REsp 1.027.797-MG

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.027.797 - MG (2008/0025078-1) RELATORA RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADOS : : : : : MINISTRA NANCY ANDRIGHI CONSTRUTEL TECNOLOGIA E SERVIOS S/A LUIZ GUILHERME TAVARES TORRES E OUTRO(S) PAULO CONALVES DE ASSIS REGINA MRCIA VIEGAS PEIXOTO CABRAL GONDIM MRCIA IZABEL VIEGAS PEIXOTO ONOFRE E OUTRO(S) ABELARDO FLORES CARLOS ALBERTO VIGAS PEIXOTO ABELARDO DE OLIVEIRA FLORES ADRIANA MARIA VIEGAS MEIRELESEMENTA

DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PREQUESTIONAMENTO. AUSNCIA. SMULA 211/STJ. DISSDIO JURISPRUDENCIAL. COTEJO ANALTICO E SIMILITUDE FTICA. AUSNCIA. VIOLAO DA COISA JULGADA. RECLAMAO TRABALHISTA. HONORRIOS CONVENCIONAIS. PERDAS E DANOS. PRINCPIO DA RESTITUIO INTEGRAL. APLICAO SUBSIDIRIA DO CDIGO CIVIL. 1. A ausncia de deciso acerca dos dispositivos legais indicados como violados, no obstante a interposio de embargos de declarao, impede o conhecimento do recurso especial. 2. O dissdio jurisprudencial deve ser comprovado mediante o cotejo analtico entre acrdos que versem sobre situaes fticas idnticas. 3. A quitao em instrumentos de transao tem de ser interpretada restritivamente. 4. Os honorrios convencionais integram o valor devido a ttulo de perdas e danos, nos termos dos arts. 389, 395 e 404 do CC/02. 5. O pagamento dos honorrios extrajudiciais como parcela integrante das perdas e danos tambm devido pelo inadimplemento de obrigaes trabalhistas, diante da incidncia dos princpios do acesso justia e da restituio integral dos danos e dos arts. 389, 395 e 404 do CC/02, que podem ser aplicados subsidiariamente no mbito dos contratos trabalhistas, nos termos do art. 8, pargrafo nico, da CLT. 6. Recurso especial ao qual se nega provido. ACRDO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de Justia, na conformidade dos votos e das notas taquigrficas constantes dos autos, por unanimidade, negar provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. MinistrosDocumento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 1 de 15

Superior Tribunal de JustiaMassami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina votaram com a Sra. Ministra Relatora. Dr(a). GUILHERME LUIZ DE SOUZA PINHO, pela parte RECORRIDA: PAULO CONALVES DE ASSIS. Braslia (DF), 17 de fevereiro de 2011(Data do Julgamento)

MINISTRA NANCY ANDRIGHI Relatora

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.027.797 - MG (2008/0025078-1) RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADOS : : : : CONSTRUTEL TECNOLOGIA E SERVIOS S/A LUIZ GUILHERME TAVARES TORRES E OUTRO(S) PAULO CONALVES DE ASSIS REGINA MRCIA VIEGAS PEIXOTO CABRAL GONDIM MRCIA IZABEL VIEGAS PEIXOTO ONOFRE E OUTRO(S) ABELARDO FLORES CARLOS ALBERTO VIGAS PEIXOTO ABELARDO DE OLIVEIRA FLORES ADRIANA MARIA VIEGAS MEIRELES

Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHIRELATRIO

Cuida-se de recurso especial interposto pela CONSTRUTEL TECNOLOGIA E SERVIOS S/A, com fundamento nas alneas "a" e "c" do permissivo constitucional. Ao: de reparao por danos materiais, ajuizada por PAULO CONALVES DE ASSIS, em face da recorrente, na qual requer o ressarcimento pelos gastos com a contratao de advogado para o ajuizamento de reclamao na Justia do Trabalho, em virtude da reteno indevida de verbas trabalhistas. Sentena: julgou improcedente o pedido. Acrdo: deu provimento apelao interposta pelo recorrido, conforme a seguinte ementa (fl. 303):APELAO - AO DE INDENIZAO - FALTA DE INTERESSE DE AGIR - INOVAO RECURSAL - NO CONHECIMENTO - AJUIZAMENTO DE RECLAMATRIA TRABALHISTA - CONTRATAO DE ADVOGADO - ATO ILCITO DEMONSTRADO - RESSARCIMENTO DEVIDO. O recibo quita o valor nele inserto, no excluindo a possibilidade do credor requerer, judicialmente, sua complementao, sentindo-se lesado, pois, h garantia constitucional a ampar-lo, eis que nenhuma leso ou ameaa a direito pode ser subtrada do Poder Judicirio (art. 5, XXXV, da Constituio Federal). A inovao de tese em sede recursal no pode ser conhecida porque traz a lume argumentos no declinados na primeiraDocumento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 3 de 15

Superior Tribunal de Justiainstncia, sequer abordados na sentena recorrida, ofendendo o princpio do duplo grau de jurisdio. Quando a omisso do empregador obriga o empregado a buscar a proteo judicial e sua pretenso acolhida, caracterizou-se a desdia do Ru e, por bvio, a despesa atinente ao pleito deve ser ressarcida, sob pena da indenizao no ficar completa e haver locupletamento por parte daquele que deu causa demanda.

Embargos de declarao: interpostos pela recorrente, foram parcialmente acolhidos. Recurso especial: alega violao dos arts. 267 do CPC; 188, I, do CC/02; 791 da CLT, alm de dissdio jurisprudencial. Sustenta: i) a inexistncia de interesse de agir, pois houve acordo na justia do trabalho e a ampla e irrestrita quitao dada pelo recorrido no referido acordo incluiria os honorrios advocatcios; ii) o dever de indenizar no pode ser imputado por defender-se em reclamatria trabalhista, pois estava exercendo o seu direito de defesa; iii) que no pode ser onerado pelo exerccio de uma faculdade do recorrido, pois o empregado poderia ter obtido assistncia judiciria gratuita por meio do sindicato ou da Defensoria Pblica e que, alm disso, a presena de advogado na Justia do Trabalho facultativa. Prvio juzo de admissibilidade: o TJ/MG admitiu o recurso especial (fl.357/358), determinando a subida dos autos ao STJ. o relatrio.

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Superior Tribunal de JustiaRECURSO ESPECIAL N 1.027.797 - MG (2008/0025078-1) RELATORA RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADOS : : : : : MINISTRA NANCY ANDRIGHI CONSTRUTEL TECNOLOGIA E SERVIOS S/A LUIZ GUILHERME TAVARES TORRES E OUTRO(S) PAULO CONALVES DE ASSIS REGINA MRCIA VIEGAS PEIXOTO CABRAL GONDIM MRCIA IZABEL VIEGAS PEIXOTO ONOFRE E OUTRO(S) ABELARDO FLORES CARLOS ALBERTO VIGAS PEIXOTO ABELARDO DE OLIVEIRA FLORES ADRIANA MARIA VIEGAS MEIRELES

Relatora: MINISTRA NANCY ANDRIGHIVOTO

I Da delimitao da controvrsia Cinge-se a controvrsia a determinar se cabvel reparao por danos materiais ao empregado que contrata advogado para o ajuizamento de reclamao trabalhista. II- Prequestionamento

O acrdo recorrido no decidiu acerca dos argumentos invocados pelo recorrente quanto violao do art. 188, I, do CC/02, no obstante a interposio de embargos de declarao. Acrescente-se ainda que no houve deciso acerca da possibilidade de o recorrido obter assistncia judiciria por meio do sindicato ou da Defensoria Pblica. Incide, na espcie, o bice da Smula 211/STJ. Por outro lado, no que concerne ao art. 791 da CLT, todavia, entendo ser possvel admitir o seu prequestionamento implcito, na forma abordada pela recorrente, tendo em vista que a questo, ainda que sucintamente, foi abordada pelo TJ/MG.Documento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 5 de 15

Superior Tribunal de JustiaIII - Da admissibilidade recursal pela alnea c do permissivo constitucional

O recurso especial no ultrapassa o juzo de admissibilidade quanto ao dissdio jurisprudencial, pois a divergncia no foi devidamente demonstrada. Com efeito, a recorrente cuidou apenas de transcrever o julgado tido por paradigma, sem evidenciar os pontos que caracterizam o dissdio, bem como a similitude entre as bases fticas dos julgados. A jurisprudncia desta Corte pacfica no sentido de que a simples transcrio de ementas no configura divergncia jurisprudencial, que deve ser comprovada por meio da demonstrao analtica das teses dissidentes dos arestos confrontados. IV Do acordo realizado entre as partes e da ofensa coisa julgada A recorrente suscita preliminar de ofensa coisa julgada, contudo, verifica-se, da anlise dos autos, que esta no ocorreu. Isso porque, consoante a disposio expressa do art. 843 do CC/02, a transao interpreta-se restritivamente. Acrescente-se, ainda, que a jurisprudncia do STJ pacfica no sentido de que a declarao de quitao em instrumentos de transao tem de ser interpretada restritivamente (EREsp n 292.974/SP, 2 Seo, Rel. Min. Slvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 15/9/2003). Salienta-se que o acordo celebrado entre as partes no estabeleceu disposies sobre o pagamento de honorrios advocatcios convencionais, tendo apenas estabelecidos os valores devidos a ttulo de verbas trabalhistas e honorrios periciais. Assim, a interposio de ao de reparao por danos materiais noDocumento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 6 de 15

Superior Tribunal de Justiasignifica violao do instituto da coisa julgada. V O Jus postulandi das partes como fundamento para no se conceder honorrios advocatcios nas causas trabalhistas O art. 791 da CLT, ao estabelecer que empregados e os empregadores podero reclamar pessoalmente perante a Justia do Trabalho, deixou evidente a facultatividade da presena do advogado nos processos trabalhistas. Por ser uma faculdade, a concesso do jus postulandi no pode ser utilizada como fundamento para penalizar o trabalhador que resolve contratar um advogado particular. Nessa linha de ideias, no se pode deixar de afirmar que a referida norma foi criada com a finalidade de permitir o efetivo acesso ao Poder Judicirio. Ocorre que o acesso justia, como lembra Marinoni (MARINONI. Luiz Guilherme. Teoria Geral do Processo . 4 ed. So Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010), no se resume eliminao dos bices que impedem o acesso ao Poder Judicirio. O direito de acesso justia compreende, entre outros, o direito daquele que est em juzo poder influir no convencimento do magistrado, participando adequadamente do processo. Nessa dimenso, assume especial relevncia a funo do advogado no processo como fator de concretizao do acesso justia, na medida em que, utilizando os seus conhecimentos jurdicos, otimiza a participao do seu cliente no processo de convencimento do magistrado. Nesse contexto, salutar so as ponderaes de Francisco das Chagas Lima Filho (LIMA FILHO, Francisco das Chagas. O direito aos honorrios advocatcios no processo do trabalho : exegese dos artigos 389 e 404 do Cdigo Civil. In: Justia do trabalho, v.24, n.283, p.41-45, jul., 2007, p. 42):Documento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 7 de 15

Superior Tribunal de JustiaDesse modo, e embora a norma consolidada visando precipuamente garantir ao trabalhador e ao empresrio, especialmente o pequeno e micro - empresrio o efetivo acesso justia atravs de um processo informal onde no se exige, ao contrrio do processo comum o patrocnio do advogado como pressuposto de validade da relao processual (art. 36/38 do CPC), no se pode deixar de lembrar, e a experincia diria comprova isso, que na grande maioria dos casos submetidos a julgamento da Justia do Trabalho a presena e a assistncia do profissional do direito se revela mesmo indispensvel, mxime quando em jogo questes intricadas de fato ou de direito que o trabalhador e o empregador ou empresrio, especialmente aquele, sem a devida assistncia de um profissional competente jamais ter condies de entender e, como conseqncia, de discutir, o que na prtica pode redundar em injusto prejuzo para a defesa de seu direito, e no raro terminar violando a garantia fundamental inserta no inciso LV, do art. 5 do Texto de 1988, qual seja, o direito ampla defesa.

Assim sendo, analisada a questo sob a tica do acesso justia, deve-se concluir que o empregado tem o direito de optar por ser representado em juzo por advogado de sua confiana. Por fim, cumpre pontuar que o processo no pode importar prejuzos parte a quem, ao final, se reconhea ter razo. Assim, aquele que deixou de pagar verbas trabalhistas tem de restituir ao empregado o que esse despendeu com os honorrios advocatcios contratuais. Nesse contexto, como bem destaca Chiovenda:A necessidade de servi-se do processo para obter razo no pode reverter em dano a quem tem razo, pois, a administrao da justia faltaria ao seu objeto e a prpria seriedade dessa funo do Estado estaria comprometida se o mecanismo organizado para o fim de atuar a lei tivesse de operar como prejuzo de quem tem razo (Chiovenda apud Scavone Junior, Luiz Antonio. Do descumprimento das obrigaes: conseqncias luz do princpio da restituio integral : interpretao sistemtica e teleolgica. So Paulo : J. de Oliveira, 2007, p. 173).

precisamente com base nessa linha de raciocnio que se entende que aquele que deu causa ao ajuizamento da reclamao trabalhista dever arcarDocumento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 8 de 15

Superior Tribunal de Justiacom os honorrios contratuais, de modo que o vencedor no suporte o dano sofrido pelo inadimplemento da obrigao trabalhista. VI- Princpio da reparao integral e os honorrios advocatcios contratuais O princpio da restituio integral se entrelaa como os princpios da equidade, da justia e, consequentemente, com o princpio da dignidade da pessoa humana, tendo em vista que, minimizando-se os prejuzos efetivamente sofridos, evita-se o desequilbrio econmico gerado pelo descumprimento da obrigao e protege-se a dignidade daquele que teve o seu patrimnio lesado por um ato ilcito. Sobre o tema Luiz Antonio Scavone Jnior pondera (Do descumprimento das obrigaes: conseqncias luz do princpio da restituio integral . So Paulo: J. de Oliveira, 2007, p. 172-173):

Seja como for, o difcil equilbrio, exigido pela funo social do contrato e pela boa-f, demanda a restituio integral que deve ser extrada da Constituio Federal como princpio apto a valorar a interpretao das normas atinentes s conseqncias do descumprimento das obrigaes, validando, no sistema, o vetusto alterum no laedere que, desde Ulpiano, demanda o respeito s esferas pessoal e patrimonial alheias. A justia, a par de suas diversas acepes, deve ser entendida e compreendida como critrio de ordenamento da aplicao das normas, significando, no que pertine restituio integral, nas palavras de Paulo Hamilton Sirqueira Junior, a virtude de dar a cada um o que seu.

Assim, apesar do silncio da CLT, se o empregado entende que necessita contratar um advogado para que possa obter a tutela jurisdicional pretendida, aquele que deu causa ao ajuizamento da reclamao trabalhista por descumprir suas obrigaes, deve pagar os honorrios contratuais para restituir integralmente o prejuzo causado.Documento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 9 de 15

Superior Tribunal de JustiaAdemais, o Cdigo Civil de 2002 determina, de forma expressa, que os honorrios advocatcios integram os valores devidos a ttulo de reparao por perdas e danos. Os arts. 389, 395 e 404 do CC/02 estabelecem, respectivamente:Art. 389. No cumprida a obrigao, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualizao monetria segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Art. 395. Responde o devedor pelos prejuzos a que sua mora der causa, mais juros, atualizao dos valores monetrios segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, e honorrios de advogado. Art. 404. As perdas e danos, nas obrigaes de pagamento em dinheiro, sero pagas com atualizao monetria segundo ndices oficiais regularmente estabelecidos, abrangendo juros, custas e honorrios de advogado, sem prejuzo da pena convencional.

Os honorrios mencionados nos referidos artigos so os honorrios extrajudiciais, pois os sucumbenciais relacionam-se com o processo e constituem crdito autnomo do advogado. Assim, como os honorrios contratuais so retirados do patrimnio do lesado, para que haja reparao integral do dano sofrido o pagamento dos honorrios advocatcios previsto na Lei Civil s pode ser o dos contratuais. Nesse tocante, elucidativa a doutrina de Luiz Antonio Scavone Jnior (Do descumprimento das obrigaes: conseqncias luz do princpio da restituio integral . So Paulo : J. de Oliveira, 2007, p. 172-173):Sendo assim, os honorrios mencionados pelos arts. 389, 395 e 404 do Cdigo Civil, ressarcitrios, evidentemente no so aqueles decorrentes do Estatuto da Advocacia, ou seja, os honorrios de sucumbncia; de outro lado, so pagos diretamente pelo credor ao advogado e constituem em prejuzo (dano emergente) decorrente da mora e do inadimplemento. ............................................................................................................ Assim os honorrios atribudos a ttulo de sucumbncia no se confundem como os honorrios ressarcitrios, convencionais ou arbitrados.Documento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 1 0 de 15

Superior Tribunal de JustiaOs honorrios ressarcitrios, convencionais ou arbitrados, representam dispndio do credor e, por essa razo, perdas e danos decorrentes do inadimplemento das obrigaes, notadamente em razo da necessidade de contratao de advogado para efetivar o direito de receber o objeto da prestao da relao jurdica obrigacional. Rompe-se, em razo do ordenamento jurdico, o entendimento corrente, porm equivocado, que decorria do direito anterior, segundo o qual apenas haveria lugar para a condenao do devedor nos honorrios de sucumbncia. No crvel, ante o princpio da restituio integral, que os honorrios pagos pelo credor sejam por ele suportados sem qualquer ressarcimento pelo devedor, que a eles deu causa.

Antonio de Pdua Soubhie Nogueira preleciona (Honorrios advocatcios extrajudiciais: breve anlise (e harmonizao) dos artigos 389, 395 e 404 do novo Cdigo civil e do artigo 20 do Cdigo de processo civil. In: Revista forense , v.105, n.402, p.597-607, mar./abr., 2009., p. 602):Pela sistemtica do direito material que garante a ampla indenizao , amparada no conhecido princpio da restitutio in integrum , mostra-se bastante razovel a interpretao no sentido de que os dispositivos do Cdigo Civil visam, realmente, disciplinar a indenizao dos honorrios advocatcios extrajudiciais . O direito material, portanto, vai alm das regras de direito processual, permitindo a recomposio de tudo aquilo que a parte despendeu para fazer valer seus interesses (em juzo ou fora dele), inclusive as verbas contratuais comprometidas aos advogados que atuam em sua representao. ............................................................................................................ Com efeito, na realidade forense os honorrios sucumbenciais so apenas uma parcela , cada vez mais importante, de todo remuneratrio fixado pelos servios jurdicos prestados pelo advogado. Pressupondo-se que, principiologicamente , a reparao civil deve ser integral , e no parcial, para que o cliente (vtima do ato ilcito) seja efetivamente ressarcido, de rigor que na conta indenizatria seja computada, igualmente, a chamada verba extrajudicial, na hiptese de sua contratao. Essa exegese reforada pelo fato de a previso processual que determina o pagamento de honorrio sucumbenciais no acarretar prejuzo parte lesada, j que a sucumbncia devida pelo vencido . No teria sentido lgico o Cdigo Civil garantir o ressarcimento de honorrios de advogado que, pela sistemtica do art. 20 do CPC c/c art. 23 do EOAB ( Lei n. 8.906/94), so suportados pelo vencido e no pelaDocumento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 1 1 de 15

Superior Tribunal de Justiavtima do ato ilcito.

Sublinhe-se, por oportuno, que os referidos dispositivos do Cdigo Civil podem ser aplicados subsidiariamente no mbito dos contratos trabalhistas, nos termos do art. 8, pargrafo nico, da CLT. Na mesma linha de entendimento:Os honorrios advocatcios no Cdigo Civil (arts. 389 e 404) tem natureza jurdica indenizatria, pois visam compensao parte do montante do crdito que despender com o pagamento de advogado particular. Caso a parte tenha contratado advogado particular ter que destinar parte do seu crdito ao pagamento deste e, portanto, no ter o seu direito reparado integralmente e, desse modo, se mostra justo e razovel o deferimento dos honorrios advocatcios no Processo do Trabalho com suporte no Cdigo Civil, por fora do permissivo dos arts. 8 e 769, da CLT. ............................................................................................................ No obstante, pensamos perfeitamente aplicvel ao Processo do Trabalho os honorrios advocatcios previstos no Cdigo Civil por compatvel com o princpio de acesso real e efetivo do empregado Justia, bem como restituio integral do crdito trabalhista (Schiavi, Mauro. Manual de direito processual do trabalho. So Paulo, LTr, 2010, p. 259).

Por fim, para evitar interpretaes equivocadas da presente deciso, cumpre esclarecer que, embora os honorrios extrajudiciais componham os valores devidos pelas perdas e danos, o valor cobrado pela atuao do causdico no pode ser abusivo. Sendo o valor dos honorrios contratuais exorbitante, o juiz poder, analisando as peculiaridades do caso concreto, arbitrar outro valor, podendo utilizar como parmetro a tabela de honorrios da OAB. Corroborando com essa ideia, Antonio de Pdua Soubhie Nogueira assevera (Honorrios advocatcios extrajudiciais: breve anlise (e harmonizao) dos artigos 389, 395 e 404 do novo Cdigo civil e do artigo 20 do Cdigo de processo civil. In: Revista forense , v.105, n.402, p.597-607, mar./abr., 2009., p.Documento: 1037896 - Inteiro Teor do Acrdo - Site certificado - DJe: 23/02/2011 Pgina 1 2 de 15

Superior Tribunal de Justia606):No h como temer o excesso na cobrana dessa verba, na hiptese de comprovado abuso , poder o juiz arbitrar o valor que entender devido ( art. 946, CC), valendo-se de auxilio pericial, na forma do art. 475-A do CPC, ou mesmo da Tabela de Honorrios Advocatcios divulgada pela Ordem dos Advogados do Brasil da Seccional correspondente. De igual forma, na desproporo entre o valor dos honorrios de advogado e o prprio montante requerido a ttulo de prejuzo principal, nada obsta a aplicao analgica do pargrafo nico do art. 944 do Cdigo Civil, que admite reduo equitativa da indenizao. Grifos no original.

Tendo em vista que no houve pedido da recorrente quanto ao reconhecimento da abusividade das verbas honorrias, a referida questo no ser analisada no presente recurso especial, pois, nos termos do princpio da congruncia, a deciso no pode ultrapassar os limites do pedido. Forte nessas razes, nego provimento ao recurso especial.

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Superior Tribunal de JustiaCERTIDO DE JULGAMENTO TERCEIRA TURMA

Nmero Registro: 2008/0025078-1

REsp 1.027.797 / MG

Nmeros Origem: 10024069955906002 10024069956906004 10024069959906 10024069959906001 10024069959906003 24069959906 PAUTA: 17/02/2011 JULGADO: 17/02/2011

Relatora Exma. Sra. Ministra NANCY ANDRIGHI Presidente da Sesso Exmo. Sr. Ministro MASSAMI UYEDA Subprocurador-Geral da Repblica Exmo. Sr. Dr. FRANCISCO DIAS TEIXEIRA Secretria Bela. MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA AUTUAORECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADOS : : : : CONSTRUTEL TECNOLOGIA E SERVIOS S/A LUIZ GUILHERME TAVARES TORRES E OUTRO(S) PAULO CONALVES DE ASSIS REGINA MRCIA VIEGAS PEIXOTO CABRAL GONDIM MRCIA IZABEL VIEGAS PEIXOTO ONOFRE E OUTRO(S) ABELARDO FLORES CARLOS ALBERTO VIGAS PEIXOTO ABELARDO DE OLIVEIRA FLORES ADRIANA MARIA VIEGAS MEIRELES

ASSUNTO: Trabalho - Contrato - Reclamao - Indenizao

SUSTENTAO ORAL Dr(a). GUILHERME LUIZ DE SOUZA PINHO, pela parte RECORRIDA: PAULO CONALVES DE ASSIS CERTIDO Certifico que a egrgia TERCEIRA TURMA, ao apreciar o processo em epgrafe na sesso realizada nesta data, proferiu a seguinte deciso:

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Superior Tribunal de JustiaA Turma, por unanimidade, negou provimento ao recurso especial, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a) Relator(a). Os Srs. Ministros Massami Uyeda, Sidnei Beneti, Paulo de Tarso Sanseverino e Vasco Della Giustina (Desembargador convocado do TJ/RS) votaram com a Sra. Ministra Relatora. Braslia, 17 de fevereiro de 2011

MARIA AUXILIADORA RAMALHO DA ROCHA Secretria

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