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Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.798 - PR (2010/0198397-1)
RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDA ADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
EMENTATRIBUTÁRIO. DIREITO ADUANEIRO. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO DO VALOR DA MERCADORIA. PENA DE PERDIMENTO. DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DECRETO-LEI Nº 37/66. CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE DA NORMA. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. CONSIDERAÇÃO.1. A falsidade ideológica consistente no subfaturamento do valor da mercadoria na declaração de importação dá ensejo à aplicação da multa prevista no art. 105, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 37/66, que equivale a 100% do valor do bem, e não à pena de perdimento do art. 105, VI, daquele mesmo diploma legal.2. Interpretação harmônica com o art. 112, IV, do CTN, bem como com os princípios da especialidade da norma, da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedentes.3. Recurso especial da Fazenda Nacional a que se nega provimento.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da PRIMEIRA TURMA do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo o julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Regina Helena Costa, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Regina Helena Costa (voto-vista), Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Napoleão Nunes Maia Filho e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.
Brasília (DF), 08 de setembro de 2015(Data do Julgamento)
MINISTRO SÉRGIO KUKINA Relator
Documento: 1422078 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJe: 01/10/2015 Página 1 de 20
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.798 - PR (2010/0198397-1)RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDA ADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO SÉRGIO KUKINA: Drugovich Peças Ltda.
impetrou mandado de segurança contra ato praticado pelo Inspetor-Chefe da Alfândega de
Paranaguá consistente na lavratura de auto de infração e termo de apreensão de mercadorias
importadas por suspeita quanto ao preço declarado, que culminou na imposição de pena de
perdimento dos bens, com base nos arts. 105, VI, do Decreto-Lei nº 37/66; 23, IV, § 1º, e 24, do
Decreto-Lei nº 1.455/76; e 618 do Decreto nº 4.543/2002.
A sentença de fls. 657/678, concluindo tratar-se de subfaturamento dos valores
dos bens e que, segundo o critério temporal, a norma aplicável é a MP nº 2.158/35/2001, que
prevê inflição de multa nesses casos, concedeu parcialmente a segurança perseguida "para
declarar a ilegalidade da pena de perdimento e determinar à autoridade impetrada que
proceda ao desembaraço aduaneiro do bem importado, após o recolhimento da multa
prevista na legislação respectiva e dos tributos devidos em razão da diferença de preço
apurada, ou mediante prestação de garantia" (fl. 677).
A apelação interposta pela Fazenda Nacional restou improvida pelo Tribunal
Regional Federal da 4ª Região, por meio de acórdão assim ementado (fl. 723):
TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA. SUBFATURAMENTO PRATICADO MEDIANTE TÃO-SOMENTE FALSIDADE IDEOLÓGICA. AUSÊNCIA DE FALSIDADE MATERIAL. POSSIBILIDADE APENAS DE APLICAÇÃO DE MULTA.No caso do subfaturamento ser praticado unicamente mediante falsidade ideológica, incorre o contribuinte na multa de 100% sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na operação de importação (parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei 37/1966 e parágrafo único do art. 88 da MP 2.158-35/2001). Já quando o subfaturamento é praticado não tão-somente por falsidade ideológica, mas também mediante falsidade material, deve ser imposta a pena de perdimento, incidindo o inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei n° 37/66. Interpretação em consonância com o critério da especialidade.
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Opostos embargos de declaração, foram parcialmente acolhidos apenas para fins
de prequestionamento (fls. 734/739).
Daí a interposição pela Fazenda Nacional do recurso especial vertente,
amparado no art. 105, III, a, da CF. A recorrente aponta violação aos arts. 535 do CPC; 618, VI,
633, § 4º, I, e 634, do Regulamento Aduaneiro (Decreto nº 4.543/2002); 105, VI, do Decreto-Lei
nº 37/66; 23, IV, do Decreto Lei 1.455/76; e 3º da Lei nº 6.562/78. Sustenta, em síntese, que: (I) a
despeito dos embargos de declaração, o Tribunal a quo remanesceu omisso acerca das questões
neles suscitadas; (II) "o subfaturamento é prática suficiente a ensejar a aplicação da pena
de perdimento" (fl. 753), penalidade essa que não pode ser condicionada "à comprovação
simultânea da falsidade ideológica com a documental" (fl. 750), como equivocadamente
assinalado no acórdão recorrido; e (III) "A multa administrativa mencionada na MP nº
2.158-35/01 não afasta a possibilidade de aplicação de outras penas" (fl. 758).
O Ministério Público Federal, em parecer ofertado pelo Subprocurador-Geral da
República Maurício Vieira Bracks, opinou pelo não-conhecimento do Recurso Especial (fls.
792/797).
É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.798 - PR (2010/0198397-1)
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO SÉRGIO KUKINA (RELATOR): Tenho por
satisfeitos os requisitos de admissibilidade recursal, aí se incluindo o do prequestionamento da
questão federal controvertida, razão pela qual conheço do recurso especial.
De início, não prospera a alegada ofensa ao art. 535 do CPC, na medida em que o
Tribunal de origem dirimiu, fundamentadamente, as questões que lhe foram submetidas,
apreciando integralmente a controvérsia posta nos presentes autos, não se podendo confundir
julgamento desfavorável ao interesse da parte com negativa ou ausência de prestação
jurisdicional.
Adiante, os dispositivos legais apontados como ofendidos pelo acórdão alvejado no
apelo raro são os seguintes:
Do Decreto-Lei nº 37/66:
Art. 105 - Aplica-se a pena de perda da mercadoria:[...]VI - estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado;
Do Decreto-Lei nº 1.455/76:
Art 23. Consideram-se dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: [...]IV - enquadradas nas hipóteses previstas nas alíneas "a" e "b" do parágrafo único do artigo 104 e nos incisos I a XIX do artigo 105, do Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966.
Conforme se depreende do relatório supra, a Fazenda recorrente defende, em
suma, a tese de que "o subfaturamento é prática suficiente a ensejar a aplicação da pena
de perdimento" (fl. 753) e que "A multa administrativa mencionada na MP nº 2.158-35/01
não afasta a possibilidade de aplicação de outras penas" (fl. 758).
Faz-se oportuna a transcrição do seguinte excerto do acórdão recorrido (fls.
716/721):
"A lide recursal versa sobre o direito ou não do Fisco de impor na
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operação de importação a pena de perdimento ou de multa administrativa em decorrência da infração consistente no subfaturamento (falsa declaração quanto ao preço).As infrações em tela estão previstas no Decreto-lei 37, de 18 de novembro de 1966 e MP 2.159-35/2001, in verbis :[...]No caso sob apreciação, verifica-se que a parte impetrante realizou tão-somente falsa declaração de preço , na medida que, conforme Auto de Infração e Termo de Apreensão e Guarda Fiscal nº 0917800/40049/07 (fls. 31-55), Parecer nº 16/2008 da Seção de Arrecadação e Cobrança da Alfândega da Receita Federal de Paranaguá (fls. 390-409) e conforme informações prestadas (fl. 471-483) pela Receita Federal, o preço constante das mercadorias importadas (rodas de aço para caminhões) nas Declarações de Importação respectivas é aproximadamente 21% menor do que os valores praticados em importações similares .[...]Cumpre acrescentar que a falsidade documental pode ser material ou ideológica. Dado que o inciso VI do art. 105 ("Aplica-se a pena de perda da mercadoria: VI - estrangeira ou nacional, na importação ou exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado") do Decreto-Lei nº 37/66 não distingue entre estes dois tipos de falsificação, deve considerar-se que, em princípio, qualquer dessas formas de falsidade (material ou ideológica) comportam a pena de perdimento e são tipificadas no referido dispositivo.[...]Contudo, nada impede que o critério da especialidade (lex specialis derogat generali ) afaste a aplicação de tal norma. Destarte, a aplicação das normas especiais (parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei 37, de 18 de novembro de 1966 e parágrafo único do art. 88 da MP 2.158-35, de 24 de agosto de 2001) em detrimento da geral (inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei nº 37/66), passagem de uma regra mais extensa para uma regra derrogatória menos extensa, justifica-se, inclusive, por corresponder a uma exigência de justiça, compreendida como tratamento igual daqueles que se encontram em uma mesma situação .Chamo atenção que essa passagem para uma norma mais específica, a aplicação do critério da lex specialis , no caso a norma do parágrafo único do art. 88 da MP 2.158-35/2001 (ou parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei 37/66), supõe declaração falsa, praticada com o intuito de fraude, de escapar ao pagamento da tributação devida, mas tal falsificação do conteúdo dever ser apenas ideológica. Ou seja, o subfaturamento deve ser praticado mediante apenas falsificação ideológica, atribuindo-se à mercadoria preço inferior à operação efetivamente realizada, com o objetivo evidente de sonegar o valor do tributo realmente devido.
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No caso do subfaturamento ser acompanhado também da falsidade material, i.e., praticado mediante falsidade ideológica (sempre presente) e falsidade material (às vezes presente), incide a norma do inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei nº 37/66. Essa infração representa uma gradual diferenciação quanto ao subfaturamento praticado tão-somente por meio da falsificação ideológica. Assim, justifica-se a aplicação dessa norma igualmente pela prevalência da norma especial, que diferencia uma determinada conduta mais específica em relação a uma menos específica, uma necessidade inelutável do desenvolvimento do ordenamento em direção à justiça. [...]Do exposto, resta também evidenciado as razões de não se poder aplicar, concomitantemente, as duas normas (sanção de multa e pena de perdimento), seja porque não há previsão expressa no último dispositivo (norma especial do art. 88 da MP 2.158-35/2001) vigente em nosso ordenamento jurídico, seja porque essa interpretação de incidência das duas regras sequer é defendida pela Administração Pública. Isso implica que a norma do inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei nº 37/66 deixa de ser aplicada para a situação de subfaturamento praticada apenas por falsidade ideológica, mantendo a sua incidência para os casos de subfaturamento perpetuado também por falsidade material. Essa forma de preponderância do dispositivo especial posterior sobre o dispositivo genérico anterior, ou seja, impedimento de aplicação desta última regra para uma determinada situação específica regulada pela primeira (norma especial), equivale à revogação parcial, diminuição do âmbito de abrangência da lei geral, e não precisa ser explícita, situação que se concretiza também quando o regramento novo limita-se a referir que se revogam as disposições em contrário.[...]Destarte, tendo o subfaturamento sido praticado tão-somente por falsidade ideológica (falsa declaração do preço efetivamente praticado na operação de importação), sem a utilização de qualquer falsidade material, o enquadramento correto da infração seria o parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei 37, de 18 de novembro de 1966 e parágrafo único do art. 88 da MP 2.158-35, de 24 de agosto de 2001), o que impede a aplicação da pena de perdimento da mercadoria importada, nos termos do inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei nº 37/66 ."
Como se vê, o Tribunal a quo fundamentou o afastamento da pena de
perdimento, na hipótese, ancorando-se nas disposições insertas nos seguintes dispositivos legais:
Decreto-Lei nº 37/66:
Art. 108 - Aplica-se a multa de 50% (cinqüenta por cento) da diferença de imposto apurada em razão de declaração indevida de
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mercadoria, ou atribuição de valor ou quantidade diferente do real, quando a diferença do imposto for superior a 10% (dez por cento) quanto ao preço e a 5% (cinco por cento) quanto a quantidade ou peso em relação ao declarado pelo importador.
Parágrafo único. Será de 100% (cem por cento) a multa relativa a falsa declaração correspondente ao valor, à natureza e à quantidade.
Medida Provisória nº 2.158-35/2001:
Art. 88. No caso de fraude, sonegação ou conluio, em que não seja possível a apuração do preço efetivamente praticado na importação, a base de cálculo dos tributos e demais direitos incidentes será determinada mediante arbitramento do preço da mercadoria, em conformidade com um dos seguintes critérios, observada a ordem seqüencial:I - preço de exportação para o País, de mercadoria idêntica ou similar;II - preço no mercado internacional, apurado:a) em cotação de bolsa de mercadoria ou em publicação especializada;b) de acordo com o método previsto no Artigo 7 do Acordo para Implementação do Artigo VII do GATT/1994, aprovado pelo Decreto Legislativo no 30, de 15 de dezembro de 1994, e promulgado pelo 355, de 30 de dezembro de 1994, observados os dados disponíveis e o princípio da razoabilidade; ouc) mediante laudo expedido por entidade ou técnico especializado.
Parágrafo único. Aplica-se a multa administrativa de cem por cento sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na importação ou entre o preço declarado e o preço arbitrado, sem prejuízo da exigência dos impostos, da multa de ofício prevista no art. 44 da Lei no 9.430, de 1996, e dos acréscimos legais cabíveis.
Tenho que andou bem o Tribunal a quo quando afastou a pena de perdimento,
invocando, para tanto, o critério da especialidade.
Realmente, o conteúdo inserto no art. 108, parágrafo único, do Decreto-Lei nº
37/66 subsume-se perfeitamente ao suporte fático dos autos: "falsa declaração de preço [...]
aproximadamente 21% menor do que os valores praticados em importações similares" .
Ademais, a solução dada pela Corte de origem não somente vai ao encontro da
regra inserta no art. 112, IV, do CTN, pela qual, em se tratando de dúvida quanto à natureza da
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penalidade aplicável ou à sua graduação, deve-se interpretar a lei tributária que define infrações,
ou lhe comina penalidades, "da maneira mais favorável ao acusado" , como também se mostra
coerente com os princípios da razoabilidade e da proporcionalidade, reiteradamente utilizados pelo
Superior Tribunal de Justiça como orientadores da solução de conflitos normativos desse jaez.
Com efeito, a Segunda Turma do STJ já teve oportunidade de analisar caso em
tudo semelhante ao presente, quando do julgamento do REsp 1217708/PR, Rel. Min. Mauro
Campbell Marques (julgado em 14/12/2010, DJe 8/2/2011).
Na oportunidade, discutindo-se a aplicação da pena de perdimento de mercadoria
em razão de seu subfaturamento na declaração de importação, a Segunda Turma concluiu que
"A conduta do impetrante, ora recorrido, está tipificada no art. 108 supracitado -
falsidade ideológica relativa ao valor declarado (subfaturamento) -, o que afasta a
incidência do art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66 em razão: (i) do princípio da
especialidade; (ii) da prevalência do disposto no referido decreto sobre o procedimento
especial previsto na IN SRF 206/2002; e (iii) da aplicação do princípio da
proporcionalidade".
Confira-se, por pertinente, a ementa do referido julgado:
TRIBUTÁRIO. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO DO BEM IMPORTADO. ART. 105, VI, DO DECRETO-LEI N. 37/66. PENA DE PERDIMENTO DO BEM. INAPLICABILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. APLICAÇÃO DA MULTA DE 100% PREVISTA NO ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DA REFERIDA NORMA. PREVALÊNCIA DO DISPOSTO NA NORMA LEGAL SOBRE O TEOR DA NORMA INFRALEGAL (IN SRF 206/2002).1. Discute-se nos autos a possibilidade de aplicação da pena de perdimento de bem quando reconhecida a falsidade ideológica na declaração de importação que, in casu , consignou valor 30% inferior ao valor da mercadoria (motocicleta Yamaha modelo YZFR1WL).2. A pena de perdimento prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66 se aplica aos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do referido diploma legal destina-se a punir declaração falsa de valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada. Especificamente no que tange à declaração falsa relativa à quantidade da mercadoria importada, a despeito do disposto no parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei n. 37/66, será possível aplicar-se a pena de perdimento em relação ao excedente não
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declarado, haja vista o teor do inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02). Nesse sentido: AgRg no Ag 1.198.194/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 25/05/2010.3. O precedente supracitado determinou a aplicação da pena de perdimento de bem sobre o excedente não declarado no que tange à falsidade ideológica relativa à quantidade e, ainda, em caso de bem divisível. O caso dos autos, porém, trata de bem indivisível e não diz respeito à falsa declaração de quantidade, mas sim de subfaturamento do bem, ou seja, diz respeito ao valor declarado.4. A conduta do impetrante, ora recorrido, está tipificada no art. 108 supracitado - falsidade ideológica relativa ao valor declarado (subfaturamento) -, o que afasta a incidência do art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66 em razão: (i) do princípio da especialidade; (ii) da prevalência do disposto no referido decreto sobre o procedimento especial previsto na IN SRF 206/2002; e (iii) da aplicação do princípio da proporcionalidade.5. Recurso especial não provido.(REsp 1217708/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe 08/02/2011)
Nessa mesma linha de entendimento, colhem-se os seguintes precedentes,
também da Segunda Turma:
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO. PENA DE PERDIMENTO. ART. 105, VI, DO DL 37/66. NÃO INCIDÊNCIA. HIPÓTESE SUJEITA A MULTA. ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DL 37/66.1. A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declaração inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada.2. Se a declaração de importação for falsa quanto à natureza da mercadoria importada, seu conteúdo ou quantidade, será possível aplicar, a par da multa, também a pena de perdimento em relação ao excedente não declarado, tendo em vista o que dispõe o inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02).[...]5. Agravo Regimental não provido.(AgRg no REsp 1341312/PR, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN, SEGUNDA TURMA, julgado em 6/11/2012, DJe 8/3/2013)
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO. PENA DE PERDIMENTO. ART. 105, VI, DO
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DL 37/66. NÃO INCIDÊNCIA. HIPÓTESE SUJEITA À MULTA. ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DL 37/66.1. A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declaração inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada.2. Quando a declaração de importação é falsa quanto à natureza da mercadoria importada, seu conteúdo ou quantidade, será possível aplicar-se, a par da multa, também a pena de perdimento em relação ao excedente não declarado, tendo em vista o que dispõe o inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02).[...]5. Recurso especial não provido.(REsp 1242532/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/6/2012, DJe 2/8/2012)
Nesse panorama, considerando que na espécie, conforme consignado no acórdão
recorrido, 'a parte impetrante realizou tão-somente falsa declaração de preço" , andou bem a
Corte de origem quando afastou a pena de perdimento da mercadoria, nos termos dos reportados
precedentes.
Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso especial da Fazenda Nacional.
É o voto.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMA
Número Registro: 2010/0198397-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1218798 / PR
Número Origem: 200870080004053
PAUTA: 23/06/2015 JULGADO: 23/06/2015
Relator
Exmo. Sr. Ministro SÉRGIO KUKINA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro SÉRGIO KUKINA
Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. ANA BORGES COELHO SANTOS
SecretáriaBela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA NACIONALADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALRECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDAADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Procedimentos Fiscais - Perdimento de Bens
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Após o voto do Sr. Ministro Relator negando provimento ao recurso especial, pediu vista a Sra. Ministra Regina Helena Costa. Aguardam os Srs. Ministros Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Napoleão Nunes Maia Filho e Benedito Gonçalves.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.798 - PR (2010/0198397-1)RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDA ADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
VOTO-VISTA
A EXCELENTÍSSIMA SENHORA MINISTRA REGINA
HELENA COSTA:
Solicitei vista dos autos para examiná-los com maior detença.
Trata-se de Recurso Especial interposto pela FAZENDA
NACIONAL, contra acórdão prolatado, por unanimidade, pela 2ª Turma do
Tribunal Regional Federal da 4ª Região, no julgamento de apelação e
remessa oficial, assim ementado (fl. 723e):
TRIBUTÁRIO. MANDADO DE SEGURANÇA SUBFATURAMENTO PRATICADO MEDIANTE TÃO-SOMENTE FALSIDADE IDEOLÓGICA. AUSÊNCIA DE FALSIDADE MATERIAL. POSSIBILIDADE APENAS DE APLICAÇÃO DE MULTA.No caso de o subfaturamento ser praticado unicamente mediante falsidade ideológica, incorre o contribuinte na multa de 100% sobre a diferença entre o preço declarado e o preço efetivamente praticado na operação de importação (parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei 37/1966 e parágrafo único do art. 88 da MP 2.158-35/2001). Já quando o subfaturamento é praticado não tão-somente por falsidade ideológica, mas também mediante falsidade material, deve ser imposta a pena de perdimento, incidindo o inciso VI do art.105 do Decreto-Lei n. 37/66. Interpretação em consonância com o critério da especialidade.
Opostos embargos de declaração, foram acolhidos apenas
para fins de prequestionamento (fls. 734/739e).
Com amparo no art. 105, III, a, da Constituição da República, a
Recorrente aponta ofensa ao art. 535, II, do Código de Processo Civil,
porquanto o Tribunal de origem omitiu-se acerca de questão essencial para
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o desate da lide – a análise dos dispositivos legais, apontados nos embargos
de declaração, os quais constituíram o objeto da defesa da União em sede
de informações pela autoridade coatora e nas razões de apelação.
Prossegue afirmando negativa de vigência aos arts. 618, VI,
633 e 634, § 4º, I, do Regulamento Aduaneiro, arts. 105, VI e 169, do
Decreto-Lei n. 37/66, art. 23 do Decreto-Lei n. 1.455/76 e art. 3º da Lei n.
6.562/78.
Sustenta, ainda, teriam sido violados tais dispositivos porque o
subfaturamento é prática suficiente a ensejar a aplicação da pena de
perdimento, pois a fraude é exposta de forma irrefutável, com a presença do
elemento doloso, ou seja, a intenção de fraudar é inequívoca.
Aduz que "não deve prevalecer a conclusão do acórdão no
sentido de que é condição para a imputação da pena de perdimento a
ocorrência simultânea de falsidade ideológica e falsidade material e de que
na hipótese de ocorrência apenas da primeira hipótese somente
aplicar-se-iam os artigos 108, parágrafo único, do Decreto-Lei n. 37/66 e
parágrafo único do artigo 88 da Medida Provisória n. 2.158-35/2001, pelo
princípio da especialidade" (fl. 757e).
Requer seja o Recurso Especial conhecido e provido, a fim de
anular o acórdão recorrido, afastando a negativa de vigência ao artigo 535, lI,
do Código de Processo Civil, ou reformá-lo de modo a julgar improcedente a
demanda.
Com contrarrazões (fls. 769/779e), o recurso foi admitido (fls.
781/782e).
O Ministério Público Federal, no parecer de fls. 792/797e, opina
pelo não conhecimento do recurso.
O Sr. Ministro Relator apresentou voto resumido na seguinte
ementa:
TRIBUTÁRIO. DIREITO ADUANEIRO. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO DO VALOR DA MERCADORIA. PENA DE PERDIMENTO. DESCABIMENTO. APLICAÇÃO DA MULTA PREVISTA NO ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DECRETO-LEI Nº 37/66. CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE DA NORMA.
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PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. CONSIDERAÇÃO.1. A falsidade ideológica consistente no subfaturamento do valor da mercadoria na declaração de importação dá ensejo à aplicação da multa prevista no art. 105, parágrafo único, do Decreto-Lei nº 37/66, que equivale a 100% do valor do bem, e não à pena de perdimento do art. 105, VI, daquele mesmo diploma legal.2. Interpretação harmônica com o art. 112, IV, do CTN, bem como com os princípios da especialidade da norma, da razoabilidade e da proporcionalidade. Precedentes.3. Recurso especial da Fazenda Nacional a que se nega provimento.
É o relatório, passo a proferir o voto-vista.
No caso, não verifico omissão acerca de questão essencial ao
deslinde da demanda e tampouco outro vício a impor a revisão do julgado.
Depreende-se da leitura do acórdão recorrido que a
controvérsia foi examinada de forma satisfatória, mediante apreciação da
disciplina normativa e cotejo ao firme posicionamento jurisprudencial
aplicável ao caso.
Anoto que não ofende o art. 535, II, do Código de Processo
Civil o acórdão com fundamentação adequada e suficiente que decidiu na
íntegra a controvérsia submetida a julgamento, de forma clara e coerente.
Em relação à matéria de fundo, discute-se a possibilidade de
aplicação da pena de perdimento de bem quando reconhecida a falsidade
ideológica na declaração de importação que consignou valor inferior ao da
mercadoria.
O Tribunal de origem concluiu que a parte impetrante realizou
tão-somente falsa declaração de preço, uma vez que o valor das
mercadorias importadas (rodas de aço para caminhões) constante nas
respectivas Declarações de Importação é aproximadamente 21% (vinte e um
por cento) menor do que os praticados em importações similares (fl. 718e).
Assim sendo, o enquadramento correto da infração seria o
parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei n. 37, de 18 de novembro de 1966
e parágrafo único do art. 88 da Medida Provisória n. 2.158-35, de 24 de
agosto de 2001, o que impede a aplicação da pena de perdimento da
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mercadoria importada, nos termos do inciso VI do art. 105 do Decreto-Lei n.
37/66. Isso porque o subfaturamento foi praticado tão-somente mediante
falsidade ideológica (falsa declaração do preço efetivamente praticado na
operação de importação), sem a utilização de qualquer falsidade material (fl.
721e).
A pena de perdimento, assim prevista no Decreto-Lei n. 37/66,
incide nos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao
embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no art.
108, parágrafo único, da mesma espécie normativa é destinada a punir
declaração inexata no valor, natureza ou quantidade da mercadoria
importada.
Releva destacar a redação do art. 105, caput, e inciso VI, do
Decreto-Lei n. 37/66, no qual se fundamentou o art. 618, VI, do Decreto n.
4.543/02, bem como o ato administrativo impugnado, verbis :
Art.105 - Aplica-se a pena de perda da mercadoria: (...) VI - estrangeira ou nacional, na importação ou na exportação, se qualquer documento necessário ao seu embarque ou desembaraço tiver sido falsificado ou adulterado; (...) XI - estrangeira, já desembaraçada e cujos tributos aduaneiros tenham sido pagos apenas em parte, mediante artifício doloso.
No mesmo sentido, é a redação do art. 23, IV, e § 1º, do
Decreto-Lei n. 1.455/76:
Art 23. Consideram-se dano ao Erário as infrações relativas às mercadorias: (...) IV - enquadradas nas hipóteses previstas nas alíneas a e b do parágrafo único do artigo 104 e nos incisos I a XIX do artigo 105, do Decreto-lei número 37, de 18 de novembro de 1966. (...) § 1º O dano ao erário decorrente das infrações previstas no caput deste artigo será punido com a pena de perdimento das mercadorias. (Incluído pela Lei nº 10.637, de 30.12.2002).
Com efeito, depreende-se do comando legal que, realizada a
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falsificação ou adulteração de documento necessário ao desembaraço da
mercadoria importada, aplicável a pena de perdimento do bem, revelando-se
incabível a distinção entre falsidade material e ideológica.
Todavia, no caso em exame, a hipótese é exclusiva de
subfaturamento – aproximadamente 21% menor do que os valores
praticados em importações similares –, incidindo o regramento específico
que pune com multa de 100% sobre a diferença apurada entre o valor real e
o declarado, nos termos do art. 108, parágrafo único, do Decreto-Lei n.
37/66.
Nesse sentido:
RECURSO ESPECIAL. TRIBUTÁRIO. IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO. PENA DE PERDIMENTO. ART. 105, VI, DO DL 37/66. NÃO INCIDÊNCIA. HIPÓTESE SUJEITA À MULTA. ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DO DL 37/66.1. A pena de perdimento, prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei 37/66, incide nos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do mesmo diploma legal destina-se a punir declaração inexata em seu valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada.2. Quando a declaração de importação é falsa quanto à natureza da mercadoria importada, seu conteúdo ou quantidade, será possível aplicar-se, a par da multa, também a pena de perdimento em relação ao excedente não declarado, tendo em vista o que dispõe o inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02).3. Todavia, quando a hipótese é exclusiva de subfaturamento, não há regra semelhante autorizando a pena de perdimento, devendo ser aplicada somente a norma específica, que é a multa de 100% sobre a diferença apurada entre o valor real e o declarado, nos termos do art. 108, parágrafo único, do DL 37/66.4. No caso, segundo o arcabouço fático delineado na origem, houve apenas subfaturamento, vale dizer, indicação de valores a menor para a operação de importação, o que afasta a incidência da pena de perdimento.5. Recurso especial não provido.(REsp 1242532/RS, Rel. Ministro CASTRO MEIRA, SEGUNDA TURMA, julgado em 21/06/2012, DJe 02/08/2012);
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TRIBUTÁRIO. DESEMBARAÇO ADUANEIRO. DECLARAÇÃO DE IMPORTAÇÃO. SUBFATURAMENTO DO BEM IMPORTADO. ART. 105, VI, DO DECRETO-LEI N. 37/66. PENA DE PERDIMENTO DO BEM. INAPLICABILIDADE. PRINCÍPIO DA ESPECIALIDADE. APLICAÇÃO DA MULTA DE 100% PREVISTA NO ART. 108, PARÁGRAFO ÚNICO, DA REFERIDA NORMA. PREVALÊNCIA DO DISPOSTO NA NORMA LEGAL SOBRE O TEOR DA NORMA INFRALEGAL (IN SRF 206/2002).1. Discute-se nos autos a possibilidade de aplicação da pena de perdimento de bem quando reconhecida a falsidade ideológica na declaração de importação que, in casu, consignou valor 30% inferior ao valor da mercadoria (motocicleta Yamaha modelo YZFR1WL).2. A pena de perdimento prevista no art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66 se aplica aos casos de falsificação ou adulteração de documento necessário ao embarque ou desembaraço da mercadoria, enquanto a multa prevista no parágrafo único do art. 108 do referido diploma legal destina-se a punir declaração falsa de valor, natureza ou quantidade da mercadoria importada. Especificamente no que tange à declaração falsa relativa à quantidade da mercadoria importada, a despeito do disposto no parágrafo único do art. 108 do Decreto-Lei n. 37/66, será possível aplicar-se a pena de perdimento em relação ao excedente não declarado, haja vista o teor do inciso XII do art. 618 do Regulamento Aduaneiro vigente à época dos fatos (Decreto 4.543/02). Nesse sentido: AgRg no Ag 1.198.194/SP, Rel. Ministra Eliana Calmon, Segunda Turma, DJe 25/05/2010.3. O precedente supracitado determinou a aplicação da pena de perdimento de bem sobre o excedente não declarado no que tange à falsidade ideológica relativa à quantidade e, ainda, em caso de bem divisível. O caso dos autos, porém, trata de bem indivisível e não diz respeito à falsa declaração de quantidade, mas sim de subfaturamento do bem, ou seja, diz respeito ao valor declarado.4. A conduta do impetrante, ora recorrido, está tipificada no art. 108 supracitado - falsidade ideológica relativa ao valor declarado (subfaturamento) -, o que afasta a incidência do art. 105, VI, do Decreto-Lei n. 37/66 em razão: (i) do princípio da especialidade; (ii) da prevalência do disposto no referido decreto sobre o procedimento especial previsto na IN SRF 206/2002; e (iii) da aplicação do princípio da proporcionalidade.5. Recurso especial não provido.(REsp 1217708/PR, Rel. Ministro MAURO CAMPBELL MARQUES, SEGUNDA TURMA, julgado em 14/12/2010, DJe
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08/02/2011).
Isto posto, acompanho, integralmente, o voto proferido pelo Sr.
Ministro Relator.
É o voto.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.218.798 - PR (2010/0198397-1)
RELATOR : MINISTRO SÉRGIO KUKINARECORRENTE : FAZENDA NACIONAL ADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONAL RECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDA ADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
VOTO(MINISTRO NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO)
1. Senhor Presidente, acompanho o voto de Vossa Excelência, mas
gostaria de consignar que, em uma hipótese como esta, se deve explicitar que o
importador deve pagar o tributo pelo valor arbitrado da mercadoria.
2. Digo isso porque pode passar a ideia – sei que não é o
pensamento de Vossa Excelência e nem da Senhora Ministra REGINA HELENA COSTA
e nem do Senhor Ministro OLINDO MENEZES, tenho certeza absoluta de que não o é –
de que não se aplica a pena de perdimento e libera-se a mercadoria tributada pelo valor
subfaturado, o que não é a hipótese, evidentemente não é a hipótese.
3. Faço essa sugestão, repito, apenas para não passar a ideia –
isso é algo que terá repercussão nacional – de que não se aplica o perdimento e
libera-se a mercadoria pelo valor subfaturado, o que não é verdade. A mercadoria será
liberada pelo valor arbitrado pelo Fisco, uma vez que a documentação fiscal não
merece confiabilidade.
4. Apenas sugiro que se acrescente essa observação, mas se
Vossa Excelência não quiser acrescentar, acompanho.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTOPRIMEIRA TURMA
Número Registro: 2010/0198397-1 PROCESSO ELETRÔNICO REsp 1.218.798 / PR
Número Origem: 200870080004053
PAUTA: 08/09/2015 JULGADO: 08/09/2015
Relator
Exmo. Sr. Ministro SÉRGIO KUKINA
Presidente da SessãoExmo. Sr. Ministro SÉRGIO KUKINA
Subprocuradora-Geral da RepúblicaExma. Sra. Dra. ANA BORGES COELHO SANTOS
SecretáriaBela. BÁRBARA AMORIM SOUSA CAMUÑA
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : FAZENDA NACIONALADVOGADO : PROCURADORIA-GERAL DA FAZENDA NACIONALRECORRIDO : DRUGOVICH PEÇAS LTDAADVOGADO : SÉRGIO DE JESUS PEREIRA E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO TRIBUTÁRIO - Procedimentos Fiscais - Perdimento de Bens
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia PRIMEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
Prosseguindo o julgamento, após o voto-vista da Sra. Ministra Regina Helena Costa, a Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Os Srs. Ministros Regina Helena Costa (voto-vista), Olindo Menezes (Desembargador Convocado do TRF 1ª Região), Napoleão Nunes Maia Filho e Benedito Gonçalves votaram com o Sr. Ministro Relator.
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