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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X RETRATOS MIDIÁTICOS DAS PRIMEIRAS PRESIDENTAS NA AMÉRICA LATINA: POSSÍVEIS CAMINHOS PARA UMA PESQUISA DECOLONIAL FEMINISTA Paula Cunha Lopes 1 Resumo: Este trabalho discute possíveis caminhos teórico-metodológicos para estudos em direção a uma epistemologia feminista, a partir de Harding (1988), Castañeda (2008) e Haraway (1995), apoiado nas perspectivas pós-colonial e decolonial. O artigo percorre o trajeto da minha pesquisa de mestrado, ainda em andamento: inicialmente, preocupada com representações midiáticas de gênero das presidentas Dilma Rousseff, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner; e, depois, interessada em reunir críticas e chaves de leitura de feministas latino-americanas a respeito desses discursos midiáticos nos contextos locais. Primeiro, é apresentado um levantamento de estudos realizados nos últimos anos que agrupam alguns estereótipos de gênero que perpassaram os discursos midiáticos dessas mulheres, localizadas em cargos historicamente masculinos, que dizem das sociedades em que elas estão. Em seguida, o artigo expõe como a busca pela melhor compreensão desse fenômeno nos três países me levou a diálogos com grupos feministas, de forma a centralizar e valorizar os saberes de ativistas enquanto escolha que se alinha a uma epistemologia feminista. Com um aspecto experimental, a pesquisa busca dar ênfase nos saberes de ativistas feministas localizadas no Sul global (Matos, 2010), colocando-os em simetria com o pensamento acadêmico. Além disso, problematiza construções hegemônicas, andro e eurocêntricas, do conhecimento. Palavras-chave: Presidentas. Representações midiáticas. América Latina. Decolonial. Feminismo. Introdução Em 2006, o Chile elegeu Michelle Bachelet como a primeira mulher à presidência do país. No ano seguinte, foi a vez de Cristina Kirchner, na Argentina, e, em 2010, de Dilma Rousseff, no Brasil. As três primeiras presidentas nestes países disputaram candidaturas com outras mulheres (Evelyn Mattei, Elisa Carrió e Marina Silva) e foram reeleitas no segundo mandato. Tais eleições tiveram, sem dúvidas, efeitos simbólicos nos países, ao inseri-las em espaços hegemonicamente e historicamente masculinos, alavancando discussões em torno de mulheres na política latino- americana. Além disso, construção da imagem delas nos media tornou-se um dos focos de várias pesquisas, já que, sobretudo diante das crises de governo, elas passaram a auferir maior visibilidade midiática. No caso da presidenta Dilma, devido ao processo de impeachment no seu segundo mandato, pode-se dizer que a presença da sua imagem nos veículos midiáticos foi ainda mais expressiva. Conforme Boroski e Carvalo (2016), a cobertura jornalística brasileira pautou fortemente 1 Mestranda em Comunicação Social, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Brasil. Associada ao grupo de pesquisa Corisco - Coletivo de Estudos, Pesquisas Etnográficas e Ações Comunicacionais em Contextos de Risco.

RETRATOS MIDIÁTICOS DAS PRIMEIRAS PRESIDENTAS NA … · reunir críticas e chaves de leitura de feministas latino-americanas a respeito ... que dizem das sociedades ... As três

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

RETRATOS MIDIÁTICOS DAS PRIMEIRAS PRESIDENTAS NA AMÉRICA

LATINA: POSSÍVEIS CAMINHOS PARA UMA PESQUISA DECOLONIAL

FEMINISTA

Paula Cunha Lopes1

Resumo: Este trabalho discute possíveis caminhos teórico-metodológicos para estudos em direção a

uma epistemologia feminista, a partir de Harding (1988), Castañeda (2008) e Haraway (1995),

apoiado nas perspectivas pós-colonial e decolonial. O artigo percorre o trajeto da minha pesquisa de

mestrado, ainda em andamento: inicialmente, preocupada com representações midiáticas de gênero

das presidentas Dilma Rousseff, Michelle Bachelet e Cristina Kirchner; e, depois, interessada em

reunir críticas e chaves de leitura de feministas latino-americanas a respeito desses discursos

midiáticos nos contextos locais. Primeiro, é apresentado um levantamento de estudos realizados nos

últimos anos que agrupam alguns estereótipos de gênero que perpassaram os discursos midiáticos

dessas mulheres, localizadas em cargos historicamente masculinos, que dizem das sociedades em que

elas estão. Em seguida, o artigo expõe como a busca pela melhor compreensão desse fenômeno nos

três países me levou a diálogos com grupos feministas, de forma a centralizar e valorizar os saberes

de ativistas enquanto escolha que se alinha a uma epistemologia feminista. Com um aspecto

experimental, a pesquisa busca dar ênfase nos saberes de ativistas feministas localizadas no Sul global

(Matos, 2010), colocando-os em simetria com o pensamento acadêmico. Além disso, problematiza

construções hegemônicas, andro e eurocêntricas, do conhecimento.

Palavras-chave: Presidentas. Representações midiáticas. América Latina. Decolonial. Feminismo.

Introdução

Em 2006, o Chile elegeu Michelle Bachelet como a primeira mulher à presidência do país. No

ano seguinte, foi a vez de Cristina Kirchner, na Argentina, e, em 2010, de Dilma Rousseff, no Brasil.

As três primeiras presidentas nestes países disputaram candidaturas com outras mulheres (Evelyn

Mattei, Elisa Carrió e Marina Silva) e foram reeleitas no segundo mandato. Tais eleições tiveram,

sem dúvidas, efeitos simbólicos nos países, ao inseri-las em espaços hegemonicamente e

historicamente masculinos, alavancando discussões em torno de mulheres na política latino-

americana. Além disso, construção da imagem delas nos media tornou-se um dos focos de várias

pesquisas, já que, sobretudo diante das crises de governo, elas passaram a auferir maior visibilidade

midiática. No caso da presidenta Dilma, devido ao processo de impeachment no seu segundo

mandato, pode-se dizer que a presença da sua imagem nos veículos midiáticos foi ainda mais

expressiva. Conforme Boroski e Carvalo (2016), a cobertura jornalística brasileira pautou fortemente

1 Mestranda em Comunicação Social, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, Brasil.

Associada ao grupo de pesquisa Corisco - Coletivo de Estudos, Pesquisas Etnográficas e Ações Comunicacionais em

Contextos de Risco.

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os processos políticos que envolveram a presidenta Dilma, tanto pelo interesse na temática, quanto

por uma tradição de cobertura de escândalos, especialmente em veículos como Veja, Istoé e Época.

Da mesma forma, Dembroucke (2014), ao analisar representações midiáticas em torno da presidenta

Cristina, mostrou que, em períodos históricos significantes, é possível observar mais fortemente lutas

de poder simbólico incorporadas nos artefatos sociais. Nesse sentido, muitos estudos desenvolvidos

nos últimos anos em torno dessas figuras políticas tem se atido a questões de gênero, de forma a

observar, por exemplo, a predominância de estereótipos de gênero nas representações midiáticas das

presidentas.

Além da crítica acadêmica, contudo, a temática de mulheres políticas nos noticiários tem sido

debatida por grupos feministas que atuam em uma militância online e nas ruas. Durante o processo

de impeachment da presidenta Dilma, por exemplo, feministas no Brasil levantaram questões

importantes para se pensar a construção midiática hegemônica de mulheres na política. Em 2016, a

revista Istoé lançou a edição As explosões nervosas da presidente, que trazia, na capa, uma imagem

da presidenta aos berros com a chamada “em surtos de descontrole”, colocando-a como

emocionalmente incapaz de conduzir o país. Nesse momento, a ONG Think Olga2 fez um apanhado

de capas de revistas que enquadravam mulheres, em diferentes esferas de atuação e países, enquanto

inaptas a liderarem cargos mais altos, abrindo para uma ampla discussão e sinalizando, inclusive, uma

semelhança entre a representação midiática de Dilma com Cristina. Além disso, surgiu um

movimento feminista online, com a hashtag #IstoÉMachismo, que levantou outras discussões de

gênero nas redes sociais digitais. Instigada por essas reflexões e com menor familiaridade do contexto

dos países vizinhos, perguntava-me como (e se) os movimentos feministas no Chile e na Argentina

também estariam problematizando tais questões. Interessava-me olhar, especialmente, para o

contexto do Sul global (Matos, 2010) – ou seja, não apenas geográfico – já que os índices de violência

contra a mulher nos países latino-americanos são alarmantes3 e há uma forte cultura patriarcal que

incide, brutalmente, sobre nossas sociedades, cotidianamente.

Na busca por uma maior compreensão dos países vizinhos, tomei a iniciativa de ir à Argentina

e ao Chile, para encontrar com feministas que pudessem me esclarecer melhor sobre esses contextos.

Como, desde o início, assumia uma pesquisa feminista, entrei em contato com teorias feministas, num

processo bastante imbricado com a pesquisa de campo. Ao optar por tais escolhas teórico-

2 Conforme o site oficial da ONG, a missão da Think Olga é “empoderar mulheres por meio da informação.”

3 Segundo o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, no Brasil, a cada 11 minutos, uma mulher é estuprada. Na Argentina,

segundo um estudo das Nações Unidas, uma mulher é assassinada, a cada três dias, por violência de gênero. Segundo o

Servicio Nacional de la Mujer, no Chile há cerca de 40 feminicídios (ou seja, morte intencional de mulheres) por ano.

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metodológicas, fui levada a um giro na pesquisa: inicialmente, eu estava voltada para as

representações midiáticas de gênero das presidentas nos três países e, depois, passei a observar como

alguns movimentos feministas latino-americanos ofereciam chaves de leitura interessantes para

observar tal fenômeno social e midiático, e as realidades locais. Nesse artigo, almejo mostrar como

esse percurso se deu e está se dando, haja vista que essa pesquisa é inacabada, em processo4. Não

objetivo entrar na análise que venho desenvolvendo a partir do material empírico obtido nas

entrevistas – pelo espaço do texto e por ser um projeto inconcluso – apenas pretendo apresentar

algumas iniciais possibilidades de pesquisa feminista do Sul que encontrei na minha própria

experiência até agora. Além disso, ressalto que não irei apresentar, neste artigo, enquanto uma

primeira tentativa de sistematização teórica, quais grupos essas mulheres que eu entrevistei fazem

parte. Afinal, como disse, não adentrarei nas entrevistas, propriamente. O objetivo deste texto é

destacar um percurso de pesquisa experimental, modificado e (des)construído por uma epistemologia

feminista do Sul.

Representações midiáticas pelos movimentos feministas: deslocamentos de pesquisa

O propósito deste artigo é assinalar como, na minha ida à Argentina e ao Chile, e no meu

encontro com ativistas feministas nesses países, passei a me interessar muito mais em dar centralidade

aos saberes que essas mulheres tem construído. Afinal, elas têm levantado questões importantes não

só para pensarmos linhas de poder que atravessam os discursos midiáticas, como outras

problematizações que envolvem a sociedade, o Estado e o sistema capitalista. Nas minhas visitas,

pude observar que as feministas que conversei colocavam em cheque uma questão fundamental: a

presença de mulheres na política formal não implica, necessariamente, numa maior atenção às pautas

feministas e de mulheres5. Conforme elas colocavam, essa percepção se deu, sobretudo, após a eleição

de Cristina e Michelle, que não deram atenção mínima, nos dois mandatos, às causas feministas,

especialmente no que concerne o direito ao aborto – maior luta feminista latino-americana na

atualidade. Segundo minhas interlocutoras, embora tivessem um discurso empoderador em relação

4 Assim, é evidente que a pesquisa irá sofrer alterações. Contudo, considerei importante apresentar alguns primeiros

delineamentos e achados neste congresso, sobretudo num GT de epistemologia feminista, justamente no intuito de abrir

para discussões com outras interlocutoras que possam me ajudar na construção da pesquisa.

5 Essa proposição também é exaustivamente discutida por autoras e autores na academia, mas, aqui, estou dando ênfase

nas experiências relatadas por elas, nesses contextos locais, em relação aos governos de Cristina e Michelle.

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às mulheres, as presidentas não se posicionavam do lado dos movimentos feministas e, portanto,

foram grande decepção, nesse sentido. Assim, passei a questionar como, então, essas mulheres na

frente da luta contra o patriarcado pensavam em formas de resistência alternativas e inventivas ao

status quo, já que essa disputa não passaria, necessariamente, por instâncias políticas formais – ainda

que também se deem nessas esferas.

Ao longo do percurso, as representações midiáticas que inicialmente me interessavam se

mantiveram importantes, por dois motivos. Primeiramente, pois me deram panoramas gerais dos

media nos três países, que, certamente, dizem da própria cultura dos países e da América Latina, no

geral. Como salienta Biroli (2011), "os meios de comunicação tanto refletem a desigualdade quanto

a promovem" (p. 15). Em segundo lugar, porque as representações midiáticas exprimem inquietações

iniciais que motivaram esta pesquisa e, por consequência, os subsequentes diálogos que estabeleci

com as feministas nos três países. Devido à minha inicial pergunta de pesquisa, o que levei para

discutir nas entrevistas foi, inicialmente, um conjunto de capas de revistas de veículos hegemônicos

com estereótipos de gênero em relação às presidentas, mas o que esses diálogos me trouxeram foi

muito mais amplo do que reflexões em torno dessas questões, provendo (des)construção da minha

pergunta de pesquisa e autocrítica do meu próprio local de pesquisadora – deslocamentos que se

fazem extremamente necessários em uma pesquisa que se assume feminista.

Diante do que foi dito, no presente artigo, apresento como se deu essa mudança teórico-

metodológica e algumas possibilidades que encontrei para pensar numa pesquisa feminista do Sul.

Primeiramente, apresento, brevemente, algumas representações midiáticas de gênero predominantes

em relação às presidentas, a fim de contextualização da temática inicial da pesquisa e dos países. No

início, debrucei-me numa cartografia de pesquisas já feitas acerca de veículos midiáticos que tratavam

das presidentas e pude concluir alguns pontos em comum. Contudo, ao me aproximar de teorias

feministas do Sul (pós-coloniais e decoloniais) e dos movimentos feministas nos países vizinhos,

observei que as questões que inicialmente me moviam já poderiam ser um pressuposto da pesquisa –

isto é, eu já poderia partir da premissa (já comprovada academicamente, inclusive) de que os veículos

midiáticos hegemônicos nos três países latino-americanos produzem sentidos simbólicos marcados

por valores patriarcais. Na segunda parte do artigo, exponho algumas teorias que incidiram sobre

minhas decisões metodológicas, de forma a construir um percurso crítico, reflexivo, em busca de uma

pesquisa feminista e situada.

Representação midiática de mulheres na política: enfrentamentos de gênero na América Latina

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Um dos motivos pela qual se pode justificar a sub-representação de mulheres na política é

que, tradicionalmente, à elas, foi relegado o espaço na esfera privada, enquanto algo “natural”, ao

passo que, aos homens, destinou-se o espaço público, configurando relações de opressão estrutural,

dominação masculina e exclusão política. Além de serem poucas, as mulheres na política são

submetidas, constantemente, a estereótipos de gênero convencionais no âmbito midiático, justamente

por ocuparem cargos que, por uma visão política historicamente constituída, ou são pensados como

destinados aos homens, ou não são tidos como de direito também das mulheres. Para este artigo, pelo

limite de páginas, apresento pesquisas que sintetizaram apenas alguns desses estereótipos de gênero

que perpassaram as construções midiáticas de Dilma, Cristina e Michelle.

Em relação aos estereótipos de gênero encontrados nas representações midiáticas

hegemônicas no Brasil, algumas reflexões acadêmicas mostram que a presidenta Dilma era

enquadrada como austera e rija, características “não femininas”, mas essenciais a candidatos

presidenciais (Barbara; Gomes; 2010). Ao mesmo tempo, a presidenta foi tida como inadequada ao

não representar o que se convencionou como “feminino”, como apontaram França e Corrêa (2009).

“Se a mulher apresenta tais características [assertividade e dureza], ela falha na boa representação do

feminino; se não apresenta, ela não atende aos requisitos do campo” (França; Corrêa, 2009, p. 4). As

autoras assinalam o fato de a pauta midiática ter dado ênfase em questões de aparência, âmbito pessoal

e da esfera privada – que apareceram também nas representações de Michelle e Cristina. Nesse

sentido, a pesquisa feita por Biroli (2010), que analisou as representações midiáticas da presidenta

Dilma (e de Marta Suplicy e Heloísa Helena) em noticiários, reforçou esse foco, já que ela afirma que

os principais estereótipos encontrados nos media foram: personalidade e feminilidade, corporalidade

e vida privada.

Em relação à presidenta Cristina, não foi muito diferente. Dembroucke (2014) observou três

enquadramentos midiáticos desde sua campanha eleitoral, em 2007, até em sua campanha de

reeleição, em 2010. Ao pesquisar os dois principais jornais argentinos, La Nación e Clarín, a autora

notou três imagens estereotipadas da presidenta, que nomeou garota estúpida, viúva má e diva

frívola6. Em suma, o primeiro estereótipo, no período da sua campanha eleitoral, dizia que a

presidenta não estava apta a governar o país e sua candidatura seria, na realidade, uma estratégia de

Nestór, o presidente anterior e seu marido, de continuar no comando do país. É importante lembrar

6 “Stupid girl”, “wicked widow”, “frivolous diva”.

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que esse estereótipo também perpassou a primeira campanha política de Dilma, já que ela foi

legitimada midiaticamente pela sua ligação com o presidente Lula, que também a teria escolhido,

segundo o discurso midiático, para se manter estrategicamente nos comandos políticos7. O segundo

estereótipo midiático emergiu após a morte do marido de Cristina, que produziu o discurso de futuro

incerto para a Argentina, haja vista que a “máxima liderança política do país” (o marido, não a

presidenta) havia falecido. O último estereótipo recorrente estaria ligado à questões de sua aparência

física, um foco comumente observado quando se trata de mulheres na política8. Conforme Jalalzai

(2016), Cristina era julgada por manter um estilo fashion e uma aparência “ultra-feminina” – o

contrário da presidenta Dilma que, também foi penalizada por isso. Citando Kathleen Jamieson

(1995), a autora diz que, por vezes, a feminilidade é associada à falta de competência das mulheres.

Em relação a Michelle, segundo Jalalzai (2016), em sua primeira campanha eleitoral, a

presidenta sofreu discriminações de gênero nos media, o que não aconteceu tanto na sua reeleição. A

autora cita uma entrevista com Carolina Carrera (participante de uma ONG chilena por direitos de

mulheres), para reforçar alguns discursos midiáticos que surgiram na época, referentes à aparência

da presidenta, questões afetivas, familiares e sem ligação com política – ou seja, categorias mesmas

ou próximas observadas em relação às outras duas. Valdés (2010) retifica que, quando Bachelet foi

eleita, os meios passaram a se preocupar, por exemplo, com o seu penteado, suas vestimentas e com

a atenção que ela dava a seus filhos, isto é, como organizava sua vida enquanto mãe e mulher. Nesse

sentido, observa-se que a mulher na política nunca é vista enquanto uma profissional, mas sempre

como mulher, antes de tudo.

Essas foram apenas algumas das representações midiáticas de gênero que encontrei ao longo

dum primeiro movimento metodológico da pesquisa. Embora tenha sido minha primeira intenção de

pesquisa, como já dito, optei por abandonar a centralidade midiática para escutar e trazer ao cerne da

dissertação saberes e conhecimentos adquiridos pelas diversas experiências de ativistas feministas

que estão na linha de frente de uma luta constante, cujos os esforços são inúmeros e menos valorizados

academicamente. Ao observar como os veículos midiáticos hegemônicos eram duros com mulheres,

nos três países, e traziam marcas das nossa cultura latino-americana, resolvi estabelecer diálogos com

feministas nos dois países, para compreender melhor desses contextos. Nessas conversas, pude

7 Corrêa e França, 2009; Jalalzai, 2016.

8 Corrêa e França, 2009; Biroli, 2010.

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observar traços culturais latino-americanos comuns aos nossos contextos (notadamente visíveis nas

representações supracitadas) que nos uniam. Em vários momentos, por exemplo, comentários

comparativos em relação aos países eram feitos. Além disso, observei que nossas visões e atuações

enquanto feministas9 também nos aproximavam, o que facilitou tanto os diálogos estabelecidos (não

havia distanciamento e hierarquia entre nós, eu era como uma feminista representante do Brasil, numa

troca de conhecimentos), quanto minha própria interpretação subjetiva do material empírico.

Teorias feministas do Sul: possíveis chaves epistemológicas e metodológicas

O encontro com as teorias feministas do Sul global se deu no meu incômodo de utilizar apenas

bases teóricas feministas europeias e estadunidenses para a construção de um pensamento aqui

elaborado que diz, igualmente, daqui. Isso não significa que teóricas feministas do Norte não possam

dar chaves para entendimento das nossas sociedades - eu mesma me aproprio de conceitos e teorias

de várias autoras desses contextos, como Judith Butler. Sua reflexão foi essencial, por exemplo, para

iluminar, num primeiro momento da minha pesquisa, as linhas de poder que atravessam os discursos

e enrijecem as mulheres em uma categoria unívoca – discussão que, infelizmente, não poderei

aprofundar no presente texto. Contudo, as perspectivas pós-colonial e decolonial foram imbuídas na

pesquisa, pois, conforme Mohanty (2003), o processo de decolonização sempre foi central ao projeto

de teóricas feministas do Sul, e não poderia escapar da minha reflexão. Foi na aproximação com os

feminismos latino-americanos (asiáticos e africanos) que tive a percepção de que essas vertentes eram

particularmente inspiradoras para minha pesquisa. Reforço que são vertentes complexas e ainda

incipientes na área de Comunicação (onde me localizo) e, portanto, ao mesmo tempo férteis para

reflexões críticas, mas também passíveis de deslizamentos nas investidas teóricas, sobretudo neste

momento embrionário da análise. Mas, afinal, o que quero dizer de um pensamento feminista do Sul?

Primeiramente, é preciso situar o pós-colonialismo que, segundo Boaventura Santos (2004),

seria “um conjunto de correntes teóricas e analíticas, com forte implantação nos estudos culturais (...)

que têm em comum darem primazia teórica e política às relações desiguais entre o Norte e o Sul na

9 Minha pesquisa diz de movimentos feministas bem particulares, predominantemente brancos, classe média,

escolarizados e urbanos - lugar de confluência com minha própria participação no movimento. O próprio feminismo

branco já é muito diverso no seu interior, abrindo meu trabalho a amplos planos. Como esta pesquisa é uma primeira

investida acadêmica, saliento que ela não se pretende esgotar no mestrado e que está no meu horizonte, no futuro, uma

aproximação maior com outros movimentos feministas, como negro ou indígena.

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explicação ou na compreensão do mundo contemporâneo” (p. 8). Essa perspectiva irá florescer,

sobretudo, no grupo Subaltern Studies, criado no sul asiático, no final dos anos 1970, com o intuito

de “analisar criticamente não só a historiografia colonial da Índia feita por ocidentais europeus, mas

também a historiografia eurocêntrica nacionalista indiana” (Grosfoguel, 2008, p.116). Embora

também utilizem teorias europeias e estadunidenses, os estudos dessa vertente pretendem refletir

sobre a cultura e política local do Sul global, tendo como principal influência o pensamento elaborado

nessas regiões. Já a perspectiva decolonial surgiu na América Latina, com o grupo

Modernidade/Colonialidade, sob influência do Subaltern Studies, porém, com pretensão de expandir

a percepção de colonialismo para colonialidade e priorizar estudos transdisciplinares, latino-

americanos, que levem em conta saberes não hegemônicos nas investigações. Num primeiro

momento, eu assumia minha pesquisa enquanto decolonial10. Contudo, mesmo que eu utilize autoras

e autores dessa vertente, e me apoie nesse pensamento em termos epistêmicos, tenho refletido em não

admitir rigidamente esse lugar, para não restringir o uso de pensamentos e conceitos que considero

caros à minha pesquisa – enquanto escolha teórica-política, algumas autoras e autores decoloniais

tem resistido ao uso de reflexões acadêmicas que se apropriam de teorias pensadas no Norte, por

exemplo. Nesse sentido, localizo minha pesquisa enquanto feminista do Sul e assumo, muito mais,

estar em algum lugar híbrido entre essas perspectivas, bebendo de várias dessas fontes e reflexões

críticas , e cuja autocrítica e possibilidade de mudança se fazem sempre necessárias.

Algumas vertentes teóricas influenciaram profundamente o pensamento pós-colonial e

decolonial. Entre elas, a discussão pós-modernista, a pós-estruturalista, os estudos culturais britânicos

e as teorias feministas. Dou ênfase na epistemologia feminista, pois, conforme Matos (2012),

“pareceu ter sido uma das primeiras formas de produção de conhecimento científico que colocou, de

fato, em xeque a posição hegemônica do conhecimento na sua chave burguesa e anglo-europeia” (p.

64). Destarte, as epistemologias pós-colonial, decolonial e feminista têm tensionado a tradição

intelectual do Ocidente e o saber clássico moderno - euro e androcêntrico - e são algumas das bases

teóricas que fundamentam meu trabalho. Para pensar questões de comunicação e gênero na América

Latina apoio-me, portanto, em saberes que foram historicamente subalternizados. Novamente, retomo

que essas influências levaram-me a visitar os países vizinhos e entrevistar feministas argentinas e

10 O título deste artigo foi escolhido nesse momento da pesquisa, em que eu a enquadrava enquanto decolonial, e optei

por mantê-lo.

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chilenas. Compartilho do pensamento que consta no trecho de um manifesto escrito por várias

pesquisadoras latino-americanas, presente no livro Genealogías críticas de la colonialidad en

America Latina, África, Oriente (2016): “Reconhecer que grande parte das nossas linhagens teóricas

com epicentro no velho mundo são inadequadas para o mundo que vivemos nos impulsiona a

modificar as redes latino-americanas e a intensificar os esforços para consolidar uma geopolítica de

conhecimento sul-sul” (p. 319)11.

Apoiada, portanto, em perspectivas epistêmicas subalternas, latino-americanas ou do Sul

global, optei por dar ênfase em experiências, conhecimentos situados e saberes localizados, conforme

Haraway (1995), a fim de fugir de formulações universais e neutras sobre a categoria “mulher”,

advindas de uma ciência positivista e androcêntrica. Sandra Harding (1987) aponta que, por anos,

pesquisas tem sido feitas para homens e, portanto, enquanto compromisso feminista, é preciso que a

pesquisa seja feita para mulheres, ou seja, as auxiliem na compreensão de fenômenos que as interesse.

“Na melhor pesquisa feminista, o propósito da pesquisa e da análise não é separável da origem do

problema de pesquisa”12 (Harding, 1987, p. 8). Esse pressuposto produz vários deslocamentos na

pesquisa, pois é preciso despir da crença ocidental de que para fazer ciência é preciso objetividade.

Conforme Haraway (1995), a pesquisa feminista é, sobretudo, de caráter epistemológico e,

por isso, afirmo, contundentemente, o porque da minha pesquisa ter seguido um caminho diferente

do que, inicialmente, eu havia imaginado. Afinal, minha intenção não era compreender uma situação

estrutural, já dada, ou constituir algum tipo de causalidade, comum às pesquisas tradicionais, mas

observar como o pensamento ativista feminista latino-americano constitui tanto uma forma de vida e

um enfrentamento às formas hegemônicas. Haraway (1995) irá dizer que na pesquisa feminista

assume-se a subjetividade da pesquisadora na negação de uma doutrina de objetividade científica que

categoriza e generaliza experiências das sujeitas, pois, “tampouco queremos teorizar o mundo (...) em

termos de Sistemas Globais, mas precisamos de uma rede de conexões para a Terra, incluída a

capacidade parcial de traduzir conhecimentos entre comunidades muito diferentes - e diferenciadas

em termos de poder” (p. 16).

Na mesma direção, a crítica de Mohanty (2003), Spivak (2010) e diversas feministas latino-

americanas, como Castañeda (2008), Everardo et al. (2012) e Matos (2010), em relação à construção

11 “Reconocer que una gran parte de nuestros linajes teóricos, con epicentro en el viejo mundo, son a la vez indispensables

e inadecuados para los mundos que vivimos, nos impulsa a multiplicar las redes latinoamericanas y a intensificar los

esfuerzos para consolidar una geopolítica del conocimiento sur-sur.”

12 “In the best of feminist research, the purposes of research and analysis are not separable from the origins of research

problems.”

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de uma categoria monolítica das mulheres de Terceiro Mundo, acrescenta o que mais me interessa a

essa pesquisa, pois faz o salto justamente para se pensar num feminismo do Sul. Conforme as autoras,

as experiências daqui não podem ser entendidas a partir de lentes ocidentais generalizantes, e isso

implica fazer escolhas teórico-metodológicas que não assumam mulheres enquanto seres

descorporificados, mas, pelo contrário, enquanto sujeitas com experiências complexas, subjetivas e

formas de micropolíticas cotidianas. Afinal, os saberes de ativistas não partem de categorias abstratas,

mas são pensamentos corporificados, territorializados, que se opõem a categorias sociológicas

generalizantes.

Diante do que foi dito, reflexões feministas do Sul global levaram-me ao caminho que

atualmente tenho percorrido, marcado por algumas escolhas que vem da epistemologia feminista do

Sul, quais sejam: 1) assumo minha subjetividade enquanto pesquisadora – falo em primeira pessoa,

assumo a pesquisa enquanto feminista, coloco-me num lugar de aprendiz dos saberes feministas e

não pesquisadora dotada de razão objetiva; 2) estabeleço diálogos com outras mulheres feministas,

para além de acadêmicas, sem considerá-las sujeitas “pesquisadas”, mas construtoras de saberes,

quebrando a hierarquia pesquisadora/pesquisada e desorganizando relações de poder comuns às

práticas acadêmicas; 3) reflito, constantemente, sobre a prática acadêmica, no sentido de buscar

interações mais simétricas com as minhas interlocutoras e retornar algo de concreto a elas – seja na

própria tessitura da pesquisa, na tentativa de honrar esses amplos conhecimentos, ou na sororidade

que estabelecemos no processo (elas me ajudam na pesquisa, doando seus saberes e experiências de

luta; eu me coloco à disposição para contribuir para os grupos, seja participando ativamente dos

movimentos, divulgando eventos e materiais produzidos por elas, entre outras formas, ainda em

idealização).

Considerações finais

Foi na experiência de campo e no meu envolvimento intersubjetivo que minhas escolhas

teórico-metodológicas de pesquisa se modificaram (e a modificaram). Embora a temática das

representações de gênero nos media tenha sido o ponto de partida para a constituição desses diálogos,

o campo me levou a outra direção muito mais instigante. Na construção e desconstrução da pesquisa,

cujas rupturas e autocrítica são fundamentais para uma epistemologia feminista viva, percebi qual era

a verdadeira potência do meu trabalho, de caráter epistemológico. Conforme Haraway (1995), é

preciso, sempre, desconstruir a ideia de pesquisadora com identidade fixa. Nesse sentido, assumo que

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a pesquisadora que entrou nessa jornada já não é mais a mesma: inicialmente, estava num lugar

academicamente estabelecido no campo da Comunicação, e passei a me preocupar muito mais com a

vivacidade das experiências, o caráter fluido e imprevisível das trocas afetivas e pessoais, num

esforço subjetivo voltado para micropolíticas do cotidiano. Há, ainda, um longo processo por vir –

entrevistas com outras feministas no Brasil, novos diálogos com minhas interlocutoras chilenas e

argentinas, e uma debruçada intensa do vasto material que reuni. Ainda que essa pesquisa ainda esteja

em andamento, posso dizer que, nessas escolhas teóricas e metodológicas, num movimento complexo

e constante, já me modifiquei e fui modificada por vários saberes e experiências, enquanto

pesquisadora e feminista. Como disse Mohanty (2003), “nenhuma visão se sustenta sozinha, e a

minha eu devo muito ao trabalho de inúmeras teóricas feministas e ativistas pelo mundo” (p.4).

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Media portraits of the first women presidents of Latin America: paths for a feminist research

from the South

Abstract: This paper discusses possible theoretical-methodological paths for studies towards a

feminist epistemology, based on Harding (1988), Castañeda (2008) and Haraway (1995), supported

by a postcolonial and decolonial perspective, according to Mohanty (2003), Spivak (2010) and

Lugones (2008). The article traverses the path that my Master's research, still in progress, has been

going on: initially, concerned with the media representations of gender of presidents Dilma Rousseff,

Michelle Bachelet and Cristina Kirchner; and then interested in gathering criticisms and keys of Latin

American feminists about these media discourses in their local contexts. First, I present a summary

of studies carried out in recent years that group some of the leading gender stereotypes that permeated

the media discourses of these women, located in historically masculine positions, which say of the

societies in which they are. Then, the article exposes how the search for a better understanding of this

phenomenon in the three countries led me to dialogues with feminist groups, to centralize and value

the knowledge of activists as a choice that is aligned with a feminist epistemology. With an innovative

aspect, the research seeks to emphasize the knowledge of feminist activists located in the global South

(Matos, 2010), putting them in symmetry with academic knowledge. This paper also problematizes

hegemonic, Androcentric and Eurocentric constructions of knowledge.

Keywords: Presidentas. Media representations. Latin America. Decolonial. Feminism.