21
AGOSTO 2005 Nº3 – ANO 2 ESTUDO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS MOSTRA TRÊS POSSÍVEIS CENÁRIOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA EM DISCUSSÃO NO CONGRESSO O QUE OS EMPRESÁRIOS PENSAM SOBRE A UNIFICAÇÃO DAS ALÍQUOTAS DE ICMS ENTREVISTA: O GOVERNADOR GERMANO RIGOTTO DEFENDE COMPENSAÇÃO FISCAL PARA ESTADOS CONHEÇA JARAGUÁ, A CIDADE QUE DISSE NÃO À PIRATARIA E HOJE TEM ATÉ SELO DE QUALIDADE Que país será este?

Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

AGOSTO 2005 Nº3 – ANO 2

ESTUDO DA FUNDAÇÃO GETULIO VARGAS MOSTRA TRÊS POSSÍVEIS CENÁRIOS DA REFORMA TRIBUTÁRIA EM DISCUSSÃO NO CONGRESSO

O QUE OS EMPRESÁRIOS PENSAM SOBRE A UNIFICAÇÃO DAS ALÍQUOTAS DE ICMS

ENTREVISTA: O GOVERNADORGERMANO RIGOTTO DEFENDE COMPENSAÇÃO FISCAL PARA ESTADOS

CONHEÇA JARAGUÁ,A CIDADE QUE DISSE NÃO À PIRATARIA E HOJE TEM ATÉ SELO DE QUALIDADE

Que país será este?

33529 Capa ED3 8/4/05 7:56 PM Page 3

Page 2: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Editorial

| 03

Cenários de umarevolução tributária

Esta nova edição da revista do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial-ETCO traz uma radiografia ampla e significativa dos caminhos que podem sertrilhados pela reforma tributária no país. Reforma não, melhor seria dizer revo-lução tributária, uma vez que precisamos mudar de alto a baixo a atual estrutu-ra para que se possa ampliar a base de arrecadação, reduzir alíquotas e, assim,fazer dos impostos uma ferramenta efetiva de promoção de um novo ciclo de de-senvolvimento sustentado.

Na última década muito se discutiu sobre o tema, mas a verdade é que pre-ponderou mais o ingrediente político do que a razão dos números. A reportagemde capa da revista ETCO inova com a divulgação de uma pesquisa feita peloInstituto em parceria com a Fundação Getulio Vargas justamente para mostrar,por meio de cenários, o que o país pode ganhar se resolver o impasse da revo-lução tributária. Ou, também, o que pode perder se resolver não realizá-la ou sese deixar seduzir por medidas paliativas.

A revista ouviu também a opinião de empresários e executivos sobre a unifi-cação das 27 legislações de alíquotas de ICMS. Há unanimidade quanto à im-perativa necessidade de não se incorrer no erro de nivelar as alíquotas por cima.Seria um jogo de soma zero para que nada mude e tudo fique como está, comprejuízos, é claro, para a nação brasileira. Foram ouvidos, entre outros, CiroMortella (presidente-executivo da Febrafarma), Brian Smith (presidente daCoca-Cola), Carlos Ribeiro (presidente da HP Brasil), Victorio de Marchi(co-presidente do Conselho de Administração da Ambev), Nicandro Duarte(presidente da Souza Cruz), Paulo Setúbal (presidente da Itautec).

Mas há, ainda, outras novidades no cardápio da revista. Além de entrevistascom o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, Luiz Paulo Bar-reto, presidente do Conselho Nacional de Combate à Pirataria e Raul Velloso,um dos maiores especialistas em Contas Públicas Brasileiras, fomos atéJaraguá, a 100 quilômetros de Goiânia, ver de perto como vive a cidade queaté alguns anos atrás abrigava falsários de calças jeans de grife e hoje exibe umvigoroso pólo têxtil com selo de qualidade. Por fim, mergulhamos no Brasil dosidos do marquês de Pombal para mostrar as raízes da nossa intrincada burocra-cia e – acreditem – relatar como o marquês, tido como um déspota esclareci-do, conseguiu encontrar a fórmula do crescimento econômico por meio da re-dução de impostos. Boa leitura!

Emerson KapazPRESIDENTE-EXECUTIVO

REVISTA ETCO

EDITORA Andrea AssefSUBEDITORA Ana Paula Franzoia

CONSELHO EDITORIAL Emerson Kapaz,Leonardo Gadotti Filho, Hoche JoséPulcherio, Luiz Antonio MirandaConde, Victorio De Marchi

PROJETO EDITORIALAndrea Assef, Patricia Blanco,Chico Viana e Mario VianaPROJETO GRÁFICO Asterisko DIREÇÃO DE ARTE Beto Nejme e Vanina MaiaCHEFE DE ARTE Alfredo Alberto VazPRODUÇÃO Patrícia CortesREVISÃO Márcia MeloCORRESPONDENTE EM BRASÍLIA: Felipe Recondo FreireCOLABORARAM NESTA EDIÇÃOTEXTO André Barrocal, Francisco Viana,Jorge Felix FOTO Biô Barreira, Cacalos Garrastazu,Roberto Castro, U. Dettmar, Juca VarellaILUSTRAÇÃO Pepe Casals, Helena Cortez

A revista ETCO é uma publicação da AM13 Inteligência Editorial sob licença do Instituto Brasileirode Ética Concorrencial – ETCO

REDAÇÃOAv. Faria Lima, 2631, conj. 601, São Paulo, SP, tel.: (11) 3813-8464

Presidente-executivoEmerson Kapaz

Diretora-executivaDaniela Reis

Conselho de AdministraçãoPresidente Leonardo Gadotti Filho, diretor de Suprimentos e Distribuição da EssoBrasileira de Petróleo Ltda.

ConselheirosHoche José Pulcherio, diretor-executivoda Associação dos Fabricantes Brasileiros de Coca-ColaLuiz Antonio Miranda Conde, diretor de Planejamento Estratégico da Souza CruzVictorio De Marchi, co-presidente do Conselho de Administração da Ambev

Conselho ConsultivoAristides Junqueira, advogado e ex-procurador-geral da RepúblicaArmínio Fraga, economista e sócio daGávea InvestimentosEduardo Gianetti da Fonseca,economista/IbmecEverardo Maciel, consultor tributaristaHamilton Dias de Souza, advogadoespecialista em Direito TributárioJoão Roberto Marinho, vice-presidentedas Organizações Globo

Empresas associadas ao ETCOAmbev, Kaiser, Coca-Cola, Pepsi-Cola, SouzaCruz, Agip do Brasil S.A., Castrol Brasil Ltda., Cia. Brasileira de Petróleo Ipiranga,Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga S.A., Esso Brasileira de Petróleo Ltda., Fl Brasil S.A., PetrobrasDistribuidora S.A., Petróleo Sabbá S.A.,Repsol YPF Distribuidora S.A., Shell BrasilLtda., Texaco Brasil Ltda.

INTELIGÊNCIAEDITORIAL

AM13

33529 Editorial 8/4/05 8:04 PM Page 3

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 4

Page 3: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Cartas

| 05agosto de 2005

Que 2005 seja mesmo o marco definitivocontra a concorrência ilegal no Brasil. Pa-rabenizações ao ETCO pela segunda edi-ção de sua revista e pelo conteúdo infor-mativo e objetivo.

ARY SILVEIRA BUENOASPR Auditoria e Consultoria

Parabenizo a equipe pela qualidade do con-teúdo editorial da revista ETCO. Aprovei-to a oportunidade para cumprimentá-lospelos nobres projetos desta instituição erenovar o meu protesto de elevada estimae consideração.

CELITA PROCÓPIO DE ARAÚJO CARVALHO

Presidente do Conselho Curador da

Fundação Álvares Penteado (Faap)

Tenho o prazer de saudá-los pela revistaETCO e ao mesmo tempo apresentar o In-decopi, Instituto Nacional de Defesa de laCompetencia y de la Protección de la Pro-piedad Intelectual. Nossa finalidade é pro-mover na economia peruana uma culturade honestidade e respeito à propriedade in-telectual e ao consumidor.Gostaríamos de contar sempre com o con-teúdo da revista e adoraríamos receber ospróximos números.

LUZ TELLERIA SEGALÁCentro de Información y

Documentación del Indecopi

Lima-Peru

Certamente a conscientização de consumi-dores (pessoas físicas ou jurídicas) quanto àspráticas ilegais e anticoncorrenciais e suasconseqüências para a sociedade constituiuma fundamental parte da solução do pro-blema. Por isso mesmo, venho cumprimen-tar os integrantes desta entidade e editoresde sua revista pelo excelente trabalho que es-tá sendo realizado.

RUBENS PONTESDiretor da Saint Gobain

Cumprimento-os pela escolha das matériasenfocadas, que, além de bem elaboradas,são da maior importância para todos nósque trabalhamos pela ética nos negócios.O painel dos formadores de opinião queparticiparam da segunda edição da revistaconfere credibilidade às teses defendidas ea qualidade editorial e gráfica também es-tá impecável.

LEOCADIO DE ALMEIDA ANTUNES FILHO

Diretor-superintendente

Cia. Brasileira de Petróleo Ipiranga

Nós, da Associação Brasileira de Respon-sabilidade Social (Abrares), parabenizamoso Instituto Brasileiro de Ética Concorren-cial pelo belo trabalho, realizado através daexcelente publicação ETCO.

JORGE CARNEIRO E MARCELLO MOREIRA DA SILVA

Diretoria da Abrares

Cartas para esta seção, com endereço,

RG e telefone, devem ser enviadas para:

AM13 Inteligência Editorial

Av. Faria Lima, 2631, conj. 301,

Jardim Paulista, São Paulo – SP

CEP 01451-000 – Tel/Fax (011) 3813-8464

E-mail: [email protected]

As cartas poderão ser editadas

por motivo de espaço.

Gostei muito da revista ETCO,que trata de assuntos tão im-portantes à nação. Vocês estãorealizando um belo trabalho.Parabéns.

GILBERTO CARVALHOChefe do gabinete pessoal do

presidente da República

RIC

AR

DO

STU

CK

ERT

A segunda edição da revista ETCO foi um sucesso. Um vastoe qualificado universo de leitores saudou a iniciativa com cartas que atestam seu alcance, sua atualidade e suaqualidade editorial

agosto de 200504 |

Índice

03 Editorial

05 Cartas

06 Estudo GVconsultPesquisa aponta impactos da reforma tributária em discussão no Congresso

12 Contas públicasRaul Velloso afirma: o problema do Brasil é fiscal

14 EnqueteA opinião dos empresários sobre a unificação do ICMS

16 EncontroMagistrados do Superior Tribunal de Justiça se reúnem para debater os males da sonegação fiscal

06

3218 22

32 EntrevistaLuiz Paulo Barreto é um caçador de piratas

34 HistóriaBrasil já teve impostos reduzidos pelo governo

36 InternetSite do Ministério da Justiça é arma contra a corrupção

37 TelevisãoGlobo e ETCO levamvalores éticos para a TV

38 ArtigoHamilton Dias de Souza escreve sobre o art. 146-A da Constituição, que previne a concorrência desleal PE

PE C

ASA

LS /

U. D

ETTM

AR

/ B

IÔB

AR

REI

RA

/ R

OB

ERTO

CA

STR

O

18 SoluçãoCidade goiana cresce com o fim da pirataria

22 EntrevistaGovernador Germano Rigotto quer compensação fiscal para estados

26 EducaçãoPrêmio Ibrac/ETCO incentiva projetos de direito concorrencial

27 SeminárioSindireceita discute caminhos para problemas de Foz de Iguaçu

28 AvançoAs vitórias das empresas éticas contra a concorrência desleal

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 4

Page 4: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 07

CENÁRIO 2

ICM = 13,6%

PERDA DE 4 MILHÕES DE EMPREGOS

PIB: + 5,96%Inflação: + 2,39%Aumento na arrecadação: 12,86%

Arrecadação: R$ 136,142 bilhões

CENÁRIO 3

ICM = 10,7%

GANHO DE 2 MILHÕES DE EMPREGOS

PIB: + 3,47%Inflação: - 1,24%Aumento na arrecadação: 0,09%

Arrecadação: R$ 117,187 bilhões

agosto de 200506 |

Comércio exterior

Estudo da GVconsult sobre

carga tributária mostra os

impactos da reforma em

discussão no Congresso Nacional

Por Andrea Assef

Dois milhões de novos postos de tra-balho ou mais 4 milhões de desem-pregados? Os rumos da reforma tri-butária, que será votada no Con-

gresso Nacional, vão responder a questõescruciais como essa. O novo mapa macroeco-nômico nacional está fortemente correlacio-nado ao desfecho da reforma tributária, se-gundo o estudo Impactos Macroeconômicos,Regionais e Setoriais da Reforma Tributária,

elaborado por técnicos da GVconsul, daFundação Getulio Vargas, a pedido do ET-CO. “Trata-se de uma contribuição para aconstrução de uma agenda positiva no país,na busca de um novo ciclo de progresso edesenvolvimento sustentado”, diz o empre-sário Emerson Kapaz, presidente-executivodo ETCO. Vale lembrar que a atual propos-ta de reforma – a PEC 285/2004 – unificaas alíquotas em cinco faixas, remetendo pa-ra o Conselho Nacional de Política Fazen-dária (Confaz) a determinação das merca-dorias, bens ou serviços que se submeterãoàs faixas de alíquotas definidas para o ICMS. PE

PE C

ASA

LS

Três cenários para o Brasil

CENÁRIO 1

ICM = 11,5%

PERDA DE 83 MIL DE EMPREGOS

PIB: + 0,12%Inflação: - 0,17%Aumento na arrecadação: 0,47%

Arrecadação: R$ 118,874 bilhões

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 6

Page 5: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 09

Depois disso, será referendada pelo Sena-do. Ou seja, a unificação será em âmbito na-cional e os estados não poderão votar nor-mas autônomas.

Os pesquisadores da FGV, sob a coordena-ção de Fernando Garcia, projetaram o impac-to de três diferentes alíquotas de ICMS nocrescimento do país e na taxa de inflação. Oresultado foi um Brasil bastante diferente pa-ra cada uma das três alíquotas. Nas duas pon-tas estão os cenários 2 e 3. São dois paísesquase antagônicos. No cenário 3, com umaalíquota de ICMS nominal média de 10,7%,surge um Brasil que cresce 3,5%, gera 2,3milhões de novos empregos e vê cair em1,24% o índice de preços ao consumidor(IPC). Já no cenário 2 o país é outro. Comalíquota de 13,6% do preço ao consumidor,a atividade econômica recua. Nesse caso, ocenário é perverso. O PIB cai 5,96%, cercade 4 milhões de empregos desaparecem e ataxa de inflação sobe 2,39%.

Enquanto isso, o cenário 1 traz poucas al-terações em relação ao Brasil que conhece-mos hoje. Ele foi desenhado como um pon-to de partida para a análise dos técnicos daFGV e buscou preservar a estrutura de alí-quotas de ICMS vigente no país, com redis-tribuições setoriais mínimas. Para traçar es-se quadro, os especialistas estimaram um pro-cesso de negociação na reforma tributáriacujo foco seria manter o atual nível de arre-cadação de ICMS global no país, o que nãointroduziria mudanças mais drásticas no quese vê atualmente. Nesse cenário, a alíquotanominal média do ICMS permanece em tor-no de 11,5% do preço ao consumidor dasmercadorias e serviços transacionados no país.

Para estabelecer os cenários 2 e 3, os téc-nicos implementaram então variáveis que si-mularam grandes mudanças nas alíquotas. Nadefinição do cenário 2, o de maior perda deatividade econômica, utilizaram premissas que

se alinham à posição mais conservadora, comaumento generalizado de alíquotas.

Por exemplo, o Estado que depende muitoda arrecadação de ICMS de determinado pro-duto negociará com o Estado que dependeda arrecadação de outro produto, para umaelevação da alíquota de ambos. A questão dadistribuição do ICMS entre os estados, aliás,é um dos pontos mais polêmicos da reformatributária. O governador Germano Rigotto,em entrevista à revista ETCO (pág. 22), dizque para a lei – que já está há um ano e meioparada no Congresso – ser votada é precisoque o governo federal crie mecanismos decompensação aos estados. “Sem seguro-re-ceita não tem reforma”, afirmou ele.

Na simulação desenvolvida pela FGV, aconstrução do cenário 3, o de melhor impac-to no desenvolvimento econômico, foi basea-da na premissa de que o processo de nego-ciação na reforma tributária dará origem auma estrutura inovadora e ousada. Os pes-quisadores trabalharam com apenas três dascinco faixas de alíquotas, restringindo a maiordelas em 22% do preço ao consumidor dasmercadorias. Esse panorama prevê uma es-trutura simplificada que, ao mesmo tempo,possibilita uma desoneração global. Assim, aalíquota nominal média passaria a 10,7% dopreço ao consumidor. Ainda nesse cenário,os especialistas dizem que fica subentendidaa idéia de que, no curso das negociações dareforma tributária, prevalecerá o consensonacional de que é chegada a hora de uma re-versão no processo de crescimento da cargatributária, de forma a permitir a manutençãodo atual nível de arrecadação real de ICMS,com o crescimento da base de arrecadação.E a perda da arrecadação provocada pela re-dução da alíquota média será compensadapelo efeito do crescimento econômico e pe-la redução da diferença entre o potencial e aarrecadação efetiva de cada produto. B

IÔ B

AR

REI

RA

agosto de 200508 |

Comércio exterior

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 8

Page 6: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 11

PEPE

CA

SALS

AGOSTO de 200510 |

Chapéu

A reforma tributária não é um assunto tri-vial e exigirá uma discussão complexa combase em estudos que dêem lastro a decisõesque vão ter forte impacto na história econô-mica e social do país. Na vida, dizia Benja-min Franklin, só existem duas certezas: a mor-te e os impostos. A morte não deixa muita op-ção. Já os impostos podem se traduzir emverdadeiras alavancas de crescimento econô-mico, daí a importância dessa discussão pa-ra toda a sociedade. São os impostos que vãopermitir o funcionamento da máquina esta-tal, pagando desde o salário de médicos, pro-fessores, até o do próprio presidente da Re-pública. Também são os impostos que vão fi-nanciar os investimentos do Estado naconstrução de escolas, estradas e infra-estru-tura. Quando se fala em impostos, são doisos parâmetros que devem ser analisados: aeficiência da arrecadação e da utilização dosrecursos arrecadados. Discute-se na reformatributária o primeiro parâmetro, ou seja, o ta-manho da carga tributária e sua efetiva arre-cadação. O que se quer é eficiência. Daí aimportância da discussão.

Como mostra o levantamento da FGV, umaumento generalizado de alíquotas pode com-prometer o desempenho econômico do país.Isso é verdade para qualquer economia, masno Brasil ganha contornos ainda mais rele-vantes dada sua já elevada carga tributária,que chega a mais de 36% do Produto Inter-no Bruto (PIB), uma das maiores do mundo.Desse modo, antes que se proceda a uma re-forma que venha a expandir ainda mais a car-ga tributária brasileira, é importante relem-brar o que a teoria econômica ensina sobreo tema. Estudos desenvolvidos pelo econo-mista norte-americano Arthur Lafer mostramque há uma relação peculiar entre a arreca-dação e a carga tributária de um país. Segun-do ele, quando a carga tributária de um é bai-xa, a relação entre carga e arrecadação é di-

reta. Ou seja, inicialmente, uma pequena ele-vação da carga tributária proporciona um au-mento no total da arrecadação do governo.Entretanto, depois de alcançar certo patamar,a relação se inverte. Nesse caso, uma novatentativa de elevação, de uma carga tributá-ria já muito alta, resulta, em vez de ganhos,em perdas de arrecadação efetiva.

Essa correlação ficou conhecida como Cur-va de Lafer. A explicação de Lafer para jus-tificar a ocorrência de tal fenômeno é o fa-to de que uma carga tributária, quando jámuito elevada, estimula a sonegação de im-postos e a informalidade e fomenta ativida-des ilegais como a pirataria e o contraban-do. Ao mesmo tempo, há um forte desestí-mulo sobre os negócios da chamadaeconomia formal, diminuindo assim a pró-pria base de incidência da tributação, redu-zindo o total de arrecadação.

Assim, à luz dessa teoria, quando a cargatributária de um país chega a esse nível, a saí-da para elevar a arrecadação, ao contrário doque se pensa, seria fazer uma reforma que re-duzisse a carga tributária, o que implicarianão uma queda, mas uma elevação da arreca-dação tributária do setor público, haja vista oestímulo que seria dado ao setor produtivoformal da economia, estimulando o investi-mento e o consumo agregados. A revista ET-CO ouviu empresários e executivos sobre asmudanças que a unificação das alíquotas doICMS pode trazer (pág. 14). A maioria acre-dita que este é o momento de dar o grandepasso rumo à diminuição gradual de impos-tos que resultará na redução da elisão fiscal,com uma maior formalização da economia.No calor das discussões e propostas, e antesque se proceda a uma reforma que venha aexpandir ainda mais a carga tributária brasi-leira que estrangula o crescimento econômi-co do país, o estudo conjunto do ETCO e daFGV é mais uma contribuição ao debate.

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 10

Page 7: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 13

cargos sociais, previdência social, assistênciasocial, educação e saúde cresceram significa-tivamente entre 1995 e 2002”.

A busca por soluções para o problema es-barra violentamente na política. Qualquer queseja o presidente, ele enfrentará a resistênciade setores da sociedade com forte representa-tividade no Congresso Nacional. Afinal, o des-gaste seria certo se o Executivo propusesse al-terar artigos da Constituição que, por exem-plo, obrigam a União a destinar 18% da receitados tributos à educação.

Nesse cenário de imobilidade orçamentária,o governo tem usado os juros como principalantídoto contra pressões inflacionárias. Os19,5% de juros ao ano geram pressões sobrea dívida, cujo percentual atrelado à Selic pas-sa de 57%. Se mantida a taxa por 12 meses, ogasto adicional do governo seria de aproxima-damente R$ 100 milhões.

Tal é o problema que o Instituto de Pesqui-sa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Mi-nistério do Planejamento, tratou do tema emseu boletim de conjuntura. “Continua viva adiscussão acerca do mix adequado entre as po-líticas fiscal e monetária. O aumento da taxa

de juros a partir do segundo semestre do anopassado conviveu, pelo menos até o início des-te ano, com um aumento importante do gastopúblico”, argumentam os técnicos do Ipea.

Mesmo com a conjunção da política fiscalinflexível e da monetária restritiva, o governoprefere contornar a encarar o entrave. Para is-so, levou ao Congresso Nacional a legislaçãodas Parcerias Público-Privadas (PPP), por exem-plo. Uma tentativa de promover os investimen-tos necessários sem depender necessariamen-te dos parcos recursos que sobram depois decumpridas as vinculações orçamentárias.

Outra medida paliativa, comemorada pelaequipe do Ministério da Fazenda, foi a nego-ciação com o Fundo Monetário Internacional(FMI) para que os investimentos rentáveis dogoverno deixassem a contabilidade dos gastosno cálculo do superávit primário.

Nenhuma delas, aos olhos de Raul Velloso,aproxima-se da solução. “Mudança de conta-bilidade é apenas uma maquiagem”, critica.“Como regra geral, o governo tem de flexibi-lizar a restrição legal. O Orçamento não po-de estar afeto a qualquer restrição. Essa é asolução.” Palavra de especialista.

O economistaRaul Velloso é consultoreconômico, professor e

doutor pelauniversidade

de Yale

CA

CA

LOS

GA

RR

AST

AZU

/VA

LOR

ECO

MIC

O

agosto de 200512 |

Contas públicas

que leva o governo a lidar com as contas pú-blicas de forma matemática.

No ano passado, o governo chegou a aven-tar a possibilidade de resolver o ponto nevrál-gico dessa lista, criado pela Constituição de1988. Estudou a possibilidade de flexibilizaro Orçamento, hoje com engessamento de 90%.A celeuma das contas públicas, com efeitosnegativos na criação de emprego e distribui-ção de renda, fez parte de um estudo do Mi-nistério do Planejamento que não gerou efei-tos práticos até o momento.

“A primeira restrição refere-se ao grande vo-lume de receitas vinculadas, que provoca rigi-dez orçamentária na medida em que estas nãopodem ser utilizadas para financiar despesasdiferentes daquelas para as quais foram cria-das”, diz o estudo. Em 1988, antes da novaConstituição, os recursos de que a União dis-punha para gastar como quisesse chegavam a55,5% do total das receitas do Tesouro Nacio-nal. Em 1993 a participação caiu para 22,9%.No exercício de 2002, baixou para 19,4% emanteve-se no primeiro ano do governo Lula.

Velloso ressalta outro problema conseqüen-te da restrição das receitas: “Mais que o pro-blema da vinculação, os gastos são presos adispositivos legais e tendem sempre a aumen-tar”. E o governo concorda: “A segunda res-trição diz respeito ao crescimento contínuodas despesas de execução constitucional e/oulegalmente obrigatórias, o que prejudica so-bremaneira a flexibilidade da política fiscal.Verifica-se que as despesas com pessoal e en-

Adiscussão quase futebolísticaque chegou às feiras, aos barese às ruas sobre a taxa básica dejuros e as decisões do Comitêde Política Monetária tira o fo-

co do problema central da política econômi-ca brasileira. As contas públicas são, na ver-dade, o principal entrave para o crescimento.Opinião de Raul Velloso, consultor econômi-co e um dos maiores especialistas em ContasPúblicas Brasileiras.

Ele dita de cabeça a fórmula do problemaque os governos brasileiros de Fernando Hen-rique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva ain-da não conseguiram solucionar mesmo coma aprovação da Lei de Responsabilidade Fis-cal e com a economia milionária de recursospara pagar os juros da dívida brasileira.

“O problema do crescimento da economiaé fundamentalmente fiscal. A política mone-tária combate os efeitos, a pressão inflacioná-ria, que, por sua vez, vem da taxa de câmbio,que vem da instabilidade macroeconômica,que decorre da área fiscal e da não sustenta-bilidade da dívida pública”, ensina em menosde dez segundos.

A discussão em torno da taxa básica de ju-ros, portanto, estaria fora de foco. Inegáveissão os efeitos prejudiciais de uma política mo-netária restritiva, com a Selic em trajetória dealta desde setembro de 2004, interrompidaem junho. Mas a restrição vem a reboque dairresponsabilidade fiscal, dos gastos de quali-dade duvidosa e da legislação orçamentária,

Um dos maiores especialistas em contas públicas do país, o consultor

econômico Raul Velloso diz que enquanto houver rigidez orçamentária e

aumento contínuo das despesas não haverá crescimento real

O problema do Brasil é fiscal

ETCO_03 13/04/2007 15:34 Page 12

Page 8: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 15

co de um país baseia-se em três pila-res: a estrutura tributária de um im-posto deve ser simples para facilitar afiscalização e evitar a elisão fiscal; aarrecadação deve ter um controle ele-trônico e com o mínimo de interven-ção humana; e deve ter regras rígidase eficazes de punibilidade. A propos-ta de federalização do ICMS significaum avanço por substituir 27 legisla-ções estaduais por uma única lei fe-deral. Os tributos no setor cervejeiroequivalem a 33% do preço final doproduto – mais que seu custo de fá-brica. Considerando-se que o ICMStem alíquotas que variam nos Estadosentre 18% e 35%, encontrar a médiaponderada do imposto, sem aumentode carga tributária, será tarefa a serexecutada com cautela e bom senso.”

Victorio de Marchi, co-presidente do Conselho

da Ambev e conselheiro fundador do ETCO

“Acredito que há uma tendênciade nivelar pela mais alta, no intui-to de evitar perdas pontuais. O mo-mento é de tentar uma redução gra-dativa através de uma maior forma-lização da economia e do combateà evasão fiscal. Se mais empresaspagarem os impostos, a arrecada-ção aumentará, propiciando o iní-cio de um círculo virtuoso, com re-tomada dos investimentos e cresci-mento da economia.”

Nicandro Duarte, presidente da Souza Cruz

“Acredito que existirão no mínimocinco categorias de produtos com alí-quotas diferentes. Essas categoriasserão criadas para atender aos pro-dutos ‘sensíveis’, seja por categoria,seja por região geográfica.”

Paulo Setúbal, presidente da Itautec Philco

“Possivelmente a federalização doICMS se dê pela aplicação da maioralíquota, razão pela qual a Fiesp de-fende que haja uma transição gradualentre o modelo vigente e o modelo pro-posto. As alíquotas devem ser conver-gidas às alíquotas fixadas pelo Senado,em 11 anos, minimizando os impactosnegativos da adoção do nivelamentopela maior alíquota, caso isso ocorra.”

Paulo Skaf, presidente da Fiesp

“A tendência é de que as novasalíquotas sejam niveladas pela mé-dia, em torno de cinco alíquotas,diferenciadas por tipo de produto.De um lado o governo vai tentarmanter o nível de arrecadação, e deoutro não vai correr o mesmo riscoda MP 232.”

Amaury Olsen, presidente da Tigre

“Na nossa visão deveriam ser defi-nidas cinco faixas de alíquotas deICMS, nas quais seriam alocados to-dos os bens tributados. Dada a diver-sidade de critérios usados pelos es-tados, essa alocação deve buscar umamédia das alíquotas vigentes para ca-da produto.”

João Pedro Gouveia Vieira, presidente do Sindicom

REDUÇÃO DA CARGAELIMINAR INCENTIVO

ICMS – GUERRA FISCALREFORMA DA MÁQUINA

ADMINISTRATIVA

SIM

67%

NÃO

33%SIM

70%

NÃO

30%CONCOMITANTE

63%POSTERIOR

19%

ANTERIOR

18%

BET

ON

EJM

E

FONTE: LEAD

agosto de 200514 |

Enquete

“Acredito que as alíquotas serãoniveladas pela média, já que, dessaforma, a federalização do ICMS nãoelevaria ainda mais a carga tributá-ria e também não prejudicaria o es-forço recente do governo federal nocombate à sonegação de tributo. Co-mo o nivelamento pela média vai im-pactar tanto os estados que hoje têmalíquotas superiores quanto os quetêm alíquotas inferiores à média, épreciso equacionar uma forma decompensação para facilitar a evolu-ção da reforma do ICMS.”

Brian Smith, presidente da Coca-Cola

“Entendo que, no caso da unifor-mização das alíquotas de ICMS, es-tas serão niveladas pelas maiores ta-xas. Isso porque no caso dos princi-pais estados ‘exportadores paraoutros estados’ – exemplo de SãoPaulo –, uma nivelação pela alíquo-ta menor representaria uma perdano recolhimento de tributos.”

José Roberto Lettiere, CFO & VPFinanças da

Pepsico do Brasil

“É provável que o lobbie dos gover-nos estaduais queira nivelar por cimaas novas alíquotas, mas a sociedadedeve se mobilizar na direção oposta.O comércio paulista defende a redu-ção da carga tributária, que deve ser

REFORMA TRIBUTÁRIAUma pesquisa realizada em junho

durante o seminário sobre tributa-ção do Grupo de Líderes Empresa-riais (LIDE), com 105 empresários depeso do país, revelou que 70% de-les acreditam que é necessário eli-minar os incentivos fiscais por meiodo Imposto sobre Circulação deMercadorias e Serviços (ICMS) e aca-bar com a guerra fiscal. ESTRUTURAURGÊNCIA

MUITO URGENTE

73%

IVA ÚNICO

57%

URGENTE

12%

2 GRUPOS

29%

3 GRUPOS OU MAIS

12%

NÃO MUDAR

2%

NORMAL

15%

acentuada no caso dos produtos es-senciais de consumo popular, comoa cesta básica, que deveria ter alíquo-ta zero ou próxima disso.”

Abram Szajman, presidente da Federação do

Comércio de São Paulo (Fecomércio)

“A simplificação da cobrança doICMS deve respeitar o conceito daessencialidade. Esperamos que nasoperações intra-estaduais e interes-taduais situe-se entre 4% e 7%, nomáximo, considerando-se as carac-terísticas dos produtos farmacêuti-cos. É importante garantir o prin-cípio da não-cumulatividade paraimpedir que seja desvirtuada a es-sência da tributação sobre circula-ção de mercadorias.”

Ciro Mortella, presidente-executivo da

Federação Brasileira da Indústria Farmacêutica (Febrafarma)

“Acredito que o ideal seria unifor-mizar pelo menor valor possível, o quetornaria os preços mais competitivose os produtos mais acessíveis para apopulação.”

Carlos Ribeiro, presidente da HP Brasil

“O sistema tributário ideal que pro-porciona o desenvolvimento econômi-

ICMS: perigo à vistaO maior risco da reforma

tributária, tão esperada

pelo setor produtivo, é re-

sultar em aumento de im-

posto. Ao unificar as 27 le-

gislações, o Congresso Na-

cional pode escolher a

maior entre as 40 alíquo-

tas de ICMS cobradas ho-

je no país. A revista ETCO

ouviu a opinião de empre-

sários e executivos

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 14

Page 9: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 17

Lisboa, defendeu a constitucionalidade do IPI-Especí-fico, criado em 1999. De acordo com ele, o tributo éplenamente cabível e legal e de maneira alguma afron-ta a Constituição.

Em seguida o secretário da Receita Federal, Jorge Ra-chid, falou sobre os modernos sistemas de controle nocombate à informalidade e sonegação fiscal. “Contamoscom um sistema, o Siga, em que é possível armazenar 80fontes de informações de atividades imobiliárias, admi-nistração de cartões de crédito, movimentação financeira,capitania dos portos, entre outras, e definir os contribuin-tes de interesse fiscal”, explicou Rachid. O secretário daReceita disse ainda que não adianta colocar o Exército demãos dadas nos 15 mil quilômetros das fronteiras terres-tres para reduzir o contrabando. “Temos de trabalhar cominformação, tecnologia e inteligência”, concluiu.

Segundo o procurador-geral da Fazenda Nacional, Ma-noel Felipe Rêgo Brandão, o mesmo vale para a Procurado-ria Pública, que não está medindo esforços no sentido deagilizar os trabalhos com o objetivo de dar mais atenção aoscasos de grande relevância. No painel “Lavagem de Dinhei-ro e o Crime Organizado”, o ministro do STJ Gilson Dipcomparou a estrutura das organizações criminosas que agemno Brasil à máfia italiana pelo seu poder de corrupção.

A última palestra foi do professor Márcio Pereira PintoGarcia, diretor-adjunto do Departamento de Recuperaçãode Ativos e Cooperação Jurídica Internacional do Minis-tério da Justiça. Ele falou sobre a importância da sinergiaentre o Direito Internacional e o Judiciário no combate aocrime organizado transnacional. “O Direito que surge co-mo garantidor das fronteiras passa a ser um Direito Inter-nacional, que visa a não fazer com que essa fronteira sejauma barreira para o crime organizado”, disse ele. Ao en-cerrar o evento e fazer um balanço dos trabalhos apresen-tados, o ministro João Otávio de Noronha reiterou a im-portância da integração entre o setor público e a iniciati-va privada na luta contra a sonegação fiscal no país, parceriada qual ele é um dos grandes defensores.

Durante os dias 26 e 29 de maio, o SeminárioAspectos Jurídicos e Econômicos da Sonega-ção Fiscal, realizado no hotel Summerville,em Porto de Galinhas, Pernambuco, reuniumagistrados, ministros do Superior Tribunal

de Justiça (STJ), representantes da Procuradoria da Fa-zenda Nacional e da OAB Federal, o secretário da Recei-ta Federal, Jorge Rachid, entre outros. O seminário foi di-rigido pelo ministro do STJ João Otávio de Noronha e pa-trocinado pelas principais escolas de magistratura do país,com apoio cultural do ETCO e apoio institucional do Con-selho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. A coor-denação foi da Memory - Centro de Memória Jurídica.

Ao abrir o seminário, o ministro Francisco PeçanhaMartins, do STJ, reiterou a importância da discussão emtorno “deste grande mal, a sonegação fiscal” na busca decaminhos num sistema de plenitude democrática. “As so-luções só aparecem quando os homens as discutem pa-ra se entender”, afirmou ele. Em seguida, o presidente-executivo do ETCO, Emerson Kapaz, apresentou núme-ros que ilustram as conseqüências da sonegação para asociedade brasileira e o asfixiamento das empresas emfunção dos altos índices de tributação no Brasil. A tribu-tação em relação ao PIB dos países em desenvolvimentovaria de 13,1% na Colômbia a 25,9% na Rússia. No Bra-sil, a taxa é de 34,4%. “Assim a empresa brasileira perdecompetitividade”, disse Kapaz.

De acordo com Carlos Ivan Simonsen Leal, presiden-te da Fundação Getulio Vargas (FGV), que apresentouum trabalho sobre os impactos econômicos da informa-lidade, não há uma trajetória realmente sustentável decrescimento com o alto grau de informalidade existenteno país. Segundo o estudo do presidente da FGV, não épossível sustentar uma carga tributária tão alta durantemuito tempo porque isso vai diminuir cada vez mais osinvestimentos e criar distorções.

Outro acadêmico, o professor Alberto Xavier, da PUC-São Paulo e da Faculdade de Direito da Universidade de

agosto de 200516 |

Encontro

STJ na lutacontra asonegaçãoMinistros e magistrados do Superior Tribunal

de Justiça realizam seminário para discutir

a sonegação fiscal e seus malefícios

O ministro do Superior Tribunal de Justiça JoãoOtávio de Noronha, o presidente do Instituto ETCO,Emerson Kapaz, e o secretário da Receita Federal,Jorge Rachid, entre outros, foram palestrantes noevento realizado em Porto de Galinhas

DIV

ULG

ÃO

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 16

Page 10: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 19

Pólo têxtil de cidade goiana cresce e conquista vida nova depois

de acabar com a falsificação

Por André Barrocal (TEXTO) e U. Dettmar (FOTOS), de Jaraguá (GO)

Jaraguá diznão à pirataria

Muitas cidades brasileiras ganharam famapor se dedicar a uma atividade econômica, efazem questão de cultivá-la. Franca (SP) or-gulha-se de seu pólo calçadista, Bento Gon-çalves (RS) adora ser a terra do vinho e Pe-trolina (PE), das frutas. Mas há tambémquem queira se livrar do estigma adquirido.Jaraguá (GO) tem se esforçado para deixarde ser conhecida como paraíso da piratariatêxtil. Situada a 100 quilômetros de Goiâniae a 200 quilômetros de Brasília, notabilizou-se, na década de 90, por abrigar falsários decalças jeans renomadas, como Forum eZoomp. A má reputação passará em agostopor uma espécie de enterro simbólico. Umaparceria entre empresários, órgãos oficiais eum instituto europeu começa a trabalhar nadivulgação de um selo de qualidade para asconfecções locais. O Pequi Brasil, alusão aofruto goiano, pretende atestar Jaraguá comomarca virtuosa. “Tem cliente que vem aquiatrás de roupa falsificada e barata, mas essaimagem de Jaraguá está sumindo. Quem vemde fora leva roupa de qualidade”, diz a em-presária Maria Aparecida do Carmo, da con-fecção Spaço X.

O abandono da pirataria acelerou-se há cer-ca de três anos, quando a região tornou-se aprincipal experiência coordenada pelo Sebraede arranjo produtivo local (APL), aquela reu-nião de etapas complementares de uma ca-

deia produtiva. Nos cinco municípios do APL(os demais são Goianésia, São Francisco deGoiás, Uruana e Itaguaru), o Sebrae lista 813empresas, das quais 300 confecções, 211 deacabamento e 192 facções.

Com 561 firmas têxteis (69% do total), Ja-raguá domina o arranjo. Segundo a Associa-ção Comercial e Industrial de Jaraguá (ACIJ),o setor movimenta R$ 180 milhões por anona cidade. Para se ter uma idéia de seu pesono PIB municipal, basta dizer que em 2004respondeu por 60% da arrecadação de R$ 12milhões da prefeitura; ou que emprega 5 milpessoas registradas e outro tanto ainda semcarteira assinada, numa população de 34 milhabitantes.

O setor têxtil conquistou importância em Ja-raguá a partir dos anos 80. O alto índice de in-formalidade no início facilitou a proliferaçãoda pirataria. Mas a falsificação que empurrounegócios também fez vítimas. Muita gente per-deu dinheiro tomando calote de cliente quesabia que a dívida não poderia ser cobrada naJustiça. Além disso, a disseminação da má-fa-ma levou a um reforço da fiscalização – e amais dificuldade de caixa. Hoje as empresasdo APL têm sido estimuladas a formalizar-se,buscar tecnologia e ter marca própria. Eis aexplicação para a derrocada da pirataria.

Até quem a boicotava, saiu no lucro. Mar-celo João da Silva Pinto montou a Letuche

agosto de 200518 |

Exemplo ético

Jaraguá, a 100 quilômetros de Goiânia, enterra a má fama de abrigar falsários de jeans e lança selo de qualidade

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 18

Page 11: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 21

TECNOLOGIA DE PONTAO apoio ao desenvolvimento tecnológi-

co pode ser uma medida importante paraque as confecções do arranjo produtivo lo-cal (APL) de Jaraguá (GO) não precisemmais recorrer à pirataria de grifes famosas.Com um produto mais qualificado, teriammelhores condições de sobreviver no mer-cado apostando em marcas próprias.

É por isso que lideranças empresariais eentidades oficiais que estão à frente do APLplanejam erguer um centro tecnológico naregião. “Falta às empresas uma tecnologiamais avançada. O centro nos daria um im-pulso violento”, afirma o presidente da As-sociação Comercial e Industrial de Jaraguá(ACIJ), Leomar Abadia Cardoso.

Da forma como está sendo concebido, ocentro servirá para que se estude a melho-ria dos processos produtivos e dos padrõesde controle de qualidade, além de oferecercursos, como de design, entre outras coisas.

O projeto elaborado pela ACIJ, pela pre-feitura de Jaraguá e pelo Sebrae prevê queo centro seja construído no mesmo terre-no que pode vir a abrigar um shopping,num prédio vizinho. O investimento pre-visto é de R$ 1,3 milhão, algo como 10%da arrecadação anual de Jaraguá. Os recur-sos devem ser liberados pelo Ministério daCiência e Tecnologia.

“Falta às empresas uma tecnologia mais avancada. O centro tecnológico nos daria um impulso violento”,diz Leomar Abadia Cardoso, presidente da AssociaçãoComercial e Industrial de Jaraguá (no alto, à esquerda)

agosto de 200520 |

Exemplo ético

espaço seu e cultivam uma identidade. Deum ano para cá, começaram a se instalar emgrande número na avenida principal de Ja-raguá. A Spaço X está ali há seis meses e játem 12% da receita derivada da loja. A cor-rida das confecções à avenida produziu umfenômeno curioso, o engarrafamento de bi-cicletas, transporte bastante usado na cida-de. Na hora do almoço, o tráfego ficou tãointenso que os lojistas decidiram escalonara dispensa, com cinco minutos de diferença.

Ao mesmo tempo em que o comércio derua do setor têxtil floresce em Jaraguá, o em-presariado local sonha com um shopping.Planeja construí-lo à beira da BR-153 paratentar atrair um volume maior do fluxo diá-rio de 8,5 mil veículos que passam ali. O ter-reno e um prédio já existem e abrigam a Ja-raguá Expo Fashion.

A edificação do shopping faz parte de umplano maior, que é a criação de uma “pas-sarela da moda” na BR-153, complexo quegravitaria em torno do shopping. Teria es-tacionamento, restaurante e posto de gaso-lina, para incentivar o turismo ligado à mo-da. O projeto, segundo o prefeito LineuOlímpio, custaria R$ 15 milhões, mais deum ano de arrecadação. Daí a necessidadede colaboração privada que esteja empenha-da em colocar a cidade no circuito nacionalda moda.

em 1994, quando a falsificação já era moda,e sobreviveu sem muito brilho até 2003. Aí,decidiu mudar o estilo do jeans que produzia.Em vez de produto popular, apostou em al-go mais sofisticado. Investiu em tecnologiae design e passou a cobrar R$ 70 por umacalça que antes saía a R$ 20. Resultado: ofaturamento mensal cresceu 200%, para R$320 mil, e a produção própria triplicou para300 peças por dia. “Nossa calça não tinhaidentidade, agora tem. Até nosso zíper é per-sonalizado”, afirma Silva Pinto. “Quando ti-nha a pirataria, as empresas esqueceram aprópria marca. Nunca fiz isso e me prejudi-quei muito.”

A mudança de mentalidade permitirá àsconfecções conquistar mercados, inclusivefora do Brasil. Hoje os despachos concen-tram-se nas regiões Norte e Nordeste, porcausa da rodovia BR-153, a Belém–Brasília,que tangencia a entrada de Jaraguá. Já as ven-das externas ainda são incipientes – nem es-tatísticas sobre elas há. A razão principal é obaixo profissionalismo administrativo. Dequalquer modo, o APL tem a meta de dobraras exportações até o fim de 2006.

Fabricante de moda praia, a Corpo e Sol éuma das raras exportadoras de Jaraguá. Tem15 anos e chegou ao mercado externo poracaso, em 2001. A sócia Izabel Aparecida Go-mes recebeu, por engano, um telefonema dosEUA. Uma comerciante brasileira pensavater ligado para a cidade de Trindade (GO),onde pretendia adquirir biquínis. Justamen-te a especialidade da Corpo e Sol, que apro-veitou a chance e fechou um contrato.

Nos últimos quatro anos, o exterior repre-sentou, em média, 15% do faturamento da em-presa, que tem clientes nos EUA, na Espanhae em Portugal. “A exportação nos ajuda a man-ter o equilíbrio financeiro porque, quando ébaixa temporada aqui no Brasil, é alta tempo-rada lá (no hemisfério norte)”, diz Izabel.

O artigo exportado pela Corpo e Sol é pro-duzido, em regra, sob encomenda. Aliás, oAPL de Jaraguá caracteriza-se por falta deestoque e venda no atacado. O ponto alto docomércio local é a Jaraguá Expo Fashion, fei-ra para atacadistas realizada há seis anos.Mas, aos poucos, as empresas apostam tam-bém no varejo, elemento importante contraa pirataria.

Ao montar lojas, as confecções ocupam um

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 20

Page 12: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 23

ETCO: Qual o risco de, ao unificar, ocorreruma elevação da alíquota, ou seja, unificar por cima?Rigotto: Esse risco existe. Para evitá-lo tem ochamado seguro-receita. Esse seguro-receita se-ria uma forma de haver reposição naqueles es-tados que hoje têm alíquota mais alta e que, aounificar, teriam de reduzir suas alíquotas. O se-guro-receita permitiria a harmonização na mé-dia e a reposição para alguns estados. Sem elecorremos, realmente, o risco de uma harmoni-zação por cima. Mas, dessa forma, poderíamosfazer pela média.

ETCO: Os governadores aceitam isso, já que dependeriam desse repasse dogoverno federal?Rigotto: Sem seguro-receita não tem reformatributária. Não é nem uma questão dos gover-nadores, é da área econômica do governo fede-ral. Tem de criar um fundo, um seguro, e pas-sa pela área econômica do governo. Os gover-nadores concordam. Quem tem de concordaré a área econômica.

ETCO: O senhor sente, digamos, uma boavontade da área econômica?Rigotto: Não senti nesses últimos meses o avan-ço que deveria ter. Tanto na questão do segurocomo na do Fundo das Desigualdades Regio-nais. É um fundo que também precisa ter umaformatação, porque vai acabar a guerra fiscal ecom isso tem de haver um outro meio de en-frentar as desigualdades regionais, e ainda ofundo da Lei Kandir. Se nós observarmos, essalei era acompanhada de uma reposição de per-das dos estados exportadores, de 50%, que se-ria feita pela União. No ano passado não che-

“Sem seguro-receita não dá”Quem diz isso é o governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto,

que defende mecanismos de compensação aos estados que terão alíquo-

tas de impostos reduzidas com a reforma tributária Por Jorge Felix

Ex-presidente da comissão especialda reforma tributária, na Câmarados Deputados, o governador doRio Grande do Sul, Germano Ri-gotto, conhece bem os entraves po-

líticos que emperram as mudanças na legis-lação fiscal. Nesta entrevista exclusiva à re-vista ETCO, Rigotto reconhece o risco deocorrer um aumento de imposto depois deaprovada a unificação do ICMS, principalponto da reforma. No entanto, alerta que pa-ra essa lei ser votada – já está há um ano emeio parada no Congresso Nacional – é pre-ciso que o governo federal crie mecanismosde compensação aos estados que terão suasalíquotas de imposto reduzidas. “Sem segu-ro-receita não tem reforma”, afirma Rigotto.

ETCO: O Brasil tem uma carga tributária de 37% e muitos governadoresestão empenhados em compensar isso com redução de tributos. Qual aorientação, a filosofia do seu governo na questão tributária?Rigotto: A situação tributária é uma questão na-cional. Nós temos um problema, que é o ICMScom 27 legislações, e essa situação tem de mu-dar. Nós temos lutado para a reversão desse qua-dro com a unificação da legislação, para que, emvez de mais de 40 alíquotas, tenhamos apenascinco. Enquanto isso não acontecer, vamos teruma situação muito complicada, porque existeuma guerra fiscal entre estados. Estamos olhan-do, muito mais do que a situação do Rio Gran-de do Sul, dentro de um sistema tributário caó-tico como este, é a possibilidade de uma efetivamudança do sistema tributário com a unifica-ção da alíquota do ICMS.

agosto de 200522 |

Entrevista

FOTO

S: B

IÔ B

AR

REI

RA

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 22

Page 13: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 25

ETCO: O senhor acredita que isso temmais peso do que o valor do combustível?Rigotto: Não tenho a menor dúvida. O pro-blema dos combustíveis é que está dentrode um dos setores de difícil sonegação. Sevocê faz isso com outros setores, o Estadoganha com uma mão e perde com outra, por-que vão sonegar. Nesse caso, por ser emer-gencial, foi em cima de um setor em que édifícil sonegar pela forma de cobrança. Maseu gostaria de saber, já pedi ajuda ao própriosetor, por que o combustível no Estado estátão mais caro do que no restante do país.Muito acima do que o aumento do imposto,proporcionalmente falando. O importante éque isso foi uma emergência. A alíquota cai-rá 1 ponto no ano que vem e volta para 25%no fim de 2007.

ETCO: É possível baixar antes de 2007? Rigotto: A redução já foi iniciada. Antes mes-mo de entrar em vigor, o governo do Estadojá garantiu a redução da alíquota para 29%,o que representa uma queda de 1 ponto per-centual sobre o percentual originalmenteaprovado pela Assembléia Legislativa, no fi-nal do ano passado. Como havia dito, desdeque haja um aumento de arrecadação quepossa fazer frente às dificuldades financeiraspara fechar o déficit, nós somos os mais in-teressados em reduzir esse impacto, que sefez necessário para garantir o equilíbrio dascontas públicas. Já garantimos uma reduçãogradual, até o ano de 2006, que poderá, sim,ser antecipada.

ETCO: Fiscalização. Como o governo tem agido para coibir o contrabando,principalmente, pela posição geográficaestratégica do Estado para oscontrabandistas? Rigotto: Desde o primeiro ano do nosso go-verno o Rio Grande do Sul tem demonstradosua intenção de enfrentar movimentos irre-gulares na economia, principalmente aque-les ligados ao contrabando, à sonegação deimpostos e à elisão fiscal. Junto com as se-cretarias da Fazenda e da Justiça e Seguran-ça, procuramos ampliar as relações com ou-tros setores ligados ao assunto, como a Re-ceita e a Polícia Federal e os ministériospúblicos estadual e federal. Esse conjunto deorganismos acabou por criar uma força-tare-fa, que vem conseguindo bons resultados, so-

bretudo em áreas como fumo, bebidas e com-bustíveis. Estamos também coibindo a entra-da irrestrita de produtos pelas áreas frontei-riças. Recentemente, determinei a convoca-ção de 275 novos agentes fiscais, que irãoreforçar a ação da Secretaria da Fazenda. Aomesmo tempo em que combatemos essasações irregulares, na maioria das vezes crimi-nosas, abrimos perspectivas de melhoria naarrecadação de tributos que deixavam de serpagos. Estabelecemos um grupamento de po-liciamento aéreo, em Uruguaiana, na frontei-ra com a Argentina, que também atende afronteira uruguaia, buscando desestimular arealização das ações de contrabandistas.

ETCO: O senhor acredita que a crisepolítica, suscitada pelas denúncias decorrupção, possa ter algum efeitopositivo em relação à reforma tributária? Rigotto: O Congresso Nacional tem a possi-bilidade de avançar, rapidamente, nessa ques-tão e também na reforma política. A diferen-ça é o peso que o governo federal deseja im-primir para que essa discussão seja acelerada.No caso da reforma tributária, uma coisa écerta: em um regime presidencialista como onosso, se o presidente não participar, efetiva-mente, no sentido de dar respaldo e impul-sionar as articulações com os partidos queformam sua base parlamentar, o projeto nãoandará na velocidade necessária. As mudan-ças na área tributária são fundamentais paraque possamos caminhar para uma redução nacarga de tributos pagos por empresas e assa-lariados e no nível de informalidade na eco-nomia nacional. O governo já conquistouavanços com a DRU e a CPMF, mas precisadiscutir questões primordiais como o ICMSúnico e com cinco faixas de alíquotas, a des-tinação de incentivos fiscais, a consolidaçãodo seguro-receita e a criação do Fundo de De-senvolvimento Regional, que já citei.

ETCO: Qual é a reforma mais difícil, a política ou a tributária? Rigotto: O atual quadro político pode ser umfacilitador para que a reforma política seja de-batida com mais determinação pelos partidos,mas também carece de uma articulação dogoverno federal. Acredito que estamos per-dendo tempo e atrasando um processo de re-formulação que vai mexer com a vida de par-tidos e dos próprios eleitores brasileiros.

agosto de 200524 |

Entrevista

um governo muito austero e enfrentando odéficit estrutural do Estado, que é de R$ 1,2bilhão, e não tendo hoje mais aquilo que tí-nhamos, que era uma outra realidade eco-nômica. Tínhamos a inflação, que possibili-tava pôr os recursos em atividade financei-ra e multiplicá-los. Assim, cobria-se o déficitestrutural do Estado. Encobria-se o déficitestrutural. Não há mais venda de ativos. Te-ve governo que conseguiu R$ 5,5 bilhões sócom vendas de ativos. Não tem mais o cai-xa único. O governo passado deixou um dé-ficit de R$ 1,7 bilhão, tendo recebido o go-verno com superávit de R$ 300 milhões.Não há mais limite de endividamento pelaLei de Responsabilidade Fiscal. Então, es-tamos vivendo uma realidade em que nãotemos mais os remédios que existiam. Onosso remédio é corte de despesas, é fazerum governo austero, trabalhando o lado dadespesa e da receita.

ETCO: O senhor teve algum resultadoexpressivo de aumento da receita depois da elevação do imposto?Rigotto: É bom que se diga que esse aumen-to de alíquota é temporário. Foi por um mo-mento. Nós não podemos partir sempre des-ta lógica de que reduzir imposto resulta emaumento da receita. Isso vale para São Paulo,que é produtor e tem o maior mercado inter-no do país. Não vale para todos os estados. Ogrande problema que nós temos hoje é que oRio Grande do Sul vive uma situação inéditana história do Estado. Tivemos uma estiagemabsurda no fim de 2004. Perdemos de 60% a70% da safra de soja e também da safra de mi-lho. Foi a maior perda de safra dos últimos 70anos! O que estamos fazendo é ver de que ma-neira impedimos qualquer paralisação de ser-viços essenciais. Precisamos continuar a in-vestir na produção para o Estado gerar empre-go e renda.

ETCO: Especificamente no reajuste sobreos combustíveis, houve resultado?Rigotto: Com certeza. Estamos acompanhan-do mês a mês a arrecadação. O desaqueci-mento da economia hoje faz com que ocorrauma queda no consumo de combustíveis na-cionalmente. É difícil mensurar qual foi o au-mento de receita que tivemos. Ao lado dissohouve um desaquecimento da economia noEstado, determinado sobretudo pela estiagem.

gou a 18%. Os estados exportadores, sobretu-do os que têm uma balança superavitária, queexportam mais do que importam, estão tendouma perda de receita muito grande. Então, es-sa questão da Lei Kandir tem de ser regulamen-tada. Precisamos acertar isso. Em resumo sãotrês pontos que passam pela área econômica:seguro-receita, Fundo das Desigualdades Re-gionais e a regulamentação do fundo da LeiKandir. Essas questões não avançaram nos úl-timos meses e, não avançando, emperram a re-forma tributária.

ETCO: O fato de o governo federal não ter feito esse repasse foi o que levou o governo do Rio Grande do Sul aaumentar o imposto sobre combustíveis? Rigotto: Nós aumentamos no limite. O RioGrande do Sul perdeu R$ 1 milhão de recei-ta exatamente pelo não repasse do fundo daLei Kandir. Isso nos levou a enfrentar umasituação financeira difícil. Estamos otimi-zando receitas, cortando despesas, fazendo

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 24

Page 14: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Seminário

agosto de 2005 | 27

Não se pode enfrentar a situação do con-trabando de produtos falsificados na tríplicefronteira, Brasil, Argentina e Paraguai, ape-nas com ações repressivas. Enquanto nãohouver uma estratégia integrada de desenvol-vimento socioeconômico na área de Foz doIguaçu, no Paraná, a região continuará sen-do uma porta de entrada para o contrabandono país. Essa foi uma das conclusões do Se-minário Internacional de Combate Estraté-gico ao Contrabando e à Pirataria, promovi-do pelo Sindicato Nacional dos Técnicos daReceita Federal (Sindireceita), com apoio doETCO, que ocorreu em Foz do Iguaçu, emjunho. Combater o contrabando e a piratariade forma articulada e principalmente inteli-gente por parte do governo, Receita, PolíciaFederal e ministérios que lidam com a questãoe da sociedade é a saída para resolver o pro-blema que se tornou o meio de sobrevivênciade 31 mil pessoas envolvidas no contraban-do. Durante o evento, que também contoucom o apoio da ABPI, do Conselho Nacionalde Combate à Pirataria e Delitos contra a Pro-priedade Intelectual, da Câmara dos Depu-tados, da Frente Parlamentar de Combate àPirataria e à Sonegação Fiscal e da ComissãoParlamentar Conjunta do Mercosul, o presi-dente do Sindireceita, Paulo Antenor de Oli-veira, falou sobre a necessidade da criação deum projeto de qualificação de mão-de-obrana região que seja levado até às universida-des. Outra proposta foi a promoção de cam-panhas de conscientização da sociedade so-bre os males do contrabando.

O presidente-executivo do ETCO, Emer-son Kapaz, propôs a criação de um grupo nomunicípio, formado por entidades de classee empresarial, Executivo e Legislativo, paraelaborar um projeto "estrutural para a recu-peração da tríplice fronteira". A idéia seriabuscar o apoio do governo federal e doBNDES e até mesmo do Banco Mundial. Umdos principais argumentos que comprovam a

necessidade de ações que ataquem a questãosocioeconômica, em vez apenas da repressão,foi um estudo realizado pelos técnicos da Re-ceita em Foz e pelos membros do Sindirecei-ta Sergio de Paula Santos e Samuel Benck Fi-lho. O levantamento mostra que não existeuma correlação direta entre os valores de mer-cadorias apreendidas pela Receita Federal eo número de servidores envolvidos nessasações. Em 1995, por exemplo, foram apreen-didos mais de US$ 39 mil em mercadorias.Na época eram 181 funcionários. Já em 2002,com 230 servidores envolvidos, as apreensõesrepresentaram cerca de US$ 17, 6 mil. "É ne-cessário criar um programa para tirar essaspessoas dessa atividade", afirma Sérgio de Pau-la Santos. Segundo ele, os programas pode-riam vir com a criação de benefícios, como aredução de impostos, que atraíssem indús-trias para o município.

Combate integradoSeminário do Sindireceita aponta caminhos e soluções para acabarcom a entrada de produtos ilegais em Foz do Iguaçu

Cerca de 31 mil pessoas vivem do contrabandona região de Foz do Iguaçu

JUC

A V

AR

ELLA

/FO

LHA

IMA

GEM

agosto de 200526 |

Direito concorrencial

O Instituto Brasileiro de Estudos de Concor-rência, Consumo e Comércio Internacional (-Ibrac) e o ETCO se uniram para incentivar adiscussão em torno do direito concorrencial den-tro das universidades. O instrumento encontra-do pelas duas organizações foi a criação de umconcurso de monografias na área de direito eco-nômico. A primeira edição do Prêmio Ibrac-ET-CO de Monografias em Defesa da Ética Con-correncial teve seis ganhadores – três na cate-goria graduação (para universitários) e três naprofissional. A entrega da premiação foi realiza-da em maio na sede do Conselho Administrati-vo de Defesa Econômica (Cade), em Brasília.

Temas como o controle da colusão horizon-tal no mercado de combustíveis (de Luiza Sai-to Sampaio), os limites operativos do direitoe a regulação jurídica por incentivos para aredução da concorrência desleal (monografiade Leandro Alexi Franco) e o impacto negati-vo da pirataria no cenário mercadológico e asdificuldades no combate à falsificação (de Aril-son Coelho de Carvalho) impressionaram acomissão julgadora e acabaram conquistandoo prêmio na categoria Graduação.

O advogado recém-formado Leandro AlexiFranco conta que se preocupou em fazer umaabordagem teórica bem fundamentada, masque apontasse caminhos práticos. “Tento emtodas as pesquisas que desenvolvo aliar teo-ria e viabilidade”, explica. A mesma preocu-pação permeou o trabalho de Rodrigo Octá-vio de Godoy Bueno Caldas Mesquita, ganha-dor na categoria Profissional, junto comDamiela Diniz Tavares e Rodrigo HoltermannLagreca. Ao abordar a ordem econômica e a

propriedade intelectual, Mesquita conta queprocurou caminhos viáveis. “Mostro que con-corrência e propriedade intelectual não sãoexcludentes e indico meios processuais paraevitar ou reprimir violações.”

A presidente do Cade, Elisabeth Farina,acredita que iniciativas como o Prêmio Ibrac-ETCO são um estímulo importante. “A cul-tura da concorrência é muito jovem e boa par-te das escolas ainda não trata do tema com adevida atenção”, afirma. Para o presidente-executivo do ETCO, Emerson Kapaz, a par-ceria com o Ibrac coloca o assunto da con-corrência desleal na pauta dos cursos que tra-balharão com o assunto no futuro.

As monografias vencedoras estão disponíveisno site do Ibrac, uma associação civil sem finslucrativos. Segundo o presidente do Ibrac, Ubi-ratan Mattos, a entidade incentiva a realiza-ção de pesquisas, estudos e debates com a fi-nalidade de auxiliar a implantação e desenvol-vimento no país de um regime de livreconcorrência dentro de uma política de eco-nomia de mercado.

www.ibrac.org.brwww.etco.org.br

Prêmio Ibrac/ETCO ajuda a preparar uma nova geração de profissionais comprometidos com o direito concorrencialAna Paula Franzoia

A ética em estudo

No alto, os vencedores do Prêmio Ibrac. Na foto acima, Ubiratan Mattos, Elisabeth Farina e Emerson Kapaz

FOTO

S: D

IVU

LGA

ÇÃ

O

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 26

Page 15: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

28 |

Batalha contra a informalidade

As ações dos setores da indústria que integramo ETCO na guerra contra a sonegação fiscal, ocontrabando e a falsificação de produtos no Bra-sil começam a gerar um saldo positivo. Graçasàs operações conjuntas da Receita Federal, dosgovernos estaduais, das polícias federal, estadual,rodoviária e das entidades civis, algumas bata-lhas estão sendo vencidas. Vale ressaltar, porém,que o caminho para acabar com a economia ile-gal é longo. Por isso, a guerra continua. A seguir,as boas notícias em cada um dos setores.

REFRIGERANTENos últimos dois anos, a participação de pro-

dutores de refrigerante que sonegam caiu para27% (de 33%, que foi o ápice da sonegação nosetor, em 1999) graças a medidas tomadas pelaReceita Federal como o recolhimento do PIS/Co-fins na etapa da matéria-prima e não na fabrica-ção.Isso reduziu substancialmente a margem demanobra para sonegar, pois o processo facilita afiscalização já que os produtores de matérias-pri-mas para embalagens são poucos se comparadosaos de refrigerantes. Mesmo assim, as perdas emarrecadação no setor chegam a R$ 600 milhões.

Há, porém, outros avanços a se comemorar co-mo a exigência da implantação dos medidores devazão na linha de produção de refrigerantes, se-guindo o que ocorreu com o setor de cervejas,que está fazendo com que alguns produtores queapostavam na concorrência desleal procurem seenquadrar logo para não despertar suspeitas. Comos medidores de vazão será possível controlargrande parte dos 12 bilhões de litros fabricadosanualmente nas centenas de linhas de produçãodos fabricantes de refrigerante em vez de fisca-lizar milhões de notas fiscais em todo o país. Pa-ra se ter uma idéia do tamanho do mercado, em1994 existiam 50 produtores. Esse número pu-lou para 835 fabricantes em 2004. A partir de1993, a indústria cresceu mais de 100%, sendoque em 1994 o crescimento atingiu 40% sobre oano anterior. Parte importante desse boom após1994 veio da informalidade devido, principalmen-te, à alta carga tributária do setor aliado à difi-culdade de fiscalização de um número tão gran-de de produtores. De 2003 para cá, o setor co-meçou a obter vitórias na luta contra aconcorrência desleal e conseqüentemente a par-ticipação da industria formal voltou a crescer.

Luz no final do túnelOs avanços e as vitórias na luta das empresas éticas contra a con-

corrência desleal na economia brasileira

agosto de 2005 agosto de 2005 | 29

COMBUSTÍVELUma das principais armas do setor de combus-

tíveis na luta contra as fraudes e a sonegação fis-cal tem sido a cooperação e a troca de informa-ções entre os órgãos públicos, responsáveis pelafiscalização destes ilícitos, e as organizações ci-vis como o Sindicom (Sindicato Nacional das Em-presas Distribuidoras de Combustível e de Lubri-ficantes) e o ETCO.

Os resultados podem ser observados nos avan-ços, principalmente nos dois últimos anos, quevão desde o aumento das ações da Polícia Fede-ral, como a Operação Poeira no Asfalto, à criaçãoeste ano da Delegacia Especializada para Com-bustíveis no Estado de São Paulo, única no país,pelo governador Geraldo Alckmin.

Apesar de todas as ações, em 2004 foram vendi-dos ilegalmente no Brasil cerca de 4 bilhões de li-tros de álcool (anidro e hidratado).A boa notícia éque nos últimos dois anos não houve um único ca-so de liminar com efeito econômico. Isso é resul-tado do trabalho da Procuradoria Geral da Fazen-da Nacional, com apoio do Sindicom e da Petro-bras. Além disso, cresceram as ações de repressãoà adulteração e produção clandestina desenvolvi-das pela ANP, Polícia Federal, Secretarias de Fa-zenda Estaduais e pelo Ministério Público.

Infelizmente, é preciso observar que os empre-sários desonestos migram de uma ação para ou-tra, quando as autoridades dão foco no combatea um determinado ilícito. A partir de 2003 quan-do conseguiu-se vitórias na questão tributária,houve um agravamento na adulteração de com-bustíveis. Somente com ações coordenadas dasautoridades: Polícias, Secretarias de Fazenda, Re-ceita Federal, Procuradoria da Fazenda Nacionale Ministério Público, com a ajuda da sociedade,será possível inibir práticas que prejudicam o con-sumidor e o país.• Impacto das Ações Contra a Sonegação Fis-cal – Com a redução da alíquota de ICMS do ál-cool hidratado de 25% para 12%, no Estado deSão Paulo, houve um crescimento de 68% nasvendas do mercado formal devido à redução dasonegação.• Adulteração com Solventes – Na gasolina osimpostos chegam a atingir cerca de 50% de seupreço final. Como os solventes, usados na mistu-ra clandestina, têm uma tributação menor, tor-na-se atrativa esse tipo de prática que causa pre-juízos ao consumidor, pelos danos aos veículos,e ao erário público pela apropriação da diferen-ça do tributo. H

ELEN

AC

OR

TEZ

ETCO_03 13/04/2007 15:49 Page 28

Page 16: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Batalha contra a informalidade

agosto de 200530 |

FUMOO mercado ilegal de cigarros no Brasil é compos-

to por contrabando, falsificação e evasão fiscal. Gra-ças às ações de repressão por parte da Secretaria daReceita Federal, da Policia Federal, da Policia Ro-doviária Federal, e também das polícias estaduais emunicipais, os volumes do comércio ilegal de cigar-ros vêm caindo desde 2000. De um total de 46 bi-lhões de cigarros naquele ano (33% do consumo to-tal), o mercado ilegal declinou para 37 bilhões em2004 (29% do consumo total). Nos primeiros cin-co meses de 2005, o comércio ilegal atingiu 14 bi-lhões de cigarros ou 28%. Os prejuízos para o erá-rio público foram de 1,7 bilhão de reais em 2004.• Falsificação: O volume de cigarros falsificadosatingiu 3 bilhões em 2004, uma redução de 63%se comparado ao volume de 2000 que chegou a 8bilhões. A tendência de queda aumenta em 2005,com os volumes até maio atingindo 200 milhõesde cigarros, graças às ações dos órgãos policiais. • Contrabando: O volume atingiu 37 bilhões decigarros no ano 2000, reduzindo-se a 19 bilhõesem 2004, numa queda de quase 50%. Até o mêsde maio deste ano, o volume foi de 7,6 bilhões.Isto ocorreu graças às ações de repressão da PFe da PRF. Vale destacar as Operações Cataratas,Hidra e Comboio. • Evasão Fiscal: Infelizmente, boa parte do esfor-ço do governo no combate ao contrabando e falsi-ficação vem sendo perdido em função da evasãofiscal por algumas empresas. O volume de cigarrosproduzidos por elas aumentou de 1,3 bilhão em2000, para 15,6 bilhões em 2004, num crescimen-to de mais de 1000% em 4 anos. A tendência con-tinua em 2005, pois os volumes chegaram a 7,6 bi-lhões de cigarros até o mês de maio. A evasão fis-cal fica clara quando se compara o valor do IPIrecolhido em relação à participação de mercado.Em 2004, duas empresas que representaram 85%do volume de cigarros produzidos recolheram 99,7%do IPI correspondente, enquanto outras 14 empre-sas recolheram apenas 0,3% do IPI, apesar de se-rem responsáveis por 15% da produção nacional.Outra evidência de evasão são os preços praticadospor essas empresas, que vendem produtos a preçosinferiores a 1,00 real por maço, enquanto o preçomínimo para pagar os impostos e cobrir os custosgira em torno de 1,40 reais por maço. A evasão fis-cal é a grande ameaça no setor que, em 2004, atin-giu 700 milhões de reais. Isto apesar do constantecombate a este ilícito por parte da Secretaria daReceita Federal, que já aplicou multas de mais de2,5 bilhões de reais nos últimos anos.

agosto de 2005 | 31

CERVEJAA grande novidade no setor de cerveja é o Pai-

nel de Controle que está sendo desenvolvido pe-la Fundação Getúlio Vargas, a partir de uma par-ceria com o ETCO. O Painel de Controle é umsistema gerencial de informações que vai reuniros dados de produção real dos contribuintes ob-tidos pelos medidores de vazão, equipamentos queforam instalados em cada uma das 160 enchedo-ras existentes no Brasil. Sua função será tratar eagrupar as informações e cruzar os dados de vo-lume produzido com outros como participação demercado de todas as marcas, guias de recolhimen-to efetivo de cada contribuinte e dados de reco-lhimentos relativos a insumos. Uma vez instaladoo medidor de vazão, a informação de volume pro-duzido nas cervejarias vai diariamente via modempara a Receita Federal. No final de cada mês, aReceita verifica os números de produção de cadacervejaria e compara com a arrecadação. A idéiaé que o Painel de Controle auxilie a Receita noprocesso de fiscalização, indicando em quais con-tribuintes há indícios de anomalia fiscal. A Fun-dação Getúlio Vargas deve terminar este projetopor volta de setembro. Assim que ficar pronta, a

nova ferramenta de controle será entregue peloETCO à Receita Federal.

O Painel de Controle é mais um avanço do se-tor de cerveja rumo ao combate à sonegação. Osegmento vem passando por um processo de ade-quação, de construção de uma estrutura tribu-tária ideal para o desenvolvimento econômico.Esse movimento de redução das brechas para asonegação começou em 1989, com a implemen-tação da alíquota específica para o IPI no setorde bebidas, que é aquela alíquota com valor ab-soluto e não por percentual. Ela facilitou a fis-calização, pois fica muito mais fácil para o go-verno apurar o imposto sabendo que uma uni-dade do produto custa tantos reais de impostoem vez de ter de aplicar um percentual sobreum preço totalmente manipulado pelo contri-buinte. A alíquota específica precifica o impos-to. Ela define, por exemplo, que o imposto dagarrafa de 600ml é X e isso facilita a fiscaliza-ção e evita engenharias fiscais de empresáriosdesonestos. Em 2003, o Congresso Nacional im-plementou o mesmo regime para o PIS e o CO-FINS. Foi mais uma ação comemorada pela in-dústria cervejeira.

ETCO_03 13/04/2007 15:49 Page 30

Page 17: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 33

RO

BER

TO C

AST

RO

Barreto: A Secretaria Nacional de Segurança Pú-blica está incentivando a instalação de delegaciasespecializadas de combate à pirataria. É precisotambém treinar os policiais. Por isso vamos in-troduzir nas academias de polícia a disciplina dePropriedade Intelectual.

ETCO: Essa é uma ação exclusivamente de governo?Barreto: Não. É uma ação da sociedade, que en-volve as indústrias, o consumidor, as polícias e ogoverno. Eu acho que reflete muito o lema “O Bra-sil contra a pirataria”. Nesse sentido, o ETCO éum pioneiro no combate à concorrência desleal. Otrabalho que o ETCO tem feito é muito sério.Emerson Kapaz tem se mostrado muito receptivoquanto à idéia de coordenar as empresas e fazer

um fundo de investimento para uma campanha.

ETCO: No ano passado, o presidente da China esteve no Brasil. Houve algumcompromisso quanto à pirataria?Barreto: O Brasil e a China assinaram um acor-do de cooperação policial de combate ao crimeorganizado. O acordo tratava de narcotráfico etráfico de pessoas na primeira versão. Então pro-pusemos, e a China aceitou, incluir também a pi-rataria e a propriedade intelectual.

ETCO: O que falta para o combate à pirataria?Barreto: Falta o despertar nacional para a pirata-ria. Esse despertar está sendo trazido pela união deesforços da iniciativa privada com a área pública.A pirataria é um mal que tem de ser estirpado.

agosto de 200532 |

Entrevista

bate à pirataria. O plano é dividido em três ações:educativa, repressiva e econômica. Na fase um,estruturamos um órgão nacional, que tem inter-face com a área privada. Montamos uma estraté-gia com 99 ações e partimos para a repressão. Is-so já resultou em 122% a mais de apreensões en-tre janeiro e abril deste ano, em comparação como mesmo período de 2004.

ETCO: As operações desse tipo continuarão?Barreto: Sim. Vários depósitos de abastecimentoserão estourados. Cada grande centro tem galpõesque de manhã cedo recebem filas de vãs que abas-tecem as feiras. Vamos agir nesses depósitos, nasfronteiras, nas rodovias.

ETCO: E a fase dois, como será?Barreto: Atacaremos a causa do problema que es-tá vinculada a dois fatores: à falta de percepçãodo consumidor sobre as conseqüências de com-prar um pirata e à diferença de preços entre o ori-ginal e o pirata. Vamos mostrar ao consumidorque, ao comprar um produto pirata, ele está ali-mentando a cadeia do crime organizado.

ETCO: Quais são os riscos que correm osconsumidores de piratas?Barreto: O Código do Consumidor foi um dos gran-des avanços da sociedade brasileira. Se eu comproum DVD, óculos ou um relógio, tenho de ter a mi-nha expectativa de consumo satisfeita. Quando secompra um produto pirata, não há garantia.

ETCO: Há riscos para a saúde também?Barreto: Evidentemente. A análise dos brinquedosque vêm do Sudeste Asiático já mostrou que, em al-guns casos, há metais pesados na composição doplástico. Uma análise recente de um desses brinque-dos detectou que parte da composição do plásticoera de resíduo de lixo hospitalar.

ETCO: Além da repressão, quais medidasdevem ser tomadas?

Caça aos piratasConheça o trabalho de Luiz Paulo Barreto, presidente do Conselho Na-

cional de Combate à Pirataria, na luta contra o comércio de produtos

falsificados Por Felipe Recondo Freire, de Brasília

Com menos de um ano, o ConselhoNacional de Combate à Pirataria eDelitos contra a Propriedade Intelec-tual mostra seus primeiros resultadose já inicia uma nova fase. Em nove

meses, as apreensões de mercadorias pirateadascresceram 122% nas ações de repressão da Polí-cia Federal, de acordo com o presidente do con-selho, Luiz Paulo Barreto. A primeira dessas ações,chamada de Operação Cataratas, em Foz do Igua-çu (PR), já está em sua segunda etapa e levou me-lhorias, inclusive, à segurança da cidade e ao co-mércio local. Operações como essa, com a partici-pação conjunta da Polícia Federal, da ReceitaFederal e da Polícia Civil, continuam, mas o focoprincipal será combater a demanda dos consumi-dores por piratas. Barreto revela, em entrevista ex-clusiva à revista ETCO, o que está sendo feito.

ETCO: As feiras de produtos piratascontinuam cheias mesmo com os esforços do governo? Por quê?Barreto: Nos últimos 20 anos, a pirataria tem sidovista de maneira romântica, vinculada a fenômenossociais, problemas de desemprego. Por isso, ficoutanto tempo sem ser combatida como um crime.

ETCO: Essa foi a razão para a criação do conselho?Barreto: Sim. Em 2001, o governo criou o comi-tê interministerial de combate à pirataria, maseste tinha apenas uma visão educativa. Percebe-mos que a pirataria passou a ser operada por umarede organizada que cuidava tanto da produçãocomo da distribuição. Preocupado com isso, o pre-sidente Lula criou o conselho. O governo enten-deu que o problema da pirataria não é social, évinculado ao crime organizado.

ETCO: Qual é a estratégia do conselho? Barreto: O conselho é o único no mundo a ter oenvolvimento da sociedade civil, que participou,inclusive, da elaboração do plano nacional de com-

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 32

Page 18: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 35

nomia formal, inibindo fraudes e incentivan-do a legalização daqueles que buscam a ile-galidade em conseqüência das crises da eco-nomia formal. A história colonial, sob esse as-pecto, é das mais ricas, porque foi uma épocamarcada por generalizada desobediência à le-gislação. E não era por motivos políticos, co-mo se pode supor à primeira vista. Aconteciaque a Coroa cobrava direitos que absorviamgrande parte do lucro líquido dos negócios,sobretudo da mineração. Em conseqüência,grassava o contrabando e falsos ourives pira-teavam as marcas oficiais, transformando-asem obras grosseiras de ourivesaria.

O peso da burocraciaO governo fechava oficinas, prendia ouri-

ves sem licença, infligia castigos físicos aosfaltosos e deportava-os. De nada adiantava.Só conseguia elevar o caudal de protestos edesorganizar a economia. Isso porque fora er-guido um muro bastante visível entre o Bra-sil que queria produzir e o governo que an-siava por arrecadar e controlar. A saída foirender-se ao bom senso. Estranhamente, omesmo governo colonial que soube ter a sen-sibilidade para reduzir impostos nada fez pa-ra que a burocracia fosse reduzida. O mar-quês de Pombal, por exemplo, ao morrer, em8 de agosto de 1782, apeado do poder e con-denado a pagar pesadas penas por seus cri-mes, deixou no espólio algo como 10 mil car-tas – sim, 10 mil cartas – sem serem sequerabertas. Ele controlava tudo: o comércio, anavegação, a censura de livros – e não erampoucos os livros proibidos, sob pena de pri-são e degredo –, as prisões, a administração,o ensino. Por mais de duas décadas o chama-do déspota esclarecido deixou suas marcasnum emaranhado de leis, decretos, contro-les, que se projetariam como uma sombra dassuas cinzas sobre a economia e a vida cotidia-na não só portuguesa como brasileira até osdias atuais.

A competência especial de Pombal para li-dar com a burocracia era o espelho da suavontade de poder. Era movido pela seduçãode governar por decretos e impor suas vonta-des, arrastando Portugal e a Colônia para es-colhas que não eram da sociedade, mas delee do seu grupo de acólitos. Houve, contudo,este aspecto positivo do seu governo: reduzirimpostos para tornar o crescimento linear e

irreversível, na Corte, acossada pela pobre-za, sem dinheiro para pagar credores e se-quer salários dos soldados, e da Colônia,em permanente estado de rebeldia.

Novos temposHoje o fenômeno da ilegalidade se repe-

te, guardadas as proporções no tempo, mascom um trunfo que não pode ser jamais es-quecido. Nos idos 1751 grassava o gover-no autoritário do marquês de Pombal, quefoi um herdeiro, à direita, das contunden-tes reações da Europa iluminista ao domí-nio dos monarcas e da Igreja. Agora o país,além de não ser mais colônia há quase doisséculos, vive plena e estável democracia.Pode-se argumentar que os escândalos en-volvendo a gestão do Estado e o partido nogoverno são uma ameaça e que as institui-ções brasileiras não são nenhum rochedo.

Aliada valiosaÉ uma falsa questão. A democracia bra-

sileira mostra-se sólida e, portanto, a tem-pestuosa gestação do seu amadurecimen-to só revela o quanto é árduo para a socie-dade ter as rédeas do destino nas mãos.Não é diferente quando o tema é a éticana concorrência. Impostos podem ser re-duzidos, a burocracia simplificada. Masnada disso vai acontecer como se as refor-mas fossem um boneco mecânico em quebasta dar corda para que funcione. Não éassim. Vai exigir coerência e vontade polí-tica para abrir as portas corrediças da mo-dernidade e colocar a ética, na concorrên-cia e em todo e qualquer campo de ativi-dade, na esteira rolante de um novo tempode mudanças e evolução. É o que já come-ça a acontecer neste momento em que opaís está sendo passado a limpo e seus pon-tos obscuros questionados à exaustão. Umprocesso que evolui sob o signo da demo-cratização dos frutos do desenvolvimentoe da Justiça, de maneira duradoura e, so-bretudo, concreta, ao alcance do cidadão.Em tempo: quem quiser saber mais a res-peito de Pombal e sua época basta ler a ex-celente biografia do ilustre déspota escri-ta por João Lúcio de Azevedo em 1909,agora reeditada pela Casa Alameda.

* Jornalista e escritor

agosto de 200534 |

História

Acredite na boa notícia: o governo,numa iniciativa inédita, reduziuos impostos e, com isso, estancoua sonegação, ampliou a base decontribuintes e, o que é ainda

mais positivo, como a arrecadação cresce ra-pidamente, está inaugurando um novo ciclode investimentos. Ficção? Não. O fato real-mente aconteceu, só que no distante ano de1751, quando o governo português, assusta-do com a brutal evasão fiscal nas minas deouro e diamantes no Brasil e os graves prejuí-zos que a burocracia excessiva vinha causan-do ao comércio internacional de tabaco e açú-car, resolveu passar à ofensiva.

Além de suspender as famigeradas derra-mas, para cobrar os impostos atrasados, sua-vizou a carga tributária, fixando limites míni-mos, arbitrados a cada ano, inferiores ao quin-to cobrado nas casas de fundição, e aindaeliminou a dispendiosa formalidade dos negó-cios de exportação. Os resultados não demo-raram a aparecer. Nas minas, antes semipara-lisadas, com os trabalhadores indo buscar for-tuna em outras paragens, a produção renasceue já em 1753 o Tesouro arrecadava a fabulo-

sa quantia de 400 mil libras esterlinas. Commenos papelada e concedendo abatimento dametade dos impostos aos produtos destinadosao exterior, em breve fez desaparecer os gran-des estoques de tabaco e açúcar que trazia aruína para os negociantes.

No dizer do historiador Robert Southey, es-sa foi a “idade do ouro” do governo português.Sobrou dinheiro, inclusive, para investir naindustrialização, que, ao contrário da inglesa,carecia de capitais do Estado para avançar.Fica a pergunta: esse episódio tão pouco co-nhecido, mas que de fato aconteceu, não po-deria inspirar atitude semelhante do governobrasileiro neste momento em que se volta aenfatizar o tema da reforma tributária? O pri-meiro desdobramento seria um choque de de-senvolvimento, com impactos dos mais signi-ficativos na criação de empregos formais e nadistribuição de renda.

Herança colonial Ao mesmo tempo seria dado um salto de-

cisivo para desatar o nó da concorrência ile-gal. A redução de impostos e da burocraciateria o imediato condão de revitalizar a eco-

No século XVIII o governo decidiu reduzir impostos, mas esqueceu a burocracia Francisco Viana*

Uma liçãodos temposdo Império

A sede de poder do marquês do Pombal resultou em burocracia

REP

RO

DU

ÇÃ

O

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 34

Page 19: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Emissora exibe filmes sobre valores éticos e, junto com o ETCO, convida o telespectador a refletirAna Paula Franzoia

Comunicação

agosto de 2005 | 37

Durante os primeiros 15 dias de junho mi-lhões de telespectadores que sintonizaram aprogramação da Rede Globo assistiram a umasérie de cinco filmes chamando a atenção pa-ra o desrespeito aos valores éticos. Era umconvite à reflexão sobre os prejuízos causa-dos ao país e aos valores humanos por postu-ras antiéticas, muitas delas presentes no dia-a-dia e, por isso mesmo, aceitas como atitu-des dentro da normalidade. Cada um doscomerciais redroduzia situações aparente-mente corriqueiras, mas com cidadãos em ati-tudes condenáveis.

O eleitor que não lembra em quem votou, omédico que não emite notas, o funcionário pú-blico descomprometido com o bem comum, osonegador que faz de tudo para não pagar im-postos e o mau fiscal foram os exemplos pin-çados da realidade pelo diretor Domingos deOliveira. A assinatura da campanha deixavaclaro que atitudes antiéticas são exceção, e nãoregra. A frase narrada pela atriz Fernanda Tor-res demonstrava a posição da maioria dos bra-sileiros: “Não, não é esse tipo de brasileiro queeu quero para o meu país”.

A campanha é fruto de uma parceria entreo ETCO e a Rede Globo, responsável pela pro-dução dos filmes, e contou ainda com a idea-lização do cineasta Domingos de Oliveira, quehá tempos pensava em criar algo abordandoposturas antiéticas. “A Globo compartilha osmesmos valores do ETCO e achamos que o te-ma merecia ser tratado amplamente, já que é

de interesse de toda a população”, explica LuísErlanger, diretor da Central Globo de Comu-nicação. O presidente-executivo do ETCO,Emerson Kapaz, conta que o objetivo da açãofoi bem delineado: “Propor à sociedade umareflexão em torno de práticas e hábitos infor-mais, proscritos por lei, que no dia-a-dia mui-tas vezes são considerados normais”.

O resultado superou as expectativas. O nú-mero de acessos ao site do ETCO cresceu aolongo da campanha de 2 mil para 11 mil.“Além de incentivar a reflexão, a campanhaajudou a popularizar o ETCO e seus objeti-vos”, afirma Erlanger. Tamanha exposiçãotambém gerou polêmica e algumas vozes dis-cordantes, como a de entidades representan-tes de fiscais de tributos estaduais, que con-sideraram a campanha ofensiva a toda a ca-tegoria. “Sabíamos que discutir valores éticosenvolvendo, por exemplo, funcionários públi-cos e fiscais resultaria em polêmicas, mas ha-via também a consciência de que situaçõesdelicadas exigem atitudes firmes e corajosas”,explica Kapaz.

Por enquanto não há previsão para a reexi-bição da campanha. “Concluímos que esse ti-po de ação funciona com o impacto, e não coma repetição”, diz Erlanger. A mensagem foi pas-sada e Kapaz ressalta que, mais do que indig-nação, a ética é ação. “Um bem público cons-truído por todos, com pequenos gestos e ati-tudes que tornam a ética indissociável da rotinacotidiana.”

ETCO na tela da Globo

DIV

ULG

ÃO

Site de programa idealizado pelo Ministério da Justiça permite verificar desde a compra de um lápis até as viagens dos servidores

agosto de 200536 |

Mundo virtual

Através do site do programa Trans-parência do Ministério da Justiça(www.mj.gov.br/transparencia), qual-quer cidadão pode acompanhar osgastos e ações do órgão federal. A ini-ciativa faz parte do Programa deTransparência, lançado em dezembrode 2004, com o objetivo de evitar atosde corrupção e desperdício. Na pági-na, no ar desde abril, estão disponí-veis desde a execução, mês a mês, doorçamento das unidades do ministé-rio, a íntegra de convênios e contra-tos, até as passagens e diárias pagas,incluindo o nome dos servidores queas utilizaram. A eficácia do site levouo presidente Luiz Inácio Lula da Sil-va a adotar a iniciativa como modelopara os outros ministérios. A imple-mentação ocorrerá nos próximos me-ses e foi anunciada no IV Fórum Glo-bal de Combate à Corrupção, reali-zado em junho, em Brasília.

Para que qualquer pessoa possa seaprofundar em detalhes até entãoinéditos na esfera governamental, alinguagem usada é acessível. “Incluí-mos até um banco de preços, paraque o internauta possa saber quan-to pagamos por um simples lápis”,explica Gláucia Elaine de Paula,coordenadora do Programa deTransparência. Em maio entraramno ar os orçamentos do Departa-mento de Polícia Federal, do Depar-tamento de Polícia Rodoviária Fede-ral e dos órgãos vinculados – Fun-dação Nacional do Índio (Funai) eConselho Administrativo de DefesaEconômica (Cade), como parte dasegunda etapa de implementação doprojeto. Por meio do Fale Conosco,a coordenação do programa tem re-cebido sugestões, elogios e até de-

núncias – devidamente encaminha-das para averiguação. “Recebemosem média 15 mensagens por dia”,conta Gláucia.

“Essa é uma importante ferra-menta para que a sociedade fiscali-ze a administração do ministério”,avalia o ministro Márcio ThomazBastos. Por meio das informaçõesdivulgadas, o cidadão também po-de controlar a eficiência do órgão,já que terá acesso aos atos, valores,prazos e resultados previstos nasações da pasta. O ministro do Con-trole e da Transparência, Waldir Pi-res, ressaltou a importância do tra-balho conjunto entre o Ministérioda Justiça e a Controladoria-Geralda União como exemplo de um tra-balho de equipe bem-sucedido.“Creio que é com ações como a des-se portal que vamos fundar nossa

República. Estamos fazendo algu-mas coisas, no governo Lula, quenunca foram feitas”, afirmou.

A primeira etapa do Programa deTransparência foi marcada pelo lan-çamento do site. A segunda, que co-meçou no final de maio, pretende au-mentar o rigor na checagem e noacompanhamento dos procedimen-tos administrativos existentes, espe-cialmente os que envolvem maiormontante de recursos, com ênfasenas ações preventivas. Pela páginatambém é possível acompanhar osprocedimentos disciplinares, comosindicâncias e apurações de desvio deconduta funcional. “Dá para saberquantas sindicâncias estão em curso,as penalidades aplicadas pelo minis-tério, Polícia Federal e outros órgãosligados ao MJ”, explica a coordena-dora do programa.

Contra corrupção: internet!

“Recebemos 15 mensagens por dia”, conta Gláucia, coordenadora do programa

DIV

ULG

ÃO

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 36

Page 20: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

agosto de 2005 | 39

em vista interesses dos que atuam em seusterritórios, tivesse competência para criar tri-butação diferenciada para determinados se-tores, a discriminação de rendas tributáriase as normas gerais que lhe dão consistênciapoderiam ser seriamente afetadas. Imaginem-se, a propósito, regimes especiais em maté-ria de ISS ou até de ICMS introduzidos pe-las legislações locais sob a alegação de evitarproblemas concorrenciais. Isso inviabilizariao trato uniforme dessas questões no territó-rio nacional, prejudicando a lógica internado sistema e possibilitando o surgimento deinúmeros conflitos federativos, sobretudoquando as operações realizadas repercutemem mais de um território. Na verdade, pode-ria prestar-se a ser meio de acirrar a guerrafiscal, se cada um, a pretexto de combatê-la,pudesse adotar quaisquer normas que lhe pa-recessem adequadas.

O campo próprio para a lei complementar,nessa matéria, consiste ou no regramento desituações tributárias que possam envolver de-sequilíbrios como os ora considerados, ou noestabelecimento de critérios especiais aplicá-veis às legislações locais se se verificarem si-tuações da mesma ordem, cujos traços con-ceituais sejam dados pela lei nacional.

A União tem competência para legislar so-bre essa matéria por lei ordinária ou, sendoo caso, medida provisória. Problema interes-sante prende-se à eventual submissão de taisnormas às constantes do CTN. Em princípio,parece que sua validade há de aferir-se emfunção de seu objetivo. Devem elas respeitara lei complementar de normas gerais à medi-da do que seja possível e desde que não pre-judique o atingimento de seus objetivos. Senão for possível, poderá ser criado regramen-to diverso, até porque sua fonte é a própriaConstituição. O limite dessa competência éque não haja meio menos gravoso para atin-gir as finalidades pretendidas, isto é, que se-ja necessário, dentro de parâmetros de razoa-bilidade (proporcionalidade), o estabeleci-mento de regras especiais para regularsituações para as quais a disciplina normalexistente seria insuficiente. De resto, se pa-ra regular a matéria no âmbito de estados emunicípios é possível dispor de forma dife-rente do previsto no CTN, até porque, no ca-so, o veículo próprio é a lei complementar,não teria sentido que a União, detentora damesma competência, embora por lei ordiná-

ria, ficasse sujeita às regras gerais. Inter-pretação diferente tornaria inócua a com-petência excepcional que lhe é conferida.

Assinale-se que o desequilíbrio concorren-cial pode verificar-se no plano normativo oudecorrer da conduta de contribuintes. Nãohá necessidade de constatar-se abuso ou ilí-cito para que sejam editadas normas funda-das no dispositivo constitucional comenta-do. Basta a identificação objetiva do desvio.

Por fim, observe-se que não se trata decompetência excepcional à margem do sis-tema. Antes, o que se pretende é lhe dar con-sistência, harmonizando-se princípios cons-titucionais relativos à ordem econômica comos que são próprios da ordem tributária.

Concluindo, é importante que não só ospoderes públicos, mas também as empresase os operadores do Direito tomem consciên-cia do conteúdo do dispositivo constitucio-nal que possibilita a edição de normas quepodem ser instrumentos eficazes no comba-te a práticas, geralmente abusivas, que tan-to têm afetado a concorrência.

* Hamilton Dias de Souza é advogado especializado em Di-reito Tributário.

PEPE

CA

SALS

agosto de 200538 |

Artigo

AEmenda Constitucional 42/03 in-troduziu interessante dispositivoque tem por objetivo prevenir de-sequilíbrios concorrenciais provo-cados por elisão, evasão fiscal ou

práticas relacionadas com matéria tributáriaque, de alguma forma, impliquem vantagemcompetitiva. É interessante ressaltar que, pe-la primeira vez, em sede constitucional, cogi-ta-se das repercussões que o tributo podeacarretar nesse campo da ordem econômica.

O art. 146-A da Constituição Federal, queregula a matéria, tem a seguinte redação: “LeiComplementar poderá estabelecer critérios es-peciais de tributação, com o objetivo de preve-nir desequilíbrios da concorrência, sem prejuí-zo da competência de a União, por lei, estabe-lecer normas de igual objetivo”.

Pretende-se, neste breve estudo, extrair osentido da norma comentada, para, a partirdisso, apontar suas diferentes aplicações.

O texto citado indica que poderá ser edita-da lei especial que trate de determinadas ma-térias, adotando critérios diferentes das de-mais, não as revogando, pois a relação é en-tre normas gerais e especiais.

A afirmação preliminar de que se trata denorma especial é relevante para o efeito deevitar alegação de contrariedade à isonomia.De fato, se o que se busca é a regulação deuma determinada situação que causa emba-raços a uma justa concorrência, há possibili-dade de criação de norma vocacionada a eli-minar ou atenuar esses efeitos deletérios. Ofato de envolver trato diverso do existente pa-ra as demais situações, em que não se verifi-ca desvio concorrencial, não implica, neces-

sariamente, quebra da isonomia.Explica-se a razão de ser da norma consti-

tucional comentada. É que, em sua ausência,há dificuldade séria de regular determinadossetores de forma diferente dos demais. Issoocorre, por exemplo, quando se adota sistemamonofásico apenas para certos produtos, tri-butação fixa, ao invés de ad valorem, para osque são objeto de elisão ou evasão fiscal, sis-temas especiais de fiscalização e recolhimen-to para certas empresas etc. Em todos essescasos, os interessados geralmente argumen-tam ter havido tratamento discriminatório, oque poderia implicar inconstitucionalidade ouviolação às normas do CTN, que têm eficáciade lei complementar. Para viabilizar regramen-to especial que se compatibiliza com o prin-cípio da isonomia e não viola a lei complemen-tar de que trata o art. 146, introduziu-se, naConstituição, o art. 146-A. Importante assi-nalar que se trata de dispositivo que, de umlado, cuida de matéria tributária, mas, de ou-tro, tem por objetivo evitar práticas que dese-quilibram a concorrência. Como se percebe,tratando-se do princípio da livre concorrên-cia, cuja eficácia se pretende afirmar para evi-tar desvios, há justificativa para afastar a in-vocação de quebra da isonomia.

Observe-se que só a lei complementar po-derá regular questões relativas a tributos es-taduais e municipais. Isso se justifica paraevitar que, a pretexto de coibir desvios con-correnciais tributários, sejam editadas nor-mas que contrariem a organicidade do siste-ma e possam, elas próprias, criar dificulda-des à normal competição entre as empresas.De fato, se cada Estado ou município, tendo

Hamilton Dias de Souza

“É importante que não só os poderes públicos, mas também

as empresas e os operadores do Direito tomem consciência

do conteúdo desse dispositivo constitucional”

Em defesa da boa concorrência

ETCO_03 13/04/2007 15:35 Page 38

Page 21: Que país será este? - Instituto Brasileiro de Ética ... · mover na economia peruana uma cultura de ... CO. “Trata-se de uma contribuição para a ... Três cenários para o

Rua Viradouro, 63 - Cj. 61 - Itaim Bibi - São Paulo, SP - CEP 04538-110www.etco.org.br

O Instituto Brasileiro de Ética Concor-

rencial – ETCO – é uma organização sem

fins lucrativos que congrega entidades

empresariais e não-governamentais com

o objetivo de delimitar parâmetros éticos

para a concorrência e estimular ações efi-

cazes contra a evasão fiscal, a falsificação

de produtos e o contrabando. Fruto da

iniciativa de empresas brasileiras dos se-

tores de combustíveis, cigarros, cervejas

e refrigerantes, suas atividades transcen-

dem o caso de empresas e setores espe-

cíficos para englobar o conjunto da eco-

nomia, contribuindo para o desenvolvi-

mento sustentado e a criação de postos

de trabalho.

33529 Contracapa 8/4/05 5:08 PM Page 40