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1 PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO COORDENADORIA GERAL DE ESPECIALIZAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO E EXTENSÃO DIREITO PROCESSUAL CIVIL EM MÓDULOS MÓDULO – TUTELA DIFERENCIADA E PROCEDIMENTOS ESPECIAIS CAMPUS: PERDIZES AULAS: AOS SÁBADOS, DAS O8H00 ÀS 14H00 ALUNO: VICENTE LENTINI PLANTULLO DATA: 15 DE DEZEMBRO DE 2012 ANÁLISE DE ACÓRDÃO COM BASE NO ESTUDO TEÓRICO ACERCA DO INSTITUTO DA USUCAPIÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ATUAL 1.Introdução O objetivo principal deste trabalho é elucidar o conceito da usucapião no seio de um acórdão escolhido pelo autor, analisando-o à luz nas normas existentes no Código Civil e no Código de Processo Civil, dentre outras considerações que se fizerem imprescindíveis. 2.Conceito de usucapião Segundo De Plácido e Silva 1 , a usucapião exprime o modo de adquirir uma dada propriedade pelo uso ou pela prescrição. Na realidade, a usucapião é “a aquisição do domínio (propriedade) pela posse continuada” nos dizeres de Clóvis Beviláqua 2 . Para que se processe a usucapião como sendo uma forma originária de aquisição de propriedade pela posse continuada, durante certo interregno ou lapso temporal, devem 1 SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.844-845. 2 SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.844.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO … · 2.Conceito de usucapião . Segundo De Plácido e Silva. 1, ... Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.264-266

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

COORDENADORIA GERAL DE ESPECIALIZAÇÃO, APERFEIÇOAMENTO E

EXTENSÃO

DIREITO PROCESSUAL CIVIL EM MÓDULOS

MÓDULO – TUTELA DIFERENCIADA E PROCEDIMENTOS ESPECIAIS

CAMPUS: PERDIZES

AULAS: AOS SÁBADOS, DAS O8H00 ÀS 14H00

ALUNO: VICENTE LENTINI PLANTULLO

DATA: 15 DE DEZEMBRO DE 2012

ANÁLISE DE ACÓRDÃO COM BASE NO ESTUDO TEÓRICO ACERCA DO

INSTITUTO DA USUCAPIÃO NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL ATUAL

1.Introdução

O objetivo principal deste trabalho é elucidar o conceito da usucapião no seio de um

acórdão escolhido pelo autor, analisando-o à luz nas normas existentes no Código Civil

e no Código de Processo Civil, dentre outras considerações que se fizerem

imprescindíveis.

2.Conceito de usucapião

Segundo De Plácido e Silva1, a usucapião exprime o modo de adquirir uma dada

propriedade pelo uso ou pela prescrição. Na realidade, a usucapião é “a aquisição do

domínio (propriedade) pela posse continuada” nos dizeres de Clóvis Beviláqua2.

Para que se processe a usucapião como sendo uma forma originária de aquisição de

propriedade pela posse continuada, durante certo interregno ou lapso temporal, devem

1SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.844-845. 2SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.844.

2

ser observados certos requisitos exigidos pela lei, que variam de acordo com a espécie

de usucapião3. Normalmente, esses requisitos são4:

a)coisa hábil existente (res habilis);

b)a existência da posse (possessio);

c)o justo título (titulus);

d)o intervalo de tempo (tempus);

e)a aplicação do Princípio5 da Boa-fé (bona fides); e

f)a capacidade mostrada ou elucidada por aqueles que participam deste processo de

forma específica, sobretudo no que tange à alienação e aquisição.

Destaca-se que a usucapião está prevista nos artigos de 941 a 945 do Código de

Processo Civil, sob o título “Da ação de usucapião de terras particulares”. Percebe-se a

preocupação do legislador em mencionar a factibilidade da usucapião somente em terras

particulares, jamais as terras públicas, pertencentes à União, Estados, Distrito Federal,

Municípios, Territórios e outras entidades correspondentes. Em assim sendo, é

impossível usucapir terras públicas e devolutas, razão pela qual a Reforma Agrária é

inexistente no país, muito embora diversos partidos políticos nos últimos sessenta anos

tenham prometido fazê-la. Só prometeram. Nunca a fizeram.

3.Tipos de usucapião existentes no Brasil

No Brasil, os principais tipos de usucapião são:

a)de cunho ordinário ou comum;

b)de cunho extraordinário;

c)de cunho constitucional;

d)usucapião por interesse social; e

3NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Conhecimento, Meios de Impugnação das Decisões Judiciais, Execução, Tutela de Urgência, Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa. Inclui Comentários ao Projeto de Lei do novo CPC. 8Volume Único. 4ª. edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Método Ltda. p.1.387. 4SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.844-845. 5O Princípio é algo que deve ser aceito como sendo verdade inquestionável.

3

e)usucapião urbana segundo o Estatuto da Cidade6.

No primeiro caso, ou seja, usucapião de cunho ordinário ou comum que pode ser de

bens imóveis, segundo o artigos 1.242 e 1.379 em seu parágrafo único, ambos do

Código Civil (CC), estes artigos envolvem a servidão, ou seja, o encargo ou ônus, que

se estabelece sobre um imóvel em proveito e utilidade de um outro imóvel, pertencente

a outro proprietário, podendo ser dos seguintes tipos: aérea, afirmativa, altius tollendi,

aparente, contínua, convencional, de acesso coativo, de águas, de águas alheias, de

águas pluviais, de águas supérfluas, de aqueduto, de ar e luz, de bebedouro, de

compáscuo, de escalagem, de escoamento, de estilicídio, de madeirar, de passagem,

descontínua, de vista, legal, não aparente, natural, negativa, non aedificandi, non altius

tollendi, oneris ferendi, perpétua, pessoal, predial, prescricional, real, rural, rústica, tigni

immitendi, urbana e voluntária7.

Interessante observar que a usucapião ordinária ou comum pode ser, também, de bem

móvel, de acordo com o disposto no artigo 1.260 do Código Civil.

Nesse caso em tela, os principais requisitos são:

a)posse mansa, pacífica, contínua e não contestada;

b)boa-fé na aquisição, ou seja, aplicação do Princípio da Boa-Fé Objetiva e Subjetiva.

c)Posse do Justo Título. Destaca-se que o justo título se comprova com a apresentação

de qualquer documento que demonstre a legitimidade da posse, desde que, quando

particular, tenha, obrigatoriamente, a assinatura de duas testemunhas.

No que diz respeito aos prazos concernentes à posse contínua, tem-se:

-dez anos para bens imóveis; e

-três anos para bens móveis.

6O Estatuto da Cidade é regulamentado pela Lei de número 10.257, de 10 de julho de 2001. Em apertada síntese, é uma norma que regulamenta os artigos 182 e 183 da Constituição Federal e estebelece diretrizes gerais da política urbana, além de proporcionar outras providências concernentes. 7SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.753-756.

4

Ainda no que diz respeito à usucapião ordinária ou comum, esta pode ser ordinária

habitacional. Este tipo obedece o artigo 1.242 do Código Civil em seu parágrafo único.

Seus principais requisitos são, além da posse mansa, pacífica e contínua:

a)finalidade habitacional em solo urbano;

b)utilização do Princípio da Boa-Fé Objetiva e Subjetiva;

c)posse do justo título; e

d)prazo de posse contínua de cinco anos.

Um detalhe importante é que o prazo de posse contínua é de cinco anos.

Um terceiro tipo da usucapião é a ordinária pro labore, previsto no parágrafo único do

artigo 1.242 do Código Civil. Trata-se de um tipo ligeiramente diferente do anterior

pois, além da posse mansa, pacífica e contínua deve ter:

a)finalidade de exploração econômica no imóvel, geralmente destinado à uma atividade

laboral extrativista, pecuária ou agrícola, geralmente em terras rurais. Lembrar que, toda

e qualquer atividade extrativista, sofre, ao invés de depreciação ou amortização, a

exaustão8;

b)validade do Princípio da Boa-Fé; e

c)posse do Justo Título.

Destaca-se que o prazo de posse contínuo é de cinco anos e não existe qualquer tipo de

especificação acerca do limite de área.

No segundo grupo, o da Usucapíão Extraordinária, esta pode ser de bem imóvel,

segundo o disposto no artigo 1.238 do CC; e, segundo o artigo 1.260 do mesmo diploma

legal, de bem móvel.

8No que diz respeito à exaustão, esta é definida como um fenômeno de controle patrimonial, que caracteriza a perda de valor das imobilizações suscetíveis de exploração e que se esgotam em um determinado período temporal. Pode-se citar, neste aspecto, o chamado extrativismo mineral e vegetal, que são uma fonte finita de recursos. Em suma, a exaustão então, corresponde à perda de valor decorrente da exploração de recursos minerais, naturais ou florestais ou de bens aplicados nessa exploração. GUIA DA CARREIRA. Depreciação, Amortização e Exaustão na Administração de Empresas. Disponível em: <http://www.guiadacarreira.com.br/artigos/gestao-e-administracao/depreciacao-amortizacao-exaustao-administracao-de-empresas/> . Acesso em 15 dez. 2012.

5

Mas, quais são as suas principais características?

Necessita-se a posse mansa e pacífica; contudo, não se exige boa-fé e justo título. O

prazo de posse deve ser contínuo de quinze anos para bem imóvel; e de cinco anos para

o caso de bem móvel.

A usucapião pode ser dividida em:

a)usucapião extraordinária habitacional, prevista no artigo 1.238, parágrafo único do

CC. Não se exige boa-fé e justo título, mas se exige a posse mansa e pacífica do imóvel

urbano para fins de moradia. O prazo de posse contínua é de dez anos e não existe

qualquer tipo de especificação acerca de limite de área.

b)usucapião extraordinária pro labore, prevista no parágrafo único do artigo 1.238 do

CC, tendo, como requisitos primordiais, ser um imóvel rural para fins de exploração

econômica extrativista, pecuarista ou agrícola. Não se exige o Princípio da Boa-Fé ou o

justo título. Não se exige especificação acerca do limite de área e o prazo da posse

contínua é de dez anos.

Existe, destarte, a cognominada usucapião constitucional, que se divide em usucapião

constitucional habitacional e o de pro labore.

No primeiro caso, o da usucapião constitucional habitacional, este está previsto no

artigo 183 da Constituição Federal de 1988 e no artigo 1.240 do CC. Os principais

requisitos são: inexistência de boa-fé ou justo título; o imóvel urbano não pode

ultrapassar os 250 metros quadrados; o possuidor não pode ser titular de outro imóvel

que seja rural ou urbano e o prazo de cinco anos de posse contínua deve ser mantido.

Esta usucapião é chamada de pro misero ou promorare.

Diferentemente, no segundo caso, o da usucapião constitucional pro labore, esta tem

respaldo no artigo 191 da Constituição Federal e no artigo 1.239 do CC. Dentre suas

características principais, tem-se: não se exige boa-fé ou justo título. O imóvel rural não

pode ultrapssar 50 hectares quadrados; o possuidor não pode ser possuidor ou

proprietário de outro bem imóvel rural ou urbano e o prazo contínuo de posse é de cinco

anos.

E, se for factível, pode-se desmembrar sua área em unidades menores, as chamadas sub-

unidades? Sim, é possível. E, nesse caso, há que se observar o disposto no enunciado

6

313 da IV Jornada do CJF que entende que, tanto na usucapião constitucional urbana,

quanto na rural não é possível o desmembramento da área total que pode atingir até 50

hectares quadrados. A melhor orientação judicial informa que, cabe ao magistrado,

aferir a possibilidade ou factibilidade do desmembramento da área, junto ao setor do

Cartório de Registro de Imóveis, para que seja realizada a usucapião, dando, assim,

cumprimento à função social da propriedade, conforme mencionado nos artigos 170,

inciso III e artigo 5º, incisos XXII e XXIII, todos da CF/1988.

Acerca desses artigos, cabe a seguinte interpretação:

a)Constituição Federal, artigo 170, inciso III. No que diz respeito a este conceito, ou

seja, a função social da propriedade conecta-se ao direito privado de propriedade,

seguindo-se à dogmática tradicional da Constituição Federal, dentro das modernas

relações jurídicas, políticas, sociais e econômica, com limitações de uso e gozo. Nesse

diapasão, deve ser reconhecida a propriedade como estando sujeita à disciplina e

exigência da sua função social. É o transporte do monossistema estatal para o chamado

polissistema.Esta é a visão de Alexandre de Moraes9.

b)Constituição Federal artigo 5º, inciso XXII. Segundo Alexandre Moraes10, garante-se

o direito de propriedade. “Toda pessoa, física ou jurídica, tem direito à propriedadee,

podendo o ordenamento jurídico estabelecer suas modalidades de aquisição, perda, uso

e limites. O direito de propriedade, constitucionalmente consagrado, garante que dela

ninguém poderá ser privado arbitrariamente, pois somente a utilidade ou necessidade

pública ou o interesse social permitirão a desapropriação”.

O direito de propriedade, apesar de parecer ser, não é incondicional e absoluto; muito

pelo contrário: é condicional e relativo, especialmente em se tratando do Brasil atual em

que os políticos visam sempre fazer cortesia com o chapéu alheio numa estrutura falida

de Estado, corrompida em suas entranhas, sempre visando ludibriar a população e os

menos esclarecidos, normalmente desapropriando imóveis para que estes atinjam o fim

social da propriedade. Trata-se de um comunismo-capitalismo diretorial de extrema

esquerda com requintes perversos da extrema direita.

9MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.264-266. 10MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.264-266.

7

Um outro tipo da usucapião é aquela disposta na Lei 6.969 de 1981, a usucapião por

interesse social. Neste caso, não se exige a aplicação do Princípio da Boa-Fé ou de se ter

o justo título. O imóvel rural, neste caso, não pode ultrapassar a área de 25 hectares

quadrados; o possuidor (não é o mero detentor – frise-se) e os demais membros de sua

família como um todo não podem ser titulares de outro imóvel, rural ou urbano.

Considera-se, para este caso, o prazo contínuo de cinco anos. É importante que se

perceba, desde logo, que se trata de uma usucapião pro labore. Mas, mesmo com a

instituição da usucapião constitucional pro labore, destaca-se que ela não foi revogada

porque se admite a usucapião de terras devolutas ou as chamadas terras-sem-

proprietário. A concessão dessa usucapião constitucional pro labore pode ser por meio

de duas vias: judicial ou administrativa. Entretanto, não é cabível a usucapião de terras,

cujas áreas estão em locais de segurança nacional ou áreas indígenas ou ainda em áreas

de proteção ambiental para que se protejam os direitos difusos e coletivos de terceira e

quarta gerações e que se possa preservar o planeta para as gerações futuras11, conforme

reza o artigo 225 da Constituição Federal.

Por fim, a usucapião urbana protegida pela Lei 10.257 de 2001, é aquela conectada ao

Estatuto da Cidade. É a usucapião para pessoas de baixa renda. Não se exige a aplicação

do Princípio da Boa-Fé ou o justo título; deve ocorrer de forma coletiva ou plúrima

(composse), em que não seja factível mensurar, com precisão estatística, o quinhão ou a

área de cada qual. Destaca-se que a área deve ser maior do que 250 metros quadrados e

o possuidor não pode – é claro – não deve ser titular de outro imóvel rural ou urbano. O

prazo é de cinco anos com posse direta, contínua, sob pena de prescrição.

Os interessados devem verificar, acerca da função social da propriedade, o artigo 182,

parágrafo 2º da CF de 1988 (propriedade urbana) e o artigo 186 da CF de 1988

(propriedade rural).

4.As idéias de Daniel Amorim Assumpção Neves

Daniel Amorim Assumpção Neves assevera que a usucapião é uma forma originária de

aquisição de propriedade pela posse continuada, durante certo intervalo de tempo,

11PLANTULLO, Vicente Lentini. Noções acerca do Direito Ambiental: um pequeno estudo do artigo 225 da Constituição Federal da República Federativa do Brasil. Disponível em: <http://www.calvo.pro.br/media/file/colaboradores/vicente_lentini_plantullo/vicente_lentini_plantullo_nocoes_acerca.pdf>. Acesso em 07 dez. 2012.

8

observados o preeenchimento de determinados requisitos legais: a posse ad

usucapionem, o tempo e a coisa legal, hábil.

Evidentemente que, não são todos os bens que podem ser usucapidos: bens de uso

comum do povo, de uso especial, dominiais e as terras devolutas, muito embora haja

movimento no sentido dessas terras serem também usucapidas. É o movimento dos

sem-terra, braço armado do Partido dos Trabalhadores, um dos grandes artífices desse

movimento em total confronto com os dizeres da República insculpidos na Constituição

Federal.

Os artigos de 941 a 945 do CPC agasalham a parte normativa Da Ação de Usucapião de

Terras Particulares. No novo CPC, não há mais a colocação da Ação de Usucapião

como sendo de cunho especial ou seguindo rito especial.

Assevera o autor que a posse ad usucapionem, deve ter os requisitos da continuidade ao

longo do tempo; da incontestabilidade, o que pressupõe uma posse mansa e específica,

sem turbação por quem quer que seja; e o animus domini que não se deve confundir

com o princípio da boa-fé. No primeiro caso, o possuidor pode até saber que o

proprietário seja outro, mas age como se aquela fosse, efetivamente, a sua propriedade.

No segundo, diferentemente, o terceiro possuidor de boa fé ignora que o proprietário da

terra em que seja possuidor direto e que o detentor seja outro.

Acerca do lapso temporal, a tabela abaixo esclarece:

Tabela 1: Quadro Sinótico do Usucapião

Tipos de usucapião Prazo Título Boa-fé

Ordinária 5 anos Justo Sim

Extraordinária 15 anos Não justo Não

Especial rural (até 25

hectares quadrados)

5 anos Não justo Não

Especial urbana

(a partir de 250 m2)

5 anos Não justo Não

9

O último quesito é a coisa hábil, ou seja, a coisa a ser usucapida deve ser objeto de

aquisição. Não pode ser objeto virtual – frise-se.

5.Legitimação da ação de usucapião

Na ação da usucapião, há que se excluir o mero detentor, podendo nela adentrar o

proprietário, possuidor direto e/ou indireto.

Trata-se de uma sentença declaratória. Consequentemente, é factível alegar a usucapião

em matéria de defesa petitória, caso seja necessário.

Na legitimidade do pólo ativo é necessário, segundo parte da doutrina, a adoção do

litisconsórcio necessário, sobretudo, em se tratando de cônjuges. Mas, outra parte desta

mesma doutrina, admite o litisconsório facultativo porque há que se proporcionar

celeridade no que diz respeito aos outros atos processuais. No caso dos cônjuges, em

ocorrendo a autorização de um em face do outro, realiza-se o litisconsórcio. Em caso de

oposição, o magistrado pode dirimir esta questão suprindo a assinatura de qualquer um

deles.

Diferentemente, a maioria esmagadora da doutrina admite, em se tratando de

legitimidade passiva, que se exige o litisconsórcio necessário. O pólo passivo é curioso:

os réus podem ser certos ou incertos; se certos e conhecidos e determinados, com todos

os confinantes identificados, é indispensável a presença de seus cônjuges (artigo 10 do

CPC) e todos devem ser citados pessoalmente ou por hora certa. Entretanto, se incertos

os réus, devem ser citados por edital, conforme aduz a lei.

Todos esses quesitos burocráticos são necessários porque se trata de um direito real de

efeito global, contra todos, erga omnes.

Destaca-se a importância da participação do Ministério Público ab initio, sob pena de

nulidade absoluta. Hoje em dia, o STJ tem entendido tratar-se de uma nulidade relativa,

ou seja, a própria entidade longa manus pode entrar no processo na 2ª Instância,

alegando o ocorrido e proporcionando seguimento à demanda pertinente.

Uma observação se faz necessária: As Fazendas Públicas Federal, Estadual e Municipal

deverão ser intimadas para que manifestem seu interesse na causa, sendo o seu silêncio

interpretado como negativa de resposta, muito embora isto não afete a problemática da

ação.

10

6.Competência

Normalmente, a competência para julgar esta ação é o foro do local em que situa o

imóvel. Caso o imóvel se localize em mais de uma comarca, qualquer uma delas é

competente para acolher a respectiva ação.

Normalmente, quem irá declarar a procedência ou improcedência da ação declaratória é

a Justiça Estadual. Entretanto, caso seja do interesse da Justiça Federal fazer parte da

ação, esta competência se altera para a Justiça Federal. O mesmo ocorre se estiver em

litígio da usucapião terras da Marinha, terras indígenas, devolutas ou de outras

entidades de Personalidade Jurídica Pública Interna ou Externa.

Há também que se falar em competência por delegação, conforme dispõe o artigo 109,

parágrafos 3º e 4º da Constituição Federal de 1988. Geralmente se aplica tal forma de

competência quando se tratar de ações constitucionais.

7.Petição inicial

A inicial deve conter todos os quesitos do 282 do CPC, além de uma planta minuciosa

com o chamado memorial descritiva do referido imóvel; a certidão positiva ou negativa

do Registro de Imóveis (Tabelião); e certidões negativas da existência de ação

possessória que o bem tenha sofrido, com pena expressa do artigo 923 do CPC: “Na

pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu, intentar ação

de reconhecimento do domínio”.

8.Citações e intimações

Quando certos os réus (litisconsórcio passivo necessário), estes devem ser,

pessoalmente, citados, por correio ou oficial de justiça, sendo cabível, nesse caso, a

citação por hora certa, desde que, presentes os requisitos. Em sendo os réus incertos, a

citação deverá ser realizada por meio de edital, não havendo a indicação de advogado

dativo no caso de nenhum interessado surgir nos autos.

E, como fica a intimação nas ações da usucapião?

Nesse caso específico, vale o disposto no artigo 943 do atual CPC, que reza:

11

“Serão intimados por via postal, para que manifestem interesse na causa, os

representantes da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos

Territórios e dos Municípios”.

Depreende-se disto que o ato pelo qual se dá ciência a alguém dos atos e termos do

processo, para que faça ou deixe de fazer alguma coisa, previsto no artigo 234 do CPC e

prerrogativa das Pessoas Jurídicas de Direito Público. Destaca-se, neste ponto, que as

entidades públicas são meras interessadas na usucapião, não sendo partes, em sua

essência.

9.Sentença e Transcrição no Registro de Imóveis

A sentença (artigo 162 do CPC) é meramente declaratória, visto ser o bem pertencente

ao Direito Real, Direito das Coisas. Seu efeito é erga omnes. Interessante observar que é

factível ter o autor sua ação usucapienda ser reconhecida após um longo tempo em que

este exerça a posse mansa e pacífica (posse ad usucapionem), por um certo interregno

de tempo em face de uma coisa, um objeto hábil, real.

10.Usucapião como matéria de defesa

Pode-se utilizar a usucapião como matéria de defesa no que se chama exceção de

usucapião. É importante notar que, em isto ocorrendo, por meio de uma simples petição,

o réu pode invocar sua defesa. Claro que esta exceção gera, consequentemente, sentença

de improcedência, mas o reconhecimento de que a propriedade do bem é do réu, causa

efeitos somente nesta ação (entre partes), visto que é incapaz de alargar o objeto da ação

principal que fixará os limites objetivos da coisa julgada.

11.Ação de usucapião

A formação de um título dominial garante o sucesso de uma efetiva ação de usucapião.

Em realidade, a ação usucapienda deve ter três requisitos: a posse (ad usucapionem), o

tempo e a coisa hábil, geralmente um bem da vida de cunho tangível. Pode ser realizada

a usucapião de bens móveis, mas foge ao escopo deste pequeno trabalho.

12.A usucapião e os direitos reais

12

A usucapião afeta diretamente o mundo das coisas reais, tangíveis; os direitos chamados

reais. Pode, também, ser utilizada para servidão predial ou trânsito, desdobrando-se para

superfície, usufruto, dentre outros institutos concernentes. Reza o artigo 941 do CPC:

“Compete ação de usucapião ao possuidor para que se declare, nos termos da lei, o

domínio do imóvel ou a servidão predial”.

Aplica-se a usucapião à servidão de passagem ou de trânsito, conforme reza a Súmula

415 do STF. Interessante que, a priori, não se admite a usucapião de bens públicos,

terrenos da Marinha, indígenas, bens de uso comum do povo e outros. Mas, é factível

reconhecer a usucapião do domínio útil de bem público sobre o qual tenha sido,

anteriormente, instituída enfiteuse, pois, neste caso em especial, existe apenas a

substituição do enfiteuta pelo usucapiente, não trazendo qualquer tipo de prejuízo ao

Estado. Isto está no REsp 575.572/RS do STJ.

13.A usucapião como forma de aquisição da propriedade

A usucapião é fonte chamada originária do direito de propriedade porque passa a ser

dono de determinado domínio aquele que, efetivamente, exerceu a posse de um dado

bem, posse esta mansa e pacífica. Em verdade, há uma substancial transformação no

regime de domínio sobre a coisa; de uma posse direta para a efetiva propriedade do

bem, coisa hábil. Salienta-se a forte correlação entre os artigos de 941 a 945 do CPC

com os de números 1.238 e seguintes do CC.

Destaca-se, destarte, que a maioria da doutrina entende ser declaratória a sentença de

usucapião; mas, há uma corrente significativa que entende a mesma ser de natureza

constitutiva.

14.Ação e Exceção de usucapião

Como bem dispõe a Súmula 237 do STF “a usucapião pode ser arguida em defesa”.

Trata-se da exceção de usucapião realizada, via petição, como mecanismo de defesa em

disputa possessória. Inaplicável a letra do artigo 923 do CPC, visto que a exceção da

usucapião serve para demonstrar a existência de uma pretensão publiciana, logo, que o

possuidor ad usucapionem detenha a chamada posse qualificada.

15.Condições da Ação de Usucapião

13

Excluem-se, em tese, da referida ação, os bens públicos, terras devolutas, indígenas,

bens de utilização comum do povo, visto estarem protegidos pelos artigos 183,

parágrafo 3º e 191, parágrafo único do CF de 1988, além do artigo 102 do CC. Firmou-

se esse entendimento por meio da Súmula 340 do STF. A legitimidade para entrar com

a ação usucapienda é do possuidor, jamais do detentor.

Interessante observar que o pedido contraposto de usucapião é previsto para as hipóteses

de usucapião especial simples (urbano ou rural) e coletivo (urbano).

Destaca-se, no caso de exceção de usucapião, que a usucapião especial de imóvel

urbano poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a

reconhecer como título para registro no cartório competente.

16.Especiais situações de legitimatio ad causam: espólio, condômino, copossuidor,

pessoas jurídicas (associação e entidade coletiva).

Tem-se o seguinte:

a)no caso de espólio, permite-se que este seja representado por seus herdeiros. Mas, se

isto não for feito nessa fase, posteriormente, os herdeiros deverão entrar em conjunto

em termos de composse.

b)no caso do condômino, é factível a entrada deste, desde que comprove a posse

exclusiva da área coletiva. Isto não vale para as áreas comuns.

c)no caso de mais de um possuidor ou da composse, o fundamento deverá ser um

pedido coletivo e, obter isto, não é nada palatável.

d)no caso específico de pessoas jurídicas, isto se estende às associações e entidades

coletivas que podem entrar com um pedido de usucapião coletivo. É uma previsão

existente no artigo 12 da Lei 10.257 de 2001.

17.Procedimento da usucapião de bem imóvel

17.1.A Exordial

A Petição Inicial segue os ditames concernentes ao disposto no artigo 282 do CPC,

demonstrando-se a posse alegada por meio de plantas arquitetônicas, memoriais

descritivos, comprovantes de pagamento de tributos federais, estaduais e/ou municipais.

14

Frise-se que a exordial deverá elucidar a posse originária que, via de regra, é a causa

petendi remota. É importante, também que o pedido elucide os limites, dimensões e

marcos de confrontação do imóvel e, segundo jurisprudência atualizada, o pedido

poderá ser formulado pela via ordinária ou comum, sumário, se limitado a 60 salários-

mínimos ou ainda sumaríssimo, caso seja limitado a 40 salários-mínimos.

17.2.Integração do cônjuge

Previsto no artigo 10 do CPC. Em verdade, os dois, antigamente, deveiam concordar.

Hoje, em um concordando, o outro poderá solicitar ao magistrado que este supra a

assinatura do cônjuge discordante, via judicial.

17.3.Formação do contraditório

O ato citatório na usucapião é complexo. Faz-se necessário um litisconsórcio passivo

necessário de todos os implicados naquela situação. No entanto, a decisão judicial é

diversa para cada um dos envolvidos. Todos devem ser pessoalmente citados, sob pena

de absoluta nulidade.

18.Citação do Propretário e do Possuidor

Conforme aduzem o artigo 942 e a Súmula 263 do STF, o possuidor deve ser

pessoalmente citado para a ação de usucapião. O artigo 942 é igualmente claro:

“O autor, expondo na petição inicial o fundamento do pedido e juntando planta do

imóvel, requererá a citação daquele em cujo nome estiver registrado o imóvel

usucapiendo, bem como dos confinantes e, por edital, dos réus em lugar incerto e dos

eventuais interessados, observado quanto ao prazo o disposto no inciso IV do artigo

232”.

(..) “São requisitos da citação por edital:

IV - a determinação, pelo juiz, do prazo, que variará entre 20 (vinte) e 60 (sesenta)

dias, correndo da data da primeiraq publicação”.

Lembrar que o aplicado ao proprietário é o mesmo a ser aplicado ao possuidor, jamais

ao detentor.

18.1 Citação e intimação da Fazenda Pública

15

No caso da Fazenda Pública, prevalece o disposto no artigo 943 do CPC, ou seja, exige-

se a intimação mas, se apenas citada, tal ato equivale ao da notificação e intimação

juntas. Caso essas entidades se manifestem, transfere-se o litígio da área estadual para a

federal como um todo. Isto ocorre por causa do artigo 109 da Constituição Federal de

1988. Há respaldo, destarte, na súmula 150 do STJ.

Mas, em se tratando de usucapião especial, de acordo com a Súmula 11 do STJ, não há

deslocamento de competências. Diz a referida Súmula:

“A presença da União ou de qualquer de seus entes, na ação de usucapião especial,

não afasta a competência do foro da situação do imóvel”.

No que tange à citação de terceiros e confinantes, aplica-se a súmula 391 do STF: “O

confinante certo deve ser citado, pessoalmente, para a ação de usocapião”.

18.2 Julgamento antecipado da lide

Trata-se de uma situação rara o julgamento antecipado da lide (JAL) do artigo 330 do

CPC, pois a matéria em discuissão é, essencialmente, fática, o que enseja a

obrigatoriedade da prova pericial e testemunhal. Também não se admete o JAL diante

da revelia, pois a formação de nova matrícula envolve matéria de ordem pública.

A intervenção do MP na usucapião é obrigatória porque ele é o longa manus e o custos

legis do Poder Judiciário. Em caso de bens móveis, a participação do MP é dispensável.

18.3 A sentença na ação de usucapião

Reveste-se tal sentença (162 do CPC) de natureza declaratória, mas há doutrinadores

que se lhe admitem a natureza constitutiva. Finalmente, destaca-se que a usucapião,

como ação, é necessária em termos de procedimento especial porque lida com fatos da

ordem pública ou do ordenamento jurídico público ao mesmo tempo que lida com fatos

associados a particulares.

19.Acerca dos artigos 941 a 945 do CPC

19.1 Artigo 941

Este artigo destaca o conceito de usucapião como adquiridor do domínio do imóvel ou

da servidão predial.

16

19.2 Artigo 942

Trata-se do artigo que instrui a inicial, mencionando a necessidade de citação do

proprietário do imóvel e dos proprietários dos imóveis confinantes, alguns com citação

pessoal, convencional; outros, com citação por edital.

19.3 Artigo 943

Resalta este artigo que as entidades estatais, em qualquer nível que estejam, deverão ser

devidamente intimadas.

19.4 Artigo 944

Explicita a intervenção obrigatória do Ministério Público em todos os casos que

envolver bem imóvel; já, nos bens móveis, a intervenção é indispensável.

19.5 Artigo 945

Menciona este artigo da necessidade de se transcrever, de imediato, a procedente

sentença no Tabelião do Cartório de Registro de Imóveis, para fins de arrecadação,

sempre a mola mestra dos governos.

20. Acerca dos artigos 1.238 a 1.244 do Código Civil

20.1. Artigo 1.238

Menciona a pessoa que, durante quinze anos, caso possua um dado imóvel, passa a ser

seu proprietário, tenha ou não título justo ou boa-fé e isto deve ser declarado por

sentença para ser devidamente registrada. Noutra parte, enfatiza tal artigo, que o prazo

se reduz para dez anos se o possuidor fizer do imóveol sua moradia habitual ou tiver

nele feito obras concernentes.

20.2 Artigo 1.239

Menciona este artigo que a pessoa que não for proprietária de qualquer tipo de imóvel,

urbano ou rural e, caso possua por cinco anos uma área rural menor ou igual a cinquenta

hectares, tornando-a produtiva, é legítimo proprietário.

20.3 Artigo 1.240

17

Diz o artigo que a pessoa que não possuir qualquer outro imóvel, urbano ou rural, e que,

dentro do perímetro urbano, caso ocupe um imóvel de até 250 m2 por cinco anos,

utilizando-o para moradia ou equivalente, é o legítimo proprietário do imóvel. O artigo

continua dizendo que o título dominial será concedido ao homem ou à mulher,

indiferentemente, independentemente do estado civil e, tudo isto, só será feito uma

única vez.

20.4 Artigo 1.241

O artigo 1.241 apenas ratifica o existente entre os artigos 941 a 945 do CPC, ou seja,

deve haver uma sentença declaratória para que seja consagrada a transferência do

imóvel e essa declaração em forma sentencial pode – e deve – ser utilizada no Tabelião

de Registro de Imóveis.

20.5 Artigo 1.242

Este artigo diz que, quem, durante dez anos, tiver justo título e boa-fé, passa a ser

proprietário do bem imóvel. Por outro lado, cai pela metade este tempo, se o sujeito

comprou e isto for registrado em cartório – tal imóvel, ainda que tal registro tenha sido

cancelado e se as pessoas fizerem ou tiverem feito no imóvel sua moradia com ou sem

melhoramentos de interesse social e econômico.

20.6 Artigo 1.243

O possuidor pode somar ao tempo total, o tempo de seus antecessores de acordo com o

disposto nos artigos 1.207 e 1.242 do CPC. O do 1.242 aduz o justo título e a boa-fé. No

1.207, tem-se, in verbis:

“O sucessor universal continua de direito a posse do seu antecessor; e ao sucessor

singular é facultado unir sua posse à do antecessor para os efeitos legais”.

20.7 Artigo 1.244

Este artigo menciona que, tudo o que diz respeito ao devedor, à prescrição convencional

e demais casos se aplica ao usucapião.

21.Comentários Acerca de Alguns Artigos de Interesse

18

21.1.Artigo 9º da Lei de número 10.257/2001:

Este artigo especifica a área de até 250 m2 e o tempo de posse mansa e pacífica de 5

anos ou mais anos de determinado imóvel que o autor utilize com sua família para ser

sua moradia e, desde que este autor não possua outro imóvel rural ou urbano; em assim

sendo, este passa a ser o legítimo proprietário do imóvel.

Especfica, também, este artigo em seu parágrafo 1º que, tanto pode ser entregue ao

homem, quanto à mulher, ou a ambos, o título de domínio. Este título, em sendo

registrado, trará ou dará a transferência de domínio de um A para um B, por exemplo.

No parágrafo 2º entende-se o título dominial é único; jamais poderá ser concedida uma

segunda vez sobre a propriedade.

No parágrafo 3º estuda-se o problema do falecimento, vez que o herdeiro legítimo

continua, de pleno direito, a posse de seu antecessor, caso resida no imóvel por ocasião

da abertura desta.

21.2.Artigo 10 da Lei em comento:

Este artigo especifica uma área de mais de 250 m2 ocupada por população de baixa

renda por 5 ou mais anos; área essa ocupada por inúmeras famílias em locais não

identificados, desde que os possuidores não tenham outro imóvel rural ou urbano.

Reza o parágrafo 1º que o possuidor pode somar a sua posse a de seu antecessor, desde

que ambas sejam contínuas.

No parágrafo 2º, comenta-se acerca da usucapião especial coletiva de imóvel urbano

que deve ser declarada (sentença declaratória) pelo juiz para que tenha força de lei.

No parágrafo 3º, o magistrado deve atribuir a cada possuidor a fração chamada ideal do

terreno, a não ser que haja algo disposto em contrário.

No 4º, fala-se em Condomínio (domínio comum) Especial que é, naturalmente

indivisível, não sendo possível sua extinção, salvo se definida esta extinção por 2/3 dos

condôminos.

Finalmente, no parágrafo 5º, todas as deliberações devem ser tomadas pela maioria de

votos dos condôminos presentes.

19

21.3.Acerca do artigo 11 da Lei em comento:

O artigo 11 é umbilicalmente ligado ao artigo 923 do CPC, ou seja, em existindo

pendência na usucapião especial urbana, todas as demais ações ficam sobrestadas

relativamente ao imóvel em tela.

21.4.Acerca do artigo 12 da Lei em comento:

Menciona este artigo acerca dos legitimados para propor ação de usucapião especial

urbana: possuidor isolado ou em litisconsórcio; a associação dos moradores da

comunidade legal; dentre outros. Há obrigatoriedade de intervenção do Ministério

Público. Há gratuidade da justiça em geral.

21.5.Acerca do artigo 13 da Lei em comento:

Pode-se arguir usucapião especial de imóvel como matéria de defesa e a sentença aí

exarada terá força legal para registro no cartório de imóveis.

21.6.Acerca do artigo 14 da Lei em comento:

Na ação judicial de usucapião especial de imóvel urbano, o rito a ser observado é o

sumário. Assim sendo, de uma forma didática pode-se afirmar o seguinte acerca desse

problema:

a)antes do Código de 1916: nesse tempo, predominavam as Ordenações Filipinas e só se

admitia a usucapião de pessoas que tivessem justo título e boa-fé, aliado a um tempo

longo, provavelmente, 30 anos ou mais. Não tinham chance os que não possuíssem o

justo título e, principalmente, se não tivessem boa-fé.

b)no Código Civil de 1916, exsurgem as figuras do usucapião ordináro e extraordinário.

O extraordinário tinha as seguintes características: poderia o possuidor ter boa ou má-fé

e poderia ter ou não justo título e o prazo de posse mansa, pacífica, ininterrupto era de

30 anos que, a posteriori, acabou passando para 20 anos.

Nesse mesmo Código, se houvesse justo título e o possuidor fosse de boa-fé, o prazo da

usucapião ordinária ou comum era de 10 anos, ininterruptamente considerado e, de 20

anos, entre ausentes.

c)no Código Civil atual, mantiveram-se os parâmetros já definidos no de 1916. Só que:

20

c1)se o possuidor fosse de boa ou má-fé, com ou sem justo título o prazo passaria a ser

de 15 anos de posse e, de 10 anos, se a propriedade tivesse caráter produtivo, tudo isto

de acordo com o artigo 1.238 do Novo Código Civil.

c2)se o possuidor fosse de boa-fé e possuir justo título, esse prazo cai para 10 anos e, se

tiver mantido um processo produtivo ou lá habitar com sua família, esse prazo cai para 5

anos.

Em suma, reduziu-se o tempo de permanência na posse e se aceita ser o possuidor de

boa ou má-fé com ou sem justo título. Objetiva-se a função social da propriedade, mas

que isto não seja uma desculpa demagógica para acobertar o tecido corrupto que se tem

na sociedade brasileira.

22.Jurisprudências

22.1.Informativo nº 0476

Período: 6 a 10 de junho de 2011.

Terceira Turma

USUCAPIÃO. IMÓVEL URBANO.

In casu, a recorrente e seu cônjuge ajuizaram ação de usucapião em desfavor da

recorrida, visando ao imóvel urbano com área de 441,54 m². O pedido foi julgado

procedente em primeira instância, sendo, contudo, em grau de apelação, anulado de

ofício o processo desde a citação ao fundamento de que não havia prova da propriedade

dos imóveis confrontantes, ou seja, a juntada de certidão do registro imobiliário em

nome deles. Nesta instância especial, assentou-se que a juntada das certidões relativas

aos imóveis confinantes é salutar, porém não pode ser exigida como requisito para o

processamento da causa. Note-se que a ausência de transcrição do próprio imóvel não

pode ser empecilho à declaração de usucapião, uma vez que tal instituto visa exatamente

ao reconhecimento do domínio em prol de quem possui o imóvel, prevalecendo a posse

ad usucapionem sobre o próprio domínio de quem não o exerça. Dessa forma, a

usucapião, forma de aquisição originária da propriedade, caracteriza-se pelo exercício

inconteste e ininterrupto da posse e prevalece sobre o registro da propriedade, não

obstante os atributos de obrigatoriedade e perpetuidade do registro dominial. Assim, não

se ampara a anulação do processo de usucapião por conta da ausência de certidão de

21

propriedade dos imóveis confrontantes, até porque, quando a lei não impõe determinada

exigência, não pode o intérprete determinar tal imposição. Ademais, consoante os autos,

todos os confinantes foram citados pessoalmente, sendo certo que nenhum deles

apresentou contestação ou oposição ao pedido dos recorrentes, não havendo qualquer

suspeita de que a convocação dos confrontantes não tenha ocorrido corretamente, além

de ficar demonstrado que os recorrentes mantêm a posse ininterrupta e pacífica há mais

de 30 anos, tendo, inclusive, realizado benfeitorias expressivas no terreno em questão.

Com essas considerações, entre outras, a Turma deu provimento ao recurso para anular

o acórdão recorrido e determinar novo julgamento. REsp 952.125-MG, Rel. Min. Sidnei

Beneti, julgado em 7/6/2011.

22.2.Informativo nº 0443

Período: 16 a 20 de agosto de 2010.

Quarta Turma

USUCAPIÃO. HERDEIRO. POSSE EXCLUSIVA.

A Turma deu provimento ao recurso especial para, dentre outras questões, reconhecer a

legitimidade dos recorrentes para a propositura, em nome próprio, de ação de usucapião

relativamente a imóvel de cujo adquirente um dos autores é herdeiro. Consoante

acentuado pelo Min. Relator, a jurisprudência entende pela possibilidade de o

condômino usucapir bem sobre o qual exerça a posse exclusiva, desde que haja efetivo

animus domini e estejam preenchidos os requisitos impostos pela lei, sem oposição dos

demais herdeiros. Precedente citado: AgRg no Ag 731.971-MS, DJe 20/10/2008. REsp

668.131-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 19/8/2010.

22.3.Informativo nº 0496

Período: 23 de abril a 4 de maio de 2012.

Quarta Turma

USUCAPIÃO. PROMITENTE COMPRADOR. IMÓVEL HIPOTECADO.

Em preliminar, não há óbice ao conhecimento do recurso especial quando o artigo

indicado como violado é do Código Civil de 2002, mas a controvérsia se restringe a

artigo do Código Civil de 1916, desde que aquele reproduza, em essência, a antiga

22

legislação. No mérito, julgou-se procedente o REsp para declarar a prescrição aquisitiva

– usucapião – de imóvel em favor do promitente comprador, mesmo havendo penhora e

hipoteca constituída sobre o empreendimento em benefício do agente financeiro, por

empréstimo contraído pelo promitente vendedor. No entendimento da Turma, o

ajuizamento de execução hipotecária pelo recorrido contra o recorrente, por não

interromper o prazo prescricional da usucapião, não constitui resistência à posse ad

usucapionem de quem pleiteia a prescrição aquisitiva, não se podendo falar em falta de

justo título e boa-fé do usucapiente. Este terá a propriedade originária do imóvel de

forma livre e desembaraçada de quaisquer gravames. REsp 941.464-SC, Rel. Min. Luis

Felipe Salomão, julgado em 24/4/2012.

23.Estudo Inicial da Análise do Acórdão

Antes de se analisar o acórdão horizontal e verticalmente, alguns esclarecimentos se

fazem necessários:

23.1.Conceito de Recurso Extraordinário: Constituição Federal, artigo 102, inciso III,

alínea C, in verbis:

“Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da

constituição, cabendo-lhe:

(...)

III-julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última

instância, quando a decisão recorrida:

(...) c)julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição”.

De acordo com De Plácido e Silva12, o Recurso dito Extraordinário “é a denominação

que se atribui ao recurso interposto das decisões proferidas pelas justiças locais, em

única ou pultima instância, para o Supremo Tribunal Federal. A qualificação que o

individualiza é positiva. É extraordinário porque se mostra um recurso excepcional,

para os casos específicos, isto é, para os casos expressos em lei. Para sua interposição

não se admite analogia aos casos indicados. É necessário que seja o caso”.

12SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.684.

23

Interessante a assertiva proposta por Nery e Nery13 acerca do Recurso Extraordinário:

“Trata-se de forma excepcional de recurso, não configurando terceiro ou quarto grau

de jurisdição. Daí não poder ser invocada, em grau de RE, a ordem pública de que se

revestem algumas questões, para que possam ser apropriadas ex officio pela primeira

vez pelo STF. Verificada a procedência da alegação do recorente, de que o tribunal a

quo infringiu a CF, o STF cassará o acórdão recorrido e aplicará o direito à espécie,

podendo ingressar no mérito do caso concreto, apreciar as provas e dar o direito a

quem o tem (STF 456). O processo do RE é regulado pelo CPC 541 e ss.”

Nesse mesmo diapasão, Alexandre de Moraes14 enfatiza as idéias propostas por Rodolfo

de Camargo Mancuso em seu livro Recurso Extraordinário e Recurso Especial. 6ª.

edição. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. “O espectro de sua cognição – acerca

do Recurso Extraordinário – (mudar de posição) não é amplo, ilimitado, como nos

recursos comuns (v.g., a apelação), mas, ao invés, é restrito aos lindes da matéria

jurídica”, enfatizando que esse recurso não é o ideal para o reexame de matéria fática;

muito pelo contrário, presume-se ter esta sido dirimida ou solucionada pelas instâncias

inferiores, quando procederam à tarefa da aplicação do conceito de subsunção do fato à

norma de regência.

Como se pode notar, após a análise desses três autores, percebe-se que o Agravante,

Banco Bamerindus do Brasil S/A em liquidação extrajudicial argumentava que o tempo

de posse dos invasores de terras antes de 1988 não deveria ser computado para fins de

interposição de recurso, tendo este, na sua concepção, sendo posto tempestivamente,

antes do prazo aquisitivo de domínio da propriedade, isto é, no prazo de quatro anos

entre 1988 e 1992. Ocorre que o artigo 183 da Constituição Federal é claro:

“Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e cinquena metros

quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua

moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário

de outro imóveo urbano ou rural”. Ora, como os invasores estão desde 1985 no local,

passaram-se sete anos, o que faz com que estes adquiram a propriedade em tela. Não

13NERY JÚNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Barreto Borriello de Andrade. Constituição Federal Comentada e Legislação Constitucional Atualizada até 10.04.2006. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. p.279.

14MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.1.397.

24

tem razão em Agravar da Decisão o Banco porque não suscita isto uma violação, uma

afronta à constituição. Mas, há controvérsias.

23.2.Conceito de Agravo Regimental15: O agravo regimental é uma espécia de recurso

previsto nos Regimentos Internos dos Tribunais. Em se tratando de questão concernente

ao direito material (1238 e ss do CC) e processual (91 e ss do CPC), no que tange à

usucapião, este estará previsto no Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal

(RISTF), assim como nos demais tribunais de inferiores instâncias.

O agravo regimental é uma criação pretoriana, ou seja, é uma espécia – dentre tantas

outras – criada pelos tribunais para que sejam dirimidas questões concernentes a um

despacho de ministro. O AR é levado a plenário para discussão, podendo ser ou não

aceito.

A título exemplificativo, reproduz-se decisão acerca de Agravo Regimental exarado

pelo Ministro Ricardo Lewandowski:

“Ementa: Agravo Regimental em Agravo de Instrumento. Impunação dos Fundamentos

da Decisão Agravada. Ausência. Súmula 287 do STF. Súmula 284 do STF. Incidente de

Uniformização de Jurisprudência. Recurso Extraordinário. Descabimento. Ausência de

Prequestionamento súmulas 282 e 356 do STF. Matéria Infraconstitucional. Ofensa

indireta à Constituição. Reexame de Provas. Súmula 279 do STF. Incidência. Recurso

inerposto com base no artigo 102, III, b e c da CF. impossibilidade. Agravo improvido.

I - As razões do recurso não afirmam os fundamentos da decisão agravada, o que atrai

a incidência da Súmula 287 do STF. II - O recorrente não atacou os fundamentos do

acórdão recorrido. Inviável, portanto, o presente recurso, a teor da Súmula 284 do

STF. Precedentes. III - Esta corte firmou entendimenbto no sentido de se considerar

extemporânea o RE interposto antes do julgamento do incidente de uniformização de

jurisprudência. IV - Ausência de prequestionamento das questões constitucionais

suscitadas. Incidência das Súmulas 282 e 256 do STF. V - Necessidade de análise da

legislação ordinária. Inadmissibilidade do RE, porquanto ofensa à constituição, se

ocorrente, seria indireta. Precedentes. VI - Para se chegar à conclusão contrária à

adotada pelo acórdão recorrido, necessário seria o reexame do conjunto fático-

probatório constante dos autos, o que atraia a incidência da Súmula 279 do STF. VII -

15SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. Disponível em: >http://www.stf.jus.br/portal/glossario9/ver verbete.asp?letra=A&id=133>. Acesso em 11 de dez. 2012.

25

O tribunal a quo não declarou inconstitucional lei federal ou tratado, tampouco julgou

válida lei ou ato de governo local contestado em face da constituição. Incabível a

interposição de recurso extraordinário com base nas alíneas b e c do artigo 102, III, da

Constituição. VIII - Agravo Regimental Improvido”.

Portanto, no caso em tela, não cabe o agravo regimental, tendo em vista que as

condições fático-probatórias são desfavoráveis à empresa agravante. Não se pode

questionar assunto anterior à Carta Magna de 88 em que se lida com a função social da

propriedade. Isto é bem claro.

A Senhora Ministra Cármen Lúcia acertadamente agiu ao sinalizar que seria incabível

reexaminar o conjunto probatório, especialmente em sede de Recurso Extraordinário.

Não se pode afrontar às Súmulas 279, 282, 284 e 356, todas do STF.

23.3.Conceito de Usucapião Urbana ou Usucapião Constitucional ou ainda especial

urbana. Segundo Flávio Tartuce16, a usucapião em tela pode ser cognominada de

usucapião pro misero, ou seja, aquela codificada, normatizada no artigo 183 da

Constituição Federal: “Aquele que possuir como sua área urbana de até duzentos e

cinquenta metros quadrados, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição,

utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que

não seja proprietário de outro imóveo urbano ou rural”. Aqui, o legislador preocupou-

se com os desfavorecidos, aquelas pessoas despojadas de todo e qualquer recurso que

ocupam determinada gleba de terra com sua família para lá residir e de lá extrair seu

sustento. Ocorre que, em nenhum momento, o artigo 183 menciona a problemática da

invasão de terras, movimentos de cunho violento que em permeando o Brasil – e

ganhando força – sobretudo, a partir dos anos 90. A questão é: será que, via Golpe de

Estado, este movimento apoiado em partidos políticos, poderia desmantelar os incisos

XXII, XXIII e XXX, todos do artigo 5º da Constituição Federal, ameaçando e

repugnando o direito de propriedade, a função social da propriedade e o próprio direito

de herança? A própria Ministra enfatiza a liberdade de invasão:

“Afora isso, o fato da posse ter sido obtida mediante INVASÃO não impede a

USUCAPIÃO, vez que a lei não delimita como requisito a existência de justo título,

16TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Método/GEM, 2012. p.878-879.

26

apenas que a posse não seja clandestina e permaneça, sem oposição, ao longo de cinco

anos (fls. 563-564)’.

Ipso facto, não se pode concordar com movimentos de invasão; certo é que terras

devolutas, terras governamentais mal administradas devem ser ocupadas, de forma

coletiva, por famílias de agricultores para incrementar a produção agrícola; não as terras

particulares produtivas sujeitas à invasão política.

Posto isto, afirma-se que o arcabouço normativo para este tipo de usucapião repousa no

artigo 183 da CF de 1988, no artigo 1.240 do Código Civil e no artigo 9º do Estatuto da

Cidade, Lei 10.257 de 2001.

Efetivamente, o Estatuto da Cidade observou a necessidade do mais desfavorecido em

termos de poder aquisitivo, ou seja, o pro misero. Este domínio pode ser conferido ao

homem ou à mulher, dada a aplicação do Princípio da Igualdade entre ambos; favorece

o herdeiro legítimo a continuar o respectivo domínio, desde que resida no imóvel por

ocasião da abertura da sucessão.

Há também que se considerar que, devido à celeridade existente na sociedade pós-

neural em que se vive, começa a ocorrer uma forte compressão temporal no que tange

ao domínio de imóvel abandonado por ex-companheiro ou ex-companheira ou ex-

marido ou ex-esposa, quer sejam homoafetivos ou heteroafetivos nas suas relações. O

prazo reduziu-se para apenas dois anos nos próprio dizeres do artigo 1.240-A do Código

Civil:

“Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem oposição, posse direta,

com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250 m2 (duzentos e cinquenta metros

quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjude ou ex-companheiro que

abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquiri-lhe-á o

domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”.

Em outras palavras, ocorreu um decréscimo no diferencial temporal, de cinco para dois

anos, tendo em vista a situação diferençada. Justo é, neste caso ao possuidor direto

adquirir a propriedade do bem dado o abandono do lar pelo outro, o que lhe acarretará

despesas fixas e variáveis, além de toda sorte de custos programáveis, não esperados.

Uma notificação anual de um em relação ao outro interrompe o prazo de aquisição da

propriedade.

27

Destaca-se, destarte, a problemática do Direito Intertemporal, ou seja17, “o prazo para

exercício desse novo direito deve ser contado por inteiro, a partir do início da vigência

da alteração legislativa”, visto que não se deve alterar as regras do jogo com este em

andamento.

Destaca Flávio Tartuce18 que há que se tomar cuidado com a análise do contexto e do

entorno do instituto do abandono de lar. Em suma, este tipo de usucapião constitucional

ou especial urbana tem as seguintes características19:

a)o imóvel deve ter, no máximo, uma área urbana de duzentos e cinquenta metros

quadrados;

b)o possuidor direto deve exercer, de forma mansa e pacífica, a posse por cinco anos de

forma ininterrupta, sem nenhum tipo de oposição, com o que se chama de animus

domini;

c)o imóvel deve ser utilizado para moradia da pessoa ou de sua família, nos termos do

artigo 6º, caput, da Lei 10.257, de 2001 (Estatuto da Cidade); e o artigo 6º, caput da

CF/88/; e

d)aquele que adquire o bem não pode ser propietário de outro imóvel, rural ou urbano,

não podendo a usucapião especial urbana ser deferida mais de uma vez.

23.4.Conceito da Súmula 279 do STF: Diz essa Súmula: “Para simples reexame de

prova não cabe recurso extraordinário”. Como se percebe, esta Súmula é taxativa, ou

seja, veda-se o rcurso extraordinário. A própria Ministra Cármen Lúcia foi clara ao

afirmar que seria inviável um novo reexame do conjunto fático-probatório. Além disto,

é incabível o reexame por circunstância que legitimaria sua interposição com base na

alínea C do inciso III do artigo 102 da CF/88.

23.5.Conceito da Súmula 282 do STF: Diz a Súmula: “è inadmissível o recurso

extraordinário quando não ventilada, na decisão recorrida, a questão federal

17TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Método/GEM, 2012. p.881.

18TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Método/GEM, 2012. p.882.

19TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único. 2ª edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Método/GEM, 2012. p.879.

28

suscitada”. Aí se tem um problema: o agravante ventilou a questão da não

aplicabilidade do tempo decorrido entre 1985 e 1988, ou seja, pelo período de três anos.

Pleiteou o agravante a contagem temporal a partir de 1988 e o STF a aceitou desde

1985, o que, em tese, contrariaria este dispositivo legal. Aparentemente, tem-se uma

inconstitucionalidade no caso do acórdão em tela.

23.6.Conceito da Súmula 284 do STF. Diz a Súmula: “É inadmissível o recurso

extraordinário quando a deficiência na sua fundamentação não permitir a exata

compreensão da controvérsia”. Novamente, no caso em tela, não parece que o

Agravante tenha explanado de maneira obscura, contraditória e ambígua, a problemática

temporal no que tange a usucapiao urbana motivada, inicialmente, pela invasão e,

depois, pela posse mansa, pacífica, sem resistência. De qualquer forma, é claro que

houve fundamentação; se não houvesse, o recurso não teria sabido e teria sido suscitada

a respectiva divergência.

23.7.Conceito do Artigo 557, caput, do CPC: Diz o artigo 557, caput, do CPC: “O

relator negará seguimento a recurso manifestamente inadmissível, improcedente,

prejudicado ou em confronto com súmula ou com jurisprudência dominante do

respectivo tribunal, do Supremo Tribunal Federal, ou de Tribunal Superior”. Neste

sentido, a Ministra Cármen Lúcia, relatora do recurso extraordinário do Agravante

contra a Agravada foi coerente porque, em se aplicando a a Súmula 279 do STF,

inadmite-se esse recurso extraordinário. O problema é que: será que este recurso, em se

apoiando nas Súmulas 282 e 284, ambas do STF seria considerado inadmissível?

Acredita-se que não, pois há ventilação da questão temporal a partir da CF de 1988 e

também há fundamentação. Logo, em se invocando o parágrafo 1º do artigo 557 do

mesmo CPC, haveria a possibilidade, a faculdade da relatora dar provimento a tal

recurso. A esse respeito, veja-se a Súmula 253 do STJ: “o art. 557 do CPC, que

autoriza o relator a a decidir o recurso, alcança o reexame necessário”.

Importante salientar, neste ponto, que Antônio Cláudio da Costa Machado 20entende

que a soma de prerrogativas conferida aos órgãos de instâncias superiores é excessivo,

como nunca dantes visto na história do processo civil brasileiro. Nesse sentido, os

relatores podem alegar diversos fatos que, nem sempre teriam substancialidade; tudo

20MACHADO, Antônio Cláudio da Costa. Código de Processo Civil Interpretado artigo por artigo, parágrafo por parágrafo. 8ª. Edição. Barueri, Tamboré: Manole, 2008. p.1026.

29

com o fulcro de proporcionar vazão à excessiva quantidade de processos oriundos da

própria crise burocrática do tipo weberiano pela qual passa o judiciário e demais

poderes, já há muito tempo.

Neste diapasão, seria factível à Ministra Cármem Lúcia indeferir liminarmente o

processamento desse recurso extraordinário:

-por manifesta inadmissiblidade, ou seja, porque a decisão que se ataca não é possível

de recurso?

-porque a decisão não gera nenhum agravame para a parte?

-porque o recurso foi interposto extemporaneamente?

-porque o recorrente não pagou as custas respectivas?

-porque a petição se encontra desprovida de pedido, fundamentação ou inteligibilidade?

-porque se encontra prejudicado tal recurso, ou seja, porque contecimentos posteriores

deixaram de trazer qualquer prejuízo processul à parte/

-por ser contrário o pedido formulado à súmula, jurisprudência ou doutrina dominante

no tribunal respectivo?

Estas questões permanecem abertas. No entender dessa análise, o recurso seria

admissível, visto que gerou prejuízo à parte. Este recurso extraodinário foi interposto no

prazo correto com as custas pagas, fundamentado, dentre outras considerações.

Na argumentação proposta por Daniel Amorim Assumpção Neves21, esse recurso

extraordinário foi interposto pela empresa ora Agravante da Decisão porque as vias

ordinárias já haviam sido esgotadas no caso concreto. Ressalta o autor a importância do

prequestionamento e, neste diapasão, é oportuna a idéia proposta por Alexandre de

Moraes22 enfatizando o pressuposto no que tange ao debate e decisão feitos de maneira

prévia, antecipando melhor o que esse instituto deve analisar.

21NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Conhecimento, Meios de Impugnação das Decisões Judiciais, Execução, Tutela de Urgência, Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa. Inclui Comentários ao Projeto de Lei do novo CPC. Volume Único. 4ª. edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Método Ltda. p.745-757.

22MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. São Paulo: Atlas, 2002. p.1401. (Coleção Jurídico Atlas).

30

O prequestionamento se presta pela necessidade de se verificar ou não o enquadramento

do recurso em um dos permissivos constitucionais, devendo o órgão competente

manifestar-se acerca da questão constitucional que é a plicação ou não da CF de 1988 a

fatos ocorridos antes de sua vigência. E, aqui, o problema é crítico: a invasão ocorreu

em 1985 com a vigência da antiga constituição; transcorreu-se o tempo até 1992 quando

da entrada da ação sob a égide da Nova Carta Magna, mas a usucapião, neste caso,

gerou um problema concernente ao Direito Intertemporal. Essa é a questão central.

E, é claro acerca do prequestionamento, a lição do Ministro Celso de Mello23:

“(...) o recurso extraordinário – consideradas as exigências formais impostas pelo

requisito constitucional do prequestionamento (RTJ 111/321 – RTJ 114/105) – cinge-se,

estritamente aos limites materiais delineados pelo conteúdo decisório veiculado ao

acórdão emanado do Tribunal “a quo”. Revela-se essencial, dentro dessa perspectiva,

que haja plena correlação material entre o que se contém na petição inicial

veiculadora do apelo extremo e o teor do que foi efetiva e explicitamente debatido na

decisão impugnada. A natureza do recurso extraordinário não se mostra compatível

com inovações de ordem temática, que, introduzidas pela recorrente, apresentam-se

divorciadas, ideologicamente, da matéria efetivamente versada no acórdão recorrido,

que, ao decidir a controvérsia, respeitou os estritos limites emergentes do pedido

originalmente deduzido quanto do ajuizamento da ação”.

De fato, arguiu a Ministra Cármen Lúcia essa problemática no caso em estudo.

Posto isto, o autor Daniel Amorim Assumpção Neves24 enfatiza os requisitos

específicos do recurso extraordinário:

-É uma decisão que contraria dispositivo constitucional;

-Decisão que declarar a insconstitucionalidade de Tratado ou Lei Federal;

23ARNAUT, Andréa Metne. RECURSOS EXTRAORDINÁRIOS: PREQUESTIONAMENTO E PRESTAÇÃO JURISDICIONAL INCOMPLETA. Disponível em: <http://www.pge.sp.gov.br/centrodeestudos/bibliotecavirtual/regulariza2/doutrina8.html>. Acesso em 12 dez. 2012. p.2.

24NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Conhecimento, Meios de Impugnação das Decisões Judiciais, Execução, Tutela de Urgência, Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa. Inclui Comentários ao Projeto de Lei do novo CPC. Volume Único. 4ª. edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Método Ltda. p.745-757.

31

-Decisão eu julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face da Constituição

Federal; e

-Decisão eu julgar válida lei de governo local contestado em face de Lei Federal.

No caso em tela, a decisão da Ministra Cármen Lúcia que negou a liminar em sede de

recurso extraordinário contrariou o dispositivo constitucional anterior; só

proporcionando validade à Constituição Federal de 1988, sendo que o fato se iniciou em

1985. Seria factível, por parte da Ministra, aplicar o artigo 557, parágrafo 1º A do CPC

e aceitar o recurso, afrouxando um pouco o texto da Lei Maior?

23.8.Conceito do Artigo 21, parágrafo 1º do Regimento Interno do Supremo

Tribunal Federal (RISTF): diz este artigo em seu parágrafo 1º, o seguinte:

“Art.21. São atribuições do Relator:

(...)

Parágrafo 1º. Poderá o(a) Relator(a) negar seguimento a pedido ou recurso

manifestamente inadmissível, improcedente ou contrário à jurisprudência dominante ou

a Súmula do Tribunal, deles não conhecer em caso de incompetência manifesta,

encaminhando os autos ao órgão que repute competente, bem como cassar ou

reformar, liminarmente, acórdão contrário à orientação firmada nos termos do art.

543-B do CPC”.

Como se percebe, é facultado ao relator negar ou não seguimento ao recurso

extraordinário, somente não o aceitando em claros casos antagômnicos, antinômicos à

jurisprudência reinante ou contra Súmula do próprio STF. Trata-se de uma norma

interna do STF que faculta ao Ministro Relator cassar, reformar, modificar ou, até

mesmo, aceitar determinado recurso extraordinário para, democraticamente, ser

analisado pelo STF, conforme dispõem os incisos LV e LVI do artigo 5º da CF de 1988.

Bem poderia ter a Ministra aceitado a liminar do recurso extraordinário em tela para ser

mais detalhadamente analisado pelos membros do STF, ainda mais que tantos crimes

políticos são cometidos neste país, sobretudo no que tange à corrupção dos poderes

tríduos. Estima-se que o Brasil perdeu cerca de dez trilhões de dólares com corrupção

de 1959 até 2012, um valor astronômico, próximo ao valor total do Produto Interno

Bruto dos Estados Unidos da América.

32

Talvez a Ministra detenha razão ao afirmar que a não aceitação do recurso ordinário se

deve ao fato de que “os argumentos do agravante, insuficientes para modificar a

decisão agravada, demonstram apenas inconformismo e resitência em por termo a

processos que se arrastam em detrimento da eficiente prestação jurisdicional”.

23.9.Conceito de Embargos Declaratórios: no que concerne aos embargos

declaratórios, estes estão nos seguintes artigos do CPC, in verbis:

“Art. 535. Cabem embargos de declaração quando: (Redação dada pela Lei nº 8.950,

de 1994)

I - houver, na sentença ou no acórdão, obscuridade ou contradição; (Redação dada

pela Lei nº 8.950, de 1994).

II - for omitido ponto sobre o qual devia pronunciar-se o juiz ou tribunal. (Redação

dada pela Lei nº 8.950, de 1994).

Art. 536. Os embargos serão opostos, no prazo de 5 (cinco) dias, em petição dirigida ao

juiz ou relator, com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso, não estando

sujeitos a preparo. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 1994).

Art. 537. O juiz julgará os embargos em 5 (cinco) dias; nos tribunais, o relator

apresentará os embargos em mesa na sessão subseqüente, proferindo voto. (Redação

dada pela Lei nº 8.950, de 1994).

Art. 538. Os embargos de declaração interrompem o prazo para a interposição de

outros recursos, por qualquer das partes. (Redação dada pela Lei nº 8.950, de 1994).

Parágrafo único. Quando manifestamente protelatórios os embargos, o juiz ou o

tribunal, declarando que o são, condenará o embargante a pagar ao embargado multa

não excedente de 1% (um por cento) sobre o valor da causa. Na reiteração de

embargos protelatórios, a multa é elevada a até 10% (dez por cento), ficando

condicionada a interposição de qualquer outro recurso ao depósito do valor

respectivo.(Redação dada pela Lei nº 8.950, de 1994)”.

33

Difícil é caracterizar a natureza dos chamados embargos de declaração. O autor Gilson

Delgado Miranda25 define, desta forma, esse instituto: “trata-se de recurso destinado à

elucidação da obscuridade, ao afastamento da contradição ou à supressão da omissão

existente no julgado. Considerando que os embargos de declaração, que devem ser

dirigidos ao juiz (primeiro grau) ou ao relator do acórdão (Tribunal), não visam, em

tese, à modificação do julgado, parte da doutrina tem negado a sua natureza recursal.

Porém, como os embargos de declaração estão, de forma taxativa, arrolados dentro do

sistema recursal do CPC, aliás, como sempre ocorreu no Brasil, a posição contrária

acaba enfraquecida, porquanto a natureza do recurso encampa uma opção da lei.

Dentro dessa esteira, o CPC é expresso quanto à natureza recursal dos embargos de

declaração. O entendimento acerca da natureza recursal dos embargos de declaração,

aliás, é hoje aceito por respeitáveis doutrinadores”.

Estudem-se melhor esses artigos. Como se percebe, os embargos de declaração estão

entre os artigos 535 e 538 do Código de Processo Civil atual. Diz o artigo 535 o

seguinte: “Cabem embargo de declaração quando: I - houver, na sentença ou no

acórdão, obscuridade ou contradição; II - for omitido ponto sobre o qual deveria

pronunciar-se o juiz ou tribunal”. Destarte, em havendo qualquer imperfeição na

prolação da sentença e, após a respectiva apelação, é possível ao perdedor insurgir-se

contra este estado de coisas. Evidentemente que, deve, na sentença ou no acórdão

existirem elementos de obscuridade, omissão ou contradição. Com relação à

obscuridade, esta, no entender de Arruda Alvim e outros26, é a falta de clareza e

precisão na decisão judicial, de sorte que não se tenha certeza daquilo que foi decidido.

O vício da obscuridade pode ocorrer na motivação ou fundamentação ou ainda no

dispositivo do pronunciamento. Neste último caso, o erro ou o defeito tem maior

importância porque irá impedir o conhecimento do alcance da decisão tomada. No

primeiro caso, qual seja, o da motivação, esta inclinará a sentença para uma obscuridade

que poderá ser sanada por meio dos chamados embargos de declaração.

25MIRANDA, Gilson Delgado. Dos embargos de declaração. In: MARCATO, Antônio Carlos (coordenador). Código de Processo Civil Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004, p. 1.592. Apud RAMOS, André Luiz Santa Cruz. Embargos de Declaração. Disponível em: <http://www.atfcursosjuridicos.com.br/externos/img/artigo/07042008143719.pdf>. Acesso em 14 dez. 2012. 26ALVIM, Arruda; ASSIS, Araken de; ALVIM, Eduardo Arruda. Comentários ao Código de Processo Civil. 1ª edição. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2012. p.888-891.

34

No segundo caso, a omissão é o defeito mais importante dentre aqueles que ensejam

embargos de declaração. Uma decisão é chamada omissa quando questões de fato e de

direito, importante para o julgamento e levantadas pelas partes, não tenham sido

efetivamente apreciadas pelo magistrado. Em outras palavras, o magistrado ou os

desembargadores não examinaram completamente as questões suscitadas e que são

importantes para que a lide seja dirimida. Assim sendo, existem erros a serem sanados

para que se encontre a justiça efetiva27.

No terceiro caso, qual seja, contradição, esta se manifesta quando a decisão apresenta

partes incongruentes entre si. Pode haver contradição nos fundamentos do ato ou entre a

motivação e o dispositivo, dentre outros itens de importância. Uma fundamentação

inadequada e dissociada do processo, porque contaminada pela obscuridade, fatalmente

implicará num processo contraditório, antagônico, antinômico com a parte dispositiva

da sentença. Pode ocorrer também a contradição entre as proposições da própria ementa

ou, ainda, enter a ementa e o corpo do acórdão. Na realidade, a contradição fulmina a

relação entre a causa e o efeito; entre a existência das relações obrigatórias da premissa

maior com a premissa menor, originando a respectiva conclusão. Trata-se de um

princípio lógico proposto por René Descartes28.

É interessante observar que, em ocorrendo esses chamados embargos de declaração,

toda estrutura processual fica comprometida, principalmente no que diz respeito à

cumulação de pedidos, como bem argumenta Daniel Amorim Assumpção Neves29:

27ALVIM, Arruda; ASSIS, Araken de; ALVIM, Eduardo Arruda. Comentários ao Código de Processo Civil. 1ª edição. Rio de Janeiro: GZ Editora, 2012. p.889.

28René Descartes foi um filósofo, físico e matemático francês.Durante a Idade Moderna também era conhecido por seu nome latino Renatus Cartesius. Notabilizou-se sobretudo por seu trabalho revolucionário na filosofia e na ciência, mas também obteve reconhecimento matemático por sugerir a fusão da álgebra com a geometria - fato que gerou a geometria analítica e o sistema de coordenadas que hoje leva o seu nome. Por fim, ele foi uma das figuras-chave na Revolução Científica. Descartes, por vezes chamado de "o fundador da filosofia moderna" e o "pai da matemática moderna", é considerado um dos pensadores mais importantes e influentes da História do Pensamento Ocidental. Inspirou contemporâneos e várias gerações de filósofos posteriores; boa parte da filosofia escrita a partir de então foi uma reação às suas obras ou a autores supostamente influenciados por ele. Muitos especialistas afirmam que, a partir de Descartes, inaugurou-se o racionalismo da Idade Moderna. Décadas mais tarde, surgiria nas Ilhas Britânicas um movimento filosófico que, de certa forma, seria o seu oposto - o empirismo, com John Locke e David Hume. RENÉ DESCARTES. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ren%C3%A9_Descartes>. Acesso em 15 dez. 2012. 29NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil: Teoria Geral do Processo, Conhecimento, Meios de Impugnação das Decisões Judiciais, Execução, Tutela de Urgência, Procedimentos Especiais de Jurisdição Contenciosa. Inclui Comentários ao Projeto de Lei do novo CPC. Volume Único. 4ª. edição revista, atualizada e ampliada. São Paulo: Editora Método Ltda. p.720.

35

“a)Na cumulação sucessiva prejudicial, rejeitado o pedido anterior, o pedido posterior

pede objeto o que é um desastre para o processo;

b)A acumulação subsidiária, o acolhimento do pedido anterior, torna o posterior

completamente prejudicado; e

c)Na cumulação alternativa, o acolhimento de qualquer dos pedidos, torna os demais

prejudicados”.

Posto isto, parece claro entender que os embargos de declaração do acórdão em tela

podem ter tido algum tipo desses problemas. Porém, não se tem acesso completo à

sentença, sua respectiva apelação e demais peças processuais, razão pela qual não há

como se argumentar contra decisão da Ministra Cármen Lúcia de apenas ratificar a

inaceitabilidade dos embargos de declaração.

Por fim, resta entender que os embargos declaratórios são aqueles que se interpõem ou

se aduzem contra a sentença, para que se esclareçam, ambiguidades, contradições ou

ambições nela apontadas. De certa maneira, com os embargos de declaração, é factível

impugnar determinados pontos da sentença ou acórdão exarados. Esclarecido o ponto

ambíguo contraditório, omisso ou equivalente, este deve ser atacado para que a

respectiva sentença ou acórdão alcance a perfeição. Na realidade, os embargos de

declaração não são um recurso. Não há, neles, uma tentativa de modificação, anulação

ou deferenda à sentença embargadas, mas mero esclarecimento no sentido de que se

desmanchem equívocos30.

Há, evidentemente, outros assuntos a serem tratados, tais como: embargos de declaração

prequestionadores, cabimento dos embargos em caso de dúvida; defeitos atípicos

embargáveis; os prazos para interposição dos requisitos formais dos embargos

declaratórios; sua respectiva competência; a necessidade ou não do preparo; o controle

de admissibilidade do respectivo relator; o prazo para julgamento dos embagos de

declaração; a abertura de prazo para a resposta do embargado; o próprio julgamento dos

embargos declaratórios; a aplicação do princípio do contraditório aos embargos

declaratórios; o efeito infringente do julgamento dos embargos declararatórios; a

reiteração dos embargos declaratórios; os respectivos efeitos dos embargos

30SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.298.

36

declaratórios; os efeitos suspensivo e devolutivo dos embargos declaratórios; o efeito

interruptivo temporal concernente; a reiteração e complementação do recurso

anteriormente interposto; a interposição de embargos manifestamente protelatórios;

dentre outras considerações. Porém, tudo isto foge ao escopo deste trabalho que é a

análise do respectivo acórdão.

23.10.Conceito de Direito Intertemporal. Com relação a este conceito, prevalece o

seguinte: “o Direito não pode ignorar a realidade do tempo, ou seja, o momento ou a

duração de uma determinada situação jurídica, nem se omitir de reger ou de organizar as

relações entre o tempo e os diversos elementos da vida jurídica. As ordens jurídicas

positivas variam no tempo; o direito tem normas ou padrões antigos, atuais e projetados

ou futuros. De outra parte, as relações humanas que elas regulam são multitemporais;

desenvolvem-se sempre em vários tempos, seja na sua formação e, especialmente, nos

seus futuros efeitos e apreciações. Assim, sendo o direito o forjador de suas próprias

normas, e regendo-se o direito pelo próprio direito, mister se fez de disciplinas jurídicas

que viessem regular esses fatos em contato com ordens jurídicas contrárias no tempo.

Para tais fatos, criou-se o chamado “direito intertemporal”.

O conflito assim estabelecido vai buscar no “Direito Intertemporal ou Transitório” as

normas de suas soluções, pois nesse direito encontram-se as regras estabelecidas pelo

legislador ou princípios elaborados pela ciência jurídica, destinados a conciliar a

aplicação da lei nova com as conseqüências da lei anterior.

Em síntese, pois, toda a questão do tormentoso problema do conflito intertemporal das

leis giraria em torno do saber-se se a lei nova deve, ou não, respeitar os efeitos presentes

e futuros das situações pretéritas, concluídas sob o regime da lei revogada.

Noutros termos, sob a rubrica Direito Intertemporal, a ciência jurídica formula os

princípios que devem nortear o interprete na conciliação daqueles dois cânones

fundamentais do ordenamento jurídico, que são a lei do progresso e o conceito da

estabilidade das relações humanas.

O Direito Intertemporal é, dessa forma, o disciplinador das relações jurídicas surgidas

ou reinantes no tempo intermediário entre o domínio de uma norma e o império da

subseqüente. De fato, o Direito Intertemporal é o regulador de todo o conflito temporal

de normas. Para isso, utiliza-se de princípios gerais.

37

23.11.Conceito de Posse Clandestino. Segundo De Plácido e Silva31, a posse

clandestina é aquela que exsurge da ocupação ou apreensão da coisa por meios ilícitos,

via, por exemplo, invasão, que é o caso do acórdão em tela e que não deveria, de forma

nenhuma ser permitido. Nesse diapasão, não existe a posse da coisa; muito pelo

contrário, existe a detenção da coisa, resultante da clandestinidade que não é posse, um

conceito de proteção legal. Trata-se de uma posse injusta que não foi reconhecida pela

Ministra Cármen Lúcia. É a ocupação ou apropriação ilícita, pelo que dela não se gera a

posse propriamente dita. Muito embora a posse se considere uma situação de fato, bom

é lembrar que esta situação tenha sido determinada por uma causa lícita ou justa, que

não se percebe e, que muito menos se evidencia, naquela que deriva da clandestinidade,

objeto central deste acórdo, qual seja, a clandestinidade na invasão das terras no ano de

1985, terras essas pertencentes ao antigo banco HSBC Bamerindus que foram

reivindicadas em 1982, quatro anos após a promulgação da Constituição Federal de

1988, não conferindo, portanto, aos invasores de terras, a aquisição da propriedade de

pleno direito.

23.12.Conceito da Súmula 356 do Supremo Tribunal Federal

Diz a súmula 356 do Supremo Tribunal Federal que: “o ponto omisso da rescisão,

sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, não podem ser objetos de

recurso extraordinário, por faltar o requisito do prequestionamento””. Como se

percebe, efetivamente, a Ministra Cármen Lúcia não foi clara ao dizer qual era o ponto

omisso da decisão sobre o qual não foram opostos embargos declaratórios, para que não

fosse aceito o recurso extraordinário. Ora, se não for mencionado o ponto omisso

negligente contra a oposição de embargos declaratórios, para que não fosse apreciado o

recurso extraordinário, esse recurso extraordinário deveria, pela lógica, ser

prequestionado e aceito. Trata-se de uma simples inversão de lógica. Isto não ocorreu

neste caso, razão pela qual se questiona, sobremaneira, a decisão da Ministra e,

consequentemente, do acórdão como um todo.

23.13.Conceito de Fundamentação ou Motivação das Decisões Judiciárias.

31SILVA, De Plácido e; SLAIBI FILHO, Nagib; ALVES, Geraldo Magela (Revisores e Atualizadores). Vocabulário Jurídico. 15ª. Edição. Rio de Janeiro: Forense: 1998. p.621.

38

Diz o artigo 93, incisos IX e X da Constituição Federal de 1988: “Lei Complementar,

de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, de explorar sobre o estatuto da

magistratura, observados os seguinte princípios:

(...)

IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e

fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a

presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a

estes, em caso nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo

não prejudique interesse público à informação;

X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas em sessão pública, sendo

as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absolua de seus membros”;

Como se percebe, pela leitura deste artigo e seus respectivos incisos, é fundamental que

o princípio da fundamentação e da transparência sejam efetivamente respeitados. No

primeiro caso, qual seja, da fundamentação ou motivação, é condição fundamental para

que não haja nulidade ou a anulabilidade absoluta da decisão. Afinal de contas,

qualquer que seja a decisão em termos de sentença ou acórdão, esta deve ter o respaldo

da Constituição Federal, das emendas à Constituição, das Leis Complementares, das

Leis Ordinárias, das Leis Delegadas, das Medidas Provisórias, dos Decretos

Legislativos, das Resoluções e outras. Isto deve ocorrer para que haja a aplicação dos

artigos 59 e 37, caput, ambos da Constituição Federal de 1988. A motivação é a

justificação ou alegação em que se procura proporcionar as razões pelas quais se

realizou ou determinou a feitura de qualquer coisa e, no caso, acerca do acórdão. Trata-

se da apresentação dos motivos que determinam a rejeição do recurso extraordinário

interposto em sede de Agravo Regimental pelo Banco HSBC Bamerindus em face de

Moyses Divino Antônio Fernandes para que seja provocada a respectiva solução ou para

que possa se justificar a pretensão desse agravo regimental em sede de recurso

extraordinário de no. 699.946 de São Paulo.

Em outras palavras, como bem enfatiza Alexandre de Moraes32, a legitimidade

democrática do Poder Judiciário se baseia na aceitação e no respeito de suas decisões

32MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.1293-1296.

39

pelos demais poderes por ele fiscalizado, além, claro, da opinião pública, razão pela

qual todos seus pronunciamentos devem ser fundamentados e transparentes, públicos,

preferencialmente. A legitimidade desse poder repousa, especificamente, na opinião

pública e, é somente ela que dará o alvará ou não, em definitivo, de determinada decisão

tomada em nível de Poder Judiciário. Destaca-se que essas decisões não podem

contrariar o consenso geral porque, dessa forma acabam não perdurando. Em suma, é

por meio da motivação que se avalia o efeito efetivo da função jurisdicional e, além

disso, de sua justa grandeza. Nesse diapasão, sempre é bom lembrar da lição de Rui

Barbosa, ao advertir que33: “a autoridade da justiça é moral, e sustenta-se pela

moralidade de suas decisões. O poder não a enraquece, desatendendo-a; enfraquece,

dobrando-a. A Majestade dos tribunais assenta na estima pública; e esta é tanto maior,

quanto mais atrevida for a insolência oficial, que lhes desobedecer, e mais adamantina

a inflexibilidade deles perante ela”.

23.14.Conceito pertinente à Constituição Federal artigo 37, parágrafo 6º.

Diz o artigo 37 da Constituição Federal do Brasil de 1988, em eu parágrafo 6º: “A

administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos

Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá os princípios de legalidade,

impessoalidade, moralidade e eficiência e, também, ao seguinte:

(...)

Parágrafo 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado

prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa

qualidade, causarem a terceiros, assegurando direito de regresso contra o responsável

nos casos de dolo ou culpa”.

Diante disto, é fundamental que qualquer agente que trabalhe na administração pública

direta e indireta de qualquer dos poderes em geral, quais sejam: Executivo, Legislativo e

Judiciário, deverão obedecer aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

publicidade e eficiência, além de serem responsáveis pelos danos que venham a causar

às partes. Evidentemente que, a decisão da Ministra Cármen Lúcia não se enquadra

nesse artigo e respectivo parágrafo. Mas, é fundamental esclarecer algumas coisas a

33MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. In: BARBOSA, Ruy. Obras completas de Rui Barbosa. Rio de Janeiro: Secretaría da Cultura – Fundação Casa de Rui Barbosa, 1991. V.6, 19 e 40.

40

respeito dos princípios e da problemática do parágrafo 6º. O princípio da legalidade

aplica-se, normalmente na administração pública, porém, de forma mais rigorosa e

especial, vez que o administrador público somente poderá fazer o que estiver

expressamente autorizado na lei e demais espécies normativas, inexistindo, pois,

incidência na sua vontade subjetiva. Em outras palavras, o agente público deve cumprir

a lei exatamente como ela está escrita. O princípio da legalidade dá respaldo à tomada

de decisões dentro dos rigores da lei e as fazem valer justamente por isto. Quer seja um

poder vinculado ou descricionário, este deve estar atrelado, excljusivamente, ao

dispositivo normativo.

Com relação ao princípio da impessoalidade, nada mais é este do que o princípio da

finalidade aplicada à administração pública. Em outras palavras, o agente público deve

praticar um determinado ato para o seu fim estritamente legal, ou seja, todo aquele ato

que tem uma norma de direito expressa com o objetivo do próprio ato, de forma

totalmente impessoal.

Com relação ao princípio da moralidade deve, o administrador público, no exercício da

sua função pública, respeitar os princípios éticos da razoabilidade e da justiça, pois a

moralidade constitui um pressuposto de validade e todo ato da administração pública.

Salienta-se que é intolerável o desvio de conduta aberrante em relação ao padrão moral

consagrado pela comunidade, exemplificando que34:

“Certos grupos, por exemplo, os profissionais liberais, costumam ser mais rigorosos

em considerar certos atos como corruptos, do que outros menos “moralistas”. Isso faz

com que, por exemplo, o Ministério Público, no Brasil, persiga como corrupção o

nepotismo, que para a maioria da população é um dever do homem público , como

chefe de família”.

Enfim, o princípio da moralidade está ligado ao senso comum da honestidade, retidão,

equilíbrio, justiça, respeito à dignidade do ser humano, à boa-fé, ao trabalho, à ética das

instituições.

No que diz respeito ao princípio da publicidade, este está ligado à regra da transparência

administrativa, tendo em vista o interesse público de conhecer e saber o que está

34MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.783.

41

ocorrendo na própria administração pública. Se todo poder emana do povo e em seu

nome será exercido, é óbvio que esse povo, titular do poder, tem direito de conhecer

tudo que diz respeito à administração, controlando passo-a-passo o exercício de seu

poder.

O princípio da eficiência tem a finalidade de comprovar a legalidade e de avaliar os

resultados, quanto à efetividade ou soma da eficácia com a eficiência, dentro da

administração pública. Por meio da aplicação do princípio da eficiência, controla-se

melhor a gestão orçamentária, financeira e patrimonial nos órgãos e entidades da

administração em geral, assim como da aplicação de recursos públicos por entidades de

direito privado. A eficiência está ligada à administração em geral, levando-se em

consideração o significado da administração, o papel do gestores, a liderança, a

motivação, as ideias de Taylor, Ford, Fayol e tantos outros que colaboraram para a

criação da ciência administrativa como um todo.

De uma maneira simplificada, o princípio da eficiência reforça a possibilidade do

Ministério Público, com base em sua função constitucional de zelar pelo respectivo

respeito dos poderes públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos

assegurados nesta Constituição, além de promover as medidas necessárias, sob os

pontos de vista judicial e extrajudicial, tudo isto com garantias constitucionais.

Com relação à responsabilidade do agente público no parágrafo 6º do artigo 37 da

Constituição Federal, este se mostra como sendo um parágrafo que imputa ao estado a

responsabilidade ao Estado pelos atos praticados pelos seus subordinados,

proporcionando a ele, Estado, o direito de regresso contra seus agentes. De uma maneira

geral, conclui-se que podem ser apontdos alguns tópicos básicos em relação à

responsabilidade civil do Estado por culpa exclusiva de seus agentes, conforme

explicitamente mencionado abaixo35:

“-a obrigação de repara danos patrimoniais decorre da responsabilidade civil. Se o

Estado causa danos ou prejuízos aos indivíduos, deve eparar esses danos, indenizando

os prejuízos que causou;

35MORAES, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação Constitucional. Prefácio do Ministro José Celso de Mello Filho. São Paulo: Atlas, 2002. p.914-915.

42

-a responsabilidade civil do Estado não exclui a responsabilidade criminal e

administrativa dos agentes públicos, pois trata-se de esferas independentes;

-é diversa a responsabilidade legal da responsabilidade contratual;

-a teoria do risco administrativo fez surgir a responsabilidade objetiva do Estado.

Segundo essa teoria, o dano sofrido pelo indivíduo deve ser visualizado como

consequência do funcionamento do serviço público, não importando se esse

funcionamento foi bom ou mau. Importa, sim, a relação de causalidade entre o dano e o

ato do agente público;

-no Direito brasileiro,a responsabilidade civil do Estado é objetiva, com base no risco

administrativo, que, ao contrário do risco integral, admite brandamentos: a

responsabilidade do Estado pode ser afastada se comprovada a culpa exclusiva da

vítima ou mitigada a reparação na hipótese de concorrência de culpa;

-cabe ação regressiva contra o servidor público, no caso de a pessoa pública ter sido

condenada a indenizar em razão de ato lesivo praticado pelo servidor público por dolo

ou culpa;

-não há responsabilidade civil do Estado em virtude de lei tem tese;

-há responsabilidade civil do Estado em virtude de lei ou ato normativo de efeitos

concretos, porém, em virtude da imunidade material prevista no art. 53 caput da

Constituição Federal não haverá direito de regresso contra os parlamentares;

-haverá responsabilidade civil do Estado por erro judiciário somente nos termos do art.

5º, LXXV”.

24.Conclusões

Tecidas essas considerações todas acerca da análise do acórdão do STF, Segunda

Turma, Agravo Regimental no Recurso Extraordinário no 699.946 de São Paulo, sendo

Agravante Banco Bamerindus do Brasil S/A – Em Liquidação Extrajudicial e Agravado

Moyses Divino Antônio Fernandes, opta-se por concluir que em que pese a brilhante

justificativa da Ministra Cármen Lúcia no sentido de, dentro dos preceitos legais,

desafogar o STF de inúteis ações, há a acrescentar o seguinte:

43

-Talvez tal Recurso Extraordinário devesse ser aceito para poder ser discutido pela

Egrégia Máxima Corte porque essa ação de usucapião está pausada em invasão de terra,

algo que fere o ordenamento jurídico brasileiro de plano e, obviamente, o direito de

propriedade e a própria função social da propriedade.

-Talvez, de acordo com o RISTF, em que existe a faculdade de poder aceitar recurso

extraordinário, modificando-o, seria, então, de bom alvitre, apreciá-lo em plenário para,

se cabível fosse, desconsiderá-lo impugnável de pleno direito, exercendo, de plano, os

Princípios do Contraditório e da Ampla Defesa ao Agravante.

-Talvez fosse fundamenal analisar a complexidade do direito intertemporal porque tal

terra foi invadida em 1985, sob a égide de um outro ordenamento jurídico magno, a

Constituição de 196736, em que pese ter sido outrogada pelos militares. Tal recurso foi

interposto em 1992, quatro anos após 1988, o que proporciona ao agravante a discussão

da não aplicação do artigo 183 da Constituição Federal e, consequentemente, fazendo

com que tal extensão territorial não fosse usucapida pelo Agravado.

-Ademais, o artigo 183 da Lex Legum não fala em invasão de terras. Mas, pode ser

tolerada invasão de propriedade? Se for, há uma séria ameaça aos desígnios da

propriedade privada e ao próprio conceito lato sensu de função social da propriedade.

-Talvez, nesse caso, fosse interessante analisar novamente o conjunto fático-probatório

para a manutenção da própria ordem jurídica e do Estado Democrático de Direito.

-Seria de bom e salutar alvitre questionar essa problemática em plenário, em que pese

ser fundamental respeitar o prequestionamento da Ministra e o respeito às Súmulas de

números 279, 282, 284 e 356, todas do STF.

36A Constituição de 1967 exsurge na passagem do governo do Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco para o governo do Marechal Artur da Costa e Silva, contexto no qual predominavam o autoritarismo e o arbítrio político. Essa Constituição foi um documento autoritário e foi largamente emendada em 1969, absorvendo instrumentos ditatoriais como os do AI-5 (ato institucional nº 5) de 1968. Suas principais características eram: a) nome do país – República Federativa do Brasil; b) tratava-se de um documento promulgado, tendo sido aprovado por um Congresso Nacional mutilado pelas cassações políticas, algumas com justa razão; c) confirmava os Atos Institucionais e Complementares do governo militar, sendo um nítido reflexo da conjuntura de "guerra fria" na qual sobressaiu a "teoria da segurança nacional", ou seja, deve-se combater os inimigos internos rotulados de subversivos ou os chamados opositores de esquerda. CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS DE 1824 A 1988. Disponível em: <http://www.mundovestibular.com.br/articles/2771/1/CONSTITUICOES-BRASILEIRAS-DE-1824-A-1988/Paacutegina1.html>. Acesso em 15 dez. 2012.

44

-Evidente que, uma discussão em plenário, elucidaria a aplicação do artigo 102, inciso

III, alínea C, além do de número 183, o artigo 93, inciso IX e o 37, parágrafo 6º do atual

CF de 88.

-Talvez tenha ocorrido obscuridade, omissão ou ambiguidade do julgado pelo Tribunal

a quo e isto deveria ser enfrentado em sede de ambargos declaratórios que não foram

aceitos pelo Tribunal ad quem e pelo STF. Por vezes, tem-se visto, numerosas sentenças

judiciais que devem ser completamente anuladas porque não fazem o menor sentido.

Esta poderia ser uma delas? Há controvérsias. Exemplificando, tem-se: em um caso de

um negócio jurídico realizado em São Paulo em que o magistrado concedeu razão ao

réu, alegando que não houve o chamado dolo eventual no negócio jurídico de compra e

de venda de propriedades edilícias. Mas, como é cediço, este conceito é basilar do

Direito Penal em sede de negócio jurídico, pertinente ao Direito Civl Privado.

Por fim, essas as considerações finais que se fazem necessárias para o estudo do

acórdão em tela. Nada mais.

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