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R E L A T Ó R I O F I N A L M E S T R A D O I N T E G R A D O E M M E D I C I N A 2 0 1 3/ 2 0 1 4 E S TÁ G I O P R O F I S S I O N A L I Z A N T E

R E L A T Ó R I O F I N A L - RUN: Página principal · propostos e as metas atingidas. Por último, ... área do Seixal, pois permitiu-me observar a importância do contexto socioeconómico

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R E L A T Ó R I O F I N A L M E S T R A D O I N T E G R A D O E M M E D I C I N A

2 0 1 3/ 2 0 1 4

E S TÁ G I O P R O F I S S I O N A L I Z A N T E

Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

E digo-vos que a vida é de facto obscuridade excepto onde háarrebatamento,

E todo o arrebatamento é cego excepto onde há saber, E todo o saber é vão exceptoonde há trabalho

E todo o trabalho é vazio excepto onde há amor.

E o que é trabalhar com amor? É pôr em todas as coisasque fazeis Um sopro do vosso espírito.

Khalil Gibran

Carolina Manuel da Costa Horta de Almeida

6º ANO, 2013/2014 -TURMA 1

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

Í N D I CE

I. Introdução ...............................................................................................1

II. Corpo de Trabalho: Estágios Profissionalizantes..................................2

Medicina Geral e Familiar ................................................................. .2

Ginecologia e Obstetrícia.....................................................................3

Cirurgia……..........................................................................................5

Pediatria…………………………………………………………………......6

Saúde Pública… ..................................................................................7

Saúde Mental……................................................................................7

Medicina Interna……………………………………………………...….…8

III. Reflexão Crítica Final...........................................................................11

IV. Anexos..................................................................................................13s

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

I N T R O D U Ç Ã O

O 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina (MIM) é considerado um estágio profissionalizante

que compreende o exercício orientado e programado da Medicina, por diversas áreas médicas e

cirúrgicas. Tem como principais objetivos:

desenvolver competências essenciais ao exercício da Medicina, tais como colheita de dados

elaboração de raciocínio clínico e tomada de decisões; desenvolver aptidões no domínio da

investigação clínica.

O presente relatório final diz respeito ao 6º ano profissionalizante tendo por base o Despacho nº

804/2011, publicado no Diário da República, 2ª série, nº7 de 11 de Janeiro e segundo o modelo

proposto e aprovado pelo Conselho Pedagógico e Científico da Faculdade de Ciências Médicas de

Lisboa( FCM).

Com o presente relatório pretendo descrever de forma sucinta, as atividades

desenvolvidas por MIM ao longo do 6º ano do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de

Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, estágio profissionalizante, correspondente ao ano

letivo de 2010/2011 e 2013/2014. Encontra-se organizado em 4 s ecç õ e s : A introdução, o corpo

de trabalho onde descreverei resumidamente cada um dos 7 estágios profissionalizantes realizados,

uma reflexão crítica final onde demonstrarei os aspetos que correram bem e menos bem, no que

respeita às minhas necessidades/expetativas iniciais, bem como no cumprimento dos objetivos

propostos e as metas atingidas. Por último, nos anexos apresento atividades frequentadas pela FCM-

Universidade Nova de Lisboa, que acho oportuno serem mencionadas ( Suporte básico de vida/

avançado de vida).

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

C O R P O D E T R A B A L H O

O ano letivo correspondente ao estágio profissionalizante decorreu entre 2010/2011 e a última

cadeira 2013/ 2014, sendo constituído por 7 estágios parcelares sobre os quais farei de seguida

uma breve descrição dos elementos que considero representativos do seu funcionamento.

MEDICINA GERAL E FAMILI AR: Estágio (USF S do Centro de Saúde do Seixal)

Período do estágio: 27/09/2010 a 22/10/2010 (USF do centro de saúde do Seixal ) -4 semanas

Regência: Prof. Doutora Isabel Santos

Tutor : Dr. José Manuel Feliz

Sob a regência da Prof. Doutora Isabel Santos, estagiei no centro de Saúde (CS) do Seixal

durante quatro semanas, sob orientação do Dr. José Manuel Feliz. Considerei como objetivos do

estágio:

- abordagem dos padrões de sintomas mais comuns no contexto da comunidade, desenvolvendo

competências diagnósticas, terapêuticas e preventivas, aplicar o modelo clínico centrado nas pessoas

e no seu contexto; verificar as características próprias dos cuidados de saúde prestados em Medicina

Geral e Familiar.

Assim como entender e observar as principais funções do médico de medicina geral e familiar.

Identificar os problemas de saúde com maior prevalência na comunidade conquistar autonomia

e desenvolver competências de comunicação.

Tive oportunidade de assistir a consultas de Planeamento Familiar, Saúde Infantil, Saúde

Materna, Saúde do Adulto e intersubstituição, assisti e participei na prestação de cuidados continuados

no domicilío, realizei algumas atividades da sala de injetáveis.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

Durante as 4 semanas participei ativamente em rastreios, bem como em programas de educação para

a saúde e prevenção da doença. Apercebi-me da diversidade dos problemas observados em consulta,

da sua frequência e da variabilidade destes de acordo com o ambiente socioeconómico. Assim,

neste contexto, realizei durante este período do estágio um Diário de Exercício Orientado (DEO),

onde fiz um registo em tabela, do padrão de morbilidade observado em consulta, descrevi uma análise

de situação e apresentei um caso clínico. Julgo que foi uma mais-valia ter realizado o estágio nesta

área do Seixal, pois permitiu-me observar a importância do contexto socioeconómico e cultural

na relação médico-doente, bem como na abordagem ao doente e à sua doença. Destaco a

importância desta relação de confiança e proximidade entre o doente e o seu médico de família para o

sucesso dos nossos cuidados de saúde primários. Por fim, solidarizo-me com a possibilidade que me

foi concedida de conduzir algumas consultas autonomamente, procedendo à recolha e organização

de dados, estabelecendo os meus raciocínios clínicos, formulando hipóteses diagnósticas e

propondo um plano terapêutico, tudo isto realizado sobre supervisão. Assisti às sessões de ensino-

aprendizagem em grupo dirigida pela Drª Teresa Ventura, que teve lugar na FCM na terceira semana

do estágio.

GINECOLOGIA E O BSTET RÍCIA: Hospital de São Francisco Xavier (HSF)

Período do estágio: 25/10/2010 a 19/11/2010 ( 4 s e m ana s )

Regência: Prof. Doutor Jorge Branco

Tutores: Dra Lurdes Silva- Ginecologia, Dr. Pina Pereira-Obstetrícia

Este estágio teve lugar no Hospital São Francisco Xavier, sob regência do Prof. Doutor Jorge

Branco, tendo estagiado no serviço de ginecologia durante as duas primeiras semanas,

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

sob orientação da Dra. Lurdes Silva e no serviço de Obstetricía nas duas últimas semanas sob

orientação da Dra. Alexia Toller (Dr. Pina Pereira).

O estágio teve como principal objetivo adquirir competências individuais de forma a responder às

necessidades da mulher de um modo abrangente desde a educação para a saúde e prevenção da

doença até ao diagnóstico e tratamento da doença mais frequentes no âmbito da Ginecologia e

obstetrícia.

Observar e saber reconhecer patologia médica e cirúrgica em ginecologia e obstetrícia e praticar

o exame objectivo ginecológico e obstétrico.

Durante as 2 semanas destinadas à Obstetrícia tive a oportunidade de observar o seguimento

de grávidas com factores de risco nas consultas externas de alto risco e de referenciação, de par t i

c i p a r n as actividades inerentes à enfermaria do serviço materno-fetal (acompanhei 5 grávidas

com ameaça de parto pré-termo e um caso de ruptura prematura pré- termo de membranas),

interpretação de ECD (ecografias e cardiotocogramas), observação dos cuidados a puérperas, bem

como de cirurgias e procedimentos obstétricos no bloco operatório (Cesariana electiva e Aspiração

de restos ovulares após IVG). Nas 2 semanas de Ginecologia assisti à consulta de ginecologia (tendo

tido a possibilidade de praticar o exame objectivo ginecológico), a ecografias ginecológicas, a

procedimentos ginecológicos realizados na (Histeroscopias) e cirúrgicos, realizados no bloco

operatório (Ex: Polipectomia por Ressectoscopia). Ao longo do estágio integrei a equipa de urgência

dos meus orientadores onde pude observar diversas situações agudas (obstétricas e

ginecológicas), frequentes neste contexto, bem como visualizar ecografias urgentes. Assisti também

a vários partos, eutócicos e distócicos. Realizei 8 turnos no SU. No término do estágio, elaborei

juntamente com duas colegas, um trabalho de síntese sobre “Ameaça de Parto Pré-Termo (APPT)”

e assisti à apresentação dos seguintes seminários: “Prevenção de tromboembolismo durante a

gravidez”.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

CIRURGI A: Hos pi tal Santo António dos Capuchos

Período do estágio: 22/11/2010 a 21/01/2011 (8 semanas)

Regência: Profª. Doutora Maria Teresa Leite de Noronha

Tutor: Drª Conceição Cardoso.

As actividades do estágio Cirúrgico foram organizadas da seguinte forma: distribuição dos alunos

pela Cirurgia Geral (CG) durante as 8 semanas, e nas especialidades de Gastrenterologia e mais uma

opcional.

Como objetivos para este estágio destaco: conseguir diagnosticar as principais patologias

cirúrgicas, a observação da evolução do doente desde o pré até ao pós-operatório, a execução de

técnicas de “pequena cirurgia” no serviço de urgência do Hospital de São Jóse bem como

observação e participação em cirurgias no bloco operatório.

Durante este período realizei atividades assistenciais na enfermaria, serviço de urgência e bloco

operatório, tendo sido 1ª e 2ª ajudante em algumas cirurgias (CG). Em todas as especialidades por

onde passei assisti a várias consultas (Ex: Consultas de cirurgia) e de gastroenterologia.

Considero a passagem pelas técnicas de Gastroenterologia de grande interesse e

relevância.

Como atividade formativa frequentei Se miná rios Teó rico s e Teó rico -P rá tico s dos quais destaco

o tema: “Colocação de acesso venoso periférico/ venopunção; Manuseamento de sistemas de soros e

seringas infusoras; Colocação de cateter venoso central (jugular, subclávia, femoral)”. Elaborei por fim

dois trabalhos de revisão sobre o temas “ Neoplasia Colo-Rectal bem como Doenças da Vesicula e

vias Biliares” (Colecistectomia) “

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

PEDIATRIA: Hospital Cuf Descobertas

Período do estágio: (24/01/11 a 18/02/2011) quatro semanas

Regência: Profª Doutora Lígia Braga

Tutor: Drª Alexandra e Drª Silvia

Dos objetivos iniciais para este estágio destaco: saber reconhecer as patologias mais

comuns no RN, criança e adolescente, saber colher uma história clínica em pediatria (tendo em conta

a sua natural especificidade) e treinar a comunicação com a criança/ adolescente.

Durante este estágio tive a oportunidade de realizar algumas tarefas relacionadas com a prática

clínica diária da enfermaria. Destaco o acompanhamento de 2 casos: lactente ♂4M com síndrome de

Treacher-Collins e criança ♂9A com Púrpura de Henoch- Schönlein. Na consulta externa de pediatria

pude observar patologia diversa (Ex: ITU associada a RVU e enurese), bem como treinar o exame

físico da criança. Assisti também as consultas de imunoalergologia. O período de estágio em que

passei pela cirurgia pediátrica foi muito interessante, pois observei em consulta, patologia menos

frequente (Ex: Pectus Excavatum/Carinatum).

Na passagem pelo B.O. observei também cirurgias bastante interessantes (Ex: Ressecção

pulmonar atípica em ♂14A por pneumotórax espontâneo recidivante). Estive também presente no

serviço de urgência de pediatria e de cirurgia pediátrica tendo-me permitido observar,

examinar e diagnosticar patologias frequentes do foro pediátrico. Destaco deste período um caso:

♂15A com alterações de comportamento de início recente, por possível exposição a substancia

adquirida numa SmartShop. Como ações formativas, assisti a teórico- práticas de imunoalergologia,

cardiologia pediátrica e a sessões clínicas do hospital. Elaborei um trabalho de revisão sobre o

tema “Convulsão Febril” apresentado no seminário dos alunos do 6ºano.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

SAÚDE PÚBLICA:

Sob regência do prof. Jorge Torgal e orientação do Prof. Doutor Mário Cordeiro

Raposo, o estágio de Saúde pública foi realizado na FCM, o seu objetivo primordial foi a

aprendizagem e iniciação no campo da investigação clínica, mediante a realização de um

estudo científico com posterior elaboração de um artigo científico. No referido contexto e

em conjunto com 6 colegas, realizei o trabalho intitulado “O direito de Ser Esquerdinho,

cujo objetivo foi de avaliar mediante a aplicação

Do questionário de Edinburg numa amostra de conveniência da população composta

por 1.029 inquiridos, entre os quais 868(85%) foram classificados como dextros,

78(7.6%) como esquerdinos e 75 (7.3%) como ambidextros.

Este estudo foi realizado com objetivo de determinar a lateralidade, o impacto na

qualidade de vida dos esquerdinos bem como a alteração da preferência manual. Ao

longo do estágio realizamos e apresentamos o artigo, sob a forma de comunicação oral,

na faculdade de Ciências Médicas de Lisboa.

O artigo foi publicado na revista Visão, no semanário Expresso e posteriormente na

Agência Lusa bem como na RTP.

Tornando-se atualmente uma cadeira opcional, tendo eu obtido equivalência

Para prática de investigação ( investigação de conhecimentos em saúde pública.

SAÚDE MENTAL: Serviço de psiquiatria do hospital Fernando da Fonseca

Período do estágio: 28/03/2011 a 29/04/2011( quatro semanas)

Regência: Prof. Doutor Miguel Xavier

Tutor: Dr. José Flores

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

O estágio iniciou-se com dois dias de seminários teórico-práticos que decorreram na Faculdade

de Ciências Médicas (FCM), sob orientação do Prof. Doutor Miguel Xavier, onde foram apresentadas

algumas situações clínicas frequentes, muito úteis no contexto do serviço de Urgência. As técnicas de

anamnese e de exame objetivo foram também brevemente abordadas. Este estágio foi realizado na

Equipa comunitária da Amadora do Serviço de psiquiatria do Hospital Prof. Fernando Fonseca E.P.E.

Os meus objetivos para este estágio prendiam-se em: conhecer e identificar as patologias

psiquiátricas mais comuns, adquirir competências na colheita da história psiquiátrica nesta população

e ganhar experiencia no reconhecimento de patologia psiquiátrica na urgência.

Durante o estágio tive a oportunidade de contatar com diversas atividades da prática clinica da

psiquiatria, assisti e participei nas Várias consultas de Psiquiatria, realizei histórias clínicas, assisti as

reuniões semanais e sessões clínicas. Assim, assisti a consultas de 1ª vez e de seguimento, onde

contatei com as patologias mais prevalentes : Esquizofrenia, Perturbação bipolar, Stress pós-

traumático Perturbações de comportamento e Perturbações afetivas, participei em reuniões

semanais do serviço e realizei uma história clínica colhida na condução autónoma de uma consulta de

1ª vez .Finalmente, frequentei também o serviço de urgência de psiquiatria do Hospital Fernando

Fonseca, onde observei situações frequentes da psiquiatria de adultos (depressão, ansiedade e um

caso de para-suicídio). Realizei também uma história clínica final que foi discutida e entregue na

FCM. Na última semana de estágio apresentei tema com os restantes colegas um trabalho intitulado

Depressão como fator de Risco em várias Doenças somáticas (Doença Coronária, Diabetes

Mellitus e HIV/SIDA).

MEDICINA INTERNA:

Período de estágio: 16/09/201408/11/201 quatro semanas

Regência: Prof. Doutor Fernando Nolasco

Tutor: Dr. Toscano Rico

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

O estágio foi realizado no serviço 04 de medicina da Unidade Funcional do Hospital de Santa

Marta, sob regência do Prof. Doutor Fernando Nolasco e orientação do Dr. Miguel Toscano Rico.

Parti para este estágio com os seguintes objetivos:

Integrar-me na equipa médica e praticar diariamente procedimentos como colheita de história

clínica, diagnóstico, prescrição de meios complementares de diagnóstico e terapêutica, tudo isto por

forma adquirir uma autonomia crescente e aprimorar o raciocinío clínico.

Assisti às aulas téorico-práticas e aos seminários semanalmente sobre discussão de casos

clínicos das patologias mais frequentes e preferencialmente ligadas à Urgência/ Emergências. Ao

nível das actividades desenvolvidas durante o estágio, dou especial relevância ao internamento, não

só por ter sido aquela que mais tempo ocupou, mas também por ter sido a que mais contribuiu para o

cumprimento dos objetivos propostos. A integração de conhecimentos e raciocínio clínico hipotético-

dedutivo introduzida pelas discussões no final de cada manhã e pela visita clínica semanal foram um

contributo essencial para a consolidação da marcha envolvida no diagnóstico, tratamento e

seguimento dos doentes. Além disso, o acompanhamento diário dos doentes na enfermaria permitiu

perceber a importância de reconhecer, por vezes, súbtil variação clínica diária dos doentes, bem

como as decisões

subsequentes que essas variações acarretam. O treino da comunicação de informação

clínica durante a visita clínica foi também um ponto reconhecidamente positivo na minha formação.

Finalmente, a presença de alunos do 3º ano no serviço, fez-me deparar com uma nova realidade: a

de ter colegas mais novos e a quem podia, dentro de determinados limites, dar alguma orientação,

ensinar-lhes técnicas gasimetricas e punções venosas. Sendo o ensino da medicina altamente

dependente da transmissão de conhecimento dos mais velhos para os mais novos, considero ter

feito um esforço no sentido de integrar e informar os colegas, acreditando ter havido um benefício

para ambas as partes envolvidas.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

Durante este período desenvolvi atividades na enfermaria, onde tive oportunidade de

acompanhar 62 doentes observando-os clinicamente diariamente.

Aprendi a redigir notas de entrada / altas e participei ativamente na reunião da equipa que

decorria diariamente.

Frequentei o serviço de Urgência do Hospital de São José onde acompanhava sempre o meu

tutor e alguns internos do meu tutor, onde observei os doentes na apresentação aguda da sua

doença, sendo que alguns destes foram internados no serviço 4 de medicina da unidade funcional

do Hospital de Santa Marta.

Considero ainda a presença no serviço de urgência um momento importante do estágio, por

mostrar uma realidade diferente da do internamento, na qual o médico é forçado a tomar decisões

importantes num período de tempo muito breve. A oportunidade de ter recebido doentes nas salas

de atendimento confrontou-me com a necessidade de avaliar, em circunstâncias diferentes daquelas

a que estava habituado até então, quais dos sintomas apresentados pelos doentes deveriam ser, ou

não, relevados.

Neste ponto, lamento que constrangimentos logísticos inerentes ao próprio funcionamento do

serviço de urgência, e relacionados com a necessidade de presença de outros alunos, tanto do 6º

como do 3º anos, não tenham permitido que passasse mais tempo no serviço de urgência.

Foi sem dúvida o estágio onde senti maior autonomia e onde consegui acompanhar os doentes

desde o SU até a alta do serviço de medicina.

Ao longo do estágio, assisti as sessões clínicas abertas, aulas teórico-práticas e seminários

Téorico-Práticos sobre variados temas, dos quais destaco :

Por fim elaborei com mais 3 colegas um trabalho de revisão e comunicação oral sobre o tema

Edema Agudo do Pulmão.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

R ef l ex ã o C r í t i c a F i na l

Concluído o 6º Ano, considero os diversos estágios profissionalizantes realizados como

excelentes vias para sedimentar os conhecimentos teóricos adquiridos nos 5 anos anteriores,

bem como para facilitar a transição da realidade académica para a laboral. Os meus objetivos para

este ano letivo prendiam-se então com a obtenção de uma maior autonomia, num ganho de

confiança nos conhecimentos e práticas médicas, bem como num acréscimo de experiencia da

prática clínica, objetivos estes que considero ter atingido de forma bastante satisfatória.

Durante este ano pude praticar não só as minhas competências clínicas como também

académicas nos vários trabalhos de síntese e apresentações que realizei. Lidei com questões

éticas, como o sigilo médico e o consentimento informado e apercebi-me ainda da importância do

trabalho em equipa para uma assistência e tratamento adequados.

Considero que a minha postura ao longo deste ano foi de interesse e dedicação. A

integração em equipas distintas foi benéfica para a aprendizagem de novas metodologias de trabalho,

bem como para a construção de um referencial de qualidade que será útil ao longo da minha vida

profissional.

Penso ter cumprido de uma forma geral os objetivos a que me propus nos vários estágios

parcelares. Considero contudo, que poderia ter tido uma atitude mais pro-ativa no estágio de Cirurgia,

onde o meu tutor não fazia o serviço da pequena cirurgia, e teria de partir de nós alunos, a iniciativa

de por lá passar. No caso optei por permanecer mais tempo no bloco operatório ou a estudar para a

Prova Nacional de Seriação (PNS). Já no estágio de Medicina Interna penso que poderia ter estado

mais tempo no SU, no entanto, devido ao facto da minha tutora não fazer urgência e constatando que

os seus internos (do 1º e 2º ano) não tinham a experiencia necessária para tutorar, abdiquei algumas

vezes de ir, dedicando esse tempo ao estudo para a PNS.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

Como menos positivo, destaco o carácter meramente observacional de metade dos

estágios ditos profissionalizantes, que deveriam servir para incentivar o aluno a uma postura mais

autónoma. Pelo contrário, nos estágios de Medicina Interna, MGF e Psiquiatria senti-me

verdadeiramente como parte integrante das equipas que me acolheram.

Atribuo uma nota extremamente positiva à frequência nas unidade curriculares (UC) de

Preparação para a Prática Clínica (PPC). Permitiu- me integrar conhecimentos através de sessões

multidisciplinares, que me obrigaram a treinar o raciocínio clínico por via da apresentação de temas e

casos clínicos transversais às várias áreas da Medicina.

Considero ser de excelência o nível formativo ministrado nesta faculdade. Isto deve-se ao

elevado nível de conhecimentos e de confiança transmitido pelos nossos tutores/orientadores e ao

favorável rácio aluno/tutor, único no país. A passagem por vários hospitais ao longo do curso permite-

nos conhecer diferentes realidades, o que exige de nós capacidade de adaptação, tornando-nos

assim mais versáteis, sendo que esta característica nos distingue pela positiva relativamente a alunos

de outras faculdades.

Finalizo com um profundo agradecimento à FCM UNL que me acolheu como aluna e a

todos os profissionais que contribuíram para a minha formação.

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Relatório Final | FCM UNL Relatório de Estágio | 6º Ano

AN EXOS

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FACULDADE DE C IÊNCIAS MÉDICAS

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

DEPARTAMENTO UNIVERSITÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA

COORDENAÇÃO : PROF. DOUTOR MÁRIO CORDEIRO

REGENTE : PROF. DOUTOR JORGE TORGAL

Dossier de Investigação

O DIREITO A SER ESQUERDINO

A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S

S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S

F R A N C I S C O A R , A L M E I D A C H , N A V A R R O D B , P I N T O J S ,

L O P E S F V , G A R R I D O P A , V I A N A P F

Lisboa, 24 de Março de 2011

M. C. Escher

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 2 DE 79

«(…)os baixos pagam os encontros dos altos, que é

justiça de canhoto ou esquerda justiça.»

D. Francisco Manuel de Melo, in Relógios Falantes

(séc. XVII)

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 3 DE 79

Agradecemos,

ao Professor Doutor Mário Cordeiro, por toda a orientação e ajuda prestada na realização do

trabalho;

à Mestre Sara Dias, docente do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela ajuda prestado no esclarecimento de dúvidas;

à Sr.ª D. Luísa Barata, secretária do Departamento Universitário de Saúde Pública, pela sua disponibilidade;

à PaperZone.pt por ter apoiado o nosso projecto;

ao Sr. Luís Almeida, que gentilmente imprimiu os questionários;

a todos os que aceitaram colaborar, respondendo ao questionário, sem os quais este trabalho nunca teria sido possível.

A todos os que tornaram este trabalho possível, o nosso muito obrigado!

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 4 DE 79

ÍNDICE

Pág.

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................................................... 5

BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................................................................... 7

DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO .............................................................................................................. 9

ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO .................................................................................................. 10

CRONOGRAMA PREVISTO/CONCRETIZADO .................................................................................................... 11

OBSTÁCULOS E DIFICULDADES. LIÇÕES APRENDIDAS .................................................................................. 12

CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................................................................... 14

ANEXOS ................................................................................................................................................................ 15

Anexo 1 - Protocolo……………………………………………………………....………....16

Anexo 2 - Apresentação do Protocolo………………………………………………………26

Anexo 3 - Questionário……………..………………………………………………………35

Anexo 4 - Artigo Científico……………………………………………………...…………..40

Anexo 5 - Comunicação Científica……………………………………………………….….57

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 5 DE 79

INTRODUÇÃO

O estágio de Saúde Pública, sob regência do Professor Doutor Jorge Torgal e coordenação da

Professora Doutora Carlota Louro, integra o plano curricular do 6º ano do Curso de Mestrado

Integrado em Medicina, leccionado na Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Teve a duração de cinco semanas, tendo decorrido entre 21 de Fevereiro e 25 de Março de 2011.

O presente dossier de investigação tem por objectivo reflectir o trabalho realizado durante este

período, sob tutela do Prof. Doutor Mário Cordeiro, e inclui uma abordagem descritiva das actividades

desenvolvidas, assim como um posicionamento crítico acerca das mesmas.

O objectivo primordial deste estágio é aprendizagem e iniciação no campo da investigação

científica. Assim, foi-nos proposto a realização de um estudo científico com posterior elaboração de um

artigo científico.

No início do estágio, e antes da distribuição pelos diversos assistentes, surgiram dentro do nosso

grupo vários temas que nos interessaram, nomeadamente, avaliação da depressão pós-parto e, avaliação

de conhecimentos e atitudes sobre a infecção pelo vírus da imunodeficiência adquirida em estudantes

do secundário. Contudo, a sugestão do Prof. Doutor Mário Cordeiro em realizar um estudo sobre

esquerdinos, pela sua originalidade e impacto na sociedade, imediatamente despertou a nossa

curiosidade.

Após uma breve pesquisa bibliográfica sobre o tema, observámos a existência de uma enorme

quantidade e variedade de estudos sobre o tema, em áreas tão diversas como Psicologia, Antropologia,

Arqueologia, e dentro da Medicina, especialidades como a Neurologia, Psiquiatria, Saúde Pública, entre

outras.

Desde logo elaborámos um conjunto de opções de estudo:

- Caracterizar os acidentes de trabalho em relação à lateralidade manual, numa população fabril;

- Avaliar a lateralidade da população admitida no SU, em particular nas salas de Pequena

Cirurgia;

- Caracterizar a população portuguesa em relação à sua lateralidade;

- Correlacionar a lateralidade com a incidência de algumas doenças (que já foram documentadas

em estudos anteriores), por intermédio de um questionário à população ou por comparação com uma

amostra de doentes em determinada consulta;

- Avaliar as percepções, conhecimentos e atitudes da população portuguesa em relação à

lateralidade esquerda.

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 6 DE 79

Optámos por esta última alternativa, pela pouca quantidade de estudos científicos realizados

acerca deste tema, pelo escasso período de que dispomos e pela dificuldade em obter autorizações

legais.

Os objectivos definidos foram analisar as percepções, conhecimentos e atitudes sobre

esquerdinos na população estudada. Secundariamente pretendeu-se efectuar a caracterização

demográfica da lateralidade na amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência

manual, aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e registar

eventuais dificuldades dos mesmos no quotidiano.

Ao longo do período de estágio, tivemos reuniões com o orientador do projecto, Professor

Doutor Mário Cordeiro, com quem discutimos a elaboração do protocolo e dos questionários1,

inteirando-o da evolução do trabalho de campo e a preparação do artigo científico.

O protocolo foi apresentado, discutido e aprovado2 na Faculdade de Ciências Médicas, no dia 28

de Fevereiro. Tal como estipulado, o artigo científico3 foi entregue dia 21 de Março no Departamento

de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas, tendo sido apresentado4 no dia 23 de Março, no

anfiteatro 3 da faculdade.

1 Vide Anexo 3. 2 Vide Anexos 1 e 2. 3 Vide Anexo 4. 4 Vide Anexo 5.

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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BIBLIOGRAFIA

1. Dorland's Medical Dictionary. 31. Elsevier, 2008. 2. Wright, Ed. Left-handed History of the World. Murdoch Books, 2007. 3. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and Handedness. Epidemiology. 2007, Vol. 18, pp. 191-193. 4. Perelle, IB and Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350. 5. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272, pp. 25-28. 6. M Raymond, D Pontier. Is there geographical variation in human handedness? Laterality. 2004, Vol. 9 (1), pp. 35-51. 7. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3, pp. 236-7. 8. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D and Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function in Older Men and Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7. 9. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R. Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894. 10. J Steele, N Uomini. Stone Knapping: The necessary Conditions for a Uniquely Hominin Behaviour. Cambridge: McDonald Institute for Archaeological Research, 2005. pp. 217-239. 11. Basso, Olga, et al. Handedness and Mortality: A Follow-Up Study of Danish Twins Born between 1900 and 1910. Epidemiology. 2000, Vol. 11 (5), pp. 576-9. 12. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213. 13. Aggleton, John P, Kentridge, Robert W and Neave, Nicholas J. Evidence for longevity differences between left handed and right handed men: an archival study of cricketers. J Epidemiol Community Health. 1993, Vol. 47, pp. 206-209. 14. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592. 15. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687. 16. Bryden, PJ, Bruyn, J and Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440. 17. Scerri, Thomas S and et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614. 18. N Geschwind, PO Behan. Left-handedness: Association with immune disease, migraine, and developmental. Proc. Natl Acad. Sci. USA. 1982, Vol. 79, pp. 5097-5100. 19. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp. 101-103. 20. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol. 5, pp. 68-71. 21. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent). 2008, Vol. 21(3), pp. 304-307. 22. Coren, S. Left-Handedness and Accident-Related injury Risk. American Journal of Public Health. 1989, Vol. 79 (8). 23. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa. Editorial Verbo, 2001. 24. Kushner, Howard. The art of medicine - Cesare Lombroso and the pathology of left-handedness. The Lancet. 2011, Vol. 377, pp. 118-9. 25. B Galobardes, M S Bernstein, A Morabia. The Association Between Switching Hand Preference and Declining Prevalence of Left-Handedness With Age. American Journal of Public Health. 1999, Vol. 89 (12), pp. 1873-1875. 26. Stuart Leask, Alan Beaton. Handedness in Great Britain. Laterality: Assimetries of Body, Brain and Cognition. 2007, Vol. 12 (6), pp. 559-572. 27. François Coudé, C Mignot, S Lyonnet. Discontinuity in the fall of left-handedness in a French population: a May 68' Effect? Laterality: Assimetries of Body, Brain and Cognition. 2010, Vol. 11 (1), pp. 33-35. 28. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91. 29. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills. 1981, Vol. 53, pp. 787-792.

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30. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156. 31. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum. Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374. 32. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119. 33. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28. 34. Schachter, S. Side Bias: A Neuropsychological Perspective. s.l. : Kluwer Academic Publishers, 2000. pp. 155-174. 35. P Rodrigues, M Vasconcelos, J Barreiros. Desenvolvimento da Assimetria Manual. Rev Port Cie Desp. Vol. 10 (1), pp. 230-241. 36. Fernandes, D. A Mão, a Preferência Manual e a Proficiência Manual no Idoso. Faculdade de Coiências do Desporto e de Educação Física, Universidade do Porto., 2004. 37. Oldfield, RC. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychololgia. Vol. 9, pp. 97-113. 38.http://homepage.ntlworld.com/steve.williams7/A%20major%20revision%20of%20the%20Edinburgh%20Handedness%20Inventory.pdf. [Online acedido a 18/03/2011] 39. Estatística, Instituto Nacional de. Censos 2001: XIV Recenseqmento Geral da População. 2002. 40. Pollak, RA. An Intergenerational Model OF Domestic Violence. Journal of Population Economics. 2004, Vol. 17 (2), pp. 311-329. 41. Francks, C and et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.

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DESCRIÇÃO DO TRABALHO DE CAMPO

Efectuou-se um estudo descritivo e transversal, com colheita dos dados através do

preenchimento de um questionário individual e anónimo, entre os dias 4 e 13 de Março de 2011, em

locais públicos, nas cidades de Lisboa, Porto e Leiria.

O questionário anónimo, individual e de auto-preenchimento, composto por:

- Dados demográficos gerais;

- Avaliação da Lateralidade;

- Avaliação da convivência familiar com esquerdinos;

- Avaliação das percepções da população acerca dos esquerdinos, em diversos campos: Saúde,

Escola, Escrita Forçada, Trabalho, Personalidade e Quotidiano.

Foi realizado um pré-teste no dia 3 de Março a 11 pessoas, que permitiu efectuar algumas

modificações.

Recolheu-se uma amostra de conveniência, de acordo com os critérios de inclusão descritos no

protocolo, constituída por 1.029 indivíduos.

Orçamento e Recursos Humanos:

Fotocópias, encadernações, outro material 150€

Deslocações 100€

Comunicações 20€

Honorários5 3.675€

Total 3.945€

5 5€/hora, 5 horas diárias durante 21 dias para 7 pessoas.

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ORGANIZAÇÃO E GESTÃO DA INFORMAÇÃO

Os dados recolhidos foram organizados segundo uma base de dados do Microsoft Office Excel

2010®. Para tratamento estatístico dos dados foi utilizado o mesmo programa, procedendo-se à análise

dos mesmos pelo lançamento de tabelas de frequências, cálculo da média e mediana, avaliação da

associação de variáveis pelo teste de χ2 (Qui-Quadrado) e teste de Fisher, com um nível de significância

estabelecido de p<0,05.

O artigo científico foi redigido tendo por base o programa informático Microsoft Office Word

2010®, e todos os gráficos e tabelas nele incluídos são originais e elaborados através do programa

Microsoft Office Excel 2010®.

Para a apresentação audiovisual do Protocolo e da Comunicação Científica utilizámos o software

Microsoft Office PowerPoint 2010®.

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CRONOGRAMA PREVISTO/CONCRETIZADO

O cronograma previsto inicialmente foi globalmente cumprido, embora não se tenham realizado

as aulas de: Formatação Epi-Info® (dada posteriormente conjuntamente com a 2ª sessão), Edição de

Artigo e Preparação das Comunicações – material referente às 3 aulas foi facultado em formato digital

por via electrónica.

Legenda:

Sessões Teórico-Práticas

Projecto de Investigação

Prazos de entrega

Aulas Canceladas

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OBSTÁCULOS E DIFICULDADES . L IÇÕES APRENDIDAS

Ao longo destas curtas 5 semanas, tivemos que aprender – e fazê-lo de facto! - a elaborar um

estudo de Saúde Pública de raiz, novidade para todos os elementos do grupo. Para tanto, foi necessário

assimilar todos as etapas a percorrer, desde a elaboração do protocolo à redacção final do artigo,

passando pela colheita e tratamento estatístico dos dados. Como era de prever, ao longo deste processo

deparámo-nos com inúmeras contrariedades, ultrapassadas pela aquisição de novas competências ou

recurso a estratégias alternativas.

Além do factor novidade, acresciam ainda o tempo escasso e o elevado número de elementos do

nosso grupo. Aquilo que à partida é uma vantagem, facilmente se pode tornar numa dificuldade pela

desorganização e dispersão de ideias de 7 intervenientes. Portanto, era essencial conseguir uma

planificação desde o primeiro momento que fosse simultaneamente rigorosa e flexível para lidar com as

alterações subsequentes. Para tal, muito nos ajudou a aula Elaboração do Protocolo. Com base nela,

conseguimos ter desde o início um plano e metodologia bem delineados. Apesar de nem sempre ter

sido fácil a adaptação a novas circunstâncias ou a divisão de tarefas para um trabalho constante nas

várias frentes, pelo menos sabíamos perfeitamente o que tínhamos que fazer em cada momento.

Em relação ao processo de colheita de dados, uma das lições que tirámos foi a necessidade de

uma cuidadosa correlação entre cada uma das perguntas do questionário e os objectivos estabelecidos

para o estudo. Só assim se chega a um questionário simples e dirigido, sem perguntas desnecessárias e

com todas as associações entre perguntas previamente definidas. Isto agiliza muito a ulterior análise dos

dados, uma vez que já estão previstos todos os testes estatísticos a calcular. Para observar tendências

gerais e ir delineando conclusões, podem mesmo fazer-se estes testes durante a colheita de dados com

uma amostra preliminar.

No campo da análise de dados, tivemos várias dificuldades. Por um lado não estabelecemos bem

todas as associações estatísticas a testar, o que originou alguma dispersão e perda de tempo. Também

na utilização do software tivemos alguns obstáculos, uma vez que optámos utilizar o Microsoft Excel

2010® com o qual nunca tínhamos trabalhado a um nível tão avançado. Por outro lado, verificámos

ainda que não dominávamos todos os conhecimentos de estatística necessários para este projecto. Foi

por isso necessário que parte dos elementos do grupo estivessem dedicados a rever esta temática,

perdendo-se recursos humanos necessários para a colheita de dados. Sentimos, por isso que teria sido

muito útil uma aula de revisão sobre este tema.

Lamentamos ainda que não pudessem ter sido dadas as aulas relativas à Elaboração do Artigo e

Comunicação Oral, uma vez que teriam sido ajudas preciosas para nos orientar nestas etapas tão

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fundamentais em qualquer projecto. Como alternativa, consultámos alguns trabalhos de colegas no

Departamento de Saúde Pública, para perceber quais as melhores estratégias a tomar.

A revisão bibliográfica do tema trouxe-nos algumas dificuldades na medida em que não é um

tema habitual no nosso currículo, nem no âmbito da Saúde Pública em particular. Talvez por isso

tenhamos demorado um pouco mais para encontrar – tanto para a fase inicial de estudo como para a

discussão dos resultados -, referências bibliográficas credíveis, tais como artigos de revisão ou meta-

análises sobre lateralidade. Por fim conseguimos, uma bibliografia teórica bastante completa, muito

embora não tenhamos encontrado estudos com desenhos similares ao nosso.

Não será desmedido realçar, para colegas que venham a realizar estudos futuros, a importância

de cuidar esta etapa do projecto. Trata-se no fundo dos alicerces em que tudo assenta. Sem ela

dificilmente se constrói um questionário sólido, coerente e aplicável na prática. Tão-pouco é possível

efectuar uma análise e discussão dos resultados conveniente se não se conhece o que já foi estudado

nessa área. É como estar a trabalhar sozinho, partindo do zero.

Em suma, apesar de todas as dificuldades, esta foi uma excelente oportunidade para aprender na

prática a elaborar um artigo científico, num tempo limitado, trabalhando em equipa, através de uma

criteriosa metodologia de programação e distribuição de tarefas.

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CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

No final da realização deste trabalho, podemos dizer que obtivemos conclusões com tradução

prática, interessantes e relevantes no âmbito da Saúde Pública, respondendo assim, aos objectivos a que

nos tínhamos proposto quando apresentámos o desenho do estudo. Para além disso, fizemos algumas

sugestões de próximos trabalhos na continuação do mesmo tema.

No decorrer deste estudo surgiram algumas limitações e dificuldades que nos alertaram para a

necessidade de uma investigação mais aprofundada nalguns aspectos relacionados com a preferência

manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade de um questionário para a avaliação da

lateralidade manual validado na população portuguesa; estudar a real influência da lateralidade em

acidentes (domésticos, profissionais e rodoviários).

Sugerimos ainda a investigação, na população abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual

da preferência manual e da alteração forçada da mesma. Neste segmento etário importa também

averiguar a persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos na escola, e o que está de facto a ser

feito para as minimizar.

Com este estágio foi possível adquirir competências para a realização de um estudo científico,

melhorar a capacidade de trabalho em equipa, o espírito crítico e o rigor científico. Todos estes

conhecimentos serão certamente úteis no futuro, uma vez que a investigação médica fará

impreterivelmente parte da nossa carreira médica.

No que à organização do estágio diz respeito, achamos que alguns pontos devem ser revistos.

Para uma melhor sedimentação de conhecimentos sobre estatística, seria útil, para além da aula de

EpiInfo®, uma aula de revisão da matéria. Alertamos também, pelas dificuldades que surgiram no seio

do nosso grupo, para a necessidade de um financiamento aos estudos por parte do departamento

(porque não na forma de disponibilidade para tirar fotocópias?). Sugerimos ainda, uma interacção entre

os estágios de 4° e 6° ano, sendo permitido aos alunos mais novos estarem presentes durantes as nossas

comunicações científicas. Achamos que tal seria altamente proveitoso, porque traduz uma vertente mais

prática do estágio, e talvez mais atraente, mas também como forma de sensibilizá-los desde logo para as

limitações e dificuldades que surgem na criação de um artigo científico.

Por fim, e como recomendações para os futuros grupos, gostaríamos de reforçar a importância

de fazer uma boa revisão bibliográfica sobre o tema, que, para além de inteirar os autores do estado da

arte, facilita a posterior argumentação na discussão. Salientamos também que a discussão dos resultados

é um processo moroso, que requer dedicação de todos os elementos e cedências de parte a parte.

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ANEXOS

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ANEXO 1 – Protocolo

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FACULDADE DE CIÊNCIAS MÉDICAS

UNIVERSIDADE NOVA DE LISBOA

DEPARTAMENTO UNIVERSITÁRIO DE SAÚDE PÚBLICA

O DIREITO A SER ESQUERDINO A N Á L I S E D A S P E R C E P Ç Õ E S ,

C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A

Q U A L I D A D E D E V I D A D O S E S Q U E R D I N O S

F R A N C I S C O A R , A L M E I D A C , N A V A R R O D B , P I N T O J S ,

L O P E S F V , G A R R I D O P A , V I A N A P F

C O O R D E N A Ç Ã O : P R O F . D O U T O R M Á R I O C O R D E I R O

R E G E N T E : P R O F . D O U T O R J O R G E T O R G A L

Lisboa, 1 de Março de 2011

M. C. Escher

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INTRODUÇÃO

«...dizei-me ora quem sois

e por que "esquerdos" fados viestes

a ser nesta escravidão meu companheiro?...»

D. Francisco Manuel de Melo, in Apólogos

Dialogais (séc. XVII)

A questão da lateralidade, em particular da preferência manual (handedness), tem sido alvo de

debate nas mais diversas áreas do conhecimento (Medicina, Antropologia, Psicologia e Sociologia,

entre outras). Mesmo dentro da Medicina, este assunto diz respeito a várias especialidades como a

Genética, Pediatria, Psiquiatria, Neurologia, Medicina do Trabalho e Saúde Pública.

Estima-se que 10% da população mundial tem preferência manual esquerda (esquerdino ou,

mais vulgarmente, canhoto) (1; 2; 3), registando-se variações geográficas. Por exemplo, no Japão, a

percentagem de esquerdinos na população é de aproximadamente 5% (1), presumivelmente devido

à alta frequência de crianças forçadas a escrever com a mão direita. Em contraste, na população

indígena Yanomamo, na Venezuela, por exemplo, a frequência de esquerdinos ronda os 23%. Neste

caso, supõe-se que o facto de ser esquerdino traz vantagens em actos de confrontação física

(bastante frequentes nesta população), pelo factor-surpresa acrescido (4).Globalmente, a

lateralidade à esquerda é mais frequente no sexo masculino, havendo um decréscimo da prevalência

de esquerdinos declarados com o aumento da idade (5; 6). Este declínio pode dever-se a uma maior

frequência de indivíduos idosos forçados a escrever com a mão direita ou a uma menor esperança

média de vida dos esquerdinos (7). A lateralidade esquerda também tem um componente

hereditário significativo. Assim, segundo um estudo de McManus & Bryden, dois progenitores

dextros têm menor probabilidade de terem um filho esquerdino (9,5%), do que se um dos pais

(19,5%) ou os dois (26,1%) forem esquerdinos. Desconhece-se, no entanto, o verdadeiro peso da

componente genética em relação à influência ambiental (por imitação ou por ensino propositado

dos pais) (8)."

Na Idade da Pedra, a escrita era feita com o apoio do escopro seguro pela mão esquerda e

batido com o martelo pela mão direita, e que levou a que os primeiros alfabetos se escrevessem da

direita para a esquerda, como ainda o são o árabe e o hebreu, línguas nas quais a escrita com a mão

esquerda está mais facilitada. Por contraste, o alfabeto Latino, escrito da esquerda para a direita, está

mais adaptado à escrita com a mão direita (9).

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Ao longo da História, os esquerdinos têm sido alvo de considerável discriminação. A

conotação negativa da “esquerda” remonta ao proto Indo-Europeu (3000 a.C.), idioma precursor

de todas as línguas latinas, que não tinha qualquer palavra para designar este lado (1). Em 1903,

Cesare Lombroso, um dos pais da Criminologia, associava a lateralidade esquerda à criminalidade,

insanidade e atraso mental (10). Em 1946, Blau definia a preferência manual esquerda como “um

sintoma neurótico (…), um dos sinais de uma psico-neurose infantil”. Em 1960, Hertz afirmava: “Um dos

sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção

independente” (3). Este sentido pejorativo de tudo o que se relaciona com o lado esquerdo está

patente na própria linguagem: no Latim, a palavra sinistra refere-se à esquerda, mas também ao

Diabo e ao azar, tendo este duplo significado permanecido nas línguas europeias derivadas do

Latim, como o Inglês ou o Português, como atestam os sinónimos de esquerdino canhoto6 e

sinistro7. Ao invés, o lado direito, está associado a correcção, rectidão, justiça e destreza (11). O

termo ambidextro (“ser dextro em ambas as mãos”) e, o menos usado, ambissinistro (“dejajeitado

nos dois lados”, mais reforçam as conotações comummente atribuídas a estas palavras. Apesar de

tudo, actualmente parece haver uma maior aceitação dos esquerdinos na maioria das sociedades (2).

Também são encontrados exemplos de conotações positivas associadas à lateralidade

esquerda, nomeadamente entre os Incas, e actualmente entre os indígenas dos Andes - onde está

associada a capacidades espirituais, incluindo a magia e a cura – e no Budismo – representando a

sabedoria.

Com o advento da Epidemiologia moderna, na segunda metade do século XX, foram

efectuados estudos que demonstraram uma associação estatisticamente significativa entre ser-se

esquerdino e ter doenças como alergias, enxaqueca, dislexia, gaguez, malformações esqueléticas,

patologia tiroideia e outras doenças auto-imunes, e ainda patologia psiquiátrica como esquizofrenia

(12). Com estes dados, Geschwind e Galaburda, em 1984, propuseram um modelo de

desenvolvimento da lateralidade esquerda, segundo o qual os níveis de algumas hormonas durante a

gravidez (nomeadamente a testosterona) influenciariam, tanto a organização dos hemisférios

cerebrais, como a génese de outros órgãos como o timo e tiróide (13). Em 1988, Halpern e Coren,

com bastante polémica, afirmaram que em média os dextros vivem mais 9 anos que os esquerdinos

(14), tendência que tem sido corroborada por outros estudos (15). Contudo, esta diferença de

longevidade não é unânime, já que alguns autores defendem que a menor prevalência de

esquerdinos nos idosos se deve a uma maior frequência de alteração forçada da preferência manual

(2).

6 Desajeitado, acanhado, demónio (“Cruzes Canhoto”) in Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (11). 7 Que pressagia desgraça, infunde receio, ameaçador, que revela malvadez, lúgubre, sombrio; desastre, prejuízo de enormes dimensões in Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa (11).

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Nos últimos 5 anos, com o recurso adicional a técnicas de Biologia Molecular, foram

demonstradas algumas das associações acima citadas, nomeadamente com alguns tipos de

esquizofrenia, esclerose múltipla, dislexia e algumas neoplasias (16; 17; 18; 19; 20).

No entanto, muitos dos estudos referidos têm sido alvo de diversas críticas. A existência de

vários viezes, como a inconsistência nas formas de classificação da lateralidade, a escassa análise

acerca da frequência de “esquerdinos corrigidos” durante a infância, ou mesmo o viés de publicação

(estudos com resultados positivos são mais publicados), têm posto em causa a sua validade (2).

Certos autores, como Perelle e Ehrman, defendem a existência de vários sub-grupos de

esquerdinos: 1) esquerdinos “patológicos”, isto é, aqueles que sofreram uma lesão no hemisfério

esquerdo durante o seu desenvolvimento (daí a maior prevalência de doenças do foro

neuropsiquiátrico); 2) esquerdinos “naturais”, com dominância do hemisfério direito sem nenhum

dano prévio; 3) esquerdinos “adquiridos”, que embora tenham dominância do hemisfério esquerdo,

começaram a utilizar a mão esquerda por mero acaso (3).

Actualmente, o ambiente físico e estrutural está planeado e construído maioritariamente para

dextros, por ser o grupo mais prevalente. Assim, desde os objectos de escritório aos instrumentos

musicais, passando pelos automóveis, acessos a edifícios e sua arquitectura, bem como outras infra-

estruturas, podem implicar dificuldades quotidianas para os esquerdinos. De facto, há provas da

existência de uma maior vulnerabilidade destes, nomeadamente nos acidentes domésticos e de

trabalho (21; 22; 23). A lateralidade esquerda está associada ainda a limitações, por vezes graves, no

desempenho de algumas profissões (cirurgiões, dentistas) (23; 24).

Contudo, ser esquerdino também parece ter algumas vantagens (8). Por exemplo, no campo

profissional, aonde um estudo verificou que os homens esquerdinos auferiam rendimentos mais

elevados do que os dextros (25). Também nas artes, os esquerdinos parecem ser mais criativos do

que os dextros (26), e existem dados a favor de uma maior proporção de esquerdinos entre os

músicos do que na população em geral (27). Já no campo desportivo, naquelas modalidades como o

ténis ou a esgrima em que existe interacção com um adversário, a preferência manual esquerda

parece ser uma vantagem. No ténis, a proporção de esquerdinos nos lugares cimeiros é muito mais

elevada do que aquela da população total de jogadores ou da população em geral (28). Por último,

pensa-se ainda na preferência manual esquerda como uma vantagem na luta corpo-a-corpo, levando

a um fenómeno de selecção natural, com preservação deste fenótipo ao longo da história (29).

No que diz respeito à população portuguesa, não existem dados referentes à caracterização

demográfica da lateralidade, nem à avaliação do impacte sócio-cultural. Desconhece-se se tem

havido evolução na educação para os esquerdinos, algum programa específico para prevenção de

acidentes ou acções contra a discriminação descrita anteriormente. O presente estudo pretende

abordar alguns destes aspectos.

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OBJECTIVOS

Objectivo Principal:

Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida

(quotidiano, saúde e profissional) dos esquerdinos.

Objectivos Secundários:

Caracterização da preferência manual na amostra, incluindo diferenças de lateralidade

associadas a sexo, idade, escolaridade.

Avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual nos vários grupos etários.

Aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação à preferência manual

esquerda.

Registar as principais dificuldades no quotidiano dos esquerdinos.

Verificar a existência de diferenças, designadamente entre os sexos, grupos etários e graus de

escolaridade.

METODOLOGIA

Tipo de estudo: Estudo descritivo e transversal.

População em Estudo: Indivíduos com mais de 14 anos de idade

Descrição da Amostra: Amostra de Conveniência da População Alvo

Critérios de Inclusão:

Idade superior ou igual a 15 anos

Presença no local e momento do questionário

Disponibilidade para responder ao questionário

Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita

Ausência de deficiência dos membros superiores

Critérios de Exclusão:

Questionários considerados insuficientemente preenchidos pelos investigadores,

designadamente aqueles em que não seja possível aproveitar respostas de nenhum apartado de

questões.

Critérios Éticos:

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Os investigadores negam qualquer conflito de interesses em relação a este estudo.

Processo da Colheita dos Dados:

Realização de questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual, constituído por

perguntas de escolha múltipla e resposta curta.

Será realizado um pré-teste.

Descrição das Variáveis

As variáveis a estudar incidirão sobre:

Caracterização sócio-demográfica (sexo, idade, escolaridade e profissão) dos inquiridos;

Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto por Stephen M. Williams)

(30) e mudança forçada de mão utilizada para escrever;

Avaliação da convivência com esquerdinos;

Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos (dificuldades em

tarefas e manuseamento de objectos em casa, na escola ou no trabalho; saúde e relações

inter-pessoais, eventuais profissões, felicidade, etc);

Satisfação com dominância manual.

CRONOGRAMA

Mês Março

Dia 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25

Apresentação e aprovação do protocolo

Pesquisa bibliográfica

Planificação do questionário

Formação Epinfo

Recolha de dados

Processamento de dados e edição do artigo

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Sessão Final

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 24 DE 79

BIBLIOGRAFIA

1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. s.l. : Murdoch Books, 2007. 2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and

Handedness. Epidemiology. 2007, Vol. 18, pp. 191-193. 3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350. 4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection.

Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272, pp. 25-28. 5. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3,

pp. 236-7. 6. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D e Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function

in Older Men and Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7.

7. Basso, Olga, et al. Handedness and Mortality: A Follow-Up Study of Danish Twins Born between 1900 and 1910. Epidemiology. 2000, Vol. 11 (5), pp. 576-9.

8. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R. Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894.

9. http://en.wikipedia.org/wiki/Left-handedness. [Online] 10. Kushner, Howard. The art of medicine - Cesare Lombroso and the pathology of left-

handedness. The Lancet. 2011, Vol. 377, pp. 118-9. 11. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa. s.l. : Editorial Verbo, 2001. 12. N Geschwind, PO Behan. Left-handedness: Association with immune disease, migraine, and

developmental. Proc. Natl Acad. Sci. USA. 1982, Vol. 79, pp. 5097-5100. 13. N Geschwind, AM Galaburda. Cerebral Dominance. Cambridge : Harvard University Press,

1984. pp. 211-224. 14. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213. 15. Aggleton, John P, Kentridge, Robert W and Neave, Nicholas J. Evidence for longevity

differences between left handed and right handed men: an archival study of cricketers. J Epidemiol Community Health. 1993, Vol. 47, pp. 206-209.

16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.

17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.

18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687.

19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.

20. Scerri, Thomas S e et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614.

21. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp. 101-103.

22. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol. 5, pp. 68-71.

23. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent). 2008, Vol. 21(3), pp. 304-307.

24. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91.

25. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum. Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374.

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26. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills. 1981, Vol. 53, pp. 787-792.

27. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156.

28. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119.

29. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28.

30. Oldfield, R. C. The assessment and analysis of handedness: The Edinburgh inventory. Neuropsychologia. 1971, Vol. 9, pp. 97-113.

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ANEXO 2 – Apresentação do Protocolo

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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O Direito a Ser EsquerdinoAnálise das Percepções, Conhecimentos e Atitudes

sobre a Qualidade de Vida dos Esquerdinos

Faculdade de Ciências Médicas

Departamento de Saúde Pública

Regente: Prof. Doutor Jorge Torgal

Coordenação: Prof. Doutor Mário Cordeiro

Ana Rita Francisco, Carolina Almeida, David Navarro Dias, Francisco Vilaça, João Pinto, Pedro Garrido, Pedro Viana

Turma 7

Lisboa, 1 de Março de 2011

– Sumário –

Introdução

Objectivos

Metodologia

Cronograma

Bibliografia

M. C. Escher

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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– Introdução –

• 10% da População

• ♂ > ♀

• Prevalência < idosos

• Constante ao longo da História• Variações Geográficas

Japão – 5%Tribo Yanomamo – 23%

Viés Cultural?Menor Longevidade?

Esquerdino: s.m. quem tem maior habilidade com o lado esquerdo do corpo

– Introdução –

• Factores Genéticos

• Factores do Desenvolvimento• Níveis hormonais durante a gravidez• Stress peri-natal

• Factores Culturais

Etiologia

V. Laurens et al. 20118

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– Introdução –

• > prevalência de:

AlergiasEnxaquecaMalformações EsqueléticasDoenças Auto-ImunesPatologia Neuro-Psiquiátrica

• Genes ligados a lateralidade esquerda e:

Dislexia (PCSK6)Esquizofrenia (LRRTM1)

• Dificuldades Quotidianas

• Maior número de acidentes

• Limitações Profissionais

Morbi-Mortalidade Aumentada?

– Introdução –

“Um dos sinais que distingue uma criança bem-educada é de que a sua mão esquerda se tornou incapaz de qualquer acção

independente”Robert Hertz, 1907

Canhoto: Desajeitado, acanhado, demónio (fig.)Sinistro : Que pressagia desgraça, infunde receio, ameaçador, que revela malvadez…

Pressão Social - Escrita forçada com a mão direita

Discriminação ao Longo da História…

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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– Introdução –

• Status Socio-Económico• Música• Desportos Interactivos• Luta

Vantagens

– Introdução –

Não existem estudos epidemiológicos realizados em Portugal

• Qual o impacte socio-cultural na sociedade Portuguesa?

• Como tem sido a evolução na educação para os esquerdinos?

• Que atitudes são tomadas na prevenção de acidentes?

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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– Objectivos –

Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes da populaçãosobre a qualidade de vida (quotidiano, saúde e profissional) dosesquerdinos.

Objectivo Principal

– Objectivos –

Objectivos Secundários

Caracterização da preferência manual na amostra, incluindodiferenças de lateralidade associadas a sexo, idade, escolaridade.

Avaliar a prevalência da alteração forçada da preferência manual nosvários grupos etários.

Aferir a persistência de pressões sociais e discriminação em relação àpreferência manual esquerda.

Registar os principais problemas no quotidiano dos esquerdinos.

Verificar a existência de diferenças, designadamente entre os sexos,grupos etários e graus de escolaridade.

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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– Metodologia –

Tipo de Estudo – Descritivo e TransversalPopulação em Estudo – Indivíduos com mais de 14 anos de idadeDescrição da Amostra – Amostra de Conveniência da População-Alvo

Critérios de Inclusão• Idade ≥ 15 anos• Presença no local e momento do questionário• Disponibilidade para responder ao questionário• Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita• Ausência de deficiência dos membros superiores

Critérios de Exclusão• Questionários considerados insuficientemente preenchidospelos investigadores, designadamente aqueles em que não sejapossível aproveitar respostas de nenhum apartado de questões.

– Metodologia –

Colheita de Dados

• Questionário de auto-preenchimento, anónimo e individual

• Pré-teste

Descrição das Variáveis

• Caracterização sócio-demográfica dos inquiridos;

• Avaliação da lateralidade (Edimburgh Handedness Inventory revisto porStephen M. Williams) e mudança forçada de mão utilizada para escrever;

• Avaliação da convivência com esquerdinos;

• Avaliação das percepções acerca da qualidade de vida dos esquerdinos(dificuldades em tarefas, manuseamento de objectos, saúde)

• Satisfação com dominância manual.

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– Cronograma –

– Bibliografia –

1. Wright, Ed. Left-handed History of the World. Murdoch Books, 2007.2. Basso, Olga. Right or Wrong? On the Difficult Relationship Between Epidemiologists and Handedness. Epidemiology.

2007, Vol. 18, pp. 191-193.3. Perelle, IB e Ehrman, L. On the other hand. Behavior Genetics. 2005, Vol. 35, pp. 343-350.4. C Faurie, M Raymond. Handeness, homicide and negative frequency - dependent selection. Proc. R. Soc. B. 2005,

Vol. 272, pp. 25-28.5. Harris, LJ. Lateralised sex differences: substrate and signifficance. Behav Brain Sci. 1980, Vol. 3, pp. 236-7.6. Siengthai, B, Kritz-Silverstein, D e Barrett-Connor, E. Handedness and Cognitive Function in Older Men and

Women: A Comparison of Methods. J Nutr Health Aging. 2008, Vol. 12 (9), pp. 641-7.7. Basso, Olga, et al. Handedness and Mortality: A Follow-Up Study of Danish Twins Born between 1900 and 1910.

Epidemiology. 2000, Vol. 11 (5), pp. 576-9.8. V Llaurens, M Raymond, C Faurie. Why are some people left-handed? An Evolutionary Perspective. Phil. Trans. R.

Soc. B. 2009, Vol. 364, pp. 881-894.9. http://en.wikipedia.org/wiki/Left-handedness. [Online]10. Kushner, Howard. The art of medicine - Cesare Lombroso and the pathology of left-handedness. The Lancet. 2011,

Vol. 377, pp. 118-9.11. Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências de Lisboa. s.l. : Editorial Verbo, 2001.12. N Geschwind, PO Behan. Left-handedness: Association with immune disease, migraine, and developmental. Proc.

Natl Acad. Sci. USA. 1982, Vol. 79, pp. 5097-5100.13. N Geschwind, AM Galaburda. Cerebral Dominance. Cambridge : Harvard University Press, 1984. pp. 211-224.14. DF Halpern, S Coren. Do Right-handers live longer? Nature. 1988, Vol. 333, p. 213.15. Aggleton, John P, Kentridge, Robert W and Neave, Nicholas J. Evidence for longevity differences between left

handed and right handed men: an archival study of cricketers. J Epidemiol Community Health. 1993, Vol. 47, pp. 206-209.

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– Bibliografia –

16. Francks, C e et, al. LRRTM1 on chromosome 2p12 is a maternally suppressed gene that is associated paternally with handedness and schizophrenia. Molec. Psyc. 2007, Vol. 12, pp. 1129-1139.

17. Gardener, H, et al. The Relationship between Handedness and Risk of Multiple Sclerosis. Mult. Scler. 2009, Vol. 15 (5), pp. 587-592.

18. Fritschi, L, et al. Left-handedness and risk of breast cancer. British Journal of Cancer. 2007, Vol. 97, pp. 686-687.19. Bryden, PJ, Bruyn, J e Fletcher, P. Handedness and health: An examination of the association between different

handedness classifications and health disorders. Laterality. 2005, Vol. 10 (5), pp. 429-440.20. Scerri, Thomas S e et, al. PCSK6 is associated with handedness in individuals with dyslexia. Human Molecular

Genetics. 2011, Vol. 20, pp. 608-614.21. Hassan, F O. Hand dominance and gender in forearm fractures in children. Strat Traum Limb Recon. 2008, Vol. 3, pp.

101-103.22. Skalkidou, A, et al. Risk of upper limb injury in left handed children: a study in Greece. Injury Prevention. 1999, Vol.

5, pp. 68-71.23. Flatt, A E. Is being left-handed a handicap? The short and useless answer is "yes and no". Proc (Bayl Univ Med Cent).

2008, Vol. 21(3), pp. 304-307.24. Adusumilli, P S, et al. Left-handed surgeons: are they left out? Curr. Surg. 2004, Vol. 61(6), pp. 587-91.25. Denny, K. and O’Sullivan, V. The economic consequences of being left-handed: some sinister results. J. Hum.

Resour. 2007, Vol. 42, pp. 353-374.26. Newland, G Anthony. Differences between left- and righthanders on a measure of creativity. Percept. Motor Skills.

1981, Vol. 53, pp. 787-792.27. Aggleton, John P., Kentridge, Robert W. and Good, James M. M. Handedness and Musical Ability: A Study of

Professional Orchestral Players, Composers, and Choir Members. Psychology of Music. 1994, Vol. 22 (2), pp. 148-156.28. Holtzen, David W. Handedness and Professional Tennis. Intern. J. Neuroscience. 2000, Vol. 105, pp. 101-119.29. Faurie, Charlotte and Raymond, Michel. Handedness, homicide and negative frequency-dependent selection.

Proc. R. Soc. B. 2005, Vol. 272 (1558), pp. 25-28.

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ANEXO 3 – Questionário

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Questionário sobre dextros e canhotos

Somos finalistas de Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa, e estamos a fazer um estudo na área da Saúde Pública sobre diferenças e semelhanças entre dextros e canhotos. O preenchimento demorará cerca de 5 minutos. Este questionário é individual e anónimo. Muito obrigado pelo tempo que nos dispensou.

1) Idade _____

2) Sexo □ Masculino □ Feminino

3) Considera-se dextro ou canhoto? □ Dextro □ Canhoto □ Ambidextro

4) Qual acha ser a percentagem de canhotos na população portuguesa? _____

5) Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia? □ Sim □ Não

6) Qual a sua profissão? ____________________________

7) Anos de Escolaridade: □ Até à 4ª classe □ 4ª classe completa □ 6º ano completo □ 9º ano completo □ 12º ano completo □ Licenciatura □ Superior a licenciatura

8) Aprendeu a escrever em Portugal? □ Sim □ Não

9) Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita? □ Sim □ Não □ Não me lembro

10) Acha que os pais/professores devem insistir com os canhotos para escreverem com a mão direita? □ Sim □ Não

11) Na sua família:

Canhoto Dextro

Não sei/Não se aplica

Pai □ □ □

Mãe □ □ □

Cônjuge □ □ □

Número total de irmãos _____ Número de irmãos canhotos _____ Número total de filhos ______ Número de filhos canhotos______

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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12) Que mão utiliza para:

Sempre a

esquerda

Geralmente

a esquerda As duas

Geralmente

a direita

Sempre a

direita

Escrever □ □ □ □ □

Atirar uma bola □ □ □ □ □

Segurar a colher da sopa □ □ □ □ □

Pegar na faca para cortar o

pão □ □ □ □ □

Segurar na escova dos

dentes □ □ □ □ □

Pegar num fósforo para

acender □ □ □ □ □

Usar o rato do computador □ □ □ □ □

Cortar com uma tesoura □ □ □ □ □

13) Acha que, nas tarefas do dia-a-dia, os canhotos têm:

Mais

dificuldades Iguais Vantagens

Cortar com tesoura □ □ □

Escrever à mão □ □ □

Usar um abre-latas □ □ □

Usar máquina fotográfica □ □ □

Usar o computador □ □ □

Apagar com uma borracha □ □ □

Pregar um prego □ □ □

Ligar o micro-ondas □ □ □

Passar a ferro □ □ □

Ler os sinais de trânsito □ □ □

Mudar uma lâmpada □ □ □

Artes marciais - boxe, esgrima, capoeira □ □ □

Pagamentos na estrada - portagens □ □ □

14) Diga, pensando na população de canhotos e dextros, quem:

Canhotos Dextros Iguais

É mais organizado □ □ □

É mais desajeitado □ □ □

É mais inteligente □ □ □

É mais criativo □ □ □

Tem mais sucesso no amor □ □ □

Tem mais amigos □ □ □

É melhor líder □ □ □

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15) Na sua opinião, quem: Canhoto Dextro Igual

Vive mais tempo □ □ □

Tem mais acidentes de trabalho □ □ □

Tem mais acidentes de carro □ □ □

Tem mais cancros □ □ □

Tem mais depressões □ □ □

Tem mais ataques cardíacos □ □ □

16) Na sua opinião, quem: Canhoto Dextro Igual

Arranja trabalho com maior facilidade □ □ □

Tem mais sucesso no trabalho □ □ □

Tem maior taxa de desemprego □ □ □

Falta mais ao emprego □ □ □

Convidava para trabalhar consigo □ □ □

Pedia para tomar conta do seu bebé □ □ □

17) Nas seguintes profissões, quem, à partida, é melhor? Canhoto Dextro Igual

Mulher de limpeza □ □ □

Arquitecto □ □ □

Político □ □ □

Piloto de avião □ □ □

Jogador de ténis □ □ □

Futebolista □ □ □

Pianista □ □ □

Técnico de informática □ □ □

Militar □ □ □

Escritor □ □ □

Pedreiro □ □ □

Escultor □ □ □

Professor de matemática □ □ □

Na sua própria profissão □ □ □

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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18) Preferia ser atendido por: Canhoto Dextro Igual

Médico de família □ □ □

Cirurgião □ □ □

Enfermeiro □ □ □

Técnico para tirar sangue □ □ □

Dentista □ □ □

Barbeiro / Cabeleireiro □ □ □

19) [Só para CANHOTOS]

Sim Não

Preferia ser dextro? □ □

Na escola, alguma vez sentiu

dificuldades por ser canhoto? □ □

Se sim, recebeu alguma ajuda dos

professores/colegas? □ □

20) [Só para DEXTROS]

Sim Não

Preferia ser canhoto? □ □

21) Quando pensa nas seguintes palavras, qual é que lhe sugere, em termos de

canhotos, dextros ou nenhum?

Canhotos Dextros Nenhum

Direito □ □ □

Sinistro □ □ □

Azarado □ □ □

Certo □ □ □

Correcto □ □ □

Torto □ □ □

Diabólico □ □ □

22) Acha que deveria haver um programa do Ministério da Saúde só para canhotos?

□ Sim

□ Não

□ Não sei

MUITO OBRIGADO!

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ANEXO 4 – Artigo Científico

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

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O D I R E I T O A S E R E S Q U E R D I N O

A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S

Francisco AR*, Almeida C*, Navarro DB*, Pinto JS*, Lopes FV*, Garrido PA*, Viana PF* e Cordeiro M# *Alunos do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

#Professor Auxiliar-Convidado de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Departamento de Saúde Pública Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa, Portugal

RESUMO

Introdução: A lateralidade esquerda, estimada em 10% na população mundial, tem sido objecto de estudo em várias áreas científicas. Factores que caracterizam este grupo populacional, minoritário relativamente à população dominante, a dextra, incluem: uma maior prevalência de acidentes mortais e a associação com determinadas doenças, bem como a ocorrência de discriminação e pressões sociais para alterar a preferência manual em algumas actividades. A lateralidade esquerda associa-se também a dificuldades no dia-a-dia e no desempenho de algumas profissões (cirurgião, dentista). Reconhecem-se, no entanto, algumas vantagens em áreas artísticas e desportos interactivos. Este estudo teve como objectivo determinar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu caracterizar a lateralidade da amostra e avaliar o grau de alteração forçada da preferência manual para a escrita. Métodos: Foi realizado um questionário de auto-preenchimento, dirigido a indivíduos de idade igual ou superior a 15 anos, distribuído em Lisboa, Porto e Leiria. Foi utilizado o Questionário de Edinburgh para determinação da lateralidade. Resultados: Dos 1.029 inquiridos, 868 (85%) foram classificados como dextros, 78 (7,6%) como esquerdinos e 75 (7,3%) como ambidextros. Houve associação entre o reconhecimento de dificuldades específicas do quotidiano (utilizar uma tesoura - 501; 49,3%; um abre-latas - 465; 45,9%; e máquina fotográfica - 435; 42,7%), e o facto de ser esquerdino ou ter esquerdinos na família próxima (p<0,05). 26,5% dos inquiridos referiram que os esquerdinos tinham mais acidentes de trabalho. 16,8% e 13,8% dos inquiridos referiram o melhor desempenho dos esquerdinos nas profissões “futebolista” e “jogador de ténis”, respectivamente, enquanto 15,2% da amostra referiu que um dextro seria um melhor “piloto de avião”. 9,0% dos inquiridos prefeririam ser tratados por um cirurgião dextro (associação com a idade e escolaridade, p<0,05). 15,5% dos inquiridos referem ter sido obrigados a escrever com a mão direita. Discussão: Em geral, parece haver um baixo reconhecimento das dificuldades sentidas pelos esquerdinos no quotidiano e no trabalho. Parece também haver um grau de discriminação residual para com a lateralidade esquerda (associada a idade mais avançada). Há ainda um diminuto reconhecimento de vantagens em algumas profissões. Palavras-chave: Lateralidade, Esquerdinos, Qualidade de Vida, Alteração da preferência manual.

ABSTRACT

THE RIGHT TO BE LEFT-HANDED: EVALUATION OF PERCEPTIONS, KNOWLEDGE & ATTITUDES TOWARDS LEFT-HANDED PEOPLE IN DAILY LIFE

Introduction: Left-Handedness, which represents about 10% of the world’s population, has been a subject of study in several scientific areas. Distinguishing features associated with this particular population include: a greater prevalence of fatal accidents and the association with several diseases, as well as discrimination and social pressures in order to switch handedness in some activities. There is also a link between left-handedness and difficulties in

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everyday activities and in some professions (surgeons, dentists). Several advantages have been pointed out, however, notably regarding art and interactive sports. The aim of the present study was to determine perceptions, knowledge and attitudes of the population towards the quality of life of left-handed people. On a second level, it was our intention to classify the laterality of our sample, and evaluate the degree of forced hand switching for writing. Methods: This was a cross-sectional study. A written survey was conducted, towards individuals aged 15 or more, in the Portuguese cities of Lisboa, Porto and Leiria. The Edinburgh Handedness Inventory was used to determine laterality. Results: From the total of 1,029 respondents, 868 (85%) were classified as right-handed, 78 (7,6%) as left-handed and 75 (7,3%) as mixed-handed. The recognition of specific daily difficulties (using scissors n=501; 49,3%; using a can-opener - 465; 45,9%; using a photographic camera - 435; 42,7% ) was associated with being left-handed and with the presence of left-handedness in the close-related family (p<0,05). 26,5% of the respondents referred a greater prevalence of work-related accidents among the left-handed. 16,8% and 13,8% of the respondents associated left-handedness with better performance as a “football player” and “tennis player”, respectively, while 15,2% of the sample referred that an “aircraft pilot” would perform better if right-handed. 9,0% of the respondents said they would prefer being treated by a right-handed surgeon (association with age and level of education, p<0,05). 15,5% referred having been forced to switch hand preference regarding writing. Discussion: Overall, there appears to be a low acknowledgement of the daily and work-related difficulties of the left-handed. There is also a residual level of discrimination towards this group (mainly associated with increasing age). Finally, there is a lack of knowledge concerning some of the advantages of being left-handed in the practice of some professions. Key Words: Laterality, Left-Handedness, Quality of Life, Switching Hand Preference

INTRODUÇÃO

A lateralidade é definida como “o uso preferencial,

em actos motores voluntários, dos componentes

ipsilaterais dos principais órgãos pares do corpo

(braço, ouvido, olho e perna)”1. O componente mais

estudado é a preferência manual, sobre o qual este

estudo incide.

Estima-se que cerca de 10% da população

mundial tenha preferência manual esquerda (sendo as

pessoas designadas esquerdinas ou, mais vulgarmente,

canhotas)2-4, registando-se algumas variações

geográficas2,5,6. Globalmente, a lateralidade à esquerda

é mais frequente no sexo masculino, havendo um

decréscimo da prevalência de esquerdinos declarados

com o aumento da idade7,8. A lateralidade esquerda

também tem um componente hereditário

significativo, desconhecendo-se, contudo, o

verdadeiro peso deste quando comparado com a

influência do ambiente familiar, escolar e social9.

A relativa minoria de esquerdinos, demonstrável

no ser humano desde o Paleolítico10, bem como a

diminuição da sua incidência na população idosa,

pode dever-se a uma menor esperança média de vida

(hipótese de eliminação) ou à existência de pressões

sociais e históricas para utilizar a mão direita (hipótese

de modificação)11.

Foi demonstrada uma menor longevidade na

população dos esquerdinos12,13, eventualmente

interligada com a associação entre a lateralidade

esquerda e o aumento de incidência de diversas

doenças como alergias, malformações esqueléticas,

doenças auto-imunes, patologia neuro-psiquiátrica (p.

ex. esquizofrenia) e algumas formas de cancro 3,13-18.

Além disso, a maior vulnerabilidade dos esquerdinos

para a ocorrência de acidentes, e sendo estes uma das

maiores causas de anos de vida perdidos na

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 43 DE 79

população jovem e a maior causa de anos perdidos no

chamado Mundo Ocidental, também pode contribuir

para a hipótese de eliminação19-22.

Ao longo da História, os esquerdinos têm sido

alvo de discriminação2,4. O sentido pejorativo

associado ao lado esquerdo está patente na própria

linguagem, como atestam os sinónimos de esquerdino

(desajeitado, acanhado, demónio) e sinistro (que

pressagia desgraça, infunde receio, revela malvadez,

sombrio; desastre)11. Ao invés, o lado direito está

associado a correcção, rectidão, justiça e destreza23.

Ainda no séc. XX, psicólogos, sociólogos e médicos

associavam a lateralidade esquerda à criminalidade,

insanidade e atraso mental24. A existência dos

referidos mitos e atitudes parece contribuir para a

ocorrência de alteração forçada da lateralidade

(principalmente para a escrita), tanto no ambiente

escolar como familiar25. Este fenómeno, cuja

frequência tem vindo a diminuir em algumas

sociedades26,27, parece apoiar a hipótese de diminuição

de prevalência por modificação.

No mundo em que vivemos, em consequência da

menor representação de esquerdinos, as infra-

estruturas e os instrumentos foram planeados e

construídos visando uma utilização por dextros.

Assim, desde os objectos de escritório aos

instrumentos musicais, passando pelos automóveis,

acessos a edifícios e sua arquitectura, a concepção

facilitadora para os dextros pode implicar dificuldades

quotidianas para os esquerdinos (para além da

ocorrência de acidentes já referida)19-21. A lateralidade

esquerda está associada ainda a limitações, por vezes

graves, no desempenho de algumas profissões

(cirurgiões, dentistas)21,28.

Contudo, ser esquerdino também parece ter

vantagens9. Existe uma correlação positiva entre a

lateralidade esquerda e a criatividade29. Também há

dados a favor de uma maior proporção de

esquerdinos entre profissões artísticas como a música,

do que na população em geral 29,30. Ainda no campo

profissional, um estudo verificou que os homens

esquerdinos auferiam rendimentos mais elevados do

que os dextros31. Já no campo desportivo, nas

modalidades como o ténis ou a esgrima, em que

existe interacção com um adversário, a preferência

manual esquerda parece ser uma vantagem32. Por

último, pensa-se ainda na preferência manual

esquerda como uma vantagem na luta corpo-a-

corpo33. No entanto, muitos dos estudos referidos

têm sido alvo de diversas críticas, uma das quais é a

inconsistência na determinação e classificação da

lateralidade. A determinação baseada em

questionários (Lateralidade Auto-descrita,

Questionário de Edinburgh, Questionário de Annett)

e os testes de desempenho têm níveis de

concordância distintos3,4,16,34.

Em Portugal, desconhece-se o nível de

esclarecimento da população acerca das dificuldades

encontradas pelos esquerdinos a nível quotidiano,

profissional e escolar. Não existem dados acerca das

atitudes e das pressões sociais exercidas em Portugal.

Para lá disso, o número de estudos de caracterização

da lateralidade em Portugal são escassos35,36.

O objectivo principal deste estudo foi avaliar

percepções, conhecimentos e atitudes de uma

população em Portugal acerca da qualidade de vida

dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu-se

caracterizar a preferência manual da amostra obtida,

avaliar a prevalência da alteração forçada da

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 44 DE 79

preferência manual, aferir a persistência de pressões

sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e

registar eventuais dificuldades no quotidiano dos

mesmos.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional, descritivo

e transversal. Seleccionou-se uma amostra de

conveniência, constituída por indivíduos com idade

igual ou superior a 15 anos. Determinou-se este limite

com vista a poder incluir inquiridos ainda em idade

escolar, mas com maturidade suficiente para

compreender o questionário.

A recolha dos dados foi realizada através de um

questionário anónimo, individual e de auto-

preenchimento, distribuído entre os dias 4 e 13 de

Março de 2011, em diversos locais públicos das

cidades de Lisboa, Porto e Leiria.

Foram incluídos indivíduos presentes e

disponíveis no local e momento do questionário, com

conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita.

Foram excluídos questionários considerados pelos

investigadores como insuficientemente preenchidos.

O questionário incidiu sobre dados sócio-

demográficos dos inquiridos (sexo, idade,

escolaridade e profissão) e sobre conhecimentos,

percepções e atitudes acerca dos esquerdinos, nos

domínios do quotidiano, trabalho, saúde, escola e

personalidade.

Para avaliação da lateralidade usou-se o

Questionário de Edinburgh37 (Edinburgh Handedness

Inventory) revisto por Stephen M. Williams38, e

traduzido para português pelos investigadores.

Para análise e tratamento estatístico dos dados

utilizou-se o Programa Microsoft Excel 2010®. Para

as variáveis ordinais foi calculada a frequência, média,

moda e mediana. Foi avaliada a associação entre

variáveis através dos testes χ2 (Qui-quadrado) e teste

de Fisher, com um nível de significância estabelecido

de p<0,05.

RESULTADOS

Recolheram-se 1.046 questionários, dos quais 17

foram excluídos por preenchimento considerado

insuficiente, de acordo com os critérios de exclusão

pré-definidos no protocolo do estudo, pelo que a

amostra final foi de 1.029 inquiridos.

I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS:

A amostra era constituída por 583 indivíduos do sexo

feminino (56,7%) e 445 indivíduos do sexo masculino

(43,3%).

As idades estavam compreendidas entre 15 e os 84

anos, com uma média de 33,5 anos, mediana de 29 e

moda de 23 (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Distribuição da amostra por escalões etários:

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 45 DE 79

A distribuição dos inquiridos de acordo com o

nível da escolaridade é apresentada no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição da amostra por escolaridade:

II – AVALIAÇÃO DA LATERALIDADE:

No que diz respeito à lateralidade auto-descrita

(LA), 870 (84,6%) inquiridos declararam-se “dextros”,

112 (10,9%) “canhotos” e 46 (4,4%) “ambidextros”

(Gráfico 3).

Gráfico 3 – Lateralidade auto-descrita:

Já na lateralidade avaliada pelo Questionário de

Edinburgh (Lateralidade Edinburgh – LE), 868 (85%)

inquiridos foram classificados como “dextros”, 78

(7,6%) como “canhotos” e 75 (7,3%) como

“ambidextros”.

Não se verificou associação estatisticamente

significativa entre LE e sexo, idade ou escolaridade.

O grau de concordância entre LA e LE foi de

90,8% (percentagem de respostas idênticas em LA e

LE). Contudo, 19 (25,3%) dos ambidextros LE

tiveram LA concordante, contra 19 (92,3%) e 835

(96,2%) dos esquerdinos e dos dextros,

respectivamente. O Gráfico 4 demonstra a relação

entre os resultados da LA e da LE.

Gráfico 4 – Relação entre a lateralidade referida e a avaliada:

Verificou-se que a lateralidade discordante (entre

LA e LE) é menor entre as pessoas que escrevem

sempre com a mão direita (por oposição às que

escrevem sempre com a esquerda), havendo uma

associação estatisticamente significativa entre

lateralidade discordante e a mão utilizada para

escrever.

Para o subsequente cruzamento de dados, foi

utilizado o resultado de LE.

Dos inquiridos, 774 (76,0%) não tinham “canhotos”

na família próxima (pais, irmãos, filhos ou cônjuge),

189 (18,5%) tinham um, 38 (3,7%) tinham dois e 18

870 (84,6%)

46 (4,4%)

112 (10,9%)

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 46 DE 79

(1,8%) tinham três ou mais. Dos esquerdinos, 30

(38,5%) afirmaram ter outros membros “canhotos” na

família, contra 188 (21,9%) dos dextros (Gráfico 5).

Gráfico 5 – Distribuição do número de esquerdinos na família de acordo com a LE.

Verifica-se uma associação estatisticamente

significativa entre a LE e o número de esquerdinos na

família, p<0,05.

III – PERCEPÇÕES

III.I – Quotidiano No que diz respeito à pergunta “Acha que ser

canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”, 335 (32,8%) dos

inquiridos responderam que sim, e 679 (67,0%)

responderam que não. Dos dextros, 297 (34,4%)

consideravam que os “canhotos” têm mais dificuldades,

contra 16 (20,8%) esquerdinos que achavam que ser

“canhoto” causa dificuldades no dia-a-dia (Gráfico 6).

Gráfico 6 – “Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”

Demonstrou-se uma associação estatisticamente

significativa entre o achar que “ser canhoto causa

dificuldades” e a lateralidade, p<0,05. Não houve

associação estatisticamente significativa entre o

número de esquerdinos na família e o achar que “ser

canhoto causa dificuldades no dia-a-dia”.

Na pergunta “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-

dia os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é

igual?” (Gráfico 7), as actividades apontadas como

conferindo mais desvantagens foram o

manuseamento de tesouras (n=501; 49,3%), “usar

abre-latas” (n=465; 45,9%) e “usar a máquina fotográfica”

(n=435; 42,7%). No campo das vantagens, as duas

actividades que reuniram mais consenso foram

“pagamentos na estrada – portagens” (n=321; 31,6%) e

“prática de artes marciais” (boxe, esgrima e capoeira)

(n=196; 19,4%).

Gráfico 7 – “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”

No que diz respeito ao manuseamento da

“tesoura”, 46,8% (n=403) dos dextros achavam que

ser “canhoto” causa dificuldade, contra 68,8% (n=53)

dos esquerdinos. Em relação ao “pagamento nas

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 47 DE 79

portagens”, 30,3% (n=262) dextros e 40,8% (n=31)

esquerdinos consideraram que ser “canhoto” era uma

vantagem.

III.II – Saúde: Na pergunta “Na sua opinião quem vive mais tempo?”,

52 (5,1%) responderam ser os “dextros”, contra 8

(0,9%) que responderam ser os “canhotos”.

Dos inquiridos, 269 (26,5%) referiram que os

“canhotos” tinham mais “acidentes de trabalho” e 106

(10,5%) que estes tinham mais “acidentes de carro”

(Gráfico 8). Quando questionados sobre se achavam

que deveria haver um “programa do Ministério da Saúde

só para canhotos”, a maioria das pessoas, 670 (66,1%),

responderam “não”, enquanto 87 (8,6%) responderam

“sim”, e 256 (25,3%) a resposta “não sei”.

Gráfico 8 – Saúde: “Na sua opinião quem…?”

Responderam afirmativamente a esta pergunta 36

(7,0%) inquiridos com idades entre 15-29 anos, 23

(8,3%) entre os 30-44 anos e 28 (13,1%) acima dos 45

anos.

Verificou-se uma associação entre as respostas

afirmativas e a idade. Não se demonstrou, contudo,

associação com a lateralidade.

III.III – Profissão:

Quando questionados sobre quem julgavam que

arranjaria trabalho mais facilmente, 93 pessoas (9,2%)

responderam ser os “dextros” e 4 (0,4%) os “canhotos”.

Também um maior número de pessoas referiu que os

dextros têm mais “sucesso no trabalho”, 42 (4,2%),

contra 18 (1,8%). No que diz respeito à “taxa de

desemprego”, 12 inquiridos (1,2%) consideraram que

esta era maior nos “dextros”, e 45 pessoas (4,5%) que

era maior nos “canhotos”. Contudo, em todas as alíneas

a resposta mais frequente foi “igual” (Gráfico 9).

Gráfico 9 – A nível profissional: “Na sua opinião quem…?”

Os inquiridos foram questionados sobre quem

seria melhor numa lista de profissões, se o “canhoto”,

se o “dextro” ou se “igual” (Gráfico 10). Para cada uma

delas, a esmagadora maioria respondeu “igual”. A

diferença entre as pessoas que responderam “canhotos”

e “dextros” foi mais marcada no item “piloto de avião”,

na qual 154 pessoas (15,2%) referiram que um

“dextro” seria melhor piloto, contra 11 (1,1%) que

responderam ser o “canhoto”. O oposto verificou-se

com o item “futebolista” em que 37 inquiridos (3,7%)

referiram que os “dextros” eram melhores e 170

(16,3%) que eram os “canhotos”.

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 48 DE 79

Gráfico 10 – “Nas seguintes profissões, quem à partida é melhor?”

No que diz respeito ao “jogador de ténis”, este

foi o item que menor consenso reuniu (menor

número de respostas “igual”). Dos inquiridos, 99

(9,8%) referiram que um tenista “dextro” seria

melhor e, 140 (13,8%) referiram “canhoto”. Não se

verificou associação entre esta escolha e a lateralidade.

Na pergunta “Preferia ser atendido por…?” (Gráfico 11),

a maioria das pessoas responderam “igual”.

Exceptuando o “médico de família”, em que 10 pessoas

prefeririam ser tratadas por um “canhoto” e 9 por um

“dextro”, em todas as outras profissões o número de

respostas “dextro” mostrou-se superior às respostas

“canhoto”. A diferença de respostas foi mais evidente

no item “cirurgião”, em que 91 pessoas (9,0%)

prefeririam ser tratados por um “dextro”, enquanto 11

pessoas (1,1%) prefeririam o “canhoto”.

Gráfico 11 – “Preferia ser atendido por…?”:

Preferiam um “cirurgião dextro” 44 (8,4%) das

pessoas com idade igual ou inferior a 29 anos, 16

(5,7%) com idades compreendidas entre 30 e 44 anos

e 31 (22,8%) das pessoas com mais de 44 anos.

Verificou-se uma associação estatisticamente

significativa entre preferir um cirurgião dextro e a

idade.

III.IV – Escrita Forçada/Escola: Do número total de inquiridos, 158 (15,5%)

referiram ter sido forçados pelos pais ou professores

a escrever com a mão direita.

Verificou-se uma associação estatisticamente

significativa (p<0,05), entre a escrita forçada e a idade

dos inquiridos (Gráfico 12) e entre escrita forçada e a

discordância entre LA e LE.

De 1.015 respostas à pergunta “Acha que os pais /

professores devem insistir com os canhotos para escreverem com

a mão direita?”, 36 inquiridos (3,6%) responderam

afirmativamente. Destes, 16 (44%) foram forçados a

escrever com a mão direita. Verificou-se uma

associação estatisticamente significativa entre o ter

sido forçado e achar que se deve forçar as crianças a

escrever com a mão direita (p<0,05).

Gráfico 12 – “Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita?”

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 49 DE 79

Quando se questionou o grupo dos esquerdinos

acerca da existência de “dificuldades sentidas na escola por

serem canhotos”, 54 (43,9%) responderam que “sim”,

dos quais 22 (40,7%) referiram ter sido ajudados

pelos colegas ou professores (Gráfico 13).

Gráfico 13 – “Só para canhotos:”

Não se verificou uma associação estatisticamente

significativa entre o ter tido dificuldades e a idade, e

entre o ter sido ajudado e a idade.

III.V – Personalidade: Quando se questionou a população de

esquerdinos se preferiam ser dextros, 8 (6,5%)

responderam que “sim”, contra 115 (93,5%) que

responderam que “não”. No grupo dos dextros, 37

(4,4%) responderam que preferiam ser “canhotos”, e

813 (95,6%) eram da opinião contrária (Gráfico 13).

O facto de querer mudar de lateralidade (em qualquer

um dos grupos) foi ainda associado, de modo

estatisticamente significativo, com o sexo, com uma

maior proporção de respostas afirmativas para os

homens 27 (6,1%) contra 18 (3,1%) das mulheres.

Não se verificou a existência de uma associação

entre ser esquerdino e ter tido sentido dificuldades na

escola, com o querer mudar de mão dominante.

Quando questionados acerca de uma lista de

percepções sobre características dos indivíduos

esquerdinos e dextros, a maioria das pessoas foi da

opinião que não havia diferenças (Gráfico 14). Os

adjectivos que foram atribuídos maioritariamente aos

esquerdinos foram “criativo” (21,3% “canhoto” e 1,7%

“dextro”, n=1011), “desajeitado” (17,6% “canhoto” e

4,0% “dextro”, n=1012) e “inteligente” (12,5% “canhoto”

e 1,0% “dextro”, n=1012).

Gráfico 14 – “Diga, pensando na população de canhotos e dextros quem…”:

Relativamente à opção “É melhor no desporto”, 125

(12,4%) responderam ser os “canhotos” e 64 (6,4%)

responderam ser os “dextros”.

Por outro lado, houve características mais

associadas aos dextros, como “organização” (6,9%

“canhotos” e 8,8% “dextros”, n=1011) e “liderança”

(2,8% “canhotos” e 3,6% “dextros”, n=1012).

Verificou-se uma associação estatisticamente

significativa entre as características “organização”,

“inteligência” e “criatividade” com a lateralidade.

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 50 DE 79

DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

Com o presente estudo pretendemos, para a

população em estudo, analisar as percepções,

conhecimentos e atitudes sobre esquerdinos.

Secundariamente pretendemos efectuar a

caracterização demográfica da lateralidade na nossa

amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da

preferência manual, aferir a persistência de pressões

sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e

registar eventuais dificuldades no quotidiano dos

mesmos.

Os investigadores constataram uma quase total

disponibilidade da população para participar no

estudo, pelo que, não nos apercebemos de qualquer

viés de selecção dos inquiridos que possa

comprometer a análise dos resultados. As raras

recusas deveram-se a alegada falta de tempo. Tão-

pouco se registaram dificuldades na compreensão do

questionário.

Não surgiram conflitos de carácter ético ou

ideológico em nenhum dos intervenientes.

I – DADOS SÓCIO-DEMOGRÁFICOS:

O facto de a recolha de dados ter sido feita

maioritariamente em meio urbano, em locais

tipicamente frequentados por uma população jovem,

tais como centros comerciais, bibliotecas e

faculdades, pode justificar o predomínio dos grupos

etários mais jovens na nossa amostra. O mesmo se

aplica para a prevalência de indivíduos licenciados

(45,2%) e com formação superior a licenciatura

(22,2%), muito superior na nossa amostra do que na

população portuguesa (10,8%)39.

Quanto à distribuição por sexos, na nossa amostra

há uma maior prevalência de mulheres (57,0%) do

que na população portuguesa (51,7%)39. Para os

efeitos do nosso estudo, tal diferença não foi

considerada significativa.

Importa, no entanto, referir que o estudo de uma

amostra de conveniência implica sempre restrições na

interpretação dos seus resultados. Por não ser uma

amostra representativa da população portuguesa, as

conclusões, em rigor, dizem respeito apenas ao grupo

de inquiridos, não podendo ser extrapoladas para a

população em geral.

II – LATERALIDADE:

A distribuição das percentagens da Lateralidade

Auto-descrita (LA) está de acordo com dados de

estudos anteriores em relação à população mundial

(~10% de esquerdinos, <5% de ambidextros)2-4.

Contudo, na lateralidade avaliada pelo

Questionário de Edinburgh (LE), quando comparada

com a LA, a percentagem de esquerdinos foi menor,

enquanto o número de ambidextros foi maior.

Este facto pode dever-se a limitações na aplicação

do próprio Questionário na nossa amostra. A

tradução literal do inglês, bem como a sua adaptação

à cultura portuguesa (utilização do rato do

computador, por exemplo) podem ter dificultado a

interpretação correcta do mesmo pelos inquiridos.

Por outro lado, uma representação menor de

esquerdinos na nossa amostra poderá ser reflexo de

uma pressão social para a alteração da preferência

manual, eventualmente em toda a sociedade

portuguesa. Efectivamente, a diferença entre o

número de ambidextros LA (n=46) e LE (n=75)

pode traduzir a realização forçada de actividades com

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 51 DE 79

a mão direita, o que influencia a classificação pelo

Questionário.

Apesar do acima referido, a discordância entre LA

e LE está também descrita em estudos anteriores34. É

por essa razão que, em certos estudos, se

complementa a classificação da lateralidade com o

recurso a outros métodos, como testes de

desempenho.

A inexistência de associação entre a LE e a idade

(em desacordo com estudos anteriores)6,7 pode dever-

se à baixa percentagem de indivíduos idosos

inquiridos nesta amostra.

Em relação à presença de esquerdinos na família

próxima, a sua correlação positiva com a lateralidade

está de acordo com a transmissão desta característica

entre gerações, seja por factores genéticos ou por

influência ambiental (desconhecendo-se o verdadeiro

peso de cada factor)9.

III – PERCEPÇÕES

III.I – Quotidiano: Um terço da população da nossa amostra foi da

opinião de que ser esquerdino causa dificuldades no

dia-a-dia, estando esta resposta associada à

lateralidade. Isto é, foram os dextros quem mais

respondeu afirmativamente a esta pergunta. Havendo

dados bibliográficos21,32,33 que suportam a existência

de dificuldades no quotidiano dos esquerdinos, parece

haver um reconhecimento insuficiente destas na

nossa amostra. Importa também saber qual a razão

desta divergência de opinião associada à lateralidade

do inquirido. Esta pode dever-se a uma negação das

dificuldades por parte dos esquerdinos da nossa

amostra, ou ainda à sua superação, isto é, a um

fenómeno de resiliência.

Para melhor discriminar os conhecimentos sobre

dificuldades dos esquerdinos no quotidiano, pareceu-

nos relevante questionar os inquiridos em relação a

cada uma de 13 tarefas seleccionadas. Nestas

incluíram-se actividades em que os esquerdinos têm -

de acordo com a bibliografia21,32,33 – mais

dificuldades, vantagens, e ainda ausência de diferenças

em relação aos dextros.

Verificamos uma tendência geral para responder

que os esquerdinos têm mais dificuldades do que

vantagens, incluindo nas tarefas nas quais

teoricamente não há diferenças entre os dois grupos

(“pregar um prego” ou “apagar com uma borracha”).

Foram analisados os resultados para “cortar com

uma tesoura”, como um exemplo de uma actividade na

qual os esquerdinos têm mais dificuldades. Para esta

pergunta, há uma dependência estatística da resposta

seja com a lateralidade do inquirido, seja com a

existência de esquerdinos na sua família próxima.

Assim, na nossa amostra, são os dextros e as pessoas

sem esquerdinos na família quem menos responde

que “Cortar com uma tesoura” é uma tarefa na qual os

esquerdinos têm mais dificuldades. Logo, parece ser

importante o contacto próximo com esquerdinos para

conhecer as suas dificuldades quotidianas.

No que diz respeito às actividades “artes marciais” e

“pagamentos na estrada”, as respostas foram

concordantes com as vantagens dos esquerdinos,

descritas na bibliografia32,33. Importa referir que esta

resposta está associada de um modo estatisticamente

significativo com a lateralidade. Isto é, são os dextros

quem menos reconhece as vantagens dos

esquerdinos.

Em suma, embora o grupo dos dextros tenha

referido inicialmente achar que os esquerdinos tinham

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 52 DE 79

mais dificuldades no quotidiano, quando

confrontados com tarefas específicas, não

identificaram as reais dificuldades e vantagens dos

esquerdinos.

III.II – Saúde:

Das diversas áreas da Saúde analisadas no nosso

questionário, aquelas que um maior número de

inquiridos considerou desfavoráveis para os

esquerdinos foram os acidentes de trabalho e de

viação, conhecimento empírico que está em

consonância com a literatura científica22.

Verificamos, no entanto, que a maioria dos

inquiridos entendeu não haver diferenças entre

dextros e esquerdinos nos aspectos analisados. Este

facto, aliado à opinião geral de que um eventual

programa do Ministério da Saúde não é necessário,

sugere que, na nossa amostra, a lateralidade esquerda

não é vista como um problema de Saúde Pública.

III.III – Profissão:

Para analisar as opiniões relativas ao campo

profissional, perguntámos pelas diferenças entre

dextros e esquerdinos em três aspectos: a)

desemprego e sucesso no trabalho, b) melhor

desempenho em determinadas profissões e c) por

quem preferia ser atendido.

Na nossa amostra, há um pequeno grupo de

inquiridos que entende que os dextros são quem

“arranja trabalho com maior facilidade” e, que são os

esquerdinos quem “tem maior taxa de desemprego”. Há

ainda um grupo de inquiridos que acha que os dextros

são quem “tem mais sucesso no trabalho”. Estes

resultados são distintos dos encontrados na

bibliografia, onde se concluiu que os esquerdinos

tinham maior sucesso profissional, medido através

dos rendimentos auferidos31. Possivelmente este dado

está relacionado com as opiniões relativas aos

esquerdinos: 26,5% dos inquiridos entendeu que estes

têm “mais acidentes de trabalho” e 16,7% consideraram

que as pessoas com preferência manual esquerda são

mais “desajeitadas”.

Em relação a quem tem melhor desempenho

numa série de profissões, verificámos que a maioria

dos inquiridos afirmou que dextros e esquerdinos

eram iguais.

Contudo, as pessoas que consideravam haver

diferenças tenderam a referir que os esquerdinos são

melhores em profissões de carácter mais criativo,

enquanto os dextros são superiores naquelas que

exigem maior destreza manual. São exemplos de

profissões manuais as seguintes: “piloto de avião” (15,2%

dextros contra 1,1% esquerdinos), “militar” (11,2%

dextros contra 0,6% esquerdinos), “pedreiro” (6,0%

dextros contra 0,5% esquerdinos) e “mulher da

limpeza” (5,3% dextros contra 0,7% esquerdinos).

Como profissões criativas analisámos, por exemplo,

“escritor” (1,6% dextros contra 4,6% esquerdinos).

Curiosamente, as profissões criativas com um

importante componente manual foram aquelas nas

quais se observaram mais respostas simultaneamente

para dextros e esquerdinos: “escultor” (4,0% dextros e

4,0% esquerdinos) e “arquitecto” (5,9% dextros contra

6,6% esquerdinos).

As profissões desportivas “jogador de ténis” e

“futebolista” foram aquelas em que um menor número

de pessoas respondeu que dextros e esquerdinos eram

“iguais”. E, apesar de haver um número de respostas

“canhoto” superior às de “dextro”, a diferença entre

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 53 DE 79

ambas foi menor do que o esperado face já descrito

na literatura32,33.

Por último, para analisar as opiniões sobre o

desempenho profissional de esquerdinos e dextros,

escolhemos um conjunto de profissões com maior

contacto pessoal e risco potencial para o inquirido.

Optámos por perguntar directamente ao inquirido se

preferia ser atendido por um barbeiro/cabeleireiro ou

profissional de saúde esquerdino ou dextro.

Queríamos assim ter uma opinião pessoal e subjectiva

sobre a questão, mais do que uma opinião genérica e

impessoal sobre quem tem melhor desempenho.

Em todas as profissões houve um predomínio dos

dextros em relação aos esquerdinos, excepto para

“médico de família” que é aquela na qual há, no nosso

entender, menor risco de acidentes. No caso concreto

de “cirurgião”, a preferência por um profissional

dextro associa-se, com significância estatística, a

níveis de escolaridade mais baixos e idades mais

elevadas. Presumivelmente estas são pessoas com

conhecimentos inferiores, mas existem vários estudos

que suportam a existência de limitações, por vezes

relevantes, no exercício de profissões como cirurgião

ou dentista21.

III.IV – Escrita Forçada/Escola: A alta prevalência de indivíduos (15,5%) que

foram forçados a escrever com a mão direita na

amostra é um dado que consideramos de relevo.

Numa amostra com predomínio de idades mais

jovens, seria de esperar um valor mais reduzido25.

Este facto pode constituir um indicador da

persistência de discriminação contra a preferência

manual esquerda3,25.

Ainda assim, na nossa amostra, há menos

indivíduos forçados nas faixas etárias mais novas,

pelo que parece haver, actualmente, uma maior

aceitação para com os esquerdinos na sociedade

portuguesa.

Desconhece-se, no entanto, a magnitude deste

fenómeno nas gerações abaixo dos 15 anos. Apesar

da lateralidade se estabelecer nos primeiros anos de

vida, esta continua a desenvolver-se ao longo da

idade, com um período importante compreendido na

idade pré-escolar e escolar35. Sendo assim

consideramos relevante realizar-se futuramente uma

investigação neste segmento etário.

A demonstração da associação da escrita forçada

com a lateralidade discordante (entre LA e LE) pode

também estar relacionada com uma possível

subestimação da prevalência real de esquerdinos na

população.

Verificou-se uma associação positiva entre o facto

de o inquirido ter sido forçado a escrever com a mão

direita e a opinião de que “os pais/professores devem

insistir com os canhotos para escrever com a mão direita”. Este

efeito de perpetuação inter-geracional já foi

abundantemente descrito noutras áreas da psicologia,

principalmente para situações muito mais graves de

opressão, tais como a violência doméstica, abusos

sexuais e alcoolismo40.

No entanto, tal não invalida que a larga maioria

(84,5%) dos indivíduos estudados não se tenha

considerado forçado a usar uma das mãos, nem tão-

pouco ache que tal se deva fazer.

No que se refere à escola, apenas 40% dos

indivíduos que referem ter tido dificuldades foram

ajudados. O facto de na nossa amostra não ter sido

prestada a devida atenção às particularidades dos

O DI REITO A SER ESQU ERDINO

PÁGI NA 54 DE 79

esquerdinos, alerta-nos para que tal também possa

ocorrer na população portuguesa.

III.V – Personalidade:

Foi relevante termos registado que os esquerdinos

revelaram, enquanto grupo, uma tendência para

atribuírem características positivas – inteligência,

criatividade - a si próprios, comportamento que não

se repetiu no grupo dos dextros. Estes responderam

maioritariamente “igual” às mesmas perguntas. Tal

diferença parece reflectir que os esquerdinos dão uma

maior importância a estas questões.

Notou-se ainda uma maior tendência dos

esquerdinos para quererem mudar de lateralidade

(6,5% contra 4,4% dos dextros), o que pode está em

concordância com a existência de dificuldades no

quotidiano dos mesmos.

RECOMENDAÇÕES

No decorrer deste estudo surgiram algumas

limitações e dificuldades que nos alertaram para a

necessidade de uma investigação mais aprofundada

nalguns aspectos relacionados com a preferência

manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade

de um questionário para a avaliação da lateralidade

manual validado na população portuguesa; estudar a

real influência da lateralidade em acidentes

(domésticos, profissionais e rodoviários).

Sugerimos ainda a investigação, na população

abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual da

preferência manual e da alteração forçada da mesma.

Neste segmento etário importa também averiguar a

persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos

na escola, e o que está de facto a ser feito para as

minimizar.

Orçamento e Recursos Humanos:

Estimámos o orçamento necessário à

realização deste estudo em 3.945€, repartidos da

seguinte forma: questionários (impressão,

canetas, bases para preenchimento): 150€;

deslocações: 100€; comunicações: 20€;

honorários: 3675€ (5€/hora, 5 horas diárias

durante 21 dias para 7 pessoas).

Contacto dos autores:

Ana Rita Francisco [email protected]

Carolina Horta de Almeida [email protected]

David Barrote Navarro [email protected]

Francisco Vilaça Lopes [email protected]

João Sebastião Pinto [email protected]

Pedro Alexandre Garrido [email protected]

Pedro Faro Viana [email protected]

Mário Cordeiro [email protected] Lisboa, 21 de Março de 2011

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BIBLIOGRAFIA

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ANEXO 5 – Comunicação Científica

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– Introdução –

Dificuldades no dia-a-dia

Qualidade de Vida

Limitações Profissionais

Utilização de objectos

Condução automóvel

Acesso a infra-estruturas

Cirurgiões

Dentistas

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– Introdução –

Em Portugal…

Qual o nível de esclarecimento da população?

Qual o impacte socio-cultural?

Como tem sido a evolução na educação para os

esquerdinos?

Quais as principais dificuldades dos esquerdinos?

Como é distribuída a lateralidade?

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– Objectivos –

Avaliar percepções, conhecimentos e atitudes de uma

população em Portugal acerca da qualidade de vida dos

esquerdinos.

Objectivo Principal

Caracterização da preferência manual da amostra

Prevalência da alteração forçada da preferência

manual

Persistência de pressões sociais e discriminação

Principais problemas no quotidiano dos esquerdinos

Objectivo Secundários

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– Métodos –

Critérios de Inclusão

• Idade ≥ 15 anos

• Presença no local e momento do questionário

• Disponibilidade para responder

• Conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita

Critério de Exclusão

• Questionários considerados pelos investigadores como insuficientemente preenchidos

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Avaliação da Lateralidade

Questionário Edinburgh:

Aplicabilidade do

Questionário

Alteração Forçada

– Resultados e Discussão –

N=1021

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Turma 7:

Ana Rita Gaspar Lopes Francisco – 2005015 Carolina Manuel da Costa Horta de Almeida

David Barrote Navarro Dias – 2005180 Francisco Miguel dos Santos Ramos Vilaça Lopes – 2005062

João Sebastião Dias Pinto – 2005093 Pedro Alexandre dos Santos Garrido – 2005001

Pedro Ruas Faro Viana – 2005141

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O D I R E I T O A S E R E S Q U E R D I N O

A N Á L I S E D E P E R C E P Ç Õ E S , C O N H E C I M E N T O S E A T I T U D E S S O B R E A Q U A L I D A D E D E V I D A D E E S Q U E R D I N O S

Francisco AR*, Almeida C*, Navarro DB*, Pinto JS*, Lopes FV*, Garrido PA*, Viana PF* e Cordeiro M#

*Alunos do Mestrado Integrado em Medicina da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

#Professor Auxiliar-Convidado de Saúde Pública da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa.

Departamento de Saúde Pública Faculdade de Ciências Médicas - Universidade Nova de Lisboa, Portugal

RESUMO

Introdução: A lateralidade esquerda, estimada em 10% na população mundial, tem sido objecto de estudo em várias áreas científicas. Factores que caracterizam este grupo populacional, minoritário relativamente à população dominante, a dextra, incluem: uma maior prevalência de acidentes mortais e a associação com determinadas doenças, bem como a ocorrência de discriminação e pressões sociais para alterar a preferência manual em algumas actividades. A lateralidade esquerda associa-se também a dificuldades no dia-a-dia e no desempenho de algumas profissões (cirurgião, dentista). Reconhecem-se, no entanto, algumas vantagens em áreas artísticas e desportos interactivos. Este estudo teve como objectivo determinar percepções, conhecimentos e atitudes da população sobre a qualidade de vida dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu caracterizar a lateralidade da amostra e avaliar o grau de alteração forçada da preferência manual para a escrita. Métodos: Foi realizado um questionário de auto-preenchimento, dirigido a indivíduos de idade igual ou superior a 15 anos, distribuído em Lisboa, Porto e Leiria. Foi utilizado o Questionário de Edinburgh para determinação da lateralidade. Resultados: Dos 1.029 inquiridos, 868 (85%) foram classificados como dextros, 78 (7,6%) como esquerdinos e 75 (7,3%) como ambidextros. Houve associação entre o reconhecimento de dificuldades específicas do quotidiano (utilizar uma tesoura - 501; 49,3%; um abre-latas - 465; 45,9%; e máquina fotográfica - 435; 42,7%), e o facto de ser esquerdino ou ter esquerdinos na família próxima (p<0,05). 26,5% dos inquiridos referiram que os esquerdinos tinham mais acidentes de trabalho. 16,8% e 13,8% dos inquiridos referiram o melhor desempenho dos esquerdinos nas profissões “futebolista” e “jogador de ténis”, respectivamente, enquanto 15,2% da amostra referiu que um dextro seria um melhor “piloto de avião”. 9,0% dos inquiridos prefeririam ser tratados por um cirurgião dextro (associação com a idade e escolaridade, p<0,05). 15,5% dos inquiridos referem ter sido obrigados a escrever com a mão direita. Discussão: Em geral, parece haver um baixo reconhecimento das dificuldades sentidas pelos esquerdinos no quotidiano e no trabalho. Parece também haver um grau de discriminação residual para com a lateralidade esquerda (associada a idade mais avançada). Há ainda um diminuto reconhecimento de vantagens em algumas profissões. Palavras-chave: Lateralidade, Esquerdinos, Qualidade de Vida, Alteração da preferência manual.

ABSTRACT

Introduction: Left-Handedness, which represents about 10% of the world’s population, has been a subject of study

in several scientific areas. Distinguishing features associated with this particular population include: a greater

prevalence of fatal accidents and the association with several diseases, as well as discrimination and social pressures

in order to switch handedness in some activities. There is also a link between left-handedness and difficulties in

everyday activities and in some professions (surgeons, dentists). Several advantages have been pointed out, however,

notably regarding art and interactive sports. The aim of the present study was to determine perceptions, knowledge

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and attitudes of the population towards the quality of life of left-handed people. On a second level, it was our

intention to classify the laterality of our sample, and evaluate the degree of forced hand switching for writing.

Methods: This was a cross-sectional study. A written survey was conducted, towards individuals aged 15 or more,

in the Portuguese cities of Lisboa, Porto and Leiria. The Edinburgh Handedness Inventory was used to determine

laterality.

Results: From the total of 1,029 respondents, 868 (85%) were classified as right-handed, 78 (7,6%) as left-handed

and 75 (7,3%) as mixed-handed. The recognition of specific daily difficulties (using scissors n=501; 49,3%; using a

can-opener - 465; 45,9%; using a photographic camera - 435; 42,7% ) was associated with being left-handed and

with the presence of left-handedness in the close-related family (p<0,05). 26,5% of the respondents referred a

greater prevalence of work-related accidents among the left-handed. 16,8% and 13,8% of the respondents associated

left-handedness with better performance as a “football player” and “tennis player”, respectively, while 15,2% of the

sample referred that an “aircraft pilot” would perform better if right-handed. 9,0% of the respondents said they

would prefer being treated by a right-handed surgeon (association with age and level of education, p<0,05). 15,5%

referred having been forced to switch hand preference regarding writing.

Discussion: Overall, there appears to be a low acknowledgement of the daily and work-related difficulties of the left-handed. There is also a residual level of discrimination towards this group (mainly associated with increasing age). Finally, there is a lack of knowledge concerning some of the advantages of being left-handed in the practice of some professions. Key Words: Laterality, Left-Handedness, Quality of Life, Switching Hand Preference

INTRODUÇÃO

A lateralidade é definida como “o uso preferencial,

em actos motores voluntários, dos componentes

ipsilaterais dos principais órgãos pares do corpo

(braço, ouvido, olho e perna)”1. O componente mais

estudado é a preferência manual, sobre o qual este

estudo incide.

Estima-se que cerca de 10% da população mundial

tenha preferência manual esquerda (sendo as pessoas

designadas esquerdinas ou, mais vulgarmente,

canhotas)2-4, registando-se algumas variações

geográficas2,5,6. Globalmente, a lateralidade à esquerda

é mais frequente no sexo masculino, havendo um

decréscimo da prevalência de esquerdinos declarados

com o aumento da idade7,8. A lateralidade esquerda

também tem um componente hereditário significativo,

desconhecendo-se, contudo, o verdadeiro peso deste

quando comparado com a influência do ambiente

familiar, escolar e social9.

A relativa minoria de esquerdinos, demonstrável no

ser humano desde o Paleolítico10, bem como a

diminuição da sua incidência na população idosa, pode

dever-se a uma menor esperança média de vida

(hipótese de eliminação) ou à existência de pressões

sociais e históricas para utilizar a mão direita (hipótese

de modificação)11.

Foi demonstrada uma menor longevidade na

população dos esquerdinos12,13, eventualmente

interligada com a associação entre a lateralidade

esquerda e o aumento de incidência de diversas

doenças como alergias, malformações esqueléticas,

doenças auto-imunes, patologia neuro-psiquiátrica (p.

ex. esquizofrenia) e algumas formas de cancro 3,13-18.

Além disso, a maior vulnerabilidade dos esquerdinos

para a ocorrência de acidentes, e sendo estes uma das

maiores causas de anos de vida perdidos na população

jovem e a maior causa de anos perdidos no chamado

Mundo Ocidental, também pode contribuir para a

hipótese de eliminação19-22.

Ao longo da História, os esquerdinos têm sido alvo

de discriminação2,4. O sentido pejorativo associado ao

lado esquerdo está patente na própria linguagem,

como atestam os sinónimos de esquerdino

(desajeitado, acanhado, demónio) e sinistro (que

pressagia desgraça, infunde receio, revela malvadez,

sombrio; desastre)11. Ao invés, o lado direito está

associado a correcção, rectidão, justiça e destreza23.

Ainda no séc. XX, psicólogos, sociólogos e médicos

associavam a lateralidade esquerda à criminalidade,

insanidade e atraso mental24. A existência dos referidos

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mitos e atitudes parece contribuir para a ocorrência de

alteração forçada da lateralidade (principalmente para a

escrita), tanto no ambiente escolar como familiar25.

Este fenómeno, cuja frequência tem vindo a diminuir

em algumas sociedades26,27, parece apoiar a hipótese de

diminuição de prevalência por modificação.

No mundo em que vivemos, em consequência da

menor representação de esquerdinos, as infra-

estruturas e os instrumentos foram planeados e

construídos visando uma utilização por dextros.

Assim, desde os objectos de escritório aos

instrumentos musicais, passando pelos automóveis,

acessos a edifícios e sua arquitectura, a concepção

facilitadora para os dextros pode implicar dificuldades

quotidianas para os esquerdinos (para além da

ocorrência de acidentes já referida)19-21. A lateralidade

esquerda está associada ainda a limitações, por vezes

graves, no desempenho de algumas profissões

(cirurgiões, dentistas)21,28.

Contudo, ser esquerdino também parece ter

vantagens9. Existe uma correlação positiva entre a

lateralidade esquerda e a criatividade29. Também há

dados a favor de uma maior proporção de esquerdinos

entre profissões artísticas como a música, do que na

população em geral 29,30. Ainda no campo profissional,

um estudo verificou que os homens esquerdinos

auferiam rendimentos mais elevados do que os

dextros31. Já no campo desportivo, nas modalidades

como o ténis ou a esgrima, em que existe interacção

com um adversário, a preferência manual esquerda

parece ser uma vantagem32. Por último, pensa-se ainda

na preferência manual esquerda como uma vantagem

na luta corpo-a-corpo33. No entanto, muitos dos

estudos referidos têm sido alvo de diversas críticas,

uma das quais é a inconsistência na determinação e

classificação da lateralidade. A determinação baseada

em questionários (Lateralidade Auto-descrita,

Questionário de Edinburgh, Questionário de Annett)

e os testes de desempenho têm níveis de concordância

distintos3,4,16,34.

Em Portugal, desconhece-se o nível de

esclarecimento da população acerca das dificuldades

encontradas pelos esquerdinos a nível quotidiano,

profissional e escolar. Não existem dados acerca das

atitudes e das pressões sociais exercidas em Portugal.

Para lá disso, o número de estudos de caracterização

da lateralidade em Portugal são escassos35,36.

O objectivo principal deste estudo foi avaliar

percepções, conhecimentos e atitudes de uma

população em Portugal acerca da qualidade de vida

dos esquerdinos. Secundariamente, pretendeu-se

caracterizar a preferência manual da amostra obtida,

avaliar a prevalência da alteração forçada da

preferência manual, aferir a persistência de pressões

sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e

registar eventuais dificuldades no quotidiano dos

mesmos.

MÉTODOS

Foi realizado um estudo observacional, descritivo e

transversal. Seleccionou-se uma amostra de

conveniência, constituída por indivíduos com idade

igual ou superior a 15 anos. Determinou-se este limite

com vista a poder incluir inquiridos ainda em idade

escolar, mas com maturidade suficiente para

compreender o questionário.

A recolha dos dados foi realizada através de um

questionário anónimo, individual e de auto-

preenchimento, distribuído entre os dias 4 e 13 de

Março de 2011, em diversos locais públicos das

cidades de Lisboa, Porto e Leiria.

Foram incluídos indivíduos presentes e disponíveis

no local e momento do questionário, com

conhecimentos da Língua Portuguesa falada e escrita.

Foram excluídos questionários considerados pelos

investigadores como insuficientemente preenchidos.

O questionário incidiu sobre dados sócio-

demográficos dos inquiridos (sexo, idade, escolaridade

e profissão) e sobre conhecimentos, percepções e

atitudes acerca dos esquerdinos, nos domínios do

quotidiano, trabalho, saúde, escola e personalidade.

Para avaliação da lateralidade usou-se o

Questionário de Edinburgh37 (Edinburgh Handedness

Inventory) revisto por Stephen M. Williams38, e

traduzido para português pelos investigadores.

Para análise e tratamento estatístico dos dados

utilizou-se o Programa Microsoft Excel 2010®. Para

as variáveis ordinais foi calculada a frequência, média,

moda e mediana. Foi avaliada a associação entre

variáveis através dos testes χ2 (Qui-quadrado) e teste

de Fisher, com um nível de significância estabelecido

de p<0,05.

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RESULTADOS

Recolheram-se 1.046 questionários, dos quais 17

foram excluídos por preenchimento considerado

insuficiente, de acordo com os critérios de exclusão

pré-definidos no protocolo do estudo, pelo que a

amostra final foi de 1.029 inquiridos.

I – Dados sócio-demográficos:

A amostra era constituída por 583 indivíduos do

sexo feminino (56,7%) e 445 indivíduos do sexo

masculino (43,3%).

As idades estavam compreendidas entre 15 e os 84

anos, com uma média de 33,5 anos, mediana de 29 e

moda de 23 (Gráfico 1).

Gráfico 1 – Distribuição da amostra por escalões etários:

A distribuição dos inquiridos de acordo com o

nível da escolaridade é apresentada no Gráfico 2.

Gráfico 2 – Distribuição da amostra por escolaridade:

II – Avaliação da Lateralidade:

No que diz respeito à lateralidade auto-descrita

(LA), 870 (84,6%) inquiridos declararam-se “dextros”,

112 (10,9%) “canhotos” e 46 (4,4%) “ambidextros”

(Gráfico 3).

Gráfico 3 – Lateralidade auto-descrita:

Já na lateralidade avaliada pelo Questionário de

Edinburgh (Lateralidade Edinburgh – LE), 868 (85%)

inquiridos foram classificados como “dextros”, 78

(7,6%) como “canhotos” e 75 (7,3%) como

“ambidextros”.

Não se verificou associação estatisticamente

significativa entre LE e sexo, idade ou escolaridade.

O grau de concordância entre LA e LE foi de

90,8% (percentagem de respostas idênticas em LA e

LE). Contudo, 19 (25,3%) dos ambidextros LE

tiveram LA concordante, contra 19 (92,3%) e 835

(96,2%) dos esquerdinos e dos dextros,

respectivamente. O Gráfico 4 demonstra a relação

entre os resultados da LA e da LE.

Gráfico 4 – Relação entre a lateralidade referida e a avaliada:

46 (4,4%)

112 (10,9%)

870 (84,6%)

Página 5 de 13

Verificou-se que a lateralidade discordante (entre

LA e LE) é menor entre as pessoas que escrevem

sempre com a mão direita (por oposição às que

escrevem sempre com a mão esquerda), havendo uma

associação estatisticamente significativa entre a

lateralidade discordante e a mão que se utiliza para

escrever.

Para o subsequente cruzamento de dados, foi

utilizado o resultado de LE.

Dos inquiridos, 774 (76,0%) não tinham “canhotos”

na família próxima (pais, irmãos, filhos ou cônjuge),

189 (18,5%) tinham um, 38 (3,7%) tinham dois e 18

(1,8%) tinham três ou mais. Dos esquerdinos, 30

(38,5%) afirmaram ter outros membros “canhotos” na

família, contra 188 (21,9%) dos dextros (Gráfico 5).

Verifica-se uma associação estatisticamente

significativa entre a LE e o número de esquerdinos na

família, p<0,05. Gráfico 5 – Distribuição do número de esquerdinos na família de acordo com a LE.

III – Percepções

III.I – Quotidiano

No que diz respeito à pergunta “Acha que ser canhoto

causa dificuldades no dia-a-dia?”, 335 (32,8%) dos

inquiridos responderam que sim, e 679 (67,0%)

responderam que não. Dos dextros, 297 (34,4%)

consideravam que os “canhotos” têm mais dificuldades,

contra 16 (20,8%) esquerdinos que achavam que ser

“canhoto” causa dificuldades no dia-a-dia (Gráfico 6).

Demonstrou-se uma associação estatisticamente

significativa entre o achar que “ser canhoto causa

dificuldades” e a lateralidade, p<0,05. Não houve

associação estatisticamente significativa entre o

número de esquerdinos na família e o achar que “ser

canhoto causa dificuldades no dia-a-dia”.

Na pergunta “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia

os canhotos têm mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”

(Gráfico 7), as actividades apontadas como conferindo

mais desvantagens foram o manuseamento de tesouras

(n=501; 49,3%), “usar abre-latas” (n=465; 45,9%) e

“usar a máquina fotográfica” (n=435; 42,7%). No campo

das vantagens, as duas actividades que reuniram mais

consenso foram “pagamentos na estrada – portagens”

(n=321; 31,6%) e “prática de artes marciais” (boxe,

esgrima e capoeira) (n=196; 19,4%).

Gráfico 6 – “Acha que ser canhoto causa dificuldades no dia-a-dia?”

No que diz respeito ao manuseamento da “tesoura”,

46,8% (n=403) dos dextros achavam que ser “canhoto”

causa dificuldade, contra 68,8% (n=53) dos

esquerdinos. Em relação ao “pagamento nas portagens”,

30,3% (n=262) dextros e 40,8% (n=31) esquerdinos

consideraram que ser “canhoto” era uma vantagem.

Gráfico 7 – “Acha que nas seguintes tarefas do dia-a-dia os canhotos têm

mais dificuldades, mais vantagens ou é igual?”

Página 6 de 13

Gráfico 8 – Saúde: “Na sua opinião quem…?”

III.II – Saúde:

Na pergunta “Na sua opinião quem vive mais tempo?”,

52 (5,1%) responderam ser os “dextros”, contra 8

(0,9%) que responderam ser os “canhotos”.

Dos inquiridos, 269 (26,5%) referiram que os

“canhotos” tinham mais “acidentes de trabalho” e 106

(10,5%) que estes tinham mais “acidentes de carro”

(Gráfico 8). Quando questionados sobre se achavam

que deveria haver um “programa do Ministério da Saúde só

para canhotos”, a maioria das pessoas, 670 (66,1%),

responderam “não”, enquanto 87 (8,6%) responderam

“sim”, e 256 (25,3%) seleccionaram a resposta “não

sei”.

Responderam afirmativamente a esta pergunta 36

(7,0%) inquiridos com idades entre 15-29 anos, 23

(8,3%) entre os 30-44 anos e 28 (13,1%) acima dos 45

anos.

Verificou-se uma associação entre as respostas

afirmativas e a idade. Não se demonstrou, contudo,

associação com a lateralidade.

III.III – Profissão:

Quando questionados sobre quem julgavam que

arranjaria trabalho mais facilmente, 93 pessoas (9,2%)

responderam ser os “dextros” e 4 (0,4%) os “canhotos”.

Também um maior número de pessoas referiu que os

dextros têm mais “sucesso no trabalho”, 42 (4,2%), contra

18 (1,8%). No que diz respeito à “taxa de desemprego”,

12 inquiridos (1,2%) consideraram que esta era maior

nos “dextros”, e 45 pessoas (4,5%) que era maior nos

“canhotos”. Contudo, em todas as alíneas a resposta

mais frequente foi “igual” (Gráfico 9).

Gráfico 9 – A nível profissional: “Na sua opinião quem…?”

Os inquiridos foram questionados sobre quem

seria melhor numa lista de profissões, se o “canhoto”, se

o “dextro” ou se “igual” (Gráfico 10). Para cada uma

delas, a esmagadora maioria respondeu “igual”. A

diferença entre as pessoas que responderam “canhotos”

e “dextros” foi mais marcada no item “piloto de avião”,

na qual 154 pessoas (15,2%) referiram que um “dextro”

seria melhor piloto, contra 11 (1,1%) que responderam

ser o “canhoto”. O oposto verificou-se com o item

“futebolista” em que 37 inquiridos (3,7%) referiram que

os “dextros” eram melhores e 170 (16,3%) que eram os

“canhotos”.

No que diz respeito ao “jogador de ténis”, este foi o

item que menor consenso reuniu (menor número de

respostas “igual”). Dos inquiridos, 99 (9,8%) referiram

que um tenista “dextro” seria melhor e, 140 (13,8%)

referiram ser o “canhoto”. Não se verificou associação

entre a lateralidade e esta escolha.

Na pergunta “Preferia ser atendido por…?” (Gráfico

11), a maioria das pessoas responderam “igual”.

Exceptuando o “médico de família”, em que 10 pessoas

prefeririam ser tratadas por um “canhoto” e 9 por um

“dextro”, em todas as outras profissões o número de

respostas “dextro” mostrou-se superior às respostas

“canhoto”. A diferença de respostas foi mais evidente

no item “cirurgião”, em que 91 pessoas (9,0%)

prefeririam ser tratados por um “dextro”, enquanto 11

pessoas (1,1%) prefeririam o “canhoto”.

Preferiam um “cirurgião dextro” 44 (8,4%) das

pessoas com idade igual ou inferior a 29 anos, 16

(5,7%) com idades compreendidas entre 30 e 44 anos

e 31 (22,8%) das pessoas com mais de 44 anos.

Verificou-se uma associação estatisticamente

Página 7 de 13

significativa entre preferir um cirurgião dextro e a

idade.

Gráfico 10 – “Nas seguintes profissões, quem à partida é melhor?”:

Gráfico 11 – “Preferia ser atendido por…?”:

III.IV – Escrita Forçada/Escola:

Do número total de inquiridos, 158 (15,5%)

referiram ter sido forçados pelos pais ou professores a

escrever com a mão direita.

Verificou-se uma associação estatisticamente

significativa (p<0,05), entre a escrita forçada e a idade

dos inquiridos (Gráfico 12) e entre escrita forçada e a

discordância entre LA e LE.

De 1.015 respostas à pergunta “Acha que os pais /

professores devem insistir com os canhotos para escreverem com a

mão direita?”, 36 inquiridos (3,6%) responderam

afirmativamente. Destes, 16 (44%) foram forçados a

escrever com a mão direita. Verificou-se uma

associação estatisticamente significativa entre o ter

sido forçado e achar que se deve forçar as crianças a

escrever com a mão direita (p<0,05).

Gráfico 12 – “Os seus pais/professores obrigavam-no a escrever com a mão direita?”

Quando se questionou o grupo dos esquerdinos

acerca da existência de “dificuldades sentidas na escola por

serem canhotos”, 54 (43,9%) responderam que “sim”, dos

quais 22 (40,7%) referiram ter sido ajudados pelos

colegas ou professores (Gráfico 13).

Não se verificou uma associação estatisticamente

significativa entre o ter tido dificuldades e a idade, e

entre o ter sido ajudado e a idade. Gráfico 13 – “Só para canhotos:”

III.V – Personalidade:

Quando se questionou a população de esquerdinos

se preferiam ser dextros, 8 (6,5%) responderam que

“sim”, contra 115 (93,5%) que responderam que “não”.

No grupo dos dextros, 37 (4,4%) responderam que

preferiam ser “canhotos”, e 813 (95,6%) eram da

opinião contrária (Gráfico 13). O facto de querer

mudar de lateralidade (em qualquer um dos grupos) foi

ainda associado, de modo estatisticamente

significativo, com o sexo, com uma maior proporção

de respostas afirmativas para os homens 27 (6,1%)

contra 18 (3,1%) das mulheres.

Não se verificou a existência de uma associação

entre ser esquerdino e ter tido sentido dificuldades na

escola, com o querer mudar de mão dominante.

Página 8 de 13

Quando questionados acerca de uma lista de

percepções sobre características dos indivíduos

esquerdinos e dextros, a maioria das pessoas foi da

opinião que não havia diferenças (Gráfico 14). Os

adjectivos que foram atribuídos maioritariamente aos

esquerdinos foram “criativo” (21,3% “canhoto” e 1,7%

“dextro”, n=1011), “desajeitado” (17,6% “canhoto” e 4,0%

“dextro”, n=1012) e “inteligente” (12,5% “canhoto” e

1,0% “dextro”, n=1012).

Relativamente à opção “É melhor no desporto”, 125

(12,4%) responderam ser os “canhotos” e 64 (6,4%)

responderam ser os “dextros”.

Por outro lado, houve características mais

associadas aos dextros, como “organização” (6,9%

“canhotos” e 8,8% “dextros”, n=1011) e “liderança” (2,8%

“canhotos” e 3,6% “dextros”, n=1012).

Verificou-se uma associação estatisticamente

significativa entre as características “organização”,

“inteligência” e “criatividade” com a lateralidade.

Gráfico 14 – “Diga, pensando na população de canhotos e dextros quem…”:

DISCUSSÃO/CONCLUSÃO

Com o presente estudo pretendemos, para a

população em estudo, analisar as percepções,

conhecimentos e atitudes sobre esquerdinos.

Secundariamente pretendemos efectuar a

caracterização demográfica da lateralidade na nossa

amostra, avaliar a prevalência da alteração forçada da

preferência manual, aferir a persistência de pressões

sociais e discriminação em relação aos esquerdinos e

registar eventuais dificuldades no quotidiano dos

mesmos.

Os investigadores constataram uma quase total

disponibilidade da população para participar no

estudo, pelo que, não nos apercebemos de qualquer

viés de selecção dos inquiridos que possa

comprometer a análise dos resultados. As raras recusas

deveram-se a alegada falta de tempo. Tão-pouco se

registaram dificuldades na compreensão do

questionário.

Não surgiram conflitos de carácter ético ou

ideológico em nenhum dos intervenientes.

I – Dados sócio-demográficos:

O facto de a recolha de dados ter sido feita

maioritariamente em meio urbano, em locais

tipicamente frequentados por uma população jovem,

tais como centros comerciais, bibliotecas e faculdades,

pode justificar o predomínio dos grupos etários mais

jovens na nossa amostra. O mesmo se aplica para a

prevalência de indivíduos licenciados (45,2%) e com

formação superior a licenciatura (22,2%), muito

superior na nossa amostra do que na população

portuguesa (10,8%)39.

Quanto à distribuição por sexos, na nossa amostra

há uma maior prevalência de mulheres (57,0%) do que

na população portuguesa (51,7%)39. Para os efeitos do

nosso estudo, tal diferença não foi considerada

significativa.

Importa, no entanto, referir que o estudo de uma

amostra de conveniência implica sempre restrições na

interpretação dos seus resultados. Por não ser uma

amostra representativa da população portuguesa, as

conclusões, em rigor, dizem respeito apenas ao grupo

de inquiridos, não podendo ser extrapoladas para a

população em geral.

II – Lateralidade:

A distribuição das percentagens da Lateralidade

Auto-descrita (LA) está de acordo com dados de

estudos anteriores em relação à população mundial

(~10% de esquerdinos, <5% de ambidextros)2-4.

Contudo, na lateralidade avaliada pelo

Questionário de Edinburgh (LE), quando comparada

com a LA, a percentagem de esquerdinos foi menor,

enquanto o número de ambidextros foi maior.

Página 9 de 13

Este facto pode dever-se a limitações na aplicação

do próprio Questionário na nossa amostra. A tradução

literal do inglês, bem como a sua adaptação à cultura

portuguesa (utilização do rato do computador, por

exemplo) podem ter dificultado a interpretação

correcta do mesmo pelos inquiridos.

Por outro lado, uma representação menor de

esquerdinos na nossa amostra poderá ser reflexo de

uma pressão social para a alteração da preferência

manual, eventualmente em toda a sociedade

portuguesa. Efectivamente, a diferença entre o

número de ambidextros LA (n=46) e LE (n=75) pode

traduzir a realização forçada de actividades com a mão

direita, o que influencia a classificação pelo

Questionário.

Apesar do acima referido, a discordância entre LA

e LE está também descrita em estudos anteriores34. É

por essa razão que, em certos estudos, se

complementa a classificação da lateralidade com o

recurso a outros métodos, como testes de

desempenho.

A inexistência de associação entre a LE e a idade

(em desacordo com estudos anteriores)6,7 pode dever-

se à baixa percentagem de indivíduos idosos inquiridos

nesta amostra.

Em relação à presença de esquerdinos na família

próxima, a sua correlação positiva com a lateralidade

está de acordo com a transmissão desta característica

entre gerações, seja por factores genéticos ou por

influência ambiental (desconhecendo-se o verdadeiro

peso de cada factor)9.

III – Percepções

III.I – Quotidiano:

Um terço da população da nossa amostra foi da

opinião de que ser esquerdino causa dificuldades no

dia-a-dia, estando esta resposta associada à

lateralidade. Isto é, foram os dextros quem mais

respondeu afirmativamente a esta pergunta. Havendo

dados bibliográficos21,32,33 que suportam a existência de

dificuldades no quotidiano dos esquerdinos, parece

haver um reconhecimento insuficiente destas na nossa

amostra. Importa também saber qual a razão desta

divergência de opinião associada à lateralidade do

inquirido. Esta pode dever-se a uma negação das

dificuldades por parte dos esquerdinos da nossa

amostra, ou ainda à sua superação, isto é, a um

fenómeno de resiliência.

Para melhor discriminar os conhecimentos sobre

dificuldades dos esquerdinos no quotidiano, pareceu-

nos relevante questionar os inquiridos em relação a

cada uma de 13 tarefas seleccionadas. Nestas

incluíram-se actividades em que os esquerdinos têm -

de acordo com a bibliografia21,32,33 – mais dificuldades,

vantagens, e ainda ausência de diferenças em relação

aos dextros.

Verificamos uma tendência geral para responder

que os esquerdinos têm mais dificuldades do que

vantagens, incluindo nas tarefas nas quais teoricamente

não há diferenças entre os dois grupos (“pregar um

prego” ou “apagar com uma borracha”).

Foram analisados os resultados para “cortar com uma

tesoura”, como um exemplo de uma actividade na qual

os esquerdinos têm mais dificuldades. Para esta

pergunta, há uma dependência estatística da resposta

seja com a lateralidade do inquirido, seja com a

existência de esquerdinos na sua família próxima.

Assim, na nossa amostra, são os dextros e as pessoas

sem esquerdinos na família quem menos responde que

“Cortar com uma tesoura” é uma tarefa na qual os

esquerdinos têm mais dificuldades. Logo, parece ser

importante o contacto próximo com esquerdinos para

conhecer as suas dificuldades quotidianas.

No que diz respeito às actividades “artes marciais” e

“pagamentos na estrada”, as respostas foram

concordantes com as vantagens dos esquerdinos,

descritas na bibliografia32,33. Importa referir que esta

resposta está associada de um modo estatisticamente

significativo com a lateralidade. Isto é, são os dextros

quem menos reconhece as vantagens dos esquerdinos.

Em suma, embora o grupo dos dextros tenha

referido inicialmente achar que os esquerdinos tinham

mais dificuldades no quotidiano, quando confrontados

com tarefas específicas, não identificaram as reais

dificuldades e vantagens dos esquerdinos.

III.II – Saúde:

Das diversas áreas da Saúde analisadas no nosso

questionário, aquelas que um maior número de

inquiridos considerou desfavoráveis para os

esquerdinos foram os acidentes de trabalho e de

viação, conhecimento empírico que está em

consonância com a literatura científica22.

Página 10 de 13

Verificamos, no entanto, que a maioria dos

inquiridos entendeu não haver diferenças entre dextros

e esquerdinos nos aspectos analisados. Este facto,

aliado à opinião geral de que um eventual programa do

Ministério da Saúde não é necessário, sugere que, na

nossa amostra, a lateralidade esquerda não é vista

como um problema de Saúde Pública.

III.III – Profissão:

Para analisar as opiniões relativas ao campo

profissional, perguntámos pelas diferenças entre

dextros e esquerdinos em três aspectos: a) desemprego

e sucesso no trabalho, b) melhor desempenho em

determinadas profissões e c) por quem preferia ser

atendido.

Na nossa amostra, há um pequeno grupo de

inquiridos que entende que os dextros são quem

“arranja trabalho com maior facilidade” e, que são os

esquerdinos quem “tem maior taxa de desemprego”. Há

ainda um grupo de inquiridos que acha que os dextros

são quem “tem mais sucesso no trabalho”. Estes resultados

são distintos dos encontrados na bibliografia, onde se

concluiu que os esquerdinos tinham maior sucesso

profissional, medido através dos rendimentos

auferidos31. Possivelmente este dado está relacionado

com as opiniões relativas aos esquerdinos: 26,5% dos

inquiridos entendeu que estes têm “mais acidentes de

trabalho” e 16,7% consideraram que as pessoas com

preferência manual esquerda são mais “desajeitadas”.

Em relação a quem tem melhor desempenho numa

série de profissões, verificámos que a maioria dos

inquiridos afirmou que dextros e esquerdinos eram

iguais.

Contudo, as pessoas que consideravam haver

diferenças tenderam a referir que os esquerdinos são

melhores em profissões de carácter mais criativo,

enquanto os dextros são superiores naquelas que

exigem maior destreza manual. São exemplos de

profissões manuais as seguintes: “piloto de avião” (15,2%

dextros contra 1,1% esquerdinos), “militar” (11,2%

dextros contra 0,6% esquerdinos), “pedreiro” (6,0%

dextros contra 0,5% esquerdinos) e “mulher da limpeza”

(5,3% dextros contra 0,7% esquerdinos). Como

profissões criativas analisámos, por exemplo, “escritor”

(1,6% dextros contra 4,6% esquerdinos).

Curiosamente, as profissões criativas com um

importante componente manual foram aquelas nas

quais se observaram mais respostas simultaneamente

para dextros e esquerdinos: “escultor” (4,0% dextros e

4,0% esquerdinos) e “arquitecto” (5,9% dextros contra

6,6% esquerdinos).

As profissões desportivas “jogador de ténis” e

“futebolista” foram aquelas em que um menor número

de pessoas respondeu que dextros e esquerdinos eram

“iguais”. E, apesar de haver um número de respostas

“canhoto” superior às de “dextro”, a diferença entre

ambas foi menor do que o esperado face já descrito na

literatura32,33.

Por último, para analisar as opiniões sobre o

desempenho profissional de esquerdinos e dextros,

escolhemos um conjunto de profissões com maior

contacto pessoal e risco potencial para o inquirido.

Optámos por perguntar directamente ao inquirido se

preferia ser atendido por um barbeiro/cabeleireiro ou

profissional de saúde esquerdino ou dextro.

Queríamos assim ter uma opinião pessoal e subjectiva

sobre a questão, mais do que uma opinião genérica e

impessoal sobre quem tem melhor desempenho.

Em todas as profissões houve um predomínio dos

dextros em relação aos esquerdinos, excepto para

“médico de família” que é aquela na qual há, no nosso

entender, menor risco de acidentes. No caso concreto

de “cirurgião”, a preferência por um profissional dextro

associa-se, com significância estatística, a níveis de

escolaridade mais baixos e idades mais elevadas.

Presumivelmente estas são pessoas com

conhecimentos inferiores, mas existem vários estudos

que suportam a existência de limitações, por vezes

relevantes, no exercício de profissões como cirurgião

ou dentista21.

III.IV – Escrita Forçada/Escola:

A alta prevalência de indivíduos (15,5%) que foram

forçados a escrever com a mão direita na amostra é

um dado que consideramos de relevo. Numa amostra

com predomínio de idades mais jovens, seria de

esperar um valor mais reduzido25. Este facto pode

constituir um indicador da persistência de

discriminação contra a preferência manual esquerda3,25.

Ainda assim, na nossa amostra, há menos

indivíduos forçados nas faixas etárias mais novas, pelo

que parece haver, actualmente, uma maior aceitação

para com os esquerdinos na sociedade portuguesa.

Página 11 de 13

Desconhece-se, no entanto, a magnitude deste

fenómeno nas gerações abaixo dos 15 anos. Apesar da

lateralidade se estabelecer nos primeiros anos de vida,

esta continua a desenvolver-se ao longo da idade, com

um período importante compreendido na idade pré-

escolar e escolar35. Sendo assim consideramos

relevante realizar-se futuramente uma investigação

neste segmento etário.

A demonstração da associação da escrita forçada

com a lateralidade discordante (entre LA e LE) pode

também estar relacionada com uma possível

subestimação da prevalência real de esquerdinos na

população.

Verificou-se uma associação positiva entre o facto

de o inquirido ter sido forçado a escrever com a mão

direita e a opinião de que “os pais/professores devem insistir

com os canhotos para escrever com a mão direita”. Este efeito

de perpetuação inter-geracional já foi abundantemente

descrito noutras áreas da psicologia, principalmente

para situações muito mais graves de opressão, tais

como a violência doméstica, abusos sexuais e

alcoolismo40.

No entanto, tal não invalida que a larga maioria

(84,5%) dos indivíduos estudados não se tenha

considerado forçado a usar uma das mãos, nem tão-

pouco ache que tal se deva fazer.

No que se refere à escola, apenas 40% dos

indivíduos que referem ter tido dificuldades foram

ajudados. O facto de na nossa amostra não ter sido

prestada a devida atenção às particularidades dos

esquerdinos, alerta-nos para que tal também possa

ocorrer na população portuguesa.

III.V – Personalidade:

Foi relevante termos registado que os esquerdinos

revelaram, enquanto grupo, uma tendência para

atribuírem características positivas – inteligência,

criatividade - a si próprios, comportamento que não se

repetiu no grupo dos dextros. Estes responderam

maioritariamente “igual” às mesmas perguntas. Tal

diferença parece reflectir que os esquerdinos dão uma

maior importância a estas questões.

Notou-se ainda uma maior tendência dos

esquerdinos para quererem mudar de lateralidade

(6,5% contra 4,4% dos dextros), o que pode está em

concordância com a existência de dificuldades no

quotidiano dos mesmos.

RECOMENDAÇÕES

No decorrer deste estudo surgiram algumas

limitações e dificuldades que nos alertaram para a

necessidade de uma investigação mais aprofundada

nalguns aspectos relacionados com a preferência

manual. Destes salientamos os seguintes: necessidade

de um questionário para a avaliação da lateralidade

manual validado na população portuguesa; estudar a

real influência da lateralidade em acidentes

(domésticos, profissionais e rodoviários).

Sugerimos ainda a investigação, na população

abaixo dos 15 anos de idade, da prevalência actual da

preferência manual e da alteração forçada da mesma.

Neste segmento etário importa também averiguar a

persistência de dificuldades próprias dos esquerdinos

na escola, e o que está de facto a ser feito para as

minimizar.

Orçamento e Recursos Humanos: Estimámos o orçamento necessário à

realização deste estudo em 3.945€, repartidos da

seguinte forma: questionários (impressão, canetas,

bases para preenchimento): 150€; deslocações:

100€; comunicações: 20€; honorários: 3675€

(5€/hora, 5 horas diárias durante 21 dias para 7

pessoas)

Contacto dos autores:

Ana Rita Francisco [email protected]

Carolina Horta de Almeida [email protected]

David Barrote Navarro [email protected]

Francisco Vilaça Lopes [email protected]

João Sebastião Pinto [email protected]

Pedro Alexandre Garrido [email protected]

Pedro Faro Viana [email protected]

Página 12 de 13

Mário Cordeiro [email protected] Lisboa, 21 de Março de 2011

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