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b072a92a-dce1-4a76-b6de-4ca9acc8e37a
Comissão Europeia espera mais 1700 milhões de euros em medidas de austeridade para Portugal em 2015 p2 a 4
Medo dos raptos agravou-se depois de uma portuguesa ter sido ontem levada de dentro de uma empresa p22
Bruxelas questiona durabilidade da retoma da economia
Portugueses já estão a retirar os filhos de Moçambique
SWEETIEA MENINA VIRTUAL QUE AJUDOU A IDENTIFICAR MIL PEDÓFILOS NA NET Mundo, 24
AFP
Pedidos de rescisões amigáveis no Estado não chegam aos dois milMeta de cinco a 15 mil saídas por rescisão afi nal diz respeito aos vários programas de rescisão em curso e a ser lançados até ao fi nal do ano. Governo diz que programa corre “dentro das expectativas” Economia, 16/17
Despacho do ministro da Educação publicado ontem em Diário da República fi xa data e custo da prova p14
PGR confi rma validade de documento e diz que Pais Jorge esteve na negociação de contrato swap em 2005 p18
Guarda-redes compensou erro na Luz e Olympiacos ganha vantagem sobre Benfi ca na Champions p40/41
Prova de avaliação a 18 de Dezembro custa 20 euros a docentes
Afinal Pais Jorge esteve mesmo envolvido nos swaps
Desta vez Roberto não facilitou e o Benfica perdeu
Morreu Luna Andermatt, nome histórico da dança em Portugal p48QUA 6 NOV 2013EDIÇÃO LISBOA
Ano XXIV | n.º 8610 | 1,10€ | Directora: Bárbara Reis | Directores adjuntos: Nuno Pacheco, Miguel Gaspar, Pedro Sousa Carvalho | Directora executiva Online: Simone Duarte | Directora de Arte: Sónia Matos
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12 | PORTUGAL | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013
Professores prevêem aumento do insucesso a Matemática e a Português
Os novos programas para o ensino secundário, que estão em consulta pública, são considerados pelos especialistas das disciplinas “extensos e de uma especialização e complexidade desadequadas”
RUI SOARES
Novos programas vão aumentar insucesso escolar, dizem docentes
Uma primeira leitura dos novos pro-
gramas do ensino secundário, com
que o Ministério da Educação e Ciên-
cia (MEC) surpreendeu anteontem os
professores, bastou para que especia-
listas nas disciplinas detectassem ten-
dências comuns. Tanto os represen-
tantes dos professores de Matemáti-
ca como os de Português consideram
os respectivos programas extensos e
inaplicáveis e protestam contra “um
formalismo” e uma “especialização”
“desadequados” que, na sua pers-
pectiva, vão aumentar o insucesso
e desviar alunos do ensino regular
para percursos alternativos.
“Veja-se no 10.º de escolaridade,
crítico, marcado por altos níveis de
insucesso, por corresponder a uma
fase de transição e por as turmas se-
rem muito heterogéneas”, sugere
Edviges Ferreira, da Associação de
Professores de Português (APP). “Os
alunos que este ano o frequentam
estudam obrigatoriamente sonetos e
redondilhas, à escolha do professor,
de Luís de Camões, bem como con-
tos e poemas que os docentes consi-
derem adequados; já da educação li-
terária dos estudantes que entrarem
em 2015/2016, constam mais obras e
obras específi cas, com indicação de
autores, e até de capítulos, de excer-
tas e de poemas”, compara.
Com base na comparação do
“corpus literário” de ambos os pro-
gramas de Português dos três anos
do secundário (ver tabela), Edviges
Ferreira defende que a disciplina de
Português deveria passar a chamar-
se “Literatura Portuguesa” e que os
professores, “completamente priva-
dos de liberdade, vão ser meros exe-
cutores de um programa que, por ser
demasiado extenso, é, na verdade,
inaplicável”. “Há opções que não se
entendem, como o desaparecimento
do Memorial do Convento, de José Sa-
ramago, e do Felizmente Há Luar, de
Sttau Monteiro. Mas realmente grave
é esta absurda especialização na li-
teratura, que retira tempo essencial
à prática da escrita e da oralidade e
que, provocando o aumento do insu-
cesso, vai resultar a seguir no afasta-
mento de alunos”, afi rmou.
Em relação ao novo programa
de Matemática A (que, tal como o
de Português, se encontra em con-
EducaçãoGraça Barbosa Ribeiro
sulta pública), Lurdes Figueiral,
presidente da associação de pro-
fessores daquela disciplina, disse
que “o objectivo só pode ser afastar
alunos do ensino regular para per-
cursos alternativos”. “O programa
é de uma extensão brutal, são in-
troduzidos temas de uma comple-
xidade matemática desajustada e as
difi culdades da transição do ensino
básico para o secundário são igno-
radas — nada faz sentido”, criticou.
Também o autor do programa de
Matemática A em vigor no secundá-
rio, Jaime Carvalho e Silva, conside-
rou “inevitável um afunilamento arti-
fi cial da entrada no ensino superior”,
que “não resultará do aumento da
exigência”, frisou, “mas da exigên-
cia desadequada”. Acredita que,
“ao querer elaborar um programa
em clima de razoável secretismo”, “o
MEC concentrou-se na Matemática
e esqueceu a realidade”, ou seja, “a
carga horária atribuída à disciplina,
o número de alunos por turma e até
os próprios alunos”.
À semelhança de Lurdes Figueiral,
Carvalho e Silva considerou “preocu-
pante” que a proposta de programa
de Matemática A “ignore os resul-
tados de todos os estudos interna-
cionais e até o exemplo dos países
que, para o ministro da Educação,
costumam ser de referência”. “Em
Singapura, além dos objectivos téc-
nicos da Matemática, existem outros,
como o desenvolvimento de atitudes
positivas em relação à disciplina e de
capacidades para encontrar formas
criativas e intuitivas de formular e re-
solver problemas. Ora, tudo isso está
ausente e o que existe é um excesso
de formalismo que deu maus resul-
tados nos anos 1960 e que é conside-
rado negativo e desadequado pelos
mais eminentes e brilhantes matemá-
ticos”, analisou Lurdes Figueiral.
Alterações de 2003/2004 para 2015/2016 em Português
(só a nível da educação literária obrigatória)2003/2004:10.º anoLuís de Camões: redondilhas e sonetos (à escolha)11.º anoSermão de Santo António aos PeixesFrei Luís de SousaQualquer romance de Eça de QueirósCesário Verde12.º anoFernando Pessoa e heterónimosOs Lusíadas/MensagemFelizmente Há LuarMemorial do Convento
2015/201610.º anoPoesia trovadoresca (escolher 5 cantigas de amigo de 12 indicadas; escolher 3 cantigas de amor de 7 indicadas)
Fernão Lopes: indicação dos excertos de 2 capítulos a analisarGil Vicente: A Farsa de Inês Pereira ou Auto da Alma
Luís de Camões: Os Lusíadas – indicação das estrofes a analisarLuís de Camões: Lírico – escolher 4 de 9 redondilhas e escolher 8 sonetos dos 12 indicados
Fernão Mendes Pinto (indicação dos 5 capítulos a analisar)História Trágico-Marítima: Capítulo V, “As terríveis aventuras de Jorge de Albuquerque Coelho (1565)”
11.º anoPadre António Vieira: Sermão (indicação dos capítulos que têm de ser analisados)
Poemas do séc. XVIII: Correia Garção (indicação dos poemas a analisar); Marquesa da Alorna (indicação do poema a analisar); Bocage (indicação dos 3 poemas a analisar)
Almeida Garrett: Frei Luís de Sousa (integral)
Alexandre Herculano: Lendas e Narrativas: “A Abóbada”; ou Almeida Garrett: Viagens na Minha Terra (escolher 5 capítulos: I, V, VIII, X, XIII, XX, XLIV, XLIX); ouCamilo Castelo Branco: Amor de Perdição (Introdução e Conclusão de leitura obrigatóriae escolher mais 2 capítulos, de entre os seguintes: I, IV, X e XIX)
Eça de Queirós: Os Maias ou A Ilustre Casa de RamiresAntero de Quental: Sonetos Completos (escolher 3 poemas de sete indicados)Cesário Verde: Cânticos do Realismo (O Livro de Cesário Verde); “O Sentimento dum Ocidental” (leitura obrigatória); e escolher mais 3 poemas de 5 indicados
12.º ano:Poesia: Camilo Pessanha (escolher 6 poemas dos 8 indicados);Fernando Pessoa: poemas do ortónimo (escolher 6 de 12 indicados); O Livro do Desassossego (escolher 3 fragmentos de 6 indicados);os heterónimos (escolher 2 de Alberto Caeiro, 3 de Ricardo Reis e 3 de Álvaro de Campos);Mensagem (leitura de 8 poemas)
Contos: Mário de Sá-Carneiro: A Estranha Morte do Professor Antena; ou Maria Judite de Carvalho, George
Teatro: José Régio, Três Máscaras – Fantasia Dramática
Poetas do séc. XX (escolher 3 autores e 4 poemas de cada): Jorge de Sena; António Ramos Rosa; Herberto Helder; Ruy Belo;Fiama Hasse Pais Brandão
José Saramago: O Ano da Morte de Ricardo Reis ou História do Cerco de Lisboa
Fonte: Associação de Professores Português
14 | PORTUGAL | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013
Breves
Contrabando de ouro
Justiça
Inspectores da PJ suspendem buscas ao almoço
MP apreende bens conseguidos com tráfico de droga
Uma operação nacional de combate ao contrabando de ouro, que inclui centenas de inspectores da PJ, foi marcada ontem pela suspensão das buscas para almoçar. Os inspectores, em greve às horas extraordinárias, pararam entre as 13h e as 14h para o período de almoço, confirmou ao PÚBLICO o presidente da Associação Sindical dos Funcionários de Investigação Criminal da Polícia Judiciária, Carlos Garcia. “Temos informação de que a adesão à greve às horas extraordinárias é superior a 90% e que os colegas pararam entre as 13h e 14h para almoçar. Não queremos prejudicar o sucesso das operações, mas isso parece-me inevitável. A responsabilidade não é, porém, nossa”, disse ainda Carlos Garcia.
O Ministério Público pediu que seja declarado perdido a favor do Estado o valor do património que uma arguida terá conseguido com o tráfico de droga, numa iniciativa pioneira nos tribunais portugueses. Segundo uma nota publicada no site da Procuradoria do Porto, aquela foi a primeira liquidação levada a cabo nos tribunais portugueses com base em investigação do Gabinete de Recuperação de Activos (GRA) da PJ, departamento que iniciou a sua actividade em finais de 2012. O GRA investigou o património da arguida, tendo concluído que ele está avaliado em 228.257 euros. Concluiu ainda que 183.640 euros são “património incongruente” da arguida, ou seja, só têm como justificação a actividade ilícita.
DATO DARASELIA
Satisfação dos cidadãos está a cair nos países com desemprego
A explosão do número de desempre-
gados, acompanhada pela perda de
rendimentos de quem trabalha, es-
tá a afectar o nível de satisfação das
pessoas, com este indicador a piorar
cada vez mais entre 2007 e 2012, so-
bretudo nos países mais afectados
pela crise, como é o caso de Portugal,
alerta um relatório da OCDE.
O relatório How’s Life?, da Orga-
nização para a Cooperação e De-
senvolvimento Económico (OCDE),
defende que é preciso investir mais
em medidas de carácter humano que
permitam melhorar os níveis de satis-
fação, até porque é possível perceber
uma discrepância neste indicador:
enquanto países como Portugal, Gré-
cia, Espanha e Itália viram o nível de
satisfação perante a vida cair signifi -
cativamente, no mesmo período Ale-
manha, Israel, Rússia, México e Sué-
cia conseguiram ligeiros aumentos.
Os países que têm tido situações
de desemprego e de cortes salariais
substanciais, e que precisaram tam-
bém de ajuda fi nanceira externa,
viram a satisfação dos cidadãos cair
muito. Entre 2007 e 2012, o nível
de satisfação com a vida reportado
pelos gregos caiu 20%, pelos espa-
nhóis 12% e pelos italianos 10%. Para
Portugal, não é dada a evolução no
relatório, mas a OCDE adiantou ao
PÚBLICO que o nível de satisfação
dos portugueses caiu 10%.
O relatório, integrado numa série
de trabalhos da OCDE relacionados
Vida nos países mais afectados pela crisecria insatisfação
com a Better Life Initiative, lançada
em 2011, salienta também os dados
do Your Better Life Index de 2012, que
avaliou o bem-estar em 36 países
com base em 11 indicadores.
As conclusões colocaram Portugal
como um dos países com a mais bai-
xa percentagem de população com
ensino secundário e um dos menos
satisfeitos com a vida. Na lista geral
dos 36 países, e considerando os 11
indicadores, Portugal fi cou-se pelo
29.º lugar. O pior resultado é mes-
mo no capítulo da “Satisfação com
a Vida” onde fi cou na 35.ª posição —
apenas melhor do que a Hungria.
Além disso, refere a OCDE, esta
tendência de insatisfação é acompa-
nhada na maioria dos países por uma
perda de confi ança generalizada no
Governo e nas suas instituições. No
total, menos de metade dos cidadãos
inquiridos disse confi ar nos órgãos
que os representam — o número mais
baixo desde 2006. Ao mesmo tempo,
diz a organização, parecem estar a
surgir redes informais de solidarie-
dade, que, de forma mais pessoal ou
informal, tentam colmatar as falhas
dos sistemas e que têm conseguido
aligeirar alguns problemas sociais
e fi nanceiros. “Este relatório é um
despertar para todos nós. Relembra
que o propósito central das políticas
económicas deve ser melhorar a vida
das pessoas. Precisamos de repensar
como posicionar as necessidades das
pessoas no coração das decisões po-
líticas”, afi rmou o secretário-geral da
OCDE, Angel Gurría, num comuni-
cado, em que também é dito que os
indicadores relacionados com a qua-
lidade de vida permitem perceber
“os custos humanos da crise”.
A OCDE diz ainda que há cada vez
mais mulheres com formação supe-
rior e com melhores resultados, o
que não tem tradução directa na
ocupação de cargos de liderança.
RelatórioRomana Borja-Santos
Documento de análise da OCDE apela a medidas de carácter humano em países como Portugal, Grécia, Espanha e Itália
Os reitores das universidades pú-
blicas foram ontem ao Parlamento
pedir o apoio dos deputados para
conseguirem algumas mudanças no
Orçamento do Estado (OE) para o
próximo ano. As preocupações dos
responsáveis do sector centram-se
sobretudo nos limites à contratação
de docentes e no “duplo corte” que
pode retirar 60 milhões de euros
do sector.
O corte inicial de 30 milhões de
euros no sector já era o dobro do
negociado com o Governo no Verão,
mas o OE acrescenta uma redução
de outros 30 milhões de transferên-
cias, se for tida em conta a redução
salarial para os trabalhadores em
funções públicas. “É um corte para
lá do esperado”, lamenta o presi-
dente do Conselho de Reitores das
Universidades Portuguesas (CRUP),
António Rendas, que ontem esteve
na Comissão Parlamentar de Edu-
cação a discutir o assunto.
Na Assembleia da República, os
reitores passaram uma mensagem
de que o próximo será um ano “ter-
rível” e para lá dos limites de susten-
tabilidade das instituições de ensino
superior se não foram introduzidas
alterações ao documento, tentan-
do sensibilizar os deputados — so-
bretudo os da maioria — para os
problemas. Durante a audiência, o
deputado do PSD Duarte Marques
prometeu “tentar encontrar uma
solução” para as difi culdades das
universidades, mesmo que não se
tenha comprometido com altera-
ções ao OE.
Para já, os responsáveis das uni-
versidades não abandonam a posi-
ção de abertura ao diálogo com o
Governo, mas se não houver mudan-
ças, admitem endurecer a posição.
“Se o orçamento for aprovado tal
como está, sentimo-nos na posição
de tomar medidas para defender
a autonomia universitária”, avisa
Rendas.
A prioridade dos reitores é que se-
jam tidas em conta, pelo menos, as
medidas sem incidência orçamental
como as condicionantes à angaria-
ção de receitas próprias e os limites
à contratação de novos docentes.
“Até as autarquias em incumprimen-
to estão em melhor condições do
que nós”, lamenta o presidente do
CRUP, uma vez que as câmaras têm
que reduzir a sua massa salarial em
2% e as universidades em mais um
ponto percentual.
Reitores pedem mudanças no Orçamento
Ensino superiorSamuel Silva
Os docentes vão ser chamados para
ser avaliados já a 18 de Dezembro, ten-
do de pagar 20 euros pela inscrição
na prova, de acordo com um despa-
cho do ministro da Educação, Nuno
Crato, assinado e publicado ontem.
A avaliação da componente comum
realiza-se a 18 de Dezembro deste
ano, enquanto que as avaliações pa-
ra as componentes específi cas fi cam
agendadas para o período entre 1 de
Março e 9 de Abril de 2014. “O valor
a pagar pela inscrição na prova, in-
cluindo a componente comum e uma
componente específi ca, é fi xado em
20 euros”, lê-se no despacho publi-
cado ontem em Diário da República.
Este valor pode aumentar se os
docentes decidirem prestar provas
em mais do que uma componente
específi ca, para poderem concorrer
a vagas em mais do que uma discipli-
na ou grupo de recrutamento. Assim,
por cada componente específi ca ex-
tra em que os docentes queiram pres-
tar provas terão que pagar 15 euros.
O despacho determina ainda que
os pedidos de reapreciação de resul-
tados custam igualmente 20 euros,
sendo esse valor restituído caso a rea-
valiação seja favorável ao docente.
O Governo aprovou em Setembro
a regulamentação da prova de ava-
liação dos professores, estando pre-
visto que um docente que obtenha
aprovação só tenha de realizar nova
prova se nos cinco anos subsequen-
tes leccionar menos de um ano. A
prova é destinada aos professores
não integrados na carreira docente,
ou seja, aos contratados, terá uma
periodicidade anual, e tem como ob-
jectivo “aumentar sustentadamente
os padrões de qualidade do ensino”,
assim como a “equidade entre os
candidatos ao exercício de funções
docentes”, de acordo com o MEC.
Apesar de ser anual, prevê-se que
um candidato aprovado apenas te-
nha de realizar nova prova se nos
cinco anos seguintes à data da rea-
lização da mesma tiver completado
menos de um ano de tempo de ser-
viço. O diploma prevê duas normas
transitórias. Uma delas estipula que
“os candidatos com cinco ou mais
anos de serviço que não obtenham
aprovação podem ser admitidos
aos concursos de selecção e recru-
tamento que se realizem até 31 de
Dezembro de 2014”. A outra defi ne
que os candidatos que “até 31 de De-
zembro deste ano celebrem contra-
tos de trabalho estão dispensados da
obtenção de aprovação na prova”.
Avaliação dos docentes a 18 de Dezembroe por 20 euros
Educação
16 | ECONOMIA | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013
Houve 1750 pedidos de rescisões amigáveis no Estado até Outubro
A um mês do encerramento do
programa de rescisões amigáveis
destinado aos assistentes técnicos
e operacionais, 1750 funcionários
entregaram o pedido para saírem do
Estado. Os dados dizem respeito aos
pedidos recebidos pela Direcção-Ge-
ral da Administração e do Emprego
Público (DGAEP) entre 1 de Setem-
bro e o fi nal de Outubro.
De acordo com o secretário de
Estado da Administração Pública,
Hélder Rosalino, do total de pedidos
que deram entrada 1673 foram vali-
dados e 800 já receberam luz verde
e estão concluídos. No primeiro mês
a DGAEP tinha recebido 965 pedi-
dos, a que se somam agora mais 785.
Ao todo, por dia, perto de 29 admi-
nistrativos e auxiliares pediram para
sair dos serviços.
“O balanço é muito positivo. O
programa está a correr dentro das
expectativas”, disse ao PÚBLICO
Hélder Rosalino, garantindo que a
meta de 5 a 15 mil, apontada pelo
Governo no Verão, tem por base
os vários programas de rescisões
que serão lançados até ao fi nal de
2013 e que vão correr ao longo do
próximo ano e não dizem respeito
apenas aos assistentes técnicos e
operacionais.
Além do programa em curso para
cerca de 213 mil funcionários com
funções administrativas e auxiliares
e que termina a 30 de Novembro,
outros estão na calha. Na semana
passada foi publicado em Diário da
República o programa destinado aos
cerca de 1300 trabalhadores dos Es-
tabelecimentos Fabris do Exército,
que têm até 30 de Novembro para
pedir a rescisão.
A 15 de Novembro arranca o pro-
grama de rescisões amigáveis para
os professores, num universo que o
Governo estima de 100 mil. E está
a ser preparado um programa di-
rigido aos técnicos superiores e a
outras carreiras profi ssionais mais
qualifi cadas. “Parte signifi cativa da
meta de 5 a 15 mil vem da área da
Educação”, precisou o secretário
de Estado.
Porém, um relatório recente da
Unidade Técnica de Apoio Orçamen-
tal (UTAO) dá conta de uma “revisão
Actual programa de rescisões amigáveis termina no final deste mês
Meta de cinco a 15 mil saídas por rescisão afi nal diz respeito aos vários programas de rescisão em curso e a ser lançados até ao fi nal do ano. Governo diz que programa está a correr “dentro das expectativas”
Função públicaRaquel Martins e Pedro Carvalho
VITOR CID
em baixa” das previsões das resci-
sões por mútuo acordo.
De acordo com aquele organis-
mo, na proposta do Orçamento
do Estado para 2014 está previsto
“que o impacto temporário nega-
tivo respeitante ao pagamento da
compensação devido à rescisão por
mútuo acordo é de 227 milhões de
euros”. No entanto, “no Documento
de Estratégia Orçamental 2013-17 es-
te montante era de aproximadamen-
te 600 milhões de euros em termos
brutos e de 550 milhões de euros em
termos líquidos, via aumento de re-
ceita de IRS. Esta diferença poderá
ser justifi cada por uma alteração na
previsão das rescisões por mútuo
acordo, nomeadamente uma revi-
são em baixa”, adianta a UTAO.
Os técnicos notam ainda que par-
te desta mudança pode resultar do
chumbo do Tribunal Constitucional
ao regime de requalifi cação, que
permitia ao Estado despedir os fun-
cionários públicos excedentes.
O secretário de Estado reconhece
que estes programas de rescisões
estão a ser lançados “em contraci-
clo” e num contexto de forte crise
do mercado de trabalho no sector
privado. “Se o programa de resci-
sões fosse feito há dez ou 15 anos,
quando a economia estava a cres-
cer, teríamos muito mais adesões.
Mas nessa altura estava a aumen-
tar o número de funcionários pú-
blicos. Em 1979 existam menos de
400 mil funcionários públicos e em
2005 duplicaram e já tínhamos qua-
se 800 mil funcionários públicos. É
evidente que temos que fazer este
programa agora, em contraciclo,
porque, quando a economia cres-
cia, o Estado não reduzia efectivos,
aumentava-os”, destacou.
O programa de rescisões lançado
para os assistentes técnicos e ope-
racionais e também para os profes-
sores tem algumas diferenças face
aos programas levados a cabo pelas
empresas do sector privado. Os fun-
cionários públicos que rescindam
apenas podem contar com a sua
indemnização, não tendo direito a
subsídio de desemprego, ao contrá-
rio do que acontece no privado (o
acesso ao subsídio de desemprego
está sujeito a quotas consoante a di-
mensão da empresa).
Contudo, os funcionários podem
manter a ADSE (o subsistema de saú-
de da função pública), desde que
continuem a descontar 2,5% sobre o
salário que tinham quando estavam
no activo.
“Se o programa de rescisões fosse feito há dez ou 15 anos, quando a economia estava a crescer, teríamos muito mais adesões”, diz o secretário de Estado da Função Pública, Hélder Rosalino
PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013 | ECONOMIA | 17
A suspensão dos complementos
de reforma nas empresas públicas
defi citárias, uma medida prevista
no Orçamento do Estado (OE) para
2014, motivou uma queixa ao Presi-
dente da República e ao provedor de
Justiça. O objectivo dos queixosos,
aposentados e pensionistas da Metro
de Lisboa, é que seja pedida a fi scali-
zação preventiva da proposta de lei
junto do Tribunal Constitucional.
A queixa, a que o PÚBLICO teve
acesso, foi enviada na passada se-
gunda-feira a Cavaco Silva e a José
de Faria Costa, mas também chegou
a outras entidades, como a Procura-
doria-Geral da República, o Tribu-
nal de Contas e a Câmara Municipal
de Lisboa. Na lista de destinatários
constam ainda os diferentes grupos
parlamentares com assento na As-
sembleia da República.
Os signatários, uma comissão for-
mada por reformados e pensionis-
tas da Metro de Lisboa, contestam
um artigo inscrito no OE que prevê
a suspensão dos complementos de
reforma pago pelas empresas públi-
cas sempre que estas acumulem três
anos consecutivos de prejuízos. O pa-
gamento destes complementos, que
servem para compensar os trabalha-
dores que se aposentam da diferença
face ao que auferiam quando esta-
vam no activo, só poderá ser retoma-
do quando as empresas apresentem
cinco anos seguidos de lucros.
Tal como o PÚBLICO tinha noti-
ciado quando o OE foi entregue, a
15 de Outubro, a Metro de Lisboa
será uma das mais penalizadas pela
medida, visto que apesar de todas as
transportadoras públicas serem de-
fi citárias, esta empresa e a Carris são
as que têm mais responsabilidades a
este nível para com os reformados.
O Governo estima que o fi m destes
complementos gere poupanças de
20 milhões, dos quais mais de 13 mi-
lhões vão caber à Metro de Lisboa,
caso a medida avance.
O objectivo desta queixa é alertar
os destinatários para os impactos
que a suspensão destes pagamentos
irá ter nos rendimentos dos reforma-
dos. E, com isso, levar o Presidente
da República a pedir a fi scalização
Complementos de pensão motivam queixa a Cavaco e ao provedor de Justiça
Empresas públicasRaquel Almeida Correia
Reformados e pensionistas da Metro de Lisboa querem que seja pedida fiscalização preventiva do OE para 2014 por causa desta medida
preventiva do OE junto do Tribunal
Constitucional. O provedor de Justi-
ça também poderá fazê-lo, embora
só de forma sucessiva.
Os argumentos da comissão res-
ponsável pela queixa prendem-se
com o facto de os resultados da em-
presa dependerem de factores que
lhe são alheios, como a defi nição da
política tarifária e a concretização de
obra com recurso a dívida. “Infeliz-
mente, a tutela accionista nunca as-
sumiu adequadas responsabilidades
(...), tendo sempre pecado por insufi -
ciência, o que conduziu aos sucessi-
vos resultados negativos”, referem.
Além disso, afi rmam que a me-
dida vai ter “consequências demo-
lidoras” para os cerca de 1400 mil
reformados e pensionistas da em-
presa, já que alegam que resultará
num “valor médio de redução da
pensão de 670 euros”.
Isto numa altura em que o sec-
tor dos transportes iniciou uma
reestruturação com vista ao ema-
grecimento dos quadros de pesso-
al e em que muitos trabalhadores
deixaram a Metro de Lisboa com o
compromisso de que teriam acesso
aos complementos. “Só pediram a
reforma antecipada após a empresa
garantir, por escrito, o pagamento
do respectivo complemento de re-
forma”, lê-se na queixa.
“Consideramos de uma profun-
da injustiça” a medida, escrevem
os subscritores, acrescentando
que “não tem paralelo, pelo seu
impacto, com quaisquer outras que
já tenham tomado ou que estejam
previstas para trabalhadores refor-
mados e pensionistas”.
PEDRO CUNHA/ARQUIVO
Metro de Lisboa vai ser a empresa mais afectada, a par da Carris
20Milhões de euros é a poupança prevista pelo Governo com o fim dos complementos de reforma. Deste valor, mais de 13 milhões referem-se à Metro de Lisboa
O secretário-geral da UGT, Carlos Sil-
va, afi rmou ontem que o Presidente
da República concordou com a neces-
sidade de aumentar o valor do Salá-
rio Mínimo Nacional (SMN), que é ac-
tualmente de 485 euros.“Retivemos
do Presidente da República o apoio
inequívoco sobre a necessidade
do aumento do SMN”, disse Carlos
Silva, citado pela Lusa, no fi nal de
uma audiência com Cavaco Silva.
O sindicalista defendeu um au-
mento do SMN a partir de 1 de Ja-
neiro de 2014 e disse que transmitiu
ao Presidente da República a sua dis-
ponibilidade para negociações bila-
terais com as confederações patro-
nais se não for possível acordar esta
matéria em concertação social.
Esta semana, a Organização In-
ternacional do Trabalho (OIT) apre-
sentou um relatório onde analisa o
impacto da crise no mercado de
trabalho em Portugal, e defendeu
a actualização do SMN para evitar
o agravamento das desigualdades
salariais e de rendimento.
“Ao entrarmos num registo de
assistência fi nanceira, estamos im-
pedidos de ajustar o salário mínimo
nacional, mesmo que o desejásse-
mos”, disse ontem o ministro da
Economia, citado pela Lusa. António
Pires de Lima defendeu, no entanto,
que as empresas não têm de esperar
pelo Estado para realizar aumentos
que considerem “possíveis e justos”.
Recordando a sua própria experi-
ência como gestor, frisou nunca ter
esperado “que o Estado sinalizasse
aumentos para fazer aumentos aos
trabalhadores”. “Aliás, aconteceu-
me sempre ao contrário”, recordou,
num discurso no Fórum de Adminis-
tradores de Empresas (FAE).
O governante também destacou o
esforço “para convencer os credo-
res de que seria disparatado fazer
de uma política de salários baixos o
foco principal da competitividade”
de Portugal. “Não é essa a política
do Governo, nem é isso em que eu
acredito. E muito trabalho tem feito
o Governo no sentido de contrariar
a vontade dos credores de se reduzir
ainda mais o salário mínimo nacio-
nal, nomeadamente para jovens”,
afi rmou Pires de Lima.
UGT diz que Presidente apoia subida do SMN
Salários
Carlos Silva, secretário-geral da UGT, afirma que o Presidente da República concorda com um valor superior a 485 euros
Como funcionam as rescisões
F oi o primeiro programa de rescisões amigáveis lançado no Estado e destina-se aos
trabalhadores menos qualificados. Outros se seguirão para os professores e técnicos superiores. O objectivo é “cativar” entre 5 a 15 mil funcionários públicos.
Requerimentos têm de entrar até 30 de NovembroO programa abriu no início de Setembro e fecha a 30 de Novembro. Destina-se a assistentes operacionais (motoristas, auxiliares, operários) e assistentes técnicos (administrativos). Os trabalhadores têm até 30 de Novembro para apresentarem o seu requerimento.
Trabalhadores com menos de 60 anosApenas podem pedir rescisão os trabalhadores com menos de 60 anos na data do requerimento, com contrato de trabalho em funções públicas, a trabalhar para a administração central e que estejam a pelo menos cinco anos da idade legal da reforma.
Compensação depende da idadeO valor das compensações a pagar pelo Estado depende da idade e oscila entre um e um salário e meio por cada ano de serviço. Se o trabalhador tiver menos de 50 anos, recebe 1,5 meses de salário base (incluindo suplementos regulares pagos nos últimos dois anos) por cada ano de serviço, se tiver entre 50 e 54 anos tem direito a 1,25 meses de salário e se tiver entre 55 e 59 anos recebe 1 mês de salário por ano de antiguidade.
ADSE para quem continuar a descontarOs trabalhadores podem manter a ADSE (subsistema de saúde da função pública), desde que continuem a descontar 2,5% do salário.
PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013 | 45
BARTOON LUÍS AFONSO
O guião esticado de Portas encolhido
Santana Castilho
O “guião para a reforma do
Estado” é um panfl eto
de qualidade inferior,
ridiculamente esticado
a corpo 16 e duas linhas
de espaçamento. Se o
expurgarmos das afi rmações
óbvias que o infl am, fi cam
expostas a vacuidade e
a mediocridade da sua
substância. Tem a paternidade, longamente
publicitada, de Paulo Portas. Mas é bom
lembrar que foi aprovado em Conselho de
Ministros e vincula por isso o Governo.
A fi gura janota de Portas na televisão
não logrou tapar o seu esqueleto reciclado,
encolhido e sem convicção, esbracejando
na política manhosa que afunda o país.
Apesar de tudo isto, este guião não é um
documento qualquer, porque levou nove
meses a preparar, amalgamou contributos
de ministros e trata da “reforma” do Estado.
Mas já percebemos que ninguém o toma a
sério. Mostra que a última réstia de decoro
político se perdeu num emaranhado de
banalidades, de ignorância e reviravoltas,
sem lógica nem pertinência, de lugares-
comuns babosos, mirífi cas contradições
e vacuidade confrangedora. No entanto,
manda a profi laxia contra a manipulação e
os riscos de contágio que percamos com ele
algum tempo. Por dever de ofício e ditadura
de espaço, fi co-me pelas medidas mais
emblemáticas, que à Educação respeitam.
Portas começa por seduzir os professores
com a sua “terceira via”, que designa
por “escolas independentes”. Trata-se,
esclarece com denguice, “de convidar a
comunidade dos professores a organizar-
se num projecto de escola específi co,
de propriedade e gestão dos próprios,
mediante a contratualização com o
Estado do serviço prestado e do uso das
instalações”, garantindo “à sociedade
poder escolher projectos de escola mais
nítidos e diferenciados” (p. 74). Se Portas
quer projectos de escolas diferenciados,
não precisa de retirar o Estado do processo
e trazer para cá o que lá fora começa a
ser abandonado. Basta modifi car as leis
castradoras, que este Governo cinicamente
refi nou, deixando que a iniciativa de
organização diferenciada cresça dentro
da rede pública. Basta devolver liberdade
pedagógica e autonomia intelectual aos
professores. Portas quer outra coisa, que
não pode dizer de chofre: quer abrir a rede
de estabelecimentos públicos à gestão
privada.
A segunda proposta de Portas é
uma tentativa de branqueamento da
promiscuidade, melhor dizendo, da
corrupção, que grassa com a utilização
inconstitucional e reiteradamente ilegal dos
dinheiros públicos, para fi nanciar iniciativas
privadas. Anteontem mesmo uma notável
reportagem da jornalista Ana Leal, da TVI,
teria consequências, se a decência vigorasse
e as instituições funcionassem, tamanho
e tão grave é o escândalo denunciado.
Em vez disso, Portas sugere “aumentar
a liberdade de escolha da sociedade
em relação à Educação” dilatando o já
escandalosamente dilatado conceito de
“contratos de associação”. Com topete
de ilusionista, Portas recorda que estes
contratos “foram, inicialmente, concebidos
para preencher a oferta educativa nos
territórios em que a oferta pública era
escassa” e proclama que, agora, “com
a disseminação dos equipamentos, um
novo ciclo de contratos de associação deve
estar potencialmente ligado a critérios de
superação do insucesso escolar”, porque,
“como é sabido, globalmente, as escolas
com contrato de associação respondem
bem nos rankings educativos” (p. 74 e 75). A
“liberdade de escolha” e a “autonomia das
escolas” são metáforas gastas para justifi car
a mercantilização do ensino, substituindo a
responsabilidade do Estado pelo interesse
de grupos económicos e religiosos. Tudo
sem risco, porque a contratualização prévia
e a fl exibilização do mercado de trabalho o
retiraram atempadamente. Não fora ainda
termos uma Constituição e quem a defenda,
não fora ainda resistirem muitos que dizem
não à desvergonha, teríamos Portas e os
seus mercadores a gritarem bingo.
Muitas vezes se acusam projectos e
propostas de serem ideológicos. Mas é
natural que sejam ideológicos. A questão
reside naquilo que propõe determinada
ideologia. No que
toca à Educação,
rejeito qualquer
que, usando o
dinheiro de todos,
pretenda favorecer
apenas alguns;
que rejeite como
obrigação central do
Estado promover a
Educação de todos
os portugueses,
enquanto veículo
de redução de
desigualdades
sociais, de
autonomização
dos cidadãos e
primeiro motor
de crescimento
económico. Uma
coisa é uma visão
sectária de uma
facção, outra
coisa é uma opção
estratégica que sirva
a colectividade. A
ideia de Portas para
a Educação geraria
os fenómenos que outras sociedades,
bem menos frágeis que a nossa, já
experimentaram e começam a abandonar,
por perniciosos para o bem comum. Essa é
a realidade escondida com as denominadas
“escolas independentes” e com a
inconstitucional extensão da natureza dos
contratos de associação.
Professor do ensino superior. Escreve quinzenalmente à [email protected]
A ideia de Portas para a Educação geraria os fenómenos que outras sociedades, bem menos frágeis que a nossa, já começam a abandonar
Prémio bem atribuído
A vencedora do Prémio Samuel
Johnson para o melhor livro
de não-fi cção foi muito
justamente dado a Lucy
Hughes-Hallett (L.H.-H.),
pela biografi a que escreveu
sobre Gabriele D’Annunzio
(G.D’A.). O título é The Pike: a
perca, esperta e devoradora.
O paperback, com 704 páginas,
custa cerca de nove euros na Amazon. É uma
pechincha bela. L.H.-H. é, simultaneamente,
a maior crítica e a mais relutante admiradora
de G.D’A. Ela consegue revelar o pior dele
(mau, sádico, ladrão e vaidoso) e o melhor
dele (inteligente, corajoso, informado e
inovador). Como conseguiu ela juntar o
que ele tinha de mais repugnante com
o que tinha de curioso e moderno? Por
génio biográfi co. Ela conseguiu manter
as contradições dele sem as denunciar ou
procurar, extemporaneamente, resolvê-las.
The Pike é o melhor retrato de um
homem horrível mas sedutor que já li,
escrito por uma mulher maravilhosa e
impossível de enganar, que respeita a
espelhada inteligência dele. A atitude
céptica mas atinada de L.H.-H. é uma
proeza não só literária como psicológica.
Ela escreve quase tão bem como ele, mas,
descontando as mentiras e os engates dele,
compreende-o mais bem (e não “melhor”)
do que ele próprio.
D’Annunzio era um esteta e modernista
interesseiro e narcisista. Lucy Hughes-Hallett
descobriu-lhe a careca. Compre e leia o livro
dela, se quiser ler a história de um fascista
arrependido. Pode ter-se um grande talento
sem saber o que se há-de fazer com ele. O
poder pertence a quem pensa.
Miguel Esteves CardosoAinda ontem
46 | PÚBLICO, QUA 6 NOV 2013
Livre circulação de doentes na Europa?
Desorçamentação da Educação
Finalmente entrou em vigor, faz
uns dias, a directiva europeia
para a regulação da circulação
de doentes na União Europeia
(UE). O espírito da directiva
é apresentado como um
contributo para promover “mais
escolha”.
Em síntese, devemos
esclarecer os portugueses que,
quando em necessidade de cuidados de
saúde, poderão, por iniciativa própria,
procurá-los livremente em qualquer
Estado da UE. Entre alguns aspectos
verdadeiramente revolucionários para o
melhor desenvolvimento dos sistemas de
saúde, o doente passa a ter o direito de
acesso livre aos seus dados clínicos que
poderá partilhar, por sua decisão, com
outros profi ssionais de saúde em qualquer
outro Estado europeu, assim como a
manter o direito de continuar a ser apoiado
pelos profi ssionais de saúde locais após
regresso ao país de origem.
Alterando a regulação europeia anterior,
agora o pedido de autorização no seu
país de origem deverá ser a excepção e
nunca (!) a regra. A eventual tentativa de
difi cultar a circulação dos doentes com
a introdução abusiva da pré-autorização
é contra os princípios da directiva e
será alvo de reclamação judicial contra
os Estados que a pratiquem. Há apenas
três condições gerais em que um Estado
poderá exigir autorização prévia.
Situações em que seja necessário pelo
menos uma noite de internamento
hospitalar, casos em que haja declarada
complexidade clínica e elevados custos
dos tratamentos a efectuar e, em terceiro,
em situações em que sejam declaradas
dúvidas sobre a segurança e a qualidade
dos cuidados prestados aos doentes no
seu destino ou durante a viagem. Todos
os governos terão de publicar uma lista
das situações em que exigem autorização
prévia, sendo que essa lista poderá
ser contestada, caso os cidadãos não
concordem com as restrições.
Alguns aspectos, porém, vão continuar a
gerar dúvidas até à existência de regulação
nacional partilhada. Se um doente quiser
utilizar tratamentos que não estejam
disponíveis no seu sistema de saúde, como
os casos das medicinas complementares
e dentistas, a regulação nacional poderá
limitar essas opções, o que gerará futuras
polémicas.
Por outro lado, caso seja prescrito um
medicamento que não esteja disponível
no país de origem do cidadão, a directiva
reforça a importância do reconhecimento
mútuo das “receitas” e o papel do
farmacêutico. Portanto, no regresso a
A proposta de Orçamento
do Estado (OE) para 2014,
documento altamente técnico
e, por isso, a necessitar de
explicações pormenorizadas
em algumas situações, foi
muito evidente noutras,
nomeadamente na Educação,
quase a ferindo de morte.
Trata-se de um documento
cruel para esta área, penalizando
fortemente um setor que merecia uma
aposta forte, tal como preveem os
programas eleitorais de qualquer partido
político, mas, na hora H, é tudo ao
contrário. Para além do desinvestimento
na escola pública, com o valor do
PIB investido na Educação a rondar
montantes da década de 90, há uma
aposta deliberada no ensino particular e
cooperativo expressa no OE, reforçando-o
com mais dois milhões de euros, facto que
indicia algo perturbador, tendo em conta
a Constituição da República Portuguesa,
ao mesmo tempo que é proposto um corte
de 500 milhões na Educação. Quem quer
isto? O que pretende? Quem benefi ciará?
A qualidade do ensino público é
elevada, o que pode ser colocado
em causa, embora saiba que os seus
profi ssionais tudo farão para não a
beliscarem, mantendo-a no patamar
de excelência, mesmo sem o apoio de
quem deveriam ter. Simultaneamente,
parece que se antevê mais trabalho e
menos recursos humanos, apesar de
a UNESCO estimar que até 2015 serão
necessários mais cinco milhões de
professores. O nosso país escapará a esta
previsão? Estou certo de que os nossos
governantes, atentos ao que se passa nas
escolas, tomarão medidas incentivadoras
e criadoras de maior sucesso dos nossos
alunos. Previsivelmente, no próximo ano
letivo, a troika já cá não estará e, por isso,
espero que tudo possa voltar ao normal,
tendo em conta as medidas anormais
que se adotaram na Educação, de que o
aumento do número de alunos por turma
é mero exemplo.
As escolas estão já a trabalhar no limite
das suas capacidades e das forças dos
seus intervenientes. As “gorduras” há
muito foram cortadas, o “músculo” já
quase não existe e é desaconselhável
chegar ao “osso”! Contudo, este OE
é muito desmoralizador para quem
quer o melhor da e para a escola
pública. Não é com estas medidas que
se promove a qualidade do ensino,
o sucesso educativo, a diminuição
dos valores do abandono e insucesso
escolares, o aumento da escolaridade da
população (nomeadamente da população
casa, o cidadão terá o direito a obter o
medicamento receitado, desde que este
tenha autorização de introdução no
mercado (AIM) no seu Estado de origem.
Neste período inicial, não há ainda
fi nanciamento para despesas de
transporte e temos a eventual difi culdade
associada ao processo de reembolso no
país de origem, sobretudo em eventuais
despesas elevadas decorrentes da
obrigação de pagamento dos tratamentos
recebidos pelo doente. O reembolso é
uma prática comum em muitos sistemas
de saúde europeus e, por isso, não gera
grandes dúvidas. Porém, em serviços
nacionais de saúde como em Portugal,
este procedimento poderá tornar-se numa
barreira.
Sendo que estão
em preparação
produtos
internacionais de
fi nanciamento
ao cidadão
para facilitar
o pagamento
de cuidados de
saúde ao abrigo
desta directiva,
observaremos,
ainda assim, um
compasso de
espera até ao
acerto e equilíbrio
de preços entre
Estados europeus,
dado que o
reembolso é feito
pela diferença do
valor do preço do
Estado de origem.
Isto não impede,
porém, que as
unidades de saúde
possam adaptar
as suas políticas
de preço aos
sistemas de saúde
de origem dos
cidadãos que as procuram.
Entre aspectos alguns positivos para
Portugal, assinalemos o novo poder que
é atribuído ao cidadão. Se uma unidade
de saúde do SNS desrespeita o prazo de
resposta mínima garantida e os máximos
clinicamente aceitáveis, uma unidade
de saúde em Espanha ou França poderá
garantir essa resposta no seu melhor
interesse e, por efeito global, no melhor
interesse do SNS, que assim se vê forçado
a melhorar os seus processos de gestão
em saúde.
Esta directiva não é insignifi cante.
Transfere poder para o cidadão. Quem se
sente ameaçado?
Membro do centro de investigação da Medical Tourism Association, EUA
adulta). Não vale tudo em nome da
“racionalização dos recursos humanos e
dos serviços”.
O caminho para a Educação não é o
desinvestimento!
Bem sabemos que a Educação tem de
contribuir para a recuperação económica
do país, mas essa contribuição já fi cou
muito reduzida com a criação dos
mega-agrupamentos (das cerca de 1300
unidades organizacionais existentes em
2010, neste momento são 811 no país) e
das consequências
que advieram,
a revisão da
estrutura
curricular e
outras, meros
exemplos que
alteraram bastante
a estrutura
organizativa da
escola portuguesa,
por força de
medidas reativas,
prejudiciais da
estabilidade há
anos desejada
pelos principais
intervenientes na
vida das escolas.
A Educação
merece uma
discriminação positiva, pois é o pilar
essencial e estrutural do desenvolvimento
de qualquer sociedade moderna,
sustentáculo de um futuro melhor de
um país que quer retomar o caminho da
esperança.
Coordenador dos directores da região norte no Conselho das Escolas
Se uma unidade de saúde do SNS desrespeita o prazo de resposta mínima, uma unidade de saúde em Espanha ou França poderá garantir essa resposta
Este OE é muito desmoralizador para quem quer o melhor da e para a escola pública
DANIEL ROCHA
Debate Orçamento do EstadoDebate Saúde e União EuropeiaFilinto LimaPaulo Moreira