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Pos-Graduação (Lato Senso) Habilidades Metalinguísticas e Alfabetização

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Pos-Graduação

(Lato Senso)

Habilidades

Metalinguísticas

e Alfabetização

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FETAC – Faculdade de Educação Tecnologia e Administração de Caarapó

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CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE

MORFOLOGIA

Um pouco de morfologia para começar

Em qualquer frase que produzimos, a

compreensão estará garantida se nós e o nosso

interlocutor tivermos alguns pontos em comum.

Suponhamos o seguinte diálogo, ouvido em um

escritório:

O problema de comunicação neste diálogo

ocorreu porque João desconhece o sentido do vocábulo

"escanear". Ele até percebeu que significava "fazer

alguma coisa", mas só chegou até aí.

Escanear vem sendo muito usado em português,

na área de informática. Vem de "scan" (esquadrinhar,

explorar) e "scanner" (a máquina que faz cópias),

vocábulos de origem inglesa. Esse processo é

semelhante ao que gerou em português o verbo

xerocar, a partir de Xerox, nome da firma que produz a

máquina.

Em um e outro caso, formaram-se em português

verbos reunindo um radical inglês e uma desinência

verbal de infinitivo de 1ª conjugação, própria do

português. Esse processo é muito produtivo, não

somente na área de informática. Observe: malufar (=

aderir a ideias de Paulo Maluf); resetar (= religar o

computador); surfar (= praticar o esporte chamado

surf).

O falante tem um conhecimento intuitivo da

possibilidade de combinar um número ilimitado de

elementos lexicais com um número reduzido de

elementos gramaticais, específicos do português,

resultando dessa combinação os vocábulos com que

expressa o seu conhecimento do mundo.

Essa significação lexical é expressa nos vocábulos

por aquilo que, em morfologia, designamos por

Pedro: - Por favor, escaneie este artigo do

jornal para mim.

João: - Escan o que?

Pedro: - Escanear, passar o "scanner".

João: - O que é "scanner"?

Pedro: - É um aparelho que se usa junto

com o computador.

Escanear é copiar.

João: - Agora, sim. Eu até entendi que você

queria que eu fizesse alguma coisa com o artigo

do jornal, mas não percebi o quê exatamente.

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morfema lexical. Já a significação gramatical

corresponde ao que designamos por morfema

gramatical.

Os vocábulos em português resultam da seleção

e da combinação de morfemas, formas mínimas que

contêm significação. Tanto os morfemas lexicais quanto

os gramaticais retratam a maneira como o homem vê a

realidade que o rodeia.

Os morfemas lexicais, como já foi dito, têm

significação externa, relacionamse ao mundo

extralinguístico. Exemplos: flor, sol, árvore, saudade.

Os morfemas gramaticais têm significação

interna, gramatical, relacionam-se com o sistema

linguístico e são responsáveis por representar

categorias gramaticais próprias da língua, no processo

de flexão. Exemplo: -s é o morfema gramatical que, em

português, traduz a noção de plural. Podem também ter

uma função relacional, reunindo, nas frases da língua,

os vocábulos constituintes. Exemplos: livro de leitura,

café com leite, gostei mas não comprei.

Existe uma outra característica que distingue os

morfemas lexicais dos morfemas gramaticais: os lexicais

Nós, os temulentos

E, mais três passos, pernibambo, tapava o caminho a uma senhora, de paupérrimas feições, que em ira o mirou, com trinta espetos.

- Feia! - o Chico disse; fora-se-lhe a galanteria.

- E você, seu bêbado!? - megerizou a cuja.

E, aí, o Chico: - Ah, mas … Eu?… Eu, amanhã, estou bom …

E, continuando, com segura incerteza, deu consigo noutro local, onde se achavam os copoanheiros, com método iam combeber. Já o José, no ultimato, errava mão, despejando-se o preciosíssimo líquido orelha adentro.

- Formidável! Educaste-a? - perguntou o João, de apurado falar.

- Não. Eu bebo para me desapaixonar … Mas o Chico possuía outros iguais motivos:

- E eu para esquecer … - Esquecer o que?

- Esqueci.

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constituem um conjunto aberto, pois novos elementos

podem ser acrescentados aos já existentes; os

gramaticais constituem um conjunto fechado, finito,

próprio de uma língua.

Retomemos o verbo escanear. Ele foi criado a

partir de um termo do inglês, scan, ao qual se

acrescentou a terminação -ar, que marca os verbos de

1ª conjugação. Da mesma forma, incorporaram-se ao

léxico português os verbos malufar, surfar, em que

temos os morfemas lexicais maluf- e surf-(inventário

aberto), aos quais se juntou a mesma terminação -ar

(composta pelos morfemas gramaticais -a e -r).

Para reforçar a noção de inventário aberto e

inventário fechado, transcrevemos aqui alguns trechos

do texto "Nós, os temulentos", de Guimarães Rosa, um

dos prefácios de Tutaméia, o último livro publicado em

vida do autor.

Considerando-se o inventário aberto e fechado,

destaque os morfemas lexicais que constituem um

conjunto aberto, pois novos elementos podem ser

acrescentados aos já existentes; e alguns gramaticais

que constituem um conjunto fechado, finito, próprio de

uma língua.

CLASSES E FUNÇÕES

Antes de abordar a questão das classes, é

necessário esclarecer os conceitos de classe e função:

· "classe é um conjunto de elementos linguísticos

Classe com uma propriedade essencial em comum" (Mattoso Câmara, 1977).

· “uma classe será definida como o conjunto de unidades que têm as mesmas possibilidades de aparecer num dado ponto do enunciado” (Dubois, 1978).

· "uma classe é um conjunto (não necessariamente finito) de formas linguísticas" (Perini, 1985).

· "função é a aplicação que tem na língua uma forma em vista do seu valor gramatical" (Mattoso Câmara, 1977) · "função é o papel representado por um termo na estrutura gramatical de um enunciado, sendo cada membro considerado como participando do sentido geral desta. (Dubois, 1978)

· "uma função é um princípio organizacional da Função linguagem" (Perini, 1985) · "determinar a função de um constituinte é formular sua relação com os demais constituintes da unidade de que ambos fazem parte" (Perini, 1985) . “a relação que se estabelece entre dois elementos que se articulam” (Carone, 2002) . “na estrutura sintática é o papel exercido por um dos componentes em relação a outro: adjunto adnominal (do substantivo...), sujeito (do verbo...)” (Carone, 2002)

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· "classe é uma propriedade que se atribui a um elemento fora de contexto "(Perini, 1995)

Entretanto, não devemos trabalhar com estes

dois conceitos de maneira estanque, porque fica cada

vez mais evidente que, para definirmos uma classe de

vocábulos, precisamos usar critérios funcionais. Ou seja,

precisamos definir qual o papel do vocábulo na unidade

sintagmática em que ele ocorre.

Por unidade sintagmática deve ser entendido um

agrupamento intermediário entre o nível do vocábulo e

o da oração. Desta maneira, um ou mais vocábulos se

unem (em sintagmas) para formar uma unidade maior,

que é a oração.

Os vocábulos que compõem a unidade

sintagmática se organizam em torno de um núcleo;

dependendo do núcleo, podemos falar em sintagma

nominal e sintagma verbal.

Chama-se sintagma uma sequência de palavras

que constituem uma unidade (sintagma vem de uma

palavra grega que comporta o prefixo sim, que

significa com, que encontramos, por exemplo, em

simpatia e sincronia). Um sintagma é uma associação

de elementos compostos num conjunto, organizados

num todo, funcionando conjuntamente. (…) sintagma

significa, por definição, organização e relações de

dependência e de ordem à volta de um elemento

essencial."

(Dubois-Charlier. Bases de Análise Linguística)

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Diferentes vocábulos que pertencem a um

mesmo sintagma desempenham dentro dele funções

distintas: no sintagma nominal, por exemplo, o nome

substantivo que funciona como núcleo pode ser

determinado por artigos, pronomes e numerais e

modificado por adjetivos, locuções adjetivas e/ou

orações subordinadas adjetivas. Desta maneira, é

evidente que existe, dentro do sintagma, uma

organização em que os vocábulos, dependendo de sua

posição e da relação que estabelecem entre si,

desempenham diferentes funções.

POR QUE CLASSIFICAR OS VOCÁBULOS?

Ao incluirmos nesta série de temas de Língua

Portuguesa um texto sobre.

As classes de vocábulos, queremos, em primeiro

lugar, esclarecer que nossa intenção é encaminhar o

assunto visando ampliar a capacidade de expressão oral

e escrita do aluno, em uma perspectiva produtiva.

Por que, então, arrumar os vocábulos em classes?

Em qualquer livro didático, encontramos,

invariavelmente, um capítulo dedicado ao estudo das

classes. No entanto, percebemos que os livros repetem

a enumeração de forma puramente descritiva, o que

leva os alunos a uma simples memorização, sem

entender bem para que estejam aprendendo aquilo. É

necessário, portanto, que o professor, no trabalho com

O cientista não

resolveu todas as questões

O cientista Não resolveu

todas as questões

Sintagma

nominal

sintagma verbal

O cientista não

resolveu

todas as

questões

sintagma

nominal

mod.

verbo

sintagma

nominal

O

cientista

não

resolveu

todas as

questões

determinante

+ núcleo

nominal

adv. +

núcleo

verbal

det. + det. +

núcleo nominal

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o ensino da língua, tenha clareza da diferença entre uma

perspectiva descritiva e uma perspectiva produtiva.

Fonte: www.2.bp.blogspot.com

Na tradição da abordagem descritiva,

destacaremos aqui a visão do professor Mário Perini,

que, há tempo, vem se dedicando ao estudo da

gramática do português, refletindo e propondo algumas

inovações. Em 1985, publicou, pela editora Ática, para

uma nova gramática do português, que constitui uma

proposta de renovação do ensino gramatical, partindo

de uma crítica das bases teóricas da gramática

tradicional. No capítulo "Classes e funções", Perini

mostra a distinção entre classe e função, de forma clara,

concluindo que: "A classificação das palavras é apenas

um caso particular da classificação das formas

sintáticas, e desprezar esse fato equivale a deixar de

exprimir muitas generalizações importantes sobre a

estrutura da língua."

Mário Perini publicou, também pela editora Ática

(1995), a Gramática descritiva do português, em que

dedica dois capítulos ao estudo das classes. Retomando

a abordagem de 1985, o autor justifica a colocação de

duas ou mais palavras na mesma classe com base no

princípio da economia. O que vem a ser esse princípio?

Existem afirmações que podem ser feitas para um

grande número de palavras. "Se as colocarmos todas na

mesma classe, poderemos fazer nossa afirmação única

no lugar de milhares de afirmações idênticas separadas.

Além disso, poderemos descobrir que há outras

afirmações gramaticais que valem exatamente para

essas mesmas palavras

- ou seja, para essa mesma classe.”

Em livro mais recente (1998), Perini faz uma

interessante crítica sobre o ensino das classes de

vocábulos e da gramática em geral.

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"Uma coisa que nos poderiam ter dito na escola

(mas, em geral, não disseram) é para quê a gente

precisa separar as palavras em classes. Ora, a razão é

semelhante à que nos obriga a separar os animais em

classes, ordens, espécies etc.: classificamos as palavras

para podermos tratar delas com um mínimo de

economia.” (p. 41)

Um pouco antes ele havia afirmado:

Grande parte do labor científico consiste em

classificar entidades e elaborar justificativas para essa

classificação. A ciência não se limita a isso,

evidentemente: uma ciência é muito mais que uma

classificação de objetos. Mas, em geral, depende de

classificações, até mesmo para possibilitar o diálogo

entre cientistas.

Por exemplo, os zoólogos dividem os animais em

diversas categorias: mamíferos, répteis, peixes,

insetos, aves, anfíbios, e assim por diante. Sem essas

categorias seria muito difícil fazer zoologia, ou mesmo

falar de zoologia, pois elas permitem ao cientista

referir-se a tipos de animais, em vez de referir-se a

cada animal (ou cada espécie) individualmente. Assim,

podemos encontrar trabalhos descritivos sobre os

mamíferos da América do Sul, ou sobre a evolução dos

répteis, ou sobre a fisiologia dos insetos etc. Esses

trabalhos, e muitíssimos outros, dependem da

classificação prévia dos animais (classes, ordens,

famílias, gêneros e espécies) para a definição de seu

campo de interesse; nesse sentido, todo o trabalho da

zoologia repousa sobre classificações.

É preciso, naturalmente, dispor de critérios

objetivos para colocar um animal nesta ou naquela

classe. Assim, os mamíferos se distinguem dos répteis

graças a diversos traços de sua estrutura e

funcionamento:

a temperatura do corpo dos mamíferos é

constante, a dos répteis depende da temperatura

ambiente; os mamíferos dão à luz filhotes vivos, os

répteis põem ovos; os mamíferos amamentam os

filhotes, os répteis não; os mamíferos têm pêlos, os

répteis têm a pele nua ou coberta de escamas. Com

esses quatro critérios é possível, em geral, decidir

rapidamente se um animal é mamífero ou réptil:

lagartixas e vacas não apresentam dificuldades a esse

respeito.

Mas dificuldades há, embora nem sempre sejam

mencionadas nos livros de introdução à biologia. Uma

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delas é o ornitorrinco. Esse estranho bicho australiano

bota ovos, mas amamenta os filhotes; tem

temperatura do corpo parcialmente dependente da

temperatura ambiente e tem pêlos. Será um

mamífero, um réptil ou outra categoria qualquer? Isso

depende de darmos mais importância a um ou outro

dos critérios que definem as classes. De qualquer

forma, é necessário admitir que as categorias

“mamíferas” e répteis”, embora convenientes e úteis,

não são perfeitas. A maioria dos animais se coloca

claramente em um ou outra das diversas classes

reconhecidas pelos zoólogos; mas há alguns, como o

ornitorrinco, que ficam mais ou menos no meio."

(p.39/40)

Sem negar a necessidade de trabalhar sob uma

perspectiva descritiva, é preciso ter em mente que um

ensino mais produtivo da língua está vinculado ao

conhecimento de como cada classe atua na organização

e produção de textos. Sob esse ponto de vista, o estudo

das classes deveria contribuir para ampliar a expressão

oral e escrita do aluno, permitindo-lhe explorar, com

mais expressividade, as possibilidades combinatórias

dos vocábulos na construção do texto.

Um dos conhecimentos que o aluno pode

adquirir, por exemplo, diz respeito à mobilidade que

certos vocábulos apresentam. Observe o emprego do

advérbio nestas frases:

A moto em que ele estava passeando lentamente

saiu da estrada.

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CRITÉRIOS DE CLASSIFICAÇÃO

Fonte: www.o.aolcdn.com

Os vocábulos de uma língua constituem um

conjunto ordenado, e o que concorre para essa

ordenação é o fato de apresentarem semelhanças de

forma, de sentido e de função, como vimos na

introdução. Daí poderem ser agrupados ou classificados

levando em conta três critérios: o formal ou mórfico, o

semântico e o funcional. O critério formal ou mórfico

baseia-se nas características da estrutura do vocábulo;

o semântico baseia-se no seu modo de significação

(extralinguístico e intralinguístico), e o funcional baseia-

se na função ou papel que ele desempenha na oração.

A aplicação desses critérios nos conduzirá às classes de

vocábulos, ou seja, aos conjuntos "das unidades que

têm as mesmas possibilidades de aparecer num dado

enunciado" (Dubois, 1973, p.108).

Para reforçar a opção por esses critérios, convém

lembrar que a língua é um sistema de elementos e de

relações; esse sistema, formado de subsistemas, se

organiza nos níveis fonológico, morfossintático e

semântico.

Segundo Mattoso Câmara, o critério semântico

não deve ser observado isoladamente, como acontece

comumente na Gramática Tradicional. Para ele, o

critério semântico e o critério mórfico se associam de

forma muito estreita, pois o vocábulo é uma unidade de

forma e de sentido. "O sentido não é qualquer coisa de

independente, ou, mais particularmente, não é apenas

um conceito; conjuga-se a uma forma. O termo sentido

só pode ser entendido com o auxílio do conceito

deforma." (Mattoso Câmara, 1970).

De acordo com o critério morfo-semântico, os

vocábulos do português se agrupam em nomes, verbos,

pronomes, advérbios e conectivos, constituindo-se as

três primeiras classes, de vocábulos variáveis, e as duas

últimas, de vocábulos invariáveis. A diferença entre

essas classes está no modo de significação e nas

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categorias gramaticais que cada uma delas expressa, ou

seja, na sua flexão.

• o nome, por nomear os seres, expressa as

categorias de gênero e número;

• o pronome faz uma referência ao nome dentro

de um contexto e por isso expressa também as

categorias de gênero e número, além de possuir formas

diferentes para pessoas e funções sintáticas;

• o verbo, que expressa um processo, se distingue

das outras classes do grupo porque apresenta variação

de modo, tempo (aspecto) e pessoa (número);

• o advérbio especifica a significação de um

processo verbal e é invariável;

• os conectores estabelecem relações de sentido

entre os elementos da frase e são invariáveis.

Por outro lado, os critérios mórfico e funcional

estão também intimamente relacionados, pois a forma

depende da função que o vocábulo desempenha na

frase, das relações de regência e concordância que se

estabelecem.

Do ponto de vista funcional, as classes de

vocábulos podem ser diferenciadas de acordo com

características sintáticas. O nome substantivo funciona

como núcleo do sintagma nominal, acompanhado por

determinantes e modificadores. O verbo funciona como

núcleo do sintagma verbal, acompanhado por

complementos e modificadores.

Os quadros a seguir apresentam a classificação

dos vocábulos de acordo com esses critérios:

CRITÉRIO MÓRFICO

CRITÉRIO SEMÂNTICO

CRITÉRIO FUNCIONAL

substantivo adjetivo Advérbio

nome nomeia os

seres

especifica o

nome

substantivo

especifica o

verbo ou o

nome

adjetivo

pronome situa no

contexto

situa no

contexto

expressa as

circunstâncias

da ação

verbal

substantivo adjetivo Advérbio

nome variável variável Invariável

pronome variável variável Invariável

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Retomando o conceito de função como um

princípio da organização da oração, devemos entender

que “determinar a função de um constituinte é formular

sua relação com os demais constituintes da unidade de

que ambos fazem parte" (Perini, 1995).

Para Perini (1995), "classificar as palavras implica

elaborar uma classificação sobre critérios formais (sem

excluir da descrição a classificação semântica, mas

separando-se nitidamente dela)". Afirma que "é

necessário classificar as palavras quanto a seus traços

formais, isto é, quanto ao seu comportamento sintático

e morfológico; e também é necessário classificá-las

quanto a seus traços de significado". Segundo ele, é

preciso estar atento à coerência que deve haver dentro

de cada classe, isto é, a definição que se dá desta classe

deve se adequar ao conjunto de vocábulos nela incluído;

deve haver também uma relativa homogeneidade entre

os componentes da classe quanto ao comportamento

gramatical.

Embora esses conjuntos de vocábulos possam ser

estabelecidos com base em semelhanças de

comportamento gramatical, a função que eles

desempenham é fundamental para determinar suas

características semânticas e morfológicas. Por isso, a

separação entre as classes não é estanque. Observe

estes parágrafos extraídos do texto Nós, o pistoleiro,

não devemos ter piedade, de Moacyr Scliar.

[...] porta se abre. Entra um mexicano chamado

Alonso. Dirige-se a nós com desrespeito. Chama-nos de

gringo, ri alto, faz tilintar a espora. Nós fingimos

ignorá-lo. Continuamos bebendo nosso uísque a

substantivo adjetivo Advérbio

Nome núcleo de

sintagma

modificador do

núcleo do

sintagma

nominal

modificador do

núcleo do

sintagma verbal

ou de um

modificador do

núcleo do

sintagma

nominal

pronome núcleo de

sintagma

modificador do

núcleo do

sintagma

nominal

modificador do

núcleo do

sintagma verbal

ou de um

modificador do

núcleo do

sintagma

nominal

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FETAC – Faculdade de Educação Tecnologia e Administração de Caarapó

13

pequenos goles. O mexicano aproxima-se de nós.

Insulta-nos. Esbofeteia-nos. Nosso coração se

confrange. Não queríamos matar mais ninguém. Mas

teremos de abrir uma exceção para Alonso, cão

mexicano.

Combinamos o duelo para o dia seguinte, ao

nascer do sol. Alonso dános mais uma pequena

bofetada e vai-se. Ficamos pensativos, bebendo o

uísque a pequenos goles. Finalmente atiramos uma

moeda de ouro sobre o balcão e saímos. Caminhamos

lentamente em direção ao nosso hotel. A população

nos olha. Sabe que somos um terrível pistoleiro. Pobre

mexicano, pobre Alonso.[…]

(Para gostar de ler, vol.9, São Paulo, Ática, 1992)

Comparando os sintagmas um mexicano, o

mexicano, pobre mexicano, cão mexicano, verifique

como funciona a palavra mexicana e no último

sintagma. Explique o que ocorre, a partir da noção de

mobilidade dentro dos sintagmas e mudança na sua

função.

Há, de certa forma, entre os autores citados, uma

concordância de que é importante considerar os

vocábulos em seus diferentes aspectos (morfológico,

funcional e semântico). O problema com os livros de

gramática e os livros didáticos é que, em geral, a

definição de cada classe não leva em conta os mesmos

critérios, o que resulta em definições confusas,

privilegiando ora um, ora outro critério. De uma forma

geral, a classificação se apóia basicamente no critério

semântico, complementado às vezes pelo morfológico.

Essa posição tem origens históricas. Os antigos

gramáticos gregos e latinos já se preocupavam com o

estudo das diferentes classes, estabelecendo, com base

em uma perspectiva morfológica, distinções baseadas

nas flexões a que cada tipo de vocábulo se submetia. Por

exemplo, o substantivo era diferenciado do verbo por

apresentar flexão de gênero e número, e não de pessoa,

tempo e modo.

Seguindo esse modelo, as gramáticas normativas

também privilegiam o critério morfológico, aliando-o,

agora, ao critério semântico. Já nos estudos lingüísticos

mais recentes, fica evidente a necessidade de basear a

classificação dos vocábulos no critério funcional.

Em português, distinguem-se, tradicionalmente,

dez classes de vocábulos.

Vejamos as definições normalmente encontradas

nos compêndios gramaticais:

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Substantivo - é o nome de todos os seres

(critério semântico) que existem ou que imaginamos

existir.

Adjetivo - é toda e qualquer palavra que, junto

de um substantivo, (critério funcional) indica uma

qualidade, estado, defeito ou condição (critério

semântico).

Numeral - é a palavra que dá idéia de número

(critério semântico).

Artigo - é a palavra que antecede o substantivo

(critério funcional) e indica o seu gênero e número,

(critério morfológico) individualizando-o ou

generalizando-o (critério semântico).

Pronome - a palavra que substitui ou

acompanha um substantivo (nome) , (critério

funcional) em relação às pessoas do discurso (critério

morfo-semântico).

Verbo - é a palavra que pode sofrer as flexões de

tempo, pessoa, número e modo. (critério morfológico)

(...) é a palavra que pode ser conjugada; indica

essencialmente um desenvolvimento, um processo

(ação, estado ou fenômeno) (critério semântico).

Advérbio - é a palavra invariável, (critério

morfológico) que modifica essencialmente o verbo

(critério funcional), exprimindo uma circunstância

(tempo, modo, lugar, etc.)

(critério funcional) .

Preposição - é a palavra invariável (critério

morfológico) que liga duas outras palavras entre si

(critério funcional), estabelecendo entre elas certas

relações (critério semântico).

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Conjunção - é a palavra invariável (critério

morfológico) que liga orações, ou, ainda, termos de

uma mesma função sintática (critério funcional).

Interjeição - é a palavra invariável (critério

morfológico) que exprime emoção ou sentimento

repentino (critério semântico)

.

Essas definições são incompletas e devem ser

revistas, porque privilegiam, seguindo a tradição

gramatical, quase que exclusivamente o critério

semântico.

Essas definições, seguindo a tradição gramatical,

privilegiam quase que exclusivamente o critério

semântico, o que as torna definições incompletas.

Fonte: www.uptokids.pt

Em um dos compêndios analisados, encontra-se,

inclusive, a seguinte afirmação sobre as interjeições: "As

interjeições são, na verdade, frases implícitas, e não

palavras invariáveis. Comprova-o o fato de a interjeição

não exercer nenhuma função na oração." Este tipo de

definição é contraditório porque, apesar de encaminhar

a argumentação com base em um critério funcional ("a

interjeição é uma frase implícita"), conclui o raciocínio

com base em um critério morfo-semântico ("palavra

invariável que exprime noção ou sentimento

repentino").

Tendo em vista esse problema, vamos procurar

trabalhar, nesta unidade, com uma classificação que

tenha uma coerência maior, levando em conta as

considerações anteriormente feitas.

Page 16: Pos-Graduação (Lato Senso) Habilidades Metalinguísticas e

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16

Elizabeth B. R. Oliveira, José Luiz C. Negrini e Nina

R. P. Lourenço (1977), na série "Encontro com a

linguagem", publicação destinada ao ensino de língua e

literatura no segundo grau, apresentam um estudo

muito coerente das classes de vocábulos, seguindo a

linha proposta por Mattoso Câmara. Três critérios,

portanto, orientam o estudo de cada uma das classes: o

funcional, o mórfico e o semântico, coerentemente com

o que foi discutido antes. Esta orientação, ao lado da de

Perini, é a que seguiremos na abordagem de cada classe

em particular.

A classe dos nomes em português

No nosso dia-a-dia, fazemos um uso muito

frequente de nomes, para dois tipos de função:

a) identificar seres e objetos

(substantivos);

b) caracterizar, especificar, especializar

seres e objetos (adjetivos);

Substantivos e adjetivos fazem parte da ampla

classe dos nomes. Existe uma diferença entre eles, mas

essa diferença só se evidencia funcionalmente, quando

aparecem combinados no sintagma, numa ordem

linear. Quando isolados, nem sempre é possível uma

distinção nítida entre substantivos e adjetivos, porque

eles têm características mórficas semelhantes, isto é,

flexionam-se para expressar as categorias de gênero e

número.

Percebemos que os substantivos podem ser

modificados por adjetivos, elementos capazes de

precisar o seu sentido, e que esse processo constitui um

mecanismo produtivo na língua, dada a

capacidade dos adjetivos de expandir a idéia básica

definida pelos substantivos.

Texto 1

Rios de Petrópolis

A poluição faz rios coloridos. Não é tão feia

assim. Como atração reproduz, em matizes escolhidos,

as belas cores da televisão.

(Carlos Drummond de Andrade)

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17

Comentário sobre o texto 1

Neste texto podemos observar a relação núcleo

(termo determinado) e modificador (termo

determinante) de maneira muito clara.

Nome substantivo

vocábulo que funciona como termo

determinado, como núcleo de um

sintagma nominal (critério funcional);

vocábulo formado por

morfema lexical mais morfemas

gramaticais

(critério mórfico);

vocábulo que se refere a seres reais ou

imaginários, relacionando-se ao mundo extralingüístico

(critério semântico).

Texto 2

núcleo modificador

(substantivos) (adjetivos)

modificador núcleo

(adjetivos) (substantivos)

"Na linguagem, o conceito de ente

ou ser é, muitas vezes, convencional em

referência à realidade física e nem sempre

corresponde à de um corpo individual,

como sucede em homem, tigre, mesa.

Traduz também uma interpretação - a)

social (ex.: Brasil), b) impressionística (ex.:

mar), c)abstrativa (ex.: beleza,

sofrimento).

(Mattoso Camara, 1978)

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18

Comentário sobre o texto 2

Como é feita a descrição da família?

Como e pode caracterizar esse texto? Com base

nominal ou verbal, explique.

Como se agrupam os?

Qual substantivo se destaca? Grife os exemplos.

Como se caracteriza o quotidiano da família?

Há dois substantivos abstratos, grife-os.

Determine como eles funcionam no texto.

Destacando alguns substantivos, vejamos como

podem ser aplicados a eles os critérios de classificação:

A- Critério funcional - do ponto de vista

funcional, os substantivos destacados ocupam a posição

de núcleo do sintagma nominal.

B- Critério mórfico - do ponto de vista

mórfico, podemos observar os morfemas que

caracterizam o nome: o morfema lexical e os morfemas

gramaticais (a vogal temática, o morfema de gênero e o

morfema de número)

Família

Três meninos e duas meninas, sendo uma ainda de

colo.

A cozinheira preta, a copeira mulata, o papagaio,

o gato, o cachorro,

as galinhas gordas no palmo de horta e a mulher

que trata de tudo.

A espreguiçadeira, a cama, a gangorra, o cigarro, o

trabalho, a reza,

a goiabada na sobremesa de domingo, o palito nos

dentes contentes, o gramofone rouco toda noite e

a mulher que trata de tudo. O agiota, o leiteiro, o

turco, o médico uma vez por mês, o bilhete todas

as semanas

branco! mas a esperança sempre verde.

A mulher que trata de tudo e a felicidade.

(Carlos Drummond de Andrade)

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De acordo com a sua formação (critério mórfico),

os substantivos podem ser assim agrupados:

• primitivos - leite, goiaba

• derivados - leiteiro, goiabada

• simples - cama, bilhete, galinha

• compostos - sofá-cama, carta-bilhete, galinha-

d'angola

C- Critério semântico - com base na distinção

entre a significação extralinguística e a significação

intralinguística, podemos opor o substantivo a outros

tipos de vocábulos.

De acordo com o critério semântico, podemos

agrupar os substantivos da seguinte maneira:

• comuns - designam a espécie. Ex.: mulher,

homem, leite.

• próprios - designam um representante da

espécie. Ex.: Maria, Pedro.

• concretos- designam seres reais ou imaginários,

sem relação de dependência. Ex.: gato, trabalho,

semana.

Substantiv

os

morfema

lexical

morfemas gramaticais:

Vogal

Temática

-o

Gênero

ø

Númer

o

-s

Meninos menin-

Meninas menin-

Colo col-

cozinheira cozinheir-

Leiteiro leiteir-

Cachorro cachorr-

Médico médic-

Horta hort-

Mulher mulher

Mês mês

Bilhete bilhet-

Semanas seman-

esperança esperanç-

felicidade felicidad-

Vocábulos Significação

extralinguística

Significação

intralinguística

meninos

e

cozinheira

a

cachorro

galinhas

que

de

mulher

o

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• abstratos - designam noções, estados, ações,

qualidades. Ex.: esperança, felicidade.

• coletivos - designam um conjunto de seres ou

objetos sob a forma de um nome singular. Ex.: turma -

coletivo de estudantes, de trabalhadores; constelação -

coletivo de estrelas

Os substantivos coletivos, por terem essa

particularidade - vocábulo no singular para se referir a

um conjunto -, geram variação na concordância verbal,

principalmente na língua falada e em uma seqüência em

que se encontrem mais afastados do verbo.

Por isso, pode ocorrer uma alternância entre "o

pessoal foi" e "o pessoal foram".

Ex: O pessoal que eu convidei pra festa de

aniversário dos meus filhos mais novos foram

chegando aos pouquinhos." (Língua falada, situação

informal, sujeito distante do núcleo verbal)

Observação: A divisão dos substantivos em

concreto/abstrato prende-se a critérios filosóficos, por

isto é uma divisão questionável. Na verdade, a divisão

dos substantivos pelo critério semântico não acrescenta

muita novidade ao estudo da língua.

Nome adjetivo

vocábulo que funciona como modificador do

núcleo de um sintagma nominal. O adjetivo sempre se

refere a um substantivo, expresso ou subentendido

(critério funcional);

vocábulo formado por

morfema lexical mais morfemas

gramaticais

indicadores de gênero e número. (critério formal

ou mórfico);

vocábulo que especifica e/ou caracteriza seres

animados e inanimados reais ou imaginários,

atribuindo-lhes estados ou qualidades (critério

semântico).

Texto 3

Trecho do "Conto de Escola"

(...)Começou a lição de escrita. Custa-me dizer

que eu era dos mais adiantados da escola; mas era.

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21

Não digo também que era dos mais inteligentes, por

um escrúpulo fácil de entender e de excelente efeito

no estilo, mas não tenho outra convicção. Note-se

que não era pálido nem mofino; tinha boas cores e

músculos de ferro. Na lição de escrita, por exemplo,

acabava sempre antes de todos, mas deixava-me

estar a recortar narizes no papel ou na tábua,

ocupação sem nobreza nem espiritualidade, mas em

todo caso ingênua. Naquele dia foi a mesma cousa;

tão depressa acabei, como entrei a reproduzir o

nariz do mestre, dando-lhe cinco ou seis atitudes

diferentes, das quais recordo a interrogativa, a

admirativa, a dubitativa e a cogitativa. Não lhes

punha esses nomes, pobre estudante de primeiras

letras que era; mas, instintivamente, dava-lhes

essas expressões. Os outros foram acabando; não

tive remédio senão acabar também, entregar

escrita, e voltar para o meu lugar.(...)

(Machado de Assis)

Comentário sobre o texto 3

A caracterização do personagem se faz pelo

contraste entre adjetivos relacionados ao intelecto -

adiantado, inteligente, excelente - e ao físico - pálido,

mofino.

A ironia, também presente no texto, se mostra na

adjetivação que o estudante utiliza para caracterizar,

metonimicamente, as atitudes do nariz do mestre -

interrogativa, admirativa, dubitativa, cogitativa.

Vamos examinar os adjetivos presentes no texto,

levando em conta os critérios de classificação.

A) Critério funcional - do ponto de vista

funcional, os adjetivos destacados ocupam a posição de

modificadores do núcleo do sintagma nominal.

Em alguns casos, como nos destacados acima, a

relação entre núcleo e modificador do sintagma

nominal pode ser facilmente observada. Em outros,

verificase uma forte semelhança entre o adjetivo e o

substantivo, por isso é preciso recorrer ao critério

funcional para perceber qual é o vocábulo determinado

(substantivo) e qual é o vocábulo determinante

(adjetivo).

Observe estas frases:

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O campeão da Copa de 94 foi o Brasil.

O time campeão marcou muitos gols.

Quando dizemos 'O campeão da Copa de 94 foi o

Brasil', a palavra campeão é o núcleo do sintagma, a

base, o centro da informação contida em o campeão da

Copa de 94. Estamos falando do campeão. Quando

dizemos 'O time campeão marcou muitos gols', o centro

da informação contida no sintagma o time campeão é a

palavra time. Estamos falando do time.

Fonte: www.posgraduacaofaveni.com.br

No trabalho com a produção de textos, é

importante mostrar a semelhança de função entre o

adjetivo e a locução adjetiva, ambos modificadores do

núcleo do sintagma nominal. A locução é formada por

uma preposição mais um substantivo (sintagma

preposicionado). No texto "Conto de Escola",

encontramos, por exemplo, músculos de ferro, em que

músculos é o núcleo e a locução adjetiva de ferro é o

modificador.

Na função de modificadores, os adjetivos e as

locuções adjetivas podem especificar, caracterizar ou

expressar uma avaliação do falante sobre os

substantivos. Para especificar e caracterizar os

substantivos, usamos, com maior frequência, as

locuções adjetivas; para avaliar, são mais frequentes os

adjetivos simples.

ESPECIFICAÇÃO

bola de futebol

de

basquete

de gude

panela de arroz

de feijão

de pipoca

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forma de bolo de

queijo de

pudim de

pizza

de

corrida pista

de atletismo de

dança

CARACTERIZAÇÃO

santo de barro de

madeira de

gesso

panela de barro de

ferro de

alumínio

AVALIAÇÃO

É muito importante que o usuário perceba essas

diferenças para aplicá-las na produção de sintagmas

mais complexos. Observe:

bola de plástico de couro

de meia

juiz educado

honesto

ladrão

trabalhador

bola

estragada velha nova

bonita

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a) uma forma velha de queijo uma

velha forma de queijo

Aparentemente não há diferença na ordenação

dos adjetivos nos sintagmas acima. Entretanto, a

anteposição de velha a forma, na segunda, pode deixar

transparecer certa afetividade com relação à forma,

como se se tratasse de uma forma de estimação.

b) uma forma quadrada velha de queijo

uma velha forma quadrada de queijo uma

forma velha quadrada de queijo

Já neste outro grupo de sintagmas, a função do

adjetivo quadrada é especificar o substantivo forma

enquanto o adjetivo velha tem a função de avaliar. A

diferença de função condiciona uma diferença na

colocação, um anteposto e outro posposto ao núcleo.

Por isso, o segundo sintagma é o que apresenta uma

ordem mais clara e aceitável. Isto significa que, quanto

mais complexos forem os sintagmas, maiores restrições

haverá na organização dos vocábulos constituintes.

B) Critério mórfico - do ponto de vista

mórfico, podemos observar os morfemas que

caracterizam o nome: o morfema lexical e os morfemas

gramaticais (a vogal temática, o morfema de gênero e o

morfema de número)

Do mesmo modo que os substantivos, os

adjetivos, pelo critério mórfico, podem ser agrupados

em:

simples - pálido, fácil compostos - rosa-pálido,

verde-amarelo primitivos - mofino derivados -

amofinado

Adjetivos morfema

lexical

Vogal

Temática

Gênero

Número

adiantados

inteligentes

pálido

excelente

Interrogativa

Pobre

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C) Critério semântico - com base na

distinção entre a significação extralinguística e a

significação intralinguística, podemos opor o adjetivo a

outros tipos de vocábulos.

Algumas observações sobre o uso do adjetivo:

Por fim, ainda com relação ao nome adjetivo, vale

ressaltar o seguinte aspecto:

na língua falada, podemos observar algumas

tendências à simplificação de sintagmas nominais

complexos. Duas soluções/ possibilidades se

apresentam:

a- Sintagmas formados de um substantivo

(subst.1) mais um especificador

alterna com um sintagma formado de um único

substantivo (subst.2), originado de uma gíria, de um

estrangeirismo, de um processo metafórico.

Exemplo:

funcionário público = barnabé

b- Sintagmas formados de um substantivo

mais um adjetivo (adj.1) ou locução adjetiva

simplificam-se em um sintagma constituído apenas pelo

substantivo ou pelo adjetivo (adj. 2), que ampliam então

seu campo de significação.

Vocábulos Significação

extralinguística

Significação

intralinguística

adiantados

e

fácil

a

ingênua

admirativa

mas

de

admirativa

ou

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Exemplos:

batatas fritas = fritas centro da cidade = centro

/ cidade curso de pré-vestibular = cursinho prova de

vestibular = vestibular

Quanto à posição do adjetivo em relação ao

substantivo, podemos constatar diferenças entre as

línguas: no inglês e no alemão, o adjetivo é colocado

antes do substantivo; em francês, existem algumas

regras para a sua colocação; somente o português e o

espanhol apresentam uma liberdade maior, e dessa

flexibilidade resultam possibilidades de expressão que

são, em geral, bastante exploradas na linguagem

literária. Observe:

Texto 4

Parágrafo, extraído de "Vidas Secas"

(Graciliano Ramos)

"Uma noite de inverno, gelada e nevoenta,

cercava a criaturinha. Silêncio completo, nenhum

sinal de vida nos arredores. O galo velho não cantava

no poleiro, nem Fabiano roncava na cama de varas.

Estes sons não interessavam Baleia, mas quando o

galo batia as asas e Fabiano se virava, emanações

familiares revelavam-lhe a presença deles. Agora

parecia que a fazenda se tinha despovoado."

Comentário sobre o texto 4

A colocação dos adjetivos gelada e nevoenta

entre vírgulas revela a intenção do narrador de

caracterizar a noite, numa narrativa linear. O efeito seria

outro se ele tivesse optado por uma ordem diferente:

Uma gelada e nevoenta noite de inverno cercava

a criatura.

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27

Outro exemplo:

O galo velho não cantava no poleiro.

O velho galo não cantava no poleiro.

Na primeira frase, velho foi empregado com o

sentido de indicar a velhice do galo, a sua longa vida.

Anteposto ao substantivo, velho adquire uma

conotação de afetividade, de compaixão.

Há, portanto, uma questão de estilo a ser

apontada: o adjetivo colocado após o substantivo tende

a conservar o seu sentido próprio, objetivo; colocado

antes do substantivo, adquire um valor sentimental.

É nessas escolhas de colocação que os autores

revelam suas intenções, sua visão do mundo que os

cerca, suas impressões a respeito das pessoas e dos

fatos.

SUBSTANTIVO/ADJETIVO -

PROBLEMA DE CLASSIFICAÇÃO

Até agora vimos afirmando que os nomes se

dividem em substantivos e adjetivos, de acordo com o

seu funcionamento na frase. Entretanto, essa distinção

não é tão simples quanto pode parecer. Perini (1997)

aborda esse problema em seu livro "Sofrendo a

gramática", no capítulo denominado O adjetivo e o

ornitorrinco, estimulando uma reflexão sobre o

tratamento que as gramáticas tradicionalmente

propõem para essa distinção. Destacamos do artigo

mencionado estes dois parágrafos:

Fonte: www.1.bp.blogspot.com

[…] " As coisas se tornam muito diferentes

quando tratamos dos chamados "adjetivos" e

"substantivos". Essas duas classes, embora

tradicionalmente separadas, são extremamente

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difíceis de distinguir. Na verdade, depois de vários

anos estudando o problema, acredito que são

impossíveis de distinguir, pelo menos em duas classes

como fazem as gramáticas usuais. O que temos aí é ou

um grande número de classes ou, mais provavelmente,

uma grande classe composta de membros cujas

propriedades são muito variadas.

[…] A conclusão é que a classificação tradicional,

no que se refere aos substantivos e aos adjetivos (e

ainda aos pronomes), não tem salvação. Não se

conseguiu, até hoje, uma definição que separasse com

clareza essas três classes. Eu tendo a acreditar que são

uma grande classe, dentro da qual se distinguem

muitos tipos de comportamento gramatical. Acredito

que as diferenças de comportamento dentro dessa

grande classe (que podemos chamar a classe dos

nominais) provêm principalmente das diferenças de

significado. No momento em que uma palavra começa

a ser usada com um novo significado (o que acontece

com freqüência), ela precisa mudar seu

comportamento gramatical de acordo com sua nova

função."

Basílio (1995) apresenta um estudo mais

detalhado dessa questão no artigo O fator semântico na

flutuação substantivo/adjetivo em português,

oferecendo subsídios ao trabalho do professor em sala

de aula. Ao analisar os nomes terminados em -dor, -nte

e -ista e o processo de substantivação dos adjetivos, a

autora oferece dados mais concretos sobre esse

assunto. Reproduzimos aqui algumas partes do artigo.

[…] "A distinção entre as classes de substantivo

e adjetivo é problemática na língua portuguesa não

apenas pelo fato estrutural de que os membros destas

classes não apresentam propriedades semânticas e

situações de ocorrência completamente distintas, mas

também pela conjuntura de que as gramáticas

normativas do português utilizam diferentes critérios

para a definição de cada classe. Assim, por exemplo, o

substantivo é definido em termos semânticos,

enquanto o adjetivo mais freqüentemente recebe uma

definição sintática ou funcional. […] Existem várias

palavras em português que podem ocorrer como

substantivos ou como adjetivos. […] Entretanto,

palavras que apresentam características plenas de

adjetivos e substantivos constituem minoria no

vocabulário do português. A grande maioria dos

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substantivos não apresenta propriedades plenas de

adjetivos, tendo, no máximo, uma ocorrência marginal

em posições/funções restritas a adjetivos; e o mesmo

acontece com adjetivos: só um número restrito

apresenta características plenas de substantivos."

FLEXÃO DOS NOMES - GÊNERO

A categoria gramatical de gênero divide, em

português, os nomes em masculinos e femininos.

Entretanto, substantivos e adjetivos apresentam

maneiras diferentes de expressar essa categoria. Nos

nomes substantivos, a categoria de gênero é inerente,

convencional, arbitrária, independente do significado

do vocábulo. Por exemplo, lápis não apresenta

nenhuma marca fonológica, nem condicionamento

semântico que caracterize sua inclusão no grupo das

palavras masculinas. No entanto, dizemos o lápis, lápis

novo. O mesmo acontece com o vocábulo problema,

pois dizemos obrigatoriamente o problema, problema

complicado.

Por isso, falantes não nativos do português têm

dificuldade em empregar adequadamente os nomes

substantivos de acordo com o seu gênero

convencionalizado na nossa língua. É muito comum

ouvirmos estrangeiros realizarem, por exemplo, minha

dinheiro, este casa, etc.

Os nomes adjetivos, ao contrário, não têm um

gênero próprio, imanente. A maior parte deles flexiona-

se em gênero para concordar com o substantivo núcleo

do sintagma nominal.

A única flexão de gênero em português é obtida

com o acréscimo do morfema gramatical -a à forma

masculina; a vogal temática (-o, -e), quando existe na

forma masculina, é suprimida.

Exemplos: alun(o) - aluna doutor - doutora

freguês - freguesa mestr(e) - mestra

Gênero do substantivo

A oposição masculino/feminino (que atinge todos

os substantivos) não deve ser associada à oposição de

sexo, porque todos os substantivos se encaixam ou no

masculino ou no feminino, enquanto apenas alguns

designam seres sexuados.

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Exemplos: menina - gênero

feminino, sexo feminino casa - gênero

feminino médico - gênero masculino, sexo masculino

bilhete - gênero masculino

Para indicar o sexo, existem na língua alguns

processos, além do processo flexional, marcado pelo

morfema -a de feminino.

a) léxico-semântico - pela alternância entre dois

vocábulos da língua mãe / pai homem / mulher bode /

cabra

b) derivacional - pelo acréscimo de um

sufixo derivacional

rei / rainha embaixador / embaixatriz barão /

baronesa

c) sintático - outros elementos do

sintagma são responsáveis pela

informação do sexo o dentista famoso / a

dentista famosa uma baleia macho / uma baleia fêmea

uma criança do sexo masculino / uma criança do sexo

feminino o pianista estudioso / a pianista estudiosa

As gramáticas, entretanto, apontam estes

recursos (léxico-semânticos, derivacionais e sintáticos)

como casos de flexão, o que não é aconselhável. Estes

processos estão permanentemente em mudança na

língua quotidiana pela pressão do uso.

Assim, uma palavra como grama, por exemplo,

que, pelo padrão culto, é tida como palavra masculina,

vem tendo seu uso consagrado no feminino. É muito

comum pedirmos "Por favor, quero duzentas gramas de

presunto". Por isso, não devemos estranhar ou reprimir

o uso generalizado de "duzentas gramas".

A alternância entre embaixadora e embaixatriz

passou a expressar uma diferença semântica:

embaixadora = representante do país no exterior

(processo flexional para expressão do gênero

feminino - acréscimo do morfema

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-a)

embaixatriz = esposa do embaixador

(processo derivacional para expressar a diferença

de sexo - acréscimo do sufixo derivacional -triz)

A alternância entre a poeta e a poetisa reveste-

se de um caráter valorativo, com a recusa, pelas

feministas mais radicais, da forma poetisa.

Reproduzimos abaixo alguns parágrafos do texto

"A solidão do Girafo", de Carlos Drummond de Andrade,

publicado no Jornal do Brasil, em 09/05/81. O tema é a

necessidade de se enviar a Brasília uma girafa macho do

Jardim Zoológico do Rio porque precisa de uma

companheira, e a única fêmea disponível se encontra

em

Brasília.

Texto 5

A solidão do girafo

(Carlos Drummond de Andrade)

Vai, Raio de Luz, vai até Brasília e procura lá

a tua namorada, que te dará prazer e filhos e, com

eles, voltarás ao Rio de Janeiro, onde não tens

chance de casamento e multiplicação da espécie.

Não podias mais continuar no Rio, sem

companheira prestante, e sujeito a equívocos

escabrosos com os machos da tua espécie.

Precisavas de uma girafa indubitável para o ofício

do amor. Puseram-te em caminhão equipado com

fiação elétrica e buzina de alarme, acionável ao

menor indício de anormalidade, seja na rodovia

seja no interior de tua silenciosa organização de

girafo.

Sei que deformo teu nome, trocando a letra

final, mas já é tempo de dissipar a ambigüidade

das designações genéricas, em meio à indefinição

crescente dos sexos, observada na sociedade

humana. Quando já não se sabe ao certo quem é

varão quem é varoa, pelo menos se saiba

distinguir o pavão da pavoa, o elefanto da

elefanta, o sabiau da sabiá, o cisno da cisna, o

tigro da tigra, em vez de nos socorrermos do

aditamento macho e fêmea. Se distinguimos gato

e gata, por que não foco e foca, tamanduó e

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tamanduá, tatu e tatua? Fica mais fácil e constitui

merecida homenagem à pequena, mas divina,

diferença que tornou viável o milagre da vida.

(......)

Comentário sobre o texto 5

Neste texto, a confusão entre gênero e sexo foi

tratada pelo autor com humor, ao mesmo tempo em

que ironiza a arbitrariedade das regras gramaticais de

formação do feminino em português.

Percebemos que o autor faz uma brincadeira com

a questão do gênero, sugerindo, para todos os nomes

de animais, a formação de feminino por meio do

acréscimo do morfema -a ao masculino. Desta forma,

não haveria mais a necessidade de acrescentar macho e

fêmea aos nomes para estabelecer sintaticamente a

diferença entre sexo masculino e sexo feminino.

Gênero do adjetivo

Entre o adjetivo (termo determinante) e o

substantivo (termo determinado), existe o que

chamamos de concordância, isto é, o adjetivo

acompanha o substantivo, variando em gênero

(masculino, feminino). Muitas vezes, é por meio do

adjetivo que se evidencia, na frase, o gênero do

substantivo.

No que diz respeito ao gênero, existem adjetivos

que têm apenas uma forma (uniformes), tanto para o

masculino como para o feminino, e existem adjetivos

que apresentam flexão, isto é, recebem a desinência -a

do feminino no lugar da vogal temática do masculino;

estes são chamados biformes.

Observe os exemplos:

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Flexão dos nomes – número

O mecanismo flexional de número, no português,

expressa oposição entre um singular não-marcado, ou

ø, e um plural com marca própria, caracterizada pelo

morfema -s. Esse acréscimo, muitas vezes, acarreta

mudanças morfo-fonêmicas na raiz ou na vogal

temática.

A concordância de número é realizada, em

português, por todos os elementos que compõem o

sintagma nominal: determinantes (artigos, pronomes,

numerais) e modificadores são flexionados de acordo

com o vocábulo que ocupa a função de núcleo.

Entretanto, na língua falada, esse mecanismo

está se tornando cada vez mais instável. O fato de todos

os elementos do sintagma nominal marcarem o número

tornao uma marca redundante.

Texto 6

Comentário sobre o texto 6

Diferentemente do que ocorre muitas vezes na

língua oral, o texto de Manuel

Bandeira enfatiza a concordância de número,

presente em todos os vocábulos do sintagma nominal.

A sonoridade que a marca de plural -s empresta ao

poema contribui para o ritmo e a melodia que convêm

a uma ciranda.

Observe estes sintagmas:

• essas belas gratas estrelas dos nossos céus

• em rondas precipitadas como levadas nas asas

dos véus

Uniformes escrúpulo

fácil

menino

inteligente

lição fácil atitude

inteligente

Biformes atitude

digna

rosto

pálido

trabalho

digno

mão

pálida

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34

• nas horas breves dos sonhos leves

Em relação ao plural dos nomes substantivos,

algumas particularidades merecem ser lembradas:

1) Os substantivos coletivos, mesmo no

singular, indicam vários seres, pluralidade.

Exemplos:

constelação (estrelas) multidão (pessoas) elenco

(atores) cacho (bananas, uvas)

2) Alguns substantivos são usados no

plural, expressando um conceito linguisticamente

indecomponível.

Exemplos: parabéns,

arredores, pêsames

óculos,

3) Há substantivos que têm sentidos

diferentes, conforme estejam no singular ou no plural.

Exemplos:

férias = período de descanso féria = lucro ouros

= naipe do baralho ouro = metal precioso

Quadrilha

(Manuel Bandeira

Três letras para melodias de Villa-Lobos)

Roda, ciranda, Roda ,ciranda,

Por aí fora, Como essas belas,

Chegou a hora Gratas estrelas

De cirandar! Dos nossos céus!

Na tarde clara Vamos, em rondas

Vinde ligeiras, Precipitadas, Ó companheiras, Como levadas

Rir e dançar! Nas asas dos véus!

Moças que dançam Moças que dançam

Nas horas breves Nas horas leves

Dos sonhos leves, Dos sonhos breves,

Na doce idade Na doce idade

Das ilusões, Das ilusões,

Guardam lembrança, Guardam lembrança,

Boa lembrança Boa lembrança

Da mocidade Da mocidade

Nos corações. Nos corações.

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A língua interpreta uma série de seres

homogêneos como uma unidade superior, que, como

unidade, vem no singular: multidão pressupõe um

conjunto de indivíduos, de cidadãos; ramagem indica

coleção de ramos. Evidentemente, tais nomes, quando

designam mais de um desses conjuntos, também se

flexionam: multidões e ramagens. A língua interpreta

ainda, linguisticamente, de um modo global, um

contínuo de atos ou de partes integradas, os quais

podem ser entendidos, no mundo extra-linguístico,

como uma série ou sequência de partes componentes:

algemas, exéquias, núpcias. Estes vocábulos não

apresentam singular mórfico correspondente.

O grau como processo derivacional

Em português, a expressão do grau não é uma

flexão. Enquanto a flexão é um processo automático e

involuntário, a expressão do grau depende da escolha

do usuário:

· a concordância não é obrigatória - ao utilizar um

dos elementos do sintagma em determinado grau, o

usuário não está obrigado a estabelecer concordância

de grau com os outros elementos do sintagma.

Veja:

o cachorro bonito / bonitinho / bonitão o

cachorrinho bonito / bonitinho / bonitão o cachorão

bonito / bonitinho / bonitão

· o grau pode ser expresso lexicalmente ou

derivacionalmente (por meio de um sufixo):

cachorro grande / cachorrão

muito lindo / lindíssimo

· a lista de sufixos não é fechada, nem exclusiva;

para os nomes substantivos, por exemplo, não existe

apenas -ão para o aumentativo, nem somente -inho

para o diminutivo.

flo

florão

florona

florzona

flor

florzinha

florinha florita

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O grau corresponde a conteúdos distintos para o

nome substantivo e para o nome adjetivo; para os

substantivos, ele expressa tamanho maior ou menor do

ser designado; para os adjetivos, a noção de quantidade

e de intensidade.

Exemplos:

A casa é ampla.

O casarão é mais amplo que a casa.

O casarão é amplíssimo.

Vamos examinar alguns textos em que o grau de

substantivos e adjetivos tem uma função expressiva.

Texto 7

Balõezinhos

( Manuel Bandeira)

Na feira livre do arrabaldezinho

Um homem loquaz apregoa balõezinhos de cor:

- "O melhor divertimento para as crianças!"

Em redor dele há um ajuntamento de meninos

pobres,

Fitando com olhos muito redondos os grandes

balõezinhos muito redondos.

No entanto a feira burburinha.

Vão chegando as burguesinhas pobres,

E as criadas das burguesinhas ricas,

E as mulheres do povo, e as lavadeiras da

redondeza.

Nas bancas de peixe,

Nas barraquinhas de cereais,

Junto às cestas de hortaliças

O tostão é regateado com acrimônia.

Os meninos pobres não vêem as ervilhas tenras,

Os tomatinhos vermelhos,

Nem as frutas, Nem nada.

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Sente-se bem que para eles ali na feira os

balõezinhos de cor são a única mercadoria útil e

verdadeiramente indispensável.

O vendedor infatigável apregoa:

- "O melhor divertimento para as crianças!"

E em torno do homem loquaz os menininhos

pobres fazem um círculo movível de desejo e espanto.

Comentário sobre o texto 7

Que valor o diminutivo apresenta no texto e qual

sua relação com o sentido do texto?

O que expressa o termo grandes balõezinhos,

podemos dizer que constitui uma incoerência? Explique.

Conclua: para que servem os diminutivos?

Os aumentativos não se prestam somente a

indicar tamanho aumentado, podem transmitir

afetividade ou sentimento. Estas frases, ouvidas no

estádio de futebol, comprovam o que foi dito antes: "Ê,

ô, ê, ô, o Fluzão é um terror!" "Não tenho palavras para

dizer. Sou Mengão até morrer!"

Mas podem, também, expressar um sentimento

negativo: "Cuidado com aquele espertalhão." "Ele é

metido a sabidão."

Texto 8

Trecho de entrevista

"... minha louça é branca, com frisinho

dourado em volta, sóbria e simplesinha,

moderninha, os pratos sem borda, só fundinho.

Os copos são branquinhos, de meio cristal (...)

Você tem a casa da classe média, classe de

subúrbio, que é inteiramente diferente da casa

da zona sul ... aquela casa tão engraçadinha, com

as calçadinhas, aqueles lampiõezinhos antigos,

eu acho a coisa mais linda, né, aquelas

cadeirinhas colocadas nas calçadas, as pessoas

de cabecinha branca, tão bonitinho ..."

Comentário sobre o texto 8

O texto é transcrição da fala de uma informante

do Projeto NURC/RJ, e serve para ilustrar o uso de

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diminutivos na língua falada. As duas passagens foram

retiradas de uma entrevista em que o tema é Casa: no

primeiro parágrafo, a pessoa fala de maneira muito

carinhosa sobre os utensílios de sua própria casa; no

segundo, faz uma comparação entre classes sociais e

seus hábitos em termos de moradia. Como se vê, existe

uma acentuada preferência pelos diminutivos.

Texto 9

Trecho extraído de entrevista

"... um negócio assim

superbacana, matemático, eles

fizeram esse troço, bom, esta

mesma firma veio pro Brasil pra

fazer o metrô. Então vamos

trabalhar. Então eles resolveram

contratar a gente em fevereiro, eu

morri de rir, o alemão que tinha

comandado lá, sujeito

simpaticíssimo, muito inteligente,

não entendia por que em fevereiro

não se contratava ninguém. Eu fui lá

e disse que trabalhava a partir de

março ..."

Comentário sobre o texto 9

O que chama nossa atenção neste texto é o fato

de uma mesma pessoa empregar na sua fala três

maneiras diferentes de expressar o grau do adjetivo.

Duas delas se encontram registradas nas gramáticas:

muito inteligente e simpaticíssimo. A terceira forma,

feita com o auxílio de super, está se tornando muito

comum na língua falada. A intenção de quem usa esta

partícula é igualmente a de reforçar uma idéia, um

pensamento, dando a impressão de que o advérbio

muito não foi suficiente para exprimir a intensidade

daquilo que quer transmitir.

Advérbios de base nominal

• Vocábulos que basicamente funcionam como

modificadores de um

processo verbal, de um adjetivo ou de outro

advérbio (critério funcional);

• A característica morfológica dos advérbios é ser

invariável; em termos de estrutura, pode haver dois

tipos de advérbios:

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• Formados por morfema lexical mais morfema

gramatical (advérbios com estrutura nominal - os

advérbios em -mente);

• *Formados apenas por morfema gramatical

(advérbios com estrutura

pronominal) (critério formal ou mórfico)

• Vocábulos que especificam a significação de um

processo verbal, indicando suas circunstâncias; pode

também se referir a um adjetivo ou a outro advérbio,

intensificando seu sentido modificador (critério

semântico)

Dentro da classe dos nomes, abordaremos

apenas os advérbios com estrutura nominal. Entre eles,

os mais comuns são os terminados em -mente. Além de

modificar o núcleo verbal, os advérbios em -mente

podem funcionar como advérbios de frase,

expressando a maneira como o sujeito falante se

posiciona a respeito da informação contida na frase. Ex:

Infelizmente nem todos os alunos foram

aprovados no vestibular.

De acordo com o seu papel na interação, eles

podem ser distribuídos em quatro grupos:

1) emotivos - os que permitem ao falante a

exteriorização do seu estado de espírito em relação ao

enunciado da oração adjacente. Incluem-se neste

primeiro grupo os vocábulos adequadamente,

perversamente, imperiosamente, razoavelmente,

inevitavelmente ...

Exemplo: "...(o sem terra) poderá,

perversamente, transformar-se em mais um

elo na engrenagem..." (JB, 5/10/95)"

2) modais - "os que permitem pressupor,

como mais provável, a verdade da proposição contida

na oração adjacente". Os modais mais frequentes são

evidentemente, provavelmente, certamente,

aparentemente, necessariamente, simultaneamente,

perfeitamente. Em textos de editoriais de jornais, é alta

a frequência de advérbios modais, uma vez que tem-se

a intenção de mostrar como mais provável, mais

próxima da verdade as afirmações.

Exemplos: "Provavelmente, por estar a uma

distância maior do clima..." (JB, 16/9/95)

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"Obviamente, os membros da Procuradoria-Geral ...

não têm direito adquirido algum..." (JB, 9/10/95)

3) pragmáticos - que permitem ao falante

caracterizar o conteúdo ou a forma do que diz.

Incluímos neste grupo literalmente, efetivamente,

fundamentalmente, indiscutivelmente.

Exemplos: " Se as autoridades não

tomarem providências, haverá,

literalmente, uma guerra civil no Rio." (JB,

23/10/95)

4) setoriais - "restringem o valor de verdade da

proposição contida na oração adjacente a um dado

domínio ou setor das artes, da ciência, da técnica, etc.

ou da vida em geral": economicamente,

historicamente, politicamente, oficialmente,

constitucionalmente, tecnicamente.

Exemplos: "Historicamente, a polícia

fluminense se esvaziou." (JB, 28/9/95)

Sobre os advérbios, existem ainda muitos

pontos que precisam ser explorados, mesmo porque os

estudiosos nem sempre estão de acordo no

tratamento dispensado a esta classe. Considerar a

classe dos advérbios de frase já representa um avanço

no estudo destes vocábulos, pois as gramáticas

geralmente não se referem a esta outra possibilidade

de emprego dos advérbios. É através dos advérbios de

frase que quem fala ou escreve põe suas próprias

marcas no texto, seja para revelar seu estado de

espírito, seja para fazer sobressair a veracidade do que

exprime, seja para caracterizar a forma ou o conteúdo

da sua proposição, seja, finalmente, para enquadrar

sua idéia num determinado domínio do conhecimento.

Na verdade, os advérbios de frase contribuem para

percebermos de que maneira os textos que lemos ou

escrevemos são vistos ou sentidos pelos seus

respectivos autores.

Texto 10

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Trecho de entrevista

"... eu tenho uma vida assim muito

sedentária, eu faço pouco exercício, quase

toda a minha atividade profissional é mais

sentada, porque tanto na escola como na outra

função que eu exerço eu trabalho a maior parte

do tempo sentada. Venho pra casa, sento pra

estudar, pra ler, então eu não tenho muita

oportunidade de fazer exercício. Todo o tempo

que eu tenho é tomado nas minhas atividades.

Eu gostaria até de fazer ginástica, já nas férias

eu geralmente faço ginástica pra evitar

justamente manter todo o tempo sentada ..."

(Projeto NURC/RJ - entrevista sobre o

tema Alimentação, informante do sexo

feminino)

Os advérbios nominais assinalam modos de ser

do processo a que se ligam, exprimindo circunstâncias

de modo, dúvida, afirmação. Realmente, geralmente e

justamente indicam o modo de realização do processo a

que se referem.

Os advérbios em -mente podem ter seu sentido

intensificado ou reforçado por meio de dois tipos de

processos: um processo derivacional e um processo

Estrutura nominal Estrutura

pronominal

realmente, geralmente,

justamente

muito, pouco,

não, quase

Critério

Classe

Funcional

(função ou

papel na

oração)

Mórfico

(caracterização da

estrutura da

palavra)

Semântico

(modo de significação:

extralinguísticos e

intralinguísticos)

Substantivo Palavra que

funciona com o

núcleo de uma

expressão ou

com o termo

determinado.

Palavra formada por

base lexical mais

morfemas gramaticais.

Palavra que designa os

seres ou objetos reais ou

imaginários.

Adjetivo

(qualificativo)

Palavra que

funciona como

especificador do

núcleo de uma

expressão (ao

qual atribui um

estado ou

qualidade).

Palavra form

po? morfema lex

(base

significação)

morfemas

gramaticais.

ada

ical

de

mais

Palavra que especifica e

caracteriza seres animados

ou inanimados reais ou

imaginários atribuindo-

lhes estados ou

qualidades.

Pronome Palavra que

substitui o

núcleo ou

funciona como

termo

determinante do

núcleo de uma

expressão.

Palavra form

unicamente

morfema

gramatical.

ada

por

Palavra que serve para

designar as pessoas ou

coisas, indicando-as (não

nomeia as pessoas ou

coisas nem as qualidades,

ações, estados,

quantidades, etc).

Pronomes: pessoais,

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sintático: · por meio de sufixos derivacionais, como -

inho e -íssimo Ex:

Atravessamos o gramado rapidinho porque já

estava escurecendo.

As babás cantavam baixinho pra fazer a

gente dormir.

· por meio da combinação com advérbios

intensificadores, como muito, tão, pouco

Ex:

O trabalho foi feito tão rapidamente quanto

possível. Eu me retirei da reunião muito calmamente,

apesar da discussão acalorada.

4. Quadro resumo das classes de

vocábulos em português

Critério Classe

Funcional (função ou papel na oração)

Mórfico (caracterização da estrutura da palavra)

Semântico (modo de significação: extralingüísticos e intralingüísticos)

Substantivo

Palavra que funciona com o núcleo de uma expressão ou com o termo determinado.

Palavra formada por base lexical mais morfemas gramaticais.

Palavra que designa os seres ou objetos reais ou imaginários.

Adjetivo (qualificativo)

Palavra que funciona como especificador do núcleo de uma expressão (ao qual

Palavra formada por morfema lexical (base de significação)

Palavra que especifica e caracteriza seres animados ou inanimados reais ou imaginários

atribui um estado ou qualidade).

mais morfemas gramaticais.

atribuindo-lhes estados ou qualidades.

Pronome

Palavra que substitui o núcleo ou funciona como termo determinante do núcleo de uma expressão.

Palavra formada unicamente por morfema gramatical.

Palavra que serve para designar as pessoas ou coisas, indicando-as (não nomeia as pessoas ou coisas nem as qualidades, ações, estados, quantidades etc). Pronomes: pessoais, possessivos, demonstrativos, indefinidos, interrogativos e relativos.

Artigo

Palavra que funciona como termo determinante do núcleo de uma expressão.

Palavra formada unicamente por morfema gramatical (palavra variável em gênero e número).

Palavra que define ou indefine o substantivo a que se refere (definido, indefinido).

Numeral

Palavra que funciona como especificador do núcleo de uma expressão, ou como substituto desse mesmo núcleo. (numeral: substantivo, adjetivo)

Palavra formada unicamente por morfema gramatical

Palavra que indica a quantidade dos seres, sua ordenação ou proporção (cardinal, ordinal, múltiplo, fracionário, coletivo)

Verbo

Palavra que funciona como núcleo de uma expressão ou como termo determinado.

Palavra formada por morfema lexical (base de significação) mais morfemas gramaticais.

Palavra que indica um processo (ações, estados, passagem de um estado a outro). Processo verbal => fenõmeno em desenvolvimento, com indicação temporal.

Advérbio

Palavra que funciona basicamente como determinante de um processo verbal.

Advérbios formados por morfema lexical mais morfema gramatical.

Advérbios formados apenas por morfema gramatical. Palavra que especifica a significação de um processo verbal.

Conectivos (preposição e conjunção)

Palavra gramatical que funciona como elemento de ligação (conexão) entre palavras ou orações.Divisão dos conectivos: preposições e conjunções.

Palavra formada apenas por morfema gramatical.

Palavra que relaciona palavras e orações, e indica origem, posse, finalidade, meio, causa etc.

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FETAC – Faculdade de Educação Tecnologia e Administração de Caarapó

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Fonte: BRAIT, NEGRINI, LOURENÇO. Encontros

com a linguagem. Vol. 2.

São Paulo, Editora Atual.

PERSPECTIVAS QUANTO AO ENSINO

O maior domínio das inúmeras possibilidades de

expressão que a língua oferece é um dos nossos

objetivos e, acreditamos, o objetivo de todo professor

de língua portuguesa. É neste sentido que nos

preocupamos com a maneira como o estudo das classes

de vocábulos vem sendo feito em grande parte de

nossas escolas de segundo grau. A partir de consultas a

programas e a variados livros didáticos, podemos notar

que, muitas vezes, este estudo se restringe a um

conhecimento da nomenclatura apenas. Isto nos faz

pensar e nos coloca diante de questões como:

Fonte:www.3.bp.blogspot.com

• Vale a pena estudar a nomenclatura pela

nomenclatura?

• Qual seria a utilidade deste tipo de estudo para

um aluno de segundo grau?

• Valeria a pena tentar modificar este quadro? E

de que maneira?

Essas questões nos levam a uma abordagem

crítica da gramática normativa e a uma comparação

com outros modelos teóricos de análise da língua.

Propostas de atividades

1- Confrontar dois textos jornalísticos. No

primeiro, a notícia é dada de forma mais isenta,

impessoal, sem adjetivos, como na seguinte manchete:

"As dúvidas e os atrasos estão levando o clube à

falência." (JB, 11/12/93)

Page 44: Pos-Graduação (Lato Senso) Habilidades Metalinguísticas e

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No segundo texto, a notícia é transmitida de

maneira emocionada, mais parcial e pessoal, com

muitos adjetivos, como no texto a seguir:

"A história do brasileiro pobre que ficou rico

fazendo gols, do garoto talentoso que virou ídolo

internacional e do craque rebelde que virou herói

nacional já não nos pertence mais, é do mundo" (JB,

18/7/94 - p.24)

Seria interessante que se mostrasse como uma

notícia pode veicular a opinião do emissor, induzindo o

receptor a uma determinada conclusão, dependendo da

escolha dos adjetivos feita pelo autor.

2 - Pensar em situações em que alguém vá

escolher, comprar, usar, etc. um objeto e essa escolha

deverá ser feita entre várias espécies daquele mesmo

objeto (bola de couro, bola de plástico, bola de pano,

etc.) Através da caracterização o objeto é finalmente

encontrado.

Em outras situações, os adjetivos e/ou locuções

adjetivas seriam usados para identificar a função do

objeto (bola de futebol, de basquete, etc.)

Por fim, imaginar situações em que o uso de

adjetivos de avaliação (gol bonito, gol de placa, gol sem

graça) provocaria divergências (discussão entre

espectadores, ou entre jogadores, etc).

Page 45: Pos-Graduação (Lato Senso) Habilidades Metalinguísticas e

FETAC – Faculdade de Educação Tecnologia e Administração de Caarapó

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