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b072a92a-dce1-4a76-b6de-4ca9acc8e37a Comissão Europeia espera mais 1700 milhões de euros em medidas de austeridade para Portugal em 2015 p2 a 4 Medo dos raptos agravou-se depois de uma portuguesa ter sido ontem levada de dentro de uma empresa p22 Bruxelas questiona durabilidade da retoma da economia Portugueses já estão a retirar os filhos de Moçambique SWEETIE A MENINA VIRTUAL QUE AJUDOU A IDENTIFICAR MIL PEDÓFILOS NA NET Mundo, 24 AFP Pedidos de rescisões amigáveis no Estado não chegam aos dois mil Meta de cinco a 15 mil saídas por rescisão afinal diz respeito aos vários programas de rescisão em curso e a ser lançados até ao final do ano. Governo diz que programa corre “dentro das expectativas” Economia, 16/17 Despacho do ministro da Educação publicado ontem em Diário da República fixa data e custo da prova p14 PGR confirma validade de documento e diz que Pais Jorge esteve na negociação de contrato swap em 2005 p18 Guarda-redes compensou erro na Luz e Olympiacos ganha vantagem sobre Benfica na Champions p40/41 Prova de avaliação a 18 de Dezembro custa 20 euros a docentes Afinal Pais Jorge esteve mesmo envolvido nos swaps Desta vez Roberto não facilitou e o Benfica perdeu Morreu Luna Andermatt, nome histórico da dança em Portugal p48 QUA 6 NOV 2013 EDIÇÃO LISBOA Ano XXIV | n.º 8610 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos ISNN:0872-1548 ESPAÇO ÍNDIA ESTREOU-SE NA CORRIDA A MARTE COM SONDA MUITO BARATA Ciência, 26/27 PUBLICIDADE Ciência, 26/27 Os prémios atribuídos de valor superior a €5.000 estão sujeitos a imposto do selo, à taxa legal de 20%, nos termos da legislação em vigor ESTA QUARTA-FEIRA JACKPOT *Previsão 6.800.000 *

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b072a92a-dce1-4a76-b6de-4ca9acc8e37a

Comissão Europeia espera mais 1700 milhões de euros em medidas de austeridade para Portugal em 2015 p2 a 4

Medo dos raptos agravou-se depois de uma portuguesa ter sido ontem levada de dentro de uma empresa p22

Bruxelas questiona durabilidade da retoma da economia

Portugueses já estão a retirar os filhos de Moçambique

SWEETIEA MENINA VIRTUAL QUE AJUDOU A IDENTIFICAR MIL PEDÓFILOS NA NET Mundo, 24

AFP

Pedidos de rescisões amigáveis no Estado não chegam aos dois milMeta de cinco a 15 mil saídas por rescisão afi nal diz respeito aos vários programas de rescisão em curso e a ser lançados até ao fi nal do ano. Governo diz que programa corre “dentro das expectativas” Economia, 16/17

Despacho do ministro da Educação publicado ontem em Diário da República fi xa data e custo da prova p14

PGR confi rma validade de documento e diz que Pais Jorge esteve na negociação de contrato swap em 2005 p18

Guarda-redes compensou erro na Luz e Olympiacos ganha vantagem sobre Benfi ca na Champions p40/41

Prova de avaliação a 18 de Dezembro custa 20 euros a docentes

Afinal Pais Jorge esteve mesmo envolvido nos swaps

Desta vez Roberto não facilitou e o Benfica perdeu

Morreu Luna Andermatt, nome histórico da dança em Portugal p48QUA 6 NOV 2013EDIÇÃO LISBOA

Ano XXIV | n.º 8610 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos

ISNN:0872-1548

ESPAÇOÍNDIA ESTREOU-SE NA CORRIDA A MARTE COM SONDA MUITO BARATACiência, 26/27

PUBLICIDADE

Ciência, 26/27

Os prémios atribuídos de valor superior a €5.000 estão sujeitos a imposto do selo, à taxa legal de 20%, nos termos da legislação em vigor

ESTA QUARTA-FEIRA

JACKPOT

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12 | PORTUGAL | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013

Professores prevêem aumento do insucesso a Matemática e a Português

Os novos programas para o ensino secundário, que estão em consulta pública, são considerados pelos especialistas das disciplinas “extensos e de uma especialização e complexidade desadequadas”

RUI SOARES

Novos programas vão aumentar insucesso escolar, dizem docentes

Uma primeira leitura dos novos pro-

gramas do ensino secundário, com

que o Ministério da Educação e Ciên-

cia (MEC) surpreendeu anteontem os

professores, bastou para que especia-

listas nas disciplinas detectassem ten-

dências comuns. Tanto os represen-

tantes dos professores de Matemáti-

ca como os de Português consideram

os respectivos programas extensos e

inaplicáveis e protestam contra “um

formalismo” e uma “especialização”

“desadequados” que, na sua pers-

pectiva, vão aumentar o insucesso

e desviar alunos do ensino regular

para percursos alternativos.

“Veja-se no 10.º de escolaridade,

crítico, marcado por altos níveis de

insucesso, por corresponder a uma

fase de transição e por as turmas se-

rem muito heterogéneas”, sugere

Edviges Ferreira, da Associação de

Professores de Português (APP). “Os

alunos que este ano o frequentam

estudam obrigatoriamente sonetos e

redondilhas, à escolha do professor,

de Luís de Camões, bem como con-

tos e poemas que os docentes consi-

derem adequados; já da educação li-

terária dos estudantes que entrarem

em 2015/2016, constam mais obras e

obras específi cas, com indicação de

autores, e até de capítulos, de excer-

tas e de poemas”, compara.

Com base na comparação do

“corpus literário” de ambos os pro-

gramas de Português dos três anos

do secundário (ver tabela), Edviges

Ferreira defende que a disciplina de

Português deveria passar a chamar-

se “Literatura Portuguesa” e que os

professores, “completamente priva-

dos de liberdade, vão ser meros exe-

cutores de um programa que, por ser

demasiado extenso, é, na verdade,

inaplicável”. “Há opções que não se

entendem, como o desaparecimento

do Memorial do Convento, de José Sa-

ramago, e do Felizmente Há Luar, de

Sttau Monteiro. Mas realmente grave

é esta absurda especialização na li-

teratura, que retira tempo essencial

à prática da escrita e da oralidade e

que, provocando o aumento do insu-

cesso, vai resultar a seguir no afasta-

mento de alunos”, afi rmou.

Em relação ao novo programa

de Matemática A (que, tal como o

de Português, se encontra em con-

EducaçãoGraça Barbosa Ribeiro

sulta pública), Lurdes Figueiral,

presidente da associação de pro-

fessores daquela disciplina, disse

que “o objectivo só pode ser afastar

alunos do ensino regular para per-

cursos alternativos”. “O programa

é de uma extensão brutal, são in-

troduzidos temas de uma comple-

xidade matemática desajustada e as

difi culdades da transição do ensino

básico para o secundário são igno-

radas — nada faz sentido”, criticou.

Também o autor do programa de

Matemática A em vigor no secundá-

rio, Jaime Carvalho e Silva, conside-

rou “inevitável um afunilamento arti-

fi cial da entrada no ensino superior”,

que “não resultará do aumento da

exigência”, frisou, “mas da exigên-

cia desadequada”. Acredita que,

“ao querer elaborar um programa

em clima de razoável secretismo”, “o

MEC concentrou-se na Matemática

e esqueceu a realidade”, ou seja, “a

carga horária atribuída à disciplina,

o número de alunos por turma e até

os próprios alunos”.

À semelhança de Lurdes Figueiral,

Carvalho e Silva considerou “preocu-

pante” que a proposta de programa

de Matemática A “ignore os resul-

tados de todos os estudos interna-

cionais e até o exemplo dos países

que, para o ministro da Educação,

costumam ser de referência”. “Em

Singapura, além dos objectivos téc-

nicos da Matemática, existem outros,

como o desenvolvimento de atitudes

positivas em relação à disciplina e de

capacidades para encontrar formas

criativas e intuitivas de formular e re-

solver problemas. Ora, tudo isso está

ausente e o que existe é um excesso

de formalismo que deu maus resul-

tados nos anos 1960 e que é conside-

rado negativo e desadequado pelos

mais eminentes e brilhantes matemá-

ticos”, analisou Lurdes Figueiral.

Alterações de 2003/2004 para 2015/2016 em Português

(só a nível da educação literária obrigatória)2003/2004:10.º anoLuís de Camões: redondilhas e sonetos (à escolha)11.º anoSermão de Santo António aos PeixesFrei Luís de SousaQualquer romance de Eça de QueirósCesário Verde12.º anoFernando Pessoa e heterónimosOs Lusíadas/MensagemFelizmente Há LuarMemorial do Convento

2015/201610.º anoPoesia trovadoresca (escolher 5 cantigas de amigo de 12 indicadas; escolher 3 cantigas de amor de 7 indicadas)

Fernão Lopes: indicação dos excertos de 2 capítulos a analisarGil Vicente: A Farsa de Inês Pereira ou Auto da Alma

Luís de Camões: Os Lusíadas – indicação das estrofes a analisarLuís de Camões: Lírico – escolher 4 de 9 redondilhas e escolher 8 sonetos dos 12 indicados

Fernão Mendes Pinto (indicação dos 5 capítulos a analisar)História Trágico-Marítima: Capítulo V, “As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”

11.º anoPadre António Vieira: Sermão (indicação dos capítulos que têm de ser analisados)

Poemas do séc. XVIII: Correia Garção (indicação dos poemas a analisar); Marquesa da Alorna (indicação do poema a analisar); Bocage (indicação dos 3 poemas a analisar)

Almeida Garrett: Frei Luís de Sousa (integral)

Alexandre Herculano: Lendas e Narrativas: “A Abóbada”; ou Almeida Garrett: Viagens na Minha Terra (escolher 5 capítulos: I, V, VIII, X, XIII, XX, XLIV, XLIX); ouCamilo Castelo Branco: Amor de Perdição (Introdução e Conclusão de leitura obrigatóriae escolher mais 2 capítulos, de entre os seguintes: I, IV, X e XIX)

Eça de Queirós: Os Maias ou A Ilustre Casa de RamiresAntero de Quental: Sonetos Completos (escolher 3 poemas de sete indicados)Cesário Verde: Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde); “O Sentimento dum Ocidental” (leitura obrigatória); e escolher mais 3 poemas de 5 indicados

12.º ano:Poesia: Camilo Pessanha (escolher 6 poemas dos 8 indicados);Fernando Pessoa: poemas do ortónimo (escolher 6 de 12 indicados); O Livro do Desassossego (escolher 3 fragmentos de 6 indicados);os heterónimos (escolher 2 de Alberto Caeiro, 3 de Ricardo Reis e 3 de Álvaro de Campos);Mensagem (leitura de 8 poemas)

Contos: Mário de Sá-Carneiro: A Estranha Morte do Professor Antena; ou Maria Judite de Carvalho, George

Teatro: José Régio, Três Máscaras – Fantasia Dramática

Poetas do séc. XX (escolher 3 autores e 4 poemas de cada): Jorge de Sena; António Ramos Rosa; Herberto Helder; Ruy Belo;Fiama Hasse Pais Brandão

José Saramago: O Ano da Morte de Ricardo Reis ou História do Cerco de Lisboa

Fonte: Associação de Professores Português

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14 | PORTUGAL | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013

Breves

Contrabando de ouro

Justiça

Inspectores da PJ suspendem buscas ao almoço

MP apreende bens conseguidos com tráfico de droga

Uma operação nacional de combate ao contrabando de ouro, que inclui centenas de inspectores da PJ, foi marcada ontem pela suspensão das buscas para almoçar. Os inspectores, em greve às horas extraordinárias, pararam entre as 13h e as 14h para o período de almoço, confirmou ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, Carlos Garcia. “Temos informação de que a adesão à greve às horas extraordinárias é superior a 90% e que os colegas pararam entre as 13h e 14h para almoçar. Não queremos prejudicar o sucesso das operações, mas isso parece-me inevitável. A responsabilidade não é, porém, nossa”, disse ainda Carlos Garcia.

O Ministério Público pediu que seja declarado perdido a favor do Estado o valor do património que uma arguida terá conseguido com o tráfico de droga, numa iniciativa pioneira nos tribunais portugueses. Segundo uma nota publicada no site da Procuradoria do Porto, aquela foi a primeira liquidação levada a cabo nos tribunais portugueses com base em investigação do Gabinete de Recuperação de Activos (GRA) da PJ, departamento que iniciou a sua actividade em finais de 2012. O GRA investigou o património da arguida, tendo concluído que ele está avaliado em 228.257 euros. Concluiu ainda que 183.640 euros são “património incongruente” da arguida, ou seja, só têm como justificação a actividade ilícita.

DATO DARASELIA

Satisfação dos cidadãos está a cair nos países com desemprego

A explosão do número de desempre-

gados, acompanhada pela perda de

rendimentos de quem trabalha, es-

tá a afectar o nível de satisfação das

pessoas, com este indicador a piorar

cada vez mais entre 2007 e 2012, so-

bretudo nos países mais afectados

pela crise, como é o caso de Portugal,

alerta um relatório da OCDE.

O relatório How’s Life?, da Orga-

nização para a Cooperação e De-

senvolvimento Económico (OCDE),

defende que é preciso investir mais

em medidas de carácter humano que

permitam melhorar os níveis de satis-

fação, até porque é possível perceber

uma discrepância neste indicador:

enquanto países como Portugal, Gré-

cia, Espanha e Itália viram o nível de

satisfação perante a vida cair signifi -

cativamente, no mesmo período Ale-

manha, Israel, Rússia, México e Sué-

cia conseguiram ligeiros aumentos.

Os países que têm tido situações

de desemprego e de cortes salariais

substanciais, e que precisaram tam-

bém de ajuda fi nanceira externa,

viram a satisfação dos cidadãos cair

muito. Entre 2007 e 2012, o nível

de satisfação com a vida reportado

pelos gregos caiu 20%, pelos espa-

nhóis 12% e pelos italianos 10%. Para

Portugal, não é dada a evolução no

relatório, mas a OCDE adiantou ao

PÚBLICO que o nível de satisfação

dos portugueses caiu 10%.

O relatório, integrado numa série

de trabalhos da OCDE relacionados

Vida nos países mais afectados pela crisecria insatisfação

com a Better Life Initiative, lançada

em 2011, salienta também os dados

do Your Better Life Index de 2012, que

avaliou o bem-estar em 36 países

com base em 11 indicadores.

As conclusões colocaram Portugal

como um dos países com a mais bai-

xa percentagem de população com

ensino secundário e um dos menos

satisfeitos com a vida. Na lista geral

dos 36 países, e considerando os 11

indicadores, Portugal fi cou-se pelo

29.º lugar. O pior resultado é mes-

mo no capítulo da “Satisfação com

a Vida” onde fi cou na 35.ª posição —

apenas melhor do que a Hungria.

Além disso, refere a OCDE, esta

tendência de insatisfação é acompa-

nhada na maioria dos países por uma

perda de confi ança generalizada no

Governo e nas suas instituições. No

total, menos de metade dos cidadãos

inquiridos disse confi ar nos órgãos

que os representam — o número mais

baixo desde 2006. Ao mesmo tempo,

diz a organização, parecem estar a

surgir redes informais de solidarie-

dade, que, de forma mais pessoal ou

informal, tentam colmatar as falhas

dos sistemas e que têm conseguido

aligeirar alguns problemas sociais

e fi nanceiros. “Este relatório é um

despertar para todos nós. Relembra

que o propósito central das políticas

económicas deve ser melhorar a vida

das pessoas. Precisamos de repensar

como posicionar as necessidades das

pessoas no coração das decisões po-

líticas”, afi rmou o secretário-geral da

OCDE, Angel Gurría, num comuni-

cado, em que também é dito que os

indicadores relacionados com a qua-

lidade de vida permitem perceber

“os custos humanos da crise”.

A OCDE diz ainda que há cada vez

mais mulheres com formação supe-

rior e com melhores resultados, o

que não tem tradução directa na

ocupação de cargos de liderança.

RelatórioRomana Borja-Santos

Documento de análise da OCDE apela a medidas de carácter humano em países como Portugal, Grécia, Espanha e Itália

Os reitores das universidades pú-

blicas foram ontem ao Parlamento

pedir o apoio dos deputados para

conseguirem algumas mudanças no

Orçamento do Estado (OE) para o

próximo ano. As preocupações dos

responsáveis do sector centram-se

sobretudo nos limites à contratação

de docentes e no “duplo corte” que

pode retirar 60 milhões de euros

do sector.

O corte inicial de 30 milhões de

euros no sector já era o dobro do

negociado com o Governo no Verão,

mas o OE acrescenta uma redução

de outros 30 milhões de transferên-

cias, se for tida em conta a redução

salarial para os trabalhadores em

funções públicas. “É um corte para

lá do esperado”, lamenta o presi-

dente do Conselho de Reitores das

Universidades Portuguesas (CRUP),

António Rendas, que ontem esteve

na Comissão Parlamentar de Edu-

cação a discutir o assunto.

Na Assembleia da República, os

reitores passaram uma mensagem

de que o próximo será um ano “ter-

rível” e para lá dos limites de susten-

tabilidade das instituições de ensino

superior se não foram introduzidas

alterações ao documento, tentan-

do sensibilizar os deputados — so-

bretudo os da maioria — para os

problemas. Durante a audiência, o

deputado do PSD Duarte Marques

prometeu “tentar encontrar uma

solução” para as difi culdades das

universidades, mesmo que não se

tenha comprometido com altera-

ções ao OE.

Para já, os responsáveis das uni-

versidades não abandonam a posi-

ção de abertura ao diálogo com o

Governo, mas se não houver mudan-

ças, admitem endurecer a posição.

“Se o orçamento for aprovado tal

como está, sentimo-nos na posição

de tomar medidas para defender

a autonomia universitária”, avisa

Rendas.

A prioridade dos reitores é que se-

jam tidas em conta, pelo menos, as

medidas sem incidência orçamental

como as condicionantes à angaria-

ção de receitas próprias e os limites

à contratação de novos docentes.

“Até as autarquias em incumprimen-

to estão em melhor condições do

que nós”, lamenta o presidente do

CRUP, uma vez que as câmaras têm

que reduzir a sua massa salarial em

2% e as universidades em mais um

ponto percentual.

Reitores pedem mudanças no Orçamento

Ensino superiorSamuel Silva

Os docentes vão ser chamados para

ser avaliados já a 18 de Dezembro, ten-

do de pagar 20 euros pela inscrição

na prova, de acordo com um despa-

cho do ministro da Educação, Nuno

Crato, assinado e publicado ontem.

A avaliação da componente comum

realiza-se a 18 de Dezembro deste

ano, enquanto que as avaliações pa-

ra as componentes específi cas fi cam

agendadas para o período entre 1 de

Março e 9 de Abril de 2014. “O valor

a pagar pela inscrição na prova, in-

cluindo a componente comum e uma

componente específi ca, é fi xado em

20 euros”, lê-se no despacho publi-

cado ontem em Diário da República.

Este valor pode aumentar se os

docentes decidirem prestar provas

em mais do que uma componente

específi ca, para poderem concorrer

a vagas em mais do que uma discipli-

na ou grupo de recrutamento. Assim,

por cada componente específi ca ex-

tra em que os docentes queiram pres-

tar provas terão que pagar 15 euros.

O despacho determina ainda que

os pedidos de reapreciação de resul-

tados custam igualmente 20 euros,

sendo esse valor restituído caso a rea-

valiação seja favorável ao docente.

O Governo aprovou em Setembro

a regulamentação da prova de ava-

liação dos professores, estando pre-

visto que um docente que obtenha

aprovação só tenha de realizar nova

prova se nos cinco anos subsequen-

tes leccionar menos de um ano. A

prova é destinada aos professores

não integrados na carreira docente,

ou seja, aos contratados, terá uma

periodicidade anual, e tem como ob-

jectivo “aumentar sustentadamente

os padrões de qualidade do ensino”,

assim como a “equidade entre os

candidatos ao exercício de funções

docentes”, de acordo com o MEC.

Apesar de ser anual, prevê-se que

um candidato aprovado apenas te-

nha de realizar nova prova se nos

cinco anos seguintes à data da rea-

lização da mesma tiver completado

menos de um ano de tempo de ser-

viço. O diploma prevê duas normas

transitórias. Uma delas estipula que

“os candidatos com cinco ou mais

anos de serviço que não obtenham

aprovação podem ser admitidos

aos concursos de selecção e recru-

tamento que se realizem até 31 de

Dezembro de 2014”. A outra defi ne

que os candidatos que “até 31 de De-

zembro deste ano celebrem contra-

tos de trabalho estão dispensados da

obtenção de aprovação na prova”.

Avaliação dos docentes a 18 de Dezembroe por 20 euros

Educação

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16 | ECONOMIA | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013

Houve 1750 pedidos de rescisões amigáveis no Estado até Outubro

A um mês do encerramento do

programa de rescisões amigáveis

destinado aos assistentes técnicos

e operacionais, 1750 funcionários

entregaram o pedido para saírem do

Estado. Os dados dizem respeito aos

pedidos recebidos pela Direcção-Ge-

ral da Administração e do Emprego

Público (DGAEP) entre 1 de Setem-

bro e o fi nal de Outubro.

De acordo com o secretário de

Estado da Administração Pública,

Hélder Rosalino, do total de pedidos

que deram entrada 1673 foram vali-

dados e 800 já receberam luz verde

e estão concluídos. No primeiro mês

a DGAEP tinha recebido 965 pedi-

dos, a que se somam agora mais 785.

Ao todo, por dia, perto de 29 admi-

nistrativos e auxiliares pediram para

sair dos serviços.

“O balanço é muito positivo. O

programa está a correr dentro das

expectativas”, disse ao PÚBLICO

Hélder Rosalino, garantindo que a

meta de 5 a 15 mil, apontada pelo

Governo no Verão, tem por base

os vários programas de rescisões

que serão lançados até ao fi nal de

2013 e que vão correr ao longo do

próximo ano e não dizem respeito

apenas aos assistentes técnicos e

operacionais.

Além do programa em curso para

cerca de 213 mil funcionários com

funções administrativas e auxiliares

e que termina a 30 de Novembro,

outros estão na calha. Na semana

passada foi publicado em Diário da

República o programa destinado aos

cerca de 1300 trabalhadores dos Es-

tabelecimentos Fabris do Exército,

que têm até 30 de Novembro para

pedir a rescisão.

A 15 de Novembro arranca o pro-

grama de rescisões amigáveis para

os professores, num universo que o

Governo estima de 100 mil. E está

a ser preparado um programa di-

rigido aos técnicos superiores e a

outras carreiras profi ssionais mais

qualifi cadas. “Parte signifi cativa da

meta de 5 a 15 mil vem da área da

Educação”, precisou o secretário

de Estado.

Porém, um relatório recente da

Unidade Técnica de Apoio Orçamen-

tal (UTAO) dá conta de uma “revisão

Actual programa de rescisões amigáveis termina no final deste mês

Meta de cinco a 15 mil saídas por rescisão afi nal diz respeito aos vários programas de rescisão em curso e a ser lançados até ao fi nal do ano. Governo diz que programa está a correr “dentro das expectativas”

Função públicaRaquel Martins e Pedro Carvalho

VITOR CID

em baixa” das previsões das resci-

sões por mútuo acordo.

De acordo com aquele organis-

mo, na proposta do Orçamento

do Estado para 2014 está previsto

“que o impacto temporário nega-

tivo respeitante ao pagamento da

compensação devido à rescisão por

mútuo acordo é de 227 milhões de

euros”. No entanto, “no Documento

de Estratégia Orçamental 2013-17 es-

te montante era de aproximadamen-

te 600 milhões de euros em termos

brutos e de 550 milhões de euros em

termos líquidos, via aumento de re-

ceita de IRS. Esta diferença poderá

ser justifi cada por uma alteração na

previsão das rescisões por mútuo

acordo, nomeadamente uma revi-

são em baixa”, adianta a UTAO.

Os técnicos notam ainda que par-

te desta mudança pode resultar do

chumbo do Tribunal Constitucional

ao regime de requalifi cação, que

permitia ao Estado despedir os fun-

cionários públicos excedentes.

O secretário de Estado reconhece

que estes programas de rescisões

estão a ser lançados “em contraci-

clo” e num contexto de forte crise

do mercado de trabalho no sector

privado. “Se o programa de resci-

sões fosse feito há dez ou 15 anos,

quando a economia estava a cres-

cer, teríamos muito mais adesões.

Mas nessa altura estava a aumen-

tar o número de funcionários pú-

blicos. Em 1979 existam menos de

400 mil funcionários públicos e em

2005 duplicaram e já tínhamos qua-

se 800 mil funcionários públicos. É

evidente que temos que fazer este

programa agora, em contraciclo,

porque, quando a economia cres-

cia, o Estado não reduzia efectivos,

aumentava-os”, destacou.

O programa de rescisões lançado

para os assistentes técnicos e ope-

racionais e também para os profes-

sores tem algumas diferenças face

aos programas levados a cabo pelas

empresas do sector privado. Os fun-

cionários públicos que rescindam

apenas podem contar com a sua

indemnização, não tendo direito a

subsídio de desemprego, ao contrá-

rio do que acontece no privado (o

acesso ao subsídio de desemprego

está sujeito a quotas consoante a di-

mensão da empresa).

Contudo, os funcionários podem

manter a ADSE (o subsistema de saú-

de da função pública), desde que

continuem a descontar 2,5% sobre o

salário que tinham quando estavam

no activo.

“Se o programa de rescisões fosse feito há dez ou 15 anos, quando a economia estava a crescer, teríamos muito mais adesões”, diz o secretário de Estado da Função Pública, Hélder Rosalino

agravito
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PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013 | ECONOMIA | 17

A suspensão dos complementos

de reforma nas empresas públicas

defi citárias, uma medida prevista

no Orçamento do Estado (OE) para

2014, motivou uma queixa ao Presi-

dente da República e ao provedor de

Justiça. O objectivo dos queixosos,

aposentados e pensionistas da Metro

de Lisboa, é que seja pedida a fi scali-

zação preventiva da proposta de lei

junto do Tribunal Constitucional.

A queixa, a que o PÚBLICO teve

acesso, foi enviada na passada se-

gunda-feira a Cavaco Silva e a José

de Faria Costa, mas também chegou

a outras entidades, como a Procura-

doria-Geral da República, o Tribu-

nal de Contas e a Câmara Municipal

de Lisboa. Na lista de destinatários

constam ainda os diferentes grupos

parlamentares com assento na As-

sembleia da República.

Os signatários, uma comissão for-

mada por reformados e pensionis-

tas da Metro de Lisboa, contestam

um artigo inscrito no OE que prevê

a suspensão dos complementos de

reforma pago pelas empresas públi-

cas sempre que estas acumulem três

anos consecutivos de prejuízos. O pa-

gamento destes complementos, que

servem para compensar os trabalha-

dores que se aposentam da diferença

face ao que auferiam quando esta-

vam no activo, só poderá ser retoma-

do quando as empresas apresentem

cinco anos seguidos de lucros.

Tal como o PÚBLICO tinha noti-

ciado quando o OE foi entregue, a

15 de Outubro, a Metro de Lisboa

será uma das mais penalizadas pela

medida, visto que apesar de todas as

transportadoras públicas serem de-

fi citárias, esta empresa e a Carris são

as que têm mais responsabilidades a

este nível para com os reformados.

O Governo estima que o fi m destes

complementos gere poupanças de

20 milhões, dos quais mais de 13 mi-

lhões vão caber à Metro de Lisboa,

caso a medida avance.

O objectivo desta queixa é alertar

os destinatários para os impactos

que a suspensão destes pagamentos

irá ter nos rendimentos dos reforma-

dos. E, com isso, levar o Presidente

da República a pedir a fi scalização

Complementos de pensão motivam queixa a Cavaco e ao provedor de Justiça

Empresas públicasRaquel Almeida Correia

Reformados e pensionistas da Metro de Lisboa querem que seja pedida fiscalização preventiva do OE para 2014 por causa desta medida

preventiva do OE junto do Tribunal

Constitucional. O provedor de Justi-

ça também poderá fazê-lo, embora

só de forma sucessiva.

Os argumentos da comissão res-

ponsável pela queixa prendem-se

com o facto de os resultados da em-

presa dependerem de factores que

lhe são alheios, como a defi nição da

política tarifária e a concretização de

obra com recurso a dívida. “Infeliz-

mente, a tutela accionista nunca as-

sumiu adequadas responsabilidades

(...), tendo sempre pecado por insufi -

ciência, o que conduziu aos sucessi-

vos resultados negativos”, referem.

Além disso, afi rmam que a me-

dida vai ter “consequências demo-

lidoras” para os cerca de 1400 mil

reformados e pensionistas da em-

presa, já que alegam que resultará

num “valor médio de redução da

pensão de 670 euros”.

Isto numa altura em que o sec-

tor dos transportes iniciou uma

reestruturação com vista ao ema-

grecimento dos quadros de pesso-

al e em que muitos trabalhadores

deixaram a Metro de Lisboa com o

compromisso de que teriam acesso

aos complementos. “Só pediram a

reforma antecipada após a empresa

garantir, por escrito, o pagamento

do respectivo complemento de re-

forma”, lê-se na queixa.

“Consideramos de uma profun-

da injustiça” a medida, escrevem

os subscritores, acrescentando

que “não tem paralelo, pelo seu

impacto, com quaisquer outras que

já tenham tomado ou que estejam

previstas para trabalhadores refor-

mados e pensionistas”.

PEDRO CUNHA/ARQUIVO

Metro de Lisboa vai ser a empresa mais afectada, a par da Carris

20Milhões de euros é a poupança prevista pelo Governo com o fim dos complementos de reforma. Deste valor, mais de 13 milhões referem-se à Metro de Lisboa

O secretário-geral da UGT, Carlos Sil-

va, afi rmou ontem que o Presidente

da República concordou com a neces-

sidade de aumentar o valor do Salá-

rio Mínimo Nacional (SMN), que é ac-

tualmente de 485 euros.“Retivemos

do Presidente da República o apoio

inequívoco sobre a necessidade

do aumento do SMN”, disse Carlos

Silva, citado pela Lusa, no fi nal de

uma audiência com Cavaco Silva.

O sindicalista defendeu um au-

mento do SMN a partir de 1 de Ja-

neiro de 2014 e disse que transmitiu

ao Presidente da República a sua dis-

ponibilidade para negociações bila-

terais com as confederações patro-

nais se não for possível acordar esta

matéria em concertação social.

Esta semana, a Organização In-

ternacional do Trabalho (OIT) apre-

sentou um relatório onde analisa o

impacto da crise no mercado de

trabalho em Portugal, e defendeu

a actualização do SMN para evitar

o agravamento das desigualdades

salariais e de rendimento.

“Ao entrarmos num registo de

assistência fi nanceira, estamos im-

pedidos de ajustar o salário mínimo

nacional, mesmo que o desejásse-

mos”, disse ontem o ministro da

Economia, citado pela Lusa. António

Pires de Lima defendeu, no entanto,

que as empresas não têm de esperar

pelo Estado para realizar aumentos

que considerem “possíveis e justos”.

Recordando a sua própria experi-

ência como gestor, frisou nunca ter

esperado “que o Estado sinalizasse

aumentos para fazer aumentos aos

trabalhadores”. “Aliás, aconteceu-

me sempre ao contrário”, recordou,

num discurso no Fórum de Adminis-

tradores de Empresas (FAE).

O governante também destacou o

esforço “para convencer os credo-

res de que seria disparatado fazer

de uma política de salários baixos o

foco principal da competitividade”

de Portugal. “Não é essa a política

do Governo, nem é isso em que eu

acredito. E muito trabalho tem feito

o Governo no sentido de contrariar

a vontade dos credores de se reduzir

ainda mais o salário mínimo nacio-

nal, nomeadamente para jovens”,

afi rmou Pires de Lima.

UGT diz que Presidente apoia subida do SMN

Salários

Carlos Silva, secretário-geral da UGT, afirma que o Presidente da República concorda com um valor superior a 485 euros

Como funcionam as rescisões

F oi o primeiro programa de rescisões amigáveis lançado no Estado e destina-se aos

trabalhadores menos qualificados. Outros se seguirão para os professores e técnicos superiores. O objectivo é “cativar” entre 5 a 15 mil funcionários públicos.

Requerimentos têm de entrar até 30 de NovembroO programa abriu no início de Setembro e fecha a 30 de Novembro. Destina-se a assistentes operacionais (motoristas, auxiliares, operários) e assistentes técnicos (administrativos). Os trabalhadores têm até 30 de Novembro para apresentarem o seu requerimento.

Trabalhadores com menos de 60 anosApenas podem pedir rescisão os trabalhadores com menos de 60 anos na data do requerimento, com contrato de trabalho em funções públicas, a trabalhar para a administração central e que estejam a pelo menos cinco anos da idade legal da reforma.

Compensação depende da idadeO valor das compensações a pagar pelo Estado depende da idade e oscila entre um e um salário e meio por cada ano de serviço. Se o trabalhador tiver menos de 50 anos, recebe 1,5 meses de salário base (incluindo suplementos regulares pagos nos últimos dois anos) por cada ano de serviço, se tiver entre 50 e 54 anos tem direito a 1,25 meses de salário e se tiver entre 55 e 59 anos recebe 1 mês de salário por ano de antiguidade.

ADSE para quem continuar a descontarOs trabalhadores podem manter a ADSE (subsistema de saúde da função pública), desde que continuem a descontar 2,5% do salário.

agravito
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PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013 | 45

BARTOON LUÍS AFONSO

O guião esticado de Portas encolhido

Santana Castilho

O “guião para a reforma do

Estado” é um panfl eto

de qualidade inferior,

ridiculamente esticado

a corpo 16 e duas linhas

de espaçamento. Se o

expurgarmos das afi rmações

óbvias que o infl am, fi cam

expostas a vacuidade e

a mediocridade da sua

substância. Tem a paternidade, longamente

publicitada, de Paulo Portas. Mas é bom

lembrar que foi aprovado em Conselho de

Ministros e vincula por isso o Governo.

A fi gura janota de Portas na televisão

não logrou tapar o seu esqueleto reciclado,

encolhido e sem convicção, esbracejando

na política manhosa que afunda o país.

Apesar de tudo isto, este guião não é um

documento qualquer, porque levou nove

meses a preparar, amalgamou contributos

de ministros e trata da “reforma” do Estado.

Mas já percebemos que ninguém o toma a

sério. Mostra que a última réstia de decoro

político se perdeu num emaranhado de

banalidades, de ignorância e reviravoltas,

sem lógica nem pertinência, de lugares-

comuns babosos, mirífi cas contradições

e vacuidade confrangedora. No entanto,

manda a profi laxia contra a manipulação e

os riscos de contágio que percamos com ele

algum tempo. Por dever de ofício e ditadura

de espaço, fi co-me pelas medidas mais

emblemáticas, que à Educação respeitam.

Portas começa por seduzir os professores

com a sua “terceira via”, que designa

por “escolas independentes”. Trata-se,

esclarece com denguice, “de convidar a

comunidade dos professores a organizar-

se num projecto de escola específi co,

de propriedade e gestão dos próprios,

mediante a contratualização com o

Estado do serviço prestado e do uso das

instalações”, garantindo “à sociedade

poder escolher projectos de escola mais

nítidos e diferenciados” (p. 74). Se Portas

quer projectos de escolas diferenciados,

não precisa de retirar o Estado do processo

e trazer para cá o que lá fora começa a

ser abandonado. Basta modifi car as leis

castradoras, que este Governo cinicamente

refi nou, deixando que a iniciativa de

organização diferenciada cresça dentro

da rede pública. Basta devolver liberdade

pedagógica e autonomia intelectual aos

professores. Portas quer outra coisa, que

não pode dizer de chofre: quer abrir a rede

de estabelecimentos públicos à gestão

privada.

A segunda proposta de Portas é

uma tentativa de branqueamento da

promiscuidade, melhor dizendo, da

corrupção, que grassa com a utilização

inconstitucional e reiteradamente ilegal dos

dinheiros públicos, para fi nanciar iniciativas

privadas. Anteontem mesmo uma notável

reportagem da jornalista Ana Leal, da TVI,

teria consequências, se a decência vigorasse

e as instituições funcionassem, tamanho

e tão grave é o escândalo denunciado.

Em vez disso, Portas sugere “aumentar

a liberdade de escolha da sociedade

em relação à Educação” dilatando o já

escandalosamente dilatado conceito de

“contratos de associação”. Com topete

de ilusionista, Portas recorda que estes

contratos “foram, inicialmente, concebidos

para preencher a oferta educativa nos

territórios em que a oferta pública era

escassa” e proclama que, agora, “com

a disseminação dos equipamentos, um

novo ciclo de contratos de associação deve

estar potencialmente ligado a critérios de

superação do insucesso escolar”, porque,

“como é sabido, globalmente, as escolas

com contrato de associação respondem

bem nos rankings educativos” (p. 74 e 75). A

“liberdade de escolha” e a “autonomia das

escolas” são metáforas gastas para justifi car

a mercantilização do ensino, substituindo a

responsabilidade do Estado pelo interesse

de grupos económicos e religiosos. Tudo

sem risco, porque a contratualização prévia

e a fl exibilização do mercado de trabalho o

retiraram atempadamente. Não fora ainda

termos uma Constituição e quem a defenda,

não fora ainda resistirem muitos que dizem

não à desvergonha, teríamos Portas e os

seus mercadores a gritarem bingo.

Muitas vezes se acusam projectos e

propostas de serem ideológicos. Mas é

natural que sejam ideológicos. A questão

reside naquilo que propõe determinada

ideologia. No que

toca à Educação,

rejeito qualquer

que, usando o

dinheiro de todos,

pretenda favorecer

apenas alguns;

que rejeite como

obrigação central do

Estado promover a

Educação de todos

os portugueses,

enquanto veículo

de redução de

desigualdades

sociais, de

autonomização

dos cidadãos e

primeiro motor

de crescimento

económico. Uma

coisa é uma visão

sectária de uma

facção, outra

coisa é uma opção

estratégica que sirva

a colectividade. A

ideia de Portas para

a Educação geraria

os fenómenos que outras sociedades,

bem menos frágeis que a nossa, já

experimentaram e começam a abandonar,

por perniciosos para o bem comum. Essa é

a realidade escondida com as denominadas

“escolas independentes” e com a

inconstitucional extensão da natureza dos

contratos de associação.

Professor do ensino superior. Escreve quinzenalmente à [email protected]

A ideia de Portas para a Educação geraria os fenómenos que outras sociedades, bem menos frágeis que a nossa, já começam a abandonar

Prémio bem atribuído

A vencedora do Prémio Samuel

Johnson para o melhor livro

de não-fi cção foi muito

justamente dado a Lucy

Hughes-Hallett (L.H.-H.),

pela biografi a que escreveu

sobre Gabriele D’Annunzio

(G.D’A.). O título é The Pike: a

perca, esperta e devoradora.

O paperback, com 704 páginas,

custa cerca de nove euros na Amazon. É uma

pechincha bela. L.H.-H. é, simultaneamente,

a maior crítica e a mais relutante admiradora

de G.D’A. Ela consegue revelar o pior dele

(mau, sádico, ladrão e vaidoso) e o melhor

dele (inteligente, corajoso, informado e

inovador). Como conseguiu ela juntar o

que ele tinha de mais repugnante com

o que tinha de curioso e moderno? Por

génio biográfi co. Ela conseguiu manter

as contradições dele sem as denunciar ou

procurar, extemporaneamente, resolvê-las.

The Pike é o melhor retrato de um

homem horrível mas sedutor que já li,

escrito por uma mulher maravilhosa e

impossível de enganar, que respeita a

espelhada inteligência dele. A atitude

céptica mas atinada de L.H.-H. é uma

proeza não só literária como psicológica.

Ela escreve quase tão bem como ele, mas,

descontando as mentiras e os engates dele,

compreende-o mais bem (e não “melhor”)

do que ele próprio.

D’Annunzio era um esteta e modernista

interesseiro e narcisista. Lucy Hughes-Hallett

descobriu-lhe a careca. Compre e leia o livro

dela, se quiser ler a história de um fascista

arrependido. Pode ter-se um grande talento

sem saber o que se há-de fazer com ele. O

poder pertence a quem pensa.

Miguel Esteves CardosoAinda ontem

agravito
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46 | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013

Livre circulação de doentes na Europa?

Desorçamentação da Educação

Finalmente entrou em vigor, faz

uns dias, a directiva europeia

para a regulação da circulação

de doentes na União Europeia

(UE). O espírito da directiva

é apresentado como um

contributo para promover “mais

escolha”.

Em síntese, devemos

esclarecer os portugueses que,

quando em necessidade de cuidados de

saúde, poderão, por iniciativa própria,

procurá-los livremente em qualquer

Estado da UE. Entre alguns aspectos

verdadeiramente revolucionários para o

melhor desenvolvimento dos sistemas de

saúde, o doente passa a ter o direito de

acesso livre aos seus dados clínicos que

poderá partilhar, por sua decisão, com

outros profi ssionais de saúde em qualquer

outro Estado europeu, assim como a

manter o direito de continuar a ser apoiado

pelos profi ssionais de saúde locais após

regresso ao país de origem.

Alterando a regulação europeia anterior,

agora o pedido de autorização no seu

país de origem deverá ser a excepção e

nunca (!) a regra. A eventual tentativa de

difi cultar a circulação dos doentes com

a introdução abusiva da pré-autorização

é contra os princípios da directiva e

será alvo de reclamação judicial contra

os Estados que a pratiquem. Há apenas

três condições gerais em que um Estado

poderá exigir autorização prévia.

Situações em que seja necessário pelo

menos uma noite de internamento

hospitalar, casos em que haja declarada

complexidade clínica e elevados custos

dos tratamentos a efectuar e, em terceiro,

em situações em que sejam declaradas

dúvidas sobre a segurança e a qualidade

dos cuidados prestados aos doentes no

seu destino ou durante a viagem. Todos

os governos terão de publicar uma lista

das situações em que exigem autorização

prévia, sendo que essa lista poderá

ser contestada, caso os cidadãos não

concordem com as restrições.

Alguns aspectos, porém, vão continuar a

gerar dúvidas até à existência de regulação

nacional partilhada. Se um doente quiser

utilizar tratamentos que não estejam

disponíveis no seu sistema de saúde, como

os casos das medicinas complementares

e dentistas, a regulação nacional poderá

limitar essas opções, o que gerará futuras

polémicas.

Por outro lado, caso seja prescrito um

medicamento que não esteja disponível

no país de origem do cidadão, a directiva

reforça a importância do reconhecimento

mútuo das “receitas” e o papel do

farmacêutico. Portanto, no regresso a

A proposta de Orçamento

do Estado (OE) para 2014,

documento altamente técnico

e, por isso, a necessitar de

explicações pormenorizadas

em algumas situações, foi

muito evidente noutras,

nomeadamente na Educação,

quase a ferindo de morte.

Trata-se de um documento

cruel para esta área, penalizando

fortemente um setor que merecia uma

aposta forte, tal como preveem os

programas eleitorais de qualquer partido

político, mas, na hora H, é tudo ao

contrário. Para além do desinvestimento

na escola pública, com o valor do

PIB investido na Educação a rondar

montantes da década de 90, há uma

aposta deliberada no ensino particular e

cooperativo expressa no OE, reforçando-o

com mais dois milhões de euros, facto que

indicia algo perturbador, tendo em conta

a Constituição da República Portuguesa,

ao mesmo tempo que é proposto um corte

de 500 milhões na Educação. Quem quer

isto? O que pretende? Quem benefi ciará?

A qualidade do ensino público é

elevada, o que pode ser colocado

em causa, embora saiba que os seus

profi ssionais tudo farão para não a

beliscarem, mantendo-a no patamar

de excelência, mesmo sem o apoio de

quem deveriam ter. Simultaneamente,

parece que se antevê mais trabalho e

menos recursos humanos, apesar de

a UNESCO estimar que até 2015 serão

necessários mais cinco milhões de

professores. O nosso país escapará a esta

previsão? Estou certo de que os nossos

governantes, atentos ao que se passa nas

escolas, tomarão medidas incentivadoras

e criadoras de maior sucesso dos nossos

alunos. Previsivelmente, no próximo ano

letivo, a troika já cá não estará e, por isso,

espero que tudo possa voltar ao normal,

tendo em conta as medidas anormais

que se adotaram na Educação, de que o

aumento do número de alunos por turma

é mero exemplo.

As escolas estão já a trabalhar no limite

das suas capacidades e das forças dos

seus intervenientes. As “gorduras” há

muito foram cortadas, o “músculo” já

quase não existe e é desaconselhável

chegar ao “osso”! Contudo, este OE

é muito desmoralizador para quem

quer o melhor da e para a escola

pública. Não é com estas medidas que

se promove a qualidade do ensino,

o sucesso educativo, a diminuição

dos valores do abandono e insucesso

escolares, o aumento da escolaridade da

população (nomeadamente da população

casa, o cidadão terá o direito a obter o

medicamento receitado, desde que este

tenha autorização de introdução no

mercado (AIM) no seu Estado de origem.

Neste período inicial, não há ainda

fi nanciamento para despesas de

transporte e temos a eventual difi culdade

associada ao processo de reembolso no

país de origem, sobretudo em eventuais

despesas elevadas decorrentes da

obrigação de pagamento dos tratamentos

recebidos pelo doente. O reembolso é

uma prática comum em muitos sistemas

de saúde europeus e, por isso, não gera

grandes dúvidas. Porém, em serviços

nacionais de saúde como em Portugal,

este procedimento poderá tornar-se numa

barreira.

Sendo que estão

em preparação

produtos

internacionais de

fi nanciamento

ao cidadão

para facilitar

o pagamento

de cuidados de

saúde ao abrigo

desta directiva,

observaremos,

ainda assim, um

compasso de

espera até ao

acerto e equilíbrio

de preços entre

Estados europeus,

dado que o

reembolso é feito

pela diferença do

valor do preço do

Estado de origem.

Isto não impede,

porém, que as

unidades de saúde

possam adaptar

as suas políticas

de preço aos

sistemas de saúde

de origem dos

cidadãos que as procuram.

Entre aspectos alguns positivos para

Portugal, assinalemos o novo poder que

é atribuído ao cidadão. Se uma unidade

de saúde do SNS desrespeita o prazo de

resposta mínima garantida e os máximos

clinicamente aceitáveis, uma unidade

de saúde em Espanha ou França poderá

garantir essa resposta no seu melhor

interesse e, por efeito global, no melhor

interesse do SNS, que assim se vê forçado

a melhorar os seus processos de gestão

em saúde.

Esta directiva não é insignifi cante.

Transfere poder para o cidadão. Quem se

sente ameaçado?

Membro do centro de investigação da Medical Tourism Association, EUA

adulta). Não vale tudo em nome da

“racionalização dos recursos humanos e

dos serviços”.

O caminho para a Educação não é o

desinvestimento!

Bem sabemos que a Educação tem de

contribuir para a recuperação económica

do país, mas essa contribuição já fi cou

muito reduzida com a criação dos

mega-agrupamentos (das cerca de 1300

unidades organizacionais existentes em

2010, neste momento são 811 no país) e

das consequências

que advieram,

a revisão da

estrutura

curricular e

outras, meros

exemplos que

alteraram bastante

a estrutura

organizativa da

escola portuguesa,

por força de

medidas reativas,

prejudiciais da

estabilidade há

anos desejada

pelos principais

intervenientes na

vida das escolas.

A Educação

merece uma

discriminação positiva, pois é o pilar

essencial e estrutural do desenvolvimento

de qualquer sociedade moderna,

sustentáculo de um futuro melhor de

um país que quer retomar o caminho da

esperança.

Coordenador dos directores da região norte no Conselho das Escolas

Se uma unidade de saúde do SNS desrespeita o prazo de resposta mínima, uma unidade de saúde em Espanha ou França poderá garantir essa resposta

Este OE é muito desmoralizador para quem quer o melhor da e para a escola pública

DANIEL ROCHA

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