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CESUFOZ - Direito Civil VII
Profª Angelica Tatiana Tonin
Aula 06 –
Direito das Coisas (Art. 1.196 a 1.360 do Código Civil)
Do Usucapião
Usucapião é a aquisição do domínio pela posse prolongada1.
A denominação provém de duas palavras latina: usu, que esta no caso ablativo,
significando ‘pelo uso’ e, capere, verbo traduzido por ‘tomar’, formando a expressão ‘tomar pelo
uso’.
Em que pese ser o vocábulo ser masculino, no latim, espanhol e francês a palavra
‘usucapião’ é feminina, daí explica-se a utilização também no feminino. Pode ser utilizada nos
dois gêneros, mas em razão do código civil atual passar a utilizar no termo no feminino, assim,
se torna mais apropriado.
Conceito: Meio de adquirir o domínio da coisa pela sua posse continuada durante
certo lapso de tempo, com concurso dos requisitos que a lei estabelece para este fim. Ainda, é
a prescrição aquisitiva da propriedade e de certos direitos reais, pela posse interruptiva durante
determinado prazo sob as condições legais que lhe são inerentes2.
Modo originário de aquisição, onde a pessoa que exerce a posse em um imóvel, por
determinado prazo prescrito em lei, adquire o domínio do bem, uma vez preenchido os
requisitos, ou seja, pacífica, mansa e ininterrupta, sem oposição alguma do titular do domínio e
com o animus domini.
Modos de Aquisição:
São 07 (sete) as espécies de usucapião no direito brasileiro. Duas estão reguladas
unicamente pelo Código Civil de 2002 e no CC/1916: usucapião ordinário (1.242) e extrordinário
(1.238). O usucapião especial rural da Lei 6.969/81, art. 191 da CEF e art. 1.239 do CC e
usucapião especial urbano, art. 183 do CF e art. 1.240 do CC/02 privado e o coletivo com
previsão no Estatuto da terra. Ainda, o usucapião familiar previsto no art. 1.240-A do CC.
Além do usucapião indígena, regulado pela Lei 6.001/73.
Bens Usucapíveis
Todos os bens imóveis podem ser objeto do usucapião, desde que não sejam públicos
e se encontrem no comércio.
1 Clóvis Beviláqua2 Pedro Nunes citado por Arnaldo Rizzardo
1
Em que pese o Código Civil ser omisso sobre o que sejam bens fora do comércio,
afirma-se que Bens fora do comércio são todos aqueles que a lei estabelece a
inalienabilidade. O art. 69 do CC/1916 compreendia todos os bens insuscetíveis de apropriação
e os legalmente inalienáveis. Ex: terras dos índios – art. 231, §4º CF.
Bens públicos são os pertencentes à União, aos Estados e aos Municípios (art. 98 CC)
incluindo-se os de uso comum do povo, como os mares, rios, estradas, ruas e praças; os de
uso especial como edifícios e terrenos a serviço ou estabelecimento da administração federal,
estadual, municipal, inclusive autarquias; os dominiais que constituem o patrimônio da União,
Estado ou Municípios como objeto de direito pessoal ou real de cada entidade (art. 99 CC).
Antes do advento do Código Civil de 19163 os bens públicos de uso comum eram
imprescritíveis, no entanto, os dominiais e de uso especial podiam ser usucapíveis, caso o
lapso temporal atingisse quarenta (40) anos ou mais.
O que foi reafirmado pelo Decreto 22.785/33 e Decreto Lei nº 9.760/46, bem como
CC/2002, art. 102. Os bens públicos não estão sujeitos a usucapião.
Neste sentido, a súmula 340 do STF determina: Desde a vigência do Código Civil, os
bens dominiais como os demais bens públicos não podem ser adquiridos por usucapião.
Nesse diapasão, incluem-se as terras devolutas4 pertencentes à União e aos Estados
Federados, que estão classificadas como bens públicos.
Terras devolutas são as terras que integram o patrimônio dos Estados, como bens
dominiais.
Para Hely Lopes Meirelles, são terras devolutas aquelas que, pertencentes ao domínio
público de qualquer das entidades estatais, não se acham utilizadas pelo Poder Público, nem
destinadas a fins administrativos específicos. São os bens públicos patrimoniais ainda não
utilizados pelos respectivos proprietários.
Para Pontes de Miranda “devoluta é a terra que, devolvida ao Estado, esse não exerce
sobre ela direito de propriedade, ou pela destinação ao uso comum, ou especial, ou pelo
conferimento de poder de uso ou posse a alguém”.
Exceção: ao usucapião rural especial (Lei 6.969), que admite a aquisição prescritiva
das terras devolutas, onde perduram as situações consumadas até o advento do parágrafo
único do art. 191 da CF/88.
Entretanto, não se pode afirmar que as terras sem dono ou sem posse sejam
devolutas, pois não sendo a terra pública ou devolutas nos termos da Lei nº 601, é terra sem
dono.
3 Art. 67. Os bens públicos, comuns, de uso especial ou dominiais, não se adquirem por usucapião.4 Art. 20 da CF. “São bens da União. II – as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação ambiental, definidas em lei.
2
Desta feita, cabe ao Poder Público em caso de alegar a impossibilidade de usucapião
por ser as terras devolutas, provar ser a terra devoluta. Ao Estado compete fazer prova de seus
domínios, não podendo se conceder domínio por omissão ou por exclusão.
No Brasil não é bem clara a definição de quais sãos as terras devolutas, sendo mais
prudente considerar nestas situações as extensões não ocupadas, por um princípio consagrado
historicamente, que consiste no reconhecimento como pertencentes à União as terras
desocupadas e sem dono.
Bem em condomínio pode ser usucapido se localizado individualmente a posse
dentro do todo, ou seja, quando não se pretende excluir os compossuidores.
Podem ser usucapidas as margens de rios particulares, embora o Código de Águas
estabeleça a servidão de passagem de quinze metros. Desta feita, deve se verificar se as
águas são públicas ou particulares. São correntes de águas públicas de uso comum as
correntes navegáveis ou flutuáveis (Art. 2º, b do Código de Águas).
Domínio útil de bem público, como por ex. a enfiteuse pode ser objeto do usucapião,
no entanto a prescrição aquisitiva ocorrer em relação ao domínio útil de que é titular o particular
e não a nua-propriedade pertencente e pessoa jurídica de direito público. De igual feita, pode
ocorrer com relação a outros domínios úteis como as servidões aparentes, usufruto, uso,
habitação, etc.
Acessão ou Sucessão de Posses no Usucapião (Art. 1.243 do CC)
Frisa o art. 1243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo exigido pelos artigos
antecedentes, acrescentar à sua posse a dos seus antecessores (art. 1.207), contando que
todas sejam contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242 e seu parágrafo único, com justo
título e de boa-fé.
Aplica-se ao usucapião extraordinário e ordinário.
Significa a junção do lapso temporal exercido pelo atual posseiro ao período de posse
exercido pelo seu antecessor. Pode ocorrer de forma singular (comprador, legatário,
arrendante) ou universal (herdeiro).
Nos termos do art. 1.207, o sucessor a titulo universal continua a posse de seu
antecessor. Já ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do antecessor, para os efeitos
legais.
Desta feita, na acessão da posse a título singular não se transferem os vícios da
posse anterior. Assim, se a posse anterior estiver eivada de vícios o sucessor a título singular
não esta obrigado a uní-la a que passa a exercer.
3
Suspensão e Interrupção do Prazo Prescricional
Nos termos do art. 1.244 do CC, aplica-se a usucapião as causas que obstam,
suspendem ou interrompem a prescrição.
Causas Obstativas: as arroladas no art. 197 do CC, onde não corre a prescrição:
entre cônjuges, na Constancia do casamento; entre ascendentes e descendentes, durante o
poder familiar; entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a tutela ou
curatela.
Causas Suspensivas: art. 198 e 199 do CC, contra os absolutamente incapazes;
contra os ausentes do Brasil em serviço público da União, dos Estados ou dos Municípios;
contra os ausentes que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de guerra;
pendendo condição suspensiva; não estando vencido o prazo; e pendendo ação de evicção.
Causas interruptivas: são as causas denominadas no art. 202 do CC, por despacho
do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e
na forma da lei processual; por protesto, etc.
A prescrição interrompida recomeça a correr da data do ato que a interrompeu, ou do
último ato do processo para a interromper.
Exemplo: falecimento do titular da propriedade cuja posse se encontra o possuidor a
favor de quem o prazo da prescrição aquisitiva estiver correndo, esta ficará suspensa
imediatamente se dentre os herdeiros do falecido (proprietário) existir menor de 16 anos nos
termos do art. 198, I do CC. Ainda, quedará suspensa se o herdeiro for incapaz nos termos do
art. 201, suspendendo com relação aos demais também, ainda que capazes, pois a herança é
legalmente indivisível.
Procedimento
O rito específico para todas as formas de usucapião estão descritos no art. 941 a 945
do CPC.
A disposição contida no art. 941 do CPC, bem como do art. 1.241 do CC, justifica-se
para ensejar a utilização deste instituto como meio de defesa, nas ações petitórias, impedindo a
perda da posse por aquele que a exerce.
Conforme se infere do art. 942 do CPC, deve o autor descrever o imóvel, com área
total, as confrontações, ponto de referencia mais próximo, os pontos cardeais, a metragem dos
flancos. Apensar a planta ou croqui da área, a certidão do registro imobiliário positiva ou
negativa. Expor o tempo de exercício da posse, a sua origem, a forma de uso, as
características, se houve posse mansa, pacífica, ininterrupta, com ou sem oposição. Requererá
a citação do proprietário ou possuidor do imóvel, se existir e for conhecido, e dos confinantes.
4
Nos termos do art. 943, pedirá a intimação dos representantes da Fazenda Pública da
União, do Estado e do Município.
A planta ou mapa é necessário para a localização dentro do município e suas
confrontações. Pode ser substituída por mero croqui.
Natureza da ação de usucapião é declaratória. Devendo preencher os requisitos
dispostos da matrícula, como as confrontações do imóvel, localização, ponto de referencia mais
próximo, lado par ou ímpar da via, número recebido para a sua localização, etc.
Competência poderá deslocar-se para a Justiça Federal se um dos requeridos ou
interessados for pessoa jurídica de direito público federal. Ex: União proprietária de imóvel
confinante5.
O Ministério Público nos termos do art. 944 do CPC deve intervir obrigatoriamente em
todos os atos do processo.
Modalidades:
1. Usucapião Extraordinário – determina o art. 1.238 do CC/02 que: “Aquele que por
15 (quinze) anos, sem interrupção, nem oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a
propriedade, independente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que assim o declare por
sentença, a qual servirá de título para o registro no Cartório de Registro de Imóveis”.
No CC de 1.916 o prazo da posse era de 20 (vinte) anos e anteriormente era de 30
anos nos termos da Lei 2.437/55.
Requisitos:
a) A posse: que deve ter várias qualidades:
a.1) posse com ânimo de dono, ou seja, a pessoa que mantém a posse deve
exerce-la em seu próprio nome, com a intenção de dono.
O elemento animus deve acompanhar a posse para que este possa adquirir a posse
ad usucapionem.
Portanto, aquele que detém a coisa sabendo que não lhe pertence não possui a posse
ad usucapionem, porque esta exige o animus domini.
a.2) Posse Justa e Sem Oposição nos termos do art. 1.200 do CC, ou seja, sem
violência, clandestinidade ou precariedade.
Quanto a precariedade, esta nunca cessa, posto não induzirem posse os atos de mera
permissão ou tolerância.
5 Competência. Aldeamente Indígena. Tratando-se de ação de usucapião relativa a imóvel, situado em área de extinto aldeamento indígena, a competência para processar e julgar o feito é da Justiça Federal (CF 109, I), face ao manifesto interesse da União Federal (STJ, 3ª T. Resp 105255-SP, rel. Min. Waldemar Zveiter, v. u., j. 4.3.1997, DJU 12.5.1997, p. 18800).
5
No tocante a violência, frisa-se que a violência inicial que constitui o vício. A posse
isenta de violência, tanto no seu início, quanto no curso de sua duração, diz-se mansa, pacífica
ou tranqüila.
O art. 1.238 do CC exige posse sem oposição, tranqüila, pressupondo ser justa.
Para que a medida judicial obste o usucapião, tem que ser proposta por que detenha
legitimidade para tanto, devendo ser procedendo a ação obstativa.
No caso de usucapião em comento a posse não precisa ser fundada em justo título e
boa-fé, que se presumem. Presunção juris et de jure, que não admite prove em contrário,
bastando o adquirente provar que possui o imóvel como seu mansa, pacifica e continuamente,
para que se presuma da parte dele, a boa-fé, sem ter o justo título, não podendo o proprietário
procurar contestar essa presunção, pois para a constituição do usucapião extraordinário
independe de justo título e boa-fé.
a.3) Continuidade da posse. A posse deve ser contínua, sem intervalos, de modo
pacífico e sem contestação pelo tempo necessário, no caso em apreço 15 anos , o que não
determina a exigência sempre de contato físico com a coisa, visto que não há necessidade de
apreensão da coisa para se exercer os direitos da posse, mas o poder de dispor dela.
Portanto, o arresto, o seqüestro, a penhora não constituem descontinuidade ou
interrupção da posse, porque não importam a perda da posse. De igual feita, se o possuir perde
a posse e recupera-la mediante a Reintegração de Posse, mesmo que desprovido por algum
tempo, com o direito confirmando a sua posse, comuta-se aquela período como posse injusta e
ilegal do esbulhador.
b) Prazo da Prescrição Aquisitiva. O art. 1.238 do CC reduziu o prazo para
aquisição do usucapião para 15 anos, devendo a posse durante este lapso temporal
desenvolver-se de modo contínuo, não interrompido e sem impugnação.
Ressalte-se ainda que nos termos do parágrafo único do art. 1.238 do CC “o prazo
estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel
a sua moradia habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.”
Com o advento do CC/02 nos termos do art. 2.029 elevou-se para 02 anos o prazo,
qualquer que seja o tempo transcorrido na vigência do código anterior, até o período de dois
anos após a entrada em vigor do Código Civil de 2002.
A redução do prazo se aplica as prescrições em curso nos termos da Súmula 445,
devendo estar o período aquisitivo até a data da citação nos termos do art. 219 do CPC.
A contagem ocorre por dia e não por hora, excluíndo-se o início e contando o
vencimento nos termos do art. 132 do CC.
6
c) Sentença Declaratória de Domínio. O reconhecimento do usucapião depende de
uma sentença declaratória, reconhecendo-se assim judicialmente o direito de propriedade
concedido em decorrência do preenchimento dos requisitos previsto da lei civil e processual
civil.
Sendo a sentença declaratória mandamental, limita-se a declarar uma situação
jurídica preexistente e valendo como título hábil à transcrição.
Objetiva a consolidação de uma situação fática, onde o domínio reputa adquirido
desde o momento em que se iniciou a posse.
Dos efeitos da prescrição retroativa decorrem algumas conseqüências, como o direito
aos frutos percebidos durante o tempo da posse, ainda que esta se encontrasse de má-fé, pois
desnecessária a boa-fé na prescrição aquisitiva por longo tempo; os direitos reais constituídos
pelo possuidor durante lapso prescricional se convalidam, ao mesmo tempo que aqueles
direitos reais firmados pela pessoa titular do domínio não se prevalecerão, mesmo que o
tenham sido anteriormente à posse do prescribente.
De modo que o ônus reais, como hipoteca e anticrese, não subsistem., vez que
consumada a usucapião, o possuidor, como já se viu, reputa-se proprietário desde o começo
de sua posse, e , conseqüentemente, não podem prevalecer contra ele o ônus constituídos,
posteriormente, por quem neste interregno perdeu a titularidade do domínio.
Extinguindo-se o direito de propriedade do proprietário, contra o qual corre a
prescrição em favor do usucapiente, extingue-se também o direito real de garantia instituído em
favor de terceiro.
Proferida sentença, os direitos reais adquiridos por usucapião passam ao prescribente
com todos os seus acessórios e rendimentos, as servidões instituídas para o imóvel e as
acessões naturais e civis.
d) Registro de Sentença no Cartório de Registro de Imóveis. A sentença servirá de
titulo para o registro no cartório imobiliário nos termos do art. 945 do CPC e parágrafo único do
art. 1.241.
Portanto, uma vez proferida sentença declaratória mandamental determinando o
averbamento da propriedade em nome do usucapiente, se observado todos os requisitos
procedimentais da ação, a situação somente pode ser revertida por uma ação rescisória.
Todavia, não efetuada a correta citação de um dos confrontantes ou réu serve para propositura
de ação ordinária de nulidade.
Entretanto para aquele que não foi réu na ação de usucapião, é lícito propor ação
reivindicatória, se preencher os requisitos.
7
A sentença faz coisa julgada ente as partes as quais é dado, não prejudicando
terceiros nos termos do art. 402 do CPC, portanto, a ineficácia da sentença e do registro
restringe-se às pessoas não citadas.
É facultado em defesa o uso da exceção de usucapião.
2. Usucapião Ordinário6 – O Código Civil art. 1.242 determina que “Adquire também
a propriedade do imóvel aquele que, contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o
possuidor por 10 (dez) anos.”
Difere da usucapião extraordinário o qual exige lapso temporal maior, por inexigir o
justo título e a boa-fé.
Requisitos:
a) objeto hábil – em princípio todos os objetos são passíveis de usucapir, desde que
não estejam fora do comércio e não sejam bens públicos.
Assim, excluem-se:
a.1 – as coisas incorpóreas - somente sendo prescritíveis os direitos reais que
importam em posse dos objetos sobre que recaem, quais sejam: as coisa materiais, físicas e
tangíveis.
Não são usucapíveis direitos pessoais, de família ou de crédito.
a.2 – bens não individuados ou que não possam ser- pois impossível uma posse
sobre a coisa indeterminada, incerta, vaga ou pro indiviso. A coisa de ser certa e determinada,
descrita e caracterizada com suas confrontações, situação ou localização, extensão e
confrontações, de vez que a coisa incerta jamais poderá ser objeto de posse.
a.3 – As coisas acessórias – não se pode usucapir coisa acessória independente da
principal , vez que a coisa acessória, salvo disposição em contrário, segue o destino da
principal.
a.4 – As coisas fora do comércio – bens que não podem ser apropriados pelo
homem, assim como, os bens de uso generalizado do povo (praças, ruas, estradas e rios
navegáveis), bens de usos especial (edifícios ou terrenos aplicados a serviço ou
estabelecimento federal, estadual ou municipal), bens dominiais( pertencem a União, Estado ou
Município).
As terras públicas, compreendidas as devolutas, não incidindo a prescritibilidade
aquisitiva, exceto quanto ao usucapião especial regulado pelo Lei 6.969/81, como veremos a
seguir.
6 O Código Civil de 1916 exigia 15 anos entre ausentes e 10 anos entre presentes para a concessão do usucapião.
8
b) A duração da posse. O exercício da posse deve se dar pelo prazo de 10 anos, de
modo contínuo e pacificamente, despido dos vícios constantes do art. 1.200 do CC.
Não se refere mais o Código a distinção entre presentes e ausentes que era
interpretada não no contexto da ausência civil, mas sim a ausência de presença física,
estabelecida pela moradia, a qual se encontrava localizada no Município onde se processava a
usucapião e estava situado o imóvel.
c) Qualidades da Posse. Primeiramente há de ser contínua, ou seja, sem lacunas, o
que não impede a soma de posses.
Ainda, deve ser pacífica e incontestada, estabelecida e exercida sem violência física
ou moral. Ressalvando que a posse pode ter sido iniciada com violência pode-se tornar pacífica
com a cessação do vício nos termos do art. 1.208 do CC.
De ser justa, não sendo, portanto, violenta, clandestina ou precária.
Ainda, deve estar presente o animus domini. Deve ser mantida com a intenção de
dono, caso contrário, não será possuidor, mas mero detentor nos termos do art. 1.198 do CC.
d) Justo título. Ato translativo ou constitutivo da propriedade ou da posse. Desta feita,
justo título pode ser todo ato formalmente adequado a transferir o domínio ou o direito real de
que trata, mas que deixa de produzir tal efeito em virtude de não ser o transmitente senhor da
coisa ou do direito, ou faltar-lhe o poder de alienar.
O usucapiente detém um ato jurídico escrito, público ou particular, externamente apto
a transferir o domínio, mas ausentes alguns requisitos essenciais para operar, eficazmente a
transferência.
Ex: aquisição a non domino; falta de outorga uxória; venda realizada com instrumento
falho ou falso; alienação por relativamente incapaz;
Deve ainda, o justo título atribuir ou transferir propriedade, como nos casos de compra
e venda, dação in soluto, permuta, doação, dote, legado, carta de arrematação ou adjudicação.
Portanto, não pode ser ato meramente declaratório deve ser atributivo de direito.
A sucessão é ato declaratório e não constitutivo. O herdeiro herda os vícios inerentes
ou afetos ao imóvel, portanto, se o autor da sucessão não tinha título, da mesma forma
prosseguirá com o herdeiro. A abertura da sucessão não é fator de atribuição de domínio.
O título deve ser válido, não eivado de nulidade absoluta, o que torna o ato inexistente.
Há dúvida a cerca de quais são os títulos admitidos, chegando-se ao extremo de
afirmar que o justo título deve revestir-se das formalidades externas e estar transcrito no
9
registro imobiliário. O que não parece crível, visto que se transcrito o titulo, opera-se a
transferência, sendo desnecessária a usucapião7.
Justo título deve ser definido como aquele que representa um contrato ou um ato
capaz de transferir a propriedade, em virtude da tradição que determina, derivando a não
transferência da falta de direito da pessoa que ensejou a transferência, e não por defeito do
título que representou a tradição.
Portanto, justo é o que é elementar, traduzindo-se em ato conforme a justiça, a
equidade, a razão, ou seja, ato imparcial, reto, exato, legítimo, oposto de contrato injusto,
injurídico, falho e fraudulento.
Não sendo necessário para ser justo a realização do registro do título.
e) Boa-fé. É a convicção do prescribente de que tem a legitimidade da posse sobre o
objeto a ela sujeito, obtido através de uma venda jurídica feita pelo verdadeiro proprietário. (art.
1.201 do CC)
Na definição de Lenine Nequete, está de boa-fé se o possuidor acredita:
a) que a coisa possuída lhe pertence;
b) que o título o tornou proprietário;
c) que em razão do título inatacável, o transmitente era proprietário do imóvel;
d) a aquisição não causou prejuízo ao legítimo titular;
e) de que adquiriu do legítimo dono;
Há presunção em favor do possuidor. Para originar o jus usucapiendi a boa-fé deve
estar presente desde o início até consumar-se o prazo da prescrição aquisitiva. A má-fé, ainda
que durante o decurso do prazo, invalida a posse como justa, interrompendo a contagem do
prazo.
Redução do prazo nos termos do parágrafo único do art. 1.242 do CC/02 para 05
anos caso o imóvel houver sido adquirido onerosamente, com base no registro constante do
respectivo cartório, cancelado posteriormente, desde que os possuidores nele tiverem
estabelecido a sua morada, ou realizado investimentos de interesse social e econômico.
7 A respeito, Pontes de Miranda afirma “se houver transcrição do título, operou-se a transferência e, assim, patente é a superfetação da ação de usucapião: seria usucapir de si mesmo”
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3. Usucapião Rural Especial8 - A Lei 6.969 de 10.12.1981 foi uma tentativa de
solução dos problemas fundiários decorrentes da proliferação dos conflitos entre posseiros e
proprietário em razão das ocupações constantes de áreas rurais por colonos sem terra.
Dispõe a Lei em seu art. 1º “Todo aquele que, não sendo proprietário rural nem
urbano, possuir como seu, por cinco anos ininterruptos, sem oposição, área rural contínua não
excedente de vinte e cinco hectares, e a houver tornado produtiva com seu trabalho e nela tiver
sua morada, adquirir-lhe-á o domínio, independentemente de justo título e boa fé, podendo
requerer ao juiz que assim o declare por sentença, a qual servirá de título para a transcrição no
Registro de imóveis”.
Com o advento da CF/88 igualmente restou previsto em seu art. 191 o usucapião rural,
quedando praticamente derrogada a Lei 6.969/81. O disposto na CF resta confirmado pelo
CC/02 art. 1.239: Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou urbano, possua como
sua, por 5 (cinco) anos ininterruptos, sem oposição, área de terra em zona rural não superior a
cinqüenta hectares, tornando-se produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela sua
moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.
O usucapião rural constitui a consagração do princípio agrarista de que deve ser dono
da terra rural quem a tiver frutificado com o seu suor, quem nela se estabeleceu com a família
morando habitualmente, ali construindo o seu lar.
Independe de justo título e boa-fé, vez que a Lei 6.969/81 não exigia e a CF/88 e
CC/02 silenciaram a respeito, presumindo-se a prescindibilidade de tais elementos.
Diferenças entre o usucapião previsto na CF e CC/02 e a Lei 6.969/81:
- área – segundo a CF/88 e CC/02 a extensão não pode ultrapassar 50 hectares e
segundo a Lei 6.969/81 a extensão não podia exceder a 25 hectares;
8 Esse usucapião denominado pro labore ou constitucional relativo às áreas rurais previsto no Estatuto da Terra e CF anteriores, sofreu grandes modificações. Nos termos do art. 98 do Estatuto da Terra é um usucapião relativo a propriedade familiar, exigindo-se que o possuidor ocupe por 10 anos ininterruptos, sem oposição nem reconhecimento do domínio alheio, tendo-a tornado produtiva pelo seu trabalho e, ainda, que nela tenha sua morada.Admitia-se o reconhecimento do domínio sobre terras públicas, devolutas e particulares, sendo cessado referida possibilidade com a CF de 1967, art. 64, entretanto, por permanecer previsto no Estatuto da Terra, é defendida sua vigência após 1967.O que é corroborado pelos Tribunais, permanecendo o usucapião pro labore sobre terras tanto públicas como particulares, nos termos do Estatuto da Terra, art. 98 e Lei nº 6.969/81.O Estatuto da Terra não afasta a possibilidade de se usucapir terra pública ou devoluta, mesmo na faixa de fornteira. Daí deflui que a Lei 6.969/81 veio criar nova modalidade de usucapião, num avanço, e nunca num retrocesso, como se pretende fazer crer quando se sustenta ter como ab-rogado o disposto no art. 98 do Estatuto da Terra.Ficando com o parágrafo único do art. 191 da CF, impossibilitado usucapir terras devolutas.
11
- conceito de tipo de área – Lei 6.969/81 são objetos do usucapião rural as terras
rurais, com destinação rural; CF/88 e CC/02 refere-se a áreas situadas na zona rural, ou seja,
fora do perímetro urbano.
- trabalho do agricultor ou família – a CF e o CC/02 exigem para o reconhecimento
do domínio o trabalho do agricultor ou de sua família, diferentemente da Lei 6.969/81
reclamava-se o exercício de atividade rural da pessoa que encontra na posse.
- área contínua – em que pese omissa pelo CF e CC/02, é necessário para
reconhecimento do domínio.
- terras devolutas – era assegurado pela Lei 6.969/81 o usucapião de terras
devolutas o que restou revogado pela parágrafo único do art. 191 da CF/88, salvo quanto as
situações já consumadas até a vigência daquela.
Requisitos:
a) Legitimidade para a ação – aquele que não for proprietário de imóvel rural ou
urbano, ou seja, mantém somente a posse da área pretendida, vez que objetivo é assentar
agricultores sem terra, dando-lhes garantia e segurança, o reduziria as diferenças sociais.
A impossibilidade quanto ao domínio de qualquer outra área deve perdurar ainda que
no curso do prazo prescricional.
Caso ocorra a aquisição dominial em qualquer momento no transcurso dos cinco anos,
interrompe-se a prescrição; iniciará a fluir novo prazo a partir do dia em que cessa tal caráter.
Posse pessoal – nos termos do art. 1.243 a posse deve ser pessoal, não podendo se
somar à posse de outro, em razão da natureza do Instituto, qual seja, amparar o agricultor
interessado em permanecer na terra, nela trabalhando diretamente e não através de proposto
ou exercício indireto da posse, como arrendamento, parceria, locação, etc.
Os sucessores diretos, percebendo a coisa em razão da causa mortis podem somar a
posse do antecessor ao período por eles exercido, desde que cultivem, concomitantemente a
terra, nela já se encontrando à época dos fatos.
De igual, feita se o marido abandona a família que residia com o mesmo na
propriedade e ajudavam a cultiva-la, permaneceram na terra até completar a prescrição.
b) Quanto as terras usucapíveis – iniciada a prescrição a contar da vigência da atual
CF, poderá ser de até 50 hectares. Para as posses anteriores, sob o prisma da Lei 6.969/81,
fixa-se o limite máximo de 25 hectares.
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Em que pese a diferença entre a Lei 6.969/81 que fala em área rural9 e a CF e CC/02
falam em área de terra em zona rural, não impede o exercício do direto para aqueles
possuidores que, embora exerçam a posse em áreas urbanas, dêem ao imóvel uma destinação
rural ou agrícola. O objetivo da CF, art. 191 e do CC/02, art. 1.239 é atender o interesse
daqueles que fazem da terra seu único meio de sustento.
Ademais, a distinção relativamente ao imóvel urbano esta atrelada a finalidade a que
se presta.
Está restrito a terras particulares, em razão do parágrafo único do art. 191 da CF,
que proíbe o usucapião de bens públicos, com exceção para aqueles que adquirem a
prescrição aquisitiva de 5 anos anteriormente a vigência da CF/88, aos quais são assegurados
o usucapião de terras devolutas, em que pese, públicas nos termos do art. 20,III e 26, IV da CF.
Entretanto, há vedação, ainda que para aqueles que adquiram direito a usucapir, se
relativas a terras indispensáveis à segurança nacional, terras habitadas por silvícolas, que
tenha interesse ecológico, reservas biológicas ou florestas, parques nacionais, estaduais e
municipais, ficando, portanto, a cargo do Decreto Presidencial a definição do que seria terras
indispensáveis a segurança nacional10, o que dentre outras, nos termos da lei 6.969/81,
estendendo-se àquelas que formam a faixa de segurança definida na Lei 6.634, referente a
faixa interna de 150 Km de largura paralela à linha divisória terrestre do território nacional,
designado como faixa de fronteira.
c) Quanto à posse – o prazo mínimo é de 5 anos a iniciar da instalação com moradia
na terra, passando a cultivar a terra e torna-la, por qualquer modo, produtiva com o seu trabalho
ou de sua família.
A ocupação deve ser pessoal, pelo próprio requerente ou de familiares durante todo o
prazo, sem interrupção, exceto nos casos de força maior (inundações, doenças, etc).
Exige-se ainda que a posse seja exercida com a intenção de dono, cultivando a terra,
tornando-a produtiva.
Portanto, soma-se à necessidade de cultivo a morada efetiva na área ocupada.
Deve ainda ser ela sem oposição, pacífica, ou seja, tenha estabelecido e se exerça
sem violência.
9 Para o art. 4º do Estatuto da Terra, imóvel rural é o prédio rústico, de área contínua, qualquer que seja a sua localização, que se destine à exploração extrativa, agrícola, pecuária, ou agroindustrial, quer através de planos públicos de valorização, quer através da iniciativa privada.10 Art. 2º do Decreto Presidencial 87.040/1982 consideram indispensáveis à segurança nacional as terras devolutas de que trata o Decreto-Lei 1.164/71, alterado pelo Decreto-Lei 1.243/82, pela Lei 5.917/73 e pelos Decretos-Lei 1.473/76 e nº 1.868/81, e a faixa de Fronteira definida pela Lei 6.634/79, as quais versam sobre as terras devolutas necessárias à segurança nacional e localizadas na Amazônia Legal, situadas na faixa de 100km de largura, em cada lado do eixo de 18 rodovias que integram aquela região, todas discriminadas, a começar pela Estrada Transamazônica.
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Dispensa-se a boa-fé, o que é exigido apenas para a usucapião ordinária.
Usucapião especial como matéria de defesa – nos termos do art. 7º da Lei nº 6.969,
a usucapião especial poderá ser invocada como matéria de defesa, valendo a sentença que a
reconhecer como título para transcrição no Registro de Imóveis.
Entretanto, deve o réu formular o requerimento como se se tratasse de uma inicial,
com a descrição do imóvel, a indicação dos confrontantes e possuidores, e das pessoas em
cujo nome esteja transcrito o terreno, preenchendo os requisitos exigidos.
Desta feita, a sentença decidirá todos os pedidos, do autor e do réu, salvo se a
solução de um implique no prejuízo do outro.
Isenção do Imposto Territorial Rural – a Lei 6.969 em seu art. 8º, isenta de imposto
a área usucapienda, para efetuar o pedido do usucapião especial. A CF em seu art. 153, §4º
determina que não incidirá referido imposto sobre pequenas glebas rurais, definidas em lei,
quando o proprietário que não possui outro imóvel as explore só ou com sua família.
Desta feita, a imunidade tributária atinge o usucapião requerido com base no art. 191
da CF e art. 1.239 do CC/02.
4. Usucapião especial urbano – introduzido pela CF, art. 183 e previsto no CC/02 art.
1240, com redação igual nos dois dispositivos, qual seja: “Aquele que possuir, como sua, área
urbana de até duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e sem
oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que
não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural”. Esta modalidade de usucapião
semelhante ao usucapião rural especial visa estabelecer direito àqueles que não possuam bens
imóveis e que o utilizem para habitação.
A Lei 10.257/2001 (Estatuto da Cidade) regulamentou este modalidade de usucapião
especial urbano individual nos termos do art. 9º.
Requisitos para usucapião especial urbano individual:
a) posse ininterrupta e sem oposição, com o ânimo de dono de imóvel em até
250m2 localizado em zona urbana do Município, por cinco anos;
b) utilização para a moradia própria do possuidor ou da família;
c) não ser o possuidor proprietário de outro imóvel urbano ou rural. O que não
significar que não possa ter sido proprietário em época anterior.
d) benefício do instituto pela primeira vez;
Como a posse é pessoal, o direito se transmite aos herdeiros, desde que este já
residisse no imóvel por ocasião da abertura da sucessão.
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Titulo do domínio conferido ao homem e à mulher – nos termos do art. 9º, §1º da
Lei 10.257/01 e §1º do art. 1.240 do CC/02, o domínio pode ser conferido ao homem ou a
mulher, individualmente ou conjuntamente, independente do estado civil. Aplica-se igualmente
aos membros de união estável.
Utilização do benefício pela primeira vez – tanto nos termos da lei 10.257, §2º e
CC/02 §2º dos artigos supra citados referido benefício poderá ser obtido, desde que o
usucapinte nunca tenha adquirido outro bem por usucapião, visto que o direito ora concedido é
obtido em detrimento ao direito de outrem, em que pese em decorrência de sua inobservância
as normas constitucionais.
5. Usucapião Familiar
Trata-se de usucapião exclusivamente a ser utilizado entre cônjuge ou
companheiro contra seu antigo consorte que abandonou o lar e não se opôs pelo período de 2
anos a posse mansa e pacífica do outro consorte.
Art. 1.240-A. Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente e sem
oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos
e cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-
companheiro que abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro imóvel urbano
ou rural. (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
§ 1o O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 12.424, de 2011)
Requisitos
- área urbana não superior a 250 m²; - posse mansa, pacífica e ininterrupta;
- animus domini;
- lapso temporal: 02 anos;
- abandono do lar – observações: a) atinge cônjuge e companheiros. b) relação
homoafetivas estão abrangidas; c) basta mera separação de fato - direito intertemporal: prazo
começa a correr a partir da vigência da alteração legislativa.
O imóvel deverá ser o único do usucapiente e não ser maior que 250m2.
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Dessa forma, é forçoso concluir que o abandono de lar para fins de usucapião é
desligado da culpa pelo rompimento da vida a dois. "[…] abandonou o lar […]" é o mesmo que
abandonou ao condômino a utilização do bem segundo seu fim social: moradia; ou, mais
simples, deixou de ali morar. A questão é toda ela ligada à função social da posse.
Ainda, o imóvel deve ser de propriedade do casal que surge com o casamento ou
com a união estável, seja ela hétero ou homossexual. Pode pertencer ao casal em condomínio
ou comunhão. Assim, se eram casados pelo regime da separação total de bens e ambos
adquiriram o bem, não há comunhão, mas sim condomínio e o bem poderá ser usucapido.
Igualmente, se o marido ou a mulher, companheiro ou companheira, cujo regime seja o da
comunhão parcial de bens compra um imóvel após o casamento ou início da união, este bem
será comum (comunhão do aquesto) e poderá ser usucapido por um deles. Ainda, se casados
pelo regime da comunhão universal de bens, os bens anteriores e posteriores ao casamento,
adquiridos a qualquer título, são considerados comuns e, portanto, podem ser usucapidos nesta
nova modalidade. Em suma: havendo comunhão ou simples condomínio entre cônjuges e
companheiros a usucapião familiar pode ocorrer.
A posse comum não enseja a aplicação do dispositivo. Não se admite usucapião
de imóvel que não seja de propriedade dos cônjuges ou companheiros. Assim, se um casal
invadiu um bem imóvel urbano de até 250 m2, reunidos todos os requisitos para a aquisição da
propriedade (seja por usucapião extraordinária, seja por usucapião constitucional), ainda que
haja abandono por um deles do imóvel, por mais de 2 anos, o direito à usucapião será de
ambos e não de apenas daquele que ficou com a posse direta do bem, não se aplicando
referido prazo.
A separação de fato dá início do prazo desta nova modalidade de usucapião,
culminado com o abandono do lar, vez que o ex-conjuge ou ex-companheiro, deixou de
praticar atos que lhe são inerentes, sejam estes atos de uso, de gozo ou de reivindicação.
Abandono deve ser compreendido como efetivo não exercício de atos possessórios.
Se o cônjuge ou companheiro que não residir no imóvel tomar qualquer medida judicial
ou extrajudicial visando à manutenção da propriedade não se configura o abandono. Ex: ação
para arbitramento de aluguel pelo uso exclusivo da coisa comum ou que propõe ação de
partilha do bem comum.
Igualmente não se verifica o abandono, se a mulher se valeu das medidas previstas no
art. 22 da Lei Maria da Penha (Lei 11.340/06) para sua proteção, quais sejam, afastamento do
marido ou companheiro do lar, domicílio ou local de convivência com a ofendida; proibição de
determinadas condutas, entre as quais: a) aproximação da ofendida, de seus familiares e das
testemunhas, fixando o limite mínimo de distância entre estes e o agressor; b) contato com a
ofendida, seus familiares e testemunhas por qualquer meio de comunicação; c) freqüentação de
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determinados lugares a fim de preservar a integridade física e psicológica da ofendida; não há
que se falar em abandono por parte do marido ou companheiro e, portanto, não há
possibilidade de usucapião familiar. Se usucapião houver, será por outra modalidade qualquer,
mas não a do art. 1.240-A do Código Civil.
6. Usucapião Coletivo
O Usucapião coletivo previsto no art. 1011 a Lei 10.257/01, sendo aquele promovido
por várias pessoas, ou por uma coletividade de indivíduos, desde que presente um vínculo de
proximidade social e econômica.
Desta feita, restando ocupada uma área maior de 250m2 por um grupo de pessoas,
com baixa renda e sendo difícil identificar as porções ocupadas individualmente, possibilitando-
se o reconhecimento do usucapião, desde que presentes os requisitos.
Requisitos para usucapião especial urbano coletivo:
a) que a população de baixa renda tenha posse ad usucapionem de imóvel com
mais de 250m2 por cinco anos ininterruptos posse mansa, pacífica e ininterrupta;
b) que os terrenos ocupados não possam ser identificados por cada possuidor;
o pedido de usucapião é da área ocupada, mas individuando os ocupantes ou moradores. Para
tanto, é autorizada a soma da posse atual com a exercida anteriormente, tendo por finalidade
completar o período de cinco anos. Na sentença restará atribuída fração ideal de terreno igual a
cada possuidor, independente da dimensão do terreno que cada possuidor ou conjunto familiar
ocupe a menos que haja acordo firmado entre eles e ainda, independente da regularidade do
parcelamento do solo ou da edificação.
c) Não sejam proprietários de imóvel urbano ou rural;
d) animus domini
Dispõe o §4º do art. 10 da Lei 10.257/01 que “o condomínio especial constituído é
indivisível, não sendo passível de extinção, salvo deliberação favorável tomada por, no mínimo,
dois terços dos condôminos, no caso de execução de urbanização posterior à constituição do
condomínio”.
Partes legítimas para propor ação de usucapião especial urbana: o possuidor,
isoladamente ou em litisconsórcio; os possuidores em estado de composse; como substituto
processual, a associação de moradores da comunidade, desde que regularmente constituída,
com personalidade jurídica e explicitamente autorizada pelos representantes.
11 Art. 10. As áreas urbanas com mais de duzentos e cinqüenta metros quadrados ocupados por população de baixa renda para sua moradia, por cinco anos, ininterruptamente e sem oposição, onde não for possível identificar os terrenos ocupados por cada possuidor, são suscetíveis de serem usucapidos coletivamente, desde que os possuidores não sejam proprietários de outro imóvel urbano ou rural.
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Nos termos do art. 1112 da Lei supra citada as ações possessórias ou petitórias ficam
sobrestadas enquanto se processar a ação de usucapião.
7. Usucapião indígena
A usucapião indígena nos é dada pelo Estatuto do Índio, Lei 6.001/73 em seu artigo
33. É um tipo de usucapião com poucos requisitos, por tempo de posse média, que pode
garantir a um indígena que se adquira propriedade conforme seus termos.
Art.33. O índio integrado ou não, que ocupe como próprio, por dez anos consecutivos,
trechos de terras inferior a cinqüenta hectares, adquirir-lhe-á propriedade plena.
Requisitos:
- área rural e particular de, no máximo, 50 hectares;
- posse mansa, pacífica e ininterrupta;
- exercida por indígena;
- lapso temporal: 10 anos;
O parágrafo único do mencionado dispositivo é claro que não aplicáveis às terras da
União, ocupadas por grupos tribais, as áreas que encontram-se reservadas e tratadas pelo
Estatuto do Índio, nem as terras de propriedade coletiva de grupo tribal as disposições do
instituto em apreço.
Legitimidade para propor ação: se o índio possui plena capacidade, poderá propor
diretamente a ação de usucapião, caso contrário será representado pela FUNAI (Lei. 5.371/67)
que possui competência para exercer a tutela dos indígenas em nome da União.
Pode usucapir o índio integrado ou não a civilização.
Não se aplica as terras de domínio da União.
12 Art. 11. Na pendência da ação de usucapião especial urbana, ficarão sobrestadas quaisquer outras ações, petitórias ou possessórias, que venham a ser propostas relativamente ao imóvel usucapiendo.
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