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7/24/2019 Revista Eixo Versao Final http://slidepdf.com/reader/full/revista-eixo-versao-final 1/104 UMA PUBLICAÇÃO IFB Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília     V    o     l    u    m    e     1     N     ú    m    e    r    o     1   –     2     0     1     2

Revista Eixo Versao Final

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UMA PUBLICAÇÃO IFBInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de B rasília

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Contato Revista Eixo:Instituto Federal de Educação, Ciência eTecnologia de BrasíliaSGAN Quadra 610, módulos D, E, F e G.Brasília - DF

CEP 70860 - 100Telefone: (61) 2103 [email protected]

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EDITORA

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Presidência da República Federativa do Brasil

Ministério da Educação

Secretaria de Educação Profissional e Tecnológica

Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

ReitorWilson Conciani

Pró-Reitor de Pesquisa e InovaçãoLuciano de Oliveira Toledo

Pró-Reitor de AdministraçãoLuis Roberto Costa

Pró-Reitor de EnsinoNilton Nélio Cometti

Pró-Reitora de Desenvolvimento InstitucionalRosane Cavalcante de Souza

Pró-Reitora de ExtensãoSalete Maria Moreira Aldrighi

Revista Eixo. Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Bra-sília/IFB. v. 1, n.1, (jan-jun. 2012). – Brasília, DF: Editora IFB, 2012.

Semestral  ISSN 2238-5630

 1. Pesquisa cientí fica: Periódicos. I. Instituto Federal de Brasília.

CDU 377

A Revista Eixo é uma publicação do Instituto Federal de Educação,Ciência e Tecnologia de Brasília. A responsabilidade pelo conteúdo éde responsabilidade de seus autores. É permitida a reprodução total

ou parcial do conteúdo desde que citada a fonte.

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ANO 1 Nº1 JAN – JUL / 2012

S U M Á R I O

Jane Christina PereiraMelina Ribeiro SalgadoPriscila Ramos de Moraes RegoSalete MoreiraSérgio MarianiWakila Nieble Rodrigues Mesquita

Adilson Jayme de Oliveira

Elvis Sidnei Boes

Daniela Fantoni ÁlvaresAndresa Cristina de Andrade

Cláudio Roberto Araujo Castro

Silvio Crestana e Edilson Fragalle

Marcus Mota

André Ribeiro Ferreira

Lansana Seydi

Érica MarquesFrancisco CaboGiovana ClaudeJuliana Pires PennaNoemia GomesPastor Willy Gonzales Taco

Per Christian Braathen

NORMAS DE SUBMISSÃO

NOTÍCIAS

CHAMADA DE TRABALHOS

ARTIGOS

S U M Á R I O

08

10

12

14

16

PROGRAMA MULHERES MILEDUCAÇÃO, CIDADANIA E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

ACORDO DE COOPERAÇÃO COM O SUDÃO 

CONSTRUINDO A LICENCIATURA EM QUÍMICA DO IFB  

A CERTIFICAÇÃO DE SABERES: O PROGRAMA CERTIFIC NO IFB

PROGRAMA DE BOLSAS “EXPEDICIÓN RUTA QUETZAL”

07

07 EDITORIAL

APRESENTAÇÃO

A TRILHA DA QUINTA POTÊNCIA: UM PRIMEIRO ENSAIO SOBRE

CIÊNCIA E INOVAÇÃO, AGRICULTURA E INSTRUMENTAÇÃO

AGROPECUÁRIA BRASILEIRAS17

37

52

79

90

68

GENEALOGIAS DA DANÇA: TEORIA CORAL E A DISCUSSÃO DE

ESTUDOS SOBRE A DANÇA NA GRÉCIA ANTIGA

AVALIAÇÃO DO PLANEJAMENTO DE TRANSPORTE EM NÍVEL

ESTRATÉGICO DAS CIDADES DA COPA DE 2014

MODELO DE EXCELÊNCIA EM GESTÃO PÚBLICA

OS INVESTIMENTOS DIRETOS ESTRANGEIROS NA CHINA E NO

BRASIL NOS ANOS 90 DO SÉCULO XX: UMA ANÁLISE

COMPARATIVA E SUA EVOLUÇÃO

APRENDIZAGEM MECÂNICA E APRENDIZAGEM SIGNIFICATIVA

NO PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DE QUÍMICA

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E D I T O R I A L

Revista EixoInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de BrasíliaSGAN Quadra 610, módulos D, E, F e GBrasília/DF – CEP 70860-100Fone: (61) 2103-2108

EditoresJuliana Rocha de Faria Silva

Paulo Henrique de Azevedo Leão

Coordenadora de PublicaçõesJuliana Rocha de Faria Silva

Conselho EditorialDaniela Fantoni Alves

Edilsa Rosa da SilvaElisa Raquel Gomes de Sousa

Francisco Nunes dos Reis Júnior,Gabriel Henrique Horta de OliveiraJosué de Sousa Mendes

Juliana Rocha de Faria SilvaJulie Kellen de Campos Borges

Luciana Miyoko MassukadoMoema Carvalho Lima,

Paulo Henrique de Azevedo LeãoPhilippe Tshimanga Kabutakapua

Veruska Ribeiro Machado

RevisãoGiovanna Megumi Ishida Tedesco

Elisa Raquel Gomes de SousaJosué de Sousa Mendes

Julie Kellen de Campos BorgesLuiz Cláudio Carvalho

Veruska Ribeiro Machado

Colaboradores Fernando Antonio de Alvarenga Grossi

Fernando Coelho BarbozaSandra Maria Branchine

Diagramação

Link e DesignMoema Carvalho Lima

Revisão Giovanna Megumi Ishida Tedesco

Elisa Raquel Gomes de SousaJosué de Sousa Mendes

Julie Kellen de Campos BorgesLuiz Cláudio Carvalho

Veruska Ribeiro Machado

 

E X P E D I E N T E

N O T Í C I A SARTIGO E X P E D I E N T E

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ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

N O T Í C I A S

O Mulheres Mil está inseridono conjunto de prioridades

das políticas públicas do GovernoBrasileiro, especialmente nos eixospromoção da eqüidade, igualdadeentre sexos, combate à violênciacontra a mulher e acesso à educa-ção. Esse programa também con-tribuiu para o alcance das Metasdo Milênio, promulgada pela ONUem 2000 e aprovada por 191 paí-ses. Entre as metas estabelecidasestão: a erradicação da extremapobreza e da fome; a promoçãoda igualdade entre os sexos e au-

tonomia das mulheres; e a garan-tia da sustentabilidade ambiental.

Estruturado em três eixos – educa-ção, cidadania e desenvolvimen-to sustentável – o programa tempossibilitado a inclusão social pormeio da oferta de formação fo-cada na autonomia e na criaçãode alternativas para a inserção nomundo do trabalho, para que es-sas mulheres consigam melhorar aqualidade de suas vidas e das desuas comunidades.

Em 2011, por meio de ChamadaPública realizada pelo MEC, o pro-grama se estendeu para todo oPaís e o governo brasileiro lançoua meta de atender 100 mil mulhe-res até o ano de 2014.

Como funcionaOs Institutos Federais de Educa-ção, Ciência e Tecnologia (IF’s) eCentros Federais de Educação

Tecnológica (Cefet’s) selecionammulheres que estejam em situ-

ação de venerabilidade social eoferecem cursos de formaçãoprofissional e tecnológica, conhe-cimentos gerais com o propósitode escolariza-las numa perspec-tiva inclusiva. Cada Campi adereà chamada pública anual da Se-cretaria de Educação Profissionale Tecnológica (SETEC) do Minis-tério da Educação (MEC) anualque descentraliza os recursosque custeiam a oferta dos cursos,

transporte, alimentação e mate-rial escolar para as mulheres doprograma.

O programa integra a mulher nasociedade a fim de dignificá-la.O Mulheres Mil trabalha tambéma autoestima do público-alvo eseus cursos incluem temáticaspara a formação cidadã, para osdireitos da mulher (lei Maria da

Penha), para a economia solidáriae convivência na comunidade.

Programa Mulheres MilEducação, Cidadania e Desenvolvimento Sustentável

Jane Christina Pereira

Melina Ribeiro Salgado

Priscila Ramos de Moraes Rego

Ségio Mariani

Wakila Nieble Rodrigues Mesquita

Salete Moreira

Alunas do Programa Mulheres Mil participam da dinâmica de grupo “Mapa da Vida”

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9REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

Ainda tem no seu desenho a par-ceria como principal estratégiade efetivo funcionamento, porisso, a SETEC/MEC e os Institutos,

representados pelos seus Campiformam uma rede com os órgãoslocais e nacionais possibilitandoassim o atendimento de formasistêmica as mulheres.

Mulheres Mil no IFBNo IFB, o Programa Mulheres Milteve início em 2011, nos campiGama e Taguatinga Centro, aten-dendo, inicialmente, a 200 estu-

dantes. A pró-reitoria de Extensãoé responsável pela gestão e acom-panhamento do programa no insti-tuto bem como receber as orienta-ções da SETEC/MEC. A pró-reitorade extensão, Saléte Moreira, e oservidor Giano Copetti são os ges-tores do programa e orientam aschamadas públicas bem como oseu desenvolvimento no IFB.

No Campus Taguatinga CentroSob a coordenação das professorasPriscila Ramos de Moraes Rego ePatrícia Silva Santiago, o projeto se-lecionou 100 alunas da comunida-de da Cidade Estrutural (localizadaà cerca de 21 km de sua sede), en-tre elas catadoras e donas de casa,que se encontram em situação devulnerabilidade social.

Inicialmente, uma equipe, for-mada por professores, alunos edemais servidores do Campus,fez um diagnóstico da situaçãoem que se encontravam as can-didatas ao programa e puderammontar um perfil dos cursos quecorresponderiam ao desejo dasalunas coadunado às demandasdo mundo do trabalho, ao seudesenvolvimento técnico e pro-fissional seguindo a orientação

metodológica proposta em cur-so de formação de uma semanapela SETEC/MEC. Essas propos-

tas incluiram a metodologia deAvaliação e Reconhecimento deAprendizagem Prévia – ARAP, Sis-tema de Permanência e Êxito noprocesso educacional – Estrutu-

ra e Serviços, Plano Educacionale Itinerário Formativo, Acesso ePermanecia no Mundo do Traba-lho, Planejamento, Gestão e Sus-tentabilidade do Programa. NoCampus Taguatinga Centro, estãosendo ofertados neste ano os cur-sos de Empreendedorismo comÊnfase em Alfabetização, Técnicasde Secretariado e Atendimentoao Cliente. Nesse contexto, o tra-

balho é pautado por uma práticaque privilegia a indissociabilidadeentre ensino, pesquisa e extensão.Além dos planejamentos de pes-quisa, relacionados ao ProgramaMulheres Mil, já iniciados no Cam-pus, há o Projeto de Extensão, emandamento, denominado “Tertú-lia literária dialógica: educaçãodemocrática de jovens e adultos apartir de obras da literatura clássi-ca”, que atende aproximadamente50 mulheres e é coordenado pelaprofessora Jane Christina Pereira.

O Campus Gama fez a matrícula de100 mulheres e são atendidas emparceria com Centros de Referên-

cias de Assistência Social (CRAS)das regiões administrativas doGama, Recanto das Emas e Santa

Maria e pelo Centro de ReferênciaEspecializada em Assistência So-cial (CREAS) dessas regiões. O pro-

 jeto oferece cursos profissionali-zantes de camareira e panificação.

Além disso incentiva a elevação daescolaridade com ingresso na Edu-cação de Jovens e Adultos (EJA).

As aulas dos cursos profissiona-lizantes são executadas com aparceria dos campi Riacho Fundo1 e Planaltina, do IFB. Os cursosvisam a formação profissional e opreparo para ingressar no mundodo trabalho, seja no emprego for-mal como carteira assinada, como

micro-empreendedora individualou como empreendedora coletivaem cooperativas. O projeto ofere-ce um auxílio estudantil e acessoao passe estudantil para transpor-te gratuito. A coordenação do pro-

 jeto é realizada por Sueli da SilvaCosta e Sergio Mariani.

Além do ensino gratuito, o IFBoferece às mulheres do programa:

atendimento com assistente so-cial; auxílio financeiro; transporte;material didático; brinquedotecapara os filhos das alunas e unifor-me. Por meio de parcerias, que sãonegociadas ao longo do curso, jáestá sendo e/ou poderá ser dispo-nibilizados a merenda escolar e oatendimento médico, odontológi-co e psicológico.

Pós-formaçãoApós a conclusão do curso, é pre-visto o acompanhamento das es-tudantes no mundo do trabalho,por meio do Observatório, quetem como objetivo articular as fa-ses previstas em todo o processo:ingresso, permanência e êxito.O programa, em 2012, será imple-mentado nos Campi TaguatingaNorte, Planaltina e Riacho Fundo

incluindo 300 mulheres. Até 2014a previsão é que todos os demaistenham aderido ao Mulheres Mil.

“O programa in-tegra a mulher na

sociedade afi

m dedignificá-la.”

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ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

N O T Í C I A S

Nofi

nal de 2011, o IFB recebeuuma delegação de educado-res sudaneses ligados ao NationalCouncil for Tecnical and Technologi-cal Education (NCTTE), oportunida-de em que foi assinado um protoco-lo de intenções com foco na questãoda educação profissional no campo.Visando à obtenção de informaçõeslocais e à construção de um enten-dimento entre as partes, de forma aconsolidar-se a parceria entre o IFB e

o NCTTE, foi programada uma visitado Reitor do IFB, Wilson Conciani, edo Diretor-geral do Campus Planal-tina, Adilson Jayme de Oliveira, aCartum, capital do Sudão, para o pe-ríodo de 11 a 15 de março de 2012.

O primeiro compromisso no Sudãofoi procurar orientações do embai-xador Antônio Carlos Pedro e deseus secretários, quanto às políticase aos procedimentos locais, bem

como buscar a indicação de outraslideranças locais, além da NCTTE, in-teressadas na educação profissional.

A Embaixada do Brasil no Sudão su-geriu uma reunião com a Sra. SamiaShabo, presidente da AssociaçãoSudanesa de Desenvolvimento dasMulheres para o Negócio (SWBDC).Em dois anos a associação conse-guiu capacitar mais de 1000 mulhe-res para abertura de próprios ne-

gócios e filiação com o SWBDC. Oscursos são basicamente nas áreasde Comércio, com um importanteviés cultural: os negócios são vol-

IFB & NCTTE: possibilidades

para a ofertade educaçãoprofissionaldo campo noSudão

tados para as tradições locais (reto-mada de importantes contribuiçõeshistóricas), com destaque para aperfumaria e a tecelagem.

A Presidente da SWBDC mostrou-seinteressada em conhecer o Centrode Referência do Programa Mulhe-res Mil e em receber outras qualifi-cações técnicas na área de Comér-cio para as mulheres sudanesas.Recebemos as boas-vindas do Se-cretário-Geral do NCTTE, Sr. Abdel-mahmoud, que reiterou o protocoloinicial de intenções: aceitar a ofertade assistência técnica do Brasil paraeducação profissional e expansãoda oferta de modo eficiente.

Participamos de um seminário com

lideranças educacionais locais. Aequipe brasileira optou por apre-sentar os seguintes temas, eluci-dando-os a partir das experiências eatuação do IFB: sistema educacional brasileiro e

a educação profissional – legisla-ção e funcionamento;

educação profissional para ocampo;

Programa Nacional de Acesso àEducação Profissional e Tecnoló-

gica; Programa Nacional de Formação

Profissional de mulheres em vul-nerabilidade social;

Programa de Educação Profissio-nal de Jovens e Adultos;

Convite ao Fórum Social Mundialpara a Educação Profissional –Florianópolis.

O grupo sudanês, representadopelo Dr. Hanza Tola, apresentou as

difi

culdades e forma legal do siste-ma de Educação Profissional Suda-nês. Ficou claro que o sistema excluia formação escolar e limita o acessoà escola regular. Aqueles que esco-lhem a educação profissional nãopodem usar esses conhecimentospara ingressar em cursos superioresdo tipo licenciatura ou bacharelado,assim como não podem cursar mes-trado e doutorado. 

Foi expresso interesse em intercâm-bio de estudantes e professores, so-bretudo no que se refere à práticade projetos de extensão, junto deagricultores familiares, e no relacio-namento com empresas. Relatou-see comprovamos que 80% dos estu-dantes são do sexo feminino. Comoas mulheres têm mais dificuldadeem obter emprego naquele país,agrava-se a dificuldade de colocaros egressos no mundo do trabalho.

 No período da tarde visitamos oCentro de Treinamento Vocacional,uma escola nova com laboratórios

Adilson Jayme de Oliveira

Comércio no subúrbio de Cartum, Sudão

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11REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

muito bem montados. Trata-se deuma doação da Grã-Bretanha (or-çamento de 10 milhões de Euros)para estabelecer um centro de cer-tificação nos moldes do National

Vocational Qualification (NVQ) daInglaterra. De qualquer modo o cen-tro funciona nos moldes do SistemaS e contempla a formação inicial detrabalhadores.

O Centro tem como missão capa-citar jovens e mulheres que estãoem situação de pobreza, com oobjetivo de inseri-los no mundo dotrabalho – intenção para a qual oCentro tem encontrado dificulda-des. A escola atende às áreas de In-formática, Construção Civil, Turismoe Hospitalidade, Cuidados Pessoais,Mecânica Industrial e Eletrônica. Osestudantes são preparados para acertificação, com um curso de 24h,abordando Língua Inglesa, Mate-mática e Física. Após esse nivela-mento, eles vão diretamente para oscursos de qualificação, sem provas,uma vez que o centro não detém

esse conhecimento e/ou as normasde competências inglesas. Por essarazão a direção pediu ajuda ao IFBpara organizar o currículo e as nor-mas de competências.

Parece claro que os sudaneses que-rem trazer para si um modelo deagricultura extensiva que possa serfinanciado por empresas brasileiras.Aqui se abrem possibilidades co-merciais e educacionais se o proje-

to for acoplado à formação de pro-fissionais. Trata-se de uma grandeexperiência desenvolvida no Brasile que pode funcionar também noSudão. Nesse caso seria importantediscutir o modelo educacional como MEC, uma vez que há a intençãode mudar profundamente a formade oferta dos cursos do Sistema S,tornando-os mais inclusivos e me-lhorando a escolaridade da popula-ção.

Percebe-se um total distanciamen-to entre as escolas e o mundo dotrabalho. Tal distanciamento ca-

racteriza-se pela falta de diálogona construção dos currículos, pelodesconhecimento da existênciadas escolas e, provavelmente, por-que as aproximações sempre se

deram na busca de recursos parafinanciar projetos acadêmicos oupouco viáveis. O NCTTE está emdúvida quanto ao melhor métodode desenvolvimento dos cursosda educação profissional, uma vezque a maioria dos seus membrose mesmo pessoas que militam naeducação discordam da forma detrabalhar a formação profissionalseparada da formação cientí fica ecultural. Isso abre um grande espa-ço para o método relacional e pro-fissiográfico brasileiro.

Em todas as instâncias de discussãoe visitas, um ponto em comum é acarência de professores com forma-ção técnica e pedagógica para atu-ação na educação profissional. Osatuais membros do NCTTE são todosdoutores, em sua maioria formadosno exterior, com excelente visão de

pesquisa e de ciência, porém poucaou nenhuma prática na educaçãoprofissional.

Em diversas situações foram apre-sentadas queixas quanto à valori-zação dos técnicos no mundo dotrabalho, a julgar pelas declaraçõesde que as faculdades e o Centro deTreinamento Vocacional não conse-guem ser reconhecidos pelas em-presas. Não se pode esquecer que as

duas faculdades tecnológicas cita-das não conseguem empregar seusegressos. Isso indica um elevadograu de endogenia e a consequen-te desvalorização dos profissionaislocais. As companhias estrangeirasestão levando seus profissionais detodos os níveis para atuar no Sudão,em detrimento da falta de qualifica-ção da mão de obra local. Mesmosetores menos exigentes, como oComércio, a Hotelaria e a Agricultu-

ra, estão importando mão de obra.

A viagem foi proveitosa, e a ajuda daembaixada foi providencial para se

conseguirem mais contatos locais.O acordo com o NCTTE demanda-rá mais tempo para implantação,devido à necessidade de ajustesoperacionais e busca de recursos fi-

nanceiros. O protocolo de intençõesassinado com a SWBDC pode fruti-ficar mais rapidamente, podendoreceber aporte de recursos do Mi-nistério do Desenvolvimento Social(MDS) por meio da Agência Brasilei-ra de Cooperação (ABC).

As propostas para uma parce-ria entre o IFB e o NCTTE fo-ram:1. formação de professoresda educação profissional, pormeio de cursos de licencia-tura, baseados em Educaçãoà Distância (EAD), no Sudão,com uma série de encontrospresenciais no Sudão e pelomenos um estágio no Brasil;2. formação de agentes de go-verno (no nível gestão) na áreada educação profissional –

considerando que não há cla-reza de como desenvolver asações pretendidas – por meiode cursos baseados em EAD,com uma série de encontrospresenciais no Sudão;3. oferta dos sistemas informa-tizados de gestão escolar paraas escolas e governo do Sudão(e-mec; sistec; siga-edu e siga--adm), bem como a capaci-

tação das equipes para uso eajuste dos referidos sistemas;4. possível intercâmbio de es-tudantes e professores entreo IFB e escolas parceiras, paraa formação de um centro deexcelência na área de Agricul-tura;5. desenvolvimento conjuntode projetos de pesquisa e ex-tensão para a formação e for-

talecimento da inovação e dadifusão tecnológica na escolaescolhida.

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ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

N O T Í C I A S

O curso de Licenciatura em

Química do Campus Gamavem sendo planejado e constru-ído, juntamente com o curso Téc-nico em Química, desde 2010. Oplano de curso de Licenciaturaem Química teve a participaçãodo professor Cláudio Nei Nasci-mento da Silva, docente da áreade Educação, responsável pelaconcepção e elaboração da par-te pedagógica. A equipe inicial

de docentes foi formada por El-vis Sidnei Böes, Marcelo Padilha,Marley Garcia e Rodrigo FleuryBrandão e, com a saída de Mar-celo Padilha, Aglailson GledsonCabral de Oliveira. Os documen-tos referentes aos planos de cur-so (Técnico e em Licenciatura)foram aprovados pelo ConselhoSuperior do IFB no dia 13 de de-zembro de 2011.

Objetivos do curso

O objetivo do curso de Licencia-

tura em Química é o de formar

professores com amplo domínioteórico e experimental do conte-údo especí fico de Química e dapráxis pedagógica, criando pro-fissionais reflexivos, competentese críticos, capazes de promover oconhecimento cientí fico e a dis-seminação da ciência. O plano decurso da Licenciatura foi concebi-do de modo a formar professorescom amplo domínio dos conhe-

cimentos especí ficos e dos re-cursos cientí ficos e tecnológicosdisponíveis na Instituição. Com aformação que planejamos ofere-cer, os novos professores deverãoser capazes de superar o distan-ciamento existente entre as insti-tuições formadoras e os sistemasde ensino da Educação Básicae da Educação Profissional. Paraisso, devemos estimular a prá-

tica refl

exiva, afi

m de que os li-cenciandos vivenciem, enquantoalunos, experiências educativasque contribuam para a sua práti-

ca profissional futura.

Com esse curso, o IFB pretendeformar professores que sejamtambém pesquisadores capazes

de buscar novas alternativas parao ensino de Química, atuandocomo agentes multiplicadoresdas soluções encontradas. Dessaforma, contribuir para a melhoriada Educação Básica e da Educa-ção Profissional pelo desenvolvi-mento de competências própriasà atividade docente.

O curso também pretende for-

mar professores que ultrapas-sem o conhecimento científicoe avancem para a formação decompetências profissionais decaráter pedagógico, referentesao conhecimento de processosde investigação e reflexão sobrea prática cotidiana. Com isso, ala-vancar o desenvolvimento sociale econômico do Distrito Federale da Região Integrada de Desen-volvimento do Entorno (RIDE). Oprofessor formado no IFB poderáatuar em todas as modalidadesdo Ensino Básico com um dife-rencial: a oportunidade de vivên-cia em sala de aula, com nossosalunos, realizando práticas peda-gógicas nos diversos campi doIFB.

Entre as Ciências Exatas e Bioló-gicas, a Química figura como a

área de maior ou a de segundamaior demanda por professores,no Brasil e no Distrito Federal eEntorno. Talvez a demanda sejamaior somente por licenciadosem Física. O mercado de trabalhoé amplo tanto na rede públicaquanto nas instituições priva-das. Um dos maiores problemasé que, geralmente, o licenciadoem Química se decepciona com

as condições de trabalho na edu-cação e volta para a academiapara fazer algum tipo de comple-mentação na área tecnológica,

Construindo a Licenciatura emQuímica do IFB

Elvis Sidnei Boes

  Prof. Fernando Dantas de Araújo (Diretor-geral do Campus Gama), Prof. Rodrigo Fleu

Brandão (Presidente da Comissão de elaboração do Plano de Curso da Licenciatura emQuímica), Prof. Elvis Sidnei Boes (Coordenador do Curso de Licenciatura em Química)

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13REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

indústria ou na prestação de ser-viços de consultoria e assistênciatécnica.

Oferta de vagasNeste primeiro semestre de 2012,ofertamos 80 vagas nos cursos deLicenciatura em Química, sendo40 delas no período diurno, e a ou-tra metade no período noturno. Oingresso no curso de Licenciaturaem Química deverá ser semestral.Portanto, antes do início do se-gundo semestre de 2012 a pro-posta é ofertar mais 80 vagas, coma mesma distribuição: 40 no perí-

odo matutino e 40 no noturno. Oprocesso seletivo em 2012 foi peloENEM, com candidatos classifica-dos de acordo com a nota obtida.

As vagas foram distribuídas porcotas – para estudantes egressosde escolas públicas, quilombolas eindígenas e portadores de neces-sidades especí ficas- e para amplaconcorrência. Tanto a equipe de

gestão quanto a equipe de ensinode Química do IFB campus Gamaacredita na eficiência do ENEMcomo instrumento de avaliaçãodo Ensino Médio no país. A equi-pe de Química também acreditaque adotar o ENEM é fortalecer elegitimar o exame como políticapública, e tratamento igualitárioaos estudantes, pois o concursopreza por um aprendizado inte-

grado com o cotidiano e o meio--ambiente, de modo transversal,e formação voltada ao desenvol-vimento do raciocínio, e não paraa memorização de fórmulas pron-tas. Portanto, o ENEM tem tudo aver com nossa proposta de ensinono IFB.

Formação dos professoresde Química

Um dos entraves para que o paísatinja cresça mais, economicamen-te, é o baixo nível educacional nas

áreas de Matemática e de CiênciasExatas, o que dificulta a formaçãode técnicos para as indústrias. Estebaixo nível de conhecimento cien-tí fico vem desde a Escola Básica.

A formação em Química dos estu-dantes brasileiros é insatisfatória,é muito fraca, no Ensino Médio eno Ensino dito Superior – uma vezque muitas instituições se dedi-cam ao preenchimento das lacu-nas educacionais em ciências. Me-canismos legais não faltam paracorrigir essas deficiências, comoos parâmetros curriculares em Ci-ências Exatas, que são ótimos, e

os materiais didáticos disponíveisem língua portuguesa, que sãoexcelentes. O que falta em mui-tos lugares é colocá-los em práti-ca dentro da sala de aula. Nossosestudantes deveriam ser incenti-vados a um maior contato com aliteratura cientí fica desde cedo, aolado da literatura em geral, sob atutela dos professores.

“Promover uma me-lhora na educaçãoem Química é umadas maneiras maiseficazes de se pro-mover o desenvol-

vimento econômicodo nosso País.”

A proposta do curso de Licenciatu-ra em Química do IFB é a de con-tribuir para melhorar a educaçãoem ciências do nosso País porquepromover uma melhora na educa-ção em Química é uma das manei-

ras mais eficazes de se promover odesenvolvimento econômico donosso país. Isso se dará com a for-

mação de uma nova consciênciados futuros educadores de Quími-ca egressos de nosso Instituto quedeverão promover a difusão doconhecimento cientí fico e guiar os

estudantes da escola básica.

A Química e odesenvolvimentobrasileiroPara se entender a importância daeducação em Química e seu im-pacto no desenvolvimento do Bra-sil, deve se levar em consideraçãoem primeiro lugar que a indústria

química é o setor industrial maisimportante e poderoso do mundo,englobando as indústrias do pe-tróleo, farmacêuticas, e de alimen-tos além de ser muito importantena extração e beneficiamento deminérios e na agricultura. O paísque tem uma indústria quími-ca forte tem consequentementegrande poder no cenário econô-mico mundial, o que infelizmentepara nós, ainda não é o caso doBrasil. Conforme defendido pelosprofessores Pierre Salama, da Uni-versidade de Paris, e Gabriel Pal-ma, da Universidade de Cambrid-ge, o Brasil já vive atualmente umprocesso de desindustrialização.Para se ter uma ideia, uma fatiade apenas 14,6% de nosso Pro-duto Interno Bruto, PIB, de 2011 éproveniente da produção indus-trial, um valor bastante próximo

dos 13,8% que tínhamos em 1956quando o presidente JK deu inícioao processo de industrializaçãobrasileira. O restante do nosso PIBé resultante da produção agrícolae extrativista. Ou seja, voltamos aviver no cenário econômico da eracolonial, quando o Brasil era meroexportador de matéria-prima paraos países mais desenvolvidos. Em1985, no início do governo do pre-

sidente José Sarney, a contribui-ção da produção industrial para onosso PIB chegava a 27,2%.

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14

ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

N O T Í C I A S

A Certificação de Saberes: um relato sobre o Programa Certific no IFB

Daniela Fantoni Álvares

Andresa Cristina de Andrade

O IFB desenvolve o ProgramaCertific e se insere na Rede

Nacional de Certificação Profissio-nal e Formação Inicial e Continu-ada – Rede Certific, por meio daatuação de dois campi. O CampusBrasília realiza a certificação de sa-beres na área de Hospitalidade eLazer para os perfis de “Assistenteem Eventos” e “Recepcionista de

Eventos” e o Campus Samambaia,na área de Construção Civil paraos perfis de “Pedreiro”, “EletricistaPredial” e “Encanador”.

A metodologia de execução doPrograma Certific nos dois campi,assim como as etapas desenvolvi-das, foram:1. Pré-inscrição: nessa etapa o can-didato demonstra o interesse em

participar do Programa e para talrealiza sua pré-inscrição.2. Evento de orientação: os pré--inscritos participam em evento

programado e recebem todas asinformações a respeito do Pro-grama, sendo que os interessadosoficializam a sua inscrição. Nessaetapa, cada campus realizou umapalestra com representantes daSETEC/MEC e a presença dos pro-fessores certificadores com o in-tuito de fornecer esclarecimentossobre o programa.

3. Questionário socioeconômico:após a oficialização da inscrição épreenchido um questionário ondeo candidato fornece informaçõessobre seu percurso de estudos esua experiência profissional naárea em que está pleiteando a cer-tificação.4. Entrevista: nessa etapa o candi-dato é estimulado a relatar o seuconhecimento adquirido no mun-

do do trabalho. A banca de certi-ficadores realiza uma série de per-guntas com o intuito de analisar osconhecimentos teóricos e práticos

referentes ao perfil e/ou perfis queo participante se candidatou.5. Dinâmica de grupo: nesse mo-mento os candidatos são reunidosem grupos, de acordo com o per-

fil. A partir da mediação dos pro-fessores certificadores, discutemsobre o perfil profissional e as ha-bilidades necessárias para atuaçãonas respectivas áreas profissionais.Durante o processo, são propostasdiversas atividades em grupos eos professores realizam anotaçõessobre o desempenho individualdos candidatos em relação à lide-rança e à capacidade de expressão

oral. Ainda nessa fase são discuti-das as atribuições e as condiçõespara realização do processo práti-co de reconhecimento de saberes.6. Cursos de preparação para cer-tificação: o candidato participade atividades de atualização pro-fissional, com palestras sobre omercado de trabalho no Setor deEventos, empreendedorismo, ca-pacitação e excelência dos servi-

ços prestados em eventos. Alémde políticas públicas para desen-volvimento do Turismo de Negó-cios e Eventos (temáticas tratadasno Campus Brasília) e economiasolidária, direito trabalhista, em-preendedorismo, higiene e segu-rança no trabalho (assuntos abor-dados no Campus Samambaia);7. Avaliação de Desempenho Pro-fissional: o candidato demonstra,com atividades práticas, as suascompetências e habilidades parao exercício da profissão. Duranteessa etapa de Avaliação, no Cam-pus Brasília, foi realizada umasimulação de uma recepção deevento, onde a partir de equipa-mentos disponíveis, o candidatodeveria demonstrar o seu conhe-cimento nas atividades operacio-nais relativas a essa profissão. Noperfil “Assistente em Eventos”, uma

situação problema foi proposta e ocandidato realizou o planejamen-to e a organização de um evento(parte escrita e apresentação oral).

Aluno certificado pelo programa CERTIFIC no Campus Samambaia

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15REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

No Campus Samambaia, nessaetapa, foi utilizada a mesma me-todologia para todos os perfis.Na primeira parte, os candida-tos foram avaliados em leitura e

interpretação de projetos e, nasegunda, executaram atividadespráticas em um canteiro de obras.Ressalta-se que nos dois campi, osprofessores certificadores acom-panharam atentamente todas asatividades desenvolvidas peloscandidatos e realizaram anotaçõesminuciosas sobre o desempenhodos candidatos na execução dasatividades propostas. Destaca-se

que todas essas anotações servi-ram de base para compor o me-morial descritivo do participante.

No Campus Brasília, o processode reconhecimento de saberesfoi iniciado em agosto de 2010 efinalizado em novembro/2011. Oscandidatos que não atenderam aopré-requisito e não demostraramas competências especí ficas para

atuação nas referidas profi

ssões,foram encaminhados para cursosFIC, Proeja Integrado e Técnico emEventos.

No Campus Samambaia o Progra-ma foi iniciado em outubro de2010 e finalizado em janeiro de2012. Ao final das etapas, os can-didatos que atenderam ao pré-re-

quisito (Ensino Fundamental paraos três perfis) e demonstrarampossuir todas as competênciasprofissionais receberam o certifi-cado e o memorial descritivo. O

candidato que não atendeu todoo perfil profissional e não possuíao Ensino Fundamental, foi entre-gue a este o atestado profissional,especificando as habilidades doperfil que atenderam, acrescidodo memorial descritivo, relatandosua trajetória no Programa Certific.

Avaliando o processo de desen-volvimento do Programa Certific

no IFB destacamos os os pontospositivos como:o cumprimento do Programa coma realização de todas as fases esta-belecidas;a certificação de profissionais dasáreas de “Hospitalidade e Lazer” e“Construção Civil”;o encaminhamento aos cursos ea possibilidade dos trabalhadoresrealizarem as capacitações suge-

ridas pela banca de certifi

cadores,com posterior equacionamentode conhecimentos teóricos e prá-ticos e/ou elevação do grau de es-colaridade;a formação de professores certi-ficadores que adquiram conheci-mentos sobre certificação de sa-beres;a aquisição de experiência por

parte do Instituto para implemen-tar o Certific, sendo importanteenfatizar que a expertise adquiridaserá utilizada em outras ediçõesdo Programa.Em relação aos aspectos negati-vos, pontua-se:a morosidade do desenvolvimen-to das etapas do Programa, sendoprovavelmente um dos motivosda elevada taxa de evasão ocorri-da nos dois campi,a falta de padrões e/ou modelosa serem seguidos, uma vez que oInstituto foi um dos pioneiros a de-

senvolver o Programa,a reduzida equipe interna de cer-tificadores para implementar oCertific, assim como a perda de in-tegrantes que foram atuar em ou-tras áreas, campi ou outros órgãospúblicos;a inadequada estrutura física,acrescido de equipamentos inci-pientes, visto que os campi estãoem fase de construção e monta-

gem; especial destaque para a fal-ta de laboratórios e as dificuldadesencontradas para a execução daetapa de Avaliação de Desempe-nho Profissional;a falta de um adequado monitora-mento da implementação das eta-pas do Programa nos campi, alémda execução de ações, prioritaria-mente, corretivas em detrimentode ações preventivas.

Nesse sentido, é essencial refor-mular estratégias, em nível fede-ral, capitaneadas pela Setec/MEC,assim como identificar as melho-res práticas do desenvolvimentodo Programa Certific para que sepossa ter modelos de base para oincremento de novos processos decertificação pela Rede Certific.

Apesar dos desafios encontrados, enfatiza-se que o Programa Certific é extrema-mente relevante e alguns dos motivos que justificam a sua importância são: o Programa permite o reconhecimento das competências de trabalhadores

que estão inseridos no mundo do trabalho, sendo que muitos não tiveram aoportunidade de cursar o ensino formal e receber um diploma que comprovesuas experiências;

o fato de receber um certificado representa para muitos desses trabalhadoresum aumento da autoestima e até mesmo o resgate da cidadania;

o Programa possibilita o retorno a escola e o aprimoramento das competên-cias desses trabalhadores com reflexos na vida pessoal e profissional destes;(iv) há ainda a possibilidade de elevação de escolaridade desses trabalhadores;

a função social desse Programa, assim como a função econômica, uma vez

que proporciona aos trabalhadores, entre outros benefícios, oportunidadesde socialização e aprimoramento profissional, além de fornecer ao mercado,a requalificação dos recursos humanos e, consequentemente, incremento dodesenvolvimento de produtos e serviços brasileiros de qualidade.

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1616

CRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

16 REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

A Associação de Professores de Es-panhol do Distrito Federal (APE-

DF) luta por melhores condições parao ensino da Língua Espanhola nas es-cola públicas do Distrito Federal e temum laço muito forte e estreito com aSecretaria de Educação do Distrito Fe-deral, com a Embaixada da Espanhae com o Instituto Cervantes. Esse Ins-tituto é um órgão oficial do GovernoEspanhol para a difusão da língua,literatura e cultura espanhola pelomundo. Divulgar o IFB nas reuniões da APEDF

estreitou os laços do Instituto com aAPEDF. Na última reunião da Associa-ção, em dezembro de 2011, estavapresenta a Srª. Begoña Sáez, Assessorade Assuntos de Educação da Conserje-ría de Educación de la Embajada de Es-paña e a professora Aline, do CampusTaguatinga Centro. Esses professorespuderamcontar em poucas palavras a históriae a missão dos Institutos Federais. AAssessora se interessou muito e convi-

dou o IFB para uma visita mais formalà Embaixada da Espanha. Nessa visitaestavam presentes além dos dois pro-fessores de espanhol já citados, um

do Campus Samambaia, a assessorapara Assuntos Internacionais do IFB,representantes das Pró-reitorias deEnsino e Extensão e um representanteda Comunicação do IFB. Neste encon-tro, a Srª. Begoña convidou o IFB paraeventos da Embaixada e do InstitutoCervantes.

No início de 2012, o Governo Espanholofereceu 2 bolsas para alunos brasilei-ros que tenham nascido nos anos de1995 ou 1996. Esta bolsa possibilitaráque um aluno do IFB participe da Ex-pedición Ruta Quetzal, nos meses de

 junho e julho, passando pelos paísesColômbia e Espanha.

Em Brasília houve 12 alunos que secandidataram à bolsa. Estes foramsubmetedos às avaliações escrita eoral em espanhol e à entrevista. Foiselecionado o aluno Samuth DuarteAlves Pereira, atualmente no 3º anodo curso Técnico em AgropecuáriaIntegrado ao Ensino Médio do Cam-pus Planaltina. Como professor de

espanhol desse aluno, fui indicadopela SETEC (Ofício nº 122/2012/GAB/SETEC/MEC) para acompanhá-lo emtodo o processo. Este acompanha-

mento inclui aulas extras e ativida-des relacionadas ao tema da expe-dição e participação em todos oseventos oferecidos pela Embaixadada Espanha e Instituto Cervantes.

Como parte desta cooperação, IFB eEmbaixada da Espanha, no dia 27 demarço, os alunos residentes dos 3ºanos do Ensino Médio participaramde um evento organizado pela Em-baixada da Espanha, Instituto Cer-vantes e Universidade de Brasília,chamado “Jornada de Puertas Abier-tas” do Núcleo de Recursos y Estu-dios Hispánicos Antonio de Nebrija.Entre os alunos que foram, estava oestudante Samuth, que foi apresen-tado aos assessores de Educação eCultura da Embaixada, respectiva-mente Srª. Begoña Sáez e Srª. Maríadel Puy, assim como a representan-tes do Instituto Cervantes de Brasíliae à presidenta da APEDF, professoraSilvânia do Centro Interescolar deLínguas, (CIL 2).

Houve também a participação no 2ºSimpósio de Literatura Espanhola eHispanoamericana, nos dia 30 e 31de março, que aconteceu no Insti-

tuto Cervantes de Brasília. Foram aoSimpósio, o aluno Samuth e a alunado curso de Agroecologia, MariaConceição, que foi selecionada peloPrograma Ciências Sem Fronteiraspara fazer uma parte de seu cursosuperior na Pontifícia UniversidadeCatólica do Chile. Nesse evento, nos-sos dois alunos foram muito bemrecebidos e todos se mostraram in-teressados em saber quais as expec-tativas deles com o intercâmbio.

A professora Silvânia, presidenta daAPEDF, convidou o aluno Samuthpara realizar uma palestra quandovoltar do intercâmbio para os alu-nos do CIL 2 e para os professoresde espanhol em uma das reuniõesda APEDF.

No dia 28 de abril, aconteceu tam-bém no Instituto Cervantes o 5º Se-minário de Língua Espanhola com aparticipação dos dois alunos bolsis-tas. Esse Seminário incentivou essesalunos a um maior contato com alíngua e cultura espanholas antes

de suas viagens.

O Programa de Bolsas“Expedición Ruta Quetzal”

Cláudio Roberto Araujo Castro

ARTIGON O T Í C I A S

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17REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 16-36 17

A trilha da quinta potência: um primeiro ensaio sobreciência e inovação, agricultura e instrumentação

agropecuária brasileiras

Há soluções no horizonte, do ponto de vista da Ciência e Inovação? E o Brasil – novo player global – como se posiciona?Como parte do problema ou da solução? Educação e inovação constituem ingredientes essenciais para o Brasil se con-solidar como potência global - há fortes expectativas de que o País se transforme na quinta maior economia mundialnos próximos anos. O solo, a hidrologia, o meio ambiente e as mudanças climáticas globais ligadas à InstrumentaçãoAgropecuária são fundamentais neste novo cenário e podem alavancar o crescimento com sustentabilidade econômica,social e ambiental.Convidamos o leitor a refletir sobre os fatores que contribuíram para que chegássemos ao estágioatual e quais os próximos passos a se trilhar. Para maior clareza, desenvolvemos o presente artigo em quatro partes,

conforme se apresentam a seguir. A trilha da quinta potência passa pela Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação -razão de ser da Embrapa, do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (que envolve as organizações estaduais depesquisa agropecuária) e universidades - e pelo avanço da fronteira do conhecimento - razão de ser da Embrapa Ins-trumentação. Uma consequência desta constatação é a oportunidade de se estabelecer maior cooperação entre taisatores e instituições. O desafio exige ousadia, criatividade e qualificação aliadas ao espírito empreendedor para que aspróximas gerações tenham, em seu DNA, as marcas da sustentabilidade.

Palavras-chave: agricultura tropical; educação; inovação; instrumentação agrícola e sustentabilidade

There are solutions on the horizon from the perspective of Science and Innovation? And Brazil - a new global player - likepositions? As part of the problem or solution? Education and innovation are essential ingredients for Brazil to consoli-date itself as a global power - there are strong expectations that the country become the fifth largest economy in thecoming years. The soil, hydrology, environment and global climate change linked to the Agricultural Instrumentationare essential in this new scenario and can leverage the growth with economic, social and ambiental.Convidamos thereader to reflect on the factors that contributed to us from reaching the current stage and what the next steps to tread.For clarity, we have developed this paper in four parts, as presented below. The trail passes through the fifth power ofEducation, Science, Technology & Innovation - reason for Embrapa, the National Agricultural Research System (invol-ving the state agricultural research organizations) and universities - and to advance the frontier of knowledge-ratio beEmbrapa Instrumentation. One obvious consequence of this finding is the opportunity to establish greater cooperationbetween these actors and institutions. The challenge requires courage, creativity and skill combined with the entrepre-neurial spirit so that subsequent generations have sustainability in the DNA.

Keywords: tropical agriculture; education; innovation; agricultural instrumentation and sustainability

SILVIO CRESTANA  Embrapa Instrumentação [email protected]

EDILSON PEPINO FRAGALLE Embrapa Instrumentação [email protected]

r esumo

abstract

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

e trail to the fih power: a first essay on science and innovation, agriculture and

instrumentation Brazilian agriculture

E N S A I O

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N O T Í C I A SARTIGOCRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 16-3618

A A primeira década do século XXI foi marcada pela inserção do Brasil como player no cenáriointernacional, mudando a visão secular predominante que o mundo tinha a nosso respeito.Tal visão nos remetia a um país subdesenvolvido, de economia estável e sistema de governo

frágil. Com a educação e a inovação, O Brasil está se consolidando como nação soberana, na medidaem que já resolveu os problemas básicos de Segurança Alimentar e Segurança Energética e caminha

para resolver o de Segurança Territorial – incluindo-se aí a Segurança Ambiental – e o da miséria e dapobreza.

Hoje o Brasil é visto como “a bola da vez” em diversos segmentos, encarado como economia emer-gente e com o sistema democrático consolidado, inclusive, sendo utilizado como modelo por muitasnações. Podemos apontar alguns segmentos nos quais somos vanguarda, tais como a agricultura tro-pical, a prospecção de petróleo em águas profundas, a produção de aviões executivos e a produçãode energia limpa e renovável.

Ao avaliarmos esses exemplos, percebemos que todos estão intimamente ligados ao trabalho deempresas estatais e privadas, sobretudo de empresas que investiram e ainda hoje investem em Edu-cação, que promoveram e promovem a Inovação Tecnológica e Institucional no mais alto nível.

Por outro lado, quando analisamos o contexto mundial, constatamos a existência de alguns novos evelhos problemas. A fome e a miséria não só permanecem, mas se agravam em escala global, con-forme os últimos relatórios da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).Mais recentemente, dois outros se juntaram a este, na mesma escala: o da ausência de governançamundial e do meio ambiente. Acordos multilaterais e metas deixam de ser cumpridos. Em geral, os fó-runs mundiais e as organizações não chegam a acordos ou tampouco conseguem exercer o papel dearbitragem deles esperado. E quando chegam (raras vezes chega-se a acordos multilaterais) deixamde ser implementados. Não faltam exemplos: Kyoto, Doha, Climate Change Conference (COP) - 15 e16, Metas do Milênio (ONU-FAO), inoperância do Conselho de Segurança da ONU em arbitrar confli-tos, enormes dificuldades do Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial, dentre outros, emlidar com a recente crise financeira mundial.

Quanto ao meio ambiente, é a primeira vez, em nossa civilização, que os prejuízos causados a eleapresentam à especie humana, em escala global, graves ameaças. Fica evidente a conectividade e ainterdependência entre eventos locais e globais e a constatação de que os recursos naturais são fini-tos. E, mais que isso, a capacidade de resposta do planeta (biocapacidade) às crescentes demandasantrópicas demonstra que já atingimos limites críticos no que concerne à conservação da biodiversi-dade, aos recursos hídricos, às emissões de gases, à erosão, entre outros. Mudanças climáticas, “pega-da ecológica”, inteligência ecológica, segurança ambiental são algumas designações que concretizamo repertório de problemas e preocupações ambientais que nos assolam em escala global.

Desenvolvemos o presente artigo em quatro partes de maneira a conduzir o leitor a uma reflexão arespeito dos fatores que contribuíram para que o Brasil chegasse ao estágio atual – de player global -e quais os próximos passos a serem trilhados.

Nesta sessão apresentamos parte da discussão e dos relatos elaborados em 2010, durante a reali-zação da IV Conferência Nacional de C, T & I (CONFERÊNCIA NACIONAL... 2010a, 2010b; CONSOLI-

DAÇÃO... 2010; CRESTANA, 2010a, b, c).

Nos próximos anos, há fortes expectativas de que o Brasil se transforme na quinta maior economiamundial, destacando-se como potência econômica global. Alie-se ao fato de que, pela primeira vezem sua história, a população brasileira será majoritariamente jovem, portanto apta a integrar o mer-cado de trabalho e engrossar as fileiras das forças economicamente ativas de nossa sociedadede du-rante os próximos 30-40 anos. Obviamente, isso trará novos desafios do ponto de vista da educação,da qualificação profissional, dos empregos e ainda, concomitantemente, da crescente população que

envelhecerá.

introdução

desafios do Brasilpotência passampelo conhecimento

CRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

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19REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 16-36

A trilha da quinta potência...

19

Do ponto de vista dos desafios e das oportunidades, o Brasil já é potência mundial em agricultura (lí-der em produção de alimentos, fibras, energia e produção de conhecimentos em agricultura tropical),ambiente (maior biodiversidade tropical e maior reserva de água líquida, em superfície do planeta),energia limpa e renovável (com quase 50%, constitui a maior matriz energética limpa e renovável domundo). Além disso, com o pré-sal, nas próximas décadas, deverá transformar-se em potência petro-

lífera global (quinto ou sexto maior produtor de petróleo do mundo).

Hoje, os interesses dos diferentes segmentos, como o rural, o urbano, o ambiental, o da energia reno-vável e o da energia fóssil estão postados como antagônicos, dicotômicos, aparentemente não con-ciliáveis, com interesses setoriais sobrepujando os interesses maiores da nação e da sociedade. Videtoda polêmica em torno do novo Código Florestal ou a partilha, pelos estados, de possíveis benefíciosa serem futuramente auferidos pela exploração do pré-sal.

A harmonização de interesses econômicos, sociais, ambientais e regionais - incluindo a inserção so-berana do Brasil no concerto das nações - exigirá a presença do Estado brasileiro estabelecendo po-líticas públicas e buscando exercer seu papel de articulação, negociação e arbitragem. Em outraspalavras, significa dizer que se faz necessário e urgente encontrar um “denominador comum” que via-

bilize o nosso desenvolvimento, não só a curto prazo e a qualquer custo, mas que o desenvolvimentotambém possa perenizar-se a médio e longo prazos, em bases sólidas e sustentáveis.

Na sociedade do conhecimento que vivemos não sobram alternativas no caminho do progresso e dodesenvolvimento sustentável que não seja a trilha das decisões baseadas em conhecimento, ciên-cia, tecnologia e inovação. E nada disso se consegue sem educação. O que nos imputa o desafio decaminhar apressadamente para nos transformarmos, nas próximas duas décadas, em uma potênciaglobal em Educação e Ciência, Tecnologia & Inovação (C, T& I). Portanto, vencer esse desafio passa aser condição sine qua non para superarmos os cinco desafios de potência global: econômico, agríco-la, ambiental, de produção de energia renovável e de produção petrolífera.

A inovação é essencialmente de natureza endógena quando se pretende utilizá-la como alavancapara o desenvolvimento de um país. No caso dos países em desenvolvimento, os desafios de

“Sísifo para o século XXI” e do “Vale da Morte” estão situados, expostos e precisam ser superados: asredes de pesquisa e inovação são quase totalmente dependentes do exterior; e a Ciência & Tecnolo-gia estão desvinculadas da inovação e da produção e, portanto, das empresas e do parque industrial.

Embora o Brasil apresente grandes limitações em inovação com dimensão “endógena”, os exemplosfornecidos pela Petrobras, Empresa Brasileira de Compressores S.A. (Embraco), Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade In-dustrial (Inmetro) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) são altamente significativos, conforme apresen-tação durante a IV Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (CRESTANA, 2010a; 2010b;2010c).Ter resolvido o problema brasileiro da autossuficiência do petróleo, que gerou o desenvolvimento

de conhecimento e inovação para a exploração em águas profundas, contribuiuquando se pretendeutilizá-la como alavanca para o desenvolvimento de um país. No caso dos países em desenvolvimen-to, os desafios de “Sísifo para o século XXI” e do “Vale da Morte” estão situados, expostos e precisamser superados: as redes de pesquisa e inovação são quase totalmente dependentes do exterior; e aCiência & Tecnologia estão desvinculadas da inovação e da produção e, portanto, das empresas e doparque industrial.

Embora o Brasil apresente grandes limitações em inovação com dimensão “endógena”, os exemplosfornecidos pela Petrobras, Empresa Brasileira de Compressores S.A. (Embraco), Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade In-dustrial (Inmetro) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) são altamente significativos, conforme apresen-tação durante a IV Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (CRESTANA, 2010a; 2010b;

2010c).

inovação endógenae desenvolvimento

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2020

N O T Í C I A SARTIGOCRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 16-3620

Ter resolvido o problema brasileiro da autossuficiência do petróleo, que gerou o desenvolvimento deconhecimento e inovação para a exploração em águas profundas, contribuiu significativamente paranossa segurança energética e, consequentemente, para a economia de valiosas divisas com importa-ção. E, com o pré-sal, potencialmente seremos grandes exportadores de petróleo, trazendo divisas ao

invés de despender nossas reservas ou contrair empréstimos para poder importar.

Também foram criadas políticas e executadas ações com vistas a resolver o problema da produção dealimentos e da carestia nacional, a fim de garantir nossa segurança alimentar. Uma nova agriculturafoi criada, a dos trópicos, a partir do conhecimento dos biomas. A transformação do Cerrado em celei-ro agrícola, a criação de novas raças, cultivares, máquinas e implementos, biocombustíveis e sistemasde produção são exemplos concretos de inovação endógena.

De importador passamos a exportador, não só assegurando nossa segurança alimentar, mas dupla-mente contribuindo com a balança comercial - principal responsável pelo nosso superávit da balançade pagamentos. Sem contar que a produção de energia limpa e renovável, como a do etanol, temimplicações positivas sob o ponto de vista ambiental e contribui significativamente para nossa autos-

sufi

ciência em petróleo.

A liderança internacional da Embraco em compressores, da Fiocruz em vacinas e doenças negligen-ciadas, assim como do Inmetro em metrologia contribuem quando se pretende utilizá-la como ala-vanca para o desenvolvimento de um país. No caso dos países em desenvolvimento, os desafios de“Sísifo para o século XXI” e do “Vale da Morte” estão situados, expostos e precisam ser superados: asredes de pesquisa e inovação são quase totalmente dependentes do exterior; e a Ciência & Tecnolo-gia estão desvinculadas da inovação e da produção e, portanto, das empresas e do parque industrial.

Embora o Brasil apresente grandes limitações em inovação com dimensão “endógena”, os exemplosfornecidos pela Petrobras, Empresa Brasileira de Compressores S.A. (Embraco), Empresa Brasileira dePesquisa Agropecuária (Embrapa), Instituto Nacional de Metrologia, Normalização e Qualidade In-dustrial (Inmetro) e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) são altamente significativos, conforme apresen-

tação durante a IV Conferência Nacional da Ciência, Tecnologia e Inovação (CRESTANA, 2010a; 2010b;2010c).

Ter resolvido o problema brasileiro da autossuficiência do petróleo, que gerou o desenvolvimento deconhecimento e inovação para a exploração em águas profundas, contribuiu significativamente paranossa segurança energética e, consequentemente, para a economia de valiosas divisas com importa-ção. E, com o pré-sal, potencialmente seremos grandes exportadores de petróleo, trazendo divisas aoinvés de despender nossas reservas ou contrair empréstimos para poder importar.Também foram criadas políticas e executadas ações com vistas a resolver o problema da produção dealimentos e da carestia nacional, a fim de garantir nossa segurança alimentar. Uma nova agriculturafoi criada, a dos trópicos, a partir do conhecimento dos biomas. A transformação do Cerrado em celei-ro agrícola, a criação de novas raças, cultivares, máquinas e implementos, biocombustíveis e sistemas

de produção são exemplos concretos de inovação endógena.

De importador passamos a exportador, não só assegurando nossa segurança alimentar, mas dupla-mente contribuindo com a balança comercial - principal responsável pelo nosso superávit da balançade pagamentos. Sem contar que a produção de energia limpa e renovável, como a do etanol, temimplicações positivas sob o ponto de vista ambiental e contribui significativamente para nossa autos-suficiência em petróleo.

A liderança internacional da Embraco em compressores, da Fiocruz em vacinas e doenças negligen-ciadas, assim como do Inmetro em metrologia contribuem valiosas divisas com importação. E, como pré-sal, potencialmente seremos grandes exportadores de petróleo, trazendo divisas ao invés dedespender nossas reservas ou contrair empréstimos para poder importar.

Também foram criadas políticas e executadas ações com vistas a resolver o problema da produção dealimentos e da carestia nacional, a fim de garantir nossa segurança alimentar. Uma nova agricultura

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A trilha da quinta potência...

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foi criada, a dos trópicos, a partir do conhecimento dos biomas. A transformação do Cerrado em celei-ro agrícola, a criação de novas raças, cultivares, máquinas e implementos, biocombustíveis e sistemasde produção são exemplos concretos de inovação endógena.

De importador passamos a exportador, não só assegurando nossa segurança alimentar, mas dupla-mente contribuindo com a balança comercial - principal responsável pelo nosso superávit da balançade pagamentos. Sem contar que a produção de energia limpa e renovável, como a do etanol, temimplicações positivas sob o ponto de vista ambiental e contribui significativamente para nossa autos-suficiência em petróleo.

A liderança internacional da Embraco em compressores, da Fiocruz em vacinas e doenças negligen-ciadas, assim como do Inmetro em metrologia contribuem para complementar nossa experiência emlidar com a inovação em terras brasileiras e em avaliar nossa competitividade e antever o desafio doquanto ainda teremos que fazer como País, vislumbrando nossos pontos fortes e fracos.

Constata-se, portanto, que inovar é preciso e que inovação se faz com a indústria, com o setor produ-

tivo. Recomenda-se criar a cultura desejável e necessária da inovação, além da Ciência & Tecnologia,ênfase que rendeu sucesso recente e reposicionou o Brasil no plano nacional e internacional, com a13ª posição no ranking dos países que mais publicam.

É com a mesma motivação, sem abandonar o que está dando certo, que se espera que o País enfrenteos desafios, desta vez, concatenado para vencer o gap da inovação. E o parâmetro de observaçãopara tais fatos deve ser não só o esforço que estamos fazendo, mas, principalmente, o esforço que osoutros países, nossos competidores, estão fazendo e os resultados que estão obtendo. Uma provi-dência, decorrente dessa constatação, seria criar um “observatório da inovação” para comparar – coma constância devida – nossa situação em relação aos demais países, tendo-se por base o quanto com-petitivos somos na arena internacional.

Desde 2004, o Brasil criou, no âmbito da inovação, importantes marcos regulatórios, bemcomo programas, e tomou outras iniciativas, entre as quais podemos selecionar:

1. Leis da inovação, informática, biossegurança, “lei do bem”1.

2. Regulamentação do Fundo Nacional de Desenvolvimento Cientí fico e Tecnológico (FNDCT ), novoInstituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), projeto pró-empresa (Microempresas), criação daAgência Brasileira de Desenvolvimento Industrial no Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Co-mércio Exterior (MDIC).

3. Isenção fiscal para financiamento de pesquisas em Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs).

4. Subvenções à Inovação nas empresas (Ministério da Ciência e Tecnologia).5. Programa de Aceleração do Crescimento – PAC (MCT, 2007 – 2010).

No entanto, as parcerias público-privadas em inovação não aconteceram com a intensidade e rit-mo que se esperava. Podemos citar como exemplo as Empresas de Propósito Especí fico que nãoforam criadas. Novos arranjos nacionais e internacionais, em áreas estratégicas do desenvolvimentonacional, envolvendo Institutos de Ciência e Tecnologia (ICTs) e empresas privadas também não sematerializaram.

ação e legislação

1 A Lei n.º 11.196, de 21 de novembro de 2005, conhecida como Lei do Bem, em seu Capítulo III, artigos 17 a 26, eregulamentada pelo Decreto nº 5.798, de 7 de junho de 2006, que consolidou os incentivosfiscais que as pessoas

 jurídicas podem usufruir de forma automática desde que realizem pesquisa tecnológica e desenvolvimento deinovação tecnológica. Esse Capítulo foi editado por determinação da Lei n.º 10.973/2004 – Lei da Inovação, for-talecendo o novo marco legal para apoio ao desenvolvimento tecnológico e inovação nas empresas brasileiras.

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inovação e políticaindustrial

inovaçãoinstitucional: umanecessidade

dupla dimensão

A Embraco é um ótimo exemplo de inovação no setor privado com atuação internacional. No en-tanto, a Embraco não é mais uma empresa nacional de dimensão internacional (foi adquirida

pela Whirpool), embora mantenha sua sede e parte de sua estrutura de desenvolvimento e inovaçãono Brasil. Por razões de competitividade ou por decisões gerenciais de interesse da matriz, poderádecidir deixar o país.

Como fica nossa política industrial e de inovação? Há mecanismos (ou deve haver mecanismos) deproteção às grandes empresas nacionais ou estas ficam completamente à mercê dos interesses eflutuações do mercado global? Como diminuir o risco? Como ficam as Embracos do futuro? Quais osmecanismos para manter o P, D & I das empresas multinacionais brasileiras aqui e, com isso, alavancá--las em sua competitividade?

Os modelos de Cingapura, Israel e Irlanda, entre outros, poderiam servir de referência? Sabe-se queuma das estratégias de mercado empregada pelas empresas é o take over, ou seja, as empresas acu-mulam inovação via compra de outra empresa inovadora. Recentemente, o país se defrontou com acompra das empresas de inovação Canaviallis e Allelyx, do grupo Votorantim, pela Monsanto. Apa-rentemente, somente o mercado “deu as cartas”. Resta questionar se o Estado brasileiro deveria ter

exercido algum papel e aproveitado o interesse comercial para algum tipo de negociação.

OInmetro e a Embrapa são ótimos exemplos de inovação, pesquisa e prestação de serviços, maslimitados às restrições da legislação pública. Atuam em setores dinâmicos, inovadores e estraté-

gicos para o país e o mundo. Os negócios são vultosos, de bilhões de dólares. A Fiocruz, assim comoalguns outros bons exemplos, poderia ser incluída no mesmo rol.

É evidente a necessidade de inovação institucional a ser construída pelo Estado brasileiro e que re-dunde em estruturas mais ágeis e flexíveis, jurídica e comercialmente, voltadas para parcerias públi-co-privadas em inovação e gestão de negócios.

Melhor regulamentação/desregulamentação da Lei de Inovação e outros marcos legais, é um cami-nho. E assim também, consequentemente, maior inserção das ICTs e outros arranjos institucionaispúblicos no setor produtivo, visando a parcerias estratégicas, nacionais e internacionais, de grandeimpacto comercial.

Aproveitando oportunidades junto aos países desenvolvidos, mas também daqueles em desenvolvi-mento, em especial, dos BRICs – Brasil, Rússia, Índia e China - e outros países da América Latina, Áfricae Ásia. Uma das metas seria gerar empresas spin-off s2 e, possivelmente, start-ups3, implementandoparcerias no desenvolvimento e/ou como beneficiárias de processos de transferência de tecnologia,inovação e conhecimento.

Há necessidade de se levar em conta e avaliar os impactos contraditórios, considerando-se que, na

era do conhecimento, a ciência e a inovação estão no coração do desenvolvimento:

1. A distribuição de recursos para a produção de conhecimentos é desigual, assimétrica, concentran-do ainda mais as diferenças no mundo.

2 Um spin-off  (ou cisão) é uma nova organização, entidade ou empresa formada pela separação de parte dosativos de uma empresa maior. Os spin-off s ocorrem quando divisões ou subsidiárias de uma empresa se tornamnegócios independentes. A companhia cindida leva consigo ativos, propriedade intelectual, tecnologia e produ-tos pré-existentes da sua casa mãe.

3 Start-up pode ser entendido, de maneira simples, como sinônimo de iniciar uma empresa e colocá-la em fun-cionamento.

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4 Em um mundo com informações distribuídas, as empresas não utilizam somente aquilo que produzem “interna-mente”, fruto de suas pesquisas, mas além disso compram ou licenciam processos de inovação, como patentes,

de outras empresas. Além disso, as invenções internas que não forem usadas pelos negócios das empresas de-vem ser licenciadas para fora, de forma que outras empresas tenham a oportunidades de utilizá-las.

2. Na relação das ICTs com as grandes empresas, o conhecimento é considerado um ativo legalmentemonopolizável.

3. As dimensões do conhecimento sensível, que serve para uso civil e militar, subordinado à políticade transferência de tecnologia, e que limita e separa o acesso dos países ao conhecimento.

Dessa forma, é preciso considerar o acesso ao conhecimento e à inovação. Aparentemente, há umalinha delimitando os dois. Como fica a liberdade de acesso sob uma economia do conhecimentoem que o mesmo seja ativo de competição entre empresas e nações? Em que o desenvolvimentotecnológico traduz-se em necessidade econômica? Ainda, em contraposição à ideia da proteção in-telectual, deve-se atentar ao conceito e à prática de open innovation4, que muitas empresas adotampara que se mantenham competitivas. Cooperação e competição muitas vezes convivem no mundoempresarial. Parcerias estratégicas que resultam em novos arranjos institucionais já são praticadas.

Outro aspecto essencial é o da necessidade de se considerar a dupla dimensionalidade do conhe-cimento, ou seja, suas dimensões explícita e tácita, uma vez que nas corporações e nos negócioso conhecimento, ativo principal das empresas, é expresso como elemento tácito, estratégico e nãorevelado (por exemplo, segredo industrial), nem sempre expresso na forma codificada (explícita).

 A recente crise financeira mundial levou a uma diminuição do dinamismo econômico que dependede inovação. Esse fato pode se constituir em uma vantagem para os países mais atrasados no sentidode queimarem etapas, redesenhando a geografia, com multipolarização na produção de riqueza, ge-rando nova distribuição de participação no Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Um dos indicadoresé de que a China deverá superar os EUA na produção de artigos, por volta de 2015, a continuar a atualtendência. Já é a segunda maior economia (recentemente superou o Japão) e há previsões idôneasde que poderá ultrapassar os EUA, por volta de 2025, tornando-se a maior economia mundial.

Quanto à política externa, cabem duas observações: ela será cada vez mais importante na agenda dopaís e faz parte da tradição brasileira praticar forte cooperação externa com os EUA e outros paísesdesenvolvidos, principalmente do Velho Mundo. No entanto, ao mesmo tempo que ela precisa ser

continuada, essa política precisa também ser ampliada e disseminada para outros parceiros estraté-gicos, a exemplo dos emergentes e dos países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), na novageografia da ciência e inovação global.

Por último, convém lembrar que a inovação, como parte da atividade humana, serve a distintos inte-resses e fins, conforme quem a financia e a desenvolve. Do ponto de vista empresarial, uma empresabusca inovação para aumentar sua competitividade no mercado e com isso aumentar sua vantagemcompetitiva em relação à concorrência. E aqui, claramente, o objetivo constitui-se em transformarconhecimento em dinheiro e riqueza ou, de outro modo, radicalizando o limite, nem sempre explí-cito, conseguir tirar o concorrente do mercado. E, na pior das hipóteses, o objetivo é posicionar-seestrategicamente para permanecer no mercado.

O Estado busca a inovação para estrategicamente melhorar sua posição externa, junto a outros pa-íses ou para melhorar o ambiente interno através de políticas públicas que contribuam para o de-senvolvimento e o bem-estar e, ainda, para estabelecer a “cultura da inovação”. No caso da Ciência eTecnologia, a inovação contribui para gerar mais Pesquisa & Desenvolvimento (P & D) nas instituiçõespúblicas e privadas, ou seja, transformar dinheiro em conhecimento. E, assim, completar o círculovirtuoso da produção de conhecimento e sua apropriação pela empresa e sociedade gerando maisinovação, riqueza e bem-estar.

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energia social emprol da C, T & I Nos dias de hoje, as decisões locais podem gerar impactos globais. Em escala global e local, é pre-

ciso lidar com a incerteza do crescimento da população e a pressão pelo alimento, energia esituação financeira, assim como com a pobreza, com as desigualdades e com a emergência de crises.Na sociedade do conhecimento, da informatização e da comunicação cibernética e em tempos deglobalização, a capacidade de decisão política, praticamente em tempo real, é cada vez mais impor-

tante. E, cada vez mais, é necessária a participação de todos. Participação protagonizada pelo Estado,conjunta e simultaneamente com e pela sociedade civil.

Cada vez mais, espera-se que o conhecimento contribua para tornar as sociedades mais sábias. De-ve-se usar o poder da ciência nas políticas transversais e estruturais para dar poder à sociedade. Épreciso ter a visão e construir o modelo para mobilizar a energia social da sociedade. Para efeito deexemplificação, vale lembrar que decisões sobre formação de recursos humanos são cruciais parauma dada comunidade.

O acelerado progresso brasileiro no campo da Ciência e Tecnologia (C & T), baseado no ensino su-perior, na pós-graduação e nas políticas de estímulo que redundaram em aumento do número depublicações, é um caso que precisa ser mais bem compreendido e explorado.

As mudanças nos processos de decisão implicam que:

1. A interface de Ciência e Política precisa ser reforçada, melhorando a articulação entre C, T & I e oprocesso de desenvolvimento, o nível de competência em C, T & I para decisões de governança, assimcomo a comunicação entre cientistas e tomadores de decisão.

2. A interface de ciência, políticas públicas e sociedade deve considerar as preocupações éticas, a na-tureza pública do debate cientí fico, a demanda do ente público por maior participação no processode decisão de C, T & I, a emergência de cidadania global associada a assuntos “transfronteiriços”, comomudanças climáticas e ambiente, dentre outros.

Nessa nova visão, a C & T deve mobilizar, pela inovação, a energia social necessária para o desenvol-

vimento sustentável das sociedades. Assim, a C, T & I devem ser utilizadas para estabelecer políticas eprioridades, principalmente porque os interesses nacionais e internacionais nem sempre são concili-áveis, assim como ocorre com os investimentos públicos e privados. Os desafios são múltiplos:

mobilizar a ciência para a construção de políticas públicas e vice-versa;

responder às novas demandas ambientais e das sociedades, que exigem integração nacional esupranacional;

entender e realizar a gestão da complexidade, integrando no processo de decisão o pensamentosobre o futuro, o pensamento sistêmico e não linear;

aumentar a coordenação entre políticas inovadoras e setoriais em resposta aos complexos desa-fios gerados pelas mudanças socioeconômicas globais;

encontrar um balanço apropriado entre o financiamento público e privado em P & D;

conviver com a carência de recursos humanos em ciência, ampliar a participação das mulheres eminorias na ciência;

estabelecer melhores conexões entre sistemas de conhecimento tradicionais e cientí ficos;

garantir o fluxo livre e a troca de informação cientí fica, inclusive aquela relacionada ao conheci-mento tradicional;

envolver um grande número de parceiros, criando um processo participativo com todos os múlti-plos atores (stake-holders5) para tomada de decisões em Ciência.

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No plano internacional, o desafio é colaborar para construir uma visão comum, como, por exemplo,de bens públicos, com uma abordagem de Ciência não só para o Brasil. E, finalmente, considerarinvestimentos a longo prazo e levar em conta as diferenças entre redes e projetos de excelência eemergência.

Esta segunda parte traz as principais conclusões e propostas apresentadas pela Associação Brasilei-ra de Agribusiness (ABAG) e Conselho Superior do Agronegócio da FIESP (PROPOSTAS..., 2010) aos

candidatos à Presidência da República, em 2010, assim como alguns desafios que enfrenta a agricul-tura familiar.A agricultura é aqui vista como parte da atividade humana responsável pela produção de alimen-tos, fibras e bioenergia. No caso brasileiro, além de suprir a demanda interna, garantindo segurançaalimentar, a agricultura familiar tem crescente papel relevante em garantir a segurança energética,principalmente através de fontes limpas e renováveis, a exemplo do etanol e biodiesel.

O Brasil também se destaca hoje, no cenário mundial, como celeiro da produção agrícola, já atingindoa marca de terceiro maior exportador, atrás somente dos EUA e da União Europeia. Para o Brasil, uma

das consequências mais relevantes em ser exportador é a geração de divisas e de empregos, como osetor que lidera a contribuição para o saldo positivo de nossa balança comercial.

Faz-se relevante destacar, hoje reconhecida mundialmente, a geração da segunda colheita mundial,obtida a partir de ecossistemas tropicais, que temos denominado de agricultura dos trópicos ou sim-

plesmente agricultura tropical.

principaismacrodesafiosda agriculturabrasileira

Foto: Marcelo Mikio Hanashiro

Figura 1

A agricultura tropical projetou o Brasil no cenáriomundial

Foto: Marcelo Mikio Hanashir

Em 2010, a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG) e o Conselho Superior do Agrone-gócio da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) elaboraram uma propostade agenda para o Governo Federal, ainda durante a campanha eleitoral para a Presidênciada República. A proposta para a agricultura está alicerçada em seis pilares:

1. Garantia de renda para o agricultor.2. Infraestrutura e logística.3. Comércio exterior.4. Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação.5. Defesa Agropecuária.6. Institucionalidade do poder público.

O investimento nessas áreas é fundamental para o Brasil continuar com sua posição de des-taque e ainda almejar crescimento no cenário internacional, especialmente após os recentesrelatórios com projeções de cenários quanto à demanda mundial por alimentos, organiza-

dos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), Organi-zação das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) e governo britânico. Eles

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Foto: Valentim Monzane

A Fossa Séptica Biodigestora, desenvolvida pela Embrapa Ins-trumentação, é importante aliada na preservação ambiental ede fácil acesso para agricultores familiares

Figura 2

Temos que encarar ainda o combate à inflação e à pobreza - meta da presidente Dilma Rous-seff  -, pois existe dependência de preço das principais commodities agrícolas e tendênciade alta nos mercados mundiais. Faz-se necessário salientar ainda o fato de o Brasil ter setornado o maior usuário mundial (em valores) de pesticidas, contrastando com o duplo fatode deter a maior biodiversidade tropical e as maiores reservas hídricas de superfície (águalíquida) do planeta.

Não podemos deixar de enfatizar a importância do segmento de agricultores familiares, querepresenta 10% do PIB e cerca de 76% da mão de obra no meio rural brasileiro, segundodados do último Censo Agropecuário do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).A agricultura familiar e o Bolsa Família são pilares do programa de erradicação da miséria.

O próximo desafio é garantir o acesso de dois milhões de agricultores familiares ao Progra-ma Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), desenvolvido pelo Ministé-rio do Desenvolvimento Agrário (MDA). Políticas de apoio à produção e à comercializaçãoprodutiva da agricultura familiar são essenciais para impulsionar o desenvolvimento social eeconômico dos trabalhadores do campo e dos municípios onde vivem.

Nesta terceira parte, pela sua atualidade, apresentamos algumas reflexões e previsõesmostradas durante o I SIAGRO (Simpósio de Instrumentação Agropecuária), realizado

em 1996 (SIMPÓSIO NACIONAL..., 1997 e CRESTANA, 1997) e um conjunto de demandasprospectadas pela Embrapa Instrumentação, durante o processo de elaboração de seu IVPlano Diretor ocorrido em 2008. Destacam-se também as prospecções realizadas pelo pro-

 jeto Rede de Inovação e Prospecção Tecnológica para o Agronegócio (RIPA) - trabalho de-senvolvido nas cinco regiões brasileiras sob a coordenação da Embrapa Instrumentação edo Instituto de Estudos Avançados da USP/ Campus São Carlos - como subsídio ao V PlanoDiretor da Embrapa (RIPA, 2010).

O já mencionado esforço para aumentar a produção de alimentos é necessário para que o

nstrumentaçãogropecuária

destacam o Brasil como o principal país para suprir a referida demanda dos próximos 10anos, que deverá crescer 20 %, principalmente, para atender ao crescimento da população eda renda per capita nos países emergentes. A ampliação da oferta deverá vir de várias regi-ões. A União Europeia contribuirá com crescimento de 4 %; a Austrália, com 7 %, os EstadosUnidos e Canadá, com no máximo de 15 %; a Rússia, a China, a Índia e a Ucrânia, com algoem torno de 27 %. A maior parte da contribuição deverá vir do Brasil, com 40 % do aumentona produção.

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Brasil possa atender não somente ao País, mas ao mundo no qual há, atualmente, segundodados da FAO, quase um bilhão de pessoas (um sétimo da população mundial) subnutridas.Nesse cenário, a ciência, em especial a pesquisa agropecuária, pode contribuir para obterrespostas mais justas sob os pontos de vista social, econômico e ambiental.

A aplicação da Instrumentação pode auxiliar a incrementação da produtividade, da quali-dade e da eficiência na conservação dos alimentos, ao mesmo tempo em que busca a con-servação e preservação dos recursos naturais. Esta é uma área na qual a Embrapa tem sedebruçado desde a primeira metade da década de 80 do século anterior e hoje já apresentaresultados e contribuições de extrema importância para a agricultura e o manejo de ecos-sistemas tropicais.

É o caso do avanço da fronteira do conhecimento em áreas como a automação e contro-le, robótica, nanotecnologia, agricultura de precisão, pós-colheita, agroenergia, ciência dosolo, meio ambiente e mudanças climáticas. Incluem-se, ainda, a construção de equipamen-tos e sensores, além da elaboração e aplicação de métodos, modelos e sistemas avançados.

Vale ressaltar que a Embrapa Instrumentação tem atuado em diversas frentes e projetos nosgrandes desafios nacionais, além de liderar redes nacionais de pesquisa em Nanotecnologiae Agricultura de Precisão, bem como uma rede na área de Caracterização, Aproveitamentoe Geração de Novos Produtos de Resíduos Agrícolas, Agroindustriais e Urbanos na área deresíduos.

Conforme representado na Figura 3, se lembrarmos do início, desde a idade das cavernas, daidade da pedra e da madeira, o homem se distinguiu rapidamente dos demais habitantes daterra pelo fato de aprender a usar um pedaço de madeira ou de pedra para se defender oupara colher um fruto em uma árvore mais elevada sem precisar subir nela.

Esse é um primeiro exemplo de instrumentação, quer dizer, é o homem apoderando-se de

um pedaço de madeira ou algo semelhante para construir um equipamento e assim melho-rar sua performance. Outro grande período de avanço ocorreu com o aparecimento do ferroe dos metais, quando o homem começou a fazer instrumentos, ferramentas e implementosmais rígidos, com maior durabilidade e agregando uma série de características próprias des-ses metais.

Outro grande avanço veio com o uso da tração animal, ocasião em que se começou a utilizaranimais domesticados para fazer a diferença, além da própria força física individual ou deum grupo de homens. Em outras palavras, a força mecânica produzida pelos animais soma-da ao uso de mais eficientes implementos auxiliando a produção agrícola.

lustração: V alentim Monzane

Figura 3

Representação esquemática de dois cenários

possíveis para as próximas décadas

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Foto: Marcelo Mikio Ha

A partir de então, inicia-se a fase da revolução industrial. Neste período, há uma grandevariação no progresso dos acontecimentos, o que levou, inclusive, à chamada RevoluçãoVerde. Neste período, a característica mais notável na agricultura foi o uso intensivo de má-quinas e de implementos agrícolas, baseados agora no motor, também na química, bastaver os insumos, os corretivos, fertilizantes e defensivos e o melhoramento genético, com o

aparecimento de novas variedades, novos processos de cultivo e assim por diante. A revolu-ção verde contrariou as previsões catastróficas geradas pela teoria Malthusiana, cenário esseem que o homem sofreria grave e prolongada escassez de alimentos, fruto do descompassoentre crescimento populacional e produção de alimentos.

Esta é uma grande evidência do papel e da capacidade da C, T & I para produzir em largaescala e mudar paradigmas. Na verdade, o que ocorreu foi o inverso disto, quando o mundofoi capaz de gerar abundância de alimentos, pelo menos em alguns países. Sem dúvida,permanece o grande problema de distribuição de alimentos, pois nem todos os habitantestêm acesso a eles, mas, do ponto de vista da produção total, é possível adequadamente ali-mentar toda a humanidade. Cabe lembrar aqui o papel cada vez mais importante dos países

tropicais, liderados pelo Brasil, que contribuem anualmente com uma nova safra agrícola,tornando-se, na última década, o fiel da balança quanto ao suprimento dos estoques mun-diais. Uma verdadeira revolução silenciosa baseada em C, T & I e em manejo de ecossistemastropicais.

Nestas últimas décadas, tem havido um grande questionamento, principalmente nos paísesdesenvolvidos, quanto à questão da Revolução Verde. É possível produzir, mas em que con-dições? Degradando o ambiente, inviabilizando a agricultura do futuro ou os recursos daságuas, solos e florestas? É preciso levar em conta não só a produtividade - a produção porárea -, mas também o ambiente em que ela acontece, avaliando também a conservação ea preservação, visando alcançar a segurança ambiental. Nesta dimensão espaço-territorialé fundamental considerar o próprio homem, acrescentando, portanto, a dimensão social e

cultural característica das relações humanas.

Desde o fim do século XX, têm surgido várias alternativas ou possibilidades que reforçam emodificam os conceitos da agricultura intensiva. As chamadas tecnologias biológicas avan-çadas, ou biotecnologia, são um exemplo. A junção do conhecimento do melhoramentogenético com o da biotecnologia é um elemento chave para que se efetue um grande saltona agricultura.

A Agricultura de Precisão é um termo que se criou para tratar não só da questão da pro-dutividade, mas também da consideração sobre as variáveis ambientais. A revolução quea agricultura precisa fazer hoje, para substituir a revolução verde, constitui-se em produzir

sem, concomitantemente, degradar o ambiente - uma espécie de “Revolução Agro-sócio--ambiental”.

Foto: Tati Zanichelli

A Agricultura de precisão pode contribuir para a “RevoluçãoAgro-sócio-ambiental”

Figura 4

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Foto: Marcelo Mikio Hanashiro

Cabe destacar também que o progresso obtido nos dois últimos séculos baseou-se na “mo-nodisciplinariedade”. A química, agindo sozinha, a biologia, a genética, a engenharia dasmáquinas e dos equipamentos, nada disso integrado. O ingrediente básico da revoluçãoagro-sócio-ambiental é o trabalho interdisciplinar. Nos dias de hoje, qual o potencial quea C, T & I têm para criar impactos no futuro próximo e mudar paradigmas? Por exemplo,

conciliar produtividade e conservação ambiental? Ou, de outro modo, viabilizar sistemasde produção agrícola sustentáveis, o que na representação apresentada em 1996, no I Sim-pósio Nacional de Instrumentação Agropecuária (SIAGRO), chamamos de “revolução agro-ambiental” em substituição à Revolução Verde. A resposta encontra-se no entendimento doconceito de tecnologias convergentes.

A figura 5 a seguir ilustra, esquematicamente, os quatro elementos básicos que constituema “fonte” para geração das chamadas tecnologias convergentes, ou seja, os bits, os genes, osátomos e moléculas e os neurônios. Pela primeira vez, na história da humanidade, o homemé capaz de manipular, simultaneamente, átomos, moléculas, genes, bits e neurônios atravésdas tecnologias advindas da informação, das ciências cognitivas, da biotecnologia e da na-

notecnologia. Em outras palavras, manipular a matéria e a vida, por exemplo, gerando novosmateriais, plantas, animais e, por conseguinte, novos sistemas de produção.

Representação esquemática mostrando a convergênciatecnológica a partir da exploração simultânea de átomos,neurônios, genes e bits

Figura 5

A rigor, tais ciências e tecnologias podem interagir, comunicando-se, convergindo-se e pro-duzindo sinergias potencialmente inéditas em toda a história da C, T & I. Possuem, em seuâmago, a capacidade revolucionária de mudar paradigmas, que podem vir a alterar a relaçãohomem-homem e a sua relação com a natureza. O que deve nos remeter à gestão de siste-mas complexos, em que as tomadas de decisão exigem a integração de abordagens sistê-micas e não lineares, incluindo, além de quesitos tecnológicos, questões de ética, de direito,

de bem-estar coletivo e individual. É preciso ousadia para enfrentar os grandes desafios dostempos atuais, em que a interconectividade de escalas varia do local para o global, do indi-víduo para a sociedade e vice-versa, em velocidades imprimidas pela comunicação sideral,

 jamais vistas pela civilização humana. Por exemplo, na área da administração pública, asorganizações não estão preparadas para atender às demandas e expectativas consequen-tes, principalmente sob a luz da democracia e dos diagnósticos de emergência crescente decrises (BOURGON, 2010).

No século passado, reforçar os governos para exercerem sua autoridade e buscar resultadosde políticas públicas através de avaliação de desempenho e conformidade foi uma grandeconquista. Os bons resultados se baseiam, essencialmente, na previsibilidade dos proble-

mas, na implementação de tarefas recorrentes sob o comando vertical de tais governos.

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Foto: Valentim Monzane

A sustentabilidade caracteriza o Biodigestor em Cabrá-lia Paulista (SP) 

Figura 6

Foto: Valentim Monzane

Sede da Embrapa Instrumentação (à esquerda) e Labo-ratório Nacional de Nanotecnologia Aplicada ao Agrone-

gócio (à direita), uma das áreas portadoras de futuro queestão na agenda do Centro de Pesquisa, em São Carlos (SP)

Figura 7

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Aumentar a produtividade com sustentabilidade requer a utilização e o domínio de técnicas, meto-dologias e instrumentos que, em boa parte das vezes, não existem adaptados à realidade tropical.Para isso, a Embrapa Instrumentação – localizada em São Carlos (SP) – trabalha na prospecção dedemandas que apontem caminhos para minimizar o uso de insumos agrícolas, minimizar passivosambientais e transformá-los em matéria-prima, além de contribuir para o desenvolvimento de sis-

temas de produção sustentáveis (CRESTANA et al., 1996; SIMPÓSIO NACIONAL..., 1997; CRUVINEL eCOLNAGO, 2000; CRUVINEL e MASCARENHAS, 2002; MARTIN NETO et al., 2007; CARDOSO e ASSIS,2006; VAZ et al., 2008).

A agenda de pesquisa hoje é complexa e aponta para áreas consideradas “portadoras de futuro”, taiscomo:

Sensores e metodologias para monitoramento que avaliem características físicas, químicas e bio-lógicas referentes à qualidade do ambiente, de processos agroindustriais e das cadeias do negócioagrícola.

Agricultura de Precisão, com ênfase no desenvolvimento de instrumentos, sensores de leitura ime-

diata, técnicas de sensoriamento remoto, imagens aéreas, previsão de safra, técnica de reconheci-mento de zonas de manejo.

Foto: Arquivo Embrapa

Segunda geração de robô agrícola para coletar dados nocampo

Figura 6

Técnicas não invasivas aplicadas à agricultura e monitoramento ambiental, como por exemplo, astécnicas espectroscópicas e de imagens, associadas aos métodos estatísticos e computacionais deanálise.

Foto: João de Mendonça Naime

Da Medicina para a Agricultura, tomografia traz no-vas ferramentas para a avaliação de árvores e do solo

Figura 9

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N O T Í C I A SARTIGOCRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

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Aplicação de nanotecnologia e produção de nanomateriais de interesse agrícola.

Foto: Tati Zanechelli

A Nanotecnologia agrega valor para produtos de inte-resse agrícola

Figura 10

Máquinas, equipamentos e instrumentos que melhorem os processos na cadeia agrícola e o po-

tencial de trabalho humano.

Foto: Manoela Campos

Laser aumenta eficiência no diagnóstico de doençasda citricultura

Figura 11

Demanda de sensores nas embalagens para indicação da qualidade e no auxílio à rastreabilidade.

Demanda internacional pelo desenvolvimento de etanol celulósico, compreendendo equipamen-tos, processos, metodologias de caracterização e desenvolvimento de insumos.

Demanda por produtos agrícolas com propriedades funcionais, como aqueles recobertos com fil-me ou película impregnados com indicadores de contaminação microbiológica.

Nanotecnologia pode prorrogar o tempo de conservação defrutosa

Figura 14

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A trilha da quinta potência...

Foto: Arquivo Embrapa

Demanda por técnicas de avaliação da qualidade do solo - incluindo macro e micronutrientes econtaminantes - mais rápidas e eficientes.

Demanda por técnicas práticas para avaliação de características físicas do solo, como granulome-tria, curva de retenção de água, resistência à penetração e permeabilidade.

Equipamento mede resistência à penetração e permea-bilidade do solo

Figura 15

Desenvolvimento de sistemas portáteis de classificação de frutas e hortaliças para pequenos emédios empreendedores.

Foto: Arquivo Embrapa

Medidas mais precisas facilitam a classificação de frutase hortaliças

Figura 16

Elevada demanda por novas técnicas para avaliação de aspectos relacionados às mudanças climáti-cas globais e de ilhas de calor, emissão de gases de efeito estufa, poluentes e ciclo da água.

o papel das RedesFederal e Estadual naformação de talen-tos com habilidades

tecnológicas

Uma das grandes carências que o Brasil apresenta na área da formação de recursos humanos é ada disponibilidade de cursos em Educação Profissional Técnica de Nível Médio e Educação Su-

perior, com habilitações tecnológicas. É fundamental gerar competências tecnológicas que estejamafinadas com a necessidade das empresas, que considerem especificidades de demandas regionaise que os arranjos institucionais de educação ocupem o espaço intermediário compreendido entre onível médio e o nível superior.

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N O T Í C I A SARTIGOCRESTANA, Silvio; FRAGALLE, Edilson

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Um exemplo, de carência profissional, é o fato de que a inclusão de todos os brasileiros na pré-escola,demandará a contratação de um grande contingente de novos professores, ainda a serem formados.A Petrobras já enfrenta o problema de buscar profissionais-tecnólogos no exterior para atender suaexpansão. Na agricultura, há carência de profissionais de nível médio, devidamente treinados paralidar com a crescente onda de novas máquinas, equipamentos, processos e manejos de sistemasprodutivos cada vez mais dependentes de avanços tecnológicos. Em muitas áreas remotas do Brasil,em pequenas propriedades, na agricultura de subsistência ou mesmo em assentamentos da reformaagrária, há carência de mão de obra qualificada para, principalmente, transferir para a populaçãotecnologias das instituições de pesquisa ou do mercado exercendo o papel fundamental que cabe àextensão rural e à assistência técnica.

A expansão da agroindústria, principalmente sucro-alcooleira, traz também demandas para as quaispraticamente não há oferta de profissionais devidamente aptos e habilitados. Iniciativas como as daindústria, comércio e agricultura, através do SENAI, SENAC, SENAR, SEBRAE, SESI, federações, associa-ções e cooperativas, também estão incluídos nesse rol de protagonistas em prol da educação técnica,com recursos tecnológicos, e dirigida para o mercado.

Iniciativas federais e estaduais, públicas e privadas, têm feito a diferença e terão que fazer bem mais,considerando-se o processo de crescimento econômico que vivenciamos, assim como a necessidadecrescente de mão de obra qualificada e treinada. Um exemplo de iniciativa estadual é o de São Paulo,onde se destacam as ETECs e FATECs, com longa tradição em formação técnica e tecnológica qualifi-cada e dirigida ao mercado.

ETECs são as Escolas Técnicas do Governo de São Paulo, portanto de nível médio. Para cursá-las, épreciso estar, no mínimo, no segundo ano do ensino médio. FATEC é a Faculdade de Tecnologia doGoverno de São Paulo. São unidades de ensino superior tecnológico. Por isso, é preciso ter o ensinomédio completo para as frequentar. Existem, hoje, 157 ETECs espalhadas por 125 municípios paulis-tas. Atualmente, existem 83 cursos técnicos nas ETECs. A FATEC mantém 46 Faculdades de Tecnologia

distribuídas por 44 municípios.

Criada como instrumento de política voltado para as “classes desprovidas”, a hoje chamada Rede Fe-deral de Educação Profissional, Cientí fica e Tecnológica configura-se como importante estrutura paraque os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas cientí ficas e tecnológicas. A rede teve sua ori-gem em 1909, quando o então presidente da República, Nilo Peçanha, criou 19 Escolas de Aprendizese Artí fices que, mais tarde, dariam origem às Escolas Técnicas Federais, Escolas Agrotécnicas Federaise aos Centros Federais de Educação Profissional e Tecnológica (CEFETs).

A partir da década de 80 do século anterior, um novo cenário econômico e produtivo se estabeleceu,com o desenvolvimento e emprego de tecnologias complexas, agregadas à produção e à prestaçãode serviços. As empresas passaram a exigir, desde então, trabalhadores com níveis de educação e

qualificação cada vez mais elevados. Para atender a essa demanda, as instituições federais de edu-cação profissional vêm buscando diversificar programas e cursos para elevar o nível de qualidade daoferta. Cobrindo todo o território nacional, a rede procura qualificar profissionais para os diversossetores da economia brasileira, realizar pesquisa e desenvolver novos processos, produtos e serviçosem colaboração com o setor produtivo.

As escolas da rede ocupam posição de referência educacional e estão integradas com a sociedadenas regiões em que estão localizadas. Dispõem de ampla infraestrutura física, laboratórios, equipa-mentos, bibliotecas, salas de aula e parques desportivos. Atendem os níveis básico, técnico e tec-nológico de educação profissional, o nível médio, o ensino superior e a pós-graduação tecnológica.Destacam-se ainda pela autonomia na pesquisa aplicada e pelo desenvolvimento de parceria com a

comunidade e com o setor produtivo.

Os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia são instituições de educação superior, básica

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A trilha da quinta potência...

e profissional, pluricurriculares e multicampi, especializados na oferta de educação profissional e tec-nológica nas diferentes modalidades de ensino, com base na conjugação de conhecimentos técnicose tecnológicos às suas práticas pedagógicas. Os Institutos Federais compõem a Rede Federal de Edu-cação Profissional e Tecnológica. O projeto foi aprovado pela Câmara dos Deputados, pelo SenadoFederal e sancionado pela Presidência da República em 29 de dezembro de 2008, sendo publicado no

Diário Oficial da União em 30 de dezembro de 2008. Os institutos deverão ter forte inserção na áreade pesquisa e extensão, visando estimular o desenvolvimento de soluções técnicas e tecnológicase buscando estender seus benefícios à comunidade. Cada instituto federal é organizado em estru-tura com vários campi, com proposta orçamentária anual identificada para cada campus e reitoria,equiparando-se com as universidades federais.

As demandas apontadas anteriormente sinalizam, com muita clareza, uma tendência: a sustenta-bilidade. A pesquisa tem papel preponderante neste aspecto, com o desenvolvimento de méto-

dos, processos, sistemas, sensores e equipamentos com vistas à integração dos sistemas de produçãoe que sejam sustentáveis. Já possuímos bons exemplos no Brasil, tais como o Plantio Direto na palhae a Integração Lavoura-Pecuária-Floresta, que da ciência já migrou para as políticas públicas.

A chamada “Economia Verde”, ou a “Economia de Baixo Carbono”, constitui realidade que poderá tra-zer ganhos importantes sob o ponto de vista ambiental, mas também do econômico e social. Umadas expectativas é de que a agricultura que se baseie em boas práticas agrícolas e que contribua paraa conservação e preservação ambiental seja vista como prestadora de serviços ambientais e que osagricultores recebam por isso. O Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento está empenha-do na viabilização do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), cuja contribuição será decisivapara o país cumprir sua meta de redução de emissão de CO2.

E quando buscamos a sustentabilidade na sua essência não podemos deixar de mencionar um dosbens mais importantes da humanidade, que merece toda a atenção não só de cientistas e pesquisa-dores, mas de toda a sociedade. Trata-se do uso com parcimônia da água, abundante no Brasil, masque, no futuro, poderá ser objeto de disputas internacionais, como o petróleo ainda o é, em váriaspartes do mundo, basta ver os recentes conflitos no Oriente Médio e Norte da África. Faz-se necessá-ria uma legislação que proteja os recursos hídricos, além da conscientização dos brasileiros.

A Agricultura Tropical tem ainda muitos desafios, tais como a implementação de boas práticas, in-cluindo a rastreabilidade, a certificação, a acreditação e a avaliação do ciclo de vida do produto, quepoderão gerar opções para um consumo mais consciente e sustentável, além de abrir oportunidadesno Comércio Exterior, que hoje estão fechadas para o Brasil pelo fato de o país nem sempre atenderàs boas práticas agrícolas no padrão que o mercado internacional exige.

Produzir alimentos e fibras com qualidade é um caminho sem retorno, assim como temos uma opor-

tunidade única de trilhar o caminho da produção de energia limpa e renovável. A agroenergia tam-bém veio para conquistar um espaço importante dentro e fora do Brasil. Já somos referência mun-dial na produção de etanol a partir da cana-de-açúcar, mas temos potencial para produzir biodieseloriundo de outras fontes vegetais mamona, dendê, pinhão-manso, dentre outras - que podem ser

cultivadas em diferentes regiões.

A trilha da quinta potência passa pela Educação, Ciência, Tecnologia & Inovação razão de ser daEmbrapa, do Sistema Nacional de Pesquisa Agropecuária (que envolve as organizações estaduais depesquisa agropecuária) e universidades e pelo avanço da fronteira do conhecimento - razão de serda Embrapa Instrumentação. Uma consequência óbvia desta constatação é a oportunidade de seestabelecer maior cooperação entre tais atores e instituições. O desafio exige ousadia, criatividade e

qualifi

cação aliados ao espírito empreendedor para que as próximas gerações tenham a sustentabi-lidade no DNA e ratifiquem, com letras maiúsculas, uma frase do Hino Nacional, escrita quando nemsonhávamos ser referência em Agricultura Tropical: “Gigante pela própria natureza”!

brevesconclusões

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N O T Í C I A SARTIGO

referências

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ESCOLA NACIONAL DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. Especialistas discutem desafios da admi-nistração pública em café com debate. 2010. Disponível em: <http://www.enap.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&id=1185&Itemid=162>. Acesso em: 31 mar. 2011.

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SIMPÓSIO NACIONAL DE INSTRUMENTACÃO AGROPECUÁRIA, 1., 1996, São Carlos. Anais do I SIA-GRO. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1997. 535 p. Editores: Paulo Estevão Cruvinel, Silvio Crestana, LadislauMartin Neto, Luiz Alberto Colnago e Luiz Henrique Capparelli Mattoso.

agradecimentos

aos colegas Valéria Fátima Cardoso, Valentim Monzane e Alessandra Nunes de Siqueira, da EmbrapaInstrumentação, pela colaboração.

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37REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

 

Genealogias da dança: teoria coral e a discussão deestudos sobre a dança na Grécia antiga

O fascínio por retomar modos artísticos históricos tem impulsionado a elaboraçãode estilos e estéticas na dança. Buscando formar uma tradição e, ao mesmo tempo,se inserir no tempo, tais empreendimentos postulam o que podemos chamar de‘genealogias construídas’, ou seja, mediações expressivas entre passado e presen-te. Neste artigo, procuro debater estas genealogias por meio do estudo de recentesreinterpretações da dança grega.

Palavras-chave: dança grega antiga, teoria do coro, recepção

The fascination in resuming historical artistic modes has stimulated the develop-ment of styles and aesthetics in dance. Like trying to form a tradition and, at thesame time, be inserted in time, such procedures postulate what it is called ‘cons-tructed genealogies’: expressive mediations between past and present. In this pa-per, I discuss these genealogies through the study of recent reinterpretations ofGreek dance.

Keywords: ancient greek dance, choral theory, reception

MARCUS MOTA Universidade de Brasília - [email protected]

r esumo

ARTIGO

Genealogies of the dance: theory and discussion of choral studies of dance in ancient Greece

abstract

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N O T Í C I A SARTIGOMOTA, Marcus

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 47-5138

O eterno retorno às fontes produz assincronias e assimetrias históricas que acarretam no-vos modos de se pensar e se fazer arte. O caso da dança, na Grécia antiga, é sintomático

(V. NAEREBOUT, 1997; BUCKLAND, 2006; CARDEN-COYNE, 2009).

Desde o século XIX, a partir da filologia clássica, monumentos figurados da antiguidade (ân-foras, lécitos, crateras, pinturas etc.) foram utilizados como registro de movimentos dança-rinos. Assim, por exemplo, a análise e decomposição de traços de figuras em vasos gregospoderiam nos informar sobre procedimentos coreográficos. Um grupo de pessoas pintadoem um vaso nos habilitaria a reconstituir um conjunto de movimentos: cadafigura apresen-taria um aspecto deste conjunto. É o que se pode observar nas obras de Maurice Emmanuel(EMMANUEL, 1896), Louis Sechan (SECHAN, 1930) e G. Prudhomeau (PRUDHOMEAU, 1965;HECK, 1999).

Outra forma de abordagem consiste em se interrogar documentos escritos: há diversos tex-tos que apresentam referências à dança na antiguidade, desde textos poéticos, que tantose organizam a partir de situações performativas como registram informações visuais sobretais situações, até comentários e discussões em tratadosfilosóficos ou textos literários, comoo fizeram Fritz Weege (WEEGE, 1926), Heiz Schreckenberg (SCHRECKENBERG, 1960) e LillianB. Lawler (LAWLER, 1967 e 1974).

Além desta dicotomia entre texto e imagem, temos a proposta de Dora Stratou (STRATOU,1966) e Alkis Raftis (RAFTIS, 1987, LAZOU, A. & RAFTIS), que correlaciona danças tradicionaisainda vigentes na hélade com danças gregas na antiguidade1.

Esta última alternativa tem tornado cada vez mais evidente a aproximação entre discussãoda dança na antiguidade e sua recepção, ou seja, a cada nova apropriação do que teria sido adança grega, manifesta-se um ato singular, criativo, transformador. A retomada do passado,mesmo motivada pela perspectiva o mais fielmente reprodutora possível, acarreta no planodo presente modificações, reinterpretações. E quanto mais a apropriação de um material

histórico se faz em um contexto performativo, mais e mais estas modificações se tornampatentes. Ao se trasladar para o corpo dos intérpretes e para a interação com a audiência, oesforço de reconstituição transforma-se em uma prática configuradora (KARAYANNI, 2004;ZAFIRI, 2007; SCHERECKEMBERG, 1960). Este paradoxo histórico-expressivo das artes per-formativas coloca-nos diante da interpenetração da arte e da pesquisa, ou do diferencial dotrabalho do artista pesquisador que, em seu processo criativo, vale-se de materiais outrosque os imediatamente disponíveis.

Neste sentido, temos o estreitamento entre pesquisa acadêmica e artística como exem-plo recente na figura de Marie-Hélène Delavaud-Roux. Em conjunto com sua atividade de“Maître de conferences à la faculté Victor-Segalen, Brest”, por meio da qual ela publicou di-versos livros sobre dança na antiguidade (DELAVAUD-ROUX, 1996; 2000; 2000a ), Marie-Hé-

lène Delavaud-Roux dedica-se tanto a coreografar quanto a dançar performances instruídasa partir de estudos da dança na antiguidade2.

Denomino “performances instruídas” a prática de se atualizar, na situação de apresentação,tanto uma expressividade que implica uma enciclopédia de conhecimentos de intelectuaissobre determinado tópico, quanto um repertório de técnicas e saberes corporais. Isto só é

1 Para o teatro, Dora Stratou, que abriu as portas em Atenas em 1953, v. http://www.grdance.org/en. Para as ou-tras obras de A.Raftis, http://www.grdance.org/raftis/index.html. Para as dicotomias texto/imagem na recepçãoda dança grega, v. NAEREBOUT, 1995. V. ainda SHAY, 2002, e COWAN, 1990.

2 Veja no link blogs.univ-brest.fr/ledenominateurcommun/parlons-danse-antique-avec-marie-helene-delavaud--roux/ demonstrações de dança grega por M-H. Delavaud-Roux.

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Genealogias da dança: teoria coral e a discussão de estudos sobre a dança na Grécia antiga

possível, pelo menos, em dois casos: em um processo coletivo, no qual profissionais de di-versas áreas reúnem suas várias especialidades em função de uma meta comum, ou comono caso de Marie-Hélène Delavaud-Roux, que tem formação em dança e em filologia. Dequalquer forma, note-se o desdobramento em diversos campos de conhecimento e habi-

lidades. O estudo mais produtivo da dança passa pela interação de diversas disciplinas etécnicas, formando um intercampo de diversas artes e saberes.

É o que se pode observar em duas recentes publicações em torno da dança grega:

1. Em 2006, no  Archive of performances of Greek and Roman Drama, na Universidade deOxford, teve lugar um simpósio internacional, “Greek drama and Modern Dance”, que enfo-cou a relação entre performers e coreógrafos modernos e contemporâneos com a recep-ção de temas da cultura clássica3.

O caráter interdisciplinar e interartístico do evento era motivado pelo questionamento dasinuosa presença da ideia de coro e de sua contrapartida menos compreendida: a dança.

  Este apagamento do coro na transmissão e recepção da cultura clássica promoveu tantouma redução de seu impacto quanto soluções que, muitas vezes, dialogam mais comseus próprios contextos criativos. Em suma, a busca de se atualizar uma prática consi-derada modelar apenas prolonga o intervalo entre épocas diversas, hiato impossível deser transposto – o da distância histórica. Desta forma, tornou-se imperativa a presença ediscussão do coro (e, daí, da dança) a partir de montagens realizadas após os anos 80 doséculo passado.

  As comunicações do simpósio foram publicadas sob a forma de livro: The ancient dancerin the Modern World: responses to Greek and Roman dance (MACINTOSH, 2010). Neste, ob-serva-se a diversidade de abordagens e perspectivas em torno de um objeto fluido, quese rematerializa das mais diversas formas: ora é o filólogo interrogando textos e imagens

para capturar algum detalhe esclarecedor que possibilite melhor fundamentar o enten-dimento do passado, ora temos historiadores da dança e  performers rompendo com oslimites das fontes para nos conduzir às práticas e suas lógicas dispersivas. Em todo caso,projeta-se para o leitor uma enciclopédica acumulação de resultados ainda em progres-so, uma imagem não fechada daquilo que se procurou investigar. Se é recente uma viradaem direção de atos performativos nas ciências da vida, a dança converte-se em campoestratégico para esta demanda (BIAL, 2007,CARLSON, 2003).

  É o que se pode notar em esforços como o do simpósio “Greek drama and Modern Dan-ce”. Há tanta coisa para se discutir, tanto sobre o que se falar, que o título do simpósionão chega a abarcar o que de fato foi debatido. Para se discorrer sobre a dança, há tantadificuldade, tantos caminhos indiretos sobre o próprio evento, que se toma um enorme

espaço para se atualizar velhos protocolos de interpretação. A dança é discutida comotexto, como palavra, como ideia, como rito, como arte, entre tantas coisas. Isto se deveao fato de que, historicamente, a dança sempre ocupou esse lugar nenhum, essa dimen-são de outorga, subsidiária e marginal. Tivemos “épocas” em torno da literatura, da pin-tura, da música. Mas a dança, mesmo que elogiada ou distinta, permaneceu nisto, comoalgo que em si mesmo já não é: sempre depende de uma outra instância, superior ou in-ferior. Dentro de uma escala de valores e atributos, reações para valorizá-la ora tendiampara realçar seu formalismo e autonomia, ora para indexá-la a qualquer outra prática oudiscurso.

3 www.apgrd.ox.ac.uk.

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N O T Í C I A SARTIGOMOTA, Marcus

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  Na verdade, diante de uma longa tradição de apagamento e controle, o discorrer sobrea dança irá se deparar com o fragmentarismo de sua recepção. Sempre em pedaços, emalusões, em empregos derivativos, a dança parece destinada a uma sobreposição de re-ferentes: para se reconstruir, é preciso correlacionar informações díspares de diversos es-paços-tempo. Esta epistemologia do retalho, da indefinição, do perfume frequentemente

se exibe como autoelogio, mas logo-logo sossobra na nostalgia de uma ordem, de umfundamento.

É extremamente perturbador folhear as páginas de The ancient dancer in the ModernWorld: responses to Greek and Roman dance e perceber que, por mais que seja prementeestudar e compreender a dança, o empenho investigativo ali expresso ainda não enfren-tou seu espelho: os obstáculos presentes em tradições intelectuais que, por suas própriasestratégias adotadas, entravam o acesso ao objeto. É como querer caçar coelho com umaenxada: o alvo se afasta e o equipamento não serve. Fala-se de dança, mas não de movi-mento.

  Pesa sobre esta convergência metodológica uma longa tradição de exclusão sobre corpo

e coro na recepção da cultura clássica. É extremamente difícil colocar no centro de discus-sões algo que foi sempre tratado às margens da palavra falada. Os casos emblemáticos deIsadora Duncam e Martha Graham, que partiram de referências da cultura grega antigapara realizar suas danças fundadoras, ainda são tratadas como “classical influences uponmodern dance”4.

2. Em meio ao incremento de estudos sobre a dança grega, um livro parece apontar em outradireção. Trata-se de The dance of muses, de A.David (2006)5. Começo não pelo livro, maspelos vídeos que A. P. David disponibiliza em seu site. A proposta de David não é a de umareconstrução original da dança grega, e sim de questionar o modo como lemos a culturahelênica apenas como tema e ideia. Seu ponto de partida é o dos metros. Grande parte dostextos gregos clássicos se organizava em torno de padrões rítmicos baseados na distribui-ção de durações das sílabas e no jogo dessas durações com acentos de intensidade. Assim,com Homero as tragédias e as comédias eram elaboradas em função da distribuição detempos e acentos.

A. P. David articula estes padrões métricos, chamados de “pés”, com movimentos físicos,com passos. No caso de Homero, o metro recorrente presente no texto (dátilo) correlacio-na-se com uma coreografia. Veja-se o vídeo Homer greek dance6.

Neste, temos uma performance de 2001 que demonstra a proposta de A. P. David. Em co-laboração com a coreógrafa Miriam Rother, assistimos a um jogo cênico entre a leitura detrechos de “A Odisséia”, de Homero (Catálogo das naus, dança na corte de Alcino) e as mo-vimentações de um grupo de estudantes. O grupo entra apresentando o ritmo básico e de-pois circunda o recitador de poemas (A. P. David). Enquanto a leitura do texto prossegue, ogrupo de mãos dadas e em círculo performa os passos do padrão métrico.

A composição da performance parece simples. Dentro da sala, contra o chão de madeira, amovimentação recorrente dos passos dos membros do grupo ecoa um som firme contra aestática posição central do recitador. Todavia, uma análise mais detida explicita alguns pro-

4 Para uma outra perspectiva, v. NAEREBOUT, 1998. Para outros desdobramentos do conceito de coro, veja-se oApêndice A deste artigo.

5 Analiso, mais detalhadamente, a questão métrica da proposta de A. P. David em MOTA, 2010.

6 www.web.mac.com/homerist/Dance_of_the_Muses/Homer_Dance_Video.html.

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cedimentos que enriquecem a percepção do que se mostra no vídeo. Em primeiro lugar, asoposições entre o coro e o recitador se dão dentro do continuum da performance: duranteo tempo da apresentação e naquele espaço definido, as diferenças expressivas entre elesserão colocadas em sobreposição, provocando tanto entrechoques quando junturas. Apa-rentemente, a oposição entre a estaticidade do recitador e a dinâmica do coro parece abso-

luta. Todavia, por meio da sobreposição, nota-se que o ritmo recorrente dos passos marcaum ritmo que se aproxima da fala proferida em padrão métrico. Assim, o movimento dospés se vincula ao movimento que a fala aduz, provocando novas assincronias e sincronias. Oritmo em stacatto dos pés não se ajusta perfeitamente ao legato da voz. No entanto, mesmoassim, esta conjugação de pontos em uma linha do tempo dá profundidade ao evento: arepercussão das batidas dos pés vai formando um ruído branco que unifica a performance,descentrando a primazia da voz como guia da cena ou fonte de informação privilegiada arespeito do que está acontecendo.

Assim, com o prosseguir dos atos, novos efeitos e funções são agregados. A vinculação dosom ao movimento, por meio de recorrentes batidas dos pés e dos traçados, proporcionaum contexto de participação tanto para os membros do grupo quanto para a audiência

encerrada na sala. O jogo entre interrupção e retomada do movimento presente em cadacélula rítmica da cena vai sendo expandido, ampliando a imagem daquilo que se recebe acada momento. A dança circular, ao fim, nesse esforço pela construção de um pulso e ênfasenas recorrências, acaba por atrair para si, para sua própria configuração, as atividades dosintérpretes e audiência. Por meio da dança, tudo vai sendo reunido e contraposto, para,enfim, integrar-se em conjuntura ampliada. O grupo coral produz, então, pela interação, umminimalismo exploratório em que um mesmo ritmo é redefinido a cada instante, rompendocom sua inteireza e autofechamento para estar presente nas mais diversas formas de refe-rência (passos, palavra, sons, visualidade).

Em outra direção, o vídeo exibe as implicações da metodologia de A. P. David: em vez de sóse dizer o texto, o ritmo que havia nas palavras ultrapassa a página impressa e vem habitaro mundo da vida como dança. Este movimento que implode o textualismo e se revigora em

movimento, a partir de algo tido como circunscrito ao seu raio de ação, é a maior contribui-ção de A. P. David. Não se trata de ilustrar as palavras por meio da dança. A explícita políticade interpretação presente na proposta de A. P. David pode assim ser formulada: se os textosde Homero, que são o modelo de literatura do ocidente, foram elaborados a partir de ritmospresentes no mundo da vida, então dançar Homero é atualizar que há todo um conjuntode modos de produção de referentes e participação que não se encontram delimitados porprotocolos de interpretação textualistas. Dança não é texto, não é linguagem, não é ima-gem. Em sua dimensão integrativa, a dança se apresenta como uma prática de articulaçãode diversos modos de expressão e referência. Assim, no menos “dançável” modo de expres-são – a épica homérica – podemos encontrar a dança mesma. No lugar da oposição dança/ não dança, o lugar da dança é o de uma presença absoluta, que é a do corpo e suas medidase expressão. Apagar a dança em prol da fala, do texto escrito, foi contraditoriamente tentar

excluir a corporeidade como fundamento e impulso dos atos expressivos. A contradição seresolve facilmente quando se pensa a dança como dança e não a partir da não dança. Foi oque A. P. David fez: inseriu a dança onde ela parecia não existir, para que se revelasse comotal. Na composição da performance, o que é dança, sua orientação integrativa, transparece.E a cópula se efetiva por meio de um movimento de contínuo e coletivo e de, em situação deperformance, se dispor para audiência a simultaneidade do heterogêneo: ao mesmo tempo, omovimento corporal, os sons e as palavras se reajustam no jogo entre si, promovendo apro-ximações e afastamentos perceptíveis dentro de escalas diversas de fenômenos psicofísicos.

Ali, diante de todos nós, os membros do coro dançam e fazem mais que dançar: tudo emvolta e tudo o que fazem é transformado por seus passos. Há alguém falando. Mas, quandose dança na sala, quem fala passa a ser alguém que fala dançando, que dança com as pala-vras, as palavras agora em movimento. A fala é o outro da dança, é uma outra dança. A dançaabarca, em sua amplitude, todos os atos. Por esta via, sempre foi ocultada, por sempre estarem todos e em tudo. Ainda: o coro dança. Mas também emite sons, agrega outras atividades.Os dançarinos performam em situação multitarefa. Logo, a partir disso, se quando alguém

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fala, na verdade dança, e quando alguém dança, também faz outra coisa, temos que o cará-ter absoluto da dança e do movimento se percebe não como um discurso abstrato de auto-elogio e sim na concretude de atividades interligadas. O ritmo mesmo, que atravessa toda aapresentação, é consequência, é produto justamente dessa contextura de atos correlativos.O especí fico na dança é ser o entrelugar das mais diversas atividades. Sua heterogeneidadese manifesta em função de seu horizonte de integração.

O coro, no vídeo disponibilizado por A. P. David, em sua arcaica exibição de uma dança cir-cular, foi elaborado a partir de estudos de métrica e teoria coral gregas, valendo-se de umadança tradicional ainda performada na Grécia: o sirtós (syrtos). Temos, novamente, o casode uma performance instruída, na conjugação entre uma erudição acadêmica e repertóriode habilidades corporais. No caso, temos o de uma equipe interdisciplinar que trabalha comalunos em dois níveis: o da métrica textual e da coreografia de uma dança tradicional.

A provocativa proposta de A. P. David reside no fato de avançar sobre os limites da recons-trução acadêmica da dança na Antiguidade e propor uma correlação entre a métrica de um

texto escrito há mais de dois mil e quinhentos anos e os passos de uma dança atual. Esteslimites da reconstrução acadêmica tornam-se possíveis quando adentramos no contexto deum processo criativo. A criatividade aqui é tanto invenção das formas quanto produção deconhecimento. Na verdade, A. P. David acaba por enfatizar fatos básicos de eventos perfor-mativos: toda performance é única, mesmo contando com preparação e elementos prévios.A criatividade na reperformance de danças da antiguidade não pode ser vista como umdesajuste em relação a um possível original, pois não há esse original. A reperformance demateriais históricos historiciza a quem dela participa: para os integrantes do processo cria-tivo, fica a aprendizagem de que cada nova performance é um novo original (LORD, 2000).

Para os estudiosos e historiadores, a inovação no processo criativo da reperformance dedanças da antiguidade exibe a necessidade de um pluralismo metodológico que saiba lidarcom as descontinuidades tanto das fontes quanto das expressões. Deste modo, a coerênciadas performances instruídas reside na revisão das estratégias interpretativas dos pesquisa-dores e/ou artistas.

Vamos por partes: os artistas podem achar que estão perigosamente fazendo algo sem fun-damentação, sem adequação ao que teria sido aquilo que estão procurando realizar. Estequestionamento é bem incompleto. Primeiro, em um processo criativo, temos a experiênciade transformação dos intérpretes e de suas fontes: nada vai permanecer como era (PAREY-SON, 2005; PAREYSON, 2003; MOTA, 2004).

Tal pressuposto choca-se com a visão de que o ato criativo é a reprodução de algo já pré-

-dado, da transposição sem alterações desse pré-dado para os corpos e para a cena. O sen-timento de que não há adequação entre os atos de agora e o modelo de outrora, esse in-tervalo e angústia criativos, é algo constitutivo do processo criativo, na presença mesma datensão entre o impulso configurador e a modificação de tudo que previamente se dispõenos atos transformativos. Na verdade, o fato de se trabalhar com materiais históricos apenasevidencia a atividade mesma do intérprete. Em outras palavras, a reperformance de dançashistóricas é um subcaso da situação de intérpretes em um processo criativo. No momento,estão operando sobre um material histórico, noutro, poderiam estar trabalhando sobre re-ferência da cotidianidade. Contudo, em um e outro caso, eles se defrontam com o mesmoproblema: uma metodologia do processo criativo que leva em conta as dificuldades e obs-táculos inerentes a atividades de uma transformação generalizada dos intérpretes e de seus

materiais. No caso de se reperformar dança grega antiga, por mais instruídos e eruditos quesejam os intérpretes, aquilo que eles irão apresentar em cena não é mais dança grega antiga.

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E, então, por que se propor a fazer algo que não é o que pensam ser? Por que o esforço dereperformar algo que já não é?

Toda a problemática reside na ideia de se aplicar à expressão “dança grega antiga” uma iden-tidade fechada, uma definição total de seus atributos, como se ela fosse estável e reconhecí-vel em imagens e textos sobre sua própria caracterização. Para tornar esta ideia mais susce-tível a esta argumentação, troque-se o referente: no lugar da expressão “dança grega antiga”,coloque-se “dança grega tradicional”.

Para não gregos, para os estudantes que se apresentam no vídeo, temos uma mesma dificul-dade: ainda é aquilo que não dominam, aquilo que terão de aprender, aquilo de que terãose apropriado e transformado no processo criativo. A distância no tempo apenas amplia aatualidade das dificuldades. E, quanto mais pareça difícil ou impossível de ser realizada ameta, mais a compreensão da amplitude do processo criativo se faz presente, uma vez quea reperformance de danças históricas surge causando um duplo frenesi: a atualidade domais remoto é um impulso dirigido ao tempo de hoje, seja na busca de algo que parece não

haver aqui e agora, seja no ceticismo diante de empreendimentos arqueológicos – “o que eutenho a ver com esses gregos?” 7 

Aqueles jovens do vídeo devem ter enfrentado este duplo frenesi, vivendo a tensão entreo abandono de si e o medo de se perder gratuitamente. Em todo caso, a reperformance dedanças históricas apresenta-se primeiro como uma utopia, uma meta que não será cumpri-da, mas, desde já, acarreta drásticas e radicais reações dos intérpretes quando de seu enga-

 jamento em tal projeto: o risco permeia todos os atos, vindo tanto da comunidade artísticaquanto da comunidade acadêmica, pois ambos os lados ainda se debruçam nos males docorporativismo, em premissas que se baseiam em manter uma ideal unidade de seus cam-pos. O risco está nas fronteiras, em não poder jamais satisfazer premissas corporativas. Orisco é o traçado da dança, que atravessa e justapõe aquilo que parece exclusivo e separado.Assim, a meta de reperformance de danças do passado transforma-se em uma situação dese atualizar a heterogeneidade da dança, sua lógica plural e multidisciplinar de interação. Orisco é de se estar fazendo coisas que simultaneamente articulam ordens diversas.

Tal risco coloca uma outra pergunta para o intérprete: o que eu danço na minha dança? Asaporias de perspectivas redutoras, seja no abandono de si, seja na negação do outro, nãoconseguem responder a questão. No caso, a dança grega antiga nem é algo para a qual eupossa me evadir deste mundo, nem é algo que eu possa refutar como sem efeitos sobre meupresente. O que eu danço em minha dança nem é algo que já foi, nem é algo que pode com-pletamente não ser. É como mediação histórica e atualização do heterogêneo da dança quea reperformance de danças do passado se efetiva positivamente para o intérprete. Se tenho

que dançar algo, que eu dance isto, que manifeste minhas opções artísticas e referenciais. Oencontro com as danças do passado não irão me trasladar para uma outra era; antes, irá mefazer melhor compreender onde estou e quem eu sou. Irá me mostrar que, assim como estepassado é atualizado por meio de construções bem determinadas, aquilo que julgo ser meu

 presente também está dentro de um processo de reconstrução. Eu estou dentro dos êxtasesdo tempo por meio da dança, arremessando-me para a apropriação transformadora dosreferentes (HEIDEGGER, 1997).

Nesta artesania, torno-me cada vez mais um melhor artista pesquisador, consciente dos pro-

7 É o que a personagem Rusty James questiona em Rumble Fish (O selvagem da motocicleta), de F. F. Coppola. V.

as implicações desta questão em MOTA, 1996.

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cedimentos de redefinição de meus atos criativos. Assim, aquilo que aparentemente nãotem nada a ver comigo, aquilo que é completamente alheio ao meu mundo, acarreta o ques-tionamento do que é este nada a ver  ou deste meu mundo. A meta de se reperformar danças

do passado, de se dançar o passado, é a de se romper com um pretenso isolamento do in-térprete, de seu apego à enfadonha tagarelice sobre si mesmo. A dança do passado não é oque já foi, o que já passou, o que se esgotou. Não é a dança da Grécia antiga o que importa,e sim levar o intérprete à vivência de alteridades adormecidas pelo reiterado recurso ao seuautismo.

De fato, o individualismo estético, ou a distinção estética, aparece como contraponto à uto-pia das reperformances de danças do passado. Segundo Gadamer (1999, p.135), a distinçãoestética é a projeção ideal de um mundo-arte como algo em si mesmo, fora do tempo e doespaço, projeção esta de uma consciência que também se pensa como algo em si mesma,autárquica. Ao negar a utopia da dança do passado, ao se precaver de dançar o que não seé, o intérprete procura reafirmar esta distinção estética, vendo na dança algo justificávelsomente como puro movimento, pautando a si próprio como fonte e meta dos atos expres-sivos.De qualquer forma, ao abrir-se para o que não é e para o que não pertence ao seu tempo, ointérprete que enfrente a utopia de dançar as danças do passado vai perceber que essa ne-gatividade na identidade e na história são aparentes. Mesmo sendo de outra cultura e épo-ca, danças antigas efetivam-se em contextos performativos. Não são coisas sobre as quais sefala e elas passam a existir. O processo criativo como mediação histórica e estética propor-ciona a inserção do intérprete em um conjunto de atividades que se tornam o horizonte daidentidade e da criatividade.

Disto, o medo de não se estar fazendo a coisa certa ao se reperformar uma dança do passado,

ou o receio de que tal ato venha a ser impeditivo para uma criação original, exibem-se comovariações de modos de se conceber o processo criativo e o lugar do intérprete neste proces-so. As demandas por autenticidade e originalidade posicionam-se como situações opostas eexcludentes, como procedimentos de exclusão da heterogeneidade que processos criativosda dança apontam. É uma bizarra situação trabalhar com pressupostos que vão diretamentecontra o próprio contexto multidimensional no qual se expressam os dançarinos.

Como se vê, então, não é para a dança grega que a questão se remete. Ao atribuir para adança grega valorizações extremas como origem de toda arte ou exotismo artificioso, o focodo endereçamento move-se para os pressupostos do intérprete, para os conceitos que temdaquilo que faz.

Voltando ao vídeo, A. P. David poderia simplesmente tentar, a partir do texto ou das imagensreferentes às danças gregas na antiguidade, produzir um efeito de realidade no qual hou-vesse a sugestão de que, quanto mais se demonstrasse o domínio das fontes de pesquisa,mais o contexto original seria conhecido e transformado em cena. O caminho de A. P. Davidera o de ir-se além do texto escrito, ver-se as marcas rítmicas presentes no texto (métrica,recorrência de conteúdo, referência a atos performativos), estabelecer a relação do registroescrito com algo fora do mundo da linguagem. Este além do texto, mas com o texto, pro-porcionou uma descrição formal da épica que, em seus parâmetros performativo-sonoros,aproximava-se de um registro coreográfico. Em outras palavras, ao explicitar a organizaçãodo texto como seleção de padrões de duração, intensidade e altura, A. P. David obteve es-calas dos eventos registrados parcialmente no texto, os quais se completariam em eventos

performativos globais. Assim, o texto de Homero é uma tablatura, uma notação que, emsua parcialidade, não objetivava substituir aquilo que registra, e sim indicar alguns de seusprocedimentos.

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Genealogias da dança: teoria coral e a discussão de estudos sobre a dança na Grécia antiga

Fórmula da frase coreográfica de Homero

Figura 1

8

 http://web.mac.com/homerist/Dance_of_the_Muses/Epic_Movement.html.

9 http://www.greekfolkmusicanddance.com/bookdance.php.

Traduzindo, temos seis grupos de dátilos, que são pés métricos compostos por um tempo inteiroe dois meio-tempos, na proporção então de 1:1. Esta isocronia produz variações temporais, já quehá conversões e reconversões das durações: um tempo inteiro pode ser substituído por dois meios--tempos e vice-versa. O último pé métrico é abreviado (catalético), marcando o fim da frase. Então,

esta mesma frase se repete indefinidamente com a mesma sucessão de seis conjuntos de pés métri-cos, que forma uma repetição interna, espelhada. Hipoteticamente, teríamos o mesmo movimentosendo repetido por cinco vezes até ser alterado, interrompido na última e sexta posição métrica.Contudo, nem tudo é mesmice. No seio do mesmo, o outro: há cesuras, ou cortes, ou marcações dealterações. Em outras palavras, em certas posições ou lugares métricos, há alterações outras quea identificada na parte final na frase. Estas cesuras ou pontos de mudança foram compreendidas,inicialmente, a partir de reiterações linguísticas: em algumas posições ou lugares na frase, haviauma alta proporção de quebras sintático-semânticas. O mérito de A. P. David foi o de correlacionaresses fatos linguísticos a feitos extralinguísticos, a eventos fora do mundo verbal. O texto escritoregistraria uma dinâmica referencial que não se traduziria em palavras somente.

Nas descrições dos passos de dança do sirtós, há passos marcados para a direita e esquerda, seguindo

o caminho do círculo, e há passos em que se cruzam os pés para trás e para frente, marcando umavirada na movimentação.9 

Estes passos de mudança da dança do sirtós correspondem aos mesmos lugares métricos marcadosna frase datílica como cesuras. A. P. David pode comprovar que foi o material linguístico que se mo-dificou para traduzir um referente não verbal, a partir do momento em que este referente não verbalpossa ser identificado. Desta forma, o que se conclui não é que Homero fosse dançado, mas sim quetodo o seu texto, toda a sua forma de expressão, define-se em função de um modelo coreográfico.Dentro de uma cultura coral, na qual a dança ocupa o horizonte dos atos cognitivos, afetivos e voliti-vos, compor um poema é se apropriar daquilo que permeia todas atividades – o movimento coletivo.

Entre as possibilidades que se oferecem após a contribuição de A. P. David, temos: assim como elese valeu de dança outra que a impossível dança original, nós podemos, a partir de temas clássicos,buscar correlativos rítmicos em nossa própria cultura para reinterpretar e redimensionar a recepçãodos motivos clássicos. O metro recorrente do dátilo associa-se a uma situação de improvisação: acontinuidade rítmica favorece o estado de intensificação dos atos criativos. Um caso similar em nossacultura é o dos cocos (MOTA&NEPOMUCENO, 2010).

Sendo “um gênero poético-musical-coreográfico” (CAVALCANTI, 1996, p. 20), os cocos integram can-to, dança, música instrumental e dramatização, aproximando-se, em sua dramaturgia audiovisual einterativa, de situações presentes na apropriação de um modelo coral, como o foi a tragédia grega.

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Desta forma, por meio dos cocos, encontramos uma mediação artística e temporal que nos coloca emum processo criativo, no qual nos defrontamos com demandas e obstáculos assemelhados aos de ummodelo coral. O que se propõe não é usar-se o coro como uma tragédia grega e, sim, ao se compre-ender que a épica, a lírica e o drama grego (tragédia e comédia) estavam diretamente relacionadosa uma cultura coral, pensar-se o processo criativo a partir da amplitude que essa cultura reivindica.

Outra possibilidade vem do estudo e da compreensão das matrizes rítmicas. Uma tragédia, a partir dacultura coral, organiza-se como um conjunto de movimentos ritmizados (MOTA, 2009). A transcriçãodestes ritmos em arquivos de áudio fornece referências audiofocais que podem ser reinterpretadascoreograficamente (MOTA 2011).

Ainda, sem a mediação de uma dança tradicional ou de reconstrução de ritmos, pode-se, a partirdo debate de fontes escritas sobre algum motivo mítico, produzir processos criativos que articulemnovas imagens e sons, como os apresentados durante a 50ª mostra teatral Cometa Cenas, a partir deseminário de Pós-Graduação, Produção e Criação Artística no PPG-Arte, em 2010.10

Enfim, se a dança tem buscado sua identidade, atribuindo, muitas vezes, ao momento grego sua ori-gem e/ou sua liberação criativa, talvez esteja na hora de se pensar melhor esta ascendência afortu-

nada, esta recorrente genealogia. Mutações na dança e nos estudos clássicos têm impelido artistas epesquisadores em outra direção que não o topos da origem como uma nostalgia de algo que se per-deu. O eixo do tempo desloca não mais um ponto privilegiado no passado ou no futuro (BUCKLAND,2006). O foco no processo criativo, no artista criador e pesquisador, faz com que cada vez mais sedesconfie de posturas essencialistas e idealizadoras.

10 Para a programação, v. www.unb.br/noticias/downloads/cometa_cenas.pdf. A partir deste seminário, o Bari-

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A renovada presença do Coro

Os vários encontros entre Estudos Clássicos e Estudos performativos, historicamente, têm promo-vido cíclicas renovações artísticas. Nesses encontros, destaca-se a “ideia do teatro grego”, tão mo-

vente quanto diversas foram suas materializações, proporcionando revoluções estéticas tais como a

Ópera Florentina ou o Drama Musical Wagneriano, entre outros exemplos.

A partir de 1970, com a solidificação dos Programas de Pós-graduação em Artes Cênicas na Europae nos Estados Unidos, seguindo o impacto do conceito e experiência da Performance em suas maisdiversas modalidades, novas abordagens sobre o teatro grego começaram a se desenvolver, fazendocom que sua historiografia se modificasse drasticamente. Novos objetos foram propostos, amplian-do-se nosso conhecimento sobre o contexto das realizações dramático-musicais da Antiguidade.

Esta revolução epistemológica ainda está em curso. Vemos que houve uma inversão na medida emque a transmissão e interpretação dos textos greco-latinos nos proveram uma imagem dos FestivaisTeatrais Helênicos. Procurando uma lógica abrangente em restos parciais de uma cultura dispersa efragmentária, artistas se apropriaram desta reconstrução ideal como ponto de partida para realiza-ções mais intensas e diversificadas.

De outro lado, com a mudança do modo de se fazer teatro, desde 1960, helenistas e historiadores doteatro começaram a rever como as tragédias gregas eram elaboradas, realizadas e recebidas. Assimcomo inovadores da linguagem tiveram que, no transcurso do século XX, enfrentar uma abstrataoposição entre texto e espetáculo para se focar em seus processos criativos, também os estudiososse viram compelidos a aproximar dos contextos performativos os textos restantes da cultura teatralna Antiguidade.Nesse novo encontro entre Estudos Clássicos e Estudos Teatrais, temos produções como L’Atrides, doThéâtre du Soleil , entre 1990 e 1992, que incorpora vários dos conceitos presentes na renovação his-toriográfica da tragédia grega, enfatizando seus aspectos culturalistas e uma estética coral no seusentido mais amplo, desde o processo criativo coletivista até a dinâmica coreográfica das contrace-nações e da montagem das partes do espetáculo, bem como na integração entre música, atuação evisualidade.1 

Uma análise atenta sobre a mais recente bibliografia acadêmica a respeito de tragédia grega ratificaos dividendos desta interface do conhecimento da tradição helenística e modelos corais de realiza-ção teatral.

De início, destaca-se a obra The Athenian Institution of Khoregia. The chorus, the city, and the stage,escrita por P. Wilson (2000). Esta pesquisa de fôlego apresenta um aspecto pouco abordado quandose fala de tragédia grega (e mesmo de Artes Cênicas): a produção.

P. Wilson reinsere as obras dos Festivais Helênicos em uma cultura competitiva, na qual não somenteautores, atores e público se entregavam a intensas trocas emocionais: para que houvesse o show, erapreciso uma organização que se ocupava de todos as etapas de pré-produção e realização dos even-tos. Era a instituição da Coregia, ou permissão para que um grupo de cidadãos atenienses, a cada ano,fosse responsável por todos os aspectos econômicos de preparar e manter as pessoas envolvidas em

compor e performar as palavras, a melodias e as danças. Tal instituição não somente possibilitava aexistência dos festivais como também regulamentava a participação desta elite no espaço público dacidade, multiplicando vínculos entre artistas, comunidade e democracia. Enquanto Atenas possuiuuma vitalidade político-econômica, a Coregia esteve presente.

A vitória do grupo que performava nas competições era a vitória também do Corego, do produtor. Aarena em que se convertia o Teatro de Dioniso era também o lugar de luta entre os produtores. O es-petáculo mobilizava tensões políticas. As figuras da mitologia interpretadas em cena apontavam paraa demanda por prestígio na cidade. Tudo convergia para o lugar das danças e cantos no teatro, para aárea da orquestra. Para influir, era preciso afluir para a cena. A composição, realização, recepção e pro-dução de obras audiovisuais integravam interesses e valores os mais diversos e conflituosos. Como

apêndice A

A contribuição dosstudos Clássicos

1

Site oficial do Théâtre du Soleil, www.theatre-du-soleil.fr. Blog de A. Mnouchkine: www.mnouchkine.blogs.libe-ration.fr/le_fil_da. V. WILLIAMS, 1998.

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Genealogias da dança: teoria coral e a discussão de estudos sobre a dança na Grécia antiga

os festivais estavam inseridos no calendário de eventos civis, a tensão político-estética se enfatizava,fornecendo um horizonte de expectativas para a cidade: todo ano é preciso outra vez defrontar-secom o outro para continuar a existir – vencer, sobressair, pelo menos até o ano que vem. Khoregia.

Desse modo, o teatro grego se definia a partir de uma relação com o vocabulário da atividade coral,

até mesmo onde não se suspeita haver2

. Tome-se, por exemplo, os nomes das partes da tragédia,como encontramos na Poética de Aristóteles: “Prólogo, episódio, êxodo, coral – dividido este em pá-rodo e estásimo”3. O termo “episódio” registra aquilo que fica entre (duas) odes corais, epei(s) – ode,ou seja, as partes faladas que caracterizam os episódios se encontram nas margens do centro, que sãoas partes corais. O espetáculo trágico se organiza na alternância entre partes faladas e partes canta-das. Contudo, há um privilégio das partes corais: pois o nome para aquilo que não é coral – “episódio”– é baseado no que é coral. Quem tem a marca, quem distingue é o coro (MOTA, 2009).

Continuando, as partes corais propriamente ditas são duas: o “párodo”, que marca a entrada do coro,e “estásimos”, que são as performances corais isoladas. A entrada do coro é uma aguardada seçãode toda a tragédia, tanto que é nomeado. E ainda mais – grande parte das tragédias restantes tempor título o coro: Os persas, As suplicantes, Eumênides, Coéforas, das seis restantes de Ésquilo; AsTraquínias, das sete de Sófocles; Heráclidas, Suplicantes, As Troianas, As Fenícias, As Bacantes, das16 restantes de Eurípides. A situação se amplia levando em conta os títulos das peças restantes de

Aristófanes, que articulava também uma dramaturgia musical a partir do coro: Os Acarnenses, Oscavaleiros, As aves, As Tesmoforiantes, As rãs, As vespas, As nuvens, Assembleia de mulheres, das 11restantes. Como se vê, o público ia ao teatro atraído pela diversidade performativa atualizada emcena, cujo índice estava no desempenho do grupo de cidadãos mascarados que cantava e dançava.Logo, o critério para discernir as partes do espetáculo da tragédia não reside em evento de baixa tex-tura e densidade performativa, como uma ou duas pessoas trocando falas entre si, e sim na complexainteração de membros de um grupo de agentes que se apresenta valendo-se de diversas habilidadesexpressivas.

A dinâmica coral orientava a organização do espetáculo e sua recepção. Recentes estudos da drama-turgia clássica têm refutado a pressuposta linha de desenvolvimento presente no texto da Poética de Aristóteles, que delinearia o progresso histórico do espetáculo trágico de um momento maisprimitivo, dançado, para a plenitude da fala (WILES, 1997, WILES, 2000).

Antes, os dramaturgos eram identificados como chorodidáskalos, treinadores dos coros, coreógra-fos. A área principal de atuação e foco da cena era a orchestra, espaço do coro. Ao invés do desapa-recimento progressivo do coro durante o percurso que vai de Ésquilo a Eurípides, podemos ver umcompartilhamento das habilidades e atividades do coro por parte dos agentes não corais: a perfor-mance dos atores se define pelos movimentos corais e os próprios atores agem como coro, cantame dançam em vários momentos. Aquela visão estática da dramaturgia clássica é superada quandose analisa os textos restantes como roteiros baseados em procedimentos corais de composição defalas, movimentos e ritmos. Mesmo os agentes não corais dançavam (LEY, 2007).

Tal centralidade do coro no espetáculo mais representativo da Antiguidade Clássica possui seusdesdobramentos estéticos e culturais. Se antes da palavra e além dela há o corpo em movimento,a desconstrução de nosso logocentrismo acarreta novas posturas e pressupostos. Nesse sentido, arenovação bibliográfica nos Estudos Clássicos e sua convergência para a Cultura performativo-coral

aproximam-se das tensas e intensas lutas dos Estudos Teatrais no século XX em busca de sua espe-cificidade, a partir da ruptura com tradições metafísicas que privilegiavam uma concepção do textocomo princípio e fim dos processos criativos. Em seu mapeamento dessa transformação em curso,Lehmann sinaliza que a emancipação e destaque que a dança atinge resulta no fato de que ela nãomais “formula sentido, mas articula energia; não representa ilustração, mas ação. Tudo nela é gesto[...] compartilhamento de impulsos com os espectadores nas situações de comunicação do teatro” (LEHMANN, 2007, p. 339).

2Para o vocabulário técnico sobre dança e atividade coral, consultar NAEREBOUT, 1997.

3Poética, XII, 65. Trad. Eudoro de Sousa.

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N O T Í C I A SARTIGOMOTA, Marcus

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 47-5150

Aconvergência entre propostas estéticas mais atuais e antigas formas de espetáculo em torno deuma estética coral, antes de curiosidade museológica ou superficial sincronismo, motiva-nos a

pensar sobre os modos como produzimos e validamos as artes da cena. O passado sempre o é emrazão de nosso presente (GADAMER, 1999). Acima de tudo, o que se busca da imagem coral comofundamento para um processo criativo é certa ênfase em algo que, aparentemente, não é muito fo-

calizado na formação de atores e na constituição do repertório, como, por exemplo, um trabalho degrupo a partir não apenas da ética coletiva, mas da integração de habilidades diversas, como canto,música e dança. Esta dimensão interartística do trabalho criativo revela-se na montagem de obrasque enfrentam as implicações de se mover entre fronteiras, nos limites das práticas e tradições esté-ticas que, mesmo refutados por realizações as mais diversificadas, permanecem como restrições oupontos de partida inscritos na estrutura curricular dos cursos superiores de Artes Cênicas.

Ao se aprofundar esta dimensão interartística, percebemos que não se trata apenas de conjugarpessoas com formações ou habilidades diferentes. A obra multidimensional é um desafio estético--cognitivo ao propor para a audiência a tensão entre referências produzidas a partir de contextostécnicos diversos e muitas vezes em colisão. Com isso, temos um entrechoque da visualidade com asonoridade. A assincronia entre as bandas visuais e sonoras manifesta a heterogeneidade dos mate-riais e referências efetivados em cena. O domínio da assincronia, das sobreposições, das tensões entremateriais heterogêneos avulta em uma época pós-harmônica, na qual a meta já não mais é produzir

equilíbrios redutores entre díspares elementos. A ideia do coro avulta, então, como mediação parauma possível lógica de um universo plural. Pelo coro, esta lógica que não prescinde da dispersão e doassimétrico se manifesta não mais como meta e sim efetivada na ação de seus integrantes. O coro se-ria justamente esta lógica em execução, performada, manifesta durante a performance, in situ. Daí opotencial atrator da atividade coral: é ao mesmo tempo um modelo, um esquema e uma atualizaçãoque suplanta sua ideia prévia. O coro é a fogueira de todos a priori . Entre a forma e a performance, ocoro media e supera a tensão entre ideia e ação.

Esta mediação acontece em um espaço que é o evento mesmo do coro e sua organizada exploraçãode limites e tangências. A atividade coral é uma espacializada demonstração de como tais limites eperspectivas são enfrentados. Não há como trabalhar com a ideia de coro sem se referir a uma ex-periência do espaço. A coreografia mesma é a explicitação de como a atividade coral se inscreve noespaço, de como o espaço abre-se e passa a existir através da intervenção do coro.

Disto, a associação do coro ao movimento e à música adquire uma melhor compreensão. Ao se agre-garem características ou ao se identificarem traços da ideia de coro, muitas vezes, há uma simplesconstatação do que já é, do que já existe em um arranjo de heterogêneos elementos.

Entretanto, se aprofundarmos nossa observação para procurar entender melhor os nexos entre aqui-lo que elencamos como elementos integrantes da atividade coral, passamos a perceber que é justa-mente nessa efetivação de nexos, de copresença de diversos e múltiplos elementos, que reside a ati-vidade coral. Pensar o coro é realizar essa construção heterodoxa que suplanta até a motivação de suaefetivação. A prática coral bem compreendida é como uma útil medicina contra nossas abstraçõesdiscursivas que rondam discussões sobre processos criativos em Artes Cênicas. A amplitude da cenacoral, com suas necessárias e decorrentes atividades de se enfrentar com a integração de elementosplurais, sem o recurso de uma redução de heterogeneidade material, coloca-se absurdamente comoutopia e fundamento de um fazer mais comprometido com a consciência de suas possibilidades.

Assim, a atividade coral é, ao mesmo tempo, irrealizável quanto motivadora das mais extremas rea-lizações. A ideia do coro comparece como metalinguagem das artes da cena, como sua caixa-preta:muito se sabe sobre ela, sempre nos referimos ao coro consciente ou inconsciente durante nossosprocessos criativos, mas ainda assim o coro não se esgota, não se completa em nenhuma de nos-sas concretizações dessa ideia. Talvez essa inexauribilidade do coro fulgure como apelo irresistívelpara a contínua renovação das artes da cena. O coro, pois, cifra estes quadrantes de um território emperpétua transformação, pronto para ser apropriado e modificado por processos criativos e que semanifesta em tensões entre todo e parte, indivíduo e grupo, som e imagem, presença e ausência, mo-vimento e pausa, canto e fala, entre outros. Nós, que procuramos habitar estes territórios, movemo--nos em oposições, contrapostos ao ritmo oscilatório e dispersivo da dinâmica do espaço que nosarregimenta.

problematizando aatividade coral

4V. www.didaskalia.net/journal., www.apgrd.ox.ac.uk/links.

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51REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 37-51 51

Genealogias da dança: teoria coral e a discussão de estudos sobre a dança na Grécia antiga

Entre adaptações e versões das obras dramático-gregas, a atualização do coro sempre é um grandeproblema. O conhecido exemplo de “Poderosa Afrodite”, de Woody Allen, é uma sedutora simplifi-

cação do processo: um jogral que materializa debates sobre a consciência dos personagens.

Uma coisa que é preciso ter em mente é que a encenação do repertório da tragédia grega não ces-

sou na Antiguidade. Estes textos têm sido continuamente representados. A tragédia grega não seesgotou em Atenas. Dramas antigos em performances contemporâneas constituem um campo deexperiências em expansão4. O entrechoque da definição de espetáculo, presente nestes textos, coma sua materialidade performativa e com nossos pressupostos recepcionais e estéticas e estilos cêni-cos possibilita um jogo de apropriações e transformações que se explicita nas escolhas que um pro-cesso criativo especí fico vai fazer em função das informações que possui dos contextos expressivosda antiguidade e dos objetivos e dos limites deste mesmo processo. Serão as condições de realizaçãoatuais que irão determinar a imagem desta apropriação do drama antigo.

Neste caso, o grupo que vai empreender uma versão ou adaptação de uma tragédia grega, ou umautilização de procedimentos e técnicas deste repertório, como o coro, necessariamente vai expor emseu trabalho os pressupostos de sua empreitada: informações sobre que tipo de conceito do espetá-culo ateniense foi utilizado. Ao mesmo tempo, estes pressupostos serão redefinidos pela proposta dogrupo e pelas habilidades de seus integrantes.

Com isso, é preciso ter em mente que a “ideia do coro” é concretizada nas mais variadas formas, frenteao processo atual de se transformar referências em atos. Uma consciência dos motivos que nos inspi-ram a valer-nos da ideia de “coro grego” relacionada com uma atualização bibliográfica das pesquisassobre as modalidades corais na tragédia, faculta-nos um diálogo mais eficiente entre passado e pre-sente. Em todo caso, há uma reflexibilidade neste impulso de retorno às origens: a busca por soluçõescontemporâneas para a atividade coral explicita muito mais o teatro que nós queremos fazer que oteatro já realizado há séculos.

Talvez, nesta reflexibilidade, neste conhecimento não da coisa, mas do sujeito operante, é que o de-safio de se atualizar o coro torna-se fulcral: queremos, muitas vezes, dominar o intervalo, a descon-tinuidade temporal por mitologemas que veem em uma época de ouro do passado alguma opção

projeções

GADAMER, H-G. H-G. Verdade e método. Vozes, 1999.

LEHMANN,H-T. Teatro pós- dramático. Cosac&Naif, 2007.

LEY, G. The theatricality of Greek tragedy. The University of Chicago Press, 2007.

MOTA, M. Nos passos de Homero. Performance como argumento na Antiguidade. In: Revista VIS9(2010):21-59. Disponível em: <http://www.ida.unb.br/revistavis/revista%20vis%20v9%20n2.pdf>.

Acesso em: 20 jan. 2011.

WILES, D. Greek Theatre Performance. Cambridge University Press, 2000.

WILES, D. Tragedy in Athens. Cambrigdge University Press, 1997.

WILSON, P. The Athenian Institution of Khoregia: the chorus, the city and the stage. Cambridge Uni-versity Press, 2000.

referências

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525252

Modelo de excelência em gestão pública*

Model of excellence in public administration

Há duas décadas, o governo brasileiro busca métodos que permitam maior foco em resultados. Iniciou-se umesforço no sentido de se desenvolver método semelhante ao utilizado em organizações privadas também

para o setor público. Por meio de Comitê Conceitual, composto por especialistas em gestão e profundos co-nhecedores do modelo de avaliação já aplicado ao setor privado e com apoio de várias instituições públicas eprivadas empenhadas na busca da qualidade em gestão, desenvolveu-se o Modelo de Excelência em GestãoPública. Este modelo possui características que permitem avaliar as organizações públicas brasileiras comrequisitos pertinentes, respeitando-se, portanto, a natureza pública dessas mesmas organizações. Adaptadoà realidade brasileira, temos um sistema de avaliação e melhoria que considera como premissa para umagestão pública excelente o atendimento aos Princípios Constitucionais da Administração Pública e estabeleceFundamentos de Excelência Gerencial como valores a serem vivenciados pelas organizações. Oito critériosrepresentam o modelo com agrupamento dos requisitos. O Modelo de Excelência em Gestão Pública passoupor evoluções resultantes do feedback das instituições e dos ciclos contínuos de análise e melhoria realizados

pelo Comitê ao longo de doze anos de aplicação. Estudos demonstram a importância desse modelo no aper-feiçoamento contínuo da gestão das organizações públicas e para a implementação das estratégias. O Modelofoi aplicado amplamente ao longo dos anos em diversos tipos de organizações públicas.

Palavras-chave: gestão pública, excelência, estratégias, avaliação

 Since two decades ago, Brazilian government is seeking methods those allow a greater focus in results. It be-

 gan an eff ort in order to develop a method similar to that one used in private organizations and also for public

 sector. Through a Conceptual Committee composed of experts in management and deep knowledgeable of the

evaluation model already applied to the private sector and with support of many public and private institutions

engaged in the pursuit of quality management, it was developed the Model for Excellence in Public Management,

with features that permit to evaluate correctly the Brazilian public organizations with extremely compliant and

 pertinent requirements, thus respecting the public nature of the organizations. In this Model adapted to the Bra-

 zilian reality we see an evaluation and improvement system that considers as a premise for an excellent public

management service the assistance of Constitutional Principles of Public Administration and establishes the Fun-

daments of Management Excellence as values to be experienced by organizations. The model of Excellence in Pu-

blic Management passed through evolutions caused by the feedback of institutions and the continuous cycles of

analysis and improvement accomplished by the Committee over 12 years of application. Studies have shown the

importance of this model to the continuous improving of the public organization management and to the imple-

mentation of strategies. The Model was largely applied trough the years in several types of public organizations.

Keywords: public management. excellence, strategies, evaluation

r esumo

ANDRÉ RIBEIRO FERREIRA Secretaria-geral da Presidência da República – [email protected] 

* Este texto é um aperfeiçoamen-to de texto semelhante publicadono Centro Latinoamericano deAdministración para el Desarrollo(CLAD) em 2009: FERREIRA, An-

dré Ribeiro. Modelo de Excelênciaem Gestão Pública: importância eaplicação. Artigo apresentado noCLAD, Salvador, Brasil, 2009.

abstract

ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

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53REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 52-67 53

Modelo de excelência em gestão pública

5353

No final da década de 80 do século XX, com a abertura de mercado, o Brasil buscou mecanis-

mos e métodos que preparassem e atualizassem as empresas e o serviço público com relação

à qualidade e produtividade. Foi criado, em 1990, o Programa Brasileiro da Qualidade e Pro-

dutividade (PBQP), que gerou o Subcomitê da Administração Pública, o embrião dos Programas de

Qualidade no Serviço Público. Em 1995, com a Reforma do Estado, criou-se o Programa Qualidade eParticipação na Administração Pública – QPAP, ainda com foco nas ferramentas e o início de um dis-

curso voltado para a qualidade como instrumento de modernização do aparelho do Estado. Em 1999,

no Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão, foi criado o Programa da Qualidade no Serviço

Público (PQSP), agregando toda a experiência dos programas anteriores e o foco no atendimento ao

cidadão, com pesquisa de satisfação dos usuários dos serviços públicos, o lançamento de Padrões de

Atendimento ao Cidadão e a implementação de unidades de atendimento integrado, os Serviços de

Atendimento ao Cidadão. Em 2005, o Governo Federal lançou, por Decreto (nº 5378, de 23/02/2005),

o Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização (GESPÚBLICA), unificando o Programa

da Qualidade com o Programa Nacional de Desburocratização.

O Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, apesar de ser relativamente novo, é um

programa cujas origens remontam a 1956, com a criação da Comissão de Simplificação Burocrática

pelo Presidente Juscelino Kubitscheck, passa pelo lançamento do PBQP em 1990 e pela Reforma do

Estado também na década de 90, chegando aos dias de hoje com características de uma política pú-

blica e “massa crítica” condizentes com o tamanho do país e do desafio. O GESPÚBLICA insere-se em

um contexto mais amplo de mudança de paradigma administrativo: da administração burocrática

para a administração gerencial. Conforme texto dos Cadernos Mare nº12,

a administração pública gerencial busca responder tanto às novas circunstâncias do mundo atu-

al, em que estão sendo revistos os papéis e as formas de atuação do Estado, como atender às

exigências das democracias de massa contemporâneas, em que a funcionalidade e o poder dasburocracias estatais têm sido crescentemente questionados. As diretrizes principais da adminis-

tração gerencial podem ser resumidas da seguinte forma: Descentralização política, transferindo

recursos e atribuições para os níveis regionais e locais; Descentralização administrativa, por meio

da delegação de autoridade aos administradores públicos, transformados em gerentes crescen-

temente autônomos; Adoção de formatos organizacionais com poucos níveis hierárquicos, ao

invés das estruturas piramidais; Flexibilidade organizacional, em lugar de estruturas unitárias e

monolíticas, compatível com a multiplicidade, a competição administrada e o conflito; Adoção do

pressuposto da confiança limitada em substituição à desconfiança total em relação aos funcioná-

rios e dirigentes; Controle por resultados, a posteriori, ao invés do controle rígido, passo a passo,

dos processos administrativos; e Administração voltada para o atendimento do cidadão e aberta

ao controle social (BRASIL, 1999, p. 10).

Essa abordagem renovou os paradigmas da administração pública brasileira e exigiu, portanto, a

busca por novos métodos e práticas de gestão. Passou-se a buscar a construção de um Programa

de Qualidade no Serviço Público que estivesse alinhado com as novas propostas e que tivesse foco

em resultados e no cidadão. O ritmo deste desenvolvimento vinculou-se muito ao amadurecimento

paulatino das próprias equipes formuladoras da política de gestão e da implementação do programa.

No que diz respeito à adoção de um modelo de excelência, o grande salto se deu com o encontro do

programa do setor público com as experiências já em andamento no setor privado. Em 1997, a apro-

ximação do QPAP com a Fundação para o Prêmio Nacional da Qualidade (FPNQ) permitiu os contatos

iniciais com os Critérios de Excelência em Gestão e os primeiros passos na adaptação da metodologiapara o setor público. Quatro marcos caracterizaram a evolução do GESPÚBLICA, conforme ilustração

da figura 1.

introdução

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5454

N O T Í C I A SARTIGOFERREIRA, André R.

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 52-6754

Restrospectiva

Fonte: BRASIL, 2009, p. 7.

 Quatro marcos caracterizaram a evoluçãodo GESPÚBLICA

Figura 1

Os marcos evidenciam a evolução e o amadurecimento da própria filosofia, bem como das estratégiasdo Programa. Segundo o Documento de Referência, “o GESPÚBLICA é uma política pública formuladapara a gestão, que está alicerçada em um modelo de gestão pública singular que incorpora àdimensão técnica, própria da administração, a dimensão social, até então restrita à dimensão política”(BRASIL, 2009, p. 10).

Isto significa que o GESPÚBLICA busca promover a participação da sociedade no seu movimento. Suasprincipais características são: ser essencialmente público; estar focado em resultados para o cidadão;ser federativo. É uma política formulada a partir da premissa de que a gestão de órgãos e entidadespúblicos pode e deve ser excelente, pode e deve ser comparada com padrões internacionais de

qualidade em gestão, mas não pode nem deve deixar de ser pública.

A qualidade da gestão pública tem que ser orientada para o cidadão e desenvolver-se dentro doespaço constitucional demarcado pelos princípios da impessoalidade, da legalidade, da moralidade,da publicidade e da eficiência e precisa ser:

Focada em resultados para o cidadão: Sair do serviço à burocracia e colocar a gestão pública a serviçodo resultado dirigido ao cidadão tem sido o grande desafio do GESPÚBLICA. Entenda-se por resultadopara o setor público o atendimento total ou parcial das demandas da sociedade traduzidas pelosgovernos em políticas públicas. Nesse sentido, a eficiência e a eficácia serão tão positivas quanto acapacidade que terão de produzir mais e melhores resultados para o cidadão (impacto na melhoriada qualidade de vida e na geração do bem comum).Federativa: “A base conceitual e os instrumentos do GESPÚBLICA não estão limitados a um objetoespecí fico a ser gerenciado (saúde, educação, previdência, saneamento, tributação, fiscalização etc).Aplicam-se a toda a administração pública em todos os poderes e esferas de governo” (GESPÚBLICA,2009, p. 11). O GESPÚBLICA encontra-se, hoje, no rol dos grandes líderes nacionais do movimentopela Qualidade, Produtividade e Competitividade do Brasil, ao lado de instituições como a FundaçãoNacional da Qualidade (FNQ) e o Movimento Brasil Competitivo (MBC), e está integrado a redes comoo Fórum dos Programas Estaduais de Qualidade, Produtividade e Competitividade.

Desde a sua instituição em 1990, a construção de uma base conceitual e metodológica para agestão pública brasileira alinhada ao estado da arte da gestão contemporânea, mostrou-se, por si

só, um vantajoso e relevante resultado de todo o trabalho realizado. Trata-se do Modelo de Excelênciaem Gestão Pública (MEGP) o que permitiu o envolvimento de milhares de instituições públicas poradesão ao ciclo de autoavaliação e melhoria continuada da gestão, com a participação direta de 463órgãos e entidades (até 2009) – mediante candidatura a um ou mais ciclos de premiação do PQGF,

ComitêConceitual do

GESPÚBLICA

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55REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 52-67 55

Modelo de excelência em gestão pública

além da constituição de uma rede nacional de especialistas em gestão pública integrada por pessoase organizações que voluntariamente têm disseminado e defendido a adoção do Modelo de Excelênciaem Gestão Pública por entidades dos três poderes, nas três esferas de governo em todo o país.

O fórum onde se discute e aperfeiçoa o Modelo de Excelência em Gestão Pública é o Comitê

Conceitual do GESPÚBLICA, conduzido pelo Comitê Executivo do Programa Nacional de GestãoPública e Desburocratização. Para tratarmos do Comitê Conceitual do GESPÚBLICA, precisamos,antes, relembrar alguns fatos. Em 1998, o Prêmio Nacional da Gestão Pública foi criado como umaação estratégica do Programa Nacional de Gestão Pública e Desburocratização, com a finalidadede reconhecer e premiar as organizações públicas que comprovem, mediante avaliação feita poruma banca examinadora, desempenho institucional compatível com as faixas de reconhecimento epremiação (GESPÚBLICA, 2009). A banca examinadora avalia as candidatas com base no Modelo deExcelência em Gestão Pública, alinhado com o modelo de excelência de gestão utilizado pelos setorespúblico e privado em mais de 60 países, entre eles os prêmios President’s Quality Award (especí ficopara organizações públicas) e Malcoln Baldrige National Quality Award, dos Estados Unidos, assimcomo o Prêmio Nacional da Qualidade, do Brasil.

Já em 1998, adotaram-se no PQGF dois Instrumentos de Avaliação da Gestão – o de 500 pontos daFundação para o Prêmio Nacional da Qualidade, para Empresas Públicas e Sociedade de EconomiaMista, e um outro com adaptações iniciais para a Administração Direta, Fundações e Autarquias.Naquele ano, contava com um grupo de apoio ao gerenciamento de processo do Prêmio.Em 1999, montou-se o Comitê de Processo do PQGF e o Comitê de Educação, com o objetivo de apoiara gerência do Prêmio na implementação dos seus ciclos de avaliação e premiação, detalhando eacompanhando todo o processo, inclusive a definição e aplicação dos critérios de excelência. Naqueleano, produziu-se um Instrumento para Avaliação com critérios únicos para todas as candidatas etambém para uso na autoavaliação da gestão pública, ainda em 500 pontos.

Em 2000, elaborou-se e aplicou-se um Instrumento para Avaliação da Gestão Pública de 1000 pontos,

com um jargão bem aplicado à administração pública e com exemplos de métodos e aplicaçõesnos rodapés dos itens de cada critério. O Comitê de Processo do Prêmio continuou ativo, inclusive,apoiando o desenvolvimento de software especí fico para uso das Bancas Examinadoras.

Em 2001, o Comitê de Processo do PQGF teve o nome alterado para Comitê Conceitual do PQGF, comampliação das participações oriundas de vários estados da Federação. O Comitê Conceitual passou aconcentrar as atribuições, como a de formular o Modelo de Excelência (à época, chamado de Critériosde Excelência) que resultou no Instrumento de Avaliação da Gestão Pública utilizado no processo doPrêmio e da autoavaliação da gestão. Além disso, o Comitê Conceitual gerou subcomitês, chamadosde Comitê de Planejamento (para apoiar a elaboração e execução do planejamento do PQGF), Comitêde Educação (para apoiar a elaboração da capacitação das Bancas Examinadoras do Prêmio), Comitê

de Ética (para aperfeiçoar o Código de Ética do PQGF), Comitê de Informática (para apoiar e monitorara elaboração de software e sítio do PQGF) e Comitê de Marketing (com participação de representantesde organizações premiadas, para propor estratégias de potencialização da divulgação dos resultadosda premiação).

De 2001 a 2003, desenvolveu-se no Comitê Conceitual uma verdadeira comunidade de conhecimentoem excelência em gestão pública. Os comitês criados a partir de 2001 tiveram um cronograma demaior ou menor intensidade, em função do Ciclo de premiação, mas se mantiveram com atividadescontínuas anuais. Concentraram-se em um número definido de participantes, variando de 8 a 20 noComitê Conceitual, sendo que 6 estavam praticamente fixos em cada um dos demais comitês e namaioria das reuniões.

Em 2005, com a criação do GESPÚBLICA, o Comitê Conceitual do PQGF passou a se chamar ComitêConceitual do GESPÚBLICA, que recebeu a incumbência de atualizar o Modelo de Excelência emGestão Pública, tanto com os atuais requisitos do setor público, quanto em relação ao Modelo deExcelência em Gestão, também recém-atualizado, preconizado pela Fundação Nacional da Qualidade.

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O Comitê Conceitual passou a ser a instância técnica responsável por manter o GESPÚBLICA atualizadoe alinhado com o estado da arte1 da gestão contemporânea; por promover a atualização contínuados fundamentos e conceitos de excelência da gestão pública; promover ainda o alinhamento e aatualização contínuos dos instrumentos do Programa, tendo como referência o Modelo de Excelênciaem Gestão Pública; propor melhorias para os planos de ação decorrentes do Planejamento Estratégico

e para as ações executadas pelo GESPÚBLICA; assessorar tecnicamente a Gerência Executiva e oComitê Gestor do Programa, sempre que demandado, prospectar, desenvolver e propor instrumentose tecnologias de gestão para uso no âmbito do GESPÚBLICA.

Nos trabalhos, o Comitê Conceitual do GESPÚBLICA, de julho de 2005 a março de 2008, foi compostopor técnicos com conhecimento e experiência na área de gestão, parte dos quais necessariamentecom conhecimento e vivência do Modelo de Excelência em Gestão Pública e dos instrumentosadotados pelo GESPÚBLICA. Participaram, ainda, representantes da Gerência Executiva e dos Núcleosdo GESPÚBLICA, profissionais de organizações com notório engajamento na busca da excelência,tais como Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia (Inmetro), Petrobras, Eletronorte,Caixa Econômica, Banco do Brasil, Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcani

(HEMORIO), Exército Brasileiro, Marinha do Brasil, Tribunal de Contas da União, Fundação Oswaldo Cruz(FIOCRUZ), parceiros do GESPÚBLICA como o Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO)e a Associação Brasileira das Instituições de Pesquisa Tecnológica (ABIPTI), além de representantesdo Movimento Brasil Competitivo, do Fórum Nacional dos Programas de Qualidade, Produtividade eCompetitividade (Fórum QPC) e da Fundação Nacional da Qualidade.

Nesse período, a produção intelectual do Comitê Conceitual contou também com duas consultaspúblicas dirigidas a todos os integrantes do cadastro do GESPÚBLICA, que contava à época com cercade 28.000 nomes e contatos em todo o Brasil. Além disso, também foram chamados a participar adistância, apresentando propostas e questionamentos, os Comitês-Gestores dos Núcleos Estaduais eSetoriais do GESPÚBICA nos 27 Estados.O Comitê Conceitual organizou-se como uma instância plural, com participação de pessoas queacompanham o estado da arte da gestão contemporânea, de pessoas conhecedoras da gestãopública e de pessoas conhecedoras do GESPÚBLICA, em particular do Modelo de Excelência emGestão Pública e sua aplicação. Importante destacar, ainda, que a participação nas atividades doComitê Conceitual é voluntária, não remunerada e considerada serviço público relevante. Todos osparticipantes do Comitê Conceitual estão submetidos aos preceitos contidos no Código de Ética doGESPÚBLICA.

Aadoção de um Modelo de Excelência especí fico para a Gestão Pública tem como propósito con-siderar os princípios, conceitos e linguagem que caracterizam a natureza pública das organiza-

ções e que impactam na sua gestão. Não se trata de fazer concessões para a administração pública,

mas sim de entender, respeitar e considerar os principais aspectos inerentes à natureza pública dasorganizações e que as diferenciam das da iniciativa privada, sem prejuízo do entendimento de que aadministração pública tem que ser excelente e eficiente. Conforme o instrumento para avaliação da gestão pública – ciclo 2008-2009 (BRASIL, 2009), as váriascaracterísticas inerentes à natureza pública que diferenciam as organizações da administração públi-ca das organizações da iniciativa privada são:

o interesse público e a obrigação da continuidade da prestação do serviço público pelas organiza-ções privadas e a vontade privada que rege a iniciativa privada;

o controle social que implica garantia de transparência de ações e atos e institucionalização de

canais de participação social nas públicas e a preservação e proteção dos interesses corporativosnas privadas;

breveapresentaçãodo MEGP

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Modelo de excelência em gestão pública

o tratamento de equidade e de qualidade a todos pela administração pública e os critérios diferen-ciais de tratamento das empresas privadas;

o lucro financeiro e formas de garantir a sustentabilidade do negócio buscado pela iniciativa priva-da e a busca de gerar valor para a sociedade e formas de garantir o desenvolvimento sustentável

pelas organizações públicas;

o financiamento com recursos públicos das atividades públicas e os recursos de particulares quetêm legítimos interesses capitalistas nas privadas;

os destinatários das ações da administração pública são os cidadãos e os da iniciativa privada sãoos clientes atuais e os potenciais;

as decisões públicas devem considerar não apenas os interesses dos grupos mais diretamente afe-tados, mas, também, o valor final agregado para a sociedade como um todo;

o poder de regular e gerar obrigações e deveres para a sociedade próprio dos órgão públicos;

a legalidade dos atos da administração pública que dita os parâmetros de controle da administra-ção e do administrador para evitar desvios de conduta, enquanto a iniciativa privada pode fazertudo que não estiver proibido por lei.

Esse instrumento também define os conceitos de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicida-de e eficiência que normatizam as ações da gestão pública:

Legalidade: estrita obediência à lei; nenhum resultado poderá ser considerado bom, nenhuma

gestão poderá ser reconhecida como de excelência à revelia da lei.

Impessoalidade: não fazer acepção de pessoas. O tratamento diferenciado restringe-se apenas

aos casos previstos em lei. A cortesia, a rapidez no atendimento, a confiabilidade e o conforto são

requisitos de um serviço público de qualidade e devem ser agregados a todos os usuários indis-tintamente. Em se tratando de organização pública, todos os seus usuários são preferenciais, são

pessoas muito importantes.

Moralidade: pautar a gestão pública por um código moral. Não se trata de ética (no sentido de

princípios individuais, de foro íntimo), mas de princípios morais de aceitação pública.

Publicidade: ser transparente, dar publicidade aos fatos e dados. Essa é uma forma eficaz de

indução do controle social.

Eficiência: fazer o que precisa ser feito com o máximo de qualidade ao menor custo possível. Não

se trata de redução de custo de qualquer maneira, mas de buscar a melhor relação entre qualida-

de do serviço e qualidade do gasto (BRASIL, 2009, p. 9).

O Modelo de Excelência em Gestão Pública deve estar alicerçado em fundamentos próprios da ges-

tão de excelência contemporânea e condicionado aos princípios constitucionais próprios da naturezapública das organizações. Esses fundamentos e princípios constitucionais, juntos, definem o que seentende hoje por excelência em gestão pública (Instrumento para Avaliação da Gestão Pública Ciclo2008/2009, Brasil (2009):

1. Pensamento sistêmico: entendimento das relações de interdependência entre os diversos

componentes de uma organização com foco na sociedade.

2. Aprendizado organizacional: busca contínua de novos patamares de conhecimento, individu-

ais e coletivos.

3. Cultura da Inovação: promoção de um ambiente favorável à criatividade, experimentação e

implementação de novas ideias que possam gerar um diferencial para a atuação da organização.

4. Liderança e constância de propósitos: elemento promotor da gestão, responsável pela orien-

tação, estímulo e comprometimento para o alcance e melhoria dos resultados institucionais vi-

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sando ao desenvolvimento da cultura da excelência, à promoção de relações de qualidade e à

proteção do interesse público.

5. Gestão baseada em processos e informações: compreensão e segmentação do conjunto das

atividades e processos da organização que agreguem valor para as partes interessadas.

6. Visão de Futuro: indicação do rumo de uma organização e a constância de propósitos a man-

tém nesse rumo. Inclui, também, a compreensão dos fatores externos, com o objetivo de geren-

ciar seu impacto na sociedade.

7. Geração de Valor: alcance de resultados consistentes, assegurando o aumento de valor tangível

e intangível de forma sustentada para todas as partes interessadas.

8. Comprometimento das pessoas: estabelecimento das relações com as pessoas, criando condi-

ções de melhoria da qualidade nas relações de trabalho, profissional e humanamente.

9. Foco no cidadão e na sociedade: direcionamento das ações públicas para atender as necessi-

dades dos cidadãos e da sociedade.

10. Desenvolvimento de parcerias: atividades conjuntamente com outras organizações que te-

nham objetivos especí ficos comuns.

11. Responsabilidade social: atuação voltada para assegurar às pessoas a condição de cidadania

com garantia de acesso aos bens e serviços essenciais, ancorada no princípio da igualdade dedireitos e da dignidade humana.

12. Controle Social: atuação que se define pela participação das partes interessadas no planeja-

mento, acompanhamento e avaliação das atividades da Administração Pública e na execução das

políticas e programas públicos.

13. Gestão participativa: estilo de gestão que determina uma atitude gerencial de liderança que

busque o máximo de cooperação das pessoas, reconhecendo a capacidade e o potencial diferen-

ciado de cada um e harmonizando os interesses individuais e coletivos (Brasil, 2009, p10).

O Modelo de Excelência em Gestão Pública é composto por oito critérios que, juntos, compõem um sistemade gestão para as organizações do setor público brasileiro: liderança, estratégias e planos, cidadãos, sociedade,

informação e conhecimento, pessoas, processos e resultados.

Os Critérios de Excelência fazem parte de um modelo que propõe como sistemática avaliar-se a

gestão, tomando-se como referência o estado da arte em gestão, em geral desenvolvido a partir

dos prêmios nacionais da gestão. A ideia é a de que, para melhorar a eficiência e a eficácia das

organizações em geral, precisamos ter uma visão e uma abordagem sistêmica da gestão, além

de ter empresas que, tratando de todos os stakeholders, sejam socialmente responsáveis (Brasil,

2009, p. 18).

Fonte: Instrumento para Avaliação da Gestão Pública – Ciclo 2008-2009(BRASIL, 2009, p. 18).

Critérios de um sistema de gestão de ór-gão público

Figura 2

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Modelo de excelência em gestão pública

O sistema de pontuação adotado pelo MEGP é o mesmo utilizado pela Rede Nacional de Prêmios epreconizado pela Fundação Nacional da Qualidade. Os Critérios de Excelência são compostos poritens de avaliação, com distribuição de pontos que podem variar entre 250, 500 e 1000 na somade todos os itens. O sistema de pontuação visa a determinar o estágio de maturidade da gestão daorganização nas dimensões de Processos Gerenciais e Resultados Organizacionais. Na dimensão de

Processos Gerenciais, são avaliados os fatores enfoque, aplicação, aprendizado e integração. Na di-mensão de Resultados Organizacionais, são avaliados os fatores relevância, tendência e nível atual.

Critérios e itens de avaliação epontuação máximas

Tabela 1

Os oito critérios, hoje chamados de processos de gestão, apresentam em itens os conjuntos de re-quisitos que caracterizam a excelência em gestão. A pontuação de 1000 pontos foi distribuída porconsenso do Comitê Conceitual do GESPÚBLICA, respeitando o equilíbrio entre práticas e resultados,que recebe 45% da pontuação.

As faixas de pontuação global são um indicativo do nível de maturidade alcançado pela gestão de

uma organização. A soma da pontuação dos 25 itens dos critérios gera a pontuação global da organi-zação, que se enquadra numa das seguintes faixas:

Fonte: Instrumento para Avaliação da Gestão Pública – Ciclo 2008-2009 (Brasil, 2009, p. 25).

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Faixas de pontuação global da gestão

Tabela 2

Fonte: Instrumento para Avaliação da Gestão Pública – Ciclo 2008-2009 (Brasil, 2009, p. 71).

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Modelo de excelência em gestão pública

A descrição da maturidade organizacional apresenta, como referência, o tipo de enquadramento re-lacionado às faixas de pontuação apresentadas nas avaliações, permitindo perceber, em linhas gerais,as principais características. Serve como referência inicial, mas a análise pormenorizada da avaliação,requisito a requisito, levará às conclusões detalhadas sobre o estágio da gestão. A tabela é de grande

importância para viabilizar a comparabilidade entre organizações similares, para o estabelecimen-to de evolução organizacional em linha de tempo e também para processos de reconhecimento epremiação. Os níveis 1, 2 e 3 representam os níveis iniciais de maturidade da gestão, os níveis 4, 5 e6 representam maturidade de boa gestão e os níveis 7, 8 e 9 representam maturidade de excelênciaem gestão.

Considerando as diferentes definições de qualidade, seu amplo conceito e variadas interpretações,observa-se que medir a qualidade ou a excelência, principalmente no serviço público, não é umaatividade trivial. A medida atual de performance no setor público, ilustrada na figura seguinte, indicaque o processo de produção da administração pública começa com objetivos ou alvos/metas queimplicam o uso de investimentos e processos administrativos organizados, resultando em produtosque podem ser definidos como bens ou serviços de saída do ponto de vista da organização, mas,

do ponto de vista dos “clientes” ou cidadãos, eles são percebidos como resultados. Segundo Loffler(apud FERREIRA, 2003), menos esforços têm sido feitos para definir e medir as saídas administrativase relacioná-las com as entradas.

fundamentação

para o uso de mode-los avaliativos

 importância do MEGP

Fundamentos para o uso dosmodelos avaliativos de gestão

Figura 3

Modelos de Excelência em Gestão são próprios para a avaliação da gestão de organizações públicasou privadas. Por meio deles, é possível “medir” os níveis de gestão das organizações em relação aoestado da arte preconizado. O modelo utilizado para avaliar as organizações, principalmente em prê-mios de qualidade, consiste, em geral, na descrição do método e aplicação das práticas de gestão ena descrição dos resultados institucionais, com apresentação dos indicadores e das conclusões, deacordo com as metas estabelecidas e com a missão organizacional.

Avaliar, palavra originária do vocábulo latino valere (valor), significa apreciar o mérito, julgar o valor,determinar o valor real, segundo Bueno (Apud FERREIRA, 2003). Avaliar é emitir um juízo de valorsobre uma determinada coisa ou fato. A palavra avaliar permeia todos os campos da ciência. Nasciências sociais, em seu sentido mais amplo, refere-se a todas as formas de valoração da ação so-cial orientada para objetivos. Avaliação, portanto, refere-se a uma atividade que pode tomar muitasformas, ter variados objetivos e ser implementada sob diferentes perspectivas, segundo Guirlanda(apud FERREIRA, 2003).

A sobrevivência e o crescimento das organizações dependem cada vez mais da habilidade de seusadministradores em reconhecer os desafios organizacionais que enfrentam, desvendar novas oportu-nidades e escolher a resposta administrativa correta para fazer as mudanças necessárias. O problemaconsiste em como os administradores possam intervir ou prevenir os problemas e, ao mesmo tempo,buscar novas oportunidades. A resposta para essa questão está baseada na avaliação organizacional,

que é capaz de fornecer, ao executivo ou ao administrador, informações importantes que poderão ser

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usadas para solucionar ou descobrir os problemas, capitalizar oportunidades e melhorar os proces-sos, segundo Michael (apud FERREIRA, 2003).

O simples fato de que um planejamento tenha sido feito e de que tenha sido construída uma estru-

tura organizacional para permitir que sejam atingidos seus objetivos e que as funções de liderançasejam desempenhadas, não significa que as finalidades da organização tenham sido atingidas. O maudesempenho de qualquer função administrativa aumenta a importância dos ajustes a serem feitos,seja nos meios para atingir os objetivos, seja nos próprios objetivos. A avaliação é o elo final na cadeiafuncional da administração, que permite verificar se as atividades estão ocorrendo conforme planeja-das, propondo correções nos desvios, segundo Robbins (apud FERREIRA, 2003).

Para Hadji (apud Ferreira, 2003), a avaliação é um ato de “leitura” da realidade observável comparadacom um padrão desejado. O exemplo do modelo de avaliação da gestão proposto para a FIOCRUZ,elaborado por Gerson Rosenberg (2002), vem ilustrar o esforço e o processo de adaptação do modelode avaliação das organizações públicas brasileiras, em consonância com o Programa Qualidade noServiço Público. Rosenberg (2002) esclarece que:

o modelo de avaliação da Fiocruz foi formulado baseado nas orientações para implementação doPrograma da Qualidade no Serviço Público (1999) e nos modelos de Hadji (1994) e de Robbins(1986). Este toma como referência os critérios do Modelo de Excelência do PQGF, que é conside-rado como sendo o ideal a ser seguido por uma organização pública. No modelo de avaliaçãoproposto, para que os desempenhos institucionais pretendidos sejam eficazmente alcançados, énecessário que as práticas gerenciais sejam estabelecidas com base nas estratégias organizacio-nais e, portanto, fundamentadas em padrões de trabalho (procedimentos, fluxogramas, normas,rotinas...) criados para orientar a execução das mesmas. Quanto mais bem definidos e realistasforem esses padrões de trabalho, mais facilmente poderão ser identificados e corrigidos os seusdesvios. Padrões inadequados de trabalho podem causar deficiências operacionais, tais como:retrabalho, baixa produtividade, má qualidade dos produtos e serviços e aumento dos custos. É

importante destacar que o bom desempenho organizacional depende da aplicação e do grau dedisseminação das práticas gerenciais por toda a organização. O desempenho global organizacio-nal, medido juntamente com as práticas gerenciais, serão auto-avaliados para serem comparadoscom os critérios estabelecidos pelo Modelo de Excelência. Desta forma, são também verificadosos pontos fortes e as oportunidades de melhoria da gestão. Havendo a existência de desvios emrelação aos padrões estabelecidos e/ou aspectos a serem melhorados, deve ser elaborado umPlano de Melhoria da Gestão. Para facilitar a divulgação e a capacitação da força de trabalho, deveser elaborado um Plano de Comunicação e outro de Capacitação. Porfim, todos os planos devemestar alinhados com o Modelo de Excelência do PQGF (ROSENBERG, 2002, p. 38).

Fonte: (ROSENBERG, 2002, p. 39).

Modelo ideal de gestão

Figura 4

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Modelo de excelência em gestão pública

O conceito sobre avaliação, postulado pelo GESPÚBLICA, assegura que, quando a avaliação da ges-tão é sistematizada, esta funciona como uma forma de aprendizado sobre a própria organização etambém como instrumento de melhoria das práticas gerenciais. Desta forma, a avaliação permiteidentificar os pontos fortes e os aspectos gerenciais menos desenvolvidos em relação ao referencial

comparativo e que devem ser melhorados.

Avaliação da gestão pública

Figura 4

Vejamos, agora, algumas considerações feitas em relação ao Modelo de Excelência em Gestão daFundação Nacional da Qualidade, que consideramos pertinentes também para o MEGP, preconizadopelo GESPÚBLICA.

Segundo Santos (2008), o Modelo de Excelência em Gestão (MEG) está baseado em um conjunto defundamentos já comprovados e reunidos pela teoria da administração, extraídos da prática de em-presas líderes de classe mundial. Como todo modelo, sua relevância é inspirar, orientar e estimular asempresas a observarem estes fundamentos para que alcancem ou certifiquem a excelência de suagestão. Considera-se a empresa como um sistema, admitindo as relações de interdependência entreseus diversos componentes internos. Reconhece-se a empresa como um sistema orgânico adaptávelque se relaciona, influencia e é influenciado pelo ambiente externo (ecossistema).

O MEG, quando avaliado nas empresas para a concessão do Prêmio Nacional da Qualidade, reconhe-ce e leva em consideração o aprendizado de experiências exitosas semelhantes ocorridas no Japão(o prêmio Deming), na Europa (o prêmio EFQM) e nos Estados Unidos (o Prêmio Malcolm Baldrige), jáconsagradas e com filosofia e objetivos semelhantes.

Santos (2008) esclarece, também, que o modelo baseia-se na adoção do pensamento sistêmico e en-volve os vários elementos internos e externos da organização. Apresenta-se um modelo flexível, comuma linguagem simples, e respeitam-se as características e limitações de cada organização, não seprescreve ferramentas ou práticas de gestão especí ficas e sim analisam-se aquelas que são utilizadaspela organização e seu respectivo desempenho. O autor enfatiza que a metodologia fornecida pelomodelo adota e utiliza critérios claros e universais para parametrização e avaliação do desempenhoda organização, possui um caráter quantitativo claro, que facilita a compreensão dos resultados obti-dos e sua comparabilidade, funciona como parâmetro de benchmarking para avaliação, diagnósticoe desenvolvimento do modelo da gestão na direção da busca por excelência. Aponta, pela pontuação

obtida, em qual estágio a organização se encontra e proporciona um diagnóstico claro e preciso emrelação ao alcance da excelência na sua gestão, além de fornecer, periodicamente, um relatório daavaliação com indicações para aperfeiçoamento dos processos da organização.

Quanto aos benefícios trazidos pelo modelo, Santos (2008) reforça que seu uso contínuo permiteum acompanhamento da evolução da gestão da organização para orientar os seus esforços e açõesna busca da excelência de sua gestão, cria uma rede de relacionamentos intraorganizacionais comobjetivos comuns, confere reconhecimento público e favorece a imagem da organização, contribui,através de exemplos de empresas cujas práticas gerenciais são reconhecidas como excelentes, para adivulgação das mesmas, despertando o interesse de outras empresas na a busca da excelência.

Custódio (2008) apresenta algumas conclusões sobre a busca de um modelo ideal de excelência:

1. Os Modelos de Excelência têm sido um ótimo instrumento para provocar e aprimorar as discussõessobre a melhoria do desempenho das Organizações.

2. Os Modelos têm tido uma alta aceitação de empresas e governos na busca de melhoria da compe-titividade e da produtividade.

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3. Na medida em que determinados atributos tornam-se commodities no mercado, os modelos têmbuscado incorporar novas dimensões para medir a Excelência.

4. Algumas destas dimensões chocam-se entre si, visto que as decisões empresariais implicam esco-lhas, envolvem riscos diferenciados, envolvem leituras diferenciadas de uma “mesma realidade” e sãotomadas dentro de contornos de uma racionalidade limitada.

5. A dinâmica das atividades econômicas e empresariais, cada dia mais, está inserida em um ambientede interdependência e de coordenação sistêmica progressivamente mais complexa.

Custódio (2008) observa que:

-FUNDIDADE. -TICO ou de PREDIÇÃO.

em um modelo. em CAPTURAR as DIMENSÕES “REAIS” do objeto. -ÇÃO generalizada. resultados da modelagem. este torna-se para tratar as peculiaridades de diferentes negócios (Ibidem, p. 13).

“Nós não podemos controlar um sistema sem criar um modelo deste. O risco é construir um modeloque não combine com a natureza do sistema” (CONTI apud SWANWICK, 2007).

Lima (2007) esclarece que:

para o GESPÚBLICA, avaliar é comparar o sistema de gestão de uma entidade ou órgãopúblico com o Modelo de Excelência em Gestão Pública. A utilização pura e simplesdo modelo na avaliação de sistemas reais de gestão tornaria o trabalho extremamentesubjetivo e, portanto, frágil em termos de comparabilidade e de informações objetivaspara orientar processos de melhoria. A (I solução adotada foi a tradução dos elementosdo sistema-modelo em critérios de avaliação. [...] É necessário implementar na avaliaçãoda gestão a prática do retorno ao Modelo, assim que o diagnóstico dos pontos fortes edas oportunidades de melhoria esteja concluído (Ibidem, , p. 101).

Em meados dos anos 80 do século XX, nos Estados Unidos, um grupo de especialistas analisou umasérie de organizações bem sucedidas em busca de características comuns que as diferenciassem

das demais. As características identificadas foram consideradas como os fundamentos para a forma-ção de uma cultura de gestão voltada para a excelência e deram origem aos critérios de avaliação e àestrutura do Malcolm Baldrige National Quality Award (MBNQA) nos EUA.

O Modelo de Excelência do PNQ e o Modelo de Excelência em Gestão Pública foram desenvolvidosalicerçados naquele mesmo conjunto de fundamentos. Ao longo do tempo, aqueles foram atualiza-dos em função do aparecimento de novos valores de gestão de organizações excelentes. O Modelode Excelência em Gestão Pública, além de alicerçado nos fundamentos citados, está condicionadoaos princípios constitucionais próprios da natureza pública das organizações, definidos no Artigo 37da Constituição Federal.

A Tabela 3 a seguir apresenta os fundamentos dos dois modelos e os princípios constitucionais doModelo de Excelência em Gestão Pública.

fundamentoscomparados

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Modelo de excelência em gestão pública

Fonte: Ferreira, 2009.

 Fundamentos comparados– MEGP e MEG

Tabela 3

Com a atualização do MEGP em 2007, de acordo com as mudanças recém-implementadas no MEG,ocorreu forte alinhamento entre os dois modelos. Observa-se, na tabela comparativa dos fundamen-tos do MEGP e do MEG, que há uma grande aproximação dos fundamentos, com diferenças clarasentre o Foco no Cidadão e na Sociedade e o Conhecimento sobre o Cliente e o Mercado em outro. A

existência de dois fundamentos a mais – Controle Social e Gestão Participativa – para o MEGP, comoessenciais para o setor público e por caracterizarem o envolvimento de todas as partes interessa-das no planejamento, acompanhamento e avaliação da administração pública e a implementaçãode um estilo de gestão que deva refletir o processo e a maturidade da democratização de nosso país,destacando-se numa visão geral.

Esta análise mostra que as maiores diferenças nos fundamentos encontram-se na adaptação do rela-cionamento com os clientes e mercados (visão empresa privada), com o cidadão-cliente (visão orga-nização pública) e no relacionamento com a sociedade.

Cabe ressaltar que, embora os nomes dos fundamentos se aproximem, os respectivos conteúdos sedistanciam em vários pontos devido às especificidades do setor público e suas características intrín-secas e diferenciadoras. Estas diferenças aprofundam-se quando passamos para os Critérios e requi-

sitos dos dois prêmios. A preocupação do Comitê Conceitual do GESPÚBLICA constituiu-se em sealinhar os fundamentos, critérios, itens e alíneas, bem como sistemas de pontuação comuns aos doismodelos, além de uma caracterização mais forte das diferenças pertinentes ao setor público no MEGP.

Segundo Lima (2006), a compreensão sobre e o compromisso de se respeitar a natureza pública dosórgãos e entidades da administração pública fizeram com que uma verdadeira batalha fosse trava-da entre aqueles que partem do princípio de que organização pública e organização privada, emtermos de gestão, são absolutamente a mesma coisa. Em consequência, se a organização privadatem qualidade e o setor público não, basta implantarem-se no setor público as práticas de gestãodo setor privado. É um argumento formalmente correto, porém materialmente falso. O setor privadonão é igual ao setor público, além do que a alegada qualidade do segundo, na prática e sob a ótica docliente, é difícil de ser comprovada. Apesar da diferença essencial, evidente no Direito Constitucional,do Direito Administrativo, conforme descrito no item 2 deste artigo, muitas práticas e a própria lógicada gestão orientada para resultados é perfeitamente aplicável a um ou a outro setor. Tal semelhançapermite estabelecer adequados referenciais comparativos entre uma organização pública e uma or-ganização privada, sejam estas organizações brasileiras ou de outro país.

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6666

N O T Í C I A SARTIGOFERREIRA, André R.

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 52-6766

A necessidade da existência de um modelo especí fico para as organizações públicas é evidenciadapelo fato de existirem requisitos especí ficos para estas organizações além da linguagem aproximada.A comparação entre os fundamentos e os critérios dos dois prêmios mostra que ambos possuem fun-damentos, requisitos e sistemas de pontuação similares e comparáveis aos do MBNQA e ao PrêmioEuropeu, que são dois dos mais importantes prêmios de excelência do mundo.

Ao longo desses onze anos de desenvolvimento do Modelo de Excelência em Gestão Pública, foipossível constatar as suas potencialidades, o seu poder de permitir uma visão sistêmica da gestão

organizacional e também a sua multiplicação.

Apenas a título de ilustração, apresento uma lista de possibilidades já testadas e comprovadas deaplicação do Modelo de Excelência em Gestão Pública:

Avaliação da gestão organizacional (por unidade ou por organização inteira). Avaliação em processos de premiação da gestão pública. (Exemplos: Prêmio Nacional da Gestão

Pública, Prêmio Qualidade Amazonas, Prêmio Sorocaba de Gestão Pública) Avaliação da gestão municipal (nesse caso, envolvendo o Prefeito e Secretários). Avaliação de Plano Diretor de Cidades, com adaptação da aplicação do Modelo. Avaliação de Programas do PPA (Plano Plurianual). Avaliação de implementação e gestão de Política Pública, com adaptação do Modelo e da sua apli-

cação (Exemplo: Avaliação da Política de Redução da Demanda de Drogas). Avaliação da gestão de instituições públicas de ensino superior, com adequação do Modelo e sua

aplicação (Exemplos: USP e UNICAMP) Levantamento e identificação do conjunto de melhores práticas de gestão, valoradas e validadas

pelo processo de avaliação da gestão. Utilização do Modelo e sua aplicação para subsidiar planejamento estratégico organizacional

(Exemplos: Tribunal de Contas da União e Secretaria de Orçamento Federal/MP) Utilização do MEGP como referencial para a implementação de Programa de Excelência Gerencial

em organização pública complexa (Exemplo: Ministério da Justiça) Utilização do MEGP para a geração de Índice de Ganho Social pelo GESPÚBLICA. Utilização do MEGP para verificação do grau de atingimento dos objetivos estratégicos definidos e

gerenciados com base no BSC - Balanced Scorecard. Utilização do MEGP, mais especificamente dos Critérios de Excelência, para classificar indicadoresde gestão organizacional complexa.

Utilização do MEGP para facilitar a obtenção de certificações ISO.

O exemplo acima pode aqui ser comentado: a Bureau Veritas Quality Institute (BVQI) –, realizou, em2004, uma análise comparativa da Norma ISO 9001:2000, com os Critérios de Excelência utilizadospelo Prêmio Nacional da Gestão Pública. Em seu relatório, declara que:

A ISO 9001:2000 é um modelo de “Gestão da Qualidade” aplicável a organizações de qualquernatureza, incluindo organizações públicas, organizações não governamentais e empresas priva-das. No mundo, existem mais de 600 mil organizações certificadas de acordo com a norma ISO9001:2000, muitas delas no Brasil. Comparamos os dois modelos (a norma ISO 9001:2000 e oPQGF) para demonstrar como uma organização pode, a partir dos princípios da ISO 9001:2000,alcançar os preceitos do PQGF e, também, como uma organização aderente aos princípios doPQGF pode obter o reconhecimento internacional de um Sistema de Gestão da Qualidade cer-tificado. Em resumo, uma organização que possua a ISO 9001:2000 pode complementar o seumodelo de Gestão para obter o PQGF ou certificação de nível de gestão pela autoavaliação, apro-veitando integralmente todo o sistema ISO. Uma Organização que possua um sistema de Gestãoaderente ao PQGF, com pequenos ajustes, poderá também obter a certificação ISO 9001:2000(BVQI, 2005, p. 14).

 Em 2005, realizou-se um estudo comparativo dos Critérios de Excelência utilizados pelo Prêmio Na-cional da Gestão Pública, com as seguintes normas: ISO 9001:2008, ISO 9004:2000, AS 8000:2001, OH-SAS 18:001, ISO 14001:2004, ISO/TS 16949:2004 E TL 9000 Release 3.0. As comparações identificaramsignificativa cobertura dos requisitos das normas pelos Critérios de Excelência, permitindo constatara ação de reforço entre as Normas e o Modelo de Excelência, bem como a facilitação do alcance das

partes de um pela implementação de outro.

uso e aplicaçãodo MEGP

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67REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 52-67 67

Modelo de excelência em gestão pública

Percebemos, enfim, que o Modelo de Excelência em Gestão Pública, pela consistência e validade,é uma realidade consagrada. Não tínhamos a pretensão, neste trabalho, de encerrar o tema, mas

apenas de resgatar uma parte da história do Comitê Conceitual e da evolução do Modelo de Exce-lência em Gestão Pública, de enfatizar a sua importância e ampliar o olhar sobre sua aplicação. Éimportante iniciar e provocar novas reflexões para a continuidade, cujos caminhos e diretrizes devem

emanar do GESPÚBLICA.

Encontramo-nos realmente numa corrida “sem linha de chegada”, na busca contínua pela excelênciana gestão pública; nessa busca, os princípios constitucionais são respeitados como premissas e osfundamentos da excelência em gestão vistos como metas de uso pleno.

Cabe, nestas palavras de conclusão, um agradecimento a toda esta rede de colaboradores voluntáriosque construíram o MEGP, inserindo o Brasil entre os detentores de uma experiência diferenciada emsua gestão pública e, principalmente, por terem os mencionados colaboradores desenvolvido umModelo de Excelência em Gestão Pública alinhado com o estado da arte em gestão, com instituiçõese redes de voluntariado e com especialistas em estágios que permitam a sua plena expansão e utili-zação.

conclusão

BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Secretaria de Gestão. Programa Nacional de GestãoPública e Desburocratização – GesPública. Prêmio Nacional da Gestão Pública – PQGF. Documento de Referência.Brasília: MP, SEGES, 2009.

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referências 

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68

ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

Os investimentos diretos estrangeiros na China eno Brasil nos anos 90 do século XX: uma análise

comparativa e sua evolução

Este artigo analisa a aplicação da teoria da abertura comercial nos países emergentes da Ásia e da AméricaLatina, em especial na China e no Brasil, em um processo de globalização. A aplicação dessa política é feita,diferentemente na China e no Brasil, em função das especificidades de cada país. Essas especificidades sãoresponsáveis pela criação, na China, das Zonas Econômicas Especiais (ZEE) e das Zonas de DesenvolvimentoEconômico e Tecnológico (ZDET) para maximizar os Investimentos Diretos Estrangeiros (IDEs). Estes investi-mentos desempenharam uma função muito importante para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB).Houve, ainda, o crescimento do comércio chinês gerando a exportação de bens, com ênfase nos produtos tec-nológicos. Quanto ao Brasil, a falta de políticas econômicas internas orientadas não resultou como, na China,

em um forte crescimento do PIB e do comércio.

Palavras-chave: investimentos diretos estrangeiros, zonas econômicas especiais, zonas de desenvolvimentoeconômico e técnico, , China e Brasil

This article analyses the application of trade liberalization theory in the emergent countries of Asia and Latin America, in

 particular in China and Brazil, in a globalization process. The application of these policies has been carried out di ff erently in

China and Brazil, according to the speci fi cities of each country, speci fi cities which have led China to create the special eco-

nomic zones (ZEE- abbreviation in Portuguese) and zones of economic and technological development (ZDET- abbreviation

in Portuguese) to attract more direct foreign investments (IDEs - abbreviation in Portuguese). These investments have very performed an important function in the growth of the gross domestic product (PIB – abbreviation in Portuguese), thus

 permitting exports of goods with strong technological content in China. However, in the case of Brazil, the absence of guided

internal economic policies in this direction did not favor strong growth of the PIB and trade in respect to China.

Keywords: direct foreign investments, special economic zones, economic and technological development zones,

China and Brazil.

r esumo

Foreign direct investment in China and Brazil in the 90th century: a comparative

analysis and evolution

LANSANA SEYDI Universidade Gama Filho/ Rio de Janeiro - [email protected] 

abstract

A R T I G O

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69REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 68-78

Os investimentos diretos estrangeiros na China e no Brasil nos anos 90 do século XX

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Os investimentos diretos estrangeiros na China e no Brasil nos anos 90 do século XX

6969

A China e o Brasil são dois países emergentes na economia mundial. Nos últimos 20 anos, essespaíses conseguiram melhorar sua economia nacional graças à abertura aos investimentos es-trangeiros. Aliás, a China é a terceira potência econômica mundial, passando do 32º ao 4º lugar,

pois seu Produto Interno Bruto (PIB) é estimado em seis vezes mais que há 20 anos. Portanto, é umaeconomia aberta e orientada para o mercado (LLADSER, 2000). A China ocupa o 2º lugar mundial emInvestimento Direto Estrangeiro (IDE) e, ao mesmo tempo, é o 8º país investidor do mundo.

O Brasil ocupa o 9º lugar da economia mundial, é o primeiro país em recebimento de IDE na AméricaLatina e também fez reformas para atender às necessidades requeridas pelo mercado financeiro. Es-sas reformas coincidem com a chegada do presidente sócio-democrata, Fernando Henrique Cardoso,em 1994, que inseriu o país na lógica do consenso de Washington, em 1990 e 1992. (ZANTMAN; TRO-TIGNON, 2002).

Tanto na China como no Brasil foram feitas diversas concessões por meio de vantagens fiscais paraatrair os IDE e acelerar o processo do crescimento. Dessa forma, na China, uma parte dos benefíciosdas empresas é destinada ao autofinanciamento das multinacionais. Neste sentido, o Estado Centralda China, que acordou com uma “fome do desenvolvimento” após a morte de Mao Tse Tung em 1976,

manifesta uma verdadeira vontade de desenvolvimento que não seja baseada unicamente na mãode obra abundante e barata, o que não é o caso do Brasil.

Para desenvolver melhor este trabalho, o objetivo proposto articula uma análise comparativa de qua-tro grandes eixos: os Investimentos Diretos Estrangeiros (IDEs) na China e no Brasil, os InvestimentosDiretos da China no Brasil, os Investimentos Diretos do Brasil na China e a estratégia das EmpresasTransnacionais (ETN).

Neste trabalho, a metodologia adotada é quantitativa por meio de levantamentos, buscas e análisesde dados em bases nacionais e internacionais. A metodologia adotada combina pesquisa empírica ebibliográfica. A revisão bibliográfica compreendeu a leitura de livros, de revistas cientí ficas, de teses,de periódicos eletrônicos, de documentos diplomáticos e estatísticos.

Os principais resultados deste trabalho não estão voltados para a verificação da teoria econômicaliberal, a qual afirma que, quando um país abre seu mercado, recebe mais IDE. Essa teoria é verificadana China, mas não se aplica à situação observada no Brasil, como mostra o Gráfico 1 indicando umfluxo de investimentos estrangeiros bem maior naquele país.

As zonas econômicas especiais são um fator determinante na atratividade dos investimentos diretosestrangeiros na China. Assim, o Brasil torna-se menos atrativo em comparação à China por não pos-suir essas zonas. As políticas econômicas adotadas por cada país, que acompanham a abertura aocapital estrangeiro, fazem a diferença entre ambos.

introdução

Evolução dos Investimentos DiretosEstrangeiros Brasil-China (em milhõesde US$ )

Gráfico 1

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Brasil China

Fonte: Dados do FMI , elaboração do autor

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N O T Í C I A SARTIGO

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 68-78

SEYDI, L.ansana

70

No final dos anos 70 do século XX, o líder chinês Deng Xiao Ping começou a fazer uma reforma dosistema econômico, pois o país estava hermeticamente fechado aos investimentos estrangeiros.

Essa reforma conduziu o país ao crescimento que conhecemos hoje, com o PIB de 11% e uma entradamaciça de IDE.

A maioria dos países emergentes abriu sua economia ao capital estrangeiro, como é o caso da Chinae do Brasil. Mas pode essa abertura econômica conduzir a um maior crescimento e desenvolvimentodo comércio? A resposta deve ser dada com cautela, pois os resultados são diferentes na China e noBrasil devido às políticas internas e às diferentes realidades regionais e nacionais.

No tocante aos efeitos positivos dos IDEs, não há consenso entre os economistas. Para os neoliberais,os IDEs têm efeitos positivos nos países que os recebem. Essa não é a posição da Escola da Dependên-cia (SALAMA, 1990) nem dos economistas do desenvolvimento. Entende-se sobre essa questão – olegado positivo dos IDEs – uma posição de equilíbrio em relação às opiniões dos neoliberais e dosdesenvolvimentistas, mas, quando se trata da abertura econômica dos países ao capital estrangeiro,o que se questiona é o “como”, ou seja, como abrir o mercado à concorrência indiscriminadamentesem permitir que o país corra o risco de destruição econômica. Na China, o Estado marxista e centra-lizador controla e orienta os IDEs. No caso do Brasil, há controle dos IDEs, mas não a orientação em

determinados setores da economia. Na China, se um investidor quiser investir em tecnologia de baixaqualidade, como a da indústria de bebidas, o país não permite isso, pois já dispõe de tecnologia paradesenvolvê-lo.

A combinação de uma economia de mercado - capitalista ou liberalista - e de um regime socialista àmoda chinesa é uma experiência sem precedentes no mundo. Isso nos mostra quão atrativa a Chinase torna em relação aos IDEs.

No gráfico 1, há uma evolução diferente das curvas dos IDEs da China e do Brasil. Essa evolução maiorda curva da China em relação a do Brasil é explicada pelo maior volume de entrada dos IDEs. Issoexplica a grande diferença sustentável mostrada pela evolução da curva causada pela política internadas Zonas Econômicas Especiais (ZEE) e das Zonas de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico(ZDET). Essas zonas elevaram, a partir dos anos 90 do século anterior, a curva da China, distanciando--a da do Brasil.

A implementação das ZEEs e das ZDETs desempenharam um papel muito importante na atratividadedos Investimentos Diretos Estrangeiros (IDEs) na China, pois gerenciam o capital estrangeiro. Comoo próprio nome indica, as zonas econômicas especiais detêm certo privilégio em relação às outrasregiões na China. Nessas regiões, o governo central adota políticas especiais que as autorizam a fun-cionar sob sistemas econômicos e de gestão diferenciados.

O governo central classifica e confia a gestão das zonas econômicas especiais às autoridades locaisnas províncias. Essas zonas são projetadas para as exportações de produtos acabados e desempe-nham uma dupla função na economia chinesa, o que não acontece na economia brasileira. São a“vitrine” do crescimento dos IDEs e das importações de tecnologias avançadas, o que não ocorre noBrasil, conforme demonstra Gráfico 1. Observa-se, nesse gráfico, que o período de forte crescimentodos IDEs, de 1994 a 2000, corresponde à mesma época de privatização das empresas públicas no Bra-

sil. Após a saturação das vendas das empresas públicas, constata-se um declínio dos IDEs no Brasil atéo ano de 2003, quando voltou a confiança no país com a chegada do petista Luis Inácio Lula da Silva.

Por sua natureza, as ZEEs representam os lugares nos quais os IDEs se concentram. Assim, mais de 200empresas multinacionais investiram em 400 projetos industriais. A economia das ZEE se desenvolvemais rapidamente, com índices que crescem mais que a média nacional. Com sua posição geográficaprivilegiada e sua proximidade dos grandes centros de transportes e dos grandes centros urbanos,essas zonas registram um ritmo de desenvolvimento muito importante para a China.

As empresas autorizadas a serem implantadas nas ZEEs são as sociedades sino-estrangeiras, ou seja,as empresas estrangeiras que se unem às chinesas, ou as empresas estritamente estrangeiras. O quenos parece normal na medida em que essas zonas foram feitas para atrair os IDEs e tiveram um impac-to positivo na economia da China. Um dos maiores impactos observa-se pelo fato de os lugares ondeas reformas econômicas foram aplicadas servirem como uma espécie de laboratório.

As ZEEs são zonas geográficas especí ficas e delimitadas, nas quais suas reformas econômicas são tes-tadas com o intuito de se verificar o seu funcionamento. Se as reformas forem bem sucedidas, então

Evolução dosinvestimentosdiretos da Chinae do Brasil

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71REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 68-78

Os investimentos diretos estrangeiros na China e no Brasil nos anos 90 do século XX

71

as ZEEs são estendidas para outras regiões geográficas ou territoriais e, se não apresentarem bonsresultados, os estragos ficam minimizados e limitados apenas às áreas de teste.No caso especí fico da China, as reformas econômicas deram certo e foram estendidas às outras regi-ões, contribuindo bastante para a evolução da taxa de crescimento do PIB e do comércio, conformeobserva-se nos gráficos 2, 3 e 4 a seguir.

Brasil China

    D   e   z    6    1

    M   a    i    6    3

    O   u   t    6    4

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    S   e   t    7    4

    F   e   v    7    6

    J   u    l    7    7

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    M   a    í    8    0

    O   u   t .    8    1

    M   a   r    8    3

    A   g   o    8    4

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    J   u   n    8    7

    N   o   v    8    8

    A    b   r    9    0

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    F   e   v    9    3

    J   u    l    9    4

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    M   a   r    0    0

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    B   r   a   s    i    l

     C    h    i   n   a

Taxa de crescimento do PIB da China -Brasil

Gráfico 2

Considera-se, a respeito da taxa do crescimento do PIB da China e do Brasil, com base no Gráfico 2,que há uma forte estabilidade na economia brasileira, embora haja uma evolução ondulatória paraos dois países até 1991. A partir daí, houve um crescimento ascendente e regular devido às políticaseconômicas adotadas pela China.

Os dados do Gráfico 2 também demonstram que o Brasil cresceu mais que a China nos anos 60 do sé-culo passado. Isso se explica pela falta de políticas econômicas internas voltadas para o crescimento

da economia na China, a qual passava pelo período do regime político de Mao, que morreu em 1976.

O ano de 1976 marca o início da política de abertura econômica na China engajada pelo sucessor doMao, no final dos anos 70 e início dos anos 80 do século passado. As reformas econômicas de DengXiao Ping, presidente da China que autorizou a abertura do país, têm contribuído significativamentepara o forte crescimento do PIB da China, enquanto os anos 80 foram considerados como a décadado declínio econômico no Brasil. Esse declínio foi causado pela política monetária – a hiperinflação -,provocando assim a queda da taxa do crescimento nessa mesma época.

Observamos no Gráfico 3 que, entre 1967 e 1995, os PIBs do Brasil e da China andavam na mesmadireção. De 1995 e 1998, o crescimento chinês acelerou enquanto o do Brasil estagnou e tendeu aodeclínio de 1999 a 2002. Houve uma recuperação no crescimento do Brasil a partir de 2003. A máperformance do Brasil, a partir de 1995, foi atribuída às crises do balanço de pagamentos, conhecidas

pelos países emergentes, e às políticas restritivas internas de luta contra a infl

ação. Essas políticasprovocaram uma valorização da taxa de câmbio e inibiram os investimentos que propiciassem a ma-nutenção do ritmo de crescimento econômico.

Fonte: Dados do FMI , elaboração do autor

3500000

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    2    0    0    5

    2    0    0    7 Evolução do PIB entre a China e o

Brasil entre 1967 e 2007 (em milhõesde US$ corrente)

Gráfico 3

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As medidas econômicas tomadas na China permitiram ao país ter maior crescimento do PIB em re-lação ao do Brasil, embora tenha havido certa retomada do crescimento do PIB no Brasil a partir de2003, conforme mostra o Gráfico 3. A aceleração do crescimento da China coincide com o aumentoda participação do comércio total chinês no percentual do PIB. Isso demonstra que as políticas deestimulação do comércio internacional são importantes para promover um crescimento econômicoelevado, como se observa na China. A estagnação do comércio internacional brasileiro explica tam-

bém a suspensão do crescimento do seu PIB.

No tocante ao PIB por habitante, o do Brasil é maior que o da China, como demonstrado no Gráfico 4.Porém, o PIB por habitante da China está crescendo acentuadamente desde o início dos anos 80. Se ocrescimento da China continuar muito forte, como o registrado nestes últimos anos, em média, 11%ao ano, é possível que os chineses alcancem o mesmo PIB por habitante do Brasil, o qual mascara asimensas desigualdades sociais brasileiras.

PIB Brasil PIB China

    D   e   z    6    0

     D   e   z    6    2

     D   e   z    6    4

     D   e   z    6    6

     D   e   z    6    8

    D   e   z    7    0

    D   e   z    7    2

    D   e   z    7    4

    D   e   z    7    6

    D   e   z    7    8

    D   e   z    8    0

    D   e   z    8    2

    D   e   z    8    4

    D   e   z    8    6

    D   e   z    8    8

    D   e   z    9    0

    D   e   z    9    2

    D   e   z    9    4

    D   e   z    9    6

    D   e   z    9    8

    D   e   z    0    0

    D   e   z    0    2

    D   e   z    0    4

    D   e   z    0    6

4500

4000

3500

3000

2500

2000

1500

1000

500

0

Evolução do PIB por habitante naChina e no Brasil (em US$)

Gráfico 4

O elevado PIB por habitante não significa necessariamente uma boa repartição das riquezas do país.As desigualdades sociais existentes na China revelam, como no Brasil, os índices de concentração derenda, sendo que a realidade brasileira ocupa os primeiros lugares no ranking da má distribuição derenda.

A comparação entre o desempenho do crescimento do PIB e da taxa de desemprego do Brasil e deoutros países do BRIC - Rússia, Índia e China - que não adotaram a mesma política de meta de inflação,como o Brasil, mostra que, se a inflação foi controlada no Brasil, os outros países também conseguirãoa estabilidade dos preços com um forte crescimento do PIB, conforme indicado na Tabela 1.

Fonte:Dados do FMI, eleboração do autor

PeríodoBrasil China Índia Rússia

PIB Desemprego PIB Desemprego PIB Desemprego PIB Desemprego

1999 0,25 8,3 7,60 3,1 6,92 - 6,40 12,4

2000 4,31 7,9 8,40 3,1 5,69 - 10,00 10,7

2001 1,31 6,8 8,30 3,6 3,89 - 5,10 9,1

2002 2,66 7,9 9,10 4,0 4,56 - 4,70 8,0

2003 1,15 12,3 10,00 4,3 6,86 - 7,30 8,3

2004 5,72 11,5 10,10 4,2 7,89 - 7,20 8,1

2005 3,16 9,8 10,40 4,2 9,13 - 6,40 7,6

2006 3,75 10,0 11,60 4,1 9,82 - 7,40 7,2

2007 5,42 9,3 11,90 0,0 9,34 - 8,10 -Média 3,08 9,3 9,71 3,40 7,12 - 6,96 8,93

Comparação entre a taxa docrescimento do PIB e a taxa dedesemprego entre o Brasil e ospaíses do grupo BRIC que nãoadotaram a meta inflação de1999-2007*

Tabela 1

* Os dados sobre o desempregoda China não estão disponíveis

no banco de dados do FundoMonetário Internacional (FMI).

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Os investimentos diretos estrangeiros na China e no Brasil nos anos 90 do século XX

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Considerando unicamente o período da meta inflação1 e levando em conta o coeficiente de variaçãodo PIB, observamos que, nesse período, a taxa de crescimento do PIB no Brasil é a menos elevada, mastambém o país apresenta um coeficiente de variação do PIB elevado, ou seja, a dispersão em torno damédia do PIB é elevada. No caso do Brasil, a partir de 2004, o país manteve uma taxa de crescimentodo PIB acima de 4%.

O crescimento do PIB brasileiro de 2004 a 2007 é explicado por dois fatores que não são sustentáveisa médio e a longo prazo: de um lado, o extraordinário aumento dos preços das matérias-primas ex-portadas pelo Brasil e, de outro lado, o crescimento do mercado interno, causado pelas políticas deredistribuição de renda adotadas pelo governo a partir de 2003, com o aumento do salário mínimo, oprograma Bolsa Família e o crédito consignado.

A China tem muito dinheiro, pois suas reservas ultrapassam os US$ 2 trilhões. Uma parte significa-tiva está financiando milhares de investimentos públicos em infraestrutura, gerando emprego e

renda. Não há risco de inflação nem de descontrole monetário, já que o governo central ostenta umsuperávit de 10% em suas contas, que lhe garante os investimentos em seu próprio território.

O povo chinês se vê, hoje, como uma potência econômica mundial e está disposto a vencer todos os

obstáculos para atingir o seu objetivo principal de investir capital em países estrangeiros, meta queestá fixada há décadas. Isso impulsiona a China a investir no mundo, como, por exemplo, no Brasil.

O comércio entre os dois países aumentou de US$ 9,1 bilhões a US$ 36 bilhões no ano de 2009, oque faz da China o primeiro parceiro comercial do Brasil à frente dos Estados Unidos (2° lugar) e daEspanha (3° lugar). Só na Petrobras, a China investiu US$ 10 bilhões. A maior parte dos IDEs chinesesestão orientados para os recursos naturais, como o petróleo, o minério de ferro e a soja etc., embora atendência seja a diversificação de investimentos, como as montadoras de automóveis (Chery, Geely)que chegam ao Brasil, aumentando o volume do comércio exterior chinês, que pode chegar a 5,3trilhões em 2020 ( CBCDE, 2010, p.16).

InvestimentosDiretos da Chinano Brasil

 Taxa de imposto sobre as sociedades nos países de origem – Em bilhões US$

2000 2001 2002 2003 %Hong-Kong 15,5 16,7 17,9 17,7 17,5

Ilhas Virgens Britânicas 3,8 5,0 6,1 5,8 1,0

Japão 2,9 4,3 4,2 5,1 42,0

Coreia 1,5 2,2 2,7 4,5 29,7

Estados Unidos 4,4 4,4 5,4 4,2 40,0

Taipei Chinês 2,3 3,0 4,0 3,4 25,0

Cingapura 2,2 2,1 2,3 2,1 22,0

Samoa Ocidental 0,3 0,5 0,9 1,0 0,0

Ilhas Caimans 0,6 1,1 1,2 0,9 0,0

Alemanha 1,0 11,60 4,1 9,82 19,0

Total dos países acima 34,5 40,6 45,6 45,4 21,0Total 40,7 46,9 52,7 53,5

Em percentual do PIB 3,8 4,0 4,2 3,8Fonte: Base de dados CEICI, KPMG em 2004 e governos nacionais.

As origens geográficas dos IDEsda China

Tabela 2

OBrasil é um país que faz parte do grupo de países BRIC (Brasil, Rússia, Índia, China), cuja sigla foiinventada por economistas do banco Goldman & Sachs motivados por um estudo da previsão

dos países que poderiam ultrapassar aqueles atualmente mais desenvolvidos até 2050. O Brasil, porser um país emergente que recebe IDEs, investe igualmente no mundo, como por exemplo, na China.Por enquanto, os IDEs brasileiros são relativamente baixos em relação aos da China no Brasil, devidoàs dificuldades para entrar no mercado chinês. Nos últimos anos, as cooperações bilaterais aumen-taram e se intensificaram, facilitando a entrada dos IDEs brasileiros, como é o caso da Petrobras e daEmbraer, que já estão investindo na China.

InvestimentosDiretos do Brasilna China

1 Meta inflação significa controlar a inflação com a taxa de juros, quando se percebe que a inflação está subindo,aumenta-se a taxa de juros para frear ou abaixar, aumentando assim o poder aquisitivo da população.a

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  Dez 1995 Dez 2000 2001 2002 2001-2002

País Estoque % Estoque % Fluxos % Fluxo % Somatório fluxos %

USA 10852 26,0 24500 23,8 4531 21,4 2614 13,9 7145 17,9

Espanha 251 0,6 12256 11,9 2763 13,0 587 3,1 3350 8,4

Holanda 1546 3,7 11055 10,7 1897 8,9 3348 17,9 5245 13,1França 2031 4,9 6931 6,7 1908 9,0 1815 9,7 3723 9,3

Portugal 107 0,3 4512 4,4 1703 8,0 1019 5,4 2722 6,8

Inglaterra 1863 4,5 1488 1,4 407 1,9 475 2,5 882 2,2

Alemanha 5828 14,0 5110 5,0 1047 4,9 628 3,3 1675 4,2

Bélgica 558 1,3 657 0,6 112 0,5 34 0,2 0146 0,4

Itália 1259 3,0 2507 2,4 278 1,3 473 2,5 751 1,9

 Japão 2659 6,5 2468 2,4 825 3,9 504 2,7 1329 3,3

Suécia 567 1,4 1578 1,5 54 0,3 205 1,1 259 0,6

Canadá 1819 4,4 2028 2,0 448 2,1 989 5,3 1437 3,6

Suíça 2815 6,8 2252 2,2 179 0,8 347 1,9 526 1,3

Argentina 394 0,9 758 0,7 --- --- --- --- --- ---

Paraísosfiscais 4186 10,0 13502 3,1 3537 16,7 4095 21,8 7632 19,1

Outros países 4962 11,9 11415 11,1 1521 7,2 1621 8,6 3142 7,9

Total 41696 100.0 103015 100,0 21210 100,0 18754 10,0 39964 100,0

Fonte: Dados do FMI, elaboração do autor

As origens geográficas dos IDEsdo Brasil

Tabela 3

Os dois países – Brasil e China - exportam também serviços, conforme é mostrado no grá fico 5. Ob-serva-se que a curva do Brasil fica acima da curva chinesa de 1960 a 2005. Isso significa que o Brasilé mais desenvolvido que a China, pois os países desenvolvidos exportam mais serviços do que ospaíses em desenvolvimento.

Brasil China

    D   e   z    6    0

    D   e   z    6    3

    D   e   z    6    6

    D   e   z    6    9

    D   e   z    7    2

    D   e   z    7    5

    D   e   z    7    8

    D   e   z    8    1

    D   e   z    8    4

    D   e   z    8    7

    D   e   z    9    0

    D   e   z    9    3

    D   e   z    9    6

    D   e   z    9    9

    D   e   z    0    2

    D   e   z    0    5

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Fonte: Dados do FMI, elaboração autor

Evolução do valor agregado dosetor de serviços (% PIB)

Gráfico 5

As Empresas Transnacionais ressalvam uma profunda reorganização do sistema internacional de pro-dução, o que demonstra uma tendência à separação geográfica das atividades de produção ou decomercialização de bens e serviços em relação à constituição de cadeia de valores de produtos naescala internacional. Este modelo de produção constitui a essência do formato organizacional dosistema internacional de produção das ETN (UNCTAD, 2001).

a estratégiadas EmpresasTransacionais

(ETN)

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Os investimentos diretos estrangeiros na China e no Brasil nos anos 90 do século XX

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Empresas Multinacionais Empresas MultinacionaisV. Négocios externo

Mil milhões US$Transnacionalidade

Índice UNCTAD

1 Wal-Mart Stores USA 256,33 40,794 23.5

2 BP – Reino Unido 232,57 145,982 81.3

3 Exxon-Mobil Corporation-USA 228,88 141,274 65.1

4 General Motors – USA 185,52 48,071 27.95 Ford Motor Company – USA 164,20 54,472 47.4

6 Daimler-Chrysler AG-Alemanha 157,13 46,137 23.6

7 Toyota Motor – Japão 135,82 72,820 45.7

8 General Electric – USA 134,19 45,403 40.6

9 Royal Dutch/Shell (Holanda/R Unido) 133,50 114,294 62.4

1 0 Total Fina Elf – France 131,64 77,461 74.9Fonte: PNUD (2004).

As Maiores Empresas Mul-tinacionais em volume denegócios

Tabela 4

É cada vez mais importante a visão que se teêm das ETN nas redes internacionais de produção enos processos de tomada de decisão em relação à distribuição espacial das funções produtiva e co-mercial dessas empresas. As transnacionais chinesas e brasileiras tendem a seguir este formato danova ordem econômica internacional. Contudo, nem as transnacionais chinesas, nem as brasileirasconseguem figurar entre as 10 maiores empresas multinacionais, seja em volume de negócios, sejaem postos de trabalho.

Empresas Multinacionais Nº total de postos de trabalho Nº total de postos de trabalho

1  Wal-Mart Stores (EUA) 1 400 000 300 000

2  Siemens AG (Alemanha) 426 000 251 340

3  McDonald´s Corporation (EUA) 413 000 237 269

4  Carrefour SA (França) 386 762 271 031

5  Daimler-Chrysler AG (Alemanha) 365 571 72 540

6 Ford Motor Company (EUA) 350 321 188 453

7  Royal Ahold NV (Holanda) 341 909 236 698

8  Hitachi ltd (Japão) 339 572 83 478

9  Deutsche Post World Net (Alemanha) 327 676 108 609

10  Volkswagen Group (Alemanha) 324 892 157 887Fonte: UNCTAD (2004b). Os dados são referentes ao ano de 2002

As Maiores Empresas Mul-tinacionais em Postos deTrabalho

Tabela 5

Na China e no Brasil, a produção que envolve conteúdo tecnológico é menor em relação aos paísesdesenvolvidos, o que ocorre principalmente no Brasil. A produção brasileira se especializa na produ-ção dos bens primários, pois as ETN que operam no Brasil concentram-se nas indústrias agroalimen-tares, químicas, de automóveis e de bebidas e, sobretudo, no setor de transformação dos recursosnaturais.

Oacesso aos mercados internacionais é uma questão muito delicada, pois está ligado ao proble-ma das barreiras que envolve o livre comércio e constitui dificuldades de acesso aos mercados

mundiais. É um assunto bastante relevante para os países em desenvolvimento, como a China e oBrasil, pois grande parte do comércio internacional realizado por esses países sofre com as barreirascomerciais impostas pelos países importadores. Por exemplo, a União Europeia coloca as cotas deimportação sobre os produtos chineses e os Estados Unidos, sobre os produtos brasileiros.

A questão do acesso aos mercados internacionais opõe-se aos diferentes interesses dos países de-senvolvidos e em desenvolvimento. Os interesses comerciais dos países desenvolvidos, no cenáriointernacional, são muito diferentes de países como a China e o Brasil. É pertinente notar que os paí-ses desenvolvidos insistem para que as barreiras comerciais sejam eliminadas possibilitando o livrecomércio dos itens, os quais têm desvantagem comparativa de custos. Exemplo disso é o setor daagricultura e o dos bens manufaturados (ver Apêndice A), por demandarem muitos recursos naturais,sem influência alguma sobre a definição das regras do comércio internacional, continuam a reclamar

o estabelecimento das normas ou regras de comércio mais livres e justas.Esta política de mercado dos países desenvolvidos contra os países em desenvolvimento faz com queas negociações sobre a agricultura da Rodada de Daho (Qatar) não cheguem a um resultado até hoje.

acesso aomercado

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As negociações multilaterais da Rodada de Uruguai (1986-1994) também não demonstraram muitafirmeza, pois não conduziram aos resultados esperados dos países em desenvolvimento em relaçãoao livre comércio, e os países desenvolvidos continuam insistindo sobre o comércio de serviços, asIDEs e a propriedade intelectual (KRUGMAN, 1991). A relação do comércio mundial com os paísesdesenvolvidos e em desenvolvimento impõe muitos obstáculos às exportações da China e do Brasilno mercado mundial.

O objetivo principal deste artigo foi analisar comparativamente a evolução dos IDEs nos paísesemergentes dos continentes asiático e latino-americano, com foco na China e no Brasil, contra-

pondo os resultados dessa evolução à teoria dominante da abertura ao capital estrangeiro estar su-bordinada ao volume das transações comerciais e dos IDEs. Em oposição a essa teoria, a da Escola daDependência defende a abertura da economia ao mercado externo como fator de dominação daseconomias periféricas nos países emergentes e em desenvolvimento. Compreende-se que não háconsenso entre os economistas em relação a essas teorias.

A China e o Brasil são dois países emergentes da economia mundial e orientada para os investimen-tos diretos estrangeiros e o comércio internacional. A China é considerada a última grande nação doregime comunista e, ao mesmo tempo, é uma das grandes potências comerciais internacionais apósa abertura do seu mercado. Esse país ultrapassou o Brasil em recebimento dos IDEs e em grau deabertura do seu comércio ao capital estrangeiro.

A ascendência econômica da China é explicada pela aplicação de políticas internas, como por exem-plo, as Zonas Econômicas Especiais (ZEE) e as Zonas de Desenvolvimento Econômico e Tecnológico(ZDET) nos primórdios dos anos 80, iniciadas por Deng Xiao Ping após a morte de Mao na segundametade dos anos 70. Na China, as ZEEs e ZDETs têm como objetivo principal atrair os InvestimentosDiretos Estrangeiros (IDEs) e impulsiona o governo central chinês a tomar medidas que permitam àsempresas reduzir os custos de investimento, de financiamento e de exploração, devido às políticaseconômicas preferenciais nessas zonas geográficas.

No Brasil, existe a Zona Franca de Manaus. Apesar do seu papel na economia brasileira, ela não con-segue atrair o volume de mais de 20% do comércio total de IDEs que as ZEEs e ZDETs alcançam naChina.

consideraçõesfinais

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N O T Í C I A SARTIGO

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 68-78

SEYDI, L.ansana

787878

N O T Í C I A SARTIGO

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 16-36

SEYDI, L.ansana

78

Valor agregado dos bens manufaturados em % do PIB

O Gráfico demonstra o valor agregado dos bens manufaturados em porcentagem do PIB da China edo Brasil e a diferença da evolução das curvas desses países. Considera-se que, entre 1967 e 1969, háuma queda do valor agregado dos bens manufaturados da China em relação ao do Brasil.

A partir de 1969, a curva da China ultrapassou a do Brasil em relação ao valor agregado até 2005. Issoé explicado pelo expressivo grau de abertura econômica da China ao capital estrangeiro, conduzindoa uma igualmente expressiva de entrada dos IDEs, o que não é o caso do Brasil, pois as orientações depolíticas industriais deste país são diferentes.

apêndice A 

ChinaBrasil

Fonte: Dados do FMI, elaboração

    D   e   z    6    5

    D   e   z    6    7

    D   e   z    6    9

    D   e   z    7    1

    D   e   z    7    3

    D   e   z    7    5

    D   e   z    7    7

    D   e   z    7    9

    D   e   z    8    1

    D   e   z    8    3

    D   e   z    8    5

    D   e   z    8    7

    D   e   z    8    9

    D   e   z    9    1

    D   e   z    9    3

    D   e   z    9    5

    D   e   z    9    7

    D   e   z    9    9

    D   e   z    0    1

    D   e   z    0    3

    D   e   z    0    3

45

40

35

30

25

20

15

10

5

0

Valor agregado dos bens manufa-turados em % do PIB

Gráfico

Evolução do comércio total (%) PIB- China- Brasil – 1970- 2006

O gráfico indica que no Brasil quase não há políticas industriais devido às políticas macroeconômicasque não favorecem investimentos elevados para acelerar o crescimento, como é o da China. A taxade juros é muito mais elevada no Brasil do que na China, o que é um dos fatores importantes paradesmotivar o investidor estrangeiro.

apêndice B 

Brasil China

    D

   e   z    7    0

    D

   e   z    7    2

    D

   e   z    7    4

    D

   e   z    7    6

    D

   e   z    7    8

    D

   e   z    8    0

    D

   e   z    8    2

    D

   e   z    8    4

    D

   e   z    8    5

    D

   e   z    8    8

    D

   e   z    9    0

    D

   e   z    9    2

    D

   e   z    9    4

    D

   e   z    9    6

    D

   e   z    9    8

    D

   e   z    0    0

    D

   e   z    0    2

    D

   e   z    0    4

    D

   e   z    0    6

80

70

60

50

40

30

20

10

0

Fonte: Dados do FMI, elaboração autor

Evolução do comércio total (%)PIB- China- Brasil – 1970- 2006

Gráfi

co

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A R T I G O

79

Avaliação do planejamento de transporte em nívelestratégico das cidades-sede da Copa de 2014

O presente trabalho tem como objetivo avaliar os planos estratégicos de quatro cidades brasileiras que sedia-rão os jogos da Copa do Mundo de 2014. Com este propósito, utilizou-se a metodologia para planejamentoestratégico de Kölbl; Niegl; Knoflacher (2008) e a visão estratégica de Güell (2006). Foi desenvolvida umamatriz comparativa temática a fim de se avaliar os planos relacionados com transporte nas cidades, de formaque possibilitasse o entendimento dos seus pontos fracos. Com base nisso, foram propostas soluções, tal comoa formulação de indicadores.

Palavras-chaves: planejamento de transporte; plano estratégico; indicadores.

This study aims to evaluate the strategic plans of four Brazilian cities that will host the games world cup 2014.

For this we used the methodology for strategic planning Kölbl et al (2008) and understanding of the formulationof a strategic vision Güell (2006), a comparative matrix was developed to assess the thematic plans related to

transportation planning of cities so as to enable an understanding of the weaknesses in planning and proposing

 solutions, such as the formulation of indicators.

Keywords: transportation planning; strategic plan; indicators.

r esumo

Evaluation of transportation planning at the strategic level of the host cities of 2014

World Cup

ÉRICA MARQUES Universidade de Brasília

FRANCISCO CABO Universidade de Brasília 

GIOVANA CLAUDE Universidade de Brasília

JULIANA PIRES PENNA Universidade de Brasília

NOEMIA GOMES Universidade de Brasília

PASTOR WILLY GONZALES TACO  Universidade de Brasília – [email protected]

abstract

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

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8080

N O T Í C I A SARTIGOMARQUES, Érica et.al

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 79-8980

Em novembro de 2007, o Brasil foi anunciado pela Federação Internacional de Futebol (FIFA) comoo país sede da Copa do Mundo de 2014, um dos maiores evento desportivo, que torna o país foco

das atenções mundiais. Desde então, há a preocupação por parte das autoridades administrativas dascidades-sede em se organizarem para este evento internacional.

Sediar uma Copa de Mundo implica em muita responsabilidade, pois é algo que pode alavancar aeconomia e trazer resultados fantásticos quanto à atração de turistas. Porém, tudo deve ser planeja-do, uma vez que os efeitos podem ser contrários aos desejados se os investimentos não forem ade-quados, acarretando dívidas para o Estado em detrimento dos poucos benefícios gerados à popula-ção. Quando a infraestrutura implementada fica subutilizada, ou até mesmo ociosa após o términodo evento, há prejuízo para os cofres públicos. Observa-se, portanto, a importância do planejamentode um grande acontecimento.

O transporte ocupa um espaço significativo na realização de um megaevento. A estrutura para o re-cebimento das pessoas vindas do exterior o transporte aéreo, terrestre, hidroviário e marítimo entreas próprias cidades-sede e os pontos de interesse turístico no país, além do transporte urbano sãofundamentais para o sucesso do evento e para que os visitantes tenham uma boa impressão do país.Sendo assim, para atender à expectativa, é necessário um planejamento adequado do sistema detransportes, pois este se configura como um indutor ou inibidor dos deslocamentos.

A FIFA geralmente escolhe dez cidades para sediar a Copa. No entanto, devido à extensão do ter-ritório brasileiro, foram selecionadas doze cidades distribuídas em todo o território nacional. Essascidades iniciaram suas obras baseado-se em planejamento realizado a partir da data em que foramselecionadas. E é exatamente sobre alguns desses planejamentos que este texto discute.

Como se sabe, um bom planejamento é fundamental para se obter o resultado almejado. Porém, oBrasil, historicamente, não é um país onde a cultura do planejamento tenha sido totalmente insta-

lada e auferida. Assim, este trabalho objetiva analisar, comparar e sugerir ajustes em quatro planosmunicipais relacionados aos transportes: Brasília, Recife, Manaus e Salvador. A seleção destas cidadesfoi feita a partir da disponibilidade de acesso aos planos municipais voltados para a Copa. Para isso,utilizou-se a metodologia aplicada ao planejamento estratégico de Kölbl; Niegl; Knoflacher (2008).

De acordo com Kölbl; Niegl; Knoflacher (2008), o planejamento estratégico, cada vez mais, faz partedo planejamento de transporte, seja ele em qualquer esfera governamental. Um dos motivos

seria que o transporte envolve muitos aspectos técnicos, socioeconômicos e ambientais. Essa com-plexidade de fatores tornar os planos inconsistentes e acarreta mútliplas interpretações, fazendo comque as políticas se distanciem muito das necessidades dos transportes.

A solução para isso pode se dada por meio de um planejamento estratégico. Seguindo um métodoqualitativo, todas estas questões que o transporte envolve seriam analisadas em um mesmo esque-ma consistente, que poderia ser acompanhado e monitorado rigorosamente por anos. Uma metodo-logia que atenda a estes requisitos é a formulada por Kölbl; Niegl; Knoflacher (2008), que se baseia emuma combinação de teorias de controle com a teoria de sistema hierárquico.

O sistema de controle fornece uma estrutura rigorosamente ordenada das complexas relações entreobjetivos, medidas e indicadores. Na Figura 1 temos o ciclo de controle desenvolvido a partir dessasrelações. Nele, observa-se que o processo de feedback permite adaptações dos objetivos, conformeos outputs do ciclo, tornando o sistema dinâmico. É necessário, no entanto, que os elementos decontrole e regulação sejam bem definidos, assim como o sistema de indicadores, para que não haja

nenhuma discrepância entre a realidade e os dados que alimentam o ciclo.

introdução

metodologiaparaplanejamentoestratégico

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Avaliação do planejamento de transporte em nível estratégico das cidades-sede da Copa de 2014

81

(Fonte: Kölbl; Niegl; Knoflacher, 2008)

Ciclo de Controle e o Processo deFeedback 

FIgura 1

Já o sistema hierárquico vem contribuir com a metodologia, distinguindo os temas envolvidos, de-compondo o complexo sistema de transporte em objetos mais simples. Esta subdivisão deve ser feitade forma bastante criteriosa para que se possa simplificar o objeto de estudo sem perder a visão dotodo.

Da combinação das duas metodologias, teorias de controle e de sistema hierárquico, Kölbl; Niegl;Knoflacher (2008) desenvolveram uma matriz na qual o sistema hierárquico define suas linhas e ociclo de controle explica cada coluna. Desta forma, cada aspecto do sistema hierárquico recebe umciclo de controle e tudo se sintetiza em uma matriz comparativa.

Essas teorias consistem em uma base completa para se desenvolver um planejamento estratégico detransporte regional, estadual, nacional ou até internacional. Além disso, pode-se fazer uma análiseou comparação de planejamentos de transporte já desenvolvidos pelos governos, identificando oselementos e prevendo pontos críticos. Para compreender o planejamento estratégico das cidades,utilizou-se os conceitos de Güell (2006).

Para alcançar o planejamento estratégico de uma cidade, é necessário ter uma visão clara de futu-ro. Em termos gerais, a formulação desta visão estratégica representa posição assumida pela cidadefrente ao futuro, após uma análise dos condicionantes impostos pelo entorno, pela demanda e pelosistema urbano no qual atua.

De acordo com Güell (2006), para se obter um planejamento estratégico eficiente em uma cidade épreciso seguir, no mínimo, os três passos básicos apresentados a seguir.

Desenhar os cenários futuros: são esboços da previsão de evolução da cidade frente a diversas op-ções de comportamento de entorno. Durante todo o processo, deve haver a participação, comu-nicação e retroalimentação para o melhoramento dos resultados. Este processo envolve as cincoetapas: caracterização funcional das cidades, identificação e avaliação das tendências de mudan-ças, criação e desenvolvimento de cenários e determinação das implicações.

Formular e desenvolver a visão estratégica desejada para a cidade: analisando os cenários futuros,deve-se então formular e desenvolver a visão estratégica sobre a cidade. Essa visão tenta expressar,de maneira mais qualitativa que quantitativa, qual o futuro cenário que a cidade deseja alcançarem relação às suas questões econômicas, sociais e físicas, isto é, tenta estabelecer quais os objeti-

vos do processo de planejamento.

Identificar os pontos críticos para alcançar a visão estratégica: esta etapa visa à identificação dospontos mais frágeis da visão estratégica, isto é, os temas que, por sua condição crítica, podemimpulsionar ou frear a realização do modelo planejado para a cidade. Esses temas críticos indicamas áreas em que se devem concentrar os esforços da comunidade para que o planejamento sejabem sucedido.

planejamentoestratégico dascidades

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N O T Í C I A SARTIGOMARQUES, Érica et.al

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 79-8982

Após a identificação dos três passos básicos, optou-se por verificar quais as necessidades para a re-alização de grandes eventos esportivos, analisando experiências de países-sede anteriores, como aAlemanha e a África do Sul.

O planejamento de transporte tem algumas variações de enfoque e diferentes abrangências. Uma

delas diz respeito ao planejamento de grandes eventos. A maioria desses eventos gera grande

aglomerações de pessoas, o que afeta o sistema de transporte tanto no local do evento como no seu

entorno, podendo seus efeitos chegarem a ter dimensões maiores.

A organização de um megaevento num país de dimensão continental como o Brasil é uma tarefa bas-

tante complexa, principalmente no que se refere a transportes. Segundo Matias (2001), para facilitar

a participação dos interessados, deve-se buscar condições favoráveis nos diversos modos (aéreo, ter-

restre e hidroviário). Além dos transportes que garantem acesso a todas as localidades em que ocorre

o evento, os participantes também necessitam de transportes para a circulação interna, ou seja, para

traslados, como: aeroporto/hotel; hotel/local do evento; hotel/local de atividades sociais e culturais;local do evento/hotel e hotel/aeroporto.

De acordo com Carvalho; Hill; Taco (2008), o processo de planejamento de transporte para um grande

evento deve ser dividido em três etapas: pré-evento, evento e pós-evento. A seguir, apresentam-se as

atividades a serem desenvolvidas em cada uma dessas etapas.

Pré-evento: é necessário que se faça a classificação do tipo de evento que será realizado, a caracte-

rização da área de estudo, a identificação dos autores envolvidos e suas respectivas responsabili-

dades, bem como o estudo da demanda.

Evento: é necessário que se efetuem as operações necessárias em relação ao sistema de transpor-tes; que envolve especificamente o serviço de transporte, o sistema de informação, o tráfego e a

sinalização de acesso.

Pós-evento: deve-se, por fim, fazer uma avaliação do nível de comunicação entre os atores envol-

vidos e os impactos produzidos pelo megaevento.

Para comparação, pesquisaram-se sobre os dois países-sede das últimas Copas do Mundo, África do

Sul (2010) e Alemanha (2006), que como trará ao Brasil, um evento como a Copa traz consigo legados

e impactos negativos.

Cada evento esportivo, dependendo da localização e de outros fatores, tem a sua particularidade.

A Copa do Mundo de Futebol na Alemanha (2006), por exemplo, conseguiu receber um número

significativo de visitantes porque sua localização geográfica, suas dimensões territoriais, modelos ur-

banísticos e infraestrutura foram aspectos facilitadores. Os demais europeus, por exemplo, contavam

com a vantagem de estarem no mesmo continente, acostumado com o fuso horário, além do fato

de ser possível, em alguns casos, ir e voltar de trem no mesmo dia, sem ter despesas com hotelaria.

Em contrapartida, resguardando-se as particularidades de cada país, a África do Sul, que recebeu a

Copa em 2010, dependeu bastante de viagens intercontinentais. E, além da localização, as distâncias

entre as suas cidades-sede são bem maiores do que entre as europeias; além de terem seus sistemasaéreos menos estáveis, o que gera grande risco de sobrecarregamento no caso de não haver plane-

 jamento. É sob a ótica das experiências das duas últimas Copas do Mundo que no Quadro 1, a seguir,

faz-se uma breve exposição sobre as peculiaridades de cada evento.

planejamentode grandeseventosesportivos

experiênciainternacional no

planejamentodas copas domundo

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83REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 79-89

Avaliação do planejamento de transporte em nível estratégico das cidades-sede da Copa de 2014

83

Países Ações Legado Impactos Negativos

Alemanha (2006)   Obras em alguns estádios começaram 8anos antes da copa.

Idealização do projeto como um projetocomunitário.

Criação de campanhas de marketing.

Criação de programas sociais e c ulturais. Aprimoramento da infraestrutura e melho-ramento das condições gerais.

Criação de um fórum de cidades-sede.

Promoção da imagem da Alemanha. Geração de 20.000 empregos a longo

prazo. Impulso econômico de 2,86 bilhões de

euros.

Construção de 370 quilômetros de ruasnovas. Emprego de 802 milhões de Euros no

aprimoramento do tráfego suburbano. Renovação de 50 estações ferroviárias.

Redução da venda de auto-móveis em todo continenteeuropeu.

África do Sul(2010)

Formação de um comitê organizador comrepresentantes de todos os stakeholders.

Criação de um fórum de cidades-sede. Criação de uma estratégia única entre as

cidades e o Governo Central. Aliança entre o comitê organizador da Copa

e a mídia internacional e local. Criação estratégica do Campeonato Mun-

dial de Futebol/ 2010, das Áreas de Conser-vação Transfronteiriças.

Regresso de mão-de-obra do país a tra-balhar no exterior.

Ampliação da capacidade dos principaisaeroportos.

Melhorias no sistema geral de transpor-tes, incluindo um programa de recapi-talização dos táxis, a consolidação dasferrovias e a transformação da rede detransporte público coletivo por ônibus.

67% do carbono gerado pelaCopa da África do Sul foi decor-rente das viagens internacio-nais; ligadas ao evento devidoà grande distância do país-sedeem relação aos principais paísesparticipantes da Copa.

xperiência internacional no pla-ejamento das copas

Tabela 1

O procedimento de análise do trabalho baseia-se em quatro etapas, conforme se pode observar na

Figura 2.

Na primeira etapa, seleção das cidades-sede, escolheram-se quatro cidades para a Copa de 2014:

Recife, Brasília, Manaus e Salvador. As cidades foram escolhidas com base na quantidade e qualidade

de estudos e planos existentes.

Na segunda etapa, levantamento de informações, foram levantadas para cada cidade-sede selecio-

nada, informações sobre os planos de transporte voltados para a Copa de 2014. Na ausência desses

planos, foram analisados os planos diretores, os planos de transporte e outros documentos oficiais

com informações da cidade.

Na terceira etapa, análise dos planos, aplicou-se a metodologia de análise proposta por Kölbl; Nie-

gl; Knoflacher (2008). Essa metodologia foi modificada com base nas informações apresentadas por

Beimborn (1995). Este último autor aborda elementos de análise que devem estar contidos no plane-

 jamento de transporte urbano.

método deanálise

Procedimento para análise dosplanos estratégicos das cidades--sede

Figura 2

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N O T Í C I A SARTIGOMARQUES, Érica et.al

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 79-8984

A junção dos dois estudos proporcionou a elaboração da quarta etapa, o resultado final. O resultado

final do trabalho é a comparação entre os planos estratégicos de transporte para as quatro cidades-

-sede selecionadas. A análise é focada na existência ou inexistência dos elementos necessários para

o planejamento de transportes dentro dos planos das cidades. Essa análise se mostrará de forma

sintética por meio de uma matriz comparativa.

A avaliação dos planos estratégicos requer o conhecimento do estado atual de cada cidade-sede esua visão estratégica. Apresenta-se a seguir o contexto atual das quatro cidades-sede selecionadas.Após esta etapa, faz-se uma análise comparativa entre os planos de cada uma delas.

Brasília, capital da República desde 1960, com uma população de 2.562.963 de habitantes (IBGE2010), foi inteiramente planejada. Seu maior destaque são as obras do arquiteto Oscar Niemeyer.

Entre as mais importantes estão a Praça dos Três Poderes, o Palácio do Planalto e o da Alvorada. Con-siderada Patrimônio Cultural da Humanidade pelo seu conjunto arquitetônico, a cidade foi escolhidacomo uma das doze cidades-sede da Copa do Mundo de 2014 (Mtur, 2011).

O Eixo Rodoviário, situado nas Asas Norte e Sul, divide as vias em L e W. Essas são vias coletoras, sendoque a W3 é considerada a principal dentre todas, pois também é caracterizada como via comercial.Brasília possui sistema viário formado em vários níveis, o que proporciona maior fluidez do trânsito.Outra característica relevante da cidade é a presença das tesourinhas, que funcionam como peque-nos viadutos ligando as quadras no sentido leste-oeste.

Observa-se que a deficiência no sistema viário do Plano Piloto não é igual em todas as suas direções,este fato se dá porque o eixo norte-sul é dotado de vias que percorrem toda a extensão das asasenquanto, no sentido leste-oeste, com exceção do Eixo Monumental (que liga o plano piloto a diver-sas regiões administrativas que se encontram no entorno de Brasília), a insuficiência está no fato deserem as tesourinhas responsáveis por tal conectividade. Nessa ligação (leste-oeste) não se utiliza otransporte público devido à forma e dimensão das tesouras.

Os motivos para a deficiência no sistema de transporte de Brasília são muitos. Os fluxos pendularesdos habitantes das cidades-satélite aliado à baixa qualidade do transporte público coletivo ofertadosão as principais causadores do congestionamento, principalmente nas vias de acesso ao Plano Piloto.A cidade de Brasília não apresenta um planejamento estratégico especí fico para a Copa do Mundo de2014, como as demais cidades-sede. Portanto, para atender a um dos objetivos deste trabalho, foramutilizados dois “planos de ordem geral” que são: O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) daCopa de 2014 e o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade do Distrito Federal e do Entorno(PDOT).

O PAC da Copa de 2014 é um programa que define um conjunto de investimentos a serem realizadospara o mundial, envolvendo as arenas e a mobilidade urbana (MEsp, 2010). O Governo Federal investi-

rá R$ 7,68 bilhões, que, somados às contrapartidas estaduais e municipais, totalizam R$ 11,48 bilhões.O PDOT é o instrumento básico da política territorial e de orientação aos agentes públicos e privadosque atuam na produção e gestão das localidades urbanas, de expansão urbana e rural do territóriodo Distrito Federal. O PDOT contempla ainda o Plano Diretor de Transporte Urbano e Mobilidade doDistrito Federal e Entorno (PDTU) que tem o propósito de orientar as ações em transporte coletivo eindividual a serem conduzidas pelo Governo, para atender às necessidades atuais e futuras de mobi-lidade da população (GDF, 2009).

Entre as principais obras previstas para a Copa de 2014, estão a construção do Módulo OperacionalProvisório (MOP), reforma e ampliação sul do terminal de passageiros do Aeroporto Juscelino Kubits-chek e a implemenatação de um sistema de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). O primeiro trecho doVLT, já projetado para ser construído, chamado de Linha 1/Trecho 1 (Aeroporto/Terminal da Asa Sul),ligará o Aeroporto de Brasília à Estação Sul no Setor Policial Sul, com a extensão de 6 km (CGU, s.d.).

Como o PDOT é um plano que contempla ações que serão executadas a longo prazo, não foi possívelelencá-las neste trabalho.

contextualizaçãodas cidades-sedee planos para copa2014

Brasília - DF

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Avaliação do planejamento de transporte em nível estratégico das cidades-sede da Copa de 2014

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Manaus, banhada pelo Rio Negro, é o portão de entrada para a floresta amazônica. É cercada deverde e tem oito parques ambientais em plena área urbana, arborização nas vias públicas e pro-

 jetos de educação ambiental. A capital do Amazonas é uma das primeiras do Brasil a contar com umalegislação especí fica sobre mudanças climáticas e a desenvolver relatório para análise de impactoambiental em função do crescimento urbano.

É a sexta cidade mais rica do Brasil, possui a maior região metropolitana do norte do país e a décimasegunda do Brasil, com 2.210.825 de habitantes (IBGE, 2010). Em Manaus residem 1,803 milhão depessoas sendo a sétima cidade mais populosa do Brasil (IBGE, 2010),. A cidade aumentou grada-tivamente sua participação no Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro nos últimos anos, passando aresponder por 1,4% da economia do país. No ranking da revista “América Economia”, Manaus aparececomo uma das 50 melhores cidades da América Latina para se fazer negócios, ficando à frente decapitais de países como San Salvador, Caracas e La Paz.

Manaus é uma cidade de interesse turístico, sendo um importante centro de ecoturismo. Sediar aCopa do Mundo é uma experiência que oferece a atraente combinação do fascínio da floresta tropicalcom a vibrante cidade e seu exclusivo manancial histórico e cultural, tanto para os nativos como para

os visitantes estrangeiros.

O Plano Diretor para a Copa de 2014 prevê a construção de um estádio com heliporto e outras gran-des infraestruturas, além de vias de acesso que comportem o volume esperado de espectadores. Pre-vê também a valorização do entorno, com construção de parques e centros de convenções (SEPLAN,2009).

Quanto aos transportes e à infraestrutura, Manaus pretende investir em rodovias e ferrovias, portose aeroportos, adequando a cidade aos requisitos solicitados pela FIFA para a Copa. O programa inti-tulado “Expansão da infraestrutura pública e privada” contempla uma série de projetos, tais como: aconstrução da ponte que ligará a cidade de Manaus à cidade de Iranduba; a reconstrução da estradaBR-319 ligando Manaus à cidade de Porto Velho, conectando a região norte à região sul do país; arealização de um estudo da viabilidade do metrô de superfície.

Está prevista para a estruturação do sistema hidroviário, a construção de um terminal, cujo objetivoé proporcionar conexão entre os sistemas de transporte urbano rodoviário e hidroviário. Há ainda aconstrução do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes, localizado a nove quilômetros do centro deManaus, que será um dos mais bem estruturados do país, com 2.700 metros de pista adequada aopouso e decolagem de qualquer aeronave comercial.

Estes projetos de transportes visam à melhoria da infra-estruturar e prestação de serviços à popula-ção e aos turistas, não somente durante a Copa, mas também após o evento.

Localizado às margens do oceano Atlântico, o município possui uma área de 217,494 km² e uma po-

pulação de 1.561.659 de habitantes (IBGE, 2010). Assim que foi escolhida como uma das cidades--sede do mundial, Recife já havia preparado um projeto diferenciado para receber o evento. A cidadeda Copa ocupará uma área situada exatamente nos limites da capital pernambucana e dos municí-pios de Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata e Camaragibe.

Está prevista para esta nova e completa estrutura urbana, além da Arena Capibaribe, um empreen-dimento imobiliário, uma escola técnica, centro administrativo do Estado e até um novo hospitalmetropolitano. A cidade ganhará obras de mobilidade urbana e seu acesso será bastante facilitadocom novas linhas expressas de ônibus e estação exclusiva de metrô.

Além destas alternativas em transporte coletivo, a Via Mangue, uma avenida que ligará o bairro doPina às ruas que margeiam os canais Setúbal e Jordão, promete desafogar o trânsito da Zona Sul reci-fense. Esta obra diminuirá o fluxo na região, que atualmente é de 7.000 veículos/hora nos horários depico, para 4.600 veículos/hora (Mtur, 2011).

Recife - PE

Manaus - AM

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O aporte de investimentos para estas obras é de R$ 22 milhões em saneamento e de mais R$ 46 mi-lhões para a construção de três conjuntos habitacionais, destinados a cerca de 1.100 famílias residen-tes em áreas críticas. Outras obras de pavimentação, construção da ponte perimetral e semiperime-tral, ampliação de viadutos e mais um complexo de ruas na Zona Oeste da cidade, têm como objetivoprincipal estruturar o sistema viário e facilitar o acesso à cidade da Copa.

O Aeroporto Internacional Recife/Guararapes/Gilberto Freyre também sofrerá mudanças para bemreceber os turistas. Com capacidade atual para 8,5 milhões de passageiros/ano, atende perfeitamenteàs exigências referentes à Copa do Mundo de 2014. Tem uma média de voos nacionais diários de 75partidas e 75 chegadas. Segundo a assessoria de imprensa da Empresa Brasileira de InfraestruturaAeroportuária (Infraero), ganhará em breve uma nova torre de controle com investimentos previstosde R$ 19,8 milhões.

Salvador é uma cidade multicultural e de forte diversidade étnica e religiosa. É considerada o terceirodestino turístico mais procurado do país. Destaca-se pela realização de eventos internacionais, comoo maior carnaval de rua do mundo: 40 km de festa, com mais de 2 milhões de pessoas circulando

durante uma semana (ROCHA, 2010). Este fato faz com que Salvador tenha larga experiência quantoao recebimento de grandes eventos.

Atualmente, possui as características de multicentralidade, predominância do setor terciário, grandediversificação e diferenciação das atividades, bem como aumento de 94% da frota de automóveis emdez anos. Estas características influem diretamente na mobilidade interna da cidade (ROCHA, 2010).

Em relação ao quesito mobilidade, Salvador apresenta deficiências quanto aos seguintes fatores (RO-CHA, 2010):

modelos de gestão econômica e físico-operacional ultrapassados; rede de ônibus convencionais com boa cobertura espacial e cobertura temporal deficiente; infraestrutura de equipamentos e sistema viário precários e insuficientes;

não priorização do transporte coletivo e modos não motorizados; controle ineficiente do uso do solo (70% dos domicílios são informais).

No âmbito municipal, com a finalidade de resolver os problemas citados acima e, consequentemen-te, melhorar o transporte de pessoas durante a Copa de 2014, a cidade propõe a elaboração de trêsplanos, cujo objetivo será o de reduzir distâncias, promover a inclusão social, ser ecologicamentesustentável, promover a acessibilidade ampla e democrática ao espaço urbano e priorizar os modosnão motorizados e coletivos de transportes. Os planos são os seguintes (ROCHA, 2010):

Rede Integrada e Multimodal de Transporte (RIT): proposta de construção do metrô Lapa-Cajazei-ras, modernização do trem de subúrbio, implantação do sistema Bus Rapid Transit (BRT), reestrutu-ração do atual sistema de transporte coletivo e articulação com o sistema de transporte da Região

Metropolitana de Salvador - RMS.

Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do município de Salvador (PDDU): apresenta diretrizesbásicas para o uso e ocupação do solo, transportes e sistema viário.

Projeto de Obras Viárias (PROVIA): implantação de 40 km de novas vias, duplicação de 38 km devias atuais, solução de 12 principais pontos críticos de tráfego e articulação com o sistema viário

Região Metropolitana de Salvador (RMS).

No âmbito estadual, os investimentos voltam-se para a construção da nova arena e entorno e amplia-ção dos sistemas viários municipal e metropolitano. Na esfera federal, a União prevê investimentospara a melhoria da acessibilidade externa. O aeroporto de Salvador será reformado, com melhora-mento dos pátios, pistas e terminais de passageiros. O porto também receberá investimentos no in-tuito de se oferecer um melhor serviço para os turistas que venham a utilizar o transporte marítimo(ROCHA, 2010).

Salvador - BA

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Avaliação do planejamento de transporte em nível estratégico das cidades-sede da Copa de 2014

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A avaliação dos planos foi realizada com base na metodologia sugerida por Kölbl; Niegl; Knoflacher(2008). Cada elemento a ser avaliado foi retirado de Beimborn (2006). Os planos foram analisados deforma quantitativa, ou seja, verificou-se a existência ou não de cada elemento que poderia estar noplanejamento.

O resultado da avaliação apresenta-se na Figura 3. Percebe-se claramente a falta de indicadores emtodas as cidades, que aparecem somente na execução de projetos de grande porte, como aeroportos,rodovias, BRT, variação de frequência de operação de veículos, estações e outros.

Matriz de comparação entre planosestratégicos de transporte

Figura 3

A falta de indicadores implica a falta de controle para que o plano seja cumprido como o desejado.Assim, o resultado é preocupante, uma vez que os planos existem, porém a falta de controle e a ins-tabilidade política podem resultar na não execução dos planos. Soluções, podem ser propostas paracada cidade. Para exemplificar será realizada uma análise de forma a propor melhorias para que oplano de Brasília seja realizado como o programado.

Do exposto na Figura 3, pode-se concluir que a cidade de Brasília apresenta o melhor plano paraacolher a Copa de 2014. Por isso, será feita uma análise mais aprofundada da situação atual da

organização da Copa na cidade-sede de Brasília.

Neste momento, Brasília tem a intenção de sediar a abertura da Copa., que, inicialmente seria em SãoPaulo. Porém, em alguns eventos, o discurso de marketing da cidade começa, de certo modo, a darainda mais ênfase aos problemas estruturais que a cidade de São Paulo apresenta.

Deste modo, é identicada alguma distorção em termos de discurso para um evento desta magnitude.Assim, afigura-se relevante a criação e difusão de um fórum das cidades-sede para que situaçõescomo a descrita não repercutam negativamente no planejamento do evento.

Em outra perspectiva, focada para Brasília, podem destacar os aspectos inerentes ao sistema de trans-porte. O valor estabelecido para a reformulação do Aeroporto de Brasília ainda não foi disponibiliza-do para a Infraero, o que significa que, a pouco mais de dois anos da Copa, o aeroporto ainda nãoiniciou as obras. Este fator pode ser preponderante para o sucesso do evento, visto que, por causa das

avaliaçãodos planosde Brasília

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dimensões geográficas do Brasil, os aeroportos possuem um papel fundamental no deslocamentodos visitantes por ocasião do evento.

Há necessidade de aceleração das obras, tanto para o aeroporto como para o VLT, queficou suspensodurante alguns meses, por embargo, para que possam estar terminadas bem antes do evento. A Ale-manha, que sediou a Copa em 2006, começou a construir e a reformar os aeroportos e as vias urbanas

com antecedência de oito anos. Portanto, o país já possuía os planos bem delineados quanto aosprazos e metas a serem cumpridos.

Estas pretensões e incertezas impõem uma série de desafios para Brasília. Esta cidade possui os indi-cadores de ocupação média das unidades de transporte e de habitantes por táxi aquém do valor mí-nimo estabelecido. O indicador de quantidade de passageiros transportados por veículo ferroviárioestá entre o nível mínimo e ideal, e os indicadores de quantidade de passageiros transportados porônibus e velocidade média de deslocamento estão em patamares inferiores ao nível ideal.

Voltando à questão do aeroporto, vale ressalvar que a cidade de Brasília apresenta um elevado graude saturação do seu terminal de passageiros. Isso indica a necessidade de ampliação do referido ter-minal para atender à demanda prevista para 2014. A operação das pistas do aeroporto JK, mesmoque ofereça segurança e uma pequena taxa de ocupação de voos internacionais, não favorece o au-

mento do níveis ideais estabelecidos.

Portanto, há ainda muitos problemas a resolver em Brasília para a Copa de 2014, sendo que a questãoda melhoria do transporte urbano, a instalação do VLT e a ampliação do aeroporto são os maioresdesafios a serem enfrentados para o evento. De tudo isso, as questões que envolvem a mobilidade ur-bana é a que mais se torna visível, pois representa um dos principais gargalos que a cidade apresentaconsiderando a sua estrutura organizacional.

Muitos têm sido os problemas relatados quanto ao desenvolvimento dos trabalhos relativos àCopa de 2012. Não se vislumbra, até o momento, a exemplo das Copas anteriores, um fórum das

cidades-sede do evento, uma vez que o fórum desempenhou papel fundamental para o sucesso doseventos anteriores, principalmente na Copa da Alemanha, pois fez com que a competição entre as

cidades fosse gerida por um órgão e a linguagem de marketing fosse comum a todas elas.

Outra questão fundamental é a do envolvimento da população no planejamento de marketing desteevento. Ao contrário das Copas anteriores, não se vislumbra no país um movimento de marketing queincite de forma incisiva os brasileiros a participarem do evento, que é de extrema importância para opaís. Percebe-se que as ações têm sido isoladas dos vários órgãos nacionais, como o Serviço Brasileirode Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). Tendo em conta o tempo que resta para o eventoe a sua magnitude, sem esquecer o tamanho do país, há uma necessidade premente de considerar oenvolvimento da população com mais atenção.

A população, de um modo geral, precisa estar conscientizada do significado da Copa para o país,assim como deve estar informada sobre os passos que estão sendo dados, como a construção dosestádios e o melhoramento da mobilidade urbana nas cidades. O envolvimento de todos os extratos

da sociedade, sem distinção da sua cor ou opção política, por exemplo, é fundamental para o sucessodo evento. É preciso transmitir a ideia de que a Copa é de todos os brasileiros e listar os benefícios queo país terá com a sua boa organização. Estes benefícios devem ser difundidos amplamente, fato quetem sido pouco notório até o momento.

Importa não nos esquecermos de que, um ano antes, o Brasil acolherá a Copa das Confederações eBrasília já manifestou interesse em participar também desse grande evento. Vale ressalvar que Brasíliatambém receberá vários jogos de futebol nas Olimpíadas de 2016, que terão como sede a cidade doRio de Janeiro, e também está candidatando-se para ser o Centro da Mídia da Copa de 2014.Percebe-se que a falta de indicadores nos Planos Diretores, desenvolvidos nas cidades-sede brasi-leiras analisadas, dificultam o acompanhamento e o monitoramento real das ações que seram im-plementadas. Infelizmente, pouco se vê a respeito da execução desses planos, devendo se possível,criar um órgão gestor responsável pela fiscalização do cumprimento dos prazos e dos projetos, já sepassaram três anos e bem pouco foi feito. A Copa de 2014 pode ser um momento de virada para estesproblemas estruturais de transporte no país, porém muita vontade política se faz necessária a fim deque se possam efetivamente resolver ou mitigar esses problemas.

consideraçõesfinais

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Avaliação do planejamento de transporte em nível estratégico das cidades-sede da Copa de 2014

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BRAATHEN, Per Christian

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ARTIGO

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

ARTIGOA R T I G O

Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativano processo de ensino-aprendizagem de Química

Este trabalho aborda o fenômeno ensino-aprendizagem, considerando os três eixos desse processo,: a trilogiaAprendizagem – Ensino – Avaliação. Trata de aprendizagem na visão construtivista, de modo geral, e nateoria de aprendizagem significativa de Ausubel; Novak; Hanesian (1978), de modo particular, enfatizandoque aprendizagem é realizada pelo aprendiz e que, se professores compreenderem como diferentes estudan-tes aprendem, podem ajudá-los a aprender melhor. Discute também o processo de aprendizagem como umprocesso de mudanças conceituais através da adaptação do modelo desenvolvido por Posner et al (1982). Os

resultados desta pesquisa apresentam a fundamental importância do conhecimento prévio do aprendiz, rele-vante e relacionado com o novo material a ser aprendido, como uma das condições para que a aprendizagemsignificativa possa acontecer. Destacam também como a assistência extraclasse, na forma de tutoria, pode vira atenuar com sucesso a falta de conhecimento prévio do aluno por meio da clarificação de conceitos.

Palavras-chaves: aprendizagem significativa, ensino, construtivismo, tutoria

This paper approaches the phenomena of teaching and learning by considering the three axes of this process, the trilogy Le-

arning – Teaching – Evaluation. It approaches learning from a constructivist view, giving particular attention to Ausubel’s;

Novak’s; Hanesian’s meaningful learning theory. It emphasizes that learning is done by the learner, and when teachers

understand how di ff erently students learn, they may help them to learn better. The paper also deals with the learningmodel as a process of conceptual change, through considering the adapted version of the model developed by Posner et al.

In the results, the paper points out that for meaningful learning to occur, it is necessary to associate the new material with

the learner’s relevant prior knowledge. Also, it focuses on how extra class assistance, in the form of tutorial sessions, may

attenuate the lack of prior knowledge through clari fi cation of concepts.

Keywords: Meaningful learning, teaching, constructivism, tutorials

r esumo

Rote learning and meaningful learning in the teaching-learning Chemistry

PER CHRISTIAN BRAATHEN União de Ensino Superior de Viçosa – [email protected]

abstract

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Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

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Para todos os professores, da educação básica ao nível superior, é condição sine qua non para ocompetente exercício de sua profissão, o domínio técnico da disciplina que ensina. Sabe-se tam-

bém que, embora esta condição seja absolutamente essencial e necessária, não é, de modo nenhumsuficiente esse domínio para ser um bom profissional.

Professores que são reconhecidos em suas respectivas áreas de atuação, podem não ter um desem-penho satisfatório em sala de aula, mesmo, em alguns casos, após décadas trabalhando no ensino. Avida é uma escola, mas existem muitas pessoas que são reprovadas ano após ano. E há pessoas, emqualquer profissão, que não aprendem com seus erros e são resistentes a modificações em seus com-portamentos, alegam, às vezes, que têm 30 anos de experiência quando, na verdade, têm um ano deexperiência, repetido 30 vezes.  Por outro lado, com frequência, sabe-se de professores que, mesmo com pouca experiência,rapidamente se tornam excelentes. O que diferencia os professores bons dos professores apenas ra-zoáveis, ou mesmo medíocres? Esta não é uma pergunta fácil de ser respondida. Houve bons profes-sores que influenciaram milhares de alunos por toda a vida. E, provavelmente, eram bem diferentesentre si, o que os torna um pouco difíceis de se caracterizar. Todavia, algumas qualidades comuns aprofessores que se destacam são:

a paixão pela profissão e pela disciplina que lecionam. O educador americano Robert L.Fried (1995)concluiu, como resultado de anos de observação de professores em salas de aula, que a paixão éo fator que mais se sobressai nos bons professores – mais do que a didática ou a metodologia deensino.

gostar de e preocupar-se com seus alunos. Os bons professores ficam tristes com os fracassos dosmesmos, embora reconheçam que algum fracasso é inevitável.

não abrir mão de um ensino de qualidade.

procurar melhorar no exercício de sua profissão, lendo sobre assuntos relativos à profissão de pro-fessor, assistindo a palestras e fazendo continuamente cursos de reciclagem.

ensinar com entusiasmo e dinamismo motivando o ativo envolvimento dos estudantes no proces-

so de ensino-aprendizagem (LEMOW, 2010).

O processo de ensino-aprendizagem é, como está implícito no próprio nome, um processo e envol-ve três aspectos fundamentais, que são: ensino, aprendizagem e avaliação.

Embora possa parecer evidente, é necessário destacar que o professor precisa conhecer bem cada umdesses aspectos. Observe, na figura 1, que a numeração está invertida nos três aspectos - a aprendi-zagem está em primeiro lugar.

o processo deensino-aprendi-zagem

introdução

Esquema dos elementos do processoensino-aprendizagem.

Figura 1

O motivo disso é que, o ensino e a aprendizagem são dois fenômenos distintos mas relacionados.

Para que o professor possa ensinar bem, é necessário que ele saiba bastante sobre o fenômeno deaprender e, ainda, como os diferentes estudantes aprendem e quais as condições necessárias paraque uma aprendizagem significativa e que valha a pena possa acontecer.

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N O T Í C I A SARTIGOBRAATHEN, Per Christian

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 90-10092

aprendizagem

Por essa razão, este trabalho pretende refletir sobre a aprendizagem. Como toda pesquisa, este traba-lho precisa ser avaliado para que examinar se objetivos foram alcançados. Deste modo, os objetivospara as reflexões propostas aqui serão conduzidas pela seguinte questão: o que é necessário no pro-cesso de ensino-aprendizagem para que os alunos aprendam mais e melhor o conteúdo da Química?

A educadora americana, Marva Collins (1992), compara o processo de ensino-aprendizagem com ospassageiros de um avião. Para essa autora, se o processo não está funcionando é como culpar ospassageiros pela queda do avião. Essa analogia é, sem dúvida, descabida, pois os passageiros de umavião nada têm a ver com o sucesso do voo, enquanto que os estudantes têm tudo a ver com o su-cesso na aprendizagem. O fracasso de 70% (apenas um exemplo) dos alunos, em uma avaliação deuma das etapas de aprendizagem, significa que o processo falhou e que alguma decisão deverá sertomada para diagnosticar as causas e aprimorar o processo.

Na visão construtivista de aprendizagem, adotada neste trabalho, cada um constrói e reconstrói oconhecimento ao longo da vida, peça por peça, conceito por conceito. O processo é idiossincráti-

co para cada pessoa, ou seja, depende de uma série de fatores, tais como sua origem socioeconômicae cultural, sua experiência de vida e seu conhecimento cognitivo anterior.

É fundamental entender que o conhecimento não é um achado como o ouro ou o petróleo, mas simconstruído como edifícios e computadores. E, ainda, que a construção desse conhecimento (apren-dizagem) é realizado pelo indivíduo (aprendiz, estudante) e não causada diretamente pelo ensino doprofessor num processo de causa (o professor ensina) e efeito (o aluno aprende), como falsamenteilustrado pela figura 2 abaixo:

Processo ensino-aprendizagem comoum fenômeno de causa e efeito

Figura 2

Desenho feito por Marcos Antônio Jacob do Centro deEnsino de Ciências Exatas da Universidade Federal de

Viçosa, a pedido do autor.

Na realidade, o processo de ensino-aprendizagem é exatamente o oposto, enquanto que os

professores têm trabalhado duramente para conseguirem o que é ao mesmo tempo impraticávele cansativo e, portanto, oneroso. Temos esperado deles que causem aprendizagem em estudan-tes quando, obviamente, aprendizagem tem que ser causada pelo estudante (NOVAK E GOWIN,

1984, p. Vii)1.

 1

Teachers have been working very hard to achieve what is both impractical and burdensome, and thereforecostly: we have expected them to cause learning in student when, of course, learning must be caused by thelearner (tradução nossa).

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93REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 90-100 93

Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

Embora os autores acima, poderiam passar uma ideia de que professores não são necessários aoprocesso, eles, na verdade, são os guias que mostram o caminho, os motivadores, os incentivadorese os exemplos para os seus alunos. O educador norte-americano Perry, na apresentação da obra Un-derstanding Students Learning, de Entwistle e Ramsden (1982), destaca:

os presentes autores assumem corajosamente que o único propósito do ensino é o de facilitaraprendizagem. Assumem que aprendizagem, bem organizada ou não, é feita pelo estudante.Manifestam abertamente a sua esperança de que, uma vez que entendamos mais a respeito decomo diferentes estudantes aprendem, possamos ajudá-los a aprender melhor (préfácio - tradu-

ção nossa)2 .

Ausubel; Novak; Hanesian (1978) pesquisam sobre como as pessoas aprendem. Em uma visão cog-nitivista de aprendizagem, os autores mostram a existência de duas maneiras, psicologicamente

distintas, de se aprender, que são: Aprendizagem Mecânica (no Brasil também conhecida como “de-coreba”) e Aprendizagem Significativa.

A Aprendizagem Mecânica ocorre com a incorporação de um conhecimento novo de forma arbitrá-ria, ou seja, o aluno precisa aprender sem entender do que se trata ou compreender o significado doporquê. Essa aprendizagem também acontece de maneira literal, o aluno aprende exatamente comofoi falado ou escrito, sem margem para uma interpretação própria. A aprendizagem acontece comoproduto da ausência de conhecimento prévio relacionado e relevante ao novo conhecimento a seraprendido. Um exemplo disso seria um estudante aprender que a geometria da molécula de amôniaé trigonal ou piramidal sem saber o que é trigonal e/ou piramidal.

Na Significativa, a aprendizagem ocorre com a incorporação de conhecimento novo na estruturacognitiva do estudante, e pode ser associado a um conhecimento prévio, relacionado e relevante, já existente nessa estrutura cognitiva. Usando o mesmo exemplo acima, o estudante já incorporouo conceito de piramidal e trigonal para depois aprender o porquê de a molécula de amônia ter essa

geometria, baseado na teoria de repulsão dos pares eletrônicos na camada de valência do átomocentral.

Antes de prosseguirmos, é importante agora reconhecer que as aprendizagens, Mecânica e Significa-tiva, constituem uma dicotomia e que, na verdade, todo nosso conhecimento se situa em algum lugarentre os dois extremos: mecânico–e significativo.

AprendizagemMecânica eAprendizagemSignificativa

Intervalo Aprendizagem Mecânica –

Aprendizagem Significativa

Figura 3

Na verdade, todo o conjunto de saberes é uma mistura de composição variável (para usar uma ana-logia da área de Química) entre conhecimentos mecânicos (que fazem pouco sentido) e significativos(que fazem todo sentido). E mais, é perfeitamente possível ocorrer aprendizagem mecânica e apren-dizagem significativa num mesmo episódio de aprendizagem (numa mesma sessão de estudos ounuma mesma aula).

2

The present authors assume boldly that th sole purpose of teaching is to facilitate learning. They assume thatlearning, well organized or not, is done by the student. The state openly their hope that once we understandmore about how diff erent students learn, we can help them to learn better (tradução nossa).

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Por exemplo, quando estuda-se operações com números relativos, é provável aprender, de modosignificativo, que um número positivo multiplicado por outro positivo resulta em um outro númeropositivo e que um número positivo multiplicado por um número negativo resulta em um númeronegativo. Talvez a aprendizagem é simplesmente aceitar, resignadamente, que a multiplicação dedois números negativos resulta em um número positivo.

A posição de um dado conhecimento no intervalo mecânico-significativo depende das habilidades,competências e especialização individuais em uma determinada área de conhecimento. Uma con-sequência disso é que não apenas construímos o nosso conhecimento ao longo da vida, mas estepassa por múltiplas reconstruções com o passar do tempo causadas pelo desenvolvimento cognitivoe intelectual, passando por mudanças tanto quantitativas quanto qualitativas.

Frequentemente, de modo bastante mecânico, em um certo estágio educacional vivido, algo já co-nhecido torna-se muito mais significativo à medida que o conhecimento se expande em uma deter-minada especialidade. Este processo é ilustrado pela figura mostrada a seguir.

 3   If I had to reduce all of educational psychology to Just one principle, I would say this: The most importantsingle factor influencing learning is what the learner already knows. Ascertain this and teach hum accordingly.(tradução nossa).

Evolução da qualidade doconhecimento ao longo dointervalo Mecânico Significativo

Figura 4

Isso não acontece apenas com os estudantes, os professores também são eternos aprendizes. Estefato é bem exemplificado por uma história contada por Jerome Bruner, em seu livro The process ofeducation (1977), referindo-se a uma conversa entre dois professores durante o intervalo do café,parte da qual reproduzimos a seguir:

Ontem um aluno entrou na minha sala e me disse:-Não entendi nada do que o senhor ensinou na última aula.Então, expliquei de novo para o aluno.-Desculpa professor, mas ainda não entendi.Então, expliquei de novo para o aluno.-Professor, me desculpa, não sei o que está acontecendo comigo, mas ainda não entendi.Então, expliquei de novo para o aluno.E, caro colega, então aconteceu algo verdadeiramente extraordinário:eu entendi !!!!!!! (BRUNER, 1977, (p. 43)3.

É preciso reconhecer que os professores ensinam conteúdos que eles mesmos não sabem tão bemassim. Recentemente, ao participar de uma conferência sobre o ensino de Química via internet, umdos participantes fez o seguinte comentário: “quando um professor ensina uma disciplina pela pri-meira vez, ninguém entende. Quando ensina a disciplina pela segunda vez, os alunos entendem.Quando ensina a disciplina pela terceira vez, ele entende”.

A respeito dos dois tipos de aprendizagem - a mecânica e a significativa -a primeira ocorre quandoquando algo é aprendido e não relação alguma com o que já é conhecido pelo aprendiz que inclui o

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Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

seu cotidiano. A segunda, por sua vez, é o que ocorre quando um novo conhecimento se incorpora(por assim dizer) com o conhecimento já existente na estrutura cognitiva e com o qual o novo conhe-cimento se relaciona e que seja relevante em relação ao que já é conhecido.

O conhecimento mecânico consiste na incorporação de conceitos isolados. O conhecimento signi-fi

cativo, por sua vez, é conhecimento em rede com muitos conceitos (unidades de conhecimento)interligados. Quanto maior a rede, mais significativo é o conhecimento. A figura 5 ilustra o processode aprender mecanicamente e o processo de aprender significativamente.

Ilustração do processo de aprendizagemMecânica e de Aprendizagem significativa

Figura 5

As bolinhas azuis representam conhecimentos (na forma de novos conceitos, ou novas unidades deconhecimento) que devem ser aprendidos (incorporados na estrutura cognitiva) e as bolinhas verdesconceitos já existentes na mesma estrutura cognitiva. Se agrupados, representam conhecimento sig-nificativo; se isolados, representam conhecimento mecânico ou “decoreba”. Na aprendizagem mecâ-nica, o novo conceito fica isolado na estrutura cognitiva, pois não tem conhecimento prévio ao qualpossa incorporar. Na aprendizagem significativa, o novo conceito se agrega ao conhecimento já exis-tente, ampliando-o e modificando-o tanto em termos qualitativos quanto em termos quantitativos.

Ausubel; Novak; Hanesian (1978) sugerem duas condições para que seja possível aprender significa-tivamente. São elas:

disposição de aprender de modo significativo, ou seja, recusa a memorização (decorar) de umnovo conhecimento sem que entenda realmente o seu significado. Esta atitude é chamada de Pos-tura de Aprendizagem Significativa (p. 41).

estrutura cognitiva de um conhecimento prévio (anterior) relevante e relacionado ao novo conhe-

cimento.

Para que seja satisfeita a primeira condição, é fundamental que o estudante seja motivado a apren-der significativamente, ou seja, que o estudante considere o assunto importante e relevante para a

sua vida e para a sua carreira. Uma das principais funções do professor é a de ser um motivador, deensejar o convencimento. Um professor de Química, por exemplo, ao ensinar como variam os raiosatômicos na tabela periódica, precisa explicar (e convencer) aos seus estudantes a importância doassunto para as suas vidas.

É importante compreender que não existem dois tipos de pessoas: as que adotam uma postura deaprendizagem significativa e as que não adotam. Adotar ou não, depende do contexto e da motiva-ção. Além disso, os professores precisam tomar cuidado para não culparem-se pela não adoção deuma postura de aprendizagem significativa. Isto acontece, principalmente, por duas razões:

quando o aluno não é convencido da importância do que é ensinado; quando exige-se dos alunos que retornem o conhecimento ensinado literalmente como foi ensi-

nado, não admitindo nenhuma flexibilidade na resposta.

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N O T Í C I A SARTIGOBRAATHEN, Per Christian

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 90-10096

Um exemplo da Aprendizagem Significativa ocorreu quando um aluno perguntou, em uma prova dequímica inorgânica, qual era a geometria da molécula de amônia. A resposta correta dessa perguntaé trigonal piramidal. Veja a representação da molécula abaixo na Figura 6.

O aluno respondeu: “não me lembro do nome da geometria, mas sei que a molécula parece umabarraca de acampamento”. O professor considerou a resposta como correta porque estava claro queo estudante sabia a geometria da molécula. O estudante visualizava esta molécula – sabia como era,apenas não se lembrava do nome.

Para que seja satisfeita a segunda condição para que ocorra a aprendizagem significativa, énecessário que o estudante tenha em sua estrutura cognitiva um conhecimento prévio básico rela-cionado ao novo conhecimento. Se não houver, não há como aprender significativamente. Este fatoré o grande responsável pelo alto índice de reprovações em disciplinas básicas no Ensino Superior,das quais, a de Cálculo é a principal vilã. No Ensino Médio, a falta de conhecimento prévio em Ma-temática dificulta a aprendizagem de disciplinas que dependam desta disciplina, tais como Física eQuímica, deixando frustrados tanto os alunos quanto os professores que as lecionam.

Além do aspecto acadêmico propriamente dito, esta situação tem profundas consequênciaspsicológicas, pois repetidas reprovações causam danos muitas vezes irreparáveis na autoestima doestudante, que poderá abandonar a escola. Os professores se surpreendem frequentemente com asnotas baixas de seus estudantes, muitos dos quais não têm bons resultados apesar de presenciaremaulas bem preparadas, fruto do esforço do professor. Às vezes, enganam-se por pensar que todos os

alunos estão ouvindo a mesma coisa que é dita por eles na sala de aula. Na verdade, o que ouvem(e o que entendem) dependerá fundamentalmente do conhecimento prévio já existente em suasestruturas cognitivas.  Para muitos estudantes, é como se os professores estivéssem utilizando uma língua estran-geira na comunicação da sua disciplina. Por exemplo, ensinar a resolver problemas de Química en-volvendo reagente limitante se o estudante não aprendeu como achar massas molares e balancearequações ou que ainda não compreendeu o conceito de mol.Por esta razão, a frase de Ausubel; Novak; Hanesian (1978), muito citada em dissertações de mestradoe doutorado envolvendo a sua teoria, é:

“se eu pudesse reduzir toda a psicologia educacional a uma só frase, eu diria isto: O fator mais impor-tante envolvendo a aprendizagem é o que o estudante já sabe”. E conclui: “Verifique isto e ensine de

acordo” (ibidem, p. iv)3

O fator que influencia decidamente na aprendizagem do estudante é o que ele já sabe, ouseja, o seu conhecimento prévio relevante e relacionado com o novo material a ser aprendido. Oconhecimento prévio determina, crucialmente, não apenas o que o aluno aprenderá em uma deter-minada situação de aprendizagem, mas como irá aprender (se de modo mecânico ou se de modosignificativo) e determina ainda a quantidade e a qualidade do novo conhecimento. Portanto, estenovo conhecimento se situará no intervalo entre o menos significativo e o mais significativo.

Ausubel; Novak; Hanesian (1978), ao conclamar os professores a considerarem o conheci-mento prévio do estudante, sugere que ensinem de acordo com esse conhecimento. É uma tarefadifícil, pois os professores lidam com turmas bastante heterogêneas e com grande variação no co-nhecimento prévio de cada estudante. No Ensino Fundamental e Médio, uma sugestão para levantaresse conhecimento pode ser feito através de um mecanismo, bastante usado, conhecido como son-

dagem.  No Ensino Técnico e Superior, a tarefa é mais complicada, pois programas extensos têm que

Modelo molecular da molécula deamônia

Figura 6

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Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

ser cumpridos e, neste caso, a melhor saída para resolver o problema do conhecimento prévio inade-quado constitui-se na assistência extraclasse por meio de programas de tutoria, monitoria e gruposde estudo para os estudantes que não satisfaçam a segunda condição – a pré-existência de conheci-mento.  Foi realizada uma pesquisa de doutorado dentro de um programa de tutoria em QuímicaGeral e verificou-se que tal programa é extremamente eficiente em atenuar o problema de conhe-cimento prévio insuficiente. Colaborou-se também na criação de um outro programa de tutoria, naUniversidade Federal de Viçosa, para atender a todas as disciplinas básicas do Curso de Química, combons resultados.

Em um programa de tutoria com poucos alunos e um tutor, dentro de ambiente dinâmicoe participativo, a aprendizagem torna-se mais significativa através da discussão interativa e de con-sequentes esclarecimentos sobre conceitos, bem como sobre as relações entre conceitos. De certomodo, é como resgatar elos perdidos, ou elos antes não existentes, que serão então restabelecidosou criados.  A eficácia de um programa de tutoria pode ser bem explicada pelo modelo de aprendiza-gem como um processo de mudanças conceituais, tal como o proposto por Posner et al (1982) eHewson (1981), que foi adotado para o programa de tutoria. A foto a seguir ilustra uma típica sessão

de tutoria.

Sessão de Tutoria no Programa de Tutoriada Universidade Federal de Viçosa

Figura 7

Foto do autor

Segundo o modelo de aprendizagem como um processo de mudanças conceituais, todo conheci-mento está imbuído de um certo status, representado por: Inteligibilidade (I), Plausibilidade (P) eUtilidade (U).

Um conhecimento, um conceito ou agrupamento de conceitos, é apenas inteligível quando se en-tende o que foi compartilhado. Por exemplo, os raios atômicos (dos átomos) aumentam de cima parabaixo numa família ou grupo de elementos na Tabela Periódica e decrescem da esquerda para a di-reita num período, sem que se saiba (ou mesmo se importe) por que variam assim. A figura 7 a seguirilustra essas variações para os elementos representativos da tabela periódica, excluídos os elementosde transição.

modelo deaprendizagemcomo um processode mudançasconceituais

Variação dos raios atômicos nos grupos(famílias) e períodos para os elementosrepresentativos da Tabela Periódica.

Figura 8

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N O T Í C I A SARTIGOBRAATHEN, Per Christian

REVISTA EIXO Brasília v.1 n.1 p. 90-10098

O conceito expresso na figura 7 será plausível quando a pessoa realmente compreenda porque osraios atômicos dos átomos variam desta maneira e saiba explicar ao professor esse conceito. Em umprograma de tutoria, o que frequentemente acontece é que um conhecimento que era apenas Inteli-

gível se torna-se também Plausível, ou seja, ocorre uma mudança conceitual do tipo:

I PSuponhamos, por exemplo, que o estudante saiba que os raios dos átomos crescem de cima parabaixo em um determinado grupo, mas não compreenda, ou seja, não é plausível para ele, o porquêdos raios variarem desta maneira. Saber a variação dos raios é apenas inteligível (I). Entretanto, nãosaberia explicar por quê, caso lhe fosse perguntado (numa prova, por exemplo). Para que se torneplausível (P), é necessário que se saiba que, à medida que o átomo desce no grupo ou na família, umacamada de elétrons é acrescida a ele.

Às vezes, a mudança de I para P é fácil, como mostrado no exemplo anterior. Outras vezes, é bemdifícil. Por exemplo, tornar plausível que os raios dos átomos decrescem da esquerda para a direitanum período (fileira horizontal) pode vir a ser algo bem complicado, pois, nesta direção, tudo nos áto-

mos aumenta – o número de prótons, o número de elétrons e, normalmente, o número de nêutrons.Trata-se de algo contraintuitivo e a mudança de I para P não ocorrerá sem considerável aumento doconhecimento sobre estrutura atômica. E poderá apenas ocorrer, em alguns casos, anos mais tarde.

Um conhecimento atingirá o mais alto status no modelo de aprendizagem como um processo de mu-danças conceituais, o da utilidade, quando o estudante se dê conta de que sabe para quê isto serve:

é importante saber? Isso implica uma mudança conceitual mais completa:

I P UFalha-se, com frequência, em explicar e/ou convencer aos estudantes sobre a relevância e o porquê

do que é ensinado. No caso da Química, por que é importante saber raios atômicos e suas variaçõesna tabela periódica? Para quê serve este conhecimento?  O esquema abaixo ilustra o processo de como um conhecimento passa de menos significati-vo para mais significativo no processo de mudança conceitual, sendo o mais comum a mudança

I P .

Aprendizagem como um Processo deMudanças Conceituais

Figura 9

A mudança do status de Inteligibilidade para o de Plausalidade é frequentemente dramática,com muita alegria exteriorizada por parte do estudante quando, num dado momento, compre-ende de fato algo que até então era incompreensível (não plausível). È quando a ficha cai, porassim dizer.

Pode esse tipo de mudança conceitual, quando um conhecimento muda de menos significativopara mais significativo, acontecer durante aulas comuns? É bem menos provável que aconteça nasala de aula, pois o professor não pode dar muita atenção individual aos estudantes, ao contráriodo que acontece numa sessão de tutoria.

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Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

Durante uma pesquisa de doutorado, houve dois exemplos de mudança conceitual. Uma es-tudante, na sessão de tutoria, disse: “Hoje o professor falou de uma tal de geometria trigonalpiramidal e que, por isso, a molécula da amônia é polar. Não entendi nada. O que é trigonal?”.Para responder à pergunta do aluno, o professor provocou a mudança conceitual simplesmentemostrando um modelo da molécula.

Modelo molecular da molécula deamônia

Figura 10

Logo a seguir, aconteceu outra mudança conceitual quando foi explicado à estudante por que a mo-lécula de amônia é polar. Ela pegou o modelo da molécula e apertou o átomo central (preto) contra a

superfície, e disse: “Agora a molécula é trigonal planar”. E, o professor completou triunfalmente: “Sime, nesse caso, seria apolar!”

Para complementar as evidências sobre as mudanças conceituais que ocorrem durante as sessõestutoriais, foi desenvolvida uma técnica por um pesquisador australiano, Scott (Pask&Scott, 1972), de-nominada “Retroensino”. Essa técnica consiste em solicitar a estudantes do programa de tutoria umaaula sobre um determinado assunto, ministrada ao professor pesquisador que faz o papel de aluno.

Uma aula é ministrada antes das sessões tutoriais sobre o tópico (pré) e, outra depois (pós). A seguir,é solicitado que seis professores universitários do Departamento de Química analisem as aulas trans-critas e as classifique, respondendo aos quesitos, por meio de uma escala de Likert 4, com resultadosdo tipo: +2 = concordo fortemente; +1 =concordo; 0 = sem opinião; -1 = discordo; -2 = discordo for-

temente. Os professores respondem também a duas perguntas: se o estudante sabe o assunto (semse preocupar se o aluno apresenta uma aprendizagem significativa do assunto) e se o estudante sabeo assunto significativamente.

A figura a seguir mostra graficamente o resultado de um dos estudantes (o nome é fictício) do pro-grama de tutoria sobre um tópico de Química . A coluna azul representa a resposta dos professoresà primeira questão, o aluno sabe o assunto? E, a vermelha é a resposta à segunda: o aluno sabe oassunto significativamente?

4 A escala liker é uma medida psicométrica difundida na literatura (uso comum e corriqueiro) que é difícil identi-ficar a origem. Inúmeros artigos e livros fazem referência a esta metodologia.

Pré e Pós “Retro Ensino” do estudanteArthur (nome fictício)

Figura 11

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N O T Í C I A SARTIGO

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BRAATHEN, Per Christian

Aqui, é importante salientar que os professores juízes (J1 a J6) não sabiam que se tratava do mesmoestudante antes e depois de sessões de tutoria. Para eles, tratavam-se de estudantes distintos, já quecada arquivo de retroensino era identificado apenas por um código.

 Em programas de tutoria, fica muito claro que o processo de aprendizagem é um processo ativo,cujo agente principal é o aprendiz. O tutor é o interventor, o guia e o que provoca discussão entre

os estudantes. O processo é muito interativo e dinâmico, com aprendizagem acontecendo em temporeal. Assim, programas de tutoria são programas emergenciais para atender a estudantes com conhe-cimento prévio inadequado, o que dificulta o acompanhamento e a apreensão de sentido do que éexposto em aulas comuns.

Contudo, mesmo em aulas expositivas tradicionais, muitas mudanças de conceito, que envolve aaprendizagem significativa, podem acontecer caso o professor lance mão de metodologias mais di-nâmicas. Assim, mesmo em aulas com muitos alunos, problemas de falta de conhecimento préviopodem, muitas vezes, serem resolvidos ou atenuados ao se criar um ambiente interativo e dinâmico,com efetivo envolvimento dos alunos no processo, bem como com trabalhos em duplas e em pe-

quenos grupos, dentre outras metodologias. Desta maneira, a necessidade de assistência extraclassepode vir a diminuir bastante.

AUSUBEL, D.P; NOVAK,J.D & HANESIAN, H. Educational psychology: a cognitive view. 2ed. Holt, Rinehart & Wins-ton (1978)

BRAATHEN, P.C. A case study of prior knowledge, learning approach and conceptual change in an introductory

chemistry tutorial program. Tese de Doutorado, University of Wisconsin, 1987.

BRUNER, J. The process of education. Cambridge: Harvard University Press, 1960.FRIED, R.L. The passionate teacher. Boston: Beacon Press, 1995.

COLLINS, M. Ordinary children, extraordinary teachers. Newbury Port: Hampton Roads Publishing, 1992.

HEWSON, P. W. A conceptual change approach to Learning Science. European Journal of Science Education 3(4),p 383-396, 1981.

LEMOW, D. Teach like a champion. John Willey & Sons, 2010.

NOVAK, J.D & GOWIN, D. B. Learning how to learn. Cambridge University Press, 1984.

ENTWILSTLE, N. J.; RAMSDEN, R. Understanding student learning. Worchester: Billings & Sons, Ltd., 1982.

PASK, G &SCOTT, B. Learning Strategies and individual competencies. International Journal of Man-machinestudies 4 p 217-253, 1972.

POSNER, G. J.; STRIKE, K.A; HEWSON, P.W & GERTZOG, W.A. Accommodation of a scientific conception: toward atheory of conceptual change. Science Education 66(2) p 211-222, 1982.

consideraçõesfinais

referências 

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101101

A Revista Eixo, do Instituto Federal de Brasília(IFB), está recebendo artigos cientí ficos para pu-

blicação no 2.o  semestre de 2012. O periódico éaberto a todo o público interessado pelo estudoou pesquisa cientí fica, não é necessário atuar naRede Federal de Educação Profissional. e Tecno-lógica.

O objetivo da Revista é levar informações cientí fi-cas e incentivar a pesquisa técnico-cientí fica pormeio de publicação de artigos, revisões bibliográ-ficas, ensaios, relatos de experiências e estudos

de casos que abordem as áreas temáticas do IFB.A revista aceita para publicação trabalhos escritosem português, inglês, espanhol e francês, resul-tantes de estudos teóricos e pesquisas que inci-dam na produção do conhecimento nas áreas deArte, Cultura e Tecnologia; Agropecuária e MeioAmbiente; Educação Profissional e Tecnológica;Engenharias; Gestão e Negócios; Tecnologia, Ino-vação e Protótipos; Tecnologias Sociais, contem-plando os seguintes Eixos Tecnológicos:

Ambiente, Saúde e Segurança Apoio Educacional Controle e Processos Industriais Gestão e Negócios Hospitalidade e Lazer Informação e Comunicação Infraestrutura

Produção Alimentícia Produção Cultural e Design

Produção Industrial Recursos Naturais

Os artigos submetidos para publicação na RevistaEixo são avaliados no sistema de duplo cego (osautores nunca saberão quem foram os revisorese vice-versa) por dois pareceristas de região/ins-tituição diferente(s) daquela(s) do autor(es). Seráaceito para a publicação o artigo aprovado pordois pareceristas. O(s) autor(es) do artigo aceito

automaticamente transfere(m) todos os direitosde publicação para a Revista. O primeiro autor,se o texto houver co-autoria, é responsável peloconteúdo do artigo, pela informação de que o ar-tigo é original e inédito e por assegurar que os de-mais autores tenham conhecimento do conteúdodo artigo aprovado e de sua cessão de direitos depublicação.

Os trabalhos devem ser submetidos para publica-ção via endereço eletrônico: http://revistaeixo.ifb.edu.br/index.php/RevistaEixo/login até o dia 15de agosto de 2012.

Revista EixoInstituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de BrasíliaSGAN Quadra 610, módulos D, E, F e GBrasília/DF – CEP 70860-100Fone: (61) 2103-2108

Chamada de trabalhos

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

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102102

N O T Í C I A SARTIGONormas de submissáo

102

Como parte do processo de submissão, os autores devem verificar a con-formidade com todos os itens da apresentação dos artigos, que devemobedecer à seguinte ordem:

Elementos Pré-Textuais;Elementos Textuais;Elementos Pós-textuais.

1 Elementos Pré-Textuais:

1.1 Folha de rosto sem identificação dos autores, contendo:

título do artigo;resumo informativo em língua portuguesa de no máximo 250 palavras, an-tes do corpo do texto, indicando ao leitor finalidades, metodologia, resul-tados e conclusões do artigo, de tal forma que possa dispensar a consultaao original;Palavras-chave em português, no máximo cinco, separadas entre si porponto e vírgula, representando o conteúdo do artigo;

Versão do resumo e das palavras-chave em inglês (abstract e keywords),devendo ser fiel ao original em português. 2 Elementos Textuais:

2.1 Corpo do Texto

O título e o subtítulo do trabalho devem estar em fonte maiúscula, em ne-grito, com tamanho 14 e alinhamento à esquerda. Devem ser separadospor dois pontos.Exemplo:

DADOS DOS AUTORES E RESUMOS:

Entre o título do trabalho e os dados do primeiro autor deve conter 3 (três)

linhas.Os títulos das seções devem estar em minúscula e caixa alta somentequando necessário, tamanho 13, em negrito e alinhado à esquerda.Os títulos das subseções devem estar em fonte minúscula, tamanho 12,negrito e alinhado ` esquerda. A numeração das seções e subseções é op-cional.Notas de rodapé devem ser evitadas sempre que possível. No entanto, senão houver outra possibilidade, devem ser enumeradas por algarismosarábicos.As palavras “Figura, Tabela, Anexo” que aparecerem no texto devem sem-pre ser escritas com a primeira letra em maiúscula e devem vir acompa-nhadas do número (Figuras e Tabelas) ou letra (Anexos) respectivos ao qualse referem.No caso de se utilizar tabelas ou figuras de outra autoria, mencionar a fonteabaixo delas.A utilização de expressões como “a Tabela acima” ou a “Figura abaixo” nãodevem ser utilizadas porque no processo de editoração a localização dasmesmas pode ser alterada.As tabelas devem ser apresentadas segundo a Fundação Instituto Brasilei-ro de Geografia e Estatística, Normas de Apresentação Tabular, 1993. Todaa tabela deve conter um título indicando a natureza e abrangências geo-gráfica e temporal dos dados numéricos, sem abreviações, por extenso, deforma clara e concisa. Deve ter um número (algarismo arábico, crescente)sempre que o documento apresentar duas ou mais tabelas. A moldura nãodeve ter traços verticais que a delimitem à esquerda e à direita. Deve con-ter dados numéricos inscritos nas suas células, para informar a quantifica-ção de um fato especí fico observado. Recomenda-se que seja elaboradade forma a ser apresentada em uma única página e que apresente unifor-midade gráfica (fonte, corpo, uso de maiúsculas e minúsculas).

Imagens, fotos, quadros, gráfi

cos, mapas e outras ilustrações devem apre-sentar uma resolução mínima de 300 dpi, com a extensão .jpg, seremnumerados e possuir indicação de suas respectivas fontes colocadas nocorpo do texto e devidamente autorizadas.As legendas ou títulos devem acompanhar as imagens inseridas no corpodo texto.

Os trabalhos devem ser digitados em espaço simples, em fonte Times NewRoman, corpo 12, com margem esquerda e superior de 3cm na direita e in-ferior de 2 cm, com páginas numeradas consecutivamente, em algarismosarábicos, no canto inferior direito da página.

O número de páginas deve oscilar entre 8 (mínimo) e 35 (máximo) para ostrabalhos - artigos cientí ficos, estudos de caso, ensaios, revisões bibliográ-ficas e relatos de experiências.As páginas com elementos pré-textuais devem estar antes do corpo dotexto e ser numeradas utilizando-se algarismos romanos. A numeração emalgarismos arábicos, deve seguir a sequência.Siglas e abreviações devem ser seguidas de suas significações.As referências e citações de autores, no corpo do texto, devem subordinar--se à forma (AUTOR, data) ou (AUTOR, data, página).Para ênfase ou destaque, utilizar itálico, e não negrito.Todas as citações diretas ou indiretas devem ser incorporadas ao texto econstar nas referências.As citações devem ser indicadas no texto, informando o sobrenome do au-tor citado, em caixa alta dentro do parênteses ou caixa alta e baixa quandofizerem parte do texto, o ano e a página onde se encontra a informação na

obra consultada.As citações podem ser:Citações indiretas (livres): são aquelas que reproduzem ideias do docu-mento sem, entretanto, transcrever as próprias palavras do autor.

Exemplo: Como narra Porche (1990), o automobilismo no futuro será total-mente automatizado.

Citações diretas (textuais): é a transcrição textual de parte da obra do autorconsultado. Podem ser curtas e longas.

a) citações curtas (de até 3 linhas): são inseridas no texto, entre aspas du-plas.

Exemplo: Para Melo (1983, p.135) “[...] correndo o risco de cometer injusti-

ças individuais [...]” sem querer com isso passar um julgamento apressadosobre a qualidade das dissertações resultantes desta área;

b) citações longas(mais de três linhas): devem constituir um parágrafo in-dependente, recuado 4 cm da margem esquerda, com fonte menor do quea utilizada no texto, com espaçamento simples entre as linhas e dispensan-do o uso de aspas. (FRANÇA, 2004).

Exemplo: A divisão do mundo em povos altamente desenvolvidos e outrosmantidos num estágio inicial de desenvolvimento face a exploração a quesão submetidos uma minoria rica e detentora dos meios de produção euma massa faminta e explorada é, em grande parte, resultado da aplicaçãodas conquistas da ciência em todos os seus domínios. (MELO, 1983, p.129).

c) citação de citação: todo esforço deve ser empreendido para se consultar

o documento original. Entretanto, nem sempre é possível o acesso a certostextos. Nesse caso, pode-se reproduzir informação já citada por outros au-tores, cujos documentos tenham sido efetivamente consultados. No textodeve-se citar o sobrenome do autor do documento não consultado no ori-ginal, seguido das expressões: apud, citado por, e o sobrenome do autordo documento efetivamente consultado.

Exemplo: “[...] apresenta a dinâmica do design na evolução da comunica-ção visual.” (CAPPARELLI, 19821 apud FONSECA, 1990, p.27).

3 Elementos Pós-Textuais

A lista de referências deve ser ordenada alfabeticamente, segundo a auto-ria dos documentos.

As referências devem ser relacionadas em lista própria, constando todasas fontes citadas no artigo, obedecendo a uma ordem alfabética única desobrenome de autor e título para todo o tipo de material consultado.

Para a melhor compreensão e visualização, a seguir são transcritos exem-

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

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103103

Aprendizagem mecânica e aprendizagem significativa...

plos de referências de diversos tipos de materiais.

 Livros com 1 autor:

AUTOR. Título. Edição. Local: Editora, data. Paginação.

WAINER, Samuel. Minha razão de viver: memórias de um repórter. 11.ed.Rio de Janeiro: Record, 1988. 282 p.

Livros com 2 autores:

AUTORES separados por ponto e vírgula. Título. Edição. Local: Editor, data.Paginação.

FRANÇA, Junia Lessa; VASCONCELLOS, Ana Cristina de. Manual para nor-malização de publicações técnico-cientí ficas. 7.ed. Belo Horizonte: Ed.UFMG, 2004. 242 p.

Livros com 3 autores:

Dar entrada pelos três autores, separados por ponto e vírgula. Título. Local:Editora, data. Paginação.CUTLIP, Scott M.; CENTER, Allen H.; BROOM, Glen M. Eff ective Public Rela-tions. 6. ed. Englewood Cliff s: Prentice-Hall, 1985. p. Livros com mais de 3 autores:

Entrada pelo nome do primeiro autor, seguido da expressão et al. Título.Local: Editora, data. Paginação.

FRANÇA, Júnia Lessa et al. Manual para normalização de publicações técni-co-cientí ficas. Belo Horizonte: Editora da UFMG, 1990. 167 p.

Livros com organizadores, coordenadores:

ORGANIZADOR ou COORDENADOR, etc. (nota) Título. Local: Editora, data.Paginação.

MELO, José Marques de (Org.). Comunicação comparada: Brasil/Espanha.São Paulo: Loyola, 1990. 171 p. Partes de livros com autoria própria:

AUTOR da parte referenciada. Título da parte referenciada. Referência dapublicação no todo precedida de In: Localização da parte referenciada.

ESTEINOU MADRID, Javier. As tecnologias de comunicação e a transforma-ção do estado capitalista. In: FADUL, Ana Maria (Org.). Novas tecnologias

em comunicação. São Paulo: Summus, INTERCOM, 1986. 250 p. p.123-126.

Dissertações, teses, trabalhos de conclusão de curso:

AUTOR. Título. Data. Paginação. Tipo do documento (dissertação, tese, tra-balho de conclusão de curso), grau entre parênteses (Mestrado, Doutora-do, Especialização em...) - vinculação acadêmica, o local e a data da defesa,mencionada na folha de aprovação se houver.

BORGES, Alexandra Bica. Uma contribuição ao estudo da biografia de Le-onel de Moura Brizola. 2004. 137 f. Trabalho de Conclusão do Curso de Co-municação Social, habilitação Jornalismo, Faculdade de Biblioteconomiae Comunicação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,2004.

Eventos no todo (Congressos, Jornadas, Encontros, Simpósios):

TÍTULO DO EVENTO, Número do evento, Data do evento, Local do evento.Título do documento. Local: Editora, data. Paginação.

ENCONTRO INTERNACIONAL DE JORNALISMO, 2., 1989, Rio de Janeiro.

Anais... Rio de Janeiro: IBM do Brasil, 1990. 229 p.

Trabalhos de eventos:

AUTOR. Título do trabalho de evento: subtítulo do trabalho de evento (sehouver). Referência da publicação no todo precedida de In: localização daparte referenciada. Paginação da parte referenciada.

FRANCO, Antônio. A imprensa e a Europa 92. In: ENCONTRO INTERNACIO-NAL DE JORNALISMO, 2., 1989, Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro: IBMdo Brasil, 1990. P.10-35.

Revistas/periódicos no todo:

TÍTULO. Local: Editora, data inicial. Periodicidade.

REVISTA DE BIBLIOTECONOMIA & COMUNICAÇÃO. Porto Alegre: Faculdadede Biblioteconomia e Comunicação, Universidade Federal do Rio Grandedo Sul, 1986-2000. Anual.

EM QUESTÃO: revista da Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação.Porto Alegre: Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação, UniversidadeFederal do Rio Grande do Sul, 2003 – Semestral. Revistas/periódicos, suplementos, números especiais:

TÍTULO do periódico. Título do fascículo, suplemento se houver. Local: Edi-tor, v., n., data e paginação total do fascículo. Nota.

ISTO É/SENHOR. 1990. São Paulo: Editora Três, n. 1110, dez. 1990. 82 p. Edi-ção especial de final de ano.

Artigos de revistas/periódicos:

AUTOR do artigo. Título do artigo. Título da revista, local, v., n., páginas,mês, ano.

HAUSER, Silvia. O risco do marketing moderno. Meio & Mensagem, SãoPaulo, v. 13, n.452, p.6, abr. 1991.

Artigos de jornais:

AUTOR do artigo. Titulo do artigo. Título do jornal, local, data (dia, mês eano).

Caderno.

CAMPOS, Rogério de. Exposição traz ao Brasil de J. Carlos. Folha de S. Paulo,São Paulo, 10 abr. 1991. Ilustrada, p.1.

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TÍTULO. Subtítulo. Responsável. Local (país), Produtora, Distribuidora, data.Especificação do suporte em unidades físicas, som, cor. Largura em milíme-tros. Título original. Legenda.

CENTRAL do Brasil. Direção: Walter Salles Júnior. Produção: Martire de Cler-mont-Tonnerre e Arthur Cohn. Intérpretes: Fernanda Montenegro; MaríliaPera; Vinicius de Oliveira; Sônia Lira; Othon Bastos; Matheus Nachtergaelee outros. Roteiro: Marcos Bernstein, João Emanuel Carneiro e Walter SallesJúnior. [S.I.]: Le Studio Canal; Riofilme. MACT Productions, 1998. 1 bobinacinematográfica (106 min), son., color., 35 mm

BLADE Runner. Direção: Ridley Scott. Produção: Michael Deeley. Intér-pretes: Harrison Ford; Rutger Hauer; Dean Young; Edward James Olmos eoutros. Roteiro: Hampton Fancher e David Peoples. Música: Vangelis. LosAngeles: Warner Brothers, c1991. 1 DVD (117 min), widescreen, color. Pro-duzido por Warner Video Home. Baseado na novela “Do androids dream ofelectric sheep?” de Philip K. Dick.

REVISTA EIXO – Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Brasília

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7/24/2019 Revista Eixo Versao Final

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