionada de tal modo com océrebro e, por consequência, com a inteligência que seria difícilas dissociarmos. O que é importante ressaltar é que a Consciênciaprecisa ser analisada sob diferentes óticas, da Neurobiologia àEspiritualidade, de forma integrada. Segundo nos confirma

Page 48: Os Ditames da Consciência Vol. I

4848484848

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Campos (1997, p. 2):

A consciência é fruto da evolução do sistema nervoso.Portanto, percepções, individualidade, linguagem, ideias,significado, cultura, escolha (ou livre arbítrio), moral eética, todos existem em decorrência do funcionamentocerebral. Há, por vezes, receio de que a investigaçãocientífica possa levar a uma “desmistificação” daconsciência humana. De fato, são inúmeras, e nãotriviais, as consequências da conceituação da consciênciacomo fenômeno natural. Uma delas, talvez a maisimportante, refere-se à percepção que o ser humano temde si próprio e de seus semelhantes: teme-se que aconcepção da consciência como resultado de um processobiológico corresponda a uma “profanação do espíritohumano”, com consequente abandono do comportamentomoral e ético.

Nessa perspectiva, o processo de despertamento,construção, desenvolvimento e expansão da Consciência ocorreao longo de milhões e milhões de anos até os dias atuais.

Após essa análise, podemos refletir sobre nossasperspectivas e estratégias para transformar a realidade, pois,ao longo da história, estamos expandindo a Consciência, pormeio da interação com grupos, pessoas e movimentos. Afinal, oSer Humano não é só produto do seu sentir, pensar e agir, mas,também, do meio no qual se insere.

Ainda verificamos, ao longo da história, que os mais bemadaptados a todos os contextos tendem a sobreviverem melhor.Fazendo uma analogia com o presente, continua sendo necessáriodesenvolvermos a capacidade de lidar com as intempéries dodia a dia do viver, adaptando-nos ao ambiente no qual estamosinseridos. Fica evidenciado, porém, que, a despeito de todo oavanço biológico, social, cultural, desde a existência da espécieaustralopitecus até a espécie homo sapiens sapiens, aindademonstramos carência de discernimento nas ações do cotidiano.

Nessa dimensão de análise, podemos inferir que a educaçãotem um papel primordial. Nesse sentido, gostaríamos de anunciar

Page 49: Os Ditames da Consciência Vol. I

4949494949

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

que, enquanto educadoras, aprendemos e sentimos que aConsciência é uma das faculdades inatas, capitais do ser humano,que lhe favorece discernir o melhor caminho que deve seguir,conforme o que estabelecem as Leis Naturais que regem o universo.

De acordo com Barreto (2005, p. 49):

[...] não é demais concebermos a Consciência comouma das propriedades mais significativas da matériaem hominização. Ela é uma das mais importantesfaculdades inatas capitais do Ser Humano que lhepossibilita, além de saber e sentir, suficientemente,acerca da realidade, segundo, não só conhece, mastambém se aproxima daquilo que estabelece aquelamoralidade universal que conduta dos corpos celestesdenuncia.

Barreto (2005) afirma ainda que devemos buscar saber, cadavez mais, o que é ter Consciência clara, pois é com ela que oSer Humano se eleva na senda da Iluminação, da bem-aventurançae/ou algo que equivalha.

Dessa forma, precisamos auxiliar, por meio da educação, oprocesso de despertar, construir, desenvolver e expandir aConsciência dos educandos, considerando que, nela, repousamas Leis Naturais que regem o Universo. Assim sendo, Consciênciae Leis não têm diferença nem distância.

LEI DE CONSCIÊNCIA

Tratando da Consciência com uma Lei Natural, valecontextualizarmos, brevemente, a relação existente entre o serhumano e a própria Lei.

Dejours (1999, p.74) afirma:

Quando dizemos que o homem pertence ao mundo danatureza, indicamos que o funcionamento e, em parte,o comportamento humano são submetidos a leis. Leis

Page 50: Os Ditames da Consciência Vol. I

5050505050

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

imutáveis, estáveis, universais, que decorrem, emúltima instância, das leis da matéria.

Nessa perspectiva de análise, precisamos esclarecer quese faz necessário sistematizar a compreensão da Consciênciacomo uma Lei Natural. Afinal, uma Lei Natural é muito mais doque um símbolo metafísico; ela é uma noção subjetiva, poisreside no espírito do gênero humano, é abstrata, pois tambémresulta da síntese de um considerável número de fatores gerais,e é positiva, pois sua realidade é inegável, inevitável eautossustentável como a dos fatos de que provém e/ou produz.Enfim, a Lei é o fato tão observável quanto verificável em todosos seres e/ou a que todos os seres estão sujeitos.

O estudo da Lei, por sua vez, nos favorece exercitar o saberpensar a ponto de conseguirmos ser capazes de sentir, pensar eagir de maneira que os nossos sentimentos, pensamentos e atospodem ser, expressar e/ou se converter em Lei Universal. Ouseja, saber pensar favorece-nos experimentar, de forma direta,correta e completa, a real beleza, riqueza e significação da vida.

Por outro lado, quando o Ser Humano não é iniciado nasenda do saber pensar por si mesmo, ele tende a não serfavorecido pelo que indica a noção exata de Consciência e deLei Natural para a sua evolução voluntária; e, com isso, enfraqueceo seu senso de decência, elegância e decorosidade; inclina-se adesprezar o valor do zelo, principalmente para com o que éfrágil; bem como impede o seu impulso de ousar, paciente,persistente e inteligentemente, na busca do que é consideradocomo difícil, improvável ou impossível.

Por isso, um dos maiores desafios do Ser Humano é saberpensar, integrando, em si mesmo, o seu sentir, pensar e agirnuma só ação, sob pena de viver desintegrado e, cada vez mais,desintegrando-se. Nesse contexto, a razão indica que o saberque mais importa, além do autoconhecimento, é o conhecimentoda Lei. Até porque a Consciência é a Lei.

Para pesquisarmos e analisarmos até compreendermos, bem

Page 51: Os Ditames da Consciência Vol. I

5 15 15 15 15 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

como praticarmos até sentirmos significativamente uma LeiNatural, é imprescindível que sejam observadas e verificadas,com base no fenômeno considerado como relativo a essa lei, asevidências das três características fundamentais que demonstramo todo da sua manifestação: o centro de onde partem todas asações, o agir e o objeto que reflete as ações.

Essas características são desdobradas, fundamentando-senos itens da metodologia científica: objeto (o que é); finalidade(para que existe); justificativa (porque existe); fundamentaçãoteórica; método (como, quando, quanto); recursos (com queme com o quê); e fonte (origem). Veja o quadro a seguir:

Quadro 1 – Aprofundamento do pensamento quantoao desvendamento de valores da Lei de Consciência

A leitura do quadro, permite-nos analisar a Consciência combase nas suas características, segundo aquilo que indica a nossaexperiência, senão vejamos a seguir.

• Quanto ao objeto (o que é consciência?)

Page 52: Os Ditames da Consciência Vol. I

5252525252

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Nossa experiência indica e a razão não se recusa a aceitarque a Consciência pode ser definida como uma das faculdadesmais significativas, inatas e capitais do Ser Humano, uma vezque, nela, repousam as Leis Divinas, as Leis Universais, as LeisNaturais que regem o Universo. Logo, Consciência é umapotencialidade. Nascemos com essa força. Temos a força dainteligência, da imaginação, da ciência e da Consciência.

• Quanto à finalidade (para que existe a consciência?)

Facultar ao Ser Humano conhecer, aproximar e identificarsua natureza interna com a externa. Portanto, saber discernirentre o que é legal e o que não é; entre o correto e o incorreto;entre o bem e o mal; entre o que é bom e o que é ruim; e entreo real e o ilusório, segundo o equilíbrio dinâmico da moralidadeque a conduta dos corpos celestes denuncia.

• Quanto à justificativa (por que existe a consciência?)

A Consciência existe porque é essencialmente necessário eracionalmente justificável que o Ser Humano conheça, aproximee identifique a sua natureza interna com a externa; o seu universoorgânico individual com o universo orgânico total e, portanto,com Deus, com a vida das Leis Universais, que é infinito naduração e na extensão, porém finito na distância.

• Quanto ao fundamento (dentre muitos)

Matéria é energia condensada. Einstein comprovou isso.Quanto mais sutilizarmos a nossa matéria, maior energia. A FísicaQuântica comprovou que tudo quanto existe na natureza é energiacondensada. Portanto, em tudo há vida porque em tudo hámovimento, em tudo existem átomos na sua multiplicidade deformas. Mas, a vida não é só materialidade. As coisas materiaisse demonstram como energia na sua forma de condensação. Então,precisamos assumir o compromisso moral conosco próprios edescondensar, ao máximo, essa energia. Afinal, quanto maisConsciência, menos densidade, menos condensação, menosmaterialização.

Page 53: Os Ditames da Consciência Vol. I

5353535353

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Outro fundamento que justifica a existência da Consciênciaé lembrarmos que tudo se transforma, aprimora e evolui. Então,temos que evoluir a ponto de querermos investigar a nossavontade própria, ter razão, Consciência, até chegarmos àonisciência do Princípio Criador.

• Quanto ao método (como despertar, construir e/oudesenvolver a consciência?)

Para despertar a Consciência, existe um trabalho teóricoe um trabalho prático. Dentre vários estudos já realizados, otrabalho teórico da Consciência envolve estudos edesvendamentos de valores insofismáveis, caracterizados porcódigos perenes e imutáveis das Leis Divinas, das Leis Universaise das Leis Naturais que regem o Universo. No trabalho prático,temos o desenvolvimento da qualidade de raciocinar, atravésda força em domínio da contemplação.

• Quanto aos recursos (como quem, quanto, com o quedespertar, construir e/ou desenvolver a consciência?)

Os recursos humanos somos nós, Seres Humanos. O financeiroé o todo conhecido, possível e disponível, considerando o tododas realizações. Os técnicos são saber viver, pensar, raciocinar,contemplar, as Leis Divinas, o uso das Leis etc. Os recursos materiaissão as energias pensantes, as energias inteligentes e a mente.

• Quanto à fonte (qual a origem da consciência?)

O centro de onde parte a Consciência é a imutabilidade,ou seja, a moralidade do Universo que a conduta dos corposcelestes denuncia. Essa é a melhor bibliografia, a melhorreferência para o despertar da Consciência.

O estudo e desvendamento da Lei de Consciência,permite-nos aprender que, quando decidimos estudar edesvendar uma Lei, é porque já sentimos a falta de algoindispensável; quando conseguimos realizar isso em grausignificativo, então percebemos que falta algo indispensávelpara o nosso viver. Enfim, estudar e desvendar a Lei é resgatar

Page 54: Os Ditames da Consciência Vol. I

5454545454

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

o esforço coletivo de interpretar o Universo e a existênciahumana, porquanto quem exercita desvendar a Lei terminapor exercitar desvendar a si mesmo, em busca da Consciênciaque está por vir.

PROPOSIÇÃO FINAL: ESTUDO DA CONSCIÊNCIA NO SISTEMAFORMAL DE ENSINO

O exposto permite-nos sustentar que nosso caminho naturalé o despertamento, a construção, o desenvolvimento e a expansãoda nossa Consciência como tarefa emergencial, inclusive eprincipalmente, por meio da Educação, ainda que tenhamoslimites e/ou obstáculos para tal. Entendemos, pois, a necessidadede nos relacionarmos, por meio da educação, não só com omundo objetivo e empírico do conhecimento moderno, mastambém com o mundo subjetivo e espiritual da sabedoria.

Afinal, a Educação tem por finalidade auxiliar os educandosno processo de desenvolvimento dos estados de Consciência,assim como das suas relações com a realidade e com os valoresexistenciais. Ela deve ajudar no direcionamento daautointegração do gênero humano, possibilitando-lhe conceberda vida a sua real beleza, a sua real riqueza, bem como a suareal significação.

Precisamos, por conseguinte, de uma pedagogia que estejade acordo com as pesquisas contemporâneas acerca daConsciência como um todo, pois, qualquer coisa ao contrário,só aumentamos o caos no qual vivemos.

A educação, portanto, através da ciência, não pode nemdeve ensinar ao educando somente a medir, a calcular e a dominar,pois, assim, não só dificulta, mas também o impede de alcançaro que indica a noção exata de Consciência e de Lei Natural, paraa sua evolução abreviada consciente; e, com isso, amplia osseus medos, as suas culpas e os seus apegos, por conseguinte, o

Page 55: Os Ditames da Consciência Vol. I

5555555555

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

inclina a implantar, a manter ou a ampliar a corrupção, a violênciae a volúpia na sociedade.

Nesse contexto, vislumbramos a possibilidade de umaeducação verdadeira que contemple a integração das dimensõesdo Ser Humano como um todo, assim como de seus níveis deconhecer, fazer, viver juntos e ser, ou seja, a unidade doconhecimento, com base no despertamento, cada vez maior, daConsciência, conduzindo-nos da Fragmentação à Totalidade.

Nesse sentido, relembramos, no presente artigo, anecessidade de expansão do estudo da Consciência na EducaçãoFormal, porque sustentamos que a Consciência é o primeiro eúltimo conhecimento que o Ser Humano pode e deve utilizar parasaber bem lidar com as questões da existência da vida, pois estamais do que cobra aos desavisados a vida que não for vivida.

Assim sendo, socializamos a nossa experiência de favorecero estudo da Consciência junto aos educandos, desde a EducaçãoInfantil até o Ensino Superior, em nível de pós-graduação, a saber:

• na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, propomosa disciplina Iniciação à Consciência, com a finalidadede favorecer o despertar do sentir dos educandos, pormeio do estudo de Leis Naturais que regem o Universo,considerando que os mesmos são dotados de sensibilidade,criatividade e moralidade;

• no Ensino Médio, a disciplina Consciência, com afinalidade de favorecer ao educando o pensar cominteligência, com base no estudo e no desvendamentode Leis Naturais;

• no Ensino Superior, a disciplina Conscienciologia, com afinalidade de oportunizar ao educando que integre o seusentir, pensar e agir, de maneira que seja possibilitado aabsorver, em si mesmo, o valor significativo real dasrelações, apoiado no estudo das temáticas: Vida; o SerHumano: sua estrutura e seu processo de evolução

Page 56: Os Ditames da Consciência Vol. I

5656565656

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

socioantropológica; bem como a Consciência: conceituação,despertamento, desenvolvimento e expansão.

Além da proposição das disciplinas, sugerimos que aConsciência seja trabalhada, nos espaços educacionais, de formatransdisciplinar, de forma a envolver não só os educadores eeducandos, mas as demais pessoas que estão vinculadas àInstituição, nas suas mais diversas funções, especialmente pormeio de práticas continuadas e permanentes de sensibilização ecapacitação quanto à temática, bem como de murais interativoscom a exposição de pensamentos reflexivos diários.

Até porque a Consciência se pratica por meio das relaçõesque estabelecemos no dia a dia e, assim, faculta ao Ser Humanoaptidões, tais como a do discernimento, que lhe possibilitacompreender, absorvendo, em si mesmo, a natureza real quereside em todas as coisas, inclusive e principalmente o valorsignificativo real das relações.

Que a presente proposição promova uma sinergia nacionalem prol do estudo da Consciência no sistema formal de educação,como um marco da nova humanidade, caracterizado pelo novoestado de consciência do Ser Humano; até porque este tem o devermoral de fazer de si mesmo um Ser Humano mais do que Humano.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Maribel O. A consciência como recurso para a boa qualidadede vida na pós-modernidade. Cadernos de Pesquisa/NUFIHE – Núcleode Filosofia e História da Educação, Salvador, v. 3, n. 1, p. 1-10, 1999.

______. O papel da consciência no desenvolvimento humano. Revistada Fundação Visconde de Cairu, Salvador, Ano V, n. 9, 2002.

______. O papel da consciência em face aos desafios atuais daeducação. Salvador: Sathyarte, 2005.

CAMPOS, Alexandre de et al. A consciência como fruto da

Page 57: Os Ditames da Consciência Vol. I

5757575757

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

evolução e do funcionamento do sistema nervoso. Revista dePsicologia da USP, São Paulo, v. 8, n. 2, p. 181-226, 1997.

CAPRA, Fritjof. O tao da física. São Paulo: Cultrix, 1999.

______. Conexões ocultas. São Paulo: Cultrix, 2002.

DAMÁSIO, Antônio. O mistério da consciência. São Paulo: Cia dasLetras, 2000.

D´AMBROSIO, Ubiratan. A era da consciência. São Paulo: EditoraFundação Peirópolis, 1997.

DEJOURS, Christophe. O fator humano. Rio de Janeiro: EditoraFGV, 1999.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: MEC; Unesco, 1999.

DI BIASE, Francisco; AMOROSO, Richard (Orgs.). A revolução daconsciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI.Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

GOSWAMI, Amit. A física da alma: a explicação científica parareencarnação. Rio de Janeiro: Aleph, 2005.

GOSWAMI, Amit. A ciência e o primado da consciência. In. DIBIASE, Francisco; AMOROSO, Richard (Orgs.). A revolução daconsciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI.Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

GROF, Stanislav. Além do cérebro: nascimento, morte etranscendência em psicoterapia. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

______. Psicologia do futuro: lições das pesquisas modernas deconsciência. Niterói, RJ: Heresis, 2000.

LA SALA BATÀ, Angela Maria. O desenvolvimento da consciência.São Paulo: Pensamento, 1989.

LALANDE, André. Vocabulário técnico e crítico da filosofia. SãoPaulo: Martins Fontes, 1999.

MORIN, Edgar. Os sete saberes necessários à educação dofuturo. São Paulo: Cortez, 2000.

______. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: Bertrand

Page 58: Os Ditames da Consciência Vol. I

5858585858

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Brasil, 2001a.

______. A religação dos saberes – o desafio do século XXI. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil, 2001b.

______; KERN, Anne Brigitte. Terra-Pátria. Porto Alegre: Sulina,2000.

OCIDEMNTE – 7º. CDE - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOSMATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS. O Sermão das Dunas.Salvador, 2002.

PEREIRA, Ieda Lúcia Lima. Educação com consciência:fundamentos para uma nova abordagem pedagógica. São Paulo:Gente, 2000. v. I.

PRIBRAM, Karl. A ciência e o primado da consciência. In: DI BIASE,Francisco; AMOROSO, Richard (Orgs.). A revolução daconsciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI.Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

SHELDRAKE, Rupert. A ciência e o primado da consciência. In: DIBIASE, Francisco; AMOROSO, Richard (Orgs.). A revolução daconsciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI.Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

TABONE, Márcia. A psicologia transpessoal: introdução à nova visãoda consciência em psicologia e educação. São Paulo: Cultrix, 1999.

TRIVIÑOS, Augusto N. S. Introdução à pesquisa em ciênciassociais. São Paulo: Atlas, 1995.

WILBER, Ken. A união da alma e dos sentidos: integrando ciênciae religião. São Paulo: Cultrix, 1998.

______. Psicologia integral: consciência, espírito, psicologia,terapia. São Paulo: Cultrix, 2000.

______. Uma breve história do universo: de Buda a Freud:religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio de Janeiro: NovaEra, 2001.

Page 59: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 60: Os Ditames da Consciência Vol. I

6060606060

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

3JUSTIFICATIVA

“Quanto mais Consciência tem o Ser Humano,menos conflitos tem e na sociedade produz.”

(Jair Tércio)

“A consciência é fundamental em tudo o que fazemos –arte, ciência, relacionamentos, vida;

é uma constante em nossas vidas.”(Andrew Newberg)

“A consciência é a presença de Deus nos homens.”(Sébastien Chamfort)

Page 61: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 62: Os Ditames da Consciência Vol. I

6262626262

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

O PAPEL DA CONSCIÊNCIANO DESENVOLVIMENTO HUMANO

“O nível de Consciência do Ser Humano édemonstrado e factualmente perceptível através do

equilíbrio dinâmico que seu comportamento denuncia.”(Jair Tércio)

RESUMO

Com este artigo, temos como propósito relacionar o papel da consciência como desenvolvimento humano, dando ênfase à compreensão da consciência, emsi, com base nos estudos da Psicologia Transpessoal, bem como com afinalidade e justificativa relativas ao seu despertamento e/ou construção pormeio da educação.

Palavras-chave: Consciência. Desenvolvimento Humano. PsicologiaTranspessoal. Educação.

Page 63: Os Ditames da Consciência Vol. I

6363636363

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

No presente artigo, reunimos as principais contribuiçõesda Psicologia Transpessoal7, com base nos estudos de Ken Wilber,dentre outros pesquisadores, fazendo uma breve análise dasabordagens que existem sobre consciência nessa perspectiva daPsicologia Transpessoal, como um novo paradigma de relevânciana pós-modernidade. E, por fim, apontamos a importância dessasabordagens acerca da consciência e suas contribuições para odesenvolvimento humano por meio do ensino formal,considerando a carência de estudos dessa natureza aqui no Brasil,principalmente na Bahia, na área da educação. Portanto não épreciso muita análise para compreendermos que vive em boascondições quem boa condução tem.

Por sua vez, nossa proposta representa um desafio aostradicionais modos de pensar e sugere um caminho inteiramentenovo para encararmos a realidade, a educação e, porque nãodizer, a nossa própria existência.

Além das necessidades relativas à sobrevivência humana,acreditamos que devem ser supridas as necessidades“espirituais”, trabalhando-se, prioritariamente, com o “eu”8, paraque possa haver um funcionamento completo do ser humano, nociclo geral da vida, levando-se em conta os diversos níveis efases de desenvolvimento da sua Consciência.

Wilber9 (1999) demonstra, no seu livro Los Três Ojos delConocimiento, que qualquer paradigma transpessoalverdadeiramente compreensivo deverá recorrer por igual aoolho da carne, ao olho da razão e ao olho da contemplação,de acordo com as contribuições de São Boaventura10. Um novoparadigma verdadeiramente transpessoal deveria utilizar eintegrar os três níveis de conhecimento: o conhecimento dosenso comum, também chamado de empírico, que nos fazperceber o mundo por intermédio dos cinco sentidos; o

Page 64: Os Ditames da Consciência Vol. I

6464646464

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

conhecimento racional, ao qual pertencem a ciência e osconhecimentos logicamente constituídos; e o conhecimentosensitivo, que implica no uso de uma mente expandida e, pois,intuitiva.

De acordo com Basso e Pustilnik (2000), cofundadoras daEscola Dinâmica Energética do Psiquismo, já estamos ultrapassandoos modos de acessar o conhecimento exclusivamente pelos sentidose pela intelecção. Em função disso, vem emergindo esse novoparadigma de conhecimento nas ciências em geral, junto comuma nova compreensão sobre o significado da própria Consciência.Sim, porque Ela não é mais uma expressão em busca de conceito,mas de concepção inequívoca.

A Consciência é vista por muitos cientistas ortodoxos comoum produto de matéria altamente organizada – o sistema nervosocentral – e como um epifenômeno dos processos fisiológicos docérebro. Essa concepção de que a consciência é um produto docérebro não deve ser considerada totalmente arbitrária, porémnão é razoável nos limitar a essa definição “materializada” da mesma.

A Consciência, segundo Basso e Pustilnik (2000), deve serentendida como a totalidade de nossa experiência ou, maisapropriadamente, como o Ser na sua integralidade. Consciência,para ela, é a totalidade do nosso ser, que se expressa,visivelmente, em nosso corpo como um todo, porquanto vivemosnos revelando pela forma de sentir, pensar e agir.

Grof (1987, p.15), renomado norte-americano pesquisadorda consciência humana, assim expressa:

Nos anos recentes, a física está se aproximandorapidamente do ponto em que terá de lidar, de modoexplícito, com a consciência. Há físicos importantesque acreditam que uma futura teoria ampla da matériaincorporará a consciência como um constituinte integrale crucial.

Para esse pesquisador, os problemas que enfrentamos nãosão, em última análise, apenas econômicos, políticos e tecnológicos.

Page 65: Os Ditames da Consciência Vol. I

6565656565

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Eles são reflexos do estado emocional, moral e espiritual dahumanidade contemporânea, da alienação da humanidade modernade si mesma, da vida e dos valores espirituais.

Em função dos estudos que venho realizando ao longo dessesúltimos sete anos, relativos à consciência humana, a minhaexperiência sugere que o maior desafio do ser humano écompreender a vida e, para tanto, ele lança mão da suaconsciência, de modo que, quanto maior for o seu grau, tantomaior será a sua compreensão acerca da vida.

Pois que, parece-me claro, a consciência, quandodespertada e/ou construída em grau significativo no Ser Humano,ajuda-o a: eleger valores éticos, estéticos e morais, no mínimoelevados; identificar as faculdades e qualidades formadoras doseu ser; bem como buscar saber significativamente acerca doPrincípio Criador, da Finalidade da Vida e da Razão de NossaExistência, com base na compreensão do valor significativo realdas relações que estabelece no seu dia a dia.

Assim considerado, vale destacarmos o valor das relaçõeshumanas no contexto da vida. A atividade-fim do ser humano écompreender a vida, para tanto, ele lança mão da atividade-meio específica – o viver – que nada mais é do que ser e estarem relações; afinal, não é demais salientar que, no Universo,nada vive no isolamento e tudo são ações nas relações. Daí valelembrar que o valor significativo real de uma relação não só é abusca de segurança, da satisfação e da dita felicidade, mas,também, da autorrevelação, para que possa haver, no ser, oconhecimento, o autoconhecimento e a autorrealização, tomandocomo exemplo a Moralidade do Universo, qual a conduta doscorpos celestes denuncia, indubitavelmente.

Cumpre-nos, pois, ousarmos experimentar o que É, tal qualÉ, a dinâmica da vida, ou seja, a realidade, da forma mais intensapossível. Afinal, parece-me claro que, à medida queexperimentamos, de forma direta, correta e completa, a dinâmicada vida, nossa consciência cresce, e nosso conflito diminui.

Page 66: Os Ditames da Consciência Vol. I

6666666666

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Vivemos, portanto, um momento decisivo na história dahumanidade. Se inconscientemente encaminhada, tal situaçãopode levar o planeta à destruição; se orientada com Consciência,levará a humanidade a um crescimento qualitativo.

A educação, por sua vez, não pode ficar alijada desseprocesso. É chegada a hora de tratarmos a Consciência na práticapedagógica, buscando contribuir, efetivamente, para odesenvolvimento humano como um todo.

Nesse contexto, importa-nos questionarmos acerca daconsciência, em si. De acordo com o Dicionário de Filosofia, apalavra Consciência deriva do latim Conscientia. O significadoque esse termo tem na filosofia moderna e contemporânea é ode uma relação da alma consigo mesma, de uma relaçãointrínseca ao homem, “interior” ou “espiritual”, pela qual elepode conhecer-se de modo imediato e privilegiado e, comisso, julgar-se de forma segura e infalível.

Trata-se, portanto, de uma noção em que o aspecto moral(a possibilidade de autojulgar-se) tem conexões estreitas com oaspecto teórico (a possibilidade de conhecer-se de modo diretoe infalível).

Segundo La Sala Batà (1999), a única finalidade verdadeirada existência é o desenvolvimento da Consciência. Na nossaconcepção, a Consciência nos é disponibilizada pela Naturezacomo uma Faculdade latente em nosso ser, mas, para que semanifeste, é necessário despertá-la e, para despertá-la,precisamos desenvolver as nossas qualidades – por exemplo:sentir, querer, pensar, reconhecer, ousar e raciocinar – por meiodas relações que estabelecemos no dia a dia, seja com pessoas,seres, pensamentos e/ou sentimentos.

Segundo Damásio (2000, p. 20):

A consciência, de fato, é a chave para que se coloquesob escrutínio uma vida, seja isso bom ou mau; é obilhete de ingresso, nossa iniciação em saber tudo sobre

Page 67: Os Ditames da Consciência Vol. I

6767676767

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

fome, sede, sexo, lágrimas, riso, prazer, intuição [...].Em seu nível mais complexo e elaborado, a consciênciaajuda-nos a cultivar um interesse por outras pessoas ea aperfeiçoar a arte de viver.

Entendemos, pois, a consciência como uma das faculdadesinatas, capitais do ser humano, que lhe favorece, inclusive,absorver, se assim podemos dizer, o valor significativo real dasrelações, conforme o que estabelecem as Leis Naturais que regemo Universo. Refere-se, portanto, àquela força interior do serhumano que o impele a exteriorizá-la sob forma de ação.

Mas, para isso fazermos, devemos buscar integrar o nossosentir, pensar e agir quando nas relações, afinal o ser humano é,também, o produto do que sente, pensa e faz. Eis que os nossossentimentos, pensamentos e atos nada mais são senão expressõesde nossa consciência.

Com isso, não nos cabe mais, por exemplo, buscar fazerciência sem consciência ou mesmo buscar promover odesenvolvimento profissional por meio da educação sem apreocupação com o despertamento, o desenvolvimento e asocialização do potencial humano. Assim, o que tenho consideradoe até então sustentado é que devemos, pois, buscar integrar, aomesmo tempo, os princípios da ética, da estética e da moralelevadas. Além de buscar incluir o aprender a ser como oelemento basilar das aprendizagens que perpassam o processoeducativo, conforme o Relatório da Unesco para a educação doséculo XXI. Portanto, muito importa que tratemos, urgentemente,das nossas dimensões interior, exterior, individual e coletiva,conforme expressa Wilber (1998).

Vale lembrarmos que o ser humano, ainda que poucoconsciente, vive cada vez mais adquirindo sabedoria e força,mas, senão nada, pouco lhe adianta adquirir sabedoria e força enão ter beleza em suas ações. No entanto, não se adquire asabedoria sem o sentir; a força, sem o controle; bem como abeleza das ações, sem a razão, o bom senso e a boa intenção.

Page 68: Os Ditames da Consciência Vol. I

6868686868

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Busquemos, pois, manter boas convivências, racionalmentejustificadas, como meio de nos possibilitar um viver cada vezmais consciente, portanto, integrado conosco e com o todo deque fazemos parte, dando-nos chances de sermos exemplossignificativos para o nosso próximo. Afinal, é factualmenteperceptível que medimos o nosso grau de consciência pela nossaconduta e, também, que muito mais educativo do que as palavrassão os nossos atos. Ou seja, toda conduta é um exemplo e todoexemplo, enquanto não educa, no mínimo, motiva.

Tratando-se de desenvolvimento humano, vale ressaltar quesua maior motivação refere-se à busca de sentido de vida,segundo diversas pesquisas realizadas pela filósofa, física econsultora internacional na área de desenvolvimento humano,Danah Zohar (apud MARSHALL; ZOHAR, 2000).

Quanto a avaliarmos significativamente o nosso grau deconsciência, basta observar e verificar o quanto refletimos acercade quem somos, de onde viemos e de para onde vamos, bemcomo acerca do Princípio Criador de todas as coisas, da Finalidadeda Vida e da Razão da nossa Existência. E, como Consciência éum fenômeno que se processa no interior do homem, é justamenteem seu interior que devemos trabalhar – com dedicação eurgência – para despertá-la do seu torpor.

No livro Espectro da Consciência, publicado em 1977 e deautoria de Ken Wilber, a Consciência é assemelhada ao espectroeletromagnético11. Com base nessa compreensão, para ele, aConsciência caracteriza-se por diversos níveis, dentre os quaistrataremos de quatro principais: nível do ego; nível existencial,nível transpessoal; e nível da mente (unidade).

Segundo Wilber (1977), no nível do ego trabalha-se,basicamente, com a psique; no nível existencial, com a integraçãopsique/soma; no nível transpessoal, o ser humano já experimentae reconhece, em si mesmo, experiências psicoespirituais maisamplas que o seu próprio e limitado ego – é o nível em queocorre a percepção extrassensorial. Por fim, no nível da mente

Page 69: Os Ditames da Consciência Vol. I

6969696969

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

(unidade), a Consciência é una com a Energia Básica do Universo.Neste estado de Consciência, coloca-se em movimento a energiada busca e do reconhecimento de sua verdadeira identidade.

O exposto exige reforçarmos que nosso caminho natural éo despertamento da nossa Consciência, como tarefa emergencial,inclusive e principalmente, por meio da Educação, ainda quetenhamos muitos limites e/ou obstáculos para tal. Afinal, aEducação tem por finalidade auxiliar os educandos nesse processodo desenvolvimento dos estados de consciência, assim comonas suas relações com a realidade e com os valores existenciais.Deve ajudá-los no direcionamento do processo de autointegração,possibilitando-lhes conceberem da vida a sua real beleza, a suareal riqueza, bem como a sua real significação.

Precisamos, por conseguinte, de uma pedagogia que estejade acordo com as pesquisas contemporâneas da Consciência.Para Grof (1987, p. 241), resultados mais ambiciosos sãoinconcebíveis sem que se introduzam a espiritualidade e aperspectiva transpessoal na educação. Mãos à obra!

Segundo a abordagem transpessoal, os nossos conceitos deeducação e sua finalidade, a construção do conhecimento, o papeldo educador, a função do ensino superior e o desenvolvimento doeducando devem ser ininterruptamente repensados.

Quando falamos de educação, devemos lembrar que elapressupõe um movimento de dentro para fora, daí a necessidadede investirmos nas nossas potencialidades internas. Contudo, paratanto, muito importa utilizarmos como atividade-meio oautoconhecimento, pois o ser humano não vive sem o saber,enfim, sem o conhecimento, mas o único conhecimento que oser humano não pode desprezar é o autoconhecimento. Eis asenda da educação verdadeira.

Entendemos, pois, a necessidade de nos relacionarmos pormeio da educação não só com o mundo objetivo e empírico doconhecimento moderno, mas também com o mundo subjetivo e

Page 70: Os Ditames da Consciência Vol. I

7070707070

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

espiritual da sabedoria pré-moderna. Nesse contexto, asdimensões interiores (do EU e do NÓS) precisam estar integradascom as dimensões exteriores (do ELE objetivo), conformeexpressa Wilber (1998, p. 54):

As religiões pré-modernas deram muita ênfase àsmodalidades interiores de conhecimento (mental eespiritual), enquanto a modernidade, tanto na suadignida-de quanto no desastre, deu uma ênfase semprecedentes aos modos exteriores; é necessárioencontrar uma for-ma para que ambas essasreivindicações sejam verdadeiras — a transcendental ea empírica, a interior e a exterior.

Dessa forma, nossa tarefa principal refere-se à necessidadede estabelecermos a conexão entre as realidades interiores e asrealidades exteriores, na perspectiva de favorecermos a tãonecessária integração da ciência com a filosofia e com aespiritualidade. Eis, inclusive, no que a consciência éfundamental.

Buscando fazer exatamente esta conexão, Wilber (1998),por meio dos seus estudos, verificou que tanto a religião pré-moderna quanto a ciência moderna possuem uma hierarquiadefinidora e ambas são compostas de ninhos de ser envolventesde progressiva abrangência, formando hierarquias. Além disso,a integração dessas hierarquias com outras hierarquias jáexistentes vem caracterizar a possibilidade de um mundomoderno, atual, realmente diferente, não mais dissociado, masprioritariamente, integrado.

Segundo depoimento do próprio Wilber (1998), ao pesquisarexaustivamente algumas centenas dessas hierarquias, em diversasvisões de mundo – entre elas, a teoria de sistemas, as ciênciasecológicas, a cabala, a psicologia desenvolvimentista, o budismoiogachara, o desenvolvimento moral, a evolução biológica, ohinduísmo vedanta, o neoconfucionismo, a evolução cósmica eestelar, hwa yen, o corpus neoplatônico e toda uma gama deninhos pré-modernos, modernos e pós-modernos – ele conseguiu

Page 71: Os Ditames da Consciência Vol. I

717 17 17 17 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

agrupá-las de diversas formas e percebeu que, sem exceção, ashierarquias se en-quadravam em um dos quatro tipos principaisde quadrantes; os quais lidam com o interior e o exterior, com oindividual e o coletivo, conforme expressa a Figura 1, indo alémtanto da hierarquia clássica da religião tradicional quanto dahierarquia padrão da ciência moderna.

Figura 1: Os quatro quadrantesFonte: WILBER (1998, p. 24).

No quadrante direito superior, enquadra-se a versão científicaque aborda os componentes indivi-duais do universo (átomos,moléculas, células simples, incluindo organismos mais complexos),

Page 72: Os Ditames da Consciência Vol. I

7272727272

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

este que se constituem em hólons. Por sua vez, os hólons sãosucessivos e, progressivamente, mais complexos e ele-vados, maisprofundos ou mais extensos, transcendendo e incluindo os anterioresna escala evolutiva. Além disso, na visão de Wilber (1998), os hólonsse desenvolvem por processos de diferenciação-e-integração, osquais, uma vez desarmonizados, causam patologias.

No quadrante direito inferior, estão representadas asabordagens objetivas dos sistemas coletivos. Refere-se ao estudoexterno e objetivo das relações que constituem as configuraçõessistêmicas da realidade: a sociedade, os sistemas naturais, osecossistemas etc.

Também conforme Wilber, esses dois quadrantesrepresentam realidades objetivas ou exteriores que têm umalocalização no mundo sensório-motor e empírico. “Os quadrantesda mão direita são os hólons vistos pelo lado de fora, num tipode investigação objetiva, empírica e científica” (WILBER, 1998,p. 62). E, por serem exteriores e objetivos, são descritos nalinguagem do ELE, que se expressa pela ciência e pela tecnologiacontemporâneas.

Já os dois quadrantes do lado esquerdo do gráficorepresentam realidades subjetivas ou interio-res, que não estãolocalizadas no espaço físico, mas em espaços emocionais, mentaise cognitivos. “Os quadrantes da mão esquerda são os hólonsvistos pelo lado de dentro, pelo interior, como parte daconsciência e experiência vividas diretamente” (WILBER, 1998,p. 62). Estes que, por serem interiores e subjetivos, são descritosna linguagem do EU e do NÓS.

Tratando-se, especificamente, do quadrante esquerdosuperior, vale explicitarmos que, segundo Wilber, o mesmoinclui as experiências interiores estudadas pela psicologia, pelafilosofia e pela espiritualidade. O quadrante esquerdo superioré descrito na linguagem do EU, relativo à consciência, àsubjetividade, à autoexpressão, à verdade, à sinceridade. Naspalavras desse autor:

Page 73: Os Ditames da Consciência Vol. I

7373737373

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Notem a diferença entre o interior do indivíduo, comopor exemplo a mente, e o exterior do mesmo, como océrebro. A mente é conhecida por conhecimento direto;o cérebro, por uma descrição objetiva. Conhecemos anossa mente direta, imediata e intimamente: todos ospensamentos, sentimentos, aspirações e desejos quepercorrem a nossa consciência o tempo todo. O cérebro,por outro lado, em-bora se localize “dentro” doorganismo, não está no interior da nossa consciência,como a mente. O cérebro é percebido de uma formaexterior e objetiva. Portanto, em última análise, amente e o cérebro são duas visões diferentes da nossaconsciência individual, uma de dentro e outra de fora;uma interior e outra exterior. (WILBER, 1998, p.61)

O quadrante esquerdo inferior, por sua vez, refere-se àscognições individuais e subjetivas quando partilhadas com outrosindivíduos, o que resulta em uma visão ética da vida, sendodescrita na linguagem do NÓS. Esse quadrante envolve a ética, amoral, a cultura, o significado intersubjetivo, a compreensãomútua e a justiça, pois:

À medida que os hólons cognitivos individuais sedesenvolvem e evoluem; à medida que a consciênciados indivíduos aumenta em profundidade, desde simplessensações até imagens, conceitos e raciocínio(es-querda superior); também a visão de mundo coletivase torna mais profunda e mais complexa (esquerdainferior). (WILBER, 1998, p. 62).

Enquanto o quadrante esquerdo superior representa aconsciência individual, interior e subjetiva, o esquerdo inferiorrepresenta as for-mas coletivas ou intersubjetivas de consciência,os significados, valores e contextos culturais sem os quais aconsciência individual não se desenvolveria nem funcionaria.

Vale considerar, ainda, que cada um dos quatro quadrantespossui contornos e tipos de dados muito diferentes. Diferentes“tipos de verdade” que precisam ser reconhecidas e respeitadas,pois elas constituem a parte “diversificada” da unidade-na-diversidade e essa diversidade, de acordo com Wilber (1998), é

Page 74: Os Ditames da Consciência Vol. I

7474747474

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

tão importante quanto a unidade.

Diante do exposto, podemos identificar que os quatroqua-drantes representam o exterior e o interior do individual edo coletivo, envolvendo os aspectos intencionais,comportamentais, culturais e sociais dos hólons, em geral. Issoporque, conforme Wilber (1998, p. 64):

Os quadrantes anunciam verdades perenes sobre o nossomundo, sobre o seu interior e exterior, sobre suas formasindividuais e comunais [...] são o resul-tado de extensaspesquisas em centenas de holarquias; reapare-cem eminúmeras culturas e quase que universalmente [...] sãorecorrentes nas obras dos filósofos, desde Platão atéPopper, passando pelo budismo, por Habermas, Kant,entre outros [...] sua existência têm sido comprovadapor inúmeros dados: empíricos, fenomenológicos,transculturais e contemplativos.

Para compreendermos e vivenciarmos o ser humano deforma integral, nesta visão que vimos adotando, implicacompreendermos, em nós mesmos, que ele tem e expressa quatrodimensões, sendo duas interiores (EU e NÓS) e duas exteriores(ELE individual e ELE coletivo), sem que as interiores sejamconsideradas mais importantes que as exteriores e vice-versa.O ser humano integra, em si, e expressa as quatro dimensões.

Em síntese, os quatro quadrantes permitem-nos, pois,integrar as esferas cul-turais de valores: arte, moral e ciência; oBelo, o Bom e a Verdade; o EU, o NÓS e o ELE; a ética, a morale a estética; o sentir, o pensar e o agir; enfim, as diversasperspectivas de desenvolvimento humano.

Segundo Wilber (1998), articulando essas quatro dimensões(atual mundo moderno) com a Grande Cadeia do Ser (pré-modernidade), temos uma verdadeira e abrangente visão integraldo ser humano: todos os níveis e todas as dimensões. Por todosos níveis, compreendemos o nível da esfera empírica e sensório-motora, o nível da esfera da mente e o nível da esfera do espírito(contemplativo, unitivo).

Page 75: Os Ditames da Consciência Vol. I

7575757575

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Em cada nível (empírico, mente, espírito), há um interiorindividual e coletivo, assim como um exterior individual ecoletivo, o que possibilita, em cada nível de ser e de conhecer,uma experiência estética (EU), uma experiência ética (NÓS),uma “ciência” sobre cada fenômeno individual e, por fim, uma“ciência” sobre os sistemas de fenômenos (ELE). Daí acompreensão de que uma abordagem integral do desenvolvimentohumano deve levar em conta todos os níveis da Grande Cadeiado Ser (matéria, vida, mente, alma e espírito), assim comotodas as suas dimensões.

De acordo com Wilber, essa abordagem integral dodesenvolvimento humano acolhe as contribuições significativasdo iluminismo moderno ocidental e as contribuições significativasdas tradições da sabedoria – predominantemente originárias dooriente. Nesse contexto, vislumbramos a possibilidade de umaeducação que contemple a integração das quatro dimensões doser humano, assim como a integração de seus níveis de ser e deconhecer, portanto, a unidade do conhecimento.

Considerando nossa intenção em contribuir para a realizaçãode um processo educativo que prime pela unidade doconhecimento com base na compreensão da necessidade deintegração de todos os níveis e todas as dimensões do serhumano, volvemos nossa atenção, pois, para o estudo daConsciência, essa amiga, qual é, para todos nós, tanto bússola,quanto mapa, nessa jornada rumo à Totalidade.

Estou mais do que confiante, estou convicta e certa deque a educação integral, fundamentada no estudo da consciência,responde aos anseios da educação para o século XXI, configuradano Relatório Internacional da educação para o século XXI, daUnesco, intitulado Educação – um tesouro a descobrir (1999); oqual enfatiza, claramente, os quatro pilares da educação paraesse período, que são: aprender a conhecer, aprender a fazer,aprender a viver juntos e aprender a ser.

O aprender a conhecer significa a aprendizagem dos

Page 76: Os Ditames da Consciência Vol. I

7676767676

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

conhecimentos científicos e culturais que nos ajudam a distin-guiro que é real e o que é ilusório, bem como a ter, assim, umacesso inteligente aos saberes de nossa época. Neste contexto,o espírito científico como uma aquisi-ção fundamental daaventura humana é indispensável. Aprender a conhecer tambémsignifica ser capaz de estabelecer pontes entre os diferentessaberes, entre estes saberes e seus significados para nossa vidacotidiana, entre estes saberes e seus significados e nossascapacida-des interiores.

Já o aprender a fazer significa a aquisição de uma profissãoe dos conhecimentos e práticas que lhe estão associados. Todaprofissão no futuro deveria ser uma verdadeira profissão a sertecida, uma profissão que es-taria ligada, no interior do serhumano, aos fios que a ligam a outras profissões. No fim dascontas, aprender a fazer é um aprendizado da criatividade.Fazer também sig-nifica fazer o novo, criar, trazer suaspotencialidades criativas à luz.

Quando tratamos do respeito às normas que regem asrelações entre os seres que compõem uma coletividade, estamosnos referindo à aprendizagem do viver juntos, segundo oexpresso no Relatório da UNESCO. Todavia, estas normas devemser realmente compreen-didas, admitidas interiormente por todosujeito, e não senti-das como pressões externas. Envolve,diretamente, reconhecer a si mesmo na face do Outro. Trata-sede um aprendizado permanente que deve começar na mais tenrainfância e continuar ao longo da vida.

Por fim, o aprender a ser. Aprender a ser significa formar-seintegralmente. A construção de uma pessoa passa inevitavelmentepelas tensões entre o interior e o exterior, entre o empírico, omental e o espiritual. Aprender a ser também é aprender a conhecere a respeitar aquilo que liga o Sujeito e o Objeto.

E, no referido Relatório (DELORS, 1999), aponta-se que ostrês primeiros objetivos ou pilares da educação assentam-se sobreo quarto, ou seja, o aprender a conhecer, o aprender a fazer, o

Page 77: Os Ditames da Consciência Vol. I

7777777777

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

aprender a viver juntos só fazem sentido se se assentarem noaprender a ser. É o ser que integra, em si, as diversas dimensõesda vida que nele se assentam.

Conforme podemos observar, há uma inter-relação bastanteevidente entre os quatro pilares propostos para a educação doséculo XXI e a visão do desenvolvimento integral do ser humano,como configuramos anteriormente.

Situamos o aprender a conhecer e o aprender a fazer nosquadrantes superior direito e inferior direito, ambos relacionadosàs nossas realidades objetiva e interobjetiva; o aprender a viverjuntos, no quadrante inferior esquerdo; e o aprender a ser, noquadrante superior esquerdo, referindo-nos às nossas realidadesintersubjetiva e subjetiva.

Pensamos, portanto, em uma educação que se dirija àtotalidade do ser humano, e não apenas a uma ou outra de suasdimensões ou a um outro dos seus níveis. Uma educação que nãoprivilegie, prioritariamente, nem a espiritualidade nem amaterialidade, nem a individualidade nem a coletividade; massim que integre todas essas dimensões e níveis.

A educação integral com base nesses referenciais esclarece,de uma ma-neira nova, a necessidade que, cada vez mais, sefaz sentir atualmente: a de uma educação permanente para oviver. Com efeito, essa proposta de educação, por sua próprianatu-reza, necessita ser exercida não apenas nas instituições deensino, da Educação Infantil ao Ensino Superior, mas sim emtodas as experiências da vida, individuais e coletivas, espontânease institucionais. Eis que é uma obra de todos nós. Porquanto,provarmos a nós mesmos que nada vive no isolamento está maisdo que na hora.

Essa visão integral pode e deve sustentar uma educaçãointegral, em que se fazem presentes tanto a significação dosubjetivo quanto a do objetivo; tanto o individual, quanto ocoletivo; tanto o empírico, quanto a mente e o espiritual. Nessa

Page 78: Os Ditames da Consciência Vol. I

7878787878

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

configuração, caberá oferecer ao educando aprendizagens quelhe possibilitem formar-se em sua capacidade de conhecer, tantocom o “olho da carne” (mundo empírico), quanto com o “olhoda mente” (experiência interna), bem como com o “olho doespírito” (experiência espiritual e unitiva).

É neste contexto que cabe a proposição urgente do estudoda consciência no ensino formal, por meio de diversas práticaspedagógicas. Essa visão contempla, pois, o objetivo e osubjetivo, e atende à abordagem integral do desenvolvimentohumano, que demanda o mundo de hoje, certamente, ainda quenem tanto pós-moderno.

Assim, com este objetivo de contribuir com odesenvolvimento humano por meio da educação, propomos aCriação de um Núcleo de Investigações Avançadas da Consciência,no Centro de Pós-graduação e Pesquisa Visconde de Cairu(CEPPEV); além de já termos implantado a DisciplinaConscienciologia no Curso Normal Superior – Licenciatura emEducação Infantil, Normal Superior – Licenciatura em EnsinoFundamental (licenciaturas do Instituto Superior de EducaçãoVisconde de Cairu), no Curso de Especialização em Gestão eDesenvolvimento de Seres Humanos e no Curso de Mestradoem Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social, ambosno Centro de Pós-graduação e Pesquisa Visconde de Cairu.

O estudo da consciência, nesse contexto, vem apresentandoos seguintes objetivos principais relativos ao desenvolvimentohumano:

a) auxiliar a que o Ser Humano observe a relação entre a suaconstituição física/psíquica/moral e a sua maneira de sentir,pensar e agir, enfim, de realizar, segundo as exigênciasde suas necessidades básicas individuais e sociais;

b) favorecer ao Ser Humano o estudo da relação das raças/corpos e suas maneiras de ser e estar em relação a si eao meio, no qual se insere, conforme suas realizações,

Page 79: Os Ditames da Consciência Vol. I

7979797979

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

estudando a sua conduta Psicossocial, portanto, buscandoverificar o grau de sua consciência individual e social;

c) além de oportunizar ao Ser Humano o despertamento e/ou construção do seu caráter, segundo aquilo que indicaa moral, ética e estética elevadas.

Nesta perspectiva, a finalidade última da consciência é ade facultar ao ser humano aptidões, tais como a do discernimento,que lhe possibilitem compreender absorvendo, em si mesmo, anatureza real que reside em todas as coisas, inclusive eprincipalmente o valor significativo real das relações.

Portanto, no presente artigo, estamos sendo não sóconvidados, mas também convocados, para refletirmos acercade uma educação que favoreça, de fato, o desenvolvimentoconsciente humano, destacando o papel da consciência. Odesenvolvimento humano fundamentado no estudo daconsciência, por sua vez, inspira outra maneira de ver as coisasem ciência, filosofia e religião, na medida em que ela lida, aomesmo tempo, com os diversos níveis e as diversas dimensõesdo ser humano, pois que precisamos, cada vez mais, aprender aconhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos, bem comoaprender a ser. No entanto, vale lembrarmos que nós não somossomente o que sabemos ou aparentamos.

Que a Consciência nos ilumine!

REFERÊNCIAS

BASSO, Theda; PUSTILNIK, Aidda. Corporificando aConsciência: teoria e prática da Dinâmica Energética doPsiquismo. São Paulo: Instituto Cultural Dinâmica Energética doPsiquismo, 2000.

BATÀ, Angela Maria La Sala. O desenvolvimento daconsciência. São Paulo: Pensamento, 1976.

Page 80: Os Ditames da Consciência Vol. I

8080808080

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______. Os sete temperamentos. São Paulo: Pensamento, 1999.

BLACKBURN, Simon. Dicionário Oxford de filosofia. Rio deJaneiro: Zahar, 1997.

DAMÁSIO, Antônio. O mistério da consciência. São Paulo: Ciadas Letras, 2000.

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. SãoPaulo: Cortez; Brasília, DF: MEC; UNESCO, 1999.

GROF, Stanislav. Além do cérebro – nascimento, morte etranscendência em psicoterapia. Rio de Janeiro: Rocco, 1987.

______. A mente holotrópica: novos conhecimentos sobrepsicologia e pesquisa da consciência. Rio de Janeiro: Rocco,1994.

KRISHNAMURTI, Jiddu. A educação e o significado da vida.São Paulo: Cultrix, 1997.

______. Autoconhecimento. In: O PODER do Autoconhecimento.São Paulo: Cultrix, 1998. Coleção Poder do Poder.

MARSHALL, Ian; ZOHAR, Danah. QS: inteligência espiritual. Riode Janeiro: Record, 2000.

ROHDEN, Humberto. Rumo à consciência cósmica: diretrizespara autoconhecimento e auto-realização. São Paulo: MartinClaret, 1986.

TABONE, Márcia. A Psicologia Transpessoal: introdução à novavisão da consciência em psicologia e educação. São Paulo:Cultrix, 1995.

WALSH, Roger. Além do ego – dimensões transpessoais empsicologia. São Paulo: Cultrix, 1980.

______. (Org.). Caminhos além do ego – uma visãotranspessoal. São Paulo: Cultrix, 1993.

WILBER, Ken. O espectro da consciência. São Paulo: Cultrix,1977.

Page 81: Os Ditames da Consciência Vol. I

8 18 18 18 18 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______ (Org.).O paradigma holográfico e outros paradoxos –uma investigação nas fronteiras da ciência. São Paulo: Cultrix,1982.

______. A união da alma e dos sentidos – integrando ciência ereligião. São Paulo: Cultrix, 1998.

______. Los tres ojos del conocimiento: la búsqueda de unnuevo paradigma. Barcelona, Espanha: Kairós, 1999.

______. Uma breve história do universo: de Buda a Freud:religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio de Janeiro:Nova Era, 2001.

Page 82: Os Ditames da Consciência Vol. I

8282828282

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

4FUNDAMENTO

“A Consciência do Ser Humano é o juiz internoque estabelece e se encarrega de reger as diretrizes básicas

para se viver a vida definitivamente segura.”(Jair Tércio)

“Existe interação constante entre a consciência e o inconsciente,e os dois não são sistemas separados,

mas dois aspectos de um único sistema.”(Carl Jung)

“É a Consciência que traz o oculto para a luz.”(Robert Happé)

Page 83: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 84: Os Ditames da Consciência Vol. I

8484848484

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

O CENTRO É TODA PARTE – A CONSCIÊNCIA É PROVA CABAL DISTO

“Ao contrário do sábio material,o sábio espiritual tem a consciência de

que todo Ser Humano lhe é igual.”(Jair Tércio)

RESUMO

Este artigo tem como finalidade maior oportunizar reflexões acerca do Universoe das Leis Naturais que o regem, destacando o Centro como representação doTodo e a Consciência como recurso para encontrá-lo.

Palavras-chave: Consciência. Leis Naturais. Universo.

Page 85: Os Ditames da Consciência Vol. I

8585858585

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa bibliográfica, pautada em experiênciasdiretas, corretas e completas, pessoais, profissionais e espirituais,apresenta a finalidade maior de oportunizar reflexões acerca doUniverso e das Leis Naturais que o regem, destacando o Centrocomo representação do Todo e a Consciência como recurso paraencontrá-lo.

Como referencial teórico, utilizamos os conhecimentos defísicos, psicólogos, filósofos, educadores, teólogos, teósofas emédicos. A abordagem metodológica está pautada na perspectivaqualitativa, através de pesquisa bibliográfica, envolvendo umaampla revisão da literatura relativa à temática ora proposta.

Anunciamos que, no Universo, tudo são Leis Naturais que oregem; elas que partem de um Centro desconhecido, que é igualao de todo ser. Por sua vez, não pode existir um Todo sem partee vice-versa, pois cada parte é, em si, uma totalidade. Portanto,o Centro não só está em toda parte; ele é toda parte e o processode despertamento, construção e desenvolvimento da Consciênciaimporta para que cada um encontre o Centro.

Neste sentido, quanto mais Consciência, maior compreensãoacerca da Vida como um todo, a partir de nós mesmos. Afinal, sequeremos compreender a Vida, devemos começar pelo que estámais próximo de nós, ou seja, nós mesmos, por meio da práticada moralização, do autoconhecimento, enfim, da espiritualização.E, considerando que, no Universo, energia e matéria serelacionam, devemos, através da matéria, buscar nos indagarquanto à nossa Origem Causal, ainda que transcendental; enfim,nos indagar quanto à Criação Natural.

Conta-nos a história Tudo é e está em tudo, que é etem tudo (ORGANIZAÇÃO..., 2008, p. 53-54), acerca dasconexões entre o Todo e as partes, considerando que o Centroé toda parte:

Page 86: Os Ditames da Consciência Vol. I

8686868686

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Um discípulo perguntou ao seu Mestre Imutabilista:

– Mestre, um verme, por mais asqueroso que seja,possui a natureza de um Iluminado?

– Sim. Disse o Mestre.

– E quando ele se tornará um Iluminado? Indagou o Shela.

– Quando o Universo transformar-se. Comentou oMestre, e ouviu do Shela, como que confuso:

– E quando o Universo se transformará?

– Quando o verme asqueroso tornar-se num Iluminado.Consumou o Mestre, rindo.

Ser humano é buscar saberolhar e ver o simples no complexo,

o grande no pequeno, e o nobre no vil.

Nesta dimensão de estudos, consideramos que nenhumareligião, filosofia ou ciência, separadamente, está ou temcondição de explicar todo o segredo do Universo, da Criação;eis porque importa fazermos da diversidade a unidade.Construímos este artigo, também, com este propósito.

Assim sendo, partiremos do conhecimento como o primeiropasso para viajarmos à nossa Origem Causal, ao Centro que étoda parte, para, em seguida, adentrarmos nos meandros doautoconhecimento e da autorrealização, como o último passo.Até porque nós, Seres Humanos, fomos projetados para conhecer,autoconhecer e autorrealizar, da relatividade para aabsolutividade, enfim, para conhecer nossa Origem Causal. AConsciência é, também, a prova cabal disto.

Por que caminhar na direção da relatividade para aabsolutividade? Porque sentimos que viver nos domíniossomente da relatividade dificulta a compreensão; todaincompreensão favorece a revolta; e toda revolta favorece,no mínimo, a manutenção dos conflitos existentes e de tudo

Page 87: Os Ditames da Consciência Vol. I

8787878787

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

aquilo que lhe são afeitos.

Faremos, pois, uma breve contextualização das sociedadesatuais, não raro materialistas, na sua maioria, com base nestasdimensões de revolta e conflitos em busca do encontro maiorcom o Centro que é toda parte.

Goswami (2005) caracteriza as sociedades materialistascomo do prazer, do consumo e do entretenimento, tendo comobase a informação e nos convida a irmos de volta para nósmesmos. Propõe a substituição das questões: “Como possomanipular melhor a matéria para produzir novos artefatos deentretenimento?”, “Como posso usar a mente para processarcada vez mais integração?” ou “Como posso me transformar emanifestar o propósito criativo que escolhi para mim mesmoantes de nascer?”. E, assim, complementa:

não que devamos encerrar as pesquisas sobre materiaise informação, mas que também nos direcionemos paraa transformação, para o verdadeiro serviço para ahumanidade. O foco importante recai sobre nós, nossacriatividade, nossa felicidade (o que não devemosconfundir com mero prazer sensorial). (GOSWAMI, 2005,p. 245).

Com grau aproximado de reflexão, Happé (1997) evidenciaa existência de uma crise espiritual e ecológica no mundo, suascausas e consequências, e indica que milhões de pessoas estãotendo consciência deste fato. Diz ele:

como não fomos ensinados sobre o amor, não temosacesso ao amor que habita nosso eu interior; passamosentão a desonrar a terra, os oceanos, os rios e os lagos,contaminando a atmosfera com gases venenosos,demonstrando pouco, ou nenhum amor pelas coisasvivas. (HAPPÉ, 1997, p. 23).

Com isso, Happé (1997) nos chama a atenção para as causasde tais fatos, relacionadas à falta de equilíbrio e à falta deacesso ao divino, lembrando que cada um de nós e todos podemrefletir sua própria divindade.

Page 88: Os Ditames da Consciência Vol. I

8888888888

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Eis o valor significativo real da consciência, esta que é aforça do Ser Humano que lhe permite exilar-se, meditar esilenciar-se, voluntariamente, para ouvir Aquilo que lhe é OrigemCausal; origem esta da qual tudo tem sido dito e que todos têmouvido, embora nada tenha sido falado.

Chardin (1950) estava ciente da vida em toda a naturezaquando falou do interior das coisas. Ele sustentava que, como aeletricidade é perceptível na enguia e existe num grau inferiorem toda parte, então a consciência, perceptível nos sereshumanos, existe em toda parte na natureza.

Eis a correlação direta entre o todo e as partes, com basena relação indivíduo/sociedade. Krishna (2008, p. 36) afirmaque “[...] uma transformação fundamental na sociedade só épossível com a transformação do indivíduo. E um indivíduo nãomuda somente com a transformação de ideias”.

Neste contexto, só haverá uma transformação fundamentalno ser humano quando sua consciência for transformada a partirdo interior (KRISHNA, 2008), de forma responsável. Lembrandoque ser responsável é responder, voluntária, consciente ecientemente, pelos próprios atos e obras, assim que a necessidadeexigir e a razão justificar, para a manutenção do equilíbriodinâmico do Universo, em sua eterna expansão.

Assim sendo, aqui nos dedicaremos, nas próximas páginas,a estudar o Universo e as Leis Naturais que o regem, o Centrocomo representação do Todo e a Consciência como recurso paraencontrar o Centro. Afinal, a evolução voluntária do Ser Humanoimplica, inevitavelmente, a busca consciente da Origem Causalque deve ser realizada, cada vez mais cientemente.

Page 89: Os Ditames da Consciência Vol. I

8989898989

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

O UNIVERSO E AS LEIS NATURAIS QUE O REGEM

“Tudo que existe no Universo,sistematicamente disposto pela natureza,

dá indícios, tanto em suas partes, quanto em seu todo,que fora elaborado, construído e tem sido até então executado,

segundo o que estabelecem a forma, medida e cálculode um primeiro e único pensador.”

(Jair Tércio)

“A palavra Universo (do latim universum) refere-se a umtodo qualquer [...] O mesmo que mundo.” (ABBAGNANO, 2003).Filosoficamente, definimos o Universo como a aparência daOrdem da Criação.

Conforme Marino (2005, p. 138):

O Universo deve ter tido uma causa primeira, umCriador (argumento cosmológico), pois o desígnioevidente do Universo aponta para uma mente ou umespírito supremo (argumento teleológico) enquanto anatureza do homem, com seus impulsos, aspirações,sentimentos e emoções, aponta para a existência deum Demiurgo pessoal (argumento antropológico).(MARINO, 2005, p. 138)

Compreendemos, portanto, o Universo nas suas dimensõesmacrocósmica e microcósmica, à luz dos conhecimentos deCopérnico (1543), Galilei (1638), Newton (1687), Einstein (1922),Heisenberg (1983), Bohr (1988), Goswami (2005, 2007), Hawking(2005), Laszlo (2008), dentre outros. Dimensões estas consideradaspor Chardin (1950), também, como dois infinitos: imenso eínfimo; e, por Wilber (2000, 2004), como autotranscendência(nível mais alto) e autodissolução (nível mais baixo), com basena concepção do Kosmos como composto de hólons13.

O Universo no qual vivemos inseridos é regido por Leis.Etimologicamente, a palavra Lei advém do latim Lex. E, para osdevidos fins, podemos defini-la como uma norma geral,

Page 90: Os Ditames da Consciência Vol. I

9090909090

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

racionalmente justificável e essencialmente necessária, ditadapela autoridade competente e dotada de sanção.

Segundo Abbagnano (2003, p. 601), “[...] a Lei é uma regradotada de necessidade, entendendo-se por necessidade: 1º.Impossibilidade (ou improbabilidade) de que a coisa aconteçade outra forma; ou 2º. Uma força que garanta a realização daregra”. Neste caso, percebemos o valor atribuído à mesma.

De acordo com Ferreira (1999, p. 1197), dentre outrasconcepções:

Lei é uma fórmula geral que anuncia uma relaçãoconstante entre fenômenos de uma dada ordem; LeiNatural: lei da gravitação universal [...] lei deconservação [...] lei moral. Filos. Princípio que deveguiar a ação humana com o fim de dotá-la de carátermoral.

Para Locke (apud ALMEIDA; BITTAR, 2004), a lei natural éuma regra eterna, sendo evidente e inteligível para todas ascriaturas racionais. A lei natural, portanto, é igual à lei da razão.Para ele, o homem deveria ser capaz de elaborar, com base nosprincípios da razão, um corpo de doutrina moral que seria,seguramente, a lei natural e ensinaria todos os deveres da vida.

Indo além em relação às concepções de Lei, anunciamos asnoções subjetiva, abstrata e positiva da mesma. É tambémprovadamente verdadeira a teoria de que a noção de Lei é, emtodo caso, uma noção subjetiva porque reside no espírito humano;é abstrata porque também resulta da síntese de um considerávelnúmero de fatores gerais; e é também positiva porque a suarealidade é inegável, inevitável e autossustentável como a dosfatos de que provém e/ou produz.

Ela, a Lei, é o fato observável em todos os seres e/ou aque todos os seres são e/ou estão sujeitos. Ela pode também serconsiderada como o conjunto das condições necessárias ejustificáveis que determinam um fenômeno; bem como a relaçãoconstante entre os fenômenos ou entre as fases do processo de

Page 91: Os Ditames da Consciência Vol. I

9 19 19 19 19 1

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

um mesmo fenômeno.

Hawking (2005, p. 251) estuda as leis básicas que regem oUniverso e compartilha suas experiências e percepções:

[...] a teoria de relatividade geral de Einstein implicavaque espaço e tempo teriam um início no big-bang e umfim nos buracos-negros. Esses resultados mostraramque era necessário unificar a relatividade geral com ateoria quântica, o outro grande avanço científico daprimeira metade do século XX [...] Outra conjectura éa de que o universo não tem fronteira ou contorno emtempo imaginário.

De acordo com Dejours (1999, p. 74): “Quando dizemosque o homem pertence ao mundo da natureza, indicamos que ofuncionamento e, em parte, o comportamento humano sãosubmetidos a Leis. Leis imutáveis, estáveis, universais [...]”.

Portanto, o fato de que, no Universo, tudo são Leis14 e deque, dentro delas, tudo é bem, porém, fora das mesmas, nada éclaro, definitivo ou seguro, demonstra que, no campo das relaçõeshumanas, a sua finalidade não é a de escravizar, mas sim libertaro Ser Humano de sua ignorância; e, porque não dizer, de suainconsciência. Lembrando que ela é estabelecida para beneficiara humanidade, considerando a razão de sua existência, e estábaseada na relação entre os direitos e os deveres. Para tanto, oestudo e desvendamento de seus valores.

Uma Lei Universal, para ser pesquisada e analisada até sercompreendida, bem como praticada até ser sentida,significativamente, exige que sejam observadas e verificadas,do fenômeno considerado como relativo à mesma, as evidênciasdas três características fundamentais que demonstram o todo dasua manifestação, a saber: o centro do qual partem todas asações, o agir e o objeto que reflete as ações.

Segundo Di Biase e Amoroso (2004, p. 80):

[...] uma causa primária é essencial para a ciência. Acausa está sempre implícita todas as vezes que um

Page 92: Os Ditames da Consciência Vol. I

9292929292

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

cientista se refere às ‘leis da natureza’. Tais leis, se éque elas estão realmente além das relatividades culturaisdas regularidades observadas, devem significar algumasdas características causais últimas naquilo que Bohmchamou de holomovimento. Em outras palavras, comoa base ontológica dessas Leis deve estar além do visível,do explicável e do observável (ou não teriam umaaplicação geral), aquele lugar ‘mais além’ deve ser umcampo determinante primário, cujas dimensões Bohmdescreveu como holomovimento.

Atualmente, é comum se dizer que, no passado, os SeresHumanos iniciados na senda do sagrado, por exemplo, tinhammais tempo para estudar e se conhecer melhor; entretanto, asLeis de outrora são as mesmas de hoje; portanto, o progressonão deve ser considerado como uma barreira para a evoluçãodo gênero humano. Pelo contrário, o nosso trabalho envolve aprática de tais Leis a ponto de penetrarem na totalidade danossa Consciência, confirmando o que é comum a todos os SeresHumanos, tanto na dimensão macrocósmica quanto na dimensãomicrocósmica.

Como vimos, no Universo, tudo são Leis. Eis que somentea partir delas surge uma consciência renovada no Ser Humano.Elas partem do Centro desconhecido e Absoluto do qual partemtodas as ações, a essência, a Vida das Leis Universais.

O CENTRO COMO REPRESENTAÇÃO DO TODO

“Tudo é hólon.Existe somente o todo/partes,

em todas as direções, em cima e embaixo.”

(Ken Wilber)

Tanto o Universo (o Macrocosmos) quanto o Ser Humano15

(o Microcosmos) são regidos pelas mesmas Leis Universais, estasque repousam na consciência do último, sua maior representação

Page 93: Os Ditames da Consciência Vol. I

9393939393

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

consciente neste mesmo Universo.

Isto porque é Lei Universal o fato de que toda parte de umorganismo vivo existe e funciona em razão do Todo; portanto,não é difícil concluirmos que o Todo pode ser considerado comoo conjunto das partes que nele se fundem. E, embora o Todoseja o somatório das partes, a parte pode ser considerada comouma totalidade em si mesma.

Assim, o Todo sem a parte não é Todo e a parte sem o Todonão é parte. O Todo em parte demonstra, no todo, as partes quetem, de modo que o Ser Humano que, em si mesmo, as partesdo Todo reconhece, ao agir, demonstra, no todo, as partes doTodo que é e já tem. De uma outra forma considerada, geralmentea arte denuncia o artista. E, ainda, geralmente os filhos são umreflexo dos pais; eles os imitam e/ou os reproduzem. Eis que éfato que a humanidade é, também, elemento de transmissão doconhecimento.

Neste contexto, corroboramos com Ramos (1998) quandoele evidencia o Ser Humano com um Ser Macromicro. Até porqueo Ser Humano, tal como a estrutura de toda matéria existenteem nosso Universo, é constituído por átomos. Ou seja, tudo queé vivenciado em nível macrocósmico também é vivenciado emnível microcósmico.

Ainda conforme Ramos (1998, p. 86):

Podemos ainda acrescentar que, se no nível macro, tudose processa através de quantidades de estímulos, nonível quântico, por não ser um mundo material, masenergético, tudo se processaria através de quantidadesvibratórias, cujas sensações definiriam a qualidade.

Ainda nesta perspectiva de análise da relação macro emicrocósmica, Bohm (1992), com base nos estudos da mecânicaquântica, confirma que as relações entre as partes derivam dotodo; e o todo é, neste sentido, anterior às partes. Apresenta,também, em 1981, a ideia básica relativa ao conceito de ordemimplicada16, relacionado com a categoria da totalidade, este

Page 94: Os Ditames da Consciência Vol. I

9494949494

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

que deu origem ao chamado paradigma holográfico, por suaanalogia com o holograma17.

Neste momento, utilizaremos passagens de diálogos do filmeO Ponto de Mutação, de 1983, do diretor Bernt Capra, baseadono livro O Ponto de Mutação, de Fritjof Capra. O filme se passanuma ilha-monastério na França, onde três personagens em fériasse encontram e se engajam numa discussão acerca da Vida, dasconexões entre o todo e as partes e das implicações das nossasatitudes na existência. Jack representa o sistema, o mundoexterior com sua política e as suas esperanças de que as soluçõespara os problemas são possíveis. O amigo de Jack é o poetaThomas. Na visita à igreja do local, eles encontram Sonia, umafísica que abandonou a carreira em prol de uma visão holísticada física e do meio ambiente. Vejamos:

– O que há de útil nessa teoria holística? É isto que nãoentendo. Posso olhar as coisas, contemplá-las, mas sequiser fazer algo, especificamente, por definição, nãoprecisa desmontar as coisas? [...] Como pode falar deuma árvore sem falar nas folhas e raízes? – Disse Jack.

– Eu conseguiria sem nem mencionar essas partes. Umcartesiano olharia para a árvore e a dissecaria, mas aíele jamais entenderia a natureza da árvore. Umpensador de sistemas veria as trocas sazonais entre aárvore e a terra, entre a terra e o céu. Ele veria o cicloanual que é como uma gigantesca respiração que a Terrarealiza com suas florestas, dando-nos o oxigênio. Osopro da vida, ligando a Terra ao céu e nós, ao Universo.Um pensador de sistemas não veria a vida da árvoresomente em relação à vida de toda a floresta. Ele veriaa árvore como o hábitat de pássaros, o lar de insetos...Já se você tentar entender a árvore como algo isoladoficaria intrigado com os milhões de frutos que produzna vida pois só uma ou duas árvores resultarão deles.Mas, se você vir a árvore como um membro de umsistema vivo maior, tal abundância de frutos farásentido, pois centenas de animais e aves sobreviverãograças a eles. Interdependência. A árvore também nãosobrevive sozinha. Para tirar água do solo precisa dos

Page 95: Os Ditames da Consciência Vol. I

9595959595

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

fungos que crescem na raiz. O fungo precisa da raiz e araiz precisa do fungo. Se um morrer, o outro morretambém. Há milhões de relações como esta no mundo,cada uma envolvendo uma interdependência. A teoriados sistemas reconhece esta teia de relações como aessência de todas as coisas vivas. Só um desinformadochamaria tal noção de ingênua ou romântica porque adependência comum a todos nós é um fato científico. –Explicou Sonia, uma física holista.

– Uma teia de relações... – Sintetizou Jack, reflexivo.

– Sim, mas, desta vez, é a própria teia da vida. A teoriados sistemas realmente dá o perfil de uma respostaàquela questão eterna: o que é a vida? – Confirmou afísica.

– A vida é auto-organizadora. Isso é extraordinário. –Comentou Thomas.

– É sim! E significa algo específico também. Significaque um sistema vivo se mantém, se renova e setranscende sozinho. – Adicionou Sonia.

– Como ele se mantém? – Indagou Jack.

– Um sistema vivo, embora dependa do ambiente, nãoé determinado por ele. Os campos de centeio amarelonesta ilha deveriam ser verdes o ano todo por causadas chuvas, mas todo verão eles ficam amarelos. Porquê? Para usar uma metáfora, cada planta lembra quesurgiu no clima seco do sul da Ásia. Ela lembra, e nemo clima muito diferente muda este mecanismo. Ela semantém e se organiza sozinha.

– Entendo. E como ela se renova? Jack lançou estaindagação complementar.

– Nós, por exemplo, como todo ser vivo, nos renovamossempre em ciclos contínuos. Bem mais rápido do queimaginam. Sabiam que o pâncreas substitui a maiorparte de suas células a cada 24 horas? Acordamos comum pâncreas novo todo dia e uma nova mucosa gástricatambém. Nossa pele descama à razão de milhares de

Page 96: Os Ditames da Consciência Vol. I

9696969696

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

células por minuto e, ao mesmo tempo em que ascélulas mortas caem, um igual número se divide eforma a nova pele. Assim a vida se renova... Porém,embora as células sejam trocadas, reconhecemos umao outro porque o padrão de nossa organizaçãocontinua o mesmo. Esta é uma das característicasimportantes da vida...mudança estrutural contínua,mas estabilidade nos padrões de organização dosistema. – Explicou a física.

– E a vida é só isso? – Indagou Thomas.

– Não! Há a autotranscendência. A auto-organização nãoconsiste apenas nos sistemas vivos se manterem e serenovarem continuamente. Significa também que temuma tendência a se transcenderem, a se estenderem ea criarem novas formas. Esta, para mim, é uma daspartes mais emocionantes. A dinâmica evolutiva básicanão é a adaptação, é a criatividade.

– Então, os sistemas evoluem só por evoluir e aí veemse precisam daquilo para sobreviver o que prova quenão estou tão errado? Afirmou indagando Thomas.

– Não, não está. A criatividade é um elemento básicoda evolução. Cada organismo tem potencial para acriatividade, para surpreender e transcender a simesmo. – Explicou, mais um vez, Sonia.

– Para criar o quê? Beleza? – Novos questionamentos deThomas.

– Sim, beleza, também. Evolução é muito mais do queadaptação ao meio ambiente. O que é o meio ambientesenão um sistema vivo que evolui e se adaptacriativamente? Então, quem se adapta a quem? Um seadapta ao outro. Eles coevoluem. A evolução é umadança em progresso, uma conversa em progresso. –Orientou Sonia.

– Somos sistemas e o planeta também. Não evoluímosno planeta. Evoluímos com o planeta. – Afirmou Jack.

– Mas, lembre-se. – Refletiu, profundamente, o amigo.

Page 97: Os Ditames da Consciência Vol. I

9797979797

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

– A vida sente a si mesma. Diferentemente de suaspalavras, talvez, e até com as melhores intenções, vocêerrará se esquecer que a vida é infinitamente mais queas suas ou as minhas obtusas teorias a respeito dela.Sentir o Universo é um trabalho interior e você meajudou [...]

Saindo do mesmo ambiente de Sonia, Thomas continuourefletindo com Jack:

– Este é um daqueles momentos de mudança? Você é amulher; eu, o homem, este é o mundo e cada um é obrade tudo... os passos silenciosos na areia, odesconhecido que se esgueira... os dançarinos e anjosgirando pela aldeia e os lindos braços em volta de nós edo que conhecemos.

Para Bohm (1992), tudo está ligado a tudo. Eis a sua teoriado “holomovimento” como a natureza básica da realidade:processo dinâmico da totalidade (“holos”, gr.). Sua sugestãobásica, de início, é a de que vivemos num mundomultidimensional e a nossa moradia está situada no nível maisóbvio e superficial: o mundo tridimensional dos objetos, espaço-tempo, ou seja, na ordem explícita.

Indo para um nível mais profundo, acessamos a ordemimplícita, evidenciando que, em geral, a totalidade da ordemabrangente não pode se tornar manifesta para nós; assim, somenteum certo aspecto dela se manifesta.

Por fim, anuncia a dimensão de extrema sutileza da ordemimplícita – a ordem superimplícita, que envolve a fonte ou ofundo abrangente de toda a nossa experiência física, psicológicae espiritual. E não termina aí, pois, além dela, podemos postularmuitas ordens semelhantes, mergulhando numa fonte ou esferainfinita n-dimensional.

Prigogine (2003, p. 60) evidencia a importância desuperarmos a fragmentação do passado, evidenciando que “portoda parte, em todos os níveis, existe a incerteza”.

Correlato a esta visão, Morin (2003, p. 69) exorta que:

Page 98: Os Ditames da Consciência Vol. I

9898989898

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

[...] a especialização abstrai, isto é, retira um objetodo seu contexto e da sua totalidade, rejeitando suasligações e intercomunicações com o seu ambiente, oinsere no compartimento da disciplina, cujas fronteirasdestroem arbitrariamente a sistematicidade (a relaçãode uma parte com o todo) e a multidimensionalidadedos fenômeno.

Para tornar mais clara esta concepção, trazemosconsiderações de Maffesoli (2003, p. 179) sobre a Fractalidade:

[...] o equilíbrio da heterogeneidade (do fractal), aprópria harmonia conflituosa, repousa sobre ainterdependência dos diversos elementos do cosmos,micro e macro, exatamente como sobre a que está emcurso no interior da própria pessoa. É o feedbackgeneralizado. Incompreensível numa perspectivamecanicista, esse equilíbrio encontra seu lugar numaperspectiva orgânica, em que tudo e todos se “apóiam”.

É do conhecimento de todos que o equilíbrio dinâmico,que a conduta dos corpos celestes do nosso sistema solardenuncia, implica e indica uma certa moralidade Universal queorienta, evidenciando, dentre a infinita diversidade de valores,o fato de que, no Universo, esse organismo vivo, nada viveisolado e tudo são relações; os corpos agem e interagem, entresi, com precisão e uniformidade infalíveis que seu equilíbriodinâmico, factualmente demonstra.

Conforme Capra (1982, p. 45):

Em outras palavras, a teia da vida consiste em redesdentro de redes. Em cada escala, sob estreito eminucioso exame, os nodos da rede se revelam comoredes menores. Tendemos a arranjar esses sistemas,todos eles aninhados dentro de sistemas maiores, numsistema hierárquico colocando os maiores acima dosmenores, à maneira de uma pirâmide. Mas isso é umaprojeção humana. Na natureza, não há “acima” ou“abaixo”, e não há hierarquias. Há somente redesaninhadas dentro de outras redes.

Ainda relacionando tal moralidade com o Ser Humano, é

Page 99: Os Ditames da Consciência Vol. I

9999999999

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

notório o fato de que a vida não pode deixar de sercompreendida. E a primeira e última, enfim, a única atividade-meio que é naturalmente dada ao Ser Humano para compreendera sua atividade-fim é o viver, que é ação nas relações. Poroutro lado, há mais um fato concomitante: o de que o equilíbrioque o Ser Humano deve procurar atingir não é o que produz aimobilidade, mas sim o que produz o movimento, pois omovimento prova a vida, que é evolução, que é progresso enão estagnação.

Isto tudo são valores irrefutáveis e, porque não dizer,códigos perenes e imutáveis de Leis Universais. Portanto,podemos afirmar o fato de que o Ser Humano, para evoluir,inclusive abreviadamente, deve, conscientemente, lançar mãoda moralidade Universal que a conduta dos corpos celestesdenuncia; enfim, dos valores da relatividade, e não das religiõese/ou algo que equivalha, ainda que saibamos que, no Universo,nada se perde, pois tudo se transforma, aprimora e evolui.

Pois bem, se a nossa busca é a evolução inclusiveabreviada, então abrir mão da moralidade Universal implica,no mínimo, em contradição. Porquanto, assim como todos oscidadãos precisam de ética para nortear e tornar comuns osseus interesses, visto que, para vivermos em equilíbriodinâmico, os interesses particulares devem ceder espaço paraos interesses gerais, também todos os seres humanos precisamde moralidade. Eis que tem sido premente o despertamento,construção e/ou desenvolvimento da Consciência do SerHumano; afinal, sem Consciência não há Lei, tampouco Ordem,nem individual, nem social, e, por sua vez, não há conexãocom o Centro que é toda parte.

Page 100: Os Ditames da Consciência Vol. I

100100100100100

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

A CONSCIÊNCIA COMO RECURSO PARA ENCONTRARMOSO CENTRO

“A alma é idêntica à consciência,a primeira e única, que é a base da existência.”

(Amit Goswami)

Por que o Ser Humano precisa de Consciência? O Ser Humanoprecisa de Consciência porque, embora ele queira ser feliz eevitar a dor, ele sofre; se sofre, é porque está fazendo oincorreto; se existe o incorreto, é porque existe o correto; seexiste o correto e o incorreto eis a necessidade essencial domesmo poder distinguir o correto do incorreto – um dos objetivosda Consciência, que é justamente facultar ao ser humanoaptidões, tais como a do discernimento, que lhe possibilitamcompreender, absorvendo em si mesmo a natureza real que resideem todas as coisas, desde o seu Centro. Eis que conhecer a simesmo é conhecer o Universo.

Seres iluminados como Krishna (há, aproximadamente,5.000 anos atrás), Moisés (há 3.400 anos atrás), Brahma (há 2.700anos atrás), Mahavira (há 2.650 anos atrás), Zoroástro (há 2.600anos atrás), Buda (há 2.500 anos atrás), Cristo (há 2.008 anosatrás) e Maomé (há 1.400 anos atrás) relevam a integração dasua identidade com a Consciência, ou seja, com a essênciacriadora. “Tornam-se, na não-localidade atemporal, testemunhasde toda a ação” (GOSWAMI, 2005, p. 240). Assim, o si-mesmoquântico, Consciência universal e Deus são muito similares.

Neste sentido, Happé (1997) complementa que não estamossós e que temos energia em torno e dentro de nós, chamadaDeus, que nos faz lembrar a nossa verdadeira identidade,possibilitando-nos elevar nossa consciência até percebermos,conscientemente, que todas as manifestações de vida estão emunidade.

Page 101: Os Ditames da Consciência Vol. I

101101101101101

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

De acordo com Happé (1997, p. 22), “[...] para descobrirmosa nós mesmos, para despertarmos para a nossa verdadeiraidentidade, é fundamental que experienciemos as coisas eaprendamos com elas”. Especificamente quanto às experiências,ressalta apenas que as mesmas precisam ser vividas integralmente.A jornada, para Happé (1997), é de volta para casa, para aautoconsciência.

Para Nicholson (2008, p. 31), “[...] ninguém pode negarque dependemos todos uns dos outros e de toda a natureza”,até porque acreditamos que toda a natureza, inclusive nósmesmos, temos raízes numa essência básica. Neste sentido, naspalavras de Blavatsky (1973), tudo emerge de um princípio-substância vivo e homogêneo, a causa una radical.

Ainda segundo Nicholson (2008, p. 31):

[...] tudo que existe surge de uma vida, uma fonte,uma essência divina, e é por ela penetrado e mantido.A descoberta bem recente de que estamos entretecidoscom a natureza e que não podemos prejudicá-la semprejudicar a nós mesmos é apenas uma dasconsequências dessa unidade radical no coração docosmo.

Além disso, Nicholson acrescenta que a consciênciaindividual também tem raízes na consciência e na inteligênciauniversal e ainda tudo que existe em qualquer parte do cosmopossui tanto um lado material quanto um lado consciente.

Para ele:

[...] cada seixo, cada montanha, cada córrego, a lua, oburaco negro, o quasar – tudo é consciente. Com issonão se quer dizer que as coisas aparentementeinanimadas são autoconscientes como os seres humanos[...] Mas existe alguma qualidade e graus deconsciência, percepção, sensibilidade e inteligência emtudo no cosmo. (NICHOLSON, 2008, p. 32).

Diante desta percepção, nos aproximamos da essencialidadede tudo que existe e, especificamente, da Consciência, em si.

Page 102: Os Ditames da Consciência Vol. I

102102102102102

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Segundo Ferguson (2007, p. 204), parafraseando Wilson(1978), “[...] se pudéssemos passar a ver a consciência como elarealmente é, ativa e relativa, seríamos inspirados à imortalidade”,ainda mais porque:

Uma consciência saudável é como uma teia de aranha,e você é a aranha no centro. O centro da teia é omomento presente. Mas o significado de nossa vidadepende daqueles finos fios que se estendem paraoutros tempos, outros lugares, e das vibrações por todaa teia. [...] Normalmente, nossa consciência é comouma teia muito pequena. Seus fios não se estendempara muito longe. (WILSON, 1978 apud FERGUSON,2007, p. 204).

Ferguson (2007) vem abordando a necessidade de termosatenção e anuncia alguns caminhos para tal prática, tais como ameditação, a música introspectiva e a medicina alternativa, osquais favorecem o caminho para obtermos uma consciência aindamais elevada, tornando-nos professores de nós próprios.

Marino faz ainda uma análise complementar relacionandocérebro e Consciência e sintetiza que “a consciência pode serexperimentada independentemente do funcionamento cerebral”,o que poderá futuramente acarretar uma enorme mudança nosparadigmas da medicina, surgindo a possibilidade de se admitirque a morte, assim como o nascimento, constitui meramente apassagem de um estado de Consciência para outro (MARINO,2005, p. 117).

Corroborando com tais abordagens, compartilhamos aconcepção de Goswami (2005, p. 282) de que: “[...] a matéria éefêmera, passando a uma aparente existência quando é registradana experiência de um ser senciente, dissolvendo-se depois notodo. O corpo material perece, mas a alma vive eternamente.”

Complementa Marino (2005, p. 116):

[...] quando morremos, nossa consciência deixa de tero aspecto de partículas para assumir o eterno aspectode ondas. Portanto, ela continua a existir e a ser

Page 103: Os Ditames da Consciência Vol. I

103103103103103

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

experimentada em outra dimensão, num mundo não-visível e imaterial – o espaço-fase – que contém opassado, o presente e o futuro.

De acordo com Happé (1997), nós somos essencialmenteseres espirituais com Consciência criadora. Ele relaciona aConsciência como a palavra-chave para que possamos sobreviver,trazendo o oculto para a luz e a define como a energia que viajaao longo de uma rede composta de linhas de forçaeletromagnéticas e invisíveis, chamadas neutrinos, saindo eentrando no corpo, para dentro e para fora do espaço e damatéria. Assim ele complementa:

Os neutrinos possibilitam que a consciência viaje,observe as coisas e traga de volta as percepções paraserem gravadas na mente, enquanto dados nocomputador-cérebro [...] A percepção da Consciênciaestá diretamente relacionada ao grau de habilidade decada indivíduo em viajar conscientemente pelosneutrinos do espaço, à capacidade de fazer a leituradas percepções sem distorcê-las e à confiança que neladepositamos. (HAPPÉ, 1997, p. 37).

Segundo Happé (1997), o ser humano tem quatro corpos:o físico, o mental, o emocional e eo spiritual. Trata ainda detrês níveis de consciência: a subconsciência (movimento daconsciência que não está consciente de si próprio); a consciência(processa os dados que são percebidos) e a superconsciência(refere-se ao eu superior). E indica que, no interior de cadadimensão da Consciência, há muitos níveis de frequência, comvibração da mais densa à mais acelerada, com suas própriasleis de tempo e suas características (HAPPÉ, 1997).Evidenciando, também, que a elevação da Consciência estádiretamente relacionada à determinação de assumirmos ocomando da nossa própria vida, superando os medos e galgandoníveis mais elevados de compreensão como passaporte parauma Consciência superior.

Happé (1997, p. 102) sugere que devêssemos pensar menose observar mais, aprendendo com base na experiência, pois

Page 104: Os Ditames da Consciência Vol. I

104104104104104

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

“Tudo é um. Tudo é você. Tudo é amor”. É justamente nestadimensão que vislumbramos espaço e tempo para tratarmos,ainda que brevemente, de uma teoria integral de tudo.

Uma genuína teoria integral de tudo inclui mais do quefórmulas matemáticas no ramo da Física Quântica. De acordocom LASZLO (2008, p. 19): “Há, no universo, mais do que cordasvibrantes e eventos quânticos relacionados. A vida, a mente, acultura e a consciência fazem parte da realidade do mundo, euma genuína teoria de tudo também as levaria emconsideração”.

Minimizando o problema “difícil” anunciado por Chalmers18

(1995), Laszlo (2008, p. 116) evidencia que a “[...] consciênciarudimentar da matéria em um nível de organização mais baixo(os neurônios no cérebro) se integra na consciência mais evoluídada matéria consciente em um nível de organização mais alto (océrebro como um todo)”.

E, a despeito de existirem diversas abordagens acerca dosestágios específicos na evolução da consciência humana, algo asaproxima, na medida em que, de acordo com Laszlo (2008, p.124): “A evolução da consciência vai da forma limitada do ego àforma transpessoal.” Tanto que:

Quando uma massa crítica de seres humanos evoluirpara o nível transpessoal de consciência, é provávelque ocorra a emergência de uma civilização superior,animada por uma solidariedade mais profunda e porum sentido superior de justiça e de responsabilidade.(LASZLO, 2008, p. 124).

Em se tratando especificamente da consciência cósmica,Laszlo (2008, p. 124, 135) destaca que: “[...] a consciência seestende até o coração do cosmos: até o vácuo quântico [...] Aconsciência não desaparece quando as funções do cérebro e docorpo terminam”. Acrescenta ainda, a partir das reflexões deLommel (2006 apud LASZLO, 2008, p. 124), que:

Nossa consciência desperta é apenas uma parte da

Page 105: Os Ditames da Consciência Vol. I

105105105105105

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

totalidade da nossa consciência indivisa. Há tambémuma consciência extensa ou intensificada que sefundamenta em campos de informação indestrutíveis eem constante evolução, e onde todo o conhecimento,sabedoria e amor incondicional estão presentes edisponíveis.

Ainda compartilhando concepções complementares sobreConsciência, rumo ao encontro do Centro, anunciamos Frankl.Para ele, a consciência é algo diferente, algo superior ao homem,algo extra-humano, “[...] é um fenômeno que transcende minhamera condição humana e, consequentemente, pressupõecompreender a mim mesmo, a minha experiência, a partir datranscendência essencial” (FRANKL,1992, p. 40).

“A Consciência é a voz da transcendência e, por isso, elamesma é transcendente” (FRANKL, 1992, p. 40). Até porque ouniverso não existe sem algo que lhe perceba a existência. Portanto,tudo o que existe e se move no cosmo é gerado pela Consciência,aqui também entendida como algo transcendental – fora do espaço-tempo, não local e onipresente (GOSWAMI, 2007).

Aprendemos, assim, que aquele que desperta, constrói edesenvolve, cada vez mais, sua Consciência sente-se, de fato,como um veículo do único, perene e Imutável, pois acessa adimensão da transcendentalidade, identificando-se com as LeisNaturais que regem o Universo. Além disso, busca se empreenderde maneira a expandir-se em busca do Centro que é toda partee que, portanto, reside, também, em nós, como uma verdadenão apenas revelada, mas, sobretudo, experimentada, em funçãodo nosso contato direto, correto e completo.

Eis que só o contato favorece a experiência direta; só aexperiência direta favorece a Consciência; só a Consciênciafavorece a percepção direta; só a percepção direta favorece acompreensão; só a compreensão favorece a integração; só aintegração favorece o autoconhecimento; só o autoconhecimentofavorece a autotransformação e só a autotransformação favorece aautorrealização, esta que demonstra que nós e o Centro somos um.

Page 106: Os Ditames da Consciência Vol. I

106106106106106

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Neste sentido, fica o desafio para todos nós Seres Humanosde que somos o maior repouso e a representação das Leis Naturaisque regem o Universo, elas que repousam em nossa Consciência;esta que aguarda ser despertada e construída, pelos devidosmeios, e desenvolvida, para os devidos fins.

Assim sendo, em função da nossa experiência, sugerimos arealização de exercícios de conectividade como recurso paraencontrar o Centro, ajudando-nos a desenvolver e a despertar omelhor de nós mesmos, a saber: exercícios de reflexão,concentração, meditação, vibração, percepção, contemplaçãoe exaltação.

Dentre os sete exercícios, destacamos, no presente artigo,o de contemplação. Até porque esta prática específica favoreceo desenvolvimento do raciocinar do Ser Humano e, porconsequência, o despertamento e a construção da Consciência.

Portanto, sentimos que a dádiva de aprender a contemplaré, senão o maior, o melhor presente que o Ser Humano pode sedar nesta vida; afinal, é apenas por meio da contemplação queele consegue empreender para descobrir sua verdadeiraidentidade, bem como para encontrar a estabilidade e a confiançade que necessitará para viver e morrer bem.

Nesta dimensão, é possível vivermos com base em umestado de mais compreensão que é uma operação que não deixaresto; mais discernimento e identificação com o que é puromovimento; mais intuição, que é a linguagem da divindade,enfim, o Ser Humano convive com, senão nenhum, quase nenhumconflito, portanto, com identificação, ou seja, com a ação deidentificar melhor ainda as ações cheias de identidade para coma nossa Origem Causal.

Que a Consciência nos aproxime, cada vez mais, do nossoCentro, de forma cabal!

Page 107: Os Ditames da Consciência Vol. I

107107107107107

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: MartinsFontes, 2003.

ALMEIDA, Guilherme Assis de; BITTAR, Eduardo Carlos Bianca.Curso de Filosofia do Direito. São Paulo: Atlas, 2004.

ARNTZ, WILLIAM (Org.). Quem somos nós. São Paulo: PrestígioEditorial, 2007.

AUROBINDO, Sri. A consciência que vê. Salvador: Casa SriAurobindo, 1977.

BARRETO, Maribel. O papel da consciência em face aos desafiosatuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005.

______. Teoria e prática de uma educação integral. Salvador:Sathyarte, 2006.

BARROS, Alberto L. da R. O aparente e o oculto: entrevista comDavid Bohm. Estudos Avançados, São Paulo, v. 4, n. 8, p. 188-198, jan./abr. 1990.

BLAVATSKY, Helena P. A doutrina secreta. São Paulo: Pensamento,1973. v. I.

BOHM, David. A totalidade e a ordem implicada. São Paulo:Cultrix, 1992.

BOHR, Niels. La teoría atómica y la descripción de lanaturaleza. Madrid: Alianza, 1988.

CAPRA, Fritjof. O Tao da física – um paralelo entre a físicamoderna e o misticismo oriental. São Paulo: Cultrix, 1980.

______. O ponto de mutação. São Paulo: Cultrix, 1982.

CHALMERS, David J. The puzzle of conscious experience.Scientific American, EUA, n. 273, p. 80-86, dez. 1995.

______. How can we construct a science of consciousness?Disponível em: <http://consc.net/papers/scicon.pdf>. Acesso em:23 fev. 2007.

______. Consciousness and its place in nature. Disponível em:<http://consc.net/papers/nature.pdf>. Acesso em: 23 fev. 2007.

Page 108: Os Ditames da Consciência Vol. I

108108108108108

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

CHARDIN, Theihard de. O lugar do homem no Universo. Lisboa:Editorial Presença, 1950.

DEJOURS, Christophe. O fator humano. Rio de Janeiro: EditoraFGV, 1999.

DI BIASE, Francisco; AMOROSO, Richard (Orgs.). A revolução daconsciência: novas descobertas sobre a mente no século XXI.Petrópolis, RJ: Vozes, 2004.

FERGUSON, Marilyn. A nova consciência: arte e ciência sob outroolhar. São Paulo: Arx, 2007.

FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo Aurélio século XXI: o dicionárioda língua portuguesa. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999.

FRANKL, Victor E. Em busca de sentido. Petrópolis, RJ: Vozes,2002.

GOSWAMI, Amit. A física da alma. São Paulo: Aleph, 2005.

______. O universo autoconsciente: como a consciência cria omundo material. São Paulo: Aleph, 2007.

GROF, Stanislav. Psicologia do futuro: lições das pesquisasmodernas de consciência. São Paulo: Heresis, 2000.

HAPPÉ, Robert. Consciência é a resposta. São Paulo: Talento,1997.

HAWKING, Stephen. Os gênios da ciência: sobre os ombros degigantes. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005.

HEISENBERG, R. O princípio da incerteza. In: EISBERG R.;RESNICK, R. Física quântica: átomos, moléculas, núcleos epartículas. Rio de Janeiro: Campus, 1983.

KRISHNA, P. Transforme-se para mudar o mundo. Revista Sophia,Brasília, ano 6, n. 23, p. 34-37, jul./set. 2008.

LASZLO, Ervin. A ciência e o campo akáshico: uma teoriaintegral de tudo. São Paulo: Cultrix, 2008.

MAFFESOLI, Michel. Considerações epistemológicas sobre afractalidade. In: MENDES, Candido (Orgs.). Representação ecomplexidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2003. p. 171-182.

Page 109: Os Ditames da Consciência Vol. I

109109109109109

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

MARINO JÚNIOR, Raul. A religião do cérebro: as novasdescobertas da neurociência a respeito da fé humana. São Paulo:Gente, 2005.

MARRIOTT, Sara. Ritmos da vida. São Paulo: Pensamento, 1984.

MENDES, Candido (Org.). Representação e complexidade. Rio deJaneiro: Garamond, 2003.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 2001.

______. A necessidade de um pensamento complexo. In: MENDES,Candido (Org.). Representação e complexidade. Rio de Janeiro:Garamond, 2003. p. 69-78.

NICHOLSON, Shirley. O cosmo vivo. Revista Sophia, Brasília, ano6, n. 23, p. 30-33, jul./set. 2008.

OCIDEMNTE – 7º CDE - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOSMATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS. Histórias imutabilistas II.Salvador, 2008.

PRIGOGINE, Ilya. O fim da certeza. In: MENDES, Candido (Org.).Representação e complexidade. Rio de Janeiro: Garamond,2003. p. 47-68.

RAMOS, Maria Beatriz B. Macromicro: A ciência do sentir – umavisão revolucionária do ser humano, a partir da física quântica, dateoria da relatividade, da psicanálise, da biologia e das artes. Riode Janeiro: Mauad, 1998.

WILBER, Ken. Uma teoria de tudo: uma visão integral para osnegócios, a política, a ciência e a espiritualidade. São Paulo:Cultrix, 2000.

______. Uma breve história do universo: De Buda a Freud –Religião e psicologia unidas pela primeira vez. Rio de Janeiro:Record: Nova Era, 2004.

Page 110: Os Ditames da Consciência Vol. I

110110110110110

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

5MÉTODO

“A razão e a Consciência são parceiras;a razão nos faz prontos para aprender;

e a Consciência nos faz aprender de pronto.”(Jair Tércio)

“Somente a consciência de nossos sentimentos pode abrir-nos ocoração.”

(Gary Zukav)

“Compreendemos a Consciência como tudo o que existe,que se manifesta em nós e em nossas vidas individuais e coletivas,

como um conjunto de estados em emergência,sustentados por nosso processo em desenvolvimento.”

(Theda Basso e Aidda Pustilnik)

Page 111: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 112: Os Ditames da Consciência Vol. I

112112112112112

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INCLUSÃO EDUCATIVA:O PAPEL DA CONSCIÊNCIA

NA ATUAÇÃO DOS EDUCADORES

“A Consciência é uma das faculdades inatasque possibilita ao criado integrar-se consigo mesmo,

com seu próximo, com o meio em que vive e,por conseguinte, com O Criador.”

(Jair Tércio)

RESUMO

Com o referido artigo, temos o fim de socializar as demandas de uma educaçãoinclusiva, com base na Consciência dos educadores, em função do seu papelde auxiliar no processo de despertamento, construção e/ou desenvolvimentoda Consciência dos educandos, incluindo ações que favoreçam a integraçãodo seu sentir, pensar e agir, no cotidiano. Concluímos, confirmando a premênciade uma educação integral, portanto, inclusiva, com base na concepção deConsciência como a nossa capacidade de compreender, no mínimo, a noçãode identidade universal, que nos possibilite incluir sempre, excluir jamais,percebendo a consciência que está em nossa frente – o educando, ser humano.Com isso, propomos a criação de Núcleos de Estudos sobre Consciência, a fimde sensibilizar e capacitar os educadores quanto a esta perspectiva daConsciência como a chave que abre a nossa percepção sobre a realidade comoum todo, para além da aparência, por meio da educação.

Palavras-chave: Consciência. Educação. Inclusão.

Page 113: Os Ditames da Consciência Vol. I

113113113113113

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

Nos tempos atuais, o desenvolvimento científico etecnológico tem sido tão rápido que, invariavelmente, nãoconseguimos acompanhar todas as suas inovações. E parece quea ciência atual já chegou à conclusão de que o nosso Universo éconstituído de elementos que não podem ser totalmentecompreendidos pelos métodos usuais científicos. Esses elementosparecem pertencer a uma outra realidade, cujos atributos estãoalém da compreensão da racionalidade humana e dos métodoscientíficos tradicionais, com base nos fundamentos da teoriaquântica que nos possibilitam sentir que o todo e as partes vivemconectados direta e completamente, ultrapassando as dimensõesda objetividade, da materialidade e da superficialidade.

Para tanto, como educadores, precisamos construir novospressupostos no campo do conhecimento, em prol do nossoautoconhecimento, na busca de superação das limitações dopensamento científico reducionista. Daí porque nos importa oestudo da Consciência no âmbito educacional, para nospossibilitar uma melhor compreensão da Vida, com base naconcepção do Ser Humano como uma totalidade Universal.

A nosso ver, esses pressupostos levaram o pesquisador Jungà sua mais importante descoberta: “o inconsciente coletivo”.Para Jung (1986), além do consciente e do inconsciente pessoais,já estudados por Freud, existiria uma zona ou faixa psíquica emque estariam as figuras, os símbolos e os conteúdos arquetípicos,de caráter universal, frequentemente expressos em temasmitológicos.

Precisamente nestas interfaces, surgem aquelasconfigurações científico-culturais complexas caracterizadoras dasconcepções que atravessam épocas. E, sem dúvida, essasconfigurações transversais são multidimensionais e não sãohomogêneas nem estáticas, mas apresentam densidades diversas.

Page 114: Os Ditames da Consciência Vol. I

114114114114114

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Constituindo-se aí um espaço propício para fomentar o estudo ea pesquisa em prol do desenvolvimento da Consciência, combase na complexidade e na não-linearidade. Parafraseando Jung,Edinger (1984, p. 32) corrobora com o que expressamosanteriormente:

Cada experiência humana, na medida em que éconscientemente vivida, aumenta a soma total deconsciência no universo. Esse fato proporciona sentidoa todas as experiências e dá a cada indivíduo um papelno drama mundial e permanente da criação.

Para Jung (1991), o relacionamento psíquico é complexopor apresentar os aspectos objetivos e subjetivos de naturezapluridiversa e incluir aspectos jurídicos, sociais, culturais,antropológicos, históricos, psicológicos etc. Não obstante aimportância de cada variável, buscaremos, neste contexto,aprofundar o estudo da consciência na educação, pois osconteúdos psíquicos estão parcialmente inconscientes e devemvir à tona através da consciência, inclusive e principalmentepor meio das relações do nosso dia a dia. Isso porque:

A tarefa do homem é [...] conscientizar-se dosconteúdos que pressionam para cima, vindos doinconsciente. Ele não deve permanecer em suainconsciência, nem tampouco permanecer idêntico aoselementos inconscientes de seu ser, assim se esquivandoa seu destino, que é o de criar cada vez maisconsciência. Tanto quanto podemos discernir, afinalidade única da existência humana é a de avivaruma chama na escuridão do simples ser. Pode-se atépresumir que, assim como o inconsciente nos afeta, oaumento da nossa consciência afeta o inconsciente.(JUNG, 1963, p. 326, grifos nossos).

Nesta perspectiva, Morin (1991) anuncia as demandas deum novo método para o saber pautado no paradigma decomplexidade que detecte as ligações e as articulações doconhecimento, possibilitando-nos uma visão mais ampliada darealidade e, por consequência, da educação.

Page 115: Os Ditames da Consciência Vol. I

115115115115115

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Neste contexto, afirmamos a necessidade de uma educaçãovoltada para o desenvolvimento integral do Ser Humano,fundamentada no estudo da Consciência, baseada na compreensãode que todo trabalho pedagógico deve, no mínimo, propor acriação de oportunidades que possibilitem conduzir o educandoao despertamento, construção e/ou desenvolvimento de suaconsciência, em função da sua necessidade de conhecer,autoconhecer e autorrealizar, considerando a finalidade da vidae a razão de nossa existência.

Daí a necessidade de procurarmos ouvir e atender osconstantes apelos contemporâneos por uma educação integral,aquela que transcenda a visão dual entre ciência e religião(BARRETO, 2006a). É o que estamos aqui defendendo, ou seja, aconsciência no processo de inclusão das diferenças, com opressuposto de identificar o que tem de similar entre todos nós,seres humanos.

E o que precisamos considerar? Na realidade, precisamosconsiderar, inicialmente, o fato de que é a consciência queperpassa os processos de saúde e doença. Até porque o que onosso estado de saúde atesta, hoje, pode não ser saúde; Achamosque não temos doença, mas, de repente, o nosso estômagodemonstra seu adoecimento, a cabeça começa a doer, aindisposição aparece, apenas como alguns exemplos.

Precisamos, portanto, expandir a nossa percepção a pontode identificarmos, em nós mesmos, quais são as doenças queresidem no nosso processo de saúde, ainda que como uma fase,como um fator de equilíbrio bioenergético do nosso ser,representando algum nível de limitação física, psíquica e/oumoral, relativa a um estágio do nosso processo de evolução.

Essa evolução se pratica no dia a dia do viver e refere-seaos momentos em que vamos (re)equilibrar, paulatinamente, osnossos processos, compreendendo-os. Porém, de acordo comMorin (2000, p.93): “[...] há importantes e múltiplos progressosda compreensão, mas o avanço da incompreensão parece ainda

Page 116: Os Ditames da Consciência Vol. I

116116116116116

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

maior.” Eis um dos nossos grandes desafios na educação!

Enfim, encontrar as causas profundas, a origem real de umadoença ou de um problema nos permite melhor compreender ocaminho de vida, abrir a nossa consciência para o nosso SerInterior, aliviar os sofrimentos da existência, viver uma vidamais rica, bela e significativa e, sobretudo, transformar opresente em prol de um futuro melhor.

Significa, portanto, que a doença envolve o processo depurificação da vida como um todo. E, se entendermos a doençacomo uma fase, um processo de transformação, teremos maioreschances de saber lidar com ela e irmos, portanto, para além doque ela nos mostra.

Até porque a aparência não nos possibilita a compreensãoda realidade na sua totalidade. Eis que a realidade não é,tampouco está, na aparência, mas sim na essência. Portanto,quem se fixa na aparência tem, seguramente, dificuldades decompreender a essência e, com isso, a dita inclusão que tantobuscam os familiares e os educadores tende a não passar de umamera verdade revelada, porém sem experimentação.

E, para que a inclusão transite da dimensão de verdaderevelada para verdade experimentada, indicamos o trabalhoespecífico de desenvolvimento da Consciência, tendo a paciência(para não desesperar), a persistência (para não desistir) e ainteligência (para fazer o certo) como recursos de grande valiapara o ser humano/educador, com base na integração do seusentir (dimensão moral/espiritual), pensar (dimensão psíquica)e agir (dimensão física) cotidianamente.

O ser humano, portanto, é por nós compreendido como umser que apresenta uma estrutura, no mínimo, física, psíquica emoral. Daí o porquê de não podermos mais nos limitar apenas auma única dimensão do ser humano, ou seja, à dimensão física, àdimensão da aparência. A aparência, de fato, não pode nem deveser considerada como o único ou o melhor campo da experiência.

Page 117: Os Ditames da Consciência Vol. I

117117117117117

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

No entanto, na prática, o que tem dificultado a maioriados educadores no processo de inclusão está relacionado à fixidezna aparência. Sabem por quê? Porque não estamos acostumadosa enxergar o SER na sua totalidade, nas suas múltiplas dimensões.Na verdade, costumamos dizer que a realidade do Ser Humanonão é o seu corpo físico, ou seja, sua aparência, mas, sim, o seuespírito, ou seja, sua essência.

Neste sentido, não dá para nos limitarmos à aparência doseducandos. E qual será o nosso desafio inclusivo? Transformar osespaços educativos em espaços de inclusão, auxiliando, emprincípio, os educadores, no mínimo, a despertarem as suasConsciências para verem que o educando não é só corpo epoderem ir além do imediato, além do circunscrito, além doaqui e agora, sentindo-o como um todo, por meio da educação.

Até porque a educação, quando só se dedica à nossa parteexterna e está unicamente centrada no processo de medidas ecálculos, não nos inicia na senda do saber pensar por nós mesmos.Tal processo, inclusive, nos impede de sermos favorecidos peloque indica a noção exata de alma, de consciência e de Lei Natural,para a evolução voluntária do gênero humano; e, com isso,enfraquece o nosso senso de decência, elegância e decorosidade;inclina-nos a desprezar o valor do zelo, principalmente paracom o que é frágil; bem como impede o nosso impulso de ousar,paciente, persistente e inteligentemente, na busca do que éconsiderado como difícil, improvável ou impossível.

Assim, cabe aos educadores perceberem a realidade comouma teia de intercomunicação complexa e dinâmica entre“elementos e partes” de um “todo” e/ou entre um “todo” eseus “elementos constituintes”, parafraseando Morin (2000), comobase de uma educação integral, com base na inclusão, em funçãoda Consciência.

Neste contexto, cabe a indagação reflexiva: Qual é afinalidade da educação? Conforme Delors (1999), a finalidade daeducação é contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento

Page 118: Os Ditames da Consciência Vol. I

118118118118118

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

total da pessoa: espírito/corpo, inteligência, sensibilidade,sentido estético, responsabilidade pessoal e espiritualidade.

Essa finalidade foi anunciada em 1999 pela UNESCO, noentanto nove anos se passaram e continuamos, na maioria dasvezes, a demonstrar carência desta compreensão. Não conseguimos,talvez, entender e praticar esta finalidade, pois envolve atotalidade, e ainda nos limitamos à fragmentação, por mais absurdoque possa parecer. Significa que tem algo que precisa ser feitopor nós educadores. Tem algo que precisa ser acelerado. Seria aConsciência?! A nossa experiência revela que sim.

Sim, inclusive porque, até que provem o contrário, um dosnossos papéis é o de perceber a Consciência que está em nossafrente – no caso, o educando. A consciência, portanto, está sendoconsiderada, segundo o que sustentamos, como a nossa capacidadede compreender, no mínimo, a noção de identidade universal,percebendo o outro que está em nossa frente, na essência.

Então, consolidamos o nosso compromisso de fomentar ainclusão, mas só podemos fomentar inclusão mediante odespertamento, a construção e/ou o desenvolvimento da nossaConsciência. Neste sentido, precisamos despertar, cada vez mais,as nossas consciências, para incluir, até porque é cara a nãoinclusão, a discriminação de nosso semelhante, mas não é carasomente na dimensão do dinheiro, é cara para nós seres humanos,para a sociedade e para o mundo na dimensão humana. Afinal,quando a sociedade proporciona o progresso de poucos, e aexclusão de muitos, então demonstra que o indicado pela noçãoexata de alma, de consciência e de Lei Natural, para a evoluçãoabreviada consciente do gênero humano, foi por nós esquecidoou inobservado, mas não ignorado.

Por outro lado, há iniciativas de inclusão em algumasorganizações, com investimento em capacitação, incentivosalarial, recursos tecnológicos etc. E sentimos que temos quefazer nossa parte, começando em nossa casa e em nossa escola,como atitude de Vida. Não devemos tardar este processo de

Page 119: Os Ditames da Consciência Vol. I

119119119119119

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

inclusão, pois o tempo está passando e ele voa, principalmentequando se está dormindo.

Eis o papel da Consciência!!! Aqui também concebida comouma faculdade inata, capital do Ser Humano, que nos toca,segundo a sensação, o senso e a noção exata de identidade. AConsciência, portanto, nos possibilita demonstrar o quanto jáexperimentamos, direta, correta e completamente, a realidadede todas as coisas, inclusive de nós mesmos, independentementeda dimensão em que nos encontremos.

Assim, dentre outros, a Consciência tem como fins: auxiliaro ser humano a discernir o melhor caminho que deve seguir(BARRETO, 2005); bem como lhe favorecer a identificação da suanatureza interna com a natureza externa, conforme o indicadopela Imutabilidade, ou seja, pela Moralidade do Universo, que aconduta dos corpos celestes denuncia, portanto, pelas LeisUniversais. Leis estas que repousam na consciência do Ser Humano,que é a sua maior representação consciente no Universo. Eis queé sábio não sentir, pensar e agir em desacordo com a Lei.

Neste sentido, sentimos e a nossa experiência comprovaque temos o dever moral de viver buscando construir valoresmorais, éticos e estéticos elevados; ou seja, viver segundo umaeducação integral, portanto, inclusiva, criativa. Isto porque, quemestá com a Lei está com a força e quem está com a força não sóinventa, mas cria. Eis que a educação, quando não é criativa, ésomente a transmissão de conhecimento para a manutenção dasociedade.

Tratando especificamente de uma das Leis Universais – aLei da Causa e Efeito – cientificamente falando, já foicomprovado que toda ação provoca uma reação igual e em sentidocontrário; filosoficamente, sabemos que toda causa tem um efeitoidêntico e correspondente; e, religiosamente falando, sentimosque quem com ferro fere com ferro será ferido. Assim sendo, sebuscássemos refletir sobre esta lei no cotidiano, seguramenteseríamos melhores e não conseguiríamos mais fomentar a

Page 120: Os Ditames da Consciência Vol. I

120120120120120

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

exclusão, porque tudo o que sai de nós, retorna, definitivamente.Precisamos, pois, ficar atentos quanto às leis que regem a naturezacomo um todo (Lei de Amor; Lei de Afinidade; Lei de Trabalho eProgresso; Lei de Relatividade; Lei de Compreensão; Lei deEquilíbrio, dentre outras) e tê-las como referência no dia a diado nosso viver.

E mais importante do que conhecer tais Leis é buscarmosnos aproximar delas ao ponto de nos identificarmos com asmesmas. Neste sentido, a maior base para a realização do gênerohumano é buscarmos conhecê-las para nos aproximarmos, omáximo possível, das Leis Universais, enfim, das Leis Naturaisque regem o Universo e nos identificarmos com as mesmas,porquanto, quanto maior a base, mais alta é a torre e, quantomais alta é a torre, melhor é a observação. Por conseguinte,maior é a possibilidade de absorção do valor significativo realdas relações que estabelecemos, quer seja como educadores,quer seja como educandos.

De acordo com Barreto (2005, p. 49):

[...] não é demais concebermos a Consciência comouma das propriedades mais significativas da matériaem hominização. Ela é uma das mais importantesfaculdades inatas capitais do Ser Humano que lhepossibilita, além de saber sentir, suficientemente,acerca da realidade, segundo não só conhece, mastambém se aproxima daquilo que estabelece aquelamoralidade universal que conduta dos corpos celestesdenuncia.

Para a autora, consciência é, também, conhecimento, danossa identidade maior para com a inclusão. Quando falamos dainclusão educativa, vamos além das dificuldades de aprendizageme das “deficiências” físico-motoras, cognitivas, sensoriais,psíquicas etc., conforme caracteriza a ciência oficial, poisincluímos, também, a dimensão social. Aquela que se torna viávelsomente quando, através da participação em ações coletivas,os excluídos são capazes de recuperar sua dignidade e conseguem

Page 121: Os Ditames da Consciência Vol. I

121121121121121

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

– além de emprego e renda – acesso à moradia decente,facilidades culturais e serviços sociais, como educação e saúde.

Assim, cabe-nos apresentar alguns exemplos de pessoas,organizações, seres que estão servindo ou já serviram àhumanidade, por meio do seu exemplo:

a) Madre Tereza de Calcutá (1910-1997) – Em 1950, elafundou uma congregação de religiosas que se dedicava aservir os mais pobres. Atualmente, são mais de 4.000irmãs de Caridade espalhadas por 95 países. E, por seutrabalho, Madre Tereza recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

b) Irmã Dulce (1914-1992) – Desde os treze anos, dedicou-se a ajudar mendigos, enfermos e desvalidos. Cuidou depessoas doentes, transformou o galinheiro dela em umalbergue para pobres e, ali, começou o seu movimento.Construiu farmácia, posto de saúde, cooperativa deconsumo, fundou o Círculo Operário da Bahia, além daescola para ofício, nos quais ela incluía as pessoas queestavam às margens da sociedade. Os sacrifícios paraela resultavam em felicidade. Ela queria morrer juntoaos pobres e assim aconteceu.

c) Maria Cristina Cordeiro Caldas (1946-...) – Há 23 anos,ela fundou o Lar Vida: Valorização Individual doDeficiente Anônimo (VIDA), em Salvador. Presidida pelaprópria Maria Cristina Cordeiro Caldas até o momentopresente, o Lar VIDA é uma instituição civil, sem finslucrativos, que recebe crianças deficientes por meiodo Juizado da Infância e da Juventude. A Instituiçãoacredita na possibilidade de socializar a felicidade combase no direito que todas as criaturas humanas têm deestarem vivas. As 95 crianças e adolescentes atendidospelo Vida moram no próprio Lar Vida e são portadorasde deficiências auditivas, visuais, Síndrome de Down,hidrocefalia, autismo, paralisia cerebral, deficiênciasmúltiplas, psicoses, várias deformidades de face, enfim,

Page 122: Os Ditames da Consciência Vol. I

122122122122122

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

uma enorme e atípica família que convive e se respeitacomo tal. O Lar Vida conta com o auxílio de entidadesgovernamentais e não governamentais, assim como depessoas físicas. Em 2004, Maria Cristina Caldas recebeuo título Mimosa de Ouro, pelo Grupo Gotas Azuis, naItália, representando uma das mulheres de destaque nomundo em trabalhos eminentes. Foi citada em capítulode livro da autora Maria Pia Bonanate, da editora maisconceituada em Catania/Itália, a Mondadore, tambémem 2004, em função do trabalho social que desenvolveno Brasil.

d) Pedro Guimarães (1964-...) – Ele fundou, em 2001, oNúcleo de Atendimento à Criança com Paralisia Cerebral(NACPC). O NACPC é uma entidade sem fins lucrativosque tem o propósito de oferecer atendimentoespecializado e gratuito às crianças carentes comparalisia cerebral e às suas famílias. O NACPC oferece,na área de saúde, atendimentos em neuropediatria,psiquiatria, fisioterapia, fisioterapia aquática, terapiaocupacional, fonoaudiologia, comunicação alternativa,psicologia, assistência social, serviço de bioimagem; e,na área da educação, psicopedagogia, informática,música, capoeira, natação, educação física em solo,atendimento educacional especializado e escolatransitória. As equipes trabalham de forma multi einterdisciplinar, possibilitando atuação em conjunto, oque proporciona um excelente rendimento da criança. Aevolução de cada uma é acompanhada e estudada portodas as áreas envolvidas para que esta possa ter omáximo de aproveitamento em todas as suas sessões.Atende, no mês, 400 crianças fixas, envolvendo 10.000(dez mil) atendimentos no processo de inclusão social.Tem chancela da Unesco, do Unicef e da ASHOKA. Recebeuo título de Amigo da Ashoka (organização mundial, semfins lucrativos, pioneira no trabalho e apoio aos

Page 123: Os Ditames da Consciência Vol. I

123123123123123

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

empreendedores sociais – pessoas com ideias criativas einovadoras capazes de provocar transformações comamplo impacto social). Recebeu prêmio Top of mindBrazil (Consagração Pública Brasileira), bem como oTroféu: Você é a Paz.

Diante desses exemplos, precisamos de uma pedagogia queesteja de acordo com as pesquisas contemporâneas acerca daConsciência como um todo, com o fim da inclusão, com base naintegração. Porquanto, enquanto houver, no Ser Humano, distânciasignificativa entre a sua ação, o seu pensamento e o seu sentimento,ou seja, entre o sentir, o pensar e o agir, é evidente que nãohaverá autointegração, portanto não haverá autoconhecimento e,tampouco, autotransformação. Assim, não haverá ação criativa,mas, sim, ação condicionada, esta que nos colocou hoje comoestamos: em conflito generalizado, com problemas de morte;degradação da biosfera com poluição e aquecimento global;economia com zonas de prosperidade e outras de miséria.

Eis a necessidade essencial do estudo da consciência. Afinal,quanto mais consciência tem o Ser Humano, menos conflitos emenos desequilíbrios ele tem e, na sociedade, produz, mantéme/ou amplia.

A educação, portanto, através da ciência, não pode nemdeve ensinar o educando somente a medir, a calcular e a dominar,pois, assim, não só dificulta, mas também o impede de alcançaro que indica a noção exata de Consciência e de Lei Natural, paraa sua evolução abreviada consciente; e, com isso, amplia osseus medos, as suas culpas e os seus apegos, por conseguinte, oinclina à exclusão.

Neste contexto, vislumbramos a possibilidade de umaeducação verdadeira, apoiada no próprio educador, quecontemple a integração das dimensões do Ser Humano como umtodo, assim como de seus níveis de conhecer, fazer, viver juntose ser, ou seja, a unidade do conhecimento, mediante odespertamento, cada vez maior, da Consciência, conduzindo-

Page 124: Os Ditames da Consciência Vol. I

124124124124124

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

nos da Fragmentação à Totalidade.

Assim sendo, socializamos a nossa experiência de favorecero Estudo da Consciência junto aos educadores, através de umNúcleo específico, a saber: NIAC – Núcleo de InvestigaçõesAvançadas da Consciência, nas escolas, nas faculdades euniversidades, com realização de seminários quinzenais acercada temática Consciência, com o fim maior de inclusão. Afinal,conforme Morin (2001, p. 1): “[...] consciência sem ciência eciência sem consciência são radicalmente mutiladas e mutilantes.”

Que a Consciência nos possibilite compreender a inclusãocomo a chave da sobrevivência!

REFERÊNCIAS

ARAGÃO, Marta Genú S. Ressignificação do movimento empráticas escolares: o diálogo, a consciência, a intencionalidade.2004. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande doNorte, Natal, 2004.

BARRETO, Maribel O. A consciência como recurso para a boaqualidade de vida na pós-modernidade. Cadernos de Pesquisa/NUFIHE – Núcleo de Filosofia e História da Educação, Salvador,v. 3, n. 1, p. 1-10, 1999.

______. O papel da consciência no desenvolvimento humano.Revista da Fundação Visconde de Cairu, Salvador, Ano V, n. 9, p.39-53, 2002.

______. O papel da consciência em face aos desafios atuais daeducação. Salvador: Sathyarte, 2005.

______. Teoria e prática de uma educação integral. Salvador:Sathyarte, 2006a.

______. O. Consciência e educação. In: SIMPÓSIO NACIONALSOBRE CONSCIÊNCIA, 1., 2006, Salvador. Anais... Salvador:Fundação Ocidemnte, 2006b. 1 CD-ROM.

Page 125: Os Ditames da Consciência Vol. I

125125125125125

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

DELORS, Jacques. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo:Cortez; Brasília, DF: MEC; UNESCO, 1999.

EDINGER, Edward F. A criação da consciência. O mito de Jungpara o homem moderno. São Paulo: Cultrix, 1984.

JACOBI, Jolande. Complexo, arquétipo e símbolo na psicologiade C.G Jung. São Paulo: Cultrix, 1995.

JUNG, Carl Gustav. O desenvolvimento da personalidade.Tradução de Frei Valdemar do Amaral; revisão técnica de DoraMariana R. F. Silva. Petrópolis, RJ: Vozes, 1986. v. XVII.

______. O homem e seus símbolos. Rio de Janeiro: NovaFronteira, 1991.

MORIN, Edgar. O paradigma perdido: a natureza humana.Portugal: Europa-América, 1991.

______. Os sete saberes necessários à educação do futuro.Tradução de Catarina Eleonora F. da Silva e Jeanne Sawaya. SãoPaulo: Cortez; Brasília, DF: Unesco, 2000.

______. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 2001.

Page 126: Os Ditames da Consciência Vol. I

126126126126126

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

O PAPEL DA CONSCIÊNCIA NA PROFISSIONALIZAÇÃOCONTINUADA TRANSDISCIPLINARDE DOCENTES UNIVERSITÁRIOS

“A educação nunca está definitivamente pronta, senão para se realizar a cada instante.”

(Jean Piaget)

RESUMO

O presente artigo apresenta questionamentos acerca dos objetivos daeducação, em função de que a maioria dos educadores envolvidos parte dopressuposto que a sua função é graduar, denunciando que o método de ensinoé mais importante no ato de educar. Há demanda, portanto, de novo métodode ensino, para tanto, profissionalização não como um fim, mas sim comoum meio, com foco na perspectiva transdisciplinar da educação, que ultrapassao mero domínio de conteúdos específicos de uma área do saber e envolveuma percepção mais ampla da realidade.

Palavras-chave: Consciência. Docência Transdisciplinar. Profissionalização dedocentes.

Page 127: Os Ditames da Consciência Vol. I

127127127127127

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

A perspectiva transdisciplinar da educação ultrapassa o merodomínio de conteúdos específicos de uma área do saber e envolveuma percepção mais ampla da realidade, contemplando indagaçõesque versam sobre o contexto mundial, não raro com conflitos quechamam a atenção de educadores comprometidos com o processode despertamento, construção e/ou desenvolvimento deConsciências do Ser Humano, por meio da educação.

O conflito social nada mais é do que o produto do nossoconflito individual. Ele é a demonstração factual do resultadocoletivo do nosso conflito interior, porquanto, ao agirmos, oprojetamos em nosso exterior. Eis que todas as crises dahumanidade se radicam numa única crise – a crise do ser humano.Fato este que nos motiva a pesquisar sobre o processo deprofissionalização continuada transdisciplinar dos docentesuniversitários como pessoas fundamentais no processo desocialização, sensibilização e capacitação dos educandos – basesdas futuras gerações.

No contexto atual da crise ética e moral que vem envolvendoa sociedade, Morin (1982) propõe uma ciência com consciência,sobretudo com base na educação. Tempo em que tambémfundamentamos o presente estudo tomando como referência afinalidade da educação proposta por Delors (1999, p. 46):“Contribuir, efetivamente, para o desenvolvimento total dapessoa – espírito e corpo, inteligência, sensibilidade, sentidoestético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.” Finalidadeesta que, por sua vez, demanda a consolidação do pensamentoecossistêmico desenvolvido por Moraes (2004), num carátertransdisciplinar da formação docente.

Morin (2003, p. 20) conclui que há uma carência visível deconsciência na ciência:

As ciências humanas não têm consciência dos caracteres

Page 128: Os Ditames da Consciência Vol. I

128128128128128

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

físicos e biológicos dos fenômenos humanos. As ciênciasnaturais não têm consciência da sua inscrição numacultura, numa sociedade, numa história. As ciências nãotêm consciência do papel na sociedade. As ciências nãotêm consciência dos princípios ocultos que comandamas suas elucidações. As ciências não têm consciênciade que lhes falta uma consciência.

As consequências dessa não consciência, segundo Morin(1982), são: eliminação da subjetividade e dos conceitos nãoquantificáveis; hiperespecialização e isolamento das disciplinas;incapacidade de olhar as organizações e os fenômenos de formasistêmica e complexa. Enfim, um reducionismo incapaz edespreparado para lidar com a complexidade.

Conforme verificamos, a educação vem sendo, atualmente,questionada quanto aos seus objetivos e finalidades, em funçãode a maioria dos envolvidos partirem do pressuposto de que asua função é graduar, denunciando que o método de ensino émais importante no ato de educar.

Há demanda, portanto, de novo método de ensino, paratanto, profissionalização não como um fim, mas sim como ummeio. E, como meio, não é um fim; porquanto ela, ainda queconsiderada como um meio de ação, é um fim em processo.

NOVA ORDEM SIGNIFICA NOVO MÉTODO; E NÃO REFORÇODO MÉTODO EXISTENTE

“Na medida em que valoramosmais a instrução do que a educação,

então perdemos o prazer pelo processo de interiorização.”(Jair Tércio)

Sentimos que é provadamente verdadeiro o fato de que,atualmente, existe algo, fundamental e radicalmente, erradoquanto à educação. Até porque a crise social nada mais é do que

Page 129: Os Ditames da Consciência Vol. I

129129129129129

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

o produto de nossa crise individual. Ela é a demonstração factualdo resultado coletivo de nossas ações individuais no nosso dia adia de relações, porquanto, ao agirmos, a projetamos no coletivo.

Ao viajarmos pelo mundo, podemos notar, tanto no oriente,quanto no ocidente, seja no hemisfério norte ou no hemisfériosul, enfim, em todo planeta, que estamos como que fabricando,por meio, inclusive, das ações da educação, ou melhor, dasCiências da Educação, um padrão de seres humanos estéreis,estáticos e desintegrados e, quando não raro, de ações nãotransformadoras. Seres humanos cujo principal interesse, até quese prove o contrário, é, nada mais nada menos, a busca incessantetão somente da satisfação, da segurança e do prazer.

Basta, honestamente, observarmos o planeta, a sociedadee a humanidade para constatarmos o estado de confusãodemonstrado pelo conflito que, na atualidade, tanto os assola,não só individual ou socialmente, mas também local eglobalmente, caracterizado pela corrupção, pela violência e pelavolúpia, em graus exageradamente alarmantes, perecedores semfim e sem precedentes; porquanto, é notório o fato de que oser humano sequer tem sido educado senão para buscar viver,deleitavelmente, com base na busca do status, da reputação, daposição social etc.

Nesta perspectiva, pouco refletimos acerca de questõesque muito importam para o nosso viver, tais como: Qual é oPrincípio Criador?; Qual é a Finalidade da Vida?; Qual é a Razãode Nossa Existência? Para que, como exemplo, possamos nosauxiliar acerca da compreensão de outras questões a saber: QuemSomos?; De Onde Viemos?; Para Onde Vamos?

Entendemos e, até então, demonstramos que não bastasomente instruir, graduar, pós-graduar e/ou especializar o serhumano circunscritamente, fazendo-o coligir e correlacionarfatos, datas, nomes e técnicas, para estarmos educando.Entretanto, cabe elucidar que medidas, cálculos, bem comoinformações, instruções, técnicas, notas, testes e diplomas não

Page 130: Os Ditames da Consciência Vol. I

130130130130130

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

devem ser considerados como critérios básicos de Educação.

Com isso, demonstramos que sequer compreendemos aindaa diferença entre sabedoria e ignorância, porquanto o ignorantenão é o não instruído, mas, sim, o que não se autoconhece.Afinal, ainda que o conhecimento identifique o ser humano comas Leis Universais, o único conhecimento que ele decididamentenão pode, não deve, tampouco necessita desprezar é o de simesmo, porque nenhuma verdade pode ficar eternamenteocultada, principalmente a de nós mesmos. Enfim, a verdadesempre prevalece.

Atualmente, os que colonizam nações e fazem guerras, bemcomo os que criam técnicas e teorias, não raro falsas, são, pormuitos da sociedade, ditos e tidos como educados, porqueaprenderam, inclusive, por meio das Ciências da Educação e desuas técnicas, por exemplo: a quebrar o núcleo atômico, bemcomo a vencer a dita força de atração do planeta para viajaremespaço afora, inclusive extraplanetariamente, dizendo-sedesejosos de conhecer o Universo e vencê-lo.

Neste caso, esquecendo-se de conhecer e vencer o quelhe é e está mais próximo, porquanto aquele que deseja conhecero Universo deve primeiro conhecer e vencer a si mesmo. Afinal,o ser humano é a medida de todas as coisas. Tudo isso,lamentavelmente, produto também da Educação desenvolvidaaté então. Por conseguinte, a reflexão que se segue é a de queas técnicas não fazem do ser humano um sensível, mas o serhumano sensível faz a técnica.

A proposta da educação transdisciplinar é, justamente,não só educar, como também integrar, manter ou tornar osseres humanos livres, sensíveis e inteligentes, enfim sereshumanos integrais. Para tanto, não basta somente instruí-los ouespecializá-los circunscritamente.

Prosseguindo com tal reflexão, vejamos o quemomentaneamente nos assalta o ser, as possíveis causas/origens

Page 131: Os Ditames da Consciência Vol. I

131131131131131

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

da crise mundial (dentre várias):

a) a falsa escala de valores em nossas relações, como, porexemplo, com as pessoas, com a propriedade e com asideias, em que as relações têm sido, não raro, alicerçadasno desejo de grandeza;

b) a submissão à autoridade, desde o momento em queseguimos outra pessoa, pelo seu poder e posição, e nãopela sua sensibilidade, função, ou identificação dareciprocidade de intenções;

c) nossos sentimentos, pensamentos, atos e obras com baseno patriotismo, criando sistemas que, não raro, nosseparam uns dos outros, quando, em verdade, deveriamincessantemente trabalhar com a intenção de nos unir,no sentido genuíno de igualdade, liberdade e fraternidadeque deve existir entre todos nós;

d) graduação, pós-graduação e especialização que, ao invésde educar, passaram a instruir, informar e a formar apenasprofissionais graduados técnica, alternativa e/oucientificamente;

e) a moderna civilização baseia-se na corrupção, naviolência e na volúpia, em graus exageradamentealarmantes que, não raro, têm visivelmente fragmentadoo ser humano;

f) a falta de união da humanidade, alertando que, enquantouma parte de nós for ocidental e a outra for oriental, éabsolutamente absurdo falarmos de igualdade, liberdadee fraternidade, enfim da união da humanidade;

g) a falta de transprofissionalização individual do serhumano, pois entendemos que um dos maiores desafiosnão é adquirir virtudes, mas sim encontrar e transformaros seus vícios; não é vencer ao seu próximo, mas a simesmo;

Page 132: Os Ditames da Consciência Vol. I

132132132132132

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

h) a falta, falência e/ou falha da educação, observadas noconvívio com outros seres humanos em que, não raro,habitam quase sempre a temeridade, a fragmentação ea insignificância do viver, em detrimento da liberdade,da integração e da inteligência, respectivamente;

i) a nossa, senão incapacidade, inabilidade em nos livrarmosdos falsos valores para recomeçarmos, em outras bases,o nosso viver, em função de continuarmos, dia a dia,exatamente como dantes.

Após análise das possíveis causas/origens da crise mundial,apresentamos alguns fundamentos que, possivelmente, podemnos auxiliar na busca de saídas da referida crise mundial, pormeio da educação transdisciplinar, dentre outros possíveisaspectos:

a) a busca da compreensão do valor significativo do fatode que, no Universo, tudo são Leis Naturais que o regem,isto porque, para que o ser humano possa viver feliz eequilibrado, enfim integrado com o Universo do qual éparte integrante, lhe é essencialmente necessário, bemcomo racionalmente justificável, pesquisar e analisar atécompreender e praticar, para evoluir, os códigos dasreferidas Leis Naturais que o regem;

b) a busca da compreensão do Princípio Criador; daFinalidade da Vida, bem como da Razão de nossaexistência, pois, se queremos compreender a Vida,devemos começar pelo que está mais próximo de nós –nós mesmos;

c) a busca do autoconhecimento como o único itineráriobásico para a autolibertação, pois, enquanto não nostransformarmos radical e fundamentalmente, não haveránem educação correta nem um mundo em paz;

d) a busca do novo ambiente com estrutura diferente daaté então construída, tendo em vista que o ambiente

Page 133: Os Ditames da Consciência Vol. I

133133133133133

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

pode também modificar a criatura humana, desde quandocriança, num bruto, num frio especialista ou dela fazerum ente humano sensível e inteligente; afinal, o serhumano é, também, produto do que sente, pensa e age,bem como do meio em que vive.

Tudo isto nos conduz a reflexões numa dimensãotransdisciplinar para nos possibilitar um caminhar seguro em buscada verdade e da superação das referidas crises mundiais, a partirde nós mesmos, principalmente, enquanto educadores, o queenvolve diretamente a autoeducação mental, a autodisciplinacomportamental e o autoconhecimento, como itinerário basilarrumo à construção de nossa consciência, numa perspectiva demelhor auxiliarmos o processo de formação dos educandos e otodo ao nosso redor.

O TODO É ALGO MAIS

“A educação transdisciplinaré a demonstração factual do avanço

do sistema de educação até então utilizado.Ela, na realidade, representa o novo estágio da humanidade,

caracterizado pelo novo estado de consciência do Ser Humano.”(Noemi Salgado)

É válido lembrarmos que o Ser Humano é um composto devárias dimensões que devem ser experimentadas pela descoberta,e não pelas invenções; pela experiência direta, correta ecompleta, e não pelas definições; pela compreensão, e não peloconceito preestabelecido; enfim, pela realidade experimentada,e não pela revelação, pois as suas portas estão dispostas demaneira que só podem ser abertas de dentro para fora.

O estudo da transdisciplinaridade, por sua vez, nos permiteadentrar os meandros da consciência do ser humano na busca da

Page 134: Os Ditames da Consciência Vol. I

134134134134134

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

compreensão dessas dimensões. De acordo com De La Torre etal. (2008, p. 24): “[...] a atitude transdisciplinar busca atransprofissionalização do ser humano em sua totalidade ao serelacionar com o outros e com ‘o outro’.” Uma atitudetransdisciplinar está aberta ao novo, não confundindo asdiferentes manifestações da realidade com o “real”.

Nesse contexto, reconhecendo o papel datransdisciplinaridade no contexto educacional na perspectiva donovo, trazemos as questões conceituais que nos proporcionarãouma maior compreensão do assunto, partindo da concepção deNicolescu de que “[...] a educação transdisciplinar, por sua próprianatureza, deve ser exercida não apenas nas instituições de ensino,do maternal à Universidade, mas também ao longo de toda avida e em todos os lugares da vida” (NICOLESCU, 2000, p. 9).

Apoiados nesse princípio, estabelecemos uma relação como que expressa Moraes (2008, p. 64):

[...] é necessário ir além do conhecimento linear,superficial, fragmentado e ordenado, se realmentepretendemos conhecer verdadeiramente alguma coisanesse mundo, pois os fenômenos complexos sãomultidimensionais, tal como é o ser humano em seuprocesso de conhecer, aprender, viver e conviver.

Nesse sentido, pela busca de uma experiência direta,correta e completa, a transdisciplinaridade exige uma atitudede abertura para que a unidade do conhecimento se faça semintermediários. Assim, Moraes (2008, p. 76) declara que “[...] atransdisciplinaridade pode ser compreendida como um princípioepistemológico que se apresenta em uma dinâmica processualque tenta superar conceitos e metodologias. Portanto, requertambém uma atitude de abertura [...]”.

Para alcançarmos essa atitude de abertura para o novo,precisamos acabar com a visão dualista e fazer florescer apercepção de que existe, no mundo, uma simplicidade e umacomplexidade e que o ser humano é capaz de se relacionar com

Page 135: Os Ditames da Consciência Vol. I

135135135135135

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

essas realidades sem se fragmentar. Tudo isto envolve a nossacapacidade de compreender a realidade, que é multidimensional,constituída dos níveis macrofísico, microfísico e o virtual (quedá acesso a outro nível de realidade – à zona de não resistência),todos fazendo parte de uma trama de natureza complexa, queos integra, traduzindo as dimensões exteriores e interiores dosujeito, assim como da sociedade.

E, para bem nos relacionarmos com a realidademultidimensional, é essencial levarmos em conta o terceiroincluído que favorece a passagem de um nível de realidade paraoutro. É aí que a consciência humana manifesta sua capacidadede evolução e transprofissionalização, cabendo-nos destacar opapel da profissionalização continuada transdisciplinar do docentequanto a tal.

Randon (2000, p. 23) reitera que o pensamentotransdisciplinar é, antes de tudo, uma tomada de consciênciaque nos conduz do nível de realidade macrofísico em direçãopara a zona de não resistência. A palavra-chave, neste caso, é aConsciência.

A CONSCIÊNCIA COMO NOSSO GUIA

“Ciência sem consciência e consciência sem ciênciasão ambos mutilantes e mutiladores.”

(Edgar Morin)

Por que o Ser Humano precisa de Consciência? O Ser Humanoprecisa de Consciência, porque, embora ele queira ser feliz eevitar a dor, ele sofre; se sofre, é porque está fazendo oincorreto; se existe o incorreto, é porque existe o correto; seexiste o correto e o incorreto, eis a necessidade essencial domesmo poder distinguir o correto do incorreto – um dos objetivosda Consciência, que é justamente facultar ao ser humano

Page 136: Os Ditames da Consciência Vol. I

136136136136136

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

aptidões, tais como a do discernimento, que lhe possibilitemcompreender absorvendo, em si mesmo, a natureza real quereside em todas as coisas, a partir do seu Centro. Eis que conhecera si mesmo é conhecer o Universo.

Seres iluminados como Krishna (há, aproximadamente,5.000 anos), Moisés (há 3.400 anos), Brahma (há 2.700 anos),Mahavira (há 2.650 anos), Zoroástro (há 2.600 anos), Buda (há2.500 anos), Cristo (há 2.008 anos) e Maomé (há 1.400 anos)relevam a integração da sua identidade com a Consciência, ouseja, com a essência criadora. “Tornam-se, na não-localidadeatemporal, testemunhas de toda a ação” (GOSWAMI, 2005, p.240). Assim, o si-mesmo quântico, Consciência universal e Deussão muito similares.

Neste sentido, Happé (1997) complementa que não estamossós e temos uma energia em torno e dentro de nós chamadaDeus, esta que nos faz lembrar a nossa verdadeira identidade,possibilitando-nos elevar nossa consciência, até percebermos,conscientemente, que todas as manifestações de vida estão emunidade.

Ainda de acordo com Happé (1997, p. 22), “[...] paradescobrirmos a nós mesmos, para despertarmos para a nossaverdadeira identidade, é fundamental que experienciemos ascoisas e aprendamos com elas”. Especificamente quanto àsexperiências, ressalta apenas que as mesmas precisam ser vividasintegralmente. A jornada, para Happé (Ibid.), é de volta paracasa, para a autoconsciência.

Para Nicholson (2008, p. 31), “[...] ninguém pode negarque dependemos todos uns dos outros e de toda a natureza”,até porque acreditamos que toda a natureza, inclusive nósmesmos, temos raízes numa essência básica. Neste sentido, naspalavras de Blavatsky (1888), tudo emerge de um princípio-substância vivo e homogêneo, a causa una radical.

Conforme Nicholson (2008, p. 31):

Page 137: Os Ditames da Consciência Vol. I

137137137137137

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

[...] tudo que existe surge de uma vida, uma fonte,uma essência divina, e é por ela penetrado e mantido.A descoberta bem recente de que estamos entretecidoscom a natureza e que não podemos prejudicá-la semprejudicar a nós mesmos é apenas uma dasconsequências dessa unidade radical no coração docosmo.

Este acrescenta que a consciência individual também temraízes na consciência e na inteligência universal e, ainda, quetudo que existe em qualquer parte do cosmo possui tanto umlado material quanto um lado consciente. De modo que:

[...] cada seixo, cada montanha, cada córrego, a lua, oburaco negro, o quasar – tudo é consciente. Com issonão se quer dizer que as coisas aparentementeinanimadas são autoconscientes como os seres humanos[...] Mas existe alguma qualidade e graus deconsciência, percepção, sensibilidade e inteligência emtudo no cosmo. (NICHOLSON, 2008, p. 32).

Diante desta percepção, nos aproximamos da essencialidadede tudo que existe e, especificamente, da Consciência, em si. E,a despeito de existirem diversas abordagens acerca dos estágiosespecíficos na evolução da consciência humana, algo as aproxima.De acordo com Laszlo (2008, p. 124): “A evolução da consciênciavai da forma limitada do ego à forma transpessoal.” Isto porque:

Quando uma massa crítica de seres humanos evoluirpara o nível transpessoal de consciência, é provávelque ocorra a emergência de uma civilização superior,animada por uma solidariedade mais profunda e porum sentido superior de justiça e de responsabilidade.(LASZLO, 2008, p. 124).

Happé (1997, p. 102) sugere que devêssemos pensar menose observar mais, aprendendo com base na experiência, pois“Tudo é um. Tudo é você. Tudo é amor”. E é justamente nestadimensão que vislumbramos espaço e tempo para refletirmos,ainda que brevemente, acerca de uma educaçãoverdadeiramente transdisciplinar, incluindo uma perspectivaintegral de profissionalização continuada dos docentes, de modo

Page 138: Os Ditames da Consciência Vol. I

138138138138138

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

que contemple novos métodos.

Neste sentido, Moraes evidencia (2008, p. 56): “Nãopodemos continuar educando com os métodos de ontem os alunosque viverão no amanhã”. Acrescenta ainda as relações entre opassado e o futuro, afirmando que as sociedades passadasbasearam a educação no conteúdo e na disciplina e que, hoje,há necessidade de uma nova direção:

As gerações futuras devem centrar sua atenção nosreferenciais culturais e de valor (saberes e metas), noreconhecimento para extrair o melhor de cada um [...]Educar para o futuro é educar a partir da vida. Somentea partir dela poderemos reencantar novamenteprofessores e alunos [...] (MORAES, 2008, p. 56).

Eis um caminho proposto:

“educar para sentirpensar [...] educar para sentirpensaré educar para restabelecer a aliança perdida entrepensamento, sentimento e ação, na reconquista dainteireza humana. É educar no caminho do amor e dasolidariedade, preocupando-se não apenas com odesenvolvimento das inteligências, mas também coma escuta do sentimento e a abertura do coração. Éeducar para a evolução do pensamento, da consciênciae do espírito humano. É educar para o resgate dasensibilidade, para o encontro da beleza, para a buscada plenitude e elevação da consciência humana.(MORAES, 2008, p. 56, 169).

O exposto permite-nos confirmar as demandas daprofissionalização continuada dos docentes, considerando osfundamentos da transdisciplinaridade, como base para odesenvolvimento cada vez mais profundo das suas consciências,mediante uma atitude mais criativa e inovadora na práxisdocente.

Page 139: Os Ditames da Consciência Vol. I

139139139139139

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

ENSINAR TEM SEU VALOR, MAS APRENDER O QUE JÁ SESABE, MUITO MAIS

“A vida é um eterno viver;e o viver é um eterno aprender e sentir, para evoluir.”

(Maribel Barreto)

Barreto e Mitjáns Martínez (2007) confirmaram que odesenvolvimento de ações criativas e inovadoras em sala deaula, por exemplo, depende de uma nova atitude docenteperante o processo de ensinagem. Aqui vale ressaltar que,quanto maior o grau de consciência do ser humano, maiorpotencial criativo ele tem.

Com esta pesquisa, foi possível verificarmos que acriatividade dos docentes é recurso indispensável para o processode ensinagem no ensino superior. Até porque, se o docente écriativo em sua prática pedagógica, podemos supor que ele terácondições mais favoráveis para desenvolver a criatividade deseus alunos.

Sinalizamos ainda que o processo de ensinagem consciente,criativo e inovador gera novos desafios para a educação, umavez que não basta ensinar o que é conhecido; é também necessáriocapacitar o educando para questionar, refletir, transformar e criar,por meio de um método educativo que prime pelo ensino quefacilita a aprendizagem, bem como toda aprendizagem quedesperte o sentimento, favorecendo novas criações.

Há, portanto, uma emergente necessidade de “[...] ensinarde um modo diferente de como foram ensinados por seus mestres,[...] [desenvolver] a capacidade de mudar, arriscar e pesquisar,[e construir] nas escolas, organizações de aprendizagem”(PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 188).

Dados como esses nos revelam um grande passo que seimpõe ao docente universitário: transformar sua práxis

Page 140: Os Ditames da Consciência Vol. I

140140140140140

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

pedagógica num estilo de ensinar interessante (inovador),instigante (questionador) e inteligente (valoroso), enfim, numensino consciente e criativo.

Do contrário, o processo de ensinagem tende a serprejudicado pela ânsia do docente em transmitir tudo o quevem sendo produzido pela ciência, olvidando-se que aaprendizagem não se dá exclusivamente pelo uso da razão, mas,inclusive, pelo diálogo com a estrutura subjetiva e criativa doser humano. Eis o valor da profissionalização continuadatransdisciplinar do docente.

Autores como Anastasiou (2002; 2006), Nóvoa (2001, 2003)e Pimenta (2001) anunciam o valor dos processos sistemáticosde formação/profissionalização continuada de professores,considerando as demandas de novas metodologias, discussõesteóricas atuais, visando contribuir para transformações urgentesno processo de ensinar, aprender, apreender e sentir, indo alémdo cumprimento de tarefas concretas e pontuais.

A ação dos docentes, por sua vez, não se restringe àaquisição de técnicas e ao domínio de determinadosconhecimentos e metodologias, numa dimensão estática, masenvolve um processo de construção e reconstrução, favorecendoreflexões mais ampliadas acerca do seu verdadeiro papel comoeducador e as perspectivas de novas ações no dia a dia da suapráxis docente. Até porque, conforme Cunha (1999, p. 145):“[...] se a competência técnica é indispensável, ela é apenasuma das vertentes dos saberes do professor [...]”.

Corroborando com tais sentimentos, felizmente, os docentesuniversitários, sujeitos da pesquisa anunciada (BARRETO; MITJÁNSMARTÍNEZ, 2007), reconheceram, em si próprios, a necessidadede um novo fazer pedagógico, por meio da reconstruçãopermanente dos saberes, com vistas à formação de mestres cadavez mais criativos, competentes e habilitados para o exercícioprofissional, o qual inclui a docência.

Page 141: Os Ditames da Consciência Vol. I

141141141141141

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Nesse contexto de análise, a pesquisa citada apresenta seuineditismo ao suscitar três possibilidades factíveis de incorporaçãoda dimensão mais consciente, criativa e inovadora no ensinosuperior, as quais gostaríamos de ressaltar, porquanto serão motivode reflexões acerca do processo de profissionalização continuadatransdisciplinar dos docentes como meio para a aprendizagemde uma práxis, cada vez mais, interessante, instigante einteligente:

a) a primeira possibilidade de uma práxis pedagógicapautada na criatividade e inovação envolve:

• sensibilidade dos educadores quanto aodesenvolvimento de aulas que favoreçam, cada vezmais, a aprendizagem dos discentes;

• motivação para articulação e integração entre teoriae prática;

• pré-disposição, abertura e flexibilidade para novasaprendizagens e metodologias de cada um deles.

b) a segunda possibilidade de incorporação da dimensãocriativa e inovadora na práxis pedagógica pauta-se naexposição dos recursos subjetivos dos professores, asaber:

• evidência de forte motivação pelo trabalho docentecom reflexos sociais;

• força para superação de desafios pessoais eprofissionais.

c) a terceira possibilidade revela a necessidade de novasaprendizagens, por parte dos docentes, evidenciando:

• demandas de implementação de uma “cultura criativae inovadora” no âmbito dos cursos no ensino superior,em função da sensibilidade e abertura não só dospróprios professores, mas também dos própriosdirigentes da IES, em alguns casos;

Page 142: Os Ditames da Consciência Vol. I

142142142142142

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

• os sujeitos reconheceram a importância da criatividadeno contexto educacional, assim como a necessidadede desenvolverem estratégias e ações para suaestimulação e desenvolvimento.

Neste sentido, cabe indagarmos: Como promover processospermanentes de aprendizagem de uma práxis transdisciplinar porparte de docentes do ensino superior? Destacamos aprofissionalização continuada como uma ação viável efundamental em prol de um processo de ensinagem pautado nospressupostos da consciência, da criatividade e da inovação.

Assim, embasados nos pressupostos teórico-metodológicosde Garcia (1999), Mitjáns Martínez (1997) e Zabalza (2004),concordamos que, no processo de profissionalização continuadade professores (no caso desse artigo, com foco no ensinosuperior), há a demanda e a necessidade de criação de um grupode trabalho institucional responsável por atividades formativasde capacitação pedagógica permanente, bem como um espaçopara institucionalização de um fórum de reflexões, avaliações aautoavaliações que seja sustentável, organizado e sistematizadorde ações pedagógicas.

Tal dinâmica da práxis educativa nos convida a buscar umanova estratégia de pensamento, de organização de ideias, deformulação de conceitos e mudança de percepções, sobretudono processo de profissionalização dos docentes.

Nesta direção, a partir da realização da pesquisa (BARRETO;MITJÁNS MARTÍNEZ, 2007), nos dedicamos a esta ação; esta quese desdobrou na implantação do Sistema Didático Integral(MITJÁNS MARTÍNEZ, 1997) em um dos Programas stricto sensude uma IES situada na cidade do Salvador-Bahia, refletindo ademanda anunciada pelos docentes-sujeitos da pesquisa.

Nesta direção, os docentes do Programa de Pós-graduaçãostricto sensu, que se reconheceram criativos, vêm assumindo aconsciência da responsabilidade de participar, disponibilizar,

Page 143: Os Ditames da Consciência Vol. I

143143143143143

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

organizar e desenvolver sua práxis pedagógica em prol de umprocesso de ensinagem mais consciente e criativo, portanto,transdisciplinar, a partir dos elementos do sistema didáticointegral que são trabalhados em conjunto, por meio de posturasativas e dialéticas, respeitando-se as individualidades.

O trabalho pedagógico, neste contexto, é desenvolvido,buscando-se favorecer ao estudante assumir seu papel ativo eparticipativo no processo de ensinagem.

Que empreendamos esforços para que a consciência e acriatividade possibilitem a todos nós educadores atingirmosgraus, cada vez mais significativos, de discernimento, iniciativae realizações, sobretudo no ensino superior, em função de serum locus de formação de multiplicadores de saberes não sótécnicos, mas, também, humanos; afinal, muito antes de sermosprofissionais, somos seres humanos.

Que tais reflexões nos auxiliem no desenvolvimentoabreviado das nossas consciências, enquanto seres humanos edocentes, para contermos, minimizarmos e/ou extinguirmos ascrises mundiais, a partir das nossas crises individuais, afinal,nós, o mundo e a humanidade somos um e os fazemos como sãoe estão!

Mãos à obra!

REFERÊNCIAS

ANASTASIOU, Lea das G. C.; ALVES, Leonir Pessate. Processos deensinagem na universidade. 7. ed. Florianópolis: Univille, 2007.

BARRETO, Maribel. O papel da consciência em face aos desafiosatuais da educação. Salvador: Sathyarte, 2005.

______. Teoria e prática de uma educação integral. Salvador:Sathyarte, 2006.

______. MITJÁNS MARTÍNEZ, Albertina. Possibilidades criativas de

Page 144: Os Ditames da Consciência Vol. I

144144144144144

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

professores em cursos de pós-graduação stricto sensu. Estudos dePsicologia, Campinas, SP, v. 24, p. 463-473, 2007.

______. Ensaios sobre criatividade. Salvador: Sathyarte, 2007.v.1.

______. Ensaios sobre criatividade. Salvador: Sathyarte, 2008.v.2.

BRANDÃO, Dênis M. S.; CREMA, Roberto. O novo paradigmaholístico: ciência filosofia e mística. São Paulo: Summus, 1991

CHALMERS, David J. The puzzle of conscious experience.Scientific American, EUA, n. 273, dez, 1995.

DELORS, Jacques (Org). Educação, um tesouro a descobrir:relatório para a Unesco da comissão internacional sobre educaçãopara o século XXI: São Paulo: Cortez, 1999.

FRANKL, Viktor E. A presença ignorada de Deus. São Leopoldo:Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 1992.

FREITAS, Lima de; MORIN, Edgar; BASARAB, Nicolescu. Carta daTransdisciplinaridade. Disponível em: <http://www.redebrasileiradetransdisciplinaridade. net> Acesso em: 23maio 2009.

GARCIA, Carlos M. Formação de professores: para uma mudançaeducativa. Porto: Porto, 1999.

GOSWAMI, Amit. A física da alma. São Paulo: Aleph, 2005.

______. O universo autoconsciente: como a consciência cria omundo material. São Paulo: Aleph, 2007.

HAPPÉ, Robert. Consciência é a resposta. São Paulo: Talento,1997.

LASZLO, Ervin. A ciência e o campo akáshico: uma teoriaintegral de tudo. São Paulo: Cultrix, 2008.

MITJÁNS MARTÍNEZ, Albertina. Criatividade, personalidade eeducação. 3. ed. Campinas: Papirus, 1997.

MORAES, Maria Cândida. O paradigma educacional emergente.13. ed. Campinas/SP: Papirus, 1997.

Page 145: Os Ditames da Consciência Vol. I

145145145145145

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______. Pensamento eco-sistêmico: educação, aprendizagem ecidadania no século XXI. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008.

______. Ecologia dos saberes: complexidade,transdisciplinaridade e educação: novos fundamentos para iluminarnovas práticas educacionais. São Paulo: Antakarana/WHH, 2008.

MORAES, Maria Cândida; VALENTE, José Armando. Comopesquisar em educação a partir da complexidade e datransdisciplinaridade? São Paulo: Paulus, 2008.

MORAES, Maria Cândida. Interdisciplinaridade etransdisciplinaridade na educação. Fundamentos ontológicos eepistemológicos, problemas e práticas. In: TORRE, Saturnino DeLa; MORAES, Maria Cândida. Transdisciplinaridade eecoprofissionalização: um novo olhar sobre a educação. SãoPaulo: TRIOM, 2008.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 2001.

MORIN, Edgar; CIURANA, Emilio-Roger; MOTTA, Raul D. Educarna era planetária: o pensamento complexo como método deaprendizagem pelo erro e incerteza humana. São Paulo: Cortez;Brasília/DF: Unesco, 2007.

NICHOLSON, Shirley. O cosmo vivo. Revista Sophia, Brasília, ano6, n. 23, p. 30-33, jul./set. 2008.

NICOLESCU, Basarab. O manifesto da transdisciplinaridade. SãoPaulo: TRIOM, 1999.

______. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade.Educação e transdisciplinaridade I, Brasília, p. 13-29, 2000.

NOVOA, Antonio et al. Profissão professor. Lisboa: Porto, 2003.

NOVOA, Antonio. Vidas de professores. Lisboa: Porto, 2001.

OCIDEMNTE – ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOS MATERIAIS,NATURAIS E ESPIRITUAIS. Arca Sagrada. Salvador, 2009.

PIMENTA, Selma G. Trabalho e formação de professores: saberes eidentidade In: FERREIRA, V. S. (Org.). Educação: novos caminhos emum novo milênio. 2. ed. João Pessoa: Autor Associado, 2001. p. 87-98.

Page 146: Os Ditames da Consciência Vol. I

146146146146146

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______.; ANASTASIOU, Léa das G. C. Docência no ensinosuperior. São Paulo: Cortez, 2002. (Coleção Docência emFormação).

______; ______; CAVALLET, Valdo J. Docência do ensino superior.In: BARBOSA, Raquel L. L. (Org.). Formação de educadores:desafios e Perspectivas. São Paulo: Editora UNESP, 2003. p. 267-278.

RANDON, Michel. O pensamento transdisciplinar e o real. SãoPaulo: TRIOM, 2000.

TORRE, Saturnino et al. Decálogo sobre transdisciplinaridade eecoprofissionalização. In: TORRE, Saturnino De La; MORAES, MariaCândida. Transdisciplinaridade e ecoprofissionalização: um novoolhar sobre a educação. São Paulo: TRIOM, 2008.

WILBER, Ken. A união da alma e dos sentidos: integrando ciênciae religião. São Paulo: Cultrix, 1998.

ZABALZA, Miguel. O ensino universitário: seu cenário e seusprotagonistas. Porto Alegre: Artmed, 2004.

Page 147: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 148: Os Ditames da Consciência Vol. I

148148148148148

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

6RECURSOS

“Sem a Lei não pode haver consciência;sem os recursos da Consciência é impossível o raciocínio;

e sem o raciocínio não há progresso abreviado do gênero humano.”(Jair Tércio)

“É de extrema importância observar e examinar os pensamentos,porque isto nos ajuda no aprendizado de nos tornarmos conscientes.”

(Robert Happé)

“As experiências transpessoais parecem ajudara esclarecer a fundo a natureza

e a relevância da dimensão espiritual da consciência.” (Stanislav Grof)

Page 149: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 150: Os Ditames da Consciência Vol. I

150150150150150

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

A CONSCIÊNCIA COMO BASEPARA O DESENVOLVIMENTO

DE VALORES DE LEIS NATURAIS NA EDUCAÇÃO

“Quando o Ser Humano perde o que indica a noção exatade alma, de Consciência e de Lei Natural,

para a sua evolução abreviada consciente,decreta, como legal e justificável, por exemplo,

o autoritarismo paterno e a obediência cega dos filhos.”(Jair Tércio)

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo evidenciar que tanto os pais, quanto oprofessor, a escola e o conhecimento são os pilares do desenvolvimento deuma Educação que propõe a autorrealização humana e a implantação de umanova cultura, que dissemine códigos moralmente elevados, em prol de umasociedade mais justa e equilibrada.

Palavras-chave: Consciência. Educação. Família.

Page 151: Os Ditames da Consciência Vol. I

151151151151151

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

Por que o Ser Humano precisa de Consciência? O Ser Humanoprecisa de Consciência porque, embora ele queira ser feliz eevitar a dor, ele sofre; se sofre, é porque está fazendo oincorreto; se existe o incorreto, é porque existe o correto; seexiste o correto e o incorreto, eis a necessidade essencial domesmo poder distinguir o correto do incorreto – um dos objetivosda Consciência, que é justamente facultar ao ser humanoaptidões, tais como a do discernimento, que lhe possibilitemcompreender absorvendo, em si mesmo, a natureza real quereside em todas as coisas, a partir do estudo e desvendamentode Leis Naturais que regem o Universo, por meio da Educação.

Inegáveis e inúmeras são as demandas no atual sistema deEducação. Vivemos um tempo de profundas e significativastransformações, a serem mais facilmente compreendidas emfunção do grau de Consciência dos sujeitos diretamente envolvidoscom tal nobre causa: a de educar integralmente o ser humano.

A crise contemporânea da nossa sociedade, parece-nos claro,está alicerçada, principalmente, no nosso descuido ou mesmodescomprometimento com os valores morais, éticos e estéticoselevados, demonstrados nas nossas ações cotidianas, fazendo comque formemos, na maioria das vezes, através, inclusive, daEducação, profissionais e técnicos, mas não seres humanos, aindaque estas pessoas possam se tornar profissionais competentes.

Quando falamos de Educação, devemos lembrar que elapressupõe um movimento de dentro para fora, mais precisamenteno gênero humano. Daí a necessidade de investirmos nas nossaspotencialidades internas. Para tanto, muito importa utilizarmoscomo atividade meio o autoconhecimento, pois o Ser Humanonão vive sem o saber, enfim, sem o conhecimento. Mas o únicoconhecimento que o Ser Humano não pode desprezar é oconhecimento de si mesmo. Eis a senda da Educação verdadeira.

Page 152: Os Ditames da Consciência Vol. I

152152152152152

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Entendemos que é necessário nos relacionarmos, por meioda Educação, não só com o mundo objetivo e empírico doconhecimento moderno, mas também com o mundo subjetivoe espiritual da sabedoria. Eis porque é um ledo engano a ideiade que, acumulando ensinamentos e adquirindo técnicas,estamos nos educando. Isso só nos trouxe separatividade eguerra. Basta olharmos ao nosso redor e verificarmos o estadoem que nos encontramos, com a corrupção, a violência e avolúpia como que globalizadas.

Assim, enquanto houver, no Ser Humano, uma distânciasignificativa entre a sua ação, o seu pensamento e o seusentimento, ou seja, entre o sentir, o pensar e o agir, é evidenteque não haverá autointegração; portanto, não haveráautoconhecimento e, tampouco, autotransformação, mas simfragmentação. E o que pode produzir um fragmentado, se todaação produz uma reação igual e em sentido contrário? Nestesentido, não haverá ação criativa, mas sim ação condicionada,esta que nos colocou hoje como estamos: em conflito generalizado.

Considerando nossa intenção em contribuir para a realizaçãode um processo educativo que prime pela unidade de pensamentoentre os conhecimentos religioso, filosófico e científico, a partirda compreensão da necessidade de integração de todas asdimensões do Ser Humano, volvemos nossa atenção para o estudoda Consciência, essa amiga que é, para todos nós, tanto bússolaquanto mapa, nessa jornada rumo à totalidade, que nos servecomo base para o processo de desenvolvimento de valoresNaturais na Educação.

O projeto educativo é, então, buscar integrar, e não afastaro Ser Humano de si mesmo. Isto implica ter presente seus valoressubjetivos, além dos objetivos, proporcionando aos educandoscondições de uma formação adequada, de tal forma que possamdescobrir, por si sós, suas tendências e seus valores próprios,bem como suas finalidades de existir, seus deveres naturais paracom a vida, incluindo valores que envolvam as pessoas, de um

Page 153: Os Ditames da Consciência Vol. I

153153153153153

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

modo geral, e o equilíbrio dinâmico nas relações cotidianas.

Entendemos, pois, que caberá ao educador saber expressar,com suas ações, o valor das coisas materiais e/ou espirituais. Éevidente que o educador disposto a educar necessitará,inicialmente, para tal, observar a si próprio e verificar o quetem em si como valores, demonstrando-os através da sua conduta.Afinal, é a conduta do Ser Humano que denuncia o seu grau deConsciência. Por isso, cabe ao educador buscar sentir, pensar eagir, integralmente, nas relações cotidianas, embasando-se emValores de Leis Naturais, para poder favorecer a mesmaexperiência aos educandos.

De acordo com Dejours (1999, p. 74): “Quando dizemosque o homem pertence ao mundo da natureza, indicamos que ofuncionamento e, em parte, o comportamento humano sãosubmetidos a Leis. Leis imutáveis, estáveis, universais [...]”

Compreendemos, portanto, que, na Natureza, tudo são Leis,a exemplo da Lei de Relatividade; da Lei de Equilíbrio; da Leide Ação e Reação; da Lei de Trabalho e Progresso; da Lei deAmizade; da Lei de Conservação e Destruição; da Lei de Amoretc. Leis estas que podem ser observadas e sentidas a partir dopróprio contato com a Natureza, lembrando que ela éestabelecida para beneficiar a humanidade, considerando a razãode sua existência, e está baseada na relação entre os direitos eos deveres. Para tanto, necessário se faz o estudo edesvendamento de seus valores, principalmente, por meio daEducação, considerando, sobretudo, que as Leis Naturaisrepousam na Consciência do Ser Humano, sua maior representaçãoconsciente no Universo.

A existência de valores de Leis Naturais, na concepção e naprática educativa, vem nos indicando a possibilidade efetiva defavorecer a formação integral do indivíduo. Ao tratar dos valores,pudemos vislumbrar condutas humanas éticas por parte doseducadores e da escola, com indicativos pedagógicos que visamconduzir ao desenvolvimento dos níveis de conhecimento

Page 154: Os Ditames da Consciência Vol. I

154154154154154

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

sensório, da mente e do espírito, contribuindo para a escolhade caminhos não corruptos, não violentos e não voluptuosos, nasdiferentes e integráveis dimensões do viver.

A Educação integral, fundamentada no estudo daConsciência, por sua vez, responde aos anseios da Educaçãopara o século XXI, a partir de um método educativo que privilegiao ensino e facilita a aprendizagem. Com efeito, essa propostade Educação, por sua própria natureza, necessita ser exercidaem todos os âmbitos das instituições de ensino.

Sugerimos, assim, uma Educação integral alicerçada noestudo da Consciência e indicamos a implantação das seguintesdisciplinas:

a) iniciação à consciência, no âmbito da Educação Infantile do Ensino Fundamental, a exemplo da experiência daAnanda – Escola e Centro de Estudos;

b) consciência, no âmbito do Ensino Médio, a exemplo daexperiência do Instituto Ananda;

c) conscienciologia, no âmbito do Ensino Superior, aexemplo da experiência do Mestrado emDesenvolvimento Humano e Responsabilidade Social; dediferentes cursos de especialização e de graduação.

Até o presente momento, o estudo da Consciência enquantodisciplina curricular já faz parte da matriz curricular de umaescola privada, na cidade do Salvador Bahia, que ofereceEducação Infantil e Ensino Fundamental. No Ensino Superior, jáimplantamos a disciplina Conscienciologia nos cursos de graduaçãoNormal Superior, licenciatura em Educação Infantil e EnsinoFundamental, e Ciências Biológicas, em faculdades euniversidades privadas e públicas do estado da Bahia, nasmodalidades presencial e a distância. Foi consolidada tambémem cursos de pós-graduação lato e stricto sensu nas áreas deciências humanas e ciências sociais aplicadas.

Nesta direção, tanto os pais, quanto o educador, a escola e

Page 155: Os Ditames da Consciência Vol. I

155155155155155

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

o conhecimento são os pilares do desenvolvimento de umaEducação que propõe a autorrealização humana e a implantaçãode uma nova cultura, que dissemine códigos moralmente elevados,em prol de uma sociedade mais justa e equilibrada.

REFERÊNCIAS

BARRETO, Maribel O. A consciência como recurso para a boaqualidade de vida na pós-modernidade. Cadernos de Pesquisa/NUFIHE – Núcleo de Filosofia e História da Educação, Salvador, v.3, n. 1, p. 1-10, 1999.

______. O papel da Consciência no desenvolvimento humano.Revista da Fundação Visconde de Cairu, Salvador, Ano V, n. 9 ,p. 39-53, 2002.

______. O papel da Consciência em face aos desafios atuais daEducação. Salvador: Sathyarte, 2005.

______. Teoria e prática de uma educação integral. Salvador:Sathyarte, 2006.

DEJOURS, Christophe. O fator humano. Rio de Janeiro: EditoraFGV, 1999.

GOSWAMI, Amit (Org.). Quem somos nós. São Paulo: Aleph, 2007.

HAPPÉ, Robert. Consciência é a resposta. São Paulo: Talento,1997.

KOFMAN, Fred. Consciência nos negócios: como construir valoratravés de valores. Rio de Janeiro: Elsevier, 2007.

MORIN, Edgar. Ciência com consciência. Rio de Janeiro: BertrandBrasil, 2001.

OCIDEMNTE – 7o C.D.E. - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOSMATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS. Imutabilismo - Quanto acódigos perenes e imutáveis de Leis Naturais que regem oUniverso - Módulo 1. Salvador, 1995.

Page 156: Os Ditames da Consciência Vol. I

156156156156156

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

7FONTE

“Quanto maior a Consciência,maior a percepção da realidade maior, Deus,

enfim, o que é verdadeiro.”(Jair Tércio)

“A consciência pura é um estado mais simples de consciência humana,um estado profundamente calmo e silencioso de percepção ilimitada,

na qual a mente experimenta e identifica um campo unificadode todas as leis da natureza.”

(John Hagelin)

“Sem dúvida a consciência é uma localização num campo primitivo,presumidamente aquele campo no qual tudo o mais se origina.”

(Franklin Kunz)

Page 157: Os Ditames da Consciência Vol. I
Page 158: Os Ditames da Consciência Vol. I

158158158158158

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

A CONSCIÊNCIA SIGNIFICA SEM SIGNIFICAR

“Consciência significa o trabalhocom esforço desmedido do Ser Humano.”

(Jair Tércio)

RESUMO

No presente artigo, versamos sobre a compreensão da Consciência na suatotalidade, na concepção exata desta potencialidade inerente ao Ser Humano,no dia a dia do viver, para além da racionalidade. Isto porque objetivamosoportunizar o estudo do Ser Humano e suas dimensões do consciente,inconsciente e supraconsciente, bem como aprofundar o pensamento quantoao estudo e desvendamento da Lei de Consciência e da Lei de Significar comobase para a concepção da Consciência em si, que significa “sem significar”.Para tanto, realizamos uma pesquisa teórica de natureza qualitativa, porém apartir de experiências práticas individuais e sociais voltadas para o processode despertamento, construção e desenvolvimento da Consciência no cotidianodas nossas vidas, nos níveis pessoal, profissional e espiritual. Por fim,ressaltamos as perspectivas do Ser Humano viver sem tantas confusões,desencontros e desconfortos; portanto, viver em estado de renascimento,semeando e colhendo o bem, espalhando o amor e perpetuando a verdade.

Palavras-chave: Ser Humano Trino. Consciência. Significar.

Page 159: Os Ditames da Consciência Vol. I

159159159159159

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

INTRODUÇÃO

“A Consciência é a força do Ser Humanoque o permite exilar-se, meditar e silenciar-se,

de forma voluntária, consciente e ciente,para ouvir, d’Aquilo que lhe é Origem Causal.”

(Jair Tércio)

Por que trabalhar com a Consciência que significa “semsignificar”? Essa é a nossa principal indagação como preâmbulodo nosso propósito de ir em busca do encontro com odesconhecido, imanifesto ou Imutável, enfim, com o eterno esempre novo, que reside em nós mesmos.

Partimos da necessidade de compreensão do ser humanocomo uma trindade composta de corpo físico, alma e espírito,que contempla em si três dimensões correlatas – consciente,inconsciente e supraconsciente – as quais necessitam sercompreendidas na sua totalidade, em prol da evolução abreviadaconsciente e voluntária do gênero humano.

Consideramos isso porque sentimos que, quanto maiorcompreensão acerca do ser humano, nas suas diversas dimensões,teremos maiores possibilidades de auxiliá-lo quanto ao referidoprocesso de evolução abreviada, a partir do despertamento,construção e desenvolvimento da Consciência. Até porqueaprendemos, a partir do estudo da Arca Sagrada (2009), que aConsciência do Ser Humano é faculdade ímpar. Esta que, quandodespertada, construída e/ou desenvolvida, em grau significativo,reflete as Leis Divinas, as Leis Universais, enfim, as Leis Naturaisque regem o Universo, bem como o direciona para a evoluçãoinclusive abreviada.

Nesta direção, volvemos nossa atenção para o estudo edesvendamento da Lei de Consciência, a fim de aprofundarmoso pensamento acerca do seu objeto, sua finalidade, suajustificativa, respectivos fundamentos, método, recursos e fonte.

Page 160: Os Ditames da Consciência Vol. I

160160160160160

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Eis que, enquanto não soubermos aprofundar o pensamentosignificativamente para favorecermos a razão, o senso científico;para favorecermos a experimentação; e, ainda, democratizaras relações, para favorecermos o abreviar da evolução, os SeresHumanos não conseguirão realizar transformações significativas,nem individuais, nem coletivas, ou melhor, sociais.

Por fim, dedicamos tempo e espaço para o estudo edesvendamento da Lei de Significar, com o propósito deevidenciarmos que a razão busca significar, mas é da Consciênciaincluir a razão e ir além, sem significar, numa dimensão em queas ações advêm da intuição, em que não há causa e efeito – umadimensão de não-causalidade; lembrando-nos de que é dosconscientes a capacidade de viver transitando do mundo dacausalidade para o mundo da não causalidade, enfim, do mundodo entendimento para o mundo da compreensão.

Que a Consciência nos conduza para esta dimensão decompreensão além do entendimento, ao longo do presente artigo,este que tem como objetivos oportunizar o estudo do Ser Humanoe suas dimensões do consciente, inconsciente e supraconsciente,bem como aprofundar o pensamento quanto ao estudo edesvendamento da Lei de Consciência e da Lei de Significarcomo base para a concepção da Consciência em si, que significa“sem significar”.

Para tanto, realizamos uma pesquisa teórica de naturezaqualitativa, porém a partir de experiências práticas, individuaise sociais, voltadas para o processo de despertamento, construçãoe desenvolvimento da Consciência no cotidiano das nossas vidas,nos níveis pessoal, profissional e espiritual.

Que possamos nos sentir convidados às reflexões queseguem, quanto ao todo do Ser Humano e quanto ao papel daConsciência em busca desta Totalidade, afinal “[...] na proporçãoque nos tornamos sábios, vamos pertencendo mais ao todo emenos a nós mesmos” (OCIDEMNTE, 2009, p. 37).

Senão sintamos!

Page 161: Os Ditames da Consciência Vol. I

161161161161161

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

O SER HUMANO E SUAS DIVERSAS DIMENSÕES: CONSCIENTE,INCONSCIENTE E SUPRACONSCIENTE

“A Iluminação, a Bem-aventurança, enfim, a Redenção é um fim;e a Consciência é o meio para se chegar a ela.”

(Jair Tércio)

Partimos da premissa de que o gênero humano não é sócorpo físico. Deste modo, podemos considerar que o ser humanoé um ser trino, porquanto é composto de: Espírito, sua NaturezaImutável, ou seja, o centro do qual partem todas as suas ações;Alma, sua Natureza Natural, ou seja, o agir; e Corpo Físico, suaNatureza Humana, ou seja, o objeto que reflete as ações.

Neste contexto, as bases da ação humana estão em seupróprio interior, no recôndito do seu ser, daí a necessidade dedesenvolvernos um estudo que aprofunde as dimensões doconsciente, inconsciente e supraconsciente do ser humano,na tentativa de sairmos do conhecido para o desconhecido eadentrarmos os meandros do irreconhecível, considerando quea nossa Consciência é construída por nós, mas também renascedas dimensões Imutáveis de nosso Ser, de forma espontânea,impreterível e ininterrupta.

A dimensão do consciente é debatida por Edinger (1999, p.50), sob o prisma da psicologia, na seguinte perspectiva:

O processo de tornar-se consciente exige ver e ser visto,conhecer e ser conhecido. Isso não é difícil de entenderdesde o ponto de vista do ego; mas, se pretendemosque haja um verdadeiro estar com em nosso conhecer,o mesmo precisa aplicar-se ao outro centro do processo,ou seja, o Eu. O Eu deve também precisar ser conhecido,bem como conhecer.

Sob esta ótica, ver e ser visto, conhecer e ser conhecidosomente na esfera do ego, não tem atendido às necessidadesprementes de transformação, mais que isso, faz-se necessárioconhecermos, verdadeiramente, na dimensão do Eu, o que

Page 162: Os Ditames da Consciência Vol. I

162162162162162

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

significa mais do que alcançar a definição das coisas, mas tambémencontrar a sua natureza, bem como a razão de sua existência.

Para entendermos a estrutura do aparelho psíquico,utilizamos os fundamentos da teoria de Freud acerca das suasfunções, a saber: o Id, o Ego e o Superego. Na concepção doautor, a integração e a relação entre tais instâncias é a totalidadedo ser que se chama Eu, uma totalidade conflituosa, antagônicae, até mesmo, paradoxal (FREUD, 1974, 1988,; 2006).

Em relação ao Id, Freud o coloca como desconhecedor dasleis de tempo e espaço, bem como da moral social vigente, daíeste autor o conceber enquanto amoral; além de conferir àreferida instância psíquica a gênesis de todos os fenômenospsíquicos existentes.

Tudo o que se cria como consciência já é da ordem doefeito. Ele se confunde com o que é mais arcaico na mente. “Éa parte obscura, a parte inacessível de nossa personalidade”(FREUD, 1974, p. 94). Sobre ele incidem os estímulos perceptivos(exteriores) e pulsionais (interiores). “No início haveria apenasid, como algo indiferenciado, sem estrutura [...] É a partir dasinfluências sobre ele do mundo externo que o ego se estrutura”.(FRANÇA-NETO, 1998, p. 62).

Diferentemente do id, o ego e o superego têm acesso àconsciência. O ego, então, se refere a uma diferenciação desuperfície do id, recobrindo-o e, “[...] após o seu surgimento,tudo o que incidir sobre o id vindo de fora o fará via ego, istoé, será egomórfico” (FRANÇA-NETO, 1998, p. 62).

Tratando especificamente do superego, Freud (1988) odefine como a inscrição e o freio da pulsão19, esta que seapresenta como linguagem. Ele estaria na gênese do próprioaparelho psíquico. E, para uma melhor compreensão do aparelhopsíquico, trazemos as contribuições de França-Neto (1998, p.65),que assim expressa:

A partir do momento em que podemos falar do aparelho

Page 163: Os Ditames da Consciência Vol. I

163163163163163

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

psíquico como existindo, não podemos mais identificaruma primeira vez que seja primordial. Todamanifestação da consciência é reflexo de um ato queacabou de se processar, tendo como efeito a criaçãoinstantânea e eterna do aparelho psíquico.

Sob esse prisma, o comportamento humano é produto deuma complexa interação dos interesses divergentes das diversasesferas psíquicas, a qual se torna possível por meio dorelacionamento entre as três instâncias mentais que são mediadaspelo Ego, buscando administrar, reduzindo, maximamente, atensão psíquica originada dos conflitos inconscientes provocadospor diferentes orientações apresentadas por ele – o ego (oprincípio da realidade), pelo superego (regido que é peloprincípio da perfeição) e pelo id (regido pelo princípio do prazer)(CLONINGER, 1999; FADIMAN; FARGER, 2002; SCHULTZ; SCHULTZ,2006). Neste momento, torna-se válido destacarmos que, natrindade humana, o ego é o elemento com o qual, sem a suasuperação, o Ser Humano não encontra a sua Iluminação.

Tudo isto sem deixar de pontuar as relações que Freud nosfaz compreender entre a dimensão do consciente e doinconsciente. Ele propõe “[...] um aparelho em que a consciênciae o inconsciente se inscrevem juntos, no mesmo traçar, ao mesmotempo. Um não existe sem o outro. Os dois se inscrevem e seesvaecem no mesmo movimento, um é a razão e a possibilidadedo outro” (apud FRANÇA-NETO, 1998, p. 72).

Enriquecemos este diálogo com as reflexões de Jung. Assimexpressa-se (JUNG, apud EDINGER, 1999, p. 50): “[...] a existênciasó é real quando é consciente para alguém. É por isso que oCriador precisa do homem consciente, muito embora, por purainconsciência preferisse impedi-lo de tornar-se consciente”. Issoporque, como afirma Goswami (2009, p. 115), “[...] não há nadano universo manifestado até um observador ver algo. Todas ascoisas permanecem como possibilidades [...] enquanto aconsciência não escolher uma dentre essas possibilidades eocorrer um evento de colapso”.

Page 164: Os Ditames da Consciência Vol. I

164164164164164

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Portanto, estar consciente deve ser um exercício permanentede busca interior, de escolhas significativas para a vida, esta quese apresenta como um fluxo que corre no Universo e no mundo,tanto quanto corre no Ser Humano; assim, não resistir epermanecer com ele – o nosso próprio ser interior – é o nossodesafio, buscando sair do terreno das possibilidades, procurandoexperimentar, direta, correta e completamente, o Imutável – quereside em nós – e revelá-Lo, ainda que em sua medida.

O desafio, portanto, é reconhecermos o imutável em nósmesmos e caminharmos em sua direção, o que perpassa pelabusca não só do conhecer, como também do sentir e do ser,pois, quando o Ser Humano aprende e sente, compreende quesua existência está diretamente relacionada com o Imutável,então seus pensamentos, atos e obras logo se modificam.

Isso significa, também, sair da esfera do consciente egóicoque se inicia no entendimento da natureza das possíveis e/ouexistentes resistências; e vencida a resistência, o insconscientedemonstra-se, pois o desconhecido prima por visões reveladoras.

Consoante Jung (apud GOSWAMI, 2009, p. 74-75): “Opropósito da evolução é tornar o inconsciente (aquilo de quenão se está ciente) consciente (aquilo de que cada um está cientee é capaz de manifestar experiencialmente).”

Nesta perspectiva, importa conhecermos, à luz da ciência,o que significa o “inconsciente” e, neste propósito, apresentamosa visão de Freud (2006) por meio da análise que faz para admitirum psiquismo inconsciente e trabalhar cientificamente com essasuposição. Ele assume que a suposição do inconsciente énecessária e legítima, além de possuirmos várias provas daexistência do inconsciente. Em suas obras, Freud (1974, 1988)confirma a necessidade da existência do inconsciente porque osdados da Consciência são lacunares em alto grau; tanto nos sereshumanos sadios como nos doentes surgem frequentemente atospsíquicos que pressupõem, para a sua explicação, outros atosque, entretanto, não se manifestam na Consciência.

Page 165: Os Ditames da Consciência Vol. I

165165165165165

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Quando se trata de confrontar uma ideia científica comuma impressão do sentimento, as dificuldades se apresentam.Neste ponto, a avaliação subjetiva tem se restringido apenasaos conteúdos conscientes, no sentido de consciência ouinconsciente enquanto produtos da atividade-ação do ego. Noque concerne ao valor dos influxos inconscientes, avaliações quedeveriam ultrapassar os limites da Consciência egóica, asdificuldades são maiores ainda.

Em vista disso, Frankl (2006, p. 18) nos alerta que “[...] oinconsciente não se compõe unicamente de elementos instintivos,mas também espirituais. Desta forma, o conteúdo do inconscientefica consideravelmente ampliado [...]”. A linha de debate do autordireciona-se ao esclarecimento da concepção de Freud, que viu,no inconsciente, apenas a instintividade inconsciente. Éperceptível, portanto, que a compreensão de Frankl aproxima-sedeveras da de Jung.

Goswami (2009, p. 244) sinaliza que “[...] algumasexperiências dizem respeito ao que é inconsciente em nós – aprocessos nos quais a consciência está presente, mas não apercepção”. Assim, vale ressaltarmos que, para empreendermosrumo ao inconsciente, nos é exigido começarmos peloconsciente; para empreendermos ao interior, nos é exigidocomeçarmos pelo exterior. Neste sentido, Wilber (1999) seexpressa da seguinte forma:

[...] da matéria para o corpo, do corpo para a mente,da mente para o Espírito. Em cada caso, a consciência[...] oculta uma identidade exclusiva com umadimensão menor e mais superficial, e se abre paraocasiões mais profundas, amplas e superiores, até quese abra para o princípio dele, no próprio Espírito.(WILBER, 1999, p. 235).

Fica claro, portanto, que, além da dimensão do inconsciente,Wilber (2001) anuncia a existência de um espaço para as ocasiõesmais profundas, amplas e superiores, que ele denomina desupraconsciente, no qual reside o desconhecido, que é

Page 166: Os Ditames da Consciência Vol. I

166166166166166

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

irreconhecível na extensão, irreconhecível no movimento,porém, reconhecível e alcançável na distância.

Sob essa lógica, uma das nossas dificuldades de nosaprofundarmos em nós mesmos reside no fato da nossa, senãonenhuma, pouca experiência percebida e, portanto, consciente,acerca do que transcende o ego, adentrando, assim, a esfera daalma; estando cientes de que, quando oportuno, pelo uso dapaciência, da persistência, da inteligência e da consciência emgrau muito mais profundo e significativo que a consciência egóica,adentraremos na esfera do espírito num acidente de iluminação.Desta forma, fica compreensível que, somente na profundidade,podemos apreciar o verdadeiro show da luz.

Wilber (2001) sugere que a supraconsciência é uma unidadetranspessoal. Por meio de seus estudos, ele começou a rever asua noção completa da dinâmica da consciência, fundamentadonas tradições transpessoais; estas que sustentam que a “dinâmica”ou “força” da evolução e do desenvolvimento é um impulsopara realizar o potencial mais elevado de cada um, isto é,desenvolver a supraconsciência (natureza de Buda, natureza deAtman, Espírito, consciência de Deus, ou qualquer outro termoque preferirmos utilizar, ou simplesmente, a consciência unitiva).

Para Wilber (2001, p. 18):

[...] Atman é, ao mesmo tempo, sua natureza presentee o resultado final do seu desenvolvimento; é, ao mesmotempo, o Objetivo de todos os estágios evolutivos e arealidade presente ou Essência de cada estágio; é omais alto degrau da escada e a madeira de que toda aescada é feita. Se o Espírito fosse somente presente,você seria iluminado já; se ele fosse somente umobjetivo, não poderia ser onipresente – portanto, Eleé, ao mesmo tempo, Objetivo e Condição, “o processode seu próprio vir-a-ser”.

Tal afirmação reconhece o Atman como a condição supremae o potencial máximo de cada indivíduo e da humanidade. Frentea isso, o ser humano deve buscar momentos de introspecção

Page 167: Os Ditames da Consciência Vol. I

167167167167167

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

que facilitem e incentivem o deslocamento gradual dos elementosdo consciente para o inconsciente e deste para o supraconsciente.

Eis um dos desafios do Ser Humano: evoluir de formaabreviada e voluntária, da dimensão do consciente, passandopelo inconsciente rumo à supraconsciência. Como evidenciadoem Wilber (2001), a terminologia supraconsciência também éconhecida por individuação (JUNG, 1986); autoindividuação(MASLOW, 1968), de consciência cósmica (BUCKE, 1997; HODHEN,1998); autorrealização (FRANKL, 2006); consciência quântica(GOSWAMI, 2009); Satori, para o zen-budismo; Samadhi, para aYoga; Tao absoluto, para o Taoísmo; ou, ainda, luz, iluminação,libertação, experiência mística, experiência máxima ou mesmoinconsciente transcendental.

A partir do desafio de fazermos da diversidade a unidade,torna-se válido expressarmos, conforme White (1997), que todasestas nomenclaturas referem-se a um estado de percepçãoradicalmente diferente da nossa percepção comum, da nossahabitual consciência desperta, muito relacionada com a percepçãodo tangível, com a interpretação, estabelecimento de diálogoou mesmo reprodução de discursos puramente intelectuais e coma cognição mensurável.

Portanto, devemos buscar atingir o referido estado de serde eterno renascimento, pois renascer significa compreender ofavorecimento de uma pausa para oportunizar o surgimento deum novo alvorecer. Sem essa possibilidade de renascimento, nãoserá possível atingirmos a esfera da supraconsciência, ou seja,atingirmos a consciência que é isto, ou seja, “sem significar”.

Eis o valor significativo e real de aprofundarmos opensamento acerca da Consciência, em si, como uma Lei Natural,visto que ela nos oportuniza evoluir da condição de ser humanopara ser indiviso até ser divino, que é o próprio Ser.

Page 168: Os Ditames da Consciência Vol. I

168168168168168

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

APROFUNDAMENTO DO PENSAMENTO QUANTO AOESTUDO E DESVENDAMENTO DA LEI DE CONSCIÊNCIA

“A Consciência ilumina.”(Jair Tércio)

Sabemos e sentimos que o discernimento vem com oaprofundamento do pensamento, ou seja, com a prática do saberpensar, a ponto de tornar o Ser Humano capaz de saber estudare desvendar uma Lei Universal. Afinal, quem exercita o saberpensar mantém a mente ativa e a inteligência emdesenvolvimento rumo ao encontro da verdade, lembrando quesó a verdade liberta.

Saber pensar é mais relevante do que conhecer, uma vezque a prática do saber pensar favorece o contato direto com averdade, mas exige inteligência. Este convite, fazemos ao leitor:que possa exercitar conosco o saber pensar, especificamenteacerca da Lei de Consciência e, em seguida, da Lei de Significar.

De acordo com Demo (2005, p. 16-17):

Saber pensar é pilastra crucial da cidadania ativa, parasaber melhor intervir [...] podemos alargarenormemente, indefinidamente, a autonomia, sesoubermos pensar, conhecer, aprender. Faz parte dosaber pensar não só conquistar espaço próprio, massaber conviver com o espaço dos outros.

Eis que, enquanto o “Ser Humano não sabe pensar por simesmo, não integra-se à força e vive entregando-se à força dasimposições, inclusive e principalmente, das culturas decadentes”(OCIDEMNTE, 2008, p. 14). Assim, o saber pensar favorece oaperfeiçoamento da nossa força de buscar, persistentemente, pararealmente achar o ser, enfim, o real. Caminhemos nesta direção!

A referida prática será apresentada a partir dos elementosfundamentais que norteiam a manifestação de uma Lei Natural.Uma Lei Natural, portanto, para ser pesquisada e analisada até

Page 169: Os Ditames da Consciência Vol. I

169169169169169

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

ser compreendida, bem como praticada até ser sentida,significativamente, exige que sejam observados, verificadose testamentados, cientificamente, os fenômenos consideradoscomo relativos à mesma, as evidências das três característicasfundamentais que demonstram o todo da sua manifestação, asaber: o centro do qual partem todas as ações, o agir ou a açãoem si mesma, bem como o objeto que reflete as ações(OCIDEMNTE, 2009, p. 317), considerando os fundamentos dametodologia científica em cada uma das características,conforme quadro abaixo:

Quadro 1 – Quadro de aprofundamento do pensamentoquanto ao estudo e desvendamento da Lei de Consciência

Fonte: OCIDEMNTE (2009, p. 1.495).

Vejamos o desdobramento do quadro de aprofundamentodo pensamento quanto ao estudo e desvendamento de valoresda Lei de Consciência.

Page 170: Os Ditames da Consciência Vol. I

170170170170170

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

• Objeto

A palavra consciência deriva de duas palavras: do verbolatino scire, que significa “saber”, e da preposição cum, quesignifica “saber com” (GOSWAMI, 2007, p. 131). A consciênciaé muito mais do que o que ela faz. Ela é a energia potencial doSer Humano que vive em estado de latência aguardando apenaso momento para ser despertada, construída e/ou desenvolvidapara impeli-lo inclusive à autointegração, à Iluminação, enfim,à libertação.

Nós todos a temos. Todos nós somos seres despertos,conscientes. “Vimos que a física quântica, em sua busca porrespostas sobre a realidade e a percepção, esbarrou naconsciência. ‘Ela’ está sempre conosco: toda percepção deexperiência, pensamento, ação e interação se desenrola nocampo da consciência” (ARNTZ, 2007, p. 77). Nesta mesmaabordagem teórica, fundamentada na Física Quântica, Zohar(1990) anuncia ser a consciência um elo importante entre o mundoquântico e o da nossa experiência.

Sendo assim, “[...] em vez de dizer que a consciência éum fenômeno cerebral, é preciso postular que a consciência é abase da existência, repleta de possibilidades quânticas, das quaisas possibilidades materiais são um componente”. (GOSWAMI,2009, p. 220).

Goswami (2008, 2009) anuncia três característicasreveladoras da consciência:

1) a consciência é uma entidade causal que dá significado àexistência [...] é a base de toda existência;

2) essa consciência que escolhe é unitiva, não local e amesma para todos. Em outras palavras, a consciência queescolhe é objetiva;

3) no caso de um colapso quântico, a consciência torna-se“autorreferente” em todos, dando-nos não apenas asensação do objeto manifestado, como também a

Page 171: Os Ditames da Consciência Vol. I

171171171171171

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

experiência de um self – um sujeito que sente o objetocomo algo separado de si mesmo.

Assim, neste estado, ele confirma que o indivíduo nãoescolhe com sua consciência-ego cotidiana, mas com um estadonão-comum de consciência unitiva – que se pode chamarconsciência quântica ou, ainda, consciência-Deus.

Eis que a Consciência é uma das faculdades inatas quepossibilita ao criado integrar-se consigo mesmo, com seu próximo,com o meio em que vive e, por conseguinte, com o Criador.

• Finalidade

Neste sentido, anunciamos que a finalidade da consciênciaé, também, a de nos fazer refletir acerca da existência comoum todo, a partir de nós mesmos. E, neste caso, destacamos areflexão de Tolle (2007, p. 67-68), ao afirmar que:

Quando entramos em contato com essa dimensão quetrazemos dentro de nós – e isso é nosso estado natural,e não uma conquista milagrosa –, todas as ações quepraticamos e os relacionamentos que estabelecemosrefletem o estado de unificação com a Vida Única quesentimos em nosso interior.

Tratarmos da finalidade da consciência prevê tratarmos daVida. Afinal, assim como não existe vida sem consciência,tampouco existe consciência sem vida. Assim, eis um dospropósitos da Consciência: auxiliar o Ser Humano a adquirirconfiança, convicção e certeza para com as coisas da vida, parapoder viver e morrer bem.

• Justificativa

Eis que a humanidade não deve, não pode e nem necessitatornar dispensáveis o valor da vida e a dignidade da morte.Lembrando, inclusive, que, para além da morte, só levaremos anossa Consciência.

Tais reflexões apenas corroboram com o nosso sentimentode que a Consciência nos fornece o alimento essencial para o

Page 172: Os Ditames da Consciência Vol. I

172172172172172

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

nosso viver cheio de riqueza, beleza e significação, visto queela alia materialidade e espiritualidade. E, enquanto o SerHumano não dá à sua vida material uma conotação espiritual,significa que não mais ignora, mas esquece e/ou inobserva oque indica a noção exata de alma, de consciência e de Lei Natural,para a sua evolução abreviada consciente. E, enquanto assim,ele elabora, projeta e produz as crises das quais ele mesmoparticipa, tanto individual quanto socialmente (ARCA, 2009).

Neste momento, destacamos um pensamento de Tolle (2007,p. 95) acerca do domínio de uma vida plena, para superação depossíveis crises, mediante o encontro de equilíbrio entre ohumano e o Ser no dia a dia do viver:

O humano apenas nunca é o bastante, não importaquanto nos esforcemos nem o que sejamos capazes deconquistar. Porém, há também o Ser. Ele se encontra napresença calma, alerta da Consciência em si, aConsciência que nós somos. O humano é forma. O Seré sem forma. O humano e o Ser não estão separados,mas interligados.

Assim sendo, o nosso sentimento confirma que a consciênciafaz-se necessária existir, inclusive, por nos possibilitar demonstraro quanto já experimentamos, direta, correta e completamente,a realidade de todas as coisas, inclusive de nós mesmos,independentemente da dimensão em que nos encontremos.

• Fundamento

Se a consciência é tão importante e fundamental, por quese sabe tão pouco sobre ela? Umas das razões, segundo Arntz(2007, p.7 7), é estarmos vivendo uma era extremamentematerialista, dominada por uma ciência materialista; em outraspalavras, nossa cultura está interessada no que está “lá fora”, enão muito interessada no que se passa “aqui dentro”.

A partir desta justificativa que revela a integraçãonecessária entre o interno e o externo, a objetividade e asubjetividade, bem como a materialidade e a espiritualidade

Page 173: Os Ditames da Consciência Vol. I

173173173173173

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

como uma das funções da Consciência, destacamos algumas ideiasque fundamentam a existência da consciência como umafaculdade inata que favorece ao ser humano identificar a Razãoda Nossa Existência, facultando-lhe a possibilidade de realizaçõese autorrealizações insuspeitadas.

E, embora haja divergências, as tradições espirituais, deum modo geral, têm visões de mundo essencialmente similares.É uma visão baseada na experiência mística – numa experiênciadireta e não-intelectual da realidade. “Esta realidade últimatranscende todos os conceitos e todas as categorias [...] é aunidade da totalidade de todas as coisas, o grande todo quetudo integra” (CAPRA, 2006a, p. 103).

Assim sendo, a Consciência demonstra a sua relevância.Relevância esta reforçada por Arntz (2007, p. 77) quando ele dizque: “A consciência é fundamental em tudo que fazemos – arte,ciência, relacionamentos, vida; é uma constante em nossasvidas”. Sentimos, pois, ser a consciência um recurso humano deprioridade máxima a ser despertada, construída e/oudesenvolvida nas nossas vidas.

• Método

Diante da relevância justificada acerca da Consciência,indicamos, neste momento, caminhos para o seudesenvolvimento. Eis que a consciência é um instrumentoespecífico da existência que deve ser despertado, construídoe/ou desenvolvido por todos nós, para os devidos fins. Paradespertá-la, devemos conhecer e estudar a Lei, a ponto de nosaproximarmos dela; para construí-la, devemos estudar edesvendar a Lei, a ponto de desejarmos nos identificar com ela;e, para desenvolvê-la, devemos buscar conhecer a origem daLei, a ponto de nos identificarmos com ela. Afinal, quem conhecea Consciência conhece a Lei.

Neste sentido, importa-nos direcionar os pensamentos cominteligência, isto é, no mínimo, embasando-nos em valores, no

Page 174: Os Ditames da Consciência Vol. I

174174174174174

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

mínimo, racionais. E, para adquirir a vontade, devemos imaginarcom esta mesma consciência, isto é, no mínimo, embasando-nosem seus sentimentos. Assim, caminhando rumo ao processo deautoconhecimento e autoconsciência.

Na perspectiva do desenvolvimento da Consciência, Zohar(1990) evidencia que, se o homem contempla a tudo emmeditação mística, tudo se revela como uno, corroborando como inevitável encontro com O Indivisível, O Uno, enfim, O Todo,em sua grandiosidade.

Eis o valor dos exercícios de conectividade,especificamente da prática da Onilateração, que envolve osexercícios respectivos de concentração, contemplação eexaltação e nos auxilia na senda da Iluminação, consoante estudosda Arca Sagrada (2009, p. 345):

Em sua evolução, várias são as sendas com as quaiso gênero humano se envolverá. Para a senda daIluminação, ele, o gênero humano, deve saber cadavez mais aprofundar-se, enlarguecer-se e elevar-seem relação a sua Origem Causal. Para tanto,concentração, contemplação e exaltação. Isto porque,quanto maior é o grau de concentração, maior é ograu de vontade, portanto maior é a capacidade deaprofundar-se. Quanto maior é o grau decontemplação, maior é o grau de consciência, portantomaior é a capacidade de enlarguecer-se. E quantomaior é o grau de exaltação, maior é o grau deciência, portanto maior é a capacidade de elevar-se.Quanto maior é o grau de vontade, consciência eciência, menor é o grau de medos, culpas e apegos.E quanto menor é o grau de medos, culpas e apegos,maior é o grau de sensibilização, despertamento erenascimento, respectivamente.

Caminhemos nesta direção, mas não sem levar em conta osrespectivos recursos para tal realização!

• Recursos

Nesta trajetória, importa-nos destacar que a consciência é

Page 175: Os Ditames da Consciência Vol. I

175175175175175

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

a melhor maneira para conhecermos a nós mesmos; para tanto,o pensar com o pensamento dirigido pela inteligência.

No que se refere ao recurso material, vale destacarmosque, conforme afirma Arntz (2007, p. 78), “A consciência não éfeita de material mensurável. Não se pode medi-la”. Mas, comovimos, podemos desenvolvê-la para além do domínio doconhecido e para além do significado.

Conforme Susuki (apud CAPRA, 2006a, p. 42):

À medida que penetramos cada vez mais fundo nanatureza, somos levados a abandonar um número cadavez maior de imagens e de conceitos provenientes dalinguagem usual [...] afinal, nossas experiências íntimas,em sua própria natureza, transcendem a linguística.

Neste caso, o silêncio interior é um dos recursos a seremlevados em conta. Até porque, se silenciado interiormente, oSer Humano educa-se, disciplina-se e desperta a consciência comorecurso para cumprimento de seus deveres sagrados na conquistada evolução abreviada consciente. Eis que o interior tem recursosque o externo não tem, onde reside, porque não dizer, a fonte.

• Fonte

Jean-Paul Sartre (apud TOLLE, 2007, p. 53) “[...] refletiumuito sobre a afirmação de Descartes ‘Penso, logo existo’ e, derepente, compreendeu algo. Em suas próprias palavras: ‘aconsciência que afirma ‘eu sou’ não é a consciência que pensa.’”

A consciência, portanto, vive além do corpo físico; alémda mente; e além da alma. Assim, quanto maior a consciência,maior a percepção da realidade maior, Deus, a Unidade de todasas coisas.

A unidade de todas as coisas é alcançada – nos dizem osmísticos – num estado de consciência em que a individualidadese dissolve numa unidade indiferenciada em que o mundo dossentidos é transcendido e a noção de “coisas” é ultrapassada.Nas palavras de Chuang Tsé (apud CAPRA, 2006a, p. 112):

Page 176: Os Ditames da Consciência Vol. I

176176176176176

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Minha ligação com o corpo e suas partes é dissolvida.Meus órgãos de percepção são postos de lado. Assim,tendo abandonado minha forma material e dado adeusao meu conhecimento, torno-me um único com o GrandeImpregnador. A isso denomino sentar e esquecer todasas coisas.

Zohar (1990, p. 61) resgata a dimensão da Unidade de todasas coisas na história cultural pré-socrática a partir dascontribuições de Parmênides e de Heráclito, confirmando quetal reflexão não é recente: “O Uno de Parmênides ou o FluxoDivino de Heráclito fazem supor que todas as coisas, conscientese materiais, derivam fundamentalmente de uma fonte comum.”

Destaca ainda fragmentos do discurso de Heráclito,demonstrando a referida fonte: “Deus é o dia e a noite, o verãoe o inverno, a guerra a paz, a saciedade e a fome; mas assumevárias formas [...]” (HERÁCLITO, apud ZOHAR, 1990, p. 62). “[...]sou por natureza uma criatura feita da mesma substância que oamor, a verdade e a beleza. Não porque eu os tenha criado, masporque a natureza de minha consciência é sinônimo da naturezade seu significado” (ZOHAR, 1990, p. 200).

Assim sendo, parece-nos inegável a nossa procedência Divina!

Após as reflexões acerca da Consciência, convidamos oleitor para aprofundar o pensamento quanto ao estudo edesvendamento da Lei de Significar, a fim de, juntos,percebermos que ela – a Consciência – vai além, porém partindodo existente e do conhecido.

Page 177: Os Ditames da Consciência Vol. I

177177177177177

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

APROFUNDAMENTO DO PENSAMENTO QUANTO AOESTUDO E DESVENDAMENTO DA LEI DE SIGNIFICAR

“A razão busca significar, embora não substancie.”(Jair Tércio)

A partir da referência do quadro abaixo, podemos analisara Lei de Significar com base nas suas características, segundoaquilo que indica a nossa experiência, senão vejamos:

Quadro 2 – Quadro de aprofundamento do pensamentoquanto ao estudo e desvendamento da Lei de Significar

Fonte: OCIDEMNTE (2009, p. 1.495).

• Objeto

Por meio do saber pensar, à medida que o ser humano vaiestruturando o seu pensamento, torna-se possível demonstrar oseu entendimento sobre o assunto estudado. Na medida em que o

Page 178: Os Ditames da Consciência Vol. I

178178178178178

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

entendimento se faz, torna-se possível a compreensão e, com oaprofundamento desta, torna-se possível atribuir um significado;assim, ao significar o objeto de estudo, o ser humano favoreceinúmeras possibilidades, com o intuito de transcendê-lo. Assim, ograu de possibilidade de um Ser Humano é determinado pelo seugrau de Consciência, enfim, pelo seu grau de saber pensar com opensamento direcionado pela inteligência, até então alcançado.

Vale considerarmos que, na ação de significar, há trêselementos que se relacionam: o significado; aquilo que significa;e aquilo que é. O que significa é a palavra; o significado, a coisaindicada pela palavra; e aquilo que é, o objeto em si mesmo(ABBAGNANO, 2003).

Com efeito, ir além do que o objeto significa é ultrapassara dimensão da palavra, como possibilidade de transpor os limitesentre a ilusão e a realidade e de encontrar a verdade. Nestaperspectiva, vale enfatizarmos que o significado não se confundecom o que ele é. Portanto, significar, por exemplo, a Consciência,não a retrata em si, mas, apenas, um sentido que se dá a ela emrelação a um determinado contexto.

Cabe-nos apontar que, nesta trajetória deaprofundamento do pensamento acerca de um objeto, há umarede de significados a serem desvelados e contextos a seremconsiderados na tessitura da trama da vida, o que justifica aafirmativa de Japiassu e Marcondes (2006, p. 252) de que:

Outro aspecto da compreensão do significado dizrespeito aos tipos de uso que uma expressão pode terem contextos diferentes e para objetivos diferentes, oque determina uma diferença de significado. [...].Autores como Quine indicam ainda a importância daconsideração do significado não a partir de umasentença ou expressão linguística tomada isoladamenteem sua relação com o real,mas levando-se em conta atotalidade da linguagem, isto é a rede de relações designificação na qual essa sentença ou expressão seinclui, seus pressupostos, suas implicações etc.

Page 179: Os Ditames da Consciência Vol. I

179179179179179

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

Neste contexto, importa-nos o uso da inteligência paraindicarmos e reconhecermos o caminho da Verdade e o uso daConsciência para nos tornarmos presentes no acontecimento embusca de transcendermos a própria inteligência.

· Finalidade

A ação de significar tem como finalidade delimitar o objetosignificado, que pode assumir diversos significados a dependerdo contexto no qual está inserido e do sentido que se quer atribuira ele. Consoante Abbagnano (2003, p. 889), o objeto e significadonão se identificam, porque “[...] o objeto pode ser o mesmo,ao passo que o nome ou o conceito usado para a referência édiferente [...]”.

Em analogia ao significado de Consciência, por exemplo,podemos verificar que a Consciência, enquanto objeto, podeassumir diferentes significados, a depender da referência deseu autor, ou seja, de sua perspectiva de trabalho. Assim, podemostrabalhar a Consciência no sentido psicológico, biológico, social,individual, universal etc. Ou seja, ainda que o objeto seja omesmo, ele assume diferentes significados. É neste sentido quedelimitamos o seu estudo para nos revelar que o objeto para oqual buscamos um significado é também aquilo.

Frente a isso, ao atribuímos um significado a um objeto,sob várias perspectivas, estamos buscando esgotá-lo em suarelatividade, para que, a partir disso, possamos penetrar em suaessência em busca dele mesmo; isso, no entanto, só se faz possívelna medida em que nos identificamos com ele.

• Justificativa

Importa registrarmos que, ao significar, estamos inseridosno plano da relatividade das coisas, porque buscamos darsignificado dentro de um contexto e segundo as nossasexperiências e os nossos conceitos/valores. Desta forma, nosrelacionamos com o relativo da coisa em si, e nãonecessariamente com a sua essência. Noutras palavras, com a

Page 180: Os Ditames da Consciência Vol. I

180180180180180

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

ideia do objeto, com o pensamento sobre o objeto, com ointermediário entre o sujeito e o objeto, e não com o objetoem si mesmo.

Conforme Pierce (apud ABBAGNANO, 2003, p. 891):

O signo cria alguma coisa no espírito do intérprete eesse alguma coisa por ter sido criado pelo signo, foicriado também de modo mediato e relativo pelo objetodo signo, embora o objeto seja essencialmentediferente do signo. Essa criatura do signo é chamadade interpretante.

Este contato, ainda que relativo, é o ponto de partida nabusca do sentido de algo, é a aproximação ao objeto, o que estádisponível em nível de conhecimento. Isso posto, tornou-se oponto principal para a diferenciação entre o conhecimento físicoe o não físico, pois não é porque não se pegou, não se viu ou nãose ouviu algo que se pode negar a sua existência, porquanto arealidade não é, tampouco está, na aparência, mas sim na essência.

Essa realidade subjetiva está sendo resgatada pela PsicologiaTranspessoal, que, segundo Weil (1999, p. 9), “[...] é um ramo daPsicologia especializada no estudo dos estados da Consciência”.Assim, dimensões negligenciadas ou inexploradas pela Psicologiatradicional passaram a ser observadas por estudiosos epesquisadores da Consciência, revelando-se um campo fértil paradar um novo significado à abordagem desta e dando-lhe umaconotação cósmica. Na concepção de Weil (1999, p. 10), asprincipais características de uma experiência cósmica20 são:

Unidade: é o desaparecimento da percepção dual Eu-Mundo.

Inefabilidade: a experiência não pode ser descrita coma semântica usual.

Caráter noético: um senso absoluto de que o que évivido é real, às vezes muito mais real do que a vivênciacotidiana comum.

Transcendência do espaço-tempo: as pessoas entram

Page 181: Os Ditames da Consciência Vol. I

181181181181181

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

numa outra dimensão; o tempo não existe mais e oespaço tridimensional desaparece.

Sentido de sagrado: o senso de que algo grande,respeitável e sagrado está acontecendo.

Desaparecimento do medo da morte: a vida é percebidacomo eterna, mesmo se a existência física é transitória.

Mudança do sistema de valores e de comportamento:muitas pessoas mudam seus valores no sentido dosvalores B de Maslow (Beleza, Verdade, Bondade, etc). Háuma substituição progressiva dos valores ditos materiaise do apego ao dinheiro. O “Ser” substitui o “Ter”.

Coadunados com a concepção do autor supracitado, cabemencionarmos a possibilidade de haver uma realidade lícita quenão está exposta aos cinco sentidos; tal realidade, no entanto,somente pode ser percebida e conhecida quando somospassivamente receptivos, em vez de ativamente inclinados aconhecer.

Sob a égide desta e de outras diretrizes que norteiam oviver humano, entendemos que a religião, a filosofia e a ciêncianada mais são do que a tentativa do ser humano de expressar assuas certezas objetivas acerca da certeza subjetiva do PrincípioCriador, descrita no maior livro da humanidade: o Universo.

Assim, cabe a pertinência da contribuição do significar queaponta para uma busca de não só compreendermossubjetivamente, mas também significarmos objetivamente eatuarmos factualmente, porquanto a realidade e o gênero humanovivem em eterna relação.

• Fundamento

Numa perspectiva evolutiva, considerando que tudo tendedo relativo ao absoluto, é partindo das partes que se chega aotodo. É do conhecido que se adentra a dimensão dodesconhecido. É do profano que se chega ao sagrado. E, nestecontexto, a ação de significar é reflexo do saber pensar porqueao buscar o sentido de algo, o pensamento é aprofundado para

Page 182: Os Ditames da Consciência Vol. I

182182182182182

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

além do traduzir, interpretar ou comparar, ainda que não sejasinônimo de identificação com a essência.

É sabido que todos temos Consciência, no entanto, adiferença entre um homem comum e um buscador da verdade éa sua busca incansável dos códigos imutáveis que a Divina Leiestabelece; pois este não só sabe como tem certeza de quetudo lhe será conhecido, possível e disponível.

Aprofundar o pensamento significativamente sobre algo,portanto, é favorecer a razão e o senso científico, para,também, favorecer a experimentação e, ainda, democratizar asrelações, para favorecer o abreviar da evolução, possibilitandoao ser humano realizar transformações significativas, individuaise coletivas, ou melhor, sociais.

• Método

Na ação de significar, portanto, construímos os conceitosrelativos ao objeto, a partir do sentido que buscamos atribuirao signo. Para tanto, nos valemos não somente dos nossos valorese do contexto social, mas também do sentido que buscamos.

• Recursos

Um dos recursos na ação do significar é a inteligência queindaga o que é a inteligência; qual é sua finalidade; qual a justificativade sua existência; quais os fundamentos que a norteiam; qual ométodo e recurso para seu despertamento, construção e/oudesenvolvimento, bem como sua origem no ser humano. Assim,quando imaginamos inteligindo, favorecemos à Consciência volversobre si mesma, igualando-se não mais ao mundo exterior, mas apartir dos elementos de seu próprio mundo, para criar o novo.

• Fonte

Para achar a fonte não podemos estar ignorantes, mastambém não podemos estar esquecidos ou, lembrando, tampoucoinobservadores, uma vez que Ser é experiência completa.

Page 183: Os Ditames da Consciência Vol. I

183183183183183

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por fim, aprendemos e sentimos que – ao aprofundarmoscada vez mais o pensamento rumo à essência de algo e à suaplena identificação, buscando saber o que ele é, enquanto vaisendo, em suas diversas dimensões e particularidades – se faznecessário adentrarmos num plano que vai além do conhecimentoe que, portanto, é impossível significar porque já ocorreu plenaidentificação com o todo.

Neste estado de plena identificação com o todo, ressaltamosas perspectivas do Ser Humano viver sem tantas confusões,desencontros e desconfortos, portanto viver em estado derenascimento, semeando e colhendo o bem, espalhando o amor eperpetuando a verdade, em prol de uma Nova Ordem Mundial.

Isto porque, sempre que necessário e justificável, para oequilíbrio dinâmico do Universo, uma Nova Ordem Mundial é,então, implantada no seio da humanidade para realizar mutaçõesna consciência do gênero humano.

REFERÊNCIAS

ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de Filosofia. São Paulo: MartinsFontes, 2003.

ARNTZ, William (Org.). Quem somos nós?: a descoberta dasinfinitas possibilidades de alterar a realidade diária. Rio deJaneiro: Prestígio Editorial, 2007.

BUCKE, Richard M. Da consciência de si mesmo à consciênciacósmica. In: WHITE, John (Org.). O mais elevado estado daconsciência. São Paulo: Cultrix/Pensamento, 1997. p. 78-89.

CAPRA, Fritjof. A teia de vida: uma nova compreensão científicados sistemas vivos. São Paulo: Cultrix, 2006a.

Page 184: Os Ditames da Consciência Vol. I

184184184184184

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

______. O tao da física: um paralelo entre a física moderna e omisticismo oriental. São Paulo: Cultrix, 2006b.

CLONINGER, Susan C. Teorias da personalidade. São Paulo:Martins Fontes, 1999.

DEMO, Pedro. Saber Pensar. Revista da ABENO, São Paulo, v. 5, n.1. jan./jun. 2005.

EDINGER, Edward F. A criação da consciência: o mito de Jungpara o homem moderno. São Paulo: Cultrix, 1999.

FADIMAN, James; FARGER, Robert. Teorias da personalidade. SãoPaulo: Habra, 2002.

FRANÇA NETO, Oswaldo. Freud e a consciência. São Paulo/SP:Escuta, 1998.

FRANKL, Victor E. A presença ignorada de Deus. São Leopoldo:Sinodal; Petrópolis, RJ: Vozes, 2006.

FREUD, Sigmund. Escritos sobre a Psicologia doInconsciente. Rio de Janeiro: Imago, 2006. 2 v.

______. As neuropsicoses de defesa. In: Edição StandardBrasileira das Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud.Rio de Janeiro: Imago, 1988. 3 v.

______. O Ego e o Id. In: Edição Standard Brasileira das ObrasPsicológicas Completas de Sigmund Freud Vol. XIX. Rio deJaneiro: Imago, 1974. 12 v.

GOSWAMI, Amit. Evolução criativa das espécies: uma respostada nova ciência para as limitações da teoria de Darwin. São Paulo:Aleph, 2009.

______. Deus não está morto: evidências científicas da existênciadivina. São Paulo: Aleph, 2008.

______. O universo autoconsciente: como a consciência cria omundo material. São Paulo: Aleph, 2007.

JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo. Dicionário Básico deFilosofia. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2006.

OCIDEMNTE – 7º. CDE - ORGANIZAÇÃO CIENTÍFICA DE ESTUDOS

Page 185: Os Ditames da Consciência Vol. I

185185185185185

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

MATERIAIS, NATURAIS E ESPIRITUAIS. Arca Sagrada. Salvador,2009.

RODHEN, Humberto. Rumo à consciência cósmica: diretrizespara o autoconhecimento e a auto-realização. São Paulo: MartinClaret, 1998.

SCHULTZ, Dante; SCHULTZ, Sydney. História da PsicologiaModerna. 8. ed. São Paulo: Thomson, 2006.

TOLLE, Eckhart. Um novo mundo: o despertar de uma novaConsciência. Rio de Janeiro: Sextante, 2007.

WHITE, John (Org.). O mais elevado estado da consciência. SãoPaulo: Cultrix; Pensamento, 1997.

WEIL, Pierre. A consciência cósmica. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.

WILBER, Ken. A união da alma e dos sentidos. São Paulo: Cultrix,2001.

______. O projeto Atman. São Paulo: Cultrix, 1999.

JUNG, Carl Gustav. Obras completas de C.G. Jung. Petrópolis,RJ: Vozes, 1986.

ZOHAR, Danah. O ser quântico: uma visão revolucionária danatureza humana e da consciência, baseada na nova física. SãoPaulo: Best Seller, 1990.

Page 186: Os Ditames da Consciência Vol. I

186186186186186

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

NOTAS1 Vice-presidente da Universidade Holística Internacional de Paris.2 O Imutabilismo se refere a um movimento sociocultural de incentivo à culturaespiritual embasada em valores insofismáveis caracterizados por códigosperenes e imutáveis de Leis Naturais que regem o Universo, teorizada pelaFundação OCIDEMNTE – 7º CDE. Este movimento foi criado, instituído eimplantado no mundo por essa fundação, a partir do Brasil-Bahia-Salvador.3 Cipriano Carlos Luckesi é considerado um grande estudioso da PsicologiaTranspessoal, na Bahia.4 Considerado o principal teorizador no campo da Psicologia Transpessoal eautor de vários livros.5 Psicóloga Transpessoal e Fundadora da Universidade Holística em Paris.6 Presidente da Universidade Holística Internacional de Paris.7 A Psicologia Transpessoal é uma abordagem recente, que surgiu nos EstadosUnidos, em 1966, a partir de um movimento que se tornou conhecido como“quarta força” em Psicologia, após o Behaviorismo, a Psicanálise e a PsicologiaHumanista, sendo considerada um desdobramento desta última que teve comogrande expoente o psiquiatra suíço Carl Gustav Jung. Ele dedicou sua vida aoestudo da Consciência Humana, que é exatamente o objeto de estudo daPsicologia Transpessoal. O termo Transpessoal significa “além do pessoal”,“além da personalidade”, “além do ego”.8 Vamos utilizar, aqui, o termo “eu” para designar uma personalidadesuficientemente sadia, capaz de suportar a manifestação de estadosexpandidos e não lineares de Consciência; e reservamos o termo “ego” paranos referirmos aos padrões de conduta solidificados, lineares, que dificultama manifestação de estados de Consciência não lineares.9 Ken Wilber é um estudioso norte-americano da Consciência e seus estadosde desenvolvimento; um bioquímico de formação que dedica a maior parte dotempo às leituras e pesquisas sobre filosofia e religião orientais, bem comosobre psicologia e metafísica ocidentais.10 No original San Buenaventura el gran Doctor Seraphicus de la Iglesia y uno delos filósofos referidos por los místicos occidentales (WILBER, 1994, p. 13).11 Qualquer radiação eletromagnética caracteriza-se por uma gradação deaspectos ou níveis.13 “Hólon” refere-se a uma entidade que é um todo e, ao mesmo tempo, umaparte de um outro todo. (WILBER, 2004, p. 38).

Page 187: Os Ditames da Consciência Vol. I

187187187187187

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

14 Citamos, aqui, algumas das Leis Naturais (dentre outras): Lei deRelatividade; Lei de Equilíbrio; Lei de Ação e Reação; Lei de Trabalho eProgresso; Lei de Conservação e Destruição; Lei de Amor etc. Leis estas quepodem ser observadas e sentidas a partir do próprio contato com a Natureza.15 No presente artigo, destacamos o Universo, a Consciência, o Todo, o Centroe o Ser Humano com letras maiúsculas, no intuito de evidenciar a suaimportância no presente estudo.16 A palavra inglesa implicate, como adjetivo, significa implícito e, comoverbo, significa implicar, envolver, embaraçar, etc. Bohm a usa no sentidoetimológico da palavra latina implicare que significa dobrar para dentro(embrulhar). A melhor tradução para a expressão implicou order talvez sejaordem implícita, pois, segundo Bohm, as dobras vão se desdobrar, vão seexplicitar e a implicou order passa para a explicate order (BOHM, 1992).17 O holograma é formado pelo padrão de interferência produzido por doisfeixes coerentes vindos de um laser, um dos quais é refletido pelo objeto Aque está sendo hologramado. A imagem holográfica B é definida numa placafotográfica, de modo que um objeto localizado não é representado por umaimagem localizada, pois qualquer porção da imagem holográfica(tridimensional) contém em si a representação do objeto inteiro (BOHM, 1990).Ou seja, cada ponto contém quase que a totalidade de informações do objetoque ele representa (MORIN, 2003).18 O filósofo da Consciência, David Chalmers (1995), defronta-se com o seguinteproblema, considerado hard problem (problema difícil): Como algo tão imaterialcomo a consciência pode surgir de algo tão inconsciente como a matéria?19 As pulsões são constituídas dentro do campo da linguagem. Assim asrecebemos e as estruturamos. (FRANÇA-NETO, 1998).20 De acordo com Weil (1999, p.10): “O termo traduz uma experiência em quedeterminadas pessoas percebem a unidade do Cosmos, se percebem dentrodela (e não fora, como muitos poderiam imaginar); a experiência éacompanhada de sentimentos de profunda paz, plenitude, amor a todos osseres. Compreende-se, de um relance, o funcionamento e a razão de ser dosuniversos, a relatividade das três dimensões do tempo e do espaço, ainsignificância e a ilusão do mundo em que vivemos; os erros monumentaiscometidos por muitos seres humanos; uma iluminação acompanha muitasdestas percepções. A morte é vista apenas como uma passagem para outraespécie de existência e o medo dela desaparece totalmente. A ExperiênciaCósmica pode ser, e é em geral, o resultado de uma longa e lenta evolução; àsvezes, no entanto, ela constitui o início de uma profunda transformação nosentido dos valores mais elevados da humanidade; neste último caso elaacontece em momento inesperado".

Page 188: Os Ditames da Consciência Vol. I

188188188188188

BARRETO, Maribel. Os Ditames da Consciência

CONTATOS:[email protected]

consultoria@ccienciasdaeducacao.com.brwww.ccienciasdaeducacao.com.br

www.conscienciologia.pro.br

Page 189: Os Ditames da Consciência Vol. I