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1 Aula 10 Turismo cultural Festas populares e turismo cultural, inserir , valorizar ou esquecer? O caso de Moçambique de Osório Rio Grande do Sul O presente artigo aprofunda a relação entre as festas populares de caráter religioso e o turismo cultural, a partir de analise da estrutura do grupo de afro-brasileiros dos Moçambiques no Litoral Norte do Rio grande do Sul e seu potencial como oferta de patrimônio intangível para este tipo de turismo. Também a elaboração de políticas públicas onde a cultura seja aproximadamente ao turismo, como forma de preservação e de conhecimento. Se pode definir aquele turista que busca a cultura próxima da autentica daquele que busca o espetáculo, cuidando de observar o perfil de cada grupo ou individuo e qual é sua intenção de busca Para (McKercher 2002) existe cinco tipos de turismo cultural que se baseiam na centralidade de motivo da viagem e na profundidade da experiência. 1) Turista Cultural Proposital : Os turistas aprendem sobre outras culturas ou patrimônios e este é o maior motivo para visitar um determindo destino. Este tipo de turista busca aprofundar suas experiências culturais.

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Aula 10

Turismo cultural

Festas populares e turismo cultural, inserir , valorizar ou esquecer? O caso de Moçambique de Osório Rio Grande do Sul

O presente artigo aprofunda a relação entre as festas populares de caráter religioso e o turismo cultural, a partir de analise da estrutura do grupo de afro-brasileiros dos Moçambiques no Litoral Norte do Rio grande do Sul e seu potencial como oferta de patrimônio intangível para este tipo de turismo.

Também a elaboração de políticas públicas onde a cultura seja aproximadamente ao turismo, como forma de preservação e de conhecimento.

Se pode definir aquele turista que busca a cultura próxima da autentica daquele que busca o espetáculo, cuidando de observar o perfil de cada grupo ou individuo e qual é sua intenção de busca

Para (McKercher 2002) existe cinco tipos de turismo cultural que se baseiam na centralidade de motivo da viagem e na profundidade da experiência.

1) Turista Cultural Proposital : Os turistas aprendem sobre outras culturas ou patrimônios e este é o maior motivo para visitar um determindo destino. Este tipo de turista busca aprofundar suas experiências culturais.

2) visitante de Pontos de Interesse em uma cidade:Busca informações sobre outras culturas e sobre o patrimônio, sendo que sua visita é motivada por este fim. Este tipo de turista é mais bem superficial ou frívolo, sendo que sua viagem está mais orientada ao lazer.

3) Turismo Cultura casual : este tipo de turista busca no patrimônio e na cultura um limitado espaço destro de sua escolha do destino, tornando por fim uma visita superficial.

4) Turismo cultural incidental: a decisão de escolha do destino cultural e suas atrações não possuem muita profundidade ou peso. Entretanto, durante o tempo de permanência o turista participará de atividade turística culturais

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( festas exposições, procissões , mostra de arte, festival de música ou teatro etc..) tendo assim uma experiência superficial

5) turismo cultura Serendipista: A escolha do local pela cultura ou patrimônio possui pouca ou quase nenhuma importância na decisão da visita ao destino, porém estando ali o turista faz agradáveis descobertas e acaba tendo uma profunda experiência no lugar visitado.

Políticas Públicas e Privadas para um turismo cultural

As políticas Culturais são na maior parte das elites que valorizam o que se entende por “ alta cultura” ou cultura elitista, esquecendo em muitos casos das minorias.No Brasil, existe todo um historco de influências paternalistas do ESTADO NOVO (1937-1945), onde o estado assumia qualquer responsabilidade e negava a participação da sociedade civil ( Beltrão,2002).a inclusão social de minorias e ou de grupos marginalizados é reflexos de pressões e de movimentos sociais e da organização através da identidade a defender.

Conclusão

Ao analisar a relação de festas tradicionais com turismo, dentro de uma proposta de turismo cultural, é necessário fazer considerações sobre os mecanismo de proteção e de participação dos atores sócias locais na negociação de quando, como e onde se apresentam e quais finalidade das apresentação no momento de sua relação com o turismo.

A pressão exercida pelo setor turístico para incluir tal oferta em um circuito deve ser levada em conta uma vez que base de tal aliança está baseada muitas vezes no lucro e na participação do setor público / administrativo local.

Aula 11

CATOLICISMO POPULAR NA ESCRITA DO FOLCLORE BRASILEIRO

O Folclore, expressão polissêmica e controversa, pode ser entendido como um movimento intelectual que se consolidou no Brasil entre os anos de 1940-1970 e que elegeu diversos temas da cultura brasileira como tradicionais e relevantes para se definir o que seria o folclore nacional. Destaca-se o catolicismo popular como tema recorrente nas

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escolhas dos folcloristas como: festas, procissões, romarias, penitências, entre outros e analisa-se que se construíram narrativas particulares para

se abordar os temas associando-os a uma pretensa identidade nacional e a valores considerados relevantes em um país eminentemente católico bem como construíram se interpretações, julgamentos e recortes que selecionaram, incluíram e excluíram diversas práticas populares. Considera-se nesta análise a escrita de autores como Renato de Almeida, Edson Carneiro, Rossini Tavares Lima e Câmara Cascudo.

O interesse pelo estudo do catolicismo popular e seus sub-temas como as festas, rituais, danças e folguedos têm crescido vertiginosamente nas últimas décadas embalado em grande medida pelos estudos culturais. Nesse processo, tem ganhado preponderância o interesse pela pluralidade dessas práticas através da compreensão das especificidades locais, regionais e temporais bem como pelas representações diversas de grupos envolvidos. A escolha de fontes para este tipo de trabalho, porém, permanece como um desafio pelo fato que boa parte dessas experiências não está documentada e se colocam dentro de uma memória coletiva muitas vezes engessada e diretamente ligada a interesses e expectativas dos grupos dos quais elas fazem parte.

Essa questão pode constituir um problema bastante original para uma pesquisa, mas possibilita apenas uma aproximação parcial do objeto, se o interesse do estudo é pensar na dimensão multifacetada desses rituais com cores, sons e estilos. Uma saída nem sempre confortável foi a pesquisa aos manuais de folclore cujo caráter conservador, compilador, homogeneizador e classificatório constituiu uma barreira na aceitação dessas obras como fonte de pesquisa na medida em que as interpretações desses trabalhos desconstruíam os pilares básicos das ciências sociais contemporâneas.

O início desta crise pode ser localizada nos anos de 1950, quando as ciências sociais se constituíam como um campo autônomo na academia brasileira. Naquela época, os estudos do folclore alcançavam um momento bastante profícuo, pois, no final da segunda guerra mundial, com a criação da ONU e de um vasto discurso em prol da paz mundial, o folclore se tornou o elemento mediador para a criação de uma cultura de paz, ancorada na identificação de diversos elementos culturais

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comuns e da celebração do encontro de povos através de práticas culturais diversas. É sob referências absolutamente conservadoras que o movimento do folclore brasileiro se constituiu como campo de estudos institucionalizado e custeado por verbas públicas dos estados e da união.

A noção de folclore surgiu em meados do século XIX, durante processos de organização e formação de nações européias, e pode ser considerada como parte deum contexto de problematização da noção iluminista de cultura, considerada como sinônimo de civilização.

O Iluminismo irá promover valores de universalidade e racionalidade que terão papéis fundamentais na elaboração deste modelo ideológico

no qual as práticas populares eram consideradas como irracionais. (ORTIZ,1985, p.11) Ortiz considera que o romantismo teve um impacto importante na definição do conceito de cultura popular, pois, ao se opor ao Iluminismo voltou-se para situações particulares, dando ênfase às diferenças e espontaneidade dos sentimentos, aproximando-se também do historicismo e descobrindo, assim, a Idade Média, os romances de cavalaria, os reis, as cruzadas. (ORTIZ,1985, p. 09) No entanto, os românticos gostavam daquilo que surpreendia, o bizarro, o excêntrico, o exótico e o pitoresco. E era assim que as manifestações populares eram vistas.

A grande diferença na abordagem do estudo das manifestações populares seria a descoberta da cultura popular pelos intelectuais e é na Alemanha onde se torna mais consistente.

Peter Burke considera que o conceito de cultura popular é nesse período inventado por um grupo de intelectuais alemães, o filósofo Herder e os irmãos Grimm. (BURKE, 1989, p.8). De fato, esses pensadores são parte de um contexto no qual surge o debate sobre a cultura popular que se travava na Alemanha, no qual, parte da intelectualidade voltava a atenção para as tradições populares e, por meio delas procurava legitimar uma cultura autenticamente nacional. (ORTIZ, 1985, p.11)

Somente na segunda metade do século XIX é que os estudiosos da cultura popular vão se considerar folcloristas, na conclusão de Ortiz, sendo que o próprio termo de origem inglesa representava um novo

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espírito que procurava definir o estudo das tradições populares como uma ciência.

No Brasil, o movimento folclórico só será articulado a partir das primeiras décadas do século XX, quando as festas e todo um conjunto de manifestações populares estarão envolvidos em debates que buscavam discutir elementos para a nacionalidade brasileira.

*A ideologia da mestiçagem e a união das três raças passaram a ser as marcas de nossa identidade nacional, tal como pregavam as idéias cientificistas, naturalistas, positivistas e evolucionistas na época. Como exemplos, podemos citar os estudos literários de Celso de Magalhães, Sílvio Romero e os trabalhos etnológicos de Nina Rodrigues e, um pouco depois, os de Amadeu Amaral.

(ABREU, 1998 p. 173). No entanto, nenhum deles pode ser caracterizado como folclórico, visto que o seu estabelecimento no Brasil era muito recente e se confundia freqüentemente com a própria literatura, tal como também acontecia na Europa. (BOSI,1992). Bosi acredita que no Brasil, o tema do cruzamento entre as culturas é proposto especificamente por alguns escritores modernistas, como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Raul Bopp e Cassiano Ricardo, os quais acreditavam na fusão de culturas a partir da diversidade nacional.

O Movimento Modernista que buscou nas tradições, costumes e crenças

populares o elemento mediador para se entender o Brasil, será o ponto inicial para a criação de órgãos e grupos que vão se ocupar da pesquisa e do levantamento das manifestações populares. Esse movimento, cujo mentor e articulador-mor será Mário de Andrade, terá desdobramentos diversos e constituição de rumos mais definidos, a partir de seu envolvimento com essas questões. Mário de Andrade, numa atitude

pioneira, irá tentar criar sociedades de folclore e se dedicará à pesquisa de vários aspectos do tema, principalmente no que dizia respeito às danças dramáticas, seu campo preferido de abordagem, envolvendo o mundo negro e mestiço. Parte dessas interpretações foi fruto de várias viagens realizadas pelo intelectual nos anos de 1920 pelo interior do Nordeste que resultou na coleta de imagens e sons que foram matéria

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para várias obras como Turista aprendiz, Danças Dramáticas no Brasil e os Cocos.

É importante ressaltar que o momento era bastante frutífero para as discussões em torno da nacionalidade, como expressões legítimas a partir da publicação de títulos como Raízes do Brasil, de Sérgio Buarque de Holanda, Evolução política do Brasil, de Caio Prado Júnior, e também Casa Grande e Senzala, de Gilberto Freyre, além do surgimento de vários museus e institutos que tentavam envolver o Brasil e o seu mosaico cultural entendido como parte da nacionalidade.

*A escrita do folclore, atualmente, pode ser considerada a partir de algumas premissas dos estudos culturais e constituir-se como uma possibilidade de leitura das práticas populares mediadas pela noção de representação dos grupos que escreviam essas histórias, considerando suas interpretações não como posturas absolutas, mas como relativas e interligadas a subjetividades de grupos com interesses, tarefas e projetos.

Câmara Cascudo, importante expoente da escrita folclorística revelou algumas divergências em torno deste movimento, pois, enquanto os estudos dos cariocas Renato Almeida e Édison Carneiro enfatizavam a identificação de um folclore nacional, Cascudo reforçava a identificação do folclore regional .

Percebe-se, nesse contexto, que a história nacional fora narrada e representada por referências bem particulares deste período em que se procurava pensar o Brasil como uma nação multifacetada e cujos elementos identificadores estavam dispersos em vários focos no centro e interior do Brasil.

A escrita do folclore é representativa deste contexto, pois, estabelece limites, cria personagens, organiza histórias, estabelece identidades e confere legitimidade para costumes antigos e interioranos, compondo um mosaico cultural nacional. Sabe-se, porém, que esses tipos de narrativas freqüentemente idealizavam o litoral como centro irradiador e o sertão como maculado, original, autêntico desconhecendo as fronteiras tênues entre o popular e o erudito, o moderno e o tradicional e considerando a modernidade daqueles tempos como uma ameaça aos velhos costumes tradicionais aonde residiria nossa autêntica identidade.

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No contexto atual em que os estudos culturais ganharam predominância, a

releitura da obra dos folcloristas revela um exercício frutífero de repensar as interpretações atribuídas a nosso passado, pois possibilita rever inúmeros

preconceitos direcionados a esses autores considerados ora como conservadores retrógrados ora como ufanistas de um tempo perdido. Atualmente, podemos seguir as pistas das noções de representações e apreender nessas narrativas folclorísticas, os modos como a nação e as regiões foram pensadas, narradas, elaboradas, imaginadas, sonhadas, vivenciadas e entendê-las dentro de um complexo processo de imaginação

coletiva em que o povo e seus costumes representavam não o começo de uma história, mas o fim de utopias, sonhos e crenças, num tempo de transformações.

Aula12

Lazer, turismo, folclore e tradições populares no Brasil

O deslocamento humano, tal como o que ocorre nas atividades de lazer e turismo, independentemente do seu motivo, inclui elementos culturais a serem consumidos dentro de sua rica cadeia produtiva que envolve dezenas de setores econômicos. Seja pelos atrativos naturais, ou pelos atrativos históricos e culturais de museus, bibliotecas, arquivos, monumentos, pela arquitetura, pintura, escultura, pelas ruínas e outros legados, ou mesmo por meio de festas, comemorações, comida típica, artesanato, feiras, mercados e folclore local, que fazem parte das manifestações tradicionais e usos populares, sempre haverá consumo cultural.O turismo é a modalidade dos deslocamentos e retornos ao domicílio original, das viagens de lazer, do tempo de não trabalho. E são características das sociedades industriais o lazer e o turismo, tanto quanto a preservação ou a conservação do patrimônio cultural.A esse patrimônio cultural encarado como algo maior, superior, intangível, que o visitante carrega na memória, e não na mala de viagem, agregam-se distintos meios de hospedagem, alimentação, entretenimento e serviços turísticos diferenciados prestados pelas agências de viagens, transportadoras, locadoras, pelo comércio e pelas oportunidades especiais de compras que fazem parte da identidade3 local e herança cultural dos povos.Entendimento sobre culturaQuando se fala em cultura está se pensando em indivíduos dentro de um

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processo social dinâmico que é a sociedade, interagindo com valores de diferentes expressões, caracterizados pelas crenças, rituais e tradições que passam de geração a geração. É, portanto, algo mutável e que pode acontecer assumindo as mais variadas formas de expressão, pois é a própria comunidade que permite essa ocorrência ao participar – direta ou indiretamente – na transmissão e divulgação dessas experiências culturais.

Motivação cultural para o lazer e o turismoA motivação cultural para o lazer e o turismo está presente em qualquer pessoa uma vez que exercerá concomitantemente a função de agente aculturador e de elemento suscetível de sensibilização por culturas outras que a sua própria. Se os visitantes forem preparados e alertados para observar e acompanhar as tradições culturais, os saberes e os fazeres de um determinado grupo, poderão apreciar e interagir com melhor compreensão, adotando posturas éticas que não venham a comprometer a continuidade das práticas culturais. Entretanto, os turistas sempre trazem seu próprio comportamento e seu poder de influência e, muitas vezes, se aproximam das comunidades como se fossem invasores que, segundo Jost Krippendorf, “não vêm com canhões ou espadas. Eles vêm com a droga, o dinheiro e os costumes estrangeiros”Entendimento sobre patrimônio

A palavra patrimônio está associada à noção de sagrado ou à noção de herança, de memória do indivíduo, de bens de família. A idéia de um patrimônio comum a um grupo social, definidor de sua identidade e, enquanto tal, merecedor de proteção,nasceu no final do século 18, com a visão moderna de história e de cidade.O Estado secularizado atua no sentido de congregar seu povo, reunindo em torno de mentos de pertencimento, induzindo ao que se poderia chamar de uma sacralidade do patrimônio. Em outras palavras, o bem decretado como representativo da cultura torna-se superior e emblemático .Patrimônio material e imaterialA concepção antropológica moderna de cultura dá ênfase às relações sociais, às trocas simbólicas e não, especificamente, aos objetos materiais e às técnicas.Não há, contudo, patrimônio que não seja, ao mesmo tempo, condição eefeito de determinadas modalidades de autoconsciência individual ou coletiva.Os bens culturais estão impregnados de sentidos que vão além de sua materialidade.A razão de um monumento ser considerado um patrimônio cultural está não apenas em sua materialidade, mas na demonstração da engenhosidade

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humana que contém sua construção e, geralmente, no simbolismo que lhe é atribuído. Da mesma maneira, não há bem cultural de natureza imaterial que não se materialize de alguma forma, mesmo que frugalmente.A distinção entre patrimônio material e imaterial surge em função de um processo histórico que se desenvolve para encorajar e valorizar a salvaguarda de bens culturais menos sólidos quanto aos seus materiais formadores – que não correspondem à noção tradicional de monumento e que podem ser significativos para uma pequena comunidade.Folclore e tradições populares no BrasilAs manifestações culturais tradicionais são um resíduo da cultura de outras épocas ou lugares e, como afirma Cláudio Basto, “o povo é um clássico que sobrevive”, mas acrescentaríamos a esta idéia a de que o povo sobrevive, mas sobrevive com as mudanças condicionantes de sua época na história.A Organização Mundial do Turismo afirma que: “Costumes e tradições locais poderão ser afetados pela atividade turística desenvolvida na região, tanto pelo aparecimento de novos hábitos que virão com os turistas, quanto pelo desejo dos moradores de adaptar seus próprios costumes aos gostos, momentos e anseios dos visitantes”.O folclore e as tradições populares são considerados quase exclusivos de uma fração específica do povo: pescadores, camponeses, lavradores, bóias-frias, gente da periferia das cidades. No entanto, essas modalidades são praticadas cotidianamente por intelectuais, pessoas urbanas, profissionais liberais que manifestam um gesto, cantam uma canção de ninar e pronunciam provérbios. O folclore e as tradições populares se manifestam nos vários domínios do saber, da expressão e da comunicação, valorizando o que há de original, criativo e inteligente em cada manifestação uma vez que a cultura de um povo é viva e está em constante transformação.Considerações finais:patrimônio como produto turísticoO valor simbólico que atribuímos aos objetos ou artefatos é decorrente daimportância que lhes atribui a memória coletiva. E é esta memória que nos impele a desvendar seu significado histórico-social, refazendo o passado em relação ao presente, e a inventar o patrimônio dentro de limitespossíveis, estabelecidos pelo conhecimento.O patrimônio cultural é um produto turístico que exerce sobre o consumidor forte atração em função de seu caráter diferencial, mas isoladamente ele não garante o turismo, porque para isto ele deveestar cercado da estrutura de suporte que inclui os serviços turísticos, a infra-estrutura básica de apoio ao turismo.O mercado dominante no turismo cultural é formado por consumidores de

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Interesse geral, que usufruem as visitas culturais como uma parte de suas atividades diárias inseridas num contexto recreativo.Os turistas “especialistas em patrimônio”constituem, segundo Ted Silberberg, um mercado secundário.A esperança do turismo cultural é que ele ofereça exatamente o contrário do turismo massivo: menos gente, visitando menos lugares, mais devagar, reunindo menor número de experiências, com maior qualidade; recebendo mensagens mais detalhadas sobre o significado de lugares e aproveitadas pelas comunidades em seus momentos de lazer.

Aula 13: TURISMO CULTURAL E SUSTENTABILIDADE: UMA RELAÇÃO POSSÍVEL? O turismo é uma atividade de grande importância para a promoção do desenvolvimento socioeconômico dos núcleos receptores, porém nem sempre interfere positivamente nestes. Assim, surgem novas concepções a respeito dessa atividade que, ao enfatizarem as dimensões sociais, culturais e ambientais presentes no processo de produção e comercialização do produto turístico, orientam novas formas de gestão e consumo de atrativos, equipamentos e serviços, passíveis de se traduzir em benefícios reais para as comunidades e possibilitando maior enriquecimento da experiência turística aos visitantes. TURISMO CULTURAL: EM BUSCA DAS ALTERIDADES Trilhando os caminhos da cultura Os grupos humanos partiram de uma unidade biológica comum e adaptaram-se a um contexto histórico e social específico, desenvolvendo formas diversificadas de agir enquanto membros de uma coletividade, isto é, passaram a simbolizar modos e estilos de vida próprios. Isso significa que o homem estabeleceu hábitos, costumes, práticas sociais, padrões comportamentais que fundamentam e legitimam todo o modo de pensar, sentir e agirem sociedade.Da mesma forma, ao deter o controle sobre a natureza, os agentes sociais, através do uso de tecnologias, puderam cristalizar o seu estilo de vida em artefatos materiais, os quais dotados de uma dimensão simbólica e de uma representatividade permitem apreender a forma singular ou a estrutura que condiciona a existência empírica dos contemporâneos: a cultura. Laraia - cultura é um conjunto de valores, crenças, costumes, hábitos e fatores históricos materiais e imateriais que permeiam, de forma dinâmica, a vida social. Ou seja, a cultura é construída ao longo de processos históricos e materiais de um povo, através de suas inter-relações e modos de vida. A cultura é inerente a cada povo, transformando suas experiências tangíveis e intangíveis a partir do trabalho, o qual ultrapassa e modifica algo existente em algo novo. Assim sendo, permite que qualquer povo,

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independente de suas condições materiais e históricas, tenha uma cultura peculiar. A cultura tanto pode ser expressa por elementos tangíveis casas, museus, igrejas, etc., quanto por aqueles que, transcendendo a uma existência concreta, tornam-se elos entre a contemporaneidade e um passado socialmente produzido, ou seja, diz respeito a um patrimônio espiritual. Cultura e turismo: onde se encontram? A cultura figura como atrativo significativo para os turistas, especialmente para aqueles que buscam na apreciação do outro, um diferencial em relação às suas vivências habituais. Nesse contexto, conhecer a herança cultural reelaborada na cotidianidade de povos e comunidade específicos, através de suas diversas formas de representações, constitui-se um viés integrador. O interesse pela cultura sempre fez parte de uma necessidade humana, encontrando nas diversas formas de turismo um importante instrumento de legitimação. Com o maior desenvolvimento e integração das sociedades e a ampliação do conceito de patrimônio, o turismo cultural foi assumindo novos contornos, com o aumento de reflexões, debates e teorizações acerca do segmento. De acordo Köhler e Durand - As definições a partir da demanda apresentam o turismo cultural sob o foco das motivações, percepções e experiências pessoais. Nestas definições, o que define se a experiência turística pode ser classificada como cultural são as interpretações dos turistas e não os espaços ou objetos em si. As definições que focam os aspectos da oferta baseiam-se no desfrute turístico de equipamentos e atrações previamente classificados como culturais e aptas ao consumo do fluxo turístico. MT - conceitua turismo cultural como “a vivência do conjunto de elementos significativos do patrimônio histórico e cultural e dos eventos culturais, valorizando e promovendo os bens materiais e imateriais da cultura”. A utilização de conceitos voltados para a oferta não devem inviabilizar as motivações da demanda, pois os turistas, tidos como culturais, possuem como principal motivação o desejo de entrar em contato com diferentes culturas, visitando os elementos representativos do patrimônio de uma determinada comunidade (conjuntos arquitetônicos, sítios arqueológicos, danças típicas, religiosidade, gastronomia, o artesanato, a musicalidade, performances artísticas). Goulart e Santos - o turismo cultural é apreendido como “[...] um fenômeno social, produto da experiência humana, cuja prática aproxima e fortalece as relações sociais e o processo de interação entre os indivíduos e seus grupos sociais, sejam de uma mesma cultura, ou de culturas diferentes”. Nessas definições ficam explicitadas, o interesse maior pelo compartilhamento e

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pela troca de experiências entre visitantes e comunidades, e as repercussões locais decorrentes da dinamização do patrimônio e em virtude do intercâmbio cultural. Perez - caracteriza da seguinte forma o perfil sócio econômico, as necessidades, gostos e motivações intrínsecas à demanda por turismo cultural: - Visitantes estrangeiros de idiomas e bagagens culturais diferentes; - Cidadãos de um mesmo país, que procuram uma relação mais aprofundada com o seu patrimônio cultural; - Residentes locais que procuram um conhecimento mais aprofundado do território que habitam; - Pessoa com rendimentos acima da média; - Pessoas que despendem mais; - Passam mais tempo num mesmo sítio. O autor alerta, também, para o fato de se evitar a generalização ao tratarmos das características da demanda, considerando as constantes transformações no mercado turístico, a influência dos meios de comunicação e da indústria cultural na valorização de determinados destinos e produtos, bem como as mudanças que ocorrem no interior da própria demanda. Turismo cultural e as singularidades deste novo horizonte de mercado A segmentação do mercado turístico faz com que, cada vez mais, surjam segmentos diferenciados que atendam aos interesses particulares de grupos específicos. Para Netto e Ansarah, grande parte da teoria de segmentos do turismo está relacionada com as teorias de marketing, ou seja, falar em segmentação do turismo é falar de estratégia de marketing. Com isso, a segmentação baseia-se nas características da demanda, já que é através desta diferença que as empresas e os órgãos ligados ao turismo irão atingir esses turistas a partir das especificidades de cada grupo. Com o advento do Meio Técnico-Científico-Informacional exposto por Milton Santos, através da velocidade das informações e da compressão do espaço e do tempo, em que tudo se torna efêmero, e “o espaço se fragmenta e perde seus lugares, o tempo é analógico e virtual” o mundo torna-se, cada vez mais, homogeneizado e padronizado. É neste sentido que a cultura de um povo, através de suas memórias e identidades, pode sobressaísse como um símbolo de resistência e luta perante a tendência à padronização global. Daí, então, a importância do turismo cultural na contemporaneidade. O Turismo Cultural, assim, pressupõe um público educado e informado que compartilhe com os órgãos de patrimônio uma definição sobre o que constitui lugares, eventos e coleções corretas. Por outro lado, o Turismo Cultural deve ser visto pelos órgãos de preservação como um meio de arrecadar recursos para a manutenção de lugares e manifestações, bem como um instrumento de informação ao público visitante (GOODEY). No âmbito do patrimônio imaterial, o turismo pode contribuir para o revigoramento dos saberes e fazeres populares e das tradições, ora por

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intermédio do aumento da visibilidade dos produtores culturais, ora pela valorização das manifestações artísticas locais. Ao fortalecimento das identidades culturais e de práticas sócio/culturais específicas, que em alguns casos, poderiam estar sofrendo um processo de desaparição. Talavera - o turismo cultural, segundo o autor, favorece o mercado turístico geográficos e culturalmente mais distantes, promovendo as revalorizações de seus territórios para o uso desta atividade. Entretanto, o turismo quando desenvolvido de forma deliberada sem o envolvimento da população local, e associado a outros fatores, pode interferir negativamente na cultura de uma determinada localidade, seja através da cenarização dos lugares, seja por intermédio d espetacularização de manifestações populares tradicionais. A cultura como produto turístico: as encruzilhadas da sua comercialização Vaz e Jacques - consideram que a apropriação da cultura pela atividade turística não deve ocorrer de forma que a mesma se transforme em mercadoria, ou melhor, em um produto cultural para ser comercializado e consumido, o que, por sua vez, tornaria o próprio conceito de cultura esvaziado. No entanto, a cultura, de uma maneira geral, vem sendo utilizada como um mero produto de mercado, o que, na concepção de Adorno e Horkheimer, elimina o caráter estético e artístico da cultura refletindo em sua degradação. A cultura tem que ser apropriada pelo turismo de uma forma que valorize a mesma, reforçando as suas peculiaridades e especificidades.A excessiva comercialização dos bens culturais em prol da captação de fluxos turísticos pode impedir que a comunidade receptora o percebesse como parte integrante do seu convívio social, atribuindo-lhe um caráter eminentemente econômico. Nesse sentido, perde-se a noção de continuidade sociocultural dos bens culturais, uma vez que estes são vistos como necessários, exclusivamente, para a fruição turística de uma localidade. [...] os monumentos e o patrimônio histórico adquirem dupla função – obras que propiciam saber e prazer, postas à disposição de todos; mas também produtos culturais, fabricados, empacotados e distribuídos para serem consumidos. As festas e danças populares são ressignificadas quando da sua inserção ao sistema de produção e consumo turístico, destacando-se a banalização das festas tradicionais, bem como a transformação de rituais sagrados em rituais de entretenimento. O resultado desses mecanismos consistiu numa reprodução acelerada desses modelos de formatação e estruturação da oferta turística em diversas localidades, desconsiderando-se as especificidades locais e inviabilizando o

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acesso da comunidade aos benefícios do turismo. Do ponto de vista social, a transformação da cultura em produto turístico pode se refletir na segregação espacial dos turistas em relação à comunidade local e no esvanecimento dos conteúdos simbólicos da produção cultural. Diante dos impactos negativos ocasionados por essa atividade, atrelada à emergência de novas necessidades, preferências, valores e atitudes da demanda em relação ao meio socioambiental e cultural onde o turismo se processa, novas diretrizes norteiam a gestão e operacionalização do turismo cultural, destacando-se a oferta de novos produtos e roteiros turísticos cuja conceptualização está baseada na criatividade e inovação, na interpretação patrimonial e na “autenticidade” das atrações culturais, pressupondo a inserção comunitária e a sustentabilidade em todas as etapas do processo.TURISMO CULTURAL E SUSTENTABILIDADE: DESAFIOS E OPORTUNIDADES O turismo sustentável pode ser definido como um modelo de gerenciamento da atividade que enfatiza a conservação dos aspectos naturais e culturais do núcleo receptor, evitando-se a degradação dos atrativos e estimulando a economia local, de forma consensual e de acordo com as demandas das comunidades. Os turistas culturais buscarão destinos capazes de oportunizar experiências tidas como únicas e provocadoras dos sentidos, com base em motivos, sensações e emoções. Os destinos turísticos tradicionais, segundo Goodey, agregarão valor às suas ofertas culturais, propiciando aos turistas o exercício ou a prática de atividades lúdicas e didático-pedagógica com elevado teor educacional e com nítido interacionismo entre turistas e comunidades. Na visão de Yasoshima e Oliveira, “os novos turistas procurarão aliar o entretenimento das viagens com a educação, fazendo com que cada viagem seja uma forma de aprendizagem e instrução.” A atividade turística deve empreender ações e projetos de valorização das manifestações populares tradicionais e contemporâneas, inserindo-as no circuito turístico, ao mesmo tempo em que possibilitará o fortalecimento da identidade e da diversidade cultural, com a participação efetiva de segmentos populares na implantação e gerenciamento das atrações: O turismo como prática econômica precisa, no entanto, encontrar formas mais respeitosas de se inserir no cotidiano das comunidades receptivas. O turismo cultural deve ser entendido como uma atividade capaz de agregar valor aos bens culturais e, nesse contexto, a interpretação do patrimônio aliada a outras técnicas de educação ambiental têm diversificado as oportunidades de conhecimento da cultura local tanto por parte dos visitantes, como por parte da comunidade, além de possibilitar a inserção social em áreas de interesse turístico.

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Compreende-se que as culturas são dinâmicas e sofrem processos constantes de adaptações em seus conteúdos e formas culturais; assim, o turismo é entendido como instrumento de reforço das identidades e de articulação das culturas locais, à medida que estimula a participação da comunidade no processo de planejamento e gestão da oferta turística. Nesses casos, a adoção de um novo modelo de planejamento e gestão no turismo emerge como alternativa para amainar os impactos negativos decorrentes do processo de massificação dessa atividade no meio ambiente natural e urbano, além de considerar as interferências na dinâmica sociocultural das comunidades receptoras.A sustentabilidade é definida como a totalidade do sistema ser humano/ meio ambiente (incluindo recursos naturais e culturais), na qual as dimensões culturais, naturais, econômicas e sociais teriam igual importância. As políticas de turismo devem estar integradas nas políticas econômicas, sociais, culturais e ambientais, mas sem as preceder. No contexto em que a implantação da atividade turística em uma dada localidade tenciona a inserção social numa perspectiva mais ampla de desenvolvimento, o fortalecimento das identidades culturais prescinde de ações capazes de consolidar práticas coletivas de gestão dos territórios étnico-culturais e dinamizar sua economia. Esse fato pressupõe a existência de uma rede intricada de ações colaborativas entre os diversos atores do turismo – gestores públicos, empresariado, comunidade – capazes de contribuir para a dinamicidade das manifestações populares tradicionais sob a forma de eventos e atrações associadas aos valores de lugar; para a refuncionalização do patrimônio material ou edificado, a partir de novos usos compatíveis com a carga de suporte dos destinos, bem como para o surgimento de ações de sensibilização e informação turística, desenvolvendo, desta forma, o valor da hospitalidade no destino. A articulação institucional e a formação de parcerias são essenciais para a continuidade e funcionalidade de projetos turísticos sustentáveis, elevando ou mantendo os benefícios para as comunidades locais. O envolvimento da comunidade torna-se premissa essencial na implementação de propostas e de modelos de desenvolvimento do turismo cultural nas próximas décadas. A ampliação do conceito de sustentabilidade pressupõe uma visão holística e sistêmica do turismo, com as comunidades estabelecendo mecanismos de controle da capacidade de carga social, monitoramento e avaliação das atividades desenvolvidas.O planejamento sustentável do turismo deve privilegiar o atendimento satisfatório das expectativas da população residente, no intuito de possibilitar sua participação em projetos integrados de revigoramento da cultura local.

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Tal iniciativa consiste também em garantir a qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos visitantes, aumentando o seu nível de competitividade e promovendo a hospitalidade no destino turístico. CONSIDERAÇÕES FINAIS Entende-se que uma nova proposta para o turismo cultural deve priorizar os aspectos de singularidade presentes em uma região vocacionada para o turismo, a fim de que os promotores turísticos possam estimular as múltiplas facetas presentes nessa atividade. Este segmento deve ser desenvolvido de forma a preservar o patrimônio cultural dos lugares, permitindo, deste modo, que haja a manutenção das manifestações existentes para as gerações futuras. Deve-se planejar o turismo cultural norteado nas dimensões culturais, naturais, econômicas e sociais da sustentabilidade. Estas, por sua vez, devem ser consideras de forma integrada e equitativa, promovendo a transformação dos elementos culturais em produtos turísticos, ao passo que contribuam para a preservação destes elementos e a melhoria da vida da comunidade envolvida. Para tanto, é importante que a políticas públicas setoriais estejam articuladas com as políticas de turismo. Aliado à valorização do lugar, a comunidade local deve participar ativamente do processo de planejamento do turismo para estabelecer atrativos culturais que esta considera de valor turístico, assim como impor os limites desta atividade para que o turismo não interfira de forma negativa no cotidiano da localidade. Diante do exposto, percebe-se que os ideais da sustentabilidade podem ser atrelados ao turismo cultural, visando à minimização dos impactos negativos e a preservação do patrimônio cultural local, contribuindo, desta forma, para a melhoria da qualidade de vida da comunidade receptora e para a valorização da experiência do turista. Assim, a relação entre turismo cultural e sustentabilidade é possível. Aula 14: Aula 14: Da Literatura ao Turismo – considerações no âmbito da América Latina O lugar da América Latina na nova ordem mundial De uma perspectiva cultural, a ideia de nação é a de um sistema de representação cultural, ultrapassando o foco político para o de bens simbólicos. Entendendo da ótica de Anderson, a noção de fronteiras e limites políticos é ultrapassada. Já não é possível associar uma identidade estritamente a um espaço ou a um país; ou mesmo identificar um patrimônio como exclusivo de uma cultura. Isto porque, as identidades e as culturas são móveis. Deslocam-se, viajam, redefinem fronteiras. Muitos de seus componentes se originam em um território e migram, acentuando seus caracteres ou hibridando-se com a cultura receptora; a desterritorialização, no lugar de apagar ou esfumaçar aspectos das culturas, na verdade, reafirmam-nos. Dominguez - “ampliar a autonomia política da região [...] exige governos baseados em alianças sociais qualitativamente distintas das atuais”. Laredo - diz que se “re/valorizamos o potencial que temos e aplicamos o modelo e a estratégia de integração adequados para redimensionarmo-nos e potenciarmo-nos, poderemos avançar progressivamente até o desenvolvimento e uma produtividade destinada não somente ao mercado externo, mas também a nosso incomensurável mercado interno, melhorando a qualidade de vida”. Assim, na consideração da nova ordem mundial, o global e o local devem ser tratados como complementares: o primeiro como ferramenta para a visibilidade do segundo. Da literatura ao turismo no contexto globalSe entendermos que uma cultura é considerada como local, porque é compartilhada subjetivamente por uma dada comunidade, e que a global está diretamente relacionada ao processo econômico, às mudanças

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tecnológicas e à universalização da informação, temos que, quanto à Literatura, é a sua recepção quem vai sinalizar as suas dimensões culturais em relação à globalização. O processo de tradução, editoração, divulgação, distribuição do livro vai viabilizar a mundialização do texto literário e levar o imaginário local para o universo global (por caminho virtual ou real). Pensar formas de valorização da Literatura, visando ao turismo, é estratégia de fazer interagir o global-local, evitando cair no aspecto homogeneizador do global. É realizar o comparativismo, em consideração da perspectiva antropológico-social da cultura, sem descurar da especificidade do valor estético da Literatura no contexto da diversidade cultural, do multiculturalismo e da globalização. Operar o turismo através da literatura implica uma compreensão do funcionamento do mercado cultural no contexto globalizado. É forma de valorização do discurso literário e do bem simbólico local, que habita o imaginário ficcional O bem simbólico, presente na literatura, é consubstancializado para o turista através do patrimônio cultural arquitetônico (material) e do imaterial (mitos, lendas, folclore, danças, música, culinária, hábitos de um povo) e, ainda, do patrimônio natural.A Literatura funcionará como elemento de sustentabilidade, quando provocadora do fluxo entre as culturas - local e global - e do consumo cultural pelos turistas (globais) que buscam o diferente (local). Isto porque, ao ser lida em âmbito global (considerada a sua divulgação e distribuição), desencadeia a motivação para do leitor, que reconstrói a motivação porque, consideradas a sua situação histórica e social e assegurando uma visão da cultura não corrompida pelo interesse econômico e utilizando as ferramentas da tecnologia global para informar o leitor sobre a cultura local.A cultura é aqui entendida no seu sentido largo, que não esbarra na visão clássica (herança de tradições e costumes), mas se alimenta também das vivências; melhor dizendo, que acrescenta vivências à herança. Por isso é que pensar cultura provoca pensar a identidade cultural, composta de múltiplas camadas e entendida como intersecção de múltiplas influências que se moldam por um senso de pertinência. Vale dizer, como observa Homi Bhabha, que a cultura como estratégia de sobrevivência é tanto transnacional como tradutória. Ela é transnacional porque os discursos pós-coloniais contemporâneos estão enraizados em histórias específicas de deslocamento cultural [...], é tradutória porque essas histórias espaciais de deslocamento – agora acompanhadas pelas ambições territoriais das tecnologias globais de mídia - tornam a questão de como a cultura significa, ou o que é significado por cultura, um assunto bastante complexo. Para exemplificação desse raciocínio é destacada a Região Sul-baiana do Brasil e o seu potencial turístico, marcado por uma cultura singular, de

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excepcionais peculiaridades no panorama sociocultural do país. O forte e significativo componente histórico que marca a compreensão da cultura dessa Região é imprescindível para a percepção cultural do seu presente, não só no que diz respeito à sua singularidade nacional de berço do Brasil (considerada a articulação das culturas indígena, branca e negra), como à importância da nação brasileira enquanto expressão em Língua Portuguesa. Portanto, a excepcionalidade cultural dessa Região faz com que se constitua em manancial relevante para as discussões identitárias locais e a potencializa como expressão cultural de atração turística nacional e internacional. Tais observações se acrescentam, quando é levada em conta a sua singularidade contextual de região encravada na Mata Atlântica remanescente, num litoral de excepcional beleza. Uma região na qual o meio-ambiente, a cultura, a história constituem-se atração incontestável para o turismo, devido aos aspectos culturais únicos. Nesse singular panorama cultural (propício para as reflexões sobre a cultura produzida na articulação de diferenças culturais), cabe acrescentar e ressaltar a sua rica e inquestionável literatura.simbólicos da América Latina. O fenômeno transnacional faz com que cruzamentos de fronteiras operem mudanças nas culturas através dos processos de transculturação. Daí a imprescindibilidade de políticas culturais bem traçadas e respeitadoras dos valores locais, a fim de salvaguardar o bem cultural do consumo depredador.Para isso, torna-se fundamental atentar para a relação entre produtos culturais e definições políticas em esferas locais e nacionais, visando a um foco internacional. Como observa Canclini, em um processo de integração transnacional, a reivindicação do público não pode ser uma tarefa para ser desenvolvida apenas dentro de cada nação. As macroempresas que reordenaram o mercado de acordo com os princípios de administração global criaram uma espécie de “sociedade civil mundial” de que são protagonistas Se a Literatura veicula imagens urbanas – paisagens locais, costumes, mitos, danças, comida típica, música – esses bens simbólicos de culturas singulares constituem-se referentes para o leitor de outras culturas, outras cidades. Enquanto elemento de interação entre a cultura e o turismo, as cidades – que abrigam os patrimônios e povoam o imaginário da ficção – constituem-se o elemento que motiva o trânsito do turista, e é onde ocorre a transculturação (turista/ morador). Movido pelo imaginário ficcionalizado no texto literário, essa clientela específica – o leitor-turista – vai interagir e, simbolicamente, recriar a cidade. Dessa forma, identidades diferentes são observadas por campos de relações do “bloco cultural” (questões de pós-colonização, proximidade espacial, relações temporais), justificando ações conjuntas, fortalecedoras do espaço Latino-americano.

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Mecanismos devem ser articulados a fim de que a neutralização das barreiras nacionais seja potencializada favoravelmente às expressões culturais locais, promovendo a ordem econômica e política através da integração e intercâmbio. Isto porque, como é óbvio, nem a comunidade nem o indivíduo podem sustentar sozinhos, um encaminhamento de tal monta. Se a cultura promove o turismo, ela deve ser preservada através de políticas públicas, definidas em conformidade com as representações sociais, através de planejamento participativo. Integração e intercâmbio justificam, portanto, um bloco propositor de um turismo intracontinental, valorizador da diferença cultural entre países de culturas próximas, nas quais as fronteiras nacionais ficam ultrapassadas politicamente e dimensionadas em perspectiva cultural. A questão é garantir políticas que busquem potencializar as singularidades. A ultrapassagem da concepção de fronteira (do político para simbólico) assegurará pontos de interação entre os povos através do intercâmbio, da migração, da hibridação linguística, da literatura. Nestes tempos, as políticas de inclusão podem ser interpretadas como indicativas da necessidade de ações culturais para um turismo que vise ao fortalecimento de um bloco cultural latino-americano frente ao mundo. Nesse caso, há a imprescindibilidade de um eficaz processo de integração que considere a região como um espaço de cruzamento de identidades, de mesclas; que reconheça o processo de reelaboração das identidades (dinâmicas e múltiplas). Observar como a apropriação e a reelaboração do consumo cultural pelo turismo é articulada no âmbito regional e os impactos que tais ações provocam nas identidades locais. A evidência do processo de fragmentação de identidades paralelo ao processo de globalização, ainda sinaliza a necessidade de considerar ações de uma perspectiva sócio comunicacional de identidade, ações essas que contribuam para a sua reformulação, nos espaços sociais, inclusive no espaço massmediático.A Literatura, enquanto elo estético e simbólico contribui para que laços tempos-espaciais justifiquem ações de turismo. A política, encaminhada nesse entendimento, assegurará a valorização do estético, a sustentabilidade da cultura e promoverá o desenvolvimento das comunidades.Aula 15: Turismo e patrimônio histórico cultural em São João Del Rei/MG COMO ESTA AULA FALA SOBRE O TURISMO EM UMA DETERMINADA REGIÃO NÃO A DIGITEI. OBS: MAS ANEXE ESTA AULA AO RESUMO SE DESEJAR. Aula 16: Patrimônio Gastronômico, Patrimônio Turístico: uma reflexão introdutória sobre a valorização das comidas tradicionais pelo IPHAN e a atividade turística no Brasil

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O turismo ganhou destaque não apenas sob o ponto de vista da iniciativa privada, mas também nos âmbitos da administração pública e da discussão acadêmica. Alimentação, cultura e identidade Como alerta o historiador Carlos Roberto Antunes dos SANTOS “não é suficiente que uma coisa seja comestível, para que efetivamente seja consumida. É necessária uma série de condicionamentos como o biológico, o psicológico, o cultural e o social para que se dê um passo”. Como observa o antropólogo Roberto DA MATTA nem todo alimento (considerado aquilo que pode nos fornecer nutrientes) pode se transformar em “comida”, por não fazer parte dos nossos hábitos: A “comida” é o alimento que vai ser ingerido. Só é “comida” aquilo que é aceito socialmente e culturalmente dentro de um determinado grupo de indivíduos. Estes elegem o que comer, quando, como, onde e com quem, dependendo de inúmeros fatores, como crenças, valores sociais, cultura, costumes, etc.. Bonin e Rolim - argumentam que “os hábitos alimentares se traduzem na forma de seleção, preparo e ingestão de alimentos, que não são o espelho, mas se constituem na própria imagem da sociedade”, salientando a íntima relação que se estabelece entre a alimentação e a cultura de uma sociedade. A partir desta contribuição, pode-se observar que a própria ideia de gosto alimentar já vem permeada pela fusão do biológico com o cultural. O gosto alimentar extrapola o domínio do aparelho sensorial humano e se aproxima da ideia de gosto defendida por BOURDIEU, para quem o gosto caracteriza uma propensão e aptidão à apropriação material e simbólica de uma determinada categoria de objetos ou práticas classificadas e classificadoras, constituindo a fórmula generativa de um estilo de vida. Como já foi indicado anteriormente, na fusão do orgânico com o cultural o gosto alimentar caracteriza a preferência por determinadas iguarias como sendo, mais do que um exercício do paladar individual, uma expressão do arcabouço cultural que orienta as escolhas individuais.A denominação prato típico designa uma iguaria gastronômica tradicionalmente preparada e degustada em uma região, que possui ligação com a história do grupo que a degusta e integra um panorama cultural que extrapola o prato em si. Esta iguaria, por reforçar a identidade de uma localidade e de seu povo, se torna muitas vezes uma espécie de insígnia local, fato que ganha importância dentro do contexto turístico. O interesse dos visitantes pela comida do outro – do visitado – é uma constante, e pode também ser justificado pelas palavras de MINTZ, que ressalta: o comportamento relativo à comida liga-se diretamente ao sentido de nós mesmos e à nossa identidade social, e isso parece valer para todos os

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seres humanos. Reagimos aos hábitos alimentares de outras pessoas, quem quer que sejam elas, da mesma forma que elas reagem aos nossos.Do reconhecimento da gastronomia e seus saberes como patrimônio cultural A UNESCO concebe como sendo manifestações de Patrimônio Cultural Imaterial as tradições, o folclore, os saberes, as técnicas, as línguas, as festas diversas outros aspectos e manifestações, transmitidos oral ou gestualmente, recriados coletivamente e modificados ao longo do tempo. O Patrimônio Imaterial é transmitido de geração em geração e constantemente recriado pelas comunidades e grupos em função de seu ambiente, de sua interação com a natureza e de sua história, gerando um sentimento de identidade e continuidade, contribuindo assim para promover o respeito à diversidade cultural e à criatividade humana.No Brasil, o órgão responsável pela preservar o patrimônio histórico e artístico é o IPHAN (Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). A atuação do IPHAN se dá através da realização de inventários e diagnósticos de avaliação do patrimônio e de aspectos a ele relacionados, estudos estes que fundamentam a realização dos tombamentos, a regulamentação das áreas tombadas e do entorno, os registros e os planos de ação necessários. Os bens culturais materiais (que ainda são divididos em duas categorias: imóvel e móvel) são classificados de acordo com suas características em quatro livros do Tombo: 1) Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico; 2) Livro do Tombo Histórico; 3) Livro do Tombo das BelasOs bens materiais têm como objetivo viabilizar projetos de identificação, reconhecimento, salvaguarda e promoção da dimensão imaterial do patrimônio cultural. Este programa caracteriza-se como uma ação de fomento que busca estabelecer parcerias com instituições dos governosfederal, estadual e municipal, universidades, organizações não governamentais, agências de desenvolvimento e organizações privadas ligadas à cultura, à pesquisa e ao financiamento. Para que seja realizado o registro de um bem cultural de natureza imaterial, alguns requisitos precisam ser preenchidos, dentre eles a apresentação na solicitação de abertura do processo de uma manifestação formal de anuência com o processo de registro por parte da comunidade envolvida, além do cumprimento das etapas de inventariação e de análise realizadas pelo corpo técnico do IPHAN. Os bens que recebem parecer favorável para o registro são agrupados por categoria e registrados em livros, classificados em: Livro de Registro dos Saberes (para conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades); Livro de Registro de Celebrações (para os rituais e festas que marcam vivência coletiva, religiosidade, entretenimento e outras práticas da vida social); Livro de Registro dos Lugares (para mercados, feiras, santuários, praças onde são concentradas ou reproduzidas práticas culturais coletivas).

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Dentre os bens já registrados como Patrimônio Imaterial, pode-se citar a Arte Kusiwa dos Índios Wajãpi, o Samba de Roda do Recôncavo Baiano; o Círio de Nossa Senhora de Nazaré, a Viola de cocho e o Jongo, etc.Deve-se mencionar também que o Programa Nacional do Patrimônio Imaterial também prevê a realização de Ações de Salvaguarda, que visam apoiar a continuidade de um bem cultural de natureza imaterial de modo sustentável, atuando no sentido da melhoria das condições sociais e materiais de transmissão e reprodução que possibilitam sua existência. O Plano de Salvaguarda do Ofício das Paneleiras de Goiabeiras envolve ações voltadas para a organização e a capacitação do grupo de paneleiras, além de ações relativas à sustentabilidade ambiental deste ofício, tendo em vista a utilização de insumos ambientais escassos na produção das mesmas. De acordo com o Livro de Registro dos Saberes (IPHAN), o Ofício das Baianas de Acarajé, em Salvador, Bahia, consiste em uma prática tradicional de produção e venda em tabuleiro das chamadas comidas de baiana ou comidas de azeite, em que se destaca o acarajé, um bolinho de feijão fradinho, frito no azeite de dendê. O preparo do acarajé foi levado para a região pelas escravas negras no período colonial e tem sido reproduzido no Brasil desde então, tendo na transmissão oral sua principal forma de transmissão de receitas. De origem sagrada, associada ao culto de divindades do candomblé, esta comida popularizou-se e passou a marcar toda a sociedade baiana como um valor alimentar integrado à culinária regional.Considerações finais - Um olhar turístico sobre a questão A atividade turística caracteriza-se como uma atividade socioeconômica e cultural que possui no elemento humano um elemento indispensável. Não bastasse o fluxo turístico ser composto por pessoas e o staff receptivo (pensando aqui nos responsáveis pelo planejamento e operacionalização dos produtos e serviços turísticos) ter a mesma composição, não se pode esquecer o fato de que o turismo trabalha com desejos, necessidades, motivações e expectativas do indivíduo turista. Seja em busca de uma complementação do seu cotidiano, seja em busca de algo que lhe é desconhecido, o turista cultural muitas vezes se baseia em seu próprio contexto cultural, em seus próprios valores para olhar o “diferente”. Buscando uma experiência turística que lhe acrescente algo (conhecimentos ou simplesmente emoções), este turista muitas vezes deseja exercitar, mais do que o olhar para o outro, uma experiência do outro. A gastronomia, em especial a gastronomia típica, merece destaque não apenas por constituir um bem cultural que deve ser valorizado como os demais, mas principalmente – aqui sob a ótica do turismo – por proporcionar um importante ponto de contato do turista com a realidade

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visitada, proporcionando, no sentido figurado e literal, uma degustação dos ritos, valores e tradições locais. Vale destacar a relevância das iniciativas do IPHAN que envolvem a pesquisa e a inventariação de alguns saberes gastronômicos de nosso país, principalmente quando se pode atestar a proliferação de pratos típicos feitos “sob encomenda” para a atividade turística em vários destinos do país, produtos estes destituídos de significado e de conteúdo cultural que são empurrados para os turistas como uma experiência genuína. Fica a contribuição para que nós, turismólogos, pensemos a gastronomia de uma outra forma: não como um conhecimento que se encerra no preparo de um prato ou na confecção de um utensílio, mas sim como algo que agrega, por trás daquele produto final, um universo simbólico que envolve conhecimentos, práticas e tradições das mais diversas. Aula 17: TURISMO E ETNICIDADE Turismo indica movimento de pessoas que não estão a trabalho em contextos diferentes do de origem, seja este o lar, a cidade ou o país. Trata-se, geralmente, de visitação a lugares onde poderão ser desempenhadas as mais variadas formas de atividades práticas e/ou subjetivas desde que não o trabalho. Pode-se afirmar somente que o turismo em larga escala emergiu no mundo ocidental no final do século XIX e início do XX. As origens do turismo são encontradas, além disso, em condições de alta produtividade, especialmente na sociedade industrial. Mas é com as transformações socioeconômicas experimentadas depois da II Guerra Mundial que o turismo se desenvolve como uma manifestação do consumo de massa.Nas ciências sociais, os estudos sobre turismo começam a se fixar entre os anos 60 e 70, quando aparece um número significativo de trabalhos sobre turismo, com relevo especial para a obra de Boorstin - que destaca o aspecto do simulacro no âmbito da atividade turística. Se turismo é um fenômeno muito complexo, não só por se apresentar quantitativamente com uma das maiores (se não a maior) indústrias do mundo, mas principalmente por uma enorme diversidade de objetivos programáticos, além dos aspectos subjetivos que perpassam todos os relacionamentos envolvidos nas suas múltiplas facetas, a antropologia do turismo não se apresenta como homogênea em sua abordagem, mas muito diversificada internamente na medida em que se constrói sob uma miríade de objetos temáticos. Hoje, no princípio do milênio em que se inicia o turismo espacial, há uma procura cada vez maior por sociedades em recônditos da Terra. Digo paradoxo aparente porque isso que se constrói como foco da visitação turística está na procura pelo diferente, pelo exótico, pelo outro que, na verdade, é buscado desde o início das jornadas turísticas. Perceber essa

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forma de experiência turística caracterizada pela promoção do “outro” parece de extrema relevância para a antropologia (inclusive a aplicada) na medida, principalmente, em que isso tem se configurado tanto como alternativas econômicas valiosíssimas para as comunidades turísticas quanto para a própria revitalização cultural dessas populações em si, muitas vezes apresentando declínio indesejável de produção cultural em face dos problemas impostos pelo trabuco do capitalismo global – questão de “desenvolvimento cultural” que, segundo Ryan, deve continuar sendo minuciosamente investigada em termos de sua autenticidade, na medida em que isso é importantíssimo para os próprios sujeitos nativos e turistas. Essa não é a mesma perspectiva que se insinuava no início da antropologia do turismo, quando as ideias de “impactos do turismo” e de “desenvolvimento turístico” começaram a receber atenção não só das ciências sociais e econômicas como também dos próprios agentes empreendedores que aplicam capital político, econômico e mesmo simbólico em certas sociedades. Mudanças ocorreram nestas e isso também se percebe pelo aspecto cultural e não meramente econômico. Muitas vezes essas mudanças foram pensadas em termos de uma aculturação em larga escala em face do impacto do turismo, isto é, o desenvolvimento turístico levaria os nativos de pequenas sociedades hospedeiras a abandonarem um modo de vida tradicional e independente do capitalismo global para se inserirem em negócios locais incrementados pelo “efeito multiplicador” do desenvolvimento turístico. Se o exótico, o outro, é procurado em lugares distintos do de origem do visitante, os habitantes desses lugares, de acordo com a perspectiva turística, devem se promover como esse exótico, a fim de ser atrativo no mercado turístico. Devem ter sinais diacríticos a exibir, a serem consumidos nesse amplo mercado. A construção, promoção ou fortalecimento de sinais diacríticos que caracterizam (que definem culturalmente) um povo é o próprio âmbito da etnicidade. Etnicidade e turismo Etnicidades são fenômenos sociais que refletem as tendências positivas de identificação e inclusão de certos indivíduos em um grupo étnico. A distintividade dessa identidade, para caracterizar um grupo étnico, deve se remeter a noções de origem, história, cultura e, até, raça comuns. Originalmente, destacaram-se duas perspectivas teóricas para se abordar e definir os grupos étnicos: uma essencialista, que se debruçava sobre a substância do patrimônio cultural e histórico das populações para perceber sua distintividade étnica, e outra, mais construtivista, que, focando as interações sociais entre as sociedades, notava suas fronteiras, que eram o que, efetivamente, definiria os limites do grupo étnico, independentemente

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se os traços de cultura ou raça fossem compartilhados com as sociedades vizinhas. Mas como a etnicidade se relaciona com o turismo? Ora, existem inúmeras formas de turismo e, embora algumas delas estejam totalmente despreocupadas com questões de história, cultura própria, raça, origem, como o turismo recreativo, outras formas tomam por objeto aspectos de identidade ou alteridade. No primeiro caso temos, por exemplo, o turismo histórico dentro da nossa própria sociedade, e, no segundo, a busca pelo exotismo ou simplesmente por outras culturas. Van den Berghe já sustentava que turismo é sempre uma forma de relações étnicas, e isso seria duplamente verdadeiro, segundo van den Berghe e Keyes, no caso do chamado turismo étnico, onde a própria existência da fronteira étnica criaria a atração turística. Turismo étnico Graburn - percebia a etnicidade como uma construção identitária num mundo plural, onde comunicação, educação e viagem apareceriam como fundantes de conhecimento e de e acesso aos mais variados outros. Em tal cenário, “identidades ameaçadas” muitas vezes poderiam buscar uma renovação das tradições de um grupo, em apoio a um sentido de identidade única que, muitas vezes, pode unir as pessoas a um passado talvez mais glorioso que o presente. Para ele, símbolos de identidade podem ser emprestados, roubados ou mesmo trocados. Grupos podem desejar realçar seu prestígio aos seus próprios olhos ou ao dos outros ao aceitar materiais, símbolos e insígnias de outros grupos como se um poder mágico pudesse passar por imitação; […]. De fato, seria difícil selecionar qualquer cultura ou subgrupo cujos símbolos culturais fossem totalmente de sua própria criação ou de sua própria história. Além disso, tais identidades “emprestadas” são frequentemente úteis ou funcionais num mundo onde velhos grupos são degradadas ou novas categorias e etnicidades estão sendo criadas. Graburn aponta para a possibilidade de as percebemos em constante mudança em face dos contextos de interação dos grupos sociais no cenário mundial. E é justamente ao abordar a mudança cultural que os temas da etnicidade, da identidade ou, em suma, do turismo étnico entram em cena ao se privilegiar uma análise da dinâmica em que os grupos se renovam objetivando a interação com o turismo. Mas trata-se de formas de etnicidade não generalizáveis a todos os contextos interétnicos, dada sua necessidade de envolvimento específico com sistemas globais (e fluxos culturais transnacionais). MacCannell - Mas “etnicidade construída” seria apenas um “trampolim conceitual para um fenômeno mais complexo”: A difusão global da cultura branca, colonização interna e as instituições do moderno turismo de massa

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estão produzindo novas e mais formas étnicas altamente determinísticas do que aquelas produzidas durante a primeira fase colonial. O foco está num tipo de etnicidade para- turismo no qual culturas exóticas figuram como atrações chave: onde os turistas vão ver costumes folk no uso diário, loja para artefatos folk em bazares autênticos, ficar alerta para forma de nariz, lábios, seios e assim por diante, aprender algumas normas locais para comportamento, e talvez aprender algo da linguagem... O turismo promove a restauração, preservação e recriação de atributos étnicos. Assim, essa “etnicidade reconstruída” (essas identidades turísticas que emergem em resposta às pressões da “cultura branca” e do turismo) se resume na manutenção e preservação de elementos étnicos para persuasão ou divertimento, não de outros específicos como no caso da etnicidade construída, mas de um “outro generalizado”. Mesmo que dependentes dos estágios anteriores de etnicidade, as formas étnicas reconstruídas estão aparecendo como resultados mais ou menos automáticos de todos os grupos no mundo que entram numa rede de relações globais de transações comerciais. Dessa forma, os itens de cultura podem ser ressignificados como mercadorias, além de servirem de armamento retórico, isto é, como forma de expressão simbólica com um propósito ou um valor de troca num sistema maior. No turismo étnico, o nativo não está simplesmente ‘lá’ para servir as necessidades os membros de comunidades étnicas podem se inserir em atividades turísticas, formando, junto com outros membros da comunidade étnica e outros que não o são, comunidades turísticas, que existem concretamente e cujas fronteiras podem ser bem mais amplas tanto do que as da arena turística onde se desenvolve a experiência turística quanto do que a da comunidade étnica. Mas se há uma etnicidade que é elaborada nessa arena e visando os recursos turísticos, há então uma experiência de turismo étnico. Os membros da comunidade étnica envolvidos nesse processo e mais todos aqueles de fora da comunidade, mas que também estão envolvidos nessa promoção do turismo étnico forma todas as comunidade etnoturística. Todas essas esferas são autênticas e legítimas em suas especificidades. Acredito ainda que a recorrência de menções a termos como ilusório, virtual, falso, inautêntico, pseudo, simulacro, etc. para referência às experiências etnoturísticas nessas arenas são inadequadas e emperram a concentração de esforços intelectuais para aquilo que deve prevalecer: a atenção sobre a prática turística desenvolvida com a cumplicidade entre atores e platéia. Estamos diante de três esferas que se sobrepõem e inter-relacionam necessariamente num mesmo espaço social, aqui chamado de arena turística. Por fim, em termos metodológicos, acredito que o foco das pesquisas pode recair sobre quaisquer dessas quatro esferas (as três comunidades ou a arena), vistas como experiências concretas, exemplos de atividade humana com tendências e contribuições

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específicas, e não rechaçadas ao hall das coisas impuras, poluídas. do turista; ele está ele mesmo ‘em exposição’, um espetáculo vivo a ser escrutado, fotografado...” (van den Berghe; Keyes). Para os autores, entretanto, a questão da autenticidade deve ser reforçada no turismo étnico, pois a própria “busca pelo exótico está se autodestruindo por causa da influência esmagadora do observador sobre o observado” (van den Berghe; Keyes). O turista não quer ver o que eles chamam de tourees, isto é, um ator que modifica seu comportamento para lucrar de acordo com essa percepção de que é atrativo para o turista. O turista quer ver “nativos intactos”, mas sua própria presença mudaria os nativos ao torná-los menos exóticos e “tradicionais” (mais parecidos com o próprio turista) e ao incentivar que eles transformem-se em tourees. No turismo étnico teríamos então o seguinte: o touree é o nativo quando ele começa a interagir com o turista e modificar seu comportamento conformemente. O touree é o nativo que virou ator, quer consciente ou inconscientemente – enquanto o turista é o espectador. O intermediário é o mediador no exotismo étnico que media e lucra pela interação de turista e touree, e quem, no processo, muito frequentemente manipula a etnicidade para ganhar, organiza “autenticidade”, distribui valores culturais, e assim torna-se um agente ativo ao modificar a situação na qual e da qual ele vive. Pode-se perceber, por tudo isso, o quanto o turismo étnico se distancia do turismo cultural, que pode ser definido “em termos de situações onde o papel da cultura é contextual, onde seu papel está para moldar a experiência do turista de uma situação em geral, sem um foco particular sobre a singularidade de uma identidade cultural específica”, ou seja, sem o engajamento de grupos étnicos que buscam produzir uma identidade a ser comprada pelos turistas. MacCannell - turismo étnico é especialmente vulnerável a uma forma de desordem social. Grupos étnicos turistificados são frequentemente enfraquecidos por uma história de exploração […], limitados em recursos e poder, e eles não têm grandes prédios, máquinas, monumentos ou maravilhas naturais para desviar a atenção dos turistas para longe dos detalhes íntimos de suas vidas diárias. Quando um grupo étnico começa a se vender, ou é forçado a se vender, ou é vendido como uma atração étnica, ele cessa de se desenvolver naturalmente e os membros do grupo começam a se pensar “não como um povo, mas como representantes de um autêntico modo de vida. Repentinamente, qualquer mudança no estilo de vida não é mera questão de utilidade prática, mas um assunto pesado que tivesse implicações econômicas e políticas para o grupo inteiro”. Chambers - mostra que o rótulo turismo étnico tem sido usado para se referir a atividades que engajam os turistas na experiência de eventos e situações culturais que são distintas da sua própria.

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De uma maneira geral, penso que o turismo étnico pode ser percebido sob duas perspectivas: uma voltando-se para o que se busca no turismo, e, no caso, o nativo seria o foco da viagem (visitação). Mas outra perspectiva seria ver o turismo étnico pelo que o turista vê (encontra) durante a visitação. Talvez se possa contra-argumentar dizendo que toda visitação a outra nação já admitiria o fato do turismo étnico. Mas o que deve estar para defini-lo é o movimento de construir uma etnicidade específica para exibição na arena turística. A idéia de turismo, inclusive, parece recair sobre a perspectiva daqueles que viajam. Se o ângulo for mudado e se perceber sob o olhar do nativo, é justamente a etnicidade acionada em termos de produção cultural de tradições a serem exibidas com sinais diacríticos em arenas turísticas que vai ressaltar o caráter étnico destas — e mesmo que isso ocorra sem plena compreensão do processo pelos nativos e, conseqüentemente, sem um planejamento para o desenvolvimento dos fluxos turísticos para suas aldeias. Comunidades étnicas e comunidades turísticas Nesse momento em que o foco da investigação torna-se, de fato, a “fronteira étnica que define o grupo” e não a “substância cultural que ela encerra” é que se deve olhar para o grupo étnico como uma forma de organização social, onde interessa menos o traço cultural atribuído do que a própria característica de auto/atribuição e atribuição por outros: a atenção recai sobre um conjunto de membros que se identifica e é identificado por outros como uma população distinta. Ainda no que concerne às relações interétnicas, gostaria de ressaltar que não apenas a interação é, em si, um fator gerador de cultura e de limites para cada grupo, como os contatos externos a um grupo são também constitutivos da estrutura desse grupo. Mas a comunidade é também uma construção simbólica. Para Cohen: cultura — a comunidade como experimentada por seus membros — não consiste em estrutura social ou “no fazer” do comportamento social. Ela é inerente “no pensar” sobre ela. É nesse sentido que podemos falar de comunidade como um construto simbólico antes que estrutural. Ao se procurar compreender o fenômeno da comunidade, nós temos que considerar suas relações sociais constituintes como repositórios de significado para seus membros, não como um conjunto de elos mecânicos. Bourdieu - percebe, com relação aos grupos étnicos e sua formação, que os agentes e grupos de agentes são definidos por suas posições relativas no “espaço social”. A partir de um tal quadro, o objeto do pesquisador deve ser a disputa pelo privilégio de impor uma visão das coisas, pois a luta pela imposição de uma visão legítima do mundo (onde se encaixam as lutas a respeito da identidade étnica) é o próprio âmbito da etnicidade (ou é a própria etnicidade) — e é assim que se dá a institucionalização de um grupo étnico, ou seja, pelas “lutas pelo monopólio de fazer ver e fazer crer, de dar a conhecer e de fazer reconhecer, de impor a definição legítima das

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divisões do mundo social e, por este meio, de fazer e de desfazer os grupos” (Bourdieu). Assim, deve-se evitar uma percepção naturalizada das fronteiras de um grupo étnico, uma vez que essas passaram por um processo político de legitimação, quando o grupo passou a ter sua existência conhecida e reconhecida num amplo cenário social. Mesmo quando uma etnicidade se alavanca em face do turismo, isso não quer dizer que os limites da comunidade étnica sejam coincidentes com os da arena turística (ou seja, o espaço social onde ocorrem interações geradas pela atividade turística), onde atores nativos constroem uma encenação de si, e com a qual se identificam de fato, e se formando como uma comunidade, a que chamo de turística. Ou seja, nem todos os nativos da comunidade étnica estão engajados na etnicidade para o turismo, mas os que estão acabam por formar uma outra comunidade, a turística, que, por se constituir e se apresentar por linhas étnicas, pode ser chamada de comunidade etnoturística. Há etnicidade aí e a identidade étnica construída nesse palco também é legítima e autêntica na medida em que autênticos e legítimos são os turismos nesses espaços sociais. Esse é o mais próprio turismo étnico, pois querer sair da fachada e penetrar nas profundezas da vida nativa é coisa para antropólogo, e não para turista. O termo “primitivo”, para este autor, seria assim apenas uma crescente resposta a uma “necessidade mítica” para manter a ideia do primitivo viva no mundo e na consciência modernos — e ela permaneceria viva porque existem vários impérios constituídos sobre a necessidade do “primitivo”. Os membros de comunidades étnicas podem se inserir em atividades turísticas, formando, junto com outros membros da comunidade étnica e outros que não o são, comunidades turísticas, que existem concretamente e cujas fronteiras podem ser bem mais amplas tanto do que as da arena turística onde se desenvolve a experiência turística quanto do que a da comunidade étnica. Mas se há uma etnicidade que é elaborada nessa arena e visando os recursos turísticos, há então uma experiência de turismo étnico. Os membros da comunidade étnica envolvidos nesse processo e mais todos aqueles de fora da comunidade, mas que também estão envolvidos nessa promoção do turismo étnico, formam todas a comunidade etnoturística. Todas essas esferas são autênticas e legítimas em suas especificidades. Acredito ainda que a recorrência de menções a termos como ilusório, virtual, falso, inautêntico, pseudo, simulacro, etc. para referência às experiências etnoturísticas nessas arenas são inadequadas e emperram a concentração de esforços intelectuais para aquilo que deve prevalecer: a atenção sobre a prática turística desenvolvida com a cumplicidade entre atores e plateia. Estamos diante de três esferas que se sobrepõem e inter-relacionam necessariamente num mesmo espaço social, aqui chamado de arena turística. Por fim, em termos metodológicos,

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acredito que o foco das pesquisas pode recair sobre quaisquer dessas quatro esferas (as três comunidades ou a arena), vistas como experiências concretas, exemplos de atividade humana com tendências e contribuições específicas, e não rechaçadas ao hall das coisas impuras, poluídas.