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RC e o executivo uma relação delicada Matéria de capa Desde que o novo Código Civil entrou em vigência, em 11 de janeiro de 2003, muito se tem discutido a respeito do conceito de responsabilidade: sua definição, suas variações, limites e real aplicação. Mas a discussão não está restrita apenas à teoria. Ela também possui um intenso e relevante papel prático den- tro do ambiente corporativo, no cotidiano dos profissio- nais, especialmente no caso daqueles que desempenham funções essenciais em uma companhia – como diretores e conselheiros, por exemplo. Tendo em vista a impor- tância de cada atividade rea- lizada e decisão tomada, é primordial que o executivo (aqui compreendido como todos os membros do alto escalão de uma empresa, independente de departa- mentos e nível hierárquico) tenha consciência de sua res- ponsabilidade sobre os cami- nhos trilhados pela corpora- ção e, também, é fundamen- tal que ele conheça bem os riscos aos quais está vulnerá- dada uma grande variedade de classificações, como “res- ponsabilidade penal” e “res- ponsabilidade administra- tiva”, citando apenas dois exemplos, além de todas as suas peculiaridades. Entre- tanto, nos limitaremos ape- nas ao conceito de Respon- sabilidade Civil (RC), por ser a forma de responsabilidade mencionada nas legislações existentes, por contar com uma forma de proteção es- pecífica – o seguro de RC –, e, também, por ser aquela capaz de atingir diretamente os executivos. Responsabilidade Civil Uma das melhores defini- ções para Responsabilidade Civil, dentre tantas existen- tes, é aquela que a demons- tra como um dever de não violar o direito alheio, seja por ação ou omissão volun- tária, imperícia ou imprudên- cia – isto é, através de qual- quer procedimento. Maria Helena Diniz, advogada, professora titular de Direito Civil, na PUC-SP e autora do livro “Curso de Di- reito Civil” afirma que “a res- ponsabilidade civil é a apli- cação de medidas que obri- vel e como se garantir caso algo não ocorra conforme o planejado. Conceito básico “O termo responsabili- dade refere-se à aptidão para responder por um determi- nado ato, vinculada à capa- cidade de discernimento”, define o advogado Júlio César Bueno, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados e especialista em Direito de Responsabilidade Civil. Isso significa que toda e qualquer ação executada dentro de uma empresa é precedida de uma intenção (positiva ou negativa), que visa a alcançar um determi- nado objetivo. Dessa forma, o executivo é totalmente responsável por suas ações, tenham elas sido praticadas individualmente ou em con- junto com os demais mem- bros dirigentes da companhia (aplicando, nessa situação, o conceito de responsabili- dade solidária), tanto de boa quanto de má-fé. Aqui poderia ser abor- Questões como a responsabilidade civil (RC) e a possibilidade de terem seus patrimônios pessoais dissipados em processos judiciais ou administrativos passaram a preocupar os executivos depois da entrada em vigor do novo Código Civil Novo Código Civil Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. ©iStockphoto.com/Jonathan Davies Leia também matéria sobre o Seminário “Responsabilidade do Diretor Executivo”, realizado pelo IBEF SP (Pág. 23) 18 IBEF NEWS • Maio 2006

RC e o executivo: uma relação delicada

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Maio/2006 | por Paula Craveiro | Revista IBEF News nº 96

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RC e o executivo uma relação delicada

Matéria de capa

Desde que o novo Código Civil entrou em vigência, em 11 de janeiro de 2003, muito se tem discutido a respeito do conceito de responsabilidade: sua defi nição, suas variações, limites e real aplicação.

Mas a discussão não está restrita apenas à teoria. Ela também possui um intenso e relevante papel prático den-tro do ambiente corporativo, no cotidiano dos profissio-nais, especialmente no caso daqueles que desempenham funções essenciais em uma companhia – como diretores e conselheiros, por exemplo.

Tendo em vista a impor-tância de cada atividade rea-lizada e decisão tomada, é primordial que o executivo (aqui compreendido como todos os membros do alto escalão de uma empresa, independente de departa-mentos e nível hierárquico) tenha consciência de sua res-ponsabilidade sobre os cami-nhos trilhados pela corpora-ção e, também, é fundamen-tal que ele conheça bem os riscos aos quais está vulnerá-

dada uma grande variedade de classificações, como “res-ponsabilidade penal” e “res-ponsabilidade administra-tiva”, citando apenas dois exemplos, além de todas as suas peculiaridades. Entre-tanto, nos limitaremos ape-nas ao conceito de Respon-sabilidade Civil (RC), por ser a forma de responsabilidade mencionada nas legislações existentes, por contar com uma forma de proteção es-pecífica – o seguro de RC –, e, também, por ser aquela capaz de atingir diretamente os executivos.

Responsabilidade CivilUma das melhores defini-

ções para Responsabilidade Civil, dentre tantas existen-tes, é aquela que a demons-tra como um dever de não violar o direito alheio, seja por ação ou omissão volun-tária, imperícia ou imprudên-cia – isto é, através de qual-quer procedimento.

Maria Helena Diniz, advogada, professora titular de Direito Civil, na PUC-SP e autora do livro “Curso de Di-reito Civil” afirma que “a res-ponsabilidade civil é a apli-cação de medidas que obri-

vel e como se garantir caso algo não ocorra conforme o planejado.

Conceito básico“O termo responsabili-

dade refere-se à aptidão para responder por um determi-nado ato, vinculada à capa-cidade de discernimento”, define o advogado Júlio César Bueno, sócio do escritório Pinheiro Neto Advogados e especialista em Direito de Responsabilidade Civil.

Isso significa que toda e qualquer ação executada dentro de uma empresa é precedida de uma intenção (positiva ou negativa), que visa a alcançar um determi-nado objetivo. Dessa forma, o executivo é totalmente responsável por suas ações, tenham elas sido praticadas individualmente ou em con-junto com os demais mem-bros dirigentes da companhia (aplicando, nessa situação, o conceito de responsabili-dade solidária), tanto de boa quanto de má-fé.

Aqui poderia ser abor-

Questões como a responsabilidade civil (RC) e a possibilidade de terem seus

patrimônios pessoais dissipados em processos judiciais ou administrativos

passaram a preocupar os executivos depois da entrada em vigor do novo Código Civil

Novo Código Civil Art. 927. Aquele que, por

ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem,

fica obrigado a repará-lo.Parágrafo único. Haverá

obrigação de reparar o dano, independentemente

de culpa, nos casos especificados em lei, ou

quando a atividade normalmente desenvolvida

pelo autor implicar, por sua natureza, risco para

os direitos de outrem.

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Leia também matéria sobre o Seminário “Responsabilidadedo Diretor Executivo”, realizado pelo IBEF SP (Pág. 23)

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de pensamento, a responsa-bilidade civil do executivo também está inserida no âmbito das legislações fiscal, tributária, ambiental, crimi-nal, trabalhista, relação de consumo e, ainda, em nor-mas expedidas por órgãos governamentais.

Sendo assim, verifica-se que a atividade de gerir uma corporação, independente de seu porte, por si só, já é uma atividade arriscada, uma vez que uma das principais atribuições dos administra-dores é a tomada de deci-sões, levando em considera-ção todos os riscos.

Com vista a minimizar tais riscos intrínsecos à pró-pria atividade, bem como pro-teger os executivos de eventu-ais obrigações indenizatórias, foi criada uma modalidade es-pecífi ca de seguro conhecida como Seguro de Responsabi-lidade Civil para Executivos (RC Executivo) ou, como é chamada nos Estados Unidos, D&O (Directors and Offi cers).

O executivoAtualmente, as responsa-

bilidades de um executivo extrapolam os resultados diretos (financeiros e de mer-cado) de uma companhia.

guem uma pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma prati-cado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal”.

A RC tem por finalidade a análise da obrigação de alguém reparar o dano que causou a outrem, com fun-damento em normas do Di-reito Civil.

O emprego da expressão Responsabilidade Civil ganhou o mundo, não apenas por diferenciar a responsabilidade criminal, mas também em razão de ser apurada no juízo cível. “É, portanto, na esfera do Direito Civil que se exige a reparação civil, que vem a ser a sanção imposta ao agente ou responsável pelo dano”, diz Maria Helena.

RC do executivoA responsabilização civil

do executivo tem a função de retificar um dano por ele causado, respondendo com seu próprio patrimônio.

“Os pressupostos básicos para sua caracterização são, em princípio, a existência comprovada de um prejuízo à companhia, seus acionistas ou

a terceiros, e a existência de culpa ou dolo ou de transgres-são da lei ou estatuto social”, declara Julio César Bueno.

Com as mudanças ocor-ridas na legislação brasileira, como a atualização e im-plantação do novo Código Civil – que, entre outras coi-sas, reforçou o conceito de desconsideração da persona-lidade jurídica –, o executi-vo tornou-se muito mais vul-nerável à responsabilização pessoal pelos atos praticados no decorrer do desempenho de sua atividade.

“Existem múltiplos dispo-sitivos dispersos nas legisla-ções vigentes que regulamen-tam a responsabilização do profi ssional enquanto pessoa física. Um exemplo disso é a Lei das S.A., que prevê em um de seus artigos (artigo 158) que o profi ssional é responsável pelos prejuízos por ele causados à corpora-ção e aos seus acionistas em razão do não cumprimento de suas obrigações elementa-res, como fi delidade e pres-tação de informações”, escla-rece Paulo Baptista, espe-cialista em seguro D&O da Marsh Corretora de Seguros.

Baptista complementa que, seguindo a mesma linha

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Juan Perez Carrillo (Serasa/IBEF SP)

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Antonio Luiz Pizarro Manso (Embraer/IBEF SP)

Daniel Araújo (Standard & Poor's)

Luis Felipe Schiriak (Votorantim/IBEF SP)

Júlio César Bueno (Pinheiro Neto Advogados)

Paulo Baptista (Marsh Corretora de Seguros)

Rodrigo Kede de Freitas Lima (IBEF SP/IBM)

Sérgio Sesiki (IBEF SP/Melhoramentos)

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A responsabilização civil

do executivo tem a

função de retificar um

dano por ele causado,

respondendo com seu

próprio patrimônio

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“As empresas também são avaliadas por sua integração e contribuição social em rela-ção ao meio onde estão inse-ridas”, conta Rodrigo Kede de Freitas Lima, diretor vogal do IBEF e executivo de operações financeiras para a América Latina da IBM. “Os executivos possuem uma preocupação maior com a relação empresa-sociedade-ética, pois compreendem que o futuro da empresa, a médio e longo prazo, depende da percepção que a sociedade e o mercado têm de seus valores, principalmente no caso de empresas de capital aberto”, completa.

Além disso, o executivo também é civilmente respon-sável pelos danos e prejuí-zos causados a terceiros em decorrência de suas ações ou dos demais executivos de sua empresa (responsabi-lidade compartilhada).

Opinião“Não tenho dúvidas de que

os administradores, diretores e conselheiros têm grande res-ponsabilidade no destino de uma empresa, seja de suces-sos ou fracasso”, sentencia Sér-gio Sesiki, diretor fi nanceiro da Melhoramentos e diretor vogal do IBEF. “Para os insucessos de gestão, a primeira punibili-dade que afeta o administra-dor é a cessação de seu even-tual bônus, chegando até à perda da função exercida. Se o prejuízo for causado por impe-rícia ou negligência a terceiros, empresas e pessoas, será lícito cobrar do administrador a sua parcela de culpa. A empresa é juridicamente abstrata, mas seus atos não o são, pois afe-tam a sociedade civil e o meio ambiente. Os administradores

não podem se eximir das de-cisões que prejudicam essas entidades”, completa.

O diretor vogal do IBEF e vice-presidente executivo do Makro South America Group, Rubens Batista Junior, pensa de maneira semelhante. “Creio que todos nós devemos ser responsáveis por nossos atos e decisões e por suas conse-qüências sobre terceiros”.

Porém, Batista faz uma ressalva quanto à responsabili-zação desse profi ssional. “Sou a favor da responsabilização civil desde que o administra-dor aja fora das atribuições de seu contrato com a empresa. Caso ele aja dentro de suas atribuições, não creio que este deva ser responsabilizado. Agora, com relação à utiliza-ção de seu patrimônio pes-soal, considero este recurso válido apenas em situações específi cas, onde seja com-provada a existência de um crime”, conclui.

José Adalber Alencar, con-sultor de riscos da Harmonia Corretora de Seguros e dire-tor vogal do IBEF SP, lembra que a responsabilidade civil está contida no novo Código Civil e, portanto, não tem retorno nem escapatória. “Essa Lei impedirá ou, pelo menos, minimizará os problemas que têm ocorrido no Brasil e no mundo. E, ao envolver os bens

pessoais de cada gestor, o Ministério Público encontrou uma forma de recompensar ou reduzir os danos fi nanceiros causados à terceiros”, afi rma.

Para ilustrar, Alencar cita alguns casos, como “os dire-tores gestores do Banco San-tos; Ricardo Mansur, no Map-pin; Parmalat; e Eron, nos Estados Unidos”.

Sesiki destaca ainda a existência de um seguro para essas situações. “Para ameni-zar perdas maiores em vir-tude de danos causados a terceiros por interferências externas, governo e até intem-péries políticas e climáticas, há o seguro D&O como uma alternativa. Nunca se sabe se a justiça poderá imputar res-ponsabilidades pessoais equi-vocadamente. Não alivia os danos morais por visitas a cadeias, mas protege o patri-mônio pessoal”, fi naliza.

A responsabilidade do executivo está

inserida no âmbito das legislações fiscal, tributária,

ambiental, criminal, trabalhista, relação de consumo

e, ainda, em normas expedidas por órgãos

governamentais”. (Paulo Baptista, da Marsh

Corretora de Seguros)

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Rubens Batista Junior (IBEF SP/Makro South America Group)

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Nunca se sabe se a

justiça poderá imputar

responsabilidades

pessoais

equivocadamente

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ProteçãoNo mundo dos negócios,

as decisões empresariais quase sempre têm que ser tomadas com extrema agili-dade, mesmo quando todas as informações ainda não estão integralmente disponí-veis. Para aqueles que têm que decidir sob estas con-dições, o risco de absorver o impacto financeiro decor-rente do nível de responsabi-lidade contido em seus atos é bastante elevado.

Um dos principais instru-mentos empregados na pro-teção do patrimônio parti-cular desse profissional, em razão de suas responsabili-dades civis e pelos custos incorridos pelas empresas na defesa desse mesmo profis-sional, em processos cíveis e até criminais, é o seguro de Responsabilidade Civil para Executivos ou Seguro D&O.

“O D&O é uma apólice de seguro contratada entre a seguradora e a companhia, conglomerado ou grupo de executivos, com a finalidade de resguardar os integrantes dos órgãos administrativos da empresa, ou seja, prote-ger os membros do conselho e da diretoria, entre outros funcionários que possam vir a comprometer a companhia

em virtude de seu poder de decisão”, explica Paulo Bap-tista. “Ele garante o patrimô-nio particular de cada um dos segurados contra a obriga-ção de efetuar o pagamento de indenizações fixadas por meio de ações judiciais ou de acordos extrajudiciais, decor-rentes de erros, omissões, negligência e imprudência durante a gestão de uma empresa”, completa.

Sua cobertura se estende não somente às companhias com fins lucrativos, mas tam-bém às empresas de capital aberto, fundos de pensão e filiais de empresas multina-cionais, entre outras.

As apólices de D&O, con-forme afirma o especialista da Marsh, não são nominais e sim referenciadas pelos car-gos de liderança existentes na empresa contratante, embora cada um dos altos executivos tenha sua própria apólice, formando um elo de ligação direta entre eles e a compa-nhia seguradora, o que possi-bilita uma comunicação mais rápida e com menos interfe-rências entre ambos em caso de problemas.

Atento à importância desse seguro, Victor César Sichero, diretor financeiro e gerente delegado da Micro-

soft e diretor vogal do IBEF, garante ter ficado interessado no assunto após participar do seminário sobre Respon-sabilidade Civil dos Executi-vos, realizado em abril pas-sado pelo IBEF, de forma a se dispor a entender se estava correndo algum risco e como poderia reduzi-lo. “Apesar de ainda não possuirmos um seguro Directors & Officers, estamos estudando a pos-sibilidade de implementá-lo o mais breve possível, de modo a nos proteger de pos-síveis problemas relaciona-dos à questão da responsa-bilidade civil de nossos diri-gentes”, afirma.

CaracterísticasO seguro D&O possui

uma ampla cobertura, classi-fi cada como All Risks (todos os riscos), e cobre os prejuí-zos causados não intencional-mente pelo profi ssional du-rante o desempenho de suas atribuições na administração de uma empresa, desde que resguardadas as condições dispostas na apólice.

Neste produto, sem exce-ção, os segurados são as pes-soas físicas nomeadas ou elei-tas para desempenharem um cargo diretivo (presidente, diretores, conselheiros), além

de seus cônjuges, herdeiros e representantes legais.

A empresa para a qual eles exercem tal função, comumente, é a tomadora do seguro, ou seja, a contra-tante da apólice, visto que, em última análise, os riscos a serem segurados são origi-nados a partir de ações pra-ticadas por esses profissio-nais em suas capacidades de administradores.

Nos Estados Unidos, a legislação impõe extensas res-ponsabilidades civis aos exe-cutivos, principalmente no que se refere à divulgação de informações corporativas (Lei Sarbanes-Oxley). Por conta dos riscos, o oferecimento de uma cobertura dessa natu-reza pode ser considerado como um fator terminante na aceitação ou recusa de um cargo pelo executivo.

No entanto, atualmente a cobertura não interessa mais exclusivamente para o risco corrido no mercado norte-americano. Ela também é útil e necessária a diversas situ-ações vivenciadas no Brasil, frente a acionistas e tercei-ros, previstas no recente Có-digo Civil, assim como na Lei das Sociedades por Ações e suas inovações, na legislação de concorrência, etc.

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Juan Perez Carrillo (Serasa/IBEF SP)

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Antonio Luiz Pizarro Manso (Embraer/IBEF SP)

Luis Felipe Schiriak (Votorantim/IBEF SP)

José Adalber Alencar (IBEF SP/ Harmonia Corretora de Seguros)

Victor César Sichero (IBEF SP/Microsoft)

Jairo Saddi (IBEF SP/Saddi Advogados)

Cláudio Augusto Bonomi (IBEF SP/ Centrais Elétricas de Goiás S.A.)

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Obra imprescindível

Para aqueles que desejam explo-

rar a fundo a questão das respon-sabilidades legais do diretor execu-tivo, IBEF News recomenda a lei-

tura do livro O Diretor Executivo no Direito Brasileiro, escrito pelo advogado especializado em direito empresarial, Leslie Amendolara, diretor vogal do IBEF SP, em co-autoria com Adilson Sanchez, também advogado, especialista em direito do tra-balho e previdenciário. A obra procura esclarecer, sob a ótica legal, as responsa-bilidades dos administradores empresa-riais, bem como suas relações trabalhis-tas, previdenciárias e fundiárias.

Dividida em duas partes, trata das responsabilidades legais do dire-tor executivo em face da sociedade, dos acionistas, credores, consumidores, meio ambiente, fi sco e da ordem econômica, além de discor-rer sobre temas controversos, como a relação jurídica do executivo em seu contrato de trabalho e em sua relação pre-videnciária, bem como a aplicação do sistema do FGTS.

Os autores também em analisaram o diretor executivo à luz do direito comparado, mostrando o tratamento dado a ele pelo legislador no direito estrangeiro.

Este livro ajudará os interessados na área a compreen-derem melhor os riscos que executivos em cargos de dire-ção assumem no desempenho de suas atividades.

Especialista e consultor em Direito Societário, Les-lie Amendolara, membro do Instituto dos Advogados de São Paulo, é formado em Direito pela Faculdade de Direito da USP.

Recentemente, o Seguro D&O disponível no mercado brasileiro teve a sua possibili-dade de cobertura ampliada, aproximando-se ainda mais dos produtos a ele equivalentes no mercado internacional. Além da possibilidade de se reclamar a indenização com base na ocor-rência de um prejuízo durante a vigência da apólice, também é possível assegurar as responsa-bilidades relativas a riscos ante-riores à própria contratação da apólice (conforme disposto na Circular SUSEP nº 252, de 26 de abril de 2004, que versa sobre a operacionalização das apólices de seguro de responsa-bilidade civil à base de reclama-ção - claims made basis).

Vantagens“O benefício oferecido pelo

seguro de RC é simples, porém de suma importância, qual seja, toda e qualquer reclamação por ato de gestão do executivo, a seguradora paga a quantia reclamada, protegendo integral-mente o patrimônio do executi-vo”, afi rma Jairo Saddi, advogado e vice-presidente do IBEF.

Além da proteção integral do patrimônio, o seguro de RC Executivo oferece ainda o benefício da tranqüilidade, garantida por documento emi-tido pela seguradora contratada, formando um vínculo legal entre as duas partes envolvidas, repre-sentando, ainda, uma garantia jurídica para o contratante.

Uma outra vantagem do D&O é a sua plena adequação à realidade jurídica brasileira. “Todo o clausulado é legítimo e desenhado conforme a legislação brasileira, que é bastante com-plexa”, afi rma Paulo Baptista.

Um outro aspecto interes-sante deste produto é, con-forme o clausulado da apólice

de seguro, a possibilidade de o cliente dispor de uma verba – geralmente elevada – desti-nada à manutenção e recupe-ração da imagem do segurado, sempre que necessário. “Essa verba, discriminada na própria apólice, pode ser utilizada da maneira que o segurado bem entender. Ele tem a opção, por exemplo, de empregar esse montante na contratação de um serviço de Relações Públi-cas”, comenta Baptista.

Ressalvas e questionamentos

Segundo Cláudio Augusto Bonomi, membro do Conselho Consultivo do IBEF SP e do Conselho de Administração da Centrais Elétricas de Goiás S.A. - CELG, o seguro D&O deve ser observado com muita atenção e de forma crítica. “Ele não é essa panacéia que dizem por aí. Ele é apenas um seguro que ofe-rece a um administrador profi s-sional condições para se defen-der de um constrangimento, de algo que ele fez, não visando o próprio benefício, mas o benefí-cio dos acionistas.”

Bonomi destaca ainda a ques-tão do clausulado. “É importante lembrar que as seguradoras colo-cam uma série de cláusulas e dis-positivos nas apólices para impe-dir o uso indiscriminado e ilegal do seguro D&O.”

No entanto, como repre-sentante da CELG na contra-tação desse produto para seus administradores, Bonomi ressal-ta algumas dúvidas que, ao seu ver, não estão sufi cientemente claras sobre o seguro de res-ponsabilidade civil. “A que situ-ações específi cas o seguro ofe-rece cobertura? Qual o mon-tante de cobertura dado a cada situação? Qual a vigência da apólice contratada? O seguro

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tem que cobrir não só aquele ano, mas, pelo menos, uns 5 ou 10 anos”, afi rma.

Saddi ressalta, também, que em todo contrato de seguro há um limite. “E, nesse caso, não é diferente. O limite total da res-ponsabilidade da seguradora, por todas as perdas e danos relacio-nados a reclamações por ato de gestão do executivo, é o valor da apólice estipulada no contrato de

seguro D&O. Somente para ilus-trar uma de suas limitações, esse tipo de seguro, por exemplo, não cobre danos morais.”

Outro item falho apontado pelo advogado refere-se à ques-tão da má-fé dos diretores das empresas para com terceiros. “E, como muitas reclamações e falências de empresas decorrem disso, o seguro não cobrirá os danos causados.”

Leslie Amendolara

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