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    Lecture 1

    A Filosofia Social é uma filosofia ética, tal como a ética ou a filosofia política.

    Está em causa a reflexão, análise e criação de conceitos práticos/teóricos, a partir de vivências

    que partam da prática ou que levem à sua transformação.

    É específico desta reflexão o social – as relações individuais ou coletivas tentando encontrar e

    perceber constrangimentos e possibilidades inerentes a essas relações para a vida de cada um

    e para a nossa vida em comum.

    O objetivo é analisar as estruturas sociais que nos enquadram e nos condicionam, tendo em

    vista o seu melhoramento.

    Se entendermos a ética como um desígnio ou aquilo a que Paul Ricoeur a “busca de uma vida

    boa com e para os outros em instituições justas”, esse desígnio não está ausente nem daEconomia nem da Empresa.

    Para Paul Ricoeur, essa procura da vida boa tem uma dimensão ternária:

    1.  Estima de si

    2.  Solicitude

    3.  Justiça

    … com e para os outros 

    Economia – provém do grego “oikos” (fortuna, riqueza, casa, propriedade) + “nomos” (regra,

    lei, administração)

    Corresponde atualmente à produção e distribuição de bens e serviços necessários aos diversos

    aspetos da vida humana em sociedade. Está imersa na ética e na política.

    A Economia e a Ética já estiveram mais fortemente relacionadas. Embora a relação atual seja

    fraca, ela nunca será inexistente.

    Amartya Sen defende que a Economia tem duas origens:

    1.  Uma ligada à ética (sentido forte) e de dupla dimensão:

    a.  Conceção ética da motivação (questão Socrática “Como devo viver?”) 

    b.  Conceção do bem-estar (questão Aristotélica relativa ao bem comum)

    2.  Outra ligada à engenharia (sentido fraco)

    Economia Clássica Economia NeoclássicaAdam Smith; Stuart Mill; Karl Marx Walras; Stanley JevonsDivisão do trabalho. Mercado resulta danossa capacidade de troca

    Crescimento, dividido em 2 aspetos:

      O lado da produção

     

    O lado do consumoA troca depende de disposições éticas quepossibilitam o diálogo e a confiança mútua(solicitude) [sentido forte da ética] 

    A produção, a distribuição e o consumo deum modo integrado

    A produção de uma maior quantidadepermite a divisão do trabalho, levando aoaumento da produtividade

    Os modelos que tratam o 1º ponto podemser utilizados para modelar o crescimentopotencial, caso a lei de Say se verifique (casoseja verdade que a oferta gera sempre a sua

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    procura), podem moderar o crescimentoefetivo

    O aumento da produtividade permite aexistência de lucros, que originam apoupança, que reinvestida em capitalpermite uma maior divisão de trabalho emaior produtividade

    Positivismo – a formalização matemática écondição indispensável para a“cientificidade” da economia. A abordagemque Sen designa por “engenharia” [sentidofraco da ética] 

    Preocupação com a sustentabilidade é umacaracterística real e essencial da realidadeeconómica

    A sustentabilidade – restrição adicional domodelo

    Racionalidade articulada e integrada Racionalidade desarticulada e fragmentadaSustentabilidade integrada Sustentabilidade deixa de ser integrada na

    análise económica

    Produção rendimentos (salários, rendas, juros e lucros) utilizados no consumo geramprocura – otimistas em relação ao processo

    Consumo e procura tornam-se nosmecanismos fundamentais do mercado

    Agente humano – integrado num contextosocial e num determinado tipo de vida

    Agente humano é um maximizador dautilidade subjetiva

    Bem-estar – justa distribuição Bem-estar – caracterizado em termos depreferências subjetivas

    A escassez diz apenas respeito aos bensnaturaisConceito chave – excedente

      Necessário para a reprodução dosistema económico

      Parte que não é necessária para areprodução do sistema – excedentesocial 

    Conceito chave – escassez

      Alocação de recursos escassos deacordo com as nossas preferênciassubjetivas

      Trivialização da noção de escassez(uma vez que as preferências nuncaestão satisfeitas e não há limite paraa satisfação dos desejos)

    Teoria do valor-trabalho – o valor de umbem forma-se pelo lado da oferta, medianteos custos do trabalho incorporado ao bem eo tempo gasto na produção

    Teoria do valor-utilidade – visão utilitarista,para quem o valor de um bem se forma pelolado da procura, pela satisfação

    Para responder à crise atual torna-se necessário responder às duas questões éticas colocadas

    por Amartya Sen.

    1.  Questão Socrática – comportamento dos agentes económicos e componente

    motivacional do ser humano

    2.  Questão Aristotélica – bem comum (tem implicações ao nível do impacto da

    distribuição na sustentabilidade social e económica)A crise atual deve-se à incapacidade da teoria ortodoxa analisar estas questões, questões essas

    que outrora foram fulcrais para autores clássicos como Adam Smith e Karl Marx.

    Teoria Clássica – equilíbrio entre ética e “engenharia” 

    Teoria Neoclássica/Dominante/Ortodoxa/Mainstream – cópia dos modelos de ciências

    naturais e utilização dos mesmos na explicação do ser humano. Os sucessos científicos levaram

    à exportação de modelos matemáticos para estudar o comportamento humano. Esta nova

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    teoria negligencia o equilíbrio entre ética e “engenharia”, tornando-se assim contrastante com

    a Teoria Clássica.

    Adam Smith (A Riqueza das Nações, 1776) - Ciclo virtuoso e sustentável

     

    Jean-Baptiste Say: “a oferta gera a própria procura, pois a atividade de produção gera

    rendimentos (salários, rendas juros e lucros) que serão utilizados no consumo, gerando

    procura” – Lei de Say

    Smith e Say – sustentabilidade do processo através das disposições éticas e morais que

    permitiam o diálogo e o mercado

    Produção emmaior

    quantidade

    Divisão dotrabalho

    Aumento daprodutividade

    Existência delucros

    Poupança

    Reinvestimentoem capital

    Rendimentosdecrescentes da terra

    Menor produtividadeagrícola

    Redução dos lucros daatividade agrícola

    Investimento naatividade industrial

    Maior concorrência nosetor

    Diminuição dos lucrosna atividade industrial

    Estagnação docrescimento económico

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    Lecture 2

    Dicotomia Facto/Valor

    Através de Sen, pelo menos uma das origens da Economia está ligada à ética (através quer da

    questão Socrática quer da questão Aristotélica)

    Isso significa que, pelo menos num dos seus usos, mais associados quer à Economia Clássica,

    quer a uma determinada conceção da Economia do Bem-Estar e da Capabilities Approach, os

    factos (neste caso os económicos) não podem ser totalmente dissociados dos valores de quem

    sobre eles se pronuncia nem dos objetivos da teoria económica.

    Mas então, porque é que espontaneamente tendemos a dissociar factos de valores e mesmo a

    considera-los opostos?

    Origens filosóficas da dicotomia

    David Hume e a crítica da “falácia naturalista”. Para Hume há uma divisão clara entre factos e

    valores e, logo, de asserções descritivas (sobre o que algo é) não se pode deduzir nada sobre o

    que essa coisa deva ser. Para Hume, todos os factos são empiricamente observáveis e,

    portanto, não há “factos morais”. 

    O Positivismo Lógico do “Círculo de Viena” – pretendiam chegar a uma linguagem científica

    totalmente formalizada.

    1.  As linguagens comuns como o português e o inglês seriam imperfeitas e não científicas

    2.  Todas as asserções corretas são ou factuais e verificáveis (ex: o gato está em cima do

    tapete) ou analíticas (tautologias) (ex: os solteiros não são casados)

    3.  Logo, asserções éticas não têm valor científico.

    Origens Económicas da Dicotomia

    Os Positivistas insistiam em duas dicotomias: entre factos e teoria; entre factos e valores.

    Na segunda metade do século XX, uma forma ligeira deste positivismo (soft positivism)

    estende-se à teoria económica através da oposição entre economia positiva (factos

    económicos) e a possibilidade de uma economia normativa (juízos de valor, crenças, avaliações

    éticas sobre a economia) que deviam ser estritamente separadas.

    Este tipo de preparação está na base da conceção dominante da Economia do Bem-Estar

    (Welfare Economics) tal como foi desenvolvida por Paul Samuelson.

    Argumentos Economico-Filosóficos da Dicotomia

    Como a Ética não é “objetiva”, não pode ter lugar na “ciência económica”. 

    Comparações entre pessoas e situações em termos económicos são “juízos de valor”. Ora, juízos de valor são legítimos, mas não têm lugar na Economia (Robbins)

    Logo, critérios éticos não podem pesar em decisões económicas.

    Argumentos Filosóficos Contra a Dicotomia

    A linguagem científica não é pura ou totalmente formalizada – logo, as dicotomias dos

    positivistas lógicos não fazem sentido. Os modelos científicos são sempre uma mistura entre

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    factos e teoria e o mesmo se aplica a alguns conceitos científicos (ex: a curva espaço-tempo na

    física)

    Na “linguagem comum” do dia-a-dia, e mesmo na linguagem científica, existe muitas vezes um

    entrelaçamento (Putnam) entre factos, valores e convenções. Por exemplo, o uso da palavra

    rígido na frase seguinte:

    O que significa dizer “O ministro X é rígido?” 

    Será que conseguimos separar a asserção descritiva (rígido nas suas funções) de um juízo de

    valor emitido (“é bom ser rígido porque cumpre os objetivos” ou “é mau ser rígido porque é

    insensível às necessidades das pessoas”?) 

    Na realidade, a indeterminação semântica de certas palavras faz com que elas possam ser

    utilizadas ora como factos, ora como valores, ora como ambos ao mesmo tempo.Como mostram os autores da hermenêutica (Heidegger) e da teoria crítica (Honneth), na

    maior parte das vezes a nossa postura perante o mundo não é neutra. A atitude científica

    pressupõe uma distanciação do objeto mas, nas ciências sociais e humanas essa distanciação,

    normalmente, não é total.

    A filosofia social e a ética pretendem por um lado descrever, por outro lado apontar maneiras

    de transformar a sociedade, tendo em conta determinados valores (ex: justiça)

    Logo, nas ciências sociais e humanas (neste caso, a ética, a filosofia social e a economia) este

    entrelaçamento deve ser tido em conta. As teorias têm sempre em conta valores epistémicos

    e, em muitos casos, também valores éticos (Bueno Ferreira)

    A origem da economia está parcialmente ligada à ética e de Adam Smith a John Maynard

    Keynes até Amartya Sen, a ligação entre ambas é óbvia e útil para perceber o comportamento

    dos agentes e a organização do bem comum.

    Se rejeitarmos os valores, não conseguimos enquadrar alguns dos factos de forma satisfatória

    (Walsh)

    Ex: numa sociedade com um nível de corrupção elevado, poderá a avaliação económica desse

    facto estar separada de uma avaliação ética?

    Assim, análises técnicas que pretendam fazer recomendações ficarão enviesadas se

    pretenderem insistir numa dicotomia artificial.

    Conclusão

    Factos e valores podem ser analiticamente distinguidos mas não devem ser colocados numa

    relação dicotómica que crie um dualismo ou uma oposição (Bueno Ferreira)

    Na maior parte das vezes existe um entrelaçamento ou complementaridade entre ambos.

    Pensar este entrelaçamento significa repensar totalmente a teoria económica dominante. Não

    é suficiente adicionar motivações morais à teoria dominante da racionalidade económica e do

    comportamento dos agentes. (Staveren/Pell)

    Levar a sério a ética na Economia significa pois repensar o modelo de racionalidade associado

    aos agentes económicos.

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    Lecture 3

    Racionalidade

    Tradicionalmente, pensa-se a racionalidade económica como a satisfação de preferências

    individuais de modo auto-interessado. Estudos experimentais recentes mostram que as

    motivações para a ação são mais complexas e que existe muitas vezes uma maior tendência

    para a reciprocidade e cooperação (Staveren/Pell) do que é admitido pela Teoria Económica

    Neoclássica.

    Admitir esta complexidade motivacional e comportamental ao nível dos agentes, e o

    entrelaçamento facto/valor poderá ser um dos primeiros passos para repensar a

    racionalidade.

    A noção de racionalidade em geral e na teoria económica dominanteRacionalidade teórica (nas crenças – saber se temos razões para acreditar no que acreditamos)

    e racionalidade prática (na ação – saber se temos razões para agir como agimos)

    Racionalidade prática e racionalidade instrumental.

    Aspeto normativo da racionalidade (os agentes devem ter crenças racionais, os agentes devem

    agir racionalmente) e aspeto descritivo da racionalidade (os agentes têm crenças racionais, os

    agentes agem racionalmente)

    Isto leva-nos ao estatuto da racionalidade na teoria económica dominante: é uma suposição

    formal do modelo, necessária para termos melhores resultados; ou é uma assunção sobre o

    comportamento real dos agentes económicos? Ou ambas?

    Conceções de racionalidade na economia:

    1.  Maximizar o interesse próprio

    2.  Maximizar a utilidade

    3.  Racionalidade limitada (Bounded Rationality)

    Maximizar o interesse próprio  – se o interesse próprio é visto de forma estrita, como se

    distingue do puro egoísmo? Se é visto de uma forma mais ampla, incluindo a empatia/simpatia

    por outros e o respeito pelos compromissos ou até o altruísmo, como definir as suas

    fronteiras, como evitar que o interesse próprio se torne numa noção que tudo engloba?

    Maximizar a utilidade  – (…) 

    Bounded rationality  – (…) 

    A Teoria da Escolha Racional e a maximização das preferências

    A teoria da escolha racional pretende explicar o comportamento humano. Para alcançar esteobjetivo, são precisos dois passos. O primeiro é determinar o que uma pessoa racional faria

    em determinadas circunstâncias. O segundo é conferir se o passo anterior foi o que a pessoa

    fez.

    Condições de racionalidade de uma ação (o resultado final de 3 decisões ótimas):

    1.  A ação ser o melhor meio de realizar o desejo da pessoa, dadas as suas crenças

    2.  As crenças serem ótimas, dadas as provas que o agente possui

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    3.  A quantidade de provas que o agente possui serem ótimas (nem demasiada nem

    muito pouca) (Elster)

    Críticas (da economia comportamental) à noção de racionalidade

    O programa de investigação em heuristics and bases (heurísticas e enviesamentos) de Amos

    Tversky e Daniel Kahneman.

    A maior parte das pessoas não utiliza os princípios ditos racionais de raciocínios e decisão (não

    usam algoritmos mas heurísticas).

    Ex: Heurísticas da representatividade e da semelhança, da disponibilidade e da ancoragem e

    ajustamento, decidir por framing.

    Em alternativa à Teoria da Escolha Racional, a prospect theory e a teoria da escolha defendida,

    uma das pedras fundamentais da economia comportamental (Kahneman).

    Outras críticas à noção de racionalidade

    Da psicologia evolutiva/evolucionista:

    1.  Questiona o pressuposto do interesse próprio dos agentes reais, nomeadamente que

    só se importam com o resultado de uma interação económica e não com o processo

    (negociação, coerção, troca, transferência voluntária, etc…, e que só se preocupam

    com os ganhos pessoas, não com os ganhos/perdas dos outros agentes (nem com as

    intenções desses outros agentes))

    2.  A reciprocidade forte parece ser a motivação prevalecente do ser humano em vários

    contextos. Reciprocidade forte (strong reciprocity) é a predisposição para cooperar

    com outros e para punir (a custo pessoal, se necessário) os que violam as normas de

    cooperação, mesmo quando não é plausível esperar que esses custos sejam

    recuperáveis no futuro.

    De Amartya Sen:

    1.  Para Sen, as teorias económicas dominantes têm visto a racionalidade ou como

    consistência interna das escolhas ou como maximização do interesse próprio

    a.  A ideia de que a mera consistência interna das escolhas é uma condição

    adequada de racionalidade é absurda

    b.  Os indícios para acreditar que os agentes económicos perseguem apenas o seu

    interesse próprio são escassos e muitas vezes são pura especulação

    c.  O contraste não é necessariamente entre egoísmo e utilitarismo – na lealdade

    de grupo, uma característica importante é a mistura entre comportamento

    egoísta e comportamento altruísta

    ConclusãoA racionalidade é um caso exemplar de entrelaçamento facto/valor na teoria económica.

    A racionalidade é uma noção essencial a ter em conta na motivação dos agentes económicos

    reais mas não parece ser a única.

    Preocupações morais, preocupações com a justiça também parecem influenciar a conduta dos

    agentes económicos reais, não apenas preocupações de maximização do interesse próprio, da

    utilidade ou da eficiência económica.

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    Lecture 4 

    Como se relacionam as preocupações com a eficiência económica com as preocupações

    morais/com a justiça?

    O problema da Eficiência Económica

    1.  Eficiência na produção

    2.  Eficiência nas trocas

    3.  Eficiência no tipo de produto

    Kaldor e Hicks – Possibilidade de compensação

    O utilitarismo e a Welfare Economics

    1. 

    “The fundamental idea of utilitarism is that the morally correct actors in any situationis that which brings about the highest possible total sum of utility. Utility is variously

    understood as happiness, pleasure, or the satisfaction of desire of preferences.”

    (Wolff)

    2.  Caraterização da doutrina filosófica do utilitarismo

    a.  Consequencialismo

    b.  As variantes do utilitarismo (clássico/médio/de limiar dos atos/das regras)

    3.  Problemas do utilitarismo:

    a.  Como medir e quantificar a felicidade? Como prever as consequências de uma

    ação? Quais consequências? Para quem?

    b.  A objeção do “bode expiatório” (graves injustiças na procura da felicidade

    geral)

    c.  A objeção da experience machine, de Nozick

    O liberalismo igualitário de John Rawls

    1.  Os bens primários – definição e classificação

    a.  “meios gerais requeridos para se forjar uma conceção da vida boa e prosseguir

    a sua realização, qualquer que seja o seu conteúdo exato” 

    b.  Naturais (saúde, talentos, aptidões) – não diretamente sob o controlo das

    instituições sociais (a lotaria natural)

    c.  Sociais – os que devem ser equitativamente distribuídos e levam à formulação

    de princípios de justiça

    i.  Liberdades fundamentais (direito de voto, elegibilidade, liberdade de

    expressão)

    d.  Oportunidades de acesso às posições sociais

    e.  Vantagens socioeconómicas (rendimento e riqueza, poderes e prerrogativas)

    2.  O véu da ignorância e a posição original

    a. 

    Como formular princípios para uma distribuição equitativa dos bens primáriosde forma imparcial? Rawls recorre a uma situação hipotética, a posição

    original.

    b.  As pessoas na posição original estão sob um véu de ignorância:

    i.  Não sabem as suas circunstâncias particulares (o seu lugar na

    sociedade, a classe social, o estatuto, o género, a raça, os “atributos

    naturais”), factos sobre a sua sociedade em concreto nem as suas

    próprias “conceptions of  the good” (conceções do bem e de vida boa)

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     – diferentes perspetivas morais, religiosas, filosóficas, diferentes

    objetivos e ambições, diferentes conceções de sociedade justa, de vida

    valiosa

    ii.  Sabem o que são os bens primários e factos gerais da sociedade

    humana

    iii.  São racionais (instrumentalmente falando), têm preferências

    monótonas crescentes pelos bens primários sociais e são indiferentes

    à sorte de outrem (não sentem inveja nem simpatia)

    c.  Como a escolha da posição original é única (não uma série de escolhas), as

    pessoas terão aversão ao risco e escolherão pelo critério maximin (Wolff)

    3.  Justice as fairness e os 3 princípios da justiça:

    a.  Qualquer pessoa, na posição original, escolheria estes 2 princípios:

    i.  “Each person is to have an equal right to the most extensive basic

    liberty compatible with a similar system of liberty for all” 

    ii.  Social and economic inequalities are to be arranged so that they are

    both

    1.  To the greatest benefit of the least advantaged (diferença)

    2.  Attached to offices and positions open to all under conditions

    of fair equality to opportunity (oportunidades)

    b.  “They are the principles that free and rational persons concerned to further

    their own interests would accept in an initial position of equality as defining

    the fundamental terms of their association. These principles are to regulate all

    further agreements; they specify the kinds of social cooperation that can be

    entered into and the forms of government that can be established. This way of

    regarding the principles of justice I shall call justice as fairness.” (Rawls)

    4.  A hierarquia dos 3 princípios ou leximin 

    a. 

    Pelas circunstâncias especiais da posição original, o princípio/critério daescolha racional nessa situação é o maximin

    b.  Obtidos os princípios, a hierarquização entre eles obedece a uma seriação

    lexicográfica

    i.  “This is an order which requires us to satisfy the first principle in the

    ordering before we can move on to the second, the second before we

    consider the third, and so on. A principle does not come into play until

    those previous to it are either fully met or do not apply” 

    c.  Lexicográfico + maximin = leximin

    A crítica de Nozick a Rawls – o argumento de Wilt Chamberlain

    1.  “Suppose, then, that property is distributed in society so that people are given Money

    in proportion to their needs. Call this distribution of property D1. Nozick then asks us

    to imagine that a certain basketball player – Wilt Chamberlain – has made anarrangement with his team so that he gets 25 cent for every spectator who attend a

    home game (…). At the end of the season, a million people have dropped their

    9quarter into the box. Accordingly, Wilt Chamberlain is now $250.000 better off, and

    so a new distribution of property is the result. Call this distribution D2.” 

    2.  Implicações:

    a.  “Whatever patter of distribution, it seems, certain free actions (exchanges,

    gifts, gambles, or whatever) are capable of disrupting it.” 

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    b.  “If D1 is just, and people move voluntarily from D1 to D2, then, he argues,

    surely D2 is also just. But once we have conceded this we have admitted that

    these can be just distributions which do not obey the original pattern. So all

    patterned conceptions of justice are refuted.” 

    c.  “Suppose we decide to maintain a pattern (…) whichever we choose we will be

    severely impeding people’s liberty. Proper respect for liberty, then, rules out

    enforcing a pattern” 

    Os princípios fundamentais do libertarismo de Nozick 

    1.  If the world were wholly just, the following definition would exhaustively cover the

    subject of justice in holdings:

    a.  A person who acquires a holding in accordance with the principle of justice in

    acquisition is entitled to that holding.

    b.  A person who acquires a holding in accordance with the principle of justice in

    transfer, from someone else entitled to the holding, is entitled to the holding.

    c.  No one is entitled to a holding except by (repeated) applications of (a) and (b).

    Ações que rompem com o padrão inicial

    d.  Aquisição

    e.  Transferências

    f.  Retificação

    g.  A importância da propriedade de si (self-ownership)

    h.  Os recursos naturais e a cláusula lockeana

    Sen e a abordagem das capacidades (Capabilities Approach)

    Liberdade → Capacidades → Funcionamento 

    Sen critica: Teoria Neoclássica, Teoria da Escolha Racional → Maximização da utilidade

    Martha Nussbaum → Lista capacidades que devem existir 

    Conclusão

    1.  A eficiência económica é vista normalmente como estando numa relação trade-off  

    com a justa distribuição dos benefícios económicos

    2.  O utilitarismo desempenhou um papel relevante na conceção de eficiência económica

    3.  Diferentes perspetivas filosóficas e político-económicas criticaram o excessivo peso do

    utilitarismo subjacente à Welfare-Economics e propuseram outras formas de

    distribuição.

    4.  As questões da justiça distributiva e da eficiência impõe por isso uma análise crítica do

    sistema económico atual

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    1.  Segundo Boltanski, as transformações que levaram ao espírito do capitalismo mais

    recente (até 1999) prendem-se com a chamada revolução gerencial, isto é, com a

    importância das técnicas e discursos da gestão empresarial 

    2.  Este modelo absorveu, em parte, as críticas formuladas nos anos 60-70 (sobretudo pós

    Maio de 68), e sobretudo:

    a.  A crítica estética (critique artiste) que criticava o caráter opressivo das grandes

    empresas, a sua estrutura burocrática e a falta de liberdade individual e de

    criatividade concedida aos trabalhadores

    Como resposta, hoje em dia o discurso oficial valoriza a criatividade, a flexibilidade, a solução 

    inovadora de problemas, a capacidade de gerir vários projetos ao mesmo tempo, de criar

    redes e de demonstrar entusiasmo pelo trabalho desenvolvido

    Porquê uma crítica ao capitalismo?

    1.  Apesar das justificações produzidas pelo próprio sistema capitalista, pode-se crer que

    ele tem aspetos injustos e que produz um conjunto significativo de problemas:

    a.  Desigualdade  (Piketty) e criação de um conjunto de indivíduos excluídos

    socialmente

    b.  As crises cíclicas que tende a gerar (Marx)

    c.  Uma organização do trabalho que pode ser favorável a criar patologias (stress,

    burnout, dificuldade de conciliação entre vida pessoal e profissional, etc…) 

    d.  Hoje em dia, precariedade  e, em muitos locais, incapacidade de gerar

    empregos suficientes para uma parte significativa da população

    A crítica pode levar à transformação (Boltanski) na medida em que tem em conta critérios de

     justiça, é uma parte integrante da filosofia social e recorre a valores éticos.

    A crise económica e financeira

    1.  Faz parte do funcionamento estrutural do capitalismo ter ciclos económicos que se

    caraterizam pela alternância de fases de crescimento com fases de estagnação ou

    recessão (boom and bust )

    2.  Quando a contração da economia é severa fala-se de crise económica (a qual é

    geralmente acompanhada por efeitos sociais)

    3.  Nas últimas décadas, várias crises económicas tiveram repercussões sérias:

    a.  A crise de superprodução de 1929-30 (Grande Depressão) – desemprego,

    inflação, ligação indireta à ascensão do nazismo. Foi resolvida por políticas

    keynesianas de estímulo à economia

    b.  Crise petrolífera dos anos 70

    c.  A bolha da internet da viragem do milénio

    d.  A crise do subprime de 2007-2008 nos E.U.A. e o contágio aos países europeus

     – imposição de políticas de austeridade na U.E.

    A crise económica e financeira

    1.  As crises são um fenómeno particularmente sensível do capitalismo porque, em geral,

    agravam as condições de vida de uma parte significativa da população (logo, levantam

    problemas éticos de gestão do bem comum)

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    2.  Para Marx, as crises levariam um dia ao fim do capitalismo. Mesmo que não

    acreditemos nessa possibilidade, não será que elas nos obrigam a repensar as práticas

    económicas dominantes?

    3.  No caso da crise do subprime e dos problemas de gestão da banca subsequentes nos

    E.U.A. e na Europa, qual terá sido o problema?

    a.  Falhas éticas individuais?

    b.  Desregulação sistémica?

    c.  Uma combinação de ambos os fatores, ou de outros?

    Conclusão

    1.  O capitalismo é uma realidade histórica mutável, sempre baseada num conjunto de

    valores (implícito ou explícito) e que pode ser transformada pelas críticas que lhe são

    dirigidas.

    2.  No contexto de grande parte dos países ocidentais, a crise económica de 2007-2008 e

    as suas consequências têm levado a um aumento das críticas à organização

    económica atual. 

    3.  Quer as causas da crise tenham sido falhas éticas individuais (questão socrática) quer

    falhas institucionais (questão aristotélica) é concebível que a intensificação da crítica

    possa levar a transformações futuras. 

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    Lecture 6

    A Empresa: Ponto de Vista Sociológico e Económico

    Ligação com a Matéria Anterior 

    Vimos anteriormente que a ética é fundamental para a economia e que levar isto em conta

    obriga a repensar a ênfase exclusiva nas questões técnicas.

    Vimos que há um entrelaçamento entre factos e valores e que isso nos leva a questionar a

    teoria económica dominante e, nomeadamente, a racionalidade instrumental.

    Analisámos diferentes critérios de justiça e mostrámos como é que o capitalismo tem sempre

    na sua base determinados valores éticos que o tentam justificar mas também vários problemas

    que devem ser criticados.

    Mas de que forma é que a ética, a racionalidade, os valores, estão ou não presentes na

    empresa, uma das bases do sistema capitalista como o conhecemos?

    Questões principais

    1.  Determinar o que é a empresa, isto é, qual o seu estatuto ontológico? De que ser

    falamos quando falamos na empresa? Faremos uma comparação e várias abordagens

    (económica, sociológica, etc…) para melhor abordar esta descrição

    2.  Definir a ética na empresa, isto é, a forma como as várias teorias éticas podem ou não

    perceber o que é, ou deve ser, a empresa nas suas múltiplas dimensões

    3.  Perceber que modelos alternativos podemos encontrar para perceber a empresa e a

    sua interação com as pessoas e a sociedade. Veremos, por exemplo, o modelo da

    contribuição.

    Ética na Empresa

    O papel da empresa na Economia é produzir bens e serviços. Que produção? Que bens? Que

    serviços?

    Qual o papel da ética na empresa? Será que a sua função no mundo empresarial se reduz

    apenas a uma mera técnica (“engenharia” - Sen) de gestão? Quais as condições de

    possibilidade de uma ética da empresa?

    Empresa: Ponto de Vista Sociológico

    Empresa = Organização (seja ela familiar, uma multinacional ou uma ONG)

    Conjunto de regras cujo fim é tornar possível a coordenação de meios variados 

    Múltiplas interdependências ao serviço de uma finalidade: produzir bens e serviços

    Não pode ser vista em isolamento; tem uma ligação fundamental ao seu meio envolvente

    Organização: 2 abordagens (Marko Tasic)

    1)  Objetivo (produção de bens e serviços) e Meios (humanos, económicos, materiais,

    informáticos)

    2)  Princípios ou Funções (especialização, coordenação e adaptação) (Foudriat)

    Diferenciação   – decompor a empresa em unidades de competência

    Comentado [JM1]: Open Source EcologyPeer to Peer Foundation

    Objetivo das L6 e L7: Saber qual a natureza da empresa.Responder à pergunta: O que é uma empresa?

    Defender o princípio da empresa como entidade real e nãouma entidade fictícia redutível à sua personalidade legal.

    A partir daqui analisar o seu estatuto ontológico e ver:

    1) Até que ponto esta entidade é mais do que umagregado de pessoas

    2) Como pode desenvolver todo o seu potencial de vida?

    Exercer poder e controlo para influenciar o ambienteexterno vs abuso de poder

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    Coordenação  – unificar e estabelecer relações coerentes entre diferentes atividades

    Adaptação  – a empresa é um sistema aberto que interage com a sua envolvente e adapta-se a

    ela, podendo até transformá-la

    Três correntes principais

    1)  Teorias Racionalistas  – Taylor e a organização científica do trabalho; divisão e

    especialização; regras assumem um caráter prescritivo/normativo

    2)  Teorias das Relações Humanas  – Explicam que as motivações reais são mais

    complexas que a busca do lucro e que pode haver resistência às regras; busca-se

    então desenvolver uma teoria das motivações psicológicas dos indivíduos (Maslow)

    3)  Teorias da Racionalidade Limitada e do Agente Estratega  – consideram que os

    agentes individuais têm interesses que podem não coincidir com os da empresa

    (Crozier); explica-se o comportamento dela através dos jogos de poder e interessesentre os diferentes agentes

    Teorias Contratualistas

    A empresa – modo de coordenação alternativo ao mercado (o mercado funciona com o

    sistema de preços) Coordenação/administração – autoridade/obediência é, para Coase (1937)

    a propriedade ontológica da empresa numa base contratual (conceção Hobbesiana – 

    esquecida a capacidade coletiva de criar e de inovar)

    Jensen e Meckling (1976) As teorias destes autores diferem das de Coase em 2 pontos:

    1)  Não há na empresa nenhuma relação de autoridade, mas relações contratuais livres

    2)  Não se opõe empresa e mercado, a empresa não é muito diferente do mercado; é

    vista como um mercado privado

    Problema: em 2) nega-se a especificidade da relação de emprego de um contrato em que o

    trabalho pode ser comparado a um contrato comercial. Neste sentido a relação de autoridade

    permanece porque mediante o contrato da empresa adquire o direito de dirigir e utilizar como

    quiser as competências do trabalhador

    Oliver Williamson (1979) – teoria dos custos de transação (continuação da teoria de Coase).

    De qualquer modo para ela, na linha de Herbert Simon os contratos são incompletos porque

    não podem prever todas as eventualidades dos agentes, Hart (1995) vai desenvolver esta

    teoria e dá grande realce às relações de poder nas relações contratuais.

    Teorias Evolucionistas 

    Porque é que certas empresas têm melhores performances que outras?

    A empresa é vista como um sistema de competências. (Hodgson e Knudson, 2010)

    Teorização dos comportamentos   – lugar central para a análise dos processos de

    aprendizagem, individuais e coletivos.

    Ênfase na organização e nas relações da organização.

    Teorias do Poder e do Conhecimento

    Procuram renovar a teoria da firma a partir das relações entre propriedade e poder. (Network-

    Firm) Kochan e Rubinstein (2000) e Rajan e Zingales (2000)

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    O que se procura compreender é em que medida o conhecimento transforma a empresa . Os

    autores que defendem esta teoria criticam a visão da empresa como elo de contratos

    explícitos e acentuam a importância dos contratos implícitos.

    A empresa é construída em torno de um capital organizacional que não se reduz apenas a

    acordos legais.

    Esta teoria aproxima-se mais da evolucionista, no entanto o ponto fulcral são as questões de

    poder e de controlo dos conhecimentos e das competências. Colocam em causa a

    propriedade privada, a propriedade dos ativos por um agente pode ter efeitos negativos.

    Importa ter em conta o capital humano.

    Conclusões

    A organização é uma organização em mutação.Alteração das tarefas do contrato taylorista-fordista. O surgimento do conceito de rede e da

    network-firm. Funciona através de uma multiplicidade de atores e não de um único centro de

    ação.

    É necessário repensar a empresa e a gestão de acordo com uma nova perceção do ser humano

    e é igualmente necessário que a economia não se desenvolva de forma abstrata, como

    alienação da vida.

    Da empresa repartição de tarefas, passou-se para a empresa onde as competências implícitas,

    o saber fazer, a capacidade de comunicar, a colaboração, a polivalência, a inter-relação e a

    partilha de saber são valorizadas. O próprio trabalho deixa de se definir a partir de uma tarefa,

    ou função. Passa a dar-se valor à inteligência emocional, mais do que à racionalidade

    económica a todo o custo. A gestão não diz apenas respeito ao manpower  , mas às ideias e aos

    cérebros.

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    Lecture 7 

    A empresa – uma entidade real o seu estatuto ontológico

    Ligação com a matéria anterior 

    Saber qual é a natureza da empresa: Responder à pergunta: O que é uma empresa?

    Defender o princípio da empresa como entidade real  e não uma entidade fictícia redutível à

    sua personalidade legal.

    A partir daqui analisar o seu estatuto ontológico e ver:

    1.  Até que ponto esta entidade é mais do que um agregado de pessoas?

    2.  Como pode desenvolver todo o seu potencial de vida?

    Um problema metafísico: nominalista ou realista?

    Individualismo metodológico e ontologia dualista

    1)  Perspetiva Nominalista: as empresas são grupos de indivíduos, agregados de seres

    humanos

    2)  Perspetiva Realista: uma empresa tem uma existência e um significado, assim como

    uma personalidade moral/legal próprio

    Implicações para a responsabilidade moral

    1)  Se aceitarmos a perspetiva nominalista sobre a empresa, é difícil atribuir-lhe

    responsabilidade moral

    2)  Se aceitarmos a perspetiva realista sobre a empresa, é possível atribuir-lhe

    responsabilidade moral

    O ponto de vista fenomenológico

    1)  Do ponto de vista fenomenológico a empresa é algo “uno” por isso inquirir sobre

    aquilo que é a empresa é procurar fundar a intuição de que esta realidade social não é

    redutível a um agregado de pessoas que contratam serviços entre si

    2)  A empresa é um agente e não um mero conjunto de contratos assumindo que os

    resultados humanos, sociais e económicos da ação coletiva não podem explicar-se

    cabalmente só através de permutas individuais

    3)  Nesse sentido pode dizer-se que a empresa é a criação da ação coletiva necessária à

    realização das necessidades humanas.

    A questão da agência racional

    As interações sociais da empresa subsumem-se, pelo menos, em 4 categorias:

    1)  Trocas entre agentes individuais

    2)  Interação de empresas com agentes individuais

    3)  Interação de empresas com outras empresas

    4)  Interação de empresas com a sociedade

    Para French, as empresas têm estruturas de decisão internas (EDI) que fornecem a base para

    lhes atribuir agência moral (Soares)

    Comentado [JM2]: Pessoa1) Seres Humanos2) Ser Relacional

    Agente = agir/ação1) Responsável2) Objetivo

    3) Sentido4) Indivíduo5) Intencionalidade

    Indivíduo1) Um

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    Na prática, faz sentido falar sobre ações, que têm por base os planos, objetivos e interesses da

    empresa, que vão para além dos dos indivíduos que trabalham na empresa.

    A identidade empresarial depende da sua capacidade para consolidar a sua cultura em termos

    da articulação de um domínio de significados partilhados.

    A ontologia da empresa segundo as teorias económicas

    As teorias económicas fundamentam a sua análise nos contratos e nos direitos de

    propriedade, circunscrevendo a empresa ao perímetro da lei, sendo por isso considerada por

    estas teorias como uma ficção legal.

    Ficção legal – analogia entre:

    1)  Os deveres/direitos de uma pessoa física

    2) 

    Os deveres/direitos de uma pessoa fictícia (a empresa)

    Nó de contratos  – tem partes e um único indivíduo agrega as partes

    A empresa como ficção legal

    Pessoa legal distinta que implementa contratos, uma unidade de direitos/deveres. A

    personalidade jurídica da empresa é uma ficção, é falacioso dizer que a entidade que é

    personificada é fictícia.

    Questão epistemológica: saber se as empresas são o resultado natural da nossa vida social ou

    criações estéreis e derivadas da lei positiva

    Ficção não tem existência real. Mas:

    Age através das ações dos indivíduos que nela trabalham.

    Não é apenas a soma dos indivíduos que têm deveres/direitos definidos pelas relações legais

    de contratualização e de transferência de direitos de propriedade

    Se é reduzida a um agregado de pessoas, como pode agir sem que todos os membros aprovem

    essa ação?

    A empresa como entidade real

    Entidade que se desenvolve coletivamente através de cada um que nela trabalha, desenvolve

    uma capacidade cognitiva e uma capacidade de agir tendo em vista um determinado objetivo.

    Quando as pessoas agem em comum desenvolvem inevitavelmente um espírito que difere

    quando agem isoladamente ou de forma agregada. As pessoas unem-se para agir segundo um

    objetivo comum.

    Formam uma entidade que independentemente de toda a personificação legal, difere dosindivíduos a partir dos quais ela é constituída. É erróneo reduzir as dinâmicas dos processos

    sociais às ações individuais.

    Ainda que possamos dizer que a empresa existe independentemente dos seus membros, não

    age com um objetivo independente delas. Considerar a empresa uma entidade real é dizer

    que quer o todo quer as partes têm uma existência real.

    A empresa como entidade real viva

    Comentado [JM3]: É difícil imputar responsabilidades apessoas coletivas.

    Comentado [JM4]: Ação coletiva -> bem comum

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    A empresa é um agente, uma comunidade humana, uma entidade real viva (M. Henry)

    De que vive? Da “ praxis vital ” (Marx, 1844) – subjetividade original na sua imanência radical (aação reenvia-nos para nós/interior). Descoberta direta do trabalho vivo (a essência dotrabalho é sempre subjetiva-produção) e é em função da vida que as determinaçõeseconómicas devem ser vistas. Cada um de nós tem em si esta força de vida que nos leva a

     juntar a outros e constitui o fundamento de toda a comunidade pulsional.

    Deste modo cada um existe com o outro não apenas através do seu desejo, mas tambématravés de todos os modos da sua afetividade. É a partir desta comunidade original efetivadapor uma praxis vital  que a vida social pode ser pensada e a partir dela a vida da empresa.

    Vida neste sentido significa:

    1)  Subjetividade essencial  – o nosso ser é a nossa vida

    2) 

    Capacidade criativa da vida  – o mundo que a rodeia é o mundo da vida. Co-pertençaoriginal vivo e da terra que é essencialmente prática3)  É sempre singular, não faz dela um universal e só se atualiza sobre a forma de um

    indivíduo vivo.4)  Passividade mais original (consentimento) e o agir mais fundamental

    Conclusão:

    Legal: a lei reconhece entidades legais denominadas sociedades – formas convencionais decontratos entre partes que participam numa empresa.

    Económico: modelos contratualistas e os modelos dos direitos de propriedade da empresa.

    Mas a empresa não é apenas nem um nó de contratos, nem um grupo de ativos. Não é umaentidade fictícia reduzida à sua entidade legal.

    As teorias económicas são reducionistas porque defendem mais o agregado do que a

    entidade e as relações separadas mais do que o esforço coletivo que é o centro ontológico daempresa.

    A empresa é uma entidade social na qual se interligam o económico, o social e o simbólico.Articulação através de um frágil equilíbrio uma vez que as tensões são permanentes(subjetividade e o dinheiro/valor de troca).

    Neste processo contínuo de procura de equilíbrio encontra-se uma ordem reguladora, quebrota da interdependência entre todos. A empresa pode, em permanência, produzir ereproduzir-se, manter e manter-se, informar e informar-se.

    Produtora de si própria e da sua própria vida possui memória e projeto e neste sentido podeser considerada um agente ético de pleno direito.

    Comentado [JM5]: A energia que nos faz mexer todos osdias.

    Comentado [JM6]: Um Paula Rego não é um GraçaMorais.

    Comentado [JM7]: Consentir. Nem sempre convivemospacificamente connosco próprios. Melhoramento constante.

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    Nesta abordagem o sujeito subtrai-se da ordem natural e passa a ver o mundo como objeto.

    Assim, a ética foca-se na gestão das decisões individuais (para obter os objetos de desejo) e

    pretende-se constituir em ciência. Deste ponto de vista, há duas abordagens principais:

    1)  A ética científica 

    2)  A ética filosófica 

    A ética ocidental – Científica

    Na Grécia Antiga, a ética aparece muitas vezes como uma ciência (episteme), por exemplo em

    Platão (por exemplo, algo racional e regulado por critérios inteligíveis)

    Nesta versão “científica”, existiam 2 dimensões:

    1) 

    Aspeto formal – era elaborada pela sociedade2)  Função operatória – era vista como sendo infalível na função de nos orientar na vida.

    Logo, retirava ao indivíduo a espontaneidade e a responsabilidade  pela sua

    orientação

    Assim, o sujeito tornava-se passivo e a ética uma técnica. Salvava-se a visão do “homem

    honesto” mas ficava-se ao nível das ideias feitas e confundia-se subjetividade com

    subjetivismo .

    A ética ocidental – Científica (Consequências)

    Esta conceção da ética teve grande influência e está ainda hoje em dia presente no nosso

    modelo escolar.

    No contexto de um mundo em transformação em que a ciência não é o horizonte último, a

    ética aparece como uma espécie de bisturi que corta e cose, num modelo de racionalidade

    circular que tende a dominar e fechar o sistema em círculo autónomo.

    É necessário um modelo diferente de racionalidade, uma racionalidade vertical que ajude a

    expandir os horizontes, em vez de simplesmente ligar os elementos já existentes.

    A ética ocidental – Filosófica

    Na tradição ocidental, é possível distinguir a ética científica de uma ética filosófica baseada na

    natureza humana e na visão do homem como ser individual.

    No entanto, isso não resolve o problema, nem torna a ética universal, porque:

    1)  A natureza humana é sempre influenciada por diferenças culturais 

    2)  A natureza humana é vista como estando separada das outras naturezas, visando

    normalmente manipulá-las  e dominá-las.

    Portanto: uma ética que comece e acabe no ser humano não pode representar uma solução

    para âmbitos da realidade que o excedem.

    A Ética e a Ontologia

    Embora não esteja “na moda” há que voltar à questão da ontologia.

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    Durante muito tempo, a ontologia foi vista como sendo algo de “fixo”; mas é possível ter uma

    conceção dinâmica da ontologia baseada na criatividade e na vida (neste sentido, a ontologia 

    é mais vasta que a antropologia)

    Como conciliar a herança teológica (Aristóteles) e a herança deontológica (Kant) da ética? É

    necessária uma ontologia da relação (Ourives Marques); ver também Ricoeur

    É preciso desenvolver uma ética do agir e do ser que devem ser distinguidas das noções

    dominantes de fazer e dever-ser.

    A Ética e a Ontologia - A distinção entre fazer e agir

    Fazer AgirControla Atento à energia da açãoDomina Desenvolve o potencial de cada serTécnica Atenta ao devir históricoFinalidade planeada antecipadamente Manifesta-se no curso da açãoDeterminado e previsto de antemão Impele à busca de sentidos novosRealidade mental Fidelidade ao impulso inicialObedece a princípios externos construídos Obedece a princípios internos

    Distinção entre Ética do Dever-Ser e a Ética do Ser

    Ética do Dever-Ser Ética do Ser Normativa Espontânea e inéditaFormal ImprevisívelDesatenta ao devir histórico Atenta ao devir históricoNão valoriza a temporalidade Valoriza a temporalidade

    Redução da Realidade Manifestação da RealidadeRepetição CriatividadeObjetividade Subjetividade

    Conclusão

    Na tradição ocidental, tendeu-se a definir a ética (quer na versão “científica” quer na versão

    “filosófica”) como estando ligada a um saber e à antropologia.

    A tendência para reduzir a ética ao subjetivismo do indivíduo, a uma mera técnica, ou às

    normas associadas ao dever fazem com que se perca quer a espontaneidade  do agir quer a

    ligação primordial ao ser que transcende o humano.

    As conceções dominantes da ética na empresa refletem estes problemas.

    Conceber a ética a partir da ontologia (neste sentido alargado) levará também a repensar aética na empresa.

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    Lecture 9

    Ligação com a matéria anterior

    Vimos na L8 que na tradição ocidental, tendeu-se a definir a ética (quer na versão científica

    quer na versão “filosófica”) como estando ligada a um saber e à antropologia.

    A tendência para reduzir a ética ao subjetivismo do indivíduo, a uma mera técnica/fazer, ou

    às normas associadas ao dever fazem com que se perca quer a espontaneidade  do agir quer a

    ligação primordial ao ser que transcende o humano.

    As conceções dominantes da ética na empresa refletem estes problemas.

    Conceber a ética a partir da ontologia (neste sentido alargado) levará também a repensar a

    ética na empresa.

    Qual o papel da ética na Empresa?

    Há hoje uma tendência para ver a ética como a “reparadora de todos s males” – no contexto

    do mundo dos negócios, recorre-se à ética para “moralizar o sistema”  ̧uma ética do dever-ser.

    Será a ética uma mera técnica de gestão?

    Uma possibilidade alternativa é adotar uma visão abrangente da ética, que a funda numa

    relação com todo o ser e promove uma atitude de afeto e generosidade não só na empresa,

    mas nas nossas relações uns com os outros e com todos os seres.

    A Construção da Ética Empresarial

    É nos EUA que as primeiras publicações sobre ética nos negócios surgem.

    1968 Harvard Business Review - um artigo de Baumhart dedicado a este assunto (“os homensde negócios não são amorais e as suas decisões não têm apenas em conta o lucro”) 

    A partir de vários escândalos no mundo empresarial a literatura sobre o assunto não para de

    crescer.

    No mundo anglo-saxónico são muitos os autores e as perspetivas sobre esta temática.

    Ética descritiva, normativa ou analítica, metaética.

    A Construção da Ética Empresarial: Europeia

    A abordagem da ética dos negócios não segue o mesmo esquema teórico do que a abordagem

    anglo-saxónica, fazendo-se a aplicação da ética à empresa com base nas várias teorias éticas.

    1)  Ética Kantiana

    2)  Ética de Durkheim e Bergson

    3)  Ética das Virtudes

    4)  Ética de Habermas

    5)  Ética de Max Weber

    A Construção da Ética Empresarial

    Quer numa tradição, quer noutra aquilo que vemos é que os autores se servem da ética para

    fundamentar recomendações de como é que as empresas e a gestão de topo devem agir.

    Comentado [JM8]: Mais importantes:

    Ética Kantiana – Age sempre de tal modo que a máxima datua ação possa tornar-se uma lei universalÉtica das Virtudes

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    Podemos perguntar então, qual o papel da ética na empresa? Como é que a ética é entendida

    na empresa? Como uma técnica, com pretensões reparadoras de todos os males, ou como

    uma praxis vital?

    Aquilo que muitas vezes se vê e se encontra refletido em códigos de conduta é a transferência

    de alguns valores das teorias éticas para a empresa em que a ética da empresa ajusta e

    modifica esses mesmos valores, adaptando aqueles que julga necessários ao desempenho

    eficaz da vida empresarial, muitas vezes sobre o lema de que “os valores morais são a chave

    do sucesso”. 

    A alienação e o abstrato (Marx e Whitehead)

    Nas L6 e L7 vimos que a empresa é uma entidade relacional que retira toda a sua força da vida

    e da vida em relação, nesse sentido as interações entre as pessoas que nela trabalham e o

    próprio trabalho deveria ser um meio, não só com o objetivo de produzir bens e serviços, masda descoberta da subjetividade de cada um, a ética brotaria dessa vida.

    Alienação (Marx)

    a)  Rutura do laço que une o operário e aquilo que produz – trabalho tornado mercadoria

    b)  Trabalho mercantil – o trabalho não é expressão da essência (subjetividade) do

    trabalhador

    c)  Relações humanas pervertem-se e tornam-se mercantis

    Deste modo, a alienação perverte as relações na vida da empresa.

    Para além do fenómeno da alienação que pões em risco as relações na vida da empresa existe

    outro que consiste em tornar as abstrações gerais pela realidade concreta.

    Ex: recursos humanos, capital humano, público-alvo, consumidos

    Sob a expressão aparentemente indolor e neutra de “recursos humanos” esconde-se na

    realidade o condicionamento psicológico de um olhar que privilegia antes de mais, na hora de

    recrutamento as dimensões, “fator de produção” ou “matéria-prima”. Instalando-se deste

    modo

    A ontologia vetor da desalienação: generosidade

    Vimos na L8 a diferença entre ética e ontologia e dissemos que uma ética centrada no ser

    (ontologia) é muito diferente de uma ética do dever-ser.

    Uma ética do ser será uma ética da generosidade

    Algumas caraterísticas da generosidade:

    a)  Dádiva

    b) 

    Atenção à realidade

    c)  Consciência da nossa liberdade relacional – colocada ao serviço do outro (humano ou

    não)

    d)  Partilha

    Generosidade assenta na compreenesão e no aprofundamento da realidade, na ideia positiva

    da comunhão ontológica, (como todos os seres) valorizando as diferenças e tentando

    promove-las. Nesse sentido pode ser um vetor da desalienação da ética na empresa.

    Comentado [JM9]: Ética entendida como uma “marca demarketing”. 

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    Utilidade vs Generosidade

    Lógica da Utilidade Lógica da GenerosidadeModelização matemática docomportamento humano

    Atenta à energia da ação

    Privilegia dimensão quantitativa Desenvolve o potencial de cada serFonte direta da alienação do ser humano Atenta ao devir históricoRedução do ser humano a um meio aoserviço de um fim

    Manifesta-se no curso da ação

    Procura constante da eficácia Impele para a busca de sentidoInteresses individuais Fidelidade ao impulso inicialRedução do ser humano à esfera danecessidade

    Obedece a princípios internos

    Dádiva resposta ao dom inicialCompreensão e aprofundamento darealidadeComunhão ontológicaValorização das diferenças

    Utilidade faz-nos viver segundo o desígnio da necessidade, negligenciando a possibilidade.

    Generosidade despertar da nossa subjetividade.

    Manifesta-se através da solidariedade – interdependência entre todos os seres.

    Perspetiva da utilidade é particularista na qual cada um e não todos procuram defender o seu

    interesse (maximização)

    A lógico da generosidade cada um procura desenvolver ao máximo o bem do outro, sabendoque ao fazê-lo também se desenvolve a si.

    O trabalho libertador será aquele onde será dado a cada um a possibilidade de desenvolver um

    bem que contribua para o bem de todos.

    A generosidade pensada como vetor de um trabalho libertador implica um “reencaixe” do

    económico nas outras esferas sociais da existência em que cada um é compreendido para além

    do homo oeconomicus movido pelo interesse próprio e pela maximização da sua utilidade.

    Generosidade Incarnada

    Na ética da generosidade reside a convicção de que a subjetividade ética é alguma coisa que

    constantemente se produz e se reproduz através das relações que são iminentemente

    incarnadas (concreto da vida real/empresa)

    É no coração da generosidade ontológica que reside uma ética da abertura ao outro, ou aquiloa que Diprose chama da “não indiferença da diferença”. 

    Esta ética da generosidade incarnada é uma ética disruptiva que rejeita uma conceção fechada

    e estreita da subjetividade e possibilita a configuração de uma comunidade que vive em torno

    desta ideia.

    A Ética na Empresa

    Ética Legislativo Virtude Generosidade

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    Ontologia do sujeito Governado porregras

    Auto-constituído IntersubjetividadeIncarnada

    Epistemologia Razão Identidade própria ReconhecimentoUnidade de análise Empresa/Estado Individual/Empresa Relações

    organizacionaisOrientação principal Prática de negócios Auto

    aperfeiçoamentoCooperação mútua

    Resultado desejado Lei Autonomia Vida ética

    Conclusões

    Ética na empresa – ética da generosidade, assente no ser – abraça as diferenças – cooperaçãohumana.

    Organização da vida da empresa, (implementação de estratégias, definição de objetivos,

    missão) partilha de conhecimentos e de conceções diferentes propícia uma dimensão integral

    da racionalidade cooperativa (bem diferente da racionalidade assente na utilidade).

    Potencia e desenvolve a vida na empresa, sem alienação e sem objetivação, amplia as relações

    intersubjetivas e valoriza o outro na sua diferença – Humano ou não

    Ética da generosidade incarnada não procura a conformidade legal, nem o caminho das

    virtudes mediante a objetivação do outro, mas um caminho de abertura ao outro “sem buscar

    recompensa”. 

    Procura a inclusão e a partilha, singularidade de cada um pode florescer e prosperar dentro de

    um projeto comum, que não procura apenas o lucro e a rentabilidade económica a todo o

    custo.

    Só deste modo se pode dizer que a empresa se constrói em torno da ética, o que vai muito

    para além de ver a ética como uma “técnica de gestão”, mas isso supões uma nova

    reorientação da economia. É isso que iremos estudar na L10.

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    Lecture 10

    Ligação com a matéria anterior

    Vimos na primeira parte da matéria, sobre a ética económica, as insuficiências da economia

    neoclássica e a necessidade de reorientar a economia num sentido mais amplo capaz de

    integrar questões de facto e de valor discutindo eficiência e justiça, procurando uma

    distribuição dos recursos e do rendimento mais justa e equilibrada.

    Vimos na segunda parte da matéria sobre ética na empresa o porquê da empresa, a sua

    natureza e as suas mutações. Vimos igualmente a necessidade de desenvolver uma ética da

    generosidade, assente no ser que vá para além da ética entendida apenas como uma “técnica

    de gestão” ou dentro dos parâmetros meramente antropocêntricos.

    Esta ética da generosidade requer uma reorientação do económico mais adequada àsdimensões que valorizem a singularidade/subjetividade de cada um e se concretize numa

    praxis vital de partilha, de participação e de contribuição que desenvolva e dignifique não

    apenas o humano, mas todos os seres.

    Net e a Economia da Contribuição

    A internet torna possível a economia dita contributiva típica do software livre.

    Esta economia assenta numa estrutura participativa e por isso mesmo dialógica, razão do seu

    sucesso fulgurante.

    Este sucesso da internet só será verdadeiramente um sucesso económico se for objeto de uma

    política pública industrial.

    Em que consiste a Economia da Contribuição?

    Saber Crítico: aparece como tentativa de ultrapassar as funções de produção e de consumo

    ligadas ao consumidor capitalista

    Forma de organização positiva: modo de regulação que organiza a difusão dos efeitos

    externos a partir das interações específicas que rodeiam certos tipos de atividades

    Formação associada de comunidades e redes sociais: novos tipos de comportamentos,

    especialmente o do contribuinte que difunde e apropria-se de conhecimentos, nomeadamente

    a do amador que coloca à disposição de outros aquilo que sabe ou procura adquirir

    conhecimentos diferentes do seu

    Trocas: motivos de troca estão, na maioria dos casos, fora do campo do interesse económico,

    para os contribuintes que trabalham numa economia da reprodutibilidade a custos quase zero

    Participantes contribuintes: livremente investidos na atividade e aceitam cooperar e difundir

    os seus conhecimentos sem esperarem contrapartida sob a forma de um equivalente

    monetário

    Não é uma economia imaterial: apoia-se em procedimentos de tratamento, de transporte e

    de armazenamento de informação, que surgem das indústrias eletrónicas, da informática e das

    telecomunicações e que combinam suportes materiais e de serviço

    Não vive sob si própria: articula-se a um ou a outro dos três campos da atividade económica:

    1)  Empresas e mercados

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    2)  Estado e intervenção pública

    3)  Dom e relação entre doador e beneficiário

    Três dimensões da Economia da Contribuição

    1ª – Economia Digital: transformações tecnológicas e as rápidas alterações favoreceram a

    eclosão de um vasto conjunto de aplicações e de serviços depressa apropriados pelos

    utilizadores que constitui um fenómeno de massa. Tecnologias relacionais, sites de partilha de

    experiências como o software livre (Facebook, blogs, Wikipedia). Desenvolvimento de novos

    usos que se traduz pela forma associada de comunidades e redes sociais

    www.debian.org/intro/about 

    www.opensource.org 

    www.creativecommons.org 

    2ª – Economia dos sistemas Locais de Inovação: moedas locais

    3ª – Economia social e solidária

    Características da Economia da Contribuição

    A sua dinâmica traduz-se pela necessidade de se apoiar sobre as ferramentas conceptuais

    apropriadas para avaliar a atividade. Deste modo, as trocas entre os contribuintes incentivará

    e reforçará o valor da inovação.

    A ordem de grandeza da Economia da Contribuição pode ser apreendida através de uma

    interpretação em termos de valor social, que faz da medida e das escolhas contributivas os

    resultados de um princípio de deliberação.

    A contribuição afirma-se como fonte de inovação social que se opõe ao reducionismoeconómico e tecnológico e que faz do desenvolvimento das capacidades individuais e coletivas

    o fator de retorno da raridade social.

    A contribuição pode ajudar-nos numa reflexão sobre os princípios de uma perspetiva social,

    suscetível de influenciar os fatores determinantes da escolha económica.

    Características: 4 principais 

    1)  Incorporação da função de contribuição num meio tecnológico, social psíquico – as

    necessidades das atividades participativas devem alinhar-se com os estados sucessivos

    de desenvolvimento das técnicas e com o caráter cumulativos dos recursos ligado à

    atividade cognitiva

    2)  Função de contribuição e reformulação das solidariedades – inscreve-se para além da

    solidariedade assistencialista do Estado-providência. O que interessa articular aqui é a

    proteção e a criação numa solidariedade dinâmica, impondo ipso facto uma revisão do

    sistema de redistribuição

    3)  Nova ordem de grandeza  – coloca a questão da medida face à questão do cálculo,

    induzindo o desenvolvimento de uma nova base de cálculo e de novas formas de

    contabilidade

    4)  Contribuição relativa dos fatores – sem poder apoiar-se sob uma estrutura de custos e

    um sistema de preços relativos às mercadorias

    Conclusões

    http://www.debian.org/intro/abouthttp://www.debian.org/intro/abouthttp://www.opensource.org/http://www.opensource.org/http://www.creativecommons.org/http://www.creativecommons.org/http://www.creativecommons.org/http://www.opensource.org/http://www.debian.org/intro/about

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    O conceito de economia da contribuição ainda não é um conceito perfeitamente estável

    contudo revela já uma dinâmica própria.

    Embora a função da contribuição possa ser relevante na gestão de uma empresa (ex: levar o

    cliente a participar da definição dos próprios produtos) o seu objetivo não é tornar-se num

    simples instrumento de avaliação para enriquecer as técnicas de gestão.

    Apesar da proximidade com definições e as implicações das políticas públicas, nomeadamente

    ao nível local, a contribuição não incarna uma alternativa à intervenção pública. Ela também

    não é constrangimento à circularidade do dom.

    Estando ligada às outras formas de organização económica funda-se sobre uma dinâmica

    participativa que lhe é própria e que lhe confere uma influência multidimensional específica,

    em que se conjugam o económico, o político, a arte, a cultura e a religião.

    A economia da contribuição pode ser a forma de organização e o sistema de regulação de três

    principais tipos de atividade:

    1)  O do amador-profissional das tecnologias relacionais

    2)  O das empresas inovadoras

    3)  As atividades do terceiro setor